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FACULDADE CENECISTA DE JOINVILLE – FCJ
PROJETO DE PESQUISA DE MONOGRAFIA
Vício oculto nas relações contratuais
A tutela jurídica do consumidor frente ao vício oculto
José Ricardo Doerner Neto
Joinville/SC
2012
1. Tema: Taxa de Ocupação de “terras de marinha” na Cidade de
Joinville-SC
2. Área do Direito: Direito Civil – Direito das coisas (posse e
propriedade).
3. Titulo: A desafetação das terras ora consideradas como
pertencentes à União.
4. Justificativa:
Mais de 1.700 imóveis foram cadastrados, na área central de Joinville, pelo
Serviço de Patrimônio da União, vinculado ao Ministério da Fazenda, por estarem
localizados em área de marinha (terra que sofre influência de maré), os
proprietários são obrigados a pagar taxa de ocupação. Prejudicando na maior
parte, a população de renda média baixa, que são justamente os moradores
dessas determinadas áreas, próximas aos rios, que em muitas vezes se torna um
habitat desagradável.
Tal taxa de ocupação imposta sobre determinadas áreas geram dupla
tributação pela ocupação do solo, uma vez que, o IPTU (Imposto sobre a
propriedade predial e territorial urbana) já consiste em arrecadar tributos
referentes aos imóveis em questão, bis in idem.
Entretanto, os imóveis em questão não se situam entre os chamados
“terrenos de marinha”, tendo o poder jurídico transferido a propriedade plena
sobre o mesmo para particulares há mais de um século e meio, ou seja, desde o
casamento dos Príncipes de Joinville (no ano de 1843) e posterior fundação da
cidade de Joinville (em 1851). Por força daquele casamento e a título de dote
nupcial, o poder político doou incondicionalmente as terras que hoje constituem a
cidade de Joinville para o patrimônio daquele casal de príncipes. Portanto, antes
mesmo da vigência do Decreto lei 9.760/1946, instituidor do Serviço do
Patrimônio da União com a finalidade de demarcar a linha preamar média de
1.831 (que iria definir quais seriam os terrenos considerados como “de marinha”)
e efetuar a cobrança das taxas respectivas, já tais terras não se situavam dentre
os bens de propriedade dea união.
Nos últimos anos, parcela expressiva de joinvilenses vem sendo
surpreendida com o recebimento, via postal, de documento contendo Notificações
e/ou Guias (DARF), emitidas estas com a finalidade de que se faça o pagamento
do valor correspondente à “taxa de ocupação” sobre os imóveis onde residem,
sob a alegação de que estes imóveis não seriam de propriedade deles próprios
mas sim da União, já que estariam situados (total ou parcialmente) em “terras de
marinha”, ou seja, terras sujeitas à influência de maré.
Muitos tribunais já entenderam que a situação da cidade de Joinville não se
confunde com a da maioria das cidades brasileiras, razão pela qual nesta cidade
não existiriam “terras de marinha”, pois até mesmo as porventura existentes foram
doadas, de forma plena e incondicionada, pelo então Governo Imperial Brasileiro
(hoje Governo Federal) quando do dote de casamento do Príncipe e da Princesa
de Joinville, propriedade essa que foi depois vendida aos imigrantes que
colonizaram a cidade, assim sendo transferida até os dias de hoje. Aliás, não
fosse por intermédio de doação ou venda, até o momento todas as terras que
compõem o território brasileiro ainda pertenceriam ao poder público.
Além disso, não existiu qualquer notificação pessoal ou postal aos
moradores ou interessados quando da realização, pela União, dos trabalhos de
demarcação das terras de marinha em Joinville e posterior cadastramento dos
ocupantes, o que feriu diretamente o texto da lei que trata da matéria (Decreto-Lei
nº 9.760/46), já que a União notificou os interessados apenas mediante Editais
genéricos.
Objetiva-se que sejam suspensas todas as cobranças, judiciais ou
extrajudiciais, de taxas de ocupação, foros e laudêmios.
Suspender as cobranças até que o Congresso Nacional faça a extinção
das terras de marinha em nosso país, o que está sendo objeto das Propostas de
Emenda Constitucional de nos 27/1999 e 40/1999, ora em fase de
encaminhamento para votação no Senado Federal.
5- Compreender o problema a partir da norma jurídica do tema e da área.
6- Compreender o problema a partir da análise constitucional.
