tempos de quartel - ezequiel camilo

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TEMPOS DE QUARTEL Ezequiel Camilo da Silva

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TEMPOS DE QUARTEL Ezequiel Camilo da Silva

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TEMPOS DE QUARTEL Ezequiel Camilo da Silva

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TEMPOS

DE

QUARTEL CAMPO GRANDE MT

1966/67

EZEQUIEL CAMILO DA SILVA

TEMPOS DE QUARTEL Ezequiel Camilo da Silva

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FICHA TÉCNICA

CAPA: Foto da parada militar de nossa companhia no dia Sete de Setembro em 1966 na Av. Afonso Pena no Centro de Campo Grande

DIREITOS AUTORAIS: Os textos produzidos pelo autor são de sua responsabilidade.

FOTOS: As fotos são do autor

© Ezequiel Camilo da Silva

© Copyright 2012 – Louveira – SP – Brasil

E-MAIL: [email protected]

© Bubok Publishing S.L., 2012

1ª edição

ISBN:

Impresso em Portugal / Printed in Portugal

Impresso por Bubok Publishing

TOPOLOGIA FONTES: Garamond corpo 12

TEMPOS DE QUARTEL Ezequiel Camilo da Silva

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O AUTOR

Ezequiel Camilo da Silva - é natural de Tupã – Iacrí - Estado de São

Paulo, professor graduado pela Faculdade de Belas Artes de São Paulo e

Mestre em História, autor do livro “A Conquista da Amazônia”, “Que País é Esse?” e de vários projetos voltados para a área de

Educação Ambiental, Ecologia, Turismo e Preservação da Natureza. Atualmente vem dedicando a pesquisas sobre temas bíblicos, direcionados a

historiografia e a arqueologia. Tem ainda algumas dezenas de livros

publicados em e-books através da INTERNET pela Livraria Bubok – Portugal, entre os quais: “Os Povos Bíblicos”, “Arqueologia Bíblica e As grandes Descobertas”, “Uma Jornada no Livro de Jó”, “O Bom Samaritano”, “Poemas e Poesias”, “A Montanha”, “A Grande Mentira”, “Fugindo e Viajando com Jonas”, “Estou Aposentado e Agora?”, “Ser Escritor. . . Um Sonho”, “Mulheres Bíblicas”, “Aventuras & Despedidas”, “Dicionário Brasileiro de Nomes”, “Brasáfrica”, “Viagem a Manaus – Impressões”,

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“Sonhos & Desejos”, “Viver com Esperança”, “As Sete Maravilhas do Mundo Antigo”, “Como Vencer a Ansiedade?”, “Superando Fracassos e Frustrações”, “A Bíblia Entre os Dois Testamentos”, “Viagens e Aventuras”, “Apóstolo Paulo”, “Aconteceu no Colégio IAE”, “Ser Escritor. . . Um Pesadêlo”, e outros.

*

“Bem-aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. Antes tem o seu prazer na lei do SENHOR, e na sua lei medita de dia e de noite. Pois será como a árvore plantada junto a ribeiros de águas, a qual dá o seu fruto no seu tempo; as suas folhas não cairão, e tudo quanto fizer prosperará. Não são assim os ímpios; mas são como a moinha que o vento espalha. Por isso os ímpios não subsistirão no juízo, nem os pecadores na congregação dos justos. Porque o SENHOR conhece o caminho dos justos; porém o caminho dos ímpios perecerá.” Salmos 1:1-6

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ÍNDICE

1 – APRESENTAÇÃO ......................................................... 9

2 – LEMBRANÇAS ............................................................ 13

3 – A ÚLTIMA SEMANA NO COLÉGIO EM SÃO PAULO ................................................................................ 21

4 – A DESPEDIDA DO COLÉGIO PARA SERVIR O EXÉRCITO DE 1966 .......................................................... 25

5 – A SAÍDA DO COLPEGIO E A VIAGEM DE TREM .27

6 – VIAGEM DE CAMINHÃO ENTRE JUNQUEIRÓPOLIS E TRÊS LAGOAS NO MT ............. 33

7 – AS PRIMEIRAS SEMANAS NO QUARTEL ............. 39

8 – A VIDA ESCOLAR ...................................................... 43

9 – O INÍCIO DO TREINAMENTO E APELIDOS ...... 45

10 – AS MUDANÇAS E AS DIFERENÇAS EM RELAÇÃO AO COLÉGIO TÍNHAMOS DEIXADO .......................... 55

11 – AS ATIVIDADES NO LABORATÓRIO DE BROMATOLOGIA ............................................................. 61

12 – UMA ATITUDE EXEMPLAR A SER CONSIDERADA ................................................................ 65

13 – O “BONECO FRIGIDAIRE” QUASE PRENDEU O TUCANO ............................................................................ 67

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14 – PASSAMOS O REVEILLON DE 1966 DE PRONTIDÃO ..................................................................... 71

15 – UM DIA NA GRANJA GUAICURUS ......................... 73

16 – O DIA A DIA NA ESCOLA ........................................ 83

17 – NOSSA PARTICIPAÇÃO NAS ATIVIDADES DA IGREJA ............................................................................... 87

18 – O ACAMPAMENTO NA IGREJA ............................. 89

19 – O ÚLTIMO DIA NO QUARTEL ............................... 93

20 – DESPEDIDA DO EXÉRCITO DE VOLTA A CASA DOS PAIS ............................................................................ 97

21 – CONCLUSÃO ............................................................ 105

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1 – APRESENTAÇÃO

Servir a pátria ou prestar serviços ao Exército

Brasileiro é acima de tudo um dever de cada cidadão brasileiro. Esta experiência é parte da formação de um homem que tem seus sonhos, desejos e acima de tudo ideais ou objetivos.

O difícil é conciliar tudo isto, porque o período de se apresentar para servir numa unidade do exército, Marinha ou Aeronáutica, ocorre num momento impróprio, em que a vida de um cidadão no final de sua adolescência e início de sua juventude, numa etapa da vida que ainda é de muita insegurança, incertezas e a falta de maturidade para escolher o que realmente é bom ou o melhor para sua vida, por exemplo, definir sua carreira estudantil e posteriormente profissional.

Por causa disto muitos evitam servir a pátria porque julgam que é um tempo perdido ou uma fase descartável porque não acrescentará nada de positivo na vida e que irá apenas atrapalhar seus planos, principalmente o período de estudos que inclui a preparação para o vestibular com a complicada disputa de uma vaga para ingressar numa faculdade.

Para mim não foi diferente, apesar de que o alistamento foi realizado ainda quando estava fazendo

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o último ano do curso ginasial, contava com a idade de dessezete anos, portanto, me encontrava com os estudos em atraso, pelo menos dois anos. Quando ocorreu a convocação já havia completado dezoito anos e cursava o segundo ano Normal.

Infelizmente, no Brasil ainda o serviço militar obrigatório e configura se num sério problema para a juventude.

Deveria ser um serviço voluntário e atrair jovens a partir dos vinte e um anos, após um período que pode se compreender uma melhor definição nos objetivos da vida e de maior maturidade.

Julgamos que o período ideal para cumprir esta obrigação seria entre 21 e 25 anos, nesta etapa o jovem já atingiu a plena fase adulta no aspecto físico e poderá obter mais preparo inclusive para seguir uma carreira militar.

Enquanto que este sistema que funcionava naquele tempo e que está vingente até os dias atuais que consiste em obrigar a ingressar verdadeiras crianças nos quartéis; pelas experiências que passamos, nós sentimos que os resultados não foram satisfatórios para muitos destes jovens imaturos e completamente despreparados para enfrentar estas situações inéditas da vida, muitas vezes adversas e estranhas.

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Muitos se perderam nas noites entre o alcolismo e a promiscuidade no meio da prostituição, ficaram expostos as doenças e aos vícios e por isso alguns tiveram graves problemas de saúde que resultaram em sequelas que os atingiram para a vida toda, tanto no físico como no emocioanal, agravaram suas situações nos apectos social e familiar.

Iremos nestes relatos expor alguns fatos lamentáveis, que envolveram estes jovens e fazer nossas reflexões sobre este interessante período que passamos neste curto tempo de quarte..

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Foto do autor com o uniforme ou farda de serviço

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2 - AS LEMBRANÇAS

Nesta oportunidade estamos aproveitando para

inserir neste contexto um tópico do nosso Livro “Viagem à Cuiabá”, editada e publicado sobre nossa responsabilidade pela Editôra Bubok de Portugal em 2011,1 esta obra se encontra na Internet disponível com e-book ou pode ser adquirido impresso em papel através de pedidos pelo correio. Segue à frente este relato:

Ainda nos idos tempos da minha infância no interior do

Estado de São Paulo, onde vivemos e fomos criados próximos às

margens do grande Rio Paraná, que nós chamávamos de

"Paranazão".

Naquele período falava se muito de Mato Grosso, como um

estado ainda selvagem, coberto por densas matas, estradas

precárias, povoado por índios e animais ferozes, pois o próprio

nome justificava e representava a sua condição, que significava

que lá o "mato era bem grosso".

Os anos se passaram, lá no início da minha juventude tive

uma experiência ímpar, quando servi o Exército Brasileiro na

cidade de Campo Grande, a denominada "cidade morena", uma

1 - “キノ┗;が E┣Wケ┌キWノ C;マキノラ S;く さVIAGEM À CUIBÁざ P;ミデ;ミ;ノ W

Chapada. Editora Bubok, Portugal. Internet. 2011

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das principais cidades daquele estado ainda íntegro

territorialmente naquele período.

Apesar dos percalços, foi para mim uma experiência

extraordinária e de grande riqueza para a minha vida, ainda no

início de minha juventude.

Servir a pátria sempre teve um grande significado para a

maioria dos jovens, muito embora em cada ocasião, se apresenta

com diferentes significados ou importância.

Servi o exército em pleno período revolucionário,

(1966/67). Foram meses difíceis para mim, muito embora já

tivesse uma boa instrução escolar e uma razoável formação

educacional, pois cursava o antigo curso normal, que passou a se

chamar magistério e hoje está praticamente extinto.

Os dez meses e meio que passei alojado em um quartel de

Campo Grande (antiga 9ª CDS - Nona Companhia de

Depósito de Suprimentos), serviu como amadurecimento e

preparo para enfrentar as vicissitudes da vida.

Tive o privilégio de cursar parte do segundo e terceiro anos do

antigo normal, na Escola Normal Joaquim Murtinho, lá no

antigo prédio na Avenida Afonso Pena, no centro da cidade, hoje

transformada na bonita capital do Mato Grosso do Sul.

Apesar dos obstáculos e barreiras para assistir as aulas

noturnas e realizar os trabalhos escolares, lá tive a oportunidade

de conhecer, sentir e conviver com outro lado daquela sociedade

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intelectual e estudantil, um tanto quanto ainda em formação,

procurando marcar a sua presença, ocupar os seus espaços, talvez

carente de uma melhor integração ou atenção dos grandes centros,

principalmente do eixo São Paulo e Rio de Janeiro.

