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Tiragem: 10887 País: Portugal Period.: Diária Âmbito: Regional Pág: 16 Cores: Cor Área: 25,80 x 32,00 cm² Corte: 1 de 3 ID: 65371455 21-07-2016 "Os portugueses quando liderados por outras pessoas e por outras leis produzem muito mais." NÃO SÃO CONHECIDAS POLÍTICAS QUE VISEM PREMIAR O CRESCIMENTO TEMOS IMENSAS LACUNAS XA ELITE POLITICA Entrevista a José Dionísio, CEO da PrimaveraBSS ÉLVIO PASSOS epassos@dnotícias.pt José Dionísio fala ao DIÁRIO so- bre a empresa que criou há mais de 20 anos, que cresce a dois dígitos ao ano, mas também sobre a sua visão quanto ao papel dos empresários e dos políticos no desenvolvimento do País. O CEO da empresa não se coí- be de atribuir responsabilidades a ambos pelo fraco desenvolvimento económico de Portugal. Na Madei- ra, a Primavera tem cerca 500 clien- tes, o que representa 6% do volume de negócios da empresa, que ascen- de aos 21 milhões de euros. Como nasceu a Primavera Business Software Solutions? A Primavera nasceu em 1993, fundada por mim e pelo Jorge Baptista e resultou de uma oportunidade tecnológica, que o foi o início da utilização do Win- dows pelas empresas e o facto de, na altura, não haver software de gestão empresarial a funcionar em Win- dows. Fomos uma startup de 1993, que teve sucesso. Hoje temos 27 mil clientes activos e estamos nos PA- LOP e no Dubai e lideramos estes mercados, excepto em Espanha e no Dubai. Os senhores foram estudantes na Universidade do Minho, mas não cria- ram logo a empresa. Tivemos a felici- dade e a sorte de não criar uma em- presa à saída da Universidade, que era uma coisa muito em voga na al- tura. Essa sorte tem a ver com os percur- sos menos conseguidos dos que o fize- ram? Tivemos colegas que inicia- ram a sua actividade empresarial, sem terem uma dimensão profissio- nal numa empresa e, como tal são projectos que não saem de uma de- terminada dimensão. Os nossos pa- tamares de ambição são muito defi- nidos pela nossa experiência de vida. Nós passamos sete anos na empresa de software de gestão líder na altura. Não teria existido uma Primavera, se a tivéssemos criado à saída da universidade. Qual é a origem do nome Primavera. Não terá sido ao acaso? Não, mas foi a

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Tiragem: 10887

País: Portugal

Period.: Diária

Âmbito: Regional

Pág: 16

Cores: Cor

Área: 25,80 x 32,00 cm²

Corte: 1 de 3ID: 65371455 21-07-2016

"Os portugueses quando liderados por outras pessoas e por outras leis produzem muito mais."

NÃO SÃO CONHECIDAS POLÍTICAS QUE VISEM PREMIAR O CRESCIMENTO

TEMOS IMENSAS

LACUNAS XA ELITE POLITICA

Entrevista a José Dionísio, CEO da PrimaveraBSS

ÉLVIO PASSOS epassos@dnotícias.pt

José Dionísio fala ao DIÁRIO so-bre a empresa que criou há mais de 20 anos, que cresce a dois dígitos ao ano, mas também sobre a sua visão quanto ao papel dos empresários e dos políticos no desenvolvimento do País. O CEO da empresa não se coí-be de atribuir responsabilidades a ambos pelo fraco desenvolvimento económico de Portugal. Na Madei-ra, a Primavera tem cerca 500 clien-

tes, o que representa 6% do volume de negócios da empresa, que ascen-de aos 21 milhões de euros.

Como nasceu a Primavera Business Software Solutions? A Primavera nasceu em 1993, fundada por mim e pelo Jorge Baptista e resultou de uma oportunidade tecnológica, que o foi o início da utilização do Win-dows pelas empresas e o facto de, na altura, não haver software de gestão empresarial a funcionar em Win-dows. Fomos uma startup de 1993, que teve sucesso. Hoje temos 27 mil

clientes activos e estamos nos PA-LOP e no Dubai e lideramos estes mercados, excepto em Espanha e no Dubai.

