tcc- jornalismo colaborativo no overmundo

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UNESP – UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” FAAC – FACULDADE DE ARQUITETURA, ARTES E COMUNICAÇÃO DCSO – DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL Jornalismo Colaborativo: uma análise sobre o conteúdo colaborativo do Overmundo. Gleice Bernardini Bauru 2009

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Trabalho de conclusão de curso de Comunicação Social - Jornalismo, Unesp, Bauru - SP, sobre jornalsimo colaborativo online. Analise do site Overmundo.

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Page 1: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

UNESP – UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO”

FAAC – FACULDADE DE ARQUITETURA, ARTES E COMUNICAÇÃO DCSO – DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

Jornalismo Colaborativo: uma análise sobre o conteúdo colaborativo do Overmundo.

Gleice Bernardini

Bauru 2009

Page 2: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

2

Gleice Bernardini

Jornalismo Colaborativo: uma análise sobre o conteúdo colaborativo do Overmundo.

Trabalho de Conclusão de Curso – Monografia apresentada junto ao Curso de Comunicação Social habilitação em

Jornalismo da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da Universidade

Estadual Paulista “Júlio de Mesquita” Unesp, como requisito parcial para a obtenção

do título de bacharel em Jornalismo.

Orientador: Prof. Dr. Ricardo Luís Nicola

Bauru 2009

Page 3: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

3

Gleice Bernardini

Jornalismo Colaborativo: uma análise sobre o conteúdo colaborativo do Overmundo

Trabalho de Conclusão de Curso – Monografia apresentada junto ao Curso de Comunicação Social habilitação em Jornalismo da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita” - Unesp, como requisito parcial para a obtenção do

título de bacharel em Jornalismo.

________________________________________ Prof. Dr. Ricardo Luís Nicola

Orientador

COMISSÃO EXAMINADORA

_______________________________________ Profa. Ms. Vanessa Matos dos Santos

Unesp - Bauru

________________________________________ Prof. Dr. Pedro Celso Campos

Unesp - Bauru

Bauru, 13 novembro de 2009

Page 4: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

4

DEDICATÓRIA

Ao Major (in memoriam)

Page 5: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

5

AGRADECIMENTO

Tantas pessoas, pouco espaço. E um problema: memória curta. Caso eu esqueça e

não cite alguém que me perdoem. Pode ser clichê, mas é essencial: agradeço á

Deus. Deu-me a dádiva da vida, me deu o presente de ser quem sou e ter a família

que tenho. Aos meus pais, Gerson e Ângela, que me proporcionaram as condições

para chegar onde estou. À minha mãe, minha base, meu alicerce, meu tudo. Às suas

noites de sono perdidas, horas passadas no sofá me esperando chegar. Às suas

preocupações, orações e ajudas.

Agradeço ao meu irmão, Geferson, que me ensinou o caminho, me levou e me

buscou muitas vezes nos vestibulares e aulas.

Agradeço aos meus amigos, presentes e ausentes. Da infância, da escola, do

cursinho, das baladas, faculdade e trabalho. Compreensivos ou não, cada um a sua

maneira contribuiu para eu chegar até aqui. Emprestaram-me ombros, ouvidos e

idéias. Sou hoje um conjunto dos pedacinhos de cada um.

Enfim, agradeço a todos aqueles que de alguma forma, e que não me lembro agora,

não por arrogância, mas por memória fraca mesmo, me ajudaram, me ensinaram,

caminharam comigo. Obrigada!

Page 6: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

6

(...) as sociedades que fazem perguntas e

conseguem respondê-las são mais saudáveis do que

aquelas que simplesmente aceitam

o que lhes é imposto por um espectro estreito

de especialistas e de instituições.

Chris Anderson.

Page 7: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

7

RESUMO

Esta monografia tem por objetivo analisar a reconfiguração do jornalismo a partir da

participação direta do público em geral na criação e publicação de notícias em um

site de conteúdo colaborativo jornalístico. O objeto de análise é o site colaborativo

Overmundo, com recorte na editoria Overblog, sendo utilizada a análise do conteúdo

colaborativo enviado pelos cidadãos-repórteres no período de 15 a 30 de junho de

2009. Como suporte metodológico para a análise dos artigos selecionados, quanto à

seleção e construção das notícias, utilizamos obras teóricas com os preceitos de

Web 2.0 e cibercultura, através de conceitos e estratégias pregadas por autores da

área da comunicação na rede mundial de computadores. O desenvolvimento da

monografia teve apoio da observação do canal colaborativo e entrevista com o

coordenador responsável pela edição da produção dos usuários do Overmundo. A

pesquisa aponta que os cidadãos-repórteres adotaram os critérios clássicos do

jornalismo, como a novidade e a notoriedade das personalidades envolvidas nos

fatos e os artigos exploram o caráter informativo. Ficou demarcado também a

alteração dos papéis dos jornalistas passando a serem organizadores dos fluxos de

informação, e que o conteúdo produzido pode ser considerado como conteúdo

colaborativo jornalístico.

Palavras-chave: Cibercultura, webjornalismo, conteúdo colaborativo, Overmundo.

Page 8: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

8

ABSTRACT

This work aims ate analyzing the reconfiguration of journalism by the direct

participation of the public in the creation and publication of news in a site of

colaborative journalistic content. The object of analysis is the site Overmundo, mre

specifically the section Overblog, being used the analysis of colaborative context sent

by citizen-reporters in the perid between june 15 and 30 of 2009. As for the

methodological support for the analysis of the selected articles, in relation to the

selection and construction of news, we used theoretical works about the Web 2.0 and

cyberculture, through cocepts and strategies defended by authors of the area of

communication in the world wide web. The development of this work was supported

by the observation the colaborative channel and an interview with the cordinator who

is responsible for the edition of the production Overmundo’s users. The research

clains that citizen-reporters adopted the classical criteria of journalism, such as news

and notoriety of the personalits involved in the facts and the articles explored an

informative character. The alteraton of the role of journalists was also remarked,

onde they became organizers of the flow of information, and that the content which is

produced may be considered as collaborative jornalistic content.

Page 9: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

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SUMÁRIO

Introdução 12

1. Definições e conceitos 14

1.1 Ciberespaço: O que é? 16

1.2 Características da cibercultura 20

1.2.1 Interatividade 23

1.3 Cibersociedade 26

1.3.1 A febre dos blogs 30

2. Vários nomes para um mesmo conceito 34

2.1 Ciberjornalismo 39

2.2 Jornalismo open source ou participativo 42

2.2.1 Legislação e direitos autorais 47

2.3 Jornalismo colaborativo 51

2.4 Conteúdo colaborativo 54

3. Overmundo 59

3.1 A análise do Overmundo 70

3.1.1 Os números da análise do Overmundo 76

4. Considerações Finais 91

5. Referências 95

6. Apêndice 99

6.1 Entrevista com Viktor Chagas 100

7. Anexos 104

7.1 Matérias com repercussão na grande imprensa 105

7.2 Matérias sem formato jornalístico 114

8. Glossário 118

Page 10: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

10

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 38

Figura 2 38

Figura 3 62

Figura 4 63

Figura 5 65

Figura 6 66

Figura 7 67

Figura 8 67

Figura 9 68

Figura 10 69

Figura 11 69

Figura 12 85

Figura 13 86

Figura 14 87

Figura 15 87

Figura 16 88

Figura 17 89

Figura 18 90

Page 11: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

11

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 72

Gráfico 2 78

Gráfico 3 79

Gráfico 4 80

Gráfico 5 80

Gráfico 6 82

Gráfico 7 83

Gráfico 8 84

Gráfico 9 86

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 81

Tabela 2 83

Tabela 3 84

Page 12: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

12

INTRODUÇÃO

A internet, como é conhecida a rede mundial de computadores alterou

profundamente as práticas sociais. Com o desenvolvimento de novas tecnologias de

informação e comunicação, na década de 1970 houve um grande avanço criando-se

novos tipos de interação entre os indivíduos e o meio sócio-cultural, além de novos

formatos e suporte comunicacionais.

Começam a existir novas possibilidades de relações humanas que antes eram

somente encontradas em nosso cotidiano nos meios de comunicação de massa

como o Rádio e a TV, e ainda assim, muitas vezes de forma superficial. Dentre

estas, intrigou-nos a forma de produção de conteúdo que este meio de comunicação

agora trabalha, isto é, multidirecional e sem filtros, num sistema definido por Lévy

(1999).

A web, agora com uma forma de mais fácil utilização, permitiu a inserção de novos

usuários. Esse fenômeno ficou conhecido como Web 2.0. E é nessa nova plataforma

que o jornalismo é transferido para a rede, criando assim o jornalismo digital.

Como salienta Henry Jenkis em seu livro Cultura da Interface(2008), “palavras

impressas não eliminam as palavras faladas”. Assim, cada nova forma de

comunicação que surgiu obrigou as demais a conviverem harmoniosamente. O autor

deixa claro que os meios já existentes não estão sendo substituídos, mas,

transformados pelas novas tecnologias, agregando-as conforme suas necessidades.

Muda-se o meio, muda-se também a forma de fazer jornalismo. A web, com sua

característica interativa, altera o modelo comunicacional um – todos do jornalismo

tradicional e passa para uma estrutura todos-todos (Pierre Lévy, 1999). Estas

transformações podem ser vistas em blogs, listas de discussão e códigos abertos,

que possibilitaram ainda a interação entre os usuários e as mídias e ofereceram

ferramentas para a participação dos sujeitos na produção de notícias. Cria-se,

assim, o jornalismo digital participativo que utiliza a interatividade, possibilitada pela

internet, para que ocorra a participação ativa do usuário na criação e recepção de

notícias.

Page 13: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

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E é sob esse viés que esta monografia se articula: destacando conceitos e

definições, no primeiro capítulo sobre o surgimento da internet, conceitos sobre

cibercultura, cibersociedade, ciberusuário, etc. Parte-se no segundo capítulo para

uma discussão sobre o jornalismo na rede. No que tange à pesquisa específica

sobre o jornalismo colaborativo, discute-se como a cibercultura e as novas

tecnologias influenciaram a produção do ciberjornalismo e/ ou como os veículos de

comunicação se relacionam com o público, uma vez que o sistema todos – todos

aliado aos novos dispositivos tecnológicos (mp3, máquinas fotográficas digitais,

aparelhos celulares, entre outros) potencializaram a produção de conteúdo na Web

transformando os leitores em co-autores na produção de conteúdo jornalístico.

Porém, estudos que analisam “o quê” e “como” os cidadãos-repórteres produzem

informação na rede ainda são muito recentes. Nesse sentido, são poucas as teorias

existentes e o tema ainda é muito pouco abordado pelos acadêmicos.

Após um estudo teórico sobre jornalismo digital iremos analisar nosso objeto de

estudo, o site colaborativo Overmundo, tendo como recorte a editoria Overblog e

analisando o material enviado pelos usuários no período de 15 a 30 de junho de

2009. Iremos verificar se esse conteúdo colaborativo, ou seja, produzido por

pessoas comuns, sem formação jornalística, e que recebeu críticas e/ou sugestões

para ampliação ou correção dos fatos relatados, pode ou não ser considerado como

um conteúdo jornalístico em relação aos critérios de noticiabilidade empregados.

A prática do jornalismo open-source, participativo, colaborativo e conteúdo

colaborativo; suas características, suas diferenças, seus desafios, oportunidades e

experiências serão abordados no segundo capítulo, destacando, também, a

definição conceitual que o jornalismo colaborativo assumirá neste trabalho. E no

terceiro capítulo, utilizando os conceitos de noticiabilidade e valores-notícia, através

de uma revisão dos conceitos adotados pelos estudos de comunicação, faremos a

análise do conteúdo selecionado. Por fim, no último capítulo, faremos a

apresentação e discussão dos resultados encontrados.

Page 14: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

14

1. DEFINIÇÕES E CONCEITOS

Page 15: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

15

1. DEFINIÇÕES E CONCEITOS

Este capítulo tem como objetivo conceituar e trazer uma base dos conceitos

utilizados posteriormente no decorrer dessa monografia. Expondo de forma

sucinta o surgimento da internet, seus avanços tecnológicos, a relação da

internet e o jornalismo, iremos definir cibersociedade, cibercultura e

cibercidadão segundo os parâmetros a serem utilizados na pesquisa. Para

tanto, citaremos os conceitos de interatividade e o início do ciberjornalismo na

internet: os blogs.

A internet, conhecida como a rede mundial de computadores, e denominada Web1,

permitiu muitos avanços em vários meios da sociedade. Desde o seu surgimento, na

década de 1970, nos laboratórios das universidades, a web passou por atualizações

em seus formatos e interfaces para melhor atender os anseios de uma comunidade

que migrou para o chamado meio online. O que só era possível de entender por

especialistas da informática, os chamados nerds e hackers, tornou-se disponível

para todo o público em geral, de uma forma mais clara, com interface convidativa, e

mais rápida. Esse fenômeno, que permitiu a inclusão e a criação de novos usuários,

ficou conhecido como Web 2.0.

O pesquisador Joel Minusculi (2009) em sua monografia explica que a idéia de

compartilhamento de informações entre pessoas na Web é debatida desde a sua

criação “quando Tim Berners-Lee propôs em 19892 um sistema de informação

elaborado de documentação e colaboração entre investigadores e cientistas do

1 É importante lembrar que web e internet não são a mesma coisa. Apesar de serem usados muitas vezes como sinônimos, seus respectivos conceitos são bem particulares. Enquanto a internet é uma grande rede de redes de informações, que gerencia a ligação entre os computadores em escala global, a web (World Wide Web) é uma das muitas maneiras de acessar e organizar as informações que circulam dentro da grande rede mundial de computadores. A web suporta três principais funcionalidades (http, url e html) que são linguagens (protocolos), que permitem traduzir informações dos computadores (em código binário) nos navegadores (em interface gráfica nos browsers). Outras linguagens são o e-mail, o FTP e o p2p – estes últimos não sofreram grandes mudanças ao longo do tempo, pois sua função não é tão complexa quanto a parte visual da web. 2 O texto original da proposta pode ser encontrado no site de Tim Berners-Lee, no endereço: http://www.w3.org/History/1989/proposal.html

Page 16: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

16

Centro Europeu de Pesquisa Nuclear (CERN, na Suíça). (p. 23)”. Deste momento

em diante, vários pesquisadores da área se empenharam para desenvolver sistemas

no protocolo Web.

Esse desenvolvimento das tecnologias, tanto de informação como de comunicação,

na década de 1970 proporcionaram avanços e novos tipos de interação entre os

indivíduos e o meio sócio-cultural, criando dispositivos informacionais, como cita

Lévy (1999) “independente da mídia, da modalidade perceptiva em jogo ou do tipo

de representação transportada pelas mensagens”. Já o “dispositivo comunicacional”

de Lévy “designa a relação entre os participantes da comunicação”.

1.1- Ciberespaço: o que é?

O termo “ciberespaço” foi criado por William Gibson, em 1984, para seu romance de

ficção científica Neuromante, sendo designado como o universo das redes digitais

onde ocorreriam batalhas e conflitos mundiais definindo-se novas fronteiras

econômicas e culturais.

André Lemos, em seu livro Cibercultura (2007), parte da idéia que:

O ciberespaço é a encarnação tecnológica do velho sonho de criação de um mundo paralelo, de uma memória coletiva, do imaginário, dos mitos e símbolos que perseguem o homem desde os tempos ancestrais. Nos tempos imemoriais, a potência do imaginário era veiculada pelas narrações míticas. Eles agiam como um verdadeiro media entre os homens e os seus universos simbólicos. (p. 128).

Ou seja, o ciberespaço é a denominação de um “mundo paralelo”, a fantasia de uma

segunda vida criada e manipulada, como um avatar3, onde se podem realizar as

fantasias e desejos que no “mundo real” não seriam possíveis.

O autor diz ainda que o ciberespaço é resultado das relações entre tecnologias

informacionais de comunicação e a sociedade, citando essa relação como a “gênese

da cibercultura”, pois, esse encontro modificou as dinâmicas sociais.

Modificando profundamente as práticas sociais de comunicação, a internet

desencadeou, na década de 1970, um forte desenvolvimento das tecnologias de

3 Representação pictórica de si mesmo que o internauta usa em ambientes virtuais. http://www.dicionarioinformal.com.br/definicao.php?palavra=avatar&id=18986

Page 17: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

17

informação e comunicação, o que proporcionou vários avanços e a criação de novos

tipos de interação entre os indivíduos e o meio sócio-cultural, além de novos

formatos e suportes comunicacionais. Assim, podemos verificar, através deste meio,

diversas possibilidades de relações humanas que antes só eram encontradas em

nosso cotidiano e, raramente, nos meios de comunicação de massa como a TV e o

Rádio. Entre as relações de maior influência está a relação entre o media e o

público, pois, a característica interativa da Web vai além do modelo comunicacional

um - todos, até então utilizado, passando para uma estrutura todos - todos (Pierre

Lévy, 1999).

A imprensa, o rádio e a televisão são estruturados de acordo com o princípio um-todos: um centro emissor envia suas mensagens a um grande número de receptores passivos e dispersos. [...] O ciberespaço torna disponível um dispositivo comunicacional original, já que ele permite que comunidades constituam de forma progressiva e de maneira cooperativa um contexto comum (dispositivo todos-todos). (p. 62/63).

Fica evidente assim um dos papéis do ciberespaço: uma alternativa para as mídias

de massa clássicas, como a TV, o Rádio e o Impresso devido à liberdade de se

expressar e difundir a versão dos fatos, inclusive com imagens (fotos e vídeos) e

sons, sem a intermediação dos media, e pode ocorrer a comunicação de via dupla,

modelo todos - todos, enquanto que nas mídias tradicionais a comunicação fica, na

maioria das vezes, restrita ao modelo um – todos.

É o que Lemos (2007) procura evidenciar em seus trabalhos, citando o ciberespaço

como um “hipertexto mundial interativo” onde cada pessoa, sozinha ou em grupo,

pode modificá-lo, alterando, adicionando ou retirando partes, “como um texto vivo”.

O autor expõe a idéia de que o ciberespaço é formado como um grande aglomerado

de redes, sem núcleo, vários conjuntos unidos por suas comunicações. Como

exemplo, para desenvolver sua teoria, utiliza a imagem de um rizoma como sendo a

rede descentralizada, se ramificando e crescendo “de acordo com a dinâmica de

suas conexões” (p. 136) diferentes das “ramificações arborescentes” que possuem

uma hierarquia e um sistema centralizado.

Page 18: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

18

Assim, o ciberespaço, comparado ao rizoma pelo autor, forma conexões,

ramificando suas estruturas e “caracterizando-se como sistemas complexos e auto-

organizantes”. (p. 136).

Isto nos deixa cada vez mais claro que o ciberespaço é um conjunto de redes, onde

uma rede é unida à outra pelas comunicações que se estabelecem entre si. Estas

são feitas por um meio de comunicação interativo através dos usuários. O mesmo

que ao ler um livro na rede, navegar através delas – pelos seus hiperlinks,

hipertextos, links etc – visualizar imagens, vídeos, sons, dar download – baixar – ou

upload – deixar disponível na rede - está modificando, ampliando ou reduzindo

partes desse universo, “um espaço sem dimensões, um universo de informações

navegável de forma instantânea e reversível (André Lemos, Cibercultura, p. 128)”

caracterizado como parte principal da cibercultura atual.

Qualquer pessoa do mundo, ligada a rede e a qualquer horário, pode se comunicar

com qualquer outra pessoa e/ou instituição para que se coordenem, troquem,

incluam, excluam, consultem e juntem conhecimento em uma memória comum,

armazenada num disco virtual ou num computador de acesso liberado a todos.

Segundo Lévy, “o termo especifica não apenas a infra-estrutura material da

comunicação digital, mas também o universo oceânico de informações que ela

abriga, assim como os seres humanos que navegam e alimentam esse universo”. (p.

17).

No ciberespaço perde-se a idéia de integridade do documento. Assim como num

jornal impresso a matéria é divulgada por inteiro numa única página ou segue uma

seqüência em que não se perde o início e o fim, no ciberespaço isso deixa de ser

uma norma. O uso de hiperlinks4 faz com que o usuário tenha mais liberdade para a

navegação e a leitura. Esse uso faz que com se remodele a estrutura de navegação,

pois se pode começar a ler do meio, do fim, do início ou de onde se desejar, sem

que se perca a noção do fato noticiado, tornando-se o fundamento da rede.

