tÉcnicas de interrogatorio dops

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  • 8/3/2019 TCNICAS DE INTERROGATORIO DOPS

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    Histria: Questes & Debates, Curitiba, n. 40, p. 201-240, 2004. Editora UFPR

    DOCUMENTO: MANUAL DO INTERROGATRIO

    Document: Interrogation Guide

    Marion Brepohl de Magalhes*

    O documentoManual do Interrogatrio foi encontrado no acervo doDepartamento de Ordem Poltica e Social DOPS , sob a guarda do DepartamentoEstadual de Arquivo Pblico do Paran.

    Trata-se de um texto de autor annimo, reproduzido e distribudo paraas polcias polticas estaduais do Brasil poca da Ditadura Militar, pelo ServioNacional de Informaes SNI, rgo que coordenou toda a ao repressivadurante a vigncia do regime.

    Este rgo, diretamente vinculado Presidncia da Repblica, produziuum sem nmero de documentos com os mais diversos contedos. Grosso modo,podemos dividi-los em trs grandes conjuntos: um primeiro, que versava sobrea conjuntura brasileira sistema educacional, questo agrria, economia, polticapartidria, sade, habitao etc, que servia, provavelmente, para subsidiar asaes de governo nos mais diferentes nveis. Neste sentido, o SNI era tambm

    rgo assessor do Poder Executivo para o estabelecimento de polticas oficiais.Um segundo conjunto tratava da Segurana Nacional, tendo em vista asdiferentes conjunturas polticas e seus respectivos inimigos internos (valedizer, seus opositores). E um terceiro conjunto (cujos documentos eramclassificados como confidencial, secreto ou ultra-secreto) visava orientar einstruir os membros da prpria mquina repressiva: de que ou de quem suspeitar,como informar os rgos de segurana, como classificar as informaes, quemeram os homens de confiana do regime. Quanto aoManual do Interrogatrio,instrua sobre como obter a confisso dos presos polticos por meio da coero

    fsica e ou psicolgica. Era um documento mais restrito, que circulava apenasentre os estratos intermedirios ou superiores da hierarquia repressiva.A importncia de um documento como este reside no fato de que,

    quando se trata do estudo sobre os mecanismos oficiais de represso, as fontesso muito escassas ou mesmo inexistentes. Se, da parte dos atingidos, contamoscom inmeros depoimentos, orais ou escritos, da parte dos perpetradores, namaioria dos casos, resta o silncio. E, no que se refere documentao, boa

    * Doutora em Histria pela Unicamp, Ps-Doutora em Histria pela Universidade de Paris(Nanterre X) e Prof Adjunta IV- Histria Contempornea - Departamento de Histria - UFPR.

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    parte destruda ou sequer chega a ser arquivada, dado o carter clandestinodessas aes.

    Por esta razo, publicamos oManual nesta revista, com o objetivo decontribuir ao estudo da violncia na poltica.

    A pergunta a ser formulada : como se produz um indivduo ou umconjunto de indivduos dispostos a exercer terror sobre outrem? Ou melhor,como uma pessoa pode se valer de um conjunto de saberes, de um mtodo (por

    mais primitivo que seja), objetivando provocar dor sobre um ser humano, sem

    sentir remorso e, em alguns casos, considera tratar-se de um dever?

    Desde Hannah Arendt e sua clebre anlise sobre o caso Eichmann, amaioria dos estudiosos deste tema afasta-se da hiptese de que o torturador

    seja um doente mental, um psicopata, um sdico. Trata-se, geralmente, de umapessoa normal que, gradativamente, vai se transformando em um funcionrioeficiente ao sistema. Coopera para tal transformao, a forma mesma como aviolncia praticada. Sim, porque embora estes manuais paream se constituir,numa primeira leitura, em um conjunto de instrues sobre o procedimento aser adotado nos interrogatrios como deve ser preparada a sala deinterrogatrio, a preparao do preso, o que perguntar, como reduzir as defesasinternas do interrogado, como ganhar a sua confiana, como avaliar o grau deveracidade do testemunho, quando e como intimidar o prisioneiro etc., numa

    leitura mais aprofundada, podemos apreender-lhe um outro sentido. Seobjetivamente os manuais so redigidos para orientar o interrogador de formaa que ele conduza o processo at que o prisioneiro fornea as informaesdesejadas, por outro lado, ele , ao mesmo tempo, um trabalho ideolgico queprepara o prprio interrogador. Se observarmos as nuances do presente texto,veremos que o interrogador no tratado como o sujeito que pratica o atoviolento, mas sim o que coloca em funcionamento os instrumentos de violncia.No ele quem machuca, mas as tcnicas ali aplicadas. Seguindo todos ospassos recomendados no manual, o sujeito que vitimiza realiza um distanciamento

    eficaz da vtima como se entre o ato violento e o seu responsvel no existissequalquer vnculo.

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    MINISTRIO DO EXRCITOGABINETE DO MINISTRO

    CIE

    INTERROGATRIO

    ATENO

    ESTAS NOTAS CORRESPONDEM A UMA TRADUO ADAPTADADE DOCUMENTAO SIGILOSA DE PAS AMIGO. EM CONSEQNCIA EPOR ACORDO ENTRE GOVERNOS, O SEU MANUSEIO DEVE RESPEITARAS PRESCRIES DO RSAS NO TOCANTE CLASSIFICAO SIGILOSA

    RECEBIDA. SO PROIBIDAS AS CPIAS.

    1971

    CONFIDENCIAL

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    INTERROGATRIO

    1. INTRODUOa. O prisioneiro representa uma fonte potencial de valiosas informaes

    sobre um inimigo, a cujas hostes pertenceu at bem pouco tempo. Sob certascircunstncias, pode ser a nica fonte, ou pelo menos a principal delas. Aexplorao dessa fonte exige considervel habilidade e deve ser atribuda ainterrogadores treinados e, apenas em limitadas circunstncias, equipe queaprisionou o indivduo.

    b. O valor e a extenso da informao obtida de um prisioneiro dependeno s da habilidade do interrogador, como tambm da velocidade com que o

    prisioneiro lhe foi apresentado e da eficincia do rgo que controla e orienta ointerrogador.2. DEFINIESa. H muita confuso quanto ao significado dos termos LAVAGEM

    CEREBRAL e DOUTRINAO e seu relacionamento com o interrogatrio. Asseguintes definies devem ser, portanto, bem entendidas.

    1) Lavagem Cerebral - a limpeza da mente de todas as idias anteriores,por uma persistente e intensiva presso psicolgica, que culmina pelasubstituio daquelas idias por outras, normalmente, com a finalidade de tornar

    o indivduo dcil e desejoso de confessar crimes imaginrios em um julgamentopblico. O mais conhecido exemplo desse processo, nos recentes anos, foi ocaso do cardeal hngaro MINDSZENSKY.

    2) Doutrinao - Inocular com uma doutrina, idia ou opinio. Adoutrinao de prisioneiros de guerra tem sido levada a efeito, em vrios nveis,pelos norte-coreanos e chineses, com o pessoal que aprisionaram durante aguerra coreana, numa tentativa de convert-los ao comunismo.

    3) Interrogatrio - a extrao sistemtica de informaes de umindivduo.

    b. Torna-se patente, dessas definies, que o interrogatrio o nicodesses processos que est realmente relacionado com as informaes, enquantoque a lavagem cerebral e a doutrinao esto relacionados com idias que socolocadas na mente do paciente. Torna-se evidente, pois, que o interrogatrio o nico desses processos que tem valor para as Informaes.

    c. O objetivo do interrogatrio obter informaes corretas e oportunas.3. GENERALIDADESa. Tipos de Prisioneiros em Operaes Militares

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    H trs tipos de indivduos que apresentam problemas para ointerrogador:

    1) O Prisioneiro de Guerra. Normalmente, um soldado treinado parainformar, somente, seu nmero, posto (ou graduao), nome e data denascimento. Mesmo se ele falar, isto no alterar sua situao de PG. O problemado interrogador faz-lo falar.

    2) O Suspeito. O suspeito est numa posio diferente de um prisioneirode guerra. Ele foi selecionado para interrogatrio em virtude de algo que seconhece a seu respeito ou de alguma coisa que haja praticado. Se ele puderconvencer o interrogador de sua inocncia, ser libertado. O problema dointerrogador faz-lo falar a verdade.

    3) O Desertor ou Refugiado. O desertor (ou refugiado), normalmente,contar um estria muito colorida porque quer causar boa impresso, ou porquequeira melhorar suas chances de comear uma vida nova. O problema separarinformaes verdicas dos exageros e das invencionices.

    (Obs.: Tipos de prisioneiros nas operaes de Segurana Interna vern. 5. d).

    b. Mtodos de obteno de informaes1) H trs mtodo bsicos para se obter informaes de um indivduo:- Pelo interrogatrio direto;

    - Pela monitorao; e- Pelo uso de informantes nas celas.2) O interrogatrio direto o nico desses que pode ser usado

    independentemente, enquanto que os outros dois mtodos tem de ser usadosconjugados com o primeiro.

    c. SeguranaAs informaes obtidas de um interrogatrio devem ser manipuladas

    com cuidado e classificadas como sigilosas (reservada, confidencial ou graumais alto). Estas precaues so necessrias para proteger as fontes e evitar

    prejuzos futuros para as mesmas.d. Interrogatrio em Operaes Militares1) H quatro fases de um interrogatrio a saber:- questionrio ttico;- interrogatrio primrio;- interrogatrio secundrio; e- interrogatrio detalhado.a. Questionrio Ttico. o interrogatrio imediato levado a efeito pelas

    unidades, logo aps a priso. Deve ser limitado, apenas, identificao do

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    prisioneiro e s informaes de valor ttico imediato para o prosseguimentodas operaes. A equipe deve preparar um relatrio de captura e encaminh-lo,de imediato, ao escalo superior, junto com o prisioneiro.

    b. Interrogatrio Primrio. o interrogatrio levado a efeito porinvestigadores treinados do escalo superior, no nvel Brigada. Este trabalhopoder contar com o esforo de equipes especializadas (do Servio deInterrogatrio das FFAA) destacadas pelo escalo superior. O interrogatrio,durante esta fase, deve ser reduzido s imediatas exigncias do nvelconsiderado e completado dentro de 12 horas aps a captura. A seleo parainterrogatrios posteriores dever ser feita nessa oportunidade.

    c. Interrogatrio Secundrio. O interrogatrio secundrio levado a

    efeito por uma Unidade do Servio de Interrogatrio das FFAA (USIFA ouJSIU), no nvel C Ex ou Fora singular. A USIFA dispe de interrogadores daMarinha e da Fora Area, para o trabalho com os prisioneiros das forasinimigas correspondentes. Um organograma tpico de uma USIFA encontradono Anexo n. 2. Para a maioria dos capturados este ser o interrogatrio principale deve ser completado dentro de 4 a 48 horas de sua captura.

    d. Interrogatrio Detalhado. Os prisioneiros que tiverem informaesde valor cientfico, econmico, tcnico ou estratgico, devem ser selecionadospara um interrogatrio detalhado no Centro de Interrogatrios Detalhados das

    FFAA (CIDFA ou JSDIC), localizado no QG do TO ou na Zona de Interior. Aseleo ser feita durante o interrogatrio secundrio e no h limites para otempo que se possa dedicar a essa fase.

