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Page 1: Tecnologias para o manejo de pragas em sistemas ... · As pragas identificadas são consideradas de grande importância econômica, são recorrentes em vários ciclos de produção,

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Tecnologias para o manejo de pragas em sistemas agroecológicos de Sergipe (1).

Álef Felipe Santos de Jesus(2); Glaucia Barretto Gonçalves(3); Jéssica Fontes

Vasconcelos(2); Maria Fernanda de Menezes Santos(4); Mariana Pereira de

Santana (2).

(1) Trabalho executado com recursos de bolsa de iniciação científica da Coordenação de Pesquisa-COOPES.

(2) Graduando em Engenharia Agronômica; Universidade Federal de Sergipe/UFS; São Cristóvão, Sergipe;

[email protected]; (3)

Professora Dr.ª; Universidade Federal de Sergipe; (4)

Graduanda em Engenharia Agrícola; Universidade Federal de Sergipe.

RESUMO: A inovação tecnológica na agricultura ocorre em resposta às restrições ambientais e concentra esforços na pesquisa de base agroecológica, criando modelos que se adequem as condições de cada propriedade. Buscando colaborar com o fortalecimento da agroecologia em Sergipe, este trabalho teve como objetivo desenvolver métodos adequados ao manejo agroecológico das pragas de maior importância econômica observadas no levantamento de insetos-praga de ocorrência nos sistemas de produção agroecológicos do estado de Sergipe iniciado nos projetos PIBIC 2014 / 2015 e 2015 / 2016. O trabalho foi realizado por meio de visitas as propriedades vinculadas a doze Organizações de Controle Social (OCS) e duas Associações de Produtores Orgânicos cadastradas na CPorg/SE, onde se identificou as pragas de maior importância econômica nos sistemas agroecológicos visitados, que orientou nas escolhas dos métodos mais adequados ao manejo agroecológico dessas pragas e a partir desses dados foram feitas avaliações dos principais métodos de manejo mais adequados para as propriedades visitadas. As principais pragas identificadas nas áreas visitadas, para as quais os agricultores necessitavam de orientação para o manejo foram: Neoleucinodes elegantalis, Tuta absoluta, Myzus persicae, Diabrotica especiosa, Bemisia tabaci. Tendo como métodos de controle recomendados: ensacamento do fruto, extratos botânicos, armadilha luminosa de pano, uso de Trichogramma pretiosum, B. thuringiensis, Metharhizium anisopliae, Beauveria bassiana, e controle cultural. Termos de indexação: Produção agroecológica, Manejo de pragas.

INTRODUÇÃO É considerado agroecológico o sistema de produção agropecuária que respeita a integridade cultural e tem por objetivo a auto sustentação no tempo e no espaço, a maximização dos benefícios sociais, a minimização da dependência de energias não renováveis e a eliminação do emprego de agroquímicos e de outros insumos artificiais tóxicos, de organismos geneticamente modificados (OGM ou transgênicos), ou de radiações ionizantes em qualquer fase do processo de produção, armazenamento e de consumo, e entre os mesmos, privilegiando a preservação da saúde ambiental e humana (BRASIL, 1999).

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Uma das preocupações existentes na ponta da cadeia de produção agropecuária é a utilização indiscriminada de agrotóxicos. Segundo a ABRASCO (2012) em dossiê lançado durante o primeiro congresso mundial de nutrição no Rio de Janeiro, o World Nutrition Rio 2012, alerta que o Brasil ocupa o primeiro lugar no ranking de consumo de agrotóxicos no mundo. Um terço dos alimentos consumidos cotidianamente pelos brasileiros está contaminado pelos agrotóxicos (CARNEIRO et al., 2015). Geralmente o controle de insetos-praga é feito através da aplicação de inseticidas químicos em cobertura, que podem afetar o estabelecimento e o desenvolvimento de inimigos naturais, reduzir a diversidade biológica, desencadear o aparecimento de novas pragas e a ressurgência de pragas secundárias (Santos, 2007). Além de aumentar os custos de produção, o controle exclusivamente com agrotóxicos pode trazer sérios riscos de resíduos no produto colhido e problemas de intoxicação das pessoas envolvidas na aplicação. Visando contribuir com o fortalecimento da agroecologia em Sergipe, o presente trabalho visa avaliar métodos adequados ao manejo agroecológico das pragas de maior importância econômica observadas no levantamento de insetos-praga de ocorrência nos sistemas de produção agroecológicos do estado de Sergipe.

