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Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho- UNESP Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação- FAAC Programa de Pós-graduação em Comunicação Linha de pesquisa: Gestão e políticas da informação e da comunicação midiática SELMA MIRANDA DOS PRAZERES TELEJORNALISMO NA TVD: INTERATIVIDADE E MUDANÇAS NA ROTINA DA REDAÇÃO BAURU 2014

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Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho- UNESP

Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação- FAAC Programa de Pós-graduação em Comunicação

Linha de pesquisa: Gestão e políticas da informação e da comunicação midiática

SELMA MIRANDA DOS PRAZERES

TELEJORNALISMO NA TVD: INTERATIVIDADE E MUDANÇAS NA ROTINA DA REDAÇÃO

BAURU 2014

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SELMA MIRANDA DOS PRAZERES

TELEJORNALISMO NA TVD: INTERATIVIDADE E MUDANÇAS NA ROTINA DA REDAÇÃO

Trabalho de conclusão de Mestrado apresentado ao Programa de Pós-graduação em Comunicação da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação- FAAC, da Universidade Estadual Paulista- UNESP, Campus de Bauru, como requisito final para obtenção do título de Mestre em Comunicação. Orientadora: Profa. Dra. Maria Cristina Gobbi

Bauru 2014

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SELMA MIRANDA DOS PRAZERES

TELEJORNALISMO NA TVD: INTERATIVIDADE E MUDANÇAS NA ROTINA DA REDAÇÃO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Comunicação da Faculdade de

Arquitetura, Artes e Comunicação- FAAC, da Universidade Estadual Paulista- UNESP, como

requisito final para obtenção do título de Mestre em Comunicação.

Área de concentração: Comunicação Midiática

Linha de pesquisa: Gestão e políticas da informação e da comunicação midiática

Banca examinadora

____________________________________ Profa. Dra. Maria Cristina Gobbi

Orientadora Unesp – Bauru

____________________________________ Professor Dr. Juliano Maurício de Carvalho

Unesp- Bauru

____________________________________ Fernando Antonio Crocomo

UFSC

Resultado:

Bauru, 15 de agosto de 2014

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" Certamente a glória do jornalismo é a sua transitoriedade."

Malcolm Muggeridge

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Resumo

Inserido no contexto de digitalização midiática e da convergência, a princípio o

telejornalismo estendeu seu conteúdo para a web, principalmente por meio de sites, visto que

a televisão ainda não se mostrava uma plataforma convergente. Mas, em 2007, o Sistema

Brasileiro de Televisão Digital Terrestre (SBTVD) entrou em operação e novas

possibilidades surgiram para o telejornalismo, com destaque para a interatividade, que a partir

de então poderia ocorrer diretamente pela TV. Assim, o propósito desse trabalho é verificar se

a produção de conteúdos de interatividade para televisão digital altera a rotina de trabalho

dos profissionais de uma redação de telejornal. Sobre os métodos, esse estudo trata-se de uma

pesquisa bibliográfica, que recorreu a autores que estudam o telejornalismo, a convergência

midiática e a televisão digital, e aplicada, pois foi criado um aplicativo interativo para o

telejornal Unesp Notícias, da Televisão Universitária Unesp, e uma plataforma de postagem

de conteúdo para abastecer o aplicativo, programado em Ginga. Depois que o app e a

plataforma foram inseridos no Unesp Notícias, foram realizadas entrevistas em profundidade

com alguns dos jornalistas da redação. Dessa forma, foi possível verificar que o aplicativo

interativo alterou a rotina de trabalho de todos os profissionais do departamento de jornalismo

do Unesp Notícias. A nova demanda de trabalho gerada foi distribuída entre os profissionais

das três áreas da redação: produção, reportagem e edição. Além das funções pertinentes a

cada um dos jornalistas, somam-se agora as atividades ligadas ao app. Não houve a criação de

novos cargos ou novas contratações.

Palavras-chave: Telejornalismo, Televisão Digital, Interatividade, Aplicativo interativo,

Mídias digitais, Convergência.

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Abstract

Placed in the context of digitization and media convergence, the principle the

telejournalism extended its content to the web, mainly through sites, since the TV is not yet

showing a converged platform. But in 2007, the Brazilian Digital Terrestrial Television

(SBTVD) came into operation and new possibilities have emerged to television journalism,

with emphasis on interactivity, which thereafter could occur directly through the TV. Thus,

the purpose of this work is to verify that the production of content for interactive digital

television changes the routine work of a professional writing newscast. On methods, this

study deals with a literature that authors resorted to studying television journalism, media

convergence and digital television, and it is applied because an interactive application was

created for television news Unesp Notícias, of the University TV UNESP and a platform to

post content to supply the application, programmed in Ginga. Once the app and the platform

were inserted into Unesp Notícias, in depth interviews were conducted with some of the

journalists writing. Thus, it was possible to verify that the interactive application changed the

routine work of all professionals in the journalism department of Unesp Notícias. The new

labor demand generated was distributed among the three areas of professional writing:

production, reporting and editing. In addition to each of the relevant functions of journalists,

now add up activities related to the app. There was no creation of new positions or new hires.

Keywords: Telejournalism, Digital TV, Interactivity , Interactive Application , Digital Media,

Convergence .

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 8

2 TELEJORNALISMO E TECNOLOGIAS DIGITAIS 11

2.1 O COMPUTADOR E A INTERNET 11 2.2 MÍDIAS DIGITAIS 13 2.3 DIGITALIZAÇÃO E CONVERGÊNCIA 18 2.4 TELEVISÃO DIGITAL NO BRASIL 22 2.4.1 INTERATIVIDADE NA TVD 27 2.4.2 GINGA 30 2.5 A REDAÇÃO DE UM TELEJORNAL 33 2.6 TELEJORNALISMO EM TEMPOS DE CONVERGÊNCIA 37 2.7 TELEJORNALISMO E INTERATIVIDADE 39

3 DESENVOLVIMENTO DO APLICATIVO INTERATIVO 41

3.1 MÉTODOS E PROCESSOS 41 3.2 TELEVISÃO UNIVERSITÁRIA UNESP (TVU) 42 3.3 UNESP NOTÍCIAS (UN) 43 3.4 DIÁRIO DE BORDO: A PRODUÇÃO DO APLICATIVO INTERATIVO 43 3.5 APLICATIVO E PLATAFORMA DE POSTAGEM PRONTOS PARA SEREM TESTADOS 49

4 PRODUÇÃO INTERATIVA E MUDANÇAS NA ROTINA DA REDAÇÃO 53

4.2 A REDAÇÃO DO UNESP NOTÍCIAS 53 4.3 INSERÇÃO DO APLICATIVO INTERATIVO 55 4.3.1 MUDANÇAS NA ROTINA DE TRABALHO: QUEM FEZ O QUÊ 58

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 62

REFERÊNCIAS 65

APÊNDICES 68

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1 INTRODUÇÃO

Com a ampliação do uso das mídias computacionais e da internet a partir dos anos

1990, muitos usuários desenvolveram uma postura mais ativa diante dos dispositivos de

comunicação. A participação, a colaboração e a interatividade, possibilitadas pela apropriação

das mídias digitais com internet, se tornaram características de uma era midiática digital, de

um novo período de produção midiática. A tecnologia digital (aquilo que se pode mostrar a

partir do código binário zero e um e que permite a conversão de conteúdos de uma mídia para

outra) possibilitou a criação de novas mídias e a modernização das já existentes.

Na internet o usuário escolhe por onde ele quer navegar, quando e qual conteúdo

deseja acessar. Essa relação mais autônoma do usuário na internet estimulou de, certa

forma, os tradicionais meios de comunicação a se envolverem nessa lógica de participação e

diálogo com seu público. Dai o processo de digitalização das mídias, quando os meios de

comunicação migraram para a internet ou estão se tornando exclusivamente digitais: as

informações agora são captadas e transmitidas na forma digital. O desenvolvimento de novas

mídias digitais e o processo de digitalização dos tradicionais meios de comunicação

resultaram no fenômeno da convergência, que além de midiática, por permitir o fluxo de

conteúdo por diferentes meios, é também cultural, visto que os usuários têm desenvolvido um

novo comportamento diante das mídias.

Parte desse atual cenário midiático, o telejornalismo tem buscado diferentes maneiras

de se aproximar do seu público. Nos dias de hoje, é frequente que os telejornais tenham um

site que permite ao telespectador enviar conteúdos em foto e vídeo, participar de enquetes,

conversar com especialistas etc. Outra forma de aproximação entre os telejornais e seu

público acontece pelas redes sociais. Grande parte deles estão no Facebook e Twitter por meio

de páginas oficiais.

A televisão, principal meio de comunicação do século XX, e já não tão hegemônica

como outrora, está também se modernizando e se inserindo no contexto das inovações

tecnológicas possibilitadas pelo digital- em 2007 ocorreu a primeira transmissão do sinal

digital de televisão. O Sistema Brasileiro de Televisão Digital Terrestre (SBTVD-T) permite,

entre outras possibilidades, que por meio do middleware Ginga o usuário possa interagir

diretamente pelo televisor. Para os telejornais, essa ferramenta representa um novo modo de

aproximação com seus telespectadores.

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As mudanças tecnológicas trouxeram, e ainda trazem, consequências para os

profissionais do jornalismo que atuam nas redações televisivas. Além do conteúdo próprio

para o telejornal, tornou-se necessário produzir também para o site, redes sociais, e em alguns

casos, para aplicativos de televisão e de dispositivos móveis. Na era midiática digital, há uma

demanda muito maior por conteúdo e interação. Os profissionais do telejornalismo devem

estar a par das mudanças e cientes de que novas exigências serão feitas, já que hoje é preciso

produzir textos em diferentes linguagens para as diferentes plataformas e mídias.

Em vista do cenário exposto acima, levantamos um problema de pesquisa: a

produção de conteúdos de interatividade para televisão digital altera a rotina de trabalho dos

profissionais de jornalismo de uma redação de telejornal? Consideramos como hipóteses que

a inserção de interatividade em uma redação de telejornal pode causar mudanças na rotina de

produção dos jornalistas; que a produção de interatividade deve modificar a forma de

elaboração da pauta; que um aplicativo interativo para um telejornal, baseado em informações

de serviço, permite ao telespectador acessar informações úteis pela televisão sem precisar

recorrer a outros dispositivos, como smartphones e tablets; e que a produção de um aplicativo

interativo exige a participação de uma equipe integrada, pois é necessário que se pense no

conteúdo, na usabilidade e na programação do mesmo.

O principal objetivo desse estudo foi mostrar se a inserção de interatividade em uma

redação de telejornal pode provocar mudanças na rotina de atividades diárias dos jornalistas

de um telejornal. Pretendeu-se ainda verificar se a produção de interatividade modifica a

forma de elaboração da pauta.

Para chegar ao seu propósito, essa pesquisa foi inicialmente bibliográfica, uma vez que

foi importante conhecer o estado da arte no que tange às tecnologias digitais e à televisão

digital (TVD) no Brasil. Igualmente importante foi entender conceitos como convergência e

interatividade. Depois, este estudo se tornou aplicado, pois, objetivando comprovar ou não as

hipóteses levantadas, foi desenvolvido um aplicativo (app) interativo programado em Ginga

para televisão digital. O app foi elaborado, em partes, com a infraestrutura técnica e humana

da TVU, Televisão Universitária Unesp, para o telejornal “Unesp Notícias” (UN), também da

TVU. O conteúdo do aplicativo é voltado para informações adicionais de serviço (como

endereços, telefones e sites) e pode ser acessado diretamente pela televisão. Foi criada

também uma plataforma de postagem de conteúdo, utilizada posteriormente pelos jornalistas

para abastecer o aplicativo. Depois do app e da plataforma serem finalizados e inseridos no

telejornal Unesp Notícias, foram realizadas entrevistas em profundidade com alguns dos

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jornalistas que compõem a redação do UN. O objetivo foi verificar se o app causou as

alterações na rotina de trabalho dos profissionais e quais foram elas.

Para demostrar a revisão teórica, as etapas de desenvolvimento do app e sua inserção

na redação do Unesp Notícias, dividimos este trabalho em cinco partes. No capítulo

“Telejornalismo e tecnologias digitais”, apresentamos o atual contexto que envolve hoje o

telejornalismo no Brasil, tempos de digitalização midiática e convergência. Discutimos

também a TVD no Brasil e alguns de seus desafios e conceitos como o de interatividade.

Reconhecendo as limitações tecnológicas e as características inerentes ao meio televisivo,

entendemos a interatividade como uma ferramenta tecnológica que possibilita desde o acesso

a recursos adicionais diretamente pela TV, até uma interferência mais direta em um programa.

No capítulo três, “Desenvolvimento do aplicativo interativo”, mostramos, por meio de um

breve diário de bordo, como foi o processo de criação do aplicativo para o telejornal Unesp

Notícias- desde o primeiro esboço até a interface do produto concluída. Finalmente, no

capítulo quatro, “Produção interativa e mudanças na rotina da redação” relatamos a inserção

do app no telejornal, como ele foi modificado após duas semanas de testes, como a demanda

de trabalho gerada pelo app foi distribuída entre os profissionais de jornalismo e por fim as

possíveis alterações que o app causou na rotina de trabalho de cada um dos profissionais.

Mesmo com a crescente utilização das novas mídias digitais como forma de acesso à

informação no Brasil, 89% da população tem o hábito de se informar sobre o que acontece no

país pela televisão, o que torna a TV o meio de comunicação mais utilizado para a busca de

informações sobre o país1. E o principal produto que a televisão disponibiliza como fonte de

informação são os telejornais. Assim, diante do atual cenário de convergência e ampliação do

uso da internet pelos brasileiros, tornam-se essenciais estudos voltados para a compreensão

desse momento e as perspectivas que esse traz para o telejornalismo.

1 TV é o meio mais utilizado pelos brasileiros para se informarem, aponta pesquisa do IBOPE Inteligência. IBOPE, 17 mar. 2014. Disponível em: <http://www.ibope.com.br/pt-br/noticias/Paginas/TV-e-o-meio-mais-utilizado-pelos-brasileiros-para-se-informarem-aponta-pesquisa-do-IBOPE-Inteligencia.aspx>. Acesso em: 20 mar. 2014.

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2 TELEJORNALISMO E TECNOLOGIAS DIGITAIS

2.1 O computador e a internet

Duas inovações tecnológicas modificaram a forma das pessoas se comunicarem, o

computador e a internet. Ainda no século XIX, o inglês Charles Babbage projetou uma

máquina a vapor para calcular raízes quadradas, cúbicas e outras funções exponenciais2. Por

esse feito antes mesmo da era eletrônica, Babbage é conhecido como o pai do computador. Na

década de 1880, o americano Herman Hollerith trabalhava como agente especial do censo e

notou como o processo de contagem dos dados era lento. Por isso, ele criou um método de

codificar informações em cartões perfurados. Essa sua invenção reduziu de cinco para dois

anos o tempo de contagem dos votos do censo e foi considerada o primeiro processador de

dados do mundo. Hollerith se tornou o principal impulsionador do leitor de cartões

perfurados, instrumento fundamental para a entrada de informação para os computadores da

época. Ele foi também um dos fundadores da IBM3, precursor do processamento de dados.

Já o primeiro computador moderno foi resultado de experimentos realizados nas

décadas de 1930 e 1940 nos Estados Unidos, Alemanha e Inglaterra: o Eletronic Numerical

Integrator and Computer4 ou ENIAC, foi desenvolvido por dois cientistas norte-americanos,

John W. Mauchly e J. Prester Eckert J., da Universidade da Pensilvânia. A ideia era que o

computador efetuasse cálculos balísticos para o Exército dos Estados Unidos, que estava

envolvido com a Segunda Guerra Mundial5. Construído com válvulas eletrônicas em 1946, o

ENIAC se tornou o mais conhecido dos primeiros computadores6. Mas foi só no dia 12 de

agosto de 1981 que nasceu o personal computer (ZILVETTI, 2001), o PC ou computador

pessoal, popularizado pela IBM. O conceito de computador pessoal já existia antes de 1981,

mas devido ao grande sucesso do IBM PC, o termo passou a significar especificamente o

computador pessoal produzido por essa empresa.

A internet, por usa vez, surgiu devido ao receio do governo norte-americano de ter

seu esquema de comunicação invadido pela União Soviética. Assim, em 1958, foi criada nos

Estados Unidos a Agência de Projetos de Pesquisa Avançada (ARPA), com objetivo de

2 ABRIL COLEÇÕES E TIME LIFE. Ciência e natureza: a era do computador. Abril, 2006 (Ciência e Natureza). 3 A Internacional Business Machines (IBM) é uma empresa fundada em 1888 no Estados Unidos que desenvolve tecnologias informáticas. 4 Em português, “Computador e Integrador Numérico Eletrônico”. 5 No dia da informática, relembre a história do computador. Olhar Digital, 15 agos. 2013. Disponível em: <http://olhardigital.uol.com.br/noticia/36754/36754>. Acesso em: 10 fev. 2014. 6 Ibidem ref. 2.

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buscar tecnologias que não centralizassem o processamento de dados (OLIVEIRA, 2011). A

ARPA fazia parte do Departamento de Defesa dos Estados Unidos (DARPA). Na década de

1960 os pesquisadores da ARPA deram início a um projeto que impedisse a tomada do

sistema de comunicação norte-americano pelos soviéticos, em caso de guerra nuclear. O

resultado desse projeto foi a criação de uma rede, que não podia ser controlada a partir de

nenhum ponto e que era formada por milhares de redes de computadores7 independentes,

com diversas formas de conexão.

Dessa forma surgiu a ARPANET (Advanced Research Projects Agency Network), a

primeira rede de computadores, que entrou em funcionamento em setembro de 1969

(CASTELLS, 1999). A partir de então, essa rede se difundiu e foi apropriada por diversos

países e indivíduos, cada qual com sua finalidade. Mas o processo de popularização da

internet começou a partir da década de 1990, quando o pesquisador britânico Timothy

Berners-Lee e Robert Cailliau criaram a linguagem global do hipertexto (HyperText Transfer

Protocol, Protocolo de Transferência de Hipertexto -HTTP) e elaboraram o primeiro

navegador de rede em outubro de 19908. Esse protocolo foi essencial para distribuir

informações pela internet e para que essa distribuição fosse possível, foi necessário criar uma

forma padronizada de comunicação entre os clientes e os servidores da web e entendida por

todos os computadores ligados à internet9. O HTTP permitiu que fosse criada no dia seis de

agosto de 199110 a World Wide Web, Rede de Alcançe Mundial, que organizava os sites da

internet por informação e possibilitava que os usuários encontrassem os conteúdos por eles

pesquisados (CASTELLS, 1999). Passados 22 anos da criação da WWW, segundo a

Pingdom11, em 2012 o número de usuários de internet no mundo alcançou 2,4 bilhões12.

No Brasil, em 1989, o Ministério de Ciência e Tecnologia criou a Rede Nacional de

Ensino e Pesquisa (RNP) com o objetivo de implementar o primeiro backbone13 nacional,

difundir a tecnologia internet e capacitar recursos humanos na área de redes14. Neste primeiro

7 O 1° computador é de 1941, o Z3, o primeiro computador programável do mundo, desenvolvido em Berlim, na Alemanha, por Konrad Zuse. (OLIVEIRA, 2011). 8 Criação da WWW completa 20 anos. G1, 13 mar. 2009. Disponível em: < http://g1.globo.com/Noticias/Tecnologia/0,MUL1041775-6174,00-PROPOSTA+DE+CRIACAO+DA+WORLD+WIDE+WEB+COMPLETA+ANOS.html>Acesso em: fev. 2011. 9 Hypertext Transfer Protocol. Wikipédia. Disponível em: < http://pt.wikipedia.org/wiki/Hypertext_Transfer_Protocol>. Acesso em: mar.2011. 10 World Wide Web, ou www, completa 22 anos nesta terça-feira. IBOPE, 6 ago. 2013. Disponível em: <http://www.ibope.com.br/pt-br/noticias/Paginas/World-Wide-Web-ou-www-completa-22-anos-nesta-terca-feira.aspx>. Acesso em: 14 ago. 2013. 11 Pingdom é um site e empresa de monitoramento da internet, sua sede fica na Suécia. 12 Internet 2012 in numbers. Pingdom, 16 jan. 2013. Disponível em: < http://royal.pingdom.com/2013/01/16/internet-2012-in-numbers/ > Acesso em: 14 ago. 2013. 13 Traduzido do inglês: espinha dorsal. É a espinha dorsal da internet , termo utilizado para identificar a rede principal pela qual os dados de todos os clientes da Internet passam. 14 A RNP e a história da internet brasileira. RNP, 01 mar. 2002. Disponível em:

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momento, a internet tinha acesso limitado ao meio acadêmico e científico. Mas, em 31 de

maio de 1995, o Ministério das Comunicações e o Ministério de Ciência e Tecnologia criaram

por meio da Portaria Interministerial nº 14715, o Comitê Gestor da Internet no Brasil

(CGI.br), com a atribuição de coordenar e integrar as iniciativas de serviços de internet no

país, e assim promover a qualidade técnica, a inovação e a disseminação dos serviços

ofertados16.

Com a ampliação do uso do computador pessoal e da internet, a comunicação

midiática entre pessoas se expandiu de forma significativa. Com esse novo impulso, os

demais meios de comunicação passaram por modificações técnológicas ocorridas pela nova

perspectiva que o acesso ao computador e à internet traziam para os usuários, e uma lógica

comunicativa de mais participação e interatividade tornou-se circunstância relevante para os

meios. No Brasil, partir dos anos 2000 principalmente, os dispositivos comunicacionais

existentes foram aperfeiçoados e outros foram criados, cada vez mais portáteis e móveis.

2.2 Mídias digitais

Ao longo da primeira década do século XXI, os dispositivos habilitados para receber

internet foram se tornando cada vez mais móveis e menores. Muitas pessoas trocaram o

tradicional computador de mesa (desktop), com todos aqueles cabos e acessórios, pelos

laptop (ou netbooks), mais leves e com a possibilidade de serem facilmente transportados.

Mas, ambos vêm dividindo espaço agora, principalmente, com os smartphones e tablets.

“O desenvolvimento tecnológico dos últimos 30 anos transformou os celulares, que

no início da década de 90 eram apelidados de ‘tijolões’, em aparelhos pequenos, leves e

dinâmicos”17 e hoje eles são, em grande parte, os responsáveis pela intensa conexão dos

usuários à internet. Segundo a Anatel, Agência Nacional de Telecomunicações, o Brasil

fechou fevereiro de 2014 com 272,72 milhões de linhas ativas na telefonia móvel, o que

indica que há mais de uma linha por habitante18. De simples celulares, eles se transformaram

< http://www.rnp.br/noticias/imprensa/2002/not-imp-marco2002.html > Acesso em: mai. 2011. 15 História do CGI.Br. CGI.Br. Disponível em: <http://www.cgi.br/historicos/#1995>. Acesso em: 15 abr. 2014. 16 História da Internet no Brasil. Wikipédia. Disponível em: < http://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_da_Internet_no_Brasil> Acesso em: maio 2011. 17 IBOPE MEDIA. Smartphones se transformam em extensão dos sentidos. IBOPE, 24 abr. 2013. Disponível em: <http://www.ibope.com.br/pt-br/noticias/Paginas/Smartphones-se-transformam-em-extensao-dos-sentidos.aspx>. Acesso em: 02 jun. 2013. 18 Brasil fecha fevereiro de 2014 com 272,72 milhões de acessos móveis. Anatel, 27 mar. 2014. Disponível em: <http://www.anatel.gov.br/Portal/exibirPortalInternet.do> Acesso em: 31 mar. 2014.