    2) Interrogatrio de Suspeitos. Os suspeitos devem ser interrogadospor elementos de contra-informao. Aqueles que forem de particularimportncia podem ser interrogados nas USIFA ou CIDFA, por oficiais do Serviode Segurana.

    3) Desertores. Ainda que no estejam na mesma categoria dos PG,devem ser interrogados durante as duas primeiras fases citadas anteriormente.

    4) Atualizao. Os rgo de informaes so responsveis pelacompleta atualizao dos interrogadores, tanto sobre o inimigo, como tambmsobre suas prprias necessidades em informaes. Essa atualizao deve serefetuada com freqncia, de forma que os interrogadores estejam completamentea par da situao corrente.

    5) Relatrios. As informaes obtidas mediante interrogatrio devemser remetidas aos rgos de informaes, to rapidamente quanto possvel. Asinformaes urgente podem ser transmitidas verbalmente e, se necessrio,confirmadas por escrito, posteriormente. Os relatrios devem ser feitos de forma

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    sucinta e clara e, sempre que possvel, devem acompanhar o prisioneiro em suaprxima fase de interrogatrio.

    6) Prioridades. Haver ocasies em que so capturados maisprisioneiros do que a agncia possa manipular. Ser, ento, responsabilidadeda agncia decidir por uma prioridade de interrogatrio em relao aosprisioneiros.

    7) Administrao. A administrao de PG uma responsabilidade doEM administrativo e no dos interrogadores. essencial, para assegurar queos PG sejam imediatamente interrogados aps a captura, que haja uma ligaoestreita entre a agncia de informao e o EM administrativo. Instruesdetalhadas sobre a administrao de PG so encontradas no manual

    Administrao no Campo.8) Conveno de Genebra. Todos os PG devem ser tratados de acordocom os termos da Conveno de Genebra de 1949, ratificada pela maioria dospases, inclusive o Reino Unido. Os pormenores do estatudo na referidaConveno so encontrados na publicao Regulamento para a Aplicao daConveno de Genebra de 1949 e para o Tratamento de Prisioneiros de Guerrae no Manual de Legislao Militar (Parte III).

    9) Documentos inimigos capturados. Os documentos inimigoscapturados podem ser classificados em duas categorias:

    a) Documentos pessoais dos prisioneiros. Esses documentos devemser retirados dos prisioneiros e etiquetados, de forma que possam ser facilmenteassociados a eles, e devem acompanh-los, desde o incio, dos pontos-de-coleta at os centros de interrogatrio.

    b) Documentos capturados nas posies inimigas, em aeronaves ounavios inimigos destrudos. Esse material deve ser etiquetado na mesma hora elocal em que foi encontrado, e deve ser enviado com urgncia agncia deinformaes mais prxima da fora singular correspondente, ou a um centro deinterrogatrios, para que sejam devidamente processados, conforma as NGA

    em vigor.Instrues minuciosas sobre o manuseio de documentos capturados

    so encontradas no Manual de Informaes Militares. Podem surgir situaesem que, devido sua importncia, o encaminhamento daqueles documentoster prioridade sobre os interrogatrios.

    10) Equipamento capturado. Todas as fraes de tropa, em campanha,so responsveis pela transmisso de informaes sobre o armamento e oequipamento do inimigo. O dever de todo combatente e capturar tudo o que forpossvel. O material capturado deve ser evacuado para o QG do C Ex, sob os

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    cuidados do pessoal de informaes, onde ser examinado por pessoalespecializado. Os equipamentos muito volumosos, que no permitam evacuao,devero ser deixados sob guarda; um relatrio contendo sua localizao edescrio rpida deve ser enviado atravs do canal de informaes. Instruesminuciosas para manuseio de equipamento capturado sero encontradas noManual de Informaes Militares.

    e. Interrogatrio em Operaes de Segurana Interna1) Em uma operao de segurana interna os interrogadores podem

    defrontar-se com uma grande variedade de prisioneiros, desde os integrantesde organizaes estudantis de propaganda at de grupos terroristas, ouorganizaes pra-militares.

    2) Os prisioneiros estaro normalmente sob controle policial e osinterrogadores atuaro em conjunto com ou como parte do Sistema deInformaes. Para atender o problema de maneira ideal, devem ser organizadoscentros e equipes de interrogatrios nas reas.

    3) A liberdade de atuao dos interrogadores dever estar subordinadaao prescrito em leis e regulamentos, e delimitada por diretrizes emanadas dasautoridades responsveis pela Segurana Interna.

    4) Diferentemente dos interrogatrios durante as operaes militares,os relativos s operaes de segurana interna so, normalmente, divididos em

    duas fases:- questionrio inicial; e- interrogatrio detalhado no Centro de Interrogatrio da rea.

    5) Questionrio Inicial. Normalmente, os indivduos so presos como oresultado de uma ao por eles praticada, devido a informaes conhecidassobre eles ou em funo de operaes de busca ou de limpeza de rea. Elespodem ser interrogados, inicialmente, por elementos de operaes especiais,por policiais ou mesmo por elementos das unidades que os capturaram. Da

    mesma forma que no questionrio ttico (Fls. 3) das operaes militares, oquestionrio inicial dever limitar-se ao mnimo essencial, necessrio aoprosseguimento das operaes, e esse procedimento regulado por normas doescalo superior. (De qualquer forma, no nosso caso, dever ser realizado porelementos especializados, os quais no devero tomar parte nas operaes decaptura, ou outras de natureza policial-militar. O princpio da oportunidadeimpe, como limite de durao desse questionrio, que, de 6 a 8 horas aps acaptura, o prisioneiro esteja dando entrada no Centro de Interrogatrio darea).

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    6) No Centro de Interrogatrio Detalhado da rea. Este ointerrogatrio principal para os elementos selecionados para um trabalho maisdetalhado. (E realizado por elementos altamente especializados). Ser,normalmente, dirigido por um oficial de operaes especiais da Polcia e podercontar com interrogadores militares.

    7) O problema mais importante o da TRIAGEM inicial, que umaresponsabilidade do elemento encarregado do questionrio inicial; entretanto,todo interrogador deve estar preocupado no prosseguimento da triagem, emtodos os nveis.

    f. Fatores LegaisOs seguintes fatores legais devem ser considerados:

    1) As informaes obtidas em interrogatrio no tero validade nostribunais, caso haja evidncias de que foram obtidas atravs de coao. Se umindivduo vai ser processado, deve, em primeiro lugar, ser manipulado porcriminologistas ou elementos fadados da polcia, isto , ele s prestardepoimento depois de advertido de sua situao. Este procedimento retardare pode inibir o sucesso do interrogatrio. Em conseqncia, deve ser decididopelo Governo qual a prioridade a ser dada utilizao dos elementos capturadosou presos, isto , se dirigida ao processamento judicial, ou se voltada para osinteresses das Informaes. (Se o prisioneiro tiver de ser apresentado a um

    tribunal para julgamento, tem de ser tratado de forma a no apresentar evidnciasde ter sofrido coao em suas confisses. Por outro lado, a lei limita o prazo deincomunicabilidade do prisioneiro).

    2) Pode haver um limite de tempo dentro do qual os prisioneiros temdireito a ver um advogado.

    3) As foras militares podem manter um preso somente por um perodolimitado de tempo, antes de encaminh-lo polcia.

    g. Atualizao e RelatriosMuitos rgos do Governo, alm da polcia e das FFAA, podem estar

    interessados na obteno de informaes atravs de interrogatrios. Essasnecessidades, para isso, devem ser transmitidas aos interrogadores em ordemde prioridade. Da mesma maneira, os interrogadores devem estar alertados deque seus relatrios podero ser enviados a agncias no militares e, emconseqncia, devem evitar o uso de terminologias e abreviaturas militares,no familiares para aqueles rgos.

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    4.CONTROLE E TRATAMENTO DE PRISIONEIROSa. IntroduoO correto manuseio e questionrio inicial de prisioneiros ter como

    objetivos:1) assegurar o cumprimento das prescries governamentais quanto

    ao tratamento dos prisioneiros;2) extrair alguma informao de valor ttico imediato, a qual perder

    oportunidade se obtida com retardo, at que se disponha de um interrogadorespecializado;

    3) assegurar o encaminhamento do prisioneiro autoridade responsvelpor sua custdia, em condies (fsica e de oportunidade) de conduzir ao

    sucesso do interrogatrio.b. A Conveno de Genebra1) Os princpios bsicos, para o tratamento de pessoas sob priso ou

    deteno, durante as operaes de segurana interna, esto contidos no Artigo3 da Conveno de Genebra, relativa ao Tratamento de Prisioneiros de Guerra.Estes princpios devem ser observados.

    a) Pessoas que no esto tomando arte ativa nas hostilidades, inclusiveos membros das Foras Armadas que abandonaram as suas armas e aquelespostos fora de combate por doenas, ferimentos, deteno, ou qualquer outra

    causa, devero ser, em todas as circunstncias, tratados com humanidade, semnenhuma distino baseada na raa, cor, religio ou f, sexo, riqueza, nvelsocial, sade ou outros critrios similares.

    b) Os seguintes atos esto proibidos:(1) violncia contra a vida e pessoa, em particular assassinato,

    mutilao, tratamento cruel e tortura;(2) atentados contra a dignidade pessoal, em particular a humilhao

    ou o tratamento degradante.2) Sob condies de emergncia, ou prximo a elas, o Governo pode

    modificar estes critrios e adotar uma legislao diferente para o tratamento decapturados. O pessoal responsvel pelo manuseio de presos ou detidos devertomar conhecimento prvio destas instrues.

    c. Tratamento de prisioneiros1) Desde o momento da captura deve ser adquirida a ascendncia

    moral sobre o preso. Os prisioneiros devem ficar impressionados por se sentiremem mos de autoridades firmes, eficientes, duras, contudo treinadas, educadase militarmente organizadas.

