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LUCIANA EASTWOOD ROMAGNOLLI
JORNALISMO CULTURAL EM CURITIBA:
ANÁLISE DO CADERNO G DA GAZETA DO POVO
Monografia apresentada à DisciplinaTrabalho de Conclusão de Curso comorequisito parcial à conclusão do Curso deComunicação Social – Jornalismo, Setor deCiências Humanas, Letras e Artes,Universidade Federal do Paraná.
Orientadora: Myrian Del Vecchio
CURITIBA
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SUMÁRIO
1 APRESENTAÇÃO....................................................................................................3
2 JUSTIFICATIVAS.....................................................................................................4
3 OBJETIVOS..............................................................................................................6
4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS.................................................................7
5 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.............................................................................11
5.1 JORNALISMO CULTURAL..................................................................................11
5.2 A INDÚSTRIA CULTURAL...................................................................................13
5.2.1 A Teoria Crítica..................................................................................................13
5.2.2 As Culturas........................................................................................................19
5.2.3 Reflexões Sobre o Jornalismo na Indústria Cultural..................... ...................23
5.2.3.1 A indústria cultural e o jornalismo no Brasil
...................................................27
5.3 HISTÓRIA DO JORNALISMO CULTURAL..........................................................30
5.3.1 A Trajetória do Jornalismo Cultural no Brasil....................................................34
5.3.2 O Jornalismo Cultural no Paraná......................................................................43
5.4 PANORAMA DO JORNALISMO CULTURAL CONTEMPORÂNEO....................50
5.5 GÊNEROS DO JORNALISMO CULTURAL.........................................................60
5.6 A PRÁTICA JORNALÍSTICA................................................................................64
6 O CADERNO G.......................................................................................................71
6.1 ANÁLISE DE CONTEÚDO...................................................................................89
6.1.1 Análise Quantitativa...........................................................................................89
6.1.1.1 Análise das capas do Caderno G de segunda-feira a domingo...................93
6.1.1.2 Análise das edições do Caderno G de segunda-feira a sábado...................97
6.1.1.3 Análise das edições dominicais do Caderno G..........................................102
6.1.1.4 Análise quantitativa geral das 35 edições do Caderno G...........................105
6.1.2 Análise Qualitativa...........................................................................................110
6.1.2.1 Conclusões da análise qualitativa................................................................131
7 CONCLUSÃO FINAL............................................................................................137
REFERÊNCIAS........................................................................................................140
APÊNDICES.............................................................................................................143
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1 APRESENTAÇÃO
O presente trabalho traz um estudo histórico do jornalismo cultural impresso,
seu desenvolvimento no Brasil, as relações com a indústria cultural e com as rotinas
de produção de uma redação. Com base em tais pressupostos e no panorama atual
do jornalismo cultural, o objeto de estudo passará a ser o Caderno G, caderno de
cultura do jornal paranaense Gazeta do Povo, na busca de características que o
identifiquem e revelem como é o jornalismo cultural impresso realizado atualmente
em Curitiba pelo único veículo do estado que mantém uma equipe de jornalistas decultura.
A segunda etapa do trabalho consistirá no exame de 35 edições seqüenciais
(cinco semanas) do Caderno G, em que serão analisados quantitativa e
qualitativamente os textos publicados para traçar o perfil da publicação e situá-lo,
criticamente, no universo mais amplo do jornalismo cultural praticado nos jornais
brasileiros. A análise contemplará o conteúdo da publicação, concentrando-se na
produção das mensagens veiculadas – sem entrar nos méritos dos estudos de
recepção. Desta forma, a proposta do trabalho é compreender, a partir da
participação dos produtores, o jornalismo realizado na principal editoria de cultura
impressa paranaense, no caso, o Caderno G.
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2 JUSTIFICATIVA
O jornalismo cultural nasceu com a urbanização do país, na virada do século
XIX para o século XX, e acompanhou o desenvolvimento e a consolidação da
indústria cultural no Brasil, alterando-se conforme as modificações sofridas pelo
campo sócio-cultural. O cenário atual é conseqüência direta da fase pós-
industrialização da economia, em que há abundância de bens culturais (músicas,
filmes, livros, quadrinhos, coleções de moda, exposições de arte, etc.) produzidos e
consumidos como mercadoria, ou seja, sob a lógica industrial. O jornalismo culturalinsere-se duplamente nessa lógica: ao preencher suas páginas com os produtos
artístico-culturais e por ser, ele próprio, um produto da indústria de bens de
consumo. A passagem para um jornalismo cada vez mais pautado pelos produtos
culturais coincide com o aumento das críticas negativas em relação à qualidade do
jornalismo cultural produzido no país, apontado por diversos intelectuais e jornalistas
como cada vez mais fraco – menos argumentativo e opinativo, mais orientado ao
consumo dos bens culturais.
A cultura, quando se tornou temática jornalística, apareceu, primeiro,
distribuída em matérias no corpo dos jornais. Depois, já mais valorizada, ganhou
espaço próprio em suplementos culturais (literários, em sua maioria) semanais ou
quinzenais. Só em meados do século XX apareceram os cadernos culturais, que
hoje estão presentes nos grandes e médios jornais do país. É o caso, por exemplo,
do Caderno 2 , de O Estado de S. Paulo, da Ilustrada, da Folha de São Paulo, do
Segundo Caderno de O Globo e do Caderno B do Jornal do Brasil .
Em Curitiba, o Caderno G é o espaço diário destinado à cultura no jornal de
maior circulação do Paraná, a Gazeta do Povo. O caderno perdeu tamanho nos
últimos anos (é veiculado com apenas quatro páginas durante a semana, uma delas
ocupada por “serviços” como a programação de cinemas, teatros, museus e horários
televisivos), mas ainda é a referência em jornalismo cultural diário no estado. E
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como tal, é o principal veículo impresso local para divulgação da cultura, referência
para artistas e público, espaço de legitimação de produtos e manifestações culturais.
A análise do Caderno G no contexto do panorama contemporâneo do
jornalismo cultural justifica-se, portanto, pela importância local da publicação. Afinal,
como é o caderno de cultura a que tem acesso o público local? Para determinar o
perfil do jornalismo cultural produzido na cidade e suas relações com o contexto
geral do jornalismo de cultura contemporâneo, este trabalho foi realizado.
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3 OBJETIVOS
O objetivo geral deste trabalho é traçar o perfil do caderno diário de cultura
da Gazeta do Povo, de modo a refletir sobre o jornalismo cultural praticado pelo
principal caderno dedicado à editoria no Paraná.
Os objetivos específicos, por sua vez, são:
1) Apontar as diretrizes, características e vícios presentes na publicação –
os temas mais pautados, enfoques recorrentes, etc.,
2) Identificar semelhanças com o jornalismo cultural contemporâneo emgeral e especificidades locais,
3) Comprovar ou desmerecer a hipótese de perda de qualidade do caderno.
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4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A pesquisa pode ser considerada, de acordo com MINAYO (1993, p.23)
“uma atividade de aproximação sucessiva da realidade que nunca se esgota,
fazendo uma combinação particular entre teoria e dados”. Neste trabalho, tal ajuste
entre material teórico e outros dados obtidos passaram por diferentes abordagens
metodológicas de forma a aprofundar o tratamento do assunto, aumentar as
possibilidades de apreensão dos significados envolvidos e evitar que as conclusões
sejam limitadas pelos métodos de coleta e análise utilizados.O primeiro passo para a aproximação do tema estudado nesta monografia
foi a revisão bibliográfica. Foram recuperados os principais conceitos e críticas
relacionados à idéia de “indústria cultural”, a fim de delinear o contexto das
mudanças sofridas pelo jornalismo e pelas relações culturais. Tendo em vista igual
finalidade, assim como o desenvolvimento histórico do jornalismo de cultura, fez-se
necessária uma breve reconstituição da história do jornalismo cultural em geral, no
país e no estado do Paraná.
Contextualizados os antecedentes do tema, emergiu o ponto de
aproximação com os objetivos gerais e específicos deste trabalho: registrar o
panorama atual do jornalismo, com base nas críticas e apontamentos de
profissionais estudiosos da área. As reflexões sobre o jornalismo cultural atualmente
praticado no Brasil reforçam o escopo teórico para que a análise do caderno de
cultura do jornal Gazeta do Povo não se dissocie do contexto maior da atividade no
país – ao contrário, para que o Caderno G possa ser situado como integrante dessa
conjuntura. Nesta etapa, mais do que nas outras, grande parte das fontes estava
disponível na internet – a bibliografia impressa do tema é restrita. O procedimento
para seleção de fontes confiáveis foi a análise das referências. Portanto, foram
consultados para esta monografia artigos de jornalistas publicados em sites de
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cultura respeitados (quando não o próprio autor já um profissional respeitado na
área) e trabalhos acadêmicos desenvolvidos em universidades.
Como os objetivos desta monografia configuram-se no terreno da produção
das mensagens jornalísticas, quaisquer questionamentos pertencentes ao campo da
recepção da mensagem estão à margem do proposto e não são de interesse do
estudo. Tal delimitação justifica a inserção de teorias a respeito da prática
profissional do jornalista no referencial teórico, visto que são as variáveis de
produção que influem diretamente no objeto de análise. Para avaliação do material
jornalístico produzido pela equipe do Caderno G, tornou-se necessária a análise deconteúdo, método que consiste na descrição objetiva, quantitativa e sistemática do
objeto com a finalidade de inferir – a partir dos indicadores de freqüência –
resultados que caracterizem ou revelem causas e efeitos da mensagem
comunicativa analisada. Ou seja, o trabalho não se limita à retirada de dados brutos
categorizados, abrange as conclusões que as relações entre os dados permitem.
Três fases integram a análise de conteúdo. A primeira, organizacional, é a
pré-análise, ou seja, a seleção dos documentos, a formulação de hipóteses e das
categorias necessárias para que sejam fornecidos dados que, quando interpretados,
possam elucidar as questões propostas pelo trabalho. A segunda consistiu em
explorar o material obtido. Por fim, foram feitas as inferências e interpretações dos
resultados. O processo compreendeu a analise quantitativa, a princípio, e a posterior
análise qualitativa que proporcionou significados às respostas obtidas.
A pesquisa quantitativa serviu para a mensuração de categorias básicas de
análise – o início do delineamento do material publicado no Caderno G. Foi realizada
a tabulação dos dados obtidos nas categorias então estabelecidas e a posterior
interpretação, com o cálculo percentual dos indicadores que se revelaram
concludentes. Para identificar o perfil do caderno – ou seja, determinar hábitos,
limitações e caracterizar a publicação – foram analisadas neste trabalho 35 edições,
publicadas no período entre 4 de setembro de 2005 (domingo) e 2 de outubro do
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mesmo ano (sábado). A amostragem é representativa por corresponder a cerca de
10% das edições do caderno publicadas em um ano, com igual número de edições
por dia da semana. O intervalo de análise é seqüencial e foi escolhido
aleatoriamente.
A pesquisa qualitativa completa o processo produzindo significados não-
quantificáveis. Segundo MENEZES e SILVA (2001, p.20), a abordagem qualitativa
“considera que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um
vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não
pode ser traduzido em números”. O método é descritivo. A pesquisa qualitativadivide-se em dois momentos neste trabalho. No primeiro, realizaram-se entrevistas
com os produtores do Caderno G, a fim de identificar as condições de trabalho e os
pontos de vista dos produtores em relação ao jornalismo cultural em si e ao caderno
da Gazeta do Povo especificamente.
Foi desenvolvido um questionário (vide APÊNDICE 1) aberto como modelo
inicial para as entrevistas, que levanta questões relacionadas desde à formação dos
jornalistas, ao interesse pela área, à rotina de trabalho, até a auto-crítica e a
avaliação do caderno que produzem. O questionário desenvolvido é flexível (não-
estruturado), ou seja, o entrevistador pode alterar ou acrescentar questões de
acordo com o transcorrer da entrevista. A amostragem inclui seis dos sete repórteres
do Caderno G, o editor e a mais recente ex-membro da equipe – uma repórter
despedida no primeiro dia do período analisado nesta pesquisa (04 set. 2005).
Decidiu-se por sua inclusão pela proximidade temporal com o objeto de estudo e
pelo fato de, desligada de vínculos empregatícios, estar livre para fazer suas
considerações. Acrescenta-se o fato de a repórter ter sido despedida por – uma das
causas, segundo a própria e colegas da equipe – opor-se à condução editorial do
caderno. Não se pretende, com isso, tomar por verdade absoluta as opiniões da
repórter, mas contrapor diferentes pontos de vista sobre a editoria de cultura na
Gazeta do Povo.
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Em um segundo momento, a análise qualitativa foi aplicada às edições do
Caderno G em estudo, com a seleção dos conteúdos relevantes e representativos
para serem examinados qualitativamente, em complementação aos resultados
verificados durante a etapa quantitativa. Ao objeto de análise foram aplicados os
métodos indutivo (fundamentado na experiência e na formulação de generalizações
a partir de casos reais e concretos) e dialético (considera as contradições e não
dissocia o objeto de estudo do contexto social, político e econômico).
Além da pesquisa quantitativa e qualitativa, este trabalho consta – sem
destaque para o método – da observação individual participante, uma vez que opesquisador estagiou no Caderno G entre os meses de fevereiro e março de 2005,
período em que acompanhou a rotina e organização do caderno e a elaboração das
reportagens. A experiência trouxe à tona as questões investigadas por esta
monografia, serviu como base para o planejamento da pesquisa e pode ser útil para
pontuações no desenvolvimento do estudo.
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5 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
5.1 JORNALISMO CULTURAL
A delimitação do campo do jornalismo cultural começa com uma questão
essencial: O que é cultura? A pergunta, aparentemente simples, é a entrada para a
complexidade em que estão inseridas as atividades do jornalismo cultural. A cultura
possui variedade de significados dependendo da abrangência que lhe for dada. A
definição mais ampla considera que toda a intervenção do homem sobre a natureza
é cultura – desde o cultivo agrícola. “Quando pensamos em cultura, pensamosportanto, em todas essas questões: a relação do homem sobre a natureza, o
domínio, ou melhor, a consciência humana do tempo e a interação simbólica
produzida por essa relação na dimensão passada, presente e futura.” (TEIXEIRA,
2005)
Quando apenas o aspecto simbólico é considerado, surge outra concepção
de cultura, que concentra todo o sistema de significações e símbolos de um grupo
social, as intervenções humanas em um ambiente natural. É ainda uma abordagem
ampla, na qual se encaixa a sociologia, a antropologia, a lingüística, a arte e até
mesmo o jornalismo. “O que se pode dizer desde logo, e isto deve dar a exata
dimensão do fenômeno, é que a expressão ‘jornalismo cultural’ revela-se
consideravelmente tautológica - porque jornalismo é, em ampla medida, apenas um
outro nome para cultura, o modo atual da cultura”. (COELHO 1, citado por ROSA,
2005).
Na prática do jornalismo cultural, no entanto, é preciso restringi-la, de forma
que cultura, dentro dos cadernos jornalísticos específicos, passa a significar o
campo das manifestações artísticas e intelectuais. A cultura, nesse contexto, fica
entendida como expressão de “idéias, valores, atitudes e criatividade artística e que
1 COELHO, Teixeira. Modos culturais pós-modernos. Revista da USP. São Paulo, nº 29, fev, 1996, p.101.
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oferecem entretenimento, informação ou análise” (COELHO2, citado por ROSA,
2005).
Os campos de atuação mais evidentes, portanto, das editorias de cultura,
são a arte tradicional (artes plásticas, teatro, dança, música, literatura e arquitetura)
e as novas manifestações artísticas, como o cinema e a fotografia. “Para muitos, um
conceito contemporâneo de jornalismo cultural deve abranger um universo amplo de
práticas que não se restringe às artes consagradas e artes de massa”. (BUITONI,
2000, p.58) Assim, o jornalismo cultural trata ainda de idéias, entretenimento,
artesanato, patrimônio histórico, moda, publicidade, culinária, história emquadrinhos, design e outras produções humanas ligadas à arte ou ao intelecto. E
trata de comportamento, ou seja, os “fenômenos sócio-culturais no sentido amplo,
isto é, que não se vinculam claramente a um certo tipo de arte. Seu território por
excelência são as tendências da vida noturna e os modismos sazonais”. (DAPIEVE,
2003, p.100). Se todos esses temas serão contemplados nas páginas dedicadas à
cultura em um veículo impresso ou não, dependerá de variáveis como a política
editorial da publicação e as áreas de interesse e de conhecimento dos profissionais
envolvidos (pauteiros, repórteres, editores).
Atualmente, o jornalismo cultural tem recebido a crítica de pautar-se pelos
temas da indústria cultural, agendado pelos produtos e lançamentos do mercado.
“No jornalismo cultural, a liberdade de pauta e o trabalho de reportagem estão sufocadospela ordem do mercado. O jornalista passa a fazer o papel de correia de transmissão deuma indústria determinante do que deve ou não ser publicado. Poucas são as vezes em queos veículos conseguem apresentar alternativas para o consumo cultural, ou mesmo,alternativa de um produto jornalístico empenhado em apresentar algo novo, mesmo queseja de produtos massificados.” (ROSA, 2005)
O panorama do jornalismo cultural praticado hoje será discutido
posteriormente. Para tanto, o próximo item trata do debate travado em torno da
indústria cultural, desde a criação do termo por Theodor Adorno.
2 COELHO, Teixeira. Dicionário Crítico de políticas culturais. São Paulo: Iluminuras, FAPESP, 1997.
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5.2 A INDÚSTRIA CULTURAL
Não se pretende aqui esgotar a discussão sobre a indústria cultural, que
mobiliza intelectuais discordantes e defensores dessa teoria, com opiniões
extremadas ou mediadoras, devido à amplitude do tema e de seus desdobramentos.
O que este item traz é a conceituação de indústria cultural, as questões referentes à
valorização da arte e aos tipos de cultura, sob o ponto de vista da teoria crítica
elaborada pelos teóricos frankfurtianos, e algumas reflexões quanto à culturadesenvolvidas a partir daí, com ênfase às críticas feitas à formulação original
frankfurtiana que analisa o papel da indústria cultural, evitando o raciocínio
maniqueísta. O desenvolvimento do tema deve esclarecer o poder de intervenção
(ou influência) da indústria sobre a cultura, ainda que não seja possível mensurá-lo
precisamente, de forma a pintar o cenário em que se desenrola o jornalismo cultural
hoje, e assim, em um segundo momento, propiciar a análise do panorama atual da
atividade.
5.2.1 A Teoria Crítica
Segundo Edgar MORIN, no século XX o poder industrial estende-se pelos
continentes e ocorre uma segunda industrialização: a industrialização do espírito.
“Não há dúvidas de que já o livro, o jornal, eram mercadorias, mas a cultura e a vida
privada nunca haviam entrado a tal ponto no circuito comercial e industrial (...)”.
(1975, p. 9)
A indústria cultural , denominação proposta por Theodor Adorno em 1947, é
o momento do capitalismo em que a lógica industrial impõe-se à cultura, a produção
artística é racionalizada, a criação torna-se bem de consumo e o público transforma-
se em consumidor. A industrialização da cultura desenvolve-se a partir da segunda
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metade do século XIX, propiciada pelo somatório de fatores pós-Revolução
Industrial: urbanização da população, existência de uma economia de mercado e
formação de uma sociedade de consumo (burgueses e assalariados). A discussão
sobre a indústria cultural foi objeto de interesse de um grupo de pensadores do
Instituto de Pesquisas Sociais de Frankfurt, Alemanha, fundado em 1923, formado
por Theodor Adorno, Walter Benjamin, Jürgen Habermas, Max Horkheimer e Hebert
Marcuse, entre outros.
As teorizações de Adorno, Horkheimer e Marcuse seguiam a distinção alemã
entre “cultura” e “civilização” . A cultura seria o mundo das idéias, dos sentimentoselevados, do lazer, da interioridade, da liberdade e da arte; já a civilização
corresponderia à reprodução material da vida, ao trabalho e ao sofrimento humano.
Tal separação seria o mecanismo que permite a exploração e a alienação do
trabalho, oferecendo em contrapartida a promessa de felicidade por meio dos bens
culturais. Entretanto, logo o modelo não era mais capaz de sustentar o sistema de
reprodução material e de manter o trabalhador obediente (ou submisso). Outro
mecanismo fazia-se necessário.
Ocorre, então, a absorção da cultura pelo sistema de produção de bens
materiais, renovando as formas de interação e consumo cultural. Os bens culturais,
antes produtos de luxo destinados à elite burguesa, tornam-se bens de consumo de
massa. Essa transformação foi viabilizada pelas tecnologias que permitiram a
reprodução em série de obras de arte (a criação de cópias para consumo pela
massa), transformando-a em mercadoria submetida à lógica de mercado capitalista.
É a indústria cultural, fenômeno da produção de cultura para consumo massivo.
A indústria cultural subjugou a produção e a distribuição culturais às leis de
mercado – antes, apenas a circulação estava sob as regras do lucro. As
características internas da obra de arte – espontaneidade da criação artística,
complexidade e relação entre artista e público – perdem espaço para a técnica, para
a motivação externa que fará do produto um bem com status artístico. A baixa
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qualidade das produções é justificada pelo “gosto do público”, que a própria indústria
tratou de esterilizar política, ideológica e culturalmente. Os meios eletrônicos de
comunicação seriam também determinantes no processo de produção e reprodução
dos bens culturais – cada vez mais padronizados e homogeneizados. Adorno não vê
a tecnologia como má em si, o mal é dado pelo contexto econômico, político e social
dos interesses burgueses em que está inserida.
A obra de arte passa a depender do valor de troca e de uso, ou seja, “deixa
de ter o caráter único, singular, deixa de ser a expressão da genialidade, do
sofrimento, da angústia de um produtor (artista, poeta, escritor) para ser um bem deconsumo coletivo, destinado, desde o início, à venda, sendo avaliado segundo sua
lucratividade ou aceitação de mercado e não pelo seu valor estético, filosófico,
literário intrínseco”. (FREITAG, 1986, p.72). Segundo Adorno, a obra de arte (no
caso a música) já trazia o circuito da mercadoria previsto em sua produção. As
poucas que fugiam dessa realidade seriam as menos acessíveis e compreensíveis,
como certas composições eruditas. É uma visão elitista de cultura que será criticada
adiante.
A indústria de bens culturais atende aos mesmos princípios de outras
produções industriais: “O uso crescente da máquina e a submissão do ritmo humano
de trabalho ao ritmo da máquina; a exploração do trabalhador; a divisão do
trabalho.” (COELHO, 1980, p.10) Produzida pelas normas da indústria, a cultura
perde seu caráter crítico e de conhecimento para tornar-se um produto consumível,
padronizado. Os produtos da indústria cultural repetem as normas sociais sem
questioná-las, ou seja, sem propiciar ao indivíduo a reflexão sobre si e sobre o meio
em que vive – ao contrário, os padrões sociais são reforçados e promove-se o
conformismo social.
Os produtos culturais são simplificados de forma a requerer apenas uma
atitude passiva do receptor e promovem “a deturpação e a degradação do gosto
popular”. (COELHO, 1980, p.26). Segundo os frankfurtianos, a indústria cultural faz,
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por meio do consumo, com que as massas não percebam a realidade alienada em
que vivem, anulando a reflexão e a crítica. Esta noção de massa alienada e
inteiramente submissa foi questionada por alguns autores, sobre os quais este
trabalho tratará. Mesmo dentro da Escola de Frankfurt, houve quem discordasse da
idéia que Horkheirmer e Adorno tinham da arte. Habermas criticou-os pelas visões
tradicionais, limitadas e idealistas, pelas análises a partir do conceito de arte
burguês e por insistirem que o desenvolvimento do sistema capitalista destruiria a
arte – Habermas via outro futuro para a arte: a mudança de caráter e função.
Já o foco de atenção de Benjamin era a questão da reprodutibilidadetécnica. Para o autor, a arte conquista nos séculos XVIII e XIX uma independência
que até então desconhecia, antes submetida à religião e ao valor ornamental. Ele
propôs duas categorias de análise das obras, para o entendimento da relação entre
produção e consumo: “valor de culto” e “valor de exposição” (inverso à dificuldade de
acesso à obra). “Na medida em que o mundo se dessacraliza, a obra de arte vai
sendo liberada para o olhar do espectador. Mas o valor de culto não desaparece”
(FREITAG, 1986, p.75).
Benjamin pensa a obra de arte como possuidora de uma “aura”,
caracterizada pela distância do espectador (ainda que dele esteja perto) e pela
raridade ou “unicidade” (FREITAG, 1986, p.75). A industrialização da cultura tira da
obra de arte sua aura ao transformá-la em mercadoria, não mais única e singular.
Perdido o valor de culto, o valor de exposição aumenta ao ampliar-se o acesso da
população à obra, e um novo valor emerge: o de consumo. MORIN contradiz o
argumento de que a reprodutibilidade rouba a aura das produções culturais,
afirmando que a atualidade e o original mantêm seu valor. “O disco não suprime a
cerimônia que é o concerto. A reprodução do quadro não reduz em nada o valor
mitificado do original.” (1975, p. 44)
Benjamin não vê a reprodução como um desvirtuamento da obra de arte,
mas como um processo que modificaria a percepção do consumidor.
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“A moderna obra de arte, como a fotografia e o cinema (hoje acrescentaríamos a televisão,
o vídeo e o lazer), ao provocarem mudanças na percepção e nas atitudes dos
consumidores, estariam modificando esses mesmos consumidores. Por isso mesmo a obrade arte pode servir como instrumento de politização (Benjamin estava, na época, fortementeinfluenciado por Bertholt Brecht), mas também de instrumento de redução de tensões ...”.(FREITAG, 1980, p.76)
O papel politizador visto por Benjamin indica um ponto de concordância
entre ele, Adorno, Horkheimer e Marcuse: a crença na dupla função da cultura na
sociedade. De um lado, representar e consolidar a ordem vigente, por outro, ser o
instrumento capaz de criticar tal ordem.A capacidade crítica da arte foi expressa por Adorno na elaboração da
Teoria Estética. Para ele, a arte seria a antítese à sociedade massificante, o único
espaço de crítica, verdade e auto-reflexão que sobrava no capitalismo. “A teoria
estética procura desvendar na obra de arte sua essência, seu verdadeiro caráter de
negadora (e contestadora) do real estabelecido, sem submetê-la a sistemas
conceituais coerentes ou ao processo de produção e reprodução da mercadoria.“
(FREITAG, pág. 84) A teoria estética era um reduto capaz de evitar que a arte –
vista como a representação do real e de suas contradições – perdesse sua
complexidade e se dissolvesse no cotidiano.
A visão negativa da escola de Frankfurt em relação à industria cultural
estendeu-se ao jornalismo, que por submeter-se às regras industriais da sociedade
capitalista foi considerado outro instrumento de controle e reprodução da ideologia
burguesa, alienador e manipulador, sem espaço para a crítica do status quo. As
principais idéias sobre o tema foram analisadas por Adelmo Genro Filho, que se
propôs a superar o reducionismo frankfurtiano sem descartar a visão crítica da
Escola.
Genro Filho acusa Adorno e Horkheimer de sustentarem uma “recusa
abstrata”, ou seja, a crítica negativa por si só, atitude pessimista que não propõe
opções de saída positivas para a arte e a cultura na sociedade capitalista. Adorno
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não perceberia “as potencialidades democráticas e a realidade contraditória,
geradas pelos meios de comunicação de massa do capitalismo moderno” (GENRO,
1987, p.95). Daí viria sua noção do jornalismo como um fenômeno mercantil
alienado e alienante.
Habermas formulou teorias sobre o jornalismo, dividindo-o em três fases. A
primeira era informativa, mantida por pequenas empresas artesanais com objetivos
comerciais. Na segunda, a opinião ganhou espaço (o “jornalismo literário”) e os
jornais passaram a instrumentos de legitimação burguesa. Na terceira e atual, os
jornais são empresas capitalistas que, com o estado burguês já estabelecido e ocrescimento da publicidade, voltam-se novamente aos interesses comerciais. Esta
fase é, para Habermas, um retrocesso em relação à anterior – a opinião dos
proprietários privados substitui a possibilidade de expressão da “opinião pública”,
composta por cidadãos, e perde-se a capacidade crítica do jornalismo. Além disso,
com a comercialização, a imprensa torna-se manipulável.
Habermas considerou apenas o fator capital no desenvolvimento do
jornalismo. Tal limitação é criticada por Genro Filho, para quem o capitalismo não
criou falsas necessidades – as novas necessidades de informação existem, o que o
capitalismo faz é distorcê-las e aproveitar-se delas para lucrar. A crítica estende-se à
obra de Ciro Marcondes Filho, O Capital da Noticia, que nega o valor de uso da
notícia no jornalismo atual – o “valor de troca” teria subjugado o “valor de uso” real,
restando apenas, na notícia-mercadoria, o “valor de uso aparente”. Para Genro
Filho, a notícia comercializada não perdeu o valor de uso, sem o qual o valor de
troca não se realiza. “O espaço ocupado pelas notícias e reportagens, mesmo que
secundários conforme a ótica puramente econômica, deve corresponder a uma
necessidade do público consumidor para que o espaço publicitário seja valorizado.”
(GENRO, 1987, p. 109-110). Habermas teria cometido equívoco semelhante. Sua
divisão do jornalismo desconsidera o próprio objeto de análise, ou seja, a notícia
como valor de uso.
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A terceira fase do jornalismo, para Genro Filho, é uma síntese das duas
primeiras e as informações jornalísticas fazem parte das novas necessidades da
sociedade capitalista. Segundo RIBEIRO: “Os capitalistas não inventaram a
necessidade de informação; eles transformaram em lucro o que captaram do público
– a notícia tem real valor de uso na democratização da informação e das
oportunidades de inserção na sociedade.” (1994, p. 107). Existem outras
divergências entre Marcondes e Genro Filho. O primeiro, influenciado pela ideologia
marxista, acredita que a imprensa deve funcionar como instrumento de classe; o
segundo crê que só quando a imprensa ultrapassa a função política assume ocaráter jornalístico: suprir necessidades reais de informação.
5.2.2 As Culturas
A conceituação de indústria cultural recebeu diversas críticas relacionadas à
visão maniqueísta que Adorno e Horkheimer teriam do sistema capitalista e da
sociedade burguesa. Os dois desconsideravam a possibilidade de novas relações
políticas e artísticas que a reprodutibilidade técnica criava e acreditavam que o
controle e a manipulação exercidos pela indústria cultural sobre as massas era
quase onipotente. O pensamento frankfurtiano é estruturado sobre dois pólos
culturais: a cultura tradicional burguesa, única “superior”, e a cultura de massa,
produzida de forma industrializada, necessariamente “inferior”. Nesta oposição está
o grande motivo de crítica às teorias da Escola de Frankfurt sobre a indústria
cultural.
COELHO (1980, p.18) discorda da separação total das culturas. Segundo o
autor, “deve-se lembrar que freqüentemente, ao longo da história, a passagem de
um produto cultural de uma categoria inferior para outra superior é questão de
tempo. É o caso do jazz...”. Para Alan Swingewood, a concepção de cultura de
Adorno, Horkheimer e Marcuse é elitista e evidencia um desprezo pelas massas.
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Swingewood vai além em sua crítica, afirmando que a cultura é uma manifestação
humana que não pode ser reduzida a um instrumento de dominação.
O equilíbrio entre os pensamentos de Swingewood e de Adorno é
estabelecido por Adelmo Genro Filho, que crê haver limites para o controle do
capital sobre a cultura, devido às contradições internas, com potencial crítico e
transformador, nascidas da própria cultura de massa. Mas a dominação não pode
ser ignorada: “O predomínio do critério mercantil desde a concepção até a produção
das obras, o forte traço manipulatório da ideologia dominante nessa cultura, sua
tendência à padronização e ao rebaixamento do nível estético da maioria de seusprodutos são algumas das características indiscutivelmente reais da cultura
burguesa atual.” (GENRO FILHO, 1987, p.103-104)
Medina classifica a visão adorniana de cultura de massa de “apocalíptica”,
por não reconhecer nem “o prazer como sublimação do cotidiano” como um aspecto
positivo da cultura de massa. Também critica Adorno e os autores que o seguem
por olharem a cultura do ponto de vista da elite, menosprezando a massa. “Os
críticos – diz [Jean] Lohisse [Paris, 1969] – não são capazes de ver que os
conteúdos, aparentemente insignificantes, são capazes de assegurar a difusão de
informações, de suscitar curiosidades, alargar horizontes”. (MEDINA, 1988, p. 37)
Edgar Morin diagnostica a existência, dentro da classe intelectual ou
“cultivada”, de resistência à cultura de massa:
“Desdenha-se com altivez a cultura de massa nos lugares onde reinam os esnobismosestéticos, as receitas literárias, os talentos afetados, as vulgaridades convencionais. (...)Tudo parece opor a cultura dos cultos à cultura de massa: qualidade à quantidade, criação àprodução, espiritualidade ao materialismo, estética à mercadoria, elegância à grosseria,saber à ignorância. Mas antes de nós perguntarmos se a cultura de massa é na realidadecomo a vê o culto, é preciso nos perguntarmos se os valores da “alta cultura” não sãodogmáticos, formais, mitificados, se o “culto da arte” não esconde muitas vezes um
comércio superficial com as obras.” (MORIN, 1975, p.14)
E contesta o aprisionamento que a divisão das culturas faz ao delegar à
burguesia a cultura superior e à massa a inferior.
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“No começo do século XX, as barreiras de classes sociais, das idades, do nível deeducação, delimitavam as zonas respectivas da cultura. A imprensa de opinião sediferenciava grandemente da imprensa de informação, a imprensa burguesa da imprensa
popular, a imprensa séria da imprensa fácil. (...) Na verdade as estratificações sãoreconstituídas no interior da nova cultura. Os cinemas de arte e os cinemas de circuitopopular diferenciam o público cinematográfico. Mas essa diferenciação não é exatamente amesma das classes sociais. Os programas e sucessos do cinema de arte nem semprecoincidem com os dos circuitos comuns, mas muitas vezes são os mesmos.” (MORIN, 1975,p. 30, 33)
A discriminação da cultura acessível ao povo, por parte da elite, surgiu antes
da indústria cultural. “No século passado [XIX], vista como ‘cultura dos incultos’, a
cultura popular já é sentida como diferente da erudita. O burguês crê viver ‘racionalmente’ o progresso; já o homem do povo viveria miticamente as tradições.”
(BOSI, 1986, p.66). MORIN contesta a superioridade da cultura da elite e, ao
contrário de Adorno, não vê a formação da indústria cultural como a decadência da
arte. “A velha ‘alta cultura’ tinha horror ao que revolucionava as idéias e as formas.
