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Cadernos de a C O L E Ç Ã O Tempo livre e Trabalho CA07_eja_iniciais.qxd 12/13/06 9:47 PM Page 1

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C a d e r n o s d e

aCO

LE ÇÃO

Tempo livree Trabalho

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A o longo de sua história, o Brasil tem enfrentado o problema da exclusão social que

gerou grande impacto nos sistemas educacionais. Hoje, milhões de brasileiros ainda

não se beneficiam do ingresso e da permanência na escola, ou seja, não têm acesso a um

sistema de educação que os acolha.

Educação de qualidade é um direito de todos os cidadãos e dever do Estado; garantir o

exercício desse direito é um desafio que impõe decisões inovadoras.

Para enfrentar esse desafio, o Ministério da Educação criou a Secretaria de Educação

Continuada, Alfabetização e Diversidade – Secad, cuja tarefa é criar as estruturas necessárias

para formular, implementar, fomentar e avaliar as políticas públicas voltadas para os grupos

tradicionalmente excluídos de seus direitos, como as pessoas com 15 anos ou mais que não

completaram o Ensino Fundamental.

Efetivar o direito à educação dos jovens e dos adultos ultrapassa a ampliação da oferta

de vagas nos sistemas públicos de ensino. É necessário que o ensino seja adequado aos que

ingressam na escola ou retornam a ela fora do tempo regular: que ele prime pela qualidade,

valorizando e respeitando as experiências e os conhecimentos dos alunos.

Com esse intuito, a Secad apresenta os Cadernos de EJA: materiais pedagógicos para o

1.º e o 2.º segmentos do ensino fundamental de jovens e adultos. “Trabalho” será o tema da

abordagem dos cadernos, pela importância que tem no cotidiano dos alunos.

A coleção é composta de 27 cadernos: 13 para o aluno, 13 para o professor e um com

a concepção metodológica e pedagógica do material. O caderno do aluno é uma coletânea

de textos de diferentes gêneros e diversas fontes; o do professor é um catálogo de ativi-

dades, com sugestões para o trabalho com esses textos.

A Secad não espera que este material seja o único utilizado nas salas de aula. Ao con-

trário, com ele busca ampliar o rol do que pode ser selecionado pelo educador, incentivan-

do a articulação e a integração das diversas áreas do conhecimento.

Bom trabalho!

Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade – Secad/MEC

Apresentação

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Sumário

TEXTO Subtema

1. O mito de SísifoRelicostumes 6

2. Ócio & Negócio 9

3. Tempo rei Diversidades regionais 10

4. Ursa maior Maturidade social 12

5. Benedito da CatiraMiscigenação 14

6. Dilbert Crítica social 17

7. História contemporânea Trabalhadores 18

8. Contra o tempo Cultura suburbana 20

9. Dilberta luta dos negros 21

10. Parque de diversões Ambiente de trabalho 22

11. A história do lazer Identidade nacional 24

12. A vida é melhor com lazer commbiente de trabalho 26

13. Lazer e batente Índios do Brasil 28

14. No calçadãoImigração e culinária 29

15. Carnaval ou o mundo como teatro e prazer Direitos civis 30

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16. Turismo Origens dos trabalhadores 33

17. Hasta la vista, siestaÍndios do Brasil 34

18. Viver também é preciso 36

19. Até segunda-feira Olhos da alma 37

20. Homenagem ao malandro Arte culinária 38

21. PescariaArte culinária 39

22. O espírito carnavalescoArte culinária 40

23. Domingo no parque Arte culinária 42

24. Tempo curto Arte culinária 44

25. Eu e outros poemas Arte culinária 45

26. Brasil dos Ronaldos Arte culinária 46

27. A rua Arte culinária 48

28. Ninguém faz nada Arte culinária 55

29. O Brasil do bem Arte culinária 57

30. Os portadores de deficiência e o lazer Arte culinária 59

31. O lazer e a crise econômica Arte culinária 62

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Sísifo, mítico fundador da cidade deCorinto, foi o mais astuto dos mortais.Viu acidentalmente quando Zeus rap-

tou Egina, filha do Rio Asopo, e delatou oraptor ao pai da moça em troca de uma nas-cente que Asopo fez brotar na cidadela deCorinto.

Zeus, encolerizado, enviou Tânato, amorte, para buscá-lo, mas de algum modoSísifo conseguiu enganar e prender Tânato.Como ninguém mais morria, Hades estri-lou e Zeus providenciou a libertação deTânato. Tânato imediatamente capturouseu captor e Sísifo baixou ao Hades.

Sofr imento e a legr iaTEXTO 1

• Trabalho e Tempo Livre6

De como enganar a morte e ser punido com uma tarefa interminável, segundo a mitologia grega

O M

ITO

DE S

ÍSIF

O

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raçã

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O precavido Sísifo, no entanto, avisaraa esposa Mérope para não prestar-lhe asusuais honras fúnebres, de modo queHades, indignado, não podia recebê-lo nomundo subterrâneo. Sísifo desculpou-sehumildemente com o deus e garantiu-lheque, se pudesse voltar, puniria a “sacrílega”esposa por sua impiedade e resolveria oproblema. O deus concordou, e o esperta-lhão voltou tranqüilamente ao mundo dasuperfície e viveu ainda muitos anos...

Algum tempo depois, o mais esperto ebem-sucedido ladrão da Grécia, Autólico,filho de Hermes e vizinho de Sísifo, tentouroubar-lhe o gado. As reses desapareciamsistematicamente sem que se encontrasse omenor sinal do ladrão, porém Sísifo ficoudesconfiado porque o rebanho de Autólicoaumentava à medida que o seu diminuía.Mas Sísifo era um homem letrado (foi,aparentemente, um dos primeiros gregos adominar a escrita) e deu um jeito de marcaros cascos dos animais com sinais de modoque, à medida que o gado se afastava de

seu curral, aparecia no chão a frase “Autóli-co me roubou”...

Mas os dois acabaram se entendendo eficaram amigos. Certas versões relatam queda união entre Sísifo e Anticléia, filha deAutólico, nasceu Odisseu, um dos princi-pais heróis da mitologia grega.

As vitórias dos mortais contra os deu-ses, no entanto, duram pouco. Sísifo mor-reu de velhice e voltou ao Hades pelas viasnormais. Por precaução, foi condenado auma tarefa contínua e eterna, que não lhedeixava tempo para descansar ou pensarem fugas: empurrar um pesado rochedopara o alto de um morro.

O detalhe torturante é que essa pedratinha um peso calculado de tal forma que,a poucos metros do cume, faltavam forçasa Sísifo e a pedra rolava encosta abaixo,começando tudo outra vez, pela eternida-de. A expressão hoje designa qualquertrabalho que pareça interminável; porexemplo, manter o quarto em ordem é umverdadeiro trabalho de Sísifo, pois elecomeça a desarrumar-se assim que volta-mos as costas.

Trabalho e Tempo Livre • 7

Adaptado de http://www.geocities.com/serouseja/camus/sisifo.htm

Foto

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• Trabalho e Tempo Livre8

Filósofo e escritor argelino, filho de pais franceses (1913/1960), é autor, entre outros textos, de “O estrangeiro”, noqual descreve a vida absurda de um funcionário argelino quevive em Paris e acaba se tornando assassino de um árabe.

Eu vejo aquele homem descendocom um passo muito medido, em direçãoao tormento que ele sabe que nunca teráfim. Aquela hora, que é como um mo-mento de respiração, que sempre voltaráassim como seu sofrimento; é a hora daconsciência. Em cada um desses momen-tos, quando deixa as alturas e gradual-mente mergulha no covil dos deuses, eleé superior ao seu destino. Ele é mais fortedo que sua pedra. Se este mito é trágico,é porque seu herói é consciente. Ondeestaria realmente sua tortura se a cadapasso a esperança de prosperar o susten-tasse? O trabalhador de hoje trabalhatodos os dias de sua vida nas mesmastarefas, e seu destino não é menos absur-

do. Mas é trágico apenas nos raros mo-mentos em que ele toma consciência. Sísi-fo, proletário dos deuses, impotente e re-belde, sabe a total extensão de sua mi-serável condição: é nisso que ele pensadurante sua descida. A lucidez que deve-ria constituir sua tortura ao mesmo tem-po coroa sua vitória. Não há destino quenão possa ser superado pelo desprezo.Se, dessa maneira, a descida é realizadaàs vezes com tristeza, também pode serrealizada com alegria.

Adaptado por Página Viva do sitewww.geocities.com/serouseja/camus/sisifo.htm

Texto 1 / Sofr imento e a legr ia

Albert Camus

Alb

ert

Cam

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SÍSIFO

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Trabalho e Tempo Livre • 9

Desde as mais antigas civilizações existedivisão entre aqueles que mandam – eportanto pensam, concebem, inventam

– e os que só obedecem e executam.Entre os romanos, o trabalho para sus-

tentar a vida era identificado à palavra ne-gócio, literalmente, negação do ócio. O óciosignificava, para os antigos, a forma nobre edigna de ocupar o tempo livre com o lazer, aarte do governo e a reflexão. Enquanto isso,as atividades relacionadas diretamente coma sobrevivência material ficavam a cargo dosescravos, cujas funções eram consideradasdesprezíveis.

À primeira vista até poderíamos admitirque seria um desenvolvimento “natural” dacivilização, já que alguns teriam melhorcapacidade para o pensar, enquanto outrossó desempenhariam bem os trabalhos ma-nuais. O olhar mais atento constata, no en-tanto, que a sociedade descobre mecanismos

para manter a divisão não conforme ostalentos, mas sim de acordo com a classe aque cada um pertence.

