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ALINE CAMILLO CAMILLATO

PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentada ao Curso de

Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário do Leste

de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção do

título de Arquiteto e Urbanista.

Orientador: Cássio Lucena

CORONEL FABRICIANO, DEZEMBRO DE 2014

Page 3: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

2

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por sempre estar ao meu lado direcionando meus passos. Aos meus pais, Nilce

e Paulo César, por sempre me ensinarem a ver significado nas coisas simples da vida e por cuidarem

tão bem de mim. Aos meus irmãos, Amanda e Paulo César Jr., que são os melhores presentes que

tenho na vida. Ao meu amor e amigo, Maycon, que esteve ao meu lado em todos os momentos

sendo a minha força e motivação. Aos meus familiares por me encorajarem. Agradeço aos meus

coordenadores do PDDI, Roberto Caldeira e Kênia Barbosa, pela oportunidade de conhecer uma

nova forma de olhar para minha futura profissão e pelo conhecimento compartilhado, e também

aos meus colegas de PDDI pelas experiências cotidianas. E, de forma especial, agradeço ao meu avô

Cyrineo que infelizmente não esta mais aqui para me contar suas histórias.

Page 4: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

“No fundo, vejo a arquitetura como serviço coletivo e como

poesia. Alguma coisa que nada tem a ver com ‘arte’; uma

espécie de aliança entre ‘dovere’ [dever] e ‘prática científica’. É

um caminho meio duro, mas é o caminho da arquitetura.”

LINA BO BARDI

Page 5: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

4

RESUMO

Sabendo que a arquitetura e o urbanismo são processos de materialização da cultura de um

povo, pretende-se com essa pesquisa analisar a questão cultural no Vale do Aço como meio de

produzir uma arquitetura capaz de valorizar a identidade regional. Buscou-se compreender as

variáveis que compõe a questão cultural no Vale do Aço através de pesquisas teóricas, diagnósticos,

visitas in loco e pela aplicação de questionário com alunos e professores do Curso de Arquitetura e

Urbanismo do Unileste MG. O questionário selecionou fotos de 30 lugares relacionados com a

história e cultura do Vale do Aço e teve como objetivo avaliar quais desses despertaram maiores

índices de apropriação pelos entrevistados. Com base nas análises proporcionadas pelo referencial

teórico e pelo resultado do questionário percebeu que os espaços culturais edificados no Vale do

Aço não despertaram um senso de identificação significativo, sendo que os espaços livres de uso

público foram aqueles com maiores percentuais de apropriação. Ao longo da pesquisa percebeu-se

que a arquitetura de espaços culturais representa uma forma particular de materializar as

significações culturais para a própria valorização do exercício cultural. Portanto, pretende-se a

criação de um espaço cultural que seja capaz de fortalecer a identidade cultural da Região

Metropolitana do Vale do Aço através da valorização da história e cultura regional.

Palavras-chaves: Região Metropolitana do Vale do Aço. Identidade Cultural. Arquitetura. Espaços

Culturais.

Page 6: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

SUMÁRIO

CAPÍTULO 1 | |INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 08

CAPÍTULO 2 | O PASSADO RECENTE DO VALE DO AÇO .............................................................. 13

2.1 | O VALE ANTES DO AÇO ....................................................................................................................................... 13

2.2 | A CHEGADA DO AÇO NO VALE ........................................................................................................................ 24

2.3 | REGIÃO METROPOLITANA DO VALE DO AÇO ............................................................................................ 39

CAPÍTULO 3 | IDENTIDADE E INDIVIDUALIDADE ......................................................................... 46

3.1 | IDENTIDADE METROPOLITANA ................................................................................................. 55

CAPÍTULO 4 | MULTICULTURAS NO VALE DO AÇO ...................................................................... 61

4.1. | MANIFESTAÇÕES DA DIVERSIDADE ......................................................................................... 68

CONGADO E MARUJADA .............................................................................................................................................. 71

FESTAS RELIGIOSAS ......................................................................................................................................................... 73

CAVALGADAS ..................................................................................................................................................................... 75

GRUPOS DE TEATRO ....................................................................................................................................................... 77

GRUPOS DE DANÇA ........................................................................................................................................................ 79

GRUPOS MÚSICAIS .......................................................................................................................................................... 81

Page 7: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

6

FEIRAS E EVENTOS GASTRONÔMICOS .................................................................................................................... 82

CARNAVAL .......................................................................................................................................................................... 85

ARTESANATO ..................................................................................................................................................................... 87

ARTES .................................................................................................................................................................................... 89

GRUPO DE CICLISTAS ..................................................................................................................................................... 91

FUTEBOL É CULTURA ...................................................................................................................................................... 93

CAPÍTULO 5 | HERANÇA DO VALE VERDE PARA O VALE DO AÇO.............................................. 95

CORONEL FABRICIANO .................................................................................................................................................. 98

IPATINGA .......................................................................................................................................................................... 100

SANTANA DO PARAÍSO .............................................................................................................................................. 102

TIMÓTEO .......................................................................................................................................................................... 104

CAPÍTULO 6 | VALOR DA CULTURA NAS CIDADES CONTEMPORANEAS ................................ 105

CAPÍTULO 7 |DESAFIOS DA CULTURA NO BRASIL ..................................................................... 113

7.1 | O CONSUMO DE BENS CULTURAIS NO BRASIL ...................................................................................... 116

7.2. | EDUCAÇÃO COMO ELEMENTO TRANSFORMADOR ............................................................................ 123

7.2.1 | OBRA ANÁLOGA: CENTRO EDUCACIONAL BURLE MARX ................................................................ 127

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CAPÍTULO 8 | TRANSFORMAÇÕES NOS ESPAÇOS CULTURAIS ................................................ 133

8.1 | CONTRIBUIÇÃO DE LINA BO BARDI PARA CULTURA BRASILEIRA ................................................... 145

8.1.1 | OBRA ANÁLOGA: MASP ................................................................................................................................. 152

8.2 | MUSEUS E ESPAÇOS CULTURAIS NO VALE DO AÇO ............................................................................ 162

CAPÍTULO 9 | TCC 2 ........................................................................................................................ 171

9.1.1 | ESCOLHA DO NOME ....................................................................................................................................... 174

9.1.2 | DIRETRIZES DO PROJETO .............................................................................................................................. 174

9.1.3 | PROGRAMA DE NECESSIDADES .................................................................................................................. 174

9.1.4 | ESCOLHA DO LUGAR..................................................................................................................................... 1748

9.2 | ETAPAS DE DESENVOLVIMENTO PARA O TCC2....................................................................................... 180

CAPÍTULO 10| CONCLUSÃO ........................................................................................................... 185

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................................... 187

Page 9: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

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Page 10: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

9

CAPÍTULO 1 | INTRODUÇÃO

Sabendo que a arquitetura e o urbanismo são produções culturais, este trabalho foi desenvolvido

pelo desejo de intender como a identidade cultural pode beneficiar a produção arquitetônica,

buscando perceber questões pertinentes à cultura no Vale do Aço como forma de propor uma

arquitetura contemporânea passível de ser assimilada como parte da identidade regional.

Durante o período que a autora trabalhou como estagiária no Plano Diretor de Desenvolvimento

Integrado da Região Metropolitana, além de conhecer a região sobre os diversos aspectos que a

compõe, desenvolveu-se um interesse pela valorização do Vale do Aço. Dentro das fragilidades que o

funcionamento pleno da região metropolitana enfrenta, por diversas vezes ouviu-se dizer sobre falta

de uma identidade metropolitana - questão que dificulta a gestão compartilhada dos municípios para

equipamentos de interesse comum.

Durante o curto período de elaboração desta pesquisa ouviu-se dizer “Por que você não faz algo

específico para Coronel Fabriciano? As outras cidades já estão com a questão da cultura

encaminhada” ou então “Por que não faz alguma coisa apenas para Timóteo? A história da cidade é

muito rica, e o fato de existir ‘duas cidades dentro de uma só’ daria uma boa discussão” e “Por que

não faz algo para Ipatinga? Só a diversidade daqui renderia uma boa discussão”. O que se pretende

nesta pesquisa é justamente desenvolver uma análise conjunta da região, fortalecendo através de um

espaço arquitetônico o sentimento de pertencimento a região.

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A decisão de abordar a Região Metropolitana do Vale do Aço de maneira integrada tornou

necessário que as análises arquitetônicas fossem condicionadas por elementos de uso público,

especificamente aqueles que estivessem relacionados com a cultura local, buscando diagnósticos e

pesquisas que pudessem dar um panorama sobre a questão cultural nos municípios.

Primeiramente, será feita uma análise histórica da região buscando entender aspectos pertinentes

a cultura local. Nesta etapa será abordado o fato da região ter se desenvolvido tardiamente, mas com

grande impulso pela implantação das siderúrgicas. Além disso, se discutiu sobre dicotomias no

espaço urbano causadas pelo alto nível de urbanização. Serão apontadas características desde a

transformação do Vale Verde até a presente condição de Região Metropolitana do Vale do Aço.

Para entender como poderia ser analisada a questão da identidade cultural apontou-se o estudo

de Peter Hall (2006) sobre os desdobramentos da identidade perante o indivíduo como sendo algo

constantemente mutável, refletindo em um processo constante de formação de identidade. Hall

ainda aponta para a força que a identidade nacional desempenha ao produzir símbolos passíveis de

serem associados de forma coletiva. Diante da importância que a identidade representa como forma

de vincular os indivíduos ao seu espaço, levantou-se a questão da identidade metropolitana no Vale

do Aço.

No quarto capítulo serão apontadas as principais manifestações da cultura local, que em função da

ausência de um mapeamento oficial das prefeituras, baseia-se em análises encontradas nos materiais:

“Cidades e políticas públicas de cultura: diagnóstico, reflexão e proposições” que apresenta o

Page 12: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

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mapeamento da cultura em Ipatinga e Santana do Paraíso; o “Mapeamento de Lideranças e Recursos

Culturais” elaborado pela APERAM em parceria com o SEBRAE sobre os agentes culturais de Timóteo

e Coronel Fabriciano; e o diagnóstico desenvolvido pelo Eixo de Desenvolvimento Social do

PDDI/RMVA. Além de aspectos apontados pelas pesquisas, serão abordados outros conforme análise

da autora.

No quinto capitulo além da valorização histórica e cultural, aponta-se para outro potencial

inexplorado da região: os recursos naturais, muito associados à existência do Parque Estadual do Rio

Doce. Apesar da existência do Circuito Mata Atlântica que engloba os quatro municípios da Região

Metropolitana - além de outros do Colar Metropolitano - a questão do turismo na região ainda é

insipiente. Sabendo das transformações ocorridas no meio ambiente do Vale do Aço durante o seu

período de ocupação, pretende-se apontar a necessidade de valorizar os aspectos naturais da região.

No sexto capitulo pretende-se abordar como o valor simbólico tem interferido nas produções

arquitetônicas contemporâneas, apontando aspectos da economia mundial que tornaram a cultura

em um diferencial econômico. Além disso, são levantados discussões sobre como podemos perceber

a “Imagem das Cidades” influenciadas pelo “City Marketing”.

Sabendo da forma como a cultura tem se tornando em um ativo econômico, buscou-se encontrar

explicações para a fragilidade que a questão cultural sob os olhos públicos no Brasil representa. Ao

longo deste capítulo são apontadas dificuldades herdadas pelo contexto histórico brasileiro,

sobretudo, sobre a questão da arte e cultura como sendo algo exclusivo das elites. Posteriormente,

Page 13: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

12

será apontado como os novos meios de comunicação têm contribuído para a desvinculação do

espaço arquitetônico a fim de propor espaços capazes de estimular essa permanência nos espaços

culturais. Sabendo da dificuldade do acesso a cultura ter-se tornado um ‘problema cultural’

ressaltasse a importância da educação como forma de estimular o desenvolvimento social de crianças

e jovens.

No oitavo capítulo são apresentadas modificações nos espaços culturais como forma de levantar

questões sobre os aspectos pertinentes à produção desses espaços na contemporaneidade. Também

será apontada a contribuição importante de Lina Bo Bardi para a valorização da cultura brasileira

através de seus estudos e projetos para espaços culturais no Brasil. Após analisar sobre as

transformações dos ‘museus’ de forma geral, aponta-se os equipamentos dessa tipologia no Vale do

Aço.

OBJETIVO | Sabendo que a arquitetura e o urbanismo são processos de materialização da cultura

de um povo, pretende-se com essa pesquisa analisar a questão cultural no Vale do Aço como

norteadora para produção arquitetônica contemporânea capaz de fortalecer a identidade regional.

Para isso, pretende-se analisar o processo de formação da região buscando entender a origem de

aspectos da cultura local; buscar quais são as principais manifestações culturais que acontecem na

região; verificar quais são os espaços edificados de uso-público destinados à valorização da cultura

regional; entender como a questão cultural vem sendo abordada nas produções arquitetônicas

contemporâneas.

Page 14: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

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Page 15: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

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CAPÍTULO 2 | O PASSADO RECENTE DO VALE DO AÇO

O Vale do Aço teve sua formação recente quando comparado com cidades próximas

territorialmente que já datam alguns séculos de existência, como exemplo, Ouro Preto e Sabará. A

ocupação efetiva do território que corresponde hoje ao Vale do Aço ganhou expressividade apenas

no início do século XX, mas o que levou a essa ocupação tardia do território e como essa ocupação

influenciou as manifestações culturais observadas no presente contexto dessa região? Vale destacar a

abordagem simplificada sobre a formação da Região Metropolitana do Vale do Aço a que esse

capítulo se pretende, sendo preconizados os indícios que possam contribuir para um entendimento

subjetivo sobre a condição atual da cultura regional.

2.1 | O VALE ANTES DO AÇO

Antes de se tornar o vale do aço, a região era conhecida como Vale Verde em função da presença

abundante de Mata Atlântica em toda porção do território que hoje corresponde a Região

Metropolitana do Vale do Aço (RMVA) e que se estendia ao longo de todo Rio Doce. A presença dos

índios botocudos combinado com a mata densa, relevo acidentado e falta de pedras preciosas -

principal foco de exploração pela Coroa Portuguesa no século XVIII, intimidou os exploradores

durante o período colonial, conforme diz BARBOSA (2010):

“Nessa época, a região do vale verde acabou assumindo o papel de barreira do

contrabando do ouro das minas. Além da proibição da Coroa de abertura de novos

caminhos, a presença dos índios, sobretudo, os botocudos, aliado à topografia

montanhosa, contribuíram para a restrita ocupação da região.” (BARBOSA, 2010)

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Os índios botocudos foram os mais temidos e resistentes às invasões dos colonizadores, em função

das habilidades como guerreiros e pela a cultura da antropofagia12 em suas tribos. O termo

“botocudo” foi-lhes atribuído pejorativamente pela caracterização desses indígenas com ‘botoques’

nos lábios e orelhas. Em diversos mapas que datam o período colonial a porção do território ocupado

por essas tribos é demarcada por expressões como “bárbaros gentios botocudos” ou “índios

botocudos antropófagos”, apontando que a presença deles dificultou o processo de ocupação ao

longo do rio Doce.

As expedições em busca de ouro na região do rio Doce não tiveram êxito, o que aliado aos outros

fatores que dificultavam a ocupação do território fizeram a região permanecer distante dos interesses

dos colonizadores. Por volta de 1773, a Coroa Portuguesa proibiu a navegação do rio Doce, em

função da sua ligação entre o interior da então capitania de Minas Gerais com o litoral capixaba, e

buscou impedir a abertura de novos caminhos como forma de evitar o contrabando das pedras

preciosas. Enquanto o caminho das minas de pedras preciosas se tornavam um importante eixo de

crescimento de vários povoados e cidades de Minas Gerais, o Vale Verde permanecia inexplorado,

1 Antropofagia é o ato de comer uma parte ou várias partes de um ser humano. Os povos que praticavam a antropofagia a faziam

pensando que, assim, iriam adquirir as habilidades e força das pessoas que comiam. Por sua realização em contexto mágico cerimonial

ou patológico, não deve ser classificada ou compreendida como um hábito alimentar.

2 “Esse negócio de a literatura dizer que os "Botocudo" eram antropófagos é um ato falho, é um truque da má consciência

neobrasileira formadora do Brasil. Eles tinham de dizer que minha gente era antropófaga para nos aniquilarem.” Ailton Krenak, líder da

comunidade Krenak e assessor para assuntos indígenas do governador Aécio Neves, foi concedida em setembro de 2008, em Belo

Horizonte (MG). Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142009000100014>. Acesso em 31

de Outubro de 2014.

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conforme pode ser visualizado no mapa a seguir. Pode-se analisar a existência de cidades e

ocupações mais complexas nas áreas próximas aos locais de exploração de pedras preciosas.

A partir do século XIX com a decadência das explorações do ouro e pedras preciosas a Coroa

incentivou a ocupação de novas terras em especial ao longo do Rio Doce, refletindo diretamente em

uma guerra contra os índios Botocudos e em uma tímida ocupação da região onde foram

desmatadas grandes áreas florestais. Nesse período começam a existir os primeiros registros do

povoamento da região que hoje corresponde ao Vale do Aço conforme é dito por BARBOSA, 2010:

O governo colonial declarou guerra aos indígenas. Ofereceu benefícios fiscais e concedeu

terras àqueles interessados em explorá-las. Os colonizadores, imigrantes e soldados, em

busca de novas riquezas, destruíam as tribos indígenas e devastavam as florestas para se

apossar das terras (BRITO; OLIVEIRA; JUNQUEIRA; 1997 apud BARBOSA, 2010).

A Coroa Portuguesa promoveu uma verdadeira chacina contra as várias aldeias indígenas que

habitavam a mesorregião do Rio Doce, restando poucas tribos em algumas cidades de Minas Gerais

(MG) e Espírito Santo (ES). Na região do Vale do Aço, especificamente, existem hoje poucos indícios

sobre a ocupação dessas tribos sendo que algumas produções artesanais demonstram essa

influência, como exemplo os objetos feitos através do trançado de palha e a cobertura de edificações

que também utilizavam a palha de coqueiro - típico da Mata Atlântica.

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Sobre as primeiras ocupações no Vale Verde, pode-se perceber conforme ilustrado pelo mapa

(1821) que as primeiras ocupações na região que hoje corresponde especificamente a RMVA situam

se na porção do território que hoje constitui o município de Timóteo. O mapa acima indica a

presença da ocupação do Alegre em Timóteo e do Porto de Canoas confirmado por QUECINI, 2007:

Foi neste contexto que, em 1847, Francisco de Paula e Silva solicitou a posse de uma

sesmaria na região, onde organizou a Fazenda do Alegre. Situada em local deslocado das

principais rotas de colonização, às margens do córrego denominado “Thimóteo”, um

afluente da margem direita do rio Piracicaba a poucos quilômetros do ponto onde este

deságua no rio Doce, esta fazenda cresceu e passou a englobar três sesmarias: Alegre,

Limoeiro e Timóteo, possuindo pastos para criação de gado, mulas e cavalos, além de

produzir açúcar.

No mapa podem ser observadas as ocupações mais antigas na região destacando-se o povoado

de Alegre e o Porto de Canos, ambos em Timóteo. Além desses, podem ser observados pequenos

povoados ainda existentes como é o caso de Cubas – atualmente Distrito de Ferros, mas com sua

ocupação tangenciando a área rural de Coronel Fabriciano - e Perpétuo Socorro – atualmente Distrito

de Belo Oriente. Também podem ser observados núcleos próximos mais estruturados como é o caso

de Antônio Dias e São Domingos do Prata.

O Rio Piracicaba e os caminhos que passavam tangenciando a região provavelmente foram dois

fatores que propiciaram a ocupação efetiva do território do Vale do Aço. Em nível de hipótese aqui

levantada, a localização do vilarejo de Cuba, pode revelar o ponto por onde as ocupações na Serra

dos Cocais em Coronel Fabriciano e Pedra Branca em Ipatinga iniciaram. No caso de Timóteo, além

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19

do Rio Piracicaba, o caminho ao sul do território que passavam pela Ponte Queimada, pode ter sido

um dos fatores que influenciaram essas ocupações.

Já no mapa abaixo que data de 1855, período do Brasil Império, já pode ser percebido uma rede um

pouco mais complexa de desenvolvimento na região, podendo ser observado a freguesia de S. Anna

de Alfié (Timóteo), sendo a primeira em um território pertencente à RMVA – conforme é registrado

pelo mapa - , e outros próximos como é o caso de Joanésia, Prata, Antônio Dias, S. Anna de Ferros.

Também pode ser observada a condição de Itabira elevada à condição de cidade; muito em função

da descoberta do minério de ferro. Outro ponto que cabe ser ressaltado é a inexistência de aldeias

indígenas na região.

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Como já foi dito anteriormente a decadência da exploração do ouro resultou em novas formas de

exploração do território, e posteriormente a descoberta do minério de ferro deu início a uma nova

fase de desenvolvimento de Minas Gerais. “Em função da descoberta do minério de ferro algumas

pequenas fábricas foram se instalando no interior de Minas Gerais, o que pode ser considerado o

embrião da vocação siderúrgica do estado”.3 (ACERVO Parque Estadual do Rio Doce, 2014)

A ocupação efetiva do território que hoje corresponde ao Vale do Aço começa a ganhar relevância

após a chegada da Estrada de Ferro Vitória - Minas (EFVM) que margeando o Rio Doce liga o interior

de Minas Gerais a zona portuária no Espírito Santo, uma medida que visava o escoamento rápido de

produtos e teve como consequência a formação de vários povoados ao longo da ferrovia e um

significativo crescimento populacional na região. Essa medida começa a influenciar diretamente a

ocupação do, até então, Vale Verde conforme diz COSTA, 1995:

A estrada de ferro, ao correr continuamente em paralelo com o Rio Doce, divide com este

o papel de espinha dorsal do Vale de mesmo nome, transformando seu meio-ambiente

original, diversificando e incorporando mercados e produtos, fazendo surgir e

consolidando entrepostos comerciais, embriões das atuais áreas urbanas, estabelecendo

ao longo do tempo as condições necessárias à produção industrial”. (COSTA, 1995 apud

BARBOSA, 2010)

3 Conforme acervo disponível no Parque Estadual Do Rio Doce a região: “Em 1864 – Relatório do Governo de Minas

Gerais registra a existência de 120 fabricas de ferro em Minas Gerais, a maioria na região do rio Doce.” FONTE: ACERVO

Parque Estadual do Rio Doce, 2014.

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22

A disponibilidade do minério de ferro combinada à localização estratégica que a região passava a

representar com a chegada da ferrovia resultou na instalação de grandes empresas siderúrgicas na

região por volta dos anos 1930. A região, que até o inicio do século XX permanecia com grandes

reservas de Mata Atlântica de Minas Gerais, foi transformada em uma ‘mina’ de carvão vegetal

Page 24: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

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(principal fonte de combustível para as indústrias no momento) que junto à ferrovia formava uma

localização estratégica para empresas siderúrgicas.

A primeira a chegar à região foi a Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira. A empresa adquiriu

muitas terras na região para exploração de carvão vegetal, transformando a paisagem natural da

região e alterando as dinâmicas de ocupação do território. Instalou seu escritório no Calado - no

momento distrito de Antônio Dias, e hoje corresponde ao Centro de Coronel Fabriciano - criando um

poder de polarização comercial à medida que uma infraestrutura local era formada. Desde o período,

o comércio e a prestação de serviços se tornaram um forte traço da cultura em Coronel Fabriciano.

A presença da estrada de ferro combinada com a descoberta de minério de ferro na região de

Itabira e a produção do carvão vegetal no distrito de Coronel Fabriciano ganhou destaque no cenário

estadual tornando a região uma combinação perfeita para a instalação das siderúrgicas, sendo

inaugurada em 1949 a ACESITA (Companhia Aços Especiais Itabira) e em 1956 a USIMINAS (Usinas

Intendente Câmara), em Timóteo e Ipatinga, respectivamente.

