td 148 - 2014 - conleg-senado - aspectos principais marco civil da internet

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Núcleo de Estudos e Pesquisas da Consultoria Legislativa ASPECTOS PRINCIPAIS DA LEI Nº 12.965, DE 2014, O MARCO CIVIL DA INTERNET: subsídios à comunidade jurídica Carlos Eduardo Elias de Oliveira Textos para Discussão 148 Abril/2014

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Analise da 12965/2014, Marco Civil da Internet

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  • Ncleo de Estudos e Pesquisasda Consultoria Legislativa

    ASPECTOS PRINCIPAIS DA LEI N 12.965, DE 2014, O MARCO CIVIL DA INTERNET: subsdios comunidade jurdica

    Carlos Eduardo Elias de Oliveira

    Textos para Discusso 148 Abril/2014

  • SENADO FEDERAL

    DIRETORIA GERAL

    Antnio Helder Medeiros Rebouas Diretor Geral

    SECRETARIA GERAL DA MESA

    Luiz Fernando Bandeira de Mello Filho Secretrio Geral

    CONSULTORIA LEGISLATIVA

    Paulo Fernando Mohn e Souza Consultor-Geral

    NCLEO DE ESTUDOS E PESQUISAS

    Fernando B. Meneguin Consultor-Geral Adjunto

    Ncleo de Estudos e Pesquisas da Consultoria Legislativa

    Conforme o Ato da Comisso Diretora n 14, de 2013, compete ao Ncleo de Estudos e Pesquisas da Consultoria Legislativa elaborar anlises e estudos tcnicos, promover a publicao de textos para discusso contendo o resultado dos trabalhos, sem prejuzo de outras formas de divulgao, bem como executar e coordenar debates, seminrios e eventos tcnico-acadmicos, de forma que todas essas competncias, no mbito do assessoramento legislativo, contribuam para a formulao, implementao e avaliao da legislao e das polticas pblicas discutidas no Congresso Nacional.

    Contato: [email protected]

    URL: www.senado.leg.br/estudos

    ISSN 1983-0645

    O contedo deste trabalho de responsabilidade dos autores e no representa posicionamento oficial do Senado Federal.

    permitida a reproduo deste texto e dos dados contidos, desde que citada a fonte. Reprodues para fins comerciais so proibidas.

    Como citar este texto:

    OLIVEIRA, C. E. E. de. Aspectos Principais da Lei n 12.965, de 2014, o Marco Civil da Internet: subsdios comunidade jurdica. Braslia: Ncleo de Estudos e Pesquisas/CONLEG/Senado, abr./2014 (Texto para Discusso n 148). Disponvel em: www.senado.leg.br/estudos. Acesso em 29 de abril de 2014.

  • ASPECTOS PRINCIPAIS DA LEI N 12.965, DE 2014, O MARCO CIVIL DA INTERNET: SUBSDIOS

    COMUNIDADE JURDICA

    RESUMO O autor lana as primeiras impresses sobre o Marco Civil da Internet, recentemente sancionado na forma da Lei n 12.965, de 2014. Sob a tica da constitucionalizao do Direito e da imperiosa harmonia de todo o sistema jurdico, repele leituras desavisadas e inocentes do diploma ciberntico e indica interpretaes mais adequadas ao cenrio jurdico atual. Debrua-se sobre a responsabilidade civil dos provedores de aplicao (alertando a necessidade de mudana da jurisprudncia do Superior Tribunal de Justia aps o novel diploma), a competncia dos Juizados Especiais Cveis, a eventuais conflitos de normas, a aplicao da lei brasileira a provedores estrangeiros. Aborda, tambm, outros temas relevantssimos da Era da Internet, como a neutralidade de rede e a utilizao comercial de dados pessoais dos internautas.

    PALAVRAS-CHAVE: internet, Marco Civil da Internet, extraterritorialidade, lei no espao, Lei n 12.965, de 23 de abril de 2014, Cdigo de Defesa do Consumidor, Superior Tribunal de Justia (STJ), sigilo, provedor de conexo, provedor de aplicaes, site, competncia, Juizados Especiais, Lei n 9.099, de 26 de setembro de 1995, competncia, foro, tutela antecipada.

  • SUMRIO

    1. INTRODUO ............................................................................................................ 5 2. ASPECTOS IMPORTANTES DO MARCO CIVIL DA INTERNET ................................. 5

    2.1. Aplicabilidade de outras normas, como o CDC (art.3, pargrafo nico, e art.6). 5

    2.2. Da vedao da utilizao comercial dos dados pessoais dos internautas, salvo consentimento expresso (art. 7, VII e X)..........................................................6

    2.3. Da neutralidade de rede (art. 9) ........................................................................7

    2.4. Aplicao da lei brasileira a provedores de aplicao sediados em pas estrangeiro (art. 11)............................................................................................9

    2.4.1 Cenrio normativo anterior ao Marco Civil da Internet ........................9

    2.4.1.1 Provedor de aplicao sem filial no Brasil ............................9

    2.4.1.2 Provedor de aplicao com filial no Brasil ..........................10

    2.4.2. Cenrio normativo luz do Marco Civil da Internet...........................12

    2.5. Responsabilidade civil dos provedores de conexo (art. 18) e de aplicaes (arts. 19 e 21) por contedos gerados por terceiros .........................................14

    2.5.1. Cenrio anterior Lei n 12.965/2014.................................................14

    2.5.2. Cenrio aps a Lei n 12.965/2014: necessidade de mudana da jurisprudncia do STJ ..........................................................................19

    2.6. Competncia dos Juizados Especiais para causas cibernticas (art. 19, 3) ........22 2.7. Requisitos da tutela antecipada ciberntica (art. 19, 4) ..............................24

    3. CONCLUSO............................................................................................................ 25

  • ASPECTOS PRINCIPAIS DA LEI N 12.965, DE 2014, O MARCO CIVIL DA INTERNET: SUBSDIOS

    COMUNIDADE JURDICA

    Carlos Eduardo Elias de Oliveira1

    1 INTRODUO

    O objetivo deste texto percorrer alguns pontos importantes da Lei n 12.965, de

    2014 (Marco Civil da Internet), recentemente sancionada pela Presidente da Repblica e

    que entrar em vigor aps 60 dias de sua publicao oficial, a fim de fornecer

    comunidade jurdica subsdios para compreenso do novo cenrio normativo da matria.

    Lanamos nossa interpretao pessoal do novo diploma e esclarecemos que

    obviamente poder haver leituras diversas e razoveis do texto legal. Assim, qualquer

    avaliao do que consideramos condutas ilegais deve servir como objeto de reflexo.

    O texto ser dividido em captulos que abordaro os pontos que reputamos mais

    relevantes do novo diploma, batizado como Constituio da Internet. Ressalvamos a

    impropriedade terminolgica dessa designao, que pode gerar a falsa impresso de que

    o Marco Civil da Internet possui uma autonomia normativa capaz de repelir a aplicao

    das normas e princpios da Constituio Federal.

    Empregaremos, ao longo do texto, siglas bem usuais como CC (Cdigo Civil),

    CDC (Cdigo de Defesa do Consumidor), CF (Constituio Federal), LINDB (Lei de

    Introduo s Normas do Direito Brasileiro), STJ (Superior Tribunal de Justia), etc.