Os criadores se esgotavam sem impor sua obra. Não houve idade de ouro na cultura
antes da cultura industrial.” (1975, p.43)
Para o autor, a cultura massiva, destinada a “uma massa social, isto é, um
aglomerado gigantesco de indivíduos compreendidos aquém e além das estruturas
internas da sociedade (classe, família, etc.)” (MORIN, 1975, p.10), não é a única na
qual está inserida a população capitalista. “Ela [cultura de massa] se acrescenta à
cultura nacional, à cultura humanista, à cultura religiosa, e entra em concorrência
com essas culturas. As sociedades modernas são policulturais”. (1975, p.11).
A cultura à qual a população tem acesso pode ainda ser dividida conforme
sua procedência. A massiva seria imposta pelos detentores dos meios de produção
aos consumidores, ou seja, de cima para baixo; enquanto a popular surge no interior
da sociedade. Esta segunda seria criada pelo povo – e não para o povo, como a
cultura de massa. De tal diferenciação, surge outra concepção maniqueísta: a
cultura feita pelo povo (aí incluídas, principalmente, as manifestações folclóricas)
seria essencialmente boa, enquanto a de massa seria necessariamente nociva.
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Armand Mattelart, teórico da comunicação com influência frankfurtiana, critica a
dominação ideológica da cultura de massa, contrapondo-a à cultura popular – que
ele iguala às culturas nacionais, como se a dominação ocorresse apenas de um país
pelo outro, não dentro de um país, de uma classe pela outra. A conseqüência de sua
visão simplista é que manifestações culturais vindas de impérios capitalistas, como
os Estados Unidos, seriam necessariamente ruins, enquanto as produções da
cultura popular seriam invariavelmente boas e deveriam ser preservadas. A cultura
assume, assim, a mesma problemática da dependência econômica dos países
subdesenvolvidos. Teixeira COELHO é contrário a essa linha de pensamento quedefende incondicionalmente a cultura popular. “Os mesmos excessos de valorização
da cultura superior, diante da de massa, também são encontrados na defesa da
popular diante da pop [massa]”. (1980, p. 30)
A divisão de categorias culturais de Ecléa Bosi é ainda mais precisa. Para a
autora, o binômio cultura erudita x cultura popular subdividiu-se a partir da revolução
industrial, formando quatro categorias: cultura erudita e kitsch x cultura popular e de
massa. “À medida que a indústria cultural substitui o folclore, ela procura dar a seus
produtos uma aura populista ou popularesca [massa]. Junto a outro mercado, à
medida que a indústria adapta a arte cultural ao consumidor, ela dá a seus produtos
o caráter de “midcult” [cultura média] e de Kitsch.” (BOSI, 1986, p.68) A perda do
caráter dual da cultura acompanha a divisão da sociedade em várias classes – não
mais a relação senhor x servo da sociedade feudal.
Bosi destaca a pluralidade de grupos sociais (do operariado à burguesia,
passando por classe média inferior, meia e alta) como fator de desnivelamentos e
interpenetrações entre a alta cultura e a cultura de massa.
“Um setor considerável da população, extraído das classes médias, mas não
exclusivamente, é capaz de consumir e de fruir objetos culturais menos primários que osoferecidos pela ‘mass cult’ [cultura de massa]. Para satisfazer as exigências desse público,intermediário entre o refinado e o massificado, existe uma cultura média. A ‘midcult’ tem-sepor séria e digna. (...) No entanto, qualquer pessoa realmente culta e medianamente dotada
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de espírito crítico sabe que as revistas ‘midcult’ simplificam até aguar de todo as grandes
correntes de pensamento e de arte de nosso tempo...” (BOSI, 1968, p. 77-78).
Além de buscar produções culturais mais elaboradas, existe entre apopulação o desejo de individualizar-se. “O público médio quer diferir da massa. Ser
diferente é seu supremo desejo. Há uma indústria do ‘diferente’ (...) Se a vanguarda
artística produz alguma forma de original, ela é de pronto solicitada a comunicar ao
público médio suas descobertas.” (BOSI, 1986, p. 80) A tentativa de diferenciar-se é
absorvida para o interior da indústria cultural por meio do Kistch, que aparentemente
dissemina os estilos da cultura superior, mas distancia-os de seu contexto, retira-
lhes a ideologia e o potencial crítico. É o caso, por exemplo, de uma reprodução em
cartaz da pintura Guernica (Pablo Picasso, 1937) transformar-se em decoração de
parede.
Ao considerar os conteúdos das mensagens produzidas no contexto da
indústria cultural determinantes para o julgamento de se o produto é bom ou mau,
revelador ou alienante, parte-se de um critério baseado na subjetividade, no ponto
de vista ideológico de quem julga. Aí sobrevive o preconceito totalizador da camada
intelectual contra a massa. “O que não parece ter mudado muito foram as atitudes
críticas dos intelectuais mais exigentes que (...) acusam essa cultura de massa de
não ser cultura, mas indústria; de não ser orgânica e co-natural aos leitores que
atinge, mas exterior a eles e manipuladora da sua inteligência e da sua
sensibilidade.” (BOSI, 1986, p.75)
5.2.3 Reflexões Sobre o Jornalismo na Indústria Cultural
Identificar exageros e falhas nas críticas frankfurtianas sobre a indústria
cultural não impediu diversos autores de formular suas próprias críticas ao sistema
de produção. Ao submeter o objeto de estudo aos conceitos da semiótica, Teixeira
Coelho conclui que o problema não está no que dizem as mensagens dessa
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indústria, mas no modo como são ditas. A indústria cultural, tanto nos meios de
comunicação quanto em escolas e universidades, seria o campo do signo como
índice, da consciência indicial.
“Isto é: tudo, signos e consciências e objetos, é efêmero, rápido, transitório; não há tempopara a intuição e o sentimento das coisas, nem para o exame lógico delas: a tônica consisteapenas em mostrar, indicar, constatar. Como o que ocorre com o índice, o que é dado ao
receptor é alguma coisa já conhecida, às vezes já conhecida pelo próprio receptor. Não hárevelação, apenas constatação superficial – o que funciona como mola para alienação. Oque interessa não é sentir, intuir ou argumentar, propriedades da consciência icônica esimbólica; apenas, operar.” (COELHO, pág. 70)
Assim, se o receptor tem a impressão de conhecer o objeto tratado, por meio
da revelação de alguma de suas propriedades, quase sempre não passa de uma
propriedade superficial. Precedentes e conseqüências não são considerados,
impedindo que o leitor construa um universo significativo mais rico, que lhe permita a
compreensão além da superfície dos temas.
MORIN defende a democratização do acesso aos bens culturais trazida pela
industrialização, mas reconhece que vem acompanhada da vulgarização das obras,
como as fracas adaptações de bons livros para o cinema. “Os processos
elementares de vulgarização são: simplificação, modernização, maniqueização,
atualização”. (MORIN, 1975, p. 45) O resultado são híbridos culturais.
Na tentativa de conquistar o grande público, a indústria cultural busca
homogeneizar suas produções. Para tanto, tende à unificação entre a informação e
o “romanesco”. “Tudo que na vida real se assemelha ao romanesco ou ao sonho é
privilegiado” – vira notícia, seja o clássico exemplo do homem que morde o cachorro
(ao invés do contrário), seja a vida amorosa das celebridades. “Inversamente, no
setor imaginário, o realismo domina, isto é, as ações e intrigas romanescas que têm
aparência de realidade.” (MORIN, 1975, p. 29) A cultura de massa chega à imprensa
usando a dramatização como artifício para provocar a projeção e a identificação do
público. No jornal impresso, veículo de divulgação de um grande número de dados
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e de leitura individual, o leitor tem a oportunidade de elaborar de um ponto de vista
privado, ao mesmo tempo, é afastado do universo a que se refere o texto. Se o
intermédio das palavras dificulta o envolvimento do leitor com o assunto abordado, a
solução é apresentar as notícias de forma “dramatizada”, como forma de “esquentá-
las”.
Outra característica da sociedade na indústria cultural é que o lazer passou
a ser, em grande parte, consumo dos produtos.
“O indivíduo privado que quer consumir sua própria vida tente a valorizar o presente. Fica,
além disso, cada vez mais privado de passado; este não lhe fornece mais sabedoria enormas de vida; os antigos valores, as grandes transcendências são esmagadas por umdevir acelerado. (..) Paralelamente, a perpétua incitação a consumir e a mudar (publicidade,modas, vogas e ondas), o perpétuo fluxo dos ‘flashes’e do sensacional conjugam-se numritmo acelerado em que tudo se usa muito depressa (...) Um filme, uma canção, duram otempo de uma estação, as revistas esgotam-se numa semana, o jornal da mesma hora”(MORIN, 1975, p. 157, 159).
O autor aponta um “princípio fundamental” na relação entre a indústria
cultural e o consumidor: “a criação cultural não pode ser totalmente integrada num
sistema de produção industrial”. (1975, p. 21) É preciso que haja novidade e
individualidade nas criações para que o público se sinta atraído constantemente. As
contradições a serem superadas pela indústria cultural, portanto, estão nas
diferenças entre o caráter de suas estruturas de produção e as características que
seus produtos devem possuir para conquistar o consumidor: os binômios burocracia-
invenção e padrão-individualidade. São contradições dinâmicas, de adaptação
mútua entre público e indústria, que devem equilibrar-se na produção de bensculturais. Além disso, a cultura contemporânea não se restringe aos moldes da
cultural industrial. Existe uma contracorrente na indústria cultural (contrária às
manifestações da principal) e ainda uma terceira corrente, “em que fermentam as
perguntas e as contestações fundamentais, que permanece fora da indústria
cultural...” (MORIN, 1975, p. 43) Ambas são possibilidades de afastamento do
indivíduo da cultura massificada.
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No jornalismo, pensado como meio de comunicação de massa, a divisão do
trabalho serve à racionalização da produção e provoca a padronização, inclusive
espacial – como o pré-estabelecimento do tamanho de uma notícia, por meio da
quantidade de caracteres que deve ter. Um resultado da divisão do trabalho nas
redações é que “o autor não pode mais se identificar com sua obra”. (MORIN, 1975,
p. 26), considerando-se o repórter como o autor no jornalismo. Não é ele quem
define suas pautas, decide a abordagem, o aprofundamento ou o tamanho de seu
trabalho, que ainda sofre alterações – às vezes, re-significantes, se os pontos de
vista são divergentes – do editor.“A imprensa de massa é mais burocratizada do que o cinema, porque a
originalidade e a individualidade já lhe são pré-fabricadas pelo acontecimento,
porque o ritmo de publicação é diário ou semanal, e porque a leitura de um jornal
está ligada a fortes hábitos.” (MORIN, 1975, p. 22). É possível que esta seja, em
parte, a causa da perda de público dos jornais. A concorrência de meios de
informação aumentou e, se a atração do leitor pelo produto-jornal não é suficiente, o
hábito não se renova.
“Um jornal, uma estação de rádio e de televisão são burocraticamente organizados. Aorganização burocrática filtra a idéia criadora, submete-a a exames antes que ela chegue àsmãos daquele que decide – o produtor, o redator-chefe. Este decide em função deconsiderações anônimas: a rentabilidade eventual do assunto proposto (iniciativa privada),
sua oportunidade política (Estado)...” (MORIN, 1975, p. 19).
É necessário dizer que o fator político não interfere apenas em empresasestatais – nos jornais privados, depende de onde vêm os maiores investimentos em
espaços publicitários (por vezes, do governo) e dos interesses políticos dos donos
do jornal.
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5.2.3.1 A indústria cultural e o jornalismo no Brasil
A sociedade urbano-industrial só iniciaria no Brasil na década de 1940. “A
imprensa já havia consagrado desde o início do século formas como os jornais
diários, as revistas ilustradas, as histórias em quadrinhos. Mas não é a realidade
concreta dos modos comunicativos que institui uma cultura de mercado, é
necessário que toda a sociedade de reestruture para que eles adquiram um novo
significado e uma amplitude social” (ORTIZ, 1988, p. 38), o que só foi acontecer nos
anos 40 do século XX, com o início da sociedade de massa brasileira e odesenvolvimento do quadro cultural no país. Foi ainda nessa década e na seguinte
que o cinema tornou-se bem de consumo, com forte presença dos filmes norte-
americanos e a tentativa de produzir cinema nacional. As publicações de jornais,
revistas e livros crescem.
Para COELHO, o Brasil nunca teve uma produção ou consumo de “cultura
superior” significativos devido ao atraso econômico e social, o que fez com que a
cultura de massa no país se desenvolvesse-se a partir da cultura popular.
... a etapa da cultura letrada, superior, foi queimada. Não havendo aquele conflito, a cultura
de massa desenvolve-se num terreno ganho sobretudo à cultura popular, sem que esta seja
eliminada. E o resultado é uma forma cultural que, sem mais ser a popular, dela ainda
depende em larga medida. (...) Surge assim uma cultura de massa heterogênea e firmada
em ampla medida na estetização de formas e conteúdos da cultura popular. (COELHO, pág.94).
ORTIZ reforça a idéia ao afirmar que, nos Brasil da década de 1940, a
cultura popular de massa possuía “uma aura que em princípio deveria pertencer à
esfera erudita da cultura”. (1988, p. 65). Ainda não se formara o antagonismo entre a
cultura artística e a de mercado – foi pela imprensa, por exemplo, que a literatura foi
legitimada e difundida no país. O que havia era um desejo de modernizar-se, não
ainda uma modernização.
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O período de efervescência cultural começou por volta de 1945 (e durou até
o golpe militar, em 1964). É nessa época que se pode identificar a formação de um
público no país, interessado em manifestações artísticas como música, espetáculos,
cinema e a novidade dos anos 50, a televisão. Com a demanda crescente,
multiplicavam-se as empresas culturais.
“Seria difícil aplicar à sociedade brasileira deste período o conceito de indústria culturalintroduzido por Adorno e Horkheimer. Evidentemente as empresas culturais existentesbuscavam expandir suas bases materiais, mas os obstáculos que se interpunham aodesenvolvimento do capitalismo brasileiro colocavam limites concretos para o crescimento
de uma cultura popular de massa. Faltavam a elas um traço característico das indústrias decultura, o caráter integrador.” (ORTIZ, 1988, p. 48)
A padronização como efeito da indústria cultural só se tornaria possível
quando a lógica capitalista se estendesse por toda a sociedade. A integração social,
então, não acontecia pela indústria cultural, mas por meio da política de Estado.
Além disso, o Brasil não possui um passado clássico como nações européias.
A temática da sociedade de massas demora a chegar às revistas. Somente
em 1966 Ferreira Gullar escreve um primeiro artigo sobre a estética da sociedade de
massa. Em 1968, a revista de Civilização Brasileira publica a tradução de um artigo
escrito por Adorno e outro por Benjamin. No mesmo ano, a Tempo Brasileiro lança
um número especial sobre comunicação e cultura de massa.
A consolidação do mercado cultural brasileiro ocorre nas décadas de 1960 e
1970. Antes, as produções eram restritas e chegavam a um número reduzido de
pessoas, e era forte a presença cultural estrangeira. Consolidado o mercado,
entretanto, a cultura brasileira conquista progressivamente mais autonomia, a
produção e a distribuição dos bens culturais expandem-se e diversificam-se,
atingindo a massa de consumidores. A razão industrial chega aos jornais, nos quais
novas normas de redação são implementadas, para tornarem-se empresas mais
produtivas e eficientes.
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“... o indivíduo, consciente de sua posição isolada e ao mesmo tempo integrada num todo
como a massa, liberta sua atomização e sua inquietude solitária num impulso de ser comoos outros. (...) Daí a tendência marcante da comunicação de massa em desenvolver asmensagens, não no universo particular que cada um tem, mas no que cada um tema ver
com os outros homens.” (MEDINA, 1988, 36-37)
Essa busca pelo “universo de símbolos comuns” leva à homogeneização da
linguagem (clichês), da abordagem e da temática, em suma, do tratamento dado à
informação.
Outro aspecto da indústria cultural brasileira é estar “bastante voltada para
temas, assuntos e culturas estrangeiras, particularmente as norte-americanas.”
(COELHO, 1980, p. 81) Tal tendência diminui a valorização da cultura local, por
outro lado, porém, permite aos brasileiros mais contatos culturais e informações
sobre as culturas estrangeiras. Uma dialética que não precisa ser evitada, segundo
COELHO, desde que não implique o predomínio do estrangeiro sobre o nacional. O
autor explica que ”mesmo uma indústria cultural ‘colonizada’, como se diz, acaba por
vincular-se à realidade cultural do país E isto não por idealismo, mas porque ela
‘precisa vender seus produtos’ e, para tanto, precisa usar como chamariz algo que
chegue mais perto das pessoas.” (COELHO, 1980, p. 97) Nas últimas décadas, a
cultura brasileira ganhou espaço e notabilidade no país, com o ressurgimento do
cinema nacional e a valorização dos artistas locais, por exemplo, mas a forte
presença norte-americana (no cinema e na música, principalmente) não pode ser
ignorada.
É necessário considerar, ainda, a dependência econômica dos jornaisbrasileiros. As empresas jornalísticas tiram da venda de espaços para anúncios
publicitários a maior porcentagem de seu sustento (algo em torno de 80%), o que as
coloca em relação de dependência das agências e anunciantes, interessados na
tiragem e no público leitor do jornal. “Como norma, todas as preocupações culturais
se guiam pela preocupação maior, que é ‘vender alguma coisa’. Para vender, é
necessário criar e manter o hábito de consumir. E para que este sobreviva, é
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necessário embotar a capacidade crítica, em todos os seus domínios.” (COELHO,
pág. 86) A frase final, extremista, é provavelmente um exagero. Recordem-se as
idéias de Edgar Morin, que identifica na indústria cultural a existência de um corrente
(terceira) que é o espaço de contestação e, portanto, crítica da indústria cultural.
Segundo Ortiz, mesmo com a industrialização, a cultura não se torna
inteiramente mercadoria – e, assim como o jornalismo, mantém seu valor de uso.
“Utilizando uma expressão de Foucault, eu diria que a indústria cultural age como
uma instituição disciplinadora enrijecendo a cultura [na qual enquadra-se o
jornalismo].” (ORTIZ, 1988, p. 148) Para o autor, o que acontece na sociedadeindustrial não é a ausência total de manifestações criativas, mas menos espaço e,
portanto, uma maior dificuldade, para que ocorram.
A produção do jornalista passa a ser medida em termos de desempenho,
produtividade e rentabilidade. Entretanto, ainda que seguindo regras industriais, o
jornalismo não se limita a produto em série. Segundo Carlos Eduardo Lins da Silva,
“O jornalismo não é uma atividade com o mesmo fim de uma indústria de sabonetes.
São muito parecidas, têm o objetivo máximo que é a lucratividade, mas o efeito do
jornal tem uma carga simbólica muito mais importante do que a carga material dele
mesmo. A importância simbólica de um jornal é talvez maior do que a importância
material.” (SILVA, em depoimento a RIBEIRO, 1994, p. 55)
5.3 HISTÓRIA DO JORNALISMO CULTURAL
O jornalismo cultural surgiu na Europa, após o Renascimento, no princípio
da industrialização, com a formação das cidades – quando o homem deixou o
campo para ocupar o espaço urbano. Uma influência marcante em sua concepção
foi o ensaísmo humanista – como Os Ensaios de Montaigne, que mesclavam o
erudito e o mundano.
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Até o século XVII, não existia o conceito de público, e o consumo de livros,
músicas e espetáculos era restrito a pequenos círculos da elite. No século XVIII,
aumentou a quantidade de casas de espetáculos e museus na Europa, difundindo a
apreciação da arte para o público leigo. A crítica cultural chegou às revistas,
propagando conversas e idéias que surgiam nos salões. Música e literatura eram os
temas artísticos que mais apareciam no jornalismo cultural, então fundamentalmente
opinativo.
Um dos primeiros marcos do jornalismo cultural é a revista diária The
Spectator , criada na Inglaterra, em 1711, por Richard Steele e Joseph Addison,citados por PIZA, para “tirar a filosofia dos gabinetes e bibliotecas, escolas e
faculdades, e levar para clubes e assembléias, casas de chá e cafés.” (2003, p.11)
Seu público era o homem urbano, interessado nas novas tendências e em obter
conhecimento de forma prazerosa. “A revista falava de tudo – livros, óperas,
costumes, festivais de música e teatro, política – num tom de conversação
espirituosa, culta sem ser formal, reflexiva sem ser inacessível, apostando num
fraseado charmoso e irônico...” (PIZA, 2003, p. 12). Durante quatro anos, The
Spectator alcançou o objetivo proposto: seu conteúdo foi discutido fora dos
ambientes puramente intelectuais e os autores ganharam fama.
Era o início de uma era de ouro do jornalismo europeu. Na Alemanha, G.E.
Lessing ficou famoso escrevendo sobre pintura, teatro e literatura. Na Inglaterra,
surgiram outros jornalistas culturais influentes. Samuel Johnson, que trabalhou para
The Rambler , foi o primeiro grande crítico de cultura – escreveu resenhas literárias,
ensaios, estudos sobre a língua inglesa e reflexões sobre assuntos diversos. Foi o
mais lido escritor de seu tempo e suas opiniões eram aguardadas pela platéia
importante na época. No final do século XVIII, o inglês William Hazlitt, jornalista de
The Examiner , foi outro que orientou os gostos de sua geração, reavaliou clássicos e
foi ainda polemista político.
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Com o avanço industrial, em meados do século seguinte, o jornalismo
cultural ensaísta e crítico conquistou mais poder de influência. Na Inglaterra,
destacou-se o crítico de arte John Ruskin, que tratava as opções estéticas como
manifestações morais ou filosóficas. Na França, o grande nome foi Sainte-Beuve,
cujas críticas escritas nos jornais Le Globe e Le Constitutionnel serviriam como
padrão para o jornalismo cultural. A partir daí, o jornalismo cultural passou a ser uma
profissão com status próprio – o jornalista não mais precisava ser também escritor
ficcional (como foi o poeta e crítico francês Charles Baudelaire) ou acadêmico para
construir uma carreira com boa reputação.Foi ainda no século XIX que o jornalismo cultural chegou ao continente
americano. Nos Estados Unidos, o escritor Edgar Allan Poe tirava seu sustento da
atividade de crítico cultural em revistas e jornais. Na segunda metade do século,
com o crescimento (inclusive cultural) do país, aumentou o número de críticos
americanos. O destaque nesse período foi Henry James, que produziu resenhas de
literatura e narrativas de viagem para veículos de Nova York.
No final do século XIX, as questões sociais e ideológicas ganharam o
interesse do jornalismo cultural. Crítico de arte e literatura, o francês Émile Zola foi
preso por defender um tenente judeu acusado de traição – o caso foi revisto e
provou-se a inocência do tenente. Em Londres, Bernard Shaw colocava em prática a
preocupação social, exigindo do jornalismo comprometimento com a realidade
humana. Shaw foi crítico de arte, música, literatura e teatro, polemista político e
observador social. Em Viena, Karl Kraus combinava comentário estético à sátira
política.
O jornalismo, antes do século XX, era dominado pelos debates artísticos e
articulismos políticos. A modernização social aumentou a demanda por informação
“objetiva” e factual, as notícias, a reportagem e a entrevista ganharam espaço.
“O crítico que surge na efervescência do século XX, na profusão de revistas e jornais, émais incisivo e informativo, menos moralista e meditativo.(...) Como Shaw, ele luta pela
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relevância da cultura no cotidiano das pessoas, mas, ao contrário de Shaw, não quer
encaixá-la num sistema de valores, numa mistura de ideologia e estética – embora muitasvezes a ideologia ainda dite muitas opções estéticas feitas pelos críticos culturais até hoje.”(PIZA, 2003, p. 20)
E é a partir do século XX que a indústria cultural passa a submeter a
produção jornalística às leis de mercado.
Nos Estados Unidos, a tradição ensaística inglesa foi resgatada, em um
jornalismo com aprofundamento reflexivo. Piza aponta os escritores norte-
americanos Ezra Pound e T. S. Eliot como os dois maiores críticos do século, com
grandes contribuições à cultura. Outros dois importantes críticos, de tradição
exclusivamente jornalística, foram H. L. Mencken e Edmund Wilson. O primeiro
“sabia escrever para um público amplo sem fazer concessões populistas de
nenhuma espécie, por meio de um lança-chamas verbal.” Wilson destacou-se por
formular “critérios rigorosos de análise sensível” e como repórter da revista The New
Yorker , criada em 1925. (PIZA, 2003, p. 22)
A New Yorker logo se tornou uma referência em jornalismo cultural,
revelando críticos mordazes (como Dorothy Parker e Pauline Kael), humoristas e
articulistas (destaque para E. B. White e A. J. Liebling). Na revista, cresceu o
jornalismo literário, mescla de histórias verídicas à narrativa ficcional, com recursos
da literatura, como descrições e diálogos, com as publicações de Hiroshima, escrita
por John Hersey em 1946 e eleita a “reportagem do século”; A Sangue Frio, de
Truman Capote; e outras reportagens interpretativas, “com teor subjetivo, pique
narrativo e recursos da ficção como a atenção a detalhes e vozes.” (PIZA, 2003,
p.24)
Na Inglaterra, George Orwell destacou-se como ensaísta político, crítico e
com as reportagens literárias. Suas argumentações eram claras e incisivas, as
descrições levavam fina subjetividade e a política era determinante em suas
análises. Nos anos 1930 e 40, a política esteve muito presente em todo o jornalismo
cultural.
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A maior concorrente da revista New Yorker era a Esquire, com
colaboradores importantes, entre eles, Aldous Huxley, George Nathan e Scott
Fitzgerald. O jornalismo literário, ou “New Journalism”, era produzido por Norman
Mailer e Gay Talese. Tom Wolfe fazia o mesmo, com mais recursos onomatopéicos
e metafóricos, no suplemento do jornal Herald Tribune. Levando ao exagero o New
Jornalism, Hunter Thompson criou o Gonzo Journalism, escrevendo para a revista
Rolling Stones reportagens em tom confessional e participativo, que estreitavam os
limites entre o jornalismo e a ficção, geralmente sob efeito do consumo de drogas.
Na inglesa The Spectator o jornalismo literário também ganhou espaço, masos críticos e colunistas permaneceram os maiores atrativos para o público. “A crítica,
claro, continua a ser a espinha dorsal do jornalismo cultural, não só das revistas.”
(PIZA, 2003, p. 28). Na França, destacam-se pelo teor crítico as publicações Le
Monde de La Musique, Magazine Littéraire e Cahiers du Cinema; no México¸ a
revista Vuelta foi editada por Octávio Paz, o grande ensaísta latino-americano do
século passado.
Além das publicações específicas, a crítica conquistou espaço na “grande
imprensa” na segunda metade do século XX. Nas décadas de 1970 e 80, artigos
publicados no New York Times definiam a reputação – e, muitas vezes, o sucesso
ou fracasso – de uma obra. Na revista Time, Robert Hughes alcançou a união cada
vez mais difícil para um crítico: estilo sofisticado, critérios exigentes e um grande
público leitor. Na Europa, a análise mantém seu status dentro do jornalismo cultural,
no qual há grande atuação de intelectuais e colunistas renomados, como Umberto
Eco e Mario Vargas Llosa.
5.3.1 A Trajetória do Jornalismo Cultural no Brasil
“Em 1838, o Jornal do Commercio foi um dos primeiros a tematizar questões
culturais através do suplemento Folhetim.” (GADINI, 2003, p. 5) Política, economia e
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cultura tornavam-se a tríade temática dos jornais brasileiros, a exemplo da Europa,
porém era um jornalismo “frágil”, segundo Nelson Werneck Sodré (1999, p.283),
sem grande espaço para informação e debates e com pouca especialização.
Segundo Sérgio Luiz GADINI (2004), devido ao alto analfabetismo e outras
defasagens sócio-econômicas e culturais, não se pode falar em consumo e crítica
cultural no Brasil antes das últimas décadas do século XIX. Até meados daquele
século, a taxa de alfabetização brasileira estimada era de 3% – um ambiente
inóspito para a produção e o consumo de bens culturais. No final do século, o
jornalismo cultural se torna mais freqüente, embora ainda pouco especializado,surgem folhas de notícias e pequenas revistas culturais, que ampliam o mercado de
veículos impressos e estimulam o hábito da leitura na população. “É, então, ao que
tudo indica, um passo importante para a configuração ao modo como hoje funciona
ou se ‘edita’ o setor cultural – aqui compreendidas as variedades, tematização das
atividades artísticas e de entretenimento – em termos de organização e de rotina
produtiva...” (GADINI, 2003, p. 21)
“Mas é no início do século XX que a cultura adquire status de notícia nos
quotidianos brasileiros. (...) E ainda na primeira metade daquele século, as seções
de teatro, música e cinema passaram a ser publicadas diariamente.” (GADINI, 2003,
p. 5) Os comentários artístico-culturais ainda eram elitizados, condizentes com a
classe que tinha acesso à leitura de periódicos. Com a inserção de fotografias e
aumento do uso de ilustrações nos jornais da década de 1920, a cultura impressa
começou a atrair também as classes com menos instrução. “No final da década de
20, o estilo europeu – ainda preponderante na imprensa brasileira – começou a
ceder lugar a um modelo norte-americano, mais noticioso e seco. No entanto, a
tradição literária persistia. O jornalismo ainda não encontrara sua linguagem
específica (...) o beletrismo continuou como uma carga sobre o texto jornalístico.“
(RIBEIRO, 1994, p. 31) Machado de Assis inicia sua carreira como crítico (de
literatura e teatro), caminho seguido por muitos outros escritores brasileiros até hoje
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(de Lima Barreto e Mário de Andrade à Rubem Alves e Carlos Heitor Cony). O
grande crítico do período foi José Veríssimo, escrevendo sobre literatura.
O Correio da Manhã, desde o surgimento em 1901, trouxe seções dedicadas
à temas culturais, como literatura e teatro, e, a partir da segunda década daquele
século, passou a publicar diariamente as seções de cultura. As revistas têm
participação ativa nas manifestações intelectuais e artísticas do século XX –
principalmente no surgimento e expansão dos movimentos modernistas, como o
futurismo e o surrealismo. No Brasil, por exemplo, a revista Klaxxon reunia os
articuladores da Semana de Arte Moderna de 1922. Foi nesse século, ainda, quenovos temas começaram a ser incorporados à apreciação jornalística, como o
cinema.
A partir dos anos 1930, o jornalismo brasileiro, até então fortemente político,
abre espaço para a cultura – em especial, a produção literária. O interesse
acompanha o desenvolvimento da indústria cultural no Brasil. As variedades
passam a compor a tríade jornalística, junto à política e economia. A demanda por
informação, cultura e entretenimento surge quando diversão e lazer tornam-se bens
de consumo. A boemia que dominava a imprensa brasileira, então formada por
escritores, poetas, políticos e funcionários públicos, dá espaço à profissionalização
do jornalista. O espaço literário deixa de se fazer presente ao longo de todo o jornal
e passa a ter áreas específicas; depois, ocorre a criação dos cadernos e
suplementos.
O crítico do início do século XX torna-se profissional e “não só analisa as
obras importantes a cada lançamento, mas também reflete sobre a cena literária e
cultural”. (BUITONI, 2000, p. 32). A atuação de Mário de Andrade como crítico e
ensaísta cultural foi notável. Mário foi colaborador da revista O Cruzeiro, que marcou
época com reportagens investigativas e a publicação de contos e artigos dos
maiores artistas da época, entre eles, Millôr Fernandes, Anita Malfatti e Vinícius de
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Moraes. “O Cruzeiro configurou o visual brasileiro até ser substituída pela televisão.”
(BUITONI, 2000, p.60)
A criação de um público cultural acompanhava o processo de urbanização,
principalmente em São Paulo e na capital do país, Rio de janeiro. Chegam ao país
agências internacionais de publicidade. Com o sucesso do rádio, o público quer
saber mais sobre os artistas que ouve, aumenta o interesse pelo campo cultural e o
hábito de consumir cultura (de modo bem aquém do que aconteceria quando a
indústria cultural se consolidasse de fato – processo que se acentua depois de
1940). A imprensa assume o papel de legitimadora e crítica das artes – incluindo ocinema.
“As editorias ou páginas de variedades dos jornais tentavam, assim, responder a umademanda de novo leitores, bem como nascia um pouco atrelada à idéia decorrente danoção de futilidades – ou seja, de que a cultura estava ou poderia estar associada a certaslevezas ou curiosidades da vida privada com virtual interesse público: colunas com notassobre a presença ou deslocamentos de pessoas consideradas importantes, autoridades eacompanhantes, horóscopo, diversão e amenidades afins, considerando o interesse do
público feminino. Essa mesma noção editorial, por muito tempo orientou (e, em algunscasos, ainda orienta) profissionais e leitores do setor.” (GADINI, 2003, p. 55)
O país apresentou algumas peculiaridades no jornalismo de cultura. A
reportagem literária teve pouca aceitação no jornalismo brasileiro, porque, segundo
PIZA, “revistas com textos longos sempre foram vistas como comercialmente
inviáveis e o jornalismo cultural brasileiro amadureceu tardiamente”. (2003, p.33) Em
contrapartida, a crônica sempre teve destaque na imprensa nacional, como o gênero
de aproximação entre o jornalismo e a literatura.
Na década de 1940 começam os investimentos em cinema nacional, com a
fundação da Atlântida (1941) e da Vera Cruz (1949). São criados espaços culturais
importantes, como o Museu de Arte de São Paulo (1947), Museu de Arte Moderna
(1948, São Paulo), o Teatro Brasileiro de Comédia (1949) e a TV Tupi (1950). Após
a Segunda Guerra Mundial, o aumento das importações impulsiona o consumo no
país, do blue jeans ao whisky , à diversão nas boates e à vinda de ritmos musicais,
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com grande destaque para o rock’n’roll a partir dos anos 1950. É nessa época que
suplementos de literatura ganham espaço. O Diário de São Paulo, em seu
suplemento, publicou pela primeira vez no Brasil traduções de Willian Faulkner,
James Joyce, Marcel Proust, Virgínia Woolf, Federico García Lorca e outros
escritores. Os suplementos contavam ainda com a colaboração dos principais
escritores brasileiros da época.
Até a metade do século XX, a atividade jornalística é “marcada por maior
liberdade de produção, em especial do texto, seja ensaio, crítica, comentário ou
ainda da reportagem marcada pelos estilos individuais dos próprios autores.”(GADINI, 2003, p.30) Começa então a busca pela objetividade jornalística, por meio
de artifícios como o lide e com a separação do espaço para opinião. Surgem os
primeiros “manuais de redação”. Com a publicidade ocupando 80% da renda dos
impressos, cresceu a preocupação em aumentar as tiragens. Ao mesmo tempo,
acontecia a modernização tecnológica das empresas jornalísticas.