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    2) Os guardas devem estar bem uniformizados e permanecer sempreatentos; seu tratamento para com os prisioneiros deve ser firme, mas no brutal.Os guardas nunca devem confraternizar com os prisioneiros. O emprego dafora fsica deve ser evitado e as algemas s utilizadas quando necessrio. Asordens devem ser dadas e cumpridas rpida e silenciosamente.

    3) Logo que possvel, depois da captura, os prisioneiros devem serisolados; quanto mais um indivduo for privado de ver seus camaradas, menosencorajamento e apoio moral poder receber.

    4) Os prisioneiros devem ser, cuidadosamente, revistados e delesretirados todos os seus documentos e equipamentos de valor informativo,principalmente qualquer coisa que sirva para ajud-los a fugir. O equipamento,

    objetos pessoais e documentos retirados de um prisioneiro devem ser colocadosem um receptculo (ex.: saco de lona) apropriado e claramente registrado aquem pertence. Se for experimentada alguma dificuldade na obteno do nomedo preso, para este mister, cada um deles deve receber uma placa de identificaopara usar no pescoo (ou pulso), com um nmero que ser marcado em suasroupas e pertences; em alguns casos poder o nmero ser pintado no corpo(testa, brao etc.) do prisioneiro. Isto pode ser feito com uma tinta indelvel,como a violeta genciana. A distribuio ou a utilizao indbita de qualquerpertence do preso estritamente proibida.

    5) Os prisioneiros no devem ter permisso para falar ou fumar, excetonos interrogatrios, de acordo com as necessidades, e devem receber o mniode gua e alimentos, suficientes para conserv-los num razovel estado desade. H, algumas vezes, uma tendncia natural de sentir piedade de umprisioneiro com aparncia infeliz e apavorada. isto deve ser evitado. (Os homensencarregados da guarda dos prisioneiros devem estar prevenidos e instrudosa respeito). O fato de que aquele indivduo, em circunstncias diferentes, poderia,prazeirosamente, enfiar uma faca nas costas de seu captor, deve ser lembradoconstantemente.

    6) Os prisioneiros devem ser conservados sob constante vigilncia edevem ser feitas anotaes sobre seu comportamento, desde sua captura. essasanotaes, freqentemente, desvendam o carter do prisioneiro e simplificam oproblema de seleo para interrogatrio.

    7) Todo o prisioneiro que tiver necessidade de socorros mdicos deurgncia deve receb-los imediatamente.

    8) O rudo, na forma de ordens ou conversaes, deve ser reduzido aomnimo na rea dos prisioneiros. Assistentes, ou outros curiosos, civis oumilitares, devem ser afastados das vistas do prisioneiro.

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    d. Seleo para Interrogatrio1) possvel que existam prisioneiros portadores de informaes que

    se tornem sem valor, a menos que extradas imediatamente. Quando confrontadocom mais de um prisioneiro, o interrogado tem que decidir com qual comear ea ordem de interrogatrio dos demais. ( um problema de seleo e deprioridades). isto pode ser feito atravs de um estudo, buscando responder sseguintes perguntas:

    a) Quais prisioneiros parecem, mais provavelmente, possuir asinformaes desejadas?

    b) Quais os prisioneiros que, mais facilmente, podero proporcion-las?

    2) Quem possui as informaes desejadas? Normalmente, ser o lderdo grupo capturado. Esse indivduo deve, por conseguinte, ser identificado omais cedo possvel. Os seguintes indcios podem dar uma boa indicao:

    a) Est algum prisioneiro, nitidamente, tomando conta ou demonstrandoqualquer senso de responsabilidade a respeito dos demais presos?

    b) A revista propiciou algum documento que identifique o lder?c) Os prisioneiros esto, instintivamente, procurando orientao ou a

    liderana de um deles?d) Alguns dos prisioneiros esto mostrando qualquer emoo

    particularmente mais forte? As emoes, tais como agressividade, grosseria,medo e tentativa de congraamento, tm sua razo de ser.No momento da captura, podem ser valiosas para o interrogatrio inicial,

    alm do lder ou lderes, aqueles prisioneiros que mostrem uma liderana naturalou aqueles que demonstrem uma inteligncia acima da mdia. Esta intelignciapode ser, normalmente, conhecida se for atentamente observado o prisioneiro,particularmente seu comportamento e reao ao cativeiro e a ambientes poucofamiliares. O interrogador deve levar em conta a facilidade de comunicaolingstica, quando da seleo para interrogatrio.

    3) Qual deles dar as informaes mais rpido? Quando os prisioneiroesto preparados para falar no haver grande problema mas, quando eles noquerem falar, qualquer fraqueza de carter deve ser identificada e explorada nosentido de induzir os prisioneiros teimoso a cooperar. Tais fraquezas de carter,como medo, hbitos nervosos ou, inversamente, excesso de auto confiana,podem ser usadas com vantagem pelo interrogador. Se forem obtidas algumasinformaes sobre o passado de um prisioneiro, atravs do exame dos objetosencontrados em seu poder (revista), da observao ou do interrogatrio deoutros presos, isso pode ser usado para impression-lo ou deprimi-lo e, dessa

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    maneira, persuadi-lo a proporcionar as informaes desejadas. Essasinformaes podem ser usadas, tambm, para jogar um prisioneiro contra ooutro, utilizando-se de ardis, tais como a leitura, correta ou incorreta, dedepoimentos, e, dessa maneira, obter a cooperao de um ou do outro.

    e. Preparao para Interrogatrio1) O interrogador deve considerar trs aspectos distintos em sua

    preparao:- a preparao do prisioneiro;- a preparao de si mesmo; e- a preparao do ambiente.2) Preparao do prisioneiro. Este assunto j foi abordado quando

    descrevemos o tratamento que deve ser dado ao capturado. Deve, contudo, serconservado em mente que tudo que for feito, inclusive o questionrio inicial, ,em si mesmo, uma preparao para os interrogatrios detalhados posteriores.

    3) Preparao de si mesmo. Este ponto extremamente importante. Ointerrogador vai confrontar-se com o prisioneiro e essencial que o impressionecom um desempenho eficiente. Os seguintes aspectos devem ser consideradosna preparao:

    a) as informaes necessrias devem estar perfeitamente conhecidas;b) o interrogador deve atualizar-se, tanto quanto possvel, nas

    informaes conhecidas sobre o prisioneiro, tais como o seu nome, nome deguerra, lugares freqentados, organizaes a que pertenceu ou a que pertence,seus companheiros, etc.;

    c) ele deve possuir uma relao das principais perguntas, para as quaisse deseja resposta, e uma lista de perguntas auxiliares (ou casuais) e maneirasde iniciar uma conversao, de modo que nunca perca contato com o prisioneiroe no lhe faltem as palavras;

    d) se h necessidade de intrprete, deve-se discutir com ele,previamente, o questionrio a ser aplicado, de forma a permitir-lhe testar seu

    vocabulrio e facilitar o trabalho de equipe. (Evidentemente, o intrprete deveser da mais absoluta confiana);

    e) um mapa ou carta da rea deve estar disponvel e com o necessriomaterial para sua utilizao;

    f) deve ter uma caderneta de notas de folhas fixas, da qual as pginasno possam ser destacadas, e um lpis ou caneta em condies de uso.

    4) Preparao do ambiente. No h, freqentemente, muita oportunidadepara preparar o ambiente, mas, tanto quanto possvel, as seguintes exignciasdevem ser satisfeitas:

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    - deve ser fora das vistas e ouvidos dos outros prisioneiros;- deve haver o mnio de distraes visuais;- o prisioneiro deve ser colocado numa posio de inferioridade em

    relao ao interrogador;- quaisquer ajudas, ou recompensas, como bebida, cigarros, fsforos,

    gua, etc., que possam ser necessrias durante o interrogatrio, devem estardisponveis de imediato.

    f. Mtodos de interrogatrio1) Quando o interrogador no conhece muito do passado e das

    atividades de seu prisioneiro, pode ser conveniente, inicialmente, fazer perguntassimples, de forma que ele possa respond-las razoavelmente, sem se

    comprometer; isto tem uma dupla vantagem:a) encorajar o prisioneiro a falar; eb) dar ao interrogador uma oportunidade para julgar as reaes do

    prisioneiro e estudar seu carter.2) Apresentamos a seguir, muito genericamente, os quatro principais

    tipos de aproximao. O interrogador experimentado pode avaliar qual tipo deaproximao utilizar e, at, jogar uma contra a outra. Essas quatro forma deaproximao so:

    a) Aproximao insensvel, mecnica e fria. Esta requer que o

    interrogador mantenha seu questionrio numa voz montona, fria, dura e comgrande regularidade. Deve mostrar-se implacvel e rude, como uma mquina, eno demonstrar nenhuma emoo.

    b) Aproximao ameaadora. Para isto o interrogador baseia-se naameaa e agressividade para fazer o paciente cooperar, seja pelo medo, ou porperder sua calma e, desta maneira, deixar cair sua guarda. No deve haverviolncia fsica, mas o interrogador deve gritar, gesticular, ameaar com gestos,insultar e usar de sarcasmo contra o prisioneiro.

    c) A aproximao aparentemente tola. Este tipo de aproximao pode

    ser usado contra um prisioneiro que est falando, mas do qual se suspeita estarmentindo ou escondendo informaes. O prisioneiro levado, temporariamente,a crer que mais esperto que o interrogador; isto lhe d uma falsa confianaque pode, freqentemente, conduzir derrota total.

    d) A aproximao simptica e amigvel. Esta pode ser, muitas vezes, amais eficiente de todas as aproximaes, particularmente se o prisioneiro passoupor maus momentos antes do interrogatrio e est esperando ser tratado commuita rudeza. O interrogador deve falar delicadamente, com simpatia, mas comgrande persuaso.

