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Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho- UNESP
Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação- FAAC Programa de Pós-graduação em Comunicação
Linha de pesquisa: Gestão e políticas da informação e da comunicação midiática
SELMA MIRANDA DOS PRAZERES
TELEJORNALISMO NA TVD: INTERATIVIDADE E MUDANÇAS NA ROTINA DA REDAÇÃO
BAURU 2014
SELMA MIRANDA DOS PRAZERES
TELEJORNALISMO NA TVD: INTERATIVIDADE E MUDANÇAS NA ROTINA DA REDAÇÃO
Trabalho de conclusão de Mestrado apresentado ao Programa de Pós-graduação em Comunicação da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação- FAAC, da Universidade Estadual Paulista- UNESP, Campus de Bauru, como requisito final para obtenção do título de Mestre em Comunicação. Orientadora: Profa. Dra. Maria Cristina Gobbi
Bauru 2014
SELMA MIRANDA DOS PRAZERES
TELEJORNALISMO NA TVD: INTERATIVIDADE E MUDANÇAS NA ROTINA DA REDAÇÃO
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Comunicação da Faculdade de
Arquitetura, Artes e Comunicação- FAAC, da Universidade Estadual Paulista- UNESP, como
requisito final para obtenção do título de Mestre em Comunicação.
Área de concentração: Comunicação Midiática
Linha de pesquisa: Gestão e políticas da informação e da comunicação midiática
Banca examinadora
____________________________________ Profa. Dra. Maria Cristina Gobbi
Orientadora Unesp – Bauru
____________________________________ Professor Dr. Juliano Maurício de Carvalho
Unesp- Bauru
____________________________________ Fernando Antonio Crocomo
UFSC
Resultado:
Bauru, 15 de agosto de 2014
" Certamente a glória do jornalismo é a sua transitoriedade."
Malcolm Muggeridge
Resumo
Inserido no contexto de digitalização midiática e da convergência, a princípio o
telejornalismo estendeu seu conteúdo para a web, principalmente por meio de sites, visto que
a televisão ainda não se mostrava uma plataforma convergente. Mas, em 2007, o Sistema
Brasileiro de Televisão Digital Terrestre (SBTVD) entrou em operação e novas
possibilidades surgiram para o telejornalismo, com destaque para a interatividade, que a partir
de então poderia ocorrer diretamente pela TV. Assim, o propósito desse trabalho é verificar se
a produção de conteúdos de interatividade para televisão digital altera a rotina de trabalho
dos profissionais de uma redação de telejornal. Sobre os métodos, esse estudo trata-se de uma
pesquisa bibliográfica, que recorreu a autores que estudam o telejornalismo, a convergência
midiática e a televisão digital, e aplicada, pois foi criado um aplicativo interativo para o
telejornal Unesp Notícias, da Televisão Universitária Unesp, e uma plataforma de postagem
de conteúdo para abastecer o aplicativo, programado em Ginga. Depois que o app e a
plataforma foram inseridos no Unesp Notícias, foram realizadas entrevistas em profundidade
com alguns dos jornalistas da redação. Dessa forma, foi possível verificar que o aplicativo
interativo alterou a rotina de trabalho de todos os profissionais do departamento de jornalismo
do Unesp Notícias. A nova demanda de trabalho gerada foi distribuída entre os profissionais
das três áreas da redação: produção, reportagem e edição. Além das funções pertinentes a
cada um dos jornalistas, somam-se agora as atividades ligadas ao app. Não houve a criação de
novos cargos ou novas contratações.
Palavras-chave: Telejornalismo, Televisão Digital, Interatividade, Aplicativo interativo,
Mídias digitais, Convergência.
Abstract
Placed in the context of digitization and media convergence, the principle the
telejournalism extended its content to the web, mainly through sites, since the TV is not yet
showing a converged platform. But in 2007, the Brazilian Digital Terrestrial Television
(SBTVD) came into operation and new possibilities have emerged to television journalism,
with emphasis on interactivity, which thereafter could occur directly through the TV. Thus,
the purpose of this work is to verify that the production of content for interactive digital
television changes the routine work of a professional writing newscast. On methods, this
study deals with a literature that authors resorted to studying television journalism, media
convergence and digital television, and it is applied because an interactive application was
created for television news Unesp Notícias, of the University TV UNESP and a platform to
post content to supply the application, programmed in Ginga. Once the app and the platform
were inserted into Unesp Notícias, in depth interviews were conducted with some of the
journalists writing. Thus, it was possible to verify that the interactive application changed the
routine work of all professionals in the journalism department of Unesp Notícias. The new
labor demand generated was distributed among the three areas of professional writing:
production, reporting and editing. In addition to each of the relevant functions of journalists,
now add up activities related to the app. There was no creation of new positions or new hires.
Keywords: Telejournalism, Digital TV, Interactivity , Interactive Application , Digital Media,
Convergence .
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 8
2 TELEJORNALISMO E TECNOLOGIAS DIGITAIS 11
2.1 O COMPUTADOR E A INTERNET 11 2.2 MÍDIAS DIGITAIS 13 2.3 DIGITALIZAÇÃO E CONVERGÊNCIA 18 2.4 TELEVISÃO DIGITAL NO BRASIL 22 2.4.1 INTERATIVIDADE NA TVD 27 2.4.2 GINGA 30 2.5 A REDAÇÃO DE UM TELEJORNAL 33 2.6 TELEJORNALISMO EM TEMPOS DE CONVERGÊNCIA 37 2.7 TELEJORNALISMO E INTERATIVIDADE 39
3 DESENVOLVIMENTO DO APLICATIVO INTERATIVO 41
3.1 MÉTODOS E PROCESSOS 41 3.2 TELEVISÃO UNIVERSITÁRIA UNESP (TVU) 42 3.3 UNESP NOTÍCIAS (UN) 43 3.4 DIÁRIO DE BORDO: A PRODUÇÃO DO APLICATIVO INTERATIVO 43 3.5 APLICATIVO E PLATAFORMA DE POSTAGEM PRONTOS PARA SEREM TESTADOS 49
4 PRODUÇÃO INTERATIVA E MUDANÇAS NA ROTINA DA REDAÇÃO 53
4.2 A REDAÇÃO DO UNESP NOTÍCIAS 53 4.3 INSERÇÃO DO APLICATIVO INTERATIVO 55 4.3.1 MUDANÇAS NA ROTINA DE TRABALHO: QUEM FEZ O QUÊ 58
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 62
REFERÊNCIAS 65
APÊNDICES 68
8
1 INTRODUÇÃO
Com a ampliação do uso das mídias computacionais e da internet a partir dos anos
1990, muitos usuários desenvolveram uma postura mais ativa diante dos dispositivos de
comunicação. A participação, a colaboração e a interatividade, possibilitadas pela apropriação
das mídias digitais com internet, se tornaram características de uma era midiática digital, de
um novo período de produção midiática. A tecnologia digital (aquilo que se pode mostrar a
partir do código binário zero e um e que permite a conversão de conteúdos de uma mídia para
outra) possibilitou a criação de novas mídias e a modernização das já existentes.
Na internet o usuário escolhe por onde ele quer navegar, quando e qual conteúdo
deseja acessar. Essa relação mais autônoma do usuário na internet estimulou de, certa
forma, os tradicionais meios de comunicação a se envolverem nessa lógica de participação e
diálogo com seu público. Dai o processo de digitalização das mídias, quando os meios de
comunicação migraram para a internet ou estão se tornando exclusivamente digitais: as
informações agora são captadas e transmitidas na forma digital. O desenvolvimento de novas
mídias digitais e o processo de digitalização dos tradicionais meios de comunicação
resultaram no fenômeno da convergência, que além de midiática, por permitir o fluxo de
conteúdo por diferentes meios, é também cultural, visto que os usuários têm desenvolvido um
novo comportamento diante das mídias.
Parte desse atual cenário midiático, o telejornalismo tem buscado diferentes maneiras
de se aproximar do seu público. Nos dias de hoje, é frequente que os telejornais tenham um
site que permite ao telespectador enviar conteúdos em foto e vídeo, participar de enquetes,
conversar com especialistas etc. Outra forma de aproximação entre os telejornais e seu
público acontece pelas redes sociais. Grande parte deles estão no Facebook e Twitter por meio
de páginas oficiais.
A televisão, principal meio de comunicação do século XX, e já não tão hegemônica
como outrora, está também se modernizando e se inserindo no contexto das inovações
tecnológicas possibilitadas pelo digital- em 2007 ocorreu a primeira transmissão do sinal
digital de televisão. O Sistema Brasileiro de Televisão Digital Terrestre (SBTVD-T) permite,
entre outras possibilidades, que por meio do middleware Ginga o usuário possa interagir
diretamente pelo televisor. Para os telejornais, essa ferramenta representa um novo modo de
aproximação com seus telespectadores.
9
As mudanças tecnológicas trouxeram, e ainda trazem, consequências para os
profissionais do jornalismo que atuam nas redações televisivas. Além do conteúdo próprio
para o telejornal, tornou-se necessário produzir também para o site, redes sociais, e em alguns
casos, para aplicativos de televisão e de dispositivos móveis. Na era midiática digital, há uma
demanda muito maior por conteúdo e interação. Os profissionais do telejornalismo devem
estar a par das mudanças e cientes de que novas exigências serão feitas, já que hoje é preciso
produzir textos em diferentes linguagens para as diferentes plataformas e mídias.
Em vista do cenário exposto acima, levantamos um problema de pesquisa: a
produção de conteúdos de interatividade para televisão digital altera a rotina de trabalho dos
profissionais de jornalismo de uma redação de telejornal? Consideramos como hipóteses que
a inserção de interatividade em uma redação de telejornal pode causar mudanças na rotina de
produção dos jornalistas; que a produção de interatividade deve modificar a forma de
elaboração da pauta; que um aplicativo interativo para um telejornal, baseado em informações
de serviço, permite ao telespectador acessar informações úteis pela televisão sem precisar
recorrer a outros dispositivos, como smartphones e tablets; e que a produção de um aplicativo
interativo exige a participação de uma equipe integrada, pois é necessário que se pense no
conteúdo, na usabilidade e na programação do mesmo.
O principal objetivo desse estudo foi mostrar se a inserção de interatividade em uma
redação de telejornal pode provocar mudanças na rotina de atividades diárias dos jornalistas
de um telejornal. Pretendeu-se ainda verificar se a produção de interatividade modifica a
forma de elaboração da pauta.
Para chegar ao seu propósito, essa pesquisa foi inicialmente bibliográfica, uma vez que
foi importante conhecer o estado da arte no que tange às tecnologias digitais e à televisão
digital (TVD) no Brasil. Igualmente importante foi entender conceitos como convergência e
interatividade. Depois, este estudo se tornou aplicado, pois, objetivando comprovar ou não as
hipóteses levantadas, foi desenvolvido um aplicativo (app) interativo programado em Ginga
para televisão digital. O app foi elaborado, em partes, com a infraestrutura técnica e humana
da TVU, Televisão Universitária Unesp, para o telejornal “Unesp Notícias” (UN), também da
TVU. O conteúdo do aplicativo é voltado para informações adicionais de serviço (como
endereços, telefones e sites) e pode ser acessado diretamente pela televisão. Foi criada
também uma plataforma de postagem de conteúdo, utilizada posteriormente pelos jornalistas
para abastecer o aplicativo. Depois do app e da plataforma serem finalizados e inseridos no
telejornal Unesp Notícias, foram realizadas entrevistas em profundidade com alguns dos
10
jornalistas que compõem a redação do UN. O objetivo foi verificar se o app causou as
alterações na rotina de trabalho dos profissionais e quais foram elas.
Para demostrar a revisão teórica, as etapas de desenvolvimento do app e sua inserção
na redação do Unesp Notícias, dividimos este trabalho em cinco partes. No capítulo
“Telejornalismo e tecnologias digitais”, apresentamos o atual contexto que envolve hoje o
telejornalismo no Brasil, tempos de digitalização midiática e convergência. Discutimos
também a TVD no Brasil e alguns de seus desafios e conceitos como o de interatividade.
Reconhecendo as limitações tecnológicas e as características inerentes ao meio televisivo,
entendemos a interatividade como uma ferramenta tecnológica que possibilita desde o acesso
a recursos adicionais diretamente pela TV, até uma interferência mais direta em um programa.
No capítulo três, “Desenvolvimento do aplicativo interativo”, mostramos, por meio de um
breve diário de bordo, como foi o processo de criação do aplicativo para o telejornal Unesp
Notícias- desde o primeiro esboço até a interface do produto concluída. Finalmente, no
capítulo quatro, “Produção interativa e mudanças na rotina da redação” relatamos a inserção
do app no telejornal, como ele foi modificado após duas semanas de testes, como a demanda
de trabalho gerada pelo app foi distribuída entre os profissionais de jornalismo e por fim as
possíveis alterações que o app causou na rotina de trabalho de cada um dos profissionais.
Mesmo com a crescente utilização das novas mídias digitais como forma de acesso à
informação no Brasil, 89% da população tem o hábito de se informar sobre o que acontece no
país pela televisão, o que torna a TV o meio de comunicação mais utilizado para a busca de
informações sobre o país1. E o principal produto que a televisão disponibiliza como fonte de
informação são os telejornais. Assim, diante do atual cenário de convergência e ampliação do
uso da internet pelos brasileiros, tornam-se essenciais estudos voltados para a compreensão
desse momento e as perspectivas que esse traz para o telejornalismo.
1 TV é o meio mais utilizado pelos brasileiros para se informarem, aponta pesquisa do IBOPE Inteligência. IBOPE, 17 mar. 2014. Disponível em: <http://www.ibope.com.br/pt-br/noticias/Paginas/TV-e-o-meio-mais-utilizado-pelos-brasileiros-para-se-informarem-aponta-pesquisa-do-IBOPE-Inteligencia.aspx>. Acesso em: 20 mar. 2014.
11
2 TELEJORNALISMO E TECNOLOGIAS DIGITAIS
2.1 O computador e a internet
Duas inovações tecnológicas modificaram a forma das pessoas se comunicarem, o
computador e a internet. Ainda no século XIX, o inglês Charles Babbage projetou uma
máquina a vapor para calcular raízes quadradas, cúbicas e outras funções exponenciais2. Por
esse feito antes mesmo da era eletrônica, Babbage é conhecido como o pai do computador. Na
década de 1880, o americano Herman Hollerith trabalhava como agente especial do censo e
notou como o processo de contagem dos dados era lento. Por isso, ele criou um método de
codificar informações em cartões perfurados. Essa sua invenção reduziu de cinco para dois
anos o tempo de contagem dos votos do censo e foi considerada o primeiro processador de
dados do mundo. Hollerith se tornou o principal impulsionador do leitor de cartões
perfurados, instrumento fundamental para a entrada de informação para os computadores da
época. Ele foi também um dos fundadores da IBM3, precursor do processamento de dados.
Já o primeiro computador moderno foi resultado de experimentos realizados nas
décadas de 1930 e 1940 nos Estados Unidos, Alemanha e Inglaterra: o Eletronic Numerical
Integrator and Computer4 ou ENIAC, foi desenvolvido por dois cientistas norte-americanos,
John W. Mauchly e J. Prester Eckert J., da Universidade da Pensilvânia. A ideia era que o
computador efetuasse cálculos balísticos para o Exército dos Estados Unidos, que estava
envolvido com a Segunda Guerra Mundial5. Construído com válvulas eletrônicas em 1946, o
ENIAC se tornou o mais conhecido dos primeiros computadores6. Mas foi só no dia 12 de
agosto de 1981 que nasceu o personal computer (ZILVETTI, 2001), o PC ou computador
pessoal, popularizado pela IBM. O conceito de computador pessoal já existia antes de 1981,
mas devido ao grande sucesso do IBM PC, o termo passou a significar especificamente o
computador pessoal produzido por essa empresa.
A internet, por usa vez, surgiu devido ao receio do governo norte-americano de ter
seu esquema de comunicação invadido pela União Soviética. Assim, em 1958, foi criada nos
Estados Unidos a Agência de Projetos de Pesquisa Avançada (ARPA), com objetivo de
2 ABRIL COLEÇÕES E TIME LIFE. Ciência e natureza: a era do computador. Abril, 2006 (Ciência e Natureza). 3 A Internacional Business Machines (IBM) é uma empresa fundada em 1888 no Estados Unidos que desenvolve tecnologias informáticas. 4 Em português, “Computador e Integrador Numérico Eletrônico”. 5 No dia da informática, relembre a história do computador. Olhar Digital, 15 agos. 2013. Disponível em: <http://olhardigital.uol.com.br/noticia/36754/36754>. Acesso em: 10 fev. 2014. 6 Ibidem ref. 2.
12
buscar tecnologias que não centralizassem o processamento de dados (OLIVEIRA, 2011). A
ARPA fazia parte do Departamento de Defesa dos Estados Unidos (DARPA). Na década de
1960 os pesquisadores da ARPA deram início a um projeto que impedisse a tomada do
sistema de comunicação norte-americano pelos soviéticos, em caso de guerra nuclear. O
resultado desse projeto foi a criação de uma rede, que não podia ser controlada a partir de
nenhum ponto e que era formada por milhares de redes de computadores7 independentes,
com diversas formas de conexão.
Dessa forma surgiu a ARPANET (Advanced Research Projects Agency Network), a
primeira rede de computadores, que entrou em funcionamento em setembro de 1969
(CASTELLS, 1999). A partir de então, essa rede se difundiu e foi apropriada por diversos
países e indivíduos, cada qual com sua finalidade. Mas o processo de popularização da
internet começou a partir da década de 1990, quando o pesquisador britânico Timothy
Berners-Lee e Robert Cailliau criaram a linguagem global do hipertexto (HyperText Transfer
Protocol, Protocolo de Transferência de Hipertexto -HTTP) e elaboraram o primeiro
navegador de rede em outubro de 19908. Esse protocolo foi essencial para distribuir
informações pela internet e para que essa distribuição fosse possível, foi necessário criar uma
forma padronizada de comunicação entre os clientes e os servidores da web e entendida por
todos os computadores ligados à internet9. O HTTP permitiu que fosse criada no dia seis de
agosto de 199110 a World Wide Web, Rede de Alcançe Mundial, que organizava os sites da
internet por informação e possibilitava que os usuários encontrassem os conteúdos por eles
pesquisados (CASTELLS, 1999). Passados 22 anos da criação da WWW, segundo a
Pingdom11, em 2012 o número de usuários de internet no mundo alcançou 2,4 bilhões12.
No Brasil, em 1989, o Ministério de Ciência e Tecnologia criou a Rede Nacional de
Ensino e Pesquisa (RNP) com o objetivo de implementar o primeiro backbone13 nacional,
difundir a tecnologia internet e capacitar recursos humanos na área de redes14. Neste primeiro
7 O 1° computador é de 1941, o Z3, o primeiro computador programável do mundo, desenvolvido em Berlim, na Alemanha, por Konrad Zuse. (OLIVEIRA, 2011). 8 Criação da WWW completa 20 anos. G1, 13 mar. 2009. Disponível em: < http://g1.globo.com/Noticias/Tecnologia/0,MUL1041775-6174,00-PROPOSTA+DE+CRIACAO+DA+WORLD+WIDE+WEB+COMPLETA+ANOS.html>Acesso em: fev. 2011. 9 Hypertext Transfer Protocol. Wikipédia. Disponível em: < http://pt.wikipedia.org/wiki/Hypertext_Transfer_Protocol>. Acesso em: mar.2011. 10 World Wide Web, ou www, completa 22 anos nesta terça-feira. IBOPE, 6 ago. 2013. Disponível em: <http://www.ibope.com.br/pt-br/noticias/Paginas/World-Wide-Web-ou-www-completa-22-anos-nesta-terca-feira.aspx>. Acesso em: 14 ago. 2013. 11 Pingdom é um site e empresa de monitoramento da internet, sua sede fica na Suécia. 12 Internet 2012 in numbers. Pingdom, 16 jan. 2013. Disponível em: < http://royal.pingdom.com/2013/01/16/internet-2012-in-numbers/ > Acesso em: 14 ago. 2013. 13 Traduzido do inglês: espinha dorsal. É a espinha dorsal da internet , termo utilizado para identificar a rede principal pela qual os dados de todos os clientes da Internet passam. 14 A RNP e a história da internet brasileira. RNP, 01 mar. 2002. Disponível em:
13
momento, a internet tinha acesso limitado ao meio acadêmico e científico. Mas, em 31 de
maio de 1995, o Ministério das Comunicações e o Ministério de Ciência e Tecnologia criaram
por meio da Portaria Interministerial nº 14715, o Comitê Gestor da Internet no Brasil
(CGI.br), com a atribuição de coordenar e integrar as iniciativas de serviços de internet no
país, e assim promover a qualidade técnica, a inovação e a disseminação dos serviços
ofertados16.
Com a ampliação do uso do computador pessoal e da internet, a comunicação
midiática entre pessoas se expandiu de forma significativa. Com esse novo impulso, os
demais meios de comunicação passaram por modificações técnológicas ocorridas pela nova
perspectiva que o acesso ao computador e à internet traziam para os usuários, e uma lógica
comunicativa de mais participação e interatividade tornou-se circunstância relevante para os
meios. No Brasil, partir dos anos 2000 principalmente, os dispositivos comunicacionais
existentes foram aperfeiçoados e outros foram criados, cada vez mais portáteis e móveis.
2.2 Mídias digitais
Ao longo da primeira década do século XXI, os dispositivos habilitados para receber
internet foram se tornando cada vez mais móveis e menores. Muitas pessoas trocaram o
tradicional computador de mesa (desktop), com todos aqueles cabos e acessórios, pelos
laptop (ou netbooks), mais leves e com a possibilidade de serem facilmente transportados.
Mas, ambos vêm dividindo espaço agora, principalmente, com os smartphones e tablets.
“O desenvolvimento tecnológico dos últimos 30 anos transformou os celulares, que
no início da década de 90 eram apelidados de ‘tijolões’, em aparelhos pequenos, leves e
dinâmicos”17 e hoje eles são, em grande parte, os responsáveis pela intensa conexão dos
usuários à internet. Segundo a Anatel, Agência Nacional de Telecomunicações, o Brasil
fechou fevereiro de 2014 com 272,72 milhões de linhas ativas na telefonia móvel, o que
indica que há mais de uma linha por habitante18. De simples celulares, eles se transformaram
< http://www.rnp.br/noticias/imprensa/2002/not-imp-marco2002.html > Acesso em: mai. 2011. 15 História do CGI.Br. CGI.Br. Disponível em: <http://www.cgi.br/historicos/#1995>. Acesso em: 15 abr. 2014. 16 História da Internet no Brasil. Wikipédia. Disponível em: < http://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_da_Internet_no_Brasil> Acesso em: maio 2011. 17 IBOPE MEDIA. Smartphones se transformam em extensão dos sentidos. IBOPE, 24 abr. 2013. Disponível em: <http://www.ibope.com.br/pt-br/noticias/Paginas/Smartphones-se-transformam-em-extensao-dos-sentidos.aspx>. Acesso em: 02 jun. 2013. 18 Brasil fecha fevereiro de 2014 com 272,72 milhões de acessos móveis. Anatel, 27 mar. 2014. Disponível em: <http://www.anatel.gov.br/Portal/exibirPortalInternet.do> Acesso em: 31 mar. 2014.