    2 ASPECTOS IMPORTANTES DO MARCO CIVIL DA INTERNET

    2.1 APLICABILIDADE DE OUTRAS NORMAS, COMO O CDC (ART. 3, PARGRAFO NICO, E ART. 6)

    O Marco Civil no (e nem quis ser) uma ilha normativa deserta, isolada das

    demais fontes jurdicas. Ele um dos vrios pontos de irradiao normativa que

    disciplina o comportamento dos indivduos no mundo virtual.

    1 Consultor Legislativo do Senado Federal na rea de Direito Civil, Processo Civil e Direito Agrrio.

    Currculo: http://www12.senado.gov.br/senado/institucional/conleg/perfis/carlos-eduardo-elias-de-oliveira.

  • A Constituio Federal, como lei fundamental do nosso Pas, d as coordenadas

    principiolgicas incontestes do ordenamento jurdico, ao fluxo da qual tramitaro as

    interpretaes que transbordaro do Marco Civil da Internet. Trata-se de uma

    consequncia do que se convencionou batizar de constitucionalizao do diversos ramos

    do Direito.

    Os demais diplomas, como o CDC e outros mais, no sero ignorados, mas sero

    igualmente estimados na regulao dos fatos jurdicos cibernticos, conforme convite

    expresso do pargrafo nico do art. 3 e o art. 6 da nova lei.

    A resposta a eventuais conflitos entre o Marco Civil da Internet e outros

    diplomas legais no devero ser buscados apenas nos critrios tradicionais de soluo de

    antinomias (como o da especialidade e o cronolgico), mas tambm na moderna teoria

    do Dilogo das Fontes, fartamente acatada pela doutrina e pela jurisprudncia do STJ.

    2.2 DA VEDAO DA UTILIZAO COMERCIAL DOS DADOS PESSOAIS DOS INTERNAUTAS, SALVO CONSENTIMENTO EXPRESSO (ART. 7, VII E X)

    comum que os internautas recebam propagandas personalizadas, com ofertas

    de produtos e servios selecionados pelos provedores de aplicao2 de acordo com o

    seu histrico de navegao.

    Se, por exemplo, um usurio pesquisa no Google um quimono de jud para

    compra, essa informao de navegao na internet (segundo a lei, um registro de acesso

    a aplicaes) poderia ser utilizado comercialmente pelo site de busca para bombarde-lo

    com propagandas de quimonos divulgadas em outros acessos do internauta. Quando,

    por exemplo, ele for acessar o Orkut, poderia haver vrias propagandas de venda de

    quimonos de jud.

    Citamos, ilustrativamente, o nome dessas empresas, consideradas srias,

    comprometidas com os consumidores e de grande importncia para o progresso cultural,

    econmico e social brasileiro apenas para facilitar a compreenso do amigo leitor. No

    sabemos se elas promovem a prtica exemplificada.

    De acordo com o art. 7, incisos VII e X, do Marco Civil da Internet, a utilizao

    desses dados pessoais s poder ocorrer se os internautas manifestarem consentimento

    livre, expresso e informado, o qual poder ser revogado a qualquer momento pelo 2 Para efeito didtico, pode-se considerar, a grosso modo, como sinnimo de provedor de aplicaes os

    sites da internet.

    6

  • prprio usurio, que tem direito excluso definitiva de todos os dados pessoais que

    tiver fornecido ao site.

    Conclui-se da que os provedores de aplicaes (ou seja, os sites) devero

    facultar ao internauta, de modo claro, compreensvel e sem emboscadas que induzam a

    resposta, o direito de consentir ou no com a transferncia a terceiros de seus dados

    pessoais (e a se incluem o seu histrico de navegao, ou seja, os seus registros de

    acesso a aplicaes).

    Dever, ainda, o provedor de aplicaes disponibilizar ao internauta o acesso a

    canal de comunicao que lhe permita, com facilidade, clareza e sem emboscadas que

    induzam a resposta, a revogao do consentimento externado anteriormente pelo

    usurio.

    Trata-se de medida extremamente salutar. Isso evitar, por exemplo, que os

    internautas sejam atacados por propagandas de produtos e servios inconvenientes,

    baseados em um histrico de navegao decorrente de um erro de percurso ou de uma

    utilizao do computador por um amigo.

    2.3 DA NEUTRALIDADE DE REDE (ART. 9)

    O princpio da neutralidade de rede j era plenamente admitido pela comunidade

    jurdica internacional. Agora, ele foi positivado pelo Marco Civil da Internet em seu

    art. 9.

    Conta-se que esse princpio nasceu de um interessante episdio ocorrido nos

    primrdios do servio de telefonia, quando as ligaes telefnicas dependiam da

    intermediao de uma central de telefonistas. Nessa poca, havia uma telefonista que,

    ao receber o pedido de um usurio interessado em estabelecer contato telefnico com

    uma determinada funerria, redirecionava ardilosamente a ligao para a funerria

    concorrente, pertencente a um parente.

    Da nasceu a ideia de que a telefonista, que era a ponte obrigatria do sucesso da

    conexo telefnica, deveria ser uma pessoa neutra e imparcial, que jamais poderia

    direcionar astutamente as ligaes para destinos de seu interesse pessoal.

    7

  • No mundo da internet, os provedores de conexo3 fazem o papel dessa

    telefonista. Eles guardam as chaves da porta de acesso internet. So a ponte que liga o

    mundo fsico ao espao ciberntico da internet. Por essa razo, inadmissvel que

    abandonem a neutralidade e passem a estimular o acesso dos internautas a determinadas

    aplicaes (ou seja, a sites4) ou a degradar o trfego de servios prestados por empresas

    concorrentes.

    Nesse sentido, no se admitiria que os provedores de conexo estabeleam

    escalas de valores de seus pacotes de acesso internet de acordo com o contedo dos

    sites visitados pelos internautas. No se poderia, por exemplo, estabelecer que o preo

    do pacote seja de R$ 29,90 para ter acesso apenas ao Facebook; de R$ 39,90 para

    acessar tambm o Twitter; ou de R$ 69,00 para acessar qualquer site.

    Isso vedado, por infringir o princpio da neutralidade de rede.

    Consideramos, apesar de j ter notcias de posies contrrias, que viola a

    neutralidade de rede a oferta privilegiada a determinadas aplicaes (como o Facebook),

    por meio de uma velocidade de conexo mais clere, ainda que sob o pretexto da

    gratuidade.

    A oferta gratuita de acesso determinada aplicao uma estratgia de

    marketing, pois evidentemente tanto o provedor de conexo, que amplia sua base de

    usurios e o volume de trfego por suas redes, quanto o provedor de aplicaes, que

    incrementa o potencial publicitrio de seu servio, tm benefcios econmicos indiretos

    por essa oferta.

    Ocorre que, ao estimular o acesso a determinada aplicao (como o Facebook),

    o provedor de conexo viola o princpio da neutralidade de rede, pois privilegia o

    contedo de uma aplicao em detrimento de outro, redirecionando (ou estimulando o

    redirecionamento) do internauta a determinada aplicao.

