tcc - especialização senac - alana borges - final com correções 03-04-2014

Upload: alana-borges

Post on 17-Oct-2015

97 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • SERVIO NACIONAL DE APRENDIZAGEM COMERCIAL

    Faculdade Senac GO

    Alana Borges Neves Oliveira

    O movimento nas imagens: da fotografia aos cinemagraphs

    Goinia

    2013

  • SERVIO NACIONAL DE APRENDIZAGEM COMERCIAL

    Faculdade Senac GO

    Alana Borges Neves Oliveira

    O movimento nas imagens: da fotografia aos cinemagraphs

    Trabalho de concluso de curso apresentado como requisito parcial para obteno do titulo de Especialista em Artes Visuais: Cultura e Criao Faculdade Senac GO

    Orientador: Ms. Leonardo Eloi Soares de Carvalho

    Goinia

    2013

  • Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)

    Biblioteca Joo Lzaro Ferreira Faculdade de Tecnologia SENAC Gois

    Oliveira, Alana Borges Neves.

    O48m O movimento nas imagens: da fotografia aos cinemagraphs

    [manuscrito] / Alana Borges Neves Oliveira 2013.

    41 f.: il. ; enc.

    Orientador: Prof. Ms. Leonardo Eloi Soares de Carvalho. Trabalho de concluso de curso (Especializao). Servio

    Nacional de Aprendizagem Comercial, Artes Visuais, 2013.

    1. Fotografia. 2. Movimento. 3. GIFS animados. 4. Cinemagraphs.

    I. Servio Nacional de Aprendizagem Comercial. II. Ttulo.

    CDU: 77:004.4275

  • SERVIO NACIONAL DE APRENDIZAGEM COMERCIAL

    Alana Borges Neves Oliveira

    O MOVIMENTO NAS IMAGENS: DA FOTOGRAFIA AOS CINEMAGRAPHS

    Trabalho de concluso de curso apresentado como requisito parcial para obteno do titulo de Especialista em Artes Visuais, ao Servio Nacional de Aprendizagem Comercial Plo da Rede EAD, no curso Artes Visuais: cultura e criao.

    Goinia, 18 de novembro de 2013.

    Prof. Ms. Leonardo Eloi Soares de Carvalho (SENAC-GO)

    Prof. Ms. Noeli Batista (FAV-UFG)

    Prof. Coord. Luzlia Alves de Oliveira (SENAC-GO)

  • Aos meus pais,

    Por me ensinarem o caminho dos estudos.

  • AGRADECIMENTOS

    Agradeo ao Senac pela oportunidade de cursar essa especializao e a toda

    a equipe de professores e funcionrios que trabalharam para possibilitar esse

    aprendizado valoroso a mim e aos demais colegas. Agradeo aos meus pais

    pelo incentivo, estmulo, pacincia e suporte que me deram amorosamente

    para que eu pudesse alcanar esse ttulo. Ao meu querido esposo, em

    especial, por alcanar essa vitria junto comigo como meu esteio e melhor

    cumplice.

  • Quando disser ao instante que passa: demore-se um

    pouco mais, instante, voc to belo, ento voc poder

    me prender com correntes, e eu consentirei de boa vontade

    em perecer. Goethe, Fausto (Fausto a Mefisto)

  • RESUMO

    Com esse trabalho busco identificar a presena do movimento na imagem,

    partindo da fotografia analgica at chegar aos cinemagraphs, imagens que

    mesclam a fotografia e o vdeo em arquivos formato GIF de modo animado.

    Nesse caminho veremos como o movimento foi encarado, buscado, simulado e

    inserido na imagem ao longo da histria da fotografia. As possibilidades

    trazidas pelo digital, o fcil acesso a dispositivos fotogrficos e videogrficos e

    a programas de edio de imagens e a popularizao da internet aumentaram

    a produo e veiculao de fotografias e vdeos. Esses fatores somados a

    caractersticas especficas da comunicao na internet criaram o cenrio no

    qual os GIFs animados surgiram e se proliferaram. Essa categoria de imagens

    em movimento tambm tem sido explorada por vrios artistas que se utilizam

    das novas mdias. Essas produes artsticas em formato GIF tm sido

    consideradas um ramo da vdeo-arte.

    Aps traar esse panorama apresentamos a srie de imagens em formato GIF

    produzidas a partir das reflexes feitas durante esse curso. O processo criativo,

    as questes poticas e tcnicas so abordadas de maneira a explicitar o

    percurso.

    Palavras-chave: Fotografia. Movimento. GIFs animados. Cinemagraphs

  • ABSTRACT

    With this paper, I seek to identify the presence of motion in the image, starting

    from analogic photography to reach cinemagraphs, images that blend

    photography and video files in GIF format animated. In this way we see how the

    movement was viewed, searched, inserted and simulated in the image along

    the history of photography. The opportunities brought by digital, easy access to

    devices and photographic and videographic image and editing programs and

    popularization of the Internet have increased the production and placement of

    photos and videos. These factors combined to specific characteristics of

    internet communication have created the scenario in which the animated GIFs

    emerged and proliferated. This category of moving pictures has also been

    explored by various artists who use new media. These artistic productions in

    GIF format have been considered a branch of video art.

    After tracing this scenario we will present the series of images in GIF format

    produced from the reflections made during this course. The creative process,

    the poetic and technical issues are addressed in order to clarify the route.

    Keywords: Photography. Movement. Animated GIFs. Cinemagraphs.

