tcc inflação e heterodoxia

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...... .... Universidade Estadual de Campinas Instituto de Economia 1290000391 TCC/UNICAMP lk3i Inflação e Heterodoxia O Plano Real e o papel da Unidade Real de Valor TCC/UNICAMP lk3i IE/391 Monografia apresentada em dezembro de 2002 por Cleber Mikio Ikeda (RA 980865), sob orientação do Prof. Dr. Paulo Roberto Davidoff Chagas Cruz./ CEDOC/IE

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Inflação e Heterodoxia

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  • ~" ...... u~ .... Universidade Estadual de Campinas Instituto de Economia

    1290000391 ~IE

    TCC/UNICAMP lk3i

    Inflao e Heterodoxia O Plano Real e o papel da Unidade Real de Valor

    TCC/UNICAMP lk3i IE/391

    Monografia apresentada em dezembro de 2002

    por Cleber Mikio Ikeda (RA 980865), sob orientao do Prof. Dr. Paulo Roberto Davidoff Chagas Cruz./

    CEDOC/IE

  • Dedicada queles que so os meus alicerces:

    Mikio, Isabel e Kelly.

  • AGRADECIMENTOS

    Esta monografia simboliza o fechamento de mais um ciclo em minha vida. Por isto

    mesmo, so merecedores de minha gratido todos aqueles que estiveram por perto durante

    os cinco anos de graduao no Instituto de Economia da Unicamp.

    Obrigado ao meu incontestvel e perseverante amigo Marcelo Francisco Melo, pelas

    palavras de fora nos momentos dificeis, pelas horas compartilhadas de estudo intenso e

    por sua lealdade e companheirismo; a Srgio Eduardo Ketelhute Sampaio, tantas vezes

    companheiro de pesquisa, que sempre acreditou em meu potencial; Christiane Martins

    Yano, minha amiga e colega de pesquisa no Centro de Conjuntura do Instituto de Economia, pela contribuio com alguns dos dados utilizados neste trabalho; e Brbara

    Maria Motta de Frana Correa, pela compreenso e carinho.

    Dentre o corpo de professores, minha gratido ao Prof. Dr. Carlos Eduardo do

    Nascimento Gonalves, meu mestre e incansvel defensor do IE/Unicamp; ao Pro f. Geraldo

    di Giovani, quem abriu as primeiras portas s minhas atividades de pesquisa j no primeiro ano da graduao; e ao Prof. Dr. Ricardo de Medeiros de Carneiro, pela sua valiosa

    contribuio intelectual durante minha passagem pelo Centro de Conjuntura do IE.

    Ao Prof. Davidoff, meu orientador, meus agradecimentos mais calorosos. Obrigado

    pela dignidade e respeito ao ler e ouvir atentamente as minhas modestas palavras.

    Obrigado pela competncia e responsabilidade de suas observaes que, na maioria das

    vezes, me soavam com preciso cirrgica. E obrigado pela pacincia em me mostrar

    incansavelmente os caminhos possveis para este trabalho, garantindo um mnimo de

    qualidade em sua verso final.

  • RESUMO

    Esta monografia tem como propsito o estudo do Plano Real, com especial ateno

    para a Unidade Real de Valor (URV). Para tanto, est dividida em 5 partes:

    1) na Introduo retoma-se o debate econmico acerca da natureza da inflao, debate este consubstanciado nas contribuies teoria da inflao inercial;

    2) no Captulo 1 o Plano Cruzado apresentado de forma sumria corno primeira tentativa heterodoxa de estabilizao da economia;

    3) o Captulo 2 traz o Plano Real corno a ltima e mais completa proposta de estabilizao econmica, calcada nos pilares de uma poltica fiscal e monetria austera, poltica cambial,

    forte abertura comercial e liberalizao financeira e cambial;

    4) a Unidade Real de Valor (URV) recebe especial ateno no Captulo 3- reservado reforma monetria - onde so analisadas e discutidas a sua formulao terica, aplicao

    prtica e resultados empricos obtidos nos primeiros meses da nova moeda- o Real.

    5) e, finalmente, a Concluso. Para um levantamento das notas metodolgicas dos ndices de inflao citados na monografia fica reservado o Apndice.

  • INTRODUO -INFLAO E HETERODOXIA

    A teoria da inflao inercial

    Nos anos 80, ganhou importncia no pensamento econmico brasileiro a idia de

    inrcia inflacionria, o que concorreu para o desenvolvimento e execuo de planos de

    estabilizao heterodoxos corno o Plano Cruzado e o Plano Real. No entanto, a

    originalidade perceptiva desta peculiaridade deve-se a Mrio Henrique Simonsen que, em

    livro de 1970 (inflao: gradualismo x tratamento de choque, Rio de Janeiro, APEC), alertava para a existncia de um componente que dificultara a queda da taxa de inflao

    durante o perodo do PAEG (1965-69): a disseminao em larga escala da correo monetria, fazendo com que esta se tornasse um indexador "oficial" que impedia a

    conquista da estabilidade pela utilizao de ferramentas puramente ortodoxas

    ( contracionismo fiscal e monetrio e arrocho salarial).

    A partir de ento, a observao emprica da inflao possibilitou a conformao

    daquilo que hoje conhecemos como teoria da inflao inercial. De acordo com Paulani (1997), no perodo 1967-73 a inflao se situava na faixa dos 20%, subindo para 40% no perodo 1974-78, 100% em 1977-82 e 200% em 1983-85. Tais deslocamentos positivos e

    sucessivos do patamar inflacionrio evidenciavam a existncia de dois componentes

    explicativos:

    1) um componente tendencial ou inercial, que se justificava pela simples existncia de inflao no passado e, portanto, tentativa dos agentes econmicos de recuperarem seu pico

    de renda real do passsado recente;

    2) um componente de choque, fruto da tentativa dos agentes econmicos de alterarem a distribuio da renda, como as desvalorizaes cambiais ou reajustes de salrios.

    Desta forma, a inflao no decorreria do descontrole da oferta monetria,

    tampouco de uma demanda aquecida, mas fundamentalmente da assincronia do processo de

    reajustes de preos e rendimentos entre os vrios setores e agentes da economia.

  • Franc1sco Lopes ( 1986) salienta que uma inflao estritamete inercial seria tambm inexoravelmente estvel:

    "Quando todos os agentes adotam esta estratgia de recompos1o peridica dos preos, a taxa de mflao ex1stente no sistema tende a se perpetuar a tendncia mnac1onria toma-se igual mflao passada." (Lopes. 1986, p.124)

    Fonnalmente, o autor apresenta um modelo de recomposio de rendimentos

    conforme o gn\lico a seguir:

    Rendimento Real (r)

    r*

    AdapJado de Lopes (1986. pf25) t

    I--

    t+1 Pe rodo

    No grlico, r o rendimento de um agente econmico qualquer por exemplos,

    salrio do trabalhador ou receita do empresrio pela venda da produo. A vanvclt indica

    um perodo de tempo para os re~justes, os quajs so realizados sempre a recompor o pico do rendimento real (r*). Ao longo do perodo 1 o rendimento nominal permanece fixo, o que provoca a perda do poder de compra pela inflao (parte descendente da cuna r). A rcproduo do componamcnto de recomposio deste poder de compra pelo pico, em

    periodos fixos. tornaria constante o rendimento mdio (r,=r, 1=r1tn). dando assim. uma tendncia estvel a taxa de mtlao ao longo dos perodos.

    Pode-se dizer que este modelo explcita no somente a formalizao de uma

    inflao inercial. mas tambm de que no h de fato um conflito distributivo entre os

    agentes. umu vt.:L que, se todos adotarem o mesmo comportamento, haver uma

  • manuteno da participao na renda de cada um deles na mdia de um intervalo de tempo

    relevante. Um conflito efetivo (ativo) seria verificado apenas no mbito do componente "choque inflacionrio", ou seja, quando um indivduo ou segmento se comporta no sentido de amnentar a sua participao na renda total, desencadeando pulsos inflacionrios em

    outros indivduos ou segmentos da sociedade, e resultando , assim, em uma elevao do

    patamar da inflao na economia como um todo.

    Carvalho (1990) alerta para a abordagem consideravelmente estreita do modelo de inflao inercial, por enfatizar excessivamente a noo de equilbrio distributivo resultante

    do processo de ao e reao dos agentes econmicos. Contrariamente, sugere que o

    conflito distributivo (desequilbrio) seja intrnseco aos ambientes de alta inflao.

    Cabe aqui discorrermos brevemente sobre esta abordagem de linhagem ps-

    keynesiana. Deste ponto de vista, o comportamento dos price makers, particularmente as

    firmas, seria pautado por uma estratgia de incluir nos preos uma margem sobre os custos

    -o mark-up- a fim de compensar perdas provenientes da taxa de inflao futura.

    Embutida nesta lgica estaria o risco da deciso sobre o nvel do mark-up. Por um

    lado, o risco de renda deflagaria um efeito negativo sobre as quantidades vendidas, caso o mark-up fosse fixado em um patamar muito elevado; por outro, adjacente a uma subestimao da margem estaria o risco de capital, situao em que a firma estaria impedida de reproduzir seu volume de produo corrente. No primeiro caso, o agente no

    realizaria a sua produo, tendo que arcar com custos de estocagem. No segundo, h uma

    perda efetiva de capital fsico.

    Intuitivamente, o risco de capital maior que o risco de renda. Esta constatao, que

    avana a tnue fronteira da sensibilidade do agente capitalista e encontra abrigo nas

    condies objetivas do conflito distributivo, impeliria ao reajuste de preos prximo ao limite superior, tanto quanto um mark-up superestimado permitisse. Este modelo, portanto,

    atribui feies aceleracionistas taxa de inflao, mesmo na ausncia de choques efetivos.

    No tocante inflao inercial, Francisco Lopes, juntamente com seu colega da PUCIRJ, Andr Lara Resende, podem ser considerados duas figuras centrais que

    I

  • contriburam para a consolidao desta teoria no pensamento econmico brasileiro.

    Entretanto, vale aqui destacar algumas distines tericas pontuais a respeito das

    respectivas interpretaes sobre os fundamentos da inflao brasileira.

    Uma primeira incongruncia reside no comportamento do agente econmico que

    busca recompor seu poder de compra. Segundo Lopes, trata-se de uma agente keynesiano

    que age "convencionalmente", olhando para a inflao passada e reajustando seu rendimento na tentativa de defender seu pico de renda reaL Em trabalho publicado na

    Revista da ANPEC (1984), Lopes identificava a aparente irracionalidade deste comportamento e o seu paralelismo com a rigidez do salrio nominal da Teoria Geral de

    Keynes:

    "O trabalhador da Teoria Geral tenta defender o seu salrio nominal quando o seu nvel de bem-estar depende do seu salrio real. Nosso agente econmico tenta defender seu pico de renda real ao invs da sua renda real mdia. O trabalhador na Teoria Geral resiste a uma reduo do salrio real que resulte de manipulao do salrio nominal, mas aceita dentro de certos limites uma reduo de salrio real que resulte de elevao do custo de vida. Nosso agente econmico resiste a uma reduo da renda real mdia que resulte da manipulao do pico de renda real, mas aceita, dentro de certos limites, uma reduo de renda real mdia que resulte de elevao da taxa de inflao . ., (In: Lopes, 1986; p.126)

    Lara Resende, por sua vez, defendia que eram as expectativas da inflao futura que influenciavam o comportamento dos agentes no presente, e a inflao tomar-se-ia inercial

    porque a inflao passada seria a melhor previso da inflao futura. Trata-se, portanto, de

    um agente racional em um ambiente onde as expectativas ganham importncia cruciaL Em

    suma, como bem observado por Paulani (1997), por um lado Resende lanou mo de pinceladas fortes do que havia de mais moderno na teoria econmica ortodoxa - o

    postulado das expectativas racionais; por outro, apoiado na heterodoxia, admitia a

    inercialidade da inflao e refutava programas tradicionais de controle da demanda para o

    combate inflao.