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em smartphones19

, telefones inteligentes, pois, além de seu propósito básico, colocar pessoas

em contato , eles têm diversos outros recursos, como tirar fotos, fazer vídeos, acessar à

internet via wireless ou pelas redes 3G ou 4G. Outro atrativo dos smartphones são os

aplicativos, ferramentas úteis, como jogos, previsão do tempo, que podem ser baixados

nesses celulares e acessados de forma mais fácil por seus utilizadores. Esses telefones móveis

estão cada vez mais acessíveis e seu uso tem sido intensificado pela possibilidade de acesso à

internet.

O tablet é outro dispositivo que vem ganhado espaço entre os usuários de mídias, que

por vezes optam por substituir o “tradicional” laptop pelo tablet. Esse aparelho, no formato

que conhecemos hoje, foi lançado em 1989 pela empresa GriD Systems, foi chamado de

GriDPad Pen Computer e pesava pouco mais de dois quilos20. Mas a popularização do

conceito tablet veio mesmo em janeiro de 2010, quando Steve Jobs lançou o iPad, o tablet

produzido pela Apple. O tablet é um dispositivo de comunicação pessoal móvel e portátil em

forma de prancheta que possibilita conexão à internet, baixar aplicativos, ler e-books (os

tablets têm um tamanho mais adequado para isso que os smartphones) e assistir vídeos e

filmes.

A comprovação da crescente importância dessas novas mídias digitais pode ser

observada pelas pesquisas que avaliam a penetração desses aparelhos no mercado. Segundo a

IDC21, Internacional Data Corporation , a venda de PCs (desktops e laptops) caiu 14% em

todo o mundo nos primeiros três meses de 2013. Essa foi a pior queda desde que a empresa

começou a acompanhar o mercado consumidor, em 199422. Uma projeção realizada pela IDC

aponta que a venda de tablets vai superar a de desktops e a de laptops em 2014, quando 190

milhões de tablets devem ser comercializados23. Sobre os smartphones, um levantamento

divulgado pelo laboratório de pesquisa da Ericsson mostra que eles estão causando um

aumento do uso da internet no celular e uma queda no uso dos laptops24

. Outro estudo da

19 O smartphone é dos tipos de celulares existentes hoje. Destacamos especialmente o smartphone por seu notável crescimento e uso no Brasil. O Iphone, criado pela Apple, também é um smartphone, e seu sistema operacional é iOS. 20 BLANC, Antonio. Conheça a história de quase meio século dos tablets. Terra, 03 fev. 2010. Disponível em: <http://tecnologia.terra.com.br/hardware-e-software/conheca-a-historia-de-quase-meio-seculo-dos-tablets,9c08fc67b84ea310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html>. Acesso em: 16 ago. 2013. 21 A IDC é uma provedora global de inteligência de mercado, serviços de consultoria e eventos para as indústrias de tecnologia da Informação e telecomunicações. 22 Vendas de PCs têm queda quase duas vezes maior do que o esperado. UOL, 11 abr. 2013. Disponível em: <http://adrenaline.uol.com.br/tecnologia/noticias/16348/vendas-de-pcs-tem-queda-quase-duas-vezes-maior-do-que-o-esperado.html>. Acesso em: 16 agos. 2013. 23 Tablets devem superar laptops em 2014; venda de eletrônicos conectados soma 1,2 bilhão ao ano. UOL, 27 mar. 2013. Disponível em: <http://tecnologia.uol.com.br/noticias/redacao/2013/03/27/tablets-devem-superar-laptops-em-2014-venda-de-eletronicos-conectados-chega-a-12-bilhao-ao-ano.htm>. Acesso em: 16 ago. 2013. 24 RONCOLATO, Murilo. Smartphone reduz uso de notebook. Blog Estadão, 11 fev. 2011. Disponível em: <http://blogs.estadao.com.br/link/smartphone-reduz-uso-de-notebook/>. Acesso em: 16 ago. 2013.

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IDC aponta que no segundo trimestre de 2013 foram vendidos 8 milhões de smartphones no

Brasil, número 110% superior em relação ao mesmo período do ano anterior25. Atualmente, o

Brasil é o quarto país do mundo em número de smartphones (70 milhões de aparelhos), atrás

da China, Estados Unidos e Japão26. Um balanço de 2013 mostra que as vendas de tablets e

smartphones cresceram 142% e 122%27, respectivamente.

Já segundo pesquisa do IBOPE28 divulgada em maio de 2013, 134 milhões de pessoas,

com 10 anos e mais, têm um telefone móvel no Brasil. Destas, 52 milhões têm acesso à

internet pelo celular. A conexão na web por dispositivos móveis vem se consolidando na

rotina dos brasileiros. Segundo essa pesquisa29, informação e socialização são os principais

usos que os brasileiros fazem com seus smartphones. Dentre as atividades realizadas

destacam-se: conversar com os amigos (76%), ler e enviar e-mails (75%), ler as últimas

notícias (64%) e saber novidades do cenário musical (47%). A pesquisa ainda aponta que um

em cada dois internautas acessa a web pelo celular. Outro dado mostra que 45% dos usuários

usam o smartphone antes de dormir e 29% o utilizam assim que acordam30. Outro destaque é

o tempo de utilização dos dispositivos móveis pelos brasileiros:

Dispositivo móvel Média diária de uso no Brasil Média diária de uso em outros países

Celular 59 minutos 42 minutos

Smartphone 84 minutos 74 minutos

Tablet 79 minutos 71 minutos

E-reader 63 minutos 54 minutos

QUADRO 1- Utilização de dispositivos móveis em 2012 Fonte: Elaboração nossa com dados do IBOPE Inteligência e Win31

25 Vendas de smartphones no Brasil disparam 110% em um ano. Olhar Digital, 28 ago. 2013. Disponível em: <http://olhardigital.uol.com.br/pro/noticia/37111/37111> Acesso em: 31 mar. 2014. 26 GUIMARÃES, Saulo Pereira. Brasil é o quarto país do mundo em número de smartphones. EXAME, 29 maio 2013. Disponível em: <http://exame.abril.com.br/tecnologia/noticias/brasil-e-o-quarto-pais-do-mundo-em-numero-de-smartphones>. Acesso em 21 ago. 2013. 27 Vendas de smartphones e tablets crescem mais que 100% em 2013. Folha de S. Paulo, 01 jan. 2014. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2014/01/1391973-vendas-de-smartphones-e-tablets-cresceram-mais-que-100-em-2013.shtml > Acesso em 31 mar. 2014. 28 O IBOPE- Instituto Brasileiro de Opinião e Estatística- é uma multinacional brasileira de pesquisas de opinião e estudos de mercado. 29 IBOPE MEDIA. 52 milhões de pessoas têm acesso à web pelo celular, aponta IBOPE Media. IBOPE, 09 maio 2013. Disponível em:< http://www.ibope.com.br/pt-br/noticias/Paginas/52-milhoes-de-pessoas-tem-acesso-a-web-pelo-celular-aponta-IBOPE-Media.aspx>. Acesso em: 02 jun. 2013. 30 IBOPE MEDIA. Smartphones se transformam em extensão dos sentidos. IBOPE, 24 abr. 2013. Disponível em: <http://www.ibope.com.br/pt-br/noticias/Paginas/Smartphones-se-transformam-em-extensao-dos-sentidos.aspx>. Acesso em: 02 jun. 2013. 31 IBOPE INTELIGÊNCIA E WIN. Penetração de smartphones duplica em um ano. IBOPE, 22 abr. 2013. Disponível em: <http://www.ibope.com.br/pt-br/noticias/Paginas/Penetracao-de-smartphone-duplica-em-um-ano.aspx>. Acesso em: 02 jun. 2013.

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16

Como pode ser observado no quadro 1, o tempo de utilização de dispositivos móveis pelos

brasileiros é maior que o de outros países, sobretudo o uso diário de celulares e smartphones.

Os dados foram extraídos de pesquisa realizada pelo IBOPE Inteligência entre 21 de

novembro e 7 de dezembro de 2012 com mil internautas brasileiros acima de 16 anos. No

mundo, foi realizada em 54 países.

Uma das razões que explica esse tempo dos brasileiros na internet é o acesso às redes

sociais. “As redes sociais na internet são um avanço das antigas comunidades virtuais, ou seja,

caracterizam-se por pessoas interagindo em determinada ambiência com interesses comuns,

compartilhando objetivos, ações, ideias” (SPC, 2012, p. 105). De acordo com dados do

IBOPE Media, divulgados em janeiro de 2013, as páginas das redes sociais e outras agrupadas

na subcategoria comunidades (que incluem também blog, microblogs e fóruns) atingiram 46

milhões de usuários, o equivalente a 86% dos internautas ativos da internet no período32.

Ainda no primeiro mês de 2013, os internautas brasileiros passaram em média 10 horas e 26

minutos em redes sociais. Esse número representa um crescimento de 13,5% se comparado

com o mesmo período em 201233.

O brasileiro gasta boa parte do seu tempo de navegação na web na rede social criada

por Mark Zuckerberg em 2004. Em 2012, o Brasil foi o país que mais cresceu em número de

usuários do Facebook, quando 29,7 milhões de novos usuários passaram a acessar a rede

social, e naquela ocasião tornou-se o segundo país do mundo em número de perfis34. Já no

final de 2013, os Estados Unidos se tornaram o país com o maior número de usuários (146,8

milhões), seguido por Índia (84,9 milhões), Brasil (61,2 milhões) e Indonésia (60,5

milhões)35. Com relação ao Twitter, microblog criado em 2006, o Brasil é o segundo país

com maior número de usuários. São mais de 33 milhões de brasileiros que possuem conta no

microblog, atrás apenas dos Estados Unidos, que têm cerca de 108 milhões de usuários36.

Mas, a presença de usuários nas redes sociais não significa exatamente que eles estejam

postando conteúdo ou utilizando os recursos disponíveis. Muitos acessam o Facebook várias

32 IBOPE MEDIA. Número de usuários das redes sociais ultrapassa 46 milhões de brasileiros. IBOPE, 26 mar. 2013. Disponível em: <http://www.ibope.com.br/pt-br/noticias/Paginas/Numero-de-usuarios-de-redes-sociais-ultrapassa-46-milhoes-de-brasileiros.aspx>. Acesso em: 04 jun. 2013. 33 IBOPE MEDIA. Internauta gasta em média 10 horas e 26 minutos em redes sociais. IBOPE, 19 fev. 2013. Disponível em: <http://www.ibope.com.br/pt-br/noticias/Paginas/Internauta-gasta-em-media-10-horas-e-26-minutos-em-redes-sociais.aspx>. Acesso em: 03 jun. 2013. 34 CONGO, Mariana. Um terço dos brasileiros tem Facebook: país se torna o 2º em número de usuários. O Estado de S. Paulo. 23 jan. 2013. Disponível em:< http://blogs.estadao.com.br/radar-tecnologico/2013/01/23/um-terco-dos-brasileiros-tem-facebook-pais-se-torna-o-2o-em-numero-de-usuarios/>. Acesso em: 03 jun. 2013. 35 Facebook tem 1,23 bilhão de usuários mundiais; 61,2 milhões são do Brasil. UOL Tecnologia, 03 fev. 2014. Disponível em: <http://tecnologia.uol.com.br/noticias/afp/2014/02/03/facebook-em-numeros.htm>. Acesso em: 20 maio 2014. 36 Twitter chega aos 7 anos com 40% de usuários que não tuitam. BBC Brasil, 22 mar. 2013. Disponível em: <http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2013/03/130322_twitter_contas_inativas_rw.shtml>. Acesso em: 03 jun. 2013.

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vezes ao dia, mas para acompanhar o que os amigos estão postando; dos 200 milhões de

usuários do Twitter no mundo, 40% não escrevem mensagens, conhecidas como tuítes37.

Seja por meio dos celulares, pelos laptops ou desktops, o brasileiro está acessando

mais a internet:

GRÁFICO 1- Evolução do número de pessoas com acesso à internet em qualquer ambiente, em milhões – Brasil – 3º trimestre de 2012 a 1º trimestre de 2013 Pessoas de 16 anos ou mais de idade com acesso em qualquer ambiente e pessoas de 2 a 15 anos com acesso em domicílios. Fonte: IBOPE Media38

O Gráfico 1 mostra que o número de pessoas com acesso à internet no Brasil nos primeiros

três meses de 2013 chegou a 102,3 milhões39, um crescimento de 9% sobre os 94, 2 milhões

divulgados pelo IBOPE Media no terceiro trimestre de 2012. O acesso no local de trabalho ou

em domicílios chegou a 76,6 milhões no segundo trimestre de 2013, o que representou um

aumento de 5,3% sobre os 72,7 milhões do primeiro trimestre de 2013 e de 12,6% em relação

aos 68 milhões do segundo trimestre de 2012. Já o número de pessoas que moram em

residências com acesso à rede foi de 73,7 milhões no segundo trimestre de 2013.

37 IBOPE INTELIGÊNCIA E WIN. Penetração de smartphones duplica em um ano. IBOPE, 22 abr. 2013. Disponível em: <http://www.ibope.com.br/pt-br/noticias/Paginas/Penetracao-de-smartphone-duplica-em-um-ano.aspx>. Acesso em: 02 jun. 2013. 38 IBOPE MEDIA. Número de pessoas com acesso à internet passa de 100 milhões. IBOPE, 10 jul. 2013. Disponível em: <http://www.ibope.com.br/pt-br/relacionamento/imprensa/releases/Paginas/Numero-de-pessoas-com-acesso-a-internet-passa-de-100-milhoes.aspx>. Acesso em: 19 ago. 2013. 39 IBOPE MEDIA. Número de pessoas com acesso à internet passa de 100 milhões. IBOPE, 10 jul. 2013. Disponível em: <http://www.ibope.com.br/pt-br/relacionamento/imprensa/releases/Paginas/Numero-de-pessoas-com-acesso-a-internet-passa-de-100-milhoes.aspx>. Acesso em: 19 ago. 2013.

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18

Com a expansão do uso das mídias computacionais com internet e das possibilidades

permitidas por essas mídias, muitos usuários desenvolveram uma postura mais participativa

diante dos meios de comunicação.

2.3 Digitalização e convergência

A participação, colaboração e a interatividade, possibilitadas pela apropriação das

mídias digitais com internet, se tornaram características de uma era midiática digital. Na

internet o usuário escolhe por onde quer navegar, quando e qual conteúdo deseja acessar.

Essa relação mais autônoma do usuário na web estimulou os tradicionais meios de

comunicação a se envolverem e a se adaptarem a essa lógica de participação e diálogo com

seu público. Dai o processo de digitalização das mídias, quando os meios de comunicação

migraram para a internet e passaram a existir simultâneamente na web e no espaço físico, ou

eles se tornaram exclusivamente digitais: as informações agora são captadas e transmitidas na

forma digital. “A digitalização dos conteúdos é a sua ‘desmaterialização’, ou seja, não se trata

mais de átomos (matéria), e sim da linguagem binária de zeros e um [...] que vão se

combinando em bits e bytes em diferentes cores, formatos, representações” (SPC, 2012, p.

13).

Grande parte dos veículos de comunicação impressos ganharam versões online ou se

tornaram somente digitais, como foi o caso do Jornal do Brasil, que após sucessivas quedas

nas vendas de seu formato impresso, tornou-se exclusivamente digital a partir de 1° de

setembro de 2010 e passou a se autoentitular “o primeiro jornal 100% digital do país”.

Muitas rádios passaram a transmitir sua programação também via internet. Já a televisão,

desde que chegou ao Brasil em 1950, se consolidou como grande meio de comunicação, a

partir de uma lógica de comunicação de um para muitos. A participação/ interação do

telespectador com a emissora acontecia por meio do telefone, mensagens de texto ou mesmo

por carta. Como afirma Klein (2012, p. 97), “Antes das mídias digitais, o processo de entrar

em contato com um meio de comunicação era mais lento, e talvez, mais restrito”. Mas essa

lógica comunicativa foi se alterando ao longo dos anos 1990 e 2000, pois a internet

possibilitou uma relação mais direta entre os usuários e e as emissoras de TV. Como afirma

González (2009, p. 169), “Ahora, el emisor es también moderador; el mensaje es interactivo;

la audiencia es activa y dialoga con mensajes, emisores, personajes de actualidad y las

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audiencias [...]”40. E a televisão está agora em pleno processo de digitalização, com a

implantação, aos poucos, do sinal da TVD (televisão digital).

O surgimento de novas mídias digitais e o processo de digitalização dos tradicionais

meios de comunicação possibilitaram a ocorrência do fenômeno da convergência. Henry

Jenkins esclarece o termo ao afirmar que:

[...] a convergência representa uma mudança de paradigma- um deslocamento de conteúdo de mídia específico em direção a um conteúdo que flui por vários canais, em direção a uma elevada interdependência de sistemas de comunicação, em direção a múltiplos modos de acesso a conteúdos de mídia e em direção a relações cada vez mais complexas entre a mídia corporativa, de cima para baixo, e a cultura participativa, de baixo para cima (JENKINS, 2009, p. 325).

A convergência midiática foi possível, como explica Mattos (2013, p. 54), “[...] graças

ao desenvolvimento da Internet e da digitalização dos conteúdos de áudio, vídeo e texto. Por

meio da Internet pode-se transportar, armazenar e redistribuir produtos audiovisuais [...]”.

Entretanto, o fenômeno da convergência não acontece somente pelo fluxo de conteúdos pelas

mídias digitais. Além de midiática, a convergência é também cultural: “[...] a convergência

representa uma transformação cultural, à medida que consumidores são incentivados a

procurar novas informações e fazer conexões em meio a conteúdos de mídia” (JENKINS,

2009, p. 30). Ou seja, a convergência cultural está ligada ao comportamento dos públicos que

se apropriam das mídias. Prado também faz uma reflexão sobre a digitalização midiática e

suas consequências na esfera cultural:

A cultura digital representa um conjunto de transformações radicais na esfera social, e não uma mera conversão de artefatos analógicos para equivalentes digitalizados. Essas transformações afetam também a esfera da comunicação. Antigos conceitos, como o da difusão de idéias de um ator social para muitos receptáculos passivos, não valem mais. Os recursos tecnológicos possibilitados pela digitalização resgatam a noção de comunicação bidirecional, de todos para todos, no lugar da informação unidirecional. Novos conceitos, como o da produção colaborativa do conhecimento, suplantam a idéia de caixa-preta. Sem mudar o olhar, não é possível compreender a mudança de paradigma em curso (PRADO; CAMINATI; NOVAES; 2005, P. 25).

Podemos citar como exemplo de convergência midiática e cultural o comportamento

dos usuários em consumir simultaneamente diferentes mídias. Acessar as redes sociais

40 Tradução nossa: Agora, o emissor é também moderador, a mensagem é interativa, o público é ativo e dialoga com mensagens, emissores, personagens atuais e com as audiências.

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enquanto o telespectador assiste TV está se tornando uma prática comum. É quando, entre

outras coisas, os usuários acessam a rede para fazer comentários sobre o conteúdo assistido.

Um levantamento realizado pelo instituto de pesquisas Ipsos (empresa de pesquisa e de

inteligência de mercado) em maio e junho de 2013, apontou que, no Brasil, 68% das pessoas

assistem televisão e interagem com seus celulares ao mesmo tempo41. Segundo Juliana

Sawaia, gerente do IBOPE Media, a convergência e a simultaneidade no consumo dos meios

são comportamentos consolidados na rotina do internauta. Para ela, “Esse é um fenômeno

estabelecido em função da popularização da internet. A tendência é que as pessoas interajam

cada vez mais”42. Um em cada seis brasileiros navega na internet enquanto assiste à televisão,

segundo estudo Social TV, do IBOPE Nielsen Online43. O estudo foi realizado em 13 regiões

metropolitanas com pessoas de 10 anos ou mais de idade, entre os dias 13 e 29 de fevereiro de

2012. De acordo com a pesquisa, entre os internautas domiciliares brasileiros que nos últimos

sete dias usaram a internet e assistiram TV, 43% têm o hábito de ver televisão enquanto

navegam na internet. Destes, 59% disseram fazer isso todos os dias, como pode ser visto no

gráfico 2.

GRÁFICO 2- Frequência de consumo simultâneo de TV + internet (2012)

Fonte: Pesquisa Social TV, IBOPE Nielsen Online44

41 No Brasil, 68% assistem à TV e usam celular ao mesmo tempo, diz estudo. G1, 21 ago. 2013. Disponível em: <http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2013/08/no-brasil-68-assistem-tv-e-usam-celular-ao-mesmo-tempo-diz-estudo.html>. Acesso em: 21 ago. 2013. 42 IBOPE MEDIA. Especialista analisa convergência e simultaneidade no consumo dos meios. IBOPE, 07 maio 2013. Disponível em: <http://www.ibope.com.br/pt-br/noticias/Paginas/Especialista-analisa-convergencia-e-simultaneidade-no-consumo-dos-meios.aspx>. Acesso em: 04 jun. 2013. 43 IBOPE NIELSEN ONLINE. No Brasil, 43% dos internautas assistem à TV enquanto navegam. IBOPE, 26 jun. 2012. Disponível em: <http://www.ibope.com.br/pt-br/relacionamento/imprensa/releases/Paginas/No-Brasil-43-dos-internautas-assistem-a-TV-enquanto-navegam.aspx>. Acesso em: 07 maio 2013. 44 Ibidem.

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Ainda segundo a pesquisa, 70% dos entrevistados afirmaram que procuram na internet

informações sobre o que está sendo transmitido na televisão e 80% disseram ter ligado a TV

ou trocado de canal por causa de uma mensagem recebida pela internet (figura 1).

FIGURA 1- Consumo simultâneo de TV +internet (2012)

Fonte: Pesquisa Social TV, IBOPE Nielsen Online.45

Com relação aos programas, a pesquisa mostrou (gráfico 3) ainda que os

jornais/noticiários e as novelas são os mais assistidos e os e os mais comentados pelos

consumidores simultâneos de TV e internet.

GRÁFICO 3- Programas mais assistidos e comentados pelos consumidores simultâneos de TV + internet (2012) Fonte: Pesquisa Social TV, IBOPE Nielsen Online.46

As pesquisas acima apresentadas são exemplos da convergência midiática e cultural

dos usuários dos meios, que muitas vezes estão em busca de mais conteúdos e também

encontram na internet condições de expressar sua opinião. Os dados obtidos a partir desses

estudos são também um indício de que os meios de comunicação tradicionais, como a

televisão, certamente não vão sucumbir devido às novas mídias digitais, vão sim se adaptar ao

45 IBOPE NIELSEN ONLINE. No Brasil, 43% dos internautas assistem à TV enquanto navegam. IBOPE, 26 jun. 2012. Disponível em: <http://www.ibope.com.br/pt-br/relacionamento/imprensa/releases/Paginas/No-Brasil-43-dos-internautas-assistem-a-TV-enquanto-navegam.aspx>. Acesso em: 07 maio 2013. 46 Ibidem.

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novo comportamento de consumo do seu público. Como defende Cardoso (2007, p.115),

“Devemos olhar para as mídias não como tecnologias isoladas, mas como objetos de

apropriação social diversificada e combinada em função de objetivos concretos definidos”.

Incorporada no contexto da atual era midiática digital, a televisão no Brasil vem se

modernizando e está inserida no processo de modificação dos meios de comunicação, pois

como afirma Becker e Montez (2004, p. 25) “Como qualquer outra mídia ou veículo de

comunicação, a TV também está envolvida em um constante processo de evolução e

adaptação às novas necessidades sociais” e hoje passa por diversas mudanças, pois a

transmissão televisiva analógica esta aos poucos sendo substituída pela digital.