  • LISTA DE ILUSTRAES

    Figura 1 -- Jules Marey with George Demeny - 1890-1900 .............................. 16

    Figura 2 - 1887 Muybridge Eadweard (1830-1904) - Album sur ....................... 17

    Figura 3 - Marcel Duchamp. Nu descendo a escada. 1911- 1912 ................... 18

    Figura 4 - Typist, Anton and Arturo Bragaglia (1911) ...................................... 19

    Figura 5 - Anton Giulio Bragaglia - Ritratto fotodinamico di una donna 1924 20

    Figura 6 - Man Ray, Raiografias, 1923 ............................................................. 21

    Figura 7 - Man Ray, Raiografias, 1923 ............................................................. 22

    Figura 8 Moholy-Nagy. Laci and Lucia ..........................................................22

    Figura 9 - Moholy-Nagy. Photogram .................................................................22

    Figura 10 - Moholy-Nagy, Lumino Kinetic art, 1936 ......................................... 24

    Figura 11 - William Klein. Candy Store, Amsterdam Avenue, New York 1954-55

    ......................................................................................................................... 25

    Figura 12 - Martien van Beeck, .........................................................................26

    Figura 13 - Didier de Nayer, Claire, 1983 .........................................................26

    Figura 14 - Jim Bengston, Slow motion, 1977.26

    Figura 15 - Eric Hartmann, The train joruney ...................................................26

    Figura 16 -Beck e Burg, Nature Studies ........................................................... 29

    Figura 17 - Beck e Burg, Love in Paris ............................................................. 30

    Figura 18 - 3,2'', F5, ISO100 24/11/2007....................................................... 31

    Figura 19 - 3,2'', F5, ISO100 24/11/2007........................................................32

    Figura 20 - 2'', F5.6, ISO100 16/09/2008........................................................31

    Figura 21 e 22 - Alana Borges cinemagraph experimental............................ 34

    Figura 23 e 24 - Alana Borges cinemagraph experimental ......................... 34

  • SUMRIO

    1 INTRODUO .......................................................................................... 12

    2 DESENVOLVIMENTO TERICO E PRTICO ......................................... 14

    2.1 O desenvolvimento da fotografia..................................................... 14

    2.1.1 Cronofotografia ........................................................................... 15

    2.1.2 Fotodinamismo Futurista ........................................................... 18

    2.1.3 Man Ray e Moholy-Nagy: experimentalismo fotogrfico ........ 20

    2.1.4 O movimento na fotografia ........................................................ 24

    2.2 Hibridismo nas Artes Plsticas ........................................................ 26

    2.3 GIF animado enquanto arte .............................................................. 27

    2.1.5 Cinemagraph: Origem e tcnica ................................................ 28

    2.1.6 Artistas referncias .................................................................... 29

    2.4 Processo criativo .............................................................................. 30

    2.1.7 De onde vim ................................................................................ 30

    2.1.8 O Agora ....................................................................................... 32

    2.1.9 Tcnica ........................................................................................ 32

    2.1.10 Potica ......................................................................................... 33

    2.1.11 A Srie ......................................................................................... 33

    3 CONCLUSO ............................................................................................ 35

    4 REFERNCIAS ......................................................................................... 36

  • 12

    INTRODUO

    Primeiramente quero esclarecer algumas das escolhas feitas para escrever

    esse texto. Por ser esse um trabalho acadmico que envolve pesquisa e

    tambm a produo artstica pessoal entendo no ser possvel descrever o

    processo criativo de outra maneira que no usando a primeira pessoa do

    singular. Nas partes do texto que abordam as pesquisas bibliogrficas e o

    dilogo com outros autores, ou seja, em que eu enquanto artista e

    pesquisadora estou dialogando e em parceria com o pensamento destes,

    tecendo uma teia que apoie meu trabalho, usarei a primeira pessoa do

    plural. Desta maneira o texto ser escrito ora em primeira pessoa do

    singular como agora e ora em primeira pessoa do plural quando a ao ou

    narrao no for apenas minha.

    Com este trabalho pretendemos traar um panorama da presena e do

    desenvolvimento do movimento na Linguagem Fotogrfica at chegarmos

    aos cinemagraphs, espcie de fotografia com movimento real possibilitado

    por ser um arquivo GIF. Essas imagens colocam em questo as tcnicas da

    fotografia e do cinema, pois parecem ser justamente uma fuso de ambas.

    Para entendermos melhor essas imagens iremos acompanhar e levantar

    historicamente como o movimento esteve presente na tcnica da fotografia,

    se relacionando e se incorporando a ela desde o surgimento dessa

    linguagem.

    Trataremos desde o surgimento da linguagem fotogrfica e sua busca

    tecnolgica por conseguir captar imagens gastando menos tempo de

    exposio da superfcie sensvel. Com esse avano alcanado temos ento

    a Fotografia Instantnea, no sentido que captura em uma frao de tempo

    muito pequena gerando assim uma imagem de uma cena congelada.

    Nesse momento as pesquisas de Marey e Muybridge so essenciais, pois

    buscam investigar o movimento dos corpos atravs do que ficou conhecido

    como cronofotografia. Essas pesquisas so contemporneas do incio do

    cinema sendo Marey, um dos inventores de um projetor de cinema.

  • 13

    Posteriormente o Fotodinamismo surge dentro do Futurismo e busca

    explorar o movimento da fotografia atravs do rastro deixado por este.

    Esses artistas, principalmente os irmos Bragaglia, buscavam produzir

    imagens que mostrassem o percurso realizado pelo corpo em movimento,

    pois consideravam a trajetria mais importante do que as posies

    congeladas dos corpos em movimento.