14
em smartphones19
, telefones inteligentes, pois, além de seu propósito básico, colocar pessoas
em contato , eles têm diversos outros recursos, como tirar fotos, fazer vídeos, acessar à
internet via wireless ou pelas redes 3G ou 4G. Outro atrativo dos smartphones são os
aplicativos, ferramentas úteis, como jogos, previsão do tempo, que podem ser baixados
nesses celulares e acessados de forma mais fácil por seus utilizadores. Esses telefones móveis
estão cada vez mais acessíveis e seu uso tem sido intensificado pela possibilidade de acesso à
internet.
O tablet é outro dispositivo que vem ganhado espaço entre os usuários de mídias, que
por vezes optam por substituir o “tradicional” laptop pelo tablet. Esse aparelho, no formato
que conhecemos hoje, foi lançado em 1989 pela empresa GriD Systems, foi chamado de
GriDPad Pen Computer e pesava pouco mais de dois quilos20. Mas a popularização do
conceito tablet veio mesmo em janeiro de 2010, quando Steve Jobs lançou o iPad, o tablet
produzido pela Apple. O tablet é um dispositivo de comunicação pessoal móvel e portátil em
forma de prancheta que possibilita conexão à internet, baixar aplicativos, ler e-books (os
tablets têm um tamanho mais adequado para isso que os smartphones) e assistir vídeos e
filmes.
A comprovação da crescente importância dessas novas mídias digitais pode ser
observada pelas pesquisas que avaliam a penetração desses aparelhos no mercado. Segundo a
IDC21, Internacional Data Corporation , a venda de PCs (desktops e laptops) caiu 14% em
todo o mundo nos primeiros três meses de 2013. Essa foi a pior queda desde que a empresa
começou a acompanhar o mercado consumidor, em 199422. Uma projeção realizada pela IDC
aponta que a venda de tablets vai superar a de desktops e a de laptops em 2014, quando 190
milhões de tablets devem ser comercializados23. Sobre os smartphones, um levantamento
divulgado pelo laboratório de pesquisa da Ericsson mostra que eles estão causando um
aumento do uso da internet no celular e uma queda no uso dos laptops24
. Outro estudo da
19 O smartphone é dos tipos de celulares existentes hoje. Destacamos especialmente o smartphone por seu notável crescimento e uso no Brasil. O Iphone, criado pela Apple, também é um smartphone, e seu sistema operacional é iOS. 20 BLANC, Antonio. Conheça a história de quase meio século dos tablets. Terra, 03 fev. 2010. Disponível em: <http://tecnologia.terra.com.br/hardware-e-software/conheca-a-historia-de-quase-meio-seculo-dos-tablets,9c08fc67b84ea310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html>. Acesso em: 16 ago. 2013. 21 A IDC é uma provedora global de inteligência de mercado, serviços de consultoria e eventos para as indústrias de tecnologia da Informação e telecomunicações. 22 Vendas de PCs têm queda quase duas vezes maior do que o esperado. UOL, 11 abr. 2013. Disponível em: <http://adrenaline.uol.com.br/tecnologia/noticias/16348/vendas-de-pcs-tem-queda-quase-duas-vezes-maior-do-que-o-esperado.html>. Acesso em: 16 agos. 2013. 23 Tablets devem superar laptops em 2014; venda de eletrônicos conectados soma 1,2 bilhão ao ano. UOL, 27 mar. 2013. Disponível em: <http://tecnologia.uol.com.br/noticias/redacao/2013/03/27/tablets-devem-superar-laptops-em-2014-venda-de-eletronicos-conectados-chega-a-12-bilhao-ao-ano.htm>. Acesso em: 16 ago. 2013. 24 RONCOLATO, Murilo. Smartphone reduz uso de notebook. Blog Estadão, 11 fev. 2011. Disponível em: <http://blogs.estadao.com.br/link/smartphone-reduz-uso-de-notebook/>. Acesso em: 16 ago. 2013.
15
IDC aponta que no segundo trimestre de 2013 foram vendidos 8 milhões de smartphones no
Brasil, número 110% superior em relação ao mesmo período do ano anterior25. Atualmente, o
Brasil é o quarto país do mundo em número de smartphones (70 milhões de aparelhos), atrás
da China, Estados Unidos e Japão26. Um balanço de 2013 mostra que as vendas de tablets e
smartphones cresceram 142% e 122%27, respectivamente.
Já segundo pesquisa do IBOPE28 divulgada em maio de 2013, 134 milhões de pessoas,
com 10 anos e mais, têm um telefone móvel no Brasil. Destas, 52 milhões têm acesso à
internet pelo celular. A conexão na web por dispositivos móveis vem se consolidando na
rotina dos brasileiros. Segundo essa pesquisa29, informação e socialização são os principais
usos que os brasileiros fazem com seus smartphones. Dentre as atividades realizadas
destacam-se: conversar com os amigos (76%), ler e enviar e-mails (75%), ler as últimas
notícias (64%) e saber novidades do cenário musical (47%). A pesquisa ainda aponta que um
em cada dois internautas acessa a web pelo celular. Outro dado mostra que 45% dos usuários
usam o smartphone antes de dormir e 29% o utilizam assim que acordam30. Outro destaque é
o tempo de utilização dos dispositivos móveis pelos brasileiros:
Dispositivo móvel Média diária de uso no Brasil Média diária de uso em outros países
Celular 59 minutos 42 minutos
Smartphone 84 minutos 74 minutos
Tablet 79 minutos 71 minutos
E-reader 63 minutos 54 minutos
QUADRO 1- Utilização de dispositivos móveis em 2012 Fonte: Elaboração nossa com dados do IBOPE Inteligência e Win31
25 Vendas de smartphones no Brasil disparam 110% em um ano. Olhar Digital, 28 ago. 2013. Disponível em: <http://olhardigital.uol.com.br/pro/noticia/37111/37111> Acesso em: 31 mar. 2014. 26 GUIMARÃES, Saulo Pereira. Brasil é o quarto país do mundo em número de smartphones. EXAME, 29 maio 2013. Disponível em: <http://exame.abril.com.br/tecnologia/noticias/brasil-e-o-quarto-pais-do-mundo-em-numero-de-smartphones>. Acesso em 21 ago. 2013. 27 Vendas de smartphones e tablets crescem mais que 100% em 2013. Folha de S. Paulo, 01 jan. 2014. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2014/01/1391973-vendas-de-smartphones-e-tablets-cresceram-mais-que-100-em-2013.shtml > Acesso em 31 mar. 2014. 28 O IBOPE- Instituto Brasileiro de Opinião e Estatística- é uma multinacional brasileira de pesquisas de opinião e estudos de mercado. 29 IBOPE MEDIA. 52 milhões de pessoas têm acesso à web pelo celular, aponta IBOPE Media. IBOPE, 09 maio 2013. Disponível em:< http://www.ibope.com.br/pt-br/noticias/Paginas/52-milhoes-de-pessoas-tem-acesso-a-web-pelo-celular-aponta-IBOPE-Media.aspx>. Acesso em: 02 jun. 2013. 30 IBOPE MEDIA. Smartphones se transformam em extensão dos sentidos. IBOPE, 24 abr. 2013. Disponível em: <http://www.ibope.com.br/pt-br/noticias/Paginas/Smartphones-se-transformam-em-extensao-dos-sentidos.aspx>. Acesso em: 02 jun. 2013. 31 IBOPE INTELIGÊNCIA E WIN. Penetração de smartphones duplica em um ano. IBOPE, 22 abr. 2013. Disponível em: <http://www.ibope.com.br/pt-br/noticias/Paginas/Penetracao-de-smartphone-duplica-em-um-ano.aspx>. Acesso em: 02 jun. 2013.
16
Como pode ser observado no quadro 1, o tempo de utilização de dispositivos móveis pelos
brasileiros é maior que o de outros países, sobretudo o uso diário de celulares e smartphones.
Os dados foram extraídos de pesquisa realizada pelo IBOPE Inteligência entre 21 de
novembro e 7 de dezembro de 2012 com mil internautas brasileiros acima de 16 anos. No
mundo, foi realizada em 54 países.
Uma das razões que explica esse tempo dos brasileiros na internet é o acesso às redes
sociais. “As redes sociais na internet são um avanço das antigas comunidades virtuais, ou seja,
caracterizam-se por pessoas interagindo em determinada ambiência com interesses comuns,
compartilhando objetivos, ações, ideias” (SPC, 2012, p. 105). De acordo com dados do
IBOPE Media, divulgados em janeiro de 2013, as páginas das redes sociais e outras agrupadas
na subcategoria comunidades (que incluem também blog, microblogs e fóruns) atingiram 46
milhões de usuários, o equivalente a 86% dos internautas ativos da internet no período32.
Ainda no primeiro mês de 2013, os internautas brasileiros passaram em média 10 horas e 26
minutos em redes sociais. Esse número representa um crescimento de 13,5% se comparado
com o mesmo período em 201233.
O brasileiro gasta boa parte do seu tempo de navegação na web na rede social criada
por Mark Zuckerberg em 2004. Em 2012, o Brasil foi o país que mais cresceu em número de
usuários do Facebook, quando 29,7 milhões de novos usuários passaram a acessar a rede
social, e naquela ocasião tornou-se o segundo país do mundo em número de perfis34. Já no
final de 2013, os Estados Unidos se tornaram o país com o maior número de usuários (146,8
milhões), seguido por Índia (84,9 milhões), Brasil (61,2 milhões) e Indonésia (60,5
milhões)35. Com relação ao Twitter, microblog criado em 2006, o Brasil é o segundo país
com maior número de usuários. São mais de 33 milhões de brasileiros que possuem conta no
microblog, atrás apenas dos Estados Unidos, que têm cerca de 108 milhões de usuários36.
Mas, a presença de usuários nas redes sociais não significa exatamente que eles estejam
postando conteúdo ou utilizando os recursos disponíveis. Muitos acessam o Facebook várias
32 IBOPE MEDIA. Número de usuários das redes sociais ultrapassa 46 milhões de brasileiros. IBOPE, 26 mar. 2013. Disponível em: <http://www.ibope.com.br/pt-br/noticias/Paginas/Numero-de-usuarios-de-redes-sociais-ultrapassa-46-milhoes-de-brasileiros.aspx>. Acesso em: 04 jun. 2013. 33 IBOPE MEDIA. Internauta gasta em média 10 horas e 26 minutos em redes sociais. IBOPE, 19 fev. 2013. Disponível em: <http://www.ibope.com.br/pt-br/noticias/Paginas/Internauta-gasta-em-media-10-horas-e-26-minutos-em-redes-sociais.aspx>. Acesso em: 03 jun. 2013. 34 CONGO, Mariana. Um terço dos brasileiros tem Facebook: país se torna o 2º em número de usuários. O Estado de S. Paulo. 23 jan. 2013. Disponível em:< http://blogs.estadao.com.br/radar-tecnologico/2013/01/23/um-terco-dos-brasileiros-tem-facebook-pais-se-torna-o-2o-em-numero-de-usuarios/>. Acesso em: 03 jun. 2013. 35 Facebook tem 1,23 bilhão de usuários mundiais; 61,2 milhões são do Brasil. UOL Tecnologia, 03 fev. 2014. Disponível em: <http://tecnologia.uol.com.br/noticias/afp/2014/02/03/facebook-em-numeros.htm>. Acesso em: 20 maio 2014. 36 Twitter chega aos 7 anos com 40% de usuários que não tuitam. BBC Brasil, 22 mar. 2013. Disponível em: <http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2013/03/130322_twitter_contas_inativas_rw.shtml>. Acesso em: 03 jun. 2013.
17
vezes ao dia, mas para acompanhar o que os amigos estão postando; dos 200 milhões de
usuários do Twitter no mundo, 40% não escrevem mensagens, conhecidas como tuítes37.
Seja por meio dos celulares, pelos laptops ou desktops, o brasileiro está acessando
mais a internet:
GRÁFICO 1- Evolução do número de pessoas com acesso à internet em qualquer ambiente, em milhões – Brasil – 3º trimestre de 2012 a 1º trimestre de 2013 Pessoas de 16 anos ou mais de idade com acesso em qualquer ambiente e pessoas de 2 a 15 anos com acesso em domicílios. Fonte: IBOPE Media38
O Gráfico 1 mostra que o número de pessoas com acesso à internet no Brasil nos primeiros
três meses de 2013 chegou a 102,3 milhões39, um crescimento de 9% sobre os 94, 2 milhões
divulgados pelo IBOPE Media no terceiro trimestre de 2012. O acesso no local de trabalho ou
em domicílios chegou a 76,6 milhões no segundo trimestre de 2013, o que representou um
aumento de 5,3% sobre os 72,7 milhões do primeiro trimestre de 2013 e de 12,6% em relação
aos 68 milhões do segundo trimestre de 2012. Já o número de pessoas que moram em
residências com acesso à rede foi de 73,7 milhões no segundo trimestre de 2013.
37 IBOPE INTELIGÊNCIA E WIN. Penetração de smartphones duplica em um ano. IBOPE, 22 abr. 2013. Disponível em: <http://www.ibope.com.br/pt-br/noticias/Paginas/Penetracao-de-smartphone-duplica-em-um-ano.aspx>. Acesso em: 02 jun. 2013. 38 IBOPE MEDIA. Número de pessoas com acesso à internet passa de 100 milhões. IBOPE, 10 jul. 2013. Disponível em: <http://www.ibope.com.br/pt-br/relacionamento/imprensa/releases/Paginas/Numero-de-pessoas-com-acesso-a-internet-passa-de-100-milhoes.aspx>. Acesso em: 19 ago. 2013. 39 IBOPE MEDIA. Número de pessoas com acesso à internet passa de 100 milhões. IBOPE, 10 jul. 2013. Disponível em: <http://www.ibope.com.br/pt-br/relacionamento/imprensa/releases/Paginas/Numero-de-pessoas-com-acesso-a-internet-passa-de-100-milhoes.aspx>. Acesso em: 19 ago. 2013.
18
Com a expansão do uso das mídias computacionais com internet e das possibilidades
permitidas por essas mídias, muitos usuários desenvolveram uma postura mais participativa
diante dos meios de comunicação.
2.3 Digitalização e convergência
A participação, colaboração e a interatividade, possibilitadas pela apropriação das
mídias digitais com internet, se tornaram características de uma era midiática digital. Na
internet o usuário escolhe por onde quer navegar, quando e qual conteúdo deseja acessar.
Essa relação mais autônoma do usuário na web estimulou os tradicionais meios de
comunicação a se envolverem e a se adaptarem a essa lógica de participação e diálogo com
seu público. Dai o processo de digitalização das mídias, quando os meios de comunicação
migraram para a internet e passaram a existir simultâneamente na web e no espaço físico, ou
eles se tornaram exclusivamente digitais: as informações agora são captadas e transmitidas na
forma digital. “A digitalização dos conteúdos é a sua ‘desmaterialização’, ou seja, não se trata
mais de átomos (matéria), e sim da linguagem binária de zeros e um [...] que vão se
combinando em bits e bytes em diferentes cores, formatos, representações” (SPC, 2012, p.
13).
Grande parte dos veículos de comunicação impressos ganharam versões online ou se
tornaram somente digitais, como foi o caso do Jornal do Brasil, que após sucessivas quedas
nas vendas de seu formato impresso, tornou-se exclusivamente digital a partir de 1° de
setembro de 2010 e passou a se autoentitular “o primeiro jornal 100% digital do país”.
Muitas rádios passaram a transmitir sua programação também via internet. Já a televisão,
desde que chegou ao Brasil em 1950, se consolidou como grande meio de comunicação, a
partir de uma lógica de comunicação de um para muitos. A participação/ interação do
telespectador com a emissora acontecia por meio do telefone, mensagens de texto ou mesmo
por carta. Como afirma Klein (2012, p. 97), “Antes das mídias digitais, o processo de entrar
em contato com um meio de comunicação era mais lento, e talvez, mais restrito”. Mas essa
lógica comunicativa foi se alterando ao longo dos anos 1990 e 2000, pois a internet
possibilitou uma relação mais direta entre os usuários e e as emissoras de TV. Como afirma
González (2009, p. 169), “Ahora, el emisor es también moderador; el mensaje es interactivo;
la audiencia es activa y dialoga con mensajes, emisores, personajes de actualidad y las
19
audiencias [...]”40. E a televisão está agora em pleno processo de digitalização, com a
implantação, aos poucos, do sinal da TVD (televisão digital).
O surgimento de novas mídias digitais e o processo de digitalização dos tradicionais
meios de comunicação possibilitaram a ocorrência do fenômeno da convergência. Henry
Jenkins esclarece o termo ao afirmar que:
[...] a convergência representa uma mudança de paradigma- um deslocamento de conteúdo de mídia específico em direção a um conteúdo que flui por vários canais, em direção a uma elevada interdependência de sistemas de comunicação, em direção a múltiplos modos de acesso a conteúdos de mídia e em direção a relações cada vez mais complexas entre a mídia corporativa, de cima para baixo, e a cultura participativa, de baixo para cima (JENKINS, 2009, p. 325).
A convergência midiática foi possível, como explica Mattos (2013, p. 54), “[...] graças
ao desenvolvimento da Internet e da digitalização dos conteúdos de áudio, vídeo e texto. Por
meio da Internet pode-se transportar, armazenar e redistribuir produtos audiovisuais [...]”.
Entretanto, o fenômeno da convergência não acontece somente pelo fluxo de conteúdos pelas
mídias digitais. Além de midiática, a convergência é também cultural: “[...] a convergência
representa uma transformação cultural, à medida que consumidores são incentivados a
procurar novas informações e fazer conexões em meio a conteúdos de mídia” (JENKINS,
2009, p. 30). Ou seja, a convergência cultural está ligada ao comportamento dos públicos que
se apropriam das mídias. Prado também faz uma reflexão sobre a digitalização midiática e
suas consequências na esfera cultural:
A cultura digital representa um conjunto de transformações radicais na esfera social, e não uma mera conversão de artefatos analógicos para equivalentes digitalizados. Essas transformações afetam também a esfera da comunicação. Antigos conceitos, como o da difusão de idéias de um ator social para muitos receptáculos passivos, não valem mais. Os recursos tecnológicos possibilitados pela digitalização resgatam a noção de comunicação bidirecional, de todos para todos, no lugar da informação unidirecional. Novos conceitos, como o da produção colaborativa do conhecimento, suplantam a idéia de caixa-preta. Sem mudar o olhar, não é possível compreender a mudança de paradigma em curso (PRADO; CAMINATI; NOVAES; 2005, P. 25).
Podemos citar como exemplo de convergência midiática e cultural o comportamento
dos usuários em consumir simultaneamente diferentes mídias. Acessar as redes sociais
40 Tradução nossa: Agora, o emissor é também moderador, a mensagem é interativa, o público é ativo e dialoga com mensagens, emissores, personagens atuais e com as audiências.
20
enquanto o telespectador assiste TV está se tornando uma prática comum. É quando, entre
outras coisas, os usuários acessam a rede para fazer comentários sobre o conteúdo assistido.
Um levantamento realizado pelo instituto de pesquisas Ipsos (empresa de pesquisa e de
inteligência de mercado) em maio e junho de 2013, apontou que, no Brasil, 68% das pessoas
assistem televisão e interagem com seus celulares ao mesmo tempo41. Segundo Juliana
Sawaia, gerente do IBOPE Media, a convergência e a simultaneidade no consumo dos meios
são comportamentos consolidados na rotina do internauta. Para ela, “Esse é um fenômeno
estabelecido em função da popularização da internet. A tendência é que as pessoas interajam
cada vez mais”42. Um em cada seis brasileiros navega na internet enquanto assiste à televisão,
segundo estudo Social TV, do IBOPE Nielsen Online43. O estudo foi realizado em 13 regiões
metropolitanas com pessoas de 10 anos ou mais de idade, entre os dias 13 e 29 de fevereiro de
2012. De acordo com a pesquisa, entre os internautas domiciliares brasileiros que nos últimos
sete dias usaram a internet e assistiram TV, 43% têm o hábito de ver televisão enquanto
navegam na internet. Destes, 59% disseram fazer isso todos os dias, como pode ser visto no
gráfico 2.
GRÁFICO 2- Frequência de consumo simultâneo de TV + internet (2012)
Fonte: Pesquisa Social TV, IBOPE Nielsen Online44
41 No Brasil, 68% assistem à TV e usam celular ao mesmo tempo, diz estudo. G1, 21 ago. 2013. Disponível em: <http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2013/08/no-brasil-68-assistem-tv-e-usam-celular-ao-mesmo-tempo-diz-estudo.html>. Acesso em: 21 ago. 2013. 42 IBOPE MEDIA. Especialista analisa convergência e simultaneidade no consumo dos meios. IBOPE, 07 maio 2013. Disponível em: <http://www.ibope.com.br/pt-br/noticias/Paginas/Especialista-analisa-convergencia-e-simultaneidade-no-consumo-dos-meios.aspx>. Acesso em: 04 jun. 2013. 43 IBOPE NIELSEN ONLINE. No Brasil, 43% dos internautas assistem à TV enquanto navegam. IBOPE, 26 jun. 2012. Disponível em: <http://www.ibope.com.br/pt-br/relacionamento/imprensa/releases/Paginas/No-Brasil-43-dos-internautas-assistem-a-TV-enquanto-navegam.aspx>. Acesso em: 07 maio 2013. 44 Ibidem.
21
Ainda segundo a pesquisa, 70% dos entrevistados afirmaram que procuram na internet
informações sobre o que está sendo transmitido na televisão e 80% disseram ter ligado a TV
ou trocado de canal por causa de uma mensagem recebida pela internet (figura 1).
FIGURA 1- Consumo simultâneo de TV +internet (2012)
Fonte: Pesquisa Social TV, IBOPE Nielsen Online.45
Com relação aos programas, a pesquisa mostrou (gráfico 3) ainda que os
jornais/noticiários e as novelas são os mais assistidos e os e os mais comentados pelos
consumidores simultâneos de TV e internet.
GRÁFICO 3- Programas mais assistidos e comentados pelos consumidores simultâneos de TV + internet (2012) Fonte: Pesquisa Social TV, IBOPE Nielsen Online.46
As pesquisas acima apresentadas são exemplos da convergência midiática e cultural
dos usuários dos meios, que muitas vezes estão em busca de mais conteúdos e também
encontram na internet condições de expressar sua opinião. Os dados obtidos a partir desses
estudos são também um indício de que os meios de comunicação tradicionais, como a
televisão, certamente não vão sucumbir devido às novas mídias digitais, vão sim se adaptar ao
45 IBOPE NIELSEN ONLINE. No Brasil, 43% dos internautas assistem à TV enquanto navegam. IBOPE, 26 jun. 2012. Disponível em: <http://www.ibope.com.br/pt-br/relacionamento/imprensa/releases/Paginas/No-Brasil-43-dos-internautas-assistem-a-TV-enquanto-navegam.aspx>. Acesso em: 07 maio 2013. 46 Ibidem.
22
novo comportamento de consumo do seu público. Como defende Cardoso (2007, p.115),
“Devemos olhar para as mídias não como tecnologias isoladas, mas como objetos de
apropriação social diversificada e combinada em função de objetivos concretos definidos”.
Incorporada no contexto da atual era midiática digital, a televisão no Brasil vem se
modernizando e está inserida no processo de modificação dos meios de comunicação, pois
como afirma Becker e Montez (2004, p. 25) “Como qualquer outra mídia ou veículo de
comunicação, a TV também está envolvida em um constante processo de evolução e
adaptação às novas necessidades sociais” e hoje passa por diversas mudanças, pois a
transmissão televisiva analógica esta aos poucos sendo substituída pela digital.