2.4 Televisão digital no Brasil

A televisão digital (TVD) é a transmissão digital dos sinais audiovisuais (BECKER;

MONTEZ, 2004), trata-se de uma nova plataforma para a operação da televisão brasileira,

que possibilita melhor qualidade dos sinais e o oferecimento de serviços interativos47. No

digital tudo pode ser transformado em zeros e uns, a linguagem oficial dos sistemas digitais.

“[A televisão digital] trata-se do mais avançado investimento tecnológico no mercado de

entretenimento e comunicação de massa” (TEIXEIRA, 2009, p. 139). Uma parte dos

telespectadores, agora usuários, está cada vez mais exigente e interessado em ter mais

controle diante da TV e como afirma Cannito (2010, p. 213), “O desenvolvimento da

televisão pode ser resumido como um gradual autoconhecimento de como suas

potencialidades tecnológicas e estéticas podem atender com mais eficiência as eternas

demandas culturais da espécie humana”.

As pesquisas relacionadas à TV digital tiveram início no final da década de 1980 e se

consolidaram na década de 1990. Existem hoje no mundo quatro principais padrões de

televisão digital: o ATSC-Advanced Television Systems Committe, dos Estados Unidos,

lançado em 1993, o DVB-T- Terrestrial Digital Video Broadcasting System, da Europa,

lançado também em 1993, o ISDB-T- Terrestrial lntegrated Services Digital Broadcasting,

do Japão, lançado em 1999 (CROCOMO, 2007) e o SBTVD- Sistema Brasileiro de TV

Digital Terrestre, desenvolvido com base no sistema japonês e em operação desde 2007. No

Brasil, as pesquisas com a TV digital tiveram início em dezembro de 2003, quando o Governo

brasileiro editou o decreto 4.901/2003, o qual instituiu o Sistema Brasileiro de Televisão

47 MINISTÉRIO DAS COMUNICAÇÕES. TV Digital. Ministério das Comunicações. Disponível em: <http://www.mc.gov.br/acoes-e-programas/tv-digital>. Acesso em: 22 ago. 2013.

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Digital. De acordo com o Decreto, a televisão digital deveria “Promover a inclusão social, a

diversidade cultural do país e a língua pátria por meio do acesso à tecnologia digital, visando

a democratização da informação”48. Neste mesmo período, o governo também abriu licitação

de 22 editais para pesquisas a serem feitas por consórcios de universidades, as quais deveriam

propor os padrões para o SBTVD.

Em junho de 2006, o presidente Lula assinou o decreto 5.820/06, que dispunha sobre

a implantação do Sistema Brasileiro de Televisão Digital Terrestre, fazendo a opção pelo

modelo japonês de TV digital. Mas, os pesquisadores brasileiros acrescentaram diversas

atualizações no ISDB-T, como a adoção de padrões de compressão digital de áudio e vídeo

mais modernos e eficientes que os atuais sistemas de TV digital em funcionamento no

mundo.49 Em seu artigo 4°, o decreto 5.820/06 diz que “o acesso ao SBTVD-T será

assegurado ao público em geral, de forma livre e gratuita, a fim de garantir o adequado

cumprimento das condições de exploração objeto das outorgas”50.

A televisão digital no Brasil dispõe principalmente dos seguintes recursos:

• Imagem: É mais nítida, pois com a alta definição os programas podem ser

transmitidos em formato e qualidade de cinema, a chamada tela de cinema,

ou 16:9, conhecida também como Widescreen. Um monitor analógico

apresenta entre 480 e 525 linhas de vídeo, já um televisor Full HD (de alta

definição) pode mostrar 1920 pixels na horizontal e 1080 na vertical.

• Som: como ocorre em DVDs, o som pode ser surround, som que

proporciona ao telespectador um ambiente mais realístico do programa

assistido.

• TV móvel: o sinal da TV digital pode ser transmitido para televisores móveis,

como aqueles utilizados em veículos (CANNITO, 2010). O telespectador

pode assim assistir TV dentro de automóveis em movimento, sem que a

imagem ou o som falhe.

• TV portátil: o sinal da TV digital pode ser transmitido para dispositivos

pessoais, como celulares e laptops.

48 Brasil. Decreto n° 4.901, de 26 de novembro de 2003, artigo 1° . Institui o Sistema Brasileiro de televisão digital. Disponível em:< www.mc.gov.br/tv-digital/decreto-no-4901-de 26-de-novembro- de-2003> Acesso em: out. de 2010. 49 TV Digital. Portal Brasil. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/sobre/ciencia-e-tecnologia/industria-eletronica-digital/tv-digital> Acesso em: 22 ago. 2013. 50 Brasil. Artigo 4° do Decreto n° 5.820, de 29 de junho de 2006. Dispõe sobre a implantação do SBTVD-T. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-200/2006/decreto/d5820>. Acesso em: out. de 2010.

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24

• Multiprogramação: É possível às emissoras a utilização da frequência digital

para transmitir simultaneamente até quatro canais diferentes. Cada canal

analógico ocupa uma faixa de 6MHz, mas nas plataformas digitais essa

mesma faixa permite até quatro sinais diferentes, mas em definição standard

(qualidade semelhante ao da TV analógica) ou a utilização integral de 6MHz

para transmitir apenas um canal em alta definição- HDTV.

• Interatividade: o Sistema Brasileiro de Televisão Digital Terrestre (SBTVD)

permite que por meio do middleware Ginga o usuário possa interagir

diretamente pelo televisor.

A primeira transmissão da televisão digital no Brasil aconteceu no dia dois de

dezembro de 2007, na cidade de São Paulo. Passados seis anos do início das transmissões,

dados da Anatel, Agência Nacional de Telecomunicações, de maio de 2012 apontam que

46,80% da população (quadro 2) tem acesso ao sinal digital de televisão51.

QUADRO 2- Cobertura da televisão digital no Brasil em números (2012) Fonte: Anatel52

O desligamento do sinal analógico (switch off) vai começar em abril de 2016 e se

estenderá até novembro de 2018, de acordo com informe53 do Ministério das Comunicações

de junho de 2014. A transição da TV analógica para o sistema digital vai ocorrer de forma

gradativa e começar pelas capitais do País. A primeira cidade a ter o sistema analógico

51 O sinal digital da televisão é mais presente nas capitais e regiões metropolitanas do país. À medida que avançamos para as cidades do interior, a cobertura diminui. 52 AGÊNCIA NACIONAL DE TELECOMUNICAÇÕES. Televisão digital. Anatel, mar. 2012. Disponível em: <http://www.anatel.gov.br/Portal/verificaDocumentos/documento.asp?numeroPublicacao=276896&assuntoPublicacao=Televis%E3o%20Digital%20no%20Brasil%20em%20N%FAmeros&caminhoRel=null&filtro=1&documentoPath=276896.pdf>. Acesso em: 27 ago. 2013. 53 TV Digital: Rio Verde receberá desligamento piloto em 2015. Portal Brasil, 24 jun. 2014. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/infraestrutura/2014/06/tv-digital-rio-verde-recebera-desligamento-piloto-em-2015>. Acesso em: 28 jun. 2014.

Emissoras de TVD em operação 132

Municípios com TV Digital em operação 52

Municípios cobertos pela TV Digital 508

População coberta 89.258.540

46,80%

Domicílios atendidos 31.363.391 46,42%

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desligado será Brasília, em abril de 2016. Até o fim desse mesmo ano, será a vez de São

Paulo, Belo Horizonte, Goiânia e Rio de Janeiro. Em 2017, o cronograma vai incluir as

capitais do Sul e do Nordeste e as cidades do interior de São Paulo e do Rio de Janeiro. Até

2018, o desligamento da TV analógica vai se concentrar nos grandes centros urbanos, onde

vivem cerca de 60% da população brasileira. Nos demais municípios, o switch off só deve

ocorrer a partir de novembro de 201854.

Em meados de 2013, o Ministério das Comunicações havia informado que switch off

seria implementado gradualmente entre 2015 e 201855. Esse período estipulado preocupou e

se tornou um desafio para as partes envolvidas nesse processo. Para Aguinaldo Silva, diretor

do centro de pesquisa e desenvolvimento R&D e membro da SET56 (Sociedade Brasileira de

Engenharia de Televisão) Norte, caso o apagão analógico começasse mesmo em 2015, isso

traria problemas para os broadcasters, telespectadores e fabricantes de receptores de TV, pois

nos próximos dois anos seria necessário produzir pelo menos 30 milhões de TV ao ano57.

Mas, o parque instalado de televisores hoje no Brasil produz de 14 a 15 milhões de TVs ao

ano. Além disso, a mudança do parque tecnológico do analógico para o digital significa um

alto investimento por parte das emissoras, como afirma Olímpio Franco, presidente da SET,

“A TV Digital é uma melhora tecnológica, mas não significa que traga dinheiro novo às

emissoras, pelo contrário, estamos gastando dinheiro para transitar do analógico ao digital”58.

Outro desafio da televisão digital diz respeito a um de seus objetivos iniciais, a

inclusão social, que deveria ocorrer principalmente por meio da interatividade, para marcação

de consultas médicas, acesso a bancos etc. Apesar de algumas experiências interativas

estarem em curso, como o projeto de TV digital interativa Brasil 4D, a implementação desses

recursos ainda não se concretizou por todo o país. O que tem ocorrido é a criação, ainda

pouco expressiva, de aplicações interativas em Ginga pelas emissoras de TV abertas, como a

Globo, Record, Band e SBT. Além disso, os dispositivos móveis (aos poucos mais acessíveis)

que permitem o acesso à internet vêm conquistando um espaço significativo entre os

54 TV Digital: Rio Verde receberá desligamento piloto em 2015. Portal Brasil, 24 jun. 2014. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/infraestrutura/2014/06/tv-digital-rio-verde-recebera-desligamento-piloto-em-2015>. Acesso em: 28 jun. 2014. 55 Transição para a TV digital no país será mais rápida. Portal Brasil, 31 jul. 2013. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/noticias/arquivos/2013/07/31/transico-para-tv-digital-no-pais-sera-mais-rapida> Acesso em: 27 ago. 2013. 56 A SET, Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão, é uma Associação Técnico-Científica de profissionais e empresas, sem fins lucrativos, que tem por finalidade constituir-se em órgão de difusão, expansão, estudo e aperfeiçoamento dos conhecimentos técnicos, operacionais e científicos; atuando nas áreas de engenharia e afins nos campos de Televisão, Telecomunicações, Rádio, Internet e Novas Mídias. 57 MOURA, Fernando. Os caminhos da TV Digital no Brasil. Revista da SET, n. 135, ago. 2013. Disponível em: <http://www.set.org.br/artigos/ed135/ed135_26.asp>. Acesso em: 27 ago. 2013. 58 Ibidem.

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brasileiros e sua utilização vem se expandindo no país. Certamente por isso, as emissoras de

TV têm começado a investir no desenvolvimento de aplicativos para essas mídias, que podem

ser usadas pelos telespectadores como segunda tela, simultânea à fruição da TV.

Além de dividir espaço com os dispositivos móveis, a televisão digital passou a

compartilhar a atenção dos telespectadores, nos últimos dois anos, com as Smart TVs. Com

relação aos televisores de forma geral, uma pesquisa realizada pela empresa CVA Solutions

em fevereiro de 2013 mostrou que nos últimos três anos 69% dos consumidores do Brasil

trocaram de aparelhos de televisão. De acordo com esse estudo, o número de televisores Flat

(ou de tela fina) passou de 28,9% para 79,2% dos lares brasileiros. Já os aparelhos de TV em

tubo caíram de 71,1% para 20,8%59. Dos 5.600 entrevistados (a pesquisa entrevistou um total

de 7.090 consumidores) que possuem como televisor principal um aparelho de tela fina, 30%

têm Smart TVs60. As TVs inteligentes, também chamadas de TVs conectadas, têm a qualidade

da TV Digital, mas apresentam como diferencial a possibilidade de conexão à internet, via

cabo ou Wi-Fi. Esses televisores vêm com aplicativos (apps) como Netflix e Skipe, têm

diversos games e permitem que o usuário baixe outros apps em uma loja virtual. “Essa

conexão permite que os telespectadores vejam seus programas preferidos ao mesmo tempo

em que interagem nas redes sociais, como Twitter e Facebook, tudo pela própria televisão

com o auxílio do controle remoto para postar qualquer opinião sua.”61.

O Sistema Brasileiro de TV Digital Terrestre, em funcionamento desde 2007, abrange

principalmente três pontos: a mobilidade, que permite levar a televisão a aparelhos celulares e

notebooks; a alta definição de som e imagem; e a interatividade62, que permite que o

telespectador interajam com o conteúdo da televisão pelo controle remoto. Dessas três

principais características, uma grande expectativa foi criada em torno das possibilidades que a

interatividade traria para a televisão digital no Brasil.

59 BORIN, Bruno. 69% dos consumidores brasileiros trocaram de TV em três anos. Exame, 19 mar. 2013. Disponível em: <http://exame.abril.com.br/tecnologia/noticias/69-dos-consumidores-brasileiros-trocaram-de-tv-em-tres-anos>. Acesso em: 27 ago. 2013. 60 Em três anos, 69% dos consumidores brasileiros trocaram de TV. Tela Viva, 18 mar. 2013. Disponível em: <http://www.telaviva.com.br/18/03/2013/em-tres-anos-69-dos-consumidores-brasileiros-trocaram-de-tv/pt/331259/news.aspx>. Acesso em: 28 ago. 2013. 61 MOURA, João. Entenda a diferença entre Smart TV e TV digital. Techtudo, 22 jun. 2013. Disponível em: <http://www.techtudo.com.br/artigos/noticia/2013/06/entenda-diferenca-entre-smart-tv-e-tv-digital.html>. Acesso em: 28 ago. 2013. 62 Portaria define produção de TVs com interatividade. Fórum SBTVD, 27 fev. 2012. Disponível em: <http://forumsbtvd.org.br/portaria-define-producao-de-tvs-com-interatividade/>. Acesso em 09 jul. 2014.

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2.4.1 Interatividade na TVD

O decreto 5.820, de 29 de junho de 2006 dispõe sobre a implantação do SBTVD-T-

Sistema Brasileiro de Televisão Digital Terrestre e estabelece diretrizes para a transição do

sistema de transmissão analógica para o sistema de transmissão digital do serviço de

radiodifusão. Em seu artigo 6°, o documento determina que o SBTVD-T possibilitará: I -

transmissão digital em alta definição (HDTV) e em definição padrão (SDTV); II - transmissão

digital simultânea para recepção fixa, móvel e portátil; e III - interatividade63. A partir de

então a interatividade se tornou uma das grandes promessas da TV Digital no Brasil, pois com

ela surgia uma nova forma de interação entre o telespectador e sua TV. De todas as

potencialidades da TV digital, a interatividade, possibilitada pela existência de um

middleware64 chamado Ginga65, é a de maior impacto nas relações entre a televisão e os

telespectadores (PASCHOAL NETO, 2009).

Desde que o termo interatividade foi utilizado na esfera da televisão digital,

pesquisadores da comunicação têm se debruçado com mais vigor em estudar o significado

desse termo e têm dado a ele diferentes e até divergentes definições. O termo interatividade “é

uma palavra da moda”, como afirma Alex Primo66, usado hoje para qualificar equipamentos

eletrônicos, jogos, livros etc. Certamente não há um conceito único que defina tal termo.

Mesmo na comunicação, a interatividade está longe de ser uma unanimidade, como afirma

Teixeira (2009, p.29) “As definições de ‘interatividade’, apesar de algumas predominâncias

de sentido, parecem longe de ser um consenso na comunicação.”

Para Becker e Montez “A interatividade de um processo ou ação que pode ser descrita

como mútua e simultânea da parte de dois participantes, normalmente trabalhando em direção

de um mesmo objetivo” (2004, p.48). Marco Silva afirma que a interatividade “está na

disposição ou pré-disposição para mais interação, para uma hiper-interação, para

bidirecionalidade (fusão emissão-recepção), para participação e intervenção (1999 apud

TEIXEIRA, 2009, p. 126). Já para Alex Primo, não é necessário criar uma nova palavra para

um fenômeno que já é estudado há muito tempo, a interação. Assim, em vez de usar a palavra

interatividade, ele prefere a expressão “interação mediada por computador” (PRIMO, 2008) ,

63 Brasil. Decreto n° 5.820, de 29 de junho de 2006. Dispõe sobre a implantação do SBTVD-T. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-200/2006/decreto/d5820> Acesso em: out. de 2010. 64 Camada intermediária de software que vem integrado em alguns modelos de equipamentos de recepção de sinal de TV Digital 65 Interatividade (DTVi). DVT, Site Oficial da TV Digital. Disponível em: <http://www.dtv.org.br/informacoes-tecnicas/interatividade-dtvi/>. Acesso em: 29 ago. 2013. 66 Alex Primo entrevistado por Juremir Machado. You Tube, 30 ago. 2007. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=N382tTbebLQ&list=PLFFA9C65EAFF67D9D&index=1>. Acesso em: jul. 2011.

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ou seja, interação mediada digitalmente, um contexto de comunicação dependente da

tecnologia digital. Primo defende que a interação é uma “ação entre” os participantes de um

encontro e argumenta que existem dois tipos de interação, a interação mútua, que se

caracteriza como um sistema aberto, de trocas constantes e voltado para a evolução e

desenvolvimento; e a interação reativa, vista como um sistema fechado, com relações lineares,

pois a mensagem é emitida por um interagente proativo e recebida pelo interagente reativo,

que pode reagir apenas por feedback (PRIMO, 2008). Já Becker e Montez (2004) não

estudam a interatividade sob o viés da interação. Para os autores interação e interatividade não

são a mesma coisa, pois a interação pode acontecer diretamente entre dois ou mais entes

atuantes, enquanto a interatividade ocorre necessariamente intermediada por um meio

eletrônico.

Aqui defenderemos que a interatividade, inserida no contexto da televisão digital,

trata-se de uma ferramenta tecnológica que irá possibilitar ao telespectador o uso de recursos

adicionais diretamente pela TV, que pode permitir desde o acesso a informações extras, como

a sinopse de um filme, até uma interação mais direta em um programa. Mas é necessário

reconhecer as limitações tecnológicas e as características inerentes ao meio televisivo. A

televisão digital, apesar de hoje possibilitar o acesso à internet, tem particularidades que

tornam sua interatividade diferente daquela oferecida por um computador. Como explica

Primo (2008, p. 101) “[...] cada meio oferece simultaneamente certas possibilidades e certas

limitações à interação”.

Ainda hoje, a televisão é preponderantemente um meio de exibição de fluxo

ininterrupto (CANNITO, 2010), assim, conteúdos interativos não podem “atrapalhar” a

programação; diferente do computador, onde a fruição costuma ser individual, a TV muitas

vezes é consumida de forma coletiva, ou seja, em um computador o usuário escolhe os

caminhos por onde navegar e consome diferentes conteúdos simultaneamente, já na televisão,

novamente, a interatividade não deve prejudicar o fluxo e incomodar os demais

telespectadores do ambiente; é habitual que o usuário esteja a certa distância ao assistir

televisão, o que não acontece no caso dos computadores, assim os conteúdos interativos

devem ser capazes de serem manipulados a certa distância.

É frequente a comparação entre a interatividade proporcionada pelo computador e

aquela proporcionada pela televisão digital. Entretanto, simplesmente transferir o que é

peculiar de um meio para outro sem as devidas adaptações pode resultar em um produto

truncado e pouco útil para o usuário. Portanto, “[...] é desafio da TV digital desenvolver

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recursos que potencializem e modernizem as noções de interatividade, o que é diferente de se

apropriar do conceito usado pela internet.” (CANNITO, 2010, p. 147).

Alex Primo (2008) argumenta que a interação mediada por computador se ocupa tanto

de um diálogo homem-homem quanto das interações homem-máquina e máquina-máquina.

Assim, concordamos com ele no sentido de que a interatividade não se dá apenas quando o

telespectador se comunica diretamente com uma emissora pela TV ou quando ele se torna

também emissor de conteúdo. Aliás, cabe ressaltar que a simples ação de o telespectador

sentar-se diante da televisão e assistir já é uma forma de interação, pois o público não se

mantém inerte ou passivo, cada qual reage ao conteúdo a seu modo, como coloca Silva,

[...] apesar de seu caráter fortemente massivo, o conteúdo televisivo nem sempre é recebido de modo homogêneo pelo público: seus efeitos culturais e psicológicos obedecem a uma série de variáveis, dentre elas fatores sociais, econômicos, educacionais, além da própria conjuntura em que o telespectador está inserido. (2009, p.13).

A interatividade pode ocorrer em diferentes níveis, como Jenkins (2009, p.189)

explica, “A interatividade refere-se ao modo como as novas tecnologias foram planejadas para

responder ao feedback do consumidor. Pode-se imaginar os diferentes graus de interatividade

possibilitados por diferentes tecnologias de comunicação”. Ou seja, a tecnologia da qual

dispõe a televisão digital permite uma interação homem-homem, por exemplo quando o

telespectador consegue se comunicar diretamente com um produtor de conteúdo por meio de

um canal de retorno, mas, ocorre interação também na relação homem-máquina, a exemplo

de quando o telespectador tem a possibilidade de acessar um conteúdo adicional enviado

junto ao sinal audiovisual da TV.

A interação não chegou com a televisão digital, ela já existia na TV analógica há

bastante tempo. Os telespectadores podiam, e ainda podem, participar por meio de cartas, e-

mails, SMS (Short Message Service)67 , ligações. Assim, antes tínhamos uma interação

analógica, que se utilizava de outros meios para contar com a participação do telespectador,

hoje, com a televisão digital, temos uma interatividade que utiliza os recursos digitais e que

poderá dispor da participação do telespectador de forma direta. Como coloca André Lemos,

A noção de interatividade está diretamente ligada aos novos media digitais. O que compreendemos por interatividade nada mais é que uma forma de interação técnica, de cunho eletrônico-digital, diferente da interação analógica que caracterizou os media tradicional ( LEMOS, 2008, p. 112)

67 Em português significa Serviço de Mensagens Curtas.

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Portanto, os recursos interativos disponíveis hoje na televisão digital estão sujeitos aos

limites tecnológicos, como a disponibilidade ou não de um canal de retorno, e às

características inerentes do meio televisivo. A televisão digital e computador são suportes

comunicacionais diferentes. Atualmente vem ganhando espaço no cenário midiático o

conceito de segunda tela (ou second screen), expressão que se refere a um dispositivo

eletrônico adicional, como um smartphone ou tablet, que permite ao usuário interagir com o

conteúdo de uma tela principal, como a televisão.

Na televisão digital, o desenvolvimento de recursos interativos de caráter mútuo,

processo marcado pela interconexão dos subsistemas envolvidos (PRIMO, 2008), ainda são,

de certa forma, restritos, devido à complexidade de programação do Ginga e pela

necessidade de um canal de retorno.

2.4.2 Ginga

Ginga é o middleware68 de especificação aberta adotado pelo Sistema Brasileiro de TV

Digital Terrestre (SBTVD) para instalação em conversores (set-top boxes) e em televisores69.

Esse nome foi escolhido “[...] em reconhecimento à cultura, arte e contínua luta por liberdade

e igualdade do povo brasileiro”70. O Ginga é resultado do desenvolvimento de projetos de

pesquisa coordenados pelos laboratórios Telemídia, da Pontifícia Universidade Católica

(PUC-Rio), e LAViD- Laboratório de Aplicações de Vídeo Digital- da Universidade Federal

da Paraíba (UFPB).