À medida que os usuários adicionam – postam - conteúdos e sites novos, esses

passam a fazer parte da rede, ao mesmo tempo em que outros usuários descobrem

4 Palavra, expressão ou imagem que permite o acesso imediato à outra parte de um mesmo, ou outro documento, bastando ser acionado pelo ponteiro do mouse. http://dicionario.babylon.com/Hiperlink

Page 19: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

19

o conteúdo e se conectam a ele, fazendo novos hiperlinks ao documento anterior,

criando novas conexões. Estas associações fortalecendo-se em função da repetição

ou da intensidade, ou seja, acontecendo cada vez com mais freqüência e mais

rapidez, faz com que a rede de conexões e a atividade coletiva de todos os usuários

cresçam.

Como qualquer outro meio de comunicação, o ciberespaço também passou por

muitos avanços e acabou sendo dividido em Web 1.0 e Web 2.0. Essa divisão não é

muito explícita, porém fez-se mais para conhecimento acadêmico e como forma de

facilitar o estudo.

A Web 1.0 trabalhava com o modelo um – todos. Devido ao seu caráter experimental

e a grande desconfiança exercida pelos meios de comunicação tradicionais, o que

se fazia era apenas “copiar” o material (notícias, matérias, documentários, vídeos)

feitos para as mídias e “colar” na rede. Ou seja, um editor - seja de um site de

notícias ou site pessoal - colocava o conteúdo num site da Web para que muitos

outros lessem, mas a comunicação terminava aí. Não era possível dar a sua opinião

do fato noticiado, não havia um intercâmbio de informação. O usuário apenas

recebia a informação e não podia comentá-la o que fazia com que a Web fosse

apenas mais um meio de se informar, mas não de opinar e interagir.

Devido a esse modelo, a rede não foi tão utilizada. Porém, com a implantação da

Web 2.0 esse cenário se reverteu. O novo modelo, criado com a inserção de

ferramentas que não apenas permite que “outros” comentem e colaborem com o

conteúdo publicado como também permite que os usuários dêem suas opiniões, ou,

se não satisfeitos, que eles mesmos, montem seu próprio conteúdo para a rede.

Esse é o ponto evidenciado pela pesquisadora Carine Roos (2009) em sua

monografia sobre as percepções dos jornalistas sobre as mídias sociais:

Um dos princípios fundamentais da Web 2.0 é uma arquitetura de participação, que prevê a incorporação de recursos de compartilhamento e interconexão nos serviços oferecidos pelos websites. Essa arquitetura visa aproveitar a “inteligência coletiva” gerada pelos usuários dos serviços. Outro princípio é que os serviços se tornam melhores na proporção em que são usados por mais pessoas. (ROOS, 2009 apud TRASEL, 2007, p. 51).

Page 20: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

20

A Web 2.0, enfim, proporcionou a abertura necessária para que ocorresse a

passagem do jornalismo para a internet modelando o webjornalismo que veremos

adiante.

1.2- Características da Cibercultura

André Lemos (2003) cita sua definição de Cibercultura “como forma sócio-cultural

que emerge da relação simbiótica entre a sociedade, a cultura e as novas

tecnologias de base micro-eletrônica que surgiram com a convergência das

telecomunicações com a informática na década de 70”.(p. 12).

Podemos dizer, então, que o fenômeno da cibercultura não é algo que se criou do

dia para a noite, mas, foi surgindo com os avanços tecnológicos, naturais e

esperados pela população que busca modificar, melhorar ou mesmo criar novas

técnicas e aparelhos que alterem e melhorem suas vidas.

Para Lévy (1999) cibercultura, “especifica aqui o conjunto de técnicas (materiais e

intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se

desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço”. (p. 17). Esses

avanços e técnicas criados podem ser observados nos blogs, listas de discussão,

fóruns e códigos abertos, que visam a interação entre os usuários e os media e

oferecem ferramentas para a participação dos sujeitos na produção de notícias, ou

seja, a forma de produção de conteúdo na Web passa a ser multidirecional e sem

filtros.

André Lemos (2003), demonstra uma visão neutra sobre a Cibercultura, tentando

apenas mostrar os lados sobre o assunto, sem apoiar ou criticar, se atendo em

evidenciar uma “fenomenologia do social”, ou seja, citando os lados positivos e

negativos das “tecnologias contemporâneas”.

Ele cita ainda que já vivemos a cibercultura, não é o futuro, mas o nosso presente

nos cartões inteligentes, celulares, palms, pages, voto eletrônico, imposto de renda

via rede, entre outros. Ela é “a cultura contemporânea sendo conseqüência direta da

evolução da cultura técnica moderna” (p. 12), o que confirma o já citado

anteriormente.

Page 21: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

21

Demonstra-se assim que a cibercultura não é um acontecimento que teve um marco

inicial e nem que terá reversão, pois, é uma série de formas de apropriações sociais

midiáticas referente à informática e tecnologia, como, por exemplo, a micro-

informática, a internet e suas práticas sociais, o webjornalismo, as ciências da

computação, etc. Como cita Lévy (1999), essa “nova conjuntura espaço-temporal”,

cria uma nova visão para o tempo real, o “espaço de lugar”, ocorrendo a

desmaterialização do lugar, somos como viajantes do espaço, sem local marcado,

sem terra. Só através da Cibercultura se pode ter essa “ampliação das formas e

comunicação sobre o mundo”. (p. 14)

Porém Lévy (1999), deixa claro que a cibercultura não vem para democratizar a

cultura ou para diminuir as distâncias entre as mídias e a sociedade, ou seja, não é

ela que vai resolver os problemas sócio-econômico-culturais dos países. “Não há

mídia totalmente democrática e universal (a mídia impressa é lida por uma minoria e

metade da população mundial nunca utilizou um telefone)”(p. 15). Mas essa

mudança traz melhorias. A população mundial sofre atualmente com o aumento

excessivo de informações, cada vez sendo mais veiculadas com maior rapidez, num

maior fluxo, e num tempo menor. Na maioria das vezes se torna impossível

acompanhar. O autor assim defende a luta pela garantia do acesso a todos, e esse

acesso através do ciberespaço pode ser o caminho.

Tanta diversidade faz com que a oferta por notícias aumente e ocorra assim uma

maior cobertura e melhor interpretação de um mesmo fato que pode ser coberto e

divulgado por vários meios e muitos sites, cada qual contendo um fato novo, e a

mais, uma outra visão, outra análise ou interpretação, sobre o ocorrido. Em

Cibercultura (1999), Lévy define essa nova forma de divulgação dos fatos como algo

que preza não só a publicação, mas a atualização constante, agregando mais

qualidade nos meios digitais. Essa peculiaridade define “a notícia em tempo real

como verdadeira notícia” (p. 54), pois, divulga o fato assim que ele ocorre e pode ir

sendo modificada, acrescentando detalhes ou corrigindo possíveis erros.

Essa é a nova tendência na internet, a criação de sites segmentados, e

especializados, por assuntos ou regiões, como o caso do site Overmundo, trata-se

de cultura fora do circuito e da grande mídia, cuja análise veremos mais adiante.

Page 22: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

22

Ainda sobre Lévy (1999), podemos demonstrar que ele trata a cibercultura como

uma,

(...) expressão da aspiração de construção de um laço social, que não seria fundado nem sobre links territoriais, nem sobre relações institucionais, nem sobre as relações de poder, mas sobre a reunião em torno de centros de interesses comuns, sobre o jogo, sobre o compartilhamento de saber, sobre a aprendizagem cooperativa, sobre processos abertos de colaboração. O apetite para as comunidades virtuais encontra um ideal de relação humana desterritorializada, transversal, livre. As comunidades virtuais são os motores, os atores, a vida diversa e surpreendente do universal por contato. (p. 130).

A forma de compartilhar conhecimento, de se aprender cooperativamente,

colaborando, trocando e criando informações em conjunto é a própria cibercultura. E

para que isso exista é necessário que se crie uma pluralização de vozes, é preciso

que o público construa isso, ou seja, contribua ativamente na rede. As novas

tecnologias apenas impulsionaram essa cultura em rede e no ambiente colaborativo,

não a criaram e é desta forma que devemos prosseguir para o desenvolvimento

dessa cultura.

André Lemos (2005), em seu livro Cibercultura, estabelece três “leis” fundadoras da

cibercultura:

1- Liberação do pólo de emissão – com as novas ferramentas digitais, avanços

tecnológicos (invenção de novas máquinas), novas vozes e discursos ganharam

espaço no ambiente comunicacional (comunicação um – todos / todos – todos);

2- Princípio de conexão em rede - “tudo comunica e tudo está em rede” ou “a rede

está em todos os lugares” e o computador é a própria rede, interatividade e

compartilhamento, o ciberespaço e a cibercultura se misturam ao universo;

3- Reconfiguração – o “novo” não significa aniquilar o “velho”, mas reconfigurar as

dinâmicas e práticas sociais, recriar, ampliar, recompor.

Sobre as “leis”, a primeira da “liberação do pólo de emissão” foi a que ocasionou um

grande impacto sobre o jornalismo na Web, pois, é ela que implementa a alteração

das vozes, ou seja, altera o fluxo de comunicação na sociedade de massa. Antes

ocorria o processo unidirecional, com mensagens sem retornos, apenas “coladas”

Page 23: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

23

das mídias tradicionais, sem meios de alteração ou intromissão, agora o novo

método é a comunicação multidirecional, todos se comunicam, comentam, criam a

notícia em conjunto. As demais, não menos importantes, ampliam a explicação da

primeira. O “princípio de conexão em rede” evidencia que cada vez mais estamos

online, conectados ao ciberespaço, construindo conhecimentos, trocando

informações, nos “equipamos” com um “arsenal tecnológico” para sempre estar

recebendo ou transmitindo informação. Atualmente é quase impossível encontrar

alguém que não tenha um celular, e que o mesmo seja utilizado apenas para fazer e

receber ligações. O mesmo acontece com Ipod’s, mp3 players, câmeras digitais,

aparelhos de gps, etc. Cada vez menores cada vez com mais funções. Essa

necessidade de receber e enviar informações através desses novos meios é uma

característica dessa cibercultura. Ninguém quer ficar de fora, todos querem

permanecer conectados, em todos os lugares, estar sempre informado sobre o que

está acontecendo no mundo.

Essa “reconfiguração” é uma ampliação da segunda lei porque nos mostra que o

que era utilizado não deve ser esquecido ou ignorado, apenas renovado. O modo

como nos comunicávamos, como nos informávamos, como recebíamos e

transmitíamos informação apenas sofre uma modificação, não se extingue. Assim,

as mídias tradicionais não devem ser deixadas de lado, ao contrário, deve andar

lado a lado, em paralelo, com os novos meios. O ciberespaço deve ser uma

ampliação do espaço real, e a cibercultura uma extensão de nova cultura atual.

1.2.1 - Interatividade

A interatividade no ciberespaço é a peça vital para que ocorra o processo de

comunicação todos – todos. Esta se iniciou de forma moderada a exemplos da

interatividade nas mídias tradicionais.

Ao ler uma matéria com a qual não se concordava ou que se desejava mostrar

outros pontos de vista, acrescentar fatos, ou relatos que foram presenciados, ou

mesmo opinar, criticar ou elogiar o jornalista ou o meio, a única forma encontrada foi

o e-mail.

Page 24: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

24

O e-mail foi, e ainda é, muito utilizado como ponte entre o público e os media, em

enquetes, antigas cartas do leitor, resposta a uma matéria com erros – as erratas -,

ou mesmo com críticas e sugestões de pauta, perguntas aos jornalistas, convites

etc.

Nicola (2004), em seu livro Cibersociedade deixa clara essa visão:

O e-mail é a forma encontrada pelo ciberleitor para interagir com o jornalista, e representa uma ponte cada vez mais estreita entre ambos. Os editores encontraram nessa interação a saída para a reformulação do design da página e do provável índice de audiência das colunas cibernéticas. (p. 64).

O autor mostra que o e-mail também serviu de forma para medir audiência, uma

forma de resposta do público ao veículo, quanto mais e-mails as mídias recebiam

maior era a aceitação, eles acreditavam. E utilizavam essa forma para ver a

aceitação de mudanças em suas páginas, como novas colunas, editoriais, etc.

Mas essa comunicação não se deu do dia para a noite, aliás, seus usuários sofreram

muito ficando muitas vezes sem respostas para seus e-mails. Pode-se dividir a

interatividade no ciberespaço em seis fases:

Na primeira fase, os usuários enviavam e-mails às redações digitais e não obtinham

resposta, apenas a disponibilização do seu conteúdo editado em um espaço definido

para os leitores tal como em seções de cartas das mídias impressas. Esse

panorama só se modificou com a Web 2.0, denominada como início da segunda

fase. Com ela, o usuário teve a oportunidade de escolher mais caminhos para se

comunicar. Além dos e-mails que começaram a ser respondidos, muitas vezes até

pelos próprios jornalistas responsáveis pela matéria, outras vezes por pessoas

contratadas para apenas fazer essa comunicação. Na terceira fase nas páginas da

web, começaram a surgir novas aberturas para a comunicação público – media,

como os fóruns, os debates, bate – papos com jornalistas e enquetes com famosos,

na busca de promover o veículo e atrair a atenção do público. Os espaços para

comentários, que eram mostrados logo abaixo da matéria, os formulários para

sugestões, críticas a serem enviadas as redações digitais surgiram na quarta fase, a

exemplo dos blogs que viraram mania na internet. Muitas vezes esses comentários

eram respondidos pelos jornalistas também.

Page 25: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

25

Já na quinta fase, o usuário ganha a liberdade de produzir uma matéria com o apoio

e auxilio do jornalista, ou até mesmo, como veremos adiante, de fazê-la sozinho,

postando, além de conteúdo escrito, vídeos, fotos e sons. Nasce aí o webjornalismo

colaborativo com base na interatividade entre medias e usuários na chamada sexta

fase, ou fase atual.

Atualmente o cidadão-repórter, como é denominado o usuário engajado na interação

com os media, pode usar e abusar dos meios tecnológicos e de comunicação para

se fazer visto (posts, comentários, sugestões, pautas, matérias) e ouvido (vídeos,

sons, fotos, ilustrações, animações). Nesta fase não há mais papéis definidos para

emissores e receptores, todos constroem de modo interativo uma história.

Para confirmar o que acabamos de citar, nos baseamos na pesquisa de Joel

Minusculi (2009) sobre a reconfiguração da imprensa no webjornalismo participativo

que cita Alex Primo (2007) sobre a definição de interatividade, onde a expressa

como “a medida da habilidade potencial da mídia em permitir que o usuário exerça

uma influência no conteúdo e/ou na forma da comunicação mediada” (p. 37).

Alex Primo (2007) defende a interatividade em vários níveis, tais como:

• interatividade de transmissão - o usuário escolhe que fluxo de informações em mão

única quer receber (não é possível fazer solicitações);

• interatividade de consulta - o usuário solicita informações em um sistema de mão

dupla com canal de retorno;

• interatividade de conversação - o usuário produz e envia suas próprias informações

em um sistema de duas mãos;

• interatividade de registro - o sistema registra informações do usuário e responde às

necessidades e ações dele.

Portanto o que podemos verificar dessa análise até esse momento é que a abertura

no processo de comunicação, fazendo com que ocorresse a mudança do padrão

comunicacional de um –todos, para todos – todos, com o uso da interatividade entre

usuários e medias, a abertura do código HTML e WWW para que os usuários

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26

pudessem também interagir e interferir na construção do ciberespaço com a criação

de novos hiperlinks, blogs, sites, etc., explicam essa nova forma de comunicação

mundial atual. O modelo tradicional está aprendendo, com duras quedas, que

precisa conviver com as mídias colaborativas. Ou seja, o mundo que conhecemos

ganha novas formas e aspecto de ciberespaço onde nossa cultura sofre alterações e

se transforma em cibercultura. E para que essas mudanças funcionem de forma

harmoniosa, a sociedade também deve se adequar. É o que iremos tratar no

próximo tópico, a cibersociedade.

1.3- Cibersociedade

Steve Johnson (2001), em seu livro Cultura da Interface, define assim a nossa

sociedade atual:

Vivemos numa sociedade cada vez mais moldada por eventos que se produzem no ciberespaço, e apesar disso o ciberespaço continua, para todos os propósitos, invisível, fora de nossa apreensão perceptiva. (p. 20).

Ou seja, apesar de cada vez mais nos moldarmos pelo que acontece em rede, o

ciberespaço continua como em paralelo com o espaço real. Não vemos o

ciberespaço como algo inerente em nossas vidas, algo que não se pode

desconectar, ainda estamos online ou offline. Mas o que se espera com esse estudo

é demonstrar que essa barreira online, offline se tornou cada vez mais uma linha

muito tênue, difícil de ser separada.

Esta sociedade, denominada cibersociedade, vem se desenvolvendo desde a

implantação da internet, onde adquirimos a cultura de absorver, produzir e interagir

com informações existentes na rede, até mesmo como forma de fugir da

manipulação das mídias tradicionais. Esse processo de democratização da

informação, com a descoberta da liberdade de expressão em um meio onde todos

se tornem “visíveis”, transformou a sociedade. Porém, essa sociedade ainda se

encontra restrita, limitada, devido à falta de estrutura e de acesso à informação por

parte de todos.

Lemos (2007) evidencia essa vivência entre um paralelo ciberespaço – espaço real,

onde o “tempo real”, aquele em que ocorre a comunicação instantânea e o “espaço

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físico” – nossa casa, escritório etc., criam uma contradição, devido ao “imobilismo” –

estamos sentados em frente a uma tela e o “nomadismo” – viajando, vagando de

lugar em lugar na rede.

O autor nos denomina como “nômades, cowboys do ciberespaço” que viajam no

mundo utilizando as “máquinas de comunicar (computadores portáteis, celular wap,

pagers, palm computers, celulares) (p. 121)”. E deixa claro ainda que o espaço físico

de nada conta e sim o ciberespaço com o qual nos identificamos, ou seja, meu e-

mail, minha home page, meu MSN etc.

O que faz com que entendamos que não importa onde estamos, mas como nos

comunicamos, isto nos transforma, a forma como nos comunicamos, quais a

tecnologias que usamos, quanto mais meios mais conectados, mas cibercidadãos

somos.

Sobre essa interação meio e sociedade, ou melhor, ciberespaço e cibersociedade,

André Lemos (2007) utiliza-se dos textos de Lévy (1991) e define o “grande

hipertexto” partindo de princípios abstratos, como:

• Metamorfose – a rede em contínua e incessante construção e renegociação;

• Heterogeneidade – grande diversidade e diferentes qualidades de nós, laços

e conexões;

• Multiplicidade – organização fragmentada da rede, toda parte tem o todo em

si;

• Exterioridade – cada conexão depende da outra além dela mesma;

• Topologia – a rede não está no espaço, é o espaço;

• Mobilidade – a rede não possui um centro, mas vários, os chamados “pontos

luminosos móveis” por Lévy.

Esses princípios, utilizados pela sociedade, nos colocam em constante mutação com

o meio. Nos tornamos pequenas redes moveis, pois acumulamos, criamos e

dissipamos conhecimentos através das interações com outras redes, ou seja, outros

cibercidadãos. Essa comunicação pelo computador nos dá uma maior autonomia

para se ler, interpretar, editar, redigir e agir na rede da maneira que considerarmos

mais adequadas.

Page 28: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

28

A rede, ou, as redes, que visitamos, as quais percorremos nessa nossa viagem

como cowboys do espaço, nos dão informações necessárias para nos comunicar e

viver no espaço real. Cada indivíduo comunicando-se de um lado, sozinho em um

quarto ou em grupo numa biblioteca, formando milhares de pontes de conhecimento,

faz com que estejamos a sós, no real, mas que formemos uma multidão no virtual.

Não que essa comunicação tenha obrigatoriamente necessidade de ser feita em

particular, que seja pessoal, pode ser feita em grupo, mas é o que geralmente

ocorre. Ficamos conectados às outras pessoas pela internet, marcamos encontros

online, pelo MSN5, pelo Twitter6, etc., para, em grupo, gerar o conhecimento.

Mas, Lemos (2007) deixa claro, em seu livro Cibercultura, que essa comunicação

não pode abolir a comunicação direta, a convivência familiar, com os amigos, na

escola, no trabalho, os encontros nos bares, o papo na esquina, os livros etc. O

autor confirma que o conhecimento trazido pela mídia, principalmente a web, tem um

grande valor, pois, é nela que se encontra o fato mais recente, a cobertura diária, os

acontecimentos políticos, sociais, econômicos e culturais da atualidade, porém,

esses fatos nos são mostrados sem um grande aprofundamento nos dando a falsa

sensação de saber de tudo mas apenas sabemos tudo de uma certa maneira. Por

isso para se ter uma conclusão sobre o assunto devemos ler vários pontos de vista e

interpreta-los conforme nossa visão.