2.4 Televisão digital no Brasil
A televisão digital (TVD) é a transmissão digital dos sinais audiovisuais (BECKER;
MONTEZ, 2004), trata-se de uma nova plataforma para a operação da televisão brasileira,
que possibilita melhor qualidade dos sinais e o oferecimento de serviços interativos47. No
digital tudo pode ser transformado em zeros e uns, a linguagem oficial dos sistemas digitais.
“[A televisão digital] trata-se do mais avançado investimento tecnológico no mercado de
entretenimento e comunicação de massa” (TEIXEIRA, 2009, p. 139). Uma parte dos
telespectadores, agora usuários, está cada vez mais exigente e interessado em ter mais
controle diante da TV e como afirma Cannito (2010, p. 213), “O desenvolvimento da
televisão pode ser resumido como um gradual autoconhecimento de como suas
potencialidades tecnológicas e estéticas podem atender com mais eficiência as eternas
demandas culturais da espécie humana”.
As pesquisas relacionadas à TV digital tiveram início no final da década de 1980 e se
consolidaram na década de 1990. Existem hoje no mundo quatro principais padrões de
televisão digital: o ATSC-Advanced Television Systems Committe, dos Estados Unidos,
lançado em 1993, o DVB-T- Terrestrial Digital Video Broadcasting System, da Europa,
lançado também em 1993, o ISDB-T- Terrestrial lntegrated Services Digital Broadcasting,
do Japão, lançado em 1999 (CROCOMO, 2007) e o SBTVD- Sistema Brasileiro de TV
Digital Terrestre, desenvolvido com base no sistema japonês e em operação desde 2007. No
Brasil, as pesquisas com a TV digital tiveram início em dezembro de 2003, quando o Governo
brasileiro editou o decreto 4.901/2003, o qual instituiu o Sistema Brasileiro de Televisão
47 MINISTÉRIO DAS COMUNICAÇÕES. TV Digital. Ministério das Comunicações. Disponível em: <http://www.mc.gov.br/acoes-e-programas/tv-digital>. Acesso em: 22 ago. 2013.
23
Digital. De acordo com o Decreto, a televisão digital deveria “Promover a inclusão social, a
diversidade cultural do país e a língua pátria por meio do acesso à tecnologia digital, visando
a democratização da informação”48. Neste mesmo período, o governo também abriu licitação
de 22 editais para pesquisas a serem feitas por consórcios de universidades, as quais deveriam
propor os padrões para o SBTVD.
Em junho de 2006, o presidente Lula assinou o decreto 5.820/06, que dispunha sobre
a implantação do Sistema Brasileiro de Televisão Digital Terrestre, fazendo a opção pelo
modelo japonês de TV digital. Mas, os pesquisadores brasileiros acrescentaram diversas
atualizações no ISDB-T, como a adoção de padrões de compressão digital de áudio e vídeo
mais modernos e eficientes que os atuais sistemas de TV digital em funcionamento no
mundo.49 Em seu artigo 4°, o decreto 5.820/06 diz que “o acesso ao SBTVD-T será
assegurado ao público em geral, de forma livre e gratuita, a fim de garantir o adequado
cumprimento das condições de exploração objeto das outorgas”50.
A televisão digital no Brasil dispõe principalmente dos seguintes recursos:
• Imagem: É mais nítida, pois com a alta definição os programas podem ser
transmitidos em formato e qualidade de cinema, a chamada tela de cinema,
ou 16:9, conhecida também como Widescreen. Um monitor analógico
apresenta entre 480 e 525 linhas de vídeo, já um televisor Full HD (de alta
definição) pode mostrar 1920 pixels na horizontal e 1080 na vertical.
• Som: como ocorre em DVDs, o som pode ser surround, som que
proporciona ao telespectador um ambiente mais realístico do programa
assistido.
• TV móvel: o sinal da TV digital pode ser transmitido para televisores móveis,
como aqueles utilizados em veículos (CANNITO, 2010). O telespectador
pode assim assistir TV dentro de automóveis em movimento, sem que a
imagem ou o som falhe.
• TV portátil: o sinal da TV digital pode ser transmitido para dispositivos
pessoais, como celulares e laptops.
48 Brasil. Decreto n° 4.901, de 26 de novembro de 2003, artigo 1° . Institui o Sistema Brasileiro de televisão digital. Disponível em:< www.mc.gov.br/tv-digital/decreto-no-4901-de 26-de-novembro- de-2003> Acesso em: out. de 2010. 49 TV Digital. Portal Brasil. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/sobre/ciencia-e-tecnologia/industria-eletronica-digital/tv-digital> Acesso em: 22 ago. 2013. 50 Brasil. Artigo 4° do Decreto n° 5.820, de 29 de junho de 2006. Dispõe sobre a implantação do SBTVD-T. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-200/2006/decreto/d5820>. Acesso em: out. de 2010.
24
• Multiprogramação: É possível às emissoras a utilização da frequência digital
para transmitir simultaneamente até quatro canais diferentes. Cada canal
analógico ocupa uma faixa de 6MHz, mas nas plataformas digitais essa
mesma faixa permite até quatro sinais diferentes, mas em definição standard
(qualidade semelhante ao da TV analógica) ou a utilização integral de 6MHz
para transmitir apenas um canal em alta definição- HDTV.
• Interatividade: o Sistema Brasileiro de Televisão Digital Terrestre (SBTVD)
permite que por meio do middleware Ginga o usuário possa interagir
diretamente pelo televisor.
A primeira transmissão da televisão digital no Brasil aconteceu no dia dois de
dezembro de 2007, na cidade de São Paulo. Passados seis anos do início das transmissões,
dados da Anatel, Agência Nacional de Telecomunicações, de maio de 2012 apontam que
46,80% da população (quadro 2) tem acesso ao sinal digital de televisão51.
QUADRO 2- Cobertura da televisão digital no Brasil em números (2012) Fonte: Anatel52
O desligamento do sinal analógico (switch off) vai começar em abril de 2016 e se
estenderá até novembro de 2018, de acordo com informe53 do Ministério das Comunicações
de junho de 2014. A transição da TV analógica para o sistema digital vai ocorrer de forma
gradativa e começar pelas capitais do País. A primeira cidade a ter o sistema analógico
51 O sinal digital da televisão é mais presente nas capitais e regiões metropolitanas do país. À medida que avançamos para as cidades do interior, a cobertura diminui. 52 AGÊNCIA NACIONAL DE TELECOMUNICAÇÕES. Televisão digital. Anatel, mar. 2012. Disponível em: <http://www.anatel.gov.br/Portal/verificaDocumentos/documento.asp?numeroPublicacao=276896&assuntoPublicacao=Televis%E3o%20Digital%20no%20Brasil%20em%20N%FAmeros&caminhoRel=null&filtro=1&documentoPath=276896.pdf>. Acesso em: 27 ago. 2013. 53 TV Digital: Rio Verde receberá desligamento piloto em 2015. Portal Brasil, 24 jun. 2014. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/infraestrutura/2014/06/tv-digital-rio-verde-recebera-desligamento-piloto-em-2015>. Acesso em: 28 jun. 2014.
Emissoras de TVD em operação 132
Municípios com TV Digital em operação 52
Municípios cobertos pela TV Digital 508
População coberta 89.258.540
46,80%
Domicílios atendidos 31.363.391 46,42%
25
desligado será Brasília, em abril de 2016. Até o fim desse mesmo ano, será a vez de São
Paulo, Belo Horizonte, Goiânia e Rio de Janeiro. Em 2017, o cronograma vai incluir as
capitais do Sul e do Nordeste e as cidades do interior de São Paulo e do Rio de Janeiro. Até
2018, o desligamento da TV analógica vai se concentrar nos grandes centros urbanos, onde
vivem cerca de 60% da população brasileira. Nos demais municípios, o switch off só deve
ocorrer a partir de novembro de 201854.
Em meados de 2013, o Ministério das Comunicações havia informado que switch off
seria implementado gradualmente entre 2015 e 201855. Esse período estipulado preocupou e
se tornou um desafio para as partes envolvidas nesse processo. Para Aguinaldo Silva, diretor
do centro de pesquisa e desenvolvimento R&D e membro da SET56 (Sociedade Brasileira de
Engenharia de Televisão) Norte, caso o apagão analógico começasse mesmo em 2015, isso
traria problemas para os broadcasters, telespectadores e fabricantes de receptores de TV, pois
nos próximos dois anos seria necessário produzir pelo menos 30 milhões de TV ao ano57.
Mas, o parque instalado de televisores hoje no Brasil produz de 14 a 15 milhões de TVs ao
ano. Além disso, a mudança do parque tecnológico do analógico para o digital significa um
alto investimento por parte das emissoras, como afirma Olímpio Franco, presidente da SET,
“A TV Digital é uma melhora tecnológica, mas não significa que traga dinheiro novo às
emissoras, pelo contrário, estamos gastando dinheiro para transitar do analógico ao digital”58.
Outro desafio da televisão digital diz respeito a um de seus objetivos iniciais, a
inclusão social, que deveria ocorrer principalmente por meio da interatividade, para marcação
de consultas médicas, acesso a bancos etc. Apesar de algumas experiências interativas
estarem em curso, como o projeto de TV digital interativa Brasil 4D, a implementação desses
recursos ainda não se concretizou por todo o país. O que tem ocorrido é a criação, ainda
pouco expressiva, de aplicações interativas em Ginga pelas emissoras de TV abertas, como a
Globo, Record, Band e SBT. Além disso, os dispositivos móveis (aos poucos mais acessíveis)
que permitem o acesso à internet vêm conquistando um espaço significativo entre os
54 TV Digital: Rio Verde receberá desligamento piloto em 2015. Portal Brasil, 24 jun. 2014. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/infraestrutura/2014/06/tv-digital-rio-verde-recebera-desligamento-piloto-em-2015>. Acesso em: 28 jun. 2014. 55 Transição para a TV digital no país será mais rápida. Portal Brasil, 31 jul. 2013. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/noticias/arquivos/2013/07/31/transico-para-tv-digital-no-pais-sera-mais-rapida> Acesso em: 27 ago. 2013. 56 A SET, Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão, é uma Associação Técnico-Científica de profissionais e empresas, sem fins lucrativos, que tem por finalidade constituir-se em órgão de difusão, expansão, estudo e aperfeiçoamento dos conhecimentos técnicos, operacionais e científicos; atuando nas áreas de engenharia e afins nos campos de Televisão, Telecomunicações, Rádio, Internet e Novas Mídias. 57 MOURA, Fernando. Os caminhos da TV Digital no Brasil. Revista da SET, n. 135, ago. 2013. Disponível em: <http://www.set.org.br/artigos/ed135/ed135_26.asp>. Acesso em: 27 ago. 2013. 58 Ibidem.
26
brasileiros e sua utilização vem se expandindo no país. Certamente por isso, as emissoras de
TV têm começado a investir no desenvolvimento de aplicativos para essas mídias, que podem
ser usadas pelos telespectadores como segunda tela, simultânea à fruição da TV.
Além de dividir espaço com os dispositivos móveis, a televisão digital passou a
compartilhar a atenção dos telespectadores, nos últimos dois anos, com as Smart TVs. Com
relação aos televisores de forma geral, uma pesquisa realizada pela empresa CVA Solutions
em fevereiro de 2013 mostrou que nos últimos três anos 69% dos consumidores do Brasil
trocaram de aparelhos de televisão. De acordo com esse estudo, o número de televisores Flat
(ou de tela fina) passou de 28,9% para 79,2% dos lares brasileiros. Já os aparelhos de TV em
tubo caíram de 71,1% para 20,8%59. Dos 5.600 entrevistados (a pesquisa entrevistou um total
de 7.090 consumidores) que possuem como televisor principal um aparelho de tela fina, 30%
têm Smart TVs60. As TVs inteligentes, também chamadas de TVs conectadas, têm a qualidade
da TV Digital, mas apresentam como diferencial a possibilidade de conexão à internet, via
cabo ou Wi-Fi. Esses televisores vêm com aplicativos (apps) como Netflix e Skipe, têm
diversos games e permitem que o usuário baixe outros apps em uma loja virtual. “Essa
conexão permite que os telespectadores vejam seus programas preferidos ao mesmo tempo
em que interagem nas redes sociais, como Twitter e Facebook, tudo pela própria televisão
com o auxílio do controle remoto para postar qualquer opinião sua.”61.
O Sistema Brasileiro de TV Digital Terrestre, em funcionamento desde 2007, abrange
principalmente três pontos: a mobilidade, que permite levar a televisão a aparelhos celulares e
notebooks; a alta definição de som e imagem; e a interatividade62, que permite que o
telespectador interajam com o conteúdo da televisão pelo controle remoto. Dessas três
principais características, uma grande expectativa foi criada em torno das possibilidades que a
interatividade traria para a televisão digital no Brasil.
59 BORIN, Bruno. 69% dos consumidores brasileiros trocaram de TV em três anos. Exame, 19 mar. 2013. Disponível em: <http://exame.abril.com.br/tecnologia/noticias/69-dos-consumidores-brasileiros-trocaram-de-tv-em-tres-anos>. Acesso em: 27 ago. 2013. 60 Em três anos, 69% dos consumidores brasileiros trocaram de TV. Tela Viva, 18 mar. 2013. Disponível em: <http://www.telaviva.com.br/18/03/2013/em-tres-anos-69-dos-consumidores-brasileiros-trocaram-de-tv/pt/331259/news.aspx>. Acesso em: 28 ago. 2013. 61 MOURA, João. Entenda a diferença entre Smart TV e TV digital. Techtudo, 22 jun. 2013. Disponível em: <http://www.techtudo.com.br/artigos/noticia/2013/06/entenda-diferenca-entre-smart-tv-e-tv-digital.html>. Acesso em: 28 ago. 2013. 62 Portaria define produção de TVs com interatividade. Fórum SBTVD, 27 fev. 2012. Disponível em: <http://forumsbtvd.org.br/portaria-define-producao-de-tvs-com-interatividade/>. Acesso em 09 jul. 2014.
27
2.4.1 Interatividade na TVD
O decreto 5.820, de 29 de junho de 2006 dispõe sobre a implantação do SBTVD-T-
Sistema Brasileiro de Televisão Digital Terrestre e estabelece diretrizes para a transição do
sistema de transmissão analógica para o sistema de transmissão digital do serviço de
radiodifusão. Em seu artigo 6°, o documento determina que o SBTVD-T possibilitará: I -
transmissão digital em alta definição (HDTV) e em definição padrão (SDTV); II - transmissão
digital simultânea para recepção fixa, móvel e portátil; e III - interatividade63. A partir de
então a interatividade se tornou uma das grandes promessas da TV Digital no Brasil, pois com
ela surgia uma nova forma de interação entre o telespectador e sua TV. De todas as
potencialidades da TV digital, a interatividade, possibilitada pela existência de um
middleware64 chamado Ginga65, é a de maior impacto nas relações entre a televisão e os
telespectadores (PASCHOAL NETO, 2009).
Desde que o termo interatividade foi utilizado na esfera da televisão digital,
pesquisadores da comunicação têm se debruçado com mais vigor em estudar o significado
desse termo e têm dado a ele diferentes e até divergentes definições. O termo interatividade “é
uma palavra da moda”, como afirma Alex Primo66, usado hoje para qualificar equipamentos
eletrônicos, jogos, livros etc. Certamente não há um conceito único que defina tal termo.
Mesmo na comunicação, a interatividade está longe de ser uma unanimidade, como afirma
Teixeira (2009, p.29) “As definições de ‘interatividade’, apesar de algumas predominâncias
de sentido, parecem longe de ser um consenso na comunicação.”
Para Becker e Montez “A interatividade de um processo ou ação que pode ser descrita
como mútua e simultânea da parte de dois participantes, normalmente trabalhando em direção
de um mesmo objetivo” (2004, p.48). Marco Silva afirma que a interatividade “está na
disposição ou pré-disposição para mais interação, para uma hiper-interação, para
bidirecionalidade (fusão emissão-recepção), para participação e intervenção (1999 apud
TEIXEIRA, 2009, p. 126). Já para Alex Primo, não é necessário criar uma nova palavra para
um fenômeno que já é estudado há muito tempo, a interação. Assim, em vez de usar a palavra
interatividade, ele prefere a expressão “interação mediada por computador” (PRIMO, 2008) ,
63 Brasil. Decreto n° 5.820, de 29 de junho de 2006. Dispõe sobre a implantação do SBTVD-T. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-200/2006/decreto/d5820> Acesso em: out. de 2010. 64 Camada intermediária de software que vem integrado em alguns modelos de equipamentos de recepção de sinal de TV Digital 65 Interatividade (DTVi). DVT, Site Oficial da TV Digital. Disponível em: <http://www.dtv.org.br/informacoes-tecnicas/interatividade-dtvi/>. Acesso em: 29 ago. 2013. 66 Alex Primo entrevistado por Juremir Machado. You Tube, 30 ago. 2007. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=N382tTbebLQ&list=PLFFA9C65EAFF67D9D&index=1>. Acesso em: jul. 2011.
28
ou seja, interação mediada digitalmente, um contexto de comunicação dependente da
tecnologia digital. Primo defende que a interação é uma “ação entre” os participantes de um
encontro e argumenta que existem dois tipos de interação, a interação mútua, que se
caracteriza como um sistema aberto, de trocas constantes e voltado para a evolução e
desenvolvimento; e a interação reativa, vista como um sistema fechado, com relações lineares,
pois a mensagem é emitida por um interagente proativo e recebida pelo interagente reativo,
que pode reagir apenas por feedback (PRIMO, 2008). Já Becker e Montez (2004) não
estudam a interatividade sob o viés da interação. Para os autores interação e interatividade não
são a mesma coisa, pois a interação pode acontecer diretamente entre dois ou mais entes
atuantes, enquanto a interatividade ocorre necessariamente intermediada por um meio
eletrônico.
Aqui defenderemos que a interatividade, inserida no contexto da televisão digital,
trata-se de uma ferramenta tecnológica que irá possibilitar ao telespectador o uso de recursos
adicionais diretamente pela TV, que pode permitir desde o acesso a informações extras, como
a sinopse de um filme, até uma interação mais direta em um programa. Mas é necessário
reconhecer as limitações tecnológicas e as características inerentes ao meio televisivo. A
televisão digital, apesar de hoje possibilitar o acesso à internet, tem particularidades que
tornam sua interatividade diferente daquela oferecida por um computador. Como explica
Primo (2008, p. 101) “[...] cada meio oferece simultaneamente certas possibilidades e certas
limitações à interação”.
Ainda hoje, a televisão é preponderantemente um meio de exibição de fluxo
ininterrupto (CANNITO, 2010), assim, conteúdos interativos não podem “atrapalhar” a
programação; diferente do computador, onde a fruição costuma ser individual, a TV muitas
vezes é consumida de forma coletiva, ou seja, em um computador o usuário escolhe os
caminhos por onde navegar e consome diferentes conteúdos simultaneamente, já na televisão,
novamente, a interatividade não deve prejudicar o fluxo e incomodar os demais
telespectadores do ambiente; é habitual que o usuário esteja a certa distância ao assistir
televisão, o que não acontece no caso dos computadores, assim os conteúdos interativos
devem ser capazes de serem manipulados a certa distância.
É frequente a comparação entre a interatividade proporcionada pelo computador e
aquela proporcionada pela televisão digital. Entretanto, simplesmente transferir o que é
peculiar de um meio para outro sem as devidas adaptações pode resultar em um produto
truncado e pouco útil para o usuário. Portanto, “[...] é desafio da TV digital desenvolver
29
recursos que potencializem e modernizem as noções de interatividade, o que é diferente de se
apropriar do conceito usado pela internet.” (CANNITO, 2010, p. 147).
Alex Primo (2008) argumenta que a interação mediada por computador se ocupa tanto
de um diálogo homem-homem quanto das interações homem-máquina e máquina-máquina.
Assim, concordamos com ele no sentido de que a interatividade não se dá apenas quando o
telespectador se comunica diretamente com uma emissora pela TV ou quando ele se torna
também emissor de conteúdo. Aliás, cabe ressaltar que a simples ação de o telespectador
sentar-se diante da televisão e assistir já é uma forma de interação, pois o público não se
mantém inerte ou passivo, cada qual reage ao conteúdo a seu modo, como coloca Silva,
[...] apesar de seu caráter fortemente massivo, o conteúdo televisivo nem sempre é recebido de modo homogêneo pelo público: seus efeitos culturais e psicológicos obedecem a uma série de variáveis, dentre elas fatores sociais, econômicos, educacionais, além da própria conjuntura em que o telespectador está inserido. (2009, p.13).
A interatividade pode ocorrer em diferentes níveis, como Jenkins (2009, p.189)
explica, “A interatividade refere-se ao modo como as novas tecnologias foram planejadas para
responder ao feedback do consumidor. Pode-se imaginar os diferentes graus de interatividade
possibilitados por diferentes tecnologias de comunicação”. Ou seja, a tecnologia da qual
dispõe a televisão digital permite uma interação homem-homem, por exemplo quando o
telespectador consegue se comunicar diretamente com um produtor de conteúdo por meio de
um canal de retorno, mas, ocorre interação também na relação homem-máquina, a exemplo
de quando o telespectador tem a possibilidade de acessar um conteúdo adicional enviado
junto ao sinal audiovisual da TV.
A interação não chegou com a televisão digital, ela já existia na TV analógica há
bastante tempo. Os telespectadores podiam, e ainda podem, participar por meio de cartas, e-
mails, SMS (Short Message Service)67 , ligações. Assim, antes tínhamos uma interação
analógica, que se utilizava de outros meios para contar com a participação do telespectador,
hoje, com a televisão digital, temos uma interatividade que utiliza os recursos digitais e que
poderá dispor da participação do telespectador de forma direta. Como coloca André Lemos,
A noção de interatividade está diretamente ligada aos novos media digitais. O que compreendemos por interatividade nada mais é que uma forma de interação técnica, de cunho eletrônico-digital, diferente da interação analógica que caracterizou os media tradicional ( LEMOS, 2008, p. 112)
67 Em português significa Serviço de Mensagens Curtas.
30
Portanto, os recursos interativos disponíveis hoje na televisão digital estão sujeitos aos
limites tecnológicos, como a disponibilidade ou não de um canal de retorno, e às
características inerentes do meio televisivo. A televisão digital e computador são suportes
comunicacionais diferentes. Atualmente vem ganhando espaço no cenário midiático o
conceito de segunda tela (ou second screen), expressão que se refere a um dispositivo
eletrônico adicional, como um smartphone ou tablet, que permite ao usuário interagir com o
conteúdo de uma tela principal, como a televisão.
Na televisão digital, o desenvolvimento de recursos interativos de caráter mútuo,
processo marcado pela interconexão dos subsistemas envolvidos (PRIMO, 2008), ainda são,
de certa forma, restritos, devido à complexidade de programação do Ginga e pela
necessidade de um canal de retorno.
2.4.2 Ginga
Ginga é o middleware68 de especificação aberta adotado pelo Sistema Brasileiro de TV
Digital Terrestre (SBTVD) para instalação em conversores (set-top boxes) e em televisores69.
Esse nome foi escolhido “[...] em reconhecimento à cultura, arte e contínua luta por liberdade
e igualdade do povo brasileiro”70. O Ginga é resultado do desenvolvimento de projetos de
pesquisa coordenados pelos laboratórios Telemídia, da Pontifícia Universidade Católica
(PUC-Rio), e LAViD- Laboratório de Aplicações de Vídeo Digital- da Universidade Federal
da Paraíba (UFPB).
