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Instituto Superior de Ciências da Saúde Egas Moniz Mestrado em Ciências Farmacêuticas Tendências na Indústria Farmacêutica: Fármacos de origem biológica Trabalho submetido por Ana Alexandra Maurício Lopes para a obtenção do grau de Mestre em Ciências Farmacêuticas Novembro de 2010

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Instituto Superior de Ciências da Saúde Egas Moniz

Mestrado em Ciências Farmacêuticas

Tendências na Indústria Farmacêutica:

Fármacos de origem biológica

Trabalho submetido por

Ana Alexandra Maurício Lopes

para a obtenção do grau de Mestre em Ciências Farmacêuticas

Novembro de 2010

2

AGRADECIMENTOS

Aos meus familiares, namorado e amigos, pelo apoio e compreensão neste período de

muito trabalho e mudança, onde coexistiram a finalização de uma vida académica e o

início de uma vida profissional.

À Dra. Alexandra Lopes, pelas «dicas» que foram, sem dúvida, imprescindíveis.

À Dra. Ana Teresa, pelas tardes de trabalho que me disponibilizou para que

conseguisse terminar a monografia.

À minha amiga Vanessa, pelo seu «olhar atento».

Ao Prof. Miguel Garcia, por me ter acompanhado e ajudado na realização desta

monografia.

Um Muito Obrigada a todos!

3

RESUMO

A Biotecnologia tem criado novas opções terapêuticas e fornecido poderosas

ferramentas de pesquisa para a descoberta de novos fármacos e diagnósticos, permitindo

uma melhor compreensão das causas das doenças através do mapeamento do genoma

humano. Isto exigiu visão, compromisso, investimento e uma atitude de risco por parte

das indústrias biofarmacêuticas.

As indústrias biofarmacêuticas investem todos os anos milhões de euros na pesquisa de

novos fármacos, estimando-se que aproximadamente 50% dos medicamentos que se

encontram em desenvolvimento são de origem biológica, entre os quais podemos

destacar as vacinas, os anticorpos monoclonais e as proteínas terapêuticas.

Os biofármacos produzidos por métodos biotecnológicos, tais como ADN

recombinante, transferência de genes e produção de ácidos nucleicos, têm-se tornado

elementos cruciais na prática clínica e opções terapêuticas importantes para uma

variedade de doenças complexas e de grande incidência, como o cancro, Alzheimer,

artrite reumatóide, psoríase, entre outras doenças que actualmente não têm outros

tratamentos disponíveis, proporcionando uma melhor qualidade de vida e uma maior

esperança média de vida.

À medida que estes medicamentos perdem a patente, abre-se o caminho para a

concorrência das versões genéricas, os biosimilares.

O crescimento do mercado dos biofármacos é bastante notório nestes últimos anos e

estima-se que, em 2014, dos dez fármacos mais vendidos, seis serão de origem

biológica.

PALAVRAS-CHAVE: Indústria biofarmacêutica; Biotecnologia; Biofármacos;

Pipeline de novos fármacos

4

ABSTRACT

Biotechnology has created new treatment options and provided powerful search tools

for the discovery of new drugs and diagnostics, allowing a better understanding of the

causes of disease through mapping the human genome. This required vision,

commitment, investment and risk attitude on the part of the biopharmaceutical industry.

Biopharmaceutical industries invest millions of Euros every year in the search of new

drugs, and it is estimated that approximately 50% of drugs in development are of

biological origin, among which we highlight the vaccines, monoclonal antibodies and

proteins therapies.

Biopharmaceuticals are produced by biotechnological methods such as recombinant

ADN, gene transfer and production of nucleic acids, and have become crucial in clinical

practice and treatment options are important for a variety of complex diseases and high

incidence, such as cancer, Alzheimer disease, rheumatoid arthritis, psoriasis and other

diseases that currently have no other treatments available, providing a better quality of

life and greater life expectancy.

As long as these drugs lose their patents, competition is open for generic versions, the

biosimilars.

The growing market for biopharmaceuticals is rather notorious in recent years and

estimates for 2014, shows that out of the ten best-selling drugs, six will be of biological

origin.

KEY WORDS: Biopharmaceutical Industry, Biotechnology, Biopharmaceuticals;

Pipeline of new drugs

5

ÍNDICE

AGRADECIMENTOS......................................................................................................2

RESUMO...........................................................................................................................3

ABSTRACT........................................................................................................................4

LISTA DE ABREVIATURAS..........................................................................................8

INTRODUÇÃO.................................................................................................................9

BIOTECNOLOGIA.........................................................................................................11

EVOLUÇÃO DA BIOTECNOLOGIA......................................................................11

ENQUADRAMENTO DA BIOTECNOLOGIA.......................................................16

ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA........................................................................17

EUROPA....................................................................................................................18

SECTOR BIOFARMACÊUTICO..................................................................................19

INDÚSTRIA BIOFARMACÊUTICA.......................................................................20

A DINÂMICA DO NEGÓCIO DENTRO DO SECTOR BIOTECNOLÓGICO......21

TIPOS DE BIOTECNOLOGIA......................................................................................22

DIFERENÇAS ENTRE EMPRESAS BIOTECNOLÓGICAS......................................23

A IMPORTÂNCIA DA BIOTECNOLOGIA.................................................................24

BIOFÁRMACOS............................................................................................................25

COMPLEXIDADE VS DESENVOLVIMENTO DE NOVOS FÁRMACOS..........27

NÚMERO DE PATENTES NA EUROPA E NOS EUA..........................................28

MEDICAMENTO PERSONALIZADO....................................................................30

BIOSIMILARES.............................................................................................................31

GENÉRICOS VS BIOSIMILARES...........................................................................33

BIOSIMILARES VS BIOBETTERS..........................................................................34

OS 25 MEDICAMENTOS BIOLÓGICOS TOP: SERÃO OS PRÓXIMOS

ALVOS BIOSIMILARES?.............................................................................................35

MERCADO DOS BIOSIMILARES..........................................................................38

BIOFÁRMACOS VS FÁRMACOS CONVENCIONAIS........................................42

PROCESSOS DE PRODUÇÃO DE BIOFÁRMACOS E FÁRMACOS

CONVENCIONAIS........................................................................................................44

FASES NO DESENVOLVIMENTO E APROVAÇÃO DE MEDICAMENTOS.........48

FASE PRÉ-CLINICA...............................................................................................49

FASE CLÍNICA I.....................................................................................................52

6

FASE CLÍNICA II....................................................................................................52

FASE CLÍNICA III..................................................................................................52

FASE CLÍNICA IV..................................................................................................53

PIPELINE........................................................................................................................56

O PIPELINE NO SECTOR BIOFARMACÊUTICO..............................................58

O FUTURO DO MERCADO DE PRODUTOS BIOLÓGICOS: VISÃO GERAL E

INOVAÇÃO DO MERCADO........................................................................................63

ROCHE E GENENTECH: UM MODELO PARA FUTURAS OFERTAS

BIOTECNOLÓGICAS....................................................................................................64

CONCLUSÃO.................................................................................................................66

BIBLIOGRAFIA.............................................................................................................68

ANEXOS.........................................................................................................................73

ANEXO 1........................................................................................................................74

ANEXO 2........................................................................................................................75

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 | Multidisciplinaridade da Biotecnologia.........................................................11

Figura 2 | Divisão dos usos e aplicações da biotecnologia por sectores, nos Estados

Unidos da América e na Europa......................................................................................17

Figura 3 | Número de empresas biotecnológicas em 2004.............................................21

Figura 4 | Sectores da biotecnologia – tecnologias e produtos.......................................23

Figura 5 | Definição de uma empresa biofarmacêutica..................................................23

Figura 6 | Impacto dos biofármacos na qualidade de vida dos seres humanos..............26

Figura7 | Cronologia: Foco da pesquisa e desenvolvimento de biofármacos................28

Figura 8 | Número de aplicações de patentes biotecnológicas ao longo dos anos nos

Estados Unidos da América e União Europeia................................................................29

Figura 9 | Resultado da inicial evolução da aplicação de novos medicamentos para uso

humano entre 1995 e 2008..............................................................................................30

Figura 10 | Biológicos susceptiveis à concorrência biosimilar.......................................35

Figura 11 | Competências essenciais que as empresas de biosimilares necessitam para

sobreviver........................................................................................................................42

Figura 12 | Exemplo de um biofármaco (Interferão β)...................................................42

Figura 13 | Exemplo de um fármaco químico (Aspirina®)............................................42

7

Figura 14 |Esquema representativo das principais diferenças entre um fármaco

biológico e um convencional...........................................................................................43

Figura 15 | Várias fases no desenvolvimento e aprovação de medicamentos ...............54

Figura 16 | Número de fármacos candidatos em pipeline nas diferentes fases de

desenvolvimento, segundo a pesquisa feita a 87 empresas biotecnológicas europeias, N=

458...................................................................................................................................58

Figura 17 | Número de fármacos candidatos em pipeline, N = 87.................................59

Figura 18 | Agrupamento das empresas biofarmacêuticas de acordo com a fase de

desenvolvimento, N = 87.................................................................................................61

Figura 19 | Comparação entre diversas empresas farmacêuticas na produção de

biofármacos e fármacos químicos...................................................................................65

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1 | Principais marcos históricos no avanço científico e tecnológico da

Biotecnologia...................................................................................................................16

Tabela 2 | Dez dos 25 medicamentos biológicos top e suas respectivas aplicações

terapêuticas......................................................................................................................38

Tabela 3 | Comparação entre o peso molecular de uma medicamento químico e de um

medicamento biológico....................................................................................................43

Tabela 4 | Resumo dos procedimentos de fabrico / requisitos para biofármacos e

fármacos convencionais...................................................................................................44

Tabela 5 | Casos e consequências como resultado de mudanças no processo de

manufactura.....................................................................................................................47

Tabela 6 | Exemplos de biofármacos em pipeline nas diferentes fases..........................57

Tabela 7 | Estratégias de desenvolvimento de fármacos.................................................62

8

LISTA DE ABREVIATURAS

a.C. – Antes de Cristo

AIM – Autorização de Introdução no Mercado

CHMP – Committee for Medicinal Products for Human Use

DCI – Denominação Comum Internacional

ADN – Ácido Desoxirribonucleico

EMA – European Medicine Agency (Agência Europeia de Medicamentos)

FDA – Food and Drug Administration

GM – CSF – Granulocyte-macrophage colony-stimulating factor

IL-2 – Interleucina-2

IM – Via de administração Intramuscular

IND – Investigational new drug

INFARMED – Instituto da Farmácia e do Medicamento

IV – Via de administração Intravenosa

I&D – Investigação e Desenvolvimento

mAbs – Monoclonal antibodies

NDA – New Drug Application

P&D – Pesquisa e Desenvolvimento

PGR – Plano de Gerenciamento de Riscos

SC – Via de administração subcutânea

TNF – Tumor necrosis factor

TPS – Proteins Therapeutics

UE – União Europeia

VEGF – Vascular endothelial growth factor

VIH – Vírus da Imunodeficiência Humana

9

INTRODUÇÃO

Nestes últimos anos, tem-se verificado que a percentagem de moléculas obtidas por

biotecnologia supera as obtidas por síntese química. Actualmente, cerca de 30% dos

projectos de pesquisa a serem desenvolvidos são feitos com fármacos de origem

biotecnológica, o que indica que é muito provável que o número aumente nas próximas

décadas. Este sector biofarmacêutico tornou-se num dos sectores mais desenvolvidos ao

nível da pesquisa, com um grande potencial para a entrega de novos medicamentos no

futuro, além de que enfrenta um grande desafio no que diz respeito ao acesso ao

financiamento. O desenvolvimento de novos produtos biofarmacêuticos é de capital

elevado e leva cerca de 10 a 15 anos para introduzir um novo produto no mercado.

Além disso, há um alto risco de fracasso comparado com os outros sectores, fazendo

com que seja o menos atraente para os investigadores.

Em menos de dez anos, os fármacos de origem biológica têm-se tornado no tratamento

de primeira linha de doenças graves como cancro, artrite reumatóide, diabetes, e outras

para as quais as alternativas são muitas vezes escassas. Estes fármacos não só têm

reduzido a mortalidade e a morbidade e melhorado a qualidade de vida de milhões de

pacientes com doenças crónicas, como também têm contribuído para o desenvolvimento

de novos métodos de diagnóstico.

Com o expirar da patente, novos medicamentos surgiram, os biosimilares. Os

medicamentos similares não são iguais aos de referência biotecnológica e, portanto,

apresentam uma problemática diferente à suscitada pelos fármacos genéricos. Um

fármaco biosimilar deve ter em conta qualquer mudança no seu processo de produção

pois poderá modificar a sua eficácia e a sua segurança.

É por este motivo que a União Europeia exige a implementação de ensaios clínicos com

fármacos biosimilares, controlados firmemente, e a implementação, após a aprovação,

de programas de farmacovigilância e gestão de risco.

Hoje em dia, a sociedade tem ainda um debate aberto sobre o papel dos medicamentos

biosimilares em que médicos, farmacêuticos, farmacologistas, advogados, gestores e

pacientes defendem diferentes argumentos. Diferentes sectores criticam a introdução de

fármacos biosimilares e consideram uma medida meramente económica; a dúvida da

segurança dos mesmos permanece, enquanto outros sectores louvam a possibilidade de

promover um maior acesso ao tratamento.

Mais recentemente, um novo argumento juntou-se aos mencionados: a equivalência

terapêutica dos fármacos biológicos sobre os biosimilares. Segundo o presente trabalho,

10

estamos perante uma segunda geração de problemas, embora ainda haja muito por

resolver.

O objectivo deste trabalho é analisar as tendências da indústria farmacêutica, dada a

crescente tendência para os produtos biotecnológicos que, pelas suas características e

pelas suas propriedades, se espera que sejam o Futuro da terapêutica.

11

BIOTECNOLOGIA

A Biotecnologia é a aplicação tecnológica que utiliza sistemas biológicos e organismos

vivos ou seus derivados para a criação ou modificação de diversos produtos ou

processos em uso. Ou seja, a Biotecnologia não é considerada uma ciência como tal,

mas sim qualquer técnica ou tecnologia que emprega organismos vivos ou seus

componentes com o objectivo de melhorar espécies de plantas ou animais, ou

desenvolver microrganismos, para um determinado fim e, geralmente, utilizada em

benefício do ser humano.

As várias tentativas de definição existentes mostram nitidamente que se trata, portanto,

de um campo de trabalho multidisciplinar, já que envolve várias ciências e disciplinas.

Entre elas, destaca-se a Biologia, a Bioquímica, a Genética, a Virologia, a Agronomia, a

Engenharia, a Química, a Medicina, a Veterinária, entre outras. (López-Munguía, 2004)

Figura 1 | Multidisciplinaridade da Biotecnologia

EVOLUÇÃO DA BIOTECNOLOGIA

De facto, a biotecnologia é a aplicação de um conjunto de tecnologias que vão desde as

técnicas «tradicionais», já amplamente estabelecidas, conhecidas e utilizadas desde a

Antiguidade, até às técnicas «modernas», baseadas no emprego de novas técnicas de

ADN recombinante, de anticorpos monoclonais e de novos métodos de cultivo de

células e tecidos.