Não tivemos dificuldades em angariar amigos e nos integrar

tanto com as exigências do quartel, como também entrosar,

envolvendo com as lides e atividades estudantis pertinentes ao

nosso curso.

Foram dias agradáveis, apesar das condições adversas

provocadas pela distancia e isolamento, cujas circunstâncias nos

colocaram numa situação de carência, pois nos encontrávamos

ausentes da família.

Aquilo nos obrigava a valorizar as novas amizades e nos

apegar a elas como se fossem nossos novos familiares.

Campo Grande era Mato Grosso e fez parte da nossa vida,

foi um período curto, mas muito interessante; envolvente e

marcante, cujas lembranças eternizam em nossos pensamentos.

Podemos citar as noites longas que passamos na guarita

daquele quartel, tirando plantão no posto vigília ou realizando a

ronda como "cabo de dia", muitas vezes ouvíamos as canções e

músicas que faziam sucesso naqueles idos tempos, entre elas não

pode se esquecer daquela canção popular americana: "Red roses

for a blue lady", tanto na versão original cantada, como nas

versões orquestradas.

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Até hoje quando ouvimos aquela canção, toca nosso coração e

nos emociona.

Temos ainda em nossa mente, as lembranças daquela gente

oriunda de Cuiabá, muito deles eram colegas de farda, com seus

traços indígenas, negroides ou de origem nordestina, eram os

cuiabanos com aquele sotaque bem característico, que muitas

vezes era motivo de "gozação", quando tentavam imitá-los, com

aquela frase bem corriqueira atribuída aos cuiabanos: "Está

tchôvendo, o Rio Cotchipó está tcheio de pêtche".

Realmente foi engraçado e diferente, todos se divertiam, mas

os cuiabanos eram bem amistosos, calmos e sabiam levar na

esportiva.

Temos ainda em nossas lembranças as canções sertanejas, as

modas de viola e aquelas de forte influência paraguaia e

mexicana, que dominavam boa parte da programação musical

das emissoras de rádio locais, tudo isto dava uma característica

especial a aquela cultura em formação e transformação naquele

então Mato Grosso.

Foram momentos agradáveis, que passamos apreciando as

lindas garotas de traços indígenas, quando passeávamos na praça

principal da cidade, nas Avenidas Calógeras e 14 de Julho,

naquele tradicional e atraente "footing", nas noites glamorosas de

fins de semana.

Era uma maneira simples de viver, de encarar os problemas,

pois estávamos apenas de passagem.

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Não poderíamos esquecer a Rua Dom Aquino, com seus

restaurantes, lanchonetes e ainda aquele tradicional restaurante

"O Gato Que Ri", com suas mesas e cadeiras sobre o calçadão,

numa interessante alusão ao restaurante do mesmo nome

existente em São Paulo no Largo do Arouche.

Naquela época Campo Grande também estava ingressando

na era do cinema, fez a sua primeira produção cinematográfica,

onde notabilizou o seu mendigo, um tipo de marca registrada da

miséria local, que era muito popular na cidade, uma espécie de

morador de rua, o "Pompilho".

Era uma época mágica, vivíamos os anos dos sonhos

dourados, era então, a "era" dos Beatles, da Jovem Guarda, de

Pelé, dos Kennedys.

A juventude buscava o seu espaço, um lugar de sua

autoafirmação. Os jovens gostavam de cabelos compridos, as

meninas expunham parte de suas coxas, usavam as minisaias.

Surgiam no cenário artístico musical nacional, os fenômenos

de nossa música popular, tais como: Chico Buarque, Elis

Regina, Caetano Veloso, Gilberto Gil, etc.

Enquanto que no cinema nacional, fazia sucesso o cafageste

"Jêce Valadão", a nudez de Norma Benguel e Odete Lara.

O Pagador de Promessas ganhava prêmios internacionais.

James Bond o "007", era um tremendo sucesso com filme "007

Contra Goldfinger" estrelado por Sean Connery.

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Todas estas lembranças e muitas outras não citadas aqui

vieram aos nossos pensamentos, mesmo não sendo a minha

viagem para Campo Grande, mas sim para Cuiabá, pois para

mim Mato Grosso, continua como algo muito familiar, que

permanece interligado com a nossa experiência de vida.

Portanto, ir a Cuiabá faz parte de algo que estava a muito

tempo almejado, era um sonho acalentado que estávamos há

muito tempo esperando para ser realizado.

Por isso, estava faltando alguma coisa que tinha que ser

realizado e complementado nestes nossos sonhos e desejos de

viajar e conhecer novos lugares.

Naquela época falava se muito pouco em Pantanal e a

Chapada dos Guimarães ainda não era tão conhecida.

Contudo, muitos jovens, nascidos ou criados naquela região,

sonhavam em mudar e procurar outras cidades grandes para

realizar seus sonhos e projetos de vida nos grandes centros.

A grande maioria procurava São Paulo ou outras capitais.

As grandes distâncias eram verdadeiros desafios para os novos

brasileiros oriundos do gigantesco estado, muitos eram filhos de

imigrantes de nordestinos, mineiros, paulistas ou gaúchos que lá

se aventuraram também em busca de melhores dias para suas

existências.

Aquelas dificuldades de outrora, não são nossas dificuldades

atuais. Eram outros sonhos acalentados, eram anseios e desejos.

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O mundo atravessava uma grande crise, que se aglutinava

numa ferrenha disputa ideológica. Havia uma grande polêmica e

discussão, entre o Capitalismo e o Comunismo.

A grande questão era: O que realmente era melhor para o

homem para a sua existência e seu bem-estar, político e social?

Havia um perigoso confronto entre as duas grandes potências

mundiais, era capitalismo americano versus o socialismo soviético,

numa guerra não declarada, mas que se chamava de "guerra

fria".

Afinal tudo aquilo passou e seus principais protagonistas já

morreram. Ao relembrar tudo isto, chegamos a triste conclusão

que o homem daquela época e o atual, acima de tudo, ainda é

movido pela vaidade, pelo poder, pela riqueza e pelo dinheiro.

Quanto aos demais valores humanos são secundários, pois

não importa os meios utilizados para se conseguir o fim, ou os

objetivos desejados.

Naquele tempo quatro décadas atrás, o turismo estava

engatinhando como uma atividade econômica, não se falava em

ecologia e nem tampouco em preservação do meio ambiente.

O turismo era uma atividade supérflua, algo de luxo

reservado para os ricos, que podiam viajar em aviões e pagar

hotéis de luxo. Por outro lado, se valorizava sobremaneira as

indústrias, pois elas eram os meios que iriam produzir as

riquezas necessárias para dar empregos e desenvolver o país.

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3 - A ÚLTIMA SEMANA NO COLÉGIO EM SÃO PAULO

Estávamos em pleno mês de maio de 1966,

quase no término do primeiro semestre daquele ano escolar, tivemos uma grande surpresa em nossa vida, percebemos nossa real fragilidade diante de tantos acontecimentos, sentimos impotentes e idefesos, muitas vezes até para preservar fisicamente a saúde de nosso corpo e nossa vida.

Como cristãos e conhecedores dos princípios bíblicos, não acreditamos em premonição e nem em claraevidência, mas tudo aquilo que ocorreu naquela semana, com a minha suspenção das atividades no trabalho, naquele colégio em que estávamos internados, era um prenúncio de que grandes mudanças estavam para ocorrer.

Nesta mesma semana passei as tardes realizando as atividades escolares atrasadas, sentía um pouco triste, preocupado e abatido, era um tipo de presentimento de que algo poderia ocorrer.

Numa destas tardes, quando fazíamos uma caminhada andando em volta do antigo prédio que era o dormitório dos rapazes, estava um pouco de frio, meio nublado, demos uma volta pela quadra de

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basquete que se localizava ao lado deste velho dormitório que era ocupado pelos alunos que naquela época cursavam o primeiro grau, antigo ginásio.

Lá deparamos com um jovem rapaz, tinha a minha idade, estava sentado numa das cadeiras na varanda do prédio, trajava uma jaqueta clara meio beje, naquele instante estava na companhia de alguns garotos e conversava esses dois meninos que eram filhos do Pastor João Rabello, o preceptor.

Este rapaz era o Daniel Simoncello, estampava uma profunda tristeza, perguntei a ele o que havia ocorrido, ele disse sumariamente que estava de malas prontas, foi convidado para deixar o colégio.

Naquela situação de desânimo que ele se encontrava, tentei confortá-lo, disse lhe que também que eu fora punido, estava suspenso e que temia coisas piores, não que sentisse culpado, mas nunca se sabe o que poderia acontecer naquela situação de insegurança que me encontrava.

O surpreendente e extraordinário ocorreu, o Daniel voltou para sua cidade, Campo Grande no Mato Grosso, e dias mais tarde eu também fui para lá convocado para servir a Pátria. Para mim não deixou de seri uma estranha e ao mesmo tempo, uma agradável coincidência.

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Nós nos encontramos na igreja Adventista de Campo Grande, então intensificamos nossa amizade e naquela ocasião tive o privilégio de conhecer melhor este jovem e sua saudosa mãe, uma senhora de muitas qualidades, uma exemplar mãe e uma fiel serva de Deus.

A irmã Jerônima que foi para mim durante aqueles dez meses que passamos internos no quartel como minha segunda mãe. Deume um importante apoio, ao ponto de dormir algumas noites em sua casa, pediu que eu fizesse companhia ao Daniel em alguns dias em que ela esteve ausente realizando uma viagem.

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4 - A DESPEDIDA DO COLÉGIO PARA SERVIR O EXÉRCITO EM MAIO DE 1966

Esta foi uma despedida totalmente inesperada e

que nos pegou de surpresa e completamente desprevenidos, tivemos que interromper nossos estudos no colégio em São Paulo, nossos sonhos, nossa metas e objetivos, tudo ruiu e caíram por terra naqueles momentos.

Tivemos que nos apresentar de forma quase que de imediato, para servir o exército brasileiro na cidade de Campo Grande Estado do Mato Grosso, hoje Mato Grosso do Sul.

Quando apareceu o meu pai, fiquei muito confuso, passou pela minha cabeça que poderia ter ocorrido coisa pior, mas quando ele disse o motivo de sua chegada lá naquele colégio, não pude entender de imediato, aquela real situação. Foi assim, mal me cumprimentou de pronto ele disse:

“Você foi convocado para servir o exercito e tem que se apresentar depois de amanhã, por isso temos que ir embora ainda hoje”.

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Foi uma situação incompreensível, mas tive que correr e preparar apressadamente as malas; tinha apenas algumas horas para me preparar para aquela viagem emergencial.

Apenas despedi de meu irmão que estava comigo naquela instituição, tive que improvisar a arrumação dos meus pertences e preparar as coisas que iam ser levadas na minha mala.

Tínhamos pela frente uma viagem de trem que seria uma inteira de trem e noutro dia até após o meio para então cehgar ao nosso destino à casa dos meus pais.

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5 - A SAÍDA DO COLÉGIO E A VIAGEM DE TREM

Esta foi uma despedida muito rápida e muito

sofrida, pareceu que pelo fato da urgência e emergência, não deu muito para pensar e nem refletir sobre aquela real situação, tampouco tive tempo para fazer algo mais de especial.