O Ginga tem duas funções principais, uma é tornar as aplicações independentes do
sistema operacional da plataforma de hardware utilizados e a outra é oferecer um melhor
suporte ao desenvolvimento de aplicações. Por isso, o Ginga é responsável por dar suporte à
interatividade71. Um middleware para aplicações na TV digital é constituído por máquinas de
execução das linguagens oferecidas e bibliotecas de funções, que permitem o
desenvolvimento rápido de aplicações interativas , como por exemplo o acesso à internet e a
realização de operações bancárias, entre outras.
68 Um middleware é uma camada de software intermediária posicionada entre o código das aplicações e a infraestrutura de execução (plataforma de hardware e sistema operacional). 69 Ginga. DTV, Site Oficial da TV Digital. Disponível em: <http://www.dtv.org.br/informacoes-tecnicas/ginga/>. Acesso em: 30 ago. 2013. 70 Sobre o Ginga. Site Oficial do Middleware Ginga. Disponível em: <http://www.ginga.org.br/pt-br/sobre>. Acesso em: 30 ago. 2013. 71 Interatividade (DTVi). DVT, Site Oficial da TV Digital. Disponível em: <http://www.dtv.org.br/informacoes-tecnicas/interatividade-dtvi/>. Acesso em: 29 ago. 2013.
31
De acordo Site Oficial da TV Digital72, o Ginga está dividido em três subsistemas
principais interligados (Ginga-CC, Ginga-NCL e Ginga-J), que permitem o desenvolvimento
de aplicações seguindo dois paradigmas de programação diferentes. O Ginga-CC (Ginga
Common-Core) oferece o suporte básico para os ambientes declarativos (Ginga-NCL) e
procedural73 (Ginga-J), de maneira que suas principais funções sejam para tratar da exibição
de vários objetos de mídia, como JPEG74, MPEG-475, MP376, GIF77, entre outros formatos. O
Ginga-CC oferece também o controle do plano gráfico do modelo especificado para o ISDB-
TB e controla o acesso ao canal de retorno, módulo responsável por monitorar o acesso à
camada de rede. O Ginga-NCL foi desenvolvido pela PUC-Rio com o objetivo de prover uma
infraestrutura de apresentação para aplicações declarativas escritas na linguagem NCL
(Nested Context Language), que é uma aplicação XML78 com facilidades para a especificação
de aspectos de interatividade, sincronismo espaço-temporal entre objetos de mídia,
adaptabilidade, suporte a múltiplos dispositivos e suporte à produção ao vivo de programas
interativos não lineares79. Já o Ginga-J foi desenvolvido pela UFPB (Universidade Federal da
Paraíba) para prover uma infraestrutura de execução de aplicações baseadas na linguagem
Java80, com facilidades especificamente voltadas para o ambiente de TV digital81.
Os equipamentos com Ginga tornam possível o recebimento de aplicativos interativos
enviados pelas emissoras de TV junto ao sinal digital82. As TVs que possuem esse recurso no
mercado são identificados pelo selo DTVi, que garante a compatibilidade com as normas
técnicas aprovadas. Devido à baixa produção de aparelhos de TV que traziam o Ginga, uma
72 Ginga. DTV, Site Oficial da TV Digital. Disponível em: <http://www.dtv.org.br/informacoes-tecnicas/ginga/>. Acesso em: 30 ago. 2013. 73 Linguagem declarativa: enfatiza a declaração descritiva de um problema em vez de sua decomposição em implementações algorítmicas, com essa linguagem os usuários não precisam especificar o caminho de acesso, isto é, como os dados serão obtidos. Linguagem procedural: é necessário informar ao computador cada passo a ser executado, essa linguagem especifica como os dados devem ser obtidos do banco. 74 JPEG é um acrônimo de Joint Photographics Experts Group, é um método de compressão de imagens fotográficas e também é considerado como um formato de arquivo. O Joint Photographics Experts Group é o nome do grupo responsável por criar este método, que é um dos métodos mais populares de compressão de imagens até hoje. 75 É a designação para um grupo de padrões de codificação de som e vídeo e tecnologia relacionada de acordo com a ISO/IEC Moving Picture Experts Group (MPEG). 76 MP3 é uma abreviação de MPEG 1 Layer-3. Trata-se de um padrão de arquivos digitais de áudio estabelecido pelo Moving Picture Experts Group (MPEG. As camadas referem-se ao esquema de compressão de áudio do MPEG-1. Foram projetadas em número de 3, cada uma com finalidades e capacidades diferentes 77 Graphics Interchange Format, formato de intercâmbio de gráficos, é um formato de imagem muito usado na Internet. 78 XML, do inglês eXtensible Markup Language, é um formato para a criação de documentos com dados organizados de forma hierárquica, como em documentos de texto formatados, imagens vetoriais ou bancos de dados. 79 Interatividade (DTVi). DVT, Site Oficial da TV Digital. Disponível em: <http://www.dtv.org.br/informacoes-tecnicas/interatividade-dtvi/>. Acesso em: 29 ago. 2013. 80 Java é uma linguagem de programação e uma plataforma de computação. Há muitos aplicativos e sites que funcionam somente com o Java instalado, e muitos outros aplicativos e sites são desenvolvidos e disponibilizados com o suporte dessa tecnologia. 81 O que é o Ginga. IG, 09 abr. 2012. Disponível em:<http://tecnologia.ig.com.br/especial/o-que-e-o-ginga/n1597734545853.html>. Acesso em: 30 ago. 2013. 82 Ibidem ref. 80.
32
portaria interministerial publicada em 24 de fevereiro de 2012 fixou um cronograma para a
produção de TVs interativas: a partir de 1º de janeiro de 2013, 75% dos televisores deveriam
vir com o Ginga de fábrica; e a partir de 1º de janeiro de 2014, esse porcentual sobe para 90%
dos aparelhos. De acordo o assessor da Secretaria de Telecomunicações do Ministério das
Comunicações, Flávio Lenz, “No processo de negociação que envolveu a indústria, a
sociedade e especialistas, o governo entendeu que esses são os prazos razoáveis e factíveis
para implementar a medida. O objetivo é garantir um efetivo desenvolvimento da
interatividade na TV brasileira”83. Essa portaria também definiu que modelos de TV do tipo
conectada (com acesso à internet) deverão vir obrigatoriamente com o Ginga. A razão para
essa medida, no entendimento do governo, é de que não há necessidade de as empresas
adicionarem nenhum componente ao televisor84.
Em dezembro de 2012 o Ministério das Comunicações (MiniCom) lançou o Programa
de Estímulo ao Desenvolvimento do Padrão Nacional de Interatividade da Televisão Digital
Brasileira – programa Ginga Brasil, com a parceria da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa
(RNP), e apoio da PUC-Rio e da Universidade Federal da Paraíba. O MiniCom estabeleceu
como principais objetivos do Ginga Brasil85:
- Fomentar a criação e a difusão de conteúdos e aplicações interativas transmitidas por
emissoras de televisão digital, com ênfase na produção independente;
- Promover a capacitação de profissionais e estudantes das áreas do audiovisual, design,
tecnologia da informação, engenharia, dentre outras correlatas.
- Disponibilizar aos cidadãos brasileiros conteúdos e aplicações que proporcionem
experiências de interatividade em atendimento às finalidades educativas, artísticas, culturais e
informativas da televisão digital brasileira;
- Implementar e manter repositórios digitais públicos, destinados a abrigar a produção de
aplicativos do Ginga.
Uma das recentes ações do Ginga Brasil é o Ginga Br.Labs, projeto que selecionou 10
emissoras públicas para receberem laboratórios de testes de conteúdos e aplicações interativas
de TV Digital. No total, 40 técnicos, produtores ou diretores das entidades selecionadas serão
83 Fabricação de TVs com software de interatividade Ginga será obrigatória em 2013. Portal Brasil, 24 fev. 2012. Disponível em:< http://www.brasil.gov.br/noticias/arquivos/2012/02/24/portaria-define-producao-de-tvs-com-interatividade-na-zona-franca-de-manaus>. Acesso em: 30 ago. 2013. 84 Ibidem ref. 82. 85Brasil. Ministério das Comunicações. Programa Ginga Brasil. Disponível em: <http://www.mc.gov.br/acoes-e-programas/conteudos-digitais-criativos/programa-ginga-brasil>. Acesso em: 30 ago. 2013.
33
capacitados no uso e desenvolvimento de aplicações e conteúdos interativos baseados no
Ginga86.
Os tópicos tratados até este ponto desta dissertação tiveram por finalidade apresentar,
ainda que de forma breve, o contexto que envolve o principal foco desde estudo, o
telejornalismo e a interatividade na televisão digital. A partir de agora, abordaremos
especificamente o telejornalismo e as modificações e adequações que esse vem passando nos
últimos anos, tempos de convergência midiática e cultural.
2.5 A redação de um telejornal
O telejornalismo é a prática profissional do jornalismo aplicada à televisão87, e ele tem
seu espaço garantido na programação da televisão aberta brasileira, como lembra Curado
(2002, p. 15): “O telejornal faz parte da programação da TV brasileira cumprindo uma
determinação legal. O decreto lei 52.795 de 31.10.1963, que trata do regulamento dos
serviços de radiodifusão, estipula que as emissoras dediquem cinco por cento do horário da
programação diária ao serviço noticioso”. Até hoje, mesmo com a ampla quantidade de
informação que a internet disponibiliza aos usuários, 89% da população tem o hábito de se
informar sobre o que acontece no Brasil pela televisão, o que torna a TV o meio de
comunicação mais utilizado para a busca de informações sobre o país. O rádio aparece em
segundo, com 30%, seguido pela internet (29%), jornal impresso (8%) e revista impressa
(1%)88.
E o telejornalismo, um dos principais produtos da mídia televisiva, representa um
lugar de referência para os brasileiros similar ao da família, dos amigos, da escola e da
religião (CANCLINI, 1995, apud VIZEU, 2008) e cumpre a função de sistematizar, organizar
e hierarquizar a vida em sociedade (VIZEU, 2008). Um telejornal é formado por uma mistura
de fontes de imagens, sons, arquivos, textos, locuções (BARBEIRO; LIMA, 2002) e o
responsável por organizar esse aparente “caos” é o jornalista; na verdade ele sozinho não, mas
uma equipe de profissionais que tem como principal função transformar um acontecimento
em uma notícia compreensível para o telespectador.
86 Emissoras são selecionadas para participar de projeto para TV Digital. Portal Brasil, 16 jul. 2013. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/noticias/arquivos/2013/07/16/emissoras-sao-selecionadas-para-participar-de-projeto-para-tv-digital>. Acesso em: 30 ago. 2013. 87 Telejornalismo. Jornalista. Disponível em: <http://www.jornalista.com.br/telejornalismo/>. Acesso em 4 fev. 2014. 88 TV é o meio mais utilizado pelos brasileiros para se informarem, aponta pesquisa do IBOPE Inteligência. IBOPE, 17 mar. 2014. Disponível em: <http://www.ibope.com.br/pt-br/noticias/Paginas/TV-e-o-meio-mais-utilizado-pelos-brasileiros-para-se-informarem-aponta-pesquisa-do-IBOPE-Inteligencia.aspx>. Acesso em: 20 mar. 2014.
34
Os cargos e funções em uma redação de telejornal podem variar de emissora para
emissora, e dependem, entre outras coisas, do porte da empresa e da escolha dos responsáveis
pelo telejornal. Colocar um telejornal diário no ar envolve diversos profissionais e áreas que
não estão ligadas diretamente ao jornalismo, como o setor de Engenharia e Administração.
Interessa para esta pesquisa descrever, de forma geral, os principais cargos e atividades típicas
de uma redação de telejornal, mas somente aquelas que estão diretamente vinculadas à
produção de notícias e que normalmente são desempenhadas por jornalistas. Dessa forma é
possível compreender a rotina de trabalho dos profissionais de uma redação televisiva.
• O Chefe de Jornalismo é o responsável pela linha editorial da emissora. É
comum que ele ocupe o cargo de diretor ou gerente de jornalismo e participe
da direção da empresa. “Sobre ele despencam os maiores problemas, desde a
palavra final sobre a contratação ou demissão de um jornalista até as investidas
da área comercial, que tem preferência por determinadas reportagens, mas
gostaria de evitar a produção de outras”. (BARBEIRO; LIMA, p. 56, 2002).
• O Diretor Executivo ou chefe de redação acompanha o trabalho da chefia de
reportagem, dos editores e dos repórteres. É ele quem dá orientações à pauta e
à produção e é o ponto de consulta para dúvidas editoriais que possam surgir.
Curado (2002, p. 30) explica que esse profissional “Repassa as instruções do
chefe de departamento à chefia de reportagem e aos editores. Mantém-se
afinado com a chefia de reportagem e com os editores que podem ter percepção
divergente do encaminhamento da cobertura, do ponto de vista operacional”.
• O Editor-Chefe é o responsável diretamente pelo telejornal. De acordo com
Barbeiro e Lima (2002, p. 56), “É ele quem escolhe as reportagens que vão ao
ar e [...] responde pelos erros e acertos do programa. [...] faz avaliação crítica
da qualidade das matérias produzidas e debate o resultado com a pauta e a
chefia de reportagem”.
• O Chefe de Reportagem é o responsável por orientar os repórteres e
supervisionar o andamento das pautas. O jornalista que assume este cargo se
torna uma espécie de coordenador da redação. O chefe de reportagem tem a
35
visão geral de como o jornal será fechado e quais são os assuntos que devem
chegar primeiro na redação para que os editores se organizem89.
• O Repórter é o profissional do jornalismo que vai para a rua colher as
informações necessárias para compor uma matéria. É ele quem faz o texto da
reportagem e dá formato final a ela. “Na função de repórter de vídeo estarão
aqueles profissionais com características específicas de comunicabilidade,
além daquelas inerentes ao bom jornalista. São necessárias boa voz e presença
empática”. (CURADO, 2002, p. 47). De acordo com a experiência, esse
jornalista pode ser repórter local, regional, repórter de rede nacional ou ainda
correspondente internacional.
• O Produtor é o jornalista que sugere assuntos, produz as pautas definidas em
reunião (apuração de dados para a reportagem) e pode acompanhar a equipe de
filmagem na rua.
• Barbeiro e Lima (2002, p. 102) lembram que: “Editar uma reportagem para TV
é como contar uma história, e como toda a história a edição precisa de uma
sequência lógica que pelas características do veículo exige a combinação de
imagens e sons.” Parte fundamental da “contação de história” no telejornalismo
é o Editor de Texto, aquele que revisa ou produz textos do telejornal ou
reportagens. Ele “avalia os dados da reportagem como um todo: imagens e
informações e dá o formato junto com o repórter ao texto final da matéria pré-
gravada.” (CURADO, 2002, p. 52).
• O Apresentador do programa jornalístico é o profissional que recebe o texto e o
lê diante das câmeras. Como afirma Barbeiro e Lima (2002, p. 78), o
apresentador “[...] não é artista nem notícia, trabalha com ela. Integra um
processo para contar a uma parte da sociedade o que outra está fazendo. Não é
a estrela do telejornal, mas é o rosto mais conhecido e familiar do
telespectador.”.
89 Produção de telejornalismo. Universidade Metodista de São Paulo. Disponível em: <http://jornal.metodista.br/tele/manual/manual.htm>. Acesso em: 14 mar. 2014.
36
Para uma compreensão mais perceptível da estrutura organizacional de uma redação
de telejornal, recorremos a um organograma elaborado pela jornalista Olga Curado (figura 2).
Ela própria explica que (2002, p. 28) “Os cargos e funções descritos podem ter outros títulos e
atribuições ligeiramente diferentes em casa empresa. Entretanto, [...] não se faz jornalismo em
televisão sem o cumprimento de todas as tarefas relacionadas.”
FIGURA 2- Organograma de uma redação de telejornal Fonte: Olga Curado (2002, p.29)
Com o desenvolvimento de novas mídias digitais que permitem o acesso à internet e
com o processo de digitalização dos meios tradicionais, naturalmente os telejornais, produtos
da mídia televisiva, estão passando por mudanças. Crocomo (2007, p. 152) argumenta: “O
telejornalismo, tal qual o conhecemos na atualidade, deverá obrigatoriamente incorporar os
novos recursos”. E no atual cenário, a web tem possibilitado o desenvolvimento e o acesso a
novos recursos voltados para os telejornais, assim como a interatividade na televisão digital.
37
2.6 Telejornalismo em tempos de convergência
Já há alguns anos, o conteúdo produzido pelos jornalistas nas redações televisivas não
são exclusivamente para os telejornais. Como uma parte dos telespectadores está mais
conectada, em busca de mais informações e interatividade, os conteúdos dos telejornais
migraram para a internet, não apenas o conteúdo, mas também novas formas de diálogo com
os telespectadores, seja por meio de chats, e-mails, redes sociais, participação por meio de
enquetes etc. Como explica Klein (2012, p. 94-95), “[...] a ampla difusão de inovações
relacionadas às tecnologias digitais provocou mudanças na forma de acesso a conteúdos e
também na forma como as pessoas usam a mídia no seu cotidiano (como leem artigos, como
veem televisão, por exemplo)”.
Temos diversos exemplos das extensões do telejornalismo para além da televisão e da
nova relação que vem se firmando entre telespectadores/usuários e os produtores de notícias.
Os telejornais nacionais da Rede Globo podem ser usados como exemplo por serem
referência no telejornalismo do país. O Bom Dia Brasil, Jornal Hoje (JH), Jornal Nacional
(JN) e Jornal da Globo (JG) têm um respectivo site com os acontecimentos mais recentes e
com as notícias em vídeo e em texto da última edição do telejornal. Além disso, a
participação do público é incentivada, como por meio de bate - papo com especialistas,
convite para participação de enquetes. Nos sites desses telejornais existe uma área chamada
“VC”90: VC no Bom dia Brasil91, VC no Jornal Hoje92 etc. Nesse espaço o internauta encontra
mensagens como “Mande sua sugestão para o JG” (Jornal da Globo) ou ainda “Mande seu
flagrante em vídeo ou foto para o Jornal Hoje” e logo abaixo há um espaço no qual o usuário
pode contribuir de diversas formas, seja por meio do envio de vídeos, fotos ou textos. Para
poder mandar um conteúdo, o usuário deve fazer um cadastro no site da Globo e então o
mesmo poderá ser veiculado no telejornal, no site ou em ambos.
Os quatro telejornais nacionais da Rede Globo também estão presentes no Twitter,
outra forma de divulgar notícias e fazer contato com os internautas. Em levantamento
realizado em julho de 2014, o perfil do Jornal Hoje no Twitter estava com 1,21 milhões de
seguidores93. Nos tweets do JH os internautas são convidados a participar de bate - papos
pelo site, são avisados quando o telejornal entra no ar, e há tweets com saudações mais
90 Este espaço não existe no site do Jornal Nacional, da Rede Globo. 91 VC no Bom Dia Brasil. Bom Dia Brasil. Disponível em: <http://g1.globo.com/bom-dia-brasil/colaborativo-vcnobomdiabrasil.html> Acesso em: 05 jun. 2013. 92 VC no Jornal Hoje. Jornal Hoje. Disponível em:< http://g1.globo.com/jornal-hoje/colaborativo-vcnojornalhoje.html>. Acesso em: 05 jun. 2013. 93 Twitter Jornal Hoje. Twitter. Disponível em: <https://twitter.com/JHoje>. Acesso em: 10 jul. 2014.
38
intimistas, como “Bom dia”, “Boa sexta-feira” e os internautas são chamados a participar
respondendo a perguntas do tipo “Como está o tempo na sua cidade”? O perfil do Bom dia
Brasil tem 378 mil seguidores94; o Jornal Nacional tem 1,22 milhões95; e o Jornal da Globo
tem 24,9 mil seguidores96. Os tweets desses três outros telejornais divulgam notícias e avisam
quando o jornal está no ar.
Todos esses telejornais nacionais da Rede Globo também estão no Facebook por meio
de páginas oficiais. O levantamento, também realizado em julho de 2014, mostra que a
página do Bom Dia Brasil97 no Facebook foi curtida por 1,8 milhões de pessoas; a do Jornal
da Globo98: 1,6 milhões de pessoas curtiram; Jornal Hoje99: 3,8 milhões de curtidas; já a
página do Jornal Nacional100 havia sido curtida por 4,4 milhões de perfis. As páginas dos
telejornais nas redes sociais são um indício da necessidade desses produtores de conteúdo
estarem mais próximos de seu público e o número de “curtidas” mostra que as redes sociais
se tornaram um novo espaço de penetração dos telejornais.
Especialmente o Jornal Hoje pode ser citado como um exemplo de telejornal que
vem buscando ampliar o diálogo com os telespectadores. O Telejornal propõe nos conteúdos
apresentados introduzir novas formas de relação de comunicação, privilegiando a perspectiva
de interatividade por parte dos telespectadores. Isso porque os conteúdos remetem a audiência
a interagir por meio da internet, acessando o site do telejornal para poder participar. Outra
característica notável do Jornal Hoje é a postura dos apresentadores. Eles mantêm uma
atmosfera descontraída, de bate - papo com os telespectadores, sempre os convidando a
participar, fazem perguntas diretas a eles, o que cria um efeito de contato com quem está
assistindo o telejornal. Segundo pesquisa realizada em 2010101, na qual o Jornal Hoje foi
analisado durante uma semana em busca de ocorrências interativas, 24% de tudo que foi
produzido no telejornal pode ser considerado interativo, isso levando-se em consideração o
número de eventos dentro do telejornal, como reportagens, notas cobertas etc, e os momentos
em que os telespectadores eram convidados a interagir pelo site do Telejornal.
94 Twitter Bom Dia Brasil. Twitter. Disponível em: <https://twitter.com/bomdia_brasil>. Acesso em: 10 jul. 2014. 95 Twitter Jornal Nacional. Twitter. Disponível em: <https://twitter.com/JNTVGloboBrasil>. Acesso em: 10 jul. 2014. 96 Twitter Jornal da Globo. Twitter. Disponível em:< https://twitter.com/JGJornaldaGlobo>. Acesso em: 10 jul. 2014. 97 Página Bom Dia Brasil Facebook. Disponível em: <https://www.facebook.com/BomDiaBrasil?ref=ts&fref=ts >. Acesso em: 10 jul. 2014. 98 Página Jornal da Globo Facebook. Disponível em: < https://www.facebook.com/JornalDaGlobo?fref=ts>. Acesso em: 10 jul. 2014. 99 Página Jornal Hoje no Facebook. Disponível em: <https://www.facebook.com/JornalHoje?fref=ts>. Acesso em : 10 jul. 2014.. 100 Página Jornal Nacional Facebook. Disponível em: <https://www.facebook.com/JornalNacional?fref=ts>. Acesso em: 10 jul. 2014. 101 PRAZERES, Selma Miranda dos. Telejornalismo na era digital: interatividade e acesso à informação. (Trabalho de conclusão de curso. UNESP - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Bauru, dez. 2011.)
39
A extensão dos telejornais para fora tão somente da televisão criou novos espaços para
a participação dos telespectadores. O público tem agora um espaço mais significativo para
interagir, sugerir, ou mesmo reclamar com os produtores dos telejornais. Como coloca Klein,
O uso de mídias sociais por pessoas que, ao mesmo tempo, são também telespectadoras de TV tem resultado em ajustes na forma como a televisão pensa os processos de convergência tecnológica: não basta só disponibilizar o conteúdo na web, é preciso acioná-lo de formas diferenciadas (2012, p. 99).
Pudemos observar no tópico acima as extensões do telejornalismo para fora da mídia
televisiva, possibilitada pelo acesso das pessoas a sistemas computacionais com internet.