Biotecnologia

Veterinária

Biologia

Bioquímica

Medicina

Genética

Agronomia

Química

Engenharia

12

É empregue pelo ser humano desde o início da história da Humanidade, quando esta se

tornou sedentária (há cerca de 10 000 anos). Foi através da observação e da busca de

alimentos que o Homem aprendeu a domesticar animais e a desenvolver a agricultura,

deixando assim de depender por completo da caça e da pesca. Cabe destacar que o

primeiro tipo de domesticação que o Homem aprendeu a realizar não foi a animal, mas a

levedura. A levedura (ou fermento) foi utilizada na preparação de pão, queijo, iogurte,

vinagre e bebidas alcoólicas, como a cerveja e o vinho. A finalidade dessa prática era

tornar alimentos como o leite e o sumo das uvas em produtos de fermentação mais

apetitosos.

No entanto, não eram conhecidos os agentes causadores das fermentações que ficaram

ocultos por milénios de anos. Foi no século XVII, o pesquisador Antom Van

Leeuwenhock, através da visualização ao microscópio, descreveu a existência de seres

tão minúsculos que eram invisíveis a olho nu. Somente 200 anos depois é que Louis

Pasteur, em 1876, provou que a causa das fermentações era a acção desses seres

minúsculos, os microrganismos, caindo por terra a teoria, até então vigente, de que a

fermentação era um processo puramente químico. Foi ainda Pasteur quem provou que

cada tipo de fermentação era realizado por um microrganismo específico e que estes

podiam viver e reproduzir-se na ausência de ar.

Além disso, o Homem também promoveu o aperfeiçoamento de cultivos e a

domesticação de animais mediante cruzamentos, os quais foram um factor limitativo na

melhoria de organismos, já que os métodos convencionais, incluindo alguns descritos

desde o Antigo Testamento, eram demorados e empíricos, para além de serem

efectuados por meio de teste e erro.

Foi, todavia, a produção de antibióticos o grande marco de referência na fermentação

industrial. A partir de 1928, com a descoberta da penicilina por Alexander Fleming,

muitos tipos de antibióticos foram desenvolvidos mundo fora.

Na década de 40, durante a Segunda Guerra Mundial, os antibióticos passaram a

integrar os processos industriais fermentativos, principalmente nos Estados Unidos da

América, baseando-se inicialmente na síntese da penicilina e, posteriormente, da

estreptomicina.

Foi na década de 50 que a Biotecnologia, com a descoberta da síntese química do ADN,

e com as técnicas de manipulação genética (ADN recombinante, fusão celular ou

hibridoma), passou de facto a existir.

13

A técnica do ADN recombinante envolve a criação sintética de novos organismos vivos,

com características não encontradas na Natureza, formadas por hibridação ao nível

molecular do ADN. Isso leva a produzir industrialmente a insulina humana,

substituindo, com grandes vantagens, a insulina bovina ou suína empregue no

tratamento de diabéticos.

A técnica de hibridoma possibilitou a manipulação genética ao nível das células vivas,

onde duas ou mais células são fundidas para formar novos microrganismos. Na prática,

células animais que produzem anticorpos são incorporadas em outras malignas ou

perniciosas, resultanto em uma nova que se torna eficiente produtora de anticorpos.

(López-Munguía, 2004)

Período Acontecimento

4000 – 2000 a.C. Pela primeira vez, a «biotecnologia» é

usada no Egipto para a produção de

cerveja e pão, usando a técnica de

fermentação por meio da levedura.

1322 Cavalos de uma raça superior são

inseminados artificialmente por um líder

árabe.

1761 Plantas de espécies diferentes são cruzadas

pelo naturalista alemão Joseph Gottlieb

Koelreuter.

1859 O ilustre cientista britânico Charles

Darwin publica a «Teoria da Evolução das

Espécies pela Selecção Natural». O

conceito de seleccionar e destruir a prole

mais fraca tem grande influência entre os

criadores de animais nos anos 1800, apesar

de a Genética não ser ainda uma ciência

reconhecida.

1865 Surge a Genética, sendo o cientista

austríaco Gregor Mendel considerado o pai

desta ciência. Através das suas

14

experiências com ervilhas, descobriu que

as características são hereditárias, passadas

de pai para filho; também descobriu os

padrões de hereditariedade.

1870 Os criadores de plantas começam a utilizar

a teoria de Darwin para cruzar espécies

diferentes de algodão e conseguem assim

desenvolver uma variedade superior da

planta.

1876 Louis Pasteur provou que a causa da

fermentação era a acção de seres

minúsculos, os microrganismos, caindo por

terra a teoria, até então vigente, de que a

fermentação era um processo puramente

químico.

1879 O cientista Alexander Fleming descobre a

cromatina, uma estrutura parecida com

uma varinha dentro do núcleo das células,

que mais tarde foi chamada de

«cromossoma».

1897 Eduard Buchner demonstrou ser possível a

conversão de açúcar e álcool, utilizando

células de levedura maceradas, ou seja, na

ausência de organismos vivos.

1900 A mosca da fruta, a drosophila

melanogaster, é usada nos primeiros

estudos de genes.

1906 Surge o termo «Genética».

1919 A palavra «biotecnologia» é usada pela

primeira vez pelo engenheiro húngaro Karl

Ereky.

1941 O termo «engenharia genética» é usado

pela primeira vez.

15

1942 A penicilina começa a ser produzida como

fármaco e utilizada em seres humanos

como um antibiótico.

1944 É descoberto que o ADN é a estrutura

responsável pela transmissão das

informações genéticas.

1956 O processo de fermentação é optimizado.

Komberg descobre a enzima ADN

polimerase I, que catalisa as sínteses de

ADN em bactérias, levando a um

entendimento de como o ADN é replicado.

1958 O ADN é produzido pela primeira vez num

tubo de ensaio.

1969 Uma enzima é sintetizada in vitro pela

primeira vez.

1970 Enzimas de restrição (nucleases

específicas) são identificadas, abrindo o

caminho para a clonagem molecular de

genes.

1972 É descoberto que a composição do ADN

humano é 99% similar à dos chimpanzés e

gorilas.

1975 Os primeiros anticorpos monoclonais são

produzidos.

1982 FDA aprova a primeira insulina humana

produzida por bactérias geneticamnete

modificadas.

1984 O vírus VIH é clonado e o seu genoma é

totalmente sequenciado.

1986 Produzida a primeira vacina recombinante

para humanos contra a hepatite B.

1990 O primeiro tratamento da terapia genética é

realizado, nos Estados Unidos da América,

16

numa criança de 4 anos que sofria de uma

desordem no sistema imunológico.

1994 O primeiro gene do cancro da mama é

descoberto.

1995

A terapia genética entra em guerra contra o

cancro.

O primeiro sequenciamento de um genoma

de um organismo vivo diferente de vírus é

completado para a bactéria Haemophilus

influenzae.

1997 Nasce a ovelha Dolly, o primeiro animal

clonado de uma célula adulta.

2003 A ovelha Dolly é submetida a eutanásia

após desenvolver um cancro do pulmão.

2004 Primeiro animal de estimação clonado: um

gato. Sequenciado o genoma do rato de

laboratório.

2005 FDA aprova a primeira droga para uma

raça específica: um remédio para

problemas cardíacos exclusivamente para

negros.

Tabela 1 | Principais marcos históricos no avanço científico e tecnológico da Biotecnologia (adaptado de

http://www.shire.com.br/tecnologia/biotecnologia).

ENQUADRAMENTO DA BIOTECNOLOGIA

Além da aplicação na saúde animal e humana, hoje em dia, a Biotecnologia é aplicada

em sectores tão diferentes como a agroalimentação, o abastecimento industrial, a

produção de energia e a protecção do meio ambiente. Ainda assim, como mostra a

figura 2, o sector da saúde continua a ser, tanto na Europa como nos Estados Unidos da

América, o mais extenso. (Bagchi, N., 2010)

17

Figura 2 | Divisão dos usos e aplicações da Biotecnologia por sectores, nos Estados Unidos da América e

na Europa (adaptado de Biotechnology in Europe:2005 comparative study. EuropaBio)

ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

Os debates em torno da biotecnologia datam desde o ínicio dos anos 70, aquando do

desenvolvimento da tecnologia de ADN recombinante nos Estados Unidos e da

necessidade que surgiu de explorar estas tecnologias com fins comerciais. A novidade

do mercado, o seu grande potencial e rápido crescimento criaram elevadas expectativas

em relação ao impacto social e económico da indústria biotecnológica.

Desde o aparecimento da primeira empresa de biotecnologia nos Estados Unidos da

América em 1976, a Genentech, fundada pelo investigador de capital de risco Robert

Swanson e pelo bioquímico Herbert Boyer, ocorreu um grande desenvolvimento das

Ciências da Vida, surgindo novos campos de aplicação, como podemos verificar na

figura 2. O número de empresas aumentou acentuadamente, verificando-se em 2005 um

total de 1273, das quais 300 são empresas cotadas em bolsa.

Na década de 90, empresas situadas nos Estados Unidos da América passaram a contar

com mecanismos de captação de recursos financeiros, tais como o capital de risco e os

mercados bolsistas. Todavia, mesmo no mercado norte-americano, o papel dos fundos

de natureza governamental foi fundamental para a sustenção do fluxo de inovações e

dos programas de desenvolvimento científico associados à criação de empresas em

biotecnologia.

O desenvolvimento do sector da biotecnologia depende fortemente da disponibilidade

de capital de risco pelo facto de se tratar de uma indústria de capital intensivo, com um

elevado risco associado. Por sua vez, o desenvolvimento do sector de capital de risco

depende fortemente da existência de mercados com liquidez onde os investidores de

capital de risco possam sair dos investimentos realizando mais valias assinaláveis.

Serviços

35%

Agricultura

7% Meio

Ambiente

7%

Saúde

51%

Europa Estados Unidos

Serviços

33%

Agricultura

5%

Saúde

60%

Meio Ambiente

2%

18

É a partir dos anos 90 que ocorre um aumento progressivo do investimento de capital de

risco nas empresas biotecnológicas, tendo-se verificado um aumento de mais de 50% de

2004 para 2005. No entanto, maus resultados obtidos por empresas do sector

conduziram à decepção de alguns investidores face às expectativas iniciais e, por

consequência, a uma diminuição do número de investimentos nos anos seguintes. As

ofertas públicas de venda caíram drasticamente e somente em 2005 houve uma ligeira

recuperação.

Actualmente, os investidores norte-americanos já estão em fase de recuperação do

capital investido e continuam a investir em empresas nas fases iniciais de

desenvolvimento. Os Estados Unidos da América, em conjunto com a Europa, mantêm-

se na linha da frente da investigação em biotecnologia e no aparecimento de novas

empresas de biotecnologia. (Devlin, A., 2003)

EUROPA

As vantagens em termos de crescimento económico e competitividade dos Estados

Unidos da América devidas ao desenvolvimento e investimento no sector da

biotecnologia conduziram a uma reacção da Europa com a opção estratégica de

promover o sector na União Europeia.

De facto, durante a década de 80, a biotecnologia na Europa era desenvolvida apenas

em grandes empresas, ao contrário do que acontecia nos Estados Unidos da América, já

então com um número crescente de pequenas empresas. A situação financeira dos anos

90 deu origem a grandes disponibilidades de fundos de investimento de capital de risco,

promovendo a inovação nos Estados Unidos da América e na Europa. Porém, os

empreendedores europeus eram numerosos, tendo avançado mais lentamente. Foi no

início dos anos 80 que surgiram as primeiras pequenas empresas de biotecnologia no

Reino Unido criadas por investigadores ligados a centros de investigação e

universidades.

Em 2002, foi publicada uma estratégia da União Europeia para o desenvolvimento do

sector da saúde e da biotecnologia. Neste plano, a cumprir até 2012, são reforçadas as

iniciativas que têm sido tomadas para o desenvolvimento da biotecnologia na Europa,

como por exemplo a criação de bio-regiões. De facto, nos finais dos anos 90, a

necessidade de coordenação dos agentes envolvidos no desenvolvimento da

biotecnologia originou a criação destas bio-regiões, promovendo a transferência do

conhecimento e investigação para o mercado. Actualmente, existem várias bio-regiões

19

espalhadas pela Europa, com uma estrutura que envolve grandes biofarmacêuticas,

empresas médias e em fase de arranque, empresas de distribuição e de serviços, outras

empresas, universidades, institutos de investigação e hospitais, onde existe uma

interligação bem definida e com objectivos comuns, criando um ciclo virtuoso de

atracção de investimentos e criação de empresas.

O sector da biotecnologia na Europa tem um atraso de apoximadamente 10 anos

relativamente aos Estados Unidos da América. As 1700 empresas privadas europeias

(dados de 2005) são muito pequenas, precisando de se consolidar de modo a poder

competir com as 1100 empresas privadas norte-americanas. (Ernst & Young, 2004)

SECTOR BIOFARMACÊUTICO

O sector europeu biofarmacêutico é muito importante para o desenvolvimento de

produtos e serviços inovadores que possam contribuir para a competitividade da Europa

no mercado mundial, e assegurar a saúde e o bem-estar dos cidadãos do mundo. Os

outros sectores industriais também usam descobertas científicas no sector dos produtos

biofarmacêuticos para desenvolver novos produtos e melhorar metódos de produção.

O sector biofarmacêutico é considerado um motor de inovação numa variedade de

indústrias, especialmente na indústria farmacêutica, e os novos biofármacos podem ter

um impacto bastante positivo nos sectores da saúde e cuidados de saúde em geral. No

entanto, não é possível estimar a importância económica do sector para outras indústrias

devido à falta de dados.

Os potenciais impactos científicos e socioeconómicos do sector são, portanto,

substanciais. Isto faz com que a biotecnologia, no contexto da realização do objectivo

principal europeu, se torne «na mais competitiva e económica, baseada no

conhecimento mais dinâmico do mundo, capaz de um crescimento económico

sustentável, com mais e melhores empregos e maior coesão social». (European

Commission, 2006: http://www.europarl.europa.eu/summits/lis1_en.htm)

«A importância do sector de produtos biofarmacêuticos em relação à indústria

farmacêutica é crescente. Desta forma, medicamentos resultantes de inovações

biotecnológicas (biofármacos) são estimados para dar conta de aproximadamente 20%

de todos os medicamentos comercializados e representam cerca de 50% de todos os

novos medicamentos em pipeline.» (Europabio, 2009)

Entretanto, os biofármacos requerem grandes investimentos. O tempo de mercado é

relativamente longo e os riscos de fracasso no desenvolvimento de novos biofármacos é

20

muito alto. Essas características do sector de produtos biofarmacêuticos afectam a

disposição dos investigadores externos para investir no desenvolvimento de novos

biofármacos. Estima-se que o processo de desenvolvimento para trazer um novo

fármaco para o mercado leva em média entre 10 a 15 anos, com um custo médio

estimado em mais de 1000 milhões de euros. (European Biopharmaceutical Enterprises

(2008): Annual highlights 2007/2008)

As empresas europeias de biotecnologia são incapazes de levantar o capital tanto quanto

as congéneres norte-americanas. De acordo com um estudo realizado em 2006

(Europabio), as empresas europeias têm acesso a somente 1/5 do financiamento do

capital privado que as empresas nos Estados Unidos da América; estas são capazes de

levantar duas vezes mais o capital de risco quando comparado com a Europa.