Os senhores foram estudantes na Universidade do Minho, mas não cria-ram logo a empresa. Tivemos a felici-dade e a sorte de não criar uma em-presa à saída da Universidade, que era uma coisa muito em voga na al-tura.

Essa sorte tem a ver com os percur-sos menos conseguidos dos que o fize-ram? Tivemos colegas que inicia-

ram a sua actividade empresarial, sem terem uma dimensão profissio-nal numa empresa e, como tal são projectos que não saem de uma de-terminada dimensão. Os nossos pa-tamares de ambição são muito defi-nidos pela nossa experiência de vida. Nós passamos sete anos na empresa de software de gestão líder na altura. Não teria existido uma Primavera, se a tivéssemos criado à saída da universidade.

Qual é a origem do nome Primavera. Não terá sido ao acaso? Não, mas foi a

Tiragem: 10887

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terceira opção, na altura, e ainda bem. As duas primeiras marcas não foram permitidas.

Quais foram? Foi Cristal Software e já existia qualquer coisa assim e Edisoft, que ainda existe e não sa-bíamos.

Que sugestão fará a um jovem enge-nheiro, recém-formado, a quem não pode 'dar' emprego? Hoje há uma percentagem elevada de jovens for-mados nesta área que sabe muito bem o que quer para a sua vida. Há muitos que optam por começar com uma experiência internacional. O que diria, se quiser melhor, a um fi-lho meu, é que fosse fazer uma ex-periência internacional primeiro e, depois, se pudesse, voltasse a Portu-gal para contribuir para o País.

Porque é que Portugal não é um País competitivo do ponto de vista da sua produção? Não é porque não temos lideranças com capacidade.

Políticas ou empresariais? Neste caso, as empresariais, mas também temos imensas lacunas na nossa eli-te política. Mas não temos empresá-rios preparados, em quantidade, para fazer com que o nosso tecido empresarial seja produtivo. Os por-tugueses quando liderados por ou-tras pessoas e por outras leis produ-zem muito mais.

As políticas públicas incentivam ao investimento ou necessitamos perma-nentemente de crises para podermos avançar?As políticas públicas pode-riam incentivar muito mais, no sen-tido de Portugal vir a ter um tecido empresarial mais competitivo. Te-mos cerca de 300 mil empresas que contribuem para a economia. Des-tas 90% têm menos do que 5 traba-lhadores. É o resultado de 30 anos de políticas, que visaram a quanti-dade de empresas e não a dimensão das empresas. Não são conhecidas políticas que visem premiar empre-sas que fazem por crescer.

Esta a falar de incentivos fiscais? Sim, sistemas fiscais que premeiem os empresários que têm uma visão de crescimento.

Atendendo ao número de trabalha-dores ou ao volume de negócios, por exemplo? Exactamente. Porque é que uma empresa com cinco traba-lhadores deve pagar a mesma taxa de Segurança Social daquela com dez ou 100 trabalhadores? Porque é que ao passar a fasquia de 250 traba-lhadores ou 50 milhões de euros, em termos de Portugal 2020, deixa de ser apoiada só porque é grande? É frustrante e isso aconteceu con-nosco.

É um incentivo a contratar menos? É um incentivo a não fazer crescer as empresas. Também poderíamos ser premiados fiscalmente pelo crescimento, para fazer com que os empresários queiram crescer, ou in-centivar a que os empresários se queiram juntar. Um tecido de mi-croempresas não tem condições para se internacionalizar e o País precisa da internacionslização para poder crescer em termos económi-cos.