Um dos instrumentos de manutençãodesse estado de coisas é a educação, pri-vilégio daqueles que são proprietários. Nãopor acaso, a palavra grega scholé, de ondederiva “escola”, significa, inicialmente, o“lugar do ócio”. Aí as crianças das classesabastadas se ocupam com jogos, ginástica,música e retórica, enquanto as demais, per-tencentes aos segmentos pobres, seguemseu “destino” social, sem que se levem emconta as tendências individuais. Nesse caso,ou são excluídas da escola, ou se encami-nham para a aprendizagem de um ofício.

Assim se mantém a separação entretrabalho intelectual e trabalho manual, a esco-la funcionando como um “divisor de águas”.

Fonte: Trabalho em Debate – Organização de Márcia Kupstas/Editora Moderna – São Paulo, 1998, págs. 26 e 27

O di re i to ao lazerTEXTO 2

O conceito romano que separa os pobres e escravospela forma como empregamseu tempo ainda vigora

ÓCIO&

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Mudanças inevi táveisTEXTO 3

• Trabalho e Tempo Livre10

TEMPO

REIGilberto Gil

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Não me iludoTudo permanecerá do jeito que tem sidoTranscorrendoTransformandoTempo e espaço navegando todos os sentidosPães de AçúcarCorcovadosFustigados pela chuva e pelo eterno ventoÁgua molePedra duraTanto bate que não restará nem pensamento

Tempo rei, ó, tempo rei, ó, tempo reiTransformai as velhas formas do viverEnsinai-me, ó, pai, o que eu ainda não seiMãe Senhora do Perpétuo, socorrei

PensamentoMesmo o fundamento singular do ser humanoDe um momento Para o outroPoderá não mais fundar nem gregos nem baianosMães zelosasPais corujasVejam como as águas de repente ficam sujasNão se iludamNão me iludoTudo agora mesmo pode estar por um segundo

Tempo rei, ó, tempo rei, ó, tempo reiTransformai as velhas formas do viverEnsinai-me, ó, pai, o que eu ainda não seiMãe Senhora do Perpétuo, socorrei

Trabalho e Tempo Livre • 11

Gilberto Gil, Cd Raça Humana

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Macunaíma se arrastou até a tapera sem gente agora.Estava muito contrariado porque não compreendiao silêncio. Ficara defunto sem choro, no abandono

completo. Os manos tinham ido-se embora transformadosna cabeça esquerda do urubu-ruxama e nem sequer a genteencontrava cunhas por ali. O silêncio principiava cochilan-do à beira-rio do Uraricoera. Que enfaro! E principalmente,ah!... que preguiça!...

Macunaíma foi obrigado a abandonar a tapera cuja últi-ma parede trançada com palha de catolé estava caindo. Mas oimpaludismo não lhe dava coragem nem pra construir umpapiri. Trouxera a rede para o alto dum teso onde tinha umapedra com dinheiro enterrado por debaixo. Amarrou a redenos dois cajueiros frondejando e não saiu mais dela por muitosdias dormindo caceteado e comendo cajus. Que solidão! Opróprio séquito sarapintado se dissolvera. Não vê que umajuru-catinga passara muito afobado por ali. Os papagaiosperguntaram pro parente onde que ia.

– Madurou milho na terra dos ingleses, vou pra lá!

Cultura popularTEXTO 4

• Trabalho e Tempo Livre12

URSA MAIOR

Mário de Andrade

MAC

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Então todos os papagaios foram comer milho na terrados ingleses. Porém, primeiro viraram periquitos porque,assim, comiam e os periquitos levavam a fama. Só ficaraum aruaí muito falador. Macunaíma se consolou pensa-menteando: "O mal ganhado, diabo leva... paciência". Passa-va os dias enfarado e se distraía fazendo o pássaro repetirna fala da tribo os casos que tinham sucedido pro heróidesde infância. Aaaah... Macunaíma bocejava escorrendocaju, muito mole na rede, com as mãos pra trás fazendocabeceiro, o casal de legornes empoleirado nos pés e opapagaio na barriga. Vinha a noite. Aromado pelas frutasdo cajueiro o herói ferrava no sono bem. Quando a arraia-da vinha o papagaio tirava o bico da asa e tomava o café damanhã devorando as aranhas que de noite fiavam as teiasdos ramos pro corpo do herói. Depois falava:

– Macunaíma!O dorminhoco nem se mexia.– Macunaíma! ôh Macunaíma!– Deixa a gente dormir, aruaí...– Acorda, herói! É de-dia!– Ah... que preguiça!...Pouca saúde e muita saúva,Os males do Brasil são!....

Trabalho e Tempo Livre • 13

Macunaíma. 30. ed. Villa Rica: Minas Gerais,1997

Acervo Iconographia

O escritor Mário de Andrade

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Cultura popularTEXTO 5

• Trabalho e Tempo Livre14

BENEDITO DA

CATIRA

Benedito Marcondes encosta a carroça no ponto da aveni-da Francisco Salles, no centro de Poços de Caldas, MinasGerais, e salta sorridente, o chapéu colocado, num pre-

cário equilíbrio, no alto da cabeça. É quase meio-dia eBenedito chega de um carreto que foi fazer, transportandomaterial de construção para o bairro da Cascatinha. Penduradano galho de uma árvore, sua marmita de comida quente oespera, trazida há pouco por um outro carroceiro.

“Eu sou o Benedito Violeiro, tem gente que me chama deBenedito do Catira, outra hora sou o Benedito do Congo. Masqualquer nome me serve, que eu gosto de tudo quanto édança, e por isso o pessoal me chama assim.”

Sentado à sombra de uma árvore, à beira do canal quecorta a cidade, Benedito tem o sotaque carregado do mineiro

Foto: Luciano Coca / Chromafotos / AE

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Trabalho e Tempo Livre • 15

da roça: “Eu sou nascido aqui perto, na cidade de Caldas,num sítio lá, que era do meu pai. Sempre morei na roça, masum dia tive que vir pra cidade por causa da doença da mulher,que os médicos precisava ficar mais perto pra tratar dela. Jáfaz 9 anos que eu mudei. Mas logo a mulher me deixou viúvo,com meus sete filhos para criar e aí a luta foi dura. Mas nuncadeixei de dançar, não, que dançar o catira, o congo, a Foliade Reis é uma devoção. A gente canta e dança sempre emhomenagem ao Santo. É uma maneira que o povo tem derezar, e eu acho que agrada mais ao Santo que muito pala-vrório. Mas também eu nasci e já achei o catira dentro decasa. Meu avô, meu pai, tudo dançava. Eu comecei desde os7 anos, que decerto minha raça é essa, de gostar de música,de dança. Desde pequeno vinha aquela inclinação na minhaidéia. Quando panhei uma idade maiorzinha, comprei umaviolinha e fui conversando com ela, conversando, até queaprendi a tocar umas modas. Aí, pro catira, comecei a inven-tar umas música minha também, pra mode cantar as coisasnossas, e o pessoal gostou, foi indo. No catira a gente temque cantar música própria, de moda de viola mesmo. Temmuitas, umas bonitas do Vieira e Vieirinha, do Moreno eMoreninho, tem umas que a gente nem sabe quem fez, mascanta desde o tempo do meu avô. Agora a gente tambémescreve muito, faz da idéia da gente.

Aqui em Poços num tem grupo de catireiro; o único quetem por aí é o nosso, dos roceiro lá de Caldas, três léguasdaqui. Eu sempre vou lá dançar, quando eles precisa de mime me chama. Quando eu quero eles vêm aqui. Mora tudo nasroças, lá perto de Caldas. Eu não sei não, mas parece que opessoal da roça desenvolve melhor essa dança do catira. Opovo da cidade quase nem liga.”

“Quando panhei uma idade maiorzinha, compreiuma violinha e fuiconversando com ela,conversando...”

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Texto 5 / Cul tura popular

• Trabalho e Tempo Livre16

O sol está quente e Benedito levanta-se para dar água aocavalo, num balde que está junto ao pé da árvore.

“Aí gaúcho, bebe, bebe...” Benedito fala macio com ocavalo, um cavalo ruço, marchetado de cinza. “Esse cavali-nho é bom de carroça, só tem me dado alegria. Tem 7 anos...é mais novo do que eu.” Benedito abre ainda mais o sorrisoque nunca abandona sua cara alegre. “Já completei meus 49anos e hoje posso dizer que sou feliz, criei meus filhos tudo,minha única tristeza é a viuvez, mas fazer o quê? Eu sempreenfrentei todo serviço, qualquer coisa que for preciso, masuma coisa que eu sempre quis foi ficar com a minha dança,com o catira. O meu serviço de carroceiro, muita gente ri denós, falando que é tempo de caminhão, que num tem maislugar pra carroça não. Pois eu acho que tem. Porque se umsujeito compra aí um saco de cimento, uns pedaço de tábua,pruma reforma, qualquer coisa, e vai pagar o frete do cami-nhão pra levar, acho que paga mais caro que o preço docimento. E esses mais pobres, que precisa fazer uma mudan-cinha, levar os trem dele num lugar pro outro, pode lá pagarfrete de caminhão? Agora nós, não, a gente combina com ofreguês, conforme a distância, o preço justo. É um ganhobom. E depois o serviço é livre, é da gente, num tem patrão,essas coisas. Eu até essa idade de hoje, regulei minha vidapela minha mão mesmo.”

Cena brasileira – artistas e festas populares.São Paulo: Brasiliense, 1977.

“Eu não sei não, mas parece que opessoal da roça desenvolve melhoressa dança do catira. O povo da cidade quase nem liga.”

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Famí l iaTEXTO 6

DILBERT Scott Adams

Trabalho e tempo livre • 17

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Qual idade de v idaTEXTO 7

• Trabalho e Tempo Livre18

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Orico industrial ficou horrorizado ao encontrar um pes-cador deitado indolentemente ao lado de seu barco, fu-mando um cachimbo.

