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TECNOLOGIAS NA EDUCAÇÃO: ENSINANDO E APRENDENDO COM
AS TIC”, DO PROINFO INTEGRADO/SEED/MEC:
ANÁLISE DO MATERIAL DIDÁTICO DESENVOLVIDO PARA O CURSO E
ALGUMAS REPERCUSSÕES EM ESCOLAS
Maria Aparecida Coelho Naves – Mestranda
Vicente Willians do Nascimento Nunes - Mestrando
Alberto José da Costa Tornaghi - Orientador
PPGE/UNES
Eixo 5 – Pesquisa em Pós-Graduação em Educação, Linguagem e Mídias
Categoria - Comunicação
Introdução
O curso em questão faz parte do Programa Nacional de Tecnologia Educacional –
PROINFO, desenvolvido pela Secretaria de Educação à Distância (SEED), por meio do
Departamento de Informática na Educação à Distância (DEIED), em parceria com as Secretarias
Estaduais e Municipais de Educação. É um programa de formação voltado para o uso didático-
pedagógico das TIC no cotidiano escolar, articulado à distribuição dos equipamentos tecnológicos
nas escolas e à disponibilidade de conteúdos e recursos multimídia e digitais oferecidos pelo
Portal do Professor, pela TV Escola e DVD Escola, pelo Domínio Público e pelo Banco
Internacional de Objetos Educacionais. Os cursos oferecidos no programa são: Introdução à
Educação Digital (40h), Elaboração de Projetos (40h) e Tecnologias na Educação: ensinando e
aprendendo com as TIC (100h), foco do estudo.
A duração do curso Tecnologias na Educação: ensinando e aprendendo com as TIC, é de
aproximadamente quatro meses, com carga horária total de 100h. São desenvolvidas quatro
unidades de estudo e prática. Em cada uma, intercalam-se dois encontros presenciais e 16 horas
de trabalho dos professores a serem realizadas em situações mistas: algumas de estudo individuais
e outras a serem realizadas em pareceria com alguns colegas, preferencialmente, nas escolas em
que atuam. Os encontros presenciais que ocorrem entre a conclusão de uma unidade e o início de
outra envolvem dois momentos: a conclusão da unidade anterior com apresentação dos trabalhos
realizados e sistematização do que foi estudado (cerca de três horas) e a apresentação da seguinte
(cerca de uma hora). O curso, disponibilizado no ambiente colaborativo de aprendizagem e-
proinfo, utiliza-se de um guia do formador e um guia do cursista, nesse momento, principal foco
deste artigo.
O estudo teve como base de análise a organização didático-pedagógica relacionada à:
- coerência entre os objetivos e os conteúdos de cada unidade,
- a relação entre a metodologia proposta nas bases e pressupostos colocados no Projeto
Político Pedagógico e a empregada no desenvolvimento de cada unidade e
- a proposta do desenvolvimento do processo de autoria com o uso das Novas
Tecnologias na escola.
A proposta curricular do curso também foi analisada a fim de verificar as correlações
com as teorias educacionais que fundamentaram o curso.
Objetivos
O objetivo geral é investigar como as práticas de autoria propostas no material didático do
curso ―Tecnologias na Educação: Ensinando e Aprendendo com as TIC‖, implicam em produção
e publicação de propostas de ação pedagógica por parte dos professores cursistas, além dos
objetivos específicos:
- Analisar os materiais didáticos desenvolvidos para o curso com vistas a verificar como
sua organização e as atividades propostas fomentam práticas de autoria por parte dos professores
cursistas.
- Determinar os fundamentos pedagógicos que orientam a elaboração dos materiais
didáticos do curso: guia do formador, guia do cursista e material em meio digital, relacionando-os
a prática de autoria.
- Verificar como esses fundamentos se expressam nas atividades propostas no material
didático do curso.
Metodologia
A pesquisa é de natureza qualitativa, semi-estruturada e paticipativa, realizada através de
análise documental. A coleta de dados é realizada através dos materiais didáticos utilizados nos
encontros presenciais, bem como os oferecidos em meio digital durante o curso.
Entre os objetos analisados neste estudo estão:
- Os documentos em meios impresso e digital.
- A metodologia proposta para o curso.
- As atividades propostas.
- Os materiais de leitura e afins (vídeos, etc) e de pesquisa disponíveis para os cursistas.