O Ginga tem duas funções principais, uma é tornar as aplicações independentes do

sistema operacional da plataforma de hardware utilizados e a outra é oferecer um melhor

suporte ao desenvolvimento de aplicações. Por isso, o Ginga é responsável por dar suporte à

interatividade71. Um middleware para aplicações na TV digital é constituído por máquinas de

execução das linguagens oferecidas e bibliotecas de funções, que permitem o

desenvolvimento rápido de aplicações interativas , como por exemplo o acesso à internet e a

realização de operações bancárias, entre outras.

68 Um middleware é uma camada de software intermediária posicionada entre o código das aplicações e a infraestrutura de execução (plataforma de hardware e sistema operacional). 69 Ginga. DTV, Site Oficial da TV Digital. Disponível em: <http://www.dtv.org.br/informacoes-tecnicas/ginga/>. Acesso em: 30 ago. 2013. 70 Sobre o Ginga. Site Oficial do Middleware Ginga. Disponível em: <http://www.ginga.org.br/pt-br/sobre>. Acesso em: 30 ago. 2013. 71 Interatividade (DTVi). DVT, Site Oficial da TV Digital. Disponível em: <http://www.dtv.org.br/informacoes-tecnicas/interatividade-dtvi/>. Acesso em: 29 ago. 2013.

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De acordo Site Oficial da TV Digital72, o Ginga está dividido em três subsistemas

principais interligados (Ginga-CC, Ginga-NCL e Ginga-J), que permitem o desenvolvimento

de aplicações seguindo dois paradigmas de programação diferentes. O Ginga-CC (Ginga

Common-Core) oferece o suporte básico para os ambientes declarativos (Ginga-NCL) e

procedural73 (Ginga-J), de maneira que suas principais funções sejam para tratar da exibição

de vários objetos de mídia, como JPEG74, MPEG-475, MP376, GIF77, entre outros formatos. O

Ginga-CC oferece também o controle do plano gráfico do modelo especificado para o ISDB-

TB e controla o acesso ao canal de retorno, módulo responsável por monitorar o acesso à

camada de rede. O Ginga-NCL foi desenvolvido pela PUC-Rio com o objetivo de prover uma

infraestrutura de apresentação para aplicações declarativas escritas na linguagem NCL

(Nested Context Language), que é uma aplicação XML78 com facilidades para a especificação

de aspectos de interatividade, sincronismo espaço-temporal entre objetos de mídia,

adaptabilidade, suporte a múltiplos dispositivos e suporte à produção ao vivo de programas

interativos não lineares79. Já o Ginga-J foi desenvolvido pela UFPB (Universidade Federal da

Paraíba) para prover uma infraestrutura de execução de aplicações baseadas na linguagem

Java80, com facilidades especificamente voltadas para o ambiente de TV digital81.

Os equipamentos com Ginga tornam possível o recebimento de aplicativos interativos

enviados pelas emissoras de TV junto ao sinal digital82. As TVs que possuem esse recurso no

mercado são identificados pelo selo DTVi, que garante a compatibilidade com as normas

técnicas aprovadas. Devido à baixa produção de aparelhos de TV que traziam o Ginga, uma

72 Ginga. DTV, Site Oficial da TV Digital. Disponível em: <http://www.dtv.org.br/informacoes-tecnicas/ginga/>. Acesso em: 30 ago. 2013. 73 Linguagem declarativa: enfatiza a declaração descritiva de um problema em vez de sua decomposição em implementações algorítmicas, com essa linguagem os usuários não precisam especificar o caminho de acesso, isto é, como os dados serão obtidos. Linguagem procedural: é necessário informar ao computador cada passo a ser executado, essa linguagem especifica como os dados devem ser obtidos do banco. 74 JPEG é um acrônimo de Joint Photographics Experts Group, é um método de compressão de imagens fotográficas e também é considerado como um formato de arquivo. O Joint Photographics Experts Group é o nome do grupo responsável por criar este método, que é um dos métodos mais populares de compressão de imagens até hoje. 75 É a designação para um grupo de padrões de codificação de som e vídeo e tecnologia relacionada de acordo com a ISO/IEC Moving Picture Experts Group (MPEG). 76 MP3 é uma abreviação de MPEG 1 Layer-3. Trata-se de um padrão de arquivos digitais de áudio estabelecido pelo Moving Picture Experts Group (MPEG. As camadas referem-se ao esquema de compressão de áudio do MPEG-1. Foram projetadas em número de 3, cada uma com finalidades e capacidades diferentes 77 Graphics Interchange Format, formato de intercâmbio de gráficos, é um formato de imagem muito usado na Internet. 78 XML, do inglês eXtensible Markup Language, é um formato para a criação de documentos com dados organizados de forma hierárquica, como em documentos de texto formatados, imagens vetoriais ou bancos de dados. 79 Interatividade (DTVi). DVT, Site Oficial da TV Digital. Disponível em: <http://www.dtv.org.br/informacoes-tecnicas/interatividade-dtvi/>. Acesso em: 29 ago. 2013. 80 Java é uma linguagem de programação e uma plataforma de computação. Há muitos aplicativos e sites que funcionam somente com o Java instalado, e muitos outros aplicativos e sites são desenvolvidos e disponibilizados com o suporte dessa tecnologia. 81 O que é o Ginga. IG, 09 abr. 2012. Disponível em:<http://tecnologia.ig.com.br/especial/o-que-e-o-ginga/n1597734545853.html>. Acesso em: 30 ago. 2013. 82 Ibidem ref. 80.

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portaria interministerial publicada em 24 de fevereiro de 2012 fixou um cronograma para a

produção de TVs interativas: a partir de 1º de janeiro de 2013, 75% dos televisores deveriam

vir com o Ginga de fábrica; e a partir de 1º de janeiro de 2014, esse porcentual sobe para 90%

dos aparelhos. De acordo o assessor da Secretaria de Telecomunicações do Ministério das

Comunicações, Flávio Lenz, “No processo de negociação que envolveu a indústria, a

sociedade e especialistas, o governo entendeu que esses são os prazos razoáveis e factíveis

para implementar a medida. O objetivo é garantir um efetivo desenvolvimento da

interatividade na TV brasileira”83. Essa portaria também definiu que modelos de TV do tipo

conectada (com acesso à internet) deverão vir obrigatoriamente com o Ginga. A razão para

essa medida, no entendimento do governo, é de que não há necessidade de as empresas

adicionarem nenhum componente ao televisor84.

Em dezembro de 2012 o Ministério das Comunicações (MiniCom) lançou o Programa

de Estímulo ao Desenvolvimento do Padrão Nacional de Interatividade da Televisão Digital

Brasileira – programa Ginga Brasil, com a parceria da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa

(RNP), e apoio da PUC-Rio e da Universidade Federal da Paraíba. O MiniCom estabeleceu

como principais objetivos do Ginga Brasil85:

- Fomentar a criação e a difusão de conteúdos e aplicações interativas transmitidas por

emissoras de televisão digital, com ênfase na produção independente;

- Promover a capacitação de profissionais e estudantes das áreas do audiovisual, design,

tecnologia da informação, engenharia, dentre outras correlatas.

- Disponibilizar aos cidadãos brasileiros conteúdos e aplicações que proporcionem

experiências de interatividade em atendimento às finalidades educativas, artísticas, culturais e

informativas da televisão digital brasileira;

- Implementar e manter repositórios digitais públicos, destinados a abrigar a produção de

aplicativos do Ginga.

Uma das recentes ações do Ginga Brasil é o Ginga Br.Labs, projeto que selecionou 10

emissoras públicas para receberem laboratórios de testes de conteúdos e aplicações interativas

de TV Digital. No total, 40 técnicos, produtores ou diretores das entidades selecionadas serão

83 Fabricação de TVs com software de interatividade Ginga será obrigatória em 2013. Portal Brasil, 24 fev. 2012. Disponível em:< http://www.brasil.gov.br/noticias/arquivos/2012/02/24/portaria-define-producao-de-tvs-com-interatividade-na-zona-franca-de-manaus>. Acesso em: 30 ago. 2013. 84 Ibidem ref. 82. 85Brasil. Ministério das Comunicações. Programa Ginga Brasil. Disponível em: <http://www.mc.gov.br/acoes-e-programas/conteudos-digitais-criativos/programa-ginga-brasil>. Acesso em: 30 ago. 2013.

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capacitados no uso e desenvolvimento de aplicações e conteúdos interativos baseados no

Ginga86.

Os tópicos tratados até este ponto desta dissertação tiveram por finalidade apresentar,

ainda que de forma breve, o contexto que envolve o principal foco desde estudo, o

telejornalismo e a interatividade na televisão digital. A partir de agora, abordaremos

especificamente o telejornalismo e as modificações e adequações que esse vem passando nos

últimos anos, tempos de convergência midiática e cultural.

2.5 A redação de um telejornal

O telejornalismo é a prática profissional do jornalismo aplicada à televisão87, e ele tem

seu espaço garantido na programação da televisão aberta brasileira, como lembra Curado

(2002, p. 15): “O telejornal faz parte da programação da TV brasileira cumprindo uma

determinação legal. O decreto lei 52.795 de 31.10.1963, que trata do regulamento dos

serviços de radiodifusão, estipula que as emissoras dediquem cinco por cento do horário da

programação diária ao serviço noticioso”. Até hoje, mesmo com a ampla quantidade de

informação que a internet disponibiliza aos usuários, 89% da população tem o hábito de se

informar sobre o que acontece no Brasil pela televisão, o que torna a TV o meio de

comunicação mais utilizado para a busca de informações sobre o país. O rádio aparece em

segundo, com 30%, seguido pela internet (29%), jornal impresso (8%) e revista impressa

(1%)88.

E o telejornalismo, um dos principais produtos da mídia televisiva, representa um

lugar de referência para os brasileiros similar ao da família, dos amigos, da escola e da

religião (CANCLINI, 1995, apud VIZEU, 2008) e cumpre a função de sistematizar, organizar

e hierarquizar a vida em sociedade (VIZEU, 2008). Um telejornal é formado por uma mistura

de fontes de imagens, sons, arquivos, textos, locuções (BARBEIRO; LIMA, 2002) e o

responsável por organizar esse aparente “caos” é o jornalista; na verdade ele sozinho não, mas

uma equipe de profissionais que tem como principal função transformar um acontecimento

em uma notícia compreensível para o telespectador.

86 Emissoras são selecionadas para participar de projeto para TV Digital. Portal Brasil, 16 jul. 2013. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/noticias/arquivos/2013/07/16/emissoras-sao-selecionadas-para-participar-de-projeto-para-tv-digital>. Acesso em: 30 ago. 2013. 87 Telejornalismo. Jornalista. Disponível em: <http://www.jornalista.com.br/telejornalismo/>. Acesso em 4 fev. 2014. 88 TV é o meio mais utilizado pelos brasileiros para se informarem, aponta pesquisa do IBOPE Inteligência. IBOPE, 17 mar. 2014. Disponível em: <http://www.ibope.com.br/pt-br/noticias/Paginas/TV-e-o-meio-mais-utilizado-pelos-brasileiros-para-se-informarem-aponta-pesquisa-do-IBOPE-Inteligencia.aspx>. Acesso em: 20 mar. 2014.

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Os cargos e funções em uma redação de telejornal podem variar de emissora para

emissora, e dependem, entre outras coisas, do porte da empresa e da escolha dos responsáveis

pelo telejornal. Colocar um telejornal diário no ar envolve diversos profissionais e áreas que

não estão ligadas diretamente ao jornalismo, como o setor de Engenharia e Administração.

Interessa para esta pesquisa descrever, de forma geral, os principais cargos e atividades típicas

de uma redação de telejornal, mas somente aquelas que estão diretamente vinculadas à

produção de notícias e que normalmente são desempenhadas por jornalistas. Dessa forma é

possível compreender a rotina de trabalho dos profissionais de uma redação televisiva.

• O Chefe de Jornalismo é o responsável pela linha editorial da emissora. É

comum que ele ocupe o cargo de diretor ou gerente de jornalismo e participe

da direção da empresa. “Sobre ele despencam os maiores problemas, desde a

palavra final sobre a contratação ou demissão de um jornalista até as investidas

da área comercial, que tem preferência por determinadas reportagens, mas

gostaria de evitar a produção de outras”. (BARBEIRO; LIMA, p. 56, 2002).

• O Diretor Executivo ou chefe de redação acompanha o trabalho da chefia de

reportagem, dos editores e dos repórteres. É ele quem dá orientações à pauta e

à produção e é o ponto de consulta para dúvidas editoriais que possam surgir.

Curado (2002, p. 30) explica que esse profissional “Repassa as instruções do

chefe de departamento à chefia de reportagem e aos editores. Mantém-se

afinado com a chefia de reportagem e com os editores que podem ter percepção

divergente do encaminhamento da cobertura, do ponto de vista operacional”.

• O Editor-Chefe é o responsável diretamente pelo telejornal. De acordo com

Barbeiro e Lima (2002, p. 56), “É ele quem escolhe as reportagens que vão ao

ar e [...] responde pelos erros e acertos do programa. [...] faz avaliação crítica

da qualidade das matérias produzidas e debate o resultado com a pauta e a

chefia de reportagem”.

• O Chefe de Reportagem é o responsável por orientar os repórteres e

supervisionar o andamento das pautas. O jornalista que assume este cargo se

torna uma espécie de coordenador da redação. O chefe de reportagem tem a

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visão geral de como o jornal será fechado e quais são os assuntos que devem

chegar primeiro na redação para que os editores se organizem89.

• O Repórter é o profissional do jornalismo que vai para a rua colher as

informações necessárias para compor uma matéria. É ele quem faz o texto da

reportagem e dá formato final a ela. “Na função de repórter de vídeo estarão

aqueles profissionais com características específicas de comunicabilidade,

além daquelas inerentes ao bom jornalista. São necessárias boa voz e presença

empática”. (CURADO, 2002, p. 47). De acordo com a experiência, esse

jornalista pode ser repórter local, regional, repórter de rede nacional ou ainda

correspondente internacional.

• O Produtor é o jornalista que sugere assuntos, produz as pautas definidas em

reunião (apuração de dados para a reportagem) e pode acompanhar a equipe de

filmagem na rua.

• Barbeiro e Lima (2002, p. 102) lembram que: “Editar uma reportagem para TV

é como contar uma história, e como toda a história a edição precisa de uma

sequência lógica que pelas características do veículo exige a combinação de

imagens e sons.” Parte fundamental da “contação de história” no telejornalismo

é o Editor de Texto, aquele que revisa ou produz textos do telejornal ou

reportagens. Ele “avalia os dados da reportagem como um todo: imagens e

informações e dá o formato junto com o repórter ao texto final da matéria pré-

gravada.” (CURADO, 2002, p. 52).

• O Apresentador do programa jornalístico é o profissional que recebe o texto e o

lê diante das câmeras. Como afirma Barbeiro e Lima (2002, p. 78), o

apresentador “[...] não é artista nem notícia, trabalha com ela. Integra um

processo para contar a uma parte da sociedade o que outra está fazendo. Não é

a estrela do telejornal, mas é o rosto mais conhecido e familiar do

telespectador.”.

89 Produção de telejornalismo. Universidade Metodista de São Paulo. Disponível em: <http://jornal.metodista.br/tele/manual/manual.htm>. Acesso em: 14 mar. 2014.

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Para uma compreensão mais perceptível da estrutura organizacional de uma redação

de telejornal, recorremos a um organograma elaborado pela jornalista Olga Curado (figura 2).

Ela própria explica que (2002, p. 28) “Os cargos e funções descritos podem ter outros títulos e

atribuições ligeiramente diferentes em casa empresa. Entretanto, [...] não se faz jornalismo em

televisão sem o cumprimento de todas as tarefas relacionadas.”

FIGURA 2- Organograma de uma redação de telejornal Fonte: Olga Curado (2002, p.29)

Com o desenvolvimento de novas mídias digitais que permitem o acesso à internet e

com o processo de digitalização dos meios tradicionais, naturalmente os telejornais, produtos

da mídia televisiva, estão passando por mudanças. Crocomo (2007, p. 152) argumenta: “O

telejornalismo, tal qual o conhecemos na atualidade, deverá obrigatoriamente incorporar os

novos recursos”. E no atual cenário, a web tem possibilitado o desenvolvimento e o acesso a

novos recursos voltados para os telejornais, assim como a interatividade na televisão digital.

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2.6 Telejornalismo em tempos de convergência

Já há alguns anos, o conteúdo produzido pelos jornalistas nas redações televisivas não

são exclusivamente para os telejornais. Como uma parte dos telespectadores está mais

conectada, em busca de mais informações e interatividade, os conteúdos dos telejornais

migraram para a internet, não apenas o conteúdo, mas também novas formas de diálogo com

os telespectadores, seja por meio de chats, e-mails, redes sociais, participação por meio de

enquetes etc. Como explica Klein (2012, p. 94-95), “[...] a ampla difusão de inovações

relacionadas às tecnologias digitais provocou mudanças na forma de acesso a conteúdos e

também na forma como as pessoas usam a mídia no seu cotidiano (como leem artigos, como

veem televisão, por exemplo)”.

Temos diversos exemplos das extensões do telejornalismo para além da televisão e da

nova relação que vem se firmando entre telespectadores/usuários e os produtores de notícias.

Os telejornais nacionais da Rede Globo podem ser usados como exemplo por serem

referência no telejornalismo do país. O Bom Dia Brasil, Jornal Hoje (JH), Jornal Nacional

(JN) e Jornal da Globo (JG) têm um respectivo site com os acontecimentos mais recentes e

com as notícias em vídeo e em texto da última edição do telejornal. Além disso, a

participação do público é incentivada, como por meio de bate - papo com especialistas,

convite para participação de enquetes. Nos sites desses telejornais existe uma área chamada

“VC”90: VC no Bom dia Brasil91, VC no Jornal Hoje92 etc. Nesse espaço o internauta encontra

mensagens como “Mande sua sugestão para o JG” (Jornal da Globo) ou ainda “Mande seu

flagrante em vídeo ou foto para o Jornal Hoje” e logo abaixo há um espaço no qual o usuário

pode contribuir de diversas formas, seja por meio do envio de vídeos, fotos ou textos. Para

poder mandar um conteúdo, o usuário deve fazer um cadastro no site da Globo e então o

mesmo poderá ser veiculado no telejornal, no site ou em ambos.

Os quatro telejornais nacionais da Rede Globo também estão presentes no Twitter,

outra forma de divulgar notícias e fazer contato com os internautas. Em levantamento

realizado em julho de 2014, o perfil do Jornal Hoje no Twitter estava com 1,21 milhões de

seguidores93. Nos tweets do JH os internautas são convidados a participar de bate - papos

pelo site, são avisados quando o telejornal entra no ar, e há tweets com saudações mais

90 Este espaço não existe no site do Jornal Nacional, da Rede Globo. 91 VC no Bom Dia Brasil. Bom Dia Brasil. Disponível em: <http://g1.globo.com/bom-dia-brasil/colaborativo-vcnobomdiabrasil.html> Acesso em: 05 jun. 2013. 92 VC no Jornal Hoje. Jornal Hoje. Disponível em:< http://g1.globo.com/jornal-hoje/colaborativo-vcnojornalhoje.html>. Acesso em: 05 jun. 2013. 93 Twitter Jornal Hoje. Twitter. Disponível em: <https://twitter.com/JHoje>. Acesso em: 10 jul. 2014.

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intimistas, como “Bom dia”, “Boa sexta-feira” e os internautas são chamados a participar

respondendo a perguntas do tipo “Como está o tempo na sua cidade”? O perfil do Bom dia

Brasil tem 378 mil seguidores94; o Jornal Nacional tem 1,22 milhões95; e o Jornal da Globo

tem 24,9 mil seguidores96. Os tweets desses três outros telejornais divulgam notícias e avisam

quando o jornal está no ar.

Todos esses telejornais nacionais da Rede Globo também estão no Facebook por meio

de páginas oficiais. O levantamento, também realizado em julho de 2014, mostra que a

página do Bom Dia Brasil97 no Facebook foi curtida por 1,8 milhões de pessoas; a do Jornal

da Globo98: 1,6 milhões de pessoas curtiram; Jornal Hoje99: 3,8 milhões de curtidas; já a

página do Jornal Nacional100 havia sido curtida por 4,4 milhões de perfis. As páginas dos

telejornais nas redes sociais são um indício da necessidade desses produtores de conteúdo

estarem mais próximos de seu público e o número de “curtidas” mostra que as redes sociais

se tornaram um novo espaço de penetração dos telejornais.

Especialmente o Jornal Hoje pode ser citado como um exemplo de telejornal que

vem buscando ampliar o diálogo com os telespectadores. O Telejornal propõe nos conteúdos

apresentados introduzir novas formas de relação de comunicação, privilegiando a perspectiva

de interatividade por parte dos telespectadores. Isso porque os conteúdos remetem a audiência

a interagir por meio da internet, acessando o site do telejornal para poder participar. Outra

característica notável do Jornal Hoje é a postura dos apresentadores. Eles mantêm uma

atmosfera descontraída, de bate - papo com os telespectadores, sempre os convidando a

participar, fazem perguntas diretas a eles, o que cria um efeito de contato com quem está

assistindo o telejornal. Segundo pesquisa realizada em 2010101, na qual o Jornal Hoje foi

analisado durante uma semana em busca de ocorrências interativas, 24% de tudo que foi

produzido no telejornal pode ser considerado interativo, isso levando-se em consideração o

número de eventos dentro do telejornal, como reportagens, notas cobertas etc, e os momentos

em que os telespectadores eram convidados a interagir pelo site do Telejornal.

94 Twitter Bom Dia Brasil. Twitter. Disponível em: <https://twitter.com/bomdia_brasil>. Acesso em: 10 jul. 2014. 95 Twitter Jornal Nacional. Twitter. Disponível em: <https://twitter.com/JNTVGloboBrasil>. Acesso em: 10 jul. 2014. 96 Twitter Jornal da Globo. Twitter. Disponível em:< https://twitter.com/JGJornaldaGlobo>. Acesso em: 10 jul. 2014. 97 Página Bom Dia Brasil Facebook. Disponível em: <https://www.facebook.com/BomDiaBrasil?ref=ts&fref=ts >. Acesso em: 10 jul. 2014. 98 Página Jornal da Globo Facebook. Disponível em: < https://www.facebook.com/JornalDaGlobo?fref=ts>. Acesso em: 10 jul. 2014. 99 Página Jornal Hoje no Facebook. Disponível em: <https://www.facebook.com/JornalHoje?fref=ts>. Acesso em : 10 jul. 2014.. 100 Página Jornal Nacional Facebook. Disponível em: <https://www.facebook.com/JornalNacional?fref=ts>. Acesso em: 10 jul. 2014. 101 PRAZERES, Selma Miranda dos. Telejornalismo na era digital: interatividade e acesso à informação. (Trabalho de conclusão de curso. UNESP - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Bauru, dez. 2011.)

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A extensão dos telejornais para fora tão somente da televisão criou novos espaços para

a participação dos telespectadores. O público tem agora um espaço mais significativo para

interagir, sugerir, ou mesmo reclamar com os produtores dos telejornais. Como coloca Klein,

O uso de mídias sociais por pessoas que, ao mesmo tempo, são também telespectadoras de TV tem resultado em ajustes na forma como a televisão pensa os processos de convergência tecnológica: não basta só disponibilizar o conteúdo na web, é preciso acioná-lo de formas diferenciadas (2012, p. 99).

