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ITE INSTITUTO TOLEDO DE ENSINO

DEMETRIUS DE SOUZA RESENDE

LATROCNIO

SO PAULO 2011

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INSTITUIO TOLEDO DE ENSINO FACULDADE DE DIREITO DE BAURU

DEMETRIUS DE SOUZA RESENDE

LATROCNIO

Trabalho de Concluso de Curso apresentado ao Programa de Ps-Graduao Lato Sensu em Direito, do Centro de Ps-Graduao, da Instituio Toledo de Ensino, para obteno do ttulo de Especialista em Direito Penal, sob orientao do Prof. Dr. Nelson Zanzanelli.

SO PAULO 2011

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R433 Resende, Demtrius de Souza. Latrocnio / Demetrius de Souza Resende. Orientador Dr. Nelson Zanzanelli. Bauru-SP: Instituto Toledo de Ensino, 2011, 78 f.

1. Latrocnio

2. Penas

3. Direito Penal

I. Resende, Demetrius de Souza.

CDD: 345.02552

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INSTITUIO TOLEDO DE ENSINO FACULDADE DE DIREITO DE BAURU

DEMETRIUS DE SOUZA RESENDE

LATROCNIOTrabalho de Concluso de Curso apresentado ao Programa de Ps-Graduao Lato Sensu em Direito, do Centro de Ps-Graduao, da Instituio Toledo de Ensino, para obteno do ttulo de Especialista em Direito Penal, sob orientao do Prof. Dr. Nelson Zanzanelli.

BANCA EXAMINADORA:

________________________________________ ________________________________________ ________________________________________

___/____/___

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Se deres peixe a um homem faminto, Vais aliment-lo por um dia, Se o ensinares a pescar, Vai aliment-lo por toda a vida.

(LAO-TS, filsofo chins do sculo V a.C.)

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Dedico este trabalho a meus pais, pelos quais, tenho certeza, hei de agradecer at o fim da vida.

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AGRADECIMENTOS

No caberia aqui agradecer a todos aqueles que colaboraram conosco, tendo em vista que o trabalho de uma pessoa s inexiste agradecermos: MSC. Maria Aparecida de Souza Resende, pelos valorosos conselhos, embora no jurdicos; ao grande tio Jos Francisco de Souza Filho, pelas longas e ferrenhas contendas da vida, onde o mesmo se fez presente em todos os momentos; minha amada av materna, onde lutamos juntos at seu ltimo suspiro; e, em especial, aos meus filhos Beatriz e Bianca, no deixando de esquecer a Samira Kassab Scarpante Resende, amorosa companheira, pelas batalhas vencidas ao longo desses anos e pelas interminveis horas de estudo roubadas ao seu convvio, pois sem o seu amor para impulsionar-me este trabalho simplesmente no existiria; agradeo a todos os demais, que colaboraram, mediata ou imediatamente com a consecuo do mesmo. Muito obrigado...

DEMETRIUS

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SUMRIO

INTRODUO..................................................................................................

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CAPITULO I - OS BENS JURDICOS PENALMENTE TUTELADOS............ 1.1 TEORIA DO BEM JURDICO PENAL E CONSTITUIO FEDERAL...... 1.2 A VIDA......................................................................................................... 1.3 O PATRIMNIO .........................................................................................

11 11 12 13

CAPITULO II - DO TRIBUNAL DO JRI........................................................... 2.1 PREVISO CONSTITUCIONAL ................................................................. 2.2 INSTRUO PRELIMINAR....................................................................... 2.2.1 Ao penal: espcies.............................................................................. 2.2.2 Oferecimento da denncia ou queixa. Incio do processo....................... 2.2.3 Despacho inicial e providncias do juzo.................................................. 2.2.4 Resposta do acusado: obrigatoriedade.................................................... 2.2.5 Aproximao do modelo procedimental civil.............................................. 2.2.6 Incio da instruo probatria...................................................................... 2.2.7 Audincia: disposies gerais..................................................................... 2.2.8 Audincia tripartite....................................................................................... 2.2.9 Alegaes orais...........................................................................................

15 15 17 17 18 19 21 25 26 27 28 36

2.2.10 Fase decisria............................................................................................. 40 2.2.11 Prazo mximo de noventa dias: critrios da razoabilidade....................... 2.3 O OBJETO..................................................................................................... 40 40

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2.4 SOBERANIA DOS VEREDITOS.....................................................................

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CAPITULO III - O LATROCNIO............................................................................ 44 3.1 UMA BREVE NOTCIA HISTRICA NO BRASIL............................................. 44 3.2 A TIPIFICAO................................................................................................. 47 3.3 O CRIME COMPLEXO...................................................................................... 48 3.4 O CRIME PRETERDOLOSO............................................................................. 50 3.5 O CRIME QUALIFICADO PELO RESULTADO................................................. 52 3.6 CORRENTES JURISPRUDNCIAIS................................................................. 54 3.7 TEORIA FINALISTA DA AO........................................................................ 60 3.8 LATROCNIO DIANTE DO DIREITO COMPARADO..........................................61

CAPITULO IV - A COMPETNCIA DO LATROCNIO NA LEGISLAO PENAL BRASILEIRA................................................................. 64 4.1 APLICABILIDADE DO PROCEDIMENTO ORDINRIO, DO PROCEDIMENTO RELATIVO AOS PROCESSOS DE COMPETNCIA DO TRIBUNAL DO JRI.... 64 4.1.1 O juzo de formao da culpa ....................................................................... 65 4.2 A COMPETNCIA TERRITORIAL................................................................... 67 4.3 ENTENDIMENTO SUMULADO.........................................................................68

CONCLUSO......................................................................................................... 72 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS...................................................................... 75

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INTRODUO

Quanto

ao

tema

deste

estudo

monogrfico,

existem

importantes

consideraes a serem feitas diante do tema proposto. No h que se negar que o roubo um crime violento, por outro lado, cada dia mais. O roubo deixou de ser um delito solitrio passando a ser cometido por vrias pessoas, ou seja, sociedades que existem para prtica de crimes. Sendo um crime que sempre choca a opinio pblica, o roubo seguido do resultado morte foi tomando propores alarmantes, passando a ser considerado um crime que deveria se punir com mais rigor. priori devemos tratar da Constituio Federal. Se faz mister mencionar que, na data de 1988, com a elaborao da nova redao da atual Constituio Federal, este apresentou mudanas importantssimas ao nosso sistema legal, porm uma das importantes mudanas para nosso estudo foi a apresentao dos crimes de maior potencial ofensivo e, conseqentemente queles que causam uma maior repercusso e indignao social. Tais crimes passaram a receber uma denominao mais especifica, distinguindo-os dos demais, para que se verificasse ainda mais sua notria forma brutal. Logo aps a elaborao do novo texto Constitucional, em 1990, foi criada uma lei que dispensou uma ateno ainda maior aos crimes de maior potencial ofensivo, a Lei de n 8072/90. Esta veio demonstrar com maior clareza em sua redao e tambm se encarregou de trazer uma adequao do preceito constitucional, que atravs das Lei n 8.072/90, art. 5, XLIII, normatizou o Latrocnio e incluiu-o como crime hediondo, prevendo ainda outras situaes ser utilizada pelo aplicador do direito.

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Como j citado, o Latrocnio um tipo penal capitulado dentre os crimes contra o patrimnio, devido ao fato deste, ferir de um modo extremamente reprovvel, o direito propriedade e ainda o mais importante, o direito vida, constitucionalmente garantido todos os cidados e, por este motivo o Legislador veio a tipificar e incluir o Latrocnio dentre os elencados nos crimes hediondos. O advento da Lei n 8.072/90 deu nova roupagem tipificao dos crimes, pois, ao lado de elevar as penas, tambm surte efeito na esfera processual, como no da Execuo da Penas. No mbito da execuo da pena, a lei foi muito severa, proibindo a anistia, graa, indulto, fiana e em caso de sentena condenatria, o juiz decidira fundamentalmente se o ru poder apelar em liberdade, no tocante a previso de priso cautelar. Ser de 30 dias podendo ser prorrogvel por igual perodo, em caso de extrema e comprovada necessidade, o livramento condicional aps cumprimento de mais de dois teros da pena. Essas so em sntese os principais aspectos sobre os crimes hediondos que neste trabalho tomaremos como fonte de interesse de estudo to somente o Latrocnio.

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CAPTULO I DOS BENS JURDICOS PENALMENTE TUTELADOS

1.1 TEORIA DO BEM JURDICO-PENAL E A CONSTITUIO FEDERAL

As consagraes constitucionais dos direitos individuais supe a existncia de alguns direitos bsicos da pessoa humana, dentre os quais, o direito a vida e ao patrimnio, tendo o Estado como um de seus afins a garantia desses direitos. As concepes filosficas de determinadas sociedades, com base no valor pode influir na maior ou menor dosagem de faculdades individuais, podendo variar a prpria concepo que se faa da pessoa humana, seu destino, necessidades, etc. H de se deixar claro que o valor universal e o que se altera nas sociedades o juzo subjetivo do valor, a valorao. Para PRADO (1997:14) apud teoria cultural, sendo que sua caracterstica bsica , pois, a referncia do delito no mundo ao valorativo, em vez de situ-lo diretamente no terreno social. Da o bem juridicamente tutelado tem como fundamento os valores culturais os quais se baseiam em necessidades humanas individuais e coletivas que necessitam de proteo jurdica. Busca-se o que primordial a existncia e convvio do homem em sociedade, cabendo preocupar-se realmente com os bens jurdicos de maior relevncia. A infrao a uma norma estatal compreende-se a uma conduta culpvel e ilcita denominada delito. pacfico entre os doutrinadores de que delito constitui leso ou perigo de leso a um bem jurdico. A nossa legislao penal

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procurou proteger os bens jurdicos a que nossa sociedade entendeu ser de maior relevncia. Procurou-se em primeiro proteger a bida uma vez que no Cdigo Penal Brasileiro, o primeiro ttulo Dos Crimes Contra a Pessoa e captulo primeiro Dos Crimes Contra a Vida, passando a tipificar as possveis modalidades de infrao. O segundo ttulo cuidou dos Crimes Contra o Patrimnio.

1.2 A VIDA

O direito penal brasileiro protege a vida humana desde a fecundao, sua evoluo no seio materno, quando nasce o indivduo e a todo o momento at a sua morte. A vida como j foi dito o primeiro bem jurdico tutelado em nosso

ordenamento, de suma importncia, que at mesmo a sua ameaa ou periclitao so punveis. A vida o sumo bem, no s para o indivduo, mas tambm para a sociedade, e nos dias de hoje, so raros os cdigos penais que no colocam os crimes contra a vida em primeiro lugar no catlogo das figuras criminosas descritas na sua parte especial. Apenas nos cdigos de regimes totalitrios no se d esta importncia ao interesse tutelado em questo, j que o Estado absorve os indivduos. A proteo vida um imperativo jurdico de ordem constitucional previsto no artigo 5 caput da CF, o qual dispe, in verbis: Todos so iguais perante a lei, sem distino de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e estrangeiros residentes no Pas a inviolabilidade do direito vida, liberdade, igualdade e propriedade ... To relevante o bem jurdico vida que nossa Constituio logo aps enunciar os princpios fundamentais, frisa sua garantia a todos residentes no Pas sem que haja distino. A Conveno Americana dos Direitos Humanos, Pacto de So Jos da Costa Rica da qual o Brasil signatrio,

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em seu artigo 4, dispe, in verbis: Toda pessoa tem o direito de que se respeite a sua vida. Esse direito deve ser protegido pela Lei e, em geral, desde o momento da concepo. Ningum pode ser privado da vida arbitrariamente. Fica claro que proteger a vida interesse quase unnime das sociedades, pois poucos so os Estados os quais possuem a pena de morte. A vida o bem jurdico de maior importncia ficando a segundo plano os demais, devendo aquele que de qualquer forma agindo, de outrem subtrair a vida, ser punido de forma severa, no grau de sua ao (culpabilidade). Para HUNGRIA (1942:14):A pessoa humana, sob a duplo ponto de vista material e moral, um dos mais relevantes objetos da tutela penal. A vida pressuposto da personalidade e o supremo bem individual. A integridade corporal condio de plenitude da energia e eficincia do indivduo como pessoa natural.