As diferenças substanciais na disponibilidade e no acesso ao capital para as empresas de

biotecnologia na Europa e nos Estados Unidos da América levaram a que intervenientes

europeus, como Europabio, concluíssem que a indústria europeia de biotecnologia

«mostra sinais de subfinanciamento crónico». A falta de acesso adequado ao

financiamento tem, por sua vez, um efeito muito negativo sobre o nível de inovação no

sector europeu da biotecnologia e no sector global.

A Comissão Europeia abordou os problemas de financiamento das indústrias

biotecnológicas europeias em diversas ocasiões, alegando que o crescimento e a

sustentabilidade económica das empresas de biotecnologia da Europa estão a ser retidos

por três restrições principais: fragmentação do sistema europeu de patentes,

insuficiência da oferta de capital de risco, e deficiências na cooperação entre ciência e

negócios. (European Commission, 2007:

http://ec.europa.eu/biotechnology/docs/com_2007_175_en.pdf)

INDÚSTRIA BIOFARMACÊUTICA

A indústria biofarmacêutica não é um grande sector industrial em termos de número de

empresas ou empregados. No entanto, é um dos sectores de maior desenvolvimento e

uma das maiores riquezas ao nível mundial na criação de indústrias. Existem

aproximadamente 800 empresas, sendo que o número de empresas biotecnológicas

difere muito significativamente nos países europeus. A maioria está localizada na

Alemanha, no Reino Unido e em França. Nos novos estados-membros, dados recolhidos

sobre a indústria biotecnológica dizem-nos que é um sector ainda escasso e

fragmentado, e muitas das empresas são ainda recentes. (EuropaBio, 2006)

21

Figura 3 | Número de empresas biotecnológicas em 2004 (adaptado EuropaBio, 2006)

«Olhando para a dimensão das empresas,e tendo em conta ao número de empregados,

destacam-se países como o Reino Unido, a Alemanha, a Dinamarca e a França.

Principalmente a Dinamarca e o Reino Unido, são países que se destacam por

possuírem empresas relativamente grandes, enquanto países como a Suécia e os Países

Baixos caracterizam-se por possuírem pequenas empresas.

Muitos países e regiões esforçam-se para atrair esta fonte de riqueza tributável e

excelente geradora de empregos, inovação e crescimento, mas a competição global é

feroz. Para a Europa, o principal concorrente ao nível global é actualmente o sector

biofarmacêutico dos Estados Unidos da América. Há mais empresas de biotecnologia na

Europa do que nos Estados Unidos da América. Ainda, as empresas de biotecnologia

europeias produzem menos produtos e empregam menos pessoas do que as suas

homólogas nos Estados Unidos da América. A disponibilidade de capital na Europa

também é limitada em comparação com os Estados Unidos da América.» (EuropaBio,

2006)

A DINÂMICA DO NEGÓCIO DENTRO DO SECTOR BIOTECNOLÓGICO

«Durante meados dos anos 90, o número de empresas biotecnológicas duplicou na

Europa. A maioria das novas empresas era relativamente pequena em relação ao número

de empregados. Após 2001, a indústria caracterizou-se pela consolidação através de

fusões e aquisições. Isto resultou em uma ligeira diminuição no número de empresas

22

biotecnológicas na Europa e, entre 2003 e 2004, o número de empresas na Europa

diminuiu 2%.» (EuropaBio, 2006). Actividades de reestruturação para ganhar a massa

crítica têm sido a principal razão para as fusões e aquisições, que ocorreram

principalmente na Alemanha, na Escandinávia e no Reino Unido.

Na Europa, 25% das empresas biotecnológicas existem há menos de 2 anos e empregam

mais de 5% de empregados no sector. Em contraste, 10% das empresas europeias

formadas antes de 1989 representaram quase 50% do número total de postos de trabalho

e ganharam cerca de 4/5 do total das receitas. Isto significa que, mesmo que haja um

forte espírito empresarial e um rápido desenvolvimento de novas empresas na Europa, a

maioria das empresas biotecnológicas são pequenas e geram receitas muito limitadas. A

dimensão e a idade relativamente jovem das empresas biotecnológicas europeias podem

ser uma importante questão em relação à competitividade do sector.» (EuropaBio, 2006)

TIPOS DE BIOTECNOLOGIA

A biotecnologia usada no tratamento de seres humanos é muitas vezes referida como

«tecnologia vermelha». Isto inclui o diagnóstico de riscos para a saúde e a prevenção e

tratamento de doenças. Biotecnologia «verde e branca», por outro lado, refere-se à

utilização da biotecnologia na agricultura (por exemplo, aumentando a resistência das

plantas a doenças específicas) ou para fins industriais (por exemplo, aumentando a

eficácia das substâncias utilizadas na produção industrial). (European Commission,

2009)

A biotecnologia industrial envolve o uso de enzimas e microrganismos para produzir

produtos químicos de valor agregado a partir de fontes renováveis. Devido à sua

associação a um reduzido consumo de energia, às emissões de gases e à geração de

resíduos, a biotecnologia industrial tornou-se num campo de rápido crescimento.

Podemos no entanto destacar uma variedade de ferramentas importantes para a

biotecnologia industrial, incluindo a engenharia de proteínas, engenharia metabólica,

biologia sintética, e biologia de sistemas. Estas ferramentas têm sido aplicadas com

sucesso em diversos estudos, incluindo a produção de 1, 3 – propanodiol, ácido láctico,

e os biocombustíveis. Este tipo de biotecnologia será cada vez mais adoptada pelos

químicos, alimentos, produtos farmacêuticos e indústrias agrícolas. (Tang, WL., Zhao,

H., 2009)

A «biotecnologia vermelha» pode ser dividida em três segmentos: biofármacos para uso

na saúde humana (incluindo as diferentes terapias de base biotecnológica e a

23

prevenção), dispositivos médicos, e diagnósticos usando a biotecnologia como principal

plataforma tecnológica. (European Commission, 2009)

Figura 4 | Sectores da biotecnologia – tecnologias e produtos (adaptado European Commission, 2009)

DIFERENÇAS ENTRE EMPRESAS BIOTECNOLÓGICAS

Existe distinção entre pelo menos dois tipos de empresas biotecnológicas. Por um lado,

temos as empresas de biotecnologia que são definidas como «empresas que estão

envolvidas em actividades biotecnológicas chave, tais como a aplicação de, pelo menos,

uma técnica de biotecnologia para produzir bens ou serviços». Por outro lado, as

«empresas biotecnológicas activas, cuja principal actividade envolve a aplicação de

técnicas biotecnológicas para produzir bens ou serviços». (Valentin el al, 2006)

Figura 5 | Definição de uma empresa biofarmacêutica (adaptado European Commission, 2009)

Biotecnologia

Vermelha

(Biotecnologia médica)

Biotecnologia Verde

Biotecnologia Branca

Biofármacos

Dispositivos médicos

Diagnóstico

24

O sector da biotecnologia médica consiste em três grupos: aqueles dedicados

exclusivamente à pesquisa e ao desenvolvimento de produtos biotecnológicos; as

companhias farmacêuticas tradicionais que comercializam os biofármacos; e um grupo

especializado de empresas que servem os dois grupos anteriores, fornecendo as

plataformas tecnológicas que podem acelerar o processo de descoberta, pesquisa ou

mecanismos dos medicamentos.

Nos últimos tempos, estas divisões foram mais difusas devido a diferentes factores

financeiros e estratégicos. A necessidade de acesso a capital e investidores por parte das

pequenas e médias empresas biotecnológicas, e de novos medicamentos e tecnologias

para grandes farmacêuticas, levaram ao desenvolvimento de alianças estratégicas entre

ambas as partes. (The Biopharmaceutical Industry: overview, prospects and

competitiveness challenges. p.4)

De uma forma geral, os acordos assinam-se nas primeiras etapas de pesquisa que

consistem num intercâmbio de capital por direitos sobre os lucros futuros do produto.

Mas, quanto mais cedo no processo de desenvolvimento é estabelecida a aliança, mais

desvantajoso pode ser o acordo para a companhia de biotecnologia já que a companhia

farmacêutica corre mais riscos em termos de capital investido e êxito do projecto. Por

isso, quase metade dos acordos são renegociados ou cancelados antes da finalização do

projecto. Ultimamente, as companhias biotecnológicas procuram sócias depois de

provado o conceito na fase II1.(The Biopharmaceutical Industry: overview, prospects

and competitiveness challenges. p.11)

A IMPORTÂNCIA DA BIOTECNOLOGIA

A biotecnologia tem criado novas opções terapêuticas e fornecido poderosas

ferramentas de pesquisa para a descoberta de novos farmácos e diagnósticos in vitro,

assim como permitiu uma melhor compreensão das causas das doenças através do

mapeamento do genoma humano. Isto exigiu visão, compromisso, investimento. e uma

atitude de risco por parte das indústrias.

É um desafio complexo, arriscado, prolongado e de investimento elevado, sendo essa a

razão pela qual as indústrias biofarmacêuticas devem ser estimuladas e, ao mesmo

tempo, recompensadas pela produção de novos fármacos, que prometem ser o Futuro.

1 Fase clínica II do desenvolvimento de novos fármacos

25

A inovação é a base do progresso no sector da saúde. Por isso, a indústria farmacêutica

investe todos os anos milhões de euros na pesquisa de novos medicamentos. A maior

parte do dinheiro investido pelas indústrias corresponde à pesquisa e ao

desenvolvimento de fármacos biológicos. (Highlights 2010: EBE Celebrating 10 years

of Achievements in 2010)

O sector de biofármacos é um sector relativamente jovem em comparação com o sector

farmacêutico. A Aspirina® foi introduzida no mercado há mais de um século. Desde

então, uma série de avanços científicos e tecnológicos na área da biotecnologia e da

nanotecnologia teve um tremendo impacto no desenvolvimento de produtos no sector

farmacêutico. Hoje, o desenvolvimento de produtos biofarmacêuticos é realizado por

empresas farmacêuticas, bem como por empresas biofarmacêuticas independentes, com

base em pesquisa realizada em universidades ou em empresas farmacêuticas spin-out.

(Highlights 2010: EBE Celebrating 10 years of Achievements in 2010)

BIOFÁRMACOS

Biofármacos são medicamentos biológicos que incluem uma vasta gama de produtos,

tais como vacinas, factores sanguíneos como o factor VIII e IX, agentes

tromboembolíticos activadores dos tecidos plasminogénios, hormonas, factores de

crescimento hematopoiéticos como a eritropoetina, proteínas terapêuticas recombinantes

como a insulina humana, interferões - α, - β, - γ, anticorpos monoclonais, interleucinas,

citocinas, entre outros. Podem ser compostos de açúcar, proteínas ou ácidos nucleicos

ou complexas combinações destas substâncias, ou podem ser organismos vivos, tais

como células e tecidos. Os produtos biológicos são isolados a partir de uma variedade

de fontes naturais – humana, animal ou microrganismos – e podem ser produzidos por

métodos de biotecnologia ou por outras técnicas de ponta, tais como ADN

recombinante, transferência de genes e produção de ácidos nucleios, ou seja, são

produzidos por células geneticamente modificadas, altamente variáveis, e sintetizam e

secretam grandes quantidades de proteínas, para além de substâncias activas desejadas,

tendo como resultado produtos de diferentes formas isoméricas, padrões de glicosilação

variáveis e outras modificações pós-translacionais. (Food and Drug Administration,

2009; http://www.fda.gov/AboutFDA/CentersOffices/CBER/ucm133077.htm )

26

Os biofármacos têm-se tornado elementos cruciais na prática clínica e opções

terapêuticas importantes para uma variedade de doenças complexas e de grande

incidência, proporcionando então uma melhor qualidade de vida e aumentando a

esperança média de vida. Isto deve-se ao facto de estes medicamentos substituírem ou

complementarem uma proteína produzida pelo organismo, ou ainda bloquearem um

efeito que pode originar doença. Isso tem ajudado a satisfazer as necessidades dos

médicos que eram anteriormente desencadeadas por medicamentos químicos e ao

mesmo tempo oferecem uma abordagem mais orientada para o tratamento de

determinadas doenças. Cancro, esclerose múltipla, Alzheimer, leucemia linfocítica

crónica, tumores cerebrais, anemia, artrite reumatóide, diabetes, psoríase, osteoporose,

linfoma, são exemplos de doenças em que os biofármacos estão a ter um impacto

bastante significativo. No entanto, espera-se que a ciência médica continue a

desenvolver novas terapias mais focalizadas. (Highlights 2010: EBE Celebrating 10

years of Achievements in 2010)

Figura 6 | Impacto dos biofármacos na qualidade de vida dos seres humanos (adaptado EuropaBio, 2005)

Esclerose múltipla: O uso do interferão β recombinante tem

melhorado a qualidade de vida de

muitos pacientes, diminuindo os

relapsos ou «crises» em 30%.

Artrite reumatóide: Novas bioterapias revertem a

degeneração das articulações depois de

48h do tratamento ser iniciado.

Cancro: Os novos agentes só atacam as células

cancerosas e são menos tóxicos do que

a quimioterapia.

Diabetes: Os análogos da insulina permitem um

melhor controle dos níveis de glicémia

e reduzem as complicações associadas à

doença.

27

Desde a aprovação da primeira insulina biológica recombinante, em 1982, cerca de 160

medicamentos biotecnológicos e vacinas ajudaram mais de 350 milhões de pacientes no

mundo inteiro, e mais de 500 medicamentos biológicos candidatos estão no pipeline.

(Highlights 2010: EBE Celebrating 10 years of Achievements in 2010) Entre 2003 e

2006, os agentes biológicos representavam 24% e 22% de todas as novas entidades

químicas aprovadas pelos Estados Unidos da América e pelas entidades reguladoras da

União Europeia, respectivamente. O crescimento do mercado é o dobro em relação aos

fármacos clássicos e, até ao final do ano 2010, quase 50% dos novos fármacos

aprovados deverão ser de origem biológica (Walsh, 2005). Em 2006, dos 200 fármacos

mais prescritos, um deles foi uma proteína recombinante, dado recolhido de acordo com

o volume de receitas médicas (Grabowski, 2006). De acordo com a empresa de

previsões EvaluatePharma®, em 2014, dos dez fármacos mais vendidos, seis serão de

origem biológica. Destes seis, cinco serão anticorpos monoclonais. Além disso, a

EvaluatePharma® estima que os produtos resultantes da biotecnologia serão

responsáveis por 50% dos 100 fármacos em 2014, e 75% em 2025. Têm no entanto

algumas desvantagens: são 20 vezes mais caros para os consumidores de medicamentos

padronizados, e muitos perderão em breve a protecção da patente. A progressiva

emergência do mercado dos medicamentos biológicos tem gerado empregos, riqueza,

terapias visionárias, uma melhor qualidade de vida e uma economia expandida.