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Page 26: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

25

2.2 | A CHEGADA DO AÇO NO VALE

Com a chegada das indústrias na região, um intenso processo de modificação das dinâmicas

sociais, econômicas e territoriais começou acontecer. A região que durante o século XIX passou

despercebida, no inicio do século XX teve um desenvolvimento expressivo no cenário estadual e,

mais tarde, federal quando a indústria de base foi tomada como principal ferramenta do progresso

econômico.

Ao analisar o mapa que data de 1821, Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, apresentados na

seção anterior, e as ocupações urbanas do século XX, que serão apresentadas neste, temos os

núcleos históricos especulados da região separados inicialmente do processo intenso de urbanização

dessas cidades com a chegada das indústrias siderúrgicas.

Vale ressaltar que antes mesmo da chegada da ferrovia, o pequeno povoado São Sebastião do

Alegre de Timóteo já possuía uma estrutura social com “uma economia baseada na produção rural,

seja de gêneros alimentícios, seja de carvão, o núcleo “urbano” possuía pouco mais que seis ruas

organizadas em torno da capela de pau-a-pique e seu pequeno cemitério nos fundos.” (QUECINI,

2007).

Page 27: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

26

A implantação da Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira na região do Calado associado à ferrovia

tornou Coronel Fabriciano (até ao momento distrito de Antônio Dias) um importante polarizador de

atividades relacionadas à prestação de serviços para as ocupações próximas. A exportação das

madeiras nobres provindas do desmatamento da Mata Atlântica e a produção do carvão vegetal

trouxe prosperidade para o distrito, conforme diz BARBOSA, 2010:

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Com a chegada da Belgo-Mineira no distrito de Coronel Fabriciano houve a expansão do

seu pequeno núcleo urbano, com aberturas de ruas e novas construções. Foram

construídos escritórios, ambulatórios médicos, residências para os funcionários e também

o primeiro hospital da região (Hospital Siderúrgica), inaugurado em 1938. (BARBOSA,

2010)

A logística favorável da região que surgia da combinação do minério de ferro, ferrovia e a

produção de carvão vegetal resultavam em uma localização estratégica para as indústrias

siderúrgicas. ACESITA iniciou sua implantação em 1944 e além da construção da indústria foi a

responsável pela construção de uma infraestrutura que condicionasse o seu funcionamento

provocando profundas modificações na paisagem natural e nas dinâmicas sociais existentes do

povoado de São Sebastião do Alegre de Timóteo, conforme é citado por QUECINI, 2007:

“E, enquanto as fazendas iam se agrupando e a produção agrícola ia minguando, a pouco

menos de cinco quilômetros, uma extensa planície às margens do rio Piracicaba

começava a ser desmatada. Nesse local, destino de homens, máquinas e mercadorias que

constituíam quase toda a carga desembarcada na estação do Calado, começavam a ser

plantadas as sementes da moderna cidade de Timóteo, relegando à pequena vila o papel

de abrigar parte desse contingente de estranhos.”(QUECINI, 2007)

A primeira fase de urbanização da “Cidade da Acesita” se deu sem um planejamento específico,

sendo priorizado inicialmente o projeto da planta industrial, “as casas eram edificadas em pau-a-

pique ou com a madeira dos caixotes dos equipamentos importados dos Estados Unidos”.

Page 29: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

28

À medida que a indústria ia tomando forma, uma tomada nacionalista fez com que a indústria

tomasse a “sua cidade” como sua extensão, fazendo investimentos para garantir que a imagem da

ACESITA fosse condizente com seu papel no cenário nacional 4. Em 19585 a ACESITA já havia

edificado 2.734 residências. Além da igreja, do armazém, do açougue e da farmácia, a cidade possuía

4 Após o Banco Central assumir o controle da empresa, a ACESITA passa a ser vista como um exemplo do

desenvolvimento industrial do país, sendo a única a produzir aços especiais com autossuficiência energética. Assim cidade

deveria refletir esses conceitos e tornar-se um exemplo de desenvolvimento urbano para o Brasil, a ACESITA “passará a

marcar, no mapa do Brasil, um novo núcleo de vida, de trabalho”. 5 Em 27 de dezembro de 1948, depois de longo processo tramitado na Assembleia Legislativa do Estado de Minas

Gerais, o Governador Milton Campos assina a Lei nº. 336, criando o Município de Coronel Fabriciano, emancipando-se de

Antônio Dias. Por essa lei, Ipatinga é elevada a distrito do novo município. DRUMMOND, 2012 (org.)

Page 30: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

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um centro comercial com lojas, agência bancária e cinema, dois clubes, hospital, quatro escolas

primárias e um colégio técnico (ACESITA, 1959 apud BARBOSA, 2010).

Em um processo semelhante ao que ocorreu em Timóteo o pequeno vilarejo - formado em função

da estrada de ferro - em Ipatinga também viu seu cenário mudar radicalmente com a chegada da

indústria. Tal como a Acesita, também foi necessário a criação de uma cidade operária para abrigar os

funcionários da USIMINAS - empresa siderúrgica implantada em parceria com japoneses, que se

Page 31: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

30

implantou em 1956, na região que hoje representa o município de Ipatinga. Diferente da Acesita,

Ipatinga teve o desenvolvimento prévio de seu plano urbanístico, desenvolvido por Hardy Filho, que

conforme o modelo modernista estendia o funcionamento da indústria para a cidade.

Os bairros da cidade operária da USIMINAS foram criados conforme a ocupação dos cargos

desempenhados dentro da indústria, buscando atender aos requisitos básicos da Carta de Atenas:

trabalho, moradia e lazer. Em função da setorização em função da posição dos funcionários dentro

das empresas criou-se um processo de

diferenciação entre as pessoas em

função do bairro que estas moravam,

um aspecto que é relatado por

moradores da cidade como uma prática

recorrente.

Durante o processo de elaboração

do plano urbanístico da cidade

operária, Hardy Filho já fazia

prospecções sobre o futuro da região.

Ele já observava que a existência dos

eixos lineares favoreceria o

desenvolvimento conjunto da região conforme é citado por Barborsa (2010) “Segundo ele, as três

Page 32: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

31

cidades viriam a formar um “complexo urbano único linear e contínuo.” Além de prever essa condição

de interdependência entre as cidades, ele previa que a cidade operaria não conseguiria absorver

sozinha a projeção populacional ao longo dos anos.

Em função das notícias de prosperidade econômica da região um grande contingente imigrante

chegou à região, que sem emprego direto nas indústrias ocuparam as áreas “fora das cidades

operárias” (em Timóteo e Ipatinga) e na cidade de Coronel Fabriciano, conforme apontado pelo

diagnóstico “CIDADES E POLÍTICAS PÚBLICAS DE CULTURA: diagnóstico, reflexão e proposições”:

A implantação da indústria provocou profundas transformações socioeconômicas na

região. Além da explosão demográfica, registrou-se a transformação das antigas fazendas

em loteamentos para a construção das moradias para os trabalhadores e a rápida

urbanização e instalação de infraestrutura para atender às necessidades da empresa e da

população que chegava a cada dia. (DRUMMOND, 2012)

Como já era previsto por Hardy Filho, esse processo de interdependência das cidades contribuiu para

o processo de conurbação que culminaria na criação da Região Metropolitana do Vale do Aço6. É fato

que cada uma dessas cidades desenvolveu características específicas, no entanto, muitos aspectos

tornaram-se comuns a região de uma maneira geral e à medida que as dinâmicas iam tornando-se

6 No ano de 1998 foi instituída a Região Metropolitana do Vale do Aço – RMVA, composta por quatro municípios:

Coronel Fabriciano, Ipatinga, Santana do Paraíso e Timóteo. O colar metropolitano que circunda a RMVA, em 1998 era

constituída por 22 municípios, e em 2014 passou a ser formada por 28. metropolitano que circunda a RMVA, em 1998 era constituída

por 22 municípios, e em 2014 passou a ser formada por 28.

Page 33: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

32

mais complexas os vínculos dos moradores (trabalho, relacionamentos, lazer, etc.) iam se ampliando

para as outras cidades.

Outro ponto marcante do desenvolvimento

dessas cidades que se reflete na cultura local: a

existência de ‘duas cidades dentro do mesmo

território’. Esse dualismo ocorreu de forma mais

significativa nas cidades sedes das siderúrgicas,

que de um lado construíram cidades providas de

planejamento e infraestrutura, e de outro, cidades

espontâneas eram geridas por um poder público

ainda imaturo tornando possível a diferenciação

entre essas duas ocupações distintas no mesmo território.

Além das já citadas Belgo-Mineira, Acesita e Usiminas, outro fator que contribuiu para a formação da

dinâmica existente hoje na malha urbana dessa região foi a CENIBRA. Produtora de celulose, ao se

implantar na região passou a adquirir grandes quantidades de terras para o plantio de eucalipto

fazendo que a área das ocupações rurais fosse limitada territorialmente, sendo a malha urbana a

responsável por incorporar esse contingente rural.

Page 34: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

33

Page 35: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

34

Conforme é discutido por Monte-Mor no texto “Cidade e campo, urbano e rural: o substantivo e o

adjetivo” o sentido de campo e cidade passou por profundas transformações conforme as relações

de trabalho começaram a ser alteradas no período industrial. Antes a cidade era tida como o espaço

de produção intelectual e o campo como o espaço de produção braçal, mas com o surgimento das

cidades-industriais, a produção tanto intelectual quanto braçal passou a concentrar-se no espaço da

cidade tornando o campo dependente das inovações e produtos oferecidos pelas cidades. No caso

do Vale do Aço, trata-se do campo como um “espaço industrial não construído” conforme é citado

por QUECINI, 2007:

“Este descompasso entre campo e cidade foi visto por Heloisa COSTA (1995: 75) como

uma relação que nasce adulterada, uma vez que “as cidades se abastecem e realizam suas

trocas com outros centros” e a monocultura do eucalipto transforma o campo numa

extensão da fábrica, transformando o campo num “espaço industrial não construído” e

fazendo desaparecer a diferenciação entre rural e urbano.”.

A dicotomia entre o campo e cidade após essa revolução passa a ser dissolvido perdendo seu

sentido enquanto substantivo e prevalecendo o sentido adjetivo de urbano e rural - passando por

uma abordagem cultural que vale ser ressaltado neste trabalho devido ao esclarecimento sobre

alguns traços da cultura local, que embora se encontre num território altamente urbanizado7, permite

a identificação com um contexto rural conforme explica MONTE-MÓR (2007):

7 Em 2010, a taxa de urbanização da RMVA representava 98,69%, conforme apresentado pelo diagnóstico do Plano

Diretor de Desenvolvimento Integrado da Região Metropolitana do Vale do Aço (PDDI/RMVA). Disponível em:

Page 36: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

35

“O termo urbano, etimologicamente, diz respeito à qualificação da cidade, ligado também

ao afável, ao cortês; o rural, por sua vez, diz respeito ao campo, ao campestre, ao rústico.

[...] O rural, tomado no seu sentido campestre, rústico, no seu sentido cultural,

evidentemente continua existindo. É o sentido do que chamamos de roça, a simplicidade

da autonomia em oposição à sofisticação da vida citadina; a ruralidade em oposição à

urbanidade.” (MONTE-MÓR, 2007)

A formação de uma malha urbana de forma rápida e desigual junto à chegada de muitos

imigrantes tornava esse novo cenário - que Monte-Mór chama de “simulacro da cidade” referindo-se

as vilas operárias das cidades mono-industriais - onde o processo de apropriação simbólica, capaz de

produzir uma identificação da sociedade com o lugar onde se insere, ainda não era relevante.

De um lado os moradores das fazendas viam seu ambiente, relações sociais e econômicas

mudarem rapidamente, enquanto para os estrangeiros a nova cidade não refletia os laços de

identificação existente com o lugar que eles haviam deixado. Além disso, o dualismo entre o rural e

urbano, o existente e novo, modificavam rapidamente a identidade da região.

Japoneses, franceses, árabes, brasileiros de diversos estados, entre tantos outros. As indústrias

foram e continuam sendo grandes responsáveis pelo contato das cidades com culturas diversas.

Nenhum outro elemento tem tanto poder dentro da cultura local quanto a cultura operária que se

instaurou na região. A história dessas empresas além de se confundir com a história de formação

<http://www.unilestemg.br/pddi/arq/doc/documentos-oficiais/2014/PDDI_DIAGNOSTICO_VOL1.pdf>. Acesso em 01 de

outubro de 2014.

Page 37: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

36

dessas cidades confunde-se com histórias individuais de gerações que tem as siderúrgicas como

elemento intrínseco as suas próprias histórias.

Logo, podemos perceber que a sobreposição de culturas diversas surgindo quase

simultaneamente com uma região nova culminou numa grande variedade de significações, que talvez

por isso tenha dado origem a equivocada afirmativa de que “o Vale do Aço não tem cultura”, seria

mesmo a falta de uma cultura ou apenas a falta de reconhecimento dessa multiplicidade cultural? Ou

ainda, seria a dificuldade de digerir e incorporar essas novas culturas como sendo legitimas ao Vale

do Aço? Ao longo dos próximos capítulos serão investigados quais são as principais manifestações da

cultura do Vale do Aço, a fim de prever estratégias arquitetônicas capazes de fortalecer a identidade

cultural da região.

Logo, podemos perceber que a sobreposição de culturas diversas surgindo quase

simultaneamente com uma região nova culminou numa grande variedade de significações, que talvez

por isso tenha dado origem a equivocada afirmativa de que “o Vale do Aço não tem cultura”, seria

mesmo a falta de uma cultura ou apenas a falta de reconhecimento dessa multiplicidade cultural? Ou

ainda, seria a dificuldade de digerir e incorporar essas novas culturas como sendo legitimas ao Vale

do Aço? Ao longo dos próximos capítulos serão investigados quais são as principais manifestações da

cultura do Vale do Aço, a fim de prever estratégias arquitetônicas capazes de fortalecer a identidade

cultural da região.

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Page 41: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

40

2.3 | REGIÃO METROPOLITANA DO VALE DO AÇO

A formação de ocupações urbanas de forma interdependente e a existência de eixos lineares de

desenvolvimento da região (a ferrovia e BR381) resultaram na formação de uma malha contínua,

culminando no processo de conurbação entre as cidades de Timóteo, Coronel Fabriciano, Ipatinga e

Santana do Paraíso.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Região Metropolitana “é uma

região estabelecida por legislação estadual e constituída por agrupamentos de municípios limítrofes,

com o objetivo de integrar a organização, o planejamento e a execução de funções públicas de

interesse comum”. 8

Na década de 1970 foram realizados diversos estudos pela FJP sobre o Aglomerado Urbano do

Vale do Aço – AUVA, que inicialmente era constituído apenas por Coronel Fabriciano, Ipatinga e

Timóteo. À medida que as dinâmicas sócias e econômicas iam se tornando mais complexas e a região

começava a exercer uma força polarizadora sobre outros municípios e, depois de um longo processo

legislativo, foi criada em 1998 a Região Metropolitana do Vale do Aço - assumindo outros formatos

antes de sua formatação atual - constituindo-se dos municípios de Coronel Fabriciano, Ipatinga,

Timóteo e Santana do Paraíso.

8 O que é região metropolitana? Disponível em: <http://www.brasilescola.com/brasil/regioes-metropolitanas-brasil.htm>.

Acesso em 05 de Agosto 2014.

Page 42: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

41

“Ao final de 1998, após um longo processo de tramitação na Assembleia Legislativa, o

Estado de Minas Gerais institui a Região Metropolitana do Vale do Aço, através da Lei

Complementar nº 51, de 30 de dezembro de 1998, composta por quatro municípios –

Coronel Fabriciano, Ipatinga, Santana do Paraíso e Timóteo – e circundada por um Colar

Metropolitano formado por outros 22 municípios9.” (DIAGNÓSTICO ORDENAMENTO

TERRITORIAL PDDI/RMVA, 2014)

O mais jovem município a integrar a RMVA foi Santana do Paraíso, que se emancipou de Mesquita

em 28 de abril de 1992, e por sua relação profunda de conurbação com o município de Ipatinga e

território quase inexplorado, passou a representar o território mais favorável à expansão urbana da

RMVA. No entanto, se a questão da identidade metropolitana do Vale do Aço já é frágil, o caso de

Santana é ainda mais fragilizado dentro deste processo de apropriação simbólica pelos moradores

dos outros municípios.

O Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado da Região Metropolitana do Vale do Aço que vem

sendo desenvolvido pelo Unileste MG é uma importante ferramenta de gestão da RMVA, que busca

promover o desenvolvimento integrado da região através das funções públicas de interesse comum.

Com base nos diagnósticos elaborados pelos eixos estratégicos10 do PDDI/RMVA pode-se ter um

panorama sobre região do Vale do Aço no presente contexto sobre seus diversos aspectos.

9 Os municípios do Colar são: Açucena, Antônio Dias, Belo Oriente, Braúnas, Bugre, Córrego Novo, Dionísio, Dom Cavati, Entre

Folhas, Iapu, Ipaba, Jaguaraçu, Joanésia, Mesquita, Marliéria, Naque, Periquito, Pingo D'Água, São João do Oriente, São José do Goiabal,

Sobrália e Vargem Alegre. (DIAGNÓSTICO ORDENAMENTO TERRITORIAL PDDI/RMVA, 2014. PÁG 35). 10 Os eixos que constituem o PDDI/RMVA são: Ordenamento Territorial, Mobilidade, Meio Ambiente, Recursos Hídricos

e Saneamento, Desenvolvimento Social, Desenvolvimento Econômico e Arranjo Institucional.

Page 43: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

42

“A RMVA é uma aglomeração urbana com quase 451.351 habitantes, segundo dados do censo

demográfico de 2010. Se considerarmos os municípios da RMVA e do Colar Metropolitano, a

população ultrapassa 700.000 habitantes. A RMVA tem uma população predominantemente urbana,

com um grau de urbanização de 98,69%, em 2010. Já o Colar Metropolitano apresentou um grau de

urbanização de 75,51%”.(DIAGNÓSTICO ORDENAMENTO TERRITORIAL PDDI/RMVA, 2014).

Conforme já foi apresentado sobre a formação histórica do Vale do Aço, o processo de

urbanização acelerado trouxe impactos que podem ser sentidos até hoje nas dinâmicas urbanas da

região, em função de uma organização desigual do território. “A formação e o crescimento do

aglomerado foram se constituindo espaços desiguais, resultado da divisão injusta da receita pública e

das oportunidades de trabalho, refletindo também na distribuição desigual do acesso à infraestrutura

urbana e aos serviços e equipamentos públicos.” (idem)

De um lado as cidades que foram amparadas pelas siderúrgicas (Ipatinga e Timóteo) tiveram um

crescimento expressivo em função da receita gerada para os municípios resultando na criação de

uma boa infraestrutura urbana, referente as áreas relacionada a essas. Enquanto isso, as áreas que

surgiam espontaneamente nesses municípios e nos de Coronel Fabriciano e Santana do Paraíso,

tornaram-se responsáveis por absorver o contingente que não era atendido dentro das “cidades-

operárias” propiciando o surgimento de ocupações com infraestrutura insatisfatória, e como as

indústrias tornaram-se as principais empregadoras da região, as cidades que não usufruíam

diretamente dos benefícios gerados por elas passaram a ser denominadas como ‘cidades dormitórios’

Page 44: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

43

– onde pessoas trabalham e consomem serviços em outros municípios, criando dificuldades de

arrecadação para os municípios.

A desigualdade também pode sentida sobre o aspecto social - o que não representa uma

exclusividade da região e sim um fator histórico do desenvolvimento urbano no País. De um lado a

concentração de equipamentos e serviços nas áreas onde a população possui as maiores

concentrações de renda, enquanto a população com menor renda tem o acesso dificultado aos

equipamentos públicos de uso comum.

Se a presença das indústrias siderúrgicas na RMVA representa todo esse processo de

desenvolvimento intenso pelo qual a região passou desde início do século XX, hoje elas passam a

representar uma incógnita sobre o desenvolvimento futuro da região. A crise mundial que afetou o

setor da siderurgia em 2008 impactou a dinâmica dessas cidades apontando para o risco da “mono

economia” e alertou para o empobrecimento da região.

No diagnóstico do eixo de Desenvolvimento Econômico do PDDI/RMVA as siderúrgicas são

apontadas como fundamentais para o desenvolvimento regional - assim como aponta outras

questões que não serão apresentadas integralmente neste trabalho – no entanto, são levantadas

novas possibilidades para o desenvolvimento econômico regional. Cabe ressaltar aqui a questão da

falta de um caráter empreendedor nos moradores da região que conforme apresentado pelo Eixo de

Desenvolvimento Econômico PDDI/RMVA (2014) “Na visão dos representantes da sociedade local, a

Page 45: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

44

presença das grandes empresas gerou uma cultura nas pessoas de serem empregadas e não de

empreender”.

Um fator que foi observado em quase todos os diagnósticos dos eixos estratégicos e também

levantados pela sociedade durante as audiências públicas é a questão do potencial turístico da

região, muito associado com a presença do Parque Estadual do Rio Doce, que permanece

inexplorado como uma nova vertente para o desenvolvimento da região. Vale frisar, conforme

apresentado pelo eixo de Meio Ambiente, Saneamento e Recursos Hídricos, a existência do risco

ambiental que o turismo de forma desordenada pode acarretar para os recursos ambientais da

região.

Page 46: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

45

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46

CAPÍTULO 3 | IDENTIDADE E INDIVIDUALIDADE

Ao analisar a produção arquitetônica e urbanística ao longo dos séculos percebe-se que esta é

uma produção tridimensional que reflete a cultura de diferentes comunidades em diferentes tempos

históricos e, portanto, é um elemento capaz de reproduzir um sistema de significações com que essa

sociedade se identifica.

Utilizar o termo “identidade cultural” nunca foi tão complexo desde que o processo de

globalização modificou as percepções de tempo-espaço e permitiu um rápido processo de troca e

permeabilidade entre culturas. Portanto, esse capítulo tem como objetivo fazer uma breve análise

relacionando a questão da identidade cultural à arquitetura.

Conforme aponta o Ministério da Cultura do Brasil:

”Tendo sido por muito tempo vista pelo ângulo das belas artes e da literatura, a cultura é

agora tomada como um campo muito mais amplo: ‘a cultura deve ser vista como um

conjunto distinto de elementos espirituais, materiais, intelectuais e emocionais de uma

sociedade ou de um grupo social. Além da arte e da literatura, ela abarca também os

estilos de vida, modos de convivência, sistemas de valores, tradições e crenças’”.

(PREÂMBULO da Declaração Universal de Diversidade Cultural da UNESCO, 2001 apud

MINISTÉRIO da Cultura, Brasil).

Antes de abordar a questão da identidade cultural, deve ser ressaltado como o conceito de cultura

será abordado ao longo deste trabalho - tendo como principal foco de análise os produtos, serviços e

manifestações culturais, conforme é apresentado por REIS, 2010:

Page 48: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

47

“Em uma abordagem antropológica, cultura engloba os conhecimentos, crenças, línguas,

artes, leis, valores, morais, costumes, atitudes e visões de mundo. É a chamada Cultura

com “c” maiúsculo, o amálgama e o diapasão da sociedade. Em um sentido mais estreiro

(cultura com “c” minúsculo), refere-se aos produtos, serviços e manifestações culturais, ou

seja, que trazem em si uma expressão simbólica da Cultura em sentido amplo.” (REIS,

2010)

No livro “Cultura: um conceito antropológico” as transformações culturais são abordadas como um

processo inerente à vida humana, sem que a globalização seja sua única causa. Para isso o autor

utiliza como exemplo as tribos indígenas “isoladas”, apontando a existência das transformações

culturais mesmo que essas ocorram de forma mais lenta. “Podemos agora afirmar que existem dois

tipos de mudança cultural: uma que é interna, resultante da dinâmica do próprio sistema cultural, e

uma segunda que é o resultado do contato de um sistema cultural com outro”. (LARAIA, 2001)

Sabendo desse aspecto dinâmico da cultura, nenhum processo modificou tanto as percepções da

cultura quanto o processo de globalização. “As fronteiras são extintas e ninguém pode eximir-se de

gerar ou sofrer interferências. Com isso, a homogeneização das culturas tornou-se uma preocupação

e a globalização a possível promotora do declínio das identidades e da desconstrução do local.”

