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TÉCNICA DE BIOIMPEDÂNCIA APLICADA À AVALIAÇÃO DA RIGIDEZ ARTERIAL Andrei Lenine de Almeida Pires Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia Eletrônica e de Computação da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro. Orientador: Márcio Nogueira de Souza Rio de Janeiro Setembro de 2018

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TÉCNICA DE BIOIMPEDÂNCIA APLICADA À

AVALIAÇÃO DA RIGIDEZ ARTERIAL

Andrei Lenine de Almeida Pires

Projeto de Graduação apresentado ao Curso de

Engenharia Eletrônica e de Computação da Escola

Politécnica, Universidade Federal do Rio de

Janeiro, como parte dos requisitos necessários à

obtenção do título de Engenheiro.

Orientador: Márcio Nogueira de Souza

Rio de Janeiro

Setembro de 2018

ii

iii

iv

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

Escola Politécnica – Departamento de Eletrônica e de Computação

Centro de Tecnologia, bloco H, sala H-217, Cidade Universitária

Rio de Janeiro – RJ CEP 21949-900

Este exemplar é de propriedade da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que

poderá incluí-lo em base de dados, armazenar em computador, microfilmar ou adotar

qualquer forma de arquivamento.

É permitida a menção, reprodução parcial ou integral e a transmissão entre

bibliotecas deste trabalho, sem modificação de seu texto, em qualquer meio que esteja

ou venha a ser fixado, para pesquisa acadêmica, comentários e citações, desde que sem

finalidade comercial e que seja feita a referência bibliográfica completa.

Os conceitos expressos neste trabalho são de responsabilidade do(s) autor(es).

v

AGRADECIMENTO

Primeiramente, agradeço à minha mãe, ao meu irmão e à minha namorada, por

me apoiarem quando estive em momentos complicados e preocupantes deste projeto;

agradeço especialmente ao meu pai, que além de me apoiar, me ajudou a refletir e deu

sugestões técnicas de maneiras para que eu superasse os problemas que encontrei no

projeto. Dedico este trabalho a todos eles.

Agradeço muito ao meu orientador, por ter me motivado, ensinado e guiado

tecnicamente, assim como cobrado, quando necessário. Agradeço também aos

voluntários examinados, pela paciência e colaboração durante as medidas.

Por fim, agradeço ao povo brasileiro, por ter contribuído para minha estada e

formação na UFRJ. Agradeço pela valorização que a área da Engenharia recebeu durante

meus estudos na UFRJ, que apesar de ainda não estar perto do ideal, foi suficiente para

me oferecer ensino de qualidade; espero que todas as áreas do conhecimento sejam

valorizadas, não apenas as que produzem retorno material direto. Portanto, espero que

este trabalho retribua um pouco do que recebi, celebrando que ele pode no futuro ter

aplicação prática na sociedade, e caso ocorra, desejo que ele tenha impacto positivo na

mesma.

vi

RESUMO

A doença cardiovascular é um fator que conduz à mortalidade nas populações

mais industrializadas. A patologia das grandes artérias é o principal contribuinte para a

morbidade e mortalidade por doença cardiovascular. Uma característica funcional

alterada em condições patológicas das artérias é a rigidez da parede. O diagnóstico

precoce da ocorrência de tais alterações pode identificar desde riscos individuais até

complicações clínicas, o que permite retardar o processo patológico. Dois dos possíveis

métodos não-invasivos de avaliação de rigidez arterial são a Velocidade de Onda de

Pulso (VOP) e o Pulse Transit Time (PTT). Este trabalho propõe um sistema de medida

de PTT que calcula o intervalo entre o pico R do complexo QRS (ondas Q, R e S) no

eletrocardiograma (ECG) e a chegada do pulso de pressão na artéria radial, empregando

a técnica de bioimpedância, em vez de utilizar transdutores de pressão, que podem

influenciar a medida em casos de contrapressão relevante. Medidas em voluntários

foram realizadas com intuito de pré-validar o sistema; para estas medidas, foram

utilizados dois pontos diferentes do sinal de bioimpedância: seu máximo, e o máximo de

sua derivada. Além disso, o intervalo entre a despolarização elétrica principal do

ventrículo esquerdo (pico R) e a abertura da válvula aórtica, chamado Pre-Ejection

Period (PEP), foi considerado, sendo descontado ou não. Os resultados das medidas em

nove voluntários foram comparados aos de alguns trabalhos na literatura que utilizaram

outros métodos e pontos de medida no corpo, porém com pelo menos um transdutor de

pressão. Houve semelhança na média geral dos intervalos entre os picos R e de

bioimpedância sem desconto de PEP com a literatura: 208,7 ms contra 217,1 ms

(literatura); houve semelhança também na faixa de valores obtidos de PTT entre pico R

e pico da derivada da bioimpedância, considerando as idades estudadas com a literatura:

140 ms a 100 ms para este trabalho e outro da literatura. Estes trabalhos utilizaram o

intervalo entre: picos da derivada do ECG e do pulso de pressão nos dedos do

voluntário; e os dois picos principais do pulso de pressão na artéria radial (com apenas

um transdutor), respectivamente. Apesar de haver necessidade de testes com mais

voluntários e com diferentes protocolos de posicionamento de eletrodos, os resultados

encontrados indicam que o sistema desenvolvido neste trabalho pode ser utilizado para

avaliação de rigidez arterial.

Palavras-Chave: Pulse Transit Time, Bioimpedância, Rigidez Arterial.

vii

ABSTRACT

Cardiovascular disease is a factor that leads to mortality in industrialized

countries’ populations. The pathology of big arteries is the major contributor to

morbidity and death by such diseases. A functional characteristic of the arteries altered

when under pathological conditions is its wall stiffness. Early diagnosis of such arterial

alterations may identify individual risks to clinical complications, allowing retardation

of the pathological process. Two of the possible of non-invasive methods of arterial

stiffness evaluation are the pulse wave velocity (PWV) and the pulse transit time (PTT).

This work proposes a PTT measurement system that calculates the interval between the

R peak of the QRS complex (Q, R and S waves) in electrocardiogram (ECG) and the

arrival of the pressure pulse at radial artery, employing the bioimpedance technique

instead of using pressure transducers, which may influence the measure when the

counterpressure is relevant. Measurements in volunteers were made in order to pre-

validate the system; for these measurements, two different points of the bioimpedance

signal were used: its maximum, and the maximum of its derivative. Besides, the interval

between the main electrical depolarization of the left ventricle (R peak) and the opening

of the aortic valve, called Pre-Ejection Period (PEP), was considered, being discounted

or not. The results obtained from measurements in nine volunteers were compared to

those from some works in the literature that utilized other methods and/or measure

points on the body, however using at least one pressure transducer. Similarity was found

in the general average of the intervals between R and bioimpedance peaks with the

literature, without discount of PEP: 208,7 ms against 217,1 ms (literature); also, the

range of the obtained PTT values by taking R peak and bioimpedance derivative peak,

considering the ages of the volunteers, was similar to the literature: 140 ms to 100 ms in

this work and in other one in the literature. These works employed the interval between:

peaks of both ECG and pulse pressure derivatives on the volunteer’s fingers; and the

two peaks of the pressure pulse in the radial artery (with only one transducer),

respectively. Despite the need for tests on more volunteers and with different electrode

positioning protocols, the findings indicate that the system designed in this work may be

used for arterial stiffness evaluation.

Key-words: Pulse Transit Time, Bioimpedance, Arterial Stiffness.

viii

SIGLAS

VOP – Velocidade de Onda de Pulso

PTT – Pulse Transit Time

ECG – Eletrocardiograma

OTA – Operational Transcoductance Amplifier

DRL – Driven Right Leg

THD – Total Harmonic Distortion

PEP – Pre-Ejection Period

DC – Direct Current

AM – Amplitude Modulation

ix

Sumário

1 Introdução 1

1.1 – Tema . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1

1.2 – Delimitação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2

1.3 – Justificativa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2

1.4 – Objetivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2

1.5 – Metodologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2

1.6 – Descrição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2

2 Fundamentos Teóricos 5

2.1 – Sistema Cardiovascular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5

2.2 – Hipertensão Arterial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

2.3 – Velocidade de Onda de Pulso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10

2.4 – Pulse Transit Time . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

2.5 – Eletrocardiograma . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12

2.6 – Bioimpedância . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

3 Materiais e Métodos 18

3.1 – Projeto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18

3.2 – Avaliação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35

x

4 Resultados 41

4.1 – Medidas de Bancada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41

4.2 – Medidas em Voluntários . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48

5 Discussão 52

5.1 – Medidas de Bancada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52

5.2 – Medidas em Voluntários . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53

6 Conclusão 54

Bibliografia 55

xi

Lista de Figuras

1.1 – Três metodologias utilizadas para a avaliação da rigidez arterial . . . . . . . . . 1

2.1 – Sistema arterial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2

2.2 – Armazenamento do sangue ejetado e formação da onda de pulso . . . . . . . . . 3

2.3 – Relação entre pressão diastólica e VOP . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4

2.4 – Deflexões e intervalos característicos de eletrocardiograma típico . . . . . . . . 5

2.5 – Equivalente elétrico do conjunto meio extracelular – membrana celular –

meio intracelular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6

2.6 – Arranjos para medida de bioimpedância com dois, três e quatro eletrodos.

Distribuição de linhas de densidade de corrente entre dois dos quatro

eletrodos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

7

3.1 – Esquema de posicionamento dos eletrodos e diagrama de blocos dos

sistemas de aquisição de ECG e bioimpedância . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8

3.2 – Diagrama de blocos do sistema de medida do sinal de bioimpedância . . . . . 9

3.3 – Esquemático do circuito oscilador em ponte de Wien . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10

3.4 – Sinal de saída do oscilador com destaque para período . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

3.5 – FFT do sinal de saída do oscilador com destaque para frequência central . . 12

3.6 – Topologia de filtro ativo passa-baixas inversor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

3.7 – Esquemático do conversor tensão-corrente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14

3.8 – Resposta em frequência do filtro ativo para remoção de offset de corrente . . . . . . 15

3.9 – Esquemático da captação de tensão proveniente da bioimpedância . . . . . . . 16

3.10 – Ganho implementado no amplificador de instrumentação para uma faixa

de 10 kHz abaixo e acima da frequência desejada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

3.11 – Resposta em frequência do filtro passivo para remoção de offset de tensão 18

3.12 – Esquemático do circuito comparador sincronizado com o oscilador . . . . . . 19

3.13 – Forma de onda da saída do comparador frente à saída do oscilador . . . . . . 20

3.14 – Esquemático do circuito de chaveamento do sinal proveniente da

bioimpedância para demodulação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21

3.15 – Esquemático do filtro de demodulação do sinal relacionado à

bioimpedância . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22

3.16 – Resposta em frequência do filtro ativo para demodulação do sinal de

bioimpedância . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

xii

3.17 – Esquemático do circuito de amplificação passa-baixas do sinal

proveniente da bioimpedância . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

24

3.18 – Resposta em frequência do filtro ativo não-inversor para ganho do sinal

de bioimpedância . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

3.19 – Resposta em frequência do filtro ativo inversor para ganho do sinal de

bioimpedância . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26

3.20 – Resposta em frequência do filtro passivo para remoção de offset de tensão 27

3.21 – Esquemático do sistema de aquisição de ECG . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28

3.22 – Ganho implementado no amplificador de instrumentação na faixa de

frequência desejada para captação de ECG . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

3.23 – Resposta em frequência do filtro ativo para geração do sinal de DRL . . . . 30

3.24 – Resposta em frequência do filtro ativo para amplificação do sinal de ECG 31

3.25 – Esquemático do circuito para teste do conversor tensão-corrente . . . . . . . . 32

3.26 – Painel frontal do sistema desenvolvido em LabVIEW para aquisição em

tempo real do sinal de bioimpedância e de ECG e aquisição e

processamento online para cálculo automático do PTT . . . . . . . . . . . . . . . .

