tchekhov_o jardim de cerejeiras

Upload: rob-alessandro

Post on 16-Jul-2015

1.317 views

Category:

Documents


3 download

DESCRIPTION

última peça do dramaturgo russo Anton Tchekhov.

TRANSCRIPT

  • 5/14/2018 TCHEKHOV_O Jardim de Cerejeiras

    1/58

    FEDERA~AO DAS ESCOLAS FEDERAlS ISOLADAS DO ESTADO DO RIO DE JANEIROCENTRO DE ARTES

    o JARDIM DE CEREJElRASde

    ANTON P. TCHECOVTradugao de..lg a Obry

    ePonteE de Paula Lima

    COM!DlA EH 4 ATOSPERSONAGENS:LIUBOV ANDRt:lEVNA RENt:VSKAIl- propriet~ria.ANIA, sua filha. 17 anos.VARIA 5 sua filha adotiva. 22 anos.LEONID ANDR~lEVlTCH GAlEV, irmao da Senhora Renevskaia.V ER MO LA l A LE X~ IE Vl TC H L OP AK HI N, n eg oc ia nt e.PIOT R S ERGU~lE VlTCH TROF lMOV, e studan te.BORIS BOR ISOVIT CH SI MEONOV PI CHTCHI K, lati fundia rio.C AR LO TA I VA NO VN A, g ov er na nt a.

    fSEMI6N PANTALt:IEVITCH EPIH6DOV, empregado administrativo.D UN IA CH A, c ri ad a.FIRS, criado. 87 anos.IACHA, jovem criado.U M I NF OR MA NT E.o CHEFE DA ESTA~AO.UM FUNCIONARIO DOS CORREIOS.CONVIDADOS, criados.

    A agao transcorre na propriedade da Senhora Renevskaia.

    \"". 5 Mu lheres10 HomensFigurantes

    !AT[-N~AOESTA PEC/\ E P 7:A F!nS DlDAner , so AS.B.A.i.". [ ' : . A T : ~.[Z"\ P~{Of!SSIONAW'A::NTE.

    . . . .N9 de Personagens;

    - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

  • 5/14/2018 TCHEKHOV_O Jardim de Cerejeiras

    2/58

    LOPAKHIN:DUNIACHA:LOPAKHIN:

    DUNIACHA:

    LOPAKHIN:

    DUNIACHA:

    -1-

    PRIMEIRO ATO

    Urn quarto que ainda e chamado de "0 quarto das crian~asao Urna d as portas da para 0 quarto de dormir de AniaoHadrugadao 0 sol come9a a surgiro J a estamos em maiovas-erejeiras florecem v mas no jardim ainda se sente 0ge-10 da madrugada. As janelas estao fechadasoEntram DUNIACHA, com uma vela acesa e LOPAKHIN g com ~~ livr~ na maoo

    Gragas a Deus.O trem chegou. Que horas sao?Quase duas , (APAGA A VELA). Ja esta c Lar-eando ,Quantas horas de ~~~~~~? Umas duas, pelo menos! (BOCEJAE SE ESPREGUICA). Que diabo! Eu venho especialmente na-ra ir busca-1as na estagao e ac~bo ferrado no sono. Dorml, sentado na cadeira. Que vergonha. Mas voce bern po-dia ter me chamado.Pensei que 0senhor tinha ido embora. (ESCUTANDO) Aque sao eles ...Nao. Ate ti.r-ar- bagagem e tal e coisa ... (PAUSA)" LjubovAndr-eievne pas sou 5 anos no estrangeiro, nem sei comoestara agora. Era uma otima pessoa. Simples, punha agente logo a vontade. Eu me lembro, quando era rapazi-nho ~ devia ter uns 15 anos - 0meu falecido pai -naquele tempo ele tinha uma lojinha na cidade-me deu urnmurro na cara e eu fiquei com 0nariz sangrando- a gen-te veio a Fazenda nao sei mais pro que foi, eletinhabebido. Liubov Andreievna- !tou (1) venda ela agora,ai~da mocinha, magrinha- me trouxe aqui dentro e lavou aminha cara- aqui mRsmo, no quarto das criangas. "l-Jaochore capiausinho"7 foi 0que ela disse, "antes do seucasamento, 0narizinho ja sarou". (PAUSA.) Capiausinho.o meu pai era mesmo eapiau- e aqui estou eu agora, decolete bran co e sapato amarelo. Sa! da roda dos porqueiros, passei pra dos eaixeiros. . Fiquei rico, ganhei. . .muito dinheiro mas~ pensando bern,0que eu sou ainda eeapiau. Fui I e eSSE livro e nao entendi nada. Tava len-do, ferrei no sono. ( PAUSA.)Os eachorros nao dcrmiram a noite inteira. Ja estao pr~

  • 5/14/2018 TCHEKHOV_O Jardim de Cerejeiras

    3/58

    LOFl\KHIN:DUNlf\CHf".LOPAKHIN:

    EPIHODOV:

    LOPAKHIN:DUNIACHA:EPIHODOV:

    LOPAKHIN:EPIHODOV:

    E?IHODOV:

    DUNIACHA:

    LOPAKHIN::SUiHACHA:

    ~---- .-2-

    sentindo que os jonos vaG chegar.o que e que vocetem~ Duniacha ... ?As minhas maos e3taO tremendo.Acho que you desmaiar.Voce e muito manhosa, Duniacha. Vestida de patroa comesse penteado todo. Nao t~ direito. Cada qual tern de sepo no seu devido lugar. (ENTRA EPIHODOV, COM UM RAHO DEFLORES NA MAO. DE PALETO E BOTAS BRILHANTES, QUE RANGEM.AO ENTRAR, DEIXA CAIR 0 RAMO DE FLORES).(APANHANDO AS FLORES) 0 Jardineiro mandou. Disse quepra por na sala de jantar. ( DA AS FLORES A DUNIACHA.)

    -eE quer me trazer urn copo de Kvass?Sim senhor. (SAl).Eta madrugada fria! Tres graus abaixo de zero e as cg:r'e--eiras carregadinhas de flores. 0 nosso clima e uma bar-baridade. Eu nao gosto desse nosso clima. Nao aprovo.No~so clima nao presta. Escute~ Yermolai Alexeievitch, com. . .licen~a: eu comprei estas botas ante-ontem e imagine so~elas ficam rangendo que nao se aguent~ mais.Sera que naoha um remedio qualquer?Nao amola. Va embora.Todo dia me acon~ece uma desgra~a qualquer. Nao estou mequeixando~ ja acostumei, ate acho gra~a. (ENTRA DUNIACHAE DA A LOPAKHIN () COPO DE KVASS).Eu ja yOU indo. O;SBARRA NUMA CADElRA E A DERRUBA). Outravez ' (COM AR TrUUNFANTE) " ' a _ vendo? Desculpem ...que S-:'LliCi~ao.o. nao tem jeito nao ...Chega ate a espantar ... (SAI.)o senhor sabe, Yermolai Alexeievi~ch? pra falar com franquesa, 0 Epihodov me pediu em casamento.E?Nem se 0que eu devo fazer.Ele e urn rapz serio mas as vezes, quando esta fa lando , a gente nao entende nada. Falabonito) com muito sentimento, mas tao complicado!Eu ateacho que gosto dele) sei lao E ele esta louco por mimeNao tern sorte, 0coitado, cada dia uma encrenca.Todo mugdo zomba dele~ aqui em casaD Chamam ele de HnaO tem jei-

  • 5/14/2018 TCHEKHOV_O Jardim de Cerejeiras

    4/58

    LOPAKHIN:DUNIACHA:LOPAKHIN:

    JUNIACHA:

    .0 ; - ,- - ~ .- - - . -~.. ~--~-- . _-_\.j.l-J. :

    -3-

    (ESCUTANDO LA FORA) Agora parece que estao chegando.Estao sim! 0 que e que eu tenho, estou tiritando~Chegaram mesmo. Vamos receb~-los. Ser~ que me reconhece?Ja faz cinco anos.,.Nao aguento mais ... Ai! Eu vou desmaiar! (OUVE-SE A CHE-GADA DE DUAS CARRUAGENS. LOPAKHIN e DUNIACHA SAEM APRES-SADOS. 0 PALCO FICA VAZIO. COME~A UMA ALGAZARRA NOS QUA~TOS VIZINHOS. FIRS, QUE FOI A ESTA~AO BUSCAR LIUBOV AN-DREIEVNA) ATRAVESSA 0 P ALC O, AP RES SAD O, A PO IP, NDO -SE N UMABENGALA. USA CARTOLA E LIBRf ANTIGA. FALA BAIXINHO, SOZINHO, SEM QUE SE ENTENDA 0 QUE DIZ. 0 BARULHO NOS BASTIDORES VAI-SE TORNANDO CADA VEZ MAIS FORTE.UMA VOZ:

    !I VAMOS PASSAR POR AQUI". ENTRAM LIUBOV ANDREIEVNA, A.NI.Ae CARLOTA IVANOVNA,ESTA PUXANDO UM CACHORRI-NHO DE COLEIRA, T()DAS T Rt:S V ESTEM ROUPA DE VIAGEM~VARIA~DE CAPOTE E LEN~O NA CABE~A, GAIEV, SEMIONOV PICHTCHIK,LOPAKHIN, DUNIACEA, COM UMA TROUXA E UMA SO MBR INA A, E t1-PREGADOS DA CASA COM BAGAGNES. TODOS ATRAVESSA 0 QUA~TO).Vamos por aqui. Hamae, lembra-se d~ste quarto?(COM ALEGRIA, ATFAV~S DE LAGRlMAS)- 0 quarto das criangas!Que frio! Estou com as maos geladas~ (PARA LIU30V ANDREievna.) Os seus {ois quartos~ maesinha, 0branco e 0l il as, c ont inu am i gu alzi nh o!o quarto das criangas, meu quarto querido, tao lindo ...eu dormia aqui qt:ando e ra pequenina (CHORANDO) E agoravirei crianga outra vez (BEIJA 0 IRMAO, DEPOIS VARIA 5DEPOIS 0 IRMAO mUTRA VEZ). A Varia e sempre a mesma, pa-rece uma freira! E Duniacha tambem, fui logo reconhecen-do: (BEIJA DUNIACHA). - -trem atrazou duas horas. 0 que e que voces meA isso chamam ordem!

    : . . : _ _ ' : . - ~ , -= - " " . : ; . : (PA RA PICHTCH IK ) eO meu cachorrinho ate come nozes!?::::-:-'::UK; f mesmo? Nao diga! (SAEM TOnOS MENOS A.NIA e DUNIACHA).

  • 5/14/2018 TCHEKHOV_O Jardim de Cerejeiras

    5/58

    DUNIACHA:

    ANIi\.:DUNIACHA:

    ::':NIACHA:

    ~-~ -. - - . .-~-. :

    -~-~-.;_r:~

    = - _ ~ : = _ ~ = : - : _ A :-- '1'"- - . ----:..~:-:-- ~-- ~I, _ -_:,_~ .. _ ;

    -4-

    Estavamos esperando com tanta impaciencia! (AJUDA ANIA ATIRAR 0 CASACO, 0 CHAP~U).Ha tres noites que eu nao consigo dormir.Estou gelada!Voces sairam na QuarGsma estava nevando, fazia frio deverdade5 mas agora. o . Meu bern! (RINDO E BEIJANDO ANA)Quesaudade de voce, meu anj inho ~ meu bern! Tenho de te ;."-tar logo de uma vez, nao aguento esperar nem urn minuto!(FATIGADA). Vai ver que alguem, outra vez ...o escrevente- sabe? - Epihodov, logo depois daSanta, me pediu em casamento!

    Semana

    Voce nao sabe falar n Y outra coisa. (AJE"TANDO 0 CABELO) 0Perdi todos os meus grampinhos. (ESTA CANSADfsSIMA, VACILANTE, MAL SE AGUENTA DE pf).Eu nem sei 0que pensar.~le esta apaixonado, masapaixonado!(OLHANDO COM TERNURA PARA A PORTA DO SEU QUARTO). Meuquarto, minhas janelas. ~ como se eu nao tivesse ido embora nunca. Em casa! Amanha you-me levantar, correr parao jardim ... Ai, Se eu ao menos conseguisse dormir, Naopreguei os olhos ~ viagem toda, estava tao preocupada!Piotr Sergueievitch chegou ante-ontem ...(CONTENTE) - Peti~!Esta dormindo no voav iIhao de banho , instalou-se la. "T'enho receio de incomodar'v, foi 0que ele disse.(CONSULTANDO 0 REL6GIO DE BOLSO). Era pra eu acordar, mas VarvaraMikhailovna nao quer. "Nao 0acordell, ela me disse. (EN-TRi\ VARIA COM U11 MOLHO DE CHAVES NA ClNTURA).o cafe, Duniacha, depressa. Maesinha esta pedindo cafe.Ja vou , j a, ja . (SAl).Gra~as a Deus voces chegaram! Ate que enfim! Voce, aquiem casa, comigo. (ACARIClANDO ANIA). Meu coragao volteu,minha lindeza!Eu ja estava que nao podia mais.Imagino!

  • 5/14/2018 TCHEKHOV_O Jardim de Cerejeiras

    6/58

    VARIA:lJHA:

    .5-

    Sai daqui na Semana Santa, fazia urn frio! A Carlota fa-lando sem parar~ a viagem toda, fazendo magicaso Porque eque ce foi me arranjar essa Carlota?Uai~ voce nao podia viajar sozinha, menina. Com 17 anos!Chegamos a Paris. Frio, neve. Eu falc frances p~ssimamen-te, uma vergonha. Mamae mora num quinto andar, eu chegc eencontro uns f r-anc es e s - senhoras 7 urn padre velho com urnlivro, tudo cheio de fuma~a de cigarro j tudo revirado. Derepente fiquei com uma pena de mamae, tanta pena. Me abracei com ela e peguei a cabega dela naB maos e nao queriamais largar. Depois mamae me abragou e ficou chorando sempa rar , ..(ENTRE LAGRlMAS) Nao conte, nao conte ...J a tinha vendido a casa perto de Menton, nao sobrou maisnada : E eu tambem sem urn niquel, mal deu pare> chegarrnosla. E mamae nao compreende !'r'bmos j antar no buffet da Estagao, ela pedia os pratos mais caros, dava a cada gar~onurn RUBLO de gorgeta! E Carlota) a mesma coisa! E 0 Iachatambem. Pedia urn prato especial. So para ele. Urn horror!o Iacha agora ~ empregado de mamae, tivemos deconosco.Eu ja vi 0malandro.E errtjio Voces pagar-am os juros?(NEGANDO) Qual nad3-.Ah~ meu Deus, meu Deus ...Em Agosto a fazenda vai a praga.Meu Deus ...