Além da análise documental é utilizado o método de observação participante, já que esse
pesquisador é inscrito no referido curso como tutora, a fim de participar da dinâmica de aplicação
dos materiais no Ambiente Virtual e-Proinfo.
Desenvolvimento
O guia do Formador1 apresenta, inicialmente, a forma de organização do documento que
está dividido em três partes:
- O Projeto Político Pedagógico,
- Comentários aos textos sugeridos para leitura e das atividades propostas nas unidades e
as Estratégias dinamizadoras para os encontros presenciais.
Na introdução, os organizadores fazem um breve histórico do Proinfo e apresentam o
contexto do surgimento do Programa Nacional de Formação Continuada em Tecnologia
Educacional – ProInfo Integrado, que congrega um conjunto de processos formativos, dentre eles
o curso Introdução à Educação Digital (40h)2, o curso Tecnologias na Educação: ensinando e
aprendendo com as TIC (100h) e a complementação local: projetos educacionais (40h)3.
São apresentados os principais atores envolvidos no processo de capacitação, as formas
de implantação do Projeto e os objetivos do curso Tecnologias na Educação: ensinando e
aprendendo com as TIC que são oferecer subsídios teórico-metodológicos e práticos para que os
professores e gestores escolares possam:
- compreender o potencial pedagógico de recursos das TIC no ensino e na aprendizagem
em suas escolas;
- planejar estratégias de ensino e de aprendizagem integrando recursos tecnológicos
disponíveis, criando situações de aprendizagem que levem os alunos à construção de
conhecimento, à criatividade, ao trabalho colaborativo e resultem efetivamente na construção dos
conhecimentos e habilidades esperados em cada série;
- utilizar as TIC na prática pedagógica promovendo situações de ensino que aprimorem a
aprendizagem dos alunos.
1 portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/materiais/0000011621.pdf
2 O objetivo deste curso é possibilitar aos professores e gestores escolares a utilização de recursos
tecnológicos, tais como: processadores de texto, apresentações multimídia, recursos da Web para
produções de trabalhos escritos/multimídia, pesquisa e análise de informações na Web, comunicação e
interação (e-mail, lista de discussão, bate-papo, blogs). 3 visa capacitar os professores e gestores escolares para que eles possam desenvolver projetos a serem
utilizados na sala de aula junto aos alunos, integrando as tecnologias de educação existentes na escola.
Material Didático disponíveis no endereço:
http://eproinfo.mec.gov.br/webfolio/Mod84666/conteudo/index.html
Do Projeto Político Pedagógico do Curso
Ao apresentar as bases e pressupostos do Projeto Político Pedagógico (PPP) é
inicialmente exposta a organização didática do curso que se divide em níveis organizacional e
operativo. São descritas as formas de organização das turmas e o nível pedagógico/formativo,
onde são apresentados os princípios pedagógicos e teóricos que embasam a proposta do curso. Ele
é descrito no documento como uma organização curricular que estimula o pensamento, a reflexão
e a produção coletivos, em rede, em espaços de colaboração e de participação presenciais e
virtuais planejados especialmente para esse fim.
O referencial teórico do Projeto aponta para uma visão contemporânea de Educação,
fazendo referências ao relatório Delors4 e às mudanças necessárias para a aprendizagem em rede
que envolvem: acesso a diferentes meios de informação e comunicação; atividade do aluno na
produção do conhecimento; interatividade; cooperação; autoconhecimento. O texto ressalta
também diferentes tipos de integração que se impõem estabelecendo relações entre: teoria e
prática; conhecimento prévio e novo conhecimento; pessoal e profissional e indivíduo e grupo
social. As discussões apontam sempre para um necessário repensar na e da ação docente.
Também são esboçados breves conceitos sobre educação à distância (EAD),
familiarizando o formador com as propostas tanto de atividades dos encontros presenciais como
nas atividades a serem realizadas fora dos encontros presenciais e a importância de cada uma
delas, evidenciando a importância de se orientar o cursista quanto a forma de estudo e
acompanhamento do curso, apresentando, ao formador, a necessidade de se inteirar das
contribuições recentes do campo da Psicologia da Aprendizagem.
