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TECNOLOGIAS NA EDUCAÇÃO: A FORMAÇÃO DO ALUNO MONITOR NO CONTEXTO DO PROJETO EDIGITAL Maria Lidiana Ferreira Osmundo, Universidade Federal do Ceará Juliana Silva Arruda, Fundação Getúlio Vargas Raquel Santiago Freire, Universidade Federal do Ceará RESUMO No atual contexto, as instituições educacionais enfrentam o desafio de não apenas incorporar as tecnologias digitais na escola, mas de torná-las parte ativa no processo de ensino-aprendizagem e reconhecer que os jovens podem elaborar, produzir e avaliar conteúdos que lhes proporcionam desenvolvimento pessoal e educacional. Com o desenvolvimento de novas metodologias utilizadas no processo de ensino, vê-se cada vez mais a inserção de tecnologias no contexto escolar e em sua rotina como uma forma de relacionar o processo de ensino-aprendizagem com a linguagem utilizada pelos alunos dos dias de hoje. As dificuldades resultantes das mudanças proporcionadas pela inserção das tecnologias digitais no contexto escolar e em sua rotina podem ser amenizadas por uma formação do corpo docente e discente que integre as atividades envolvendo os conteúdos curriculares e o uso de recursos digitais em sala de aula. Nesse contexto, o Projeto EDigital, realizado em uma escola pública no município de Aquiraz, apresentou uma nova proposta de desenvolvimento desse processo, focando as ações não apenas na formação de professores e gestores, mas também na formação de 36 alunos monitores, os quais atuam na escola como agentes facilitadores do trabalho pedagógico em sala de aula, auxiliando outros alunos e professores no uso de ferramentas digitais, como netbooks, incluindo novas tecnologias no currículo escolar, além de desenvolver habilidades profissionalizantes a estes alunos. O presente artigo apresenta de forma mais detalhada como se deu esse processo de formação, desenvolvido por meio da utilização das Tecnologias de Informação e Comunicação, TDIC, como forma de potencializar o processo de ensino-aprendizagem, demonstrando também os resultados desse processo em relação ao desenvolvimento de habilidades técnicas e pedagógicas e autonomia dos referidos alunos, observando as consequências da utilização das TDIC para o aprendizado. Palavras-chave: formação; aluno monitor; tecnologias digitais 1. Introdução A educação no Brasil é marcada por um processo de mudança constante. As tecnologias fazem parte dessa mudança, pois trazem novas formas de representação do conhecimento, da comunicação e, sobretudo, da aprendizagem. Se antes, no modelo tradicional, a aprendizagem se concentrava na figura do professor, hoje, com estudos de vários autores, dentre eles Vygotsky (1994) e Healey (2013), o professor é, além de Didática e Prática de Ensino na relação com a Escola EdUECE- Livro 1 04518

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TECNOLOGIAS NA EDUCAÇÃO: A FORMAÇÃO DO ALUNO MONITOR NO

CONTEXTO DO PROJETO EDIGITAL

Maria Lidiana Ferreira Osmundo, Universidade Federal do Ceará

Juliana Silva Arruda, Fundação Getúlio Vargas

Raquel Santiago Freire, Universidade Federal do Ceará

RESUMO

No atual contexto, as instituições educacionais enfrentam o desafio de não apenas

incorporar as tecnologias digitais na escola, mas de torná-las parte ativa no processo de

ensino-aprendizagem e reconhecer que os jovens podem elaborar, produzir e avaliar

conteúdos que lhes proporcionam desenvolvimento pessoal e educacional. Com o

desenvolvimento de novas metodologias utilizadas no processo de ensino, vê-se cada

vez mais a inserção de tecnologias no contexto escolar e em sua rotina como uma forma

de relacionar o processo de ensino-aprendizagem com a linguagem utilizada pelos

alunos dos dias de hoje. As dificuldades resultantes das mudanças proporcionadas pela

inserção das tecnologias digitais no contexto escolar e em sua rotina podem ser

amenizadas por uma formação do corpo docente e discente que integre as atividades