    Vrios foram os artistas que seguiram utilizando a fotografia para investigar

    o movimento como Man Ray (1890 - 1976), Lzlo Moholy-Nagy (1895 -

    1946) entre outros artistas que se aventuraram a discutir os limites da

    fotografia e do cinema. Estudaremos as especificidades do meio digital e o

    processo de produo dessa categoria de imagens. Abordaremos a tcnica

    para realizarmos uma srie de trabalhos visuais utilizando esta tcnica.

  • 14

    DESENVOLVIMENTO TERICO E PRTICO

    Faz-se necessrio voltar um pouco na histria da fotografia atentos no seu

    desenvolvimento e mais especificamente na maneira como o movimento foi

    tratado por ela para chegarmos ento fotografia contempornea e a produo

    por ns proposta.

    2.1 O desenvolvimento da fotografia

    O surgimento da fotografia foi marcado pelo desafio de conseguir capturar uma

    imagem com o menor tempo para conseguir uma imagem mais ntida e mais

    real. Para isso ser alcanado muitos estudiosos se dedicaram a pesquisar

    inmeros fatores, como por exemplo, solues capazes de tornar as chapas

    mais sensveis a luz, desenvolvimento de lentes que possibilitassem maior

    passagem de luz etc. E assim a histria da fotografia foi marcada e teve seu

    desenvolvimento compartilhado por vrios nomes como os franceses Joseph

    Nicphore Niepce e Louis-Jaques Mande Daguerre , o franco-brasileiro Hercule

    Florence, o hngaro Josef Petzval, o ingls William Henry Fox Talbot entre

    outros.

    Inicialmente as fotografias eram tiradas em planos abertos, a longas distncias

    da cena para minimizar o efeito do movimento na imagem, devido ao longo

    tempo de exposio. medida que esse tempo comea a diminuir torna-se

    possvel fotografar cenas com pessoas, cavalos e carruagens em movimento

    de uma distncia menor sem que essas imagens ficassem borradas, mas sim

    congelando o movimento. Essas imagens eram chamadas de instantneos e

    revelavam que os corpos durante o movimento assumiam posies at ento

    absurdas, pois eram totalmente novas j que a olho nu nunca foram antes

    percebidas. Como relata Annateresa Fabris (2004, p.02) o surgimento da

    fotografia instantnea data de 1858 e despertou interesse por essa nova viso

    fracionada ou congelada de acontecimentos corriqueiros como o caminhar de

  • 15

    uma pessoa. Essas imagens instantneas instigaram vrios estudiosos como o

    professor de anatomia de Harvard, Oliver Wendell Holmes, que tinha o intuito

    de produzir prteses para vtimas da Guerra Civil norte-americana. Em um

    artigo de 1861, Holmes destaca:

    surpreende-nos o comprimento da passada; num outro, a curva do

    joelho; num outro ainda, a maneira pela qual o calcanhar toca o cho

    antes do resto do p; em suma, todas as posies particulares do

    corpo no ato de caminhar. (HOLMES, 1995, p.41-42)

    2.1.1 Cronofotografia

    Segundo Annateresa Fabris (2004, p.03) a Cronofotografia surge nesse

    contexto de desenvolvimento da fotografia. Consiste basicamente no estudo do

    movimento a partir de fotografias instantneas de um corpo se movimentando

    tiradas com intervalos regularmente espaados. Os principais pesquisadores

    da Cronofotografia so Marey e Muybridge.

    tienne-Jules Marey (1830 - 1904) era francs e se dedicava a medicina e a

    fisiologia e por isso comeou a usar a fotografia na sua pesquisa dos corpos

    em movimento. As imagens produzidas por Marey se caracterizam, portanto

    em reunir numa mesma fotografia uma srie de imagens sucessivas que

    representam as diferentes posies que um ser vivo ocupa durante um

    movimento de locomoo"1. (DAGOGNET, 1984, s.p.)

    1 DAGOGNET, Franois. Etienne-Jules Marey. Paris: Hazan, 1987, p. 75, 78-79; Apud FRIZOT,

    Michel. "Le temps constitu". In tienne-Jules Marey. Paris: Centre National de la

    Photographie, 1984, s.p.

  • 16

    Figura 1 -- Jules Marey with George Demeny - 1890-1900

    Fonte: http://lightsmellsloud.wordpress.com/tag/etienne-jules-marey/ Acesso em 11/10/13.

    Segundo Annateresa Fabris, Marey produz:

    uma imagem sinttica que coloca em xeque o carter realista da

    fotografia, dissolvendo a estrutura do corpo em prol de ritmos

    abstratos, de puros fluxos de energia e de formas que se

    desenvolvem no tempo. (FABRIS, 2004, s.p.)

    Edward James Muggeridge (1830-1904) era ingls e se mudou para os

    Estados Unidos em 1852. Em 1876 passa a se apresentar como Eadweard

    Muybridge, artista e fotgrafo. Dedica-se fotografia e consegue

    reconhecimento com a publicao de sua srie Scenery of the Yosemite Valley

    em 1868. Em 1872 o ex-governador da Califrnia, Leland Stanford contrata

    Muybridge para fotografar seu cavalo. Stanford tinha interesse em saber se

    durante o galope de um cavalo ele tiraria as quatro patas do cho. Muybridge

    passa a se dedicar a essa pesquisa. Muybridge ao contrrio de Marey fotografa

    cada imagem em uma chapa diferente usando para isso vrias cmeras

    colocadas ao longo do percurso.

    Em 1887, em Londres, Muybridge publica seu trabalho em 11 volumes

    intitulado Animal Locomotion com o resultado desses estudos em um conjunto

    de mais de 781 pranchas, num total de mais de 20.000 imagens que

    abarcavam quase todas as fases da atividade motora animal e humana. Em

    1900 retorna para a Inglaterra onde vive o resto de seus dias.