33

4.1 – Saída do circuito oscilador no domínio do tempo e da frequência . . . . . . . . 34

4.2 – Saída do circuito comparador com entrada ligada ao circuito oscilador . . . . 35

4.3 – Entrada e saída do amplificador de instrumentação para entrada com

frequência abaixo da central. Entrada e saída do amplificador de

instrumentação para entrada com frequência acima da central . . . . . . . . . . .

36

4.4 – Saída do amplificador de instrumentação em esquema da Figura 3.25 com

resistor de 50Ω e de 100Ω em sua entrada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

37

4.5 – Sinal de entrada na banda passante do filtro passa-altas de alta frequência e

saída na frequência de corte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

38

4.6 – Saída da chave analógica para demodulação utilizando esquema da Figura

3.25 com resistor de 50Ω e de 100Ω . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

39

4.7 – Entrada na banda passante do filtro de demodulação. Saída do filtro para

entrada na frequência de corte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

40

4.8 – Saída do filtro de demodulação utilizando esquema da Figura 3.25 com

resistor de 50Ω e de 100Ω . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

41

4.9 – Entradas na banda passante: do 1º filtro passa-altas de baixa frequência; do

2º e do 3º filtro. Saída do 1º, 2º e 3º filtro passa-altas de baixa frequência,

para entrada na frequência de corte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

42

4.10 – Entradas na banda passante: do 1º e do 2º filtro passa-baixas de ganho.

Saída para sinal de entrada na banda passante do 1º e do 2º filtro, e em suas

respectivas frequências de corte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

43

4.11 – Entrada de sinal no amplificador de instrumentação com frequência

abaixo e acima da faixa principal, e suas respectivas saídas . . . . . . . . . . . . .

44

xiii

4.12 – Entrada na banda passante do filtro passa-altas e saída para sinal na

frequência de corte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

45

4.13 – Entrada de sinal na banda passante do filtro passa-baixas para ganho, sua

respectiva saída, e saída para sinal de entrada na frequência de corte do

filtro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

46

4.14 – Painel frontal da aplicação em LabVIEW durante a medida em um

voluntário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

47

4.15 – Progressão segundo a idade do PTT medido utilizando ECG e

bioimpedância e utilizando ECG e derivada da bioimpedância, com sua

reta de tendência correspondente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

48

4.16 – Progressão segundo a idade do PTT medido utilizando ECG e

bioimpedância e utilizando ECG e derivada da bioimpedância, após

normalização, com sua reta de tendência correspondente . . . . . . . . . . . . . . .

49

xiv

Lista de Tabelas

2.1 – Concentração de eletrólitos em fluidos corporais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1

3.1 – Propriedades avaliadas para cada circuito pertinente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2

4.1 – Tabela padrão com dados pertinentes para o cálculo de PTT gerada

automaticamente pelo sistema desenvolvido no LabVIEW . . . . . . . . . . . . .

3

4.2 – Idade, altura e PTT médio adquirido a partir do sinal de ECG para o sinal

de bioimpedância e para a derivada deste . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

4

4.3 – Média de PTT de acordo com a idade, após normalização a partir da altura

do voluntário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

5

1

Capítulo 1

Introdução

1.1 – Tema

A doença cardiovascular é um fator que conduz à mortalidade nas populações

mais industrializadas. A patologia das grandes artérias é o principal contribuinte para a

morbidade e mortalidade por doença cardiovascular. Uma característica funcional

alterada em condições patológicas das artérias é a rigidez da parede. Na Figura 1.1 estão

ilustrados três métodos de avaliação da rigidez arterial.

Figura 1.1 – Três metodologias utilizadas para a avaliação da rigidez arterial:

A) tonometria, B) hiperemia reativa, e C) velocidade de propagação da onda de pulso

(VOP).

A Velocidade de Onda de Pulso (VOP), definida como a velocidade de

propagação da onda de pulso de pressão sanguínea dentro de um vaso, é considerada

uma medida clínica não-invasiva, rápida e de baixo custo para a avaliação da rigidez

arterial e consequentemente da hipertensão; sendo normalmente realizada com

transdutores de pressão colocados sobre artérias superficiais do corpo (e.g. artérias

braquial e radial). Este método é considerado mais simples e de menor custo em

relação: à tonometria de aplanação, que consiste de aplicação de transdutor de pressão

(no caso, chamado tonômetro) com leve compressão de uma artéria superficial,

aplanando-a para aquisição da onda de pulso; e à medição da hiperemia reativa, que

consiste em aplicação de pressão sobre uma região com intuito de bloquear o fluxo

2

arterial na mesma, e após um tempo aliviar tal pressão, de forma a induzir a hiperemia

reativa – aumento rápido da quantidade de sangue arterial em uma região devido a

oclusão anterior.

O tema do trabalho é investigar a aplicação da técnica de

biompedância monofrequencial (50 kHz) no desenvolvimento de um método alternativo

para a avalição da rigidez arterial num protocolo assemelhado ao de VOP. Neste

sentido, o problema a ser resolvido é desenvolver um sistema eletrônico capaz de

detectar o início do pulso de pressão arterial e a variação do valor da bioimpedância

basal associada à variação da pressão arterial humana em um sítio do braço do indivíduo

a ser avaliado, adquirindo-se, então, o tempo de progressão de tal pulso de pressão.

1.2 – Delimitação

O objeto de estudo é avaliar a propensão à hipertensão arterial de um indivíduo

por meio de uma nova abordagem de VOP – utilizando o Pulse Transit Time (PTT) –

obtida pela técnica de bioimpedância aliada à de eletrocardiograma (ECG).

1.3 – Justificativa

Como já mencionado, a rigidez arterial está associada a várias doenças

cardiovasculares e está vinculada a vários fatores de risco cardiovasculares, tais como

idade, gênero, anormalidades nas lipoproteínas e diabetes. O aumento da rigidez arterial

é proposto como o início e/ou progressão de aterosclerose e hipertensão arterial.

Dada a natureza insidiosa de tais doenças, o reconhecimento precoce destas

alterações pode identificar riscos individuais para complicações clínicas, permitindo o

retardamento do processo patológico.

1.4 – Objetivos

O objetivo geral é desenvolver um sistema composto por uma eletrônica

analógica capaz de detectar as variações de bioimpedância associadas à variação da

pressão arterial para avaliar o PTT – e, portanto, a VOP – e a rigidez arterial. Sendo

assim, os objetivos específicos são: (1) construir sistema que capte sinais de

3

bioimpedância medida na frequência de 50 kHz; (2) construir sistema de captação de

eletrocardiograma; (3) realizar a medição de bioimpedância em um sítio do braço do

indivíduo a ser avaliado, assim como de ECG em seu torso, de modo a avaliar o PTT

por meio do intervalo entre dois pontos característicos, um do sinais de bioimpedância e

um do ECG; (4) verificar se os valores de PTT diminuem em pessoas hipertensas e/ou

com o aumento da idade.

1.5 – Metodologia

A hipótese de que a velocidade de onda de pulso de sangue é maior numa pessoa

hipertensa tem como base a ideia de que um vaso sanguíneo mais rígido que o

“normal”, por ser menos elástico, tem uma resposta mais rápida ao pulso de sangue

proveniente do ventrículo esquerdo. Isto resulta em conformação e transporte mais

velozes do sangue ejetado ao longo do vaso.

Para a investigação sobre a viabilidade do método de diagnóstico, o sistema

deverá ser composto de três estruturas básicas: de excitação, de captação e de

tratamento dos sinais. Como a proposta de diagnóstico é que este seja feito a partir da

detecção da propagação do pulso de sangue, é necessário captar o sinal em pelo menos 2

pontos, e o circuito deverá ser sensível à variação de bioimpedância causada pela

variação de pressão sanguínea. Para tal, será observada a variação da bioimpedância

associada aos tecidos da região monitorada de maneira sincronizada aos batimentos

cardíacos em um dos locais de medida. Sendo assim, deve-se fornecer excitação em

forma de corrente ao paciente, em nível não-agressivo ao paciente (cerca de 1 mA), e

em frequência já estabelecida na literatura (cerca de 50 kHz) [13]. Aliado a isso, será

monitorada a atividade elétrica do coração através de um circuito de captação de ECG,

para que a origem do pulso de pressão seja percebida. Uma vez captados os sinais nos 2

pontos, o circuito produzirá como saída sinais para a investigação do tempo de

propagação da pressão sanguínea. Com essa informação, ou seja, o intervalo de tempo

entre a atividade do coração (avaliada pelo complexo QRS do ECG) e a chegada do

pulso de sangue à artéria estudada (avaliada pela variação do sinal de bioimpedância),

poderá ser, finalmente, verificada ou não a hipótese de que a velocidade de onda de

pulso de sangue é maior numa pessoa hipertensa.

4

Os circuitos implementados foram todos analógicos, implementados com

amplificadores operacionais integrados (três convencionais quádruplos, um OTA e dois

de instrumentação) e um multiplexer analógico. A medida do intervalo foi realizada

através de um programa implementado no ambiente LabVIEW®, que também comandou

uma placa de aquisição USB 6009 (National Instruments, USA), e realizou

condicionamento dos dados coletados e a detecção de pico nos mesmos.

1.6 – Descrição

No Capítulo 2 são apresentados os fundamentos teóricos dos processos

biológicos relevantes para o entendimento do objetivo geral deste trabalho e os métodos

utilizados no mesmo; sejam estes: sistema arterial, hipertensão, velocidade de onda de

pulso, pulse transit time, eletrocardiograma e bioimpedância.

O Capítulo 3 apresenta os métodos utilizados para atingir os objetivos geral e

específicos, incluindo: os circuitos analógicos desenvolvidos para excitação de

bioimpedância e para captação da mesma e de ECG, e o sistema físico de aquisição

digital utilizado – com interface gráfica e processamento digital desenvolvidos para a

medida de PTT. Além disso, neste capítulo são explicitadas as formas empregadas para

avaliar o funcionamento dos circuitos analógicos e do sistema como um todo.

Os resultados são apresentados no Capítulo 4. Estes são constituídos de

resultados de medida de bancada dos sub-circuitos analógicos implementados, e dos

resultados obtidos da medida de PTT em voluntários.

No Capítulo 5 os resultados apresentados no Capítulo 4 são discutidos.

O Capítulo 6 mostra as conclusões do trabalho e possíveis alterações futuras dos

sistemas implementados (físicos e virtuais), assim como do método de medida em si do

Pulse Transit Time para sua aplicação utilizando a arquitetura desenvolvida no trabalho.

5

Capítulo 2

Fundamentos Teóricos

2.1 – Sistema Cardiovascular

O sistema cardiovascular pode ser compreendido como um sistema hidráulico

composto de uma bomba (o coração), dutos (os vasos sanguíneos) e um fluido (o

sangue). As propriedades de cada entidade que constitui este circuito são definidas

continuamente por fatores físicos e bioquímicos (Figura 2.1) (Berne e Levy [1] apud

Ferreira [2]).

Figura 2.1 – Sistema arterial. Fonte: Ferreira [2].

2.1.1 – Hemodinâmica

A circulação sanguínea ao longo dos vasos, assim como qualquer fluido,

pode ser caracterizada por seu fluxo (Q):

𝑄 = 𝑣. 𝐴 (1)

onde v é a velocidade do fluido tangencial ao vaso e A é a área da seção reta.