  • Propostas heterodoxas de estabilizao

    Mas foram os distintos receiturios de Francisco Lopes e Andr Lara Resende que

    realmente polarizaram o debate acerca da poltica econmica a ser adotada frente ao

    processo inflacionrio. Lopes, em artigo para a Revista Economia em Perspectiva do

    Conselho Regional dos Economistas de So Paulo (agosto de 1984), provocou grande impacto no debate econmico ao apresentar uma proposta de combate inflao entitulada

    "choque heterodoxo"1, denominao esta justificada pela utilizao de um congelamento total e generalizado de preos-chave da economia, como as tarifas pblicas, preos

    administrados e alguns preos industriais.

    Paralelamente, seria extinto o expediente de reajustes salariais semestrais como forma de liquidar a inercialidade dos salrios. Estes seriam reajustados a uma taxa fixa de 0,5% ao ms durante um perodo de 6 meses, e os setores mais prejudicados seriam contemplados com abonos salariais. Aps este perodo, instaurar-se-ia a livre negociao

    com perodos de reajustes fixados pelo governo.

    A taxa de cmbio seria administrada com o objetivo de estabilizar o preo dos insumos importados; a poltica monetria, por sua vez, deveria ser consistente com um

    crescimento da liquidez real e reduo das taxas de juros. Finalmente, o controle do dficit pblico estaria sujeito s necessidades de investimentos pblicos e utilizao de subsdios queles setores mais onerados com o congelamento e controle dos preos.

    A proposta de Lopes, portanto, concentrava seus esforos naquela que era

    considerada a causa principal da inflao inercial: a indexao da economia. E somente

    atravs de um congelamento seria possvel zerar a taxa de inflao por um perodo

    considervel de tempo, suficiente para substituir a "memria inflacionria" por uma "nova

    conscincia de estabilidade". (Lopes, 1989).

    1 "A idia de choque heterodoxo atingiu a comunidade acadmica como uma verdadeira bomba. Era a

    primeira vez que um economista, at ento considerado srio, fazia publicamente uma sugesto de poltica econmica to audaciosa." (LOPES, 1989; p.51).

  • Duas eram as principais dificuldades do "choque heterodoxo", alis, devidamente

    reconhecidas pelo prprio autor da proposta. Primeiramente, um congelamento

    generalizado no pr-anunciado "engessaria" a economia com alguns preos relativamente

    altos e outros relativamente baixos, dado que inexistia qualquer mecanismo de coordenao

    de reajuste de preos. Em segundo lugar residem as distores potenciais que seriam geradas no sistema financeiro, em funo da existncia de operaes de crdito contratadas

    a juros prefixados em um ambiente macroecmico de sbita queda da taxa de inflao. Isto provocaria uma transferncia de poder aquisitivo de devedores para credores, uma vez que

    os primeiros honrariam compromissos a taxas de juros muito altas em relao corrente.

    Andr Lara Resende, em resposta ao "choque heterodoxo" de Lopes, apresenta uma

    proposta de "moeda indexada" em artigo de 26 de setembro de 1984 Gazeta Mercantil, no

    qual consubstanciava a idia de generalizar a indexao para toda a economia,

    originalmente proposta por Prsio Arida2.

    O cerne da proposta era criar uma nova moeda de curso legal que estaria atrelada paridade de 1/1 em relao ORTN-fiscal que, por sua vez, teria seu valor dirio varivel em funo da inflao passada na moeda antiga. O curso legal das duas moedas duraria um

    perodo de 3 a 4 meses e seria garantido pelo BACEN que compraria ou venderia moeda velha e moeda nova sempre que demandado pelo mercado, mas desde que respeitada a "taxa de cmbio" do dia entre as moedas. Desta forma, no se criaria uma averso

    generalizada moeda antiga, o que deflagaria uma exploso inflacionria indesejada. Porm, indiretamente, o governo sinalizaria pela preferncia nova moeda ao converter

    todos os depsitos bancrios em termos da mesma.

    Compromissos financeiros poderiam ser convertidos voluntariamente, sempre

    respeitando a paridade do dia. Os contratos de crdito acordados a taxas de juros pr-

    fixadas poderiam ser liquidados normalmente nos devidos prazos sem nus para o devedor, pois a desvalorizao da moeda antiga compensaria o rendimento previsto do juro nominal

    2 "Neutralizar a inflao: uma idia promissora". Revista do Conselho Regional de Economia de So Paulo,

    setembro de 1984.

  • ou correo monetria. A cotao de preos na nova moeda seria, portanto, uma

    consequncia quase que natural. Contudo, os salrios, por se tratarem de preo estratgico,

    deveriam ser convertidos pela mdia dos ltimos seis meses, o que impediria a persistncia

    de presses de custos na nova moeda.

    O aprofundamento do debate acerca desta temtica, concorrendo paralelamente com as experincias dos planos de estabilizao executados nos anos 80, contribuiu

    objetivamente para o amadurecimento das idias propostas. Lopes (1989), alguns anos aps a proposta original do "choque heterodoxo", reconheceria :

    ';4 proposta da moeda indexada era claramente um plano de desindexao superior ao choque heterodoxo, mas isto no foi geralmente percebido na poca em que apareceu. Eu mesmo fui, inicialmente, um crtico vigoroso da idia. [. .. ] Como nao haveria necessidade de um congelamento de surpresa, no haveria tambm o risco de se engessar o sistema de preos numa posio de desequilbrio e no se colocaria o problema do descongelamento. Por outro lado o sistema financeiro faria a transio da inflao alta para a inflao baixa sem maiores distores, j que a coexistncia das duas moedas resolveria automaticamente o problema das operaes contratadas a taxas de juros prefixadas." (Lopes, 1989; p.58)

    E, ainda:

    '~ proposta de moeda indexada era muito sofisticada e sutil para a poca. Ainda no tnhamos vivido as experincias prticas dos programas de congelamento e reforma monetria do Austra( e do Cruzado." (Lopes, 1 989; p.59)

    No entanto, a adoo do congelamento de preos no Plano Cruzado em 1986

    chancelou no apenas a vitria das teses inercialistas, corno tambm, e em maior medida,

    do "choque heterodoxo de Francisco Lopes3. O Plano Cruzado, como primeira tentativa

    heterodoxa de estabilizao da economia, ser o objeto de um exame sumrio do prximo captulo da monografia.

    O Plano Austral foi o plano heterodoxo de estabilizao argentino equivalente ao Plano Cruzado no Brasil, ou seja, baseado no congelamento de preos, promovido em 1985. 3 Apesar do congelamento, Paulani ( 1997) bem observa que a equipe econmica do Plano Cruzado integrava quadros heterodoxos das duas propostas ("choque heterodoxo" e moeda indexada), bem como ps-keynesianos contrrios s teses inercialistas (Joo Manoel Cardoso de Mello e Luiz G. M. Belluzzo, assessores do ento Ministro Dilson Funaro ).

    11

  • CAPTULO 1 -O PLANO CRUZADO

    O Plano Cruzado inaugurou, em 1986, uma srie de tentativas heterodoxas de

    combate inflao no Brasil. O momento era de recuperao econmica aps a recesso

    dos anos 1981-83, com taxas de crescimento do PIB de 4,9% e 8,3% em 1984 e 1985,

    respectivamente. Os elevados supervits comerciais obtidos no binio - mais de US$25 bilhes - constituram-se na fonte primordial de divisas para honrar os compromissos externos do pas. Contudo, a taxa de inflao, apesar de ligeiramente estvel, atingia

    patamares preocupantes de 200% ao ano. Frente a este quadro econmico, o Plano Cruzado fora concebido como uma tentativa de reverter o processo inflacionrio, concentrando seus

    esforos na desindexao da economia. 4

    Dentre as caractersticas do plano identificadas por Simonsen (1995), vale destacar trs das mais importantes. Primeiro, o "elemento surpresa", materializado na fonna de

    Decreto-Lei ou Medida Provisria, dava ao Plano Cruzado feies no mnimo traumticas.

    Contudo, a utilizao deste expediente constitua-se como pr-condio fundamental, dada

    a inteno de impedir uma corrida altista dos preos antes mesmo de se iniciar as reformas

    econmicas.

    A segunda caracterstica importante foi a destruio de smbolos inflacionrios: a

    substituio do cruzeiro pelo cruzado (Cz$) como padro monetrio nacional e a substituio das Obrigaes Reajustveis do Tesouro Nacional (ORTN) pela Obrigao do Tesouro Nacional (OTN), ttulo do governo cujo valor permanecera congelado por 12 meses.

    A terceira caracterstica e mais marcante caracterstica do Plano Cruzado foi o

    congelamento dos preos da economia. Este dispositivo tinha dois objetivos principais: 1) apagar de uma s vez a memria inflacionria dos agentes econmicos e 2) coordenar, pelo

    4 Ao contrrio do que ocorre nas economias mais desenvolvidas e com inflao baixa, onde os contratos de longo prazo indexados a taxas de juros fLmcionam como proteo s oscilaes conjunturais, nos pases subdesenvolvidos de histrico inflacionrio (como o Brasil) estes servem geralmente para defender o poder de compra da moeda no curto prazo. Ver Barros (1993).

  • tratamento de choque, a sincronizao dos preos relativos da economia. Para alguns preos

    estratgicos da economia, como aluguis e salrios, foram adotadas medidas especiais de

    converso para a nova moeda e futuros reajustes. No caso dos aluguis comerciais, por exemplo, buscava-se "reproduzir na nova moeda o valor real mdio ( ... ) calculado em um intervalo igual ao perodo entre sucessivos reajustes." (Mediano, 1992).

    O tratamento da varivel-preo salrio no Plano Cruzado merece especial ateno,

    pois se configurou no apenas como urna poltica salarial para manuteno do poder de

    compra mdio da classe assalariada, mas tambm como o principal item de concesso do

    Plano. Isto porque a converso dos salrios para cruzados, apesar de ter sido feita pela

    mdia do salrio real dos 6 meses que antecederam o Plano, foi acompanhada de um abono

    de 8% para os salrios em geral e de 16% para o salrio mnimo. Alm dos reajustes anuais com base em 60% da variao acumulada do IPC (ndice de Preos ao Consumidor), os salrios seriam contemplados com "gatilhos" sempre que o ndice acumulasse 20%. Os

    abonos, bem como o gatilho salarial - que supunha, portanto, uma escala mvel para os

    sucessivos reajustes - funcionaram como fatores de violao daquele que deveria ser o princpio bsico do congelamento de preos, o da neutralidade distributiva, no qual os

    preos e salrios deveriam se estabilizar em uma mdia de um passado recente (Simonsen, 1995). Os preos pblicos, por exemplo, encontravam-se bastante defasados em virtude da poltica anti-inflacionria dos governos anteriores5.

    No menos importante, a problemtica da moeda indexada deu contornos finais ao

    esforo de desindexao da economia6. Barros (1993) observa que, antes do Plano Cruzado, a existncia de uma moeda bancria indexada transformou grande parte dos ativos

    financeiros da economia em "depsitos vista remunerados", ou seja, no s o M1o mas parte do M2, M3 e M4 buscaram proteo do poder de compra na moeda indexada. A

    correo desta era garantida pelo Banco Central (BACEN) atravs de sua atuao direta no mercado monetrio, mantendo um juro real lquido na taxa do overnight. A taxa, por sua

    5 A exceo residiu nas tarifas de energia eltrica aos setores industriais que tiveram um reajuste de 20%. 6 A utilizao do termo "moeda indexada" por Barros (1993) no se trata de qualquer referncia proposta de estabilizao de Resende e Arida, de mesma denominao.

  • vez, era determinada a partir da fixao do valor dirio da ORTN fiscal, a qual refletia a previso do governo para a inflao do ms corrente.