1 - Decreto n 678 de 22.11.69

De tal forma evidente que a vida deve ser tutelada pelo ordenamento jurdico como bem primordial, pois inerente a pessoa natural e, lgico, sem ela h no de se falar em qualquer outro direito.

1.3 O PATRIMNIO

Crimes contra o patrimnio definem-se como aqueles que ofendem ou expe a perigo de ofensa qualquer bem, interesse ou direito economicamente relevante cujo seu valor traduzvel a pecnia. Segundo BEVILACQUA (1980:23): patrimnio o complexo das relaes jurdicas de uma pessoa que tiverem valor econmico.

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Ensina o civilista que o patrimnio tudo aquilo, material ou imaterial, que seja suscetvel de valor econmico. O direito penal atribui uma noo mais ampla ao patrimnio do que o Direito Civil. Naquele no h a necessidade que o bem seja traduzvel a pecnia, mas que pertena a algum, como exemplo, diz HUNGRIA (1942:10): furto a subtrao de um anel de cabelos que se guarda da pessoa amada. No compreende patrimnio apenas as relaes jurdicas economicamente apreciveis, ou seja, traduzveis em dinheiro, mas tambm as coisas que tem mero valor de afeio, as quais no so suscetveis de valor de troca. O nosso Cdigo Penal diz que crime de furto ou roubo a subtrao de coisa alheia mvel, no prevendo o tipo penal ser necessrio que tal coisa seja traduzvel a pecnia. Aquele que sob grave ameaa ou violncia subtrai para si ou para outrem, coisa alheia mvel, comete o crime de roubo. O emprego, por exemplo, de arma de fogo no crime de roubo, deve ser entendido como a utilizao pela gente de uma arma para realizar a violncia ou ameaa contra a vtima. O simples manejar de arma ou seu porte ostensivo caracteriza uma ameaa implcita doa gente para com a vtima, no sendo necessrio que chegue a apontar na direo desta.

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CAPTULO II DO TRIBUNAL DO JRI

2.1 PREVISO CONSTITUCIONAL

O Tribunal do Jri rgo da Justia comum do Estado. Caracteriza-se como rgo especial em razo de suas atribuies e forma de sua composio. O Tribunal do Jri tem previso constitucional desde 1946 onde a Carta Magna lhe atribua competncia para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida. A Constituio DE 1988 conservou na organizao da justia o Tribunal do Jri em seu artigo 5 , XXXVIII, que dispe, in verbis:

reconhecida a instituio do jri, com a organizao que lhe der a lei, assegurados: a) a plenitude de defesa; b) o sigilo das votaes; c) a soberania dos veredictos; d) a competncia para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida.

O tribunal do jri tem competncia originria para julgar os crimes dolosos contra a vida, contudo, cabe excees: no caso da absolvio sumria, prevista no artigo 415 do Cdigo de Processo Penal nas infraes penais comuns praticadas pelas autoridades mencionadas no artigo 102, I, b e c, da C.F. onde a competncia para o julgamento do Supremo Tribunal Federal; nas infraes penais comuns e de responsabilidade praticadas pelas autoridades elencadas no artigo 105, I , a , da C.F. onde a competncia do Superior Tribunal de Justia e ainda as infraes praticadas por militares que so de competncia da Justia Militar Estadual, conforme previsto no artigo 125, pargrafo 4 d C.F. Dessa forma fica derrogada a competncia originria do Tribunal do Jri todas as vezes que forem autores de

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crimes dolosos contra a vida, os acima citados. A expresso crimes comuns tem sido entendida pela jurisprudncia do STF como abrangente dos crimes dolosos contra a vida. Como diz MARREY (1997:66):O Jri, mais que mero rgo judicirio, uma instituio poltica, acolhida entre os direitos e garantias individuais, a fim de que permanea conservado em seus elementos essenciais, reconhecendo-o seja, implicitamente, um direito dos cidados o de serem julgados por seus pares, ao menos sobre a existncia material do crime e a procedncia da imputao.

O tribunal do jri rgo institudo por vontade poltica acolhida entre os Direitos e Garantias individuais onde em sua essncia, o cidado julgado pela prpria sociedade da qual faz parte. O julgamento ser feito pelos concidados do acusado, os quais no so juzes, mas sim recrutados, atendidas as qualidades que exige o Cdigo de Processo Penal. Tem por fim prover a realizao da justia no caso concreto. Os jurados devero julgar sempre segundo os fatos objeto do processo e com base nas provas que ele constarem, usando da faculdade de decidirem por intimo convencimento sobre a existncia do crime e responsabilidade do acusado, sem se fazer necessrio que fundamentem suas concluses. A conscincia popular far juzo daquele fato e, em tese, o mais acertado. Diz-se em tese porque no se pode deixar considerar que so jurados onipotentes, podendo sim, resultar em decises menos justas ou at mesmo muito severas. A instituio do jri, cabe organiz-la, de modo que venha a bem preencher sues fins, devendo seu principal cuidado estar no recrutamento do seu pessoal.

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2.2 INSTRUO PRELIMINAR

2.2.1 Ao penal: espcies

Discute a doutrina atual sobre constituir-se a ao em direito ou poder que tem acusador de, dirigindo um pedido ao Poder Judicirio, provocar sua manifestao sobre esse pedido. Violado, assim, um bem jurdico tutelado pelo Direito Penal, surge o dever do Estado, nico detentor do ius puniendi, de perseguir e punir o culpado. Essa atividade somente ser possvel mediante provocao do legitimado, que deduzir sua pretenso por meio da ao penal. A princpio, cabe ao Ministrio Pblico deduzir essa pretenso em juzo, dando incio ao ius persequendi, por meio do ajuizamento da ao penal. Trata-se da ao penal pblica. Quando a lei penal, de outra sorte, confere legitimidade prpria vtima ou a quem a represente para exercer o direito de ao, diz-se que a ao penal privada. A ao penal de iniciativa privada pode ser proposta, tambm, nos casos em que Ministrio Pblico no oferecer denncia no prazo legal, nos termos do art. 5, LIX, da Constituio Federal, art.29 do CPP e art. 100, pargrafo 3, do CP. Denomina-se, ento, ao privada subsidiria. A ao penal pblica distingue-se em ao pblica incondicionada, quando o Ministrio Pblico no depende da manifestao de vontade do ofendido ou de qualquer pessoa para deduzir a pretenso acusatria em juzo, e condicionada, quando o exerccio da ao penal sujeita-se manifestao da vtima, ou de quem a represente, ou de requisio do Ministro da Justia. No silncio da lei, a ao penal pblica e incondicionada.

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O Ministrio Pblico promove a ao penal por meio da denncia. O ofendido ou seu representante Le Gal exerce o direito de acusar por meio da queixa-crime. Cuidando-se de crimes dolosos contra a vida, a regra que a persecutio criminis in indicium tenha incio com o oferecimento de denncia, por se tratarem de infraes de ao pblica. Essa regra comporta excees. A primeira delas diz com a ao privada subsidiria. Em havendo omisso do representante do Ministrio Pblico no oferecimento de denncia no prazo legal, poder o ofendido, ou quem o represente, dar incio ao processo, propondo queixa-crime. Outra hiptese de queixa-crime em processos da competncia do Tribunal do Jri decorre da existncia de crime conexo, caso haja uma infrao que se apure por meio de ao penal privada em simultaneus processus com o delito doloso contra vida. Nessa hiptese ter-se- legitimidade ativa concorrente entre ofendido e Ministrio Pblico. vista desses cenrios disps o legislador na Seo I do Captulo II do Livro II que a ao penal, nos processos da competncia do Tribunal do Jri, ser iniciada por denncia ou queixa.

2.2.2 Oferecimento da denncia ou queixa. Incio do processo

Dispe o art. 406 do Cdigo de Processo Penal, em sua nova redao, que o juiz, no despacho que receber a denncia ou queixa, mandar citar o acusado para responder, no prazo de 10 (dez) dias. Inicia o legislador, j no primeiro artigo da reforma pontual que promoveu no estatuto processual penal, pertinente ao rito do jri, profunda alterao, deixando

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entrever, e conforme se ver no decorrer desta obra, uma visceral reformulao do processo penal, e no apenas do procedimento do jri. Da denncia ou queixa constar o rol de testemunhas, at o mximo de oito. Nenhuma alterao trouxe nesse aspecto a lei nova. Frise-se que no so computadas como testemunhas as pessoas que no prestam compromissos (informantes ou declarantes) e as referidas, conforme dispe o art. 401, 1, do estatuto processual penal. Ofertada e exordial acusatria, tem incio a primeira fase do procedimento do jri, o juzo de formao da culpa ou indicium acusationis.

2.2.3 Despacho inicial e providncia do juzo

Ao receber a inicial acusatria, materializada na denncia ou queixa, o juiz, verificando se se fazem presentes os requisitos legais. )p. ex., as condies da ao, os pressupostos processuais, justa causa para a ao penal e as condies de procedibilidade, dentre outras), despachar recebendo a pea acusatria e ordenando a citao do acusado. De acordo com a sistemtica anterior, recebida a denncia ou queixa, o magistrado designava dia e hora para o interrogatrio, ordenada a citao do acusado e a notificao do Ministrio Pblico, do querelante e do assistente, se fosse caso. Recebida a inicial, o ru era citado dos termos da ao penal e intimado para comparecimento em juzo, para ser interrogado. Aps interrogatrio, no trduo legal, poderia apresentar defesa prvia, requerendo diligncias e arrolando testemunhas.

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Agora, ser o ru citado para apresentar resposta, por escrito, no prazo de 10 dias (art. 406, caput).

2.2.3.1 Redao original

A ausncia do acusado devidamente citado em audincia designada para seu interrogatrio, sem justo motivo, acarretaria a decretao de sua revelia e nomeao de defensor para apresentao de defesa prvia.

2.2.3.2 Nova redao

Mudou visceralmente. Ao acusado devidamente citado que deixa transcorrer in albis o decndio para apresentar resposta escrita, ser nomeado defensor para oferecer defesa no prazo de 10 dias. Nas comarcas que contam com Defensoria Pblica, os autos iro com vista ao Defensor Pblico para manifestao.

2.2.3.3 Contagem do Prazo

De acordo com o art. 406, (smbolo) 1, do CPP, o prazo de 10 dias ser contado a partir do efetivo cumprimento do mandado, e no da juntada do mandado cumprido nos autos. Alis, esta a regra geral prevista no art. 798, (smbolo) 5, a, do Cdigo de Processo Penal, corroborada pela Smula 710 do Supremo Tribunal Federal. Conta-se, portanto, da data constante na certido do oficial de justia.