Em 1959, alguns anos depois da reforma do Jornal do Brasil , é criado o
Caderno B, caderno cultural com circulação diária a partir de 1962, enquanto o
Suplemento Dominical saía aos sábados. O Caderno B trazia fotografia, manchetes
e chamadas na primeira página. “É o Caderno B, portanto, que passa a forjar a
tradição de agrupar as matérias de arte, cultura e variedades em um caderno
separado do primeiro.” (GADINI, 2003, p.60).
O Estado de S. Paulo não publicava um caderno diário específico de cultura
até a década de 1960, as notícias sobre o tema eram veiculadas em quatro páginas
no corpo do jornal. Em 1956, é criado o Suplemento Literário, com seções fixas de
literatura (poemas, crônicas, contos, artigos) e espaço para artes plásticas, música,
cinema e teatro. Vinte anos depois, é substituído pelo Suplemento Cultural , com 16
páginas publicadas aos domingos. Só em 1986 é criado o Caderno 2 e as matérias
de cultura passam a compor um caderno único diário.
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A Folha de S. Paulo lançou em 1958 a Ilustrada, de circulação diária, e em
1970 o suplemento Folhetim, veiculado aos sábados.
“Alguns anos mais tarde (16/06/1964), a Folha Ilustrada, o 4º caderno do jornal, trazmatérias de artes plásticas, ciências, livros e autores, horóscopos, exposições, rádio e TV,cinema, música, discos, roteiros de teatro e de cinema, em meio aos anúncios da área,
estréias etc. Vale lembrar que a Ilustrada veicula também muitas notas ou matérias deagências internacionais (seja de astros do cinema hollywoodiano, musicais, descobertascientíficas, etc.).” (GADINI, cadernos, p. 75)
Os anos de 1940 a 60 foram os melhores para a crítica jornalística no Brasil.
No Correio da Manhã destacaram-se as críticas “impressionistas” de Álvaro Lins(impressões sobre a obra em primeira pessoa, com argumentação), as reflexões
sobre o destino do Brasil e da cultura e os ensaios de Otto Maria Carpeaux. No
suplemento dominical criado nos anos 1950, o Quarto Caderno, trabalharam os
importantes críticos de cinema Moniz Viana e José Lino Grunewald, o polemista
Paulo Francis e o dramaturgo Nelson Rodrigues. Esse grupo e mais outros que
escreviam para o Correio da Manhã fizeram-no um jornal fortemente opinativo.
Já o Caderno B do Jornal do Brasil dava espaço maior à reportagem e ao
visual, antecipando tendências do jornalismo cultural atual. Clarice Lispector, a
crítica de teatro Bárbara Heliodora e os irmãos Augusto e Haroldo Campos
colaboravam com o jornal. No Suplemento Literário de O Estado de São Paulo, o
diretor Décio de Almeida Prado estabeleceu um modelo de caderno de livros que
conciliava informação jornalística a um bom nível cultural: “Não exigiremos que
ninguém desça até se pôr à altura do chamado leitor comum, eufemismo que
esconde geralmente a pessoa sem interesse real pela arte e pelo pensamento.”
(PRADO3, citado por PIZA, 2003)
O destaque individual deste período foi Paulo Francis, com novas propostas
para o teatro brasileiro e um grande poder como polemista e comentarista cultural.
Francis trabalhou nas revistas Senhor e Diners, no tablóide O Pasquim – semanário
3 PRADO, Décio de Almeida.
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irreverente e irônico, que fazia resistência à ditadura e modernizou a linguagem
jornalística – , no semanário Opinião, nos jornais Folha de São Paulo (Ilustrada), O
Estado de São Paulo (Caderno 2 ) e O Globo. A Ilustrada era conhecida pelas
polêmicas e por dar atenção à cultura jovem internacional – cinema americano e
música pop, principalmente. O Caderno 2 dedicava mais espaço à literatura, artes
plásticas e teatro.
As décadas de 1960 e 1970 consolidaram o mercado de bens culturais no
Brasil, com maior volume de produção e facilidade de acesso. “A produção de
cinema dá um bom indicador desse modelo também preocupado com uma culturanacional-popular , mesmo que sob o controle da censura e aval militar a toda e
qualquer perspectiva crítica ou preocupada com a realidade social.” (GADINI, 2003,
p.37-38) Houve ainda a ampliação dos mercados literário, fonográfico e televisivo.
Na opinião de GADINI (2003, p.39), tal crescimento, apesar de provocar a
profissionalização, “não garante o desenvolvimento de maior sensibilidade estética,
espírito crítico e nem mesmo opções de consumo no mercado cultural” – o que seria
a realidade brasileira.
Sob a censura do governo, a resistência democrática “começou a militar (...)
em defesa dos direitos humanos e no campo cultural, pautando/sugerindo
filmes/livros/discos de caráter crítico ao regime militar, buscando conquistar a
adesão e formar quadros intelectuais de setores das classes médias urbanas,
especialmente nas grandes e médias cidades brasileiras”. (GADINI, 2003, p.85) O
cinema novo e os festivais de música marcaram esse período.
Como no Brasil a industrialização tardou em impor-se em todos os cantos,
os efeitos da indústria cultural começaram com a chegada de produtos culturais
importados, especialmente dos Estados Unidos. Só aos poucos surge uma indústria
cultural nacional de fato, com produções locais massificadas, como cinema, novela e
programas de auditório. Ainda nos anos 1960 era grande a diferença entre a
influência da cultura de massa nos EUA e no Brasil.
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“Vemos nessa fase (década de 60) a expansão da indústria cultural e uma de suascontradições típicas de países em desenvolvimento – a defasagem entre os propósitos-massa de grandes centros urbanos e a audiência restrita, empresas jornalísticas de infra-
estrutura industrial tirando uma revista nacional para apenas 40.000 consumidores, outiragens de livros de ficção de 2 a 5.000 exemplares, ou tiragem de grandes jornais para100, 120.000 assinantes e compradores.” (MEDINA, 1988, p. 49)
Aí se encontrava uma contradição do jornalismo massivo no Brasil, o
tratamento massivo a produtos destinados a um público restrito. De certa
forma, tal contradição persiste – o jornalismo está inserido na lógica da indústria
cultural, as tiragens aumentaram consideravelmente, mas a leitura do jornal
impresso continua, na maioria dos casos, a ser quase privilégio das classes mais
instruídas e capitalizadas.
Antes da regulamentação da profissão de jornalista, em 1969, não se fazia a
distinção entre o bom escritor de literatura e o bom jornalista, o que deu a grande
parte dos escritores brasileiros da época um espaço nos periódicos nacionais.
A segmentação do trabalho jornalístico em editorias (como cultura, cidade, e
política), em áreas dentro das editorias (teatro, cinema, literatura, música, etc.) e em
papéis (repórter, editor e subeditor, sem o antigo pauteiro) é conseqüência da
industrialização da atividade. “Com a industrialização e a padronização da imprensa,
a maior parte do jornalismo cultural dos jornais diários e das revistas semanais
passou por um processo de simplificação, muito contaminado por lógicas de
promoção comercial, principalmente depois da década de 1970” (BUITONI, 2000,
p.64).O fim do regime militar e o desenvolvimento da indústria cultural dão espaço
à configuração de um novo campo cultural no país, ainda com espaço para crítica,
mas já adaptado à demanda industrial. Os anos 1980, de volta à liberdade política,
foram marcados pelo progresso tecnológico dos veículos e pela concorrência entre
os meios. A saída para a imprensa diária foi o aprofundamento das notícias, para
diferenciar-se, e a busca por mais apelo visual, para aproximar-se dos meios visuais.
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Da metade da década em diante, o jornalismo de “serviço” ganha lugar, pautado por
orientações para consumo. “A cobertura jornalística da cultura vai adquirindo outras
roupagens, como a prioridade da lógica de serviços e das atividades e produtos
mais voltados ao lazer e ao entretenimento, agendado em grande medida pelo meio
televisivo.” (GADINI, 2003, p.90)
“ Os jornais brasileiros começam a empregar os mesmos ingredientes que os internacionais.(...) E nessa fermentação, a mensagem jornalística se multiplica em formas oumanifestações. O relato noticioso, a reportagem, a entrevista, o editorial e outroscomentários opinativos, a pesquisa de reconstituição histórica (biográfica) dos focos do dia,a crônica,a crítica de espetáculos e arte. A mistura de tudo isso é um resultado colorido –
não mais páginas uniformemente compostas, mas um festival de títulos, seções, editoriais,recursos gráficos. Informação/ distração/ opinião se inter-relacionam de forma que montar um esquema de classificação não é fácil.” (Medina, 1988, p. 66)
“No Brasil, a baixa escolaridade conferiu liderança imediata aos meios
audiovisuais e cristalizou tiragens baixas no caso dos jornais – e ínfimas, no caso
dos livros.” (RIBEIRO, 50) A sociedade não acompanha a modernização da
imprensa, a produção cultural criativa e crítica são fracas frente à cultura de massa.
O jornalista Paulo Francis já então reclamava da ausência de opiniões fortes, com
tradição humanista e generalista.
O panorama atual do jornalismo cultural impresso e as críticas que tem
recebido são os temas do próximo item. Antes, é oportuno lembrar que o jornalismo
de cultura contemporâneo tem dois outros grandes veículos de propagação além do
jornal e da revista: o livro e a Internet. Cada vez mais jornalistas dedicam-se a
publicações de biografias, perfis e livros-reportagem. O crescimento do jornalismoon-line é também facilmente perceptível, com uma quantidade incontável de sites
dedicados à produção de notícias e críticas culturais, nos quais a idéia de interação
começa a desenvolver-se, com a criação de enquetes e fóruns – e onde o autor do
texto desfruta de maior liberdade criativa, com a possibilidade de criar seu canal
direto de comunicação com o leitor, como sites pessoais e blogs.
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5.3.2 O Jornalismo Cultural no Paraná
Assim como no restante do mundo, a história do jornalismo cultural no
Paraná inicia-se com publicações voltadas para a literatura. No fim do século XIX,
revistas relacionadas ao movimento simbolista marcaram época no estado. A
importância do movimento explica-se na obra Dicionário Histórico-Biográfico do
Paraná, por ter constituído “um momento peculiar da vida intelectual paranaense,
que revelado através das revistas manifesta-se fértil em quantidade, qualidade e
mesmo em contradições, fruto do ecletismo que caracterizou a riqueza de interessee informações.” (DICIONÁRIO, 1991, p. 467). Foram mais de uma dezena de
publicações ligadas ao simbolismo – entre elas, Club Curitibano (marco inicial, em
1890), O Cenáculo (1895), A Arte (1895), Galáxia (1897), A Pena (1897), Pallium
(1898), O Sapo (1898), Azul (1900), Breviário (1900), Turris Ebúrnea (1900) e
Stellario (1905) – concentradas, em geral, na reprodução de textos dos principais
escritores da época, além de artigos sobre literatura, com tiragens baixas e leitores
restritos.
“Se a Primeira Grande Guerra demarcou o fim da inocência das revistas
simbolistas, o término da Segunda Guerra representou um recomeço de jornada. A
maior expressão do período foi a revista Joaquim, surgida em 1946 e encerrada em
1948, com 21 números no total.” (FERNANDES, 2000, p.6) A revista, criada por
Dalton Trevisan e com Poty Lazarotto, Guido Viario, José Paulo Paes e Wilson
Martins na equipe, seguiu uma linha iconoclasta, atacando desde Alfredo Andersen
e Emiliano Perneta a Otto Maria Carpeaux e Monteiro Lobato. Em 1987 foi lançada
outra publicação importante no estado, Nicolau , patrocinada pelo Governo do Estado
do Paraná e sob a coordenação de Wilson Bueno. No artigo O Primeiro Ano de
Nicolau: "Nós do Paraná" , Eduard Marquardt fala das características principais de
Nicolau :
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“Com uma tiragem bastante elevada, que ultrapassa os 150 mil exemplares, Nicolau passa a
circular mensal e gratuitamente, quer seja como anexo aos jornais paranaenses, quer seja viacorreio para as outras localidades. Com invariáveis 28 páginas, a distribuição de espaços éfixa, correspondendo mais ou menos aos seguintes percentuais: 16% para a reportagem,
14% para a ficção (contos e crônicas), 13% para a produção poética, 13% para depoimentos,13% para resenhas, ficando os 31% restantes para entrevistas, HQs, ensaios fotográficos,cartas do leitor e informes locais. Assim sendo, o leitor do jornal estaria em contato, em doseshomeopáticas, com toda a cultura produzida no Estado.” (2005)
Enquanto fervilhavam revistas culturais ligadas à literatura, o jornalismo
diário paranaense publicava notícias de cultura espalhadas entre as outras do jornal,
sem espaço delimitado. No Diário do Paraná (periódico integrante dos Diários
Associados), Reinaldo Jardim cria na década de 1970 a página Anexo, que saía aos
domingos, provavelmente o primeiro suplemento sobre cultura em um jornal
paranaense. No final da década, surge no Anexo o encarte Raposa, que, na década
de 1980, torna-se um caderno e passa a ser editado pela Fundação Cultural de
Curitiba.
Nos anos 1980, Rosirene Gmael editava no jornal Correio de Notícias os
cadernos Programe-se (diário, com oito páginas), e Bom Domingo (entre oito edezesseis páginas que só circulavam nos finais de semana). De acordo com GMAEL
(2005), o primeiro publicava releases com a agenda da cidade e uma ou duas
matérias elaboradas:
“Entrevistas longas, onde era possível abordar um tema com profundidade ou matérias depágina, com análise e opinião. Além disso, e isso era um verdadeiro luxo, o caderno
alternava textos – ora críticos ora literários - de Paulo Leminski e Wilson Bueno. Havia
liberdade tanto para criar polêmica, quanto para abusar do humor e liberdade de texto e dediagramação. Uma página podia ter uma foto enorme e apenas uma frase... no dia em queo Leminski morreu a página do caderno saiu em branco”.
Nos finais de semana, o caderno era ocupado por artigos de opinião. Celina
Alvetti escrevia sobre teatro; Lélio Sotto Maior, sobre cinema; Francisco Alves dos
Santos, sobre cinema nacional; Carlos Gaertner sobre música, Cláudio Setto sobre
artes plásticas, Cecília Zokner, sobre literatura latino-americana. Outro tema
freqüente era a ausência de políticas culturais. “O Programe-se discutia muito a
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cultura e cada área especificamente, incluindo desde a literatura infantil até as artes
gráficas e a cultura popular” (GMAEL, 2005).
No Bom Domingo, cada edição concentrava-se em torno de um tema que
mobilizasse as pessoas – como o beijo ou a “língua do P”. As edições criticavam
desde os critérios de seleção de artistas para o Salão Paranaense à linguagem da
televisão. “Como tínhamos espaço e podíamos ir a fundo – e contávamos com
colaboradores qualificados – sempre tínhamos assuntos polêmicos que “mexiam”
com os vários setores da cidade” (GMAEL, 2005). Helena Kolody, Alice Ruiz,
Domingos Pellegrini, Paulo Leminski, Valêncio Xavier, Solda, Ernani Buchman e KeyMaguire eram alguns dos colaboradores.
Tanto no Correio de Notícias quanto no Almanaque do O Estado do Paraná,
o jornalismo cultural era feito de modo diletante, por vezes fora do expediente, pelo
esforço do editor e colaboradores em trabalhar com a cultura. O Almanaque
começou com uma coluna de roteiro às sextas-feiras, virou página diária e depois
tornou-se um caderno em formato tablóide aos domingos. Adélia LOPES, então
editora, conta sobre a influência do caderno na cidade:
“Percebi que os artistas do Paraná e entidades como o Instituto Goethe entenderam queestava começando a existir um espaço para divulgar o trabalho deles e aquilo cresceu comouma bola de neve. (...) Nos anos 80 e 90, Curitiba deu saltos culturais. Novos espaços
foram revitalizados e transformados em pontos de cultura. Tudo começou nos anos 70 como fechamento da Rua das Flores e a transformação do paiol de pólvora em teatro; criaçãode parques; festivais; a feirinha de artesanato que virou ponto de encontro. Surgiramassociações privadas, como a Associação Cultural A.Vieira, que criou um teatro no Palácio
Avenida, as escolas de idioma, principalmente o Instituto Goethe, patrocinavam a cultura esurgiram as leis de incentivos culturais. E a imprensa teve que acompanhar isso” (2005).
A profissionalização começa a aparecer com a publicação no caderno
Almanaque sob edição de Aramis Millarch. Millarch era empregado da casa, tinha
horário e estrutura para trabalhar. O caderno trazia resenhas, entrevistas e notícias,
com ênfase em cinema de arte e música popular brasileira – preferências do editor.
O Almanaque foi publicado por duas décadas, período em que alternou momentos
de maior e menor importância e influência local. Nos anos 1990 o Correio de
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Notícias entra em crise e é fechado, já há algum tempo com um caderno de cultura
sem expressividade.
Até esse momento, o jornal Gazeta do Povo, criado em 1919, não possuía
um caderno de cultura. As notícias sobre o tema eram publicadas sem editoria
específica e havia uma página chamada A Gazeta nas Artes, escrita por Adalice
Araújo. Nos primeiros anos da década de 1990, Ana Amélia Filizola (filha de
Francisco Cunha Pereira, o proprietário do jornal), percebendo a lacuna existente
determinou-se a criar um caderno de cultura na Gazeta. FERNANDES conta que
Ana Amélia enfrentou resistência por parte da chefia do jornal para concretizar seuprojeto. O argumento era de que não havia, na cidade, notícias suficientes sobre
cultura para encher um caderno. A Gazeta do Povo apresentava-se como um jornal
conservador, comportado, enquanto a cultura mantinha uma aura “marginal”. Além
disso, a divisão em cadernos ainda não fora adotada pelo jornal – se não havia um
caderno de economia ou de política, por que ter um de cultura?
Ana Amélia FILIZOLA (2005) contradiz a informação: “Não houve problema.
Apresentei a idéia e a direção aceitou prontamente. Sabíamos, através de pesquisa
e até mesmo pelo retorno dos leitores e amigos, que havia necessidade que um
jornal do porte da Gazeta do Povo tivesse o seu caderno de cultura”.
Marian GUIMARÃES relembra o método usado para convencer a diretoria
do jornal:
“Durante um mês (ou mais), diariamente nós duas recortávamos tudo que saía sobre culturanas várias páginas do jornal e íamos montando. Um dia, pegamos todas aquelas páginas(colávamos os recortes em páginas para ver quantas davam) e fomos falar com o Dr.Francisco, sobre a possibilidade de ter quatro páginas de cultura, no corpo do jornal.Mostramos aquele monte de jornais para ele, para provar que havia possibilidade. Ele olhoucom atenção e mandou que falássemos com o Dr. D'Aquino, que era o diretor de redação,porque era ele quem mandava. Fomos falar com o Dr. D'Aquino e ele disse que não poderia
resolver sem falar com o Sr. Rogério Florenzano, que era diretor comercial. Depois dissotudo, nos deram o pode (2005).
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Em 29 de março de 1992, Ana Amélia criou o Cultura G, com duas páginas
durante a semana e quatro aos domingos. A inauguração coincidiu com o primeiro
Festival de Teatro de Curitiba. “Ela marotamente aproveitou a circunstância”,
comenta FERNANDES (2005). Uma cidade que recebia montagens de Gerald
Thomas, Gabriel Villela, Antônio Nóbrega e Cacá Rosset teria material suficiente
para um caderno cultural diário. Além de Ana Amélia, Glenda Mezarobba e Marian
Guimarães formavam a equipe.
O Caderno G surgiu em 17 de junho de 1994, como um caderno de fim-de-
semana. A princípio, saía às sextas-feiras, com roteiro cultural e dividido emsessões. Ana Amélia era a editora, Marian Guimarães escrevia sobre gastronomia;
Abonico Smith cobria música e quadrinhos; José Carlos Fernandes escrevia sobre
televisão; Márcia Freitas era crítica de teatro; e Mariângela Guimarães cobria artes
plásticas e dança. Era um caderno mais profissionalizado do que fora o Almanaque,
com uma equipe e uma sala. De acordo com FREITAS (2005):
“A intenção do Caderno G era ter uma parte de serviço – roteiros de cinema, exposições,teatro, televisão, uma parte de notas (de leitura rápida) – e que as pautas fossem o maisamplas possível. Falávamos de quadrinhos, de cinema, teatro, dança, literatura, tínhamos
colunistas regionais e nacionais (como Miguel Sanches, Nélida Piñon, Wilson Martins, etc).Embora nossos leitores sejam das classes A e B, o objetivo do caderno nunca foi ser elitista, mas sim um ‘apresentador’ de opiniões e assuntos diversos ligados à cultura”.
Nos outros dias da semana, o Cultura G ainda era publicado. Aos poucos,
ocorreu a transição para caderno, o que se completou em fevereiro de 1995, com as
edições de sábado. O Caderno G dava destaque à literatura às segundas-feiras,
artes plásticas às terças, música às quartas, cinema e vídeo às quintas,
programação do fim-de-semana às sextas, notícias sobre a cidade (como feiras e
bazares) aos sábados e, aos domingos, matérias especiais e notícias que
adiantavam os acontecimentos da semana. As escolhas temáticas eram ditadas pela
agenda da cultura local. “Essa política foi mudando depois porque a gente notava
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que, como dava o forte da semana no domingo, as pessoas não tinham motivo para
comprar o caderno durante a semana”, conta FERNANDES (2005).
O Caderno G tratava a cultura de forma noticiosa, diferente das revistas dos
grupos ligados à literatura. Trazia serviços, notícias e críticas.
“A cultura tratada como notícia é uma coisa muito tensa, porque ela fere a natureza do jornalismo cultural. O barato do jornalismo cultural é não ser notícia, mas para se afirmar nomeio teve que dar um tratamento noticioso. Mostrar que a cultura estava tão na ordem dodia quanto a educação e a política. Além das críticas, trabalhar com porcentagens, com
tendências, entender o que estava acontecendo, pensar em público. A linha editorial ia por aí.” (FERNANDES, 2005)
FERNANDES comenta a nova fase do jornalismo cultural que ali se iniciava:
“Quando começa, tem um efeito na cidade que ninguém esperava. A própria classeartística ficou muito surpresa com o efeito e começou a se aproximar de um jornal que elarejeitava antes. Curitiba sempre teve um movimento cultural, mas o Caderno G ajudou ainventar um pouco isso, ele revelou para a cidade pessoas e grupos que estavam muito noseu circuito fechado. O Estado do Paraná e a outras iniciativas faziam isso, mas de repentevocê tinha um jornal com uma tiragem muito grande para os padrões da época” (2005).
Ana Amélia saiu do Caderno G em 1997 e Mariângela Guimarães tornou-se
editora, cargo que ocupou até julho de 1999. Paulo Camargo assumiu e editou o
caderno até julho de 2000, quando foi fazer especialização em Cinema nos Estados
Unidos. José Carlos Fernandes assumiu a edição até junho de 2002 e, em julho,
Paulo Camargo voltou a editar o Caderno G. “Cada editor vai imprimir seu estilo no
caderno, é fatal, tanto seu olhar quanto seu estilo. A equipe conta muito, vai puxar
de alguma maneira, mas existe uma afinação que é dada pelo editor”, afirma
FERNANDES (2005). Ele comenta o perfil editorial do caderno no período em que
foi editor:
“[Pensava] em que sentido a tentativa de se afirmar no jornalismo diário não estava tirando oque era mais legal da cultura, de ser gratuita, de um dia você querer fazer uma matéria sobreo Meu Pé de Laranja Lima, independente se o livro está sendo relançado. Nos dois anos que
eu fiquei na edição a idéia era trabalhar o noticioso, mas sempre tentar extrapolar, criar umavariação para o tema. Aumentou a quantidade de opinião, matérias especiais e interação.
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Criamos fóruns, a participação da classe artística dentro da discussão das pautas (fazíamos
encontros aqui, que eram ocasionais). [A idéia era] Fugir do artista falando do disco, do pintor falando da exposição, era criar uma pauta em cima do assunto. Criamos a sessão Trabalho
em Progresso. Ela pegava os artistas no período em que eles estavam produzindo, que eles
estavam pensando, não estavam fazendo nada. Eu tive uma certa vantagem porque nos doisanos em que eu fiquei [como editor] o caderno G teve 50 páginas por semana, uma equipelegal em número de pessoas, um correspondente nos Estados Unidos, um correspondenteem São Paulo, e todos os serviços de agência estavam funcionando.” (FERNANDES, 2005)
A “vantagem” acabou em setembro de 2002, quando o jornal entrou em uma
forte crise financeira e as páginas do Caderno G foram reduzidas pela metade. A
equipe, os colaboradores e as agências de notícias também diminuíram.
Atualmente, o caderno é editado por Paulo Camargo e conta com mais sete
jornalistas: Rudney Flores, Juliana Girardi, Nikola Matevski, Irineo Netto, Omar
Godoy, Rogério Galindo e Jennifer Koppe – contratada para substituir Adriane Perin.
A transcrição de um trecho da entrevista com FERNANDES esclarece as
dificuldades por ele percebidas ao longo da carreira como jornalista e editor de
cultura:
“Existe uma incompreensão dentro do próprio jornalismo do que é um caderno de cultura,isso é histórico. São pessoas muito ligadas à idéia de cultura como um violino em umrestaurante. É a idéia comum de que cultura é boa intenção, então há uma dificuldade delidar com a crítica. (...) A cultura não acontece em função de lançamento só. Também. Masa agenda vai engolindo, vai empobrecendo o jornalismo cultural. (...) A tendência, às vezes,é o grau de reflexão ficar um pouco abaixo, se [o jornal] acha que agradando vai atrair [oleitor]. A relação de amor e ódio é muito mais longeva no jornalismo do que a relação de
assédio. (...) Como eu vou responder ao público leitor novo? Os cadernos de cultura, aospouquinhos, parecem que estão envelhecendo. Em última análise você já não está maisconseguindo conversar com o seu público, então alguma coisa está errada. Mas esse é um
problema do jornalismo em geral, ele começa a escrever para si mesmo. Ele satisfazexpectativas internas. Esse distanciamento do leitor comum é um fenômeno geral. Comoser popular sem ser clichê, sem ser barato? Vai oscilar entre ser produto e ser idéia, entreser produto e ser reflexão.” (FERNANDES, 2005)
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5.4 PANORAMA DO JORNALISMO CULTURAL CONTEMPORÂNEO
A busca pela “objetividade”, o interesse crescente pelo factual, cortes de
orçamento, a preocupação com as vendas e outros fatores tornaram o jornalismo em
si, e a editoria de cultura particularmente, cada vez mais contido e superficial. José
Geraldo COUTO (1995), colunista de cultura da Folha de São Paulo, faz coro com
outros profissionais da área ao afirmar que o jornalismo cultural “passa hoje por uma
profunda crise”. E explica. “Ela está ligada, essencialmente, a dois fatores: a
acelerada transformação do mercado de produtos culturais e a não menos rápidamodernização dos grandes jornais brasileiros. No novo contexto criado a partir
desse conjunto de mudanças, o jornalismo cultural ainda não encontrou o seu
espaço e a sua voz.” (COUTO, 1995)
Segundo SCHMITZ (2001), “há uma quase unanimidade em afirmar que a
cobertura está pasteurizada, as matérias são cada vez mais curtas e a crítica sumiu
das páginas...”. Em vez da análise, “predomina a divulgação do fato, sem uma
repercussão sobre seus efeitos. Ou, quando isso ocorre, sobressaem os gostos
pessoais dos jornalistas, que foram preparados desde a faculdade para serem
especialistas em generalidades.” Para completar o quadro de falhas cometidas nas
editorias de cultura atualmente, o autor afirma que a produção cultural regional é
“relegada à condição de manifestação folclórica pela padronização de gostos e
comportamentos ditados pelas grandes redes de televisão.”
O jornalismo cultural já não apresenta grandes nomes da crítica ou da
reportagem e não influencia o desempenho de uma obra como antes, quando
críticos podiam definir seu sucesso ou fracasso. Adriano Schwartz, também
jornalista da Folha de São Paulo, exemplifica a perda de influência:
“Quando saiu o último livro do Sidney Sheldon ( Quem Tem Medo do Escuro? , 2004) eu fizquestão de ler e fazer uma crítica para a Folha. Achei o livro horrível e fiz uma resenhabastante crítica. Ela foi publicada no dia do lançamento do livro e ainda ficou uns 3 dias na
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página principal da UOL [site] e mesmo assim o livro foi logo para os mais vendidos. Ou
seja, nada que se faça vai mudar a vendagem” (SCHWARTZ4, citado por HERRERO, 2005).
A concorrência massiva de outros meios de informação – rádio, cinema,televisão e, mais recentemente, a Internet – também tem influenciado o conteúdo
jornalístico e a sua forma de apresentação nos veículos impressos. Para tentar
alcançar a concorrência, que leva vantagens na disseminação das mensagens e na
atração do público, jornais adotam características das novas mídias, como a
agilidade – textos mais curtos e rasos – e o apelo visual – maior espaço para
fotografias, cores e itens de destaque do texto: olhos, gravatas, etc.
A idéia de que os jornais são empresas e devem ser geridos como tais (a
receita superior às despesas, acima de tudo) e de que os leitores em geral estão
satisfeitos com as informações ligeiras e as notícias sobre programação e
lançamentos de produtos culturais legitimam o jornalismo cultural produzido em
muitos veículos atualmente. No entanto, os jornais vêm perdendo leitores em todo o
mundo, tanto entre jovens (muitos, avessos à leitura), quanto entre o público das
classes A e B – a “elite cultural” do país. O primeiro fator geralmente apontado para
a diminuição do público leitor é a concorrência com a televisão e a Internet, e as
tentativas de dar ao jornal características semelhantes a esses meios não parecem
suficientes.
O problema, segundo Di Franco, está em enxergar o jornal como um meio
de comunicação de massa.
“Esqueceram que os diários de sucesso são aqueles que sabem que o seu público,independente da faixa etária, é constituído por uma elite numerosa, mas cada vez mais órfãde produtos de qualidade. (...) O leitor que precisamos conquistar não quer o que pode
conseguir na tevê ou na Internet. Ele quer qualidade informativa: o texto elegante, a matériaaprofundada, a análise que o ajude, efetivamente, a tomar decisões.” (DI FRANCO, 2005)
De acordo com essa posição, não é raro ouvir de profissionais e professores
que a tendência, após o crescimento do jornalismo on-line, é que veículos impressos
4 SCHWARTZ, Adriano. Seminário sobre Jornalismo Cultural. 01 dez 2004.
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tornem-se mais interpretativos e aprofundados, para conquistar o público
interessado em informações além das disponibilizadas quase imediatamente depois
da ocorrência de um fato – rapidez que um jornal impresso, por restrições técnicas,
não poderia ter. Uma possibilidade ainda longe de ser realizada.
Segundo SCHMITZ: “O jornalismo cultural vive hoje o paradoxo de
submeter-se sem pejo aos ditames do mercado e, ao mesmo tempo, prescindir dos
leitores mais exigentes, que formam opinião, têm bom poder aquisitivo e seriam
capazes, se lhes dessem chances, de ajudar a estabilizar as combalidas finanças
dos jornais brasileiros.“ (2001) Apesar das modificações sofridas, os cadernos decultura ainda são o espaço para experimentações gráficas e de linguagem no
jornalismo brasileiro. É um oásis jornalístico, onde a objetividade deixa de ser a
norma número um. “... Está-se a lidar com arte e cultura, coisas que, por definição,
não se esgotam em informações objetivas – mas se desdobram em aproximações
subjetivas.” (DAPIEVE, 2003, p. 104)
Além de criatividade e da preocupação com a qualidade do texto, a editoria
de cultura exige cuidados com a apresentação gráfica. “Não pode um caderno falar
de artes e cultura sem apresentar-se ao público com um formato interessante e um
desenho instigante. A ilustração, a fotografia, as soluções gráficas são fundamentais
para que se estabeleça com o leitor uma cumplicidade estética.” (Willer, 2000).
A subjetividade, no entanto, por vezes leva o jornalista a um vício de
linguagem indesejável: o abuso da adjetivação. O adjetivo é uma palavra carregada
de juízo de valor, puramente opinativa, que não permite ao leitor ter a noção do
campo referencial do repórter ou crítico, de que ponto de vista foi analisada a obra.
À adjetivação é preferível o uso do substantivo, “capaz de informar ao mesmo tempo
que, pela exemplificação, qualifica (...) com mais conhecimento de causa do que um
simples elogio ou reparo.” (DAPIEVE, 2003, p. 104) Outro elemento indesejável no
texto jornalístico de cultura é o “nariz de cera”, ou seja, a abertura de texto
dispensável, que ao invés de informativa traz uma longa e rebuscada introdução
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antes de entrar no tema. A abertura de uma matéria de cultura não deve abolir o
lide; o que pode acontecer é o adiamento, para dar lugar a um início mais atrativo –
uma narração ou citação, por exemplo – desde que acrescente informações úteis ao
leitor.
Mais que a linguagem e a elaboração do texto, o conteúdo é a maior
deficiência do jornalismo cultural hoje. O problema começa pela seleção do que a
editoria de cultura irá cobrir. Dapieve coloca a questão da elaboração das pautas
como fator determinante do produto final (a reportagem). “O melhor caderno tende a
ser aquele que busca assuntos e tratamentos diferenciados, isso é um consensoentre os profissionais do ramo. Entretanto, cada vez mais o leitor tem a percepção
de que os diferentes jornais estão parecidos demais, repetitivos, acomodados.”
(DAPIEVE, 2003, p. 100) Há, segundo o autor, duas causas principais: a pressão
exercida pelas assessorias de imprensa, que enviam como sugestões de pauta
textos pré-prontos, já redigidos conforme a linha editorial do veículo, e a pressão da
concorrência, o medo do furo, que iguala os assuntos a serem abordados.
“No antigo jornalismo cultural, não havia pauta, exceto para uma ou duas matérias: para oresto, formava-se um grande corpo de colaboradores especializados, cada qual capaz deacompanhar as novidades no seu próprio setor, e respeitava-se o material queenviassem. No estilo atual, os editores de suplementos (em geral eles próprios gente de
formação apenas jornalística e sem nenhum mérito especial em literatura ou ciências, por exemplo) se tornaram tiranetes e a pauta se tornou uma régua destinada a tudo nivelar pelaaltura da cabeça deles. Para piorar, adotou-se nas páginas culturais a medida padrão dasmatérias do noticiário geral, sempre curtinhas porque se destinam a um público que
supostamente odeia ler. (CARVALHO, 2005)
A combinação entre o domínio da indústria cultural e a elaboração das
pautas por editores, representantes do jornal preocupados em manter o sustento
econômico, resulta em uma infinidade de matérias sobre os produtos culturais de
massa. Os cadernos de cultura, assim, seguem a agenda da indústria cultural, os
“lançamentos e eventos promovidos pelos conglomerados multinacionais de
comunicação, tais como estréias mundiais de filmes, premiações de Oscar,
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Grammy, temporadas de shows e demais promoções planetárias.” (BUITONI, 200,
p. 64) Pautado pelo show business, o jornalista muitas vezes limita-se a cumprir a
linha de montagem da indústria cultural, chamando a atenção do público para os
produtos e legitimando-os.
