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Coleção CIEE 86 Tecnologia, Economia e Direito: visão integrada e multissetorial José Dion de Melo Teles

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Coleção CIEE 86

Tecnologia, Economia e Direito: visão integrada e multissetorial

José Dion de Melo Teles

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Tecnologia, Economia e Direito: visão integrada

e multissetorial

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José Dion de Melo Teles

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C389t CENTRO DE INTEGRAÇÃO EMPRESA-ESCOLA - CIEE

Tecnologia, Economia e Direito: visão integrada e multissetorial / Centro de Integração Empresa-Escola – São Paulo : CIEE, 2006. 64 p. (Coleção CIEE ; 86) Palestra proferida por José Dion de Melo Teles durante o “Fórum Permanente de Debates sobre a Realidade Brasileira”, realizado no auditório “Ernesto Igel”, do CIEE, em 19 de abril de 2006.

1. Desenvolvimento econômico - tecnologia 2. Bertelli, Luiz Gonzaga 3. Souza, Paulo Nathanael Pereira de 4. Teles, José Dion de Melo I. Título II. Série

CDU 333.341.1

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SUMÁRIO

A Tecnologia deve ser democrática e social ...Luiz Gonzaga Bertelli

Capacidade de modernização ......................Paulo Nathanael Pereira de Souza

Tecnologia, Economia e Direito: visão inte-grada e multissetorial .................................José Dion de Melo Teles

Debates .....................................................

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A tecnologia deve ser democrática e

social

A tecnologia deve ser democrática e social

LUIZ GONZAGA BERTELLI

Presidente executivo do Centro de Integração Empresa-Escola - CIEE, professor, jornalista, diretor da FIESP e presidente da Academia Paulista de História - APH.

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JOSÉ DION DE MELO TELES

NNão seria novidade alguma dizer que a tecnologia é um dos fatores que contribuíram em maior escala para as mudanças aceleradas que modifi caram os processos

de produção, as relações de trabalho, a forma de organização da sociedade e a maneira do homem se localizar em seu tempo e no seu espaço. Diversos estudos acadêmicos classifi cam o desenvolvimento social mais recente em dois momentos bem defi nidos: o anterior ao que estamos vivendo, chamado de Mo-dernidade, que se consolida a partir da revolução industrial, que transformou o artesanato de pequena escala de produção em estruturas mecanizadas de ampla produtividade. O ciclo atual é denominado por esses estudos como Pós-Moderno ou Contemporâneo e se caracteriza a partir do surgimento de uma

nova revolução, desta vez tec-nológica.

Estudiosos da Pós-Moder-nidade, tais como o professor americano Frederic Jameson, o fi lósofo português Antonio Vieira, o fi lósofo alemão Pe-ter Sloterdijk, o pesquisador argentino radicado no Méxi-co Néstor Garcia Canclini, ou o sociólogo francês Michel Maffesoli, demonstram que a tecnologia é a grande res-ponsável pela mundialização dos sistemas produtivos, da economia e da cultura, não apenas por automatizar as in-

A tecnologia contribuiu paraas mudanças

aceleradas nos processos de produção, nas

relações de trabalho, na organização

da sociedade e na maneira do homem localizar seu tempo

e espaço.

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dústrias e os serviços, mas especialmente por conectar as pessoas e aproximar seus mundos como se fôssemos, de fato, uma só aldeia global, ainda que mantendo algumas peculiaridades locais.

Em linhas gerais, faz-se uma distinção a respeito desse novo período que vi-vemos: o pós-modernismo, mais relacionado às questões estéticas da arte e da cultura; a pós-modernidade, que está focada em um projeto de van-guarda intelectual e política; e a pós-modernização, pautada pelo tecnocentrismo, ou seja, observando a tecnologia como a centralidade da organização do sistema capitalista, respon-sável por uma revolução de hábitos e costumes, aglutinadora da ciência, do conhecimento, da economia e dos direitos do indivíduo e dos grupos.

E aqui está exatamente o foco central apresentado nesta publicação: a pós-modernização. Esse parece ser o caminho inexorável a ser percorrido por todos os países e por todas as sociedades. A tecnologia, quer nós queiramos ou não, quer gostemos ou odiemos, fará cada vez mais o papel de amál-gama entre os agentes sociais e sua produção. Não importa se estejamos falando a respeito de produção industrial, do co-nhecimento agrícola, de serviços ou de relacionamentos. Os aparatos tecnológicos estarão permeando essas relações, apro-ximando por meio dos links, criando distâncias físicas pelo en-

A tecnologia fará cada vez mais o papel de amálgama

entre os agentes sociais e sua

produção.

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O artesanato, nos dias de hoje,

só se justifica na arte e na cultura. Ele não é mais aceitável no mundo corporativo,

na política, na economia,

na justiça.

trincheiramento diante dos mo-nitores, organizando as pessoas em comunidades eletrônicas, ou pulverizando as consciências diante da variedade midiática apresentada aos cidadãos.

A grande questão é que essa realidade inevitável pode ser muito boa, desde que aproveita-da em sua plenitude e dominada pelas organizações, em favor do desenvolvimento da sociedade. Não se pode, nem se deve lutar contra ela. É preciso descobrir

como lutar ao lado dela, tirando-lhe o melhor em benefício da coletividade. Muitas instituições brasileiras, por exemplo, pa-recem viver alheias ao seu tempo, brigando com as mudanças como se elas fossem impiedosamente cruéis e ruins, esquecen-do-se de que a única imutabilidade da vida é que ela é perma-nentemente mutável.

Então, se as mudanças são inevitáveis, é aconselhável rela-xar e aproveitar. Mas aproveitar da melhor maneira possível, colocando a tecnologia a serviço da economia, gerando rique-zas, bem-estar, qualidade, produtividade. O artesanato, nos dias de hoje, só se justifica na arte e na cultura. Ele não é mais aceitável no mundo corporativo, na política, na economia, na justiça. Com o auxílio da tecnologia é possível atender mais pessoas, agilizar processos, minimizar erros, ampliar benefí-cios, garantir os direitos da cidadania à totalidade da popula-ção. Isso é o mais importante ou devemos manter os domínios

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corporativos de castas privilegiadas?Na pós-modernidade, a tecnologia também é aliada da de-

mocracia e da distribuição das conquistas sociais. O cidadão ganha, a sociedade se desenvolve e o país cresce. Por quanto tempo ainda as instituições lutarão contra essa realidade? Já está mais do que em tempo de acordarmos do sonho moderno e passarmos a participar da contemporaneidade de fato e de direito. É o que esperamos despertar em todos com esta pu-blicação, para que o Brasil possa ser cada vez melhor para os brasileiros.

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Capacidade de modernização

Capacidade de modernização

PAULO NATHANAEL PEREIRA DE SOUZA

Presidente do Conselho de Administração do CIEE/SP, do Conselho Diretor do CIEE Nacional, da Academia Cristã de Letras e membro das Academias Paulista de História e Paulista de Educação.

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JJosé Dion de Melo Teles tem uma formação acadêmica primorosa de Engenharia de Eletrônica desenvolvida no Instituto Tecnológico de Aeronáutica, sem dúvida uma

das melhores faculdade de engenharia do País. A partir de sua formatura, em 1963, foi convidado para uma série de ativida-des, sempre ligadas a essa formação acadêmica.

Organizou e presidiu o Serviço Federal de Processamento de Dados - Serpro, a maior empresa pública de prestação de serviços em tecnologia da informação do Brasil, no tempo em que a organização mais cresceu, mas ainda engatinhava nos processos on line, que hoje já são muito mais populares e de-senvolvidos no País. Presidiu, também, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científi co e Tecnológico – CNPq, o gran-de órgão brasileiro de controle, apoio e desenvolvimento das pesquisas universitárias e empresariais. Foi professor associa-do do Cnam – Conservatoire National des Arts et Métiers, de Paris; diretor geral e secretário de modernização do Superior Tribunal de Justiça, em Brasília e, atualmente, é presidente da Innova Tecnologia Inovadora, como o próprio nome indica, uma empresa de inovações, que atua em todo o território na-cional, fundada em Brasília e hoje com sede em São Carlos.

Por isso, o tema abordado por José Dion: “Tecnologia, Eco-nomia e Direito: visão integrada e multissetorial”, sobretudo o papel da inovação na era do conhecimento, ademais de ser familiar ao seu dia-a-dia e às suas preocupações acadêmicas, é um assunto que ele domina profi ssionalmente, na prática.

Há tempos, o Brasil – como a maioria dos países – preocu-pava-se muito com uma pequena coisa que se traduz pela sigla P&D, pesquisa e desenvolvimento, ou seja, pesquisa e criação. Nessa época, os resultados obtidos levavam um período bas-

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Hoje, o que realmente importa

é a integração da pesquisa com

sua aplicabilidade quase imediata;

é a velocidade da Tecnologia a serviço

da economia, do direito, da Educação, do Governo e de

todos os setores que compõem a

sociedade.

tante longo para se ajustarem ao mercado, ou seja, para virarem produto. Logo, o progresso in-dustrial tinha sempre uma servi-dão relacionada com os períodos de maturação da pesquisa para sua aplicabilidade. Porém, com as ligações dos computadores aos satélites e com a globalização das informações e dos processos, isso se tornou apenas passado. Hoje, o que realmente importa é a integração da pesquisa com sua aplicabilidade quase imediata; é a velocidade da Tecnologia a ser-viço da economia, do direito, da educação, do governo e de todos os setores que compõem a so-ciedade, bem como dos sistemas que atuam cientificamente dentro dela.

O Brasil, país dito “emergen-te”, está custando para assumir esta condição: ativar os pro-cedimentos e as tecnologias que conduzam sua sociedade do atraso para o avanço, da pobreza para a riqueza, do subde-senvolvimento para o desenvolvimento. Embora a maior parte da sociedade esteja se conscientizando de que não há como fugir dessa realidade no concerto das nações, o passado ainda tem um peso muito grande sobre o povo brasileiro – peso que amarra e dificulta todas as ações. O Brasil ainda é um dos pou-

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JOSÉ DION DE MELO TELES

O mundo tem outras exigências, que não existiam no tempo em que o

Código foi escrito. É preciso haver uma capacidade

de modernização, muitas vezes à

margem e talvez contra aquilo que no Brasil se consagrou como institucional.

cos países que acredita na capacidade decisória da burocracia e a ela se entrega, praticando assim o abraço mortal do náufrago, que acaba levando para o fundo aqueles que o tentam salvar.

