tendências da mobilidade social no rio de janeiro · e à neide pela atenção e conversas sobre...

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1 Valéria Pero Tendências da Mobilidade Social no Rio de Janeiro Tese de doutorado apresentada ao Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como requisito parcial para a obtenção do grau de Doutora em Ciências Econômicas. Banca Examinadora: ___________________________________ João Saboia (Orientador) ___________________________________ José Ricardo Tauile ___________________________________ Carlos Lessa ___________________________________ Nelson do Valle e Silva ___________________________________ Denise Britz Rio de Janeiro 2002

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Valéria Pero

Tendências da Mobilidade Social

no Rio de Janeiro

Tese de doutorado apresentada ao Instituto de Economia

da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como

requisito parcial para a obtenção do grau de Doutora em

Ciências Econômicas.

Banca Examinadora:

___________________________________

João Saboia (Orientador)

___________________________________

José Ricardo Tauile

___________________________________

Carlos Lessa

___________________________________

Nelson do Valle e Silva

___________________________________

Denise Britz

Rio de Janeiro

2002

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Ao Pedro,

meu filho,

minha fonte de alegria.

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3

As pernas de um povo são suas instituições sólidas, seus partidos,

suas associações e não o que se anda falando.

Robert Musil

A educação é irmã inseparável da cultura. Afastá-las é matá-las de

inanição.

Alcione Araújo

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AGRADECIMENTOS

Como é bom chegar na hora dos agradecimentos. Lembrar das pessoas que contribuíram com meu

trabalho ao longo deste último ano em que estive absorvida com a elaboração da tese é uma tarefa

deliciosa, por conta do alívio de estar chegando ao final e pelo simples prazer de recordar bons

momentos.

Agradeço à Fundação Ford e à Ence/IBGE pelo programa de incentivo à pesquisa que apoiou o

desenvolvimento da tese em vários aspectos: acesso aos microdados e equipamentos, programador,

financeiro, contatos com especialistas sobre o tema no âmbito do projeto e com professores da

instituição na aplicação de modelo estatístico adequado ao tema. Certamente, sem este apoio não

teria sido possível realizar essa pesquisa da mesma forma.

Sob esses vários aspectos vale mencionar as pessoas que me ajudaram de diversas formas para

realização da pesquisa de tese. Aos coordenadores do programa, Jane e Kaizô, por terem dado

“carta branca” para fazer a minha pesquisa e pelas poucas, mas boas, conversas. Ao Luiz Marcelo,

que fez toda parte de programação da tese e me ensinou a usar o SPSS, devo dizer que seu trabalho

foi fundamental. Tive o privilégio de contar com um sociólogo-programador-estatístico para me

ajudar a organizar a base de dados, montar a classificação, rodar os modelos, falar dos problemas

etc. Gostaria de agradecer-lhe especialmente pela paciência que teve com os milhões de testes que

fizemos para avaliar as classificações ocupacionais. Ao Paulo, pela generosidade com que passou

seus conhecimentos e com que me ajudou a tomar algumas decisões difíceis sobre o tema. Foi uma

grande oportunidade conhecê-lo no âmbito do projeto por ser um especialista na área e uma pessoa

de convívio muito agradável. À Denise e à Maria Eugênia pela ajuda com os modelos log-lineares,

e à Neide pela atenção e conversas sobre migração. No finalzinho pude contar ainda com o trabalho

da Flávia e do Luciano, que rodaram o programa para gerar os dados sobre migração e me ajudaram

a montar as tabelas dos anexos.

Ao Saboia, meu orientador, pelas leituras atentas dos capítulos, muito virginianas, que foram

valiosas, pelas sugestões sobre caminhos a serem tomadas quando me encontrei em algumas

bifurcações perigosas e pelo apoio em todos os momentos, mas principalmente no período de

finalização da tese. Também não posso deixar de mencionar o incentivo do João Carlos e da Maria

Lúcia para fazer (e terminar logo!) a tese.

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Gostaria de agradecer também ao CNPq e ao British Council pelo apoio financeiro ao projeto de

pesquisa realizado na Inglaterra e, principalmente, à Nadya, coordenadora do projeto, por poder

contar com seu apoio e incentivo em todos os momentos para participar de um campo muito fértil

de debates sobre idéias ligadas ao tema “classificação social e mobilidade”. Ao Adalberto, pela

interlocução “carioca” do projeto. Ao Peter, gostaria de fazer um agradecimento especial pela sua

atenção quando estive, no final de janeiro deste ano, na Universidade de Warwick, onde pude contar

com sugestões preciosas sobre como organizar o restante da análise empírica para fechar a tese.

Várias outras pessoas de diversas instituições e contextos diferentes da vida contribuíram ao longo

desse ano de tese. Agradeço ao Nelson pela inspiração que me deu com seus trabalhos e pela

atenção na iniciação aos modelos estatísticos. Ao Marquinhos, pelas ótimas conversas sobre o tema

e pelas sugestões sobre como cercar alguns problemas e organizar as idéias. Ao Chico, pela

motivação ao ler seus trabalhos ligados ao tema da tese e pela presença e ótimos comentários e

sugestões nos seminários da Puc e da Anpec.

Às minhas amigas... Tetê, agora também minha companheira de barriga, pela dica e incentivo a

participar do projeto da Fundação Ford/IBGE e por me agüentar falando de mobilidade social e

assuntos correlatos ao stress de tese. E Marta, minha comadre, por sua disposição para participar

do meu momento de estar fazendo tese, assistindo a seminário e dando pitacos sobre caminhos e

títulos. Mas, sobretudo, a ambas, pela amizade que posso contar muito além da tese.

Quero expressar especial gratidão aos meus pais, que me apoiaram incondicionalmente em todo

esse período, garantindo a retaguarda do bom funcionamento da minha casa e a felicidade do meu

filho enquanto estive ausente por conta das minhas longas jornadas de trabalho. Certamente, sem a

ajuda e o carinho que tive deles, não teria levado essa fase com a “tranquilidade” necessária para

terminar a tese a tempo. Ao meu irmão, e à Giuliana e ao Franco também, que acabaram “entrando

na dança” e me deram uma força no final.

Ao Pedro, meu filho querido, por levar tudo numa boa e me receber sempre com aquele sorriso

maravilhoso quando chego em casa. Ao meu outro menino, que está chegando nesse mundo, por me

distrair com outros pensamentos e me fazer sorrir sozinha ao ver a barriga se mexendo.

Ao André, por ser o companheiro de todos os momentos. Por dividir comigo a paixão pelo Rio e

pelo tema da desigualdade e por contar sempre com seu incentivo e com seu interesse, que

acabaram gerando poucas, mas boas e decisivas, sugestões sobre algumas questões da tese. Por

compartilhar também a angústia de ver nossos netos num mundo melhor...

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 1

CAPÍTULO I – BRASIL, UM PAÍS COM ALTA DESIGUALDADE E MUITA

MOBILIDADE SOCIAL

5

1. Apresentação do problema 5

2. Por que estudar mobilidade social? 12

3. O Rio de Janeiro continua sendo... 21

CAPÍTULO II – EM BUSCA DE UMA CLASSIFICAÇÃO DOS ESTRATOS 24

1. Base conceitual-teórica da literatura empírica sobre estratificação social 26

1.1. Esquema de hierarquia social 27

1.2. Análise estrutural de classes 30

1.3. Esquemas de estratos sociais brasileiros 37

1.4. Esquema proposto 42

2. Mensuração do status socioeconômico das ocupações 44

3. Definição dos estratos ocupacionais 51

4. Metodologia e estimativas da mobilidade social intergeracional 57

4.1.Fonte de informações e universo de análise 57

4.2. Definição de mobilidade social intergeracional 58

4.3. Metodologia 59

Conclusão 61

CAPÍTULO III – TENDÊNCIAS DA MOBILIDADE SOCIAL

INTERGERACIONAL NO RIO DE JANEIRO

64

1. Evolução das taxas de mobilidade 65

2. Ascensão e queda do Rio de Janeiro no século XX: um breve relato 75

3. Explorando algumas explicações para comportamento específico do Rio 85

3.1. Mudanças na estrutura setorial e ocupacional 85

3.2. Os efeitos demográficos 91

Conclusão 100

CAPÍTULO IV – PADRÕES DE MOBILIDADE SOCIAL: AS TRÊS TESES 103

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CLÁSSICAS REVISITADAS

1. Fechamento social 106

2. Área de contenção 115

3. Contramobilidade 121

Conclusão 127

CAPÍTULO V – A DESIGUALDADE DE OPORTUNIDADES DIMINUIU NO

RIO?

131

1. Modelos log-lineares aplicados às tabelas de mobilidade social 134

1.1. Modelo amostral 135

1.2. A parametrização 139

1.3. Estatísticas de ajuste do modelo 142

2. Modelo analítico 146

3. Análise dos resultados sobre as tendências da mobilidade social intergeracional

circular

153

3.1. Escolaridade 155

3.2. Sexo 158

3.3. Cor 159

3.4. Migrante 161

Conclusão 163

CONSIDERAÇÕES FINAIS 166

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 178

APÊNDICE 187

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RESUMO

A principal contribuição desta tese é inserir, no debate sobre desigualdade no Rio de Janeiro, uma

análise sobre a evolução temporal das taxas e padrões de mobilidade social entre gerações. Verifica-

se que o estado do Rio de Janeiro tem a taxa de mobilidade mais alta do Brasil, caracterizando uma

sociedade mais aberta e dinâmica, no sentido de que a alocação dos indivíduos em posições no

sistema de estratificação social não tem uma associação direta forte com a origem social do pai. No

entanto, a análise da evolução temporal das taxas de mobilidade mostra um comportamento atípico

do Rio, com a diminuição da mobilidade ascendente, que pode ser explicado, em alguma medida,

pela perda de dinamismo da economia fluminense.

Apesar do Rio apresentar a maior taxa de mobilidade, os padrões de mobilidade são marcados por

movimentos de curta distância, devido à existência de uma área de contenção na fronteira entre os

estratos manual e não manual, prevenindo a mobilidade de longa distância. Além disso, observa-se

um aumento da capacidade de reprodução das elites, diferentemente da média brasileira, sugerindo

que com o desenvolvimento, associado a um grau relativamente alto do nível de escolaridade, a

forte competição no mercado de trabalho acaba recolocando um papel importante da origem social

das pessoas na determinação da posição social.

Enfim, a avaliação do quadro de desigualdade de oportunidades revela uma estabilidade temporal,

da mesma forma que no Brasil como um todo, já que os padrões de chances relativas de atingir

determinada posição na estrutura social, segundo a origem socioeconômica do pai, não mudam de

forma significativa ao longo do tempo.

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INTRODUÇÃO

“As crianças se tornarão profissionais liberais, artistas ou marginais”.1 Essa frase tem um tom

exagerado mas dela pode ser feita a leitura de que as crianças e jovens devem enxergar no quadro

de possibilidades futuras uma inserção na sociedade a partir das categorias ocupacionais ligadas às

áreas técnicas e científicas e à arte e cultura, independentemente da origem social. Se as crianças

que vivem em um ambiente familiar de baixo nível socioeconômico não tiverem oportunidades de

alcançar melhores posições sociais, os destinos podem ser cada vez mais marcados por outras

possibilidades de “crescer na vida”, como a entrada para atividades ilegais e/ou criminosas, mesmo

que seja às custas de uma vida curta.

O mais interessante a destacar aqui, no entanto, é que essa frase contém a motivação de fundo para

o estudo sobre mobilidade social desenvolvido nesse trabalho. Se a reprodução das desigualdades

de oportunidades pode levar a comportamentos de risco para o convívio social como respostas às

crescentes dificuldades cotidianas materiais e simbólicas colocadas por questões ligadas à justiça

social, é importante analisar as possibilidades de mobilidade social entre gerações e sua evolução ao

longo do tempo para compreender melhor o processo de desenvolvimento socioeconômico.

A idéia é que a mobilidade social intergeracional reflete a distribuição de oportunidades na

sociedade, ou seja, as chances relativas das pessoas atingirem determinada posição no sistema de

estratificação social de acordo com a origem socioeconômica da família e, portanto, pode ser

utilizada como um indicador de desigualdade de oportunidade.

Se, por um lado, os indicadores sociais referentes à escolaridade, mortalidade infantil, esperança de

vida apresentam uma melhora inquestionável nas últimas décadas, por outro lado, a perda de

dinamismo da economia fluminense combinada com a estabilidade da elevada desigualdade de

renda, colocam dúvidas em relação ao comportamento da mobilidade social e, portanto, da

distribuição de oportunidades.

Essa tese tem, então, como objetivo principal analisar a evolução temporal da mobilidade social

intergeracional no estado do Rio de Janeiro, com intuito de verificar o comportamento do grau de

1 Lema da peça de teatro “Meninos no Meio da Rua” em cartaz no Rio de Janeiro.

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abertura ou fluidez da sociedade fluminense, ou seja, o grau de dependência da posição social do

indivíduo em relação à origem socioeconômica de seu pai. Com isso, buscam-se evidências

empíricas para avaliar se houve uma melhora ou piora no quadro de desigualdade de oportunidades

ao longo das duas últimas décadas.

Para tanto, utilizou-se o referencial analítico da desigualdade de oportunidades a partir das taxas de

mobilidade social por refletir não somente diferenças nas qualidades pessoais, mas também nos

processos sociais. Assim, não se busca nessa tese os determinantes da posição social dos indivíduos,

nem tampouco isolar os processos sociais envolvidos, mas sim "identificar rotas, bloqueios,

sucessos e fracassos que são padronizados e sistemáticos, e devem ser entendidos como resultado

tanto de talentos e realizações individuais como de processos sociais”.(Scalon, 1999).

Pode-se destacar três conjuntos de questões centrais que norteiam a análise que será desenvolvida

ao longo da tese, levando-se sempre em conta a perspectiva temporal e a comparação do Rio de

Janeiro com a média brasileira:

a) O desenvolvimento econômico e social no século XX foi acompanhado por um processo de

aumento ou diminuição da importância do mecanismo intergeracional de transmissão de

desigualdade? Como evoluiu a taxa de mobilidade social ao longo do tempo? Quais as

características da história recente do Rio podem explicar comportamento temporal das taxas de

mobilidade?

b) A evolução das taxas de mobilidade foi acompanhada por mudanças nos padrões de mobilidade

social intergeracional? O regime de mobilidade de curta distância característico do Brasil

também pode ser verificado no Rio? As distâncias sociais diminuíram ou aumentaram ao longo

do tempo? As barreiras para mobilidade social são distribuídas igualmente entre os estratos

sociais e variam ao longo do tempo?

c) O padrão de mobilidade intergeracional por trocas de posições no sistema de estratificação

social, que é um indicador de fluidez do sistema social, melhorou ou piorou? Quer dizer, as

desigualdades de oportunidades diminuíram ou aumentaram ao longo do tempo no Rio?

Assim sendo, a tese está organizada da forma como segue. Optou-se por fazer no capítulo I a

apresentação do problema, da motivação para estudar mobilidade social no Rio de Janeiro e da

contribuição para a literatura sobre desigualdade e mobilidade. Além disso, nesse capítulo,

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argumenta-se sobre as opções conceituais e teóricas para o estudo da desigualdade de oportunidades

utilizando como indicador a mobilidade social intergeracional.

O capítulo II apresenta os preâmbulos para a construção dos estratos ocupacionais que serão

utilizados na tese para analisar as matrizes de mobilidade social e, por conseguinte, as taxas e

padrões de mobilidade. Como a definição de posição social é um ponto crucial para construção dos

estratos será realizada, neste capítulo, uma análise das principais correntes teórico-conceituais sobre

estratificação social na literatura empírica assim como a apresentação dos esquemas de estratos

brasileiros e do esquema proposto. Além disso, apresentam-se preliminares empíricos necessários

para a construção dos estratos ocupacionais.

A partir da definição dos estratos ocupacionais, no capítulo III, analisa-se a evolução das taxas de

mobilidade social intergeracional no Rio, comparativamente à média brasileira, entre 1976 e 1996.

Como foi verificado um comportamento temporal particular do Rio de Janeiro, buscaram-se

elementos explicativos a partir de características específicas da história recente do Rio. Assim, em

caráter exploratório, destacou-se dois pontos: (a) a perda de dinamismo econômico, principalmente

depois da transferência da capital para Brasília e da fusão do Rio com o estado da Guanabara, que

tem efeitos sobre a estrutura setorial e ocupacional e (b) os efeitos demográficos, com destaque para

o envelhecimento da população e do saldo migratório por qualificação.

O Rio tem alta taxa de mobilidade social intergeracional, mas se houverem barreiras fortes à

movimentação de longa distância ou fraturas entre os estratos manuais e não manuais o impacto

sobre a desigualdade de oportunidades pode ser muito pequeno. O capítulo IV, então, analisa os

padrões de mobilidade investigando os argumentos de três teses clássicas da literatura sobre o tema,

quais sejam: (1) fechamento social, (2) área de contenção e (3) contramobilidade.

A origem social dos indivíduos nos estratos sociais é bem heterogênea, o que vai contra o

argumento da tese de fechamento social, mas a fronteira manual-não manual prevenindo os

movimentos parece se adequar ao caso do Rio. Além disso, o comportamento específico da elite

fluminense estar se fechando coloca a dúvida: enfim, a desigualdade de oportunidades diminuiu ou

não? A partir de modelos log-lineares, analisa-se se o padrão de mobilidade social intergeracional

circular mudou ao longo do tempo com o intuito de avaliar o quadro de desigualdades de

oportunidades.

Por fim, apresentam-se as principais conclusões dessa tese assim como a abertura de novos campos

de pesquisa na área de desigualdade e mobilidade social com enfoque sobre o Rio de Janeiro.

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CAPÍTULO I

BRASIL, UM PAÍS COM ALTA DESIGUALDADE E

MUITA MOBILIDADE SOCIAL

I.1. Apresentação do problema

O processo de desenvolvimento da sociedade brasileira nos últimos 50 anos é marcado pelo

crescimento e estabilidade da desigualdade na distribuição da renda. A passagem de uma sociedade

basicamente rural nos anos 40 para urbana nos anos 90 aconteceu junto com um processo de

integração dos trabalhadores, decorrente da melhoria nas relações de trabalho, com a

industrialização e o crescimento do assalariamento formal, e de exclusão de uma parcela

significativa da população que, por falta de renda ou riqueza, tinha acesso precário aos bens de

consumo e serviços públicos e privados, que constituíam a base do processo de modernização da

sociedade brasileira.

Os efeitos para frente e para trás da industrialização sobre a estrutura produtiva da economia

brasileira impulsionaram uma rápida mudança na estrutura ocupacional com a criação e o

crescimento de postos de trabalho na indústria e no setor terciário e de ocupações urbanas não

manuais, e que exigiam um nível maior de qualificação. Em paralelo, a migração rural-urbana e o

crescimento das oportunidades educacionais atendiam à demanda por mão-de-obra do setor

industrial e dos serviços nos centros urbanos, incorporando tanto os trabalhadores com nível de

escolaridade mais elevado em postos de trabalho com maior especialização técnica quanto aqueles

que vinham do campo praticamente sem instrução em ocupações de baixa qualidade,

principalmente, do setor terciário.

O desenvolvimento econômico via substituição das importações nas décadas de 1950 a 1970 gerou

um padrão de crescimento econômico com fortes desigualdades socioeconômicas. O período da

industrialização e de formação dos grandes centros metropolitanos brasileiros foi marcado pelo

aumento da desigualdade de renda junto a uma ampla mobilidade social devido, principalmente, às

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mudanças estruturais da economia e ocupacionais com transformação de uma sociedade

basicamente rural em urbana.

O aparente paradoxo entre integração e exclusão na história recente do Brasil também pode ser

visto sob um outro prisma, qual seja, do crescimento da mobilidade social junto com o aumento da

desigualdade de renda. As mudanças estruturais decorrentes do processo de industrialização teriam

proporcionado possibilidades de ascensão social com a incorporação de mão-de-obra em ocupações

novas, com maior nível de qualificação e em um espectro setorial mais amplo (não só na indústria

mas também no comércio, serviços, administração pública etc.).

No Brasil, a elevada mobilidade social e o seu crescimento, tanto da mobilidade ascendente quanto

da descendente, são caracterizados por um padrão de movimentação de curta distância e, em grande

medida, está associado à migração do campo para a cidade, gerando mudanças na estratificação

social que, no entanto, não são capazes de romper as barreiras da estrutura de “classes” da

sociedade brasileira e, por conseguinte, ter como resultado uma diminuição significativa das

desigualdades socioeconômicas.2

Apesar do crescimento das possibilidades de ascensão social, a desigualdade de renda cresceu entre

1960 e 1970, ficou praticamente constante nos anos 70 e depois aumentou novamente na década de

80 para registrar uma tendência desconcentradora em alguns períodos dos anos 90. O aumento da

desigualdade de renda entre 1960 e 1970 gerou um amplo debate sobre as causas da desigualdade

que foi apresentado por Ferreira (2001) a partir de duas vertentes principais: ·

1) Heterogeneidade educacional: as diferenças de escolaridade são o fator mais importante para

explicar a desigualdade, já que os diferenciais de produtividade seriam fatores que perdurariam

em todo o ciclo de vida produtivo;

2) “Luta de classes”: os fatores estruturais e as políticas econômicas, especialmente a salarial,

enfraqueciam o poder de barganha dos trabalhadores levando a uma conseqüente corrosão

salarial com a inflação, que crescia no período.

A primeira vertente ganhou força com o trabalho de Langoni (1973) que, a partir de uma análise

microeconométrica sofisticada, estima os diferenciais de retornos à educação e conclui que a

distribuição da escolaridade e a composição dos retornos à escolaridade são os principais fatores

determinantes da desigualdade e de seu crescimento nesse período.

2 Ver, entre outros, Pastore (1979, 1986), Valle e Silva (1979), Pastore e Castro (1983), Scalon (1999) e Pastore e Valle

Silva (2000).

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A outra vertente expressa pelo trabalho original de Fishlow (1972) reconhece a desigualdade

educacional como fator importante para explicar as causas da desigualdade de renda, mas a

explicação para que a estrutura de retorno à educação gerasse aumento da desigualdade estava

calcada no fato que as políticas econômicas do período acabavam gerando perdas salariais

desproporcionais para os trabalhadores com o crescimento da inflação.

Apesar das duas vertentes colocarem um peso grande na desigualdade educacional como explicação

do crescimento da desigualdade de renda na década de 60, as diferenças sobre como foi gerada essa

desigualdade educacional levou a diagnósticos distintos sobre a relação entre desenvolvimento e

desigualdade. Enquanto Langoni a caracterizava como um processo natural do desenvolvimento

econômico, seguindo o traçado da curva de Kuznetz, Fishlow argumentava a necessidade de mudar

os rumos na política econômica em direção a resultados menos concentradores de renda.

A literatura que destaca as causas políticas para a concentração de renda nos anos 60 foi

sistematizada no livro de Tolipan e Tinelli (1978), em que diversos artigos apontam para os

mecanismos geradores de desigualdade com as políticas autoritárias do governo militar com a

repressão aos sindicatos dos trabalhadores e políticas de reajustes salariais regressivas. Além disso,

diversos autores colocam a questão de que na verdade a relação entre educação e desigualdade pode

ser espúria, no sentido em que está somente revelando (e não causando) a desigualdade que tem sua

raiz fincada no estoque de riqueza das famílias.

Essa literatura, no entanto, ficou em “banho-maria” nos anos 80, sendo retomada posteriormente no

início dos anos 90 com os trabalhos de Barros e colaboradores.3 Na busca dos elementos

explicativos da desigualdade mais uma vez a escolaridade é a variável mais importante para

explicar a desigualdade de renda. Um exercício de decomposição da desigualdade nos seus diversos

fatores revela que a escolaridade explica entre 30% e 50% da desigualdade de renda.4

Diversos estudos, então, mostram que a desigualdade educacional da população ocupada é o

atributo isolado mais importante para explicar a desigualdade de renda estática. Além das questões

de cidadania que por si só são argumentos suficientes, a necessidade de políticas que incentivem o

aumento da escolaridade da população brasileira é um ponto pacífico na literatura econômica, tanto

por seus efeitos sobre crescimento quanto sobre a desigualdade de renda.

3 Os livros de Barros e Sedlacek (1989), Camargo e Giambiagi (1991) e Ramos (1993) assim como os artigos de Reis e

Barros (1991) e Leal e Werlang (1991) impulsionaram uma extensa literatura sobre o tema a partir de então. 4 Ver Reis e Barros (1991) e Barros e Mendonça (1996).

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Entretanto, a contribuição da escolaridade para explicar a variação temporal da desigualdade de

renda é bem menor. Segundo Ramos e Trindade (1991), a educação responde por 6,2% da variação

da desigualdade no período de 1977-81, 20% em 1981-85 e 9,3% entre 1985-89. Esse

comportamento leva à conclusão de que “as variações na concentração de salários estão pouco

relacionadas com mudanças na distribuição de educação”.

Ferreira e Barros (1999) também mostram que, entre 1976 e 1996, as mudanças nos retornos à

escolaridade diminuíram a dispersão dos rendimentos e que o aumento da escolaridade teve impacto

positivo sobre a renda e a forma de inserção ocupacional. Contudo, o resultado final desses efeitos

revela que não houve uma melhora significativa na desigualdade de renda.

Esse fenômeno pode ser explicado, pelo menos em parte, pelo comportamento da oferta relativa de

trabalhadores qualificados. Como mostra Menezes-Filho (2000), a estabilidade da desigualdade

total é decorrente do fato de que as diminuições dos retornos à escolaridade são compensadas pela

diminuição da oferta relativa de trabalhadores com mais alta escolaridade (relação entre

trabalhadores com nível superior e nível médio).

O comportamento dinâmico da relação entre desigualdade educacional e de renda poderia ser

explicado pelo fato de que, apesar da escolaridade média da população estar aumentando ao longo

do tempo, as diferenças na qualidade do ensino ainda são muito fortes para provocar uma mudança

significativa na relação educação-produtividade ou na sinalização/credencial da educação no

mercado de trabalho para gerar uma melhora na desigualdade de renda.

Recentemente cresce a importância das diferenças na qualidade da educação como fator explicativo

importante para a desigualdade. Barros e Foguel (1997) analisam a distribuição dos gastos em

educação geograficamente e por nível educacional, avaliação de desempenho escolar, relação do

salário dos professores com nível médio de escolaridade da região, entre outros indicadores para

qualidade da educação.

Valle Silva e Hasenbalg (2000) mostram que a expansão educacional aumentou o nível médio de

instrução da população brasileira e diminuiu a desigualdade educacional entre regiões, grupos de

cor, sexo e de renda. Com um exercício de decomposição, verifica-se que a melhoria educacional se

deve principalmente à mudança nas condições de vida e na distribuição geográfica das famílias,

com o processo de urbanização e a transição demográfica. Os autores estimam que 40% da melhoria

educacional se deve de fato a mudanças positivas no desempenho do sistema educacional.

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“Destaca-se, finalmente, que nestas duas décadas finais do século a elevação do patamar

educacional, junto com a diminuição das desigualdades educacionais, não foram acompanhadas por

uma elevação do nível de renda e uma melhoria na sua distribuição”

Essa linha de pesquisa é de suma importância para buscar uma sociedade mais justa via uma

melhora no quadro de desigualdade de oportunidades a partir do acesso e da qualidade da educação.

Isso quer dizer que os esforços dos pesquisadores e formuladores de políticas públicas para

melhorar a qualidade da educação “para todos” é fundamental, pois vai no sentido de colocar a

escola como instrumento principal para quebrar as barreiras sociais.

No entanto, essa tese segue um caminho diferente e complementar, no sentido de contribuir para o

entendimento sobre a questão da geração e reprodução das desigualdades, qual seja, o de analisar a

relação entre origem social da família e os padrões de desigualdade e mobilidade social. A literatura

sobre o tema parece unânime em destacar a importância da origem familiar para explicar o

desempenho escolar dos indivíduos e, por conseguinte, a posição que ocupa no mundo do trabalho.

Só para destacar um livro recente que junta vários economistas e sociólogos para estudar a questão

da mobilidade econômica e social, Sawhill (2000) afirma que nenhum país teve sucesso em

eliminar o papel do background familiar sobre o desempenho das gerações futuras porque, direta ou

indiretamente, tem influência sobre a qualidade da educação dos filhos.

Stiglitz (2000) também discute essa questão atribuindo a importância das regras do jogo, mais do

que dos resultados do jogo, para estabelecer melhor a relação entre desigualdade e bem-estar.

“One of the reasons that we care about inequality and the process by which it is generated is that

we believe it has fundamental impact on society. A society in which people perceive themselves as

facing a fair game in which there is equality of opportunity is fundamentally different from a society

in which some people, simply by righ of birth, have attained a position of privilege. ... A just society

may well take into account how the rules of society themselves shape the people in it. So far my

focus has been on showing that in ranking societies we look not only at outcomes, the income

distribution, but at the dynamics that determine those outcomes (the transition matrices) and the

underlying forces, the process, that determine the dynamics.” (grifos do autor)

No caso do Brasil, no artigo recente de Valle Silva e Hasenbalg supracitado, verifica-se que 46% da

melhoria do nível médio de escolaridade dos jovens podem ser atribuídas às melhores condições de

origem familiar, com destaque para o mais alto nível de escolaridade das mães, o que certamente

traz um efeito positivo para as gerações futuras. Andersen et al. (2000) mostram que a escolaridade

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dos pais é uma das características mais importantes para explicar o desempenho educacional no

Brasil. Menezes-Filho completa estimando que para a América Latina, um aumento do nível de

escolaridade dos pais de dois para dezesseis anos de estudo representa um crescimento de 30% para

80% da probabilidade de jovens de dezesseis/dezessete anos estarem freqüentando a escola sem

trabalhar. “Esses estudos demonstram que um esforço educacional focado em uma geração terá

efeitos importantes sobre as gerações seguintes”.

A evidência de que a origem social é importante para determinar a renda e as possibilidades de

alcançar posições na escala de estratificação social a torna uma variável-chave para entender a

dinâmica do processo de geração e reprodução das desigualdades. Essa tese visa contribuir para o

entendimento dessa dinâmica no Brasil a partir da análise da mobilidade social intergeracional.

Essa análise, no entanto, não será realizada a partir das características pessoais que revelam chances

maiores de movimentação na estrutura social e sim a partir das matrizes de mobilidade

intergeracional, que apresentam as chances de transição entre diferentes posições sociais de origem

e de destino. Dessa forma, é possível avaliar a evolução das taxas e padrões de mobilidade e, por

conseguinte, o grau de rigidez da estrutura social, ou seja, o grau de associação entre a posição atual

dos indivíduos na estrutura social em relação à ocupação do pai.

De acordo com Scalon (1997), “as análises de mobilidade buscam, então, mensurar o grau de

fluidez da estrutura social, bem como identificar os padrões e a movimentação envolvidos na

distribuição e redistribuição de atributos específicos. No caso da mobilidade ocupacional ou da

mobilidade de classes o foco de análise é a associação entre a posição social de origem,

representada pela ocupação do pai, e a posição social de destino, que pode ser a ocupação atual ou a

primeira ocupação do indivíduo. O objetivo da mensuração da mobilidade social é apontar as

fraturas da estrutura social, que expõe as desigualdades na oportunidade de aquisição de bens e

valores e as estratégias de manutenção e reprodução das posições sociais”.

A contribuição dessa tese vai no sentido de analisar as desigualdades de oportunidades a partir do

indicador de mobilidade social intergeracional enfatizando dois aspectos que revelam um estudo

original nessa área, quais sejam: a evolução temporal da mobilidade social intergeracional na

sociedade do Rio de Janeiro.

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I.2. Por que estudar mobilidade social?

Para entender a evolução do conceito de classe ou estrato social e, por conseguinte, a definição de

mobilidade social vale a pena voltar, ainda que brevemente, às obras clássicas de Marx e de Weber.

Na teoria de Marx, a evolução das sociedades é caracterizada por mudanças no modo de produção

provocadas por movimentos revolucionários decorrentes dos conflitos de classe.

A classe é definida a partir da sua relação com os meios de produção, mais especificamente, com a

propriedade ou não dos meios de produção. A burguesia que representa a minoria da população é a

detentora dos meios de produção em oposição ao proletariado, a maioria, que vende sua força de

trabalho para produção do excedente. Os interesses antagônicos ficam expostos na relação de

dominação e de exploração com a apropriação da mais-valia.

Ao criar uma diferenciação social baseada em grupos de interesses antagônicos acaba por elaborar

uma teoria de estratificação social com a centralidade expressa na frase famosa de que a luta de

classes é o motor da história. Apesar de não ter formulado de modo sistemático uma teoria de

estratificação, coloca as diferenças de classes sociais, construídas a partir de uma relação

estabelecida entre o aspecto econômico da produção e a superestrutura político-ideológica, como

elementos-chave para a transformação das sociedades.

Marx reconhece que as chances de ascender socialmente representam um mecanismo de reprodução

do capitalismo a partir da manutenção do status quo, prevenindo movimentos sociais

revolucionários. Isso porque a mobilidade dificultaria o desenvolvimento da consciência e da

organização da classe. A mobilidade social é definida então como mudança de classe social, em que

os proletários virariam burgueses (e vice-versa), e o aumento das possibilidades de movimentação

enfraqueceria a importância da coesão do grupo construída a partir dos interesses coletivos da

classe.

Segundo Giddens (1975): "As relações de classe são necessariamente instáveis em essência, mas

uma classe dominante procura estabilizar a sua posição pela promoção de uma ideologia

(normalmente, é claro, isso não ocorre de forma consciente) legitimadora que racionaliza a sua

posição de dominação política e econômica e explica à classe subordinada por que ela deve aceitar

tal subordinação".

À mobilidade social tem sido atribuído o papel de coesão social para garantir a reprodução do

sistema societal vigente. Essa função de controlar e prevenir as tensões por mudanças sociais e

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políticas aparece desde os primeiros teóricos políticos. Diversos autores seguiram essa lógica

funcional da mobilidade social. Pareto (1919), com a sua teoria de circulação das elites, assume

uma posição diferente de Marx ao colocar a inevitabilidade da manutenção das elites no poder,

independentemente do sistema ser capitalista ou socialista. Ao reconhecer a natureza desigual dos

indivíduos perante diversos aspectos da vida, o autor mostra que a História é na verdade uma

sucessão de trocas de elites no poder e que a desigualdade ou a mobilidade social expressa na

possibilidade de se chegar na elite é um mecanismo intrínseco ao desenvolvimento das sociedades.

Apesar de estar presente na obra desses autores clássicos, a mobilidade social não era o tema central

de análise. O primeiro trabalho dedicado especificamente ao estudo sobre mobilidade social foi o de

Sorokin (1927), que também assume a natureza desigual que respeita uma hierarquia baseada nos

diferenciais de importância das ocupações para a sociedade e também do grau de conhecimento

exigido para exercê-la. Além disso, a possibilidade de trocas de ocupações é necessária para

garantir uma alocação melhor dos talentos às ocupações e, assim, garantir uma alocação eficiente

para o funcionamento do sistema.

Para que essa movimentação para cima e para baixo reflita uma “alocação eficiente”, Sorokin

destaca a importância dos “canais de circulação vertical”, quais sejam: a escola, a Igreja, as

organizações políticas, as associações profissionais e, porque não, o casamento entre pessoas de

diferentes classes sociais. A escola se destacaria como mecanismo mais importante tanto por

representar um canal de mobilidade quanto pelo fato de possibilitar uma melhor distribuição dos

talentos às ocupações. Diante dessas considerações, fica claro que o autor segue uma linha

funcionalista atribuindo à mobilidade social o papel de permitir que se estabeleçam elos entre as

classes sociais, diminuindo as possibilidades de conflito e garantindo a ordem social.

Como a funcionalidade política da mobilidade social não é a motivação para o estudo realizado

aqui, apresentar-se-á apenas de modo ilustrativo a literatura recente que privilegia este aspecto da

mobilidade a partir do livro de Birdsal e Graham (2000). Esse referencial analítico foi utilizado para

sustentar uma linha de pesquisa sobre a relação entre manutenção do sistema político vigente que

garantiria as reformas estruturais em curso na América Latina e as possibilidades de mobilidade

social. Em outras palavras, está sendo desenvolvida uma linha de pesquisa empírica sobre em que

medida a mobilidade social – e também a percepção das pessoas em relação às possibilidades de

mobilidade social – representa um mecanismo que contribui ou não no processo eleitoral no sentido

de garantir a continuidade das reformas estruturais em curso nos países latinoamericanos.

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Retomando a questão sobre a evolução do conceito de classe com base na teoria marxista, este foi

perdendo força com o desenvolvimento das sociedades modernas e a complexificação da divisão

social do trabalho. Apesar de Marx ter considerado a existência de outras possibilidades de

esquemas de classes5, a sua teoria foi construída a partir desse antagonismo entre duas classes

sociais. Aliado a esse fato, o prognóstico de homogeneização da classe trabalhadora através da

alienação e rotinização do trabalho não se verificava com o desenvolvimento das sociedades

industriais. Ao contrário, a consolidação de uma classe média que preenchia os postos de trabalho

na burocracia e nas gerências intermediárias se distinguia dos operários, assim como estes

acabavam por apresentar diferenças entre si, estabelecendo uma relação diferente em termos de

autonomia, condições e conteúdo do trabalho e recompensas salariais.

Essa característica de fragmentação da classe trabalhadora ficou ainda mais evidente com o avanço

tecnológico que levou à passagem do fordismo para o pós-fordismo, que brevemente pode ser

caracterizada pela passagem de um modo de produção baseado na grande empresa que produzia em

larga escala, com uma estrutura vertical centralizada e dirigida para o consumo de massa para um

modo de produção baseado mais em economias de escopo, na diversificação do produto e no

consumo mais imediato e personalizado. Com isso a partir da Segunda Guerra Mundial, e com mais

intensidade, nos anos 70 assistiu-se ao declínio da classe operária tradicional e crescimento de

ocupações ligadas a serviços de baixa qualificação com uma inserção mais instável e temporária e

com uma relação de trabalho distinta daquela existente na fábrica da grande indústria. De forma

análoga, as gerências também foram diminuídas e novas formas de trabalho e de recompensas

foram surgindo, pintando um quadro muito heterogêneo sobre as formas de inserção dos

trabalhadores, e mesmo dos empresários, no mundo do trabalho.

Com o crescimento da importância da classe média e com as mudanças no mundo do trabalho

decorrentes do avanço tecnológico, o debate se deslocou para se existe ou não classes, quantas

classes deveriam ser representativas da sociedade etc.6 Esse debate infindável, foi acompanhado

pelo desenvolvimento de classificações sociais com base na teoria de classes de Weber na literatura

sobre mobilidade social.

Weber tem uma concepção mais plural de classes, enfatizando características objetivas que

influenciam as chances de vida das pessoas. As diferenças de classes decorrem de oportunidades de

5 A mais conhecida e incorporada pela literatura é a que considera a divisão entre os proprietários empregadores, os

proprietários que utilizam sua própria força de trabalho (conta própria) e o proletariado. A discussão sobre a

incorporação da teoria de classes marxista à literatura empírica recente será realizada com mais detalhes no capítulo II. 6 Algumas referências sobre trabalhos que defendem posições a favor ou contra o fim das classes sociais são Guidens

(1975), Prandy (1998) e Blackburn (1998).

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vida diferentes que, por sua vez, são definidas a partir da forma de inserção do indivíduo no

mercado. Assim sendo, as classes são construídas por indivíduos que ocupam a mesma posição de

mercado.

Essa posição de mercado é definida de forma multidimensional a partir das características

individuais valorizadas pelo mercado, como propriedade, educação, habilidade geral e específica

etc. Logo, são os fatores econômicos que determinam as situações de classe. Weber, então, define

classe social segundo o conjunto de situações de classes nas quais as chances de mobilidade são

altas, tanto ao longo da carreira dos indivíduos quanto entre gerações. Nessa definição a mobilidade

cumpre, então, um papel fundamental na análise de classes ao identificá-las como um grupo em que

a trocas entre situações ou posições são muito freqüentes.

Além de incorporar essa noção nova de identificar os grupos a partir da mobilidade, diferentemente

de Marx, Weber atribui a outras esferas da vida um papel importante para a diferenciação social. O

status socioeconômico, prestígio social, escolaridade e outros fatores adscritos assim como sexo,

cor etc. são características dos indivíduos que formam grupos sociais distintos. A partir desta

concepção Weber destaca quatro grupos principais de classes sociais: 1) privilegiados através da

propriedade e da educação; 2) trabalhadores não operários, como técnicos e servidores civis; 3)

pequena burguesia; e 4) classe operária manual.

Como conclui Scalon (1999): "Uma distinção básica, e talvez muito sumariada, das teorias de

classes de Marx e Weber pode ser feita na medida em que as relações de classe, em Marx, se

distinguem no processo de produção, enquanto as classes, para Weber, se distinguem por chances

de vida estabelecidas no mercado. É possível, ainda, apontar que Marx entendia as classes como

agentes da evolução histórica, enquanto Weber sequer as reconhecia como comunidades, embora

deixasse em aberto a possibilidade de 'representarem possível, e freqüente, base para ação comum'".

O ponto importante é que com o referencial weberiano a mobilidade social passou a ter uma

concepção mais ampla a partir de movimentos de grupos sociais definidos segundo a posição de

mercado, onde a variável ocupação é considerada a melhor síntese, e que está associada ao status

socioeconômico ou prestígio social. A literatura, então, fala menos de classes (principalmente de

duas classes sociais) e mais de estratos com essa noção de grupos sociais que compartilham a

mesma posição de mercado e oportunidades de vida e, por conseguinte, usufruem um determinado

status socioeconômico ou prestígio social.

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A literatura sobre mobilidade social no período pós Segunda Guerra Mundial evolui com o avanço

das possibilidades de análise empírica de forma diferente na Europa e EUA. A literatura européia7

iniciada com o trabalho de Glass (1949) busca caminhos e barreiras na distribuição dos indivíduos

nas posições da estrutura social e, portanto, analisa as tabelas de mobilidade social para explorar os

padrões de mobilidade e o grau de fluidez social no Reino Unido. À época, essa sociedade era

caracterizada por alta mobilidade, mas de curta distância, e por um fechamento nas extremidades,

principalmente nos estratos mais privilegiados. O objetivo principal desse trabalho era avaliar o

grau de abertura da sociedade, com intuito de verificar as desigualdades de oportunidade que

geravam injustiças no acesso a posições no sistema de estratificação social. Essa linha de pesquisa

seguiu durante muito tempo e atualmente está sendo desenvolvida com os trabalhos de Goldthorpe e

colaboradores (1987, 1992).8

A literatura americana seguiu uma outra linha de pesquisa sobre mobilidade social a partir do

trabalho de Blau e Duncan (1967) com a utilização de novas técnicas estatísticas para analisar os

fatores relevantes para aquisição de status. As ocupações são ordenadas num continuum de status e

buscam-se os determinantes da realização de status, como escolaridade, experiência, background

familiar, sexo, cor etc.

As questões giram mais em torno de como o status adquirido pelos indivíduos é determinado por

características adquiridas, como educação e experiência, e atribuídas, como origem social, sexo e

cor. O objetivo, então, é analisar se com o desenvolvimento as características adquiridas se tornam

mais importantes do que as atribuídas, visto que o desenvolvimento tecnológico, as relações de

assalariamento e a necessidade de trabalho mais qualificado tornariam os critérios de seleção mais

universalistas, fazendo com que as características adquiridas predominassem sobre as atribuídas. A

origem social, tomada como uma característica atribuída, exerceria o papel de indicador de

desigualdade de oportunidade na conquista de status social.9

Observe que o estudo da mobilidade social intergeracional em ambas as correntes tem como

preocupação avaliar o quadro de desigualdade de oportunidades. No primeiro caso, isso é realizado

a partir da análise das chances relativas de movimentos entre as classes sociais. No segundo caso, a

análise é feita segundo os determinantes para aquisição do status individual. Ambas apresentam

7 É claro que essa classificação é simplista. Não se pode deixar de mencionar a obra de Bourdieu (1979), que segue uma

linha diferente na análise sobre construção de classes e mobilidade social. 8 Os trabalhos desse autor serão analisados ao longo da tese.

9 Ver o estudo recente de Hauser e outros (2000) sobre a importância da origem social e sobre os limites de usar essa

variável como indicador de desigualdade de oportunidade.

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vantagens e desvantagens.10

Aqui se optou pela primeira corrente, ou seja, analisar a desigualdade

de oportunidades a partir das taxas de mobilidade social.

Essa escolha se deve, principalmente, ao reconhecimento de que as oportunidades de acesso à renda

e à riqueza são diferenciadas nas sociedades modernas e dependem tanto das qualidades individuais

quanto de processos sociais. Por exemplo: os estratos ocupacionais estão relacionados com a renda

e escolaridade dos indivíduos. A origem social, estrato ocupacional do pai, por conseguinte,

também está intimamente ligada à renda e a educação deste, que afeta o desempenho escolar da

criança e que terá efeitos quando da entrada no mercado de trabalho. Segundo Coleman (2000), é

possível identificar três componentes do background familiar que afetam o desempenho escolar: (a)

financeiro (renda ou riqueza que permite a provisão de bens materiais de ajuda ao aprendizado

como material escolar, casa fixa etc.); (b) humano (escolaridade dos pais que permite criar um

ambiente cognitivo que facilita o aprendizado); (c) social (participação dos pais no aprendizado que

depende da presença física do adulto na família e disponibilidade e atenção dada às crianças).11

Os

processos sociais envolvidos nesse exemplo estão associados à importância do capital social, ou

seja, das redes de relações que se estabelecem para a formação do indivíduo tanto no interior da

família quanto fora dela, como a interação entre os pais e nas relações dos pais com as instituições

da comunidade, como a escola.

Boudon (1981) argumenta que a diminuição das desigualdades escolares não conduz

necessariamente a uma diminuição da rigidez da herança social ou possui necessariamente efeitos

redutivos sobre a desigualdade de renda, já que a mobilidade social deve ser vista como resultado

de um complexo conjunto de determinantes cujas ações não podem ser tomadas isoladamente umas

das outras, mas que devem ser concebidas exatamente como constituindo um sistema.

Alguns argumentos são destacados para tratar da complexidade da relação entre a desigualdade

educacional e a desigualdade de herança social:

a) Desigualdade maior ou menor tem relação com o número de vagas oferecidas no ensino

superior e de ocupações de nível superior no mercado de trabalho;

b) Taxas de fecundidade diferenciadas por classe social e a política de imigração; e

10

Esse ponto será trabalhado no capítulo II. 11

Esses argumentos têm respaldo nos resultados empíricos onde se encontra que famílias com muitos filhos e um pai

(ou mãe) têm desempenho escolar pior que famílias com os dois pais e um filho. Além disso, a expectativa da mãe em

relação à escolaridade do filho também se mostrou uma variável importante para o desempenho escolar do filho.

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c) Política eficaz de igualdade de oportunidades pode ter como resultado tanto uma redução quanto

um aumento da importância da herança social, dependendo da relação entre aumento geral da

escolaridade e vagas ofertadas no ensino e no mercado de trabalho com nível superior.

Nesse sentido, o referencial analítico da desigualdade de oportunidade a partir das taxas de

mobilidade social reflete não somente qualidades pessoais, mas também processos sociais, como

destacado a título de exemplo, a importância do capital social em Coleman ou da relação entre

desempenho escolar, sistema de entrada na universidade e vagas de nível superior no mercado de

trabalho no caso de Boudon. Assim, não se buscam nessa tese os determinantes de aquisição de

status, nem tampouco isolar os processos sociais envolvidos, mas sim "identificar rotas, bloqueios,

sucessos e fracassos que são padronizados e sistemáticos, e devem ser entendidos como resultado

tanto de talentos e realizações individuais como de processos sociais." (Scalon, 1999)

Por expressar as diferenças nas chances de alocação em posições na estrutura social, a mobilidade

social é um indicador de desigualdade de oportunidades na sociedade e tem relações estreitas com a

justiça social, a desigualdade social e econômica e, portanto, aspectos importantes ligados ao bem-

estar. Mas, enfim, por que estudar desigualdade de oportunidades?

Por duas razões fundamentais. Primeiro, a desigualdade de oportunidades é amplamente aceita

como um indicador de injustiça social melhor do que a desigualdade de resultados. Segundo

Bourguignon e Ferreira (2000):

"For equity purposes, it may be unreasonable to take the assumptions of identical preferences too

far. If people care about income and leisure in different ways, it may be more reasonable for us to

aim to equalize their opportunities to pursue each objective in accordance with their own

preferences, rather than simply to equalize incomes."

Essa idéia que nos remete a questões filosóficas ganhou expressão na literatura contemporânea com

a teoria da justiça de Rawls que tem dois princípios básicos: 1) um esquema de direitos básicos,

incluindo liberdade de consciência e movimento, liberdade religiosa etc. e 2) igualdade de

oportunidade, sendo que as desigualdades sociais e econômicas serviriam para beneficiar os mais

pobres. "No redistribution of resources within such a state can occur unless it benefits the least

well-off."

Com base nas idéias de justiça social de Rawls e de desenvolvimento como liberdade de Sen

(1999), entre outros, Roemer (1998) avança na segunda justificativa, qual seja, a de que por

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questões filosóficas morais ligadas à justiça social é mais aceita a intervenção de políticas públicas

que promovam a igualdade de oportunidade. Roemer afirma que a sociedade deve tomar as devidas

medidas com o intuito de "level the planning field" entre os indivíduos que estão competindo por

posições no sistema social. Por exemplo, um sistema educacional compensatório para as crianças

com desvantagens em relação ao background social de tal forma que uma grande parte delas

possam adquirir as qualificações requeridas para competir mais tarde no mercado de trabalho com

pessoas com background mais alto.

Assim sendo, a motivação para estudar mobilidade social com intuito de analisar a desigualdade de

oportunidades a partir das taxas de mobilidade social se justifica pela importância desse tema tanto

em relação a questões filosóficas morais sobre justiça social quanto em relação a este se constituir

num campo mais fértil de atuação de políticas públicas.12

I.3. O Rio de Janeiro continua sendo...

... A vitrine do país, um lugar maravilhoso com sua beleza natural proporcionada pela geografia de

praias e montanhas, com o charme e encanto de um espaço que congrega a maior expressão da

cultura popular em especial a música, com as figuras e representação social dos sambistas de raiz

até o Carnaval da Apoteose ...

... O local onde a população tem fama de ser alegre e levar uma vida boa e tem a maior escolaridade

média do país, onde se abriga a primeira universidade do Brasil e ainda conta com o maior

percentual de centros de pesquisa ...

... Um lugar dos contrastes sociais mais visíveis pela proximidade geográfica, onde as diferenças

socioeconômicas se inserem no espaço geográfico de um bairro convivendo o "pessoal do asfalto e

do morro", onde a economia baseada nos serviços perde espaço no cenário nacional e cresce

violência ...

O Rio de Janeiro é a melhor síntese brasileira (ou mundial?) da pós-modernidade, onde a

fragmentação e as desigualdades socioeconômicas, a forte presença da economia de serviços, a

diversidade e a vanguarda cultural, a intensa expressão da cultura popular na vida cotidiana e o

12

As relações entre desigualdade de oportunidades e desempenho econômico (crescimento) não são tão claras nem

diretas. Para um artigo sobre o tema ver Bénabou (2000).

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aumento da violência são características visíveis que marcam esse novo estilo de desenvolvimento

das sociedades. É o "Rio de todos os Brasis".

Apesar dessa visibilidade, a literatura socioeconômica sobre o Rio não corresponde ao esperado, em

especial, a referente à área de desigualdade e mobilidade. É certo que ela vem crescendo muito nos

últimos anos, principalmente com o foco de análise na Região Metropolitana do Rio de Janeiro.

Entretanto, sobre o estado do Rio ainda são relativamente poucos os estudos e, especificamente,

sobre mobilidade social, a escassez é ainda maior.

Destacam-se dois trabalhos que focalizam a questão da mobilidade social especificamente no Rio,

apesar de questões e enfoques conceituais e teóricos distintos entre si e com o estudo que será

realizado nesta tese. O primeiro é de Valle Silva (1997), onde se analisam os determinantes dos

diferenciais na realização de status ocupacional entre brancos e não brancos. Verifica-se que a

educação e experiência são fatores mais importantes que o background familiar para explicar os

diferenciais por cor. No entanto, encontra-se evidência de que as pessoas de origem familiar mais

privilegiada têm maiores possibilidades de alcançar os maiores rendimentos, dada a ocupação e

escolaridade.

O outro trabalho de Souza (1999) analisa "porque uns, e não outros", moradores da Favela da Maré

conseguem chegar à Universidade. A partir de um arcabouço teórico baseado na obra de Bourdieu,

o autor busca nas diferenças familiares e escolares construídas a partir dos hábitos e práticas sociais,

que definem o quadro de possibilidades para atuação na sociedade, as explicações para distintas

trajetórias dos indivíduos. Isso é feito a partir do acompanhamento de biografias sobre a história de

vida de alguns moradores da Maré que atingiram nível educacional superior.

Os outros trabalhos sobre mobilidade social que levam em conta o Rio são os de Pastore (1979) e de

Pastore e Castro (1983) que analisam o Brasil e incluem a variável região, estado ou região

metropolitana como explicativa das diferenças nas taxas de mobilidade. Ou ainda o trabalho de

Andrade (1997), onde a partir de uma comparação das taxas de mobilidade social entre cinco

regiões metropolitanas verifica-se que o Rio tem uma mobilidade social alta, comparando com

outras regiões, indicando uma associação mais fraca entre a posição social do pai e do filho no

sistema de estratificação social.

Essa tese visa contribuir para a literatura sobre mobilidade social a partir, principalmente, da análise

da evolução temporal das taxas e padrões de mobilidade social com foco no estado do Rio de

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Janeiro, com intuito de verificar se as desigualdades de oportunidade melhoraram ou pioraram ao

longo do tempo neste estado.

Dever-se-ia esperar com o aumento da escolaridade entre as gerações que a inserção ocupacional

para os filhos melhorassem no Rio? Qual o efeito da perda de espaço da economia fluminense no

produto nacional sobre a mobilidade? É possível identificar taxas e padrões de mobilidade no Rio

da mesma magnitude que na média brasileira? Houve mudanças nos padrões de mobilidade ao

longo do tempo? E quando se controlam os efeitos das mudanças na estrutura ocupacional, é

possível identificar um maior grau de fluidez social medida pela mobilidade circular?

Para responder essas questões, primeiramente, será realizado um estudo da evolução temporal das

taxas de mobilidade social comparativo com a média brasileira afim de avaliar seu comportamento

e explorar fatores explicativos a partir da história recente do Rio de Janeiro. Em seguida busca-se

identificar se existem movimentos sistemáticos e padronizados entre gerações que geram algum

padrão de mobilidade social, avaliando três teses clássicas sobre regime de mobilidade e de forma

comparativa com o Brasil e ao longo do tempo. Por fim, com a utilização dos modelos log-lineares

para controlar os efeitos das mudanças estruturais, verificar-se-á se houve uma melhora ou piora na

desigualdade de oportunidades.

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CAPÍTULO II

EM BUSCA DE UMA CLASSIFICAÇÃO DOS ESTRATOS

A escolha dos critérios para a definição dos estratos sociais representa um ponto crucial nas

pesquisas sobre mobilidade social. Isso porque a construção de um sistema de estratificação social

demarca linhas teóricas e conceituais num amplo e infindável debate sobre o conceito de classe

social e as relações e estruturação da sociedade decorrentes do esquema de classes. Aqui não se

busca uma revisão da literatura sobre classes desde Marx e Weber, mas apenas contextualizar os

caminhos percorridos para a construção dos estratos. O objetivo principal desse capítulo é

apresentar o esquema de estratos que será utilizado para a análise das tabelas de mobilidade social

no Rio de Janeiro ao longo do tempo, numa perspectiva comparativa com a estrutura brasileira,

levando ainda em consideração as diferenças por sexo e cor.

Na medida em que essa tese tem claramente uma orientação empírica, é inescapável enfrentar as

dificuldades envolvidas na construção de uma classificação de estratos coerente com as

necessidades analíticas e metodológicas em questão. Por isso, não existe um esquema de estratos

universal e incontestável por representar, em última instância, uma construção teórica e

metodológica que se propõe a atender aos objetivos específicos de uma determinada pesquisa. Além

disso, por estar amarrado a critérios objetivos e empíricos tem, por um lado, vantagens ligadas ao

método científico baseadas na construção de hipótese e no teste empírico e às possibilidades de

comparação de resultados com outros trabalhos e, por outro lado, desvantagens vinculadas ao

possível descompasso entre as rápidas mudanças que vem ocorrendo no mundo do trabalho - com o

surgimento de novas ocupações, a variedade de formas de contrato de trabalho e uma "nova figura

de trabalho" que marcam as relações de trabalho no pós-fordismo - e a adaptabilidade mais lenta de

um sistema de informações nacional ao novo cenário, além dos aspectos subjetivos ligados à

questão da mobilidade social.

De uma maneira bastante reducionista e impressionista, os diferentes contextos conceituais serão

apresentados de forma polarizada, entre os autores que elaboraram uma construção de estratos para

aplicação empírica a partir da ocupação, em esquemas de classes hierárquicos em oposição aos

esquemas de classes relacionais. Em outras palavras, a contextualização da construção dos estratos

aqui desenvolvida será realizada a partir da descrição de dois marcos teórico-conceituais:

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(a) status attainment, ligado a uma dimensão vertical da estrutura ocupacional que é definida a

partir de indicadores como prestígio ocupacional, status socioeconômico e renda, expressa nos

trabalho pioneiros de Blau e Duncan (1967) e Fatherman e Hauser (1978); e

(b) análise de classe, que situa a ocupação no âmbito das relações sociais de produção, com ênfase

nas relações de dominação e de exploração presente nos trabalhos de Wright (1985, 1989) e nas

idéias de posição de mercado e de trabalho, destacando-se Glodthorpe e colaboradores (1977,

1987).

Essa contextualização no debate teórico-conceitual tem como objetivo principal desenhar as

possibilidades de análise de cada vertente e, sobretudo, apresentar as condições para explorar os

potenciais de análise de ambas a partir da adoção da classificação de estratos ocupacionais utilizada

nesse trabalho e de alguns índices de mobilidade mais apropriados ao estudo.

Assim, essa seção tem como objetivo principal destacar alguns aspectos teórico-conceituais das

principais vertentes de análise empírica de estrutura de classes a partir da ocupação do indivíduo

para dar suporte ao esquema de estratos utilizado nesse trabalho. Apesar da importância e do

desenvolvimento de classificações multivariadas - que levam em conta, por exemplo, a ocupação,

posição na ocupação, setor de atividade, entre outras variáveis - considerar-se-á aqui somente os

principais trabalhos que adotam classificações unidimensionais com base na ocupação. Isso se deve

essencialmente ao fato de que para o estudo empírico sobre evolução temporal da mobilidade no

Brasil as únicas perguntas feitas para pais e filhos é sobre a ocupação e a escolaridade. Nesse

sentido, será feita também uma breve apresentação das classificações brasileiras de estratos para os

estudos de mobilidade social com o intuito de mostrar as possibilidades e os limites do diálogo com

a literatura brasileira.

Após a discussão teórico-conceitual, introduzir-se-á o método de cálculo de status socioeconômico

criado no Brasil por Silva (1974) baseado nas variáveis empíricas de renda e escolaridade, numa

perspectiva comparativa com outras formas de mensuração de status, como a renda média, mediana

e renda predita a partir de uma equação levando em consideração outras variáveis importantes para

a determinação da renda dos indivíduos. A análise das correlações das diferentes medidas ao longo

do tempo será o indicador para escolha da medida de status, sendo aquela que apresentar a maior

estabilidade temporal na ordenação das ocupações ao longo do tempo. Essa é uma forma de garantir

uma melhor aproximação entre o status socioeconômico da ocupação na época do pai e do filho.

Por fim, será apresentada a classificação utilizada nesse trabalho e a metodologia para análise da

evolução da mobilidade social no Rio, sob uma perspectiva comparativa com a média brasileira.

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30

II.1. Base conceitual-teórica da literatura empírica sobre estratificação social

Tradicionalmente, no campo da sociologia, a ocupação tem sido utilizada como a variável de

excelência para a construção dos estratos sociais e, portanto, para análise da mobilidade social. Isso

porque a ocupação é considerada um bom indicador da posição social do indivíduo na estrutura de

uma sociedade. De fato, os avanços empíricos repousam basicamente na relação entre ocupação e

classe, resultando numa confluência teórica entre ambas. Em geral, os questionários sobre

mobilidade social nas pesquisas nacionais contam sempre com a pergunta sobre ocupação ou

função do pai e da primeira ocupação do filho que comparando com a ocupação atual do filho

permite a análise, respectivamente, da mobilidade intergeracional e da mobilidade intrageracional

ou de carreira.

É exatamente a definição de posição social da ocupação que divide as correntes teóricas na

extrapolação da construção de categorias ocupacionais para análise de classes ou estratos sociais.

Por um lado, tem-se a corrente que define posição social a partir de características nas relações de

produção - como, por exemplo, propriedade e autoridade referente aos seguidores da linha marxista

- e, portanto, o esquema de classes não tem necessariamente uma hierarquia, mas sim um aspecto

relacional de oposição ou de diferenciação social. Nessa linha de esquema relacional destacam-se

também os seguidores das idéias de Weber a partir dos conceitos de "posição de mercado" e de

"posição de trabalho" para gerar diferentes grupos sociais que, também, não necessariamente se

relacionam numa estrutura hierárquica mas sim relacional.

Por outro lado, tem-se a corrente que determina posição social a partir do status ocupacional que

pode ser definido por um indicador de prestígio social, status socioeconômico ou renda. Nesse caso,

as ocupações são agrupadas em categorias que expressam uma ordenação no sistema de

estratificação social e, portanto, as relações entre os grupos são gradacionais ou hierárquicas. A

expressão dessa corrente vem, em grande parte, da literatura americana a partir do trabalho pioneiro

de Blau e Duncan (1967).

Assim sendo, a seguir apresentar-se-á com um pouco mais de detalhes os principais expoentes da

literatura empírica internacional dessas duas correntes que, seguindo o referencial adotado por

Jorrat (1998) e Scalon (1999), na primeira pode ser expressa pelos trabalhos de Wright e de

Goldthorpe e na segunda por autores, como os já citados, Blau e Duncan e também Lipset e Bendix.

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31

Posteriormente, será feita uma revisão da literatura sobre as diferentes posições tomadas por autores

brasileiros para classificação ocupacional nos estudos sobre mobilidade social.