  • 5/14/2018 TCHEKHOV_O Jardim de Cerejeiras

    7/58

    VARIA:

    " = : ' lTT '. ~_~l ~i. ~ ~

    -.,.~_., -.I _~\.~:1. ~

    ~ ' . " " : " " ._ . . . . . . " -~~__1"_ - -f :' . .. _ " " < _ 1.r~:

    -6-

    tern tempo pra mlm" nem me percebe. Deixa pra 1a eu .quero ve-10. Todo mundo fa lando em nosso casamento,primentando, e na rea1idade mesmo nao existe nada ...como se fosse urn sonho. (MUDANDO DE TOM) Que brochegragado esse seu. Parece uma abe1hinha.

    nemcum. . .eerifl!':

    ( TRISTE) Hamae comprou. (VAl PARA SEU QUARTO E FALA ALEGREMENTE, COMO UMA CRIANQA.) Em Paris eu subi de ba1ao!Voei ... !M eu c or ag ao si nh o vo1tou, minha 1indeza vo1tou!( D~;IACHAJ A VEIO COM A CAFETElRA E PREPARA 0 CAF~. VARIA ESTA PERTO DA PORTA DE ANIA) E eu, meu bern,0dia inteiro 1idando na casa, andando de urn :~do pro outr~ e sonhando. So-~nhando que casava voce com urn ricago e eu ficava des can-sada, ia fazer urn retiro e depois saia em romaria,visit~va Kiev, Moscou, todos os 1ugares santos, de urn para ou-tro, a vida inteira, que fe1icidade!Os passarinhos estao cantando no jardim. Quantas horas?Quase tres. Voce ja devia estar dormindo, meu bern. ( EN-TRANDO NO QUARTO DE ANIA) Que fe1icidade! (ENTRA IACHA ,COM UM COBERTOR EM npLAIDIi E UMA BOLSA DE VIAGEM),(DISCRETO, ATRAVESSANDO A CENA). Com 1icenga?Voce mudou tanto! Ficou transformado, 1a no estrangeiro!

    ~ ...?Hum. E "IOCe, quem e.Quando ces embarccram eu era assirn, deste tamanhinho(MOSTM A ALTURA, ACIl'"ADO CHAO). SOU a Duniacha, filha doFiodor Kosoiedov, sabe?Puxa vida! Be1ezinha! (OLHA EM VOLTA E ABRAQ A DU NIACHA,ESTA D A UM GRITO E DEIXA CAIR UM PIRES. IACHA SAl CORRENDO).(SURGE A PORTA,IRRITADA) 0 que foi?(CHORAMINGANDO) Quebrei urn pires .. ,Ora, isso ate da sorte.(SAINDO DO SED QUARTO) Ternos de avisar mamae:P~tia estaaqui.Dei ordem para que nao 0 acordem.

  • 5/14/2018 TCHEKHOV_O Jardim de Cerejeiras

    8/58

    .::.NIA:

    -----.~~C-\0~

    LIUBOil:

    S;-.IEV:

    :'OPAKHIN:S ; ' I E V ::..oPAKHIN:GitIEV:AlHA:LIUBOV:

    ~7-

    H~ seis anos pap~i morreu, urn m~s depois meu irm~osinhoGrischa se afogava no rio, tinha s6 7 anos, era t~o ligdo! Mam~e n~o pode suportar, foi-se embora, sem olharpara tras 0 , (COM UM ARREPIO) Eu.,. compr+endo t~o bern0 , cse ela soubesse! (PAUSA). Petia Trofimov era professorde Grischa, ela ( capaz de lembrar,.,( ENTRA FIRS, DE CASACA E COLETE BRANCO).(ATAREFADO,INDO FARA PERTO DA CAFETEIRA) Madame vern to~mar 0cafe aqui. (CAL~ANDO LUVAS BRANCAS) Est~ pronto 0cafe? (PARA DUNIJCHA, SEVERO) Voce al! Onde est~ 0leite?Ai meu Deus! (SAl CORRENDO).(CUIDANDO DA CAFETEI~~) Coitada, e uma pamonha! (RESMU~GA CONSIGO) Volta~am de Paris. Meu amo tambem ia a ParIs.Na dilig~ncia, puxada a cavalos ... (RI).o que e , Firs?Senhora? (ALEGRE) Minha ama voltou! Ate que enfim! Tan-to tempo esperei ... Agora posso morrer sossegado.(CHORAD E A LEG RI A) "(ENTRAM LIUBOV ANDREIEVNA, GAIEV e SIMEONOV PICHTCHIK ,tSTE VESTE UM BLUSAO DE Pl-d'JOINO, SEM, MANGA UMAPODEVKA- e bombachas.Ao entrar 5 GAIEV GESTICULA COM 0TORSO E OS BRAgOS COMO QUEM JOGA BILHAR).Como era mesmo? Deixe ver se lembro. A amarela pro can-to, carambola no centro.Direto pro canto. Tempo houve. minha . -lrma, . . .em que nosdois dormlamos aqui, neste quarto, E agora estou COTIl 51anos, Nao e mesmo incrlvel?E . 0 tempo ~'loa.o que?

    ~Eu disse: 0tempo voa.Que cheiro de patchulI ...Eu vou-me deitar, Boa noite, mam~e.(BEIJA A MAE),Minha filhinha adorada. (BEIJA-LHE AS ~~OS). Contents deestar em casa? Eu ficc ate tonta!

  • 5/14/2018 TCHEKHOV_O Jardim de Cerejeiras

    9/58

    ANIA:GAIEV:

    -8-

    Ate amanha, titio,(BEIJANDO-LHE A FACE E A MAD) Deus te abengoe! Como voc~ficou p"'..cida com a sua mae! (PARA LIUBOV) Voce, I.i.uba ,na idade dela, era igualzinha,(ANIA APERTA A ~;O A LOPAKHIN E A PICHTCHIK, SAl E FECHAA PORTA DE SEU QUARTO).

    LIUBOV: Esta exgotada.?ICHTCHIK: A viagem e comprida, Deus nos acuda!V.~::U),; (PARA LOPAKHIN e PICHTCHIK) Entao, meus senhores? Ja sao

    quase tres horas ) e born irem-se despedindo.,.=-IlJ3UV;

    :r:JBOV:

    ~7::C'.- -- ".'-' ~

    (RINDO) Sempre a mesma Varia! (ATRAINDO-A PARA SI E BEI-JANDO-A) Deixe tomar meu cafe e depois vamos nos todos.(FIRS COLOCA-LHE UMA ALMOFADINHA SOB OS P~S), Obrigada,meu velho, Pegue:. 0habito do cafe. Tomo-o noite e dia.Obrigad~)meu velLinhoo (BEIJA FIRS).Vou verificar se trouxeram tadas as malaso (SAl).Serei eu mesma, i~ui em casa) sentada? Da vontade de saltar) de sacudir c .s bracos l (COBRE 0 ROSTO COM AS M A O S )Quem sabe estou clormindo, sonhando? Eu adoro a minha teE.ra, Deus sabe qUE adoro, No trem mal podia olhar pela j~nela, chorava sell parar. (ENTRE LAGRlMAS) Bern, vamos aesse cafe, Obr-Lg.da , Firs, obr-Lgada, meu velhinho.' Comoestou alegre de (ncontra-lo ainda vivo!Ante-antem,le esta meio SU1~O,Tenho de ir 0 Emb.r-co as cincc oar-a Kharkhov. Que penaoQueria tanto f'Lce.n aqu i,olhando para a senhora ~conver -sando: A senhora continua a mesma maravilha, nao mudounada, e sempre a mesma.

    ?Ica:CHIK: Esta ate mais bonita, com essa moda de ParIs,.,..: ?;_KHIN: o seu irmao aI, Leonid Andreievitch vive me chamando de

    rastaquera, de ganancioso s eu nao me importoo Deixa fa-lar! Eu so quero que a senhora continue a confiar em mim,como antigamente e que os seus olhos meigos) maravilho--os, continuem a me ver como sempre, Santo Deus, 0 meu

    -..-

  • 5/14/2018 TCHEKHOV_O Jardim de Cerejeiras

    10/58

    LlUBOV:

    :"IUBOV:

    SAlEV:

    -9-

    -ai foi servo do seu avo, do seu pai, mas a senhora,a s~nhora ja fez tanta coisa por mim que eu esquego isso tu-do, gosto das:eii'horacomo se fosse parente, mais do quep ar en te . ..Nao posso ficar sentada, nao aguento! (LEVANTA-SE DE RE-PENTE E ANDA DE UM LADO PARA OUTRO) Acho que vou morrerde tanta alegria. Podem cagoar de mim, sou mesmo uma b~baa Minha escrivaninha .. o (BElJA A ESCRlVANlNHA), Minhaestantezinha querida!Enquanto voce estava por la ababa morreu.

  • 5/14/2018 TCHEKHOV_O Jardim de Cerejeiras

    11/58

    =-rUBOV:

    = - J P A K H I N ~

    - ~ . . . . . . _ " " " !=l.;(~=

    -10-

    6tima 10calizag~03 rio fundo- 56 que ter~ de ajeitar urnpouco, limpar ... Demolir, por exemplo~ as construgoesantigas, esta casa que n~o presta mais, derrubar as ce-rejeiras ... . . -Derrubar.o. Desculpe~ meu filho, mas so se voce enlou-queceu. Se neste lugar existe alguma coisate, extraordin~ria mesmo e 0 nosso Jardimjeiras,A unica coisa extraordin~ria no seu cerejal e que ele egrande demais. Cereja mesmo 56 de dois em dois anos enao se sabe 0que fazer com elas: ninguem compra.

    interessan-c.e Cere-

    Ate a enciclopedia cita 0nosso cerejal.(OLHANDO PARA 0 REL6GIO) Se nao acharmos uma solug~o:lsenao tomarmos uma decis~o razo~'lel, as cerejeiras, e to-da fazenda - ,~ dia 22 de agosto. Ref Ldt arn bem!vaG a pragaOutra solug~o n~o h~~ juro que n~o.Antigamente, ha uns 40 ou 50 anos punham as cerejas prasecar no sol, ou ent~o de molho, faziam licor,geleia, etambem Fica quieto, Firs.E ate mandavam as conservas de cerejas para MoscGu,paraKharkov; carradas e carradas,era urndinheir~o! A cerejaseca naquele tempo era cheirosa, doce, macia3 antig2mente havia um processo, ..

    :I~;JV: E onde e que essa receita foi par~r?

    ?I~S:

    ~~:,~; Esquec er-am, ninguem mais lembra.?I=~TCHIK: (PARA LIUBOV ANDR~IEVNA) E Paris? Como e? A senhora co

    -?meu rao::C30V: Comi crocodilos.?:C2TCHIK: Ora vejam!::?~KHIN: Ate agora s6 havia na roga os fa!A~~eiros e os campo-

    neses. Agora vieram os veranistas. Todas as cidades,pormenores que sejam, est~o rodeadas de casas de verao. Pode-se preyer que daqui a 20 anos 0veranista ter~ multiplicado espantosamente. Por enquanto ele s6 fica toman

  • 5/14/2018 TCHEKHOV_O Jardim de Cerejeiras

    12/58

    (ENTREGANDO REMEDIOS A LIUBOV). Quem sabe a senhoraquer tomar suas pilulas ...

    ?=:~TCHIK: Nao tome remedios, minha cara arriga.eles nao servem paranada. Me de aqui, por favor. Com Yicenga. (PEGA AS P:rLU~LAS, pllE NA PALMA DA M A o SOPRA-AS, pllE N A BaCA E ENGOLE,

    GrtIEV:

    _ . ---.--,= _ - _ _ . . : . " 'J ~

    ..:-j3DV:

    ., = ?cl.KHIN:-._ .. . -._ - . _ .rh . : .. : .. . . ;

    -11-

    do cha na varanda, mas bern pode acontecer que resolva cuIti var sua terrinh 3. e errtfio0 seu cerej al '~icara outra vez,alegre, pr5spero{(INDIGNADO) Ora d3ixe de asneiras! (ENTRAM VARIA E IACHA).Vieram dois telegramas para a senhora, maesinha. (PROCURAA CHAVE E ABRE UM\ VELHA ESTANTE DE JACARANDA, FAZr'lmO TINIR UM MOLHO DE CLfAVES.) Estao aqui.De Paris. (ABRE 03 TELEGRAMAS E RASGA-OS SEM LER). Com Paris, acabou-se.Voce sabe, Liuba, quantos anos tern essa estante? Faz umasemana tirei a galeta de 'aixo e reparei na data, marcadaa fogo; foi feita ha urn seculo, nada mais, nada menos.Quetal? Hein? Merece uma homenagem. E um objeto inanimado~mas seja la como cor, contem livros!(ADMIRADO) Cern aTI)s! Ora vejam!Sima Ja e alguma coisa! (APALPANDO A ESTANTE) Prezadailustre estante! Parabens e felicitagoes por mais de urnseculo de existencia, votado aos mais altos ideais de ca-ridade e j'l1stiga.0 teu apelo a urn.cr-aba Lho f'r-utfer'o eutil nao falhou durante urn s eculo, sustentando (ENTRE LA-GRIMAS) nas varias geragoes da nossa linhagem,animo e fenum futuro melhor, inculcando em n5s os ideais do bern eda consciencia social. (PAUSA).E ..Voce nao ~udou nada, Lienia.CUM TANTO ENCABULADO) Tiro da direita pro canto! Corto ado meio:Born, esta na hora.

    COM UM POUCO DE KVAZZ). Pronto!(ASSUSTADA) 0 senhor enlouqueceu?

    e

    . -Ja

  • 5/14/2018 TCHEKHOV_O Jardim de Cerejeiras

    13/58

    l--

    -12-

    ?=CHTCHIK: Engoli todas.LJ?!~KHIN: Comd Lao , (TODOS ESTAO RINDO).

    LIUBOV:

    :..:-'l KHIN:

    :..:? :,K.~IN:

    - _ . . _ - .I_--"-"U.n::..:? _ ';K IUN :;_ -= -_ IEV:

    :"::~_;BOV

    Estiveram aqui na Semana Santa, comeram meio barrilpepino em salmour~ .. 'CONTINUA RESMUNGANDO).Do que e que ele esta falando?Ha tres anos que ~nda assim remungando sozinho. Jaacostumamos.

    nos

    :t:a velhice ... (ChRLOSTA IVANOVNA, MUlTO MAGRA, APERTADANUM VESTIDO BRANCO, COM UMA LORGNETTE NO CINTO, CRUZA ACENA. )Desculpe,Carlota Ivanovna, ainda nao pude cumprimenta-la.( VAI-LHE BEIJAR A MAO).(RETIRANDO A MAO) Se eu Ihe der confian9a de beijar minhamao, vai logo querer beijar 0cotovelo e depois oombro.o.Parece que hoje eu estou sem sorte. (TODOS RIEM).CarlotaIvanovna, fa9a uma das suas magicas.Sim, Carlosta, urn dos seus truques!Naoo Estou com sono. (SAl).Em tres semanas estarei aqui de novo. (BEIJA A MAO DE LIUBOV ANDR:t:IEVNA.) Rnquanto isso ate a volta. (PARA GAIEV )Ate breve. (ABRA~ANDO PICHTCHIK) Te a volta. (APERTA A MAODE VARIA, FIRS e IACHA) Nao tenho nenhuma vontade de ire(PARA LIUBOV ANDR:t:IEVNA) Se a Senhora resolver algumacoisa sobre os veranist~s, e so avisar, posso arranjar-Ihe urn e mprestimo de uns 50.000 rublos. Pense bern.(ZANGADA) Va embora de uma vez!Ja YOU, ja vou ... (SAl).~ urn b09al. Alias, perdao. A Varia vai-se casar com e , , , ~ . ,e 0 noivinho delaoo senhor fala demais, tio.Ora, Varia, eu ate que ficava muito contente.~ uma otimapessoa.