envolvendo os conteúdos curriculares e o uso de recursos digitais em sala de aula. Nesse

contexto, o Projeto EDigital, realizado em uma escola pública no município de Aquiraz,

apresentou uma nova proposta de desenvolvimento desse processo, focando as ações

não apenas na formação de professores e gestores, mas também na formação de 36

alunos monitores, os quais atuam na escola como agentes facilitadores do trabalho

pedagógico em sala de aula, auxiliando outros alunos e professores no uso de

ferramentas digitais, como netbooks, incluindo novas tecnologias no currículo escolar,

além de desenvolver habilidades profissionalizantes a estes alunos. O presente artigo

apresenta de forma mais detalhada como se deu esse processo de formação,

desenvolvido por meio da utilização das Tecnologias de Informação e Comunicação,

TDIC, como forma de potencializar o processo de ensino-aprendizagem, demonstrando

também os resultados desse processo em relação ao desenvolvimento de habilidades

técnicas e pedagógicas e autonomia dos referidos alunos, observando as consequências

da utilização das TDIC para o aprendizado.

Palavras-chave: formação; aluno monitor; tecnologias digitais

1. Introdução

A educação no Brasil é marcada por um processo de mudança constante. As

tecnologias fazem parte dessa mudança, pois trazem novas formas de representação do

conhecimento, da comunicação e, sobretudo, da aprendizagem. Se antes, no modelo

tradicional, a aprendizagem se concentrava na figura do professor, hoje, com estudos de

vários autores, dentre eles Vygotsky (1994) e Healey (2013), o professor é, além de

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participante do processo ensino-aprendizagem, quem age intermediando esse processo,

se comportando como responsável por alavancar o potencial dos alunos.

No atual contexto, as instituições educacionais enfrentam o desafio de não

apenas incorporar as novas tecnologias na escola, mas de torná-las parte ativa no

processo de ensino-aprendizagem e reconhecer que os jovens podem elaborar, produzir

e avaliar conteúdos que lhes proporcionam desenvolvimento pessoal e educacional.

Estes jovens, por sua vez, nasceram no ambiente tecnológico e são capazes de

manusear máquinas com facilidade e de desempenhar o papel de auxiliar os professores,

durante as aulas, no uso pedagógico das tecnologias, inserindo novas ferramentas no

currículo escolar.

É dentro dessa perspectiva de possibilidades de uso de tecnologias nos

ambientes educacionais que surge o projeto EDigital, resultado do interesse da

Companhia Energética do Ceará - COELCE, em parceria com o Instituto UFC Virtual,

pertencente à Universidade Federal do Ceará. O principal intuito foi realizar um

trabalho de cunho social e educativo que pudesse aliar tecnologia e educação abordando

o tema Sustentabilidade. Para isso, foi necessário desenvolver dois cursos de formação,

um de professores e outro de alunos monitores, nos quais foi possível tornar familiar o

ambiente tecnológico para os envolvidos, promovendo a interação destes com a

tecnologia, tendo netbook como um intermediador e como uma ferramenta de

aprendizagem.

O artigo tem seu foco na formação de alunos monitores, que foi desenvolvida

utilizando as Tecnologias de Informação e Comunicação, TDIC. Dessa forma, o estudo

tem como objetivo descrever os conhecimentos dos alunos antes e depois do curso de

formação, observando as consequências da utilização das TDIC para o aprendizado. O

curso contou com 36 estudantes, pertencentes a uma escola pública das séries finais do

ensino fundamental, em Aquiraz, no Ceará.

2. Referencial teórico

De acordo com Flores (1996) a Informática deve habilitar e dar oportunidade ao

aluno de adquirir novos conhecimentos, facilitar o processo ensino/aprendizagem, e

servir como um complemento de conteúdos curriculares, visando o desenvolvimento

integral do indivíduo. Em virtude disso, será abordado o papel das TDIC na educação,

as dificuldades de incluir tecnologia na escola e a importância do aluno monitor no

contexto escolar.