  • 17

    Figura 2 - 1887 Muybridge Eadweard (1830-1904) - Album sur

    la decomposition du mouvement Animal locomotion

    Fonte: http://www.portaldarte.com.br/cinema.htm Acesso em 07/09/13.

    Marey e Muybridge marcaram fortemente a histria da fotografia e tambm da

    arte pelo fato de suas pesquisas terem influenciado o trabalho de vrios

    artistas. Scharf chega a propor duas vertentes dos artistas influenciados pela

    cronofotografia. A primeira vertente seria formada por aqueles que seguiam a

    tradio naturalista e por isso davam preferncia clareza das imagens de

    Muybridge; a segunda, pelos que buscavam ocultar a identidade literal das

    coisas para ressaltar realidades mais abstratas, aos movimentos, ritmos, e

    mdulos fundamentais do universo e por isso preferiam a visualidade de Marey

    (SCHARF. Op. cit., p. 270). O autor segue nesse contexto inserindo Degas na

    primeira vertente com seus estudos sobre o movimento do cavalo que sofre

    uma alterao aps 1880, deixando a estilizao e passando a se preocupar

    com as posies exatas do animal como registradas nos instantneos de

    Muybridge. Na segunda vertente estaria Duchamp com aplicao de clara

    influncia na obra (Figura 3) Nu Descendo uma escada (1911-1912).

  • 18

    Figura 3 - Marcel Duchamp. Nu descendo a escada. 1911- 1912

    Fonte: http://comunicacaoeartes20122.wordpress.com/2013/02/18/marcel-

    duchamp/ Acesso em 15/10/13

    2.1.2 Fotodinamismo Futurista

    O Movimento e a Luz destroem a materialidade dos corpos

    (BRAGAGLIA, 1980, p. 70)

    Em seguida, vieram os fotodinamistas futuristas, seguindo as experimentaes

    dos primeiros, com o intuito de compor o movimento. Dentre eles destacamos

    os irmos Bragaglia. Seus resultados no eram vrios instantneos de um

    movimento, mas sim uma mescla dos vrios estados do movimento em uma

    mesma imagem (figuras 4 e 5). Vale lembrar que a velocidade tinha

    importncia crucial para os futuristas, que afirmavam buscar a essncia

    interior das coisas: o movimento puro (BRAGAGLIA, 1911, p. 70). As imagens

    obtidas, segundo eles mostravam o movimento e mais ainda a trajetria do

    gesto, sendo assim considerado por eles mais importante que os instantneos

    produzidos por Marey e Muybridge, que congelavam um instante do

    movimento, retratando-o de maneira esttica.

  • 19

    Um gesto ir traar, na Fotodinmica, uma imagem to menos ampla

    e viva quanto mais notvel for sua velocidade. Por conseguinte,

    quanto mais ele for lento, tanto menos vir a ser desmaterializado e

    deformado, sendo que quanto mais ele for deforme tanto menos real

    ele ser mais ideal e mais lrico e mais abstrado de sua prpria

    personalidade. (BRAGAGLIA, 1980, p.65)

    Figura 4 - Typist, Anton and Arturo Bragaglia (1911)

    Fonte: http://aestheticperspectives.com/inventing-abstraction-1910-1925-moma/

    Acesso em 25/10/13.

    Anton Giulio Bragaglia (1890-1960) e seu irmo Arturo Bragaglia (1893 - 1962)

    foram os expoentes do Fotodinamismo, os quais buscavam mostrar o que

    havia entre um estado e outro do movimento. Defendendo essa como uma

    fotografia transcendental do movimento e sempre permanecendo idealizados

    na deformao e na destruio sofrida no movimento e na luz traduzindo-se em

    trajetria. (BRAGAGLIA apud BERNARDINI, 1980, p.70)

  • 20

    Figura 5 - Anton Giulio Bragaglia - Ritratto fotodinamico di una donna 1924

    Fonte: http://coffeecigarettesmagazines.blogspot.com.br/2012/05/g-bragaglia-

    photodynamic.html Acesso em 18/09/13.

    Os irmos Bragaglia defendiam suas pesquisas utilizando os meios fotogrficos

    e no a pintura como fez Balla afirmando ser a fotografia to rpidos,

    fecundos e poderosos que se configuram com muito mais futuro e muito mais

    concordes com as exigncias da vida que evolui do que todos os outros velhos

    meios de representao. (BRAGAGLIA, 1980, p.71)

    2.1.3 Man Ray e Moholy-Nagy: experimentalismo fotogrfico

    A fotografia desde seu surgimento suscitou um experimentalismo que a ajudou

    a se desenvolver enquanto linguagem (inicialmente a se diferenciar e

    independer da pintura, por exemplo) e tecnologia (desenvolvimento do aparato

    fotogrfico, do equipamento em si). Vrios foram os artistas a se interessarem

    por testar seus recursos e explor-la. Citaremos alguns que a encararam com o

    desejo de experimentar.

    Como nos relata Fabris (2004, s.p.) Man Ray (1890-1976) foi um dos artistas

    mais versteis e inovadores do sculo XX. Atuou como pintor, escritor, escultor,

    fotgrafo e cineasta. Esteve associado ao grupo surrealista francs em Paris

    durante os anos 1920 e 1930, principalmente por suas imagens fotogrficas

    altamente criativas e no convencionais. Embora no tenha restringido sua

    produo a apenas uma ou poucas linguagens, explorou contribuindo em

    vrias como a pintura, fotografia, poesia, escultura, cinema, ensaios e filosofia.