Apenas havia arrumado minha mala e colocado minha roupa alguns pertences, também não tinha nada de especial, era um velho terno e outros objetos sem valor.

Infelizmente, tive que deixar muitas coisas para traz, inclusive meus livros. Meu irmão mais velho Elizeo que cursava o primeiro ano do antigo Curso Normal, ocupava o mesmo quarto, ficou responsável em cuidar destes objetos.

Saí do Colégio com meu pai, era início da noite, ainda estava escurecendo. Tomanos o ônibus um coletivo urbano na famosa Praça Salvador Corrêia, local que era uns quinhentos metros distante do colégio, foram momentos tristes, porque tínhamos a certeza de que nunca mais retornaríamos para estudar nesta entidade.

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A virada de página em nossa vida foi muito abrupta e não deu para fazer nenhuma despedida dos colegas e nem dos professores; naqueles momentos estávamos apenas perplexos, então, seguimos naquele ônibus até o centro da cidade de São Paulo, o ponto final era no antigo Anhangabaú, lá seguimos a pé até a Estação da Luz para realizar nossa viagem de trem que saiu por volta das 21 horas da noite.

Tivemos uma viagem calma e normal para as circuntâncias e condições oferecidas naquela ocasião.

Desta viagem além da rápida despedida do colégio o que guardo na minha lembrança foi a passagem do trem pelas cidades de Osvaldo Cruz, Lucélia e Adamantina, era por volta do meio dia, hora das saídas e entradas dos alunos nas escolas locais e muitos alunos viajavam de trem entre estas cidades que são muito próximas.

Lembro-me que nestas cidades houve momento que tive até que me esconder das meninas que gritavam, formavam um pequeno alvoroço, corriam na minha direção, para mim foi uma situação inédita, parecia que eu era um artista daquela época; apenas ouví e achei irônico e engraçado, algumas diziam que eu parecia o Vanderelei Cardoso ou que era a cara do Jerri Adriani.

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Imaginem! Elas não tinham a menor ideia do que passava em minha cabeça. Porém, não era nada disso, eu era apenas um rapaz meio sem rumo, ainda assustado, que estava trajando com simplicidade, apenas usava aquele tipo de penteado que era moda naquele tempo.2

Hoje relembrando, penso que naqueles momentos em plena década de sessenta, eram os anos dourados, deve relevar de que as meninas que estudavam e andavam em grupo já era bem açanhadas.

Fiquei um pouco constrangido em enfrentar aquele pequeno furacão nestas três estações, principalmente em Adamantina.

Estávamos chegando em nosso destino em Junqueirópolis e lá a surpresa maior foi o estado de choque em que se encontrava minha mãe.

Quando deixamos a estação e fomos para a nossa casa, a mesma casa que foi o meu lar e que havia deixado havia quase um ano e meio, lá deparei com minha mãe, então a abracei, ela se estava em prantos e desconsolada parecia que a minha chegada repentina e

2 - Nesta época era dotado de uma boa cabeleira, mas que

infelizmente com tempo foram caindo e ficando grisalhos,

atualmente são ralos e a calvície é quase uma realidade.

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com aquela despedida simultânea que seria no dia seguinte para me apresentar ao quartel seria como se eu estivesse indo para a guerra.

Foi uma passagem insólita, triste e melancólica aquela rápida estada naquela que outrora fora a minha casa; naquela tarde e noite fiquei arrumando uma velha sacola para levar ao quartel.

Fomos informados e aconselhados para não levar quase nada de roupa, então pusemos apenas duas mudas de roupa e algumas peças íntimas, pijama e calções.3

Naquela noite ainda fomos à igreja, assistir o culto era uma quarta-feira, culto de oração.

Quando saí desta igreja que tinhamos frequentado boa parte de nossa infância e adolescência, andei um pouco a pé, dei uma volta nas proximidades, tentando ver uma garota que tinha sido minha namorada por alguns meses.

Isto ocorreu enquanto estudava no colégio, foi um breve namôro, tivemos apenas alguns dias de convívio numa ocasião que visitava meus pais nesta cidade.

3 - Neste período os jovens não usavam cuecas, era a época

dos calções de algodão ou as sungas de lycra.

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Naquela noite fiquei muito frustrado, porque não havía conversado com ela, porque ela tinha interrompido sem ao menos, me comunicar sobre o fim deste relacionamento. Foi mais apenas uma efêmera desilução de minha vida no início de minha juventude.

Voltei para a casa, apenas dormi uma noite, não tive como relaxar, mal tinha chegado e na manhã seguinte, por volta das dez horas nos apresentamos no endereço indicado para seguir viagem para servir o exército.

Era um local próximo ao centro da cidade onde estava estacionado um caminhão da prefeitura que iria nos conduzir até cidade de Três Lagoas no Estado do Mato Grosso.

Encontramos alguns rapazes que foram nossos colegas de escola, lá estavam muitos rapazes e um grande número de pessoas, eram os familiares e amigos que despediam destes rapazes.

Este grupo de rapazes, eram nossos colegas, que seguiriam viagem conosco, alguns estavam alegres, faziam piadas da situação outros apresentavam meio preocupados como nós, era uma cena curiosa que também fizemos parte, com um pouco de atraso, partimos, estava um pouco nublado, mas fazia calor.

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6 – A VIAGEM DE CAMINHÃO ENTRE JUNQUEIRÓPOLIS E TRÊS LAGOAS MT

Carregava comigo apenas uma velha sacola,

então me indentifiquei e subí na carroceria daquele caminhão, que saiu da cidade e seguiu viagem, mas ainda passou pela Cidade de Dracena e levou mais alguns rapazes e assim seguimos esta viagem precária por estradas de terra de Dracena até a Cidade de Três Lagoas no Mato Grosso.

Então permanecemos nesta carroceria de caminhão, éramos uns vinte rapazes. Alguns se comportavam de forma irreverente e eram bem atrevidos.

Ao passarmos por um vilarejo denominado de Nova Independência, alguns mexeram com uma moça que estava debruçada na janela de uma casa à beira daquela estrada, dizendo a ela algumas palavras provocaticas e impróprias.

Vimos apenas a moça entrar para o interior desta residência e em seguinda saíu um rapaz com uma espingarda nas mãos que apontou para nós. Foi apenas

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um susto, mas serviu de advertência para aqueles moleques mais afoitos.

Nesta carroceria de caminhão prosseguimos em chegamos em Três Lagoas, já em território do antigo Estado do Mato Grosso, já era noite, adentramos ao quartel do exército daquela cidade e lá pernoitamos. Havia uma grande movimentação, este quartel estava recebendo dezenas de rapazes que seguiriam de trem para Campo Grande.

O jantar foi improvisado jantar compreendia uma sopa recheada com pedaços de mandioca e carne de costela de boi, não havia talheres para todos, muitos comiam com as mãos ou bebiam o caldo diretamente na boca como fazem os animais.

Na hora de dormir na havia colchões para todos, tivemos que nos acomodar em dois, usando apenas um colchão de solteiro.

Dormimos com as pernas no chão e somente o tórax repousando sobre metade do colchão, não havia lençóis para todos, tudo era de improviso, não havia como reclamar.

Ouviam se muitos palavrões de alguns rapazes mais irreverentes antes de pagarem as luzes e o toque de silêncio, para que então todos se acomodassem, tudo

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era novidade, achamos aquilo muito estranho; ficamos quietos e apenas observando.

No dia seguinte passamos o dia naquela unidade, somente à noite seguimos de trem para a cidade de Campo Grande, numa viagem que durou toda a noite era uma sexta-feira, fazia muito frio.

Fizemos uma viagem difícil, não havia como nos acomodar naqueles bancos duros de madeira de segunda classe e nem sequer conseguimos dormir, cada um se ajeitou como pôde, e na manhã do sábado quando o dia estava amanhecendo, tínhamos dormido muito pouco, estávamos chegando nesta cidade, hoje é uma grande metrópole a importante cidade e atual capital do Estado do Mato Grosso do Sul.

Quando o trem parou naquela grande estação, observamos que havia um considerável movimento, eram muitos militares recebendo os novos recrutas. Entretanto, os responsáveis por nós foram os últimos a chegar.

Estávamos ansiosos aguardando, foi quando apareceu um sargento descendo de um caminhão que fazia parte da frota motorizada do exército, estava acompanhado de dois outros militares com uma lista nas mãos começou a chamar, então, o nosso nome foi citado, ficamos aliviados, afinal era o terceiro dia que

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estávamos sem tomar banho, vestido com uma mesma roupa no corpo, além de muito cansado e faminto.

Fomos conduzidos a um quartel novo, naquela vila militar que era composta de mais de quinze quarteis.

Logo na chegada fomos ao alojamento e recebemos um armário onde pudemos guardar nossos parcos objetos que estavam numa sacola e fomos em seguida conhecer este ambiente amplo com umas cinquenta beliches, eram onde estavam as camas deste nosso alojamento.

Após um banho seguimos para o rancho (restaurante) onde foi servido o almoço, a impressão inicial nos agradou, a primeira vista.

Era um sábado e nós ficamos constrangidos, sentimos impotentes e tristes porque não conseguimos ir a nossa igreja, nada mais podia se fazer, mas pudemos descansar repor um pouco de nossas energias.

Estes fatos foram sem dúvidas uma dos piores e inesperados acontecimentos que fizeram parte de minha vida no início de minha juventude.

Não restava mais nada o que fazer; tínhamos que nos apresentar para o serviço militar, dessa forma ocorreu e lá permanecemos por um período que

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compreenderam, por paradoxo que pareça, foram interessantes dez meses e meio de experiência de vida.

Houve uma mudança radical em minha vida, me encontrava num ambiente no qual as influências eram nada saudável, restou fazer uma reciclagem de tudo aquilo que foi positivo, angariando as experiências de vida.

O tempo passou rapidamente e os meses que ficaram para traz no colégio, somados também no quartel, foram sem dúvidas como valiosas lições, que foram colocadas em nosso passado como um grande aprendizado.

A TRANSFERÊNCIA PARA A ESCOLA NORMAL EM CAMPO GRANDE

Felizmente, consegui depois de muito custo, obter a transferência dos meus documentos escolares e fazer a matrícula no segundo ano normal do curso noturno na Escola Normal Joaquim Murtinho na Cidade de Campo Grande.

Apesar de todos os contratempos, passamos momentos agradáveis naquela instituição, fizemos novas amizades e tivemos uma boa integração com aquela comunidade escolar, tínhamos formado um

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novo ambiente e estávamos adaptados a uma nova realidade, embora por pouco tempo.

Curiosamente de todos os colegas que vieram da nossa cidade e região para servir o exército somente nós, conseguimos permanecer firmes e assíduos nos estudos; assim obtivemosnossa promoção para o terceiro ano do Curso Normal naquele final de ano letivo, foi sem dúvidas uma grande vitória que conseguimos.

Dentre as experiências positivas e negativas, precisamos registrar aqui as boas coisas que aconteceram; uma delas foi a ótima acolhida que tivemos na comunidade religiosa na qual pertencemos.