Não estamos pregando aqui que só devemos nos comunicar por meio de aparelhos

transformando-nos em uma sociedade fria e sem contato físico, pelo contrário, essas

novas formas de comunicação vêem para “aquecer” esse contato, tornar-nos mais

próximos uns dos outros.

Portanto, concordamos com LÉVY (1999, p. 203) quando ele argumenta que a

tecnologia reconfigura a mediação nas sociedades contemporâneas “o ciberespaço

é justamente uma alternativa para as mídias de massa clássicas. De fato, permite

que os indivíduos e os grupos encontrem informações que lhes interessam e

também que difundam sua versão dos fatos (inclusive com imagens) sem passar

pela intermediação dos jornalistas. O ciberespaço encoraja uma troca recíproca e

5 MSN Messenger. http://dicionario.babylon.com/MSN%20Messenger#!!9G2CGKRAUE 6 http://www.twitterbrasil.org/2009/02/17/o-que-e-o-twitter/

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comunitária, enquanto as mídias clássicas praticam uma comunicação unidirecional

na qual os receptores estão isolados uns dos outros”.

Assim, o que caracteriza o cibercidadão é essa vontade de compartilhar, de se

comunicar, de interagir com os demais. E para tanto, segundo Nicola (2004):

Ele se familiariza rapidamente com os processos de edição e, se estiver descontente com a desatualização do site jornalístico, recria o seu próprio, ou, como ocorre freqüentemente, até desenvolve um jornal digital comunitário utilizando sites hospedeiros. (p. 17).

Mas o autor cita que há três tipos de interagentes, o ciberleitor, o cibercidadão e o

cibernauta, e cita suas diferenças:

O ciberleitor abastace-se de informações e estabelece um distanciamento com a mídia, ao contrário do cibercidadão, que se informa e, concomitantemente, integra-se ao universo cibernético, compreendendo-o como “partícipe da vida digital”. (NICOLA, 2004, Cibersociedade, p. 83).

Ou seja, o ciberleitor apenas retira o conhecimento do ciberespaço, não se envolve,

não se manifesta, não se propõe a uma interação propriamente dita com o meio, não

quer aparecer,

Portanto, o ciberleitor possui uma interação imediata com os textos digitais, verbais e não-verbais; em geral quando navega pelos compartimentos on-line, mantém-se exclusivamente à caça de conteúdos. Já o segundo [cibercidadão] é um usuário preocupado em engajar-se nas questões sociais e procura interagir com os demais usuários por meio dos debates em listas de discussões, CI’s, newsgroups, etc; o terceiro [cibernautas] está despreocupado com o aprofundamento dos conteúdos do mundo digital e apenas acompanha o ritmo da internet em sua grade de convergência midiática: texto, som e imagem; ele está sempre procurando aplicativos e outros produtos de marketing. (NICOLA, 2004, Cibersociedade, p. 123).

Assim temos, resumindo, a figura do cibercidadão engajado na comunicação,

preocupado com a troca de conhecimentos, a fim de criar e corrigir possíveis erros

na comunicação e do cibernauta que somente navega, como o “cowboy” de Lévy,

buscando novas técnicas e novidades apenas para satisfação própria completa o

cenário dos integrantes da cibersociedade, onde ambos não apenas retiram o

conhecimento mais ajudam a fazê-lo.

Page 30: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

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Trataremos aqui, nessa pesquisa, apenas os aspectos do cibercidadão, visto seu

caráter de engajamento com a comunicação. Lemos (2003) manifesta claramente a

existência desse novo usuário:

(...) não é difícil checar, a partir de levantamentos empíricos, a existência de um novo tipo de usuário das redes digitais de comunicação, um usuário a um só tempo emissor e receptor, um usuário que busca o equilíbrio da interação e cujo foco central é, efetivamente, o do compartilhamento e o da colaboração. Este usuário não teria outra condição de agir, senão através do não-lugar que é o ciberespaço. (LEMOS, 2003 apud LÉVY, 1991, p. 200).

Steve Johnson (2001), o descreve como o usuário que se manifesta pelo puro prazer

de se comunicar como um amante, que se comunica “por puro amor pela coisa (p.

61)”, explica que a palavra “amador” é derivada do latim “amator” que vem de amar.

E o autor ainda usa como exemplo os blogs amadores que estão ganhando espaço

na grande mídia e a atenção do público.

Por fim, Jenkis (2008), em Cultura da convergência, traz uma discussão acerca

desse conhecimento compartilhado e público. À medida que aprendermos a viver

nessa cultura do conhecimento, poderemos nos antecipar nas discussões entre a

separação de esfera pública midiática e esfera pública periférica. Esse debate

envolve toda a sociedade de massa e em rede e potencializa a comunicação entre

essas esferas – pública midiática (os meios de comunicação tradicionais) – e –

pública periférica (as novas formas de comunicação na rede) e esta centrado tanto

em como sabemos e como avaliamos o que sabemos quanto na informação em si.

As maneiras de saber podem ser distintas e pessoais, diferenciando quanto aos

tipos de conhecimento que acessamos, mas, à medida que o saber se torna público,

que o saber se torna parte da vida de uma comunidade, essas contradições na

abordagem devem ser minuciosamente examinadas e diligentemente trabalhadas.

1.3.1 – A febre dos blogs

Os primeiros hiperlinks a utilizarem a simplicidade da manipulação e divulgação de

fatos, possibilitando que qualquer pessoa seja um produtor de conteúdo, foram os

weblogs, fotologs, entre outros gêneros “logs” multimídias. Com a facilidade de

manipulação desses sistemas, um dos fatores responsáveis pela popularização e

expansão da prática nesses ambientes virtuais, as redes sociais, comunidade e

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fóruns (qualquer meio projetado para comportar e registrar o envio de informações

por vários usuários ao mesmo tempo) inspiram e instigam as pessoas a debaterem

assuntos, de forma a complementar e ampliar conteúdos.

A partir de 1999, na internet, começa a tomar forma uma modalidade de site cujo

estilo era mais livre, cujos textos eram curtos e rápidos, como pequenos relatos,

cujos autores, os cibercidadãos, não temiam expor suas opiniões e deixá-las aberta

à discussão. Nasciam os blogs, ferramentas constituídas de hiperlinks com código

aberto a interação e manipulação dos usuários, que, apesar de, em princípio, terem

sido vistas como meros diários virtuais pessoais, por contar com pequenas

passagens do dia-a-dia do autor, ganharam, aos poucos, a percepção de sua

potência para outros fins como, por exemplo, canal de notícias, espaço de discussão

política e meio de análise e críticas aos demais meios de comunicação.

Os blogs são produzidos por pessoas interessadas em assuntos quaisquer,

atualmente se tornaram especializados e segmentados, para que outros que

compartilhem do mesmo interesse também se manifestem através dele. Luciano

Santa Brígida e Marcos Barbosa (2009), em seu artigo sobre os blogs cita Mayfield

(2008) para salientar que o autor,

(...) os classifica como uma mídia social, isto é, um meio que, junto com fóruns, wikis e outros compartilham de características comuns como: a participação, isto é, o encorajamento dado pelas mídias sociais aos seus usuários para que participem com contribuições e feedbacks; a abertura, que diz respeito à cultura de não coibir o acesso à informação, havendo poucas barreiras aos conteúdos; a conversação é a capacidade das mídias sociais agirem como uma via de mão dupla, diferente dos meios de comunicação de massa que permitem pouco feedback da audiência; a comunidade corresponde à potencialidade da formação de comunidades centradas em torno dos interesses afins dos participantes; e a conectividade que trata do uso de hiperlinks para outros sites, fontes ou pessoas. (p. 5).

O que antes era utilizado apenas como um diário virtual, o blog, hoje é usado na

divulgação de assuntos variados, de fora da grande mídia ou mesmo

aprofundamento das notícias veiculadas na imprensa, meio para protestos, críticas,

debates, ações sociais e comunitárias e surge atualmente com uma grande, e

importante, ferramenta para a coberta jornalística hiperlocal, divulgando fatos

ocorridos que atraem apenas um pequeno público ou um público especializado e

que não têm espaço na mídia devido aos critérios de noticiabilidade agregados pelos

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meios. Com isso, viu-se nos blogs uma abertura ideal, devido ao seu caráter aberto

a resultados: quem lê também opina e mostra se o blog tem audiência ou não, se é

confiável ou não, se tem engajamento ou não, para se fazer essa nova forma de

jornalismo.

Chris Anderson (2006) trata dos blog como não só uma nova forma de fazer

jornalismo ou comunicação, mas como um mercado, um nicho que está evoluindo e

criando uma nova cauda longa. Fala também da falta de credibilidade enfrentada

pelos blogs, pois quando se lê uma notícia em um portal ou site noticioso sabe-se a

procedência, é confiável, pois foi escrita por profissionais, o que não acontece com

os blogs que muitas vezes podem ter comentários ou mesmo posts anônimos.

O autor salienta que quando a informação não tem mais alguém que seja

responsável por ela, ela pode se tornar não confiável, isto depende do modo que ela

é divulgada. A grande quantidade de blogs, sendo escritos em primeira pessoa,

prezando mais pela interpretação, análise, crítica e impressões pessoais ocasiona

essa descrença no público-leitor. Sobre os blogs, Anderson (2006) diz,

Nenhum deles é absolutamente credenciado, confiável e fidedigno. Os blogs são uma forma de Cauda Longa e é sempre um erro generalizar sobre a qualidade ou natureza do conteúdo na Cauda Longa – ela é, por definição, variável e diversa. Mas, em conjunto, os blogs estão se revelando tão fidedignos quanto a grande mídia ou até mais confiáveis. Apenas é necessário ler mais de um deles para decidir. (p. 67).

A primeira informação é a que fica? Não mais. Na era do conhecimento o que se

preza é o conjunto. Não se deve acreditar em tudo que se lê. Para saber, realmente,

o que aconteceu devemos verificar a informação divulgada. O trabalho antes feito

pelos jornalistas e que o público apenas recebia inerte em sua poltrona agora passa

a ser feito também pelo cibercidadão que, a fim de consumir notícias e de repassá-

las em seu blog, tem que fazer a checagem do fato para que não torne seu meio de

comunicação algo visto como sem credibilidade.

Esse trabalho de checagem e de produção de notícia, como dito anteriormente, é

feito por vontade própria, o que falta agora é vontade por parte dos profissionais em

abrirem espaço para que os “amadores”, os cibercidadãos, pratiquem essa função.

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Estamos na aurora de uma era em que a maioria dos produtores, em qualquer área, não será remunerada. A principal diferença entre esses amadores e seus colegas profissionais é simplesmente a lacuna cada vez menor nos recursos disponíveis, para que ampliem o escopo de seu trabalho. Quando as ferramentas de trabalho estão ao alcance de todos, todos se transformam em produtores. (ANDERSON, 2006, p. 71).

Observa-se assim que, cada vez mais, os blog desenvolvam uma formação de

nichos em uma sociedade consumidora de informação, onde a demanda se torna

cada vez mais específica e fiel. Quem lê o blog, acredita nele e o segue, postando

comentários e sugerindo pautas.

Foschini e Taddei (2006), em seu livro sobre blog Conquiste a rede salienta que

além de ser um site atualizado regularmente com estrutura cronológica, nos blogs é

possível publicar materiais (vídeos, textos, áudios) que se aproximam da definição

do ato de reportar.

Assim, o que se conclui é que quem tem o poder de decidir a forma que irá consumir

e que também tem a liberdade de participar da produção da informação a ser

consumida é o leitor. A chamada cultura do “Faça você mesmo!” foi potencializada

pela internet e ganhou ares de ordem na abertura do pólo emissor para o receptor,

reconfigurando o papel do jornalista como um mediador da informação e tradutor da

sociedade. O papel do jornalista que era baseado em recortar fatos, analisá-los e

divulgá-los aos receptores, fazendo uma conexão (realidade – público), está

evoluindo para uma mediação do diálogo, premissa essencial para o ciberjornalismo.

Em resumo, o que se pode verificar é que o ciberespaço permite a combinação, e é

formado, por vários meios de comunicação, variando em graus de complexidade

mas é uma grande concentração – o correio eletrônico, o hiperdocumento

compartilhado, os sistemas avançados de troca de informações e conhecimento, as

teleconferências, os programas de edição, enfim os vários mundos, redes, virtuais

de multiusuários.

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2. VÁRIOS NOMES PARA UM MESMO CONCEITO

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2. VÁRIOS NOMES PARA UM MESMO CONCEITO

No segundo capítulo, veremos, em particular, o surgimento do webjornalismo,

jornalismo open source, colaborativo e conteúdo colaborativo aliado às

invenções tecnológicas de capturação (mp3, máquinas fotográficas digitais,

aparelhos celulares, entre outros). Identificaremos também as principais

características da legislação e dos direitos autorais no jornalismo digital, seu

conceito e mudanças ocorridas a partir da Web 2.0.

Os nomes são vários – webjornalismo, ciberjornalismo, jornalismo eletrônico,

jornalismo digital, jornalismo online, entre outros – mas todos buscam identificar,

cada qual com a sua especificidade, a utilização das novas tecnologias de

informação e comunicação atuais aliadas às antigas rotinas da produção jornalística

de informação.

O jornalismo no ciberespaço foi fortemente modificado devido aos avanços

tecnológicos e suas invenções (câmeras digitais, gravadores, mp3 players, etc) que

auxiliaram e otimizaram o processo jornalístico de checagem dos fatos e divulgação.

Essa checagem feita de forma mais rápida faz com que cada vez mais notícias

sejam veiculas num período menor de tempo. A cibercultura influenciou essas

mudanças, modificando a forma de comunicação, alterando o processo

comunicacional das mídias tradicionais, mass medias, de um – todos, para o novo

processo de todos – todos. E a cibersociedade também aproveitando dessas

alterações tomou seu espaço transformando de vez esse cenário, fez o uso da sua

voz e não mais ficou como mera receptora de informações, invertendo papéis e

criando também informação. O ciberleitor e o cibercidadão ocuparam seus lugares e

no ciberjornalismo participam cada qual com sua função ajudando a formar de vez

esse novo cenário do jornalismo atual.

Por mera questão metodológica, o termo “ciberjornalismo” ou “webjornalismo”,

atualmente “jornalismo digital” se refere às práticas da produção do jornalismo no

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ciberespaço, na web. Práticas que se modificaram com a passagem dos meios

tradicionais para o meio interativo devido à utilização das novas “leis” da

cibercultura. Essas “leis”, que já vimos anteriormente, e que fizeram com que as

técnicas jornalísticas sofressem uma nova configuração, porém, o prefixo “ciber” não

aparece apenas para indicar que o jornalismo na web é feito com o computador mas

para deixar claro que o processo de produção jornalística foi alterado e com ele

surgem novas funções aos jornalistas e leitores.

Os demais termos apenas definem questões quanto à participação da

cibersociedade no processo de produção de notícias e outros conteúdos e a

segmentações a que não nos ateremos nessa pesquisa. O importante é que fique

claro quanto à nomenclatura webjornalismo, ciberjornalismo e jornalismo digital que

são equivalentes em sentido, ou seja, é o jornalismo feito na grande rede mundial de

computadores, assim online.

No que refere-se à participação do cibercidadão no meio jornalístico como forma de

colaboração no processo de produção de notícias podemos verificar que segundo

Foschini e Taddei (2006) existem quatro subdivisões quanto a essa participação da

cibersociedade:

• Jornalismo participativo – Ocorre, por exemplo, nas matérias publicadas por veículos de comunicação que incluem comentários dos leitores. Os comentários somam-se aos artigos, formando um conjunto novo. Dessa forma, leitores participam da notícia. Isso é mais freqüente em blogs.

• Jornalismo colaborativo - É usado quando mais de uma pessoa contribuiu para o resultado final do que é publicado. Pode ser um texto escrito por duas ou mais pessoas ou ainda uma página que traga vídeos, sons e imagens de vários autores.

• Jornalismo código aberto - Surgiu para definir um estilo de jornalismo feito em sites wiki, que permitem a qualquer internauta alterar o conteúdo de uma página. Também pertencem a esse grupo vídeos, fotos, sons e textos distribuídos na rede com licença para serem alterados e retrabalhados.

• Jornalismo grassroots - Refere-se à participação na produção e publicação de conteúdo na web das camadas periféricas da população, aquelas que geralmente não participam das decisões da sociedade. Quando elas passam a divulgar as próprias notícias, causam um efeito poderoso no mundo da comunicação. Quem usa esse termo defende a idéia de que o jornalismo cidadão está diretamente relacionado à inclusão dessas camadas no universo criado pelas novas tecnologias de comunicação. (p 19/20)

Essas divisões foram criadas para um melhor entendimento e para tornar mais fácil

o estudo sobre essa participação da cibersociedade no processo jornalístico. Porém,

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para esta pesquisa, apenas nos ateremos à participação que visa a colaboração, ou

seja, que influi no processo final da notícia. As demais modalidades serão vistas nos

sub-capítulos a seguir para mero entendimento da pesquisa que segue.

Sobre a informação veiculada na internet, no meio jornalístico profissional, o que nos

fica evidente é que esses meios se tornam formadores de informação na esfera

pública visto que “escolhem” os fatos a serem “recortados” e que ganharam

visibilidade na agenda pública. Essa mediação feita entre a realidade e o público,

por esses veículos, começa a perder força com a entrada do usuário engajado e

com interesse em divulgar fatos além de noticiabilidade nacional, ou seja, começa a

ocorrer a valorização do local.

Essa barreira entre mídia e público, que agora começa a cair, é citada por Alex

Primo e Trasel (2006) em seu artigo sobre webjornalismo participativo e a produção

aberta de notícias. O artigo explica que antigamente, no modelo de Web 1.0, a

distinção entre autor e leitor na web estava “borrada”, pois, os primeiros jornais na

web mantinham o mesmo modelo do jornalismo tradicional com suas “barreiras entre

redação/edição de noticias” bem demarcadas, ou seja, mantinham o velho modelo

de emissor – mensagem – canal – receptor, onde o leitor (receptor) não possuía

nenhuma liberdade nem abertura para interagir com o meio. Mas, o internauta não

permanece por muito tempo nessa posição passiva, “a leitura do hipertexto demanda

que o internauta assuma uma postura ativa na seleção dos links que apontam para

diferentes lexias na estrutura hipertextual, o que o convertia necessariamente em co-

autor [...] (p. 2)”, assim, o internauta começa a ganhar ferramentas para participar do

processo de criação criando “debates em torno do sistema produtivo e dos próprios

ideais jornalísticos (p.2)”

O fato, seguindo os padrões comunicacionais tradicionais, seguia o fluxo saindo do

emissor ao meio para chegar através dele ao receptor, no caso, o público, como era

denominado no sistema um – todos.

Page 38: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

38

Figura 1: Modelo antigo de emissão de “cima para baixo”, caracterizado pelo controle da organização dos meios. Toda notícia é filtrada através de uma organização para a audiência. (Bowman; Willis, 2003, p. 10)

Com a web, esse processo se modifica e passa a seguir o método todos – todos, ou

seja, a notícia não mais sai, somente, da mídia e dos meios de comunicação de

massa, mas também é enviada pelo público. Na internet, o público troca opiniões

com os media o que agrega mais qualidade ao que é divulgado.

Figura 2: Novo modelo de emissão caracterizado pela troca de conteúdo entre os envolvidos. Nesse sistema a web é um intermediário da comunicação entre as extremidades. Fonte: Interpretação do autor.

Desta forma, o jornalismo torna-se uma prática comunitária, feita de pessoas e pelas

pessoas, estas organizadas viram dispositivos de coleta de dados para a difusão de

informações que dizem respeito a sua realidade, baseadas em seus contextos

culturais.

Essa é a realidade que se vê hoje na web, que as audiências, o público, se

convertam em participantes, através do desenvolvimento de ferramentas para formar

criadores em seu ambiente online. Visão salientada por Jenkis em seu livro Cultura

da Interface (2008):

A expressão cultura participativa contrasta com noções mais antigas sobre a passividade dos espectadores de mídia como ocupantes de

Page 39: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

39

papéis separados, podemos agora considerá-los como participantes interagindo de acordo com um novo conjunto de regras, que nenhum de nós entende por completo. (p. 28).

2.1- Ciberjornalismo

O jornalismo utilizou-se da rede para aumentar e agilizar a sua atuação na

sociedade. O jornalista dos meios tradicionais encontrou na web uma forma

dinâmica de trabalho, em que poderia colher, desenvolver e publicar informações

com mais dados, uma maior facilidade, maior análise e até mesmo um conteúdo

melhor. Surgiu, assim, o webjornalista, o profissional do meio multimídia.