E a nível local. Qual é o papel das au-tarquias? O poder autárquico tem uma enorme oportunidade de con-tribuir para o desenvolvimento das

suas regiões. Conheço muito bem o ecossistema económico de Braga e vê-se muito bem o que uma In-vestBraga e uma StartupBraga estão a fazer pelo tecido económico da Região. O que se fez em dois anos é fantástico, demonstrou-se o poten-cial da região, que estava escondido, e a partir daí, pode mapear para uma Madeira. O potencial da uni-versidade, a vantagem do aeroporto a 25 minutos ou que, naquela região, por exemplo, é muito fácil importar luso-franceses que estão a alimentar `contact centre' que dominam idio-ma francês e temos, por exemplo, uma Fujitsu que tem clientes nessas regiões.

O segredo passa por, ao nível das instituições, que gerem uma cidade ou uma região, falarem entre si. E essa a base de uma qualquer pro-gressão relativamente ao `status quo'.

Regressando um pouco à Primave-ra. Qual é o vosso objectivo, em volume de negócios, que ronda os 21 milhões de euros, a cinco anos? Temos um objectivo, faz parte do ADN da em-presa, ter um crescimento disrupti-vo. Isso tem sido traduzido por um crescimento mínimo de dois dígitos. Mas há um momento, a partir do qual, não é possível crescer sempre acima de 10%. Hoje o crescimento disruptivo é aquele que está signifi-cativamente acima daquele que os nossos concorrentes directos con-seguem.

Consegue indicar um valor para da-qui a cinco anos? No plano estratégi-co para 2016-2018, contamos acabar 2018 com 30 milhões de euros.

Do actual valor consegue dizer qual é quota da Madeira? Creio que está nos 6 ou 7%.

Não é assim tão pequena. É superior ao Dubai ou a Espanha. Sim, no Dubai começámos a um ano e meio. Não tem expressão. Em Espanha temos um projecto resiliente. E um merca-do dificil.

E sobre a Madeira? A Primavera tem aqui cerca de 500 clientes. Es-sencialmente de média e alguns de grande dimensão.

Pode caracterizá-los? Há gru-pos empresariais muito importantes, como o Grupo Sousa e a Afavias. No CINM o Prima-vera é a solução líder.

O CINM inte-ressa de alguma forma à Prima- vera, além da cedência de so- luções informá- ticas? Não. Não é uma va-riável com que a Primavera lide. Mas foi por aí que nos começámos a internacionali-zar, por termos uma solução com tratamento 'multi moeda'. Foi um parceiro nosso que o fez.

UM 'TECIDO DE MICROEMPRESAS NÃO TEM CONDIÇÕES PARA SE INTERNACIONALIZAR

O SEGREDO PASSA POR AS INSTITUIÇÕES, QUE GEREM UMA CIDADE OU UMA REGIÃO, FALAREM ENTRE SI

Qual é o propósito da sua vinda à Madeira? O grande tema que hoje desafia a indústria das tecnologias de informação em geral é a transfor-mação digital. A mensagem que vou passar é que as empresas têm de se modernizar através das tecnologias de informação, os empresários têm de estar atentos. Hoje, num curto espaço de tempo, as empresas per-dem competitividade para alguém que surge do nada.

Sobre os PALOP, calculo que haja um pouco de razões sentimentais para a ida para esses mercados. Quais são as outras, a língua? A questão senti-mental não deixa de ser importante e a ida partiu de lá, para cá. Foi cá numa feira informática. Aqueles que vieram a ser os nossos primei-ros distribuidores, em Angola e de-pois em Moçambique, nos contacta-ram. Para nós foi sentida uma opor-tunidade de um regresso. O Jorge Baptista nasceu em Angola e eu em Moçambique. Angola em especial, nos últimos anos, tem se mostrado uma oportunidade para as empre-sas portuguesas.

Mesmo nos últimos dois? Nos últi-mos dois tem sido um enorme pro-blema.

Isso repercute-se no vosso negócio? Sim porque temos metade do nosso mercado em África. Temos cerca de 4000 clientes de grande e média di-mensão em África.

O desenvolvimento das soluções é feito em Portugal? É feito todo em Braga.

Sei que considera a Primavera uma pequena multinacional. Quando é que deseja ser uma grande multinacional? Uma grande multinacional nem está no âmbito do nosso plano estra-tégico para os próximos três anos. O que está é acedermos a novas geo-grafias através de meios digitais e não com sucursais.