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Exceo feita aos casos de citao por precatria, em que o prazo ter incio da juntada da carta precatria aos autos. Nos casos de citao invlida ou por edital, o prazo contar-se- a partir do comparecimento em juzo do ru ou de seu defensor constitudo.

2.2.3.4 Suspenso do processo e do prazo prescricional

No entanto, se o acusado, citado por edital, no comparecer nem constituir advogado, ficaro suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz, nos termos do art. 336, determinar a produo antecipada das provas consideradas urgentes, na presena do Ministrio Pblico e do defensor dativo e, se for o caso, decretar priso preventiva, nos termos do art. 312.

2.2.4 Respostas do acusado: obrigatoriedade

Pelo que se depreende da nova redao do art. 408, a defesa escrita pea obrigatria. Assim, diversamente do que ocorria com a defesa prvia, cujo oferecimento era faculdade da defesa, a no-apresentao de resposta escrita causa de nulidade absoluta, que deve ser reconhecida de ofcio, em qualquer fase do processo e no depende de demonstrao de prejuzo. Essa concluso se justifica pela simples leitura do art. 408, uma vez que determina ao juiz que, no caso de omisso do ru, seja nomeado defensor para oferecimento de resposta. A redao do artigo mo deixa dvida acerca da

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obrigatoriedade. Compara-se a redao do dispositivo em comento com a redao primitiva do art. 395 alterada pela Lei n. 11.719/2008 - , que estabelecia o seguinte: O ru ou seu defensor poder, logo aps o interrogatrio ou no prazo de 3 (trs) dias, oferecer alegaes escritas e arrolar testemunhas. Note-se, ainda, que no houve incluso de norma semelhante quela originariamente contida no art. 396, que dispunha: Apresentada ou no a defesa ....

2.2.4.1 Procedimento em caso de no-apresentao da resposta

Caso o defensor nomeado deixe de apresentar a pea de defesa no prazo, caber ao juiz destitu-lo, nomeando outro causdico para o ato. Foroso reconhecer que a falta de resposta escrita implica cerceamento de defesa, viciando todos os atos posteriores e sucessivos do processo.

2.2.4.2 Contedo da resposta defensiva

Na resposta, podero ser argidas questes preliminares e matrias de interesse da defesa, bem como faculta a lei a juntada de documentos e justificativas. Deve, ainda, a defesa especificar as provas pretendidas e arrolar at 8 testemunhas, qualificando-as, na medida do possvel, e requerendo, se necessrio, sua intimao (art. 406, 3). Assim, se a defesa expressamente no postular a intimao das testemunhas indicadas na resposta, dever, por conta prpria, providenciar o comparecimento audincia designada, no incidindo o disposto nos art. 218 e 219.

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Preliminar toda questo que deve ser conhecida questo de mrito.

e decidida antes da

A norma do art. 407 repetitiva, e, portanto, despicienda. Dispe que as excees sero processadas em apartado, repetindo preceito contido no art. 111 do estatuto processual penal.

2.2.4.3 Oposio de excees

Se forem opostas excees ---- incidentes processuais que no suspendem, em regra, o andamento da ao principal ----, sero processadas em apartado, na forma prevista nos arts. 95 a 112. As excees, consoante o art. 95 do CPP, podero ser de: I suspeio; II incompetncia de juzo; III litispendncia de parte; V coisa julgada. O termo exceo (do latim, exceptio), em direito processual, tem vrios significados. Em sentido lato, e exceo entendida como o direito de ru que se contrape ao. Alguns a definem como a ao do ru, o meio pelo qual o acusado se defende do exerccio do direito-poder de ao. Em sentido menos amplo, define-se por exceo qualquer alegao da defesa que busca neutralizar a pretenso do autor. No sentido adotado pelo Cdigo de Processo Penal, a exceo designa a defesa indireta, ou seja, aquela que no diz respeito ao mrito do pedido. Diz-se dilatria quando tem por fim a procrastinao do curso do processo (suspeio do juiz e incompetncia do juzo) ou a transferncia do seu exerccio (ilegitimidade de parte). Peremptria se denomina a exceo em que se busca pr termo ao curso do processo (coisa julgada e litispendncia).

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2.2.4.4 Exceo e objeo

Parte da doutrina, ainda, identifica como subcategoria das excees em sentido amplo as objees. As objees so excees que, a rigor, no precisam ser argidas, j que a matria que lhes serve de contedo pode ser conhecida de ofcio pelo juiz. As objees so tambm chamadas de impedimentos processuais (no confundir com o impedimento que constitui causa de incompetncia do juzo). Por essa razo, para alguns autores o Cdigo de Processo Penal prev somente hipteses de objees processuais, que podem, inclusive, ser argidas pelo autor da ao.

2.2.4.5 Apresentao de documentos e justificaes

Nesse momento processual poder o ru juntar documentos. Caso no aproveite a oportunidade, nenhum prejuzo lhe advir, j que no processo penal as partes podero juntar documentos em qualquer fase do procedimento, salvo os casos expressos em lei, consoante estabelece o art. 231 do estatuto processual penal. Poder o acusado, ainda, oferecer justificaes. Define-se justificao como procedimento que tem por objetivo a produo de prova sobre f atos sujeitos anlise e julgamento futuro. O permissivo, alis, j houvera sido disciplinado identicamente no art. 55, 1, da Lei Antidrogas (n. 11.343/2006). A justificao vem disciplinada nos arts. 861 usque 866 do Cdigo de Processo Civil, como procedimento cautelar autnomo.

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2.2.5 Aproximao ao modelo procedimental civil

A nova sistemtica inaugurada pela reforma do Cdigo de Processo Penal aproximou bastante o rito dos processos do jri com o procedimento das aes civis de rito ordinrio. H a citao do ru para apresentar resposta escrita, em que poder argir todas as matrias relevantes para a defesa, protestar por provas que deseje produzir, requerer diligncias e arrolar testemunhas. Apresentada a resposta escrita, o juiz ouvir o Ministrio Pblico ou o querelante (ou ambos) sobre as preliminares e documentos juntados, no prazo de 5 dias (art. 409).

2.2.5.1 Silncio da lei

Apesar do silncio da lei, transcorrido esse prazo, com ou sem a manifestao da parte contrria, devero os autos ser conclusos para que o juiz decida acerca das preliminares argidas, bem assim dos documentos juntados. Caber a pergunta: diante da taxatividade da lei, no caso de oferecimento de resposta escrita no instruda com documentos ou na qual no haja argio de questes preliminares, dever o juiz ainda assim ouvir a parte contrria? Entendemos que no. Ausente questo preliminar ventilada pela defesa que obrigue manifestao do juiz, nenhuma valia ter a manifestao do Ministrio Pblico ou do querelante acerca da defesa apresentada. Somente no caso de

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requerimento de diligncias entendemos haver necessidade de manifestao prvia da parte ex adversa, acerca da necessidade e utilidade da diligncia requerida;

2.2.6 Incio da instruo probatria

Ouvida aparte contrria, nos casos em que haja necessidade, dever o juiz ordenar a inquirio das testemunhas arroladas e determinar a realizao das diligncias requeridas pelas partes (art. 410), ds que as considere relevantes para apurao da verdade. No obstante, as diligncias requeridas pelo Ministrio Pblico ou pelo querelante j tero sido objeto de anlise pelo juiz, que sobre elas se manifestara quando do despacho de recebimento da denncia ou da queixa. Na oportunidade em que determinar a inquirio de testemunhas e realizao de diligncias, caber ao magistrado decidir acerca das questes preliminares argidas pelo acusado, saneando o feito. Quanto s testemunhas arroladas, designar audincia de instruo e julgamento, onde sero ouvidas as testemunhas da terra, expedindo-se carta precatria para a inquirio das testemunhas que residirem em outra comarca. H de se lembrar que, de acordo com o art. 222 e pargrafos 1 e 2, a expedio de precatria para inquirio de testemunhas, seja de acusao, seja de defesa, no suspende a instruo criminal e, findo o prazo marcado para seu cumprimento, proceder-se- ao julgamento de causa, ainda que no cumprido o ato deprecado.

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2.2.7 Audincia: disposies gerais

A Lei n. 11.689/2008 alterou, de forma profunda, a instruo criminal nos procedimentos dos processos de competncia do Tribunal do Jri. At a entrada em vigor da referida lei, eram designadas no mnimo duas audincias. Uma para o interrogatrio do acusado e outra para inquirio das testemunhas arroladas na denncia. Caso fosse includo na defesa prvia rol de testemunhas, aps a oitava das testemunhas de acusao, seria designada nova data para a inquirio das testemunhas arroladas pela defesa. A reforma legal buscou abreviar o procedimento, pretendendo dar maior celeridade ao processo. Reduziu o nmero de audincias para apenas uma. No obstante a inteno do legislador merecer elogios, somente a prtica forense demonstrar se o objetivo buscado, a agilizao do procedimento e conseqente reduo da durao do processo surtir os efeitos desejados. A instruo deixou de ser fragmentada, descontnua. Agora, falta de soluo de continuidade, ao querer do legislador, deve ser levada a termo em uma nica audincia.

2.2.8 Audincia tripartite

Em termos gerais, a audincia consistir de trs momentos distintos: a) primeiramente sero realizados os atos instrutrios; b) produzidas todas as provas

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ser o acusado interrogado; c) em seguida, os debates orais. E, finalmente, a prolao da deciso. A audincia, nesses moldes, assemelha-se muito s audincias dos processos de competncia dos Juizados Especiais. Por primeiro, sero colhidos as declaraes do ofendido. Sempre que possvel, a vtima ser qualificada e perguntada sobre as circunstncias da infrao, quem seja ou presuma ser seu autor e as provas que possa indicar, conforme dispe o art. 201, caput, do CPP, com a redao dada pela Lei n. 11/690/2008.

2.2.8.1 Valor probatrio das declaraes do ofendido: fonte de prova

Sobre o

valor probatrio das declaraes do ofendido, que no presta

compromisso, n ao estando obrigado a dizer a verdade j que no incorre nas penas do crie de falso testemunho, o abalizado esclio de E. Magalhes Noronha. verdade que a palavra do ofendido seja recebida, em principio, com reservas. Interessado no pleito, porfiando por sua acusao prevalea, cnscio da responsabilidade que assumiu, podendo at acarretar-lhe processo criminal (denunciao caluniosa, art. 339 do Cd. Penal), e, por outro lado, impelido pela indignao ou dio e animado do intuito de vingana, suas declaraes no merecem, em regra, a credibilidade do testemunho. Isso, no entanto, no impede seja ele fonte de prova, devendo seu relato ser apreciado em confronto com outros elementos probatrios, podendo, ento, conforme a natureza do crime, muito contribuir para a convico do juiz.