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    3) O interrogador deve, constantemente, manter a iniciativa e estarsempre um passo adiante do prisioneiro. Se o prisioneiro difcil, uma ou outradas seguintes tcnicas pode ser teis:

    a) intranqiliz-lo por sbitas mudanas na aproximao, ora fria edura, ora delicada ou tola;

    b) confundi-lo deliberadamente, anotando errado suas respostas ouignorando-as;

    c) perguntar a mesma coisa vrias vezes, mas com uma ligeira diferena;dessa forma, fazendo surgir contradies que possam ser exploradas;

    d) desequilibr-lo com confrontaes com declaraes, verdicas ouforjadas, sobre seu passado. Todas as ameaas, ou blefes em forma de ameaas,

    que no possam ser cumpridas, no devem ser usados;e) enerv-lo, provando-lhe que mentiroso. At um pequeno pormenor suficiente para faz-lo.

    4) Quando um prisioneiro difcil, o objeto d interrogador deve serencontrar uma fraqueza em sua couraa e, ento, explor-la. Com um prisioneirofcil, ou com um prisioneiro que tenha sido persuadido a cooperar, ointerrogador deve fazer perguntas objetivas, claras e concisas; qualquer formade perguntas capciosas, ou respostas dirigida, deve ser evitado.

    g. Relatrios

    1) As informaes urgentes devem ser transmitidas pelo sistema decomunicaes, ou oralmente. Um relatrio completo das informaes obtidas euma avaliao do prisioneiro devem ser enviados ao escalo superior,acompanhando o preso e seus pertences (ou mesmo antecipando-se a ele). Osrelatrios devem seguir as NGA da rea. (Os relatrios devem ser informativose no do tipo perguntado que, respondeu que).

    2) Deve ser tomado muito cuidado para evitar o risco de transmitirfalsas informaes ou falsas confirmaes. Todos os relatrios de informaesobtidos dos interrogatrios devem conter o nome e o codinome do paciente, e

    um relatrio posterior deve fazer referncia ao anterior.5. INTERROGATRIO DE CONTRA-INFORMAO (DE

    SUBVERSIVOS)a. Introduo1) O interrogatrio uma arte e no uma cincia. No pode ser resumido

    a uma srie de regras que garantam, priori, o sucesso. O interrogatrio umconfronto de personalidades. Pode comear como um conflito mas, se for bemsucedido, terminar como uma associao. O fator que decide o resultado de

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    um interrogatrio a habilidade com que o interrogador domina o indivduo,estabelecendo tal ascendncia que ele se torne u cooperador submisso.

    2) Uma agncia de contra-informao no um Tribunal da Justia. Elaexiste para obter informaes sobre as possibilidades, mtodos e intenes degrupos hostis ou subversivos, a fim de proteger o Estado contra seus ataques.Disso se conclui que objetivo de um interrogatrio de subversivos no fornecer dados para a Justia Criminal process-los; seu objetivo real obter omximo possvel de informaes. Para conseguir isto ser necessrio,freqentemente, recorrer a mtodos de interrogatrio que, legalmente, constituemviolncia. assaz importante que isso seja muito bem entendido por todosaqueles que lidam com o problema, para que o interrogador no venha a ser

    inquietado para observar as regras estritas do direito.b. Definio e manuteno dos objetivos1) O objetivo de todo o interrogador de contra-informao obter

    informaes, ou seja, em particular, extrair informaes sobre um assuntoespecfico ou sobre um grupo de assuntos. importante que este propsitoseja claramente definido e que todo o interrogatrio seja planejado e dirigidopara a obteno deste fim.

    2) Isso no significa que uma informao, no relacionada diretamentecom o objetivo, deve ser posta de lado ou ignorada. Qualquer nova pista ou

    informe, que forem levantados, devem ser cuidadosamente examinados, tantopelo interrogador como pelos analistas encarregados do caso, pois, podemadquiri tal importncia que possam vir a afetar a meta do interrogador. Topouco, isso significa que os interrogadores, ou controladores de uma operao,possam desviar-se de seus objetivos, devido a informes no pertinentes, pormais atrativos que sejam. Um prisioneiro bem treinado, mesmo se atingiu oestgio de cooperao, talvez aparente, pode, ainda, manter suficiente controlesobre si mesmo e tentar desviar as investigaes de um assunto particularmentesensvel, oferecendo em troca informaes bastante interessantes, mas sobre

    temas muito menos perigosos.3) A meta deve ser, portanto, definida e mantida at que tenha sido

    alcanada. S ento, pode ser possvel seguir as pistas atraentes que foramdescobertas pelo interrogatrio principal.

    c. Qualidades do interrogador1) Todo interrogatrio um confronto entre seres humanos,

    desencadeado fora das regras que, usualmente, dirigem as relaes humanas.A resistncia do indivduo tem que ser quebrada e o interrogador precisa domin-lo.

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    2) Isso requer grande vigor mental e fsico, objetividade e completafrieza por parte do interrogador. Nem todos esto mental, moral ou fisicamenteaptos para a tarefa e, por isso, os interrogadores devem ser selecionados comextremo cuidado. Um violento ou sadista to pouco adequado quanto umsentimentalista ou um fraco.

    3) A qualidade mais importante que um interrogador deve possuir apersistncia. Ele deve ser, inflexivelmente, determinado a atingir sua meta, pormaior que seja o esforo a dispender e por mais sem esperanas que possaparecer sua atividade.

    4) Outra qualidade, quase to importante quanto anterior, a frieza. Ointerrogador no deve envolver-se emocionalmente com o prisioneiro. Deve

    ser capaz de simular emoes, tais como nojo, piedade e desgosto, mas nunca,realmente, senti-las.d. Tipos de PrisioneirosTrs so os principais tipos de prisioneiros:1) O Capturado. Preso aps cometer um ato criminoso, ou em funo

    de investigaes. Ele, em geral, ser extremamente resistente ao interrogatrio.O problema ser, inicialmente, faz-lo falar e, em seguida, dizer a verdade.

    2) O suspeito. Preso porque se conhece algo a seu respeito ou porquese suspeita que tenha feito alguma coisa. Nestas circunstncias, ele pode tentar

    convencer os interrogadores de sua inocncia e, portanto, falar, falar muito,contando uma estria to perto da verdade quanto lhe for possvel. Ossubversivos so, normalmente, treinados e instrudos para contar uma ou vriasestrias de cobertura. O problema ser, ento, descobrir as incoerncias de suaestria e, confrontando o interrogado com elas, persuadi-lo a contar a verdade.

    3) O desertor ou informante. O desertor falar mas, por necessidade, um vendedor que tudo far para aumentar suas oportunidades de comearnova vida. Ele poder contar uma estria altamente fantasiosa e exagerada,mentindo deliberadamente. O problema ser separar os fatos da fantasia e extrair

    uma estria verdica da massa de exageros e de detalhes irrelevantes.e. Seleo1) Deve-se admitir que todo prisioneiro tenha informaes valiosas,

    desde que extradas imediatamente. Quando um interrogador defronta-se commais de um homem para inquirir, precisa estabelecer uma prioridade. O critriopara a seleo baseia-se nas seguintes perguntas:

    a) quais os prisioneiros que, mais aparentemente, possuem asinformaes desejadas?

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    b) quais os prisioneiros que, mais provavelmente, daro as referidasinformaes?

    2) Quem ter as informaes?O indivduo que mais sabe de um grupo , geralmente, o seu lder e, por

    isso, deve ser identificado to cedo quanto possvel. Isto pode ser obtido porum interrogatrio muito simples e pela observao. Alm dos lderes, tambmpodem ser dignos de interrogatrio, aqueles que demonstrarem natural lideranaou inteligncia acima da mdia. A inteligncia pode, com freqncia, seridentificada por uma observao atenta, particularmente sobre a reao dohomem ao cativeiro e a ambientes estranhos.

    3) Quem dar as informaes?

    Quando os homens esto preparados para falar no haver problema.Quando isso no acontece, qualquer fraqueza de carter pode ser identificadoe explorada para persuadir um homem teimoso a cooperar. So fraquezas dessetipo o medo, hbitos nervosos ou, inversamente, um excesso de autoconfiana,os quais podem ser explorados em nosso benefcio. As informaes obtidassobre o passado de um homem podem ser usadas para impression-lo, comouma demonstrao de eficincia, e persuadi-lo a falar.

    f. Tipos de personalidadestodos os indivduos podem ser classificados em um dos quatro

    caracteres tpicos e sua correta classificao de primordial importncia, poisorientar a seleo de indivduos para interrogatrio e determinar as maisadequadas tcnicas a empregar. Os quatro tipos bsicos so:

    1) Fraco e inibido. o escapista, que evita os conflitos mentais eemocionais; exige simpatia e encorajamento. Vive procurando amparo mental.

    2) Sangneo. o otimista alegre, falador e amigo de todos. Expressasuas emoes, mas sob controle.

    3) Forte e excitvel. o tipo vaidoso e excitvel, rpido em responder,que fala alto (quase trovejando) e tende a ser gabola.

