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04 MARÇO 2010 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA BIMESTRAL Fernando Alvim aulas, orais e rock n’roll Temos universidades e politécnicos a mais? e bandas, tunas, comidas, automobilismo na universidade

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CompetênCias através da artiCulação de módulos

prátiCos e teóriCos:

1 - Compreensão aplicada da organização do evento noticioso.2 - Articulação entre a ideia de espaço público e registos mediáticos.3 - Compreensão variada da arte da crónica.4 - Adequação da linguagem a novas formas de ciberjornalismo.5 - Apreensão do significado da reportagem e de subgéneros afins.6 - Compreensão retórica da ideia de crítica e das suas aplicações.7 - Compreensão dos figurinos de persuasão na arena mediática.8 - Interiorizar permanentemente dados de índole gramatical.

laboratório deesCrita para Jornalismo

bloCos semanais:

1 - Os media, a sociedade mediatizada e a notícia. 2 - Ocorrências e meta-ocorrências. 3 - Escrever com prazer e com regra: o caso da crónica. 4 - A entrevista. 5 - Liberdade, responsabilidade e concorrência no espaço público mediatizado. 6 - As novas tecnologias e o jornalismo online. 7 - Desafios da rede: os blogues e os novos processos de edição. 8 - Textos de reportagem. 9 - Textos de crítica, editorial e comentário. 10 - Textos de divulgação.11 - A persuasão no espaço público contemporâneo.12 - Textos de viagem.13 - Uma reportagem como se fosse a primeira.

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Esta pergunta poderia ser feita por al-gum tecnocrata preocupado com os custos do ensino superior. Surpreendentemente, a questão é levantada e debatida dentro da própria universidade.

É inegável que, em algumas cidade e regiões, a existência de uma instituição de ensino é quase uma questão de sobre-vivência. Essas instituições cumprem um papel regional. Mas que papel pode de-sempenhar na ciência, cultura e economia da Europa uma instituição com três ou quatro mil alunos? Não falamos de uma faculdade com três mil alunos que se in-sere numa universidade de trinta mil, mas de uma universidade inteira, isolada no mapa. Que grandes descobertas científicas podem vir de uma universidade assim? Que prémios Nobel podem nascer aí?

Uma opção seria fechar tudo, «pôr aqui-lo à venda, aproveitando toda a tecnologia

simplex e promovendo leilões na web», como sugere o professor Alexandre de Sousa em http://www.aulamagna.pt/opiniao/fazer-coisas-com-tangrantuga. Humor à parte, a realidade que temos hoje não é menos risível nem muito mais pro-dutiva do que isso. Sobretudo se tivermos em conta as exigências científicas colo-cadas pelo futuro aos países que querem continuar a ser desenvolvidos.

Outra ideia seria criar grandes univer-sidades e politécnicos, dispersos geogra-ficamente mas com um alto grau de co-laboração e de criação de sinergias entre si. Impossível? E é possível continuar a discutir eternamente o défice e o emagre-cimento dos salários?, em vez de procurar-mos soluções para os nossos problemas de atraso científico, cultural e, já agora, eco-nómico e empresarial?

Há universidades a mais em Portugal?

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existem quatro universidades públicas – Universidade de Lisboa (UL), Universidade Técnica (UTL), Universidade Nova (UNL) e Instituto Universitário de Lisboa, antigo ISCTE –, que, em alguns casos, oferecem formações concorrentes. Em 2008, as três primeiras instituições assinaram um pro-tocolo de entendimento, que se reflecte, por exemplo, em programas conjuntos de doutoramento. António Nóvoa já manifes-tou vontade de juntar a UL à UTL, crian-do a maior instituição de ensino superior portuguesa, com mais de 42 mil alunos. Não faltam vozes a falar numa mega-uni-versidade, como Paulo Teixeira Pinto, ex-presidente do conselho de administração do BCP e membro do Conselho Geral da UL. Porém, o Reitor, em declarações à Aula Magna, rejeita o título. «Seria um erro [uma mega-universidade]. Mas tam-bém não me conformo com a proliferação de instituições, paroquiais, sem verdadei-ra dimensão universitária. Pode, e deve, haver instituições especializadas, de ensi-no e investigação, que têm uma acção de referência em certos domínios. Mas uma Universidade é outra coisa. É um lugar único, plural, onde é possível um diálogo entre disciplinas muito diversas», argu-mentou.

Cooperar sem extinguir O discurso do Reitor concentrou-se, em boa parte, na situação em Lisboa, mas não esqueceu o resto do país, onde há «várias instituições nas mesmas cidades» e «universidades a 50 quilómetros umas das outras». Pedro Saraiva, deputado do PSD e membro da Comissão de Educação e Ciência revelou outro número: «Se olharmos não apenas

ANFITEATRO

A rede do ensino superior público portu-guês compreende 15 universidades públicas e 15 institutos politécnicos, com realidades muito distintas. Entre os 2.267 alunos do Instituto Politécnico do Cávado e do Ave, a mais pequena destas instituições, e os 27.372 inscritos na Universidade do Porto (UP), a maior, há uma enorme diferença. No ensi-no privado, há 97 unidades orgânicas com registo na base de dados do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (MCTES). Nestes dias de globalização, o ta-manho importa e é essencial para o sucesso a nível internacional, pelo que vários estabele-cimentos de ensino superior europeus e nor-te-americanos se envolveram em processos de fusão ou de concentração. Nova Iorque, Amesterdão e Estrasburgo são exemplos mais ou menos recentes, até porque a pujan-ça das universidades chinesas ou indianas a isso obrigou. Voltemos a Portugal: será a dis-persão das nossas instituições exagerada?