A cultura brasileira acaba sendo muito problemática, por-que é pautada pelos processos mais antigos. Um exemplo clás-sico: no Brasil, o próprio crime depende dos códigos. Se a lei

não disser que tal ato é crime, ele pode ser praticado à von-tade e impunemente, porque aos olhos da lei ele não existe. Ainda recentemente tivemos o desprazer de assistir à prática de vários crimes financeiros, mas como o Código Penal não diz que tirar dinheiro do “Vale-rioduto” é um crime, ninguém será condenado. O próprio presidente da República con-firmou isso: “Não, não existiu crime. Houve um erro, mas é uma prática que o Brasil todo faz...”.

Ocorre que agora o mundo tem outras exigências, que não existiam no tempo em que o Código foi escrito. É preciso haver uma capacidade de mo-

dernização, muitas vezes à margem e talvez contra aquilo que no Brasil se consagrou como institucional.

Esse é um grande alerta para todos que, assim como eu,

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andam angustiados com as causas maiores do nosso subdesen-volvimento. E que, como o professor José Dion de Melo Teles, coloca-se em estado de alerta permanente para as questões pre-sentes no desenvolvimento tecnológico e, conseqüentemente, no crescimento socioeconômico do nosso País.

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Tecnologia, Economia e direito: visão integrada

e multissetorial

JOSÉ DION DE MELO TELES

Ex-presidente do Serviço Federal de Processamento de Dados - Serpro e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científi co e Tecnológico – CNPq e presidente da Innova.

Tecnologia, Economia e Direito: visão integrada

e multissetorial

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IInicialmente, vamos nos concentrar na questão da conver-gência necessária entre o mundo que domina os conhe-cimentos da formulação e modelagem da Economia, o

mundo que pratica, persegue e cria tecnologias, e o mundo do Direito. Pessoalmente, sinto-me afortunado por ter podido percorrer na vida uma trajetória de variados caminhos. Lem-bro que quando assumi o Conselho Nacional de Pesquisas, o antigo CNPq, transformado posteriormente em fundação, ele tinha como missão apoiar, além das ciências chamadas pelos franceses de “ciências duras” – Matemática, Física e Química sobretudo –, também as ciências humanas – a Filosofi a, Socio-logia, Geografi a Humana, as línguas e assim por diante, inclu-sive o Direito.

Quando o CNPq iniciou o fi nanciamento de bolsas de estu-do para Direito ao nível do mestrado e do doutorado, fui con-vidado para dar uma aula magna inaugural no curso de Direito, na Universidade de Brasília. Conhecendo bem minhas limita-ções, vi que não possuía o preparo necessário para ministrar uma aula magna dessa magnitude. Tudo o que podia fazer era apresentar algum problema concreto para ver se, junto com a platéia, era possível levantar soluções para ele. Era a época da crise do petróleo e por todo lado se falava em fontes e formas não-convencionais de energia. Propuz: “Vou sugerir um caso para que vocês me ajudem a construir um caminho de solução para ele, à luz do Direito. Suponhamos que eu tenha um amigo industrial que trabalhe com tecidos e precise muito de água aquecida a altas temperaturas para tingi-los. Ele luta com o grande problema da elevação dos preços do óleo combustível e me perguntou se haveria alguma forma de atenuar o proble-ma. Eu lhe sugeri o uso de telhas coletoras de energia solar no

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Era a época da crise do petróleo e

por todo lado se falava em

fontes e formas

não-convencionais de energia.

teto de sua fábrica. Foi o que ele fez e funcionou, alivian-do a pressão do preço do óleo combustível na composição dos custos dos seus produtos. Ocorre que a seguir a munici-palidade deu concessão para a construção de edifícios muito altos, exatamente na direção da incidência direta dos raios solares. Pronto! Estava posto outro problema, agora de na-tureza não apenas econômica, mas também trabalhista, legal, tecnológica, etc.. Com base em que alegação ele poderia reclamar seu direito à utilização dos ‘seus’ raios solares?”.

Por tratar-se de um problema concreto, o auditório inteiro se agitou, com as citações de ordenações manoelinas (1521-1603) e filipinas (1603-1867), que são compilações de leis portuguesas que vigoraram no Brasil até 1916, quando se deu a promulgação do nosso Código Civil. Surgiram também evo-cações à servidão de passagem (direito de uso de um espaço de passagem para se atingir o seu território particular), entre outros. O tratamento da questão, de fato, virou um brainstorming.

Então, atuei novamente: “Agora, por favor, entendam por-que o CNPq está preocupado em formar uma visão nova do Direito, vis-à-vis com a Sociedade e seus problemas muito atuais. Gostaríamos que, em vez de olharmos pelo retrovisor, em vez de pegar códigos antigos para resolver um problema

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JOSÉ DION DE MELO TELES

A inovação não precisa

necessariamente ser extremamente

elaborada. Muitas vezes é exatamente o

contrário: quanto mais simples, melhor

e menos custosa para implementar.

que se põe à frente, vocês mudassem de atitude: tivessem uma mentalidade mais prospectiva e projetiva e tentassem criar ju-risprudências na mesma dinâmica que a Sociedade pede”.

Essa é uma memória que tenho lá de trás e que evoco para deixar aqui a pergunta: até onde o sistema do Direito Romano-Germânico, que deu origem ao nosso Direito atual, nos blo-queia face à velocidade com que a organização social se mo-difica e cria novas exigências e necessidades? Essa realidade exige uma adaptação do pensamento jurídico, na operação da justiça de um país latino como o Brasil, que já não tem grande relação com a cultura romana e, muito menos, com a germâni-ca em um clima de globalização da economia.

Temos uma dificuldade para entender e valorar a Inovação. Na realidade, ela não precisa necessariamente ser extremamente

elaborada. Eu diria, por exemplo, que há séculos, quando alguém inventou a sela, depois o peitoral do cavalo e outra pessoa inventou o estribo para permitir maior manobrabilidade ao animal, a humanidade entrou em um novo cam-po de desenvolvimento da agricultura, da mobilidade das pessoas e da arte da guerra. Esse é um testemunho de que a inovação não precisa ser complexa. Muitas vezes é exatamente o contrário: quanto mais simples, melhor e menos custosa para implementar. Mas o certo é que ela sempre impacta, cria visões novas, abre horizontes nunca antes imaginados.

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Quem muito contribuiu nesse campo foi Schumpeter, ao criar e conceituar melhor o que se deve entender por inovação, não a confundindo com invenção, nem com evolução. Por falta de referências no passado, a inovação é coisa extremamente di-fícil de explicar e apresentar. Para ilustrar isso, sempre lembro de uma piada, do causo do caboclo que nunca tinha visto uma televisão e quando viu a primeira, na cidade, ficou maravilha-do e só falava dela. Assim, na sua roça, contava que viu a bola de futebol entrar na trave como se estivesse atrás dela. Tanto falou que saturou sua pequena vila. Um dia, alguém tomou uma cachaça a mais e lhe disse: “Olha, nós não agüentamos mais essa conversa. Ou você nos diz direito o que é essa tal de televisão ou eu vou te passar na faca!”. Amedrontado, ele respondeu: “Bem, vocês sabem o que é uma canoa? Responde-ram: “sabemos sim”! – “não tem nada a ver..., respondeu”.

Isto é inovação, que em geral vem acompanhada do proble-ma de se apresentar algo sobre o qual não existe referência no passado; a grande dificuldade de fazer uma sociedade – e so-bretudo os que a dirigem – entender o valor intrínseco daquela novidade. Os diferentes atores que operam em cima disso, que têm participação na sociedade e nos seus desdobramentos, têm dificuldade para fazer-se entender a respeito da sua inovação.

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A Tecnologia deve gerar riqueza

O conhecimento científico é um processo cumulativo. Quem persegue sua perfeição busca o novo. O sonho do cien-tista autêntico é que todos saibam que ele soube primeiro. Este reconhecimento é a sua remuneração, aquilo que o move, a busca da fronteira intocada. Por exemplo, quem maximizou o conhecimento sem cuidar de gerar riqueza a partir deles fo-ram pesquisadores como o Físico Albert Einstein (1879-1955) com sua Teoria da Relatividade, o também Físico dinamar-quês Niels Henrik David Bohr (1885-1962) com sua Teoria do Quantum Atômico, e o britânico George Boole (1815-1864) um grande Matemático que, por divertimento científico, criou

uma matemática com base 2. De-zenas ou centenas de anos depois, essa é a base do funcionamento dos computadores modernos: a aplicação inovadora dos Teoremas de Álgebra de Boole.

Já a geração de riqueza é o terri-tório natural dos empresários. Tra-ta-se da busca de habilidades e de conhecimentos para convertê-los em riqueza. Vejamos o exemplo do Biólogo Louis Pasteur (1822-1895), precursor da Microbiologia e descobridor de vacinas para do-enças infecto-contagiosas: ele en-frentou o desafio de problemas so-

A geração de riqueza é o

território natural dos empresários.

Trata-se da busca de

habilidades e de conhecimentos

para convertê-los em riqueza.

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ciais profundos na área da saúde e desenvolveu vacinas como so-lução. Isso se transformou em um enorme negócio para a indústria farmacêutica, embrionariamente nascida de suas descobertas. Ao mesmo tempo, ele dilatou a fron-teira do conhecimento científico.

Já o autodidata Thomas Alva Edison (1847-1931), entre outras coisas inventor do fonógra-fo e da lâmpada incandescente, o experimentalista italiano Gu-glielmo Marconi (1874-1937), foi pioneiro na transmissão via rádio, ou mesmo o aeronauta brasileiro Alberto Santos Dumont (1873-1932), o primeiro a alcançar a dirigibilidade de balões e a voar em um aparelho mais pesa-do que o ar, utilizaram-se de vários conhecimentos, mas não agregaram valor a eles. Foram grandes inovadores, capazes de compreender as formas de geração de lucratividade econômica ou do impacto social.

Podemos mostrar o esquematicamente atores no criaço e no uso do conhecimento científico por esses pesquisadores e a geração de riqueza financeira que os inovadores obtiveram suas descobertas, por meio do quadro a seguir.