    4) Calmo e imperturbvel. o que demonstra pequenos sinais deemoo; permanece impassivo sob presso e constitui-se o tipo mais duro paraquebrar a resistncia.

    normal encontrar-se uma certa sobreposio na maioria daspersonalidades mas, basicamente, todo o ser humano pertence a um dessesquatro tipos.

    g. Planejamento e preparaoO interrogatrio deve ser cuidadosamente planejado e preparado, com

    o fim de atingir o objetivo sem perda de tempo e de esforo. Todo interrogatrio

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    deve ser planejado e preparado levando em conta que cada humano umapersonalidade individual e singular. Um planejamento eficiente depende dolevantamento acurado do carter do paciente e do grau de resistncia que eleprovavelmente opor. Os preparativos devem ser feitos no intuito de explorar,imediatamente, qualquer fraqueza revelada pelo paciente.

    h. Tcnicas1) Os pargrafos seguintes tratam das quatro fases do interrogatrio e

    das tcnicas que podem ser, efetivamente, empregadas, em uma ou mais delas.Ainda que alguma das tcnicas constituam violncia perante a lei, nenhumadelas envolve torturas ou tratamento inadequado.

    2) Alm dos argumentos morais existentes contra o uso da tortura, ela,

    em si mesma, uma tcnica de interrogatrio ineficiente. As informaes extradasdessa maneira raramente so verdicas e dignas de confiana. Resultados muitomais satisfatrios so obtidos quando o indivduo persuadido a no maisresistir e o interrogador conseguiu ascendncia psicolgica sobre ele. O pacientetorna-se, ento, um associado submisso, apto a ser perguntado sobre asinformaes que possui, havendo maior probabilidade de fornecer respostasverdadeiras.

    i. Mtodo1) O planejamento e a preparao de um interrogatrio comeam antes

    da priso do paciente. A escolha da hora e local da priso constitui um passoimportante no mtodo de interrogatrio.2) O mtodo baseia-se em quatro fases, que formam a estrutura dentro

    da qual as vrias tcnicas de interrogatrio podem ser introduzidas, com o fimde obter os mais rpidos resultados possveis. As fases so:

    a) Priso e revistab) O interrogatrio inicial;c) O interrogatrio detalhado; ed) A explorao.

    As fases a e b constituem o processo preparatrio; a fase c ointerrogatrio propriamente dito, durante o qual o interrogador deve obtercompleta ascendncia sobre o paciente; a d a fase final que ocorre quandoo indivduo deixou de resistir e, uma espcie de associao ou cooperao foiconseguida entre ele e seu interrogador; nesta fase deve-se extrair, com o mximode pormenores, todas as informaes que o indivduo tem conhecimento. Noentanto, preciso sublinhar-se que, em vrias circunstncias, a fase a (priso)no ocorre. Por exemplo, quando se trata de um informante ou quando umdesertor se apresenta.

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    j. Priso e revista1) A priso a primeira, de uma sucesso de planejadas presses

    psicolgicas, que lanada contra indivduo durante o processo deinterrogatrio, e deve ser realizada de forma a enfraquecer e sobrepujar seudesejo de resistir. Para obteno do efeito mximo, a priso deve ser feita quandoo paciente est completamente vontade, com sua guarda relaxada, em seuambiente familiar. H, portanto, muito boas razes para o mtodo tradicional eantigo de efetuar prises de madrugada, quando o paciente est dormindo emsua casa e completamente desprevenido.

    2) A priso deve ser levada a cabo com grande eficincia e rapidez; aequipe de captura deve demonstrar uma atitude plenamente profissional. O

    mais leve sinal de hesitao ou confuso pode perturbar todo o efeito desejado.3) O indivduo deve ser revistado rapidamente e colocado sobobservao constante, at que chegue ao local de deteno. A casa ou rea emque foi detido deve ser revistada e a reao de todas as pessoas, inclusive deseus familiares, deve ser anotada. As vezes, necessrio que sejam revistadasas pessoas residentes na casa. Alm dos objetos obviamente de naturezaincriminadora, a equipe deve recolher todo o material, tal como documentos,correspondncia pessoal, fotografias e livros, tudo aquilo que possa ser tilpara o interrogador determinar o carter do preso.

    4) Ao chegar ao local de priso deve ser realizada uma revista minuciosanas roupas e na prpria pessoa do detido, contando, se possvel, com aassistncia de um oficial mdico. Durante esta ao devem ser recolhidos todosos sinais particulares, impresses digitais e amostras da caligrafia do preso.

    5) Cuidadosa ateno deve ser dedicada, tambm, ao local de detenodesignado, dependendo de uma primeira idia do carter do detido. Talvez estaprimeira idia exija reviso num estgio posterior. Um homem, que estiverobviamente em estado de terror, deve ser conservado em condies queaumentem sua apreenso. Um homem que evidencia estar preparado para o

    desconforto e o tratamento rude, deve ser desequilibrado por um tratamentodelicado. Tudo deve ser feito deliberadamente, nada deve acontecer ao acaso.Consideraes semelhantes devem ser aplicadas para a escolha do momentooportuno para a realizao do interrogatrio inicial. Alguns homens ficamdesesperados se ignorados por um longo perodo depois da priso, enquantooutros utilizaro este perodo para reforar sua capacidade de resistncia.

    l. Questionrio inicial1) A segunda fase do processo preparatrio o interrogatrio inicial.

    Ele feito para dar ao indivduo uma oportunidade para contar a sua estria e,

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    ao interrogador, uma oportunidade de estud-lo mais detalhadamente eestabelecer com preciso o seu carter.

    2) Muitos subversivos suspeitos esto ansiosos para contar qualquercoisa e apresentar sua estria de cobertura, logo que se apresente aoportunidade. O grau de veracidade da estria ir variar de acordo com o carterdo indivduo e o tipo do caso. Normalmente, nesta fase do interrogatrio, haverpouca oportunidade para obter informaes teis, do ponto de vista do analista;o interrogador obter, contudo, grande proveito dela e, o que mais importantede tudo, determinar o esquema para o interrogatrio futuro.

    3) O emprego de uma equipe de interrogadores muitas vezesconveniente, particularmente no caso de um homem difcil. Toda a equipe deve

    participar, ou pelo menos assistir a entrevista inicial. As reaes do indivduo aesta fase revelaro muita coisa. Um homem inocente colocado em tal situaoprotestar energicamente e exigir explicaes. Um outro, sabendo que h muitoboas razes para sua priso, reagir de modo diferente. Ainda que possaprotestar, alegar sua inocncia e simular indignao pelo sucedido, a falsidadede sua atitude tornar-se- patente muito cedo.

    4) Quando os protestos iniciais forem resolvidos, o indivduo deve serlevado a falar. O melhor meio para isto permitir-lhe contar a histria de suavida, dar sua prpria verso dos acontecimentos, antes e logo aps a sua

    priso. Aps isso pode ser perguntada sua identidade, modo de vida, quantoganha, suas idias polticas e seu conhecimento de assuntos polticos e dosarredores de onde vive. Isto feito para obter vrios pormenores importantes,como datas, locais, nomes de movimentos, etc.

    5) Tudo quanto ele disser nesta fase deve ser aceito sem contestao,mesmo que o interrogador saiba que falso. Seu objetivo deve ser construir umquadro do carter do indivduo e obter informaes para a conduta futura dointerrogatrio.

    6) Quando o indivduo retornou sua cela, o interrogador estuda as

    suas declaraes e seu comportamento durante a entrevista, na base do quedecide em que tipo de carter ele se enquadra. Alm disso, sua identidade, seusdocumentos e todos os outros materiais coletados pelos revistadores, devemser examinados e comprovada a sua veracidade, inclusive atravs da consultaaos arquivos.

    7) Obtidos estes dados, juntamente com tudo aquilo que j conhecidosobre a estria do indivduo antes da priso, o interrogador estar capacitadoa trabalhar num plano preliminar de interrogatrio para a prxima fase, que sero interrogatrio detalhado.

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    m. Interrogatrio detalhado1) A terceira fase do interrogatrio constitui o conflito pessoal entre o

    interrogador e o indivduo. durante esta fase que a resistncia do pacientedeve ser vencida e, ento, estabelecida uma completa ascendncia dointerrogador. De acordo com o plano de interrogatrio, o interrogador usaruma, ou uma combinao das seguintes tcnicas de interrogatrio:

    a) A aproximao rude. Visa a manter o choque causado pela priso,criar confuso na mente e promover uma reao de medo ou de angstia.

    b) A aproximao estpida ou tola. O interrogador deliberadamentecomete erros, induz o indivduo a corrigir suas afirmaes e, destarte, ao corrigi-lo, o paciente vai revelando outras informaes.

    c) A aproximao amistosa. O interrogador usa as maneiras de mdico-de-cabeceira. O indivduo inclina-se, a responder, fornecendo assim asinformaes visadas.

    d) A aproximao montona. As mesmas perguntas so feitas vriasvezes, sempre no mesmo tom montono e sem vibrao. A finalidade induziro indivduo a responder uma ou mais das perguntas para quebrar a monotonia.Esse processo continua at que todas as perguntas sejam respondidas.

    2) Cada aproximao comporta muitas variaes que podem ser usadascom sucesso, durante o interrogatrio. Freqentemente, uma mudana sbita

    na aproximao poder causar o necessrio efeito de choque para desequilibraro indivduo, permitindo que o interrogador tome a iniciativa. No planejamentodo interrogatrio dever ser decidido o tipo de aproximao a ser usado.Entretanto, ele deve ser flexvel e sujeito a uma constante reviso.

    3) Durante esta fase, a presso sobre o indivduo, no que concerne aocondicionamento e ao interrogatrio, deve ser incessante. No lhe deve serpermitido nada at que ele concorde em cooperar, a menos que seja parte dopano de interrogatrio. Ao tornar-se evidente que o preso est enfraquecendo,a presso deve ser intensificada e, logo que ele se entregue, deve ser

    comprometido de tal maneira que no mais possa voltar atrs.n. Explorao1) Uma vez atingida esta fase, o relacionamento entre o interrogador e

    o paciente pode passar do conflito para a cooperao.2) Ainda que vrios interrogadores possam ter trabalhado com o

    paciente, durante o interrogatrio detalhado, a explorao deve ser conduzidapor um deles. Sua finalidade deve ser construir um relacionamento pessoalntimo entre ele e o paciente, numa espcie de associao em que ele aceitocomo o scio dominante e o indivduo como um submisso aliado.