    A velocidade pela qual a moeda indexada (depositada) passava para moeda manual (sacada), e esta trocada por bens reais, determinava a maior ou menor presso sobre os preos da economia, pois a moeda manual era, na verdade, um "mico" para os seus

    detentores. Ao fim do dia, o montante de moeda que permanecesse nas mos do pblico

    corresponderia a uma posio deficitria dos intermedirios financeiros, pois estes ficariam

    sem rolar parte de seus ttulos pblicos. O mecanismo de ajuste desta situao de desequilbrio se dava pela atuao do BACEN, que comprava tais ttulos emitindo moedas

    e, portanto, "zerando" o sistema.

    Desta forma, a separao da moeda e poupana financeira constitua-se em um dos

    maiores desafios para a equipe formuladora do Plano Cruzado. A estratgia traada passaria

    pela extino do overnight, livrando o BACEN do mecanismo de zeragem automtica do

    mercado monetrio. Neste sentido, alm da j citada substituio das ORTN's, a reforma do sistema financeiro se completou com a restrio da correo monetria s cadernetas de

    poupana e elevao do imposto de renda para as aplicaes financeiras de curto prazo. No front fiscal extinguiu-se a Conta Movimento do Banco do Brasil, eliminando a emisso monetria descontrolada e autnoma da instituio, e criou-se a Secretaria do Tesouro

    Nacional para a execuo do Oramento da Unio e gesto da dvida pblica mobiliria

    federaL

    Segundo Modiano (1992), na primeira fase do Plano (maro a junho de 1986) as dificuldades com as quais a equipe econmica esbarrou residiram, primordialmente, na

    exploso do consumo que a prpria realidade econmica permitiu:

    a) primeiramente, a transfonnao da moeda indexada em depsitos vista liberou um grande quantia de reservas para emprstimos bancrios, configurando presses de

    demanda;

    b) houve um forte movimento de despoupana para consumo causado pela iluso dos juros nominais em patamares muito mais baixos queles observados na recente poca de alta

  • inflao;

    c) a queda da inflao combinada com os abonos salariais elevaram o poder de compra dos assalariados;

    d) o congelamento dos preos de alguns produtos ocorreu inevitavelmente em nveis defasados, dado seu carter surpresa de implementao;

    e) fatores polticos e eleitorais tambm concorreram para dificultar o sucesso do plano, como a manuteno de baixas taxas de juros e execuo de um modesto ajuste fiscal para combater a demanda superaquecida.

    No segundo semestre de 1986, o Plano Cruzado entra em uma nova fase, dando os

    primeiros indcios de seu insucesso. O lanamento de Letras do Banco Central (LBC) indexadas taxa de juros diria SELIC simbolizou o retrocesso do esforo de desindexao da economia. Mesmo assim, tentou-se um pacote fiscal com o objetivo de enxugar a liquidez da economia, porm concentrado em impostos indiretos e restituveis sobre a

    gasolina e automveis, e impostos sobre o intercmbio de moeda estrangeira e passagens

    areas internacionais 7

    Vale lembrar que o BACEN dependia quase que inteiramente do saldo comercial do setor privado para fechar as contas do balano de pagamentos, e que estas divisas eram compradas pela emisso de ttulos da dvida remunerada pelo open. Teixeira (1992) confere relao dinmica entre preos pblicos e privados (os primeiros deprimidos em relao aos segundos), fruto da poltica anti-inflacionria do governo, a possibilidade da conquista de megasupervits comerciais combinados a salrios reais crescentes.

    Quando esta simbiose cessa em 1986 com o congelamento geral de preos, seca tambm a fonte de subsdios que impulsionava o setor exportador. Combinado com a

    poltica de engessamento do cmbio a Cz$13,80 por dlar durante quase todo o ano de 1986, os exportadores deixaram de internalizar suas divisas e as importaes cresceram

    7 Tal receita adicional estava comprometida com investimentos pblicos que garantissem a taxa de crescimento do PIB em 7% ao ano.

  • 28% em relao 1985, provocando urna forte eroso do saldo comercial e das reservas internacionais do pas.

    O fim do ano de 1986 e o incio de 1987 foram marcados por sucessivas porm vs

    medidas econmicas para salvar o Plano Cruzado. A utilizao das LBC's como ttulos de

    lastro no open market sancionou o retomo da moeda indexada. Alm disso, as ento

    chamadas OTN' s sofreram um reajuste e reinstitui-se amplamente a correo monetria na economia. As presses no balano de pagamentos obrigaram a autoridade monetria a

    lanar mo de um sistema de minidesvalorizaes eventuais da moeda, mas em fevereiro de

    1987 a situao se tomou insustentvel, obrigando o governo a suspender o pagamento dos

    juros da dvida aos bancos privados. Tal fato, juntamente com a suspenso do congelamento dos preos, foram as duas cartadas finais para a derrocada do Plano Cruzado.

    Teixeira (1992) aponta como sendo o pecado original do Plano Cruzado "a no-considerao do desequilbrio externo como matriz do problema inflacionrio brasileiro". De fato, apesar de atacar um dos problemas fundamentais da economia brasileira - a

    escalada inflacionria - o Plano Cruzado careceu de um conjunto mais amplo de medidas que contribussem para o seu sucesso. Algumas delas, corno a profunda abertura comercial e a captao de um montante considervel de reservas internacionais para a defesa da

    moeda, foram observadas poca de formulao e implementao do Plano Real, o qual

    ser objeto de estudo no prximo captulo da monografia.

  • ' CAPITULO 2- O PLANO REAL

    O Plano Real apresentou-se como um exemplo bem sucedido de estabilizao

    monetria no Brasil. Contudo, no se pode omitir que o cenrio financeiro internacional foi

    extremamente favorvel naquele momento - comparativamente ao de outras tentativas -

    assim como no se pode desconsiderar que a experincia acumulada da srie de planos de

    estabilizao fracassados ao longo da dcada de 80 e incio da dcada de 90 (desde o Plano Cruzado quase sempre intitulados "heterodoxos") foi fundamental para que os formuladores do novo plano no incorressem em erros que colocariam mais uma tentativa

    em xeque.

    Este captulo tem como objetivo apresentar os elementos que deram coeso e consistncia ao Plano Real durante a sua implementao e primeiros anos de sucesso,

    especialmente quando nos referimos ao controle imediato da inflao. Para tanto,

    analisaremos:

    1) a poltica fiscal, apresentada como passo inicial do plano de estabilizao;

    2) as polticas cambial e monetria, passando pela abertura da conta de capitais;

    3) a abertura comercial, colocada em marcha desde fins da dcada de 80;

    O ltimo tpico - a reforma monetria de 1994 - o objeto central desta monografia e ser estudado com maior profundidade no prximo captulo.

    Estes so os pilares da poltica econmica do Plano Real que recebero destaque no

    presente trabalho. No ser aqui rigorosamente discutido se todos eles tiveram importncia

    sine qua non para a boa consecuo do plano, se a ausncia ou m conduo de um deles

    implicaria em um fracasso iminente, ou se um possui mais peso em detrimento a outro. Os

    dados e informaes apresentados nos fornecero indcios de que em cada um dos fronts buscaram-se ou geraram-se- ou apenas buscaram-se- condies favorveis para o controle

    efetivo da taxa de inflao da economia brasileira.

  • A poltica fiscal

    De acordo com Bacha (1997), a poltica fiscal consistiu em uma fase precursora e de importncia crucial para o Plano Real. Isto porque os formuladores do plano vislumbravam

    no equilbrio oramentrio um sinal importante para reverter as expectativas inflacionrias

    dos agentes econmicos, ou seja, de que o governo seria capaz de executar seus gastos sem a ajuda do imposto inflacionrio.

    Em sua Exposio de Motivos de dezembro de 1993 (na qual estavam apresentados os contornos gerais daquilo que ficaria conhecido como Plano Real), o ento ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, apontava que "... a desordem financeira e administrativa do Estado a principal causa da inflao crnica que impede a sustentao do crescimento, perpetua as desigualdades e mina a confiana nas instituies. " Ainda, fazia meno ao Plano de Ao Imediata (PIA, de junho de 1993) - um conjunto de medidas rigorosas para conteno do dficit oramentrio - como "... o comeo da

    arrumao da casa, uma limpeza do terreno para as decises, ainda mais importantes, que

    agora nos cabe encaminhar. " (Cardoso, 1993).

    Tais "decises" se referiam mais especificamente reprogramao do Oramento de

    1994 e alterao de alguns pontos da Lei de Diretrizes Oramentrias (LDO), com o claro objetivo de equilbrio fiscal. Isto significava uma conteno da ordem de US$22 bilhes, correspondente ao dficit operacional previsto no projeto de Oramento de 1994.

    No tocante LDO, a principal medida consistiu na restrio das emisses de ttulos

    do Tesouro Nacional s necessidades de recursos para a rolagem da dvida pblica federal.

    Na reprogramao do Oramento de 1994, alm da continuidade dos esforos contra a

    sonegao, previa-se a forte reduo das transferncias voluntrias da Unio para Estados e

    Municpios. Mesmo assim, o conjunto de medidas de contrao fiscal deixavam um rombo estimado em US$9 bilhes para 1994. Para tanto, propunha-se a criao do Fundo Social de Emergncia (FSE) que vigoraria por dois anos e seria constitudo pelo aporte de 15% da arrecadao federal, cortes das despesas financiadas com recursos vinculados e por um

    adicional proveniente do aumento de 5% sobre as alquotas dos impostos e contribuies

  • federais. A Tabela 1 reproduz a conta apresentada pelo ministro Cardoso para se atingir o almejado equihbrio fiscal.

    vlida a observao de Batista (1996) de que a poltica fiscal rigorosamente contracionista funcionava em certa medida como uma vlvula de conteno dos gastos do

    setor pblico, equilibrando liquidez em moeda nacional e volume de reservas

    internacionais, em um notvel esforo de se evitar que dficits fiscais colocassem em risco

    a poltica cambial adotada (conforme veremos mais frente). Mas apesar do FSE, no incio de 1995 o ento presidente eleito, Fernando Henrique Cardoso, concedeu significativo

    aumento salarial ao executivo federal. Somada com os aumentos do funcionalismo pblico

    e o aumento do salrio mnimo em I 0% acima da inflao ao consumidor, tais medidas

    representaram presses sobre a folha de pagamento do governo e especialmente sobre a

    previdncia (Bacha, 1997).

    TABELA 1 Clculo da reprogramao do Oramento 1994 e constituio do FSE

    US$ bilhes Dficit Potencial para 1994: 22,2

    Ajuste por reestimativa: Despesas de Pessoal Contribuies, Benefcios Previdencirios e outras receitas

    Dficit Potencial reestlmado Cortes em Outros Custeios e Capital (exclusive Despesas Vinculadas) Reduo das Despesas com Juros Reais

    Dficit a ser financiado com o FSE Fontes:

    Transferncias obrigatrias para Estados e Municpios Despesas Vinculadas em Outros Custeios e Capital Adicional de 5% sobre Impostos e Contribuies

    Dficit Final Fonte: Exposio de Motivos n"395, 07/12/93. In: Cardoso (1993)

    As polticas cambial e monetria

    -3,8 -2,1 16,3 -5,5 -1,5 9,3

    -2,7 -2,9 -3,7 0,0

    Atualmente, com a predominncia da livre mobilidade de capitais, a organicidade com a qual as autoridades monetrias manejam as polticas cambial e monetria nos impele a uma anlise conjunta das variveis cmbio e juros. Grosso modo, os juros altos adotados no incio do Plano Real funcionaram como captador de poupana externa, engordando as

  • reservas internacionais do pas e, consequentemente, revertendo o processo de

    desvalorizao da moeda nacional. Internamente, o fator juros condicionou a expanso de crdito na economia, e o cmbio valorizado arrebatou perdas de competitividade da

    indstria nacional. Ambas as variveis, portanto, diretamente centradas no objetivo comum de controle da inflao.