    Ora, por que o provedor de aplicao s dar privilgio a uma determinada

    aplicao (como o facebook) em detrimento de outra (como o orkut)? Isso no

    admitido.

    3 A grosso modo, provedores de conexo so as empresas que viabilizam o acesso dos internautas

    internet, a exemplo de empresas renomadas como a OI, a VIVO, a CLARO, etc. 4 Em uma sinonmia grosseira, til compreenso dos menos familiarizados com as terminologias

    tcnicas.

    8

  • Alis, isso viola at mesmo a natureza plural e livre da internet, que, por sua

    incrvel capacidade de difuso de informaes, transforma, do dia para noite, em herois

    e em celebridades vrios annimos de pouca renda que postaram seus talentos em

    alguma rede social ou em outra aplicao. Se os provedores de conexo puderem

    manipular o acesso dos internautas a determinadas sites, essa natureza plural da internet

    ser comprometida.

    Segundo o Marco Civil da Internet, a neutralidade de rede s admitir, como

    excees, hipteses estritas relacionadas a questes tcnicas afetas qualidade do

    servio e a servios de emergncia. H, por exemplo, cirurgias mdicas que so feitas

    on-line, as quais jamais podem admitir atrasos no fluxo de dados, sob pena de frustrao

    da operao mdica. Em casos como esses, que envolvem servios de emergncia, o

    provedor de conexo poderia prestigiar o fluxo dos dados.

    De qualquer sorte, decreto a ser emitido pelo Presidente da Repblica, com

    prvia oitiva da Agncia Nacional de Telecomunicaes (ANATEL) e do Comit

    Gestor da Internet do Brasil (CGI.br), especificar os casos que excepcionaro o

    princpio da neutralidade de rede.

    Por fim, alerte-se que nada h de ilcito na venda de pacotes de conexo

    internet que escalonam os preos de acordo com a velocidade de acesso ou o volume de

    dados trafegados. Tal prtica no vulnera o princpio da neutralidade de rede, pois no

    implica privilgio de acesso a determinadas aplicaes (sites).

    2.4 APLICAO DA LEI BRASILEIRA A PROVEDORES DE APLICAES SEDIADOS EM PAS ESTRANGEIRO (ART. 11)

    No tocante ao alcance da legislao brasileira a provedores de aplicaes

    sediados em pas estrangeiro, convm expor o cenrio normativo anterior ao Marco

    Civil da Internet para, depois, perscrutar o novo estado da arte.

    2.4.1 Cenrio normativo anterior ao Marco Civil da Internet

    2.4.1.1 Provedor de aplicaes sem filial no Brasil

    Se um usurio domiciliado no Brasil acessa, via internet, um provedor de

    aplicaes sem filial no Pas, ele estar celebrando contrato que ser regido pela

    9

  • legislao estrangeira, conforme a regra do art. 9, 2, da LINDB5. No poder

    invocar, de modo algum, a legislao brasileira (como, por exemplo, o CDC6). Esse

    contrato, juridicamente, equivaler-se-ia ao que seria celebrado pessoalmente em

    territrio estrangeiro.

    Do ponto de vista processual, o usurio, se se sentir lesado, poderia ajuizar, no

    Brasil, ao judicial contra o provedor de aplicaes aliengena. O juiz brasileiro, por

    meio de carta rogatria7, promoveria a citao da empresa. Essa carta rogatria seria

    encaminhada ao Estado estrangeiro, que, nos termos de seu ordenamento, promoveria a

    citao ou recusaria o pedido. O magistrado brasileiro, aps essas comunicaes

    processuais, daria curso ao feito e, ao final, proferiria sentena, julgando o caso de

    acordo com a legislao estrangeira (aplicvel no caso, conforme j ressaltado acima).

    Se a empresa aliengena fosse condenada, a execuo dessa sentena ocorreria

    por intermdio do mecanismo de carta rogatria. Acresa-se que, mesmo quando

    inexistem tratados internacionais a exemplo da Conveno Interamericana sobre

    Cartas Rogatrias , os Estados costumam colaborar uns com os outros, embora no

    sejam obrigados a tanto por conta de sua soberania.

    2.4.1.2 Provedor de aplicaes com filial no Brasil

    Por outro lado, se um usurio domiciliado no Brasil acessa um provedor de

    aplicaes com filial no Pas, ele estar celebrando contrato regido pela legislao

    brasileira, seja no caso de estar sendo ajustado com filial sediada no Brasil (art. 9, 2,

    da LINDB), seja na hiptese de ter sido firmado com entidade fincada em pas

    estrangeiro. Isso em virtude da interpretao dada pelo STJ no sentido de que

    multinacionais com filial no Brasil e que promovam marketing direcionado aos

    consumidores brasileiros sujeitam-se s regras nacionais, ainda que contratem com

    brasileiros em terra estrangeira.

    De fato, esse parece ser o entendimento do STJ no sentido de que, quando a

    relao de consumo firmada com multinacional portadora de renome capaz de atrair

    5 Decreto-Lei n 4.657, de 4 de setembro de 1942, denominado Lei de Introduo s Normas do Direito

    Brasileiro (LINDB). 6 Lei n 8.078, de 11 de setembro de 1990, que dispe sobre a proteo do consumidor e d outras

    providncias. 7 Forma de comunicao entre autoridades judicirias de diferentes pases, intermediada pelos

    respectivos ministrios das Relaes Exteriores.

    10

  • os consumidores brasileiros, o contrato dever submeter-se legislao brasileira, e a

    filial da empresa no Brasil dever responder pelos danos causados ao consumidor.

    Essa orientao da maior corte em matria infraconstitucional do Pas nasceu de

    caso envolvendo brasileiro que, em viagem aos Estados Unidos, adquirira mquina

    filmadora da marca Panasonic e que pleiteara, exitosamente, a responsabilizao da

    Panasonic do Brasil por conta do defeito que o produto apresentou. Confira-se a ementa

    do julgado:

    DIREITO DO CONSUMIDOR. FILMADORA ADQUIRIDA NO EXTERIOR. DEFEITO DA MERCADORIA. RESPONSABILIDADE DA EMPRESA NACIONAL DA MESMA MARCA (PANASONIC). ECONOMIA GLOBALIZADA. PROPAGANDA. PROTEO AO CONSUMIDOR. PECULIARIDADES DA ESPCIE. SITUAES A PONDERAR NOS CASOS CONCRETOS. NULIDADE DO ACRDO ESTADUAL REJEITADA, PORQUE SUFICIENTEMENTE FUNDAMENTADO. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO NO MRITO, POR MAIORIA.

    I Se a economia globalizada no mais tem fronteiras rgidas e estimula e favorece a livre concorrncia, imprescindvel que as leis de proteo ao consumidor ganhem maior expresso em sua exegese, na busca do equilbrio que deve reger as relaes jurdicas, dimensionando-se, inclusive, o fator risco, inerente competitividade do comrcio e dos negcios mercantis, sobretudo quando em escala internacional, em que presentes empresas poderosas, multinacionais, com filiais em vrios pases, sem falar nas vendas hoje efetuadas pelo processo tecnolgico da informtica e no forte mercado consumidor que representa o nosso Pas.