A prática do webjornalismo ocorre há um pouco mais de dez anos. Nesse tempo

houve muitas mudanças em relação ao modo como ele foi sendo feito. Iremos

destacar três fases do jornalismo digital que consideram principalmente o uso da

tecnologia e o produto final:

A primeira fase foi a de transposição dos meios impressos para o digital, ou seja, as

notícias que seguiam o padrão e diagramação do jornal tradicional foram “coladas”

na web, a chamada fase do “ctrl C + ctrl V”. Os webjornais apresentavam poucos, ou

muitas vezes nenhum, recursos interativos para com o leitor, quando existiam era

apenas o e-mail, o menu de navegação entre as editorias, os fóruns e as enquetes.

O padrão do jornalismo impresso foi mantido na segunda fase, mas, novos

elementos de interatividade foram adicionados, como o uso de hipermídia, listas de

últimas notícias, animações, ilustrações e matérias relacionadas. Nesse período

também começa a surgir o material exclusivamente online, como um bônus para a

versão impressa. Esse material muitas vezes era formado por matérias relacionadas,

saiba mais e curiosidades.

Já na terceira geração sim, as publicações online agregaram a hipermídia à

produção do texto, utilizando cada vez mais a interatividade, a hipertextualidade e as

multimodalidades permitidas pela convergência das mídias digitais (uso de vídeos,

fotos, sons, animações em 3D, menus interativos, jogos para entender o assunto

etc.). É nessa geração que esse conteúdo começa também a se transpor para

outras plataformas como celulares etc.

Page 40: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

40

A quantidade de conteúdo produzido nessa fase é muito grande criando assim a

necessidade de se avaliar o que se lê antes de descartar ou de tomar como

verdade. Esse “excesso” de informação se dá devido a não se ter mais o problema

do espaço – na web o espaço é virtualmente ilimitado – não há mais o produto físico,

a informação não ocupa lugar, físico ou material, e assim o fluxo se torna maior.

O webjornalista pode, enfim, trabalhar de forma tranqüila quanto ao tamanho da

matéria, pois pode ir distribuindo os fatos entre os parágrafos e criando hiperlinks

entre matérias para complementar seu texto, alterando o antigo modelo da “pirâmide

invertida”. Com as informações dissolvidas entre os hiperlinks, as informações ficam

mais bem discutidas e exemplificadas, há um número maior de links entre matérias,

o que ocasiona uma maior navegação do usuário no site.

O novo modelo utilizado, sem a necessidade do lide, é a “pirâmide deitada”. As

matérias fazem “pontes” entre si, e o ciberleitor tem liberdade para navegar e ler

como quiser. Perde-se a característica de início e de fim da noticia, que agora é

formada por vários links que se completam, mas, que, sozinhos, também não se dão

por vazios.

O webjornalismo se diferencia do jornalismo tradicional pela:

• distribuição – mais fácil acesso à notícia e maior facilidade de acesso para

todos os públicos,

• personalização - o papel ativo do utilizador – o ciberleitor faz o seu conteúdo,

• periodicidade - fim da lógica de “uma edição, um produto” – as notícias são

postadas a todo momento, minuto a minuto,

• informação útil - prática e objetiva – pequenas matérias que informam com

vários links para o aprofundamento.

Esse novo jornalismo tem como característica a:

- Multimidialidade/Convergência - uso de vários formatos midiáticos (áudio, texto e

som) em suas narrativas jornalísticas, e a convergência devido aos avanços

tecnológicos que possibilitaram distribuir e circular informações em novos formatos e

plataformas;

Page 41: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

41

- Interatividade – estimulam a participação do usuário na produção e análise do

conteúdo divulgado;

- Hipertextualidade – é a abertura para o usuário incluir novos elementos, através

dos links, nas matérias do webjornalismo;

- Customização – que define estruturas, listas de interesse; configura as notícias de

acordo com as necessidades e interesses do usuário;

- Memória – com espaço ilimitado, os sites otimizam o arquivamento e

armazenamento de conteúdos que podem ser utilizados como bancos de dados ou

material de pesquisa;

- Instantaneidade – através das atualizações dos conteúdos em tempo real.

A Web é um suporte para a produção de informação. Com ela, as rotinas produtivas,

a seleção de notícia, a apuração dos fatos, a edição e a escrita ganham novas

configurações, mas não perdem os critérios ou padrões essenciais do jornalismo. O

webjornalismo, numa estrutura hipertextual e rizomática, reconfigura o fazer

jornalístico, como Brambilla (2006) sustenta:

A alteração mais visível fica por conta da perda da linearidade contida na informação veiculada nos media tradicionais. Para se ler um jornal não linearmente corre-se o risco de se perder o sentido da notícia. No ambiente digital, a notícia é naturalmente alinear por atender à estrutura do hipertexto (p. 37).

Essa não linearidade decorrendo do processo de produção na web segue a lógica

da pirâmide deitada, que conta com quatro níveis de leitura:

- A base – lide – responde o essencial: O quê, Quando, Quem e Onde.

- Explicação - responde ao Por quê e ao Como, completando o essencial.

- Contextualização - oferece mais informação sobre o lide – formato textual, vídeo,

som ou infografia animada.

- Exploração - liga a notícia à home ou a links relacionados.

Page 42: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

42

Os processos de leitura, escrita e até mesmo de navegação na web são

considerados como interação, que pode ser dividida em vários níveis:

- interatividade de transmissão – o usuário apenas escolhe a quantidade de

informação que quer receber. Não há possibilidade de se fazer solicitações sobre o

assunto que quer receber;

- interatividade de consulta – o usuário solicita as informações. Há uma troca, abre-

se um canal de comunicação entre os media e o usuário;

- interatividade de conversação – o usuário produz e envia suas próprias

informações;

- interatividade de registro – o meio registra informações sobre o usuário e responde

às necessidades e ações dele.

Ou seja, no ciberespaço a produção jornalística passou por várias transformações.

Entre perdas e ganhos podemos dizer que muito se agregou à profissão de jornalista

– novas tecnologias, novos processos de escrita, novas técnicas, etc. As inovações

mais marcantes foram o uso da interatividade, a abertura da produção pelo usuário,

o envio e o recebimento de informações pelos leitores, que fez com que a cobertura

jornalística fosse maior e mais bem detalhada. Essa interação ganhou vários nomes,

variando conforme a participação do usuário no processo de comunicação. É o que

veremos a partir de agora.

2.2 – Jornalismo open source ou participativo

A tendência das audiências participantes também chegou ao jornalismo digital.

Através das ferramentas desenvolvidas para o uso no meio online, o jornalismo se

encontra em uma nova dinâmica. Brambilla (2006) fala sobre o surgimento de uma

nova forma de jornalismo, o open source. Este “tende à descentralização do trabalho

– geográfica e mesmo local, não se restringindo mais às redações – e à

personalização tanto dos processos quanto dos produtos informativos (p.74)”. Ou

seja, esse novo jornalismo não está apenas nas mãos dos jornalistas, é feito fora

das redações, é aberto para novos produtos e produtores.

Page 43: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

43

O chamado jornalismo open source se desenvolveu devido à abertura dos

conteúdos e formatos feitos na web. Deu-se uma liberdade para que os usuários

pudessem “interferir” no processo de produção das notícias, de forma que essa

interação gerasse lucros para todos os envolvidos, diminuindo os custos para a

busca da informação que seria trazia até os meios pelos usuários. A informação

jornalística pode enfim ser produzida com a troca de conteúdos através das redes de

cooperação, ou melhor, no ciberespaço, entre media e público.

BRAMBILLA (2006) cita que,

(…) permitir que várias pessoas (não apenas os jornalistas) escrevam e, sem a castração da imparcialidade, dêem a sua opinião, impedindo assim a proliferação de um pensamento único, como pode ser aquele difundido pela maioria dos jornais, cuja objectividade e imparcialidade são muitas vezes máscaras de um qualquer ponto de vista que serve interesses mais particulares que apenas o de informar com honestidade e isenção o público que os lê.

A primeira vez que o cidadão tomou voz praticando o jornalismo participativo foi nos

atentados do World Trade Center em 2001. Mas, Foschini e Taddei (2006)

demarcam que essa modalidade foi impulsionada ganhando força somente anos

depois nos atentados de Londres, em 2005, onde momentos depois da tragédia

“imagens dos momentos terríveis começaram a aparecer em moblogs, blogs

atualizados diretamente pelo celular (...) (p. 14)”. Pessoas comuns, amadores, ou

mesmo jornalistas e fotógrafos que estavam no local enviaram imagens mostrando o

ocorrido. Este fenômeno, a informação instantânea, é a maior característica do

jornalismo open-source.

As notícias que eram feitas por jornalistas para os usuários começaram a ser feitas

com a participação dos mesmos. Os relatos, a parcialidade, a visão in loco dos

acontecimentos foram muito valorizados. E o público que era o alvo, para quem se

dirigia a notícia, começou a produzir as notícias.

FOSCHINI e TADDEI (2009) salientam que o termo “jornalismo cidadão” foi utilizado

em todo o mundo, incluindo o Brasil, para classificar a produção de notícias feita por

colaboradores, e completa:

Ele não exclui a produção dos jornalistas profissionais, acrescenta a ela a contribuição de cidadãos jornalistas, leigos que são testemunhas

Page 44: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

44

de fatos importantes, gente que está no lugar certo e na hora certa para cobrir um evento, especialistas que podem falar melhor sobre determinado assunto e ainda todas as vozes que simplesmente desejam se manifestar. (p. 10).

O jornalista possui as técnicas da escrita, mas muitas vezes um especialista pode

conseguir explicar melhor um assunto do que o profissional da informação. Ou um

amador, que estuda por hobbie, pode saber particularidades sobre determinados

fatos que enriquece o produto jornalístico. Essa integração entre o jornalista e o

público pode alterar a agenda midiática porque não mais somente os media são

responsáveis pelos fatos divulgados, mas o público o influencia mostrando o que

quer ver e discutir.

As notícias tornam-se como produtos públicos, tanto na elaboração como na

distribuição e no consumo. A informação passa a ser produzida por milhares de

pessoas em conjunto, todos com os mesmos direitos, sem que haja uma hierarquia,

todos voluntários do bem comum.

Porém, a mídia ainda vê com maus olhos essa participação do usuário. Ela tenta

barrar ou ao menos impor limites à participação do público, que mantém uma

batalha para manter seu direito de participação contra os meios “proibicionistas” que

tentam a todo custo impedir a participação não autorizada e os “cooperativistas” que

tentam controlar as participações, dando pequenas aberturas.

A participação é algo irreversível. Ou nos acostumamos e a utilizamos como

ferramenta para melhorar nossa produtividade ou iremos ficar lutando numa guerra

perdida.

BRAMBILLA (2006) é otimista quando se refere ao jornalismo open source, destaca

que essa nova técnica provoca “uma instabilidade em um modelo restritivo” que

integra os pólos, emissor (jornalistas) e receptor (público/usuário). Com isso no

“jornalismo open source, o sujeito que lê é o mesmo que escreve as notícias,

compartilhando as responsabilidades e tendo no envolvimento pessoal sua principal

moeda de troca (p. 9)”.

O grande foco do jornalismo participativo é o hiperlocal. Enquanto a grande mídia

divulga as notícias de impacto nacional e mundial, se concentrando nos

Page 45: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

45

acontecimentos das metrópoles e das grandes cidades, o jornalismo participativo se

ocupa em tratar os fatos corriqueiros do dia – a – dia.

Trazendo o foco para perto do ciberusuário, é notícia o que ocorre nas pequenas e

médias cidades, os problemas sociais menos tratados, acontecimentos fora do eixo

cultural, manifestações sem grandes repercussões, cobrança dos direitos e leis etc.

O cibercidadão coleta, reporta, analisa e dissemina essa informação com a intenção

de tornar públicos os acontecimentos que ele considera relevantes e necessários

para uma discussão social.

E entende-se que essa notícia no jornalismo open source é livre para ser

manipulada, lida, alterada, ganhando comentários ou mais informações, corrigindo

inverdades que possam ter sido relatadas, ser interpretada, analisada, distribuída e

credenciada para qualquer propósito, para um melhor entendimento do fato

noticiado.

Qualquer pessoa pode escrever, ler, distribuir, redistribuir e utilizar as informações

participativas, esse é o papel do colaborador – pessoa sem formação jornalística que

escreve e publica notícias. O colaborador serve de voluntário produzindo o que

deseja, quando e como desejar.

Foschini e Taddei (2006) concordam e confirmam essa visão demonstrada sobre o

jornalismo digital, e complementam:

Ele [o Webjornalismo Participativo] não exclui a produção dos jornalistas profissionais, acrescenta a ela a contribuição de cidadãos jornalistas, leigos que são testemunhas de fatos importantes, gente que está no lugar certo e na hora certa para cobrir um evento, especialistas que podem falar melhor sobre determinado assunto e ainda todas as vozes que simplesmente desejam se manifestar (FOSCHINI E TADDEI, 2006, p. 10).

Portanto, o jornalismo atual precisa levar em conta essa nova perspectiva.

O jornalismo participativo pode ser feito de duas maneiras, dependendo do nível de

colaboração, que pode ser parcial ou total. No nível parcial podemos citar o exemplo

do jornal sul coreano OhmyNews, uma das primeiras experiências de jornalismo

colaborativo no mundo. Com sua fundação em 2000, exerce a filosofia de que “todo

cidadão é um repórter”. A participação pode se feita por qualquer pessoa através de

Page 46: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

46

envio de notícias. As noticias passam por uma edição, feita por jornalistas, e se

publicadas o cibercidadão recebe uma pequena quantidade de dinheiro como forma

de recompensa.

Já a participação no nível total o cibercidadão tem total liberdade e acesso ao

“código-fonte” do site, ou seja, ele faz a pauta, colhe os dados, escolhe as fontes,

escreve a notícia e a posta, sem nenhuma intromissão de outras pessoas no

processo. Exemplos desse modelo são o WikiNews, o Brasil Wiki e o Overmundo,

este último é o objeto de nossa pesquisa. A única forma de seleção feita nesses

sites, na maioria das vezes, é um cadastro inicial para ser colaborador.

A colaboração é espontânea, mas, podemos notar que existem três aspectos

essências para que ela aconteça:

1- A passagem dos mass media para o ciberespaço – um espaço aberto,

começando pelo código, interagente e participativo e com um leitor de perfil “ativo”.

2- Liberação do pólo emissor – muito estudada pelos comunicadores. Possibilitou a

multivocalidade na rede devido os cidadãos ganharem

acesso/ferramentas/tecnologias para produção e veiculação de conteúdo;

3- A ubiqüidade7 – a perda de noção dos limites temporais e geográficos que

ocasionou a mudança na concepção e relação do mundo.

Com isso a colaboração se faz cada vez mais presente no webjornalismo. A

produção coletiva transforma o público que vira co-autor da notícia e modifica os

papéis dos media que passa a mediador, além de produtor e agora também receptor

de conteúdo.

Esta transformação é uma reorganização do processo comunicacional onde o

desequilíbrio é causado pelo interagente, o colaborador, que une em si as funções

de emissor e receptor, o que antes eram dois lados, agora se torna uma coisa só.

7 http://pt.wiktionary.org/wiki/ubiquidade

Page 47: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

47

Mas, mesmo em um ambiente colaborativo deve se seguir regras, assim como no

meio jornalístico. A notícia é feita em conjunto mas às fontes e as referências devem

ser citadas como em toda obra.

2.2.1 – Legislação e direitos autorais

Com os avanços tecnológicos, as mudanças no processo de produção jornalística, a

interatividade e a participação do usuário na construção da notícia começam a surgir

muitas dúvidas referentes aos direitos autorais e legislação sobre produtos e

notícias, o que faz com que seja mais do que necessário, uma revisão atenta às leis

de direitos autorais. JENKIS (2008) diz que “os juizes sabem como agir com pessoas

que têm interesse profissionais na produção e distribuição de cultura; mas não

sabem o que fazer com amadores”. (p. 250).

A produção em comunidade traz muitas dúvidas sobre quem é o autor, como citar,

como fazer referência ou mesmo o que pode e o que não pode se fazer em um texto

na web. Com isso, está surgindo o resgate da autoria anônima, de assinaturas

coletivas e licenças livres como o Creative Commons8 e o copyleft9, em oposição

aos direitos autorais e o status da propriedade intelectual.

Como cita Lévy (1999), “nem a responsabilidade individual nem a opinião pública e

seu julgamento desapareceu no ciberespaço”. (p. 128) por isso devemos nos atentar

para não infringir leis e normas. As leis que valem no meio eletrônico são as

mesmas que se aplicam aos demais meios de comunicação. O que vale, então, é o

bom senso para ajudar a verificar o que é proibido ou não, como, por exemplo,

conteúdo racista, preconceitos raciais ou religiosos, assuntos considerados crimes,

boatos e fofocas, sem averiguação, dados confidenciais ou sigilosos de pessoas ou

empresas, conteúdo pirata ou ilegal etc. Resumindo, assuntos e ações considerados

sujeitos a punições no mundo real também vale para o virtual.

Mesmo os blogs sofrem as mesmas restrições legais que qualquer outro meio de

divulgação. Os textos são lidos por milhares de pessoas, as quais podem também

8 É um projeto sem fins lucrativos que disponibiliza licenças flexíveis para obras intelectuais. http://www.creativecommons.org.br/ 9 Publicação gratuita, mas somente liberada pelo período desejado pelo autor. http://www.copyleftpearson.com.br/

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dar sua opinião. Tanto o texto como os comentários são de responsabilidade do

dono do blog. Assim, bom senso e autocrítica são fundamentais.

A autoria de textos, tanto no meio virtual ou não, possui uma aura sagrada, já que

um texto de sucesso garante ao autor um lugar de destaque diante do público.

Assim, com a liberdade de alteração, redução e ampliação dos textos colaborativos,

todos se tornam um pouco autores, porém, essa autoria deve ser citada quando feita

referência ao texto em outros locais. Como na vida real, a citação da referência e a

autoria, na web é um dever.

Existem vários tipos de licenças e registros autorais. Cabe a cada autor decidir qual

quer usar, e aquele que irá utilizar o produto protegido, entender e respeitar. As

licenças mais flexíveis criadas a partir do advento da internet foram as Creative

Commons.

- Creative Commons

Um projeto de licenciamento baseado integralmente na legislação vigente sobre os

direitos autorais. As licenças permitem que os autores gerenciem seus direitos,

autorizando à coletividade alguns usos sobre sua criação e restringindo outros.

Existem vários tipos de licenciamento, desde mais restritas até mais amplas. A

licença mais utilizada do Creative Commons não permite o uso comercial da obra.

O selo Creative Commons estabelece os termos de uso das obras de forma que

apenas alguns direitos ficam reservados. As licenças podem ser combinadas entre

si:

• Atribuição - permite que outros copiem, distribuam, exibam e interpretem a

obra e trabalhos derivados dela com a condição de se creditar a autoria.

• Uso não comercial - permite que outros copiem, distribuam, exibam e

interpretem a obra e trabalhos derivados dela apenas para fins não

comerciais.

• Não a obras derivadas - permite que outros copiem, distribuam, exibam e

interpretem apenas cópias idênticas à obra, mas não permite trabalhos

derivados dela.

Page 49: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

49

Compartilhamento pela mesma licença - autoriza a distribuição de trabalhos

derivados da obra com a condição de se ter uma licença idêntica à que governa o

trabalho.

- Copyleft

A licença copyleft10 é uma licença que preza a liberdade do usuário frente ao

conteúdo. Segundo o site da Free Software Foundation11, “O copyleft diz que

qualquer um que distribui o software, com ou sem modificações, tem que passar

adiante a liberdade de copiar e modificar novamente o programa. O copyleft garante

que todos os usuários tenham liberdade.” – ou seja: se você recebeu um software

com uma licença livre que inclua cláusulas de copyleft, e se optar por redistribui-lo -

modificado ou não -, terá que mantê-lo com a mesma licença com que o recebeu, o

que o torna como uma licença viral, comumente chamada no meio online, pois, se

propaga como um vírus que vai se ‘reproduzindo’ e se ‘alastrando’ por todo

ciberespaço.

Assim, um documento criado a partir das modificações de outro documento com

copyleft deve manter a licença copyleft. O copyleft obriga o usuário a deixar bem

claro no documento reproduzido quem é o autor original, seja colocando o seu nome

em algum lugar, seja inserindo o nome na capa do documento, conforme a

importância da reprodução ou o número de cópias realizadas.

No caso de serem realizadas modificações/alterações no documento original o

copyleft especifica que deve ficar bem perceptível qual o conteúdo original e quais

as modificações realizadas pelo segundo autor. A licença do copyleft também tenta

evitar que uma terceira pessoa tente aplicar uma licença copyright a conteúdos

copyleft, ou seja, os conteúdos livres sempre vão ser livres, seguindo essa licença.