    ?::t:C:1TCHIK:L)timo, excelente m090, justi9a seja feita. A minha D a -chenca ...ela tambem diz ... uma por9ao de coisas. (RONCA

    de

  • 5/14/2018 TCHEKHOV_O Jardim de Cerejeiras

    14/58

    LIU30V:

    -13-

    UM POUQUlNHO, !1AS DESPERTA LOGO). Mas, seja como for,mi-nha prezada amiga, nao podia me esprestar uns 240 ru-bLo s 0 o? Amanha -l:enhode pagar os juros da h i.pote ca . ..(ASSUSTADA) Nao~ nao, ela nao tern.E . E a pur-a verdade! Nao tenho mais n5'~l5,

    ?ICHTCHlK: Nao faz mal, da-se urn jeito. (RlNDO) :Nunca devemos per-

    -.-_~~IA;

    der a esperanga. As vezes a gente pens a que tudo estaperdido e de repente ... vern a estrada de ferro, passa p~10 meu terreno.e ... recebo urn dinheirao. Sempre acontecequalquer coisa assim. Amanha e outro dia, A loteria na-cional, por exemplo. Dachenca pode ganhar 200 mil ru-bIos, comprou bilhete.Ja terminamos nosso cafe. Podemos descansar.(ESCOVANDO 0 TERNO DE GAlEV, EM TOM DE REPRlMENDA):Botoua calcinha errada,outra vez. Nao sei mais 0que e que eufago com voce.(BAIXINHO) lmia esta dormindo. (ABRE A JANELA SEM RUMOR.)o sol ja saiu, 0frio passou. Olha, maesinha, as arvores,que lindas! E este ar, meu Deus! Os melros estao cantan-do!(ABRlNDO OUTRA JANELA) 0 cerejal esta branquinho ... Vocenao esqueceu, Liuba, nao? Aquela alameda comprida, queval reto-reto, como uma fita esticada.Reluzindo nas noi-tes de luar. Voce se lembra? !ao esqueceu?(OLHANDO PELA JAIJELA, PAP-A 0 JARDlM) Ai minha infancia,minha inocencia! Neste quarto de criangas eu dormia, daquiolhava para 0cerejal.A felicidade despertava comigo todamanha e a jardim era assim mesmo, nada mudou. (Rl DE ALE-G~lA) Todo branco, branquinho! Ah, meu jardim, depois dooutono sombrio de chuva, depois do inverno gelado, ai es-ta-voce outra vez, novo,cheio de felicidade, Os anjos doceu nao te abandonaram .. o Se se pudesse tirar do meu pei-to e dos meus ombros esta pedra pesada, se eu pudesse es-quecer meu passado?H um ID.. . E 0jardim sera vendido pra pagar as nossas divi-das, por estranho que parega.

  • 5/14/2018 TCHEKHOV_O Jardim de Cerejeiras

    15/58

    ~__E'! ;... 1!' __ ,t :-_.:"

  • 5/14/2018 TCHEKHOV_O Jardim de Cerejeiras

    16/58

    -3:5-

    :"IUBOV: (BEIJA 0 IRMAO, VARIA) Born, v amos dormir ... Voce tambemenvelheceu, Leonid .. 0

    ?I2HTCHIK: (SEGUINDO-A) Ent~o~ t hora de estar dormindo. Ai! Estaminha gota! Passo a noite em sua casaD Amanha cedo,Liu-bov Andreievna da rninha alma, vou precisar de duzentose quarenta rublos.

    ~~:EV~ Com esse e sempre a mesma historiao ..?::~TCHIK: Duzentos e quarenta rublos ... para os Juros da hipoteca._:-_:~0V: Mas meu velhc, eu n~o tenho dinheiro.?::~I=HIK: Eu the restituo ... pode ficar certa. Nao e quase nada ...- _ : - ' : : : C : V : Pois bern. Heu irmeos vei+Lhe arranjar. De a ele 0 dinhei

    ro, Leonid.Era so 0que faltava!o que se ha de faz2r? ~le precisa! Depois paga.(SAEM LIUBOV ANDREIEVNA, TROFIMOV, PICHTCHIK e FIRS. FI-CAM GAIEV, VARIA e IACHA).Minha irma ainda nao perdeu 0costume de esbanjar dinheiroo (PARA IACHA) Afaste-se um pouco, rapaz.Esta cheiran-do a galinha.(COM UN RISO IR5NICO) E 0senhor, Leonida Andreievitch,continua sempre 0mesmo.

    _. ""u c_-_ ......_J'"' . ~

    -,--~,=.. .. -_.:. 'v. ~ o que? (PARA VARIA) 0 que foi que ele disse?(A IACHA) Sua mae chegou do povoado. Esta esperando nacopa desde ontem pra te ver.-

    _

  • 5/14/2018 TCHEKHOV_O Jardim de Cerejeiras

    17/58

    ;'_:.':EV:

    _ ! .. ?IA ;

    -.-_;:-,_; :

    -~- . . . . . . .......lrt :

    -16-

    remedios, uma quantidade de remedios. Isso quer dizer quena realidade nao sei de remedio nenhum.Podiamos receb~ruma heranga. Ou entao casar nossa Ania com algum .ricago.Ou esta outra solugao: posso ir a Iaroslavl tentar mi-nha sorte com a tia condessa. Titia erica, riquissima.(CHORA) Se Deus quizesse nos ajudar!Nao adianta ficar chorando. A tia e podre de rica mas naogosta de nos. Primeiro minha irma se casou com urn advo-gada em vez de urn fidalgo ... CANIA SURGE NA PORTA DE SEUQUARTO). Nao casou com urn aristocrata e, tambem a condutadela nao tern sido exatamente ... austera. f boa, caridosa,simpatica, urn e ncanto. Gosto muito dela. Mas por mais quese inventem circunstancias atenuantes, e impossivel negarque e uma pecadora. Ve-se logo, esta estampado no mBrdos seus gestos .(BAIXINHO) Ania esta ali na porta ...o que? (PAUSA) Nao sei como foi, mas estou com alguma coisa aqui no olho direito. Nao enxergo hada bern. E quintafeira, quando fui ao forum ... (ANIA ENTRA).Porque nao esta dormindo, menina?Nao consigo. 0 sono nao vern.Menininha. (BEIJANDO-LHE AS MAOS,O ROSTO). Nenenzinho. Voce nao e so minha sobrinha. ~ urn anjo do ceu, e tudo paramim, tern de acreditar ...Acredito sim, titio. Todo mundo aqui em cas a gosta do se-nhor, todos 0 estimam e respeitam. (PAUSA). Mas, titio;;asvezes e born .alar a boca.O silencio e de ouro, titio.Ain-

    .Ada agora, 0 que G que 0 senhor estava dizendo a respeitode de minha mae, de sua irma? Porque foi dizer aquilo, hein?~ mesmo, e mesmo. (COBRE 0 ROSTO COM A MAO DE ANIA)~ hor-rivel, mesmo. Valha-me Deus! E aquele discurso que eu fizpra estante, ainda ha pouco, tao idiota! E so depois queterminei e que fui ver como ers idiota.~ verdade, titio.O melhor e ficar calado. Fechar ae acabou-se.

    boca

  • 5/14/2018 TCHEKHOV_O Jardim de Cerejeiras

    18/58

    ;"':"'IEV:

    --~- -.",,_-_-.,~n :

    - _ . . . . . .- - - " - _ ~

    ~I

    -17~

    Ficando calado 0senhor mesmo vai-se sentir mals tranqui-10.Nao falo malS. (BEIJA AS M A o s DE VARIA e ANIA). Fico calado. So isto, sabre os nossos ncgocios: quinta feira fuiao forum, la estava uma porgao de gente, conversa vai conversa vern e tal e coisa, e parece que sera mesmo possivelconseguir urn espr;stimo, corn uma letra, para pagarmos osjuros at")banco.Se Deus nos valer~Terga feira volto lao Veremos (PARA VARIA) Deixe de choradeira. (PARA ANIA) Sua mae vai falar corn0Lopakhin. : t :claro que a ela ~le nao recusara. E voc~, assim que esti-ver descansada, i_:'aa Iaroslavl, falar corn a tia con-dessa. Tudo ser~ ~esolvido. Assim atacamos 0problema portr~s lados e liqu~damos 0negocio. Tenho certeza que va-mos pagar ~sses juros. (POE UMA BALA NA B6CA). Juro porminha honra, juro pelo que voc~s quizerem j a fazenda naosera vendida. (AGITADO) Juro por minha felicidade,aqui e~ta minha mao, podem apostar, podem chamar-me '~l e desa -vergonhado se eu permitir que ~les fagam 0leilao. Juropor tudo 0que ha de mais sagrado!(OUTR~ VEZ CALMA E CONTENTE) 0 senhor e tao born tio, taointeligente! (ABRA~A-O) Agora eu estou tranquila. Tran-quila e feliz!

    (ENTRA FIRS).(REPREENDENDO) Leonid Andreievitch, nao teme a Deus?essas horas ainda nao foi deitar?Ja,ja. Po de ir, Firs. Eu mesmo me visto Vamos, meninas.Vamos nanar. Os pormenores ficam para amanha. Agora vocesvao dormir. (BEIJA ANIA E VARIA). Eu sou da geragao de oitenta. Falam mal dessa epoca, mas assim mesmo posso afir-mar que sofri urn peda

  • 5/14/2018 TCHEKHOV_O Jardim de Cerejeiras

    19/58

    --- " ""'I: : - '- : ,: :: > ;

    -~- -.4 i , _ - _ - ., . .l.~:. :

    _ .. . _-.i.-_-._~.:

    _-r __ .I _ - _ ~

    11

  • 5/14/2018 TCHEKHOV_O Jardim de Cerejeiras

    20/58

    _._----,.~_:-'- - . .~:

    -19-

    SEGUNDO ATO

    Carnpoo-Uma velha capelinha abandonada q desabando paraurn lado. Junto dela urn P090g grandes pedras queuarece,.,"" - ~ter side lages mortuarias- e urn velho banco. v e - s e 0 ca~minho que leva a fazenda de GAIEV 0 De um lado g UIl grupode choupos. arvores altas, escuras, atras das quais come9a 0 cerejalo Ao longe, urna fileira de postes telegrafiCOSo Nais longe a Lnda , no hor Lzont.e , apaz-ec e , me:.o enco-bez t.a, a silhueta de uma grande oLdade , que s o e bert vi-sivel num dia ben claroo 0 sol vai~se pore Carlota g IaCha e Duniacha est~ao sentados no banco 0 EpL1.odov, ac la-do , de pe v toca no violao. uma melodia triste~ 1':0005 es'-t ao pe ns ati vos 0 Cc,rlota, que tern na cabeca urn bone ve=lho, tirou do ombro 0fusil de ca~a e esta acertando afivela da correia"(PENSAT1VA) Eu nao tcnho passaporte regular, nao seiqual 0 a minha idade, tenho sempre a impressao que soumocinha. Quando era menina 0meu pai e a minha mae Vla-javam pelas feiras~ davam espetaculos muito bons.Eu da~a~alto Mortal e fazia outros truques. E quando 0papai ea mamae morreram ~ uma senhora alema me levou pra cas adela e me deu educagao. Depois fui crescendo, virei go-vernanta. Mas de onde venho, quem sou~ isso eu nao sci.Quem eram meus pais? Sera que eram casados? Sei la.c.CT:RA DO BOLSO UM PEP1NO E MORDE.) Nao sei nada, nada. Asvezes da gana de conersar - mas, com quem? Nao tenho ninguem, ninguem. Tem horas que eu fico com uma antipatiade mim!(TOCANDO VIOLAO E CANTANDO). !lTriste e so neste mnndo,sem urn amigo pertc de mim ... " Como e bo rn to ca r b and ol im!1sso nao e bandol:im, e violao.(P(JE p(j DE ARROZ~ OLHANDONUM ESPELHO DE BOLSO.)Para urn louco de EIDor, e bandolim. (CANTAROLANDO) "Se ""'..:.Ja (\ J or aQ ao r et r: ib ui ss e 0meu amor!" (1ACHA CANTA COMi:LE, BA1X1NHO).

  • 5/14/2018 TCHEKHOV_O Jardim de Cerejeiras

    21/58

    -'''----.~~~,;- -_- . ~

    -'---._ -= : : _ _ " _ 'f ~

    -20-

    LE, BAIXINHO).Essa gente canta horrivel.Brrr! Chacais uivando!(PARA IACHA) Deve ser maravilhoso viajar pelo estrangeiro?nao e?La isso e verdade. Concordo plenamente. (BOCEJA~ AC~NDE UMCHARUTO.)Claro. No estrangeiro tudo ja .~t; perfeito ...~ claro.Eu sou urn homem instruido, leio muitos livros notav::;is eainda nao consigc saber 0que e que quero~ presisam3ntequal a tendencia a que me inclino: viver, au dar urn tirona cabec;a~ para Eer exato. Mas, seja como for, semp:->etra-go urn revolver cc m igo . Aqui esta ele... (MOSTR}\ 0 REVOL-VER. )Para mim chega. Vou-me embora. (POE 0 FU~T:..NO OMBRJ)Epih~dov , voce e urn suj ei to inteligentissimo E~ -':ambemterribilimo- as moc;as devem andar andar doidas pOI' voce ..Brr ...(SAINDO) t:sses tipos intelectuais sao umas bes t as . :' Ja o t e-nho ninguem pra conversar. Sempre sozinha, nao Tenho nin-guem~ sei la quem sou~ sei la porque ... (SAI DEVAGAR.)Para falar com franquesa, sem tocar noutros pontos, devoreconhecer, quanto a mim, que a sorte e ingrata comigo,brincacomigo implacavelmente, como a tempestade com urnbarquinho. Suponhamos que eu esteja enganado:entao como eque hoje de manha, pOI' exemplo, eu acordo, vou ver e 0quee que esta bern e m cima do meu peito? Uma aranha medonha 5deste tamanho! (MOSTRA 0 TAMANHO COM AMBAS AS MAOS),E depois pego urn jarro de Kvass para desalteI'aI'minha sede edentro dele ha uma coisa nojenta, assim feito uma barata.(PAUSA). Voces ja leram Buckle? (PAUSA). Se nao for incomodo, Avdotia Fedorovna, queria dizer-lhes duas palavI'inhasoPois diga.Eu prefeI'iI'ia que falassemos a sos. (SUSPIRA).(EMBARA

  • 5/14/2018 TCHEKHOV_O Jardim de Cerejeiras

    22/58

    = - . . : : - . . : . _ :

    : .. ,: : . :" ' : ': :: -1 : IN:

    - -- -"',.~_ . , _ _ . = _ ' \l .