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7 - AS PRIMEIRAS SEMANAS NO QUARTEL

As primeiras semanas foram difíceis, era mais uma

adaptação que tínhamos que acomodar em nossa vida, ainda no início de nossa juventude.

Naquela ocasião, sentíamos mais do que nunca como um peixe totalmente fora d‟água, as previsões fundamentadas nos conselhos que nos deram de levar poucas roupas foram totalmente furadas.

A realidade foi dura e cruel, não tínhamos roupa para vestir, nas duas primeiras semanas tivemos que usar a precária roupa que levamos, era de baixa qualidade; porque as nossas melhores peças de roupa tínhamos deixado em nossa casa.

A solução foi escrever para que nossos pais nos enviassem estas calças e camisas e outras peças, porque naquela situação que nos encontrávamos como recruta apenas nos foi fornecido a roupa do nosso uniforme militar após uns quinze dias.

Nestes dias, até receber o fardamento, tínhamos que ir as aulas no curso noturno da Escola Normal vestidos de forma precária, as vezes sentíamos constrangidos.

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Numa noite quando voltávamos a pé da escola, era uma distância considerável de mais de dois quilômetros, fomos abordados por uma patrulha do exército.

Foi dada uma ordem para que parássemos, porque estávamos com os cabelos raspados com um corte de recruta, mas sem o uniforme de soldado, apenas estávamos com os sapatos do uniforme de passeio de soldado, aqueles sapados eram muito estranhos, tinha nas pontas das solas dianteiras e trazeiras uma chapinha de metal que fazia um estranho barulho ao andar sobre as ruas calçadas com paralelepípedos “clák, clák, clák”!

Esta situação era constrangedora, chamava muito a atenção de quem estava próximo, parecia um barulho dos cascos de cavalos com suas ferraduras batendo no asfalto, pior que as ruas eram pavimentadas uma boa parte com paralalepípedos e fazia ainda mais barulho.

Foi uma situação difícil e completamente inolvidável para nós, o tenente que comandava esta patrulha nos deu uma séria advertência porque não paramos ao primiro aviso.

A primeira vista não tinha nenhuma noção do que estava acontecendo.

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Naquele momento não tinha nenhuma ideia que era para mim, aquele aviso, mas após alguns minutos ao haver sido questionado expliquei a situação.

Felizmente, não me prenderam, me dispensaram, foi uma situação inédita, não tinha nenhum documento, apenas disse que era um recruta, era um período de adaptação e ainda não tínhamos sido identificados.

Neste período foi muito complicado, para sair do quartel era preciso ter sempre em mãos uma autorização.

Após esta etapa crucial, finalmente chegou a encomenda com nossas roupas um pouco melhores que tinham ficado na casa de meus pais.

Contudo, já tínhamos recebido o uniforme completo, inclusive um agasalho tipo jaqueta de lã, bem confortável para ser usado no inverno que se aproximava.

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8 - A VIDA ESCOLAR

Houve uma guinada de 180 graus na nossa

vida estudantil, felizmente conseguimos as informações e fomos atendidos para estudar numa escola estadual de segundo grau (atual curso médio).

A através da ajuda de dois tenentes que nos deram uma preciosa colaboração e nos levou de carro numa noite chuvosa até a escola onde realizamos a nossa matrícula.

Tivemos uma atenciosa e amável acolhida, a direção se prontificou em pedir nossa transferência, sentimos que Deus estava nos ajudando e nos abençoando.

As dificuldades em assistir as aulas todas as noites foram grandes e os obstáculos apareciam dia a dia.

Nos primeiros meses percorríamos toda aquela distância a pé, não tínhamos recursos para pagar o ônibus.

Algumas noites havia um motorista que foi soldado da nossa companhia, então nos levava e não pagávamos a tarifa de transporte.

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Aos poucos iámos nos adaptando a nova, difícil e precária situação.

Tínhamos em nossa mente a firme decisão de prosseguir nossos estudos para continuar a nossa luta em conseguir realizar nossos sonhos e objetivos maiores em nossa vida.

Nesta escola em nossa classe a grande maioria dos alunos eram mulheres, havia apenas dois rapazes, eu e mais um que também era paulista de nossa região, da vizinha cidade de Dracena e estava servindo num quartel ao lado. O nome dele era João Cursio.

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9 - O INÍCO DO TREINAMENTO E OS APELIDOS

Após duas semanas foram entregues o

fardamento, houve um intenso trabalho realizado pelo departamento de identificação daquela unidade para realizar estas identificações,4 todos os recrutas de cabeças raspadas, ficaram muito esquisitos.

Aquela era uma época que se usava os cabelos cheios ou até meio compridos, vivíamos o período pleno da “jovem guarda”, então ficamos numa situação de grande constrangimento e frustração, era a realidade, porque em Campo Grande havia mais de quinze quartéis e o soldado não gozava de boa fama ou prestígio, então o corte de cabelo era a marca que distinguia quem era soldado, parecia uma tijela no alto couro cabeludo, era muito feio.

PASSEI A USAR CABELOS MAIS COMPRIDOS. Para a minha satisfação e

contentamento, a primeira vez que raspei o cabelo, foi

4 - Havia cerca de cem soldados, meu número foi 55 (soldado

Ezequiel - cinquenta e cinco)

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descoberto um vaso de uma veia dilatada que tenho no couro cabeludo, isto ficou exposto e pela cor avermelhada; esta pequena anomalia chamou a atenção do tenente comandante daquele pelotão que eu fazia parte.

Fui encaminhado ao Hospital Geral Militar de Campo Grande, ao ser examinado por um médico e após duas o três consultas me deram uma insenção de corte cabelo raspado tipo tijela, então, passei a usar cabelos mais cheios como se usavam os sargentos e oficiais.

O FARDAMENTO - Recebemos a farda

ou o uniforme; era composto de duas calças, duas camisas de serviço e uma calça de passeio com uma túnica acompanhada de um cinto que era composto por um fivelão que tinha que ser lustrado, tipo antigo, ainda um capacete e um quepe (para a cabeça), havia também um par de sapatos e um coturno, tipo bota, mas que usava se um cadarço; para o frio foi dado ceroulas, camisetas e calções para os exercícios físicos e ainda um casaco de lã.

O recebimento deste fardamento foi acompanhado de uma euforia, mas quando os recrutas mais franzinos e de baixa estatura, provaram suas vestimentas tiveram dificuldades em se adaptar à algumas peças deste fardamento.

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Percebemos que alguns ficaram bem engraçados trajando este uniforme, foram motivos de zombarias e muitas gozações.

Quando houve a primeira formatura5 com o novo uniforme um dos tenentes que durante um período foi o comandante da companhia, passou a debochar daqueles recrutas, nesta ocasião, de uma maneira bem irreverente além do mais, começou a colocar apelidos nos mesmos, lembro-me de alguns que eram até sem sentido, tais como: Pequeno Monstro, era um rapaz de baixa estatura mestiço com cabelos encaracolados, tinhas os olhos claros e um rosto bem arredondado com nariz bem chato, as narinas bem proeminentes e uma boca bem grande.

Naquele momento sentí pena do rapaz, e assim prosseguiu a galeria dos apelidos, outro era chamado de “Lixo”, era bem magro meio alto, moreno, seu rosto marcado destacando seus traços franzinos com uma fisionomia que aparentava bem mais a sua idade de apenas dezoito anos, aparentava uns trinta anos.

Havia o “Tucano” se chamava Rubens Guerra, um rapaz de baixa estatura, meio gordo, era morador da 5 - Formatura no quartel ocorre quando os soldados fazem a

formação dos pelotões em fila e ordem para marchar ou

receber as instruções.

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cidade de Campo Grande e não dormia no alojamento, loiro e tinha os olhos claros, mas destacava pelo tamanho do seu nariz, muito brincalhão, vivia rindo e levava tudo na brincadeira.

Havia apelidos censuráveis, um deles foi dado a um rapaz baiano bem alto tinha os cabelos pichains mas era loiro e tinha olhos claros, era um tipo mestiço entre possivelmente europeus e negros, seu apelido era: “Cavalo Gazo do C... Branco”.

Se naquele tempo houvesse no regulamento do exército uma forma de processar aquele tenente por ofensas morais, ele poderia sofrer uma dezenas de processos por estes apelidos indecorosos e ofensivos.

Outro rapaz tinha o apelido de “Lagartixa”, era o mais magro e um dos mais baixos da nossa companhia, seu colega mais “chegado”, que era um pouco mais alto, mas também bem magro recebeu o apelido de “Transparente”.

Um dos rapazes mais altos e com o corpo bem desenvolvido quando raspou o cabelo ficou com uma aparência que aproximava se de uma tartaruga, quando pôs o uniforme e colocou o boné, por sinal tinha recebido uma camisa que se chamava de “gôndola”, era um pouco grande, então rapidamente o tenente o

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chamou de “Jabuti”, nesta momento quase todos riram.

Porém, foram criados outros apelidos mais suaves como o que foi dado para mim “Formigão”, não entendi o porquê, mas não dei importância e quase não pegou porque não me lembro de ser chamado por este apelido, foi apenas por alguns dias.

Havia ainda o “Macarrão” era um rapaz claro com média estatura de origem italiana, tinha uma habilidade, era sanfoneiro, nos primeiros meses esteve requisitado para tocar acordeon nas festas e eventos dos finais de semana que eram realizadas no Círculo Militar, foi contemplado com uma vida de mordomia, tornou se músico daquela entidade e se retirou do quartel.

Outro apelido que foi bem chocante que aquele tenente deu para um rapaz, que era baixinho com cara de criança, não houve respeito e nem piedade alguma com o rapaz, foi chamado de “Meia F.....”.

Diante deste impropério, ele reagiu e foi falar com o tenente que não aceitava aquele apelido então irônicamente passou a chamá-lo de “Aritaca”.

Havia um outro recruta que tinha o corpo coberto de pêlos, não teve dúvidas foi apelidado de “Taturana”, o outro que tinha uma mania antiga de colocar dentes

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de ouro na boca. Havia pelo menos dez dentes de ouro, foi chamado de “Boca Rica”.

Um dos soldados mais inreverentes que conhecí, tinha o apelido de Metralha, era de origem nordestina e seus pais moravam em Presidente Prudente. Passou boa parte do tempo servindo o exército preso.

A primeira prisão por quinze dias acarretada por indisciplina, foi flagrado numa casa de meretrício ao tentar fugir arranhou o rosto numa certa de arames farpados. A segunda prisão foi mais pesada, dois meses por grave distúrbio e desacato aos superiores.

Havia um cabo bem negro, era muito comunicativo, era estudante, seu apelido era “Nugett”, mas quando assumia o comando da companhia para fazer uma ordem unida exagerava e num dia chamou a atenção do Tucano “Soldado Guerra” que estava desatento ao comando, neste momento este soldado reagiu e disse “sai prá lá Nugett”.

O cabo ficou furioso e disse, “Tucano cala a boca e obedeça, senão vou mandar prendê-lo e quero ver se o major vai quebrar seu galho”.