“... a imprensa deste setor trabalha envolvida no processo da indústria cultural, pois amaioria dos veículos de comunicação trata o jornalismo cultural baseado em serviços, naagenda de eventos, elaborando menu de programação artística voltado para o que éproduzido em tal indústria. Essa tendência tem enfatizado o aparecimento de críticos que
apenas sugestionam o consumo de uma ou outra atração e, também, de textos muitoparecidos que mostram os eventos e lançamentos da semana baseados no critério do que
vende mais.” (ROSA, 2005)
Sérgio Augusto, articulista da Bravo! , em artigo para a revista, recorda um
dia em que o início dos ensaios do musical Cambaio, com Chico Buarque e Edu
Lobo, foi a matéria de primeira página nos principais cadernos de cultura.
“E pensei comigo: puxa, o jornalismo de agenda está se aperfeiçoando; já nem espera maispelo produto acabado. (...) O que me incomodou não foi o assunto em si, mas, como de
hábito, sua evidente manipulação por gente estranha ao ofício. Uma coisa é um repórter tomar conhecimento de que Chico e Edu começarão a gravar um disco no dia seguinte earticular uma cobertura daquele encontro musical; outra é essa pauta chegar empacotadaàs redações por agentes e promoters. A diferença entre as duas é a mesma que existeentre jornalismo e marketing, canais há muito indistintos nestas paragens.” (AUGUSTO,2002)
Augusto comenta que no começo da década de 1960 os jornais não eram
“fac-símile” um do outro e que estréias, por si só, não serviam de motivação para a
cobertura jornalística – era necessário interesse pela obra, ou seja, que tivesse
qualidade. “Conferir à cultura o mesmo status jornalístico da política e da economia
foi, sem dúvida, um avanço, mas algumas deformações ocorreram, ao longo do
processo, nenhuma tão lamentável quanto o desatinado culto ao furo, à primeira
mão, à exclusividade, que na maioria dos segundos cadernos vicejou.” (AUGUSTO,
2002) Tal necessidade de publicar o mais rápido possível uma notícia ou crítica
transforma-se em queda do padrão de qualidade, menos tempo para
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aprofundamento e cuidado na elaboração da matéria. Para não privilegiar uma
publicação, o que poderia causar a retaliação do produto pelas concorrentes, as
assessorias de imprensa dos produtos culturais determinam (com o dia do
lançamento, o evento de abertura ou uma entrevista coletiva) quando seu produto
estará nas páginas do jornal. O resultado é a previsibilidade das pautas e a
sensação de “matéria comprada”.
“A verdade é que a corrupção ocorre de modo muito mais sutil, às vezes quaseimperceptível. Gravadoras de discos ou empresas promotoras de eventos compram de fatoespaço na mídia quando oferecem, por exemplo, passagem para um jornalista ir a NovaIorque entrevistar determinado popstar. O jornal, que nunca desembolsaria um tostão paraconseguir tal entrevista, sente-se na obrigação de abrir-lhe um espaço de destaque em suaspáginas.” (COUTO, 1995)
Outra ferramenta das assessorias de imprensa para barganhar seu espaço
nos jornais é o release, a princípio, um material de apoio disponível para o jornalista
como sugestão de pauta e ponto de partida para informar-se sobre um assunto.
Entretanto, na correria do fechamento diário, com o enxugamento do número de
repórteres por editoria e dead-lines cada vez mais curtos, dissemina-se a “prática
(...) de tornar o release não o subsídio mas o substituto da matéria” (BAHIANA,
2004)
O jornalismo cultural não é (ou poderia não ser) apenas agenda dos
acontecimentos da indústria cultural. Segundo ROSA, “é importante encontrar
saídas e tentar fazer o que o jornalismo sempre se propôs que é recortar a realidade
e refletir mais sobre a cultura brasileira...” (2005). TEIXEIRA chama a atenção para o
fato de a cobertura nas editorias de cultura fixar-se no produto final, sem buscar os
processos implicados na produção. “Percebe-se uma ausência de pautas sobre a
economia e a política da cultura, que poderiam minimizar o quadro.” (2005)
“O jornalismo cultural anda se sentindo pequeno demais diante do
gigantismo dos empreendimentos e dos ‘fenômenos’ de audiência”, diagnostica
PIZA. “ As publicações se concentram mais e mais em repercutir o provável sucesso
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de massa de um lançamento e deixaram para o canto as tentativas de resistência –
ou então as converteram em ‘atrações’ com ibope menor mas seguro.” (2003, p. 31)
As características próprias da cultura que deveriam pautar o jornalismo da área,
como a qualidade criativa, o aprofundamento reflexivo ou a inovação formal,
perderam para os critérios do jornalismo geral o poder de definir a cobertura de uma
obra.
“Assim, por exemplo, entre um livro excelente sobre assunto alheio ao noticiário geral e umlivro ruim sobre assunto de interesse jornalístico, este último é que é valorizado. Com isto,o jornalismo cultural torna-se apenas ‘jornalismo geral de assunto cultural’, [sem grifono original] perdendo o que é específico do jornalismo cultural. (...) Uma página de turfe, por exemplo, não privilegiará um jóquei por ser um tipo bonitão (...), mas por ter sedesempenhado bem segundo critérios estritamente turfísticos. Isto é tão óbvio que nem
deveria precisar ser explicado, mas o nosso jornalismo está tão doente que tem dificuldadeem entender essas coisas.” (CARVALHO, 2005)
A opinião já foi a parte mais valorizada das editorias de cultura, espaço para
análises e argumentações sobre as obras. “Todo grande momento cultural moderno
foi também um momento de proliferação de ensaios e resenhas”, afirma PIZA(2003). No jornalismo atual, entretanto, a crítica perdeu relevância e profundidade,
“se reduziu a um comentário binário, do eu gosto/eu não gosto, impressionista demais, ouentão uma voz tribal, de gueto, como se vê tanto na música pop - mas se vê também naresenha de livro nos suplementos de fim de semana, em que o objeto é resumido e depoisrecebe nota qualificadora, sem passagem pela fundamentação, pelo convencimento, pelaperspectiva. O jornalismo cultural virou uma espécie de júri de escola de samba.” (TORRES,2005)
E a opinião, como o restante do conteúdo da editoria de cultura, submeteu-
se à lógica da indústria cultural:
“Todos os filmes que entram em cartaz e virtualmente todos os discos e livros consideradosimportantes são objeto de comentário crítico nos jornais. O resultado mais imediato dessaopção pela extensão, em detrimento da profundidade, é a substituição da críticapropriamente dita pela resenha. Com poucas linhas à disposição para abordar uma
determinada obra – seja filme, disco, livro ou peça de teatro –, o resenhista limita-se, nomais das vezes, a uma sinopse, seguida da emissão de uma opinião. Sacrifica-se, desse
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modo, a análise abalizada da obra, de como ela utiliza a linguagem que lhe é própria para
atingir determinados fins estéticos, éticos ou sociais.” (COUTO, 1995)
O jornalismo é um meio de disseminação do acesso aos bens culturais, por isso deveria tratar o mercado sem preconceitos ou parcialidades ideológicas. Ao
mesmo tempo, por influir sobre as opiniões do leitor, o jornalismo cultural tem “o
dever do senso crítico, da avaliação de cada obra cultural e das tendências que o
mercado valoriza por seus interesses, e o dever de olhar para as induções
simbólicas e morais que o cidadão recebe.” (PIZA, pág. 45)
Dapieve vê na crítica um gênero fundamental do jornalismo de cultura e
destaca o desprezo relegado à crítica de televisão no país. “’Crítica’ traz embutida
uma idéia de peso e de aprofundamento que cada vez mais raramente jornais e
revistas conseguem materializar, por propósitos editoriais e por falta de espaço físico
mesmo.“ (DAPIEVE, 2003, p. 107) Para o autor, o foco das publicações mudou:
passou do criador da obra para a massa de consumidores dos produtos culturais
(incluídos os jornais). Com a função de orientar esses leitores, a crítica esvaziou-se
e adquiriu a forma de ‘resenha crítica’, mais apropriada à publicação nos jornais. Em
vista a “queixa comum de que ‘a crítica piorou’”, o autor indica um roteiro a ser
seguido para que, mesmo em espaço reduzido, possa ser produzida uma resenha
crítica que vá além de “achismos” :
“1º. fornecer um mínimo de informação objetiva, que funcione como um serviço ao leitor,nomes, datas, títulos, circuito, editora, gravadora, etc.; 2º. contextualizar o presente trabalho
dentro do conjunto da obra do seu autor; 3º. contextualizar o autor dentro do cenárioartístico e histórico de onde ele surgiu, inserindo-o, por exemplo, numa escola ou estilo; 4º.avaliar forma e conteúdo, isto é, informar o enredo ou o conceito, e julgá-lo de acordo comseus meios expressivos; e 5º. opinar (sobre o trabalho em pauta) e refletir (a partir dele, por vezes em direção à própria vida e seus múltiplos sentidos)”. (DAPIEVE, 2003, p. 109)
Buitoni também aponta um caminho para a crítica cultural de qualidade:
“Conhecer os códigos e a história da arte ou do produto cultural a ser criticado, usar dametalinguagem própria daquele tema, inclusive explicando-a para o leitor, parece ser um
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rumo adequado para que a crítica jornalística traga informação e não seja apenas uma
paráfrase, recontando o filme ou a peça, ou descrevendo o quadro ou, então, impressãogostei ou não gostei.” ( 2000, p. 65)
Por sua vez, Piza defende o retorno do jornalismo cultural às origens
ensaísticas como forma de retomar a qualidade e a relevância da editoria.
“... há um afastamento amazônico em relação ao que o ensaio teve de mais transformador:o espírito que é ao mesmo tempo aberto e seletivo, com boa vontade e senso críticotrabalhando simultaneamente. O ensaio nasce precisamente do ceticismo, da dúvida diantedo que é apresentado como novo, justamente com a função de detectar aquela novidadeque tem poder de permanência, ao menos de pertinência geracional. Você lê hoje umaresenha dessas e não sabe se aquilo que está sendo elogiado tem o fôlego de uma semanaou um século.” (PIZA, 2002)
A recuperação dos ensaios não poderia, entretanto, manter o tom erudito
dos ensaístas de antigamente. Seria necessário encontrar uma linguagem atraente e
clara que permitisse a densidade do texto, a “capacidade de descrever conexões
mais sutis e irônicas entre as coisas, de perturbar o senso comum, de dizer muito
com pouco sem ser obscuro”. (PIZA, 2002) Piza cita Luis Fernando Veríssimo,
Arnaldo Jabor, Carlos Heitor Cony e Marcelo Coelho entre os escritores que
procuram dar tais características a seus escritos.
DAPIEVE levanta um questionamento pertinente: “...o que habilita alguém a
assinar reportagens e comentários sobre algo tão subjetivo quanto arte nas páginas
de um grande jornal ou de uma revista de circulação nacional?” (2003, p. 96) E
responde: “Essa pessoa haverá de ter, e não será a faculdade que vai dar em meros
três ou quatro anos, um enorme interesse e um conhecimento profundo sobre a
forma de arte da qual se propõe a escrever.” (DAPIEVE, 2003, p. 96) A
especialização por assunto (literatura, teatro, cinema, etc.) é uma saída para a área,
já que entender com profundidade de todos os assuntos que compõem o universo
da cultura é tarefa próxima do impossível.
Apesar do cenário apresentado, existem pontos de fuga para quem busca
qualidade no jornalismo cultural. Buitoni cita as revistas Bravo! , Cult e Palavra como
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espaços em que se encontra uma crítica de cultura mais elaborada. Para Piza, “o
Caderno 2 do Estado continua a ser o mais generoso em termos de páginas, e o
Mais! da Folha é um suplemento que às vezes até exagera no intelectualismo."
(2003, p. 115)
‘Assim como os segundos cadernos sofrem o efeito da falta de publicações semanais sobreartes e espetáculos, os suplementos vêem-se obrigados a tentar suprir a escandalosaausência de uma revista literária no País. Os intelectuais, estudiosos, acadêmicos eescritores (...) escrevem sem nenhuma preocupação com a inteligibilidade de seu texto e
de suas idéias. (...) Em síntese, temos, de um lado, uma cobertura jornalística cotidiana areforçar de modo acrítico e redundante a produção da cultura de massa. De outro, uma
reflexão erudita acessível a poucos, normalmente já convencidos – ou convertidos.’(COUTO, 1995)
A dicotomia entre as publicações de cultura de massa (ou pop) e as de
cultura para a elite intelectual (eruditas) acontece, portanto, na diferenciação entre
os cadernos de cultura diários e os suplementos semanais, como a Ilustrada e o
Mais! , ambos da Folha de São Paulo. Os primeiros são acusados de superficialidade
e de submeter-se ao mercado; já os segundos, eruditos em demasia, por vezesacadêmicos, restringindo (e muito) o público leitor.
Piza redimensiona a problemática da queda de qualidade nas editorias de
cultura, expondo o contraste com a atenção que mereceriam das empresas
jornalísticas:
“O triste é que esses segundo cadernos são mais importantes para os jornais e revistas do
que eles costumam imaginar. Não só as pesquisas de leitura em cada publicação apontam,na maioria das vezes, a seção como a primeira ou segunda mais lida depois da primeirapágina (ajudada, como se sabe, por coisas como quadrinhos, coluna social e horóscopo),mas também é dali que o leitor, muitas vezes, extrai suas referências afetivas, suas pontescativas com a publicação.” (PIZA, 2003, p. 63)
Para Fernando TORRES, “não é correto dizer que o jornalismo cultural hoje
é pior do que no passado - é diferente.” A diferença maior seria a de influência. A
visão do jornalista, ao contrário de muitos que examinam o jornalismo cultural do
ponto de vista do passado, está amarrada ao contexto atual. “As modificações da
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arte em si explicam, em parte, a nova representação do jornalismo cultural. Uma
cultura de massa merece uma análise de massa [sem grifo no original] -
conclusão óbvia.” (TORRES, 2005)
Entretanto, quando se considera a cultura além da massificada, há mais
distância entre o jornalismo cultural praticado e o desejável. “Ele é, ou deveria ser,
na sua essência, a tradução da sociedade que está refletida nas artes e na produção
cultural. (...) A informação cultural não deve se limitar à descrição do universo das
artes. É preciso promover o debate, refletir sobre as questões contemporâneas e
intervir na discussão.” (ZAPPA, 2005)COUTO (1995) propõe um caminho para o desenvolvimento do jornalismo
cultural: “Facilitar o complexo e complicar o fácil [sem grifo no original].” O
jornalista explica: “... diante das expressões mais complexas do espírito humano (...)
cabe ao jornalismo cultural tentar torná-las mais acessíveis ao homem comum ou,
pelo menos ao indivíduo medianamente informado que lê jornal. E, diante das
expressões mais banais da cultura de massa, inseri-las criticamente no contexto
histórico-cultural que as fundamenta e que dá sentido.” (COUTO, 1995) Não é uma
proposta fácil de ser seguida, segundo o próprio autor, porém, mostra-se uma saída
pertinente e interessante, por combinar a densidade de conteúdo à democratização
do acesso a informações sobre cultura, sem preconceitos contra os produtos da
indústria cultural.
5.5 GÊNEROS DO JORNALISMO CULTURAL
A distinção básica de categorias jornalísticas é dual: jornalismo informativo x
jornalismo opinativo. Ainda que nenhuma das formas exista “puramente”, a
separação é clara. Outras categorias de classificação já foram propostas, como o
jornalismo interpretativo e o jornalismo de entretenimento ou diversional. As opiniões
de jornalistas e estudiosos sobre a validade da separação dessas categorias
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divergem. O jornalismo interpretativo seria aquele em que há um esforço em recriar
as conexões e os contextos do fato, fazer comparações e análises para
compreender seus sentidos, sem a valoração do fato. Já o diversional trata de forma
romanceada fatos e personagens, como os depoimentos e as histórias de interesse
humano. É nessa categoria, também, que José Marques de MELLO inclui o New
Journalism, que resgata a linguagem literária, implica envolvimento pessoal do
repórter com personagens e cenários, produzindo uma narrativa mais sensível aos
acontecimentos – Gay Talese, Tom Wolf e Truman Capote são os grandes
representantes do Novo Jornalismo norte-americano.O jornalismo pode ainda ser dividido em gêneros, definidos segundo
diferenças de estilo e uso da linguagem. A classificação dos gêneros jornalísticos
varia conforme o autor. Mello propõe uma adequada aos jornais brasileiros, partindo
das duas categorias básicas e subdividindo-a em gêneros. Assim, nota, notícia,
reportagem e entrevista compõem o jornalismo de informação; editorial, comentário,
artigo, resenha, coluna, crônica, caricatura e carta fazem parte do jornalismo de
opinião.
“A nota corresponde ao relato de acontecimentos que estão em processo de configuraçãoe por isso é mais freqüente no rádio e na televisão. A notícia é o relato integral de um fatoque já eclodiu no organismo cultural. A reportagem é o relato ampliado de umacontecimento que já repercutiu no organismo social e produziu alterações que são
percebidas pela instituição jornalística. Por sua vez, a entrevista é um relato que privilegiaum ou mais protagonistas do acontecer, possibilitando-lhes um contato direto com acoletividade.” (Mello, p. 67)
Pelas suas temáticas, outros gêneros jornalísticos, além da reportagem, são
necessários na editoria de cultura. Os gêneros opinativos complementam o trabalho
do jornalista cultural, permitindo novos enfoques, a elaboração de análises e uma
cobertura jornalística mais sensível e reflexiva – o que condiz com as características
intrínsecas das manifestações culturais.
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Entre os gêneros opinativos, o comentário analisa fatos importantes mas de
menor abrangência que o editorial (manifestação da opinião do jornal, veiculado em
espaço fixo do primeiro caderno), e é assinado, ou seja, manifesta a opinião do
autor, não necessariamente a linha editorial do jornal. O comentarista deve ser um
observador privilegiado dos fatos. Já o artigo é a argumentação de um autor,
jornalista ou não, que explicita sua opinião. É mais curto que o ensaio e apresenta
pontos de vista mais transitórios, visto que os fatos ainda estão desenrolando-se. O
ensaio traz pontos de vista mais definitivos, embasados em fontes que confirmam a
opinião do autor. E as colunas são seções fixas, especializadas, com unidadescurtas de texto informativo e opinativo, em estilo mais livre e pessoal.
A crônica presente nos jornais brasileiros é um gênero próprio da imprensa
nacional. Uma composição leve, com linguagem trabalhada, estilo pessoal, humor
ou ironia, relacionada a notícias e acontecimentos atuais. Trata de assuntos
cotidianos de interesse coletivo. É composta por jogos de palavras e conceitos,
associações e contraposições de idéias, em que o ficcional aparece para realçar o
real.
A resenha crítica, gênero característico da editoria de cultura, é
conseqüência de modificações sofridas pelo jornalismo que esvaziaram a crítica de
embasamento estético. Com a profissionalização e a popularização da imprensa, “os
grandes intelectuais não quiseram fazer concessões à simplificação e à
generalização pretendidos pela indústria cultural” (MELO, 1994, p.126) e os editores
viram a necessidade de tirar a crítica do âmbito exclusivamente intelectual para
apresentá-la às massas e torná-la mais utilitária. A apreciação dos produtos culturais
para orientação do público consumidor passou a ser feita, então, pela resenha.
“Desaparece (ou se torna residual) a crítica estética dedicada a apreender o sentido
profundo das obras-de-arte e situá-las no contexto histórico, surgindo, em seu lugar, aresenha, uma atividade mais simplificada, culturalmente despojada, adquirindo um nítidocontorno conjuntural (...) Trata-se de uma atividade eminentemente utilitária; havendo
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muitas opções no mercado cultural, o consumidor quer dispor de informações e juízos de
valor que o ajudem a tomar a decisão de compra.” (MELO, 1994, p. 127-128)
O crítico precisa argumentar em defesa de suas escolhas, ir além do simples“gostei” ou “não gostei” e fundamentar sua avaliação. Deve evitar o banal, o exagero
e o deslumbre, não confundir o autor com o narrador ou o ator com o personagem. A
boa crítica não admite ataques pessoais. Consiste no julgamento de valor de uma
obra (pessoal), com o qual o leitor poderá ou não concordar. O primeiro papel do
crítico é compreender a obra, para informar ao leitor qual será sua impressão geral
(seus temas e estilo) e o que ela pode oferecer-lhe de valioso. A análise deve levar
em consideração as intenções do autor e o contexto no qual está inserido (histórico,
social e, principalmente, artístico).
A resenha é o resumo crítico de um produto cultural, mais rápida e menos
aprofundada que a crítica. Traz a apreciação da obra, com a finalidade de orientar
apreciadores e consumidores. Deve trazer dados sobre a biografia e importância do
artista responsável pela obra, breve análise dos precedentes e contextos, resumo da
obra e comentário crítico em relação a ela, com linguagem acessível, sem ser banal.
Outro gênero encontrado nas editorias de cultura (não citado por MELO) é o
perfil , reportagem interpretativa que busca retratar uma pessoa por meio de dados
biográficos e declarações de entrevistados (o próprio perfilado, familiares, colegas
de trabalho, amigos, desafetos). O perfil traz opiniões da pessoa em pauta sobre
assuntos importantes e o que os outros dizem dela, sua participação na sociedade
(cultural ou política), fatos relevantes de sua vida, carreira, cotidiano e comentários
sobre ela. Deve ser intimista sem ser evasivo e evitar glamurizar ou detratar a
personalidade.
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5.6 A PRÁTICA JORNALÍSTICA
A análise de um produto jornalístico não pode ser realizada sem pressupor-
se a natureza da atividade, algumas características que a definem e sua finalidade
social, que, em linhas gerais, é informar o cidadão e propiciar a formação de
opiniões sobre os assuntos discutidos na sociedade. O jornalismo há décadas
deixou de ser considerado o espelho direto da realidade, objetivo e imparcial. A
própria noção de realidade tem sido questionada, como algo que não existe em
estado bruto, único, pronto para ser relatado – mas constrói-se conforme a visão dequem a relata, o viés apresentado, a seleção dos fatos e fontes considerados
importantes. Hoje, entende-se que o jornalista faz a mediação entre a(s) realidade(s)
e o indivíduo – e ainda que busque ser um mediador objetivo e pluralista, o resultado
de seu trabalho não escapa por completo da subjetividade inerente a qualquer
indivíduo. Jorge Cláudio RIBEIRO define os diferentes pontos que a mediação
jornalística tenta aproximar:
“A ação mediadora do jornal situa-se entre vários pólos: de um lado, o mundo imediato doleitor e de outro uma realidade mais ampla (outros lugares e épocas); as vivênciasfragmentadas do indivíduo e o universo social; a relativa impotência do cidadão comum e adefesa do interesse público; um cotidiano desprovido de brilho e a proximidade de pessoasproeminentes e inacessíveis; o difícil acesso aos mecanismos ocultos que interferem navida de cada pessoa e seu desvendamento.” (RIBEIRO, 1994, p. 13)
O primeiro passo para a construção de uma notícia é a seleção de quais
acontecimentos devem estampar os jornais do dia seguinte. “Ao divulgar umanotícia, a imprensa seleciona uma ocorrência que afeta diretamente um grupo
restrito e a transforma num fato capaz de mobilizar e emocionar toda a sociedade,
canalizando suas energias para ações conjuntas.” (RIBEIRO, 1994, p. 11) A seleção
de quais aspectos da realidade são fatos jornalísticos não ocorre aleatoriamente.
“Os autores estabelecem certos critérios coincidentes como o de atualidade,
interesse por parte do público, veracidade e facilidade de assimilação ou clareza
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(legibilidade para os norte-americanos). E os critérios vão assumindo um status de
verdades tácitas, sem aprofundamento crítico.” (MEDINA, 1988, p. 20)
É evidente a presença de juízo de valor em critérios como “interesse”. Como
definir o que é de interesse público, sem cair apenas nas regras da subjetividade?
Medina apresenta os critérios que o editor deve adotar: importância das pessoas
envolvidas no acontecimento, raridade, curiosidade, conflito, entretenimento e
utilidade prática. A subjetividade permanece dentro desses critérios – ela está
presente, sem alternativas, em todo trabalho de um jornal. Ainda assim, esses são
alguns dos principais padrões que o jornalismo costuma seguir – poderiam ser incluídos, entre eles, a atualidade, a proximidade e a abrangência. Medina apresenta
outras formas de classificação das notícias, tendo por critérios: a ocorrência
(previstas, imprevistas, mistas), a procedência (local, estadual, nacional,
internacional) e o tratamento (pesquisa, comparação, interpretação, seleção).
A editoria de cultura é composta por jornalistas que ocupam as seguintes
funções:
“... editor, subeditores, repórteres e críticos, embora boa parte das redações hoje seconstitua de repórteres-críticos... (...) O editor deve ser alguém que, sem abrir mão de suasconvicções pessoais, pois ‘editar’ tem a ver fundamentalmente com ‘escolher’, seja capazde olhar sem paixão para o material (inclusive humano) que tem à mão de modo a, levandoem conta os interesses do leitor, priorizar este ou aquele assunto. No entanto, também deveestar preocupado em surpreendê-lo, apresentando-o a manifestações artísticas que eleignorava de todo ou em parte.” (DAPIEVE, 2003, p. 97)
Há ainda os colaboradores externos, geralmente críticos de áreas de
conhecimento ainda mais específicas. A construção da mensagem jornalística é um
processo dividido em etapas, aos moldes da divisão industrial do trabalho. O
trabalho do jornalista começa com a elaboração da pauta, que define o assunto a
ser tratado e traz orientações sobre sua angulação. A angulação a ser dada à
matéria é percebida pelo repórter não apenas pela pauta, mas pelos valores e
comportamentos típicos da empresa para que o jornalista está trabalhando. A busca
por adequar-se ao “gosto médio” também se impõe no trabalho jornalístico diário nos
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veículos de massa. A elaboração e distribuição da pauta, hoje, é responsabilidade
do editor, profissional que:
“...está em perfeita sintonia com a angulação da empresa, com a angulação-massa – ouseja, age como elemento regulador da oferta e da demanda. (...) o editor define aformulação da mensagem. Seu lugar de valorização, a morfologia com a matéria aparece napágina, os títulos, a diagramação, o emprego da fotografia, tudo isso, a rigor, deverá estar intimamente ligado com a angulação inicial que gerou a matéria.” (MEDINA, 1988, p. 80)
Sempre sob o peso do ritmo industrial, há ainda a necessidade de respeitar
o dead-line e atrair o consumidor.
A etapa seguinte da produção da reportagem é a coleta de dados. Hoje,grandes agências internacionais e nacionais disponibilizam, por contrato, seus
conteúdos noticiosos para os veículos impressos, que não raro compram a
reportagem e publicam-na sem alterações. Quando a coleta de dados é feita pelos
repórteres, o contato com a fonte pode ser pessoal, por telefone ou mesmo por e-
mail. Os dois últimos são formas mais ágeis, que se encaixam bem na rapidez
necessária à produção da informação diária, mas podem ocasionar a perda de
nuances e oportunidades que surgem na entrevista ao vivo. Ao repórter, cabe “a
observação do fato, a descrição minuciosa dos dados julgados essenciais, a busca
de informações complementares de todas as pessoas representativas de uma
vivência do acontecimento, a busca de opiniões especializadas de observadores
científicos da realidade.” (MEDINA, 1988, p. 86).
O horário de fechamento determina a distribuição do jornal, que, se chegar à
banca depois do concorrente, perde em vendas. A informatização das redações vem
para acelerar o fechamento da edição. “A direção dos jornais não aceita como
desculpa as condições de trabalho que ela mesma oferece aos jornalistas; é comum
estes interiorizarem a precariedade (cultural inclusive) do processo produtivo como
se fosse sua exclusiva responsabilidade.” (RIBEIRO, 1994, p. 122) Elas exigem com
rigor, ao mesmo tempo em que impõem condições de trabalho precárias. Para
manter a adesão do trabalhador intelectual, as empresas envolvem diretores e
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jornalistas no “jogo do poder [que] procura articular tensões aparentemente
contraditórias: aliciamento e pressão; reforço positivo e reforço negativo.” (RIBEIRO,
1994, p. 149). Contratações, demissões, promoções, cortes nos textos, localização
nas matérias nas páginas, elogios e críticas são alguns dos mecanismos de
estimular e pressionar o jornalista.
O deadline deve ser cumprido, ainda que isso signifique falhas na
informação, como a supressão de resultados de partidas de futebol, ou o uso de
fórmulas e lugares-comuns que agilizam a produção textual (reflexões,
questionamentos e criatividade “atrasam” o cumprimento da tarefa). Antes tãovalorizados, o furo e a reportagem em profundidade desaparecem, pela falta de
investimento nas origens e correlações dos fatos – o que tomaria o tempo do
repórter e o dinheiro da empresa. Até a diversidade de fontes se restringe quando o
tempo é curto. Daí a tensão do editor, que responde pelo cumprimento do horário e
pela qualidade da edição – e repassa a tensão ao repórter, para que entregue o
texto sem atrasos. Mas chegar na banca a tempo não é o bastante, é preciso
conquistar e manter o interesse do leitor. “Apesar do esquema profissional de
distribuição, de promoção, marketing e vendas, os jornais sabem que precisam tocar
a alma do leitor, atender a alguma necessidade importante, criar um elo duradouro.“
(RIBEIRO, 1994, p. 90)
A formulação da mensagem noticiosa, ou seja, a estruturação das
informações dentro da notícia, faz-se, freqüentemente, por meio de “fórmulas de
consumo fácil: a cronologia do acontecimento e sua reprodução é o caso mais típico,
o que se chama ‘ilusão cronológica’ ou tentativa de recomposição do real
referenciado.” (MEDINA, 1988, p. 102) Outras fórmulas são a “pirâmide invertida”,
em que as informações são dadas em ordem decrescente de importância; a
organização de informações em bloco, separados por intertítulos; e a apresentação
de personagens, que humaniza o relato.
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Quanto à linguagem jornalística, os manuais estabelecem o uso do
vocabulário simples e acessível – o mais comum em todas as produções da
indústria cultural (das letras de música aos anúncios publicitários e programas de
televisão), por possibilitar que a grande massa não-intelectualizada seja atingida.
Outra tendência da linguagem – e aqui o jornalismo cultural é uma das áreas mais
atingidas – é a “emotivação”, para criar o clima da matéria, que pode manifestar-se
como “adjetivação” do texto. O recurso costuma invadir o jornalismo opinativo
quando a capacidade argumentativa diminui.
São dois os mercados para os quais as empresas jornalísticas estãovoltadas: o publicitário e o consumidor – este não é o individuo concreto, mas uma
estatística mercadológica. E, é o primeiro a principal fonte de renda dos veículos. A
partir do espelho da página, já com o desenho dos espaços vendidos para a
publicidade, o editor tem o restante para planejar a organização das matérias. Nessa
ordem, “é muito freqüente o editor precisar encurtar ou até suprimir notícias
importantes e que demandaram trabalho, porque o espaço que sobrou dos anúncios
para as notícias era pequeno.“ (RIBEIRO, 1994, p. 94)
No primeiro volume do livro Teoria do Jornalismo, Nelson Traquina trata de
teorias intimamente ligadas à prática da atividade jornalística, que serão úteis para a
segunda parte deste trabalho. Foram selecionadas as que se encaixam de forma
mais adequada aos temas e objetivos desta monografia. A primeira é a teoria da
ação pessoal ou do “gatekeeper” . A teoria do gatekeeper surgiu nos anos 1950, com
David White, e diz respeito às escolhas pelas quais o fluxo de informações deve
passar para a seleção do que é ou não notícia. Após estudo com jornalistas
americanos, White verificou que a seleção de notícias partia de um julgamento
arbitrário e subjetivo, e dependia das “experiências, atitudes e expectativas do
gatekeeper ” (TRAQUINA, 2004, p. 150), ou seja, era uma “ação pessoal”. Os
critérios mais citados pelos gatekeepers foram a “importância” e a freqüência do
fato. Essa teoria é restrita ao nível da avaliação individual do jornalista que, para
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outros teóricos do jornalismo, como Gieber, raramente pesam no processo de
seleção.
A teoria organizacional amplia a anterior, inserindo a atividade do jornalista
na organização em que trabalha. Para Warren Breed, a política editorial da
organização predomina sobre as crenças pessoais do profissional, por meio de sutis
recompensas e punições (como reprimendas e alterações no seu texto) que, ao
longo do tempo, ensinam ao jornalista as regras da empresa, ainda que nunca
sejam explicitadas. Tais regras presumidas não tolhem totalmente o trabalho do
jornalista, que ainda encontra opções de seleção ao “decidir quem entrevistar equem ignorar, que perguntas fazer, que citações anotar e, ao escrever o artigo, que
itens realçar, quais enterrar e, de um modo geral, que tom dar aos vários elementos
possíveis da notícia.” (TRAQUINA, 2004, p. 156) Breed conclui que o jornalista
geralmente adequa-se à linha editorial da empresa, entre outros motivos, porque é
dela que recebe recompensas (principalmente em relação a sua carreira
profissional), não do leitor.
Outro ponto lembrado pela teoria organizacional é o papel da publicidade
nos jornais. O espaço comprado para anúncios determina o espaço que restará para
as notícias, afinal, é a publicidade que sustenta a empresa jornalística. O lucro
também pode interferir na cobertura jornalística de outra forma: a falta de recursos
para cobrir certos acontecimentos (como, no caso da editoria de cultura, festivais em
outras localidades ou que impliquem o pagamento de horas-extras), para a
contratação de mais profissionais ou para elaboração de reportagens mais
aprofundadas. O resultado pode ser a “homogeneização dos conteúdos mediáticos e
a limitação ao pluralismo de opiniões nos media.” (TRAQUINA, 2004, p. 160).
Traquina enumera as variáveis que podem determinar o trabalho do jornalista na
empresa: a atuação do diretor, o tamanho da empresa – que influencia, por sua vez,
o grau de especialização dos profissionais, a comunicação interna, o grau de
autonomia dos jornalistas e a flexibilidade das estruturas de controle.