O Reitor da Universidade de Lisboa, António Nóvoa, colocou o dedo na ferida no seu discurso de abertura do ano acadé-mico, em Novembro. Sem grandes rodeios, considerou «absurda» a actual malha de instituições públicas e frisou que nunca existiu em Portugal uma «universidade de referência no plano internacional». Será a sua opinião consensual? A Aula Magna foi ouvir uma série de personalidades ligadas ao meio académico para perceber que so-luções se podem adoptar.

A dispersão é, sem margem para dúvi-das, mais evidente em Lisboa. Na capital,

Há universidades e politécnicos a mais?

Reorganização da rede de ensino superior

texto João Pedro Barros

O tempo do small is beautiful terminou. As personalidades ouvidas pela Aula Magna não contestam que é necessário um processo de concentração de recursos no ensino superior português, como sugeriu o Reitor da Universidade de Lisboa, António Nóvoa, mas apresentam algumas nuances em relação à forma como ele deve ser feito. As fusões são um dos caminhos apontados

O Reitor da U.L., sem grandes rodeios, considerou «absurda» a actual malha de instituições públicas e frisou que nunca existiu em Portugal uma «universidade de referência no plano internacional».

Falemos de Oxford. Tem cerca de 20 000 alunos, tantos como a UL, e cer-ca de 4 000 professores e investigadores, tantos

como a totalidade das universidades de Lisboa. Mas tem um orçamento anual de cerca de 950 milhões de euros, pra-ticamente idêntico ao da totalidade das universidades portuguesas! Temos de ser mais corajosos e mais ambiciosos, ainda que isso implique romper com certas rotinas e interesses que se ins-talaram no sistema do ensino superior em Portugal.

António NóvoaReitor da Universidade de Lisboa

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para a rede pública, mas igualmente para a privada e cooperativa, existem em Por-tugal mais de 150 instituições de ensino superior. Atendendo à dimensão geográfi-ca e populacional do nosso país, trata-se de um número anormalmente elevado». Ainda assim, António Nóvoa adopta um discurso que é seguido de forma consen-sual pelas personalidades ouvidas pela Aula Magna, o de que é possível «dar cor-po» às instituições sem recorrer a soluções

mais radicais. «Não advogo a extinção de instituições. As diferentes universidades e politécnicos ganharam uma identidade própria e, de um modo geral, têm dado um importante contributo nas suas regi-ões. Mas é urgente encontrar formas de articulação, de cooperação e de associação entre as instituições», reforçou.

O socialista Manuel Mota, membro do Grupo de Trabalho do Ensino Superior da Assembleia da República, afina pelo mes-mo diapasão. Na sua opinião, é «relevan-tíssimo» manter a coesão territorial, para a qual as unidades orgânicas no interior do país dão um contributo valioso, até porque há «muitos alunos que só frequentam o ensino superior devido ao factor proximi-dade». O deputado põe mesmo o acento tónico na «necessidade de aumentar o nú-mero» de alunos em Portugal (em 2008/09, eram 373 002), lembrando o «Contrato de Confiança» assinado entre o Governo e as instituições de ensino superior público, em Janeiro. Mas não exclui a hipótese de fusões, lembrando que «o enquadramen-to jurídico do RJIES (Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior) permite que as instituições se juntem em consór-cio, atingindo uma dimensão qualitativa e

Não se vislumbra ne-nhum risco para os estudantes [com eventuais fusões], antes pelo contrário. Em termos de cantinas e residências, acesso a bibliotecas e espaços de es-tudo e desportivos, pode haver várias vantagens, assim como na própria mis-cigenação do corpo docente. Não vejo onde possam ser prejudicados.

André Moz CaldasPresidente da Associação Académica da Universidade de Lisboa

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Estas parcerias nacionais ou internacionais surgem como uma forma de assegurar dimensão institucional sem que os cooperantes percam a sua identidade ou autonomia.

Ensino Superior | O RJIES permite que as instituições se juntem em consórcios

quantitativa interessante». Estas parcerias nacionais ou internacionais surgem como uma forma de assegurar dimensão institu-cional sem que os cooperantes percam a sua identidade ou autonomia.

Se o socialista parece satisfeito com a acção do governo no sentido de melhorar estes mecanismos, já Pedro Saraiva (que foi consultor da Presidência da República para o ensino superior, entre 2006 e 2009) não poupa críticas: «É uma matéria em que o Governo do Partido Socialista, verdadei-ramente, não fez quase nada ao longo dos

CATARINA FERNANDES

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últimos cinco anos». O social-democrata não rejeita as fusões, mas defende uma análise caso a caso. «Internacionalmente, temos assistido a movimentos de integra-ção, como sucedeu há anos em Manchester, mas igualmente de reforço de individuali-zação, de que é exemplo recente a eman-cipação do Imperial College, em Londres, ou ainda de manutenção de universidades de excelência separadas por duas esta-ções de metro, como sucede com o MIT e a Universidade de Harvard, nos Estados Unidos», aponta.

Binário em causa? André Moz Caldas, presidente da Associação Académica da Universidade de Lisboa (AAUL), retoma o tom mais vigoroso adoptado pelo seu Reitor. Não só considera fulcral uma even-tual fusão entre a UL e a UTL – que daria origem a uma «grande universidade», com «transversalidade de saberes» – como põe em causa o próprio sistema binário (uni-versidades e politécnicos). «Será que se justifica a distinção orgânica? Temos ex-periências como as das universidades de Aveiro ou do Algarve, em que coexistem o politécnico e o universitário. Em Coimbra ou no Porto, também se poderia fundir a universidade com o politécnico, reduzindo custos administrativos, organizativos e de serviços, e assegurando mais massa crítica para se poder investir», propõe. De qual-quer forma, «não faz sentido racionalizar a rede encerrando universidades», sublinha.