Entretanto, novas mudanças podem ocorrer nos telejornais a partir do uso de recursos da
televisão digital, com destaque para a interatividade, que pode permitir a participação do
telespectador diretamente pela televisão.
2.7 Telejornalismo e interatividade
Como o Sistema Brasileiro de Televisão Digital (SBTVD) permite a produção de
interatividade diretamente pela TV via Ginga, um leque de novas possibilidades se abrem
para o telejornalismo. Becker (2006) define a TV Digital Interativa (TVDI) como “a
combinação da TV digital com a tecnologia da interatividade, por meio do telefone, cabo,
satélite ou mesmo sem canal de retorno (interatividade local), viabilizada por softwares
instalados no terminal de acesso”. Para Teixeira (2009, p. 21), a televisão interativa denota
“[...] um amplo conjunto de fatores que nos devem condicionar a novos comportamentos
diante da tela e consequentemente a uma nova tela”.
Sem a necessidade de conexão à internet, com uma televisão digital que possua o
Ginga, o telespectador pode ter acesso a informações adicionais, como o resumo em texto de
uma notícia, os principais destaques do telejornal, acesso a imagens, infográficos, previsão do
tempo, endereços, telefones. O telespectador também pode participar de enquetes, mas para
isso é preciso que sua TV esteja conectada à internet. Como afirma Lopez e Gobbi (2009),
“com a nova tecnologia digital é possível aumentar a quantidade de informação oferecida ao
telespectador [...]”. Com a Televisão Digital Interativa (TVDI) será possível produzir um
40
telejornal menos superficial, mais democrático e que dialogue diretamente com seu público, o
qual poderá se tornar um participante mais ativo.
Para os telejornais, a interatividade reativa ou local102 pode ser bastante útil quando
voltada para informações de serviço, pois atende aquele telespectador que perdeu o início do
telejornal ou que não teve tempo de anotar um telefone ou e-mail. Também é possível
produzir uma interatividade de fluxo bidirecional pela TV digital, mas essa produção exige
maior complexidade de programação e conexão da TV à internet.
Os recursos interativos podem fortalecer o vínculo entre os telejornais e o seu
público e provocar mais envolvimento dos telespectadores. Com a melhora tecnológica dos
meios de comunicação digitais, uma parte da audiência se tornou mais participativa e espera
que meios ouçam o que ela tem a dizer. Para o futuro há espaço para uma nova evolução. “O
exercício de pensar, planejar e produzir a nova TV aberta é que deve mostrar o rumo a lhe ser
dado, passando a integrar esses novos recursos de interatividade no dialogo da TV”
(CROCOMO, 2007, p. 109). Um exemplo de como o recurso da interatividade pela televisão
digital pode ser utilizado em um telejornal será apresentado a seguir.
102 Conteúdos adicionais que são enviados junto com o sinal audiovisual da televisão digital.
41
3 DESENVOLVIMENTO DO APLICATIVO INTERATIVO
3.1 Métodos e processos
O objetivo principal desta pesquisa é verificar se a inserção de interatividade em uma
redação de telejornal causa alterações na rotina de trabalho dos jornalistas e ainda busca
apontar as possíveis alterações. Por isso, esse estudo foi inicialmente bibliográfico e depois
aplicado, com uma abordagem qualitativa. Recorreu-se a um referencial teórico como suporte
para a compreensão e contextualização do atual cenário comunicacional no qual está inserido
o telejornalismo- tempos de convergência midiática, cultural e interatividade.
Uma forma que encontramos para chegar ao objetivo já citado desse estudo, foi
desenvolver um aplicativo (app) interativo para o telejornal Unesp Notícias (UN), da
Televisão Universitária Unesp (TVU). Daí essa pesquisa ser também aplicada. Para
compreender a rotina de trabalho e mostrar como as atividades ligadas ao telejornal eram
distribuídas entre os jornalistas do UN antes da chegada do app, foram realizadas entrevistas
semiabertas, originárias de cerca de sete questões semiestruturadas e com uma abordagem em
profundidade com três dos nove jornalistas do UN: o editor-chefe, um repórter e um produtor.
Tais entrevistas foram nomeadas de “Parte 1”. Quando o app foi finalizado, ele foi
incorporado à rotina de trabalho do UN. Após duas semanas de testes, quatro jornalistas
foram entrevistados: o editor-chefe, um repórter, um produtor e um editor de texto. As
entrevistas também foram semiabertas, originárias de cerca de cinco questões
semiestruturadas e com uma abordagem em profundidade. Dessa vez, a intenção era
compreender as mudanças causadas pelo app na rotina de trabalho da redação do telejornal.
Essas entrevistas foram chamadas de “Parte 2”.
A técnica da entrevista foi escolhida para essa pesquisa por possibilitar a compreensão
da rotina de trabalho dos jornalistas do Unesp Notícias e as mudanças que o app poderia
causar. Duarte (2009, p. 63) lembra que “Por meio da entrevista em profundidade, é possível,
por exemplo, entender como produtos de comunicação estão sendo percebidos por
funcionários, explicar a produção da notícia em um veículo de comunicação, identificar
motivações para uso de determinado serviço [...]”. O autor ainda defende que “Nos estudos
qualitativos, são preferíveis poucas fontes, mas de qualidade, a muitas sem relevo.”
(DUARTE, 2009, p. 68).
Tanto a Parte 1 quanto a Parte 2 das entrevistas foram concedidas pessoalmente à
mestranda pelos jornalistas da Televisão Universitária Unesp na própria emissora, entre os
42
meses de fevereiro e março de 2014, e gravadas em arquivos mp3. As mesmas foram
transcritas e encontram-se disponíveis nos apêndices dessa dissertação.
Assim, essa pesquisa buscou alcançar seu principal objetivo por meio de um estudo
bibliográfico, da criação do aplicativo interativo e por meio das entrevistas. O
desenvolvimento do app aconteceu na própria TVU e contou com uma equipe de produção
integrada, como será descrito logo mais.
3.2 Televisão Universitária Unesp (TVU)
O app interativo foi desenvolvido a partir da infraestrutura humana e material da
Televisão Universitária Unesp, TV pública da Universidade Estadual Paulista Júlio de
Mesquita Filho- Unesp. A TVU está localizada no município de Bauru- SP e é transmitida
pelo canal 45 UHF e 46.1 UHF digital. De acordo com o site institucional da emissora103:
A TV Unesp iniciou suas transmissões no dia 4 de novembro de 2011 e desde então cumpre seu papel de televisão pública levando ao ar uma programação de qualidade, que contribui com a formação crítica do cidadão. Os programas jornalísticos, de utilidade pública e de entretenimento possuem uma proposta multimídia, sintonizada com as tecnologias convergentes. Por isso, o público pode assistir à programação no canal aberto 45 UHF (na cidade de Bauru-SP) ou via internet, seja pelo computador, celular ou tablets, simultaneamente à transmissão aberta. O conteúdo também pode ser acessado a qualquer hora, sob demanda do usuário, no site. Além dos conteúdos próprios produzidos, a TV Unesp retransmite a Bauru a programação da TV Brasil, televisão pública aberta nacional gerida pela EBC – Empresa Brasil de Comunicação. Fora das telas, a TV Unesp cumpre sua função de ser uma televisão universitária, que colabora com projetos de ensino, pesquisa e extensão da Universidade Estadual Paulista - Unesp. Dessa maneira, o canal se mostra um campo fértil para pesquisas, experimentação, formação profissional e prestação de serviços à comunidade. (Site oficial da TVU).
Com relação à infraestrutura, a TVU disponibilizou um profissional do setor de
Tecnologia da Informação, um do setor de Arte e os equipamentos tecnológicos necessários
para o desenvolvimento e testes do aplicativo interativo.
103 Conheça a TV Unesp. TV Unesp. Disponível em: <http://www.tv.unesp.br/sobre>. Acesso em: 04 abr. 2014.
43
3.3 Unesp Notícias (UN)
O Unesp Notícias é o telejornal da TVU, ele foi ao ar pela primeira vez em 1º de
agosto de 2012. Segundo o site institucional da TV104,
O Unesp Notícias leva ao ar informações e reportagens com foco na utilidade pública, prestação de serviço, cultura e ciência, com objetivo de mostrar e contextualizar os fatos, além de debater e levantar questões de interesse dos cidadãos de Bauru. Emprego, saúde, economia, a vida cultural e política da cidade, os desafios para a educação, os projetos das universidades que aproximam a comunidade da ciência, as inovações tecnológicas e as soluções para o meio ambiente. Tudo isso faz parte da pauta diária do Unesp Notícias. Unesp Notícias, de segunda a sexta, às 17h30, ao vivo. (Site oficial da TVU).
Hoje, 2014, nove jornalistas integram a redação do Unesp Notícias, divididos entre as
equipes de produção, reportagem e edição.
3.4 Diário de bordo: a produção do aplicativo interativo
A ideia do desenvolvimento de um app interativo surgiu depois que finalizei minha
Iniciação Científica, ainda na graduação. Meu principal objetivo naquela ocasião era elencar
possíveis recursos interativos da televisão digital que poderiam ser incorporados em um
telejornal. Atingi meu objetivo por meio de uma pesquisa teórica e pelo levantamento de
experiências interativas realizadas em telejornais. Já no Mestrado, com um novo problema de
pesquisa- verificar se a inserção de um aplicativo poderia causar mudanças na rotina de
trabalho dos jornalistas de uma redação televisiva- tive a oportunidade de elaborar na prática
uma proposta de interatividade para um telejornal.
O app para o telejornal Unesp Notícias foi desenvolvido na Televisão Universitária
Unesp. Três profissionais trabalharam de forma direta para que a ideia do app se
concretizasse: fui responsável por fazer o primeiro desenho do app e por pensar os conteúdos
interativos que, como jornalista, considerei úteis e adequados para um telejornal. Colaborei
ainda com sugestões na usabilidade e na programação; o supervisor de arte da TVU, Lucas
Silveira de Azevedo, criou a identidade visual do app, que deveria estar vinculada a do UN;
104 Unesp Notícias. TV Unesp. Disponível em: <http://www.tv.unesp.br/unespnoticias/sobre>. Acesso em: 07 abr. 2014.
44
ele se ocupou também da usabilidade e desenvolveu os wireframes105 do app; ficou sob a
incumbência de Rafael Guimarães Pedroso, programador web do setor de Tecnologia de
Informação da TVU, programar o app em Ginga NCL (com objetos escritos na linguagem
Lua). Assim, formamos uma equipe de produção integrada, onde um participante ficou
responsável pelo conteúdo, outro pela identidade visual e usabilidade e outro pela
programação.
O app começou a ser criado em dezembro de 2012 e ficou pronto para a etapa de testes
em janeiro de 2014. A equipe de produção se reunia de acordo com a disponibilidade dos dois
profissionais da TVU, visto que os mesmos, além do app, desenvolviam atividades
pertinentes aos seus cargos na TV. Optei por descrever no quadro abaixo as atividades que
executávamos a cada encontro com o propósito de mostrar as etapas percorridas e os desafios
no desenvolvimento do app.
Data Descrição das atividades 11.12.12
• Início do desenvolvimento do app para o telejornal Unesp Notícias.
• Levantamento de possíveis menus para o app.
• Busca de exemplos de aplicações interativas nas principais
emissoras de TVs abertas do Brasil.
• Primeiro questionamento106: definição de etapas, solução de
possíveis problemas e se aplicação interativa poderia ser acessada a
qualquer momento da programação.
18.12.12
• Levantamento de possíveis menus para o app.
• Proposta de uma enquete semanal.
• Segundo questionamento: será possível detectar pessoas que acessam
o conteúdo interativo?
20.12.12
• Apresentação de uma proposta interface e de menu (figura 3).
• Avaliação do conteúdo para cada item do menu.
• Decisão de que o app não poderia atrapalhar o fluxo.
105 Wireframe trata-se de rascunhos de telas que mostram a forma visual que o aplicativo deverá parecer (GELONESE, 2010). 106 Durante os encontros da equipe de produção, surgiram diversos questionamentos sobre o app, os quais foram resolvidos ao longo do processo.
45
• Sugestão de que a previsão do tempo estivesse no app. A ideia surgiu
depois que Roberto Franco, diretor de rede e assuntos regulatórios do
SBT, apontou no lançamento do Portal de Interatividade da emissora
que a previsão do tempo é uma das informações mais procuradas por
quem vive em metrópoles como São Paulo.
• Terceiro questionamento: qual ícone será usado para alertar o
telespectador da interatividade?
FIGURA 3- Desenho da primeira proposta de interface para o app (2012) Fonte: Elaborado pela mestranda
08.01.13
• Elaboração do wireframe do app no Photoshop (figura 4).
46
FIGURA 4- Primeiro wireframe do app (2013) Fonte: elaborado pelo supervisor de arte da TV Unesp Lucas Silveira de Azevedo e pela mestranda
15.01.13
• Dificuldade em encontrar o tom adequado do vermelho e do azul
para a previsão do tempo.
• O Wireframe ganha a identidade visual do Unesp Notícias e é uma
mostra de como o app deverá ficar depois de pronto (figura5).
• Reunião com os jornalistas do Unesp Notícias para avaliação da
interface do app. Eles apontaram que a tela estava com muita
informação e sugeriram deixar o título das notícias em apenas uma
linha.
FIGURA 5- Wireframe do app ganha a identidade visual do Unesp Notícias (2013) Fonte: elaborado pelo supervisor de arte da TV Unesp Lucas Silveira de Azevedo e pela mestranda
47
16.01.13
• Foram feitas as modificações sugeridas pelo Jornalismo. O título das
notícias deve ter apenas uma linha.
19.02.13
• Finalização do wireframe com a interface do app (figura 6).
• Início das discussões sobre a criação de uma plataforma de postagem
para abastecer o app (plataforma que posteriormente será usada pelos
jornalistas para postar conteúdos no app).
FIGURA 6- Wireframe mostra a interface do app pronta (2013) Fonte: elaborado pelo supervisor de arte da TV Unesp Lucas Silveira de Azevedo e pela mestranda
06.03.13
• Início da programação em Ginga do app.
• Discussão sobre os elementos que devem compor a plataforma de
postagem do app.
• Discussão da viabilidade de abastecimento dessa plataforma. Ela
deve ser fácil de usar e intuitiva.
• Quarto questionamento: quem vai produzir o conteúdo para o app? A
produção, a edição ou a reportagem?
• Quinto questionamento: que horas o conteúdo do app deve estar
pronto para ser enviado para o carrossel de dados?
48
18.04.13
• Continua a programação do app em Ginga.
• Prossegue a criação da plataforma de postagem: reflexão sobre o
layout, os tipos de postagens, e a viabilidade técnica da plataforma.
24.04.13
• Programação do app.
• Desenvolvimento da plataforma de postagem.
29.05.13
• Primeira visualização da programação da tela principal do app. A
programação foi feita nos itens de “Notícia” do menu.
05.06.13
• Continua a programação do app.
• Discussão sobre a possibilidade do botão “OK” ser usado como
“Voltar” na navegação do app.
24.06.13
• Elaboração dos conteúdos de itens do menu para posterior
programação.
• Desenvolvimento da plataforma de postagem.
• Reunião com o editor-chefe do jornal sobre os menus e o conteúdo
de cada um deles e ainda sobre a linha editorial do telejornal.
Verificou-se que o UN trabalha com pautas que tenham como foco
principalmente a utilidade pública e os acontecimentos da Unesp;
pautas factuais e culturais também são abordadas no telejornal.
• Determinação de que as notícias em destaque no menu devem
privilegiar informações de serviço como telefone, site, endereços.
• Retirado do menu o item “Informações uteis”. Ele perdeu sua razão
de existir, já que as informações de serviço já seriam dadas nas
notícias.
06.08.13
• A enquete, que antes poderia ser acessada pelo botão verde do
controle remoto, passou a integrar o menu à esquerda do fluxo.
• Composição de conteúdo para a enquete e para os quadros.
• Finalização das propostas para os elementos do menu e para a
plataforma de postagem.
49
23.09.13
• Continua a programação do app.
22.11.13
• Sugestão de que a palavra “Acesse” seja retirada da interface do app
por dar a falsa sensação de que seria possível acessar a internet pelo
app.
• A programação do app é finalizada.
• Plataforma de postagem é parcialmente finalizada.
• O app é apresentado para o editor-chefe do UN; foram propostas
entrevistas com os jornalistas para o entendimento da rotina de
produção da redação do telejornal.
13.01.14 • O aplicativo e a plataforma de postagem foram finalizados.
QUADRO 3- Diário de bordo com registro das atividades realizadas no desenvolvimento do app (2014) Fonte: Elaborado pela mestranda
3.5 Aplicativo e plataforma de postagem prontos para serem testados
Em janeiro de 2014 o aplicativo e a plataforma de postagem foram finalizados e
estavam prontos para serem testados no telejornal Unesp Notícias. A figura 7 mostra a
interface do aplicativo concluída. Desde a concepção do app, definiu-se que o fluxo da
programação continuaria no canto superior direito da tela. No lado esquerdo os três primeiros
itens são as principais notícias do dia do telejornal. Ao acessar esse conteúdo, o telespectador
encontra um resumo da notícia; o quarto item do menu é reservado para os quadros fixos do
telejornal, como “Vunesp Informa” (sobre concursos) e “Agenda cultural” (com a
programação cultural para o final de semana); no quinto elemento do menu, “Entrevista”, o
telespectador terá acesso ao nome, pequena biografia e foto do entrevistado do dia, além do
tema da entrevista; o sexto item “Opine” é uma enquete, com quatro opções de respostas.
Já no lado esquerdo inferior do vídeo há um menu disposto na horizontal: o botão
vermelho serve para o usuário “Minimizar” o app e voltar ao fluxo na tela inteira; o botão
verde “Ajuda” mostra ao telespectador o funcionamento do app e como navegar por ele; o
botão amarelo,“Sobre o UN”, dá acesso a um texto com um breve histórico do Unesp Notícias
e a uma explicação sobre o próprio aplicativo interativo do telejornal. No canto inferior
direito existe um quadro com as condições climáticas do momento em que o telejornal é
transmitido e a previsão do tempo para os próximos cinco dias; ao lado da previsão está
outro quadro, no que o telespectador é estimulado a participar do telejornal pelo e-mail ou
50
pelas redes sociais (Facebook, Twitter e You Tube), as quais aparecem no vídeo se revezando
em forma de flash.
FIGURA 7- Aplicativo interativo pronto para teste (2014) Fonte: Setor de Tecnologia da Informação da TVU
A plataforma de postagem (figura 8), nomeada “Webpubli”, foi desenvolvida para
permitir a edição de conteúdos destinados tanto para o site quanto para os aplicativos em
Ginga da TVU. Do lado direito da tela (figura 8) estão os campos para a edição do texto e do
lado esquerdo estão listadas as publicações já finalizadas e prontas para serem postadas (no
site ou no Ginga). Depois que uma publicação é armazenada, é possível escolher onde aquele
conteúdo deve ser postado. Na opção “Ginga Unesp Notícias”, abre-se à direita da tela a
interface do app (figura 9) e à esquerda as publicações ficam disponíveis para serem
“arrastadas” para o app.
51
FIGURA 8- Webpublis: plataforma de edição de texto e armazenamento de conteúdo da TVU (2014) Fonte: Setor de Tecnologia da Informação da TVU
FIGURA 9- Interface de postagem para o app no Webpublis (2014) Fonte: Setor de Tecnologia da Informação da TVU
52
Com o aplicativo e plataforma de postagem prontos, ambos foram colocados em teste
no telejornal da Televisão Universitária Unesp. Apontaremos logo mais como foi o período de
teste. Mas primeiro, diante do objetivo central deste estudo, é necessário conhecer o
funcionamento da redação do Unesp Notícias antes da implantação do app.
53
4 PRODUÇÃO INTERATIVA E MUDANÇAS NA ROTINA DA REDAÇÃO
4.2 A redação do Unesp Notícias Nove jornalistas integram hoje (2014) a redação do telejornal Unesp Notícias (UN).
Com base na “Parte 1” das entrevistas já citadas em “Métodos e processos” e ainda por meio
de um arquivo digital com a descrição das atividades de todos os profissionais do
departamento de jornalismo do UN107, mapeamos os cargos e funções (atividades) do
telejornal e sintetizamos esses na figura 10. A intenção foi mostrar as atividades
desenvolvidas pelos jornalistas antes da inserção do aplicativo interativo.
107 Concedido pelo Editor-chefe do UN.
54
EDITOR CHEFE
Funções:
Administração do setor de jornalismo, gerenciamento de conteúdo, zelar pela coerência
dos produtos jornalísticos, conexão entre o jornalismo e a diretoria da TVU
PRODUTOR 1
Funções:
-Produção de pautas
-Agendamento da entrevista diária do UN
-Fechamento da capa de
pauta
REPÓRTER
2
Funções:
-Reportagens
-Boletins
-Notas
-Reportagens
especiais
PRODUTOR 2
Funções:
-Produção de pautas
-Apuração
-Notas
PRODUTOR 3
Funções:
-Produção de pautas
-Apuração
- Notas
REPÓRTER
1
Funções:
-Reportagens
- Boletins
-Notas
-Indexação de material
-Apresentação dos quadros
-Interatividade
-Segunda tela
EDITOR DE TEXTO
1Funções:
-Edição de texto
-Fechamento do UN
-Notas
-Arquivamento
-Conteúdo jornalisto para o
site.
EDITOR DE TEXTO
2
Funções:
-Edição de texto
-Agenda cultural
-Notas
-VTs culturais
Arquivamento
EDITOR DE TEXTO
3Funções:
-Apresentação do UN
-Edição de texto
-Produção de entrevistas
-Previsão do tempo
-Capa de edição
-Conteúdo jornalisto para
o o site.
FIGURA 10 - Cargos e funções da redação do Unesp Notícias (2014) Fonte: Elaborado pela mestranda
55
Os cargos e funções expostos na figura acima, abrangem somente os profissionais do
departamento de jornalismo da Televisão Universitária Unesp. Já foi mencionado ao longo
desta pesquisa que outras áreas de uma emissora de televisão estão envolvidas com a
transmissão de um telejornal diário. Mas interessa para esse estudo apenas as atividades
desenvolvidas pelos profissionais de jornalismo do Unesp Notícias.
Como é possível observar na figura 10, um dos jornalistas exerce o cargo de editor-
chefe e todos os demais estão no mesmo nível hierárquico. A redação está dividida
basicamente em três áreas: a produção, a reportagem e a edição, além do editor-chefe,
responsável pelo telejornal como um todo. Com essa divisão, o UN segue, de certa forma, o
padrão tradicional de geração de um telejornal.
A área da produção é composta por três produtores, que são os responsáveis por
transformar os acontecimento em pauta para os repórteres, são eles quem dão o
encaminhamento diário das notícias, como checagem de informação, pré-entrevistas e
montagem da pauta. Já a reportagem do UN conta com dois repórteres, que vão para a rua
comprovar e colher informações, realizar entrevistas etc. Depois das gravações externas, eles
voltam para então construir o roteiro das notícias colhidas na rua. A área da edição conta com
três jornalistas encarregados de fazer a edição de texto com base no roteiro elaborado pelo
repórter. Cabe a esses editores verificar se todas as informações apresentadas na matéria
estão coerentes e com um encadeamento lógico de ideias. Esses profissionais são também os
responsáveis pela finalização e revisão das matérias que vão para o ar diariamente no UN.
Como no Unesp Notícias não existe uma área ou profissionais responsáveis exclusivamente
pelo conteúdo jornalístico do site da TVU, dois dos editores de texto redigem conteúdos
também para a web.