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    3) O interrogador eleito para esta tarefa deve ser, normal mas nonecessariamente, aquele que conseguiu o desmonte final do paciente, uma vezque ele j provou, para esse ltimo, sua superioridade psicolgica.

    4) Como o paciente est agora, dentro de certos limites, em condiesde ser tratado como um associado, as circunstncias do interrogatrio devemmudar sensivelmente, para melhor. Quando possvel, o paciente deve sertransferido para um ambiente mais confortvel e seu alojamento e alimentaodevem melhorar. Ademais, medida em que coopera, pode-se prestar umarazovel ateno a seus desejos de repouso e tranqilidade.

    5) Freqentemente, revela-se til durante esta fase, proporcionar aoprisioneiro material para escrever. Em muitos casos, o indivduo que deixa de

    resistir parece estar sofrendo uma espcie de compulso ntima para esvaziarseu crebro, de tudo aquilo que o indica culpado, e gosta, mesmo sem presso,de consumir seu tempo livre escrevendo, especialmente se o interrogador lheder temas para enfocar.

    6) A importncia de uma cuidadosa preparao assume realce durantea explorao. O interrogador deve saber, exatamente, o que quer do indivduo,assim como, ser capaz de analisar e discutir a informao que recebe. Se adquiriuascendncia por suas hbeis manobras e por sua perseverana, ter de mant-la, atravs de um controle firme e incessante sobre o paciente. Deve, portanto,

    ser provido de todas as informaes e de todos os resultados atingidos pelosanalistas, para estud-los e preparar-se.7) A explorao no terminar at que as metas do interrogador tenham

    sido atingidas. Pode prosseguir alm deste ponto, se algumas informaes departicular interesse, que o indivduo possua, forem reveladas.

    o. Relatrios1) Um interrogador deve, sempre que possvel, evitar tomar notas, pois

    isto pode atuar como um fator inibidor, tendendo a desencorajar o pacientedurante o depoimento

    2) Se for necessrio um registro pormenorizado das declaraes, amelhor soluo para o problema a utilizao de gravadores de fita. Elesregistraro o que foi dito e a maneira como foi. Para ser usado com eficincia, ogravador deve estar escondido; isto reduz a natural relutncia de falar, se opaciente estiver consciente de que est sendo feito o registro permanente desuas declaraes; por outro lado, o uso de gravador permite, aos demaisinterrogadores, monitorar todo o trabalho.

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    3) Se houver dificuldade para gravadores, pode-se usar um bomestengrafo. Ele deve, no entanto, ficar localizado fora das vistas do paciente,a fim de evitar distrair sua ateno durante o interrogatrio.

    p. Condio do Ambiente1) As fases preliminares de um interrogatrio devem ser levadas a

    efeito numa sala quase sem mveis, preferivelmente com, apenas, uma porta esem nenhuma janela. Se existirem janelas, devem ser cobertas. A sala deve serparcamente mobiliada, com uma simples mesa e cadeira para os interrogadores,as quais devem ser localizadas mais ou menos no meio da sala, de modo aaumentar o senso de isolamento do indivduo e permitir, ao interrogador,movimentos livres para os lados. O paciente deve ficar sentando ou colocado

    de tal forma que fique olhando o interrogador de baixo para cima. A iluminaodeve ser muito simples e nua, preparada para molestar o paciente e de forma ano revelar a hora do dia. Deve ser instalado um telefone aparelhado com umdispositivo de chamada oculto, para uso do interrogador.

    2) A sala deve estar fora das vistas e ouvidos de outros prisioneiros elonge de salas onde se realizem outros interrogatrios. Muito cuidado deve sertomado para evitar qualquer interrupo no planejada. Qualquer necessidadeque surja durante o interrogatrio - bebida, cigarro, fsforos, etc. - deve estarpreparada e em condies de uso.

    3) Para ressaltar a mudana de atitude conseqente da capitulao doindivduo, conveniente transferi-lo para um ambiente mais acolhedor e informal,antes de comear a explorao. Por outro lado, conveniente enfatizar, nodeve haver, durante o interrogatrio, qualquer interrupo fora do programa,ou mesmo uma distrao, que possa quebrar a ateno do prisioneiro ou dointerrogador.

    7. PSICODINMICA DO INTERROGATRIOa. Generalidades1) O interrogado um indivduo, pode ser homem ou mulher, de qualquer

    raa, cor ou credo.2) O objetivo do interrogador obter informaes oportunas e dignas

    de confiana deste indivduo e, para isso, deve primeiro quebrar-lhe a vontadede resistir.

    3) O interrogatrio no um ato de espancamento ou de mentira. Ointerrogador deve planejar seu interrogatrio com cuidado, de acordo com ocarter e a personalidade de seu oponente e, em conseqncia, os mtodos etcnicas de interrogatrio devem ser utilizados corretamente.

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    4) O interrogador deve conhecer como as circunstncias de meioambiente e a experincia moldaram o carter do indivduo, e explorar qualquerde suas fraquezas. Na verdade, ele pode tambm explorar, se lhe trouxer benefcio,qualquer fortaleza de carter que haja identificado.

    5) Conhecido o carter do indivduo, o interrogador deve,continuamente, observar sua reao durante o interrogatrio e confinamento, eexplorar, em seguida, qualquer fraqueza revelada.

    b. Condies de meio-ambiente e experincia1) O desenvolvimento do carter de um indivduo pode ser influenciado

    por todos ou alguns dos seguintes fatores:- hereditariedade; - ocupao;

    - estrutura familiar; - religio;- psquico; - poltica (ideologia)- situao financeira; - caractersticas raciais; e- educao; - fatores geogrficos.2) Como um resultado destas influncias, um indivduo maduro pode

    demonstrar todas ou alguma das seguintes caractersticas, em graus variveis- ambio; - inteligncia;- avareza; - complexo de superioridade;- esperanas; - complexo de inferioridade;

    - moral; - grau de susceptibilidade;- amor; - complexo de culpa; e- coragem; - insegurana;- vaidade;c. Tipos de carterDe acordo com a teoria de PAVLOV, h quatro tipos principais de

    carter; eles podem, normalmente, sobrepor-se em graus variveis.So eles:- Sangneos - normalmente extrovertido;

    - Calmo e imperturbvel - normalmente introvertido;- Forte e excitvel - neurtico extrovertido; e- Fraco e inibido - neurtico introvertido(Obs.: para maiores detalhes, ver item 5. f.)d. Presses sobre um indivduo1) Quando um indivduo est sendo submetido a interrogatrio,

    alternadamente com confinamento e isolamento, ou outra forma, experimentavrias presses mentais e fsicas. O interrogador deve observar, constantemente,e explorar estas presses, assim como as reaes do indivduo.

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    2) Exemplos destas presses so os seguintes:- necessidade de mant-lo alerta;- inatividade forada;- privao sexual;- desejo de piedade;- falta de orientao;- evidncias documentais;- personalidade do interrogador;- medo do desconhecido;- mudana de expectativas;- confinamento;

    - alimentao na priso;- falta de sono e sonho;- isolamento social;- desconfiana de companheiros;- falta de notcias;- alvio atravs da cooperao;- sentimento de fracasso;- medo de punio;- disciplina inesperada;

    - falta de conforto; etc.e. Resultados das presses sobre um indivduo1) Como um resultado das presses acima citadas, o indivduo pode

    experimentar alguns, ou todos, dos seguintes sintomas:- fadiga mental e fsica;- desejo de simpatia;- nsia por alvio;- aumento da conscincia culpada;- identificao;

    - transferncia; etc.2) Neste estgio o indivduo, por necessidade de conforto fsico e

    mental, tornar-se- cada vez mais dependente do interrogador. Uma eventualafinidade (ou intimidade) poder ser estabelecida, e a vontade de resistir doindivduo ser anulada. Ele dever, ento, ser interrogado minuciosa eintensivamente.

    f. Em seguida a este interrogatrio completo o indivduo poder ser:liberado, preso, ou recrutado para o servio, como um agente, uma fonte de

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    informes ou um auxiliar de interrogatrio (informante introduzido na cela de umprisioneiro remitente), etc.

    7. INTERROGATRIO ATRAVS DE UM INTRPRETEa. GeneralidadesNas operaes militares e nas de segurana interna, haver ocasies

    em que o interrogador, ou mesmo uma unidade de interrogatrio, seja solicitadopara inquirir um indivduo que fale outra lngua. Ele pode, entretanto, usar osservios de um intrprete e, assim mesmo, essencial que use aqueles servioscorretamente; se no o fizer, evidentemente, falhar na obteno das informaesque necessita.

    b. Dois modos certos e um errado

    1) O modo errado de usar intrprete permitir-lhe que tome o controledo interrogatrio. Se isto ocorre, o interrogador perde o contato com o que estsendo discutido, tornando-se incapaz de saber se o que est sendoeventualmente dito uma informao fornecida pelo interrogado, ou se ela estmisturada com a opinio do intrprete.