2.1.Tecnologia na escola

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As tecnologias fazem parte da construção histórica da humanidade. Desde o

início dos tempos o ser humano foi movido pela vontade de construir algo novo e de se

diferenciar dos outros seres vivos pelo seu raciocínio e sua capacidadede se adaptar a

diferentes contextos. O papel das TDIC é de estender as habilidades humanas e ampliar

o potencial de seus sentidos, proporcionando uma maior rapidez e praticidade em suas

tarefas. Com a ajuda das tecnologias, é possível que o homem tenha acesso a

informações sobre lugares antes impossíveis, faça tarefas de forma rápida e tenha

acesso a informações por diferentes meios.

As mudanças constantes no contexto da educação caracterizam-se por uma

valorização da informação. De acordo com Silva & Cunha (2002), na Sociedade da

Informação, existem obstáculos e discussões sobre como fazer com que as pessoas

interajam nesse novo contexto, pois é exigido um profissional com senso crítico, que

possa ser criativo, que tenha a capacidade de pensar e de trabalhar colaborativamente.

Embora a mudança na Educação seja lenta e quase imperceptível (VALENTE, 2002),

ela tem o papel de formar esse profissional e, para isso, não se sustenta apenas no que é

transmitindo do professor para o aluno, mas na construção do conhecimento pelo

próprio aluno, de modo a fazer com que este jovem desenvolva novas competências,

como capacidade de inovar, de criar e de recriar, de se adaptar, além de desenvolver

autonomia e comunicação.

É necessário situar a escola frente às exigências do mundo contemporâneo, pois

os jovens possuem uma relação direta com a tecnologia, porém, os grupos sociais têm

acessos diferenciados. Pretto (1999) afirma que em uma sociedade em que há

diferenças sociais e econômicas - como no Brasil - a escola pública assume o papel de

realizar a inclusão digital para a maioria de seus alunos, onde é possível o acesso aos

laboratórios de informática e à internet de modo igualitário.

Segundo Alonso e Vasconcelos (2012) as TDIC potencializam a socialização e

a colaboração, através do uso das diversas ferramentas de informação e comunicação

disponíveis. Sendo assim, o essencial não são os recursos tecnológicos isolados, e, sim,

as atividades colaborativas que as tecnologias proporcionam. As TDIC, sozinhas, não

modificam a qualidade do ensino e da aprendizagem, mas podem modificar a estrutura

e a dinâmica da realidade escolar. Exemplo disso são os trabalhos desenvolvidos pelo

programa Um Computador por Aluno (UCA), lançado oficialmente em 2007,

beneficiando aproximadamente trezentas escolas públicas com 150.000 laptops

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educacionais, em que ocorre a apropriação dos recursos tecnológicos pelos alunos e

pelos professores de forma processual.

Projetos trabalhados em escolas UCA, tais como "Conhecendo meu bairro", os

alunos pesquisaram sobre seus bairros, utilizando o laptop educacional, estudando

localização, tirando fotos e fazendo um levantamento de todo o processo desenvolvido

através do suporte computacional, comprovam alternativas para o uso de ferramentas

que favorecem a aprendizagem, sendo um recurso significativo no sistema educacional

(AMORIM, et al 2013). São projetos como este que os alunos podem alavancar os seus

conhecimentos e ir além do que é proposto, criando músicas, raps, e conseguindo

ultrapassar o meio estruturado e esquematizado de uma aula.

Observado isso, de acordo com estudos de Castro-Filho e Freire (2007), as

TDIC contribuem na área educacional, pois proporcionam diferentes formas de

comunicação e modos particulares de expressão, ocasionando mudanças na própria

estrutura escolar. Além de serem responsáveis por possibilitar maneiras novas de

expressão, comunicação e linguagem e de criar um contexto propicio para

aprendizagem colaborativa.

Deve-se atentar para o fato de que o professor precisa ter o conhecimento sobre

os potenciais educacionais do computador e ser capaz de incluir, de forma adequada,

atividades que utilizem esta ferramenta de modo a colaborar com o ensino-

aprendizagem. Para que as tecnologias sejam aproveitadas e utilizadas em contextos de

aprendizagem é importante uma formação bastante ampla dos educadores. Não é

apenas criar condições para que o professor exerça domínio sobre o computador ou

sobre o recurso educacional, mas pensar em uma formação que contemple discussões

de como eles podem planejar atividades contextualizadas e também colaborativas

juntamente com os alunos.