– Mas por que você não está pescando?– Porque já peguei peixe suficiente para hoje.– E por que você não sai para pegar mais peixes?– O que eu faria com eles?– Ora, você poderia ganhar dinheiro vendendo-os – expli-

cou o industrial. – Com o dinheiro poderia consertar o motordo barco, ir a águas mais profundas e pescar ainda mais peixe.Teria então dinheiro para comprar redes de nylon. O que lhetraria ainda mais peixes e mais dinheiro. Logo teria dinheiropara possuir dois barcos... talvez uma frota de barcos. E seriaum homem rico como eu.

– E o que eu faria então?– Ora, você poderia então realmente gozar a vida.– E o que você acha que eu estou fazendo agora?

Histórias da alma, histórias do coração, compiladas por Christina Feldman e Jack Kornfield São Paulo: Pioneira, 1994.

Trabalho e Tempo Livre • 19

HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

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Quanto tempo maisQuanto tempo fazQuanto tempo vemQuanto tempo ainda tem... pra acabarTempo que ninguém vai apagarSei lá... melhor deixar o tempo passar

Dê tempo ao tempo, e ele passa correndoSentado numa cadeira tipo quem fica só vendoPodendo eu o parava mas não possoPor isso rezo espero que tudo melhore logoRéveillon faço meus votosE pedido sobre os fogos, apagando anos passadosCom pedido para os novos e dão início aos jogosOs mesmos de sempre, agindo igual e pedindo um ano diferenteQue tudo seja melhor daqui pra frente (...)

Qual idade de v idaTEXTO 8

• Trabalho e Tempo Livre20

CONTRA O TEMPOQuinto Andar

Uma banda cantasobre esperar oufazer acontecer

Publicado na revista Caros Amigos, no 48, março de 2001.

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Trabalho e Tempo Livre • 21

Famí l iaTEXTO 9

DILBERT Scott Adams

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Ele saiu com sua melhor roupa, de mãos dadas com o filhomaior, e o menor no colo. Deu um beijo na mulher, elasorriu, enxugou as mãos na barra da saia e foi olhar da

porta a saída alegre da família. Era um domingo de céu azul.Todos os domingos ele fazia o mesmo trajeto com os filhos.

Atravessou a rua com as duas crianças no colo para nãosujarem os únicos sapatos que tinham. Os vizinhos acenaram.Ele comprou a passagem com tíquetes e esperou meia hora naestação, até que o trem apareceu, vazio. Entrou no vagão,sentou-se com os filhos e fizeram a viagem em silêncio. Ascrianças, absortas, olhavam a paisagem que se tornava cadavez mais urbana: carros, ruas asfaltadas e edifícios. Saltaramna última estação.

Caminharam algumas quadras, atravessaram ruas, praçase chegaram ao ponto de ônibus. Esperaram quase uma hora,as crianças impacientes reclamaram de sede, e ele foi a umapadaria, pediu um copo de água e deu de beber aos filhos. Ascrianças pediram um sonho, mas ele explicou que não tinhadinheiro. Voltaram ao ponto. O ônibus apareceu. Subiram eviajaram mais algum tempo. Cansadas, as crianças adormece-ram. O ônibus chegou ao centro da cidade.

Saltaram no ponto da praça. Ele deitou as crianças numbanco e esperou. As crianças acordaram e quiseram olhar ospombos, que comiam milho jogado por um mendigo. Ele disse:“Vamos logo, estamos perto”. Atravessaram um labirinto de

• Trabalho e Tempo Livre22

PARQUE DE DAna Miranda

Qual idade de v idaTEXTO 10

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ruas estreitas e desertas, com as grades das lojas abaixadas.Cruzaram a larga avenida central e chegaram ao destino. Demãos dadas com o filho maior e o menor no colo, ele entrouno edifício. O vigia acenou. Faxineiros varriam a rampa. Exci-tadas, as crianças sorriam. Ele desceu a escada rolante emsilêncio, as crianças absortas. Ao final, fizeram a volta e subi-ram a escada rolante. Desceram e subiram durante mais deuma hora. Ele disse que estava na hora de voltar.

Cruzaram a avenida, o labirinto de ruas, beberam águana padaria, tomaram o ônibus, o trem, as ruas de lama, e aoentardecer chegaram em casa, cansados e felizes.

Trabalho e Tempo Livre • 23

IVERSÕES

Publicado na revista Caros Amigos, no 48, março de 2001.

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Na Grécia antiga dava-se mais valor ao ócio do queao trabalho, principalmente entre os atenienses,já que os espartanos eram guerreiros. O cotidia-

no do povo grego acontecia fundamentalmente nosginásios esportivos, nas termas, no fórum ou outroslugares de reunião.

Interessante notar que a palavra ócio, em grego, éskole; de onde deriva a palavra escola em português,que em latim é schola e em castelhano, escuela. Querdizer, os nomes dados aos lugares destinados à educa-ção significavam ócio para os gregos. Assim, elesconsideravam o ócio como algo a ser alcançado edesfrutado.

Para o filósofo Aristóteles, o ócio era uma condi-ção ou estado – o estado de estar livre da necessidadede trabalhar. Ele fala também da vida ociosa emcontraposição à vida de ação, entendendo por ação asatividades dirigidas para obtenção de fins materiais.Não considerava ócio a diversão ou o recreio, porqueeram atividades diretamente relacionadas comdescanso do trabalho; e a capacidade de viver devida-mente o ócio era a base do homem livre e feliz.

O concei to do tempo l iv reTEXTO 11

• Trabalho e Tempo Livre24

“Para os gregos, o ócio não significava

não fazer nada, mas sim dedicar-se

às idéias e ao espírito…”

A HISTÓRIA DO LAZER

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Trabalho e Tempo Livre • 25

Adaptado por Página Viva da revista Partes, Raulito Ramos Guerra Filho, mestre em Lazer pela Universidade de Campinas.

Já o conceito de ócio dos romanos naIdade Média era que as pessoas muitoocupadas buscavam-no não como um fim,mas como descanso e diversão no intervalode suas diversas atividades – exército,comércio, governo.

De acordo com estudiosos, a vida deócio dos gregos só foi possível por causa daescravidão, pois na época havia duas clas-ses de homens: os dedicados à arte, à con-templação ou à guerra; e os que eram obri-gados a trabalhar, inclusive em condiçõesprecárias: os escravos.

Para os gregos, o ócio não significavanão fazer nada, mas sim dedicar-se às idéiase ao espírito, na contemplação da verdade,do bem e da beleza, de forma não utilitária.

O conceito de lazer

Vários autores e o cidadão comum utilizam dife-rentes termos para se referir ao tempo livre:

P Ócio (do latim otiu) = vagar, descanso,repouso, preguiça;

P Ociosidade (do latim otiositate) = o vício de gas-tar tempo inutilmente, preguiça;

P Descanso = repouso, sossego, folga, vagar,pausa, apoio, demora;

P Lazer (do latim licere) = ócio, vagar.

Fazendo convergir as diversas expressões, podemosconsiderar a ausência de qualquer atividade con-creta, ou seja, certa liberdade de não fazer coisaalguma. Surge de forma clara uma tentativa de defi-nir certo tempo (fora das ocupações diárias) emcontraponto com o outro tempo (o das ocupaçõesdiárias). Assim, o conceito “tempo livre” pareceaquele que melhor corresponde à necessidade de“batizar” a parte do dia em que não estamos ocu-pados com atividades definidas.

O conceito mais aceito a respeito do lazer é o dosociólogo francês Joffre Dumazedier: “um conjuntode ocupações às quais o indivíduo pode entregar-sede livre vontade, seja para repousar, seja para diver-tir-se, recrear-se e entreter-se ou, ainda, para desen-volver sua informação ou formação desinteressada,sua participação social voluntária ou sua livre capa-cidade criadora, após livrar-se ou desembaraçar-sedas obrigações profissionais, familiares e sociais”.

www.partes.com.br

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Embora a diversão faça parte da natu-reza humana, as necessidades da vidamoderna acabam impondo obrigações

que limitam as escolhas sobre o que fazercom o nosso tempo. Assim, o lazer acabasendo deixado em segundo plano, ou reali-zado de maneira inadequada; e, infelizmen-te, substituído pela correria, o stress e váriasdoenças "modernas", hoje comuns entre osadultos e até em crianças, sobretudo paraos que vivem nos grandes centros urbanos.

A VIDA ÉMELHOR

COM

A busca do lazer é umaatitude natural do ser

humano, já que,espontaneamente,

sempre preferimos nosocupar com o que nos

proporciona prazer.

Saúde e lazerTEXTO 12

• Trabalho e Tempo Livre26

LAZER

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Trabalho e Tempo Livre • 27

O direito ao lazerO tempo gasto com alimentação, higie-

ne, sono e outras necessidades fisiológicasé considerado tempo gasto com as necessi-dades básicas vitais. Alguns especialistasdefendem que o lazer seja incluído nessalista, como vivência fundamental paramanter a saúde no homem. "O homem quenão se recreia é um animal doente", dizVinícius Cavallari, professor de educaçãofísica e turismo e especialização em recrea-ção e lazer sociocultural. Para ele, o serhumano precisa de lazer, fundamental parao bem-estar físico, mental, psicológico eespiritual, que é a verdadeira definição desaúde. Cavallari considera o lazer um esta-do de espírito. "Você se encontra em umasituação favorável, com uma pré-disposi-ção voltada para fazer alguma coisa inte-ressante e gostosa, sem compromisso. Sevocê assumiu um compromisso, deixa deser lazer". O professor cita como exemplouma festa, sempre uma atividade lúdica erecreativa; mas a festa deixará de ser umaatividade de lazer se a pessoa estiver indopor obrigação, para não dar furo comalguém, com vontade de fazer outra coisa.“Lazer é opção pessoal, uma escolha indivi-dual, espontânea", diz.