Pudemos observar no tópico acima as extensões do telejornalismo para fora da mídia

televisiva, possibilitada pelo acesso das pessoas a sistemas computacionais com internet.

Entretanto, novas mudanças podem ocorrer nos telejornais a partir do uso de recursos da

televisão digital, com destaque para a interatividade, que pode permitir a participação do

telespectador diretamente pela televisão.

2.7 Telejornalismo e interatividade

Como o Sistema Brasileiro de Televisão Digital (SBTVD) permite a produção de

interatividade diretamente pela TV via Ginga, um leque de novas possibilidades se abrem

para o telejornalismo. Becker (2006) define a TV Digital Interativa (TVDI) como “a

combinação da TV digital com a tecnologia da interatividade, por meio do telefone, cabo,

satélite ou mesmo sem canal de retorno (interatividade local), viabilizada por softwares

instalados no terminal de acesso”. Para Teixeira (2009, p. 21), a televisão interativa denota

“[...] um amplo conjunto de fatores que nos devem condicionar a novos comportamentos

diante da tela e consequentemente a uma nova tela”.

Sem a necessidade de conexão à internet, com uma televisão digital que possua o

Ginga, o telespectador pode ter acesso a informações adicionais, como o resumo em texto de

uma notícia, os principais destaques do telejornal, acesso a imagens, infográficos, previsão do

tempo, endereços, telefones. O telespectador também pode participar de enquetes, mas para

isso é preciso que sua TV esteja conectada à internet. Como afirma Lopez e Gobbi (2009),

“com a nova tecnologia digital é possível aumentar a quantidade de informação oferecida ao

telespectador [...]”. Com a Televisão Digital Interativa (TVDI) será possível produzir um

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telejornal menos superficial, mais democrático e que dialogue diretamente com seu público, o

qual poderá se tornar um participante mais ativo.

Para os telejornais, a interatividade reativa ou local102 pode ser bastante útil quando

voltada para informações de serviço, pois atende aquele telespectador que perdeu o início do

telejornal ou que não teve tempo de anotar um telefone ou e-mail. Também é possível

produzir uma interatividade de fluxo bidirecional pela TV digital, mas essa produção exige

maior complexidade de programação e conexão da TV à internet.

Os recursos interativos podem fortalecer o vínculo entre os telejornais e o seu

público e provocar mais envolvimento dos telespectadores. Com a melhora tecnológica dos

meios de comunicação digitais, uma parte da audiência se tornou mais participativa e espera

que meios ouçam o que ela tem a dizer. Para o futuro há espaço para uma nova evolução. “O

exercício de pensar, planejar e produzir a nova TV aberta é que deve mostrar o rumo a lhe ser

dado, passando a integrar esses novos recursos de interatividade no dialogo da TV”

(CROCOMO, 2007, p. 109). Um exemplo de como o recurso da interatividade pela televisão

digital pode ser utilizado em um telejornal será apresentado a seguir.

102 Conteúdos adicionais que são enviados junto com o sinal audiovisual da televisão digital.

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3 DESENVOLVIMENTO DO APLICATIVO INTERATIVO

3.1 Métodos e processos

O objetivo principal desta pesquisa é verificar se a inserção de interatividade em uma

redação de telejornal causa alterações na rotina de trabalho dos jornalistas e ainda busca

apontar as possíveis alterações. Por isso, esse estudo foi inicialmente bibliográfico e depois

aplicado, com uma abordagem qualitativa. Recorreu-se a um referencial teórico como suporte

para a compreensão e contextualização do atual cenário comunicacional no qual está inserido

o telejornalismo- tempos de convergência midiática, cultural e interatividade.

Uma forma que encontramos para chegar ao objetivo já citado desse estudo, foi

desenvolver um aplicativo (app) interativo para o telejornal Unesp Notícias (UN), da

Televisão Universitária Unesp (TVU). Daí essa pesquisa ser também aplicada. Para

compreender a rotina de trabalho e mostrar como as atividades ligadas ao telejornal eram

distribuídas entre os jornalistas do UN antes da chegada do app, foram realizadas entrevistas

semiabertas, originárias de cerca de sete questões semiestruturadas e com uma abordagem em

profundidade com três dos nove jornalistas do UN: o editor-chefe, um repórter e um produtor.

Tais entrevistas foram nomeadas de “Parte 1”. Quando o app foi finalizado, ele foi

incorporado à rotina de trabalho do UN. Após duas semanas de testes, quatro jornalistas

foram entrevistados: o editor-chefe, um repórter, um produtor e um editor de texto. As

entrevistas também foram semiabertas, originárias de cerca de cinco questões

semiestruturadas e com uma abordagem em profundidade. Dessa vez, a intenção era

compreender as mudanças causadas pelo app na rotina de trabalho da redação do telejornal.

Essas entrevistas foram chamadas de “Parte 2”.

A técnica da entrevista foi escolhida para essa pesquisa por possibilitar a compreensão

da rotina de trabalho dos jornalistas do Unesp Notícias e as mudanças que o app poderia

causar. Duarte (2009, p. 63) lembra que “Por meio da entrevista em profundidade, é possível,

por exemplo, entender como produtos de comunicação estão sendo percebidos por

funcionários, explicar a produção da notícia em um veículo de comunicação, identificar

motivações para uso de determinado serviço [...]”. O autor ainda defende que “Nos estudos

qualitativos, são preferíveis poucas fontes, mas de qualidade, a muitas sem relevo.”

(DUARTE, 2009, p. 68).

Tanto a Parte 1 quanto a Parte 2 das entrevistas foram concedidas pessoalmente à

mestranda pelos jornalistas da Televisão Universitária Unesp na própria emissora, entre os

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meses de fevereiro e março de 2014, e gravadas em arquivos mp3. As mesmas foram

transcritas e encontram-se disponíveis nos apêndices dessa dissertação.

Assim, essa pesquisa buscou alcançar seu principal objetivo por meio de um estudo

bibliográfico, da criação do aplicativo interativo e por meio das entrevistas. O

desenvolvimento do app aconteceu na própria TVU e contou com uma equipe de produção

integrada, como será descrito logo mais.

3.2 Televisão Universitária Unesp (TVU)

O app interativo foi desenvolvido a partir da infraestrutura humana e material da

Televisão Universitária Unesp, TV pública da Universidade Estadual Paulista Júlio de

Mesquita Filho- Unesp. A TVU está localizada no município de Bauru- SP e é transmitida

pelo canal 45 UHF e 46.1 UHF digital. De acordo com o site institucional da emissora103:

A TV Unesp iniciou suas transmissões no dia 4 de novembro de 2011 e desde então cumpre seu papel de televisão pública levando ao ar uma programação de qualidade, que contribui com a formação crítica do cidadão. Os programas jornalísticos, de utilidade pública e de entretenimento possuem uma proposta multimídia, sintonizada com as tecnologias convergentes. Por isso, o público pode assistir à programação no canal aberto 45 UHF (na cidade de Bauru-SP) ou via internet, seja pelo computador, celular ou tablets, simultaneamente à transmissão aberta. O conteúdo também pode ser acessado a qualquer hora, sob demanda do usuário, no site. Além dos conteúdos próprios produzidos, a TV Unesp retransmite a Bauru a programação da TV Brasil, televisão pública aberta nacional gerida pela EBC – Empresa Brasil de Comunicação. Fora das telas, a TV Unesp cumpre sua função de ser uma televisão universitária, que colabora com projetos de ensino, pesquisa e extensão da Universidade Estadual Paulista - Unesp. Dessa maneira, o canal se mostra um campo fértil para pesquisas, experimentação, formação profissional e prestação de serviços à comunidade. (Site oficial da TVU).

Com relação à infraestrutura, a TVU disponibilizou um profissional do setor de

Tecnologia da Informação, um do setor de Arte e os equipamentos tecnológicos necessários

para o desenvolvimento e testes do aplicativo interativo.

103 Conheça a TV Unesp. TV Unesp. Disponível em: <http://www.tv.unesp.br/sobre>. Acesso em: 04 abr. 2014.

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3.3 Unesp Notícias (UN)

O Unesp Notícias é o telejornal da TVU, ele foi ao ar pela primeira vez em 1º de

agosto de 2012. Segundo o site institucional da TV104,

O Unesp Notícias leva ao ar informações e reportagens com foco na utilidade pública, prestação de serviço, cultura e ciência, com objetivo de mostrar e contextualizar os fatos, além de debater e levantar questões de interesse dos cidadãos de Bauru. Emprego, saúde, economia, a vida cultural e política da cidade, os desafios para a educação, os projetos das universidades que aproximam a comunidade da ciência, as inovações tecnológicas e as soluções para o meio ambiente. Tudo isso faz parte da pauta diária do Unesp Notícias. Unesp Notícias, de segunda a sexta, às 17h30, ao vivo. (Site oficial da TVU).

Hoje, 2014, nove jornalistas integram a redação do Unesp Notícias, divididos entre as

equipes de produção, reportagem e edição.

3.4 Diário de bordo: a produção do aplicativo interativo

A ideia do desenvolvimento de um app interativo surgiu depois que finalizei minha

Iniciação Científica, ainda na graduação. Meu principal objetivo naquela ocasião era elencar

possíveis recursos interativos da televisão digital que poderiam ser incorporados em um

telejornal. Atingi meu objetivo por meio de uma pesquisa teórica e pelo levantamento de

experiências interativas realizadas em telejornais. Já no Mestrado, com um novo problema de

pesquisa- verificar se a inserção de um aplicativo poderia causar mudanças na rotina de

trabalho dos jornalistas de uma redação televisiva- tive a oportunidade de elaborar na prática

uma proposta de interatividade para um telejornal.

O app para o telejornal Unesp Notícias foi desenvolvido na Televisão Universitária

Unesp. Três profissionais trabalharam de forma direta para que a ideia do app se

concretizasse: fui responsável por fazer o primeiro desenho do app e por pensar os conteúdos

interativos que, como jornalista, considerei úteis e adequados para um telejornal. Colaborei

ainda com sugestões na usabilidade e na programação; o supervisor de arte da TVU, Lucas

Silveira de Azevedo, criou a identidade visual do app, que deveria estar vinculada a do UN;

104 Unesp Notícias. TV Unesp. Disponível em: <http://www.tv.unesp.br/unespnoticias/sobre>. Acesso em: 07 abr. 2014.

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ele se ocupou também da usabilidade e desenvolveu os wireframes105 do app; ficou sob a

incumbência de Rafael Guimarães Pedroso, programador web do setor de Tecnologia de

Informação da TVU, programar o app em Ginga NCL (com objetos escritos na linguagem

Lua). Assim, formamos uma equipe de produção integrada, onde um participante ficou

responsável pelo conteúdo, outro pela identidade visual e usabilidade e outro pela

programação.

O app começou a ser criado em dezembro de 2012 e ficou pronto para a etapa de testes

em janeiro de 2014. A equipe de produção se reunia de acordo com a disponibilidade dos dois

profissionais da TVU, visto que os mesmos, além do app, desenvolviam atividades

pertinentes aos seus cargos na TV. Optei por descrever no quadro abaixo as atividades que

executávamos a cada encontro com o propósito de mostrar as etapas percorridas e os desafios

no desenvolvimento do app.

Data Descrição das atividades 11.12.12

• Início do desenvolvimento do app para o telejornal Unesp Notícias.

• Levantamento de possíveis menus para o app.

• Busca de exemplos de aplicações interativas nas principais

emissoras de TVs abertas do Brasil.

• Primeiro questionamento106: definição de etapas, solução de

possíveis problemas e se aplicação interativa poderia ser acessada a

qualquer momento da programação.

18.12.12

• Levantamento de possíveis menus para o app.

• Proposta de uma enquete semanal.

• Segundo questionamento: será possível detectar pessoas que acessam

o conteúdo interativo?

20.12.12

• Apresentação de uma proposta interface e de menu (figura 3).

• Avaliação do conteúdo para cada item do menu.

• Decisão de que o app não poderia atrapalhar o fluxo.

105 Wireframe trata-se de rascunhos de telas que mostram a forma visual que o aplicativo deverá parecer (GELONESE, 2010). 106 Durante os encontros da equipe de produção, surgiram diversos questionamentos sobre o app, os quais foram resolvidos ao longo do processo.

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• Sugestão de que a previsão do tempo estivesse no app. A ideia surgiu

depois que Roberto Franco, diretor de rede e assuntos regulatórios do

SBT, apontou no lançamento do Portal de Interatividade da emissora

que a previsão do tempo é uma das informações mais procuradas por

quem vive em metrópoles como São Paulo.

• Terceiro questionamento: qual ícone será usado para alertar o

telespectador da interatividade?

FIGURA 3- Desenho da primeira proposta de interface para o app (2012) Fonte: Elaborado pela mestranda

08.01.13

• Elaboração do wireframe do app no Photoshop (figura 4).

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FIGURA 4- Primeiro wireframe do app (2013) Fonte: elaborado pelo supervisor de arte da TV Unesp Lucas Silveira de Azevedo e pela mestranda

15.01.13

• Dificuldade em encontrar o tom adequado do vermelho e do azul

para a previsão do tempo.

• O Wireframe ganha a identidade visual do Unesp Notícias e é uma

mostra de como o app deverá ficar depois de pronto (figura5).

• Reunião com os jornalistas do Unesp Notícias para avaliação da

interface do app. Eles apontaram que a tela estava com muita

informação e sugeriram deixar o título das notícias em apenas uma

linha.

FIGURA 5- Wireframe do app ganha a identidade visual do Unesp Notícias (2013) Fonte: elaborado pelo supervisor de arte da TV Unesp Lucas Silveira de Azevedo e pela mestranda

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16.01.13

• Foram feitas as modificações sugeridas pelo Jornalismo. O título das

notícias deve ter apenas uma linha.

19.02.13

• Finalização do wireframe com a interface do app (figura 6).

• Início das discussões sobre a criação de uma plataforma de postagem

para abastecer o app (plataforma que posteriormente será usada pelos

jornalistas para postar conteúdos no app).

FIGURA 6- Wireframe mostra a interface do app pronta (2013) Fonte: elaborado pelo supervisor de arte da TV Unesp Lucas Silveira de Azevedo e pela mestranda

06.03.13

• Início da programação em Ginga do app.

• Discussão sobre os elementos que devem compor a plataforma de

postagem do app.

• Discussão da viabilidade de abastecimento dessa plataforma. Ela

deve ser fácil de usar e intuitiva.

• Quarto questionamento: quem vai produzir o conteúdo para o app? A

produção, a edição ou a reportagem?

• Quinto questionamento: que horas o conteúdo do app deve estar

pronto para ser enviado para o carrossel de dados?

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18.04.13

• Continua a programação do app em Ginga.

• Prossegue a criação da plataforma de postagem: reflexão sobre o

layout, os tipos de postagens, e a viabilidade técnica da plataforma.

24.04.13

• Programação do app.

• Desenvolvimento da plataforma de postagem.

29.05.13

• Primeira visualização da programação da tela principal do app. A

programação foi feita nos itens de “Notícia” do menu.

05.06.13

• Continua a programação do app.

• Discussão sobre a possibilidade do botão “OK” ser usado como

“Voltar” na navegação do app.

24.06.13

• Elaboração dos conteúdos de itens do menu para posterior

programação.

• Desenvolvimento da plataforma de postagem.

• Reunião com o editor-chefe do jornal sobre os menus e o conteúdo

de cada um deles e ainda sobre a linha editorial do telejornal.

Verificou-se que o UN trabalha com pautas que tenham como foco

principalmente a utilidade pública e os acontecimentos da Unesp;

pautas factuais e culturais também são abordadas no telejornal.

• Determinação de que as notícias em destaque no menu devem

privilegiar informações de serviço como telefone, site, endereços.

• Retirado do menu o item “Informações uteis”. Ele perdeu sua razão

de existir, já que as informações de serviço já seriam dadas nas

notícias.

06.08.13

• A enquete, que antes poderia ser acessada pelo botão verde do

controle remoto, passou a integrar o menu à esquerda do fluxo.

• Composição de conteúdo para a enquete e para os quadros.

• Finalização das propostas para os elementos do menu e para a

plataforma de postagem.

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23.09.13

• Continua a programação do app.

22.11.13

• Sugestão de que a palavra “Acesse” seja retirada da interface do app

por dar a falsa sensação de que seria possível acessar a internet pelo

app.

• A programação do app é finalizada.

• Plataforma de postagem é parcialmente finalizada.

• O app é apresentado para o editor-chefe do UN; foram propostas

entrevistas com os jornalistas para o entendimento da rotina de

produção da redação do telejornal.

13.01.14 • O aplicativo e a plataforma de postagem foram finalizados.

QUADRO 3- Diário de bordo com registro das atividades realizadas no desenvolvimento do app (2014) Fonte: Elaborado pela mestranda

3.5 Aplicativo e plataforma de postagem prontos para serem testados

Em janeiro de 2014 o aplicativo e a plataforma de postagem foram finalizados e

estavam prontos para serem testados no telejornal Unesp Notícias. A figura 7 mostra a

interface do aplicativo concluída. Desde a concepção do app, definiu-se que o fluxo da

programação continuaria no canto superior direito da tela. No lado esquerdo os três primeiros

itens são as principais notícias do dia do telejornal. Ao acessar esse conteúdo, o telespectador

encontra um resumo da notícia; o quarto item do menu é reservado para os quadros fixos do

telejornal, como “Vunesp Informa” (sobre concursos) e “Agenda cultural” (com a

programação cultural para o final de semana); no quinto elemento do menu, “Entrevista”, o

telespectador terá acesso ao nome, pequena biografia e foto do entrevistado do dia, além do

tema da entrevista; o sexto item “Opine” é uma enquete, com quatro opções de respostas.

Já no lado esquerdo inferior do vídeo há um menu disposto na horizontal: o botão

vermelho serve para o usuário “Minimizar” o app e voltar ao fluxo na tela inteira; o botão

verde “Ajuda” mostra ao telespectador o funcionamento do app e como navegar por ele; o

botão amarelo,“Sobre o UN”, dá acesso a um texto com um breve histórico do Unesp Notícias

e a uma explicação sobre o próprio aplicativo interativo do telejornal. No canto inferior

direito existe um quadro com as condições climáticas do momento em que o telejornal é

transmitido e a previsão do tempo para os próximos cinco dias; ao lado da previsão está

outro quadro, no que o telespectador é estimulado a participar do telejornal pelo e-mail ou

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pelas redes sociais (Facebook, Twitter e You Tube), as quais aparecem no vídeo se revezando

em forma de flash.

FIGURA 7- Aplicativo interativo pronto para teste (2014) Fonte: Setor de Tecnologia da Informação da TVU

A plataforma de postagem (figura 8), nomeada “Webpubli”, foi desenvolvida para

permitir a edição de conteúdos destinados tanto para o site quanto para os aplicativos em

Ginga da TVU. Do lado direito da tela (figura 8) estão os campos para a edição do texto e do

lado esquerdo estão listadas as publicações já finalizadas e prontas para serem postadas (no

site ou no Ginga). Depois que uma publicação é armazenada, é possível escolher onde aquele

conteúdo deve ser postado. Na opção “Ginga Unesp Notícias”, abre-se à direita da tela a

interface do app (figura 9) e à esquerda as publicações ficam disponíveis para serem

“arrastadas” para o app.

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FIGURA 8- Webpublis: plataforma de edição de texto e armazenamento de conteúdo da TVU (2014) Fonte: Setor de Tecnologia da Informação da TVU

FIGURA 9- Interface de postagem para o app no Webpublis (2014) Fonte: Setor de Tecnologia da Informação da TVU

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Com o aplicativo e plataforma de postagem prontos, ambos foram colocados em teste

no telejornal da Televisão Universitária Unesp. Apontaremos logo mais como foi o período de

teste. Mas primeiro, diante do objetivo central deste estudo, é necessário conhecer o

funcionamento da redação do Unesp Notícias antes da implantação do app.

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4 PRODUÇÃO INTERATIVA E MUDANÇAS NA ROTINA DA REDAÇÃO

4.2 A redação do Unesp Notícias Nove jornalistas integram hoje (2014) a redação do telejornal Unesp Notícias (UN).

Com base na “Parte 1” das entrevistas já citadas em “Métodos e processos” e ainda por meio

de um arquivo digital com a descrição das atividades de todos os profissionais do

departamento de jornalismo do UN107, mapeamos os cargos e funções (atividades) do

telejornal e sintetizamos esses na figura 10. A intenção foi mostrar as atividades

desenvolvidas pelos jornalistas antes da inserção do aplicativo interativo.

107 Concedido pelo Editor-chefe do UN.

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EDITOR CHEFE

Funções:

Administração do setor de jornalismo, gerenciamento de conteúdo, zelar pela coerência

dos produtos jornalísticos, conexão entre o jornalismo e a diretoria da TVU

PRODUTOR 1

Funções:

-Produção de pautas

-Agendamento da entrevista diária do UN

-Fechamento da capa de

pauta

REPÓRTER

2

Funções:

-Reportagens

-Boletins

-Notas

-Reportagens

especiais

PRODUTOR 2

Funções:

-Produção de pautas

-Apuração

-Notas

PRODUTOR 3

Funções:

-Produção de pautas

-Apuração

- Notas

REPÓRTER

1

Funções:

-Reportagens

- Boletins

-Notas

-Indexação de material

-Apresentação dos quadros

-Interatividade

-Segunda tela

EDITOR DE TEXTO

1Funções:

-Edição de texto

-Fechamento do UN

-Notas

-Arquivamento

-Conteúdo jornalisto para o

site.

EDITOR DE TEXTO

2

Funções:

-Edição de texto

-Agenda cultural

-Notas

-VTs culturais

Arquivamento

EDITOR DE TEXTO

3Funções:

-Apresentação do UN

-Edição de texto

-Produção de entrevistas

-Previsão do tempo

-Capa de edição

-Conteúdo jornalisto para

o o site.

FIGURA 10 - Cargos e funções da redação do Unesp Notícias (2014) Fonte: Elaborado pela mestranda

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Os cargos e funções expostos na figura acima, abrangem somente os profissionais do

departamento de jornalismo da Televisão Universitária Unesp. Já foi mencionado ao longo

desta pesquisa que outras áreas de uma emissora de televisão estão envolvidas com a

transmissão de um telejornal diário. Mas interessa para esse estudo apenas as atividades

desenvolvidas pelos profissionais de jornalismo do Unesp Notícias.

Como é possível observar na figura 10, um dos jornalistas exerce o cargo de editor-

chefe e todos os demais estão no mesmo nível hierárquico. A redação está dividida

basicamente em três áreas: a produção, a reportagem e a edição, além do editor-chefe,

responsável pelo telejornal como um todo. Com essa divisão, o UN segue, de certa forma, o

padrão tradicional de geração de um telejornal.

A área da produção é composta por três produtores, que são os responsáveis por

transformar os acontecimento em pauta para os repórteres, são eles quem dão o

encaminhamento diário das notícias, como checagem de informação, pré-entrevistas e

montagem da pauta. Já a reportagem do UN conta com dois repórteres, que vão para a rua

comprovar e colher informações, realizar entrevistas etc. Depois das gravações externas, eles

voltam para então construir o roteiro das notícias colhidas na rua. A área da edição conta com

três jornalistas encarregados de fazer a edição de texto com base no roteiro elaborado pelo

repórter. Cabe a esses editores verificar se todas as informações apresentadas na matéria

estão coerentes e com um encadeamento lógico de ideias. Esses profissionais são também os

responsáveis pela finalização e revisão das matérias que vão para o ar diariamente no UN.