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2.2.8.2 Inquirio de testemunhas. Ciso da audincia

Ouvido o ofendido, quando possvel, sero inquiridas as testemunhas arroladas pelas partes. Por primeiro sero ouvidas as testemunhas arroladas na denncia ou queixa. Ao depois, as testemunhas arroladas pela defesa. Eis a ordem legal. No obstante a lei estabelecer que as provas sero produzidas em uma nica audincia e que nenhum ato ser adiado, salvo quando imprescindvel a prova faltante, caso em que o juiz determinar a conduo coercitiva de quem deva comparecer, haver hipteses em que a audincia necessariamente ser cindida, sob pena de cerceamento da acusao ou de defesa. Estabelece o art. 411, 8, do estatuto processual, com a redao dada pela Lei n. 11/689/2008, que a testemunha que comparecer audincia ser necessariamente inquirida, independentemente da suspenso do ato, observada em qualquer caso a ordem estabelecida no caput, que prev a inquirio do ofendido, das testemunhas de acusao e de defesa e os esclarecimentos dos peritos. Assim, v.g., no caso do no-comparecimento de uma testemunha arrolada pela acusao, que havia sido regularmente intimada para a audincia e, diante da insistncia da acusao na sua oitiva, dever o juiz suspender o ato, designando nova data para a inquirio da testemunha faltante e, posteriormente, ouvir as testemunhas de defesa? Entendemos que sim. Ausente uma testemunha de acusao, insistindo a acusao na sua ouvida determinar o juiz a sua conduo coercitiva para audincia a ser designada em nova data, mas, somente poder, desde logo, inquirir as testemunhas de defesa presentes ao a to, se houver expressa

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anuncia da defesa tcnica do acusado, em sendo esta particular. Vale dizer, se for dativa a defesa ou feita por defensor pblico, no cabe sequer anuncia, sob pena de grave prejuzo processual - nulidade - com a perda dos atos j realizados, pela violao da ordem de oitiva. Caso o juiz acolha o requerimento de oitiva de pessoa referida no depoimento de outra testemunha, dever, aps inquirio das testemunhas presentes e produo das demais provas pertinentes, suspender a audincia, designando novo ato para oitiva da testemunhas requerida. Em qualquer hiptese, a instruo culminar sempre com o interrogatrio do acusado.

2.2.8.3 Prova testemunhal. Definio. Classificao e caractersticas

O estudo da prova testemunhal no procedimento do jri necessita ser interpretado, no que for pertinente, luz dos dispositivos do Captulo VI (arts. 202 a 225), do Ttulo VII (Da prova), do Cdigo de Processo Penal. Destarte, define-se testemunha como a pessoa diversa dos sujeitos processuais, chamada a juzo para narrar fatos dos quais tenha tomado conhecimento e que se apresentem relevantes para a causa.

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2.2.8.4 Classificao

As testemunhas podem ser classificadas em: a) diretas ou indiretas, conforme deponham sobre fatos que tenham presenciado ou narrem fatos dos quais tiveram cincia por meio de terceiros. Conforme j acentuamos, cabe distinguir testemunhas presenciais de testemunhas oculares, conceitos geralmente tidos como sinnimos pela doutrina. No obstante, tem-se que as primeiras dizem respeito quelas que estavam presentes no palco dos acontecimentos quando de sua ocorrncia, sem que, obrigatoriamente, tenham visto o que aconteceu. Assim, por deficincia visual, falta de ateno ou qualquer outro meio ou obstculo que haja impedido a visualizao do que versa seu testemunho, referida pessoa estava presente, sem que tenha visto o ocorrido. Por outro lado, a testemunha ocular, como a prpria expresso sugere, aquela que viu o que ocorreu sem que obrigatoriamente estivesse presente quando da prtica do fato. o caso, por exemplo, da testemunha que assiste prtica do delito estando distncia dos fatos, ou mediante o uso de binculos; b) prprias ou imprprias, conforme deponha ou no sofre fato objeto do processo; so testemunhas imprprias as instrumentarias ou fedatrias, cuja presena em determinados atos os torna legtimos; c) numerarias ou extranumerrias, conforme tenham sido arroladas pelas partes, dentro do numero legal, ou tenham sido ouvidas independentemente de prvio arrolamento, por ordem do juiz; d) informantes (ou declarantes), aquelas que no prestam compromisso com a verdade; e) referidas, quando indicadas no depoimento prestado por outra testemunha (art. 209, 1).

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2.2.8.5 Testemunha e testemunho

O termo testemunha, que designa a pessoa que vai a juzo depor, no se confunde com testemunho, que constitui o prprio depoimento.

2.2.8.6 Caracteres da prova testemunhal

1) Judicialidade. Somente constitui prova testemunhal aquele depoimento prestado perante o juzo. necessrio que a oitiva se faa pelo prprio juiz, sem qualquer mediao (da porque s vezes a doutrina faz, tambm, referencia a imediao como caracterstica da prova

testemunhal). 2) Oralidade. O depoimento testemunhal no pode, em regra, ser prestado por escrito (v. art. 204 do CPP). 3) Objetividade. A testemunha devera limitar-se a narrar os fatos de forma objetiva, evitando fazer apreciaes pessoais, salvo quando inseparveis da narrativa (art. 213 do CPP) 4) Retrospectividade. O depoimento da testemunha deve restringir-se aos fatos pretritos, j ocorridos, no lhe sendo prprio fazer prognsticos. Para a compreenso da retrospectividade, so esclarecedores os exemplos de H.Tornaghi.

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2.2.8.7 Condies da prova testemunhal

Do que depende um testemunho? Temos, dentre outros pontos importantes a considerar, aqueles apontados por Gorphe, que reduz a trs operaes mentais o testemunho: a) percepo, que diversa em cada individuo, dependendo inclusive das condies em que se encontra; b) memria, tratando-se de um processo complexo que compreende a incorporao e conservao das percepes, a evocao e reproduo no tempo em que se vai recordar; c) a reproduo ou comunicao, de referidas recordaes ao magistrado, vale dizer, como se d a comunicao sem tais evocaes.

2.2.8.8 Oitiva dos peritos

Ouvidas as testemunhas de acusao e de defesa, em sendo o caso, sero prestados esclarecimentos pelos peritos. Tal dependera de prvio requerimento, e, por bvio, deferimento do juiz da causa.

2.2.8.9 Caractersticas

So caractersticas da prova pericial: a) um meio de prova; b) o resultado da atividade humana e no uma atividade humana

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c) O destino da prova o processo, ainda que a atividade se realize fora do processo; d) Deve ser realizado por experts no tema sobre o qual verso o laudo; e) Deve versar o laudo sobre fatos e no sobre questes jurdicas; f) Deve nascer de uma obrigao-investidura no cargo ou nome-ao ad hoc, e, portanto, se no existe u vinculo legal ou judicial no se pode falar em pericia, eis que no existe pericia espontnea; g) Os fatos sobre os quais versam o laudo devem ser especiais, ou seja, devem requerer conhecimentos especializados, cientficos, artsticos ou tcnicos; h) O laudo uma declarao da cincia; assim o perito declara o que sabe e o juiz o valora como meio de prova.

2.2.8.10 Fungibilidade do perito

Obviamente, tratando-se de pericias realizadas por rgos oficiais Instituto de Criminalstica, Instituto de Medicina Legal, etc em fase de investigao policial e em face da impossibilidade de repetio da pericia em juzo, a prova no resta invalidada no caso de no-comparecimento do perito em fase judicial, quando tal comparecimento a despeito de necessrio, reste impossvel. Trata-se aqui da fungibilidade do perito como caracterstica das pericias oficiais.

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2.2.8.11 Acareaes e reconhecimento de pessoais e casos

Ouvidos os peritos, a seguir, estabelece lei a possibilidade de realizao de acareao e reconhecimento de pessoais e coisas.

2.1.8.12 O interrogatrio do acusado: ultimo ato da instruo

Como ltimo ato da produo probatria, o interrogatrio do acusado. A posio topogrfica do interrogatrio, finalizado a face instrutria, seguiu tendncia inaugurada pelo legislador ptrio, conforme a disposio da Lei n. 9.099/95 (art.81 da Lei dos Juizados Especiais Cveis e Criminais), que depois abandonou-a na Lei Antidrogas (n. 11.343/2006).

2.2.8.13 Mutatio libelli

O art.411, 3, estabelece que, encerrada a instruo, se for o caso ser observado o disposto no art.384. Finda a instituio criminal, se o rgo do Ministrio Pblico - diante de prova existentes nos autos de elemento ou circunstancia no contido na acusao entender cabvel nova definio jurdica do fato, devera requerer vista dos autos para aditamento da denuncia ou queixa (em caso de ao penal pblica subsidiria), no prazo de 5 dias, podendo arrolar ate 3 testemunhas. Ao membro do Ministrio

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Pblico , ainda, facultado realizar o adiantamento oralmente em audincia. Neste caso, a manifestao ser reduzida a termo.

2.2.9 Alegaes orais

Encerradas a instruo probatria e no sendo hiptese de mutatio libelli, as partes apresentaro alegaes orais. Por primeiro falar a acusao; depois , a defesa

2.2.9.1 Caso de querelantes. Silncio da lei

Silenciou a lei na hiptese de o processo ter-se iniciado por meio de queixa crime. Em havendo querelante, como ser distribudo o tempo dos debates? Na falta de expressa previso, caber aplicar, por analogia, as normas que regulamentam os debates durante a sesso de julgamento (Seo XXII, Captulo II, Livro II do CPP).

2.2.9.2 Ministrio Pblico e querelante: diviso do tempo

No tocante ao tempo concedido acusao, ser o mesmo, ou seja, de vinte minutos. Havendo mais de um acusador (Ministrio Pblico e querelante), combinaro entre si a distribuio do tempo e, na falta de acordo, caber ao juiz dividi-lo, de forma a no exceder o prazo legal. Tudo nos termos do art. 477, 1, do Cdigo de Processo Penal.

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2.2.9.3 Substituio por memrias?

No entanto, somente a prxis forense mostrar se o novo rito ser rigorosamente seguindo em todos os seus termos. A observao mostra-se pertinente, uma vez que a experincia haurida no trato jurdico tem mostrado que muitas vezes as partes optam por requerer ao juzo a substituio das alegaes orais por memoriais inscritos, no obstante inexistir tal permisso legal, como o caso da legislao processual (veja-se, a respeito, o art.454, 3, do CPP).

2.2.9.4 Facultatividade ou obrigatoriedade da realizao dos debates orais?

Para o Ministrio Pblico e a Defensoria Pblica os debates orais so compulsrios, eis que os menos tm o dever de oficio de se manifestar quando convocados nos autos. Para a defesa constituda pelo acusado, contudo, facultativa a apresentao de alegaes orais, tal como era, luz do antigo art. 406 do CPP, as alegaes por escrito. que, como sabido, por estratgia e na expectativa da pronuncia, advogados mais experientes costumam protestar pelo oferecimento da defesa somente em plenrios, visando resguardar-se possvel adiantamento ds teses defensivas.

2.2.9.5 Recomendaes teis aos membros do Ministrio Pblico

Em sntese, incumbe ao rgo ministerial nas alegaes orais:

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a) Relatar resumidamente o processo; b) Requerer preliminarmente documentos faltantes (folha de antecedentes, certides processuais, etc.) e diligncias necessrias apurao dos fatos (v.g., laudo complementar de exame necroscpico, outras provas periciais, oitivas de testemunhas referidas, fundamentando-se no art. 209 do CPP etc.), convertendo-se o julgamento em distancia; c) Argir em preliminar a ocorrncia de eventual nulidade (v. tpico adiante, sobre argio de nulidades); d) Requerer, quando cabvel, a aplicao de medida de segurana, o a realizao de exame mdico-pericial, se houver duvida sobre a higidez mental do acusado; e) Requer o afastamento das qualificadoras manifestamente e

improcedentes; f) Requer a manuteno, revogao ou substituio da priso ou medida restritiva de liberdade anteriormente decretada, conforme o caso e, tratando-se de acusado solto, manifestar-se sobre a necessidade da decretao da priso ou imposio de quaisquer das medidas previstas no Titulo IX do Livro I do CPP (art. 413, 3); g) Pedir a pronuncia (ou impronuncia) em termos tcnicos e necessrios, indicando a prova do fato, os indcios de autoria e demonstrando a intentio necandi se esta no for evidente como nos casos de dolo eventual e

aparente conflito com a culpa consciente; h) Postular pela absolvio sumaria ou desclassificao, quando for o caso, fazendo detalhada analise ftico-juridica.