Porque é que no Dubai fizeram ao contrário? Nas empresas nem sem-pre fazemos apenas o que a estraté-gia pré-definida diz. A estratégia é muito impulsionada pelas pessoas. Há muitas empresas que abrem num determinado sítio, porque têm dois excelentes colaboradores que dizem que querem ir abri-la lá.

Aconteceu em Moçambique e aconteceu no Dubai.

Reparei que usam cerca de 25% do vosso volume de negócios em investiga-ção e desenvolvimento. É para não ficarem para trás? Sendo nós uma empresa que tem a di-mensão que tem, esta-mos a concorrer com verdadeiros colossos empresariais, que são os players mundiais e, nos mercados onde es-tamos, concorremos com eles como se todos fôssemos da mesma di-mensão. Há aqui um bocadinho uma batalha de Aljubarrota, em que somos os portugueses e os outros é têm os 40 mil soldados. Não é por isso que a Primavera não ganha a essas multina-

cionais. Ganhamos tanto quanto perdemos.

Nós só somos competitivos se in-vestirmos muito no que são as novas tendências, as novas tecnologias, se surpreendermos os nossos clientes de uma forma permanente. Por isso temos essa percentagem de ID, que, obviamente, gostávamos que fosse menor, em termos percentuais, por-que significava que vendíamos mui-to mais.

É um esforço grande. Sim e por isso é que também temos um grande de-safio comercial de conseguir chegar a novos mercados com esta tecnolo-gia-

E na parte técnica. Como é que con-segue atrair os melhores engenheiros? Não será só com o valor que lhes paga. Não há projectos vencedores se as empresas não forem muito saluta-res, modernas, competitivas a todos os níveis e não só do ponto de vista salarial. Têm de ser competitivas na sua gestão do talento. Temos um grupo que consideramos de exce-lência e temos de tentar que seja ainda mais de excelência.

Mas como consegue atrair os me-lhores? Nós estamos muito ligados à Universidade do Minho que é, por si só, uma fonte de talento muito gran-de, e temos uma framework de tra-balho que começa por começarmos a contactar os jovens engenheiros ainda no quarto ano, tanto da uni-versidade do Porto como na do Mi-nho.

Depois, porque não temos tempo só para ensinar, temos de ir buscar ao mercado pessoas experientes. Essas vêm do Porto, de Lisboa, são cativadas por Braga, também en-quanto cidade. A empresa também tem de ser atractiva para cativar ta-lento. Acho que estamos a um nível muito elevado já.

Sobre projectos sociais. Qual é a vossa actuação? Esta área acaba por ser o segundo grande accionista, para além dos primeiros, os dois, da empresa. Nós ao investirmos cerca de 100 mil euros ano na ajuda, para a nossa dimensão não deixa de ser importante, isso tem significado. Penso que a empresa tem no seu ADN os conceitos de solidariedade muito embebidos e isso é fruto de uma cultura empresarial, tem de ser construído. É das áreas em que as pessoas, que trabalham na em-presa, mais se orgulham de ver a empresa envolvida. A empresa apoia o desporto na região, no que tem a ver com a formação, apoia a cultura, relaciona-se muito com as IPSS. Todos os activos mobiliários -mesas, cadeiras, equipamentos, tudo isso a empresa simplesmente entrega a instituições, que dão enorme valor.

Não é pela lei do Mecenato, para vos passar um recibo? Não. Não. Não. Não. É incrível como uma escola va-loriza uma mesa com quatro cadei-ras. E nos nossos encontros de tra-balhadores, obrigatoriamente há uma manhã dedicada ou a recons-truir a casa dos gaiatos ou a replan-tar florestas... Faz parte. Mas não é nada que a Primavera faça que as empresas que estão no mercado e têm algum sucesso não o façam.

Tiragem: 10887

País: Portugal

Period.: Diária

Âmbito: Regional

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ELITE POLITICA REVELA LACUNAS Constatação é feita pelo fundador da 'Primavera', empresa com 500 clientes na Região P.16 E 17