(FirstWordSM

Dossier,2010: http://www.firstwordplus.com/FWD0561010.do)

COMPLEXIDADE VS DESENVOLVIMENTO DE NOVOS FÁRMACOS

«Globalmente, a biotecnologia moderna levou a uma mudança do estudo da bioquímica

celular para se focar ao nível das estruturas moleculares. Esta tendência representa um

movimento em direcção a uma crescente complexidade no desenvolvimento de

medicamentos (ver figura 7). A implicação é que as empresas biofarmacêuticas não só

enfrentam desafios crescentes ao conectar uma investigação fundamental para o

desenvolvimento de fármacos e de novas medicinas, elas também estão a enfrentar uma

crescente necessidade de financiamento de investigação e desenvolvimento precoce de

fármacos.» (Ernest e Young, 2008)

28

Figura 7 | Cronologia: Foco da pesquisa e desenvolvimento biofármacos

(adaptado European Federation of Pharmaceutical Industries and Associations 2008: The

Pharmaceutical industry in figures)

NÚMERO DE PATENTES NA EUROPA E NOS ESTADOS UNIDOS DA

AMÉRICA

«O desenvolvimento e as descobertas no campo da biotecnologia (biofármacos) no

início da década de 1990 resultaram numa onda de patentes. A partir de 1994, o número

de patentes aumentou significativamente nos países da União Europeia de 1315 para

2790 patentes em 2000. No entanto, até 2005, o número de novas patentes caiu e parece

ter estabilizado a um nível de 2200 para 2300 patentes por ano (ver figura 8). No

mesmo período, o número de aplicações de patentes iniciais nos Estados Unidos da

América era significativamente maior, mas nos útimos anos uma tendência convergente

no número de aplicações de patentes entre os Estados Unidos da América e a Europa foi

observado.

Entre todas as patentes de biotecnologia norte-americanas, 65% estão na «área da

saúde» (linha vermelha), enquanto a Alemanha é o único membro da União Europeia a

seguir os Estados Unidos da América. Por outras palavras, «o número total de

aplicações de patentes na "área da saúde" na União Europeia é considerado abaixo do

número de aplicações de patentes nos Estados Unidos da América.» (Eurostat, 2007)

29

Figura 8 | Número de aplicações de patentes biotecnológicas ao longo dos anos nos Estados Unidos da

América e na União Europeia (adaptado Eurostat database, 2009)

«O número de fármacos candidatos no pipeline (nas fases de ensaios clínicos I-III) na

União Europeia aumentou no período entre 2006 e 2008. Em 2008, o número total de

fármacos candidatos no pipeline foi estimado em mais de 1000, dos quais

aproximadamente 350 estavam na fase clínica I, mais de 600 na fase clínica II, e cerca

de 160 na fase clínica III. (Ernst & Young, 2009) A evolução do número de patentes

não parece ter tido qualquer tipo de impacto sobre o número de fármacos candidatos no

pipeline.»

«A Agência Europeia de Medicamentos (EMA) avalia os pedidos de autorização de

comercialização dos novos medicamentos (tanto biológicos como convencionais) para

uso humano. O número de medicamentos novos foi bastante estável entre 1996 e 2005,

enquanto o número de avaliações positivas aumentou drasticamente, como podemos

verificar na figura 9. Observa-se, especialmente em 2006 e 2007, um aumento do

número de pedidos de autorização de novos medicamentos, enquanto em 2008 quase

metade das aplicações foram para os genéricos. Isso pode indicar uma mudança de foco

na indústria biofarmacêutica do desenvolvimento de novos medicamentos para a

exploração do potencial de medicamentos já existentes. Outro ponto interessante é que a

Ernest & Young (2009) considera que as pequenas empresas europeias de biotecnologia

têm menos sucesso no que diz respeito às aprovações.» (Ernest & Young, 2009)

30

Figura 9 | Resultado da inicial evolução da aplicação de novos medicamentos para uso humano entre

1995 e 2008( adaptado Annual reports of the European Medicines Agency)

Desde 1996, o número acumulado de biofármacos no mercado da União Europeia

aumentou aproximadamente de 30 para 85, em 2005. No mesmo período, o mercado da

União Europeia para produtos biofarmacêuticos como parte de todos os produtos

farmacêuticos aumentou aproximadamente de 4% para 10%.

A União Europeia tem actualmente uma posição relativamente fraca no

desenvolvimento e na comercialização de biofármacos. De todos os produtos

disponíveis no mercado mundial (154 produtos), as empresas norte-americanas

desenvolveram 54%, enquanto apenas 15% dos produtos foram desenvolvidos por

empresas da União Europeia. Em contrapartida, as empresas suíças desenvolveram 10%

dos produtos no mercado mundial. (Bio4EU, 2008)

MEDICAMENTO PERSONALIZADO

A próxima fase da medicina farmacêutica será conduzida por avanços científicos

fundamentais na compreensão das doenças e no desenvolvimento de medicamentos

personalizados. No entanto, ainda existem desafios significativos no sentido de

melhorar a produção económica e a produção de produtos biológicos, e reforçar a sua

entrega, farmacocinética e reduzir a imunogenicidade. Apesar desses problemas,

recentes avanços na tecnologia de mAbs e TPs continuam a impulsionar a inovação e a

atender os mercados para a necessidade de tratar o paciente certo na hora certa.

(Gary, J., 2004)

31

No futuro, os pesquisadores serão capazes de traçar o mapa genético das pessoas,

eliminando efeitos secundários e individualizando o tratamento. A produção de

medicamentos biológicos é o primeiro passo para o desenvolvimento de medicamentos

chamados «inteligentes», feitos à medida do paciente, de acordo com o seu mapeamento

genético. A expectativa é de que eles tenham um impacto positivo na qualidade de vida

humana, já que, além de prevenir uma série de doenças, poderão ser usados com maior

hipóteses de cura e menos efeitos secundários. (Emilien, G., 2000)

A farmacogenómica é a grande promessa terapêutica do futuro, pois consiste no estudo

que relaciona o mapa genético de cada pessoa com a reacção do organismo aos

medicamentos. O seu objectivo é incrementar a segurança e a eficácia dos

medicamentos, explorando a relação entre o genoma (ADN) e as respostas aos

fármacos. Do mesmo modo, os investigadores estão a realizar ensaios sobre a dose dos

medicamentos adequada a cada indivíduo. A descoberta das diferenças da composição

genética das pessoas ajudará os médicos a receitar o medicamento apropriado, na dose

correcta para cada paciente, permitindo que sejam mais eficazes e causem menos efeitos

adversos. Com isto, concluímos que, conhecendo o gene causador da doença, é

realmente possível «cortar o mal pela raiz», evitando que o organismo se debilite

desnecessariamente e sofra com efeitos adversos de medicamentos inadequados. Estes

ensaios também ajudarão a averiguar novas e melhores maneiras de desenvolver os

medicamentos do futuro. (Brandão, A., 2008)

BIOSIMILARES

Enquanto o mercado dos biofármacos cresce rapidamente, a fase inicial da primeira

geração dos medicamentos biológicos está agora a chegar ao fim. As patentes começam

a expirar ao fim de, sensivelmente, 20 anos e isso abre o caminho para o mercado de

genéricos. No entanto, estes novos medicamentos não são definidos como genéricos ou

biogenéricos, mas sim como «biosimilares» na Europa, follow-on pharmaceutical nos

Estados Unidos e subsequent entry biologics no Japão. Devido ao tamanho e à

complexidade da estrutura das proteínas, a produção de biosimilares é complexa e

sensível, mesmo a pequenas alterações nos processos de fabrico e armazenamento.

Assim, a heterogeneidade entre as mesmas proteínas de diferentes fabricantes, e mesmo

entre lotes do mesmo processo de fabrico, não pode ser evitada (Chirino e Mire-Sluis,

2004; Crommelin, 2003; Schellekens, 2004). Essas diferenças podem surgir de

processos de fabricação distintos e variações na linha principal de células,

32

transformação e purificação, excipientes inertes e embalagens. Até mesmo pequenas

mudanças de fabricação aparentemente insignificantes poderiam, teoricamente,

contribuir para diferenças na conformação de proteínas, agregação e glicosilação, que se

pode manifestar clinicamente como uma diminuição da eficácia, alteração na

farmacocinética ou aumento da imunogenicidade. Portanto, os biosimilares são

medicamentos biológicos «similares», mas não «idênticos» aos de referência. As

clássicas abordagens genéricas não se aplicam nestes casos, pois o termo genérico

implica uma cópia exacta do produto original, com as mesmas acções farmacológicas.

Além disso, é difícil estabelecer a equivalência terapêutica dos biosimilares com os

produtos de referência; sem ensaios clínicos torna-se complicada a aprovação para o

mercado (Locatelli e Roger, 2006). De facto, o registo de biosimilares requer uma

avaliação mais rigorosa do que aquela que é exigida para os medicamentos genéricos

convencionais; para além disso, os pedidos de autorização de introdução no mercado

(AIM) devem ser acompanhados de estudos comparativos para demonstrar a

semelhança entre o biosimilar proposto e o produto de referência no que diz respeito à

qualidade, segurança e eficácia.

A União Europeia já estabeleceu um caminho legal para a aprovação de biosimilares. A

Agência Europeia de Medicamentos (EMA) desenvolveu directrizes regulamentares, e,

em Abril de 2006, a Comissão Europeia concedeu a aprovação do primeiro fármaco

biosimilar, uma hormona de crescimento recombinante. Actualmente, não existe

qualquer processo formal de regulamentação nos Estados Unidos da América.

Na União Europeia, as orientações sobre biosimilares foram emitidas através de

procedimentos abertos, com a participação de comissões de peritos, autoridades

nacionais, comunidades científicas e indústrias. O «medicamento biosimilar» foi

introduzido na legislação da União Europeia em Junho de 2003, e desenvolvido pela

comissão farmacêutica da UE em Abril de 2004 (do Parlamento Europeu e do

Conselho, de 2004). Este conceito permite que um fabricante, ao apresentar um pedido,

receba uma autorização para que o medicamento seja similar a outro medicamento

biológico, o de referência. De acordo com as disposições básicas para biosimilares, o

fabricante terá de demonstrar ou justificar que os medicamentos novos e originais/de

referência têm perfis semelhantes em termos de qualidade, segurança e eficácia, e os

dados serão julgados caso a caso. Todos os medicamentos, testes pré-clínicos e clínicos,

necessitam de uma especial atenção quanto à imunogenicidade, ensaios pós-

33

comercialização, e vigilância. Assim, na União Europeia, a aprovação adoptada é

baseada numa «comparação» entre um biosimilar e um produto original já aprovado.

Na verdade, alguns países da Europa, como França e Espanha, publicaram novas regras

para evitar a substituição automática de medicamentos biológicos por biosimilares

(Kane, 2008). Além disso, o nome, a aparência e a embalagem de um medicamento

biosimilar deve ser idêntica ao do medicamento biológico de referência porque os

biosimilares são aprovados como agentes seguros e eficazes pela autoridade, mas serão

inerentemente diferentes dos medicamentos inovadores. O resultado da comutação ou

substituição dos produtos inovadores e biosimilares deve ser visto como uma mudança

na conduta clínica; contudo, os pacientes que são tratados com biosimilares recebem os

mesmos benefícios.

GENÉRICOS VS BIOSIMILARES

«Os medicamentos genéricos são medicamentos químicos que têm a mesma

composição qualitativa e quantitativa em termos de substância activa, a mesma forma

farmacêutica, e são bioequivalentes ao medicamento de referência. São aprovados com

referência nos dados toxicológicos e clínicos e são comercializados quando a patente do

produto original expirou. Assim, um medicamento genérico é um produto que é

indicado para ser o mesmo que um medicamento inovador, geralmente designado como

terapêutica intercambiável em voluntários saudáveis. Não existem requisitos para a

avaliação da equivalência terapêutica ou para a criação de segurança e eficácia dos

medicamentos genéricos. Apesar de terem a mesma eficácia e segurança, eles podem

custar até 80% menos e é por isso que os genéricos são amplamente prescritos, bem

como aceites pelo público como seguros e eficazes, e geralmente vistos como um

sucesso clínico e económico e, preferencialmente, reembolsados. Na verdade, os

genéricos representam aproximadamente 55% da receita total nos Estados Unidos da

América.» (Morrison, 2007)

No que diz respeito à duração e ao custo do desenvolvimento de novos fármacos

também existem diferenças entre um genérico e um biosimilar. Estima-se que o

desenvolvimento de um genérico leve entre 2 e 3 anos, enquanto para um biosimilar é

necessário entre 6 e 7 anos. A fase clínica não excede um ano, no caso dos genéricos,

mas aumenta para 2 ou 3 para os biosimilares. O custo total do desenvolvimento situa-

se entre 0,4 e os 2 milhões de euros para os genéricos e entre 20 e 30 milhões de euros

para os biosimilares. (Little, A.D., 2009)

34

BIOSIMILARES VS BIOBETTERS

Os medicamentos biológicos geram receitas de mais de 83,620 milhões de euros nos

Estados Unidos da América, nas terapias com anticorpos monoclonais, vacinas e

factores sanguíneos. Estes valores são susceptíveis à concorrência biosimilar, na qual as

vendas reais são apenas de 51,33 milhões de euros em todo o mundo. Em 2013, as

vendas biológicas irão quase duplicar nos Estados Unidos da América para 138,25 mil

milhões de euros, dos quais 54,77 mil milhões de euros serão sensíveis à concorrência

biosimilar; os biosilimares poderão gerar um mercado global de 3,83 mil milhões de

euros. Este é 1/3 do potencial de mercado, assumindo que os biosimilares são 70% dos

produtos inovadores e atingem uma quota de 30% das unidades vendidas.

(FirstSM

Dossier, 2009: http://www.firstwordplus.com/FWD0221209.do)

À medida que os medicamentos biológicos de primeira geração, tais como a insulina

humana e o factor de crescimento humano, perdem a patente, abre-se o caminho para a

concorrência das versões biosimilares dos mesmos fármacos. O impacto sobre a

indústria é inegável: o aumento do custo dos biofármacos existentes é elevado,

comparado com o menor preço e a maior disponibilidade dos biosimilares, ou seja, as

indústrias biotecnológicas terão de competir com os biosimilares de primeira geração no

que a preços diz respeito. Não obstante, o sucesso a longo prazo exigirá a capacidade de

criar novos produtos que serão diferenciados dos biosimilares concorrentes.

Os produtos inovadores da nova geração enfrentarão os produtos de primeira geração no

mercado. Estes novos produtos são designados por biobetters, e oferecem mais

vantagens sobre os produtos de primeira geração que os biosimilares actualmente

tentam imitar. As indústrias, agora, também têm necessidade de formular estratégias

para desenvolver biobetters, já que estes são susceptíveis de serem mais facilmente

aceites pelos utilizadores finais, e podem corresponder ou até mesmo exceder os

produtos de origem em termos de potenciais geradores de receitas.

Enquanto a maioria dos biofármacos de primeira geração são de libertação imediata e

administrados por via subcutânea ou intravenosa, os biobetters são ainda melhores. Ao

serem modificados por proteínas ou por glico-engenharia, são mais eficazes, exigem

uma menor frequência de dosagem e, mais criticamente, reduzem o risco de

imunogenicidade. Para além disso, causam menos efeitos adversos e ainda apresentam

custos mais reduzidos. (FirstSM

Dossier, 2009:

http://www.firstwordplus.com/FWD0221209.do)

35

Alguns agentes biológicos enfrentam, como já referimos anteriormente, uma grande

concorrência por parte dos genéricos. Durante um período de previsão (2009 – 2013),

foram classificados por ordem decrescente: eritropoetina, as insulinas, o entanercept, o

interferão β, colónias de granulócitos de factores estimulantes (G-QCA), factores de

coagulação, enoxaparina, hormonas de crescimento humano, interferão α, imiglucerase,

goserelina, somatostatina, ciclosporina, Pulmozyme®, tenecteplase, a calcitonina, a

vacina da Hepatite B, desmopressina, toxina botulínica tipo A, a GM-CSF e IL-2.