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2.2.9.6 Alegaes defensivas

Mutatis mutantis, consoante j asseveramos alhures, aproveitam-se aos defensores as recomendaes atribudas aos membros do Ministrio Publico ou querelantes. A tcnica mais comum dos advogados que se deparam com processos que so francamente desfavorveis aos seus constituintes aproveitarem-se dos moldes em que fora vazada a resposta previa do acusado (art. 406,do CPP), ou seja, argumentarem genericamente com vistas a no abrirem flanco a acusao: ...os indcios de autoria no esto provados..., o acusado no cometeu o crime imputado na inicial, postulando, a seguir, pela impronncia (art. 414) e pugnando pela posterior comprovao do alegado, se necessrio, em plenrio do julgamento.

2.2.9.7 Concluso

Como basta o fummus boni juris do direito da sociedade indcios de autoria e prova da materialidade para pronunciar-se o acusado, a ausaao e a defesa, no geral, pautam-se por uma argumentao contida nessa etapa, mesmo porque o convencimento do magistrado sobre a existncia ou no dos requisitos necessrios pronuncia advm mais do conjunto probatrio do que, propriamente, da argumentao das partes, porquanto tcnico verbosas argumentaes. em matria jurdica, prescinde de

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2.2.10 Fase Decisria

Encerrados os debates, o juiz proferira deciso desde logo, ou ordenara que os autos lhe sejam conclusos, decidindo no prazo de 10 dias.

2.2.11 Prazo mximo de noventa dias: critrio da razoabilidade

Dispe o art.412 que o procedimento devera ser concludo no prazo Maximo de 90 dias. evidencia o prazo legal poder ser superados ds que as circunstncias particulares do caso justifiquem o excesso.

2.3 O OBJETO

O Tribunal do Jri tem por competncia o julgamento dos crimes dolosos contra a vida, e tambm os crimes por conexo e ou competncia conforme art 78 I, do CPP. A ao penal por crime da competncia do jri abrange: a) o homicdio doloso simples, privilegiado ou qualificado, previsto no artigo 121 pargrafo 1 e 2 do Cdigo Penal; b) o induzimento, a instigao ou auxilio ao suicdio, previsto no artigo 122 do Cdigo Penal; c) o infanticdio, previsto no artigo 123 do Cdigo Penal; d) o aborto provocado pela gestante, com seu consentimento ou por terceiro, previsto nos artigos 124, 125, 126 e 127 do Cdigo Penal, quer tratarem-se de crimes consumados ou tentados.

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2.4 SOBERANIAS DOS VEREDICTOS

A soberania dos veredictos, prevista no artigo 5, XXXVIII, c , da C.F, diz respeito a imutabilidade nas decises proferidas pelo Tribunal do Jri, ou seja, na impossibilidade dos magistrados se substiturem aos jurados, na deciso das questes por eles j decididas. Como toda regra, por vezes, comporta exceo, prev o artigo 593, III, do Cdigo de Processo Penal, o cabimento de recursos de decises proferidas no Tribunal do Jri, quando ocorrer nulidade posterior a pronuncia; a sentena do juiz presidente for contrria a lei ou deciso dos jurados; houver erro na aplicao da pena ou na medida de segurana e quando o veredicto do conselho de jurados for manifestamente contrrio prova dos autos. Neste ultimo caso poder o Tribunal de Justia, se reconhecer a incompatibilidade entre o veredicto proferido e a prova nos autos, determinar que seja o acusado submetido a novo julgamento, no podendo substituir a deciso proferida por outra prpria. No caso de nulidade posterior a renuncia, se relativa, dever ser argida no momento oportuno sob pena de precluso e, se absoluta, e assim reconhecida, ser anulado o julgamento devendo ser outro realizado. Nos demais casos o Tribunal ad quem far a devida retificao. Segundo MARREY (1997:67):Alm do princpio de dualidades de instncias a ser garantia imanente plenitude de defesa, consagra na Constituio Federal (art. 5, matria criminal no pode haver deciso intangvel, mesmo promanada do jri.

A regra do artigo 593, III, d, do Cdigo de Processo Penal, no viola a regra constitucional da soberania dos veredictos, tratando-se de hiptese em que o error

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in judicando reconhecido somente quando a deciso arbitrria, pois se dissocia integralmente das provas dos autos. Invalida-se a deciso dos jurados que nenhum apoio encontra nas provas dos autos. A respeito decidiu-se, in verbis:

Soberania do veredicto do Jri (CF, art. 5, XXXVIII e art. 593,III, d, do CPP). No h ofensa ao artigo 5, XXXVIII da Constituio Federal de 1988 a aplicao do artigo 593, III, d, quando o Tribunal ad quem determina, em caso de deciso contrria prova dos autos que o ru se submeta a novo julgamento. Inexistncia de ferimento a soberania do Jri, em 1. casos que tais

Conforme disposto, verifica-se ento que no fere o princpio da soberania dos veredictos a aplicao o artigo 593 do CPP, uma vez que estando presente o error in judicando, a deciso proferida se dissocia das provas que esto presentes nos autos, cabendo uma nova analise para aquele caso. Nesse sentido decidiu-se, in verbis:A soberania do veredicto dos jurados no exclui a recorribilidade de suas decises, sendo assegurada com a devoluo dos autos do Tribunal do Jri, para que profira novo 2 julgamento, uma vez cassada a deciso recorrida . Acrescenta-se que no admite a lei, pelo mesmo motivo, ou seja, fundamento, a interposio de novo recurso. Limita-se o Tribunal de Justia a determinar novo julgamento e acata o segundo veredicto, mesmo que idntico ao primeiro anulado. Torna-se o Jri soberano mesmo na teimosia de errar. Contudo entende-se ainda que a soberania dos veredictos tem seu sentido na impossibilidade de outro rgo jurisdicional modificar a deciso promanada pelo Tribunal do Jri, porm seus efeitos restrito ao processo no findo, ou seja, ainda no transitado em julgado. Ocorre que, ainda no transitado em julgado, cabvel recurso de Reviso Criminal, previsto no artigo 621 do Cdigo de Processo Penal e o que for decidido em grau de reviso no fere a soberania do jri. A respeito, a seguinte deciso: No julgamento da reviso mesmo em sede de crimes da competncia do Jri, a soluo, representada pela acolhida o pedido, pode ser absolutria; no a singela determinao de renovao do julgamento (STJ HC.126 DF- 5T j. 08.11.89 / STF HC.67.271. SP- 2 j. 02.05.89 / TJ SP R. Crim. 152.673 3/6 1 Gr. Cs. j. 09.05.94).

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Da, verifica-se, o julgamento da reviso criminal pode ser at absolutria, mesmo em se tratando de crimes de competncia do Tribunal do Jri, do que no resulta em afronta ao disposto no artigo 5, XXXVIII, alnea c, da C.F. para MIRABETE (1997:99): admissvel a reviso da sentena condenatria irrecorrvel proferida pelo Tribunal do Jri, pois a alegao de que o deferimento do pedido feriria a soberania dos veredictos, consagrada na Constituio Federal, no e sustenta. A expresso tcnico jurdica e ao soberania dos veredictos instituda como umas das grandes garantias individuais, em beneficio do ru, no podendo ser atingida enquanto preceito para garantir sua liberdade. No pode, dessa forma, ser invocada contra ele. Alis, tambm a Carta Magna consagra o principio constitucional da amplitude de defesa, com os recursos a ela inerentes (artigo 5, LV), e entre estes est a reviso criminal. Cumpre observar que, havendo anulao do processo, o acusado dever ser submetido a novo julgamento pelo Tribunal do Jri, enquanto a prova de inocncia redunda em absolvio do condenado.

Pelo ensinamento do jurista, a soberania dos veredictos instituda como garantia individual em favor do ru, argumentandose sempre em seu beneficio, e no contra ele, citando ainda o principio da ampla defesa, nela presente o recurso da reviso criminal do que pode se valer o ru.

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CAPTULO III O LATROCNIO

3.1 UMA BREVE NOTICIA HISTRICA NO BRASIL

A palavra latrocnio no encontra-se no Cdigo Penal Brasileiro tratando-se de uma expresso designar a forma mais grave do roubo, ou seja, matar para roubar ou roubar matando. A palavra latrocnio vem do latim latrocinium - latro + inium que significa roubar a mo armada, exercer o corso ou pirataria. Assim, atualmente, exprime o roubo com violncia. , pois, o roubo que registra crime mais grave, visto que, simultaneamente, h a inteno de se afastar as pessoas que a ele se ope, mesmo pela eliminao. O Cdigo Criminal do Imprio do Brasil, de 1885, no tocante ao crime de roubo onde tambm se cometia a morte, previa penas extremamente severas onde a mxima era a de morte alm da multa de 20% do valor roubado. Trazia a letra do seu artigo 271, in verbis:

Art. 271. Se da verificao do roubo, ou o acto delle, se commeter morte. Penas de morte no gro Maximo, gals perpetua no mdio e por vinte anos no mnimo. Ao criminoso autor: Maximo morte e multa de 20% do valor roubado Mdio gals perpetua e multa de 12 %, idem Mnimo 20 anos de gals e multa de 5% idem. Ao criminoso por cumplicidade Maximo gals perpetua e multa de 13 % do valor roubado Mdio 20 anos de gals e multa de 8 %, idem Mnimo 13 anos e 3 meses, idem e multa de 3 %, idem.

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Hoje o preso tem sua integridade fsica e moral protegidas pela Constituio Federal, artigo 5, XLIX e a infrao a esse dispositivo caracteriza-se Crime de Tortura previsto na Lei 9.455 de 7 de abril de 1997. O Cdigo Penal de 1890 definiu o latrocnio em dispositivo autnomo, no artigo 359, tendo a estipulao referente a tentativa, prevista no artigo 360, provocando na poca srios debates doutrinrios, suscitando inmeras interpretaes, por falta de clareza. Trazia a letra da lei nos seus artigos 359 e 360, in verbis:

Art. 359. Se realizar o roubo ou no momento de ser perpetrado, se cometer morte: Penas de priso celular por doze a trinta anos especificadas no artigo 304: Penas de priso celular por quatro a doze anos. Artigo 360. A tentativa de roubo quando se tiver realizado a violncia, ainda que no se opere a tirada da coisa alheia, ser punida com as penas do crime se dela resultar a morte de algum, ou pessoa ofendida algumas leses corporais especificadas no artigo 304.