  • 21

    Man Ray esteve bastante envolvido com o Dadasmo, apesar de pessoalmente

    manter a reverncia aos mestres da Arte, sem que isso o impedisse de inovar.

    Produziu fotografias de motivos variados embora todas tenham o interesse no

    presente, e que buscassem ser como um "certificado de presena", na

    definio de Roland Barthes, consubstanciado naquele instante no tempo.

    Valorizava bastante o sujeito ou objeto fotografado como podemos ver em sua

    fala em 1966 para Jules Langsner, o curador da Retrospectiva de Man Ray no

    Los Angeles County Museum of Art, que: Uma cmera sozinho no faz uma

    foto. Para fazer uma imagem, voc precisa de uma cmera, um fotgrafo, e

    acima de tudo um sujeito. o objeto sozinho que determina o interesse da

    fotografia."2

    A srie Raiografias significativa na experimentao do princpio fotogrfico j

    que foi produzida expondo o papel fotogrfico com alguns objetos a serem

    fotografados diretamente a partir da luz, sem o uso de equipamento fotogrfico.

    Nessa srie Man Ray explora a composio, mostra ideais dadastas e trabalha

    com a luz enquanto elemento fundamental para produo das imagens.

    interessante notar que h uma preocupao com o movimento. Os objetos

    postos sobre o papel fotogrfico so levemente deslocados formando o registro

    desse movimento, como um fantasma.

    Figura 6 - Man Ray, Raiografias, 1923

    2 http://www.manray.net/ Acesso 26 de Abril de 2013.

  • 22

    Fonte: http://rabiscosdabere.blogspot.com.br/2012/11/man-ray.html Acesso em 09/10/13.

    Man Ray tambm produziu fotografias a partir da tcnica que posteriormente

    ficou conhecida como light painting. Essa tcnica, que ns utilizamos em

    nossos trabalhos fotogrficos anteriores essa pesquisa, consiste na utilizao

    de um longo perodo de exposio e na captura de um desenho realizado no ar

    a partir de um ponto de luz, com o intuito de explorar o movimento captado.

    Figura 7 - Man Ray, Raiografias, 1923

    Space Writing

    Space Writing

    Fonte: http://lightpaintingphotography.com/light-painting-history/ Acesso em 24/09/13.

    Segundo informaes da Fundao Moholy-Nagy3 (2004), Lzlo Moholy-Nagy

    (1895-1946) nasceu em 1895 em uma pequena aldeia no sul da ustria-

    Hungria, Lzlo tinha como ambio a ideia de se tornar um escritor, e enquanto

    ele ainda estava na escola um pouco de sua poesia foi publicado nos jornais de

    Szeged. Comeou a estudar direito em Budapeste, mas devido a Primeira

    Guerra Mundial foi interrompido. Alistou-se no exrcito austro-hngaro em 1915

    e produziu centenas de esboos, a maioria coloridos. Em 1917 teve o polegar

    esquerdo quebrado por estilhaos e acabou indo para a reserva. Comeou a

    estudar artes e em 1918, com 23 anos, embarcou na sua carreira como artista.

    Inicialmente seus desenhos eram figurativos e tendiam ao expressionismo

    estudando Rembrant e Van Gogh. Logo comea a estudar composio e

    finalmente os efeitos da cor na composio. Por volta de 1919 experimenta

    composies dadastas. Provavelmente nesse perodo foi introduzido na

    3 Disponvel em http://www.moholy-nagy.com/Biography_1.html acesso em 19 de Julho de

    2013

  • 23

    Fotografia pelo amigo Erzi Landau que tinha um estdio em Budapeste. Com o

    fim da Guerra volta para Szeged permanecendo por um ano antes de partir

    para Viena e posteriormente para Berlim.

    Em 1921 casa-se com Lucia Schulz, escritora e fotgrafa. No ano seguinte

    redescobre o Fotograma que consiste em uma imagem fotogrfica feita sem

    utilizao de uma cmera. Os objetos que se deseja fotografar so colocados

    diretamente sobre o papel fotossensvel ou entre este e a fonte de luz. Dessa

    maneira as formas dos objetos so gravadas no papel. Seus primeiros

    fotogramas se assemelham a sua arte construtivista, mas em meados da

    dcada de 1920 ele desenvolve uma habilidade no trabalho com luz e sombra

    para desenvolver um estilo distinto de fotograma. Objetos comuns foram

    transformados em composies abstratas de luminosos, formas ambguas

    flutuando atravs do espao escuro.

    Um fotograma em teoria uma imagem exclusiva, mas pode, por sua vez, ser

    fotografada para proporcionar um negativo para que outras impresses possam

    ser feitas. E isso pode ser copiado diretamente como uma imagem invertida,

    colocando uma outra folha de papel fotossensvel sobre ela e uma luz que

    brilha atravs de ambas as folhas. Moholy usou essa tcnica, muitas vezes

    para estudar seus efeitos sobre a textura e composio. Os Fotogramas

    fascinaram Moholy para o resto de sua vida e ele nunca parou de produzi-los.

    Moholy-Nagy melhorou a tcnica do fotograma e comeou a usar objetos semi-

    transparentes que refratassem a luz num ambiente de luz natural, adicionou as

    pinceladas de uma lanterna.

    Figura 8 Moholy-Nagy. Laci and Lucia Figura 9 - Moholy-Nagy. Photogram

    - 1925-1928 - Berlim - 1928 1934

    Fonte: http://designblog.rietveldacademie.nl/?p=17476 Acesso em 14/10/13.