    Para Batista (1996) a taxa de juros se tomou uma varivel particulannente importante em funo dos poucos progressos que haviam sido alcanados na poltica fiscaL

    Bacha (1997) tambm salienta o carter repressor da taxa de juros elevada, contudo considera seu efeito limitado:

    " ... por um lado, o efeito-substituio exerce um efeito contracionista sobre a demanda privada; e, por outro, o efeto-riqueza exerce um fator expancionista sobre a mesma. O ltimo ocorre porque o setor privado como um todo um credor lquido .. " (Bacha, 1997; p.38;B_

    Segundo o autor, a nfase recama sobre as restries ao crdito bancrio

    determinadas logo no incio da reforma monetria, como o compulsrio de 100% sobre os

    depsitos vista, o compulsrio de 15% sobre o volume captado em Crditos de Depsito

    Bancrio (dentre outros passivos) e limitaes do nmeros de prestaes dos emprstimos bancrios.

    Sayad (1995/96) observa que o sucesso de um plano de estabilizao deveria passar pelo congelamento de um preo-chave ("preo nominal relevante"), geralmente taxa de cmbio ou salrios. No caso do Plano Real, a varivel escolhida foi o cmbio e, para

    comprovar a capacidade do Banco Central (BACEN) em manter a estabilidade do valor externo da moeda, relaes como rese111as internacionais/importaes, supervit comercial/juros da dvida externa tomar-se-iam o termmetro da credibilidade da autoridade monetria e do plano de estabilizao em andamento.

    Deve-se ressaltar que o diferencial de juros condio necessria mas no suficiente para a arbitragem dos fluxos de capitais. O Plano Real fora extremamente favorecido pelo

    8 Cabe aqui uma observao quanto a possibilidade de o efeito-substituio se somar ao efeito-riqueza para promover o aumento do investimento - ou mesmo a manuteno da riqueza - estritamente no circuito financeiro.

  • ambiente macroeconmico de expanso de liquidez internacional combinada com a

    reverso da poltica de juros altos da economia norte-americana. Mesmo assim, as taxas de juro dos ttulos do Governo Federal possibilitaram uma ampla margem de arbitragem aos investidores internacionais. Conforme observado na Tabela 2, de 1992 a 1994 as taxas

    internas eram bastante superiores s praticadas pelo Tesouro norte-americano, chegando a

    32% ao ano quando da implementao do Plano Real. Frente a uma taxa de 4,28% dos

    ttulos americanos em 1994, significava um ganho mais que 7 vezes superior para os

    investimentos em ttulos brasileiros.

    TABELA 2 Taxas de juro interna e externa, 1992-94

    1992 1993 1994 Taxa de juro externa (A) Taxa de juro Interna (B) (A)/(B) Fonte: Gonalves (1996)

    3,90 42,74 10,96

    3,41 19,84 5,82

    4,28 31,99 7,47

    O acmulo de reservas internacionais teve expressivos aumentos a partir de 1992,

    evidenciando a preparao do terreno para a reforma monetria e cambial que observaramos mais tarde. Como podemos observar nos dados apresentados na Tabela 3, o

    nvel de reservas internacionais (acompanhando os altos juros da economia) atingiram cerca de US$40 bilhes em junho de 1994, quando da implantao do novo regime cambial.9

    Neste sentido, Batista (1996) ressalta que tal disponibilidade de capitais externos fora crucial para financiar os desequilbrios iminentes que surgiram no balano de pagamentos com o Plano Real em razo do efeito que a valorizao da moeda teve sobre a

    balana comercial (exploso das importaes, tambm potencializadas pela abertura comercial) e conta de servios.

    Vale chamar a ateno para a natureza deste estoque de divisas. Parte significativa

    dele constitua-se de emprstimos para investimentos de portflio, que chegaram a

    9 Os meses de importaes que (teoricamente) as reservas deveriam suportar so apenas uma medida da capacidade do BACEN em fornecer dlares sem presses depreciativas sobre o valor da moeda nacionaL

  • representar 65% do total de movimentos de capitais em 1993, emprstimos em moeda (50% dos movimentos em 1994), e capitais a curto prazo que somaram quase US$20 bilhes em 1995, o que representava cerca de 65% do movimento de capitais no ano (Batista, 1996).

    TABELA3 Reservas Internacionais no BACEN e Taxas de Juros, 1990"1994

    US$ bilhes Em meses de importaes 1990 8.751 1991 8.552 1992 19.008 1993 25.878 1994 jan 29.138

    '" 30.525

    moc 32.295 ,,, 35.082 mai 38.270 jun 40.131

    Fontes: Banco Central do Brasil, apud Batista (1996) lpeadata

    5 5

    11 12 14 14 15 16 17 18

    Estes fluxos somente foram possveis graas abertura financeira e liberalizao da

    conta de capitais nos anos 90. Um dos principais mecanismos criados para viabilizar a

    mobilidade de capitais foi o Anexo IV, resoluo que regulamenta a participao de investidores institucionais estrangeiros no mercado acionrio. Sua concepo geral consiste

    em estimular a composio de carteiras com menores restries quanto aos prazos de

    permanncia e maior flexibilidade de movimentao. Conforme observamos na Tabela 4, este instrumento foi responsvel pelo acmulo lquido de quase US$11 bilhes entre 1991 e 1994.

    TABELA4 Anexo IV (em US$ milhes)

    Entradas Sadas Saldo 1991 482,00 96,00 386,00 1992 2.967,00 1.652,00 1.315,00 1993 14.614,00 9.136,00 5.478,00 1994 20.532,00 16.778,00 3.754,00

    Fonte: Carneiro (2000)

    Pelo lado do endividamento externo de residentes, difundiu-se a emisso de ttulos no mercado internacional por parte dos bancos e grandes empresas, captaes estas que

  • antes eram realizadas pela Operao 63 e Lei 4 .131. As empresas tambm foram

    beneficiadas pela possibilidade de emitir ttulos de renda varivel - o Depositary Receipt

    (DR) - que representam valores mobilirios adquiridos no mercado domstico (Carneiro, 2000).

    Em contraposio, a abertura e liberalizao financeira tambm comtemplavam a

    mobilidade sada de capitais do pas. Neste aspecto, a CCw5 (Carta Circular n5) funcionou corno urna das principais portas de sada da conta de capitais ao permitir

    operaes no mercado de cmbio por nowresidentes. Estas operaes funcionam atravs de

    contas bancrias especiais (os Depsitos de Domiciliados no Exterior) e se contituram no principal estmulo repatriao/remessa de capitais ao exterior, conforme observamos na

    Tabela 5. Complementarmente, eliminou-se o Imposto de Renda suplementar sobre

    remessas e dividendos, reduziu-se de 25% para 15% o imposto sobre remessas e revogou-se

    as restries ao pagamento de royalties entre matriz e filiais (Gonalves, 1996).

    TABELA 5 CC-5: Conta de no-residentes (em US$ milhes)

    1990 1991 1992 Saldo lquido~ -4.487,00 -5.726,90 -5.597,80

    1993 -6.328,00

    *Fluxo primrio de cmbio entre instituies financeiras no mercado flutuante Fonte: Carneiro (2000)

    1994 -5.173,90

    A poltica cambial de banda assimtrica, adotada at maro de 1995, conduziu a taxa de cmbio a uma apreciao considervel. Isto porque, apesar de o BACEN estar

    comprometido com um limite superior de R$1,00/US$1,00, a taxa de juros praticada pressionava a taxa de cmbio para baixo em resposta ao influxo de divisas. A valorizao

    do cmbio na fase inicial do Plano Real tambm fora potencializada pelo diferencial da

    inflao interna com a inflao externa. Quando confrontado com o dlar, a taxa de cmbio deflacionada pelo ndice Nacional de Preos ao Consumidor (INPC) alcana apreciao de 30% no perodo compreendido entre junho de 1994 e fevereiro de 1995 (Tabela 6).

    Frente a presses nas contas externas, potencializadas pela fuga de capitais

    decorrentes do "efeito Tequila" (crise cambial mexicana) ,o governo se viu obrigado a promover em maio de 1995 uma desvalorizao de 5% do Real em relao ao dlar e a

  • substituir a banda assimtrica por uma banda flutuante. A partir de ento, o BACEN

    definiria bandas largas para a flutuao do cmbio, dentro da qual promover-se-iam

    minidesvalorizaes sucessivas atravs de intervenes dirias. Porm, os compromissos

    do BACEN quanto expanso da base monetria (metas assumidas antes mesmo do Plano Real) impedia-o de enxugar o excesso de liquidez do mercado monetrio, o que constitua, portanto, em mais um fator determinante para a valorizao da moeda nacional.

    TABELAS Taxas de Cmbio, jun/94- dezl95

    Data Taxa de Cmbio Nominal* Taxa de Cmbio Real* 1994 06 100,00 100,00 1994 07 98,74 94,25 1994 08 93,37 87,70 1994 09 89,58 82,41 1994 10 88,84 79,43 199411 88,74 77,53 1994 12 88,84 76,43 1995 01 88,42 75,14 1995 02 89,42 75,01 1995 03 94,11 77,35 1995 04 95,89 77,05 1995 05 95,16 74,85 1995 06 96,84 74,45 1995 07 98,32 74,29 1995 08 99,89 74,67 1995 09 100,21 73,96 1995 10 101,15 73,58 199511 101,64 72,79 199512 102,26 72,11 "Taxa de cmbio R$/ US$ comercial (compra), para cada fim de periodo .. Defiacionada pelo INPC Fonte: Banco Central do Brasil. apud Batista (1996)

    A poltica comercial

    A modernizao do parque industrial brasileiro foi obtido s custas de uma abertura

    comercial acelerada. Se por um lado surtiu um efeito de convergncia no comportamento

    dos preos nacionais aos internacionais, por outro promoveu uma concentrao e

    centralizao do capital em funo da expulso dos produtores no-competitivos e ocupao do mercado pelos competidores vencedores. A modificao da estrutura de

    propriedade e do grau de concentrao da indstria nacional foi complementada pelo

    processo de privatizao das empresas estatais, com o objetivo de torn-las mais eficientes e diminuir o peso do estado na economia de mercado.

  • Um dos principais aspectos do processo de abertura comercial foi a eliminao

    significativa das barreiras no-tarifrias. Carneiro (2000) destaca a abolio do Anexo C, uma lista de mais ou menos 1300 produtos de importao restrita pela existncia de

    produo de similar nacional. Outro aspecto fundamental apontado pelo autor, foi a rpida

    diminuio das tarifas de importao, bem como dos picos tarifrios exercidos. Conforme observamos na Tabela 7, a proteo efetiva da indstria passa de 47,9% em 1990 para

    15,4% em 1994, e o pico tarifrio de 155,8% para 44,6% no mesmo perodo. Percebe-se tambm que em 1995 h uma notvel reverso do processo de abertura comercial, medida

    adotada em carter emergencial para minimizar os efeitos negativos do plano de

    estabilizao sobre o balano de pagamentos 10. A elevao da proteo efetiva da indstria

    neste ano concentrou-se quase que exclusivamente no setor automotivo.

    TABELA 7 Proteo Efetiva da Indstria (%) Ano 1990 1991 1992 Mdia 47,9 38,8 31,5 Pico tarifrio 155,8 124,8 98,7 Fonte: Carneiro (2000)

    1993 23,3 75,1

    1994 15,4 44,6

    1995 25,2

    270,0

    Os efeitos da abertura comercial podem ser confirmados pelo exame do coeficiente

    de penetrao da indstria brasileira. Conforme dados apresentados na Tabela 8, as

    importaes totais do setor industrial, que respondiam por 4,5% do consumo aparente em 1989, alcanavam 15,8% em 1996. Os setores mais afetados foram aqueles mais intensivos em tecnologia e capital, ou seja, os setores nacionais que mais se beneficiavam com proteo tarifria, como o de bens de capital (cuja relao passa de 11,4% para 46,9% entre 1989 e 1996) e o de bens intermedirios (de 2,9% para 11,4% no mesmo perodo).