(NFGBiotech,2008:http://ngfbiotech.com/index.php?option=com_content&view=article

&id=53&catid=45&Itemid=50)

Figura 10 | Biológicos susceptiveis à concorrência biosimilar (adaptado Compiled by Biophoenix, Agosto

2010)

OS 25 MEDICAMENTOS BIOLÓGICOS TOP: SERÃO OS PRÓXIMOS ALVOS

BIOSIMILARES?

Segundo uma análise ao mercado líder de medicamentos biológicos, constatou-se que as

vendas dos 10 principais medicamentos biotecnológicos ultrapassaram os 28,6 mil

milhões de euros em 2008.

Verificou-se então que o Enbrel da Amgen liderou a lista com as vendas mundiais nos

Estados Unidos da América em 4,01 mil milhões de euros, seguido pelo Rituxan da

Genentech com 3,45 mil milhões de euros, Humira da Abbott com 3,06 mil milhões de

euros e o Avastin da Genentech com 3,06 mil milhões de euros. Genentech e Amgen,

têm ambas quatro biofármacos no top 25, com vendas totais nos Estados Unidos da

América de 10,660 milhões de euros e de 10,120 milhões de euros respectivamente, em

36

2008. Estes medicamentos podem, muito provavelmente, ser os próximos alvos

biosimilares. (GABI, 2009: http://www.gabionline.net/Reports/Top-25-biotech-drugs-

the-next-biosimilars-targets)

Os 25 medicamentos biológicos top são:

1. Enbrel (Amgen)

2. Rituxan (Genentech)

3. Humira (Abbott)

4. Avastin (Genentech)

5. Herceptin (Genentech)

6. Remicade (Johnson & Johnson)

7. Glivec (Novartis)

8. Neulasta (Amgen)

9. Lantus (Sanofi – Aventis)

10. Aranesp (Amgen)

11. Prevenar (Wyeth)

12. Taxotere (Sanofi – Aventis)

13. Procrit Eprex (Ortho Biotech)

14. Epogen (Amgen)

15. Copaxone (Teva)

16. Avonex (Biogen Idec)

17. Truvada (Gilead Sciences)

18. Lucentis (Genentech)

19. Humalog (Eli Lilly)

37

20. Rebif (Merck Serono)

21. Atripla (Gilead Sciences)

22. Erbitux (ImClone)

23. Cialis (Eli Lilly)

24. Betaseron (Bayer Schering)

25. Tracleer (Actelion)

Biofármaco Doença

Enbrel Foi o primeiro biofármaco aprovado para o

tratamento da artrite reumatóide, após a

clonagem do factor da necrose tumoral (TNF)

em 1989. O TNF encontra-se em grandes

quantidades nas articulações que sofrem de

artrite e promovem a inflamação. O Enbrel

inibe o TNF, ajudando então o paciente a

reduzir a rigidez, o inchaço e as dores que a

artrite reumatóide provoca.

Rituxan Tratamento da leucemia linfócitica crónica.

Está em curso um ensaio clínico de fase III

para o Rituxan no tratamento da vasculite.

Humira Tratamento da artrite reumatóide, artrite

psoriática, artrite idiopática juvenil

poliarticular, doença de Crohn e psoríase.

Avastin

Primeiro biofármaco aprovado para o

tratamento do cancro. É geralmente

combinado com a quimioterapia.

Herceptin Utilizado no tratamento do cancro da mama

metastático que apresenta tumores com

superexpressão do HER2 (receptor-2 do

factor de crescimento epidérmico humano).

Remicade Utilizado no tratamento da artrite reumatóide,

reduz os sinais e sintomas, previne a lesão

articular estrutural (erosões e estreitamento

38

do espaço articular), e melhora o desempenho

físico em pacientes com a doença activa.

Glivec Primeiro fármaco que ataca as células do

cancro mais especificamente. É um derivado

do 2-fenilaminopirimidina que inibe a

proteína tirosino – quinase Bcr – Abl,

induzindo a apoptose das células

cancerígenas.

Neulasta Utilizado para reduzir a duração da

neutropenia e da incidência da neutropenia

febril em pacientes tratados com

quimioterapia citotóxica para doença

maligna.

Lantus Este fármaco tem o mesmo poder de redução

da glicose como a insulina. Lantus (insulina

glargina) é um análogo da insulina injectável

solúvel humana produzida pela técnica do

ADN recombinante utilizando o

microrganismo Escherichia coli.

Aranesp Utilizado no tratamento da anemia em

pacientes em estágio final da doença renal.

Tabela 2 | Dez dos 25 medicamentos biológicos top e suas respectivas aplicações terapêuticas

(adaptado http://www.gabionline.net/Reports/Top-25-biotech-drugs-the-next-biosimilars-targets)

MERCADO DOS BIOSIMILARES

A superfície do mercado de biosimilares pode parecer muito atraente, mas vários

obstáculos significativos irão impedir o seu suave crescimento:

As vendas da maioria dos biofármacos são sensivelmente mais elevadas nos

Estados Unidos da América do que no resto do mundo. No entanto, não é

improvável que seja uma via de regulamentação para a maioria dos biosimilares

nos Estados Unidos depois de 2010. O desenvolvimento de novos produtos

dependerá, em primeira instância, do número de vendas que um biosimilar pode

gerar na Europa.

39

O mercado biosimilar caracterizar-se-á por uma concorrência de preços, mesmo

quando há apenas uma ou um número muito limitado de empresas de um

determinado produto. Isso vai limitar a dimensão da oportunidade comercial.

Um diferencial de preço baixo reduz o incentivo para mudar. O consenso parece

ser que um desconto de 20 – 25% é ideal para incrementar o regresso aos

produtos de primeira geração.

Fabricantes de produtos de marca são propensos a usar tácticas defensivas

sofisticadas, incluindo o desenvolvimento de biofármacos, para manter a

participação.

Vários biosimilares potenciais enfrentam a concorrência dos produtos de

segunda geração, com mais horários de administração. Em muitos casos, o

mercado de produtos originais e de segunda geração não podem ter uma

acentuada diferença de preços.

O custo de desenvolvimento será significativamente superior aos genéricos de

base química e há menor probabilidade de êxito do lançamento, o que coloca o

investimento em risco. Este é um território novo para muitas empresas de

genéricos e podemos encontrar outras empresas que já geriram estes riscos, tais

como farmacêuticas de marca, que entram no mercado biosimilar.

O investimento de capital necessário e os custos operacionais de produção serão

muito maiores para os biosimilares do que para os medicamentos genéricos.

A cadeia de abastecimento para os biosimilares será muito diferente da actual

gama de medicamentos genéricos. Os biofármacos são menos estáveis do que os

produtos farmacêuticos com base química e, portanto, exigem que a distribuição

da cadeia de frio tenha uma vida útil mais curta. Isso aumenta o custo e a

complexidade da distribuição.

Monitoramento de segurança pós-aprovação deverá ser obrigatório, pelo menos

para os primeiros produtos biosimilares aprovados.

Os médicos devem especificar a Denominação Comum Internacional (DCI) ou

da marca. Isso dificulta a prescrição de genéricos e de substituição.

40

Desenvolvimento da marca será muito importante e o marketing para um

pequeno número de especialistas é provável que seja altamente competitivo.

Os médicos vão ser cautelosos sobre a relativa segurança e eficácia dos

medicamentos biosimilares, a curto prazo, e um alto investimento promocional

será necessário.

A melhoria pode adicionar um valor significativo e aumentar a diferenciação do

produto. Há, no entanto, um número limitado de empresas de fornecimento de

medicamentos, muitas dos quais já a trabalhar exclusivamente com os

operadores de marca.

Para aproveitar ao máximo a oportunidade, as empresas de genéricos terão que mudar o

seu modelo de negócio. O modelo actual consiste no lançamento de novos produtos

genéricos regularmente para manter o crescimento. As barreiras à entrada são

relativamente baixas e tende a haver rivalidade de preços de vários genéricos

concorrentes, havendo uma redução das vendas de forma significativa após o primeiro

ano no mercado. Não está claro se haverá candidatos biológicos suficientes para uma

empresa que é focada no lançamento de biosimilares possa sustentar o crescimento, pois

é possível que os biosimilares não sejam suficientes para que a empresa recorra a estes

sozinha para lançar um novo produto cada ano.

As empresas que podem ter sucesso no mercado biosimilar precisam de ter uma

estrutura de marketing adequada, bem como os recursos financeiros para desenvolver os

produtos e para aceitar os riscos iniciais mais elevados no desenvolvimento,

comercialização e investimento de capital. As empresas de biosimilares necessitam,

desta forma, de adoptar diferentes modelos de negócio e estratégias das empresas dos

genéricos convencionais. Este é um novo território para a maioria dos investidores de

genéricos e há probabilidade de serem menos os investidores em biosimilares do que

nos genéricos tradicionais. Num curto prazo, os benefícios comerciais de entrar nos

mercados de biosimilares são susceptíveis de serem pequenos.

O lançamento de biosimilares prevê novos desafios e ameaças para a indústria de

produtos biológicos. Relativamente aos biosimilares, poucos foram lançados até ao

momento devido aos elevados custos financeiros e barreiras técnicas à entrada, mas os

que chegaram ao mercado estão disponíveis com um desconto entre 20% e 30% em

relação aos produtos de marca. Os fabricantes de biológicos já estão a desenvolver

41

produtos de segunda geração com maior eficácia, segurança e/ou perfis

farmacocinéticos para estarem um passo à frente da concorrência (biobetters).

(FirstSM

Dossier, 2009: http://www.firstwordplus.com/FWD0221209.do)

QUAIS OS PAÍSES QUE OFERECEM MELHORES OPORTUNIDADES PARA

OS BIOSIMILARES?

Num curto e médio prazo, os investidores de biosimilares precisam de ter uma presença

significativa na União Europeia. Os Estados Unidos da América têm um maior

potencial de mercado do que a Europa, em quase todas as classes de produtos. No

entanto, não é improvável que seja uma via de regulamentação para a maioria dos

biosimilares nos Estados Unidos da América após 2010. A decisão sobre quais os

produtos comerciais a desenvolver dependerá, em primeira instância, do nível de vendas

que um biosimilar pode gerar na Europa, embora na União Europeia, o Regulamento da

Comissão Europeia ainda não seja homogéneo. Por exemplo:

– A Alemanha tem um óptimo e desenvolvido mercado de genéricos, preços elevados e

utiliza muito os biofármacos. A Alemanha é provavelmente o mercado europeu mais

atraente para os biosimilares;

– O Reino Unido, por outro lado, também tem um desenvolvido mercado de genéricos e

com preços elevados. No entanto, o menor uso de produtos biofarmacêuticos torna o

mercado muito menos atraente.

– A Espanha continua a ser um dos países da União Europeia com o consumo mais

baixo de genéricos. Isto porque os preços dos medicamentos são baixos, impedindo o

desenvolvimento do mercado genérico espanhol, e também pela falta de incentivo por

parte dos médicos em prescrever genéricos. No entanto, o mercado espanhol é

caracterizado pela elevada utilização de agentes biológicos e pela rápida aceitação de

novos produtos.

Estados Unidos da América

Os Estados Unidos da América têm o mercado de genéricos mais dinâmico do mundo.

No entanto, é um dos mais difíceis, com uma forte concorrência a exercer uma

considerável pressão sobre as margens. A falta de uma via regulamentar significa que

um mercado para a maioria dos biosimilares não se irá desenvolver até ao final de 2010.

(FirstSM

Dossier, 2009: http://www.firstwordplus.com/FWD0221209.do)

42

Figura 11 | Competências essenciais que as empresas de biosimilares necessitam para sobreviver

(adaptado http://www.firstwordplus.com/FWD0221209.do)

BIOFÁRMACOS VS FÁRMACOS CONVENCIONAIS

A maioria dos medicamentos biológicos consiste em misturas complexas que não são

facilmente identificadas ou caracterizadas, ao contrário da maioria dos medicamentos

convencionais que são quimicamente sintetizados, e de estrutura conhecida. A

complexidade molecular é uma das principais diferenças entre estes dois tipos de

fármacos. As moléculas de um biofármaco são muito mais pesadas, têm uma estrutura

espacial mais complexa e são mais diversas do que as moléculas pequenas que

compõem os medicamentos convencionais. A molécula de um biofármaco é uma

proteína formada por uma cadeia de centenas de aminoácidos com uma estrutura

tridimensional que afectará a sua actividade. As figuras 12 e 13 demonstram claramente

a diferença entre ambos. (EuropaBio,2005)

Figura 12 | Exemplo de um biofármaco (Interferão β)

(adaptado EuropaBio,2005)

Figura 13 | Exemplo de um fármaco químico (Aspirina®)

(adaptado EuropaBio,2005)

43

Tabela 3 | Comparação entre o peso molecular de um medicamento químico e de um medicamento

biológico (adaptado EuropaBio,2005)

É de facto notória, pela análise da tabela acima mencionada e pela visualização das

figuras 12 e 13, a diferença molecular entre estes dois tipos de fármacos. A figura 14 é

um resumo das principais características que distinguem os fármacos de síntese química

e os de síntese biotecnológica. Em ambos se utliza o termo Me Too, que são fármacos

estruturalmente muito semelhantes a fármacos já conhecidos, com apenas pequenas

diferenças.

Figura 14 | Esquema representativo das principais diferenças entre um fármaco biológico e um

convencional (adaptado Ainsworth, S.J., 2005)

Fármaco Químico Peso Molecular

(Daltons)

Biofármaco Peso Molecular

(Daltons)

Prozac® 166 Intrão - A® 19.625

Claritin® 383 Enbrel® 75.000

Zocor® 419 Rituxan® 145.000

Fármaco

Síntese

química

Biotecnológicos

Original

Genérico

Me Too

Peso Molecular: 200 – 1.000

Síntese química

Moléculas simples

Bioequivalência

Original

Me Too

Biosimilar

Peso Molecular: 20.000 – 300.000

Biotecnológicos

Moléculas complexas

Bioequivalência é necessária mas

não é suficiente

44

PROCESSOS DE PRODUÇÃO DE BIOFÁRMACOS E FÁRMACOS

CONVENCIONAIS

Existem também grandes diferenças no processo de produção, avaliação e

monitorização de ambos os tipos de medicamentos. A produção de biofármacos requer

uma validação mais restrita e uma permanente avaliação do produto ao longo do

processo de produção, já que há muitos mais parâmetros que a afectam, para além de

serem mais complexos. Estima-se que são necessários 40 a 50 testes críticos para um

produto químico, enquanto um produto biológico é testado 250 vezes ou mais durante o

processo de produção de forma a garantir a eficácia do medicamento. (Honorato, J et al,

2009)

Processo Pequenas Moléculas Biofármacos

Número de lotes registados > 10 > 250

Testes de qualidade > 100 > 2000

Críticas nas etapas do

processo

> 100 > 5000

Intodução de dados do

processo

> 4000 > 60000

Tabela 4 | Resumo dos procedimentos de fabrico/requisitos para biofármacos e fármacos convencionais

(adaptado Honorato, J et al, 2009)

A produção de biofármacos envolve o uso da biotecnologia, muitas vezes definida como

todas as linhas de trabalho pelo qual os produtos são produzidos a partir de matérias-

primas, com o auxílio de seres vivos. Cada etapa do processo de produção é uma área de

intensa pesquisa e investigação, desde a escolha do vector de expressão, a linha da

célula hospedeira, os protocolos de purificação, as avaliações do controlo de qualidade,

até à formulação do produto final: o crescimento e fermentação das células pode levar

semanas, as etapas complexas de purificação são necessárias e, finalmente obtém-se o

produto desejado. A primeira etapa para desenvolver um medicamento biológico

consiste em modificar geneticamente uma célula ou microrganismo para introduzir uma

sequência de código genético que produz a proteína escolhida. A célula ou

microrganismo é conservada e réplicas dela serão cultivadas durante o processo de

produção. O crescimento das células é feito em condições adequadas para um

crescimento óptimo (temperatura, pH, oxigénio, alimentos, etc...). Feito a partir dessas

45

condições de crescimento, inicia-se a colheita da proteína, junto de todas as outras

proteínas celulares e materiais de resíduos, que é remanescente do meio de cultura.