  • 24

    Alm disso, Moholy-Nagy comeou a tirar fotos com longas exposies e a

    mover peas luminosas de mquinas para formar imagens. Este mtodo foi

    apelidado de Lumino arte cintica.

    Figura 10 - Moholy-Nagy, Lumino Kinetic art, 1936

    Fonte: http://designblog.rietveldacademie.nl/?p=17476 Acesso em 14/10/13.

    Podemos dizer que Moholy-Nagy foi um dos precursores do chamado

    Cinetismo na Arte, um dos precursores da Arte Cintica.

    2.1.4 O movimento na fotografia

    A inquietao sentida pelos artistas que hoje podem ser considerados

    seguidores do que Moholy-Nagy inaugurou, no est em decompor o

    movimento, nem comp-lo, mas impression-lo. Seria essa uma terceira

    vertente que trabalha o movimento na fotografia. Um artista que podemos citar

    nesse contexto William Klein (1928, NY, EUA) que trabalha o movimento em

    suas fotos atravs do borrado, do tremido (Figura 11). Ele afirmou que

    fotografar um momento de transe (KLEIN apud CAUJOLLE,1985).

    Um efeito como esse acentua, concentra, desenvolve o tremor

    invisvel que percorre em maior ou menos grau todas as verdadeiras

    fotografias e forma, no prprio interior do tempo apreendido e

    imobilizado, uma fina pelcula de tempo em estado puro. O tremido,

    por sua vez, concentra um tremor como o apreendido por Klein, entre

  • 25

    mvel e imvel, oferecendo percepo o tempo visvel, ou seja,

    uma durao.

    (BELLOUR, 1997, p.101)

    Figura 11 - William Klein. Candy Store, Amsterdam Avenue, New York 1954-55

    Fonte: http://www.jacksonfineart.com/william-klein-420.html Acesso em 19/10/13.

    Essa durao, esse instante maior de tempo presente e inscrito na imagem

    fotogrfica mostrado principalmente devido ao borrado, ao tremido. O

    fotgrafo pode trabalhar com o movimento do seu corpo, como no caso da

    figura 7. E tambm com corpos ou objetos em movimento como Martien van

    Beek e Didier de Nayer (Figuras 12 e 13), com corpos e rostos aproximados

    num espao indefinido. Jim Bengston (Figura 14), tambm aproveita o

    movimento do corpo fotografado. Na fotografia de Eric Hartman, o movimento

    do seu corpo se reveza com o movimento de um trem que passa (Figura 15). O

    movimento, por menor que seja, j denuncia uma passagem de tempo. Essa

    impresso de movimento no vista pelo olho humano, pois esse em seu

    estado normal no v desfocados e nem conserva inscrito em si mesmo o trao

    materializado do movimento (BELLOUR, 1997, p.97). A materializao dessas

    imagens concedida pela cmera, vemos estas imagens graas ao

    mecanismo exclusivo deste equipamento.

    Essas fotografias borradas e tambm algumas pinturas futuristas tm o

    interesse de nos sugerir que a fotografia, mais do que tentar concorrer com a

    pintura, pode encontrar, reencontrar, sua maneira, parte do que a pintura j

    fez para tentar abrir-se ao que ela ainda no fez. (BELLOUR, 1997, p.100)

  • 26

    Figura 12 - Martien van Beeck, Figura 13 - Didier de Nayer, Claire, 1983

    Bewogen Portretten, 1984-1989

    Fonte: (BELLOUR, 1997, p. 106)

    Figura 14 - Jim Bengston, Slow motion, 1977 Figura 15 - Eric Hartmann, The train joruney

    Fonte: (BELLOUR, 1997, p. 106) Fonte: (BELLOUR, 1997, p. 107)

    2.2 Hibridismo nas Artes Plsticas

    Raymond Bellour (1997) considera hibridismo a mistura de diferentes formas

    de representao - gravura, cinema, fotografia, vdeo e outras. A partir dessas

    produes que mesclam tcnicas, mais comuns a partir de 1990, Bellour

    elabora o conceito de entre-imagens como um espao de passagem.

    Com o avano da tecnologia e o barateamento de equipamentos como

    cmeras fotogrficas, filmadoras e computadores o acesso se tornou maior e

    tambm a produo de trabalhos artsticos feitos a partir destes aumentou. O

    vdeo um claro exemplo disso, com sua popularizao, a produo de

  • 27

    videoarte surgiu e expressiva at os dias de hoje. Podemos dizer que o vdeo

    surgiu da linguagem do cinema, mas tem suas particularidades e

    diferenciaes. A imagem eletrnica possibilita edio e mescla fcil entre

    linguagens.

    (...)Todos esses movimentos tm seu espao no vdeo, na imagem

    eletrnica. O vdeo assimila todas as outras imagens, permite a

    passagem entre os suportes, a transio entre pintura, fotografia e

    cinema. (Peixoto apud PARENTE, 1993, p. 243)

    Muitas so as possibilidades de hibridismo, mas queremos nos deter mescla

    entre o vdeo e a fotografia resultando em um arquivo de formato GIF (Graphics

    Interchange Format).

    2.3 GIF animado enquanto arte

    O GIF um formato bitmap colocado na web pela empresa internet

    CompuServe em 1987, devido a seus mnimos requisitos computacionais e sua

    grande portabilidade sua utilizao foi generalizada desde ento. Sua

    popularidade comeou como arquivo de imagem por ser altamente compactado

    para as conexes lentas de meados dos anos 1980. Posteriormente, em uma

    fase ainda pr-Flash, o GIF comeou a ser usado em animaes de grficos e

    banners oscilantes em loops infinitos para decorar sites. J com os blogs e as

    redes sociais, as animaes nesse formato de arquivo se popularizaram ainda

    mais, embora o Facebook, uma das maiores mdias sociais atualmente, no

    permita o uso de GIFs em suas contas.