O dirigente associativo pensa, funda-mentalmente, na racionalização de recur-sos: «Fazer três, quatro ou cinco contra-tos de segurança é diferente de fazer um grande contrato. Também fará sentido,

certamente, comprar certos reagentes de laboratório em maior escala. Comprar três milhões de tinteiros ou 150 não é certa-mente a mesma coisa». Porém, também acusa o ministro de não facilitar este pro-cesso e manifesta vontade de «continuar a denunciar a situação, até haver vontade política». «Os ilustres pensadores do pas-sado criaram instituições universitárias distintas, mas isso não precisa de ser pa-trocinado com receitas públicas. Depois, quando alguém lhes dá uma esmola, ficam todos contentes», remata, referindo-se ao

«Contrato de Confiança».Em Portugal, há cerca de 4.000 cursos

registados, sendo 1.874 de licenciatura ou mestrado integrado, com mais de 800 designações distintas. Todavia, em relação a eventuais fusões no ensino superior pri-vado (ou envolvendo os sectores público e privado), os nossos entrevistados não se quiseram alongar muito. Para Manuel Mota, o papel da Agência de Acreditação e Avaliação do Ensino Superior (A3ES) será

fundamental na reabilitação da oferta edu-cativa, ao integrar um conjunto de indica-dores como a empregabilidade. Mas há um «ponto prévio»: «Não houve financiamen-to para cursos com menos de 10 alunos, tirando casos excepcionais, o que já impli-cou uma forte reorganização». De resto, o socialista não quis «condenar» o eventual excesso e/ou falta de qualidade de cursos de «papel e caneta» que proliferam por um grande número de instituições. «Não temos dados de empregabilidade, porque formações de ‘banda larga’ como Direito, Gestão ou Economia proporcionam o acesso a várias funções. Por vezes há erros: em Inglaterra encerraram-se muitos cur-sos na área educativa e passados uns anos percebeu-se que foi um erro, porque dei-xou de haver oferta. Há um ciclo de sus-tentabilidade a manter», notou.

André Moz Caldas salienta outro dado: fundir cursos ou faculdades mais tradi-cionais, nas áreas da Medicina ou Direito, será sempre muito complicado. «Há uma grande tradição, são cursos muito antigos, com corpos docentes muito conservado-res, convencidos de que o seu projecto educativo é o melhor», afirma.

António Nóvoa agitou as águas, porque não quer que as universidades portugue-sas «continuem na periferia, sempre a ad-mirar as ‘universidades de excelência’ que existem lá fora». Pedro Saraiva acrescenta outros dados de reflexão: «Análises do pa-norama mundial do ensino superior colo-cam-nos, apesar de resultados de excelên-cia alcançados em determinados sectores e instituições, abaixo da quadragésima posi-ção no que toca à qualidade do sistema de ensino superior, atrás dos países mais ha-bituais, mas igualmente e infelizmente já também da Polónia, Turquia, China, Índia ou Brasil».

Podem chamar-lhe moda mas o fenóme-no de concentração de recursos e de coo-peração institucional que se espalhou por todo o mundo está aí para durar e dar que falar. Talvez tudo se resuma a uma simples frase do Reitor da UL: «O tempo do small is beautiful já passou».

Em Portugal, há cerca de 4 000 cursos registados, sendo 1.874 de licenciatura ou mestrado integrado, com mais de 800 designações distintas.

Em Coimbra e no Porto | Há quem defenda a fusão das universidades com os politécnicos

Podem chamar-lhe moda mas o fenómeno de concentração de recursos e de cooperação institucional que se espalhou por todo o mundo está aí para durar e dar que falar.

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BRUNO TEIxEIRA

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texto Luís Ricardo Duartefotografias José Miguel Soares

Aprender com a vidaFernando Alvim

Gosta mais de aprender do que de ensinar e pensa fazê-lo ao longo a vida. Não desdenha o ensino superior, por onde passou sem grande entusiasmo, mas prefere o conhecimento que se pode adquirir ao longo do caminho. Até porque Fernando Alvim é homem dos sete ofício. A Aula Magna foi visitá-lo à Antena 3, onde anima o programa Prova Oral, e acompanhou-o ao ginásio. E descobriu um antigo estudante que não brincava em serviço. Nos exames e nas eleições…

Falta menos de uma hora para começar mais uma edição da Prova Oral, o programa que dinamiza de segunda a quinta, a partir das 19h, na Antena 3. Mas não aparenta nervosismo. Os Moonspell já lá estão, como banda convidada, mas o apresentador ainda tem tempo e disponibilidade para receber a Aula Magna. Fala depressa, como se a ur-gência se tivesse entranhado na sua persona-lidade. Fernando Alvim é daqueles que tem como lema de vida «Fazer». E não hesita em pôr mãos à obra.

Nasceu em Vila Nova de Gaia, em 1974, e desde cedo descobriu uma paixão pela rádio. O pai reconhecia-lhe um compor-tamento obsessivo e Fernando Alvim lá se desdobrava em multiplas tarefas, primeiro achando que era de feitio, depois perceben-do que talvez fosse mesmo de génio. Aos 18, já profissionalizado na rádio, criou o Festival Termómetro, de onde saíram algumas ban-das que deram que falar. É director da revista 365, que advoga um ano cheio de hetorodo-xia, com muita cultura à mistura, e tem cré-ditos firmados na televisão e no humor e em tudo o que se mete. A vida, para ele, é uma disciplina em que se aprende todos os dias.

Radialista, jornalista, promotor cultural, humorista, figura da televisão, agitador cultural. Como te apresentas?Bem, não referiste todas as actividades, como por exemplo estafeta.