    II O mercado consumidor, no h como negar, v-se hoje bombardeado diuturnamente por intensa e hbil propaganda, a induzir a aquisio de produtos, notadamente os sofisticados de procedncia estrangeira, levando em linha de conta diversos fatores, dentre os quais, e com relevo, a respeitabilidade da marca.

    III Se empresas nacionais se beneficiam de marcas mundialmente conhecidas, incumbe-lhes responder tambm pelas deficincias dos produtos que anunciam e comercializam, no sendo razovel destinar-se ao consumidor as consequncias negativas dos negcios envolvendo objetos defeituosos.

    IV Impe-se, no entanto, nos casos concretos, ponderar as situaes existentes.

    V Rejeita-se a nulidade arguida quando sem lastro na lei ou nos autos.

    (STJ, REsp 63.981/SP, 4 Turma, Rel. Ministro Aldir Passarinho Junior, Rel. p/ Acrdo Ministro Slvio de Figueiredo Teixeira, DJ 20/11/2000)

    11

  • Do ponto de vista processual, o feito poder ser promovido contra a filial

    sediada no Brasil, que responder por qualquer violao ao contrato sob a tica da

    legislao brasileira, ou contra a matriz sediada no estrangeiro, o que acarretar o

    transtorno decorrente do emprego das cartas rogatrias como via de comunicao

    processual.

    2.4.2 Cenrio normativo luz do Marco Civil da Internet

    luz do art. 11 do Marco Civil da Internet, a legislao brasileira ter de ser

    obrigatoriamente respeitada por qualquer empresa estrangeira que, mesmo no tendo

    filial no Brasil, oferte servio ao pblico brasileiro (art. 11, 2).

    No se pode extrair desse mandamento concluses apressadas, que levariam a

    um absurdo.

    Em primeiro lugar, preciso indicar o alcance objetivo da legislao brasileira

    aplicvel.

    A nosso sentir, no qualquer norma brasileira que atingir os provedores

    estrangeiros sem filial no Brasil, mas apenas as normas que tratam de coleta, guarda,

    armazenamento ou tratamento de registros, dados pessoais ou de comunicaes, pois,

    pelo que se constata do caput do art. 11 e do seu 3, o interesse do legislador foi

    apenas de submeter essas operaes legislao nacional.

    Da se extrai concluses importantes.

    Primeira concluso: o Marco Civil no cuida de definir a legislao que

    disciplinar o contrato celebrado por um brasileiro que adquire um produto em um site

    estrangeiro, salvo no tocante coleta, guarda, armazenamento ou tratamento de

    registros, dados pessoais ou de comunicaes. Para isso, seguem vigentes os elementos

    de conexo8 previstos na LINDB e na jurisprudncia do STJ. Em outras palavras, para

    definir qual a legislao disciplinar os contratos celebrados pelos brasileiros em

    compras a distncia, no se invocar o Marco Civil, que nada diz a respeito, e sim a

    LINDB e a jurisprudncia.

    Assim, se o site estrangeiro pertence a uma multinacional com filial no Brasil e

    com marketing voltado ao mercado de consumo brasileiro, aplica-se o entendimento do

    8 Elementos de conexo so regras de direito internacional privado destinadas a definir a aplicao da lei

    brasileira ou estrangeira para determinados fatos jurdicos.

    12

  • STJ firmado no supracitado caso Panasonic, de modo que a legislao brasileira (como

    o CDC) disciplinar o contrato.

    Se, porm, o site no pertencer a uma empresa com esse perfil (ou seja, no

    houver filial no Brasil nem marketing direcionado ao mercado brasileiro), somente ser

    aplicvel a lei estrangeira para a disciplina do contrato, nos termos do art. 9, 2, da

    LINDB. O CDC no poder ser invocado a.

    Segunda concluso: o art. 11 do Marco Civil cuida de elemento de conexo

    especfico e exclusivo para aplicao da legislao brasileira relativa coleta, guarda,

    armazenamento ou tratamento de registros, dados pessoais ou de comunicaes.

    Segundo esse dispositivo, qualquer empresa estrangeira que ofertar servio ao

    pblico brasileiro, ainda que no tenha filial no Brasil, deve respeitar a legislao

    brasileira relativamente aos dados pessoais, aos registros de conexo e de acessos a

    aplicaes e a comunicaes dos internautas. Ela, por exemplo, ter de observar o

    Marco Civil da Internet, que probe a utilizao comercial dos registros de acesso s

    aplicaes se no houver consentimento expresso do internauta (art. 7, VII).

    Por oferta de servio ao pblico brasileiro, h de compreender-se o

    comportamento da empresa estrangeira em, de forma direcionada e especfica,

    promover marketing ao mercado de consumo brasileiro. O simples fato de determinados

    sites estrangeiros disponibilizarem textos em portugus no suficiente para

    caracterizar oferta ao pblico brasileiro, pois, em uma era globalizada, comum os

    sites estrangeiros vazarem seus textos em vrios idiomas.

    Exemplifica-se o at aqui anunciado.

    Se um brasileiro acessa um site de compras chins que no promove marketing

    direcionado ao mercado brasileiro (embora disponibilize verso de sua pgina em

    idioma portugus), esse site chins somente observar a legislao chinesa:

    a) seja no tocante s regras que disciplinam o contrato de compra e venda em si, de modo que no se aplicar o Cdigo de Defesa do Consumidor brasileiro, por fora do art. 9, 2, da LINDB;

    b) seja no atinente s regras de coleta, guarda, armazenamento ou tratamento de registros, dados pessoais ou de comunicaes, de maneira que no se aplicar a lei brasileira do Marco Civil da Internet para, por exemplo, impedir o uso comercial do histrico de navegao do usurio sem o consentimento, tendo em vista o elemento de conexo do art. 11 da Lei do Marco Civil da Internet.

    13

  • Todavia, se o brasileiro acessa um site de compras norte-americano que

    promove marketing direcionado ao mercado nacional, ainda que no haja filial no

    Brasil, a haver duas observaes:

    a) no ser aplicada a legislao brasileira quanto disciplina do contrato de compra e venda, e sim a norte-americana, por fora do art. 9, 2, da LINDB, e do fato de a jurisprudncia do STJ no famoso caso Panasonic ter envolvido uma empresa com filial no Brasil. Obviamente, a jurisprudncia pode mudar e passar a dispensar a exigncia de filial no Brasil e satisfazer-se com a oferta direcionada de produtos ao mercado de consumo brasileiro. Seja como for, a discusso girar em torno do art. 9, 2, da LINDB.

    b) ser aplicada a legislao brasileira quanto coleta, guarda, armazenamento ou tratamento de registros, dados pessoais ou de comunicaes, por fora do art. 11 do Marco Civil da Internet. Dessa forma, o site de compras norte-americano no poder, por exemplo, usar comercialmente o histrico de navegao do internauta brasileiro sem o seu consentimento expresso, em razo da incidncia do disposto no art. 7, VII, do Marco Civil da Internet brasileiro.

    Outro exemplo.