Como no Unesp Notícias não existe uma área ou profissionais responsáveis exclusivamente

pelo conteúdo jornalístico do site da TVU, dois dos editores de texto redigem conteúdos

também para a web.

Vale lembrar que em dias de plantão do UN, como em feriados, os cargos e funções

dos jornalistas podem mudar, como o produtor ir para a rua fazer reportagem ou o repórter

desempenhar momentaneamente as atividades típicas do produtor.

4.3 Inserção do aplicativo interativo

Em 17 de fevereiro de 2014 o aplicativo interativo estreou no Unesp Notícias. Nesse

mesmo dia, o telejornal ganhou também um novo cenário e uma nova identidade visual. Duas

semanas após o lançamento do app, a “Parte 2” das entrevistas foi realizada com quatro

jornalistas do UN. Nosso propósito era verificar se o aplicativo alterou a rotina de trabalho

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dos profissionais da redação e como a nova demanda de atividades gerada foi distribuída entre

eles.

Conforme a proposta inicial do app, nos três primeiros itens do menu à esquerda

aparecia uma chamada para as três principais notícias da edição do dia do UN. Ao clicar em

qualquer uma dessas chamadas, o telespectador poderia ler um resumo da notícia. O próximo

item do menu era o espaço destinado aos quadros do telejornal, como Agenda Cultural e

Vunesp Informa. Ao clicar, era possível acessar as informações de serviço relacionadas a cada

quadro. Depois aparecia a opção “Entrevista”, com uma foto e um pequeno currículo do

entrevistado. No último item do menu à esquerda havia a opção “Opine”, onde a proposta era

de uma enquete realizada semanalmente no telejornal.

Na primeira semana de teste, a redação seguiu a proposta inicial de postar no app os

resumos e demais elementos do menu. Entretanto, os jornalistas do UN chegaram à conclusão

que a redundância do app com o conteúdo do próprio telejornal não era positiva:

Fizemos uma semana e achamos que não ficou legal, estava muito redundante com o jornal [UN]. A primeira ideia que a gente teve foi fazer o que estava proposto ali [no app], cada aba uma matéria do jornal, com um resumo, para a pessoa saber o que é. Depois achamos que isso estava um pouco repetitivo com o jornal (informação verbal).108

Por isso, após reunião, os jornalistas decidiram que os conteúdos para o app deveriam ser

complementares aos do telejornal e não redundantes a ele. A partir daí, o conteúdo para o app

passou a ter uma diretriz definida: eles seriam adicionais e complementares. Para uma das

repórteres do UN, a partir dessa definição, criar conteúdos para o app se tornou um processo

mais simples: “Acho que agora a gente encontrou o caminho, o que a gente pretende fazer,

que tipo de informação a gente quer disponibilizar no app, então agora fica mais fácil

visualizar e até conseguir destacar dentro da pauta o que poderia ficar só no app e o que vai

para a reportagem” (informação verbal).109

Após a escolha de uma diretriz para os conteúdos, o menu à esquerda do app foi

modificado, como pode ser observado na figura 11: a primeira aba se chama agora “Destaques

do Dia”, com as manchetes das principais notícias do dia do UN e uma chamada para o

horário ao vivo do telejornal às 17h30 e sua reprise às 20h; o item “Entrevista” foi modificado

108 Entrevista concedida pelo Editor-chefe do telejornal Unesp Notícias. Entrevista I. [mar. 2014]. Entrevistador: Selma Miranda dos Prazeres. Bauru, 2014. 1 arquivo mp3 (21m). A entrevista na íntegra encontra-se transcrita no Apêndice A desta dissertação. 109 Entrevista concedida por uma repórter do telejornal Unesp Notícias. Entrevista II. [mar. 2014. Entrevistador: Selma Miranda dos Prazeres. Bauru, 2014. 1 arquivo mp3 (6m). A entrevista na ´ntegra encontra-se transcrita no Apêndice B desta dissertação.

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e passou a trazer diretamente nome do entrevistado, o conteúdo continuou o mesmo; o item

“Opine” passou a se chamar “Enquete”, o conteúdo também continua o mesmo, com a

diferença que ela passou a ser postada também no site, para dar peso ao resultado. A enquete

fica no ar cerca de uma semana, depois o resultado é discutido com a presença de um

entrevistado relacionado a ela em estúdio. O teor dos demais elementos do menu à esquerda

podem variar, mas são priorizadas informações de serviço, como endereços e telefones, e

conteúdos que contextualizem ou que expliquem elementos relacionado a uma matéria.

Assim que o aplicativo é carregado, aparece no canto superior direito da tela da TV o ícone da

interatividade- um “I”- o qual é um indicativo que o aplicativo já está disponível para ser

acessado.

Com relação à plataforma de postagem, Webpublis, o departamento de Tecnologia da

Informação delimitou o número de caracteres das postagens da seguinte forma: até 40

caracteres para o título de cada item do menu à esquerda; até 710 caracteres para o conteúdo

interno de cada item do menu; até 450 caracteres para o conteúdo interno de cada item do

menu se além do conteúdo textual for postada também uma imagem.

FIGURA 11- Interface do app após duas semanas de teste (2014) Fonte: Setor de Tecnologia da Informação e setor de Jornalismo da TVU

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4.3.1 Mudanças na rotina de trabalho: quem fez o quê

Com a implantação do aplicativo, uma nova demanda de trabalho foi gerada. Nenhum

novo cargo foi criado para suprir essa demanda, a mesma foi distribuída entre os jornalistas da

redação. Após duas semanas de avaliação, os jornalistas estabeleceram uma rotina de

produção para as postagens no app, e ela começa já na reunião de pauta, quando todos

discutem possíveis conteúdos interativos para cada matéria. Os produtores passaram a

elaborar a pauta com mais informações, desde a contextualização de um assunto ou mesmo

aspectos históricos ou curiosos relacionados a uma matéria. A produção ficou também

responsável por redigir e postar o conteúdo dos “Destaques do dia”, o perfil do entrevistado,

“Enquete” e boletins.

Quando os repórteres voltam das gravações na rua, eles conversam com o pessoal da

edição de texto sobre o que rendeu ou não e avisam o que não foi usado na matéria e que

pode ser aproveitado como conteúdo adicional daquela reportagem para o app. Determinou-se

que a equipe de edição de texto ficaria responsável por redigir e postar no app os conteúdos

adicionais das matérias editadas por eles; os editores de texto também ficaram responsáveis

por selecionar, quando necessário, os frames, extraídos dos vídeos das gravações de rua, que

se tornarão imagens para serem postadas junto ao conteúdo textual do app. Como o jornal

começa às 17h30 ao vivo, o deadline para que todos os conteúdos do aplicativo estejam

prontos é às 17h. A equipe de produção ficou responsável por fazer o fechamento diário do

app.

No quadro 4 é possível observar as atividades de cada um dos nove jornalistas do UN

antes da implantação do app e como a nova demanda de trabalho gerada foi distribuída entre

na redação.

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Cargo Funções anteriores ao app

Funções agregadas após implantação do app

Editor-chefe • Administração do setor de jornalismo, gerenciamento de conteúdo, zelar pela coerência dos produtos jornalísticos, conexão entre o jornalismo e a diretoria da TVU

• Sugerir conteúdos para o app na reunião de pauta

Produtor 1 • Produção de pautas • Agendamento da entrevista diária

do UN • Fechamento da capa de pauta

• Redigir e postar os "Destaques do dia" e a enquete semanal

• Sugerir conteúdos para o app na reunião de pauta

• Fechamento diário do app

Produtor 2 • Produção de pautas • Apuração • Notas

• Redigir e postar em forma de serviço os boletins do telejornal

• Sugerir conteúdos para o app na reunião de pauta

Produtor 3 • Produção de pautas

• Apuração • Notas

• Redigir e postar em forma de serviço os boletins do telejornal

• Sugerir conteúdos para o app na reunião de pauta

Repórter 1 • Reportagens

• Boletins • Notas • Indexação de material • Apresentação dos quadros • Interatividade • Segunda tela

• Sugerir conteúdos não utilizados na reportagem

• Sugerir conteúdos para o app na reunião de pauta

Repórter 2 • Reportagens • Boletins • Notas • Reportagens especiais

• Sugerir conteúdos não utilizados na reportagem

• Sugerir conteúdos para o app na reunião de pauta

Editor de texto 1

• Edição de texto • Fechamento do UN • Notas • Arquivamento •

• Redigir e postar conteúdos adicionais e complementares aos VTs

• Sugerir conteúdos para o app na reunião de pauta

Editor de texto 2

• Edição de texto • Agenda cultural • Notas • VTs culturais • Arquivamento

• Redigir e postar conteúdos adicionais e complementares aos VTs

• Sugerir conteúdos para o app na reunião de pauta

Editor de texto 3

• Apresentação do UN • Edição de texto

• Redigir e postar conteúdos adicionais e complementares aos

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• Produção de entrevistas • Previsão do tempo • Notas • Capa de edição

VTs • Redigir e postar o perfil do

entrevistado • Sugerir conteúdos para o app na

reunião de pauta

QUADRO 4- Funções dos jornalista do Unesp Notícias antes e depois da implantação do aplicativo (2014) Fonte: Elaborado pela mestranda

Com relação às mudanças na rotina de produção diária causadas pelo aplicativo, o

Editor-chefe do UN destaca (informação verbal)110 que pensar o conteúdo para o app passou a

fazer parte da rotina, “[...] a gente começou a pensar nesse conteúdo já na reunião de pauta”.

Para um dos editores de texto do telejornal, o app trouxe principalmente duas modificações

na rotina de trabalho diária do UN:

A principal mudança na nossa rotina é incorporar já desde o começo, no pensamento das pautas, o que a gente pode desdobrar nessa pauta na própria reunião de pauta e um processo constante de conversa ao longo de toda a execução da reportagem. Nossa rotina já previa uma conversa constante entre os três setores [produção, reportagem e edição], só que essa conversa teve que aumentar mais ainda, porque a produção dá um feedback maior para a edição, a edição dá um feedback para a reportagem e a reportagem dá um feedback para os dois. Então a gente acabou se conversando muito mais sobre o processo de execução das matérias. E a segunda coisa que mudou foi a gente ter um processo de avaliação muito mais contínuo, de o tempo todo estar conversando. [...] Então de alguma forma mudou a rotina para a gente de autoavaliação inteira do processo, de o tempo todo a gente estar pensando o que é o melhor jeito de fazer (informação verbal)111.

Apesar de uma rotina de produção já estar inicialmente definida, o editor-chefe do UN

lembra (informação verbal)112 que a forma como o aplicativo tem sido trabalhado não está

consolidada por inteiro, e mudanças podem ocorrer no processo de produção: “A gente não

fechou, está meio em aberto”. Para um dos editores de texto do telejornal (informação

verbal)113, o aprimoramento dos conteúdos para o app deve ser contínuo: “Por mais que

nessas duas semanas a gente tenha aprendido a fazer e ele tenha entrado na nossa rotina, acho

110 Entrevista concedida pelo Editor-chefe do telejornal Unesp Notícias. Entrevista I. [mar. 2014]. Entrevistador: Selma Miranda dos Prazeres. Bauru, 2014. 1 arquivo mp3 (21m). A entrevista na íntegra encontra-se transcrita no Apêndice A desta dissertação. 111 Entrevista concedida por um editor de texto do telejornal Unesp Notícias. Entrevista IV. [mar. 2014]. Entrevistador: Selma Miranda dos Prazeres. Bauru, 2014. 1 arquivo mp3 (12m). A entrevista na íntegra encontra-se transcrita no Apêndice D desta dissertação. 112 Ibidem ref. 110. 113 Ibidem ref. 111.

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que vai ser um aperfeiçoamento constante [...] Ele tem um potencial para melhorar esse canal

de comunicação [a TV] que é incrível.”

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nos últimos 20 anos o acesso dos brasileiros às mídias digitais com internet tem

crescido de forma notável e não está mais restrito ao “tradicional” desktop. Atualmente,

grande parte dos celulares permite o acesso à web e novas mídias, móveis e portáteis, como o

tablet, possibilitam aos usuários estarem conectados onde a rede de internet está disponível.

A perspectiva do acesso à web revelou aos usuários uma nova maneira de consumir mídia. Na

rede eles podem escolher por onde navegar, qual conteúdo desejam acessar e além de receber,

eles podem também ser produtores de conteúdo. O internauta encontrou na rede um espaço

muitas vezes negligenciado ou limitado pelos grandes meios de comunicação.

A crescente presença do usuário na web fez ganhar força os conceitos de participação,

colaboração e interatividade. E os tradicionais meios de comunicação não ficaram alheios a

tal processo, mas sim eles próprios passaram a integrar uma era midiática digital ao migrarem

seu conteúdo para a web e lá criarem novas formas de contato com seu público. A maioria dos

meios de comunicação existentes no espaço físico, como jornais, revistas, rádios e TVs, estão

presentes hoje também na internet. Houve inclusive veículos que deixaram de existir no meio

físico e se tornaram exclusivamente digitais, como foi o caso do Jornal do Brasil.

As novas mídias digitais e a digitalização dos meios tradicionais causaram o que

Henry Jenkins (2008) chama de “convergência”, que além de midiática, por permitir o fluxo

de conteúdo por diferentes mídias, é também cultural, pois a forma como o público consome

mídia também mudou, novos hábitos foram criados. A televisão está também inserida neste

cenário, tempos de convergência midiática, cultural e interatividade. A televisão digital, aos

poucos, vem se consolidando no país e a interatividade, viabilizada pelo middleware Ginga, é

uma maneira da televisão, tradicionalmente um meio de mão única, ser incluída nesse

contexto de participação e diálogo com o público.

Como produto da mídia televisiva, o telejornalismo também tem se modificado para

atender a nova demanda de participação por parte de seus telespectadores e novas formas de

interação têm sido possibilitadas pela internet. Com a televisão digital e com o

aproveitamento da ferramenta “interatividade”, uma nova frente de atuação surge para o

telejornalismo. Vale lembrar que os produtos midiáticos se modificam à medida que a

sociedade no qual estão inseridos passa por transformações.

Como forma de explorar a interatividade justamente pela televisão digital e sua

aplicação no telejornalismo, levantamos então um problema de pesquisa: a produção de

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conteúdos de interatividade em uma redação de telejornal altera a rotina de trabalho dos

jornalistas? Para chegar a uma resposta, desenvolvemos um aplicativo interativo para o

telejornal Unesp Notícias (UN), da Televisão Universitária Unesp (TVU). Encontramos na

TVU, TV Pública, a infraestrutura e o espaço necessários para o desenvolvimento dessa

pesquisa, já que a emissora assume como compromisso colaborar com projetos de ensino,

pesquisa e extensão da Universidade Estadual Paulista – Unesp.

Depois de concluído, o aplicativo foi utilizado pelos jornalistas do UN por duas

semanas, em caráter de teste. Passado esse período, por meio de entrevistas com esses

profissionais, pudemos responder ao problema de pesquisa levantado: sim, a inserção de

interatividade na redação do UN causou alterações na rotina de trabalho de todos os

profissionais do departamento de jornalismo da TVU. A partir do momento em que o

aplicativo interativo foi incorporado ao Unesp Notícias, uma nova demanda de trabalho surgiu

e essa demanda foi distribuída entre as equipes de produção, reportagem e edição.

O aplicativo previa, em linhas gerais, um resumo das notícias. Mas após uma semana

de testes, a redação conseguiu definir uma diretriz de conteúdo para o app, ele deveria ser

adicional e complementar e não redundante ao conteúdo veiculado no telejornal. A partir

dessa definição e por decisão do departamento de jornalismo da emissora, todos da redação

passaram a integrar o processo produtivo de conteúdo para o app, o que causou alterações na

rotina de trabalho de cada um dos jornalistas que integram a redação. O conteúdo para o app

passou a ser pensado em todas as etapas que envolvem a construção de uma notícia, da

elaboração da pauta (que passou a trazer mais informações, desde a contextualização de um

assunto ou mesmo aspectos históricos ou curiosos relacionados a uma matéria) até a

finalização da reportagem pelo editor de texto.

Para os jornalistas que trabalham nas redações televisivas, uma nova lógica de

trabalho se estabelece. Há agora uma demanda de trabalho maior dentro das redações, pois

além da produção própria para o telejornal, é preciso enviar esse conteúdo para outras mídias;

e ainda, é necessário responder a demanda procedente dos internautas que interagem pelo site

ou redes sociais. “O comportamento das pessoas está mudando, as sociedades estão mudando,

as ferramentas da comunicação, as técnicas jornalísticas e o papel dos jornalistas também

estão mudando” (ASSIS, 2009, p. 11). Assim, o jornalista deve chegar às redações televisivas

preparado para lidar com as novas tecnologias da informação e para produzir conteúdos em

diferentes linguagens. Entretanto, se por um lado é necessária a atualização dos jornalistas que

atuam nas televisões em vista das mudanças em curso, por outro, pode ser necessário que as

empresas façam uma readequação dos salários desses profissionais, visto que a demanda de

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trabalho tem aumentado nas redações. No caso dos jornalistas da TVU, além das funções

pertinentes a cada um deles, somam-se agora as atividades ligadas ao app, mas sem

alterações salariais ou novas contratações.

Com relação ao aplicativo desenvolvido na TVU, cabem aqui algumas observações.

Esse app levou cerca de um ano até ser submetido para a etapa de testes. O conteúdo de cada

item do menu foi planejado em termos de utilidade e viabilidade tecnológica. Essa

experiência de criação nos possibilitou algumas considerações: o desenvolvimento de um

aplicativo interativo não deve se restringir aos profissionais da área de programação ou de

tecnologia da informação, é necessária uma equipe de produção integrada que pense o

conteúdo, a usabilidade e a programação do app; quando estudamos as teorias sobre as

potencialidades de uso da interatividade pela televisão digital, imaginamos muitas vezes uma

variedade de uso semelhante a que temos em um computador, mas na prática, todo o tempo

nos deparamos com limitações tecnológicas, nesse caso, com as limitações e complexidades

do Ginga; submeter o produto à avaliação constante de outras pessoas é uma forma de

corrigir possíveis falhas ou vícios; apesar do aplicativo do UN ainda ser limitado em termos

do feedback do telespectador, o app se mostrou bastante útil ao ser empregado em um

telejornal, quando normalmente as pessoas não têm tempo de anotar informações importantes

como endereços e telefones, com foco nas informações de serviço.

Nesta dissertação nos empenhamos no estudo do telejornalismo e das mudanças que a

produção de conteúdos de interatividade podem causar em uma redação de telejornal.

Entretanto, não nos voltamos para o outro lado da tela, ou seja, a recepção de um aplicativo

interativo pelo público. Assim, estudos de recepção se abrem como uma nova frente de

investigação. Ainda, como a utilização dos dispositivos móveis com acesso à internet vêm

crescendo no Brasil, o desenvolvimento de aplicativos para essas mídias e seu emprego no

telejornalismo também despontam como novas frentes para pesquisas futuras.

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REFERÊNCIAS

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APÊNDICES

Apêndice A

Entrevista I

Cargo: Editor-chefe de Jornalismo

Função: Administração do setor de jornalismo, gerenciamento de conteúdo, zelar pela

coerência dos produtos jornalísticos, conexão entre o jornalismo e a diretoria da TVU.

Parte 1: Entrevista realizada antes da inserção do aplicativo.

1. Como é o processo de construção da notícia aqui na TVU? Como um acontecimento se

torna notícia?

A gente conta com a observação de todos, independente da função que exerce aqui, todos têm

a incumbência jornalística de trazer fatos e ideias que achem relevantes para a gente fazer um

produto audiovisual em cima disso. E isso a gente afina todo dia de manhã, temos um horário

às 11 horas da manhã que é o horário que a gente consegue reunir praticamente todos. Esse

horário a gente precisa reunir o máximo de pessoas juntas para a gente colocar, expor as

ideias e cada um dá a sua contribuição para construir a reportagem ou derrubá-la. Durante a

reunião de pauta, cada um dos produtores assume parte das pautas e ai partimos para os

agendamentos com as fontes envolvidas naquela matéria. E disso nasce a pauta, que é o

roteiro de rua, vamos dizer assim, que o repórter vai colher essas informações, gravar, obter as

entrevistas, para depois trazer isso para a edição processar esse material, para formatá-lo de

acordo com o nosso jornal. Ai durante esse processo existem outras trocas de ideias. O

repórter liga para cá se alguma coisa não estiver batendo ou alguma novidade. Então é um

processo constantemente monitorado.

2. O que é interatividade no contexto da televisão digital?

Nós temos muitos conceitos na cabeça, mas pouca coisa a gente vê na prática. Eu estou mais

habituado a ver interatividade entre quem está assistindo do que entre quem está assistindo e

produzindo. Essa “interferência” no conteúdo ainda é muito pouca. A não ser, por exemplo,

aqui na TV, a gente teve poucas vezes pessoas considerando a interatividade a participação do

público na formação do conteúdo da TV. Algumas vezes pessoas ligaram aqui durante o

jornal, fizeram perguntas para serem colocadas no ar naquele momento; outras vezes

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recebemos e-mails com questões, o que é mais frequente ; outras vezes via redes sociais a

gente tem algum retorno, do tipo: “o programa está bacana”; “por que vocês não fazem...?”

Agora interatividade no sentido de ter um aplicativo na TV, que a pessoa participe ali, naquele

momento, opine ou escolha, ou tenha alguma informação extra, é isso que a gente vai tentar

experimentar aqui na TV. Mas eu acho que ainda é muito incomum, pelo menos para mim,

para a realidade de quem está aqui em Bauru. Poucas emissoras oferecem esse tipo de

aplicativo.

3. Você considera o app do UN interativo?

De certa forma sim. Se for confrontar com as teorias de níveis de interatividade, você pode

dizer que não, porque você não vai interferir diretamente no conteúdo que está sendo

transmitido. Mas de outra forma, no sentido de você participar além do assistir a notícia, você

quer ver um detalhe que para isso depende da sua ação no controle remoto, possibilidade da

gente em alguma das opções ali você poder opinar sobre o conteúdo ou sugerir alguma pauta,

ou entre algumas opções ver a que o público gostaria mais que fosse exibido. Então eu acho

que nesse sentido até sim. Agora, ainda é uma coisa muito nova e acredito que isso tende a

evoluir conforme os anos forem passando, a evolução da tecnologia. Mas acho super válido

investir na pesquisa nesse momento que as coisas estão começando.

4. Como a redação (equipe de jornalismo) recebeu e reagiu ao app do UN?

Como novidade. A gente reuniu os profissionais para ver o app, ver como ele funciona, como

ele será alimentado. Temos a sorte de ter profissionais nesse setor de tecnologia da

informação, muito competentes, que conseguiram desenvolver um sistema fácil de ser

alimentado. Então não tem nenhum segredo de programação para você colocar esse conteúdo.

O pessoal achou muito fácil, interessante. Por outro lado, as pessoas leem muito notícias. A

gente viu notícias que o Ginga ainda não decolou, o governo não está dando aquele incentivo

que deveria ter dado. Então de certa forma, as pessoas começam meio com o pé atrás. Tipo:

“será que compensa?”, como qualquer novidade. Tudo que muda a rotina das pessoas, a

princípio assusta e levanta questionamentos contrários. Participar de um momento como esse,

todo mundo acha bacana. Você vai conhecer um colega que pergunta: “e ai, como você está

trabalhando?” “Ah, a gente está pesquisando interatividade”. Então é super válido. Mas todo

mundo também é realista no sentido de que ninguém está fazendo isso, será que é a tacada

certa ou não? Então assim, a gente está apostando, contando com o que a gente vá fazer aqui

tenha um resultado positivo não só para a TVU, mas também para as pesquisas em torno

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disso. Como TV pública, um dos nossos papéis é experimentar. Se vai dar certo ou não, a

gente vai monitorar. É por isso que a gente está fazendo esse trabalho também.