A proposta curricular do curso apresenta, como base, as noções de subjetividade, isto é,
o protagonismo do aluno e do professor na ação pedagógica, e de epistemologia da prática. É
claramente colocada uma perspectiva construtivista de Educação, considerando as vivências e os
conhecimentos prévios de quem aprende, num processo de simetria invertida que marca a
proposta da formação de professores, para que esses sejam capazes de aplicar em sua prática
pedagógica o que foi aprendido. Isto é, entende-se que aprendizagem consistente decorre de
vivência concreta em processos similiares ao que é proposto.
A matriz curricular do curso é organizada em quatro unidades com os seguintes temas:
4 Foi autor e organizador do relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o
século XXI, intitulado: Educação, um Tesouro a descobrir (1996), em que se exploram os Quatro Pilares
da Educação.
Unidade 1 – Tecnologia na sociedade, na vida e na escola
A primeira unidade tem como objetivo inicial, apresentar e discutir a proposta do curso,
contextualizar a temática Tecnologia na sociedade, na vida e na escola, buscando propiciar
reflexões sobre a identidade do professor, sua prática, a escola e o uso das tecnologias disponíveis
e possibilidades de uso no trabalho por projetos.
Unidade 2: Internet, hipertexto e hipermídia.
Esta unidade tem como objetivos apresentar a Internet como espaço de colaboração e de
publicação (passível de ser espaço tanto para pesquisa como para publicação do que se faz na
escola). Também, os espaços de pesquisa e de colaboração na Internet, os hipertextos como
modalidade típica de registro além de convidar os cursistas a navegar por alguns. Como objetivo
final, pretende provocar o exercício de criação de alguns hipertextos simples, utilizando o editor
de textos do BrOffice, o BrOffice Writer, distribuído junto com o Linux Educacional.
Unidade 3 - Prática pedagógica e mídias digitais
Os objetivos da terceira unidade são os de apresentar algumas possibilidades de
exploração de mídias digitais, e as novas possibilidades pedagógicas que trazem estas mídias,
além dos repositórios de mídia da Internet, em particular, os do MEC. Também, apresentar o
Portal do Professor5 como ambiente em que se podem encontrar sugestões de uso de mídias,
debater formas de uso, bem como colocar disponíveis para terceiros as experiências que os
cursistas vierem a desenvolver, buscando estimular o uso de recursos de autoria em mídias
digitais (programas, equipamentos e linguagens).
Unidade 4 - Currículo, projetos e tecnologia
A última unidade do curso pretende inicialmente, contextualizar o tema de que trata a
Unidade: Currículo, projetos e tecnologias, a partir das contribuições das tecnologias em especial
das tecnologias digitais, no desenvolvimento de projetos em educação. Buscando refletir sobre as
concepções de currículo e sua ressignificação diante das possibilidades de integração da escola
com diferentes espaços de produção de conhecimento, além de levar o cursista a identificar as
características do currículo construído por meio do desenvolvimento de projetos de trabalho, com
o uso de tecnologias.
5 O Portal do Professor, lançado em 2008 em parceria com o Ministério da Ciência e Tecnologia, tem como
bjetivo apoiar os processos de formação dos professores brasileiros e enriquecer a sua prática pedagógica.
Este é um espaço público e pode ser acessado por todos os interessados:
http://portaldoprofessor.mec.gov.br/index.html
Sistema de Acompanhamento
O registro, acompanhamento e monitoramento do curso são realizados pelo formador
através do SIPI - Sistema de Informações do Proinfo Integrado, um sistema de gerenciamento que
permite acompanhar, monitorar e avaliar o desempenho de cursistas, formadores, técnicos e
entidades vinculadas ao Programa.
Dos Comentários dos textos e das atividades propostas nas unidades
Unidade 1
As atividades propostas na primeira Unidade são voltadas para uma espécie de
―Memorial‖ do cursista. As propostas iniciais são um relato sobre ―Quem sou como professor e
aprendiz, usando o editor de textos‖, uma reflexão sobre a identidade do professor e sua própria
identidade. Esta atividade deve resultar em um texto construído em dupla com seu colega de
computador, sendo também proposta a postagem na biblioteca do eproinfo, uma oportunidade de
compartilhamento dos diversos relatos, sendo utilizado com referencial teórico texto do professor
Antônio Nóvoa6 para provocar e contextualizar o tema.
Na terceira atividade da unidade, os cursistas são desafiados a refletir sobre o papel da
escola e da educação diante do panorama desenhado pelas novas tecnologias, buscando subsídios
para isso na entrevista de DOWBOR, L. Educação e Tecnologia7 em vídeo.