    -21-

    Pois bern. Vou buscar. Agora ja sei 0que devo fazer commeu revolver, (PEGA 0 VIOLAO E SAl, TANGENDO _LEVEHENTEAS CORDAS).UNum tern jeito nao" ... Ca entre nos, uma besta (BOCEe-A).Deus permita que nao va se matar! (PAUSA). Sou tao ner-vosa, estou sempre alvorogada! Eu era pequenininha quan-do os patroes me trouxeram para casa, perdi completamen-te os habitos da roga, as minhas maos sao brancas,bran -quinhas, maos de moga rica. Sou tao fragil, tao fina~tao delicada, tudo me assusta. Tenho m~do. E se voc~ meenganar, Iacha, nem sei 0que sera dos meus nerv~s.(BEIJANDO-A) Lindeza! Claro que uma moga deve se respei-tar. Nao suporto garotas sem modos.Me apaixonei por voc~. Voc~ e tao inteligente, tao viaj~do, tern opiniao sabre qualquer assunto ... (PAUSA).(BOCEJA) De fato. Minha opiniao e esta: qunado uma mogagosta de urn rapaz, vai ver que ela nao tern m oral. (PAUSA).~ agradavel fumar urn c haruto ao ar livre. (ESCUTANDO).VemaLguern por af . Deve ser os petr-Ses . (DUNlACHA 0 ABRI\.~AI!iPULSlVAMENTE). Va pra casa , como coisa que foi tomai- ba>nho no rio. P~r aqui, por esse caminho, senao podem cru-zar com voc~ e pensar que marquei de te encontrar aqui. Eeu nao gosto disso.(T OS SE B AI XI NH O) J charuto me deu dor de cabega. (SAl. IACHA FICA SENTADO PERTO DA CAPELINHA. ENTRAM LIUBOV ANDREIEVNA, GAlEV e LOPAKHIN).f preciso decidir de uma vez: 0tempo nao espera. E a coisa mais simples! rQuerem ou nao querem arrendar os lotesaos veranistas? Basta dizer uma palavra: sim ou nao? Umapalavra!Quem e que esta fumando ~sse charuto horrlvel?(SENTA-SE).Com a estrada de ferro as coisas melhoraram muito.(SENTASE). Fomos a c id ad e, al mo ga mo s . . o Ao centro a amarela!Agora so faltava uma partidazinha de bilhar la em casa.Pra isso ha muito tempo.

  • 5/14/2018 TCHEKHOV_O Jardim de Cerejeiras

    23/58

    ',W - I ... . . - . -- .. . _........_ .= ._ :

    i , . f . , . . . ~ . : L _ :

    9 -J:

    g,:::_..:.-:

    ; .- . - = - .- :

    ~ : - - ~ . = - : : : : ~ - ; :

    ",."--'~ t :

    -22-

    Uma palavra s6! (SUPLlCANTE) Estou esperando a resposta!(BOCEJANDO) 0 que?(VERlFlCANDO 0 CONTEUDO DE SUA BOLSlNHA) Ainda ontem eutinha uma porgao de moedas e hoje nao sobrou quase nad~.A pobre da Varia, por economia, nos trata a mingau deleite; na cozinha os velhos comem feijao puro- e eu aquigastando dinheiro a toa... (DElXA CAIR 0 P OR TA i 10 ED A. SA SMOEDAS DE OURO ESPALHAM-SE PELO CHAO). L~ se foram eL as . ..Cor n licen ga, apa nho ja. (APANHA AS HOEDAS).Sim, Iacha, pOI' favor. E pra que e que fui almogarcidade? 0 restaurante horrrvel, com aquela m~sica ruime a toalha cheirando a sabao. E pra que beber tanto 3 LEnia? Comer tanto? E falar tanto? Hoj~ no restaurante vo-ce nao parou urn minuto! E tao fora de prop6sito~ A deca-da de 70, 05 decadentes. E isso com quem? Com 0 garqon !Discutir 05 decadentes com 0 gargon!Pois e.(SACUDINDO A MAO) Eu sou incorrigivel, nao ha duvida.(IRRITADO l A IACHA) Porque e que fica ar se sacudindo 2 1 nossa frente?(RI) Nao posso parar de rir quando escuto 0 senhorLar . 0

    fa-

    (PARA A IRMA) Ou ele ou eu ...Vamos, Iacha, va embora, va ...(ENTREGANDO 0 PORTA NtQUEIS A LIUBOV ANDREIEVNA).instante. (SUFOCANDO 0 RISO) Ja, jaG (SAl).Dizem que 0ricago do Deriganov, aquele agambarcador, eque vai arrematar sua fazenda. Parece ate que vern p esso-almente ao leilao.Onde foi que ouviu isso?~0que se diz na cidade.Nossa tia, de Iaroslavl, ficou de mandaI' os cobres, masainda nao se sabe nem quando nem quanto.Quanto e que ela vai mandar? Cern m il? Duzentos?

  • 5/14/2018 TCHEKHOV_O Jardim de Cerejeiras

    24/58

    ---- ..!..,_ - = 'J . :

    ---- - ..-- . : :_ , :

    't-, --_-IG:II::.-"='" :

    . . . _ , _ - _ - ..

    .L-_ c-, " :

    ~--= -r r ,- - - . - - ' _ ..... ,~_--"!' ..I::E-_':' Y

    -23-

    Ora essa, se mandar dez ou quinze mil devemos dar gragasa Deus ...Desculpem, mas eu nunca vi gente tao leviana, tao esque-sita, tao impratica, como voces! Eu estou falandc claro,nao estou? A fazenda de voces, vai ser vendida. Pareceque ainda nao entenderam!Mas 0que se ha Ce fazer? Ensine!Eu nao paro de ercsinar? E todo 0dia a rnesma coisa: vo-ces tern de arrendar 0cerejal e 0resto do terreno paraconstruirem casas de verao. E quanto antes! 0 leilaa es-

    _. ~ .ta al.. Entenderarr? Assim que resolverem construir, 0dl.-nheiro aparece~ a situagao esta salva!Veranistap .. veranistas. Que banalidade. Desculpe.Nisto, concordo plenamente.Nao sei se choro, grito ou desmaio. Nao aguento rnais!Vo-ces me poem loucc! (PARA GAlEV). Voce e um " gal:inha mor-tall,o que?Urn "ga I i.nha marta"! (VAl SAlR).(CONSTERNADA) Nao, nao va, por favor. Fique, meu amigo .Quem sabe encontramos urn meio ...E que meio e esse que vamos encontrar?Nao va. Eu Ihe pego. Pelo menos, com voce i1ui as ceisasficam mais alegres. (PAUSA). Esteu sempre na expectativa -e alguma coisa, como se a casa estivesse por desabar sobre nos.(ABSORTO) A dois pro canto.Croise no centro .~0castigo de muitos pecados ...Qual pecados, qual nada.(PONDO NA BOCA UM CARAMELO) Dizem que torrei minha for-tuna em caramelos. (Rl).Ah, os meus pecados! Sempre esbanjei dinheiro feito umainsensata. Casei-me com urn homem que so sabia fazer divi

  • 5/14/2018 TCHEKHOV_O Jardim de Cerejeiras

    25/58

    c-,-:

    m . . . : - : = . : , :

    -24-

    das, meu marido morreu de Champagne, bebia horrivelmenteoPor desgraga minha, comecei a gostar de outr~ hornem, li-guei-me a ~le e logo ent~o- foi 0meu primeiro castigo,urn g olpe certeirc- aqui mesmo, neste rio:;0meu filhinhoafogou-se e eu fui para fora, para nunca mais voltar~ p~ra nao ver mais Este rio. Fugi de olhos fechados,de:3ori=entada - e ele fei atr ..., brutal, Lmp Lacave L, Compreiuma casa perto de Menton, porque ele adoeceu e du:>antetr~s anos n~o descanse~ , dia e noite- a doenga d~le medeixou esgotada, ressecou a minha alma. E 0ana passado,quando tive de vender a casa para pagar dividas, fui pa-ra Paris e la ele me espoliou, me deL- )u, foi viver comoutra mulher, eu tentei me envenenar, que estupidez) quevergonha! ...E de repente senti uma saudade da Russia, daminha terra, da minha filhinha.o. (ENXUGA AS LAGRIMAS),Meu Deus do c~u, ternpena de mim, perdoa meus pecados!N~o me castigues nais~ (TIRA DO BOLSO UM TELEGRAMA). Re-cebi hoje. De Paris. tIe tIe pede perd~o, roga que euvol te .. 0 (RASGA 0 TELEGRAMA). Parece que e rn isi. ce.< ( ES-CUTA) e: t ; a nossa celebre orquestra de judeus, lembra? .violinos, uma flauta e urn contrabaixo.

    Quatro

    Mas ainda existe? Vamos chama-los uma noite dessas! Fazemos uma reuni~o la em casaD(ESCUTANDO) Nao estou ouvindo nada. (CANTAROLA) "Por di-nheiro urn alem~o transforma urn R usso num frances 1l 0 On-tern no teatro, vi uma peg a engragadissima.!Vai ver, n~o tinha nenhuma graga. Em vez de ir ao teatroera melhor observar urn pouco mais sua propria vida. Vocestodos aqui, tern urnas v idas tao parad.s:; falam tanto enunca dizem nada ...Isso e ver-dade, Pna falar franco, essa nossa vida e mes-mo urna besteira, Meu pai era urn matuto, urn imbecil quenao entendia nada e nem me ensinava nada, a nao ser comuma vara, quando ele bebia. E eu, na verdade, sou taobes t a , t,~o b oca I quarrto ele. Nao aprendi nada , uma letratao ruim que ate tenho vergonha de escrever. Pros ou tr-os

  • 5/14/2018 TCHEKHOV_O Jardim de Cerejeiras

    26/58

    1 . : : : _ = , : -t- :

    tQ - ,-:

    iii!: -.-:

    I"Ii.3 :

    ~~ ..-.

    -25-

    nao saber que escrevo que nem urn porco.o que voce precis a e casar, meu amigo.~. Isso ~ verdade.Com a nossa Varia. ~ uma moga otima.Chima.Tern um genio simp:..s , trabalha da manha ate a noi te e 0que e que e mais ~mportante: gosta de voce. E voce tam-bern gosta dela.Nao digo que nao. Eu nao sou contra. ~ uma boa moca .. o( PA US A) .Me of ere e el'am uma colocagao no Banco. Seis milpOI' ano. Sabiam?Voce nao da pra Lrso . Fique assim mesmo como est(~.

    rublos

    (ENTRA FIRS, TRAZINDO UM SOBRETUDO).(PARt-'\.AIEV) POI' cbs equ.io, meu senhor, olhe a humi.dade!(VESTINDO 0 SOBRETUDO) Voce amola, hein velho!Nao pode continual' assim nao. Hoje de manha ja saiu semavisar .. , (AJEITA A ROUPA DE GAIEV).Voce envelheceu, Firs.Senhora?Estao dizendo que voce ficou muito velho.Ja estou vivendo neste mundo ha muito tempo. Quandoeles me casaram 0seu papai nao tinha nem nascido!(RI),E quando veio a aboligao, eu ja era camareiro mor. Naoconcordei com a aboligao.Continuei com 0senhor velho.(PAUSA). Eu lembro muito bern: todo mundo pulando de contente e pOI' que? Nem eles mesmos sabiam.Antigamente tudo era otimo! Nao faltava surra pra ninguem!(QUE NAo OUVE) Pois e ! Born mesmo. Os servos com os se-nhores, os senhores com os servos. Agora cada qual puxade seu lado, ninguem compreende mais nada.Cale a boca, Firs. Amanha tenho de ir a cidade. Prome"t:e-ram me apresentar a urn general que e capaz de er;doscar

  • 5/14/2018 TCHEKHOV_O Jardim de Cerejeiras

    27/58

    ,Cj.1 , j> 'i:. . ._., . .! .~ ..

    ~=_.;xHN:

    'D:=IMOV:

    .'DC=r~OV:

    _ . . . ._ _ ._ _..

    -26-

    minha letra. -alelas. Garanto que nao consegue pagar esses juros.tIe esta sonhando. tsse general nao existe nao.

    (ENTRA TROFIMOV, ANIA e V~RIA).A J. *' Iern 0 pessoa .Olha mamae, ali, sentada no banco.(C AR IN HO SA ) Ve nh a. V en ha m! Mi nh as fi lh in ha s! (A B RA ~A A "i:"A EVARIA). Se voces duas soubessem como eu gosto de voces!Sentem-se aqui comigo, bern p ertinho.Nosso estudante perpetuo, sempre junto das mogas .Isso nao e da sua conta.Vai fazer cinquenta anos e ainda nao saiu da escola .. oPare com essas besteiras.Porque e que fica zangado, "fenomeno"?Nao amole.(RINDO) Permita que the pergunte: qual e a sua opiniaopessoal sobre mim?Minha opiniao pessoal, Yermolai Alexeievitch, e estavoce e um homem rico e logo sera milionario. Assim comopara 0metabolismo geral e necessario que haja uma feradevorando tudo que ve pela frente, assim tambem vocee um fenomeno necessario. (TODOS RIEM).Olhe, Petia, e melhor nos falar sobre os planetas.Naoo Vam0s continuar nossa conversa de ontem.A respeito de que?Do or-gu": :.' do homern.Onte~ f,>~rnos, fala~os e nao chegamos a nenhurna con-clusao. senhora ve no orgulho urn lado rnistico. Talveztenha razao, do seu ponto de vista. Mas se ~ncararmosas coisas com simplicidade, sernnenhum enfeite, que or-gulho e esse, qual a sua razao de ser, ja que 0 homern,fisiologicamente, e mal fcito e na grande rnaioria dos

  • 5/14/2018 TCHEKHOV_O Jardim de Cerejeiras

    28/58

    !S.:FIMCV:

    -27-

    casos e urn ser inferior, grosseiro, estupido e infeliz?Temos de acabar com essa auto-admiragao. Deixar de bob agem e trabalhar. Trabalhar. So.Com trabalho ou sem trabalho a gente morre.Quem sabe? E 0que significa:morre? Vai ver que 0 homerntern c em sentidos e com a rnorte so desaparecem osque nos conhecemos e os outros noventa e cinconecern vivos.

    cincoperma-

    Como voce e inteligente, Petia!(ZOMBANDO) ta inteligencia medonha!A humanidade progride, vai aperfeigoando os seus recur-50S. Tudo 0 que hoje esta aparentemente fora do seu al-cance urn dia sera possivel, compreensivel. So que e prciso trabalhar, ajudar com maximo esforgo os que procu-ram a verdade. Aqui na Russia, por enquanto, sao poucosos que trabalham. A maioria dos intelectuais que eu co-nhego nao procura nada, nao faz nada e ate agora tern- semostrado incapaz ante qualquer trabalho. Intitulam-se INTELECTUAIS, mas tratam os criados como inferiores e oscamponeses como animais. Nao estudam nem leem nada comseriedade, nao fazem praticamente nada. De ciencia so falam, de arte entendem zero! Sao todos solenes, carran-cudos~ falam dificil, vivem filosofando, fingindo naover que a maior parte do nosso pave, noventa e nove porcento, vive como selvagens, se esmurrando e se insulcan-do pelas menores coisas, comendo um lixo infecto, dcrmindo sem travesseiro, trinta, quarenta no mesmo quarto,compulga, percevejo, imundicie, humidade,degradagao moral~E a conversa fiada so serve para tapear os ou tz-os, paranos tapearmos a nos mesmos! Onde e que estao essas maternidades tao faladas? Essas creches, essas bibliotecas publicas? So nos romances enos jornais. Na realidade naoha. Na realidade 0que ha e sujeira, burrice, e a Asia!Das caras serias, das conversas graves, eu tenho rnedo enojo. Melhor e calar a boca!Eu - sabem? eu me levanto as cinco da manha, trabalhoate anoitecer, li~andID com dinheiro 0t em po t od o. Di nh ei -

  • 5/14/2018 TCHEKHOV_O Jardim de Cerejeiras

    29/58

    Q:V:n:rIMOV:

    -~-,-.w.t's-"U.rt :J.cA.~,:,'IMOV:

    Q:t.V:

    t . : ? : J < H I N :~EV:Ti:rIMOV:ILIJ30V:

    -28-

    ro meu e dos outros. Conhego bem teda essa corja que andapor ai. Basta comegar a fazer alguma coisa pra ficar logosabendo como sao poucas as pessoas direitas, honradas. Asvezes, quando nao consigo dormir, fico peasando: Meu' Deus~Tu nos deste estas florestas vastas, estes campos sem fim,estes horizontes profundos e nos- vivendo aqui- deviamostambem ser uns gigantes ...Gigantes? Ora, eles que fiquem nos contos de fadas. Na vida real so servem pra assustar.(EPIH6DOV PASSA, AO FUNDO, TOCANDO VIOLAO SUAVE E TRISTEMENTE) ./tPENSATIVA) La vai 0 Epihodov.(PENSATIVA) La vai 0 Epihodov.Pessoal: sol . .0 se pos.~. pos-se.(BAIXO, MAS COMO SE DECLAMASSE) "Oh Natureza divina, quebrilhas com eterna luz, indiferente e bela; oh Natureza,que chamamos mae, em ti reunes a vida e a morte, alentase destrois ..."(SUPLICANTE) Tio!Titio outra vez?~ melhor 0 senhor tacar a bola amarela pra cima da .dois,.:;,no centro ...Estou calado, estou calado ..(TODOS ESTAo SENTADOS, IM6vEIS, PENSATIVOS. SIL~NCIO. s6SE OUVE 0 MURMURIO DE FIRS. DE REPENTE, COMO UMA' CORDAQUE SE PARTE, UM SOM PLANGENTE, LONG!NQUO, QUE PARECE 'IRDO CU E VAl MORRENDO POUCO A POUCO).o que foi? .Nao sei. Talvez la longe, na mina, uma cagamba que caiu.Quem sabe um passaro qualquer .. uma especie de garga ...Ou uma coruja.(COM UM ARREPlO) Seja la 0 que for, eu me assustei.(PAUSA)

  • 5/14/2018 TCHEKHOV_O Jardim de Cerejeiras

    30/58

    -29-

    ::IRS: Quando a calamidade aconteceu, foi assim mesmo: a corujapiando e 0samov~r silvando sem parar.Que calami dade foi essa que voc~ est~ dizendo?