Vale lembrar que em dias de plantão do UN, como em feriados, os cargos e funções
dos jornalistas podem mudar, como o produtor ir para a rua fazer reportagem ou o repórter
desempenhar momentaneamente as atividades típicas do produtor.
4.3 Inserção do aplicativo interativo
Em 17 de fevereiro de 2014 o aplicativo interativo estreou no Unesp Notícias. Nesse
mesmo dia, o telejornal ganhou também um novo cenário e uma nova identidade visual. Duas
semanas após o lançamento do app, a “Parte 2” das entrevistas foi realizada com quatro
jornalistas do UN. Nosso propósito era verificar se o aplicativo alterou a rotina de trabalho
56
dos profissionais da redação e como a nova demanda de atividades gerada foi distribuída entre
eles.
Conforme a proposta inicial do app, nos três primeiros itens do menu à esquerda
aparecia uma chamada para as três principais notícias da edição do dia do UN. Ao clicar em
qualquer uma dessas chamadas, o telespectador poderia ler um resumo da notícia. O próximo
item do menu era o espaço destinado aos quadros do telejornal, como Agenda Cultural e
Vunesp Informa. Ao clicar, era possível acessar as informações de serviço relacionadas a cada
quadro. Depois aparecia a opção “Entrevista”, com uma foto e um pequeno currículo do
entrevistado. No último item do menu à esquerda havia a opção “Opine”, onde a proposta era
de uma enquete realizada semanalmente no telejornal.
Na primeira semana de teste, a redação seguiu a proposta inicial de postar no app os
resumos e demais elementos do menu. Entretanto, os jornalistas do UN chegaram à conclusão
que a redundância do app com o conteúdo do próprio telejornal não era positiva:
Fizemos uma semana e achamos que não ficou legal, estava muito redundante com o jornal [UN]. A primeira ideia que a gente teve foi fazer o que estava proposto ali [no app], cada aba uma matéria do jornal, com um resumo, para a pessoa saber o que é. Depois achamos que isso estava um pouco repetitivo com o jornal (informação verbal).108
Por isso, após reunião, os jornalistas decidiram que os conteúdos para o app deveriam ser
complementares aos do telejornal e não redundantes a ele. A partir daí, o conteúdo para o app
passou a ter uma diretriz definida: eles seriam adicionais e complementares. Para uma das
repórteres do UN, a partir dessa definição, criar conteúdos para o app se tornou um processo
mais simples: “Acho que agora a gente encontrou o caminho, o que a gente pretende fazer,
que tipo de informação a gente quer disponibilizar no app, então agora fica mais fácil
visualizar e até conseguir destacar dentro da pauta o que poderia ficar só no app e o que vai
para a reportagem” (informação verbal).109
Após a escolha de uma diretriz para os conteúdos, o menu à esquerda do app foi
modificado, como pode ser observado na figura 11: a primeira aba se chama agora “Destaques
do Dia”, com as manchetes das principais notícias do dia do UN e uma chamada para o
horário ao vivo do telejornal às 17h30 e sua reprise às 20h; o item “Entrevista” foi modificado
108 Entrevista concedida pelo Editor-chefe do telejornal Unesp Notícias. Entrevista I. [mar. 2014]. Entrevistador: Selma Miranda dos Prazeres. Bauru, 2014. 1 arquivo mp3 (21m). A entrevista na íntegra encontra-se transcrita no Apêndice A desta dissertação. 109 Entrevista concedida por uma repórter do telejornal Unesp Notícias. Entrevista II. [mar. 2014. Entrevistador: Selma Miranda dos Prazeres. Bauru, 2014. 1 arquivo mp3 (6m). A entrevista na ´ntegra encontra-se transcrita no Apêndice B desta dissertação.
57
e passou a trazer diretamente nome do entrevistado, o conteúdo continuou o mesmo; o item
“Opine” passou a se chamar “Enquete”, o conteúdo também continua o mesmo, com a
diferença que ela passou a ser postada também no site, para dar peso ao resultado. A enquete
fica no ar cerca de uma semana, depois o resultado é discutido com a presença de um
entrevistado relacionado a ela em estúdio. O teor dos demais elementos do menu à esquerda
podem variar, mas são priorizadas informações de serviço, como endereços e telefones, e
conteúdos que contextualizem ou que expliquem elementos relacionado a uma matéria.
Assim que o aplicativo é carregado, aparece no canto superior direito da tela da TV o ícone da
interatividade- um “I”- o qual é um indicativo que o aplicativo já está disponível para ser
acessado.
Com relação à plataforma de postagem, Webpublis, o departamento de Tecnologia da
Informação delimitou o número de caracteres das postagens da seguinte forma: até 40
caracteres para o título de cada item do menu à esquerda; até 710 caracteres para o conteúdo
interno de cada item do menu; até 450 caracteres para o conteúdo interno de cada item do
menu se além do conteúdo textual for postada também uma imagem.
FIGURA 11- Interface do app após duas semanas de teste (2014) Fonte: Setor de Tecnologia da Informação e setor de Jornalismo da TVU
58
4.3.1 Mudanças na rotina de trabalho: quem fez o quê
Com a implantação do aplicativo, uma nova demanda de trabalho foi gerada. Nenhum
novo cargo foi criado para suprir essa demanda, a mesma foi distribuída entre os jornalistas da
redação. Após duas semanas de avaliação, os jornalistas estabeleceram uma rotina de
produção para as postagens no app, e ela começa já na reunião de pauta, quando todos
discutem possíveis conteúdos interativos para cada matéria. Os produtores passaram a
elaborar a pauta com mais informações, desde a contextualização de um assunto ou mesmo
aspectos históricos ou curiosos relacionados a uma matéria. A produção ficou também
responsável por redigir e postar o conteúdo dos “Destaques do dia”, o perfil do entrevistado,
“Enquete” e boletins.
Quando os repórteres voltam das gravações na rua, eles conversam com o pessoal da
edição de texto sobre o que rendeu ou não e avisam o que não foi usado na matéria e que
pode ser aproveitado como conteúdo adicional daquela reportagem para o app. Determinou-se
que a equipe de edição de texto ficaria responsável por redigir e postar no app os conteúdos
adicionais das matérias editadas por eles; os editores de texto também ficaram responsáveis
por selecionar, quando necessário, os frames, extraídos dos vídeos das gravações de rua, que
se tornarão imagens para serem postadas junto ao conteúdo textual do app. Como o jornal
começa às 17h30 ao vivo, o deadline para que todos os conteúdos do aplicativo estejam
prontos é às 17h. A equipe de produção ficou responsável por fazer o fechamento diário do
app.
No quadro 4 é possível observar as atividades de cada um dos nove jornalistas do UN
antes da implantação do app e como a nova demanda de trabalho gerada foi distribuída entre
na redação.
59
Cargo Funções anteriores ao app
Funções agregadas após implantação do app
Editor-chefe • Administração do setor de jornalismo, gerenciamento de conteúdo, zelar pela coerência dos produtos jornalísticos, conexão entre o jornalismo e a diretoria da TVU
• Sugerir conteúdos para o app na reunião de pauta
Produtor 1 • Produção de pautas • Agendamento da entrevista diária
do UN • Fechamento da capa de pauta
• Redigir e postar os "Destaques do dia" e a enquete semanal
• Sugerir conteúdos para o app na reunião de pauta
• Fechamento diário do app
Produtor 2 • Produção de pautas • Apuração • Notas
• Redigir e postar em forma de serviço os boletins do telejornal
• Sugerir conteúdos para o app na reunião de pauta
Produtor 3 • Produção de pautas
• Apuração • Notas
• Redigir e postar em forma de serviço os boletins do telejornal
• Sugerir conteúdos para o app na reunião de pauta
Repórter 1 • Reportagens
• Boletins • Notas • Indexação de material • Apresentação dos quadros • Interatividade • Segunda tela
• Sugerir conteúdos não utilizados na reportagem
• Sugerir conteúdos para o app na reunião de pauta
Repórter 2 • Reportagens • Boletins • Notas • Reportagens especiais
• Sugerir conteúdos não utilizados na reportagem
• Sugerir conteúdos para o app na reunião de pauta
Editor de texto 1
• Edição de texto • Fechamento do UN • Notas • Arquivamento •
• Redigir e postar conteúdos adicionais e complementares aos VTs
• Sugerir conteúdos para o app na reunião de pauta
Editor de texto 2
• Edição de texto • Agenda cultural • Notas • VTs culturais • Arquivamento
• Redigir e postar conteúdos adicionais e complementares aos VTs
• Sugerir conteúdos para o app na reunião de pauta
Editor de texto 3
• Apresentação do UN • Edição de texto
• Redigir e postar conteúdos adicionais e complementares aos
60
• Produção de entrevistas • Previsão do tempo • Notas • Capa de edição
VTs • Redigir e postar o perfil do
entrevistado • Sugerir conteúdos para o app na
reunião de pauta
QUADRO 4- Funções dos jornalista do Unesp Notícias antes e depois da implantação do aplicativo (2014) Fonte: Elaborado pela mestranda
Com relação às mudanças na rotina de produção diária causadas pelo aplicativo, o
Editor-chefe do UN destaca (informação verbal)110 que pensar o conteúdo para o app passou a
fazer parte da rotina, “[...] a gente começou a pensar nesse conteúdo já na reunião de pauta”.
Para um dos editores de texto do telejornal, o app trouxe principalmente duas modificações
na rotina de trabalho diária do UN:
A principal mudança na nossa rotina é incorporar já desde o começo, no pensamento das pautas, o que a gente pode desdobrar nessa pauta na própria reunião de pauta e um processo constante de conversa ao longo de toda a execução da reportagem. Nossa rotina já previa uma conversa constante entre os três setores [produção, reportagem e edição], só que essa conversa teve que aumentar mais ainda, porque a produção dá um feedback maior para a edição, a edição dá um feedback para a reportagem e a reportagem dá um feedback para os dois. Então a gente acabou se conversando muito mais sobre o processo de execução das matérias. E a segunda coisa que mudou foi a gente ter um processo de avaliação muito mais contínuo, de o tempo todo estar conversando. [...] Então de alguma forma mudou a rotina para a gente de autoavaliação inteira do processo, de o tempo todo a gente estar pensando o que é o melhor jeito de fazer (informação verbal)111.
Apesar de uma rotina de produção já estar inicialmente definida, o editor-chefe do UN
lembra (informação verbal)112 que a forma como o aplicativo tem sido trabalhado não está
consolidada por inteiro, e mudanças podem ocorrer no processo de produção: “A gente não
fechou, está meio em aberto”. Para um dos editores de texto do telejornal (informação
verbal)113, o aprimoramento dos conteúdos para o app deve ser contínuo: “Por mais que
nessas duas semanas a gente tenha aprendido a fazer e ele tenha entrado na nossa rotina, acho
110 Entrevista concedida pelo Editor-chefe do telejornal Unesp Notícias. Entrevista I. [mar. 2014]. Entrevistador: Selma Miranda dos Prazeres. Bauru, 2014. 1 arquivo mp3 (21m). A entrevista na íntegra encontra-se transcrita no Apêndice A desta dissertação. 111 Entrevista concedida por um editor de texto do telejornal Unesp Notícias. Entrevista IV. [mar. 2014]. Entrevistador: Selma Miranda dos Prazeres. Bauru, 2014. 1 arquivo mp3 (12m). A entrevista na íntegra encontra-se transcrita no Apêndice D desta dissertação. 112 Ibidem ref. 110. 113 Ibidem ref. 111.
61
que vai ser um aperfeiçoamento constante [...] Ele tem um potencial para melhorar esse canal
de comunicação [a TV] que é incrível.”
62
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nos últimos 20 anos o acesso dos brasileiros às mídias digitais com internet tem
crescido de forma notável e não está mais restrito ao “tradicional” desktop. Atualmente,
grande parte dos celulares permite o acesso à web e novas mídias, móveis e portáteis, como o
tablet, possibilitam aos usuários estarem conectados onde a rede de internet está disponível.
A perspectiva do acesso à web revelou aos usuários uma nova maneira de consumir mídia. Na
rede eles podem escolher por onde navegar, qual conteúdo desejam acessar e além de receber,
eles podem também ser produtores de conteúdo. O internauta encontrou na rede um espaço
muitas vezes negligenciado ou limitado pelos grandes meios de comunicação.
A crescente presença do usuário na web fez ganhar força os conceitos de participação,
colaboração e interatividade. E os tradicionais meios de comunicação não ficaram alheios a
tal processo, mas sim eles próprios passaram a integrar uma era midiática digital ao migrarem
seu conteúdo para a web e lá criarem novas formas de contato com seu público. A maioria dos
meios de comunicação existentes no espaço físico, como jornais, revistas, rádios e TVs, estão
presentes hoje também na internet. Houve inclusive veículos que deixaram de existir no meio
físico e se tornaram exclusivamente digitais, como foi o caso do Jornal do Brasil.
As novas mídias digitais e a digitalização dos meios tradicionais causaram o que
Henry Jenkins (2008) chama de “convergência”, que além de midiática, por permitir o fluxo
de conteúdo por diferentes mídias, é também cultural, pois a forma como o público consome
mídia também mudou, novos hábitos foram criados. A televisão está também inserida neste
cenário, tempos de convergência midiática, cultural e interatividade. A televisão digital, aos
poucos, vem se consolidando no país e a interatividade, viabilizada pelo middleware Ginga, é
uma maneira da televisão, tradicionalmente um meio de mão única, ser incluída nesse
contexto de participação e diálogo com o público.
Como produto da mídia televisiva, o telejornalismo também tem se modificado para
atender a nova demanda de participação por parte de seus telespectadores e novas formas de
interação têm sido possibilitadas pela internet. Com a televisão digital e com o
aproveitamento da ferramenta “interatividade”, uma nova frente de atuação surge para o
telejornalismo. Vale lembrar que os produtos midiáticos se modificam à medida que a
sociedade no qual estão inseridos passa por transformações.
Como forma de explorar a interatividade justamente pela televisão digital e sua
aplicação no telejornalismo, levantamos então um problema de pesquisa: a produção de
63
conteúdos de interatividade em uma redação de telejornal altera a rotina de trabalho dos
jornalistas? Para chegar a uma resposta, desenvolvemos um aplicativo interativo para o
telejornal Unesp Notícias (UN), da Televisão Universitária Unesp (TVU). Encontramos na
TVU, TV Pública, a infraestrutura e o espaço necessários para o desenvolvimento dessa
pesquisa, já que a emissora assume como compromisso colaborar com projetos de ensino,
pesquisa e extensão da Universidade Estadual Paulista – Unesp.
Depois de concluído, o aplicativo foi utilizado pelos jornalistas do UN por duas
semanas, em caráter de teste. Passado esse período, por meio de entrevistas com esses
profissionais, pudemos responder ao problema de pesquisa levantado: sim, a inserção de
interatividade na redação do UN causou alterações na rotina de trabalho de todos os
profissionais do departamento de jornalismo da TVU. A partir do momento em que o
aplicativo interativo foi incorporado ao Unesp Notícias, uma nova demanda de trabalho surgiu
e essa demanda foi distribuída entre as equipes de produção, reportagem e edição.
O aplicativo previa, em linhas gerais, um resumo das notícias. Mas após uma semana
de testes, a redação conseguiu definir uma diretriz de conteúdo para o app, ele deveria ser
adicional e complementar e não redundante ao conteúdo veiculado no telejornal. A partir
dessa definição e por decisão do departamento de jornalismo da emissora, todos da redação
passaram a integrar o processo produtivo de conteúdo para o app, o que causou alterações na
rotina de trabalho de cada um dos jornalistas que integram a redação. O conteúdo para o app
passou a ser pensado em todas as etapas que envolvem a construção de uma notícia, da
elaboração da pauta (que passou a trazer mais informações, desde a contextualização de um
assunto ou mesmo aspectos históricos ou curiosos relacionados a uma matéria) até a
finalização da reportagem pelo editor de texto.
Para os jornalistas que trabalham nas redações televisivas, uma nova lógica de
trabalho se estabelece. Há agora uma demanda de trabalho maior dentro das redações, pois
além da produção própria para o telejornal, é preciso enviar esse conteúdo para outras mídias;
e ainda, é necessário responder a demanda procedente dos internautas que interagem pelo site
ou redes sociais. “O comportamento das pessoas está mudando, as sociedades estão mudando,
as ferramentas da comunicação, as técnicas jornalísticas e o papel dos jornalistas também
estão mudando” (ASSIS, 2009, p. 11). Assim, o jornalista deve chegar às redações televisivas
preparado para lidar com as novas tecnologias da informação e para produzir conteúdos em
diferentes linguagens. Entretanto, se por um lado é necessária a atualização dos jornalistas que
atuam nas televisões em vista das mudanças em curso, por outro, pode ser necessário que as
empresas façam uma readequação dos salários desses profissionais, visto que a demanda de
64
trabalho tem aumentado nas redações. No caso dos jornalistas da TVU, além das funções
pertinentes a cada um deles, somam-se agora as atividades ligadas ao app, mas sem
alterações salariais ou novas contratações.
Com relação ao aplicativo desenvolvido na TVU, cabem aqui algumas observações.
Esse app levou cerca de um ano até ser submetido para a etapa de testes. O conteúdo de cada
item do menu foi planejado em termos de utilidade e viabilidade tecnológica. Essa
experiência de criação nos possibilitou algumas considerações: o desenvolvimento de um
aplicativo interativo não deve se restringir aos profissionais da área de programação ou de
tecnologia da informação, é necessária uma equipe de produção integrada que pense o
conteúdo, a usabilidade e a programação do app; quando estudamos as teorias sobre as
potencialidades de uso da interatividade pela televisão digital, imaginamos muitas vezes uma
variedade de uso semelhante a que temos em um computador, mas na prática, todo o tempo
nos deparamos com limitações tecnológicas, nesse caso, com as limitações e complexidades
do Ginga; submeter o produto à avaliação constante de outras pessoas é uma forma de
corrigir possíveis falhas ou vícios; apesar do aplicativo do UN ainda ser limitado em termos
do feedback do telespectador, o app se mostrou bastante útil ao ser empregado em um
telejornal, quando normalmente as pessoas não têm tempo de anotar informações importantes
como endereços e telefones, com foco nas informações de serviço.
Nesta dissertação nos empenhamos no estudo do telejornalismo e das mudanças que a
produção de conteúdos de interatividade podem causar em uma redação de telejornal.
Entretanto, não nos voltamos para o outro lado da tela, ou seja, a recepção de um aplicativo
interativo pelo público. Assim, estudos de recepção se abrem como uma nova frente de
investigação. Ainda, como a utilização dos dispositivos móveis com acesso à internet vêm
crescendo no Brasil, o desenvolvimento de aplicativos para essas mídias e seu emprego no
telejornalismo também despontam como novas frentes para pesquisas futuras.
65
REFERÊNCIAS
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APÊNDICES
Apêndice A
Entrevista I
Cargo: Editor-chefe de Jornalismo
Função: Administração do setor de jornalismo, gerenciamento de conteúdo, zelar pela
coerência dos produtos jornalísticos, conexão entre o jornalismo e a diretoria da TVU.
Parte 1: Entrevista realizada antes da inserção do aplicativo.
1. Como é o processo de construção da notícia aqui na TVU? Como um acontecimento se
torna notícia?
A gente conta com a observação de todos, independente da função que exerce aqui, todos têm
a incumbência jornalística de trazer fatos e ideias que achem relevantes para a gente fazer um
produto audiovisual em cima disso. E isso a gente afina todo dia de manhã, temos um horário
às 11 horas da manhã que é o horário que a gente consegue reunir praticamente todos. Esse
horário a gente precisa reunir o máximo de pessoas juntas para a gente colocar, expor as
ideias e cada um dá a sua contribuição para construir a reportagem ou derrubá-la. Durante a
reunião de pauta, cada um dos produtores assume parte das pautas e ai partimos para os
agendamentos com as fontes envolvidas naquela matéria. E disso nasce a pauta, que é o
roteiro de rua, vamos dizer assim, que o repórter vai colher essas informações, gravar, obter as
entrevistas, para depois trazer isso para a edição processar esse material, para formatá-lo de
acordo com o nosso jornal. Ai durante esse processo existem outras trocas de ideias. O
repórter liga para cá se alguma coisa não estiver batendo ou alguma novidade. Então é um
processo constantemente monitorado.
2. O que é interatividade no contexto da televisão digital?
Nós temos muitos conceitos na cabeça, mas pouca coisa a gente vê na prática. Eu estou mais
habituado a ver interatividade entre quem está assistindo do que entre quem está assistindo e
produzindo. Essa “interferência” no conteúdo ainda é muito pouca. A não ser, por exemplo,
aqui na TV, a gente teve poucas vezes pessoas considerando a interatividade a participação do
público na formação do conteúdo da TV. Algumas vezes pessoas ligaram aqui durante o
jornal, fizeram perguntas para serem colocadas no ar naquele momento; outras vezes
69
recebemos e-mails com questões, o que é mais frequente ; outras vezes via redes sociais a
gente tem algum retorno, do tipo: “o programa está bacana”; “por que vocês não fazem...?”
Agora interatividade no sentido de ter um aplicativo na TV, que a pessoa participe ali, naquele
momento, opine ou escolha, ou tenha alguma informação extra, é isso que a gente vai tentar
experimentar aqui na TV. Mas eu acho que ainda é muito incomum, pelo menos para mim,
para a realidade de quem está aqui em Bauru. Poucas emissoras oferecem esse tipo de
aplicativo.
3. Você considera o app do UN interativo?
De certa forma sim. Se for confrontar com as teorias de níveis de interatividade, você pode
dizer que não, porque você não vai interferir diretamente no conteúdo que está sendo
transmitido. Mas de outra forma, no sentido de você participar além do assistir a notícia, você
quer ver um detalhe que para isso depende da sua ação no controle remoto, possibilidade da
gente em alguma das opções ali você poder opinar sobre o conteúdo ou sugerir alguma pauta,
ou entre algumas opções ver a que o público gostaria mais que fosse exibido. Então eu acho
que nesse sentido até sim. Agora, ainda é uma coisa muito nova e acredito que isso tende a
evoluir conforme os anos forem passando, a evolução da tecnologia. Mas acho super válido
investir na pesquisa nesse momento que as coisas estão começando.
4. Como a redação (equipe de jornalismo) recebeu e reagiu ao app do UN?
Como novidade. A gente reuniu os profissionais para ver o app, ver como ele funciona, como
ele será alimentado. Temos a sorte de ter profissionais nesse setor de tecnologia da
informação, muito competentes, que conseguiram desenvolver um sistema fácil de ser
alimentado. Então não tem nenhum segredo de programação para você colocar esse conteúdo.
O pessoal achou muito fácil, interessante. Por outro lado, as pessoas leem muito notícias. A
gente viu notícias que o Ginga ainda não decolou, o governo não está dando aquele incentivo
que deveria ter dado. Então de certa forma, as pessoas começam meio com o pé atrás. Tipo:
“será que compensa?”, como qualquer novidade. Tudo que muda a rotina das pessoas, a
princípio assusta e levanta questionamentos contrários. Participar de um momento como esse,
todo mundo acha bacana. Você vai conhecer um colega que pergunta: “e ai, como você está
trabalhando?” “Ah, a gente está pesquisando interatividade”. Então é super válido. Mas todo
mundo também é realista no sentido de que ninguém está fazendo isso, será que é a tacada
certa ou não? Então assim, a gente está apostando, contando com o que a gente vá fazer aqui
tenha um resultado positivo não só para a TVU, mas também para as pesquisas em torno
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disso. Como TV pública, um dos nossos papéis é experimentar. Se vai dar certo ou não, a
gente vai monitorar. É por isso que a gente está fazendo esse trabalho também.