Foram grandes inovadores, capazes de

compreender as formas de geração de

lucratividade econômica ou do impacto social.

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As inovações têm fronteiras, sobretudo a fronteira horizon-tal, que chamemos de eixo “X”, correspondente no quadro à possibilidade de geração de riqueza. Quanto mais à direita, maior a percepção do custo de oportunidade. A fronteira ver-tical, representada pelo eixo “Y”, corresponde ao desenvol-vimento do conhecimento científico. Os grandes empresários, portanto, são aqueles que conseguem aproveitar o conhecimen-to de pesquisadores e dele gerar lucros. Em outras palavras, os que conseguem perceber essa relação constroem grandes pontes entre o conhecimento e a criação de soluções concretas para a Sociedade, com resultados financeiros.

Conhecimento Científico

EinsteinNiels BohrBoole

Geração deRiqueza

Pasteur

EdisonMarconiSantos Dumont

Quadro 1

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Os países que participaram de

guerras e entraram nas duas grandes

convulsões do século passado se obrigaram a dar

saltos gigantescos.

Ainda analisando o Quadro 1, Einstein, Bohr, Boole e Pasteur inovaram e desenvolveram o conhecimento científico de suas épo-cas. A diferença é que a descoberta de Pasteur gerou e ainda gera muitos lucros para a indústria farmacêutica. Por sua vez, Edison, Marconi e Santos Dumont inovaram pouco o conhecimento que já existia, mas com suas invenções muitas organizações também auferiram vultosos lucros, até os dias de hoje.

Chamo a atenção para um aspecto importante: muito se tem comparado o desenvolvimento do Brasil com o da Coréia do Sul, ou do Japão de anos atrás, e até com o da Índia de hoje. Ocorre que a postura dos dirigentes, em função de certos cha-mamentos de suas sociedades, difere profundamente em re-lação à busca e à geração de resultados concretos. É sabido que os países que participaram de guerras e entraram nas duas grandes convulsões do século passado se obrigaram a dar sal-tos gigantescos, sobretudo no domínio de tecnologias associa-das à arte da guerra.

Mas há outra coisa também mui-to relevante: a visão que uma nação constrói da cadeia de atividades que interliga o mercado consumidor, de um lado, a P&D, de outro. No caso da construção civil, por exem-plo (Quadro 2), entre o mercado de imóveis e a pesquisa e desen-volvimento tem que ser criado um conjunto de normas, padrões e pro-cedimentos que reduzam o desper-dício e que gerem uma construção civil robusta, inovando em serviços

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imobiliários, serviços técnicos e financeiros, edificações e cons-truções pesadas, bens de produ-ção e materiais de construção. É necessário que todas estejam em desenvolvimento pensando em uma cadeia contínua e interde-pendente.

Por isso, não sei até onde a Fiesp - Federação das Indús-trias do Estado de São Paulo e os demais atores ao longo dessa cadeia conseguem entender que a representação associativa es-trita está envelhecida porque ela não atua ao longo do processo

econômico. Existem associações concentradas em máquinas e equipamentos, outras centradas em materiais, outras na cons-trução civil e assim por diante. Mas não há um nexo contínuo, uma visão holística contínua do vulto dos montantes que a ca-deia de atividade representa: são bilhões de dólares em jogo. Se isto for reorganizado de maneira inovadora pela visão do Estado e, sobretudo, pela visão da Sociedade Civil, o volume dos recursos para formar jovens para a criação de mais e mais conhecimentos tecnológicos aplicados pode ser multiplicado por um número gigantesco, em progressão geométrica.

Existem associações concentradas

em máquinas e equipamentos,

materiais, construção civil e assim por diante. Mas não há uma visão

holística contínua do que a cadeia de

atividade representa.

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29TECNOLOGIA, ECONOMIA E DIREITO: VISÃO INTEGRADA E MULTISSETORIAL

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O papel do Estado também pode ser muito bem explorado. Jean Jacques Salomon escreveu um livro muito interessante chamado “Lê gaulois, le cowboy et le Samuraï”, no qual ele faz uma reflexão importante. A União Européia (sobretudo liderada pela França), os Estados Unidos e o Japão produziram foguetes lançadores de satélites: alguns com maior interesse militar e os do Japão inteiramente com interesse comercial, social e educa-cional. Por outro lado, cabe refletir sobre a razão pela qual a origem do relógio eletrônico de pulso e da máquina fotográfica

Cadeia de Atividades

Caso da Construção Civil

Mat. de Construção(US$ 10,8 bilhões)

Serviços Técnicos(US$ 6 bilhões)

MercadoConsumidor

Serviços Imobiliários(US$ 4,8 bilhões)

Edificações & Constr.Pesada

(US$ 52,92 bilhões)

Bens de Prod.(US$ 10,8 bilhões)

P&D

Quadro 2

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Do limite extremo da miniaturização aos componentes com o mínimo de

consumo de energia, a inovação japonesa

surgiu estimulada pela relação entre

a Sociedade japonesa e o Estado.

digital é sobretudo japonesa e não americana ou européia, uma vez que a base dessa tec-nologia é a mesma: esforço pela conquista espacial? Do limite extremo da miniaturi-zação aos componentes com o mínimo de consumo de energia, capazes de agüentar condições de funcionalidade sob altas vibrações e extre-mas alterações da tempera-tura, a inovação japonesa surgiu estimulada pela rela-ção entre a Sociedade japo-nesa e o Estado.

Sabe-se também que desde Luis XIV, na França, a Teoria do Arsenal, que propunha o controle total de todas as etapas de produção do poder bélico francês, fez com que o Estado as-sumisse uma formatação autárquica, produzindo sozinho o ca-nhão, a pólvora e outros equipamentos, e daí a razão da criação de um sem número de estatais (como o sistema dos correios, de telefonia, de eletricidade, de estradas de ferro, entre outros). Na América há um meio-termo.

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O Estado é possessivo

Assim, dentro do abraço exclusivista e manipulador do Es-tado, resulta uma dificuldade brutal em transferir para o setor privado o que se cria em seu bojo, especialmente na forma de negócios rentáveis e duradouros. Dentro deste quadro cresce-ram, por exemplo, os tribunais de contas que, em lugar de se constituírem em instrumentos de controle, transformaram-se nos grandes empecilhos ao desenvolvimento do país, porque levantam uma parede enorme que acaba por separar os im-postos pagos pelo Contribuinte e o que o Estado oferece de retorno aos próprios contribuintes, na forma de negócios e de empregos. Os dois, cidadãos e governo, parecem morar no mesmo prédio de apartamentos, mas mal se falam no elevador, não usufruem juntos da área de lazer e, menos ainda, entendem-se nas reuniões de condomínio para definir a aplicação dos fun-dos arrecadados.

Existe um bloqueio enorme e essa forma de agir e pensar no Brasil se parece muito com a que verificamos na França. Já a rela-ção entre o Estado e os empre-sários das grandes corporações japonesas é diretíssima, o que provavelmente aqui seria consi-derado um conluio entre o gover-no e os representantes do capital

Cidadãos e governo parecem morar no mesmo prédio de

apartamentos, mas mal se falam no elevador, não

usufruem juntos da área de lazer e, menos ainda, entendem-se nas reuniões de condomínio para definir os fundos

arrecadados.

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produtivo. Porém, para se alimentar, o japonês tem que vender inteligência aplicada, e ninguém por lá duvida disso. Nisto está a justificativa para que exista uma solidariedade em torno desse tema, que se mantém há centenas de anos. A postura do Estado em relação à Sociedade, de ser criatura e não criador de todas as coisas e conhecimentos, faz uma diferença que se percebe claramente nos resultados alcançados pela nação japonesa.

No cenário atual, por exemplo, é enorme o debate que se trava em torno da TV digital. O fato é que a eletrônica digital colocou de cabeça para baixo uma série de atividades econô-micas. Basta imaginar como está hoje a Kodak com relação às suas máquinas fotográficas e reveladoras de filmes conven-cionais e como estará daqui a algum tempo, diante do surgi-mento da câmera digital, dos celulares, das filmadoras e dos i-Pods com funções fotográficas. E como devem estar as ope-

radoras de telefonia que há pouco eram analógicas e operando com enormes centrais e toda uma estru-tura montada em cima da telefonia fixa, diante de tantas inovações digitais que alteraram o modelo de Graham Bell, como o celular, o MSN, o Skype, entre outras for-mas de comunicação de voz com transmissão sobre uma rede digital da Internet.

Estamos assistindo à completa desestruturação de uma Econo-mia tradicional, que infelizmente não está sendo percebida por boa

No cenário atual é enorme o debate que se trava em

torno da TV digital. O fato é que a

eletrônica digital colocou de cabeça

para baixo uma série de atividades

econômicas.

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parte dos governos de diversos países, em especial o brasileiro. Quando será que os economistas vão entender que a tecnologia não é mais um adereço que funciona aqui e ali como catalisador do processo? A Tecnologia é o pró-prio negócio. Basta que vejamos o exemplo de Bill Gates, funda-dor da Microsoft.

Nesse aspecto é preciso que o Estado, de modo geral, mas tam-bém o tecnólogo e os operadores do Direito compreendam que o mundo atual converge inexoravelmente para uma fusão muito mais holística e, espero, muito mais harmônica que se pensa. Antes de atuar no Superior Tribunal de Justiça - STJ, como diretor geral e secretário de modernização, fui presidente do Serpro e com atual presidente do STJ, Ministro Edson Vidigal, à época funcionário da empresa, levantamos a hipótese de efe-tuar a modernização no sistema eleitoral brasileiro. O Serpro já trabalhava para vários tribunais regionais, mas exclusiva-mente na totalização de mapas de votação por urna. Entendía-mos que era necessário algo de maior profundidade. Quando o Ministro Vidigal atuou como deputado federal pelo Maranhão e assumiu a presidência da Comissão de Ciência, Tecnologia e Telecomunicações, procurou-me e propôs um esforço conjun-to para colocar em prática várias idéias de modernização: ele tentaria ajudar do lado do Congresso e eu, do lado do Serpro.

Foi isso o que fizemos. Demos início a um amplo recadas-

Quando será que os economistas

vão entender que a tecnologia não é mais um adereço

que funciona aqui e ali como catalisador do

processo?