7- pesquisar dados empíricos, compreender o problema através das ações
práticas ou de movimentos sociais.
RESUMO
O presente trabalho monográfico tem por objeto a responsabilidade do fornecedor
quanto ao vício do produto. O problema em evidência destaca-se na questão de
quem responsabilizar quando ocorre o vício do produto, e porque responsabilizar
objetivamente o fornecedor que não é necessariamente aquele que fabricou o objeto
de consumo. Por se tratar de matéria recente nos tribunais, percebe-se a abertura de
uma nova expectativa quanto à responsabilidade de um assunto que ainda não era
comumente tratado. Mais uma vez, percebe-se que a legislação consumerista, além
de completa e abrangente, moderniza entendimentos ao longo da evolução comercial
disseminada entre os países e a globalização que aproxima o mundo.
Palavras-chave: Responsabilidade. Fornecedor. Vício do produto. Garantia legal.
Garantia contratual.
CAPITULO I
1.1 NOÇÕES GERAIS DE DIREITO DO CONSUMIDOR
Neste capitulo inicial analisa-se as noções gerais do Direito do
Consumidor.
As origens do consumerismo moderno remontam à segunda metade do
século XIX, como fenômeno derivado diretamente da Revolução Industrial, já que
substituiu a produção doméstica e artesanal pela produção tecnológica e de
massa, resultando, assim, na impessoalidade e distanciamento do controle de
qualidade e da produção pelos consumidores e usuários de produtos e serviços.
(MELO, 2008, p.156)
Como observa Melo (2008, p. 106), nos EUA a proteção ao consumidor
originou-se da Lei de 1872, que taxava os atos fraudulentos do comércio. Apesar
da cultura quanto à defesa do consumidor ganhar fôlego apenas em 1960, este
país já se preocupava com a questão do mercado de consumo setenta anos
antes. O homem atual experimenta e vivencia como nunca, a sociedade de
consumo, com a oferta de produtos e serviços diversos, domínio de crédito e a
proliferação do marketing, tornando cada vez mais atraente a oferta e a aquisição
de todo o tipo de produtos. Esses aspectos ensejaram o nascimento e
desenvolvimento do Direito do Consumidor como disciplina jurídica autônoma e a
busca pelo direito como exigência natural.
Assim, a sociedade, diante da vulnerabilidade exposta em suas relações de
consumo, buscou a intervenção do Estado, objetivando subsídios e formas
seguras e integrais de proteção na legislação pátria.
No Brasil, até a edição do Código de Defesa do Consumidor, o Código Civil
Brasileiro era o instrumento utilizado para resolver os problemas que viessem a
surgir no âmbito das relações de consumo.
Melo (2008, p.109) enfatiza que muito antes do anteprojeto do CDC,
diversas leis foram editadas, com a finalidade de proteger consumidores na
relação de consumo, iniciando com o Decreto n. 2.681/1912, que possivelmente
foi a primeira legislação brasileira a proteger o usuário consumidor de serviços, já
que seus dispositivos disciplinavam a responsabilidade civil das estradas de ferro
no que diz respeito à conservação e transporte de mercadorias, além da proteção
aos passageiros que de seus serviços utilizavam.
Em 1976, o governo do estado de São Paulo criou o primeiro órgão público
com intuito de proteger o consumidor efetivamente, sendo batizado de Grupo
Executivo de Proteção ao Consumidor, o conhecido PROCON. (BENJAMIN,
MARQUES e BESSA, 2009, p. 138)
A Defesa do Consumidor é um ramo do Direito bastante recente e foi
introduzida como disciplina nas faculdades, somente no final do século XX, após
a Constituição Federal de 1988. Considerado disciplina transversal entre o direito
privado e o direito público, visa proteger um sujeito de direitos, o consumidor, em
todas as suas relações jurídicas frente ao fornecedor, um profissional, empresário
ou comerciante. (BENJAMIN, MARQUES e BESSA, 2009, p. 159)
Uma nova era no exercício da cidadania e da prevalência dos direitos
consumeristas foi inaugurada no Brasil com o surgimento do Código de Defesa do
Consumidor. A Constituição Federal do Brasil previu a elaboração do CDC, por
meio do art. 5º, XXXII: “o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do
consumidor”, sendo o artigo ratificado pelo art.48 do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias, que determinou que o Congresso Nacional, no prazo
de cento e vinte dias da promulgação da Constituição elaborasse o Código de
Defesa do Consumidor.