    Uma plataforma de blogging que tem crescido muito nos ltimos tempos o

    Tumblr, ele permite publicao de textos, vdeo, links, citaes, udio, dilogos

    e imagens inclusive no formato .gif. O Tumblr ofereceu recentemente upgrade

    de espao total para as postagens contendo imagens, assim os GIFs podem

    ser mais extensos e elaborados. Essa postura tem incentivado o crescimento

    na produo e circulao de GIFs e segundo o editor, designer e animador

    Lacey Michallef Se os GIFs esto crescendo em extrema popularidade nas

  • 28

    comunidades online, seria natural que isso se estendesse a outras partes da

    Internet4.

    Dentre os GIFs animados nos interessa uma categoria especificamente, os

    chamados cinemagraphs.

    2.1.5 Cinemagraph: Origem e tcnica

    O surgimento dos cinemagraphs atribudo fotgrafa de Moda Jamie Beck e

    ao designer visual Kevin Burg (Pavlus, 2012). Essas produes ganharam

    visibilidade em 2009 atravs da pgina do blog Tumblr de Jamie Beck intitulada

    From Me To You. Na atual pgina de divulgao dos criadores, Ann Street

    Studio, Kevin conta que fazia experimentaes com GIF desde 2009.

    Os Cinemagraphs tambm so arquivos GIF animados e se diferenciam dos

    demais de sua categoria por serem produzidos com uma inteno artstica e

    preocupao esttica. Alm disso, no se trata mais da repetio de um vdeo

    ou animao de curta durao, nessa categoria o loop acontece em algumas

    partes da imagem e as demais permanecem estticas como em uma fotografia.

    Nesse sentido essa categoria mostra um claro hibridismo entre fotografia e

    vdeo. Niewlan (2012) afirma que os cinemagraphs tratam do conceito da

    imagem em movimento, tomando o realismo do filme e empregando na

    perspectiva da fotografia em um formato de videoarte digital. Os elementos

    escolhidos para permanecerem em movimento so escolhidos de maneira a

    mostrar a passagem do tempo e tambm realar o congelamento do restante

    da imagem. Seria como valorizar um elemento importante de uma fotografia e

    sua potica atravs do movimento. Por exemplo, a foto de uma mulher com o

    cabelo esvoaando ao vento no nos mostra o movimento que seu cabelo faz

    ao vento, mostra apenas uma posio congelada em que seu cabelo esteve.

    4 ERICKSON, Christine. How Tumblr rekindled the art of animated GIFs. Mashable, fev. 2012. Disponvel em: < http://mashable.com/2012/02/29/tumblr-animatedgifs>. Acesso em: 21 out. 2013.

  • 29

    Um cinemagraph de uma cena como essa mostra o movimento do cabelo ao

    vento e todo o resto do quadro congelado.

    O processo de produo de um cinemagraph feito geralmente a partir de um

    vdeo editado em programas como Photoshop e ou After Effects. No programa

    de edio de imagem escolhido o frame do vdeo que ser a imagem esttica

    fazendo desse frame uma camada. Seleciona-se a parte da imagem que ter

    movimento criando uma mascara na camada do frame fixo para que o

    movimento aparea, assim h uma mescla real da fotografia, frame escolhido,

    com o vdeo, parte que ter movimento. Esse arquivo ento salvo em formato

    GIF que far com que esse vdeo fique repetindo sempre, em um loop infinito.

    2.1.6 Artistas referncias

    Jamie Beck e Kevin Burg, os criadores dessa tcnica so referncia com

    extensa produo.

    Vrios artistas utilizam o GIF animado em seus trabalhos artsticos, um deles

    Rick Silva, Artista brasileiro que exps seus GIFs-arte em Nova York no

    Whitney Museum of American Art. Existem algumas exposies exclusivas

    para essa categoria como a ocorrida em 2012 na The Photographers Gallery

    entre outras. Alas em museus dedicadas ao assunto j existem como no

    Museum of Moving Image de Nova York.

    Figura 16 -Beck e Burg, Nature Studies

    Fonte: http://annstreetstudio.com/category/cinemagraphs/

  • 30

    Figura 17 - Beck e Burg, Love in Paris

    Fonte: http://annstreetstudio.com/category/cinemagraphs/page/3/

    2.4 Processo criativo

    Fazer o TCC ao fim dessa especializao, em que vimos grande quantidade de

    conceitos artsticos, propondo uma produo prtica foi muito instigante.

    Escolhi no comear algo totalmente novo, mas sim continuar uma pesquisa

    potica em uma nova tcnica ou linguagem.

    2.1.7 De onde vim

    Desde 2007 tenho investigado a luz e o movimento, de incio na fotografia e

    para tanto utilizei a tcnica de light painting na produo da srie Ensaio s

    Cegas. Nessa srie eu fotografava objetos luminosos, frequentemente

    utilizados em festas noturnas, utilizando uma baixa velocidade do obturador

    enquanto eu movimentava a cmera. Os resultados eram rastro de luzes

    coloridas.