O soldado “Guerra” com apelido de Tucano, naquela mesma tarde quando foi para a repartição que prestava serviços que era o laboratório de bromatologia e veterinária, local que também trabalhamos por volta

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de oito meses. Contou para o Major Nardi, que era um dos chefes desta repartição, dizendo que o cabo Nugett tinha colocado a autoridade dele em dúvida.

Neste momento o Major que era um senhor de baixa estatura mais com uma alta patente militar, mandou chamar o cabo Nugett e na sua rápida apresentação mandou que se enquadrasse, isto é, se apresentar em posição de sentido e disse lhe rispidamente:

“Se o soldado Guerra te desacatou voce podia tê-lo prendido, mas se você disse que queria ver se eu iria quebrar o galho dele, aí você está errado e se voce for prendê-lo eu também prendo voce junto com ele por desacato e desrepeito a hierarquia”.

Assim, despediu o cabo que disse lhe apenas “Sim Senhor”. Ainda quanto aos apelidos, havia ocasiões em o “feitiço virava contra o feiticeiro”.

Certo dia, era um domingo estávamos realizando a formatura (formação da companhia) para a entrada no rancho (restaurante), era a hora do almoço, por volta do meio dia.

Naquele dia o “sargento de dia” era um senhor que tinha os cabelos bem ralos aparentava um trinta e cinco anos.

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Quando ele começou dar a “ordem unida”, alguns soldados, os baixinhos posicionados no pelotão mais atraz, começaram a chamá-lo de “Cabelo de Rato”, porém, faziam de uma maneira camuflada e mudando a tonalidade e o trimbe de voz, esta atitude impossibilitava em descobrir quem eram ou em identificá-los..

O homem ficou nervoso, deu um sermão, mas de vez quando alguem dizia “Cabelo de Rato”. Nesta oportunidade alguns se vingaram das humilhações que passavam.

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Foto 3x4 ampliada do autor tirada no IAE em São Paulo no início do ano de 1965.

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Foto 3x4 ampliada do autor alguns meses após sua chegada para servir o Exército na Cidade de

Campo Grande Mt.

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10 - AS MUDANÇAS E DIFERENÇAS EM RELAÇÃO AO COLÉGIO QUE TÍNHAMOS DEIXADO

Em três meses pudemos sentir a diferença entre

o colégio onde estivemos internos em São Paulo e o quartel que também estávamos alojados em Campo Grande Mato Grosso, a distância era em torno de quase mil e duzentos quilômetros.

Fisicamente por incrível que pareça estávamos melhor, a dieta diária consistia em três reifeições e um lanche.

De manhã era servido o café da manhã que era oferecido meia bengala (um pedaço de pão francês que dava umas cento e cinquenta gramas) com manteiga e uma caneca de café com leite.

O almoço era servido diariamente sempre com um diferente tipo de carne, havia carne ensopada com batatas, carne de frango, cozida ou assada, carne de costela de boi6 com mandioca, de vez em quando havia 6 - Durante os dez meses e meio que lá estivemos nunca

serviram nas refeições carnes de porco ou seus derivados.

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peixes no cardápio, as vezes sardinhas, manjubas, até bacalhau em ocasiões especiais, além de saladas e uma sobremesa que na maioria eram doces em tabletes, tais como, doce de leite, doce de amendoim ou um pedaço de marmelada, esporadicamente algumas frutas tais como bananas ou laranjas, o jantar era a mesma coisa, mas servido para os soldados internos.

Nos dias de semana, especialmente para os soldados que estavam alojados havia um lanche as nove horas que era chamado de “brochante‟‟,7 era composto de chá mate que era servido com um pedaço de pão francês sem manteiga.

Em dois meses havíamos ganhado dez quilos de peso, eram mais músculos do que gordura, porque praticávamos diariamente exercícios físicos e fazíamos caminhada.

Quando demos conta e percebemos como éramos antes fisicamente; aquele rapaz magro e franzino que havia chegado ao quartel meio assustado; então, sentimos a diferença!

7 - Este apelido de brochante no chá mate, era uma fama que

corria, afirmavam que colocavam salitre no chá para acalmar o

apetite sexual dos soldados.

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Dois meses após, houve uma transformação, agora sentí a mudança, tornei um rapaz forte, com outra fisionomia, até a postura foi melhorada devido aos hábitos adquiridos em exercícios diários nas marchas realizadas, com a correção da postura com a cabeça erguida e torax levantado.

Não queremos aqui criticar o tratamento que tivemos no colégio, longe disto, mas apenas registrar o que ocorrera, enquanto que outros hábitos sofreram grandes transformações, mas não deixamos de frequentar a nossa igreja e ainda gostaríamos de registrar que os ensinamentos que recebemos no IAE.

Aquiles princípios que aprendemos no colégio, foram preciosos para nossa vida espiritual e para manter a conduta no dia a dia; porque foi lá que tívessemos uma estrutura montada para fundamentar a nossa crença doutrinário, tanto na formação de hábitos cristãos saudáveis, como em por em prática este aprendizado.

Quanto ao aspecto social tínhamos os finais de semana para irmos à igreja, fizemos novas amizades na comunidade de irmãos adventistas e passamos a frequentar a casa do nosso agora amigo Daniel que tivera sido nosso colega de IAE.

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Nos finais de semana, às vezes frequentávamos a praça central da cidade, era uma ampla área, local em que afluiam um grande número de pessoas que faziam parte da população desta cidade.

Dois meses após nossa chegada também ouve uma melhora nos aspectos as necessidades monetárias, cada soldado tinha um salário mensal (soldo), recebíamos em torno de 30 mil cruzeiros, eram seis notas de cinco mil cruzeiros que tinha a estampa de Tiradentes.8

Este dinheiro para mim era sagrado, com este recurso conseguia pagar os passes escolares para ir a escola à noite, foi o suficiente até para comprar algumas roupas e economizava cada centavo, porque era com estas economias que às vezes ia comer em algum restaurante, além disso, reservei as previsões para realizar as duas viagens que fizemos a cidade de Junqueirópolis onde estavam nossos pais, por duas ocasiões pudemos fazer esta viagem de trem e ônibus.

Era com tristeza que observava nossos colegas de farda que não tinham os hábitos cristãos saudáveis, além de adquirirem o hábito de fumar, ainda gastavam o dinheiro em bebidas, farras na prostituição.

8 - Houve uma reforma monetária, então os mil cruzeiros

transformaram em um cruzeiro novo.

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Por causa disto, como consequência no final de uma semana após o recebimento desse salário estavam sem dinheiro e muito deles com problemas de saúde ou até eram presos, porque foram surpreendidos pela patrulha nas casas do meretrício.

Quantas vezes tivemos que socorrer nossos colegas que haviam exagerado na bebida e chegavam tarde da noite bêbados no alojamento do quartel e tivemos que ajudar. Presenciamos até alguns rapazes com elevado grau de bebedeira a beira de um colapso ou até de um coma alcoólico!

Um desses rapazes foi nosso colega de infância e de escola, era o Norberto, tinha a pele bem escura e os cabelos lisos, era apelidado de “Alemão Noturno”, este rapaz lamentavelmente se enveredou pelos péssimos hábitos do alcoolismo.

Anos mais tarde tivemos a triste notícia de que havia falecido ainda bem jovem.

Quando vem a nossa lembranças estes momentos, damos graças a Deus pelo privilégio e pela oportunidade que tivemos em estudar no colégio adventista que nos fortaleceu a nossa formação cristã recebida de um lar cristão desde a nossa infância, percebemos que esta formação cristã fez a grande diferença.

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Assim pudemos fazer um planejamento de nossa vida neste período em que estivemos lá em Campo Grande servido o exército brasileiro, apesar das condições e circunstâncias em que nós nos encontrávamsos.

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11 - AS ATIVIDADES NO LABORATÓRIO DE BROMATOLOGIA

Dois meses após nossa chegada ao quartel,

ocasião em que o capitão Dutra9 nos descobriu quando estávamos cumprindo nossas horas de trabalho nas repartições deste quartel que era além de um local de treinamento de soldados um centro reginal de alimentos.

Era denominado de Estabelecimento Guia Lopes, composto de um complexo de edifícios, no qual havia a nossa companhia de soldados com seu corpo de soldados graduados e oficiais.

Neste complexo funcionava um mercado que vendia produtos e alimentos, porque tratava se de um Depósito Regional de Viveres que abastecia aquela ampla região militar.

No interior desde complexo havia um ramal de ferrovia usado pelos trens que trazia e levava nos vagões apropriados grande quantidade de cereais e mantimentos que eram usados para a alimentação dos

9 - Capital Veterinário Benedito Dutra Pimenta.

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soldados, eram grandes quantidades de sacos de feijão, arroz, milho, farinha de trigo e outros cereais, além dos enlatados e produtos industrializados.

Todos estes produtos alimentícios eram armazenados nos grandes espaços preparados em amplos galpões.

Os soldados com baixa instrução escolar e sem nehuma qualificação trabalhavam constantemente nesta área, carregando pesados sacos de cereais nos ombros e nas cabeças, era um trabalho árduo que exigia muito esforço físico.

Neste laboratório que foi nosso local de trabalho, era um local muito agradável, foi nos dado uma sala com uma escrivaninha que havia uma máquina de escrever Remington, alguns armários, um aparelho telefônico.

A minha atividade consistia em datilografar os laudos de análise de alimentos realizada por um “segundo sargento” chamado Kern, era um gaúcho de “Cruz Alta”, casado, com um sotaque bem carregado, muito educado e calmo, trabalhava com os mais modernos aparelhos de precisão de última geração, aplicava os mais avançados métodos de análise de alimentos.

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O sargento Kern, realizava as análizes dos alimentos e cereais que chegavam para o consumo, estes resultados eram acompanhados pelo capitão veterinário e chefe daquele laboratório, que assinava e inspecionava de forma rigorosa cada análise realizada e produzia um documento que era devidamente datilografado em laudas em quatro cópias.

Por sua vez, o capitão Dutra era um cuiabano que passou grande parte de sua formação educacional e profissional no Rio de Janeiro, por isso, era casado, com uma simpática jovem senhora carioca.

Militar disciplinado e sistemático, bem informado e atualizado para aquela época, se orgulhava de sua formação e da importante e relevante função que desempenhava naquele laboratório.10 Além do capitão e o sargento havia nesta repartição um rapaz civil chamado Cabral, um major veterinário que cuidava da

10

- Em 1983 estivemos em Campo Grande visitando familiares

que estavam residindo nesta cidade e fomos visitar este

quartel, encontramos lá à noite um dos colegas que era

sarbento e estava de serviços. Visitamos a Universidade

Federal de Campo Grande e lá encontramos um militar na

reserva o tenente Puia que nos informou que o capitão Dutra

estava trabalhando nesta instituição e tinha implantado uma

interessante picicultura com vários tanques para a criação de

peixes.

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administração da Granja Guaicurus, seu ajudante de ordens o soldado Guerra, era nosso colega de farda.

Encontramos num site de um famoso caricaturista esta

caricatura do Dr. Dutra que era o capitão qjue cuidava do

laboratório.