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A teoria interacionista considera o tempo um fator determinante da produção
jornalística. O desafio cotidiano da profissão é entregar o produto final no prazo
estipulado, ou seja, até a hora do fechamento. Em um caderno diário (como o G da
Gazeta do Povo, que produz sete edições em cinco dias) o tempo disponível para
elaboração de cada reportagem não raro interfere no produto final. A teoria identifica
outros fatores que interferem na produção jornalística: a ordem no espaço – como os
jornais não têm possibilidade de cobrir todo o espaço territorial, as notícias
“acontecem” onde há recursos para se noticiar os fatos, e formam-se “buracos” na
rede noticiosa, tanto geográficos quanto temáticos – e a ordem no tempo – os“buracos” podem ser ainda temporais, já que as empresas jornalísticas nem sempre
têm recursos para cobrir acontecimentos fora do expediente. Para aumentar a
eficácia do profissional e ordenar o tempo e o espaço, são instituídas rotinas a
serem seguidas pelos jornalistas, que podem criar a dependência de fontes
rotineiras e oficiais.
Além disso, a teoria interacionista “defende que os jornalistas não são
simples observadores passivos mas participantes ativos na construção da
realidade.” (TRAQUINA, 2004, p. 204) Essa margem de liberdade que torna o
jornalista um participante ativo no processo de elaboração das notícias, a
interferência da empresa jornalística e a rotina em uma redação serão alguns dos
fatores considerados na análise da produção do caderno de cultura do jornal Gazeta
do Povo.
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6 O CADERNO G
Neste capítulo, o caderno será apresentado de forma descritiva, com a
distinção entre o material produzido pelos jornalistas da equipe e o elaborado por
colaboradores. Este será caracterizado para complementar a apresentação do
jornal, enquanto a caracterização e análise daquele, por ser o objetivo central do
trabalho, ocupa a segunda parte deste capítulo – sob o ponto de vista dos
produtores – e ítens posteriores. As diferentes visões dos produtores (aqui
entendidos como os repórteres e o editor do caderno) foram captadas a partir deentrevistas5. O confronto de idéias se justifica por propiciar o entendimento das
propostas dos produtores e a aproximação da realidade da rotina de trabalho6.
Segundo o editor Paulo CAMARGO (2005), “o jornalismo cultural é muito o reflexo
das cabeças das pessoas que o fazem, não ser assim seria contraditório”.
O perfil do Caderno G é mais amplo que o perfil da Gazeta como um todo,
com faixa etária mais abrangente e equilíbrio entre leitores masculinos e femininos –
o leitor da Gazeta está na faixa dos 30, 40 anos e o jornal é mais consumido nas
classes A e B. “O G tem uma penetração um pouco maior junto a formadores de
opinião. Existe um número substancial de pessoas que compra a Gazeta do Povo
por causa do caderno de cultura – até porque o jornal nacional não contempla a
agenda cultural do que está acontecendo na cidade” (CAMARGO, 2005).
O caderno de cultura da Gazeta do Povo é veiculado diariamente, com uma
página inteira ocupada por guias de programação e duas notas sobre cinema. De
segunda à quinta-feira e aos sábados, o caderno possui quatro páginas. Das três
não ocupadas pelo guia da programação, cerca de duas metades de página são
dedicadas a colunas de profissionais de fora da equipe. A coluna da segunda página
é assinada por Wilson Martins e discorre sobre crítica literária com linguagem e
5 O método utilizado no desenvolvimento e aplicação das entrevistas está especificado no item 4 deste
trabalho. O questionário modelo aplicado aos repórteres está em anexo (ANEXO 1).6 A relevância da rotina na prática jornalística é comprovada por variadas teorias, apresentadas noitem 5.6 desta monografia.
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temática elitista e acadêmica7. Na contracapa do caderno, Miguel Sanches Neto 8
escrevia até o fim de mês de setembro textos menos pedantes na linguagem e que
tratavam de temas diversos, da crônica à crítica. Em outubro o espaço foi ocupado
por matérias.
Às sextas-feiras, véspera do fim de semana e, portanto, dia propício à
programação de cinema e outros eventos culturais, o caderno sai com seis páginas.
Uma página inteira denominada “Bom Gourmet9”, é produzida pela jornalista Marian
Guimarães, e abriga uma coluna sobre vinhos assinada por Luiz Groff 10,
desvinculados da equipe da editoria de cultura. Desde o início do mês de outubro, acoluna de Miguel Sanches Neto é publicada na edição de sexta-feira.
Aos domingos o caderno é maior. Possuía oito páginas até o dia 11 de
setembro e a partir da edição seguinte passou a apresentar dez páginas. O aumento
incluiu a entrada da coluna social de página inteira da jornalista Nadyesda Almeida 11
- adjetivação em detrimento da informação – e da seção de quadrinhos, horóscopo e
palavras cruzadas nos domínios espaciais da editoria de cultura. Outra coluna fixa é
a de Nina Chavs, em que a jornalista comenta o meio cultural europeu. Nina fala de
estréias de shows, crise em galerias de arte, moda e outros assuntos, sem
profundidade e dando ênfase ao glamour 12.
7 Por exemplo: “Claro, Autor, Crítico e Leitor são entidades nominalistas, não pessoas reais: trata-sede personae complementares, nas quais a literatura simultaneamente se hipostasia” (MARTINS, Wilson.Sobre acrítica.Gazeta do Povo, Curitiba, 05 set. 2005).
8 Por exemplo: “A descrição que Hilda faz dos pés do criador é de uma beleza sensual e mostra oquanto ela se encontra facinada por seu interlocutor, nestes poemas que Alcir Pécora define como apóstrofes aDeus” (SANCHES NETO, Miguel. Travessia acompanhada. Gazeta do Povo, Curitiba, 05 set. 2005). Ou “Achoque todo mundo já quis pertencer a outra espécie animal. Meu desejo mais secreto é me transformar emtartaruga”. (IDEM. O Clão dos Quelônios. Gazeta do Povo, 12 set. 2005).
9 Cobertura da área de gastronomia, com matérias sobre restaurantes e chefes de cozinha.10 A coluna, denominada In Vino Veritas, varia entre o caráter informativo e a crônica.11 Coluna sobre a “alta sociedade”, com datas de aniversários, fotos em eventos, perfis, etc. Por
exemplo: “Beleza de corpo e alma. Assim é Marilis Bocarth. (...) No clique, foi flagrada na loja Animale conferindoas novidades da coleção Primavera/Verão” (ALMEIDA, Nadyesda. La Blonde. Gazeta do Povo, 25 set. 2005)
12 Entre as “pérolas” da coluna, está o trecho: “Começa o OUTONO[sic], na Europa, eis um desafio:
633 romances novos, que serão lançados no mercado francês nos próximos dois meses. E a maioria temtiragem mínima de cem mil exemplares. Cultura demais para os reles mortais: é por isso que há tantadepressão por aqui [sem grifo no original]” (CHAVS, Nina. Gazeta do Povo, Curitiba, 04 set. 2005).
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Roberto Gomes13 e Domingos Pellegrini14 (mais irônico ou provocativo)
escrevem colunas em edições alternadas do caderno dominical. Ambos ocupam o
espaço com artigos de opinião reflexivos, crônicas e pequenos contos.
Excluídas as notícias de agências e as colunas citadas, o espaço editorial é
ocupado pela produção dos oito jornalistas da editoria de cultura – sete repórteres e
o editor. No primeiro dia do período de análise, a equipe era formada por Adriane
Perin, Irinêo Neto, Juliana Girardi, Nikola Matevski, Omar Godoy, Rogério Galindo e
Rudney Flores, sob a chancela de Paulo Camargo. No dia 4 de setembro, Jennifer
Koppe ocupou a vaga de Adriane. O horário de trabalho da equipe é de segunda asexta-feira, das 8h30 às 15h, sem escalas de fins de semana – conseqüentemente,
são produzidas sete edições em cinco dias.
Cada dia da semana tem uma temática predominante, segundo os
jornalistas do caderno: os domingos são os dias das pautas frias e especiais,
matérias mais trabalhadas e reportagens, um caderno distinto dos outros dias da
semana por ter mais páginas e ser lido por um número maior (e perfil mais
abrangente) de leitores, com mais tempo ocioso por não ser um dia útil. Cada
repórter tem mais ou menos uma página para fechar. “A gente busca no caderno de
domingo fazer um aspecto diferencial, mais de análise de uma situação” (FLORES,
2005).
Segunda-feira é dedicada à literatura; terça-feira, às artes plásticas; quarta-
feira, à música; e quinta-feira, ao audiovisual. Na sexta-feira, o jornal volta-se à
13 Por exemplo: “E, como se fosse a coisa mais natural, muda o rumo da conversa:- Você é pai?- Sou pai, sim.- De quem?- Do meu filho, ora!” (GOMES, Roberto. Conversações com Isadora. Gazeta do Povo, Curitiba, 18 set.
2005).Ou: “Infelizmente, o mundo está coberto de insanidades. As últimas décadas serviram para nos impor
o que há de pior na espécie humana” (IDEM. A insanidade racista. Gazeta do Povo, Curitiba, 02 out. 2005).10 Por exemplo: “Diante de descalabros e absurdos, as pessoas se espantavam e perguntavam’onde é
que isso vai parar?’. Agora, pararam de se espantar” (PELLEGRINI, Domingos. Domingos Pellegrini. Gazeta doPovo, Curitiba, 11 set. 2005).14
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programação do fim de semana. O sábado seria uma edição mais livre, voltada à
cidade. Paulo CAMARGO justifica a organização:
“A gente chegou à conclusão de que é importante que o leitor saiba o que vai encontrar. Oleitor que se interessa por cinema e quer saber o que está saindo em vídeo vai procurar o jornal de quinta-feira porque sabe que ali saem os principais lançamentos, os comentários e
matérias referentes à área. Isso torna a relação do veículo com o leitor – que em últimainstância é um consumidor – mais prática. Não pode ser estanque, um dia em que sepubliquem mais matérias sobre música não quer dizer que a capa necessariamente serásobre música. Se houver um acontecimento cultural de relevância de outra área naqueledia, obviamente vai ter prioridade. Mas a escolha de temas facilita inclusive a organizaçãodo trabalho”.
A setorização também distingue os repórteres, com o objetivo de que se
tornem especialistas no tema de que tratam. Adriane Perin era setorista de música
independente e escrevia também sobre cultura pop, comportamento e artes visuais.
“A música independente foi meu jornalismo de guerrilha, digamos assim” (PERIN,
2005). Na equipe em atuação desde sua saída, Jennifer Koppe entrou para cobrir
artes visuais; Rogério Galindo, para cobrir teatro (e música erudita, menosfreqüente); Irinêo Netto é setorista de literatura; Rudney Flores, de cinema
(principalmente o nacional, também escreve sobre quadrinhos e MPB); e Juliana
Girardi, de música popular. Omar Godoy não se considera setorista por escrever
sobre música, cinema, comportamento e televisão com freqüências variadas. “Se
tivesse que dizer que eu sou setorista de alguma coisa, seria televisão ou MPB”
(GODOY, 2005). Nikola Matevski diz ter “uma função meio híbrida”: “Tentaram criar
uma função nova que eu devo desempenhar, um repórter que sai mais para a rua e
faz mais matérias de domingo, de maior fôlego. Fiz matéria de comportamento,
essas coisas. São temas independentes de questões setoriais” (MATEVSKI, 2005).
Rudney Flores e Omar Godoy são os mais antigos repórteres do caderno,
formados em 1999 e com pós-graduação não concluída na universidade Tuiuti, na
área de cinema. Omar afastou-se do Caderno G por dois anos – período em que
editou o extinto caderno FUN, voltado para o público adolescente – e retornou em
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fevereiro de 2005. Além de repórteres, exercem a função informal de subeditores,
auxiliando o editor no planejamento e fechamento das edições nos dias mais
tumultuados: quinta-feira, quando são fechadas as edições de sexta-feira e domingo;
e sexta-feira, dia em que fecham as edições de sábado e segunda-feira. Pela
formação acadêmica e pessoal, ambos declaram sentir-se preparados para escrever
sobre os temas pelos quais são responsáveis.
No outro extremo, as contratações mais recentes do caderno são Rogério
Galindo e Jennifer Koppe. Nenhum dos dois tinha experiência nas áreas das quais
se tornaram setoristas. A defasagem tem sido combatida com leituras e cursosbreves. Koppe e Nikola Matevski (contratado em 2004) entraram para o Caderno G
recém-formados. Sobre casos em que falta ao repórter experiência e bagagem
cultural, o editor do Caderno G comenta:
“A nossa alternativa é identificar as áreas de atividade e tentar estimular que essa pessoa
se especialize. É o que está acontecendo agora com a Jennifer e outras pessoas docaderno. Como Curitiba é uma cidade onde os cadernos culturais – à exceção do Caderno
G – são basicamente feitos com matérias de agência e releases – nós temos a única equipeda cidade em jornalismo cultural – é uma área deficitária, não temos muita gente comexperiência” (CAMARGO, 2005).
Outra dificuldade para a contratação de repórteres experientes é, segundo
CAMARGO (2005), a questão salarial: “Acontece com menos freqüência por uma
questão simples: profissionais com mais experiência ou já estão colocados ou não
se submetem a trabalhar pelo piso salarial, um pouco maior que o do sindicato”.Para o repórter do caderno interessado em se especializar, o rendimento mensal
também é prejudicial. Segundo PERIN (2005): “As faculdades formam mal, você
não tem condições de se aprimorar, com o salário você não consegue fazer uma pós
ou um mestrado”.
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A crise financeira por que passam empresas jornalísticas como a Gazeta do
Povo determina condições de trabalho indesejáveis e, segundo Paulo CAMARGO,
influi na qualidade da publicação:
“O investimento é proporcional ao que aconteceu no jornalismo como um todo. As redaçõessão menores porque o jornalismo cultural impresso passa por uma crise – eu diria –irreversível. A tendência mundial é que ele se acomode em dimensões bem menores do
que já teve um dia. (...) A questão salarial poderia ser e deveria ser muito melhor, porquecada vez se exige mais em termos de formação e de disponibilidade dos profissionais,então seria interessante se houvesse uma contrapartida financeira em relação a isso. Apartir do momento que você nem sempre pode ter um profissional mais experiente, maispreparado, mais gabaritado, por conta da remuneração, é claro que interfere” (2005).
Como o jornal não paga horas extras – que são habituais na profissão –
instalou-se um banco de horas que compensa o tempo trabalhado a mais com dias
de folga. A situação cria a contradição de jornalistas precisarem de tempo para
produzir material de qualidade, mas não poderem exceder as horas de trabalho. “O
jornal tem que sair no outro dia, não adianta, se você está apurando, não pode parar
e ir embora”, defende FLORES (2005).Freqüentemente a equipe está desfalcada pela folga de um dos repórteres –
o que sobrecarrega os outros e instaura um ciclo. Não há plano de cargos, então
repórteres com meia década de trabalho no jornal recebem pouco mais que os
recém-contratados. Além disso, impôs-se a exclusividade como política da empresa,
saudável para diminuir o comprometimento dos repórteres com interesses extra-
jornalísticos, mas sem aumento de salário ou outro adicional que compense
financeiramente a perda de uma fonte de renda (o duplo emprego). “É uma empresa
capitalista que tem que ter lucro e tem um monte de dívidas para pagar”, justifica
Rogério GALINDO (2005). “Está longe do ideal, mas melhorou muito. Não tinha
cartão ponto, então você ficava 12 horas lá dentro, eu cheguei a trabalhar quatro
semanas sem um fim de semana no meio. Era um horror a parte trabalhista”
(GALINDO, 2005).
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O resultado foi que a direção do caderno passou a pressionar os jornalistas
para que não excedessem o horário. Adriane PERIN comenta:
“A empresa trabalha no vermelho, eles mesmo abriram isso no último ano e meio que eutrabalhei lá. Eles estavam pegando muito no pé, a ponto de chegarem e perguntarem: ‘Oque você está fazendo aqui ainda?’, depois das três e meia. As empresas jornalísticas como
um todo – não só a Gazeta e não só em Curitiba – estão vivendo uma fase complicada dereadequação. Mas eu acho que prejudica o jornalismo. O ideal seria que as empresastivessem uma equipe maior, escalas, turnos de jornalistas. Mas só enxuga, e isso é geral.Acho que os jornais estão trabalhando contra eles”.
Sair da redação para uma reportagem torna-se pouco usual. A cobertura de
eventos também é limitada. Em geral, a organização dos festivais e feiras convidam
o jornalista e pagam passagem, hospedagem e alimentação. O Festival Literário de
Parati, por exemplo, foi coberto à distância. Segundo NETTO, mesmo com a
organização do evento oferecendo hospedagem, por problemas orçamentários, a
Gazeta do Povo não enviou o repórter.
“Este é um ano atípico. O nosso orçamento anual está nas últimas. Mas invariavelmente a
gente consegue [apoio] com as organizações dos festivais – e quando não consegue agente acaba não indo. Eu afirmo para você que é um ano atípico pela experiência dosoutros, porque eu não estou aqui há muito tempo. Se eu não soubesse que esse é um anoatípico eu ficaria assustado, porque realmente foi um ano bem justo” (NETTO, 2005).
Longe das condições ideais, os jornalistas estão cientes de que a situação é
predominante no jornalismo brasileiro – e tem-se que fazer o melhor trabalho
possível apesar das limitações.
“Você ainda pode viajar de vez em quando, você tem acesso a computador, carro, telefone.Há jornais com só um terminal de internet para todo mundo! Apesar dos pesares, a Gazeta
ainda dá condições de trabalho, paga em dia – coisa que outros jornais não fazem. O pisodo Paraná de jornalismo é bem melhor que o piso de outros estados. Não é a condiçãoperfeita, mas se a gente olhar em volta, é melhor do que muita coisa por aí” (GODOY, 2005)
A mais perceptível das dificuldades geradas pelos cortes no orçamento é a
diminuição do espaço editorial. Segundo FLORES (2005), “o caderno era maior, e
fazia-se muito mais coisas durante a semana. Eram seis páginas de segunda a
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quinta e sábado, oito páginas na sexta e de dez a doze no domingo”. O editor
aponta a racionalização como a maneira de lidar com a restrição espacial: “É
necessário que sejam feitas apostas, com a subjetividade de quem faz o caderno.
Essas escolhas podem ser certas ou erradas, mas são baseadas nas referências
individuais” (CAMARGO, 2005).
A afirmação levanta a questão das pautas no jornalismo cultural. A
subjetividade na seleção dos temas (o que é relevante ou não) soma-se a diferentes
pontos de vista em relação à cultura e ao jornalismo – ao papel de ambos. Entre os
repórteres do Caderno G é clara a diversidade de pontos de vista. As principaisdicotomias são: cobertura da agenda cultural X reflexão acerca do panorama cultural
e escrever sobre o que o público “quer” X formar o gosto do público.
Para o editor do caderno, Paulo CAMARGO (2005), “o jornalismo cultural
não pode ser jornalismo de divulgação, ele tem que ser um jornalismo de informação
formativa”:
“A gente não tem que dar para as pessoas o que elas querem, as pessoas no Brasil muitas vezes não
sabe o que elas querem. É pretensioso? Sim, mas tem que ser pretensioso. Você tem que se
enxergar como uma espécie de sonda que está no mundo captando os movimentos culturais, as
tendências. Tem que constatar e apontar caminhos. Eu gostaria muito de ver um jornalismo cultural
que ensinasse as pessoas a pensar, mas que não dissessem o que as pessoas devem fazer. O
jornalista tem que dar condições para que as pessoas construam em termos reflexivos. (...) Em todos
os países com imprensa livre e civilizada há escolha sim, há subjetividade sim, e isso faz parte do
diálogo democrático. Você tem que conhecer quem é quem no meio cultural, quem tem um trabalho
autoral, consistente, que merece espaço. Todo mundo ter espaço na mídia invariavelmente significaria
encontrar um denominador comum medíocre.” (CAMARGO, 2005).
Nikola MATEVSKI defende que a seleção como é feita torna o jornal elitista
e alienado, longe da realidade do leitor: “O cara vai abrir o jornal e ler sobre coisas
que não pertencem à vida dele, não são do interesse dele. Está além da vida
cotidiana, é algo alheio a ele” (2005).
“Por exemplo, eu gostaria muito de escrever uma matéria sobre música gospel, a redação
recebe discos gospel, e claro que isso nem sequer sai. Esse é um valor que existesubentendido, quase acima de todos nós, de que aquilo não deve sair. Eu faria de uma
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forma ou de outra. Como jornalista, acho que posso escrever matérias tanto sobre música
gospel quanto sobre o novo disco da Marisa Monte ou da filha da Elis Regina, mas sóalgumas coisas passam em detrimento de outras” (MATEVSKI, 2005).
A análise da qualidade do disco ficaria por conta do desenvolvimento do
texto, e deveria estar fundamentada em argumentos.
Omar GODOY menciona outra função do jornalista, a garimpagem:
“O ideal é que o jornalista de cultura aponte também para o mercado cultural, para aindústria do disco ou do cinema, coisas que ele ache importantes e que não estão lá ainda.Descobrir um artista novo, alguém que está no underground fazendo alguma coisa. Não ésó ficar sentado esperando o CD vir. Fazer o caminho inverso. A garimpagem de talentos
também é um trabalho do jornalismo cultural que não é muito feito atualmente. Mas deveriaser. (...) Eu não sou exclusivista, não acho que tem que ser só o alternativo, só ounderground. Tem que ter as duas coisas porque eu também gosto do pop, do mainstream.Mas com quatro páginas o jornal tem que pensar no público médio e não sobra espaço para
o artista novo, alguém que está começando.” (GODOY, 2005).
Para Adriane PERIN, “o G precisava olhar mais para a cidade. O que você
vê? Regina Vogue, Festival de Teatro, Festival de Cinema, você só vê os grandes e
sem crítica. Você só vê os medalhões, o que já está estabelecido” (2005).Um dos entraves é a falta de espaço no jornal, já que a prioridade é dada
para a agenda cultural. “Existe uma pressão da direção do jornal em cima do Paulo.
O jornalismo de serviço: cada vez menos texto. Essa última reforma15, de novo
enxugou muito” (PERIN, 2005). Omar GODOY explica: “Quando só tem quatro
páginas, que é o nosso momento atual, você acaba ficando refém da agenda porque
o público também quer o serviço” (2005). Rogério GALINDO opina:
“Na maioria das vezes, por falta de espaço principalmente, você acaba reduzido a dar oserviço, mas você não pensa sobre aquilo, ou o que você pensa sobre aquilo você não temespaço para desenvolver. Acho que muito mais importante do que a estréia é você dar o
panorama geral, dizer para o leitor o que está acontecendo. A estréia deveria ser umamatéria menorzinha, só que a matéria normalzinha já toma 20% do espaço que a gente temem uma página” (2005).
15 A reforma gráfica foi realizada em meados de 2005. Segundo Paulo CAMARGO (2005): “Acho que oobjetivo é tornar o jornal como um todo mais limpo, mais objetivo, mais atraente visualmente, com mais janelas
de leitura – boxes, infográficos, formas de atrair o olhar do leitor e facilitar a aproximação dele daquele texto.Houve uma evolução, todas as reformas gráficas feitas agregaram qualidade e objetividade ao jornal. Prioriza-semais a imagem do que antes”.
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Nikola MATEVSKI reforça a importância das matérias de agenda:
“Matéria de agenda a gente tem que dar porque é o que se espera do jornal. Grande partedos leitores busca o jornal exatamente para se informar quando, onde e como vão
acontecer tais eventos culturais. Não acho que as pessoas busquem matérias reflexivas,mas isso é um chute meu, tão senso comum quanto a outra opinião. (...) Essa história deinsistir em matérias frias em um caderno com poucas páginas como o G, tende aescamotear eventos factuais que às vezes são muito importantes para falar de assuntosgerais [“frios”] que podem ser divertidos ou não para uns, mas no fundo não têm importânciapara a vida cultural da cidade” (2005).
O Caderno G não tem um profissional dedicado apenas à elaboração das
pautas. A função fica a cargo dos coordenadores na maior parte das editorias da
Gazeta do Povo. Sem um coordenador ativo no período analisado – Rogério Pereira
dividia a tarefa com a coordenação de esportes e o fechamento geral do jornal – o
trabalho “ficou muito centrado na figura do editor durante o ano inteiro, não tinha
esse coordenador para dialogar. Então, muitas vezes as pautas vinham de cima
para baixo, sem saber se a nossa linha editorial compreendia aquilo, se fazia parte
do nosso dia-a-dia”, conta Omar GODOY (2005).Segundo GALINDO, “a pauta é feita basicamente pelo editor, mas ele
consulta os repórteres uma vez por semana para corrigir rumo e definir a pauta da
semana, essa reunião acontece na sexta-feira. Normalmente, você tem uma pauta
por dia e mais uma que é a de domingo, que você precisa entregar até quinta-feira
de manhã” (2005). Repórteres mais antigos, como Omar Godoy e Rudney Flores,
afirmam pautar a si mesmos com freqüência. Os novos têm mais dificuldades. Nikola
MATEVSKI afirma que suas sugestões não se encaixam no “gosto” do Caderno G e
não sabe diferenciar o que interessa ou não para o jornal. “Honestamente eu não
tenho esse feeling, algumas coisas que eu sugiro não passam, ficam menores ou
são reaproveitadas de outra maneira” (2005). Jeniffer KOPPE conta que o repórter é
incentivado a sugerir pautas e que há bastante assunto durante a semana.
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“Como a maioria dos artistas sabe que a gente faz a divulgação do trabalho pelo menos no
roteiro, a gente recebe tudo que vai acontecer, os principais eventos. Mas não é a únicafonte para pauta. Geralmente você vai atrás através de sites na internet, revistas e o boca aboca mesmo. (...) Eu estou com um pouco de dificuldade para sugerir pautas de artes
plásticas para domingo, por exemplo, porque nem sempre tem coisas muito interessantespara colocar em um caderno que exige coisas mais abrangentes, um pouco maisaprofundadas” (KOPPE, 2005).
As sugestões de pauta são conversadas durante a semana e decididas e
organizadas na reunião. Constituídas, geralmente, de poucas linhas, as pautas
ganham enfoque definido por meio da conversa. “O Paulo, lógico, tem a visão do
editor, ele diz o tamanho da matéria, às vezes pergunta se merece um espaço maior
ou menor, se vale capa ou não vale” (GODOY, 2005). As conversas sobre o enfoque
são, segundo GODOY e MATEVSKI (2005), a principal forma de influência do editor
no trabalho do repórter. Para KOPPE, é importante para quem está começando: “Ele
dá um direcionamento na pauta se você estiver meio perdida, várias dicas em
relação a texto, principalmente, já que o texto do G é um pouco diferente do texto de
outros cadernos diários” (2005).
O processo acontece com mais liberdade do que em outras editorias, de
acordo com GALINDO: “Tem um acompanhamento principalmente quando você
pede; o Paulo pergunta se está pronto ou não e praticamente não mexe depois no
que você escreveu. Venho de um lugar em que você mexe muito no texto dos outros
porque é mais polêmico”. Uma característica da linha editorial que será tratada mais
à frente possibilita a maior liberdade: a ausência de polêmicas. “Você está só
anunciando o que vai acontecer”, justifica GALINDO (2005). Ocasionais pautas que
abordem temas “mais delicados” (críticas a políticos, por exemplo) tendem a receber
mais atenção.
O trabalho do editor, além de chefiar a reunião de pauta, inclui planejar e
diagramar o caderno, decidir as fotografias ou infográficos, revisar os textos e fechar
o caderno, que costuma ser fotolitado às 16h.
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“Como os repórteres sabem o tamanho do texto, do título, gravata, se tem olho ou não,
infográfico ou não, o texto já vem mais ou menos pronto. Mas é claro que cabe ao editor ocuidado com a parte de texto, correção gramatical, ortográfica e de conteúdo. A gente nãotem como rotina reescrever textos a não ser que seja extremamente necessário. No
jornalismo cultural até se estimula uma certa autoria no que diz respeito a estilo de texto”(CAMARGO, 2005).
A elaboração das matérias obedece critérios diferentes do que é prioridade
para os jornalistas do caderno. GODOY busca refletir sobre a agenda: “Tento
conversar sobre os assuntos, contextualizar, explicar o que representa para o
cenário” (2005).
“Eu gosto de pôr um pouco de humor, um pouco de deboche, cinismo. Mas eu tenho plenaconsciência de que só isso não basta. Então, para dar o estofo à minha matéria, antes daopinião eu ponho muita informação. Eu não sou colunista, eu sou repórter, então tento ser um repórter opinativo. A opinião é um verniz que vem em cima para tornar o texto atraente,porque eu acho interessante ser pago para ser quem eu sou. Eu faço uma pesquisa muitogrande, tento saber tudo o que é possível, conversar com as pessoas, pesquisar na internet.
Isso é uma coisa que falta não só no jornalismo da Gazeta” (GODOY, 2005).
GALINDO segue duas etapas, avaliação da relevância cultural do tema e dese existe público para ele – mas preocupa-se principalmente com o conteúdo do
texto:
“Às vezes você tem uma coisa muito boa, mas tem que diminuir o espaço daquilo porque émuito fechada para um grupo específico de pessoas. Você tem que tentar dar algum
enfoque para aquilo que deixe a coisa interessante, não pode dar só o factual senão todasas matérias vão ficar iguais. Então você tem que descobrir o que naquilo é mais relevanteou original. Isso é o que dá mais trabalho. Terceiro cuidado, que é o último na verdade – as
pessoas às vezes consideram que é o primeiro, mas eu acho que é o último – é texto. Dar um tratamento de texto bacana. Mas o importante é ter o conteúdo.” (GALINDO, 2005)
A ordem de prioridades altera-se na visão de NETTO – setorista de literatura
e, talvez por conseqüência, autor dos textos com estilo mais literário:
“A principal preocupação que eu tenho na hora que sento para escrever uma matéria équanto à apresentação da informação. Eu sou muito de estilo. Claro que o conteúdo éimportante. Eu não gosto de dar a informação pela informação, eu acredito que a maneira
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de você dar a informação em um caderno de cultura é importante. Se você organiza o seu
texto de uma maneira sedutora e apresenta o que você tem para falar de uma maneirainesperada ou interessante ou diferente isso pode incitar mais a curiosidade do leitor”,(NETTO).
MATEVSKI contrapõe:
“Você pode fazer um texto lúcido, informativo, sem ele ser burocrático; por outro lado, vocêpode fazer um texto denso que realmente pense a cultura no espaço do assunto que vocêestá tratando. Eu, pessoalmente, acho mais eficiente você ir muito diretamente ao ponto ese houver introduções que elas durem três ou quatro linhas, não mais que isso. Um textolúcido é o texto que vai direto ao ponto pelo lide ou sem ser pelo lide, não tenta ludibriar”(2005).
CAMARGO fala sobre o que espera do repórter e as alternativas para buscar
qualidade no reduzido espaço do caderno de cultura – que cada vez mais concorre
(desigualmente) com os meios eletrônicos de informação, mais ágeis:
“O grande desafio é que a informação venha acompanhada de alguma reflexão e sejaelaborada por alguém que tem conhecimento de causa. Quando o jornalista vai falar de umshow na cidade, se ele conhecer mais profundamente o histórico desse artista, ascondições em que essa produção cultural se deu, as determinantes culturais, históricas e
econômicas e souber produzir um texto embasado, essa notícia pode vir acompanhada dereflexão. (...) A gente tenta estimular que os repórteres encontrem a sua voz, que faça comque os leitores saibam que aquele texto é daquele repórter. Historicamente no jornalismobrasileiro e internacional, os consumidores de jornalismo cultural muitas vezes não apenas
vão atrás da notícia, mas vão atrás do autor, porque têm uma identificação” (CAMARGO,2005).
Com o desaparecimento da figura do crítico nos jornais – profissional que as
empresas jornalísticas não têm mais condições financeiras para bancar – o espaço
para opinião diminuiu e foi ocupado por jornalistas especializados que cobrem uma
área e produzem textos opinativos sobre ela. No Caderno G, um dos jornalistas que
escreve críticas – ou, pela classificação atual16, resenhas críticas – é o próprio editor
do caderno.
“Eu produzo mais textos opinativos até por conta da minha formação, quer dizer, trabalho mais com
resenhas, artigos, textos opinativos, mas também produzo reportagens e faço entrevistas em caráter
16 Vide item 5.5.
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mais episódico, porque nem sempre é possível. Existem algumas áreas que eu domino melhor, que
seria prioritariamente cinema e áudio visual e televisão, mas também um pouco de música e literatura
que são áreas que me interessam e que, se eu não domino, tenho conhecimento considerável que me
permite produzir esses textos sem ter a consciência pesada” (CAMARGO, 2005).
A formação acadêmica e pessoal em determinada área cultural é
determinante de quem produzirá textos opinativos ou não. Para MATEVSKI, a
resenha exige, principalmente, de argumentação que a fundamente. A crítica que faz
diz respeito ao domínio da adjetivação em textos de opinião.
“É a forma que você trata os assuntos, a forma com que você justifica as suas posições. Se eu quero
avaliar a interpretação de alguém, eu tento ser específico e mostrar como um certo diretor usa o ator,como ele funciona dentro da estrutura do filme e realmente conseguir dar um parâmetro palpável, que
possa ser verificado durante a fruição do filme por outra pessoa, para ela poder contestar a minha
opinião ou não. Essas coisas de crítica ou resenha que são muito freqüentes – ‘um grande ator’, ‘Uma
bela interpretação’ – são várias expressões que se transformaram em um clichê. Jornalistas nas
resenha opinam, mas na verdade não argumentam nada” (MATEVSKI, 2005).
Na área cultural, o trabalho de reportagem do repórter e dos editores sofre
menos interferência17 de instâncias hierarquicamente superiores em comparação a
outras editorias, mas não está imune.
“O jornal é conservador, os donos são católicos ligados à elite curitibana conservadora, issonão é uma crítica, é um fato. Há certos assuntos que são menos bem vistos lá do que emum jornal de esquerda ou um jornal de minorias. Já ouvi falar de matérias sobre produtos
GLS que não foram bem recebidas, mas no G a interferência é muito menor do que emoutros cadernos. Cultura não é normalmente levada tão a sério assim” (GALINDO, 2005).
Outros repórteres também apontaram o tradicionalismo e conservadorismo
como características da linha editorial do caderno, refletida na desaprovação de
temas relacionados à homossexualidade, críticas à Igreja ou outros temas que
“afrontem a moral cristã”. O que não impede, necessariamente, de que os assuntos
sejam tratados, segundo FLORES: “Você tem que saber desviar. A gente não põe
17 “O G é uma ilha. Todas as outras editorias em que eu trabalhei são interligadas fortemente. Existe areunião de abertura do jornal, reunião de fechamento do jornal e a reunião de passagem do pessoal
da manhã para o pessoal da tarde. O G não participa de nenhuma. Isso é bom porque você tem muitomais autonomia em relação ao chefe, mas por outro lado acaba criando meio que um gueto”(GALINDO, 2005).