II.1.1. Esquema de hierarquia social

O trabalho de Blau e Duncan (1967) talvez seja o mais importante no campo da análise de

mobilidade ocupacional no sistema de hierarquia social, já que apresenta uma análise sistemática da

estrutura ocupacional americana e as raízes do processo de estratificação social nessa sociedade. A

idéia, então, era analisar os padrões de mobilidade ocupacional e as variáveis que influenciam esses

padrões com intuito de explicar, pelo menos em parte, a dinâmica do sistema de estratificação nos

Estados Unidos.

Apesar da riqueza nos detalhes sobre as explicações dos processos de mobilidade social inter e

intrageracional, talvez a maior contribuição desse trabalho foi abrir uma linha de pesquisa empírica

sobre occupational achievement, traduzido na literatura brasileira como realização ocupacional, e

mobilidade. Em outras palavras, a idéia era que com a quantificação da posição ocupacional do

indivíduo na estrutura social poder-se-ia aplicar análises estatísticas mais avançadas para explicar o

processo de mobilidade.

No livro, os autores fazem uma rápida digressão sobre a relação entre posição ocupacional e classes

sociais levando em conta as idéias dos principais autores da literatura como Sorokin, Marx e Weber

e concluem da seguinte forma:

“Occupational position is not identical either with economic class or with prestige status, but it is

closely connected with both, particularly with the former. Class may be defined in terms of

economic resources and interests, and the primary determinant of these for the large majority of

men is their occupational position. ... If class refers to the role persons occupy in the economy and

their managerial influence on economic concerns, it is more accurately reflected in a man’s specific

occupation than in his employment status in contemporary society, where the economy is dominated

by corporations rather than individual proprietors. Occupational position does not encompass all

aspects of the concept of class, but it is probably the best single indicator of it.”

A análise quantitativa da ordenação do status ocupacional permitiu a utilização de uma série de

procedimentos estatísticos mais complexos, como as técnicas de regressão, que permitem redefinir a

análise dos dados. Esse método de análise mais elaborado é de fundamental importância para

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investigar as influências simultâneas de diversos fatores para realização de status e mobilidade.

Assim, a questão básica colocada pelos autores foi em que medida a realização ocupacional é

influenciada por variáveis atribuídas como origem social, cor, região de nascimento.

Isso foi feito com a criação de 19 estratos ocupacionais segundo a faixa do índice de status

socioeconômico que tinham uma correspondência alta com o índice de prestígio ocupacional. Ao

definir os estratos sociais a partir das faixas de status socioeconômico, esses autores assumiram uma

posição de análise vertical da mobilidade, isto é, as posições dos indivíduos podem ser ordenadas

segundo o status ocupacional e a partir daí é possível analisar os movimentos para cima e para

baixo na estrutura social e os padrões e características que afetam as chances de realização de status

ocupacional dos indivíduos.

Essa linha de pesquisa, por um lado, junto com outros trabalhos como o de Fatherman e Hauser,

avançaram no campo da pesquisa sobre mobilidade no sentido de não só analisar os padrões de

mobilidade inter e intrageracional, mas também de buscar os fatores que afetam esses padrões e as

chances de sucesso dos indivíduos. Isso foi feito principalmente a partir da metodologia de path

analysis.

Por outro lado, essa é uma literatura muito dispersa e que não deu origem a uma linha de pesquisa

consistente para uma nova representação teórica do sistema de estratificação social. Em geral estão

ligadas à categorização dos estratos por prestígio social a partir dos grandes grupos ocupacionais de

manual/não manual ou alguma categorização interna a esses grupos para gerar análises sobre

movimentos verticais na estrutura social.

“O estudo da mobilidade vertical relaciona a posição social presente com a do passado, procurando

identificar de que modo os indivíduos vão se distribuindo nos vários níveis da estrutura social

através do tempo, qual o peso da herança social, dos recursos individuais e das oportunidades

econômico-sociais proporcionadas pela sociedade naquele período de tempo” (Pastore, 1979)

Nessa literatura, o status social - seja medido por um indicador socioeconômico seja medido por um

índice de prestígio social -, é uma variável fundamental para permitir a análise dos movimentos para

cima e para baixa na hierarquia do sistema de estratificação social. Esse tipo de análise tem sido

aplicado principalmente para avaliar se as chances de melhorar ou piorar de posição social

aumentaram entre as gerações do pai e do filho ou entre o primeiro emprego e a situação atual do

indivíduo.

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Isso porque se tem atribuído à mobilidade uma relação de causa e efeito com o desenvolvimento de

uma região. A mobilidade depende tanto de atributos individuais - como escolaridade e experiência

- quanto de aspectos da estrutura socio-política-econômica ligados, por exemplo, a quantidade e

tipo de empregos disponíveis, do desenvolvimento instituições como a escola, entre outras, que

combinados levam a região a ter uma maior ou menor influência das variáveis atribuídas como

background familiar, cor e sexo do indivíduo sobre sua atual da posição social no sistema de

estratificação social. A literatura sobre mobilidade social a partir de movimentos verticais na

estrutura social tem dedicado muita atenção ao impacto das variáveis adquiridas e atribuídas sobre

as chances de melhora ou piora ao nível individual, sem necessariamente estabelecer um esquema

de divisão de classes baseado em barreiras decorrentes de diferenças no modo de produção ou outro

tipo de relação decorrente da estrutura de poder na forma de inserção na sociedade.

II.1.2. Análise estrutural de classes

Erick Olin Wright publicou em 2000 o livro Class Counts que sistematiza as questões trabalhadas e

os avanços conseguidos no amplo projeto de pesquisa empírica sobre análise de classe com base na

teoria de Marx. Como o autor escreveu no prefácio, “a argumentação na proposta era a de que

existia uma enorme defasagem entre o debate teórico sobre análise de classes – que girou em torno

do debate entre Marx e Weber – e a pesquisa quantitativa – que foi ignorada pelo Marxismo como

um todo” (grifos do autor).

Com a idéia de que o arcabouço teórico mais elaborado para análise de classe é encontrado na

tradição marxista, a partir da famosa frase de que “a luta de classes é o motor da história”, Wright

argumenta que o poder de explicação é mais restrito, ou seja, a trajetória histórica do

desenvolvimento pode ser explicada por uma construção apropriada do sistema de classes.

A estrutura de classes desempenha, então, um papel central na análise de classes, diferenciando-se

de outros conceitos inter-relacionados como formação de classes, luta de classes e consciência de

classes. Em outras palavras, os estudos de classe colocam-na como um grupo real, ou seja, um

grupo no qual a unidade traduz uma realidade vivida (de forma consciente ou não) e, portanto, a

linha de pesquisa gira em torno da problemática da estruturação social.

Wright identifica três mecanismos geradores de efeitos estruturadores de classe – interesses

materiais, a experiência de vida e a capacidade de organização e ação coletiva – sendo que “os

interesses materiais proporcionam a base mais coerente para a elaboração de conceitos concretos e

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de nível micro da estrutura de classes”. O conflito de interesses organiza duas grandes classes

sociais, capitalista e proletária, ou proprietária e não proprietária dos meios de produção. A posse

diferenciada de ativo produtivo (poder do capital x da força do trabalho) faz com que cada uma

enfrente restrições diferenciadas no caminho para atingir seus interesses materiais. Nesse sentido,

são duas classes antagônicas em que o conceito de exploração é crucial para gerar as relações de

classes.13

“É preocupação de Wright distinguir o conceito de ‘exploração’ do de ‘dominação’. Entre as

propriedades estruturais do conceito de classe, enfatiza que as classes são ‘relacionais’, que estas

relações são ‘antagônicas’, que tais antagonismos estão enraizados na ‘exploração” e que esta

exploração está presente nas relações sociais de ‘produção’. Apesar de Marx – e muitos marxistas –

descreverem as relações de classe ‘em termos de dominação ou opressão, o determinante mais

básico do antagonismo de classes é a exploração’”14

(Jorrat, 1998, com citações de Wright).

Apesar da conotação moral embutida no conceito de exploração, o mais relevante para a análise de

classes “gira em torno de um tipo particular de interdependência antagônica de interesses materiais

dos atores nas relações econômicas”. Isso implica o funcionamento do princípio geral de que uma

classe tem vantagem em detrimento da outra, decorrente de um complexo mecanismo causal que

pode ser expresso da seguinte forma: “(a) o bem-estar material dos exploradores depende das

privações materiais dos explorados; (b) a relação causal em (a) implica a exclusão assimétrica do

explorado ao acesso a certos recursos produtivos; (c) o mecanismo que traduz a exclusão (b) em

diferenças de bem-estar (a) leva consigo a apropriação dos frutos do trabalho do explorado pelos

que controlam os recursos produtivos relevantes... Se somente as duas primeiras condições são

válidas tem-se o chamado ‘nonexploitative economic oppression’ mas não ‘exploração’, pois não

tem transferência dos frutos do trabalho do oprimido para o opressor”. (Wright, 2000)

Entretanto, essa representação da estrutura social em duas classes antagônicas baseadas na relação

de exploração, expressa pelos capitalistas e trabalhadores ou pelos proprietários e não dos meios de

produção, caracterizava uma polarização em que a primeira agrupava de 5% a 10% da população

ocupada e a outra a grande maioria dos trabalhadores. Além disso, com a crescente complexidade

da divisão social do trabalho e a expansão da classe média, ficou extremamente difícil seguir

13

A anedota do shmoo, que representa a possibilidade de todos terem um padrão básico de sobrevivência, apresentada

por Wright (2000) é muito interessante e clara para mostrar as diferenças de interesses de classes. 14

Wright exemplifica a diferença entre dominação e exploração a partir da relação entre pais e filho, onde se tem uma

relação de dominação sem que existam interesses opostos entre eles; esta relação exibiria interesses antagônicos

somente se os pais explorassem os filhos.

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fidedignamente os conceitos de conflito e antagonismo de classes sociais, assim como a visão de

um movimento revolucionário decorrente da proletarização das classes sociais.

A grande questão então, colocada nas próprias palavras do autor, foi “como as categorias sociais

que são normalmente chamadas de classe “média” podem ser situadas no arcabouço conceitual

construído em torno do conceito de classes polarizadas?" A proposta do autor foi localizar dentro de

cada uma das duas classes definidas – proprietários e não proprietários dos meios de produção –

pessoas que compartilham as mesmas situações ou tipos de posição. Para tanto, o autor divide a

classe trabalhadora a partir de duas dimensões: autoridade no processo de produção e posse de

credencial ou qualificação.

A autoridade no processo de produção pode ser vista sob dois aspectos. O primeiro diz respeito ao

fato de estar associada à dominação e controle do seu trabalho e dos outros. Assim, os gerentes e

supervisores têm tanto a característica da classe capitalista – no sentido de que ela além de possuir

os meios de produção e contratar trabalhadores também controla a classe trabalhadora – quanto de

classe trabalhadora, na medida em que é controlada pela classe capitalista.

O segundo aspecto está associado ao fato de que os gerentes e supervisores ocupam uma posição

privilegiada em termos do processo de exploração que acaba gerando a possibilidade de apropriação

do excedente geral a partir de salários mais elevados. Essa dimensão também pode ser vista sob a

perspectiva da teoria do salário de eficiência (como apontou o próprio autor), na medida em que

ocupações “estratégicas” no processo produtivo tendem a ser mais bem remuneradas para que o

trabalhador se sinta motivado para buscar ganhos de produtividade. Além disso, ao estabelecer

salários maiores que os de equilíbrio no mercado de concorrência perfeita, o compromisso dos

gerentes e supervisores com os objetivos da empresa se torna mais forte.

“Os gerentes, então, não somente ocupam uma posição contraditória na relação de classes em

virtude da dominação como também ocupam o que poderia ser chamado de posição de apropriação

privilegiada na relação de exploração. Ambas acabam por diferenciá-los da classe trabalhadora”.

(Wright, 2000)

A dimensão da posse de qualificação ou credencial funciona de forma semelhante ao segundo

aspecto relacionado à dimensão da autoridade exercida pelos administradores, isto é, que os

trabalhadores com alto nível de qualificação estão potencialmente numa posição privilegiada nas

relações de exploração. Isso ocorre a partir do mecanismo proveniente da relativa escassez de

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trabalhadores qualificados no mercado de trabalho15

e da dificuldade de controlar e monitorar o

trabalho qualificado que está fortemente ligado ao conhecimento, colocando, mais uma vez, a

importância de algo do tipo salário de eficiência para garantir maior cooperação e esforço deste tipo

de trabalhadores.

A partir dessa reformulação do conceito de classe baseado nas idéias de Marx de exploração,

Wright (1989) propõe um novo esquema de classes baseado em três critérios: propriedade,

autoridade e qualificação. Vale ressaltar que o autor apresenta esse esquema como um mapa de

posições de classe, onde as células da tipologia criada não são classes mas sim posições dentro de

uma relação de classe. A tabela a seguir apresenta a versão mais detalhada do mapa de posições de

classes.

Tabela II.1

Tipologia de classes elaborada por Wright

Relação nos meios de produção

Proprietários Empregados

mer

o d

e em

pre

gad

os Muitos Capitalistas Gerentes

experts

Gerentes

qualificados

Gerentes não

qualificados

Gerentes Relação

de au

torid

ade

Poucos Pequenos

Empregadores

Supervisores

experts

Supervisores

qualificados

Supervisores não

qualificados

Supervisores

Nenhum Pequena

burguesia

Experts Trabalhadores

qualificados

Trabalhadores

não qualificados

Não-gerentes

Experts Qualificados Não qualificados

Relação com qualificações escassas

Ao incorporar a dimensão da qualificação vem junto a principal crítica à construção do esquema de

classes de Wright, qual seja, de que ao tentar gerar soluções empíricas para dar conta da

complexidade do capitalismo moderno sem perder de vista os conceitos de Marx, o caminho segue

em direção à conceituação de Weber e das idéias defendidas por neoweberianos. Em outras

palavras, a solução encontrada por Wright para incorporar a classe média acaba por aproximar seu

esquema de classe ao conceito de Weber, colocando em evidência o problema de que a teoria de

conflito de Marx não se adapta bem aos avanços do capitalismo presentes nas novas formas de

divisão do trabalho e de estratificação social.

15

Esse mecanismo poderia ser descrito tanto por uma oferta menor de trabalhadores qualificados quanto também pelas

dificuldades de “conseguir” credenciais, como por exemplo, diferenças no capital “cultural” (através de background

familiar, comportamento, aparência etc) e no , capital “social” (acesso a diversas redes e informações), restrições de

vagas para treinamento, restrição de crédito, desigualdade de talento e de características genéticas.

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Para representar esse debate em torno das linhas teóricas da construção empírica do esquema de

classes, o trabalho de Goldthorpe e colaboradores (1987) e Erikson e Goldthorpe (1993) são

extremamente importantes, por desenvolver um esquema de classes com base também na estrutura

ocupacional a partir das definições de "posição de mercado" e de "posição de trabalho" construídas

por Lockwood (1958) com base na teoria de Weber.

"Uma característica diferenciadora dessas categorias é que elas têm um grau relativamente alto de

diferenciação em termos tanto de função ocupacional como de status de emprego: de fato, o status

de emprego associado a uma ocupação é tratado como parte da definição de uma ocupação. Assim,

por exemplo, um 'bombeiro conta-própria' é uma ocupação diferente do 'bombeiro supervisor' e de

'bombeiro assalariado comum'. Sobre esta base, então, somos capazes de colocar juntos, dentro das

classes que distinguimos, ocupações que compartilham tipicamente situações de mercado e de

trabalho, grosseiramente similares que, seguindo a bem conhecida discussão de Lockwood,

tomamos como os componentes principais de posição de classe. Ou seja, combinamos categorias

ocupacionais em que os membros apareciam - à luz da evidência disponível - como tipicamente

comparável, por um lado, em termos de suas fontes e níveis de renda e outras condições de

emprego, em seu grau de segurança econômica e suas chances de avanço econômico; e, por outro

lado, em sua posição no sistema de autoridade e controle que orientam os processos de produção em

que estão envolvidos" (Goldthorpe, 1987)

Esse autor, então, montou um esquema de 7 classes da seguinte forma16

:

Tabela II.2

Esquema de classes de Goldthorpe (1987)

Classes Ocupações

Classe I Profissionais de alto nível, empregado ou conta própria; administradores e oficiais de alto nível

dos setores público e privado; gerentes de grandes indústrias; grandes proprietários.

Classe II

Profissionais de baixo nível e técnicos de alto nível; administradores de baixo nível; gerentes em

grandes estabelecimentos industriais e de serviços; supervisores de trabalhadores manuais.

Classe III

Trabalhadores não manuais de rotina empregados na administração e no comércio; vendedores;

outros rank-and-file empregados no serviços.

Classe IV Pequenos proprietários empregadores; artesãos conta própria; outros trabalhadores por conta

própria, exclusive profissionais.

Classe V Técnicos de baixo nível e supervisores dos trabalhadores manuais.

Classe VI Trabalhadores manuais qualificados assalariados na indústria.

Classe VII Trabalhadores manuais semi ou não qualificados na indústria; trabalhadores na agricultura

16

Esse esquema foi modificado e depois reduzido em outros trabalhos que tinham como objetivo, entre outros, de

comparar a mobilidade entre diversos países. Para tanto, ver Erikson e Goldthorpe (1991, 1992).

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Apesar da numeração exposta no esquema de classes, Goldthorpe destaca que ele não expressa

necessariamente uma estrutura hierárquica consistente. O autor enfatiza ainda que a denominação

de classe alta, média e baixa não é consistente com uma hierarquia de status mas sim com sua

posição estrutural. A partir dessa classificação, diferente de Wright que tem na construção das

classes sua linha de pesquisa, Goldthorpe parte para análise de formação de classes e mobilidade

social, que é o seu objeto de estudo principal.

No entanto, ainda que tomando explicitamente uma posição classe-estrutural, a crítica mais

freqüente a Goldthorpe se refere ao fato de que seu esquema não pode ser definido como relacional

pois não expressa a oposição de classes, no sentido de que uma classe obtém vantagens em

detrimento de outra.17

Na medida em que analisa as relações entre as classes altas, intermediárias e

baixas atribui um sentido gradacional e, de acordo com Scalon (1999), "o esquema proposto por

Goldthorpe inclui ambas as dimensões, relacional e gradacional, e essa mesma crítica aplica-se à

Wright."

Assim, para o estudo de mobilidade o autor considera movimentos verticais na estrutura somente

em direção aos extremos, ou seja, a mobilidade ascendente é definida como os movimentos para as

classes I e II e a mobilidade descendente como os movimentos para fora das classes I e II.

Um outro problema apontado na classificação de Goldthorpe é que não há separação da classe de

proprietários, dimensão fundamental para divisão de classes tanto na teoria de Marx quanto de

Weber."Mesmo considerando que as posições na service class privam de certo grau de autonomia e

controle, não se pode confundir aqueles que administram o capital e, portanto, servem ao capital ou

à burocracia com os capitalistas. A classe denominada 'service', serve ao capital mas não é

capitalista. Essa mesma limitação aparece na agregação das ocupações não manuais de rotina com a

pequena burguesia" (Scalon, 1999).

O debate empírico sobre classes exposto a partir das contribuições de Wright e de Goldthorpe

mostra tanto caminhos comuns na escolha do esquema de classes quanto divergências. Pode-se

apontar, por exemplo, que ao tratar da classe média e definir as posições dentro da classe

trabalhadora utilizando os critérios de autoridade e qualificação, Wright se aproxima do esquema de

17

Ver, por exemplo, Evans (1992).

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Goldthorpe. Mas que este último, ao não distinguir a classe de proprietários, se distancia da

classificação de Wright.

Em suma, pode-se dizer que as divergências conceituais-teóricas para definição de classes entre

essas duas correntes para os estudos de estratificação e mobilidade social se expressam pelas

possibilidades analíticas que concebem a diferenciação social e a mobilidade como movimentos

verticais ao longo de uma hierarquia de status ou definidas dentro de um contexto relacional na

estrutura de classes.

II.1.3. Esquemas de estratos sociais brasileiros

A definição dos estratos deve levar em consideração as características da estrutura da sociedade em

questão. Nesse sentido, é importante analisar as classificações existentes na literatura nacional para,

sempre que possível, estabelecer os diálogos e rupturas com a adotada nesse trabalho.

Um primeiro grupo de pesquisadores, que tem por base os trabalhos de Pastore (1979 e 1988),

utiliza o esquema hierárquico, em que as ocupações são agrupadas em categorias de acordo com

uma medida de status socioeconômico. Pastore, e também Andrade (1995, 1997), utilizam seis

grupos de status socioeconômicos. Pelo próprio critério de agrupamento das ocupações, esses

trabalhos não contemplam alguns recortes fundamentais para a análise de classes como propriedade,

credenciais, autonomia e outros conceitos relacionados a situação de trabalho. A tabela a seguir

apresenta os estratos sociais agrupados por status socioeconômico utilizado por Pastore e Silva

(2000).

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Tabela II.3

Categorias ocupacionais ordenadas

Estratos Ocupações representativas

1. Baixo-inferior: trabalhadores rurais não

qualificados

Produtores agropecuários autônomos; outros trabalhadores na

agropecuária; pescadores,

2. Baixo-superior: trabalhadores urbano não

qualificados

Comerciantes por conta própria; serventes; vigias; trabalhadores

braçais sem especificação; vendedores ambulantes; empregadas

Domésticas

3. Médio-inferior: trabalhadores

qualificados e semiqualificados

Motoristas; pedreiro; mecânicos de veículos; marceneiros;

carpinteiros; pintores e caiadores; soldadores; eletricistas de instalação

4. Médio-médio: trabalhadores não manuais,

profissionais de nível baixo e pequenos

proprietários

Pequenos proprietários na agricultura; administradores e gerentes na

agropecuária; auxiliares administrativos e de escritório; reparadores de

equipamentos; pracistas e viajantes comerciais; praças das Forças

Armadas

5. Médio-superior: profissionais de nível

médio e médios proprietários

Criadores de gado bovino; diretores, assessores e chefes no serviço

público; administradores e gerentes na indústria e no comércio; chefes

e encarregados de seção; representantes comerciais

6. Alto: profissionais de nível superior e

grandes proprietários

Empresários na indústria; administradores e gerentes de empresas

financeiras, imobiliárias e securitárias; engenheiros; médicos;

contadores; professores de ensino superior; advogados; oficiais das

Forças Armadas

Fonte: Pastore e Silva (2000).

Pastore (1979) e Pastore e Castro (1983) utilizam essa forma de classificação de hierarquia social e

analisam o padrão de mobilidade a partir das matrizes de transição assim como utilizam o método

de regressão para explicar os diferentes padrão de realização de status ocupacional.

Valle Silva (1997) também analisa as diferenças por cor na realização ocupacional no Rio de

Janeiro. Esse trabalho não apresenta um sistema social dividido em determinado número de classes,

mas analisa um contínuo de ocupações hierarquizadas por um indicador de status socioeconômico

para buscar as variáveis (educação, experiência e origem social) que explicam as diferenças entre

brancos e não brancos na realização do status.

A abordagem classe-estrutural pode ser mais bem visualizada pela representação da estrutura

ocupacional brasileira elaborada por Valle Silva (1992) e utilizada em diversos trabalhos na

literatura nacional principalmente como ponto de partida para criar novas classificações. Isso se

deve essencialmente ao fato de que a estrutura montada por esse autor gerou 18 categorias

ocupacionais, o que dificulta a análise das matrizes de mobilidade social tanto por problemas

gerados por células vazias quanto pela própria dificuldade analítica de observar um conjunto de 324

células.

Essas 18 categorias foram construídas a partir de critérios teóricos que representassem uma

homogeneidade dos grupos em termos tanto de posição de mercado quanto de posição de trabalho.

As principais diferenças foram feitas a partir das clivagens tradicionais estabelecidas pelas

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dicotomias entre os setores rural e urbano, entre as atividades manuais e não-manuais e entre os

setores terciário e secundário. Além disso, foram incorporados outros aspectos da estrutura social

como as diferenças internas no setor industrial entre atividades modernas que contam com um

mercado mais competitivo e um quadro de proteção social (que vai desde o contrato formal até

investimentos na formação profissional) e as atividades tradicionais da indústria que têm aspectos

mais precários nas condições de trabalho e oportunidades de crescimento profissional. Também foi

levado em consideração, na medida do possível com a variável ocupação, o recorte de posição na

ocupação: quer dizer as diferenças entre empregadores, conta própria e empregados assalariados.

Por fim, “no grupo manual urbano, Valle Silva destacou o de vendedores ambulantes e empregados

domésticos. No setor não-manual, foram distinguidas as ocupações técnicas das administrativas,

diferenciando dentro do primeiro grupo aquelas referentes a profissões liberais clássicas

(Engenharia, Medicina, Direito e Economia).” (Scalon, 1997). Enfim, as dezoito categorias

ocupacionais podem ser vistas a seguir na tabela II.4 com algumas ocupações representativas.

Essa classificação foi utilizada também por Hasenbalg (1993) e adotada como ponto de partida para

construção de um esquema de nove classes com base nas técnicas de análise de conglomerados e

modelos log-lineares em Scalon (1997). A análise de conglomerados foi adotada para agregar

grupos de categorias ocupacionais semelhantes em termos de nível de escolaridade e de renda. Em

seguida, com o intuito de verificar se a agregação das categorias não gerava perdas de informações

importantes sobre as características dos padrões de mobilidade, foram aplicados os modelos log-

lineares segundo o critério de homogeneidade interna, ou seja, para avaliar se as novas categorias

mantinham os padrões de distribuição tanto nas linhas quanto nas colunas da tabela de mobilidade.

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Tabela II.4

Categorias ocupacionais com base mais classe estrutural

Categorias ocupacionais Ocupações

1. Profissionais liberais Engenheiro; professor de nível superior; advogados;

médicos; economistas

2. Dirigentes e administradores de alto nível Diretor, assessor e chefe do serviço público;

administradores

3. Profissionais Químico; analista de sistemas; professor de 2o grau;

oficiais das Forças Armadas; delegados e comissários de

polícia

4. Funções administrativas de execução Técnicos e fiscais de tributo; assistentes administrativos;

corretores; tabelião; escrivão

5. Não manual de rotina e funções de escritório Caixas; secretários; recepcionistas, auxiliar

administrativo; oficiais de justiça

6. Proprietários (empregadores) na indústria,

comércio e serviços

Empregador na indústria; comerciante; dono de hotel e

pensão; empresário de transportes e outros

7. Proprietários por conta própria (sem

empregados)

Comerciantes por conta própria; proprietário nos serviços

por conta própria; hoteleiros e donos de pensão por conta

própria

8. Técnicos, artistas e supervisores do trabalho

manual

Técnico químico; enfermeiros não diplomados; professor

de 1o grau; operadores de rádio, som, tv e cinema; mestres

9. Trabalhadores manuais em indústrias

modernas

Mecânicos; soldadores; montadores de equipamentos

elétrico-eletrônicos; eletricistas; tipógrafos

10. Trabalhadores manuais em indústrias

tradicionais

Alfaiates e costureiros; pedreiros; encanadores; padeiros;

borracheiro

11. Trabalhadores manuais em serviços gerais Motoristas; telefonistas; garçons; cabeleireiros; lixeiros

12. Trabalhadores no serviço doméstico Empregado doméstico; porteiro; ascensorista; guardas e

vigias; jardineiros

13. Vendedores ambulantes Feirantes; doceiros; bilheteiro; vendedores de jornais e

revistas; engraxates

14. Artesãos Artesão; rendeiro; tapeceiro; chapeleiro de palha; cesteiro

e esteireiro

15. Proprietários (empregadores) no setor

primário

Agricultores; criadores de gado; avicultores e criadores de

animais pequenos; outros proprietários agrícolas;

empresários da extração vegetal e pesca

16. Técnicos e administradores no setor primário Administradores e gerentes na agropecuária; técnico na

agropecuária; tratorista e outros operadores; operadores de

máquinas de extração de minérios e pedras; mestres e

técnicos de empresas de extração mineral

17. Produtores agrícolas autônomos Produtores agrícolas autônomos

18. Trabalhadores rurais Outros trabalhadores na agropecuária; seringueiros;

madeireiros; mineiros; trabalhadores braçais

Fonte: Valle Silva (1992).

Nesse caso, segundo essa autora, “a teoria precede a empiria, e os grupos agregados foram aqueles

considerados teórica e substantivamente similares e relevantes para o estudo da estrutura de classes

brasileira”. Isso porque está baseada na teoria weberiana que considera que classe social "a

totalidade daquelas situações de classe entre as quais uma mudança seja possível, seja pessoal, seja

na sucessão das gerações, é facilmente possível e costuma ocorrer tipicamente" (Weber, 1991,

extraído de Scalon). Assim, a definição dos estratos via mobilidade está baseada na idéia de que a

divisão de classes é dada pelas barreiras entre os estratos que são expressas pela maior dificuldade

de mobilidade entre os estratos sociais.

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Como pode ser visto na tabela II.5, o esquema proposto por Scalon acaba por destacar:

(a) semelhanças das categorias do setor rural, onde as diferenças em termos de autonomia não

resultam em níveis de renda e escolaridade distintos;

(b) heterogeneidade da classe de trabalhadores industriais, em que aqueles que trabalham em

ocupações da indústria moderna estão mais próximos dos trabalhadores de serviços gerais e

aqueles de ocupações da indústria tradicional se assemelham mais aos trabalhadores manuais

urbanos de sobrevivência, expresso pela diferenciação entre trabalhadores manuais qualificados

e não qualificados

Tabela II.5

Definição dos estratos via mobilidade

Categorias originais

(Valle Silva, 1992)

Categorias resultantes

(Scalon, 1997)

Títulos

1 e 3 I Profissionais

2 e 4 II Administradores e gerentes

6 III Proprietários empregadores

5 e 8 IV Não manual de rotina

7 V Proprietários conta própria

9 e 11 VI Manual qualificado

10, 12, 13 e 14 VII Manual não qualificado

15 VIII Empregadores rurais

16, 17 e 18 IX Empregados rurais

Fonte: Scalon (1997).

Ao definir seu esquema de classes a partir da “perspectiva weberiana que reconhece uma classe

social como sendo formada por posições de classe entre as quais há fluxo, intrageracional ou

intergeracional, constante e freqüente”, Scalon toma uma posição classe-estrutural e toda a análise

das matrizes de mobilidade social é feita a partir das taxas de mobilidade e imobilidade, com poucas

inferências sobre movimentos dos grupos para cima ou para baixo no sistema de estratificação

social.

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II.1.4. Esquema proposto

Qual o melhor caminho a ser adotado para elaborar a classificação dos estratos sociais nesta tese?

Essa é uma questão extremamente delicada pois os resultados em termos de nível e de padrão de

mobilidade são muito sensíveis à forma (aos aspectos conceituais e teóricos levados em

consideração) e ao número de estratos definidos. Por isso, o caminho adotado foi um tanto eclético

e contará, sempre que preciso para fortalecer o resultado, com mais de uma classificação.

Retomemos a questão central dessa tese para orientar a discussão sobre a classificação dos estratos

sociais. A idéia principal dessa tese é analisar se houve piora ou melhora no quadro de desigualdade

de oportunidades ao longo do tempo a partir dos indicadores de mobilidade social intergeracional.

Para responder essa questão poder-se-ia aplicar o método de regressão onde a teoria de realização

de status ou da própria renda seria determinada por atributos individuais, no qual origem social do

indivíduo marcaria um mecanismo de desigualdade de oportunidade. No entanto, “quando a

mobilidade é analisada no contexto hierárquico como representação do prestígio ocupacional ou

escala de status, torna-se difícil isolar e analisar as influências estruturais sobre as taxas e padrões

de mobilidade” (Erikson e Goldthorpe , 1993)

A opção aqui foi trilhar outro caminho, ou seja, construir um sistema de estratificação social

cristalizado em grupos ocupacionais e assim analisar em que medida determinados grupos sociais

foram capazes de romper as barreiras no sistema de estratificação ao longo do tempo. Em outras

palavras, tomou-se uma posição teórica com enfoque classe estrutural no sentido de que não se

busca responder a questão a partir dos atributos individuais que determinam as chances dos

indivíduos se movimentarem no sistema de estratificação e sim da análise dos movimentos das

categorias ocupacionais no sistema social.

Desse ponto, poder-se-ia seguir o caminho do esquema de hierarquia social em que se poderia

analisar os movimentos verticais. No entanto, a possibilidade de homogeneidade da situação de

trabalho estaria perdida. Nesse caso, poder-se-ia adotar classificações em escala de status

socioeconômico como as de Pastore ou de Andrade, que para um diálogo mais fluente com a

literatura brasileira poderia ser dividida em seis estratos.

O outro tipo seria o esquema classe-estrutural em que se perderia a análise dos movimentos

verticais, mas poder-se-ia observar a evolução dos grupos com diversos tipos de afinidades em

termos de situação de trabalho. A análise seria de grupos com muita ou pouca mobilidade, por

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exemplo, se filhos de empregadores tem mais ou menos chances de mobilidade do que os filhos de

operário. Nesse caso, poder-se-ia ter adotado o esquema de nove classes de Scalon. No entanto, a

classificação proposta pela autora isola o grupo de proprietários rurais, o que significa um problema

conceitual e empírico para análise do Rio de Janeiro devido a representação muito pequena desse

estrato.

Decidiu-se, então, por tomar como ponto de partida os nove estratos construídos por Scalon e

reclassificá-los também a partir dos dezoito grupos ocupacionais criados por Valle Silva de uma

forma em que fosse mantida uma certa coerência tanto em termos de status socioeconômico das

ocupações no grupo e quanto em termos de afinidades na situação de trabalho nesse mesmo grupo.

A vantagem desse tipo de classificação é que ela possibilita analisar tanto os movimentos verticais

quanto fazer inferências sobre as chances de grupos sociais terem mais mobilidade que outros. No

entanto, ela apresenta a desvantagem de ser imperfeita tanto na hierarquização (já que a fronteira

entre os grupos é, às vezes, difusa) quanto alguns grupos ocupacionais contam com ocupações

pouco coerentes em termos de situação de trabalho, mas devido a inconsistência de status foi

classificado como tal.

Essa opção poderá parecer uma heresia para diversos teóricos sobre o tema. Sendo classe-estrutural

como seria possível criar uma hierarquia que está, em alguma medida, relacionada com a noção de

prestígio ocupacional? A verticalização da estrutura social pode ser percebida no sentido de existir

um diferencial socioeconômico, calculado em termos de uma medida de renda expressa pelo índice

de status socioeconômico. Então, é uma medida concreta de esperança de renda dadas a

escolaridade e a idade e, portanto, a leitura sugerida com a análise vertical é sobre as possibilidades

de se ter ganhos ou perdas de renda na passagem de um determinado estrato ocupacional para outro

e, por conseguinte, não se sugere aqui nenhuma relação com a questão subjetiva sobre o que os

indivíduos acham da sua ocupação em termos de prestígio social.

Assim sendo, foi criada uma classificação de 9 estratos sociais com base num indicador de status

socioeconômico e também nos aspetos teóricos levados em consideração nas 18 categorias de Valle

Silva e nas 9 de Scalon. Essa classificação será utilizada para a análise principal do trabalho mas

não será a única. Seja como forma de garantir que os resultados das taxas de mobilidade não se

devem exclusivamente ao tipo e ao número de categorias utilizadas, seja por necessidades técnicas

que requerem um menor número de categorias, serão realizados também outros tipos de

agrupamento das ocupações.

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A seguir, apresentar-se-á o cálculo do índice de status socioeconômico, a definição dos estratos

sociais e os aspectos metodológicos referentes à análise das matrizes de mobilidade social no Brasil.

II.2. Mensuração do status socioeconômico das ocupações

A mobilidade social pode ser definida, de uma maneira bastante ampla, como o movimento de

pessoas ou grupos específicos entre diferentes situações, determinadas a partir de um indicador de

posição social, ao longo de um certo período. Nesse sentido, os estudos sobre mobilidade social

necessitam de um indicador de status que permite a diferenciação de posições dos indivíduos numa

escala social.

Em geral, esse status social é definido por uma medida de status ocupacional e, por conseguinte, a

mobilidade social é, em termos rigorosos, a mobilidade ocupacional. A literatura sociológica sobre

medidas de status ocupacional tem duas vertentes principais. A primeira está associada à elaboração

de uma escala de prestígio baseada em avaliações subjetivas dos trabalhadores sobre a qualidade do

emprego, como pode ser visto nos trabalhos de Lipset e Bendix (1959), Blau e Duncan (1967), entre

outros. A outra vertente utiliza critérios objetivos para criar um índice socioeconômico, baseado em

geral em renda e escolaridade, e gerar uma escala ocupacional.18

No Brasil, Silva (1976, 1985) elaborou um índice de status socioeconômico gerando uma escala

ocupacional no Brasil com o Censo de 1970. Essa escala procura medir a situação socioeconômica

dos indivíduos que ocupam cada uma das “diferentes posições sociais que podemos distinguir na

divisão social do trabalho”, a partir de variáveis empíricas como nível de escolaridade (medido em

anos de estudo completos) e rendimentos do trabalho principal.

A principal vantagem de se gerar uma escala com base em critérios objetivos como renda e

escolaridade é que ela permite não só a comparação no tempo e no espaço como também a análise

de distância social, aspectos fundamentais para o escopo desse trabalho que visa uma análise

temporal da mobilidade social, enfatizando as peculiaridades do Rio de Janeiro em relação à média

brasileira.

O procedimento para o cálculo da escala de diferenciação social tem quatro passos fundamentais:

(1) calcula-se o status educacional e econômico dos indivíduos, (2) combinam-se os status

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educacional e econômico para gerar o status individual, (3) agregam-se os status individuais para

cada ocupação gerando o status ocupacional e (4) divide-se por uma constante para padronizar os

valores dos status ocupacionais dentro de uma escala de 0 a 100 pontos.

Primeiramente, o status econômico (R) dos indivíduos é definido pelo rendimento recebido pelo

trabalhador na ocupação principal. Como esse trabalho analisa a evolução temporal da mobilidade

social é necessário calcular o rendimento real desses trabalhadores. Para tanto, utilizou-se um

deflacionamento apropriado com base no IGP-DI para os dados do Censo de 1970 e no INPC-R

para os do Censo de 1980 e 1991 construído por Ferreira e Barros (1999).19

Em seguida, o status educacional é calculado a partir de uma função renda-escolaridade, a qual

estima o valor que o mercado paga, em média, para os indivíduos com determinado nível de

escolaridade. Foram, então, estimados os rendimentos esperados para dezoito níveis de escolaridade

(que variam de 0 anos de estudo a 17 anos de estudo completos) a partir de uma regressão entre a

renda e educação com uma função exponencial20

definida da seguinte forma:

e S ii bE aE

Onde iE é o nível educacional do indivíduo i medido em anos de estudo completos (0 a 17 anos),

iES é o status educacional do indivíduo i, ou seja, a renda esperada do indivíduo i com escolaridade

iE , a e b são constantes. Com base nos dados do Censo de 1991Os valores de a e b foram,

respectivamente, 203.32 e 0.132, com um coeficiente de determinação de 0.93, indicando que essa

função se ajusta muito bem às observações.

Além disso, levou-se em consideração a faixa etária do(a) trabalhador(a), na medida em que a

experiência é uma variável relevante tanto por sua influência independente sobre o rendimento

quanto pelo efeito da interação com a escolaridade na determinação dos rendimentos. Nesse

18 Os estudos originais citados por diversos autores da literatura nacional e internacional são de

Edwards (1943) e Bogue (1963). 19

Das séries históricas de índice de preços disponibilizadas pelos centros produtores dessa estatística, o que foi possível

utilizar para 1970 foi o IGP-DI, que não é o ideal para deflacionar renda do trabalho visto que não sendo um índice de

custo de vida apresenta um peso forte de preço por atacado. 20

Já foi bastante observado na literatura que a relação entre escolaridade e rendimento é não-linear e, mais

especificamente, tem o formato de uma função exponencial.

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sentido, o status educacional foi estimado por faixa etária de 5 anos entre as pessoas com 30 a 55

anos de idade21

.

Tendo sido calculados o status educacional por faixa etária e o status econômico (renda real da

ocupação principal pelo trabalhador) é possível, então, obter o status socioeconômico individual a

partir da média aritmética simples destes. Por fim, para calcular o status ocupacional foi calculada a

média dos status individuais por cada ocupação.

Uma das grandes questões em gerar um índice de status socioeconômico para estudar mobilidade

social está relacionada ao problema da estabilidade temporal. Para as coortes mais velhas em que se

pergunta a ocupação do pai quando começou a trabalhar significa transportar a análise para o início

do século. Esse é um problema grave principalmente para esse estudo que busca analisar as

mudanças temporais nos padrões de mobilidade entre 1976, 1988 e 1996. Tomando os extremos, no

primeiro caso compara-se, em média, pais que estavam ocupados na década de 40 com filhos na

década de 70. Nesse período, houve uma forte migração rural-urbana e crescimento econômico

puxada principalmente pelo processo de industrialização. No outro, os pais estão no mercado de

trabalho na década de 60 e os filhos na década de 90. Também nesse período ocorreram fortes

mudanças, mas de forma diferente. Houve uma diminuição do ritmo de crescimento econômico e

mudanças na estrutura ocupacional com diminuição da indústria e crescimento do setor serviços, o

que certamente mudou o perfil ocupacional, seja através do surgimento de novas ocupações e

declínio da participação de “velhas”, como pela própria modificação na composição das ocupações

já existentes.

Levando-se esses fatos em consideração, é razoável supor que a ordenação das ocupações

permanece constante ao longo do tempo? O índice de status socioeconômico tradicionalmente

calculado a partir da renda e da escolaridade é o que gera a ordenação mais estável temporalmente?

A título de comparação para validar a opção metodológica do cálculo do status socioeconômico a

partir da média entre o status educacional e a renda, realizou-se a ordenação por vários outros

critérios. O primeiro foi considerar somente a renda real média por ocupação. Isso porque na

medida em que o cálculo da renda esperada dada a educação e idade no fundo tem como objetivo

uma diminuição do erro e, portanto, da variância decidiu-se por verificar se existe muita diferença

entre ambos tipos de cálculo. Mas como a renda média é muito sensível aos extremos, poder-se-ia

21

O universo de análise desta tese foi restrito a esta faixa etária e se justifica por representar o resultado dos indivíduos

ao atingirem o auge da sua carreira e, principalmente, por ser aquela compatível com a do pai para fins da análise de

mobilidade intergeracional. Esse ponto será retomado mais adiante quando será analisada a fonte de informações.

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ter um efeito indesejado para o cálculo do status ocupacional e, então, a outra medida adotada é a

renda real mediana. Por fim, optou-se por fazer uma regressão mais completa de determinação da

renda, ou seja, calcular a renda esperada dada escolaridade, idade, idade2, sexo, setor de atividade,

situação rural ou urbana e região de residência dos indivíduos.22

Assim sendo, tem-se quatro

medidas para calcular o índice de status socioeconômico, quais sejam:23

1. renda média;

2. renda mediana;

3. renda-escolaridade (renda predita pela equação com escolaridade e idade);

4. renda predita (renda predita pela equação com educação, idade, idade2, sexo, setor de atividade,

situação rural ou urbana e região de residência ).

Para selecionar o melhor indicador de status socioeconômico utilizou-se como critério a

consistência temporal, ou seja, o indicador que gera menor mudança na ordenação das ocupações ao

longo do tempo. Para tanto, a tabela II.6 apresenta a matriz de correlação de ordem do status das

ocupações entre as diferentes formas de cálculo do status socioeconômico. Verifica-se,

primeiramente, que as correlações de ordem do status ocupacional são altas entre as diversas

medidas consideradas, da mesma medida ao longo do tempo e entre as medidas ao longo do tempo.

Tabela II.6

Matriz de correlação entre as diferentes medidas de status ocupacional: Brasil

1970 1980 1991

1970 1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 4

1. Renda média 1,00 0,98 0,90 0,94 0,95 0,95 0,88 0,94 0,92 0,89 0,87 0,92

2. Renda mediana 1,00 0,91 0,93 0,94 0,95 0,87 0,91 0,89 0,88 0,85 0,88

3. Renda escolaridade 1,00 0,95 0,84 0,86 0,96 0,91 0,82 0,83 0,94 0,87

4. Renda predita 1,00 0,89 0,89 0,90 0,96 0,88 0,85 0,88 0,94

1980

1. Renda média 1,00 0,98 0,85 0,93 0,94 0,90 0,84 0,90

2. Renda mediana 1,00 0,87 0,91 0,93 0,93 0,85 0,88

3. Renda escolaridade 1,00 0,91 0,82 0,83 0,98 0,89

4. Renda predita 1,00 0,89 0,85 0,90 0,97

1991

1. Renda média 1,00 0,97 0,83 0,90

2. Renda mediana 1,00 0,83 0,85

3. Renda escolaridade 1,00 0,90

4. Renda predita 1,00

Fonte: Censos 1970, 1980 e 1991.

Observe que as correlações das mesmas medidas ao longo do tempo são mais altas para a renda

predita e a renda-escolaridade, sendo esta última ligeiramente superior a primeira (veja destaque em

22

Infelizmente, o Censo de 1970 não perguntou a cor das pessoas, variável que tem uma relação importante com o nível

de renda dos indivíduos.

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negrito na tabela). Assim sendo, a ordenação das ocupações a partir da medida de renda-

escolaridade, que é aquela tradicionalmente utilizada na literatura e no Brasil foi elaborada por

Silva (1976, 1985), será utilizada nesta tese visto que gerou uma correlação de ordem mais alta

quando se comparam as diversas medidas ao longo do tempo, ou seja, obteve-se a maior

consistência temporal do status socioeconômico das ocupações.

As figuras II.1 e II.2 mostram a distribuição das ocupações por status socioeconômico numa escala

normalizada de 0 a 100 para o Rio de Janeiro e Brasil. Verifica-se um deslocamento ao longo do

tempo para a direita, indicando uma melhora na distribuição do status por ocupação. No entanto, o

deslocamento da média para um status mais elevado a moda em 1991 ainda encontra-se na faixa de

20-25, o que está longe de representar uma consolidação uma estrutura com alta participação de

ocupações de nível médio-mediano.

Merece, então, recolocar a questão de que, apesar das mudanças na estrutura ocupacional, a melhora

na distribuição do status ocupacional em direção a um aumento significativo da participação das

ocupações com status médio não foi suficiente para gerar uma distribuição mais igualitária em torno

da média. Isto é, uma distribuição em que se verificaria uma alta freqüência de ocupações com

status médio e baixa freqüência de ocupações no extremo da distribuição de status ocupacional.

Valle Silva (1974) concluiu com os dados de 70 que “um grande número de ocupações que no

Canadá e nos EUA são consideradas de “classe média”, no Brasil poderiam perfeitamente ser

alocadas aos estratos mais baixos da população." Mais de vinte anos depois parece que ainda

continua assim...

23

Ver as tabelas com a ordenação das ocupações segundo os diferentes critérios no Apêndice.

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II.3. Definição dos estratos ocupacionais

Como foi dito anteriormente, utilizou-se como critérios para classificação dos estratos sociais o

índice de status socioeconômico e os recortes principais existentes na classificação dos 18 grupos

ocupacionais de Valle Silva (1992), tais como posição na ocupação, rural-urbano, manual-não

manual, para gerar uma estratificação em 9 grupos ocupacionais. A árdua tarefa de conseguir

combinar uma certa consistência entre status e afinidade ocupacional seguiu alguns passos

operacionais importantes para viabilizar a análise da evolução da estrutura social e dos padrões de

mobilidade.

O primeiro passo foi adotar alguns procedimentos para lidar com as mudanças nos títulos

ocupacionais ocorridas nas bases de dados do IBGE ao longo do tempo. O primeiro procedimento

foi compatibilizar os códigos dos Censos de 1970, 1980 e 1991 para gerar a ordenação das

ocupações necessárias para elaborar a análise da evolução do status. Em seguida, definiram-se os

grupos ocupacionais com base no Censo do 1991 e para elaborar as matrizes de mobilidade social

com os títulos ocupacionais da Pnad de 1976 foi necessário compatibilizá-los com os de 1988 e

1996 (que são mais detalhados)24

em acordo com o Censo de 1991. Foi criada então a variável

COMP definida como a ocupação compatibilizada comum a todos os arquivos de Censo e Pnad

para garantir uma comparabilidade temporal das ocupações.25

O segundo passo foi definir se os estratos seriam definidos a partir da estrutura ocupacional do Rio

ou do Brasil. Para tanto, avaliou-se a possibilidade de se ter uma diferença significativa entre a

ordenação do status ocupacional entre Rio e Brasil com o Censo 91. O resultado, de certa forma

surpreendente, foi uma correlação altíssima para praticamente todas as medidas utilizadas para

ordenar as ocupações. Como pode ser visto na tabela II.7 a correlação de ordem do status

socioeconômico das ocupações entre Rio e Brasil é de 0,974.

24

Isso gerou algumas restrições no processo de classificação, visto que foi necessário puxar as desagregações

ocupacionais realizadas nas Pnads de 1988 e 1996 para os títulos mais agregados da PNAD de 1976. O maior problema

encontrado foi em relação às ocupações dos proprietários que não eram subdivididas entre empregadores e conta-

próprias. No entanto, como em 1976 foi perguntado também no suplemento sobre mobilidade social a posição na

ocupação do pai foi possível, então, separar esse grupo cruzando as ocupações de proprietários com a posição na

ocupação, gerando assim as "ocupações" de proprietários empregadores e conta próprias. 25

Ver no Apêndice a tabela A.1 tábua de compatibilização das ocupações entre as Pnads.

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Tabela II.7

Correlação de ordem das ocupações entre Rio e Brasil - 1991

Correlação de ordem das ocupações

Status socioeconômico 0.974

Renda predita 0.949

Renda média 0.858

Renda mediana 0.924

Escolaridade média 0.955 Fonte: Censo 1991.

Essa altíssima correlação, aliado ao efeito da migração sobre a mobilidade, principalmente em

relação aos pais, levou à decisão de criar os grupos ocupacionais a partir da estrutura brasileira,

apesar desta tese ter como foco principal de análise o Rio. Só para ressaltar um outro ponto a favor

dessa decisão, quando foi calculada a correlação de ordem do status socioeconômico das ocupações

em nove estratos entre Rio e Brasil obteve-se 0,997, ou seja, praticamente 1.26

Por fim, essas ocupações compatibilizadas foram ordenadas segundo o status socioeconômico,

divididas em nove grupos com o mesmo número de ocupações. Em seguida, inseriu-se esses nove

grupos considerando os recortes conceituais existentes no contexto das dezoito categorias

construídas por Valle e Silva e dos nove estratos de Scalon para, enfim, serem reagrupadas em

novos nove estratos ocupacionais que serão analisados nessa tese27

da seguinte forma:

a) separou-se trabalhadores rurais dos urbanos;

b) considerou-se a divisão de classes da linha marxista entre proprietários e não proprietários dos

meios de produção;

c) separou-se os experts de Wright ou service class de Goldthorpe dos não manuais de rotina;

d) considerou-se a dimensão da mobilidade colocada por Scalon, mas não se isolou a categoria de

proprietários rurais e separou-se os trabalhadores em ocupações dos serviços domésticos

daqueles da indústria tradicional;

e) controlou-se o overlapping do status socioeconômico das ocupações em, no máximo, 20% do

valor médio.

26

As tabelas A.2 e A.3 do Apêndice apresentam essas medidas por ocupação compatibilizada. 27

Por que 9 grupos? A idéia original era utilizar a classificação de classes de Scalon que se mostrou problemática para o

caso do Rio. Ao invés de abandonar os preceitos teóricos dessa classificação, optou-se por “transformá-la” de tal forma

que as 18 categorias ocupacionais construídas por Valle Silva (1992) fossem mais consistentes em termos de status e de

forma de inserção no mundo do trabalho e, assim, incorporar outros critérios para definição dos estratos.

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Esses critérios geraram a seguinte estrutura de estratos ocupacionais28

:

Tabela II.8

Composição dos nove estratos ocupacionais - Brasil

Categorias ocupacionais Principais ocupações

I. Trabalhadores rurais Trabalhador de cultura, trabalhador rural autônomo, pescador,

seringueiro

II. Serviços domésticos Empregado doméstico, porteiros, vigias, lavadeira, lixeiro

III. Trabalhadores do setor tradicional Pedreiro, pintor, costureiro, alfaiate, sapateiro, marceneiro

IV. Trab. da ind. moderna e dos serviços gerais Vendedores, cozinheiro, garçom, mecânico, ferramenteiro e

ajustador mecânico

V. Proprietários conta própria Comerciante conta própria, dono de hotel e pensão por conta

própria, outros proprietários conta própria

VI. Técnicos e trabalhadores de escritório Professores 1o grau, secretárias, auxiliares administrativos, praça

militares, eletricistas

VII. Empregadores urbanos Industriais, Comerciantes, Donos de hotel e pensão, Outros

proprietários empregadores

VII. Administradores, gerentes e supervisores Administradores e dirigentes do comércio, do serviço público, da

indústria

IX. Profissionais liberais Engenheiros, médicos, prof. Ensino superior, magistrados

Fonte: Censo 1991.

Como destacado anteriormente, essa classificação toma por base alguns critérios importantes para

definição de classes ou estratos sociais, como a separação entre proprietários e não proprietários dos

meios de produção e também algumas semelhanças nas características na forma de inserção no

mercado de trabalho. Isso pode ser visto através do cruzamento entre essa nova classificação e as 18

categorias construídas por Valle Silva.

Como pode ser visto pela tabela II.9, os extremos das categorias de Valle Silva foram muito bem

classificados nos novos estratos, com trabalhadores rurais composto pela quase totalidade desses

trabalhadores assim como os profissionais liberais. O mais problemático foi classificar a classe

média, principalmente as categorias 11 e 8 (serviços gerais e técnicos, artistas e supervisores do

trabalho manual) da estrutura ocupacional de Valle Silva, que devido à elevada participação e

heterogeneidade de status socioeconômica foram "espalhadas" em mais de uma categoria.

28

Ver tabelas A.4 do Apêndice.

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55

Tabela II.9

A nova classificação a partir das 18 categorias de Valle e Silva

9 Novas categorias ocupacionais

I II III IV V VI VII VIII IX Total

Categorias ocupacionais de Valle Silva

1. Profissionais liberais 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 1,46 44,47 1,12

2. Dirigentes e administradores de alto nível 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 7,26 0,00 25,00 0,00 2,94

3. Profissionais e técnicos de alto nível 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 4,82 55,53 1,62

4. Funções administrativas de execução 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,64 0,00 16,10 0,00 1,28

5. Ocupações não manuais de rotina 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 37,98 0,00 0,56 0,00 5,76

6. Proprietários empregadores urbanos 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 100,00 0,00 0,00 2,82

7. Proprietários conta própria 0,00 0,00 0,00 0,00 100,00 2,28 0,00 0,00 0,00 2,89

8. Técnicos, artistas e supervisores do trabalho manual 0,00 0,00 0,00 0,09 0,00 23,65 0,00 52,05 0,00 7,42

9. Trabalhadores da indústria moderna 0,00 0,00 0,48 17,74 0,00 9,55 0,00 0,00 0,00 5,16

10. Trabalhadores em indústrias tradicionais 7,33 2,44 94,17 0,26 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 13,77

11. Trabalhadores nos serviços gerais 0,00 2,73 4,74 66,95 0,00 12,34 0,00 0,00 0,00 16,61

12. Serviços domésticos 0,03 94,83 0,00 2,45 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 12,20

13. Vendedores ambulantes 0,00 0,00 0,00 10,68 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 2,21

14. Trabalhadores no artesanato 0,53 0,00 0,00 0,62 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,26

15. Proprietários rurais 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 5,81 0,00 0,00 0,00 0,87

16. Técnicos e administradores no setor primário 1,97 0,00 0,00 1,21 0,00 0,50 0,00 0,00 0,00 0,81

17. Produtores agrícolas autônomos 40,35 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 9,92

18. Trabalhadores rurais 49,79 0,00 0,62 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 12,32

Total 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100

Fonte: Censo 1991.

Considere o exemplo da categoria 8 de serviços gerais de Valle Silva. Os cozinheiros, garçons,

motoristas tinham status consistente com mecânicos, ajustadores, ferramenteiros gerando, assim

como na definição por mobilidade entre estratos de Scalon, essa categoria de trabalhadores de

serviços gerais e da indústria moderna. Mas a definição via mobilidade associada a recompensas

monetárias semelhantes mercado de trabalho são critérios suficientes para gerar uma identidade

coletiva que define uma classe social?

Segundo Esping-Andersen (1993), "um metalúrgico qualificado e um cabeleireiro qualificado têm

muito pouco em comum em termos de autonomia, autoridade, relação de trabalho e recompensa".

Tirando esse último aspecto que no Brasil são grupos com rendas semelhantes no mercado de

trabalho, talvez ele tenha razão nos outros casos. Mas, apesar de ser um aspecto importante para

definir um sentido de classe nas relações pós-fordistas, levar em consideração as principais matrizes

teóricas e conceituais para definir um sentimento de classe é extremamente difícil e devem ser feitas

algumas limitações.

Nesse sentido, pode-se dar um olhar mais modesto para essa classificação em termos de agrupar as

ocupações com níveis de renda e escolaridade semelhantes ainda que obedeça a alguns recortes

fundamentais em termos de relação de trabalho (autonomia, autoridade e estabilidade), expressos

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nas dicotomias rural-urbano, manual-não manual e proprietário-não proprietário. A tabela II.10

apresenta o status socioeconômico médio das ocupações de cada estrato social e, mesmo que haja

intersecção entre alguns grupos, pode-se fazer uma leitura de que a mudança de estrato ocupacional

está em alguma medida associada à mudança de situação socioeconômica.

Tabela II.10

Status socioeconômico das ocupações por estrato ocupacional - Brasil

Status

Estratos ocupacionais Médio Mínimo Máximo

I. Trabalhadores rurais 11,94 10,30 13,20

II. Serviços domésticos 13,88 12,86 15,91

III. Trabalhadores em ocupações da indústria tradicional 15,98 14,44 18,78

IV. Trabalhadores da ind. moderna e dos serviços gerais 18,31 16,20 20,86

V. Conta própria 21,33 20,79 21,86

VI. Técnicos e ocupações não manuais de rotina 27,73 21,20 35,69

VII. Empregadores 35,31 32,64 39,83

VIII. Administradores, gerentes e supervisores 45,42 34,70 55,91

IX. Profissionais 76,76 59,28 100,00

Total 29,88 10,30 100,00

Fonte: Censo 1991.

Para se ter um pouco mais de detalhes sobre os estratos ocupacionais utilizados nesse trabalho, a

tabela II.11 apresenta algumas características em termos de renda e escolaridade. Percebe-se

claramente uma hierarquia em termos das medidas de renda (status, renda média e renda predita

pela equação completa) e escolaridade, com exceção dos empregadores que apesar do status mais

baixo que os administradores, a renda média e predita são mais altas. Como fica claro na análise da

tabela isso se deve à escolaridade mais baixa. Além disso, percebe-se que o desvio-padrão de todas

as medidas de renda e de escolaridade para os empregadores é o mais elevado, sugerindo que existe

um risco maior de alcançar a renda média desse grupo. Por isso, manteve-se esse estrato na posição

VII no sistema de estratificação social.

Tabela II.11

Características dos estratos ocupacionais - Brasil

Status* Escolaridade Renda Renda predita

Estratos Média DP Média DP Média DP Média DP

I.Trab.Rurais 184,60 95,18 1,76 2,26 209,57 545,86 159,22 107,50

II.Serv.Domésticos 225,64 122,13 3,00 2,68 211,62 391,11 219,67 153,87

III.Trab.Ind.Trad. 258,89 149,92 3,83 2,92 368,78 549,41 328,61 205,37

IV.Trab.Serv/Ind.Mod 323,11 216,14 5,05 3,53 512,06 743,64 388,00 268,96

V.Conta própria 345,16 247,06 5,25 4,00 729,35 1378,77 398,06 318,49

VI.Não manuais rotina 532,77 314,98 8,34 4,16 804,76 1178,73 577,13 391,56

VII.Empregadores 578,34 377,97 8,62 4,61 1958,51 3074,75 1388,92 987,66

VIII.Administradores 815,38 355,03 11,65 3,68 1173,35 1641,07 733,25 465,66

IX.Profissionais 1252,32 248,34 15,25 1,84 2200,16 2327,42 1287,22 717,02

Total 398,39 340,83 5,63 4,83 636,96 1279,04 453,52 484,34

Fonte: Censo 1991.

* Média e desvio padrão do status individual por estrato ocupacional. (sem padronizar entre 0 e 100).

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A questão que se coloca aqui é se na análise da mobilidade social intergeracional poder-se-ia

esperar que essa classificação com o Censo de 1991 também seria semelhante a dos pais que

estavam no mercado de trabalho nas décadas de 40 a 60. Como não foi possível recuperar os dados

individuais de renda dos Censos anteriores a 70, vale colocar um resultado muito positivo já

destacado anteriormente para fortalecer esse tipo de análise, qual seja, que entre 1970 e 1991 a

ordenação das ocupações mudou muito pouco (ver tabela II.6 com matriz de correlação das medidas

ao longo do tempo). Isso quer dizer que apesar das mudanças no nível de renda nesse período a

posição relativa das ocupações mudou muito pouco e talvez não seja muito diferente supor esse

mesmo comportamento ainda mais para trás no tempo. Em outras palavras, a dificuldade em aceitar

a construção de estratos sociais ou classes como categorias ocupacionais empiricamente

mensuráveis tem respaldo numa situação coerente da posição relativa da ocupação dos pais e dos

filhos em termos de renda e escolaridade, o que fortalece a leitura de mobilidade social como

mudança de estrato social em termos de nível socioeconômico.

Por fim, vale dizer que essa classificação não será a única utilizada nesse trabalho para analisar a

mobilidade social no Rio e Brasil. Outros agrupamentos serão adotados na medida em que se tornar

necessário fortalecer os dados com outros tipos de classificação, em especial será feita uma

categorização em nove grupos levando em conta somente à ordenação das ocupações por status e

também um agrupamento em quatro categorias. Essa última será utilizada sempre que for necessário

um maior volume de informações na célula para aplicar técnicas, recortes de análises mais finos e

comparação internacional. São elas: I.Profissionais - profissionais, administradores e proprietários

empregadores; II. Não manual - não manual de rotina e proprietários por conta própria; III. Manual

urbano - trabalhadores nos serviços e nas indústrias tradicionais e moderna; e IV. Trabalhadores

rurais - empregados e trabalhadores autônomos rurais.