    ?IRS: A Aboligao. (PAUSA).: . : r u ~.1. V : J a e horCl.meus amigos, vamos.Esta anoitecendo. (PARA A.NIA)

    Seus olhos estao marejados! Que e , filhinha?(ABRA~A-A)eNao e nada, mamac, n~o se preocupe,

    -=-;orH10V: Vern vindo alguem daquele lado,(SURGE 0 CAMINHANTE, DE SOBRETUDO E BONE BRANCODOS, SUJOS. ESTA LIGEIRAMENTE BEBADO).

    gUR1~A-

    ="-=JHNHANTE:Com licenga. Eu quer-ia saber se esse caminho vai dar certo na Estagao.

    ~'::'.IEV Vai sim, Pode seguir.:. ~:IN Hl\NTE;H uitl ssi mo ag radc cid o. ( LlMP AND O A GARGANTA) 0 tempo es-

    ta bonito. (DECL1C1MA)"Meu irm.~osmeu irmao sofredor! Vernpara a Volga! QUEm ouves gemer?il (PARA V~RIA) MademoiselIe, queira proporcionar a urn p at~lcio faminto uns trintakopeks ... (VARIA GRITA ASSUSTADA).

    :"':?;,KHIN: (lNDIGNADO) At~ mesmo urn vagabundo deve tar certa vergnha ...(AFOBADA) Tome. Clhe aqui. (PROCURANDO NA BOLSINHA), Deprata nao tenho renhuma. Nao faz mal. Tome aqui est'l deaura.

    :_.::.::nmANTE:ui tlssimo obr-Lge do! Mil Vezes . .. (SAL. TODOS IUEM).(ASSUSTADA) E borr ir embora~ e born ir embora! Oh, milesi~nha , a senhora sebe que la em casa mal temos 0 que comere da uma moeda dE aura a urn desconhecido!

    -_=~~JV: o que se ha de fazeI', sou mesmo uma idiota~ Quando che-garmos em casa te entrego tOdD 0meu dinheiro! YermolaiAlexeievitch 5 voce me empresta outra vez .. ,A s suas ordens.Vamos, esta na hora. E sabe, Varia? Acertamos aqul mesmoo seu noivado. Parabens, minha querida.

  • 5/14/2018 TCHEKHOV_O Jardim de Cerejeiras

    31/58

    .,:?li.KHIN:

    :"JPAKHIN;

    =-:'J30V:

    =-~?l\'KHIN :

    _-~i ~:.. _

    : ~ = ?It'IOV

    _ - _ : ; . - - - . .

    -30-

    (POR ENTRE LAGRIM;,S) Mamae! Isso nao e aSSU:lto para brincadeiras!UMFLIA~ vai pro convento!Minhas maos estao trmulas. Passei muito +empo sornjagarbilhar.UMFfLIA, 6 ninfa, nas tuas orag~es lembra dos meus peca-dos~Vamos, pessoal, esta quase na hora dd jantar!Que susto que eu levei! 0 coragao ainda est~ disparado.Vou-lhes recordar mais uma vez: no dia vinte e dois deAgosto 0 cerejal vai ~ praga. Pensem nisso! Nao se es-quegam~

    (SAEM TODOS, MENDS ANIA E TROFIMOV).Gragas ao malandro que assustou a V~ria, nos dois fica-mos sozinhos.V~ria ternmedo que a gente comece a rtamorar. Por isso 5que vive atras de nos. E burra demais pra compreender-ue estamos acima do arnor. Evitar tudo 0que e mesqui-nho , .iLus cr-Lo , tude 0 que impede as pessoas de serem Li,>vres e felizes, esse e 0caminho~ esse e a sentido danossa vida. Para diante! Direto ~ estr3la clara que jri-lha na d.istarici.a Ad.iarrtc , companhei.r-oI Nao se deteihem:Como voce fala bern! (PAUSA). As cerejeiras hoje (~sta) maravilhosas.f. 0 tempo est~ belIssimo.o que foi que voce me fez. Petia? Porque e que eu ja naogosto tanto do nosso jardim como gostava antes? Com~odoaquele carinho! Para mim, no mundo inteiro nao havia lu-gar mais lindo!Nosso jardim 6 a R~ssia t5da. A terra e grande e bela,com muitos lugares lindos!(PAUSA). Voce tern de compre=ender, Ania: seu av3, seu bisav3, tod05 05 seus ante-passados foram senhores de servos, foram donos de almasvivas. Cada cereja, cada f3lha, cada ~rvore do jardim fala do sofrimcnto humano. Sera que voce nao ouve a voz

  • 5/14/2018 TCHEKHOV_O Jardim de Cerejeiras

    32/58

    :?-JrUl0V;

    ;:_:iIA:

    -3l~

    dos servos, sera que nao ve os olhos deles, espiando?PosuiI' almas vivas, foi isso que deformou voces todos- mortos e vivos~ e tanto~ que nem sua mae) nem seu tio, nemvoce mesma percebc que estao vivendo a custa de outros~acusta de gente que voces nao deixam sequer "transpOI' 0 Ii-iar da sua sala. Estamos atrazados pelo menos dois seculos. Nao temos naca, nem mesmo uma opiniao s~bre a nossop2ssado. s6 sabcmcs filosofar,queixar de um vazio na al-ma ou entao tomar vodka. No entanto ~ tao claro que paraviver no presente e preciso apagar 0passado, saldar asdividas do passadc e essas dividas s6 se pagam com sofrimento, com urn trar alho ex'tr-aor-ddar-Lo, Lnces sant e , serntregua! CompreendE, Ania?A casa onde n6s mcramos ha muito tempo ja nao e nossa.Vou-me embora daqLi. Palavra de honra, Petia.i1Se tiveres as chaves da casa e da cozinha, joga~ascisterna, vai-te. Livre, livre como 0vento; Ii

    n.'}

    (EXTA SIADi\) Que lindo 0que voce disse~Creia, Ania, confie! Ainda nao fiz trinta anos, sou mogo,sou estudante, mas ja passei tanta coisa~ Sempre que ch~ga 0inverno passo fome, adoego, fico preocupado, pobrecomo urn mendigo, jogado de deo em deo. Quanta coisa euja passei! E 0 tempo todo, dia e noite, a minha alma es-ta cheia de pressentimentos indiziveis! Eu pressinto afelicidade, Ania, desde ja posso avista~la ...

  • 5/14/2018 TCHEKHOV_O Jardim de Cerejeiras

    33/58

    ANIA:

    TROFH10V:

    o que e que nos "amos fazer? Vamos pra perto do rio! L~ninguem vai nos i~molar.Vamos! (SAEM).

    Ii VOZ DE VARIA: Ania! Ania!

    -.?ICHTCHIK:

    30FIl10V:

    FIM DO SEGUNDO ATO

    TERCEIRO ATOSala de estar g separada do salao p~r urn arcooO lus~tre esta ace so 0 Ouve-se. no vestibulo, a orquestra de

    judeus citada no IIQ ato. ~ noiteo No Salao dan~arn 0r'Grandrond f~ de Ulna quadrilha 0 A voz ce stmeonov-t'Lchccnik ~ rVPromenade a une paire ~Ii 0 primeiro par que apareceno Salao e formado p~r Pichtchik e Car.lota Ivanovna7 0segundo por Trofimov e Liubov Andreievna. 0 terceiropor Ania e urn funcionario dos cor~eiosg 0quarto p~r Varia e 0chefe da esta9aO. etcoooVaria enxuga os olhosenquanto dan~a e chora baixinhoo No ultimo par, Dunia~chao Os dan9arinos atravessam 0salaoo Enquanto 0fazemPichtchik gri ta ~ ilGrand rond ba l.ancezl tl ea genoux et rernerGiez vos dames~ Firsr deuma bandeja com aqua mineral.

    Entram PICHTCHIK e TROFIMOV 0

    Les cavalierscasaca traz

    Eu sou muito sang~Ineo, j; tive dois ataques de apople-xia, dangar pra mim e urn caso serio, mas, como se diz:"Entrou na dance , tern de pular! II Sou forte que nem urncavalo! 0 meu falecido pai- que Deus 0tenha em sua Santa Gloria- foi urn gr~.nde bnLnca Lhao e jurava que a di-nastia dos Semionov-Pichtchik comegou com aquele cavaloque CalIgula fez entrar pro senado.(SENTA-SE) De6gra~ae a falta de dinheiroo Cachorro com fome, s oosso1i.(COCHILA RONCANDO, MAS LOGO ACORDA.) Eu

    procuratambem:-o penso em dinheiro.

    De fato 0senhor tern alguns tragos cavalareso

  • 5/14/2018 TCHEKHOV_O Jardim de Cerejeiras

    34/58

    -33-

    PICHTCHIK: E 0 que e que tern isso? 0 cavalo e urn bela animal; paravender da bons cobres!

    TROFIMOV:VAIUA:lROFHfOV:V . E . .RIA;

    ~;:_OFn10V

    ( OUVE-SE, NA SALA VIZINHA, GENTE JOGANDO BILHAR. NO SA-LAo~ SOB 0 ARCO~ SURGE VARIA.)(CAgOANDO) Madame Lopakhina! Madame Lopakhina!(ZANGADA) Doutor Sarnento!Doutor ainda nao sou~ mas sarnento) com muita honra.(REFLETINDO~ AV~RGA) Mandaram vir os musicos e agora co-mo e que se vai pagar? .. (SAl).(PARA PICHTCHIK) Se a energia que 0senhor tern gasto pr~curando dinheiro pra pagar juros fesse empregada em qual:.quer outra coi.sa, 0 senhor virava 0 mundo pelo aves so.

    ~ICHTCHIK: Nietzche- sabe? Un grande fi16sofo, famosIssimo, 0 ma5~celebre de todos, uma inteligencia notavel, escreveu nosseus livros que n/is temos todo 0 direi to de fabricar moeda.s falsas.

    ~20FIMOV: Uai, 0sr. ja leu Nietzche??:CHTCHIK: Eu? Ve la! A minha filha Datchenka- me disse. E na situagao que an do agor\ era 0unico jeito. Depois de amanha

    tenho de pagar 30() rublos- 130 eu ja arranjei. (PROCURA~ANCIOSO, NOS BOLS()S.) Perdi 0 dinheiro! (ENTRE LAGRlMAS)Onde esta 0 meu d.inhe i.r-o (ALEGRE). Ah esta aqui dentro,costurado no ferro. Puxa, que susto!

    :: :FIMOV;

    (ENTRAM LIUBOV AN:JREIEVNA e CARLOTA IVANOVNA).(CANTAROLANDO UMA LESGINKA ~ MELODIA CAUCASICA DE DANgA).o Leonid ainda na.) chegou?! Que sera que ainda esta fa .-zendo na cidade? A DUNIACHA) Duniacha, voce de via serVlr cha aos musicos.Vai ver que ainda nao fizeram 0leilao.Nao e 0momento ideal I-""'ae chamar uma orquestra~ parase dar urn baileD Bern, tanto faz. (SENTA-SE E CONTINUATRAUTEANDO A MELODIA, BAIXINHO, DE B6cA FECHADA).(ENTREGANDO UM BARALHO A PICHTCHIK)Aqui esta urn baralho.Pense na carta que quiser,

  • 5/14/2018 TCHEKHOV_O Jardim de Cerejeiras

    35/58

    -34-

    PICHTCHIK: Ja pensei.CARLOTA: Pode embaralhar. 11uito bern. Agora me de aqui, meu prezado

    Sr. Pichtchik. EINS, ZWEI, DREI ! Agora procure no bolsodo seu colete.

    PICHTCHIK: (TlRANDO A CARTA DO BOLSO) Oito de eepadas.Certinho! - Ve-jam so!

    CARLOTA: (PARA TROFIMOV~ COM 0 BARALHO NA PALMA DA MAO.) Diga logoqual e a carta que esta por cima de todas?

    TROFIMOV: Bem,a dama de copas.CARLOTA: ~. (PARA PICHTCHIK) E a sua~ qual e??ICHTCHIK: 0 az de ouro.CARLOTA: E e! (BATE PALMA, 0 BARALHO DESAPARECE) Que tempo linda

    este de hoje! (U~\ VOZ MISTERIOSA QUE PARECE SAIR DO CHAORESPONDE:) ~ sim :;enhorrra, m uito bonitas!1! - Voce e meuideal! (A VOZ) IIE'lambem gostar mui to do Senhorrra! II

    o CHEFE DE ESTA~AO: (BATENDO PALMAS) Parabens, Sra. Ventriloqua!~ :HTCHIK: Imagine! Encantadora Carlota Ivanovna! Estou simplesmente

    a pa ixo na do p el a s-mhor ita.Apaixonado? (DANDr)DE OMBRO S) Que e que 0 Sr. entende ,depai .xa o? G UT ER ME N: ;C H, A BE R S CH LE CH TE R M US IK AN T.(DANDO UM TAP~~F.A NO (,MBRO DE PICHTCHIK- Cavalao velhooo.Atenc;:ao !You faze.- m ai s u rn + r- uqu e! (A PA NH A N UM A CADEII~AUMA MANTA DE VIAG~~M). Cobertor mui to born! Quero vender.(S AC UD IN DO 0 C OB E: ~T OR ) N i. ng ue m q ue r compr ar ?

    :ICHTCHIK: Ora vejam!Eins, zwei drei!:LEVANTA 0 COBERTOR E, DE REPENTE,DETRAZDELE, APARECE AN!.:I.,ORRE PARA SUA MAE, ABRA

  • 5/14/2018 TCHEKHOV_O Jardim de Cerejeiras

    36/58

    -35-

    PlCHTCHIK: Que velhaquinha! E das arabias, nao e? (VAl ATRAZ DELA).LIUBOV: E 0Le5nid aind2 n~o chegou. N~o posso compreender por-

    que se demora ta~to assim na cidade! Tudo ja deve estarterminando: ou vEnderam a fazenda, ou nao houve leilao.Entao pOl" que no~ deixar nesta ignorancia, nesta incer-teza ... !