(PICHLERA; MELLO)

Sobre a questão da identidade, Hall (2006) aponta uma transformação na percepção da identidade

pelo indivíduo, analisando três diferentes sujeitos históricos: o sujeito do Iluminismo; sujeito

sociológico; e o sujeito pós-moderno, sendo este o principal elemento em questão. Entender a forma

Page 49: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

48

como essa identidade tornou-se dinâmica e complexa permite compreender melhor os espaços

produzidos pelo homem. Sobre o sujeito do Iluminismo HALL, 2006 descreve:

“O sujeito do Iluminismo estava baseado numa concepção da pessoa humana como um

indivíduo totalmente centrado, unificado, dotado das capacidades de razão, de

consciência e de ação, cujo "centro" consistia num núcleo interior, que pela primeira vez

quando o sujeito nascia e com ele se desenvolvia, ainda que permanecendo

essencialmente o mesmo — continuo ou "idêntico" a ele — ao longo da existência do

indivíduo.” (HALL, 2006)

Diferente do caráter da identidade imutável do sujeito do Iluminismo - correspondente ao século

XVII, o sujeito sociológico passa a ser um reflexo da complexidade da vida em sociedade e diante

dessas relações é que o sujeito desenvolve essa formação da identidade que nesse contexto passa a

ser o reflexo da interação entre o “eu” e a sociedade, sendo um processo contínuo de formação,

fazendo com que a identidade como sendo algo imutável seja substituída por uma percepção

contínua. A partir do surgimento deste “sujeito sociológico” a questão da identidade torna-se mais

condizente se tratada com um processo contínuo de identificação.

“O fato de que projetamos a "nós próprios" nessas identidades culturais, ao mesmo

tempo que internalizamos seus significados e valores, tornando-os "parte de nós",

contribui para alinhar nossos sentimentos subjetivos com os lugares objetivos que

ocupamos no mundo social e cultural. A identidade, então, costura (ou, para usar uma

metáfora médica, "sutura") o sujeito à estrutura.” (HALL, 2006)

Tomando como base essa identidade cultural como meio vincular a sociedade ao lugar que ela se

insere, nenhum movimento arquitetônico teve tanta influência social como o Estilo Internacional

Page 50: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

49

Moderno. Diante do desejo de tornar a arquitetura e o urbanismo em um objeto capaz de ser

intercionalizado, toda a simbologia própria do local passa a ser desconsiderado produzindo uma

“crise de identidade” onde as pessoas não se vinculavam as cidades.

“(...) um quadro mais perturbado e perturbador do sujeito e da identidade estava

começando a emergir dos movimentos estéticos e intelectuais associado com o

surgimento do Modernismo. Encontramos, aqui, a figura do indivíduo isolado, exilado ou

alienado, colocado contra o pano-de-fundo da multidão ou da metrópole anônima e

impessoal (HALL, 2006)”.

A individualidade das significações pessoais passa a ser reduzida a um modulor, a casa transformada

em uma máquina de morar e o traçado das cidades em uma setorização que priorizava a máquina

como centro de seu funcionamento. Todas essas intervenções homogeneizadoras do Movimento

Moderno tornaram as cidades assépticas ao desconsiderar o que Walter Benjamin aponta como

“texto inscrito nas cidades” (ORTEGOSA, 2000) que representa o vínculo subjetivo estabelecido da

sociedade com seus espaços.

Entretanto, no Brasil a modernidade foi sentida de forma particular quando comparada ao dos

países europeus. O inicio do século XX trouxe transformações nas dinâmicas econômicas em função

da II Guerra Mundial. Com a diminuição das importações, o Brasil precisou aumentar sua capacidade

de produção o que refletiu diretamente no processo de industrialização, e consequentemente,

urbanização.

Page 51: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

50

A Semana de Arte Moderna de 1922 dentro do contexto existente nesse período tornou-se

propício para a discussão de uma produção cultural brasileira, que representava o desejo de afirmar a

brasilidade como sendo essa identidade nacional, que por muito tempo esteve subjugada aos

modelos internacionais. Além da Semana de Arte Moderna de 22, o Manifesto Antropófago escrito

por Oswald de Andrade em 1928, tornou legitima essa necessidade de uma produção artística com

identidade brasileira. Enquanto a arte era abordada dentro de uma abordagem elitista de assimilação

das produções estrangeiras, ele propunha uma “deglutição antropofágica” conforme apresentado a

seguir:

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51

Se Oswald de Andrade teve a lucidez de ridicularizar com o mimetismo que tanto seduz o

intelectual solene e bacharel, ele não caiu no equívoco de fechar as portas do País do

ponto de vista cultural. Ao contrário, sua formulação em torno da "deglutição

antropofágica" exige o remanejamento das ideias mais avançadas do Ocidente em

conformidade com a especificidade de nosso contorno social e político.” (O SARAMPO

ANTROPOFÁGICO).

Para o Brasil o estilo moderno significou um grande marco para a identidade nacional, sendo a

arquitetura uma importante forma de reconhecimento da identidade nacional. Diferente dos outros

países, a produção modernista apropriava-se de elementos vernáculos e dos postulados do

movimento moderno, passando a produzir uma arquitetura única passível de identificação pela

sociedade, talvez por isso, a produção arquitetônica brasileira tenha se solidificado nessa vertente.

De volta ao cenário internacional, as cidades sem história, tornavam-se espaços anônimos

incapazes de despertar o sentimento de pertencimento nas pessoas, tornando as cidades num

ambiente asséptico. Como resposta a essa produção, na década de 60 em diante, a revisão das

doutrinas legadas pelo Modernismo abriram espaço para novas formulações e uma produção

artística crítica passou a advogar pelas necessidades subjetivas regionais, impulsionando a

redescoberta dos símbolos culturais no ambiente construído (ORTEGOSA, 2000).

“Contra a uniformização, emerge um renovado interesse pela especificidade do regional e dos

estilos históricos, e pela diversidade das subculturas urbanas” (ORTEGOSA, 2009). A partir da década

de 70 ocorreram intensos processos que modificaram a percepção da identidade, como exemplo: a

globalização e descobertas científicas, que reforçavam o individualismo, potencializando o

Page 53: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

52

surgimento de “múltiplas identidades culturais no indivíduo”, dando origem ao chamado sujeito pós-

moderno, conforme argumenta HALL, 2006:

“Esse processo produz o sujeito pós-moderno, conceptualizado como não tendo uma

identidade fixa, essencial ou permanente. A identidade torna-se uma "celebração móvel":

formada e transformada continuamente em relação às formas pelas quais somos

representados ou interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam (Hall, 1987). [...] A

identidade plenamente unificada, completa, segura e coerente é uma fantasia. Ao invés

disso, à medida em que os sistemas de significação e representação cultural se

multiplicam, somos confrontados por uma multiplicidade desconcertante e cambiante de

identidades possíveis, com cada uma das quais poderíamos nos identificar — ao menos

temporariamente.”

Se agora os indivíduos passavam a apresentar esse caráter multicultural, essa complexidade foi

refletida nas cidades demandando novas metodologias para atuação no espaço urbano. Assim como

o sujeito do pós-modernismo deixou de ser apenas uma identidade para tornar-se o conjunto de

várias, as cidades e edificações também refletiram esse processo. Além disso, as intervenções urbanas

pontuais passaram a ser amplamente utilizadas, levando em consideração as particularidades de cada

fragmento da cidade que compõem esse tecido multicultural. Além disso, as novas vertentes

arquitetônicas passam a buscar no valor simbólico novas formas de produzir arquitetura, tornando-se

este “valor simbólico na nova economia urbana”.

Se Hall aponta três sujeitos em seu estudo, será que podemos analisar o “Sujeito Contemporâneo”

como sendo um sujeito diferente do sujeito pós-moderno? São visíveis os problemas que o

individualismo - que foi uma solução eficiente para manipulação das massas ao segrega-las tanto do

Page 54: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

53

ponto de vista político quanto econômico – gerou no espaço urbano, como a falta de um senso de

comunidade e, consequentemente, de um pertencimento a ela alterando a forma como as pessoas

vivenciam o espaço público. Concomitantemente, a tecnologia vem ocupando de maneira

onipresente a vida em sociedade, modificando as relações de tempo e espaço, permitindo que as

pessoas estejam desconectadas de seu entorno imediato.

Portanto, do ponto de vista da arquitetura e urbanismo a criação de espaços eficientes tornasse

cada vez mais um desafio diante dessa dissociação do homem com o ambiente construído a sua

volta. Além disso, as práticas de consumo induzem a assumir várias identidades e constituem-se em

outro desafio para arquitetura, no sentido de ser capaz de incorporar e ressignificar essas múltiplas

culturas individuais. Vale ressaltar que a valorização da cultura local esta diretamente relacionada

com o fortalecimento de uma identificação com o contexto local, relegando aos espaços culturais a

capacidade de despertar processos de identificação cultural.

Page 55: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

54

Page 56: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

55

3.1 | IDENTIDADE METROPOLITANA

Diante das múltiplas identidades possíveis de serem assimiladas pelo indivíduo, as culturas

nacionais constituem em uma das principais fontes de identidade cultural. Segundo Hall (2006)

quando nos referimos como sendo brasileiros, franceses ou ingleses, estamos nos expressando de

forma metafórica, pois essas identidades não estão literalmente impressas em nossos genes,

entretanto, nós efetivamente pensamos nelas como se fossem parte de nossa natureza essencial.

A partir do momento que a globalização influência nas dinâmicas espaciais, “a ideia de um homem

sem uma nação parece impor uma tensão à imaginação moderna” (GELLNER, 1983). A nação não é

apenas uma entidade política, mas algo que produz sentidos — um sistema de representação

cultural. (HALL, 2000) No Brasil, em especial, essa identidade nacional é responsável por englobar a

diversidade cultural resultante do processo de formação histórica, sendo que cada região possui seus

traços culturais específicos.

Com base no conhecimento que essa identidade nacional produz no imaginário de seus cidadãos,

desenvolvesse a partir daqui uma narrativa empírica tentando estratificar as camadas do imaginário

coletivo, capazes de produzir os símbolos que tornam possíveis os processos identificação. Além da

identidade nacional, espera-se apontar os aspectos simbólicos dentro de esferas que serão aqui

estratificadas conforme o aspecto global, nacional, estadual e regional.

Dentro da esfera global, temos aspectos que são comuns à maioria da população mundial. Como

aspecto mais relevante dessa esfera temos as transformações proporcionadas pelas inovações

Page 57: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

56

tecnológicas que modificam a forma como podemos nos relacionar independente dos fatores tempo

e espaço, tornando o significado de “instantâneo” no norteador desta comunidade global.

Do ponto de vista da esfera nacional, são várias as caraterísticas marcantes do imaginário

brasileiro. Por muito tempo a identidade cultural do povo brasileiro era tida como inexpressiva em

função do conceito de cultura estar restrito as produções da elite associado à estratificação social

proveniente do processo de colonização. A partir desse momento a busca por uma brasilidade

começa a tornar-se uma necessidade, justamente como forma de fortalecimento dessa identidade

nacional. A principal característica nacional refere-se à diversidade cultural, além disso, a vinculação

de um país receptivo e alegre fortalecido por símbolos da cultura brasileira como as festas e o

futebol.

Quando analisamos a influência desses elementos no Vale do Aço percebe-se uma presença quase

igualitária no território da RMVA dos campos de futebol, muito diferente dos equipamentos culturais.

Outro fator que permite analisar a influência desses símbolos imagéticos na região é a presença dos

blocos carnavalescos na cidade de Timóteo.

Já dentro da esfera estadual, percebe-se a forte herança de elementos da sociedade colonial

remetendo ao importante período de prosperidade de Minas Gerais. O telhado colonial e as

varandas, que são uma adaptação portuguesa ao clima brasileiro em geral, permanecem fortes no

imaginário mineiro, tal como as edificações e festas religiosas que são elementos fortemente

associadas a esse período de maior prosperidade de Minas Gerais. As montanhas e cachoeiras

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completam o imaginário de uma paisagem bucólica. Além disso, a existência de um fazer rústico e

artesanal está diretamente associada à imagem simbólica de Minas Gerais.

Extraindo de todas essas esferas suas particularidades o regional deve ser aquilo que é exclusivo a

determinada região. No caso do Vale do Aço, salvo todas as características que são comuns ao

imaginário dos brasileiros e mineiros, existe uma caraterística que julgasse ser intrínseca a região: as

indústrias siderúrgicas onipresentes nas dinâmicas sociais das cidades. Responsáveis por influenciar

diretamente as paisagens da região, elas são as responsáveis por estabelecer horários, fluxos,

relações sociais, movimentos culturais e influenciar até mesmo condicionantes biológicos, tendo um

alcance que vai muito além de suas cercas, influenciando toda vida das cidades.

Dentro dessa esfera regional, a identidade metropolitana no Vale do Aço ainda constitui-se em um

elemento insólito a ser fortalecido representando a chave do processo efetivo de apropriação

simbólica, potencializando a expressividade de sua imagem simbólica.

No decorrer do processo de elaboração do Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado da Região

Metropolitana, um dos gargalos apontados frequentemente nas reuniões e audiências públicas é a

ausência de uma identidade metropolitana.

Se dentro das análises imagéticas que se pode assimilar das esferas de identidade, temos a

identidade metropolitana como elemento aglutinador de identidades das diferentes cidades que as

constitui. Uma relação de interdependência, onde as características próprias de cada cidade não se

anulam, mas se complementam.

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É nítido que as pessoas reconhecem a interdependência entre as cidades através dos

deslocamentos diários em função de trabalho, estudo, moradia, entretenimento. No entanto, o que

se pretende frisar aqui é a ausência de uma identidade metropolitana com força semelhante a da

“identidade nacional”.

É nítido que as pessoas do Vale do Aço se relacionam subjetivamente com suas cidades de origem,

como exemplo podem ser citados: o recente documentário “Um sentimento chamado Ipatinga”, de

Savio Tarso, que buscou relatar através da história da cidade através de cidadãos comuns que

chegaram a cidade e transformaram-na em suas cidades de coração; a doação de cidadãos comuns

para a criação do acervo do recém inaugurado Museu Municipal José Avenilo Barbosa, em Coronel

Fabriciano; a mobilização da sociedade em Timóteo para proteger a história simbolizada pela Igreja

de São José Operário; entre tantos outros fatores que reforçam a identidade dos moradores com seus

municípios, pretende-se frisar ações que desempenham essa abordagem independente dos limites

municipais.

A falta de reconhecimento e, consequentemente, do sentimento de pertencimento torna frágil à

questão da RMVA, que não deve existir apenas no papel, mas deve ser sentida e vivenciada por seus

cidadãos.

“(...) apesar da instituição da RMVA existir formalmente a 16 anos, da denominação

comum, da relativa identidade regional, de vocações econômicas bem próximas e das

mesmas questões a resolver e potencialidades, ainda é tênue a visão de conjunto no

núcleo metropolitano que permita uma abordagem integrada dos assuntos que afetam a

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59

mais de um Município.” (DIAGNOSTICO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO PDDI/RMVA,

2014).

Dentro do diagnóstico do eixo do Ordenamento Territorial do PDDI/RMVA é frisada a importância

que os equipamentos metropolitanos desempenham como meio de fortalecer a identidade regional,

o que valoriza o papel da arquitetura neste contexto. Como exemplos podem ser citados: o Shopping

do Vale do Aço, Estádio “Ipatingão”, USIPA, Hospital Marcio Cunha, entre outros. Vale ressaltar que o

porte desses equipamentos tal como sua singularidade potencializa o seu caráter metropolitano.

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CAPÍTULO 4 | MULTICULTURAS NO VALE DO AÇO

Como já foi apresentado anteriormente o rápido processo de formação do Vale do Aço

impulsionado pela prosperidade econômica que a região passou a partir do século XX, promoveu a

chegada de vários imigrantes na RMVA permitindo o contato entre diversas culturas.

Ao olhar para as cidades sobre lentes fragmentadas, diversos símbolos rementem a diferentes

períodos da história tornando possível “ler o texto inscrito nas cidades”. Entretanto, a grande

diversidade torna a análise desses símbolos em uma escala metropolitana quase impossível pensando

que cada elemento construído têm suas particularidades, reflexo dessas identidades mutáveis

próprias do sujeito pós-moderno.

Para possibilitar uma análise sobre a arquitetura com alcance metropolitano na região foi realizado

um questionário com o objetivo de perceber quais são os lugares que desempenham maior

influência sobre a identidade cultural do Vale do Aço. Buscou-se, através das relações subjetivas dos

entrevistados, encontrar qual desses espaços possui mais visibilidade no contexto regional para

posteriormente extrair características relevantes.

A intenção do questionário foi de perceber o Vale do Aço por um ponto de vista que não é apenas

da autora, buscando a interação com outras pessoas. Foram expostas fotos de 30 lugares que estão

vinculados com a história do Vale do Aço sendo alguns equipamentos culturais, outros de lazer e

patrimônios históricos. A escolha desses locais se baseou na possibilidade de sintetizar aspectos que

sejam recorrentes as questões culturais das quatro cidades como forma de identificar principalmente

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se a arquitetura dessas edificações era um aspecto relevante da identificação das pessoas com a

região metropolitana.

O questionário foi aplicado durante a Semana Integrada no curso de Arquitetura e Urbanismo do

Unileste MG de forma interativa, através de um quadro para exposição das informações e cédulas de

respostas. As duas questões solicitavam ao entrevistado que diferenciasse os locais que apenas

conheciam daqueles que vivenciavam.

A primeira questão abordava os espaços que as pessoas apenas conheciam, utilizando das

palavras IDENTIFICAR no sentido de “Conhecer a natureza de algo | Provar ou reconhecer a

identidade de”; e CONHECER com o sentido de “Ter noção de, saber | Distinguir”. Com base nisso

esperava-se avaliar quais são os elementos que possuem uma maior visibilidade regional. Já na

segunda questão pretendia-se avaliar esses elementos com base nos aspectos simbólicos muito

relacionados com a história individual utilizando as palavras no sentido de IDENTIFICAR-SE Quando

outro elemento desperta o autoconhecimento*; e RECONHECER “Examinar, explorar | Declarar legal,

ter por legítimo | Conhecer a própria imagem”. Essas análises permitiram formulação de estatísticas

que servirão de referência para as estratégias do projeto a ser desenvolvido.

As análises foram distribuídas em duas partes: primeiro por município da RMVA (Coronel

Fabriciano, Ipatinga, Timóteo e Santana Do Paraíso) e de outras cidades fora da região metropolitana;

e segundo agrupando todos os resultados. Foram 120 entrevistados sendo: 41 de Coronel Fabriciano,

29 de Ipatinga, 29 de Timóteo e 11 de outros municípios (Belo Oriente, Inhapim, Itabira, Ipaba, João

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Monlevade, Rio Piracicaba e Santana do Paraíso11), quase em sua totalidade, alunos e professores do

curso de Arquitetura e Urbanismo, do Unileste MG.

Tomando os resultados específicos por município a identificação com o Parque Ipanema foi

unânime em: Coronel Fabriciano com 59% (foi apontado por alguns entrevistados a falta da Praça da

Estação), Ipatinga com 72% e nos outros municípios 64%; apenas em Timóteo o resultado foi

diferente: 72% tendo a Praça 29 de Abril como o principal elemento de identificação; e conforme uma

análise geral do resultado, o Parque Ipanema aparece com 67,5% dos resultados como o lugar com

que as pessoas mais se identificaram.

Essa interpretação é muito importante, pois quando analisamos a baixa capacidade de

identificação das pessoas com os patrimônios culturais construídos podemos perceber que ou seu

uso não seja abrangente ou que as pessoas não reconheçam a história desses lugares e por isso não

se apropriem simbolicamente destes. Já os espaços que foram capazes de produzir nos entrevistados

uma maior identificação correspondem aos espaços livres de uso público que tem maior flexibilidade

para assumir usos diversos.

11 Santana do Paraíso foi incluído em outros municípios por possuir apenas um representante.

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4.1. | MANIFESTAÇÕES DA DIVERSIDADE

Conforme o material “Cidades e políticas públicas de cultura: diagnóstico, reflexão e proposições”

que apresenta o mapeamento da cultura em Ipatinga e Santana do Paraíso e o “Mapeamento de

Lideranças e Recursos Culturais” elaborado pela APERAM em parceria com o SEBRAE sobre os

agentes culturais de Timóteo e Coronel Fabriciano pode-se delinear os elementos de maior relevância

para a cultura local.

Conforme o diagnóstico apontado por esses materiais já é possível perceber como o cenário

cultural é abordado na região: de um lado as grandes empresas siderúrgicas são as responsáveis por

incentivar grande parte dos equipamentos e grupos de cultura em suas cidades sedes, enquanto nas

cidades de Coronel Fabriciano e Santana do Paraíso o apoio é basicamente por via da administração

pública.

A Fundação APERAM (antiga Fundação Acesita) e o USICULTURA são equipamentos que buscam

promover as atividades culturais na região incentivadas por suas empresas, respectivamente, Aperam

e Usiminas, através de espetáculos de teatro, música, exposições artísticas e acervo próprio sobre a

história da empresa que se confunde com a das próprias cidades. Além de seus próprios centros

culturais essas empresas são responsáveis por incentivar alguns grupos de cultura nas cidades.

Vale ressaltar que no município de Ipatinga um Mapeamento Cultural mais aprofundado vem

sendo realizado por uma empresa terceirizada neste ano de 2014 e tem como objetivo “servir de

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base para a criação de um banco de dados atualizado visando à formação do Sistema Municipal de

Informações e Indicadores Culturais (SMIIC)”. O Mapeamento Cultural deve ser realizado em todos os

municípios brasileiros, a fim de abastecer uma base de dados nacional referente à cultura no Brasil,

que serão disponibilizadas no site http://sniic.cultura.gov.br/. A seguir serão apresentadas as

principais formas de manifestação cultural observadas na região, onde poderá ser notado que de um

lado existem as manifestações típicas das primeiras ocupações do território e as que foram

incentivadas pelas empresas.

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CONGADO E MARUJADA

O congado é “uma das manifestações mais típicas do interior do Brasil, e especialmente do povo

mineiro [...] uma manifestação que sempre esteve relacionada à Festa do Rosário, é praticado em

Minas Gerais desde o século XVIII.” (TIMÓTEO: um município brasileiro). A presença dos grupos de

Congado e da Marujada no Vale do Aço, assim como em boa parte das cidades de Minas Gerais, é

marcante. A presença desses grupos está relacionada diretamente às ocupações mais antigas do

território, como a comunidade da Serra dos Cocais em Coronel Fabriciano, Ipaneminha em Ipatinga, e

aos núcleos históricos de Santana do Paraíso e Timóteo.

Conforme documentário realizado sobre a Marujada na Serra dos Cocais são apontadas diferenças

básicas entre a Marujada e o Congado. Segundo o mestre do grupo de Marujos da Serra do Cocais,

as roupas e os ritmos são o que diferem a tipologia dos grupos. Ainda segundo relato, durante as

festas que reuniam grupos de Congado, Marujos e de Capoeira podiam ser notadas letras de músicas

iguais entre ambos, diferentes apenas pelo ritmo dessas. Este relato reforça a relação dessas

manifestações com a cultura afro.

Vale ressaltar que é comum que as guardas de diferentes cidades reúnam-se durante festividades.