Comparando-se ambos os artigos, questionava-se a que pessoa ofendida referia-se o artigo 360; a morta ou a de tentativa de roubo. Da surgiram inmeros entendimentos verificando-se que j naquele tempo a tentativa de latrocnio era difcil questo para os juristas. O atual Cdigo Penal, o de 1940, tornou o crime de latrocnio resultante do roubo qualificado pela morte, surgindo da novos debates doutrinrios no tocante a tentativa. A Lei n 8.072 de 25.07.90 em seu artigo 1, d ao crime de roubo qualificado pelo resultado, previsto no artigo 157 pargrafo 3 in fine, a denominao de latrocnio e o considera como crime hediondo, no havendo nenhuma mudana em seus termos definidores, mas sim um tratamento penal mais rigoroso, onde exclui

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dos benefcios previstos na lei penal (concesso de anistia, graa, fiana, indulto), os autores dos crimes previstos naquela lei e ainda acresce a pena de metade, respeitando-se o limite legal, se estiver a vtima em qualquer das hipteses do artigo 224 do Cdigo penal. A vista da lei 8072/90 verifica-se que no h crime hediondo culposo, necessariamente ser sempre doloso, porm o simples fato da lei ter dado denominao de latrocnio ao fato criminoso previsto no artigo 157 pargrafo 3, no basta para transformar sua descrio tpica. Doutrinariamente entende-se que a ao iniciou-se com dolo (com relao ao roubo), mas teve por fim (culposamente) o resultado morte, o que no era querido pelo agente, denominado crime preterdoloso. Da para que se punisse o resultado morte, resultante da ao dolosa, de forma mais severa, o legislador deveria t-lo diferenciado conforme prev o projeto de reforma (de 1969) ao Cdigo Penal, que separa a forma qualificada do roubo, a qual repete o pargrafo 3, cujo resultado, a morte dolosa. O projeto ao Cdigo Penal de 1969, em seu artigo 167, dispe in verbis:

Art. 167. Subtrair coisa alheia mvel para si ou para outrem mediante emprego ou ameaa de emprego de violncia contra a pessoa, oi depois de hav-la, por qualquer modo, reduzido impossibilidade de resistncia: Pena de recluso de 4 a 15 anos, mais o pagamento de trinta a cem dias multa. Formas qualificadas pelo resultado 3 - se resulta leso grave a pena de recluso de cinco a dezesseis anos, alm da multa; se resulta morte, recluso de seis a dezoito anos, alm de multa. Latrocnio 5 - Se para praticar o roubo ou assegurar a impunibilidade do crime ou a deteno da coisa, o agente causa dolosamente a morte de algum, a pena ser de recluso de quinze a trinta anos, alm da multa; sendo irrelevante se a leso patrimonial deixa de consumar-se. Se h mais de uma vtima dessa violncia pessoa, aplica-se o disposto no artigo 65.

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Infelizmente o projeto de reformulao ao Cdigo Penal permaneceu apenas no projeto, alegando-se que para sua vigncia se fazia necessrio tambm reformular o Cdigo de Processo Penal. Sem dvida o novo Cdigo Penal encontrase melhor adequado realidade atual, uma vez que nosso Cdigo vigente de 1940 e hoje a idia de valores mudaram com relao quela poca.

3.2 A TIPIFICAO

O crime de latrocnio encontra-se previsto no Cdigo Penal, Titulo Dos Crimes Contra o Patrimnio, artigo 157, pargrafo 3, tratando-se de crime de roubo qualificado pelo resultado. O aumento da pena previsto no pargrafo 3, sempre ocorre, quer se trate de roubo prprio, quer se trate de roubo imprprio (este previsto no pargrafo 1 do artigo 157), isso porque a violncia pode ser antes, durante ou depois da subtrao. Segundo HUNGRIA (1942:13):... h crimes que figuram entre os patrimoniais, apesar de, contemporaneamente, ofenderem interesses de maior importncia, como sejam a vida e a integridade fsica. que em tais casos se apresentam crimes complexos, em que sob o ponto de vista, lgico-jurdico, o crime-fim e no o crime-meio, decide da classificao.

Entende o doutrinador Nelson Hungria que h alguns crimes, dentre os quais, o latrocnio, que ofendem interesses, ou seja, bens jurdicos, de maior importncia mas por razo de uma anlise lgico-jurdica, o crime fim que atinge um bem jurdico de menor relevncia acaba por prevalecer em relao ao crime-meio que atinge um vem jurdico de maior relevncia, classificando-se assim o crime, tratando-se do que a doutrina chama de crime-complexo. reconhecida ento que a ofensa se d a

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bem jurdico de maior importncia, mas prefere-se uma anlise jurdica do que um raciocnio, ao menos teolgico, que tem a vida como uma ddiva Divina. Para NORONHA (1973:258):Tanto as leses graves quanto a morte, unidas ao delito de roubo, constituem espcies do crime tradicionalmente conhecido por latrocnio. Podia a lei, se necessrio achasse, epigrafar a figura com esse nome. No o fez porque desejou, assim, acentuar ser o latrocnio ainda roubo, embora qualificado por violncia maior leses graves ou morte.

A lei dos crimes hediondos, de 25/07/90, em seu artigo 1, II, denominou o roubo qualificado pelo resultado como latrocnio e manteve suas mesmas caractersticas. No latrocnio o agente antes, durante ou depois emprega violncia que resulta em leses corporais graves ou morte da vtima ou de terceiro, este em razo da aberratio ictus, erro quanto pessoa (artigo 20 pargrafo 3 do CP). A doutrina reconhece que o bem jurdico vida atingido pelo crime-meio mais importante que o bem jurdico patrimnio que o objetivo do agente, ou seja, crimefim, mas por raciocnio jurdico, despreza-se esse grau de importncia.

3.3 O CRIME COMPLEXO

Complexo o crime cujo tipo constitudo pela fuso de dois ou mais tipos, a exemplo, artigo 157, pargrafo 3 do Cdigo Penal (roubo + leses corporais graves ou roubo + morte). S h crime complexo quando a norma rene a descrio de fatos que, por si ss, so definidos como delitos, chamado pela doutrina de delito complexo em sentido estrito, havendo ainda aqueles que aceitam a figura do delito complexo em sentido amplo. Classifica-se o delito complexo em sentido estrito sob

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duas formas: a) quando dois ou mais delitos constituem outro, funcionando como elementares, a exemplo a Extorso mediante seqestro (artigo 159 CP) onde faz parte a Extorso prevista no artigo 158 e o seqestro previsto no artigo 148; b) quando um delito integra ao outro como circunstncia agravante, a exemplo, o latrocnio em que o homicdio qualifica o roubo. Verifica-se que no h em nosso ordenamento jurdico o delito complexo em sentido amplo onde o crime de maior gravidade absorve o de menor gravidade, sendo que a previso do crime complexo em nosso ordenamento jurdico encontra-se no artigo 101 do CP, que dispe, in verbis:Quando a lei considera como elemento ou circunstncia do tipo fatos que, por si mesmos, constituem crimes, cabe ao pblica em relao quele, desde que, em relao a qualquer destes, se deva proceder por iniciativa do Ministrio Pblico.

Para que seja crime complexo necessrio a juno de dois ou mais crimes que por si s sejam considerados pela lei penal como delito. Forma-se uma terceira unidade delituosa. Para MIRABETE (2000:135):

So crimes complexos os que encerram dois ou mais tipos em uma nica descrio legal (crime complexo em sentido estrito) ou os que, em uma figura tpica, abrangem um tipo simples, acrescidos de fatos ou circunstncias que, em si no so tpicos (crime complexo em sentido amplo).

Para este ltimo, exemplifica com o crime de Estupro onde h a violncia e a ameaa e, como outro fato, a conjuno carnal. Entendemos por menos acertada a posio daqueles que defendem a existncia do delito complexo em sentido amplo, visto que este mais se enquadra no crime progressivo onde o sujeito para alcanar um resultado mais grave, passa por outro de menor gravidade, que acaba por ser

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absorvido, tomando por exemplo o homicdio, onde fica absorvido o crime de leso corporal.

3.4 O CRIME PRETEDOLOSO

So os crimes qualificados pelo resultado punidos em sua maioria a ttulo de preterdolo ou preterinteno. No dolo o agente quer o resultado ou assume o risco de produzi-lo. Leva-se em conta a conduta a qual um comportamento voluntrio e o contedo da vontade seu fim. Diante de um fato tpico indispensvel que se indague do contedo da vontade do seu autor, o fim que estava contido na sua ao e a conscincia (conhecimento do fato que constitui a ao tpica). Caracteriza-se o dolo eventual quando o agente com seu comportamento assume o risco de produzir um resultado e a vontade no est dirigida para a obteno daquele resultado, querendo algo diverso, mas prevendo que possa ocorrer, mesmo assim assume o risco de produzi-lo. Segundo JESUS (1997:300):

Crime Preterdoloso aquele em que a conduta produz um resultado mais grave que o pretendido pelo sujeito. O agente quer um minus e seu comportamento causa um majus, de maneira que se conjugam o dolo na conduta antecedente e a culpa no resultado.

Ento se tem pelo crime preterdoloso um misto de dolo no antecedente e culpa no conseqente. Ser sempre necessrio para que o agente responda por resultado mais grave, que tal resultado tenha sido produzido, ao menos por culpa. Tem-se por exemplo a leso corporal seguida de morte (artigo 129 pargrafo 3 do CP) onde na agresso o agente tem a inteno de ferir, mas causa a leso de tal

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forma que acaba por acarretar a morte do ofendido. Assim nos crimes preterdolosos o nexo em relao ao resultado qualificador a culpa. Diz o nosso Cdigo Penal em seu artigo 19, que exara que pelo resultado que agrava especialmente a pena, s responde o agente que houver causado ao menos culposamente. Da pode-se entender que nos casos em que no resultado qualificador admitir dolo, estaremos diante de um delito qualificado pelo resultado e no de um delito preterdoloso. H de se frisar que se faz necessrio um reparo lei, que ainda equipara formas diversas de elementos subjetivos nos crimes qualificados pelo resultado, estabelecendo limites idnticos de pena para quem deu causa ao resultado mais grave por dolo e o que provocou por culpa. Cabe ao juiz, ao fixar a pena, observar se o resultado mais grave foi causado por culpa ou dolo. configura-se crime de latrocnio ainda que o evento morte no seja desejado

pelo agente. A figura tpica do latrocnio no exige que o evento morte esteja nos planos do agente, basta o emprego de violncia para roubar e que dela resulte a morte ou leso corporal grave. A respeito decidiu-se, in verbis:

Caracteriza-se o crime de latrocnio consumado, e no de homicdio, quando o agente ocasiona a morte da vtima, ainda que no consiga realizar a subtrao de bens, caso em que competente para o julgamento o Juiz Criminal e no o tribunal do Jri.

Neste caso, firmou-se o entendimento em que para a consumao do crime de latrocnio, no necessria a subtrao consumada bastando que esteja presente o homicdio, e ainda, que a competncia para julgamento do Juiz Singular.

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3.5 O CRIME QUALIFICADO PELO RESULTADO

No caso dos crimes qualificados pelo resultado, a lei prev para o tipo bsico do crime, pena mais severa quando ocorre resultado mais grave do que aquele previsto no tipo fundamental. Segundo MIRABETE (1998:150): de anotar, todavia, que o resultado acrescido ao tipo simples pode ocorrer por dolo, culpa ou mero nexo causal. Evidentemente, em tese possvel diferenciar nitidamente essas vrias hipteses, relacionadas em grau de crescente gravidade. A lei penal brasileira, porm no cogita expressamente dessa distino. Toma-se por hiptese, por exemplo, o crime de extorso mediante seqestro (artigo 159 do CP). (STF HC.74.986-1 SP 1AT. j.25.03.97).