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12 - UM FATO DE GRANDE SIGNIFICADO E UMA ATITUDE EXEMPLAR A SER CONSIDERADA

Certo dia o capitão Dutra me chamou e disse:

Este laudo que voce vai datilografar é a condenação de um carregamento de cerca de cem toneladas de farinha de trigo de um famoso moinho da cidade de Santos do Estado de São Paulo, a farinha está mofada e imprópria para o consumo humano.

Era praticamente a produção de um mês deste famoso moinho e que estava acomodado em vários vagões de um trem de carga.

O moinho foi notificado e em dois dias o diretor propriétário deste grande moinho foi ao quartel falar com o capitão, permaneceu lá por volta de uma hora conversando com este oficial, após sua saída o capitão veio a minha sala e me contou, pediu segredo, isto foi em 1966, faz mais de quarenta anos, estamos registrando neste livro.

O capitão disse que havia recebido uma proposta de propina que equivaleria uma soma de dinheiro igual a vários anos de trabalho, para que ele modificasse

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aquele laudo que condenava a farinha e liberasse para o consumo humano.

O capitão ficou muito bravo e disse para aquele homem se retirar que não iria atender e ameaçou em prendê-lo por tentativa de suborno a um oficial das forças armadas.

Quando o Capitão Benedito Dutra Pimenta, cumpriu fielmete sua função, preservando a saúde de milhares de soldados e vidas que iriam consumir aquela farinha estragada, ele simplesmente deixou um exemplo de honestidade, caráter e acima de tudo de ser um cidadão honrado, cumpridor das leis demonstrando ter acima de tudo uma exemplar formação moral.

Refletindo hoje, quando estamos assistindo o julgamento do “Mensalão”, onde está envolvida a cúpula de um partido no qual seu presidente de honra é um expresidente da república que anda pousando como um dos maiores e melhores presidentes da história deste país!

É hora de examinar nossas consciências e observar que há muita coisa errada nesta nação e os nossos valores foram invertidos ou também estão corrompidos pela política que dirige este país. Esperamos que esta nação desperte e que a justiça seja feita e os culpados sejam exemplarmente punidos.

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13 - O BONECO “FRIGIDAIRE” QUASE PRENDEU O TUCANO

Num certo dia, após o almoço, estávamos

iniciando a segunda parte do expediente no período da tarde, estávamos todos reunidos de forma descontraída na área principal do laboratório.

Havia em torno das paredes os balcões de alvenaria revestidos com azulejos e sobre estes balcões estavam alguns aparelhos, estufas e equipamentos do laboratório.

Além de todos estes aparelhos e equipamentos, o laboratório também tinha um fogão a gaz e uma geladeira.

Dentro da mesma eram mantidas pelos oficiais algumas garrafas de suco de maracujá e cajú, todas as tardes nos dias de calor era preparado com estes sucos um refresco bem gelado que era servido para todos nós, realmente muitas vezes não parecia um quartel devido a estas mordomias.

Neste momento de descontração, entrou o major de forma bem alegre e festiva, disse: Dá licença que está chegando um homem.

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Neste momento todos olharam o major e o cumprimentavam, então, num interim e sem pensar nas palavras o soldado Tucano disse: Tá chegando um homem ou o boneco frigidaire?!

O major olhou o soldado Guerra que tinha o apelido de Tucano, disse: Soldado Guerra voce acabou de desacatar uma autoridade e vou lhe prender por isso, para que lhe sirva de lição e nunca mais voce vai se esquecer disto!

Então, virou para mim e disse, vá ao escritório e bata pra mim uma parte com a ordem de prisão para ser encaminhada ao protocolo.

Atendi a ordem, em alguns minutos o próprio Tucano “Guerra”, trouxe-me a minuta, então preenchi o impresso na máquina de escrever, o major assinou e então em seguida fui até o protocolo que ficava alguns metros no edifício principal.

Quando estava protocolocando este documento, chegou ofegante o soldado Guerra quase chorando, dizendo: Ezequiel pelo amor de Deus!

Implorei ao major e ele me perdoou, ele mandou parar com protocolo desta “parte”, está te chamando lá no gabinete dele. Voltei ao gabinete e foi confirmado o que ele me disse.

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Então, diante disto, pedi para suspender o registro daquele documento após esta verificação.

Encontrei o major ainda transtornado e meio bravo, após ter confirmado a decisão de não mais prender o seu ajudante de ordens.

Todavia, impôs a ele algumas tarefas extras que foi um certo castigo, além do grande susto que ele passou.

Para este soldado foi um alívio, mas acredito que ele tenha aprendido a lição.

O major quando viu ele chorando ficou um pouco encabulado, comoveu se e desistiu de prendê-lo.

Foi um episódio que virou motivos para risos dias mais tarde, mas ninguém mais ousou brincar com a autoridade daquele major.

No entanto, aqueles meses que passamos naquela repartição daquele quartel; foi para nós como se tivessemos adquirido uma nova família.

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14 - PASSAMOS O REVEILLON DE 1966 DE PRONTIDÃO

Esta ordem de aquartelamento ocorreu de

surpresa, estávamos num período de transição política com o militares no poder, muitas celulas terroristas se manifestavam em muitas partes do país, houve rumores de que havia um grupo atuando na região de Mato Grosso nas proximidades das fronteiras com o Paraguai.

Diante deste quadro foi baixada uma ordem vinda do alto comando do II Exército para que as guarnições militares ficassem aquarteladas em regime de prontidão geral e total.

Passamos estes festejos de passagem de ano internos sem poder sair, sem festejar e nem visitar os amigos.

Todavia tínhamos tido o privilégio de ter realizado uma viagem uma semana antes em cuja viagem fizemos uma visita aos nossos pais, onde passamos o Natal na cidade de Junqueirópolis.

No retôrno, durante esta viagem no itinerário estava a cidade de Tupi Paulista, lá conhecemos uma garota que subiu neste mesmo ônibus e viajou com a

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família que estava visitando familiares que residiam em Campo Grande.

Era quase uma menina com quatorze anos, meio loira e com olhos azuis, era atraente mas ainda um tanto quanto imatura, mesmo assim, iniciamos um namôro.

Após aquela viagem, nos encontramos duas vezes no início de janeiro daquele ano no centro da cidade de Campo Grande, ela voltou para Tupi Paulista, mantivemos contato através de cartas e quando tive a baixa do serviço militar, retornei a cidade de Junqueirópolis que distava a vinte e cinco quilômetros desta cidade.

Este namôro teve curta duração, mas foi interessante nos três meses que nos relacionamos, em julho daquele mesmo ano tínhamos terminado.

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15 - O DIA EM QUE O GENERAL COMANDANTE DA NONA REGIÃO MILITAR VISITOU O QUARTEL

Transcorria a época do carnaval, foi anunciado

que o general comandante da Nona Região Militar iria visitar nosso quartel, naquele período, tirávamos serviço como Cabo de Dia, fomos promovidos para atuar como cabo devido a um teste de seleção para o curso de cabo que participamos.

Todavia, como não havia nenhum interesse em participar deste curso, segundo as informações extras, tínhamos conseguido as melhores notas, mas deixamos para aqueles mais carentes que tinham a pretensão de fazer uma carreira militar.

O que ficou de positivo foi a nossa promoção e então quando entrávamos na escala de serviços, éramos cabo de dia.

Ocorreu que naquele quartel havia um sargento que era analfabeto, não sabemos como conseguiu chegar a esta promoção, mas eram coisas do exército daquela época.

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Exatamente para aquele dia em que aconteceu a visita do general, fui escalado como cabo de dia e o sargento de dia era exatamente aquele sargento que não sabia escrever, apenas desenhava seu nome.

Era a segunda vez que iria trabalhar com ele, na primeira vez tive que fazer todos os relatórios ele apenas desenhou sua assinatura.

Tivemos um dia muito agitado e estressante, com muita faxina, muitas atividades e tínhamos que estar à frente de todas as tarefas para deixar o quartel em ordem, foi um dia exaustivo e chegamos à noite com tudo aparentemente em ordem, por causa da chegado do general na manhã seguinte.

Naquela noite no intervalo de quatro horas tínhamos que fazer a ronda por duas horas. Naqueles momentos, tive uma surpresa, quando chegou a hora da minha ronda, fiz a checagem dos postos, estava tudo em ordem; encostei numa das camas do alojamento e tirei um rápido cochilo, neste interim, entrou sorrateiramente o sargento analfabeto e me surpreendeu, me chamou a atenção, continuei a ronda e passei aquela noite muito preocupado.

Na manhã seguinte por volta das nove horas da manhã, uma hora antes de passar o posto, o general chegou ao quartel e foi direto ao alojamento, o

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sargento se recusou em se apresentar ao general, alegou que eu era mais estudado do que ele, então, me posicionei e me apresentei falando todos os dizeres de praxe ao General com voz alta e com muita firmeza.

O general em posição de sentido na minha frente, ouvia atentamento fintando meus olhos, apenas disse “muito bem” e saiu com a comitiva, continuando sua vistoria geral naquele quartel.

Por volta das onze horas, ele esteve com o comandante chefe da nossa unidade no gabinete do Tenente Coronel Ozório, que era o pai do cantor Leno que fazia dupla com a Lília.

Quem não se lembra dessa famosa dupla dos tempos da Jovem Guarda que cantava aquela música “Pobre Menina”?

O general fez algumas observações, criticou vários outros detalhes daquele quartel e fez elogios, neste elogio segundo o capitão Dutra, que era meu chefe e que estava presente, ele destacou a apresentação que eu havia feito para aquele general no alojamento.

Contudo, quando ele junto com os demias oficiais desceram do comando e foram ao gabinete do comandante da companhia, surpreendentemente, lá estava sobre a mesa daquele gabinete a ocorrência que apontava que eu, o cabo de dia havia dormido na hora

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da ronda, era tudo o que ele não queria que houvesse acontecido.

O curioso foi que eu tinha relatado esta ocorrência que era contra mim mesmo, por ordem daquele sargento que era analfabeto.

O capitão Dutra falou com seu colega o capitão Vilela que era o comandante da companhia e ele recomendou que eu ficasse na granja deste quartel por uma semana para não ser visto por aquele sargento sob pena de ser preso.

Foi o que ocorreu, naquela semana, de manhã saía bem cedo no caminhão que ia àquele locaç, me dirigia junto com os soldados que cuidavam da granja.

Foi muito dificil mas esta tinha sido a solução que os oficiais encontraram para me livrar de uma possível punição.

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16 - UM DIA NA GRANJA GUAICURÚS

Esta granja tipo fazenda era uma espécie de

“xodó” de alguns oficiais do quartel principalmente para o Major Nardi e o Capital Dutra que eram os chefes, um da granja e o outro do laboratório, ambos os gabinetes que cuidavam destas unidades ficavam anexo ao laboratório.

Visitamos aquela granja por alguns dias, como fazia o serviço de cabo ordenaram que eu ficasse mais como uma espécie de monitor das atividades que consistia em limpar as pocilgas e fazer as arrumações, cuidar dos animais, havia alguns cavalos, vacas e muitos porcos.

No último dia que lá estivemos o capitão Dutra fez uma surpresa aos soldados; havia chegado algumas horas antes do momento marcado, ordenou que matasse um porco (leitão) e então, fizeram um churrasco.