5. O aplicativo vai gerar uma nova demanda de trabalho. Como você pensa que essa

demanda pode ser inserida na rotina de trabalho da redação? Quem deve fazer o quê?

Quem tem mais condições de fazer isso são as pessoas que estão aqui na redação [editores e

produtores]. Então a princípio os repórteres podem sugerir, mas não são eles que vão escrever.

A não ser que futuramente, a gente tenha um equipamento móvel na rua que você possa

alimentar esse dispositivo [aplicativo] à distância. Mas a princípio, nessa fase de teste, a ideia

é que nas janelas disponíveis a gente dê um complemento para o noticiário, e não

necessariamente algo de última hora. Agora, pode ser que a gente tenha momentos que

descubra que seria interessante informações de um VT que a gente tenha feito e a gente

consiga atualizar aquilo no dispositivo [aplicativo]. Se bem que o jornal é ao vivo, então a

gente consegue fazer isso no jornal também. Coisas que são muito antecipadas, como a

entrevista, pode ser postada pelo produtor da entrevista. Talvez o fechador do jornal [possa

fazer as postagens no app] , mas ele também tem toda atribuição de fechar o jornal. Então, de

repente, o editor auxiliar dele.

6. A produção para o app deve começar na pauta?

Não digo na pauta. Porque na verdade a gente vai atrelar ao que for exibido. De repente

estamos pensando na pauta para daqui dois ou três dias. Agora, a partir do fim do dia do

jornal, é o momento que a gente para e fala: “e amanhã, nós vamos dar o quê?” Então nesse

momento a gente poderia definir quais serão os textos [do aplicativo].

7. Com o app, a rotina de trabalho da redação deve mudar?

Além dessa demanda digital, nós temos a demanda do site. Talvez não seja uma única pessoa

que faça o app. O responsável pela entrevista faz o conteúdo da entrevista no app, o editor

pode colocar as manchetes do dia, a sugestão de pauta pode ser da produção. Acredito que

todo mundo tenha que ser capaz de fazer a postagem no app. Todo mundo tem que conhecer o

app.

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8. Como você avalia a interatividade de forma geral na televisão digital? Ela é útil ou

dispensável?

É útil sim. Só não acho que vá roubar a cena do produto principal. A televisão vai continuar

rolando ali o seu audiovisual, suas ideias, seu conteúdo. Vejo como um complemento mesmo.

É útil e importante desenvolver e chegar em um ponto que seja indispensável. Não sei se vai

chegar nesse ponto. Hoje tudo caminha para ser múltiplo, para ter várias formas de coexistir.

Parte 2: Entrevista realizada após a inserção do aplicativo.

1. Como foram essas duas semanas de estreia (de 17 de fevereiro a 03 de março) do app

do UN? Quem fez o quê?

Primeiro a gente foi testando o que iria escrever. Fizemos uma semana e achamos que não

ficou legal, estava muito redundante com o jornal [UN]. A primeira ideia que a gente teve foi

fazer o que estava proposto ali [no app], cada aba uma matéria do jornal, com um resumo,

para a pessoa saber o que é. Depois achamos que isso estava um pouco repetitivo com o jornal

e não com uma função de ser complementar. Nós pensamos em o app ser um algo a mais.

Então, a gente adotou a seguinte estratégia: na primeira aba a gente põe os “Destaques do

dia”, quem entrar lá vai saber o que o jornal está colocando. Outra coisa que tem todos os dias

é o perfil do entrevistado, então essas duas coisas sempre têm. E os outros conteúdos variam

conforme o tipo de matéria. Sempre que tem um boletim de serviço, a gente põe o serviço na

interatividade, que é o telefone, endereço, até quando vai um período de inscrição, essas

informações mais difíceis de anotar na TV. Sempre que tiver alguma coisa desse tipo a gente

vai colocar também. Outro tipo de coisa que a gente está usando é assim, por exemplo uma

matéria da câmara dos vereadores, dependendo dos assuntos, teve um que rendeu bastante

matéria, que foi a dívida da Cohab, então a gente colocou um histórico da dívida, entenda de

onde vem a dívida. Então quem está assistindo a matéria se pergunta “que dívida é essa?”. Ai

você vai lá [no app] e vê um histórico. Quando a sessão da câmara está mais fraca, a gente dá

o resultado, como “a câmara aprovou tais e tais projetos”, um resumo da sessão, o que tinha

para votar, isso quando não rende muita coisa. Com relação à enquete, nós criamos uma que

perguntava que conteúdo o telespectador gostaria de ver na interatividade. Mas não teve

muito retorno. A gente colocou uma agora no período do carnaval, essa teve um pouco mais

de retorno: “Que tipo de financiamento o carnaval deveria ter?” Não estamos fazendo uma

enquete diária, estamos buscando assuntos que tenham mais abrangência e de acordo com a

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época. Então como a gente estava há um mês só falando do carnaval, mostrando escolas,

então dentro daquele ambiente a gente falou, “vamos discutir o carnaval”. E uma das questões

que sempre gera discussão aqui em Bauru é a questão do financiamento do carnaval. Depois,

a gente usou o resultado da enquete em uma entrevista com o Elson Reis [secretário da

cultura] em estúdio. Todos os dias no jornal a gente estava falando: “você que tem TV digital

DTVi, acesse nosso app, lá tem uma enquete e nós estamos perguntando sobre o

financiamento do carnaval...” Tentando estimular. A enquete também foi para a página

principal do site, para poder dar um apoio para a gente também, porque se fica só no app, ele

ainda não tem muita força.

2. E quem da redação ficou responsável pelas postagens?

O pessoal da produção é quem está encabeçando essas postagens. Não só eles, mas eles estão

fazendo mais. A gente não fechou, está meio em aberto. Mas combinamos que essa parte de

“Destaques do dia”, “Perfil do entrevistado”, e “Enquete”, a produção está fazendo. Os VTs

que têm um complemento, a contribuição vem da edição, principalmente, e do repórter

também. Na reunião de pauta a gente discute o que vamos por de interatividade nas matérias,

depois, na edição de texto a gente conversa o que não entrou na matéria que daria para colocar

na interatividade. O Ginga não tem vídeo, mas a gente viu a possibilidade de transcrever o

trecho de uma sonora que não entrou e a gente achou legal, mas que não caberia no VT. Outra

coisa que aconteceu foi que o repórter sai para a rua com muita informação e às vezes não usa

no VT, então fica sobrando ali na pauta e coisas que são interessantes a gente coloca no app.

Então, é uma avaliação conjunta entre edição e reportagem para chegar nesse funil, junto com

a produção. A ideia do aplicativo está sendo um complemento do noticiário.

3. Que horas a produção tem postado esse conteúdo?

A gente fecha no final do dia. Nosso deadline é às 17h. Mas até umas 17h20, se a gente

entregar para eles [setor de Tecnologia de Informação] dá tempo. A gente tenta fechar às 17h,

assim o jornal já está montado, ao longo da tarde já dá para escrever os destaques do dia pelo

espelho do jornal.

4. Os repórteres podem sugerir um conteúdo, mas quem tem postado é o pessoal da

produção e da edição de texto?

Eles têm dado sugestões, mas não têm postado os conteúdos. O editor de texto finaliza os

VTs, então ele tem uma noção do que pode ser gerado de complemento.

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5. O app alterou a rotina de trabalho da redação do UN?

Sim, na reunião de pauta. O conteúdo para o app passou a fazer parte da rotina, a gente

começou a pensar nesse conteúdo já na reunião de pauta.

6. Todos os produtores têm postado os conteúdos para o app?

Um produtor tem assumido mais as postagens. Os destaques do dia e o perfil do entrevistado

ele tem feito quase todos os dias. Agora, que pautou um boletim, já escreve o serviço desse

boletim para o app.

7. Depois dessas duas semanas de funcionamento, como você avalia o app?

O retorno que a gente tem tido de pessoas que trabalham na área tem sido bacana. A gente

divulgou no facebook e as pessoas acharam legal. O pessoal vem aqui [ na TV Unesp], a

gente mostra e as pessoas acham legal a gente já estar fazendo isso, super novidade. Legal a

gente ter esse pioneirismo. A gente não tem muita referência de aplicativos em noticiários. A

gente chegou nesse formato, do que colocar, pensando na utilidade do app. A gente estava

fazendo as outras matérias e o app ficou redundante, ai achamos isso meio inútil. Mas se o

telespectador ver os “Destaques do dia”, ele pode se interessar ou não, e você não “mastigou”

tudo para esse telespectador. Estamos tentando ser complementar. Nós temos interpretado

dessa maneira, que um conteúdo complementar ao que o jornal está falando é mais legal que

fazer uma redundância apenas, um resumo. Em cinco minutos você lê todo o conteúdo do app

e o telespectador pode não se interessar pelo jornal, e isso pode ser um tiro no pé.

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Apêndice B

Entrevista II

Cargo: Repórter

Função: Reportagens, edição de texto e indexação de material.

Parte 1: Entrevista realizada antes da inserção do aplicativo.

1. Como é o processo de construção da notícia aqui na TVU? Como um acontecimento se

torna notícia?

Normalmente chega para a produção. Eles fazem um levantamento de tudo que está

acontecendo. Eles fazem uma ronda diária, vasculham o que tem acontecido na cidade, na

Unesp. Então é na produção que eles levantam essas informações. Ai é feita a reunião de

pauta, esses assuntos são discutidos e ai a gente define o que vai para o jornal e o que não vai.

Ai definimos quem vai ser o produtor dessa matéria e o produtor começa a levantar as

informações e marcar as entrevistas. A etapa seguinte é a do repórter, que vai coletar as

informações na rua, tudo que foi agendado pelo produtor e outras coisas que ele encontrar na

rua que contribuem para a reportagem. Ai vem o material da rua, o repórter redige o texto,

que é revisado por um editor de texto. Então o repórter grava o texto e depois o material segue

para a ilha de edição para ser editado e ai var ser acompanhado por um editor de texto e um

editor de imagem. Basicamente é isso.

2. O aplicativo vai gerar uma nova demanda de trabalho. Como você pensa que essa

demanda pode ser inserida na rotina de trabalho da redação? Quem deve fazer o quê?

Tenho uma visão um pouco radical. Acho que todas as etapas têm que pensar na aplicação.

Não dá para ser responsabilidade de um ponto específico. Por exemplo, o produtor está

fazendo a pauta, ele já pode sugerir para o repórter possibilidades de conteúdo que vão só para

a interatividade. Nesse caso [do aplicativo do UN] nós vamos ter até uma redundância, então

acho que pode ter coisas da própria reportagem na interatividade. Mas o produtor pode

levantar alguns questionamentos, o repórter vai apurar isso na rua, vai verificar o que da

notícia ele gostaria que fosse ressaltado e na edição de texto talvez seja a parte de finalizar

esse conteúdo, de fazer a postagem. Então assim, a gente teve uma apuração, teve o repórter

que captou o material, verificou aquilo que foi levantado pela reportagem e ai no final do

processo e edição ficaria responsável por formatar esse material.

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3. Você considera a possibilidade de o repórter, além de redigir o roteiro tradicional de

uma matéria, deixar também o conteúdo pronto para o app para que o editor fizesse a

postagem?

Sim, desde que ele tenha tempo para fazer isso. Desde que lá na produção saiba que vai ter

um horário reservado para esse repórter fazer isso. Porque a gente tem os horários muito

amarrados aqui. A gente sai para fazer uma reportagem, ai na sequência já tem um boletim,

tem que chegar e redigir o material que vai entrar no dia seguinte. Nós só temos duas equipes

para cumprir um jornal de trinta minutos, é muito pouco isso. Então, nossos horários são

muito certinhos. Por isso, se a gente tiver que fazer mais o texto da interatividade, isso tem

que entrar na previsão da produção, lá da pauta. Todo mundo vai ter que ter uma mudança de

pensamento para encaixar essa produção na sua rotina. E ai fazer uma medição de tempo, ver

qual é o momento mais adequado, quem deve escrever o texto da interatividade, se é o

repórter, que está a par de todo conteúdo que ele viu na rua, ou se é o editor, que já tem uma

visão mais filtrada de todo o material que foi trazido e consegue pinçar um ponto importante

por exemplo.

4. Algum conteúdo que era dispensado por falta de tempo na matéria pode ser postado

no aplicativo do UN? Que tipo de conteúdo é o mais adequado para ser postado?

Pelo que vejo nós só temos conteúdo textual né? Não tem conteúdo de vídeo. Se a gente

tivesse condições de ter conteúdo de vídeo, talvez trechos de entrevistas na íntegra ou ainda

pinçar informações mais relevantes da reportagem, se tem dados, que são mais difíceis de

fixar, transpor isso para a interatividade, endereços e telefones. Mais informações de serviço,

deixar as informações mais palpáveis para quem está assistindo.

5. Sua rotina de trabalho pode mudar por causa do aplicativo?

Sim, se a gente tiver que alimentar diariamente com certeza vai. Agora, no processo eu não

sei ainda como a gente vai se organizar. Tem que sentar todo mundo e avaliar mesmo: na

etapa de produção, o que é possível fazer? Na reportagem, vocês dão conta de fazer o quê?

Edição, dá para incorporar mais essa atividade na rotina? Tem que ter uma conversa mesmo

da equipe de cada etapa. Porque a partir do momento que entrar, a gente vai ter que alimentar

diariamente, então vai ter que fazer parte da rotina. Só é eficiente se a gente conseguir

estabelecer um processo mesmo.

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6. Como você avalia a interatividade de forma geral na televisão digital? Ela é útil ou

dispensável?

Tudo que vem para agregar à informação é útil. Mas temos que fazer de uma forma que de

fato seja interessante para quem está assistindo, que agregue algo. Por exemplo, no caso da

entrevista do dia no UN, é legal ter um perfil do entrevistado, isso agrega informação. Acho

que temos que usar os recursos da melhor forma possível para se tornar interessante e para

que complemente um conteúdo da primeira tela. Sempre temos que trabalhar nessa

perspectiva de ser uma complementação, agregar informação.

Parte 2: Entrevista realizada após a inserção do aplicativo.

1. Como foi trabalhar essas duas semanas com o app interativo do UN?

Eu percebi que no começo a gente teve que se acertar, porque foi uma atividade diferente

dentro da nossa rotina. Então a gente teve que adaptar as funções. Quando a discussão

começou a ser feita na pauta, durante a discussão da pauta, na reunião, teve resultados mais

positivos. Por exemplo, quando eu fui para rua fazer a reportagem sem pensar em nada [para

o app], muitas das informações que estavam na pauta eu acabei usando inteiramente na

reportagem, por conta de tempo do preenchimento do VT e mesmo no tipo de informação,

dependendo do tipo de matéria, eu tive que usar todo o conteúdo da pauta e ai não sobrou

alternativa depois para os editores de texto montarem [o app]; então ficou uma reprodução do

que já estava na reportagem. Quando a gente começou a pensar um pouco mais sobre isso e a

detalhar mais a informação que iria para o app, eu percebi que ficou até mais fácil até para os

editores depois montarem o conteúdo. Eu faço a reportagem, mas eu consigo indicar algumas

coisas que podem ser usadas para o app. Eu cheguei a sugerir para os editores de texto: “eu

não usei tal coisa na reportagem, vocês podem utilizar isso”. Eu volto da rua, falo o que

encontrei, o que rendeu ou não e ai aviso também o que eu não usei e que dá para aproveitar

para o app. Então foi assim que funcionou esses dias. Acho que agora a gente encontrou o

caminho, o que a gente pretende fazer, que tipo de informação a gente quer disponibilizar no

app, então agora fica mais fácil visualizar e até conseguir destacar dentro da pauta o que

poderia ficar só no app e o que vai para a reportagem.

2. A sua rotina de trabalho mudou em função do app?

Eu olho para o conteúdo da pauta e eu vejo, coisas muito detalhadas eu acabo deixando isso

como uma sugestão para o app. O que eu vejo que não vai caber na reportagem, eu sugiro

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como uma opção para o app. Dentro do conteúdo que eu tenho, o que eu pretendo fazer, qual

a proposta, o que se espera da reportagem, então eu avalio o conteúdo. Por exemplo, a gente

fez uma reportagem sobre multas de trânsito, então o produtor da pauta fez um detalhamento

de todos os pontos, todas as principais infrações que foram cometidas, as porcentagens. Isso,

dessa forma mais detalhada, eu não usei dentro da reportagem, eu usei os dois tipos de multas

que mais registram infrações, mas a lista de cinco eu não usei. Então isso pode ir para o app.

Então quando é muito específico dentro da pauta, eu já indico como uma possibilidade para o

app.

3. E as postagens no app têm sido feitas por quem?

Pelos produtores e editores de texto.

4. Depois dessas duas semanas de funcionamento, como você avalia o app?

É uma ferramenta útil. A partir do momento que a gente encontrou uma forma que o app

complementasse o conteúdo que a gente exibe, a gente encontrou o caminho e ai deu uma

utilidade para o app. São informações de serviço, são complementos da reportagem. Então é

uma ferramenta que veio para dar mais substância para o nosso jornal. No início a gente

estava encontrando o caminho de como fazer, foi uma mudança grande, mas agora que a

gente já encontrou o ponto. A gente está pensando especificamente em conteúdo

complementar ao nosso material. Eu acho que é válido sim, é positivo e os telespectadores

têm mais um adicional ali. A partir do momento que for integrado na nossa rotina [o conteúdo

para o app] a gente consegue ir melhorando isso, pensando outras possibilidades, dentro do

que a tecnologia permite. A gente até gostaria de fazer outras coisas, mas tem uma limitação

técnica, a gente só pode usar texto, foto. Se pudesse usar vídeo, a gente estaria pensando

alguma coisa a mais. Mas acho que isso fica para uma próxima tecnologia, quem sabe um

conteúdo de segunda tela.

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Apêndice C

Entrevista III

Cargo: Produtor

Função: Produção de pautas, agendamento da entrevista diária do UN, fechamento da capa de

pauta.

Parte 1: Entrevista realizada antes da inserção do aplicativo.

1. O que é interatividade no contexto da televisão digital?

Entendo que a interatividade está permitindo um complemento de uma informação. A pessoa

ter acesso a mais informações daquilo que ela vê só em vídeo na televisão. Não sei se a gente

vai chegar ao ponto da gente ter realmente a interatividade de quem está assistindo responder

e influenciar naquilo que eu estou produzindo. Talvez seria o cenário ideal. Mas eu acho que

atualmente, em um primeiro momento, a interatividade está permitindo um complemento de

informação. Você acrescentar ou reforçar uma informação. Por exemplo, você passou um

serviço, como abertura de vagas para escola e aquele boletim passou no jornal. Então, a

interatividade vai permitir que a pessoa fale assim: “queria ver de novo aquele endereço,

aquele telefone eu não anotei”, vai lá na interatividade e está ali.

2. Mais algum conteúdo poderia ser postado no app do UN?

Como o Ginga permite conteúdo de texto, eu acho que é possível a gente acrescentar. Por

exemplo, em um cenário ideal, um aplicativo que permitisse agregar conteúdo de vídeo.

Vamos supor, você tem uma entrevista gravada que vai para o broadcasting e depois talvez

uma versão expandida que vá para a interatividade. Por exemplo: “no nosso aplicativo você

continua a conversa que eu tive com o secretário da saúde...ou outras informações. Seria

interessante, mas tem que ver o quanto isso influenciaria na rotina da redação.

3. O aplicativo vai gerar uma nova demanda de trabalho. Como você pensa que essa

demanda pode ser inserida na rotina de trabalho da redação? Quem deve fazer o quê?

A gente pensa que todos podem participar. Mas no fim uma pessoa que acaba fazendo aquilo

efetivamente. Esse reforço de informação para a interatividade pode ser uma indicação de

pauta. Por exemplo, eu indico na pauta: “para interatividade reforçar endereço, site, período

de inscrição” etc. Talvez o repórter vai para a rua e quando volta vai produzir a lauda dele. A

lauda vai ser aquele conteúdo que vai para a edição. Então eu sinceramente não sei se seria

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um diálogo entre produtor e editor, para gerar aquele conteúdo para a interatividade, se isso

passaria pelo repórter, porque eu penso onde o repórter vai indicar isso? Na lauda? Mas eu

acho que o que vai para a interatividade pode partir de uma produção. Alimentar o aplicativo

eu já não sei se seria uma questão de edição, de produtor específico para isso. Mas eu acho

que a seleção disso partiria da produção.

4. Sua rotina de trabalho pode mudar por causa do aplicativo?

Mudaria um pouquinho. Nesse formato que foi pensado eu acho que não alteraria tanta coisa

assim, porque essa informação extra que a gente acrescenta no app é uma informação que

muitas vezes está na pauta do repórter e na pauta vai ter até mais informação. Então não seria

uma coisa trabalhosa. Dentro da minha rotina selecionar essas informações já está ali. Eu não

sei se, por exemplo, falassem: “a produção vai ter que alimentar o aplicativo”...ai teria uma

hora que eu precisaria parar para fazer isso. Mas essa seleção de informação já está muito

incorporada.

5. Você falou que na pauta a produção já poderia apontar o conteúdo para o app. Quais

seriam esses conteúdos?

Quando você está falando de serviço, inscrições, vagas, tudo que for de serviço. Tem que

colocar o que a pessoa precisa saber para ter acesso aquele serviço. Então, se é vaga de

concurso, o site onde ela vai fazer inscrição, o período, preço da inscrição, para ela ter aquilo

se ela se interessar. Sobre as matérias, reportagens, talvez um resuminho da notícia, um

conteúdo de GC que muitas vezes a gente produz.

6. Como você avalia a interatividade de forma geral na televisão digital? Ela é útil ou

dispensável?

É uma coisa legal para ser incorporada no conteúdo, principalmente do jornalismo. Permite

você ter um complemento de informação. Muitas vezes a gente discute assim: “o

telejornalismo tem uma superficialidade, na origem ele é essencialmente superficial”. Muitas

vezes você vê em um jornal da Globo, da TV TEM ou da Record, quando se fala em

informações de serviço: “outras informações você confere no site...” Essas informações

podem estar ali presentes em um conteúdo de interatividade. Ou seja, a pessoa não precisa ir

para outra mídia para ver aquilo. Eu só acho que precisa ser uma coisa incorporada para o

usuário comum. É bem legal, mas talvez precise de uma estratégia até didática para que o

telespectador acesse e saiba usar aquilo e lembre que ele tem acesso.

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Parte 2: Entrevista realizada após a inserção do aplicativo.

1. Como foi trabalhar essas duas semanas com o app interativo do UN?

Não teve nenhum momento que tenha sido muito complicado para a gente trabalhar com o

app. No começo era mais no sentido de acertar quem fazia o que e a forma como fazer.