    Quando examinados os dados de coeficiente de abertura (exportaes/produo), percebemos que os efeitos da abertura comercial responderam s exportaes menos que

    proporcionalmente s importaes, o que contribuiu para explicar a reverso do supervit

    1 Consideramos no presente trabalho que tanto a valorizao cambial quanto a acelerada abertura econmica so fatores complementares para justificar a deteriorao das transaes correntes a partir de 1995. Entretanto, Carneiro acredita que abertura deposita-se impacto maior por alterar os preos relativos de maneira mais permanente que as flutuaes conjunturais do cmbio. Ver Carneiro (2000; p.90).

  • comercial da ordem de US$12 bilhes anuais na primeira metade da dcada de 90 para dficit de US$ 6 bilhes j em 1996. Para o total da indstria, o coeficiente de abertura variou timidamente de 8,8% para 13% de 1989 a 1996 (Tabela 9).

    TABELAS Coeficiente de Penetrao: Importao/Consumo Aparente(%) Categoria de Uso 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 Bens de Consumo No-Durveis 2,6 3,0 4,0 3,4 3,7 4,4 7,2 7,0 Bens de Consumo Durveis 7,8 9,2 12,9 10,9 11,6 12,3 16,7 18,5 Bens Intermedirios Elaborados 5,2 6,4 8,6 8,8 10,1 12,2 16,9 17,8 Bens Intermedirios 2,2 2,9 4,8 5,5 8,8 7,5 10,3 11 A Bens de Capital 11.4 17,7 28,1 23,7 23.8 28,0 39,0 46,9 Bens de Capital, Equip. de Transp.* 2,1 3,2 6,3 6,7 9,0 11,6 14,9 12,9 Total da Indstria 4,5 5,9 8,1 7,9 9,2 10,6 15,1 15,8 Automveis, caminhes e nibus. Fonte: Moreira (1999)

    TABELA9 Coeficiente de Abertura: Exportao/Produo(%) Categoria de Uso 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 Bens de Consumo No-Durveis 6,9 7,9 9,1 10,4 10,2 9,2 10,3 10,4 Bens de Consumo Durveis 12,6 12,7 16,6 17,7 14,8 13,2 12,4 14,3 Bens Intermedirios Elaborados 10,1 10,9 14,9 15,9 14,7 15,1 16,8 16,9 Bens Intermedirios 7,0 7,6 8,5 10,0 10,6 11,8 12,5 10,6 Bens de Capital 7,7 7,9 14,7 13,6 13,1 14,5 15,3 18,9 Bens de Capital, Equip. de Transp.* 10,5 10,8 15,7 17,1 14,4 12,5 9,6 11 '1 Total da Indstria 8,8 9,4 12,3 13,3 12,5 12,2 12,7 13,0 Automveis, caminhes e nibus. Fonte: Moreira (1999)

    Na opinio de Sayad (1995/96), aps a fixao do cmbio como preo-chave para a estabilizao da economia, a manuteno desta estaria condicionada pela capacidade do

    pas gerar seus prprios dlares pelo supervit comercial que, por sua vez, refletiria o

    prprio crescimento da economia nos mdio e longo prazos. Desta forma, os dficits

    comerciais obtidos a partir de 1995 podem ser encarados como o lado oposto do citado

    crculo virtuoso estabilizao~ supervit comercial~ crescimento~ estabilidade, explicitando concretamente (e pela primeira vez) o calcanhar de Aquiles do Plano Real.

    s polticas cambial, fiscal e monetria, e s liberalizaes cambial, financeira e comercial se soma a reforma monetria de 1994. Sua formulao e o papel da Unidade Real

    de Valor (URV) sero analisados no captulo que se segue.

  • CAPTULO 3- A UNIDADE REAL DE VALOR (URV)

    A Medida Provisria 434, de 27/02/94, criou a Unidade Real de Valor (URV) corno padro monetrio constituinte do Sistema Monetrio Nacional, enfim, uma unidade de

    conta oficial, qual seria atribuda poder liberatrio (como meio de pagamento) a partir de sua emisso em 1 o julho de 1994, quando, ento, passaria a denominar~se Real.

    A URV fora instituda em um ambiente econmico de inflao crnica e com ampla

    difuso e aceitao da correo monetria como principal arma para a defesa do poder

    aquisitivo da moeda. Como observa Franco (1995):

    " ... a ampla aceitao na Jurisprudncia da distino entre dvida de dinheiro e dvida de valor, fundamento bsico da noo de correo monet.ria, representaria, na verdade, uma importante inovao: a recusa, em alguma medida, do nominalismo e o progressivo reconhecimento da dissociao das funes da moeda." (Franco, 1995; p,33)

    Estariam, desta forma, cindidas as duas funes bsicas da moeda, que por definio

    lhes davam o sentido de sua existncia: por um lado, a moeda corrente fazia as vezes de

    meio de pagamento; por outro, os ndices como a ORTN, UFIR e TR se apresentavam

    como unidade de conta, como se fossem uma moeda externa e estvel, passvel de ser

    naturalmente tomada como referncia e porto seguro do poder aquisitivo em ambientes

    inflacionrios.

    A 1 o de maro de 1994, a URV fora introduzida oficialmente como unidade de

    conta estvel e com paridade dupla: fixa na proporo de 1/1 com o dlar; e varivel em

    relao ao cruzeiro real. A metodologia de clculo da paridade URV/CR$ utilizaria um mix de 3 ndices de preos: o ndice Geral de Preos- Mercado (IGP-M) da FGV, o ndice de Preos ao Consumidor Amplo - Especial (IPCA-E) do IBGE, e o ndice de Preos ao Consumidor (IPC-FIPE), da FIPE/USP. O objetivo era captar a inflao passada e resgatar, pela converso em URV, a perda de poder aquisitivo da moeda.

    As notas metodolgicas destes trs ndices esto disponveis no Apndice da monografia.

  • Vale aqui destacar um ponto interessante de formulao terica e execuo prtica

    da UR V. A utilizao de um "indexador contemporneo" que refletisse a inflao corrente

    ou mesmo futura - de acordo, portanto, com o postulado das expectativas racionais que

    balizou a idia original da moeda indexada de Resende e Arida- esbarrou no somente nas

    limitaes tcnicas de se coletar preos e calcular o ndice on fine, como tambm nas

    exigncias jurdico-constitucionais que conformavam o funcionamento de um indexador legal. A clara distino semntica do Supremo Tribunal Federal (STF) entre "indexao" e "correo monetria" (o primeiro tenno difere do segundo por no refletir necessariamente a perda de poder de compra da moeda) impossibilitou a utilizao de um indexador forward looking no reajuste de preos corno salrios, beneficios previdencirios e dvidas judiciais, que constitucionalmente deveriam seguir a lgica estrita da correo monetria, ou seja, tomando corno parmetro to somente uma inflao efetivamente ocorrida (backvvard looking)11

    Durante o perodo de vigncia da URV (4 meses), com exceo dos salrios, aluguis residenciais, mensalidades escolares e preos e tarifas pblicas, as converses

    poderiam ser realizadas livremente entre as partes, desde que respeitada a cotao do dia e abolidos os reajustes em URV com prazos inferiores a um ano.

    O M1 (papel-moeda em poder do pblico + depsitos vista) s seria convertido em nova moeda na fase final da reforma. Dado que o BACEN asseguraria a disponibilidade de

    reservas para os bancos comerciais, notvel que a taxa de crescimento da base monetria

    ficasse totalmente sujeita aos humores da demanda de mercado. Bacha (1997) salienta que instaurou-se na economia um sistema bastante vulnervel a urna corrida contra a moeda (de extino pr-anunciada) e a choques de oferta que causariam uma forte acelerao inflacionria.

    Para tanto, foram tornadas medidas para manter a demanda de moeda antiga:

    11 Por exemplo, a Taxa Referencial (TR), por se tratar de um ndice que refletia o custo da captao dos depsitos de prazo fixo, no poderia incorporar a funcionalidade da correo monetria, mas to somente de mero indexador sujeito s restries legais ou ao comum acordo das partes contratantes. Ver Franco (1995).

  • 1) proibiu-se que contratos financeiros fossem convertidos em URV, introduzindo-se, em seguida, uma regra de converso gradativa;

    2) os preos e tarifas pblicas tambm foram objeto de converso gradativa, de fonna a garantir os preos reais mdios;

    3) durante os 3 meses iniciais, proibiu-se que os preos e servios fossem expressos em URV, com o objetivo de no reduzir os menu costs (custos de cardpio) que contribuam, em certa medida, para segurar a acelerao da inflao.

    Finalmente, a 1 o de julho de 1994, o BACEN passa a emitir a URV como nova moeda, denominada Real, fixando um teto de paridade com o dlar (US$l,OO~R$1,00) e taxa de converso de cruzeiro real na proporo de CR$2750,00=R$1 ,00, de 30 de junho de 1994.

    A semelhana da engenharia econmica envolvida na URV e o mecanismo de

    autodestruio da hiperinflao j era tratada com certa familiaridade em funo das contribuies tericas sobre inflao inercial desde o incio dos anos 80. Lopes (1986), com notvel habilidade, esclarece:

    "Na fase final do processo [de hiperinflao] ( ... ) os agentes econmicos repudiam cada vez mais intensamente a moeda domstica de curso legal, passando a utilizar moedas estrangeiras como unidade de conta e at mesmo como meio de pagamento. Isto significa que a taxa de inflao em termos da moeda domstica vai-se tornando uma medida progressivamente menos representativa da taxa de inflao relevante para a mdia dos agentes econmicos. (. .. ) Na fase final da hiperinflao, a moeda local praticamente desapareceu e todas as transaes so denominadas e realizadas em moeda estrangeira. Neste ponto, a melhor medida para a taxa de inflao efetiva do sistema provavelmente a taxa de valorizao do cmbio real." (Lopes, 1986; p.133)

    Portanto, o mrito de originalidade da equipe econmica do Real residiu em

    reproduzir uma situao de hiperinflao sem efetivamente vivenci-la. A URV, servindo

    como parmetro de (re)ajuste dirio de preos, acabou por realizar a funo de "moeda estrangeira", protegendo o poder aquisitivo dos agentes econmicos e possibilitando

    correes to rpidas nos preos relativos que, "a partir de um certo momento, tudo entra

  • em fase" (Delfim, 1997); ou seJa, um processo semelhante fase terminal de urna hiperinflao.

    A converso dos salrios

    De acordo com a programao da reforma monetria, salrios, aluguis residenciais

    e mensalidades deveriam ser convertidos pela mdia real do quadrimestre anterior a 1 o de

    maro e 1994. Mais especificamente, o primeiro passo seria extrair a mdia dos ltimos

    quatro vencimentos salariais em moeda velha e, em seguida, converter o valor em URV de

    acordo com a cotao do dia do pagamento. Esta regra de converso fora matria muito

    controversa poca, dada a irredutibilidade dos salrios garantida pela Constituio. Contudo, almejava evitar que a inflao de um preo-chave da economia - no caso, os salrios - no se acelerasse em virtude da indexao total12 .

    Como forma de no ameaar os direitos adquiridos da classe trabalhadora

    remunerada, foram criados dois instrumentos de proteo salarial:

    1) ficava permitido o reajuste na data-base subsequente converso, caso comprovada a perda de salrio real durante o perodo da URV. De acordo com a Lei 8.880, de 27/05/94,

    tal "perda" consistiria na diferena do valor obtido com a nova regra de converso e aquele

    obtido pela aplicao da lei anterior (Lei 8. 700);

    2) introduziu-se um ndice oficial de preos em reais (o IPC-r) com a funo de captar a inflao dos ltimos dias de vigncia. inflao esta que no haveria de ser computada na

    ltima cotao do indexador, dada a defasagem temporal de coleta e clculo*.