Estafeta?Sim. Quando vou entregar o correio de cada número da revista 365, que é algo que eu gosto muito de fazer, nas recepções das

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elas sejam, preciso de boas ideias, muito mais do que de bons financiamentos.

Comportamentos obsessivos O mais surpreendente no teu percurso é não só fazeres muitas coisas, mas teres começado muito cedo, logo aos 17.Na verdade, comecei aos 13 e profissiona-lizei-me aos 17. Pelo que dizia o meu pro-genitor, sempre fui uma pessoa obcecada e obsessiva. Durante muito tempo pensei que era uma característica má. Pensava que ti-nha de deixar de o ser. Só depois percebi que também podia ser uma qualidade.

Como surgiu a paixão pela rádio?Ao lado da minha casa havia uma rádio e ti-nha uns amigos que iam para lá diariamente. Era o tempo em que só se pensava em jogar futebol e andar atrás das raparigas, algo que continuo a fazer até hoje. Mas juntei a isso a necessidade de fazer rádio. É algo de que gosto mesmo muito. E acredito que a rádio é uma base que me proporciona uma série de competências que outros meios não me possibilitariam.

Como por exemplo?O conseguir resolver problema à última da hora. A minha experiência radiofónica já me salvou muitíssimas vezes. O facto de quase ninguém que trabalha na rádio admi-tir o silêncio, e de saber lidar com isso e de falar, foi-me útil muitas vezes.

Não convives bem com o silêncio?Nada, de tal modo que não o admito. Se numa mesa de jantar de quatro pessoas, todos deixarem de falar, garanto-te que serei o pri-meiro a quebrar o gelo. Independentemente do que disser. O silêncio a mim impressio-na-me.

Nesse caso, como é que alguém que preza uma vida de agitação vê aquelas pessoas que passam uma vida inteira na universidade, a estudar, no silêncio das bibliotecas e dos arquivos?Muito bem. É como encarar os filhos dos outros. Desde que não sejam meus está tudo bem. Mas encaro bem. Também estive no ensino superior e sei o que isso é. Frequentei dois cursos.

Dois?O primeiro foi um tiro um pouco ao lado: Gestão internacional de exportação. Foi um curso que deixei a meio. Mudei-me para Engenharia publicitária e de marke-ting. Mas quando estava no final do curso tive uma proposta irrecusável para vir para Lisboa. Na altura, achei que um curso e uma faculdade podem manter-se durante anos e anos. Uma oportunidade não. Aproveitei a oportunidade que me estava a ser dada e até agora posso dizer que nunca me arrependi, nem senti falta de concluir o curso.

LAbORATóRIO

agências de publicidade dão um cartãozinho que diz «estafeta». E é precisamente o que eu sou naquela altura, pois é a missão que estou a desempenhar.

Num mundo em que se fala tanto da especialização, tu contrapões um perfil multifacetado? Já não tenho a certeza se o mundo apela a essa especialização. Hoje provavelmente va-loriza-se mais o multitasking. O que, como se sabe, era algo que estava reservado às mu-lheres, que em relação ao homem têm muito mais capacidade para isso. Mas agora temos de o desenvolver. Porque não me parece que seja muito produtivo, hoje em dia, saber ape-nas um coisa. Quantas mais melhor.

E como desenvolver tantas actividades ao mesmo tempo?Se calhar há quem pense que sou muito orga-nizado e que tenho uma vida exemplarmen-te gerida. Mas não. Às vezes acontecem-me coisas que eu próprio fico espantado como consegui desenvencilhar-me delas. No dia em que estou a dar esta entrevista, confundi as datas e percebi que apenas tinha 30 minu-tos para escrever uma crónica. Afinal não era para o dia seguinte. Era para já…

Qual é o segredo dessa produtividade?A chamada pressão alta. Comigo funciona muito bem. Sei que vou ter de o conseguir. E faço. Mas não gosto de fazer as coisas a martelo, daí que estas situações também me incomodem.

Em todas essas actividades, é possível encontrar um denominador comum?Não sei, talvez uma anarquia desorgani-

zada… Invariavelmente, nunca faço o que devia para a combater. No entanto, o deno-minador comum talvez seja a vontade de fazer coisas. Não me deixar intimidar pelas dificuldades que surgem, nem pela falta de dinheiro. É uma tarefa viciante.

É o postulado da criatividade?Exactamente. Cheguei à conclusão que, de facto, para fazer as coisas, por maiores que

Voltar às aulas não é uma prioridade? Ciclicamente vou-me formando, fazendo muitos workshops de variadíssimas áreas, desde escrita criativa a planeamento cultu-ral. É o que está a dar. Agora um curso in-teiro? Não me parece. No entanto e apesar de eu próprio dar alguma formação, sobre-tudo na área da rádio, gosto muito mais de aprender do que de ensinar. É mais lucrativo aprender.

Senhor presidenteComo era o Fernando Alvim estudante universitário?Muito marrão.

Isso poderá surpreender alguns fãs.Pois é. Mas era mesmo marrão, ao ponto de me enclausurar dias inteiros em casa a estu-dar. O meu objectivo e a minha norma sem-pre foram dar o meu melhor. Se percebesse que tinha estudado, já não me afectaria se depois a nota fosse má. O que me chateava, e também me aconteceu, era ver uma nota má justamente porque não tinha estudado. Era algo que não gostava que me acontecesse, mesmo sendo um aluno mediano.

Tinhas algum método de estudo?Nunca. Em nenhum momento tive métodos de estudo ou de trabalho. O que eu fazia era estudar. Ficava em casa, fechado, durante vá-rios dias. Ninguém me via.