    2) Os dois modos certos so:a) O uso do intrprete como uma mquina lingstica, isto : o

    interrogador faz as perguntas e o intrprete traduz, palavra por palavra; oindivduo responde e o intrprete torna a traduzir, palavra por palavra. O

    interrogador que usa este mtodo mantm um controle total do questionrio ese coloca em evidncia. Por outro lado, se o interrogador fala diretamente aoindivduo, ser capaz de projetar sua personalidade, mesmo que suas palavrasnecessitem traduo. Alm disso, estar apto a sentir as reaes do interrogado.

    b) Usar o intrprete como um assistente do interrogador, isto , permitirao intrprete interrogar o indivduo livremente, mas dentro de certos limites efases, aps o que, a informao obtida traduzida. Assim, o interrogador podeautorizar o intrprete a obter o nome, a idade, o local de nascimento, a ocupaoe endereo do indivduo. Ento, tendo recebido respostas satisfatrias, pode

    instruir o intrprete para obter detalhes das atividades do mesmo. Desta maneira,o interrogatrio prossegue at que todas as informaes tenham sido obtidas.

    c. Que mtodos usar?1) A escolha do mtodo uma atribuio do interrogador, mas deve ser

    baseada:a) em relao ao intrprete:(1) confiabilidade;(2) habilidade lingstica;(3) conhecimento tcnico (armas, organizao militar, etc.);

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    (4) nvel de educao;(5) nvel de inteligncia;(6) coragem moral para forar um indivduo relutante a falarb) o fator tempo pode impor que, somente, certas questes essenciais

    devam ser perguntadas.2) Em geral, se o interrogador j trabalhou com intrprete em outras

    ocasies e confia em sua habilidade, melhor us-lo como assistente.d. Mtodo de controleO interrogador pode:1) impedir que se desenvolva qualquer tipo de argumentao entre o

    intrprete e o indivduo que est sendo interrogado;

    2) examinar, cerradamente, qualquer sugesto do intrprete no sentidode que o indivduo esteja mentindo; tal sugesto pode envolver a opinio dointrprete e sua validade depende de seus conhecimentos tcnicos e de suaexperincia em interrogatrios.

    e. Redao das perguntasAs seguintes regras devem ser usadas:1) Assegurar-se de que o intrprete compreendeu totalmente as

    perguntas, as quais devem ser redigidas de maneira correta e simples. Exemplo:Quantos terroristas vieram a vila esta noite? Esta seria a forma certa. O exemplo

    a seguir retrata uma forma errada de fazer a mesma pergunta: Estes terroristas,eu gostaria de conhecer tudo sobre eles - quer dizer, em que nmero eles so -uma Seo - um peloto - 10 - 20 - afinal, quantos so?

    2) Evitar o uso de expresses militares quando interrogando civis.Exemplos:

    - Qual a arma e o posto desse oficial?-Eles prosseguiram para o Norte?3) Simplificar as perguntas ao mximo possvel, sem prejudicar a

    compreenso. As perguntas acima seriam mais claras se fossem feitas da seguinte

    maneira:- Quantas estrelas o lder tinha no ombro?- Por quais caminhos eles saram da vila?f. Tratamento de indivduos1) Quando o indivduo um prisioneiro de guerra, deve ser tratado de

    acordo com a Conveno de Genebra. Quando um civil, desde que no sejaterrorista, deve ser respeitado de acordo com a idade, nvel social e religioso.Deve-se tomar cuidado para evitar a impresso de arrogncia e m educao,

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    comum a muitos soldados, para obter a simpatia do povo, uma vez que a maioriadas informaes so obtidas atravs da cooperao, e no da coero.

    2) No se pode esquecer que, dentre os presos, um deles, pelo menos,pode conhecer um pouco de sua lngua; por isso, no se deve fazer afirmaesdesagradveis e pessoais sobre ele, em sua presena.

    g. SeguranaInterrogue sempre o indivduo fora das vistas e ouvidos de seus

    companheiros e vizinhos, presos ou no. A menos que se sinta muito seguro,seu medo de represlias por ter falado pode torn-lo relutante em revelar tudoo que sabe.

    h. Em sntese, pode-se concluir:

    1) A pacincia a virtude mais importante n interrogatrio e,particularmente, quando h uma barreira lingstica. Nada se pode ganhar,demonstrando-se impacincia com um indivduo que esteja tentando ajudar.

    2) As perguntas devem se simples, claras e de acordo com a capacidadedo indivduo.

    3) O controle deve ser mantido qualquer que seja o mtodo usado pelointerrogador.

    4) O intrprete deve ser usado nos limites de sua capacidade e nuncaalm delas.

    8. CONCLUSES (Enxerto)a. A experincia mundial tem demonstrado que o emprego de violnciaindiscriminada em interrogatrio tem como conseqncias:

    1) Do ponto de vista estratgico:- no conduz a vitria definitiva embora, aparentemente, consiga

    neutralizar organizaes subversiva;- cria condies para campanhas internacionais dirigida contra as

    torturas, que vo sendo engrossadas, pouco a pouco, por inocentes-teise humanistas;

    - produz grande desgaste poltico internacional;- proporciona apoio psicolgico e emulao aos grupos subversivos,

    estimulando-os no prosseguimento das aes;- cria apoios internacionais de simpatizantes no comunistas, etc.2) Do ponto de vista ttico:produz um certo alheamento do povo, por vergonha, medo ou at

    nojo;ria uma mentalidade do tipo policial nos sistemas de informaes;

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    valoriza desmesuradamente o mo-de-obra em detrimento dohomem inteligente de informaes;

    produz um desgaste progressivo das foras de segurana, devido agrande nmero de operaes no vazio;

    ocasiona um envolvimento crescente de pessoas inocentes, devidoa mentiras para encontrar alvio, ou mesmo propositais;

    resulta em injustias clamorosas e irreparveis;provocam depoimentos falhos, incompletos e mentirosos

    (estatsticas demonstram que somente cerca de 10% confessam nessascondies, e nunca tudo o que sabem);

    produz um escalada de violncia, difcil de controlar, pela indefinio

    de limites (quando parar);cria uma deformao de mentalidades, dando lugar ao surgimentode sdicos;

    provoca uma escalada de dios e desejos de vingana, no deixandosadas a nenhuma das partes; etc.

    3) Do ponto de vista, essencialmente, prtico, o espancamento tornamais difcil os interrogatrios e de resultados mais falhos, particularmente, porquerefora a resistncia dos presos (mecanismos de autodefesa e de auto-afirmao), atravs de estmulos psicolgicos, tais como, por exemplo:

    o gozo pela comprovao dos imites de resistncia;o dio aos interrogadores e s foras de segurana;o uso de mentiras, seja para alvio momentneo, seja para levar

    Segurana a erros, injustias e operaes no vazio;a tentativa de no trair como mecanismo de auto-afirmao, aliada

    ao esprito de companheirismo; etc.Tudo isso, proporcionando ao interrogado a possibilidade de alcanar

    o seu objetivo mximo, ou seja, DESMORALIZAR, em primeira instncia, osinterrogadores e, finalmente, as foras de segurana e o Governo.

    4) Alm disso, tal tipo de interrogatrio permite aos subversivos:justificar-se perante sua organizao, facilitando seu

    reaproveitamento;a criao de medidas de autodefesa (segurana) nas organizaes,

    tornando cada vez mais difcil sua destruio; etc.b. A anlise acima no se baseia em sentimentos de culpa, piedade, ou

    outros semelhantes; to somente uma autocrtica feita por elementos deexperincia internacional, cujo objetivo real AUMENTAR A EFICINCIA DO

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    COMBATE A SUBVERSO E AO TERRORISMO E ELIMINAR CAUSAS ECONSEQNCIAS DANOSAS AOS SEUS PASES.

    c. O processo apresentado neste documento , acima de tudo, umaforma humana, consentnea com a mentalidade brasileira e com nossas tradiescrists. , entretanto, um mtodo duro, frio e objetivo. Deve ser estudado comvistas a sua atualizao e adaptao s nossas reis necessidades. , sobretudo,um processo que visa a:

    destruir a resistncia de um indivduo obstinado, sem usar processosdesumanos; e

    obter o mximo de informaes teis e verdadeiras, dentro do prazomais curto possvel.

    d. Interrogar uma cincia e como tal exige para sua consecuo:homens capazes, inteligentes e experientes;instalaes adequadas;atualizao constante;pacincia, persistncia e pertincia;conhecimentos especializados;inteligncia acima da fora bruta; eobjetivos de informaes definidos e prioritrios.

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    ANEXO NO 1

    FASES DO INTERROGATRIO EM OPERAES MILITARES

    ANEXO NO 2ORGANIZAO DE UMA UNIDADE DO SERVIO DE

    INTERROGATRIO DAS FFAA (USIFA)

    ANEXO NO 3

    FASES DO INTERROGATRIO EM OPERAES DE SEGURANAINTERNA

    (1) Pode ser liberado aps este estgio, ou ficar detido aguardando oprocesso criminal.

    ANEXO NO 4MTODOS INIMIGOS DE INTERROGATRIO E DOUTRINAO

    INTRODUO1. O inimigo freqentemente combinar os processos de interrogatrio

    e doutrinao. O que comea como um esforo diretamente dirigido para extrairinformaes militares pode transformar-se numa tentativa de converso, porexemplo, para o Comunismo. A recproca igualmente verdadeira. mais difcilenfrentar este processo combinado do que ao interrogatrio militar comum. Ospases no comunistas utilizam uma estruturao de interrogatrio militarbasicamente similar dos pases comunistas, embora no utilizem a parte

    referente doutrinao poltica.O PROCESSO DE INTERROGATRIO2. Pesquisa. Nossos inimigos potenciais esto engajados num processo

    contnuo de pesquisa, reunindo informaes sobre personalidades eorganizaes. O efeito da confrontao, de um prisioneiro despreparado, comum bom conhecimento de seu passado pode ser destruidor para o seu moral e,conseqentemente, para a sua determinao.

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    3. Exibio de eficincia. Desde o momento da captura dos prisioneiros,e em todos os escales, o inimigo tentar impression-los com a exibio deimplacvel eficincia militar.

    4. Seleo. O inimigo empregar um processo de seleo para determinara seqncia na qual sero interrogados os prisioneiros e, quando o mecanismode interrogatrio estiver saturado, para decidir quais prisioneiros serointerrogados. A seleo se basear nos seguintes princpios:

    a. Pessoal que provavelmente possui a informao necessria.b. Pessoal que mais provavelmente divulgar esta informao.O interrogatrio inimigo se baseia na descoberta, e subseqente

    explorao, das fraquezas humanas. Durante o processo de seleo ser avaliado

    o carter de todos os prisioneiros. Desta avaliao depender o tipo e aseqncia de tcnicas aplicadas a cada prisioneiro.5. Tipos de interrogatrio. Os interrogadores variam consideravelmente

    na abordagem e na tcnica. Muitos deles so tambm extremamente flexveis.As tcnicas de interrogatrio podem, tambm, variar, consideravelmente, maspodem ser relacionadas aos seguintes tipos gerais:

    a. Frio, persistente, impiedoso;b. Arrogante e fanfarro;c. Aparentemente tolo; e

    d. Gentil, simptico.6. Meios auxiliares do interrogatrio. O interrogador, alm de grandevariedade de tcnicas, dispe de muitos meios auxiliares materiais. Estes meiosincluem:

    a. Microfones;b. Espelhos falsos; ec. Elemento infiltrado na cela do prisioneiro.7. O inimigo, considerando que os prisioneiros no desejaro de incio

    cooperar com ele, tentar faz-los mudar de ponto de vista por u processo de

    condicionamento. Este pode ser feito atravs do ambiente, por presses fsicasou por ao direta em suas mentes.