A pressão total no sistema corresponde à soma da pressão estática (Pe,

medida no sentido da propagação do fluido) e da pressão dinâmica (Pd, sobre a

superfície interna do vaso). Em grande parte das artérias, a parcela dinâmica é

desprezível quando comparada à estática. No entanto, onde houver constrição

(redução da seção reta na região do vaso), o aumento na velocidade do fluido resulta

6

em acréscimo, às vezes substancial, na pressão dinâmica (para um fluxo constante).

Isto é demonstrado pela relação entre a pressão dinâmica e a energia cinética do

fluido no vaso [3]:

𝑃𝑑 =𝐾

𝑉=

1

2𝜌. 𝑣2

(2)

onde K é a energia cinética do fluido, ρ é sua densidade, e V o volume do mesmo.

Poiseuille [4] propôs uma lei que rege o fluxo de líquidos (com coeficiente

de viscosidade constante para qualquer taxa de cisalhamento) em dutos cilíndricos:

𝛥𝑃 =8𝜂. 𝛥𝐿. 𝑄

𝜋𝑟𝑡4

(3)

onde ΔP é a diferença de pressão, η é a viscosidade do fluido, ΔL é o comprimento

do tubo e rt é o raio do mesmo.

Esta equação leva a:

𝑅 =𝑃𝑒 − 𝑃𝑠

𝑄=

8𝜂. 𝛥𝐿

𝜋𝑟𝑡4

(4)

que indica que o principal contribuinte para a resistência ao fluxo sanguíneo R em

um dado vaso é seu calibre.

Desta forma, as arteríolas são os componentes com maior resistência no sistema

circulatório e, portanto, o pulso de pressão nestes vasos é maior que nas grandes

artérias. Quando vasos deste tipo são responsáveis pela irrigação de músculos

motores, o sedentarismo resulta no aumento da resistência de tais vasos (como há

menor demanda por oxigênio nestas regiões, o calibre dos vasos é reduzido).

2.1.2 – Sistema Arterial

A principal função do sistema arterial é conformar a onda pulsátil de fluxo

de sangue proveniente do coração em um fluxo constante nos vasos capilares. A

sístole ventricular esquerda ocorre quando a pressão do ventrículo esquerdo é muito

maior que a pressão aórtica, a ponto de abrir a válvula de mesmo nome. Neste

momento, parte do sangue ejetado flui pela aorta, diretamente para as artérias de

menor calibre (cerca de 40%); o restante mantém-se ainda no ventrículo e nas

artérias elásticas. A energia potencial associada ao sangue restante é liberada

durante a diástole ventricular, devido à retração elástica das grandes artérias (e a

7

inércia proveniente da sístole); durante esta fase o fluxo de sangue, assim como a

dissipação da energia, ao longo de todas as artérias é quase constante (Figura 2.2).

O fato do coração não bombear o sangue no período diastólico torna as

características dos vasos algo determinante para o fluxo correto do sangue durante

esta etapa:

I. Se as grandes artérias não forem elásticas (i.e., paredes arteriais rígidas), não

haverá a “fonte constante” de fluxo sanguíneo para os vasos capilares.

II. Se a resistência dos vasos capilares for muito alta, o fluxo não se propagará

totalmente até os mesmos.

Sendo assim, um sistema com grandes artérias complacentes e vasos

capilares com resistência não-aumentada propicia suprimento mais uniforme de

sangue para os vasos capilares, aliado a ejeção mais rápida e menos custosa em

esforço do ventrículo esquerdo.

Figura 2.2 – Armazenamento do sangue ejetado e formação da onda de pulso.

Fonte: Ferreira [2].

Uma maneira de estimar as propriedades elásticas da parede arterial é

estudar a relação pressão estática x volume. A inclinação da curva pressão-volume é

denominada complacência, ou seja:

𝐶𝑎 =𝑑𝑉𝑎

𝑑𝑃𝑎=

𝑑𝐷𝑎

𝑑𝑃𝑎

(5)

onde Ca é a complacência arterial e 𝑑𝑉𝑎 𝑑𝑃𝑎⁄ e 𝑑𝐷𝑎 𝑑𝑃𝑎⁄ são, respectivamente, a

derivada do volume em relação à pressão, e a derivada do diâmetro arterial em

relação à pressão.

Foi verificado que a complacência arterial se degenera com o avanço da

idade, devido à mudança progressiva na proporção entre os componentes da parede

arterial – colágeno e elastina [5].

Para determinar a variação do volume arterial deve-se considerar os fluxos

de entrada e saída (i.e., ventrículo esquerdo → artéria → capilar):

8

𝑑𝑉𝑎

𝑑𝑡= 𝑄𝑒 − 𝑄𝑠

(6)

onde 𝑑𝑉𝑎 𝑑𝑡⁄ é a variação instantânea do volume arterial, Qe é o fluxo de entrada e

Qs é o fluxo de saída (Qe neste caso corresponde ao conhecido débito cardíaco).

A resistência dos vasos periféricos também tem influência sobre o

funcionamento do sistema cardiovascular, pois contribui para a pressão arterial

média (𝑃��). Além de poder ser determinada dividindo-se a área sob a curva de

pressão ao longo do tempo pelo intervalo considerado, costuma ser calculada da

seguinte forma:

𝑃�� = 𝑃𝑑 +(𝑃𝑠 − 𝑃𝑑)

3

(7)

onde Pd é a pressão diastólica e Ps é a pressão sistólica.

A entrada do sistema dos vasos periféricos corresponde à saída do sistema

arterial. Portanto, o fluxo sanguíneo nestes vasos é quase constante e sua pressão de

entrada é igual à de saída das artérias. Por outro lado, a pressão de saída do sistema

periférico corresponde à do átrio direito (a resistência proveniente das veias muitas

vezes é desprezada). Desta forma, obtemos:

𝑅 =(𝑃�� − 𝑃𝑎𝑑

)

𝑄𝑠≅

𝑃��

𝑄𝑠

(8)

onde 𝑃𝑎𝑑 é a pressão de átrio direito (que por vezes pode ser desprezada quando

comparada a 𝑃��).

Quando há variação no débito cardíaco, apenas o volume arterial terá

mudança instantânea; que por sua vez vai alterar sua pressão média até que seja

suficiente para que o fluxo constante para os vasos periféricos volte a ocorrer. A

influência da complacência arterial se faz presente na pressão arterial média,

determinando a nova pressão arterial instantânea. Assim, quanto maior a

complacência arterial, menor será a pressão instantânea e, por conseguinte, mais

lenta será a variação da pressão média arterial.

A complacência arterial desempenha papel também na pressão de pulso

arterial, sendo esta a amplitude entre as pressões sistólica e diastólica. A variação de

pressão diastólica para sistólica ocorre na fase de ejeção rápida do coração, quando

9

parte do volume de sangue descarregado pelo ventrículo esquerdo é retida nas

artérias elásticas e outra parte é escoada diretamente para as artérias periféricas no

mesmo período (Equação 9). Sendo assim, dada uma 𝑃�� constante (resistência

periférica e débito cardíaco inalterados), uma redução na complacência arterial

aumentaria a parcela de sangue escoada diretamente para as periferias. Porém, esta

mudança na complacência ainda resultaria em decréscimo na pressão diastólica e

acréscimo na pressão sistólica.

𝐶𝑎 =𝑑𝑉𝑎

𝑑𝑃𝑎∴ 𝑑𝑉𝑎 = 𝐶𝑎. 𝑑𝑃𝑎

(9)

𝑑𝑉𝑎

𝑑𝑡= 𝐶𝑎

𝑑𝑃𝑎

𝑑𝑡∴

𝑑𝑃𝑎

𝑑𝑡=

1

𝐶𝑎(𝑄𝑒 − 𝑄𝑠)

(10)

A Equação 10 mostra que se o coração for considerado uma bomba de

volume (Qe – Qs = constante), a variação temporal de pressão é inversamente

proporcional à complacência arterial.

2.2 – Hipertensão Arterial

A hipertensão arterial é uma doença degenerativa crônica de caráter

multifatorial, assintomática, cujos fatores podem ser genéticos, neuro-humorais,

ambientais e hemodinâmicos [2]. A mesma consiste de aumento sistêmico da pressão

sistólica e/ou diastólica, ou do chamado pulso de pressão arterial, sendo este a diferença

entre as pressões sistólica e diastólica. O Consenso Brasileiro de Monitorização da

Pressão Arterial considera normal a pressão sistólica/diastólica com valor de até

140/90 mmHg durante o dia e de até 120/80 mmHg durante a noite.

A hipertensão arterial frequentemente é vista como um fator de risco que leva a

doenças cardiovasculares. Isto ocorre principalmente porque:

I. O crescimento de alguma das pressões reduz a distensibilidade dos vasos, i.e.,

sua complacência;

II. O crescimento de alguma das pressões aumenta o esforço do coração para ejetar

o sangue para dentro dos vasos (a contração deve ser mais forte e/ou duradoura

para que a pressão arterial não supere a pressão ventricular durante a ejeção).

10

Como uma das causas desta condição é a redução na complacência dos vasos

(aumentando a pressão sobre as paredes internas dos mesmos quando o fluxo sanguíneo

ocorre), detectar tal alteração do sistema vascular é muito importante, visto que pode ser

ao mesmo tempo causa e consequência do processo de hipertensão. Por outro lado, este

fato torna mais difícil definir se a redução na complacência ocorreu devido à

hipertensão, ou por exemplo ao envelhecimento.

2.3 – Velocidade de Onda de Pulso

A velocidade de onda de pulso (VOP) é uma medida relacionada ao pulso de

sangue em artérias do corpo. Esta medida é realizada através da detecção da propagação

de uma grandeza relacionada ao pulso por pelo menos dois locais de medida com

distância determinada entre os mesmos. Após isso, o intervalo entre pontos similares

nos sinais é contabilizado, considerando a distância, segundo a expressão proposta por

Moens e Korteweg em 1878 [6]:

VOP =𝐷

𝑇= √

𝑡 . 𝐸

𝜌 . 𝑑

(11)

onde D é a distância entre os pontos de aquisição, T é o intervalo para propagação da

onda de um local para outro, t é a espessura da parede arterial, d é o diâmetro da artéria,

ρ é a densidade do sangue e E é o módulo de Young para elasticidade da parede arterial.

Asmar [5] relatou que as três grandezas relacionadas ao pulso que podem ser

medidas são pressão, fluxo e diâmetro no vaso estudado. Destas, a onda de pulso de

pressão é a mais utilizada para estimação de VOP.

Foi verificado que diversos fatores de risco como idade, hipertensão, gênero

masculino, anormalidades nas lipoproteínas e diabetes levam a alterações na VOP. Sob

alguma destas condições, as alterações geralmente ocorrem na impedância característica

e/ou na complacência dos vasos, sendo estas propriedades advindas principalmente de:

espessura e elasticidade da parede arterial e diâmetro arterial. É possível verificar tanto

a relação entre impedância característica e VOP, quanto entre complacência arterial e o

módulo de Young (que por sua vez relaciona-se diretamente à VOP).

𝑉𝑂𝑃 = 𝑍𝑐 . 𝜌 (12)

11

𝐸 =𝐷

𝑑𝑃𝑎

𝑑𝐷𝑎=

1

𝐶𝑎

𝑑

𝑡

(13)

onde D é o diâmetro arterial durante a diástole e t é a espessura da parede arterial.

Sendo assim, a obtenção da VOP permite estimar alterações no sistema

cardiovascular através das equações 11 a 13. Na Figura 2.3 vemos a evolução do valor

de VOP de acordo com a pressão diastólica (diversos pontos da onda de pressão foram

utilizados em diferentes trabalhos na literatura para a medida de VOP – com correlação

resultante diferente entre cada ponto fiducial e VOP). Verifica-se o crescimento da VOP

seguindo o aumento na pressão diastólica a partir de pressão em torno de 50 mmHg.