As muitas vantagens do lazer

Descansar, recuperar as energias, dis-trair-se, entreter-se são objetivos que cos-tumam ser associados ao lazer. No entanto,além do descanso e do divertimento, acon-tece outra coisa que não é perceptível, queé o desenvolvimento pessoal e social que olazer permite. No teatro, no turismo, nafesta, estão presentes oportunidades privi-legiadas, porque as pessoas vão a esses luga-res espontaneamente e não por obrigação.

Brincar e rir faz bem

As pessoas costumam dar pouca impor-tância ao lado social do lazer. Em geral,quando uma mãe sabe que o seu filho vaiparticipar de várias atividades recreativas eaprender um monte de coisas, ela acha útil.Mas se ela souber que a criança só vai brin-car e rir a tarde inteira, talvez considereinútil. As pessoas não percebem que brin-car e rir faz parte do bem-estar e da saúdedo homem integral. O adulto não se dá odireito ao brincar, mas se reconhecesse oquanto isso pode ser bom para a saúde, cer-tamente mudaria de atitude.

Adaptado por Página Viva do site da APABB – Associação de Pais, Amigos e Pessoas com Deficiência, de Funcionários do Banco do Brasil e da Comunidade

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Para algumas pessoas, o escritório, o la-boratório, a empresa, a rua, a escola,enfim, todos os locais de trabalho e as

atividades ali realizadas podem ser fontesde satisfação pessoal, além de trabalho. E nãohá nada de errado nisso: trabalhadoresassim são chamados de worklovers, expres-são em inglês que quer dizer “apaixonadospelo trabalho”.

Quem lhes deu esse nome foram ossociólogos, psicólogos e médicos do Labo-ratório de Psicologia do Trabalho da Uni-versidade de Brasília (Unb), que estudamas relações entre indivíduo e trabalho. Umaoutra palavra inglesa, workaholic, quedesigna as pessoas viciadas em trabalho(que usam a profissão para fugir dos outrosaspectos da vida), se contrapõe aos worklo-

vers, que são apaixonados pelo que fazem,trabalham muito, mas têm sua vida pes-soal e cumprem seus outros papéis nasociedade”, explica o psicólogo WanderleyCodo, coordenador da pesquisa. “Traba-lham muito, mas conseguem tempo paramanter os laços afetivos familiares e para olazer (…). O trabalho é extremamenteimportante para a construção da identida-de da pessoa. É nele que o homem exercesua capacidade de modificar a realidade,de se ver e de se identificar com o que faz.E existem muitos profissionais que conse-guem manter essa capacidade no traba-lho”, diz Wanderley.

A diferença essencial entre worklovers

e workaholics

Sofr imento e a legr ia no escr i tór ioTEXTO 13

• Trabalho e Tempo Livre28

Adaptado por Página Viva de O Estado de S. Paulo, de 29/10/04.

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LAZER E“BATENTE”PODEM SER BONSCOMPANHEIROS

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Trabalho e Tempo Livre • 29

LazerTEXTO 14

NO CALÇADÃO

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Jogo de baralho nocalçadão de Santos,São Paulo.

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Cultura popularTEXTO 15

• Trabalho e Tempo Livre30

Os quatro dias que distribuemigualitariamente o direito aoexcesso e à fantasiaCA

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OU O MUNDOCOMO TEATRO E PRAZER

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Trabalho e Tempo Livre • 31

Roberto Damatta

Mas qual a receita para o carnaval brasileiro? Sabemosque o carnaval é definido como “liberdade” e comopossibilidade de viver uma ausência fantasiosa e

utópica de miséria, trabalho, obrigações, pecado e deveres.Trata-se de um momento em que se pode deixar de viver avida como fardo e castigo. É, no fundo, a oportunidade defazer tudo ao contrário: viver e ter uma experiência domundo como excesso – mas como excesso de prazer, deriqueza (ou de “luxo”), de alegria e de riso; de prazer sen-sual que finalmente fica ao alcance de todos.

Se o desastre distribui o malefício sem escolher entrericos e pobres, o carnaval faz o mesmo, só que ao contrário.A “catástrofe” que o carnaval brasileiro possibilita é a dadistribuição livre e igualitária do prazer sensual para todos.O Rei Momo – Dionísio, o Rei da Inversão, da Antiestruturae do Desregramento – sugere, com o carnaval, a possibilida-de bizarra, inventando um universo social onde a regra épraticar sistematicamente todos os excessos!

Por isso, o carnaval é percebido como algo que vem defora para dentro da sociedade. Como uma onda irresistívelque nos domina, controla e seduz inapelavelmente. Ele é igual-mente percebido como uma festa onde todos são iguais – oupodem viver uma significativa experiência de igualdade.

Mas o que o carnaval consegue fazer com o Brasil? Queextraordinário é esse que ele tão criativamente inventa?

O carnaval é um ritual de inversão do mundo. Uma catás-trofe. Só que é uma reviravolta positiva, porque planejada e,por isso mesmo, vista como desejada e necessária.

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Texto 15 / Cul tura popular

• Trabalho e Tempo Livre32

No carnaval, trocamos o trabalho que castiga o corpo (ovelho tripalium ou canga romana que subjugava escravos)pelo uso do corpo como instrumento de beleza e de prazer.No trabalho estragamos, submetemos e gastamos o corpo. Nocarnaval, isso também ocorre, mas de modo inverso. Aqui, ocorpo é gasto pelo prazer e pela “brincadeira”. Daí por que fa-lamos que “nos esbaldamos” ou “liquidamos” no carnaval.

O carnaval também promove a troca dos uniformes pelasfantasias. Se o uniforme é uma vestimenta que cria ordem ehierarquia, a fantasia permite o exagero e a troca de posições.Note-se que, no carnaval do Brasil, não vestimos costumes,mas “fantasias”. E a fantasia é tanto o sonho acordado quantoaquela roupa que realiza a ponte entre o que realmente somose o que poderíamos ter sido ou o que merecíamos ser. A fanta-sia liberta, “desconstrói”, abre caminho e promove a passa-gem para outros lugares e espaços sociais. Ela permite o livretrânsito das pessoas por dentro de um espaço social que o mun-do cotidiano, com suas leis e preconceitos, torna proibitivo.Ademais, ela torna possível passar de “ninguém” a “alguém”;de marginal do mercado de trabalho a figura mitológica.

É precisamente por estar vivendo uma situação na qual asregras do mundo diário estão temporariamente de cabeça parabaixo que posso ganhar e realmente sentir uma incrível sensa-ção de liberdade. Liberdade fundamental numa sociedade cujarotina é dominada pelas hierarquias que a todos sujeitamnuma escala de direitos e deveres vindos de cima para baixo,dos superiores para os inferiores, dos “elementos” que entramna fila e das “pessoas” que jamais são vistas em público comocomuns.

O que é o Brasil?, de Roberto Damatta. Rio de Janeiro: Rocco, 2003. Volume EJA – Ministério da Educação – PNBE.

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Lazer gerando rendaTEXTO 16

Trabalho e Tempo Livre • 33

Olazer e o turismo vêm ganhando pe-so cada vez maior no dia-a-dia davida moderna. Antes aproveitados

apenas pela elite da sociedade, foram se tor-nando acessíveis a um público crescente,graças aos processos históricos de democra-tização e aos avanços tecnológicos. Esseslevaram ao aumento da produtividade, àredução dos custos em geral e das jornadasde trabalho, elevando os recursos disponí-veis para consumo das camadas mais po-bres da população.

Atualmente, a indústria e os serviçosligados ao setor colocam-se entre os cam-peões de crescimento. A “indústria” de via-gens e turismo está entre as mais desen-volvidas do mundo e exerce influênciasobre outros setores de atividades, como ovarejo e a construção civil, por exemplo. Éuma “indústria” que perde somente para ade alimentação em termos de consumo.

www.brasilcultura.com.br

TURISMO As faixas mais modestas da população começam a participar da indústria do ócio

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• Trabalho e Tempo Livre34

¡HASTA LA VISTA,SIESTA!

Costumes regionaisTEXTO 17

Si usted no está durmiendo lo suficiente,quizás es hora de empacar e irse aEspaña. Y no se preocupe por el sueño

perdido como consecuencia del cambio dehorario. En España es costumbre dormir dedos a tres horas en la tarde. Durante lashoras de siesta muchos negocios per-manecen cerrados desde las dos hasta lascinco. Ésta es la famosa siesta española, yellos adoptaron esta tradición como unaforma práctica de lidiar con el calor inten-so de las tardes. Los españoles insisten enque se debe dormir unas pocas horas du-

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rante las horas de sol. Esto les permite estarvivaces y alertas hasta muy tarde por lanoche, durante los fines de semana y lamedia noche cuando tradicionalmente sesirve la cena.

En España, es común quedarse despier-to hasta tarde todos los días. Este es un paísen el que disfrutar de la vida y estar fuerade casa hasta muy tarde por la madrugadaes algo cultural.

En la ciudad de Barcelona y en la re-gión de Andalucía los trabajadores estándurmiendo menos, como consecuencia delas exigencias de producción de otros paí-ses de la Comunidad Europea, donde darsesiestas no es común. A pesar de los cambiosimpuestos por las nuevas exigencias deproducción, los españoles continúan cenan-do a las 9 de la noche. Sin embargo, la tra-dicional siesta está desapareciendo lenta-mente. La gente de negocios ha comenza-do a trabajar durante las horas en las queantes se tomaba la siesta. Esto es debido aque frecuentemente deben negociar con

países como Alemania y Suecia que seadhieren a un horario distinto de negocios,ya no tienen tiempo para su siesta. A pesarde estos cambios, los españoles procuranecharse a dormir cuantas veces puedanmientras no estén trabajando o atendiendoobligaciones familiares.