Fazias apontamentos, sublinhavas li-vros?Fazia apontamentos, passava mais de meta-de do meu tempo a fazer resumos. Passava ali os meus dias. Foi uma coisa muito tor-tuosa. Sofri muito a estudar. Enquanto estu-dante, foram mais as horas de sofrimento do que as de verdadeiro prazer. Não ia para a escola passear os livros.

Também te metias nas associações de estudantes?Cheguei a ser presidente da AE da minha escola. Mas daquilo que eu mais gostava sinceramente era dos torneios de futebol. Eu vivia para isso. Depois estudava para tirar

Se numa mesa de jantar de quatro pessoas, todos deixarem de falar, garanto-te que serei o primeiro a quebrar o gelo. Independentemente do que disser. O silêncio a mim impressiona-me.

Os estudantes são hoje em dia mais completos. As pessoas já perceberam que não basta ter a chamada inteligência tradicional. Também é necessário uma inteligência emocional e social.

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umas notas que dignificassem minimamente o meu nome.

Eras uma espécie de futuro jogador da NBA que precisa de ter boas notas para poder continuar a jogar? Era um bocado isso. Aliás, na minha equi-pa jogava o Pedro Emanuel [ex-jogador do Futebol Clube do Porto], hoje em dia uma referência futebolística. Ele era o defesa e eu o atacante. Não há dúvida de que o influenciei.

Que rumo deste à AE?Foram bons tempos. E uma actividade que eu exerci um ano. Lembro-me que ganhei as eleições devido a uma promessa eleitoral que passava por garantir um cacifo a cada aluno. Na altura dava uma série americana na tele-visão, o Beverly Hills, 90210, em que todos os estudantes tinham um. Muitos consideraram que era uma grande ideia e deram-me o seu voto de confiança. Escusado será dizer que não houve cacifos para ninguém.

Então a tua década de 90 não foi contra o cavaquismo, mas sim a favor do cacifis-mo?Exactamente. Cacifismo. É um termo muito bem aplicado. Hoje em dia estou muito arre-pendido e peço desculpa aos estudantes pela promessa eleitoral não cumprida.

Mas também participavas nas grandes contestações políticas da época?Sim, fui às manifestações da PGA e essas coi-sas. Mas não sabia o que estava lá a fazer. Ia porque todos iam. Estava lá a reivindicar um

direito, mas basicamente não sabia porquê. Aliás, eu acredito que a maioria das pessoa que vai a essas manifestações não sabe por que razão está lá.

Esse é o problema do Ensino Superior: as pessoa não saberem o que lá estão a fazer?Poderá ser um deles, mas de certeza que não é «o» problema. Não sei. No entanto, acredi-to que muitas vezes as plataformas estudan-tis são usadas como trampolim político. Há um jogo viciado, o que não é bom. Contudo, quando a liderança estudantil é encarada com seriedade, parece-me que é muito bom ter bons líderes a fazerem coisas em prol da universidade. Por isso é que há universidades mais fortes e outras mais fraquinhas.

Estudantes mais completosAtravés do Prova Oral, da Antena 3, con-tactas com muitos estudantes. És daque-les que defendem que «no meu tempo é que era»?

Não sou nada saudosista. Desconfio sempre das pessoas que falam muito do passado. Normalmente quer dizer que estão sem pre-sente e com muito menos futuro. Nunca uso essa expressão. Até porque nunca achei que o meu tempo fosse assim tão bom.

Mas que imagem fazes dos estudantes do ensino superior? É uma imagem muito boa. O Erasmus é cada vez mais utilizado. E a mentalidade estudantil é menos estanque. Os estudantes perceberam que é preciso ir lá para fora e conhecer no-vos mundos. A Internet também veio ajudar. Sente-se que as mentes estão mais abertas. Quando isso acontece, o futuro só pode ser mais promissor. Os estudantes são hoje em dia mais completos.

Em que sentido? Além de estudarem, têm uma vida. Bem, há quem tenha uma vida sem estudar, mas não falo desses. As pessoas já perceberam que não basta ter a chamada inteligência tradicional. Também é necessário uma in-teligência emocional e social. O que vale ter uma grande média de curso e depois ser um nerd ou não ter amigos, nem saber fazê-los? Tão pouco saber criar bom ambiente numa empresa? O que vale contratar uma pessoa com estas características? Só para a manter sempre isolada.

Ou seja, ser estudante e preparar futuro profissional é actualmente mais difícil?Pois é. Mas é a lei da vida. Devemos premiar as pessoas mais completas.

Sofri muito a estudar. Enquanto estudante, foram mais as horas de sofrimento do que as de verdadeiro prazer. Não ia para a escola passear os livros.

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É sabido que antigamente os largos eram «o centro do mun-do». Como se pode ler no incon-tornável livro de contos O Fogo e as Cinzas, de Manuel da Fonse-ca. É preciso lê-lo, por exemplo, na digestão de um bom almoço alentejano. Mas antes, o que é importa é deixar o «largo» do Giraldo, sair das muralhas de Évora e vir até ao antigo bairro do Moinho do Cu Torto - hoje mais inocuamente conhecido como bairro de Nossa Senhora do Carmo. Para almoçar bem por pouco dinheiro, a opção é acertada. Mas convém chegar antes da uma ao restaurante O Parque, porque os lugares sen-tados são pouco mais de qua-renta e costumam ser ocupados cedo por grupos de trabalha-dores. Talvez ande por cá Rico,

Pezinhos de Évora Comer bem a preço estudantil

O restaurante O Parque justifica um desvio até aos arredores da cidade. Argumentos? Pratos do dia como os muito bons pezinhos de coentrada ou as iscas, doses bem servidas, preços de amigo