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na capa, põe lá atrás, eles não vão se ligar, eles não lêem a gente, não sabem o que
a gente está fazendo”.
NETTO comenta as interferências da direção do caderno, como a pauta
“recomendada”:“Aquele que diz que tem liberdade total está mentindo. Mesmo na Folha de São Paulo – eutinha aquela imagem de isenção total do jornal até o dia que desceu uma ordem do próprioOtávio Frias Filho para fazer um texto sobre a apresentação de um amigo dele em um
show. Aqui também a gente recebe indicações do que não pode deixar de ser abordadopelo jornal, acho que isso é normal, todo jornal tem. (...) Se for uma matéria delicada, quepode mexer com outras pessoas, você vê até o dono do jornal envolvido na pauta. Quandoa gente faz alguma denúncia, vai expor algum problema, alguma mazela do governofederal, estadual, esse tipo de coisa, é sempre mais delicado e tende a pedir a atenção de
outros editores. Mas isso é muito raro”, (2005)
PERIN narra duas situações em que houve intervenção:
“Vou contar um exemplo: eu tinha feito uma matéria que sairia no outro dia transformada emnota, sobre uma determinada artista que não era grande coisa, só que tem grana para ir para a França e é amiga da dona do jornal. No outro dia, lá pelas dez e pouco da manhã, amulher do Dr. Francisco [dono da Gazeta do Povo] liga para mim e fala:’ “Eu não gostei da
matéria que você fez sobre a minha amiga’ – que, com a orientação do meu editor, nós doischegamos à conclusão de que não merecia um espaço maior do que aquilo, editorialmentee artisticamente falando. Ela: ‘Não me interessam os outros assuntos que você tem.Quando eu ligo para você e digo para você fazer a matéria com a minha amiga, vocêesquece todo o resto e faz a matéria que eu mandei’. Eu comecei a rir, afastei o telefone efalei para o Paulo: “Paulo, eu respondo? Tenho autonomia para responder”. O Paulo passoupara o Zé [José Carlos Fernandes], que na época era o coordenador. O Zé conversou,conversou, foi lá e fez uma página inteira com a mulher. (...) Num outro episódio, já nogoverno Requião, foi feita uma matéria muito legal sobre os desmandos dele dentro da TVEducativa, logo que ele assumiu e parou tudo. Tentaram falar com o pessoal da TV e nada,
o repórter escreveu exatamente o que aconteceu, publicou as perguntas que ele tinha
mandado e não haviam sido respondidas. Uma matéria exemplar. O que a Gazeta do Povofez? No outro dia publicou um release do Requião na capa do caderno G.
No dia a dia, entretanto, a interferência é menor e pautada basicamente pelo
conservadorismo – “ligado à tradição de família, tradição religiosa”, especifica
NETTO (2005): “Talvez ele reflita um pouco o público leitor, que é
predominantemente mais velho e mais conservador, mais dessa Curitiba antiga,
86
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mais Boca Maldita18 ”. Além dessas características19 ligadas à tradição, a linha
editorial do caderno mostrou-se pouco conhecida pelos repórteres, que inclusive
questionaram a existência de uma. FLORES acredita que o período entre a
coordenação de José Carlos Fernandes e Marlet Silva configurou um hiato em que
não havia linha editorial definida no caderno, pela pouca aproximação do então
coordenador. PERIN apontou o cinema como prioridade do caderno – “mas não sei
se isso é linha editorial. Eu acho que não tem. Criam-se pautas...” (2005).
Sobre a linha editorial do caderno, MATEVSKI declara:
“Essa é a primeira pergunta que eu fiz para o Paulo quando entrei no Caderno G. Ele sintetizou em
uma frase: ‘ser acessível sem abaixar o nível’. Eu acabei verificando que isso significa misturar três
coisas: ser informativo; divertido, leve e com o texto conversado; e opinião. Isso me frustra bastante
porque eu acho que o jornalismo cultural acaba não sendo nenhuma das três coisas. E não baixar o
nível é não ser vulgar. Eu acho essa frase aplicável, mas, para mim, nível é uma questão de
abordagem e ser acessível é uma questão de tema. Ser acessível é falar freqüentemente de música
sertaneja, da maior pluralidade possível do que esteja acontecendo na vida cultural da cidade, e nível
é a maneira com que você vai tratar aquilo” (2005)
CAMARGO afirma que o jornalismo cultural é mais híbrido, ou seja, costumaser noticioso e reflexivo no mesmo texto. “A objetividade excessiva no jornalismo
cultural pressupõe superficialidade” (2005), acredita. Questionado sobre a linha
editorial do caderno, o editor responde:
“Hoje o que a gente busca é: não ser um jornalismo de divulgação, – e isso é uma coisa que eu falo
com bastante veemência – não ser um jornalismo de utilidade pública, não ser um jornalismo de
benemerência, nem de paternalismo. Principalmente, não ser um jornalismo politicamente correto –
uma praga no jornalismo nacional. Você instrumentalizar a cultura é bárbaro. A instrumentalização nãopode ser confundida com produção cultural – e a gente está mais interessada em produção cultural.
Tenta ter o discernimento crítico de quando a cultura está sendo utilizada como instrumento de
politização ou de conscientização ou condução e quando a discussão é efetivamente cultural”
(CAMARGO, 2005).
MATEVSKI não vê uma linha editorial precisa no caderno:
18 Boca Maldita é o nome dado à tradicional e conservadora tribuna livre do calçadão da Rua XV deNovembro em trecho próximo à praça Osório. É ponto de encontro, debate e agitação, e tem como lema: “nadavejo, nada ouço, nada falo”.
19
“A Gazeta é um jornal muito comportado, muito linear, não tem mudanças radicais. É uma coberturaque tenta se voltar para o nacional e ao mesmo tempo para o local, que tenta não provocar muita polêmica”.(GALINDO, 2005).
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"O que vejo é um sistema de publicação, há certos dias e certos padrões, qual assunto é tratado em
qual dia – o que para mim não chega a ser uma proposta editorial completa, apenas uma forma de
organizar o trabalho. Na questão da abordagem dos temas, da escolha dos temas e da própriaredação não há nada consistente. O que eu sinto ali é mais um senso comum de jornalismo cultural
que está disseminado pela Folha, pelo Estadão e pela maior parte dos jornais desse porte pelo país”
(MATEVSKI, 2005).
A crítica de GALINDO, por sua vez, pressupõe a existência de linha editorial:
“Eu particularmente acho que é um caderno com perfil elitista, isso é uma crítica que
eu faço. Por exemplo, a gente dá muita atenção para coisas que as pessoas não
estão nem aí e pouca atenção para coisas que são relevantes para o público. Para
resumir, a gente dá muita música erudita e pouca televisão” (2005).
Outros repórteres avaliaram o G e manifestaram as seguintes críticas, a
começar por Omar Godoy:
“Acho que falta, de uma forma geral, um pouco mais de personalidade. São repórteres muito jovens.
Acho que os textos são muito fracos, não no sentido formal, mas muitas vezes eles não passam
opinião, não contextualizam. O que aquele artista representa? Se eu vou fazer uma resenha sobre o
Eminem, eu tenho que dizer quem é ele, pesquisar a vida dele, mostrar quem é ele na Era Bush,quem é ele para o jovem americano, por que o jovem brasileiro se interessa. Por que um show do
Pearl Jam vai lotar a Pedreira Paulo Leminski? Ninguém está dizendo isso, o que o Pearl Jam
representa hoje para o rock para tanta garotada hoje ir lá? É só porque é velho? O que tem nas letras
que atrai as pessoas? Acho que falta reflexão” (GODOY, 2005).
KOPPE (2005) crê que os jornalistas poderiam ousar mais e, se fosse
possível, fazer um caderno mais crítico. De acordo com NETTO, “pelo fato de o
espaço ser reduzido, o caderno acaba tendo que abordar determinados temas demaneira mais superficial. Mas de maneira geral, com a estrutura que o caderno tem,
com o espaço que ele tem, o pessoal que faz o caderno, eu acho que ele é muito
bom, tanto que é referência no estado (2005).
MATEVSKI completa: “Os textos pecam em clareza, muitas vezes eles se
tornam afetados e chatos ao mesmo tempo. A parte da avaliação crítica e de pensar
a cultura acaba sendo uma reflexão muito rasa. Essa é uma coisa que permeia o
88
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jornalismo cultural não só no caderno G, mas em qualquer grande jornal” (2005).
Mas reconhece um outro lado do jornal:
“Por mais imperfeitas que as coisas sejam, acho que sem o caderno G a vida cultural da cidade
perderia muito. E várias vezes a interferência do caderno G ajudou as coisas a acontecerem, fez a
roda se mexer, principalmente no campo da música erudita, que era uma coisa que estava parada e a
gente começou a dar muitas matérias, foi um campo que deu uma levantada” (MATEVSKI, 2005)
As especificidades de se produzir jornalismo cultural em Curitiba também
foram citadas. Para GODOY, “talvez seja o fato de ter muita atividade cultural, mas o
público médio não acompanhar essa produção. Você está inserido em uma cena
que não tem diálogo com o grande público, os produtos não têm apelo, as pessoas
não correm atrás. Não é só o público que é medíocre ou a imprensa que é medíocre.
Fica essa bolha, essa coisa meio fechada” (GODOY, 2005).
NETTO aponta outro problema: “Em determinados eventos ou assuntos
Curitiba está um pouco à margem das cidades onde as coisas acontecem. Muito se
fala do eixo Rio – São Paulo, mas às vezes acontece de esse eixo pegar Belo
Horizonte e Porto Alegre – e pula Curitiba. Eu sinto que a cidade é um pouco isolada
do resto do Brasil nesses eventos” (2005).
As questões levantadas neste capítulo não foram ainda fechadas como
discurso porque servem de terreno para a análise a ser desenvolvida, considerando-
se contradições, incertezas e sugestões, de forma que o conhecimento obtido não
seja construído sobre um ponto de vista rígido, inadequado ou alheio. Cabem ainda
três considerações da equipe do G. A primeira, feita por PERIN, afirma que a equipe
do Caderno G é sub-usada. A segunda vem de CAMARGO e refere-se às falhas do
jornalista e à pressão que enfrenta: “Por estar sempre tendo que fazer um novo
jornal, você acerta, você erra, tem sempre a sensação de que poderia ter feito
diferente porque as suas escolhas foram feitas em um espaço de tempo reduzido e
nem sempre o seu foco é o correto” (2005).
89
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Por fim, ciente das limitações dispostas neste item, GODOY posiciona-se
contra o conformismo: “Esta é uma autocrítica que eu acho que todo mundo dentro
do jornalismo deve fazer: até que ponto você está amarrado, acomodado àquela
estrutura. Você está só reclamando dela e de repente você pode se desamarrar e
fazer mais coisas por conta própria. Tentar fazer mais por si coisas interessantes”
(2005).
6.1 ANÁLISE DE CONTEÚDO
6.1.1 Análise Quantitativa
O conteúdo de 35 edições do Caderno G no período entre 4 de setembro e 2
de outubro de 2005 será analisado a partir de duas divisões principais. A primeira
refere-se ao critério tempo e consiste em duas subcategorias: a análise das edições
de segunda-feira a sábado e, em separadado, das edições de domingo. O intervalo
de estudo abrange cinco edições de cada dia da semana. Domingo é o dia em que o
caderno é lido por um público maior e mais abrangente. Para atender à gama de
leitores, a edição dominical possui mais páginas, traz assuntos variados e concentra
a maior quantidade de matérias frias, segundo afirmaram os repórteres e o editor
nas entrevistas realizadas. A diferença editorial justifica a análise à parte das
edições do restante da semana em um primeiro momento.
A segunda divisão é justificada pelo maior destaque dado às matérias: as
capas (1ª página) dos cadernos serão analisadas em separado do interior da
edição (e contracapa), visto que a capa é a parte mais nobre da publicação – mais
visível e atrativa para o leitor – e o trabalho do editor pressupõe a seleção dos
assuntos mais importantes ou relevantes para ocupar tal espaço, que funciona como
“vitrine do caderno”.
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É necessário acrescentar que, por entender-se que colunistas não integram
a equipe da editoria no dia-a-dia da redação e nem sempre são profissionais
formados em jornalismo, terão tratamento diferenciado nesta análise. O número de
colunas por edição será quantificado, porém as especificidades referentes ao
conteúdo publicado só serão consideradas na análise qualitativa, quando será
possível relacioná-las ao conteúdo jornalístico produzido pela equipe de repórteres e
editor. As notas não farão parte do que se vier a referir como “material jornalístico
produzido”, por entender-se que são menos representativas do conteúdo do caderno
– não exigem variedade de fontes, apuração aprofundada e não têm espaço paratexto elaborado, por exemplo.
A primeira categoria para verificação corresponde à área cultural do tema
da matéria, ou seja, como a temática da pauta se encaixa dentro dos diversos
assuntos que compõem a cultura. Foram criadas as subcategorias:
1) Política Cultural: Ações do poder público no campo administrativo e
orçamentário que influem na produção e desenvolvimento de atividades culturais.
2) Música popular: Aqui, não se pretende diferenciar a música dita “pop”, ou
seja, comercial, produto da indústria cultural, da música associada a movimentos
populares, mais artesanal. Ambas se encaixam na classificação de música popular,
em contraposição à idéia de música erudita. Compreende diferentes estilos, como
rock, jazz, MPB, sertaneja, samba, reggae, blues, rap, hip hop, etc.
3) Música erudita: Também conhecida por “música clássica” ou de concerto.
Geralmente aprendida em conservatório e baseada em estudo acadêmico, modelo
mais fechado e com técnicas estabelecidas que a música popular. Exige estudo, é
toda escrita em partitura e as composições são complexas. A categoria inclui
óperas, por assim serem classificadas na “cartola” da matéria.
6) Teatro: Representação dramática ou cômica de uma história por atores.
Dramaturgia apresentada para uma platéia ao vivo.
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7) Dança: Forma de expressão realizada por movimentos corporais,
geralmente acompanhado de música. Compreende diferentes estilos, como o balé, a
dança moderna, a dança de rua, o flamenco, o tango, etc.
8) Artes Visuais: Pintura, desenho, gravura, fotografia, grafite e demais
expressões artísticas apreciadas por meio da visão principalmente.
9) Cinema e telefilme: Produtos áudios-visuais de curta, média ou longa
metragem exibidos em salas de projeção (cinema) ou produzidos para a televisão
(telefilmes).
10) Televisão: Programação dos canais abertos e pagos das redes detelevisão, como seriados, novelas, talk-shows. Exclui os telefilmes.
11) Vídeo e DVD: Filmes em formato VHS ou DVD encontrados em
locadoras.
12) Literatura: Textos com valor estético e produção de sentidos. Apresenta-
se em formas diversas, como poesia, contos, romances, etc – ficcionais ou não.
13) Quadrinhos: Narrativa em seqüência que une texto à imagem.
Compreende HQs, mangás, cartoons, tiras, etc.
14) Comportamento: Hábitos, tendências, atitudes de um grupo de
indivíduos em um meio social.
15) Outros: demais temas tratados que não se encaixem nas subcategorias
anteriores, como design, moda, culinária, espaços culturais, bares e casas noturnas,
arquitetura, etc.
A segunda categoria adotada diz respeito ao espaço geográfico em que
o produto cultural foi produzido, o lugar de origem . No caso de o foco ser um
evento, como festivais, classificar-se-á pelo local onde acontece o festival. A
classificação mensura a atenção dada à produção cultural regional, nacional e
internacional. Subdivide-se em:
1) Local: Produtos ou eventos originários da cidade de Curitiba.
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2) Estadual: Produtos produzidos em outras cidades do Paraná ou eventos
que acontecem em outras localidades do estado.
3) Nacional: Produtos ou eventos originários de outros estados brasileiros.
4) Internacional: Produtos produzidos no exterior e eventos que acontecem
fora do país.
A terceira categoria são os gêneros20 do texto jornalístico, no caso: 1)
crítica, 2) resenha, 3) reportagem (aqui, entendida como matéria aprofundada e com
maior variedade de fontes – no mínimo três), 4) matéria (notícia com poucas fontes e
abordagem mais superficial), 5) entrevista (modelo pergunta e resposta), 6) perfil.A quarta categoria diz respeito à verificação da origem da pauta: calcula
quantos dos textos publicados foram agendados pela indústria cultural – o que se
denomina, neste trabalho, de “texto de agenda”21. Incluem-se lançamentos de livros,
CDs, filmes, além de abertura de exposições, estréias de espetáculos, etc.
Quanto ao conteúdo da matéria, mais duas categorias entram na
quantificação. A quinta categoris são os títulos e a sexta são as aberturas das
matérias (ou “abre”, no jargão jornalístico). Ambas estão subdivididas em:
1) Factual: São os títulos e “abres” que respondem (algumas das) perguntas:
“quem fez o quê, onde, quando e como?”. No caso da abertura da matéria,
corresponde ao “lide”. Traz os “fatos”, com o mínimo de interferência opinativa do
repórter.
2) Opinativo: Quando o repórter expressa explicitamente um julgamento
sobre o assunto no título ou na abertura da matéria.
3) Literário ou “de revista”: Texto e título com tratamento literário, ou seja, de
estilo (paradoxos, aliterações e outros jogos de palavras, narrativas, personificação,
referências a ditados, frases feitas, trechos de música, títulos de filmes, etc.),
semelhantes aos do jornalismo de revista, com narizes de cera, contextualizações,
citações e outros jogos de idéias, antes da apresentação do assunto específico.
20 Especificados no item 5.5.21 Vide item 5.4.
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A sétima categoria classifica as matérias segundo a autoria:
1) Assinada: Texto assinado por um repórter da equipe ou pelo editor do
Caderno G.
2) “Da Redação”: texto em que não é especificado qual profissional da
editoria foi o autor.
3) Agência: Matéria produzida por agência de notícias.
4) “Especial para o G”: Quando assim for especificado ao fim da matéria.
5) Repórter de Fora: Quando assinada nominalmente por repórter que não
integra a equipe do Caderno G.
6.1.1.1 Análise das capas do Caderno G de segunda-feira a domingo22
GRÁFICO 1 – PORCENTAGEM DAS ÁREAS CULTURAIS DAS MATÉRIAS DE
CAPA DO CADERNO G DURANTE AS 35 EDIÇÕES ANALISADAS
Conforme a TABELA 1 (APÊNDICE 2), a música popular é o tema que mais
ocupou as capas do Caderno G no período analisado, com 24% do total das capas,
distribuídas de forma equilibrada ao longo da semana. O notável destaque
possivelmente foi favorecido pela efervescência de shows que marcou o período em
22 Os guias de programação não estão incluídos na análise por não constituírem matériaspropriamente.
94
ASSUNTOS DA CAPA
24%
17%
14%11%
11%
23% Música Popular
Literatura
Cinema e telefilme
Artes Visuais
Comportamento
Outros
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Curitiba: as atrações internacionais e nacionais do festival Curitiba Rock Festival e a
apresentação da pop star canadense Avril Lavigne, por exemplo.
Literatura aparece em segundo lugar, ocupando as capas de todas as
segundas-feiras e ainda uma capa de terça, o que totaliza 17% das edições.
Verifica-se que a segunda-feira é o dia da semana em que a setorização é mais
rígida. Segundo NETTO:
“Pela lógica de organização do caderno, segunda-feira é o dia de literatura, eventualmente agente consegue emplacar uma matéria que não seja tão específica de literatura – um poucomais aberta ao público não tão familiarizado com a literatura – como aconteceu no domingoquando a capa do G foi sobre a Lya Luft, uma escritora mais popular, que as pessoasconhecem mais. Esse tipo de situação é possível. Agora escrever sobre o livro queescreverei segunda-feira, “Depois de Babel”, do crítico Jorge Steiner, é o tipo de coisa que
não poderia ser publicado fora da segunda-feira, é um livro bastante específico de tradução,uma coisa mais direcionada” (2005).
O trecho somado ao resultado da quantificação aponta para uma visão da
literatura como uma área cultural menos acessível. Nenhum outro repórter afirmou
ter limitação de dia da semana para escrever sobre qualquer tema. O caderno desegunda-feira é visivelmente dedicado à literatura, com fixidez que indica o alcance
de um público restrito. A falta de acontecimentos culturais no primeiro dia da semana
útil e a antecedência com que o caderno é preparado (fechado na sexta-feira)
podem ser explicações para a predominância do tema. As divisões dos dias em
setores não se aplicam à capa a partir de terça-feira. Ao longo da semana, a
distribuição de temas é equilibrada e unanimidades como uma área ocupar todas as
capas de um dia da semana não se repetem.
A TABELA 2 (APÊNDICE 2) refere-se ao espaço geográfico de origem dos
acontecimentos e produtos culturais. Revela que as ações culturais originadas na
cidade de Curitiba têm predomínio nas capas do Caderno G, com 40% do total. Já a
produção nacional (23%) perde para a internacional (31%). A área de literatura é a
que mais aborda temas estrangeiros, com matérias sobre lançamentos de livros
norte-americanos, por exemplo. A literatura nacional e local tem pouco destaque.
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Já a produção cinematográfica da cidade ganhou espaço na primeira página
na mesma medida que os filmes estrangeiros. A cobertura local é a que engloba a
maior pluralidade de temas.
GRÁFICO 2 – PORDENTAGEM DOS ESPAÇOS GEOGRÁFICOS DE ORIGEM
DAS MATÉRIAS DE CAPA DO CADERNO G DURANTE AS 35
EDIÇÕES ANALISADAS
O que acontece fora de Curitiba mas ainda no território estadual recebe
menos atenção, com apenas 6% do total.
Quanto ao gênero jornalístico do texto de capa, seguindo a TABELA 3
(APÊNDICE 2), a matéria sem grande variedade de fontes ou investigação é maioria
absoluta (74%), seja simplesmente como um texto de serviço estendido ou com
alguma contextualização e comentários soltos do jornalista que não caracterizem
texto de opinião, nem chegam a configurar uma reportagem. Alguns temas, como a
música erudita e as artes visuais apresentaram – nas capas – apenas este modelo
de construção.
GRÁFICO 3 – PORCENTAGEM DE GÊNEROS JORNALÍSTICOS DAS MATÉRIAS
DE CAPA DO CADERNO G DURANTE AS 35 EDIÇÕES
ANALISADAS
96
ESPAÇO GEOGRÁFICO
40%
6%23%
31%Local
Estadual
Nacional
Internacional
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A reportagem de fôlego aparece em segundo lugar em freqüência (17%) e aresenha em terceiro (6%), bastante distantes do percentual da matéria. Outros
gêneros jornalísticos não configuraram freqüência representativa.
Todas as matérias de capa são produzidas por jornalistas da equipe do
caderno G, conforme especificado na TABELA 4 (APÊNDICE 2).
GRÁFICO 4 – PORCENTAGEM DE MATÉRIAS DE CAPA AGENDADAS PELA
INDÚSTRIA CULTURAL NAS 35 EDIÇÕES ANALISADAS DO CADERNO G
97
GÊNEROS
0%
6%
74%
0%17%
3%
Crítica
Resenha
Matéria
Perfil
Reportagem
Entrevista
MATÉRIAS DE AGENDA
66%
34%
Sim
Não
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A TABELA 5 constata a prevalência das pautas agendadas pela indústria
cultural – ou matérias de agenda –, com 66%, em relação de aproximadamente 2:1
com o conjunto das matérias frias ou especiais (34%).
O estilo literário ou de revista representa 97% dos títulos das matérias de
capa, com uso de diferentes recursos estilísticos. Na abertura dos textos –
parágrafos que indicam o tratamento mais ou menos objetivo que será dado ao
escrito, o balanço entre o factual (37%) e o literário (60%) teve resultado
contrastante, embora menos do que na categoria anterior.
GRÁFICO 5 – PORCENTAGEM DE ESTILOS DE ABERTURA DE TEXTO DAS
MATÉRIAS DE CAPA DO CADERNO G DURANTE AS 35 EDIÇÕES
ANALISADAS
A opinião (3%) não aparece explicitamente nos títulos de capa e é pouco
freqüente na abertura do texto.
6.1.1.2 Análise das edições do Caderno G de segunda-feira a sábado23
Quando considerado o interior e a capa das edições não dominicais,
literatura cai para a terceira colocação (11%) – concentrada, como está, nas
23 Incluídas as capas.
98
ABERTURA DO TEXTO
60%
37%
3%
Literário
Lide
Opinativo
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primeiras páginas de segunda-feira, o tema pouco aparece ao longo da semana,
conforme especificado na TABELA 9 (APÊNDICE 2). A música popular permanece
em primeiro (30%), com grande freqüência de pautas a partir da metade da semana
– principalmente quarta-feira (dia dedicado ao setor musical), sexta-feira e sábado
(pela programação de shows da cidade). Cinema alcança a segunda posição (21%),
concentrado na sexta-feira, dia das estréias nas salas de exibição da cidade.
Somados ao percentual considerável de matérias sobre os lançamentos em DVD
(8%)(destaques das quintas-feiras), o percentual de audiovisual chega a ocupar 29%
das edições. Como música responde por 30%, resta pouco mais de um terço dosespaços no caderno para os demais assuntos.
GRÁFICO 6 – PORCENTAGEM DAS ÁREAS CULTURAIS DAS MATÉRIAS DO
CADERNO G DE SEGUNDA-FEIRA A SÁBADO
Outro tema que desponta durante a semana no interior do caderno (sem
destaque nas capas) é o teatro (8%), ocupando edições de sexta-feira com as
estréias nos palcos. Diferentemente das capas, a análise dos cadernos com um todo
revela a setorização por dia. Fato é que as matérias literárias pouco têm espaço fora
da edição de segunda-feira. Com artes visuais destacadas na terça-feira, música
popular dominante nas quartas, e assim sucessivamente um tema prevalecendo a
cada dia, percebe-se que no interior do caderno a setorização se faz mais presente
99
ÁREAS CULTURAIS
30%
21%11%8%
8%
22% Música Popular Cinema e telefilme
Literatura
Teatro
Vídeo/DVD
Outros
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do que na capa, ou seja, há discrepância entre os temas que imperam em uma
determinada edição e a temática alçada à “vitrine” – a primeira página.
Divergências surgem também entre os percentuais de procedência de uma
matéria publicada na capa do caderno e no seu interior – a soma total mostra que
matérias sobre a produção cultural nacional são mais constantes (38%), embora
ocupem o terceiro lugar nas capas. Simultaneamente, percebe-se a valorização do
local na hierarquia da edição: terceiro espaço de origem das matérias em geral
(26%), aparecia em primeiro no universo restrito das capas.
GRÁFICO 7 – PORCENTAGEM DOS ESPAÇOS GEORGRÁFICOS DE ORIGEM
DAS MATÉRIAS DO CADERNO G DE SEGUNDA-FEIRA A
DOMINGO
São as matérias sobre música popular que elevam a quantidade de
produção nacional coberta pelo caderno, conforme a TABELA 10 (APÊNDICE 2).
Apenas a música popular nacional ocupa 21% do caderno. Outro destaque é a
cobertura de cinema estrangeiro, que ocupa mais de um décimo (11,4%) das
matérias. Localmente, há equilíbrio entre os temas tratados.
Percebe-se a elevada proporção do aparecimento de música popular
nacional (70%) em comparação à local (15%). Já nas artes visuais, o universo de
cobertura praticamente limita-se ao da cidade (77%). Os números referentes ao
100
ESPAÇO GEOGRÁFICO
26%
3%
38%
33%Local
Estadual
Nacional
Internacional
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cinema revelam que a cobertura de filmes nacionais (29%) é bastante representativa
apesar do gigantismo do mercado no exterior (55%). A ocupação local do espaço
destinado à literatura permanece restrita (14%); enquanto a porcentagem dedicada
ao mercado literário nacional cresce (28,5%).
GRÁFICO 8 – PORDENTAGEM DE GÊNEROS JORNALÍSTICOS DAS MATÉRIAS
DO CADERNO G DE SEGUNDA-FEIRA A DOMINGO
No corpo
do caderno, as resenhas ganham espaço e passam ao segundo lugar (25%),
enquanto diminuem as reportagens (6%), que exigem mais tempo – em falta nas
redações. Entrevistas aparecem discretamente (5%) e surge um perfil (1%). A crítica
permanece ausente (0%). Nota-se a fixidez dos modelos de cobertura, adequando o
caderno ao perfil conservador do jornal e facilitando a organização do trabalho frente
à falta de tempo. Não há espaço para soluções criativas no dia-a-dia.
Quando se verifica quais temas são submetidos à opinião em forma de
resenha, mais uma vez aparecem as áreas audiovisual (quase 55%) e música
popular (33%) em destaque. Teatro aparece em seguida, como 12% das resenhas.
Nenhum outro assunto recebeu cobertura opinativa no período. Nas reportagens, os
temas de destaque são política cultural (37,5%) e comportamento (25%) – ou seja,
distantes das pautas agendadas por lançamentos e estréias.
101
GÊNEROS
0%
25%
63%
1%6%5%
Crítica
Resenha
Matéria
Perfil
Reportagem
Entrevista
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A cada dez matérias, ao menos uma não é produzida pela equipe do
caderno (repórteres de fora ou agência de notícias). As matérias de agências de
notícias (5%) concentram-se na segunda-feira – dia em que o caderno é menor, mas
a edição é fechada junto à de sábado – e na área de literatura.
GRÁFICO 9 – PORCENTAGEM DE AUTORIA DAS MATÉRIAS DO CADERNO G
DE SEGUNDA-FEIRA A DOMINGO
A proporção
de matérias vinculadas à agenda cultural é alta durante a semana (83%):
GRÁFICO 10 – PORCENTAGEM DE MATÉRIAS AGENDADAS PELA INDÚSTRIA
CULTURAL DE SEGUNDA-FEIRA A DOMINGO NO CADERNO G
Quanto ao
estilo do texto,
mantém-se a predominância de títulos de revista ou literários (83%) – com pouco
102
AUTORIA
84%
5%
5%1% 5%
Assinada
"Da Redação"
Agência
Repórter de fora
"Especial para o G"
MATÉRIAS DE AGENDA
83%
17%
Sim
Não
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clareza, mas mais atrativos – enquanto no “abre” da matéria aparecem relativamente
mais construções em forma de lide (13,7%).
GRÁFICO 11 – PORCENTAGEM DE ESTILOS DE ABERTURA DE TEXTO NAS
MATÉRIAS DO CADERNO G DE SEGUNDA-FEIRA A SÁBADO
A abertura literária (48%) divide espaço com o factual (47%) e a opinião
permanece pequena (5%). A divisão exemplifica a dicotomia de opiniões dos
repórteres em relação ao estilo do texto.
6.1.1.3 Análise das edições dominicais do Caderno G
A primeira grande diferença observada entre as edições de domingo e as
dos outros dias da semana pode ser verificada no gráfico referente às áreas
culturais pautadas. A música popular, soberana no conjunto dos outros dias, cai para
a segunda colocação (21%) e a televisão, que nem figurava entre os temas mais
recorrentes de segunda-feira a sábado, aparece como tema dominante, ocupando
uma quarto das edições dominicais (28%). Uma ressalva faz-se necessária: no
primeiro dia da semana, a Gazeta do Povo publica também o caderno “Revista da
Tevê”, com matérias sobre a programação de novelas, seriados e etc. Ainda assim,
103
'"ABRE" DO T EXTO
48%
47%
5%
Literário
Lide
Opinativo
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a edição de domingo do G privilegia assuntos relacionados ao meio de
comunicação, o que indica a intenção de popularizar o caderno aos domingos.
A literatura desaparece da lista de temas que se destacam e o cinema
também apresenta queda vertiginosa em relação às edições de segunda-feira a
sábado.
GRÁFICO 12 – PORCENTAGEM DAS ÁREAS CULTURAIS DAS MATÉRIAS DO
CADERNO G AOS DOMINGOS
As artes visuais (12%) e teatro (9%) ganham espaço e – em menor escala,
crescem as pautas sobre comportamento (6%). A TABELA 17 (APÊNDICE 3) expõe
ainda as relações entre temas e origens geográficas. A cobertura da programação
nacional de televisão (77,7% do total das pautas de televisão) leva à frente a
porcentagem de pautas nacionais, as estaduais sequer aparecem e a cobertura
internacional declina (32,3%).
As matérias continuam predominando como gênero jornalístico no caderno
de domingo (66%), mas aumenta o número de reportagens (20%) e entrevistas
(14%) capazes de proporcionar aprofundamento e reflexão ao material jornalístico.
Por outro lado, as resenhas desaparecem.
104
ÁREAS CULTURAIS
28%
21%12%
9%
6%
6%
6% 6% 6%
Televisão
Música Popular
Artes Visuais
Teatro
Política Cultural
Literatura
Cinema e ltelefilme
Comportamento
Outros
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GRÁFICO 13 – PORCENTAGEM DOS GÊNEROS JORNALÍSTICOS DAS
MATÉRIAS DO CADERNO G AOS DOMINGOS
Outra
diferença significativa em relação às demais edições é a inversão da relação entre
matérias de agenda e pautas frias ou especiais. No caderno de domingo,
prevalecem as segundas, com mais de 60%. A agenda, grande determinadora dos
assuntos tratados durante a semana, aparece reduzida em mais de 40 pontos
percentuais.
GRÁFICO 14 – PORCENTAGEM DAS MATÉRIAS AGENDADAS PELA INDÚSTRIA
CULTURAL NO CADERNO G AOS DOMINGOS
105
GÊNEROS
0%
0%
66%0%
20%
14%Crítica
Resenha
Matéria
Perfil
Reportagem
Entrevista
MATÉRIAS DE AGENDA
63%
37%Não
Sim
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Diminuem também as matérias feitas por outros jornalistas que não da
equipe do jornal, conforme a TABELA 20 (APÊNDICE 4). Os títulos literários são
quase unanimidade (97%), como mostra a TABELA 22 (APÊNDICE 4). As
proporções entre textos abertos por lide (29%) ou trabalhados com linguagem de
revista (68%) afastam-se novamente, com predomínio do estilo literário:
GRÁFICO 15 – PORCENTAGEM DE ESTILO DE ABERTURA DE TEXTO NAS
MATÉRIAS DO CADERNO G AOS DOMINGOS
6.1.1.4 Análise quantitativa geral das 35 edições do Caderno G
Para finalizar a pesquisa quantitativa e passar à fase seguinte, da análise
qualitativa, convém quantificar e relacionar os resultados obtidos com a aplicação
das categorias nas 35 edições em estudo. A começar pela quantidade de matérias
produzidas por dia da semana.
A edição de domingo possui mais páginas (de oito a dez), mas a presença
de mais colunistas a iguala tecnicamente (22%) em número de matérias ao caderno
de sexta-feira (21%), que publica seis páginas. O cálculo é relativo, já que no
domingo há matérias mais longas – geralmente de página inteira.