    Franco (1995) demonstra que, a despeito dos dispositivos de proteo, as perdas salariais decorrentes da frmula de converso no ocorreram. Conforme a tabela a seguir,

    um rendimento de CR$100.000,00 em novembro de 1993 corresponderia, pelo nova regra,

    12 De acordo com Bacha (1997), a converso de salrios pelo pico do quadrimestre anterior representaria um patamar de 30% acima dos s~lrios mdios reais para o mesmo perodo.

    As notas metodolgicas do Indice de Preos ao Consumidor em Reais (IPC-r) esto disponveis no Apndice.

  • a um salrio real mdio de URV 424,53; pela regra antiga, a URV 415,14, ou seja, um ganho real de quase 2%.

    TABELA 10- Salrio Real na vigncia da URV

    Sistema da Lei 8.880 Perfodo URV Var. URV(%) Reajuste(%) Em CR$ Em URV nov-93 241,65 35,02 24,92 100.000,00 413,82 dez-93 333,17 37,87 24,89 124.890,00 374,85 jan-94 466,66 40,07 75,28 218.907,19 469,09 fev-94 647,50 38,75 30,25 285.126,62 440,35 mar-94 931,05 43,79 38,63 395.258,39 424,53 abr-94 1323,92 42,20 42,20 562.043,38 424,53 mai-94 1908,68 44,17 44,17 810.291,37 424,53 jun-94 2750,00 44,08 44,08 1.167.456,71 424,53

    Salrio Real Mdio (maro a junho) 424,53

    Sistema da Lei 8.700 Perfodo Reajuste(%) Em CR$ Em URV nov-93 24,92 100.000,00 413,82 dez-93 24,89 124.890,00 374,85 jan-94 75,28 218.907,19 469,09 fev-94 30,25 285.126,62 440,35 mar-94 29,67 369.723,69 397,10 abr-94 36,77 505.671,08 381,95 mai-94 73,17 875.670,62 458,78 jun-94 32,75 1.162.452,74 422,71

    Salrio Real Mdio (maro a junho) 415,14

    Fonte. DEPEC-BACEN, apud Franr;o (1995)

    A UR V e o comportamento dos preos

    A Tabela 11 nos apresenta a evoluo dos ndices de preos utilizados na converso

    CR$/URV. Podemos observar que h uma distino bastante clara entre os perodos pr e ps reforma monetria.

    Durante os meses de janeiro a junho de 1994, os trs ndices de preos indicam uma taxa de inflao da moeda antiga bastante elevada - entre 40% e 50% - porm

    notavelmente estvel.'. A partir do ms de julho j se observa uma queda abrupta da inflao na nova moeda. Aps a reforma monetria, os dados mensais mais elevados se localizaram

    nos meses de julho e agosto: 6,95% no IPC-FIPE Qulho ); 40% e 7,56% no IGP-M; e 5,21%

  • c 5.00% no IPCA-F. Para os outros meses, as taxas tenderam a se estabilizar em um

    patamar inferior, entre I% e 3%. I

    J

    TABELA 11 ndices utilizados na URV

    IPC-FIPE IGP-M IPCA-E JUI/94=100 %mensal jul/94=100 %mensal JUI/94=100 % mensal

    Jan/94 14,90 40,30 11 ,94 39,07 16,08 39,17 fev/94 20,60 38,19 16,80 40,78 22.46 39,70

    mar/94 29,23 41 ,94 24.48 45,71 32,26 43.63 abr/94 42,75 46,22 34,50 40,91 45,56 41 ,25 mai/94 62,02 45,10 49,19 42,58 65,71 44,21 Jun/94 93,50 50,75 71,43 45,21 95,05 44,65 JUI/94 100.00 6,95 100,00 40,00 100,00 5,21

    ago/94 101,95 1,95 107,56 7,56 105,00 5,00 seU94 102.79 0,82 109,45 1,75 106,71 1.63 ouU94 106,04 3,17 111,44 1,82 108,74 1 90 nov/94 109 25 3,02 114,61 2,85 111,95 2,95 dez/94 110,61 1,25 115,58 0,84 114,47 2.25

    Fonte. lpeadara. IBGE Elaboraao prpna

    Bacha( 1997) encara estes aumentos localizados como sendo uma reao natural de aYerso ao risco dos agentes econmicos. explicada em parte pelas C'\pectativas em torno

    do sucesso ou msuccc;so do programa de estabilizao: os mais desconfiados no

    descarta\ am a possibilidade do "elemento surpresa" - o to traumtico congelamento de

    preos - ainda muito recente na memria ela sociedade brasileira.

    Um tratamento mais aprofundado das taxas de inllao no perodo pode ser oblido

    pela desagregao do ndice de Preos ao Consumidor Amplo (IPCA-IBGE)n. As tabelas que seguem (Tabelas 12 c 13) possuem 22 subgrupos do IPCA: 1 O deles clnssificados como tradables (comerciahLveis). correspondendo a um peso de 57% do total do ndice: os outros 12 subgrupos corrcspondem aos non-tradables (no-comcrcialilvcis, dentro dos quais tambm foram inseridos os preos administrados), com um peso de 33% do ndice. 1 emos. assim, uma amostra significativa de 90% do ndice, o que permite uma analise

    consistente dos dados

    13 O IPCA difere do IPCA-f apenas quanto ao perfodo de coleta: do dia I ao dta JO do ms de referncia para o pnmetro, e do dta 16 do ms anterior ao dta 15 do ms de referncta para o segundo. Para notas metodolgicas, vrdc Apndice.

    32

  • A diviso entre tradables e non-tradables pretende captar os efeitos da ncora

    cambial aps a reforma monetria em julho de 1994, pois os preos sujeitos concorrncia externa em um ambiente de abertura comercial deveriam, teoricamente, sofrer presses

    baixistas em detrimento aos preos no-comercializveis.

    A Tabela 12 corresponde ao perodo de vigncia da URV. Conforme j verificado anteriormente, as taxas de inflao mensal de maro a junho se encontram em patamares bastante elevados, porm estveis, tanto para tradables como para non-tradables. A

    inflao acumulada durante este perodo de 338,13% para os tradables, e um pouco

    menor para os non-tradables, 321,87%. Apesar da pequena diferena relativa, pode-se

    justific-la pela maior resistncia alta dos preos administrados, pois estavam sendo utilizados como poltica anti-inflacionria: de acordo com os dados, taxa de gua e esgoto

    (-5,57%), energia eltrica (-25,54%), combustveis (-1,27%) e telefone (-5,50%) tiveram variaes de preo abaixo da mdia dos non-tradables.

    'ABELA 12 -IPCA (subgrupos) 'ERODO URV (MARO A JUNHO DE 1994)

    Tradabfes pesos marf94 abr/94 mai/94 junt94 mar-jun t..%1 mdia 1 .Alimentao no domicflio 21,74 46,23 43,30 38.00 52,24 340,24 0,62 1 04.Arligos de limpeza 1 '11 46,31 48,41 47,64 48,23 375,20 10,96 1 .Mveis e utenslios 4,59 40,46 42,70 44,09 44,72 317,96 -5,96 Z.Aparelhos eltricos 3,40 41,29 42,79 46,18 46,05 330,72 -2,19 .Vesturio 11,97 38,56 43,92 46,55 47,52 331,12 -2,07 1 02.Veculo prprio 8,20 49,44 44,31 44,51 47,09 358,40 6,30 101 .Produtos farmacuticos 2,44 39,15 36,76 44,06 43,46 293,29 -13,26 102.culos e Lentes 0,54 48,34 43,90 50,83 46,55 371,84 9,97 3.Cuidados pessoais 2,02 44,85 42,63 49,52 54,04 375,84 11,15 202.Fumo 1.45 38,66 42,11 32,97 57,65 313,07 -7,41

    Total 57,46 338,13

    Non-tradabfes pesos mar/94 abr/94 maif94 jun/94 mar-jun 6%1 mdia 2.Alimentao fora do domiclio 6,99 38,01 42,83 47,65 51,88 342,04 6,27 101 001.Aiuguel residencial 3,91 52,00 47,79 39,19 48,52 364,39 13,21 101004.Taxa de gua e esgoto 0,78 42,23 44,09 41,81 38,99 303,94 -5,57 201004.Gs de bujo 0,55 41,33 41,44 49,98 48,54 345,33 7,29 Z02.Energia eltrica 1,61 42,07 39,87 42,81 19,69 239,66 -25,54 101 001.nibus urbano 2,94 41,16 42,69 46,52 48,38 337,90 4,98 104.Combustiveis 4,75 35,95 43,78 45,65 46,74 317,77 -1,27 201002.Telefone 0,93 33,47 32,90 58,49 43,76 304,16 -5,50 2.Atendimento e seiVios 4,05 47,61 47,88 45.20 45,82 362,18 12,52 1 01.Se1Vios pessoais 3,97 35,91 23,87 47,36 44,20 257,74 -19,93 301006.Cursos formais 1,69 37,10 38,45 52,43 24,84 261,21 -18,85 302.Leitura 0,80 46,61 43,49 41,18 45,59 332.40 3,27

    Total 32,97 321,87 onte: IBGE. Elaborao prpria.

  • No grupo dos comercializveis, as variaes acima da mdia de maior importncia

    ocorreram para os artigos de limpeza (10,96%) e cuidados pessoais (11,15%), mas ambos possuem pesos no muito expressivos. Por outro lado, o item alimentao no domiclio

    (com peso de 21,74% do IPCA) apresentou aumento de 0,62% acima da mdia do grupo no perodo de vigncia da URV.

    No perodo dos 4 meses imediatamente subsequentes reforma monetria h uma

    brusca desacelerao do processo inflacionrio, com ndices mensais bem mais baixos que

    aqueles apresentados durante a URV (Tabela 13). Desta vez, as menores altas se concentraram no conjunto de tradables, com uma taxa de inflao acumulada de 13,52% entre julho e outubro, significativa e relativamente menor que a observada no conjunto dos non-tradables (18,49%). Expurgando os preos administrados (que notavelmente apresentam variaes abaixo da mdia), a inflao no grupo dos non-tradables se toma ainda mais expressiva (23, 17%) .

    . BELA 13 -IPCA (subgrupos) :RODO PS-URV (JULHO A OUTUBRO DE 1994)

    Tradab/es pesos jul/94 Alimentao no domiclio 21,74 8,64 l4.Artigos de limpeza 1 '11 4,33 Mveis e utenslios 4,59 5,44 Aparelhos eltricos 3,40 3,70 'esturio 11,97 10,18 l2.Veiculo prprio 8,20 5,47 l1.Produtos farmacuticos 2,44 4,64 l2.culos e Lentes 0,54 2,92 Cuidados pessoais 2,02 3,63 l2.Fumo 1,45 0,79

    Total 57,46

    Non-tradab/es pesos jul/94 Alimentao fora do domicilio 6,99 14,40 11001 .Aluguel residencial 3,91 1,27 l1004.Taxa de gua e esgoto 0,78 -6,89 l1004.Gs de bujo 0,55 0,70 l2.Energia eltrica 1,61 -1,70 l1001.0nibus urbano 2,94 16,91 l4.Combustveis 4,75 1,60 l1002.Telefone 0,93 Atendimento e servios 4,05 4,90 )!.Servios pessoais 3,97 12,91 l1006.Cursos formais 1,69 -7,10 l2.Leitura 0,80 3,98

    Total 32,97 1te: IBGE. Elaborao prpria.

    ago/94 set/94 1,43 0,10 -2,69 -0,75 3,48 0,76 2,46 1,18 0,24 2,09 3,25 2,75 -0,51 -0,83 -1,25 -0,30 -1,24 -1,42

    ago/94 set/94 1,52 0,21 19,19 17,07

    -1,42 -0,05 -0,19

    -0,02 0,01

    2,61 1,81 4,41 4,82 -0,08 -0,49 1,88 0,45

    out/94 5,40 -0,92 2,14 2,98 2,81 2,00 -0,93 -0,25 -1,57

    out/94 2,98 9,34 -0,10 -3,11

    -1,70

    1,67 2,17 1,08 -0,30

    jul-out 16,26 -0,16 12,29 10,71 15,92 14,13 2,28 1,08 -0,69

    13,52

    jul-out 19,85 54,51

    -2,67

    -0,14

    11,42 26.25 -6,63 6,09 18.49

    A% I mdia 20,27

    -101,22 -9,08

    -20,79 17,77 4,52

    -83,12 -92,05

    -105,12

    A%/ mdia 7,34

    194,73

    -114,42

    -100,74

    -38,27 41,96

    -135,86 -67,06

  • Com exceo dos tens alimentao no domiclio, vesturio e veculo prprio, todos

    os outros contriburam significativamente para a diminuio da inflao do grupo de bens

    comercializveis. Dentre os que tiveram variaes abaixo da mdia do grupo, destaque para

    artigos de limpeza (-101,22%), produtos farmacuticos (-83,12%), culos e lentes (~92,05%) e cuidados pessoais (higiene e cosmticos, com ~105,12%).