II.4. Metodologia e estimativas da mobilidade social intergeracional

II.4.1. Fonte de informações e universo de análise

A fonte de informações utilizada para estudar mobilidade social foi a Pesquisa Nacional por

Amostra de Domicílio (PNAD) do IBGE. Foram selecionados os anos que continham o suplemento

sobre mobilidade social, quais sejam, 1976, 1988 e 1996.29

29

O suplemento sobre mobilidade social também foi aplicado em outros dois anos da PNAD. Mas, infelizmente, não foi

possível recuperar a PNAD 1973 no IBGE. E a PNAD 1982 apresenta dificuldades para utilizar a variável renda,

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O universo de análise foi restrito aos chefes e cônjuges com idade entre 30 a 55 anos que souberam

responder às questões retrospectivas sobre ocupação e escolaridade do pai. Isso porque a pergunta

no questionário da PNAD é "qual era a função, cargo ou ocupação do seu pai quando o Sr(a) ... teve

a primeira ocupação" no caso das PNADs 1976 e 1988 e “... quando tinha 15 anos” na PNAD 1996

e para garantir uma certo grau de comparabilidade entre as fases da carreira profissional do pai e

do(a) filho(a) é apropriado fazer um recorte analítico na faixa etária condizente.

Como a idade média do primeiro trabalho é 13 anos e segundo a tabela II.12 a idade estimada dos

homens terem o primeiro filho é 25 anos30

, optou-se por concentrar a análise na faixa de 30 a 55

anos.

Tabela II.12

Estimativa aproximada da idade do pai ao ter o 1o filho(a)

1960 1970 1980 1991

Idade média da mulher ao casar* 22,19 22,96 22,59 22,73

Idade média do homem ao casar* 25,85 26,21 25,35 25,77

Diferença de idade ao casar* 3,66 3,25 2,76 3,04

Idade média da mulher ao ter o 1o filho 21,70** 22,40***

Idade média do homem ao ter o 1o filho 24,46 25,44

Fonte: *Censos, **Pnad-1984 e ***PNDS-1996.

Com a restrição do universo à faixa etária de 30 e 55 anos, o total de observações da amostra no Rio

de Janeiro variou entre 7.738 em 1976 e 6.418 em 1996, sendo que entre 60 e 70% responderam ao

questionário sobre mobilidade social. Esse total representava em torno de 35% do total de ocupados

neste último ano.

II.4.2. Definição de mobilidade social intergeracional

A mobilidade social que será analisada nesta tese é a intergeracional e pode ser definida aqui como

a mudança de estrato ocupacional atual do filho(a) na faixa etária de 30 a 55 anos comparado com o

do pai. Quando se cruza o estrato ocupacional atual do(a) filho(a) com o do pai, tenta-se captar a

fundamental para construção das categorias ocupacionais. Vale ainda lembrar que o suplemento da Pnad 1976 foi

aplicado a uma subamostra. 30

Não foi possível calcular diretamente a idade do pai ao ter o primeiro filho. Essa idade, então, foi calculada

indiretamente pela soma da idade da mãe ter o primeiro filho e a diferença de idade ao casar.

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mobilidade em fases mais maduras da carreira tanto do pai quanto do filho(a).31

Além disso, ela

reflete não só os movimentos entre gerações mas também ao longo da carreira do indivíduo (a

mobilidade intrageracional, ou seja, entre a primeira ocupação e a ocupação atual do indivíduo).

Isso porque ela percorre tanto a mobilidade intergeracional (entre ocupação do pai e primeira

ocupação do filho(a)) quanto à mobilidade intrageracional. Esquematicamente, pode-se visualizar

da seguinte forma:

Ocupação do pai Primeira ocupação do filho Ocupação atual do filho

Mobilidade intergeracional

(1a ocupação)

Mobilidade intrageracional

Mobilidade intergeracional (total)

A análise da mobilidade social entre as gerações do pai e do(a) filho(a) nas décadas de 70 e de 90

significa, no primeiro caso, comparar a origem social dos pais ocupados entre 1940 até meados de

70 com a situação ocupacional do(a) filho(a) em 1976 e, no segundo caso, a origem social dos pais

nas décadas de 1960 até meados da de 1990 com a situação ocupacional do(a) filho(a) em 1996.

Assim, comparando a situação ocupacional atual dos(as) filhos(as) tem-se um período de 20 anos de

análise, mas se levarmos em conta o período que vai da primeira geração dos pais até a situação

atual mais recente dos filhos tem-se um espectro temporal que vai da década de 1940 a 1996.

II.4.3. Metodologia

A metodologia utilizada para analisar a mobilidade social intergeracional foi à construção de

matrizes de transição de status socioeconômico ou da tabela de mobilidade social, que é uma

classificação cruzada dos indivíduos de acordo com sua ocupação em dois momentos do tempo. O

momento mais antigo é chamado de origem ocupacional e o mais recente destino ocupacional.

Nesse estudo, a origem é a categoria ocupacional do pai e o destino é categoria ocupacional atual

do(a) filho(a), o que se convencionou denominar como mobilidade intergeracional total.

31

É, em alguma medida, questionável a relação entre categoria ocupacional do pai (e não da mãe) e da filha. No

entanto, como a categoria ocupacional do pai está sendo encarada como um indicador de status socioeconômico

familiar, a análise por sexo torna-se menos problemática.

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A matriz de mobilidade apresenta-se da seguinte forma:

1 2 c

1 f 11 f 12 f 1c f 1+

2 f 21 f 22 f 2c f 2+

. . . .

. . . .

r f r1 f r2 f rc f r+

Total Destino f +1 f +2 f +c f ++= N

O : ocupação do pai ( i ) Total OrigemD : ocupação do filho ( j )

...

...

...

...

...

...

...

Onde ijf indica a freqüência conjunta da categoria i da variável de origem e a categoria j da

variável de destino. Nas marginais da tabela têm-se os totais, seja dos indivíduos com origem i, seja

dos indivíduos com origem i, seja de indivíduos com destino j. Esses totais marginais são definidos

por

c

1jiji ff e

r

1iijj ff

E o total de indivíduos pode ser obtido por

r

1i

c

1j

r

1iij

c

1jijij Nffff

A diagonal principal da matriz representa os casos de imobilidade social (i=j), ou seja, os casos em

que não houve mudança de categoria ocupacional ou de status socioeconômico. Assim, quanto

maior a porcentagem de indivíduos na diagonal principal, menor o grau de mobilidade social, o que,

por conseguinte, indica uma sociedade em que a posição atual dos indivíduos está muito ligada à

origem social.

As matrizes foram ordenadas de forma crescente de modo que os valores acima da diagonal

principal representam a mobilidade ascendente e abaixo se tem a descendente. A soma da

mobilidade ascendente e descendente é a mobilidade total. Assim, as medidas de mobilidade que

serão utilizadas nessa seção foram calculadas da seguinte forma:

Imobilidade =

l

1iii Nf , onde iif representa os valores da diagonal principal;

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Mobilidade Ascendente =

c

1jij Nf , onde ijf significa valores acima da diagonal principal;

Mobilidade Descendente =

c

1jij Nf , onde ijf significa valores abaixo da diagonal principal.

Estas medidas de mobilidade são expressas em termos de taxas absolutas e, portanto, são

influenciadas pelo componente estrutural da mobilidade decorrente das mudanças na estrutura

produtiva e ocupacional e na composição demográfica. Em outras palavras, estas medidas são

afetadas pelas distribuições marginais da matriz de mobilidade, as quais representam as diferenças

na estrutura ocupacional ocorridas entre as gerações do pai e do(a) filho(a).

Assim sendo, no capítulo seguinte analisar-se-á a evolução das taxas absolutas de mobilidade social

no Rio, comparativamente ao Brasil, levando-se em consideração tanto os movimentos verticais na

estrutura social (mobilidade ascendente ou descendente) quanto relacionais (mobilidade estrutural

ou circular), com intuito de avaliar as possibilidades de movimentação dos indivíduos no sistema de

estratificação social entre gerações ao longo do tempo.

Conclusão

A construção dos estratos ocupacionais é um ponto extremamente delicado nos estudos sobre

mobilidade social, pois representa fazer escolhas conceituais e teóricas sobre posição social e,

portanto, determina as possibilidades de análise sobre o tema. Essas escolhas podem ser sumariadas

em dois caminhos na literatura empírica: a corrente que considera a hierarquia social em que as

ocupações podem ser ordenadas segundo status socioeconômico e a corrente em que as diferenças

entre os grupos ocupacionais são determinadas a partir da relação com os meios de produção ou de

acordo com a posição de mercado e de trabalho, sem necessariamente expressar uma hierarquia

social.

O caminho adotado foi um tanto eclético já que se combinou uma hierarquia segundo o status

socioeconômico com alguns recortes fundamentais para diferenciar os grupos:

separou-se trabalhadores rurais dos urbanos;

considerou-se a divisão entre proprietários empregadores, proprietários conta própria e

empregados;

utilizou-se o recorte manual e não manual;

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separou-se os profissionais dos não manuais de rotina.

Com isso, seguindo uma linha mais weberiana de situações de classe, que são construídas por

posições de mercado e de trabalho e que determinam chances de vida diferentes, os estratos

representam uma certa ordenação feita por semelhanças no status socioeconômico, mas também

revela recortes fundamentais que definem características afins no mundo do trabalho. São eles:

Estratos ocupacionais

I. Trabalhadores rurais

II. Serviços domésticos

III. Trabalhadores em ocupações da indústria tradicional

IV. Trabalhadores da ind. Moderna e dos serviços gerais

V. Proprietários conta própria

VI. Ocupações não manuais de rotina

VII. Proprietários empregadores

VIII. Administradores, gerentes e supervisores

IX. Profissionais

A vantagem é que esse tipo de classificação permite avaliar se houve melhora ou piora entre

gerações em termos socioeconômico medida pela posição do estrato ocupacional e também analisar

as barreiras entre estratos que tem afinidades em termos de posição no mundo do trabalho. A

desvantagem é que ela é imperfeita tanto no que se refere à ordenação dos estratos, visto que existe

um overlapping de status, quanto a uma definição pura de características afins do conteúdo e do

tipo de trabalho.

No entanto, essa classificação não é última nem definitiva. Sempre que houver necessidade de

fortalecer os resultados, tanto em relação à coerência da ordenação por status quanto à necessidade

de contornar problemas estatísticos com células vazias, utilizar-se-á dois outros tipos de

estratificação:

a) 4 classes: I. Rural, II. Manual, III. Não-manual e IV. Profissionais;

b) 9 grupos ocupacionais levando em conta somente a ordenação das ocupações por status

socioeconômico.

A partir dos nove estratos criados aqui para representar a posição social dos pais e dos (as)

filhos(as) calculou-se as taxas de mobilidade, segundo as freqüências na matriz de mobilidade

social, em que os movimentos entre origem (estrato do pai) e destino (estrato atual do filho(a) com

30 a 55 anos) caracterizam a mobilidade social intergeracional. Como os estratos foram ordenados

de forma crescente, quando o estrato atual dos(as) filhos(as) for maior que o do pai, define-se a

mobilidade ascendente e, quando for menor, a descendente. Aos filhos (as) que permaneceram no

mesmo estrato do pai, caracteriza-se a situação de imobilidade.

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CAPÍTULO III

TENDÊNCIAS DA MOBILIDADE SOCIAL

INTERGERACIONAL NO RIO DE JANEIRO

Poucos estudos foram feitos sobre mobilidade social no Rio de Janeiro. São três, destacados a

seguir em ordem cronológica. Pastore e Castro (1983) analisam o efeito do status do pai sobre a

posição social atingida pelos filhos em 1973 desagregada espacialmente. Verifica-se que nas

regiões mais desenvolvidas (Rio e São Paulo) este efeito é menor do que nas regiões menos

desenvolvidas. De qualquer maneira, a herança paterna exerce uma influência importante sobre

posição social das pessoas, principalmente pelos efeitos indiretos que são transmitidos via ocupação

no início da carreira profissional e, com mais intensidade, escolaridade.

Andrade (1997) analisa as diferenças nas taxas e padrões de mobilidade social entre as regiões

metropolitanas em 1988 e verifica que as regiões metropolitanas do Rio de Janeiro e de Recife

apresentam a situação mais desfavorável, com taxas menores de mobilidade ascendente e maiores

de descendente.

O trabalho de Valle Silva (1997) enfatiza as diferenças raciais (brancos e não brancos) no Rio de

Janeiro em relação ao denominado processo de realização social, ou seja, às possibilidades de

atingir determinada posição socioeconômica. Os principais determinantes, em ordem de

importância, são a escolaridade, a primeira ocupação e a experiência, sendo que a posição social

paterna não tem um efeito significativo. No entanto, o autor destaca que parece existir um outro

efeito significativo que poderia ser denominado “herança”, que determinaria o fato de que as

pessoas oriundas de famílias melhores posicionadas teriam os maiores rendimentos de sua própria

ocupação principal, independentemente da escolaridade e da ocupação atingida. “Este é um fato

curioso, uma vez que estas variáveis não pareciam afetar significativamente a ocupação presente,

sugerindo a existência de algum capital ‘cultural’ ou ‘social’ que torna mais rentável o desempenho

da própria ocupação”.

Em suma, esses estudos mostram que a mobilidade social no Rio de Janeiro é mais alta que a média

brasileira, o que indica uma sociedade mais dinâmica, onde as pessoas se movimentam muito entre

gerações no sistema de estratificação social. A idéia nesse capítulo é analisar a evolução temporal

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64

das taxas absolutas de mobilidade social intergeracional no Rio de Janeiro, comparativamente à

média brasileira.

III.1. Evolução das taxas de mobilidade social intergeracional

A mobilidade social no Brasil é alta, quando comparada com outros países32

, e cresceu entre 1976 e

1996, como pode ser visto na tabela III.1. No Rio, a mobilidade é ainda maior e permanece

praticamente no mesmo patamar, revelando que o peso da origem familiar na determinação da

posição dos indivíduos no sistema de estratificação social é muito pequeno. Com uma taxa de

imobilidade praticamente constante ao nível de 20%, isso quer dizer que no Rio a grande maioria

(80%) dos indivíduos consegue seguir um caminho diferente do pai no mercado de trabalho, para

melhor ou pior.

Tabela III.1

Mobilidade social intergeracional no Rio de Janeiro e Brasil 1976 1988 1996 Var(96-76) Var(96-88)

Rio de Janeiro

Imobilidade 20,2 20,4 20,6 2,1% 1,0%

Descendente 18,1 20,5 25,3 39,9% 23,4%

Ascendente 61,7 59,0 54,0 -12,4% -8,5%

Brasil

Imobilidade 41,7 30,8 29,7 -28,7% -3,4%

Descendente 11,5 11,8 14,7 27,9% 24,2%

Ascendente 46,9 57,4 55,6 18,7% -3,1%

Total 100 100 100

Fonte: PNADs 1976, 1988 e 1996.

No início do período tanto a mobilidade ascendente quanto a descendente eram maiores no Rio. Ou

seja, as possibilidades de mudanças de categoria ocupacional entre as gerações de pai e filho(a) - e,

portanto de condição socioeconômica -, tanto para cima quanto para baixo, eram relativamente

maiores no Rio. No final do período, no entanto, somente a mobilidade descendente é maior.

Percebe-se , então, que o Rio tem um comportamento temporal diferente da média brasileira. Logo

de imediato vem a questão se esse comportamento é resultado do número de estratos e da forma

como foi feita a classificação dos estratos ocupacionais. Para lidar com essa questão calculou-se as

taxas para as outras duas formas de estratificação social descritas no capítulo II – quatro classes e

nove classes ordenadas segundo o status socioeconômico – e verifica-se o mesmo comportamento

32

Ver Pastore e Valle Silva (2000) e Goldthorpe (1992). Só para dar uma vaga idéia, já que as diferenças no número de

estratos e na forma de classificação afetam essas taxas, no início dos anos 70, a taxa de mobilidade da França era de

43%, da Itália 37%, dos EUA 48%, do Canadá 50% e do Brasil 58%.

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diferenciado no Rio em relação ao Brasil.33

Esse é um resultado forte e merece a busca de possíveis

fatores explicativos, já que não é decorrente da estratificação social utilizada nesse trabalho.

Uma forma de explorar esse comportamento é analisando as diferenças na composição da ocupação

por sexo, isto é, poder-se-ia explicar pelo fato do Rio ter uma presença feminina maior no mercado

de trabalho do que a média brasileira. Como ainda se verifica uma proporção relativamente maior

de mulheres inseridas em ocupações de qualidade mais baixa que os homens, esse poderia ser um

fator explicativo.

A tabela III.2 apresenta as taxas de mobilidade para homens e mulheres e, apesar de um padrão

diferenciado por sexo (as mulheres têm mais mobilidade tanto para cima quanto para baixo), o

comportamento temporal das taxas de mobilidade é semelhante para ambos os sexos. Ao contrário

do que ocorre na média brasileira, as chances de conseguir uma ocupação num estrato superior ao

dos pais ficou relativamente mais difícil para homens e mulheres no Rio.

Tabela III.2

Mobilidade social intergeracional no Rio de Janeiro e Brasil por sexo HOMENS MULHERES

1976 1988 1996 Var(96-76) 1976 1988 1996 Var(96-76)

Rio de Janeiro

Imobilidade 21,8 21,8 23,8 9,1% 15,2 17,8 16,0 5,7%

Descendente 16,8 18,5 22,8 35,9% 22,3 24,5 29,0 29,9%

Ascendente 61,4 59,8 53,4 -13,0% 62,5 57,6 55,0 -12,1%

Brasil

Imobilidade 43,0 33,8 32,6 -24,2% 36,9 24,3 25,4 -31,3%

Descendente 10,7 11,1 13,6 26,5% 14,0 13,3 16,3 16,1%

Ascendente 46,2 55,1 53,8 16,4% 49,1 62,4 58,3 18,9%

Total 100 100 100 100 100 100

Fonte: PNADs 1976, 1988 e 1996.

Uma outra hipótese que poderia ser feita é em relação à diferença por cor. Diversos estudos

mostram que as pessoas de cor branca têm maiores possibilidades de ascensão social que os negros

e pardos.34

Como a proporção de negros e pardos é maior no Rio e crescente isso poderia estar

puxando, em alguma medida, esse comportamento da taxa de mobilidade social no Rio ao longo do

tempo.

Contudo, as informações da tabela III.3 revelam que o controle pela cor do indivíduo não gera um

comportamento diferenciado, ou seja, a queda da taxa de mobilidade ascendente no Rio acontece

33

Ver tabelas A.5 e A.6 no Apêndice. Esse mesmo resultado também foi encontrado com uma outra classificação de

categorias ocupacionais em Pero (2001). 34

Caillaux (1994) e Hasenbalg e Silva (1988).

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tanto para brancos quanto para não brancos. Mais uma vez, esse comportamento não decorre de

características específicas de um determinado grupo e sim para o conjunto da população.

Tabela III.3

Mobilidade social intergeracional no Rio de Janeiro e Brasil por cor BRANCOS NÃO BRANCOS

1976 1988 1996 Var(96-76) 1976 1988 1996 Var(96-76)

Rio de Janeiro

Imobilidade 19,1 20,1 19,9 4,7% 21,7 21,1 21,8 0,6%

Descendente 17,1 20,0 24,1 41,3% 20,0 21,4 27,4 37,0%

Ascendente 63,9 59,9 55,9 -12,4% 58,3 57,5 50,8 -12,9%

Brasil

Imobilidade 37,2 27,4 26,5 -28,9% 48,2 35,8 34,4 -28,5%

Descendente 12,3 12,7 15,1 22,6% 10,3 10,5 14,0 35,6%

Ascendente 50,4 59,9 58,4 15,8% 41,5 53,7 51,6 24,3%

Total 100 100 100 100 100 100

Fonte: PNADs 1976, 1988 e 1996.

Em outras palavras, as taxas de mobilidade social no Rio têm um comportamento temporal

diferente comparativamente ao Brasil, pois registram queda da mobilidade ascendente e ligeiro

aumento da imobilidade. Mas será que este é um comportamento realmente específico do Rio de

Janeiro?

Os dados da tabela III.4 sobre a mobilidade social por estado mostram que sim.35

Somente o Rio de

Janeiro teve uma queda da mobilidade ascendente e manteve a taxa de imobilidade praticamente

constante. Esse poderia ser um fenômeno de ponto de partida, isto é, como o Rio tem alta taxa de

mobilidade ascendente as chances de cair seriam maiores. No entanto, verifica-se que São Paulo

registra a maior taxa de mobilidade ascendente entre os estados brasileiros em 1976 e continua

crescendo em 1996.

35

As regiões Norte e Centro-Oeste não foram consideradas por problemas de cobertura da amostra da PNAD,

principalmente em relação a 1976. Esse comportamento específico por estado também ocorre quando se consideram as

outras classificações. Para tanto, ver tabelas A.7 e A.8 do Apêndice.

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Tabela III.4

Evolução da mobilidade social por Unidade da Federação 1976 1996 Var(96-76)

Imob. Desc. Asc. Imob. Desc. Asc. Imob. Desc. Asc.

Rio de Janeiro 20,2 18,1 61,7 20,6 25,3 54,0 0,4 7,2 -7,6

Espírito Santo 39,3 7,9 52,8 35,0 11,8 53,2 -4,3 3,9 0,4

São Paulo 24,6 12,1 63,3 19,8 15,5 64,8 -4,9 3,4 1,5

Rio Grande do Norte 39,9 10,8 49,3 30,2 12,7 57,1 -9,7 1,9 7,8

Santa Catarina 45,2 7,8 47,1 33,7 11,2 55,0 -11,4 3,5 7,9

Bahia 55,2 10,3 34,5 44,4 12,2 43,4 -10,8 1,9 8,9

Rio Grande do Sul 45,6 13,5 40,9 29,7 18,0 52,4 -15,9 4,4 11,5

Minas Gerais 49,3 8,9 41,8 31,9 13,9 54,2 -17,4 5,0 12,4

Pernambuco 55,6 12,0 32,5 36,9 15,2 47,9 -18,7 3,2 15,5

Paraná 50,1 8,5 41,4 31,1 11,7 57,2 -19,0 3,3 15,7

Ceará 59,4 10,7 29,9 41,1 11,3 47,6 -18,3 0,6 17,7

Piauí 70,3 3,0 26,7 45,7 9,3 44,9 -24,5 6,3 18,2

Paraíba 64,6 5,7 29,8 38,1 9,2 52,7 -26,5 3,5 23,0

Sergipe 59,8 9,7 30,5 33,2 12,1 54,6 -26,6 2,5 24,1

Alagoas 64,4 14,7 20,9 40,6 11,9 47,5 -23,8 -2,8 26,6

Maranhão 75,9 7,0 17,1 49,5 6,4 44,0 -26,4 -0,6 27,0

Fonte: PNADs 1976 e 1996.

Uma observação interessante que pode ser feita a partir da tabela III.4 é a relação entre taxa de

mobilidade e grau de desenvolvimento regional. Se os estados forem ordenados de forma crescente

de acordo com a taxa de imobilidade percebe-se que os da região Sudeste e Sul têm índices menores

do que os da região Nordeste. Com intuito de ilustrar esse fato vale ressaltar que os dois estados

com as menores taxas de imobilidade em ambos os anos considerados são Rio de Janeiro e São

Paulo e aqueles com as maiores são Maranhão e Piauí.

Com esse resultado torna-se inevitável uma referência ao debate teórico sobre a existência de uma

tendência de aumento da mobilidade com o desenvolvimento econômico. Pode-se resumir três

pontos mais ou menos consensuais nesse debate. O primeiro, refere-se ao fato de que o processo de

industrialização e a constituição de uma sociedade moderna são acompanhados por um aumento da

taxa de mobilidade tanto por efeitos de mudanças na estrutura ocupacional provocadas pelo

desenvolvimento tecnológico quanto pelo aumento da igualdade de oportunidades decorrente do

maior acesso à educação. (Blau e Duncan, 1967)

O segundo ponto é que a passagem de estágios do desenvolvimento econômico, considerando, por

exemplo, as etapas de Rostow ou os caminhos para uma sociedade pós industrial de Bell, está

necessariamente associada a um aumento da mobilidade devido aos efeitos das mudanças na

estrutura ocupacional mas não necessariamente a um aumento da igualdade de oportunidades, que

depende de outros fatores como, por exemplo, a consolidação de instituições necessárias para o

funcionamento de um sistema de bem-estar social. Por isso, a mobilidade aumenta no início do

processo de industrialização ou com mudanças de etapa, mas não há necessariamente uma tendência

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clara entre crescimento econômico e mobilidade social, uma vez que seja atingido determinado grau

de desenvolvimento. (Lipset e Zetterberg, 1959)

Por último, a literatura empírica tem apoiado o argumento de Featherman, Jones e Hauser (1975) de

que é difícil encontrar similaridades nas taxas absolutas de mobilidade porque ela influenciada pela

estrutura da divisão social do trabalho, que por sua vez depende do comportamento das variáveis

econômicas, tecnológicas e demográficas que de cada país. Mas, quando se considera a taxa de

mobilidade líquida desses efeitos, ou melhor, a mobilidade relativa, observa-se que as similaridades

entre países que atingiram um grau de desenvolvimento econômico semelhante aumentam. Em

outras palavras, uma vez que se controle os efeitos estruturais e, portanto, o regime de mobilidade

se estabiliza num padrão comum, gera-se uma tendência convergente entre as nações em direção a

uma maior abertura em termos de garantir maior igualdade de oportunidades no processo de seleção

no sistema de estratificação social. Esse ponto encontrou apoio na literatura, mas Erikson e

Goldthorpe (1992) acrescentaram a possibilidade de diferenças no comportamento da mobilidade

relativa ou circular, ainda que pequenas, entre os países industrializados.

Retomando os resultados da tabela III.4, a análise das taxas de mobilidade absoluta dos estados do

Brasil revela uma correlação positiva entre grau de desenvolvimento e taxa de mobilidade. Esse é

um ponto forte a favor da teoria que sustenta que com o desenvolvimento econômico a transmissão

intergeracional de posição social diminui, o que pode ser tanto decorrente de mudanças estruturais

quanto do aumento da importância de outros canais de mobilidade, como a escola, para a

determinação da posição social do indivíduo.

Além disso, a mobilidade na região Nordeste, mais atrasada no contexto considerado, cresce

relativamente mais, assim como a mobilidade ascendente. Essa constatação, combinada com a

anterior, sugere uma explicação do tipo Lipset e Bendix onde as diferenças de estágio de

desenvolvimento que produzem uma mudança mais forte na estrutura ocupacional geram maiores

taxas de mobilidade total e de crescimento da mobilidade ascendente. Ou seja, a evolução das taxas

de mobilidade estaria refletindo muito mais mudanças na estrutura econômica e ocupacional do que

uma melhora nos mecanismos de circulação dos indivíduos entre os estratos ou da fluidez da

estrutura social.

Levando essa análise um pouco mais adiante, verifica-se que as regiões com estágios de

desenvolvimento semelhantes, como Rio e São Paulo, apresentam características diferenciadas nas

taxas e no comportamento ao longo do tempo. Esse aspecto reforça a hipótese de Fatherman, Jones

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e Hauser de que mesmo em estágios de desenvolvimento semelhante existem diferenças nas taxas

de mobilidade e na sua evolução devido às especificidades econômicas e demográficas.

Vale destacar que o Rio, que já apresentava a maior taxa de mobilidade descendente em 1976,

registra a maior taxa de crescimento se distanciando ainda mais dos outros estados. Só para dar uma

idéia da distância, a taxa de mobilidade descendente no Rio é de 25% enquanto que o segundo lugar

é representado pelo Rio Grande do Sul com 18%.

A questão que se coloca agora é sobre quais seriam as possíveis explicações para o Rio apresentar

um comportamento temporal específico da taxa de mobilidade com a queda da mobilidade

ascendente, ou da mesma forma, com a maior taxa de crescimento da mobilidade descendente.

A tabela III.5 mostra a evolução das taxas de mobilidade entre 1976 e 1996 por categorias

ocupacionais com intuito de verificar quais foram as categorias que puxaram esse movimento

específico do Rio de Janeiro. Verifica-se, por um lado, que o ligeiro crescimento da taxa de

imobilidade no Rio ocorreu em praticamente todos os estratos, com exceção do I (trabalhadores

rurais) que caiu de 83% para 67% e do VII (empregadores) que passou de 20% para 11%. Os

estratos que registraram as maiores taxas de crescimento da taxa de imobilidade foram IV

(trabalhadores de serviços e da indústria moderna) e IX (profissionais).

No Brasil, a taxa de imobilidade cai para praticamente todos os estratos, com exceção dos estratos II

e IV. Nota-se, então, que no Brasil o estrato ocupacional mais privilegiado de profissionais não

registra um aumento da taxa de imobilidade, o que significa que a participação de trabalhadores

com origem social de outros estratos aumenta. Entretanto, no Rio, diferentemente da média

brasileira, a categoria IX de profissionais está se tornando mais fechada para pessoas com origem de

outras categorias socioeconômicas.

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Tabela III.5

Evolução da mobilidade social por estrato ocupacional dos(as) filhos(as) 1976 1996 Dif(96-76)

Imob. Desc. Asc. Imob. Desc. Asc. Imob. Desc. Asc.

Rio de Janeiro

I. Trab.Rurais 83,8 16,2 67,0 33,0 -16,9 16,9 0,0

II. Serv.Domésticos 6,6 31,5 61,8 8,5 50,5 41,0 1,9 19,0 -20,9

III. Trab.Ind.Trad. 16,9 27,3 55,7 21,8 37,0 41,1 4,9 9,7 -14,6

IV. Trab.Ind.Mod. /serv. 18,8 19,1 62,1 26,1 27,8 46,1 7,3 8,6 -15,9

V. Conta própria 9,1 15,2 75,6 12,2 28,9 58,9 3,1 13,6 -16,7

VI. Não manuais rotina 22,7 12,7 64,6 23,3 14,0 62,7 0,6 1,3 -1,9

VII. Empregadores 20,0 4,9 75,2 10,8 12,4 76,8 -9,1 7,5 1,6

VIII. Administradores 9,6 5,8 84,6 12,0 6,7 81,3 2,4 0,9 -3,3

IX. Profissionais 13,4 86,6 19,0 81,0 5,6 0,0 -5,6

Brasil

I. Trab.Rurais 92,4 7,6 89,9 10,1 -2,5 2,5 0,0

II. Serv.Domésticos 3,2 21,7 75,1 4,8 29,6 65,6 1,6 7,9 -9,5

III. Trab.Ind.Trad. 16,2 18,0 65,9 16,0 21,9 62,2 -0,2 3,9 -3,7

IV. Trab.Ind.Mod. /serv. 14,0 16,5 69,4 17,9 17,9 64,2 3,9 1,3 -5,2

V. Conta própria 14,6 12,8 72,6 10,7 16,5 72,7 -3,9 3,8 0,1

VI. Não manuais rotina 20,4 8,3 71,3 16,6 10,1 73,3 -3,8 1,8 2,0

VII. Empregadores 14,7 5,4 79,9 9,6 8,5 81,9 -5,0 3,0 2,0

VIII. Administradores 8,7 7,1 84,3 8,3 3,7 88,0 -0,4 -3,4 3,7

IX. Profissionais 16,2 83,8 14,5 85,5 -1,7 0,0 1,7

Fonte: PNADs 1976 e 1996.

Já, a queda da taxa de mobilidade ascendente no Rio é generalizada, exceto o estrato VII, e foi

puxada principalmente pelas categorias ocupacionais de baixo status socioeconômico ou pelos

estratos do setor manual (II a IV) e pelo estrato V (proprietários por conta própria). A maior queda

da mobilidade ascendente se refere à categoria II (serviços domésticos) e quer dizer que enquanto

em 1976 a maioria das pessoas naquele estrato no Rio experimentava uma mobilidade ascendente

(pais no setor rural), em 1996 a maior parte tem origem em estratos superiores da estrutura social.

Apesar da queda da mobilidade ascendente dos outros estratos do setor manual, as chances de

mobilidade ascendente ainda são bem maiores do que as descendentes. Do total de trabalhadores

inseridos em ocupações no estrato IV (trabalhadores de serviços gerais e indústria moderna), 46%

experimentaram uma mobilidade ascendente em relação ao estrato de seus pais enquanto que 28%

tiveram mobilidade descendente.

No Brasil, a taxa de mobilidade ascendente também registra uma queda nos estratos do setor

manual mas com uma intensidade bem menor que no Rio, e ainda com taxas de mobilidade

ascendentes bastante superiores que as descendentes em 1996.

Esse quadro da mobilidade intergeracional no Rio poderia ser explicado, pelo menos em parte, por

uma mudança na estrutura ocupacional diferente da média brasileira. A tabela III.6 apresenta a

evolução da participação dos estratos na ocupação total no Rio de Janeiro e Brasil em 1976 e 1996.

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Como já era de se esperar há uma queda da participação das ocupações no setor rural tanto no Rio

quanto no Brasil, sendo que neste último é tão forte que as participações dos outros estratos

crescem. Já no Rio essa queda foi acompanhada também por uma diminuição significativa dos

estratos III (trabalhadores da indústria tradicional) e VI (não manuais de rotina) e em menor grau do

estrato II (serviço doméstico).36

Tabela III.6

Evolução da estrutura ocupacional por categoria ocupacional

no Rio de Janeiro e Brasil 1976 1988 1996 Var(96-76) Var(96-88)

Rio de Janeiro

I. Trab.Rurais 5,57 4,18 4,44 -20,2% 6,3%

II. Serv.Domésticos 16,48 17,52 15,89 -3,6% -9,3%

III. Trab.Ind.Trad. 14,85 12,56 12,62 -15,0% 0,5%

IV. Trab.Ind.Mod. /serv. 21,91 23,32 25,67 17,2% 10,1%

V. Conta própria 2,72 2,29 3,89 42,6% 70,0%

VI. Não manuais rotina 19,59 17,13 15,06 -23,1% -12,1%

VII. Empregadores 5,78 5,93 5,98 3,6% 0,9%

VIII. Administradores 8,76 11,56 11,50 31,4% -0,5%

IX. Profissionais 4,33 5,52 4,95 14,1% -10,4%

Brasil

I. Trab.Rurais 33,12 21,33 20,72 -37,4% -2,9%

II. Serv.Domésticos 10,10 12,86 12,62 25,0% -1,8%

III. Trab.Ind.Trad. 11,16 12,15 12,06 8,1% -0,7%

IV. Trab.Ind.Mod. /serv. 16,53 19,03 20,11 21,7% 5,7%

V. Conta própria 3,66 4,25 4,88 33,1% 14,8%

VI. Não manuais rotina 11,71 12,31 12,03 2,7% -2,3%

VII. Empregadores 4,70 5,58 5,41 15,2% -3,1%

VIII. Administradores 6,53 9,04 8,64 32,2% -4,4%

IX. Profissionais 2,49 3,44 3,54 42,2% 2,8%

Total 100 100 100

Fonte: PNADs 1976, 1988 e 1996.

Esse comportamento do estrato VI (não manual de rotina) no Rio, que tem um peso importante na

estrutura ocupacional, pode estar contribuindo para explicar a evolução da queda da mobilidade

ascendente. No entanto, isso dependerá do regime de mobilidade e de suas mudanças ao longo do

tempo.

Os fatos encontrados até aqui merecem uma reflexão mais profunda sobre as peculiaridades no

processo de desenvolvimento econômico e social do Rio de Janeiro que poderiam explicar esse

fenômeno. Para tanto, serão explorados dois caminhos para explicar o comportamento temporal

específico das taxas de mobilidade social no Rio: o demográfico e o econômico.

36

Em que pesem as diferenças na composição dos estratos por sexo e por cor, esse comportamento temporal

diferenciado do estrato VI (queda no Rio) foi verificado para todos os grupos. Ver tabelas A.9 e A.10 do Apêndice.

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O primeiro caminho é o de explorar o fato de que o Rio está liderando a transição demográfica

brasileira, como mostrou, por exemplo, o Relatório de Desenvolvimento Humano da Cidade do Rio

de Janeiro.37

A queda da taxa de fecundidade no Rio de Janeiro iniciou-se mais cedo e foi mais

além que no resto do Brasil. Além disso, as características históricas como a elevada taxa de

urbanização e de escolaridade da população junto com diminuição da migração têm contribuído

para o Rio ser o Estado com a menor taxa de crescimento populacional.

O Rio então está na frente de um processo demográfico que caracteriza as sociedades mais

desenvolvidas, qual seja, a de apresentar uma estrutura etária mais velha da população. O impacto

sobre a mobilidade social é o de que, por uma característica demográfica, as pessoas na faixa etária

considerada (30 a 55 anos) são relativamente mais numerosas e, por conseguinte, deparam-se com

uma competição mais pesada para manter a posição social dos seus pais.

O outro caminho é explorar o resultado como um reflexo da perda de dinamismo da economia

fluminense. Esta perda foi sentida com mais intensidade com a transferência da capital para Brasília

em 1960 e, principalmente, a partir da fusão do Estado da Guanabara com o do Rio em 1975,

quando não só perdeu definitivamente o "bonde da história" de um processo de diversificação

industrial para São Paulo mas também todo o circuito de geração de trabalho e renda com a

centralidade política de capital do país. Nesse sentido, as mudanças na estrutura econômica e

ocupacional não foram capazes de manter ou melhorar as oportunidades de trabalho para as

gerações mais novas e, por isso, o Rio tem um comportamento pior que os outros estados.

Uma hipótese geral é que as mudanças na estrutura econômica decorrentes da diminuição da

participação da economia fluminense no cenário nacional e do processo de desindustrialização e de

diminuição do peso do setor público na economia geraram, junto com um elevado grau de

desigualdade, uma estrutura de consumo que alimenta um setor de serviços de baixa qualidade

inchado e crescente, levando a uma subutilização do elevado capital humano (escolaridade), ou até

mesmo um saldo migratório negativo de pessoas com alta qualificação, e uma diminuição das

chances de melhorar de posição na estrutura social ao longo do tempo.

Antes de entrar na análise empírica para explorar os mecanismos demográficos e econômicos que

poderiam explicar a queda da mobilidade ascendente no Rio, vale comentar alguns aspectos

peculiares da história socioeconômica do Rio que ajudam a contextualizar a questão em foco.

37

Camarano (2001).

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73

III.2. Ascensão e queda do Rio de Janeiro no século XX: um breve relato

O Rio de Janeiro era a cidade mais importante do Brasil até o início do século XX no cenário

político, econômico, social e cultural. Como capital federal do Brasil teve seu "período dourado",

com crescimento econômico, mudanças urbanísticas e arquitetônicas, como palco das principais

decisões políticas e vanguarda cultural do país.

É de longa data o destaque da cidade do Rio como o mais importante centro comercial e financeiro,

apoiado na cafeicultura e no comércio de exportação e importação, e político-administrativo do

país. Também era a cidade industrial mais importante nos primórdios da industrialização brasileira,

quando em meados do século XIX já existia uma participação significativa da indústria têxtil.

Outros indícios da expansão econômica do período foram a geração de energia elétrica e a

construção do moderno porto da cidade. Segundo Tavares (2000), em 1907, o Rio de Janeiro era o

principal centro industrial do país, com uma contribuição de 30% no produto total do país, seguido

por São Paulo e Rio Grande do Sul.

Apesar dos sinais de perda de espaço econômico com a queda da produção cafeeira fluminense38

e

de estar ocorrendo uma intensa urbanização desacompanhada de um desenvolvimento baseado na

industrialização, o Rio na primeira metade do século XX recebeu a denominação de cidade

maravilhosa. Essa imagem foi construída pelo dinamismo econômico decorrente das

especificidades locais como forte elo do empresariado industrial e financeiro com o Estado e

também as possibilidades de contar com gastos públicos para investimentos nos projetos de

infraestrutura e arquitetônicos como ocorreu com as reformas de Rodrigues Alves e as obras de

Pereira Passsos.

A "construção da Paris dos Trópicos"39

visava, entre outras coisas, diminuir as epidemias para

espantar a caracterização de cidade pestilenta e incorporar à paisagem natural uma beleza

urbanística. O Rio na entrada do século XX era a melhor expressão de cidade moderna do país e se

38

Para um estudo aprofundado sobre a economia do Rio na virado do século ver Mello (1993), Leopoldi (1986),

Lobo(1978), entre outros. 39

Só para dar uma idéia, nesse período foram construídos o Teatro Municipal, o Forte de Copacabana, o bondinho do

Pão de Açúcar, é eletrificada a estrada de ferro para o Corcovado, a orla das praias de Botafogo e Copacabana são

urbanizadas, além dos projetos de abastecimento de água com drenagem de rios e do crescimento dos loteamentos nas

zonas norte e sul. Para maiores detalhes, ver Lessa (2000) que sintetiza que “a reforma, num duplo movimento, afirma a

capacidade de alçar-se a modernidade urbana e à exibição do elenco singular na natureza do Rio”. Completa ainda com

a importância da cultura européia, principalmente a francesa nesse período, onde a atividade cultural se intensifica com

os cinemas, peças, cafés e a boemia no cenário carioca. Coloca ainda: “ A elite brasileira sentia-se ofuscada pelo brilho

da burguesia européia. Eram tempos de intensa proletarização e emigração européia para os novos mundos, inclusive o

Brasil. Nossa elite não percebia, nesta diáspora, os sinais dos novos tempos”.

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constituiu num pólo de atração de fluxos migratórios, vindos principalmente de Portugal, de Minas

Gerais e do Nordeste do Brasil.

De acordo com Lessa (2000): "Apesar de já iniciada a atrofia do café fluminense, estavam no Rio

os maiores salários: as oportunidades de mobilidade vertical da cidade eram atraentes para os

camponeses do norte de Portugal". Ou ainda, "o Rio de Janeiro emitia um sinal "lotérico" de acesso

a alguns serviços públicos e de melhoria de renda atraindo brasileiros de outras regiões. Isto sem

contar que a capital era pólo de imigração lusa."

Paralelamente a essa dinâmica de modernização, foi nesse período também que surgiram as favelas

do Rio como uma estratégia lógica da população pobre de habitar em locais próximos às classes

sociais mais altas já que, devido em grade parte à precariedade do sistema de transporte, tornava-se

mais fácil a oferta de serviços domésticos e de outros serviços e produtos por conta própria através,

principalmente, do comércio ambulante.40

A partir de 1920, apesar do Rio continuar crescendo, São Paulo já lidera a produção industrial.41

Keller (1977) enumera os seguintes fatores como determinantes do declínio relativo do Rio de

Janeiro:

i) mãe natureza dotava melhor São Paulo em termos de recursos de solo e topografia;

ii) localização geográfica no planalto favorecia São Paulo para tornar-se o epicentro de

circulação; e

iii) condições históricas que dificultaram a passagem de uma economia cafeeira sedimentada no

regime escravocrata para uma economia agrícola com trabalho livre coincidiram com um

esgotamento dos solos e dificuldades financeiras dos fazendeiros para investir em outras

lavouras; e, fragilidade do processo de industrialização no interior fluminense e da infra-

estrutura de transportes.

Esses três argumentos expressam bem a visão de que a economia fluminense entrou em declínio

relativo por conta da fragilidade das relações café-indústria não terem impulsionado efeitos

dinâmicos, para frente e para trás, no território como havia ocorrido em São Paulo. Essa percepção

da história, no entanto, é questionada por diversos historiadores que relativizavam o peso da

cafeicultura e da indústria na economia fluminense como um todo, devido principalmente às suas

especificidades como grande centro comercial, financeiro e político-administrativo e, portanto, ser

40

Na introdução do livro Cem Anos de Favela, Zaluar e Alvito (1998) fazem uma interessante análise sobre o

surgimento da favela a partir de artigos em jornais e depoimentos de figuras públicas da época. Já em 1900 um artigo

em jornal reivindica o policiamento e a higienização do Morro da Providência.

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historicamente uma economia capaz de gerar uma dinâmica, em certa medida, autônoma da relação

café-indústria.

Diversos argumentos são levantados. Lobo (1977) ressalta que o desenvolvimento industrial e da

economia do Rio não teve relação direta com a agricultura devido à importância da acumulação na

área comercial e financeira. Mendonça (1977) refuta a idéia de que se teria enfrentado obstáculos

para o abastecimento assim como sofrido limitação significativa à constituição de um mercado

interno devido ao ainda expressivo contingente de mão de obra escrava. Lobo (1987) e Martins

(1985) colocam o limite do mercado interno como potencial explicativo fraco na medida em que o

escoamento da produção era possível via Estrada de Ferro Central do Brasil, cumprindo o papel de

mecanismo integrador do mercado, tanto para suprir a demanda interna quanto para aumentar a

valorização do capital nestes negócios. Levy (1987) destaca o aumento das tarifas de energia

elétrica como fator explicativo para perda de dinamismo da indústria do Rio. Guarita (1987) atribui

ao crescimento dos custos industriais com energia elétrica, transportes e salários às principais razões

para a perda de dinamismo. Enfim, uma série de autores deslocam o peso da crise do café para as

especificidades locais, pois na virada na virada do século XX não houve crise da economia

fluminense e atribui a perda de espaço da economia fluminense a partir de 1920 como resultado de

uma série de fatores específicos à economia local.

Natal (2001) apresenta bem essas duas vertentes com a seguinte conclusão: “o Rio de Janeiro, tais

eram suas especificidades, não poderia ser matriciado a partir de fora. Esta é a tese dos historiadores

da UFF. De qualquer maneira, esse conjunto de autores reconhece que a economia do antigo Estado

do Rio logo entrou em crise, conhecendo a partir do desenvolvimento da economia paulista um

longo e irreversível ciclo de decadência e de estiolamento social. Neste sentido, não deixa de haver

mérito da análise acerca do caráter paradigmático das relações econômicas mais avançadas

instauradas em São Paulo, nos moldes capitalistas, sublinhando-se, no entanto, a especificidade de

antigo Distrito Federal”.

Como pode ser visto na tabela III.7, já em 1949 (e mesmo antes), São Paulo era o estado que mais

contribuía para o PIB brasileiro com 36%, seguido do Rio com 20%. Note que a tabela III.8 revela

que essa perda de espaço na economia nacional no período que vai de 1939 a 1980 ocorreu para

todos os setores de atividade econômica, em especial a indústria e os serviços financeiros.42

41

Ver dados do Recenseamento do Brasil, 1920 em Tavares (2000). 42

Note que a agricultura sempre teve uma participação muito baixa, o que se reflete no Rio ter a maior taxa de

urbanização do Brasil.

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Tabela III.7

Contribuição dos estados do Rio e São Paulo

para o PIB brasileiro

Rio de Janeiro São Paulo

1949 19,5 36,4

1959 18,5 37,8

1970 16,1 39,5

1975 14,5 40,2

1980 13,2 37,8

1985 12,8 34,7

1990 10,9 35,7

1995 13,2 37,4

Fonte: IBGE, extraídos de Tavares (2000)

Tabela III.8

Contribuição do produto setorial do Rio para o PIB

setorial brasileiro

1939 1980 Dif. Var.

Agricultura 5,4 1,2 -4,2 -77,8%

Indústria 26,9 9,3 -17,6 -65,4%

Terciário 20,3 12,6 -7,7 -37,9%

Governo 35,4 20,7 -14,7 -41,5%

Outros serviços 27,2 17,6 -9,6 -35,3%

Serv.Financeiros 38,4 13,2 -25,2 -65,6%

Fonte: Natal (2001).

Vale notar que isso ocorreu mesmo com as macro-decisões do Estado Novo Varguista de tentar

equilibrar a distribuição de recursos no eixo econômico mais desenvolvido do país (Rio-São Paulo-

Minas) com a implementação de empresas estatais de grande porte no Rio e em Minas Gerais.

Segundo Ribeiro e Almeida (1993), isso revelava uma lógica de “organizar” o aproveitamento das

complementaridades industriais com Minas fornecendo a matéria prima mineral e o Rio o processo

de metalurgia pesada e o de química de base para, então, São Paulo operar o parque industrial

voltado para a produção de bens finais.

De certa forma, essa estratégia foi mantida em 1960, quando a capital foi transferida para Brasília,43

e a União manteve no Rio as sedes das grandes estatais, das universidades, instituições de pesquisa

e outros órgãos federais como o BNDES. Essa lógica de sustentação econômica, no entanto, não era

nova. Sem ter conseguido imprimir um novo padrão de acumulação baseado em especificidades da

economia regional, o Rio se desenvolvia a partir de um setor de serviços sofisticados, com

atividades nacionais a partir das sedes de bancos, de seguros, do comércio atacadista, de escritórios

43

Para conhecer o processo político e os reflexos sobre a sociedade no período da passagem da capital para Brasília ver

Motta (2000).

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77

de advocacia, entre outros. Este estilo de desenvolvimento que, sob certo olhar, é condizente com

uma vida econômica de base da capital do país torna-se um problema com a transferência da

capital.

O fato é que ao não se desenvolver com bases no processo de industrialização, o Rio foi se tornando

cada vez mais dependente do setor terciário e do setor público para a dinâmica regional, o que se

cristalizou em profunda crise quando da perda da capital para Brasília.

Segundo Lessa, "o Rio sempre abriu mão com facilidade de seus interesses econômicos locais em

nome da função política maior. Esta postura displicente, conveniente enquanto capital, irá lhe custar

caro, após a perda da capitalidade. Uma cidade cosmopolita que podia condensar e conviver com

todas as dimensões provincianas. Uma cidade com elites recrutadas em todo o país, sem servir ao

interesse regional do Rio. Ao perder a função capital e sobreviver à crise das últimas décadas, a

imagem do Rio foi esvanecendo, estando ligada a este processo a erosão da auto-estima brasileira."

Essa combinação de perda relativa de espaço econômico e manutenção da promessa da

modernidade como centro político-administrativo, pólo cultural que com o sucesso da rádio

reforçou a expressão popular do samba e da música em geral atraía não só turistas mas também

fluxos migratórios crescentes. Assim, apesar da moderna economia de serviços, baseada nos setores

da administração pública, de comunicação, cultural e de turismo, que estava se desenvolvendo não

se teve como contrapartida um mercado de trabalho que garantisse níveis de emprego e renda

suficientes para suprir as “necessidades básicas” cotidianas da vida urbana. Como reflexo, as

favelas cresceram continuamente nesse período, tornando mais fortes, já que duradouras, as

desigualdades econômica e social.

Observando ainda os dados da tabela III.7 percebe-se que a decadência da economia do Rio foi

sentida com mais intensidade com a perda da capital para Brasília nos anos 60 e, principalmente, a

partir da fusão do Estado da Guanabara com o Rio em meados de 1970, quando não só perdeu

definitivamente o "bonde da história" de um processo de diversificação industrial para São Paulo

mas também todo o circuito de geração de trabalho e renda com a centralidade política de capital do

país. Isso porque o distanciamento entre Rio e São Paulo ocorre principalmente no período de 1960

a 1975 quando o Rio diminui sua participação no PIB e São Paulo aumenta.

A crise dos anos 80 atinge ambas economias, sendo que a do Rio tem repercussões específicas pelo

fato de já estar perdendo espaço há algumas décadas. Segundo Ribeiro (1997), isso ocorre

principalmente pelo fato de ter sido historicamente o lugar das indústrias que se tornaram obsoletas

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com as revoluções industriais, como siderurgia e construção naval (Dain, 1990) e também por

apresentar uma “terciarização deformada” pois não foi acompanhada de um avanço significativo na

divisão social do trabalho, já que as ocupações de sobrevivência e de serviços e comércio são as que

mais crescem nesse período.

As características da história econômica recente do Rio, quando na primeira metade do século XX

perde espaço no cenário mas ainda cresce e depois entra em crise com a transferência da capital e,

especialmente, com "década perdida", aponta fatores importantes para a atração de fluxos

migratórios e, por conseguinte, o padrão de crescimento populacional.

São Paulo é o principal foco de atração de fluxos migratórios no país e tem uma taxa de

fecundidade maior que a do Rio.44

Já o Rio, a partir de 1950, é o terceiro receptor de população de

outros estados e a taxa de fecundidade do estado do Rio sempre foi a mais baixa do Brasil e vem

diminuindo ao longo do tempo.45

Esses dois efeitos juntos contribuíram para diminuição da taxa de crescimento populacional. Como

pode ser visto na tabela III.9, a população do Rio cresceu 12 vezes no período considerado enquanto

que a de São Paulo é 37 vezes maior. O Rio de Janeiro é o terceiro estado do Brasil em termos

populacionais, atrás de São Paulo e Minas Gerais. Vale dizer que apesar da população do Rio ser

menor que a de São Paulo e crescer relativamente menos, a sua distribuição pelo território expressa

uma densidade demográfica bem mais elevada com 293 hab/km2, enquanto que Minas Gerais é de

27 hab/km2 e São Paulo é de 136 hab/km2.46

44

Ver Keller (1977) e Pacheco e outros (2000). 45

Uma análise empírica mais detalhada sobre a queda da fecundidade no Brasil e também a baixa taxa no Rio pode ser

encontrada em Carvalho e outros (1981). 46

Dados do Anuário Estatístico do Brasil (1993)

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Tabela III.9

População dos Estados do Rio e São Paulo e do Brasil: 1872-1991

Rio de Janeiro % São Paulo % Brasil

1872 1.057.696 10,7% 837.354 8,4% 9.930.478

1890 1.399.535 9,8% 1.384.753 9,7% 14.333.915

1900 1.737.478 10,0% 2.282.279 13,1% 17.438.434

1920 2.717.244 8,9% 4.502.188 14,7% 30.635.605

1940 3.611.998 8,8% 7.180.316 17,4% 41.236.315

1950 4.674.645 9,0% 9.134.423 17,6% 51.944.397

1960 6.709.891 9,5% 12.974.699 18,3% 70.992.343

1970 8.930.324 9,4% 17.958.693 19,0% 94.508.554

1980 11.297.327 9,5% 25.040.712 21,0% 119.002.706

1991 12.807.706 8,7% 31.588.925 21,5% 146.825.475

2000 14.367.083 8,5% 36.969.476 21,8% 169.590.693

Fonte: Censos, extraídos de Keller (1977), Rigotti e Carvalho (2000) e Pacheco e outros (2000).

O comportamento temporal do saldo migratório do Rio de Janeiro expressa em alguma medida a

crise econômica local a partir dos anos 60. O Rio de Janeiro sempre foi um importante pólo

metropolitano atrator de migrantes de todo país, principalmente mineiros e nordestinos. Segundo

estimativa de Rigotti e Carvalho (2000) esse saldo na década de 60 foi de 841.168, representando

9,4% da população, caindo na década de 70 para, respectivamente, 631.513 e 5,6%. Essa tendência

de diminuição continua a tal ponto do saldo se tornar negativo na década de 80. Assim, em 1991, o

Rio experimentou pela primeira vez na história recente um saldo migratório negativo de - 452.806

pessoas.47

Como pode ser visto na tabela III.9, o fato do Rio ter a menor taxa de fecundidade e o saldo

migratório negativo fez com que a participação da população fluminense em relação ao total no

Brasil diminuísse em 1991.

Tabela III.10

Taxa de crescimento populacional

Rio de Janeiro São Paulo Brasil

1950/60 3,7 3,5

1960/70 3,1 3,2 2,9

1970/80 2,3 3,4 2,5

1980/91 1,2 2,1 1,9

Fonte: Censos, extraídos em Rigotti e Carvalho e Pacheco e outros.

Como pode ser visto na tabela III.10, a diminuição e depois reversão dos saldo migratório no Rio

assim como da baixa taxa de fecundidade acabou por resultar numa taxa de crescimento

47

Esse comportamento também foi verificado por Correa do Lago (2000) para a Região Metropolitana do Rio de

Janeiro.

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populacional no Rio a partir da década de 70 menor do que a média brasileira. Note que, a despeito

da forte diminuição da sua taxa de crescimento populacional, São Paulo se mantém acima da média.

Assim, como pode ser visto na tabela III.9, a participação da população fluminense em relação ao

total cai em 1991 enquanto que a de São Paulo cresce continuamente.

Esses fatores levam o Rio a liderar um processo de transição demográfica em direção ao

envelhecimento da população. Como pode ser visto na tabela III.11, o Rio apresenta desde 1920

uma estrutura etária mais madura que São Paulo e a média brasileira. Além disso, no período como

um todo as modificações nas participações ocorreram com mais intensidade aqui do que no Brasil.

Tabela III.11

Distribuição da população por faixa etária

Rio de Janeiro Brasil São Paulo 0 a 19 20 a 59 60 e mais 0 a 19 20 a 59 60 e mais 0 a 19 20 a 59 60 e mais

1920 51,2 44,4 4,4 56,2 39,9 3,9 100

1940 47,2 48,3 4,5 53,3 42,6 4,1 51,3 44,6 4,1 100

1960 46,3 48,1 5,6 52,9 42,3 4,8 48,4 47,2 4,4 100

1970 46,3 47,4 6,3 53,1 41,8 5,1 47,3 46,9 5,8 100

1980 42,0 50,8 7,2 49,7 44,3 6,1 43,7 50,0 6,3 100

1991 37,4 53,3 9,2 45,0 47,7 7,3 40,1 52,2 7,7 100

1996 37,9 51,4 10,6 42,3 49,8 7,9 37,8 53,6 8,5 100

Fonte: Censos Demográficos do IBGE.

Ao que tudo indica a economia fluminense, notadamente o Distrito Federal, no início do século,

apesar do declínio da economia cafeeira, vivia um período de crescimento econômico que durou até

os anos 60 quando da transferência da capital para Brasília. Desse período em diante, o Rio entra

em declínio atingindo o "fundo do poço" nos anos 80 e início dos 90.48

Os dados de renda per capita

são bem ilustrativos para esse quadro evolutivo. A renda per capita no início do século XX no Rio

era 2,5 vezes a média brasileira, atinge seu auge com 2,7 em 1950 e depois sofre queda contínua,

quando nos anos 60 passa a ser 1,7 e chega nos anos 80 com uma renda per capita somente 1,4

vezes maior que a média brasileira.49

48

Vale dizer que em 1990, Minas Gerais passa a frente do Rio em termos de contribuição para a produção nacional.

Contudo, em 1995, há uma inflexão nesse comportamento da economia fluminense recuperando seu 2o lugar. Uma

análise sobre a perda de posição e a inflexão (ou seria retomada?) da economia fluminense pode ser vista em Tavares e

Natal. Sem entrar em detalhes sobre esse ponto, merece destaque o fato de que, com a democratização, a eleição ou

nomeação de governantes locais sistematicamente de partidos de oposição ao governo federal foram, aos poucos,

enfraquecendo a capacidade do governo alavancar receitas em diversas esferas de atuação, tendo impactos não

desprezíveis sobre a perda de peso relativo da economia fluminense na nacional e o quadro social. 49

Esses dados foram extraídos de Natal (2001).

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Além disso, o Rio apresenta um padrão de elevada desigualdade de renda, quase sempre a maior

entre os estados mais desenvolvidos do Brasil, que nos últimos 30 anos se manteve praticamente

constante. Isso quer dizer que a queda da renda per capita ocorreu sem uma redistribuição da renda

entre as diferentes camadas da população, sugerindo que a queda da renda teve, em média, um

impacto semelhante para os diferentes grupos socioeconômicos.

O último ponto relevante a ser destacado para a contextualização histórica em busca de explicações

para o comportamento específico da mobilidade social no Rio é em relação ao elevado grau de

escolaridade da população fluminense quando comparado com a média brasileira. O Rio foi a sede

da primeira universidade do Brasil e recebia, e ainda recebe, pessoas de fora do estado para se

escolarizarem aqui. O fato é que até hoje tem uma participação relativamente alta de pessoas com

formação universitária. Em Barros e outros (1997) verifica-se que quando se compara a estrutura

ocupacional com os requerimentos educacionais para desempenhar determinada ocupação, o Rio

apresenta uma abundância relativa de capital humano, medido por anos de estudo. Dito de outra

forma, a escolaridade relativamente alta no Rio não tem como contrapartida uma estrutura

ocupacional mais sofisticada, gerando essa abundância relativa de capital humano.

Assim sendo, essa seção continuará em busca de explicações para o comportamento específico da

mobilidade social no Rio a partir da análise empírica de dois pontos destacados anteriormente: (1) o

impacto do declínio relativo economia fluminense sobre a estrutura setorial do emprego que geram

repercussões sobre as possibilidades de inserção ocupacional; (2) os efeitos demográficos do

comportamento e composição do saldo migratório decorrente do "descompasso" entre escolaridade

e estrutura ocupacional sobre o saldo migratório e de uma estrutura etária mais velha.

III.3. Explorando algumas explicações para o comportamento específico do Rio

Antes de entrar nas três possíveis explicações destacadas anteriormente a partir da análise dos

aspectos demográficos e econômicos específicos da história do Rio, é necessário ter em mente os

períodos em que ocorrem os dois movimentos de mobilidade intergeracional para viabilizar a

análise das possíveis relações. O primeiro refere-se à mobilidade entre os pais no mercado de

trabalho mais ou menos nas décadas de 40 e 50 comparados com a situação ocupacional do filho em

1976. O segundo movimento compreende as mudanças de categoria ocupacional entre os pais que

estavam no mercado de trabalho nos anos 60 e 70 em relação à categoria dos filhos em 1996.

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Essas duas ondas geracionais podem ser caracterizadas com os seguintes fatos estilizados. Na

primeira onda os pais moravam num Rio que usufruía da centralidade de capital do Brasil, que

passava por um processo de urbanização e crescimento econômico e era um forte pólo atrator de

migrantes no país e os filhos viviam num Rio que não era mais a capital e começa a perder fôlego

em termos de crescimento econômico. A outra onda refere-se a duas gerações que viveram no Rio,

estado da federação, sendo que a primeira experimentava os resquícios da fusão, ainda um período

de crescimento econômico e de forte atração de migrantes e a segunda num estado que passou por

uma crise profunda e saldo migratório líquido negativo.

A idéia agora é explorar as mudanças estruturais e demográficas que ocorreram entre 1976 e 1996

em busca de explicações para essa diminuição das chances de melhorar a inserção ocupacional entre

essas duas ondas geracionais.

III.3.1. Mudanças na estrutura setorial e ocupacional

Como foi descrito na seção anterior o Rio vem perdendo dinamismo econômico relativo a São

Paulo desde 1920, sendo que os setores que mais diminuíram entre 1940 e 1980 foram a indústria e

serviços financeiros. Os piores momentos de crise econômica do Rio acontecem exatamente na

década de 80, chegando em 1990 como terceiro lugar depois de Minas Gerais na contribuição para

o PIB brasileiro.

O Rio sempre teve uma participação muito baixa da agricultura no produto e na ocupação e

conforme a indústria foi diminuindo o peso de sua contribuição para o produto e emprego, o setor

serviços aumentava. A economia fluminense, então, é basicamente urbana e de serviços. A perda

da centralidade política com a transferência da capital teve impactos na composição da ocupação no

setor terciário. E, posteriormente, com a crise econômica da chamada "década perdida" e todas as

reformas estruturais encetadas no início dos anos 90, a economia de serviços que é altamente

dependente da renda interna foi novamente atingida.