A presença do aluno monitor ligado ao professor pode ser uma mudança

pedagógica importante no âmbito da escola, pois, de acordo com Valente (2002), é

necessária a passagem de uma Educação totalmente baseada na transmissão da

informação, na instrução, para a criação de ambientes de aprendizagem nos quais o

aluno realize atividades e faça parte da construção do seu conhecimento.

Dentro dessa nova perspectiva, o aluno é capaz de impulsionar a expansão dos

seus processos de aprendizagem, descobrindo caminhos novos, definindo suas rotas de

aprendizagem, propiciando a reflexão sobre os resultados e buscando novas estratégias

para a geração de conhecimento. E, uma vez produzido e adquirido o próprio

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conhecimento, o aluno monitor tem o papel não somente de auxiliar o professor, mas

também de colaborar para que, em conjunto, por meio da interação, seus colegas de

escola se desenvolvam de modo similar.

3. Contexto do projeto EDigital

O processo de ensino-aprendizagem é favorecido pelo uso das tecnologias

quando estas auxiliam a forma como o aluno representa seu pensamento e se comunica,

proporcionando uma maior facilidade na resolução de problemas, bem como o

desenvolvimento de projetos. Dessa forma, cada vez mais surgem novos trabalhos e

estudos sobre o tema e novos recursos digitais para que os professores possam utilizar

no dia a dia escolar (FERNANDES et al, 2009).

O projeto EDigital alia tecnologia e educação e tem como objetivo promover a

inclusão digital de professores e alunos dentro de um contexto de possibilidades de uso

de tecnologias digitais nos ambientes educacionais. Para isso, foram desenvolvidas duas

formações, a de professores e a de alunos monitores. O programa de formação foi

pensado de modo que os computadores fossem acrescentados ao uso pedagógico na

Escola de Ensino Fundamental Professor Ernesto Gurgel, localizada no município de

Aquiraz com apoio da Universidade Federal do Ceará, Secretaria Municipal de

Educação local e Coelce.

O plano de trabalho pedagógico proposto para o ano de 2013 teve suas ações

programadas para um período de 5 meses, de agosto a dezembro. Durante esse período

foi feito acompanhamento pela equipe de formação da UFC Virtual, visando a

ampliação do trabalho de forma pedagógica com os recursos digitais, integrando-os ao

currículo escolar. O projeto continua em andamento, sem previsão de término.

As atividades realizadas passaram pela formação presencial de professores na

aplicação da tecnologia em sala de aula; formação de grupos de alunos monitores

pautada no protagonismo juvenil e corresponsabilidade pelo projeto; ações para

melhoria da infraestrutura na escola; desenvolvimento do projeto pedagógico com uma

turma do 7° ano utilizando os computadores e as suas ferramentas na construção de

materiais digitais com foco nos conteúdos escolares, desenvolvidos a partir do tema

Energia Elétrica e Sustentabilidade.

O presente artigo terá foco na formação de alunos monitores, relatando as

observações, o resultado de sondagens realizadas, o perfil dos alunos antes e após a

formação e a avaliação de todo o processo vivenciado pelos participantes do estudo.

3.1.Formação do aluno

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A formação de professores impõe, de certo modo, uma nova organização da

rotina de sala de aula, diferindo das aulas ministradas anteriormente, estabelecendo

novas relações entre a teoria e a prática. Esta mudança favorece condições para o

trabalho coletivo e interdisciplinar, possibilitando que o aluno, a cada nova descoberta,

seja de competência técnica ou pedagógica, se situe criticamente na sociedade, na escola

e no espaço tecnológico.

No panorama atual, é notório perceber que houve um grande aumento na

produção das TDIC, e hoje são bem mais acessíveis, ou seja, grande parcela das pessoas

tem acesso a computadores conectados à rede, além de outros recursos, como celulares

e tablets. A grande característica desses recursos é que eles possibilitam uma maior

comunicação entre os usuários, permitindo assim maior interação e troca de informação.