5. O aplicativo vai gerar uma nova demanda de trabalho. Como você pensa que essa
demanda pode ser inserida na rotina de trabalho da redação? Quem deve fazer o quê?
Quem tem mais condições de fazer isso são as pessoas que estão aqui na redação [editores e
produtores]. Então a princípio os repórteres podem sugerir, mas não são eles que vão escrever.
A não ser que futuramente, a gente tenha um equipamento móvel na rua que você possa
alimentar esse dispositivo [aplicativo] à distância. Mas a princípio, nessa fase de teste, a ideia
é que nas janelas disponíveis a gente dê um complemento para o noticiário, e não
necessariamente algo de última hora. Agora, pode ser que a gente tenha momentos que
descubra que seria interessante informações de um VT que a gente tenha feito e a gente
consiga atualizar aquilo no dispositivo [aplicativo]. Se bem que o jornal é ao vivo, então a
gente consegue fazer isso no jornal também. Coisas que são muito antecipadas, como a
entrevista, pode ser postada pelo produtor da entrevista. Talvez o fechador do jornal [possa
fazer as postagens no app] , mas ele também tem toda atribuição de fechar o jornal. Então, de
repente, o editor auxiliar dele.
6. A produção para o app deve começar na pauta?
Não digo na pauta. Porque na verdade a gente vai atrelar ao que for exibido. De repente
estamos pensando na pauta para daqui dois ou três dias. Agora, a partir do fim do dia do
jornal, é o momento que a gente para e fala: “e amanhã, nós vamos dar o quê?” Então nesse
momento a gente poderia definir quais serão os textos [do aplicativo].
7. Com o app, a rotina de trabalho da redação deve mudar?
Além dessa demanda digital, nós temos a demanda do site. Talvez não seja uma única pessoa
que faça o app. O responsável pela entrevista faz o conteúdo da entrevista no app, o editor
pode colocar as manchetes do dia, a sugestão de pauta pode ser da produção. Acredito que
todo mundo tenha que ser capaz de fazer a postagem no app. Todo mundo tem que conhecer o
app.
71
8. Como você avalia a interatividade de forma geral na televisão digital? Ela é útil ou
dispensável?
É útil sim. Só não acho que vá roubar a cena do produto principal. A televisão vai continuar
rolando ali o seu audiovisual, suas ideias, seu conteúdo. Vejo como um complemento mesmo.
É útil e importante desenvolver e chegar em um ponto que seja indispensável. Não sei se vai
chegar nesse ponto. Hoje tudo caminha para ser múltiplo, para ter várias formas de coexistir.
Parte 2: Entrevista realizada após a inserção do aplicativo.
1. Como foram essas duas semanas de estreia (de 17 de fevereiro a 03 de março) do app
do UN? Quem fez o quê?
Primeiro a gente foi testando o que iria escrever. Fizemos uma semana e achamos que não
ficou legal, estava muito redundante com o jornal [UN]. A primeira ideia que a gente teve foi
fazer o que estava proposto ali [no app], cada aba uma matéria do jornal, com um resumo,
para a pessoa saber o que é. Depois achamos que isso estava um pouco repetitivo com o jornal
e não com uma função de ser complementar. Nós pensamos em o app ser um algo a mais.
Então, a gente adotou a seguinte estratégia: na primeira aba a gente põe os “Destaques do
dia”, quem entrar lá vai saber o que o jornal está colocando. Outra coisa que tem todos os dias
é o perfil do entrevistado, então essas duas coisas sempre têm. E os outros conteúdos variam
conforme o tipo de matéria. Sempre que tem um boletim de serviço, a gente põe o serviço na
interatividade, que é o telefone, endereço, até quando vai um período de inscrição, essas
informações mais difíceis de anotar na TV. Sempre que tiver alguma coisa desse tipo a gente
vai colocar também. Outro tipo de coisa que a gente está usando é assim, por exemplo uma
matéria da câmara dos vereadores, dependendo dos assuntos, teve um que rendeu bastante
matéria, que foi a dívida da Cohab, então a gente colocou um histórico da dívida, entenda de
onde vem a dívida. Então quem está assistindo a matéria se pergunta “que dívida é essa?”. Ai
você vai lá [no app] e vê um histórico. Quando a sessão da câmara está mais fraca, a gente dá
o resultado, como “a câmara aprovou tais e tais projetos”, um resumo da sessão, o que tinha
para votar, isso quando não rende muita coisa. Com relação à enquete, nós criamos uma que
perguntava que conteúdo o telespectador gostaria de ver na interatividade. Mas não teve
muito retorno. A gente colocou uma agora no período do carnaval, essa teve um pouco mais
de retorno: “Que tipo de financiamento o carnaval deveria ter?” Não estamos fazendo uma
enquete diária, estamos buscando assuntos que tenham mais abrangência e de acordo com a
72
época. Então como a gente estava há um mês só falando do carnaval, mostrando escolas,
então dentro daquele ambiente a gente falou, “vamos discutir o carnaval”. E uma das questões
que sempre gera discussão aqui em Bauru é a questão do financiamento do carnaval. Depois,
a gente usou o resultado da enquete em uma entrevista com o Elson Reis [secretário da
cultura] em estúdio. Todos os dias no jornal a gente estava falando: “você que tem TV digital
DTVi, acesse nosso app, lá tem uma enquete e nós estamos perguntando sobre o
financiamento do carnaval...” Tentando estimular. A enquete também foi para a página
principal do site, para poder dar um apoio para a gente também, porque se fica só no app, ele
ainda não tem muita força.
2. E quem da redação ficou responsável pelas postagens?
O pessoal da produção é quem está encabeçando essas postagens. Não só eles, mas eles estão
fazendo mais. A gente não fechou, está meio em aberto. Mas combinamos que essa parte de
“Destaques do dia”, “Perfil do entrevistado”, e “Enquete”, a produção está fazendo. Os VTs
que têm um complemento, a contribuição vem da edição, principalmente, e do repórter
também. Na reunião de pauta a gente discute o que vamos por de interatividade nas matérias,
depois, na edição de texto a gente conversa o que não entrou na matéria que daria para colocar
na interatividade. O Ginga não tem vídeo, mas a gente viu a possibilidade de transcrever o
trecho de uma sonora que não entrou e a gente achou legal, mas que não caberia no VT. Outra
coisa que aconteceu foi que o repórter sai para a rua com muita informação e às vezes não usa
no VT, então fica sobrando ali na pauta e coisas que são interessantes a gente coloca no app.
Então, é uma avaliação conjunta entre edição e reportagem para chegar nesse funil, junto com
a produção. A ideia do aplicativo está sendo um complemento do noticiário.
3. Que horas a produção tem postado esse conteúdo?
A gente fecha no final do dia. Nosso deadline é às 17h. Mas até umas 17h20, se a gente
entregar para eles [setor de Tecnologia de Informação] dá tempo. A gente tenta fechar às 17h,
assim o jornal já está montado, ao longo da tarde já dá para escrever os destaques do dia pelo
espelho do jornal.
4. Os repórteres podem sugerir um conteúdo, mas quem tem postado é o pessoal da
produção e da edição de texto?
Eles têm dado sugestões, mas não têm postado os conteúdos. O editor de texto finaliza os
VTs, então ele tem uma noção do que pode ser gerado de complemento.
73
5. O app alterou a rotina de trabalho da redação do UN?
Sim, na reunião de pauta. O conteúdo para o app passou a fazer parte da rotina, a gente
começou a pensar nesse conteúdo já na reunião de pauta.
6. Todos os produtores têm postado os conteúdos para o app?
Um produtor tem assumido mais as postagens. Os destaques do dia e o perfil do entrevistado
ele tem feito quase todos os dias. Agora, que pautou um boletim, já escreve o serviço desse
boletim para o app.
7. Depois dessas duas semanas de funcionamento, como você avalia o app?
O retorno que a gente tem tido de pessoas que trabalham na área tem sido bacana. A gente
divulgou no facebook e as pessoas acharam legal. O pessoal vem aqui [ na TV Unesp], a
gente mostra e as pessoas acham legal a gente já estar fazendo isso, super novidade. Legal a
gente ter esse pioneirismo. A gente não tem muita referência de aplicativos em noticiários. A
gente chegou nesse formato, do que colocar, pensando na utilidade do app. A gente estava
fazendo as outras matérias e o app ficou redundante, ai achamos isso meio inútil. Mas se o
telespectador ver os “Destaques do dia”, ele pode se interessar ou não, e você não “mastigou”
tudo para esse telespectador. Estamos tentando ser complementar. Nós temos interpretado
dessa maneira, que um conteúdo complementar ao que o jornal está falando é mais legal que
fazer uma redundância apenas, um resumo. Em cinco minutos você lê todo o conteúdo do app
e o telespectador pode não se interessar pelo jornal, e isso pode ser um tiro no pé.
74
Apêndice B
Entrevista II
Cargo: Repórter
Função: Reportagens, edição de texto e indexação de material.
Parte 1: Entrevista realizada antes da inserção do aplicativo.
1. Como é o processo de construção da notícia aqui na TVU? Como um acontecimento se
torna notícia?
Normalmente chega para a produção. Eles fazem um levantamento de tudo que está
acontecendo. Eles fazem uma ronda diária, vasculham o que tem acontecido na cidade, na
Unesp. Então é na produção que eles levantam essas informações. Ai é feita a reunião de
pauta, esses assuntos são discutidos e ai a gente define o que vai para o jornal e o que não vai.
Ai definimos quem vai ser o produtor dessa matéria e o produtor começa a levantar as
informações e marcar as entrevistas. A etapa seguinte é a do repórter, que vai coletar as
informações na rua, tudo que foi agendado pelo produtor e outras coisas que ele encontrar na
rua que contribuem para a reportagem. Ai vem o material da rua, o repórter redige o texto,
que é revisado por um editor de texto. Então o repórter grava o texto e depois o material segue
para a ilha de edição para ser editado e ai var ser acompanhado por um editor de texto e um
editor de imagem. Basicamente é isso.
2. O aplicativo vai gerar uma nova demanda de trabalho. Como você pensa que essa
demanda pode ser inserida na rotina de trabalho da redação? Quem deve fazer o quê?
Tenho uma visão um pouco radical. Acho que todas as etapas têm que pensar na aplicação.
Não dá para ser responsabilidade de um ponto específico. Por exemplo, o produtor está
fazendo a pauta, ele já pode sugerir para o repórter possibilidades de conteúdo que vão só para
a interatividade. Nesse caso [do aplicativo do UN] nós vamos ter até uma redundância, então
acho que pode ter coisas da própria reportagem na interatividade. Mas o produtor pode
levantar alguns questionamentos, o repórter vai apurar isso na rua, vai verificar o que da
notícia ele gostaria que fosse ressaltado e na edição de texto talvez seja a parte de finalizar
esse conteúdo, de fazer a postagem. Então assim, a gente teve uma apuração, teve o repórter
que captou o material, verificou aquilo que foi levantado pela reportagem e ai no final do
processo e edição ficaria responsável por formatar esse material.
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3. Você considera a possibilidade de o repórter, além de redigir o roteiro tradicional de
uma matéria, deixar também o conteúdo pronto para o app para que o editor fizesse a
postagem?
Sim, desde que ele tenha tempo para fazer isso. Desde que lá na produção saiba que vai ter
um horário reservado para esse repórter fazer isso. Porque a gente tem os horários muito
amarrados aqui. A gente sai para fazer uma reportagem, ai na sequência já tem um boletim,
tem que chegar e redigir o material que vai entrar no dia seguinte. Nós só temos duas equipes
para cumprir um jornal de trinta minutos, é muito pouco isso. Então, nossos horários são
muito certinhos. Por isso, se a gente tiver que fazer mais o texto da interatividade, isso tem
que entrar na previsão da produção, lá da pauta. Todo mundo vai ter que ter uma mudança de
pensamento para encaixar essa produção na sua rotina. E ai fazer uma medição de tempo, ver
qual é o momento mais adequado, quem deve escrever o texto da interatividade, se é o
repórter, que está a par de todo conteúdo que ele viu na rua, ou se é o editor, que já tem uma
visão mais filtrada de todo o material que foi trazido e consegue pinçar um ponto importante
por exemplo.
4. Algum conteúdo que era dispensado por falta de tempo na matéria pode ser postado
no aplicativo do UN? Que tipo de conteúdo é o mais adequado para ser postado?
Pelo que vejo nós só temos conteúdo textual né? Não tem conteúdo de vídeo. Se a gente
tivesse condições de ter conteúdo de vídeo, talvez trechos de entrevistas na íntegra ou ainda
pinçar informações mais relevantes da reportagem, se tem dados, que são mais difíceis de
fixar, transpor isso para a interatividade, endereços e telefones. Mais informações de serviço,
deixar as informações mais palpáveis para quem está assistindo.
5. Sua rotina de trabalho pode mudar por causa do aplicativo?
Sim, se a gente tiver que alimentar diariamente com certeza vai. Agora, no processo eu não
sei ainda como a gente vai se organizar. Tem que sentar todo mundo e avaliar mesmo: na
etapa de produção, o que é possível fazer? Na reportagem, vocês dão conta de fazer o quê?
Edição, dá para incorporar mais essa atividade na rotina? Tem que ter uma conversa mesmo
da equipe de cada etapa. Porque a partir do momento que entrar, a gente vai ter que alimentar
diariamente, então vai ter que fazer parte da rotina. Só é eficiente se a gente conseguir
estabelecer um processo mesmo.
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6. Como você avalia a interatividade de forma geral na televisão digital? Ela é útil ou
dispensável?
Tudo que vem para agregar à informação é útil. Mas temos que fazer de uma forma que de
fato seja interessante para quem está assistindo, que agregue algo. Por exemplo, no caso da
entrevista do dia no UN, é legal ter um perfil do entrevistado, isso agrega informação. Acho
que temos que usar os recursos da melhor forma possível para se tornar interessante e para
que complemente um conteúdo da primeira tela. Sempre temos que trabalhar nessa
perspectiva de ser uma complementação, agregar informação.
Parte 2: Entrevista realizada após a inserção do aplicativo.
1. Como foi trabalhar essas duas semanas com o app interativo do UN?
Eu percebi que no começo a gente teve que se acertar, porque foi uma atividade diferente
dentro da nossa rotina. Então a gente teve que adaptar as funções. Quando a discussão
começou a ser feita na pauta, durante a discussão da pauta, na reunião, teve resultados mais
positivos. Por exemplo, quando eu fui para rua fazer a reportagem sem pensar em nada [para
o app], muitas das informações que estavam na pauta eu acabei usando inteiramente na
reportagem, por conta de tempo do preenchimento do VT e mesmo no tipo de informação,
dependendo do tipo de matéria, eu tive que usar todo o conteúdo da pauta e ai não sobrou
alternativa depois para os editores de texto montarem [o app]; então ficou uma reprodução do
que já estava na reportagem. Quando a gente começou a pensar um pouco mais sobre isso e a
detalhar mais a informação que iria para o app, eu percebi que ficou até mais fácil até para os
editores depois montarem o conteúdo. Eu faço a reportagem, mas eu consigo indicar algumas
coisas que podem ser usadas para o app. Eu cheguei a sugerir para os editores de texto: “eu
não usei tal coisa na reportagem, vocês podem utilizar isso”. Eu volto da rua, falo o que
encontrei, o que rendeu ou não e ai aviso também o que eu não usei e que dá para aproveitar
para o app. Então foi assim que funcionou esses dias. Acho que agora a gente encontrou o
caminho, o que a gente pretende fazer, que tipo de informação a gente quer disponibilizar no
app, então agora fica mais fácil visualizar e até conseguir destacar dentro da pauta o que
poderia ficar só no app e o que vai para a reportagem.
2. A sua rotina de trabalho mudou em função do app?
Eu olho para o conteúdo da pauta e eu vejo, coisas muito detalhadas eu acabo deixando isso
como uma sugestão para o app. O que eu vejo que não vai caber na reportagem, eu sugiro
77
como uma opção para o app. Dentro do conteúdo que eu tenho, o que eu pretendo fazer, qual
a proposta, o que se espera da reportagem, então eu avalio o conteúdo. Por exemplo, a gente
fez uma reportagem sobre multas de trânsito, então o produtor da pauta fez um detalhamento
de todos os pontos, todas as principais infrações que foram cometidas, as porcentagens. Isso,
dessa forma mais detalhada, eu não usei dentro da reportagem, eu usei os dois tipos de multas
que mais registram infrações, mas a lista de cinco eu não usei. Então isso pode ir para o app.
Então quando é muito específico dentro da pauta, eu já indico como uma possibilidade para o
app.
3. E as postagens no app têm sido feitas por quem?
Pelos produtores e editores de texto.
4. Depois dessas duas semanas de funcionamento, como você avalia o app?
É uma ferramenta útil. A partir do momento que a gente encontrou uma forma que o app
complementasse o conteúdo que a gente exibe, a gente encontrou o caminho e ai deu uma
utilidade para o app. São informações de serviço, são complementos da reportagem. Então é
uma ferramenta que veio para dar mais substância para o nosso jornal. No início a gente
estava encontrando o caminho de como fazer, foi uma mudança grande, mas agora que a
gente já encontrou o ponto. A gente está pensando especificamente em conteúdo
complementar ao nosso material. Eu acho que é válido sim, é positivo e os telespectadores
têm mais um adicional ali. A partir do momento que for integrado na nossa rotina [o conteúdo
para o app] a gente consegue ir melhorando isso, pensando outras possibilidades, dentro do
que a tecnologia permite. A gente até gostaria de fazer outras coisas, mas tem uma limitação
técnica, a gente só pode usar texto, foto. Se pudesse usar vídeo, a gente estaria pensando
alguma coisa a mais. Mas acho que isso fica para uma próxima tecnologia, quem sabe um
conteúdo de segunda tela.
78
Apêndice C
Entrevista III
Cargo: Produtor
Função: Produção de pautas, agendamento da entrevista diária do UN, fechamento da capa de
pauta.
Parte 1: Entrevista realizada antes da inserção do aplicativo.
1. O que é interatividade no contexto da televisão digital?
Entendo que a interatividade está permitindo um complemento de uma informação. A pessoa
ter acesso a mais informações daquilo que ela vê só em vídeo na televisão. Não sei se a gente
vai chegar ao ponto da gente ter realmente a interatividade de quem está assistindo responder
e influenciar naquilo que eu estou produzindo. Talvez seria o cenário ideal. Mas eu acho que
atualmente, em um primeiro momento, a interatividade está permitindo um complemento de
informação. Você acrescentar ou reforçar uma informação. Por exemplo, você passou um
serviço, como abertura de vagas para escola e aquele boletim passou no jornal. Então, a
interatividade vai permitir que a pessoa fale assim: “queria ver de novo aquele endereço,
aquele telefone eu não anotei”, vai lá na interatividade e está ali.
2. Mais algum conteúdo poderia ser postado no app do UN?
Como o Ginga permite conteúdo de texto, eu acho que é possível a gente acrescentar. Por
exemplo, em um cenário ideal, um aplicativo que permitisse agregar conteúdo de vídeo.
Vamos supor, você tem uma entrevista gravada que vai para o broadcasting e depois talvez
uma versão expandida que vá para a interatividade. Por exemplo: “no nosso aplicativo você
continua a conversa que eu tive com o secretário da saúde...ou outras informações. Seria
interessante, mas tem que ver o quanto isso influenciaria na rotina da redação.
3. O aplicativo vai gerar uma nova demanda de trabalho. Como você pensa que essa
demanda pode ser inserida na rotina de trabalho da redação? Quem deve fazer o quê?
A gente pensa que todos podem participar. Mas no fim uma pessoa que acaba fazendo aquilo
efetivamente. Esse reforço de informação para a interatividade pode ser uma indicação de
pauta. Por exemplo, eu indico na pauta: “para interatividade reforçar endereço, site, período
de inscrição” etc. Talvez o repórter vai para a rua e quando volta vai produzir a lauda dele. A
lauda vai ser aquele conteúdo que vai para a edição. Então eu sinceramente não sei se seria
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um diálogo entre produtor e editor, para gerar aquele conteúdo para a interatividade, se isso
passaria pelo repórter, porque eu penso onde o repórter vai indicar isso? Na lauda? Mas eu
acho que o que vai para a interatividade pode partir de uma produção. Alimentar o aplicativo
eu já não sei se seria uma questão de edição, de produtor específico para isso. Mas eu acho
que a seleção disso partiria da produção.
4. Sua rotina de trabalho pode mudar por causa do aplicativo?
Mudaria um pouquinho. Nesse formato que foi pensado eu acho que não alteraria tanta coisa
assim, porque essa informação extra que a gente acrescenta no app é uma informação que
muitas vezes está na pauta do repórter e na pauta vai ter até mais informação. Então não seria
uma coisa trabalhosa. Dentro da minha rotina selecionar essas informações já está ali. Eu não
sei se, por exemplo, falassem: “a produção vai ter que alimentar o aplicativo”...ai teria uma
hora que eu precisaria parar para fazer isso. Mas essa seleção de informação já está muito
incorporada.
5. Você falou que na pauta a produção já poderia apontar o conteúdo para o app. Quais
seriam esses conteúdos?
Quando você está falando de serviço, inscrições, vagas, tudo que for de serviço. Tem que
colocar o que a pessoa precisa saber para ter acesso aquele serviço. Então, se é vaga de
concurso, o site onde ela vai fazer inscrição, o período, preço da inscrição, para ela ter aquilo
se ela se interessar. Sobre as matérias, reportagens, talvez um resuminho da notícia, um
conteúdo de GC que muitas vezes a gente produz.
6. Como você avalia a interatividade de forma geral na televisão digital? Ela é útil ou
dispensável?
É uma coisa legal para ser incorporada no conteúdo, principalmente do jornalismo. Permite
você ter um complemento de informação. Muitas vezes a gente discute assim: “o
telejornalismo tem uma superficialidade, na origem ele é essencialmente superficial”. Muitas
vezes você vê em um jornal da Globo, da TV TEM ou da Record, quando se fala em
informações de serviço: “outras informações você confere no site...” Essas informações
podem estar ali presentes em um conteúdo de interatividade. Ou seja, a pessoa não precisa ir
para outra mídia para ver aquilo. Eu só acho que precisa ser uma coisa incorporada para o
usuário comum. É bem legal, mas talvez precise de uma estratégia até didática para que o
telespectador acesse e saiba usar aquilo e lembre que ele tem acesso.
80
Parte 2: Entrevista realizada após a inserção do aplicativo.
1. Como foi trabalhar essas duas semanas com o app interativo do UN?
Não teve nenhum momento que tenha sido muito complicado para a gente trabalhar com o
app. No começo era mais no sentido de acertar quem fazia o que e a forma como fazer.