    VARIA: (PROCURA TRANQUIl IZA-LA) Garanto que foi mesma 0 titioque arrematou a fazenda.

    TIWFHI0V: (IR6NICO) f. Sem~ duvida ...V ARI.L\; A tia-av5 mandou uma procuragao pra ele comprar no nome

    dela, transferinco a dlvida. Ela fez isso pOl" causa deAnia. Tenho teda certeza. Deus vai-nos ajudar, foi 0ti-tio que comprou c Fazenda.

    !...lUBOV: A tia de Iarosla\l mandou 15 mil rublos para fazer a compra em nome dela. Nao confia em n5s. Mas isso nao da nempara pagar os juros. (ESCONDE 0 ROSTO NAS MAOS.) E 0meudestine que se decide hoje, e 0meu destino!

    TROFlMOV: (CA

  • 5/14/2018 TCHEKHOV_O Jardim de Cerejeiras

    37/58

    -36-

    TROFlMOV: Que felicidade!VARIA: 'Urn estudante devia ter juizo! (MElGAMENTE ,COM. '!'-:RIMlS

    NOS OLHOS) Voce ficou tao feio, Petia, envelheceu!(PARA)LIUBOV, JA SEM CHORAR) Mas eu nao suportaria viver semtrabalhar) mamae. 0 tempo todo tenho de fazer alguma coisa.

    IACHA:

    VARIA:

    LIUBOV:

    TROFIMOV:

    LIUBOV:

    TROFIMOV:

    LIUBOV;

    (ENTRA lACHA) .(CONTENDO-SE PARA NAO ESTOURAR DE RlR:) 0 Epihodov que-brou urn taco de bilhar! (SAl).o Epihodov? 0 que e que ele esta fazendo aqui? E quemIhe deu licenga de mexer no bilhar? Nao entendo essa ge~te l (SAl).Nao cagoe, Petia. Basta as amola~oes que ela ja tem~ Vo-ce sabe quantas!

    . . . .Ela se preocupa demais. Vive se metendo onde nao e chamada. 0 verao Lrrter.r-o ficou nos azucrinando - a rm.m eANlA - com medo de algum namaro entre nos dois. 0 queque ela tern com :.sso? Alias, nao havia 0 me nor motivo ,eunao suporto essa~ futilidades- nos estamos acima do amor.E eu, pelo visto, estou abaixo do amor. (MUlTO AGITADA)Mas porque e'que 0Leonid nao vern? Eu so queria saber:ve~deram a fazenda, ou nao venderam? ~ uma desgraga tao l.n-crivel que eu ja nem sei 0 que pensar, fico desori-entada ... Acho q\e vou gritar, acho que vou fazer umaloucura .. Me ajtde, Petia, fale, diga qualquer coisa,s~ja la 0que far!Venderam ou nao \enderam a fazenda hoje- que difereru;afaz?r assunto ercerrado- e ha ~uito tempo. Nao se podevol tar atras, 0 cam inho e sta obstrui do. i >,c,llm e-seLiubovAndreievna, deixE de se iludir. Uma vez na vida? ao rne-nos, precisa encarar a Verdade.Encarar que verdade? Voce, voce ve a verdade e a contra-verdade e eu parece que perdi a ~erspectiva, nao vejornais nada. Voce resolve os rnaiores problemas com tanta- . . . . . .facilidade, rnais diga, meu l~ nao sera so porque aitidae mo~o, porque ainda nao sofreu prob~ma algum?Voce olha

    a. . .e

  • 5/14/2018 TCHEKHOV_O Jardim de Cerejeiras

    38/58

    TROFlMOV:tlUBOV:

    TROFlMOV:LIUBOV:

    -37-

    para diante, cheio de coragem- quem sabe e porque nao espera encontrar nada de horrlvel, porque a vida ainda seesconde aos seus olhos de menino? Voce e mais corajoso,mais franco, mais profundo que nos, mas pense urn pouco -uma gota de generosidade- tenha pena de mim. Olhe que eunasci aqui, aqui "jv~ram meu pai e minha mae~ meu avo,euamo esta casa. Sem 0Jardim de Cerejeiras nao posso ima-ginal' minha vida. Se tern de vende-lo, me vendam com1ile!(ABRA

  • 5/14/2018 TCHEKHOV_O Jardim de Cerejeiras

    39/58

    TROFlMOV:

    LlUBOV:TROFlMOV:

    LlUBOV:

    TROFIMOV:LIUBOV:

    TROFIMOV:LlUBOV:

    TROFIMOV:

    LIUBOV:

    LIUBOV:

    ANIA:LIUBOV:

    -38-

    (ENTRE LAGRlMAS) Desculpe a minha franqueza, pelo amorde Deus. le n~o roubou tudo 0que a senhora possuia?(TAPANDO OS OUVIJOS) N~o, n~o! N~o deve falar assin!Mas e um patife! A senhora e a unica que nao percebe! ~um sem vergonha, um miseravel, um inutil!(INDIGNADA, MAS ?ROCURANDO CONTER-SE) Voce com sew;ou 27 anos, naOJassa de um colegialo

    26

    Pode ser . 0Na sua idade ja 1evia ser homem, compreender os que so-frem de amor, ccihecer- 0 amor-! A paixonar- Fe! (CO LE1U C A )Isso mesmo! Voc~ pensa que e puro, mas nao passa de urnpuritanosinho ri1iculo, um anormal!(HORRORIZADO) 0 lue e que ela esta dizendo!"Estou acima do amor "] essa e mui to 'bOa! voce nao ,estaacima coisissima nenhuma. So que *nao prer:ta pra nadaHcomo diz 0 Firs. Com essa idade! Nao ter' uma ernarrt~( HORRORlZADO) Isso e horrivel! 0 que esta dizendo?: (SAlRAPIDO PARA 0 SALAO, APERTANDO A CABE

  • 5/14/2018 TCHEKHOV_O Jardim de Cerejeiras

    40/58

    LIUBOV;

    IACHA:FIRS:

    IACHA:

    FIRS:

    LIVBOV:

    ANIA;

    LIUBOV;ANIA:

    IACHA:FIRS:

    LIUBOV:

    -39-

    ENTRAM NA RODA. VINDO DA ANTE-SALA, ATRAVESSAM 0TROFIMOV, ANIA, VARIA e LIUBOV ANDREIEVNA).

    PALCO

    Vamos, Petia. Alma pura- eu the pego perdaogar comigo. (DAN~A COM P~TIA).

    Venha dan-

    O\NIA e VARIA DAN~AM. ENTRA FIRS, ENCOSTA A BENGAL.'\JUN-TO A PORTA LATERAL. IACHA TAMB~M ENTRA E FICA VEND;) OSPARES QUE DANgAM).o que foi~ vovo?Nao estou me sertindo bem. Antigamente vinham aos ncs sosbailes generais~ baroes, almirantes. AgOI'd convidanos umfuncion;rio dos correios, 0chefe da esta~~~ c e s5 pormuito favor que ~les v~m. Estou ficando ~,a~o. 0 Senhorvelho, 0avo, ccstumava curar todo mundo, de qualquer dQenga, dando lacre pra beber. Faz vinte anos queeu andobebendo lacr~ todo santo dia, 20 anos ou maiso Quem sabe. . .e pOl' isso que eu ainda estou vivo?o Sr. e Ilperoball, hein vovo? (BOCEJA) Ha muito tempo j adevia ta morto.Nao presta pra nada.o. ( CONTINUA RESMUNGANDO),(LIUBOV e Pt:TIA DAN~AM NO SALAO E DEPOIS NA SALA DE ES -TAR) 0Merci. Tenho de descansar. (SENTA-SE). Fiquei sem folego.

    ( ENTRA AMIA) .(AGITADA) Agora mesmo, na cosinha, estava um tipo dizen-do que venderam hoje 0Jardim de Cerejeiras.Ve nd er am pa ra q ue rn?ele nao disse p.ia quem, ja f oi er nb or -a (S Al DA N

  • 5/14/2018 TCHEKHOV_O Jardim de Cerejeiras

    41/58

    --1f.0-

    LIUBOV:Mas ~le j~ foi, 0Jelhinho! (RINDO).(LEVEMENTE IRRITADA) De que e que voc~ est~ rindo, achougraga?: t : po r- c au sa d o E pi .h od ov, tI e e LmpagaveL, urnpeLer-ma[nurnACHA: ternjeito, - II,nao ...

    LIUBOV: Firs, se a fazenda for vendida, para onde voce vai?FIRS: You para onde a senhora mandar.LIUBOV: o que aconteceu com voc~? Esta cornurnar esquisito- nao

    est~ se sentindo bern? : t : melhor ir para a cama,Firs.Pois e . . . ( SO RR IN DO ) E u YOU dormir e quem e que cuida detudo, de servir, de arrumar? So eu.

    FIRS:

    IACHA: (PAPiliIUBOV). LiuDOV Andreievna, posso pedir uma coisa?A senhora e tao boc! Se voltar a Paris, me leve tambern .POI' favor. Eu nao Euporto isto aqui. (LANgA UM OLHAR ENVOLTA E FALA BAIXO) Nao tern jeito, a senhora mesmo estavendo, e urn pais b~rbaro, sem instrugao, uma gente 3emmoral e eu estou mcrrendo de tedio! A comida, na cozi'nha, e urn horror e ~inda pOl' cima aquele. macrobio do ?irso tempo todo atras da gente, I'esmungando uma porgao deasneiras sem pe nerr cabega: pOl' favor, me leve tambem!

    (ENTRA FICHTCHIK)PICHTCHIK: Podia conceder-me ... uma vals~nha~ minha senhora?(LIU130V

    SAl COM tLE) Divina Beldade, tenho de Ihe pedir emprcs-tados 180 rublinhos, (DANgA) So quero cento e oitenta ...(SAEM DANC;ANDO,PAR\ 0 SALAO).

    IACHA: (CANTAROLANDO) "Com)reenderas jamais as penae da minh1alr na ? ..

    DUNIACHA:

    (N O FUNDO DA SALA V:~~-SEPARECER UMA PERSONAGEM DE rrs-TOLA E CALC;A DE PAL1IAgO Q UADRICULADA. PULANDC, AGITANDOO S B RA C; OS . GR IT OS m~; "BRAVO, CARLOTA IVANO?NA! )(PARANDO PARA POR p(3:')ERROZ):A patroinha me mandou dangar - ha cavaleiros demais e poucas dp~~s- e eu, quandodango, fico logo tonta, com palpitagoes.Sabe Firs Nico-laievich? 0 funcionario do cor~eio me disse umaainda agora, que eu ate fiquei sem ar!

    coisa,

  • 5/14/2018 TCHEKHOV_O Jardim de Cerejeiras

    42/58

    FIRS:DUNIACHA:IACHA:DUNIACHA:FIRS:

    EPIHC5DOV:

    EPIHC5DOV:

    DUNIACHA:

    EPIHODOV:

    Varia:

    EPIH()DOV:

    VARIA:

    EPIH()DOV:

    -"1-

    ( A MOSICA VAl MORRENDO).o que foi'que ele te disse?Disse: iiA senhorita parece uma floI'll.(BOCEJANDO) Quan~a besteira ... (SAt).Eu sou t~o sensivel~ aprecio tanto as palavras gentis ...Ta com a cabeca "irada. Ce ainda acaba mal.

    (ENTf(A E?IHC5DOV).A senhori ta, Avd.i't La Fedorovna, nem pr-este aten ~~omim! Como se eu ,=osse urn inseto! (SUSPIRANDO) :,;i', Ai !

    em

    -0 que e que 0 .ienhor- deseja?Sem duvida~ po de ser que tenha razao. (SUSPlRA.) MEs, cgcarando-se assim de urn c erto ponto de vista, para falarcom franqueza, s(,;assim me e licito dizer, a senf.or-i t.aabalou meu estado de alma. N~o ignoro a minha rna fortu-na, todo dia acontece comigo uma desgraga ou outra9 jame habituei ha muito tempo) ate aceito sorrindo a minhasorte. Mas a senhorita me deu sua palavra e, muito em-bora eu ...POI' favor~ vamos conversar mais tarde. Agora me deixe empaz. Estou sonhando. (BRINCA COM 0 LEQUE).Cada dia sofro uma desgraga nova. Mas eu, pOI' assim di-zer, fico sorrindo, ate dou risada.

    (VARIA EN~RA, VINDO DO SALAO).Ainda esta, aqui, Semion? Voce n~o tern mesmo nog~o derespeito, hein?:PARA DUNIACHA). Retire-se Duniacha.(PA-RA EPIHC5DOV:) Ja quebrou urn taco jogando bilhar e agoraesta aqui na sala bancando 0convidado.A senhora nao ten 0direito- pOI' assim dizer- de recla-mar cOmJ..go.Nao reclamo, digo: voce so sabe andar de urn lado pro ou-tro, sem fazer n.ida .Temos urn e screvente e pra qu:e?-nin-guem sabe!(OFENDIDO) Se eu trabalho ou nao trabalho, se eu an do ou

  • 5/14/2018 TCHEKHOV_O Jardim de Cerejeiras

    43/58

    VARIA:

    EPIH6DOV:VARIA;

    LOPAKHIN:VARIA:LOPAKHIN;

    VARIA:

    LOPAKHIN:

    "

    -42-

    nao ando) como ou nao como, jogo bilhar ou nao jogo bi-lhar, s6 as pesso~s sensatas e superiores ~ que podemjulgar minha condlta.E tern0topete de me dizer essas coisas! (EXPLODE) Tern?Entao eu sou inselsata, nao e? Fora daqui! E ja! Nesteinstante!(ASSUSTADO) Rogo-_he que se exprima com mais delica(eza!(FORA DE SI) VA-s,~ embora, ja,ja! (ELE VAI PARA A peRTA,ELA ATRZ DELE) "Num t ern jei to nao G 11 Nao quero mai.s tee nxe rga r'a q~i den :r o, o uvi u? Es tou f art a da sua pre-senca , (EPIH(jDOV ~;AIU. OUVE-SE SUA VOZ NOS BASTIDCRES:"EU VOU ME QUEIXA}:".,.) 0 que? Vai vol tar outr-a vezi (P~GA A BENGALA QUE :'IRS DEIXOU NO CANTO) Venha, venha queeu the mostro! Ven mesmo? Entao tome ...! (ENQUANTO ELALEVANTA A BENGALA PARA BATER, ENTRA LOPAKHPl',.Muito obrigado ...(ZANGADA E IRONICIJ Desculpe.Nao tern nenhuma inportancia.Muito grato pela gentil acolhida.Nao ha de que. (AFASTA-SE, VOLTA-SE E PERGUNTA COMMEIGA:) Nao 0 machuquei?Oh, nao, nao foi nada. s6 que vou ficar com urn Ilgalo" fe

    VOZ

    nomenal.UMA VOZ NO SALAO: Chegou 0L op ak hi n! Y er mo la i A le xe ie vi tc h!PICHTCHIK: Que vejo! Que ougo! E ele! (ABRAQA LOPAKHIN). 'Cheirinho

    de cognac, hein meu amigo? Mas n6s tambem aqui, estamosnos divert indo a grande!