O eminente doutrinador vislumbra a hiptese de dolo (no conseqente) no crime qualificado pelo resultado, alm da culpa ou mero nexo causal. Acrescentou ainda que apesar de ntida a diferenciao, a lei penal brasileira omissa na questo. Cita como exemplo, o caso da extorso mediante seqestro, em que, como no caso do latrocnio, crime qualificado pelo resultado (leso corporal grave ou morte). No que diz respeito a diferena entre crime qualificado pelo resultado e o delito preterintencional, ensina JESUS (1999:208):

Entre ns no h diferena, ressalvando que h crimes qualificados pelo resultado, quais sejam aqueles em que o primum delictum culposo e aqueles em que o resultado qualificador punido a ttulo de dolo. Na doutrina italiana, porm, eles se distinguem. Denomina-se crime preterintencional aquele em que o resultado ultrapassa a inteno do sujeito, sendo homogneo o resultado por ele querido. No crime qualificado, ao contrrio h a duplicidade de resultados heterogneos, dos quais somente um querido pelo agente. (...) Ocorre, porm, que a diferena exposta pela doutrina italiana tem razo de ser em face de considerar punidos os crimes qualificados pelo resultado pela aplicao da responsabilidade objetiva. Assim a diferena no existe entre ns, pois os crimes qualificados pelo resultado exigem um nexo

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subjetivo ou normativo ligando a vontade do agente a um nexo qualificador.

Verifica-se que melhor o entendimento da doutrina italiana, pois diferenciam o dolo e a culpa. No crime qualificado pelo resultado, este efetiva-se a ttulo de dolo enquanto no crime preterdoloso o resultado se d a ttulo de culpa. Nesse sentido ensina BITTENCOURT (1997:254):

Tem-se utilizado, a nosso juzo equivocadamente, crime preterdoloso e crime qualificado pelo resultado como sinnimas. No entanto, segundo a melhor corrente, especialmente a italiana, no crime qualificado pelo resultado, ao contrario do crime preterdoloso, o resultado ulterior, mais grave, derivado involuntariamente da conduta criminosa, lesa bem jurdico que, por sua natureza, no contm o bem jurdico lesado.

Segundo BATISTA (1997:405): O Cdigo Penal Brasileiro um dos poucos cdigos do mundo que consagram a figura do crime complexo de roubo seguido de morte, e o nico que admite esse tipo mesmo quando a morte dolosa. J decidiu-se, in verbis:Roubo com morte. Dosimetria da pena. Morte dolosa e morte culposa Matar para roubar e causar culposamente a morte da vtima, ao praticar o roubo, so hipteses absolutamente diferentes, mas que o legislador englobou no mesmo artigo. No roubo com morte dolosa, ainda que ausente qualquer outra circunstncia desfavorvel ao ru, sua pena no pode ser fixada no mnimo. O que dever ser reservado para os casos em que o resultado morte foi causado culposamente. (TACRIM-RJ Reviso Crim. 241 2G.C. j.27.11.84)

A concluso que se chega a de que o juiz, ao aplicar a pena do roubo com morte, tem que distinguir as duas situaes: se a morte culposa, o que rara acontecer, ou se dolosa, no que diferem as penas, do que a no observncia,

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acarreta em aplicar a lei com injustia. Cabe frisar que tal distino influi na competncia para o julgamento do crime, pois conforme previso constitucional do Tribunal do Jri, o julgamento dos crimes dolosos contra a vida.

3.6 CORRENTES JURISPRUDNCIAS

Havendo o homicdio consumado e a subtrao patrimonial consumada, a doutrina pacfica em afirmar que estaremos diante do latrocnio consumado. Nesse sentido decidiu-se, in verbis:Os recorrentes foram denunciados pelo ilustrado Promotor da Comarca de Cceres como incursos nas pensa do artigo 121 pargrafo 2, incisos II, III, IV, c/c o artigo 44, II b e g, e, ainda, com o artigo 25 do Cdigo Penal por terem assassinado, a tiros de revlver, a vtima Joo Dias Pimenta Filho. Recebida a denncia os autos da ao penal tramitaram normalmente at a fase de sentena de pronncia, quando o doutor Magistrado, depois de sopesar os fatos, desclassificou o crime de homicdio qualificado, no qual foram os rus incursos na denncia, enquadrando os fatos na figura delituosa do artigo 157, pargrafos 2, II e 3 c/c o artigo 44, a, b e d, e ainda o artigo 25, todos do Cdigo Penal, com fulcro no artigo 410 do Cdigo de ProcessoPenal. (...) A testemunha Marcelino Batista de Almeida alucida que tomou conhecimento de que a vtima chama-se Joo Dias Pimenta Filho e os homicidas chamam-se Jose da Mata Mozzer e Geraldo do Nascimento dos Reis, residentes em Figueirpolis, esclarece, ainda, que tomou conhecimento de que os indiciados assassinaram a vtima para roubar uma nota promissria de Cr$ 35.000,00 que um dos indiciados devia para a vtima (...) Quer nos parecer que todas essas circunstncias e mais os eloqentes depoimentos das testemunhas na fase do inqurito policial, tudo em perfeita sintonia com os interrogatrios dos rus naquela fase, pem a evidncia do motivo do crime. A subtrao de coisa alheia mvel para si mediante violncia a pessoa, com resultado morte, tipifica a figura delituosa do artigo 157, pargrafo 3 do Cdigo Penal exasperada a pena, naturalmente, em face do concurso de duas pessoas e no a do artigo 121, pargrafo 2, II, III e IV do mesmo diploma legal. (3 TJMT Rec. 113/79 j. 03.12.79).

Verifica-se que no presente caso o magistrado desclassificou do crime de homicdio qualificado para roubo qualificado pelo resultado por entender que trata o

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fato da figura tpica prevista no artigo 157, pargrafo 3 do CP. Quer parecer que foi proposto o recurso, como estratgia da defesa, entendo que melhor seria o julgamento pelo Tribunal do Jri. Cabe salientar que a pena mnima prevista para o homicdio qualificado de 12 anos e para o latrocnio a pena mnima de 20 ano. Ocorrendo o homicdio consumado e a subtrao tentada, h quatro posies a respeito: a) Na primeira, o sujeito responde por tentativa de latrocnio. Nesse sentido, temos a seguinte deciso, in verbis:

(...) o latrocnio, segundo a lio do saudoso mestre Nelson Hungria, tendo em vista sua unidade jurdica de crime complexo, somente se consuma quando o homicdio e a subtrao se consumam. Na hiptese vertente, a subtrao se consumam. Na hiptese vertente, a subtrao no se consumou, pelo que no se pode considerar como consumado o latrocnio... Muito embora no se desconhea a orientao jurisprudencial e doutrinria que no a admitem, no se pode ignorar, como diz Bento de Faria que: os delitos complexos so indivisveis... Aceita assim, a indivisibilidade do delito complexo, de se acolher a opinio do consagrado Frederico Marques quando escreve que: admissvel a tentativa no crime complexo (...) no consumado o delito de latrocnio, impor-se como soluo o reconhecimento de uma tentativa de latrocnio. Em conseqncia, de ser provido parcialmente o apelo do ru para se reduzir a pena. (4 TJ-SP Rec. 118.411 2C. j.04.06.73).

Na prtica, o agente respondendo por tentativa de latrocnio sofreria uma pena inferior a do homicdio qualificado. Quer parecer ter sido esta a inteno do recurso.

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b) Na segunda, o sujeito responde por homicdio qualificado e tentativa de roubo simples, em concurso material. Nesse sentido, a seguinte deciso, in verbis:Debate-se, no caso vertente, em torno da soluo para o caso de homicdio com finalidade de roubo, tentado, apenas este. Juventino Marques em companhia da esposa e de um filho menor, dirigia-se em seu carro para sua residncia, com uma pasta contendo elevada quantia em dinheiro, quando foi abordado pelos apelantes e dois comparsas que de revlveres em punho, disseram um assalto. Como a mulher de Juventino, assustada, no se dominasse, comeando a gritar, os apelantes fuzilaram-no e fugiram sem consumar o roubo(...). Os dois agiram com dolo direto de homicdio para assegurar a impunidade do roubo tentado, deu-se como incursos na sano do artigo 157, pargrafo 3, do Cdigo Penal(...) Os penalistas divergem no assunto em debate. Enquanto Nelson Hungria pende, nos casos como vertente, para a aplicao da pena cominada para o crime de homicdio qualificado, Noronha Magalhes, por exemplo identifica como uma espcie formal de homicdio qualificado e tentativa de roubo, achando ilgico o reconhecimento da tentativa de latrocnio. Entre as solues doutrinrias antagnicas, a mais atendvel a do pranteado Nelson Hungria, que a contemplar as alternativas de s se consumar um desses crimes em esclio ao artigo 14 do Cdigo Penal em relao ao latrocnio escreve: suponha-se que o homicdio (crime meio) seja apenas tentado, enquanto a subtrao da rs (crime fim) se consuma: deve ser aplicada to somente a pena de tentativa de homicdio qualificado, considerando-se absorvida por ela o crime patrimonial. Se ao contrrio, o homicdio se consuma, ficando apenas tentado o crime patrimonial, a pena nica a aplicar-se a do homicdio qualificado consumado. E se alonga o mestre, nesse ponto de vista concluindo: A nica soluo que nos parece razovel a de, sem desrespeito a unidade jurdica do crime, aplicar exclusivamente a pena mais grave, considerados os crimes separadamente, ficando absorvida ou abstrada a pena menos grave. Ora, se a soluo aceita pela sentena foi a de considerar o delito como homicdio qualificado, a competncia para julgar os acusados passa automaticamente para o Tribunal Popular e se torna inaplicvel o artigo 157, pargrafo 3 da lei penal substantiva... Prevaleceu nesse julgado a orientao de Nelson Hungria, concluindo o Relator, aps cit-lo que: Consumado o homicdio e permanecendo o roubo nos limites da tentativa inacaba, impunha a capitulao do crime no n. V do pargrafo 2 do artigo 121 do Cdigo Penal e no do artigo 157, pargrafo 3, desse diploma, pelo que para competncia do julgamento ser do Tribunal de Jri e no do Juzo Singular como se verificou.