O fato de um texto, um programa, ou qualquer obra ser copyleft não quer dizer que

ela seja grátis. Pode se cobrar por conteúdos copyleft, sendo cobrado pelo autor

original ou pelos secundários, isto é, cobrando-se pelas alterações feitas no produto

original. O copyleft simplesmente estabelece a liberdade de reprodução do

10 Copyleft - http://www.gnu.org/copyleft/ - site em inglês. 11 http://www.fsf.org/ - Site do Software livre – em inglês.

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conteúdo, em outras palavras, pode-se vender um documento copyleft, mas quem

compra o documento pode copiá-lo à vontade.

O símbolo do copyleft é o símbolo do copyright invertido, assim como a palavra que

é um trocadilho com copyright, e cuja tradução aproximada seria “deixamos copiar”,

ou “cópia permitida”. O termo vem de um trocadilho em inglês, que substitui o right -

direita, em inglês - de copyright ’por left - esquerda, em inglês.

O duplo sentido do termo está no fato de que a palavra left é o verbo leave (deixar)

no passado, tornando copyleft um termo próximo a ‘cópia autorizada’. Outro

trocadilho intraduzível brinca com a famosa frase ‘Todos os direitos reservados’, que

sempre acompanha o símbolo. Para o copyleft, All rights reserved torna-se All rights

reversed, -‘Todos os direitos invertidos’.

A licença foi criada para proteger o sistema GNU12 (sigla de Gnu is not Unix, típica

piada de informatas, mais conhecidos como geeks), garantindo que nenhum

comerciante usasse a arquitetura desenvolvida pelo GNU em nenhum programa

pago.

Invertendo as regras do direito autoral - o copyright -, em que o usuário deveria

pagar uma porcentagem do valor do produto ao criador ou revendedor - valor do

produto -, o copyleft assegura que qualquer um pode ter acesso àquelas

informações, desde que cite a fonte original. Um exemplo de sistema operacional

gratuito no mercado, é o Linux, desenvolvido pelo finlandês Linus Torvalds.

O ideal do copyleft é que o conhecimento não pertence a ninguém. Todo

conhecimento vem de outros conhecimentos anteriores e é uma cópia em maior ou

menor grau de outras idéias. Portanto, restringir a cópia não faz sentido e só atrasa

a geração de novos conhecimentos.

- Copyright

12 GNU - um projeto criado por Richard Stallman, que visava desenvolver um sistema operacional que fosse tão eficiente quanto seu concorrente (Unix), e que fosse de acesso livre para seus usuários.

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A licença copyright13 é exatamente o contrário da copyleft. Criada antes da copyleft,

ela visa a proteção do direito autoral limitando a reprodução, a execução, a

modificação, a divulgação em público e até mesmo a venda da obra, produto, etc.

Muitas vezes direitos autorais e copyright se confundem, pois, ter direito sobre a

obra não é necessariamente ter posse da mesma e restringir que não seja divulgada

ou utilizada em outras pesquisas para a formação de outros conhecimentos. Assim,

a copyright muitas vezes é utilizada de forma errônea como meio de manipulação e

de cerceamento da construção do conhecimento.

Quem não cumprir com as exigências estabelecidas pelo copyright está sujeito a

punições legais, podendo ser acusado de crime de direito autoral.

Toda e qualquer obra sob a licença paga e recebe um valor sobre o produto, com

isso, seu uso é restritivo. Deve-se comprar o produto licenciado para se fazer uso do

mesmo e ainda sim seguindo as regras impostas pela licença.

A maioria dos produtos são licenciados pelo copyright, somente com o surgimento

da internet e das comunidades colaborativas que se criou novas licenças.

2.3 – Jornalismo colaborativo

Um celular com câmera, uma câmera digital ou uma simples filmadora pode tornar

qualquer cidadão um colaborador. Qualquer pessoa na hora e no local certo pode

utilizar as ferramentas do jornalismo para produzir notícia. Esse é o conceito do

jornalismo cidadão também conhecido, e é o termo que será utilizado nessa

pesquisa, como jornalismo colaborativo.

Esse jornalismo é uma ferramenta que a cada dia tem sido mais aproveitada pela

grande mídia e que agora começa a ganhar prestígio e reconhecimento.Yuri Almeida

(2009) explica que o jornalismo colaborativo surgiu de uma idéia de abertura:

A base filosófica do jornalismo colaborativo é movimento do software livre14 iniciado em 1984, por Richard Stallman, como contraponto ao

13 Copyright - http://www.copyright.gov/ e http://pt.wikipedia.org/wiki/Direito_autoral#Copyright_.22.C2.A9.22 - site em inglês. 14 Software livre - A proposta do software livre era de abrir o código-fonte para a análise e modificação por parte de qualquer utilizador, aprimorando desta forma, a usabilidade do programa.

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software proprietário, que “aprisionava” e “restringia a liberdade” dos usuários. [...] Além dos aspectos tecnicistas, o movimento trouxe consigo a luta pela liberdade, compartilhamento de conteúdo e a colaboração como processo produtivo, em substituição ao individualismo15. (p. 27).

Abrir o código fonte significa, no jornalismo, liberar espaços para que o usuário dê a

sua colaboração, seja para a elaboração da pauta, a divulgação de imagens feitas

pelos cidadãos-repórteres16, a produção de matérias etc.

Foschini e Taddei (2006, p. 19) afirmam que existem vários nomes para a mesma

prática do Webjornalismo Participativo e que “muita gente confunde jornalismo

cidadão com jornalismo cívico ou o jornalismo feito pelos veículos de mídia com o

enfoque nos interesses do cidadão”.

O webjornalismo participativo se refere aquele em que o usuário dá a sua

colaboração, participação através de notícias, envio de imagens, vídeos, sons,

animações etc., já o jornalismo cívico é uma vertente do jornalismo que enfoca a

fiscalização dos direitos dos cidadãos, o cumprimento das leis etc.

Nicola (2004) evidencia que esse tipo de webjornalismo está em fase de

crescimento:

O número de sites comunitários jornalísticos amplia-se numa velocidade surpreendente, e essa é uma tendência do mercado editorial cibernético. As empresas jornalísticas necessitam investir nessa característica local do público on-line, somando a ela os recursos dos portais, o conteúdo das notícias e os aparatos multimidiáticos da rede. (p. 66).

É uma tendência dos últimos anos e que atualmente toma o foco das discussões

sobre os rumos do jornalismo e novas tecnologias na produção jornalística. Sua

popularidade se dá devido à abrangência de seu conteúdo, como foco principal no

hiperlocal.

A grande diferença do jornalismo colaborativo é que nele o usuário não sugere

idéias e pautas e sim envia imagens, produz notícias, faz vídeos etc. No jornalismo

15 Editorial da revista Comciência - http://www.comciencia.br/reportagens/softliv/softliv5.htm 16 Refere-se aos colaboradores dos jornais open source, não está associado à profissionalização dos colaboradores. Por cidadão-repórter entende-se os usuários que produzem informação sobre acontecimentos locais e globais.

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participativo, o cidadão atua com sugestões, comentários, no máximo, envia algum

complemento à matéria, ou seja, sua participação é limitada, ele se torna co-autor,

diferente do colaborador que atua como produtor ativo.

O termo “cidadão jornalista” pode ser aplicado tanto para os que criam os próprios

espaços online ou participam de comunidades de terceiros.

Mas, quem são os cidadãos jornalistas ou cidadãos repórteres como também são

conhecidos? Foschini e Taddei (2006) em seu livro Conquiste a Rede, informam que

são vários os seus perfis. Citaremos alguns:

• Publicador – possui páginas pessoais (blog, flog, vlog) ou produz podcasts

com notícias, independentemente do assunto abordado.

• Observador – vira fonte da noticia por acaso, está pronto para registrar

eventos imprevisíveis.

• Militante – É o cidadão jornalista que defende uma causa ou dedica-se a um

assunto com paixão. Ex: torcedores de times de futebol, defensores de

partidos políticos ou de causas como ambientalismo e a defesa de minorias.

Pode se dedicar também aos fatos de sua comunidade, seja ela um prédio,

um bairro ou uma associação.

• Comentarista – É o cidadão jornalista que se manifesta nas páginas

existentes da web, deixa comentários em blogs, flogs, vlogs, fóruns,

comunidades ou em portais da grande mídia.

• Editor - Seleciona notícias e participa de comunidades ou sites colaborativos,

sugerindo links para a grande imprensa ou de páginas pessoais.

Todos esses perfis são apenas definições para se explicar diferentes formas de

colaboração/participação, podendo-se combinar entre si, ou seja, um colaborador

pode ser editor, publicador e comentarista ao mesmo tempo, por exemplo, sem que

isto interfira na sua colaboração, aliás, só vem a acrescentar.

Para os autores Taddei e Foschini (2006), “Os profissionais da comunicação têm

agora milhares de aliados na tarefa de apurar fatos, conhecer novidades, reunir e

comentar informações” fazendo a cobertura hiperlocal dos fatos onde os meios de

Page 54: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

54

comunicação não conseguem chegar, auxiliando assim para uma maior e melhor

cobertura e divulgação dos acontecimentos.

Os grande meios de comunicação se preocupam mais com os fatos e

acontecimentos de repercussão nacional e global, deixando de lado uma infinidade

de assuntos com grande conteúdo noticioso de caráter local ou hiperlocal, ás vezes

por falta de tempo ou mesmo por falta de público, já que esse meios visam atingir

um maior número possível de pessoas com suas notícias.

Então, os conteúdos colaborativos feitos pelos cidadãos-repórteres ganham

qualidade e visibilidade por divulgar esses fatos “esquecidos” ou “deixados de lado”.

Já a qualidade desse conteúdo fica por conta da quantidade de colaborações

existentes nele e nas referências utilizadas e creditadas.

O colaborador ganha espaço na web conforme a qualidade de suas colaborações e

a veracidade da informação divulgada e pode se tornar uma grande fonte de

produção de conteúdo.

2.4 – Conteúdo colaborativo

Antes de falar sobre conteúdo colaborativo e o conceito de comunidades que esse

conteúdo gera vamos tratar sobre as mídias sociais. Entendemos como mídias

sociais os ambientes públicos, aberto a todos ou restritos com necessidade de

cadastramento, onde se produz e compartilha o conteúdo. Esses ambientes geram a

possibilidade de um diálogo público, com troca de materiais como vídeo, imagem,

slides, texto, sons etc., e não apenas são entendidos como as redes sociais, como

Orkut e Facebook. Estamos falando de sites comunitários como Digg, Twitter e

nosso objeto de pesquisa o Overmundo.

As mídias sociais que geram um conceito de comunidade colaborativa podem ser

entendidas como, por exemplo, o YouTube e o Flickr que veiculam vídeos e fotos, o

Digg em que se pode publicar artigos de outros sites e votá-los para um

rankeamento das melhores informações – mais confiáveis –, o Twitter, que permite

uma troca de conhecimentos, links para vídeos, fotos, sons, postagens de notícias e

um feedback com diálogos pessoais e o Overmundo – que iremos analisar no

Page 55: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

55

próximo capítulo. Já o Orkut é entendido apenas como uma rede social de

relacionamento, sem um grande poder de veiculação de conhecimento.

Então podemos entender o conceito de comunidade colaborativa como o do

software livre. Com muitas pessoas analisando os erros, eles podem ser resolvidos

de uma maneira melhor e de uma forma mais rápida e prática. Por isso, hoje existem

comunidades que são automoderadas, ou seja, os usuários através de suas

participações, indicam ao sistema quais os usuários e os perfis de usuários aceitos

na comunidade.

Esses são exemplos de conteúdo colaborativo que ultrapassa os limites da exibição

de textos, fotos e animações, permitindo uma maior interação entre o usuário final e

o serviço.

Atualmente, boa parte dos grandes websites de sucesso não produzem seu próprio

conteúdo (Youtube, Flickr, Wikipedia, del.icio.us, etc), essa função fica por conta dos

usuários que além de contar com uma grande quantidade de opções de material já

publicado para consultar, ainda podem gerar o conteúdo e participar da comunidade.

Assim, a função dos proprietários dos sites está se restringindo a apenas administrar

a comunidade criada – ou seja, cadastrar os usuários e criar seus perfis – e aos

usuários cabem produzir e manipular os conteúdos – auto-regulam o que é permitido

publicar, o que se pode ou não pode fazer no site, as regras de postagens, criam um

rankeamento dos melhores conteúdos, exigem a expulsão dos usuários que não

respeitam as regras etc.

Há uma quantidade enorme de projetos de conteúdo colaborativo na web para

vários segmentos – para fotos, vídeos, planilhas, textos, diários, piadas etc., e esses

conteúdos são responsáveis por boa parte do tráfego da internet no mundo. Os

usuários podem criar diários pessoais (blogs – mas nem todos os blogs são diários

pessoais), álbum de fotos e até mesmo um canal de televisão online, a exemplo dos

vídeos do Youtube.

Porém dentro do jornalismo colaborativo as opções com conteúdo colaborativo, ou

seja, sem vínculo com algum grande grupo de mídia e sem a interferência de

jornalistas é muito pequena no Brasil. Ainda existe a idéia de que para o jornalismo

Page 56: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

56

colaborativo existir deve se ter à interferência de um profissional da área o que daria

credibilidade ao material publicado. Os canais de jornalismo colaborativos

existentes, no país, são dos grandes grupos de mídia e subordinados ao editorial e à

política da empresa, sendo publicado somente o que é de interesse deles e não da

população, o que cria a falsa impressão de liberdade e interação entre o usuário e o

media.

Segundo uma pesquisa realizada pela “empresas de pesquisas GlobeScan e

Synovate” verificou-se a preocupação dos brasileiros com as empresas de mídia,

[...] avaliou a opinião de 11.344 pessoas em 14 países e comprovou que 80% dos brasileiros se dizem preocupados com a propriedade das empresas de mídia e acreditam que esse controle pode levar a “exposição das visões políticas” de seus donos no noticiário. 43% dos entrevistados acham que a cobertura do noticiário pelos órgãos públicos brasileiros é “pobre”17.

E ainda constatou que os brasileiros têm interesse em participar do processo de

decisão sobre o que vai ser notícia, “74% disseram que gostariam de “ser ouvidos”

na hora da escolha das notícias. E tem mais: 52% disseram que a liberdade para

informar os fatos de forma honesta e verdadeira é importante para garantir uma

sociedade justa. 18

Verificamos que o brasileiro quer mais controle em suas mãos quando o assunto é

notícia, ele quer poder opinar mais sobre o que ele quer ler, ver e ouvir. Isso explica

o sucesso de comunidades como o Twitter, o Digg, e o Overmundo, e de sites como

YouTube, Flickr, entre outros - o poder está nas mãos do usuário, ele faz o que quer.

O que incentiva o colaborador? Segundo Mário Cavalcanti (2008), “ao encontrar uma

matéria que lhe parece improcedente, ele chama para si o dever de publicar,

naquele mesmo espaço, a versão que lhe parece correta (p. 35)”, através dos

comentários ou se o veículo permitir – com o uso de software livre – altera a própria

matéria, apagando os erros, os fatos inverídicos e postando os fatos como

ocorreram.

17 Observatório da Imprensa. Pesquisa mostra a divisão da opinião pública mundial sobre a liberdade de imprensa e a informação. http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/blogs.asp?id_blog=2&id=%7B08474AFD-5F25-4A69-AAFD-4AE77B2C892A%7D 18 Observatório da Imprensa. Pesquisa mostra a divisão da opinião pública mundial sobre a liberdade de imprensa e a informação. http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/blogs.asp?id_blog=2&id=%7B08474AFD-5F25-4A69-AAFD-4AE77B2C892A%7D

Page 57: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

57

O autor explica que o interessante no jornalismo colaborativo é chamar a

participação das pessoas, transformando o seu dia-a-dia em matéria, seu bate papo

no botequim, uma fofoca do salão de beleza, um acontecimento do trânsito, uma

alteração nos serviços públicos etc.

Em seu livro Eu, mídia (2008), Mário Cavalcanti incentiva o uso do colaborativo no

jornalismo e defende essa visão de comunidade e liberdade ao usuário para criar e

produzir conteúdo, trazer o local para a web, fugindo do nacional e mundial, uma

tendência que o colaborativo trouxe e que ganha cada vez mais espaço. Diz também

que essa prática da colaboração não é novidade, o que se torna novidade é ele ser

feita de forma tão aberta e o público não ser mais utilizado como apenas fonte, mas

agora, como criador e editor de conteúdo. As fotos de flagras, vídeos amadores,

cartas dos leitores que antes eram usadas em caráter emergencial, quando faltava a

oficial, ou apenas como meio de ilustrar, agora se torna parte do conteúdo

jornalístico cotidiano.

A colaboração com interferência dos meios de comunicação sempre foi bem vinda e

aceita, podemos, agora, fazer o mesmo com o conteúdo colaborativo, é uma

questão de tempo, “Isso não implica que haverá uma “profissionalização” do

jornalismo participativo, mas sim a elaboração de uma “arquitetura de participação”,

com regras e hierarquias”. (p. 91). (CAVALCANTI, 2008).

Os jornalistas serão mediadores da sociedade, não deixarão de produzir conteúdo

mais irão produzir um conteúdo mais especializado, analisado e crítico, o feijão-com-

arroz, o dia-a-dia, o cotidiano será dos usuários.

Os sites de conteúdo colaborativo geram uma idéia de comunidade, devido a esse

caráter de democracia social existente, ou seja, todos criam as regras que serão

cumpridas por todos e de conhecimento de todos, porém essas “comunidades”

colaborativas podem ser formadas de várias formas.

Sobre as comunidades colaborativas, iremos destacar algumas formas existentes:

• Aberta comunal – os integrantes da comunidade são responsáveis pela

administração do ambiente. Pode ou não haver um moderador para gerenciar

os membros e possíveis intervenções de caráter emergencial;

Page 58: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

58

• Aberta exclusiva – um grupo de integrantes tem o privilégio de criar o

conteúdo e os demais atuam sobre o conteúdo secundário como os

comentários;

• Fechada – somente um grupo pode ler, editar e publicar conteúdo, ex: blogs

com senhas;

• Parcialmente fechada – algum privilégio dos citados acima na categoria

“fechada” é liberado para os demais internautas.

Podemos ver que há grandes diferenças entre essas comunidades. O modelo que

veremos mais a fundo é o aberta comunal que é o modelo no qual se enquadra o

nosso objeto de pesquisa, o projeto Overmundo. Mas, isso, veremos no capítulo a

seguir.

Page 59: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

59

3. OVERMUNDO

Page 60: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

60

3. OVERMUNDO

Nesta terceira parte da monografia iremos realizar a pesquisa. Utilizando os

conceitos citados até o momento, veremos a aplicação do jornalismo

colaborativo no site Overmundo, nosso objeto de estudo. Vamos analisar o

conteúdo colaborativo do Overmundo segundo os critérios de noticiabilidade,

ou seja, as escolhas dos temas, relevância da notícia, seu conteúdo, seu

formato – seguindo os critérios jornalísticos -, seu caráter, atualidade, fontes

etc, para enfim, concluir adiante, sobre as mudanças e os impactos da

colaboração no jornalismo.

Em um primeiro momento, foi necessário entender a dinâmica do Overmundo,

através do funcionamento das ferramentas utilizadas pelos usuários para cadastro,

acesso e publicação de conteúdos. Para isso foram analisados conceitos técnicos e

utilizados conceitos de interação, cibercultura, web 2.0 e o próprio webjornalismo

participativo. Também foi aplicada a técnica da observação participante, para uma

maior aproximação com o objeto de estudo, com a intenção de melhor compreender

a lógica de funcionamento como um usuário da comunidade colaborativa virtual.

Lévy (1999) explica o conceito de comunidade virtual como,

Uma comunidade virtual é construída sobre as afinidades de interesses, de conhecimentos, sobre projetos mútuos, em um processo de cooperação ou de troca, tudo isso independentemente das proximidades geográficas e das filiações institucionais. (p. 127).

O que é justamente o que ocorre como o Overmundo, seu foco é muito bem

definido, sendo uma comunidade para divulgação de manifestações da cultura

brasileira fora do circuito midiático. E Lévy (1999) prossegue:

(...) o ciberespaço é justamente uma alternativa para as mídias de massa clássicas. De fato, permite que os indivíduos e os grupos encontrem as informações que lhes interessam e também que difundam sua versão dos fatos (inclusive com imagens) sem passar pela intermediação dos jornalistas. O ciberespaço encoraja uma troca recíproca e comunitária, enquanto as mídias clássicas praticam uma comunicação unidirecional na qual os receptores estão isolados uns dos outros. (p. 203).