A Lei n. 8.078 de 1990 constituiu-se em instrumento poderoso de proteção
às relações de consumo. Na visão dos membros da comissão de estudos, autores
do projeto de lei e escritores do texto consolidado do Código de Defesa do
Consumidor, Ada Pellerini Grinover, Antonio Herman de Vasconcellos e Benjamim
e Nelson Nery Júnior (2004, p.6), a sociedade de consumo não trouxe apenas
benefícios para seus atores. Se antes, fornecedor e consumidor encontravam-se
em uma situação de relativo equilíbrio de poder de barganha, (até porque se
conheciam), agora é o fornecedor (fabricante, produtor, construtor, importador ou
comerciante) que inegavelmente assume a posição de força na relação de
consumo e que, por isso, dita as regras.
Nunes (2009, p. 15), observa que na Lei n. 8.078/90, as definições foram
bem-elaboradas. O legislador resolveu por definir os conceitos ao invés de deixar
tal tarefa à doutrina ou à jurisprudência, pois quis evitar interpretações diversas,
fazendo com que o sentido fosse delimitado.
A diretriz básica do Direito do Consumidor é a proteção do consumidor,
esculpida na Lei n. 8.079/90, com base nos direitos constitucionais, uma vez que
este, o consumidor, teoricamente, está em situação de desigualdade e seria ele, o
pólo frágil da relação jurídica estabelecida e economicamente suscetível, razão
pela qual se buscou o equilíbrio, consagrando-se assim, os princípios da proteção
ao consumidor.
O CDC, na visão de Khouri (2005, p. 76), seria uma tentativa de
reequilibrar a relação, tendo em vista a posição econômica em todas as relações
contratuais de consumo. Outorgam-se direitos aos consumidores e não aos
fornecedores, porque há uma desigualdade flagrante nesta relação, que sempre
favoreceu estes últimos. É uma forma de atingir a igualdade material, tratando
desigualmente os naturalmente desiguais.
Após, breve histórico sobre o Código de Defesa do Consumidor, explicar-
se-ão os princípios fundamentais no CDC.
1.2 PRINCÍPIOS DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR
A aplicação dos princípios regentes do sistema jurídico são fontes
subsidiárias de direito e a própria legislação constitucional indica como recurso
para sanar omissões e estão também impressos na Lei n.8.078/90 refletindo
concretamente o significado protetivo das normas.
Nunes (2009, p.127), aponta os princípios indispensáveis na aplicação do
Código de Defesa do Consumidor. A dignidade da pessoa humana, garantia
fundamental prevista na Constituição Federal, está impressa em seus artigos, já
que ilumina todos os demais princípios e normas.
O art. 4º do CDC enumera outros princípios que devem ser atendidos nas
relações de consumo, por isso, a Política Nacional de Relações de Consumo
aponta os seguintes, como evidencia Almeida (2006, p.17):
a) O princípio do reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor é a
espinha dorsal da proteção ao consumidor, sobre o qual se assenta toda a linha
filosófica do movimento. Sendo o consumidor a parte mais fraca da relação de
consumo, merece especial proteção do Estado.
b) Princípio da presença do Estado é a garantia de proteção do
consumidor, não só com a previsão de normas jurídicas, mas com um conjunto de
medidas que visam ao equilíbrio das relações de consumo, coibindo abusos, a
concorrência desleal e quaisquer outras práticas que possam prejudicar o
consumidor.
c) Princípio da harmonização de interesses visa garantir a compatibilidade
entre o desenvolvimento econômico e o atendimento das necessidades dos
consumidores, com respeito à sua dignidade, saúde e segurança.
d) Princípios da boa-fé e da equidade têm como escopo garantir o
equilíbrio entre consumidores e fornecedores, buscando a máxima igualdade em
todas as relações, com ações pautadas na veracidade e transparência.
Salientando, que o princípio da boa-fé tem como função viabilizar os
ditames constitucionais da ordem econômica, compatibilizando interesses
aparentemente contraditórios, como a proteção do consumidor e o
desenvolvimento econômico e tecnológico. Com isso, tem-se que a boa-fé não
serve somente para a defesa do débil, mas sim como fundamento para orientar a
interpretação garantidora da ordem econômica. (NUNES, 2009, p. 49)
e) Princípio da transparência é garantido pela educação para o consumo e,
especialmente, pela informação clara e irrestrita ao consumidor e ao fornecedor
sobre seus direitos e obrigações.
f) Princípio da vulnerabilidade que significa dizer que o consumidor é a
parte fraca da relação jurídica de consumo. Tem-se fragilidade tanto em ordem
técnica como em cunho econômico e a vulnerabilidade do consumidor,
característica da relação de consumo e que identifica uma relação desigual.