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tramento eleitoral e acabamos com a fotografia no título de eleitor. Como o computador era muito caro à época, não re-comendamos a utilização de urnas eletrônicas, com exceção de colégios eleitorais como os de Copacabana e de São Paulo, onde havia alta densidade populacional. De qualquer forma, a conjugação do interesse no plano legal com a tecnologia gerou uma realidade que culminou com o cenário que temos atual-mente. Ou seja: o Brasil é reconhecido mundialmente por seu desenvolvimento na apuração eletrônica de votos nas eleições para todos os cargos, exportando seu know-how para vários países, inclusive os desenvolvidos. Basta verificarmos que até mesmo nos Estados Unidos, considerados super desenvolvi-dos e de primeiro mundo, o sistema eleitoral é tão arcaico, que no último pleito que elegeu o presidente George Bush não foi possível determinar com precisão se ele de fato havia conquis-tado o maior número de votos, apesar das recontagens solicita-das. No Brasil, isso não acontece mais.

E os operadores da Justiça? Não há como negar que existem certos bloqueios nesse segmento, que possivelmente vão durar uma ou mais gerações, mas que podem ser superados em algum momento da história, desde que se comece a tentar romper essas barreiras. É certo que elas não desaparecerão sozinhas.

Um dos motivos da resistência de alguns setores é a difi-culdade que eles têm de compreender quanto a área do Direito poderia ganhar com a absorção de inovações tecnológicas já disponíveis no chamado “e-Gov” (o governo eletrônico), em uma série de feições da relação do Estado com a Sociedade, que favorecem maior transparência nos atos públicos, redução de custos e maior produtividade.

Conduzido por meu incontrolável espírito de rebeldia e in-

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O Brasil é reconhecido por seu desenvolvimento na apuração eletrônica

de votos nas eleições, exportando seu know-how para vários países.

E a Justiça? Não há como negar que existem certos bloqueios nesse segmento, que podem

ser superados em algum momento da história.

curável inconformismo cons-trutivo diante das dificulda-des, gostaria de propor uma idéia: por que não se modela a relação entre os diferen-tes agentes da sociedade em torno dos problemas do Ju-diciário, com o objetivo de produzir algo realmente ino-vador? Chamaríamos isso de “e-Jus”, a exemplo do já cita-do “e-Gov”.

Conseguimos deixar nas cortes superiores, começan-do pelo Superior Tribunal de Justiça e Conselho da Justiça Federal, um sistema de Cer-tificação Digital. Quando um Juiz precisa de uma declara-ção de bens para seu trabalho, poderá pedir eletronicamente e trabalhar somente com o arquivo digital. Mas, dessa forma, na concepção equivocada e arcaica, “perderia” o papel e seus carimbos. Isso explica porque o sistema, embora implantado, ainda não funcione adequadamente com cem por cento da sua capacidade e possibilidades: as resistências dos profissionais são maiores.

O Advogado poderia, e pode, peticionar - de onde estiver no Brasil, ou mesmo fora dele via internet - um protocolo que pode estar aberto 24 horas por dia e sete dias por semana; como também pode extrair um acórdão no seu computador,

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trabalhar, devolver sua colocação frente ao tribunal ou ao Juiz, sem usar papel. Há hoje sistemas de cobrança da dívida ativa que só materializam o papel porque ainda existe entre nós a figura do meiri-nho colonial, o Oficial de Justiça, que precisa levar o papel a alguém para intimar. Não fosse isso, seria tudo eletrônico.

Essa mesma metodologia im-plantamos no Tesouro, transfor-mando tudo o que é depositado nos computadores da Receita em um ambiente digital, ou seja, ‘booleanamente’codificado na forma digital.

Para os profissionais da justiça, trabalhar com papéis é insano, enquanto se utilizar da tecnologia é indispensável.

Por isso, atrevo-me a fazer uma digressão e uma proposta em cima do que poderia ser um sistema judiciário moderno. Se a visão da sociedade for buscar uma justiça rápida e trans-parente para todos, a missão é modernizar e ampliar geogra-ficamente o Judiciário brasileiro. Ele precisa chegar aos mais distantes rincões para prover justiça ao cidadão a estar incurso dentro de um processo de desenvolvimento socioeconômico sustentável. Por meio da introdução de projetos de Tecnologia da Informação, essa visão se tornará viável e praticável. Não é nenhum salto no escuro. Muitos falam a esse respeito, mas fazer acontecer é um pouco diferente.

Já se discute a informática no Judiciário, mas há outro pro-

Já se discute a informática no

Judiciário, mas há outro problema muito

maior e mais grave, que é o Judiciário

na informática. Sabe-se que os

crimes eletrônicos se multiplicam.

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blema muito maior e mais grave, que é o Judiciário na infor-mática. Sabe-se que os crimes eletrônicos se multiplicam. É preciso então criar todo um processo de análise e jurisprudên-cia adequada. Para o crime contra o consumidor já há legis-lação; mas se for contra o consumidor por via do comércio eletrônico, o Judiciário terá de abraçar uma série de problemas novos que surgirão. Por isso, a expansão geográfica baseada em tecnologias também é uma questão importante a ser con-siderada.

Há também a questão da duração dos mandatos para presi-dir as casas do Judiciário, que é muito curta. A rotatividade é feita a cada dois anos, 96 semanas. Seria preciso um horizonte um pouco mais amplo para que essa evolução pudesse ser ci-mentada e a memória, tanto dos fatos bem-sucedidos, quanto dos mal-sucedidos pudesse ser salvaguardada, a fim de evitar a repetição dos erros. Além do mais, como o Judiciário é um gigantesco arquipélago ao longo dos tribunais de justiça esta-duais e federais, muito do que está acontecendo de bom em um tribunal, não é conhecido em outro. Seria preciso haver uma rótula, um repositório de conhecimento e divulgação dessa me-mória para que o esforço pudesse prosperar continuadamente, transformando o Judiciário em uma moderna organização que aprende, ou como se convencionou chamar no mercado em-presarial, uma learning organization.

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Mente aberta para as parcerias

Os atributos desejáveis para uma grande e proveitosa parce-ria entre a Tecnologia e o Judiciário são:

1. Disponibilizar produtos não proprietários – é importan-te implantar softwares que possam ser utilizados sem o problema da trava e custo dos direitos autorais, que one-raria demasiadamente os orçamentos dos Judiciários no País;

2. Estimular a participação de agentes de inovação tecno-lógica com comprovada competência – há muitos des-ses agentes no Brasil como, por exemplo, o C.E.S.A.R. – Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife, ligado à Universidade Federal de Pernambuco; o IPT - Instituto de Pesquisas Tecnológicas, em São Paulo; a Unicamp – Universidade Estadual de Campinas, tam-bém em São Paulo, idem na UFMG e UFSC e assim por diante. Junto a esses agentes, há pontos de produção de conhecimentos através das chamadas incubadoras, que formam jovens talentosos e que representam grandes promessas para a área jurídica e outras;

3. Capacidade de gerenciamento de projetos complexos – porque não é simples, implantar um projeto dessa mag-nitude, ao longo de um país com dimensões continentais como o Brasil;

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4. Credibilidade junto aos operadores de Direito – também importante, porque se não houver trânsito e diálogo com os operadores, acabará sendo um corpo estranho que se instala e com muitas resistências e o esforço não pros-perará;

5. Conhecimento e competência na implantação de progra-mas focados na Qualidade – no fi m, tudo se resume na qualidade das pessoas que, motivadas, sabem qual é seu papel e que a sociedade as valoriza e lhes dá reconhe-cimento. Essa é a mola mestra de qualquer grande obra humana;

6. Competência organizacional e/ou operacional no aper-feiçoamento dos quadros do Judiciário;

7. Tecnologia de redes de telecomunicações, inclusive no âmbito internacional - porque as precatórias, as rogató-rias e tantos outros processos passarão a funcionar ele-tronicamente e em nível mundial. É preciso constituir um modelo conceitual global em que os diversos atores, em diferentes órbitas, possam interagir e se complemen-tar para atender às necessidades da justiça. É possível que as organizações não-governamentais venham a ser o repositório da memória e as propagadoras das boas práticas na formação de pessoas, com o objetivo da uti-lização cada vez mais avançada dos bons produtos da Tecnologia.

7. Tecnologia de redes de telecomunicações, inclusive no âmbito internacional - porque as precatórias, as rogató-rias e tantos outros processos passarão a funcionar ele-tronicamente e em nível mundial. É preciso constituir um modelo conceitual global em que os diversos atores, em diferentes órbitas, possam interagir e se complemen-tar para atender às necessidades da justiça. É possível que as organizações não-governamentais venham a ser o repositório da memória e as propagadoras das boas práticas na formação de pessoas, com o objetivo da uti-lização cada vez mais avançada dos bons produtos da Tecnologia.

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A tecnologia pode baratear o dinheiro

PIB

CL 113,1 bi

24%

41,2%

9,9%

49,1 bi 63,6 bi

17,3 bi 4,1 bi 50,9 bi 27,4 bi

23.5% 53,9%

31,5 bi

35% 80%

PJ PF

17%

Sem garantia

Custo total dainadimplência

Spread médio 39,9%

spread

Empréstimos

Benefícios Econômicos Potenciais do Programa

A figura anterior mostra um exercício feito com dados do ano de 2003 por economistas. 24% do PIB são movimentos de empréstimos. Desse montante, o crédito livre leva 41%, com um “spread” médio, ou seja, a diferença entre o valor do di-nheiro e o custo pelo qual ele será emprestado, gira em torno de 39%. Isso é custo de verdade e sacrifica empregos e ini-ciativas. Ele é dividido entre pessoas jurídicas - PJ e pessoas físicas - PF, nas proporções de 23,5% e 53,9% do “spread”, respectivamente. São montantes sem garantia. Em 2003, o

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Banco Central dizia que no Brasil 17% do custo do dinheiro são devidos à inadimplência, que está diretamente ligada à in-segurança judicial.