Na Festa de Nossa Senhora do Rosário de Timóteo, de 2014, reuniram-se guardas de 14 municípios.

O fato de que diferentes guardas se reunirem em diferentes cidades também foi confirmado pelos

membros do Congado de São Domingos do Prata, durante a Semana Integrada do Curso de

Arquitetura e Urbanismo do Unileste MG.

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FESTAS RELIGIOSAS

A presença das festas é bastante significativa no Vale do Aço, sendo que boa parte dos

patrimônios históricos e culturais dessas cidades estão relacionados com a prática religiosa. Vale

ressaltar que essas atividades religiosas desde o inicio de formação das cidades foram responsáveis

pela criação de um senso de comunidade.

Durante diferentes épocas do ano, as comunidades se movimentam em prol da realização das

festas realizadas aos santos padroeiros das cidades da região. Além das festas juninas, elemento

marcante da cultura popular brasileira, realizadas por escolas e comunidades católicas, acontece

também a Coroação de Nossa Senhora Aparecida, Festa de Nossa Senhora do Rosário, Festa de Sant’

Anna, Festa de São Sebastião, entre outras.

Durante as comemorações de Corpus Christi são criados tapetes que alteram a percepção das

cidades. Conforme o documentário produzido pela Prefeitura de Coronel Fabriciano, a produção de

tapetes para a procissão de Corpus Christi foi inventariada como patrimônio histórico no município.

Em algumas paroquias de Ipatinga também podem ser observados a elaboração dos tapetes para a

procissão pela comunidade. Ainda sobre a influência dos aspectos religiosos sobre a produção

cultural na região, também se pode destacar o grupo de teatro formado exclusivamente para a

Encenação da Paixão de Cristo, em Coronel Fabriciano.

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CAVALGADAS

A presença das cavalgadas nas cidades do Vale do Aço reforça a presença do aspecto rural, em seu

sentido adjetivo. Conforme apontado sobre o processo de formação histórica do Vale do Aço, apesar

da alta taxa de urbanização são notáveis as influências da ruralidade nos municípios.

As cavalgadas representam um aspecto cultural relacionado às festividades religiosas e cívicas da

região. O dualismo entre rural e urbano, apesar de sentida em diferentes proporções é inerente às

cidades do Vale do Aço. Dentre elas vale ressaltar que além da realização de cavalgadas pelas

avenidas das cidades existe a tradicional Romaria Ecológica Diocesana Dom Helvécio, que reúne

grande número de cavaleiros de cidades da RMVA e Colar Metropolitano, existente desde a criação

do Parque Estadual do Rio Doce. A festa de caráter religioso e cívico envolve os municípios que

abrangem o entorno do Parque, que neste ano comemora 70 anos de criação da unidade de

preservação.

“A Romaria Ecológica tem o objetivo de resgatar os fatos históricos do século XX, relembrando o

esforço do Bispo de Mariana, Dom Helvécio Gomes de Oliveira para a criação do Parque e o

fortalecimento da participação das comunidades na proteção da unidade de conservação. Na década

de 1930, preocupado com a grande exploração da Mata Atlântica na região, o religioso registrou no

livro de tombos da arquidiocese de Mariana, a área do Parque com o objetivo de preservá-la”. (IEF,

2011)

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GRUPOS DE TEATRO

A presença dos grupos de teatro é um elemento marcante no Vale do Aço, tendo sido apontado

pelos diagnósticos referenciados cerca de 26 grupos de teatro, sendo aqui destacados: o Grupo de

Teatro Tralha, Grupo de Teatro Bramila, Grupo de Teatro Rizoma, Grupo de Teatro da Paixão de Cristo

– em Coronel Fabriciano; o Grupo Perna de palco, Grupo Entreatros, Grupo de Teatro Farroupilha, Cia.

Bruta, Grupo de Teatro e Dança GRUCON, Grupo de Teatro Esterco, Grupo de Teatro das Agentes

Comunitárias de Saúde do Nova Esperança, Grupo de Teatro Cleyde Yáconis, Grupo Lainha e Grupo

Boca de Cena – em Ipatinga; o Grupo Pirilampo, Grupo Atempus, Usina Dramática Alzira Alcantario,

Animarte, Trupe da Alegria – em Timóteo; e em Santana do Paraíso não foi referenciado o nome do

único grupo de teatro.

Existem cinco teatros na região: Centro Cultural Zélia Olguin e teatro do USICULTURA, em Ipatinga;

Teatro da Fundação APERAM, em Timóteo; Teatro João Paulo II e Centro de Arte e Cultura em

Coronel Fabriciano. Além dos teatros, ressaltasse a existência das sedes de alguns desses grupos e

também a existência ociosa do Teatro Arena do Timirim. É importante ressaltar que além dos

espetáculos no espaço físico dos teatros, existem eventos para popularização do teatro levando

espetáculos para praças e parques da região. É notável a participação das siderúrgicas para o

incentivo do teatro na região tanto pelo incentivo a alguns grupos quanto pela divulgação dos

artistas regionais durante os eventos promovidos por essas, como exemplo, Festival Arte Viva.

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GRUPOS DE DANÇA

São também diversos os grupos de dança no Vale do Aço, desde dança de salão até dança

contemporânea. São realizados eventos como: o Encontro de Dança do Vale do Aço – Endança,

desde 1985; Encontro de Dança Contemporânea de Ipatinga – ENARTCi –, desde 2003, e Enartcinho,

edição para crianças; Festivais Arte Viva e Roda Viva; e espetáculos de dança realizados ao longo do

ano pela Fundação APERAM e USICULTURA como forma de promover o contato do público com

trabalho de artistas locais.

Cabe destacar a atuação do grupo Hibridus que no trabalho "Corpo-Cidade: Território de

Relações" torna as relações entre corpo, cidade e paisagem em espetáculos nos espaços públicos.

“Corpo-cidade: Território de Relações busca compreender a natureza dos contrastes de des-

territorializações e re-territorializações, ordem/desordem, planejamento/informalidade,

massificação/individualidade, através do corpo.”

Conforme apontado pelo diagnostico tido como referencia podem ser citados os grupos: Bia

Antunes Centro de Dança, Núcleo de Dança Compasso, Academia de Dança na Trilha da Arte, Cia

Núcleo de Dança, Balé da Educação Integral – em Coronel Fabriciano; Hibridus Dança, Cia. Flux,

Haggios Dança Contemporânea, Novo Proceder, Academia Olguin, Meia Cia.de Dança, Ailton

Amâncio Studio de Dança e Grupo Hélia Barbuto – em Ipatinga; Thiago Barbosa, Grupo Afoxé,

Mahatma, Grupo Orfeu Cia. De Dança, Jorge Soares – em Timóteo; e em Santana do Paraíso foi

apontado a existência de um grupo de teatro, mas não teve o nome referenciado.

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GRUPOS MÚSICAIS

A presente diversidade na região, tal como as múltiplas identidades próprias do individuo

contemporâneo favorecem a existência de diversos estilos musicais na região. Sertanejo, Jazz, samba,

musica erudita, reggae, MPB, rock, entre outros. Dada sua diversidade não se pretende aqui

referenciar os artistas da região, mas os eventos que refletem essa diversidade.

As manifestações dos grupos musicais possuem maior abrangência devido à flexibilidade dessas

apresentações que ocorrem tanto em eventos em espaços públicos quanto eventos promovidos

pelos espaços culturais da região. Os artistas regionais apresentam-se em bares, boates, shows,

rádios, entre outros. Uma das questões pertinentes aos eventos musicais na região do Vale do Aço

refere-se à falta de um espaço para fins musicais de grande porte, já que o espaço dos centros

culturais não tem capacidade para atender grandes públicos. O problema maior dos espaços hoje

utilizados para realização desses eventos diz respeito à proximidade com áreas residências.

Os corais tem presença marcante em Timóteo e Ipatinga nas Cantatas de Natal; os coletivos em

Ipatinga promovem eventos como: Grito do Rock, a Noite do Vinil, a Noite Fora do Eixo e o Rock

Matinê; Festival Arte Viva em Timóteo e a Rota dos Sabores em Coronel Fabriciano que além de

promover os artistas regionais trazem shows de nomes importantes da música nacional; eventos

tradicionais como os festivais: Roda Viva, Arte Viva, Armazém da Viola, Ipatinga Live Jazz, Fest

Country, além de shows de artistas diversos ao longo do ano.

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FEIRAS E EVENTOS GASTRONÔMICOS

As feiras livres têm sua origem relacionada com a troca de excedentes. As feiras ao redor do

mundo possuem suas peculiaridades, sendo que no Brasil, assim como no Vale do Aço, os produtos

relacionam-se diretamente com a cultura local.

Assim como aconteceu com diversas cidades industriais, onde o solo urbano deixa de suprir as

necessidades de produção de alimentos, na RMVA o processo de ocupação do território marcado

pela utilização industrial do campo diminuiu a produção agrícola, que embora ainda exista de forma

tímida, torna necessário que a produção venha de produtores de outras localidades.

As feiras hoje representam mais do que um espaço destinado à venda de produtos variados, mas

um local de convívio social e lazer. De acordo com as necessidades, foram surgindo diversos tipos de

feiras pelas cidades, sendo que apesar de semelhanças possuem características próprias. Entre essas

feiras destacam-se: Feira de Coronel Fabriciano localizada no Melo Viana e a Feira Orgânica no bairro

Floresta; em Ipatinga destacam-se: a Feira do Ipatingão que assume diversos usos ao longo da

semana (de “CEASA” à feira de carros), Feira do Veneza, e a Feira de Artesanato Feirart, no Centro; e a

Feira do Timirim, em Timóteo. Dentre os eventos gastronômicos destacam-se: Rota dos Sabores,

Comida di Buteco, Festival da Cachaça, Festival da Banana – que além dos moradores da região

metropolitana atraem visitantes de outras localidades.

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CARNAVAL

Uma das festas mais antigas da humanidade tornou-se comum nas casas de bailes também no

Vale do Aço, mas em Timóteo o carnaval extrapolou o limite dos clubes privados e tomou as ruas. No

Brasil, a tradição carnavalesca veio de Portugal - onde o Entrudo era bastante popular- e à medida

que sofreu transformações deixou de ser uma festividade burguesa transformando-se em uma das

mais fortes expressões da cultura popular brasileira.

As festas de carnaval que aconteciam nos clubes e salões ganharam mais representatividade nas

ruas. Em Coronel Fabriciano e Ipatinga, por alguns anos o carnaval tomou as avenidas com foliões

fantasiados, mas a prática durou poucos anos. Mas na cidade de Timóteo o carnaval, passou a

representar um aspecto cultural da cidade. Tal como boa parte dos aspectos culturais, o carnaval em

Timóteo surgiu do incentivo da Acesita. Membros das escolas da cidade foram enviados para o Rio

de Janeiro onde aprenderam as técnicas sobre a festa. Associado a toda atmosfera lúdica que o

carnaval possibilita o carnaval representou um exercício de liberdade da cidade em relação à indústria

conforme diz QUECINI, 2007:

Mas se, como a cidade, o carnaval timotense não se formou, mas foi implantado, ele

preservou o espírito original da festa, constituindo-se numa celebração que ao

reconhecer as mazelas da realidade, busca contestá-la. [...] carnaval de Timóteo é uma

manifestação cultural que demonstra quão tênue é linha que separa aqueles que pensam

e fazem a cidade, daqueles que nela vivem. Mais do que isso, ele é a expressão legítima

da identidade de um grupo, de uma identidade que, sem negar sua origem industrial,

mostra-se livre da tutela empresarial. (QUECINI, 2009)

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ARTESANATO

O artesanato tem representado uma discussão ascendente no Vale do Aço. Uma produção no

impasse entre a arte e o design que através do seu valor simbólico tem capacidade para transformar

a vida de comunidades.

É fato que desde as transformações no período pós-moderno o valor simbólico tornou-se o

principal diferencial entre produtos. Sabendo disso, algumas produções ditas artesanais apresentam-

se “com produção cada vez mais homogênea e pasteurizada, os objetos apresentados estão

carregados de um falso tradicional e com produção em série.” (ROQUE, Bruna) É fato que algumas

produções artesanais ainda passam por questões de simples repetição, mas percebe-se a realização

de trabalhos que busquem a valorização da identidade regional.

Dentro dessas organizações podem ser citados: Associação dos Artesãos de Timóteo (ASSOARTT),

Casa do Artesão, a Feira de Artesanato e Gastronomia (FEIRACEL), a FEIRART (Feira de Artesanato de

Ipatinga), entre outros. Recentemente, aconteceu a primeira “Feira Metropolitana de Artesanato” na

Feira do Timirim, em Timóteo, em parceria entre a Prefeitura e o Circuito Mata Atlântica de Minas. “A

feira teve como objetivo fortalecer a divulgação do que vem sendo produzido pelos artesãos do Vale

do Aço e, além disso, incentivar o turismo na região”. (PREFEITURA Municipal de Timóteo, 2014)

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ARTES

Em relação às artes plásticas, a Fundação APERAM e o Centro Cultural USIMINAS, apesar de não

serem as únicas, desempenham papel fundamental como curadoras de exposições dos artistas locais

com as mais variadas temáticas.

Ao longo do ano esses espaços apresentam diversas exposições buscando valorizar artistas e

projetos desenvolvidos na região. Alguns artistas plásticos da região tiveram seus trabalhos

reconhecidos internacionalmente. São diversas técnicas, materiais e focos de atuação desenvolvidos

por artistas do Vale do Aço, exemplo dessa diversidade são as Oficinas de Cultura Japonesa no Vale

do Aço – Yoshiko, que transmitem um pouco da cultura nipônica presente em Ipatinga através das

técnicas japonesas como o Raku12 e Origamis.

Vale destacar a presença das esculturas de aço inox presente nos espaços públicos da região. Além

das técnicas tradicionais, um ponto positivo para as artes visuais no Vale do Aço é a presença delas

nos espaço urbano, através de obras de artistas plásticos e dos grafites. O grafite tem ganhado força

como expressão artística tipicamente urbana, sendo potencializado através das oficinas realizadas nos

projetos sociais pelo Vale do Aço reforçando o caráter inclusivo da arte.

12 Técnica conhecida da arte japonesa de fabricação de peças cerâmicas através de técnicas de cozedura e pós-

cozedura das peças que lhes garantem uma estética muito característica.

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GRUPO DE CICLISTAS

Um elemento culturalmente relevante é o uso da bicicleta seja como instrumento de deslocamento

ou de lazer. Os deslocamentos urbanos através das bicicletas tem ganhado relevância mundialmente,

em função de ser um modelo de transporte sustentável, favorecendo tanto quem a utiliza quanto a

cidade.

No período da formação das cidades do Vale do Aço, a bicicleta representava um dos poucos

meios de transporte disponíveis, já que naquelas condições poucas pessoas podiam ter acesso ao

carro. No entanto, esse deslocamento tornou-se um hábito na região sendo comum uma quantidade

expressiva de ciclistas na paisagem das cidades no Vale do Aço. Mas à medida que o tecido urbano

tornou-se mais extenso e complexo, as bicicletas vão diminuindo sua relevância muito em função da

vulnerabilidade por falta de ciclovias e pela necessidade de movimentos pendulares constantes.

Em Coronel Fabriciano, os registros fotográficos de Sete de Setembro de 1964 relatam a

importância que anos mais tarde pode ser comprovada pelos estudos do Plano Diretor de Coronel

Fabriciano. O Plano Diretor desse município aponta diretrizes exclusivas sobre as ciclovias no

município, ressaltando o fato do deslocamento por meio de bicicletas já ser um aspecto cultural na

cidade. Enquanto cidades caóticas tentam introduzir esse modelo de deslocamento, as cidades do

Vale do Aço deveriam aproveitar para potencializar o deslocamento por bicicletas como alternativa

de mobilidade e lazer.

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FUTEBOL É CULTURA

No Vale do Aço, além do imaginário nacional, a cultura operária contribuiu para a ampla difusão

do futebol nas cidades. O processo de formação dessas fez com que o senso de comunidade fosse

desenvolvido de forma gradual, quase sempre influênciado pelas indústrias. Os times de futebol

podem ser relacionados como um aspecto cultural do Vale do Aço porque representam um marco na

formação expontânea de organização social dessas novas cidades.

Reflexo dessa representatividade que os clubes de futebol desempenharam para desenvolver o

senso de coletividade nas cidades, a presença dos campos de futebol na região metropolitana

merece destaque, pois apresentam-se distribuídos de forma ‘igualitária’ no território, bem diferente

dos equipamentos de cultura que concentram-se no centro das cidades. Diferente dos anos que os

primeiros times do Vale do Aço foram criados, o futebol tem representado uma forma de transformar

e incluir, preservando o seu sentido de comunidade.

Além dos vários times de bairros, escolinhas de futebol e dos times de clubes da região, o Acesita

Esporte Clube, Social Futebol Clube, e Ipatinga Futebol Clube (passando este em 2013 a ser chamado

Betim Esporte Clube) contam uma parte da história dessas cidades desenpenhando não apenas uma

prática de lazer, mas uma referência do senso de coletividade.

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CAPÍTULO 5 | HERANÇA DO VALE VERDE PARA O VALE DO AÇO

Aspecto que merece a atenção do Vale do Aço como potencial para a diversificação econômica

das cidades é o potencial turístico proporcionado principalmente pelo relevo acidentado e pela maior

reserva contínua de Mata Atlântica em Minas Gerais: o Parque Estadual do Rio Doce. Essa localização

privilegiada do Vale do Aço culminou na criação do Circuito Mata Atlântica de Minas, que será objeto

de estudo deste capítulo.

O Circuito Mata Atlântica de Minas foi criado em 2001, com objetivo de potencializar o

desenvolvimento regional nos municípios constituintes através dos potenciais turísticos desses

municípios ligados aos segmentos do ecoturismo, turismo de aventura, turismo rural e o turismo

religioso, sendo estes: Açucena, Coronel Fabriciano, Ipatinga, Marliéria, Santana do Paraíso, São

Domingos do Prata e Timóteo.

O diagnóstico turístico desenvolvido em 2011 sobre o “Projeto ‘Turismo no Vale do Aço’ Circuito

Mata Atlântica de Minas” realizado pela Impactur Consultoria Turística, em atendimento à parceria

firmada entre o SEBRAE-MG e o Circuito para a implantação do Projeto Turismo no Vale do Aço

aponta as potencialidades e fragilidades para o funcionamento efetivo do Circuito na região paralelo

ao programa “Vale além do Aço”13. Embora o diagnóstico aponte os sete municípios constituintes,

13 “Conhecendo o Vale Além do Aço” é uma ação estratégica do Circuito para envolver e sensibilizar a rede de

prestadores de serviços turísticos, despertando o interesse, o empreendedorismo e o conhecimento da atividade turística

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serão abordados apenas os quatro municípios da Região Metropolitana do Vale do Aço – Coronel

Fabriciano, Ipatinga, Santana do Paraíso e Timóteo.

Uma fragilidade comum a todos os municípios integrantes

do circuito apontam para ausência de uma ação integrada

entre os municípios, o que enfraquece o potencial do programa

enquanto “circuito”. Outro ponto recorrente às fragilidades dos

municípios é a ausência de um centro de atendimento aos

turistas e o desconhecimento da população sobre a existência

do Circuito Mata Atlântica de Minas, além da baixa cultura do

turismo na região seja pela população, seja pela administração

pública.

A seguir serão apresentados os dados encontrados nesse

diagnóstico, com foco de análise sobre os recursos naturais

como forma de verificar quais são os elementos apontados

como potenciais para o desenvolvimento do turismo na região

do Vale do Aço.

regional e promovendo o intercâmbio de conhecimento e fomento às parcerias. (CIRCUITO MATA ATLÂNTICA DE MINAS,

2011).

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CORONEL FABRICIANO

Segundo a avaliação do diagnóstico do Circuito Mata Atlântico o município de Coronel Fabriciano

apresenta a melhor conscientização para o turismo de todos os municípios integrantes.

O principal destaque natural e cultural na região refere-se a Serra dos Cocais, localizado na zona

rural do município. Além desse, a APA da Biquinha localiza-se na área urbana do município, mas é

visível a falta de uma infraestrutura para visitação. Embora as atividades econômicas sejam apontadas

como comércio e indústria, o primeiro historicamente tem uma participação muito mais significativa

na economia da cidade, já possuindo a sensibilização do turismo como uma oportunidade do

desenvolvimento econômico. Avaliação do Potencial Turístico conforme o diagnóstico:

O município apresenta a melhor estrutura turística do Circuito. Os

investimentos públicos e privados têm trazido resultados satisfatórios para o

setor e proporcionando visibilidade ao município. Entretanto, deve-se

priorizar investimentos nos atrativos locais, tornando-os capazes de motivar os visitantes

oriundos dos negócios gerados pela indústria e pelo comércio local e regional. O

município tem potencial para os segmentos do Ecoturismo, Turismo de Aventura, Turismo

Rural, Turismo Cultural, Turismo Religioso e Turismo Solidário, entre outros.

(DIAGNÓSTICO TURÍSTICO, 2011)

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IPATINGA

Apesar de ser apontado o potencial para atividades características ao restante do circuito como o

Ecoturismo, Turismo de Aventura, Turismo Rural e Turismo Religioso – esses mais associados à área

rural do município - a presença de outros equipamentos e eventos permitem o desenvolvimento de

setores do turismo como Turismo de Negócios e de Eventos Esportivos, conforme avaliação do

potencial turístico apresentado pelo diagnóstico.

É evidente o potencial do município para ampliar o Turismo de Negócios e de

Eventos Culturais e Esportivos. Esses fluxos, motivados pela indústria, pelo

comércio, pelos acontecimentos culturais e tecnológicos encontram uma boa

infraestrutura de apoio e bons serviços e equipamentos turísticos. No entanto, é preciso

direcionar recursos para o planejamento do destino e criar uma cultura para o turismo,

através da sensibilização do setor público, dos moradores e do empresariado local. Em

menor escala, outros segmentos complementares poderão ser incentivados como o

Ecoturismo, o Turismo de Aventura, Turismo Rural, Turismo Religioso, e outros. O destino

é também, um indutor de fluxos turísticos para o Circuito. (DIAGNÓSTICO TURÍSTICO,

2011)

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SANTANA DO PARAÍSO

O diagnóstico realizado em Santana do Paraíso parece carecer de informações significativas sobre

os recursos naturais, históricos e culturais. É preciso ressaltar que além de recursos naturais como

cachoeiras e morros, a cidade possui vários clubes aquáticos e espaços destinados ao lazer. Além

disso, o Morro da Viúva muito utilizado para prática de esportes de aventura também não aparece no

diagnóstico. Por ser uma das cidades mais jovens da região, Santana ainda possui uma infraestrutura

insipiente. A seguir a avaliação do potencial turístico apresentado pelo diagnostico:

O município tem grande vocação para o Turismo Religioso e para o Turismo

de Lazer e Entretenimento, legitimado, respectivamente, pelas manifestações

da fé e pelas Cachoeiras estruturadas para receber visitação, pelo Park Hotel

Fazenda e por um Parque Temático. Contudo, os serviços e equipamentos turísticos são

muito precários e há muita dependência dos demais municípios da Região Metropolitana

do Vale do Aço. Além desses, segmentos tem potencial para o Ecoturismo, o Turismo de

Aventura, o Turismo Rural, entre outros. (DIAGNÓSTICO TURÍSTICO, 2011)

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TIMÓTEO

Apesar de ser o município com mais força dentro do Circuito Mata Atlântica de Minas - por abrigar

o Parque Estadual do Rio Doce e ser mais bem provido de serviços (se comparado com Marliéria, que

abriga uma área do maior do Parque), o município parece não estar tão organizado para implantar

medidas de desenvolvimento do turismo na cidade. Além do PERD, o Oikós e o Pico do Ana Moura

representam marcos importante do Circuito.