    Pelo grupo dos non-tradables, ficaram bem abaixo da mdia do grupo: gs de bujo (~114,42%), combustveis (-100,74%) e cursos formais (~135,86%). Apesar disto, outros tens de maior peso ficaram acima da mdia do grupo, contribuindo para a elevao da taxa

    de inflao: aluguel residencial (194,73%), servios pessoais (41,96%) e alimentao fora do domiclio (7,34%).

    Se alongarmos o perodo de anlise para rnms 4 meses (novembro de 1994 a fevereiro de 1995), esta tendncia se confirma: a inflao dos tradables cai para 5,31% e a dos non-tradables permanece relativamente alta em 13,25% (Tabela 14). Com o expurgo dos preos administrados, calculamos com os dados disponveis uma inflao de 16,79%

    para os non-tradables.

    O conjunto de reformas que conformaram o Plano Real explicam este novo comportamento dos preos aps julho de 1994. Em primeiro lugar, a valorizao cambial experimentada pelo pas logo no incio do plano, combinada com o processo acelerado de

    abertura comercial, funcionou como uma barreira superior elevao dos preos internos,

    uma vez que os produtores estavam bastm1te vulnerveis concorrncia externa e ao

    aumento do poder de compra externo da moeda.

    O mesmo no ocorria com o setor de non~tradables: como no havia qualquer limite superior imposto, puderam aumentar significativamente as suas margens como resposta ao

    aumento de poder aquisitivo da populao remunerada. As maiores evidncias disto so os

    aumentos de preos dos servios pessoais - costureira, empregada domstica, cabelereiro,

    manicure etc. - que acumularam 26,25% apenas nos 4 meses que sucederam a reforma

    monetria; e os aluguis residenciais, que aparentemente tinham respeitado as regras de

    converso pela mdia ao acusar uma inflao de apenas 1,27% em julho, mas reajustaram os contratos a partir de agosto, acumulando uma alta de 54,51% at outubro.

  • TABELA 14 -IPCA (subgrupos) PERODO PSURV (NOVEMBR0/94 A FEVEREIR0/95)

    Tradables nov-94 dez-94 jan-95 fev-95 nov-fev t.% !mdia 11.Aiimentao no domiclio 4,11 -0,28 0,03 -0,71 3,11 -41,38 2104.Artigos de limpeza 0,58 1,52 0,72 1.68 4,57 -13,90 31.Mveis e utenslios 3,84 2,33 3,82 3,49 14,17 166,85 32.Aparelhos eltricos 2,18 2,92 2,24 2,30 9,99 88,19 4.Vesturio 2,44 3,29 0,99 -1 '19 5,59 5,21 5102.Veculo prprio 2,30 0,06 1,52 1,81 5,80 9,20 61 01.Produtos farmacuticos 0,37 0,10 0,20 0,06 0,73 -86,22 6102.culos e Lentes 0,28 1,19 1,00 1,59 4,12 -22,45 63.Cuidados pessoais 0,77 0,79 0,88 1,10 3,59 -32,44 7202.Fumo 6,97

    Total 5,31

    Non-tradabtes nov-94 dez-94 jan-95 fev-95 nov-fev t.% 1 mdia 12.Aiimentao fora do domicflio 6,30 4,66 2,72 1,76 16,29 22,92 2101 001.Aiuguel residencial 8,62 5,00 3,74 6,19 25,64 93,46 2101004.Taxa de gua e esgoto 2201004.Gs de bujo -0,72 -0,76 -0,02 2202.Energia eltrica 5101001.nibus urbano 0,55 5104.Combustveis -0,38 0,01 -2,06 -0,26 -2,68 -120,19 5201 002.Telefone -11,20 -1,73 62.Atendimento e servios 2,99 2,81 4,08 5,65 16,43 23,97 71 01.Servios pessoais 2,74 5,53 11,86 -3,56 16,96 27.99 7301 006.Cursos formais 1,91 1,77 -0,83 0,66 3,53 -73,35 7302.Leitura -0,28 0,22 0,28 6,47 6,70 -49,42

    Total 13,25 Fonte: IBGE. Elaboralio prpria.

    Franco (1995) atenta ainda para um fator que condicionou uma inflao mais alta no item servios pessoais: a consolidao das relaes de clientela. Em ambientes de

    estabilidade de preos, torna-se cada vez mais difcil e custoso a procura pelo menor preo.

    H, portanto, uma alterao do comportamento do consumidor que, ao sinalizar as suas preferncias de marcas e servios, fornecer uma demanda menos elstica e,

    consequentemente, a possibilidade de maiores margens para o vendedor.

    A anlise dos coeficientes de variao (disperso em relao mdia) para tradables e non-tradables, durante e aps a vigncia da URV, tambm oferece informaes

    passveis de questionamentos e inferncias.

    Conforme dados da Tabela 15 (com expurgo dos preos administrados), durante a vigncia da URV foi observado um coeficiente de variao de 8% para os produtos

    comercializveis e 15% para os no-comercializveis. Aps a URV estas medidas sobem

    significativamente para 53% e 90% no perodo de julho a outubro de 1994, e 76% e 47% no

  • perodo de novembro de 1994 a fevereiro de 1995, respectivamente para tradables e non-

    tradables. Estes nmeros apontam para um fato: a inflao de maro a junho se manteve relativamente estvel para os dois grupos de tens, porm bastante instveis durante os oito

    meses que sucederam reforma monetria.

    TABELA 15 COEFICIENTES DE VARIAO DA INFLAO

    Vigncia da URV (mar-jun) Tradebles Non-tradables Fonte: IBGE. Elaborao prpria

    8% 15%

    Ps-URV ul-out) 53% 90%

    Ps-URV (nov/94- fevf95) 76% 47%

    H pelo menos duas explicaes potenciais e possivelmente complementares para

    os dados apresentados:

    1) a inflao constitua-se como predominantemente inercial durante o perodo de vigncia da URV, perdendo esta caracterstica to logo a reforma monetria se

    completa. no mnimo estranho e interessante a constatao de que em um ambiente de alta inflao, a despeito da introduo de um indexador geral para o ajustamento dos preos relativos, haja uma variao to pequena dos patamares inflacionrios, seja para os diferentes ndices que compunham a URV (ver Tabela 11), seja para todos os tens que compunham a cesta do IPCA (Tabela 12). Somente pelo diagnstico de inflao inercial possvel de se explicar tal realidade, pois o que se observa exatamente um

    comportamento sincronizado e generalizado de recomposio dos preos;

    2) a coordenao e o ajustamento dos preos relativos no se realizou plenamente durante o perodo da URV (esta era sua funo e assim se esperava), mas sim durante os primeiros meses do Real, quando se verifica a maior disperso e instabilidade dos preos. A partir da introduo da nova moeda, agora livres da memria inflacionria

    predominantemente inercial, os agentes econmicos ficaram livres para ajustar seus preos relativos, imprimindo dinmica inflacionria caractersticas de choques.

    O quadro a seguir uma tentativa de sintetizar o comportamento da inflao em meio transio econmica da reforma monetria:

  • Taxas de inflao mensais Disperso das taxas de inflao Caracterstica predominante da Inflao

    Durante a URV (mar-jun/94) ALTAS

    BAIXA INERCIAL

    Aps a URV ul/94 - nov/95) BAIXAS

    ALTA CHOQUES

    Assim, podewse inferir que o perodo da URV fora marcado pela manuteno dos altos ndices de inflao, contudo com uma disperso muito pequena, o que caracteriza o

    perodo pela existncia de uma inflao fortemente inercial. Aps a URV h uma queda abrupta da inflao, mas a disperso dos preos relativos aumenta significativamente,

    caracterizando o perodo de julho a outubro por inflaes pontuais e de choque.

  • CONCLUSO

    O receiturio do mainstream economics - abertura comercial, liberalizao

    financeira, austeridade fiscal e poltica monetria anti-inflacionria - apesar de

    diligentemente seguida pelos governos no incio da dcada de 90, esbarrou em um tem da

    pauta de reformas econmicas que s encontrava precedentes no terreno da heterodoxia:

    uma reforma monetria em dois tempos com indexao geral da economia. 14

    Porm, mais que um mix orto-heterodoxo, o Plano Real pde se apresentar como

    urna sntese do aprendizado das experincias pregressas de estabilizao da economia

    brasileira ao combinar, por um lado, poltica monetria contracionista Ouros altos), controle da taxa de cmbio (banda assimtrica e minidesvalorizaes) e congelamento de tarifas pblicas corno acessrio da poltica anti-inflacionria; e, por outro lado, a implementao

    da proposta de moeda indexada ("proposta Larida") frente ao diagnstico de inflao inercial, reproduo artificial de ambientes inflacionrios e converso dos salrios pela

    mdia, mas sem perda de poder aquisitivo.

    Como visto no captulo anterior, a utilizao da URV foi urna ferramenta indita e

    crucial para se dissolver o componente inercial da inflao brasileira, componente este que,

    dada a sua magnitude, quase se confundia com a prpria taxa de inflao. Ao descartar a

    hiptese de congelamento, "ela [a URV] ofereceu uma fecunda terceira via entre a heterodoxia e a ortodoxia." (Franco, 1995).

    At a reforma monetria de 1994, dificil no encarar a UR V como uma das

    ferramentas principais do Plano Real, no apenas pela sua proposta e funcionalidade, mas

    tambm pelo calor das discusses e controvrsia que despertou no seio do pensamento

    econmico brasileiro. Contudo, com a introduo da nova moeda ela sai de cena para dar

    lugar ncora cambial, o novo centro das atenes (e das preocupaes) da economia.

    14 "A equipe do Fundo [Monetrio Internacional] desejava um ajuste fiscal muito mais profundo do que era

    politicamente factvel, e uma poltica monetria muito mais apertada do que parecia aconselhveL ( ... )Talvez o Fundo se sentisse atrado por essas proposies, mas[ ... ] decidiu observar distncia a envolver-se com um esquema to novo. (Bacha, 1997; p.l7-18).

  • Como bem observado por Gonalves (1996), o ambiente macroeconmico fundado pelo Plano Real - principalmente no que se refere liberalizao e abertura da conta de

    capital - introduziu na economia brasileira uma grande volatilidade cambial, refletida nas

    flutuaes sensveis e dirias da moeda. A histria econmica recente evidenciou mais que

    isto: tal volatilidade fora potencializada de fonna preocupante frente s crises de balano de

    pagamentos das economias emergentes ao longo de toda a dcada de 90.