Figura 2.3 – Relação entre pressão diastólica e VOP. Fonte: Asmar [5], adaptado de

Bramwell [7].

2.4 – Pulse Transit Time

Este parâmetro aponta o tempo para uma onda de pressão passar por dois locais

de medida em uma artéria. Portanto, esta medida pode ser relacionada com a VOP:

𝑉𝑂𝑃 =𝐷

𝑃𝑇𝑇= √

𝑡 𝐸

𝜌 𝑑

(14)

Todavia, este termo específico também é utilizado quando a maneira de

obtenção de tal intervalo emprega o sinal de ECG no lugar de um dos transdutores de

pressão. Geralmente, para a medida marca-se o tempo em que ocorre o pico do

complexo QRS no sinal de ECG e um momento característico de alguma grandeza no

outro local de medida (normalmente o dedo indicador). Como na medida tradicional de

VOP, frequentemente o segundo ponto é coletado com transdutores de pressão; para a

12

determinação do intervalo, diferentes trabalhos na literatura utilizaram diferentes pontos

característicos da onda de pressão (e às vezes do ECG): em [8-9] o primeiro ponto com

25% da altura total do pico de pressão foi escolhido; Wong [10] empregou os picos da

derivada do ECG e da derivada do sinal de pressão para a medida de PTT. Outro

trabalho encontrado na literatura, apesar de denominar a medida PTT, testou a

possibilidade de utilizar apenas o sensor de pressão (dispensando ECG), marcando os

dois picos do sinal proveniente deste sensor sobre a artéria radial [11].

2.5 – Eletrocardiograma

O eletrocardiograma expressa a progressão temporal de potencial elétrico entre

um par de pontos na superfície da pele. A origem dos potenciais elétricos está nos

impulsos cardíacos que ocorrem para manter seu funcionamento. Este sinal, obtido por

um eletrocardiógrafo, permite entender: a orientação anatômica do coração; o tamanho

relativo entre as câmaras (átrios e ventrículos esquerdo e direito); anomalias de ritmo e

condução; extensão, localização e progressão de isquemias (lesões em que o fluxo

sanguíneo é bloqueado por trombos) do miocárdio; efeitos de mudanças nos eletrólitos;

e influência de certos medicamentos [1].

A forma exata do sinal obtido depende do indivíduo, assim como do

posicionamento dos eletrodos de captação no corpo do mesmo. Entretanto, sua

configuração padrão é conhecida, a qual consiste das ondas P, QRS e T (Figura 2.4).

Figura 2.4 – Deflexões e intervalos característicos de eletrocardiograma típico

(adaptado de [12]).

13

Dentro desta forma padrão de ECG destacam-se algumas características:

I. Intervalo P-R: este intervalo representa o tempo entre o início da ativação atrial

e o início da ativação ventricular, durando normalmente entre 0,12 e 0,2 s;

II. Complexo QRS: despolarização do ventrículo (geralmente entre 0,06 e 0,1 s);

III. Segmento ST: todo o miocárdio ventricular encontra-se despolarizado. Como as

células possuem aproximadamente o mesmo potencial, a este segmento é

atribuído potencial “zero”;

IV. Intervalo Q-T: por vezes designado período de “sístole elétrica” dos ventrículos,

este intervalo reflete os potenciais de ação das células miocárdicas (possui

duração em torno de 0,4 s, porém varia inversamente com a frequência

cardíaca).

Uma vez que as sucessivas despolarizações e repolarizações elétricas descritas

acima resultam em contração e relaxamento do coração, elas estão também relacionadas

com o ciclo de pressão no sistema arterial que escoa o sangue do coração. Sendo assim,

o sinal de eletrocardiograma pode ser um dos pontos utilizados para estudar a

propagação da onda de pressão sobre tais artérias.

Os eletrodos para captação de ECG neste trabalho foram dispostos na

configuração CC5 (quintos espaços intercostais direito e esquerdo, com eletrodo de

referência acima da cicatriz umbilical), de forma a estarem suficientemente distantes

dos eletrodos de excitação de corrente de 50 kHz, para evitar interferência.

2.6 – Bioimpedância

Bioimpedância refere-se à generalização, para diversas frequências, da oposição

à passagem de corrente elétrica que um tecido biológico oferece quando sobre ele é

aplicada uma diferença de potencial [13]. Esta grandeza tem sentido e valor em estudos

fisiológicos quando o constituinte básico dos tecidos vivos é considerado: a célula. Sua

estrutura básica consiste de uma membrana fosfolipídica que separa o meio extracelular

do meio intracelular [14].

I. Meio Extracelular

O meio extracelular pode ser descrito como uma solução iônica, cujos íons

predominantes são o Na+ (cerca de 140 mM) e o Cl- (cerca de 100 mM). Fatores

14

químicos (como: variação na concentração dos íons supracitados ou de outros; pH

da solução) e físicos (como temperatura) influenciam a quantidade e a mobilidade

dos íons presentes no meio, o que determina a condutividade do mesmo.

II. Meio Intracelular

O meio intracelular possui concentração de íons parecida com a do meio

extracelular (180 meq/L contra 153 meq/L), porém neste meio os portadores de

carga mais importantes são K+, radicais livres (-) de proteínas e HPO4-2 + SO4

-2 +

ácidos orgânicos. Por outro lado, o meio intracelular abriga organelas, que possuem

membranas dielétricas em seu entorno; desta forma, estes componentes adicionam

propriedades capacitivas ao meio intracelular. Entretanto é geralmente aceito que o

meio intracelular se comporta apenas como um condutor iônico. Na tabela 2.1 são

expostas as concentrações de alguns dos principais eletrólitos presentes nos fluidos

corporais genéricos.

Tabela 2.1 – Concentração de eletrólitos em fluidos corporais. Fonte: Martinsen

[13]

Cátions

(meq/L)

Meio Ânions

(meq/L)

Meio

Extracelular Intracelular Extracelular Intracelular

Na+ 142 10 Cl- 103 4

K+ 4 140 HCO3- 24 10

Ca+2 5 10-4 Proteínas- 16 36

Mg+2 2 30 HPO4-2 +

SO4-2

+ ácidos

orgânicos

10

130 H+ 4x10-5 4x10-5

Total 153 180 Total 153 180

III. Membrana Celular

Além de dar forma à celula, a membrana celular empenha papéis primordiais

para a sobrevivência e desenvolvimento das funções de tal célula; papéis que estão

relacionados também ao comportamento elétrico desta bicamada fosfolipídica. Esta

camada com cerca de 7 nm permite a passagem de lipídios e água, porém

geralmente inibe o transporte de íons por ela (papel passivo). Sua composição

permite que seja representada como um dielétrico, o que confere à tríade meio

15

extracelular – membrana celular – meio intracelular, propriedades capacitivas

(condutor – dielétrico – condutor) (em torno de 1 µF/cm2).

Por outro lado, ao longo da membrana celular há outros componentes que

auxiliam nos papéis ativos da mesma, sendo estes as proteínas, organelas de

transporte e canais e bombas de íons. Destes, os dois últimos influenciam a

bioimpedância total da região da membrana celular.

Os canais de íons consistem em estruturas porosas que oferecem ou não

caminho para íons necessários ao funcionamento da célula através da membrana

celular. O controle de tais poros ocorre através de sinais biológicos elétricos ou

químicos.

As bombas de íons consomem energia para forçar íons para dentro ou fora

da célula através da membrana. Esta função é executada geralmente para controle da

pressão hidrostática celular.

Dado que estes dois tipos de componentes da membrana celular atuam

permitindo a passagem de íons por esta, tais componentes adicionam um caráter

condutivo a ela (estas vias alternativas ao dielétrico da membrana para condução

iônica são interpretadas como um condutor não-ideal em paralelo).

Segundo a composição e as funcionalidades expostas acima, um modelo elétrico

para o conjunto meio extracelular – membrana celular – meio intracelular pode ser

inferido (Figura 2.5):

Em baixas frequências (<1 kHz), a excitação de corrente flui muito pouco

através da membrana celular (Rm muito alto), percorrendo praticamente apenas o meio

extracelular. Em altas frequências (>1 MHz) a capacitância associada à membrana não

oferece reatância a passagem de corrente, de forma que ambos meios extra e

intracelulares conduzem significativamente.

16

Figura 2.5 – Equivalente elétrico do conjunto meio extracelular – membrana celular –

meio intracelular. Fonte: Ivorra [14].

Neste trabalho a frequência utilizada foi de 50 kHz; excitações em tal faixa de

frequência geralmente permitem que os efeitos capacitivo e resistivo da membrana

tenham influência (|𝑋𝐶𝑚| < 𝑅𝑚, porém não é verdade que |𝑋𝐶𝑚

| ≪ 𝑅𝑖).

É comum que, para melhor representação de variações de condutividade em

tecidos biológicos com a frequência, o capacitor no modelo seja substituído pelo

chamado Elemento de Fase Constante. A parte real da impedância deste componente

idealizado, além de sua reatância, depende da frequência. Entretanto, como este trabalho

utiliza técnica monofrequencial, a descrição do comportamento multifrequencial dos

tecidos biológicos não necessita ser profunda.

Uma das aplicações do estudo de bioimpedância é o monitoramento contínuo de

regiões do corpo para verificação de fenômenos anômalos, como acidentes vasculares.

Eventos deste tipo aumentam a quantidade de sangue na região estudada, o que

geralmente leva ao aumento na admitância total.

Este trabalho utiliza o mesmo conceito para aplicação de bioimpedância,

monitorando a propagação da onda de pressão de sangue na artéria radial: a cada pulso

ocorre dilatação ou contração ao longo de tal artéria, o que provoca variação da

admitância do local estudado em relação ao valor basal da mesma (após conformação

do pulso de pressão).

2.6.1 – Método de medida de bioimpedância

Na Figura 2.6 são apresentados três arranjos possíveis para os eletrodos em

medidas de bioimpedância e a difusão da corrente por uma seção quando nesta é

utilizado arranjo de quatro eletrodos.

17

a) Dois eletrodos. b) Três eletrodos.

c) Quatro eletrodos.

d) Linhas de densidade de

corrente. Figura 2.6 – Arranjos para medida de bioimpedância com a) dois eletrodos, b) três

eletrodos, c) quatro eletrodos; d) distribuição de linhas de densidade de corrente

entre dois dos quatro eletrodos [15].

Para a medida de bioimpedância de um determinado volume, existem três

tipos comuns de arranjo dos eletrodos: dois, três ou quatro eletrodos (Figuras 2.6.a-

c, respectivamente). A maneira de dispor os eletrodos de excitação e captação pelo

paciente (ou qualquer volume medido, biológico ou não) determina a forma com

que as linhas de densidade de corrente se propagam (Figura 2.6.d), o que influencia

o resultado da medida, pois a impeditividade de diferentes porções do volume é

contabilizada, e com pesos diferentes. O método empregado neste trabalho foi o de

quatro eletrodos (dois para excitação de corrente e dois para captação de tensão).

18

Capítulo 3

Materiais e Métodos

3.1 – Projeto

Uma vez que o presente trabalho representa uma nova abordagem para uma

mensuração alternativa do PTT, sem uso de transdutores de pressão, a completa

especificação do projeto não é conhecida, enquadrando-se o mesmo muito mais como

um trabalho de pesquisa. Desta forma, várias partes do desenvolvimento foram sendo

projetadas à medida aumentava-se o conhecimento sobre os sinais que deveriam ser

detectados.