Diversos trabalhos mostram que a "década perdida" foi marcada por um crescimento do setor

serviços e da sua contraface, a informalidade. No entanto, esse movimento aconteceu revelando um

processo dual, ou seja, os segmentos que mais cresciam na informalidade eram tanto os serviços de

alta qualidade (serviços profissionais de consultoria, marketing e publicidade) quanto os de baixa

(comércio ambulante, serviços pessoais). Além disso, esses segmentos foram capazes de conseguir

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aumentos maiores (ou perdas menores, dependendo do período) que os trabalhadores formais, o que

se traduziu em uma diminuição do diferencial de renda entre os segmentos informais e o formal. 50

Apesar desse quadro indicativo de uma perda de qualidade da ocupação no Rio, o que é interessante

verificar é qual a característica específica local na mudança da estrutura ocupacional e setorial que

teria relação com o movimento de queda da mobilidade ascendente no Rio.

Em termos da estratificação social adotada aqui, o que se observa como possível fechamento para

subir na hierarquia da estrutura social é em relação ao estrato não manual de rotina. Lembre-se que

as principais ocupações desse grupo são de técnicos e trabalhadores de escritório: professores 1o

grau, secretárias, auxiliares administrativos, praça militares, eletricistas51

; ou seja, composto

basicamente por técnicos e trabalhadores de escritório. Isso quer dizer que, por um lado, são

ocupações que estão vulneráveis à introdução das novas tecnologias, em especial aqui o pessoal do

escritório sendo afetado com "substituição" pelo computador, e por outro lado tem uma parcela

importante de "ocupações do setor público" com os praças, bombeiros, polícias e também os

trabalhadores de escritório.

Quais os setores, então, que impulsionaram essa queda no estrato de trabalhadores técnicos e de

escritório? Primeiro, a tabela III.12 apresenta a evolução da distribuição dos ocupados por setor de

atividade econômica entre 1976 e 1996 sob uma perspectiva comparativa do Rio, São Paulo e média

brasileira. Em relação ao setor agrícola, verifica-se a mais baixa contribuição em ambos os anos no

Rio e diminui para todos os locais considerados. A indústria em 1976 tem uma contribuição na

ocupação total maior que a média brasileira, mas em 1996 atinge a mesma proporção e, como era de

se esperar, menor que a de São Paulo. O setor terciário é sempre maior e tem um movimento de

crescimento da participação.

50

Em Pero (1997) e Queirós (1997) pode ser encontrada uma discussão mais aprofundada sobre o processo dual no

crescimento da informalidade e, portanto, nas mudanças da estrutura ocupacional do Rio. 51

A tabela A.4 com todas as ocupações pertencentes a esse grupo ocupacional encontra-se no Apêndice.

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84

Tabela III.12

Distribuição dos ocupados por setor de atividade econômica

Rio de Janeiro São Paulo Brasil

1976 1996 1976 1996 1976 1996

Agricultura 5,1 3,6 14,6 6,9 33,1 20,4

Ind. Transf. 18,1 12,5 24,8 21,0 14,5 12,5

Const.Civil 9,3 8,0 7,9 7,2 7,3 7,0

Out.Ativ.Ind. 2,1 1,8 2,1 1,1 2,1 1,5

Comércio 10,1 13,3 9,0 13,3 8,8 12,6

Serviços 19,1 27,0 15,0 22,3 12,5 19,0

Serv.Auxiliares 3,5 4,9 3,1 4,3 2,0 3,3

Tran/Comunic. 8,9 7,2 7,1 5,6 5,5 4,8

Ativ. Sociais 10,0 12,6 8,2 10,5 6,9 11,0

Adm. Pública 10,1 6,4 4,8 4,9 5,1 5,8

Outras 3,7 2,8 3,5 3,0 2,1 2,1

Total 100 100 100 100 100 100

Fonte: PNADs 1976 e 1996.

Mas o quadro de diminuição da agricultura e da indústria e crescimento do setor terciário não

desenha um comportamento específico. Existe, então, algo diferente no comportamento dentro do

setor terciário do Rio? Uma análise mais detalhada da taxa de crescimento da ocupação mostra que

a único setor que registra um comportamento diferente é administração pública. Em outras palavras,

conforme pode ser visto na tabela III.14 enquanto a contribuição da administração pública diminui

de 10% para 6% da ocupação total no Rio, em São Paulo essa porcentagem fica praticamente

constante e na média brasileira há um crescimento. A administração pública não só tem um

comportamento diferenciado em relação à São Paulo e Brasil como é o setor que registra a maior

diminuição de sua contribuição para ocupação total no Rio.

Tabela III.13

Variação da contribuição setorial na ocupação total entre 1976 e 1996

Rio de Janeiro São Paulo Brasil

Adm.Pública -37,2% 2,2% 14,1%

Ind.Transf. -31,2% -15,4% -14,2%

Agricultura -29,7% -52,7% -38,2%

Ouras -25,1% -14,9% -3,2%

Tra/Comunic. -19,2% -21,6% -13,2%

Const.Civil -13,9% -8,1% -5,0%

Out.Ativ.Ind. -12,4% -48,0% -25,9%

Ativ.Sociais 26,5% 27,3% 59,2%

Comércio 31,4% 47,9% 42,4%

Serv.Auxiliares 39,6% 39,0% 63,2%

Serviços 41,5% 49,0% 52,4%

Fonte: PNADs 1976 e 1996.

Vale notar que esse setor é basicamente composto por atividades "típicas" do Estado, quer dizer:

legislativo e tribunal de contas, judiciário, administrações municipal, estadual e federal, autarquias,

instituições militares, polícia, corpo de bombeiros e sistema penitenciário. Não estão sendo

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consideradas aqui as atividades ligadas aos serviços educacionais e de saúde que, público ou

privado, estão classificados em atividades sociais.

Essa constatação nos remete mais uma vez ao destino histórico do Rio como capital da República e

sobre como foi feito o processo de transferência para Brasília e a fusão do estado da Guanabara com

o antigo estado do Rio de Janeiro. Mas isso faz sentido considerando-se o fato de que o ponto

inicial de comparação da estrutura ocupacional se deu mais ou menos 15 anos depois? Ao que tudo

indica, como o período entre a perda da capital e a fusão foi marcado por uma “história política

densa”, devido às dificuldades de organizar a política local, que mantinha divergências em relação à

atuação no âmbito nacional, expressas em posições diferenciadas da oposição com os comunistas e

com os partidos trabalhistas e dos conservadores liberais e militares que seguiriam ainda um novo

rumo com o regime militar, o Rio manteve a maior máquina de administração pública do país.

Na verdade, o governo Lacerda sempre atuou politicamente no sentido de manter a centralidade do

recém instituído estado da Guanabara no cenário nacional. Segundo Motta (2000): “O objetivo era,

ao mesmo tempo, reafirmar o papel de vitrine da nação tradicionalmente exercido pela ex-capital e

mostrar que, na nova condição de estado, a cidade do Rio de Janeiro teria agora, pela primeira vez,

condições de colocar um ´filho´ na presidência da República. Apoiado no tripé formado pelo

anticomunismo, pela probidade administrativa e pela realização de um vasto programa de obras, a

campanha de Lacerda se acelerou a partir da segunda metade de 1963”. E conclui: “O projeto de

estado-capital, configurado, ao mesmo tempo, na construção do novo estado e na preservação da

tradição de cidade-capital, reforçou a crise de identidade política do Rio de Janeiro”.

Apesar de Lacerda ter marcado um estilo político que assegurava a existência da Guanabara, o

governo do seu sucessor Negrão de Lima passou a enfrentar problemas políticos “decorrentes do

fato de serem ele e Israel Pinheiro, de Minas, os únicos governantes eleitos pela oposição, o próprio

endurecimento do regime a partir do AI-5 e a intensificação, no Rio, dos movimentos de

contestação ao governo militar estimularam as vozes que questionavam a existência do novo

estado” (Ferreira e Grynszpan, 2000).

Apesar da idéia da fusão ter sido originada de forma combinada com a transferência da capital

como uma medida justificada basicamente na questão da autonomia política do Rio frente ás

intervenções federais, nos anos 70 a volta ao debate tem um enfoque mais econômico no sentido de

que a fusão dos estados da Guanabara com o do Rio criaria um pólo dinâmico de desenvolvimento

não só local, mas também nacional.

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Só para dar uma idéia de que a Guanabara ainda conservava a maior parte das funções de principal

centro político do país, um artigo do Jornal do Brasil em 1970 citado em Motta (2000) coloca o

problema da sucessão estadual como a transformação num estado de fato: “Hoje busca-se um

governador (...) que inicie seu governo concomitantemente com a transferência dos setores federais

para Brasília, assumindo a direção com a nítida idéia de que é necessário projetar o futuro da

Guanabara. Um governo que tenha a preocupação da administração e não do mero jogo político”.

Chagas Freitas é eleito novo governador em 1971 e assume nesse clima com um novo estilo político

mais direcionado para o poder local do que para ocupação da cena nacional. Esse aspecto junto com

o projeto militar de esvaziar a centralidade da capital para Brasília e com a perspectiva de mudança

no quadro de esvaziamento econômico com a fusão facilitaram a construção de um contexto

favorável à futura fusão da Guanabara com o estado do Rio.

“São variadas as interpretações sobre a motivação que acabou levando à concretização desse projeto

tantas vezes antes discutido: vai desde interesses políticos-partidários, no intuito de tirar o MDB do

governo da Guanabara, até projeções geopolíticas que visavam criar um poderoso eixo econômico

centro-sul – o novo estado do Rio de Janeiro – como contraponto a São Paulo. Onde não existe

divergência é sobre a forma como a fusão foi decidida e implementada: ela `foi um ato de vontade

do presidente Geisel´” (Motta, 2000)

Enfim, tudo isso para contextualizar a diferença ainda em 1976 da contribuição da administração

pública na ocupação total do Rio de Janeiro, quer dizer da importância desse setor para a geração de

trabalho e renda. E quando a cidade do Rio vira “um município qualquer” o peso desse setor tem

uma diminuição significativa.

Como um estado da Federação que tem sua capital o antigo Distrito Federal o Rio vive nos anos 80

e 90 uma diminuição significativa da importância história da administração pública. Isso pode ser

explicado por três mecanismos que atuam simultaneamente. Primeiro, a partir de então, as funções

de administração federal foram progressivamente transferidas para Brasília, ainda que vários órgãos

federais ainda hoje tenham sede na cidade do Rio e não em outras.

Um outro movimento decorre do fato de que conforme as pessoas foram se aposentando, os postos

de trabalho nesse setor não foram sendo mais preenchidos na mesma proporção. O caso

paradigmático é o dos aposentados do serviço militar no Rio de Janeiro.52

52

Ver Lessa (2000).

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Por fim, e talvez mais importante, é o impacto da Reforma Administrativa implementada no início

dos anos 90, como um dos pilares de um conjunto de reformas estruturais, que junto com políticas

de estabilização propriamente ditas faziam parte de um pacote de combate à inflação pelo lado da

melhora da eficiência econômica.

Essa forte queda da contribuição da administração pública na ocupação total, então, revela um

comportamento específico do estado do Rio e tem como principal explicação suas raízes históricas

enquanto cidade-capital e estado-capital e sua posterior perda da centralidade política-

administrativa do país com a fusão que foi acompanhada nas décadas seguintes por crise econômica

e reformas administrativas em direção ao enxugamento do quadro de servidores públicos.

III.3.2. Os efeitos demográficos

Os estudos sobre mobilidade social no Brasil contam com um amplo debate sobre a associação

entre a migração geográfica rural-urbana e mobilidade social ascendente. Jannuzzi (1999) faz uma

revisão da literatura sobre o tema e mostra que no trabalho de Pastore três quartos da mobilidade

intergeracional ascendente deveu-se aos movimentos dos filhos de trabalhadores rurais em direção

às demais categorias ocupacionais, em especial para as duas mais próximas.53

Essa característica da mobilidade social brasileira nos anos 70 é um reflexo da reorganização do

espaço brasileiro com a crescente concentração populacional em cidades cada vez maiores. Só para

dar uma idéia, em 1940, 80% dos brasileiros viviam em áreas rurais com menos de 20.000

habitantes e em 1980 esse percentual cai para 46%.54

Como os migrantes são atraídos,

preferencialmente, para as regiões mais dinâmicas ocorreu uma maior adensamento populacional na

região Sudeste, principalmente para São Paulo. Assim, nesse período, o êxodo rural foi um

mecanismo importante para a concentração urbana.

A associação entre migração geográfica do campo para cidade à mobilidade social ascendente gerou

diversos questionamentos na literatura sobre se realmente dever-se-ia embutir um juízo de valor de

melhora de posição socioeconômica quando o processo de inserção na vida urbana não foi

acompanhado pelo acesso a uma ocupação que garantisse uma renda adequada à crescente

mercantilização do consumo nas cidades.

53

A análise sobre os padrões de mobilidade será feita no capítulo seguinte. 54

Martine (1994).

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Alguns autores a favor da visão de que mesmo enfrentando as dificuldades com o aumento do custo

de vida nas áreas urbanas, o acesso a bens públicos como educação, saúde, lazer, entre outros,

geraria uma melhora na qualidade de vida, senão para o migrante pelo menos para os seus filhos.

Uma outra linha argumenta que o aumento do custo de vida nas áreas urbanas com gastos que eram

inexistentes ou muito reduzidos antes nas áreas rurais (como aluguéis, transporte, vestuário etc.) e

as dificuldades em desfrutar plenamente dos serviços educacionais e de saúde geram uma situação

sobrevivência que não pode ser encarada como mobilidade ascendente e sim mobilidade horizontal.

55

Esse aspecto da mobilidade social ao associar a mudança de ocupações rurais para urbanas como

ascendente traz à tona questões teóricas e subjetivas referentes aos valores atribuídos pelos

indivíduos aos benefícios (maior acesso à educação, saúde, lazer etc.) e aos malefícios (maior custo,

violência etc.) da vida urbana e, por isso, a escolha por mobilidade vertical ou horizontal representa

alguma arbitrariedade do pesquisador para definir o comportamento médio do grupo. Não

desconsiderando aqui a importância do aspecto multidimensional na determinação da migração de

indivíduos ou grupos sociais, a atração ou repulsão dos fluxos migratórios será encarada mais sob

uma perspectiva da dinâmica da economia, em especial, da ocupação e da renda.56

Uma análise mais consistente sobre essa relação entre migração e mobilidade social mostra-a como

um resultado líquido de dois processos diferentes que correm em direções contrárias: por um lado, o

progresso dos mais talentosos ao longo do tempo e , por outro lado, a evasão ou reemigração

daqueles que não obtiveram o sucesso esperado em direção a outros lugares. 57

A partir desse ponto

de vista, os migrantes teriam mais mobilidade que os naturais, tanto para cima quanto para baixo.

O fato é que os fluxos migratórios rural-urbano foram muito mais importantes até os anos 1970 do

que recentemente, principalmente para a região Sudeste. Isso se deve primeiro ao fato de que os

migrantes seguem um padrão de tentar primeiro uma adaptação intraestadual e, dependendo do grau

de sucesso, partem para outro estado.58

55

Ver Pastore (1979), Bianchi (1983) para um exemplo desses pontos de vista, respectivamente, ou uma resenha para o

assunto em Jannuzzi. 56

Sem querer entrar na controversa literatura teórica sobre processos decisórios de migrar, para simplificar a

argumentação adotou-se uma visão com enfoque nas desigualdades socioeconômicas regionais para explicar a atração e

a repulsão de migrantes à la Todaro ou Lewis, onde o diferencial de renda e as chances de emprego urbano seriam os

principais determinantes para a migração. Isso, contudo não impede de discutir sempre que for necessário a

contextualização histórica e de classes para explicar o fenômeno. Uma resenha sobre o assunto pode ser encontrada em

Salim (1992) assim como os textos teóricos clássicos e sobre análise das migrações internas no Brasil nesse período

podem ser lidos em Moura (1980). 57

Para maiores detalhes ver Martine (1980, 1994). 58

Ver Magno de Carvalho.

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89

Na década de 80, os fluxos migratórios entre áreas urbanas aumentaram e houve uma diminuição

dos movimentos para as grandes metrópoles, mudando o padrão migratório do Brasil. Martine

aponta algumas hipóteses para explicar essas mudanças, como por exemplo, a desconcentração

industrial, a “contrametropolização” (ocorre quando a pessoa habita fora da metrópole e trabalha

nela), a crise econômica da década perdida e a queda da taxa de fecundidade. O autor ressalta ainda

que pelo fato do Rio ter saído na frente (para o bem ou para o mal) esse processo já podia ser

detectado desde a década anterior.

Assim sendo, como mostra a tabela III.14, a contribuição da mobilidade intergeracional rural-

urbano sempre foi menor do que na média brasileira. Esse seria um ponto que poderia explicar em

alguma medida o fato do Rio ter uma proporção relativamente mais elevada de filhos que

experimentaram mobilidade descendente em relação à posição social dos pais. Além disso, essa

contribuição diminui significativamente – com mais intensidade que na média brasileira – entre

1976 e 1996, a tal ponto de outrora explicar a maior parte dos movimentos ascendentes na estrutura

social (60%) enquanto que em 1996 passa para 40%. Isso quer dizer que no Rio em 1996 a maior

parte dos movimentos intergeracionais ascendentes ocorreram entre estratos urbanos da estrutura

social. Já, na média brasileira, a queda da contribuição da migração rural-urbana para mobilidade

intergeracional ascendente é bem menor e ainda dá conta da maior parte desta (65 %).

Tabela III.14

Contribuição da mobilidade rural-urbana para mobilidade ascendente

Rio Brasil

1976 61,4% 71,5%

1988 49,8% 68,4%

1996 40,9% 65,1%

Var(96-76) -33,5% -9,0%

Fonte: PNADs 1976, 1988 e 1996.

Esse pode ser um mecanismo importante que contribuiu para a queda da mobilidade intergeracional

ascendente no Rio, na medida em que a intensidade da queda da contribuição da migração rural-

urbana para a mobilidade é bem maior que a da média brasileira.

O outro aspecto a ser explorado aqui se refere à diminuição dos fluxos migratórios para as grandes

metrópoles. Segundo Martine (1994), o processo de migração na década de 80 não está tão

concentrado em direção às grandes metrópoles do sudeste, principalmente Rio, quanto nos anos 70.

Esse comportamento dos fluxos migratórios culminou com um saldo migratório negativo na década

de 80 no Rio.

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90

Por aspectos que poderiam ser explicados pela própria história do Rio, parece que se gerou aqui ao

longo do tempo, principalmente, nas duas últimas décadas, um descompasso relativo entre

escolaridade e estrutura ocupacional. A população fluminense tem, em média, um grau de

escolaridade mais elevado que o conjunto da população brasileira e que São Paulo. Contudo,

segundo Barros e outros (1997), isso “não reflete a existência de uma estrutura ocupacional mais

avançada nesta região”.

Essa constatação corre a favor de duas hipóteses explicativas. A primeira é que a perda de

dinamismo da economia fluminense, junto com uma alta capacidade do trabalhador daqui de “se

virar”, gerou um mercado de trabalho com baixa taxa de desemprego e renda do trabalho

relativamente baixa. Esse fato levanta como explicação a deterioração no perfil da demanda por

trabalho no Rio decorrente de fatores históricos já descritos anteriormente.

Um outro ângulo que se pode analisar a questão é em relação ao papel das amenidades urbanas

como um fator determinante dos diferenciais de salários. Por exemplo, se é mais agradável morar

no Rio por conta da beleza e simpatia da natureza e das pessoas daqui do que em São Paulo, o

mercado deve compensar o trabalho mais “desagradável” em São Paulo com salários mais elevados.

Ou seja, seria uma espécie explicação via teoria de diferencial de salário compensatório de Adam

Smith decorrente da análise de custo-benefício das amenidades urbanas locais.

A idéia aqui é explorar essas hipóteses a partir da comparação das características dos emigrantes e

imigrantes do Rio e de São Paulo por anos de estudo. O conceito de migração59

utilizado nessa

análise exploratória é em relação ao estado de nascimento, ou seja, se nasceu num estado e mora em

outro ele é classificado como migrante. Caso contrário, é natural residente naquele estado. A

condição de migração foi definida, então, da seguinte forma:

i) imigrantes no Rio são as pessoas que moram no Rio e não nasceram neste estado;

ii) emigrantes do Rio são as pessoas que nasceram no Rio e moram em outros estados do Brasil

ou no exterior; e

iii) naturais do Rio são as pessoas que nasceram e moram no Rio na pesquisa.

59

Não existe um conceito universal de migração, mas procurou-se aqui, dada as limitações de se trabalhar com uma

definição apropriada para as diferentes formas de perguntar sobre migração nas PNADs 1976 e 1996, atender a

definição genérica de que “migração é definida como sendo o deslocamento de uma área definidora do fenômeno para

uma outra (ou um deslocamento a uma distância mínima especificada), que se realizou durante um intervalo de

migração determinado e que implicou uma mudança de residência”.

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Como pode ser visto na tabela III.15, conforme o esperado, entre 1976 e 1996 a população do Rio

(imigrante mais naturais residentes) decresce em termos relativos enquanto que os emigrantes

aumentam. Já em São Paulo todas as condições estudadas registram um aumento da contribuição na

população total.

Tabela III.15

Proporção de pessoas por condição de migração no Rio

e em São Paulo em relação à população total brasileira

Rio de Janeiro São Paulo

1976 1996 Dif. 1976 1996 Dif.

Emigrantes 0,4 0,5 0,1 1,2 1,3 0,1

Imigrantes 2,5 1,7 -0,8 5,0 5,4 0,4

Naturais 7,5 7,0 -0,5 16,3 16,8 0,5

Fonte: PNADs 1976 e 1996.

O tempo de migração se refere à duração da residência no último estado em que o indivíduo trocou

em relação àquele em que nasceu, isto é, é o tempo de residência sem interrupção na última unidade

da federação em que migrou.60

A tabela III.16 mostra um perfil mais recente dos emigrantes do que

dos imigrantes e que no Rio essas diferenças são mais fortes do que para São Paulo. Além disso, a

participação dos imigrantes com mais de 10 anos de residência no local cresce em ambos estados e

são a grande maioria no Rio (82%) e em São Paulo (72%). Assim, tem-se que o emigrante é mais

recente e imigrante mais antigo quando se compara com perfil dos migrantes em São Paulo.

Tabela III.16

Composição dos emigrantes e imigrantes por tempo de migração

Rio de Janeiro São Paulo

1976 1996 Dif. 1976 1996 Dif.

Emigrantes

Até 4 anos 30,6 28,0 -2,6 21,0 19,8 -1,2

5 a 9 15,8 19,6 3,8 11,9 15,9 4,0

10 e mais 53,6 52,4 -1,2 67,1 64,3 -2,8

Imigrantes

Até 4 anos 15,6 9,1 -6,5 21,3 14,5 -6,8

5 a 9 16,0 8,6 -7,4 15,9 13,7 -2,2

10 e mais 68,4 82,4 14,0 62,8 71,7 8,9

Fonte: PNADs 1976 e 1996.

Esse resultado vai de acordo com as tendências demográficas em direção uma diminuição dos

fluxos para o Sudeste, principalmente para Rio que registrou saldo migratório negativo na década

de 80, que está com a grande maioria de imigrantes vindos na década de 70 até meados de 80. Já os

emigrantes do Rio estão instalados mais recentemente nos outros estados.

60

Outras formas de definir o migrante poderiam ser adotadas. Segundo Salim (1992), “Uma definição mais criteriosa

teria que incluir outras possibilidades como, por exemplo, a migração de retorno dos naturais às suas áreas de origem e

abranger também as migrações temporárias”.

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A questão principal que se coloca aqui é se o perfil desse emigrante do Rio é mais qualificado, ou

seja, se está ocorrendo uma transferência de qualificações para outros estados do Brasil. A tabela

III.17 revela aspectos interessantes:

i) perfil mais escolarizado em todas as situações (migrantes e naturais) no Rio do que em São

Paulo;

ii) a proporção de emigrantes com nível universitário no Rio é o dobro de São Paulo;

iii) entre 1976 e 1996 aumenta a proporção de emigrantes e imigrantes com escolaridade mais

alta.

Tabela III.17

Distribuição dos emigrantes, imigrantes e naturais por grupos de anos de estudo

Rio de Janeiro São Paulo

1976 1996 Dif. 1976 1996 Dif.

Emigrantes

0 a 4 39,8 25,1 -14,7 64,2 42,7 -21,5

5 a 8 29,3 27,2 -2,1 18,7 27,7 9,0

9 a 11 17,2 26,0 8,8 9,8 17,0 7,2

>12 13,6 21,7 8,1 7,3 12,6 5,3

Imigrantes

0 a 4 48,5 36,0 -12,5 68,1 47,5 -20,6

5 a 8 33,3 33,9 0,6 20,0 32,8 12,8

9 a 11 11,1 18,3 7,2 7,3 13,7 6,4

>12 7,1 11,7 4,6 4,6 6,0 1,4

Naturais

0 a 4 48,6 32,2 -16,4 61,7 37,8 -23,9

5 a 8 34,4 35,1 0,7 22,5 31,3 8,8

9 a 11 11,3 21,4 10,1 10,1 19,4 9,3

>12 5,7 11,2 5,5 5,8 11,5 5,7

Fonte: PNADs 1976 e 1996.

Como tanto para os emigrantes quanto para os imigrantes do Rio, a proporção de pessoas mais

escolarizadas é mais alta que São Paulo e cresce, fica a dúvida se houve um aumento relativamente

maior da escolaridade dos emigrantes entre 1976 e 1996. Para analisar esse ponto calculou-se a

escolaridade média por condição de migração e verifica-se realmente que a escolaridade média dos

emigrantes é mais alta que a dos imigrantes e no Rio é sempre mais elevada que São Paulo.

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Tabela III.18

Escolaridade média e número de pessoas por condição de migração

Rio de Janeiro São Paulo 1976 1996 1976 1996

Escola. Pessoas Escola. Pessoas Escola. Pessoas Escola. Pessoas

Maiores de 10 anos

Emigrantes 5,9 332.915 8,2 695.230 3,8 1.052.900 6,1 1.791.694

Imigrantes 4,5 2.392.195 6,0 2.551.421 3,5 4.741.908 5,1 7.957.012

Naturais 4,4 5.505.745 7,0 8.447.258 4,2 11.927.264 6,9 19.666.765

30 a 55 anos

Emigrantes 6,6 132.065 9,6 303.018 3,8 477.426 6,6 797.287

Imigrantes 4,7 1.168.862 6,5 1.293.621 3,5 2.058.741 5,3 4.191.214

Naturais 5,0 1.759.812 7,8 3.415.717 4,6 4.038.158 7,6 7.470.820

Fonte: PNADs 1976 e 1996.

Os dados sugerem, além disso, que como no Rio a participação de emigrantes aumentou em relação

à população total, enquanto que a de São Paulo não, o estoque de capital humano (medido pelo

número de pessoas vezes a média de anos de estudo) dos emigrantes do Rio cresceu mais do que o

de São Paulo. Esses resultados sugerem, então, que o Rio tem transferido relativamente mais capital

humano para o resto do Brasil. A tabela III.19 mostra que esse capital é basicamente transferido

para os outros estados da região sudeste, especialmente São Paulo, e Distrito Federal.

Tabela III.19

Principais estados de origem e destino

dos imigrantes e emigrantes do Rio

Emigrantes Imigrantes

1976 1996 1976 1996

São Paulo 37,9 São Paulo 27,0 Minas Gerais 26,3 Minas Gerais 25,1

Minas Gerais 16,0 Minas Gerais 21,1 Espírito Santo 11,6 Paraíba 12,1

Distrito Federal 14,8 Espírito Santo 10,0 Paraíba 10,0 Espírito Santo 9,8

Paraná 6,3 Distrito Federal 7,8 Países

Estrangeiros

9,3 Pernambuco 9,2

Espírito Santo 5,5 Paraná 4,4 Pernambuco 8,4 Ceará 7,1

Bahia 4,0 Bahia 3,7 Bahia 7,2 Países

Estrangeiros

7,0

Outros 15,5 Outros 26,0 Outros 27,2 Outros 29,7

Fonte: PNADs 1976 e 1996.

Observe na tabela III.20 que a composição dos emigrantes e imigrantes de São Paulo é bem

diferente do Rio. A maior parte dos emigrantes de São Paulo está no Paraná, ainda que tenha caído

muito entre 1976 e 1996. E dos imigrantes, os mineiros estão sempre presentes na dianteira, mas o

segundo lugar é de baianos.

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94

Tabela III.20

Principais estados de origem e destino

dos imigrantes e emigrantes de São Paulo

Emigrantes Imigrantes

1976 1996 1976 1996

Paraná 55,1 Paraná 28,4 Minas Gerais 29,1 Minas Gerais 23,3

Minas Gerais 11,8 Minas Gerais 17,2 Bahia 16,5 Bahia 18,3

Rio de Janeiro 9,4 Mato Grosso do

Sul

10,0 Países

Estrangeiros

13,4 Paraná 13,0

Mato Grosso 7,8 Mato Grosso 8,9 Pernambuco 9,3 Pernambuco 11,9

Goiás 3,2 Rio de Janeiro 6,3 Paraná 8,3 Ceará 5,1

Pernambuco 2,7 Bahia 5,8 Alagoas 4,2 Países Estrangeiros

4,7

Outros 10,0 Outros 23,4 Outros 18,6 Outros 23,5

Fonte: PNADs 1976 e 1996.

Por último, explorar-se-á a questão de que o Rio tem liderado a transição demográfica do Brasil se

aproximando de uma estrutura etária de país desenvolvido. A partir de uma simulação

contrafactual61

é possível avaliar se a maior participação da população mais velha no Rio em

relação à São Paulo seria um fator explicativo para as diferenças nas taxas de mobilidade e no

comportamento temporal.

Tabela III.21

Taxas de mobilidade do Rio de Janeiro:

observadas e simuladas com a estrutura etária de São Paulo

(pessoas com 15 ou mais anos de idade)

1976 1996

Taxas observadas

Imobilidade 24,0 21,6

Descendente 22,4 25,5

Ascendente 53,7 52,3

Taxas simuladas

Imobilidade 24,6 22,5

Descendente 22,5 26,5

Ascendente 52,9 51,4

Total 100 100

Fonte: PNADs 1976 e 1996.

61

Ver Barros e outros (1992) sobre os procedimentos técnicos e os potenciais e limites do uso desse tipo de método de

análise. O exercício desenvolvido aqui consistiu em calcular as taxas de imobilidade e de mobilidade ascendente e

descendente para as matrizes de mobilidade social intergeracional por faixa etária de 5 anos para pessoas com idade

entre 15 a 65 anos para o Rio de Janeiro e São Paulo. A taxa de mobilidade total observado no Rio é uma média das

taxas de mobilidade de cada matriz ponderadas pela estrutura etária do Rio de Janeiro. Já, as taxas de mobilidade

simuladas foram ponderadas pela estrutura etária de São Paulo.

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95

O exercício é aplicar às taxas da matriz de mobilidade social do Rio a ponderação pela distribuição

etária de São Paulo. Assim, estar-se-ia tentando responder a seguinte questão: Qual seria a taxa de

mobilidade social intergeracional no Rio caso a sua estrutura etária fosse idêntica a de São Paulo?

Os resultados mostram que as taxas não mudam muito e o comportamento temporal continua

mesmo, sugerindo que as diferenças entre as estruturas etárias não explicam o comportamento

específico do Rio.

Conclusão

O Rio tem a taxa de mobilidade social mais alta do Brasil, indicando uma sociedade bastante

dinâmica, no sentido em que a posição social dos indivíduos não tem uma associação muito forte

com a origem social. Os dados revelam que 80% das pessoas ocupadas em 1996 no Rio

encontravam-se em estratos diferentes de seus pais.

No entanto, enquanto em 1976, o Rio registrava taxas mais elevadas de mobilidade tanto ascendente

quanto descendente, em 1996 esse quadro muda com um comportamento específico de queda da

mobilidade ascendente. O Rio é o único estado do Brasil que registra uma diminuição da taxa de

mobilidade ascendente, ou seja, uma diminuição das possibilidade de os(as) filhos(as) estarem num

estrato superior ao de seus pais. E isso só acontece no Rio!

Esse fato não pode ser considerado como decorrente da classificação utilizada, pois as taxas de

mobilidade foram calculadas também com outras formas de estratificação e o comportamento

permaneceu o mesmo. Também não pode ser atribuído ao comportamento de grupos específicos -

como mulheres e negros que apresentam taxas ascendentes de mobilidade menores e aumentam a

participação no mercado de trabalho -, já que ocorre tanto para homens quanto para mulheres e para

brancos e não brancos.

Buscaram-se então características específicas da história recente do Rio que pudessem explicar esse

fenômeno, destacando-se dois pontos: (a) mudanças na estrutura ocupacional decorrente do declínio

da economia fluminense com a perda de centralidade política-administrativa com a transferência da

capital para Brasília e a posterior fusão do Rio com o estado da Guanabara e (b) os efeitos

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96

demográficos da composição educacional do saldo migratório e seu comportamento ao longo do

tempo e da estrutura etária mais velha.

Em relação ao primeiro campo exploratório, destacam-se dois resultados. O primeiro se refere ao

peso bem menor da passagem rural-urbana na mobilidade ascendente no Rio do que na média

brasileira. Isto é, em 1996, enquanto na média brasileira a mobilidade ascendente para filhos com

pais no estrato rural representa 65%, no Rio é de 40%. Além disso, a queda dessa contribuição entre

1976 e 1996 é consideravelmente maior no Rio.

O outro resultado se refere ao comportamento da contribuição de um setor muito importante na

geração de trabalho e renda na história do Rio, qual seja, a administração pública. É o setor que

registra a maior queda da participação na ocupação, contrariamente ao crescimento ocorrido na

média brasileira. Isso explica, pelo menos em parte, a queda do estrato VI (não manual de rotina)

que tendo um peso importante na estrutura ocupacional, dependendo do regime de mobilidade, pode

ser um caminho importante para a ascensão social.

Esses resultados tomados em conjunto revelam que as explicações têm raízes na história do Rio

como capital do país, que se desenvolvendo predominantemente com uma economia de serviços nas

cidades, registra a maior taxa de urbanização e que perdeu dinamismo econômico quando da

transferência da capital para Brasília, apresentando uma forte queda do setor de administração

pública como elemento particular do Rio e que tem reflexos sobre a diminuição da participação do

estrato VI (não manual de rotina) na ocupação total do Rio.

Por fim, o segundo campo exploratório sobre as questões demográficas mostra que o descompasso

entre a qualificação e a estrutura ocupacional tem provocado mudanças mais fortes do saldo

migratório no Rio. Entre 1980 e 1991, o saldo migratório foi negativo, quer dizer, saíram mais

pessoas do que entraram no Rio. Como o perfil dos emigrantes do Rio é de escolaridade mais

elevada que os imigrantes e como o estoque de capital humano desses emigrantes cresce entre 1976

e 1996 mais rapidamente que o de São Paulo, há evidências de que está ocorrendo um aumento da

intensidade de transferência de capital humano do Rio para outros lugares do Brasil, principalmente

para a região Sudeste, especialmente São Paulo, e para o Distrito Federal. Por fim, as diferenças na

estrutura etária entre São Paulo e Rio, no entanto, não se mostraram importantes para mudar o

comportamento das taxas de mobilidade social.

Assim sendo, o movimento de queda da mobilidade ascendente que acabou por gerar a maior taxa

de mobilidade descendente pode ser explicado, em alguma medida, pelo componente estrutural da

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perda de dinamismo da economia, tanto pelo lado da queda do setor de administração pública

quanto pela incapacidade de gerar postos de trabalhado com qualidade compatível com a da força

de trabalho criando uma força de expulsão de trabalhadores qualificados para outros estados do

Brasil, principalmente São Paulo e Distrito Federal.

No entanto, esse peso forte dado aos aspectos estruturais da economia fluminense merece uma

análise mais profunda do que está acontecendo com o padrão de mobilidade para tirar resultados

mais contundentes. Por exemplo, se estrato VI de trabalhadores não manuais de rotina não for

aberto ou importante para outras origens sociais, a sua queda assim como a da administração

pública terá um poder explicativo pequeno. Neste sentido, o capítulo que segue analisa os padrões

de mobilidade social.

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CAPÍTULO IV

PADRÕES DE MOBILIDADE SOCIAL:

AS TRÊS TESES CLÁSSICAS REVISITADAS

O objetivo neste capítulo é analisar os padrões de movimentação entre os estratos a partir das

matrizes de mobilidade social intergeracional total para apontar as características da estrutura de

alocação dos indivíduos nos estratos ocupacionais. Com isso, busca-se elementos para identificar as

possíveis barreiras para movimentação dos estratos na estrutura social desenhadas a partir das

matrizes de mobilidade social que poderiam gerar um regime de alta mobilidade mas com poucos

ganhos em termos de bem-estar social, assim como as especificidades desse processo referente ao

Rio entre 1976 e 1996.62

A partir de índices e porcentagens tenta-se avaliar em que medida a importância da posição social

do pai influencia a posição do filho e se isso muda ao longo do tempo entre os estratos de forma

diferente entre o Rio e a média brasileira. O objetivo com esse tipo de análise é avaliar as diferenças

nos padrões de fluidez social, quer dizer a capacidade de circulação dos indivíduos na estrutura

social de acordo com a posição social do pai. Apesar de existirem técnicas estatísticas mais precisas

para esse tipo de análise, uma delas será vista no próximo capítulo com os modelos log-lineares,

esse é um campo muito tradicional de análise sobre mobilidade social e que oferece um diálogo

mais fértil com a literatura brasileira a partir, principalmente, dos trabalhos de Hutchinson (1957 e

1960), Pastore (1979), Valle Silva (1992), Pastore e Haller (1993), Caillaux (1994), Scalon (1997),

Andrade (1997) e Pastore e Valle Silva (2000).

Com base nas taxas de imobilidade e mobilidade tem-se uma idéia do grau de movimentação dos

indivíduos na estrutura social e, portanto, do quão rígida pode ser a estrutura social ao apontar o

isolamento e as barreiras de certos estratos sociais a partir das menores chances de movimentação.

Uma região com uma taxa de imobilidade alta, em geral, levam a uma reprodução intergeracional

das chances de ocupar as posições na estrutura social.

As taxas de mobilidade intergeracional representam as mudanças de estrato social do filho em

relação ao do pai. A partir da análise das taxas de mobilidade é possível identificar a mobilidade

62

Com o intuito principal de facilitar a exposição dos dados e a análise, essa seção utiliza somente esses anos por

representar as mudanças mais significativa na comparação temporal.

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99

estrutural, ou seja, os movimentos intergeracionais entre estratos decorrentes da abertura de novos

postos de trabalho com as mudanças estruturais como, por exemplo, os processos de urbanização e

industrialização. Vários dos autores citados anteriormente destacaram a característica estrutural da

alta mobilidade social no Brasil com a inversão da população nas áreas rurais e urbanas, isto é,

enquanto nas décadas de 40 e 50 aproximadamente 1/3 da população brasileira vivia nas áreas

urbanas e 2/3 no campo, na década de 80 essas proporções se invertem.

A mobilidade estrutural é uma medida das mudanças na estrutura social entre as gerações que pode

ser identificada a partir das mudanças nas distribuições marginais da matriz de mobilidade social.

Ela é calculada pela soma dos valores positivos das diferenças entre os estratos de origem e de

destino mas somente para os valores positivos, ou seja, soma-se somente os estratos em que o

número de posições de origem exceda o de destino.

O outro componente da mobilidade é o circular ou por trocas. Como o próprio nome diz, a

mobilidade circular representa as mudanças entre os estratos de origem e destino decorrente das

trocas de posição e, portanto, para que um indivíduo ocupe determinada posição um outro deve tê-la

desocupado por motivo ascensão/descensão social, aposentadoria ou morte. Em outras palavras,

para que um indivíduo ocupe determinada posição no mercado de trabalho é necessário que ela seja

vaga por outro, isto é, as mudanças de posições são resultados de um processo de troca de posições

entre os postos já existentes e não decorrência da abertura de novas vagas. Assim sendo, esse tipo

de mobilidade é decorrente basicamente das características individuais valorizadas no mercado de

trabalho como, por exemplo, escolaridade e treinamento.

O estudo de Hutchinson (1960) mostra que a grande importância da mobilidade estrutural para

explicar a elevada mobilidade social no Brasil caracterizaria uma estrutura social rígida, visto que

os movimentos determinantes da fluidez do sistema de estratificação social estão baseados na

capacidade de troca de posições entre os indivíduos, ou seja, da mobilidade circular ou por trocas. O

autor enfatiza o fato de que quanto mais a estrutura gerar mecanismo de trocas de posições entre os

indivíduos mais a sociedade caminha para uma melhor condição de igualdade de oportunidades.

Qual o comportamento da mobilidade estrutural no Brasil e no Rio ao longo do tempo? A tabela

IV.1 mostra que no Rio a taxa de mobilidade total permaneceu praticamente constante enquanto que

a do Brasil cresceu. Em 1976, a taxa de mobilidade total se dividia praticamente ao meio entre os

componentes estrutural e circular, sendo que no Rio este último era maior que o primeiro e no

Brasil o contrário. Em 1996, essa composição muda significativamente. O Rio passa a ter uma

predominância da mobilidade circular, registrando uma queda significativa do componente

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100

estrutural da mobilidade total. No Brasil, a mobilidade circular cresce e passa a ser maior que a

estrutural, mas mantém uma composição ainda praticamente de metade da mobilidade total.

Tabela IV.1

Taxas de mobilidade estrutural e circular63

no Rio e no Brasil Rio de Janeiro Brasil

1976 1996 Var(96-76) 1976 1996 Var(96-76)

Imobilidade 20,2 20,6 2,0% 41,7 29,7 -28,8%

Mobilidade 79,8 79,4 -0,5% 58,3 70,3 20,6%

Estrutural 37,5 22,8 -39,2% 30,8 33,4 8,4%

Circular 42,3 56,6 33,8% 27,5 36,9 34,2%

Fonte: PNADs 1976 e 1996.

Esse resultado já havia sido encontrado por Pastore (1979). O Rio de Janeiro apresentava em 1973 a

maior taxa de mobilidade circular (40%) comparativamente a São Paulo (30%), ao Nordeste (18%)

e à média brasileira (26%). Assim, as mudanças nas taxas de mobilidade no Rio de Janeiro sofrem

um forte efeito das trocas de posições e, por conseguinte, o peso da qualidade dos indivíduos é

muito importante para estabelecer as chances de movimentação na estrutura social quando se

comprara com a média brasileira. Isso caracterizaria uma sociedade com um grau de fluidez maior

medido pela mobilidade circular e, portanto, uma maior igualdade de oportunidades.

Isso, no entanto, merece uma análise mais detalhada sobre os padrões de mobilidade social no Rio.

Para tanto, será feito um estudo das três teses destacadas por Goldthorpe (1987) para análise do

Reino Unido e por Scalon (1997) para análise do caso brasileiro, quais sejam: fechamento social,

área de contenção e contramobilidade. Essa análise será feita para o Rio de Janeiro numa

perspectiva comparativa com a brasileira e também temporal.

IV.1. Fechamento social

Goldthorpe resume a tese do fechamento social em três pontos:

a) a mobilidade deve ser mais alta entre os estratos vizinhos na estrutura social;

b) os fluxos, então, tendem a ser mais elevados para os estratos intermediários e menores nos

extremos da hierarquia. Isso ocorre principalmente porque para os níveis intermediários existe a

possibilidade tanto de mobilidade ascendente quanto descendente enquanto que para os estratos

localizados nos extremos da estrutura apenas uma dessas possibilidades ocorre; e

63

Vale lembrar que as tabelas A.11 a A.14 com as freqüências das matrizes de mobilidade intergeracional e a tabela

A.15 com a tabela de fluxo total estão no Apêndice.

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101

c) a menor mobilidade ocorre em direção ao estrato mais alto da hierarquia, já que há um enorme

incentivo para esse grupo reter sua posição no topo da estrutura, garantindo não só a

manutenção dessa elite como a transmissão dessa posição para os seus descendentes.

Em outras palavras, a tese do fechamento social baseia-se num fato bastante aceito pela literatura

sobre mobilidade de que os movimentos mais freqüentes ocorrem entre os estratos próximos na

estrutura social, caracterizando um padrão de mobilidade de curta distância. Por isso, as taxas de

mobilidade são mais altas nos estratos intermediários do que nos extremos, o que produz um

fechamento nas extremidades impedindo os movimentos de longa distância na estrutura social.

Analisando os fluxos de entrada, Goldthorpe conclui que na Inglaterra não existe fechamento social

visto que a elite é muito heterogênea na origem. Scalon (1997) constata que essa afirmação também

se aplica ao caso brasileiro visto que "filhos de trabalhadores manuais contribuíam com uma porção

correspondente a cerca de 29% na composição dos estratos profissionais." A autora, no entanto,

avalia a necessidade de uma análise mais detalhada para chegar a essa conclusão com mais firmeza.

Para tanto, utiliza o índice de associação elaborado por Glass, que compara a taxa de mobilidade

observada com a esperada na hipótese teórica de um regime de mobilidade perfeita.64

Algumas conclusões podem ser destacadas com esse tipo de análise no trabalho de Scalon (1997):

a) A diagonal tem os valores mais altos, indicando que os desvios em relação à mobilidade perfeita

são expressos na situação de herança social, com exceção do estrato II de administradores que

tem alta relação com I de profissionais e a categoria não manual de rotina, estrato intermediário

que recebe de várias origens;

b) No caso das mulheres há uma prevenção mais eficaz de movimentos descendentes em direção

aos estratos menos privilegiados.

A idéia aqui é analisar se a tese do fechamento social se aplica ao Rio e avaliar como se dá a

evolução ao longo do tempo. Para tanto, utilizar-se-á três indicadores: fluxos de entrada, o índice de

associação de Glass e os resíduos ajustados.

A análise da matriz de mobilidade social pode ser feita a partir dos fluxos de entrada, que

representam as distribuições pela origem de cada estrato de destino. Em outras palavras, tem-se

64

A suposição de mobilidade perfeita está baseada no conceito de independência estatística. O índice de Glass, então, é

calculado a partir da razão entre as freqüências observadas nas células da matriz de mobilidade e as freqüências

esperadas na hipótese de que o estrato social que o filho ocupa é independente do estrato social do pai. Esse índice, no

entanto, é criticado pelo fato de seus resultados dependerem as distribuições marginais. Para maiores detalhes sobre

esse índice e o conceito de independência estatística, ver Anexo estatístico.

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102

como cada estrato de destino está distribuído por estratos de origem. Assim, as proporções somam

100% na coluna e o cálculo dos fluxos de entrada é realizado da seguinte forma:

jijij ffn

onde ijf é a freqüência observada na célula (i,j) da matriz de mobilidade social intergeracional e

jf é o valor marginal da coluna que representa o total de indivíduos naquele destino j.

A tabela IV.2 com os fluxos de entrada das matrizes de mobilidade intergeracional total mostra que,

tanto para o Rio quanto para a média brasileira e nos anos considerados, existe um alto grau de

heterogeneidade na origem em quase todos os estratos. No Brasil, isso ocorre devido à maior

proporção de trabalhadores com origem rural em todos os estratos no Brasil, com exceção dos

profissionais. No Rio também, mas deve-se considerar que já a partir do estrato VI (não manuais de

rotina), a maior proporção não é de origem rural.

Considerando a divisão manual (estratos I a IV) e não manual (V a IX), observa-se uma

característica comum entre Rio e Brasil nos anos considerados: entre 80e 90% dos filhos nos

estratos manuais tem sua origem nesse setor e entre 40 e 70% dos filhos nos estratos não manuais

tem sua origem nesse setor. Em outras palavras, a origem no setor manual acaba reproduzindo com

muita freqüência o mesmo destino, ou seja, a origem de pais no setor manual é muito forte para

determinar o destino dos filhos nesse setor. Já no caso dos estratos não manuais, apesar da elevada

reprodução, parece existir uma abertura maior para outros estratos. De acordo com Scalon, "se as

categorias não manuais podem ser consideradas heterogêneas na origem, as manuais demonstram

homogeneidade".

Que tipo de mudança pode ser observada ao longo do tempo? Primeiro, uma mudança comum é que

houve um aumento da participação dos estratos de origem manual nos estratos de destino não

manual e vice-versa, o que pode estar caracterizando uma "abertura" da estrutura social. No entanto,

ainda na base da pirâmide, a origem é muito homogênea com 90% de filhos de trabalhadores rurais

nesse estrato no Brasil em 1996. Esse percentual é bem mais baixo no Rio (67%), indicando que há

um grau de hereditariedade menor ou uma maior troca de posições com origem principalmente nos

estratos III, IV e VI. Esse seria um fator de contribuição para a queda da mobilidade ascendente

visto o aumento da heterogeneidade na origem do estrato de trabalhadores rurais significa

necessariamente uma contribuição para o aumento da mobilidade descendente.

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103

Analisando somente o estrato mais alto de profissionais, verifica-se uma elevada heterogeneidade

na origem. Contudo, houve um aumento da participação de filhos de profissionais nesse mesmo

estrato no Rio de Janeiro, diferentemente do caso do Brasil. Vale dizer que houve uma abertura

maior para outros estratos na média brasileira do que no Rio, quando se analisa o recorte manual-

não manual também, basicamente pela diminuição da origem no estrato VI (não manuais de rotina).

Isso sugere que apesar da forte heterogeneidade na origem, o estrato de profissionais está mais

fechado para origem nesse mesmo estrato no Rio, contribuindo para uma diminuição da mobilidade

ascendente.

Tabela IV.2a

Mobilidade intergeracional no Rio em 1976 e 1996

Fluxos de entrada (%) Rio de Janeiro I II III IV V VI VII VIII IX Total

1976

I. Trab.Rurais 83,8 61,8 54,1 40,9 58,1 27,2 23,6 14,1 9,8 42,3

II. Serv.Domésticos 1,2 6,6 1,7 8,9 6,0 5,7 4,6 3,0 5,2

III. Trab.Ind.Trad. 12,5 16,9 12,2 5,6 9,8 3,1 6,7 2,0 10,2

IV. Trab.Ind.Mod. /serv. 7,2 11,5 12,7 18,8 5,9 17,1 14,2 13,5 17,0 14,5

V. Conta própria 0,9 3,3 3,0 9,1 4,8 6,1 10,3 9,8 4,1

VI. Não manuais rotina 7,8 5,2 8,6 11,0 3,0 22,7 23,4 24,4 26,6 14,0

VII. Empregadores 0,9 2,3 3,7 9,1 7,0 20,0 12,5 11,7 5,5

VIII. Administradores 0,5 0,6 1,1 3,1 3,9 1,6 9,6 9,6 2,6

IX. Profissionais 0,4 1,8 3,3 5,8 13,4 1,7

Total 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100

1996

I. Trab.Rurais 67,0 41,0 33,4 23,5 23,6 13,6 16,5 7,4 4,6 24,2

II. Serv.Domésticos 4,8 8,5 7,8 6,1 3,3 4,9 3,5 3,0 2,4 5,6

III. Trab.Ind.Trad. 10,1 16,0 21,8 16,5 8,3 14,5 9,9 10,1 4,7 14,3

IV. Trab.Ind.Mod. /serv. 8,0 18,7 17,9 26,1 23,7 27,1 20,1 24,6 17,6 22,2

V. Conta própria 1,3 1,3 2,6 2,7 12,2 2,6 8,7 6,9 5,7 3,8

VI. Não manuais rotina 6,4 10,5 11,9 17,0 12,7 23,3 18,0 19,7 19,7 16,3

VII. Empregadores 0,7 1,4 2,9 2,9 7,9 5,0 10,8 9,5 12,5 4,9

VIII. Administradores 1,7 2,0 1,7 4,2 6,5 7,1 8,1 12,0 13,7 5,7

IX. Profissionais 0,6 1,1 1,9 1,9 4,3 6,7 19,0 2,9

Total 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100

Fonte: PNADs 1976 e 1996.

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104

Tabela IV.2b

Mobilidade intergeracional no Brasil em 1976 e 1996

Fluxos de entrada (%) Brasil I II III IV V VI VII VIII IX Total

1976

I. Trab.Rurais 92,4 75,1 63,4 56,3 62,0 41,5 26,2 24,0 11,0 65,9

II. Serv.Domésticos 0,6 3,2 2,4 4,1 1,2 2,6 2,7 2,8 0,5 2,1

III. Trab.Ind.Trad. 1,9 6,0 16,2 9,0 4,3 9,3 10,8 7,3 5,4 6,8

IV. Trab.Ind.Mod. /serv. 1,1 6,1 6,8 14,0 5,2 11,6 15,4 11,5 8,2 7,1

V. Conta própria 1,0 1,8 2,8 3,8 14,6 6,2 8,2 13,6 14,6 4,2

VI. Não manuais rotina 2,5 6,1 6,8 9,3 9,2 20,4 16,7 15,5 25,9 8,7

VII. Empregadores 0,2 0,7 0,8 2,0 1,3 4,6 14,7 9,5 9,9 2,6

VIII. Administradores 0,1 0,9 0,6 1,0 1,5 2,2 2,7 8,7 8,3 1,5

IX. Profissionais 0,0 0,1 0,4 0,7 1,5 2,7 7,1 16,2 1,2

Total 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100

1996

I. Trab.Rurais 89,9 65,6 57,5 49,0 50,5 34,8 30,5 26,6 15,4 55,0

II. Serv.Domésticos 1,0 4,8 4,6 4,3 2,7 4,1 3,2 3,0 1,7 3,3

III. Trab.Ind.Trad. 2,5 9,7 16,0 10,9 7,4 11,1 8,9 8,5 5,2 8,9

IV. Trab.Ind.Mod. /serv. 2,1 9,1 9,4 17,9 12,3 17,0 16,3 17,7 15,3 11,8

V. Conta própria 0,9 1,9 2,7 4,0 10,7 6,3 9,7 9,4 9,5 4,5

VI. Não manuais rotina 2,8 6,5 6,8 8,9 8,7 16,6 13,3 16,5 16,2 9,2

VII. Empregadores 0,4 1,1 2,0 2,5 4,4 4,3 9,6 6,3 10,1 3,1

VIII. Administradores 0,3 1,0 0,9 1,9 2,5 4,3 5,3 8,3 12,0 2,8

IX. Profissionais 0,1 0,2 0,1 0,6 0,9 1,5 3,2 3,7 14,5 1,4

Total 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100

Fonte: PNADs 1976 e 1996.

Para completar a análise sobre a validade da tese do fechamento social, a tabela IV.3 apresenta o

índice de associação de Glass para as matrizes de mobilidade intergeracional no Rio e no Brasil em

1976 e 1996. O índice de Glass indica a dispersão do valor empiricamente observado em relação ao

valor esperado na hipótese de mobilidade perfeita. Valores menores que 1 indicam valor observado

é menor que o esperado e maiores que 1 indicam o contrário. Ou seja, o índice de associação de

Glass é definido como:

ijijij Ffa

onde ijf é a freqüência observada na célula (i,j) e ijF é a freqüência esperada na célula (i,j) com o

modelo de mobilidade perfeita.

O primeiro ponto a ser destacada é a semelhança dos índices entre Rio e Brasil e em 1976 e 1996.

Como era de se esperar os valores na diagonal principal são sempre maiores que 1 e mais altos,

indicando que um expressivo desvio em relação à mobilidade perfeita para a situação de herança

social. Observe também a partir da divisão entre estratos do setor manual e não manual representada

pela linha pontilhada na tabela, que para os estratos manuais o índice de associação é sempre menor

que 1 para as células abaixo da diagonal principal da matriz de mobilidade. Isso quer dizer que (1)

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105

para os trabalhadores que ocupam posições no setor manual existe uma associação forte com a

origem no setor manual e (2) para os trabalhadores com origem em estratos não manuais as chances

de mobilidade descendente para estratos manuais são menores que as esperadas, caracterizando um

mecanismo de prevenção à mobilidade descendente.

Isso não ocorre entre os estratos do setor não manual, que tem valores maiores que 1 nos estratos

vizinhos tanto na parte superior das matrizes quanto na parte inferior. Como já foi constatado

anteriormente, esses segmentos são preenchidos por trabalhadores de origem social bem mais

heterogênea que as posições ocupadas no setor manual, caracterizando maiores possibilidades que

as esperadas no caso de mobilidade perfeita tanto para situações de mobilidade ascendente quanto

descendente nos casos de estratos vizinhos.

Repare, no entanto, que os índices mais elevados estão localizados nos estratos VIII e IX da

estrutura social e nas suas adjacências. Em outras palavras, os índices de associação mais elevados

estão localizados no topo da pirâmide social, o que revela uma forte possibilidade transmissão

intergeracional de posições entre os estratos de elite.

Tabela IV.3a

Índice de associação de Glass para o Rio em 1976 e 1996

Rio de Janeiro I II III IV V VI VII VIII IX

1976

I. Trab.Rurais 2,0 1,5 1,3 1,0 1,4 0,6 0,6 0,3 0,2

II. Serv.Domésticos 0,2 1,3 0,3 1,7 1,2 1,1 0,9 0,6 0,0

III. Trab.Ind.Trad. 0,0 1,2 1,7 1,2 0,6 1,0 0,3 0,7 0,2

IV. Trab.Ind.Mod. /serv. 0,5 0,8 0,9 1,3 0,4 1,2 1,0 0,9 1,2

V. Conta própria 0,0 0,2 0,8 0,7 2,2 1,2 1,5 2,5 2,4

VI. Não manuais rotina 0,6 0,4 0,6 0,8 0,2 1,6 1,7 1,7 1,9

VII. Empregadores 0,0 0,2 0,4 0,7 1,6 1,3 3,6 2,3 2,1

VIII. Administradores 0,0 0,2 0,2 0,4 1,2 1,5 0,6 3,7 3,7

IX. Profissionais 0,0 0,0 0,0 0,2 0,0 1,1 1,9 3,4 8,0

1996

I. Trab.Rurais 2,8 1,7 1,4 1,0 1,0 0,6 0,7 0,3 0,2

II. Serv.Domésticos 0,9 1,5 1,4 1,1 0,6 0,9 0,6 0,5 0,4

III. Trab.Ind.Trad. 0,7 1,1 1,5 1,1 0,6 1,0 0,7 0,7 0,3

IV. Trab.Ind.Mod. /serv. 0,4 0,8 0,8 1,2 1,1 1,2 0,9 1,1 0,8

V. Conta própria 0,3 0,3 0,7 0,7 3,2 0,7 2,3 1,8 1,5

VI. Não manuais rotina 0,4 0,6 0,7 1,0 0,8 1,4 1,1 1,2 1,2

VII. Empregadores 0,2 0,3 0,6 0,6 1,6 1,0 2,2 1,9 2,5

VIII. Administradores 0,3 0,4 0,3 0,7 1,1 1,2 1,4 2,1 2,4

IX. Profissionais 0,0 0,2 0,0 0,4 0,7 0,7 1,5 2,3 6,6

Fonte: PNADs 1976 e 1996.

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106

Tabela II.3b

Índice de associação de Glass para o Brasil em 1976 e 1996

Brasil I II III IV V VI VII VIII IX

1976

I. Trab.Rurais 1,4 1,1 1,0 0,9 0,9 0,6 0,4 0,4 0,2

II. Serv.Domésticos 0,3 1,5 1,2 2,0 0,6 1,3 1,3 1,3 0,2

III. Trab.Ind.Trad. 0,3 0,9 2,4 1,3 0,6 1,4 1,6 1,1 0,8

IV. Trab.Ind.Mod. /serv. 0,2 0,9 1,0 2,0 0,7 1,6 2,2 1,6 1,2

V. Conta própria 0,2 0,4 0,7 0,9 3,5 1,5 1,9 3,2 3,5

VI. Não manuais rotina 0,3 0,7 0,8 1,1 1,1 2,4 1,9 1,8 3,0

VII. Empregadores 0,1 0,3 0,3 0,8 0,5 1,7 5,6 3,7 3,8

VIII. Administradores 0,1 0,6 0,4 0,7 1,0 1,5 1,8 5,8 5,5

IX. Profissionais 0,0 0,0 0,1 0,4 0,6 1,3 2,2 5,8 13,3

1996

I. Trab.Rurais 1,6 1,2 1,0 0,9 0,9 0,6 0,6 0,5 0,3

II. Serv.Domésticos 0,3 1,5 1,4 1,3 0,8 1,2 1,0 0,9 0,5

III. Trab.Ind.Trad. 0,3 1,1 1,8 1,2 0,8 1,3 1,0 1,0 0,6

IV. Trab.Ind.Mod. /serv. 0,2 0,8 0,8 1,5 1,0 1,4 1,4 1,5 1,3

V. Conta própria 0,2 0,4 0,6 0,9 2,4 1,4 2,2 2,1 2,1

VI. Não manuais rotina 0,3 0,7 0,7 1,0 1,0 1,8 1,5 1,8 1,8

VII. Empregadores 0,1 0,4 0,6 0,8 1,4 1,4 3,1 2,0 3,2

VIII. Administradores 0,1 0,4 0,3 0,7 0,9 1,6 1,9 3,0 4,4

IX. Profissionais 0,1 0,1 0,1 0,4 0,6 1,0 2,2 2,6 10,1

Fonte: PNADs 1976 e 1996.

Por último, vale a pena finalizar a análise da aplicação da tese de fechamento social ao caso do Rio

com a análise dos resíduos ajustados do modelo de mobilidade perfeita na tabela IV.4, que também

permitem localizar as discrepâncias mais relevantes na matriz de mobilidade social. Os resíduos

ajustados são calculados da seguinte forma:65

21jij

21ijijijij Nf1Nf1FFfd

Como os desvios têm uma distribuição normal padrão, valores com módulo superior a 1,96 revelam

uma discrepância estatisticamente significativa ao nível de 5%. A interpretação dos valores dos

resíduos ajustados vai à mesma direção do índice de associação, onde valores negativos

representam valores observados menores que os esperados e positivos o contrário.

Verifica-se um comportamento semelhante ao caso do índice de associação com os valores mais

altos na diagonal principal, reforçando a importância da herança social para determinar a posição

social dos indivíduos. Outra constatação forte e semelhante é a diferença entre os fluxos dos estratos

manuais que são mais homogêneos na origem e dos estratos não manuais que são mais

heterogêneos.

65

Ver Pastore e Valle Silva (2000) e Valle Silva (1990).

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107

A diferença encontrada é em relação aos valores da diagonal principal que crescem entre 1976 e

1996 para praticamente todos os estratos sociais e que a discrepância é maior nos extremos da

estrutura social, sendo que na média brasileira é na base e no Rio é no topo.

Um olhar mais cuidadoso com os níveis de significância revela que para os estratos intermediários,

tirando a diagonal principal, os fluxos nas vizinhanças parecem que não diferem significativamente

da aleatoriedade. Pode-se, portanto, concluir com mais clareza um padrão de transmissão

intergeracional nos extremos da estrutura social.