MATERIAIS E MÉTODOS

Identificação das pragas de importância econômica nos sistemas agroecológicos

As pragas de importância econômica nos sistemas agroecológicos foram identificados a partir dos dados do levantamento de insetos-praga de ocorrência nos sistemas de produção agroecológicos do estado de Sergipe, iniciado nos projetos PIBIC 2014 / 2015 e 2015 / 2016. Nos referidos projetos, foram visitadas propriedades agroecológicas indicadas por líderes de associações e Organização de Controle Social (OCSs), selecionados com a colaboração da EMDAGRO e COHIDRO, nas quais havia ocorrência séria de pragas. Nas propriedades rurais se realizaram entrevistas semiestruturadas com os produtores rurais, registro fotográfico de insetos, injúrias, bem como, coletas de amostras de insetos e plantas para diagnose dos problemas.

Investigação de métodos adequados ao manejo agroecológico das pragas de maior importância econômica

A escolha dos métodos se deu a partir das pragas identificadas como ocorrência em maior número nos sistemas de produção agroecológica, sendo relatados por agricultores como recorrentes em vários ciclos de produção e cujos prejuízos financeiros influenciam significativamente a economia das famílias envolvidas, ou ainda, que inviabilizam o cultivo agroecológico de um vegetal de grande demanda comercial serão listados em ordem de importância. Os métodos de manejo agroecológico das populações dessas pragas foram pesquisados na literatura e produtores agroecológicos que conseguiram controlar os surtos. Em seguida, os métodos foram selecionados de acordo com as condições socioeconômicas e climáticas das propriedades rurais afetadas para definição daqueles possíveis de serem utilizados como recomendação.

Realização de avaliações em laboratório e condições seminaturais dos métodos de manejo agroecológico das principais pragas

As avaliações preliminares dos métodos de manejo agroecológico das principais pragas foram realizadas no Laboratório de Ecologia Aplicada (LEAP) do Departamento de Engenharia Agronômica (DEA) da UFS. Foram testados extratos vegetais, feromônios, caldas protetoras, biofertilizantes, bioinseticidas, preparados homeopáticos e demais métodos alternativos. Em seguida, os métodos selecionados em laboratório foram testados em condições seminaturais em um telado (3,0 x 3,0 m) no qual serão instalados vasos com a planta hospedeira da pragaa. Outro telado semelhante abrigará as plantas controle.

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RESULTADOS E DISCUSSÕES

Pragas de importância econômica identificadas

As principais pragas identificadas nas áreas visitadas, para as quais os agricultores necessitavam de orientação e foram escolhidos tecnologias adequadas para seu manejo estão listados abaixo: a. Território Agreste Central

a.1. ASPOAGRE a.1.1. Areia Branca

Cultura do tomate - broca-pequena-do-tomateiro – Neoleucinodes elegantalis (Lepidoptera: Crambidae). a.2. APRAS - Itabaiana (projeto anterior e atual)

Cultura do tomate - traça-do-tomateiro - Tuta absoluta (Lepidoptera: Gelechiidae).

b. Território Sul

b.1. Associação do Assentamento Roseli Nunes – Estância (projeto anterior e atual)

Cultura da couve - pulgão-verde - Myzus persicae (Hemiptera: Aphididae) – e vaquinha - Diabrótica especiosa (Coleoptera: Chrysomelidae).

b.2. Associação do Assentamento Rosa Luxemburgo – Estância

Cultura da rúcula – pulgão das brássicas – Brevicoryne brassicae (Hemiptera: Aphididae).

c. Território Alto Sertão

c.1. Associação de Mulheres de Lagoa da Volta – Porto da Folha (projeto anterior e atual) Cultura da couve – mosca branca – Bemisia tabaci (Hemiptera: Aleyrodidae), pulgão-verde - Myzus persicae (Hemiptera: Aphididae) - e vaquinha - Diabrótica especiosa (Coleoptera: Chrysomelidae).

A partir dos resultados foram feitas avaliações e escolhas dos métodos estratégicos ecológicos que demonstram ser mais eficazes para controle das pragas identificadas nas propriedades para qual demandavam de controle. Assim foram feitos recomendações respeitando as condições financeiras e ambientais de cada propriedade. Levando as seguintes recomendações de acordo com cada cultura: a. Cultura do tomate

a.1. Neoleucinodes elegantalis (broca pequena do tomateiro)

Controle biológico: o uso do inseto-parasitoide Trichogramma pretiosum, em liberações inundativas, e de produtos originados da bactéria B. thuringiensis e de vírus, encontrados no mercado nacional e de grande eficiência.

Controle mecânico: através do ensacamento dos frutos, onde os saquinhos utilizados são de tecidos ou papel, possuindo tamanhos de acordo com as características de cada variedade.

a.2. Tuta absoluta (traça do tomateiro)

Controle mecânico: uso de armadilha luminosa, para atrair os insetos adultos que possuem hábito noturno. Sendo de várias formas e tamanhos, a mais viável para os produtores é armadilha luminosa de pano, consiste em pano branco de algodão com tamanho variável de acordo com as condições da propriedade mais o emprego de uma lâmpada, e suspenso a 0,30 metros do solo.