A forma utilizada neste trabalho para medir o PTT deu-se a partir da onda R do

ECG (sístole cardíaca) até um ponto característico do sinal de bioimpedância na artéria

radial. Para atingir tal objetivo, foram desenvolvidos um sistema de captação de ECG e

um sistema monofrequencial de medida tetrapolar de bioimpedância. Na Figura 3.1 está

o diagrama de blocos de cada sistema, assim como as regiões corporais em que os

eletrodos foram posicionados.

Figura 3.1 – Esquema de posicionamento dos eletrodos e diagrama de blocos dos

sistemas de aquisição de ECG e bioimpedância (sinal de bioimpedância modificado de

[16]).

19

As tensões de alimentação de todos os circuitos deste trabalho foram +6 V e

-6 V (com a utilização de capacitores de desacoplamento de 560 nF e 47 µF). Os

amplificadores operacionais utilizados foram do modelo TL074 [17]. As simulações

computacionais para verificar a correção do projeto foram realizadas nos softwares

Cadence OrCAD Capture® e Cadence PSpice A/D® [18].

3.1.1 – Sistema de Medida de Bioimpedância

O sistema de medida de bioimpedância empregado neste trabalho pode ser

dividido em excitação de corrente com frequência de 50 kHz e captação de tensão

sobre a artéria radial do paciente, com filtragem para detecção da variação da

bioimpedância na região estudada (Figura 3.2).

Figura 3.2 – Diagrama de blocos do sistema de medida do sinal de bioimpedância.

I. Excitação

Este subsistema consiste de um oscilador senoidal na frequência de

50 kHz (conveniente para análise de bioimpedância, como dito anteriormente) e

de um conversor tensão-corrente, no caso um circuito integrado OTA

(Operational Transcoductance Amplifier) [19].

Oscilador

Para a geração do sinal de 50 kHz que excitará a região estudada

do paciente, este projeto empregou um oscilador Ponte de Wien [19].

Abaixo estão as equações que determinam o funcionamento deste

circuito, assim como a Figura 3.3, com o esquemático correspondente.

𝐴 = 𝑅1

𝑅2+

𝐶2

𝐶1+ 1

(15)

20

𝜔𝑜𝑠𝑐 = √1

𝑅1𝑅2𝐶1𝐶2

(16)

Figura 3.3 – Esquemático do circuito oscilador em ponte de Wien.

Na equações 15 e 16, A é o ganho para a manutenção da oscilação

(condição de oscilação) e ωosc é a frequência de oscilação do circuito (em

rad/s). Para redução dos graus de liberdade do problema foram

assumidos 𝑅1 = 𝑅2 e 𝐶1 = 𝐶2. Desta forma, a frequência de oscilação é

expressa por 𝜔𝑜𝑠𝑐 =1

𝑅1𝐶1, e a condição de oscilação torna-se 𝐴 = 3.

Foram escolhidos 𝐶1 = 1 𝑛𝐹 e 𝑅1 = 3,3 𝑘𝛺, de forma que 𝑓𝑜𝑠𝑐 =

48,23 𝑘𝐻𝑧. Para garantir que o sistema não seja estável (sinal de saída

decairia até 𝑣𝑜𝑠𝑐 = 0), foram escolhidos R3 e R4 para 𝐴𝑚á𝑥 > 3. Foram

escolhidos 𝑅3 = 15 𝑘𝛺 e 𝑅4 = 33 𝑘𝛺, então |𝐴𝑚á𝑥 (𝑗𝜔𝑜𝑠𝑐)| = 3,20. O

circuito empregado para o controle de amplitude (ganho menor em

amplitude maior) deu-se com um resistor R5 em série com dois diodos de

sinal em anti-paralelo; este foi colocado em paralelo com R4. Com intuito

de manter Amáx e Amín aproximadamente equidistantes da condição exata

de oscilação, foi escolhido 𝑅5 = 120 𝑘𝛺, obtendo-se |𝐴𝑚í𝑛(𝑗𝜔𝑜𝑠𝑐)| =

2,73.

O circuito foi simulado para verificação da forma de onda e da

frequência de oscilação (Figuras 3.4 e 3.5).

21

Figura 3.4 – Sinal de saída do oscilador ao longo do tempo.

Figura 3.5 – FFT do sinal de saída do oscilador com destaque para

frequência central.

Verificou-se um desvio na frequência de oscilação do circuito do

projeto teórico para a simulação, porém foi pequeno, o que não

influencia na medida da bioimpedância.

Conversor Tensão-Corrente

O circuito escolhido para fornecimento de corrente a partir da

tensão do oscilador foi o OTA. Este circuito recebe uma tensão

diferencial em suas entradas e impõe em sua saída uma corrente

proporcional à diferença:

𝐼𝑜 = 𝑔𝑚(𝑉+ − 𝑉−)

(17)

A constante de proporcionalidade gm pode ser ajustada através de

corrente de controle da polarização IABC do estágio diferencial de entrada

do OTA. Este circuito possui alta impedância de entrada e de saída,

como desejado.

22

A Figura 3.6 apresenta o esquemático do conversor tensão-

corrente.

Figura 3.6 – Esquemático do conversor tensão-corrente com remoção

de offset de corrente e de ressonância em alta frequência.

O OTA utilizado, CA3080 [20], possui pequena região linear de

operação, o que limita a entrada diferencial em cerca de 50 mV, criando

a necessidade de um divisor de tensão resistivo (R1 e R2) ser inserido

entre a saída do oscilador e uma de suas entradas. Após teste com a saída

do oscilador, cuja tensão de pico não foi projetada (controle de ganho

com diodos em anti-paralelo), foram escolhidos 𝑅1 = 56 𝑘𝛺 e 𝑅2 =

2,7 𝑘𝛺, o que garante sinal de entrada menor que 50 mV para 𝑣𝑜𝑠𝑐𝑝≤

1,09 V, o que foi suficiente quando implementado na prática.

A corrente IABC foi definida por um resistor 𝑅6 = 2,8 𝑘𝛺 (dois

resistores de 5,6 𝑘𝛺 em paralelo), o que mantém esta corrente abaixo do

limite do CA3080 para a mesma, de 2 mA. O ajuste dos resistores deu-se

com o oscilador e o divisor de tensão conectados, em busca de que a

corrente de pico na saída fosse de cerca de 1 mA, que é imperceptível

para o paciente e inofensiva ao tecido, enquanto a tensão resultante tem

ordem de grandeza maior que possíveis ruídos.

Após alguns testes, foi verificado um nível médio (DC, Direct

Current) de saída alto (próximo dos níveis de excursão, ~4 V) em

23

relação ao sinal de 50 kHz, e variante durante o início do funcionamento

do sistema. A primeira tentativa para compensação do offset foi ajuste

com divisores de tensão com potenciômetro entre +Vcc e -Vcc na entrada

do OTA. Entretanto, esta primeira tentativa não foi bem sucedida. Então,

foi elaborado um esquema de realimentação do circuito, a fim de reduzir

a tensão diferencial de entrada de acordo com o aumento de corrente

contínua na saída (ou seja, Ioff, pois o sinal de excitação tem frequência

próxima de 50 kHz). Para tal, a realimentação deu-se por um filtro passa-

baixas ativo de primeira ordem. A topologia e a equação deste filtro

estão expostas a seguir:

Figura 3.7 – Topologia de filtro ativo passa-baixas inversor.

𝑣𝑜

𝑣𝑖

(𝑠) = −𝑅2

𝑅1

1

𝑠𝐶𝑅2 + 1

(18)

Utilizando 𝑅3 = 10 𝑘𝛺, 𝑅4 = 560 𝑘𝛺 e 𝐶1 = 560 𝑛𝐹, produziu

ganho |𝐴𝑚á𝑥| = 56 e frequência de corte 𝑓𝑐 = 0,51 𝐻𝑧 em malha aberta.

Esta opção foi bem sucedida. Este filtro foi simulado em malha aberta

para verificar sua implementação, resultando em desvio não-

significativo.

Após a montagem na placa de circuito impresso, o sinal de saída

apresentou componente em alta frequência (>2 MHz); para eliminar esta

ressonância, um capacitor de 220 pF foi colocado na saída do circuito.

Esta solução funcionou como desejado.

A Figura 3.8 exibe a simulação do filtro ativo para remoção de

offset de corrente, em malha aberta.

24

Figura 3.8 – Resposta em frequência do filtro ativo para remoção de

offset de corrente.

II. Captação

Este subsistema consiste de um amplificador de instrumentação que

capta sinal de tensão associado à bioimpedância do antebraço e um demodulador

de amplitude (AM, Amplitude Modulation) síncrono, composto de um

comparador, uma chave analógica e um filtro passa-baixas.

Amplificador de Instrumentação

Este tipo de circuito possui altíssima impedância de entrada,

proveniente da configuração não-inversora, e permite ganho variável de

acordo com um resistor (RG) [19]. O circuito integrado utilizado neste

trabalho, INA128 [21], utiliza uma das topologias mais comuns para

amplificadores de instrumentação. A seguir está a equação para

dimensionamento de RG de acordo com o ganho desejado.

𝐺 = 1 +50 𝑘𝛺

𝑅𝐺

(19)

Era esperado que a seção de tecido humano na região estudada

tivesse até 500 Ω de impedância [13]. Portanto, o sinal de tensão

diferencial nas entradas do amplificador de instrumentação seria de até

0,5 V. Para obter melhor relação sinal-ruído, foi calculado RG (R1) para

que o limite da saída do amplificador de instrumentação estivesse em

torno de 3 V, ou seja 𝐺 = 6 (garante folga em relação aos limites de

excursão de ~6 V); com isso 𝑅1 = 10 𝑘𝛺.

25

Na Figura 3.9 está o esquemático do circuito com o amplificador

que capta a tensão do voluntário e filtro para remoção de offset de tensão.

Figura 3.9 – Esquemático da captação de tensão proveniente da

bioimpedância do segmento estudado.

Após o amplificador de instrumentação há um circuito passa-altas

passivo de primeira ordem para retirar o nível DC. O circuito possui

função de transferência

𝐻(𝑠) =𝑠𝐶𝑅

𝑠𝐶𝑅 + 1

(20)

Escolhendo 𝐶1 = 22 𝑛𝐹, foi selecionado um resistor que

respeitasse 𝑅 > 50𝑋𝐶 em 𝑓 = 50 𝑘𝐻𝑧, visando a baixa perda de sinal na

frequência acima. Então, foi utilizado 𝑅2 = 12 𝑘𝛺, o que resultou em

𝑓𝑐 = 602,9 𝐻𝑧.

As Figuras 3.10 e 3.11 mostram o desempenho simulado na

frequência do amplificador de instrumentação e do filtro passa-altas.

Figura 3.10 – Ganho implementado no amplificador de instrumentação

para uma faixa de 10 kHz abaixo e acima da frequência desejada.

26

Figura 3.11 – Resposta em frequência do filtro passivo para remoção de

offset de tensão.

Verificou-se na simulação que o amplificador de instrumentação

e o filtro de remoção de offset são adequados para a aplicação.

Comparador

O controle da chave analógica é feito de forma digital, portanto

dois níveis bem definidos e distintos são necessários para selecionar uma

das entradas. Como a excitação utilizada é gerada pelo oscilador (em

torno de 50 kHz), foi utilizado este mesmo sinal como entrada de um

amplificador operacional funcionando como comparador. Desta maneira

é gerado o sinal de controle que selecionará um entre os dois sinais

chegando à chave analógica de forma sincronizada à portadora.

A Figura 3.12 apresenta o esquemático do circuito comparador

com o sinal de entrada proveniente do oscilador.

Figura 3.12 – Esquemático do circuito comparador sincronizado com o

oscilador.

27

Como este circuito gera uma saída quadrada, para evitar que os

harmônicos contidos no mesmo influenciem na alimentação dos outros

circuitos do sistema, capacitores de 10 nF foram colocados diretamente

nos pinos de alimentação do circuito integrado do comparador.