    Imagine que um internauta brasileiro decida criar uma conta no Sina Weibo, um

    site chins de servios semelhantes aos prestados pelo Google e que se aproxima do

    Facebook e do Twitter.

    Nesse caso, a lei chinesa disciplinar as questes relativas coleta, guarda,

    armazenamento ou tratamento de registros, dados pessoais ou de comunicaes, pois a

    Sina Weibo no promove oferta direcionada ao pblico brasileiro. Dessa forma, se a lei

    chinesa permitir o uso comercial do histrico de navegao do internauta brasileiro sem

    o consentimento deste, tal conduta ser plenamente legtima.

    Igualmente, a lei chinesa regular os demais aspectos do contrato firmado, por

    fora do art. 9, 2, da LINDB.

    2.5 RESPONSABILIDADE CIVIL DOS PROVEDORES DE CONEXO (ART. 18) E DE APLICAES (ARTS. 19 E 21) POR CONTEDOS GERADOS POR TERCEIROS

    2.5.1 Cenrio anterior Lei n 12.965, de 2014

    At o advento do Marco Civil da Internet, o STJ entendia que provedores de

    aplicaes que mantivessem servios de redes sociais deviam retirar, em at 24 horas

    do recebimento da notificao, publicaes ofensivas pessoa mediante mero pedido

    14

  • desta, sob pena de responder civilmente pelos danos morais causados. Confiram-se, a

    propsito, esses julgados do STJ:

    AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. DIREITO DO CONSUMIDOR. PROVEDOR. MENSAGEM DE CONTEDO OFENSIVO. REGISTRO DE NMERO DO IP. DANO MORAL. NO RETIRADA EM TEMPO RAZOVEL.

    1 Na linha dos precedentes desta Corte, o provedor de contedo de internet no responde objetivamente pelo contedo inserido pelo usurio em stio eletrnico, por no se tratar de risco inerente sua atividade. Est obrigado, no entanto, a retirar imediatamente o contedo moralmente ofensivo, sob pena de responder solidariamente com o autor direto do dano. Precedentes.

    2 No caso dos autos o Tribunal de origem entendeu que no houve a imediata excluso do perfil fraudulento, porque a Recorrida, por mais de uma vez, denunciou a ilegalidade perpetrada mediante os meios eletrnicos disponibilizados para esse fim pelo prprio provedor, sem obter qualquer resultado.

    3 Agravo Regimental a que se nega provimento. (AgRg no REsp 1309891/MG, Rel. Ministro SIDNEI

    BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 26/06/2012, DJe 29/06/2012)

    DIREITO CIVIL E DO CONSUMIDOR. INTERNET.

    RELAO DE CONSUMO. INCIDNCIA DO CDC. GRATUIDADE DO SERVIO. INDIFERENA. PROVEDOR DE CONTEDO. FISCALIZAO PRVIA DO TEOR DAS INFORMAES POSTADAS NO SITE PELOS USURIOS. DESNECESSIDADE. MENSAGEM DE CONTEDO OFENSIVO. DANO MORAL. RISCO INERENTE AO NEGCIO. INEXISTNCIA. CINCIA DA EXISTNCIA DE CONTEDO ILCITO. RETIRADA IMEDIATA DO AR. DEVER. DISPONIBILIZAO DE MEIOS PARA IDENTIFICAO DE CADA USURIO. DEVER. REGISTRO DO NMERO DE IP. SUFICINCIA.

    1. A explorao comercial da internet sujeita as relaes de consumo da advindas Lei n 8.078/90.

    2. O fato de o servio prestado pelo provedor de servio de internet ser gratuito no desvirtua a relao de consumo, pois o termo mediante remunerao contido no art. 3, 2, do CDC deve ser interpretado de forma ampla, de modo a incluir o ganho indireto do fornecedor.

    3. A fiscalizao prvia, pelo provedor de contedo, do teor das informaes postadas na web por cada usurio no atividade intrnseca ao servio prestado, de modo que no se

    15

  • pode reputar defeituoso, nos termos do art. 14 do CDC, o site que no examina e filtra os dados e imagens nele inseridos.

    4. O dano moral decorrente de mensagens com contedo ofensivo inseridas no site pelo usurio no constitui risco inerente atividade dos provedores de contedo, de modo que no se lhes aplica a responsabilidade objetiva prevista no art. 927, pargrafo nico, do CC/02.

    5. Ao ser comunicado de que determinado texto ou imagem possui contedo ilcito, deve o provedor agir de forma enrgica, retirando o material do ar imediatamente, sob pena de responder solidariamente com o autor direto do dano, em virtude da omisso praticada.

    6. Ao oferecer um servio por meio do qual se possibilita que os usurios externem livremente sua opinio, deve o provedor de contedo ter o cuidado de propiciar meios para que se possa identificar cada um desses usurios, coibindo o anonimato e atribuindo a cada manifestao uma autoria certa e determinada. Sob a tica da diligncia mdia que se espera do provedor, deve este adotar as providncias que, conforme as circunstncias especficas de cada caso, estiverem ao seu alcance para a individualizao dos usurios do site, sob pena de responsabilizao subjetiva por culpa in omittendo.

    7. Ainda que no exija os dados pessoais dos seus usurios, o provedor de contedo, que registra o nmero de protocolo na internet (IP) dos computadores utilizados para o cadastramento de cada conta, mantm um meio razoavelmente eficiente de rastreamento dos seus usurios, medida de segurana que corresponde diligncia mdia esperada dessa modalidade de provedor de servio de internet.

    8. Recurso especial a que se nega provimento. (REsp 1193764/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI,

    TERCEIRA TURMA, julgado em 14/12/2010, DJ 08/08/2011)

    Esse entendimento pacificado do STJ no se restringia a casos de retirada de

    contedos ofensivos postados por usurios em redes sociais como o Orkut e o

    Facebook. Tambm se estendia para blogs mantidos por determinado provedor de

    aplicaes, o qual devia proscrever os contedos ofensivos independentemente de

    deciso judicial. Simples pedido do ofensivo seria suficiente. Confira-se, a propsito,

    este julgado:

    AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. DANO MORAL. DISPONIBILIZAO DE MATERIAL DIDTICO EM BLOGS, NA INTERNET, SEM AUTORIZAO DA PARTE AUTORA. CONCLUSO DO COLEGIADO ESTADUAL FIRMADA COM BASE NA ANLISE DOS ELEMENTOS FTICO-PROBATRIO

    16

  • CONSTANTE NOS AUTOS. QUANTUM INDENIZATRIO FIXADO COM RAZOABILIDADE.

    1 No caso concreto, foi disponibilizado material didtico em blogs, na internet, sem autorizao da parte autora. Notificada sobre a ilicitude, a Google no tomou nenhuma providncia, somente vindo a excluir os referidos blogs, quando intimada da concesso de efeito suspensivo-ativo no Agravo de Instrumento n 1.0024.08.228523-8/001.

    2 A reviso do Acrdo recorrido, que concluiu pela culpa da Agravante para o dano moral suportado pela Parte agravada, demandaria o reexame do conjunto ftico-probatrio delineado nos autos, providncia invivel em mbito de Recurso Especial, incidindo o bice da Smula 7 deste Tribunal.