    LIUBOV:

    LOPAKHIN:LIUBOV:LOPAKHIN:

    (ENTRA LIUBOV).Voce, Yermolai Alexeievitch! Porque demorou tanto? Ondees ta Le oni d?Leonid Andreievitch chegou comigo. ~le ja vern.(AGITADA) E entao? Houve 0lei lao ? Fa le, ra p_. ;.~ !(CONSTERNADO, COM RECEIO DE DEMONSTRAR SUA ALEGRIA)O leilao terminou por volta das II horas. N6s perdemos 0 ~rem,

  • 5/14/2018 TCHEKHOV_O Jardim de Cerejeiras

    44/58

    -43-

    tivemos de esper-ar ate as nove e meia. (COn UM FROflJNDOSUSPIRO) Uf! Tou com a cabe9a zonza . ..

    LIUBOV:

    I(ENTRA GAIEV, LEVANDO EMBRULHOS NA MAo DIREITA E EHXU-GANDO AS LAGRI~~S COM A ESQUERDA).Lenia, 0que houve? Diga logo ...(COM IMPACINCIA) CHO~RANDO) Depressa, pelo amor de Deus ...

    GAIEV: (SEM RESPONDER, SACUDINDO A MAo PARA FIRS, CHORANDO)Torna aqui ...f sardinha,arenque de escabeche ... eu ~ojenao comi nada ... 0 que eu sofri! (PELA PORTA ABERTA DASALA DE BILHAR OUVE-SE 0 BARULHO DAS BOLAS E A VOZ DEIACHA:H Sete e dezoitoil GAIEV DEIXA DE CHORAR? HUDA DEEXPRESSAO). Estou exausto. Venha me ajudar a tT0car deroupa, firs.

    C SAl DO SAL10, FIRS ATRAS DLE).PICHTCHIK: E 0leilao? Conte logo de uma vez!LIUBOV: 0 Ja~'1im de Cer-ee Lr-as, venderam?LOPAKHIN: Venderam.LlUBOV: Quem comprou?LO?AKHIN: Eu. (PAUSA).

    (LIUBOV ANDREIEVN\ ESTA ABALADA? CAlRlA NO CHAo SE nAoE ST IV ES SE PE RTO D\ POLTRONEl.E DA MESA- VARIA TlRA 0 M5LHO DE CHAVES DA~INTURA, I.TlRA-O NO MEIO DA SALA E SAl).

    LOPAKHIN: Sim, fui eu. Urnminuto) esperem urn pouco, estou com acabega tonta, nem posso falar direito. (Rl).Quando nosch eg am os pa ra 0 l~ilao, 0 Deriganov ja estava la. Leo-nid Andreievitch 30 tinha 15 mil rublos, 0 Deriganovfoi logo oferecenio 30 mil? alem das dfvid2s. Eu,entao,venda isso, me at :-aqueicom ele, ofereci quar-errt.a ; (~le45; eu, 55. ele il subindo 5 mil de cada VEZ, e eu r,u~bia dez mil. E aClbou. Dei 90mil, alem das divicas, 0martelo bateu pra mime 0 Jardim de Cerejeiras e meu,agora. Meu! CRI A 3 GARGALHADAS). Santo Deus do ceu, 0Jardim de Cerejeiras e meu! Podem dizer que estou be-bado, maluco, que estou inventando, sonhando l (R:\TECOM OS pfS).Nao riam de mim! Se meu pai e meu avo sais

  • 5/14/2018 TCHEKHOV_O Jardim de Cerejeiras

    45/58

    44-

    sem da cova pra ve~ tudo isso que aconteceu, pra ver comoo seu Yermolai, que levou tantas surras, que andava des-calgo na neve, com) 0miseravel, analfabeto Yermolai com-prou a fazenda mai; linda que ha neste mundo! Comprei afazenda onde 0meu avo e meu pai foram servos, nao podiamentrar nem na cozilha! Vai ver que estou dormindo,sonhan-do, so pode ser me3mo urn sonho! (APANHA AS CHAVES DO CHAO,SORRINDO.) Jogou a; chaves no chao, quis mostrar que naoe mais a dona dest 1c as a . .. (S AC UD IN DO A S C HA VE S) , ,. ..a nt ofaz.(OUVE-SE A ORQJESTRA AFINANDO OS INSTRUHENTOS)Toquem,maestros, eu quero ouvir! Vcnham todos ver como Yer-molai Lopakhin vai senta 0machado nas cereieiras, venham. .ver as arvores cai1do!Vamos construir casas, aqui, e osnossos netos e bisletos hao de ver surgir uma vida nova!Musica! Vamos!( A ORQUESTRA TOCA. LIUBOV ANDR1'1IEVNACAIU KUMA CADEIRA ECHORA) .(RECRIMINANDO) Por lue, porque nao quizeram n.e e s cut ar ? Minha pobr-e, cara am i.ga, agora ~ tarde. (ENTRE LAGFlMA~ A h ,se tudo isto ja tivesse passado, se esta nossa v i.da absurd a, d es en co nt ra da , p ud es se r nu da r n ur nm in ut o!

    PICHTCHIK: (TOMANDO-LHE 0 BRAQO, BAIXINHO) Ela esta chorando. Vamospro salao~ e melhor deixar sozinha. Vamos. (LEVA-O DE BRAQO DADO, PARA 0 SALAO).

    LOPAKHIN;

    ANIA:

    a

    Como e ? Musica! Mais alto! Tern de ser tudo como EUquizer!(COM IRONIA) La vern0n ov o F aze nd ei ro , 0dono do Jardirnde Cerejeiras! (ESBARRAM NUr1A MESINHA, QUASE ~"FPRUBANDOUM CANDELABRO). Nao tern importancia, eu pago (SAl COM PICHTCHIK. NA SALA DE ESTAR E NO SALAO NAO HA MAIS NINGUt~.s6 LIUBOV, SOZINHA, TODA ENCOLHIDA EM SUA CADElRA, CHO-RANDO. A ORQUESTRA TOCA BAIXINHO. ENTRAM,APRESSADOS, ANIAe TROFIMOV. ANIA CORRE PARA A MAE, CAl DE JOELHOS JUNTODELA. TROFIMOV FICA DE P1'1,NA ENTRADA DO SALAO).M ae , r na es in ha , e st a c ho ra nd o? M in ha r na rn aequ er id a- mei~~.boa! Tao linda, tao boa, eu te arno, eu te adoro, eu tebendigo! Venderarn Q Jardirn, nao ha mais cerejeiras- everdade. Mas nao chore, rnaesinha, ainda tern toda a sua vida

  • 5/14/2018 TCHEKHOV_O Jardim de Cerejeiras

    46/58

    IACHA:

    GAIEV:

    LIUBOV:LOPAKHIN:

    -45-

    pela frente 3 seu coragao bondos0 3 puro! Vamos, vamos 3 mlnha adorada, pra longe daqui! Plantaremos urn novo jar-dim, muito mais lindo! Vai ver, vai compreender! Vai segtir, no intimo da alma, uma alegria profunda, tranquilacomo 0 sol do entardecer! A senhora vai sorrir outra vez,mamae! Venha 3 minha querida, vamos!

    PANOFIM LO TERCEIRO ATO

    CUARTO ATO

    o rnesrnocenarJo do prirneiro ato. As janelas sem cortinas, as paredes em quadros. Restarn apenas alguns moveis gempd Lhados num ccnto i como se fosse para vendez 0 Sente-seo vazio. Perto da porta de entrada e no fundo da cenaamontoam-se as rnalas, valises, trouxas. A Dorta daes~. _querda esta abertao Por ela ouvem-se as vozes de Variae de Aniao Lopahkin esta em cena, de pe, aguardandooIacha segura uma bandeja corn ta9as cheias de charnpanhe 0No vestibulo, Epihodov esfor~a-se por pasaar uma I cordaem volta de urn caixote 0 ~1uio ao fundo 9 nos bastidores,ouve-se 0 rumor de vozeso Sao os camponeses que viera~se despedir. A voz de Gaievgnvuito obrigado pessoal,obrigado, obrigado i~Os matutos vieram s~ despedir. Na minha opiniao,Yermolai

    \Alexeievitch, eles sao boa gente, mas nao tern cabega. (0RUMOR DE VOZES VAl MORRENDO. CHEGAM, DO VESTfBULO,LIUBOVANDREIEVNA e GAL:V. ~.._ ;\.t\, dAS ESTA Pal IDA , TRt:MULA, INCAPAZ DE FALAR).Voce foi-lhes da:_~seu porta-moedas, Liuba! Nao devia! Assim tambem e Lmpis sIve L!Nao pude resisti:-. Nao estava em mim! (SAEM OS DOIS).(PARA A PORTA, DIRIGINDO":'SEA ~LES) Por obsequio, por favor! Uma tacinha, de despedida! Esqueci de trazer Cia ci-dade e aqui, na 3StagaO,so comsegui uma garrafa! Por fa-

  • 5/14/2018 TCHEKHOV_O Jardim de Cerejeiras

    47/58

    IACHA:

    LOPAKHIN:

    IACHA:

    LOPAKHIN:IACHA:LOPAKHIN:

    TROFIMOV:

    LOPAKHIN:

    TROFIMOV:

    LOPAKHIN:TROFIMOV:LOPAKHIN:TROFIMOV:

    -46-

    vor! ... (PAUSA). Nao querem? (AFASTA-SE DA PORTA). Sf; eusoubesse nao comprava. Pois se e assim, eu tambem nao be-bo nao. (IACHA COLOCA A BANDEJA CUIDADOSAMENTE SOBRE UMACADElRA). Beba voce, pelo menos j Iacha.A saude de quem vai, a saude de quem fica! (BEBE). Possolhe garantir que esse champagne nunca foi legitimo.O'ito rublos a garrafa. (PAUSA). Aqui dentro esta f'azendourn frio dos diabos!Nao acenderam hOj8 0aquecedor. Tambem, ja estarnos de partida! (RI).Do que e que esta rindo?D e s at is fa c; ao .Ja estamos em outubro e la fora ainda ha scl. Urn ar para-do, tranquilo. Parece ate verao. Vai ser bern pra co~stru-ir. (CONSULTA 0 RCLcJGIO E DIZ, EM DIREc;AO 7 , PORTA). ~ ; o fa!.tam quarenta e sete minutos pra saida do trem. Temof deir pra estac;ao dentro de vinte minutos. ~ born andar ligeiro!(VINDO DE FORA, ENTRA TROFIMOV, DE SOBRETUDO).Parece que esta na hora, os cavalos estao at~elados, c coche esperando. Que diabo, onde e que eu meti minhas galo-chas? 'Desapareceram! (PARA A PORTA). Ania, minhas ga Lo-chas sumiram, nao consigo encontrar!E eu tenho de ir para Kharkov. No mesmo trem. Pretendopassar la todo 0inverno. Vadiei demais com voces. Naoposso passar sem trabalho. Nao sei 0que fa~o com as ma-os, elas ficam ai balanc;ando, sem jeito, como coisa quenao sao minhas ..Bern, ja estamos de partida. Logo podera recomec;aratividades, tao lucrativas.

    suas

    Aceite uma tac;a.Naoo Obriga do.E voce? Vai pra M()scou?Sim You com eles ccte a cidade e amanha de manha sigo paraMoscou.

  • 5/14/2018 TCHEKHOV_O Jardim de Cerejeiras

    48/58

    LOPAKHIN:

    TROFIMOV:LOPAKHIN:

    TROFIMOV:

    LOPAKHIN:

    TROFIMOV:LOPA-KHIN:TROFIl10V:

    VARIA:

    TROFIMOV:

    LOPAKHIN:

    TROFIMOV:

    -47-

    ~. Vai ver que 03 professores ati pararam de dar aula-estao s o esperando voce chegar, nao e mesmo?Isso nao i da su~ conta.J a faz mesmo quantos anos que ce estuda na universidade,hein?Veja se arranja urn assunto mais novo. tsse ta velho ~chato. (PROCURA AS GALOCHAS).Escute aqui: e provavel quea gente nao se encontre mais, vou-Ihe dar urn conselho.Pare de sacudir assim os bragos.~ urnhabito muito feio ,procure perder. E quer saber de uma coisa? Isso de fazerconstrugoes e ficar calculando quanto vai arrancar dosveranistas, ficar pensando que eles depois VaG virar la-. - \ .vradores 1ndependentes, nao passa de outra man1a, comoessa de sacudir os bragos. Sinal de inquietagao. Seja lacomo for, simpatizo com voce. Tern dedos finos,flexlveis,maos de artista. E a sua alma tambem. ~ fina. Senslvel.(ABRA~ANDO-O) Te a volta, rapaz. Obrigado por tudo. Seestiver precisando posso Ihe dar algum dinheiro pra via-gem.Pra que? Nao preciso.Mas ce'sta sem urn vintem!Nao estou nao . Mui to obrigado! Recebi de uma tradugiio.Taaqui,no meu bolso. (ANSIOSO). Mas as ga Lochas l Sumi:"am!(DO QUARTO AO LAD) Olhe aqui suas porcari2s! (ATIrui EMCENA UM PAR DE GAr...OCHASE BORRACHA).Porque e que esta tao zangada, Varia? Uai, essas nao saoas minhas!Na primavera eu semeei mil geiras de papoulas.E agora d~positei no banco quarenta mil rublos de lucro liquido.Mas que beleza quando estavam em flor! Pois e . Eu estavadizendo que lucrei quarenta mil rublos- se ofereci praemprestar e porque posso emprestar. Deixe de besteira,rapaz. Sou urn simples roceiro, nao faga_ cerimonia.o seu pai era roceiro, 0meu foi farmaceutico. E dai?Is-so nao quer dizer nada . (LOPAKHIN TIRA DO BOLSO A CAR

  • 5/14/2018 TCHEKHOV_O Jardim de Cerejeiras

    49/58

    LOPAKHlN:TROFlMOV:

    -48-

    TElRA). Deixe, deixe disso. Pode me of'er-ecer-. duzerrcos milrub los , que eu nao acei to. Sou urnhomem livre, Tudo isso-ue pra voces- tanto osricos como os pobres- tern tantovalor, pra mim nao tern a menor importancia, e fumaga, epenugem esvoagando. Posso passar sem voces, posso dispen-sa-los. Sou orgulhoso e forte. A humanidade esta-s(~ enca-minhando para a verdade maior, para a maior .~.e2.ici'adeque e possivel na terra e eu estou na prime ira coluna ..E acha que chegara?Chego sim. (PAUSA). Chego, ou aponto aos outros 0modo dechegar. (AO LONGE OUVE-SE 0 RufDO DOS MACHADOS ABATENDOAS ARVORES).

    LOPAKHlN: Pois ~ meu velho, adeus. Ta hora.Nos dois aqui, cada, naqual querendo ser mais que 0outro, e a vida vai passando,Eu, quando trabalho de rijo, sem parar, acho tudo maissimples, penso ate que sei pra que e que eu existo.E quan1:"a gente ha aqui na Russia que ninguem sabe por que e queesta vivendo. Bern, tanto faz. As coisas v~o tocando asslmmesmo. Dizem que Leonid Andreievitch aceitou 0ernprego~obanco- seis mil por ano ... So que nao vai aguentar muitotempo. Com aquela preguiga! ...(DA PORTA) Mamae mandou pedir: enquanto ela es+i.ver aqui,por favor, nao cerrubem as arvores.Com efeito, que falta de percepgao! ..o(SAI PELOBULO) .