Assim, o CDC tenta restabelecer a isonomia nessa relação, buscando, então,
proporcionalidade e harmonia de forças.
Nunes (2009, p. 70) destaca tal princípio como a obrigação do fornecedor
de dar ao consumidor a oportunidade de conhecer os produtos e serviços que são
oferecidos e, também, gerará, no contrato, a obrigação de propiciar-lhe o
conhecimento prévio de seu conteúdo e acresce ao dever de informar, quando o
fornecedor se obriga a prestar todas as informações acerca do produto e do
serviço, suas características, qualidades, riscos, preços, etc., de maneira clara e
precisa, não se admitindo falhas ou omissões. Assim, da soma dos princípios e o
da informação, fica estabelecida a obrigação de o fornecedor dar cabal
informação sobre seus produtos e serviços oferecidos e colocados no mercado,
bem como das cláusulas contratuais por ele estipuladas.
Após, breve análise sobre os princípios fundamentais para a política na
relação de consumo, passar-se-á a discorrer sobre a relação de consumo.
1.3 DA RELAÇÃO DE CONSUMO
O Código de Defesa do Consumidor – Lei n. 8.079/90 - aplica-se a todas as
relações de consumo e para que se configure uma relação de consumo é
necessário que haja de um lado o consumidor e do outro, fornecedor, entre eles,
um produto ou um serviço.
Na visão de Filomeno (GRINOVER et al., 2004, p.47), nada mais são do
que “relações jurídicas” por excelência, pressupondo, por conseguinte, dois pólos
de interesse: o consumidor-fornecedor e a coisa, objeto desses interesses. No
caso, mais precisamente, e consoante ditado pelo Código de Defesa do
Consumidor, tal objeto consiste em produtos e serviços.
Para Almeida (2006, p. 159), a relação de consumo pode ser conceituada
como bilateral, pressupondo numa ponta o fornecedor – que pode tomar a forma
de fabricante, produtor, importador, comerciante e prestador de serviço - aquele
que se dispõe a fornecer bens e serviços a terceiros, e na outra ponta, o
consumidor, aquele subordinado às condições e interesses impostos pelo titular
dos bens ou serviços, no atendimento de suas necessidades de consumo.
Nunes (2009, p. 42) salienta que a própria Lei n. 8.078/90 evidencia os
conceitos de consumidor e fornecedor, para gerar solução de conflitos
Khouri (2005, p. 39) evidencia que a relação de consumo vai comportar
dois elementos fundamentais: o subjetivo e o teleológico. O subjetivo manifesta-
se na qualidade dos partícipes desta relação. É que necessariamente deverão
estar nela envolvidos um fornecedor e um consumidor. Já o elemento teleológico
se manifesta no fim da aquisição do bem ou serviço, qual seja, a destinação final,
salientando que o que caracteriza como relação de consumo não é o objeto da
relação obrigacional, mas sim a destinação que aquele que o adquiriu dá a essas
prestações; se um destino profissional ou não profissional.
De Lucca (2003, p. 64) afirma que a relação jurídica de consumo é aquela
que se estabelece necessariamente entre fornecedores e consumidores, tendo
por objeto a oferta de produtos e serviços no mercado de consumo, sendo
regulada pelo Código de Defesa do Consumidor.
Tecidos os comentários sobre a relação de consumo, passa-se a
caracterizá-la, explicando quem pode ser considerado como consumidor e
fornecedor – sujeitos da relação de consumo – e ainda os conceitos de produto e
serviço, objetos desta relação.
1.3.1 Conceito de Consumidor
Grinover (et. al., 2004, p. 106) assinala que o conceito de consumidor foi
dado pelo Código com caráter econômico levando-se em consideração tão-
somente o personagem que no mercado de consumo adquire bens ou então
contrata a prestação de serviços, como destinatário final, pressupondo-se que
assim age com vistas ao atendimento de uma necessidade própria e não para o
desenvolvimento de uma outra atividade negocial.