Federico Busquets, un emprendedor denegocios españoles, considera que la siestatradicional es inmensamente necesaria, yha creado la franquicia de un próspero sa-lón de masajes que funciona con esa filo-sofía. La gente generalmente se queda dor- mida en las sillas de masaje de los 18esta- blecimientos de Busquets, y a nadie lemo- lesta. Los clientes están tan desespera-dos por una siesta que pagan el equivalentea 7 euros por un masaje de 10 minutos queles permite dormir y descansar durante lashoras de trabajo. Según declaró Busquetsla siesta no sólo es una necesidad, sino quees parte de la identidad española. “¡Esta-mos en España! Estamos hablando de lasiesta. Perderla sería como perder las corri-das de toros, o la sangría, o la paella.” ¿Sies-ta nacional? ¡Olé!

Adaptado do site: www.1800sucolchon.com/sleepwell/siesta.asp

Trabalho e Tempo Livre • 35

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Grande parte dos trabalhadores bra-sileiros faz horas extras. Pesquisasdemonstram que os patrões lucram

com isso; os trabalhadores concordam eaproveitam para melhorar sua renda men-sal. Apesar disso, a longo prazo todos saemperdendo.

Aumento do trabalho

Nos últimos vinte anos, as exigên-cias de produção tornaram o tra-

balho mais rápido, cansativo, e estres-sante. Isso porque eliminaram o tempolivre, criaram o trabalhador multifun-cional e polivalente, e aumentaram signi-ficativamente o desgaste mental. Traba-lhar acima dos nossos limites significasofrimento psíquico, estresse e, por fim,adoecimento.

Jornada prolongada

Para uma simples jornada de tra-balho oficial de 44 horas, ou de 40

horas semanais, como já acontece emmuitas empresas, os problemas de fadiga

e estresse ja têm provocado um altoíndice de adoecimento. Fazer horas extrasé arriscar ainda mais a saúde, pois duashoras extras não significam um desgastede apenas duas horas a mais de trabalho.

Uma bomba-relógio

Trabalhar duas horas extras nofinal da jornada significa um des-gaste enorme. É fácil entender a

razão: imagine um atleta ter de corrermais 8 km ao final dos 42 km de umamaratona. Pois é exatamente isso quevocê faz quando trabalha mais duas horasao final das suas 8 horas normais. Ou tra-balha no seu dia de descanso após umasemana inteira exaustiva. Além disso,você perde o tempo que teria para fazeroutras coisas como descansar, passear,estudar, namorar, ou simplesmente pen-sar na sua vida. Ca entre nós, você já pen-sou nisso?

www.smabc.org.br

VIVERTAMBÉM É PRECISO

Carga horár iaTEXTO 18

• Trabalho e Tempo Livre36

Horas extras, segundo pesquisas, fazem mal à saúde Ilust

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LazerTEXTO 19

ATÉ SEGUNDA-FEIRAChico Buarque

Sei que a noite inteira eu vou cantarAté segunda-feiraquando volto a trabalhar, morenaSei que não preciso me inquietarAté segundo avisoVocê prometeu me amarPor isso eu conto a quem encontro pela ruaQue meu samba é seu amigoQue a minha casa é suaQue meu peito é seu abrigoMeu trabalho, seu sossegoSeu abraço, meu empregoQuando chegoNo meu lar, morena

http://vagalume.uol.com.br/chico-buarque/ate-segunda-feira.html

Ilust

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Trabalho e tempo l iv reTEXTO 20

• Trabalho e Tempo Livre38

Eu fui fazer um samba em homenagemà nata da malandragem, que conheço

de outros carnavais.

Eu fui à Lapa e perdi a viagem,que aquela tal malandragem não existe mais.

Agora já não é normal, o que dá de malandroregular profissional, malandro com o aparato

de malandro oficial,malandro candidato a malandro federal,malandro com retrato na coluna social;malandro com contrato, com gravata e capital,

que nunca se dá mal.

Mas o malandro para valer, não espalha,aposentou a navalha, tem mulher e filho e tralha e tal.Dizem as más línguas que ele até trabalha,Mora lá longe, chacoalha no trem da central.

http://letras.terra.com.br/letras/45135/

HOMENAGEMAO MALANDROChico Buarque de Holanda

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Trabalho e Tempo Livre • 39

LazerTEXTO 21

PESCARIA

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Pai e filhos em um momento de lazer. Interior do Estado do Rio de Janeiro.

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• Trabalho e Tempo Livre40

O ESPÍRITO CARNAVALESCO

Moacyr Scliar

Cansado, ele dormia a sono alto, quando foi brusca-mente despertado pela esposa, que o sacudia violentamente.

– Que aconteceu? – resmungou ele, ainda de olhosfechados.

– Não posso dormir – queixou-se ela.– Não pode dormir? E por quê?– Por causa do barulho – ela, irritada: – Será possível

que você não ouça?Ele prestou atenção: de fato, havia barulho. O barulho de

uma escola de samba ensaiando para o carnaval: pandeiros,tamborins... Não escutara antes por causa do sono pesado. Oque não era o caso da mulher. Ela exigia providências.

– Mas o que quer você que eu faça? – perguntou ele, agoratambém irritado.

– Quero que você vá lá e mande pararem com essebarulho.

– De jeito nenhum – disse ele. – Não sou fiscal, não soupolícia. Eu não vou lá.

Virou-se para o lado com o propósito de conciliar de novoo sono. O que a mulher não permitiria: logo estava a sacudi-lode novo.

Ele acendeu a luz, sentou na cama:– Escute, mulher. É carnaval, esta gente sempre ensaia no

carnaval, e não vão parar o ensaio porque você não conseguedormir. É melhor você colocar tampões nos ouvidos e esque-cer esta história.

Ela começou a chorar.

Carnaval e l iberdadeTEXTO 22

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Trabalho e Tempo Livre • 41

– Você não me ama – dizia, entre soluços. – Se você meamasse, iria lá e acabaria com a farra.

Com um suspiro, ele levantou-se da cama, vestiu-se e saiu,sem uma palavra.

Ela ficou à espera, imaginando que em dez ou quinzeminutos a batucada cessaria.

Mas não cessava. Pior: o marido não voltava. Passou-semeia hora, passou-se uma hora: nada. Nem sinal dele.

E aí ela ficou nervosa. Será que tinha acontecido algumacoisa ao pobre homem? Será que – por causa dela – ele tinhase metido numa briga? Teria sido assassinado? Mas, nestecaso, por que continuava a batucada? Ou seria aquela gentetão insensível que continuava a orgia carnavalesca mesmodepois de ter matado um homem? Não agüentando mais, elavestiu-se e foi até o terreiro da escola de samba, ali perto.

Não, o marido não tinha sido agredido e muito menosassassinado. Continuava vivo, e bem vivo: no meio de umaroda, ele sambava, animadíssimo.

Ela deu meia-volta e foi para casa. Convencida de que oespírito carnavalesco é imbatível e fala mais alto do que qual-quer coisa.

O imaginário cotidiano, de Moacyr Scliar. 2. ed. São Paulo: Global, 2002.

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O rei da brincadeira – ê, JoséO rei da confusão – ê, JoãoUm trabalhava na feira – ê, JoséOutro na construção – ê, João

A semana passada, no fim da semanaJoão resolveu não brigarNo domingo de tarde saiu apressadoE não foi pra Ribeira jogarCapoeiraNão foi pra lá pra RibeiraFoi namorar

O José como sempre no fim da semanaGuardou a barraca e sumiuFoi fazer no domingo um passeio no parqueLá perto da Boca do RioFoi no parque que ele avistou JulianaFoi que ele viu

Juliana na roda com JoãoUma rosa e um sorvete na mãoJuliana, seu sonho, uma ilusãoJuliana e o amigo JoãoO espinho da rosa feriu ZéE o sorvete gelou seu coração

O sorvete e a rosa – ô, JoséA rosa e o sorvete – ô, JoséOi, dançando no peito – ô, JoséDo José brincalhão – ô, José

O sorvete e a rosa – ô, JoséA rosa e o sorvete – ô, JoséOi, girando na mente – ô, JoséDo José brincalhão – ô, José

Lazer e t ragédiaTEXTO 23

• Trabalho e Tempo Livre42

DOMINGONO PARQUE

Gilberto Gil

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Juliana girando – oi, girandoOi, na roda gigante – oi, girandoOi, na roda gigante – oi, girandoO amigo João – João

O sorvete é morango – é vermelhoOi, girando, e a rosa – é vermelhaOi, girando, girando – é vermelhaOi, girando, girando – olha a faca!

Olha o sangue na mão – ê, JoséJuliana no chão – ê, JoséOutro corpo caído – ê, JoséSeu amigo, João – ê, José

Amanhã não tem feira – ê, JoséNão tem mais construção – ê, JoãoNão tem mais brincadeira – ê, JoséNão tem mais confusão – ê, João

Gilberto Bil, LP Gilberto Gil, 1968.

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Sugestão de arte: foto derosa,sangue, elementos da canção /istock

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• Trabalho e Tempo Livre44

Publicado na revista Caros Amigos.

TEMPO CURTO Claudius

AnsiedadeTEXTO 24

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Más compensações

Trabalho e Tempo Livre • 45

GOZO INSATISFEITOEntre o gozo que aspiro, e o sofrimentoDe minha mocidade, experimentoO mais profundo e abalador atrito...Queimam-me o peito cáusticos de fogoEsta ânsia de absoluto desafogoAbrange todo o círculo infinito.Na insaciedade desse gozo falhoBusco no desespero do trabalho,Sem um domingo ao menos de repouso,Fazer parar a máquina do instinto,Mas, quanto mais me desespero, sintoA insaciabilidade desse gozo!

EU E OUTROS POEMASAugusto dos Anjos

retrato do autor

TEXTO 25

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O BRASIL DOS RONALDOS

Real idade de v idaTEXTO 26

• Trabalho e Tempo Livre46

Mesmo fora de forma e acima do peso,muita gente não abre mão de correr atrásda bola para se divertir. Especialistas alertam sobre os riscos para a saúde doesportista de fim de semana.