Não participei deste evento pedi para ficar à margem, porque fui criado sob as orientações bíblicas do Livro de Levítico capítulo 11 11que nos traz as

11

- Também o porco, porque tem unhas fendidas, e a fenda

das unhas se divide em duas, mas não rumina; este vos será

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intruções sobre os animais e imundos que devemos comer e também aqueles que não devemos usar como alimento.

Estas ordenanças divinas foram dadas ao Povo de Israel durante a peregrinação no deserto há mais de mil e trezentos anos a.C..

Porém este animal ainda continua imundo e um grande transmissor de doenças inclusive verminoses, por mais que toma os devidos cuidados, sua naturea não mudou, continua sendo um porco.

Pudemos presenciar a grande quantidade de vermes que estes animais possuem em seus organismos. Isto ficou bem evidente quando os soldados estavam lavando as pocilgas. Contudo, aqueles soldados fizeram uma grande festa e se deliciaram com a carne assada daquele animal.

Durante o evento muitos faziam gozações e me provocavam mostrando as partes daquele porco que estavam comendo; para mim não afetou em nada, não tive nenhuma reação porque sempre achei a carne e os derivados do porco coisas nojentas.

imundo. Das suas carnes não comereis, nem tocareis nos seus

cadáveres; estes vos serão imundos. Levítico 11:7-8

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Foto do autor marchando na parada militat em

primeiro plano

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As fotos a seguir são da parada militar de Sete de

Setembro 1966, soldados da Nona CDS na Avenida

Afonso Pena em Campo Grande

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16 - O DIA A DIA NA ESCOLA

A Escola Normal Joaquim Murtinho localizava na

área central da cidade na Av. Afonso Pena, era um prédio grande antigo com amplas salas e corredores, havia um enorme pátio interno, suas amplas instalações configurava ser uma edificação bem apropriada para atender seus alunos.

Sentimos muito as mudanças com esta transferência, às matérias eram quase as mesmas, mas os professores, quanta diferença! Não que fossem melhores ou piores.

Não era esta a questão, o problema estava no estilo e na forma de ensinar.

Por exemplo, tínhamos uma professora de História que era uma espécie de “tagarela mecânica”, entrava falando e saía falando.

Naquele ano estudamos a história da Grécia Antiga, que compreendeu desde o período arcaíco até o clássico, então, foi dada uma ênfase as guerras grecopersas.

Era uma interessante temática, mas aquela pequena mestra conseguia complicar um pouco estas aulas.

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Enquanto que a professora que lecionava Desenho Pedagógico, uma das matérias mais preferidas, era a nossa diretora.

Duas vezes por semana tínhamos esta aula, era muito agradável e ela contava as estorinhas infantis fazendo as ilustrações simultâneas com desenhos pedagógicos.

Assim íamos aprendendo, todavia era a aula de português uma das mais dinâmicas, um professor catarinense muito dinâmico e tinha o hábito de trazer em todas suas aulas as apostilas mimiografadas com os temas ensinados, que eram fornecidas gratuitamente.

Não poderia deixar de ressaltar as aulas de Sociologia, era ministrada por uma professora muito comunicativa e costumava dar bastante ênfase aos aspectos sociais e integrado ao comportamento humano vivendo em sociedade.

Nos intervalos notávamos que havia muitos soldados e militares que estudavam naquela escola, inclusive dois sargentos da PE (Polícia do Exército) que estavam cursando o primeiro normal.

Por sinal nesta classe que ficava ao lado da nossa, havia duas garotas que tentaram aproximar e se relacionar comigo.

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Numa noite uma dessas meninas me abordou e disse-me que sua colega a Marli era louquinha por mim e me achava o máximo, esta garota era muito bonita, aparentava ser muito meiga, tinhas os cabelos meio loiros ondulados, olhos claros, era magra e meio alta.12

Fiquei meio lijongeado e meio constrangido, mas naqueles momentos apenas agradeci esta tão amável atenção.

Os meses se passaram e esta moça morena chegou a ligar para o quartel na repartição que eu trabalhava várias vezes, mas com outros interesses.

O capitão veterinário que era o chefe do laboratório deu um curso na cidade e ela participou; então a ajudei passando lhe algumas informações importantes.

12

- Meses mais tarde conhecí sua irmã que namorava um

colega meu do mesmo quartel, cheguei a ter amizade com seu

irmão, era uma família de posses e morava numa bonita casa

numa das principais avenidas da cidade. Tivemos até um início

SW ;マキ┣;SW ┌マ ヮラ┌Iラ さIラノラヴキS;ざが マ;ゲ ミ?o chegamos a

namorar.

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17 - NOSSA PARTICIPAÇÃO NAS ATIVIDADES DA IGREJA

Nossa primeira participação na programação da

Igreja Adventista Central de Campo Grande foi no segundo sábado.

Tivemos naturalmente um dia de folga então saímos com um colega para andar pela cidade era um sábado pela manhã.

Ao passar por uma das ruas paralelas às duas avenidas centrais, ouvi o cântico de hinos conhecidos, era por volta das dez horas da manhã e por acaso encontrei minha igreja, foram momentos de emoção, lá encontrei o meu colega de IAE o jovem Daniel Simoncello, havia passado menos de quinze dias que tínhamos nos encontrado a última vez no colégio, encontrei também o irmão do Valter Dobelin que por sinal fez a pregação no culto daquela manhã de sábado.

A partir daí, fizemos tudo possível para assistir todas as reuniões de Escola Sabatina e culto de todos os sábados.

Percebemos que não mais estávamos sós aos poucos fomos integrando mais e mais nesta igreja com sua comunidade, observamos que o Pastor era o Pedro

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Simon que já conhecíamos desde o colégio, que havia também um Pastor que foi obreiro de nosso destrito em Junqueirópolis e Dracena alguns anos anteriores, era o Benito Raimundo, muito atencioso e nos ajudou em muitas ocasiões, principalmente nas semanas de oração em que se prontificava em nos levar em sua kombi todas as manhãs no quartel quando pernoitávamos fora desta unidade militar em virtude de assistirmos todas as reuniões noturnas.

Havia uma Missão da Igreja Adventista do Sétimo Dia, na cidade também estava instalada uma clínica de saúde, local que fomos algumas vezes participar de sessões de sauna, nesta cidade também estava funcionando um dos hospitais que tornou se referência no tratamento da terrível doença do pênfigo.

Percebemos que estávamos numa importante cidade que era um tipo de centro em que a organização adventista realizava um signifivativo trabalho.

Descobrimos também que havia um outra igreja adventista próximo ao nosso quartel no bairro Amambai, de vez em quando, íamos assistir cultos nesta igreja.

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18 - O ACAMPAMENTO DA IGREJA

Havia uma fazenda distante algumas dezenas de

quilômetros da cidade de Campo Grande, era uma propriedade bem ampla com várias plantações, havia um riacho que passava no meio desta área e lá foi preparado um espaço bem propício para montar as barracas, entre um espaço e outro podia se ver grandes moitas de bambu que durante o dia fornecia uma boa sombra.

Este local foi escolhido para a realização de um acampamento promovido pela Igreja Adventista de Campo Grande.

O evento começou na sexta feira e se extendeu até ao domingo, foram três dias e duas noites.

Tivemos problemas, mas conseguir a liberação e autorização para deixar o quartel, mas com uma carta do pastor foi possível me integrar este evento que para nós foi muito interessante.

Houve a participação intensa dos desbravadores, tivemos a presença do dirigente geral da Divisão Sul Americana.

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Na igreja havia uma família numerosa de paulistas que estava residindo havia algum tempo naquela cidade, o rapaz mais velho era casado e possuía um estabelecimento comercial no centro da cidade, era um tipo de lanchonete que servia sucos, iogurtes e vendia produtos naturais.

Lembro-me do nome de um deles, Geraldino que era um rapaz que gostava de cantar, então ele com seu irmão e outro rapaz que se chamava Jarbas, um mulato que tinha um problema facial talvez tenha sido vítima de um AVC e por isso não movia um lado do rosto, mas cantava muito bem.

Em muitas noites de sábado, após o por do sol eles se reuniam e lá eles apresentavam cantando muitas canções, além dos hinos.

Porém o que ficou marcado naquele período eram as canções mexicanas que faziam muito sucesso naquele tempo, tais como: Adelita e Cielito Lindo, que eram canções que já haviam sido interpretadas até por cantores brasileiros.

Quanto ao Jarbas gostava de cantar a famosa Malaguenha. Este grupo se destacou apresentando seus hinos e canções neste acampamento.

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Na noite de sábado foi acendido uma fogueira e envolta desta foram apresentadas algumas canções, brincadeiras e entretenimentos.

No domingo último dia, houve uma tarefa que fazia parte da programação, consistia numa aventura na qual cada equipe saia na procura de algo natural que fosse mais original e impressionante.

Foram formadas várias equipes e tiveram uma hora para andar pela fazenda e nos matagais daqueles arredores em busca destas coisas.

O resultado foi que uma equipe conseguiu trazer uma casa de cupim, outra obteve com muitas dificuldades um cacho de coquinhos, tiveram que subir num pé de coqueiro tipo palmeira bem alto para apanhar estas frutinhas.

Enquanto que outras equipes não tiveram sucesso nestas buscas.

Dessa forma foi escolhido o mais interessante achado, não lembro me quem ganhou; porém, foi bem emocionante estas buscas, almoçamos descontraímos e voltamos para a cidade. O acampamento chegara ao fim.

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19 - O ÚLTIMO DIA DE QUARTEL

Era 31 de março de 1966, tivemos uma rotina

normal no laboratório, mas era um dia diferente, tratava-se do nosso último dia porque no dia seguinte era a nossa baixa do exército, apenas iríamos almoçar e despedir deste local em que passamos dez meses e meio de nossa existência.

Logo pela manhã, enquanto transcorria as horas normais daquele dia, então, quando fomos avisados pelo comando de que ninguém deveria deixar o quartel após o expediente que terminava as 16:30 h.

Todos os soldados foram convocados para realizar um trabalho, havia chegado um vagão com algumas toneladas com milhares de sacos de feijão que deveria ser descarregado e armazenado em um dos espaços daqueles grandes armazéns.

Nesta hora fiquei muito aflito, tinha que comprar uma mala naquela tarde de sexta-feita para poder viajar no dia seguinte.

Procurei o capitão Dutra, ele não estava presente e não viria naquele dia ao laboratório estava com compromissos no QG. Então, recorri ao Major

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Nardi,13 ele pensou um pouco e não achou correto o capitão dar este último castigo para os soldados da nossa companhia.

Então muito atencioso, me apresentou uma solução dizendo: A nossa saída é pela viatura dos oficiais, hoje eu sou o mais graduado, então, vou tirá-lo desta; quando eu estiver saindo voce virá comigo, vai sair nesta perua deitado no bagageiro, para que ninguém te veja no portão de saída do quartel. Fiquei feliz, e agradecido a ele e muito a Deus por este livramento „.

Quando chegou as quatro e meia da tarde saí sorrateiramente com o Major, ele disse para o motorista que ele precisava de mim para um serviço.

