tecnologias sociais e práticas agroecológicas transformam a vida no sertão do pajeú

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Tecnologiassociaisepráticasagroecológicas transformamavidanoSertãodoPajeú BoletimInformativodoProgramaUmaTerraeDuasÁguas Ano7nº1136 Agosto/2013 AfogadosdaIngazeira “Antes, a minha família trabalhava para os outros, debaixo de sol, chuva, sem hora para largar e até nos finais de semana. Lembro que a vida era muito difícil e o sofrimento grande. A gente trabalhava com produtos químicos e vivia o tempo todo doente”, recorda a agricultora Genedite dos Santos Sousa, 50 anos, da comunidade de Poço do Moleque, situada na Zona Rural do município de Afogados da Ingazeira, Sertão do Pajeú de Pernambuco. Casada com José João de Sousa (53 anos), conhecido como seu Deda, a agricultora refere-se ao período em que trabalhava na propriedade de terceiros, no regime conhecido na região como “alugado”, e cultivava alimentos utilizando agrotóxicos. Hoje, o casal planta para si mesmo, de maneira autônoma, e adota uma proposta de agricultura familiar baseada na Agroecologia, que torna os sistemas de produção socialmente justos, economicamente viáveis e ecologicamente sustentáveis. Apoiada pela ONG Diaconia desde 2004, a família de dona Genedite possui Caixa d' Água, Sistema de Microaspersão e Biodigestor Sertanejo (que utiliza esterco animal para gerar gás de cozinha), tecnologias moderadoras que ajudam a conviver com as condições do Semiárido. “Depois que passamos a ser assistidos, nossa vida melhorou bastante”, afirma a agricultora, que produz com o marido uma grande variedade de hortaliças (alface, cebolinho, coentro, pimentão, quiabo e rúcula); frutas (acerola, banana, carambola, goiaba, graviola, laranja e manga) e polpas (acerola, goiaba, graviola e manga). O casal ainda cultiva plantas medicinais, feijão de corda e milho. Como se não bastasse, dona Genedite e seu Deda também criam animais e possuem um minhocário que produz húmus. D. Genedite cozinha com biogás produzido pelo Biodigestor Sertanejo Minhocário do casal produz adubo natural (húmus) utilizado na plantação

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Page 1: Tecnologias sociais e práticas agroecológicas transformam a vida no Sertão do Pajeú

Tecnologias�sociais�e�práticas�agroecológicas��transformam�a�vida�no�Sertão�do�Pajeú�

Boletim�Informativo�do�Programa�Uma�Terra�e�Duas�Águas

Ano�7���nº�1136�Agosto/2013�

Afogados�da�Ingazeira�

“Antes, a minha família trabalhava para os

outros, debaixo de sol, chuva, sem hora para

largar e até nos finais de semana. Lembro que

a vida era muito difícil e o sofrimento grande.

A gente trabalhava com produtos químicos e

vivia o tempo todo doente”, recorda a

agricultora Genedite dos Santos Sousa, 50

anos, da comunidade de Poço do Moleque,

situada na Zona Rural do município de

Afogados da Ingazeira, Sertão do Pajeú de

Pernambuco. Casada com José João de Sousa

(53 anos), conhecido como seu Deda, a

agricultora refere-se ao período em que trabalhava na propriedade de terceiros, no regime

conhecido na região como “alugado”, e cultivava alimentos utilizando agrotóxicos. Hoje, o casal

planta para si mesmo, de maneira autônoma, e adota uma proposta de agricultura familiar

baseada na Agroecologia, que torna os sistemas de produção socialmente justos,

economicamente viáveis e ecologicamente sustentáveis.

Apoiada pela ONG Diaconia desde 2004, a

família de dona Genedite possui Caixa d'

Água, Sistema de Microaspersão e

Biodigestor Sertanejo (que utiliza esterco

animal para gerar gás de cozinha),

tecnologias moderadoras que ajudam a

conviver com as condições do Semiárido.

“Depois que passamos a ser assistidos, nossa

vida melhorou bastante”, afirma a agricultora,

que produz com o marido uma grande

variedade de hortaliças (alface, cebolinho,

coentro, pimentão, quiabo e rúcula); frutas

(acerola, banana, carambola, goiaba, graviola, laranja e manga) e polpas (acerola, goiaba, graviola

e manga). O casal ainda cultiva plantas medicinais, feijão de corda e milho. Como se não bastasse,

dona Genedite e seu Deda também criam animais e possuem um minhocário que produz húmus.

D. Genedite cozinha com biogás produzido pelo Biodigestor Sertanejo

Minhocário do casal produz adubo natural (húmus) utilizado na plantação

Page 2: Tecnologias sociais e práticas agroecológicas transformam a vida no Sertão do Pajeú

A produção familiar é comercializada nas feiras

agroecológicas dos municípios de Tabira e

Afogados da Ingazeira. A criação de peixes

também está nos planos. “Como a comunidade

tem um dessalinizador, pretendemos, mais

para frente, também criar tilápias”, planeja a

agricultora, referindo-se ao equipamento que

retira o sal e outros minerais da água,

originalmente salobra. Instalado no poço que

atende aos moradores de Poço do Moleque, o

dessalinizador fornece quatro litros de água

potável para cada dez litros de água salobra.

Exemplo de família agricultora articulada, dona Genedite e seu Deda são membros da Associação

Agroecológica do Sertão do Pajeú (AASP) e da Associação de Trabalhadores Rurais de Poço do

Moleque, da qual o agricultor também é presidente. O aprimoramento constante também é regra:

dona Genedite participa das capacitações sobre gestão de empreendimentos do Projeto Semiá,

desenvolvido pela Diaconia em parceria com a agência de cooperação inglesa Tearfund e

financiado pela Comissão Europeia. “Participei das capacitações de panificação e beneficiamento

de polpas. Ajudou bastante a desenvolver mais conhecimento”, conta otimista a agricultora.

Biodigestor - Uma conquista que transformou

o cotidiano de dona Genedite e seu Deda foi o

Biodigestor Sertanejo. Há exatos dois anos, o

casal recebeu a tecnologia, que possibilita a

produção de gás inflamável (biogás) através da

fermentação do esterco animal. O Biodigestor é

uma fonte de energia complementar ou

alternativa, utilizada em substituição à lenha, ao

carvão vegetal e/ou ao Gás Liquefeito de

Petróleo (GLP – gás de cozinha comprado em

botijões), cujo impacto sobre o meio-ambiente

é maior. A utilização do biogás traz importantes

ganhos ambientais, pois reduz a emissão de

gases do efeito estufa e minimiza a pressão sobre o bioma Caatinga, além de representar uma

importante economia para as famílias agricultoras do Sertão do Pajeú pernambucano. O processo

de geração de biogás é simples. Depois de recolhido, o esterco do gado é colocado dentro da

“caixa de carga”, de onde segue para o “tanque de placas”, local em que transforma-se numa fração

gasosa (o biogás), outra líquida, e uma terceira sólida. As duas últimas frações, descartadas através

da “caixa de descarga”, são subprodutos que também podem ser utilizados na fertilização do solo

para agricultura. A tecnologia é implantada através do Projeto NCA Ambiental e Biodigestores,

desenvolvido pela Diaconia em parceria com a Ajuda da Igreja Norueguesa (NCA, sigla em inglês).

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Pernambuco

Realização Apoio

Criação de animais também faz parte do dia a dia do casal de agricultores

Biodigestor de seu Deda e dona Genedite foi construído em agosto de 2011