Page 61: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

61

O que o autor explica, veremos na prática com nosso objeto de pesquisa, uma

comunidade colaborativa, sem intromissão de jornalistas no conteúdo, onde os

jornalistas “apaixonados” pela cibercultura e pelo jornalismo, não encontrando uma

brecha nos meios clássicos, também utilizam o site para divulgação de seus

conteúdos.

Nessa análise sobre o exercício do colaborativo, iremos verificar a utilização das

bases do jornalismo - credibilidade, identificação, proximidade, atualidade, novidade,

apuração e verdade – que são os nortes para o jornalismo, seja ele feito num

modelo linear, unidirecional, como nas mídias clássicas, em que um fala e muitos

escutam, modelo um - todos, seja num modelo rizomático, pluridirecional, em que já

não é mais possível separar emissores e receptores, como no modelo todos – todos

utilizado no webjornalismo participativo.

O Overmundo19, objeto de estudo desta monografia, é um projeto que foi lançado

em 2006, com o objetivo de criar novos canais de difusão e produção cultural

brasileira e das comunidades de brasileiros no exterior, com foco em seus aspectos

que não costumam receber cobertura da grande mídia.

Pode ser classificado na categoria “aberta comunal” visto que após um rápido

cadastro no site pode-se publicar conteúdos colaborativos nas editorias Overblog -

seção destinada a reportagens, entrevistas e críticas que versem sobre a produção

cultural brasileira, o Banco de Cultura - destinado à difusão online de obras culturais

(músicas, poemas, narrativas, teses, filmes, fotografias etc.) produzidas no Brasil ou

por brasileiros no exterior; o Guia - para dicas de lugares, atividades, comidas, festas

e eventos regulares da vida cultural das cidades de todo o Brasil; a Agenda -

programas e eventos do calendário cultural em todo o país; o Observatório - espaço

para comentários editoriais da Equipe Overmundo, alimentado com posts sobre

novidades no site, discussões sobre cultura, reflexões sobre as tendências da

chamada web 2.0 etc; Fórum de Ajuda - para tirar dúvidas específicas e o

Overmixter - um site para remixes de músicas que congrega remixes e samples

19 Projeto Overmundo – http://www.overmundo.com.br/

Page 62: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

62

licenciados sob licenças Creative Commons. Essa iniciativa é uma parceria do

Overmundo com o CCMixter20.

Figura 3: Home do Overmundo. http://www.overmundo.com.br/

O site só existe a partir da colaboração de seus usuários que o alimentam com

textos, músicas, vídeos, discussões e comentários. Para publicar, basta fazer um

rápido cadastro, com informações básicas, mas, o número do CPF é imprescindível,

pois ele é checado no site da Receita Federal, porém, se você não possuir CPF

pode se cadastrar como estrangeiro e postar sua colaboração em uma das seções

do site.

Por isso, foi classificado na categoria aberta comunal, onde os integrantes da

comunidade administram a comunidade e o gerenciador – equipe editorial – apenas

se manifesta em ocasiões emergenciais como, por exemplo, postagens ilícitas.

20 As informações sobre o que é, como é feito, como cadastrar, etc foram retiradas de: http://www.overmundo.com.br/estaticas/ajuda.php

Page 63: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

63

Figura 4: Página para registro de novo colaborador. http://www.overmundo.com.br/registro/registro.php

Hoje, o site é administrado pelo Instituto Overmundo21, mas foi criado pelo

Movimento Núcleo de Idéias, formado por Hermano Vianna, José Marcelo Zacchi,

Ronaldo Lemos e Alexandre Youssef, por meio de patrocínio da Petrobrás através

do Programa Petrobrás Cultural e incentivo fiscal do Programa Nacional de Apoio à

Cultura/Lei Federal de Incentivo à Cultura – Lei Rouanet – do Ministério da Cultura.

Porém, os coordenadores do site procuram deixar claro que não há vinculo nenhum

com o governo fora esse incentivo e que o site não é um órgão público e sim uma

organização não-governamental sem interferência de seus patrocinadores. Assim

como é definido em seu editorial:

O Overmundo é um site colaborativo. Um coletivo virtual. Seu objetivo é servir de canal de expressão para a produção cultural do Brasil e de comunidades de brasileiros espalhadas pelo mundo afora se tornar

21 . Instituto Sociocultural Overmundo é uma associação sem fins lucrativos dedicada à promoção do acesso ao conhecimento e à diversidade cultural em todo o Brasil. Sua missão é promover o acesso ao conhecimento e à diversidade cultural no Brasil, por meio de práticas inovadoras em comunicação, propriedade intelectual e tecnologia. Site: http://www.institutoovermundo.org.br/

Page 64: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

64

visível em toda sua diversidade. Para funcionar, ele precisa da comunidade de usuários sempre gerando conteúdos, votando, disponibilizando músicas, filmes, textos, comentando tudo e trocando informações de modo permanente22.

Não existe uma interferência por meio da equipe que coordena, modera e administra

o site no conteúdo que é publicado, a menos, é claro, que esse conteúdo seja

depreciativo e/ou ofensivo, assim sendo, a equipe deleta o conteúdo e entra em

contato com o colaborador.

A equipe editorial do Overmundo cita que nenhuma equipe de jornalistas, por maior,

ou melhor, que seja consegue cobrir, filtrar e relatar todos os acontecimentos do

país. E seguindo projetos online como a Wikipedia e os blogs, deixa claro seu

desafio:

Seguindo esses exemplos, lançamos o desafio: todo (a) cidadã (o) brasileiro pode aqui contribuir para promover todos os aspectos da nossa produção cultural que lhe interessem. O Overmundo, por uma questão de princípios, não funcionará sem a colaboração de muita gente. Quanto mais, melhor23.

É essa colaboração que faz com que o site se mantenha e, em momentos de perigo,

como divulgação de conteúdo impróprio, se manifesta e faz com que a rede editorial

entre em ação para manter a integridade do site. Essa equipe possui vínculo com o

site, porém não recebe nada em troca.

O site é aberto para colaborações autorais, até prefere que assim seja, e salienta

que se for citar artigos, ou utilizar qualquer outro material de outro autor, que o faça

citando todas as fontes e links. A equipe responsável pelo site dá dicas e auxilia o

usuário a fazer os créditos do conteúdo. O projeto trabalha com o software livre, sob

licença CC-GNU-GPL24, isso significa que todo o código do site também é aberto à

colaboração de usuários e interessados, tornando possível compartilhar experiências

em sua utilização e até mesmo no desenvolvimento de sua documentação.

Ainda há liberdade de ler e utilizar obras postadas no Overmundo sem se ter um

cadastro no mesmo; somente para votar, comentar e postar colaborações existe a

22 Sobre o Overmundo. Disponível em <http://www.overmundo.com.br/estaticas/sobre_o_overmundo.php>. Acessado em 10 ago de 2009. 23 Sobre o Overmundo. Disponível em <http://www.overmundo.com.br/estaticas/sobre_o_overmundo.php>. Acessado em 10 ago de 2009. 24 Licença Creative Commons. Mais dúvidas rever cap. 2 sobre direitos autorais.

Page 65: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

65

necessidade de se registrar. Cada registro se transforma em um perfil – página

pessoal, como do Orkut, Twitter – com informações sobre o colaborador, suas

colaborações, comentários, colaboradores favoritos e espaço para fotos.

Figura 5: Página de perfil do colaborador. http://www.overmundo.com.br/perfis/gleice-bernardini

Para colaborar, existem duas formas: postar o conteúdo na “Edição Colaborativa” ou

publicar diretamente. Na primeira, a colaboração vai ficar visível nas primeiras 48

horas apenas em “Edição Colaborativa”. Já na outra maneira, ela ficará visível entre

as “Colaborações recentes”.

Na editoria “Edição Colaborativa”, o usuário poderá fazer alterações em seu texto

durante ás 48 horas, e também acompanhar as sugestões recebidas, podendo

utilizá-las ou não. Depois desse período, o material será publicado definitivamente,

ficando visível mais 48 horas na editoria “Colaborações recentes” - espaço em que

se pode encontrar as colaborações publicadas diretamente no site.

Page 66: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

66

Nesta seção, também, qualquer colaborador pode ajudar a editar o material. Ao

clicar em “Edição colaborativa” aparecem todos os conteúdos disponíveis para

edição. A colaboração fica disponível para ser lida e logo abaixo se abre o espaço

“sugestão de edição” e “comentário”. Já em “Colaborações recentes” aparecem

todas as colaborações enviadas nas últimas 48 horas. Todas as editorias são

divididas pelas segmentações do site – “overblog”, “banco de cultura”, “guia” e

“agenda”, porém nesta monografia nos ateremos apenas ao “Overblog”.

Todas as colaborações – desde o início – podem ser encontradas no site, pois são

armazenadas e de fácil acesso ao usuário. É possível consultá-las ao clicar em

“colaborações recentes” ou “overblog” na barra de tarefas do site onde aparecerão

as colaborações do dia e uma janela para se procurar/pesquisar outras

colaborações. Há ainda as opções para pesquisa por estado, município, categoria e

ordenação. O layout utiliza a lógica de apresentação de um blog, em que cada

notícia é exibida no formato de postagem.

Figura 6: Detalhe da ferramenta Pesquisa de colaborações>Categoria.

Page 67: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

67

Figura 7: Detalhe da ferramenta Pesquisa>Ordenação.

O site ainda tem um sistema de ranking, denominado overpontos – quanto mais

overpontos uma colaboração tiver mais destaque terá no site, aparecerá na home

em primeiro lugar. É um recurso para manter o site sempre com novidades, nunca

estático - também evitando que as matérias de maior destaque ganhem sempre

mais votos. Mas, o site também oferece a opção de ver os conteúdos ordenados por

tempo de publicação.

Figura 8: Detalhe da home mostrando o rankeamento do site.

Page 68: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

68

O envio das colaborações é feito através do preenchimento de campos que serão

disponibilizados acessando o link “publicar colaboração”, o que levará a uma

escolha de seções que se deseja postar. Cada seção, como explicado

anteriormente, também vem com uma breve explicação abaixo para que não haja

dúvidas nem postagens indevidas ou em lugares errados. Ao se escolher a seção,

aparecerão os campos a serem preenchidos como mostrado na figura abaixo.

Figura 9: Página para postar nova colaboração. http://www.overmundo.com.br/overblog/envia_noticia.php

A colaboração depois de pronta aparece – tanto na “edição colaborativa” como

“colaborações recentes“ – com título em fonte maior e cor cinza, nome do

colaborador em azul com identificação de localização, data e hora da postagem,

quantidade de votos recebidos e de comentários. A foto vem logo abaixo (caso

tenha) seguida de legenda, dentro de caixa de texto cinza, texto e tags em azul. Ao

se passar com o mouse por cima da foto aparecerá o crédito da mesma. E ao lado a

imagem de quantos overpontos o conteúdo recebeu. Para o usuário, o site

disponibiliza abaixo do conteúdo as ferramentas de enviar, versão para impressão,

receber avisos de comentários, adicionar às colaborações favoritas e alerta, que é o

Page 69: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

69

botão que aciona a equipe para verificar se há algo ofensivo e/ou ilegal na

postagem. Além de, é claro, link para comentar.

Todas as ferramentas apresentaram um bom funcionamento, apenas a “receber

avisos de comentários” e “adicionar às colaborações favoritas” não abrem novas

janelas, mas possuem as opções de desabilitar, ou seja, cancelar os avisos e

remover das colaborações favoritas. Já o espaço para comentário possui botões

para negrito, itálico, link e fechar tag, um espaço de 5000 caracteres com contador e

link para ajuda na utilização dos botões – que se abrirá em nova janela.

Figura 10: Detalhes da Barra de ferramentas.

Figura 11: Detalhe do espaço para comentários.

De forma geral, a página é harmônica e explicativa, dividida em blocos de

informações, links e cores leves. Na parte superior vem o cabeçalho com nome do

site, saudação e patrocínios, seguido da barra de ferramentas onde se localizam os

links para as seções e ajuda. Logo abaixo, o link do site e campo para procura de

tags seguidos pelas colaborações que são divididas nas seções e categorias já

mencionadas. Do lado direito, apresenta-se “meu painel” com as opções “publicar

colaboração”, “edição colaborativa” e “colaborações recentes”. Abaixo, o link para

pesquisa de colaborações, “nuvem de tags”, “observatório” e “rede overmídia”25, e

25 http://www.institutoovermundo.org.br/projetos/overmidia/

Page 70: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

70

na parte periférica do site, o usuário pode encontrar os links “sobre”, “termos de

uso”, “privacidade”, “créditos”, “expediente” e “bugs26”. Cada link ou botão vem

seguido de um botão de ajuda e uma explicação, facilitando muito o trabalho para o

usuário.

A estrutura do Overmundo é basicamente reativa, pois são disponibilizados ao

usuário formulários predefinidos, com campos fixos e sem a possibilidade de

alteração do sistema. Também é oferecida ao usuário somente uma lista de opções,

como uma das categorias de classificação do conteúdo ou os hiperlinks que

determinam as escolhas do usuário para a chegada ao caminho final - a publicação

do conteúdo. Além disso, a possibilidade de interferência nas informações geradas

por outros usuários é pequena, já que diretamente não é possível editar o conteúdo

gerado por outras pessoas, o que deixa claro o controle do colaborador-produtor.

Somente é possível editar o conteúdo através de sugestões na seção “edição

colaborativa” e por determinado tempo. Mesmo assim, o colaborador-produtor do

conteúdo escolhe ou não utilizar a sugestão.

As demais interações com o material postado só podem ser feitas, em menor escala,

através do link “enviar comentário” disponível nas páginas de cada colaboração. Os

mesmos seguem a lógica das postagens ao se apresentarem em forma cronológica,

e, além de atualizar o conteúdo - outras pessoas podem discordar, retificar ou

mesmo complementar em um espaço à parte - servem de meio para divulgação e

discussão do fato.

Enfim, podemos a partir de agora analisar o Overmundo segundo sua estrutura e

conteúdo no respectivo período selecionado.

3.1 – A análise do Overmundo

A notícia é a base do jornalismo, sem ela não existe jornalismo. Ao analisá-la,

espera-se conhecer mais a fundo o modo como ela é feita nesta nova forma de

jornalismo – o colaborativo. Há muito, já foi pesquisada a noticiabilidade dos

massmedia, que foi tema de diversas pesquisas acadêmicas, contribuindo para a

compreensão do “fazer” jornalismo e o papel que este desempenha na sociedade. A

26 Erro no sistema. http://www.overmundo.com.br/estaticas/reportar_bug.php

Page 71: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

71

partir de agora, com a nova realidade da comunicação - o jornalismo colaborativo –

deve-se novamente voltar-se às pesquisas e análises para que se possa entender

como se dá essa noticiabilidade também no meio digital com a colaboração do

público leitor. Sendo assim, a análise dos critérios utilizados pelos cidadãos-

repórteres, para definir o que é notícia auxiliará nas respostas sobre “o quê” e

“como” os usuários estão produzindo conteúdos noticiosos, após a criação e

utilização das novas tecnologias de informação e comunicação e dos canais

emissores, potencializados com a internet. Para tanto, buscamos analisar os critérios

de seleção e construção dos conteúdos colaborativos publicado no período de 15 a

30 de junho de 2008, publicadas na seção “Overblog” do site colaborativo

Overmundo.

Nicola (2004) destaca que o texto para o ciberespaço deve ser curto devido à falta

de tempo do ciberleitor:

Convencionou-se apostar na precisão informativa com brevidade –

características que pontuam o texto jornalístico na rede digital, pois a

velocidade de leitura, segundo pesquisas, é 25% menor em relação à

da página impressa. Além do mais, o usuário comporta-se com um

ansioso diante da tela e se impacienta ao ler textos prolixos. As

alternativas indicam uma fragmentação textual da matéria, tendo como

critério um total de no máximo quinze linhas. Os títulos deveriam ser

escritos numa linguagem dinâmica, forte e que procurasse a todo

custo uma aproximação aos critérios internacionais de expressão. (p.

47/48).

Assim verificaremos nas colaborações se os textos produzidos pelos cidadãos-

repórteres seguem esse padrão ou se, se afastam muito dessa lógica textual.

Page 72: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

72

Tamanho do texto

10

1

4 4 4

76

3

6 6

10

21

32 2

3

12

1 1 1 1

0

2

4

6

8

10

12

Quantidade de parágrafos

Qu

anti

dad

e d

e co

lab

ora

ções

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12131415 1617 18 19 2022 26 30 58

O que podemos verificar, dentre as 74 colaborações analisadas no período

escolhido, é uma grande diferença entre os tamanhos das colaborações, tendo em

média 6 parágrafos, com mínimo de 1 e máximo de 58 parágrafos, o que para um

texto no ciberespaço é considerado exageradamente demasiado. A solução para

textos muito grandes desse tipo seria dividí-los em vários links fazendo com que o

ciberleitor navegue entre as páginas e que ele decida até quando e onde quer ir e

saber.

Considerando que cada parágrafo é formado com uma média de 8 linhas, com

mínima de 1 e máxima de 20, podemos verificar que as colaborações médias são

formadas por 48 linhas. Assim, se confirma a teoria descrita por Nicola (2004) que os

textos para a web devem ser pequenos para não cansar o ciberleitor e fazer com

que ele abandone a leitura no meio do texto.

Para Lévy (1999) o que se destaca no ciberespaço não é a espetacularização e sim,

a nova tendência, o conteúdo colaborativo, feito por todos, passado de mão em

mão, criado junto na comunidade.

Não se pode compreender ou apreciar o que se desenrola no ciberespaço a não ser pela participação ativa, ou então ouvindo as narrativas de pessoas integradas em comunidades virtuais ou

Page 73: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

73

“surfando na Net” e que contarão suas histórias de leitura e escrita. (p. 203).

Isto evidencia a escolha do site Overmundo como um modelo de comunidade que

gera seu próprio conteúdo colaborativo e que se destaca pela escolha de temas fora

do foco central da grande mídia – a cultura fora do grande eixo Rio - São Paulo e

fora do grande público, a cultura gerada no dia – a – dia, mas que não aparece nas

mídias tradicionais devido ao pouco público atraído por essas manifestações

culturais, as chamadas culturas de nicho que Chris Anderson tanto divulgou em seu

livro A cauda longa (2006).

Assim, quando as pessoas começam a captar, descrever e alimentar redes de

informação com dados, elas passam a ser não mais só receptoras mas também

produtoras de conteúdo. Essa função, sendo explorada pelos meios de

comunicação, como um canal de relacionamento entre as audiências e uma nova

fonte de comunicação e de informações para os jornalistas gera a importância de ser

analisadas, para que se possa entender essa nova configuração.

Num primeiro momento, se fez necessário o uso da revisão bibliográfica para

identificar informações relevantes já publicadas sobre o assunto e para se buscar um

aporte teórico para confrontar o objeto de estudo com os critérios de noticiabilidade

e verificar as hipóteses. Para tanto, foram observados os conceitos inseridos na

Construção Coletivo do Conhecimento (LÉVY, 1999) e Interação (PRIMO, 2006).

Para se avaliar as informações enviadas pelos cidadãos-repórteres do Overmundo

foi utilizada a análise de conteúdo. De acordo com Herscovitz (2007), a análise de

conteúdo condiz com a proposta desta monografia, pois:

A Análise de Conteúdo pode ser utilizada para detectar tendências e modelos na análise de critérios de noticiabilidade, enquadramento e agendamentos. Serve também para descrever e classificar produtos, gêneros e formatos jornalísticos, para avaliar características de produção de indivíduos, grupos e organizações, para identificar elementos típicos, exemplos representativos e discrepâncias e para comparar o conteúdo jornalístico de diferentes mídias em diferentes culturas. (p. 123).

Desta forma, as páginas referentes às colaborações enviadas entre os dias 15 e 30

de junho de 2009 foram armazenadas em computador pessoal, para preservar as

Page 74: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

74

informações de qualquer mudança ou edição, as quais estão expostas ao estarem

no meio online27.

Analisar as condições de produção é um dos caminhos para entender a definição

dos critérios de noticiabilidade no jornalismo colaborativo. Portanto, ao se identificar

os critérios de seleção e a construção operada no processo comunicativo será

possível ter ciência da reconfiguração ou não que a colaboração dos cidadãos-

repórteres causou nos critérios de noticiabilidade do campo informativo

contemporâneo.

O conteúdo recolhido do Overmundo durante o período estipulado foi analisado

segundo critérios quantitativos e qualitativos. Em um primeiro momento, foi realizada

a contagem total de notícias enviadas pelos leitores, também foram extraídos

fragmentos que chamaram a atenção por fugirem dos padrões jornalísticos

tradicionais, e feita uma análise do conteúdo produzido pelos usuários do canal.