Tabela IV.4a

Resíduos ajustados das matrizes de mobilidade social intergeracional no Rio Rio de Janeiro I II III IV V VI VII VIII IX

1976

I. Trab.Rurais 7,9 5,9 3,3 -0,5 1,7 -5,2 -2,9 -5,9 -4,9

II. Serv.Domésticos -1,5 1,6 -2,0 2,0 0,4 0,5 0,0 -0,9 -1,6

III. Trab.Ind.Trad. -3,0 1,1 3,5 1,3 -0,7 -0,7 -1,8 -1,0 -1,8

IV. Trab.Ind.Mod. /serv. -2,1 -1,3 -1,1 2,5 -1,4 1,4 -0,5 -0,2 0,9

V. Conta própria -1,8 -2,1 -0,6 -0,5 1,7 1,1 1,1 1,8 1,0

VI. Não manuais rotina -1,8 -4,0 -2,0 -1,3 -1,9 4,1 2,1 3,4 2,2

VII. Empregadores -2,2 -3,2 -2,0 -1,6 0,9 1,2 5,3 2,9 2,2

VIII. Administradores -1,5 -2,0 -1,8 -1,7 0,1 1,4 -0,6 4,7 3,4

IX. Profissionais -1,2 -2,0 -1,9 -1,8 -0,8 0,1 0,9 3,4 7,0

1996

I. Trab.Rurais 15,3 10,8 5,1 -0,7 -0,6 -7,5 -3,5 -10,2 -7,5

II. Serv.Domésticos -0,9 3,7 2,1 1,0 -1,3 -0,9 -1,6 -2,7 -1,8

III. Trab.Ind.Trad. -2,0 0,9 5,4 2,2 -2,3 0,3 -2,0 -2,8 -4,3

IV. Trab.Ind.Mod. /serv. -5,6 -2,6 -2,6 3,8 0,5 3,4 -0,7 1,8 -1,7

V. Conta própria -2,0 -3,8 -1,8 -2,2 6,5 -1,8 4,0 4,4 1,5

VI. Não manuais rotina -3,9 -4,2 -2,9 0,4 -1,4 5,7 0,8 2,4 1,8

VII. Empregadores -2,9 -4,4 -2,5 -3,8 2,2 0,2 4,9 5,4 5,5

VIII. Administradores -2,8 -4,5 -4,1 -2,4 0,5 1,6 2,1 6,8 5,5

IX. Profissionais -2,6 -3,6 -4,2 -4,1 -0,8 -1,3 1,7 5,5 15,7

Fonte: PNADs 1976 e 1996.

Tabela IV.4b

Resíduos ajustados das matrizes de mobilidade social intergeracional no Rio

Brasil I II III IV V VI VII VIII IX

1976

I. Trab.Rurais 38,6 6,9 0,0 -7,7 0,0 -18,1 -14,5 -22,3 -15,6

II. Serv.Domésticos -6,6 3,1 0,4 4,8 -1,6 1,6 1,0 0,4 -1,7

III. Trab.Ind.Trad. -12,6 0,0 11,5 2,5 -2,4 2,9 2,6 1,5 -1,0

IV. Trab.Ind.Mod. /serv. -15,7 -1,6 -1,5 11,5 -1,7 6,3 4,8 4,0 1,3

V. Conta própria -11,0 -4,4 -2,3 0,3 8,0 3,5 3,9 10,6 5,1

VI. Não manuais rotina -14,7 -3,2 -2,3 0,8 -0,3 13,3 4,6 6,9 7,5

VII. Empregadores -10,2 -4,2 -4,1 -1,8 -1,0 5,3 14,7 9,2 6,2

VIII. Administradores -8,4 -2,5 -2,3 -1,7 -0,2 2,2 1,3 15,3 6,9

IX. Profissionais -7,6 -3,8 -3,8 -3,4 -0,9 2,2 1,4 12,2 20,3

1996

I. Trab.Rurais 84,9 19,7 6,5 -11,4 -2,7 -35,5 -25,9 -41,7 -36,8

II. Serv.Domésticos -14,6 8,7 5,5 6,4 -2,5 3,7 -1,5 -2,9 -4,9

III. Trab.Ind.Trad. -25,9 3,6 21,6 7,0 -3,0 6,5 -1,3 -2,3 -6,9

IV. Trab.Ind.Mod. /serv. -34,7 -8,1 -6,9 20,0 0,1 14,6 6,2 12,8 3,3

V. Conta própria -21,1 -11,7 -8,0 -2,1 14,5 7,6 13,6 16,4 10,8

VI. Não manuais rotina -27,1 -8,3 -7,7 -1,5 -1,5 21,7 7,0 19,7 12,0

VII. Empregadores -18,9 -10,0 -6,6 -4,1 2,4 5,0 21,4 12,6 19,5

VIII. Administradores -18,7 -10,6 -10,2 -6,9 -1,2 7,6 9,4 25,5 26,2

IX. Profissionais -13,7 -9,8 -10,0 -8,7 -2,0 0,6 8,0 13,8 49,9

Fonte: PNADs 1976 e 1996.

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Enfim, a análise empírica de um regime de fechamento social aponta diferentes direções que

acabam por gerar um quadro um tanto inconclusivo, principalmente por conta do peso que ainda

existe no Brasil da origem rural. Uma característica a favor da tese do fechamento é que realmente a

herança social é um regime presente de transmissão de posição entre gerações e que a mobilidade

entre os estratos vizinhos é mais alta, principalmente quando se considera o setor manual.

Vale dizer, no entanto, que isso se deve ao forte peso da origem rural, revelando na verdade uma

maior homogeneidade na origem social para os trabalhadores nos estratos manuais do que para

aqueles nos estratos não manuais. Por isso, não é muito evidente que os estratos intermediários

tenham uma taxa de mobilidade mais alta, o que representa um padrão diferente da hipótese de

fechamento social.

Um outro argumento a favor refere-se aos extremos da hierarquia, onde se verificam os maiores

índices de associação, o que indica que a elevada capacidade da elite transmitir sua posição para

gerações futuras. Por fim, houve uma maior abertura do sistema social, no sentido de que a origem

tem se tornado mais heterogênea ao longo do tempo - quando se considera os recortes maiores de

manual e não manual para cada estrato. No entanto, o Rio exibe um padrão específico de aumento

da capacidade de reprodução das elites (estratos VIII e IX) entre 1976 e 1996.

IV.2. Área de contenção

A tese sobre a área de contenção está altamente relacionada com a de fechamento social,

acrescentando o fato de que existe uma fratura na estrutura social entre as ocupações dos setores

manual e não manual e que esse é a característica fundamental para prevenir os movimentos de

longa distância. Em outras palavras, a elevada mobilidade em torno da fronteira manual-não

manual funciona como uma espécie de barreira de contenção da mobilidade de longa distância,

construindo uma área de impedimento em direção aos estratos mais altos da estrutura social.

A partir dessas idéias, Goldthorpe formula duas hipóteses para testar empiricamente:

a) Os filhos de trabalhadores manuais mais qualificados tendem a registrar chances maiores de

atingir posições no setor não manual do que os de baixa qualificação;

b) Os filhos de trabalhadores não manuais intermediários terão probabilidade maior de realizar

trabalhos manuais do que aqueles numa posição superior da escala não manual.

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A partir da análise dos fluxos de saída da matriz de mobilidade social, o autor conclui que essa tese

não se aplica ao Reino Unido: "A distinção entre trabalho manual qualificado e não qualificado,

onde os expoentes da tese da zona de contenção têm colocado grande ênfase, não aparece como

efeito importante nos dados sobre o padrão de mobilidade de classes em qualquer direção entre a

divisão manual-não manual".

Scalon (1997) analisa o argumento principal da tese de zona de contenção, ou seja, de que os

indivíduos com origens no setor manual possuem chances menores de alcançar as posições mais

elevadas na estrutura de classes, usando como media as taxas de disparidade. A autora chega a

conclusão de que as taxas de disparidade no Brasil são bem mais altas que as do Reino Unido. "Não

só a chance de reprodução da elite é duas vezes maior aqui do que na Inglaterra, como também a

distância entre os estratos intermediário e manual é maior na estrutura social brasileira, registrando

a maior eficácia na função de filtrar o movimento em direção ao topo que as categorias

intermediárias exercem, operando, assim, como uma "zona de contenção" de mobilidade".

Esse padrão também pode ser observado no Rio? Como as taxas de disparidade evoluíram ao longo

do tempo? Considere primeiro a tabela IV.5 com os fluxos de saída das matrizes de mobilidade

intergeracional, quer dizer os fluxos de movimentação saindo de sua origem, estrato do pai, em

direção ao seu destino, posição atual do filho no momento da pesquisa. O seu cálculo é feito da

seguinte forma:

iijij ffn

onde ijf é a freqüência observada na célula (i,j) da matriz de mobilidade social intergeracional e

if é o valor marginal da linha que representa o total de indivíduos naquele origem i.

Observa-se mais uma vez que as diagonais principais apresentam valores elevados, revelando a

importância da herança social. As proporções mais altas estão localizadas nos extremos da estrutura

social. No caso do Rio de Janeiro, é no estrato de profissionais com 34% dos filhos no mesmo

estrato que o pai em 1976 e 36% em 1996. No Brasil, a proporção mais alta de herança social era do

estrato de trabalhadores agrícolas, com 50% em 1976. Como houve uma queda significativa da

herança desse estrato entre 1976 e 1996, o estrato que atinge a proporção mais elevada dos que

permanecem no mesmo estrato passa a ser também o de profissionais com 37%.

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Um segundo ponto mais importante que está ressaltado na área sombreada em cada uma das

matrizes, que representa as três proporções mais elevadas de destino para cada origem, é que os

movimentos são mais freqüentes entre os estratos vizinhos, o que significa que a mobilidade mais

expressiva é aquela de curta distância. Pelo formato da área sombreada percebe-se que essa é uma

característica que não muda ao longo do tempo e que ocorre tanto no Rio quanto no Brasil. Vale

notar ainda que existe um recorte entre os movimentos dos filhos de trabalhadores manuais e não

manuais, que tendem a se reproduzir com mais freqüência nos setores de origem paterna.

Por fim, vale destacar o fato de que a categoria de proprietários conta própria ou a chamada

pequena burguesia é a que registra a menor proporção de herança social, com estratos vizinhos

registrando proporções bem mais elevadas. Apesar de ter ocorrido um aumento significativo da

herança social desse estrato, principalmente no Rio de Janeiro, esse ainda é o setor que registra a

maior permeabilidade, no sentido em que seus descendentes se espalham por diversos estratos.66

Tanto as constatações com a análise dos fluxos de entrada quanto com os fluxos de saída mostram

claramente uma barreira para mobilidade entre os setores dos setores manual e não manual. Seria a

tese de que os manuais mais qualificados têm mais chances do que os menos qualificados de ocupar

posições no setor não manual também válida? Para avaliá-la, considere os estratos I a III como

manual não qualificado e IV como manual qualificado. Somente pela análise da área sombreada é

possível observar que este último tem chances maiores de se mover para ocupações não manuais do

que o primeiro. Por exemplo, no Rio em 1996, enquanto 47% dos trabalhadores com origem no

estrato IV migram para estratos não manuais (V a IX), esse percentual cai para 33% quando se

considera a origem no estrato III.

A recíproca também deve ser verdadeira, isto é, os trabalhadores não manuais menos qualificados

devem ter uma chance maior de descer na hierarquia para estratos manuais do que os não manuais

mais qualificados. Quando se considera o estrato VI como não manual de baixa qualificação e os

estratos VII, VII e IX como não manual de alta qualificação, verifica-se também pela área

sombreada que as chances do estrato VI de se movimentar para os estratos manuais (principalmente

o IV, considerado como manual qualificado) é mais alta do que os estratos superiores da estrutura

social. A título de exemplo, no Rio em 1996, enquanto que 50% dos trabalhadores com origem no

estrato VI (não manual de rotina) descendiam para estratos manuais, essa porcentagem cai para

29% quando se considera a origem no estrato VIII e 12% no estrato IX.

66

Essas três características dos fluxos de saída da tabela de mobilidade intergeracional também foram encontradas por

Scalon (1997) para o caso dos homens brasileiros.

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111

Tomando esses resultados em conjunto, existem fortes evidências para o caso do Rio de Janeiro e

da média brasileira de que existe uma ruptura entre os estratos manuais e não manuais no sistema de

estratificação social que caracteriza uma prevenção à mobilidade de longa distância e a reprodução

de um padrão de alta mobilidade entre estratos vizinhos.

Tabela IV.5a

Mobilidade intergeracional no Rio em 1976 e 1996

Fluxos de saída (%) Rio de Janeiro I II III IV V VI VII VIII IX Total

1976

I. Trab.Rurais 12,7 23,4 19,3 21,9 3,8 12,1 2,9 2,9 1,0 100

II. Serv.Domésticos 1,5 20,5 4,9 39,1 3,2 21,0 4,7 5,1 100

III. Trab.Ind.Trad. 19,6 25,1 27,3 1,5 18,2 1,6 5,8 0,8 100

IV. Trab.Ind.Mod. /serv. 3,2 12,7 13,2 29,3 1,1 22,2 5,1 8,2 5,0 100

V. Conta própria 3,7 12,0 16,3 6,1 21,9 7,8 22,0 10,3 100

VI. Não manuais rotina 3,5 5,9 9,2 17,8 0,6 30,6 8,8 15,3 8,2 100

VII. Empregadores 2,6 6,2 15,0 4,5 23,9 18,9 19,8 9,1 100

VIII. Administradores 3,3 3,3 9,9 3,3 28,5 3,3 32,6 15,9 100

IX. Profissionais 5,1 20,1 10,2 30,2 34,4 100

Total 6,4 16,0 15,1 22,6 2,8 18,9 5,2 8,8 4,3 100

1996

I. Trab.Rurais 11,9 25,0 17,2 24,3 3,9 8,6 4,3 3,8 1,1 100

II. Serv.Domésticos 3,7 22,5 17,3 27,7 2,4 13,3 4,0 6,8 2,3 100

III. Trab.Ind.Trad. 3,0 16,5 19,0 28,8 2,3 15,5 4,4 8,8 1,8 100

IV. Trab.Ind.Mod. /serv. 1,6 12,4 10,0 29,4 4,2 18,6 5,7 13,8 4,4 100

V. Conta própria 1,5 5,0 8,4 17,4 12,6 10,3 14,2 22,3 8,2 100

VI. Não manuais rotina 1,7 9,5 9,1 26,1 3,1 21,8 7,0 15,1 6,6 100

VII. Empregadores 0,7 4,1 7,3 14,5 6,3 15,3 13,8 24,0 13,9 100

VIII. Administradores 1,3 5,2 3,7 18,3 4,5 18,8 8,9 26,1 13,2 100

IX. Profissionais 2,9 9,5 2,6 10,3 9,5 28,9 36,3 100

Total 4,3 14,7 12,4 25,0 4,0 15,3 6,3 12,5 5,5 100

Fonte: PNADs 1976 e 1996.

Tabela IV.5b

Mobilidade intergeracional no Brasil em 1976 e 1996

Fluxos de saída (%) Brasil I II III IV V VI VII VIII IX Total

1976

I. Trab.Rurais 50,0 10,7 10,6 13,7 3,4 7,1 1,8 2,3 0,4 100

II. Serv.Domésticos 10,2 14,2 12,9 31,6 2,1 14,2 5,9 8,4 0,5 100

III. Trab.Ind.Trad. 10,3 8,3 26,4 21,4 2,3 15,5 7,3 6,8 1,8 100

IV. Trab.Ind.Mod. /serv. 5,7 8,0 10,6 31,9 2,7 18,5 9,9 10,2 2,5 100

V. Conta própria 8,2 4,1 7,4 14,3 12,7 16,6 8,9 20,2 7,6 100

VI. Não manuais rotina 10,5 6,6 8,7 17,3 3,9 26,5 8,8 11,2 6,5 100

VII. Empregadores 3,3 2,4 3,5 12,5 1,8 19,7 25,6 22,9 8,3 100

VIII. Administradores 2,6 5,9 4,3 10,6 3,6 16,6 8,2 36,1 12,0 100

IX. Profissionais 1,1 1,2 5,9 2,2 14,2 10,0 36,3 29,1 100

Total 35,6 9,3 11,0 16,1 3,6 11,3 4,6 6,3 2,2 100

1996

I. Trab.Rurais 35,3 14,4 12,4 17,4 4,5 7,6 3,0 4,3 1,0 100

II. Serv.Domésticos 6,5 17,6 16,6 25,3 3,9 14,9 5,3 8,0 1,9 100

III. Trab.Ind.Trad. 6,1 13,2 21,4 24,0 4,1 15,0 5,5 8,5 2,2 100

IV. Trab.Ind.Mod. /serv. 3,8 9,3 9,4 29,7 5,1 17,2 7,6 13,2 4,8 100

V. Conta própria 4,2 5,0 7,1 17,4 11,6 16,7 11,8 18,4 7,8 100

VI. Não manuais rotina 6,6 8,6 8,9 19,1 4,7 21,7 8,0 15,9 6,5 100

VII. Empregadores 3,0 4,4 7,6 15,5 6,9 16,2 16,8 17,8 11,9 100

VIII. Administradores 2,1 4,4 3,8 13,2 4,5 18,9 10,5 26,6 16,0 100

IX. Profissionais 1,3 1,7 0,9 8,1 3,0 12,5 12,3 22,8 37,3 100

Total 21,6 12,1 11,9 19,6 4,9 12,0 5,5 8,8 3,7 100

Fonte: PNADs 1976 e 1996.

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112

Para completar e finalizar essa análise sobre a tese da área de contenção, a tabela IV.6 apresenta as

taxas de disparidade em relação a diversos grupos. Essas taxas são calculadas a partir da razão entre

proporções dos fluxos de saída de cada estrato para um único estrato, que é tomado como base, e

tem valor 1. Serão tomadas os fluxos de saída no estrato mais alto (IX. Profissionais) em relação a

diversos estratos no setor manual. Pode-se interpretar essa medida como a dispersão entre as

proporções de cada estrato de origem cujo destino foi o estrato mais alto relativamente ao estrato

considerado no setor manual, por exemplo, o III (trabalhadores da indústria tradicional). O cálculo

pode ser expresso da seguinte forma:

3999 pptd ii

sendo:

i9i9i ffp e 33939 ffp

onde 9itd é a taxa de dispersão de cada estrato de origem em relação ao estrato de destino 9

(Profissionais); 9ip é a porcentagem de indivíduos de cada estrato de origem i que teve seu destino

no estrato 9 em relação ao total de indivíduos na linha i; e 39p é a porcentagem de indivíduos no

estrato de origem III (indústria tradicional) e destino IX (Profissionais) em relação ao total de

indivíduos no estrato III. Decorre, então, que a taxa de disparidade é a proporção entre os fluxos de

saída do estrato de destino IX por um único estrato, que nesse caso é o estrato III.

A taxa de disparidade tem sido usada como uma medida de mobilidade relativa ou circular, ou seja,

da mobilidade ou troca de posições livre dos efeitos das marginais. Com essa característica ela já

foi usada como um indicador de desigualdade de oportunidades.67

Para pegar o caso com maior disparidade, observe a coluna com as taxas de disparidade (1) do

Brasil em 1976. Os indivíduos com pais no estrato de profissionais têm 80 vezes mais chances de

continuar neste estrato do que aqueles com origem no estrato rural. Apesar da significativa queda

em 1996, essa chance ainda é 36 vezes maior. No Rio essa chance se mantém em 35 vezes maior

entre 1976 e 1996.

67

A taxa de disparidade, junto com a taxa de chances relativas (odds ratio), tem sido bastante utilizada na literatura para

medir desigualdade de oportunidade e fluidez do sistema social. Em Goldthorpe (1987) encontra-se uma descrição da

relação entre essas duas medidas e sua principal característica de não sofrer influência das distribuições marginais.

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113

As taxas de disparidade são menores quando comparamos com os estratos do setor manual urbano e

diminuem entre 1976 e 1996 no Rio e para a média brasileira. Considerando a última coluna da

tabela verifica-se que as taxas progridem mais ou menos assim: setor IV=1, VI=1,5, VII=3 e IX=8.

Em outras palavras, em relação ao filhos de trabalhadores no estrato IV (serviços gerais e indústria

moderna), os filhos de trabalhadores no estrato VI (não manual de rotina) tem quase a mesma

chance, os no estrato VIII (administradores) tem 3 vezes e os no estrato IX (profissionais) têm 8

vezes mais chances de ocupar o estrato de profissionais.

Tabela IV.6

Taxas de disparidade em relação ao estrato IX TD(1) TD(2) TD(3)

1976 1996 1976 1996 1976 1996

Rio de Janeiro

I. Trab.Rurais 1,0 1,0 1,2 0,6 0,2 0,2

II. Serv.Domésticos 2,2 1,3 0,5

III. Trab.Ind.Trad. 0,8 1,7 1,0 1,0 0,2 0,4

IV. Trab.Ind.Mod. /serv. 5,1 4,1 6,1 2,4 1,0 1,0

V. Conta própria 10,3 7,8 12,4 4,6 2,0 1,9

VI. Não manuais rotina 8,2 6,3 9,9 3,7 1,6 1,5

VII. Empregadores 9,2 13,2 11,0 7,8 1,8 3,2

VIII. Administradores 16,0 12,5 19,2 7, 3,2 3,0

IX. Profissionais 34,6 34,5 41,5 20,3 6,8 8,3

Brasil

I. Trab.Rurais 1,0 1,0 0,2 0,5 0,1 0,2

II. Serv.Domésticos 1,4 1,9 0,3 0,9 0,2 0,4

III. Trab.Ind.Trad. 4,8 2,1 1,0 1,0 0,7 0,5

IV. Trab.Ind.Mod. /serv. 7,0 4,6 1,5 2,2 1,0 1,0

V. Conta própria 20,9 7,6 4,3 3,6 3,0 1,6

VI. Não manuais rotina 18,0 6,4 3,7 3,0 2,6 1,4

VII. Empregadores 22,8 11,5 4,7 5,5 3,3 2,5

VIII. Administradores 33,0 15,6 6,9 7,4 4,7 3,4

IX. Profissionais 79,9 36,3 16,6 17,1 11,4 7,8

Fonte: PNADs 1976 e 1996.

(1) Chance de estar no estrato IX em relação ao estrato I.

(2) Chance de estar no estrato IX em relação ao estrato III.

(3) Chance de estar no estrato IX em relação ao estrato IV.

Em suma, a tese da área de contenção se adequa bem tanto ao caso do Rio de Janeiro quanto para a

média brasileira. Isso porque, por um lado, as chances dos trabalhadores com origem no estrato

manual qualificado de migrar para estratos não manuais são maior do que para aqueles com origem

no manual não qualificado. Por outro lado, as chances dos trabalhadores com origem no setor não

manual de baixa qualificação descender para posições nos estratos manuais são maiores do que para

aqueles com origem nos estratos mais privilegiados. Ao que tudo indica, então, a elevada

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114

mobilidade em torno da fronteira manual-não manual funciona como uma espécie de contenção da

mobilidade de longa distância.

IV.3. Contramobilidade

A tese da contramobilidade coloca a possibilidade dos efeitos positivos do aumento da escolaridade

sobre a mobilidade intergeracional serem compensados por uma diminuição da mobilidade

intrageracional ou de carreira. Esse mecanismo se daria principalmente pelo fato de que as

mudanças na estrutura ocupacional em direção a "profissionalização, burocratização e

complexidade técnica do trabalho" aumentam a importância da educação como principal canal de

acesso às ocupações de médio e alto nível, diminuindo as possibilidades de escalar na hierarquia

social com ganhos decorrentes da experiência e do treinamento no trabalho.

Em outras palavras, a expansão educacional e as reformas em direção à diminuição das

desigualdades de oportunidades são fatores que proporcionam crescimento da mobilidade

intergeracional ascendente que podem ser compensados pela queda da mobilidade ascendente

durante a vida produtiva. Um mecanismo gerador dessa contramobilidade é o fato de que as

gerações mais novas estão entrando mais tarde no mercado de trabalho como conseqüência de um

maior investimento em capital humano, iniciando a carreira no mercado de trabalho em ocupações

de nível mais alto do que as gerações passadas. Como a entrada se dá num patamar mais elevado, as

chances de continuar subindo ao longo do ciclo de vida produtiva diminuem. Aliado a esse fato, as

pessoas que entram no mercado de trabalho em estratos mais baixos da estrutura social acabam

caindo num círculo vicioso de permanência nesses estratos ou de chances menores de atingir

posições mais altas ao longo do ciclo de vida profissional.

Scalon (1997) analisa essa hipótese para o caso brasileiro de forma semelhante a adotada por

Goldthorpe (1987), ou seja, avalia as diferenças dos três momentos de mobilidade (ocupação do pai,

1a ocupação e ocupação atual do filho) entre uma geração mais nova e outra mais velha. Para tanto,

calcula as proporções referentes à mobilidade intergeracional (estrato do pai e 1o estrato do filho), e

à mobilidade intrageracional (1o estrato do filho e estrato atual do filho no momento da pesquisa)

para duas coortes que a época tinham entre 25 e 44 e 45 e 64 anos.

Aqui também será adotada a mesma estratégia empírica,68

mas antes é necessário pontuar a questão

sobre a análise da tese da contramobilidade para o caso do Rio de Janeiro. Isso porque como foi

68

Infelizmente, a PNAD 1976 não pergunta no questionário sobre mobilidade social a primeira ocupação do indivíduo,

impedindo a análise da mobilidade intergeracional em relação ao 1o emprego e da mobilidade intrageracional ou de

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115

visto no início deste capítulo a mobilidade ascendente no Rio apresenta um comportamento

específico ao diminuir ao longo do tempo. Será que a queda da mobilidade intergeracional

ascendente foi mais do que compensada por uma diminuição da mobilidade intrageracional

ascendente no Rio?

No Brasil, Scalon (1997) confirma a hipótese da contramobilidade para os homens ao verificar que

houve queda da mobilidade ascendente de carreira nas gerações mais jovens, já que a porcentagem

de mobilidade intrageracional em direção aos estratos mais altos é menor para a coorte mais jovem

em todos os estratos (com exceção do rural). Além disso, "os dados revelam um fato extremamente

relevante: não houve um crescimento de mobilidade intergeracional ascendente entre os jovens.

Dessa forma, a hipótese de que a expansão da educação formal e a crescente importância da

qualificação conduziriam ao aumento da mobilidade entre gerações não é válida para o Brasil, uma

vez que os percentuais são praticamente idênticos para as duas coortes de idade". E conclui que esse

padrão revela uma "incrível estabilidade nas oportunidades que se sobrepõe até mesmo no tempo".

Mais incrível ainda é constatar que não há diferenças significativas para o caso do Rio de Janeiro

em 199669

, apesar da taxa de participação de jovens no mercado de trabalho na região metropolitana

do Rio ser menor e a escolaridade ser relativamente alta,70

sugerindo que a entrada dos jovens no

mercado de trabalho é mais tardia. Quer dizer, a análise da primeira coluna da tabela IV.7, referente

à mobilidade intergeracional em relação ao estrato da 1a ocupação, revela uma menor participação

do estrato rural e uma maior proporção do estrato de trabalhadores manuais na geração mais jovem.

Isso é um reflexo claro das mudanças estruturais decorrentes do processo de urbanização e

industrialização ocorrido nos anos 70.

No entanto, independentemente da origem, não se verifica um aumento da participação da primeira

ocupação nos estratos superiores da estrutura social, como poder-se-ia imaginar como conseqüência

da modernização do setor produtivo com a industrialização e terciarização da sociedade,

principalmente a fluminense, ocorrida nesse período. Por exemplo, para os trabalhadores com

carreira nesse período, que seria o mais apropriado para comparar as diferenças entre as mesmas gerações nas PNADs

1976 e 1996. Por isso, aqui também será adotada a mesma estratégia empírica de Goldthorpe e Scalon, que apresenta

como problema o fato de que está-se comparando faixas etárias diferentes para avaliar mudanças das gerações ao longo

do tempo. Em outras palavras, ao comparar faixas etárias diferentes tem-se em alguma medida o problema de atuação e

valorização diferenciada no mercado de trabalho. 69

Note que aqui se utilizou uma estratificação em quatro grupos (definidos também no capítulo II). Isso se deve tanto a

questão de que a análise e a exposição se tornariam difíceis quanto pelo fato de aumentar o número de células vazias ou

rarefeitas, principalmente com o recorte do Rio de Janeiro. Além disso, como decidiu-se por usar a categorização

adotada por Scalon (1997), isso facilitou a comparação entre os estudos. Mesmo assim, sempre que possível serão feitas

referências em relação aos nove estratos adotados nesse trabalho. 70

Ver Boletim Mercado de Trabalho: Conjuntura e Análise (2001) e Rio de Janeiro: Trabalho e Sociedade (2001).

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116

origem no setor manual aumenta a possibilidade da 1a ocupação ocorrer nesse setor e diminui no

estrato de profissionais.

Tabela IV.7a

Mobilidade inter e intrageracional no Rio de Janeiro em 1996

para pessoas nascidas entre 1952 e 1971 Estrato do pai Primeiro estrato Estrato atual

I II III IV

I. Rural I. Rural 25,8 6,7 16,8 1,3 1,0

II. Manual 65,8 2,9 51,6 6,4 4,9

III. Não manual 5,9 0,3 2,3 2,3 1,0

IV. Profissionais 2,5 0,2 0,6 0,3 1,4

II. Manual I. Rural 1,3 0,1 1,1 0,1 0,1

II. Manual 74,5 0,7 57,7 9,9 6,2

III. Não manual 19,3 0,2 6,3 7,7 5,2

IV. Profissionais 4,8 0,0 1,3 1,1 2,4

III. Não manual I. Rural 0,7 0,2 0,5 0,0 0,0

II. Manual 54,2 0,8 32,5 11,2 9,8

III. Não manual 31,8 0,0 9,1 14,1 8,5

IV. Profissionais 13,3 0,0 2,0 3,0 8,4

IV. Profissionais I. Rural 2,6 0,5 1,4 0,0 0,8

II. Manual 47,8 0,8 20,3 11,2 15,5

III. Não manual 29,4 0,0 6,7 10,6 12,1

IV. Profissionais 20,2 0,0 1,0 3,7 15,4

Fonte: PNAD 1996.

Tabela IV.7b

Mobilidade inter e intrageracional no Rio de Janeiro em 1996

para pessoas nascidas entre 1932 e 1951 Estrato do pai Primeiro estrato Estrato atual

I II III IV

I. Rural I. Rural 27,7 4,8 18,8 1,6 2,6

II. Manual 63,4 4,2 48,5 7,6 3,2

III. Não manual 6,9 0,6 2,1 2,9 1,3

IV. Profissionais 2,0 0,3 0,3 0,3 1,1

II. Manual I. Rural 1,5 0,2 0,2 0,6 0,4

II. Manual 73,8 1,0 55,7 9,7 7,4

III. Não manual 18,3 0,4 5,6 6,3 6,1

IV. Profissionais 6,4 0,0 1,9 1,1 3,3

III. Não manual I. Rural 3,0 0,0 3,0 0,0 0,0

II. Manual 49,5 0,0 32,2 10,4 7,0

III. Não manual 31,9 1,3 11,3 9,3 9,9

IV. Profissionais 15,6 0,0 0,7 2,0 13,0

IV. Profissionais I. Rural 5,6 0,8 1,6 2,8 0,4

II. Manual 37,5 0,4 21,0 4,2 11,8

III. Não manual 28,1 0,0 6,8 11,4 9,9

IV. Profissionais 28,8 0,0 5,2 3,0 20,5

Fonte: PNAD 1996.

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117

Esses dois fatos combinados contribuem para a diminuição da mobilidade intergeracional

ascendente em relação à 1a ocupação para a geração mais jovem. As figuras IV.1.a e IV.1b ilustram

o fato de que as chances de os filhos terem uma primeira ocupação num estrato melhor que o dos

pais diminui para a geração mais jovem de forma mais forte no Rio do que no Brasil (onde, apesar

da mobilidade descendente aumentar, a mobilidade ascendente fica praticamente constante).

Figura IV.1a

Figura IV.1b

Mobilidade intergeracional (primeiro estrato ) em 1996 no Rio por coorte de nascimento

0

10

20

30

40

50

60

Imob. Desc. Asc.

%

25-44 45-64

Mobilidade intergeracional (estrato inicial) no Brasil por coorte de nascimento

0

10

20

30

40

50

60

Imob. Desc. Asc.

%

25-44 45-64

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118

Não deixa de ser surpreendente e preocupante verificar que, apesar do aumento da escolaridade que

vem ocorrendo no Brasil, não se verifica uma melhora na posição social de entrada no mercado de

trabalho para as gerações mais novas. No Rio, poder-se-ia pensar em dois movimentos gerais em

relação à entrada no mercado de trabalho dos mais jovens. Por um lado, a menor taxa de

participação no mercado de trabalho do Rio nos leva a pensar que aqui, mais do que na média

brasileira, os jovens retardam sua entrada no mercado de trabalho para passar mais tempo na escola

investindo na sua formação profissional. Por outro lado, o fato dos pais já serem mais escolarizados

que a média brasileira e a estrutura ocupacional contar com menos trabalhadores rurais gera um

quadro no mercado de trabalho nos anos 80 e 90 de competição mais difícil para superar as posições

de entrada. No saldo entre essas possíveis explicações parece que a segunda está liderando o

movimento.

Partindo agora para a análise da mobilidade intrageracional ou de carreira, também se obtém os

mesmos padrões da média brasileira no Rio. Isto quer dizer que, independentemente do estrato de

origem, as taxas de mobilidade intrageracional em direção aos estratos superiores são sempre mais

baixas para a geração mais jovem. (Ver as quatro últimas colunas da tabela IV.7, especialmente a

última referente ao estrato atual de profissionais).

Esse fato, entretanto, sofre alguma influência do diferencial de tempo no mercado de trabalho e, por

isso, a taxa de mobilidade ascendente menor para a geração mais jovem deve ser considerada com

uma certa cautela como uma medida da evolução temporal da mobilidade intrageracional. De

qualquer forma o que merece ser destacado é que a explicação para a diminuição da mobilidade

intrageracional ascendente por conta de uma melhora na 'posição' de entrada no mercado de

trabalho para a geração mais jovem não encontra suporte empírico.

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119

Conclusão

A análise dos padrões de mobilidade social é fundamental para entender os impactos da mobilidade

sobre as desigualdades socioeconômicas e justiça social. Se uma região tem muita mobilidade mas

um regime de mobilidade de curta distância, o impacto sobre as desigualdades podem ser muito

pequenos. Já, uma outra região com mobilidade menor mas com um regime de mobilidade mais

aberto para alcançar os estratos mais privilegiados pode contribuir mais para diminuir as

desigualdades de oportunidades e de renda.

Antes de entrar na identificação dos regimes de mobilidade, verifica-se no Rio uma contribuição

relativamente baixa das mudanças na estrutura ocupacional entre as gerações para explicar a

mobilidade social e decrescente entre 1976 e 1996 (assim como para a média brasileira). A maior

parte dos movimentos na estrutura social entre as gerações deve-se à mobilidade circular, ou seja, à

troca de posições entre as vagas ou tipos de vagas já existentes na estrutura ocupacional. Isso quer

dizer que a conquista por posições se deve muito mais às características dos indivíduos do que a

mudanças na estrutura ocupacional. Quer dizer, a posição social depende menos da abertura (ou

fechamento) de postos de trabalho e mais à competição pelas vagas já existentes.

A elevada taxa de mobilidade combinada com o fato de ser explicada principalmente pela

mobilidade por trocas de posição revela que, a princípio, a sociedade fluminense é bastante aberta,

no sentido em que os indivíduos conseguem escapar da herança social (para melhor ou pior) numa

estrutura social em que prevalecem os mecanismos de competição pelas posições já existentes (ao

invés do preenchimento de novas posições). No entanto, o impacto dessa característica considerada

positiva para distribuição de oportunidades depende do regime de mobilidade que prevalece nas

movimentações entre as gerações por estrato social.

Nesse sentido, foram analisadas as três teses clássicas sobre regime de mobilidade para avaliar sua

adequação ao caso do Rio, sempre comparando com Brasil. A tese do fechamento social não se

mostrou tão apropriada, principalmente porque a heterogeneidade na origem social é muito grande,

principalmente para os estratos não manuais. No entanto, quando se consideram os estratos

manuais, verifica-se uma homogeneidade maior, principalmente devido ao peso da origem rural. No

caso do Rio esse aspecto, apesar de ainda ser elevado, tem uma importância menor. Além disso, os

índices de associação de Glass, assim como os resíduos padronizados, foram elevados na diagonal

principal, caracterizando herança social, principalmente nas extremidades.

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120

A segunda tese, da área de contenção, teve resultados mais contundentes, ou seja, verifica-se um

regime de mobilidade de curta distância em que a fronteira manual-não manual funciona como uma

espécie de barreira de contenção à mobilidade de longa distância. Constatou-se empiricamente que,

por um lado, as chances dos trabalhadores com origem no estrato manual qualificado de migrar para

estratos não manuais é maior do que aqueles de origem no manual não qualificado. E, por outro

lado, as chances dos trabalhadores com origem no setor não manual de baixa qualificação descender

para posições nos estratos manuais é maior do que aqueles de origem nos estratos mais

privilegiados.

Por último, a tese da contramobilidade argumenta que com o desenvolvimento econômico e

sofisticação do conteúdo do trabalho as pessoas têm retardado a entrada no mercado de trabalho

para investir em capital humano e entrar numa posição mais elevada na estrutura ocupacional

diminuindo, assim, as possibilidades de mobilidade intrageracional. Na análise empírica da

mobilidade intergeracional em relação à primeira ocupação do filho, não se verifica para a coorte

mais jovem uma entrada relativamente maior em posições superiores.

Não deixa de ser surpreendente e preocupante verificar que, apesar do aumento da escolaridade que

vem ocorrendo no Brasil, não se verifica uma melhora na posição social de entrada no mercado de

trabalho para as gerações mais novas. No Rio, poder-se-ia pensar em dois movimentos gerais em

relação à entrada no mercado de trabalho dos mais jovens. Por um lado, a menor taxa de

participação no mercado de trabalho do Rio nos leva a pensar que aqui, mais do que na média

brasileira, os jovens retardam sua entrada no mercado de trabalho para passar mais tempo na escola

investindo na sua formação profissional. Por outro lado, o fato dos pais já serem mais escolarizados

que a média brasileira e a estrutura ocupacional contar com menos trabalhadores rurais gera um

quadro no mercado de trabalho urbano nos anos 80 e 90 de competição mais difícil para superar as

posições de entrada. No saldo entre essas possíveis explicações parece que a segunda está liderando

o movimento. Assim sendo, a explicação para a diminuição da mobilidade intrageracional

ascendente por conta de uma melhora na 'posição' de entrada no mercado de trabalho para a geração

mais jovem não encontra suporte empírico.

Além disso, verifica-se que no Rio o estrato mais privilegiado de Profissionais está mais fechado

para indivíduos de outras origens sociais, assim como iniciar a carreira profissional sendo de outra

origem também está se tornando mais difícil para a geração mais nova. Esse resultado pode estar

indicando que quando se atinge níveis de escolaridade mais elevados para a população como um

todo, a forte competição no mercado de trabalho acaba recolocando um papel importante na origem

social ou background familiar das pessoas.

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121

Em suma, a alta taxa de mobilidade social intergeracional no Rio que tem um efeito forte das

movimentações por trocas de posições junto com a enorme heterogeneidade na origem social dos

diversos estratos considerados levaria a um quadro de melhora na distribuição de oportunidades.

Mas como o regime de mobilidade é de curta distância e é explicado, principalmente, pela área de

contenção na fronteira manual-manual, aliado aos fatos de que (1) a posição de entrada das gerações

mais jovens não melhorou em relação às mais velhas e (2) a capacidade reprodução das elites tem

aumentado ao longo do tempo, fica a questão: o que aconteceu com a desigualdade de

oportunidades?

CAPÍTULO V

A DESIGUALDADE DE OPORTUNIDADES

DIMINUIU NO RIO?

Quando se analisam as matrizes de transição não é possível identificar se isso significou uma

mudança no padrão de distribuição das chances relativas de movimentação dos indivíduos entre as

posições sociais na estrutura de estratificação social ou se foi decorrente de mudanças na estrutura

ocupacional entre as gerações do pai e do filho. Isto é, a análise das taxas de mobilidade total

incorpora os dois componentes da mobilidade social: o estrutural e o circular. Como o objetivo

dessa seção é analisar a evolução temporal do padrão de distribuição de oportunidades no sistema

de estratificação social é necessário, então, isolar o componente da mobilidade total referente à

mobilidade por trocas ou circular.

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122

A mobilidade circular pode ser definida a partir das mudanças ocorridas entre os estratos

decorrentes do processo intrínseco de mobilidade dentro do mercado de trabalho, sendo que a

mobilidade de um indivíduo depende que sua posição de destino seja desocupada por motivo de

morte, aposentadoria ou ascensão/descensão social de outro indivíduo. A denominação também

muitas vezes utilizada de mobilidade por trocas refere-se exatamente ao fato de que para um

trabalhador preencher uma posição é necessário que ela seja vaga por outro, ou seja, as mudanças

de posições no sistema de estratificação não são decorrentes da abertura de novas vagas mas de que

as posições existentes sejam vagas. Assim sendo, a mobilidade circular depende basicamente de

atributos individuais, como educação e experiência.

No trabalho pioneiro de Hutchinson em 1960 no Brasil é realizada uma análise sobre os diferentes

papéis exercidos pela mobilidade estrutural e circular no sistema de estratificação do país. “Ele

aponta a importância da educação como principal meio de reprodução ou mudança de status e

revela como o sistema educacional em São Paulo reforça a herança de status... Por isso, considera

que o nível educacional não está significativamente relacionado com a mobilidade social”. (Scalon,

1997)

Hutchinson coloca ainda que a estrutura brasileira é bastante rígida, pois a maior parte da

mobilidade é decorrente de mudanças estruturais, como o processo de urbanização e

industrialização, que abrem novos tipos de postos de trabalho, transformando a estrutura

ocupacional. Esse movimento, no entanto, não contribui muito para aumentar o grau de fluidez

social que poderia estimular o preenchimento das vagas de acordo com as capacidades individuais.

Isso porque a fluidez social só pode ser medida pelo tipo de mobilidade referente à troca de

posições entre os indivíduos, ou seja, pela mobilidade circular ou por trocas. “Deve-se notar que a

mobilidade desse tipo, que não é afetada pelas modificações na estrutura de status, requer, para cada

pessoa que ascenda a um nível mais elevado, que outra desça a um mais baixo. Quanto mais

freqüente isso ocorrer, mais a sociedade em questão se aproximará de igualdade de oportunidades

para seus membros.”

A idéia, então, da fluidez social está associada à abertura ou permeabilidade do sistema de

estratificação social e, portanto, se refere às chances relativas de oportunidades de preenchimentos

das posições. Como os dois tipos de mobilidade – estrutural e circular –são medidas que refletem

fenômenos distintos, a literatura conta com uma série de desenvolvimentos estatístico-

metodológicos para separar esses efeitos sobre a mobilidade total.

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123

Valle Silva e Roditi (1988) analisam o grau de abertura ou de fluidez social questionando se a “tese

da industrialização”71

se aplicaria ao caso brasileiro, qual seja, a de que com a industrialização

ocorre não só uma mudança na estrutura de estratificação social – ou seja, mudanças na distribuição

dos bens, recursos e posições sociais – mas também modificações no processo de estratificação, isto

é, nas regras de distribuição dos indivíduos nessa estrutura. Seguindo esse raciocínio, “a

democratização da sociedade – no que diz respeito à distribuição de oportunidades – é função do

quão rápido e do quão profundamente se pode implementar nela uma economia industrial e

moderna”.

Assim, no período do desenvolvimento econômico para uma economia industrializada, as chances

de melhora no quadro de mobilidade social – e, portanto, do processo de democratização ou de

distribuição de oportunidades na sociedade – aumentariam até o ponto em que as economias se

tornariam desenvolvidas ou “plenamente industrializadas”, quando o padrão de mobilidade circular

se estancaria.

No entanto, o artigo pioneiro de Valle Silva e Roditi, utilizando modelos log-lineares para separar

os efeitos de mudanças exógenas na estrutura ocupacional, por um lado, e o padrão de mobilidade

circular, por outro, mostram que não houve uma mudança no padrão de mobilidade circular dos

indivíduos na estrutura de estratificação social nos anos 70, apesar do forte crescimento econômico

vivido nesse período no Brasil. Esse resultado levou os autores, junto com as constatações

provenientes das pesquisas sobre as experiências dos países desenvolvidos, a relativizar o efeito da

industrialização e da educação sobre a mobilidade social e a concluir que “as diferenças na estrutura

da mobilidade são pelo menos tão dependentes da organização política quanto do desenvolvimento

econômico”.

Andrade (1997) realiza uma atualização da análise da evolução do padrão temporal da mobilidade

de circulação para cinco regiões metropolitanas com os dados da PNAD 1988. Verifica-se,

novamente, que “o modelo de padrões de mobilidade ocupacional constante ao longo do tempo se

ajusta bem aos dados. Vale ainda considerar que as diferenças entre as regiões metropolitanas são

pequenas”.

Em Pastore e Valle Silva (2000) analisam-se as mudanças no padrão de mobilidade circular entre

1973 e 1996 no Brasil. Os autores concluem que a mobilidade total no Brasil aumentou devido

principalmente ao aumento da mobilidade circular ou por trocas, sugerindo que o mercado de

71

Ver Lipset e Bendix (1959) e Treinam (1970).

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124

trabalho está mais competitivo. Ademais, o padrão de mobilidade circular observado em 1996

registrou uma diminuição do peso da herança ocupacional e "um aumento das chances de cruzar,

tanto para cima quanto para baixo, a barreira rural e manual/não manual, apontando para uma

pequena, mas significativa, diluição da estrutura de classes observada em 1973. Esses resultados

indicam que, neste último quarto de século, em que pese o notório aumento das desigualdades

socioeconômicas, a sociedade brasileira se tornou ligeiramente mais aberta".

A contribuição desse capítulo é avaliar se o modelo de estabilidade temporal da mobilidade circular

se ajusta bem à sociedade do Rio de Janeiro assim como avaliar se esses modelos se ajustam para a

sociedade como um todo ou somente para determinados grupos, caracterizados a partir das

diferenças por escolaridade, sexo, cor e status migratório.

O Rio de Janeiro tem a menor taxa de imobilidade e é o Estado que registra a menor variação desse

indicador ao longo do tempo. O Rio também apresenta a maior taxa de mobilidade descendente e é

o único Estado que registra uma queda da mobilidade ascendente ao longo do tempo.

Esse quadro levanta duas hipóteses a serem testados com os modelos log-lineares:

a) O fato de o Rio ter a menor taxa de imobilidade significa que, controlando o efeito da

mobilidade estrutural, a associação entre a posição social do pai e a do filho não é

estatisticamente significativa?

b) Se essa associação é significativa, deve-se esperar um padrão temporal estável da mobilidade

circular?

Para responder a essas questões deve-se ter em mãos uma metodologia que seja capaz de analisar as

tabelas de mobilidade como um todo e não, como foi feito até agora, fazer as análises de associação

dois a dois. Para tanto, utilizaram-se os modelos log-lineares para analisar a tabela de mobilidade

social como um todo e testar a hipótese sobre o padrão de estabilidade temporal da mobilidade

social intergeracional circular no Rio de Janeiro.

V.1. Modelos log-lineares aplicados às tabelas de mobilidade social

A análise dos dados de uma matriz de mobilidade social mostra a relação entre a posição

socioeconômica do pai e a do filho. A variável utilizada para representar a posição socioeconômica

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125

foi a ocupação, que é uma variável categórica ou qualitativa e, portanto, só pode ser expressa em

termos nominais (assim como sexo e cor) ou em escala ordinal (assim como nível de escolaridade).

Nesse caso, a única variável que se pode mensurar é a freqüência das células da tabela e a relação

entre as variáveis é obtida a partir das características ou das diferenças entre as freqüências das

células da tabela.

Para facilitar a análise das relações entre as várias variáveis, a idéia é utilizar um modelo aplicável à

tabela de contingência multidimensional. Isso porque a análise das diferenças entre duas variáveis

de cada vez pode levar a conclusões incorretas sobre o fenômeno geral estudado. Os modelos log-

lineares têm sido tradicionalmente usados para o estudo de mobilidade social por apresentar como

característica a possibilidade de descrever padrões de associação entre variáveis categóricas. Com

essa abordagem, modelam-se as freqüências de uma tabela de mobilidade social a partir da

associação entre as variáveis. (Agresti, 1990)

Esses modelos devem ser vistos essencialmente como análises de regressões aplicadas a dados

qualitativos. Como coloca McCullagh e Nelder (1983): “Generalized linear models allow us to

develop models for the analysis of counts analogous to classical linear models for continuous

quantities.”

Nessa classe de modelos, a variável resposta ou dependente é o logaritmo da freqüência que é

estimado pelo método de máxima verossimilhança.72

Para fazer inferências sobre os modelos log-

lineares aplicados às tabelas de mobilidade social, no entanto, é necessário conhecer o esquema

amostral que foi aplicado para obter as tabelas de mobilidade social.

72

Ver Apêndice de Powers e Xie (2000) sobre o processo de estimação de máxima verossimilhança.

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126

V.1.1. Modelo amostral

Para tabelas bidimensionais com I categorias para a variável O e J categorias para a variável D tem-

se que ijf denota a freqüência na (i,j)-ésima célula, if e jf denotam os respectivos totais nas

linhas e colunas e N é o total geral. Como dito anteriormente, nesse caso as variáveis respostas ou

dependentes que se deseja modelar são as freqüências ijf .73

O esquema amostral mais simples que se pode aplicar é quando supõe-se que a freqüência em cada

uma das m células (i,j) da tabela é obtida a partir de m processos de Poisson independentes com

parâmetro 0ij . A distribuição conjunta das J x K células é dada por:

I

i

J

j ij

f

ij

f

ij

1 1 !,

λf (1)

Onde:

λ é a matriz de probabilidades de transição entre i e j; e

f é a matriz de freqüências de dimensão I x J.

A equação 1 assegura que E( f ) = Var( f ) = λ . O importante a destacar aqui é que a hipótese de

que a contagem de casos em cada célula da tabela segue as distribuições de Poisson são

independentes. Assim, o somatório das freqüências das células, que representa o total da amostra,

também é uma variável aleatória com distribuição de Poisson.

Um caso mais comum, no entanto, é quando impõe-se a restrição de que NfI

1i

J

1jij

, onde N é

fixo pelo desenho amostral. Quando se inicia o modelo com Poisson e se condiciona o tamanho

total da amostra em N, não se tem mais uma distribuição de Poisson e a distribuição condicional

pode ser obtida da seguinte forma:

)(

),()|(

NP

NPNP

λf,λf,

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127

Então:

I

1i

J

1j ij

f

ijI

1i

J

1j

N

ij

f

ij

!f!N

!N

e

!f

e)N|,f(P

ijijijij

(2)

onde

ij

ij

I

1i

J

1jij

A distribuição de probabilidades descrita em 2 é uma Multinomial, sendo que ij representa a

probabilidade de se pertencer a uma determinada célula e satisfaz as condições de 0 ij 1 e

1i j

ij . Nesse caso, o processo aleatório não está na definição do tamanho da amostra, como

acontece com a Poisson, mas na distribuição dos elementos nas células da tabelas ou às categorias

classificadas numa amostra fixa.

Esse modelo amostral se aplica bem às tabelas de mobilidade social mas, muitas vezes, a suposição

do N fixo não é suficiente. Se o interesse é isolar determinados experimentos, situações ou estratos

amostrais, os totais das marginais das diferentes categorias devem ser fixados no desenho amostral.

Por exemplo, se há grandes variações na estrutura ocupacional entre as gerações do pai e do filho,

para se avaliar a existência de interação entre a ocupação do pai e do filho é desejável que se retire

os efeitos das marginais. Em outras palavras, dependendo do objeto de investigação pode ser mais

apropriado supor que o esquema amostral está condicionado ao tamanho das marginais (na linha ou

na coluna).

73

A tabela é a apresentada no capítulo anterior que apresenta a metodologia de análise com a matriz de transição ou

tabela de mobilidade social.

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128

Sendo assim, a distribuição de probabilidades para cada linha (ou coluna) é multinomial e, por

exemplo, para i-ésima linha com o total da linha fixo if , a função de distribuição de probabilidade

pode ser escrita da forma como segue:

J

1j ij

f

ij

iiij1i!f

!f)f|f,...,f(P

ij, onde .1

jij

Como as linhas (ou colunas) são independentes, a distribuição conjunta de s´ijf é

I

1i

J

1j ij

f

ij

ii!f

!f)I,...,1i,f|f(P

ij, (3)

onde j

ij 1 para cada linha i.

A equação 3 expressa uma distribuição Multinomial-Produto e se aplica aos casos em que se quer

tratar de determinadas categorias como uma amostra separada ou independente.

Felizmente, o processo de estimação dos parâmetros por máxima verossimilhança nos três tipos de

modelo amostral gera resultados semelhantes para os valores esperados das células da tabela74

e,

por conseguinte, para as estatísticas de qualidade de ajustamento do modelo. Isso porque, nas

palavras de Powers e Xie (2000),

“The main difference among the three sampling models is the treatment of the grand total and

marginal totals. In practice, this distinction is inconsequential, since researchers usually include

parameters to fit the grand total and marginal totals exactly. Thus, it is not necessary to choose a

particular sampling model, so long as the marginal totals are fitted.”

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129

V.1.2. A parametrização

Considere, então, o caso de uma distribuição Multinomial com freqüência nas células N1 f,...,f e

probabilidades nas células N1 ,..., com 1N

1ii

e freqüência total

N

1iifN tem-se que

ii N)f(E (4)

Suponha, por exemplo, que a análise a ser realizada é de uma tabela bidimensional com as variáveis

representando os estratos socioeconômicos dos pais e dos filhos. Se a idéia é testar a hipótese de

que as variáveis linha e coluna são independentes (não existe associação entre a posição

socioeconômica do pai e do filho), pode-se calcular a probabilidade de um dado indivíduo pertencer

a célula (i,j) da seguinte forma

jiij (5)

onde i e j representam as probabilidades marginais das variáveis linha e coluna e 1i

i e

1j

j . Assim sendo, para o caso da distribuição Multinomial quando se assume a hipótese de

independência entre as variáveis linha e coluna tem-se que

ijjiij FN)f(E (6)

Se aplicarmos uma função logarítmica pode-se reescrever a equação 6 como

)log()log()Nlog()F(Log jiij (7)

Observa-se, então, que para a análise das tabelas de contingência via modelos lineares

generalizados deve-se aplicar a função de ligação logarítmica para relacionar a )f(E i e o previsor

linear i , isto é,

βxTi )Flog( ii (8)

74

Ver a prova em Fienberg (1979) e Bishop, Fienberg e Holland (1975).

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e, por isso, o nome de modelo log-linear. (Dobson, 1990)

O modelo saturado (chamado também de maximal ou completo), correspondente a ijij N)f(E ,

inclui todos os parâmetros de efeito possíveis para a tabela bidimensional e pode ser expresso da

seguinte forma:

ijjiijij fE (9)

Assim, a hipótese de independência jiij para todo i e j é equivalente a hipótese de “não-

associação” ou “não-interação”, de tal forma que 0ij para todo i e j.

Os parâmetros do modelo devem ser interpretados como diferenças dos termos de ordem superior

em relação aos de ordem inferior. Por exemplo, o i representa o efeito diferencial da linha i em

relação ao efeito médio geral e ij o efeito diferencial de se pertencer à célula (i,j) em relação à

média geral e aos efeitos principais i e j . Esse tipo de modelo pertence à classe de modelos

hierárquicos, ou seja, quando para um efeito envolvendo determinada variável, todos os efeitos de

ordem inferior envolvendo as mesmas variáveis estão presentes.

De uma forma mais detalhada, os parâmetros são determinados da forma descrita a seguir para o

caso particular de uma matriz 2 x 2:

é uma média geral do logaritmo das freqüências esperadas e representa um ponto de

referência a partir do qual os efeitos das variáveis são calculados:

)flogflogflogf(log4

122211211 =

IJ

i é o efeito principal da variável linha i:

IJJ

flogflog2

1 i2i1ii

j é o efeito principal da variável coluna j:

IJI

flogflog2

1 j

j2j1j

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ij é o efeito interação ou associação entre as variáveis i e j:

IJJI

ij

ijij

A média geral não tem muito interesse substantivo, representando somente um ponto de referência

para o impacto dos efeitos principais e de associação entre as variáveis do modelo. Se determinado

parâmetro for zero significa que não tem efeito sobre o valor esperado da freqüência na célula da

tabela. Observe que se todos os efeitos ’s forem iguais a 0, não existe efeito principal e de

associação entre as variáveis, sendo a freqüência de cada célula igual ao valor de . Valores de

maiores que zero indicam que a freqüência na célula é maior que a esperada e menores indicam que

existem menos casos que o esperado. Se, por exemplo, 0i , a média do log da freqüência

esperada para as células na linha i é maior que a média do log da freqüência esperada da tabela

como um todo.75

Os parâmetros ’s devem satisfazer a seguinte condição necessária para tornar o modelo

identificável:76

0j

iji

iji j

ji (10)

Os parâmetros i e j são desvios em relação à média geral, então, existem I-1 parâmetros linha

linearmente independentes e J-1 parâmetros coluna linearmente independentes. Dado ij nas (I-

1)(J-1) células nas primeiras I-1 linhas e J-1 colunas, essas restrições determinam os parâmetros

para as células na última linha ou coluna. Assim, (I-1)(J-1) desses termos são linearmente

independentes. No modelo saturado, o número de parâmetros é igual ao número de células na

tabela, qual seja, IJ.

Assim, para verificar que o total de parâmetros independentes é igual ao total de células na tabela,

os números de graus de liberdade são listados na tabela V.1 a partir da contribuição de cada termo

do modelo.

75

Vale notar que o logaritmo natural de 1 é zero, indicando o caso de independência entre as variáveis. 76

Ver Bishop, Fienberg e Holland (1975).

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Tabela V.1

Cálculo dos graus de liberdade

Tipo de parâmetro Parâmetros Graus de liberdade

Média geral 1

Marginal na linha i I - 1

Marginal na coluna j J - 1

Interações ij IJ – I – J +1= (I-1)(J-1)

Total IJ Fonte: Bishop, Fienberg e Holland (1975) e Powers e Xie (2000).

V.1.3. Estatísticas de ajuste do modelo

Quando se modela a freqüência de uma tabela de contingência em geral ou de uma tabela de

mobilidade em particular, a questão principal a ser avaliada é se existe ou não associação entre as

variáveis de análise. Na verdade, busca-se testar se os dados observados se ajustam bem ao

esperado caso não houvesse interação entre as variáveis, ou seja, se o modelo com restrição (por

exemplo, de independência entre as variáveis) é plausível para explicar as relações entre as

variáveis. Mas como avaliar se o modelo é bom?

Nas palavras de McCullagh e Nelder (1983):

“Modelling in science remains, partly at least, an art. Some principles do exist, however, to guide

the modeller. The first is that all models are wrong: some, though, are better than others and we can

search for better ones. At the same time we must recognize that eternal truth is not within our grasp.

The second is not fall in love with one model, to the exclusion of alternatives. Data will often point

with almost equal emphasis at several possible models and it is important that the analyst accepts

this. A third principal involves checking thoroughly the fit of a model to the data, for example, by

using residuals and other quantities derived from the fit to look for outlying observations, and so

on.”

Levando-se em consideração esses princípios, deve-se percorrer alguns caminhos para testar a

plausibilidade de um modelo. Em primeiro lugar, um modelo bom pode ser visto como aquele que

se ajusta bem aos dados, ou seja, onde o valor estimado é próximo ao observado. Se incluirmos

parâmetros suficientes no modelo pode-se chegar tão perto quanto se deseja e até mesmo incluindo

tantos parâmetros quanto o número de observações os dados se ajustarão perfeitamente. No entanto,

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não se ganhou nada no sentido de se conseguir um padrão teórico mais simples para explicar os

dados. Logo, a simplicidade atingida com a parcimônia dos parâmetros é também uma característica

desejável para um modelo.

A idéia, então, que segue na seção seguinte é buscar um modelo mais simples para explicar a

evolução temporal da mobilidade social intergeracional, qual seja, o da estabilidade ao longo do

tempo. Para avaliar se os modelos se ajustam bem aos dados observados, utilizam-se quatro

estatísticas bastante convencionais para esse tipo de modelo, que serão apresentados para a relação

entre duas variáveis. A primeira é a estatística Qui-quadrado da razão de verossimilhança:

)Flogf(logf2G ijijij2 (11)

onde ijf é a freqüência observada e ijF , a freqüência estimada pelo modelo. A estatística é sempre

não negativa e tem, assintoticamente, uma distribuição 2 sob a hipótese de que o modelo restrito

em teste é válido. O número de graus de liberdade é calculado pela diferença entre o número de

células no início (no caso descrito anteriormente, JI) e o número de parâmetros ajustados.

2G também é chamado de deviance, principalmente nos pacotes computacionais, por representar

uma estatística sobre a distância entre os valores do modelo com restrição e o modelo saturado.

Logo, pode-se testar o modelo a partir da fórmula descrita ou com a comparação do 2G do modelo

saturado e com restrição.

No entanto, pelo fato da PNAD ser construída a partir de uma amostra complexa, e não aleatória

simples, a estatística de 2G se vê afetada.77

Além disso, o valor dessa estatística depende do

tamanho da amostra e considerando-se pesquisas do porte da PNAD, corre-se um grande risco de

rejeitar a hipótese nula em favor de hipóteses alternativas.78

77

Segundo Valle Silva e Roditti (1986), estudos mostram que efeitos de desenho amostral superiores a 1 afetam a

estatística 2G “no sentido de gerar uma superestimativa do valor verdadeiro de qui-quadrado dada a hipótese nula.”

78 Utilizou-se nesta tese o procedimento padrão de expansão amostral da PNAD, ou seja, não foram considerados os

ajustes dos pesos para amostra complexa. Apesar de já existir métodos mais sofisticados (ver Pessoa e Silva (1998)),

não seria possível aplica-los no âmbito da tese, visto que os pesos para amostra complexa da PNAD 1976 não estão

disponíveis. Esse procedimento padrão pode gerar problemas na avaliação dos modelos com as estatísticas de

verossimilhança, já que os graus de liberdade mudariam e, por conseguinte, poder-se-ia ter impactos sobre a avaliação

da rejeição ou não da hipótese nula. No entanto, como serão utilizadas outras estatísticas para avaliar o ajuste do modelo

em teste aos dados observados, o procedimento padrão de aplicação de pesos acaba por ser bastante razoável.