A cidade desde sua fundação tem a ACESITA (atualmente APERAM) como principal fonte de

recursos, entretanto, a crise econômica mundial de 2009 afetou a siderurgia e refletiu diretamente

sobre a cidade provando ser necessária a diversificação econômica para garantir o desenvolvimento

da cidade, sendo que o turismo poderia ser tratado como um desses caminhos, conforme é

apresentado na avaliação do potencial turístico do Circuito:

O município possui um fluxo efetivo de viajantes de negócios, motivados

pela indústria e pelo comércio. Apresenta uma boa oferta de serviços e

equipamentos turísticos e, seu território, abriga recursos naturais e culturais

relevantes à atividade turística. Tem atrativos turísticos aptos a receber visitação, como o

Parque do Rio Doce e, outros, estão degradados, como o Pico do Ana Moura. A alta

dependência da cadeia produtiva do aço/inox torna-o vulnerável às crises econômicas

mundiais, todavia, o turismo poderá ser uma boa alternativa. O município é propício a

desenvolver o Ecoturismo, o Turismo de Aventura, o Turismo Rural, o Turismo Religioso, e

o Turismo Tecnológico e Científico. (DIAGNÓSTICO TURÍSTICO, 2011)

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CAPÍTULO 6 | VALOR DA CULTURA NAS CIDADES CONTEMPORANEAS

Com as transformações do sistema capitalista, uma nova lógica sobre o desenvolvimento

econômico e, consequentemente, urbano passou a interferir a forma como percebemos a “imagem

da cidade”.

Primeiramente, vale ressaltar que a economia e vida das cidades sempre estiveram indissociáveis,

podendo ser citado desde as primeiras formações de cidade onde o capital excedente permitiu o

surgimento dessas, ou o período industrial quando a lógica do modelo de produção taylorista

extrapolou o limite do interior das fábricas e influenciou o planejamento urbano, representam

relações entre a economia e o urbanismo conforme é abordado por REIS, 2008:

“Basta, para isso, lembrar que a própria denominação ‘economia’ refere-se a organização

da casa (do grego, oikós = casa; nomia = organização). A economia, filha da ciência

moral, volta-se assim à administração da casa, das propriedades, dos recursos, das

prioridades e também das relações humanas que se estabelecem. Ora, não é a cidade,

essa grande casa na qual se desenrolam as mesmas relações, justamente o objeto do

urbanismo?” (REIS,2008)

Percebendo a influência dos aspectos econômicos sobre a vida urbana em especial, é preciso ater

para as principais transformações ocorridas neste século que vem transformado as dinâmicas sociais

rapidamente, são elas: “a globalização, as novas mídias, a falência dos modelos econômicos

tradicionais em promover desenvolvimento e inclusão e valorização do conhecimento como ativo

econômico diferencial. (idem, 2008)”.

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Dentro desse contexto da globalização, a reprodução de produtos de qualidade idêntica em

grande escala passou a ser aspecto fundamental, tornando a inovação e valor simbólico nos

principais elementos de diferenciação para valorização econômica. “A inovação pode estar no apelo

original, na emoção e nos sentimentos que se desperta nos consumidores através de signos e

símbolos de sua cultura, aproximando-o do objeto em questão.” (PICHLERA, MELLO).

Enquanto algumas empresas se mantiveram em seu território de origem e desenvolveram centros

internos de pesquisas, outras migraram para lugares próximos a universidades conceituadas, ou ainda

aquelas especializadas em softwares que se localizaram próximas a centros urbanos capazes de

oferecer “serviços financeiros e um ‘meio de informação’ criativo, capaz de gerar novas ideias e

técnicas pelo intercambio e interação de elementos centrados espacialmente em uma rede própria de

relações sociais” (ROSE, 1999). Diferente do modelo industrial novas estratégias de localização das

empresas modificaram a dinâmica das cidades conforme apontado por ROSE, 1999:

“Contrariamente ao modelo industrial tradicional, verticalizado, em que os fatores de

localização eram custo de transporte e abundância de matéria-prima, a segmentação

interna do processo produtivo proporcionado pelas novas tecnologias da informação

permite às novas indústrias operarem em escala mundial por meio de redes telemáticas.”

(ROSE, 1999)

Essa descentralização própria das transformações ocorridas pela ‘Era da Informatização’ culminou

na transformação dos elementos estratégicos que interferem na escolha do território a serem

implantadas essas empresas, sendo aspectos cruciais: qualidade de vida e acessibilidade. Uma rede

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108

de telecomunicações e transporte eficiente, aliado a concentração de mão de obra especializada

permite a descentralização da produção visando o aumento da rentabilidade propiciada pela

ampliação de mercados.

Essa transformação do sistema econômico, como é de praxe, interfere diretamente no modo de se

pensar as cidades. Sabendo da busca dessas empresas por cidades com redes de comunicação e

transportes eficientes, além de taxas altas de escolaridade, as cidades passaram a pensar o seu

planejamento também como uma estratégia de mercado, existindo a necessidade de haver uma

“imagem-síntese” passível de ser vendida.

Desde então, o termo apresentado no livro “Imagem da Cidade” de Kevin Lynch passou por

profundas modificações, sendo que a percepção dos mapas mentais ‘se ampliou para uma esfera

global’ e conceitos como a visibilidade passaram a serem representados por grandes obras de

arquitetura e infraestrutura urbana, os pontos nodais passaram a serem representados pelas cidades

globais e a legibilidade tornou-se elemento de uma estratégia de manipulação de imagens passível

de ser vendida, transformando-se numa importante ferramenta de gestão e desenvolvimento urbano.

“Dentro desta lógica espetacular de criação de imagens e construção de consensos, os espaços

públicos contemporâneos, assim como a cultura, também são vistos como estratégicos para a

construção e a promoção destas imagens de marca consensuais, ou seja, são pensados enquanto

peças publicitárias, para consumo imediato. Marilena Chauí é categórica: ‘o fenômeno mais

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109

importante é a passagem do espaço público à condição de marketing, merchandising e

midiatização”. (CHAUÍ, 2007 apud JACQUES, 2009)

Sob essa ótica do novo desenvolvimento urbano, as intervenções urbanas passaram a representar

estratégias de valorização e construção dessas imagens-sínteses, capazes de tornarem essas cidades

em exemplos de “cidades-modelo” a serem seguidas por outras cidades pelo mundo, exemplo disso

são os casos de Barcelona e Curitiba. Através de seus processos de revitalização urbana, associados à

divulgação na mídia, essas cidades passaram a representar um novo conceito de cidades, se

enquadrando como: cidades para pessoas ou cidades sustentáveis ou cidades criativas.

Essas transformações ocorridas, sobretudo nos anos 90, desencadearam transformações sobre a

forma de pensar as cidades, podendo ser apontados diferentes conceitos, sendo aqui abordado o

City Marketing e as Cidades Criativas.

Nas cidades do Vale do Aço é possível perceber algumas influências, embora frágeis, do ponto de

vista do city marketing. Sobretudo na década de 90, quando Timóteo se intitulava como a “Capital do

Inox” e Ipatinga como “Cidade Jardim” o que se pretendia era vincular essa imagem-síntese às

cidades como estratégia de desenvolvimento dessas, entretanto, sem muitos resultados.

A capacidade de representação dos espaços urbanos constitui uma das principais estratégias do

city marketing, onde o valor simbólico transforma-se no principal elemento de diferenciação desses.

“Há um complexo intercâmbio entre a transformação material e o simbolismo cultural, entre a

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110

reestruturação de lugares e a construção de identidades. Desse modo, a cultura é o meio que

relaciona a textura da paisagem ao texto social”. (ROSE, 1999)

Conforme já foi apresentado ao longo deste trabalho sobre a questão da identidade cultural, é

possível perceber a intenção dessas intervenções em fortalecer a identidade das cidades frente ao

contexto globalizado, inserindo-as diretamente no contexto global, sem intermediações nacionais.

O grande problema desta mercantilização da imagem da cidade é o fato de que o marketing, ou

branding, elege apenas fragmentos do território que sejam mais adequados a transmitir a mensagem

que se pretende passar das cidades. Diante disso, as múltiplas identidades e diferentes formas de

vivência social, que coexistem na cidade, são simplificadas, depurada numa única identidade que se

pretende sintética. Ai o grande poder midiático de criar consensos sobre o consumo torna possível a

manipulação.

Quando se despertou para o interesse no valor simbólico como indutor do desenvolvimento no

espaço urbano, a arquitetura e o urbanismo reafirmou seu poder como transformadores do espaço

urbano sendo capaz de transformar as imagens subjetivas em elementos sólidos, passíveis de serem

vistos e vivenciados, codificando as formas construídas em códigos de consumo para receptores que

irão reinterpretá-los através do valor simbólico.

Sabendo da valorização dessa imagem simbólica no planejamento urbano contemporâneo, a

criação de uma imagem ilusória fundamentada apenas na intenção de atrair turistas, investimentos e

prosperidade econômica tornasse falha se essa abordagem é excludente, no sentido de preconizar

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111

apenas as áreas da cidade que se pretende ‘ver’. É nesse sentido que as cidades criativas se diferem

de simples marketing urbano, preconizando o desenvolvimento criativo de maneira transversal em

todas as camadas que formam a complexidade das cidades. Nesse caso o turismo e os investimentos

externos ocorrem como consequência do que é feito na cidade e não como causa.

Portanto, vale destacar que para um projeto arquitetônico de fim cultural tornar-se expressivo

dentro do contexto urbano não basta apenas que este altere a ‘imagem da cidade’. É primordial o

desenvolvimento de estratégias projetuais - que vão desde a implantação até o programa - que

garantam a participação efetiva de toda sociedade, formando uma “rede” que une iniciativas públicas,

privadas e sociedade civil, capaz de alterar a dinâmica social refletindo diretamente no

desenvolvimento econômico.

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CAPÍTULO 7 | DESAFIOS DA CULTURA NO BRASIL

Antes de analisar as principais características e transformações do espaço cultural é preciso

perceber as transformações ocorridas sobre a questão do consumo cultural no Brasil, a fim de prever

estratégias de implantação e programa arquitetônico capazes de subverter as dificuldades existentes

sobre o uso desses espaços.

Primeiro, vale ressaltar que o processo de formação do Brasil em função da sua colonização e

grande diversidade cultural significou um entrave quanto as questões culturais. Desde um processo

de aculturação compulsivo de povos como os índios e negros, até relacionar a arte e a cultura como

sendo algo exclusivo das elites do país.

Desde a Semana de Arte Moderna de 22, surgia um sentimento ansioso pelo desenvolvimento de

uma identidade cultural que de fato expressasse a brasilidade. A primeira iniciativa a tomar grandes

proporções envolvendo aspectos políticos para valorização da cultura brasileira refere-se a “Missão

de Pesquisas Folclóricas” realizada em 1935, por sugestão dos intelectuais Mário de Andrade e Paulo

Duarte, sendo um marco para a valorização da cultura nacional. “O então prefeito Fábio Prado cria o

Departamento Municipal de Cultura. Até onde se sabe, com essa medida ele foi o primeiro

governante brasileiro a criar um órgão destinado exclusivamente a cuidas das questões culturais

dentro do aparelho estatal.” (BORGES; BARRETO, 2010)

Durante os anos de 1930 a necessidade da valorização da cultural efervescente no país, fez com

que a cultura se tornasse uma “política a ser desenvolvida pelo Ministério de Educação e Saúde,

Page 115: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

114

passando a compor o Ministério de Educação e Cultura, em 1953. Esta situação só se modificou em

meados dos anos 1980 com a organização de um ministério específico, independente e autônomo”.

(DIAGNÓSTICO Desenvolvimento Social PDDI/RMVA, 2014)

Embora a Constituição de 1988 atribuísse ao Estado a garantia do “pleno exercício dos direitos

culturais e acesso às fontes da cultura nacional” a subordinação das políticas de cultura a outros

ministérios e períodos de flutuações entre a existência e desativação do Ministério da Cultura

tornaram as politicas culturais em uma fragilidade do país.

Com a reestruturação do Mistério da Cultura, em 2005, foi criado o Sistema Nacional de Cultura

(SNC) e reestruturado o Conselho Nacional de Política Cultural e, além disso, a revisão da Lei

Rouanet14 tornou-se uma importante ferramenta de incentivo a projetos culturais no país. “O SNC é

um sistema de articulação, gestão, informação e promoção de políticas de cultura, pactuado entre os

entes federados, com participação da sociedade civil”. (idem, 2014)

A falta de dados efetivos sobre a situação da cultura e a falta de organização dos municípios sobre

as politicas públicas referentes à cultura no país, fez com que, em 2005, fosse criado o Plano Nacional

de Cultura (PNC) buscando a integração dos entes federados e a sociedade civil a fim de garantir “o

14 “Lei Federal de Incentivo à Cultura - Lei Rouanet. Esta é conhecida principalmente por seus mecanismos de

incentivos fiscais, possibilitando a pessoas físicas e jurídicas aplicarem parte do Imposto de Renda devido em ações

culturais. Assim, esses apoiadores além de ter benefícios fiscais sobre o valor do incentivo, podem fortalecer iniciativas

culturais que não se enquadram em programas do Ministério da Cultura (MinC).”

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115

desenvolvimento humano, social e econômico com pleno exercício dos direitos culturais”. (BRASIL,

2012 apud PDDI/RMVA)

Conforme a análise realizada pelo Eixo de Desenvolvimento Social do PDDI/RMVA sobre a

organização dos municípios em relação à cultura é possível perceber a imaturidade da questão

cultural na região. Ipatinga é o município mais organizado em relação as suas politicas de incentivo a

cultura, “sendo o único a possuir Lei Municipal de Incentivo à Cultura – Lei Nº 1.414/95, de 19 de

outubro de 1995, que dispõe sobre incentivo fiscal para a realização de projetos culturais no âmbito

do município e dá outras providências.” (DIAGNÓSTICO Desenvolvimento Social PDDI/RMVA, 2014)

Em 2013 o município aderiu ao “Sistema Nacional de Cultura (SNC) por meio de acordo de

cooperação Federativa entre Ministério da Cultura e a Prefeitura Municipal, firmado no dia 06 de

setembro de 2013” (PDDI/RMVA, pág. 116). Como resultado desse processo, são realizadas

discussões participativas, incluindo as pessoas relacionadas às atividades culturais no município, para

a criação do Sistema e da Política Municipal de Cultura. Neste ano de 2014, a prefeitura de Ipatinga

contratou uma “empresa para realizar o mapeamento cultural da cidade, o que segundo os gestores

locais se constitui requisito fundamental para criação do Plano Municipal de Cultura.” (idem, 2014)

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116

Embora Timóteo, Coronel Fabriciano e Santana do Paraíso não possuam Lei de Incentivo à Cultura,

a existência de Conferências Municipais de Cultura15 nesses municípios já representam um indicador

de que a adesão ao Sistema Nacional de Cultura possa ser efetivada de forma gradual. A falta de

organização dos municípios reflete-se diretamente na falta de reconhecimento dos agentes culturais

do município, tal como fragiliza o reconhecimento e acesso da população aos seus bens culturais.

7.1 | O CONSUMO DE BENS CULTURAIS NO BRASIL

Com base na pesquisa realizada pela Diretoria de Estudos Sociais (Disoc), do Instituto de Pesquisa

Econômica Aplicada (Ipea), em parceria com a Unesco e o Ministério da Cultura (MinC) sobre “O

Consumo Cultural das Famílias Brasileiras” pretende-se analisar quais são os aspectos a serem

considerados sobre o consumo de bens culturais no Brasil, apontando quais são os mais influentes na

cultura das famílias brasileiras, o que reflete diretamente em diretrizes a serem consideradas para

elaboração de um programa de seja de fato inclusivo.

O ato de consumir algo diz respeito à identificação com um determinado grupo social, tornando

passível a diferenciação entre esses grupos diferentes. Portanto, quando uma pessoa consome algo

ela esta se afirmando perante a sociedade, como forma de comunicar sobre suas preferências e

aspirações. Portanto, o consumo de bens culturais acontecesse de forma semelhante dentro de

15 A Conferência Municipal de Cultura é um dos cinco elementos básicos que compõem o Sistema Nacional de Cultura,

sendo estes: órgão executivo; Conselho; Fundo; Plano; e a já citada, Conferência Municipal.

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117

determinados grupos sociais, sendo possível a diferenciação de características, tal como nível de

escolaridade e faixa de renda.

“Os bens culturais são aqueles que se relacionam com necessidades materiais e culturais, úteis

para proporcionar informações, entretenimento e posicionar social e estruturalmente as pessoas

umas em relação às outras. [...] Também se relacionam com a cidadania ao expressarem o direito de

acesso e qualificação de informações úteis.” (SILVA; ARAÚJO; SOUZA, 2007)

Sobre o mercado das trocas simbólicas, no qual a cultura tem papel fundamental, Bourdieu aponta

esclarecimentos sobre o ato do consumo como sendo reflexo não apenas das condições econômicas,

mas do habitus que essas condições criam:

“A noção de habitus, que Bourdieu entende como o processo de socialização

incorporado pelo indivíduo na forma de sua linguagem, seus hábitos cotidianos e modos

de agir, seu estilo de vida e seu gosto. Bourdieu evidencia que “a classe social não é

definida somente por uma posição nas relações de produção, mas pelo habitus de classe

que, ‘normalmente’, está associado a essa posição””. (BOURDIEU, 2001 apud KAPP;

NOGUEIRA; BALTAZAR, 2007)

Quando analisamos a influência do valor simbólico entre as classes da sociedade como forma de

afirmação das relações de poder, podemos resgatar o caráter excludente da cultura erudita em

relação às camadas menos favorecidas da sociedade.

Talvez por essa trajetória histórica de caráter elitista o consumo de bens culturais ainda seja frágil

no Brasil, sendo possível perceber os problemas quanto à distribuição de equipamentos culturais no

Page 119: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

118

território, como exemplo, o caso dos teatros que por muito tempo estiveram limitados às cidades

mais importantes economicamente e em pontos que favoreciam a exclusão dos que não pertenciam

aos grupos sociais elitizados.

Sabendo da exclusão social cunhada ao longo da história no Brasil, o governo lançou um

programa para incentivar o consumo de bens culturais para família com baixa renda, o Programa

Vale-Cultura. “O cartão magnético pré-pago, válido em todo território nacional, no valor de R$50,00

(cinquenta reais) mensais, vai possibilitar maior acesso do publico ao teatro, cinema, museus,

espetáculos, shows, circo ou mesmo na compra de CDs, DVDs, livros, revistas e jornais. O Vale

também poderá ser usado para pagar a mensalidade de cursos de artes, audiovisual, dança, circo,

fotografia, música, literatura ou teatro.” (BRASIL, 2014)

Entretanto, conforme é apontada no Diagnóstico do Desenvolvimento Social do PDDI/RMVA, a

questão da utilização efetiva de espaços culturais vai muito além de apenas construir e estimular o

uso a esses espaços a que antes esse público era excluído. É preciso levar em consideração as

diferenças do público em função de sua localização, bagagem cultural, condição de classe, conforme

é abordado por Botelho, 2006:

“A questão se torna mais complexa ainda quando se compreende que não basta mais

construir centros de cultura ou incentivar o acesso e a frequência a museus ou teatros,

como mecanismo para se alcançar uma resposta positiva da população antes excluída

desses bens. A experiência mostrou a necessidade de se promover, em lugar disso, uma

mudança fundamental de paradigma, pois não há público no singular e um padrão de

Page 120: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

119

resposta a qualquer mudança que se promova na oferta.” (BOTELHO, 2006 apud

PDDI/RMVA, pág. 167)

Por volta dos anos 70, diante das dificuldades do acesso democrático aos equipamentos culturais a

difusão dos meios de comunicação através do consumo em massa de aparelhos de telecomunicação

e as próprias transformações que as manifestações artísticas passaram nesse período, permitiram o

acesso a conteúdos de forma homogeneizadora no território brasileiro, conforme é abordado por

REQUENA, 2004:

“Com o gigantesco crescimento dos meios de comunicação em massa, durante o século

XX, foram crescendo também as dificuldades em se distinguir cultura erudita, popular e

massiva. A partir dos anos 80, novas formas de consumo cultural surgem a partir das

novas tecnologias disponíveis, como as fotocopiadoras, videocassetes, gravadores de

áudio, etc, possibilitando aos novos usuários destas mídias o início de uma interação e de

uma forma mais personalizada de absorver a informação.” (REQUENA, 2004)

A possibilidade de consumir equipamentos que possibilitam o contato com informações diversas

de forma quase instantânea só veio reforçar o caráter de individualismo da sociedade, tornando o

espaço do lar em uma ‘bolha’, resultando numa desvinculação com o espaço público.

Essas transformações socioeconômicas permitem explicar o fato de que 82% dos gastos com

cultura se referem às práticas realizadas dentro do domicílio, ou seja, com televisão, vídeo, música e

leitura, enquanto apenas 17,8% correspondem ao consumo de bens culturais fora dos domicílios,

incluindo teatro, cinema, shows, zoológicos, etc.

Page 121: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

120

Somando a essa capacidade do espaço residencial prover as necessidades de consumo cultural

alguns problemas urbanos como a insegurança em relação ao espaço público, a má distribuição dos

equipamentos culturais no território e, consequentemente, os problemas de mobilidade, podem

explicar os resultados da pesquisa.

A análise dos índices apresentados permite confirmar a função dos canais de TV como elemento

de presença unânime nos lares brasileiros. Quando analisado o consumo dos itens culturais de forma

estratificada o audiovisual representa 41,2%16 sendo que a televisão representa 13,7% enquanto o

cinema apenas 3,8%.

16

Page 122: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

121

Assim como em grande parte do país, no Vale do Aço os cinemas viram seu declínio na

oportunidade das pessoas terem seu entretenimento dentro de suas residências. Por exemplo: o Cine

Marabá em Timóteo, o Cine Marrocos em Coronel Fabriciano e o Cine Ipanema em Ipatinga, nos anos

80 e 90 foram levados a fecharem as portas pela diminuição do público, sendo que agora apenas a

cidade de Ipatinga possui salas de cinema dentro do espaço do Shopping do Vale.

O

período de difusão da televisão no Brasil coincide com o período intenso de urbanização do país,

portanto, de aparente perda de controle do espaço público pelo Estado. Diante de uma urbanização

TABELA 2 – CONSUMO DE BENS CULTURAIS NO BRASIL,2001.

Page 123: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

122

em ritmo acelerado, e na maior parte das cidades, caótica, a televisão se tornou elemento capaz de

permear as conversas cotidianas e influenciar as necessidades de consumo em todo país, e mais do

que isso, foi responsável por criar uma Identidade Nacional.

A televisão durante o período da Ditadura Militar (1964/1985), sobretudo, os telejornais e

telenovelas, tornou possível forjar uma identidade nacionalista capaz de “garantir a integração

nacional e fazer prevalecer a doutrina de segurança e o modelo de desenvolvimento estabelecidos

pela ditadura, [a televisão] conseguiu uma hegemonia incontestável nas décadas de 1970 e 1980 do

século passado.” (MUSSE, 2013)

A democratização dos canais de TV aberta permite que os lares em todo o Brasil tenham acesso ao

mesmo conteúdo diariamente, criando esse caráter homogeneizador do território. No entanto,

retrata-se, principalmente, a vida e costumes dos locais onde estão instaladas essas emissoras (Rio de

Janeiro e São Paulo), com exceção apenas dos jornais locais, o que representa um problema para um

país de extrema diversidade cultural que essas emissoras são incapazes de representar.

“Mais interessante é que essa universalização se dá, ironicamente, em relação a

conteúdos de gosto e informação em geral duvidosos, e a narrativas limitadas e sem

profundidade analítica. A mídia mais “democrática” apresenta então a menor

diversificação de estilos e conteúdos e essas são acessíveis àqueles de menor renda,

enquanto as classes A/B e parte da C podem diversificar suas fontes de informações”.