O motorista que também era um soldado; sabia da ordem expressa do comandate da companhia, que era um capitão, para que nenhum soldado saísse do quartel.

Seguí as instruções e deitei no bagageiro, no portão ninguem ousou em revistar aquela viatura. Assim que o veículo rodou uns cinquenta metros, pus a cabeça para

13

- Em 1979 encontramos o major Nardi em Porto Alegre, ele

estava servindo em uma das unidade militares no centro

daquela cidade, aguardava a sua aposentadoria. Estava muito

animado e em pleno gozo de sua saúde.

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fora e dei um tchau com um aceno de mão ao soldado que estava de guarda no portão. Ninguém teve a ousadia de ir atrás de mim.

Chegamos ao centro da cidade e a loja que vendia as malas estava quase de frente ao prédio que localizava o apartamento deste Major.

Quando estava na loja escolhendo uma mala, tive uma surpresa, encontrei ainda com um primeiro tenente que foi um dos intrutores de nossa companhia, ele me viu e ficou admirado de me encontrar fora do quartel naquela hora em que havia aquela proibição que impedia a saída dos soldados, apenas disse a ele que o major me autorizou a sair com ele na perua dos oficiais até aquela loja.

Visitei naquele final de tarde e início de noite a casa de nossos amigos, a irmã Jerônima e o Daniel, pela última vez, fui agradecer a eles a amável atenção e o carinho com que eles me trataram nestes dez meses.

Cheguei ao quartel para o último pernoite, era mais de nove horas da noite, estava ansioso, não via a hora que chegasse o dia de sair daquela instituição.

Os soldados meus colegas estavam exaustos, ficaram até além das oito horas da noite carregando sacos de feijão e arroz nas costas.

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Apenas entrei discretamente, preparei para dormir, foi minha última noite naquele alojamento.

Os meus pensamentos estavam na viagem que faríamos no dia seguinte e no nosso retorno à casa de meus pais em Junqueirópolis.

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20 – A DESPEDIDA DO EXÉRCITO DE VOLTA À CASA DOS MEUS PAIS

No dia 1º de abril do ano de 1967 era um

sábado de manhã, estávamos deixando o quartel numa emocionante despedida, na qual muitos dos nossos colegas se comoveram até as lágrimas, quando todos se abraçaram num clima triste e melancólico, dessa forma se despediram um do outro daquele lugar.

Gostaria de registrar que naqueles momentos de emoção em que quase todos os colegas de farda se abraçavam e choravam; nós também sentimos uma dor de tristeza, entretanto não nos envolvemos naqueles instantes de maneira mais intensa.

Foram momentos de fortes emoções, preferimos ficar um tanto à margem porque no fundo tudo que queríamos era deixar aquele lugar o mais depressa possível. Afinal o nosso dever estava cumprido.

Percebia em nosso íntimo até uma alegria porque tudo aquilo já era uma página virada da vida e ficaria em nosso passado. Tinha consciência das dificuldades que iríamos enfrentar, mas sabíamos que Deus tinha

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reservado para nós planos bem melhores do que aqueles que tínhamos passado.

Notamos que muitos daqueles nossos colegas de farda, que a partir daquele momento eram civis, pois tinham dado a baixa no serviço miliar, iriam voltar pra suas casas e que lá onde viviam não tinham nada pra fazer, porque a maioria deles não tinha ainda uma profissão e nem dedicavam aos estudos.

Por isso em nossa cabeça havia uma euforia de ter cumprindo aquela etapa na vida e estávamos vitoriosos e tínhamos plena certeza que iriamos continuar em busca dos nossos objetivos e metas, por isso a nossa atitude mais reservada naquela despedida.

Somente a tarde daquele dia após o nosso último almoço naquele quartel nós partimos, a grande maioria viajou de trem de volta cada um para a sua casa, era uma sensação de alívio, me sentia como um pássaro, livre para voar e alçar as alturas como uma imponente águia.

Naquela tarde, ainda na estação ferroviária de Campo Grande, aquela Senhora, a Dona Jerônima que tinha tanto me ajudado, estava lá para dizer o adeus, fiquei comovido pela sua atenção e simpatia para comigo e com as palavras de encorajamento que ela me disse naquela ocasião, ela fora para mim da forma que

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já afirmei; como uma segunda mãe naqueles dez meses e meio que ficamos lá.

Mais uma etapa da vida estava vencida, não havia condições nenhuma para voltar ao colégio, a solução foi regressar a casa de meus pais e completar o meu curso Normal de formação de professores primários, na vizinha cidade de Dracena, próxima a nossa cidade dez quilômetros.

Mal começara os estudos no Instituto de Ensino Engº Isac Pereira Garcez, numa daquelas noites veio o diretor daquela instituição e foi nos dizendo publicamente em alto e bom tom, perante os colegas de classe, de forma constrangedora que o curso que tínhamos realizado em Campo Grande antigo MT, não era válido no Estado de São Paulo e que teríamos se quiséssemos continuar naquela instituição, voltar para o 2º ano Normal e que ainda já havia falado com o inspetor que ele tinha concordado, então, me entregou os papéis e nos disse que estava tudo decidido e não havia mais nada o que fazer.

Em completo desolamento voltamos para a nossa casa naquela noite, sentia que mais uma vez tudo estava perdido, um ano da nossa vida, uma dor corria por dentro, só quem sente esta angústia pode avaliá-la e dimensioná-la, após tantos sofrimentos recebera esta momentânea recompensa.

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Meus pais assumiram junto comigo esta dor. Então, juntos oramos a Deus e no dia seguinte viajamos até a Cidade de Marília onde ficava a Delegacia Regional de Ensino, que seria a nossa última esperança.

Foi uma noite de angustia, mas de esperanças e muita fé e confiança em Deus. No dia seguinte tomamos o primeiro trem, foi uma viagem de mais de cinco horas, às 14 horas chegamos naquela instituição pública que se localizava a umas três quadras da estação ferroviária da Cidade de Marília.

Era uma casa simples, mas ostentava na entrada uma placa com o seu nome oficial, havia duas pessoas numa daquelas salas que dava direto para a porta de entrada, uma delas era um senhor de meia idade sorridente e simpático.

Muito solícito, nos perguntou o que desejávamos, imediatamente respondemos que gostaríamos de falar com o delegado de ensino, imediatamente ele disse, pode falar que eu sou o delegado de ensino.

Foi um momento de emoção, alegria e de muita confiança e esperança acima de tudo, parecia que o anjo do Senhor estava dirigindo tudo e lá nos colocou em frente a pessoa que era a autoridade máxima do

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ensino naquela região e que poderia nos tirar daquela terrível situação em que fora colocado.

Contamos a ele a nossa história de haver iniciado o curso Normal em São Paulo e que tivemos que interromper porque fomos convocados para ir ao Estado de Mato Grosso servir o Exército Brasileiro.

Afirmamos que fizemos tudo àquilo com muitos sacrifícios, conseguimos a transferência e completado o segundo ano Normal e agora tudo fora colocado abaixo pela não aceitação de nossa matricula no 3º Normal pela direção do Instituto de Educação de Dracena.

Ele ouviu atentamente nossos relatos, afinal era a autoridade máxima do ensino estadual daquela região, onde se encontrava aquela instituição. Apenas disse eu vou resolver este problema.

Imediatamente escreveu uma carta de próprio punho com o papel timbrado desta repartição assinou e carimbou.

Então, me disse: Você não vai perder o ano de estudos e nem voltar para o segundo normal, a matéria que falta será cursada no período da manhã no segundo Normal e a disciplina de Psicologia que voce não fez em Campo Grande, então à noite poderá ser feito o terceiro ano do Curso Normal regularmente.

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Estou escrevendo as instruções nesta carta para que eles o aceitem e também para que toda a documentação necessária de transferência eles poderão pedir por conta deles, via correio para a escola de Campo Grande onde você estudou o segundo ano.

Naquele momento parecia que os céus tinha se aberto, os anjos, Deus, Jesus e todos os seres celestiais sorriam prá mim.

Afinal, toda aquela humilhação que havia passado agora eu estava com a solução em minhas mãos.

Agradecemos emocionados e felizes, aquela gentileza toda e percebemos que aquele homem além de ter muita boa vontade parecia que ele tinha lido os nossos pensamentos.

Surpreendentemnte, ele sabia exatamente aquilo o que precisávamos e para nós evidenciava que fora iluminado pela vontade divina.

Voltamos vitoriosos e no outro dia com a cabeça erguida entramos naquela escola e entregamos a carta da autoridade máxima, na secretaria da escola, encontramos o diretor e entregamos a ele, ficou admirado com o que lera naquela carta.

Fez uma expressão de admiração e disse que podíamos voltar prá sala de aula do 3º Normal e que

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agora em diante eles iriam fazer tudo o que fora necessário para cumprir aquelas ordens.

Foi nesta Cidade de Dracena e na nossa pequena cidade de Junqueirópolis que passamos o restante daquele ano nas quais trabalhamos e estudamos, realizando pelas manhãs viagens de trem prá aquela escola pelo menos duas vezes por semana, fazendo as aulas de psicologia e o curso Normal regular à noite.

O final do ano tão logo chegou? Participamos da formatura, vitoriosos tínhamos vencido mais uma etapa de nossa vida; logo estávamos prontos para mais uma partida e outra despedida.

Aquele ano de 1967 passou rapidamente e completamos o curso, éramos novos professores do ensino primário com apenas vinte anos de idade, estávamos preparados para iniciar mais uma etapa na vida para enfrentar novos e grandes desafios.

Após o Natal daquele mesmo ano, já havíamos tomado a decisão e regressamos à cidade de São Paulo para estudar numa faculdade e trabalhar.

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21 - CONCLUSÃO

Estamos dessa forma concluindo mais este

trabalho com esses relatos desta importante e memorável etapa de nossa vida, percebemos que como tudo nesta vida, passou também muito rápido.

Está fazendo mais de quarenta anos, porém estes dez meses e meio que permanecemos neste quartel marcaram profundamente nossa vida.

Muitos e muitos anos se passaram e diversas vezes tivemos sonhos com este quartel, com aquele ambiente, com nossos colegas, sentimos que ficaram cravado em nossa mente; as marcas profundas destes fatos em nossas lembranças.

Este período apesar das controvérsias e paradoxos foram meses significativos de nossa existência, graças a Deus saímos vitoriosos e pudemos colocar estas experiências como significativas e importantes lições de aprendizado que serviram para nos enriquecer e amadurecer nossa formação como cidadãos.

A nossa vitória queremos compartilhar com o leitor, não deixando de agradecer ao nosso maravilhso Deus por este privilégio pela proteção e tantas bençãos que pudemos usufruir.

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Nosso reconhecimento e agradecimento a todos aqueles que nos ajudaram direta ou indiretamente, especialmente em memória da saudosa Dona Jerônima e de seu filho nosso amigo Daniel Simoncello que atualmente está residndo em São Paulo onde atua na área jurídica como um bem sucedido advogado.

Esta é a foto do Daniel com seu netinho. Nossa homenagem

e gratidão!