Restaurante O Parque

Rua de Viana, 35Bairro Nossa Senhora do Carmo (vindo de Lisboa de carro, vira-se à direita na rotunda do Hotel Ibis e segue-se sempre em frente passando mais duas rotundas. O restaurante é do lado direito da estrada)266 709 035

Das 6h às 22h, de segunda a sábado

Universidades mais próximas:Universidade de Évora

PÁTIO.COmEs E bEbEs

texto João Pachecofotografias Marina Marques

Tenda, Fortes, Carona, Cristéta ou outros membros do Grupo Euromilhões, uma sociedade de apostadores com quadro de apostas afixado junto ao balcão. Ao lado deste quadro de honra, há polaroids deslavadas onde se podem ver momentos de com-petição entre homens e petiscos. Chega de paisagem. Para o aqui-e-agora, importa escolher mesa. Já. De preferência longe do tele-visor, apóstolo da TVI e não das comidas e bebidas que interessa conhecer.

As coordenadas destas mesas foram-me dadas pelo escultor João Cutileiro, que vive em Évora e sabe da poda. Frequentador da casa e das iscas aqui cozinhadas, Cutileiro apregoou-mas como as melhores da restauração por-tuguesa. Chegadas à mesa, as iscas apresentaram-se à altura, embora dispensando o exagero de serem as-melhores-de-todas. Claro que merecem estar na

Primeira Divisão das Iscas, em parte graças ao mérito de a dose ser muito bem servida e custar seis euros - como a generalidade dos pratos do dia. Já as batatas fritas que acompanham as iscas e outros pratos... Enfim, deverão ser evitadas e trocadas por umas mais seguras batatas cozidas. É verdade que aqui as batatas fri-tas são caseiras, mas falta-lhes serem bem fritas.

A minha primeira vinda ao Parque foi em Março, numa quarta-feira - dia de cabidela de galinha. O dito arroz de cabidela é servido numa terrina de inox com uma micro concha metáli-ca, muito molho e hortelã fresca. A galinha é de facto boa e sabe sempre bem ver um prato como a cabidela a resistir nas ementas do país. Mas no conjunto, esta cabidela será uma escolha a não repetir. Sendo boa de sabor, veio com um arroz triste, que não justificava a saída das muralhas de Évora. Muitos pontos acima esteve a carne de porco à alen-tejana, com ameijoas honestas e sem falhas a assinalar. Mas a par das iscas - que são o prato-feti-che da casa e são servidas todos os dias – o melhor foi mesmo o encontro com uns pezinhos de porco de coentrada. Chega-ram num molho perfeito para o mergulho das fatias de pão frito, muito bem feitos.

É também em mesas baratas como esta que se defende o pa-trimónio da gastronomia portu-guesa, num trabalho quotidiano quase sempre não reconhecido e muitas vezes heróico. Com este festim de pezinhos, O Parque já pode entrar na pole position dos achados gastronómicos low-cost, categoria que já teve muitos con-correntes em Évora e continua a tê-los noutras paragens menos batidas do Alentejo.

Cozinheiro França | Com ele o Parque já pode entrar na pole position dos achados gastronómicos low-cost

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ciona como um regresso à diversão nocturna, após o período de fre-quências, mas a AAUAv não perde o balanço e, logo no dia a seguir, há novo evento: Sunglasses at night vai ser «uma festa divertida, para chamar de novo o pessoal ao bar do estudante». Diogo Melo sabe do que fala, porque faz parte da direcção da associação, que quer dinamizar um espaço conhecido pela animação às quartas e quin-tas-feiras. «Queremos organizar várias festas, com temas diferentes, para que não haja monotonia».

estudantes do Porto, principalmen-te na época de férias», nota. Ao que parece, o slogan «Estudante que é estudante sai às segundas-feiras» tem vindo a encontrar seguidores. A discoteca Via Rápida também tem tido bastante sucesso junto dos universitários, com festas espe-cíficas quase todas as quintas-feiras e entradas a rondar os seis euros. Para algo completamente diferente, Alexandra Fulgêncio elege o Altar, na Rua de Cedofeita: às quartas-feiras, a noite é dedicada à música pimba e a entrada é gratuita.

Ao que parece, o slogan «Estudante que é estudante sai às segundas-feiras» tem vindo a encontrar seguidores.

Para esta estudante de Ciências da Comunicação, falta no Porto um local que consiga reunir todos os estudantes do ensino superior, ao contrário do que acontece em Coimbra. No entanto, as segun-das-feiras da discoteca La Movida Beach têm-se aproximado desse objectivo. «A presença de bares de várias faculdades, as bebidas a pre-ços aliciantes e o ambiente acadé-mico parecem ter conquistado os

Alexandra FulgêncioF-Letras da U-Porto

lhe particularmente na memória. De resto, este é um dos locais de animação nocturna favoritos de Ana Leite.Porém, a estudante confessa que, por vezes, não há um plano muito organizado. Por exemplo, já tem uma festa combinada entre amigos da universidade para o dia 19 de Fevereiro, no final da época de fre-quências. «Às vezes é preciso ali-viar a cabeça», sublinha. O ponto de encontro é o mítico café Piolho, na baixa do Porto. Depois, logo se vê qual é o destino final.

As festas de Direito da Universidade Católica do Porto, no Via Rápida, ficaram-lhe particularmente na memória.