No CDC, o conceito de consumidor está marcado em quatro de seus
dispositivos, que são os artigos 2º, caput e parágrafo único; 17; e 29, onde se
observa que não se define consumidor apenas pelo modo contratual, mas sim,
tenta proteger o interesse do consumidor, tanto no sentido individual como nos
coletivos, dando ainda abrangência para os interesses difusos.
O art.2º do Código de Defesa do Consumidor define consumidor como toda
pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como
destinatário final.
Othon Sidou (apud GRINOVER et al., 2005, p. 46) definiu consumidor
como quem compra para gastar em uso próprio e, respeitada a concisão
vocabular. O Direito exige explicação mais precisa, concluindo então, que
consumidor é qualquer pessoa, natural ou jurídica, que contrata, para utilização, a
aquisição de mercadoria ou a prestação de serviço, independentemente do modo
de manifestação da vontade, isto é, sem forma especial, salvo quando a lei
expressamente vier a exigir.
Consumidor é a pessoa física ou jurídica que adquire produto, para uso
próprio ou de terceiro, ou contrato de serviço, condicionando apenas a que seja o
destinatário final, isto é, que não recoloque o produto ou serviço adquirido no
mercado de consumo. (MELO, 2008, p. 67)
Já Almeida (2006, p. 88), afirma que consumidor, sob o ponto de vista
econômico, não é somente quem adquire o bem ou serviço para uso próprio, ou
seja, como destinatário final, mas também aquele que o faz na condição de
intermediário, para repasse a outros fornecedores.
Então, o consumidor surge quando existe na outra ponta um fornecedor em
uma relação de consumo. Porém, não se pode considerar consumidor, apenas
aquele que adquire, mas também aquele que utiliza o produto ou serviço, mesmo
que não o tenha adquirido. A norma, então definiu como consumidor aquele que o
adquire ou por meio oneroso ou mesmo gratuito, produto ou serviço. Ou ainda,
aquele que, mesmo não o tendo adquirido, dele se utiliza ou consome. Vale
salientar, que a característica da pessoa, tanto física como jurídica, para assim
ser considerada como consumidor, é que esta tem que ser destinatário final da
negociação numa cadeia de produção.
Khouri (2005, p. 45) enfatiza a existência de duas correntes doutrinárias
para classificar o consumidor, seriam elas: finalistas e maximalistas.
Os maximalistas entendem que consumidor é toda pessoa física ou jurídica
que adquire bens. Não importa que seja economicamente forte ou não, se
adquiriu um produto ou serviço para utilizá-lo em sua atividade ou cadeia
produtiva. Ou seja, para essa corrente é desinfluente o elemento teleológico ou a
finalidade desse “consumo”. (KHOURI, 2005, p. 44)
Para os finalistas, é preciso fazer uma interpretação teleológica do conceito
de destinação final, aproximando-o do conceito econômico de consumidor, que o
qualifica como a ponta final da produção econômica do bem ou serviço,
colocando fim à sua circulação no mercado. Daí dizem eles ser necessário o
desdobramento da destinação final em destinação fática e econômica. Ao
defenderem a idéia de que consumidor não pode ser toda pessoa jurídica, os
finalistas acabam por introduzir um outro requisito para a caracterização do
consumidor, com base no art. 4º, I, CDC: o da vulnerabilidade. (KHOURI, 2005, p.
49)
Se por um lado a teoria maximalista interpreta o conceito de destinatário
final de forma ampla, desconsiderando o fato do destino final econômico do bem
ou serviço, e sim importando, apenas com seu destino fático, a teoria finalista é
mais restritiva, pois considera somente o destinatário final como aquele que não
adquire um produto visando a obtenção do lucro, em qualquer circunstância.
(KHOURI, 2005, p. 44)
O CDC, em seu parágrafo único, do art. 2º, traz o consumidor por
equiparação, proclamando a equiparação da coletividade de pessoas, ainda que
indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo, o consumidor.
Destaca-se que o consumidor por equiparação, tem embasamento legal
nos arts. 171 e 292 da Lei Consumerista, como se vê naquele artigo equipara-se
aos consumidores todas as vítimas do evento.
Quanto ao art. 17 da Lei, Denari (GRINOVER et. al, 2004, p. 199) explica
que “[...] com bastante freqüência, os danos causados por vício de qualidade dos
bens ou dos serviços não afetam somente o consumidor, mas terceiro, estranhos
à relação jurídica de consumo”. Ou seja, o consumidor não se limita àquele que
adquiriu por meio oneroso o bem, podendo atingir uma coletividade de pessoas,
sendo elas de alguma forma, afetadas pela relação de consumo.