(SILVA; ARAÚJO; SOUZA; 2007)

Se a televisão já transformou a lógica nacional de vivenciar o espaço das cidades, o que dizer

sobre a vasta difusão da internet e de aparelhos como smartphones? Progressivamente esses

Page 124: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

123

equipamentos tecnológicos tornam-se extensões do corpo, e permeiam as relações humanas por

relações entre homem e máquina. Gradualmente a percepção do corpo no espaço fica cada vez mais

diminuta enquanto as pessoas se localizam grande parte do tempo nos “espaços virtuais”.

Uma prova sobre a desvinculação do lugar para o consumo de bens culturais é o “Google Art

Project”. “O Google quer levar o mundo das grandes galerias mundiais de arte aos lares, com um

novo site que oferece visitas virtuais usando a tecnologia do serviço Street View aliada à capacidade

de construir coleções privadas e imagem de altíssima resolução.” (FOLHA DE S. PAULO,2011)

É notável a existência de duas variáveis a serem consideradas sobre a produção de espaços

culturais no Brasil: o primeiro é o aspecto histórico traçado pelo passado, onde o acesso aos espaços

culturais era uma exclusividade da elite; e o segundo diz respeito às transformações na forma como a

Era da Informação tem transformado as relações entre corpo e espaço. Portanto, é preciso que esses

espaços levem em consideração transformações tecnológicas incorporando-as - ou subvertendo-as -

a fim de valorizando as experiências do corpo no espaço através desses recursos, tornando-os mais

dinâmicos e convidativos à apropriação do público.

7.2. | EDUCAÇÃO COMO ELEMENTO TRANSFORMADOR

Outro fator importante levantado pela pesquisa realizada pela Diretoria de Estudos Sociais (Disoc),

do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em parceria com a Unesco e o Ministério da

Cultura (MinC) sobre “O Consumo Cultural das Famílias Brasileiras” é a influência da educação na

diversificação do consumo dos bens culturais.

Page 125: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

124

“ a educação é a área que mais se articula com todas as demais, estando diretamente

relacionada à geração de trabalho e renda, à superação de situações de pobreza e

vulnerabilidade, à redução da criminalidade, além de possibilitar ao sujeito o acesso

efetivo e democrático aos serviços básicos, como parte constituinte de sua vida cidadã”.

(PDDI/RMA DIAGNÓSTICO EIXO DE DESENVOLVIMENTO SOCIAL, 2014)

Analisa-se que determinadas obras exigem do expectador um nível de entendimento sobre

diálogos e temas, é possível verificar diferenças entre as preferências do público com mais anos de

escolarização.

“A política educacional liga a experiência cotidiana com tecnologias específicas e formais,

que facultam às pessoas o acesso ao patrimônio simbólico das sociedades. Portanto,

trata-se de uma política capaz de dotar as pessoas dos recursos que permitem a

apropriação sistemática e universal dos recursos culturais.” (CADERNO TERRITÓRIOS

EDUCATIVOS PARA EDUCAÇÃO INTEGRAL.)

Sabendo disso, é comum que a maior parte dos espaços de fins culturais desenvolva parcerias

junto às instituições de ensino. Essa prática de aliar o ensino aos museus, muito comum às

instituições culturais na contemporaneidade, começou a ser desenvolvida pelo Museu de Arte de São

Paulo (MASP) - que será objeto de estudo a seguir – reflexo das percepções desses espaços culturais

limitados ao uso das elites, o que por meio do ensino permitiu a participação de públicos diversos.

Diante dessa influência da educação na valorização da cultura vale ressaltar o potencial da política

de Educação Integral, o Programa Mais Educação, como forma de expandir as práticas de ensino para

Page 126: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

125

o espaço da cidade. No Vale do Aço, segundo o cadastro do MEC, 32 escolas fazem parte do

programa atendendo a 6.782 alunos17. Um dos problemas sobre a educação em tempo integral é a

adequação do espaço físico das escolas ao número maior de alunos durante todo o período escolar

(não mais dividido entre matutino e vespertino).

“O espaço físico da escola não é determinante para a oferta de Educação Integral. O

reconhecimento de que a escola não tem espaço físico para acolher as crianças,

adolescentes e jovens nas atividades de Educação Integral não pode desmobilizar. O

mapeamento de espaços, tempos e oportunidades é tarefa que deve ser feita com as

famílias, os vizinhos, enfim, com toda a comunidade.” 18

(idem)

Sabendo dessa dificuldade territorial aliado a implantação de um novo modelo de ensino que

preza pelo vínculo educativo entre alunos e sociedade foi lançada uma série de cadernos

pedagógicos que servem de orientação para as escolas que participam do programa, cabendo

destacar aqui o “Caderno 12: Territórios Educativos para Educação Integral” que em resposta a

dificuldade que a falta de espaço passou a representar para o funcionamento do programa, trata dos

“espaços do ‘Mais Educação’ como: o lugar-escola e o lugar-cidade”.

Ao estimular a apropriação desses espaços da cidade como locais de aprendizado e formação

social desses alunos, estimula-se o desenvolvimento de novas formas de conhecimento que

17 Retirado da Tabela de Cadastro de escolas e secretarias do MEC. Disponível em:

<http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=16728&Itemid=1120>. Acesso em 20 de Outubro 2014.

18 Bairro-Escola passo-a-passo. Item 8, p.18. Disponível em:

<http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/passoapasso_maiseducacao.pdf>. Acesso em 10/08/2010.

Page 127: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

126

extrapolam o limite das escolas e vinculam-se diretamente ao contexto regional. Entretanto, é preciso

apontar que mesmo os espaços urbanos apontados como potenciais ao desenvolvimento dessas

atividades apresentam limitações - que no caso específico do Vale do Aço serão apontadas a seguir.

Essa mudança no processo de formação dessas crianças reflete diretamente num processo de

apropriação do espaço público19 e, consequentemente, fortalecimento da cultura local e do

sentimento de pertencimento capaz de transformar o exercício de cidadania.

“As dinâmicas promovidas pelo Programa Mais Educação no chão da escola, vêm

alterando percursos e possibilitando práticas conectivas culturais-educativas entre os

sujeitos, suas ações e os territórios onde elas se dão (escola e cidade), criando percursos

que intensificam a produção de sentidos (de apropriação, de pertencimento, de

identidade, de participação) e de registros simbólicos pouco comuns no ambiente

escolar.” (ibidem)

Percebe-se que as transformações no ensino através do resgate das relações das crianças com a

cidade são um importante meio de subverter as dificuldades tanto de acesso à cultura quanto

possibilitam o fortalecimento de leituras subjetivas capazes de desencadear transformações no

espaço urbano.

19 Além dos espaços pedagógicos formais (escolas, creches, faculdades, universidades, institutos) é proposta a articulação com os

espaços pedagógicos informais (teatros, praças, museus, bibliotecas, meios de comunicação, repartições públicas, igrejas, além do

trânsito, do ônibus, da rua). (PAG 45 DO CADERNO).

Page 128: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

127

7.2.1 | OBRA ANÁLOGA: CENTRO EDUCACIONAL BURLE MARX

“Inhotim é um lugar em formação, onde arte contemporânea e natureza se relacionam de forma

especial. O Centro de Arte Contemporânea é uma instituição comprometida com a educação e o

desenvolvimento cultural da comunidade. Situado no município de Brumadinho, Minas Gerais,

Inhotim ocupa uma área de 35 hectares de jardins – parte deles criada pelo paisagista Roberto Burle

Marx– e abriga extensa coleção botânica de espécies tropicais, bem como um [expressivo] acervo

artístico.” (ARCHIDAILY, 2012)

Recentemente classificado como o segundo melhor museu da América Latina, em termos de

análise preponderante para esta pesquisa serão ressaltados os trabalhos sociais desenvolvidos pelo

INHOTIM com a comunidade. Dessa forma, destaca-se o potencial de transformação dos lugares

onde esses equipamentos culturais são implantados:

“Desde a valorização de manifestações culturais populares, ao incremento de negócios

das redes gastronômica e hoteleira, passando pela mobilização social e pesquisas de

resgate histórico, o Inhotim se afirma como um ator relevante nas relações da cidade.

Segundo empregador do município, o Inhotim tem sido fundamental na formação

profissional dos jovens de Brumadinho que têm no Instituto o seu primeiro emprego e a

abertura de incontáveis e inovadoras perspectivas de futuro.”20(INHOTIM)

20 http://www.inhotim.org.br/inhotim/desenvolvimento-humano/comunidade/#nosso-inhotim

Page 129: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

128

Em consonância com o papel desempenhado pelo instituto, são desenvolvidos projetos que

estimulam a formação de jovens e adolescentes através do ensino de arte e educação ambiental. O

programa “Escola Integrada” em parcerias com as escolas do município e de Belo Horizonte busca

integrar o ensino as atividades multidisciplinares que acontecem nos jardins e galerias do Inhotim.

Os programas “Escola de Cordas”, “Coros Inhotim” e "Brumadinho pelos Caminhos da Educação

Musical" representam iniciativas para transformar, através da música, a vida das crianças de

Brumadinho e de outras cidades próximas; o ‘Laboratório Inhotim’ busca através do ensino das artes

para alunos das escolas municipais de Brumadinho, incentivar a formação de um olhar “que extrapola

sua condição de espectador e passa a participar efetivamente deste universo”. Em conjunto com a

arte, busca-se o fortalecimento do potencial ambiental que o espaço representa através do programa

‘Jovens Agentes Ambientais’ que “prevê o conhecimento do acervo do Jardim Botânico Inhotim, além

de atividades relacionadas à conservação da biodiversidade”.

Além do ensino para crianças e adolescentes, outros projetos são desenvolvidos com objetivo de

fortalecer o mutualismo entre instituto e cidade. O programa ‘Nosso Inhotim’ oferece para os

moradores da cidade a mais de três anos a meia-entrada, uma iniciativa que serve como “estímulo

para que o cidadão frequente o parque e se aproprie do lugar”; a ‘Rede de Artesãos’ busca incentivar

Page 130: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

129

o fortalecimento de grupos de artesãos locais, em parceria com o SEBRAE, incentivando o

aprimoramento de produtos manuais e alimentícios; e a ‘Rede de Empresários’ busca o

fortalecimento das empresas que tenham suas atividades voltadas ao turismo, oferecendo

“capacitação de pessoal de hotelaria e gastronomia para a oferta de serviços de qualidade”.

Do ponto de vista arquitetônico, são diversos os pavilhões e instalações premiadas que podem ser

encontradas no Inhotim. Em função dessa multiplicidade, pretende-se aqui destacar aquele que

reforça o potencial educacional das instituições culturais, o Centro Educativo Burle Marx.

“Essencialmente um espaço de trabalho e conhecimento, o Centro de Educação e Cultura Burle

Marx é a sede dos programas educativos do Instituto, que atuam nos eixos Arte e Educação e

Educação Ambiental. Com 1.704 m², o edifício contempla uma biblioteca e ateliês para a realização

de workshops, além do Teatro Inhotim, com capacidade para 214 pessoas e o Café do Teatro”.

(INHOTIM)

O projeto desenvolvido pelo escritório mineiro Arquitetos Associados, de Paula Zasnicoff e

Alexandre Brasil, buscou através da implantação sutil estabelecer um mutualismo entre arquitetura e

paisagismo.

Page 131: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

130

“O exíguo espaço disponível e a

vontade de mimetizar o edifício na

paisagem sugeriram a conformação

de um extenso pavilhão horizontal,

em apenas um pavimento, sobre o

lago, levemente rebaixado em

relação ao entorno. Sua cobertura

atua como ponte unindo diferentes

partes do museu além de conformar

ampla praça elevada com espelho

d’água ajardinado, destinada ao

encontro e a contemplação,

promovendo forte integração entre

arquitetura e paisagismo”.

(ARQUITETOS ASSOCIADOS)

Page 132: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

131

A premissa de valorizar as relações entre o espaço construído e a paisagem, além de soluções de

conforto térmico, permitiu que os espaços de circulação se tornassem espaços de convívio e, ao

mesmo tempo, permitissem a integração entre interior e exterior, subvertendo a lógica comum às

galerias. “É um programa diferente do de uma galeria de arte, onde ou você está dentro ou está

fora", compara Zasnicoff.

Page 133: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

132

Page 134: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

133

CAPÍTULO 8 | TRANSFORMAÇÕES NOS ESPAÇOS CULTURAIS

Quando pensamos no conceito de cultura como sendo algo mutável resultante do constante

processo de evolução do homem e a arquitetura como produto cultural, um gênero mais específico

da arquitetura é responsável por abrigar outras formas de manifestação cultural: o edifício cultural.

“Os museus são tão antigos quanto a própria história da humanidade. Pode-se considerar que eles

existem desde que o ser humano começou a colecionar e guardar, para si ou seus deuses, objetos de

valor em salas construídas especialmente para esse fim. [...] Entretanto, são as coleções reais ou

privadas, como a reunida no palácio dos Médici, formadas a partir da Renascença, que vão constituir

o núcleo inicial dos museus nacionais no século XVIII.”(KIEFER, 2000)

As primeiras coleções particulares de monarcas destinavam-se a guardar objetos de arte,

relacionado diretamente com o caráter ostentador da nobreza, tanto pela adornação dos espaços

quanto pelo consumo de belas artes. A burguesia a fim de mostrar o seu poder começou a investir na

criação de espaços destinados exclusivamente às exposições de arte, passando esses espaços a serem

denominados de galeries (galerias). A partir do século XVIII começou a surgir um efervescente desejo

de criação desses espaços como forma de se afirmar poder socialmente, sendo que pelo motivo a

que eram criados resultavam em uma tipologia excludente.

“Os primeiros museus tomaram a tipologia dos palácios como sua primeira forma de expressão

arquitetônica, antigas sedes de monarquias se transformaram em espaço de coleção e exposição de

arte e cultura”. (TAVARES; COSTA, 2013). O período do surgimento desses primeiros edifícios

Page 135: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

134

coincidiu com o período do neoclassicismo, que resgatava a essência do estilo grego. A partir do

século XIX começaram a surgir teorias que influenciaram a produção e organização dos museus,

sendo aqui destacadas as teorias que nortearam a criação desses espaços durante o período do

neoclassicismo, desenvolvidas por: Durand, Klenze e Schinkel.

De acordo com Durand (1819) esses espaços de exposição cultural deveriam transmitir uma

sensação de segurança – o que estava diretamente ligado à concepção simétrica dos espaços – e

previa uma variação da escala e programa conforme a cidade que abrigaria essa edificação. Além do

espaço de exposição era previsto a criação de gabinetes destinados aos artistas.

Klenze (1830) “propôs a eliminação de todo o espaço secundário, organizando os espaços de

forma interligada entre si, privilegiando a luz zenital para iluminar as rotundas, e as galerias através

do pátio interno, essas não sendo abertas para o exterior, que apenas detém falsas janelas que

compõem a fachada” (TAVARES; COSTA, 2013) o que reforça um aspecto excludente desses museus.

Já na concepção de Schinkel o caráter excludente da arte se confirma pela estratégia de

diferenciação entre o que se percebe no interior e exterior dos edifícios. Havia um espaço único de

exposição, e o aspecto primordial de sua produção foi à criação de um circuito sequencial de

visitação, conforme é citado por TAVARES; COSTA, 2013:

Page 136: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

135

“No Altes Museum de Berlim, projeto de Karl Friedrich Schinkel, que diferentemente de

Klenze, optou por um único espaço central, uma rotunda, no eixo geométrico do edifício,

o colocando como o clímax da composição. Esse espaço, de pé-direito triplo, não tem sua

existência revelada na perspectiva exterior da edificação, que o disfarça com muros

dispostos em forma quadrada” (TAVARES; COSTA, 2013).

Embora houvesse uma efervescência crítica a esses monumentos culturais, o período de Guerras

adiou essa discussão até ao período de produção modernista. O projeto do Musée de la

Connaissance ou “Museu Sem Fim” de Le Corbusier em Saint Die, Paris, 1939, “assume um caráter

revolucionário, disposto em uma forma espiral quadrada, que oferece um possível crescimento

indefinido.” (TAVARES; COSTA, 2013). Apesar de sua concepção da forma arquitetônica estritamente

modernista, fica evidente a influência dos circuitos e da iluminação zenital enfocando o espaço ápice

da edificação.

Page 137: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

136

Em 1959, esses mesmos conceitos abordados por Le Corbusier tornam-se a própria descrição da

arquitetura de Frank Lloyd Wright para o Museu de Guggenheim de Nova York, onde os circuitos e a

iluminação zenital tornaram-se a própria obra.

“Wright manteve sempre firme a ideia de que ‘um museu deve ser extenso, contínuo e

bem proporcionado, desde o nível inferior até o superior; que uma cadeira de rodas

possa percorrê-lo, subir, baixar e atravessá-lo em todas as direções. Sem interrupção

alguma e com suas seções gloriosamente iluminadas internamente desde cima, de

maneira apropriada a cada grupo de pinturas ou a cada quadro individual, segundo se

queira classificá-los.’”. (PFEIFFER, 1995 apud KIEFER,2000)

Page 138: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

137

O período de possibilidades do concreto armado possibilita novas criações inclusive sobre novas

preocupações quanto ao projeto arquitetônico de museus. A Fundação Maeght, idealizada por Josep

Luis Sert e construído entre 1959 e 1964, mostrava novas possibilidades capazes de potencializar a

iluminação e ventilação dos museus.

Page 139: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

138

No Brasil, duas produções expressivas da

produção de museus dizem respeito ao Museu

de Arte Moderna do Rio de Janeiro, em 1954, por

Affonso Eduardo Reidy, e, ao MASP, por Lina Bo

Bardi, em 1957. A criação de grandes vãos livres

possibilitou a liberdade e fluidez nesses lugares,

dando uma contribuição significativa à produção

de tipologias do gênero cultural pelo mundo. É

preciso ressaltar que os grandes vãos e a

utilização do vidro favoreceram a permeabilidade

entre o espaço cultural e seu entorno.

Portanto, o período moderno traz como

importante contribuição à fluidez e transparência

desses edifícios culturais e simplificação dos

espaços internos, resultante da possibilidade de

grandes vãos pelo uso do concreto armado.

Já a produção desses espaços no período pós-

moderno foi incentivada quando o consumo de

arte tornou-se mais difuso, tanto pelas

FIGURA 3 | MASP,

LINA BO BARDI

FIGURA 2 | MAM RJ,

REIDY.

Page 140: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

139

transformações nas expressões artísticas

quanto pela difusão de novos meios de se

consumir cultura, induzindo a transformação

dos espaços culturais para que fossem

capazes de absorver a demanda desse novo

público, diversificando as possibilidades de

uso, integrando cafés, praças, jardins,

restaurantes, etc, o que deu origem ao

chamado Centro Cultural.

Em consonância com a efemeridade da

arte pós-moderna e da efervescência cultural

próprias das transformações sociais vigentes

no período, esses espaços passaram a

modificar a forma de expor arte, incluindo exposições temporárias, performáticas e festivais. Esses

espaços passaram a incorporar programas muito mais complexos e a formação sobre museografia

influenciaram diretamente na produção arquitetônica desses espaços, e vale ressaltar a produção

desses novos centros culturais em extensões do espaço público.

Um dos principais ícones do edifício cultural no período pós-moderno é o Centro Cultural Georges

Pompidou, projetado por Richard Rogers e Renzo Piano, em 1977, que “tornou-se um marco pós-

FIGURA 4 | CENTRE POMPIDOU,

RICHARD ROGERS E RENZO PIANO

Page 141: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

140

moderno por sua arquitetura, pluralismo funcional não só contendo áreas de exposição, e

proporcionando um grande espaço de domínio público, mas também por gerar um pólo de

convivência, o que veio a ser uma característica marcante nessa nova tipologia”. (TAVARES; COSTA,

2013).

Um exemplo claro das transformações que os museus passaram durante o período pós-moderno

dizem respeito à reforma feita no Louvre, em 1988. O Museu do Louvre passou por intervenções que

tinham como “principal objetivo a renovação do espaço do Museu, tornando-o mais dinâmico e

acessível aos visitantes, abrindo também espaços novos para exposição. Além disso, outro objetivo

mais ousado seria reintroduzir o Louvre às atividades e ao cotidiano pulsante da cidade de Paris” (21).

O Louvre sendo um dos principais representantes da tipologia museu-palácio do século XVIII, através

do projeto do arquiteto Ieoh Ming Pei, permitiu um relacionamento mais direto do espaço do museu

com o espaço urbano.

"Formalmente, é o mais compatível com a arquitetura do Louvre (...) [a pirâmide] é

também uma das formas estruturalmente mais estáveis, garantindo sua transparência,

uma vez que é construída de vidro e aço, significando uma ruptura com tradições

arquitetônicas do passado. É um trabalho do nosso tempo." (PEI, I.M in ARCHIDAILY)

21 http://www.unicamp.br/chaa/PDFTrabs/MI-LouvrePei.pdf

Page 142: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

141

Dentro de uma abordagem mais contemporânea, são diversas questões que envolvem a produção

dessa tipologia. Sobre um desses aspectos referem-se às construções de espaços culturais com o

intuito de produzir arquitetura como intervenções artísticas capazes de despertar processos de

renovação urbana - já abordado em capítulos anteriores. Como é o caso do Museu Guggenheim de

Page 143: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

142

Bilbao de Frank Gerry, que se tornou uma imagem-síntese do desenvolvimento da cidade e,

consequentemente, o expoente de um novo modelo de desenvolvimento urbano. A preocupação é

que a produção formalista atenha-se apenas a criação de imagens de impacto para a imagem das

cidades desconsiderando a função social que foram sendo atribuídos a esses espaços.

Outro aspecto pertinente aos museus e espaços culturais refere-se as transformações sociais

próprias da Era da Tecnologia. As pessoas priorizam a absorção informações de forma instantânea,

sendo que a maior parte do tempo suas relações sociais estão intermedidas por aparelhos

tecnológicos. Recentemente um serviço específico do Google desperta a curiosidade sobre o futuro

dos espaços culturais na contemporaneidade: o Google Art Project. “O Google quer levar o mundo

Page 144: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

143

das grandes galerias mundiais de arte aos lares, com um novo site que oferece visitas virtuais usando

a tecnologia do serviço Street View aliada à capacidade de construir coleções privadas e imagem de

altíssima resolução.” (FOLHA DE S. PAULO,2011) Isso significa que não seria mais necessário que a

pessoa visitasse um museu para ter acesso a informação, transformando-se em uma forma de

reforçar a desvinculação entre as experiências entre corpo e espaço - sabendo que não as substituem.

Page 145: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

144

Sobre o aspecto das produções arquitetônicas na contemporaneidade podem ser observadas duas

vertentes distintas: de um lado a utilização da tecnologia como forma de dinamizar a experiência dos

visitantes, podendo ser citado o Museu das Telecomunicações, em Belo Horizonte, que busca através

da tecnologia transmitir conhecimento de forma interativa; e, por outro, a arquitetura como principal

recurso para estimular novas experimentações entre corpo e espaço, como exemplo o Museu Hergé,

de Christian de Portzamparc, que busca através da arquitetura produzir diversos estímulos aos

visitantes, impossíveis de serem sentidos sem que haja a inserção do corpo no espaço.

No ano de 2013, foi realizado no Rio de Janeiro a 2conferência do Conselho Internacional de

Museus, ICOM, que tinha como tema “Museus (história + criatividade) = mudança social”. Nesta

buscava-se discutir sobre o futuro dos museus, apostando que a criatividade dos espaços é mais

eficiente que a tecnologia, frisando que para que um museu seja de fato utilizado ele deve ser o

reflexo da sociedade à qual ele serve. “Já imaginar que a tecnologia, por si só, é fator de atração inclui

sério risco, pois, se ela é uma mediação, pode também converter-se em objetivo. Ela deve servir aos

propósitos e compromissos do museu e não, como pode acontecer, servir-se dele — avalia o

professor da USP22”.(OGLOBO, 2013.)