O Piolho é o ponto de encontro

Apesar de ser aluna de Direito da Universidade Lusófona, Ana Leite não costuma frequentar muitas festas da instituição. «Sei que não é muito bonito de se dizer, mas as entradas costumam ser mui-to caras», adianta. Porém, isso não a impede de se divertir por outras andanças, em eventos de outras instituições. As festas da Direito da Universidade Católica do Porto, no Via Rápida, ficaram-

Ana LeiteU-Lusófona do Porto

Em Aveiro, não há início de se-mestre sem arraial académico. Uma tradição com longos anos, que se repete a 24 de Fevereiro, em volta da Casa do Estudante, que é também a sede da Associação Académica da U- Aveiro (AAUAv). «Há sempre porco no espeto, cer-veja e tunas a actuar, em volta da casa», explica-nos Diogo Melo, aluno de Ciências de Engenharia Civil da instituição. Esta festa fun-

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«Há sempre porco no espeto, cerveja e tunas a actuar, em volta da casa»

A movida das segundas à noiteTodas as segundas-feiras – Queima Douro, no La Movida Beach

De volta à diversão24 de Fevereiro – Casa do Estudante – Arraial académico

Diogo MeloU-Aveiro

PÁTIO.FEsTAs

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A relação entre o automobilismo e o ensino superior não é evidente. «Não são meios totalmente divorciados, mas reconheço que estão francamente disso-ciados», admite José Ferreira Duarte. No entanto, o professor do Departamento de Engenharia Mecânica da FEUP (F-Engenharia da U-Porto) foi galardoado precisamente por conseguir «remar» em sentido contrário: ele é o principal men-tor do Desafio Único, uma competição automóvel de baixo custo que criou com um grupo de alunos e que aproxima os formandos da prática da engenharia me-cânica. «Esta ligação só pode parecer ex-cêntrica para quem não conhece o auto-mobilismo. Através dela, os alunos apren-dem metodologias de trabalho e põem tudo em prática», explica a personalidade desportiva de 2009 da Confederação do Desporto de Portugal (CDP).

A competição, composta por duas cate-gorias e organizada pela FEUP, é reservada a automóveis Fiat Uno e Punto. Se a falta de participantes é uma constante nas pro-vas de velocidade portuguesas, o Desafio

Com o automobilismo também se aprendeO professor José Ferreira Duarte, da FEUP, foi eleito personalidade desportiva de 2009 pela Confederação do Desporto de Portugal. O prémio distinguiu o seu empenho na criação do Desafio Único, uma porta de entrada no mundo do desporto automóvel

texto João Pedro Barros

PÁTIO.DEsPORTO

Único é uma excepção: «Conseguimos ter os paddocks cheios, com alegria. Na última prova do ano passado, em Braga, tínhamos 155 pilotos, mais mecânicos e amigos», lembra o docente. Com alguma contenção, o custo de uma época pode fi-car-se pelo 5.000 euros, garante.

De qualquer forma, não é a componen-te competitiva que mais atrai José Ferreira Duarte, mas sim a formativa. «Senti que o prémio era atribuído a uma forma de dina-mizar e formar pessoas nesta área, mais do que a mim. A organização tem uma equi-pa com 20 pessoas e a nível técnico há seis alunos a trabalhar. A competição é uma boa escola», reforça.

Uma competição criada na FEUP O Desafio Único permite precisamente aos alunos da área de Produção, Desenvolvimento e En-genharia Automóvel, impulsionada pelo professor, meter as «mãos na massa». O desenvolvimento da prova é disso exem-plo: «Tudo nasceu de uma conversa com o ex-aluno Manuel Vieira. Pensámos criar um troféu de baixo custo e, em 2006, um grupo de alunos fez o protótipo e estabe-leceu os regulamentos técnicos e despor-tivos».

«Esta ligação [ao ensino superior] só pode parecer excêntrica para quem não conhece o automobilismo. Através dela, os alunos aprendem metodologia de trabalho e põem tudo em prática»

O número de equipas directamente liga-das às universidades foi diminuindo, con-fessa José Ferreira Duarte. Ainda assim, no ano passado, duas equipas eram totalmen-te constituídas por alunos (ver caixa), e outras duas, num regime pré-profissional, eram assistidas por ex-alunos da faculda-de. ISEP e ISEC (institutos superiores de Engenharia do Porto e de Coimbra) já ti-veram equipas na prova.

José Ferreira Duarte crê que os alunos que escolhem este caminho formativo

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Evoluir a acelerarCristiano Amaro foi um dos pilotos da FEUP Motorsports Division em 2009. Hoje já é ex-aluno da instituição, mas promete continuar a dar uma «mão-zinha» à equipa, que fica a cargo dos finalistas deste ano. Como os motores são selados e as suspensões são iguais para todos, as afinações valem «ouro». «Ao longo de uma época evoluí mui-to, como engenheiro e piloto. Já anda-va em karts, mas nunca tinha feito um campeonato», recorda. Os resultados não foram nada maus: em 71 pilotos classificados, Amaro e o companheiro de equipa João Guimarães atingiram o 13.º lugar da classificação.

«Conseguimos ter os paddocks cheios, com alegria. Na última prova do ano passado, em Braga, tínhamos 155 pilotos, mais mecânicos e amigos»

o fazem porque gostam de automóveis: «Há muita aptidão para a competição au-tomóvel e para a engenharia automóvel, de uma forma mais geral. Temos muito poucas equipas de alto nível, mas bastan-te apetência. Não é por acaso que a maior parte das equipas de Fórmula 1 está em Inglaterra: lá a formação em engenharia automóvel existe há muito tempo. Se os nossos alunos estiverem dispostos a des-locar-se para o estrangeiro, têm a mesma capacidade de alunos de outros países para integrar essas equipas». Por en-quanto, o desafio está dentro de portas. A quarta época daquela que muitos con-sideram ser a mais animada competição motorizada de Portugal tem início em Abril. A toda a velocidade.