Marques (BENJAMIN, MARQUES e BESSA, 2008, p.79) explica que o
CDC estendeu a conceituação de consumidor para aqueles que não podem ser
1 Art. 17 do Código de Defesa do Consumidor: Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do evento. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8078.htm>. Acesso em 02. Nov. 2011.2 Art. 19 do Código de Defesa do Consumidor: Os fornecedores respondem solidariamente pelos vícios de quantidade do produto sempre que, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, seu conteúdo líquido for inferior às indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou de mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha: I - o abatimento proporcional do preço; II - complementação do peso ou medida; III - a substituição do produto por outro da mesma espécie, marca ou modelo, sem os aludidos vícios; IV - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos. § 1° Aplica-se a este artigo o disposto no § 4° do artigo anterior. § 2° O fornecedor imediato será responsável quando fizer a pesagem ou a medição e o instrumento utilizado não estiver aferido segundo os padrões oficiais. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8078.htm>. Acesso em 02. Nov. 2011.
chamados de stricto sensu, que são aqueles “[...] atingidos ou prejudicados pelas
atividades dos fornecedores no mercado”. São as pessoas que podem intervir
nas relações de consumo, ocupando uma posição de vulnerabilidade. Mesmo que
estas pessoas não sejam consideradas consumidor por stricto sensu, a posição
de vulnerabilidade destas sensibilizaram o legislador.
Então Nunes (2009, p.84) complementa:
Com efeito, a dicção do art. 17 deixa patente a equiparação do
consumidor às vítimas do acidente de consumo que, mesmo não tendo
sido ainda consumidoras diretas, foram atingidas pelo evento danoso.
Exatamente a seção, na qual o art. 17 está inserido é a que cuida da
responsabilidade objetiva pelo fato do produto ou do serviço causador do
acidente de consumo [que será tratado no próximo capítulo].
Ao tratar do estudo do art. 29, Benjamin (BENJAMIN, MARQUES e BESSA
2004, p. 253) explicita que o conceito contido no artigo em questão, integrava o
corpo do art. 2º e, “como conseqüência do lobby empresarial que queria eliminá-lo
por completo, foi transportado, por sugestão própria, para o Capítulo V.” Ou seja,
houve apenas a fragmentação do conceito, que agora se lê que o consumidor é
aquele que “adquire ou utiliza o produto ou serviço”, texto do art. 2º, porém,
adicionam-se as pessoas “expostas às práticas”, estas previstas no corpo do art.
29.
E o mesmo autor complementa:
Como no art. 2º, as pessoas aqui referidas podem ser determináveis ou
não. É indiferente estejam essas pessoas identificadas individualmente
ou, ao revés, façam parte de uma coletividade indeterminada composta
só de pessoas físicas ou só de pessoas jurídicas, ou, até, de pessoas
jurídicas e físicas. O único requisito é que estejam expostas às práticas
comerciais e contratuais abrangidas pelo Código. (BENJAMIN,
MARQUES e BESSA, 2008, p. 254)
Nunes (2009, p. 149) afirma que o art. 29 trata não só de equiparação
eventual àqueles que foram expostos à prática, mas também ao grupo, à
totalidade de pessoas exposta à situação, não podendo elas serem identificadas
como apenas um consumidor real.
Para exemplificar, utilizar-se-á o caso de um fornecedor que faz
publicidade enganosa, sem que nenhum ser individual reclame, poderá o
Ministério Público intervir, impedindo a continuidade da transmissão do anúncio
enganoso, punindo assim aquele que está agindo errado, sendo isto feito sem o
aparecimento concreto de um consumidor insatisfeito.
Conclui-se então, que tal conceito é de extrema importância, sendo esta
espécie de consumidor tratada no conceito difuso, afirmando que todas as
pessoas são consumidoras, pois estão expostas a qualquer prática comercial. Ou
seja: consumidores não são apenas aqueles ligados diretamente ao produto ou
serviço adquirido, mas também, são aqueles que ficam em posição vulnerável em
relações de consumo, mesmo não sendo elas, consumidoras em stricto sensu.
Conceituado o consumidor, analisar-se-á a seguir o outro lado da relação
de consumo, qual seja, o fornecedor.