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Neste caso, houve a desclassificao em que o Juiz Singular entendeu no tratar-se de crime de latrocnio, mas sim de homicdio qualificado, em razo de dolo direto na prtica deste. Verificou-se pelo Tribunal que realmente trata-se de crime de homicdio qualificado em concurso material com tentativa de roubo, sendo competente para julgamento o Tribunal do Jri.

c) A terceira, h o homicdio qualificado pela conexo. Nesse sentido decidiuse, in verbis

Consumado o crime-meio, homicdio, e ficando apenas tentado o crime-fim, contra o patrimnio, aplica-se ao agente a pena do homicdio qualificado, seguindo-se a doutrina de Hungria. Decidem assim, porque a autoria e a materialidade do delito resultaram cabalmente provadas. Assim que, ao ser interrogado um Juzo, o ora apelante admitiu que pretendia subtrair para si, dinheiro existente no estabelecimento comercial mas, surpreendido pelo proprietrio, arriou a arma e esta disparou. Tem-se por tanto, que o ru, ora apelante, admitiu que se encontrava no local, para subtrair coisas alheia e mais, que portava arma de fogo e esta disparo esbarra nos depoimentos de fls., onde, com riqueza de detalhes, est descrita a ao criminosa: o ru no s atirou contra outra pessoa como, queima-roupa, fez disparo letal contra Elizeo Rabelo. (...) o crime-fim ficou tentado j que o ru foi preso em flagrante, sem haver tido a posse tranqila da res, enquanto o crime-meio resultou consumado.... Veja-se a propsito a lio de Nelson Hungria, aqui adotada: Nos crimes complexos, salvo disposio legal em contrrio, se um dos crimes membros deixa de consumar-se, fica prejudicada a consumao do todo unitrio, e tambm no se pode ter simples tentativa deste quando um dos crimes-meios se consumou. Mas se ocorre, como ocorreu na espcie de cuidam os autos, a consumao do crime-meio no caso homicdio enquanto o crime-fim, consubstanciado na subtrao de se identificar o homicdio qualificado pelo fato de haver sido praticado para assegurar a execuo de outro crime, na forma consumada, eis que no h como se cogitar, ento, de tratamento unitrio, mas sim de crime nico ou melhor, simples, o nico, repita-se a subsistir. que a a previso legal da consumao dos crimesmembros,q eu ditou o tratamento unitrio, no se operou, ficando o agente sujeito as penas do crime-membro que logrou consumar. Tal no importa, entretanto, em modificao da classificao do delito, mas sim e to somente, na sujeio do transgressor s penas previstas para o crime membro que se consumou.

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Est, pois, o ru Jorge da Costa Rezende, sujeito s penas do artigo 121, pargrafo 2, n. V do Cdigo Penal. (TJ-RJ Rec. 62.526 2C. j.26.06.75./ TJ-RJ Rec. 62.043 j.07.08.75).

Neste caso, entendeu-se que apesar de no consumado o crime fim o qual era a subtrao, logrou o ru na consumao do crime meio e por conexo, ao mesmo aplicou-se as penas previstas do crime meio, ou seja, as do crime de homicdio qualificado. d) Na quarta, existe o latrocnio consumado. Neste sentido decidiu-se, in verbis:Caracteriza-se o crime de latrocnio e no de homicdio, quando o agente ocasiona a morte da vtima, ainda que no consiga realizar a subtrao de bens, caso em que competente para o julgamento o juiz Criminal e no o Tribunal do Jri.

Hoje a soluo da questo est expressa na Smula 610 do STF. Ocorrendo o crime de homicdio consumado e subtrao tentada, estaremos diante do latrocnio consumado, pondo-se fim a eventuais dvidas no julgamento, quando presente o fato em questo. Se ocorrerem uma subtrao tentada e um homicdio tentado estaremos diante do crime de latrocnio tentado. Temos a seguinte deciso, in verbis:

Tentativa de roubo seguida claramente de tentativa de homicdio. Se as circunstncia denotam, pela repetio dos golpes de faca, que atingiram a vtima em regies letais, a clara existncia de um homicdio tentado e se o agente, com isso, visou a subtrao de dinheiro do lesado, sem consumar, porm, tanto a infrao contra a pessoa como aquela contra o patrimnio, diante de casual interveno de policiais, tipifica-se a tentativa de latrocnio. (STF Rec. 74.986-1 SP 1T. 1.25.03.97 / TACRIM-SP Ap.543.571-1 2C. j.03.11.88).

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No caso vertente unnime na doutrina, estaremos diante do latrocnio tentado uma vez que ambas as figuras delituosas, roubo e homicdio, permaneceram no grau de tentativa. Havendo a subtrao consumada mas no a morte, j que o agente no conseguiu matar a vtima por circunstncias alheias a sua vontade, a teor da orientao pretoriana e doutrinria dominante, configura tentativa de latrocnio. A respeito, a deciso in verbis:Ocorrendo subtrao consumada e homicdio tentado sucedeu a tentativa de latrocnio, crime complexo, cujo elemento subjetivo um s: o dolo, sendo que o resultado, morte tentada ou consumada, opera apenas como simples critrio legal para fixao da reprimenda, no para classificao de roubo qualificado.

No presente caso, a doutrina dominante entende quem configura-se o crime de latrocnio tentado, acrescentando-se que o resultado morte tentada ou consumada, opera como simples critrio para fixao da pena. Em contrrio entende HUNGRIA (1942:62):

Nos crimes complexos, salvo expressa disposio legal em contrrio, se um dos crimes membros deixou de consumar-se, fica prejudicada a consumao de crime complexo e tambm no se pode admitir simples tentativa, desde quando um dos crimes membros se consumou. Assim, o latrocnio s pode dizer consumado ou tentado quando, respectivamente, ambos os crimes membros se consumam ou ambos ficam em grau de tentativa. (TACRIM-SP Rec. 975.075 14C. j.10.10.95).

Como Frederico Marques, entendemos se admissvel a tentativa no crime complexo. No compreensvel que consumado qualquer um dos crimes membros, restando o outro tentado, no se pudesse ao menos admitir a tentativa de latrocnio.

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3.7 A TEORIA FINALISTA DA AO

A teoria finalista da ao constitui-se na reao lgica contra errneos entendimentos das doutrinas causais da ao. A doutrina penal antes de Welzel havia percebido que a adoo da teoria causal da ao levava indeciso, no havendo diferena entre uma ao dolosa e uma ao culposa, que tinha por resultado crimes idnticos. Verificou-se que no se diferenciavam somente pelo desvalor do resultado, mas tambm pelo desvalor do comportamento. Havia-se a necessidade de se levar em conta o desejo do agente. A ao uma atividade final humana. Da afirmou Weszel que a ao humana o exerccio da atividade finalista em que o homem consciente dos efeitos causais do acontecimento, pode prever as conseqncias de sua conduta, tendo condies de dirigir seus atos no sentido de produzir determinados efeitos. Assim, somente aps uma anlise do contedo da vontade que pode-se afirmar que houve determinado tipo penal. Como exemplo, ensina MIRABETE (1998:103):

(...) Na hiptese de ter a agente premido o gatilho voluntariamente, efetuando o disparo e atingindo outra pessoa que venha a morrer, somente ter praticado um fato tpico se tinha como fim esse resultado ou se assumiu conscientemente o risco de produzi-lo (homicdio doloso) ou se no tomou as cautelas necessrias ao manejar a arma para dispar-la, limpla, etc. (homicdio culposo). No haveria fato tpico se o agente, com as cautelas exigveis, estivesse praticando tiro ao alvo, vindo a atingir uma pessoa que se escondera atrs do alvo por estar sendo perseguida por um desafeto.

No exemplo citado por Mirabete, verifica-se que s h o fato tpico quando estiver presente o elemento dolo ou culpa. Naquele o agente age com a inteno de

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obter o resultado ou assume o risco de produzi-lo e na culpa, por imprudncia, impercia ou negligncia, chega a um resultado que no o queria.

3.8 LATROCNIO DIANTE DO DIREITO COMPARADO

Neste captulo o latrocnio aparece segundo a viso de legisladores de outros pases demonstrando o grau de dificuldade de anlise devido ao fato de alguns entenderem este ser um delito autnomo; outros como qualificadora do roubou, e como circunstncias que qualificam o homicdio. Segundo tratadistas e estudiosos do direito comparado em criminologia, dizem eles que possvel deduzir-se que a violncia possui dois pontos extremos ou dois pontos limtrofes, saber, o primeiro, minus significado qualquer ato que tolhe a defesa causando leses; o mximo, ao segundo, plus significando atos causadores de leses gravssimas ou a morte. O cdigo, Holands, Noruegus, Suio Iugoslavo, Polons e o Grego se mantiveram afirmando que o roubo se sobrepe ao delito de homicdio. O Cdigo Penal Alemo tipifica o roubo como sendo crime-fim, e o homicdio como sendo por sua vez, crime-meio, considera ser o homicdio crime preterdoloso. Foi o que o nosso Cdigo Penal de 1940 adotou este vigorando e tratando da matria at os dias atuais. J o legislador Argentino, diz ser latrocnio apenas um delito contra o patrimnio, e, o homicdio apenas conseqncia de uma suposta reao da vtima, caracterizando-se o homicdio como crime preterdoloso. Tal teoria nos acompanha at os dias atuais, sendo adotado pelo Cdigo Penal Brasileiro.

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Na Espanha, seu legislador na reforma de 1963, adotou a linha de apenas diferenar o roubo com resultado morte e roubo com resultado de leses corporais, hierarquizando, a pena no que se refere a gravidade das leses e impondo a pena de morte para o latrocnio. Cdigo Penal Uruguaio entende ser o Latrocnio o homicdio qualificado pela conexo, sobrepondo-se o crime-meio sobre o crime-fim, estabelecendo-se o concurso material com o roubo, seja este consumado ou tentado. O Cdigo Penal Portugus entendeu ser o latrocnio um delito autnomo, identificando-se com o nosso cdigo de 1969 no tocante a caracterizao do roubo seguido de morte como crime complexo, e proclamou a irrelevncia de ser o roubo tentando ou consumado para a configurao delitiva.

Art. 433: Quando o roubo for cometido ou tentado, concorrendo com o crime de homicdio, ser aplicada ao criminoso a pena de priso de vinte a vinte e quatro anos.

Segundo BEZERRA (1997), trata-se de orientao intermediria semelhante adotada pelo legislador brasileiro de 1969, em que o latrocnio, sob rubrica prpria, vem sendo tratado como crime autnomo (roubo com Homicdio), e semelhante ainda adotada pelo legislador brasileiro de 1890, que, alm de tratar o latrocnio em dispositivos prprios, colocou-o em ttulo especial do cdigo, referente aos crimes contra a pessoa e a propriedade. O Legislador Italiano estabeleceu em seu Cdigo de 1896, que o homicdio era cometido com finalidades de assegurar a prtica de outro crime, ou de ocult-lo, tentando assegurar a impunidade, mesmo no tendo o agente chegado a finalidade pretendida. Assim, foi adotada a corrente do crime-meio (homicdio) sobre o crime-

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fim (subtrao). O legislador Italiano entendeu existir homicdio qualificado pela conexo conseqencial, e no o delito Latrocnio especificamente. O Cdigo Rocco, manteve a mesma posio, pois entendia ser o Latrocnio homicdio qualificado, sendo entabulado no captulo dos crimes contra a pessoa, sendo portanto, circunstncia agravante e, tendo como pena a morte. J o Cdigo Penal Brasileiro, citado anteriormente, vem tratar o crime de latrocnio como um delito autnomo, porm mantido sobre a rubrica do roubo qualificado, em pargrafo prprio no artigo 157, pargrafo 3, in fine. Assim, aps as afirmaes supra referidas, possvel dizer que a compreenso e o entendimento do delito de latrocnio, complexo, no somente para o nosso legislador, mas para todos os outros legisladores, que tiveram de se deparar, em seus estudos, perante esta matria.

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CAPTULO IV A COMPETNCIA DO LATROCNIO NA LEGISLAO PENAL BRASILEIRA

4.1 APLICABILIDADE DO PROCEDIMENTO ORDINRIO E DO PROCEDIMENTO RELATIVO AOS PROCESSOS DA COMPETNCIA DO TRIBUNAL DO JURI

No crime de latrocnio, hoje segue-se o rito ordinrio, no qual a partir do recebimento da denncia ou queixa, o magistrado expede mandado de citao ao ru marcando-se data e horrio que aps este, abre-se prazo de 10 dias para que o acusado apresente a sua defesa prvia e arrole teste