No Estado brasileiro, o poder Executivo satura o poder Ju-diciário de uma maneira atroz, encaminhando um sem núme-ro de Medidas Provisórias, leis complementares, propostas de leis, etc.. A Justiça torna-se lenta por ficar assoberbada e por não ter capacidade técnica e operacional de absorver, entender e internalizar que há soluções tecnológicas que poderiam ser disponibilizadas, seguindo o esquema que apontei anterior-mente. Para isso, muitos parceiros poderiam ser envolvidos, como um consórcio de empresas, a Febraban – Federação Bra-sileira de Bancos, a OAB - Ordem dos Advogados do Brasil, o CPQD - Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomu-nicações, a Fundação Dom Cabral de Minas Gerais, e o Centro de Integração Empresa-Escola - CIEE para, todos juntos, fa-zermos um mutirão realmente focado (não pode ser apenas um exercício acadêmico) na trans-formação do Judiciário. Isso abateria o custo da inadimplên-cia financeira, que não é despre-zível. Estima-se que no chama-do custo Brasil, ou seja, o custo de se produzir qualquer produto ou serviço no País, as operações do Judiciário que são prejudica-das por sua lentidão representam cerca de 3% do total.

Estima-se que no chamado custo

Brasil, ou seja, o custo de se produzir

qualquer produto ou serviço no

País, as operações do Judiciário

representam cerca de 3% do total.

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O quadro anterior mostra, comparativamente com o quadro

apresentado sobre o investimento a ser feito com o BID – Ban-co Interamericano de Desenvolvimento, que se fossem apli-cados cerca de R$ 500 milhões, haveria um retorno em valor presente descontado (valor real menos os juros e taxas) de R$ 5 bilhões. Este seria, sem sombra de dúvida, o melhor setor na sociedade, porque faria um investimento com retorno de fator 10 (R$ 500 milhões X 10 = R$ 5 bilhões)! E ajudaria a cons-truir um país muito mais ágil e confiável. Tudo isso garantido apenas com o investimento tecnológico no Judiciário.

Hipótese: O programa de Modernização do Judiciário irá reduzir em 3 pontos percentuais a responsabilidade da inadimplência no Spread.

R$ 1 bilhão por ano

R$ 5 bilhões

Valor Presente do Custo do Programa

Relação Benefício / Custo

Economia anual

Valor Presente descontado

R$ 521 milhões

10 (aproximadamente)

Custo do Programa (R$ milhões)

Ano

Valor

4 5 6 7 8 9 10

7 185 255 128 128 101 122

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Para isso acontecer, basta um pequeno esforço como o que se está fazendo durante a leitura deste livro: mentalizar que a Tecnologia, o Direito e a Economia são uma coisa só! O Juiz deve entender que, quando julga, ele provoca um impacto na Economia; sobretudo quando não consegue decidir por força da morosidade do sistema. É assustador pensar que apenas 2% do total do tempo de trânsito de um processo estão na mão do Juiz. O restante são tempos de Secretaria com recursos impetrados, papéis sendo carregados, cartorialismo e assim por diante.

Se a Tecnologia adequada fosse aplicada, os juízes passa-riam a ter uma grande capacidade de multiplicação da sua efi-ciência e eficácia e a Economia seria beneficiada (a começar pela taxa dos juros). São ações consagradas e muitos de nós, brasileiros, somos testemu-nhas de que funcionam. Basta observar o sistema eleitoral, o sistema das loterias federais e o sistema de pagamento do Imposto de Renda. Não exis-te em nenhum lugar do mun-do, nem mesmo nos Estados Unidos, um sistema eleitoral, um sistema bancário e um sistema de pagamento de tri-butos desta complexidade. Só para se ter uma idéia, um che-que depositado em um banco americano na Flórida, para ser creditado em uma conta-corrente de Nova Iorque, de-

Se a Tecnologia adequada fosse

aplicada, os juízes passariam a ter uma grande capacidade de multiplicação da sua eficiência

e eficácia e a Economia seria

beneficiada.

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pendendo do seu valor, leva muitos dias para ser compensado. No Brasil isso acontece da noite para o dia, ou de imediato. Outro exemplo atualíssimo é o sistema de Nota Fiscal Eletrô-nica implantado em São Paulo, no qual todos os estabeleci-mentos prestadores de serviços vão emitir suas notas fiscais pela Internet, por meio de um sistema de software que proces-sará em tempo real todas as operações de créditos e débitos de impostos.

Isso significa que somos capazes! Estão faltando mais che-fes de orquestras e entidades aguerridas que deixem um pouco o Estado de lado e atuem. E também que o atrevimento da So-ciedade aumente, porque nossa capacidade de superação é infi-nitamente maior do que pensamos. Lembremos do ‘Apagão’.

Ficam aqui minhas provocações e o meu desejo de que to-dos se mobilizem para obter a modernização da Justiça, e pour cause, da Sociedade já que todos, mais cedo ou mais tarde, dependerão dela para solucionar algumas das suas questões cotidianas.

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NEY PRADOConselheiro do CIEE

Quero ressaltar, tanto a importância do tema tratado, como o desem-penho inovador do palestrante. Não pretendo formular uma pergunta, mas prestar um depoimento a respeito do meu sentimento nos últimos anos, que pode trazer outras luzes para esse tema. Pertenci à Comis-são Afonso Arinos, também chamada Comissão dos Notáveis, que teve como propósito elaborar um anteprojeto para a Constituição que surgiu em 1988. Eu era não só membro, como também secretário-geral, e vivi uma experiência muito rica e ao mesmo tempo muito frustrante, porque verifi quei que os meus colegas, especialmente os juristas, imaginavam que pudessem criar uma ordem jurídica divorciada da Economia, da Tec-nologia, e de outros campos do conhecimento. Escrevi, baseado nessa experiência, um livro que de certa forma é um clássico hoje: “Os notá-veis erros dos notáveis”. Era uma advertência aos constituintes para que não repetissem os erros que nós, os notáveis, havíamos cometido. Não adiantou. Nossa Constituição é realmente muito similar àquele antepro-jeto. Escrevi então outro livro: “Os vícios e virtudes da Constituição”. Estou convencido de que o Brasil hoje sofre de um problema grave, que se não for resolvido, não deixará o país caminhar para o desenvolvimen-to: sua ordem jurídica. A sorte do Brasil, e por isso ele ainda não caiu no caos total, é que embora a Tecnologia seja algo imprescindível, pelo menos hoje ela já existe no judiciário, embora muito incipiente. Mas de certa maneira, conferiu alguma modernização ao nosso processo jurí-dico. O que mais me preocupa, porém, é a mentalidade daqueles que elaboram as leis. Sou também juiz, magistrado aposentado do Tribunal Regional do Trabalho. Minha formação é multidisciplinar. Sempre escrevi mostrando a inter-relação entre a Economia e o Direito, mas os bacha-réis não entendem isso. A maioria dos homens operadores do Direito colocaria o tema da palestra de hoje como: Direito, Economia e Tecnolo-gia. Porque nós aprendemos em nossos cursos de Direito que o Direito cria realidades. Então surge o problema (seja de que natureza for) de na nossa cabeça a solução vir pronta através de mais legislação; e hoje es-

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tamos vivendo um processo que muitos chamam de diarréia legiferante (que faz as leis). Não podemos mais saber o número de novas leis que surgem, nossa Constituição já tem mais de 50 emendas.

RICARDO LEITE ALVES

Autor do livro Algoritmos Genéticos

Gostaria de saber sua opinião sobre a grande reprovação nos exames da OAB – Ordem dos Advogados do Brasil. Há muitos advogados sendo colocados no mercado do trabalho após inúmeras reprovações na OAB. Como fazer uma ponte de raciocínio partindo daí?

JOSÉ DION DE MELO TELES

Há certa inércia cultural que nos faz raciocinar em termos estanques, como se a cultura globalizada não tendesse a horizontalizar o conheci-mento. Na hora em que houver uma postura multidisciplinar, em que o economista entender de Direito e vice-versa, e que o tecnologista tam-bém transitar por essas áreas, teremos um profi ssional de novos hori-zontes e visões, que possivelmente supere as limitações corporativas de hoje com o CREA – Conselho Regional de Arquitetura, Engenharia e Agronomia de um lado, a OAB de outro, etc.. Talvez daqui a 50 anos isso tudo não tenha sentido. Agora, quanto à qualidade do profi ssional, o elevado nível da reprovação é um problema muito grave, que não tenho competência para discutir. Só posso apresentar meu testemunho de professor da Universidade de Brasília, que fui, como também um pouco na França: não se pode nunca abrir mão da qualidade! Educar é uma função extremamente responsável e possivelmente com a maior alavancagem econômica, porque tem todo o horizonte de uma geração à frente. À medida que no Brasil abrirmos mão disso, não teremos ca-pacidade para o avanço, já que a carreira acadêmica acabou virando também degraus da carreira política (muitos reitores se transformaram em ministros, deputados, etc.). A meritocracia, ou a forma de premiar as pessoas por seu mérito, simplesmente tem que ser a única maneira

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S de nos desenvolvermos. Não podemos abrir mão da qualidade! Isso é

tudo que posso dizer.

JOÃO MARCELO M. TELES

Engenheiro de alimentos

Estou tentando entender a abrangência desse tipo de mudança sugeri-da para o Judiciário. Hoje existem vários órgãos reguladores no Brasil, que geram instrumentos normativos como resoluções e portarias para controlar o setor no qual eles atuam. Por exemplo, a Anvisa – Agên-cia Nacional de Vigilância Sanitária sobre a indústria de alimentos e a farmacêutica. Ouvi uma palestra recentemente em que se dizia que o melhor recurso para questionar o conteúdo de alguma lei ou de um instrumento normativo seria um recurso ao Judiciário. Ou, por exemplo, se há uma nova lei que não revoga a antiga, isso acaba gerando um acú-mulo muito grande de instrumentos normativos contraditórios. Assim, eu pergunto se esse ganho de agilidade no Judiciário poderia ajudar a agilizar também outras áreas que fazem parte do Executivo, mas que têm atuação na legislação?