1.3.2 Conceito de Fornecedor
O conceito de fornecedor está definido no caput do art. 3º do CDC:
Art. 3º: Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada,
nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que
desenvolvem atividades de produção, montagem, criação, construção,
transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização
de produtos ou prestação de serviços.
Para Plácido e Silva (2004, p. 46), fornecedor é derivado do francês fournir,
fournisseur, que é todo comerciante ou estabelecimento que abastece, ou
fornece, habitualmente uma casa ou um outro estabelecimento dos gêneros e
mercadorias necessárias a seu consumo.
Melo (2008, p. 94) conceitua fornecedor como toda e qualquer pessoa
física ou jurídica que desenvolva atividade econômica e oferte produtos ou
serviços ao mercado de consumo de forma não eventual, na qualidade de
fabricante, produtora, montadora, transformadora, importadora, ou mesmo na
condição de distribuidora ou simples comerciante.
Khouri (2005, p. 106) afirma em um primeiro momento é fácil identificar a
pessoa do fornecedor como a pessoa com quem se contrata. Porém, a relação de
consumo não se mostra pelo objeto e sim, pelas características de quem entra na
relação de consumo, destarte, não é possível afirmar que sendo vendedor ou
prestador de serviços, sempre vai ser um fornecedor.
Para Nunes (2009, p. 46), são fornecedores as pessoas físicas, pessoas
jurídicas públicas ou privadas, nacionais ou estrangeiras, com sede ou não no
país, as sociedades anônimas, as por quotas de responsabilidade limitada, as
sociedades civis, com ou sem fins lucrativos, as fundações, as sociedades de
economia mista, as empresas públicas, as autarquias, os órgãos da
Administração direta etc.
No pensamento de Khouri (2005, p. 64), fornecedor é aquele que oferece
ao mercado, habitualmente, bens e serviços visando ao lucro, que participa da
cadeia produtiva, ou pratica alguns atos dentro desta cadeia, seja produzindo
diretamente, ou distribuindo, ou simplesmente intermediando o fornecimento de
bens e serviços.
Já para Almeida (2006, p. 179), fornecedor é não apenas quem produz ou
fabrica, industrial ou artesanalmente, em estabelecimentos industriais
centralizados ou não, como também quem vende, ou seja, comercializa produtos
nos milhares e milhões de pontos-de-venda espalhados por todo o território.
Nesse ponto, portanto, a definição de fornecedor se distancia da de consumidor,
pois, enquanto este há de ser o destinatário final, tal exigência já não se verifica
quanto ao fornecedor, que pode ser o fabricante originário, o intermediário ou o
comerciante, bastando que faça disso sua profissão ou atividade principal.
Fornecedor é, pois, tanto aquele que fornece bens e serviços ao
consumidor, como aquele que o faz para o intermediário ou comerciante,
porquanto o produtor originário também deve ser responsabilizado pelo produto
que lança no mercado de consumo. Passar-se-á ao conceito de produto
1.3.3 Conceito de Produto
1.3.4 Conceito de Serviço
CAPITULO II
DA RESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR DE PRODUTOS NO CÓDIGO DE
DEFESA DO CONSUMIDOR
2.1 NOÇÕES GERAIS DA RESPONSABILIDADE CIVIL
2.2 DA RESPONSABILIDADE PELO VÍCIO DO PRODUTO
2.3 DA RESPONSABILIDADE PELO FATO DO PRODUTO
2.3.1. RESPONSABILIDADE DO FABRICANTE , CONSTRUTOR OU
IMPORTADOR
CAP. III
DOS PRAZOS DE GARANTIA PARA RECLAMAÇÃO POR VÍCIO DO
PRODUTO
DOS DIREITOS DO CONSUMIDOR POR VÍCIO DO PRODUTO
3.1.1 Do Prazo de Garantia Legal
3.1.2 Do Prazo de Garantia Contratual
3.1.3 Das três alternativas do consumidor
3.2 Da cumulação com pedido de reparação de danos
3.3 Da responsabilidade por vício em produto comprado no exterior
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, João Batista de. A Proteção Jurídica do Consumidor. 5. ed. São
Paulo: Editora Saraiva, 2006.
BENJAMIN, Antônio Herman V.; MARQUES, Claudia Lima; BESSA, Leonardo
Roscoe. Manual de Direito do Consumidor. 2. ed. São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais, 2008.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.
35. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. Atualizada até a emenda 45/04
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