22 Ulpiano Bezerra de Meneses, professor emérito da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.

Disponível em: <http://oglobo.globo.com/cultura/futuro-dos-museus-esta-na-criatividade-nao-na-tecnologia-dizem-especialistas-

reunidos-no-rio-9455603#ixzz3Jp46Otms>. Acesso em 22 de Nov. 2014

Page 146: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

145

8.1 | CONTRIBUIÇÃO DE LINA BO BARDI PARA CULTURA BRASILEIRA

Quando falamos da questão da cultura no Brasil, nenhum arquiteto soube interpretar tão bem a

identidade do povo brasileiro quanto Lina Bo Bardi. A arquiteta italiana, que chegou ao Brasil em

1946, com seu olhar estrangeiro e sensível soube reconhecer a cultura popular contribuindo de forma

imensamente significativa para a valorização da brasilidade.

Dentre suas contribuições para a arquitetura, design, arte, pretende-se destacar aqui sobre a

importância de Lina Bo Bardi para a valorização da arte popular e posteriormente analisar sua

produção arquitetônica que teve tanto êxito principalmente pelo olhar sensível que entendia as

necessidades reais do público que o utilizaria.

Quando chegou ao Brasil, Lina e seu marido viveram em São Paulo, num período onde o país havia

se tornado, recentemente, em uma República Federativa e esse cenário de novas possibilidades

despertou o seu interesse por uma criação livre, diferente do contexto vivido na Itália. Durante o

período que Lina viveu em São Paulo podemos citar importantes contribuições para a produção

artística e arquitetônica brasileira: o MASP, o Studio Palma e a Casa de Vidro.

Sobre o primeiro MASP - que será objeto de estudo posteriormente - Cosulich cita:

“Juntamente com o marido e Assis Chateaubriand fundaram o Masp da rua 7 de Abril, em

um andar do edifício dos Diários Associados, de propriedade do próprio Chateaubriand,

onde além de montar um belo acervo de quadros e constantes mostras, coordenaram

cursos de arte e música para adultos e crianças. A visitação era bastante intensa e os

Page 147: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

146

eventos, que frequentemente eram transmitidos pela TV Tupi, atraíam um grande

público.” (COSULICH)

Ainda durante o período que esteve em São Paulo, Lina Bo Bardi em sociedade com o arquiteto

italiano Giancarlo Palanti fundaram o “Studio d´Arte Palma”. Segundo Aline Coelho, em palestra para

o Museu da Casa Brasileira, O Studio Palma iniciou suas atividades em 1948 e perdurou até meados

de 1951, dedicando-se ao desenho industrial com departamento de projeto e criação dos

mobiliários23, “realizando uma série de móveis e projetos de interiores”.

Os mobiliários do Studio Palma ao invés de basearem-se em

referências colônias - como era de praxe - traziam inspirações das

referências sertanejas, indígenas, africanas e com isso o uso de

materiais como o “couro, do sisal, fibras e tecidos naturais” e,

principalmente, dedicaram-se a valorização das madeiras nacionais. “Ao

lado do desejo de atualização e renovação da produção de móveis,

segundo os preceitos do movimento moderno internacional, os

arquitetos buscavam, a seu modo, assegurar uma especificidade local,

expressa por meio da preocupação com o clima, com a investigação

23 “Para fabricar a mobília, projetada no Studio pelos arquitetos Lina Bo Bardi e Giancarlo Palanti, os sócios fundaram

também a Fábrica Pau-Brasil.” Disponível em: <

http://www.mcb.org.br/mcbItem.asp?sMenu=P005&sTipo=4&sItem=299&sOrdem=2> . Acesso em 05/11/2014.

Page 148: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

147

dos materiais nacionais e com a atenção aos modos de vida e de produção de objetos do povo.”

(COELHO apud MCB)

Ainda em São Paulo, Lina ao criar sua residência

no Morumbi criava um ícone da arquitetura

brasileira. Embora sua produção revelasse caráter

modernista pelos pilotis, vão e fachada livre, ao

fazer uma análise sobre a implantação e partido

arquitetônico pode-se notar semelhanças com a

arquitetura vernácula brasileira para a Casa de

Vidro. Essa influência dos aspectos regionais não

ficou apenas em sua arquitetura, como também no

projeto de seus mobiliários.

Um período muito significativo para a produção de Lina Bo Bardi refere-se ao período que ela

passou estudando de forma antropológica as produções do nordeste brasileiro. Com base no livro

‘Pavilhão das Culturas Brasileiras: Puras Misturas’ pretende-se analisar brevemente os caminhos

percorridos até chegar ao conceito da Cultura Popular no qual Lina Bo Bardi tem grande contribuição.

Os primeiros estudos de forma efetiva sobre as manifestações populares iniciaram pelas Missões

de Pesquisas Folclóricas. “Em 1935, por sugestão de Mario de Andrade e Paulo Duarte, o prefeito [de

São Paulo] cria pela do Departamento Municipal de Cultura.” Até onde se sabe, este foi o primeiro

Page 149: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

148

“órgão destinado a cuidar das questões culturais dentro do aparelho estatal.” Durante as Missões os

integrantes percorreram o Norte e Nordeste do Brasil buscando registrar as manifestações populares

do Brasil.

No final dos anos 50, a convite do reitor da

Universidade da Bahia, Lina vai para o nordeste

brasileiro onde aprofunda seu conhecimento

sobre a arte e artesanato locais. Durante seus

estudos, faz uma análise antropológica daquele

povo observando o caráter puro daquela cultura,

livres de influências do capitalismo como já

acontecia em São Paulo.

Durante esse período Lina Bo faz contribuições

importantes para dar visibilidade à cultura popular e subverter o caráter de arte como exclusividade

da elite. Lina escreve o livro “Tempos de Grossura: o design no impasse”; realiza a “mostra antológica,

denominada Bahia, para a 5ª Bienal Internacional de Arte e Arquitetura de São Paulo” que segundo

ela relatava “toda a violência poética de um mundo ainda intacto” (BARDI, 1994 apud BORGES;

BARRETO, 2010); assume a direção do Museu de Arte Moderna da Bahia, no Solar do Unhão,

transformando-o em Museu de Arte Popular representando uma ruptura do conceito de folclore,

conforme é apresentado por Lina:

Page 150: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

149

“Está fora de causa o folklore, que serve aos turistas e às senhoras que acreditam na

beneficência. Folklore é uma palavra que precisa ser eliminada, é uma classificação em

‘categorias’, própria da grande cultura central, para eliminar, colocando no devido lugar,

incômodas e perigosas posições da cultura popular periférica. Quando a produção

popular se petrifica em folklore, as verdadeiras e suculentas raízes culturais de um país

secam: é sinal de que ‘interesses’ internos ou de importação tomaram o poder central, e

as possibilidades de cultura autóctone são substituídas por ‘frases feitas’, pela ‘supina

repetição’ e pela definitiva sujeição a esquemas esvaziados. [...] Procurar com atenção as

bases culturais de um país (sejam quais forem: pobres, míseras, populares) quando

reais não significa conservar as formas e os materiais, significa avaliar as

possibilidades criativas originais. Os materiais modernos e os modernos sistemas de

produção tomarão depois o lugar dos meios primitivos, conservando não as formas, mas

a estrutura profunda daquelas possibilidades”. (BARDI, 1994 apud BORGES; BARRETO,

2010)

Durante o período da ditadura todos os movimentos em prol da valorização da cultura popular são

paralisados. O Museu de Arte Moderna, no Solar do Unhão é fechado. Durante este período, os museus

estiveram ligados à valorização apenas de grandes feitos políticos, reforçando o processo de valorização das

elites do país.

Entretanto, durante a inauguração da nova sede do MASP na Avenida Paulista (signo e emblema das elites

econômicas do país) em 1969, Lina e Pietro Bardi realizam a exposição ‘A mão do Povo Brasileiro’. “Esta grande

exposição de Arte Popular não era destinada apenas ao Nordeste, mas a todo o Brasil. Montada nos moldes da

comunicação teatral coletiva, não apresentava peças de arte ‘isoladas’ mas ‘acontecimentos’: a possibilidade

criativa, quando livre, do Povo do Brasil”. (BORGES; BARRETO, 2010).

Page 151: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

150

É perceptível que os anseios de Lina em promover o reconhecimento da Cultura Popular interferiram

diretamente nas suas produções arquitetônicas. O conhecimento dos saberes e fazeres da cultura

popular aliado ao seu desejo por uma arquitetura simples refletiu-se diretamente em estratégias para

Page 152: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

151

tornar os espaços culturais

em espaços verdadeiramente

sociais, sendo destacados o

Solar do Unhão(BA), MASP

(SP) e o Sesc Pompeia (SP)

constituindo espaços

“pautados na convivência

humana, na ocupação criativa

e na relação com o caráter

público da cidade, [e]

ressaltam o cunho

eminentemente político do

trabalho de Lina Bo Bardi”.

(BARATTO, 2014)

Page 153: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

152

8.1.1 | OBRA ANÁLOGA: MASP

Mais do que analisar um grande referencial arquitetônico, pretende-se aqui explorar a

preocupação de Lina Bo Bardi em produzir museus com verdadeira função social, refletindo esses

anseios na produção desses espaços.

O MASP antes de funcionar na Avenida Paulista

funcionava em um prédio da Rua Sete de Abril, também

em São Paulo. Por meio da iniciativa do empresário Assis

Chateaubriand, Pietro Bardi foi convidado para formar um

acervo significativo e inaugurar um Museu de Arte, sendo

Lina Bo a responsável pela “instalação e curadoria de uma

nova instituição artística para a disposição destas obras”.

(ORTEGA, 2008)

Diferente de outros museus que funcionavam no Brasil que estiveram ligados a relatar feitos

históricos e expressões artísticas da elite do país, o MASP surgia do anseio de criar um museu que

exercesse, realmente, uma função social. Baseados nas discussões sobre um museu que fosse capaz

de incluir os públicos mais diversos, o casal Bardi percebem no ensino das artes uma forma de incluir

novos públicos.

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153

“Conforme Pietro Maria Bardi,

neste período não se ensinava

história da arte do Brasil, nem havia

publicações sobre este tema em

português, apesar do crescente

interesse sobre as artes por um

público cada vez mais amplo.”

(Museum, 1948 apud ORTEGA, 2008)

Portando, desde a sua fundação, o

MASP mais do que um espaço

expositivo tem uma preocupação

pela instrução do público.

Sabendo das discrepâncias entre a

elite e as camadas mais populares,

Lina com sua sensibilidade,

“considera o fato de que a maioria

dos brasileiros necessita de meios

para se favoreces das artes. Esta ação

permite, às classes menos favorecidas

Page 155: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

154

culturalmente, a oportunidade de melhor acesso perante as obras. E é a partir desta perspectiva, que

Lina cria recursos espaciais para possibilitar as exposições didáticas”. (ORTEGA, 2008)

Conforme a análise realizada por Cristina Garcia Ortega (2008) sobre os mobiliários e espaços de

Lina Bo Bardi, pode-se organizar a produção dos espaços do MASP em três momentos distintos: em

1947, quando o MASP funcionou no Edifício Guilherme Guinle; em 1950, quando um novo andar do

mesmo Edifício foi incorporado ao museu; e a primeira instalação no MASP da Avenida Paulista.

Em 1947, o MASP foi inaugurado no segundo pavimento do Edifício Guilherme Guinle, na Rua Sete

de Abril, onde também funcionava a sede das revistas O Cruzeiro e dos Diários Associados, ambas

pertencentes a Chateaubriand. O Edifício projetado por Jacques Pillon teve seu projeto inicial

modificado e as paredes deram lugar a um espaço mais amplo e fluído.

Page 156: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

155

Inicialmente, a área do espaço era de 1.000m² “espacialmente dividida em três áreas distintas, além

das obras em exposição permanente, são instaladas duas áreas para exposição didática, exposições

temporárias e auditório”. (ORTEGA, 2008) Uma das preocupações da arquiteta foram as instalações

para exposição dessas obras. Baseada na necessidade de transformação constante do acervo a

medida que chegassem novas obras, Lina criou instalações que permitissem a facilidade de troca das

obras.

Foram desenvolvidos estruturas de tubos de alumínio do chão ao teto ao longo do perímetro do

museu. Essas estruturas possuíam braços articuláveis permitindo a adaptação a obras de diferentes

tamanhos e, vale ressaltar, que ao criar essas estruturas ela tirava as obras do contato direto com o

edifício, em função da eventual umidade da edificação. Para o espaço de exposição didática, foram

utilizados suportes para a fixação de duas folhas de vidro que permitiam a exposição de duas obras

de forma simultânea potencializando o uso do espaço.

Além do mobiliário expositivo, que rompia com o que era usual, “Lina Bo Bardi procura ‘por todos

os meios, não tornar solene o Museu, usando materiais simples, cores neutras, plantas que alegram o

ambiente’.” (HABITAT,1950 apud ORTEGA,2008)

Em 1950, o museu tem sua capacidade ampliada ao incorporar mais um pavimento ao seu

programa, passando a ter aproximadamente 2.300m². Durante o período, Lina fazia parte do Studio

d’ Arte Palma, junto com Giancarlo Palanti, onde desenvolvia projetos de mobiliários influenciando na

concepção dos novos espaços e mobiliários do MASP. O espaço existente foi

Page 157: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

156

readequado, e o programa tornou-se mais complexo incorporando novas áreas conforme é citado

por Ortega,2008. “Neste espaço são acrescentados o balcão de informações e a venda de

publicações [...]. Em ambientes desprovidos de paredes, restando apenas a estrutura do edifício, o 3º

andar conta com a pinacoteca, a vitrina das formas, mais uma sala para exposições temporárias, a

sala das tapeçarias e a sala das gravuras.” (idem, 2008)

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157

Um dos aspectos que reforçam o caráter visionário do MASP diz respeito a Vitrina das Formas, que

pela primeira vez expunha objetos cotidianos entre as obras de arte.

“Na ‘Vitrina eram expostos objetos antigos e modernos de design tanto de caráter

artesanal como de produção industrial, sendo esta a primeira vez que um museu oferecia,

à apreciação estética, uma maquina de escrever, a Lexicon Ollvetti. Um visitante, não

entendendo a inicitativa, comentou que a máquina fora esquecida na Pinacoteca e dentro

da Vitrina.” (P.M. BARDI, 1978 apud ORTEGA, 2008)

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158

O fato do MASP estar localizado no interior de um edifício longe do contato visual do público aliado

ao público crescente refletiu a necessidade de criação de uma nova sede para o museu. A escolha da

nova sede localizada na Avenida Paulista, estava diretamente relacionada com a elite cafeicultura da

cidade de São Paulo. “Principalmente entre 1940 e 1970, ocorre a decadência dos casarões e

institutos frequentados por esta elite, que acabam por demolir o próprio edifício Trianon, em 1950.”

(ibidem, 2008)

A arquiteta italiana que mais que qualquer outro arquiteto brasileiro se interessou principalmente

pelo ‘povo’ do Brasil teve a sua arquitetura influenciada e como influenciadora da valorização e

democratização da cultura popular. O MASP que desde o princípio de sua inauguração pretendia ser

um museu de arte que não estivesse vinculado aos anseios de uma elite, expressava agora os seus

conceitos em uma escala maior através da arquitetura de Lina.

O projeto da sede do MASP na Avenida Paulista, idealizado Lina explicita o seu desejo de uma

arquitetura social principalmente pelo grande vão possibilitado pela estrutura de concreto

protendido que contrastando com as edificações ao longo da avenida, tornou-se um convite à

experimentação do público. Conforme é colocado por Cristina Ortega (2008) “Lina Bo Bardi cria três

volumetrias distintas: duas edificadas e um vácuo entre estas”.

Com a ampliação do espaço do museu, seus espaços ficaram mais amplos e o seu programa mais

complexo. Com a criação da área do vão livre que possibilita uma apropriação diversa, o MASP

Page 160: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

159

passava a representar uma nova tipologia de museus destinada ao convívio do público e permanente

diálogo com a cidade.

Mantendo um programa semelhante àquele que funcionava na Rua Sete de Abril, mas com uma

área bem mais generosa que o anterior, aproximadamente 10.000m². O bloco suspenso é composto

pela “pinacoteca, com seus escritórios, salas de exposições temporárias, salas de exposições

particulares, e arquivos fotográficos, filmográficos e videográficos” (ARCHDAILY, 2012) e no bloco

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160

inferior, com acesso para a Avenida 9 de Julho, encontram-se o hall para exibições temporárias,

auditório, espaço destinado ao depósito para acervo e salas de administração.

É importante ressaltar que novamente a preocupação com o interior de suas obras promoveu uma

ruptura com o que era convencional. Lina ao desenvolver sua maneira própria de expor desfazia o

caráter impositivo da lógica dos museus nacionais, permitindo que os visitantes circulassem

livremente pelos espaços.

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161

Mesmo com o caráter modernista, as formas simples do museu foram o reflexo da “experiência de

simplificação” durante o período que ela passou observando o nordeste brasileiro, conforme cita:

Uma premissa. Na projetação do Museu de Arte de São Paulo, na Avenida Paulista,

procurei uma arquitetura simples, uma arquitetura que pudesse comunicar de imediato

aquilo que, no passado, se chamou de “monumental”, isto é, no sentido do “coletivo”, da

“Dignidade Cívica”. Aproveitei ao máximo a experiência de cinco anos vividos no

Nordeste, a lição da experiência popular, não como romantismo folclórico, mas

como experiência de simplificação. Através de uma arquitetura popular cheguei àquilo

que se poderia chamar de Arquitetura Pobre. Insisto, não do ponto de vista ético. Acho

que no Museu de Arte de São Paulo eliminei o esnobismo cultural tão querido pelos

intelectuais (e os arquitetos de hoje), optando pelas soluções diretas, despidas. (BARDI

apud FERRAZ, 1993 apud ORTEGA, 2008)

Para fins de análise nesta pesquisa, apesar do caráter estrutural espetacular propiciado pelo

grande vão livre, o que será aqui reconhecido como a maior contribuição de Lina Bo Bardi é a

preocupação social da arquiteta refletida na concepção de suas criações, sejam nos objetos utilizados

para expor obras de arte até a poesia consolidada na sua arquitetura. Lina conseguiu propor espaços

que são referências de boa arquitetura porque bem mais do que preocupar-se com estilos e formas,

ela teve a sensibilidade para entender o ‘povo’ e produzir estratégias capazes de incluir através de

sua arquitetura.

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162

8.2 | MUSEUS E ESPAÇOS CULTURAIS NO VALE DO AÇO

Conforme a pesquisa realizada in loco nos museus cadastrados no IBRAM na região do Vale do

Aço e aos centros de cultura mantidos pelas instituições privadas percebe-se que a questão da

preservação da história local tem sido uma preocupação dos municípios e das empresas.

Quando observado as transições que a tipologia dos espaços culturais vem passando, é perceptível

que os museus municipais ainda preservam a logica dos ‘museus nacionais’ muito em função da área

limitada desses espaços. Sabe-se que os museus - assim como as ações culturais - vêm sendo

incentivados pelo governo por meio de incentivos fiscais, o que faz com que instituições públicas e

privadas organizem suas políticas culturais.

Durante as visitas puderam ser notadas diferenças entre os espaços mantidos pelas empresas

siderúrgicas da região e pelos municípios, tais como área, programa de necessidades, técnicas de

preservação e exposição do acervo. As prefeituras enfrentam dificuldades para manter esses espaços

em funcionamento, sendo que houve períodos de desativação de alguns desses, e, além disso, a área

reduzida desses espaços delimita um programa enxuto com capacidade para pequenos grupos de

visitantes, com exceção do Parque da Ciência que possui maior área, grande nível de atratividade por

ser o único dessa tipologia na região e implantação favorecida pelo Parque Ipanema. Dessa forma,

esses museus seguem uma lógica distante dos ideais de centro cultural. Já os espaços das instituições

tanto do Centro Cultural Usiminas quanto a Fundação Aperam são grandes responsáveis pela

realização de constantes eventos das mais variadas formas de manifestações artísticas ao longo do

Page 164: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

163

ano, valorizando principalmente os artistas regionais, sendo que além das áreas de exposição,

existem teatros e áreas livres.

Vale frisar que alguns dos espaços culturais funcionam em edifícios tombados a nível municipal,

preservando a memórias dos municípios através da preservação de um bem arquitetônico. Percebe-

se que apesar dos centros culturais promoverem eventos de alcance metropolitano e receberem

visitantes de vários lugares, não existe um lugar destinado a contar a história do Vale do Aço de

forma unificada.

A seguir serão apresentados os espaços tidos como referencias para as expressões culturais no

Vale do Aço. É fato que os espaços livres de uso público desempenham um papel extremamente

relevante para o Vale do Aço, podendo ser citados a Praça do Coreto, Praça da Estação, Parque

Ipanema, ou ainda aqueles que são adaptados para receber eventos como é o caso do Kartódromo e

do Campo do Jabaquara. Mas para analise desta etapa pretendeu-se avaliar os espaços construídos

observando se existia uma demanda por esses lugares, além de analisar aspectos que interfiram no

uso efetivo ou não desses espaços.

Foram relacionados: Casa da Memória e Pesquisa do Legislativo e Fundação Aperam, em Timóteo;

Museu Joseph Maria de Man e Museu Municipal José Avelino Barbosa, em Coronel Fabriciano;

Estação Memoria Zeza Souto, Parque da Ciência de Ipatinga e Centro Cultural Usiminas, em Ipatinga.

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171

PROJETO DO ESPAÇO JK

Durante a visita ao Museu Histórico Municipal

José Avelino Barbosa, em Coronel Fabriciano, é

possível visualizar a maquete do “Espaço JK”. O

projeto da criação de um Espaço Cultural

Multiuso foi “idealizado pelo Instituto JK em

parceria com a Administração Municipal,

contemplará a construção do Museu de Tecnologia, Ciência e Tecnologia, do Museu Histórico Municipal e de

uma área para exposição e eventos. A construção será feita pelo Instituto e a gestão do Espaço pelo

município”. (PREFEITURA Municipal de Coronel Fabriciano, 2013)

A notícia publicada do site da prefeitura de Coronel Fabriciano no dia 06 de nov. 2013, não teve mais

repercussões. “O espaço cultural tem como objetivos promover o incentivo à Ciência e Tecnologia; motivar os

jovens para a cultura, história e ciência, através de visitas programadas; gerar Congressos, Seminários,

Exposições e Eventos. Além disso, no local funcionará o Museu Histórico da cidade que incluirá acervo da

Prefeitura e outros. Ainda não há data para início das obras, que tem previsão de ser concluída em quatro

meses.” (IDEM)

Não foi possível ter acesso ao projeto, mas através da visualização da maquete percebe-se que

apesar de ser dito como Centro Cultural o projeto arquitetônico é equivocado por ter aspecto

genérico e um partido arquitetônico e programa de necessidades que não favorece o que se espera

do espaço. Mas vale ressaltar o interesse do município em possui um espaço cultural.

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173

CAPÍTULO 9 | TCC 2

Baseando-se nas análises realizadas sobre a região metropolitana do Vale do Aço percebe-se que,

apesar de um contexto histórico rico, ela ainda esteja por consolidar o seu processo de construção

identitária, muito provavelmente em função de sua formação recente.

Está fora de questão falar sobre “falta de cultura” no Vale do Aço. O que pode ser apontado é a

existência de uma grande diversidade cultural causada pelo grande contingente de migrantes que

formaram a região associada à sua formação rápida e recente. Sabendo disso, buscou-se uma

estratégia capaz de fortalecer o processo de valorização da história e cultura local, garantindo a sua

preservação e valorização através da criação de um equipamento cultural de caráter metropolitano.