Controle químico: uso de extratos de castanha de caju (onde se coloca 300gramas de castanha triturada em um 1litro de álcool etílico deixando em repouso durante 15 dias, após repouso diluir 20 ml da solução em 20litros de água e pulverizar sobre a planta).

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Controle biológico: utilização do Baccilus thuringiensis que é um inseticida biológico, para controle que não prejudica os inimigos naturais. Esse inseticida é comercializado com o nome de Dipel e Thuricid.

a. Cultura da Rúcula

b.1. Brevicoryne brassica (pulgão da brássicas)

Controle cultural: utilização de cobertura morta, plantas com atividade repelente, controle de plantas espontâneas que são hospedeiras do pulgão, são métodos muitos eficaz para evitar sua proliferação. O cravo-de-defunto: (Tagetes minuta) ou cravorana (Tagetes sp) silvestre. As plantas inteiras, principalmente no florescimento, são boas repelentes de insetos, usadas em bordadura das culturas.

Controle químico: Uso de estratos botânicos. - Extrato de castanha de caju (onde se coloca 300gramas de castanha triturada em um 1litro de álcool etílico deixando em repouso durante 15 dias, após repouso diluir 20 ml da solução em 20litros de água e pulverizar sobre a planta). - Pulverização na forma de extratos alcoólicos, atuam tanto na ação direta contra as pragas, quanto por “disfarce” das culturas pelo seu forte odor. Fórmula geral: 200 g de planta verde macerados em 1 litro de álcool, deixar descansar por 12 h e depois diluir em 19 litros de água. (20 litros para pulverização).

b. Cultura da couve c.1. Bemisia tabaci (mosca branca)

Controle cultural: eliminação dos restos culturais afim de evitar propagação da praga, rotação de cultura, utilização de plantas repelentes

c.2. Myzus persicae (pulgão verde)

Controle biológico: utilização do fungo Metharhizium anisopliae e Beauveria bassiana. Conhecido comercialmente com os nomes de Metarril e Boveril. Sendo utilizado 3 kg de Boverril em 80 litros de água para 1 ha.

Controle químico: utilização do bioinseticida de sabão e óleo mineral, na proporção de 200 g de sabão neutro + meio litro de óleo mineral + meio litro de água. Preparo: Derreter o sabão na água quente e depois misturar o óleo mineral. Depois de pronto, usar 200 ml da mistura em 20 litros de água, e pulverizar as plantas. Repetir a aplicação a cada 15 dias.

Controle biológico: utilização do Baccilus thuringiensis que é um inseticida biológico, para controle da praga sem causar prejuízos aos inimigos naturais. Esse inseticida é comercializado com o nome de Dipel e Thuricid.

Para melhor atender as necessidades de alguns produtores, está sendo feito a criação do inseto-parasitoide Trichogramma pretiosum no Laboratório de Ecologia Aplicada – LEAP, no Departamento de Engenharia Agronômica, da Universidade Federal de Sergipe, porque tem dificuldades em adquirir estes insetos, por fatores de custo e logística do mesmo.

CONCLUSÕES

As pragas identificadas são consideradas de grande importância econômica, são recorrentes em vários ciclos de produção, cujos prejuízos financeiros influenciam significativamente a economia das famílias envolvidas, ou ainda, inviabilizam o cultivo agroecológico das culturas mencionadas.

Por se tratar de um modelo de produção, onde há restrições para uso de algumas medidas de controle, fica evidente a necessidade de adaptação e melhorias nos métodos de controle (biológico aplicado, químico, mecânico, físico e cultural) para essas propriedades.

As medidas recomendadas devem ser adotas de forma específica para cada propriedade, levando

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em consideração a importância da cultura, tamanho da propriedade, poder aquisitivo do produtor, entre outros. Por isso, está sendo feito criações do inseto-parasitoide Trichogramma pretiosum para distribuição aos produtores.

AGRADECIMENTO

Agradecemos aos agricultores entrevistados por dedicarem seu tempo a pesquisa. Agradecemos também a COOPES pela concessão de bolsas de iniciação científica para realização deste trabalho.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Agricultura. Instrução Normativa N° 007. Normas para produção de produtos orgânicos vegetais e animais. Publicada no Diário Oficial da União, em 17/02/1999, Brasília, n. 94, Seção 1, p. 11. 1999.

CARNEIRO, F. F.; AUGUSTO, L. G. S.; RIGOTTO R. M.; FRIEDRICH, K.; BÚRIGO, A. C. Dossiê ABRASCO: um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde. Rio de Janeiro: EPSJV; São Paulo: Expressão Popular, 2015.

SANTOS, JP. Utilização de feromônio na agricultura. Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.20, n.1, p.10, 2007a.