JOSÉ DION DE MELO TELES

Sim, mas é bom voltar a acentuar um ponto. Estou convencido de que no Judiciário reside um foco, um locus, que pode proporcionar um ex-celente nível de retorno à sociedade por meio de investimentos feito nele: a cada real investido voltarão, certamente, no mínimo dez reais. Isso exatamente pela liberação da capacidade de gerar riqueza. Porque quem empreende, quer ter a tranqüilidade de saber que os contratos serão honrados e que o Estado vai comportar-se de maneira adequada e rigorosamente disciplinada. Tive a fortuna, ao longo da minha educação (chamados de ginásio e científi co, à época), de obter alguns conheci-mentos muito esclarecedores para ter idéia do que é um tribunal de júri e de qual é o papel de um jurado, bem como de qual é a hierarquia da Constituição, das leis complementares à Constituição, das leis ordiná-

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rias, depois dos decretos, das portarias, etc.. O que ocorre hoje nesse setor, e sobretudo no setor tributário, é que por instrução normativa a Receita Federal atropela a legislação que está acima, em decorrência entupindo os tribunais.É preciso entender que de um lado há muitos ganhos a serem auferidos no corpo do Judiciário pela adoção de práticas derivadas da Tecnologia, comprovadas em outros lugares. Mas é preciso que o Judiciário seja também aliviado da subversão de outro poder, e sobretudo da exube-rância da produção legislativa que, no entanto, é muitas vezes mal feita. Tomando por exemplo uma lei norte-americana, nota-se que antes ela declina quem são os seus alvos e apresenta um glossário de termos. Já no Brasil, joga-se tudo dentro do próprio texto da lei, agregando incisos e parágrafos mil, tornando tudo muito confuso. E o pior: ao fi nal, pela técnica legislativa, vem o começo do caos com a frase “revogam-se as disposições em contrário”.Imagino o problema nas empresas que enfrentam essa subversão na qual nem o Estado, nem as entidades respeitam a hierarquia das leis. Daí o conse-lho ao qual você se referiu de procurar diretamente o Judiciário. Entretanto, essa alternativa é demorada e muito custosa. Não se procura resolver o pro-blema pela raiz, infelizmente. Toda razão disso está em que a Constituição de 1988 é de certo modo onírica, fantasiosa. Foi feita para um país que não existe no mundo real e prometeu criar uma sociedade que jamais vai existir.

NEY PRADO

Quero fazer um comentário complementar. Essa Constituição deu tudo, da tanga à toga. Todos foram contemplados e, na medida em que isso acontece, ninguém acaba sendo contemplado, pois os direitos se anu-lam. Que ocorre daí? Com todas essas modifi cações, por leis comple-mentares e por emendas, a Constituição brasileira virou um manual de procedimentos. É um vademecum, uma espécie de guia jurídico prático. A carreira do juiz está lá. Está lá também uma série de detalhes e mi-núcias. Então, é impossível dizer hoje onde está o corte entre o nível infraconstitucional e o nível constitucional.

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Exatamente! O STF – Supremo Tribunal Federal está entupido de proces-sos que não deviam estar lá, porque não ferem a Constituição! Lamento que por algum tempo possivelmente todos tenhamos que encarar essa difi culdade, mas estimo que novos caminhos comecem a ser esboçados em reuniões como estas.

NEY PRADO

Eu já não costumo mais perguntar aos amigos “Como você está hoje?”, mas sim, “Qual é seu problema jurídico de hoje?”. Porque todos nós estamos encontrando, diariamente, novos entraves na vida, por força de legislações exuberantes nos três níveis: municipal, estadual e federal, sem contar o ministério público, as auditorias fi scais, etc., que também incomodam a todo instante.

MARIA ÂNGELA BAREA

Economista

O mundo globalizado já não se subdivide: tudo atua de forma dinâmica, interligada e ininterrupta. A Tecnologia só vem colaborar com essa velo-cidade e fl uxo das informações. Por outro lado, sofremos um problema premente na economia: a previdência. Não é só o Brasil que sofre nessa área: todos os países precisam tentar empurrar as atividades trabalhis-tas para idades mais avançadas. E a Tecnologia facilita isso.Há uma faixa de trabalhadores fora de atividade, o que gera uma grande missão para nós. Como sair desse problema complicado, com a utiliza-ção da Tecnologia para solucionar os problemas que aumentam como, por exemplo, o das pessoas que fi cam desempregadas aos 40 e não mais encontram oportunidades, mas que ao mesmo tempo, para a Pre-vidência, deveriam estar trabalhando mais trinta anos?

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Eu devolvo sua intervenção com outra pergunta: o que queremos do Brasil nas próximas duas gerações? Um grande problema que temos vivido, e inclusive fi cou bastante claro na Assembléia Constituinte, é que a visão do nosso político é apenas de uma eleição à frente, enquanto a visão do estadista é de gerações à frente. Estão nos faltando estadistas. Somos órfãos disso!Sua pergunta diz respeito, de um lado, a um fato biológico para o qual a tecnologia tem contribuído muito, fazendo com que as pessoas sejam mais longevas. Os anos de vida aumentaram. Por outro lado, a industria-lização acelerada, a urbanização e o ingresso da mulher no mercado do trabalho levaram a taxas de natalidade diferenciadas, entre o campo, as cidades e os países. A tecnologia busca pessoas preparadas com maio-res níveis de conhecimento. Felizmente, há entidades como o Centro de Integração Empresa-Escola - CIEE que procuram contribuir para minorar esse problema. Ocorre que sofremos um problema estratégico profun-do: faltam estadistas no Brasil. Essa questão está ligada à felicidade humana. Não há sociedade harmônica se não houver pessoas felizes. Nós não estamos cuidando disso com o devido afi nco e seriedade. Sofre-mos a mesmice dos problemas, discutidos como se fossem novos, mas não formulamos uma solução estratégica global responsável, aderente e entusiasmante. O último titã que tivemos por aqui a nos sacudir, a fa-zer-nos acreditar em nós mesmos, foi o presidente Juscelino Kubitschek, construtor de Brasília e autor do plano de crescimento de 50 anos em cinco. De tal modo isso aconteceu, que podemos claramente descrever dois Brasis: antes e depois dele.

NELSON ALVES

Membro honorário do CIEE

Tive grande satisfação em ouvi-lo, sensibilizando-me diante de muitas afi rmações aqui feitas. Quero dizer da propriedade com que tratou do problema do Judiciário. Três poderes constituem a nossa república, que

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S precisam ser harmonizados: o executivo, o legislativo e o judiciário.

A carta magna do País tem defeitos de origem. Para começar, passaram-se 16 anos entre os estudos para a sua elaboração iniciados no período da abertura na década de 70 e o ano de 1988, quando foi promulgada.Sou de opinião que se não começarmos uma reformulação pela base, não iremos reformular nada. O Direito é dinâmico e a lei não existe por si: ela nasce para regular o fato. Só que estamos vivendo isso de maneira invertida: faz-se a lei, erra-se nela e quer-se que o fato venha. Por isso, muita coisa deve ser modifi cada.Suas afi rmações me deixaram apreensivo ao colocar os aspectos da Tec-nologia. O homem tem poder criativo, como foi mostrado com a citação de Edison, de Santos Dumont, de Marconi e, mais recentemente, falecido há pouco mais de 50 anos, do ilustre mestre da tecnologia, o pai da te-oria da relatividade, Einsten. Não fosse aquele incidente dele e talvez a ciência não teria ido tão longe.Há tempos tomei conhecimento de inúmeros projetos e estudos proto-colados junto ao INPI - Instituto Nacional da Propriedade Industrial e ao CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científi co e Tecnológico, hoje Fundação, para que pudessem ser aprovados, incentivados e até mesmo levados à prática. Projetos novos em todas as áreas, particu-larmente de Tecnologia. Gostaria de saber o que está sendo feito no sentido de desenvolver e garantir a patente dessas e outras tecnologias, respeitados os princípios do Direito, para que se aproveitem esses proje-tos e se reconheçam seus autores?

JOSÉ DION DE MELO TELES

Infelizmente não tenho conhecimento tópico do assunto. Mas posso deixar aqui uma constatação. A área dos diretos autorais, seja na indús-tria fonográfi ca, seja na editorial, é exatamente uma das áreas em crise profunda, porque hoje é muito, muito mais fácil produzir livros indepen-dentemente, através da mídia eletrônica. O jornal, o sistema televisivo, a Internet através de blogs, chats, etc. estão criando uma interação for-tíssima entre as pessoas, com o que a questão da patente e do direito

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da propriedade intelectual começa a sofrer percalços. Isso pode tolher investimentos, inclusive esse tipo de apoio. Um dos atributos a que me referi é o não-proprietário. Para que certos benefícios sejam auferidos, é preciso que se tomem alguns cuidados. Por exemplo, se o INQJ - Instituto Nacional de Qualidade Judiciária ajudar a criar um software no Estado do Pará e o disponibilizar também no Paraná, deverá dar à sociedade do Paraná um benefício incorporando o custo da transposição e adaptação; mas o benefício será coletivo.Façamos um exercício na educação. Se em Santa Catarina, através da mídia eletrônica, um professor elaborar um estudo que atraia o interesse do educando para o exercício da química, da física, da cinemática ou de outra área qualquer, essa inteligência se sentirá mais recompensada pela difusão do estudo, pelo reconhecimento público de seu mérito, do que se sentiria Bill Gates na Microsoft em relação ao Windows ou coisa parecida. São mundos que coexistem. No nosso país multifacetado, o avião pode ser uma máquina do tempo que parte do Viaduto do Chá e chega até o local mais recôndito da Amazônia, vôo em que se percorram dez mil ou vinte mil anos... A coexistência do avião e do carro de boi é permitida.Peço um pouco mais de paciência para uma digressão. Sou produto de uma escola, o ITA – Instituto Tecnológico da Aeronáutica, em São José dos Campos / SP, dos idos da década de 40 e de 50, em que um conjunto de visionários resolveu desenvolver gerações capazes de projetar e pro-duzir aviões. Foi trazida para o Brasil uma proposta educacional baseada em créditos, períodos, semi-períodos e cousa e lousa que era uma here-sia, porque em torno dela havia cátedras e catedráticos perpétuos, para toda a vida, etc., um sistema inteiramente francês. É sabido que houve difi culdades nisso. Não se conseguiu convencer o Conselho Federal de Educação da época a aprovar tal heresia. O fato é que o ITA colocou profi ssionais no mercado e que até hoje seu diploma não é registrado no MEC – Ministério da Educação.Bom, agora, vamos dar um salto para hoje: a educação a distância. Um fato inexorável é que as pessoas querem conhecimentos e habilidades e não necessariamente um diploma. Mas a síndrome nacional é do diplo-ma, da corporação de ofício! Quando será que o MEC vai entender que