    8. Condicionamento atravs do ambiente. Pode ser aplicado porintermdio de:

    a. Ambiente miservel e srdido;b. Instalaes sanitrias inadequadas; ec. Condies inadequadas de iluminao, aquecimento, ventilao, etc.9. Condicionamento fsico. Durante este condicionamento o prisioneiro

    pode ser sujeito a:

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    a. Tortura;b. Desconforto fsico a longo prazo, atravs da manuteno do

    prisioneiro amarrado, algemado, enjaulado ou, por longo perodo, de p ousentado, em posturas desconfortveis; e

    c. Privao: gua, alimentos e cuidados mdicos.10. Condicionamento mental. A ao contra a mente pode incluir:a. Privao de sono;b. Interrogatrio incessante;c. Uso de sugesto;d. Isolamento;e. Inquietao e humilhao; e

    f. Doutrinao.11. A doutrinao pode ser aplicada individualmente ou em massa. Afase inicial do programa de doutrinao destina-se a destruir as lealdades eidias estabelecidas no indivduo, e lanar as sementes da dvida em sua mente.Uma vez que o indivduo se torne confuso, ser-lhe- oferecida a ideologiacomunista, numa forma especialmente atraente, como um meio de salvao.

    12. Para alcanar o primeiro estgio, necessrio destruir a lealdade aogrupo. Isto conseguido pela:

    a. Abolio da disciplina e destruio da estrutura hierrquica militar

    normal; b. Explorao das dissenses existentes; ec. Criao de novas dissenses.13. O prximo estgio mudar a personalidade do indivduo. Isto

    alcanado por:a. Criao de auto-repugnncia ou complexo de culpa;b. Condicionamento ou coao fsica; ec. Expulso do grupo pelos companheiros.14. Mtodos comunistas. O levantamento mais pormenorizado dos

    mtodos comunistas de interrogatrio e de estudos sobre casos militares deinterrogatrio esto no anexo 9.

    CONCLUSO15. Os prisioneiro feitos por um inimigo nosso no futuro tem que aceitar,

    desde j, o fato de que provavelmente enfrentaro um sistema altamentesofisticado, independentemente de sua aparncia. Atravs do condicionamentofsico, mental e atravs do ambiente, e tambm pelo interrogatrio e peladoutrinao, o inimigo visar a completa subjugao pessoal, militar e polticade cada indivduo.

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    ANEXO NO 5MTODOS COMUNISTAS DE INTERROGATRIO E

    DOUTRINAO

    1. INTRODUOO objetivo deste anexo rever os conhecimentos disponveis sobre os

    mtodos comunistas de tratamento de prisioneiros de guerra, uma vez que elestm demonstrado maior amplitude em seus objetivos que todos os demaisoponentes que temos enfrentado no passado. Os comunistas empregam todosos mtodos conhecidos de interrogatrio e doutrinao.

    2. TRATAMENTO SOVITICO DOS PRISIONEIROS DE GUERRA

    ALEMESa. Durante os primeiros estgios da invaso alem da RSSIA, muitosmilhares de prisioneiros alemes foram mortos, por dio ou por convenincia.Somente quando o curso da guerra voltou-se a favor da RSSIA foi que tornou-se aparente a poltica sovitica bsica.

    b. Os interrogatrios de militares eram realizados pelo Exrcito Sovitico.Depois deste estgio, os prisioneiros de guerra passaram a ser controladospelas foras de segurana interna, que os utilizavam para trabalhos forados,doutrinao poltica e interrogatrios, com a finalidade de obter informaes

    sobre seus pases ou sobre seus companheiros presos. Os oficiais superioreseram submetidos a interrogatrio e doutrinao especiais. O interrogatrio, emtodos os estgios, era normalmente conduzido noite.

    c. As condies gerais de vida e alimentao nos campos de trabalhoforado eram muito precrias. Medidas coercitivas eram aplicadas aosprisioneiros sob interrogatrio e doutrinao, destacando-se as puniescoletivas para erros individuais, a reduo de raes e a brutalidade. Uma redecomplexa de informantes era organizada com sucesso.

    3. TRATAMENTO COMUNISTA DOS PRISIONEIROS FRANCESES

    NA INDOCHINAa. Os Viet Minh valorizaram, inteiramente, a importncia do interrogatrio

    ttico e davam nfase considervel a ele. Interrogatrios demorados eramnormais e, freqentemente, conduzidos noite.

    b. Os campos de prisioneiros de guerra eram, invariavelmente,rudimentares e os Viet Minh eram, particularmente, insensveis em relao sdoenas, aos doentes e aos feridos. O interrogatrio e a doutrinao, noscampos, eram conduzidos por quadros polticos especialmente treinados, os

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    quais pertenciam ao Estado-Maior da Unidade Administrativa encarregada docampo.

    c. As medidas coercitivas usadas pelos Viet Minh incluam as puniescoletivas, o esgotamento dos indivduos e a retirada de benefcios marginaisconcedidos aos prisioneiros. A tortura no era, comumente, aplicada, mas,quando isso ocorria, os mtodos eram, particularmente, desagradveis.

    4. TRATAMENTO COMUNISTA DOS PRISIONEIROS DAS NAESUNIDAS NA COREA

    a. Os Norte-Coreanos eram muito insensveis e brutais; mesmo osprisioneiros persuadidos a cooperar em suas manobras propagandsticas, emsua maioria, o foram por processos de intimidao fsica. O principal centro de

    interrogatrios norte-coreano tornou-se conhecido, entre os prisioneiros deguerra, durante e aps o comando do Coronel PAK, como a Casa da Morte doPAK.

    b. A maneira de atuar dos chineses era muito mais esmerada e refinada,pois era baseada em anos de experincia na converso de soldadosKUOMINTANG causa comunista.

    c. As possibilidades de interrogatrio ttico imediato no eramexploradas totalmente, mas o interrogatrio e a doutrinao eram conduzidosde vrias maneiras, durante o cativeiro.

    d. Os prisioneiros de guerra eram condicionados pela doutrinao,isolamento, inquietao, condies miserveis de vida e presses fsicas. Oschineses entretanto no recorriam, freqentemente, tortura. Outros mtodosde persuaso incluam o uso de informantes e o corte de alimentos, remdios ecorreio.

    e. Considervel esforo era dedicado para obter declaraes falsas,com a finalidade de propaganda, particularmente para apoiar as acusaes deuso da guerra bacteriolgica. Havia, tambm, uma campanha para subverter osparentes dos prisioneiros de guerra, atravs das organizaes de paz de frentes

    comunistas.f. 44% dos prisioneiros americanos e 15% dos britnicos na Corea

    morreram durante o cativeiro; 33 e 29%, respectivamente, cooperaram com oinimigo, em grau maior ou menor. Somente 12% dos prisioneiros americanos e8% dos britnicos resistiram, firmemente.

    5. CONCLUSESa. A maior parte de nosso conhecimento, sobre como o inimigo trata

    seus prisioneiros de guerra, est baseada em guerras do passado. Os chineses

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    tm, recentemente entretanto, indicado que seus mtodos no mudaram. Depoisda luta de fronteiras entre LADAK e NDIA, no outono de 1962, os chinesestrataram os prisioneiros indianos da mesma maneira com que haviam tratado osdas Naes Unidas, 10 anos antes. Relatrios do VIETNAM indicam, tambm,uma norma semelhante.

    b. Os comunistas tm trs objetivos principais no tratamento dosprisioneiros de guerra:

    1) convert-los ao comunismo ou, em ltima instncia, torn-lossimpticos ao seu ponto de vista;

    2) faz-los cooperar atravs de informaes, material de propaganda etrabalho;

    3) torn-los dceis e submissos, de maneira que a guarda eadministrao despendam com eles o mnimo de esforo.

    No Selecionados Para Interrogatrios Posteriores(Campo de Prisioneiros)

    Interrogatrio Detalhado

    Na Retaguarda

    Interrogatrio SecundrioPor interrogadores Especializa-dos do Escalo Superior (USIFA)

    Interrogatrio PrimrioPor interrogadores de nvel Brigada ou em Reforo

    Questionrio Inicial ou Ttico

    Pelas Unidades

    Seo de Apoio de Informaes

    - controle / briefing- registros- documentos

  • 8/3/2019 TCNICAS DE INTERROGATORIO DOPS

    39/40

    MAGALHES, M. B. de. Documento: Manual do interrogatrio

    Histria: Questes & Debates, Curitiba, n. 40, p. 201-240, 2004. Editora UFPR

    239

    COMANDO

    Seo de Controle de Prisioneiros

    - recepo- deslocamento

    Seo de Interrogatrio

    Equipe de Interrogatrio

    Seo MSEC Administrativa

    - guardas- disciplina- segurana- documentao- mdico

    - acomodaes- alimentao- transporte

    Sub-Seo de Monitores

    - manuseio de eqp de monito-rao

    Sub-Seo Tcnica

    - instalao e manuteno de eqp tcnicos

    Priso pela Polcia ou Unidades de PE

    Priso por Equipes de Operaes Esp.

    Priso por Equipes de Contra-Informaes

  • 8/3/2019 TCNICAS DE INTERROGATORIO DOPS

    40/40

    MAGALHES, M. B. de. Documento: Manual do interrogatrio240

    Interrogatrio Ttico no Campo(1)

    Interrogatrio nas Instalaes Avana-das dos GP OP Esp.(1)

    Interrogatrio ou De-teno nas Instala-es da Polcia(1)

    Centro de Interrogatrio

    (Incluir Interro-gadores Militares)

    Liberao

    Priso

    Processo