106
"ABRE" DA MATÉRIA
68%
29%
3%
Literário
Lide
Opinativo
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GRÁFICO 16 – PORCENTAGEM TOTAL DE PRODUÇÃO DE MATÉRIAS POR DIA
DA SEMANA NO CADERNO G
A segunda-feira é o dia em que o caderno é menos encorpado (11%), com
menos produção jornalística dos repórteres. Basicamente, traz a matéria de capa e
os resumos dos lançamentos de livros, mais uma matéria de agência.
GRÁFICO 17 – PORCENTAGEM DE ÁREAS CULTURAIS DAS MATÉRIAS DO
CADERNO G ANALISADAS
Quanto às áreas culturais pautadas, o resultado total é semelhante ao das
edições de segunda-feira a sábado – já que são maioria – mas com dois outros
temas na lista dos principais, ainda que não a encabecem: televisão (6%) e artes
107
PRODUÇÃO POR DIA DA SEMANA
22%
7%
11%
14%14%
21%
11%Domingo
2ª Feira
3ª Feira
4ª Feira
5ª Feira
6ª Feira
Sábado
ÁREAS CULTURAIS
29%
17%
16%10%
8%
8%
6%6%
Música Popular
Cinema
Outros
Literatura
Teatro
Artes Visuais
Televisão
Vídeo/DVD
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visuais (8%). Conforme pode ser verificado na TABELA 24 (APÊNDICE 5), política
cultural (5%), música erudita (5%) e quadrinhos (3%) têm seu espaço no caderno,
ainda que pequeno.
A média final das localidades de origem dos bens e serviços culturais indica
predominância daqueles de origem nacional (40%) e mais atenção ao internacional
(31%) do que ao local (27%) – ainda que a diferença não seja contrastante – e
descomprometimento com (ou desconhecimento de) o cenário cultural paranaense
em si (2%), além dos limites de Curitiba. Destacam-se, segundo a TABELA 26
(APÊNDICE 5), a música popular nacional (18% do total das matérias), o audiovisualestrangeiro (16%), as artes visuais locais (6%), a literatura estrangeira com 4,2%
(lançamentos) e nacional com 3,6% (entrevistas).
GRÁFICO 18 – PORCENTAGEM DE ESPAÇO GEOGRÁFICO DE ORIGEM DAS
MATÉRIAS DO CADERNO G ANALISADAS
Quanto
aos gêneros
de texto
jornalístico, sente-se a ausência da crítica (O%), substituída pela resenha (20%) –
formato correspondente a um quinto do material publicado. As matérias (como
anteriormente definidas) ocupam 63% do espaço.
GRÁFICO 19 – PORCENTAGEM DE GÊNEROS JORNALÍSTICOS DAS MATÉRIAS
DO CADERNO G ANALISADAS
108
ESPAÇO GEOGRÁFICO
27%
2%
40%
31%
Local
Estadual
Nacional
Internacional
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Os
gêneros
predominantes estão intimamente relacionados ao fator tempo e à falta deaprofundamento nos assuntos. A reportagem de maior fôlego representa pouco
menos de uma a cada dez matérias. As entrevistas assumem espaço relevante
(7%). A diversidade não é um valor considerado nos modelos de texto.
No balanço entre as matérias frias do domingo e as agendadas pela
indústria cultural que imperam nos demais dias, tem-se que a agenda determina
quase 80% das pautas no total.
GRÁFICO 20 – PORCENTAGEM DE MATÉRIAS AGENDADAS PELA INDÚSTRIA
CULTURAL NAS EDIÇÕES DO CADERNO G ANALISADAS
A autoria dos textos publicados é de predomínio da equipe de repórteres
(87%) – assinados de acordo com o princípio de que o repórter de cultura deve dar
109
GÊNEROS
0%
20%
63%
1%9%
7%
Crítica
ResenhaMatéria
Perfil
Reportagem
Entrevista
MATÉRIAS DE AGENDA
79%
21%
Sim
Não
7/11/2019 tcc_lu_OK
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sua marca ao texto, conforme acredita o editor do caderno, Paulo CAMARGO
(2005). As notícias de agência tem percentual baixo (4%), mas relativamente
considerável por agruparem-se nas segundas-feiras.
GRÁFICO 21 – PORCENTAGEM DE AUTORIA DAS MATÉRIAS DO CADERNO G
ANALISADAS
Os títulos
de estilo literário predominam com maioria absoluta, presentes em mais de 85% das
matérias.
GRÁFICO 22 – PORCENTAGEM DE ESTILOS NO TÍTULO E NA ABERTURA DE
TEXTO DAS MATÉRIAS DO CADERNO G ANALISADAS
Na abertura
do texto, o estilo também conhecido como de revista prevalece (53%), mas o texto
110
AUTORIA
87%
4%4%4%
1%
Assinada
"Da Redação"
Repórter de foraAgência
"Especial para o G"
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Títulos Abertura do Texto
TEXTO
Opinativo
Factual
Literário
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factual mantém-se em mais de 42% das matérias. A co-existência dos estilos, assim
como outras relações e interpretações que podem ser produzidas a partir dos dados
aqui descritos serão retomados posteriormente neste trabalho. O item seguinte abre
outra frente de análise: a qualitativa.
6.1.2 Análise Qualitativa
O aprofundamento da análise do Caderno G pode ser obtido por meio da
análise de conteúdo qualitativa, que pressupõe maior aproximação do pesquisador com o texto. Decidiu-se pela amostragem de sete exemplares do caderno, cada um
veiculado em um diferente dia da semana, como forma de averiguar especificidades
dos dias e o conjunto final formado pela soma das sete edições. Entendeu-se ser
preferível não limitar o período de análise a sete dias seqüenciais, como forma de
evitar quaisquer fatores que possam ter influenciado o período ou transformá-lo em
uma semana atípica. A seleção aleatória das edições por dia semana constituiria
uma amostragem menos restrita por marcações temporais. Entretanto, durante a
triagem, alguns exemplares foram selecionados por verificar-se que traziam modelos
de matérias recorrentes no caderno – percebidos durante a pesquisa quantitativa. É
o caso da matéria acompanhada de um box crítico ou opinativo, como será
explicitado adiante. Foram selecionadas as edições dos dias: 5 de setembro
(segunda-feira), 20 de setembro (terça-feira), 5 de outubro (quarta-feira), 15 de
setembro (quinta-feira), 30 de setembro (sexta-feira), 24 de setembro (sábado) e 11
de setembro (domingo) 24.
A edição de 5 de setembro de 2005 é aberta pela matéria “Sedução
Vampiresca”, que parte de um gancho da agenda cultural – o lançamento no Brasil
do best-seller “O Historiador”, de Elizabeth Kostova (obra em inglês, sem
nacionalidade informada na matéria) –, informa sobre a criação do selo Suma de
24 Ou, em ordem temporal: 5/09, 11/09, 15/09, 20/09, 24/09, 30/09 e 5/10.
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Letras e comenta o mercado editorial de “literatura de entretenimento” – na ordem
inversa da disposta neste parágrafo, em matéria de página inteira mas em cujo
espaço apenas duas colunas são ocupadas por texto. O título faz analogia entre a
obra de Kostova, a lendária sedução dos vampiros que sugam suas vítimas e o
mercado de livros de entretenimento, em tom crítico pouco reverberado no texto. A
fotografia com filtro vermelho de um vampiro atacando uma garota ocupa quatro
colunas. É clara a opção editorial por imagem em detrimento ao texto. O primeiro
parágrafo da matéria comenta a literatura de entretenimento, define-a sem
acrescentar idéias além do senso comum, serve como contextualização do assuntoe como tentativa de conquistar o leitor por meio do comentário bem-humorado: “O
que explica o outro nome pelo qual é conhecida: literatura de aeroporto – um dos
lugares do mundo onde a passagem do tempo pode ser uma angústia terrível o
suficiente para levar alguém que nunca leu um livro na vida a considerar essa
possibilidade” 25. Seguem-se referências a “fenômenos literários” como Dan Brown,
em dois parágrafos é anunciada a criação de um selo do gênero pela
Objetiva/Santilla e então fala-se do livro lançado – a tiragem e a sinopse da obra em
menos de dez linhas. No parágrafo seguinte é levantada a questão dos best-sellers
transformarem-se em filmes e, para fechar o texto, são contrastadas duas opiniões
(desprovidas de argumentação): “Para alguns – como o editor Ivan Pinheiro
Machado, da gaúcha L&PM –, os grandes grupos editoriais entraram no Brasil como
predadores em busca de sangue (das editoras pequenas). Para Soto, isso ‘é uma
grande bobagem’. Sem meias palavras, ele diz que a Planeta quer mesmo
popularizar o livro, seguindo as regras de mercado. E elas mandam seduzir o leitor
que não é consumidor assíduo de literatura.” 26 A escolha feita ao conduzir a matéria
fez com que abrangesse um tema amplo e indicasse possíveis desenvolvimentos,
em tom de comentário, mas sem aprofundar-se ou realmente desenvolver nenhuma
das possibilidades. É o que se pode definir como um texto raso – opta por apenas
25 (NETTO, Irinêo. Sedução Vampiresca. Gazeta do Povo. Curitiba, 05 set. 2005)26 Idem anterior.
112
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levantar os assuntos no espaço restrito disponível. O box que acompanha a matéria
vem preenchido por curiosidades, como o fato de sete séries de televisão sobre
vampiros já terem sido produzidas ou o significado do termo “drac” em romeno –
uma forma de a matéria, em si, aproximar-se do entretenimento.
Na página 2, o colunista Wilson Martins aproveita espaço semelhante para
versar sobre a crítica. A coluna, ao contrário da capa, pressupõe um leitor culto e
interessado em temas densos como a história da crítica literária: Martins fala sobre
alguns dos principais críticos da história literária do país e desenvolve reflexões
consistentes, como: “Lembremos, ainda, que a opinião crítica não é imposta por nenhum crítico individualmente considerado, mas pelo contraste das diversas
reações que a obra provoca: o autor é a fonte da idéia criadora; o leitor é o mundo
coletivo em que o texto vai atuar” 27. O aprofundamento do conteúdo, contudo, é
cercado por construções textuais elitistas (e passíveis da acusação de pedantismo):
“O ‘triálogo’ se resolve, afinal, num colóquio, num ágape, mas socrático, isto é,
crítico e irônico do que platoniano, isto é, doutrinário e docente”28. A coluna, pela
temática e tratamento dado ao assunto, acaba por aproximar-se do academicismo e
destoa do tom de conversa e textos leves predominante no restante do caderno.
Na mesma página, uma matéria da agência FOLHAPRESS trata do
lançamento de um livro sobre o escritor Mark Twain. O conteúdo não será analisado
por não ter sido produzido na redação do Caderno G, basta a informação de que a
matéria traça um breve perfil do autor, com linguagem que busca aproximar-se da
literária.
A terceira página é percorrida pelo guia de programação cultural da cidade.
A contracapa, por fim, abriga a seção “Lançamentos”, em que fotos de capas de
livros aparecem ao lado de uma sinopse que inclui uma breve contextualização da
obra ou autor.
27 MARTINS, Wilson. Sobre a crítica. Gazeta do Povo, 05 set. 2005.28 Idem anterior.
113
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Na metade superior da página, o colunista Miguel Sanches Neto aparece em
espaço e diagramação idênticos a Martins, o que dá às colunas a feição do caderno
e potencializa a identificação; por outro lado, iguala os profissionais e “enquadra-os”
no rígido e conservador formato do jornal. Em “Travessia acompanhada”, o colunista
faz a crítica – ou elogio argumentativo, no caso – à obra da poetisa Hilda Hilst. “Esta
antítese marca os últimos poemas, em que Deus deixa de ser presença forte para
ser vacância que preenche. Ela vê o Criador como sede, como carência de algo que
existe justamente por ser um doído esvaziamento” 29. O texto do colunista fornece
impressões sobre a poetisa, trata com profundidade do estilo da escritora einterpreta-a com linguagem cuidada, em flerte com o poético, sem cair no elitismo
restritivo.
As duas colunas de crítica literária, os lançamentos e programação, a
matéria de capa e a de agência completaram o espaço de quatro páginas previsto
para as edições de segunda-feira. Além das sinopses dos livros – que não
configuram uma matéria – apenas um texto jornalístico elaborado por um repórter da
equipe foi veiculado no dia – fato do qual emergem possibilidades não-exclusivas: a
equipe do caderno estar “sub-aproveitada” 30, e certo desprezo editorial pela edição
pós-fim de semana.
Na terça-feira, 20 de setembro, o tema da capa do caderno era, novamente,
a literatura – desta vez a praticada em livros-reportagens por jornalistas conhecidos
nacionalmente. O gancho veio de duas sessões de autógrafo que aconteciam no
mesmo dia – pauta de agenda, portanto –, uma com o repórter do Fantástico,
Maurício Kubrusly, autor de “Me Leva Brasil: A Fantástica Gente de Todos os
Cantos do País”, e outra com o jornalista (e colunista da Gazeta do Povo) Alberto
Dines, autor da biografia “Morte no Paraíso”, sobre Stefan Zweig. O espaço do texto
soma aproximadamente duas colunas inteiras – possível padrão da diagramação,
um terço do espaço na página. A matéria abre com um comentário “engraçado”
29 SANCHES NETO, Miguel. Travessia acompanhada. Gazeta do Povo, Curitiba, 5 set. 2005.30 Opinião mantida pela jornalista Adriane PERIN (2005)
114
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(imaturo ou curioso, dependendo do humor do leitor) para introduzir o assunto
menos diretamente, em tom de conversa: “Diz a física que dois corpos não podem
ocupar o mesmo espaço simultaneamente, Mas e se for um corpo em dois espaços?
Impossível, mas viria a calhar” 31. Espécie de apelo completamente desvinculado do
conteúdo da matéria, o trecho reflete o desejo de não apresentar apenas a notícia,
mas construir uma relação com o leitor. A referência à lei física é uma brincadeira
com a coincidência de os dois jornalistas escritores estarem em sessões de
autógrafo que começam com uma hora de diferença. O tratamento pitoresco da
proximidade já sugere como a pauta não será conduzida ao longo do texto: o foconão são as obras. A matéria centra-se em dois pilares: a referência aos livros, que
não informa mais do que a proposta do autor, e a carreira jornalística, que sobrepuja
o ponto anterior. Para comprová-lo, considere-se o fato de as declarações colhidas
dos entrevistados referirem-se tão somente à profissão. Kubrusly responde sobre o
privilégio de ser jornalista em meio à crise política, o jornalismo de cultura e
entretenimento ter-se confundido com a vida das celebridades e em que outra
carreira teria interesse. Nenhum dos temas é levado adiante. Dines, por sua vez,
opina sobre o que caracteriza o bom jornalista. Os assuntos, relevantes ou
desinteressantes, limitam-se à superfície do comentário pinçado, sem serem
relacionados entre si. A condução da matéria não tem direção definida e, por isso,
não leva o leitor a lugar algum, nem desenvolve qualquer raciocínio. Resume-se a
apresentar os célebres profissionais da imprensa. Jornalismo de amenidades.
Na página seguinte, a reportagem “Ser ou não ser financiado” faz a
cobertura do Londrix – festival literário de Londrina – com base na primeira mesa de
debates do evento, sobre o papel das políticas públicas na área da literatura. A
reportagem centra-se nos diversos pontos de vista acerca do tema, ou seja, no
debate de idéias. Em pouco mais de meia página (em torno de 3/2 colunas de texto),
são apresentados os argumentos de cinco profissionais ligados à produção literária,
31 NETTO, Irinêo. Jornalistas literatos. Gazeta do Povo, Curitiba, 20 set.2005.
115
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com opiniões diversas sobre o papel do governo no financiamento da cultura, e um
box traz a avaliação do evento segundo o organizador e o repórter – que viajou à
convite do Festival. Sem ocupar linhas com comentários ou apelos alheios ao
conteúdo do assunto, a reportagem consegue apresentar argumentações suficientes
para que o leitor possa desenvolver uma reflexão sobre o tema. A abertura da
matéria não fica prejudicada pela objetividade, ao contrário, é uma citação incisiva:
“’Ninguém encosta uma arma na cabeça de outra pessoa e a obriga a viver de
escrever. Por isso, não dá para a gente encostar a arma na cabeça dos outros e
dizer ‘Compra meu livro’’”32
. Questionáveis são o espaço e o destaque dados àsduas pautas acima. A seriedade e o conteúdo reflexivo da segunda não merecem a
capa do caderno, enquanto a primeira o faz sem dizer nada. É a opção pelo
destaque aos personagens celebrizados em detrimento à possibilidade de pensar a
cultura.
Ainda na segunda página, a matéria “Emmy consagra a estreante série Lost ”
apresenta a cobertura da entrega de prêmios da televisão americana. O texto
enumera as categorias e seus vencedores – com pouco informação a mais do que
se pode obter no box ao lado, onde a lista de ganhadores por categoria encontra-se
simplificada. Por exemplo, o trecho: ”Entre as comédias, o seriado criado por Ray
Romano se despediu das telinhas – foi encerrado este ano nos EUA, depois de nove
temporadas; no Brasil, o canal Sony ainda vai apresentar as (sic) dois últimos anos
do seriado – recebendo o prêmio de melhor de sua categoria e consagrando
também Brad Garrett e Doris Roberts como melhores atores coadjuvantes” 33,
corresponde às seguintes informações contidas no box dos vencedores: “COMÉDIA/
Série – Everybody Loves Raymond/ (…)/ Ator coadjuvante – Bary Garrett
(Everybody Loves Raymond )/ Atriz codjuvante - Doris Roberts (Everybody Loves
Raymond )”34. Ou seja, a matéria traz, basicamente, a leitura do box. Espaço
32 Daniel Pelizzari, citado por GALINDO, Rogério. Ser ou não ser financiado. Gazeta do Povo,
Curitiba, 20 set. 2005.33 FLORES, Rudney. Emmy consagra a estreante série Lost. Gazeta do Povo, Curitiba, 20 set. 2005.34 Idem anterior.
116
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desperdiçado que seria mais bem aproveitado se, por exemplo, ampliasse a
cobertura da reportagem anterior.
A terceira página é ocupada pelo guia de programação. Na contracapa,
“Belas imagens da revolta” é o título da matéria situada na metade superior.
Agendada pela abertura da “Mostra de Fotos de Krajcberg”, a matéria concentra-se
na forte figura do artista polonês, refugiado no Brasil depois do Holocausto, crítico ao
descaso pelo meio-ambiente e com trabalho artístico reconhecido no exterior. A
abertura do texto é fraca: “Além de artista e ambientalista, Frans Krajcberg é um
amante do Brasil. Aos 84 anos, ainda tem vontade de gritar pelas ruas, mas nãopara ser preso ou rotulado de louco – o artista polonês naturalizado brasileiro
encontrou outras formas de expressar sua revolta” 35. Descontextualizado, o
parágrafo inicia o assunto de forma solta e é seguido pelo serviço da exposição, o
que aumenta a desconexão do texto. A opção pelo foco nas idéias do artista,
entretanto, funciona. As motivações de conscientização da obra são colocadas e
contextualizam a produção. Uma matéria de serviço acrescentada de raciocínio –
não do repórter, do personagem em si.
A página é completada por uma matéria “Da redação”, em que a pauta
agendada pela abertura da exposição “Devaneios” (do artista plástico Omar Carboni)
desenvolve-se no curto espaço dando ênfase às técnicas de criação, e por uma nota
sobre uma mostra coletiva de artistas plásticos. No geral, percebe-se maior
liberdade de temas em relação à segunda-feira, ainda que a ênfase do dia seja para
as artes visuais. Emerge a questão da prioridade e destaque dados aos assuntos,
que revela preferência por temas menos sérios e mais populares. Estabelece-se,
ainda, a diferença entre tentativas de conquistar o leitor com um primeiro parágrafo
pretensamente sedutor – aqui não se pretende um julgamento de valor, diz-se
“pretensamente” por ser esta a pretensão do texto, realizada satisfatoriamente ou
35 KOPPE, Jennifer. Belas imagens da revolta. Gazeta do Povo, Curitiba, 20 set. 2005.
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não – mas desvinculado do cerne do assunto e, do outro lado, a abertura que vai
direto ao ponto de interesse.
A edição de quarta-feira, 5 de outubro, não traz na capa anúncios
publicitários, o que proporciona maior espaço para a matéria e reflete-se, no caso,
em qualidade de cobertura informativa. A pauta, de agenda, é o lançamento do CD
“Hoje”, da banda Paralamas do Sucesso. Três gêneros jornalistas são usados para
tornar mais completa a cobertura: a matéria principal, acompanhada por box de
resenha crítica e uma entrevista correlata 36. Na primeira, relata-se o momento atual
da banda e o processo de composição e produção do mais recente álbum. Oparágrafo de abertura contextualiza e comenta sobre a fase da banda: “Hoje é a
confirmação de que tudo voltou à normalidade na carreira do Paralamas do
Sucesso. O novo disco da consagrada banda brasileira, que está sendo lançado
este mês pela EMI, é o segundo de inéditas após o grave acidente sofrido em 2001
por Herbert Vianna. (...) Hoje apresenta todos os elementos tradicionais dos
Paralamas: o bom rock aliado a muitas pitadas do reggae e suas vertentes 37”. Nota-
se a combinação entre informações e comentários ao longo do texto – sinal da
subjetividade permitida no jornalismo cultural. As informações são passadas por
citações de Barone, guitarrista da banda, que descreve e comenta o fazer do disco.
O espaço de aproximadamente uma coluna é suficiente para situar o leitor no
contexto de produção. O box com opinião é sucinto e pouco argumentativo – nem há
espaço físico para que desenvolva-se opiniões aprofundadas sobre o CD:
“Não há grandes novidades musicais em Hoje em relação a tudo o que Hebert, Bi e Barone já fizeram na carreira. Estão lá as músicas mais vibrantes, recheadas de teclado (a cargo deJoão Fera, o ‘quarto’ Paralama) e metais, como ‘2A', ‘Na Pista’, ‘Soledad Cidadão’ e ‘AoAcaso’, que dominam a primeira metade do registro de 13 faixas; e o rock vigoroso decanções como ‘Pétalas’, ‘Passo Lento’, ‘Fora do Lugar’, ‘220 Desencapado’ (ótima) e ‘Pontode Vista’. É um trabalho enxuto e conciso (o disco tem pouco mais de 40 minutos), que nãoimpressiona muito à primeira audição, mas vai se tornando cada vez mais redondo aos
36 Optou-se por classificar o conjunto matéria mais box crítico como “resenha”, por possuir
informações e abordagem equivalentes: a introdução sobre o assunto, informações e comentários e avaliaçãonão-aprofundada.37 FLORES, Rudney. No Tempo de Hoje. Gazeta do Povo, Curitiba, 05 out. 2005.
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ouvidos. Marca da tradicional competência dos três principais nomes do rock nacional. (RF)
GGG” 38.
O parágrafo acima constitui o conteúdo total do box. No espaço restrito,tentou-se abarcar todo o disco, distinguindo tipos de música e comentando entre
parênteses com elogios sobre determinada música que em nenhum momento são
justificados. Aliás, a opinião é prioritariamente baseada em adjetivação: “vigoroso”,
“vibrante”, “ótima”, entre outros.
Ao pé da página, uma entrevista com o líder do grupo, Herbert Vianna
relaciona o momento da carreira (o novo álbum) com a recuperação pós-acidente do
vocalista. Somado à matéria principal, constitui um relato mais encorpado em termos
de informação. O ponto fraco da página acaba mesmo por conta da carga opinativa,
reduzida e sem desenvolvimento. Nota-se, mais uma vez, a opção por uma
fotografia grande, ao invés da liberação de espaço para a realização conjunta de
informação e opinião. Ao fim, apenas a primeira opção foi alcançada.
A página dois traz como principal texto “O grande negócio do rock-and-roll”,
resenha do novo disco dos Rolling Stones. Aqui, o espaço quadruplica-se em
relação ao box da primeira página, mas o conteúdo opinativo-argumentativo em
relação ao álbum pouco cresce. Metade das linhas serve para contextualização
(atual) da banda, como a idade avançada dos integrantes e o posicionamento
político recente. É difícil precisar a distinção entre comentário e opinião, já que o
texto permanece entre os dois, por vezes. O penúltimo dos seis parágrafos versa
sobre o CD em si: “espontaneidade do registro”, desempenho dos quatro músicos
destacado dos outros instrumentistas e diversidade de estilos – tudo em frases
breves. É a preferência editorial pelo “mito” de uma grande banda ao invés do seu
trabalho, como deixa clara a abertura do texto: “Nada de novo no front, mas quem se
preocupa com isso? Com um disco de inéditas na praça, e o mesmo som de
sempre, os Rolling Stones voltam aos holofotes prontos para recolher mais alguns
38 Classificação de um a cinco Gs, referentes à Fraco, Regular, Bom, Muito Bom e Excelente.
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milhares de dólares de seus fãs devotados”39. A decisão de deixar o foco sobre a
banda justifica-se pela mitificação histórica dos Rolling Stones – o que não implica
necessariamente que a abordagem sobre a banda não possa trazer opiniões e
críticas consistentes. Não traz. Prefere-se o comentário irônico que não se posiciona
a favor ou contra com clareza.
Ao lado, o editor do caderno assina a resenha sobre o novo trabalho da
cantora Aimee Mann. Como nos textos opinativos anteriores, não ficam claros os
motivos ou fundamentos para a avaliação dada – ao fim de cada resenha a
quantidade de Gs (de um a cinco) classifica o trabalho – , no caso “GGG1/2”. Aresenha elogia o trabalho de Mann, mas não explicita o que faltou para o álbum
alcançar uma classificação maior, por exemplo. A contextualização impera sobre a
crítica, o que pode ser justificável por tratar-se de uma artista “à margem do
mainstream” 40, ou seja, menos conhecida do público do jornal.
Feitas as referências, pouco espaço sobrou para a crítica. Resume-se ao
trecho: “O disco reúne a maior parte das características dos trabalhos anteriores de
Aimee: canções classudas, letras elaboradas e vocais sempre bem colocados. A
diferença básica em relação ao seu registro anterior, o festejado Lost in Space
(2002), é que o antes tímido flerte com sonoridades mais roqueiras está mais
consolidado e marcante. Vale a pena conferir. GGG ½” 41. Há, clara, a tentativa de
avaliá-lo. Mas, o que são “canções classudas”? O que determina que as letras sejam
“elaboradas”? E “vocais bem colocados” significa o quê? Nikola Matevski é contra a
adjetivação imprecisa como forma de justificar opiniões em uma resenha:
“No meu texto de cinema você nunca vai ler que o Tom Hanks é um grande ator porque umgrande ator para mim é um ator obeso. Um grande ator não quer dizer nada na verdade. Seeu quero avaliar a interpretação de alguém, eu tento ser específico e mostrar como certodiretor usa o ator, como ele funciona dentro da estrutura do filme e realmente conseguir dar um parâmetro palpável, que possa ser verificado durante a fruição do filme por outra
39 GODOY, Omar. O grande negócio do rock-and-roll. Gazeta do Povo, Curitiba, 05 out 2005.40
CAMARGO, Paulo. Aimee Mann canta a saga de um pugilista. Gazeta do Povo. Curitiba, 05 out.2005.41 Idem anterior.
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pessoa, para ela poder contestar a minha opinião ou não. (...) “Um grande ator”, “Uma bela
interpretação”, aquela coisa de caixinha de locadora, “Um filme brilhante”, ou você dizer queum filme é mediano, razoável ou que se comunica bem com o público... Tem váriasexpressões que se transformaram em um clichê e os jornalistas nas resenhas opinam mas
na verdade não argumentam nada” (MATEVSKI, 2005).
A opinião aplica-se à grande parte das resenhas do Caderno G, em que a
adjetivação constitui críticas vazias. Impressão evidenciada frente ao trecho de
opinião sobre o álbum às linhas escritas na coluna Lançamentos, publicada na
mesma página: “... Have a Nice Day , nono disco do outrora cabeludo quarteto de
Nova-Jersey [Bom Jovi], é mais do mesmo: ‘I Want to Be Loved’ e a faixa-título são
perfeitas faixas levanta-povão, escritas sob medida para realimentar o culto em torno
do grupo. Bom para quem gosta” 42. Comparativamente, não há muito mais conteúdo
crítico na resenha, apesar de esta ser ao menos cinco vezes menor. Uma nota de
agenda fecha o espaço da página. A terceira está ocupada pelo guia de
programação.
A contracapa, além de notas e publicidade, traz uma matéria sobre o
fechamento do Espaço Cultural 92 graus, o qual apresenta como “... referência na
cena independente local, promovendo shows de bandas curitibanas, nacionais e
estrangeiras (...) muitas das quais tiveram uma parcela importante na construção do
cenário underground brasileiro e que representavam o mesmo movimento em outros
países” 43. Os nomes das bandas vêm enfileirados em um box, sem que nenhuma
história seja contada para aproximar o leitor do universo underground de que trata a
matéria. A contextualização é falha: “É comum ouvir histórias de bandas que fizeramsua primeira apresentação no Ninety Two Degrees – hoje chamado de Espaço
Cultural 92 Graus – ou de gente que, ao assistir a um dos shows realizados no
porão suado de JR, teve a iniciativa de montar ser próprio grupo” 44. A matéria não
consulta nenhuma dessas fontes. O único ouvido é o dono do local, que fala das
dificuldades enfrentadas que levaram ao fechamento da casa. A repercussão e as
42 CAMARGO, Paulo. Have a Nice Day. Gazeta do Povo, Curitiba, 5 out. 2005.43 GIRARDI, Juliana. Era uma vez um porão. Gazeta do Povo, Curitiba, 5 out. 2005.
44 Idem anterior.
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conseqüências do fato na cena musical curitibana – o que justificaria o tema ser
pautado – são ignoradas pelo texto. A matéria, assim, soa publicitária, mais ainda ao
terminar o texto com um apelo do proprietário para que a casa seja freqüentada nos
últimos dias de funcionamento. Desabafo acompanhado de superficialidade ao
explicar a relevância cultural do espaço – e mais nada – comprometem a pauta e a
compreensão do leitor sobre os significados envolvidos no fato. A cena
independente ganha caracteres no Caderno G, mas é tratada sem reflexão.
A edição inteira dedicada à música coincide, além do tema, na abordagem
rasa e não-explicativa da qualidade dos produtos culturais e das implicâncias dosacontecimentos. Os textos não parecem ter sido escritos para o leitor, pois ou não o
situam devidamente ou não permitem que ele compreenda parte dos significados
construídos na mensagem.
A edição do dia 15 de setembro, quinta-feira, traz na reportagem de capa a
decisão da Fundação Cultural de Curitiba de cobrar legalmente as prestações de
contas atrasadas dos projetos culturais incentivados pela lei municipal. A visão do
presidente da FCC é contraposta às explicações de três produtores beneficiados
pelo incentivo. A reportagem não discute a fundo os motivos que levam 95 projetos a
estarem irregulares, mas ouve três fontes entre os inadimplentes.
A explicação fica incompleta. Fala-se que o problema é o curto prazo para
realização do projeto, (“Pela lei o responsável pela idéia tem dois anos para arranjar
o dinheiro a partir do momento em que sua proposta foi aprovada pela comissão
municipal. Depois disso, precisa realizar o projeto e, em 30 dias, levar à FCC os
documentos que comprovam o bom uso do dinheiro” 45), mas não fica claro o tempo
total: se dois anos e trinta dias, dois anos redondos ou dois anos e trinta dias mais o
tempo de realização, por exemplo.
Os entraves para produção no período são levantados, mas inconclusivos:
dificuldade de captação – sem explicações sobre quais, como ou por quê – e
45 GALINDO, Rogério. Projetos na mira da justiça. Gazeta do Povo, Curitiba, 15 set. 2005.
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contratempos como demora a conseguir reunir o elenco – sem esclarecimentos a
respeito de que, por vezes, a demora na aprovação do projeto faz que ele perca a
atualidade orçamentária e outras situações ocorram de modo a, em alguns casos,
não ser possível cumprir o planejado por falta de elenco, local, etc. Em resumo, a
reportagem permanece em território raso e não desenvolve as relações das
questões que apresenta. O box explica, de forma concisa, o processo de
financiamento cultural, mas não resolve as dúvidas e silêncios do texto da
reportagem.
As resenhas dos lançamentos em DVD de Lavoura Arcaica e Clube dos
Cinco ocupam juntas quase uma página inteira, onde duas notas e a coluna de
lançamentos de DVDs são os outros elementos presentes. É um espaço mais que
considerável para produtos que já estiveram em cartaz no cinema e, se relevantes (o
que se espera deles, já que pautados para a edição analisada), receberam cobertura
jornalística na época. Jornalismo pautado pela indústria de produtos culturais para
consumo.
“Ao lado direito do pai” concentra-se sobre o filme Lavoura Arcaica 46 , situa-o
entre as adaptações literárias convertidas em película e discorre sobre a trama e as
qualidades do filme em si. Elogios imprecisos enfileiram-se: “patriarca vivido
brilhantemente por Raul Cortez”, “o ótimo Leonardo Medeiros”, “Simone Spoladore,
em marcante atuação”. Opiniões colocadas com mais clareza de conceitos também
surgem: “A belíssima fotografia de Water Carvalho, que consegue imprimir ao filme
tons de claro e escuro, torturantes e introspectivos” ou o confuso trecho “Outro ponto
alto é a trilha sonora de Marco Antônio Guimarães, que jamais [sic] confere à trama,
que facilmente poderia descambar, devido à temática, para o melodrama excessivo,
uma dramaticidade contida, latente”. Sem o termo “jamais” 47, a frase faria sentido
46
CAMARGO, Paulo. Ao lado direito do pai. Gazeta do Povo, Curitiba, 15 set. 2005.47 Não é raro encontrar nas matérias resíduos da edição, ou seja, palavras, artigos ou termos deligação que, depois da mudança de uma frase, são esquecidos e constituem erro.
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como uma avaliação explicativa dos motivos, do mesmo modo que a anterior, já que
as duas explicitam as sensações que levaram o jornalista à adjetivação.
No último parágrafo, “... tudo isso faz de Lavoura Arcaica uma obra-prima do
cinema brasileiro recente, única nos mais diversos aspectos.... “ é a mostra da falta
de amarras do texto. Em quais diversos aspectos? E o que a faz única entre outros?
Editorialmente, parece que não há preocupação em o leitor ter tais respostas.
“Cinco maneiras de adolescer” é uma pauta mais questionável: trata-se do
lançamento em DVD de um filme de 1985, Clube dos Cinco, repetido à exaustão nas
sessões da tarde da rede Globo. O resgate é determinado pela nova “embalagem”que o produto cultural recebe, aspecto comercial acima de outros (já que em VHS o
filme existe há décadas). Novidades o novo produto não trouxe, ou se o fez não
pareceu interessante para a repórter. O texto relembra o enredo e o diz atemporal.