Para dar um fecho às reflexões e, ao mesmo tempo, orientar os cursistas para a prática
em suas escolas, a quarta atividade propõe que eles relacionem as tecnologias nelas existentes e
os modos como são utilizadas, registrando as informações e salvando o documento na Biblioteca
do e-ProInfo. Na quinta atividade, pede-se que o cursista analise uma experiência didática na qual
o uso de recursos tecnológicos envolva conteúdos curriculares. Com base nessa análise, deverá
produzir um fichamento a ser salvo na Biblioteca do e-ProInfo, em Material do Aluno. A sexta
atividade propõe um registro crítico no Diário de Bordo sobre o uso das TIC na prática
pedagógica.
Na sétima atividade propõe-se uma pesquisa sobre experiências desenvolvidas por meio
do trabalho por projetos, realizada no contexto da escola. Na última proposta de atividade da
unidade, convida-se o cursista a organizar a divulgação do resultado e a análise dessa pesquisa a
ser apresentada no terceiro encontro presencial.
É possível perceber a coerência entre os objetivos dessa unidade, os conteúdos de ensino
6 http://www.tvebrasil.com.br/salto/entrevistas/
7 http://br.youtube.com/watch?v=szNSCklQnWY.
e as atividades propostas, os cursistas são levados a refletirem sobre sua prática, através de
registros, reavaliar e elaborar propostas de ensino por projetos, socializando e trocando
experiências com seus pares.
Unidade 2
A proposta de atividade inicial dessa unidade é a navegação em hipertexto e discussão
sobre a experiência de navegar livremente. Os cursistas são convidados a construir e publicar um
texto, em duplas, sobre a experiência de navegação com hipertextos. A atividade proposta é uma
navegação pela página da Wikipédia que trata de hipertexto provocando os cursistas a aprender
sobre hipertexto por meio de um hipertexto. Ao terminar, devem escrever e publicar um pequeno
texto relatando suas impressões.
Como proposta seguinte, o cursista é levado a construir um hipertexto, também
publicando e compartilhando com comentários de seus colegas.
Na quinta atividade, o cursista é orientado a construir seu próprio portfólio, no qual
poderá registrar toda a sua produção ao longo do curso e assim, propõe-se que, organizados em
grupos de trabalho formados por colegas da mesma escola, planejem uma atividade para ser
desenvolvida com os respectivos alunos.
A terceira semana de unidade focaliza Internet como espaço de autoria, partindo da
divulgação da experiência de execução e publicação da atividade planejada para explorar os blogs
e fotoblogs.
Na quarta semana, o cursista continua a estudar a Internet como espaço de autoria e de
vida em comunidade virtual, ampliando seu conhecimento sobre formas possíveis de registro de
atividades — um documento digital e um pôster—, focalizando especificamente a atividade
desenvolvida com os alunos.
O enunciado da próxima atividade orienta os cursistas a conectarem (criar links nos
hipertextos que criaram) o relato da atividade planejada com as produções de seus respectivos
alunos, para mostrar os resultados do trabalho. As atividades seguintes são voltadas para a
construção e apresentação de um poster sobre o trabalho realizado.
Pode-se perceber que os objetivos e conteúdos dessa unidade também estão
relacionados, principalmente no que se refere à Internet como espaço de colaboração e de
publicação.
Unidade 3
As atividades propostas nessa unidade estão voltadas para a utilização da Internet na
prática pedagógica, para ampliarem seu conhecimento de repositórios de material digital,
especialmente o Portal do Professor.
Uma das atividades iniciais é o compartilhamento das descobertas, propondo que alguns
colegas se reúnam para apresentarem uns aos outros os objetos que descobriram, classificando-os
segundo os critérios do Portal do Professor. Sugere que façam um documento único, reunindo as
observações de todos. Em seguida, desafia os cursistas a criarem o esboço inicial de uma
atividade com seus próprios alunos, envolvendo uso de objetos em mídias digitais.
É proposta as criação de produtos utilizando o editor de apresentações BrOffice Impress
e explorar uma apresentação animada, assim como a criação de hipermídias utilizando este
utilitário.