Já passava das 3 e meia datarde de sábado e os qua-tro homens de calção e

chuteiras esperam sob o solos companheiros que vão dis-putar uma partida de futebolsoçaite. Cada um veste a ca-misa de um time diferente,mas alguém ficou de trazeros coletes para distinguir asequipes. Os peladeiros che-gam aos poucos. Finalmente

foi atingido o quorum. Ops, passou, já são dezesseis... Tudo

bem. O importante é competir. Com achegada de reforços, os times já podem ternove jogadores e se dar ao luxo de jogarcom sete de cada lado – como pede a regra– e ainda ter dois reservas, não para umapossível mudança tática, mas para revezaro fôlego. Falta o responsável pelos coletes,

mas a bola estando ali, dá-se um jeito: o time dadireita tira as camisas.Começa o espetáculo. Abrincadeira dessa turmade jornalistas de Brasí-lia acontece há tantotempo, quase duas déca-das, que já incorporouprofissionais de outras árease filhos dos atletas. Um dosorganizadores, Jânio Lessa, brin-ca que a aceitação de médicos e fisio-terapeutas foi oportuna, “só falta o reforçode um psiquiatra”. Luís Lima, o Lula, sofrequando precisa faltar, nem que seja paraorganizar o Trem do Forró de Recife, suacidade natal: “Prefiro jogar”. João Forni,com a camisa do Grêmio, confirma: “Apelada é sagrada”. Um dos sem-camisa, odiplomata José Renato, viveu um dilema

Ederson Granetto

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Trabalho e Tempo Livre • 47

quando estudava para o concurso do Insti-tuto Rio Branco. Tinha exames no domin-go, mas não conseguia faltar à pelada davéspera. “Preferia conviver com a ‘culpa’ denão ter estudado como deveria.” Aindabem que passou na prova.

As peladas de fim de semana fazemparte da vida de milhões de brasileiros e,cada vez mais, também de brasileiras.Alguns grupos são mais organizados, têm

calendário e razão social, fazem partede associações e campeonatos.

Mas a maioria é pura diversão,sem juiz ou bandeirinha, com

atacantes e defensores serevezando até para defen-der o gol. E a diversãonão se restringe ao fute-bol: vôlei, basquete etênis também fazem partedos remédios antiestresse.

Brincadeira arriscada

O problema é que a maio-ria desses atletas de fim de sema-

na não tem preparo físico para o esfor-ço em campo. Cardiologistas e ortopedistasalertam para os altos riscos dessas ativida-des. O doutor Nabil Gorayeb, médicoresponsável pelo setor de Cardiologia doEsporte do Instituto Dante Pazzanese e pelocheck-up esportivo do Hospital do Coraçãode São Paulo, conta que não é pequeno onúmero dos que encontram no esporte de

fim de semana o gatilho para um enfarte.“Quem gosta de atividades esportivas temde se preparar, conhecer o esporte e trei-nar”, afirma.

A “sorte” de quem exagera nos exercí-cios de fim de semana, diz o médico, é queo trauma ortopédico vem antes do cardio-vascular e às vezes “salva a pessoa”.

Outros riscos por falta de condiciona-mento físico são as torções de tornozelo,distensão ou ruptura muscular por falta decondicionamento específico. Os especialis-tas recomendam treinar o “gesto esporti-vo”, com exercícios específi-cos para saltar, chutar, mudarde direção, bloquear e fazerfintas. Sem isso, a musculatu-ra não responde como deve-ria e abre caminho para alesão.

Os médicos dizem que,embora o risco para os maisjovens seja menor, mesmoeles devem caminhar pelomenos meia hora, três vezespor semana, fazer alongamento e trabalhomuscular, para ter um condicionamentomínimo e melhora na qualidade de vida.

*Agência Carta Maior

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Vida urbanaTEXTO 27

• Trabalho e Tempo Livre48

A RUA

Fotos: Acervo Iconografia

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Trabalho e Tempo Livre • 49

João do Rio

Eu amo a rua. Esse sentimento de natureza toda íntimanão vos seria revelado por mim se não julgasse, e razõesnão tivesse para julgar, que este amor assim absoluto e

assim exagerado é partilhado por todos vós. Nós somos irmãos,nós nos sentimos parecidos e iguais; nas cidades, nas aldeias,nos povoados, não porque soframos, com a dor e os despra-zeres, a lei e a polícia, mas porque nos une, nivela e agremiao amor da rua. É este mesmo o sentimento imperturbável eindissolúvel, o único que, como a própria vida, resiste às ida-des e às épocas. Tudo se transforma, tudo varia – o amor, oódio, o egoísmo. Hoje é mais amargo o riso, mais dolorosa aironia, os séculos passam, deslizam, levando as coisas fúteise os acontecimentos notáveis. Só persiste e fica, legado dasgerações cada vez maior, o amor da rua. A rua! Que é a rua?Um cançonetista de Montmartre fá-la dizer:

Je suis la rue, femme éternellement verte,Je n’ai jamais trouvé d’autre carrière ouverteSinon d’être la rue, et de tout temps, depuisQue ce pénible monde est monde, je la suis...

A verdade e o trocadilho! Os dicionários dizem: “Rua,do latim ruga, sulco. Espaço entre as casas e as povoaçõespor onde se anda e passeia”. E Domingos Vieira, citando asOrdenações: “Estradas e rua pruvicas antiguamente usadase os rios navegantes se som cabedaes que correm continua-

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mente e de todo o tempo pero que o uso assy das estradas eruas pruvicas”.

A obscuridade da gramática e da lei! Os dicionários sósão considerados fontes fáceis de completo saber pelos quenunca os folhearam. Abri o primeiro, abri o segundo, abridez, vinte enciclopédias, manuseei in-fólios especiais decuriosidade. A rua era para eles apenas um alinhado defachadas por onde se anda nas povoações.

Ora, a rua é mais do que isso, a rua é um fator da vidadas cidades, a rua tem alma! Em Benares ou em Amsterdão,em Londres ou Buenos Aires, sob os céus mais diversos, nosmais variados climas, a rua é a agasalhadora da miséria. Osdesgraçados não se sentem de todo sem o auxílio dos deusesenquanto diante dos seus olhos uma rua abre para outra rua.A rua é o aplauso dos medíocres, dos infelizes, dos miserá-veis da arte. Não paga ao Tamagno para ouvir berros ateno-rados de leão avaro, nem à velha Patti para admitir um fiode voz velho, fraco e legendário.

Bate, em compensação, palmas aos saltimbancos que,sem voz, rouquejam com fome para alegrá-la e para comer.A rua é generosa. O crime, o delírio, a miséria não os denun-cia ela. A rua é a transformadora das línguas. Os Cândido deFigueiredo do universo estafam-se em juntar regrinhas paraenclausurar expressões; os prosadores bradam contra osCândido. A rua continua, matando substantivos, transfor-mando a significação dos termos, impondo aos dicionáriosas palavras que inventa, criando o calão que é o patrimônioclássico dos léxicons futuros. A rua resume para o animalcivilizado todo o conforto humano. Dá-lhe luz, luxo, bem-estar, comodidade e até impressões selvagens no adejar dasárvores e no trinar dos pássaros.

A rua nasce, como o homem, do soluço, do espasmo. Hásuor humano na argamassa do seu calçamento. Cada casaque se ergue é feita do esforço exaustivo de muitos seres, e

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Trabalho e Tempo Livre • 51

haveis de ter visto pedreiros e canteiros, ao erguer as pedraspara as frontarias, cantarem, cobertos de suor, uma melo-péia tão triste que pelo ar parece um arquejante soluço. Arua sente nos nervos essa miséria da criação e, por isso, é amais igualitária, a mais socialista, a mais niveladora das

obras humanas. A rua criou todas as blagues, todos os luga-res-comuns. Foi ela que fez a majestade dos rifões, dos brocar-dos, dos anexins, e foi também ela que batizou o imortalCalino. Sem o consentimento da rua não passam os sábios, eos charlatães que a lisonjeiam lhe resumem a banalidade,são da primeira ocasião desfeitos e soprados como bolas desabão. A rua é a eterna imagem da ingenuidade. Cometecrimes, desvaria à noite, treme com a febre dos delírios, para

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Texto 27 / Vida urbana

• Trabalho e Tempo Livre52

ela como para as crianças a aurora é sempre formosa, paraela não há o despertar triste, quando o sol desponta e elaabre os olhos esquecida das próprias ações, é, no encanto davida renovada, no chilrear do passaredo, no embalo nostál-gico dos pregões, tão modesta, tão lavada, tão risonha, queparece papaguear com o céu e com os anjos...

A rua faz as celebridades e as revoltas, a rua criou umtipo universal, tipo que vive em cada aspecto urbano, emcada detalhe, em cada praça, tipo diabólico que tem dosgnomos e dos silfos das florestas, tipo proteiforme, feito derisos e de lágrimas, de patifarias e de crimes irresponsáveis,de abandono e de inédita filosofia, tipo esquisito e ambíguocom saltos de felino e risos de navalha, o prodígio de umacriança mais sabida e cética que os velhos de setenta inver-nos, mas cuja ingenuidade é perpétua, voz que dá o apelidofatal aos potentados e nunca teve preocupações, criatura quepede como se fosse natural pedir, aclama sem interesse, epode rir, francamente, depois de ter conhecido todos osmales da cidade, poeira d’ouro que se faz lama e torna a serpoeira – a rua criou o garoto!