A contracapa é aberta por matéria sobre suspeita de corrupção na secretaria
de cultura de Cascavel. O texto é assinado por Miguel Portela, que não integra a
equipe de jornalistas do Caderno G, portanto, foge do objeto de análise. A matéria
assinada da página é sobre música erudita. O texto curto concentra-se nas obras
que fariam parte do programa do espetáculo – uma alternativa para tratar músicos
pouco conhecidos e um assunto considerado elitista. Se falta espaço para
desenvolver raciocínios ou situar melhor o leitor nesse universo musical, informar
sobre as obras tocadas – geralmente de nomes mais conhecidos, como Bach – foi
uma saída satisfatória para o entendimento do leitor.
As seis páginas de sexta-feira, 30 de setembro de 2005 trazem apenas
quatro matérias assinadas por repórteres do Caderno G. Muito do espaço é ocupado
por propaganda, a coluna Bom Gourmet e notas. A capa do caderno é dedicada à
estréia de cinema mais visada da semana, o filme “A Feiticeira”, protagonizado por
Nicole Kidman. O filme é criticado na resenha por ser uma refilmagem que não está
à altura do original, porém, mesmo “insosso” 48, ganha o espaço mais nobre do
48 FLORES, Rudney. Sem a Magia do Original. Gazeta do Povo, Curitiba, 30 set 2005.
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caderno. Sexta-feira é o dia das estréias de cinema na cidade e, sem um título
comercial de mais qualidade, optou-se pelo que trazia uma estrela hollywoodiana no
elenco e resgatava uma série de tevê clássica. O vínculo do jornalismo cultural com
os produtos da indústria prevalece sobre a (falta de) relevância deles, aceita-se o
que é estabelecido pelos produtores como “notícia” e reproduz-se.
Ao menos, a resenha busca alguma reflexão sobre o filme em seu contexto
de produção cultural: “Mas a eterna crise de criatividade de Hollywood faz os
produtores apelarem constantemente ao resgate dessas obras passadas. Se o
reaproveitamento de idéias é inevitável, esse tipo de projeto teria sempre que ficar nas mãos de alguém com um mínimo de personalidade no trabalho, que tentará de
todas as formas fazer algo original...” 49. Com o espaço de página inteira, contexto e
crítica podem desenvolver-se mais do que nas outras resenhas analisadas – apesar
de ainda muito longe do que se chama “crítica” como gênero jornalístico.
A segunda página traz, de propaganda, apenas a coluna (institucional) do
Clube do Assinante, entretanto, nem um dos textos que ocupam as linhas é
assinado pela redação do caderno G. O primeiro é uma reportagem de agência
sobre a morte da violeira brasileira Helena Meirelles. O editor justifica o uso de
agência de notícias em casos semelhantes:
“Matéria de agência é pela relevância. Os grandes jornais nacionais recebem tudo antes.Muitas vezes a gente prefere dar material de agência para dar com maior rapidez. Otrabalho que é feito por eles é mais ágil e melhor do que o que a gente faria à distância, até
porque seria derivativo. Da mesma forma que o nosso é melhor à respeito de coisas queestão acontecendo aqui” (CAMARGO, 2005).
A outra matéria da página foi assinada como “Da redação”. Trata-se de uma
matéria de agenda curta sobre o show da banda Nenhum de Nós. A terceira página
traz o guia da programação.
A coluna Bom Gourmet ocupa página inteira colorida. A coluna do enólogo
Luiz Groff comenta safras e tipos de vinho: “O Pedrosa Gran Reserva 99, também49 Idem nota 25.
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com 10% de Cabernet, 24 meses na barrica, é um vinho potente, opulento, com
taninos maravilhosos com muito desenvolvimento pela frente” 50. Tema elitista e
linguagem para iniciados no assunto. De resto, a página traz notas e matérias
assinadas pela jornalista Marian Guimarães, uma das fundadoras do Caderno G. Os
textos apresentam restaurantes, chefes de cozinha e outros assuntos semelhantes.
O espaço parece release de restaurantes. Em “Tacada de Mestre” 51, por exemplo,
passa-se o texto a elogiar a chefe de cozinha do restaurante Le Bourbon: “A
chegada da chefe coloca o restaurante Le Bourbon no centro das atenções. Não é
para menos. A clientela já começa a se deliciar com o estilo elegante e, ao mesmotempo, ousado de suas elaborações. E o bom preço é outro atrativo”. O cardápio do
local aparece discriminado a seguir. As matérias elogiosas de fonte única publicadas
na coluna pouco têm de jornalísticas.
A quinta página é dedicada ao teatro. A primeira matéria é a estréia de “Café
Andaluz”. O parágrafo inicial descreve um trecho da peça, bem escolhido pelo
repórter por, em contraposição de dois discursos, criar curiosidade no leitor: “Um
classificado é lido no rádio. Um jovem quer trocar uma aliança de ouro com a
inscrição ‘Luz da minha vida’ por uma arma de fogo de qualquer calibre. (...) Uma
moça troca um vestido de baile, usado em uma única noite, por um disco da cantora
Ella Fitzgerald. Diz o motivo: se ela gosta de sofrer, o problema é dela” 52. O repórter
provoca o leitor a interessar-se pelo texto e pela peça, mas não se limita à
descrição. Segue com a contextualização do autor, levanta as características dele
como dramaturgo, ouve do diretor do espetáculo quais dificuldades havia na
montagem do texto – ou seja, não faltam as informações essenciais ao leitor.
Abaixo, a resenha da montagem “Rita Formiga”, em cartaz com Guta
Stresser no papel principal. O texto opinativo comenta o desenvolvimento da trama,
analisa o conteúdo do texto e avalia o desempenho da atriz, o que permite uma
50
GROFF, Luiz. Bodegas Perez Pascuas. Gazeta do Povo, Curitiba, 30 set. 2005.51 GUIMARÃES, Marian. Tacada de Mestre. Gazeta do Povo, Curitiba, 30 set. 2005.52 GALINDO, Rogério. De partida do lugar-comum. Gazeta do Povo, Curitiba, 30 set. 2005.
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impressão geral do leitor sobre a peça. A resenha não se desdobra sobre aspectos
como direção, iluminação ou figurino, que compõem uma montagem. Nem mesmo é
citado o ator que divide a cena com Stresser, Cláudio Tizo. A crítica, mais uma vez,
não se aprofunda, parece olhar o espetáculo com olhos leigos. E recorre à
adjetivação: “O melhor da peça é certamente a própria Guta Stresser, carismática
como sempre e esbanjando talento”. Neste caso, entretanto, ao menos os três Gs da
avaliação entre um e cinco foram justificados com indicações de qualidades (a
interpretação da atriz) e falhas (perda de impacto do texto dos anos 1960) na obra.
A contracapa dá conta do lançamento dos CDs produzidos no projetoGrande Garagem que Grava, uma alternativa para bandas locais selecionadas
gravarem seu registro artístico. O projeto é explicado e contextualizado, sob o ponto
de vista único dos organizadores. A apuração é falha, já que nenhum dos artistas
que compõem os 16 CDs lançados foi entrevistado. O motivo talvez seja
compreendido ao ler-se o seguinte trecho da matéria: “Mas o impulso na divulgação
de artistas independentes não é, necessariamente, a principal marca deixada pelo
projeto. (...) Afinal, muitos dos nomes contemplados talvez nunca cheguem a gravar
um CD nos moldes tradicionais. Outros sequer estarão na ativa em 2006” 53.
Percebe-se uma opinião pré-formada, por parte do repórter, a respeito dos artistas
independentes em geral, que por julgar efêmero o trabalho dos músicos, não lhes dá
voz.
O Curitiba Rock Festival ocupou a primeira página de sábado no dia 24 de
setembro de 2005. O evento com atrações internacionais foi apresentado com
referências às principais bandas que se apresentaram nos anos anteriores,
contextualizou-se com a mudança de local que precedeu o show. A abordagem
priorizou as conseqüências para o público, enquanto a investigação do porquê foi
preterida – preferência por condução centrada nas bandas a se apresentarem, como
matéria de agenda do show, as possibilidades investigativas sobre o que causou a
53 GODOY, Omar. Trincheira independente. Gazeta do Povo, Curitiba, 30 set. 2005.
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baixa venda de ingressos (em comparação ao ano anterior) e a diminuição do
festival.
O Weezer é mostrado como a banda mais aguardada do festival: cita-se o
nome do último álbum, o adjetivo “nerd” é relacionado ao vocalista e segue uma
declaração deste sobre o que prepara para o show. Informações insuficientes para
quem desconhece a banda – famosa entre os “alternativos”, mas menos conhecida
do público médio –, não faz referência a nenhuma música específica, por exemplo,
ou ao estilo da banda em si, apenas classifica-os no generalizante “indie” rock.
Entre as nacionais, as sete bandas enfileiraram-se em definições que acaracterizavam rapidamente: “... a pernambucana Rádio de Outono, com seu pop
sessentista de vocais melosos e elementos eletrônicos” ou “o quarteto paulista da
Biônica esbanja atitude roqueira, figurinos modernosos e letras engraçadinhas
exalando referências de MC5 e Stooges. 54” O espaço de página inteira ocupado pela
metade por fotos e a opção por mostrar todas as bandas faz com que nada ganhe
destaque e aprofundamento. Escolhe-se a cobertura genérica e ligeira.
Na segunda página é a inauguração de um espaço cultural que agenda a
pauta. Trata-se de uma matéria simples e pontual, que descreve a programação do
lugar e dá voz à proprietária para explicar suas pretensões. A matéria, entretanto,
recebeu espaço e destaque como a principal da página. Não há, no texto,
referências ao trabalho da proprietária ou à relevância especial da programação que
justifiquem tantas linhas sobre o lugar. Falta de programação na cidade não seria
justificativa, visto que, além do Curitiba Rock Festival, havia outro evento de rock – o
Tinidos, não pautado –, peças de teatro em cartaz e a presença na cidade dos
escritores Nélida Piñon, Lygia Fagundes Telles, Moacyr Scliar e Carlos Heitor Cony
– que mereceu apenas uma nota.
Na mesma página, a outra matéria assinada não foi produzida pela equipe
do Caderno G. É a cobertura do show da dupla Zezé de Camargo e Luciano no
54 GIRARDI, Juliana. Pancadas de chuva e rock. Gazeta do Povo, Curitiba, 24 set. 2005.
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Guaíra. A pauta contraria as declarações de Rudney Flores: “A gente faz um
caderno de cultura, não que seja elitista, mas essas coisas populares já têm espaço
demais. A gente acabou dando até Daniel, Zezé de Camargo e Luciano, mas até por
conta do filme, você dá o show, mas pega o gancho do filme” (FLORES, 2005). No
caso, a matéria não faz referência qualquer ao filme ou outro contexto, muito menos
é a crítica do show. O que o texto faz é descrever a apresentação, com enfoque
equivalente ao das revistas de celebridades:
“As meninas dançavam, fotografavam tudo e gritavam muito: ‘lindo’, ‘gostoso’ e ‘tesão’
foram alguns dos adjetivos utilizados por elas. O momento de delírio foi quando a duplachamou uma fã no palco para que os dois cantassem, ao pé do ouvido, a clássica ‘Como vaivocê?”. (...) Em vários momentos, inclusive, a dupla brincava com a platéia e conversavacomo velhos amigos. Ou, como eles mesmos disseram, todos que estavam ali passavam afazer parte do grande álbum de família dos Camargo” 55.
O título “O Guairão aos pés da dupla Zezé e Luciano” completa o tom da
cobertura, cujo tema, enfoque e abordagem são gritantemente diversos do proposto
por um caderno de cultura sério como se pretende o G. Para ilustrar melhor o
afirmado, cita-se o olho da matéria: “Até Wanessa Camargo compareceu ao show
do pai e do tio”. Uma resenha crítica do show seria justificável. Uma reportagem
sobre reações de fãs em shows da dupla sertaneja poderia trazer informações e
reflexões. Optou-se pelo texto de revistas sobre artistas – não arte ou cultura.
A quarta página é aberta pela matéria sobre a preparação do Festival de
Cinema, Vídeo e DCine de Curitiba, com base nas propostas dos novos
organizadores do evento para divulgação e conquista de público. A matéria cumpre
o papel de dizer o que se prepara para atrair novos públicos, mas ao não retomar os
problemas do evento do ano anterior, a necessidade de mudanças fica menos clara.
Completam a página notas e uma matéria assinada por “Carlos Augusto Brandão,
Especial para o Caderno G”, que faz a cobertura do Festival de Cinema de Nova
Iorque.
55 FREITAS, Cristiano Luiz. Guairão aos pés da dupla Zezé e Luciano. Gazeta do Povo, Curitiba, 24set. 2005.
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A última edição analisada é a de domingo, 11 de setembro, com oito
páginas. O tema de capa é a polêmica em torno das mudanças nas regras do Salão
Paranaense. Um anúncio publicitário de mais de meia página restringe o espaço da
matéria – ocupado pela metade por uma foto e mais uma quarto para o título. Resta
um cantinho de texto onde o tema é apenas apresentado, com a orientação, abaixo,
de que mais sobre o assunto pode ser lido no interior do caderno.
A segunda página traz a coluna de Domingos Pellegrini56, uma crônica da
atualidade que compara um outro tempo passado, para ressaltar as diferenças. Um
texto leve: “Antes, as sandálias eram franciscanas, agora são havaianas”57
.Mais de duas semanas antes da edição de sábado analisada acima, esta
edição de domingo trazia na segunda página a escalação de bandas nacionais que
participariam do Curitiba Rock Festival. A matéria em si ocupa menos de meia
coluna – introduz o assunto, relaciona as bandas locais e cita a organizadora do
evento explicando o critério de seleção dos grupos. As outras quatro colunas
formam um box maior que a matéria, em que destaques escolhidos pela repórter
aparecem com fotografia, informações sobre o perfil, referências e indicação de
onde ouvir as bandas participantes na web. O resultado é uma matéria
esquematizada que contempla alguns dos participantes do evento.
A página três é a continuação da matéria de capa sobre o Salão
Paranaense. A reportagem contrapõe quatro opiniões diversas sobre as mudanças
nas regras para realização do evento, provenientes de diferentes profissionais
ligados ao tema: artista, professor universitário, crítica de arte e diretor do Museu de
Arte Contemporânea. Uma matéria correta tanto na apuração quanto na tentativa de
tratamento imparcial do tema, como se nota na abertura: “O assunto é polêmico.
Mas ninguém quer fazer um julgamento definitivo. Afinal de contas, o 61° Salão
56 Divide o espaço com Roberto Gomes, cada um escreve a cada duas semanas. Ver 7. 57 PELLEGRINI, Domingos. Gazeta do Povo, Curitiba, 11 set. 2005.
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Paranaense está para acontecer e as principais mudanças não foram colocadas em
prática” 58. Fora da agenda, uma matéria que pode levar o leitor à reflexão.
“O folhetim levado a sério” é a matéria que ocupa a quarta página da edição.
O tema abordado é, em si, reflexivo: um livro sobre as relações entre novelas e a
sociedade brasileira. A matéria levanta alguns dos pontos de discussão do livro,
deixando o desenvolvimento de tais para a posterior leitura da obra. Declarações da
autora, Esther Hamburguer, complementam o texto. Seria interessante a
apresentação de alguma das conclusões a que a autora chega com o livro, de forma
a aproximar o leitor da obra em si, mas prefere-se adotar referências a pontos deabordagem do trabalho. As exemplificações com novelas aparecem, breves. Se o
livro faz alguma crítica à televisão ou defende-a, não se sabe pela matéria.
Uma entrevista de página inteira aparece na folha seguinte. O interpelado é
Millôr Fernandes, humorista mais respeitado do país. A entrevista é criativa, põe de
lado questões objetivas sobre carreira e vida para apostar em perguntas subjetivas e
metafóricas. Millôr responde provocativo, entre ironias e escrachos. O resultado, por
conseqüência, é também subjetivo. Poucas informações estão aparentemente à
disposição do leitor, mas a personalidade do entrevistado constrói-se no conjunto de
resposta. Saem, inclusive, o que se poderia chamar “pérolas”, como a resposta para
a pergunta “O senhor tem medo da morte?” 59: “Morte? Qué qué isso? Enquanto
vivemos a vida é eterna”. O espaço dominical para entrevistas com artistas,
jornalistas e estudiosos do comportamento (entre outros possíveis entrevistados) é
uma novidade editorial do Caderno G, que trouxe ao caderno temas e conteúdos
interessantes e com potencial reflexivo crescente.
A página seis não traz matérias assinadas pela equipe do Caderno G.
Publicidade, notas e uma coluna produzida por agência noticiosa preenchem o
espaço. A coluna, de Bia Abramo, faz crítica à novela A Lua Me Disse pelo
58
KOPPE, Jennifer. Em tom de controvérsia. Gazeta do Povo, Curitiba, 11 set. 2005.59 NETTO, Irinêo. Nada como o presente. Gazeta do Povo, Curitiba, 11 set. 2005. Com a colaboraçãode Alberto Benett.
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tratamento dado a uma personagem indígena. O guia de programação ocupa a
página seguinte.
Na contracapa, uma reportagem sobre teatro comprova a abertura maior do
domingo para temas frios ou “especiais”. “Na escola da sementinha” aborda, em tom
de curiosidade e de inusitado, os rituais e preparativos realizados por atores e
diretores curitibanos antes do início de uma apresentação. O texto é leve e mais
coloquial, vide a abertura: “Entender o que uma outra pessoa pensa é difícil, certo?
Imagine tentar compreender o que se passa dentro de uma semente de árvore. Pois
esse é um dos exercícios clássicos para quem está começando a fazer aulas deteatro. O sujeito chega para o curso e recebe a seguinte instrução: ’Seja uma
sementinha, brote lentamente, pense que você vai desenvolver seu tronco, depois
os galhos, etc’.” 60. A reportagem entrevista quatro artistas com hábitos pré-palco
diferentes. O resultado é divertido – valor que se sobressai no caderno de domingo.
6.1.2.1 Conclusões da análise qualitativa
O jornalismo praticado no Caderno G não foge à regra de submissão ao
interesse financeiro e às limitações impostas pelas empresas em busca do corte de
custos e aumento de vendas de inserções publicitárias e exemplares do jornal. O
primeiro e mais claro sinal disso é a redução de número de páginas e espaço de
texto em cada uma delas. A última reforma gráfica, segundo CAMARGO (2005),
diminuiu em 15% os textos do Caderno G. Embora o editor afirme ter sido uma
melhoria e que “tamanho nem sempre é documento” no jornalismo, a restrição do
espaço de construção do texto reflete-se no conteúdo publicado e mostrou-se
empecilho ao desenvolvimento da reflexão e do aprofundamento da matéria nos
exemplos analisados no item anterior deste capítulo. A matéria em poucas colunas,
dividindo espaço com a imagem ampliada e anúncios publicitários, pouco tem
60 GALINDO, Rogério. Na escola da sementinha. Gazeta do Povo, Curitiba, 11 set. 2005.
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condições de desenvolver-se. Somado a isso, quando a abordagem editorial busca,
em um mesmo texto, seduzir, contextualizar, informar e opinar, o resultado é um
passeio por enfoques que não se aprofundam, não comportam reflexão e não
chegam a lugar algum. Introduções dispersivas contribuem negativamente para o
processo, “enfeitando” o texto, mas roubando-lhe espaço argumentativo, reflexivo,
informativo ou útil. Por vezes, a necessidade de conquistar o leitor confunde-se com
eliminar a seriedade e a reflexão – conceito tão em falta quanto repetido neste
trabalho – e produzir matérias “leves”.
As restrições impostas pela empresa afetam a qualidade do produto jornalístico em mais duas frentes principais: o tempo e a formação. O banco de
horas realmente dificulta o trabalho do repórter, pressionado a não extrapolar o
tempo de trabalho em uma profissão – apesar de aproximada da linha de produção
industrial nas últimas décadas – em que imprevistos acontecem e em que não se
pode garantir uma boa reportagem caso os entrevistados não atendam o jornalista a
tempo, por exemplo, ou se pouco tempo restar para a elaboração do texto, quiçá
para a reflexão sobre o material apurado. Além disso, sair à rua para entrevistas
pessoalmente ou reportagens investigativas ou especiais torna-se raro – o tempo
não está disponível – e as coberturas ficam cada vez mais burocráticas, ao estilo
“repartição pública”.
Embora não quantificada nas análises anteriores, as leituras e a análise
qualitativa tornaram evidente outra característica não levantada anteriormente: a
limitação das fontes consultadas. Verificaram-se no decorrer da análise matérias
cujo único entrevistado era o produtor cultural, ainda que mais artistas e público
fossem necessários para uma cobertura menos simplista do assunto. São
abundantes as matérias que recorrem apenas ao produtor do serviço, seja ele o
diretor de uma peça de teatro, o artista plástico que realiza uma exposição ou o
cantor que fará o show. Tal abordagem aproxima o jornalismo cultural da divulgação
institucional dos acontecimentos culturais.
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Não sair da redação implica ainda menos tempo para olhar a cidade e
“enxergar” as pautas, o que causa as distorções, as pautas passam a ser limitadas
às sugestões da assessoria de imprensa e às percepções do grupo de jornalistas
que produz o jornal, mas não convive com, ou observa, diversos grupos sociais
distantes do seu. A questão financeira, por fim, influi na continuidade da formação do
repórter que, com baixos salários, têm dificuldade para fazer cursos e
especializações. E, como o próprio editor do caderno afirmou, são os salários a
justificativa para a contratação de recém-formados, visto que profissionais
experientes não costumam aceitar as condições do contrato.Entre argumentos que transferem para a política da empresa a
responsabilidade pela assumida queda de qualidade do jornalismo, no entanto, cabe
notar o desperdício de espaço com pautas que podem ser consideradas fracas, ou
seja, sem relevância cultural ou vínculo essencial com as manifestações culturais
que emergem na cidade, e edições com pouca participação dos repórteres, além de
linhas gastas em ponderações sem opinião nem informação – que sugerem a
ocorrência de um sub-aproveitamento da equipe, como afirmado por Adriane Perin,
e de equívocos na distribuição e aproveitamento do espaço editorial.
Listados os principais entraves que a empresa impõe ao jornalismo de
cultura no Caderno G, volta-se agora ao conteúdo publicado. A crítica desapareceu
por completo das páginas do caderno. Junto a ela, reflexão e aprofundamento
tornaram-se qualidades pouco freqüentes nos textos. A maioria dos textos
publicados são matérias baseadas em poucas fontes, geralmente o diretor da peça,
o artista plástica que fez as obras ou o músico principal do espetáculo, o que reforça
o foco no produto dissociado de relações culturais externas. Reportagens de maior
fôlego ou tratam da política cultural – com a contraposição de opiniões – ou ocupam
as páginas do fim de semana, mais abundantes. Em geral, contrapõem opiniões e
consultam mais fontes. Reportagens polêmicas ou investigativas não são comuns no
caderno.
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A agenda cultural pauta matérias que apenas dão conta dos produtos, não
tratados como manifestações culturais inter-relacionadas, temas de discussões
culturais ou sintomas de uma realidade. O amplo espaço dedicado às resenhas de
DVDs é um sinal: o tema de relevância cultural, ou seja, o filme produzido, em geral
já recebeu cobertura quando lançado no cinema. A versão para locadora refere-se
apenas a uma nova embalagem para o produto, no máximo acrescida de alguns
extras – mas é pautada semanalmente pelo caderno. A orientação é para o
consumo.
As resenhas críticas são rasas e abusam da adjetivação como forma decaracterizar um produto. A falta de argumentos tenta ser compensada editorialmente
pelos comentários leves, às vezes com toques de ironia. A “voz do repórter”,
pretendida pelo editor, esbarra no posicionamento moderado a respeito dos
assuntos, na falta de aprofundamento e poder argumentativo. São publicadas
resenhas de cinema, música e, com menor freqüência, teatro.
A diversidade de pontos de vista dos repórteres proporciona alguma
variedade no conteúdo do caderno. Há diferentes medidas de objetividade e
subjetividade nos textos – como a opção pelo lide ou pelo comentário irônico –, além
de diferenças quanto ao desenvolvimento da matéria – se diretamente direcionado
ao ponto central (o que é mais importante) da matéria ou se encaminhado por meio
da abordagem de temas periféricos, resultando em superficialidade do texto. A
questão indicial apresentada na revisão téorica61 comprova-se presente: a
efemeridade das matérias de agenda, concentradas no produto cultural, sem
constatações elaboradas a partir dele, sem revelações jornalisticamente
consistentes. O que se apresenta é uma impressão sobre o produto tratado, que não
fornece ao leitor condições de compreensão e reinterpretação. Faltam questões e
reflexões sobre cultura e suas manifestações, sobram produtos para consumo e
matérias de serviço que facilitem sua venda. A tentativa de não ser um jornalismo de
61 Vide página 24.
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divulgação, afirmada pelo editor, nem sempre se realiza. Ao contrário, é a
divulgação dos produtos culturais o mais bem sucedido papel do jornalismo cultural
no Caderno G. Selecionar ou não os temas de que trata o caderno, a relevância dos
produtos culturais, como o Caderno G afirma fazer, não é suficiente para
descaracterizar a divulgação dos mesmos. Divulgar, acima de tudo, está relacionado
ao tratamento dado aos produtos nas matérias, ou seja, à falta de reflexão e crítica,
à ausência de inter-relações com o ambiente cultural e social, e mesmo à deficiência
na defesa da suposta relevância dos assuntos escolhidos.
O caderno equilibra-se entre as matérias nacionais, internacionais e locais –nesta ordem. O que acontece, por vezes, é o desmerecimento do produzido na
cidade, haja visto a matéria sobre o lançamento de CDs da Grande Garagem que
Grava. O ideal de garimpagem de artistas de talento, afirmado por GODOY (2005),
não se mostrou presente. O estabelecido é o que ocupa mais espaço.
A análise do jornal permite verificar que ele se enquadra cabalmente no
quadro que descreve o panorama do jornalismo cultural contemporâneo 62: A
diminuição das matérias e a superficialidade das abordagens; a ausência de crítica e
de grandes nomes da crítica ou da reportagem que provoquem polêmica ou
influenciem o gosto do público; o excesso de adjetivação como forma de compensar
a falta de argumentação; as linhas desperdiçadas com “narizes de cera” nada úteis à
compreensão do texto, tampouco informativos, reflexivos ou argumentativos; a
preferência pelo apelo visual (janelas de leitura) em detrimento do conteúdo das
matérias; a repercussão de acontecimentos ou produtos culturais já legitimados por
grandes empresas (gravadoras, por exemplo), rádios ou redes de televisão, com
alcance público alto, ainda que baixa pertinência e qualidade; em suma, a
divulgação rasa predominando sobre tentativas de refletir e pensar o ambiente
cultural.
62 Item 5.4
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7 CONCLUSÃO
As transformações por que passou o jornalismo nas últimas décadas,
atreladas à crise financeira dos jornais e ao fortalecimento da indústria cultural,
refletem-se no jornalismo cultura em geral e, como comprovado nas análises deste
trabalho, no jornalismo praticado no Caderno G. Traçar o perfil do caderno é levar
em conta tais influências, a linha editorial do jornal aplicada à editoria de cultura e a
especificidade decorrente do perfil da equipe que o produz.
O Caderno G é, como em geral são as editorias de cultura, menosconservador do que a Gazeta do Povo em si, mas conservador o suficiente para
manter-se longe de polêmicas, seja uma campanha pelo não-fechamento do Cine
Ritz63, seja a crítica que difere do senso comum. O caderno raramente se posiciona.
É um caderno elitista no que se refere à condição social – público que pode adquirir
um jornal diário. Intelectualmente, não se encaixa na elite cultural, por não pensar a
cultura. Ao mesmo tempo, não é acessível à média cada vez menos instruída
culturalmente e menos disposta a leituras. Em suma, é um caderno feito para a elite
financeira mas não intelectual da cidade.
As pautas tentam abranger os âmbitos local, nacional e internacional (na
maioria, atrações estrangeiras que podem ser vistas em Curitiba, além da cobertura
de festivais internacionais de cinema), com destaque para a produção audiovisual e
a música – manifestações mais massificadas (em comparação ao teatro e às artes
plásticas, por exemplo) e com mais profissionais da editoria interessados em
escrever sobre. Não há crítica em si e a resenha crítica pode aparecer em um
parágrafo do box, o que caracteriza o desejo de parecer opinativo e a
despreocupação em sê-lo realmente. Reportagens mais aprofundadas são
praticamente exclusividades da edição de domingo, que busca leveza, diversidade e
entretenimento para atingir um público maior. A divisão por dia da semana funciona
63 Tradicional cinema de rua curitibano, com preços acessíveis e programação diferenciada dasgrandes redes de cinema, fechado em 2005. O Caderno G não se posicionou.
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apenas na edição dominical – mais aberta – e na edição de segunda-feira – a mais
fechada, impreterivelmente dedicada à literatura. Nos outros dias, apesar de
prevalecerem temas, a diversidade de pautas no interior do caderno e de assuntos
elevados à capa não permite ao leitor comum a fácil percepção da divisão em
setores.
A abordagem dos temas é superficial e diretamente ligada ao produto
cultural pautado. Oscila-se entre a divulgação das propostas do artista e a
divulgação comentada das propostas do artista. A “voz do repórter” limita-se ao
comentário irônico, de entretenimento ou senso comum, de forma a não constituir uma personalidade forte com a qual o público identifique-se ou pela qual se sinta
provocado. Tais relações não se estabelecem. Menos ainda a intenção de ser um
jornalismo “formativo”, já que sem argumentação forte e aprofundamento das
informações e reflexões, faltam ao leitor estímulos e caminhos que constituam uma
“formação” cultural.
A empresa jornalística é grande responsável pelo panorama atual, mas não
a única. Enquadrados, os repórteres perdem oportunidades de usar o espaço que
têm para expressar mais do que “alfinetadas”, elogios adjetivescos ou aspas de uma
única fonte.
A ausência de linha editorial concisa permite ao caderno variações de
qualidade e abordagem, inconstância. Cabe no caderno tanto a prosa elitista e
pedante64 de Wilson Martins quanto os comentários superficiais de Nina Chavs, o lide
e a abertura que chega ao meio do texto sem apresentar o assunto que motivou a
matéria. Crítica, aprofundamento e reflexão não cabem. Dos repórteres, percebe-se
o esforço em pensar o jornalismo e a cultura, nem sempre refletido no trabalho final.
Para o jornalismo cultural, tal panorama é negativo. Cultura tratada como
produto não desenvolve as relações sociais nem traz benefícios à sociedade além
da difusão do entretenimento. A reflexão não é estimulada, ao contrário, acostuma-
64 No contexto de um jornal diário, ao contrário de uma publicação acadêmica ou especializada.
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se a olhar para os acontecimentos culturais isolados em si, sem a consciência dos
seus antecedentes e conseqüentes, das ideologias (a capitalista, sobretudo) que
determinam as produções culturais, dos fatores envolvidos no sucesso ou fracasso
de um produto cultural. A cultura deixa de ser tratada como manifestação humana
propriamente, potencialmente presente em qualquer grupo social, para ser
embalada pela indústria de bens culturais – e, só sob tal embalagem, legitimada.
O processo de construção de significações e reinterpretações culturais e
sociais é eliminado. Tratado como serviço, o universo cultural perde a capacidade de
interpretar os significados sociais, suprimida pelo caráter mercadológico – quetransforma as manifestações culturais legitimadas em mercadorias e o público em
consumidor. Além disso, a superficialidade de tratamento da informação e da opinião
dão a falsa impressão de conhecimento do objeto tratado. A relação estabelecida
proporciona ao público acesso a grande número de informações, mas não aos
mecanismos e caminhos para decodificá-las, compreendê-las, relacioná-las e
construir novas interpretações dentro do ambiente sócio-cultural.
Tornam-se opacos os potenciais questionadores e reflexivos que algumas
obras contêm. O conteúdo contestador ou revelador, se existia, quando muito
aparece diluído nas aspas do produtor cultural. O jornalista de cultura, por sua vez,
não produz reflexão ou raciocínio, não interfere no ambiente cultural além da
questão de mercado, além da seleção do que será divulgado ou não, além do senso
comum.
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APÊNDICE 1 – QUESTIONÁRIO-MODELO APLICADO AOS REPÓRTERES DO
CADERNO G
Qual seu nome completo e idade?
Onde nasceu?
Qual a sua formação?
Comente sua experiência profissional.
Quando entrou na Gazeta do Povo e em quais editorias do jornal trabalhou?
Desde quando é repórter do Caderno G?Sobre quais temas você escreve mais freqüentemente no G? Pode ordená-los?
Você tem algum tipo de especialização nessa(s) área(s), formal ou informal (como
leituras, cursos ou outra forma de busca de conhecimento)?
Sente-se despreparado para escrever sobre alguns dos temas?
Qual a rotina do caderno G?
Nas reuniões de pauta, você tem liberdade para sugerir pautas? Costuma fazê-lo
com que freqüência? Com que freqüência as sugestões são aproveitadas pelo
editor?
Considera satisfatórias as informações contidas nas pautas que recebe?
Qual a relação das matérias produzidas no Caderno G com a agenda cultural
(consumo)? Em que medida ela é determinante das pautas?
Qual o procedimento de trabalho com os releases recebidos?
Quais as suas principais preocupações na elaboração de uma reportagem?
Qual o prazo normal para a realização de uma matéria? Esse tempo interfere de
modo positivo ou negativo na apuração das informações e na redação do texto?
Explique o porquê.
Em caso de matérias especiais, quais as condições de trabalho: tempo, pesquisa,
investimentos da empresa?
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7/11/2019 tcc_lu_OK
http://slidepdf.com/reader/full/tccluok 145/145
Qual a influência do editor no desenvolvimento de todo o trabalho
(acompanhamento, orientação, direcionamento, avaliação)?
As condições de trabalho (remuneração, exclusividade, horários) na editoria e na
empresa em geral são satisfatórias? Em que medida elas influenciam o material
jornalístico que você produz?
A coordenação dos cadernos e outras instâncias hierarquicamente acima do editor
interferem direta ou indiretamente no seu trabalho? Como?
Como o perfil editorial da Gazeta do Povo interfere no perfil do G?
Qual a linha editorial do G?Você costuma ler sua matéria publicada no jornal no dia seguinte? Quais as
principais alterações que o editor faz nos seus textos?
Quais as dificuldades para trabalhar com jornalismo cultural no universo de Curitiba?
Que auto-avaliação você faz do seu trabalho no Caderno G? Por quê?
Qual avaliação você faz do Caderno G em geral? Quais são os principais pontos
negativos e positivos? E quais as suas causas?
Está satisfeito em trabalhar com jornalismo cultural?
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