É nessa perspectiva que surge a web 2.0, esse termo não se relaciona apenas com

atualizações técnicas, mas, também, com a forma em que ela é percebida pelos usuários.

A partir desse novo contexto, os sites e os ambientes de aprendizagem deixam de ser

rígidos e se tornam plataformas em que é possível uma maior contribuição e

comunicação entre os usuários, pois há mais liberdade de escrita e colaboração, gerando

interação.

O papel do aluno, dentro dessa tendência colaborativa, ganha uma nova

definição, eles têm a participação ativa na produção de conhecimento, de materiais,

causando mudança na interação aluno-aluno e aluno-professores. Muitas vezes, esses

alunos se comportam de forma mais aprimorada do que os próprios professores, pois

buscam esses tipos de informações com mais habitualidade.

Esta geração já se relaciona com as novas mídias de forma diversa e

já existem sinais de um novo processo de produção de conhecimentos, ainda

praticamente desconhecidos pela escola. (PRETTO, 1999, p. 79)

Como Amiel e Morceli (2007) também “vemos o aluno monitor como uma

intervenção escolar.” O que nos faz acreditar no papel do monitor em uma escola como

peça-chave para a introdução das novas tecnologias.

Com o intuito de contribuir para que educadores se apropriem de novas

tecnologias e para que possam se adequar às novas tendências socais e educacionais

vigentes, temos como uma das soluções possíveis, a formação de alunos monitores.

Quando professores e alunos trabalham juntos, as ações da escola podem ser

melhoradas, de modo a aprimorar a utilização das tecnologias colaborativamente.

Os sujeitos da pesquisa foram 36 alunos, do 6° ao 9° ano, escolhidos para fazer

uma formação de dois meses (outubro e novembro de 2013), contabilizando 20 horas.

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Todos os encontros ocorreram de forma presencial no laboratório de informática, com o

objetivo de capacitar alunos para auxiliar professores na utilização de recursos digitais

em sala de aula. Os alunos foram selecionados pela escola a partir de critérios como

comportamento, boas notas e disposição em ajudar os colegas. Foram abertas duas

turmas, em dois horários, nos turnos manhã e tarde, de forma que os alunos

selecionados pudessem frequentar o curso no contra turno.

No desenvolvimento da formação, foram apresentados diferentes conteúdos,

como conceitos básicos de informática e uso responsável da internet. Além disso, foram

realizadas atividades como criação de textos e pesquisas na web, e atividades básicas

como salvar arquivos no computador ou em pendrives, por exemplo.

No projeto em questão a escola, juntamente com os professores, demonstrou

interesse de fazer com que sua rotina se torne dotada de tecnologia digital. Foi com esse

desejo aliado à facilidade dos alunos de manusear as máquinas, que a formação dos

alunos monitores deu-se início. Essa formação foi planejada para envolver não somente

os docentes, mas também o corpo discente no processo de apropriação dos recursos

digitais, com o intuito de aliar a teoria à prática na escola. Além disso, esses alunos são

capazes de desempenhar o papel de auxiliar os professores no uso pedagógico das

tecnologias, inserindo novas ferramentas no currículo escolar.

Durante a formação foi possível trabalhar criticamente questões relevantes e

atuais sobre assuntos ligados à tecnologia e à Internet, de modo a alcançar os objetivos

planejados. Assim, foram debatidos temas, de forma abrangente, como voluntariado,

segurança e uso responsável da internet, desempenho e ações de competência do aluno

monitor e exploração de recursos e de aplicativos do netbook.

Dentre alguns assuntos discutidos e estudados, foi dada ênfase em: regras e

postura ética do aluno monitor frente aos compromissos assumidos na monitoria; pensar

sobre as informações e as possibilidades oferecidas pela internet; formação em

conceitos básicos de informática, a exemplo da utilização de projetores, caixas de som,

pendrives, aplicativos de escritório, como editores de textos, planilhas eletrônicas,

apresentações com slides e outras ferramentas disponíveis; familiarização com o

netbooks e com recursos digitais da internet; e, por fim, foi possível também

potencializar o protagonismo juvenil, envolvendo o monitor em atividades,pelas quais

ele se tornou corresponsável e agente essencial no desenvolvimento.