    3 A interveno do STJ, Corte de Carter nacional, destinada a firmar interpretao geral do Direito Federal para todo o Pas e no para a reviso de questes de interesse individual, no caso de questionamento do valor fixado para o dano moral, somente admissvel quando o valor fixado pelo Tribunal de origem, cumprindo o duplo grau de jurisdio, se mostre teratolgico, por irrisrio ou abusivo.

    4 Inocorrncia de teratologia no caso concreto, em que, para a demora na retirada de publicao de material didtico sem autorizao foi fixado, em 04.08.2011, o valor da indenizao em R$ 12.000,00 (doze mil reais) a ttulo de dano moral, consideradas as foras econmicas da autora da leso.

    5 Agravo Regimental improvido. (AgRg no AREsp 259.482/MG, Rel. Ministro SIDNEI

    BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 16/04/2013, DJ 30/04/2013)

    RESPONSABILIDADE CIVIL. INTERNET. REDES SOCIAIS. MENSAGEM OFENSIVA. CINCIA PELO PROVEDOR. REMOO. PRAZO.

    1. A velocidade com que as informaes circulam no meio virtual torna indispensvel que medidas tendentes a coibir a divulgao de contedos depreciativos e aviltantes sejam adotadas clere e enfaticamente, de sorte a potencialmente reduzir a disseminao do insulto, minimizando os nefastos efeitos inerentes a dados dessa natureza.

    2. Uma vez notificado de que determinado texto ou imagem possui contedo ilcito, o provedor deve retirar o material do ar no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, sob pena de responder solidariamente com o autor direto do dano, em virtude da omisso praticada.

    3. Nesse prazo de 24 horas, no est o provedor obrigado a analisar o teor da denncia recebida, devendo apenas promover a suspenso preventiva das respectivas pginas, at que tenha

    17

  • tempo hbil para apreciar a veracidade das alegaes, de modo a que, confirmando-as, exclua definitivamente o perfil ou, tendo-as por infundadas, restabelea o seu livre acesso.

    4. O diferimento da anlise do teor das denncias no significa que o provedor poder posterg-la por tempo indeterminado, deixando sem satisfao o usurio cujo perfil venha a ser provisoriamente suspenso. Cabe ao provedor, o mais breve possvel, dar uma soluo final para o caso, confirmando a remoo definitiva da pgina de contedo ofensivo ou, ausente indcio de ilegalidade, recolocando-a no ar, adotando, nessa ltima hiptese, as providncias legais cabveis contra os que abusarem da prerrogativa de denunciar.

    5. Recurso especial a que se nega provimento. (EDcl no REsp N 1.323.754-RJ (2012/0005748-4), Rel.

    Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 17/10/2013)

    O STJ, porm, no responsabilizou o Google pelas informaes possivelmente

    ultrajantes constantes de stios eletrnicos que seu sistema de busca pode indicar, pois,

    nesse caso, a eventual violao de direito da personalidade operada pelo provedor que

    hospeda as informaes. A propsito, confira-se este julgado envolvendo ao proposta

    pela apresentadora Xuxa Meneghel para que o Google removesse do seu site de

    pesquisa os resultados relativos busca pela expresso xuxa pedfila ou por qualquer

    outra que vinculasse a atriz a prticas criminosas:

    CIVIL E CONSUMIDOR. INTERNET. RELAO DE CONSUMO. INCIDNCIA DO CDC. GRATUIDADE DO SERVIO. INDIFERENA. PROVEDOR DE PESQUISA. FILTRAGEM PRVIA DAS BUSCAS. DESNECESSIDADE. RESTRIO DOS RESULTADOS. NO-CABIMENTO. CONTEDO PBLICO. DIREITO INFORMAO.

    1. A explorao comercial da Internet sujeita as relaes de consumo da advindas Lei n 8.078/90.

    2. O fato de o servio prestado pelo provedor de servio de Internet ser gratuito no desvirtua a relao de consumo, pois o termo mediante remunerao, contido no art. 3, 2, do CDC, deve ser interpretado de forma ampla, de modo a incluir o ganho indireto do fornecedor.

    3. O provedor de pesquisa uma espcie do gnero provedor de contedo, pois no inclui, hospeda, organiza ou de qualquer outra forma gerencia as pginas virtuais indicadas nos resultados disponibilizados, se limitando a indicar links onde podem ser encontrados os termos ou expresses de busca fornecidos pelo prprio usurio.

    18

  • 4. A filtragem do contedo das pesquisas feitas por cada usurio no constitui atividade intrnseca ao servio prestado pelos provedores de pesquisa, de modo que no se pode reputar defeituoso, nos termos do art. 14 do CDC, o site que no exerce esse controle sobre os resultados das buscas.

    5. Os provedores de pesquisa realizam suas buscas dentro de um universo virtual, cujo acesso pblico e irrestrito, ou seja, seu papel se restringe identificao de pginas na web onde determinado dado ou informao, ainda que ilcito, esto sendo livremente veiculados. Dessa forma, ainda que seus mecanismos de busca facilitem o acesso e a consequente divulgao de pginas cujo contedo seja potencialmente ilegal, fato que essas pginas so pblicas e compem a rede mundial de computadores e, por isso, aparecem no resultado dos sites de pesquisa.

    6. Os provedores de pesquisa no podem ser obrigados a eliminar do seu sistema os resultados derivados da busca de determinado termo ou expresso, tampouco os resultados que apontem para uma foto ou texto especfico, independentemente da indicao do URL da pgina onde este estiver inserido.

    7. No se pode, sob o pretexto de dificultar a propagao de contedo ilcito ou ofensivo na web, reprimir o direito da coletividade informao. Sopesados os direitos envolvidos e o risco potencial de violao de cada um deles, o fiel da balana deve pender para a garantia da liberdade de informao assegurada pelo art. 220, 1, da CF/88, sobretudo considerando que a Internet representa, hoje, importante veculo de comunicao social de massa.

    8. Preenchidos os requisitos indispensveis excluso, da web, de uma determinada pgina virtual, sob a alegao de veicular contedo ilcito ou ofensivo notadamente a identificao do URL dessa pgina a vtima carecer de interesse de agir contra o provedor de pesquisa, por absoluta falta de utilidade da jurisdio. Se a vtima identificou, via URL, o autor do ato ilcito, no tem motivo para demandar contra aquele que apenas facilita o acesso a esse ato que, at ento, se encontra publicamente disponvel na rede para divulgao.

    9. Recurso especial provido. (REsp 1316921/RJ, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI,

    TERCEIRA TURMA, julgado em 26/06/2012, DJe 29/06/2012)

    2.5.2 Cenrio aps a Lei n 12.965/2014: necessidade de mudana da jurisprudncia do STJ

    Com o Marco Civil da Internet, a jurisprudncia do STJ precisar de ajustes

    parciais.

    19

  • H duas situaes distintas tratadas no novo diploma legal.