A atividade seguinte consiste na criação de um documento descrevendo a atividade que
foi planejada para execução com os alunos. Todos esses trabalhos deverão ser apresentados e
postados no ambiente de compartilhamento para serem analisados e criticados por todos.
Nessa unidade, é possível perceber de forma clara que a proposta de ação coletiva está
presente o tempo todo, valorizando as construções dos cursistas e socializando-as buscando gerar
espaços de colaboração entre os professores, contemplando os objetivos colocados para a
unidade.
Unidade 4
A última unidade do curso provoca os cursistas a pensarem sobre as possíveis mudanças
em seu trabalho pedagógico, propondo o registro de alguma característica das TIC que, no seu
entender, pode trazer significativas contribuições ao integrá-las à sua prática pedagógica.
A atividade seguinte se inicia com uma reflexão sobre uma vivência ou experiência de
trabalho com projetos em sala de aula envolvendo o uso de tecnologias. Em seguida, solicita-se
ao cursista que elabore um texto descritivo, destacando aspectos relacionados aos conteúdos
curriculares e aos recursos tecnológicos trabalhados, de acordo com roteiro apresentando no
próprio material. Nessa atividade serão construídos relatos para socialização de experiências de
uso de tecnologias no currículo. As atividades supõem debates sobre as experiências de seus
membros relacionadas ao uso de tecnologias no currículo.
A atividade seguinte trata de projetos de trabalho em sala de aula com a integração de
tecnologias ao currículo. Nessa atividade está prevista a elaboração de plano de aula para que os
cursistas possam desenvolver projetos de trabalho com o uso de tecnologias.
Na atividade, sugere-se o registro, no ―Fórum, tema: Relato de projetos de trabalho‖, das
atividades desenvolvidas pelos alunos relacionando as estratégias desenvolvidas, os
conhecimentos tratados, atitudes e habilidades mobilizados ou aprendidos e tecnologias e mídias
empregadas. Isto possibilitará a análise e a postagem de comentários sobre os relatos pelos
colegas.
A última atividade sugerida pretende promover o compartilhamento das experiências
adquiridas com colegas de outras turmas e com outros profissionais que utilizam diferentes
estratégias para incorporar tecnologias ao currículo. Os cursistas são estimulados a criar
comunidades de aprendizagem e de prática por meio do Portal do Professor.
Os objetivos da unidade 4 são contemplados no estudo sobre currículo e nas propostas
das atividades apresentadas aqui.
Percebe-se, também, a ocorrência de simetria invertida: os cursistas vivenciam, na
elaboração e aplicação dos projetos de trabalho com o uso das TIC, situações e vivências
similares às que se espera que venham a propor a seus alunos se e quando vierem a lançar mão
das TIC em sua prática profissional.
Das estratégias dinamizadoras
Nessa parte final do documento, são enfocadas algumas técnicas didáticas que visam
auxiliar o formador na condução do curso destinado a cursistas que são gestores e professores e
irão atuar em suas escolas de origem com o objetivo de trabalhar a incorporação das TIC ao
currículo escolar.
Também nessa parte do documento é possível perceber que as propostas de construção
coletiva se fazem presentes, através das atividades de Trabalho em Grupos (TG), ressaltando as
Pedagogias Ativas de cunho contrutivista. Toda produção dos cursistas é socializado com seus
pares fazendo com que a construção de conhecimento se dê, também, através da interação e da
participação coletiva.
São apresentadas várias formas de trabalhos em grupos, com diferentes estratégias
atendendo a objetivos distintos como: a produção de sínteses, a construção de propostas e planos,
a mobilização dos conhecimentos prévios, como no caso do Brainstorming, as que favorecem o
conhecimento mútuo dos membros dos grupos, e o trabalho e a criação coletivas.
As propostas de atividades sinalizam para a construção da autonomia intelectual e
oportunizam ao cursista um espaço de autoria, já que promove a troca de ideias e informações
através dos textos coletivos, mantendo coerência com a proposta pedagógica do curso.
Alguns reflexos em escolas
Através de uma etnografia digital8 analisamos atividades de cursistas do Mato Grosso. A
quantidade de profissionais matriculados no curso TIC 100 horas apresentou-se como um
diferencial do estado em relação aos demais: de acordo com os dados obtidos no site do Proinfo9,
do total de 66.896 profissionais matriculados no curso, 11.735 são do estado de Mato Grosso,
aproximadamente 18% de todos os profissionais matriculados no país.