    Enfim, no momento em que esta monografia torna seus contornos finais, possvel

    de se extrair outras duas notas conclusivas acerca do Plano Real. Primeiramente, tratou-se

    de um marco para a histria da poltica econmica brasileira: fmjado em um contexto internacional onde prevalecia as foras liberalizantes do capitalismo financeiro, o Plano

    Real encontrou na liquidez dos mercados internacionais as condies objetivas para a "modernizao" e estabilizao monetria da economia brasileira. Segundo, deixou um

    legado, ou melhor, um n a desatar para os prximos executores da poltica econmica O

    presidente eleito, Lus Incio Lula da Silva, e sua equipe econmica tero que resolver (ou comear a resolver) um problema de um setor externo vulnervel e dependente dos influxos de capitais e divisas estrangeiras, alm de combater uma inflao crescente que, contaminada pela grande desvalorizao da moeda, alcana novamente a casa dos dois

    dgitos.

  • APNDICE

    ndice de Preos ao Consumidor Amplo OPCA) ..; Institui co: Fundao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE) ./ Disponibilidade: janeiro 1980 a outubro 2002 ../ O IPCA comeou a ser produzido pelo IBGE em dezembro de 1979, como medida da

    inflao da economia .

    ../ Objetivo: Produzido pelo IBGE desde dezembro de 1979, e divulgado a partir de janeiro de 1980, corno medida de inflao da economia. Foi utilizado como indexador oficial do pas, corrigindo salrios, aluguis, taxa de

    cmbio, alm de todos os demais ativos monetrios, de acordo com o Decreto n 91990,

    de 27/11/85.

    Deixou de ser indexador oficial em 10/03/86.

    Utilizado para reajuste dos contratos de locao residencial (anteriormente vinculados ao ndice de Salrios Nominais Mdios- ISN- extinto em 01108/92), de acordo com o proposto na Lei no 8494, de 23/11/92, do Ministrio da Fazenda.

    A partir de Janeiro de 1998 comeou a ser calculado e divulgado o IPCA sazonalmente

    ajustado. A partir de julho de 1999 o Banco Central do Brasil passar a adotar o sistema de metas de inflao para o balizamento da poltica monetria. Para tanto o IPCA foi escolhido

    como o ndice de inflao relevante para o acompanhamento das metas .

    ./ Principais variveis: Preos de produtos ou servios obtidos em estabelecimentos, entre

    varejistas, escolas, hospitais, profissionais liberais e outros que nos fomecem informaes de preos a cada ms .

    ./ Metodologia:

    ./ Informantes: A pesquisa realizada em estabelecimentos comerciais e de

    prestao de servios, concessionrias de servios pblicos e domiclios

    particulares (para levantamento de aluguel e condomnio).

  • ./ Populao Objetivo: O IPCA acompanha a variao de preos de um conjunto de produtos e servios consumidos pelas famlias cujo rendimento familiar monetrio est compreendido entre 1 e 40 salrios mnimos mensais, quaisquer

    que sejam as fontes de rendimento. -1' Metodologia de Clculo: Os preos coletados mensalmente so agregados por

    clculos e geram estimativas de variao de preos de cada subitem, que

    agregados produzem os ndices referentes a itens que agrupados formam as

    grandes categorias de consumo familiar, que so os grupos: Alimentao e

    bebidas, Habitao, Artigos de residncia, Vesturio, Transporte, Sade e

    cuidados pessoais, Despesas pessoais, Educao e Comunicao, que, por fim,

    geram o ndice metropolitano mensal. Calculados os ndices de cada regio, so

    obtidos, finalmente, os ndices nacionais.

    -1' Frmula de Clculo em Nvel de Subitem: At dezembro de 1993, agregando-se

    os relativos dos produtos atravs da mdia aritmtica simples era calculada a

    estimativa de variao de preos de cada subitem, que se constitui na menor

    agregao do ndice que possui peso explicito.

    Examinando as sries histricas de relativos dos produtos vis vis diferentes alternativas de frmulas de clculo passveis de serem utilizadas na agregao, o

    IBGE considerou pertinente utilizar, a partir de janeiro de 1994, a mdia geomtrica como frmula de clculo em rvel de sub item, exceto para o subi tem

    aluguel, que passou a ser calculado por este mtodo geral a partir de fevereiro de

    1995.

    A mdia geomtrica utilizada somente em nvel de subitem tendo em vista a

    agregao dos produtos. A partir da aplicada a frmula de Laspeyres,

    obtendo-se todos os demais nveis de agregao - item, subgmpo, gmpo e ndice

    geral de cada regio que compe o SNIPC.

    -1' Clculo dos ndices Regionais: Os ndices so calculados, em nvel de regio, pela frmula de Laspeyres, exceto para os itens sazonais alimentcios, onde

    aplicada a frmula de Paasche.

  • Para aplicao da frmula de Laspeyres, os relativos de preos so ponderados

    por valores de despesas obtidos a partir da Pesquisa de Oramentos Familiares -

    POF- realizada pelo IBGE em 87/88.

    At maio de 1989, os valores utilizados como ponderadores eram provenientes

    do Estudo Nacional da Despesa Familiar - ENDEF, realizado pelo IBGE em

    74/75.

    Em agosto de 1999, introduziu-se novas estruturas de ponderao oriundas da

    POF 95/96 .

    ./ Clculo do ndice Nacional: O mtodo de clculo para obteno do ndice nacional uma mdia aritmtica ponderada dos onze ndices metropolitanos

    mensms.

    Para agregar os ndices regionais, a varivel utilizada como ponderador at julho de 1999 foi o rendimento total urbano (PNAD 1990). A escolha desta varivel est intimamente ligada amplitude da populao e do estimador, e seu objetivo estimar a inflao sob a tica da demanda final familiar. A partir de agosto de

    1999, utilizou-se a varivel rendimento total urbano da PNAD - Pesquisa

    Nacional por Amostra de Domiclios - 1996.

    Quanto srie histrica de nmeros-ndices, a base est posicionada em dezembro de 1993, expressa em valor igual a cem .

    ./ Populao Objetivo: At maio de 1989 a populao objetivo era composta pelas famlias cujo rendimento familiar monetrio era compreendido entre 1 e 30 salrios mnimos mensais, quaisquer que fossem as fontes de rendimento.

    A partir de junho de 1989 a populao objetivo passou a ser composta pelas famlias cujo rendimento familiar monetrio est compreendido entre 1 e 40 salrios mnimos mensais, quaisquer que sejam as fontes de rendimento .

    ./ poca da coleta: Do dia 1 a 30 do ms de referncia .

    ./ Abrangncia Geogrfica: Regies Metropolitanas do Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo

    Horizonte, Recife, So Paulo, Belm, Fortaleza, Salvador, Curitiba, alm de Braslia e

    Goinia .

    ./ Periodicidade: Mensal.

  • ./ Tempo Previsto entre Incio da Coleta e Liberao dos Dados: At 15 dias aps o

    trmino da coleta .

    ./ Nvel de Divulgao: So divulgados os ndices gerats, por grupos de produtos,

    subgrupos, item e subitens, para as regies pesquisadas, alm do agregado Brasil.

    ndice de Preos ao Consumidor Amplo Especial (IPCA-E) ./ Instituio: Fundao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE)

    ./ Disponibilidade: janeiro 1992 a setembro 2002 .

    ./ Por determinao do Governo Federal, baseado na Lei 8383 de 30/12/91, foi criado

    o IPCA Especial, que difere do IPCA somente quanto ao perodo de coleta .

    ./ Objetivo: criado a partir da Lei no 8383, de 30!12/91, passou a ser divulgado em janeiro de 1992, com o objetivo de reajustar a Unidade Fiscal de Referncia- UFIR. O Decreto no 1066, de 27/02/94, indica a utilizao do IPCA-E como uma das bases no clculo da

    Unidade Real de Valores- URV .

    ./ poca da coleta: a coleta integral de preos se d a cada perodo de 30 dias, que segmentado, sem interrupo, em quatro subperodos. Cada um deles contm cerca de

    sete dias, com datas definidas atravs do Calendrio Anual do SNIPC. A coleta se d do

    dia 16 do ms anterior a 15 do ms de referncia (perodo aproximado).

    ndice de Preos ao Consumidor em Real {!PC-r) ./ Instituio: Fundao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE)

    ./ Disponibilidade: Ms julho 1994 ajunbo 1995

    ./ Por determinao do Governo Federal, baseado na Portaria 389 de 29/06/94 do Ministrio da Fazenda e Secretaria de Planejamento, Oramento e Coordenao, foi criado o IPC-r- ndice de Preos ao Consumidor em Real, que difere do INPC somente quanto ao perodo de coleta.

  • ./ Objetivo: Fornecer a variao mensal do custo de vida em REAL. Regulamentado em 29106194, atravs da Portaria n 389 do Ministrio da Fazenda e

    Secretaria de Planejamento, Oramento e Coordenao, visando o disposto no art. 17 da Lei n" 8880, de 27/05/94.

    Atravs da Lei n 8880 fica estabelecida a aplicao do IPC-r, em Poltica Salarial, para

    reajuste dos salrios dos trabalhadores em geral; do salrio mnimo; e das tabelas de vencimentos, soldos e salrios e de funes de confiana e gratificadas dos servidores

    pblicos, civis e militares da Unio. E tambm para correo dos beneficios da

    Previdncia Social e dos proventos da inatividade e das penses decorrentes do

    falecimento do servidor pblico civil e militar.

    No art. 27 da Medida Provisria n 542, de 30/06/94, fica estabelecido o uso do IPC-r

    para correo, por disposio legal ou estipulao de negcio jurdico, da expresso monetria de obrigao pecuniria, contrada a partir de 01/07/94, exceto para alguns

    tipos de contrato.

    E no art. 28, tem-se como opo o uso do IPC-r para amortizao de saldo devedor nos

    contratos com prazo superior a um ano.

    A Medida Provisria n" 1053, de 30/06/95 estabelece que o IBGE a partir de 01107/95

    deixa de calcular e divulgar o IPC-r.

    ./ Principais variveis: Preos obtidos no mercado varejista, efetivamente cobrados ao consumidor para os diferentes produtos pesquisados; nas concessionrias para servios utilizados pela populao; alm do levantamento de aluguel e condomnio em

    domiclios particulares .

    ./ Metodologia:

    ./ Informantes: A pesqmsa realizada em estabelecimentos comerciais e de

    prestao de servios, concessionrias de servios pblicos e domiclios

    particulares (para levantamento de aluguel e condomnio) .

    ./ Populao Objetivo: O IPC-r acompanha a variao de preos de um conjunto de produtos e servios consumidos pelas famlias com chefes assalariados e total

  • do rendimento monetrio familiar compreendido entre 1 e 8 salrios mnimos mensrus .

    ./ Metodologia de Clculo: Os preos coletados mensalmente so agregados por

    clculos e geram estimativas de variao de preos de cada subitem, que,

    agregados, produzem os ndices referentes a itens que agrupados formam as

    grandes categorias de consmno familiar, que so os grupos: Alimentao e

    bebidas, Habitao, Artigos de residncia, Vesturio, Transporte e comunicao,

    Sade e cuidados pessoais e Despesas pessoais, que, por fim, geram o ndice

    metropolitano mensal. Calculados os ndices de cada regio, so obtidos,

    finalmente, os ndices nacionais .

    ./ Frmula de Clculo em Nvel de Subitem: A frmula de clculo utilizada em

    nvel de subitem a mdia geomtrica, com excesso para o subitem aluguel,

    que at janeiro de 1995 era calculado atravs da mdia aritmtica simples, e s comeou a ser calculado atravs da mdia geomtrica a partir de fevereiro de

    1995.

    A mdia geomtrica utilizada somente em nvel de subitem tendo em vista a

    agregao dos produtos. A partir da aplicada a frmula de Laysperes, obtendo-se todos os demais nveis de agregao - item, subgrupo, grupo e ndice

    geral de cada regio que compe o SNIPC .

    ./ Clculo dos ndices Regionais: Os ndices so calculados, a nvel de regio, pela frmula de Laspeyres, exceto para os itens sazonais alimentcios, onde

    aplicada a frmula de Paasche.

    Para aplicao da frmula de Laspeyres, os relati