«Há muita aptidão para a competição automóvel e para a engenharia automóvel, de uma forma mais geral. Temos muito poucas equipas de alto nível, mas bastante apetência»

José Ferreira Duarte | Há quatro anos a acelerar o desporto no ensino superior

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PÁTIO.bANDAs EsTuDANTIs

É rock da pessada, alternati-vo e intenso. Não brincam ao vivo, nem deixam os créditos por mãos alheias. É serviço limpo e eficaz, como o trigo. São uma banda de concerto que talvez tenha como objec-tivo não deixar ninguém in-diferente. E a idade dos jovens músicos, todos à volta da casa dos vinte, não lhes retira ex-periência. Andam na estrada há muito tempo, primeiro no projecto Party On Feet, agora como Porn Sheep Hospital. O seu som mistura «pode–rosas sequências musicais, em rit-mos frenéticos e complexos». A paisagem sonora que ambi-cionam nasce da fusão entre o Mathcore, o Post-Rock e o Rock Progressivo.

NomeRetirado de um bar em Mosco-vo, justamente chamado Porn

Sheep Hospital

DATA De criAçãoNovembro de 2007, depois do fim do grupo Party On Feet

GéNero Entre o Mathcore, o Post-Rock e o Rock Progressivo

membros DA bANDAGonçalo Duarte, da U-Lusó-fona de Humanidades e Tec-nologias de Lisboa, guitarris-ta, Tiago Martins, da F-Belas Artes da U-Lisboa, baixita, Rui Penim, bateria, e Fran-cisco Caetano, vocalista

iNFluêNciAsStanley Kubrick, Tera Melos, The Mars Volta/ATDI, Meet Me In St. Louis, Meshuggah, Maps & Atlases, The Dillinger Escape Plan, King Crimson, Sonic Vs. Mario, Alessandro Devillart,

MARINA MARqUES

Porn Sheep Hospital

Um grupo de 35 músicos, um festival anual e muitas viagens, por Portugal e pelo Mundo. Eis a Escstunis.

iNsTiTuiçãoES-Comunicação Social do IP-Lisboa

DATA De criAçãoDezembro de 1994. «É uma tuna jovem, tendo em conta as

outras. Nasceu da iniciativa de dois ou três alunos que tinham um maior gosto pela praxe e que pensaram em fundar uma tuna», diz Joana Rodrigues.

coNcerTos memoráveis«Tanto os que fazemos na ES de Comunicação Social (a nossa casa), como os na Aula Magna da U-Lisboa, onde organiza-mos um festival.»

viAGeNsCanadá em 2004 e 2006, a con-vite da Luso-Can Tuna, que or-ganiza o Festival Internacional de Tunas do Canadá, e regular-mente aos Açores e um pouco por todo o país.

FesTivAisO Tuna Mista, de periodicidade anual, chegando, em 2010, à sua 14.ª edição. «Começámos logo no segundo ano de existência. Primeiro o festival era realiza-do na nossa escola e, só depois, quando começamos a ter tunas mais conhecidas e com mais possibilidades, passámos para a Aula Magna», informa Joana Rodrigues. «Normalmente, convidamos cinco tunas mistas ou quatro e uma masculina ou feminina, que no entanto não vai a concurso». No âmbito do festival, são atribuídos prémios para melhor pandeireta, me-lhor estandarte, melhor sere-nata, melhor original, melhor instrumental e melhor solista.

reNovAção«É muito emocionante assis-tir às primeiras actuações dos caloiros. Eles quando vêm são candidatos. Estão uns bons me-ses só a assistir aos ensaios da tuna e a aplaudir. É muito bom vê-los deste lado, depois quan-do passam a caloiros e podem trajar, podem actuar e tocar. É um sinal de renovação e cada vez que isso acontece sentimos um grande orgulho».

eNsAiosNa ESCS, duas vezes por sema-na, às terças e quintas.

Próximo coNcerToNo IV Olé Tunas, o Festival de Tunas Académicas da Ilha Terceira, que se realiza entre 18 a 21 de Fevereiro

síTio oFiciAlwww.escstunis.com

Informações recolhidas por Catarina Ferreira Amaral.

Escstunis

Porn Sheep Hospital | Gonçalo Duarte e Francisco Caetano, em cima,

Rui Penim e Tiago Martins

Miles Davis, Radiohead, Michael C. Hall, entre muitos outros.

DiscoGrAFiAUma demo com vários singles, nomeadamente LSDTV ou Hannus

Próximo coNcerToBar B side, em Benavente, 12 de

Fevereiro, Sex, às 22, depois de uma actuação no IPJ de setubal, a 6 de Fevreiro

síTio oFiciAlwww.myspace.com/porn-sheephospital

Mais fotografias e informações em www.aulamagna.pt

SOFIA MOGAS

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Tu e eu ainda não fizemos de nós mesmos. Haverá tempo para tudo diziase ao longo deste ano (para dar uma noção de duração),fizemos de didascálias numa obra sem personagens.Fomos o verão em forma de melão num quadro de feira,os enfeites de carnaval no funeral do papa,a cadeira eléctrica do pai natal,a pedinte à entrada do metro,a sorte com o seu penteado retro.

Golgona Anghel

Como todos os negócios com direito a um espaço comercial, o nosso afecto ocupava o tempo de antena da primavera,os bancos do cinema King, o lugar estratégico das estrelas, o vazio da web e o mal estar das massas. O nosso amor fazia concorrência aos gelados e outros reguladores naturais do metabolismo.

Como a noite era branca e prudente. Como Paris ficou tão longe, de repente. Rima e soa barato. Mas a literatura tem destas coisas. Disse-o Bataille no livro sobre «a literatura e o mal». Garanto e cito, como sempre, do original.

MARINA MARqUES

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