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S não pode fi car exigindo presença, freqüência, etc.? Uma pessoa pode

aprender o que é logaritmo em 17 minutos e outra em hora e meia, dependendo do background. É uma ferramenta fantástica de aperfei-çoamento das pessoas, onde os abnegados criadores do material didá-tico, não necessariamente voltado para o direito autoral, vão ter uma alavancagem imensa no seu mister de ensinar! Mas vamos entrar em choque com os bloqueios institucionais, as normas e procedimentos da burocracia.Reitero minha opinião de que é preciso, de certo modo, que a sociedade se subverta, lançando-se contra o Estado e que assuma os riscos, como os primeiros formandos do ITA, que apostaram em ser futuros desempre-gados. Ocorre que os pioneiros do ITA criaram uma escola para formar futuros empresários e não futuros empregados. Eles tinham uma visão ambiciosa, de paradigmas novos. É disso que estamos precisando!De onde veio o Brasil? Veio de Portugal, que tinha só uma fonte de for-mação de elites: a Universidade de Coimbra. A estrutura de gestão do império português estava em cima da estrutura do Judiciário, formado por juízes de fora, de relação dos vários juizados e cortes, que nasciam em Coimbra, circulavam no Império e retornavam para o tribunal de relação do Porto ou de Lisboa. Se observarmos as tradicionais cidades coloniais brasileiras, sobretudo em Minas Gerais, vemos que embaixo do prédio principal da Câmara estava a cadeia, porque a cabeça do poder era o juiz. Nas eleições, usualmente o mais votado era o juiz local, justa-mente a cabeça do poder. Lançavam-se tributos e recolhiam-se tributos numa confusão enorme entre os três poderes. Só que no mundo todo a Tecnologia deu ao Executivo uma capacidade que está atropelando os outros dois poderes, por especialização e por instrumentação.Hoje, quando se fala do governo, todos entendemos que se trata de quem? Do Executivo! Há um nítido atrofi smo dos outros poderes. É o governo que está em xeque ou precisamos investir mais no Judiciário e eleger melhor?Outra refl exão, para fi nalizar. Temos em nossa cultura um pouco de pensamento mágico. Acreditamos no Diário Ofi cial. Por quê? Respondo, relembrando quais são as três grandes vertentes da formação cultural brasileira. A primeira veio da Europa, sobretudo da Ibéria. A civilização

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brasileira nasceu em torno da cana-de-açúcar, no Nordeste, em que se fala alcatifa (tapete), alfange (ferramenta de corte de mato em formato de sabre) e alcova (quarto de dormir) – tudo árabe. Na época, a eco-nomia era de troca, não havia moeda. As relações entre os atores da economia e as pessoas eram similares às relações entre um suserano e seu vassalo. Impregnados dessa cultura ibérica, mantivemos subjacente o cartorialismo, o formalismo, etc..A segunda vertente foi do índio, que deu uma contribuição na culinária, bem menor. A terceira foi a contribuição africana, muito mais impressio-nante, devido ao nosso caldeamento e à nossa capacidade sincrética de absorção cultural.O que é o candomblé africano? É uma religião animista, que atribui uma alma a todos os fenômenos naturais, e que tem como o panteão dos gregos o Oxalá (o maior), outros orixás especializados e o Exu, que é o andarilho que está entre a humanidade e os orixás, no Olimpo. Quando um crente do candomblé tem uma atribulação, de amor, de dinheiro, de doença ou do que for, manda sua súplica através do Exu, na encruzilha-da com maior possibilidade de passar. Ele transfere para o metafísico o que devia resolver no físico e sublima o problema. Se tiver contrição, ele será assistido, do contrário não.Será que a nossa Constituição de 1988 não foi um despacho, também, na encruzilhada de Brasília. E o Diário Ofi cial não foi um Exu? Por favor, não levem isso como chacota. Esses atavismos culturais estão dentro do nosso inconsciente coletivo. Vamos ter de fazer muita refl exão em torno do lado positivo da nossa sociedade. O brasileiro é por essência volun-tarista, acredita na novidade, na urna eleitoral eletrônica, no progresso. Nós reconstruímos os Correios - lembram da vergonha que eram? Nós somos capazes! Precisamos nos organizar mais e, sobretudo, precisamos de entidades, na sociedade civil, como o CIEE, porque nós não podemos nos submeter ao pensamento disseminado de que servir o público é mo-nopólio do Estado. Esse pensamento tem que ser debatido e contestado,

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EColeção CIEE-01 (esgotado)Estágio - Investimento ProdutivoPublicação Institucional do CIEE

Coleção CIEE-02 (esgotado)A Globalização da Economia e suas Repercussões no BrasilIves Gandra da Silva Martins

Coleção CIEE-03 (esgotado)A desestatização e seus Reflexos na EconomiaAntoninho Marmo Trevisan

Coleção CIEE-04 (esgotado)Rumos da Educação BrasileiraArnaldo Niskier

Coleção CIEE-05 (esgotado)As Perspectivas da Economia BrasileiraMaílson da Nóbrega

Coleção CIEE-06 (esgotado)Plano Real: Situação Atual e PerspectivasMarcel Solimeo e Roberto Luís Troster

Coleção CIEE-07 (esgotado)Os Desafios da Educação Brasileira no Século XXISimpósio CIEE/O Estado de S. Paulo

Coleção CIEE-08 (esgotado)Os Cenários Possíveis para a Economia em 98Luís Nassif

Coleção CIEE-09 (esgotado)O Fim da EscolaGilberto Dimenstein

Coleção CIEE-10 (esgotado)O Peso dos Encargos Sociais no BrasilJosé Pastore

Coleção CIEE-11 (esgotado)O que esperar do Brasil em 1998Marcílio Marques Moreira

Coleção CIEE-12 (esgotado)As Alternativas de Emprego para o Mercado de TrabalhoWalter Barelli

Coleção CIEE-13 (esgotado)Redução Tributária - Urgência NacionalRenato Ferrari, Alcides Jorge Costa e Ives Gandra da Silva Martins

Coleção CIEE-14 (esgotado)A Contribuição do 3º Setor para o Desenvolvimento Sustentado do PaísSeminário do 3º Setor

Coleção CIEE-15 (esgotado)Os Rumos do Brasil até o Ano 2020Ronaldo Mota Sardenberg

Coleção CIEE-16 (esgotado)As Perspectivas da Indústria Brasileira e a Atual Conjuntura NacionalCarlos Eduardo Moreira Ferreira

Coleção CIEE-17 (esgotado)As Novas Diretrizes para o Ensino MédioGuiomar Namo de Mello

Coleção CIEE-18 (esgotado)Formação de Especialistas para o Mercado GlobalizadoLuiz Gonzaga Bertelli

Coleção CIEE-19 (esgotado)A Educação Brasileira no Limiar do Novo SéculoSimpósio CIEE/O Estado de S. Paulo

Coleção CIEE-20 (esgotado)A Formação da Nacionalidade BrasileiraJoão de Scantimburgo

Coleção CIEE-21 (esgotado)A Educação Ontem, Hoje e AmanhãJarbas Passarinho

Coleção CIEE-22 (esgotado)A Universidade Brasileira e os Desafios da ModernidadePaulo Nathanael Pereira de Souza

Coleção CIEE-23 (esgotado)Os Novos Rumos do Real: Previsões para a Economia Brasileira após a Mudança da Política CambialJuarez Rizzeri

Coleção CIEE-24 (esgotado)Brasil: Saídas para a CriseAlcides de Souza Amaral

Coleção CIEE-25 (esgotado)A Educação e o Desenvolvimento NacionalJosé Goldemberg

Coleção CIEE-26 (esgotado)A Crise dos 500 anos: O Brasil e a Globalização da EconomiaRubens Ricupero

Coleção CIEE-27 (esgotado)A Língua Portuguesa: Desafios e SoluçõesArnaldo Niskier, Antonio Olinto, João de Scantimburgo, Ledo Ivo e Lygia Fagundes TellesSimpósio CIEE/ABL

Coleção CIEE-28 (esgotado)Propostas para a Retomada do De-senvolvimento Sustentável NacionalJoão Sayad

Coleção CIEE-29 (esgotado)O Novo Conceito de FilantropiaII Seminário do 3º Setor

Coleção CIEE-30 (esgotado)As Medidas Governamentais de Controle de PreçosGesner de Oliveira

Coleção CIEE-31 (esgotado)A Crise Brasileira: PerspectivasAntônio Barros de Castro

Coleção CIEE-32 (esgotado)O Futuro da Justiça do TrabalhoNey Prado

Coleção CIEE-33 (2ª ed./esgotado)Perspectivas da Economia e do Desenvolvimento BrasileiroHermann Wever

Coleção CIEE-34 (esgotado)O que esperar do Brasil na Virada do SéculoEduardo Giannetti

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Coleção CIEE-35 (esgotado)O Ensino Médio e o Estágio de EstudantesRose Neubauer

Coleção CIEE-36 (esgotado)Perspectivas da Cultura BrasileiraMiguel Reale

Coleção CIEE-37 (esgotado)Política Pública de Qualificação ProfissionalNassim Gabriel Mehedff

Coleção CIEE-38 (esgotado)Perspectivas da Economia Brasileira para Além da ConjunturaGustavo Franco

Coleção CIEE-39 (esgotado)As empresas e a Capacidade Competitiva BrasileiraEmerson de Almeida

Coleção CIEE-40 (esgotado)A Globalização e a Economia BrasileiraAntônio Carlos de Lacerda

Coleção CIEE-41 (esgotado)A Dignidade Humana e a Exclusão SocialIII Seminário do 3º Setor

Coleção CIEE-42 (esgotado)Recomendações para a Retomada do DesenvolvimentoAloizio Mercadante

Coleção CIEE - Especial (esgotado)Guia Prático do CADEA Defesa da Concorrência no Brasil

Coleção CIEE-43 (esgotado)O CADE e a Livre Concorrência no BrasilSeminário CIEE/Correio Braziliense

Coleção CIEE-44 (esgotado)Profissões em Alta no Mercado de TrabalhoLuiz Gonzaga Bertelli

Coleção CIEE-45 (esgotado)Democracia no Brasil: Pensamento Social, Cenários e Perfis PolíticosGaudêncio Torquato

Coleção CIEE-46 (esgotado)Necessidades Profissionais para o Século XXINorberto Odebrecht

Coleção CIEE-47 (esgotado)O Trabalho no Brasil: Novas Relações X Leis ObsoletasAlmir Pazzianotto Pinto

Coleção CIEE-48 (esgotado)O Futuro da Aviação Comercial no BrasilOzires Silva

Coleção CIEE-49 (esgotado)Desafios da Economia Brasileira e suas Perspectivas para 2001Clarice Messer

Coleção CIEE-50 (esgotado)O Brasil no Terceiro MundoCristovam Buarque

Coleção CIEE-51 (esgotado)O Mercado de Capitais no BrasilDesafios e Entraves para seu DesenvolvimentoHumberto Casagrande Neto

Coleção CIEE-52 (esgotado)O Voluntariado no BrasilIV Seminário do 3º Setor

Coleção CIEE-53 (esgotado)Revolução de 32: Um Painel HistóricoSimpósio CIEE/APH/IRS

Coleção CIEE-54 (esgotado)Os Reflexos da Economia Global no Desenvolvimento BrasileiroLuciano Coutinho

Coleção CIEE-55 (esgotado)As Condições Necessárias para o Brasil CrescerDelfim Netto

Coleção CIEE-56 (esgotado)Globalização e Hipercompetição: A Sociedade das Organizações e o Desafio da MudançaThomaz Wood Jr.