É preciso relembrar que o processo de apropriação simbólico ocorre de forma natural à medida

que os moradores vão se apropriando de partes da cidade como sendo parte de suas estórias

individuais. É nítido que apesar de uma formação semelhante e de forma quase simultânea cada

cidade desenvolveu características muito específicas - sejam elas sob o ponto de vista cultural,

econômico, ambiental, urbano, etc -, mas o que pretende-se com esse projeto arquitetônico de

caráter cultural é ressaltar o que elas tem de comum sendo uma forma de elevar o sentimento de

pertencimento de um cidadão a essa região como um todo.

O que se pretende aqui é tornar tangível o processo de formação da identidade metropolitana

através da materialização arquitetônica, incentivando através desse o conhecimento e valorização dos

aspectos da região. É fato que o PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO tem um caráter

Page 175: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

174

eminentemente politico buscando através da arquitetura potencializar a ligação entre ensino, história,

cultura, meio ambiente, lazer e inovação tornando acessível o contato com novos meios de

desenvolvimento social e econômico para região.

ESCOLHA DO NOME

O nome PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO surgiu como resposta aos ‘preconceitos’ que

a própria sociedade possa desenvolver caso fossem adotados nomes como “museu ou centro

cultural” por serem tipologias que representam uma utilização limitada na região, como foi abordado

ao longo desta pesquisa.

Ao denominar esse espaço como PARQUE DAS CULTURAS pretende-se esclarecer o programa

diversificado que o espaço abrigará. Pretende-se a criação de um espaço híbrido, com um programa

diverso e áreas livres que permitam conhecer e vivenciar a diversidade cultural regional, mas sem

uma estrutura formal, incentivando o uso de públicos e finalidades diversificados.

DIRETRIZES DO PROJETO

Baseando-se nos estudos sobre a Região Metropolitana do Vale do Aço aliado as questões

culturais pertinentes as produções contemporâneas buscou-se a criação de um equipamento cultural

capaz de subverter possíveis estereótipos passíveis de serem associados às tipologias culturais

existentes na região.

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175

Sabendo que os espaços livres no Vale do Aço tem uma maior representatividade sobre o contexto

metropolitano em função da diversidade e liberdade de usos pelas pessoas, buscou-se integrar uma

tipologia forte na região aliado a uma inexistente. Pretende-se que o PARQUE DAS CULTURAS DO

VALE DO AÇO se torne um espaço destinado a valorização a cultura local sem a rigidez que a

tipologia dos museus na região tem adotado. Busca-se, através de parcerias com instituições de

ensino da região, criar um mutualismo entre o Parque das Culturas e um novo momento de

desenvolvimento do Vale do Aço

São quatro os principais aspectos a serem cumpridos pelo projeto:

Valorização da história do Vale do Aço;

Valorização da cultura local, que além de espaços de exposição buscará aliar o ensino de

atividades culturais à formação social de públicos diversos (idade, faixa etária);

Valorização dos recursos naturais, promovendo educação ambiental e servindo como apoio

ao Circuito Mata Atlântica;

Criação de um território metropolitano desvinculando o espaço de um município específico,

a fim de fortalecer o reconhecimento da identidade metropolitana, além de incentivar a

organização dos municípios da região para a gestão compartilhada;

Criar parcerias com instituições educacionais possibilitando que o espaço seja um novo

território de aprendizado na região.

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176

PROGRAMA DE NECESSIDADES

Descriminação inicial do programa:

1. PAVILHÃO DA HISTÓRIA (acervo interativo + memorial dos botocudos*)

2. PAVILHÃO DAS CULTURAS (auditório híbrido+exposição+oficinas)

3. PAVILHÃO MATA ATLÂNTICA (educação ambiental+circuito mata atlântica)

4. PARQUE NOVO VALE (espaço multiuso: grande eventos+lanchonte)

5. FOYER (grande foyer unificado para acesso aos pavilhões+ café-bar+ loja)

6. RESTANTE DA GASTRONOMIA BRASILEIRA

7. ESPAÇOS ADMINISTRATIVOS

8. ESTACIONAMENTO

9. CIRCUITOS DE MOBILIDADE

PAVILHÃO DA HISTÓRIA

O Pavilhão da História tem como objetivo relatar a história do processo de formação do Vale do Aço

de forma unificada e forma interativa. Pretende-se que diferente da história individual contado pelos

museus municipais, seja contada a história comum ao Vale do Aço. Pretende-se a criação de um

acervo interativo, em resposta as mudanças na forma como são absorvidas as informações na

contemporaneidade.

Page 178: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

177

Outro ponto importante é a criação

do MEMORIAL DOS “BOTOCUDOS”.

Sabendo da influência que a

presença dos índios “botocudos”

representou para região do Rio

Doce, inclusive no Vale do Aço,

pretende-se preservar e valorizar as

manifestações da cultura indígena.

As tribos indígenas na região do Rio

Doce sofreram com o genocídio

causado durante o período de ocupação de seus territórios. Em função disso no Vale do Aço,

especificamente, pouco restou sobre a cultura indígena refletindo em reduzidos relatos sobre sua

existência, podendo ser citado a produção de trançado de palha como herança da cultura indígena.

No entanto, em algumas cidades do Colar Metropolitano e em alguns pontos ao longo da

mesorregião do Rio Doce podem ser encontrados aspectos da cultural indígena.

* Pelo fato da denominação “Botocudo” ter sido pejorativamente atribuída pelos colonizadores aos nativos da região,

pretende-se descobrir qual seria a melhor forma de denominar essas diversas tribos que ocupavam a região através de

pesquisa com tribos existentes em Resplendor (MG), Aimorés (MG), Aracruz (ES) e Serra do Caparaó. – Cabe ressaltar que

existem outras além dessas apontadas.

Page 179: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

178

PAVILHÃO DAS CULTURAS

Sabendo da diversidade cultural presente na região pretende-se a criação de um espaço híbrido

capaz de atender a usos diversos. Um dos principais aspectos a serem reforçados sobre este pavilhão

é o desenvolvimento de oficinas buscando o desenvolvimento e formação de públicos diversos no

Parque das Culturas.

Sabendo da dificuldade que algumas escolas de ensino integral têm enfrentado pela concentração da

quantidade de alunos, não mais divididas entre turnos, buscou-se o desenvolvimento de parcerias

com as instituições de ensino, como forma de permitir a formação transversal desses alunos

possibilitando a formação de um olhar mais propositivo, além de permitir o fortalecimento do

sentimento de pertencimento dessas crianças com a região onde vivem.

Estimasse a criação de auditórios híbridos capazes de atender demandas do cinema e do teatro; salas

para realização de oficinas; espaços para exposição de produtos de artistas locais.

PAVILHÃO MATA ATLÂNTICA

Este Pavilhão busca desenvolver uma consciência de valorização dos aspectos naturais da região. A

presença do Parque Estadual do Rio Doce e de outros bens naturais fica limitada pela falta de

reconhecimento e de investimento em infraestrutura capaz de promover o desenvolvimento do

potencial turístico da região.

Page 180: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

179

Historicamente, a região do Vale do Aço sofreu profundas modificações do seu ambiente natural em

função dos desmatamentos de áreas de Mata Atlântica para posteriormente serem substituídos pelo

eucalipto, processo de transformou o Vale Verde em Vale do Aço. Entretanto, é eminente o potencial

turístico da região, o que confirmasse pela existência do Circuito Mata Atlântica, do qual os

municípios da RMVA e Colar Metropolitano fazem parte.

Conforme estudos realizados pelos diferentes eixos do PDDI/RMVA o turismo pode representar

um novo aspecto de desenvolvimento local, mas vale frisar, conforme apresentado pelo eixo de Meio

Ambiente, Saneamento e Recursos Hídricos, a existência do risco ambiental que o turismo de forma

desordenada pode acarretar para os recursos ambientais da região.

Portando, pretende-se que o PAVILHÃO MATA ATLÂNTICA sirva para promover ações de

educação ambiental, ao mesmo tempo em que sirva de apoio para o Circuito Mata Atlântica e como

estratégia para dar maior visibilidade aos recursos naturais da região.

PARQUE NOVO VALE

O PARQUE NOVO VALE corresponde aos espaços livres destinados a exposições e eventos ao ar livre

através da criação de um espaço multiuso, incentivando a utilização livre dos visitantes associados

com práticas esportivas e de lazer.

O espaço do parque representa uma estratégia para captar públicos que talvez não se relacionem

diretamente com o consumo de bens culturais, introduzindo através do espaço livre práticas de lazer

como estratégia para envolver este novo público.

Page 181: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

180

Uma das preocupações do projeto é o de fortalecer o que já acontece na região servindo como

espaço destinado a atividades antes não existentes por falta de espaço no contexto urbano. Sabendo

da dificuldade que eventos de grande porte têm enfrentado em função das divergências entre

espaço disponíveis e implantação próximos a áreas residenciais, estima-se que sejam absorvidos pelo

Parque das Culturas do Vale do Aço.

ESCOLHA DO LUGAR

A premissa da implantação do projeto surge da expectativa de criar um equipamento

metropolitano que não possa ser associado diretamente a apenas um município, reforçando o senso

de identidade metropolitana. No entanto, a premissa da escolha desse lugar representa um dualismo:

utilizar uma área que seja provida de toda infraestrutura dentro da malha das cidades ou propor a

criação de um ‘novo território’?

Quando analisamos a transformação da malha urbana das cidades, é visível o processo de

constante renovação do solo urbano, seja através da criação de novos bairros ou de novas

articulações viárias que estimulam o desenvolvimento em áreas antes inóspitas. Sabendo disso, julga-

se que construir o Parque das Culturas do Vale do Aço em um lugar que não seja associado

diretamente com um município especificamente, reforce o caráter metropolitano através da

administração compartilhada dos municípios e, principalmente, do reconhecimento pela sociedade

como um espaço do Vale do Aço.

Page 182: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

181

Com base no diagnóstico do eixo de

Ordenamento Territorial do PDDI/RMVA, são

apontadas novas áreas estratégicas para o

desenvolvimento da região metropolitana,

sendo que uma dessas áreas denominada Área

de Interesse Metropolitana Central (AIM-Central)

é formada pela junção das áreas definidas pelos

zoneamentos municipais de Coronel Fabriciano -

Zona de Interesse Econômico (ZIE-2) - e Ipatinga

- Zona de Grandes Equipamentos (ZGE), ambas

destinadas à implantação de equipamentos de

caráter metropolitano.

A área é privilegiada por representar uma convergência entre os municípios do Vale do Aço e por

ser alvo de proposições para uma nova fase de desenvolvimento do Vale do Aço. Cabe destacar aqui

o caso peculiar de Santana do Paraíso, pois se a questão da região metropolitana ainda é frágil para

os municípios que se desenvolveram simultaneamente (Coronel Fabriciano, Ipatinga e Timóteo), no

caso desse os vínculos com o Vale do Aço ainda são recentes – verificadas principalmente pelo

processo de conurbação decorrente do transbordamento da população de Ipatinga. O município de

Santana por ser o mais jovem representa o maior potencial para expansão urbana da RMVA,

Page 183: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

182

portanto, estima-se que as maiores contribuições de Santana do Paraíso dentro do contexto

metropolitano ainda estejam por acontecer.

A área estimada como um dos territórios destinados a uma nova fase do desenvolvimento regional

possui um aspecto simbólico a ser potencializado pela arquitetura do complexo. O relevo acidentado

permite a visualização da Mata Atlântica densa preservada do Parque Estadual do Rio Doce,

representado um pouco do que restou do Vale Verde, reforçando o caráter de educação ambiental

que será abordado em conjunto com a promoção do Circuito Mata Atlântica.

Decidiu-se implantar o “Parque Das Culturas do Vale Do Aço” ao lado da área considerada como

Área de Interesse Metropolitana Central (AIM-Central). Englobando uma Zona de Proteção Ambiental

definida pelo Plano Diretor de Coronel Fabriciano acredita-se que a área do programa não precise de

grande potencial construtivo e que as diretrizes do plano diretor sejam condizentes com as premissas

de valorização ambiental do projeto. A área demarcada pela poligonal engloba 604.282 m² sendo

que 30.214 m² poderiam corresponder à taxa ocupada pela edificação (5%). Desde já se aponta que

os ‘terraços’, como tipologia característica do Vale do Aço, possam representar um potencial para

ampliar o aproveitamento de áreas sem que se altere o potencial construtivo.

Page 184: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

183

Page 185: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

184

ZONEAMENTO DEFINIÇÃO

TX. PERMEABILIDADE 90%

COEF. APROVEITAMENTO 0,1

TAXA DE OCUPAÇÃO 5%

LOTE MÍNIMO 5.000 m²

CX. CAP DRENAGEM OBRIGATÓRIO

TX. PERMEABILIDADE 90%

COEF. APROVEITAMENTO 0,1

TAXA DE OCUPAÇÃO 5%

LOTE MÍNIMO 5.000 m²

CX. CAP DRENAGEM OBRIGATÓRIO*

PLANO DIRETOR DE CORONEL FABRICIANO, LEI 3.789

PARÂMETROS URBANÍSTICOS

Zona de Proteção Ambiental (ZPA) é o conjunto das áreas de encostas e topos de morro), nas

quais predomina o interesse público na preservação ambiental por meio da retenção e

desaceleração das águas pluviais, aumentando tempo de chegada destas nos cursos d’água

principais. É vedada a pecuária e são adimitidos apenas usos compatíveis com a preservação

ambiental. Ocupação dos terrenos mediante a aprovação da secretaria de meio ambiente.

ZPA

ARIA-1

Áreas de Relevante Interesse Ambiental 1 são áreas destinadas à preservação de bacias,

encostas e topos de morro. | * Obrigatório a construção de bacias de detenção para

compensar toda área impermeabilizada.

Page 186: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

185

Satisfatoriamente, a testada Sul do terreno

corresponde a visada para o Parque do Rio

Doce, Rio Piracicaba, ferrovia e contorno

rodoviário. Entretanto, deverão ser

desenvolvidas técnicas para controle do ruído

na edificação. A porção da fachada Norte será

utilizada para a criação do Parque Novo Vale,

garantindo a preservação das áreas com maior

declividade e protegendo a fachada dos

pavilhões orientados para essa posição.

Se por um lado o espaço atende as premissas quanto à localização em um “território inexplorado

do Vale do Aço” por outro, são necessárias estratégias para garantir o acesso democrático que este

projeto tem como objetivo cumprir. Em função da localização desvinculada da malha urbana

existente, prevê-se a criação de circuitos para o acesso dos visitantes. Sabendo da proposta de

criação dos Terminais Intermodais e do Sistema de Integração das Linhas de Ônibus para o Vale do

Aço pelo eixo de Mobilidade Urbana do PDDI/RMVA, propõe-se uma linha específica que leve os

passageiros dos terminais para o complexo. Além disso, a área correspondente estará localizada

imediatamente diante da nova MG 760, facilitando a criação de um acesso para o Parque das

Culturas do Vale do Aço.

Page 187: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

186

Page 188: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

187

ETAPAS DE DESENVOLVIMENTO PARA O TCC2

Ao longo deste trabalho puderam ser percebidas algumas técnicas referentes a diferentes períodos

pelos quais passaram o Vale do Aço, sendo que esses materiais tornaram-se determinantes para o

partido arquitetônico das edificações.

Ao longo da história da região puderam ser observados sistemas que se apropriavam de materiais

disponíveis tais como: a taipa de mão, tijolos de adobe produzido pelas olarias, e até a madeira dos

caixotes de equipamentos que chegavam às siderúrgicas edificaram casas por bairros das cidades.

Sabe-se que a cultura de um povo está condicionada aos recursos e materiais disponíveis, portanto,

serão investigados materiais e técnicas que possibilitem o fortalecimento da identidade regional. É

preciso ressaltar que essa investigação deve ser desenvolvida em consonância com as estratégias de

projeto, portanto, tornou-se necessário o desenvolvimento dessa análise durante o TCC2.

Deverá ser desenvolvida, além do projeto arquitetônico, a viabilização dos acessos ao Parque das

Culturas considerando as proposições para a mobilidade urbana no elaboradas pelo PDDI/RMVA.

Além da viabilização dos acessos, serão discutidas estratégias de viabilização do projeto através de

parcerias com programas federais e estaduais. É preciso premeditar que o espaço deverá ser

construído através de operação urbana consorciada, buscando a parceria entre a iniciativa privada e o

poder público. As grandes empresas que tem influência direta na história dos municípios poderiam

ser parceiras do Parque das Culturas do Vale do Aço, podendo ser citadas como exemplo: Aperam,

Usiminas, Vale do Rio Doce, Cenibra. Apesar de algumas dessas empresas já possuírem seus próprios

Page 189: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

188

centros de cultura, estima-se que a Lei de Incentivo a Cultura e a visibilidade dada às empresas

através desses incentivos possa servir de estímulo.

Page 190: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

189

10| CONCLUSÃO

Ao buscar conhecer a cultura do Vale do Aço como forma de direcionar uma produção

arquitetônica capaz de retratar essa identidade cultural foram percebidos as diversas variáveis que o

aspecto cultural tem englobado na contemporaneidade, desde entender os conceitos até em como

eles tem interferido no funcionamento das cidades neste século.

Enquanto muitas cidades mineiras se desenvolviam durante o período da mineração a região do

Vale Verde (como era conhecido o Vale do Aço) representava uma barreira contra o contrabando do

ouro. A presença dos índios botocudos, o relevo acidentado e a mata densa fizeram que a região só

fosse ocupada plenamente no final do século XIX. A chegada do aço no Vale transformou totalmente

a paisagem da região, passando a representar um novo território tanto para os moradores dos

pequenos vilarejos existente na região quanto para os migrantes que chegavam a uma ‘terra de

ninguém’, sendo que o sentimento de pertencimento foi sendo consolidados à medida que as

cidades também iam se estruturando.

As indústrias siderúrgicas influenciaram – e continuam influenciando- as cidades do Vale do Aço,

seja através da economia, emprego ou de iniciativas culturais. No entanto, é dessa relação de

dependência que se criou uma incógnita sobre o futuro da região. Em 2009, com a crise enfrentada

pelo setor siderúrgico, as cidades do Vale do Aço viram-se acuadas pelo medo do “E SE...” as

indústrias deixassem a cidade. Diante disso, analisa-se o fortalecimento da cultura e dos recursos

naturais da região como primeiro passo para diversificação da sustentação da região.

Page 191: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

190

Foi perceptível a complexidade que o termo “identidade cultural” passou a representar na

sociedade contemporânea, principalmente no campo da arquitetura. Ao analisar o conceito de

identidade e de cultura têm-se ambos como sendo algo mutável, refletindo um processo constante

de formação através das interações do indivíduo com o mundo ao redor. Ao falar sobre cultura na

contemporaneidade é preciso avaliar o processo de globalização como principal modificador das

percepções desse individuo, permitindo o contato com diversas culturas de forma instantânea.

Peter Hall (2006) aponta para a influência da “identidade nacional” como formadora de

significações para o indivíduo passando a assumir características próprias a essa nação. Conforme

Hall, ao afirmar serem brasileiros, argentinos ou italianos os indivíduos assumem sua nacionalidade

como sendo parte de sua essência. Baseado nos conhecimentos sobre a “identidade cultural” buscou-

se fortalecer o processo de identificação com a Região Metropolitana do Vale do Aço, a identidade

metropolitana, como forma de tornar tangível o sentimento de pertencimento a essa região - e não a

apenas uma cidade.

Além de apresentar o contexto de formação histórico recente do Vale do Aço buscou-se analisar

de se a arquitetura na região tem despertado o senso de identificação em seus moradores. Através

de um questionário foram apresentados 30 lugares da região buscando avaliar quais eram aqueles

com que as pessoas mais se identificavam, como forma de produzir informações que sirvam de

diretrizes para o desenvolvimento do projeto. Concluiu-se que os espaços livres de uso públicos são

Page 192: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

191

aqueles com que as pessoas mais se identificam, muito em função da liberdade e multiplicidade de

usos que esses podem assumir.

Além da cultura, é abordado o potencial turístico na região. Devido ao processo de formação da

região os recursos naturais foram devastados e a consciência ambiental, assim como o

desenvolvimento de atividades turísticas, ainda é insipiente. Foi abordado o fato das cidades do Vale

do Aço fazerem parte do Circuito Mata Atlântica de Minas como um aspecto positivo para o

desenvolvimento dessas atividades turísticas, entretanto, falta conhecimento da própria população

sobre o Circuito. Acredita-se que essa situação que possa ser subvertida pela criação de um espaço

de apoio a esse programa, como forma de tornar tangível a existência desse circuito.

Tanto a cultura quanto o turismo tem representado novos modelos estratégicos de

desenvolvimento econômico. É preciso avaliar que as transformações nos sistemas de produção

promovidos pela Era da Informação, em detrimento a lógica industrial, mudaram a percepção das

cidades e transformaram o valor simbólico em estratégia de desenvolvimento de cidades. As grandes

obras de arquitetura e urbanismo se tornaram a reificação dos modelos de desenvolvimento a serem

implantados pelas cidades ao redor do mundo. É preciso ressaltar que a arquitetura como simples

“imagem da cidade” tornasse espetacularização do espaço urbano quando destinada puramente ao

marketing urbano. É fato que as obras de arquitetura exponenciais aumentam a visibilidade das

cidades pelo mundo, entretanto, é preciso pensar em obras que possam ser de fato apropriada pelo

Page 193: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

192

público de forma igualitária sendo mais que uma imagem a ser vendida, mas como um espaço a ser

experimentado.

Já com foco maior sobre a arquitetura de ‘espaços culturais’ buscou-se avaliar as dificuldades que

a questão cultural representa no Brasil. Foram abordados dados que apontam para uma

desvinculação do individuo com esses espaços em função da democratização de bens culturais,

citando como exemplo a televisão como manipuladora do consumo cultural no país. Se a questão do

acesso à cultura por muito tempo representou uma exclusividades das elites, a democratização das

tecnologias surgiu como forma uniformizar esse acesso ao mesmo tempo em que permitiu a

desvinculação do espaço publico para o consumo de lazer e cultura.

É preciso perceber que a não utilização dos espaços culturais tornou-se um aspecto da própria

cultura brasileira. Em meados dos anos 40, Lina Bo Bardi percebe a falta de estímulo para o consumo

de arte para as camadas mais populares da sociedade, buscando desenvolver estratégias que

aliassem o ensino as novas técnicas de experimentação desses espaços, tornando-se essa uma das

principais vertentes adotadas por centros culturais no Brasil. Sobre a produção de Lina Bo Bardi

destacam-se suas produções como uma das maiores contribuições para a valorização da cultura

popular brasileira. Prova de que a boa arquitetura é capaz de subverter a cultura de não utilização

dos espaços culturais é a arquitetura de Lina que por seu caráter politico tornou-se um marco da

produção de espaços dessa tipologia. Sua arquitetura baseava-se principalmente nas observações

quase antropológicas da arquiteta para intender a cultura desse povo brasileiro.

Page 194: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

193

Com base nos estudos relacionados com aspectos pertinentes a cultura regional e as produções

arquitetônicas contemporâneas percebe-se que a região possui diversos potenciais para serem

explorados. Sabendo da formação recente da região percebe-se a importância de fortalecer, através

de uma produção arquitetônica, o processo de identificação com a região. Vale ressaltar que algumas

iniciativas de grupos culturais já existem, no entanto, acredita-se que através da materialização dessas

iniciativas através da arquitetura as apropriações simbólicas através das experimentações sensoriais

do corpo no espaço possam ter um significado maior. Diante disso, acredita-se que o Parque das

Culturas do Vale do Aço seja um símbolo de uma nova fase de desenvolvimento da região buscando

valorizar os aspectos favoráveis ao desenvolvimento regional, assim como pretende incentivar a

transformação sobre aspectos sociais na região.

Page 195: TCC1 PARQUE DAS CULTURAS DO VALE DO AÇO

194

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