Depois, esse extracto passa para a etapa de purificação, que implica vários passos que

utilizam uma diversidade de processos até atingir a substância activa – para o qual cada

fabricante define os testes que garantem a sua pureza. E por último, é fabricado o

medicamento estabilizado e formulado, com o qual serão realizados os ensaios clínicos

para o tratamento terapêutico. Para obter a indicação terapêutica desejada, é importante

garantir que o produto seja resultante de um processo válido e amplamente controlado

ao longo de todos esses passos. (Honorato, J. et al, 2009)

Ao serem produzidos por organismos vivos, os produtos biológicos são inerentemente

variáveis, por isso existe necessidade de mudar os processos de produção, por menor

que sejam; mudam-se os parâmetros de fabricação, equipamentos, matérias-primas,

entre outros. Além disso, há mudanças no produto que podem não ser detectáveis pela

tecnologia analítica actual. Toda a mudança no processo deve ser novamente avaliada

pelas autoridades, por meio de um complexo processo de comparabilidade com o

processo anterior e que deve sempre considerar novos ensaios clínicos suplementares.

Para garantir a consistência nas características dos produtos finais e os perfis de

segurança e eficácia, a fonte do material, os processos de produção, a formulação e as

condições de armazenamento devem ser cuidadosamente seguidas e controladas,

cumprindo as restritas exigências das boas práticas de manufactura (GMP) específicas

para os produtos biotecnológicos que incluem: (EuropaBio, 2005)

– Produção de princípios activos por biotecnologia;

– Isolação e purificação dos princípios activos;

– Desenvolvimento e validação do processo de elaboração com consistência em todas as

etapas;

– Análise do produto final;

– Comprovação da eficácia e segurança do medicamento através da realização de

ensaios clínicos.

Geralmente, as indústrias desenvolvem padrões e ensaios específicos para cada

medicamento biológico. Por isso, é expectável que os processos de produção variem

dependendo do fabricante do produto. Daqui é possível deduzir que não pode existir um

biofármaco com o mesmo perfil de segurança, qualidade e eficácia quando produzido

por duas indústrias diferentes.

46

Pequenas diferenças em matérias-primas e nos processos de fabricação podem alterar os

efeitos clínicos, por exemplo, fazendo com que os processos de glicosilação e a

conformação, rácios de impurezas e de agregação das subunidades resultem em

produtos diferenciados. Com isto, a maioria dos fabricantes das patentes biológicas

guardam os métodos de produção como segredos de propriedade intelectual. Assim, o

processo de desenvolvimento e homologação de produtos biosimilares torna-se

extremamente difícil, fazendo com que as réplicas exactas dos biofármacos sejam quase

impossíveis. É por essa razão que não existem «biogenéricos» mas sim biosimilares.

(Federação Latino-Americana da Indústria Farmacêutica, 2006)

Casos Conclusões

Dependência de expressão no meio de

cultivo de células.

Dentro da mesma linha celular produtora,

a expressão específica de uma proteína

recombinante pode variar de acordo com

os materiais-chave no meio de cultivo das

células.

Os controlos em processo podem ser mais

apropriados do que a análise da substância

medicamentosa para detectar componentes

que são difíceis de medir a níveis muito

baixos.

Os critérios no processo podem formar

parte da definição dos atributos do produto

e podem ser usados para garantir a

consistência do mesmo.

Efeitos dos tempos de espera sobre a

geração de impurezas relacionadas com o

produto.

Diferenças finas num processo, como um

passo de espera durante a realização de um

processo, podem afectar subtilmente os

atributos do produto.

A ampla experiência no desenvolvimento

do processo na escala-piloto pode ser útil

para apoiar os dados limitados da escala

comercial no momento de solicitar uma

autorização para comercialização.

Sem uma grande quantidade de dados

sobre o desenvolvimento do processo, é

frequentemente díficil determinar os

critérios de consistência num número

limitado de lotes fabricados na escala

comercial desejada.

47

Exemplo relacionado com as condições do

cultivo de células.

Mudanças nas condições do cultivo de

células podem afectar significativamente

os níveis de espécies ou impurezas

relacionadas com o produto, como

também, características da proteína da

perspectiva do processamento pós-

tradução.

Exemplo relacionado com as impurezas

medidas em diferentes etapas da

purificação.

Sem um amplo conhecimento das

depurações obtidas com o novo processo

de purificação, o produtor não estará em

posição de tirar conclusões sobre a relação

entre o biosimilar proposto e o produto de

referência.

Exemplo relacionado com ensaios e

procedimentos usados para determinar

proteínas residuais da célula-hospedeira na

substância medicamentosa.

Atributos do produto, tais como proteína

residual da célula-hóspede, dependem

frequentemente do procedimento analítico.

Por isso, as comparações só são válidas se

for aplicada a mesma metodologia nos

dois grupos de amostras.

Exemplo relacionado com dados

apresentados para justificar especificações.

As especificações do biosimilar proposto e

o produto de referência podem não ser as

mesmas.

Tabela 5 | Casos e consequências como resultado de mudanças no processo de produção (adaptado ERA

Consulting Group)

48

FASES NO DESENVOLVIMENTO E NA APROVAÇÃO DE MEDICAMENTOS

A aprovação de medicamentos para uso humano segue uma metodologia bem

estabelecida, sendo a mólecula testada em 4 fases.

Para controlar e assegurar que os medicamentos que as pessoas consomem são de facto

eficazes e seguros, ou seja, que o risco de efeitos secundários quando comparado com

os benefícios é aceitável e garantido para produzir clinicamente os efeitos desejados,

foram criadas instituições que têm como função aprovar novos medicamentos e regular

e vigiar os já existentes: na Europa, temos a Agência Europeia de Medicamentos (EMA)

e nos Estados Unidos da América a Food and Drug Administration (FDA). (Howlland,

R.H, 2008)

No caso de medicamentos biosimilares, são necessários estudos comparativos entre os

dois tipos de fármacos. É realizado um processo passo-a-passo, que consiste em

comparar a qualidade, a consistência do produto e o seu processo de fabricação,

segurança e eficácia. As informações necessárias nesse processo são as seguintes:

– Dados não clínicos: os dados são fornecidos através da realização de testes in vitro e

in vivo, antes dos estudos clínicos. Pelo menos um estudo de toxicidade de dose repetida

deve ser realizado.

– Dados clínicos: os dados são fornecidos através da realização de ensaios clínicos em

voluntários saudáveis e doentes. A comparabilidade clínica é realizada em etapas e

inclui:

Equivalência clínica (farmacocinética e farmacodinâmica);

Segurança;

Imunogenicidade;

Farmacovigilância.

O processo de aprovação de medicamentos sofreu várias alterações, de modo a

acompanhar a evolução técnica e as exigências bioéticas.

O processo de desenvolvimento e aprovação de um medicamento pode ser dividido em

várias fases: fase pré-clínica, fase clínica I, fase clínica II, fase clínica III e, por último,

a fase IV (fase de farmacovigilância). (F., Hincal, 2009)

49

FASE PRÉ-CLÍNICA

Esta fase tem uma duração de 3 – 4 anos, e consiste na pesquisa de um fármaco

promissor para uma determinada patologia. Nesta fase, são testadas milhares de

substâncias, sendo que poucas são seleccionadas para estudos posteriores. Tem como

objectivo principal a avaliação farmacológica in vitro e in vivo, permitindo um maior

conhecimento das suas propriedades e dos seus efeitos adversos. Ao mesmo tempo, a

sua farmacocinética é testada em animais, normalmente em ratos. Além disso, o

composto é submetido a testes de toxicidade a curto e longo prazo em animais, para que

as suas propriedades farmacológicas possam ser definidas dentro de uma relação dose-

resposta. A duração do teste toxicológico está relacionada com a provável duração do

uso terapêutico. Nesta fase é também importante avaliar os efeitos do fármaco sobre a

imunogenicidade.

Após a selecção de uma substância com interesse clínico, é requerido à FDA um

estatuto de Investigational New Drug (IND), para poder ser utilizado nos estudos

clínicos subsequentes. (Grahame-Smith e Aronson, 2004)

FARMACOCINÉTICA

O estudo das características farmacocinéticas dos medicamentos biológicos é complexo.

A determinação dos peptídeos ou proteínas nos fluídos biológicos é dificultada pela sua

semelhança com os peptídeos e com as proteínas provenientes dos nutrientes. No

entanto, o progresso das técnicas analíticas tornaram isso possível, e cada vez mais

acessível, embora seja necessário recorrer a procedimentos mais sofisticados, como

imunoensaios, espectrofotometria de massa, entre outros.

Quando se administra um biológico não se conhece bem a quantidade de fármaco que

chega ao local de acção e quais as consequências que podem derivar dele. Alguns

biológicos são semelhantes às proteínas endógenas e, em princípio, seria de esperar que

os seus efeitos fossem semelhantes. No entanto, isso não acontece porque o seu

mecanismo de acção pode ser diferente das substâncias endógenas. Várias citocinas têm

uma secreção parácrina de modo a que a sua secreção para uma célula tenha o objectivo

de actuar sobre outra célula ou sobre o receptor seguinte. De uma forma diferente,

quando se administra, por exemplo, IL-2 por via intravenosa, o fármaco atinge

imediatamente o seu local de acção e pode sofrer muitas mutações antes de atingir os

seus receptores específicos, sendo necessárias doses elevadas para produzir o efeito

terapêutico pretendido produzindo efeitos adversos indesejáveis.

50

A farmacocinética dos fármacos biológicos apresenta uma série de propriedades

diferenciadas.

A biodisponibilidade dos biofármacos quando se administra por via per os é baixa, na

maior parte das vezes, inferior a 1%. Isto deve-se principalmente a dois factores:

primeiro, à grande actividade enzimática que existe no aparelho digestivo, e segundo, à

função barreira da parede intestinal face à absorção de moléculas. Devido a estes

problemas, utilizam-se outras vias de administração, IV, IM e SC, sendo as mais

utilizadas a SC e a IV. Ao utilizar a via subcutânea, a biodisponibilidade é teoricamente

de 100%.

Os factores que podem modificar a biodisponibilidade são: o peso molecular, o animal

em estudo, o local onde é injectado, a vascularização da camada muscular adjacente ou

a presença de alterações patológicas no local da injecção. De entre todos estes factores,

o que mais afecta a biodisponibilidade é o peso molecular.

A absorção das proteínas com elevado peso molecular é feita através do sistema

linfático, enquanto as de baixo peso molecular é feita pela corrente sanguínea. No

entanto, o transporte através do sistema linfático é lento e as proteínas podem sofrer um

importante processo de degradação que diminui significativamente a sua

biodisponibilidade. Existe igualmente um importante percentual de degradação se o

fármaco persistir algum tempo no local da injecção antes de entrar em circulação. Outra

característica farmacocinética importante é que, devido ao seu elevado peso molecular,

Características farmacocinéticas dos Fármacos Biológicos

Baixa biodisponibilidade oral

Distribuição tecidular difícil

Degradação por enzimas proteolíticas

Rápida excreção renal

Geração de anticorpos neutralizantes

Curta semi-vida de eliminação

Frequente fenómeno flip-flop quando se utiliza a via SC

51

os biofármacos têm grandes dificuldades em obter uma boa distribuição ao nível

tecidular.

A depuração dos biofármacos é geralmente rápida. As proteínas recombinantes são

degradadas por enzimas proteolíticas e são rapidamente excretadas a nível renal e,

portanto, têm um tempo de semi-vida curto. (Baumann A., E.,2006)

IMUNOGENICIDADE

A imunogenicidade é o principal problema que os biofármacos e os biosimilares

enfrentam. Dito o conceito, entende-se como o processo mediante o qual o corpo

humano gera uma resposta à entrada de uma proteína estranha. Tipicamente, produz

anticorpos que se ligam às proteínas estranhas, inactivando-as e formando um complexo

antígeno/anticorpo, que pode levar a sérias complicações e efeitos adversos. A ausência

de ensaios clínicos e a ausência de uma tecnologia adequada para reconhecer pequenas

alterações na conformação da estrutura de uma proteína, é impossível caracterizar a

imunogenicidade. (Kessler, H. et al, 2006)

Todos os produtos biofarmacêuticos, em contraste com as drogas convencionais,

demonstram uma maior capacidade de induzir anticorpos e desencadear reacções

imunológicas.

A imunogenicidade pode ser influenciada por uma série de factores, alguns dependem

das propriedades estruturais, tais como glicosilação ou alterações nas sequências

estruturais, mas outros são devido a outros factores, tais como as impurezas, vias de

administração, dose, duração do tratamento, ensaios, características dos pacientes, entre

outros.

Os factores que frequentemente mais afectam a imunogenicidade são:

Natureza da proteína: em geral, as proteínas endógenas são menos imunogénicas

do que as proteínas exógenas;

Via de administração: a imunogenicidade ocorre em maior frequência com a via

SC do que com a IV;

Distribuição: as proteínas endógenas que actuam de maneira parácrina são mais

imunogénicas do que as proteínas activas sistemicamente;

Dose: as doses mais elevadas de fármacos geram mais imunogenicidade do que

as doses mais baixas;

52

Duração do tratamento: à medida que se prolonga o tratamento, existe mais

possibilidade de gerar imunogenicidade;

Presença de agregados e contaminantes: a presença de factores contaminantes

aumenta a possibilidade de gerar imunogenicidade, podendo até uma molécula

não imonugénica tornar-se numa imonugénica;

As modificações estruturais podem transformar uma molécula não imunogénica

numa molécula imunogénica;

O paciente também influencia a resposta imunogénica, pois a mesma molécula

não se manifesta da mesma forma em todos os pacientes;

A geração de anticorpos pode ter consequências significativas sobre o efeito

terapêutico, aumentando ou diminuindo. Mesmo a produção de anticorpos que

neutralizam a molécula proteica pode influenciar a farmacocinética, e portanto,

aumentar ou diminuir a sua eficácia. (Baumann, A., 2006)

FASE CLÍNICA I

Esta fase tem duração média de um ano, é direccionada para a segurança e perfil

farmacológico do novo medicamento, sendo administradas doses crescentes do fármaco

a voluntários saudáveis (20 a 100). Nesta fase, cerca de 2/3 dos medicamentos são

considerados aptos para as fases seguintes.