No período da formação, em novembro de 2013, houve a XI Feira de Ciência e

Cultura da escola. Com isso, foi pensada em uma forma de os estudantes colocarem em

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prática os assuntos trabalhados até o momento. Eles se dividiram em grupos, composto

por entrevistadores, escritores e fotógrafos, nomeados por eles mesmos, e foi construído

um blog (http://escolaernestogurgelvalente.blogspot.com.br/). Este é totalmente

alimentado, ainda hoje, pelos alunos.

Dessa forma, o blog teve início com a cobertura, em tempo real, das atividades

realizadas durante a Feira Cultural da escola, tendo como temática principal os avanços

tecnológicos nos dias atuais. Com o desdobramento dessa atividade, em 2014, durante

uma visita dos formadores à escola, foi discutido o interesse dos alunos para com o

blog, buscando torná-lo em uma espécie de jornalzinho da escola, relatando os eventos

estudantis, as conquistas de olimpíadas dos alunos e até mesmo algumas notícias do

bairro.

Foi observada a capacidade de intervenção dos alunos nas atividades e a

autonomia dos mesmos. E é dentro desse contexto de redefinições de estruturas na

escola que se propõe apresentar uma investigação dos benefícios trazidos pela formação

de alunos, intitulados alunos monitores, dentro do projeto EDigital.

4. Metodologia

Foi desenvolvida uma metodologia de natureza qualitativa, em que houve

observações durante as aulas, registradas em um diário de campo, e foram realizados

questionários, nos quais os alunos responderam algumas perguntas referentes ao uso de

tecnologias (computador, celular, câmera digital, webcam, aparelhos de mp3 e internet)

no seu cotidiano, onde costumavam utilizar a internet, se trabalhavam com tecnologias

digitais na escola, dentre outras.Estes foram analisados, configurando-se na

interpretação da realidade.

Tomou-se como base os autores Bogdan e Biklen (1994), que definem o estudo

qualitativo como rigoroso e sistêmico, onde as hipóteses e as indagações da pesquisa

surgem no momento em que o estudo se desenvolve, tendo como meta principal a

construção do conhecimento e não somente a emissão de opiniões sobre o contexto.

5. Resultados

A seguir serão apresentados os resultados obtidos no trabalho de formação dos

alunos-monitores do projeto EDigital, objetivando uma apresentação mais detalhada

sobre o perfil dos alunos e as aprendizagens desenvolvidas.

5.1.Perfil do aluno monitor

Dos 36 alunos inscritos para essa formação, 29 realizaram a pesquisa, pois nem

todos estavam presentes, aproximadamente 80% do total. A partir das respostas ao

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questionário, percebeu-se que mais da metade dos alunos (o equivalente a 55%), possui

email, 59% dos alunos possuem computador em casa, e 52% possuem acesso à internet

em suas casas.

Assim, concluiu-se que um pouco mais da metade desses alunos já utilizam a

tecnologia no seu cotidiano, mesmo que, em muitos casos, os usos sejam destinados à

diversão e ao entretenimento. Outra constatação é que, apesar dos alunos conviverem e

utilizarem a tecnologia, poucos fizeram algum tipo de formação voltada para o uso da

mesma, demonstrando ter conhecimento informal, adquirido de forma prática, com a

experimentação.

Os alunos durante a avaliação mencionaram o uso do computador para trabalhos

escolares (13%), apesar de, até o início do projeto, relatarem que não utilizavam o

laboratório de informática da escola.

Por fim, 62% dos alunos disseram estar cientes do papel de monitoria na escola,

demonstrando interesse e motivação em estar participando do projeto. Apresentaram

disponibilidade em ajudar e vontade de enriquecer seus conhecimentos, como vemos

neste depoimento de uma aluna:

Espero tanto aprender quanto ensinar e expandir meus conhecimentos de tal

forma que não surpreenda só os outros, mas a mim mesma. (Informação

verbal).