Muitas vezes eu começava a fazer um texto, o pessoal da edição também começava a fazer, ai

a gente não sabia o que colocar nesse texto, se a gente iria fazer um resumo das informações

ou se a gente iria trazer um complemento. Como a gente foi afinando mais o conteúdo que iria

para o app, foi ficando mais fácil. E também acabou formando uma rotina mais específica de

como a gente colocar essas informações no app. Então em geral no final da reunião de pauta

eu geralmente chamo o pessoal para pensar o conteúdo para o Ginga. Ai a gente abre o

espelho do jornal, vê o que vai dar no dia. Costumamos fazer um box do app com os

destaques do dia, fazemos manchetes, chamamos para o pessoal assistir ao vivo, a reprise e no

site; fazemos um conteúdo extra para duas matérias que estejam no jornal; fazemos um perfil

do entrevistado do jornal; procuramos colocar um serviço ou oportunidade de curso ou tudo

que tenha a ver com serviço, como “a unidade de saúde vai oferecer o exame tal,

mamografia”, ai a gente coloca mais a questão do serviço; tem também a parte da enquete. E

ai foi ficando mais automático à medida que a gente formalizava assim: eu que fecho o app

que manda para o pessoal da técnica colocar e em geral um editor de texto que fica com a

parte da edição na ilha às vezes senta e escreve um texto ou eu acabo escrevendo. Serviço eu

acabo escrevendo, às vezes eu peço também para outro produtor escrever; “Destaques” eu

acabo escrevendo também. A gente também automatizou a questão que a gente opta por

colocar frames das matérias como uma imagem [no app], porque acaba sendo uma imagem

nossa. Ai eu já passo para o editor de texto os frames que eu vou precisar, ai o pessoal foi

colocando e ficou mais automático. Ai o processo de fechar isso é mais rápido. Por exemplo,

ontem era por volta das 16h e o app já estava fechado, eu só não dava um “concluir” para

atualizar a previsão do tempo. Mas fica mais fácil de ser fechado esse conteúdo.

2. A sua rotina de trabalho mudou em função do app?

Na reunião de pauta eu chamo o pessoal para discutir o que vai ser feito no app e em geral

antes de sair para o almoço eu começo a organizar os conteúdos no Ginga. Ai eu redijo os

destaques, vejo um boletim que a gente já escreve, vejo se a enquete está em ordem, alguma

matéria que eu vá escrever eu já coloco assim, e vou controlando assim: tal texto tal pessoa

falou que iria escrever, então eu coloco ali “fulano vai escrever”, que é para eu ter um

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controle e acompanhar: “fulano, o texto já está pronto?” Vejo também, precisa de frame tal,

frame ok, já desceu. Então é mais controlar isso para depois fechar o app. Eu acredito que da

minha rotina diária é mais ou menos uma hora por dia que eu dedico para o app.

3. Depois dessas duas semanas de funcionamento, como você avalia o app?

É um extra que a gente coloca que é bem legal, principalmente porque a gente optou em

buscar dar uma informação extra para a pessoa. Tem momentos que a gente pensa: o que não

entrou no VT que a gente poderia dar? Só que a gente sempre procura falar assim: a gente não

pode comprometer o VT para ter uma informação para colocar no Ginga, até porque a gente

sabe que o público que vai ter acesso ao Ginga é menor que o que vai assistir a matéria. Mas a

gente sempre procura dar esse extra para a pessoa. É bem bacana principalmente porque a

gente sempre procura dar um extra de serviço para a pessoa. E em relação à nossa rotina, a

forma como o app foi pensado para a gente administrar é bacana porque é fácil de ser

atualizado, é bem maleável da gente usar.

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Apêndice D

Entrevista IV

Cargo: Editor de texto

Função: Edição de VTs e boletins

Parte 2: Entrevista realizada após a inserção do aplicativo.

1. Como foi trabalhar essas duas semanas com o app interativo do UN?

Eu conversei bastante com o editor-chefe no começo, porque tive uma reação meio perdida,

até por essa falta de referência que a gente tem com esse tipo de pensamento. Como não

existe mais gente fazendo isso, então para mim era muito vago o fato de a gente ter que criar

do zero um jeito de fazer. Então principalmente no começo foi muito confuso no sentido de o

que colocar nesse aplicativo. A minha referência, como eu não tenho experiência com TV

digital, eu não tenho uma TV com Ginga em casa, então a minha referência é aquele

aplicativo da NET. A minha referência era esse aplicativo para você ter uma sinopse ou um

resumo daquilo que você vai ver. E foi assim que eu levei no começo. Ai a gente começou a

perceber que essa redundância em alguns poderia ser um pouco mais negativa. Então a partir

daí a gente começou a pensar junto o que poderia colocar. Pelo menos para mim, para minha

experiência pessoal, foi de cada dia descobrir um pouquinho o que a gente poderia por. De

forma geral a gente dividiu que o editor de texto ficaria responsável pelos conteúdos

adicionais das matérias que ele editou. Então como basicamente eu estou concentrando a

edição, eu ficaria com os conteúdos adicionais de todas as reportagens que a gente colocaria

no jornal. Ainda assim no começo foi complicado porque como a gente não tinha previsto

esses conteúdos desde o processo de pauta, então na hora de escrever que você tinha que

apurar as informações adicionais para o app. Alguns casos, por mais que a gente já tivesse

visto que poderia passar para o app trechos de sonoras que não tivessem sido utilizadas na

reportagem, a gente teve alguns casos em que todo o conteúdo foi esgotado na reportagem,

então não sobrou material para colocar no app. Então acabou exigindo um pouco de jogo de

cintura para poder contornar, com todo o deadline de fechamento e ter um tempinho para

apurar a informação para colocar no app. Para mim foi uma experiência muito positiva,

bacana ver que duas semanas depois, em tão pouco tempo, a gente conseguiu achar uma cara

e um jeito de fazer.

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2. O app alterou a rotina de trabalho da redação do UN?

A principal mudança na nossa rotina é incorporar já desde o começo, no pensamento das

pautas, o que a gente pode desdobrar nessa pauta na própria reunião de pauta e um processo

constante de conversa ao longo de toda a execução da reportagem. Nossa rotina já previa uma

conversa constante entre os três setores [produção, reportagem e edição], só que essa conversa

teve que aumentar mais ainda, porque a produção dá um feedback maior para a edição, a

edição dá um feedback para a reportagem e a reportagem dá um feedback para os dois. Então

a gente acabou se conversando muito mais sobre o processo de execução das matérias. E a

segunda coisa que mudou foi a gente ter um processo de avaliação muito mais contínuo, de o

tempo todo estar conversando, vendo se está indo tudo certo, de muitas vezes na hora que

você sentou para escrever o conteúdo adicional você falar: “olha, isso aqui não está

funcionando”. A gente delimitou que as manchetes do conteúdo deveriam ser limitadas a uma

linha; no começo a gente tinha um limite de caracteres que permitia você formar duas linhas

em um título. Mas a gente começou a perceber que se todas as manchetes formassem duas

linhas de título, iria virar uma poluição visual enorme. Então a gente diminuiu para 40

caracteres e ai um esforço coletivo de todos de ser sucinto, de você ter que criar uma

manchete de 40 caracteres que diga todo conteúdo e ao mesmo tempo seja atrativo para que a

pessoa sinta vontade de clicar naquele conteúdo. Então de alguma forma mudou a rotina para

a gente de autoavaliação inteira do processo, de o tempo todo a gente estar pensando o que é o

melhor jeito de fazer.

3. A sua rotina de trabalho mudou em função do app?

Eu passei a ter que participar muito mais da reunião de pauta, até pelo fato de como a gente

organizou a rotina. Mudou de ter que me organizar melhor para poder estar aqui; todos estão

contribuindo e têm que participar dessa discussão. É a hora de todas as visões diferentes sobre

a mesma matéria poder ser o diferencial do material que a gente vai jogar no conteúdo

adicional. De maneira geral eu estabeleci a rotina assim: chegar, subir para a edição das

reportagens e ouvir todas as sonoras na ilha, até para eu já ter uma noção do material que veio

da rua. Com a reportagem pronta eu descia para escrever [o conteúdo para o app], abria a

pauta para ver as informações que o repórter não usou e já estavam produzidas e ai tentar

identificar o que a gente podia colocar na interatividade, o que poderia colocar que não está

na reportagem e nem na pauta, um terceiro conteúdo que a gente teria que apurar. A partir do

momento que a gente definiu que esse conteúdo [para o app] seria um conteúdo

complementar não seria um resumo, para mim ficou muito mais fácil de escrever; a partir da

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definição da linha da interatividade ficou muito mais fácil. Na primeira semana, quando a

gente estava aprendendo a mexer com a interatividade, a gente não definia coletivamente o

que seria colocado na interatividade, então ficava a cargo do editor. Então a hora que eu

sentava para escrever eu tinha a plena escolha se eu queria escrever um resumo daquela

matéria, se eu queria dar um conteúdo adicional. A gente começou a discutir isso mais

coletivamente, então começou a dar um direcionamento maior e facilitou muito mais. Hoje

está muito mais tranquilo de escrever para a interatividade.

4. Depois dessas duas semanas de funcionamento, como você avalia o app?

Eu não tenho experiência como estudioso de TV digital, então eu acabo tendo a visão do

consumidor de informação. Eu tento colocar no app as informações que eu gostaria de ver e

que fariam diferença, e eu tento avaliar desse lado de ser realmente um conteúdo

complementar aquele material que a gente está colocando na TV. A gente sabe que por a TV

ser baseada em tempo, a gente acaba não conseguindo esgotar toda informação ali dentro.

Acho que o app é muito positivo nesse sentido de abrir mais uma frente de informação além

do conteúdo do jornal ou reforçar um conteúdo que pelo fato da TV ser muito rápida, você

não consegue apreender. Você está dando uma informação de um concurso, ai você deu um

site, os requisitos que a pessoa tem que preencher para concorrer aquele concurso, é muito

rápido, não dá tempo muitas vezes da pessoa anotar e ter aquela informação fácil para ela

consultar. Então além do app ser uma segunda frente, ele também é uma base para que você

consiga ter aquelas informações ali para a pessoa anotar com calma. Então nesse sentido o

app é muito útil. Por mais que nessas duas semanas a gente tenha aprendido a fazer e ele tenha

entrado na nossa rotina, acho que vai ser um aperfeiçoamento constante, a gente nunca vai

conseguir esgotar o melhoramento dele. Ele tem um potencial para melhorar esse canal de

comunicação que é incrível.

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Apêndice E

Entrevista V

Cargo: programador web

Função: programação e manutenção do site da TVU, programação de aplicações em Ginga,

apoio na manutenção de e-mail, de servidores e de equipamentos broadcasting.

Parte 1: Entrevista realizada antes da inserção do aplicativo.

1. O que é interatividade, no contexto da televisão?

A TV é um meio muito limitado em termos de interatividade. Interatividade na televisão seria

feita se a pessoa realmente interferisse na programação. É muito pouco viável e se fosse feita,

deveria ser exclusivamente pela internet. Pelo sistema broadcasting é muito difícil. O sistema

é muito limitado para se fazer. A única forma de se fazer pelo sistema broadcasting seria com

o apoio do canal de retorno. Mas ainda assim esse canal de retorno não é internet. Então,

televisão pura, interativa, eu não acredito, não existe. Foi um grande engano dizer que o

Ginga traria interatividade para a TV. Na verdade o Ginga traz serviços interativos, esse era o

nome inicial das aplicações. E esses serviços interativos eu considero limitados. É

interatividade, mas em um nível muito baixo. Você consegue fazer a pessoa interagir com o

conteúdo, não com o programa em si. Não se trata de interagir na televisão, se trata de

interagir com algum conteúdo que foi passado pela televisão. A interatividade para mim na

TV digital é isso.

2. A criação de aplicativos interativos é viável (há tempo? Infraestrutura?) dentro da

sua rotina de trabalho?

Sim, ela é bastante viável e até cobrada.

3. Como é a programação em Ginga NCL?

Ela tem a facilidade de ser uma linguagem interpretada, assim como o HTML e o JavaScript

na internet. Ou seja, você escreve um arquivo de texto e esse texto é lido por uma máquina

virtual, a máquina virtual do Ginga, que está dentro da TV. Isso gera facilidade, uma

linguagem compilada, aquela que gera um arquivo executável, ela tem esse tempo de

compilação, tem que ter um compilador instalado. A linguagem interpretada tem algumas

facilidades. O Ginga NCL, embora seja uma linguagem bastante completa e até de certa

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forma robusta, como ela é direcionada para a finalidade da aplicação, não é uma linguagem

feita orientada ao desenvolvimento. O NCL é feito para um tipo de coisa, para você apresentar

e interligar mídias. Então, como ele tem essa finalidade muito específica, ele possui uma

forma de programar orientada para essa finalidade que ela é um pouco trabalhosa. Você digita

muito para fazer poucas coisas. Então, ela não usa comandos tradicionais de uma linguagem

de programação. Ela usa tags e com propriedades e conteúdos dessas tags e essas tags é que

são interpretadas.

4. O problema das aplicações em Ginga não ficarem bem configuradas em todas a TVs é

um problema do Ginga ou da TV?

Existe uma falha muito grave que é o Ginga ter sido feito como uma especificação. O Ginga

não é um programa que você instala e baixa na TV, no computador ou celular. ele é uma

especificação. Ou seja, o fabricante que quer ter Ginga em sua TV dele ler a especificação e

desenvolver um programa que atenda àquela especificação. Então, tem um problema ai,

porque além da especificação não dar conta de todos os detalhes que envolvem o sistema

operacional de uma TV, tem alguns erros, algumas coisas que acontecem durante o

funcionamento de uma TV, de uma aplicação, que o Ginga às vezes não prevê. Mas se

acontece uma exceção dessas, por exemplo, uma aplicação veio com alguma coisa

configurada errada, o Ginga não diz o que a TV deveria fazer se essa aplicação estiver se

comportando assim. Então, existe uma falha no Ginga enquanto especificação. O primeiro

erro é o fato dele ser uma especificação. Acredito que ele deveria ser um software. Se eu sou

um fabricante, eu gostaria de pegar esse software, comprado ou livre, e instalá-lo na minha

TV, e que essa versão fosse uma versão oficial. Do jeito que a gente tem hoje, acontece que

tem pelo menos três Gingas. Tem o da TOTVS, que é feito por brasileiros; um Ginga feito por

uma empresa da Paraíba e o da Samsung, que ela mesma fez na especificação do Ginga.

Então você tem três programas diferentes que seguem uma especificação. Cada

desenvolvedor desses entendeu a especificação de um jeito e esses buracos que a

especificação deixa, cada um tapa do jeito que acha mais correto.

E ai tem também o problema dos fabricantes, que por ser uma plataforma para rodas

aplicações interativas, fazendo uma ponte entre web e broadcasting, as aplicações, por mais

simples que sejam, precisam ter um mínimo de robustez e os processadores das televisões são

muito ruins. Mesmo as smart TVs, estão vindo com um processamento muito baixo. Isso

compromete a qualidade da aplicação e compromete a própria aplicação das normas do

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Ginga. Algumas coisas que estão nas normas do Ginga exigem um hardware que as TVs não

tem. Então, há um problema sim por parte dos fabricantes.

Existe também um problema por parte do governo de não conseguir ter o pulso que precisaria.

Se o Ginga foi criado para ser obrigatório, teria que se ter uma exigência maior, a fim de que

todos cumprissem com a sua parte. Precisava ter uma cobrança maior. Uma flexibilização que

se deu e o resultado foi um mercado em que cada TV interpreta as aplicações do seu jeito.

5. Com relação ao app do Unesp Notícias, considerando que o Telejornal começa às

17h30, até que horas o conteúdo do app deve ser postado na plataforma, para que esteja

disponível aos telespectadores?

Três minutos é tempo suficiente para a aplicação ficar pronta.

6. Como você avalia a interatividade na televisão digital, ela é útil ou dispensável?

A utilidade tem alguns vieses. Ela tem alguns campos onde será útil. Mas colocar que as TVs

precisam simplesmente fazer a interatividade, não é por ai não. A interatividade tem uma

finalidade muito grande para os programas esportivos, porque eles têm uma gama enorme de

informações, que no broadcasting não é enviado o tempo todo. Então, se você passa a todo

minuto essas estatísticas por um canal de dados na televisão, eu acho perfeito. Então, a

interatividade tem uma finalidade grande para eventos esportivos e qualquer outro programa

que precise de dados. Mas, ver a sinopse de uma novela, por exemplo, eu não acho útil, acho

extremamente desnecessário.

7. Como você avalia o app do Unesp Notícias?

Ele precisa de um pouco mais. A única coisa que o torna útil hoje é a possibilidade de uma

pessoa que não assistiu o jornal inteiro poder abrir uma notícia. A utilidade vai depender

também de como a redação vai encarar editorialmente o Ginga. Se simplesmente eles

mantiverem a produção como está hoje e colocar no Ginga um resumo da notícia, a utilidade

vai ser pequena. Agora se na pauta eles começarem a pensar e identificar nas matérias e nas

pautas elementos que seriam complicados de se trabalhar no vídeo, mas em Ginga ficaria

legal, como uma tabela ou listagem, no Ginga as informações de serviço ficariam ali para as

pessoas anotarem. Se eles pensarem dessa forma o Ginga, ai ele ganha uma utilidade grande.

Mas acho que o app precisa de uma versão 2.0, com mais coisas. Mas para isso é necessário o

fôlego da redação.

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Apêndice F

Entrevista VI

Cargo:Programador web

Função: Responsável pelo desenvolvimento e servidor do site da Televisão Universitária

Unesp (TVU), aplicações interativas e transmissões ao vivo.

Parte 1: Entrevista realizada antes da inserção do aplicativo.

1. A criação de aplicativos interativos é viável (há tempo? Infraestrutura?) dentro da

sua rotina de trabalho?

Agora é. A gente abre mão de fazer outras coisas para fazer as aplicações interativas. Não dá

para trabalhar ao mesmo tempo desenvolvendo o site e fazendo Ginga, o programador fica

muito confuso. Mas como o site da TV está pronto, temos tempo sim.

2. O que é interatividade, no contexto da televisão digital?

Quando eu comecei a trabalhar com isso eu achava que talvez a interatividade fosse um dos

ganchos mais interessantes que a TV digital oferecia, isso lá no começo, quando eu imaginei

que as pessoas fossem de fato interagir e que isso iria agregar alguma coisa aos programas.

Agora, depois de ter passado alguns anos trabalhando diretamente com isso, estudando no

mestrado, dos cursos de Ginga que a gente fez e as dificuldades que a gente teve, hoje em dia

eu considero que se continuar da maneira que for, não deve agregar muito não. A expectativa

que eu tinha quando eu comecei a desenvolver era uma e hoje é completamente diferente.

3. Você considera os recursos que o Ginga oferece hoje interativos?

Acredito que sim. Primeiro temos que pensar no Ginga ideal e o Ginga que está na TV. O

Ginga que está na TV é muito complicado, a ausência de certos recursos que na teoria

poderiam ser desenvolvidos à mão, mas é muito difícil. Por exemplo, a maneira como o

usuário dá o input na tela, para ele escrever alguma coisa, hoje em dia qualquer controle

existente é muito complicado você fazer o usuário digital algo de maneira confortável. Se as

pessoas trabalhassem e tentassem desenvolver soluções mais criativas para isso ou tivessem

um suporte melhor do Ginga, que era como ele deveria ser, talvez funcionasse melhor. Então,

tem um abismo, o que tem na TV está naquela TV lá e está na nossa TV e como o Ginga

deveria funcionar na prática. Se o Ginga fosse aplicado de maneira plena, do jeito que a

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norma diz e tivesse todos os recursos possíveis e as TVS complementassem isso, acredito que

daria até para chamar de interatividade. O que a gente tem hoje não.

4. Como você chama o que nós temos hoje?

Um adendo, uma espécie de segunda tela na primeira tela. Geralmente informações adicionais

sobre um programa que está passando e que de alguma maneira o produtor de conteúdo não

tinha conseguido colocar isso no programa ou jornal.

5. Isso para você é interatividade?

Em um nível muito baixo, mas não deixa de ser.

6. Como é para você programar em Ginga NCL?

É o inferno na terra. Eu não faço NCL. NCL são 10 linhas que são usadas para chamar um

programa em Lua. Eu não gosto do NCL, eu acho ele complicadíssimo de se entender, chato

de escrever, é muita coisa que você precisa digitar para chegar em um mesmo resultado; ele

não oferece certos recursos que o Lua tem. O Lua oferece como se fosse um quadro negro

para você desenhar nele, você cola e apaga coisas. Dali você consegue desenvolver, se a

especificação estiver cem por cento pronta, qualquer coisa com uma certa criatividade e

programando à mão. Hoje nem tanto, mas você consegue fazer muito mais coisas que o NCL

nunca vai permitir. Então, eu prefiro trabalhar com Lua, desde a primeira aplicação que eu fiz.

Vale frisar isso porque um dos problemas do Ginga não funcionar para o programador é o

NCL.

7.Você tem feitos cursos e estado em contato com profissionais de outras emissoras. De

forma geral, esses profissionais saber lidar com o Ginga?

Sabem, o programador sabe aquilo e consegue driblar os outros recursos que tem. Só que isso

é extenuante para a gente.

8.Com relação ao app do Unesp Notícias (UN), considerando que o Telejornal começa às

17h30, até que horas o conteúdo do app deve ser postado na plataforma, para que esteja

disponível aos telespectadores?

Na prática, se estivesse pronto às 17h29 dava tempo.

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9. A previsão é que o aplicativo do UN seja colocado no ar dia 17 de fevereiro de 2014.

Isso deve alterar sua rotina de trabalho? Qual a demanda que esse aplicativo vai trazer

para você diariamente?

Pouquíssimas, do jeito que ele está montado, nós só vamos ter que ficar espertos para ver se

tudo vai funcionar no começo, que é a geração do app para ver se o código conforme se

montou vai estar certo, se vai precisar mudar alguma coisa. Todo software tem bugs, então

pode acontecer, embora seja difícil, de dar algum erro e você ter que estar pronto para corrigir

manualmente. Mas ai é só nas primeiras vezes, prestar atenção para ver se gerou tudo certo, se

encaixou tudo. Nós precisamos ver quem vai ser o responsável por colocar a aplicação do UN

no carrossel.

10. Como você avalia esse aplicativo do Unesp Notícias (UN)?

Eu provavelmente não usaria essa aplicação do UN. Eu acho ela básica demais para os meus

usos. Não que talvez para outra camada da população não seja interessante. É que estou

acostumado a assistir coisas com o Ipad na mão, então para buscar essas informações seria

interessante um recurso de segunda tela. Isso para mim. Não sei como isso funciona para

outras pessoas. Agora, em um jogo de futebol eu acho muito interessante a informação que

eles vão apresentar. Em um jornal se essa aplicação tivesse outro nível de interatividade que

eu pudesse comentar ou pudesse trabalhar junto com o jornal, talvez fosse interessante. Só

que ai está a distância técnica do Ginga com aquilo que pode ser feito.

11. Como você avalia a interatividade de forma geral na televisão digital? Ela é útil ou

dispensável?

O que vem sendo feito hoje é completamente inútil. A Globo e a Record, que são as únicas

emissoras que estão apostando nisso da maneira tradicional, com conteúdo extra, é uma

“coisinha” que abre ali do lado de uma maneira bonitinha e que te diz mais ou menos o que

está acontecendo naquele capítulo da novela ou de um programa X em questão e as

informações são completamente irrelevantes. O próprio programa já passou aquelas

informações. Sem cuidado nenhum, o conteúdo está lá só para constar. O SBT tem uma

abordagem diferente com aquele portal, só que é muito mal cuidado, eles não atualizam, não

funciona do jeito que era para funcionar. As únicas aplicações interativas úteis, eu volto a

dizer que é a aplicação disso para o esporte. Eu acho nossa aplicação do UN a melhor

aplicação rodando em Ginga que eu vi até hoje, tanto na parte gráfica quanto no conteúdo. Eu

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ainda acho ela simples demais, dava para fazer muito mais, na teoria, na prática não. E mesmo

assim, é o melhor produto que eu já vi rodando em Ginga até hoje.