    Primeiro: como regra geral, em prestgio liberdade de expresso e em

    atenuao dos valores de proteo da privacidade, o art. 19 do Marco Civil da Internet

    somente responsabiliza civilmente os provedores de aplicaes por contedos gerados

    por terceiros (como postagens, vdeos, etc.) se, aps ordem judicial especfica, esses

    provedores no retirarem o contedo ofensivo. Dessa forma, a jurisprudncia do STJ

    ter de mudar, pois no bastar mero pedido extrajudicial da vtima para a retirada do

    contedo. Ser necessria ordem judicial.

    Acresa-se que, nessa hiptese, a responsabilidade civil do provedor de

    aplicao continuar sendo solidria, por fora do art. 7, pargrafo nico, do CDC e do

    art. 942, pargrafo nico, do CC (tendo em vista que, ao no acatar a ordem judicial, o

    provedor de aplicao pode ser havido como coautor do ato ofensivo).

    Segundo: em exceo, o art. 20 do Marco Civil da Internet valorizou a tutela da

    privacidade ao estabelecer que contedos envolvendo cenas de nudez ou de sexo

    devero ser retirados do ar pelo provedor de aplicao aps mero pedido extrajudicial

    da vtima.

    Aparentemente, o Marco Civil pecou ao estabelecer que, nesse caso, a

    responsabilidade do provedor de aplicao em razo da no retirada do contedo

    obsceno subsidiria, na contramo da tendncia normativa da atualidade de, em

    proteo ao consumidor, contemplar a solidariedade.

    preciso, no entanto, conferir interpretao ao art. 20 do diploma ciberntico

    em compatibilidade com as diretrizes constitucionais de defesa do consumidor, que,

    qual timoneiro, guia o ordenamento jurdico a progredir, e no a regredir, na tutela das

    relaes de consumo.

    Os provedores de aplicaes, em nome do direito informao assegurado ao

    consumidor, tm o dever de guardar os dados de identificao dos autores de contedos

    postados. Esse direito de informao no assegurado apenas ao consumidor, mas a

    qualquer pessoa que se serve dos servios de um provedor de aplicaes, por conta da

    boa-f objetiva (art. 422, CC) e do dever geral de no causar dano a outrem, resumido

    no princpio do neminem laedere (art. 186, CC).

    Dessa forma, se o contedo gerado por terceiros com cenas de nudez ou de sexo

    causar danos, o provedor de aplicao, ao ser notificado extrajudicialmente pela vtima,

    20

  • tem o dois deveres: (a) o de retirar o contedo postado, conforme art. 20 do Marco Civil

    da Internet, e (b) o de informar vtima os dados de identificao do autor do contedo

    ofensivo, como nome, CPF e endereo completo, por fora do direito informao.

    Se o provedor de aplicao no fornecer esses dados de identificao do autor da

    postagem vtima, violar o dever de informao e, como tal, por dificultar ou

    inviabilizar a obteno de responsabilizao civil principal do autor do contedo

    obsceno, responder solidariamente pelos danos causados vtima, seja por conta dos

    arts. 186, 422 e 942, pargrafo nico, do CC (pois o provedor poder ser tido como um

    coautor do ato ilcito), seja com fulcro nos arts. 7, pargrafo nico, e 18 do CDC.

    Caso, porm, o provedor de aplicao disponibilize os dados de identificao do

    autor da postagem, a sim sua responsabilizao civil ser subsidiria, nos termos do art.

    20 do Marco Civil da Internet, de modo que s poder ser condenado a reparar os danos

    materiais e morais sofridos pela vtima caso o autor do contedo obsceno no tenha

    condies financeiras de pagar a indenizao.

    Essa a uma interpretao que se pode dar ao art. 20 do Marco Civil da

    Internet, para o alinhar aos preceitos constitucionais que guiam nosso ordenamento.

    Outra interpretao igualmente razovel possvel.

    Como h uma aparente antinomia entre o art. 20 do Marco Civil da Internet de

    um lado e os arts. 7, pargrafo nico, e 18 do CDC por outro, plenamente admissvel

    a utilizao do dilogo das fontes para obter, no caso concreto, uma soluo mais

    compatvel com os valores do ordenamento jurdico.

    Nesse contexto, poder-se-, pela via do dilogo das fontes, estabelecer que a

    responsabilidade subsidiria do art. 20 do Marco Civil da Internet s ser aplicvel nos

    casos em que a vtima do contedo obsceno no puder ser caracterizada como

    consumidora. E, nesse caso de inexistncia de relao de consumo, ser aplicvel aquela

    primeira interpretao apresentada, no sentido de que, caso o provedor de aplicao no

    fornea os dados de identificao do autor da postagem, ele responder solidariamente,

    por ter-se tornado um coautor do ato ilcito (art. 942, pargrafo nico, CC).

    Caso, porm, ela se caracterize como consumidora, haver de prevalecer a

    solidariedade contemplada nos arts. 7, pargrafo nico, e 18 do CDC.

    21

  • Essa ltima interpretao a que, ao nosso sentir, mais coaduna com o esprito

    constitucional de proteo ao consumidor.

    Nessa linha interpretativa, o Facebook, por exemplo, seria responsvel

    solidariamente pelos danos materiais e morais sofridos por consumidor que solicitou

    extrajudicialmente a retirada de vdeo ou postagem contendo cenas de nudez ou de sexo

    e no obteve do Facebook a suspenso imediata (e, por imediata, deve-se entender o

    prazo mximo de 24 horas) do contedo obsceno.

    Se, porm, a vtima no for enquadrada como consumidora, a responsabilidade

    civil do provedor de aplicao s ser subsidiria se ele fornecer os dados completos de

    identificao do autor da postagem. Se o provedor no fornecer os dados, sua

    responsabilidade ser solidria (art. 942, pargrafo nico, CC).

    2.6 COMPETNCIA DOS JUIZADOS ESPECIAIS PARA CAUSAS CIBERNTICAS (ART. 19, 3)

    Avanou o art. 19, 3, do Marco Civil da Internet para estabelecer que dos

    Juizados Especiais a competncia para os feitos judiciais que verem sobre:

    a) ressarcimento por danos decorrentes de contedos disponibilizados na internet relacionados honra, reputao ou a direitos da personalidade (primeira parte do dispositivo);

    b) a indisponbilizao desses contedos por provedores de aplicaes de internet (segunda parte do dispositivo).

    Esse dispositivo no pode ser lido desavisadamente pelos operadores do Direito.

    Os olhos do legislador lanaram-se na tenso existente entre dois fatos: de um

    lado, a velocidade vertiginosa da difuso das informaes na internet, capaz de, em

    questes de minutos, espalhar contedos a milhares de pessoas; e, de outro lado, a regra

    da exigibilidade de ordem judicial prevista no art. 19 para a retirada de contedos

    ofensivos.

    Ora, fato que, at a vtima conseguir encontrar um advogado, ajuizar uma ao

    judicial, receber uma deciso judicial liminar e cientificar o provedor de aplicaes

    acerca da determinao judicial, o dano sofrido pela vtima poder ter-se consumado de

    modo irreversvel.

    Por essa razo, buscou o legislador conferir celeridade ao procedimento judicial

    a ser empregado pela vtima, estabelecendo a competncia dos Juizados Especiais.