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134

Logo, o 2G tem sido considerado como um procedimento insatisfatório para rejeitar um

determinado modelo a favor de outros em amostras grandes. A essência do argumento é que

“adding more terms to a model will always improve the fit, but with large samples it becomes

harder to distinguish a ‘real’ improvement in fit from a trivial one”. (Powers e Xie, 2000).

É necessário, então, adotar outras estratégias para avaliar o ajuste do modelo. A primeira é o 2R ,

que representa uma medida de razão para avaliar o quanto a utilização do modelo complexo

melhora a explicação das freqüências observadas em relação àquela estimada pelo modelo de base.

base) de modelo o paracompleto/G modelo o para(1 222 GR (12)

Utilizou-se também o índice de dissimilaridade ( ) que indica a porcentagem de casos que

deveriam ser realocados em outras células para tornar perfeito o ajuste do modelo.

I

1i

J

1jijij |N2/)Ff(| (13)

Last but not least, tentando sempre que possível seguir as idéias de McCullagh e Nelder (1983),

será feita uma análise dos resíduos padronizados para mapear os casos em que os ajustes são

melhores ou piores. O resíduo padronizado jke é calculado da seguinte forma:

jkjkjkjk FFfe (14)

Esses modelos foram ajustados no software SPSS utilizando a opção “Loglinear” e “Model

Selection”.79

V.2. Modelo analítico

O modelo analítico usualmente adotado para decompor a mobilidade total em seus dois

componentes básicos - estrutural e circular - tem sido o modelo log-linear geral80

. Nessa seção, a

idéia é testar se o padrão de associação entre a ocupação do pai e do filho muda ao longo do tempo.

Com isso, busca-se verificar se a distribuição de oportunidades no sistema de estratificação social

79

Ver manual do SPSS para maiores detalhes de sua utilização e saída dos resultados.

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135

melhorou ou piorou ao longo do tempo. Em outras palavras, pode-se avaliar se aumentou ou não a

fluidez social ao longo dos últimos 20 anos.

Considerando o caso mais simples da tabela bidimensional, ele pode ser escrito na sua forma aditiva

da seguinte maneira:

ODij

Dj

Oiij )F(Log (15)

onde )F(Log ij é o logaritmo das freqüências das células (i,j) da tabela de mobilidade. Os

parâmetros Oi e D

j representam os efeitos principais sobre o )F(Log ij e, nesse caso,

representam os efeitos da distribuição da ocupação do pai (O) e da ocupação do filho (D). Captam,

portanto, o efeito da mobilidade estrutural sobre a mobilidade total. O parâmetro ODij representa o

efeito interação, ou seja, o efeito da associação entre a ocupação do pai e do filho sobre )F(Log ij ,

mensurando, portanto, a mobilidade circular ou por trocas.

O modelo que contempla todos os possíveis efeitos é chamado de modelo saturado e reproduz

perfeitamente a tabela original, ou seja, não há diferença entre as freqüências observadas e

esperadas. O modelo da equação 16 não tem qualquer interesse substantivo. O interessante é testar o

modelo de independência em que 0ODij .

Dj

Oiij )F(Log (16)

A avaliação do modelo é realizada através da comparação entre as freqüências observadas na tabela

de mobilidade e as freqüências observadas no modelo de base escolhido. Se essas freqüências forem

consideradas suficientemente próximas diz-se que o modelo mais simples se ajusta bem aos dados

e, portanto, oferece uma explicação razoável para as relações observadas na tabela. Nesse caso,

estaria sendo testado se o modelo de mobilidade perfeita ou de independência estatística entre a

posição social de origem e destino se ajusta bem aos dados observados.

No entanto, o interesse analítico maior com a aplicação desse modelo é avaliar a evolução temporal

do padrão da mobilidade de circulação e, para tanto, a tabela tem mais uma dimensão: tempo. A

dimensão tempo será verificada a partir da comparação da mobilidade intergeracional entre

80

Ver Agresti (1990) , Hout (1983). Para os estudos sobre o tema no Brasil, o primeiro artigo a adotar este tipo de

modelo foi Valle Silva e Roditi (1988). Ver também Scalon (1997), Andrade (1997) e Pastore e Valle e Silva (2000).

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136

ocupação do pai e dos(as) filhos(as) com 30 a 55 anos nos anos 1976, 1988 e 1996. A idéia aqui é

captar se houve mudança no padrão de mobilidade circular intergeracional total, quer dizer, entre a

ocupação do pai e a ocupação do(a) filho(a) numa fase mais madura do mercado de trabalho.

A incorporação do termo tempo gera um modelo saturado que pode ser expresso da seguinte

maneira:

ODTijk

ODij

DTjk

OTik

Tk

Dj

Oiijk )F(Log (17)

onde )F(Log ijk representa as freqüências na tabela tridimensional sobre ocupação do pai (O),

ocupação do filho (D) e coorte de entrada do(a) filho(a) no mercado de trabalho ou ano da Pnad (T).

Os parâmetros Tk

Dj

Oi ,, representam os efeitos sobre )F(Log ijk das respectivas distribuições

marginais da ocupação do pai, da ocupação do filho e do tamanho da coorte de entrada no mercado

de trabalho. Já os termos OTik e DT

jk representam os efeitos da variação temporal (entre as coortes)

nas distribuições ocupacionais do pai e do filho. Quando se inclui no modelo os cinco termos

descritos anteriormente controla-se a mobilidade estrutural e sua variação ao longo do tempo .

Da mesma forma que antes, o termo ODij representa o efeito da interação entre pai e filho sobre a

mobilidade total, controlados os efeitos da mobilidade estrutural e sua variação ao longo do tempo.

Pode-se dizer, então, que esse efeito interação representa o padrão da mobilidade circular ou por

trocas. O último termo ODTijk estima o efeito da variação da associação entre pai e filho ao longo do

tempo (entre as coortes), ou seja, o efeito interação tripla representa a variação temporal do padrão

de mobilidade circular.

Nas palavras de Valle Silva e Roditi (1988), "pode-se dizer que o modelo saturado, conforme

especificado, decompõe a mobilidade total observada em três componentes básicos de interesse:

a) a mobilidade estrutural e sua variação ao longo do tempo

( DTjk

OTik

Tk

Dj

Oi ,,,, );

b) o padrão básico da associação entre pai e filho, ou seja, o padrão da mobilidade circular

(ODij );

c) a variação temporal do padrão de mobilidade circular

(ODTijk )."

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137

Como já visto anteriormente, esse modelo é saturado e, dessa forma, não apresenta interesse teórico.

"O que interessa teoricamente é a possibilidade de um modelo mais parcimonioso reproduzir, com

um nível aceitável de precisão, a tabela de mobilidade observada. Neste caso, dir-se-á que esse

modelo mais parcimonioso é preferível àquele que contém mais parâmetros". (Valle Silva e Pastore,

2000) Antes, no entanto, vale a pena introduzir alguns conceitos necessários para estabelecer as

hipóteses corretas a serem testadas no modelo.

Uma tabela tridimensional O x D x T apresenta as associações entre as variáveis O, D e T. A partir

disto, pode-se obter tabelas parciais entre duas variáveis (por exemplo, O e D) mantendo a terceira

variável (T) fixo em determinado nível, obtendo-se a associação parcial. Quando essa associação O

– C varia com as diferentes categorias de T, pode-se dizer que existe associação entre as três

variáveis. Se for possível ignorar essa terceira variável, a tabela tridimensional pode ser analisada

com a tabela bidimensional (O x D) contendo as associações marginais entre essas duas variáveis.

Levando em consideração, de acordo com Powers e Xie (2000) a tabela tridimensional apresenta

diversas classes de modelo dependendo das associações entre as variáveis, que são analisadas a

seguir.

Classe 1 refere-se ao modelo de independência mútua e tem a seguinte notação O,D,T. A principal

característica é que não existe interações e o modelo tri-variado transforma-se num modelo

univariado. Isso quer dizer que 0ODTijk

ODij

DTjk

OTik , para todo i, j e k. Nesse caso,

associação marginal é igual a associação parcial que é igual a zero.

Classe 2 pode ser descrita pelo modelo de independência conjunta com a seguinte notação (O, DT),

(OD,T) ou (OT,D). Esse modelo tem somente uma interação entre duas variáveis. Considerando o

modelo (O,DT) tem-se que 0ODTijk

ODij

OTik , para todo i, j e k, de tal forma que O é

independente das outras duas variáveis. Assim, a associação marginal de OD e de OT é igual a

associação parcial de OD e OT , que é igual a 0.

Classe 3 representa o modelo de independência condicional, que tem a notação (OT, DT), (OD,

DT), (OD, OT). No primeiro caso, tem-se que O e D são independentes dado T. Nesse caso, a

associação marginal OD é diferente da associação parcial OD (igual a 0). Segundo o autor

supracitado: “This is an important model. It means that the marginal association (OD) may be

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138

spurious if one ignores a relevant variable (T), similar to an omitted-variable bias in linear

regressions.”

Classe 4 refere-se ao modelo sem interação ‘tripla’ (OD, OT, DT). Esse modelo permite todas as

interações duplas, mas a não interação tripla implica que as associações são homogêneas, ou seja, as

associações parciais duplas não variam com a terceira variável. Logo, a associação marginal entre

duas variáveis é diferente da associação parcial entre duas variáveis, para qualquer par de variáveis.

Essas classes de modelo estão sistematizadas na tabela V.2.

Tabela V.2

Modelos log-lineares para tabela tridimensional Notação do modelo Descrição Hipótese nula

ODT Saturado

OD, OT, DT Não interação de 2a ordem 0ijk

OT, DT Independência condicional dado T 0ij

OD, OT Independência condicional dado O 0jk

OD, DT Independência condicional dado D 0ik

OT, D Independência parcial de D 0jkij

DT, O Independência parcial de O 0ikij

OD, T Independência parcial de T 0jkik

O,D,T Independência mútua 0ijkjkikij

Considere então o modelo OD, OT, DT em que o termo de maior ordem tenha sido omitido, ou seja,

0ODTijk . A equação reduzida será:

ODij

DTjk

OTik

Tk

Dj

Oiijk )F(Log (18)

Esse modelo capta as diferenças nas distribuições ocupacionais e suas mudanças ao longo do

tempo, mas admite que a associação entre a categoria ocupacional do pai e do filho (OD) é

constante ao longo do tempo (T). Sendo assim, é o modelo que testa a hipótese do padrão de

mobilidade circular constante ao longo do tempo. Em outras palavras, fornece uma indicação sobre

a evolução da distribuição de oportunidades para movimentação dos indivíduos no sistema de

estratificação social ao longo do tempo.

Se retirarmos também o termo de interação entre a ocupação do pai e do filho, isto é, aplicarmos o

modelo OT, DT em que a hipótese nula é 0ODTijk

ODij , tem-se que não somente inexiste

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139

variação temporal no padrão de mobilidade circular como, dentro de cada coorte, as variáveis

ocupação do pai e do filho são condicionalmente independentes. Isto quer dizer que a mobilidade

total seria totalmente explicada pelos efeitos da mobilidade estrutural e sua variação ao longo do

tempo. A equação seria reduzida a

DTjk

OTik

Tk

Dj

Oiijk )F(Log (19)

O modelo expresso pela equação 19 servirá de modelo de base ao se avaliar os ganhos explicativos

advindos decorrentes da utilização do modelo mais complexo de padrão constante da mobilidade

circular ao longo do tempo.

Essas hipóteses também serão testadas para um outro tipo de modelo denominado de mobilidade

quase perfeita, que corresponde à hipótese de quase independência no contexto da mobilidade

social. Como a diagonal principal tem um peso maior nas tabelas de mobilidade social, ela pode

disfarçar as mudanças existentes nos padrões de mobilidade fora da diagonal principal. Então,

aplica-se o modelo log-linear geral somente para os triângulos acima e abaixo da diagonal principal.

"A hipótese subjacente é que uma vez que o indivíduo 'escape' do seu estrato de origem, o seu

destino é perfeitamente aleatório". (Valle Silva e Roditi, 1986) Em outras palavras, ao eliminar o

efeito da diagonal principal testa-se a existência de um padrão de mobilidade social e não de

herança ocupacional.

De acordo com Hout (1983), o modelo log-linear de mobilidade quase perfeita para a tabela

bidimensional pode ser expresso da seguinte forma:

ODij

Dj

Oiij )F(Log para i=j (20)

Dj

Oiij )F(Log , para i j (21)

Esse modelo testa a hipótese de independência somente numa determinada parte da tabela, qual

seja, fora da diagonal principal. Assim, a idéia é avaliar se o modelo assume um padrão de

associação da ocupação do pai e do filho na diagonal principal, mas fora dela não é plausível. Para

testar a hipótese de estabilidade temporal do padrão de mobilidade circular no modelo de

mobilidade quase perfeita tem-se que

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140

ODTijk

ODij

DTjk

OTik

Tk

Dj

Oiijk )F(Log , para i=j (22)

DTjk

OTik

Tk

Dj

Oiijk )F(Log , para i j (23)

Ou

ODij

DTjk

OTik

Tk

Dj

Oiijk )F(Log , para i j (24)

O modelo expresso por 23 e 24 testa a hipótese nula de não associação entre a ocupação do pai e do

filho fora da diagonal principal. Já aquele expresso pelas equações 22 e 24 considera a associação

entre ocupação do pai e do filho, mas testa a hipótese de que esse padrão de associação é estável ao

longo do tempo para os casos fora da diagonal principal.

Por fim, pode-se considerar a tabela de mobilidade social como uma matriz de transição onde se

teria a possibilidade de testar a hipótese de time stationarity na cadeia de Markov. A questão que se

pretende responder é se as probabilidades de transição nas três matrizes são iguais, o que quer dizer

que não houve mudanças ao longo do tempo (hipótese de time stationarity).81

Segundo Knoke e Burke (1980), o modelo log-linear correspondente à hipótese de probabilidade de

transição estacionária no tempo é o seguinte:

OTik

ODij

Tk

Dj

Oiijk )F(Log (25)

A equação 25 expressa o modelo (OD, OT) que, conforme pode ser visto na tabela V.2, supõe

independência condicional de D e T dado O, ou seja, testa a hipótese de que 0jk . O termo OT

no modelo tem a mesma função que requer que as probabilidades de transição somem 1 em cada

linha, o que significa que a distribuição de casos entre as situações na origem é irrelevante para o

modelo. Mas, dada a situação de origem, O, o destino, D, é independente do tempo de transição, T.

Logo, o termo jk não está incluído no modelo.

81

Essa estimativa será realizada de forma puramente ilustrativa para o caso geral por considerar que a mobilidade é

determinada pelo movimento potencial num período observado que não necessariamente pode ser projetado.

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141

V.3. Análise dos resultados sobre as tendências da mobilidade social intergeracional circular

O modelo A.1 da tabela V.3 é o modelo de base especificado anteriormente pela equação 19. Como

ele implica a hipótese de independência entre a ocupação do pai e do filho, os resultados confirmam

o esperado, que o modelo não se ajusta bem aos dados, apresentando, no Rio de Janeiro, um 2G

de 1.327 com 192 graus de liberdade e uma proporção de casos mal alocados de 19,4%. No Brasil

observam-se resultados semelhantes e, portanto, rejeita-se para ambos os casos a hipótese de que há

mudanças temporais nas distribuições ocupacionais do pai e do filho, mas não existe associação

entre a ocupação do pai e do filho.

Tabela V.3

Resultados dos modelos de teste da estabilidade temporal da

mobilidade social circular intergeracional: 1976, 1988 e 1996 Modelo 2G

g.l. 2R

Rio de Janeiro

A. Todos

1. OT, DT 1.327,48 192 0,000 0,00 19,43

2. OT, OD 368,92 144 0,000 0,72 9,62

3. OT, DT, OD 164,71 128 0,000 0,88 5,43

B. Móveis

1. OT, DT 864,34 165 0,000 0,35 13,95

2. OT, DT, OD 146,51 101 0,000 0,89 4,58

Brasil

A. Todos

1. OT, DT 15.189,11 192 0,000 0,00 19,03

2. OT, OD 2.868,91 144 0,000 0,81 8,30

3. OT, DT, OD 815,07 128 0,000 0,95 3,74

B. Móveis

1. OT, DT 9.212,39 165 0,000 0,39 12,54

2. OT, DT, OD 545,35 101 0,000 0,96 2,47

Fonte: PNADs 1976, 1988 e 1996. Obs: O = Ocupação do pai; D = Ocupação atual do filho;

T = 1976, 1988 e 1996.

O modelo A.2 testa a hipótese de que as probabilidades de transição são constantes no tempo de

Markov, quer dizer uma vez conhecida a origem (ocupação do pai), o estágio final (ocupação do

filho) é independente do tempo de transição T. O valor de 2G indica a rejeição formal da hipótese

nula mas o modelo tem um poder explicativo alto e os casos mal alocados diminuem

consideravelmente. Levando-se em consideração esses resultados, pode-se dizer que o modelo

estacionário no tempo de Markov se ajusta bem aos dados observados.

No entanto, o modelo A.3 que testa a hipótese de estabilidade do padrão temporal de mobilidade

circular, conforme especificado pela equação 18 descrita anteriormente, revela-se melhor. Verifica-

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142

se, primeiramente, que em geral o valor da estatística de 2G diminui e, apesar de indicar a rejeição

formal da hipótese nula, as outras características caminham no mesmo sentido de recomendar a não

rejeição da hipótese nula.

No Brasil, o modelo de estabilidade temporal da mobilidade circular dá conta de 95% da variação

do modelo de base e tem uma proporção de casos mal alocados de apenas 4%. Tomando-se esses

indicadores aconselha-se a não rejeitar a hipótese nula, já que as outras estatísticas de ajuste do

modelo, que não o 2G , apontam no sentido de que o modelo de invariância temporal da mobilidade

circular no Brasil se ajusta muito bem aos dados.

No Rio de Janeiro, pode-se dizer que o valor de 2G junto o 2R de 88% e 5% dos casos mal

alocados no modelo, indicam a não rejeição da hipótese nula. Assim, o modelo de estabilidade

temporal da mobilidade circular intergeracional se ajusta bem aos valores observados no Rio de

Janeiro.

O modelo B.1, especificado pela equação 24, testa a hipótese de que as distribuições marginais

mudam ao longo do tempo e que não existe interação pai-filho fora da diagonal principal.

Examinando os resultados da tabela V.3, rejeita-se a hipótese de independência entre a ocupação do

pai e do filho, o que significa que existe um padrão de mobilidade que não é herança ocupacional,

ou seja, mesmo quando o indivíduo não permanece na mesma categoria ocupacional de seu pai,

existe um padrão de associação entre posição social do pai e do filho. Além disso, o modelo B.2

para o caso dos móveis também aponta no sentido de não rejeitar a hipótese nula, revelando que o

modelo de estabilidade temporal da interação pai-filho também se ajusta bem aos dados.

Se considerarmos ainda as outras medidas, como por exemplo o 2R pode-se dizer que o modelo de

associação da ocupação pai-filho constante no tempo dá conta de quase a totalidade da variação do

modelo de base, o que quer dizer que é o que melhor se ajusta aos dados observados no Rio de

Janeiro.

Isso nos leva à conclusão de que embora a estatística 2G aponte para uma indicação formal de que

existe diferenças temporais no padrão de associação entre a ocupação do pai e do filho que são

estatisticamente significativas, estas são modestas e, pelo resultado das outras medidas, pode-se

dizer que nos últimos 20 anos os padrões de mobilidade social intergeracional permaneceram

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143

praticamente inalterados, já que esse modelo dá conta de quase toda a freqüência empiricamente

observada.

V.3.1. Escolaridade

Com intuito de explorar mais o padrão temporal estável da mobilidade circular, analisar-se-á se esse

modelo também se ajusta bem de acordo com outras características dos indivíduos. Em primeiro

lugar, destaca-se a educação como variável importante na mediação entre a origem social e o

destino ocupacional dos indivíduos. Como coloca Silva e Roditi (1986):

“O fato do efeito da ocupação paterna sobre a ocupação do filho não ser basicamente direto abre a

possibilidade da estabilidade temporal observada nesse efeito ser oriunda de duas tendências

contraditórias. Por exemplo, ao mesmo tempo em que haja uma crescente ‘democratização’ no

acesso e na progressão escolar, pode ocorrer um paulatino enrijecimento dos requisitos

educacionais na alocação de posições na estrutura ocupacional. Em outras palavras, é possível que a

interação pai-filho no que diz respeito à relação entre ocupação do pai e educação venham se

enfraquecendo ao longo das coortes ao mesmo tempo em que as interações correspondentes na

relação entre educação e primeira ocupação venham se fortalecendo. O resultado dessas tendências

contraditórias poderia ser uma falsa estabilidade temporal na mobilidade de circulação”.

A tabela V.4 apresenta os resultados para os modelos que testam associação entre ocupação do pai

e escolaridade do filho (referente a linha com inicial 1), isto é, que a distribuição ocupacional do pai

e a distribuição educacional do(a) filho(a) variam ao longo do tempo e que não existe associação

entre a ocupação do pai e a escolaridade do filho. Verifica-se um valor de 2G bem acima do

esperado dado com os devidos graus de liberdade indicando a rejeição da hipótese nula, ou seja, de

que não existe associação entre ocupação do pai e escolaridade do filho. Além disso, o índice de

dissimilaridade apresenta mais de 20% de casos mal alocados, reforçando a rejeição do modelo que

postula a hipótese nula de não associação entre ocupação do pai e escolaridade do filho.

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144

Tabela V.4

Resultados dos modelos de teste da estabilidade temporal da

mobilidade intergeracional: 1976, 1988 e 1996 Modelo 2G

g.l. 2R

Rio de Janeiro

1. OT, DT 1.667,56 96 0,000 0,00 21,78

2. OT, DT, OD 115,69 64 0,000 0,93 4,66

Brasil

1. OT, DT 19.410,70 96 0,000 0,00 21,06

2. OT, DT, OD 415,69 64 0,000 0,98 2,23

Fonte: PNADs 1976, 1988 e 1996. Obs: O = Ocupação do pai; D = Escolaridade atual do filho;

T = 1976, 1988 e 1996.

Analisando agora o modelo de estabilidade temporal do padrão de associação entre a ocupação do

pai e a escolaridade do filho percebe-se que, apesar de se ter uma indicação formal de rejeição da

hipótese nula com o valor de 2G , o índice de dissimilaridade cai bastante. Além disso, esse modelo

explica quase a totalidade da variação em relação ao modelo base. Esses resultados tomados em

conjunto indicam que o modelo de estabilidade temporal do padrão de associação entre a ocupação

do pai e do filho se ajusta bem aos dados observados.

A título de exercício para testar o modelo de mobilidade intergeracional educacional, a tabela V.5

mostra, mais uma vez, que o modelo que considera a independência entre o nível de escolaridade do

pai e do filho não se ajusta bem aos dados. No caso do modelo A.2, tanto para o Rio quanto para o

Brasil, tem-se uma indicação formal de rejeição da hipótese nula a partir do valor de 2G com os

devidos graus de liberdade mas os baixos índices de dissimilaridade e o 2R na casa de 0.98

sugerem fortemente que o modelo de padrão temporal estável da mobilidade circular intergeracional

educacional se ajusta bem aos dados.

Tabela V.5

Resultados dos modelos de teste da estabilidade temporal da

mobilidade educacional circular intergeracional: 1976, 1988 e 1996 Modelo 2G g.l. 2R

Rio de Janeiro A. Todos

1. OT, DT 2.337,83 48 0,000 0,00 22,86

2. OT, DT, OD 51,51 32 0,000 0,99 2,58

B. Móveis

1. OT, DT 886,17 33 0,000 0,68 11,05

2. OT, DT, OD 16,56 17 0,000 1,00 1,23

Brasil A. Todos

1. OT, DT 23.974,64 48 0,000 0,00 19,22

2. OT, DT, OD 185,47 32 0,000 0,98 1,09

B. Móveis

1. OT, DT 7.772,43 33 0,000 0,62 8,10

2. OT, DT, OD 51,51 17 0,000 0,99 0,32

Fonte: PNADs 1976, 1988 e 1996. Obs: O = Escolaridade do pai; D = Escolaridade atual do filho;

T = 1976, 1988 e 1996.

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145

Já, para o modelo B.2, quer dizer para os móveis, a estatística 2G apresenta diferenças entre Brasil

e Rio. No Rio o valor de 2G de 16,6 com 17 graus de liberdade indica não rejeição da hipótese nula,

ou seja, claramente no Rio existe um padrão temporal estável da associação entre a escolaridade do

pai e do(a) filho(a). Além disso, o índice de dissimilaridade cai a níveis baixíssimos e o 2R chega a

representar a totalidade da variação em relação ao modelo de base. No Brasil, o valor de 2G de 51,5

com 17 graus de liberdade sugere a rejeição da hipótese nula. No entanto, o índice de

dissimilaridade é quase zero (0,32) e o 2R é de 0.99, o que quer dizer que o modelo de estabilidade

temporal do padrão de mobilidade circular intergeracional educacional é bastante plausível também

para o Brasil

Esses resultados revelam que apesar do aumento do nível de escolaridade as oportunidades relativas

dos indivíduos nos diferentes níveis educacionais também se mantiverem praticamente estáveis ao

longo dos anos. Pode-se dizer, inclusive, que o modelo de estabilidade temporal no padrão da

mobilidade circular intergeracional educacional para os móveis se ajustou melhor que no caso

ocupacional. Isso quer dizer que uma vez que o indivíduo escape da herança educacional existe um

padrão de mobilidade circular que não muda ao longo do tempo. É como se a média total se

deslocasse para cima, mas os movimentos das pessoas entre os níveis de escolaridade ainda são

dependentes do ponto de origem, quer dizer, a escolaridade dos pais.

V.3.2. Sexo

A inserção das mulheres no mercado de trabalho tem aumentado ao longo do tempo, como pode ser

visto pelo crescimento da taxa de participação, assim como estão ocorrendo mudanças na estrutura

ocupacional, apesar da segregação ocupacional no mercado de trabalho.

Mas será que, controlando pelas mudanças estruturais, será que existe um padrão diferenciado de

distribuição de oportunidades ao longo do tempo para homens e mulheres? A análise dos resultados

da tabela V.6 dos modelos aplicados para universos separados de homens e mulheres revela que não

existe diferenciação e que em ambos os casos, o modelo de estabilidade temporal da mobilidade

social intergeracional circular se ajusta bem aos dados.

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146

Tabela V.6

Resultados dos modelos de teste da estabilidade temporal da

mobilidade social circular intergeracional por sexo: 1976, 1988 e 1996 HOMENS MULHERES

Modelo 2G g.l. 2R 2G

g.l. 2R

Rio de Janeiro

A. Todos

1. OT, DT 940,3 192 0,00 20,02 645,0 192 0,00 22,72

2. OT, DT, OD 161,2 128 0,83 6,77 129,9 128 0,80 7,09

B. Móveis

1. OT, DT 590,5 165 0,37 14,08 458,7 165 0,29 16,78

2. OT, DT, OD 139,8 101 0,85 5,43 108,1 101 0,83 5,91

Brasil

A. Todos

1. OT, DT 10.900,7 192 0,00 19,35 5.662,1 192 0,00 18,56

2. OT, DT, OD 499,1 128 0,95 3,67 380,1 128 0,93 3,51

B. Móveis

1. OT, DT 5.585,1 165 0,49 11,84 4.187,2 165 0,26 14,75

2. OT, DT, OD 315,3 101 0,97 2,27 324,7 101 0,94 2,84

Fonte: PNADs 1976, 1988 e 1996. Obs: O = Ocupação do pai; D = Ocupação atual do filho;

T = 1976, 1988 e 1996.

Verifica-se um comportamento bastante semelhante entre as estatísticas para o Rio de Janeiro e para

o Brasil. Apesar de 2G indicar a rejeição formal da hipótese nula, o aumento do poder explicativo e

a diminuição do número de casos mal alocados quando se considera o modelo de estabilidade

temporal da mobilidade circular revelam que este se ajusta bem aos dados.

Vale notar que o poder explicativo desse modelo é ligeiramente menor para o caso das mulheres.

Contudo, dá conta de 80% das freqüências observadas no Rio e 93% para o Brasil. Assim, pode-se

dizer que o padrão temporal estável da mobilidade circular ocorre tanto para os filhos quanto para

as filhas.

V.3.3. Cor

O Rio de Janeiro é o segundo Estado com a maior participação de negros, depois de Salvador, e

vem crescendo ao longo do tempo.82

Considerando a população não branca (negros e pardos)

verifica-se uma participação 40% na população total. Diversos artigos apontam para o fato de que

os não-brancos ganham menos que os brancos e a explicação principal é que isso ocorre mais por

82

Ver Síntese dos Indicadores Sociais do IBGE (2000). Só para dar uma idéia em 1992, 60% dos residentes no Rio

eram brancos, 11% negros e 28% pardos. Em 1999, as respectivas proporções são as seguintes: 61%, 13% e 26%.

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147

conta da desigualdade de oportunidades no acesso e na qualidade da educação do que por um

processo discriminatório no mercado de trabalho.83

Dada a importância histórica da participação dos negros e pardos na sociedade fluminense, busca-se

testar se o padrão de distribuição de oportunidades no sistema de estratificação social também

permaneceu constante ao longo do tempo para brancos e não-brancos. A tabela V.7 apresenta os

resultados de ajuste dos modelos. Pode-se dizer que o modelo de estabilidade temporal no padrão de

mobilidade circular se ajusta bem para o caso da população branca no Rio de Janeiro.

A linha A.2 mostra um valor de 2G de 104 com 128 graus de liberdade indicando não se rejeitar a

hipótese nula, reforçado pelo fato de o 2R ser de 0,87 e o índice de dissimilaridade de 5,3.

Tomando esses resultados de ajuste do modelo em conjunto pode-se dizer que o modelo de padrão

temporal estável da mobilidade circular para a população branca se ajusta muito bem.

Tabela V.7

Resultados dos modelos de teste da estabilidade temporal da

mobilidade social circular intergeracional por cor: 1976, 1988 e 1996

Modelo 2G g.l. 2R 2G

g.l. 2R

Rio de Janeiro

A. Todos

1. OT, DT 809,2 192 0,00 19,26 430,2 192 0,00 17,79

2. OT, DT, OD 104,2 128 0,87 5,30 173,3 128 0,60 8,60

B. Móveis

1. OT, DT 529,4 165 0,35 13,88 324,7 165 0,25 13,16

2. OT, DT, OD 93,9 101 0,88 4,34 149,5 101 0,65 7,16

Brasil

A. Todos

1. OT, DT 8.094,8 192 0,00 19,48 4.760,6 192 0,00 14,79

2. OT, DT, OD 357,2 128 0,96 3,06 441,7 128 0,91 4,03

B. Móveis

1. OT, DT 5.122,2 165 0,37 13,37 2.854,5 165 0,40 15,64

2. OT, DT, OD 294,0 101 0,96 2,48 289,4 101 0,94 2,39

Fonte: PNADs 1976, 1988 e 1996. Obs: O = Ocupação do pai; D = Ocupação atual do filho;

T = 1976, 1988 e 1996.

Quando se analisa a linha A.2 para os não brancos, percebe-se que 2G indica a rejeição da hipótese

nula. Além disso, o 2R é 0,60, indicando que o modelo não consegue explicar uma boa parte da

freqüência observada. Ou seja, parece que o modelo de padrão temporal estável da mobilidade

circular não se ajusta bem para a população não-branca do Estado do Rio.

83

Valle Silva (1997), entre outros.

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148

Esse é um caso típico em que é importante analisar os resíduos para mapear as mudanças

significativas no padrão. A tabela V.8 apresenta os resíduos padronizados do ajustamento do

modelo de estabilidade temporal para o Rio de Janeiro em 1996.

Tabela V.8

Resíduos de 1996 do modelo de estabilidade temporal da mobilidade social intergeracional circular

dos não brancos entre 1976, 1988 e 1996 I II III IV V VI VII VIII IX

I -0,46 0,18 0,49 -0,04 -0,13 0,94 -1,14 0,04

II 1,17 -1,10 0,78 0,04 -0,88 -1,91 1,38 0,41 0,00

III 0,06 0,06 -0,37 -1,07 0,47 0,83 0,82 -0,22 0,81

IV -0,40 -0,56 0,09 0,45 0,67 -0,05 -0,67 -0,11 0,15

V 0,05 0,42 -0,14 -0,27 -0,44 0,55 -0,20 0,00 0,04

VI -0,34 0,09 -1,21 0,52 -0,07 0,67 -0,17 -0,11 0,22

VII -1,03 0,88 -1,09 0,49 1,56 -0,21 0,68 -0,23

VIII 0,44 1,11 -0,02 0,09 -0,42 -0,78 -0,81 0,52 0,81

IX 0,34 0,83 0,17 -0,12 0,34 -0,01 -0,08 -0,38 -0,63

Fonte: Pnads 1976, 1988 e 1996.

Primeiramente, se somarmos os resíduos na diagonal principal verifica-se um total de 0,68, sendo

que é negativo nos primeiros estratos e positivos nos últimos (com exceção do último). Isso pode

estar mostrando que a herança nos estratos inferiores está diminuindo e nos estratos médios-altos

aumentando.

Em segundo lugar, a soma dos resíduos acima da diagonal principal (isto é, para os que tiveram

mobilidade ascendente) é 2,69 e abaixo da diagonal principal é 0,8. Ou seja, os valores observados

eram relativamente maiores para a mobilidade ascendente do que para a descendente. Vale destacar

os valores positivos para a última coluna da tabela, significando que os fluxos para o estrato mais

alto do sistema de estratificação social aumentaram entre 1976 e 1996.

Em que pese a constatação da queda da taxa de mobilidade ascendente no Rio nesse período, o

fraco ajuste do modelo de estabilidade no padrão de mobilidade circular ao longo do tempo se deve

basicamente a uma redistribuição na parte superior da matriz, quer dizer, nas possibilidades de

mobilidade ascendente para os não brancos.

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149

V.3.4. Migrante

Os estudos sobre a mobilidade social intergeracional dos migrantes têm apontado para uma

possibilidade maior de ascensão social relativamente aos não migrantes.84

Em particular, a migração

rural-urbana que vem sendo sempre associada à mobilidade ascendente colocando um peso

significativo nesse processo no Brasil.

A idéia aqui é explorar se o padrão de mobilidade circular constante no tempo pode ser observado

para o caso de migrantes e de não migrantes. Conforme os resultados da tabela V.9, o modelo se

ajusta bem para não migrantes tanto no Rio quanto no Brasil. Observe, no entanto, que o poder

explicativo visto pela estatística 2R é maior para os naturais do que para os migrantes no Rio de

Janeiro. Tem-se na linha A.2, um 2R de 0,81 para os naturais do Rio e 0,73 para os migrantes. Isso

não ocorre para a média brasileira que registra um 2R praticamente estável para ambos os casos na

ordem de 0,91.

Tabela V.9

Resultados dos modelos de teste da estabilidade temporal da mobilidade

social circular intergeracional por condição de migração: 1976, 1988 e 1996 NATURAIS MIGRANTES

Modelo 2G g.l. 2R 2G g.l. 2R

A. Todos

1. OT, DT 546,85 192 0,00 20,85 509,23 192 0,00 20,15

2. OT, DT, OD 106,01 128 0,81 7,45 137,46 128 0,73 8,32

B. Móveis

1. OT, DT 367,23 165 0,33 14,75 376,04 165 0,26 15,91

2. OT, DT, OD 98,55 101 0,82 6,39 116,51 101 0,77 7,13

Brasil A. Todos

1. OT, DT 7.183,20 192 0,00 17,25 3.327,46 192 0,00 16,43

2. OT, DT, OD 545,98 128 0,92 4,41 297,40 128 0,91 4,23

B. Móveis

1. OT, DT 4.393,12 165 0,39 11,88 2.227,47 165 0,33 12,03

2. OT, DT, OD 380,57 101 0,95 2,98 233,02 101 0,93 3,26

Fonte: PNADs 1976, 1988 e 1996. Obs: O = Ocupação do pai; D = Ocupação atual do filho;

T = 1976, 1988 e 1996.

Pode-se inferir, então, que o modelo de estabilidade temporal da mobilidade circular não se ajusta

tão bem para o caso de migrantes no Rio de Janeiro. Vale a pena, então, analisar os resíduos

padronizados para tentar identificar as mudanças no padrão. Observa-se na tabela V.10 que a

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herança ocupacional (diagonal principal) diminui em todos os estratos (com exceção da categoria

IV).

Tabela V.10

Resíduos de 1996 do modelo de estabilidade temporal da mobilidade

intergeracional circular dos migrantes entre 1976, 1988 e 1996 I II III IV V VI VII VIII IX

I -0,60 -0,15 -0,12 -0,35 0,71 0,92 -1,47 1,74 0,56

II 0,11 -0,17 0,34 0,70 -0,31 -0,99 1,23 -0,92 0,10

III 0,93 -0,86 -0,09 -0,85 -0,10 0,45 1,23 -0,44 -0,20

IV -0,30 0,08 0,21 0,21 -0,22 -0,29 0,07 0,36 -0,30

V 0,62 0,67 -0,19 -0,26 -1,37 0,14 0,36 -0,63 0,67

VI 0,41 -0,66 0,02 0,18 0,79 -0,07 -0,31 -0,22 -0,23

VII -0,45 1,16 -0,23 -0,27 0,47 0,35 -0,19 0,47 -0,61

VIII 0,28 0,64 -0,35 0,15 -0,73 0,05 -0,60 -0,10 0,66

IX 0,77 1,06 -0,02 -0,28 -0,08 -0,36

Fonte: PNADs 1976, 1988 e 1996.

A soma dos resíduos na parte superior à diagonal principal é de 1,97 e na inferior é 3,67, indicando

que desvios em relação ao esperado são relativamente maiores para mobilidade descendente que

ascendente. Em outras palavras, os fluxos de mobilidade descendente aumentaram entre 1976 e

1996 para os migrantes relativamente mais que os ascendentes, quando se compara com os valores

esperados. Isso pode ser explicado, pelo menos em parte, pelo perfil mais antigo dos imigrantes do

Rio de Janeiro.

Conclusão

Enfim, o que aconteceu com a desigualdade de oportunidades medida pelo comportamento do

padrão de mobilidade circular ou por trocas entre gerações? Para responder a essa pergunta aplicou-

se os modelos log-lineares às tabelas de mobilidade social intergeracional com o intuito de verificar

se o modelo que considera o padrão temporal de mobilidade circular constante se ajusta bem aos

dados do Rio.

Os resultados dos modelos log-lineares que especificam a hipótese sobre estabilidade temporal do

padrão de mobilidade social intergeracional circular mostram um bom ajuste aos dados observados

tanto para a sociedade brasileira como um todo quanto para a fluminense. Pode-se dizer, então, que

nesses 20 anos os padrões de mobilidade social intergeracional permaneceram praticamente

inalterados, já que esse modelo dá conta de quase toda a freqüência empiricamente observada,

sugerindo que não houve mudanças significativas no quadro de distribuição de oportunidades.

84

Jannuzzi (1999) mostra que, no Brasil, a taxa de mobilidade ascendente para os migrantes é de 67% enquanto que a

de não-migrantes é de 52%.

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Os resultados para mobilidade educacional intergeracional revelam que apesar do aumento do nível

de escolaridade as oportunidades relativas dos indivíduos nos diferentes níveis educacionais

também se mantiverem praticamente estáveis ao longo dos anos. Verificou-se, inclusive, que o

modelo de estabilidade temporal do padrão da mobilidade circular intergeracional educacional para

os móveis se ajustou melhor que no caso ocupacional. Isso quer dizer que uma vez que o indivíduo

escape da herança educacional paterna existe um padrão de mobilidade circular que não muda ao

longo do tempo. É como se a média total se deslocasse para cima, mas os movimentos das pessoas

entre os níveis de escolaridade ainda são dependentes do ponto de origem, quer dizer, da

escolaridade dos pais.

Na busca de diferenças nos padrão entre grupos distintos examinou-se esse modelo por sexo, cor e

condição de migração. Primeiramente, verificou-se que não existe diferença entre homens e

mulheres, quer dizer, o modelo de padrão temporal estável da mobilidade circular se ajusta bem aos

dados observados tanto para os filhos quanto para as filhas.

No entanto, parece que o modelo de padrão temporal estável da mobilidade circular não se ajusta

tão bem para a população não-branca do Estado do Rio, diferentemente da média brasileira. Em que

pese a constatação da queda da taxa de mobilidade ascendente no Rio nesse período, ajuste mais

fraco do modelo de estabilidade no padrão de mobilidade circular ao longo do tempo dos não

brancos se deve basicamente a uma redistribuição na parte superior da matriz, quer dizer, nas

possibilidades de mobilidade ascendente relativamente aos valores esperados para os não brancos.

Por fim, vale dizer que o modelo também não se ajusta tão bem para migrantes no Rio. Contudo,

diferentemente do caso dos não brancos, a análise dos resíduos revela que isso se deve ao aumento

dos fluxos de mobilidade descendente entre 1976 e 1996 maiores que os esperado para os migrantes

relativamente aos ascendentes. Isso pode ser explicado, pelo menos em parte, pelo fato de estar

aumentando a participação de imigrantes antigos no Rio.

Em suma, o Rio apresenta um padrão temporal constante da mobilidade social circular

intergeracional, indicando que o grau de abertura ou fluidez do sistema não mudou de forma

significativa ao longo do período considerado. No entanto, esse modelo não se ajusta tão bem aos

casos de trabalhadores negros e pardos e aos migrantes.

No primeiro caso, parece que houve uma melhora no quadro de distribuição de oportunidades para

os negros e pardos, visto que os desvios em relação ao valor esperado são maiores na área de

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ascensão social do que de descensão. Esse certamente é um resultado muito positivo visto que as

desigualdades socioeconômicas por cor ainda são muito grandes no Brasil. No caso dos migrantes,

ocorre o contrário com os desvios das possibilidades de descensão maiores do que de ascensão

social relativamente aos valores observados. Isso pode ser explicado pelo menos em parte pela

composição por antiguidade dos imigrantes no Rio, onde cresce a participação de migrantes antigos.

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153

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Uma tese, além de estabelecer o diálogo com a literatura, deve avançar com elementos novos de

análise sobre o tema e abrir campos de pesquisa. A contribuição desta tese para o debate sobre

desigualdade no Rio de Janeiro foi feita a partir de uma análise sobre mobilidade social entre

gerações. Ao caracterizar as desigualdades nas chances relativas de alcançar determinada posição

na estrutura social associada à origem social, a mobilidade social expressa as desigualdades de

oportunidades na conquista de bens materiais e simbólicos na sociedade.

Apesar de considerar as características individuais – como nível de escolaridade, experiência,

talento etc – como fundamentais para entender as desigualdades socioeconômicas, o caminho

percorrido nessa tese recuperou aspectos da desigualdade que estão relacionados com a origem

social dos indivíduos marcada por diferenças socioeconômicas que podem ter repercussões nas

gerações futuras.

Nesse sentido, incorpora na análise o fato de que os processos sociais – por exemplo, via capital

social, instituições (escolares, de saúde e outras ligadas à constituição de um sistema de bem-estar),

participação política – agem de forma diferenciada de acordo com a situação de classe, isto é, com o

status socioeconômico (medido por renda e escolaridade) e o tipo de inserção no mundo do trabalho

(definida por características como ser proprietário ou não dos meios de produção, exercer

ocupações manuais ou não manuais). Seguindo uma linha com enfoque weberiano, essas

características seriam importantes para definir estratos sociais que compartilham as mesmas

chances de vida e, portanto, seriam unidos por experiências pessoais semelhantes pautadas

basicamente, mas não somente, por condições econômicas.

O estudo sobre mobilidade social desenvolvido nesta tese, então, teve como preocupação principal

avaliar o quadro de desigualdades de oportunidades no Estado do Rio de Janeiro, a partir da análise

das taxas de mobilidade social intergeracional, que refletem a associação entre a posição social do

pai com a do(a) filho(a) e resultam tanto de talentos e qualidades individuais quanto de processos

sociais. Isso foi feito a partir da medição do volume de mobilidade e da identificação dos padrões de

movimentações entre os estratos sociais. Com isso, pode-se analisar não somente as chances das

pessoas se movimentarem nos sistema de estratificação social quando escapam do estrato de

origem, mas também identificar os caminhos e as barreiras ocorridas de forma sistemática na

movimentação das pessoas por estratos sociais entre as gerações do pai e do filho e que podem ser

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caracterizados como padrões de mobilidade social. Assim, a principal tarefa imposta aqui foi

analisar a evolução temporal das taxas e padrões de mobilidade social com o intuito de avaliar o

quadro das desigualdades de oportunidades no Rio de Janeiro.

Mas por que no Rio? Afora questões pessoais e sentimentais e a escassez bibliográfica, o Rio é um

palco muito interessante para esse tipo de análise por apresentar movimentos contraditórios no

quadro econômico e social que dificultam a avaliação sobre a evolução das desigualdades de

oportunidades. Por um lado, é o “lugar” que expressa melhor a pós-modernidade no Brasil, por

apresentar a maior taxa de urbanização e ter uma economia baseada no setor serviços, por liderar

um processo de transição demográfica com a menor taxa de fecundidade e uma estrutura etária mais

velha, ter uma população com escolaridade relativamente alta, um número alto de centros de

pesquisa e culturais etc. Por outro lado, a economia fluminense vem perdendo espaço no produto

nacional, a renda média não cresce de forma consistente há um bom tempo, a violência aumenta, a

desigualdade de renda permanece a mesma há décadas, a população que vive em favelas e na

periferia cresce etc.

As características descritas se interrelacionam num complexo sistema em que se torna

extremamente difícil avaliar a evolução da desigualdade de oportunidades. Por exemplo, o aumento

da escolaridade da população como um todo no Rio pode estar gerando maior igualdade de

oportunidades para conquistar trabalho e renda. No entanto, apesar de a maior parte dos indicadores

sociais ter melhorado no Rio, a violência está aumentando. Como a desigualdade de oportunidades

é uma forma de injustiça social, a sua manutenção (ou crescimento?!) pode estar, em alguma

medida, relacionada com o crescimento da violência.

Com essa motivação desenvolveu-se nessa tese uma pesquisa sobre desigualdade no Rio utilizando

como indicadores as taxas e os padrões de mobilidade social entre as gerações do pai e do(a)

filho(a) para avaliar a evolução do quadro de desigualdade de oportunidades. A partir de agora será

realizada uma análise das principais conclusões da desta tese, refletindo sobre suas possíveis

articulações e apresentando potenciais desdobramentos e áreas de pesquisa.

O Rio de Janeiro registrou a maior taxa de mobilidade social do Brasil, indicando uma sociedade

aberta e dinâmica, no sentido de que a posição social dos indivíduos não tem, a princípio, uma

associação muito forte com a origem social. Os dados revelam que 80% das pessoas ocupadas em

1996 no Rio encontravam-se em estratos diferentes de seus pais.

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No entanto, o Rio é o único estado do Brasil que registra uma diminuição da taxa de mobilidade

ascendente, ou seja, uma diminuição da possibilidade de os(as) filhos(as) estarem num estrato

superior ao de seus pais. Esse comportamento se manteve mesmo depois de calculadas as taxas para

outras formas de estratificação social. Além disso, quando se dividiu a população por sexo e cor,

verificou-se que esse comportamento permanece para homens, para mulheres, para brancos e para

pretos e pardos.

Esse é um resultado forte que caracteriza uma especificidade da sociedade fluminense e, ao

diminuir as possibilidades das pessoas atingirem uma inserção socioeconômica melhor que a de

seus pais, pode mexer na auto-estima, com reflexos sobre o grau e a forma de participação política e

social da população. Essas questões relacionadas à funcionalidade política da mobilidade social não

foram analisadas na tese, mas merecem a atenção de estudiosos pelo potencial explicativo dessa

especificidade do Rio para caracterizar comportamentos políticos e eleitorais, movimentos sociais e

religiosos, violência, entre outros.

Quais fatores poderiam explicar esse comportamento atípico do Rio? Buscaram-se, então,

características específicas da história recente do Rio que pudessem explicar esse fenômeno,

destacando-se dois pontos: (a) mudanças na estrutura ocupacional provocadas pelo declínio da

economia fluminense com a perda de centralidade política-administrativa decorrente da

transferência da capital para Brasília e a posterior fusão do Rio com o estado da Guanabara e (b) os

efeitos demográficos da composição educacional do saldo migratório e seu comportamento ao

longo do tempo e da estrutura etária mais velha.

Em relação ao primeiro campo exploratório, destacam-se dois resultados. O primeiro se refere ao

peso bem menor da passagem rural-urbana na mobilidade ascendente no Rio do que na média

brasileira. O outro resultado está relacionado com o comportamento temporal da contribuição de um

setor muito importante na geração de trabalho e renda na história do Rio, qual seja, a administração

pública. Esse setor registra a maior queda da participação na ocupação total do Rio, contrariamente

ao crescimento ocorrido na média brasileira.

Esse ponto merece uma reflexão maior na medida em que a queda da contribuição da administração

pública na ocupação total do Rio explica, pelo menos em parte, a diminuição da participação do

estrato social composto por trabalhadores em ocupações técnicas e de escritório (não manuais de

rotina), que tem um peso importante na estrutura ocupacional e, por ser um estrato intermediário

tende a ter uma mobilidade mais alta.

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A combinação da evolução das taxas e dos padrões de mobilidade com a diminuição do peso da

administração pública na ocupação total aumentou a barreira à mobilidade ascendente, refletida no

encolhimento do estrato de ocupações não-manuais de rotina. De forma caricatural, poder-se-ia

pensar que agora, mais do que outrora, para os estratos de trabalhadores em ocupações manuais

ascenderem, deve-se pular esse estrato não-manual de rotina e ir direto para o não-manual de alta

qualificação (Empregadores, Administradores e Profissionais), o que se torna muito mais difícil.

Até porque, diferentemente da média brasileira, os estratos mais privilegiados da estrutura social

estão se tornando mais fechados para pessoas de outras origens sociais ao longo do tempo no Rio.

Esses resultados tomados em conjunto revelam que as explicações têm raízes na história do Rio

como capital do país, que se desenvolveu predominantemente com uma economia de serviços nas

cidades, tem a maior taxa de urbanização, a população mais escolarizada e uma composição

demográfica semelhante aos países desenvolvidos. Mas também é reflexo de uma história de perda

dinamismo econômico principalmente depois da transferência da capital para Brasília. Fica aberta

para análises futuras a questão: o Rio está na frente de um comportamento da mobilidade social, no

qual São Paulo e outros estados do Sul/Sudeste ainda chegarão lá, ou é um sinal de decadência?

O segundo campo exploratório sobre as questões demográficas mostra, primeiramente, que a

estrutura etária mais velha do Rio não é um fator muito relevante para explicar o comportamento

específico de queda da taxa de mobilidade ascendente. A partir de uma simulação contrafactual em

que se ponderam as taxas de mobilidade do Rio pela estrutura etária de São Paulo, não se

verificaram mudanças significativas nas taxas de mobilidade ascendente e descendente, tendo o

comportamento temporal permanecido o mesmo.

No entanto, o descompasso relativo entre a qualificação da força de trabalho e a estrutura

ocupacional, que tem provocado mudanças fortes do saldo migratório no Rio, mostrou-se mais

importante para explicar esse fenômeno. Isso porque, além do saldo migratório entre 1980 e 1991

ter sido negativo (isto é, tem saído mais pessoas do que entrado no Rio), o perfil dos emigrantes é

de escolaridade bem mais elevada que os imigrantes. Como o estoque de capital humano desses

emigrantes cresce mais rapidamente entre 1976 e 1996 do que o de São Paulo, há evidências de que

está ocorrendo um aumento da intensidade de transferência de capital humano do Rio para outros

lugares do Brasil, principalmente para a região Sudeste, especialmente São Paulo, e para o Distrito

Federal.

A relação entre as características do processo migratório no Rio e a mobilidade social é um tema

pouco explorado na literatura sobre desigualdade, tanto na literatura teórica sobre migração e

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mercado de trabalho quanto na literatura empírica. Um maior entendimento dessa relação tem um

grande potencial no âmbito do debate sobre as políticas públicas para o desenvolvimento

econômico e social do Rio. Se no Rio existe um descompasso relativo entre qualificação da força de

trabalho e estrutura ocupacional quando comparado a outras regiões e a este fato está associado um

aumento da emigração de pessoas com alta qualificação do Rio, principalmente para São Paulo,

como reter as pessoas aqui de tal forma a aproveitar esse capital humano para diminuir

desigualdade e pobreza ou melhorar o quadro de mobilidade social no Rio?

Neste sentido, dois caminhos devem orientar o debate sobre políticas públicas: (a) o de melhorar a

qualidade dos postos de trabalho, quer dizer, a renda por ocupação e (b) o de explorar as vantagens

comparativas em termos de escolaridade, ou seja, sobre como aproveitar esse capital humano para

diminuir as desigualdades socioeconômicas, melhorando a situação dos mais pobres. Uma linha

seria a da promoção do desenvolvimento local, através de um amplo leque de parcerias entre

diferentes esferas do setor público, a iniciativa privada e a sociedade civil organizada para criar um

ambiente mais propício ao micro e pequenos negócios (dada a relevância do trabalho autônomo e da

micro e pequena empresa no Rio). Outra linha seria a de explorar de forma mais efetiva as

vantagens comparativas do Estado em termos de escolaridade de sua força de trabalho e de salários

para a atração de investimentos que fossem capazes de gerar mais e melhores postos de trabalho.

Assim sendo, os movimentos de queda da mobilidade ascendente e de forte aumento da mobilidade

descendente no Rio podem ser explicados, em alguma medida, pelo componente estrutural da perda

de dinamismo da economia, tanto pelo lado da diminuição do peso específico da administração

pública quanto pela incapacidade de gerar postos de trabalhado com qualidade compatível com a da

força de trabalho criando uma força de expulsão de trabalhadores qualificados para outros estados

do Brasil, principalmente São Paulo e Distrito Federal.

Para realizar a análise do quadro da distribuição de oportunidades para conquistar posições na

estrutura social deve levar em conta, no entanto, o fato de que a maior parte da mobilidade do Rio,

diferentemente da média brasileira, se deve à mobilidade circular ou por trocas. A sociedade

fluminense pode ser considerada mais aberta, no sentido em que os indivíduos conseguem escapar

da herança social (para melhor ou pior) numa estrutura social em que os atributos valorizados pelo

mercado - como escolaridade e experiência - prevalecem na competição pelas posições já existentes

(ao invés do preenchimento de novas posições). Contudo, o impacto dessa característica

considerada positiva para distribuição de oportunidades depende do regime de mobilidade que

prevalece nas movimentações entre as gerações por estrato social.

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Nesse sentido, foram analisadas as três teses clássicas sobre regime de mobilidade para avaliar sua

adequação ao caso do Rio, sempre comparando com o Brasil como um todo. A tese do fechamento

social não se mostrou tão apropriada, já a heterogeneidade na origem social é muito grande,

principalmente para os estratos não manuais, e cresce ao longo do tempo. No entanto, quando se

consideram os estratos manuais, tanto no Rio quanto no resto do Brasil, verifica-se uma

homogeneidade maior na origem social, principalmente devido ao peso da origem rural, assim

como nos estratos mais privilegiados.

A segunda tese, da área de contenção, teve resultados mais contundentes, ou seja, verificou-se um

regime de mobilidade social de curta distância em que a fronteira manual-não manual funciona

como uma espécie de barreira de contenção à mobilidade de longa distância. Assim, as elevadas

taxas de mobilidade nos estratos intermediários da estrutura social, junto com o relativo fechamento

dos estratos localizados nos extremos, são fortes evidências a favor da existência de uma área de

contenção que previne a mobilidade de longa distância.

A terceira tese da contramobilidade argumenta que o aumento esperado da mobilidade ascendente

decorrente do aumento da escolaridade entre gerações do pai e do filho seria compensado pela

diminuição da mobilidade intrageracional ou de carreira, devido ao maior investimento em capital

humano para entrar no mercado de trabalho em posições mais elevadas. Na análise empírica da

mobilidade intergeracional em relação à primeira ocupação do(a) filho(a), essa tese não foi

corroborada, visto que não se verifica para a coorte mais jovem uma entrada relativamente maior

em posições superiores.

Isso poderia ser conseqüência de no Rio, os pais já serem mais escolarizados que a média brasileira

e a estrutura ocupacional contar com menos trabalhadores rurais, gerando um quadro de maior

competição no mercado de trabalho urbano nos anos 80 e 90, tornando-se mais difícil superar as

posições de entrada das gerações mais velhas.

Além disso, verifica-se que no Rio os estratos mais privilegiados de Administradores e Profissionais

estão se tornando mais fechados para indivíduos de outras origens sociais, assim como iniciar a

carreira profissional nesses estratos também está se tornando mais difícil para indivíduos de outras

origens sociais na geração mais nova. Esses resultados podem estar indicando que quando se atinge

determinado grau de desenvolvimento, associado a um nível de escolaridade mais elevado para a

população como um todo, a forte competição no mercado de trabalho acaba recolocando um papel

importante da origem social das pessoas para determinação da posição social.

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Em suma, a alta taxa de mobilidade social intergeracional no Rio, que tem um efeito forte das

movimentações por trocas de posições junto com o aumento da heterogeneidade na origem social

dos diversos estratos considerados, levaria a um quadro de melhora na distribuição de

oportunidades. Mas como o regime de mobilidade social é de curta distância e se explica,

principalmente, pela formação de uma área de contenção na fronteira manual-não manual e pelos

fatos de que (1) a posição de entrada das gerações mais jovens não melhorou em relação às mais

velhas e (2) a capacidade de reprodução das elites tem aumentado ao longo do tempo, fica a

questão: o que aconteceu com a desigualdade de oportunidades?

Para responder a essa questão deve-se ter em mãos uma metodologia que seja capaz de analisar as

tabelas de mobilidade como um todo – e não, como foi feito até agora, fazer as análises de

associação dois a dois – e também de isolar os efeitos do tamanho absoluto dos grupos de categoria

de origem e destino. Neste sentido, considerou-se a análise dos padrões e tendências da fluidez

social e da desigualdade de estratos, focalizando o estudo das chances relativas de mobilidade

social. Para tanto, foram utilizados os modelos log-lineares para analisar a tabela de mobilidade

social como um todo e testar a hipótese sobre o padrão de estabilidade temporal da mobilidade

social intergeracional circular no Rio de Janeiro, que é o indicador de fluidez social, pois representa

as desigualdades na distribuição de chances relativas para ocupar as posições na estrutura social e,

por conseguinte, a desigualdade na distribuição de oportunidades.

A avaliação dos resultados do modelo mostra que os padrões de mobilidade social intergeracional

circular permaneceram praticamente inalterados, sugerindo que as mudanças no quadro de

distribuição de oportunidades não foram significativas. Esse fato leva à conclusão de que há uma

reprodução, ao longo do tempo, dos padrões de chances relativas de alocação em posições da

estrutura social e, portanto, das desigualdades de oportunidades.

Verificou-se também que os resultados para mobilidade educacional intergeracional revelam que,

apesar do aumento do nível de escolaridade, as oportunidades relativas dos indivíduos atingirem

diferentes níveis educacionais também se mantiverem praticamente estáveis ao longo dos anos. É

como se a escolaridade total média da população se deslocasse para cima, mas as chances relativas

de atingir determinado nível de escolaridade conformam um padrão de associação com a

escolaridade dos pais que não muda de forma significativa ao longo do tempo.

O fato de que as desigualdades de oportunidades se mantiveram praticamente constantes entre esses

dois movimentos intergeracionais (1976 e 1996) revela, em alguma medida, que mesmo que sejam

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aplicadas políticas públicas mais agressivas no sentido de promover a desigualdade de

oportunidades – por exemplo, como Roemer propôs, um gasto público por aluno na escola

relativamente maior em famílias com nível socioeconômico menor –, os efeitos poderiam ser

sentidos somente daqui há duas gerações. Assim, se ontem fomos capazes de saltar etapas no

crescimento econômico, hoje nos toca fazê-lo no que tange às distâncias sociais. Isto requer

políticas públicas que sejam capazes de democratizar o acesso não apenas à educação formal, mas

também a um vasto conjunto de outros itens decisivos para estabelecer as trajetórias

socioeconômicas, como o crédito, a propriedade, a informação, a infra-estrutura, a cultura, a

tecnologia etc.

Aqui se abre um amplo programa de pesquisa sobre os possíveis impactos das políticas públicas de

promoção de igualdade de oportunidades sobre a desigualdade e mobilidade social, que conta desde

estudos teóricos e empíricos até a avaliação das políticas públicas. Além disso, mesmo com uma

maior igualdade de oportunidades é possível manter o quadro de desigualdade de renda e de

mobilidade social, o que merece uma articulação com estudos direcionados para fatores

determinantes, como por exemplo, o impacto do diferencial de acesso a vagas na universidade e no

mercado de trabalho, entre outros.

Na busca de diferenças nos padrões de mobilidade entre grupos distintos, examinou-se esse modelo

por sexo, cor e condição de migração. Primeiramente, verificou-se que não existem diferenças

significativas no padrão temporal de distribuição de oportunidades para homens e para mulheres.

Contudo, esse modelo não se ajusta tão bem aos casos de trabalhadores negros e pardos e aos

migrantes.

No primeiro caso, houve uma melhora no quadro de distribuição de oportunidades para os pretos e

pardos, visto que os desvios em relação ao valor esperado são maiores na área de ascensão social do

que de descensão. Esse certamente é um resultado muito positivo visto que as desigualdades

socioeconômicas por cor ainda são muito grandes no Brasil.

Essa melhora da mobilidade social para os negros e os pardos ocorre somente no Rio? Quais

aspectos das trajetórias marcam as diferenças em relação a uma melhor inserção socioeconômica?

Estudos quantitativos e qualitativos levando em conta essas questões poderiam contribuir, a partir

da análise dos diferentes caminhos percorridos, para formulação de políticas públicas em direção à

diminuição das desigualdades de oportunidades por raça.

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No caso dos migrantes, ocorre o contrário, sendo os desvios maiores para os casos de descensão do

que de ascensão social. Isso pode ser explicado em alguma medida pela composição por

antiguidade dos imigrantes no Rio, onde a participação de migrantes antigos é alta e crescente. Essa

explicação, no entanto, merece um estudo mais profundo sobre evolução dos fluxos migratórios e

das características dos migrantes e as relações com a mobilidade social no Rio.