FASE CLÍNICA II

Com dois anos de duração, tem como objectivo aferir a eficácia do medicamento. O

novo composto é aplicado em cerca de 100 a 300 pacientes doentes, para determinar a

dose eficaz e o melhor meio posológico. A segurança continua a ser avaliada.

FASE CLÍNICA III

Com 2 a 10 anos de investigação, procura confirmar as potencialidades e a segurança do

medicamento numa população maior (geralmente milhares) e em várias partes do

mundo. Perto de 10% das moléculas falham nesta fase.

Após estas fases, os resultados dos estudos são sujeitos a apreciação por parte da FDA.

É elaborado o NDA (New Drug Application), que inclui informações sobre as

53

propriedades químicas, farmacológicas, farmacocinéticas, e tóxicas, e fornece

pormenores sobre o processo de fabrico e o nome comercial a utilizar. Este processo

demora cerca de 12 meses e, no final, as instituições reguladoras emitem a sua

recomendação, aprovando o medicamento ou exigindo novos estudos.

FASE CLÍNICA IV

Após aprovação, o medicamento pode ser comercializado. Os pedidos de Autorização

de Introdução no Mercado (AIM) são avaliados de uma forma centralizada pelo Comité

dos Medicamentos para Uso Humano (CHMP); os medicamentos mais complexos,

nomeadamente os produtos biológicos, são obrigatoriamente avaliados por este

processo. Contudo, inicia-se uma nova fase, a farmacovigilância (fase IV).

Farmacovigilância refere-se à detecção, avaliação, compreensão e prevenção de efeitos

adversos após o produto disponível no mercado. (EMA, 2006)

O plano de farmacovigilância deve ser aprovado antes da autorização, e os sistemas

devem estar no local para proceder a um acompanhamento a que a autorização é

concedida. Na União Europeia, as empresas farmacêuticas estão legalmente obrigadas a

monitorizar o uso e os efeitos de todos os seus produtos. Cada empresa farmacêutica

deve fornecer uma descrição detalhada do seu sistema de farmacovigilância no pedido

de autorização de comercialização para cada novo medicamento, incluindo os

biosimilares, e um plano de gerenciamento de riscos (PGR) deve ser apresentado e

aprovado pela EMA. O PGR descreve o que se sabe sobre a segurança do medicamento,

e descreve como o fabricante continuará a acompanhar e a preencher as lacunas no

conhecimento de todas as medidas necessárias para minimizar qualquer risco do

medicamento.

As instituições reguladoras podem exigir à indústria mais estudos após a entrada do

medicamento em circulação, para aferir o rácio entre o risco e o benefício para a

população. Além disso, existe um programa onde os médicos podem comunicar os

efeitos secundários que vão surgindo nos seus doentes que estão a usar determinado

medicamento. Estes dados são extensamente analisados e, caso surjam situações em que

o risco suplanta o benefício, o medicamento é retirado do mercado.

Para conseguir um medicamento eficaz, seguro e comercializável, que cumpra com as

normas da FDA e da EMA, são necessários cerca de 5000 a 10 000 compostos

químicos, no mínimo 10 a 15 anos de estudos e avaliações, e 250 a 1000 milhões de

euros em investimento. (Howlland, R.H, 2008)

54

Figura 15 | Várias fases no desenvolvimento e aprovação de medicamentos (adaptado European

Federation of Pharmaceutical Industries and Associations 2008)

ENTIDADES REGULADORAS

A FDA (Food and Drug Administration) é a instituição reguladora dos Estados Unidos

que faz o controlo dos alimentos (tanto humano como animal), suplementos

alimentares, medicamentos (humano e animal), cosméticos, equipamentos médicos,

materiais biológicos e produtos derivados do sangue humano.

A Agência Europeia de Medicamentos (EMA) contribui para a protecção da saúde

pública e animal, garantindo a segurança, a eficácia e a qualidade dos medicamentos

para uso humano e veterinário.

ESTABILIDADE

«Estabilidade é uma propriedade particularmente importante no que diz respeito às

moléculas de elevado peso molecular. Porque os seus efeitos in vivo dependem da sua

integridade estrutural, e qualquer factor que causa a instabilidade física ou química

altera a estrutura de três dimensões e a conformação das proteínas.» (Crommelin, 2003)

55

A instabilidade química é causada principalmente por desaminação, oxidação, e

inúmeras outras reacções químicas. A instabilidade física pode ser induzida durante a

armazenagem e por manuseio de factores, tais como temperatura, pH, interacção com

solventes orgânicos, surfactantes, interacções na interface do

congelamento/descongelamento e agitação durante o transporte, bem como por

liofilização ou pasteurização durante as fases de produção e purificação. É possível

minimizar a instabilidade física, tendo no entanto muita atenção no armazenamento e

manipulação, por exemplo, mantendo uma temperatura adequada, sem aquecimento

excessivo ou congelamento; optimizar o pH (Silva, 2007; Sharma, 2007). Até mesmo o

transporte de produtos biofarmacêuticos deve ser feito com cuidado, algo que nem

sempre é possível.

A instabilidade física das proteínas pode resultar em desnaturação, agregação dos

precipitados ou adsorção. A desnaturação das proteínas torna-as mais susceptíveis a

reacções de degradação, no entanto, pode ser reduzida se a agregação e precipitação for

prevenida. A consequência mais importante da degradação das proteínas é a agregação,

pois esta pode melhorar a imunogenicidade. Portanto, para a imunogenicidade

indesejada, todos estes factores antes mencionados devem ser considerados como um

todo para os biofármacos, bem como para os biosimilares. O armazenamento e as

condições restritas de manuseio são essenciais para manter a integridade e a estabilidade

do produto e, portanto, para garantir a eficácia e minimizar os efeitos adversos dos

produtos formados quando armazenados por longos períodos ou em altas temperaturas.

ARMAZENAGEM E CONSERVAÇÃO

Os biofármacos são considerados o futuro da terapêutica, sendo eles também

indispensáveis na biodefesa. Como fármacos de biodefesa, podemos destacar as

vacinas, as imunoglobinas e os anticorpos monoclonais. O seu desenvolvimento e a sua

disponibilidade são cada vez maiores. A preocupação e conscientização sobre o uso de

bactérias e vírus como armas biológicas aumentaram o interesse no desenvolvimento e

produção de novas vacinas e outras contramedidas contra esses patogénicos

potencialmente letais. Como observado anteriormente, mais de 50% dos medicamentos

recém-aprovados serão biofármacos, e em 2010, uma série de importantes

medicamentos biotecnológicos sairão da patente nos Estados Unidos da América e

começam tecnicamente a enfrentar uma concorrência biosimilar, embora isso já tenha

56

começado na União Europeia (O´Donnell, 2009). Deste modo, o surgimento de

fármacos biosimilares vai acelerar e expandir o número e o tipo dos produtos que

exigem condições especiais de armazenamento. Nesses produtos incluem-se vacinas

bacterianas e virais, extractos alergénicos, hemoderivados e outros produtos que

requerem refrigeração ou congelamento. A maioria das vacinas refrigeradas são

relativamente estáveis à temperatura ambiente por períodos de tempo limitado, apesar

de certas vacinas serem sensíveis à temperatura. Com isto concluímos que a

temperatura, a humidade e as condições de armazenamento não são susceptíveis de

serem facilmente controladas, é uma questão crítica, e mostra a necessidade de

desenvolver produtos biofarmacêuticos mais estáveis.

PIPELINE

O pipeline, no caso das empresas biotecnológicas ou farmacêuticas, refere-se aos

produtos que essas empresas possuem numa das fases de aprovação de medicamentos.

Ou seja, o pipeline consiste nos produtos que as empresas

farmacêuticas/biotecnológicas têm em processo de desenvolvimento e teste. Estes

produtos podem incluir medicamentos novos, variantes de medicamentos já existentes

ou novas aplicações de medicamentos já existentes.

Analisar o pipeline de uma empresa é extraordinariamente importante porque será daí

que virão as receitas futuras da empresa, dado que, mais tarde ou mais cedo, todos os

medicamentos já existentes perdem a protecção de patente, e vêem a concorrência dos

medicamentos genéricos disparar, com efeitos muito negativos nas vendas e lucros.

Assim, uma empresa desta área necessita de ter continuamente novos produtos para

compensar essa erosão.

O valor do pipeline é a soma dos valores de cada medicamento que nela se encontra.

Para determinar o valor de um medicamento, é necessário considerar:

– A dimensão do mercado potencial para o medicamento. Depende do quão focado e

eficiente o medicamento prove ser, de existência de alternativas, da gravidade daquilo

que trata, entre outros;

– A quota desse mercado que se espera que o medicamento venha a conquistar.

Depende do custo e da eficácia do medicamento versus as alternativas que existam ou

possam vir a existir;

57

– A probabilidade de o medicamento vir a ser aprovado. Depende da eficácia e da

segurança demonstrada na fase de testes;

– O preço e a margem com que o medicamento virá a ser vendido. (Thinkfn, 2008:

http://www.thinkfn.com/wikibolsa/Pipeline)

Durante quase 30 anos, a Genentech, empresa biotecnológica, tem-se destacado por

transformar descobertas científicas em terapias inovadoras para os pacientes. Hoje, o

desenvolvimento do pipeline da Genentech centra-se sobre a imunologia, a oncologia,

os distúrbios de crescimento e a reparação tecidual. O quadro que se segue mostra

alguns exemplos de biofármacos em pipeline nas diferentes fases. (Annual Report,

2005:http://www.gene.com/gene/about/ir/historical/annualreports/2005/editorial/develo

pmentpipeline.html)

Fase / Área Biofármaco Doença

Pré – IND / Fase 1

Oncologia Apo2L Cancro

Imunologia BR3-Fc Artrite reumatóide

Fase 2

Oncologia Avastin® Glioblastoma multiforme

Imunologia Rituxan® Esclerose múltipla

Distúrbios de crescimento e

reparação tecidual

VEGF Alergia ao amendoim

Fase 3

Oncologia

Avastin®

Adjuvante no cancro da

mama

Primeira linha em

metástases do cancro da

mama

Tabela 6 | Exemplos de biofármacos em pipeline nas diferentes fases (adaptado

http://www.gene.com/gene/about/ir/historical/annualreports/2005/editorial/developmentpipeline.html)

58

O PIPELINE NO SECTOR BIOFARMACÊUTICO

Com base num estudo2 realizado em Maio de 2009 a 87 empresas biofarmacêuticas,

consegue-se avaliar as estratégias utilizadas na descoberta e no desenvolvimento de

novos produtos biofarmacêuticos para cuidados médicos humanos.

De acordo com o estudo, verifica-se que existe actualmente um total de 458 fármacos

candidatos em pipeline, sendo que 100 desses fármacos candidatos estão em fase de

ensaio clínico I-III. Em 2008, constata-se que mais de 1000 produtos estavam em

pipeline (fase de ensaio clínico I-III). (Ernst & Young 2009)

As empresas biofarmacêuticas começam geralmente com uma plataforma de tecnologia

a partir da qual vários fármacos candidatos podem ser explorados e desenvolvidos. É

apenas expectável que um número limitado de fármacos candidatos tenha êxito para

entrar na fase clínica subsequente. Segundo este estudo, o maior número de fármacos

candidatos foi encontrado na fase pré-clínica; nas fases seguintes o número de fármacos

é relativamente baixo. O perfil geral do pipeline das empresas estudadas é muito

semelhante ao perfil da maior parte das empresas biotecnológicas europeias. (Ernst &

Young 2009)

Figura 16 | Número de fármacos candidatos em pipeline nas diferentes fases de desenvolvimento,

segundo a pesquisa feita a 87 empresas biotecnológicas europeias, N= 458, (adaptado DTI-

biopharmaceutical survey in Europe, May June 2009)

2 Estudo Biofarmacêutico - DTI

59

0

20

40

1 3 5 7 10 12 130

Número de

empresas

Número de fármacos candidatos

Os dados do estudo indicam uma queda acentuada no número de fármacos candidatos

na passagem da fase pré-clínica para a fase clínica I, enquanto na fase clínica II o

número de fármacos começa a aumentar. Uma possível explicação para estes resultados

é o facto de que o tempo de duração do ensaio clínico I é mais curto quando comparado

com o ensaio clínico II, pois este é mais díficil.

Um sector de pesquisa intensa, como o sector dos produtos biofarmacêuticos, deverá ter

um número bastante elevado de fármacos candidatos na fase pré-clínica, uma vez que

estes dados indicam que a empresa está virada para o desenvolvimento e para a

investigação de novos fármacos em vez de focalizada no desenvolvimento de negócios e

comercialização. De acordo com o estudo, isto pode ter implicações no que diz respeito

à capacidade das empresas atraírem o financiamento externo e, especialmente, o capital

de risco. (Ernst & Young 2009)

NÚMERO DE FÁRMACOS CANDIDATOS EM PIPELINE

Uma das formas para combater o elevado risco de fracasso associado aos produtos

biofarmacêuticos – e aumentar a taxa de sucesso – é ter vários fármacos candidatos em

pipeline. Efectivamente, poucas empresas do sector biofarmacêutico têm apenas um

fármaco em pipeline, como podemos verificar na figura 17.

Segundo os dados deste estudo, a maioria das empresas tem um a seis fármacos em

pipeline. Além disso, as empresas têm muitas vezes fármacos em ambas as fases iniciais

de desenvolvimento e nas fases finais. Este «portfólio» de fármacos pode ser visto como

uma tentativa para assegurar o fluxo contínuo de fármacos que podem formar a base de

sobrevivência caso os fármacos das fases posteriores não atinjam o mercado. Além

disso, podem ser utilizados como uma alavanca nos negócios com os potenciais

investidores e parceiros ou serem vendidos para aumentar o capital.

Figura 17 | Número de fármacos candidatos em pipeline, N = 87 (adaptado DTI-biopharmaceutical

survey in Europe, May June 2009)

60

No entanto, há um limite de fármacos candidatos que as empresas podem ter em

pipeline. Consequentemente, as empresas têm que combinar a necessidade de construir

um pipeline com os meios financeiros disponíveis. Além disso, o pipeline não deve ser

muito diverso. As empresas poderão assim beneficiar economicamente e

estrategicamente, de licenciarem ou venderem produtos para outras empresas, para

desenvolverem apenas os medicamentos para os quais estão mais focados. (European

Commission, 2009)

AGRUPAR AS EMPRESAS BIOFARMACÊUTICAS

A fim de analisar as necessidades económicas e as estratégias a um nível mais

detalhado, o estudo referido constata a necessidade de agrupar a maioria das empresas

biofarmacêuticas de acordo com a fase de desenvolvimento dos fármacos. Isso irá

contribuir para uma melhor compreensão dos desafios específicos que as empresas

enfrentam nas diferentes fases de desenvolvimento. Os seis grupos são:

1. Empresas que ainda estão em processo de desenvolvimento da sua plataforma

tecnológica;

2. Empresas que tenham fármacos candidatos na fase pré-clínica;

3. Empresas que tenham fármacos candidatos na fase clínica I;

4. Empresas que tenham fármacos candidatos na fase clínica II;

5. Empresas que tenham fármacos candidatos na fase clínica III;

6. Empresas com fármacos no mercado.

61

05

101520253035

Número de

empresas

Figura 18 | Agrupamento das empresas biofarmacêuticas de acordo com a fase de desenvolvimento, N =

87 (adaptado DTI-biopharmaceutical survey in Europe, May June 2009)

Obviamente, este agrupamento de empresas não é perfeito, pois muitas das empresas

terão fármacos em diferentes fases de desenvolvimento. Por exemplo, empresas com

fármacos no mercado têm muitas vezes fármacos candidatos em fases iniciais de

desenvolvimento. Atravessar todas estas fases de desenvolvimento é um processo de

aprendizagem que vai reforçar financeira e estrategicamente a gestão de uma empresa,

bem como construir a sua reputação na comunidade dos investigadores. Os desafios

financeiros das empresas com fármacos no mercado são, portanto, diferentes dos

desafios das empresas com fármacos candidatos no início das fases de desenvolvimento.

