técnica de sentença - proteção constitucional do direito fundamental a saúde

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Escola de Magistratura do Estado do Rio de Janeiro – Emerj Aluna: Eliz Peres Matrícula: 2012.1.1.014 Turma: CPII C Sessão III: Dia 25/9/12 – 18 horas às 19:50 horas. Tema: Proteção constitucional do Direito Fundamental à Saúde. S E N T E N Ç A Vistos etc. Tem-se ação de procedimento comum ordinário, com requerimento de antecipação de tutela, ajuizada por Brasilino Pederneiras Silva, por meio de sua representante legal Angelina Pederneiras, em face do Estado do Rio de Janeiro, com pretensão condenatória do réu ao fornecimento de medicamento leite Pregomin 80g. Aduz padecer de alergia alimentar grave e alega. Sustenta, por fim, que tentou obter tal benefício através de via administrativa junto a Secretaria Estadual de Saúde, sem, contudo, ter logrado êxito, motivo pelo qual propôs a presente demanda administrativa.

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Page 1: técnica de sentença - proteção constitucional do direito fundamental a saúde

Escola de Magistratura do Estado do Rio de Janeiro – EmerjAluna: Eliz PeresMatrícula: 2012.1.1.014 Turma: CPII CSessão III: Dia 25/9/12 – 18 horas às 19:50 horas.Tema: Proteção constitucional do Direito Fundamental à Saúde.

S E N T E N Ç A

       Vistos etc.

Tem-se ação de procedimento comum ordinário, com requerimento de antecipação de tutela, ajuizada por Brasilino Pederneiras Silva, por meio de sua representante legal Angelina Pederneiras, em face do Estado do Rio de Janeiro, com pretensão condenatória do réu ao fornecimento de medicamento leite Pregomin 80g. Aduz padecer de alergia alimentar grave e alega. Sustenta, por fim, que tentou obter tal benefício através de via administrativa junto a Secretaria Estadual de Saúde, sem, contudo, ter logrado êxito, motivo pelo qual propôs a presente demanda administrativa.

A inicial foi instruída com os documentos de fls. (-).

Às fls. (-), decisão que antecipa os efeitos da tutela e determina a citação.

Regular e validamente citado (fls. -), o Estado do Rio de Janeiro, às fls. (-), preliminarmente, argui ilegitimidade passiva, pois entende que a disponibilização de remédios não é de sua responsabilidade mas de outro ente federativo, argui em sede preliminar também a ausência de condição da ação por ausência de processo administrativo requerendo o medicamento em tela. Como preliminar

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aduz, por fim, que a tutela antecipada deferida fere a ilegalidade, conforme dispõe a Lei 9494/97.

É O RELATÓRIO.

No tocante à preliminar de ilegitimidade passiva suscitada pelo demandado, saber a quem cabe prestar este ou aquele serviço de Saúde é mérito da causa, razão porque remeto-a para tal sede. Ademais, como leciona J. C. BARBOSA MOREIRA, em seu Direito Processual Civil, p. 59, Ed. Borsoi Rio de Janeiro, 1971, a legitimação é analisada in status assertionis, isto é, independentemente de sua efetiva ocorrência, que só no curso do processo se apurará. Rejeito, portanto, esta preliminar.

No que tange a preliminar suscitada quanto a carência de ação pela ausência de procedimento administrativo, não deve ela prosperar, vez que as condições da ação são: legitimidade das partes, possibilidade do pedido e interesse de agir, restando todas elas configuradas, não havendo falar em falta de interesse vez que a Autora comprova que requereu administrativamente o medicamento, não tendo sido tal requerimento atendido.

Por fim, não cabe como matéria preliminar ser suscitada a suposta ilegalidade da antecipação dos efeitos da tutela pretendida pelo Autor, vez que matéria de mérito. Portanto, rejeito esta preliminar suscitada.

No mérito, destaco que a saúde é um direito de todos e dever do Estado, sendo irrelevante a alegação de qual seja o ente federativo responsável pelo seu adimplemento, sendo inadmissível que tal pressuposto possa sobrepor-se aos mandamentos constitucionais. Neste sentido, está pacificada, no âmbito do próprio C. Supremo Tribunal Federal e do E. Superior Tribunal de Justiça, a jurisprudência no sentido de que: ´O direito público subjetivo à saúde representa prerrogativa jurídica indisponível assegurada à generalidade das pessoas pela própria CF (art. 196).´ (Ag. RE. 271.286-8). E o está, por igual, o de que: ´É dever do Estado assegurar a todos os cidadãos, indistintamente, o direito à saúde, que é fundamental e está consagrado na CF nos arts. 6º e 196. ´ (Rec. MS. 11.183).

Page 3: técnica de sentença - proteção constitucional do direito fundamental a saúde

TUDO BEM PONDERADO REJEITO AS PRELIMINARES SUSCITADAS E JULGO PROCEDENTE O PEDIDO, confirmo os efeitos da tutela, condenando o Estado do Rio de Janeiro ao fornecimento periódico e continuado do leite especial Pregomin 80g enquanto perdurar a necessidade de seu uso pela parte autora, mediante apresentação de receita e atestado médico atualizado emanado da rede pública de saúde, inclusive no que tange à quantidade mensal a ser consumida pela parte autoraAPESAR da sucumbência do Estado do Rio de Janeiro, deixo de condená-lo ao pagamento dos honorários advocatícios, uma vez que em favor do Centro de Estudos da Defensoria Pública, de acordo com o Verbete Sumular n.º 80 do Tribunal de Justiça deste Estado. CONDENO o Estado do Rio de Janeiro ao pagamento da taxa judiciária, conforme Enunciado 42, do F.E.T.J. No entanto, deixo de condená-lo a compor as custas, por conta da isenção concedida pelo art. 17, IX, da Lei nº 3.350/99 e, ainda, conforme Enunciado 28, do Fundo Especial do Tribunal de Justiça. Nos termos do artigo 17 da Lei Estadual nº 3.350/99 c/c artigo 26 da Lei 6830/80, são isentos do pagamento das custas processuais a União, os Estados, o D.F., os Municípios e suas respectivas autarquias, mesmo quando sucumbentes, observada a ressalva do artigo 17, § 1º da requerida Lei estadual. SEM DUPLO GRAU de jurisdição, em virtude do Enunciado nº 7, do Aviso TJ nº 67, de 07/12/2006. DEFIRO a gratuidade de justiça à parte autora. 27. TRANSITADA EM JULGADO, dê-se baixa e arquivem-se os autos. P. R. I-se.       

       Rio de Janeiro, 24 de Setembrp de 2012.

ELIZ PERES SILVA        Juíza de Direito