Em suma, a partir da análise das taxas e dos padrões de mobilidade foi possível marcar

características específicas do Rio no processo de geração e reprodução das desigualdades ao longo

do tempo. Apesar do Rio ter a mais alta taxa de mobilidade social entre os estados do Brasil,

caracterizando uma sociedade mais aberta e dinâmica, verificou-se um comportamento temporal

atípico com a queda da mobilidade ascendente, que pode ser explicada, pelo menos em parte, pelos

reflexos da perda de dinamismo da economia fluminense. Além disso, há uma reprodução no tempo

de um padrão de mobilidade de curta distância, onde há muita abertura à movimentação dentro das

fronteiras que dividem a estrutura social e barreiras rígidas para ultrapassá-las. Verificou-se ainda

um aumento da capacidade de reprodução das elites no Rio, diferentemente da média brasileira, que

pode estar indicando que com o desenvolvimento, associado a um grau relativamente alto do nível

de escolaridade, a forte competição no mercado de trabalho acaba recolocando um papel importante

da origem social das pessoas para determinação da posição social. Por fim, a avaliação do quadro de

desigualdades de oportunidades revela uma estabilidade temporal, já que os padrões de chances

relativas de atingir determinada posição na estrutura social segundo a origem social não mudaram

de forma significativa ao longo do tempo.

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173

Tabela A.1 – Compatibilização das ocupações das PNADs 76, 88 e 96 COMP OCUPAÇÃO COMPATIBILIZADA COD76 OCUPAÇÃO (V2304) COD88 OCUPAÇÃO (V503) COD96 OCUPAÇÃO (V9906)

1 AGRIC.PECUARISTAS 1 AGRICULTOR 1 AGRICULTORES

1 201 AGRIC.PECUARISTAS 2 CRIADOR BOVINO 2 CRIADORES DE GADO BOVINO

1 202 AVIC.CRIAD.PEQ.ANIM 3 AVICULTOR 3 AVICULTORES E CRIAD PEQ ANIMAIS

1 4 CRIADOR DIVERSOS 4 CRIADORES DE OUTROS ANIMAIS

1 5 PROP.AGROP.S/ESP 5 PROP EM ATIV AGROP NÃO ESPEC

2 INDUSTRIAIS 8 EMP. IND. TRANSF 8 EMPRESÁRIOS DA IND TRANSFORMAÇÃ

2 203 INDUSTRIAIS 9 EMP. CONSTR. CIV 9 EMPRESÁRIOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL

5 OUT.EMPRESARIOS

11 DIR.CHEF.SERV.PUB 211 MEMB.P.LEGISLATIVO

11 213 MEMB.C.DIPLOMATICO

11 212 MIN.DE ESTADO 20 MINISTRO ETC 20 ALTOS DIRIGENTES PÚBLICOS

11 214 DIR.CHEF.SERV.PUB 21 DIRETOR ASSESSOR 21 DIRET, ASSESS E CHEFES SERV PÚB

12 ADM.DIR.EMP.EXT.MIN 232 CF.SEÇ.ENC.CONT.FIN.PRIV

12 233 CF.SEÇ.ENC.SERV.COMP/VENDA

12 234 CF.SEÇ.ENC.SERV.PROD.MANUT

12 235 OUT.CF.SEÇ.ENC.SERV.EMPRES

12 222 ADM.DIR.EMP.EXT.MIN 32 ADM.EXT. MINERAL 32 ADMIN E GERENT EXTRAÇÃO MINERAL

13 ADM.DIR.EMP.IND 223 ADM.DIR.EMP.IND 33 ADM.IND.TRANSF. 33 ADMIN E GERENT IND TRANSFORMAÇÃ

14 ADM.DIR.EMP.CONST 224 ADM.DIR.EMP.CONST 34 ADM.CONSTR.CIVIL 34 ADMIN E GERENT IND CONST CIVIL

15 ADM.DIR.EMP.COMERCIO 226 ADM.DIR.EMP.COMERCIO 35 ADM.COM.MERCAD. 35 ADMIN E GERENT COMÉRCIO

16 ADM.DIR.SERV.HOSPED 228 ADM.DIR.SERV.HOSPED 36 ADM. HOTEIS 36 ADMIN E GERENT HOTÉIS

17 ADM.DIR.EMP.TRA.COMUN 227 ADM.DIR.EMP.TRA.COMUN 37 ADM. TRANSPORTES 37 ADMIN E GERENT TRANSPORTES

18 ADM.DIR.EMP.COM/VAL 225 ADM.DIR.EMP.COM/VAL 38 ADM. FINANCEIRAS 38 ADMIN E GERENT EMP FINANC/IMOBI

19 OUT.ADM.DIR.EMP.PRIV 229 OUT.ADM.DIR.EMP.PRIV 39 OUTROS ADMINISTR 39 OUT ADMIN E GER NÃO CLASSIF ANT

20 CF.SEÇ.ENC.ADM.EMP.PRIV 231 CF.SEÇ.ENC.ADM.EMP.PRIV 40 ENCARREGADO ADMI 40 CHEFES E ENCAR SEÇÃO SERV ADM

21 ADM.DIR.EMP.AGROP 221 ADM.DIR.EMP.AGROP 30 ADM. AGROPEC. 30 ADMIN E GERENT AGROPECUÁRIA

21 31 ADM.EXT.VEG.PESCA 31 ADMIN E GERENT EXTR VEG E PESCA

31 AG.FISC.TRIBUTOS 241 AG.FISC.TRIBUTOS 50 FISCAIS TRIBUTOS 50 TÉCNICOS E FISCAIS TRIB E ARREC

31 242 INSP.TRAB.FISC.PREV 51 INSPET. TRABALHO 51 INSPETORES DO TRABALHO

32 ASSIST.ADMINISTRATIVOS 243 ASSIST.ADMINISTRATIVOS 52 ASSIST. ADMINIST 52 ASSISTENTES ADMINISTRATIVOS

32 73 TEC.DE ADMISTRAÇÃO 183 TEC. ADMINISTR. 183 TÉCNICOS DE ADMINISTRAÇÃO

33 TES.CAIXAS 244 TES.CAIXAS 53 CAIXAS 53 PAGAD E CAIXAS(EXCL SERV/COMÉRC

33 603 OPER DE CAIXA 603 OPERADORES DE CAIXA

34 OCUP.AUX.ESTAT 191 TEC. CONTABIL. 191 TÉCNICOS DE CONTABILIDADE

34 74 OCUP.AUX.ESTAT 192 TEC. ESTATIST. 192 TÉCNICOS DE ESTATÍSTICA

34 293 OUT.OCUP. 293 OUTRAS OCUP TÉCNICAS E ARTIST

35 ALMOX.ARMAZENISTAS 245 ALMOX.ARMAZENISTAS 54 ALMOXARIFES 54 ALMOXARIFES E ARMAZENISTAS

36 DAT.TAQUIGRAFOS 246 DAT.TAQUIGRAFOS 56 DATILOGRAFOS 56 DATILÓGRAFOS

37 AUX.ESC.ADM.GERAL 65 AUX. ESCRITORIO

37 740 AG.VEND.PAS.RODOVIARIAS

37 59 SECRETARIAS 59 SECRETÁRIAS

(continuação) COMP OCUPAÇÃO COMPATIBILIZADA COD76 OCUPAÇÃO (V2304) COD88 OCUPAÇÃO (V503) COD96 OCUPAÇÃO (V2304)

37 60 AUX.CONTABIL 60 AUXIL DE CONTABILIDADE

37 61 OP.COPIADORAS 61 OPERADORES DE MÁQUINAS COPIADOR

37 62 ARQUIVISTAS 62 ARQUIVISTAS

37 750 RECEP/TRANSPORTES 63 RECEPCIONISTAS 63 RECEPCIONISTAS

37 247 AUX.ESC.ADM.GERAL 64 AUX. ADMINISTRAT 64 AUXIL ADMINIST E ESCRITÓRIO

38 ESC.JORNALISTAS 122 PUBLICITARIOS

38 121 ESC.JORNALISTAS 261 ESCRITOR JORNAL. 261 ESCRITORES E JORNALISTAS

39 ANAL.SISTEMAS 63 ANAL.SISTEMAS 173 ANAL. SISTEMAS 173 ANALISTAS DE SISTEMAS

39 193 PROG. COMPUTADOR 194 PROGRAMADORES DE COMPUTADOR

40 OPERADORES MAQUINA 560 OPERADORES MAQUINA 58 OP.MAQ.P.AUTOMAT 58 OPERADORES DE MÁQ PROC DE DADO

41 TELEG.RADIOTELEGRAF 57 OP.TELEIMPRESSOR 57 OPERADORES DE TELEIMPRESSORAS

41 762 TELEG.RADIOTELEGRAF 773 TELEGR. RADIOTEL 773 TELEGRAFISTAS E RADIOTELEG

101 ENGENHEIROS 21 ENGENHEIROS 101 ENGENHEIRO 101 ENGENHEIROS

102 ARQ/URBANISTAS 22 ARQ/URBANISTAS 102 ARQUITETOS 102 ARQUITETOS

103 AGR.TOPOGRAFOS 103 AGRIMENSORES 103 AGRIMENSORES

103 25 AGR.TOPOGRAFOS 112 TEC. EDIFIC. 112 TÉCNICOS DE EDIFIC E AGRIMENSUR

103 27 OUT.OCUP.AUXILIARES 113 OUTR. OCUP. ENG. 113 OUTRAS OCUP AUXIL ENGENHARIA

104 DES.CARTOGRAFOS 26 DES.CARTOGRAFOS 104 CARTOGRAFOS 104 CARTÓGRAFOS

104 111 DESENHISTAS 111 DESENHISTAS

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111 QUIMICOS 11 QUIMICOS 121 QUIMICOS 121 QUÍMICOS

112 FARMACEUTICOS 44 FARMACEUTICOS 122 FARMACEUTICOS 122 FARMACÊUTICOS

113 FARMACOLOGISTAS 32 FARMACOLOGISTAS 143 FARMACOLOGISTAS 143 FARMACOLOGISTAS

114 GEOLOGOS 23 GEOLOGOS 124 GEOLOGOS MINERAL. 124 GEÓLOGOS MINERALOGISTAS

115 OUT.ESP.CIENCIAS FIS 13 OUT.ESP.CIENCIAS FIS 125 OUT.QUIMICA/FISIC 125 OUT ESPECIAL EM QUÍMICA E FÍSIC

115 131 TEC. QUIMICOS 131 TÉCNICOS QUÍMICOS

115 133 TEC. METEOROLOG 133 TÉCNICOS DE METEOROLOGIA

115 58 LABORATORISTAS 168 TEC.ANAL.CLINICA 168 TÉCNICOS EM ANÁLISE CLÍNICA

117 FARM. PRATICOS 57 FARM. PRATICOS 132 PRATICO FARMACIA 132 PRÁTICOS DE FARMÁCIA

121 AGRONOMOS 31 AGRONOMOS 141 AGRONOMOS 141 AGRÔNOMOS

122 VETERINARIOS 43 VETERINARIOS 144 VETERINARIOS 144 VETERINÁRIOS

123 BIOLOGISTAS 33 BIOLOGISTAS 142 BIOLOGISTAS 142 BIOLOGISTAS

124 GEÓGRAFO 203 GEOGRAFOS 203 GEÓGRAFOS E DEMÓGRAFOS

130 MEDICOS 41 MEDICOS 151 MEDICOS 151 MÉDICOS

131 DENTISTAS 42 DENTISTAS 152 DENTISTAS 152 DENTISTAS

132 PARTEIROS DIPLOMADOS 45 PARTEIROS DIPLOMADOS 166 PARTEIRAS 166 PARTEIRAS

133 ENFERMEIROS DIPLOM 46 ENFERMEIROS DIPLOM 153 ENFERMEIROS DIP 153 ENFERMEIROS DIPLOMADOS

134 ENFERMEIROS N/DIPLO 59 VIS.SANITARIOS

134 161 ACADEMICO HOSP 161 ACADÊMICOS DE HOSPITAL

134 51 ENFERMEIROS N/DIPLO 162 ENFERM. NAO DIP 162 ENFERMEIROS NÃO DIPLOMADOS

135 ORTOPEDISTAS 54 MASSAGISTAS 163 MASSAGISTAS 163 TÉCNICOS DE REABILITAÇÃO

136 PROTETICOS 55 PROTETICOS 167 PROTETICOS 167 PROTÉTICOS

(continuação) COMP OCUPAÇÃO COMPATIBILIZADA COD76 OCUPAÇÃO (V2304) COD88 OCUPAÇÃO (V503) COD96 OCUPAÇÃO (V2304)

137 OPERADORES DE RAIO X 56 OPERADORES DE RAIO X 165 OP.EQ.MEDICOS 165 OPER EQUIP MÉDICOS E ODONT

142 ESTATISTICOS 62 MAT.ATUARIOS 171 MATEMATICOS 171 MATEMÁTICOS E ATUÁRIOS

142 61 ESTATISTICOS 172 ESTATISTICOS 172 ESTATÍSTICOS

143 ECONOMISTAS 71 ECONOMISTAS 181 ECONOMISTAS 181 ECONOMISTAS

144 CONTADORES 72 CONTADORES 182 CONTADORES 182 CONTADORES

145 SOCIOLOGOS 164 OUT.OCUP.CIENT.N/DISC

145 162 SOCIOLOGOS 201 SOCIOLOGOS ETC 201 SOCIÓLOGOS, ANTROPÓLOGOS

145 205 OUT. CIENT. SOC. 205 OUTROS CIENTISTAS SOCIAIS

146 FISICOS 12 FISICOS 123 FISICOS 123 FÍSICOS

147 OUT.ESP.MEDICINA 47 OUT.ESP.MEDICINA 154 OUT. MEDICINA 154 OUTROS ESPECIALISTAS EM MEDICIN

147 202 PSICOLOGOS 202 PSICÓLOGOS

148 BIBLIO.MUSEOLOGOS 291 BIBLIOTECARIOS 291 BIBLIOTECÁRIOS

148 163 BIBLIO.MUSEOLOGOS 292 MUSEOLOGOS ARQ. 292 ARQUIVOLOGISTAS E MUSEÓLOGOS

149 OPTOMETRISTAS 52 ORTOPEDISTAS

149 53 OPTOMETRISTAS 164 ORTOPTISTAS/OTIC 164 ORTOPTISTAS E ÓTICOS

150 PROF.ENS.2/GRAU 102 PROF.ENS.2/GRAU 213 PROF. 2.GRAU 213 PROF DE ENSINO DO 2º GRAU

151 PROF.ENS.1/GRAU 103 PROF.ENS.1/GRAU 214 PROF.5 A 8 SERIE 214 PROF DE 5ª A 8ª SÉRIE

151 215 PROF.1 A 4 SERIE 215 PROF DE 1ª A 4ª SÉRIE

151 216 PROF. 1. GRAU 216 PROF DE ENS 1º GRAU (SEM ESPEC)

151 217 PROF. PRE.ESC. 217 PROF DE ENSINO PRÉ-ESCOLAR

152 PROF.ENS.SUPERIOR 211 PROF. PESQUISAD 211 PROF PESQUISADORES

152 101 PROF.ENS.SUPERIOR 212 PROF. SUPERIOR 212 PROF DE ENSINO SUPERIOR

154 PROF.ENS.N/ESPEC 218 PROF. PROFISS. 218 PROF E INSTR DE FORM PROFISSION

154 104 PROF.ENS.N/ESPEC 219 PROFESSOR 219 PROF DE ENSINO NÃO ESPECIFICADO

154 221 ORIENT. ENSINO 221 ORIENTADORES E TÉCNICOS DE ENSI

154 222 INSPETOR ALUNOS 222 INSPETORES DE ALUNOS

161 MAGISTRADOS 81 MAGISTRADOS 231 MAGISTRADOS 231 MAGISTRADOS

162 PROC.PROM.PUBLICOS 82 PROC.PROM.PUBLICOS 232 PROCURADORES ETC 232 PROCURADORES, PROMOTORES PÚBLIC

163 ADV.DEF.PUBLICOS 83 ADV.DEF.PUBLICOS 233 ADVOGADOS ETC 233 ADVOGADOS E DEFENSORES PÚBLICOS

164 TAB.OFIC.REGISTRO 84 TAB.OFIC.REGISTRO 241 TABELIAES 241 TABELIÃES E OFICIAIS DE REGISTR

165 ESC.CARTORIO 904 ESCRIVÃES POLICIA

165 91 ESC.CARTORIO 242 ESCRIVAES 242 ESCRIVÃES DE CARTÓRIO

166 OF.JUSTIÇA 92 OF.JUSTIÇA 243 OFICIAIS JUSTICA 243 OFICIAIS DE JUSTIÇA

167 OUT.OCUP.JUSTIÇA 93 OUT.OCUP.JUSTIÇA 244 OUT.AUX.JUSTICA 244 OUTRAS OCUP AUXIL DA JUSTIÇA

171 RELIGIOSOS 151 RELIGIOSOS 251 RELIGIOSOS 251 SACERDOTES

171 252 RELIGIOSOS POR CONTA PRÓPRIA

172 ASS.SOCIAIS 161 ASS.SOCIAIS 204 ASSIST. SOCIAIS 204 ASSISTENTES SOCIAIS

191 ESCULT.PINTORES 131 ESCULT.PINTORES 271 ESCULTOR PINTOR 271 ESCULTORES E PINTORES

192 141 MUS.COMPOSITORES 275 MUSICOS/COMPOSIT 275 MÚSICOS E COMPOSITORES

193 ATOR.CANTORES 142 ATOR.CANTORES 276 ART.TV.CINE.TEAT 276 ARTISTAS DE CINEMA,TELEVISÃO

193 143 BAILAR.COREOGRAFOS 277 ART. DE CIRCO 277 ARTISTAS DE CIRCO

(continuação)

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175

COMP OCUPAÇÃO COMPATIBILIZADA COD76 OCUPAÇÃO (V2304) COD88 OCUPAÇÃO (V503) COD96 OCUPAÇÃO (V2304)

194 LOC.COM.RD/TV 144 LOC.COM.RD/TV 278 LOCUTORES/COMENT 278 LOCUTORES E COMENTARISTAS

195 DECOR.CENOGRAFOS 132 DECOR.CENOGRAFOS 273 DECORADOR/CENOGR 273 DECORADORES E CENÓGRAFOS

196 280 CINEGRAFISTAS ETC 280 CINEGRAF E OPERADORES DE CÂMARA

197 FOTOGRAFOS 133 FOTOGRAFOS 274 FOTOGRAFOS 274 FOTÓGRAFOS

198 OPER.TEC.CIN/RD/TV 146 OPER.TEC.CIN/RD/TV 281 OP.EQ.SOM E CENOG 281 OPERADORES EQUIP SOM E CENOG

198 282 OUT.OP.RADIO/TV 282 OUTROS OPER EST RÁDIO E TELEVIS

198 283 OP.PROJETO CINE. 283 OPERADORES PROJ CINEMAT

199 PROD.DIR.ESPETAC 145 PROD.DIR.ESPETAC 279 PROD.DIRET.ESPET 279 PRODUTORES E DIRET ESPETÁCULOS

211 TEC.AGRIC.PRAT.RURAIS 302 TEC.AGRIC.PRAT.RURAIS 302 TECN AGROPECUAR 302 TÉCNICOS DE AGROPECUÁRIA

212 OP.EQUIP.IMP.MECANICOS 303 OP.EQUIP.IMP.MECANICOS 303 TRATORISTA AGRIC 303 TRATORISTAS AGRÍCOLAS

213 TRABAL. RURAL AUTONOMOS 301 TRABAL.AUTONOMOS 301 PROD AGROP AUT 301 PRODUTORES AGROPECUÁRIOS AUTÔN

213 851 OUT PROP AGROP CONTA PRÓPRIA

214 TRAB.CULTURA 313 TRAB.PECUARIA

214 311 CHAC.HORT.FLORIC

214 312 JARDINEIROS

214 314 TRAB.CULTURA 304 OUTR TRAB AGROP 304 TRABALHADORES NA AGROPECUÁRIA

214 314 TRAB.CULTURA 304 OUTR TRAB AGROP 304 TRABALHADORES NA AGROPECUÁRIA

231 CAÇADORES 321 CAÇADORES 321 CACADORES 321 CAÇADORES

232 PESCADORES 322 PESCADORES 322 PESCADORES 322 PESCADORES

241 MEDEIR/LENHADORES 331 MEDEIR/LENHADORES 331 MADEIREIROS 331 MADEIREIROS

241 332 LENHADORES 332 LENHADORES

242 CARVOEIROS(FABRIC.) 332 CARVOEIROS(FABRIC.) 333 CARVOEIROS 333 CARVOEIROS (FABRICANTES)

243 SERINGUEIROS 333 SERINGUEIROS 334 SERINGUEIROS 334 SERINGUEIROS

244 ERVATEIROS 334 ERVATEIROS 335 ERVATEIROS 335 ERVATEIROS

245 AP.DESC.QUEB.PROD.VEG 335 AP.DESC.QUEB.PROD.VEG 336 APANHAD. PROD VEG 336 APANHADORES DE PROD VEGETAIS

311 MINEIROS 341 MINEIROS 341 MINEIROS 341 MINEIROS

311 351 OP MAQ EXT MINERI 351 OPERAD MÁQUINAS DE EXT E BENEF

311 381 SALINEIROS 381 SALINEIROS

311 391 SONDAD.POCO GAS 391 SONDADORES POÇOS(EXC PETRÓLEO/G

312 CANT.MARROEIROS 351 CANT.MARROEIROS 345 CANTEIROS/MARROEI 345 CANTEIROS E MARROEIROS

331 TRAB.EXTR.PETROLEO/GAS 371 TRAB.EXTR.PETROLEO/GAS 361 TRAB EXT GAS PETR 361 TRABAL EXTR PETRÓLEO E GÁS

341 GARIMPEIROS 361 GARIMPEIROS 371 GARIMPEIROS 371 GARIMPEIROS

411 MOLD.MACHEIROS 405 MOLD.MACHEIROS 414 MODELADORES MACH 414 MODELADORES E MACHEIROS

412 TRAB.FORNOS METAL 403 OP.FORNOS SEG.FUSÃO

412 404 FUNDIDORES MET.MOLDES

412 406 TRAB.TRAT.TERMICO MET

412 401 TRAB.FORNOS METAL 411 FORNEIRO METALUR 411 FORNEIROS METALÚRGICOS

413 TREF.ESTIR.METAIS 402 OP.TRENS LAMINAÇÃO 412 LAMINADORES 412 LAMINADORES

413 407 TREF.ESTIR.METAIS 413 TREFILADORES 413 TREFILADORES

414 AJUST.MONT.INST.MAQUIN 414 AJUST.MONT.INST.MAQUIN 416 AFIADORES/AMOLAD 416 AFIADORES E AMOLADORES

414 921 LUBRIFICADORES 921 LUBRIFICADORES

(continuação) COMP OCUPAÇÃO COMPATIBILIZADA COD76 OCUPAÇÃO (V2304) COD88 OCUPAÇÃO (V503) COD96 OCUPAÇÃO (V2304)

421 OP.MAQ.FERRAMENTAS 419 ESTAMPADORES MECA 419 ESTAMPADORES MECÂNICOS

421 421 FRESADOR/FURADOR 421 FRESADORES E FURADORES

421 412 OP.MAQ.FERRAMENTAS 422 TORNEIRO MECANIC 422 TORNEIROS MECÂNICOS

421 923 OP MAQ EXC AGROP 923 OPER MÁQUINAS(EXC. AGROP/C CIVI

424 MEC.VEIC.MOTOR 416 MEC.VEIC.MOTOR 424 MECANICO VEICULO 424 MECÂNICOS DE VEÍC AUTOMOTORES

425 FER.AJUST.ESP.FERRAM 417 MEC.MOT.SIST.HID.AVIÕES

425 411 FER.AJUST.ESP.FERRAM 418 FERRAMENTEIROS 418 FERRAMENTEIROS

425 480 AJUST.EQUIP.ELET.ELETR 423 AJUSTADOR MONTAD 423 AJUSTADORES E MONTAD MECÂNICOS

425 425 MECANICOS 425 MECÂNICOS SEM ESPECIFICAÇÃO

426 GALV.REC.DECAP.METAIS 408 GALV.REC.DECAP.METAIS 415 GALVANIZADOR ETC 415 GALVANIZADORES E RECOB DE METAI

427 SOLDADORES 418 SOLDADORES 426 SOLDADORES 426 SOLDADORES

428 CHAP.CALDEIREIROS 419 CHAP.CALDEIREIROS 428 CALDEIREIROS 428 CALDEIREIROS

429 FER.SER.FORJADORES 410 FER.SER.FORJADORES 429 FERREIROS/SERRAL 429 FERREIROS E SERRALHEIROS

430 LANT.VEICULOS 420 LANT.VEICULOS 431 LANTERNEIROS 431 LANTERNEIROS DE VEÍCULOS

431 MONT.EST.METALICA 421 REBITADORES METAIS 427 REBITADORES 427 REBITADORES E MONT ESTR METÁLIC

431 541 MONT.EST.METALICA 427 REBITADORES E MONT ESTR METÁLIC

432 FUNILEIROS METAIS 422 FUNILEIROS METAIS 430 FUNILEIROS 430 FUNILEIROS

433 POL/ESMERILHADORES 559 POL/ESMERILHADORES

433 413 POL.MET.AFIA.FERRAM 417 POLIDORES ESMERIL 417 POLIDORES E ESMERILHADORES

441 PREP.FIBRAS 441 PREP.FIBRAS 441 CARDADOR/PENTEAD 441 CARDADORES E PENTEADORES

442 FIAND.BOBINADORES 442 MACAROQUEIRO BOB 442 MAÇAROQUEIROS, BOBINADORES

442 442 FIAND.BOBINADORES 443 FIANDEIROS 443 FIANDEIROS

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444 RENDEIROS 446 RENDEIROS 444 RENDEIROS 444 RENDEIROS

445 AJUST.TEAR.PREP.CARTÕES 443 AJUST.TEAR.PREP.CARTÕES 445 URDIDORES 445 URDIDORES E REMETEDORES

447 TECELÕES 446 CORDOEIROS 446 CORDOEIROS

447 444 TECELÕES 447 TECELOES 447 TECELÕES

448 TAPECEIROS 445 TAPECEIROS 448 TAPECEIROS 448 TAPECEIROS

449 REDEIROS 447 REDEIROS 449 REDEIROS 449 REDEIROS

450 BRANQ.TINT.TRAB/ACABA 448 BRANQ.TINT.TRAB/ACABA 450 ALVEJADORES TINT 450 ALVEJADORES E TINT TÊXTEIS

450 451 ESTAMPADOR TEXT 451 ESTAMPADORES TÊXTEIS

450 452 ACABADOR D PANO 452 ACABADORES DE PANO

461 CORREEIROS SELEIROS 452 CORREEIROS SELEIROS 461 CORREEIRO SELEI 461 CORREEIROS E SELEIROS

462 CURTIDORES 473 PELET.TRAB.ASSEMELHADOS

462 451 CURTIDORES 462 CURTIDORES 462 CURTIDORES

471 ALF/COSTUREIROS 472 ALF/COSTUREIROS 470 ALFAIATES COSTUR 470 ALFAIATES E COSTUREIROS

471 471 AUX DE COSTURA 471 AUXIL DE COSTURAS

471 472 CALCEIROS/CAMIS 472 CALCEIROS E CAMISEIROS

471 474 PADRON.CORTADORES 473 MODELISTAS CORT 473 MODELISTAS E CORTADORES

472 BORDAD.CERZIDEIROS 475 BORDAD.CERZIDEIROS 474 BORDADEIRAS CERZ 474 BORDADEIRAS E CERZIDEIRAS

473 CHAPELEIROS DE PALHA 476 CHAPELEIROS DE PALHA 475 CHAPELEIRO PALHA 475 CHAPELEIROS DE PALHA

474 CHAP.EXCLUSIVE PALHA 477 CHAP.EXCLUSIVE PALHA 476 CHAPEL. EXC PALH 476 CHAPELEIROS (EXC PALHA)

(continuação) COMP OCUPAÇÃO COMPATIBILIZADA COD76 OCUPAÇÃO (V2304) COD88 OCUPAÇÃO (V503) COD96 OCUPAÇÃO (V2304)

475 SAPAT.MONT.ACAB.SAPATOS 478 SAPAT.MONT.ACAB.SAPATOS 477 SAPATEIROS 477 SAPATEIROS

475 478 TRAB FABR SAPATO 478 TRABALHADORES FAB CALÇADOS

476 BOLSEIROS/CINTEIROS 479 BOLSEIROS/CINTEIROS 479 BOLSEIRO CINTEIR 479 BOLSEIROS E CINTEIROS

481 MARCENEIROS 431 MARCENEIROS 481 MARCENEIRO 481 MARCENEIROS

482 CARP.TANOEIROS 432 CARP.TANOEIROS 482 CARPINTEIRO 482 CARPINTEIROS

482 483 TANOEIROS 483 TANOEIROS

482 484 OPER MAQ MARCEN 484 OPERADORES DE MÁQ MARCENARIA

482 486 PREP COMPENSADO 486 PREP COMPENSADOS E AGLOMERADOS

484 SERRADORES 433 SERRADORES 485 SERRADORES 485 SERRADORES

485 ESTOF.CAPOTEIROS 435 ESTOF.CAPOTEIROS 487 ESTOFADOR CAPOT 487 ESTOFADORES E CAPOTEIROS

486 COLCHOEIROS 436 COLCHOEIROS 488 COLCHOEIROS 488 COLCHOEIROS

487 LUSTRADORES 434 LUSTRADORES 489 LUSTRADOR MADEIR 489 LUSTRADORES DE MADEIRA

488 CEST.ESTEIREIROS 553 CEST.ESTEIREIROS 490 CESTEIRO E ESTEI 490 CESTEIROS E ESTEIREIROS

491 ELETRICISTAS 481 MONT.EQUIP.ELET.ELETR 491 MONT EQ ELETRICO 501 MONTADORES DE EQUIP ELÉTRICOS

491 492 MONT EQ ELETRONI 502 MONTADORES DE EQUIP ELETRÔNICOS

491 483 ELETRICISTAS 493 REP EQUIPAMENTOS 503 REPAR DE EQUIP ELÉT ELETRÔNICOS

491 496 ELETRIC INSTAL 506 ELETRICISTAS DE INSTALAÇÕES

491 484 INST.ELEF.TELEGRAFOS 497 INST REP EQ TELE 507 INSTAL E REPAR DE EQUIP DE TELE

491 485 INST.LINHAS ELET.TELEC 498 INST REP LIN ELE 508 INSTAL E REPAD DE LINHAS ELÉTRI

491 499 OP INST ENERG EL 509 OPERADORES INST DE PROD EN ELÉT

492 REPARAD.REC.RD/TV 494 MONTAD RADIO/TV 504 MONTADORES APAR DE ÁUDIO E VÍD

492 482 REPARAD.REC.RD/TV 495 REPAR. RADIO/TV 505 REPARAR APAR DE ÁUDIO E VÍDEO

511 MESTRE-DE-OBRA 530 MESTRE-DE-OBRA 404 MESTRE CONST CIV 404 MESTRES DE CONSTRUÇÃO CIVIL

512 ARMAD.CONCRETO 531 ARMAD.CONCRETO 511 ARMADOR CONCRETO 511 ARMADORES DE CONCRETO

513 PEDREIROS 532 PEDREIROS 512 PEDREIROS 512 PEDREIROS

514 SERVENTES DE PEDREIROS 533 SERVENTES DE PEDREIROS 513 SERV PEDREIRO 513 SERVENTES DE PEDREIRO

515 PINT.CAIADORES 534 PINT.CAIADORES 514 PINTOR CAIADOR 514 PINTORES E CAIADORES

516 ESTUCADORES 535 ESTUCADORES 515 ESTUCADORES 515 ESTUCADORES

517 LADRILHEIROS/TAQUEIROS 536 LADRILHEIROS/TAQUEIROS 516 LADRILHEIRO TAQ 516 LADRILHEIROS E TAQUEIROS

518 ENCANADORES 537 ENCANADORES 517 ENCANADORES 517 ENCANADORES

519 VIDRACEIROS 538 VIDRACEIROS 518 VIDRACEIRO 518 VIDRACEIROS (COLOCADORES DE VID

520 CALCET/ASFALTADORES 539 CALCET/ASFALTADORES 519 CALCETEIRO ASFAL 519 CALCETEIROS E ASFALTADORES

521 CALAFATES 540 CALAFATES 520 CALAFATES 520 CALAFATES

522 OPER.MAQ.CONST.CIVIL 542 OPER.MAQ.CONST.CIVIL 521 OP MAQ CONST CIV 521 OPER MÁQUINAS DE CONST CIVIL

531 TRAB.CONS/ALIMENTOS 464 TRAB.CONS/ALIMENTOS 531 LING SALSICHEIRO 531 LINGUICEIROS E SALSICHEIROS

531 545 OCUP IND ALIMENT 545 OCUP DE OUTRAS INDS ALIMENTARES

532 CHARQ.MAGAREFES 463 CHARQ.MAGAREFES 532 CHARQUEADORES 532 CHARQUEADORES

532 533 MAGAREFES 533 MAGAREFES

534 TRAB.TRAT.LEITE/LATIC 465 TRAB.TRAT.LEITE/LATIC 534 OCUP IND LATICIN 534 OCUP DA IND DE LATICÍNIOS

535 PADEIROS/CONFEITEIROS 535 DOCEIROS CONFEIT 535 DOCEIROS E CONFEITEIROS

535 536 MACARRONEIRO PAS 536 MACARRONEIROS E PASTELEIROS

(continuação) COMP OCUPAÇÃO COMPATIBILIZADA COD76 OCUPAÇÃO (V2304) COD88 OCUPAÇÃO (V503) COD96 OCUPAÇÃO (V2304)

535 466 PADEIROS/CONFEITEIROS 537 PADEIROS 537 PADEIROS

538 MOL.TRAB.ASSEMELHADOS 461 MOL.TRAB.ASSEMELHADOS 538 FARINHEIRO MOLEI 538 FARINHEIROS E MOLEIROS

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539 TRAB.FAB.REF/AÇUCAR 462 TRAB.FAB.REF/AÇUCAR 539 OCUP IND ACUCAR 539 OCUP DA IND DE AÇÚCAR

540 CERVEJ.TRAB.FAB.VINHOS 468 CERVEJ.TRAB.FAB.VINHOS 540 OCUP IND BEBIDAS 540 OCUP DA IND DE BEBIDAS

541 TRAB.PREP.CAFE/CHA/CACAU 467 TRAB.PREP.CAFE/CHA/CACAU 541 OCUP IND CAFE 541 OCUP DA IND DO CAFÉ

541 543 OCUP IND CHA ETC 543 OCUP DA IND DE CHÁ, MATE E CACA

541 544 OCUP IND OLEAGIN 544 OCUP DA IND DE OLEAGINOSOS

542 TRAB.IND.PESCADO 469 TRAB.IND.PESCADO 542 OCUP IND PESCADO 542 OCUP DA IND DO PESCADO

551 COMP.TIPOG.LINOTIPISTAS 520 COMP.TIPOG.LINOTIPISTAS 551 LINOTIPISTAS 551 LINOTIPISTAS

552 IMPRESSORES/TIPOGRAFOS 521 IMPRESSORES/TIPOGRAFOS 552 TIPOGRAFOS 552 TIPÓGRAFOS

552 554 IMPRESSORES 554 IMPRESSORES

553 FOTOGRAVADORES 522 ESTEREOT/ELETROTIPISTAS

553 524 FOTOGRAVADORES

553 523 CLICHERISTAS/GRAVADORES 553 CLICHERISTA E GR 553 CLICHERISTAS E GRAVADORES

554 IMPRESSORES

555 REVIS IND GRAF 555 REVIS IND GRAFIC 555 REVISORES NA IND GRÁFICA

555 526 OUT.OCUP.IND.GRAFICA 557 OUT OCUP IND GRA 557 OUTRAS OCUP DA IND GRÁFICA

556 ENCAN/CARTONADORES 525 ENCAN/CARTONADORES 556 ENCADERNADOR CAR 556 ENCADERNADORES E CARTONADORES

561 VIDREIROS/AMPOLEIROS 492 GRAVADORES DE VIDRO

561 490 VIDREIROS/AMPOLEIROS 561 VIDREIRO AMPOLEI 561 VIDREIROS E AMPOLEIROS

562 CERAMISTAS/LOUCEIROS 491 CERAMISTAS/LOUCEIROS 562 CERAMISTAS LOUCE 562 CERAMISTAS E LOUCEIROS

563 PINT.DEC.VIDRO/CERAMICA 493 PINT.DEC.VIDRO/CERAMICA 563 PINTORES CERAMIC 563 PINTORES CERÂMICOS

564 OLEIROS 494 OLEIROS 564 OLEIROS 564 OLEIROS

571 MESTRES/CONTRAMESTRES 401 TEC EMP EXT MIN 401 MESTRES E TÉCN EMPRESAS EXT MIN

571 402 TEC IND TRANSF 402 MESTRES, CONTRAM E TÉCN IND TRA

571 550 MESTRES/CONTRAMESTRES 403 MESTRES IND TEXT 403 MESTRES, CONTRAM E TÉCN IND TÊX

571 405 TEC ENERGIA ELET 405 MESTRES E TÉCN EMPRESAS SERV UR

571 406 OUTROS MESTRES 406 OUTROS MESTRES, CONTRAM E TÉCN

572 OURIVES 415 RELOJ.MEC.INST.PRECISÃO 572 OURIVES RELOJOEI 572 OURIVES E RELOJOEIROS

572 554 OURIVES 572 OURIVES E RELOJOEIROS

573 LAPIDADORES 555 LAPIDADORES 573 LAPIDADORES 573 LAPIDADORES

574 BORRACHEIRO 501 BORRACHEIRO 574 BORRACHEIROS 574 BORRACHEIROS

574 502 TRAB.FAB.VULC.PNEUMAT 575 VULCANIZADOR REC 575 VULCANIZADORES E RECAUCHUTADORE

575 FOGUETEIROS 556 FOGUETEIROS 576 FOGUETEIROS 576 FOGUETEIROS

576 VASSOUREIROS 557 VASSOUREIROS 577 VASSOUREIROS 577 VASSOUREIROS

578 MARMORISTAS 558 MARMORISTAS 578 MARMORISTAS 578 MARMORISTAS

579 PREPARADORES DE FUMO 470 PREPARADORES DE FUMO 579 PREPADORES FUMO 579 PREPARADORES DE FUMO

579 471 CHARUTEIROS/CIGARREIROS 580 CHARUTEIROS CIGA 580 CHARUTEIROS E CIGARREIROS

581 PINTORES/PISTOLA 561 PINTORES/PISTOLA 581 PINTORES A PISTO 581 PINTORES À PISTOLA

584 FOGUISTAS 562 FOGUISTAS 583 FOGUISTAS 583 FOGUISTAS(EXC EMBARC E TRENS)

585 EMB.EXPEDIDORES 55 EXPEDIDORES 55 EXPEDIDORES E CONFER DE MATERIA

(continuação) COMP OCUPAÇÃO COMPATIBILIZADA COD76 OCUPAÇÃO (V2304) COD88 OCUPAÇÃO (V503) COD96 OCUPAÇÃO (V2304)

585 563 EMB.EXPEDIDORES 584 EMB MERCADORIAS 584 EMBALADORES DE MERCADORIAS

586 CONF.PROD.PAPEL/PAPELÃO 510 CONF.PROD.PAPEL/PAPELÃO

586 437 PREP.PASTA P/PAPEL 585 OCUP IND PAPEL 585 OCUP DA IND DO PAPEL E PAPELÃO

587 TRAB.FAB.PROD.BORRACHA 500 TRAB.FAB.PROD.BORRACHA 586 OC IND ART BORRA 586 OCUP DA IND ART BORRACHA E PLÁS

587 587 OC IND ART CIMEN 587 OCUP DA IND ART CIMENTO E FIBRO

588 OUT.OCUP.IND.TRANSF 564 OUT.OCUP.IND.TRANSF 589 OUT OCUP IND TRA 589 OUTRAS OCUP IND TRANSFORMAÇÃO

612 VEND/AMBULANTES 602 VEND/AMBULANTES 611 FEIRANTES 611 FEIRANTES

612 612 AGUADEIROS 612 AGUADEIROS

612 613 DOCEIROS ETC 613 DOCEIROS, SORVETEIROS E BALEIRO

612 614 QUITANDEIROS ETC 614 QUITANDEIROS E FRUTEIROS

612 615 TRIPEIRO ETC 615 TRIPEIROS, PEIXEIROS E LEITEIRO

612 616 BILHETEIROS 616 BILHETEIROS

612 617 OUTR OCUP AMBUL 617 OUTRAS OCUP NO COMÉRCIO AMBULAN

613 BALC/VENDEDORES 601 BALC/VENDEDORES 602 VENDEDORES 602 VENDEDORES

613 601 BALC/VENDEDORES 604 REPOSIT MERCADOR 604 REPOSITORES DE MERCADORIAS

613 601 BALC/VENDEDORES 605 DEMONSTRADORES 605 DEMONSTRADORES

614 VEND/JORNAIS REVISTAS 603 VEND/JORNAIS REVISTAS 621 VENDED JORN REV 621 VENDEDORES DE JORNAIS E REVISTA

621 PRAC/VIAJ/COMERCIAIS 13 VENDEDORES VIAJANTES

621 610 PRAC/VIAJ/COMERCIAIS 631 PRACISTAS E VIAJ 631 PRACISTAS E VIAJANTES COMERCIAI

622 REP.COMERCIAIS 611 REP.COMERCIAIS 632 REPRES COMERCIAL 632 REPRESENTANTES COMERCIAIS

622 646 COMPRADORES 646 COMPRADORES

623 PROPAGANDISTAS 612 PROPAGANDISTAS 633 PROPAGANDISTA 633 PROPAGANDISTAS

631 CORRETORES SEGUROS 620 CORRETORES SEGUROS 641 CORRETOR SEGUROS 641 CORRETORES DE SEGUROS

632 CORRETORES IMOVEIS 621 CORRETORES IMOVEIS 642 CORRETOR IMOVEIS 642 CORRETORES DE IMÓVEIS

633 COR.TITULOS/VALORES 622 COR.TITULOS/VALORES 643 CORRET TIT/VALOR 643 CORRETORES DE TÍTULOS E VALORES

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634 OUT.AG.CORRETORES 644 AVALIADOR LEILOE 644 AVALIADORES E LEILOEIROS

634 623 OUT.AG.CORRETORES 645 OUTR AG CORRETOR 645 OUTROS AGENTES E CORRETORES

711 AVIADORES CIVIS 700 AVIADORES CIVIS 711 AVIADOR CIVIL 711 AVIADORES CIVIS

712 COMISSARIOS DE BORDO 701 COMISSARIOS DE BORDO 712 COMISS DE BORDO 712 COMISSÁRIOS DE BORDO

713 OFIC.MARINHA MERCANTE 710 OFIC.MARINHA MERCANTE 721 OFIC MARIN MERC 721 OFICIAS DE MARINHA MERCANTE

722 MESTRES EMBARCAÇÃO 711 MESTRES EMBARCAÇÃO 722 MESTRES DE EMBAR 722 MESTRES DE EMBARCAÇÃO

723 MAQ.EMBARCAÇÃO 712 MAQ.EMBARCAÇÃO 723 MAQ DE EMBARC. 723 MAQUINISTAS DE EMBARCAÇÃO

724 FOG.EMBARCAÇÃO 713 FOG.EMBARCAÇÃO 724 FOGUISTA EMBARC. 724 FOGUISTAS DE EMBARCAÇÃO

725 MARINHEIROS CIVIS 714 MARINHEIROS CIVIS 725 MARINHEIRO CIVIL 725 MARINHEIROS CIVIS

726 TAIFEIROS TRANSP.MARIT 715 TAIFEIROS TRANSP.MARIT 726 TAIFEIROS 726 TAIFEIROS

727 BARQUEIROS/CANOEIROS 716 BARQUEIROS/CANOEIROS 727 BARQUEIROS CANOE 727 BARQUEIROS E CANOEIROS

731 GUINDASTEIROS 582 OPER EMPILHADEIR 582 OPERADORES DE EMPILHADEIRA

731 720 GUINDASTEIROS 731 GUINDASTEIROS 731 GUINDASTEIROS

732 ESTIVADORES 721 ESTIVADORES 732 ESTIVADORES 732 ESTIVADORES

741 AG.ESTRADA FERRO 730 AG.ESTRADA FERRO 741 AG ESTR DE FERRO 741 AGENTES DE ESTRADA DE FERRO

742 COND.CHEFES DE TREM 731 COND.CHEFES DE TREM 742 CONDUT CHEF TREM 742 CONDUTORES E CHEFES DE TREM

(continuação) COMP OCUPAÇÃO COMPATIBILIZADA COD76 OCUPAÇÃO (V2304) COD88 OCUPAÇÃO (V503) COD96 OCUPAÇÃO (V2304)

743 MAQ.DE TREM 732 MAQ.DE TREM 743 MAQUINISTA TREM 743 MAQUINISTAS DE TREM

744 FOGUISTAS DE TREM 733 FOGUISTAS DE TREM 744 FOGUISTAS TREM 744 FOGUISTAS DE TREM

745 GUARDA-FREIOS 734 GUARDA-FREIOS 745 GUARDA-FREIOS 745 GUARDA-FREIOS

746 MANOBREIROS SINALEIROS 735 MANOBREIROS SINALEIROS 746 MANOBREIRO SINAL 746 MANOBREIROS E SINALEIROS

751 MOTORISTAS 741 MOTORISTAS 751 MOTORISTAS 751 MOTORISTAS

752 TROCADORES 742 TROCADORES 752 TROCADORES 752 TROCADORES

753 CARROCEIROS/TROPEIROS 743 CARROCEIROS/TROPEIROS 753 CARROCEIRO TROP 753 CARROCEIROS E TROPEIROS

761 INSP.DESP.TRANSPORTES 751 INSP.DESP.TRANSPORTES 761 INSP DESP TRANSP 761 INSPET E DESPACH TRANSPORTES

762 TRAB.CONS.FERROVIAS 753 TRAB.CONS.FERROVIAS 762 TRAB CONS FERROV 762 TRABALHAD DE CONS FERROVIAS

771 AG.POSTAIS E TELEG 760 AG.POSTAIS E TELEG 771 AG POSTAL E TELE 771 AGENTES POSTAIS E TELEGRÁFICOS

772 POSTALISTAS 761 POSTALISTAS 772 POSTALISTAS 772 POSTALISTAS

774 TELEFONISTAS 763 TELEFONISTAS 774 TELEFONISTAS 774 TELEFONISTAS

775 CARTEIROS 764 CARTEIROS 775 CARTEIROS 775 CARTEIROS

776 GUARDA-FIOS 765 GUARDA-FIOS 776 GUARDA-FIOS

811 GARÇONS 812 CAMAREIROS 812 CAMAREIROS(EXC NO SERV DOM)

811 801 GARÇONS 814 GARCONS 814 GARÇONS

811 815 ATENDENTE BAR 815 ATENDENTES DE BAR E LANCHONETE

811 816 GOVERN E MORDOMOS(EXC SERV DOM)

811 817 MAITRE DE HOTEL

811 818 MAITRE NO SERV DE ALIMENTAÇÃO

812 COZINHEIROS 800 COZINHEIROS 813 COZINHEIROS 813 COZINHEIROS(EXC NO SERV DOM)

813 EMPREG.DOMESTICOS 802 EMPREG.DOMESTICOS 805 EMPREG DOMESTICO 801 ARRUMADEIRAS

813 802 BABÁS

813 803 COZINHEIRAS

813 804 FAXINEIRAS

813 805 LAVADEIRAS

813 806 GOVERNANTAS E MORDOMOS

813 807 EMPREGADOS DOMÉST NÃO ESPECIAL

813 808 OUTRAS OCUP DO SERV DOMÉSTICO

814 GUARD.AUTOMOVEIS 956 GUARD.AUTOMOVEIS 916 GUARD AUTOMOVEIS 916 GUARDADORES DE AUTOMÓVEIS

821 BARB.CABELEREIROS 810 BARB.CABELEREIROS 821 CABELEIREIROS 821 CABELEREIROS

821 822 BARBEIROS 822 BARBEIROS

821 823 MAQUILADORES ETC 823 MAQUILADORES, DEPIL E ESTETIC

822 MANICUROS/PEDICUROS 811 MANICUROS/PEDICUROS 824 MANICURO E PEDIC 824 MANICUROS E PEDICUROS

823 LAV.PASSADEIRAS 812 LAV.PASSADEIRAS 825 LAVADEIRA PASSAD 825 LAVADEIRAS E PASSADEIRAS

824 ENGRAXATES 813 ENGRAXATES 826 ENGRAXATES 826 ENGRAXATES

831 ATLETAS PROFISSIONAIS 831 JOGADOR DE FUTEB 831 JOGADORES DE FUTEBOL

831 820 ATLETAS PROFISSIONAIS 832 LUTADOR/ATLETA 832 LUTADORES E OUTROS ATLETAS PROF

834 TEC.JUIZES ESPORTES 821 TEC.JUIZES ESPORTES 833 JUIZ DE ESPORTES 833 JUÍZES DE ESPORTES

834 834 TECNICO ESPORTES 834 TÉCNICOS DE ESPORTES

841 OFIC.PRAÇAS F.ARMADAS 900 OFIC.PRAÇAS F.ARMADAS 851 OFIC FORCAS ARM 861 OFICIAIS DAS FORÇAS ARMADAS

(continuação) COMP OCUPAÇÃO COMPATIBILIZADA COD76 OCUPAÇÃO (V2304) COD88 OCUPAÇÃO (V503) COD96 OCUPAÇÃO (V2304)

841 852 PRACA FORC ARMAD 862 PRAÇAS DAS FORÇAS ARMADAS

842 OFIC.PÇA C.BOMBEIROS 901 OFIC.PÇA C.BOMBEIROS 853 OFIC PRACAS BOMB 863 OFICIAIS E PRAÇAS BOMBEIROS

843 DELEGADOS COM.POLICIA 902 DELEGADOS COM.POLICIA 854 DELEG/COMISS POL 864 DELEGADOS E COMIS POLÍCIA

844 INVEST.POLICIA 903 INVEST.POLICIA 855 INVEST. POLICIA 865 INVESTIGADORES DE POLÍCIA

845 GUARDAS CIV.INSP.TRAF 905 GUARDAS CIV.INSP.TRAF 856 GUARDA-CIV INSP 866 GUARDAS-CIVIS E INSPET TRÁFEGO

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846 CARCER.GUAR.PRESIDIO 906 CARCER.GUAR.PRESIDIO 857 CARCEREIRO ETC 867 CARCEREIROS

847 DATILOSCOPISTAS 907 DATILOSCOPISTAS 858 DATILOSCOPISTA 868 DATILOSCOPISTAS

911 ASCENSORISTAS 952 ASCENSORISTAS 842 ASCENSORISTAS 842 ASCENSORISTAS

912 APRENDIZES 551 APRENDIZES 911 APRENDIZES 911 APRENDIZES

913 CAPATAZES 950 CAPATAZES 914 CAPATAZES 914 CAPATAZES

914 GUARDAS SANITARIAS 953 GUARDAS SANITARIAS 917 GUARDA SANITARIO 917 GUARDAS SANITÁRIO

915 INSPETORES FISCAIS 571 INSP QUALIDADE 571 INSPETORES DE QUALIDADE

915 588 SUPERV SEGURANCA 588 SUPERV SEGURANÇA NO TRABALHO

915 954 INSPETORES FISCAIS 918 INSPETOR FISCAIS 918 INSPETORES E FISCAIS

916 LIXEIROS 955 LIXEIROS 920 LIXEIROS 920 LIXEIROS

920 GUARDAS-VIGIAS ORG/PART 908 GUARDAS-VIGIAS ORG/PART 859 GUARDA-VIG PARTI 869 GUARDAS-VIGIAS DE ORG PART

921 PORT.VIGIAS SERVENTES 951 PORT.VIGIAS SERVENTES 841 PORTEIROS 841 PORTEIROS

921 843 VIGIAS 843 VIGIAS

921 844 SERVENTES 844 SERVENTES

921 845 CONTINUOS 845 CONTÍNUOS

922 TRAB.BRAÇAIS S/ESPEC 958 BISCATEIROS

922 919 JARDIN EXC LAVOU 919 JARDINEIROS (EXC LAVOURA)

922 957 TRAB.BRAÇAIS S/ESPEC 924 TRABALHAD BRACAL 924 TRABALHADORES BRAÇAIS, SEM ESPE

923 TRAB.CONS.RODOVIAS 752 TRAB.CONS.RODOVIAS 925 TRAB CONS RODOV 925 TRABALHADORES DE CONSER RODOVIA

924 OUT.OCUP.OU OCUP.MAL DEF

924 34 OUT.OCUP.AUXIL.AGRO

924 959 OUT.OCUP.OU OCUP.MAL DEF 926 OUT OCUP MAL DEF

924 193 AGENTES CENSITÁRIOS

924 272 ARTESAO 272 ARTESÃOS DE OBJETOS

924 912 BILHETEIRO DIVER 912 BILHETEIROS NO SERV DIVERSÕES

924 915 DEDETIZADORES 915 DEDETIZADORES

924 922 OPER TRAT AGUA 922 OPER TRATAMENTO E BOMB DE ÁGUA

924 926 BABÁS (EXCLUSIVE NO SERV DOM)

924 552 CONF.AFIN.INST/MUSICAIS 927

6001 COMERCIANTE - CONTA PRÓPRIA 204 COMERCIANTES 601 COMERC C/PROPRIA 601 COMERCIANTES POR CONTA PRÓPRIA

6001 600 AÇOUGUEIROS

6002 HOTELEIRO PENSÃO - CONTA PRÓPRIA 205 HOTEL DON PENSAO 811 HOTEL DON PENSAO 811 DONOS DE PENSÃO POR CONTA PRÓPR

6003 OUTROS PROP - CONTA PRÓPRIA 204 COMERCIANTES 801 PROPRIET SERV CONTA 852 OUT PROP SERV CONTA PRÓPRIA

7001 COMERCIANTE - EMPREGADOR 204 COMERCIANTES 10 COMERCIANTE 10 COMERCIANTES

7001 600 AÇOUGUEIROS

7002 DONO DE HOTEL PENSÃO - EMPREGADOR 205 HOTEL.DONOS PENSÃO 11 HOTEL DON PENSAO 11 HOTELEIROS E DONOS DE PENSÃO

(conclusão) COMP OCUPAÇÃO COMPATIBILIZADA COD76 OCUPAÇÃO (V2304) COD88 OCUPAÇÃO (V503) COD96 OCUPAÇÃO (V2304)

7003 INDUSTRIAL 206 EMPRES.TRANSPORTES 6 EMP.EXT.VEG.PESC 6 EMPRESÁRIOS DA EXTR VEG E PESCA

7003 206 EMPRES.TRANSPORTES 7 EMP. EXTR. MINER 7 EMPRESÁRIOS DA EXTRAÇÃO MINERAL

7003 206 EMPRES.TRANSPORTES 12 EMPRES TRANSPORT 12 EMPRESÁRIOS NOS TRANSPORTES

7004 OUTROS PROPRIETÁRIOS - EMPREGADOR 207 OUT.EMPRESARIOS 13 OUTROS PROPRIET 15 OUTROS PROP

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180

Tabela A.2 – Medidas de Renda e Escolaridade por Ocupação

Brasil, 1991

Classe Ocupação Compatibilizada Renda Média Renda Mediana Status Médio Predito Médio Média de Anos de

Estudo

1 212 - OP.EQUIP.IMP.MECANICOS 264 183 207 213 2,6

1 213 - TRABAL. RURAL AUTONOMOS 241 120 190 156 1,9

1 214 - TRAB.CULTURA 149 104 172 140 1,4

1 231 - CAÇADORES 95 80 190 216 1,7

1 232 - PESCADORES 261 159 198 177 2,1

1 241 - MEDEIR/LENHADORES 368 199 213 217 2,4

1 242 - CARVOEIROS(FABRIC.) 237 159 175 145 1,6

1 243 - SERINGUEIROS 323 179 194 194 1,6

1 245 - AP.DESC.QUEB.PROD.VEG 135 60 166 89 1,0

1 312 - CANT.MARROEIROS 226 159 192 232 2,0

1 444 - RENDEIROS 56 32 177 96 1,6

1 449 - REDEIROS 115 64 181 124 1,6

1 473 - CHAPELEIROS DE PALHA 141 18 152 79 0,7

1 484 - SERRADORES 253 199 206 261 2,5

1 488 - CEST.ESTEIREIROS 120 80 168 155 1,3

1 512 - ARMAD.CONCRETO 302 239 215 292 2,8

1 514 - SERVENTES DE PEDREIROS 199 159 199 260 2,2

1 532 - CHARQ.MAGAREFES 227 179 217 248 2,8

1 538 - MOL.TRAB.ASSEMELHADOS 175 100 183 175 1,7

1 539 - TRAB.FAB.REF/AÇUCAR 299 239 214 269 2,7

1 564 - OLEIROS 221 159 189 226 1,9

1 576 - VASSOUREIROS 190 127 209 203 2,5

1 753 - CARROCEIROS/TROPEIROS 198 135 185 236 1,7

1 813 - EMPREG.DOMESTICOS 172 125 214 175 2,7

1 823 - LAV.PASSADEIRAS 183 120 210 169 2,6

1 916 - LIXEIROS 195 120 193 209 1,9

1 922 - TRAB.BRAÇAIS S/ESPEC 256 167 218 285 2,7

2 311 - MINEIROS 389 279 232 278 3,1

2 341 - GARIMPEIROS 534 279 221 295 2,6

2 433 - POL/ESMERILHADORES 546 426 258 413 4,0

2 442 - FIAND.BOBINADORES 274 223 255 247 3,9

2 445 - AJUST.TEAR.PREP.CARTÕES 272 207 246 237 3,6

2 462 - CURTIDORES 273 223 236 288 3,4

2 482 - CARP.TANOEIROS 324 239 222 310 2,9

2 486 - COLCHOEIROS 254 159 240 245 3,4

2 513 - PEDREIROS 361 271 227 337 3,1

2 516 - ESTUCADORES 465 319 246 375 3,5

2 520 - CALCET/ASFALTADORES 320 202 231 312 3,0

2 522 - OPER.MAQ.CONST.CIVIL 363 287 230 307 3,2

2 531 - TRAB.CONS/ALIMENTOS 299 199 241 291 3,4

2 534 - TRAB.TRAT.LEITE/LATIC 270 191 248 272 3,7

2 541 - TRAB.PREP.CAFE/CHA/CACAU 211 147 236 211 3,2

2 542 - TRAB.IND.PESCADO 230 159 238 202 3,2

2 562 - CERAMISTAS/LOUCEIROS 331 232 243 299 3,3

2 574 - BORRACHEIRO 400 267 246 342 3,5

2 575 - FOGUETEIROS 182 112 229 231 3,0

2 578 - MARMORISTAS 400 275 241 326 3,5

2 579 - PREPARADORES DE FUMO 233 147 251 213 3,5

2 584 - FOGUISTAS 395 319 244 350 3,5

2 727 - BARQUEIROS/CANOEIROS 428 239 224 308 3,0

2 732 - ESTIVADORES 418 239 257 339 3,6

2 812 - COZINHEIROS 240 167 247 209 3,6

2 824 - ENGRAXATES 370 147 245 288 3,1

2 921 - PORT.VIGIAS SERVENTES 247 167 247 258 3,5

2 923 - TRAB.CONS.RODOVIAS 209 167 230 284 3,1

3 412 - TRAB.FORNOS METAL 499 392 260 369 3,9

3 413 - TREF.ESTIR.METAIS 530 438 278 398 4,3

3 414 - AJUST.MONT.INST.MAQUIN 485 343 264 387 4,0

3 426 - GALV.REC.DECAP.METAIS 498 398 284 437 4,5

3 427 - SOLDADORES 492 380 272 380 4,3

3 431 - MONT.EST.METALICA 491 370 288 403 4,6

3 441 - PREP.FIBRAS 380 279 271 332 4,2

3 447 - TECELÕES 359 279 279 321 4,4

3 450 - BRANQ.TINT.TRAB/ACABA 397 315 274 338 4,3

3 461 - CORREEIROS SELEIROS 308 199 266 279 4,0

3 475 - SAPAT.MONT.ACAB.SAPATOS 314 233 266 301 4,2

3 476 - BOLSEIROS/CINTEIROS 292 199 271 291 4,0

3 481 - MARCENEIROS 466 319 287 403 4,5

3 487 - LUSTRADORES 357 279 261 355 4,0

3 515 - PINT.CAIADORES 421 319 268 404 4,1

3 517 - LADRILHEIROS/TAQUEIROS 551 398 265 420 4,0

3 518 - ENCANADORES 453 339 274 385 4,2

3 521 - CALAFATES 479 319 270 411 4,1

3 535 - PADEIROS/CONFEITEIROS 322 239 264 296 4,0

3 540 - CERVEJ.TRAB.FAB.VINHOS 417 279 273 330 4,1

3 581 - PINTORES/PISTOLA 515 390 283 402 4,5

3 586 - CONF.PROD.PAPEL/PAPELÃO 461 363 275 384 4,2

3 587 - TRAB.FAB.PROD.BORRACHA 388 299 259 350 3,9

3 722 - MESTRES EMBARCAÇÃO 645 398 285 347 4,3

3 731 - GUINDASTEIROS 541 438 278 412 4,4

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181

3 762 - TRAB.CONS.FERROVIAS 444 356 276 341 4,0

3 811 - GARÇONS 319 207 284 281 4,5

4 21 - ADM.DIR.EMP.AGROP 526 255 302 256 4,1

4 411 - MOLD.MACHEIROS 570 466 290 450 4,5

4 421 - OP.MAQ.FERRAMENTAS 630 486 325 483 5,4

(continuação)

Classe Ocupação Compatibilizada Renda Média Renda Mediana Status Médio Predito Médio Média de Anos de