A Figura 3.13 mostra a simulação dos sinais de saída no tempo

do oscilador e do comparador.

Figura 3.13 – Forma de onda da saída do comparador frente à saída do

oscilador.

O tempo de transição entre os dois níveis foi de cerca de 625 ns,

o que não impacta significativamente na seleção da chave analógica.

Pode-se verificar que houve atraso entre a entrada e a saída de 2,9 µs;

isto se repetiu na prática, o que levou a desbalanceamento no

chaveamento do sinal de bioimpedância captado.

Chave Analógica

A Figura 3.14 exibe o esquemático do circuito de chaveamento

do sinal de bioimpedância para demodulação.

A chave analógica funciona de forma muito parecida com a de

um multiplexador, selecionando uma entre N entradas, sendo escolhida

através de uma palavra digital de tamanho log2 N, porém sua saída

assume o valor da entrada, não se restringindo a dois valores. O circuito

integrado utilizado neste projeto é o CD4053 [22], que possui quatro

chaves binárias, ou seja, com duas entradas e um bit de seleção em cada.

28

Figura 3.14 – Esquemático do circuito de chaveamento do sinal

proveniente da bioimpedância para demodulação.

Os sinais nas entradas da chave são provenientes do amplificador

de instrumentação (sem nível médio): um é apenas a cópia do sinal

biológico, e o outro é a cópia invertida. Para tal foram utilizados um

buffer e um inversor, ambos implementados com amplificadores

operacionais.

Filtro Demodulador

Na Figura 3.15 está exposto o esquemático do filtro passa-baixas

para demodulação do sinal de bioimpedância depois de chaveado.

Figura 3.15 – Esquemático do filtro de demodulação do sinal

relacionado à bioimpedância.

Para que apenas o sinal referente à variação da bioimpedância

fosse extraída (devida ao fluxo de sangue), foi implementado um filtro

passa-baixas ativo com mesma topologia do controle de offset do

conversor tensão-corrente. Portanto, ganho unitário foi utilizado, e a

29

frequência de corte escolhida foi de 30 Hz, pois permite as frequências

fundamentais do sinal (da ordem de grandeza da frequência cardíaca, que

controla os pulsos de sangue), além de alguns harmônicos, permitindo

melhor definição quanto à forma de onda do sinal; além disso, a

frequência de corte está abaixo de 60 Hz, o que é recomendado, pois a

rede elétrica pode induzir no paciente sinal de mesma frequência, e assim

influenciar o resultado final, então esta deve ser mitigada. Foram

escolhidos 𝑅1 = 𝑅2 = 15 𝑘𝛺 e 𝐶 = 330 𝑛𝐹, o que implicou em 𝑓𝑐 =

32,15 𝐻𝑧.

A Figura 3.16 mostra o ganho deste filtro simulado para diversas

frequências. A simulação mostra que a frequência de corte obtida na

mesma esteve próxima da teórica.

Figura 3.16 – Resposta em frequência do filtro ativo para demodulação

do sinal de bioimpedância.

Filtros para Ganho

A tensão relacionada à variação da bioimpedância causada pela

onda de pressão no vaso é muito baixa (e.g. ~38 mΩ de variação mde

bioimpedância em um dos voluntários estudados). Por conseguinte, mais

dois estágios passa-baixas ativos foram utilizados, visando a mais

facilidade na visualização e tratamento digital. Ambos os estágios

possuem ganho maior (em torno de 150 para cada), porém neste caso

uma frequência de corte de 15 Hz foi utilizada, porque notou-se presença

de rede elétrica no sinal resultante em teste com a frequência de corte

anterior (30 Hz); o primeiro passa-baixas é não-inversor, enquanto o

30

segundo é um inversor puramente passa-baixas (sem zero real em

frequência não-infinita) (Figura 3.17).

Figura 3.17 – Esquemático do circuito de amplificação passa-baixas do

sinal proveniente da bioimpedância.

A seguir está a função de transferência do passa-baixas não-

inversor.

𝑣𝑜

𝑣𝑖

(𝑠) = 1 +𝑅2

𝑅1

1

𝑠𝐶𝑅2 + 1

(21)

onde vi é o sinal demodulado original. O segundo estágio passa-baixas é

de mesma topologia do filtro de demodulação. Foi arbitrado 𝐶2 = 𝐶4 =

330 𝑛𝐹, com isso 𝑅3 = 𝑅6 = 33 𝑘𝛺 e 𝑅2 = 𝑅5 = 220 𝛺, o que

implicou |𝐴1𝑚á𝑥| = 151 e |𝐴2𝑚á𝑥

| = 150 e 𝑓𝑐 = 14,61 𝐻𝑧.

Nas Figuras 3.18 e 3.19 estão as simulações de ganho ao longo da

frequência para o amplificador não-inversor e inversor, respectivamente.

Circuito passa-altas

Circuito passa-baixas

31

Figura 3.18 – Resposta em frequência do filtro ativo não-inversor para

ganho do sinal de bioimpedância.

Figura 3.19 – Resposta em frequência do filtro ativo inversor para

ganho do sinal de bioimpedância.

Entre o estágio passa-baixas de demodulação e o amplificador

passa-baixas não-inversor foi inserido um passa-altas passivo para retirar

o offset. Entre o amplificador passa-baixas não-inversor e o inversor

novamente há o filtro passa-altas passivo, desta vez seguido por um

buffer, para que não haja perda de sinal nem mudança na frequência de

corte do passa-altas, pois o passa-baixas inversor não possui impedância

de entrada alta. Após o último estágio de ganho foi incluído mais uma

vez o passa-altas passivo. Os componentes utilizados foram 𝑅1 = 𝑅4 =

𝑅7 = 470 𝑘𝛺 e 𝐶1 = 𝐶3 = 𝐶5 = 470 𝑛𝐹, o que levou a 𝑓𝑐 = 0,72 𝐻𝑧.

A Figura 3.20 mostra o ganho do filtro passa-altas ao longo da

frequência.

32

Figura 3.20 – Resposta em frequência do filtro passivo para remoção de

offset de tensão.

Todos os filtros simulados apresentaram comportamento

compatível com o esperado.

3.1.2 – Eletrocardiograma

A Figura 3.21 mostra o sistema completo de captação do

eletrocardiograma.

Figura 3.21 – Esquemático do sistema de aquisição de ECG (gerador de DRL e

amplificador passa-baixas implementados em circuitos integrados diferentes).

Como o eletrocardiograma trata-se de uma medida de um biopotencial

(sinal endógeno), só é necessário circuito de captação para obter este sinal. Para

adquiri-lo foram utilizados um amplificador de instrumentação, um filtro passa-

altas (C1 e R3) com buffer igual aos da Seção 3.1.1 – Bioimpedância – II.

Circuito passa-altas

Circuito passa-baixas

33

Captação – Filtros para Ganho e dois filtros passa-baixas inversores de

topologia encontrada na dita seção.

O amplificador de instrumentação utilizado foi novamente o INA128,

com RG dividido em dois resistores (R1 e R2), de forma que 𝑅𝐺 = 360 𝛺 (o que

leva a 𝐺 = 139,9). O ponto comum entre os resistores é ligado a um dos filtros

para derivar o sinal de drive de perna direita (Driven Right Leg, ou DRL), que

realimenta negativamente o sinal de modo comum no paciente para cancelá-lo.

Os componentes escolhidos empiricamente foram 𝐶3 = 330 𝑛𝐹, 𝑅6 = 56 𝑘𝛺 e

𝑅7 = 220 𝑘𝛺, o que implicou 𝑓𝑐 = 2,19 𝐻𝑧 e |𝐴𝑚á𝑥| = 3,93.

O outro filtro foi empregado após o amplificador de instrumentação

simplesmente para melhorar a leitura do sinal. A frequência de corte escolhida

foi 50 Hz, pois permite a frequência fundamental e os principais harmônicos

seguintes (neste caso a banda foi menos estreita que no circuito de

bioimpedância pois a relação sinal-ruído do ECG apresentou-se melhor).

Novamente os componentes foram escolhidos a partir de testes práticos,

resultando em 𝐶2 = 56 𝑛𝐹, 𝑅4 = 2,7 𝑘𝛺 e 𝑅5 = 56 𝑘𝛺, o que proporcionou

𝑓𝑐 = 50,75 𝐻𝑧 e |𝐴𝑚á𝑥| = 20,74.

As Figuras 3.22 a 3.24 exibem a simulação do ganho ao longo da

frequência do amplificador de instrumentação e dos amplificadores passa-baixas

(em malha aberta) para geração de DRL e para ganho, respectivamente.

Figura 3.22 – Ganho implementado no amplificador de instrumentação na faixa

de frequência desejada para captação de ECG.

34

Figura 3.23 – Resposta em frequência do filtro ativo para geração do sinal de

DRL.

Figura 3.24 – Resposta em frequência do filtro ativo para amplificação do sinal

de ECG.

As simulações do amplificador de instrumentação e dos filtros

condisseram com os valores esperados.

3.1.3 – Aquisição

Para adquirir os sinais de bioimpedância e ECG ao longo de um período e

digitalizá-los, foi utilizada a placa modelo NI USB-6009 da marca National

Instruments® [23]. A frequência de amostragem utilizada foi de 1 kHz e o tempo de

aquisição para ambos sinais foi de 10 s. Os sinais foram adquiridos e processados online

através do software LabVIEW [24].

35

3.2 – Avaliação

Com intuito de verificar respectivamente o cumprimento dos objetivos

específicos e do objetivo geral, foram executados dois tipos de avaliação:

I. Checar em bancada o funcionamento de alguns circuitos do grande sistema de

medida de bioimpedância e de ECG;

II. Examinar voluntários em busca de valores de PTT e comparar os resultados

obtidos com trabalhos na literatura, considerando a faixa etária do voluntário.

Deve ser ressaltado que como o intuito do circuito era uma medição temporal,

isto é, o tempo entre o complexo QRS do ECG e o pico do sinal da variação de

bioimpedância, não é necessário realizar-se um procedimento de calibração do medidor

de bioimpedância.

3.2.1 – Circuitos

O osciloscópio Tektronix TDS1001B® [25] foi utilizado para verificar o

comportamento dos sistemas de bioimpedância e de ECG.

A tabela 3.1 mostra os circuitos testados em bancada e suas respectivas

propriedades avaliadas.

Tabela 3.1 – Propriedades avaliadas para cada circuito pertinente

Circuito Propriedades Avaliadas

Oscilador Frequência de oscilação

Distorção Harmônica Total (THD)

Forma de onda

Comparador Forma de onda

Conversor tensão-corrente Corrente de pico

Offset

Filtros Frequência de corte

Ganho máximo

Amplificadores de Instrumentação Ganho ao longo de faixa de frequência

pertinente

Chave Analógica Forma de onda na saída

Para a estimativa da THD foram consideradas as contibuições dos três

maiores harmônicos (V2 a V4) após a frequência fundamental e a contribuição desta

(V1), levando à seguinte equação:

36

𝑇𝐻𝐷 =√𝑉2

2 + 𝑉32 + 𝑉4

2

𝑉1

(22)

I. Bioimpedância

Para avaliar o conversor tensão-corrente, o amplificador de

instrumentação (parcialmente), o filtro demodulador (parcialmente) e a chave

analógica, foi implementado o circuito da Figura 3.25 (o amplificador de

instrumentação pertence ao sistema de captação de bioimpedância):

Figura 3.25 – Esquemático do circuito para teste do conversor tensão-corrente.

Os filtros passa-altas e passa-baixas, assim como o amplificador de

instrumentação, foram testados com sinais provenientes do gerador de bancada.

