tecnologias sociais mostram que convivência com o semiárido é realidade

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Pernambuco Ano 6 | nº 969 | Novembro | 2012 São José do Egito - Pernambuco Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Tecnologias sociais mostram que convivência com o Semiárido é realidade 1 Família da agricultora foi contemplada com cisterna de 52 mil litros “Antes não tinha como plantar nada. Depois da chegada da cisterna, posso dizer que tenho água potável de qualidade para produzir”, afirma a agricultora Genésia Maria Brito Rodrigues, 52 anos. Dona Genésia, como é conhecida, vive ao lado do marido, Pedro Rodrigues da Silva (58), no Sítio Lagoa do Mato, situado na comunidade de Curralinho, em São José do Egito, município do Sertão do Pajeú pernambucano. O casal de agricultores tem quatro filhos adultos e mora há nove anos na localidade. No segundo semestre de 2009, dona Genésia e seu Pedro foram contemplados pelo Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), gerenciado pela Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA) e executado pela Diaconia, com uma cisterna calçadão capaz de armazenar 52 mil litros de água da chuva. “A gente já tinha a cisterna de 16 mil litros. Mas nossa vida melhorou bastante nesses três anos, porque passamos a produzir coentros, que acabou trazendo uma renda”, conta a agricultora, que também cria animais na propriedade de 5,5 hectares. Semanalmente, o casal produz 60 mólhos (aproximadamente 20 gramas) da hortaliça em cada canteiro. Em seguida, comercializam a unidade por R$ 0,50, garantindo ao menos R$ 30 por canteiro. “Por enquanto produzimos somente coentro, mas pretendo plantar também alface e pimenta”, revela dona Genésia, fazendo planos para o futuro. Os alimentos produzidos na propriedade dos agricultores são totalmente orgânicos, ou seja, não utilizam agrotóxicos. Cisterna calçadão - Tecnologia social que evidencia a possibilidade de convivência com o Semiárido, a cisterna calçadão garante a água da produção de alimentos e a segurança alimentar das famílias beneficiadas. A construção de cada cisterna custa aproximadamente R$ 8.000, valor que varia de acordo com a região. Na maioria dos casos, a mão-de-obra familiar é aproveitada, o que barateia os custos da construção. A importância da cisterna calçadão, sua finalidade e os cuidados de manutenção são discutidos junto a cada família, sensibilizando e capacitando para a melhor utilização da água captada. Finalizado o processo de construção da cisterna, os beneficiados recebem assessoria técnica para implantação da experiência com produção. “Somos acompanhados em tudo. O que a gente não sabe, os técnicos da Diaconia explicam”, destaca dona Genésia.

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Page 1: Tecnologias sociais mostram que convivência com o Semiárido é realidade

Pernambuco

Ano 6 | nº 969 | Novembro | 2012São José do Egito - Pernambuco

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Tecnologias sociais mostram que convivência com o Semiárido é realidade

1

Família da agricultora foi contemplada com cisterna de 52 mil litros

“Antes não tinha como plantar nada. Depois da chegada da cisterna, posso dizer que tenho água potável de qualidade para produzir”, afirma a agricultora Genésia Maria Brito Rodrigues, 52 anos. Dona Genésia, como é conhecida, vive ao lado do marido, Pedro Rodrigues da Silva (58), no Sítio Lagoa do Mato, situado na comunidade de Curralinho, em São José do Egito, município do Sertão do Pajeú pernambucano. O casal de agricultores tem quatro filhos adultos e mora há nove anos na localidade. No segundo semestre de 2009, dona Genésia e seu Pedro foram contemplados pelo Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), gerenciado pela Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA) e executado pela Diaconia, com uma cisterna calçadão capaz de armazenar 52 mil litros de água da chuva.

“A gente já tinha a cisterna de 16 mil litros. Mas nossa vida melhorou bastante nesses três anos, porque passamos a produzir coentros, que acabou trazendo uma renda”, conta a agricultora, que também cria animais na propriedade de 5,5 hectares. Semanalmente, o casal produz 60 mólhos (aproximadamente 20 gramas) da hortaliça em cada canteiro. Em seguida, comercializam a unidade por R$ 0,50, garantindo ao menos R$ 30 por canteiro. “Por enquanto produzimos somente coentro, mas pretendo plantar também alface e pimenta”, revela dona Genésia, fazendo planos para o futuro. Os alimentos produzidos na propriedade dos agricultores são totalmente orgânicos, ou seja, não utilizam agrotóxicos.

Cisterna calçadão - Tecnologia social que evidencia a possibilidade de convivência com o Semiárido, a cisterna calçadão garante a água da produção de alimentos e a segurança alimentar das famílias beneficiadas. A construção de cada cisterna custa aproximadamente R$ 8.000, valor que varia de acordo com a região. Na maioria dos casos, a mão-de-obra familiar é aproveitada, o que barateia os custos da construção. A importância da cisterna calçadão, sua finalidade e os cuidados de manutenção são discutidos junto a cada família, sensibilizando e capacitando para a melhor utilização da água captada. Finalizado o processo de construção da cisterna, os beneficiados recebem assessoria técnica para implantação da experiência com produção. “Somos acompanhados em tudo. O que a gente não sabe, os técnicos da Diaconia explicam”, destaca dona Genésia.

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Outra conquista que transformou o cotidiano de dona Genésia e seu Pedro foi o biodigestor sertanejo. Há cerca de dois anos, o casal foi selecionado para receber a tecnologia, que possibilita a produção de gás metano (biogás) através da fermentação do esterco animal. O biodigestor é uma fonte de energia complementar ou alternativa, utilizada em substituição à lenha, ao carvão vegetal e/ou ao gás liquefeito de petróleo (GLP – gás de cozinha comprado em botijões), cujo impacto sobre o meio ambiente é maior. “Foi muito bom. Nunca ficamos sem biogás. Lembro que na época a gente passava de três a quatro meses com um botijão, que custava uns R$ 30. A economia foi muito grande”, recorda dona Genésia. Devido ao alto custo do botijão, a agricultora cozinhava na maioria das vezes utilizando fogão à lenha, o que acarretava imenso dano ao meio ambiente “O gás era caro e o que podia eu fazia na lenha mesmo. Depois do biodigestor, tudo mudou. Parei de queimar lenha e o prejuízo ambiental diminuiu”, garante dona Genésia. Com a economia na compra do botijão de gás, a agricultora passou a investir na produção de cocadas, que trouxeram uma importante independência financeira. “Passei a comprar minhas coisas e contribuir mais dentro de casa. Ainda é pouco, mas é fruto do meu suor”, conta orgulhosa.

Entenda o biodigestor - O processo de geração de biogás é simples. Depois de recolhido, o esterco do gado é colocado dentro da “caixa de carga”, de onde segue para o “tanque de placas”, local em que transforma-se numa fração gasosa (o biogás), outra

líquida e uma terceira sólida. As duas últimas frações, descartadas através da “caixa de descarga”, são subprodutos que podem ser utilizados na fertilização do solo para agricultura. “Funciona como nosso organismo: a gente se alimenta, aproveita os nutrientes e coloca para fora o que não serve”, compara dona Genésia. O biodigestor integra o rol de tecnologias sociais para convivência com o Semiárido. “Nesse período de seca, nossa vida seria muito mais difícil sem essas tecnologias”, destaca a agricultora.

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Biogás é produzido a partir da fermentação do esterco animal

«O biodigestor funciona como nosso organismo», compara

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