Por intermédio da formação dos alunos monitores foi viabilizado um meio de

agregar o conhecimento informal dos alunos sobre as tecnologias ao processo de

aprendizagem, dentre outros ganhos secundários que serão apresentados

subsequentemente.

5.2. Avaliação sobre a formação e atividades desenvolvidas

Ao final, foi realizada outra pesquisa, com a intenção de saber se os resultados

esperados pela equipe de formadores foram atingidos. Essa segunda pesquisa contou

com 27 alunos, relatando satisfação, que a formação atendeu às expectativas iniciais.

Uma única aluna expressou descontentamento, mas não declarou o motivo, no entanto,

ela relata ainda que aprendeu a utilizar o editor de texto com segurança, a internet e

outros programas.

Os alunos realizaram uma análise crítica das atividades, sendo capazes de julgar

a necessidade de uma internet com maior qualidade, de um número mais expressivo de

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aulas de monitoria e demonstraram o desejo de estender o projeto para toda a

comunidade local.

Um dos pontos avaliados que recebeu um significativo destaque segundo os

alunos foi a importância de substituir os livros por materiais digitais, como os objetos de

aprendizagem. Desta forma, é possível verificar que os estudantes possuem a concepção

equivocada de que a tecnologia vem substituir o livro didático ou recursos já utilizados

cotidianamente na sala de aula.

Com esta última pesquisa, foi possível afirmar que, ao final da formação, os

alunos mostraram ter conhecimentos sobre o desempenho da função de monitor na

escola, mostrando comprometimento, responsabilidade e motivação em ajudar os

colegas e os professores. Dessa forma, considera-se que a formação foi muito bem

aceita pelos envolvidos no projeto.

6. Conclusões

O cenário educacional inclui diferentes atividades que dependem de vários

fatores para que se desenvolvam: a relação entre alunos e professores; as relações entre

professores e alunos, a metodologia, a concepção de educação e de escola e, no caso, da

inserção das tecnologias, a apropriação técnica e pedagógica.

Diante das demandas e dos interesses citados pelos alunos, o EDigital se

apresentou como uma possibilidade de contemplar os anseios dos envolvidos,

motivando-os a participarem ativamente do seu próprio processo de aprendizagem.

Durante o desenvolvimento do projeto foram observadas transformações satisfatórias

nos alunos monitores. Eles se mostraram comprometidos com o projeto, interessados

nas questões pedagógicas da escola, de modo a auxiliar na utilização e conservação dos

netbooks educacionais e demonstraram competência em atividades interdisciplinares

com o uso da tecnologia. Embora inicialmente tímidos, manifestaram autonomia através

das produções temáticas durante a formação e mostraram bom desempenho em relação

a colaboração entre eles mesmos, comprovando que podem colaborar também com os

demais colegas da escola. Provaram estar abertos a mudanças, ao diálogo e interessados

no novo conhecimento que puderam adquirir durante a formação.

Foi possível notar também o desenvolvimento do senso crítico, revelado através

de suas posturas, seus novos valores, frutos da formação. Pode-se concluir chamando-os

de alunos exemplares, capazes de desenvolver autonomia intelectual e de construir

conhecimentos em equipe, além de se desenvolverem de modo cognitivo, social e

moral.Os alunos apenas demandavam um ambiente com as condições facilitadoras para

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desenvolverem seus potenciais. Ao se proporcionar tal ambiente, por meio da

intervenção realizada pela equipe, foi possível ver aflorar tais habilidades e aptidões até

então latentes.

Propõe-se para pesquisas futuras, com o grupo de monitores, a prática em sala

de aula com atividades planejadas juntamente com os professores para o uso dos

computadores em atividades pedagógicas. E buscando novas formas de explorar a

criatividade dos alunos monitores, será proposta uma oficina de audiovisual, fazendo

com que emerjam novas formas de conhecimentos e ganhem um novo instrumento de

comunicação que lhes proporcione liberdade de expressão, facilitando, inclusive, o

diálogo no ambiente escolar.

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