Uma das fontes dessa pesquisa foi a análise de blogs de escolas e professores.
Entendemos que os blogs são interfaces úteis à proposta de educação voltada para a autoria, tanto
coletiva como individual, já que tem como características:
- Facilidade para a postagem de material em diversos formatos (texto, imagens, vídeos
etc.);
- Possibilidade de compartilhamento, debate e troca de informações;
- Acessibilidade ampla.
O curso fomenta a discussão sobre o uso do blog na educação. É proposto aos
participantes a criação de blogs para que mantenham contato com seus alunos além do horário e
do espaço físico da sala de aula. Sugere-se que esses profissionais incentivem seus alunos a
criarem blogs. A intenção é que tanto professores quanto alunos possam exercitar a autoria
coletiva.
No Mato Grosso, a dinamização do curso levou a que a maioria dos profissionais
criassem blogs para a divulgação dos seus projetos. Embora esses fossem muito bem
desenvolvidos, com recursos diversos e com um bom lay-out, não encontramos comentários de
terceiros entre as postagens. Esses blogs, ainda que revelem atividades incipientes de autoria
individual, não revelavam construção coletiva do conhecimento através da colaboração e troca de
informações.
Analisamos a produção, via Internet, de 108 escolas de um total de 713. Dessas, 61 têm
blog, no entanto, verificou-se que, na maioria das vezes, esse recurso é utilizado apenas como
meio de emissão e não de troca, não encontramos comentários relativos às postagens.
Possivelmente isso revela um aspecto cultural: professores são formados para apresentar
8 Metodologia de pesquisa que usa conceitos da etnografia tradicional no ambiente virtual. É utilizada para
a observação dos espaços digitais 9 Informação disponível no site HTTP://integrado.mec.gov.br/relatorios/estatisticas acessado em 10 de
março de 2011.
informações e o conhecimento historicamente produzido, não para discuti-los e debatê-los.
A título de exemplo, podemos citar o blog publicado em http://matpoetico.blogspot.com
onde se apresenta uma visão lúdica sobre o ensino da matemática. O blog traz diversos recursos
digitais, como o slideshare.
Ao conversar com um dos formadores sobre isso, ele relatou que professores ao lerem as
postagens no blog, quando tinham alguma dúvida sobre o assunto faziam contato por telefone em
lugar de fazer um comentário no próprio blog.
Conclusões
No que se refere à proposta pedagógica do curso, ficam claros, nos materiais didáticos,
os pressupostos que a embasam, sendo coerentes com as atividades propostas nas várias unidades
e com os textos de apoio, com autores contemporâneos, fundamentados pela teoria da construção
do conhecimento e da aprendizagem colaborativa.
Em todas as unidades do curso, especialmente na unidade 2, é possível se perceber as
propostas de produção e de autoria: nelas os cursistas são convidados a produzir textos e a
socializar suas produções, através dos textos coletivos, da troca de ideias e do compartilhamento
de resultados.
Ficou claro que a participação no curso, nas escolas pesquisadas, resultou em mais do
que uma formação meramente técnica, pois os cursistas desenvolveram visão crítica sobre o uso
das TIC e, hoje, apresentam projetos que envolvem alunos no exercício de práticas de autoria em
seu processo de aprendizagem.
Verificou-se que alunos de professores que participaram do curso revelam envolvimento
e entusiasmo com os trabalhos escolares quando esses são realizados pela rede. Um exemplo
ocorreu com uma professora do Estado do Rio de Janeiro: ela relatou que quando solicita aos
alunos que façam os exercícios usando o Google docs, todos respondem algo que não acontece
quando são requisitados no caderno ou em meio impresso.
Fica claro que, ao contrário do que verificamos com grande número de professores, os
alunos se sentem mais estimulados a trabalhar em um ambiente digital e em rede. O curso TIC
100 horas é um curso denso e requer o comprometimento dos participantes.
Chegamos à conclusão que o material disponibilizado e as atividades propostas no curso
possibilitam formação técnica e teórica que capacitam aos profissionais a utilizar as TIC de forma
diferenciada no ambiente escolar. Entendemos também que existe a necessidade de uma mudança
cultural que faça com que professores e alunos deixem de ser apenas reprodutores e possam
exercitar a autoria nos processos de ensino e de aprendizagem.
Referências
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