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Essas qualidades nós as conhecemos vagamente. Paracompreender a psicologia da rua não basta gozar-lhe as delí-cias como se goza o calor do sol e o lirismo do luar. É precisoter espírito vagabundo, cheio de curiosidades malsãs e osnervos com um perpétuo desejo incompreensível, é precisoser aquele que chamamos flâneur e praticar o mais interes-sante dos esportes – a arte de flanar. É fatigante o exercício?

Para os iniciados sempre foi grande regalo. A musa deHorácio, a pé, não fez outra coisa nos quarteirões de Roma.Sterne e Hoffmann proclamavam-lhe a profunda virtude, eBalzac fez todos os seus preciosos achados flanando. Flanar!

Aí está um verbo universal sem entrada nos dicionários, quenão pertence a nenhuma língua! Que significa flanar? Flanaré ser vagabundo e refletir, é ser basbaque e comentar, ter ovírus da observação ligado ao da vadiagem. Flanar é ir poraí, de manhã, de dia, à noite, meter-se nas rodas da popula-ça, admirar o menino da gaitinha ali à esquina, seguir comos garotos o lutador do Cassino vestido de turco, gozar naspraças os ajuntamentos defronte das lanternas mágicas,

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conversar com os cantores de modinha das alfurjas da Saúde,depois de ter ouvido dilettanti de casaca aplaudirem o maiortenor do Lírico numa ópera velha e má; é ver os bonecospintados a giz nos muros das casas, após ter acompanhadoum pintor afamado até a sua grande tela paga pelo Estado;é estar sem fazer nada e achar absolutamente necessário iraté um sítio lôbrego, para deixar de lá ir, levado pela primei-ra impressão, por um dito que faz sorrir, um perfil que inte-ressa, um par jovem cujo riso de amor causa inveja.

É vagabundagem? Talvez. Flanar é a distinção de peram-bular com inteligência. Nada como o inútil para ser artístico.Daí o desocupado flâneur ter sempre na mente dez mil coisasnecessárias, imprescindíveis, que podem ficar eternamenteadiadas. Do alto de uma janela, como Paul Adam, admira ocaleidoscópio da vida no epítome delirante que é a rua; àporta do café, como Poe no Homem das multidões, dedica-seao exercício de adivinhar as profissões, as preocupações eaté os crimes dos transeuntes. É uma espécie de secreta àmaneira de Sherlock Holmes, sem os inconvenientes dossecretas nacionais. Haveis de encontrá-lo numa bela noite,numa noite muito feia. Não vos saberá dizer donde vem, queestá a fazer, para onde vai.

Pensareis decerto estar diante de um sujeito fatal? Coita-do! O flâneur é o bonhomme possuidor de uma alma igua-litária e risonha, falando aos notáveis e aos humildes comdoçura, porque de ambos conhece a face misteriosa e cadavez mais se convence da inutilidade da cólera e da necessi-dade do perdão.

Fundação Biblioteca Nacional do Livro, A alma encantadora das ruas – Departamento Nacional doLivro – Ministério da Cultura.

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Tempo bem empregadoTEXTO 28

NINGUÉMFAZ NADA

As bases da teoria do ócio criativo

do italiano Domenico De Masi

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Já imaginou passar a vida fazendo só oque gosta? Mas e daí, viveria do quê?Sonhos? Se a gente pensar no trabalho

como um fardo, a situação realmente pare-ce impossível. Mas e se o trabalho, o lazer eo estudo começassem a se misturar em nos-sas vidas de tal forma que não desse maispara diferenciar uma coisa da outra?

Essa é a proposta de Domenico DeMasi, sociólogo italiano da Universidade LaSapienza, de Roma. Ele ficou famoso pordefender a idéia de que é hora de as pes-soas cultivarem o ócio criativo para umanova era. Utopia? Não. Cada vez maisgente e empresas aderem aos seus concei-tos e se tornam mais felizes e produtivas.

De acordo com o sociólogo, o ócio cria-tivo é uma arte que se aprende e se aper-feiçoa com o tempo e com o exercício. Énecessário reconhecer que o trabalho não étudo na vida e que existem outros grandesvalores: o estudo para produzir saber; adiversão para produzir alegria; o sexo para

produzir prazer; a família para produzirsolidariedade etc.

Nenhum progresso, porém, aconteceautomaticamente, é necessário criar ummovimento de opinião e depois um grupode luta para colocar em prática idéiasinovadoras como essas.

O caso é que, em todo o mundo, aeconomia convencional se baseia na formade trabalho como o que conhecemos hoje.Será que seria preciso, primeiro, aconteceruma mudança no sistema econômico paracriar o ambiente propício à concretizaçãode idéias como as de Domenico De Masi?

Ele acredita que as mudanças estrutu-rais e culturais se influenciam entre si eespera que a difusão de suas idéias consigaformar um grupo crítico de pessoas dispos-tas a mudar realmente o seu modelo devida e lutar para conquistar a felicidade.

www.nova-e.inf.br/exclusivas/domenicodemasi.htm

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Alexandra Trentine, doGrupo Viva e Deixe Viver,conta histórias e mostralivros a Carlos Roberto, 7anos, paciente do Hospital do Câncer.

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Texto 29 / Trabalho voluntár io

• Trabalho e Tempo Livre58

De acordo com a Organização das Nações Unidas, a Onu, entre cada grupo de 10 brasileiros, pelo menos dois se dedicam a trabalhos sociais. Em algumas instituições, existe até fila de espera para participar.

Acada ano aumenta o número de bra-sileiros que dedicam parte do tempolivre a trabalhos voluntários. E esse

batalhão de gente disposta a trocar horasde lazer pelo auxílio ao próximo não párade crescer. Em 2000 eram 20 milhões; hoje,está em torno de 42 milhões de pessoas.

Ou seja, de cada 10 brasileiros, pelomenos dois fazem trabalho voluntário. E háfilas de espera de interessados para ajudarOrganizações Não Governamentais(ONGs), escolas, igrejas, creches e hospi-tais, como no caso do Hospital Albert Eins-tein, onde sempre há pelo menos duascentenas de pessoas aguardando chamada.

O interesse dos jovens

Entre os jovens brasileiros, 54% gosta-riam de fazer trabalho voluntário, mas nãosabem por onde começar.

Assim, são 14 milhões de jovens e 10milhões de adultos querendo ocupar seutempo livre dedicando-se aos necessitados.

Enquanto isso, as grandes empresasnacionais gastam R$ 4 bilhões por ano emsegurança patrimonial e pessoal de seusexecutivos e apenas R$ 5 mil por mês emfilantropia. De acordo com dados da Recei-ta Federal, a média para doações e contri-buições é de apenas R$ 23 mil por anoentre 5 milhões de brasileiros que pagamimposto de renda.

Os contadores de histórias

O projeto Contadores de Histórias, daAssociação Viva e Deixe Viver, treina volun-tários para contar histórias para crianças eadolescentes internados em hospitais públi-cos e privados, para proporcionar-lhesmomentos alegres e, assim, contribuir paraa humanização da saúde. É um dos traba-lhos voluntários mais bem-sucedidos e estáespalhado por todo o país.

www.metaong.info

Por Luísa Alcalde

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Lazer e def ic iênc iaTEXTO 30

DEFICIÊNCIALAZERE O

PORTADORESOS

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Privadas de outros direitos fundamentais, as pessoas portadoras de deficiência quase não têmoportunidades de vivenciar o lazer, seja por falta de opções ou porque são impedidas de fazeremescolhas – até mesmo pela própria família.

Trabalho e Tempo Livre •

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Texto 30 / Lazer e def ic iênc ia

• Trabalho e Tempo Livre60

Oprofessor Vinícius Saviolli, coorde-nador de lazer, recreação e esportesna APABB - Associação de Pais, Ami-

gos e Pessoas com Deficiência, de Funcio-nários do Banco do Brasil e da ComunidadeAssociação dos Pais e Amigos do Banco doBrasil, em São Paulo, acha muito importan-te o lazer sem fins terapêuticos para pes-soas portadoras de deficiência: "A vida deuma pessoa portadora de deficiência é todaela um processo de reabilitação. Dessaforma, o lazer sem fins terapêuticos faz,inclusive, com que melhore o rendimentonas terapias realizadas durante a semana,além de melhorar a auto-estima”.

Conquistando afeto e inclusão

Por meio de uma série de eventos delazer, como tardes no clube, danceterias,passeios e festas, as famílias da Apabbpuderam perceber a importância dessas ati-vidades para o desenvolvimento dos seusfilhos, e a demanda cresceu, como contaVinícius Saviolli. "As atividades de lazer,sobretudo os acampamentos, começaram adar espaço para os portadores de deficiên-cias se colocarem, terem iniciativas autô-nomas, tornando-os mais independentes.Partimos do pressuposto que esses jovenspodem fazer tudo, dentro de uma propostade lazer descompromissada com o desem-penho ou metas, com o único objetivo dedar satisfação."

Projeto Carona

Outra experiência com recreação paraportadores de deficiência que está dandocerto é o Projeto Carona, também em SãoPaulo. Inicialmente, o serviço oferecido erao transporte de pessoas com limitações físi-cas. Por solicitação de pais que tinham difi-culdades de levar os filhos com deficiênciaspara participar de programas culturais e delazer, os organizadores começaram a de-senvolver esse lado e, hoje, realizam pas-seios e acampamentos em grupo todos osfinais de semana.

As resistências iniciais, quase semprepor parte dos pais, são semelhantes às queacontecem na Apabb, nas primeiras vezesque os filhos participam sozinhos do pro-gramas. "Eles descobrem coisas que podemfazer sem os pais, descobrem que podemdivertir-se longe das famílias", conta RoqueJosé da Rocha Filho, responsável pela áreade recreação do Projeto Carona. "A partirdaí, a família percebe que a superproteçãoé desnecessária, que o filho tem capacida-des que desconhecia."