Estudo

4 424 - MEC.VEIC.MOTOR 548 398 311 420 5,0

4 428 - CHAP.CALDEIREIROS 582 478 318 474 5,3

4 429 - FER.SER.FORJADORES 492 359 297 424 4,7

4 430 - LANT.VEICULOS 527 398 297 413 4,9

4 432 - FUNILEIROS METAIS 662 518 299 500 4,8

4 448 - TAPECEIROS 485 359 298 463 4,7

4 471 - ALF/COSTUREIROS 278 187 296 239 4,7

4 472 - BORDAD.CERZIDEIROS 231 120 292 229 4,5

4 485 - ESTOF.CAPOTEIROS 482 319 311 423 5,0

4 511 - MESTRE-DE-OBRA 670 519 308 421 4,9

4 519 - VIDRACEIROS 440 319 328 463 5,3

4 561 - VIDREIROS/AMPOLEIROS 488 398 290 409 4,6

4 572 - OURIVES 472 319 330 426 5,3

4 585 - EMB.EXPEDIDORES 408 280 297 377 4,6

4 588 - OUT.OCUP.IND.TRANSF 542 398 300 417 4,8

4 612 - VEND/AMBULANTES 431 239 303 342 4,5

4 751 - MOTORISTAS 599 407 291 396 4,7

4 752 - TROCADORES 386 319 305 362 5,0

4 814 - GUARD.AUTOMOVEIS 339 239 322 371 5,1

4 822 - MANICUROS/PEDICUROS 316 192 329 275 5,4

4 911 - ASCENSORISTAS 320 259 300 326 4,9

4 912 - APRENDIZES 566 398 333 468 5,4

4 913 - CAPATAZES 501 359 305 383 4,6

4 920 - GUARDAS-VIGIAS ORG/PART 385 287 302 393 4,8

5 1 - AGRIC.PECUARISTAS 1281 490 361 631 5,2

5 132 - PARTEIROS DIPLOMADOS 302 167 361 243 5,6

5 244 - ERVATEIROS 817 398 404 384 6,0

5 425 - FER.AJUST.ESP.FERRAM 711 558 357 507 5,9

5 474 - CHAP.EXCLUSIVE PALHA 452 339 385 381 5,5

5 491 - ELETRICISTAS 650 478 389 510 6,4

5 492 - REPARAD.REC.RD/TV 571 398 401 525 6,5

5 551 - COMP.TIPOG.LINOTIPISTAS 589 518 389 546 6,6

5 552 - IMPRESSORES/TIPOGRAFOS 635 478 393 528 6,6

5 553 - FOTOGRAVADORES 768 657 383 545 6,6

5 556 - ENCAN/CARTONADORES 395 311 340 384 5,6

5 563 - PINT.DEC.VIDRO/CERAMICA 480 299 354 411 5,4

5 573 - LAPIDADORES 425 276 358 432 5,7

5 613 - BALC/VENDEDORES 515 319 410 442 6,7

5 614 - VEND/JORNAIS REVISTAS 653 398 385 512 6,3

5 724 - FOG.EMBARCAÇÃO 700 562 389 497 6,3

5 725 - MARINHEIROS CIVIS 697 481 370 412 6,0

5 726 - TAIFEIROS TRANSP.MARIT 647 518 413 402 6,7

5 744 - FOGUISTAS DE TREM 681 556 400 655 5,9

5 745 - GUARDA-FREIOS 525 359 350 452 6,1

5 746 - MANOBREIROS SINALEIROS 547 438 366 442 6,0

5 821 - BARB.CABELEREIROS 519 319 364 347 6,0

5 831 - ATLETAS PROFISSIONAIS 879 398 431 566 6,6

5 845 - GUARDAS CIV.INSP.TRAF 520 359 388 487 5,9

5 914 - GUARDAS SANITARIAS 395 325 417 373 7,0

5 924 - OUT.OCUP.OU OCUP.MAL DEF 569 303 401 440 5,9

5 6001 - COMERCIANTE - CONTA PRÓPRIA 729 398 345 398 5,2

5 6002 - DONO DE HOTEL PENSÃO - CONTA PRÓPRIA 806 478 354 370 5,2

6 20 - CF.SEÇ.ENC.ADM.EMP.PRIV 1090 797 558 683 8,5

6 35 - ALMOX.ARMAZENISTAS 526 398 439 546 7,3

6 134 - ENFERMEIROS N/DIPLO 463 327 479 369 8,0

6 136 - PROTETICOS 763 558 479 590 7,8

6 192 - MUS.COMPOSITORES 824 478 478 604 7,4

6 193 - BAILAR.COREOGRAFOS 1037 598 529 609 7,9

6 196 - CINEGRAFISTAS 976 478 514 599 8,3

6 197 - FOTOGRAFOS 781 398 443 587 6,9

6 198 - OPER.TEC.CIN/RD/TV 589 398 438 499 7,2

6 331 - TRAB.EXTR.PETROLEO/GAS 1175 757 487 509 7,8

6 555 - REVIS IND GRAF 613 398 452 496 7,3

6 621 - PRAC/VIAJ/COMERCIAIS 978 797 545 704 8,7

6 632 - CORRETORES IMOVEIS 1152 797 557 710 8,6

6 723 - MAQ.EMBARCAÇÃO 1147 598 525 578 7,7

6 741 - AG.ESTRADA FERRO 742 553 517 617 8,3

6 742 - COND.CHEFES DE TREM 709 558 512 663 8,6

6 743 - MAQ.DE TREM 768 598 450 557 7,5

6 761 - INSP.DESP.TRANSPORTES 712 518 465 551 7,5

6 772 - POSTALISTAS 482 359 543 522 8,9

6 774 - TELEFONISTAS 449 343 514 384 8,5

6 775 - CARTEIROS 463 339 518 597 8,7

6 915 - INSPETORES FISCAIS 884 621 509 653 8,0

6 6003 - OUTROS PROPRIETÁRIOS - CONTA PRÓPRIA 1938 916 439 978 6,3

6 7001 - COMERCIANTE - EMPREGADOR 1833 996 554 1324 8,4

6 7002 - DONO DE HOTEL PENSÃO - EMPREGADOR 2214 1195 530 1163 7,9

6 7003 - OUTROS PROPRIETÁRIOS - EMPREGADOR 1922 996 527 901 7,9

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182

7 2 - INDUSTRIAIS 2179 1195 591 1523 8,7

7 15 - ADM.DIR.EMP.COMERCIO 1408 797 665 717 10,0

7 16 - ADM.DIR.SERV.HOSPED 1239 725 643 673 9,5

7 33 - TES.CAIXAS 955 757 700 627 10,6

7 36 - DAT.TAQUIGRAFOS 499 339 602 466 9,7

7 37 - AUX.ESC.ADM.GERAL 675 458 641 558 9,9

7 40 - OPERADORES MAQUINA 849 598 683 665 10,6

7 41 - TELEG.RADIOTELEGRAF 640 510 600 593 9,6

7 103 - AGR.TOPOGRAFOS 868 637 596 698 9,2

7 104 - DES.CARTOGRAFOS 1291 947 714 901 10,7

(conclusão)

Classe Ocupação Compatibilizada Renda Média Renda Mediana Status Médio Predito Médio Média de Anos de

Estudo

7 115 - OUT.ESP.CIENCIAS FIS 957 717 695 716 10,6

7 117 - FARM. PRATICOS 881 598 590 698 9,1

7 135 - ORTOPEDISTAS 899 526 703 610 10,1

7 137 - OPERADORES DE RAIO X 824 629 585 588 9,6

7 149 - OPTOMETRISTAS 680 566 580 600 9,1

7 171 - RELIGIOSOS 599 359 716 776 9,8

7 191 - ESCULT.PINTORES 963 629 716 730 10,3

7 194 - LOC.COM.RD/TV 837 578 622 650 9,6

7 195 - DECOR.CENOGRAFOS 1238 637 608 633 9,2

7 211 - TEC.AGRIC.PRAT.RURAIS 732 598 674 647 10,1

7 571 - MESTRES/CONTRAMESTRES 1120 876 607 735 9,4

7 622 - REP.COMERCIAIS 1341 996 635 820 9,8

7 634 - OUT.AG.CORRETORES 1094 717 604 653 9,0

7 771 - AG.POSTAIS E TELEG 753 570 659 673 10,4

7 841 - OFIC.PRAÇAS F.ARMADAS 931 685 623 751 9,7

7 842 - OFIC.PÇA C.BOMBEIROS 952 637 599 770 9,3

7 846 - CARCER.GUAR.PRESIDIO 657 522 573 723 9,2

7 7004 - OUTROS PROPRIETÁRIOS - EMPREGADOR 2065 1195 644 1549 9,3

8 11 - DIR.CHEF.SERV.PUB 1490 956 869 796 11,9

8 12 - ADM.DIR.EMP.EXT.MIN 2208 1195 849 857 11,4

8 13 - ADM.DIR.EMP.IND 2482 1753 861 1071 11,9

8 14 - ADM.DIR.EMP.CONST 2560 1636 958 1063 12,9

8 17 - ADM.DIR.EMP.TRA.COMUN 1756 1195 745 839 10,8

8 18 - ADM.DIR.EMP.COM/VAL 2654 1992 931 1044 12,9

8 19 - OUT.ADM.DIR.EMP.PRIV 2321 1593 874 1026 12,0

8 31 - AG.FISC.TRIBUTOS 1991 1534 894 898 12,2

8 32 - ASSIST.ADMINISTRATIVOS 889 637 779 656 11,5

8 34 - OCUP.AUX.ESTAT 1063 797 806 772 11,9

8 38 - ESC.JORNALISTAS 1890 1195 979 1046 13,1

8 148 - BIBLIO.MUSEOLOGOS 979 797 995 673 13,4

8 151 - PROF.ENS.1/GRAU 510 378 818 533 11,9

8 154 - PROF.ENS.N/ESPEC 761 538 872 654 12,1

8 164 - TAB.OFIC.REGISTRO 1557 950 775 1017 11,2

8 165 - ESC.CARTORIO 1051 797 837 826 12,0

8 166 - OF.JUSTIÇA 1259 1136 842 921 11,9

8 167 - OUT.OCUP.JUSTIÇA 1557 1139 917 804 12,6

8 199 - PROD.DIR.ESPETAC 1942 1195 912 940 12,4

8 623 - PROPAGANDISTAS 1644 996 824 928 11,7

8 631 - CORRETORES SEGUROS 1411 996 716 796 10,8

8 633 - COR.TITULOS/VALORES 1768 996 751 890 10,9

8 711 - AVIADORES CIVIS 3044 2390 772 944 11,6

8 712 - COMISSARIOS DE BORDO 2052 1951 747 676 11,2

8 713 - OFIC.MARINHA MERCANTE 2252 1593 877 924 12,1

8 834 - TEC.JUIZES ESPORTES 1040 797 934 898 12,6

8 844 - INVEST.POLICIA 915 697 745 872 11,0

8 847 - DATILOSCOPISTAS 842 713 760 738 11,3

9 39 - ANAL.SISTEMAS 2042 1593 1028 1167 13,7

9 101 - ENGENHEIROS 2937 2390 1321 1645 15,8

9 102 - ARQ/URBANISTAS 2496 1793 1330 1468 15,8

9 111 - QUIMICOS 2784 2390 1299 1467 15,7

9 112 - FARMACEUTICOS 1281 996 1245 906 15,4

9 113 - FARMACOLOGISTAS 1525 1203 1254 1102 15,4

9 114 - GEOLOGOS 2625 2103 1302 1335 15,7

9 121 - AGRONOMOS 1982 1474 1282 1405 15,6

9 122 - VETERINARIOS 1839 1323 1281 1377 15,6

9 123 - BIOLOGISTAS 1463 1195 1255 1085 15,4

9 124 - GEÓGRAFO 1443 1390 1235 889 15,3

9 130 - MEDICOS 3727 2988 1564 1699 17,0

9 131 - DENTISTAS 2274 1593 1142 1365 14,3

9 133 - ENFERMEIROS DIPLOM 1249 1115 1216 769 15,2

9 142 - ESTATISTICOS 1662 1476 1172 983 14,9

9 143 - ECONOMISTAS 2640 1992 1245 1336 15,4

9 144 - CONTADORES 1713 1195 1013 1185 13,7

9 145 - SOCIOLOGOS 1675 1474 1252 928 15,4

9 146 - FISICOS 2826 2390 1442 1436 16,4

9 147 - OUT.ESP.MEDICINA 1423 1115 1200 929 14,8

9 150 - PROF.ENS.2/GRAU 934 759 1149 850 14,7

9 152 - PROF.ENS.SUPERIOR 2140 1912 1385 1205 16,1

9 161 - MAGISTRADOS 5666 5179 1342 1426 15,9

9 162 - PROC.PROM.PUBLICOS 4371 3984 1334 1275 15,9

9 163 - ADV.DEF.PUBLICOS 2560 1793 1307 1581 15,7

9 172 - ASS.SOCIAIS 1044 809 1039 674 13,5

9 843 - DELEGADOS COM.POLICIA 2087 1589 1046 1159 13,6

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183

Fonte: Censo 91

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184

Tabela A.3 – Medidas de Renda e Escolaridade por Ocupação

Rio de Janeiro, 1991

Classe Ocupação Compatibilizada Renda Média Renda Mediana Status Médio Predito Médio Média de Anos de

Estudo

1 212 - OP.EQUIP.IMP.MECANICOS 275 199 244 247 3,3

1 213 - TRABAL. RURAL AUTONOMOS 337 159 240 199 3,1

1 214 - TRAB.CULTURA 168 100 187 151 1,8

1 312 - CANT.MARROEIROS 292 199 218 264 2,6

1 414 - AJUST.MONT.INST.MAQUIN 345 251 256 307 3,8

1 444 - RENDEIROS 199 199 155 210 1,0

1 449 - REDEIROS 345 299 242 298 3,5

1 473 - CHAPELEIROS DE PALHA 343 343 206 300 3,0

1 482 - CARP.TANOEIROS 317 239 246 309 3,5

1 512 - ARMAD.CONCRETO 278 239 224 277 2,9

1 513 - PEDREIROS 322 239 244 314 3,4

1 514 - SERVENTES DE PEDREIROS 199 143 224 264 2,9

1 516 - ESTUCADORES 466 282 241 308 3,2

1 522 - OPER.MAQ.CONST.CIVIL 338 271 257 308 3,8

1 532 - CHARQ.MAGAREFES 186 151 228 245 3,2

1 538 - MOL.TRAB.ASSEMELHADOS 125 120 161 156 1,1

1 539 - TRAB.FAB.REF/AÇUCAR 247 183 256 299 3,9

1 541 - TRAB.PREP.CAFE/CHA/CACAU 223 203 240 238 3,2

1 564 - OLEIROS 161 134 207 246 2,6

1 576 - VASSOUREIROS 126 80 199 193 2,2

1 578 - MARMORISTAS 365 220 257 316 3,8

1 727 - BARQUEIROS/CANOEIROS 302 183 247 253 3,9

1 753 - CARROCEIROS/TROPEIROS 267 159 210 268 2,5

1 813 - EMPREG.DOMESTICOS 182 139 229 166 3,2

1 823 - LAV.PASSADEIRAS 189 139 241 186 3,4

1 824 - ENGRAXATES 147 123 238 259 3,3

1 922 - TRAB.BRAÇAIS S/ESPEC 264 167 260 303 3,7

2 232 - PESCADORES 405 199 273 240 3,8

2 311 - MINEIROS 362 239 288 343 4,1

2 430 - LANT.VEICULOS 422 319 299 356 5,0

2 433 - POL/ESMERILHADORES 383 278 295 344 4,8

2 442 - FIAND.BOBINADORES 228 183 267 215 4,3

2 447 - TECELÕES 297 239 296 303 4,8

2 448 - TAPECEIROS 289 251 299 310 4,7

2 484 - SERRADORES 511 239 275 324 3,6

2 487 - LUSTRADORES 265 215 263 315 4,1

2 488 - CEST.ESTEIREIROS 157 68 263 360 4,3

2 515 - PINT.CAIADORES 347 239 271 344 4,2

2 517 - LADRILHEIROS/TAQUEIROS 420 319 267 341 4,0

2 518 - ENCANADORES 401 319 299 355 4,9

2 520 - CALCET/ASFALTADORES 306 299 272 334 4,2

2 521 - CALAFATES 420 239 296 364 4,6

2 534 - TRAB.TRAT.LEITE/LATIC 241 169 283 271 4,7

2 535 - PADEIROS/CONFEITEIROS 298 239 268 289 4,1

2 561 - VIDREIROS/AMPOLEIROS 388 279 295 337 4,8

2 562 - CERAMISTAS/LOUCEIROS 389 319 275 333 4,4

2 574 - BORRACHEIRO 379 248 286 338 4,6

2 575 - FOGUETEIROS 122 80 278 293 3,9

2 581 - PINTORES/PISTOLA 369 299 296 348 4,8

2 586 - CONF.PROD.PAPEL/PAPELÃO 293 255 284 323 4,4

2 587 - TRAB.FAB.PROD.BORRACHA 256 191 293 293 4,8

2 812 - COZINHEIROS 230 167 285 223 4,4

2 916 - LIXEIROS 322 223 263 301 3,8

2 921 - PORT.VIGIAS SERVENTES 251 167 278 274 4,2

3 411 - MOLD.MACHEIROS 450 327 324 377 5,3

3 412 - TRAB.FORNOS METAL 440 361 302 361 4,9

3 413 - TREF.ESTIR.METAIS 430 343 316 356 5,2

3 427 - SOLDADORES 428 335 320 373 5,4

3 429 - FER.SER.FORJADORES 390 319 321 386 5,3

3 432 - FUNILEIROS METAIS 385 319 326 378 5,7

3 441 - PREP.FIBRAS 285 239 303 302 5,0

3 445 - AJUST.TEAR.PREP.CARTÕES 409 294 324 313 5,2

3 450 - BRANQ.TINT.TRAB/ACABA 289 215 301 307 4,9

3 471 - ALF/COSTUREIROS 279 191 333 238 5,5

3 472 - BORDAD.CERZIDEIROS 245 154 336 235 5,7

3 475 - SAPAT.MONT.ACAB.SAPATOS 333 239 312 336 5,0

3 476 - BOLSEIROS/CINTEIROS 263 167 314 284 5,5

3 481 - MARCENEIROS 448 319 319 386 5,2

3 485 - ESTOF.CAPOTEIROS 388 279 333 378 5,5

3 511 - MESTRE-DE-OBRA 560 478 324 382 5,1

3 519 - VIDRACEIROS 359 255 316 372 5,2

3 531 - TRAB.CONS/ALIMENTOS 1058 283 328 355 5,2

3 540 - CERVEJ.TRAB.FAB.VINHOS 465 319 320 334 5,0

3 542 - TRAB.IND.PESCADO 380 187 300 268 4,4

3 731 - GUINDASTEIROS 427 348 301 357 5,0

3 752 - TROCADORES 354 279 313 311 5,3

3 762 - TRAB.CONS.FERROVIAS 345 299 337 410 5,1

3 811 - GARÇONS 316 199 309 283 5,0

3 822 - MANICUROS/PEDICUROS 286 171 333 233 5,5

3 911 - ASCENSORISTAS 267 195 317 331 5,3

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185

3 923 - TRAB.CONS.RODOVIAS 408 167 324 377 5,1

4 21 - ADM.DIR.EMP.AGROP 833 207 392 303 5,4

4 245 - AP.DESC.QUEB.PROD.VEG 830 478 392 294 6,0

4 421 - OP.MAQ.FERRAMENTAS 474 382 378 425 6,4

4 424 - MEC.VEIC.MOTOR 466 339 343 396 5,7

(continuação)

Classe Ocupação Compatibilizada Renda Média Renda Mediana Status Médio Predito Médio Média de Anos de

Estudo

4 425 - FER.AJUST.ESP.FERRAM 524 398 399 454 6,7

4 426 - GALV.REC.DECAP.METAIS 360 319 342 399 5,5

4 428 - CHAP.CALDEIREIROS 417 339 356 416 6,1

4 431 - MONT.EST.METALICA 397 339 342 387 5,8

4 461 - CORREEIROS SELEIROS 370 219 387 337 6,1

4 462 - CURTIDORES 322 319 393 446 6,6

4 486 - COLCHOEIROS 180 167 349 390 5,8

4 551 - COMP.TIPOG.LINOTIPISTAS 294 239 382 372 6,7

4 556 - ENCAN/CARTONADORES 336 239 340 333 5,7

4 572 - OURIVES 397 398 374 450 6,3

4 573 - LAPIDADORES 390 335 399 435 6,4

4 584 - FOGUISTAS 434 390 347 407 5,8

4 585 - EMB.EXPEDIDORES 350 239 368 366 6,0

4 588 - OUT.OCUP.IND.TRANSF 495 335 389 402 6,4

4 612 - VEND/AMBULANTES 445 279 369 367 5,9

4 614 - VEND/JORNAIS REVISTAS 551 398 389 419 6,5

4 732 - ESTIVADORES 468 335 343 391 5,7

4 751 - MOTORISTAS 552 430 339 394 5,7

4 814 - GUARD.AUTOMOVEIS 349 239 353 400 5,7

4 821 - BARB.CABELEREIROS 422 307 392 313 6,5

4 912 - APRENDIZES 431 335 396 424 6,6

4 920 - GUARDAS-VIGIAS ORG/PART 379 311 374 409 6,4

5 1 - AGRIC.PECUARISTAS 1086 398 414 658 6,0

5 35 - ALMOX.ARMAZENISTAS 477 340 482 511 8,0

5 149 - OPTOMETRISTAS 560 566 461 437 7,9

5 241 - MEDEIR/LENHADORES 958 359 433 334 6,3

5 243 - SERINGUEIROS 579 279 432 292 5,9

5 244 - ERVATEIROS 551 398 428 339 6,8

5 341 - GARIMPEIROS 849 239 468 462 7,1

5 491 - ELETRICISTAS 545 398 431 483 7,1

5 492 - REPARAD.REC.RD/TV 539 398 461 533 7,7

5 552 - IMPRESSORES/TIPOGRAFOS 486 389 408 450 6,9

5 553 - FOTOGRAVADORES 607 478 446 469 7,6

5 555 - REVIS IND GRAF 443 275 498 450 8,1

5 563 - PINT.DEC.VIDRO/CERAMICA 668 446 513 462 8,0

5 613 - BALC/VENDEDORES 441 271 429 405 7,0

5 722 - MESTRES EMBARCAÇÃO 955 598 405 433 6,5

5 724 - FOG.EMBARCAÇÃO 924 637 422 454 7,0

5 725 - MARINHEIROS CIVIS 768 598 424 456 7,0

5 742 - COND.CHEFES DE TREM 652 665 487 503 8,5

5 745 - GUARDA-FREIOS 654 976 460 541 8,4

5 746 - MANOBREIROS SINALEIROS 628 598 483 523 8,2

5 761 - INSP.DESP.TRANSPORTES 686 454 495 510 8,1

5 831 - ATLETAS PROFISSIONAIS 615 100 417 453 6,1

5 845 - GUARDAS CIV.INSP.TRAF 557 398 450 515 7,3

5 913 - CAPATAZES 725 602 498 526 7,8

5 914 - GUARDAS SANITARIAS 348 267 516 495 8,4

5 924 - OUT.OCUP.OU OCUP.MAL DEF 658 319 497 451 7,5

5 6001 - COMERCIANTE - CONTA PRÓPRIA 721 398 400 424 6,3

5 6002 - DONO DE HOTEL PENSÃO - CONTA PRÓPRIA 810 797 468 443 7,5

6 20 - CF.SEÇ.ENC.ADM.EMP.PRIV 946 637 641 609 9,6

6 36 - DAT.TAQUIGRAFOS 555 414 620 462 10,0

6 117 - FARM. PRATICOS 812 398 596 582 9,1

6 134 - ENFERMEIROS N/DIPLO 480 335 547 379 9,1

6 136 - PROTETICOS 685 407 537 566 8,6

6 137 - OPERADORES DE RAIO X 800 637 639 603 10,4

6 192 - MUS.COMPOSITORES 1150 637 622 664 9,3

6 195 - DECOR.CENOGRAFOS 1063 598 635 606 9,6

6 196 - CINEGRAFISTAS 795 518 624 666 10,0

6 197 - FOTOGRAFOS 837 398 522 552 8,2

6 198 - OPER.TEC.CIN/RD/TV 676 478 519 517 8,4

6 331 - TRAB.EXTR.PETROLEO/GAS 1475 757 547 606 8,6

6 474 - CHAP.EXCLUSIVE PALHA 845 386 603 442 8,6

6 571 - MESTRES/CONTRAMESTRES 1005 797 659 682 10,2

6 579 - PREPARADORES DE FUMO 446 359 557 440 9,3

6 621 - PRAC/VIAJ/COMERCIAIS 889 677 637 697 9,9

6 726 - TAIFEIROS TRANSP.MARIT 848 677 527 551 8,6

6 741 - AG.ESTRADA FERRO 626 458 584 560 9,0

6 743 - MAQ.DE TREM 717 598 541 591 9,2

6 772 - POSTALISTAS 545 438 639 541 10,1

6 774 - TELEFONISTAS 443 339 578 368 9,4

6 775 - CARTEIROS 438 359 539 577 9,1

6 842 - OFIC.PÇA C.BOMBEIROS 849 518 623 662 9,5

6 915 - INSPETORES FISCAIS 879 570 586 601 9,2

6 7001 - COMERCIANTE - EMPREGADOR 1621 916 589 1197 9,0

6 7002 - DONO DE HOTEL PENSÃO - EMPREGADOR 1789 1195 567 1097 8,4

7 2 - INDUSTRIAIS 2146 1195 688 1461 10,0

7 15 - ADM.DIR.EMP.COMERCIO 1241 717 679 609 10,2

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186

7 16 - ADM.DIR.SERV.HOSPED 1225 797 713 661 10,4

7 33 - TES.CAIXAS 863 598 661 525 10,1

7 37 - AUX.ESC.ADM.GERAL 659 438 677 515 10,4

7 40 - OPERADORES MAQUINA 766 598 699 596 10,9

7 41 - TELEG.RADIOTELEGRAF 650 508 663 609 10,4

7 103 - AGR.TOPOGRAFOS 967 797 702 725 10,6

7 104 - DES.CARTOGRAFOS 1142 797 779 767 11,4

7 115 - OUT.ESP.CIENCIAS FIS 927 637 754 667 11,2

7 135 - ORTOPEDISTAS 886 478 734 575 10,7

7 164 - TAB.OFIC.REGISTRO 2663 2111 728 1361 10,6

(conclusão)

Classe Ocupação Compatibilizada Renda Média Renda Mediana Status Médio Predito Médio Média de Anos de

Estudo

7 191 - ESCULT.PINTORES 929 637 779 680 11,1

7 193 - BAILAR.COREOGRAFOS 1688 797 727 619 10,6

7 194 - LOC.COM.RD/TV 1116 1195 733 668 11,0

7 211 - TEC.AGRIC.PRAT.RURAIS 668 474 721 698 10,7

7 622 - REP.COMERCIAIS 1166 797 710 724 10,6

7 623 - PROPAGANDISTAS 958 797 795 775 11,7

7 631 - CORRETORES SEGUROS 1434 916 778 725 11,5

7 632 - CORRETORES IMOVEIS 1165 797 693 707 10,5

7 634 - OUT.AG.CORRETORES 1191 797 803 688 11,6

7 712 - COMISSARIOS DE BORDO 2201 1992 742 595 11,2

7 771 - AG.POSTAIS E TELEG 637 496 674 618 10,5

7 841 - OFIC.PRAÇAS F.ARMADAS 962 725 693 751 10,6

7 846 - CARCER.GUAR.PRESIDIO 621 478 665 622 10,5

7 7003 - OUTROS PROPRIETÁRIOS - EMPREGADOR 1713 1115 702 934 9,9

7 7004 - OUTROS PROPRIETÁRIOS - EMPREGADOR 2161 1195 758 1499 10,7

8 11 - DIR.CHEF.SERV.PUB 1582 996 939 767 12,6

8 13 - ADM.DIR.EMP.IND 2251 1593 893 863 12,3

8 14 - ADM.DIR.EMP.CONST 2379 1574 974 936 13,1

8 17 - ADM.DIR.EMP.TRA.COMUN 1801 1394 863 837 12,1

8 18 - ADM.DIR.EMP.COM/VAL 2767 1992 1011 910 13,5

8 19 - OUT.ADM.DIR.EMP.PRIV 2174 1394 948 835 12,7

8 31 - AG.FISC.TRIBUTOS 2488 1394 985 845 13,1

8 32 - ASSIST.ADMINISTRATIVOS 967 757 834 663 12,0

8 34 - OCUP.AUX.ESTAT 1025 753 833 712 12,2

8 38 - ESC.JORNALISTAS 1915 1394 1037 905 13,6

8 39 - ANAL.SISTEMAS 1960 1593 1062 966 14,0

8 144 - CONTADORES 1590 1155 1045 1019 14,0

8 151 - PROF.ENS.1/GRAU 620 518 893 544 12,7

8 154 - PROF.ENS.N/ESPEC 744 518 906 597 12,5

8 165 - ESC.CARTORIO 1207 1004 1023 877 13,5

8 166 - OF.JUSTIÇA 1636 1394 1016 946 13,4

8 167 - OUT.OCUP.JUSTIÇA 1566 1195 1030 823 13,6

8 171 - RELIGIOSOS 724 458 829 815 11,3

8 199 - PROD.DIR.ESPETAC 2327 1394 984 831 13,2

8 633 - COR.TITULOS/VALORES 1594 1195 851 793 12,0

8 711 - AVIADORES CIVIS 4250 2789 882 873 12,7

8 713 - OFIC.MARINHA MERCANTE 2156 1593 926 894 12,8

8 723 - MAQ.EMBARCAÇÃO 1246 996 830 837 11,6

8 834 - TEC.JUIZES ESPORTES 1171 884 1014 863 13,3

8 844 - INVEST.POLICIA 997 797 871 881 12,3

8 847 - DATILOSCOPISTAS 1075 996 898 812 12,5

8 6003 - OUTROS PROPRIETÁRIOS - CONTA PRÓPRIA 2332 1195 829 1578 10,9

9 12 - ADM.DIR.EMP.EXT.MIN 2851 2390 1103 979 14,2

9 101 - ENGENHEIROS 2901 2390 1327 1348 15,8

9 102 - ARQ/URBANISTAS 2412 1593 1324 1238 15,8

9 111 - QUIMICOS 3024 2390 1339 1349 15,9

9 112 - FARMACEUTICOS 1376 1115 1230 872 15,3

9 113 - FARMACOLOGISTAS 1459 1641 1297 829 15,6

9 114 - GEOLOGOS 3454 2988 1335 1320 15,8

9 121 - AGRONOMOS 1179 797 1280 1264 15,6

9 122 - VETERINARIOS 1564 1394 1303 1342 15,7

9 123 - BIOLOGISTAS 1358 1195 1280 925 15,5

9 124 - GEÓGRAFO 1536 1195 1285 946 15,6

9 130 - MEDICOS 3052 2390 1564 1348 17,0

9 131 - DENTISTAS 2076 1593 1183 1152 14,7

9 133 - ENFERMEIROS DIPLOM 1145 1036 1223 771 15,3

9 142 - ESTATISTICOS 1942 1593 1181 969 14,9

9 143 - ECONOMISTAS 3034 2390 1257 1178 15,4

9 145 - SOCIOLOGOS 1674 1394 1224 871 15,1

9 146 - FISICOS 2660 1789 1465 1214 16,5

9 147 - OUT.ESP.MEDICINA 1253 1052 1192 732 14,8

9 148 - BIBLIO.MUSEOLOGOS 1149 996 1103 664 14,4

9 150 - PROF.ENS.2/GRAU 987 797 1178 781 14,9

9 152 - PROF.ENS.SUPERIOR 2113 1793 1407 1081 16,2

9 161 - MAGISTRADOS 6070 5976 1364 1168 16,0

9 162 - PROC.PROM.PUBLICOS 4576 3585 1345 1034 15,9

9 163 - ADV.DEF.PUBLICOS 2460 1593 1302 1316 15,7

9 172 - ASS.SOCIAIS 1231 996 1093 654 14,1

9 843 - DELEGADOS COM.POLICIA 3314 2390 1168 1240 14,6

Fonte: Censo 91

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187

Tabela A.4 – Classificação dos 9 estratos ocupacionais

I - TRABALHADORES RURAIS

212 - OP.EQUIP.IMP.MECANICOS 449 - REDEIROS

213 - TRABAL. RURAL AUTONOMOS 473 - CHAPELEIROS DE PALHA

214 - TRAB.CULTURA 484 - SERRADORES

231 - CAÇADORES 488 - CEST.ESTEIREIROS

232 - PESCADORES 514 - SERVENTES DE PEDREIROS

241 - MEDEIR/LENHADORES 538 - MOL.TRAB.ASSEMELHADOS

242 - CARVOEIROS(FABRIC.) 564 - OLEIROS

243 - SERINGUEIROS 575 - FOGUETEIROS

245 - AP.DESC.QUEB.PROD.VEG 576 - VASSOUREIROS

312 - CANT.MARROEIROS 753 - CARROCEIROS/TROPEIROS

341 - GARIMPEIROS 824 - ENGRAXATES

444 - RENDEIROS

II - SERVIÇOS DOMÉSTICOS

486 - COLCHOEIROS 727 - BARQUEIROS/CANOEIROS

512 - ARMAD.CONCRETO 813 - EMPREG.DOMESTICOS

520 - CALCET/ASFALTADORES 823 - LAV.PASSADEIRAS

532 - CHARQ.MAGAREFES 916 - LIXEIROS

539 - TRAB.FAB.REF/AÇUCAR 921 - PORT.VIGIAS SERVENTES

562 - CERAMISTAS/LOUCEIROS 922 - TRAB.BRAÇAIS S/ESPEC

III - TRABALHADORES DA INDÚSTRIA TRADICIONAL

311 - MINEIROS 521 - CALAFATES

433 - POL/ESMERILHADORES 522 - OPER.MAQ.CONST.CIVIL

441 - PREP.FIBRAS 531 - TRAB.CONS/ALIMENTOS

442 - FIAND.BOBINADORES 534 - TRAB.TRAT.LEITE/LATIC

445 - AJUST.TEAR.PREP.CARTÕES 535 - PADEIROS/CONFEITEIROS

447 - TECELÕES 540 - CERVEJ.TRAB.FAB.VINHOS

448 - TAPECEIROS 541 - TRAB.PREP.CAFE/CHA/CACAU

450 - BRANQ.TINT.TRAB/ACABA 542 - TRAB.IND.PESCADO

461 - CORREEIROS SELEIROS 561 - VIDREIROS/AMPOLEIROS

462 - CURTIDORES 563 - PINT.DEC.VIDRO/CERAMICA

471 - ALF/COSTUREIROS 573 - LAPIDADORES

475 - SAPAT.MONT.ACAB.SAPATOS 574 - BORRACHEIRO

476 - BOLSEIROS/CINTEIROS 578 - MARMORISTAS

481 - MARCENEIROS 579 - PREPARADORES DE FUMO

482 - CARP.TANOEIROS 581 - PINTORES/PISTOLA

485 - ESTOF.CAPOTEIROS 584 - FOGUISTAS

487 - LUSTRADORES 585 - EMB.EXPEDIDORES

513 - PEDREIROS 586 - CONF.PROD.PAPEL/PAPELÃO

515 - PINT.CAIADORES 587 - TRAB.FAB.PROD.BORRACHA

516 - ESTUCADORES 588 - OUT.OCUP.IND.TRANSF

517 - LADRILHEIROS/TAQUEIROS 731 - GUINDASTEIROS

519 - VIDRACEIROS 923 - TRAB.CONS.RODOVIAS

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IV - TRABALHADORES DA INDÚSTRIA MODERNA E EM SERVIÇOS

GERAIS

21 - ADM.DIR.EMP.AGROP 572 - OURIVES

132 - PARTEIROS DIPLOMADOS 612 - VEND/AMBULANTES

411 - MOLD.MACHEIROS 613 - BALC/VENDEDORES

412 - TRAB.FORNOS METAL 614 - VEND/JORNAIS REVISTAS

413 - TREF.ESTIR.METAIS 722 - MESTRES EMBARCAÇÃO

414 - AJUST.MONT.INST.MAQUIN 732 - ESTIVADORES

421 - OP.MAQ.FERRAMENTAS 745 - GUARDA-FREIOS

424 - MEC.VEIC.MOTOR 751 - MOTORISTAS

425 - FER.AJUST.ESP.FERRAM 752 - TROCADORES

426 - GALV.REC.DECAP.METAIS 762 - TRAB.CONS.FERROVIAS

427 - SOLDADORES 811 - GARÇONS

428 - CHAP.CALDEIREIROS 812 - COZINHEIROS

429 - FER.SER.FORJADORES 814 - GUARD.AUTOMOVEIS

430 - LANT.VEICULOS 822 - MANICUROS/PEDICUROS

431 - MONT.EST.METALICA 831 - ATLETAS PROFISSIONAIS

432 - FUNILEIROS METAIS 911 - ASCENSORISTAS

472 - BORDAD.CERZIDEIROS 912 - APRENDIZES

518 - ENCANADORES 913 - CAPATAZES

555 - REVIS IND GRAF 920 - GUARDAS-VIGIAS ORG/PART

556 - ENCAN/CARTONADORES 924 - OUT.OCUP.OU OCUP.MAL DEF

V - PROPRIETÁRIOS CONTA PRÓPRIA

6001 - COMERCIANTE - CONTA PRÓPRIA

6002 - DONO DE HOTEL PENSÃO - CONTA PRÓPRIA

6003 - OUTROS PROPRIETÁRIOS - CONTA PRÓPRIA

VI - OCUPAÇÕES NÃO MANUAIS DE ROTINA

1 - AGRIC.PECUARISTAS 511 - MESTRE-DE-OBRA

20 - CF.SEÇ.ENC.ADM.EMP.PRIV 551 - COMP.TIPOG.LINOTIPISTAS

33 - TES.CAIXAS 552 - IMPRESSORES/TIPOGRAFOS

35 - ALMOX.ARMAZENISTAS 553 - FOTOGRAVADORES

36 - DAT.TAQUIGRAFOS 571 - MESTRES/CONTRAMESTRES

37 - AUX.ESC.ADM.GERAL 621 - PRAC/VIAJ/COMERCIAIS

40 - OPERADORES MAQUINA 634 - OUT.AG.CORRETORES

41 - TELEG.RADIOTELEGRAF 723 - MAQ.EMBARCAÇÃO

103 - AGR.TOPOGRAFOS 724 - FOG.EMBARCAÇÃO

104 - DES.CARTOGRAFOS 725 - MARINHEIROS CIVIS

115 - OUT.ESP.CIENCIAS FIS 726 - TAIFEIROS TRANSP.MARIT

117 - FARM. PRATICOS 741 - AG.ESTRADA FERRO

134 - ENFERMEIROS N/DIPLO 743 - MAQ.DE TREM

136 - PROTETICOS 746 - MANOBREIROS SINALEIROS

137 - OPERADORES DE RAIO X 761 - INSP.DESP.TRANSPORTES

149 - OPTOMETRISTAS 772 - POSTALISTAS

192 - MUS.COMPOSITORES 774 - TELEFONISTAS

193 - BAILAR.COREOGRAFOS 775 - CARTEIROS

194 - LOC.COM.RD/TV 821 - BARB.CABELEREIROS

195 - DECOR.CENOGRAFOS 841 - OFIC.PRAÇAS F.ARMADAS

196 - CINEGRAFISTAS 842 - OFIC.PÇA C.BOMBEIROS

197 - FOTOGRAFOS 845 - GUARDAS CIV.INSP.TRAF

198 - OPER.TEC.CIN/RD/TV 846 - CARCER.GUAR.PRESIDIO

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211 - TEC.AGRIC.PRAT.RURAIS 914 - GUARDAS SANITARIAS

331 - TRAB.EXTR.PETROLEO/GAS 915 - INSPETORES FISCAIS

491 - ELETRICISTAS

492 - REPARAD.REC.RD/TV

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VII - EMPREGADORES

2 - INDUSTRIAIS

7001 - COMERCIANTE - EMPREGADOR

7002 - DONO DE HOTEL PENSÃO - EMPREGADOR

7003 - OUTROS PROPRIETÁRIOS - EMPREGADOR

7004 - OUTROS PROPRIETÁRIOS - EMPREGADOR

VIII - ADMINISTRADORES, GERENTES E SUPERVISORES DO TRABALHO

MANUAL

11 - DIR.CHEF.SERV.PUB 165 - ESC.CARTORIO

12 - ADM.DIR.EMP.EXT.MIN 166 - OF.JUSTIÇA

13 - ADM.DIR.EMP.IND 167 - OUT.OCUP.JUSTIÇA

14 - ADM.DIR.EMP.CONST 171 - RELIGIOSOS

15 - ADM.DIR.EMP.COMERCIO 191 - ESCULT.PINTORES

16 - ADM.DIR.SERV.HOSPED 199 - PROD.DIR.ESPETAC

17 - ADM.DIR.EMP.TRA.COMUN 622 - REP.COMERCIAIS

18 - ADM.DIR.EMP.COM/VAL 623 - PROPAGANDISTAS

19 - OUT.ADM.DIR.EMP.PRIV 631 - CORRETORES SEGUROS

31 - AG.FISC.TRIBUTOS 632 - CORRETORES IMOVEIS

32 - ASSIST.ADMINISTRATIVOS 633 - COR.TITULOS/VALORES

34 - OCUP.AUX.ESTAT 711 - AVIADORES CIVIS

38 - ESC.JORNALISTAS 712 - COMISSARIOS DE BORDO

39 - ANAL.SISTEMAS 713 - OFIC.MARINHA MERCANTE

135 - ORTOPEDISTAS 771 - AG.POSTAIS E TELEG

148 - BIBLIO.MUSEOLOGOS 834 - TEC.JUIZES ESPORTES

151 - PROF.ENS.1/GRAU 844 - INVEST.POLICIA

154 - PROF.ENS.N/ESPEC 847 - DATILOSCOPISTAS

164 - TAB.OFIC.REGISTRO

IX - PROFISSIONAIS

101 - ENGENHEIROS 142 - ESTATISTICOS

102 - ARQ/URBANISTAS 143 - ECONOMISTAS

111 - QUIMICOS 144 - CONTADORES

112 - FARMACEUTICOS 145 - SOCIOLOGOS

113 - FARMACOLOGISTAS 146 - FISICOS

114 - GEOLOGOS 147 - OUT.ESP.MEDICINA

121 - AGRONOMOS 150 - PROF.ENS.2/GRAU

122 - VETERINARIOS 152 - PROF.ENS.SUPERIOR

123 - BIOLOGISTAS 161 - MAGISTRADOS

124 - GEÓGRAFO 162 - PROC.PROM.PUBLICOS

130 - MEDICOS 163 - ADV.DEF.PUBLICOS

131 - DENTISTAS 172 - ASS.SOCIAIS

133 - ENFERMEIROS DIPLOM 843 - DELEGADOS COM.POLICIA

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191

Tabela A.5

Mobilidade social intergeracional no Rio de Janeiro e Brasil

(4 classes) 1976 1988 1996 Var(96-76) Var(96-88)

Rio de Janeiro

Imobilidade 37,0 38,9 43,6 17,7% 11,9%

Descendente 11,5 13,9 15,6 35,6% 12,2%

Ascendente 51,4 47,1 40,8 -20,7% -13,5%

Brasil

Imobilidade 48,6 39,6 40,6 -16,5% 2,5%

Descendente 9,1 9,0 10,7 18,0% 19,1%

Ascendente 42,3 51,4 48,7 15,1% -5,3%

Total 100 100 100

Fonte: PNADs 1976, 1988 e 1996.

Tabela A.6

Mobilidade social intergeracional no Rio de Janeiro e Brasil

(9 categorias ocupacionais ordenadas segundo

status do filho nas PNADs 76, 88 e 96) 1976 1988 1996 Var(96-76) Var(96-88)

Rio de Janeiro

Imobilidade 37,30 31,47 27,82 -25% -25%

Descendente 22,27 21,72 29,32 32% 32%

Ascendente 40,42 46,81 42,86 6% 6%

Brasil

Imobilidade 25,51 22,84 21,81 -14% -14%

Descendente 24,97 33,46 32,16 29% 29%

Ascendente 49,52 43,70 46,04 -7% -7%

Total 100 100 100

Fonte: PNADs 1976, 1988 e 1996.

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192

Tabela A.7

Evolução da mobilidade social por Unidade da Federação (4 classes)

1976 1996 Var(96-76) Imob. Desc. Asc. Imob. Desc. Asc. Imob. Desc. Asc.

Rio de Janeiro 37,03 11,52 51,44 43,59 15,62 40,79 6,55 4,10 -10,65

São Paulo 35,95 8,68 55,37 34,64 10,18 55,17 -1,31 1,50 -0,20

Espirito Santo 44,26 7,36 48,38 41,47 9,43 49,11 -2,79 2,06 0,73

Rio Grande do Norte 40,55 10,06 49,39 35,28 9,52 55,20 -5,27 -0,54 5,81

Santa Catarina 51,34 5,70 42,96 44,29 6,47 49,23 -7,05 0,78 6,27

Bahia 61,45 8,00 30,56 51,40 9,81 38,79 -10,05 1,82 8,23

Rio Grande do Sul 51,64 12,42 35,95 41,16 14,60 44,24 -10,48 2,18 8,30

Minas Gerais 53,59 7,81 38,60 42,26 10,06 47,69 -11,33 2,25 9,08

Paraíba 58,01 4,63 37,36 45,63 7,19 47,18 -12,38 2,56 9,82

Paraná 50,58 8,79 40,62 38,68 9,38 51,94 -11,90 0,59 11,31

Pernambuco 59,93 9,45 30,63 45,98 11,25 42,78 -13,95 1,80 12,15

Ceará 63,23 7,63 29,14 46,06 8,65 45,28 -17,17 1,02 16,14

Piauí 70,25 3,02 26,73 48,20 7,86 43,93 -22,05 4,85 17,20

Sergipe 62,53 11,11 26,36 41,30 9,50 49,20 -21,22 -1,61 22,84

Alagoas 66,14 15,55 18,31 50,24 8,19 41,57 -15,90 -7,36 23,27

Maranhão 78,41 5,47 16,12 52,31 5,67 42,02 -26,10 0,21 25,90 Fonte: PNADs 1976 e 1996.

Tabela A.8

Evolução da mobilidade social por Unidade da Federação

(9 categorias ocupacionais ordenadas segundo

status do filho nas PNADs 76, 88 e 96) 1976 1996 Var(96-76) Imob. Desc. Asc. Imob. Desc. Asc. Imob. Desc. Asc.

Rio de Janeiro 22,5 25,4 52,2 21,8 33,5 44,8 -0,7 8,1 -7,4

São Paulo 28,5 16,7 54,8 22,9 23,1 54,0 -5,6 6,4 -0,8

Espírito Santo 38,2 20,6 41,2 33,4 22,8 43,8 -4,8 2,2 2,6

Rio Grande do Norte 31,8 22,7 45,4 29,5 24,1 46,4 -2,4 1,4 1,0

Santa Catarina 42,3 23,4 34,3 30,0 29,4 40,5 -12,3 6,0 6,3

Bahia 46,3 24,6 29,1 34,7 33,5 31,8 -11,6 8,9 2,7

Rio Grande do Sul 34,7 31,5 33,8 27,5 38,1 34,4 -7,2 6,6 0,6

Minas Gerais 42,5 19,2 38,3 30,3 27,2 42,5 -12,2 8,0 4,2

Paraíba 47,0 24,0 29,0 30,4 27,7 41,8 -16,6 3,8 12,8

Paraná 39,4 22,7 37,8 29,2 27,0 43,8 -10,2 4,2 6,0

Pernambuco 40,8 28,7 30,5 30,2 32,4 37,4 -10,6 3,7 6,9

Ceará 51,9 16,5 31,5 33,8 30,5 35,8 -18,2 13,9 4,2

Piauí 62,5 16,7 20,8 29,0 41,9 29,1 -33,5 25,2 8,4

Sergipe 54,0 20,7 25,3 29,6 27,6 42,9 -24,5 6,9 17,6

Maranhão 56,7 26,2 17,1 34,1 41,5 24,4 -22,6 15,3 7,3

Alagoas 54,0 20,1 25,8 34,5 26,3 39,2 -19,5 6,1 13,4

Fonte: PNADs 1976 e 1996.

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193

Tabela A.9

Evolução da estrutura ocupacional por sexo

no Rio de Janeiro e Brasil Homens Mulheres

1976 1996 Var(96-

76)

1976 1996 Var(96-

76)

Rio de Janeiro

I. Trab.Rurais 7,0 5,3 -24,9% 1,4 3,2 135,5%

II. Serv.Domésticos 10,9 8,5 -21,9% 32,9 26,9 -18,4%

III. Trab.Ind.Trad. 14,5 15,1 4,7% 16,0 8,9 -44,5%

IV. Trab.Ind.Mod. /serv. 25,2 30,2 19,6% 12,1 18,9 56,1%

V. Conta própria 2,8 3,5 24,2% 2,4 4,4 84,4%

VI. Não manuais rotina 21,1 16,0 -24,2% 15,1 13,7 -9,8%

VII. Empregadores 6,6 7,4 12,5% 3,4 3,8 14,0%

VIII. Administradores 7,8 9,2 17,4% 11,6 15,0 29,7%

IX. Profissionais 4,1 4,8 18,0% 5,1 5,2 0,9%

Total 100 100 100 100

Brasil

I. Trab.Rurais 34,4 22,3 -35,3% 29,0 18,4 -36,5%

II. Serv.Domésticos 6,3 6,7 7,4% 22,1 21,4 -3,5%

III. Trab.Ind.Trad. 11,2 14,4 28,5% 11,0 8,6 -22,1%

IV. Trab.Ind.Mod. /serv. 18,6 22,9 23,5% 10,1 15,9 57,3%

V. Conta própria 3,7 5,1 35,9% 3,4 4,6 33,5%

VI. Não manuais rotina 12,8 12,0 -6,2% 8,2 12,0 46,7%

VII. Empregadores 5,6 6,9 23,4% 1,9 3,2 68,3%

VIII. Administradores 4,9 6,4 30,8% 11,7 12,0 2,4%

IX. Profissionais 2,5 3,3 31,9% 2,4 3,9 59,6%

Total 100 100 100 100

Fonte: PNADs 1976 e 1996.

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194

Tabela A.10

Evolução da estrutura ocupacional por cor

no Rio de Janeiro e Brasil Brancos Não - brancos

1976 1996 Var(96-

76)

1976 1996 Var(96-

76)

Rio de Janeiro

I. Trab.Rurais 3,9 3,6 -9,1% 8,1 5,7 -28,8%

II. Serv.Domésticos 11,2 10,7 -4,8% 25,0 23,7 -5,0%

III. Trab.Ind.Trad. 11,5 11,0 -5,0% 20,3 15,1 -25,4%

IV. Trab.Ind.Mod. /serv. 21,0 24,7 17,8% 23,0 27,1 17,9%

V. Conta própria 3,5 4,6 31,7% 1,2 2,8 131,4%

VI. Não manuais rotina 20,7 15,1 -26,9% 18,0 14,9 -16,9%

VII. Empregadores 9,0 7,7 -13,9% 0,9 3,4 278,7%

VIII. Administradores 12,8 15,4 21,0% 2,6 5,6 111,5%

IX. Profissionais 6,4 7,1 12,0% 1,0 1,6 58,8%

Total 100 100 100 100

Brasil

I. Trab.Rurais 27,1 16,1 -40,7% 41,9 27,2 -35,0%

II. Serv.Domésticos 7,8 10,3 32,8% 13,5 15,9 17,3%

III. Trab.Ind.Trad. 10,3 11,7 14,0% 12,5 12,5 0,0%

IV. Trab.Ind.Mod. /serv. 17,6 20,3 15,7% 14,8 19,8 33,9%

V. Conta própria 4,1 5,3 28,3% 3,0 4,3 43,3%

VI. Não manuais rotina 13,6 13,3 -2,6% 8,8 10,3 16,3%

VII. Empregadores 6,7 7,3 9,1% 1,8 2,8 50,1%

VIII. Administradores 9,2 10,7 16,4% 2,7 5,7 110,2%

IX. Profissionais 3,6 5,0 37,4% 0,9 1,5 79,4%

Total 100 100 100 100

Fonte: PNADs 1976 e 1996.

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195

Tabela A.11

Frquência total da matriz de mobilidade social intergeracional

do Rio de Janeiro em 1976 I II III IV V VI VII VIII IX Total

I 72.775 134.279 110.632 125.598 21.704 69.618 16.839 16.840 5.709 573.994

II 1.019 14.338 3.404 27.408 2.250 14.726 3.306 3.567 70.018

III 27.054 34.663 37.612 2.101 25.077 2.243 7.946 1.144 137.840

IV 6.266 25.017 25.951 57.771 2.195 43.903 10.147 16.125 9.947 197.322

V 2.060 6.679 9.084 3.404 12.251 4.347 12.303 5.737 55.865

VI 6.734 11.272 17.548 33.798 1.138 58.118 16.642 29.076 15.532 189.858

VII 1.936 4.625 11.222 3.393 17.945 14.212 14.848 6.846 75.027

VIII 1.160 1.160 3.502 1.160 10.049 1.160 11.486 5.610 35.287

IX 1.160 4.563 2.320 6.861 7.822 22.726

Total 86.794 217.116 204.662 307.155 37.345 256.250 71.216 119.052 58.347 1.357.937

Fonte: PNAD 1976.

Tabela A.12

Frquência total da matriz de mobilidade social intergeracional

do Rio de Janeiro em 1996 I II III IV V VI VII VIII IX Total

I 64.826 135.842 93.346 132.408 21.097 46.796 23.458 20.698 5.725 544.196

II 4.605 28.103 21.693 34.621 2.961 16.682 5.002 8.519 2.928 125.114

III 9.737 53.088 61.103 92.738 7.401 49.886 14.052 28.374 5.762 322.141

IV 7.765 61.947 50.145 146.933 21.127 92.938 28.501 68.781 21.757 499.894

V 1.284 4.281 7.244 15.007 10.889 8.918 12.273 19.249 7.077 86.222

VI 6.184 34.944 33.264 95.528 11.322 79.862 25.571 55.286 24.287 366.248

VII 724 4.606 8.162 16.158 7.011 17.043 15.369 26.729 15.438 111.240

VIII 1.679 6.715 4.804 23.598 5.758 24.191 11.481 33.666 16.957 128.849

IX 1.843 6.153 1.680 6.679 6.121 18.630 23.436 64.542

Total 96.804 331.369 279.761 563.144 89.246 342.995 141.828 279.932 123.367 2.248.446

Fonte: PNAD 1996.

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196

Tabela A.13

Frquência total da matriz de mobilidade social intergeracional

do Brasil em 1976 I II III IV V VI VII VIII IX Total

I 4.227.554 901.340 897.033 1.161.127 290.128 600.396 152.827 192.757 30.798 8.453.960

II 27.443 38.247 34.635 84.877 5.562 38.194 15.874 22.516 1.317 268.665

III 89.186 72.351 228.489 185.426 20.200 134.338 62.923 58.941 15.217 867.071

IV 52.116 72.981 95.962 289.489 24.218 168.146 89.765 92.339 23.100 908.116

V 44.513 22.141 39.726 77.365 68.280 89.630 47.835 109.136 41.087 539.713

VI 116.298 73.382 96.609 192.358 43.233 295.059 97.775 124.960 72.746 1.112.420

VII 11.136 7.912 11.772 41.918 6.051 65.869 85.588 76.766 27.772 334.784

VIII 4.955 11.395 8.369 20.481 6.987 32.112 15.933 69.753 23.252 193.237

IX 1.679 1.867 9.146 3.501 22.147 15.694 56.725 45.442 156.201

Total 4.574.880 1.199.749 1.414.462 2.062.187 468.160 1.445.891 584.214 803.893 280.731 12.834.167

Fonte: PNAD 1976.

Tabela A.14

Frquência total da matriz de mobilidade social intergeracional

do Brasil em 1996 I II III IV V VI VII VIII IX Total

I 5.211.483 2.128.711 1.838.460 2.576.234 662.469 1.119.583 449.539 628.808 151.777 14.767.064

II 57.897 155.651 147.482 224.329 35.003 132.039 46.620 70.523 17.057 886.601

III 145.398 314.761 509.604 572.250 96.508 356.707 130.761 201.968 51.833 2.379.790

IV 121.900 296.092 299.056 941.891 160.889 545.757 240.847 418.174 151.129 3.175.735

V 50.484 60.621 85.492 210.770 140.813 202.223 143.319 222.965 94.223 1.210.910

VI 161.734 212.384 218.471 469.690 114.356 534.339 195.815 390.286 160.570 2.457.645

VII 25.673 36.997 64.474 130.715 58.084 136.726 142.008 150.152 100.235 845.064

VIII 15.348 32.712 28.106 97.349 32.917 139.356 77.636 196.596 118.504 738.524

IX 5.139 6.643 3.613 31.191 11.549 48.095 47.057 87.372 142.895 383.554

Total 5.795.056 3.244.572 3.194.758 5.254.419 1.312.588 3.214.825 1.473.602 2.366.844 988.223 26.844.887

Fonte: PNAD 1996.

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197

Tabela A.15

Fluxo total da matriz de mobilidade social intergeracional Rio de Janeiro I II III IV V VI VII VIII IX Total

1976

I. Trab.Rurais 5,4 9,9 8,1 9,2 1,6 5,1 1,2 1,2 0,4 42,3

II. Serv.Domésticos 0,1 1,1 0,3 2,0 0,2 1,1 0,2 0,3 5,2

III. Trab.Ind.Trad. 2,0 2,6 2,8 0,2 1,8 0,2 0,6 0,1 10,2

IV. Trab.Ind.Mod. /serv. 0,5 1,8 1,9 4,3 0,2 3,2 0,7 1,2 0,7 14,5

V. Conta própria 0,2 0,5 0,7 0,3 0,9 0,3 0,9 0,4 4,1

VI. Não manuais rotina 0,5 0,8 1,3 2,5 0,1 4,3 1,2 2,1 1,1 14,0

VII. Empregadores 0,1 0,3 0,8 0,2 1,3 1,0 1,1 0,5 5,5

VIII. Administradores 0,1 0,1 0,3 0,1 0,7 0,1 0,8 0,4 2,6

IX. Profissionais 0,1 0,3 0,2 0,5 0,6 1,7

Total 6,4 16,0 15,1 22,6 2,8 18,9 5,2 8,8 4,3 100,0

1996

I. Trab.Rurais 2,9 6,0 4,2 5,9 0,9 2,1 1,0 0,9 0,3 24,2

II. Serv.Domésticos 0,2 1,2 1,0 1,5 0,1 0,7 0,2 0,4 0,1 5,6

III. Trab.Ind.Trad. 0,4 2,4 2,7 4,1 0,3 2,2 0,6 1,3 0,3 14,3

IV. Trab.Ind.Mod. /serv. 0,3 2,8 2,2 6,5 0,9 4,1 1,3 3,1 1,0 22,2

V. Conta própria 0,1 0,2 0,3 0,7 0,5 0,4 0,5 0,9 0,3 3,8

VI. Não manuais rotina 0,3 1,6 1,5 4,2 0,5 3,6 1,1 2,5 1,1 16,3

VII. Empregadores 0,0 0,2 0,4 0,7 0,3 0,8 0,7 1,2 0,7 4,9

VIII. Administradores 0,1 0,3 0,2 1,0 0,3 1,1 0,5 1,5 0,8 5,7

IX. Profissionais 0,1 0,3 0,1 0,3 0,3 0,8 1,0 2,9

Total 4,3 14,7 12,4 25,0 4,0 15,3 6,3 12,5 5,5 100,0

Brasil I II III IV V VI VII VIII IX Total

1976

I. Trab.Rurais 32,9 7,0 7,0 9,0 2,3 4,7 1,2 1,5 0,2 65,9

II. Serv.Domésticos 0,2 0,3 0,3 0,7 0,0 0,3 0,1 0,2 0,0 2,1

III. Trab.Ind.Trad. 0,7 0,6 1,8 1,4 0,2 1,0 0,5 0,5 0,1 6,8

IV. Trab.Ind.Mod. /serv. 0,4 0,6 0,7 2,3 0,2 1,3 0,7 0,7 0,2 7,1

V. Conta própria 0,3 0,2 0,3 0,6 0,5 0,7 0,4 0,9 0,3 4,2

VI. Não manuais rotina 0,9 0,6 0,8 1,5 0,3 2,3 0,8 1,0 0,6 8,7

VII. Empregadores 0,1 0,1 0,1 0,3 0,0 0,5 0,7 0,6 0,2 2,6

VIII. Administradores 0,0 0,1 0,1 0,2 0,1 0,3 0,1 0,5 0,2 1,5

IX. Profissionais 0,0 0,0 0,1 0,0 0,2 0,1 0,4 0,4 1,2

Total 35,6 9,3 11,0 16,1 3,6 11,3 4,6 6,3 2,2 100,0

1996

I. Trab.Rurais 19,4 7,9 6,8 9,6 2,5 4,2 1,7 2,3 0,6 55,0

II. Serv.Domésticos 0,2 0,6 0,5 0,8 0,1 0,5 0,2 0,3 0,1 3,3

III. Trab.Ind.Trad. 0,5 1,2 1,9 2,1 0,4 1,3 0,5 0,8 0,2 8,9

IV. Trab.Ind.Mod. /serv. 0,5 1,1 1,1 3,5 0,6 2,0 0,9 1,6 0,6 11,8

V. Conta própria 0,2 0,2 0,3 0,8 0,5 0,8 0,5 0,8 0,4 4,5

VI. Não manuais rotina 0,6 0,8 0,8 1,7 0,4 2,0 0,7 1,5 0,6 9,2

VII. Empregadores 0,1 0,1 0,2 0,5 0,2 0,5 0,5 0,6 0,4 3,1

VIII. Administradores 0,1 0,1 0,1 0,4 0,1 0,5 0,3 0,7 0,4 2,8

IX. Profissionais 0,0 0,0 0,0 0,1 0,0 0,2 0,2 0,3 0,5 1,4

Total 21,6 12,1 11,9 19,6 4,9 12,0 5,5 8,8 3,7 100,0

Fonte: PNADs 1976 e 1996.

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ANEXO ESTATÍSTICO

Conceito de independência estatística

Para se controlar os efeitos das marginais sobre o padrão de mobilidade social

propriamente dito, tem-se utilizado como ponto de partida o conceito de independência

estatística em tabelas de contingência aplicada à tabela de mobilidade social. O teste de

independência ou de não associação entre as variáveis é um procedimento básico

quando se analisam dados qualitativos, ou seja, a relação entre variáveis categóricas.

A teoria estatística diz que duas variáveis são independentes se para todo valor de uma

das variáveis aleatórias a probabilidade condicional de outra variável é igual a sua

probabilidade marginal. Em termos formais tem-se que

j

k

jk

k|j (1)

Onde k|j é a probabilidade da variável linha assumir o valor j dado que a variável

coluna tem o valor k, jk é a probabilidade conjunta da célula (j,k) e k e j são as

probabilidades marginais. A definição de independência significa, então, que as duas

variáveis são independentes quando:

jk = k j

Dada a definição de independência, o valor esperado para a freqüência observada jkf é

jkjkjk NNfE

Para estimar jkfE devemos estimar k e j . Os estimadores de máxima

verossimilhança desses parâmetros são, respectivamente

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N

fˆ kk

e

N

fˆ j

j

Assim, o estimador de máxima verossimilhança de jkfE é dado por

Nf.fNF jkjkjk

expressando o caso em que se deseja testar a hipótese de independência entre as

variáveis.

Substituindo em (1) tem-se o seguinte

N

f

f

f j

k

jk

(2)

o que significa que, para cada linha j, se os valores percentuais com base no total da

coluna forem iguais aos percentuais da marginal (e, logicamente, iguais entre si), as

duas variáveis serão independentes.

APÊNDICE

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