Muitas vezes eu começava a fazer um texto, o pessoal da edição também começava a fazer, ai
a gente não sabia o que colocar nesse texto, se a gente iria fazer um resumo das informações
ou se a gente iria trazer um complemento. Como a gente foi afinando mais o conteúdo que iria
para o app, foi ficando mais fácil. E também acabou formando uma rotina mais específica de
como a gente colocar essas informações no app. Então em geral no final da reunião de pauta
eu geralmente chamo o pessoal para pensar o conteúdo para o Ginga. Ai a gente abre o
espelho do jornal, vê o que vai dar no dia. Costumamos fazer um box do app com os
destaques do dia, fazemos manchetes, chamamos para o pessoal assistir ao vivo, a reprise e no
site; fazemos um conteúdo extra para duas matérias que estejam no jornal; fazemos um perfil
do entrevistado do jornal; procuramos colocar um serviço ou oportunidade de curso ou tudo
que tenha a ver com serviço, como “a unidade de saúde vai oferecer o exame tal,
mamografia”, ai a gente coloca mais a questão do serviço; tem também a parte da enquete. E
ai foi ficando mais automático à medida que a gente formalizava assim: eu que fecho o app
que manda para o pessoal da técnica colocar e em geral um editor de texto que fica com a
parte da edição na ilha às vezes senta e escreve um texto ou eu acabo escrevendo. Serviço eu
acabo escrevendo, às vezes eu peço também para outro produtor escrever; “Destaques” eu
acabo escrevendo também. A gente também automatizou a questão que a gente opta por
colocar frames das matérias como uma imagem [no app], porque acaba sendo uma imagem
nossa. Ai eu já passo para o editor de texto os frames que eu vou precisar, ai o pessoal foi
colocando e ficou mais automático. Ai o processo de fechar isso é mais rápido. Por exemplo,
ontem era por volta das 16h e o app já estava fechado, eu só não dava um “concluir” para
atualizar a previsão do tempo. Mas fica mais fácil de ser fechado esse conteúdo.
2. A sua rotina de trabalho mudou em função do app?
Na reunião de pauta eu chamo o pessoal para discutir o que vai ser feito no app e em geral
antes de sair para o almoço eu começo a organizar os conteúdos no Ginga. Ai eu redijo os
destaques, vejo um boletim que a gente já escreve, vejo se a enquete está em ordem, alguma
matéria que eu vá escrever eu já coloco assim, e vou controlando assim: tal texto tal pessoa
falou que iria escrever, então eu coloco ali “fulano vai escrever”, que é para eu ter um
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controle e acompanhar: “fulano, o texto já está pronto?” Vejo também, precisa de frame tal,
frame ok, já desceu. Então é mais controlar isso para depois fechar o app. Eu acredito que da
minha rotina diária é mais ou menos uma hora por dia que eu dedico para o app.
3. Depois dessas duas semanas de funcionamento, como você avalia o app?
É um extra que a gente coloca que é bem legal, principalmente porque a gente optou em
buscar dar uma informação extra para a pessoa. Tem momentos que a gente pensa: o que não
entrou no VT que a gente poderia dar? Só que a gente sempre procura falar assim: a gente não
pode comprometer o VT para ter uma informação para colocar no Ginga, até porque a gente
sabe que o público que vai ter acesso ao Ginga é menor que o que vai assistir a matéria. Mas a
gente sempre procura dar esse extra para a pessoa. É bem bacana principalmente porque a
gente sempre procura dar um extra de serviço para a pessoa. E em relação à nossa rotina, a
forma como o app foi pensado para a gente administrar é bacana porque é fácil de ser
atualizado, é bem maleável da gente usar.
82
Apêndice D
Entrevista IV
Cargo: Editor de texto
Função: Edição de VTs e boletins
Parte 2: Entrevista realizada após a inserção do aplicativo.
1. Como foi trabalhar essas duas semanas com o app interativo do UN?
Eu conversei bastante com o editor-chefe no começo, porque tive uma reação meio perdida,
até por essa falta de referência que a gente tem com esse tipo de pensamento. Como não
existe mais gente fazendo isso, então para mim era muito vago o fato de a gente ter que criar
do zero um jeito de fazer. Então principalmente no começo foi muito confuso no sentido de o
que colocar nesse aplicativo. A minha referência, como eu não tenho experiência com TV
digital, eu não tenho uma TV com Ginga em casa, então a minha referência é aquele
aplicativo da NET. A minha referência era esse aplicativo para você ter uma sinopse ou um
resumo daquilo que você vai ver. E foi assim que eu levei no começo. Ai a gente começou a
perceber que essa redundância em alguns poderia ser um pouco mais negativa. Então a partir
daí a gente começou a pensar junto o que poderia colocar. Pelo menos para mim, para minha
experiência pessoal, foi de cada dia descobrir um pouquinho o que a gente poderia por. De
forma geral a gente dividiu que o editor de texto ficaria responsável pelos conteúdos
adicionais das matérias que ele editou. Então como basicamente eu estou concentrando a
edição, eu ficaria com os conteúdos adicionais de todas as reportagens que a gente colocaria
no jornal. Ainda assim no começo foi complicado porque como a gente não tinha previsto
esses conteúdos desde o processo de pauta, então na hora de escrever que você tinha que
apurar as informações adicionais para o app. Alguns casos, por mais que a gente já tivesse
visto que poderia passar para o app trechos de sonoras que não tivessem sido utilizadas na
reportagem, a gente teve alguns casos em que todo o conteúdo foi esgotado na reportagem,
então não sobrou material para colocar no app. Então acabou exigindo um pouco de jogo de
cintura para poder contornar, com todo o deadline de fechamento e ter um tempinho para
apurar a informação para colocar no app. Para mim foi uma experiência muito positiva,
bacana ver que duas semanas depois, em tão pouco tempo, a gente conseguiu achar uma cara
e um jeito de fazer.
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2. O app alterou a rotina de trabalho da redação do UN?
A principal mudança na nossa rotina é incorporar já desde o começo, no pensamento das
pautas, o que a gente pode desdobrar nessa pauta na própria reunião de pauta e um processo
constante de conversa ao longo de toda a execução da reportagem. Nossa rotina já previa uma
conversa constante entre os três setores [produção, reportagem e edição], só que essa conversa
teve que aumentar mais ainda, porque a produção dá um feedback maior para a edição, a
edição dá um feedback para a reportagem e a reportagem dá um feedback para os dois. Então
a gente acabou se conversando muito mais sobre o processo de execução das matérias. E a
segunda coisa que mudou foi a gente ter um processo de avaliação muito mais contínuo, de o
tempo todo estar conversando, vendo se está indo tudo certo, de muitas vezes na hora que
você sentou para escrever o conteúdo adicional você falar: “olha, isso aqui não está
funcionando”. A gente delimitou que as manchetes do conteúdo deveriam ser limitadas a uma
linha; no começo a gente tinha um limite de caracteres que permitia você formar duas linhas
em um título. Mas a gente começou a perceber que se todas as manchetes formassem duas
linhas de título, iria virar uma poluição visual enorme. Então a gente diminuiu para 40
caracteres e ai um esforço coletivo de todos de ser sucinto, de você ter que criar uma
manchete de 40 caracteres que diga todo conteúdo e ao mesmo tempo seja atrativo para que a
pessoa sinta vontade de clicar naquele conteúdo. Então de alguma forma mudou a rotina para
a gente de autoavaliação inteira do processo, de o tempo todo a gente estar pensando o que é o
melhor jeito de fazer.
3. A sua rotina de trabalho mudou em função do app?
Eu passei a ter que participar muito mais da reunião de pauta, até pelo fato de como a gente
organizou a rotina. Mudou de ter que me organizar melhor para poder estar aqui; todos estão
contribuindo e têm que participar dessa discussão. É a hora de todas as visões diferentes sobre
a mesma matéria poder ser o diferencial do material que a gente vai jogar no conteúdo
adicional. De maneira geral eu estabeleci a rotina assim: chegar, subir para a edição das
reportagens e ouvir todas as sonoras na ilha, até para eu já ter uma noção do material que veio
da rua. Com a reportagem pronta eu descia para escrever [o conteúdo para o app], abria a
pauta para ver as informações que o repórter não usou e já estavam produzidas e ai tentar
identificar o que a gente podia colocar na interatividade, o que poderia colocar que não está
na reportagem e nem na pauta, um terceiro conteúdo que a gente teria que apurar. A partir do
momento que a gente definiu que esse conteúdo [para o app] seria um conteúdo
complementar não seria um resumo, para mim ficou muito mais fácil de escrever; a partir da
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definição da linha da interatividade ficou muito mais fácil. Na primeira semana, quando a
gente estava aprendendo a mexer com a interatividade, a gente não definia coletivamente o
que seria colocado na interatividade, então ficava a cargo do editor. Então a hora que eu
sentava para escrever eu tinha a plena escolha se eu queria escrever um resumo daquela
matéria, se eu queria dar um conteúdo adicional. A gente começou a discutir isso mais
coletivamente, então começou a dar um direcionamento maior e facilitou muito mais. Hoje
está muito mais tranquilo de escrever para a interatividade.
4. Depois dessas duas semanas de funcionamento, como você avalia o app?
Eu não tenho experiência como estudioso de TV digital, então eu acabo tendo a visão do
consumidor de informação. Eu tento colocar no app as informações que eu gostaria de ver e
que fariam diferença, e eu tento avaliar desse lado de ser realmente um conteúdo
complementar aquele material que a gente está colocando na TV. A gente sabe que por a TV
ser baseada em tempo, a gente acaba não conseguindo esgotar toda informação ali dentro.
Acho que o app é muito positivo nesse sentido de abrir mais uma frente de informação além
do conteúdo do jornal ou reforçar um conteúdo que pelo fato da TV ser muito rápida, você
não consegue apreender. Você está dando uma informação de um concurso, ai você deu um
site, os requisitos que a pessoa tem que preencher para concorrer aquele concurso, é muito
rápido, não dá tempo muitas vezes da pessoa anotar e ter aquela informação fácil para ela
consultar. Então além do app ser uma segunda frente, ele também é uma base para que você
consiga ter aquelas informações ali para a pessoa anotar com calma. Então nesse sentido o
app é muito útil. Por mais que nessas duas semanas a gente tenha aprendido a fazer e ele tenha
entrado na nossa rotina, acho que vai ser um aperfeiçoamento constante, a gente nunca vai
conseguir esgotar o melhoramento dele. Ele tem um potencial para melhorar esse canal de
comunicação que é incrível.
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Apêndice E
Entrevista V
Cargo: programador web
Função: programação e manutenção do site da TVU, programação de aplicações em Ginga,
apoio na manutenção de e-mail, de servidores e de equipamentos broadcasting.
Parte 1: Entrevista realizada antes da inserção do aplicativo.
1. O que é interatividade, no contexto da televisão?
A TV é um meio muito limitado em termos de interatividade. Interatividade na televisão seria
feita se a pessoa realmente interferisse na programação. É muito pouco viável e se fosse feita,
deveria ser exclusivamente pela internet. Pelo sistema broadcasting é muito difícil. O sistema
é muito limitado para se fazer. A única forma de se fazer pelo sistema broadcasting seria com
o apoio do canal de retorno. Mas ainda assim esse canal de retorno não é internet. Então,
televisão pura, interativa, eu não acredito, não existe. Foi um grande engano dizer que o
Ginga traria interatividade para a TV. Na verdade o Ginga traz serviços interativos, esse era o
nome inicial das aplicações. E esses serviços interativos eu considero limitados. É
interatividade, mas em um nível muito baixo. Você consegue fazer a pessoa interagir com o
conteúdo, não com o programa em si. Não se trata de interagir na televisão, se trata de
interagir com algum conteúdo que foi passado pela televisão. A interatividade para mim na
TV digital é isso.
2. A criação de aplicativos interativos é viável (há tempo? Infraestrutura?) dentro da
sua rotina de trabalho?
Sim, ela é bastante viável e até cobrada.
3. Como é a programação em Ginga NCL?
Ela tem a facilidade de ser uma linguagem interpretada, assim como o HTML e o JavaScript
na internet. Ou seja, você escreve um arquivo de texto e esse texto é lido por uma máquina
virtual, a máquina virtual do Ginga, que está dentro da TV. Isso gera facilidade, uma
linguagem compilada, aquela que gera um arquivo executável, ela tem esse tempo de
compilação, tem que ter um compilador instalado. A linguagem interpretada tem algumas
facilidades. O Ginga NCL, embora seja uma linguagem bastante completa e até de certa
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forma robusta, como ela é direcionada para a finalidade da aplicação, não é uma linguagem
feita orientada ao desenvolvimento. O NCL é feito para um tipo de coisa, para você apresentar
e interligar mídias. Então, como ele tem essa finalidade muito específica, ele possui uma
forma de programar orientada para essa finalidade que ela é um pouco trabalhosa. Você digita
muito para fazer poucas coisas. Então, ela não usa comandos tradicionais de uma linguagem
de programação. Ela usa tags e com propriedades e conteúdos dessas tags e essas tags é que
são interpretadas.
4. O problema das aplicações em Ginga não ficarem bem configuradas em todas a TVs é
um problema do Ginga ou da TV?
Existe uma falha muito grave que é o Ginga ter sido feito como uma especificação. O Ginga
não é um programa que você instala e baixa na TV, no computador ou celular. ele é uma
especificação. Ou seja, o fabricante que quer ter Ginga em sua TV dele ler a especificação e
desenvolver um programa que atenda àquela especificação. Então, tem um problema ai,
porque além da especificação não dar conta de todos os detalhes que envolvem o sistema
operacional de uma TV, tem alguns erros, algumas coisas que acontecem durante o
funcionamento de uma TV, de uma aplicação, que o Ginga às vezes não prevê. Mas se
acontece uma exceção dessas, por exemplo, uma aplicação veio com alguma coisa
configurada errada, o Ginga não diz o que a TV deveria fazer se essa aplicação estiver se
comportando assim. Então, existe uma falha no Ginga enquanto especificação. O primeiro
erro é o fato dele ser uma especificação. Acredito que ele deveria ser um software. Se eu sou
um fabricante, eu gostaria de pegar esse software, comprado ou livre, e instalá-lo na minha
TV, e que essa versão fosse uma versão oficial. Do jeito que a gente tem hoje, acontece que
tem pelo menos três Gingas. Tem o da TOTVS, que é feito por brasileiros; um Ginga feito por
uma empresa da Paraíba e o da Samsung, que ela mesma fez na especificação do Ginga.
Então você tem três programas diferentes que seguem uma especificação. Cada
desenvolvedor desses entendeu a especificação de um jeito e esses buracos que a
especificação deixa, cada um tapa do jeito que acha mais correto.
E ai tem também o problema dos fabricantes, que por ser uma plataforma para rodas
aplicações interativas, fazendo uma ponte entre web e broadcasting, as aplicações, por mais
simples que sejam, precisam ter um mínimo de robustez e os processadores das televisões são
muito ruins. Mesmo as smart TVs, estão vindo com um processamento muito baixo. Isso
compromete a qualidade da aplicação e compromete a própria aplicação das normas do
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Ginga. Algumas coisas que estão nas normas do Ginga exigem um hardware que as TVs não
tem. Então, há um problema sim por parte dos fabricantes.
Existe também um problema por parte do governo de não conseguir ter o pulso que precisaria.
Se o Ginga foi criado para ser obrigatório, teria que se ter uma exigência maior, a fim de que
todos cumprissem com a sua parte. Precisava ter uma cobrança maior. Uma flexibilização que
se deu e o resultado foi um mercado em que cada TV interpreta as aplicações do seu jeito.
5. Com relação ao app do Unesp Notícias, considerando que o Telejornal começa às
17h30, até que horas o conteúdo do app deve ser postado na plataforma, para que esteja
disponível aos telespectadores?
Três minutos é tempo suficiente para a aplicação ficar pronta.
6. Como você avalia a interatividade na televisão digital, ela é útil ou dispensável?
A utilidade tem alguns vieses. Ela tem alguns campos onde será útil. Mas colocar que as TVs
precisam simplesmente fazer a interatividade, não é por ai não. A interatividade tem uma
finalidade muito grande para os programas esportivos, porque eles têm uma gama enorme de
informações, que no broadcasting não é enviado o tempo todo. Então, se você passa a todo
minuto essas estatísticas por um canal de dados na televisão, eu acho perfeito. Então, a
interatividade tem uma finalidade grande para eventos esportivos e qualquer outro programa
que precise de dados. Mas, ver a sinopse de uma novela, por exemplo, eu não acho útil, acho
extremamente desnecessário.
7. Como você avalia o app do Unesp Notícias?
Ele precisa de um pouco mais. A única coisa que o torna útil hoje é a possibilidade de uma
pessoa que não assistiu o jornal inteiro poder abrir uma notícia. A utilidade vai depender
também de como a redação vai encarar editorialmente o Ginga. Se simplesmente eles
mantiverem a produção como está hoje e colocar no Ginga um resumo da notícia, a utilidade
vai ser pequena. Agora se na pauta eles começarem a pensar e identificar nas matérias e nas
pautas elementos que seriam complicados de se trabalhar no vídeo, mas em Ginga ficaria
legal, como uma tabela ou listagem, no Ginga as informações de serviço ficariam ali para as
pessoas anotarem. Se eles pensarem dessa forma o Ginga, ai ele ganha uma utilidade grande.
Mas acho que o app precisa de uma versão 2.0, com mais coisas. Mas para isso é necessário o
fôlego da redação.
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Apêndice F
Entrevista VI
Cargo:Programador web
Função: Responsável pelo desenvolvimento e servidor do site da Televisão Universitária
Unesp (TVU), aplicações interativas e transmissões ao vivo.
Parte 1: Entrevista realizada antes da inserção do aplicativo.
1. A criação de aplicativos interativos é viável (há tempo? Infraestrutura?) dentro da
sua rotina de trabalho?
Agora é. A gente abre mão de fazer outras coisas para fazer as aplicações interativas. Não dá
para trabalhar ao mesmo tempo desenvolvendo o site e fazendo Ginga, o programador fica
muito confuso. Mas como o site da TV está pronto, temos tempo sim.
2. O que é interatividade, no contexto da televisão digital?
Quando eu comecei a trabalhar com isso eu achava que talvez a interatividade fosse um dos
ganchos mais interessantes que a TV digital oferecia, isso lá no começo, quando eu imaginei
que as pessoas fossem de fato interagir e que isso iria agregar alguma coisa aos programas.
Agora, depois de ter passado alguns anos trabalhando diretamente com isso, estudando no
mestrado, dos cursos de Ginga que a gente fez e as dificuldades que a gente teve, hoje em dia
eu considero que se continuar da maneira que for, não deve agregar muito não. A expectativa
que eu tinha quando eu comecei a desenvolver era uma e hoje é completamente diferente.
3. Você considera os recursos que o Ginga oferece hoje interativos?
Acredito que sim. Primeiro temos que pensar no Ginga ideal e o Ginga que está na TV. O
Ginga que está na TV é muito complicado, a ausência de certos recursos que na teoria
poderiam ser desenvolvidos à mão, mas é muito difícil. Por exemplo, a maneira como o
usuário dá o input na tela, para ele escrever alguma coisa, hoje em dia qualquer controle
existente é muito complicado você fazer o usuário digital algo de maneira confortável. Se as
pessoas trabalhassem e tentassem desenvolver soluções mais criativas para isso ou tivessem
um suporte melhor do Ginga, que era como ele deveria ser, talvez funcionasse melhor. Então,
tem um abismo, o que tem na TV está naquela TV lá e está na nossa TV e como o Ginga
deveria funcionar na prática. Se o Ginga fosse aplicado de maneira plena, do jeito que a
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norma diz e tivesse todos os recursos possíveis e as TVS complementassem isso, acredito que
daria até para chamar de interatividade. O que a gente tem hoje não.
4. Como você chama o que nós temos hoje?
Um adendo, uma espécie de segunda tela na primeira tela. Geralmente informações adicionais
sobre um programa que está passando e que de alguma maneira o produtor de conteúdo não
tinha conseguido colocar isso no programa ou jornal.
5. Isso para você é interatividade?
Em um nível muito baixo, mas não deixa de ser.
6. Como é para você programar em Ginga NCL?
É o inferno na terra. Eu não faço NCL. NCL são 10 linhas que são usadas para chamar um
programa em Lua. Eu não gosto do NCL, eu acho ele complicadíssimo de se entender, chato
de escrever, é muita coisa que você precisa digitar para chegar em um mesmo resultado; ele
não oferece certos recursos que o Lua tem. O Lua oferece como se fosse um quadro negro
para você desenhar nele, você cola e apaga coisas. Dali você consegue desenvolver, se a
especificação estiver cem por cento pronta, qualquer coisa com uma certa criatividade e
programando à mão. Hoje nem tanto, mas você consegue fazer muito mais coisas que o NCL
nunca vai permitir. Então, eu prefiro trabalhar com Lua, desde a primeira aplicação que eu fiz.
Vale frisar isso porque um dos problemas do Ginga não funcionar para o programador é o
NCL.
7.Você tem feitos cursos e estado em contato com profissionais de outras emissoras. De
forma geral, esses profissionais saber lidar com o Ginga?
Sabem, o programador sabe aquilo e consegue driblar os outros recursos que tem. Só que isso
é extenuante para a gente.
8.Com relação ao app do Unesp Notícias (UN), considerando que o Telejornal começa às
17h30, até que horas o conteúdo do app deve ser postado na plataforma, para que esteja
disponível aos telespectadores?
Na prática, se estivesse pronto às 17h29 dava tempo.
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9. A previsão é que o aplicativo do UN seja colocado no ar dia 17 de fevereiro de 2014.
Isso deve alterar sua rotina de trabalho? Qual a demanda que esse aplicativo vai trazer
para você diariamente?
Pouquíssimas, do jeito que ele está montado, nós só vamos ter que ficar espertos para ver se
tudo vai funcionar no começo, que é a geração do app para ver se o código conforme se
montou vai estar certo, se vai precisar mudar alguma coisa. Todo software tem bugs, então
pode acontecer, embora seja difícil, de dar algum erro e você ter que estar pronto para corrigir
manualmente. Mas ai é só nas primeiras vezes, prestar atenção para ver se gerou tudo certo, se
encaixou tudo. Nós precisamos ver quem vai ser o responsável por colocar a aplicação do UN
no carrossel.
10. Como você avalia esse aplicativo do Unesp Notícias (UN)?
Eu provavelmente não usaria essa aplicação do UN. Eu acho ela básica demais para os meus
usos. Não que talvez para outra camada da população não seja interessante. É que estou
acostumado a assistir coisas com o Ipad na mão, então para buscar essas informações seria
interessante um recurso de segunda tela. Isso para mim. Não sei como isso funciona para
outras pessoas. Agora, em um jogo de futebol eu acho muito interessante a informação que
eles vão apresentar. Em um jornal se essa aplicação tivesse outro nível de interatividade que
eu pudesse comentar ou pudesse trabalhar junto com o jornal, talvez fosse interessante. Só
que ai está a distância técnica do Ginga com aquilo que pode ser feito.
11. Como você avalia a interatividade de forma geral na televisão digital? Ela é útil ou
dispensável?
O que vem sendo feito hoje é completamente inútil. A Globo e a Record, que são as únicas
emissoras que estão apostando nisso da maneira tradicional, com conteúdo extra, é uma
“coisinha” que abre ali do lado de uma maneira bonitinha e que te diz mais ou menos o que
está acontecendo naquele capítulo da novela ou de um programa X em questão e as
informações são completamente irrelevantes. O próprio programa já passou aquelas
informações. Sem cuidado nenhum, o conteúdo está lá só para constar. O SBT tem uma
abordagem diferente com aquele portal, só que é muito mal cuidado, eles não atualizam, não
funciona do jeito que era para funcionar. As únicas aplicações interativas úteis, eu volto a
dizer que é a aplicação disso para o esporte. Eu acho nossa aplicação do UN a melhor
aplicação rodando em Ginga que eu vi até hoje, tanto na parte gráfica quanto no conteúdo. Eu
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ainda acho ela simples demais, dava para fazer muito mais, na teoria, na prática não. E mesmo
assim, é o melhor produto que eu já vi rodando em Ginga até hoje.