    22

  • Como se sabe, no mbito dos Juizados Especiais, no h necessidade de a parte ser

    patrocinada por advogados, o que facilita, em muito, o acesso Justia. Alm do mais,

    o rito processual mais clere no orbe dos Juizados Especiais.

    preciso, no entanto, interpretar o art. 19 do Marco Civil da Internet em

    conjunto com a Lei n 9.099, de 19959, ao agasalho do vetor constitucional da durao

    razovel do processo (art. 5, LXXVII, da CF).

    O que distingue um dano moral causado por meio da divulgao de uma imagem

    injuriosa em um outdoor em relao leso moral provocada mediante publicao de

    uma imagem ofensiva na internet a velocidade de propagao da informao.

    No faz sentido haver tratamento legislativo diverso a essas duas situaes alm

    dos limites de suas desigualdades, em ateno ao milenar princpio geral de Direito ubi

    eadem ratio, ibi idem ius (onde h a mesma razo fundamental, h a mesma razo de

    direito).

    Dessa forma, deve-se admitir que, no mbito dos Juizados Especiais, seja

    processado qualquer feito em que haja pedido de retirada de contedo ofensivo, sem

    quaisquer outras condicionantes. Afinal de contas, a desnecessidade de contratao de

    advogado e a fluncia mais clere do rito dos Juizados Especiais so essenciais para

    impedir os efeitos deletrios da propagao veloz de um contedo ofensivo na internet.

    Com efeito, a retirada de um contedo ofensivo na internet precisa ser muito mais clere

    em relao suspenso de uma publicao ofensiva por um meio fsico (como um

    outdoor), de sorte que no h a mesma razo fundamental em ambos os casos.

    Todavia, em se tratando de causa envolvendo o pedido de indenizao por danos

    materiais e morais sofridos por contedo ofensivo postado na internet, a competncia

    dos Juizados Especiais depender do respeito ao limite de alada. Em outras palavras, o

    pleito indenizatrio no poder reivindicar reparao em valor superior a quarenta vezes

    o salrio mnimo, em respeito ao art. 3, inciso I, da Lei n 9.099, de 1995. Se exceder,

    esvazia-se a competncia dos Juizados Especiais.

    Entendimento contrrio ignoraria que no h razo fundamental diversa entre a

    reparao por danos morais decorrentes de postagens por internet e a decorrente de

    9 Lei n 9.099, de 26 de setembro de 1995, que dispe sobre os Juizados Especiais Cveis e Criminais e

    d outras providncias.

    23

  • contedos publicados em meios fsicos, como um outdoor. Em ambos os casos, a lgica

    fundamental a obteno de valor pecunirio hbil a reparar o dano.

    Em suma, vtimas de contedos ofensivos:

    a) sempre podem valer-se dos Juizados Especiais se requerem to somente a retirada da postagem lesiva;

    b) s podero pleitear reparao de danos no mbito dos Juizados Especiais se o valor pleiteado respeitar o teto de alada desse ramo da Justia.

    Por fim, anotamos que esse entendimento estende-se tambm aos feitos judiciais

    envolvendo a retirada de contedos envolvendo cenas de nudez ou de sexo prevista no

    art. 21, pois, apesar de a competncia dos Juizados Especiais ter sido anunciada como

    um pargrafo do art. 19, no h razo para impedir o seu alcance para o art. 21, que

    tambm cuida de responsabilidade civil dos provedores de aplicaes por contedos

    gerados por terceiros.

    2.7 REQUISITOS DA TUTELA ANTECIPADA CIBERNTICA (ART. 19, 4)

    O Marco Civil da Internet contemplou, no 4 de seu art. 19, o que designamos

    de tutela antecipada ciberntica.

    A tutela antecipada j prevista genericamente no art. 273 do CPC como um

    importante mecanismo de tutela de urgncia que depende da presena de quatro

    requisitos: (1) pedido da parte; (2) prova inequvoca; (3) verossimilhana da alegao; e

    (4) periculum in mora ou abuso de direito de defesa ou manifesto propsito protelatrio

    do ru.

    O Marco Civil da Internet fixou uma tutela antecipada especfica (a que

    chamamos de tutela antecipada ciberntica) para os pleitos envolvendo

    responsabilidade civil do provedor de aplicaes por contedos gerados por terceiros.

    A nica diferena dessa tutela de urgncia especial em relao do art. 273 do CPC

    que a sua concesso depende da presena de mais um requisito: o interesse da

    coletividade na disponibilizao do contedo na internet.

    A bem da verdade, a previso legal de uma tutela antecipada ciberntica era

    prescindvel, pois o art. 273 do CPC, ao exigir que o magistrado aprecie a

    verossimilhana da alegao, j impe ao magistrado a anlise da plausibilidade

    jurdica do pedido da parte luz do ordenamento jurdico. Ora, o Marco Civil da

    Internet j evidenciou que a liberdade de expresso foi sobrevalorizada, de sorte que,

    24

  • 25

    mesmo sem a advertncia do 4 do art. 19 do diploma ciberntico, a concesso de

    tutela antecipada para a retirada de contedos ofensivos dependeria da anlise

    perfunctria do respeito liberdade de expresso e do interesse coletivo na divulgao

    de informaes.

    Seja como for, o legislador no quis dar azo a qualquer centelha de dvidas.

    O magistrado s poder conceder a tutela antecipada se, alm dos requisitos clssicos do

    art. 273 do CPC, entrever que no haver ofensa ao interesse da coletividade na

    informao. Doravante, em causas cibernticas, a tutela antecipada dever ser

    fundamentada no art. 19, 3, da Lei n 12.965, de 2014, e no mais no art. 273 do

    CPC.

    3 CONCLUSO

    Muitos outros aspectos do Marco Civil da Internet merecero ateno da

    jurisprudncia e da doutrina. Ativemo-nos, no entanto, neste estudo, nos aspectos que

    reputamos mais sensveis e que daro ensanchas a muitas reflexes doutrinrias e

    pretorianas.

    1 Introduo2 Aspectos Importantes do Marco Civil da Internet2.1 Aplicabilidade de outras normas, como o CDC (art. 3, pargrafo nico, e art. 6)2.2 Da vedao da utilizao comercial dos dados pessoais dos internautas, salvo consentimento expresso (art. 7, VII e X)2.3 Da neutralidade de rede (art. 9)2.4 Aplicao da lei brasileira a provedores de aplicaes sediados em pas estrangeiro (art. 11)2.4.1 Cenrio normativo anterior ao Marco Civil da Internet2.4.1.1 Provedor de aplicaes sem filial no Brasil2.4.1.2 Provedor de aplicaes com filial no Brasil

    2.4.2 Cenrio normativo luz do Marco Civil da Internet

    2.5 Responsabilidade civil dos provedores de conexo (art. 18) e de aplicaes (arts. 19 e 21) por contedos gerados por terceiros2.5.1 Cenrio anterior Lei n 12.965, de 20142.5.2 Cenrio aps a Lei n 12.965/2014: necessidade de mudana da jurisprudncia do STJ

    2.6 Competncia dos Juizados Especiais para causas cibernticas (art. 19, 3)2.7 Requisitos da tutela antecipada ciberntica (art. 19, 4)

    3 Concluso