Os sinais de entrada de cada circuito serão exibidos com suas respectivas saídas

no Capítulo 4 – Resultados.

II. Eletrocardiograma

Todos os circuitos do sistema de ECG foram testados utilizando o

gerador de bancada. O circuito de geração do sinal de DRL não foi testado, pois

sua eficácia só pode ser verificada quando aplicado diretamente em pacientes.

3.2.2 – Sistema Completo

A avaliação do sistema de medição do PTT por bioimpedância foi realizada

por meio de medidas em nove voluntários (procedimento aprovado no Comitê de

Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho sob o número

1.343.260). Cada voluntário foi monitorado por 10 s e o cálculo do PTT foi

realizado automaticamente, no fim sendo obtida sua média. Os valores de PTT

foram obtidos em milissegundos.

37

As medidas foram realizadas com o voluntário sentado, após 5 minutos de

repouso, e após leitura e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Nas regiões de aplicação dos eletrodos foi feita remoção do estrato córneo com

abrasão feita por gaze embebida em álcool. Os eletrodos utilizados para a captação

de ECG e de bioimpedância foram da marca Covidien/Kendall – Meditrace®

(modelo 200 – Adulto) [26]. Devido à grande sensibilidade do sistema, atribuída ao

alto ganho total do sistema de captação de bioimpedância, foi recomendado que o

voluntário ficasse em apneia para a medida do PTT.

Como visto anteriormente, alguns trabalhos na literatura que mediram PTT o

fizeram marcando pontos diferentes na onda de pressão sobre o local estudado.

Portanto, a fim de tornar a avaliação deste trabalho mais robusta, os sinais de ECG e

bioimpedância foram adquiridos digitalmente e estudados online, tomando o pico do

sinal de bioimpedância e o pico da derivada de tal sinal (temporalmente próximo do

pico do sinal original) para a estimativa do PTT. Em ambos os casos, foi descontado

ou não o chamado Pre-Ejection Period (PEP), que é o intervalo entre a atividade

elétrica de despolarização principal do coração (marcada como onda R no ECG) e a

abertura da válvula aórtica; este intervalo foi estimado segundo os resultados

obtidos por Paiva et al. [27] – 47,55 ms (melhor ajustado para pessoas com cerca de

22 anos).

Além disso, foi descontada a diferença entre o atraso de grupo no sistema de

captação de bioimpedância e o atraso de grupo no sistema de captação de ECG. Isto

ocorre pois no sistema de captação de bioimpedância três filtros passa-baixas de 1ª

ordem foram empregados, enquanto no de ECG apenas um filtro de mesmo tipo foi

implementado. Considerando a menor frequência pertinente para a medida (1Hz),

que produz maior atraso entre os sinais resultantes de cada sistema, o desconto

utilizado foi de 23 ms (obtido teoricamente).

Para que a influência do tamanho do voluntário fosse reduzida (maiores

segmentos levam a aumento nos valores de PTT, sem implicar em menor VOP), os

valores de PTT adquiridos foram normalizados segundo a equação a seguir:

𝑃𝑇𝑇𝑓 =𝑃𝑇𝑇. ℎ0

(23)

onde PTTf é a medida normalizada, h (em cm) é a altura do voluntário, e h0 é a

altura normal – sendo esta assumida por 170 cm.

38

Na Figura 3.26 está exposto o ambiente desenvolvido em LabVIEW para

aquisição e processamento dos sinais.

Figura 3.26 – Painel frontal do sistema desenvolvido em LabVIEW para aquisição

em tempo real do sinal de bioimpedância e de ECG e aquisição e processamento

online para cálculo automático do PTT.

39

Capítulo 4

Resultados

4.1 – Medidas de Bancada

4.1.1 – Bioimpedância

I. Oscilador

Na Figura 4.1 é apresentada a saída do oscilador durante teste de

bancada, no tempo e na frequência, respectivamente.

a)

b)

Figura 4.1 – Saída do circuito oscilador no domínio a) do tempo e b) da frequência.

A frequência obtida na prática (46,17 kHz) condisse com a teórica

(48,23 kHz).

𝑇𝐻𝐷 =√(2,993 × 10−3)2 + (2,667 × 10−2)2 + (3,358 × 10−3)2

1,5

𝑇𝐻𝐷 = 1,803 × 10−2 = 1,803%

A THD obtida mostra que quase toda a energia presente no sinal

proveniente do oscilador está contida na frequência desejada.

II. Comparador

Na Figura 4.2 está exposto o sinal de saída do circuito comparador, cuja

entrada corresponde à saída do oscilador.

Verificou-se que a frequência do comparador (46,10 kHz) seguiu a do

oscilador (46,17 kHz). Entretanto, o semiciclo positivo (~10 µs) teve maior

40

duração que o negativo (~7 µs), o que tornou a forma de onda da saída da chave

analógica de demodulação diferente da esperada.

Figura 4.2 – Saída do circuito comparador com entrada ligada ao circuito

oscilador.

III. Conversor Tensão-Corrente e Amplificador de Instrumentação

A Figura 4.3 exibe a comparação prática entre entrada de teste e saída do

amplificador de instrumentação de captação de bioimpedância. A Figura 4.4

expõe a saída do mesmo amplificador quando o esquema da Figura 3.25 é

implementado.

a)

b)

c)

d)

Figura 4.3 – a) entrada e b) saída do amplificador de instrumentação para

entrada com frequência abaixo (36,0 kHz) da central (46,10 kHz). Entrada c) e

saída d) do amplificador de instrumentação para entrada com frequência acima

(56,11 kHz) da central.

41

a)

b)

Figura 4.4 – Saída do amplificador de instrumentação em esquema da Figura

3.25 com resistor de a) 50 Ω e de b) 100 Ω em sua entrada.

O ganho obtido no amplificador de instrumentação foi de:

𝐺 =7,40

1,23= 6,016

Que mostra que o amplificador de instrumentação pode ser utilizado na faixa de

frequência desta aplicação.

Com o valor de ganho, pode-se estimar também a corrente de saída de

pico do conversor tensão-corrente:

𝐼𝑜50𝛺=

0,564

6,016 × 50 × 2= 0,9375 𝑚𝐴

𝐼𝑜100𝛺=

1,10

6,016 × 100 × 2= 0,9142 𝑚𝐴

𝐼𝑜 ≅𝐼𝑜50𝛺

+ 𝐼𝑜100𝛺

2=

0,9375 × 10−3 + 0,9142 × 10−3

2= 0,9258 𝑚𝐴

Verificou-se que o ganho do amplificador de instrumentação foi muito

próximo do projetado (6) ao longo da faixa de frequência de operação. A

corrente de saída obtida foi 7,42% menor que o desejado (1 mA), porém o

menor sinal de excitação não resultou em muito menor amplitude, nem em baixa

relação sinal-ruído após captação.

IV. Filtro Passa-altas de Alta Frequência

Na Figura 4.5 são comparados o sinal de entrada na banda passante do

filtro passa-altas de alta frequência, e o sinal de saída em sua frequência de

corte.

42

a)

b)

Figura 4.5 – a) sinal de entrada na banda passante do filtro passa-altas de alta

frequência e b) saída na frequência de corte.

A frequência de corte resultante (637,8 Hz) foi 5,79% maior que a

projetada (602,9 Hz). Porém, tal diferença não influenciou na medida, dado que

o sinal desejado estava em torno de 46 kHz.

V. Chave Analógica

A Figura 4.6 apresenta a saída da chave analógica durante teste

empregando o esquema da Figura 3.25.

a)

b)

Figura 4.6 – Saída da chave analógica para demodulação utilizando esquema da

Figura 3.25 com resistor de a) 50 Ω e b) 100 Ω.

Pode-se verificar que o sinal não foi perfeitamente retificado devido à

diferença entre semiciclo positivo e negativo no sinal de seleção proveniente do

comparador. Isto acarreta em menor nível médio após o filtro demodulador.

Além disso, houve pequena interferência de sinal de alta frequência de maneira

intermitente. A mesma não influenciou no sinal resultante pois é eliminada pelo

filtro demodulador.

VI. Filtro Demodulador

A Figura 4.7 mostra entrada de teste na banda passante do filtro de

demodulação e saída do mesmo quando a entrada aplicada está em sua

frequência de corte.

43

a)

b)

Figura 4.7 – a) entrada na banda passante do filtro de demodulação. Saída do

filtro b) para entrada na frequência de corte.

A Figura 4.8 mostra a saída do filtro durante teste empregando o

esquema da Figura 3.25.

a)

b)

Figura 4.8 – Saída do filtro demodulador utilizando esquema da Figura 3.25

com resistor de a) 50 Ω e de b) 100 Ω.

A frequência de corte obtida na prática (33,68 Hz) no filtro de

demodulação foi próxima da teórica (32,15 Hz), com desvio de 4,76%.

Considerando a Figura 4.6 e as Figuras 4.8.a-b, este filtro é capaz de obter o

nível médio de um sinal “retificado em onda completa”.

VII. Filtros Passa-altas de Baixa Frequência

A Figura 4.9 exibe as entradas de teste na banda passante dos filtros

passa-altas de baixa frequência, assim como as saídas correspondentes a entrada

na frequência de corte dos mesmos.

44

a)

b)

c)

d)

e)

Figura 4.9 – Entradas na banda passante: a) do 1º filtro passa-altas de baixa

frequência; b) do 2º e do 3º filtro. Saída do c) 1º, d) 2º e e) 3º filtro passa-altas

de baixa frequência, para entrada na frequência de corte.

As frequências de corte do 1º ao 3º filtro passa-altas (925,9 mHz,

961,5 mHz e 925,9 mHz, respectivamente) foram 28,6%, 33,5% e 28,6% maior

que o projetado (0,72 Hz).

Se o desvio fosse um pouco maior, poderia ocorrer redução relevante do

harmônico fundamental quando a frequência cardíaca do paciente é baixa (cerca

de 60 bpm, ou seja, 1 Hz), dado que a atividade detectada no sinal de

bioimpedância ocorre seguindo a sístole do ventrículo esquerdo do coração.

45

VIII. Filtros Passa-baixas para Ganho

A Figura 4.10 apresenta os sinais de entrada de teste dos filtros passa-

baixas para ganho, em sua banda passante. Além disso, apresenta o sinal de

saída de cada filtro para entrada em sua banda passante e para entrada na

frequência de corte.

a)

b)

c)

d)

e)

f)

Figura 4.10 – Entradas na banda passante: a) do 1º e b) do 2º filtro passa-baixas

de ganho. Saída para sinal de entrada na banda passante c) do 1º e d) do 2º

filtro, e em suas respectivas e-f) frequências de corte.

Os ganhos obtidos no 1º e 2º filtros passa-baixas foram, respectivamente:

|𝐴𝑣1| =

5,72

42,4 × 10−3= 134,9

|𝐴𝑣2| =

5,40

41,6 × 10−3= 129,8

Deve-se lembrar que o segundo filtro não possui impedância de entrada

alta (220 Ω), então devemos considerar a impedância de saída do gerador de

sinal da bancada – 50 Ω. Portanto, ao invés de 150, o ganho teórico nesta

configuração é:

46

|𝐴𝑣2| =

33 × 103

270= 122,2

Sendo assim, o ganho obtido no primeiro amplificador foi 10,6% menor

que o projetado (151), enquanto o ganho obtido no segundo amplificador foi

6,21% maior que o projetado.

As frequências de corte obtidas nos filtros foram respectivamente

17,86 Hz e 16,18 Hz, ou seja, 22,2% e 10,7% maior que o projetado (14,61 Hz).

Tanto o desvio no ganho máximo, quanto na frequência de corte, não

afetaram a qualidade do sinal medido no voluntário.