Fazendo amigos

“Quando a proposta é voltada para asatisfação do grupo, começam a se estabe-lecer relações de amizade, que é uma dasdificuldades da vida desses adolescentes ejovens", ressalta Vinícius. "Eles começam asair juntos, telefonar-se, trocar informações,

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Trabalho e Tempo Livre • 61

angústias e alegrias. Nos acampamentos asrelações são intensas, o tempo todo que-brando a rotina rígida a que normalmenteestão submetidos. No Projeto Carona tam-bém surgem amizades e namoros, como emqualquer turma de jovens. "Formamos gru-pos heterogêneos e eles se dão superbem.Os menos comprometidos acabam ajudan-do os outros, querem acompanhar os moni-tores, criando um clima saudável." Roquedestaca ainda o papel importante do papeldesse trabalho na inclusão social. "Umacoisa é sabermos que os portadores de defi-ciências existem, outra, é vê-los num show,num teatro, passeando. Os empresários delazer também já os descobriram como cli-entes em potencial que, quando bem aten-didos, retornam. Às vezes, a sociedade nãoos inclui porque nem os vê, pois a própriafamília promove a exclusão."

O processo de inclusão social tambémé ressaltado por Vinícius. "O domínio deregras e comportamentos específicos neces-sários às propostas recreativas em geralestimula a autoconfiança para que a pes-soa portadora de deficiência busque,espontaneamente, participar das atividadesde lazer existentes na comunidade", diz ocoordenador. "Tornando-se útil e participa-tiva, ela obtém de seu grupo social reco-nhecimento, respeito e afeto. Conseqüen-temente, torna-se agente ativo no processode inclusão social."

APABB - Associação de Pais, Amigos e Pessoas com Deficiência, de Funcionários do Banco do Brasil e da Comunidade

O deficiente físico CarlosMatos, de 19 anos, entrando no carro do programa Projeto Carona, com um dosdonos, o senhorRoque.

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Para o sociólogo argentino Jorge Wer-thein, representante da Unesco (ór-gão ligado à Organização das Nações

Unidas - ONU) no Brasil, em época dedesemprego, falar em lazer e tempo livre éproblemático. Nesta entrevista, ele se mos-tra esperançoso quando declara que "otempo livre que decorre do trabalho dignonão pode ser visto como condenação aodesemprego"

O senhor acredita que os avanços tec-nológicos, que teoricamente proporcionamàs pessoas mais tempo fora do trabalho,representam um avanço no aproveitamen-to do tempo livre?

Por um lado, representa avanço, sim,na medida em que pode ampliar o tempolivre, possibilitando o exercício da criativi-dade e da realização pessoal. Por outrolado, só a menor parte da população traba-lhadora se beneficia do tempo livre, o querepresenta um problema e uma limitação.

Qual deve ser a orientação para que

o tempo livre seja melhor aproveitado?Muitos estudiosos proclamam o traba-

lho como necessidade humana básica.Nessa perspectiva, o tempo livre é definidocomo um modo de recuperar as forças pro-dutivas, ou seja, descansar para poder pro-duzir. O declínio do emprego, por causa doavanço da ciência e da tecnologia e dosmodelos de desenvolvimento que a gentevê - que concentram decisões tecnológicase lucros, começa a abalar os padrões dalivre concorrência. E o tempo livre tambémpode ser visto como um produto do siste-ma capitalista, como objeto de exploraçãocapitalista.

De que maneira isso ocorre?Pela propaganda de valores que te-

nham efeitos positivos no aumento da pro-dução e do consumo. Mas é preciso reco-nhecer que essa interpretação é parcial,pois não considera a própria luta históricados trabalhadores pela redução da jornadade trabalho. De mais de setenta horas

LAZER X CRISE ECONÔMICANa crise, enquanto os trabalhadores só pensam em não perder o emprego,alguns patrões consideram que o melhor aproveitamento do tempo livre traz como conseqüência, melhor rendimento no trabalho.

Dire i to ao lazerTEXTO 31

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semanais de trabalho em meados do sécu-lo passado, a jornada em muitos países jáestá hoje abaixo de quarenta horas. Essaconquista dos trabalhadores permitiu odesenvolvimento de uma cultura do lazer.As pessoas comuns passaram a ter acesso adeterminados bens da civilização antesreservados apenas às camadas dominantesda sociedade. Ao mesmo tempo, surgiraminúmeras instituições sociais promotoras dolazer que imprimiram uma dimensão cul-tural ao tempo livre. Mas essa dimensão dolazer começa a sofrer os primeiros reveses,pois o processo de globalização aumentasua velocidade, os modos de produçãomudam e a crise do desemprego aumentae se universaliza.

Existe um preconceito que marginali-za o tempo livre como fator negativo parao desenvolvimento das pessoas. Ainda serelaciona tempo livre com o ócio?

O tempo livre só será negativo namedida em que se reduzir a uma socieda-de de consumo. Quem vê o tempo livreapenas como ócio esquece-se de que a pró-pria Declaração Universal dos Direitos doHomem. Toda pessoa tem direito a repou-so e lazer, inclusive à limitação razoáveldas horas de trabalho e a férias periódicasremuneradas.

Por causa das jornadas excessivas detrabalho, tempo gasto na condução,entre outros fatores, os trabalhadoresnão conseguem adquirir crescimento

cultural. Como corrigir essa defasagem?O crescimento cultural dos excluídos

representa um dos maiores desafios donosso tempo. Só uma nova ética das rela-ções internacionais, que permita a redu-ção das desigualdades entre os povos,poderá viabilizar o retorno da dimensãohumana do desenvolvimento.

Como a Unesco interpreta a questãodo lazer, do trabalho e do tempo livre?O mundo atual mostra preocupaçãocom essas questões?

A Unesco luta incessantemente em vári-as frentes para que os direitos humanossejam respeitados. Luta por um direito quetenha compromisso com a ética e não com afutilidade e a vida sem sentido, banalizada.

Todos os compromissos da Unesco têmalgum tipo de relação com o problema dodesemprego e do tempo livre. Educação,ciência, cultura, direitos humanos, tudoisso envolve, de alguma maneira, a ques-tão do trabalho e do lazer. Todo o esforçoda Unesco, desde quando foi criada, logoapós a Segunda Guerra Mundial, tem sidono sentido de promover a paz e a justiçasocial por meio de diversas formas de inter-câmbio científico e cultural e compromis-sos públicos entre seus Estados-membros.

Adaptação da entrevista concedida à Fernanda Oshino, para arevista Sesc número 18.

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ExpedienteComitê Gestor do ProjetoTimothy Denis Ireland (Secad – Diretor do Departamento da EJA)Cláudia Veloso Torres Guimarães (Secad – Coordenadora Geral da EJA)Francisco José Carvalho Mazzeu (Unitrabalho) – UNESP/UnitrabalhoDiogo Joel Demarco (Unitrabalho)

Coordenação do ProjetoFrancisco José Carvalho Mazzeu (Coordenador Geral)Diogo Joel Demarco (Coordenador Executivo)Luna Kalil (Coordenadora de Produção)

Equipe de Apoio TécnicoAdan Luca ParisiAdriana Cristina SchwengberAndreas Santos de AlmeidaJacqueline BrizidaKelly MarkovicSolange de Oliveira

Equipe PedagógicaCleide Lourdes da Silva Araújo Douglas Aparecido de CamposEunice RittmeisterFrancisco José Carvalho MazzeuMaria Aparecida Mello

Equipe de ConsultoresAna Maria Roman – SPAntonia Terra de Calazans Fernandes – PUC-SPArmando Lírio de Souza – UFPA – PACélia Regina Pereira do Nascimento – Unicamp – SPEloisa Helena Santos – UFMG – MGEugenio Maria de França Ramos – UNESP Rio Claro – SPGiuliete Aymard Ramos Siqueira – SPLia Vargas Tiriba – UFF – RJLucillo de Souza Junior – UFES – ESLuiz Antônio Ferreira – PUC-SPMaria Aparecida de Mello – UFSCar – SPMaria Conceição Almeida Vasconcelos – UFS – SPMaria Márcia Murta – UNB – DFMaria Nezilda Culti – UEM – PROcsana Sonia Danylyk – UPF – RSOsmar Sá Pontes Júnior – UFC – CERicardo Alvarez – Fundação Santo André – SPRita de Cássia Pacheco Gonçalves – UDESC – SCSelva Guimarães Fonseca – UFU – MGVera Cecilia Achatkin – PUC-SP

Equipe editorialPreparação, edição e adaptação de texto: Editora Página Viva

Revisão:Ivana Alves Costa, Marilu Tassetto, Mônica Rodrigues de Lima, Sandra Regina de Souza e Solange Scattolini

Edição de arte, diagramação e projeto gráfico: A+ Desenho Gráfico e Comunicação

Pesquisa iconográfica e direitos autorais: Companhia da Memória

Fotografias não creditadas: iStockphoto.com

Apoio

Editora Casa Amarela

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

(Câmara Brasileira do Livro. SP, Brasil)

Tempo livre e trabalho / [coordenação do projeto

Francisco José Carvalho Mazzeu, Diogo Joel Demarco,

Luna Kalil]. -- São Paulo : Unitrabalho-Fundação

Interuniversitária de Estudos e Pesquisas sobre o Trabalho ;

Brasília, DF : Ministério da Educação. SECAD-Secretraria de

Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2007,

-- (Coleção Cadernos de EJA)

Vários colaboradores.

Bibliografia.

ISBN 85-296-0065-7 (Unitrabalho)

ISBN 978-85-296-0065-9 (Unitrabalho)

1. Lazer 2. Livros-texto (Ensino Fundamental)

3. Trabalho I. Mazzeu, Francisco José Carvalho.

II. Demarco, Diogo Joel. III. Kalil, Luna. IV. Série.

07-0419 CDD-372.19

Índices para catálogo sistemático:

1. Ensino integrado : Livros-texto :

Ensino fundamental 372.19

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