O processo de imersão no Overmundo deu-se através do cadastro no canal

participativo como um usuário comum. Com isso, foi criada uma conta de acesso

através do cadastro e preenchido um perfil pessoal, antes mesmo do período de

análise do conteúdo relacionado. Porém o cadastro só foi feito como meio para

liberação das ferramentas de colaboração e para assim se ter a liberdade de testá-

las e verificar suas funcionalidades, pois, não há interferência no objeto estudado, ou

seja, não há uma participação nem colaboração no site. A atuação da pesquisadora

se deu apenas na observação e análise do conteúdo sem qualquer tipo de

intromissão.

Duarte (2006, p. 62) detalha que a observação participante é uma “técnica

qualitativa que explora um assunto a partir da busca de informações, percepções e

experiências de informantes para analisá-las e apresentá-las de forma estruturada”.

Sendo assim, ela foi aplicada para um contato direto com os responsáveis pelo

recebimento, edição e publicação do conteúdo gerado por usuários do Overmundo,

27 Mesmo fechada para alterações após o período de 48h, as matérias poderiam ser excluídas ou sofrer alterações caso tivesse algum conteúdo ofensivo e/ou inapropriado segundo o já explicado no capítulo anterior sobre a ferramenta “alerta” onde a equipe editorial tem a liberdade de alterar ou excluir a colaboração caso se enquadre em conteúdo fora da proposta ou inadequado.

Page 75: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

75

para comparar a realidade evidenciada na análise do conteúdo e a mudança pessoal

dos responsáveis do canal.

Como método de enriquecimento da pesquisa procurou-se ouvir o coordenador e

responsável editorial pelo do site Overmundo, Viktor Chagas. Obtivemos assim

respostas de caráter editorial, sobre a coordenação e o trabalho dos jornalistas do

Overmundo28.

O modelo de entrevista semi-aberta foi utilizado, por “tratar da amplitude do tema,

apresentando cada pergunta da forma mais aberta possível (...) conjuga a

flexibilidade da questão não estruturada com um roteiro de controle.”(DUARTE,

2006, p. 66). Ou seja, as perguntas foram formuladas a partir das evidências

expostas na análise preliminar dos dados recolhidos nas páginas do Overmundo. E

as respostas ajudaram a elucidar as questões assim como as informações obtidas

no site.

O que podemos evidenciar do relato de Viktor Chagas, sobre o Overmundo é que a

interferência por parte da coordenação é praticamente nula, pois, “todos os

conteúdos são autorais e, mesmo no caso do processo de Edição Colaborativa do

site, os autores têm a palavra final sobre suas colaborações. Contudo, todas as

colaborações estão sujeitas a um mecanismo de moderação descentralizado, em

que a comunidade pode apontar irregularidades (violação de direitos autorais,

ofensas, spam) e mesmo prezar pela organização do conteúdo (é possível p. ex.

alertar conteúdos fora da proposta editorial do site ou publicados em seção

errada).”29 Desta forma, o trabalho dos jornalistas, da coordenação do site visa

“fomentar a participação da comunidade, seja buscando estimular o debate, seja

buscando novas parcerias para troca e compartilhamento de idéias e conteúdos.

Além disso, a Equipe Overmundo é ainda responsável pelo desenvolvimento de

novas funcionalidades para o site, planejamento e gestão dos conteúdos, e, claro, a

administração de alertas, feitos pela comunidade”30.

Os métodos aplicados neste estudo ainda são considerados experimentais no meio

acadêmico, pois não há uma metodologia consolidada ou um consenso sobre esse 28 A entrevista completa, com perguntas e respostas está no Anexo, item 6.1. 29 Em entrevista por e-mail. 30 Em entrevista por e-mail.

Page 76: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

76

tema ainda recente e pouco explorado que é o conteúdo colaborativo feito no

jornalismo participativo.

3.1.1 – Os números da análise do Overmundo.

No Overblog, seção escolhida para ser o foco da pesquisa desta monografia, existe

publicadas, até o momento, quase 8 mil colaborações31. O período que iremos

analisar, de 15 a 30 de junho, consiste em 74 publicações nesta seção.

A escolha pela seção Overblog se deu devido à sua proximidade com um blog

realmente, e também pelas diretrizes editoriais do site que recomenda que nessa

seção sejam postados materiais como entrevistas, reportagens e críticas sobre

cultura. Isto nos aproxima a um conteúdo jornalístico, podendo, então, em meio a

esse panorama, confirmar ou não nossa hipótese.

No jornalismo tradicional existem dois elementos textuais essenciais para determinar

se um fato será ou não noticiado, a novidade e a potencialidade do fato reter a

atenção dos leitores. No que se refere aos critérios de noticiabilidade no Brasil, em

especial, podemos acrescentar mais três elementos: a personalização - uso de

personagens que aproxime a realidade do receptor, a dramatização - adoção de

estados emocionais e a dinamização – constatação de uma ação ou acontecimento.

Esses elementos textuais que visam determinar se um fato pode ou não ser notícia,

são os chamados valores-notícia que TRAQUINA (2005) descreve ser os “óculos”

dos jornalistas, ou seja, meio que serve para o jornalista ver o mundo e o construir.

No jornalismo colaborativo essas noções de noticiabilidade como a atualidade, a

notoriedade, personalização, dramatização entre outros também é levada em conta,

pois sofre grande influência do jornalismo tradicional. E é isto que iremos analisar

para possíveis conclusões.

Para Traquina (1993) os valores-notícia podem ser divididos em dois gêneros,

seleção – refere-se aos critérios adotados na seleção dos fatos para um produto

jornalístico. Esse gênero subdivide-se em:

31 Dados obtidos no site http://www.overmundo.com.br e confirmados em entrevista por e-mail com Viktor Chagas.

Page 77: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

77

- Critérios substantivos: o acontecimento em si;

- Condições de produção: relacionado à construção narrativa de um fato como

notícia.

Listamos abaixo os valores-notícia de seleção propostos por Traquina (1993, p. 67)

e que serão adotados nesta pesquisa:

- Morte,

- Notoriedade das pessoas envolvidas,

- Proximidade geográfica e cultural,

- Relevância para o público,

- Novidade (ineditismo),

- Atualidade,

- Notabilidade Inesperada/Excepcional,

- Conflito/Infração,

- Escândalos.

No conteúdo do período analisado, nota-se a predominância de critérios de

noticiabilidade relacionados à novidade dos temas e à notoriedade das pessoas,

instituições e variados temas – relativos à cultura - envolvidos em um acontecimento.

Dá-se um grande destaque para a divulgação de eventos, boletins sobre eventos já

ocorridos ou em ocorrência, obras e ações pessoais. Para explicar, a notoriedade é

entendida, na monografia, como a aclamação das pessoas envolvidas em

determinado fato e novidade como uma surpresa, algo que não foi citado ou ocorreu

anteriormente. Os critérios menos citados como morte, refere-se a uma homenagem

ao maestro Silvio Barbato, vítima do desastre aéreo 447, e o escândalo e o conflito

fazem referências as questões locais cujas colaborações são críticas opinativas.

Page 78: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

78

Critérios de Seleção

1

17

8

6

17

8

11

4

2

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18Morte

Notoriedade

Proximidade

Relevância

Novidade

Atualidade

Notabilidade

Conflito

Escandalo

Além do gênero de seleção, há também o gênero de construção, que inclui:

- Simplificação - os fatos de forma objetiva,

- Amplificação - captação da atenção do leitor, geralmente com frases de efeito,

- Relevância - informação útil,

- Personalização - utilização de personagens,

- Dramatização - exploração do conflito,

- Consonância - conexão entre o fato noticiado e a realidade do público.

No período analisado também houve um empate nos critérios de construção. Das 74

colaborações, 21 utilizavam a amplificação, ou seja, formas de captar o leitor com a

utilização de frases de efeito, com frases imperativas e de acusações e 21 utilizaram

a personalização, o uso de personagens para aproximar o fato do leitor, para a

construção narrativa.

As demais se dividiram entre: 15 colaborações construídas com o recurso da

simplificação, o fato de forma objetiva e concisa, que segundo Traquina diz respeito

aos fatos sem “complexidade”, capazes de serem expostos de forma objetiva e de

fácil compreensão, e 17 sob a relevância, informações úteis, na maioria das vezes

se aproximando da utilidade pública.

Os gêneros de dramatização e consonância não foram citados devido à

dramatização não ser encontrada nenhuma colaboração que se encaixasse e

consonância ser enquadrada como um gênero que esteve presente em todas as

Page 79: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

79

postagens, pois, todas as colaborações tratavam de fatos que interessavam os

leitores, fatos do cotidiano, ou seja, o fato noticiado já faz parte da realidade do

usuário não sendo necessário criar mecanismos para que o mesmo seja incluso na

vida do leitor.

Critérios de Construção

15

21

17

21

0

5

10

15

20

25

Simplificação Amplificação Relevância Personalização

Fora esses valores-notícia propostos por Traquina (1993) iremos acrescentar mais

oito critérios (gênero, abrangência, lide, fontes, recursos visuais, uso de links, tags e

repercussão na grande mídia) para aprimorar a compreensão da produção

colaborativa de notícias. Esses critérios foram elaborados a partir da análise do

período selecionado e a freqüência de determinados fenômenos, bem como alguns

elementos clássicos do jornalismo em suas rotinas de produção.

Uso de gêneros

O uso de gêneros nas colaborações pode ser destacado e separado nas distinções

de gênero opinativo e informativo. O gênero informativo apenas traz os fatos sem

uma interpretação ou uma análise dos mesmos. Já o opinativo é um texto mais

pessoal, pois, além de informar agrega a opinião do produtor da matéria.

No material analisado deu-se grande ênfase para as colaborações de cunho

informativo, o que surpreendeu muito por se tratar de textos produzidos por

ciberusuários e não por jornalistas.

Page 80: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

80

Gêneros

Opinativo Informativo

4034

Abrangência dos fatos

O jornalismo colaborativo está ganhando espaço na mídia, principalmente web,

devido a sua abrangência hiperlocal/local/regional, ou seja, as colaborações não

relatam fatos ou acontecimentos de notoriedade nacional e sim fatos ocorridos perto

do colaborador. São pequenos acontecimentos, eventos comunitários que ao

ocorrerem próximos ao colaborador lhes dá uma maior autoridade para tratar do

assunto, pois, ao ser testemunha do fato, o conhece com mais riqueza de detalhes e

pode assim divulgá-lo com mais prioridade. O que foi evidenciado com o resultado

que mostra que 52 postagens, das 74, são de conteúdo local, 16 nacional e apenas

6 estudais.

Abrangência

52

6

16

0

10

20

30

40

50

60

Local Estadual Nacional

Page 81: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

81

Temas freqüentes

Seguindo à risca a linha editorial do site, todas as colaborações enfocavam cultura

como tema de suas matérias. Mas como cultura abrange uma grande quantidade de

enfoques, dividimos e contabilizamos os temas mais freqüentes em relação à

cultura.

Temas

Arte 15

Cinema 3

Comida 1

Festas 6

Futebol 1

Leis culturais/ Direitos 2

Literatura 12

Mídia 11

Música 20

Teatro 3

Música foi o tema mais freqüente nas colaborações, com 20 matérias, divulgando

novas bandas, novos álbuns ou shows e festivais, ou mesmo discutindo e

analisando a música atual, os rumos e as diferenças musicais de gerações

passadas. Logo depois vem Artes, que englobou pinturas, cartuns, quadros e

artistas plásticos. Com 15 colaborações, pode se perceber que o tema tem grande

relevância entre o público, seguido de Literatura, com lançamento de livros,

publicações, entrevistas com escritores e sinopses e/ou resenhas literárias, com 12

e Mídia, com 11 postagens sobre internet, televisão, meios digitais, novas mídias e

tecnologias.

Divulgação de eventos e festas, peças teatrais, cinema aparecem com menos

freqüência nas colaborações, apesar de serem temas de grande conhecimento dos

cidadãos-repórteres, não são muito discutidos, respectivamente com 6, 3 e 3

matérias. O site apresenta também discussões de caráter cívico, além do cultural,

com 2 críticas aos direitos culturais do cidadão. E em último lugar, para grande

surpresa, apenas uma colaboração sobre futebol, a grande paixão nacional, e uma

Page 82: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

82

matéria sobre comidas típicas do Brasil, matéria feita por uma jornalista e publicada

em uma revista de cultura32.

Uso do Lide

Há seis perguntas básicas que devem ser respondidas para a elaboração de um

texto jornalístico - “o quê?”, “quem?”, “quando?”, “onde?”, “como?” e “por quê?” – o

chamado lide. São elementos considerados básicos e que servem para

contextualizar e informar as circunstâncias dos fatos na notícia. O mesmo se aplica

ao webjornalismo, para que se faça um texto dinâmico e objetivo. Nas colaborações,

essas perguntas não foram respondidas com muita freqüência, às vezes, por mero

descuido por parte do produtor da matéria, às vezes por desconhecimento ou, ainda,

por não se encaixar no formato utilizado da colaboração. Muitas colaborações

apresentavam as seis perguntas respondidas, porém, dissolvidas durante todo o

texto ou quase que no final do conteúdo.

Uso do Lide

Sim

Não

49

25

Das matérias que apresentavam o lide, algumas tinham com um outro problema, o

mesmo estavam incompletos. Dos 25 textos com o lide, apenas 13 traziam as seis

perguntas respondidas. As perguntas “como?” e “por que?” , foram as que por mais

vezes deixaram de ser respondidas. Cada pergunta ficou sem resposta

respectivamente, 12 e 8 vezes, fazendo, muitas vezes, que o texto ficasse “manco”,

faltando detalhes ou mesmo informações importantes para o entendimento pleno da

32 Matéria “Brasil no Papo” publicada na revista Almanaque Brasil, edição de junho, feita pela jornalista Natália Pesciotta, citada também no item “Repercussão na grande mídia”.

Page 83: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

83

informação passada. Outras vezes, passava-se desapercebido sem essas

informações, porém, para um jornalista acostumado a escrever diariamente,

utilizando essa técnica, somente com o passar de olhos já se detectava a falta

desses elementos elucidantes.

Presença do Lide Completo 13

Incompleto 12

Uso de fontes

O uso das fontes no conteúdo colaborativo ficou disperso e, por muitas vezes,

oculto. Ás vezes, o colaborador entrevistou ou ouviu alguém para redigir sua

matéria, porém não explicitou essa informação no conteúdo, ficando oculto ou

subentendido, o que dificulta essa verificação. Mas, partindo do principio de que o

autor utiliza as fontes para reforçar seu ponto de vista, então, podemos concluir que

em 35 matérias o cidadão-repórter conversou com uma fonte para construir a sua

matéria, pois deixou evidente essa busca pela fonte. Os outros 39 textos adotaram a

própria mídia tradicional como fonte, ou declarações de personalidades e

especialistas a estes veículos, ou ainda escreveram segundo seus conhecimentos

ou pesquisas. Isto mostra um grande equilíbrio em relação ao uso das fontes por

parte dos cidadãos-repórteres que, se não conhecem a necessidade da utilização

de fontes, ao menos vão buscá-las para confirmar suas posições diante dos fatos

relatados.

Uso de fontes

3539

Sim

Não

Page 84: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

84

Uso de recursos visuais

Fotos e ilustrações nas colaborações serve para auxiliar o entendimento do fato e

mesmo para ilustrar e tornar mais agradável a leitura. É um recurso muito utilizado

nas mídias, em geral, e que foi bem explorado pelos cidadãos-repórteres. Com as

novas tecnologias – câmeras digitais, celulares com câmera, filmadoras, etc – e o

barateamento destas invenções, o uso de fotografias se tornou popular, o que fez

com que qualquer pessoa se tornasse um fotografo em potencial. É só ter uma

câmera, ou celular com câmera, e estar no lugar certo e na hora certa que se pode

ter uma bela fotografia, registrando um momento marcante e/ou importante fato a ser

noticiado, o que não aconteceu muito com as fotografias utilizadas no site. Na

maioria das vezes as fotografias foram utilizadas como um meio de ilustração da

matéria e não de complementação, a não ser em alguns exemplos como a foto da

matéria “Cabo frio por todos os ângulos”, onde o uso das fotografias se fez

fundamental para agregar qualidade à colaboração.

Recursos Visuais

Foto

Ilustração

Nenhum

21

12

41

Presença de Recursos Visuais Com foto/ilustração 53 Sem foto/ilustração 21

Das matérias que apresentam foto, 44 foram ilustradas com apenas uma foto, 2 com

duas fotos, 3 com três fotos e há apenas 1 exemplo de matéria contendo

respectivamente quatro, cinco, seis e setes fotos cada uma.

Page 85: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

85

Figura 12: Exemplo de matéria com uso de recurso visual (fotos). http://www.overmundo.com.br/overblog/cabo-

frio-por-todos-os-angulos

Uso de hiperlinks

Um detalhamento do direcionamento dos hiperlinks - para onde apontavam - indica

que das 35 colaborações com links, apenas uma apresentava um link que apontava

para uma página dentro do próprio Overmundo, as demais, 34 matérias, tinham seus

links que apontavam para sites que auxiliavam na compreensão do fato abordado,

Page 86: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

86

como blog do autor, site oficial do evento, comunidade, fóruns, páginas de redes

sociais etc, todos de domínio fora do Overmundo. E não apresentavam hiperlinks, 39

colaborações.

A presença de hiperlinks variou de apenas 1 até a presença de 10 links por

colaboração, onde muitas das vezes o link era um endereço de e-mail do autor,

cidadão-repórter.

De todos os links analisados apenas o que levava a uma página dentro do próprio

Overmundo, na seção “Banco de cultura” apresentou como destino um arquivo de

som ou imagem. Era um vídeo de uma música e logo abaixo o link com ferramentas

para se fazer o download da canção. Todos os demais, encaminham o usuário a

sítios com textos.

Uso de hiperlinks

3539

Sim

Não

Figura 13: Detalhe de matéria com uso de hiperlinks.

Page 87: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

87

Figura 14: Na esquerda, matéria com uso de hiperlink com destino dentro do Overmundo. Na direita, matéria de

destino do hiperlink. Na esquerda: http://www.overmundo.com.br/overblog/divagacoes-incompletas. Na direita:

http://www.overmundo.com.br/banco/no-shopping

Uso das tags

As tags nas colaborações do Overmundo são praticamente obrigatórias. Ao se

postar uma colaboração já se apresenta um espaço para que o usuário coloque as

palavras que ele queira que sirva de tag. Isso facilita na utilização da ferramenta de

procurar colaborações, porque faz com que se apresente um maior número de

opções de texto, auxiliando o processo de busca. E através das tags pode-se

navegar e conhecer mais sobre o assunto pesquisado.

Figura 15: Detalhe da ferramenta Tags.

Page 88: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

88

Repercussão na grande imprensa

Verificamos, após toda a análise, que algumas colaborações além de publicadas no

Overmundo, repercutiram nas mídias tradicionais ou, mesmo, na grande imprensa,

sendo publicadas também em outros sites ou almanaques. Um dos exemplos é a

matéria “Brasil no Papo”, que foi postada no site Overmundo e no site do Almanaque

Brasil, além de sair na versão impressa da revista33.

Figura 16: Exemplo de matéria com repercussão na mídia. http://www.overmundo.com.br/overblog/brasil-no-

papo-1

Outra matéria que obteve uma grande repercussão, por seu conteúdo, foi a matéria

“Quem vai segurar o chororó da Fenaj?”, cujo colaborador faz uma crítica ferrenha 33 http://www.almanaquebrasil.com.br/sem-categoria/saiba-mais-especial-junho-de-2009/

Page 89: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

89

aos sindicatos dos jornalistas por eles defenderem a obrigatoriedade do diploma.

Essa crítica foi alvo de muitas manifestações de oposição por partes dos

colaboradores do site, que gerou além de outras matérias – que não foram

analisadas por não se enquadrarem no período selecionado – também discussões

no fórum do Overmundo e até mesmo o colaborador foi chamado para dar

entrevistas para outros sites sobre essa colaboração.

Figura 17: Exemplo de matéria com repercussão na mídia. http://www.overmundo.com.br/overblog/quem-vai-

segurar-o-chororo-da-fenaj

A matéria “Cabo frio por todos os ângulos”, já citada, inclusive com foto da matéria,

no item “uso de recursos visuais” também teve destaque na mídia, servindo de pauta

para matérias de jornais locais.

No total, 7 das 74 colaborações, ou foram publicadas em outros veículos além do

Overblog, ou tiveram uma grande repercussão na mídia sendo utilizadas como pauta

para matérias posteriores.