Coleção CIEE-57 (esgotado)Desenvolvimento Social, Previdência e Pobreza no BrasilRoberto Brant

Coleção CIEE-58 (esgotado)A Paixão pela PoesiaArnaldo Niskier, Carlos Nejar, Ledo Ivo, Lygia Fagundes Telles e Mário Chamie

Coleção CIEE-59 (esgotado)Rumos da Educação no BrasilSimpósio CIEE/O Estado de S. Paulo

Coleção CIEE-60 (esgotado)Reforma Tributária: Solução ou Panacéia?Osíris de Azevedo Lopes Filho

Coleção CIEE-61 (esgotado)Os Atentados em Nova York e os Interesses Internacionais do BrasilFlávio Miragaia Perri

Coleção CIEE-62 (esgotado)Lei de Responsabilidade Fiscal: Esperanças e DecepçõesDiogo de Figueiredo Moreira Neto

Coleção CIEE-63 (esgotado)A Saúde no Novo Conceito de FilantropiaAntônio Jacinto Caleiro Palma

Coleção CIEE-64 (esgotado)Fundamentos da Política Econômica do Governo LulaGuido Mantega

Coleção CIEE-65 (esgotado)O Banco Central e a Defesa da Concorrência no Mercado FinanceiroGustavo Loyola

Coleção CIEE-66 (esgotado)Enxergando o Amanhã com os olhos de HojeGaudêncio Torquato

Coleção CIEE-67 (esgotado)Juventude, Escola e EmpregabilidadeV Seminário do 3º Setor

Coleção CIEE-68 (2ª Edição)Educação: Velhos Problemas, Novas (?) SoluçõesPaulo Nathanael Pereira de Souza

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Coleção CIEE-69 (esgotado)Cobrança de Impostos Ameaça o Futuro da FilantropiaVI Seminário do 3º Setor

Coleção CIEE - Especial (esgotado)2ª Ed. revista e ampliada Guia Prático do CADEA Defesa da Concorrência no Brasil

Coleção CIEE-70 (esgotado)A Importância do Estágio na Formação do Aluno do Ensino MédioAntônio Ruiz Ibañez

Coleção CIEE-71 (esgotado)Antônio Cândido, Guerreiro da Educação - Prêmio Professor Emérito 2003CIEE/O Estado de S. Paulo

Coleção CIEE-72 (2ª edição)Educação e SaberPaulo Nathanael Pereira de Souza

Coleção CIEE-73 (esgotado)O Pressuposto da Ética na Econo-mia, nas Empresas, na Política e na SociedadeRuy Martins Altenfelder Silva

Coleção CIEE-74 (esgotado)EmpregabilidadeVII Seminário CIEE - Gazeta Mercantil do 3º Setor

Coleção CIEE-75 (esgotado)AnalfabetismoProposta para a sua ErradicaçãoJorge Werthein

Coleção CIEE-76Educação, Estágio e Responsabilidade Fiscal das PrefeiturasIves Gandra da Silva Martins, Marcos Nóbrega, Luiz Gonzaga Bertelli e Paulo Nathanael Pereira de Souza

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EColeção CIEE-77 (esgotado)Valorização ImobiliáriaNelson Baeta Neves

Coleção CIEE-78 (esgotado)As metas inflacionárias no BrasilPaulo Picchetti

Coleção CIEE-79 (esgotado)A qualidade dos estágios e sua importância socioprofissionalSeminário CIEE-SEMESP

Coleção CIEE-80 (esgotado)Desafios da administração de uma grande metrópole (São Paulo)Walter Feldman

Coleção CIEE-81 (esgotado)A realidade educacional brasileira e o desenvolvimento do PaísRoberto Cláudio Frota Bezerra

Coleção CIEE-82 (esgotado)Os entraves para o desenvolvimento nacional e as recomendações para sua superaçãoAbram Szajman

Coleção CIEE-83O cenário econômico latino-americano e seus reflexos no mercado acionárioAlfried Karl Plöger

Coleção CIEE-84Jornalismo político: uma visão do BrasilMurilo Melo Filho

Coleção CIEE-85A política monetária brasileira e seus reflexos no desenvolvimento do paísJosué Christiano Gomes da Silva

Coleção CIEE-86Tecnologia, Economia e Direito: visão integrada e multissetorialJosé Dion de Melo Teles

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Tecnologia, Economia e Direito: visão integrada e multissetorial

José Dion de Melo Teles

Textos e debates extraídos da palestra proferida em 19 de abril de 2006, no auditório Ernesto Igel,

em São Paulo/SP.

Planejamento e produção editorialPIC - Marketing Editorial e Comunicação

Coordenação EditorialRenato Avanzi

CapaCarlos Eugênio Malfatti Jr

Foto CapaStock Photos

Diagramação e ArteEdith M. Schmidt

TaquigrafiaOswaldo Chiquetto

Impressão????

Editado porCentro de Integração Empresa-Escola - CIEE

Rua Tabapuã, 540 - Itaim BibiSão Paulo/SP - CEP 04533-001

Telefone do Estudante: (11) 3046-8211Atendimento às Empresas: (11) 3046-8222

Fax: (11) 3040-9955www.ciee.org.br

Permitida a reprodução total ou parcial, desde que citada a fonte.

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CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO(Mandato de 16/4/2006 a 15/4/2009)

PresidentePaulo Nathanael Pereira de Souza

Vice-PresidentesRuy Martins Altenfelder SilvaAntonio Jacinto Caleiro PalmaWalter Fanganiello Maierovitch

ConselheirosAntonio Penteado MendonçaJosé Augusto MinarelliOrlando de Almeida Filho

FUNDADORES

Aloysio Gonçalves MartinsClóvis DutraGeraldo Francisco ZivianiJosé Franklin Veras ViégasMario AmatoPaulo Egydio MartinsTérbio de Mattos

PRESIDENTE EXECUTIVO

Luiz Gonzaga Bertelli

Adhemar César RibeiroAlcides AmaralAna Maria Vilela IgelAntoninho Marmo TrevisanAntonio Garbelini JúniorChristina Carvalho PintoÉlcio Aníbal De LuccaGaudêncio TorquatoGesner de OliveiraHermann Heinemann WeverIvette Senise FerreiraJoão Guilherme Sabino OmettoJoão Monteiro de Barros Neto

CONSELHO CONSULTIVO

CONSELHO FISCAL

TitularesCésar Gomes de Mello (coord.)Humberto Casagrande NetoNorton Glabes Labes

PRESIDENTES EMÉRITOS

Alex PeriscinotoAntonio Jacinto Caleiro PalmaHerbert Victor Levy FilhoJoão Baptista Figueiredo Júnior

MEMBROS HONORÁRIOS

Amauri Mascaro NascimentoAntonio Candido de Mello e SouzaAntônio Hélio Guerra VieiraClarice MesserDorival Antônio BianchiEsther de Figueiredo FerrazGuilherme Quintanilha de AlmeidaJarbas Miguel de Albuquerque MaranhãoJoão Geraldo Giraldes ZocchioJoão Monteiro de Barros FilhoJosé Feliciano de Carvalho

Joaquim Pedro Villaça de Souza CamposLiz Coli Cabral NogueiraMarcos TroyjoNey PradoOzires SilvaRicardo MelantonioRogério AmatoSebastião MisiaraTácito Barbosa Coelho Monteiro FilhoWander SoaresWilson João ZampieriYvonne Capuano

SuplentesLuiz Eduardo Reis de MagalhãesRoberto Cintra LeiteSidney Storch Dutra

José PastoreLaudo NatelLeonardo PlacucciLuiz Augusto Garaldi de AlmeidaLuiz V. DécourtNelson AlvesNelson Vieira BarreiraPaulo Emílio VanzoliniPaulo Nogueira NetoRuth CardosoRuy Mesquita

Júlio César de MesquitaLaerte Setúbal FilhoPedro Luiz de Toledo Piza

MEMBRO BENEMÉRITO

Lázaro de Mello Brandão

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José Dion de Melo Teles é formado em engenharia eletrônica pelo Ins-tituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e pós-graduado em Admi-nistração em Stanford, Califórnia. Dentre outras funções importantes que exerceu, tanto na administra-ção pública, quanto na iniciativa privada, foi presidente do Conse-lho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq, do Serviço Federal de Proces-samento de Dados - Serpro e do Conselho de Administração da Companhia de Processamento de Dados do Governo do Estado de São Paulo.Esteve à frente, também, da empresa Digital Brasileira (Digi-bras) e ocupou a vice-presidência do Grupo de Seguros Atlân-tica Boa Vista, além de fazer parte do Comitê Executivo de Ciência e Tecnologia da Organização dos Estados Americanos (OEA).Foi, ainda, diretor geral e secretário de modernização do Su-perior Tribunal de Justiça e, atualmente, é presidente da Inova, uma grande empresa de inovações, que funciona em todo o Brasil.