    VEST!-

    ANIA:

    TROFIMOV.:

    LOPAKHlN:ANlA:lACHA:ANIA:

    I C ' T - M . :EPIHuDOV:

    Mas claro! Vou nandar 0 que gente! (SAl ;\TRAS Di:LE)0Levaram 0 Firs Iro hospital?Eu mandei, de mz.nhji , Com certeza ja Levar-am .(PARA EPlHuDOV, QUE ATRAVESSA 0 QUA RT O) S ~m io n Pa nt al ei e-vi tch, por favor', quer indagar se Levar-am F irs para 0 hospital?(RESSENTlNDO) De manha eu disae ao legor oara levar. Naoe preciso perguntar mil vezes!o macrobio Firs, na minha opiniao, nao ternmais jeiro. Definitivamente. Seu lugar agora e com os ancestrais. E eu

  • 5/14/2018 TCHEKHOV_O Jardim de Cerejeiras

    50/58

    IACHA:VARIA:ANIA:VARIA:ANIA:Vl\RIA:

    IACHA:

    DUNIACHA:

    IliCHA;

    DUNIACHA:

    IACHA:

    GAIEV:

    LIUBOV:

    -49-

    so posso inveja-lo.(COLOCA UMA MALA EM ClMA DE UMA CAIXADE CHAP~US QUE rICA ESMAGADA).t: claro. Eu sabia que ~con-tecia. Aconteceu. (SAt).(IRONICO) "Num tern j eito -" .nao ...(NA PORTA) Levaram 0Firs pro hospital?Levaram simaE porque nao pegarlm a carta pro medico?Temos de manda-la ja. (SAl).(DO QUARTO AO LADO) Onde esta 0 Iacha? Dign. que a mao de-le esta aiD Veio s~ despedir.(ABANANDOA MAO) : t : de se perder a pac i.enci.e(TODO SSE TEMPO D:JNIACHA ESTEVE OCUPADA COM A BA8AGH1.AGORA QUE ESTl\ S O' '~OM IACHA VAl PARA PERTO DtLE).Nem urn olhar para r ri . m , Esta tao Lnd Lf'er-errteL a c h a I Vocevai-se embora. Vai me deixar! (ABRA

  • 5/14/2018 TCHEKHOV_O Jardim de Cerejeiras

    51/58

    ANlA:GAlEV:

    LlUBA:

    ANlA:

    LIUBOV:

    GAlEV:CARLOTA:

    LOPAKHIN:

    GAlEV:

    -50-

    des! (BElJA E ABEA~A ANlA ARDOROSAMENTE) ,Meu t(~souro,minha joia, voce esta radiante, seus olhos b.C'ilhamcomo dois diamantes. Esta contente? Feliz?Muito! Uma vida nova esta comegando!De fato, agora esta tudo em ordem. Antes da venda do Jardim de Cerejeiras estavamos todos aflitos, martirizados,e agora, depois que 0problema ficou resolvido definiti-vamente, irrevogavelmente, todo mundo esta descansado eate de born humor! Eu sou bancario. Financista,pode-se dizer! Manda a vermelha pro centro! E ate voce, Liuba,estacom urn aspecto bern melhor, disso nao ha duvida!~. Meus nervos melhoraram, isso e verd~ ~ (TRAZEM-LHE 0CHAP~U E 0 MANTO). Consigo ate dormir! Leve as m.i nh-sscoisas, lacha, efta na hora. (PARA ANlA). Breve estare-mos juntas, fi.Lhi. nhe! Vou viver em Paris com 0 dinheiroque a tia condesfa mandou para comprar a fazenda-viva atitia! - mas esse dinheiro nao vai durar muito nao! ..A senhora volta :ogo, mamae. Nao e mesmo? Eu yOU estudarpara 0exame, pafso e depois you trabalhar pra ajudar asenhora. Vamos lEr juntas uma porgao de livros)nos duas,mamae 0 (BElJA AS MAOS DA M:~E). Nas noi tes compr Ldas dooutono, vamos Ler tantos e tantos livros ,> descobrir urnmundo novo, maravilhoso. (SONHADORAMENTE) Volte logo, rnamae!Volto, meu bern. vo lto sim. (ABRA~A ANIA).(ENTRA LOPKHlN 0 (ARLOTA CANTAROLA BAIXlNHO) .Feliz Carlota! C

  • 5/14/2018 TCHEKHOV_O Jardim de Cerejeiras

    52/58

    -51-

    CARLCTA: Na cidade, onde e que eu you ficar? Bern, t emos de. ~r em-bora. (CANTAROLANDO) Enfim, tanto faz ...

    ( EN TR A P IC HT CH IK ).LOPAKHIN: 0 assombro da natureza!PICHTCHIK: 'Xou respirar. 'stou que nao posso mais< Meus caros ami-

    gos, urn copo d'agua pOl' favor ...GAlEV: Vai vel' que quer dinheiro emprestado. You-me embora.(SAl)PlCHTCHIK: Faz born pedago qun nao venho ve-la ...carissima senhcra .

    (PARA LOPAKHIN). "oce por' aqui ... muito prazer e-n ve-lo. 0 0homem de al t a int(~ligencia ...tome ...es t ou pagando . ( D ADlNHElRO A LOPAKH:N).Quatrocentos rublos ...ainda fico dev endo oi t ocent os (! q uaren ta .. .

    LOPAKHlN: (ERGUENDO OS OMBRC'S, PERPLEXO). Mas isto e um son ho!On defoi que arranjou?

    PlCHTCHlK: Espera.o.Que calor aqui dentro ...Foi uma coisa extraor-dinaria. Vieram urs ingleses e descobriram nas . h.mJ."1asterras uma especie de argila branca, sei la 0que e ndexatidao (PARA LIUBOV ANDRElEVNA). E quatrocentos prasenhora prezadissima, encantadora ... (DA-LHE 0 DI~~ETRO). 0 resto vira depois. (BEBE AGUA). Ainda agora notrem urn rapaz me dizia que urn grande filosofoesta aconselhando as pessoas a pularem de urn

    qualquertelhado.

    "Pule!!! diz ele, "nisso esta todo 0 problema!lI Vejam so!Mais urn pouco d'agua, pOl' favor,'stou com uma sede!

    LOPAKHlN: E esses ingleses? Quem sao?PICHTCHlK: Transferi para eles 0 dire ito de explorar a argila per

    24 anos. E agora cescu Lpem ... Tenho de vel' m ui ta gente ...o Znoikov, 0KardEffionov... tou devendo a todo mundo. (BEBE).Saude! Quinta feira eu volto.

    LlUBOV~ Estamos de mudangc para a cidade. E eu amanha sigo parao e st ra ng ei ro .

    PICHTCHlK: 0 que? (lNQUIETO) Pra cidade? Mas porque? Ah, entao eisso ...esses moveis as malas ... Ora, deixa estar ...

  • 5/14/2018 TCHEKHOV_O Jardim de Cerejeiras

    53/58

    LIUBOV:

    ANIA:LIUBOV:

    LOPAKHIN:

    LIUBOV:LOPAKHIN:

    LIUBOV:

    LOPAKHIN:

    -52-

    mal que nunca se acabe .. (BEIJA A MAO DE LIUBOV). So algum dia chegar aos seus ouvidos a noticia de que eu tc..: '_--bern acabei .lemt.re-se deste ... cavalo velho: Phouve urnavez neste mundo urn certo Simeonov Pichtchik, Deus guardea sua almail 0 tEmpo estalindo, hein? Pois e.(SAI, NUMESTADO DE CONFUSIo TOTAL, MAS VOLTA-SE LOGO, NA POf.zTA EDIZ:) A minha Datchenka mandou lembrangas! (SAT).Podemos ire Levo duas preocupagoes. A prime ira C 0firs,que esta doente. (CONSULTA 0 REL6GIO). Ainda tcnos unsc in co m inu tos .Ja mandaram 0Firs para 0hospital, mamae. 0 IRcha ~~n~dou, de manha.Minha outra tristeza e Varia.E~t; habitueda a ~_cordar berncedo, trabalhar c dia todo e agora, sem as suas ob~iga-goes, parece um peixe fora d 'agua. 'Magra) palicli",C:lOY'G':'.do 0 tempo todo, pobrezinha. (PAUSA). Voce sabc ::'li tobern, Yer::nolaiAlexeievi tch, 0 meu sonho eI,,'L oase.r- -locesdois. E tudo indicava mesmo que ja i am f ic Cl r n oi vo sC FA LABAIXO A ANIA E CARI,OTA; QUE SAEM).Ela gosta de voce, vo-ce gosta dela. Nao sei, nao compreendo porque ~ que vo-ces agora parece que estao fugindo urn do outro. Nao pos-so entender!Francarnente, eu tambem nao compree. Cl. : t : tudo tao esqui-sito! Se nao for tarde demais, estou pronto, agora mes-m~) neste minuto. Vamos liquidar de uma vez este assun-to) e pronto. Sem a senhora acho que nunca terei cora-gem ...6timo! ~ coisa de um instante, nao e? You ja c ham a-l a . ..Temos ate 0champagne. (REPARE QUE AS TA~AS ESTAO VAZI-AS). Estao vazias. Com certeza alguem bebeu. (IACHA TOS-SE). Ou melhor, lambeu.(ANlMADfSSlMA) Perfeito! Vamos deixar os dois sozinhos.Iacha, allez! Vou chama-lao (PARA A PORTA). Varia)l~rguetudo ai. Venha ca. Imedia tamente! (SAl Cot1 IACHA).(OLHANDO A HORA) Pois e . .. (PAUSA).

  • 5/14/2018 TCHEKHOV_O Jardim de Cerejeiras

    54/58

    VARIA:

    LOPAKHIN:VARIA:LOPAKHIN:VARIA;

    LOPAKHIN:

    VARIA:

    LOPAKHIN:

    Vl\RIA:LOPAKHIN:

    VARIA:

    LOPAKHIN:

    LIVBOV:Vl;RIA:

    - - - " '

    -53-

    (OUVEM-SE, ATRAS DA PORTA, RISOS, COCHICHOS E FINALNENTEENTRA VARIA).(PROCURANDO LONGAMENTE ENTRE AS PE~AS DA BAGAGEM) E es-quisito, nao sei mais onde guardei ...o que e que esta procurando?Eu mesma arrumei numa valise e agora ja n ao s ei o .. (J AUS A) .E agora? Para onde vai. Varvara Hikhailovna?Eu? Para a casa ~os Ragulin. Fiquei de cuidar d~ ca;a pa-ra eles. Uma espEcie de governanta, sei la, ..La em Iashnievo? A setenta quilometros daqui? (PAUS\) Acabou-se a vida nesta casaD(SEHPRE PROCURANIO ENTRE AS HALAS) Onde e que pe,de3star ...Quem sabe eu puz no fundo do bau... Pois e .,Acabou-s:;a vida nesta casa. N~o volta mais.E eu , agora, you para Kh.~rkov... no mcsrno "'crem.0 traba-lho nao pode esperar 0 Deixo 0 Epihodov aqui 0 V2ci -traba-lhar para mimeVai?!o ana passado, a esta altura, ja estava nevando , Le.abr-a ?E agora urn tempo tao born, fazendo sol ... ate.Alias :ja es-friou bastante ...Tres graus abaixo de zero ... (PAUSA).Nao sei. Nao olhei 0termometro. Alias, 0termometro que-brou. (PAUSA).(UMA VOZ DE FORA: YER1lOLAIALEXEIEVITCH! ).(COHO SE ESTIVESSE ESPERANDO SSE CHAMADO H A MUlTO TEMPO)J a you! (SAl RAFIDO).(VARIA SENTA-SE to CHAO, APOIA A CABEt;A NUHA TROUXA DEROUPA E CHORA BAIXINHO. ABRE-SE A PORTA. LIUBOV ANDRE~I EVN A E NT RA C AUT IL OS AM ENT E) .E entao? (PAUSA), Temos de iro(PAROU DE CHORARo ENXUGOU OS OLHOS) ~ mesrno, m~~esin-jaoAinda esta noite estarei em casa dos ~~gulin. f s6 n~o per-der 0trem

  • 5/14/2018 TCHEKHOV_O Jardim de Cerejeiras

    55/58

    LIUBOV:

    LIUBOV:ANIA:GAIEV:

    ANIA;VARIA:GAIEV:

    TROFD10V:LOPAKHIN:LIUBOV;

    GAIEV:

    LIUBOV:LOPAKHIN:

    EPIHC5DOV:LOPAKHIN:EPIHC5DOV:

    -54

    (PARA A PORTA) Ania, apronte-se!(ENTRA ANIA.DEPOIS DELA, GAIEV, CARLOTA IVANOVNA.ESTA DE SOBRETUDO DE INVERtJO E USA UMA ESPECIE JE

    GAIEVCAPUZ

    REG IONAL, CHAM ADO ilVACHILIKli CHEGAM EMPREGADOS, COCHEIROS.EPIHC5nov CUIDA DA BAGAGEM)0Agor a podernos corn 3gar nos se viagern...(COM ENTUSIASMO) ~ossa Viagern!Meus arnigos! Pr-ezados , carx.s arnigosrneus! 1.0 de i.xar' parasempre esta casa, e-me impossivel caLar . Antes oe pionun-ci.ar-0 derradeiro adeus , como corrt er-a expr-es seo dot: seri-timentos que me i .rvadem tOClO 0 ser?(SUPLICANTE) Titi)!Por favor, titio.,.( DECEPCIONADO) Ca =amboLa dt.p La e a ame r-eLa ao cerrt -ooEstacerto, nao digo mlis nada.(ENTRA TROFIHOV; JEGUIDO POR LOPAKHIN).Entao, pessoal! Ti na hora!Epih6dov, meu sobretudo .You ficar aqui serrt da , Urnminutinho -Q, Parece que eu,a~tes, nunca enxerguei as paredes, os tetos desta caSE' eagora estou olhando com uma voracidade, com urn carinho,com urn amor tao g;~.'ande.Eu me lembro, quando tinha seis anos, no dia da Santissi-m~ Trindade, fiquei sentado aqui, nesta j~nela, ~l~ar~omeu pai que saia para a Igreja,Ja levaram tudo?Acho que nao eaqu+cer-am nada. (PARA E'PIH6DOV, VESTINDO 0SOBRETUDO). Voce, Epihodov, va vel" se estao fazendo asc oi sa s d ir ei to .(ROUCO) Nao se preocupe, Yermolai Alexeievitch.Que aconteccu com sua voz?Fui Tomar urn gole d'agua, engoli alguma coisa. Ficot pre-sa na garganta ...

  • 5/14/2018 TCHEKHOV_O Jardim de Cerejeiras

    56/58

    IACrw_:LIUBOV:LOPAKHIN:VARIA:

    TRorH1:JV:

    TKOFIMOV:GAIEV:

    LIUBCV;LOPAKHIN;

    ANIA:TROFH10V:

    LOPAKHIN:

    GAIEV;LlUBOV;

    (COM DESD~M) Que estupidez!Nos nos vamos ... e aqui nao restara ninguem ...Ate a primavera.(COM UM MOVlMENTO BRUSCO, TlRA SUA SOMBRlNHA DECOTES E DA A lMPHESsAo DE QUE VAl ERGUt'~LA PAR\GUM. LOPAKHlN F~NGE QUE FICOU APAVORADO). Ora,nem pensava niss')!

    Ul1 DOS PAFF}IR AL~ore ~ eu

    Anda, pes soal. J. l esta na hora de Tomar 0 coch