Nas colaborações analisadas, apenas 4 não se enquadravam em nenhum formato

jornalístico, fugindo totalmente a qualquer modelo existente. Assim, os classificamos

Page 90: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

90

como apenas uma postagem, um “desabafo” do usuário que viu no Overblog, um

modelo de blog realmente, postando seu texto e 1 colaboração que seguiu a forma

de uma propaganda, divulgando um site de otimização de sites para blogs. Nas

demais colaborações, encontramos uma grande quantidade de formatos, então,

podemos dizer que 70 colaborações podem ser entendidas como, além de um

conteúdo colaborativo, um conteúdo jornalístico.

Figura 18: Exemplo de matéria sem formato jornalístico. http://www.overmundo.com.br/overblog/otimizacao-de-

sites-para-blogs

Após a análise de todas as colaborações, verificamos que não houve a presença de

nenhum arquivo de som, vídeo ou animação nas colaborações, retirando a citação

do link para o arquivo de vídeo, do período em questão. Isto sugere que a

trasmidialidade ainda é pouco utilizada pelos cidadãos-repórteres, seja devido a

desconhecimento, seja por falta de recursos.

Page 91: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

91

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O jornalismo se transforma novamente, e em meio a essas mudanças e

transformações de estruturas e valores, surge como forma de democratização dos

meios, o cibercidadão, interessado, não mais em ser mero receptor de notícias, ele

quer agora participar da produção de notícias. E são esses novos modelos de

produção, de conteúdo, de difusão de mensagens e, principalmente, a criação do

jornalismo colaborativo que atuam como os novos desafios, e oportunidades, para

os mass media.

Como o já citado anteriormente por vários autores, essas mudanças são uma forma

de reorganização da informação, pois, os dispositivos da comunicação, os modos de

conhecimento e os gêneros da cibercultura irão influenciar os meios existentes,

forçando-os a mudar e encontrar um ‘nicho’ específico dentro desse novo panamora

existente.

É por essa “reorganização” que o jornalismo está passando, e dela sairá renovado

porque o jornalismo sempre esteve associado à tecnologia, e, todavia, às alterações

nas suas práticas, desenvolvendo linguagens, criando novas técnicas e formas de

transmitir as informações a cada novo invento tecnológico e meio de transmissão de

dados.

Ou seja, o jornalismo, como nenhuma outra profissão, passou por tantas mudanças

e transformações, alterações no modo de produzir e nos meios de produção e

divulgação. O jornalismo digital e o colaborativo são apenas novas mudanças de

meio de divulgação e produção que devem ser agregadas. Como toda mudança, no

início, é estranhada, porém com o tempo vê-se os benefícios.

Assim, a possibilidade da participação dos cidadãos na produção de notícias não

implica o fim do jornalismo, mas, uma oportunidade de potencializar a atividade

jornalística.

Esta relação entre mass media e as mídias colaborativas, pode ser chamada

“metaforicamente, como o mutualismo, onde ambos buscam manter a sua existência

Page 92: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

92

e os seus proveitos, em uma protocooperação contínua” como conclui ALMEIDA

(2009) em sua monografia também sobre jornalismo colaborativo.

O que falta aos jornalistas é deixar de lado a descrença e começarem a agir nesse

novo panorama estabelecido, utilizando as novas práticas comunitárias e as novas

tecnologias existentes para fazer um jornalismo mais interativo e transmidiatico.

Essa trasmidialidade é a ferramenta que pode ajudar, e muito, o trabalho do

jornalista. Ele tem apenas que enxergar no cidadão-repórter um aliado, alguém com

quem ele pode contar para auxiliar na produção de fatos e não como uma ameaça

ao seu emprego. Esse é o principal trunfo do jornalismo digital participativo, poder

contar com os colaboradores, fazendo interações mais profundas, trocando

conhecimento e informação, é isto que o diferencia do jornalismo tradicional.

O jornalismo digital participativo cria novos mecanismos de produção de notícias,

onde o ciberleitor além de receptor se torna emissor de informação. Isto não é uma

ameaça aos meios tradicionais, pelo contrário, é um avanço no modo de se fazer

jornalismo. Mais pessoas produzindo, mais notícias, com mais espaços para ser

divulgadas as notícias, aumenta assim, não só a produção mais também a

abrangência. Os colaboradores passam a serem vistos como mais uma opção na

oferta de notícias, criando um novo relacionamento do público com a mídia. O que

antes era descartado por ser um fato local ou hiperlocal, sem muita repercussão ou

público, passa a ser noticiado por quem se interessa pelo fato. E melhor, a noticia é

produzida por quem realmente esteve lá, presenciou e sentiu o fato. Passando uma

maior credibilidade.

Os jornalistas mudam de função, mas não deixam de produzir matérias, porém,

agora, também se tornam mediadores dos debates públicos e “responsáveis pelo

desenvolvimento de novas funcionalidades”34, “planejamento e gestão”35 dos

conteúdos enviados pelos cidadãos-repórteres.

No Brasil, o jornalismo digital participativo começa a ser mais explorado pelos meios

de comunicação, porém, ainda é pouco estudado pelos meios acadêmicos. Desta

forma, podemos ver esta monografia como uma maneira de contribuir para os 34 Parte da entrevista de Viktor Chagas por e-mail (e-mail: ) 35 Viktor Chagas em entrevista por e-mail.

Page 93: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

93

estudos das práticas colaborativas, pois, é utilizada para analisar aspectos

operacionais, positivos e negativos de uma experiência participativa.

Assim concluímos, do período analisado, do site Overmundo com recorte na editoria

Overblog, onde se teve maior colaboração dos cidadãos-repórteres através do envio

de matérias, entrevistas, críticas, reportagens, etc, que os conteúdos colaborativos

postados no site podem sim ser utilizados tanto como fontes e pautas para matérias

jornalísticas tanto como a própria colaboração pode ser entendida como um

conteúdo jornalístico.

Para evidenciar a conclusão relembremos casos citados no capítulo 3, item 3.1.1 –

os números da análise do Overmundo, matérias que foram postadas tanto no

Overblog como em outros sites, ou mesmo na mídia impressa. Além de matérias que

tiveram repercussão na mídia por tratarem de casos de extrema relevância, seja

servindo como pauta para outras matérias, “Cabo frio de todos os ângulos”, seja a

própria colaboração que serviu de material para debate – “Quem vai segurar o

chororó da Fenaj?”.

Toda a análise e seus números comprovam que as colaborações, em sua maioria,

se constituem de gênero informativo, abrangência local, tratando de novidades ou

divulgando e dando crédito às pessoas que contribuem e faz ações para melhoria do

bem estar social. Mesmo nos quesitos mais jornalísticos como presença de lide, uso

de recursos visuais, de fontes e hiperlinks, o conteúdo analisado apresentou uma

significativa quantidade positiva, em muitas das vezes, referentes à presença e

utilização dessas ferramentas.

Com certeza, não podemos dizer que todo o material pode ser considerado como

conteúdo jornalístico, mas, pelos menos uma parte dele, e as demais podem servir

ao menos de pauta. Nesse sentido, também, separamos as colaborações que em

nenhum formato jornalístico se enquadrou.

Desta forma, a presença do cidadão-repórter na produção de conteúdo colaborativo

no webjornalismo é uma ferramenta positiva, que deve ser agregada e muito

utilizada pelos meios de comunicação, pois, seu conteúdo produzido apesar de não

possuir as técnicas conhecidas, pelos jornalistas profissionais formados, são de

Page 94: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

94

muita valia e garantem uma pluralidade nos debates públicos sobre o jornalismo on-

line colaborativo.

Page 95: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

95

5. REFERÊNCIAS

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Page 99: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

99

6. APÊNDICE

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100

6. APÊNDICE

6.1 Entrevista com Viktor Chagas

Meu recorte dentro do Overmundo é o overblog, onde acredito que exista um maior

número de postagens e que o conteúdo se aproxime mais com um conteúdo

jornalístico. Assim, gostaria que as perguntas fossem respondidas com base nessa

seção do site. (Se fosse possível, gostaria de obter números sobre quantidade de

material postado).

Os números que se referem à quantidade de material publicado no Overmundo em cada

seção e por estados brasileiros podem ser obtidos na própria interface do Overmundo. Hoje,

p. ex., no Overblog são cerca de 8 mil colaborações publicadas.

1. Como surgiu a idéia do Overmundo?

Neste link <http://www.overmundo.com.br/estaticas/sobre_o_overmundo.php>, você pode

encontrar maiores detalhes. O Overmundo surgiu a partir de uma demanda da Petrobras

para que os projetos patrocinados pela empresa pudessem ganhar uma circulação maior,

mesmo após esgostadas as tiragens físicas de alguns deles (CDs, livros etc.). Os quatro

idealizadores do projeto Overmundo (Hermano Vianna, José Marcelo Zacchi, Ronaldo

Lemos e Alexandre Youssef), então, já com o patrocínio da própria Petrobras,

desenvolveram a idéia de um site colaborativo focado na cultura brasileira.

2. Há alguma forma de interferência (alteração, exclusão, confirmação de

veracidade) da produção do Overmundo no conteúdo postado pelos

colaboradores?

Não há, em princípio, nenhuma interferência nos conteúdos postados no site. Todos os

conteúdos são autorais e, mesmo no caso do processo de Edição Colaborativa do site, os

autores têm a palavra final sobre suas colaborações. Contudo, todas as colaborações estão

sujeitas a um mecanismo de moderação descentralizado, em que a comunidade pode

apontar irregularidades (violação de direitos autorais, ofensas, spam) e mesmo prezar pela

organização do conteúdo (é possível p. ex. alertar conteúdos fora da proposta editorial do

site ou publicados em seção errada).

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3. Se não há interferência, qual o trabalho da equipe editorial e coordenação?

Fomentar a participação da comunidade, seja buscando estimular o debate, seja buscando

novas parcerias para troca e compartilhamento de idéias e conteúdos. Além disso, a Equipe

Overmundo é ainda responsável pelo desenvolvimento de novas funcionalidades para o site,

planejamento e gestão dos conteúdos, e, claro, a administração de alertas, feitos pela

comunidade.

4. Por que um rankeamento do conteúdo? Isso não retrai a colaboração? (um

colaborador se sente desprezado ou não se sente bom para colaborar, pois

seu material não obtém uma pontuação boa.).

Em qualquer veículo de mídia, os conteúdos são ranqueados/hierarquizados. Num jornal, a

manchete tem mais valor e consequentemente mais exposição que uma nota de uma coluna

no fim da página. Numa revista, a matéria de capa idem. O que o Overmundo propõe é que

esta edição - geralmente legada a uma equipe editorial centralizada - seja feita pela

comunidade, de forma colaborativa, através dos votos de cada um.

5. Vocês, da coordenação, deixam bem claro no seu editorial que o foco do site

é a publicação de conteúdo cultural, como é feita essa verificação para que

não haja conteúdo fora da linha editorial?

Através do mecanismo de Alerta, que expliquei anteriormente. Mais informações em

<http://www.overmundo.com.br/estaticas/ajuda_nova.php#cat6>.

6. Algum conteúdo do Overmundo já foi divulgado na grande mídia?

Sim. Vários. Geralmente, os conteúdos que circulam no Overmundo são conteúdos que

estão nos veículos de mídia regional e que, muitas vezes, não têm acesso à mídia nacional,

cujas principais pautas se concentram no eixo Rio-São Paulo. O Overmundo surgiu com o

grande objetivo de que esses conteúdos que circulam em âmbito regional possam ser

alçados a uma vitrine nacional. Por isso, não é raro que matérias e produtos que circulam

pelo site ganhem, logo depois, os holofotes da mídia nacional.

Não temos controle sobre todos os casos em que essa repercussão se dá. Mas lembro que

o primeiro caso de que temos notícia foi nossa primeira manchete no Overmundo, sobre um

produtor de filmes pornográficos na Amazônia (Antônio Snake), que foi parar no Jô. E o

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último caso foi o de uma matéria sobre um documentário curiosíssimo no Tocantins, que

logo em seguida virou pauta do jornal O Globo.

7. O Overmundo ao mesmo tempo em que propõe um canal aberto para receber

informações, fecha a possibilidade dos usuários interirem no conteúdo de

terceiros após a publicação – a qual só pode ser feita através de comentários

ou envio de e-mail para o colaborador responsável ou a equipe do site com

alerta. Isto não é uma maneira de controlar a informação mantendo a divisão

de posições – produtor e consumidor – ou é uma forma de dar qualidade ao

produto?

Quando se pensa em modelos de internet colaborativa, há experiências diferentes, com

propostas diferentes. Blogs são um tipo de ferramenta. Wikis são outro. E assim por diante.

Acreditamos que o modelo do Overmundo é um modelo particular, e que, portanto, não é

mais nem menos descentralizado que outros, apenas diferente, e, dessa forma, se constitui,

como toda a internet colaborativa, em uma experiência viva, moldada com respeito à

comunidade. O grande diferencial do Overmundo, nesse sentido, é sua linha editorial.

Ferramentas da chamada web 2.0 costumam ser meras ferramentas, não têm uma proposta

editorial com foco definido como o Overmundo, que se concentra em temas relacionados à

cultura brasileira e à cultura produzida por brasileiros

Seguindo essa lógica, as colaborações propostas pelos autores são colaborações autorais,

não verbetes de enciclopédia. São textos, muitas vezes, escritos em primeira pessoa. Um

mecanismo de wiki, que possibilitasse a qualquer um a alteração desses textos,

simplesmente não faria sentido nessa experiência. Também por esse respeito ao autor e à

comunidade, o Overmundo não permite a alteração das colaborações após a sua publicação

em definitivo no site, uma vez que esta colaboração já recebeu votos e foi apreciada por

uma série de outros colaboradores.

8. Você considera o conteúdo do Overmundo como um conteúdo jornalístico?

Em algumas instâncias, sim. Em outras, não. Depende, é claro, da seção específica em que

se foca o seu olhar (no Banco de Cultura, por exemplo, os conteúdos são produtos culturais

e não artigos) e da definição de jornalismo com que se trabalha. Se é possível, por exemplo,

considerar jornalística uma matéria escrita em primeira pessoa, que fala sobretudo de um

gosto particular do autor e que tem no autor sua fonte primária, nesse caso, este conteúdo

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que circula no site é jornalístico. Mas estamos menos preocupados com essa definição do

que com o acesso à informação sobre a produção cultural em si.

9. Acredita no jornalismo colaborativo como meio de ajuda na realização do

trabalho do jornalista? Como e por que?

Não entendo exatamente o que você aponta como um "meio de ajuda". Acredito

particularmente que o jornalismo cidadão/jornalismo colaborativo/jornalismo

participativo/jornalismo opensource/jornalismo público/jornalismo cívico seja um modelo

alternativo ao do jornalismo tradicional. Este trabalha com experts, aquele com experts

locais. Cada um atende a uma necessidade específica. Se quero saber sobre a Guerra no

Iraque, talvez o melhor seja procurar um grande jornal ou um grande portal de conteúdo. Se

quero saber sobre um projeto de capacitação para tocadores de pífano no interior do Piauí,

talvez os grandes jornais e grandes portais tenham pouco a me oferecer.

10. Sobre o conteúdo colaborativo, você acredita que ele não é mais utilizado

devido à falta de credibilidade que se atribui a ele?

Qualquer fala nesse sentido seria meramente especulatória. Entendo que haja críticas no

sentido da confiabilidade e da credibilidade de conteúdos produzidos de forma colaborativa.

Mas entendo também que essas críticas desconsideram o potencial efeito de mecanismos

de controle difusos e descentralizados, que legam à comunidade a responsabilidade sobre

os laços de confiança e credibilidade estabelecidos por esses conteúdos.

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7. Anexos

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7. Anexos

7.1 Matérias com repercussão na grande imprensa

“Brasil no Papo” – 17/06/2009

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36 Matéria Brasil no Papo <http://www.overmundo.com.br/overblog/brasil-no-papo-1>. Acessado em 12 de Agosto de 2009.

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Continuação da matéria “Brasil no Papo” – 17/06/2009

37

37 Continuação da matéria Brasil no Papo < http://www.overmundo.com.br/overblog/brasil-no-papo-1 >. Acessado em 12 de agosto de 2009.

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“Cabo Frio por todos os ângulos” – 26/06/2009

38

38 Matéria Cabo Frio por todos os ângulos < http://www.overmundo.com.br/overblog/cabo-frio-por-todos-os-angulos >. Acessado em 12 de agosto de 2009.

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“Nervoso é simples!” – 18/06/2009

39

39 Matéria Nervoso é simples! < http://www.overmundo.com.br/overblog/nervoso-e-simples >. Acessado em 12 de agosto de 2009.

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Continuação da matéria “Nervoso é simples!”

40

40 Continuação da matéria Nervoso é simples! < http://www.overmundo.com.br/overblog/nervoso-e-simples >. Acessado em 12 de agosto de 2009.

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Matéria “Quem vai segurar o chororó da Fenaj?” – 29/06/2009

41

41 Matéria Quem vai segurar o chororó da Fenaj? < http://www.overmundo.com.br/overblog/quem-vai-segurar-o-chororo-da-fenaj >. Acessado em 12 de agosto de 2009.

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Matéria “Revitalização do Porto, IPHAN e Morro da Conceição” – 30/06/2009

42

42 Matéria Revitalização do Porto, IPHAN e Morro da Conceição < http://www.overmundo.com.br/overblog/revitalizacao-do-porto-iphan-e-morro-da-conceicao >. Acessado em 12 de agosto de 2009.

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Matéria “São Mateus e Rodrigo Campos perto do Rio” – 17/06/2009

43

43 Matéria São Mateus e Rodrigo Campos perto do Rio < http://www.overmundo.com.br/overblog/sao-mateus-e-rodrigo-campos-perto-do-rio >. Acessado em 12 de agosto de 2009.

Page 113: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

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Matéria “Software livre pode facilitar a produção cultural” – 23/06/2009

44

44 Matéria Software livre pode facilitar a produção cultural < http://www.overmundo.com.br/overblog/software-livre-pode-facilitar-a-producao-cultural-1 >. Acessado em 12 de agosto de 2009.

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7.2 Matérias sem formato jornalístico

Matéria “A importância da mídia independente” – 30/06/2009

45

45 Matéria A importância da mídia independente < http://www.overmundo.com.br/overblog/a-importancia-da-midia-independente >. Acessado em 12 de agosto de 2009.

Page 115: TCC- Jornalismo Colaborativo No Overmundo

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Matéria “Divagações incompletas” – 25/06/2009

46

46 Matéria Divagações incompletas < http://www.overmundo.com.br/overblog/divagacoes-incompletas >. Acessado em 12 de agosto de 2009.

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Matéria “Joycircunvuluçõesbabélicas” – 15/06/2009

47

47 Matéria Joycircunvulaçõesbabélicas < http://www.overmundo.com.br/overblog/joycircunvulucoesbabelicas-bloomsday2009 >. Acessado em 12 de agosto de 2009.

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Matéria “Otimizações de sites para blogs” – 25/06/2009

48

48 Matéria Otimização de sites para blogs < http://www.overmundo.com.br/overblog/otimizacao-de-sites-para-blogs >. Acessado em 12 de agosto de 2009.

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118

8. GLOSSÁRIO

Creative commons – licença aberta com apenas alguns ou nenhum direto

reservado.

Copyright – licença com todos os direitos reservados.

Digg – uma rede social de compartilhamento de arquivos dividido por temas onde

o usuário pode inserir textos e links de interesse geral ou especifico. Vem do inglês

‘dig’ que significa cavar.

Flickr – site característico de hospedagem que permite compartilhar imagens

fotográficas, vídeos e documentos gráficos.

Hiperlink – sinônimo de link, significa qualquer coisa que se coloca em uma página

da web e que, quando clicada com o lado esquerdo do mouse, abre uma página

diferente, ou um lugar diferente, da internet.

Home page – conhecida também como página inicial. É a primeira página que

veremos quando abrimos um site.

MSN – programa de troca de mensagens instantâneas, criado pela Microsoft.

Orkut – um site de relacionamentos onde cada pessoa possui um perfil, podendo

adicionar amigos, mandar mensagens, depoimentos, classificar o nível de amizade e

interagir com outros usuários.

Overmundo – site de conteúdo colaborativo onde cada pessoa pode criar um perfil

e postar conteúdo sobre cultura.

Software livre – programa desenvolvido com ferramentas para que ocorra a

interatividade entre o usuário e o meio.

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Tag – palavra selecionada dentro do texto podendo ser hiperlink ou apenas uma

explicação da palavra. Vem do inglês rotulo, etiqueta.

Twitter – site com aparência de microblog onde cada pessoa possui um perfil e

uma página de recados onde vai enviando pequenos recados para sua lista de

“seguidores”.

Web – uma das redes dentro da Internet. Vem do protocolo WWW (World Wide

Web).