4.1.2 – Eletrocardiograma

I. Amplificador de Instrumentação

A Figura 4.11 expõe sinais na entrada do amplificador de instrumentação

em frequência acima e abaixo da faixa principal do sinal de ECG, com sua saída

correspondente.

O ganho obtido no amplificador de instrumentação foi de:

𝐺 =7,60

5,46 × 10−3= 139,2

O ganho obtido na prática seguiu o teórico (139,9) em duas frequências além da

faixa principal do sinal desejado (1-2 Hz), o que sugeriu que este circuito é

compatível com a aplicação.

II. Filtro Passa-altas

A Figura 4.12 exibe a comparação entre entrada na banda passante do

filtro passa-altas e saída do mesmo quando a entrada está em sua frequência de

corte.

A frequência de corte do filtro passa-altas (961,5 mHz) foi 33,5% maior

que o projetado (0,72 Hz). A causa para isto pode ter sido a mesma dos filtros

passa-altas de baixa frequência do sistema de bioimpedância. Além disso, a

frequência fundamental do sinal desejado (neste caso o ECG) também seria

reduzida, se o desvio na frequência de corte fosse maior.

47

a)

b)

c)

d)

Figura 4.11 – Entrada de sinal no amplificador de instrumentação com

frequência a) abaixo (450,5 mHz) e b) acima (20 Hz) da faixa principal

(1-2 Hz), e c-d) suas respectivas saídas.

a)

b)

Figura 4.12 – a) entrada na banda passante do filtro passa-altas e b) saída para

sinal na frequência de corte.

48

III. Filtro Passa-baixas para Ganho

Na Figura 4.13 são apresentados respectivamente: o sinal de teste de

entrada na banda passante do filtro passa-baixas para ganho, sua saída para esta

entrada, e sua saída quando em sua entrada é aplicado sinal em sua frequência de

corte.

a)

b)

c)

Figura 4.13 – a) entrada de sinal na banda passante do filtro passa-baixas para

ganho, b) sua respectiva saída, e c) saída para sinal de entrada na frequência de

corte do filtro.

O ganho obtido no filtro passa-baixas foi:

|𝐴𝑣1| =

6,44

0,310= 20,77

O ganho prático deste circuito seguiu o projetado (20,74).

A frequência de corte obtida (53,42 Hz) foi 5,26% maior que a esperada

(50,75 Hz), o que poderia ter aumentado a presença de ruído de 60 Hz. No

entanto, esta diferença não influenciou na aquisição do ECG.

4.2 – Medidas em Voluntários

A Figura 4.14 mostra o painel frontal do sistema desenvolvido em LabVIEW

após aquisição em um voluntário:

49

Figura 4.14 – Painel frontal da aplicação em LabVIEW durante a medida em um

voluntário.

Na tabela 4.1 estão explicitados os dados adquiridos de um dos voluntários em

uma tabela .xlsx gerada automaticamente pelo programa criado no LabVIEW. Para os

valores desta tabela ainda não houve desconto do PEP.

Os valores médios dos PTTs adquiridos (com desconto de PEP) referentes a

cada voluntário estão contidos na tabela 4.2. Estes dados ainda não foram normalizados

segundo a altura da pessoa.

Tabela 4.1 – Tabela padrão com dados pertinentes para o cálculo de PTT gerada

automaticamente pelo sistema desenvolvido no LabVIEW

Idade Altura (cm) ECG-dBioZ/dt ECG-BioZ Média_ECG-dBioZ/dt Média_ECG-BioZ

50 172 188,9 211,7 185,7 222,4

195,1 212,1

184,8 221,3

185,2 226,7

212,5 233,1

209,3 224,1

187,4 223,4

199,4 219,8

190,3 227,2

121,3 223,4

192,6 217,5

161,5 228,0

50

Tabela 4.2 – Idade, altura e PTT médio adquirido a partir do sinal de ECG para o sinal

de bioimpedância e para a derivada deste

Voluntário Idade Altura (cm) PTT_ECG-dBioZ/dt PTT_ECG-BioZ

1 18 172 139.6 177.4

2 21 162 96.7 124.9

3 23 167 136.4 160.5

4 25 167 124.6 179.6

5 28 169 143.0 172.4

6 32 184 124.1 169.9

7 41 180 143.6 175.6

8 50 172 138.1 174.8

9 51 154 86.0 115.2

A Figura 4.15 exibe a evolução dos PTTs medidos de acordo com a idade do

voluntário examinado, junto de suas respectivas tendências (a partir de regressão linear).

Figura 4.15 – Progressão segundo a idade do PTT medido utilizando ECG e

bioimpedância e utilizando ECG e derivada da bioimpedância, com sua reta de

tendência correspondente.

Os dados após normalização a partir da altura do voluntário estão exibidos na

tabela 4.3.

80

100

120

140

160

180

200

18 21 23 25 28 32 41 50 51

PT

T (

ms)

Idade (anos)

ECG-dBioZ/dt

ECG-BioZ

Tendência

ECG-dBioZ/dt

Tendência

ECG-BioZ

51

Tabela 4.3 – Média de PTT de acordo com a idade, após normalização a partir da altura do

voluntário

Voluntário Idade Altura (cm) PTTf_ECG-dBioZ/dt PTTf_ECG-BioZ

1 18 172 138.0 175.4

2 21 162 101.4 131.0

3 23 167 138.8 163.4

4 25 167 126.8 182.8

5 28 169 143.8 173.4

6 32 184 114.6 157.0

7 41 180 135.6 165.8

8 50 172 136.5 172.8

9 51 154 95.0 127.2

A Figura 4.16 exibe a evolução dos PTTs medidos (e normalizados) de acordo

com a idade do voluntário examinado, junto de suas respectivas tendências (a partir de

regressão linear).

Figura 4.16 – Progressão segundo a idade do PTT medido utilizando ECG e

bioimpedância e utilizando ECG e derivada da bioimpedância, após normalização, com

sua reta de tendência correspondente.

80

100

120

140

160

180

200

18 21 23 25 28 32 41 50 51

PT

Tf(m

s)

Idade (anos)

ECG-dBioZ/dt

ECG-BioZ

Tendência

ECG-dBioZ/dt

Tendência

ECG-BioZ

52

Capítulo 5

Discussão

5.1 – Medidas de Bancada

Os testes técnicos dos circuitos que compõem o sistema proposto neste trabalho

reproduziram de maneira aceitável o comportamento projetado. Mesmo assim, há

ressalvas, uma vez que alguns destes circuitos produziram discrepância entre teoria e

prática. Os circuitos com diferenças mais destacáveis estiveram no sistema de captação

de bioimpedância, sendo estes: o comparador, os filtros passa-altas de baixa frequência,

e o filtro ativo passa-baixas não-inversor.

Pode-se ressaltar o atraso e o desbalanceamento no chaveamento entre transição

positiva e negativa que ocorreram no circuito comparador. Entretanto, estes desvios não

influenciaram negativamente a captação da variação da bioimpedância na região

estudada. Ainda assim, este comportamento imperfeito pode ser corrigido com a busca

por um amplificador operacional de maior velocidade.

Os filtros passa-altas de baixa frequência apresentaram grande discrepância

entre teoria e prática em suas frequências de corte; isto pode ter ocorrido devido à alta

resistência utilizada para produzir tal frequência de corte baixa, aliado à impedância de

entrada não-infinita do amplificador operacional configurado como buffer colocado

após o filtro (apesar de ser de fato altíssima – da ordem de 1012 Ω). Mesmo com estas

diferenças, a frequência fundamental (~1 Hz) dos sinais filtrados não foi atenuada a

ponto de dificultar a detecção da mesma.

O filtro não-inversor para ganho apresentou grande diferença em sua frequência

de corte, assim como em seu ganho, porém de maneira menor. Este fato pode ter

ocorrido devido à imprecisão dos componentes utilizados (este circuito possui um zero

em frequência mais alta que o polo, portanto se este for elevado e aquele reduzido, a

atenuação pode ocorrer com taxa diferente do esperado).

53

5.2 – Medidas em Voluntários

O bloco de captação de bioimpedância, por ser muito sensível devido ao alto

ganho dos últimos estágios, sofreu influência do ambiente em que a medida ocorreu

durante alguns testes prévios; estas ocorreram tanto diretamente pela rede elétrica

(alimentação), quanto por indução eletromagnética de lâmpadas eletrônicas próximas.

Após mudar o esquema de alimentação para pilhas, a qualidade do sinal obtido

melhorou. Mesmo assim, quando lâmpadas eletrônicas estavam ligadas muito próximas

do local de medida, era notada interferência, que cessou depois destas serem desligadas.

Aprimoramentos no layout da placa de circuito impresso utilizada para o circuito podem

tornar o sistema mais robusto em ambientes propensos a gerar ruído.

Houve uma tentativa de medida em voluntário em que a captação de ECG

falhou. Isto pode estar relacionado ao sobrepeso do voluntário estudado no caso; uma

possível solução é buscar outra configuração de eletrodos que esteja distante o

suficiente da excitação de corrente, mas que não leve o ECG a ser influenciado por

quantidade maior de tecido adiposo.

Os resultados apresentados nas tabelas 4.2 e 4.3 foram semelhantes aos de outros

trabalhos na literatura, dependendo do método utilizado.

A faixa de valores das médias de PTT calculado do pico R do ECG para o pico

da derivada de bioimpedância, normalizadas ou não, foram próximas das obtidas por

Zhang [11] – variando de 140 ms a 100 ms ao longo da faixa de idade dos voluntários.

Entretanto, não é possível diferenciar neste trabalho o PTT obtido para homens e

mulheres, dado que a população feminina foi metade da masculina, e principalmente

porque a população no total é pequena – com intuito apenas de validar o sistema de

medida proposto, não o método em si. Zhang [11] utilizou o intervalo entre os dois

picos de um sinal de pressão sobre a artéria radial para estimar PTT.

Por outro lado, Wong [10] estimou PTT com o intervalo entre os picos das

derivadas de ECG e pressão, obtendo de média 217,1 ms, o que é próximo da média

geral deste trabalho sem descontar o PEP (47,55 ms) – 208,7 ms sem normalização, e

208,8 ms com normalização.

Acima de tudo, a tendência obtida nas Figuras 4.15 e 4.16 indica decrescimento

no valor de PTT com o aumento da idade, que está relacionado, assim como a

hipertensão, à degeneração da complacência arterial.

54

Capítulo 6

Conclusão

Os resultados apresentados no Capítulo 4, juntos da discussão desenvolvida no

Capítulo 5, mostram que todos os objetivos específicos foram atingidos com sucesso, e

indicam que a aplicação do sistema desenvolvido neste trabalho também foi bem-

sucedida, cumprindo o objetivo principal. Estes fatos implicam a princípio na

capacidade deste sistema de coletar o PTT de pacientes, permitindo verificar o tempo de

progressão do pulso de pressão ao longo das grandes artérias e, por conseguinte, permite

a avaliação do estado das artérias da pessoa avaliada. Entretanto, todo o sistema só

poderá ser validado após aquisição de dados em maior quantidade de voluntários,

confirmando ou não a aplicabilidade do mesmo para a coleta de PTT.

Além disso, evoluções no sistema mostram-se válidas e necessárias. Estas

evoluções podem ser implementadas: no circuito, como no layout da placa de circuito

impresso, visando reduzir a suscetibilidade a ruídos e interferências; no sistema de

aquisição, para torná-lo confiável para coletas de longa duração e monitoramento

contínuo, e talvez aprimorar a estética do sistema; e no método de medida em si, com

teste de outras posições para os eletrodos de excitação e captação de bioimpedância –

para tentar melhor a relação sinal-ruído – e para os eletrodos de captação de ECG – para

que a medida seja possível em pessoas com qualquer estrutura corporal.

55

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