(European Commission, 2009)

ESTRATÉGIAS PARA REDUZIR OS FÁRMACOS CANDIDATOS PARA O

MERCADO

O desenvolvimento de fármacos e os ensaios clínicos requerem consideráveis

investimentos, mas a produção, as vendas e a comercialização são recursos muito mais

intensivos. Eles exigem um conjunto de competências de negócio que normalmente não

estão disponíveis em pequenas empresas de pesquisa intensiva – bons investigadores

não são necessariamente bons gestores, e as empresas biofarmacêuticas consideram

62

frequentemente ser muito difícil atrair componentes e gestores experientes. Esta falta de

competência empresarial e de meios financeiros podem servir como barreira para as

empresas que estejam interessadas em trazer os seus produtos ao mercado.

A maioria das empresas biofarmacêuticas pesquisadas não tem intenção de trazer

fármacos para o mercado por conta própria, como veremos no quadro que se segue.

Número de

respostas

%

N = 87

Pretendem trazer um ou vários fármacos candidatos

para o mercado

15 17%

Intenção de entrar em parceria com outra empresa 73 84%

Intenção de out-licence do fármaco candidato para

outra empresa antes de o produto ser introduzido no

mercado

72 83%

Intenção de vender o fármaco candidato para outra

empresa antes de o produto ser introduzido no

mercado

53 61%

Outros 1 1%

Total 214 _

Tabela 7 | Estratégias de desenvolvimento de fármacos (adaptado DTI-biopharmaceutical survey in

Europe, May June 2009)

«As estratégias de desenvolvimento que dominam são: trazer alguns dos fármacos

candidatos para ao mercado em parceria com outras empresas (84% das empresas) e

out-licensing do fármaco candidato para outra empresa antes de este ser introduzido no

mercado (83% das empresas pesquisadas).

Ao adoptar estar em parceria, as empresas biofarmacêuticas podem beneficiar em ter

acesso à pesquisa, fabricação e comercialização das competências do parceiro, que pode

ser uma vantagem para o futuro da empresa – tanto em termos de desenvolvimento de

fármacos, bem como êxito para entrar no mercado com outros fármacos em pipeline.

As empresas disfrutam normalmente de uma combinação de estratégias para lançar

alguns fármacos no mercado por conta própria, desenvolvendo outros fármacos com

parceiros externos. As empresas podem também decidir não lançar qualquer fármaco

63

para o mercado, ou porque são incapazes de levantar suficientemente o capital ou

porque simplesmente desejam manter uma empresa de pesquisa orientada para trabalhar

para as grandes empresas biofarmacêuticas, ou seja, empresas de plataforma

tecnológica.» (Lanza, 2009)

O FUTURO DO MERCADO DE PRODUTOS BIOLÓGICOS: VISÃO GERAL E

INOVAÇÃO DO MERCADO

Os produtos biofarmacêuticos são a chave para o futuro do mercado farmacêutico.

Mesmo antes da estagnação do mercado em 2009 devido à recessão, a indústria

farmacêutica convencional viu-se confrontada com consequências drásticas a partir da

perda da cobertura da patente de muitos medicamentos, e também devido à

incapacidade dos departamentos das grandes indústrias farmacêuticas de produzirem

novas moléculas em pipeline. (http://www.articlesbase.com/medicine-articles/the-

future-of-the-biologicals-market-market-overview-innovations-and-company-profiles-

2136333.html#ixzz14zfkiahT)

O medicamento convencional, o segmento de pequenas moléculas do mercado,

continuará a deter a maior fatia, mas espera-se que o seu crescimento diminua, enquanto

os produtos biológicos deverão aumentar a taxas de até 10% por ano. Existem três

componentes que vão permitir que isso aconteça: os anticorpos monoclonais (mAbs),

proteínas terapêuticas, e as vacinas – estes irão mostrar que o mundo biológico tem um

futuro muito positivo.

Os anticorpos monoclonais (mAbs) tiveram um começo pouco auspicioso em 1980.

Actualmente, têm como base o crescimento recente do mercado como candidatos a

novos produtos em desenvolvimento e com novas indicações terapêuticas, ampliando a

sua utilidade, para além de serem utilizados no cancro, doenças auto-imunes, infecções,

entre outras doenças. (Reichert,J., et al, 2005) Os anticorpos monoclonais estão

previstos crescer em cerca de 10% nos próximos cinco anos, impulsionando em grande

parte bons resultados na clínica. Os cancros relacionados com o sistema imunológico e

doenças inflamatórias continuarão a ser líderes de utilizacão de mAbs durante este

período de previsão. Eles constituem agora a maioria das proteínas recombinantes

utilizadas na clínica, com mais de 150 produtos em estudos em empresas localizadas em

todo o mundo. 1 As proteínas terapêuticas têm sido amplamente utilizadas para tratar

64

uma variedade de doenças, incluindo diabetes, deficiências da hormona de crescimento,

doenças do sangue, e doenças imuno-inflamatórias.

As citocinas são outro factor importante para o sector das proteínas terapêuticas e novas

utilizações estão a ser investigadas, incluindo o cancro, hiperplasia maligna da próstata,

gota, e doenças inflamatórias como a doença de Crohn. Outras proteínas terapêuticas,

tais como factores de crescimento, factores de coagulação e eritropoetinas, têm poucas

oportunidades de crescimento pois dependem preferivelmente das melhorias do

produto. (Sheridan, C., 2010)

A flutuação no sector das vacinas é movida pela ansiedade sobre o bioterrorismo, o

risco permanente de uma pandemia de gripe e novas metas para a prevenção. A

perspectiva das vacinas terapêuticas, especialmente contra o cancro, é outro elemento

muito importante no mercado das vacinas.

Podemos então concluir que, em termos de dimensão de mercado, as proteínas

terapêuticas são líderes, mas os anticorpos monoclonais são o sector que mais cresce.

Até ao final de 2009, existiam cerca de 29 anticorpos monoclonais aprovados e

comercializados para fins terapêuticos; desses 29, quatro são de 2009, representando a

média anual mais alta em mais de uma década (esta classe de medicamentos está muito

próxima da maturidade). As proteínas terapêuticas que têm feito história na terapia são a

insulina, a eritropoetina, a hormona de crescimento, interferões, e a proteína de fusão

Enbel (etanercept). (Sheridan, C., 2010)

ROCHE E GENENTECH: UM MODELO PARA FUTURAS OFERTAS

BIOTECNOLÓGICAS

Em Março de 2009, após 6 meses de negociação, a Roche adquiriu os 44% das acções

que ainda detinha na Genentech, pioneira em biotecnologia na Califórnia, por 33 mil

milhões de euros. As duas empresas são uma das parcerias de maior sucesso na

indústria farmacêutica em todo o mundo.

A entidade combinada é já a terceira maior empresa farmacêutica global em vendas.

Este acordo destaca a tendência crescente entre as grandes empresas farmacêuticas e as

empresas biotecnológicas para o próximo grande avanço. Confrontando as receitas em

queda, pipelines secos, o aumento da concorrência dos genéricos, e as expirações das

patentes a aproximarem-se, muitas empresas farmacêuticas estão a começar a desafiar o

modo como tradicionalmente administram os seus negócios.

65

Em vez de se focarem sobre o próximo grande blockbuster, muitos estão a começar a

desenvolver fármacos que possam vir a gerar mais receitas, em vez de simplesmente

confiarem nos blockbusters que actualmente detêm. A essência está na criação de

equipas menores e mais flexíveis, focadas na descoberta de novos fármacos com

aplicações que até ao momento não tenham sido descobertas.

No fundo, a grande atracção das empresas farmacêuticas é ter acesso a uma tecnologia

inovadora, a cientistas talentosos, e a uma carteira de produtos biológicos, uma vez que

estes são extremamente difíceis de replicar pelos fabricantes de genéricos, limitando

assim o impacto da expiração da patente. . (FirstWordSM

Dossier, 2009:

http://www.firstwordplus.com/FWD0050809.do)

A Roche, como podemos observar no gráfico, de entre todas as outras empresas

mencionadas, é a que demonstra ter a maior produção de biofármacos em relação aos

fármacos químicos. Segundo a EvaluatePharma®, a produção biológica irá quadriplicar

nos próximos cinco anos e, consequentemente, o seu lucro aumentará para o dobro.

Sendo assim, a Roche estará entre as grandes empresas biotecnológicas mais bem

posicionadas para lidar com o ataque dos genéricos

Figura 19 | Comparação entre diversas empresas farmacêuticas na produção de biofármacos e fármacos

químicos (EvaluatePharma®)

66

CONCLUSÃO

A Biotecnologia é uma área de grande potencial que actua em diversos sectores e

oferece condições para o melhoramento da saúde humana, principalmente no que diz

respeito ao diagnóstico, à prevenção e ao tratamento de doenças. A sua importância nos

países em desenvolvimento é ilustrada pela capacidade que demonstra em promover o

desenvolvimento baseado no conhecimento e na inovação, com geração de empregos e

suporte à economia.

São inúmeras as aplicações da biotecnologia no sector da saúde, onde diversas

metodologias foram desenvolvidas nos últimos anos, permitindo um grande avanço e

desenvolvimento de produtos jamais esperados anteriormente. Uma vantagem essencial

da biotecnologia em relação às outras tecnologias é o facto de ser baseada na Biologia,

podendo lidar com microrganismos de forma precisa e previsível, resolvendo problemas

biológicos ou gerando produtos biológicos.

Por meio de troca de conhecimentos entre países, a biotecnologia tem-se tornado mais

acessível e proporciona maiores vantagens para quem acolhe estas alianças.

No entanto, acesso aos recursos financeiros, maiores investimentos e incentivos de

pesquisa são algumas das medidas que as empresas têm de assumir para que a

biotecnologia se torne num mecanismo de desenvolvimento económico e social. Nesta

área, a disponibilidade dos meios financeiros necessários tem uma importância

acrescida, não só para desenvolver a investigação, como para dinamizar projectos e

transformá-los numa realidade empresarial.

O interesse por parte das empresas e o futuro da biotecnologia no sector da saúde são

essenciais para um mercado empreendedor de biofármacos, pois eles caminham para

alcançarem o futuro da terapia. As novas tecnologias e o desenvolvimento da

farmacogenómica proporcionam oportunidades de mercado inquestionáveis.

O grande sucesso das empresas biofarmacêuticas deve-se ao facto de os medicamentos

serem inovadores e atingirem mercados de forma crescente para esse tipo de

terapêutica. Além disso, essas empresas que investem em P&D beneficiam das patentes,

que reduzem ou mesmo eliminam a concorrência directa, garantindo lucros mais

elevados.

Normalmente, o desenvolvimento de um novo fármaco demora alguns anos, podendo

levar até 15 anos, porque estes têm que passar por avaliações severas e regulamentadas

67

por entidades reguladoras como a FDA nos Estados Unidos da América e a EMA na

Europa.

As grandes empresas biofarmacêuticas, face ao número significativo de patentes que

expiram e o pequeno número de fármacos em pipeline, poderiam investir em diversas

linhas de P&D das empresas de biotecnologia, uma vez que estas possuem mão-de-obra

altamente qualificada e tecnologia para o desenvolvimento de técnicas de descoberta de

novos fármacos, o que lhes permitiria, dessa maneira, reduzir os custos e melhorar o

desempenho, a segurança e a especificidade dos seus produtos.

As oportunidades na área dos biofármacos estão relacionadas com o sector dos

biosimilares pois existe um forte crescimento da comercialização destes produtos no

mundo, além de investimentos em P&D para a geração de novos produtos.

O número de patentes de produtos biofarmacêuticos aumentou significativamente, mas

nos últimos anos, o número parece ter estabilizado. A evolução deste número de

patentes não teve qualquer tipo de impacto sobre o número de fármacos em pipeline. O

investimento em I&D duplicou desde meados dos anos 90, o que levou a existir cada

vez mais pesquisa, tornando dispendioso ter novas moléculas em pipeline através de

ensaios clínicos.

Contudo, o número de biofármacos quase que triplicou em 10 anos e chegou a uma

quota de mercado de todos os produtos farmacêuticos de aproximadamente 10%.

Futuramente, tudo leva a crer que estes números aumentem para o dobro ou triplo.

Sendo assim, o sector biofarmacêutico, comparado com todos os outros sectores, é

ainda um dos mais pequenos, mas com um significativo potencial de crescimento. O

aumento dos investimentos na área biofarmacêutica do I&D e P&D será um dos

principais factores de sucesso na construção de um sector com elevada potencialidade.

68

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73

ANEXOS

74

ANEXO 1

Vendas de biofármacos das cinco principais empresas biotecnológicas em 2008,

EvaluatePharma®

Capitalização do mercado das cinco principais empresas biotecnológicas em 2008,

EvaluatePharma®

75

ANEXO 2

Alguns exemplos de Anticorpos Monoclonais derivados de Humanos e ratos que foram

testados em Seres Humanos

Antibody INN

(Trade name)

Antibody type

(Generation

Technique)

Target Observed

adverses events

Anti-drug

antibodies

Antibodies targeting cytokines

Adalimumab

(Humira)

Human

(phage display)

TNF Infections, fever,

diarrhea, rash

++++

Neutralizing

Golimumab (Simponi) Human

(transgenic

mouse)

TNF Infusion

reactions, nausea,

infections

+

No -

Neutralizing

Certolizumab pegol

(Cimzia)

Humanized Fab TNF Abdominal pain,

diarrhea, injection

site reactions,

infection

+

Neutralizing

Briakinumab Human Fab IL12/IL2

3p40

Infections, fever,

diarrhea,

malignancies

Unknown

Antibodies targeting T cells

Zanolimumab Human

(transgenic

mouse)

CD4 Infusion

reactions,

infections,

malignancies

+

No -

Neutralizing

Teplizumab Humanized CD3 Headache,

vomiting,

fever,nausea,

arthralgia

+++

Neutralizing

Visilizumab Humanized CD3 Headache,

vomiting,

fever,nausea,

arthralgia

++

Neutralizing

Antibodies targeting B cells

Ofatumumab (Arzerra) Human

(transgenic

mouse)

CD20 Infections

(occurred in

70%), infusion

reactions,

bronchospasm

None

Described

Belimumab (Benlysta) Human (phage

display)

Bly5 Moderate

infusion

reactions: head,

rash

+

Neutralizing

RFB4-Ricin A Murine,

conjugated to

Tricin A toxin

CD22 Pulmonary

edema, fever,

infection

+

Neutralizing