  • 31

    Figura 18 - 3,2'', F5, ISO100 24/11/2007

    Fonte: Arquivo pessoal

    Figura 19 - 3,2'', F5, ISO100 24/11/2007 Figura 20 - 2'', F5.6, ISO100 16/09/2008

    Fonte: Arquivo pessoal Fonte: Arquivo pessoal

    O processo de produo dessa srie acontecia em um quarto escuro, usando

    baixa velocidade do obturador5. Eu movimentava a cmera diante do objeto

    luminoso que piscava freneticamente. O resultado era o rastro de COR-LUZ6

    sob um fundo negro. Essas imagens (imagens 18, 19 e 20) me fascinavam, por

    isso investiguei os resultados variando basicamente trs aspectos:

    configuraes da cmera (ISO, velocidade do obturador, abertura do

    diafragma); utilizao da cmera digital e da analgica; os movimentos do meu

    corpo com a cmera (velocidade e direo). Os testes, quanto ao suporte,

    foram apenas exploratrios. Decidi continuar trabalhando apenas com a

    cmera digital. Entendi que a luz era importante tambm para apresentar essas

    5 Obturador um dispositivo mecnico que abre e fecha por uma frao de tempo permitindo

    assim que a luz entre pela lente e atinja a superfcie sensvel (filme fotogrfico ou sensor

    digital) formando a imagem. Pode ser chamado tambm de cortina.

    6 Cores-luz so as que provm de uma fonte luminosa direta, estudadas mais detidamente na rea da Fsica, com vasto emprego na sociedade contempornea. So elas que iluminam as nossas vidas, como a luz do sol, a de uma vela, de uma lmpada ou a de uma descarga eltrica. Sua trade primria constituda pelo vermelho, verde e azul-violetado. (PEDROSA, I., 2004, p. 28)

  • 32

    imagens por uma questo de percepo, por isso decidi apresenta-las

    enquanto resultado, a partir de monitores ou de projeo.

    2.1.8 O Agora

    Fui instigada pelo professor Leonardo Eloi a pesquisar sobre os Cinemagraphs

    devido ao fato de eu vir da fotografia e tambm pelo interesse pelo movimento.

    Optei por fazer a parte prtica desse trabalho de concluso de curso

    condizente com minha investigao de Cor-Luz e explorar os efeitos visuais

    das luzes piscantes dos mesmos objetos luminosos utilizados na srie Ensaio

    s Cegas agora com parte esttica e outras em movimento em uma imagem

    no formato GIF.

    2.1.9 Tcnica

    A produo de um cinemagraph geralmente feita a partir de um vdeo

    manipulado geralmente usando o programa Adobe Photoshop CS6 no qual

    possvel editar vdeos e fotos criando vrias camadas e mesclando-as.

    Primeiramente se escolhe o trecho do vdeo a ser utilizado, depois um frame

    para ser a parte esttica da imagem. Cria-se ento uma mscara nesse frame

    que funciona como um vazado que permitir ver a camada de vdeo se

    movendo atravs dessa parte da mscara. Esse processo precisa ser feito com

    bastante cuidado aos detalhes para que o movimento parea contnuo e no

    seja possvel perceber o contorno da mscara de modo a no evidenciar a

    sobreposio de uma imagem fixa e outra em movimento. Nesse processo

    alguns se utilizam de fotografias da mesma cena do vdeo para incrementar a

    edio e tambm de programas que permitem outros recursos para finalizar a

    edio como o After Effects.

    Devido popularizao dos gifs animados e dos cinemagraphs alguns

    programas de acesso gratuito so disponibilizados na internet de modo a

    permitir que usurios que no dominem a utilizao ou no tenham condio

    de ter programas de edio de imagem mais profissionais como os citados

    anteriormente tambm possam produzir seus GIFs. Esses programas no

    oferecem tantos recursos como os profissionais e tem uma navegao bem

  • 33

    simplificada. Existem inclusive programas que podem ser instalados em

    smartphones como o Cinamgram e o Red Shoe Cinemagraph.

    Para produzir a srie integrante desse trabalho pensei em utilizar o Photoshop,

    mas por no ter a licena do programa no foi possvel editar vdeo a partir

    dele. Busquei ento outra alternativa devido ao pouco tempo e encontrei o

    programa gratuito Microsoft Research Blink Cliplets e foi a partir dele que

    consegui produzir as imagens. Como um programa mais simplificado ele

    deixou a desejar quanto s opes, que so bem limitadas, e tambm quanto a

    qualidade da imagem exportada, mas conseguimos de maneira experimental

    alcanar um resultado satisfatrio.

    2.1.10 Potica

    A vibrao das luzes coloridas que piscam freneticamente remete agitao

    da sociedade contempornea, rapidez com que a tecnologia se desenvolve e

    se torna obsoleta. Somos atrados e encantados pelo brilho das luzes que com

    seu colorido realado sob o fundo preto nos desliga de um lugar especfico e

    nos coloca em um lugar comum. Minha inteno nessa srie provocar uma

    reflexo sobre a agitao do mundo em que vivemos, a velocidade com que

    tudo acontece, a maneira frentica de existirmos. E principalmente pelo fato de

    parte da imagem permanecer esttica enquanto outra parte pisca

    alucinadamente propor uma pausa. Destacar a calma do que esttico, do que

    est congelado em contraponto com a velocidade do que esta em movimento.

    2.1.11 A Srie

    Ao todo produzi 10 imagens em formato GIF animado. Experimentei durante a

    gravao dos vdeos o foco nos objetos, de maneira a permitir a identificao

    dos mesmos, e tambm o desfoque, ressaltando o colorido das luzes sem

    reconhecimento das formas originais do objeto.

  • 34

    Figura 21 e 22 - Alana Borges cinemagraph experimental

    Fonte: Arquivo pessoal

    Figura 23 e 24 - Alana Borges cinemagraph experimental

    Fonte: Arquivo pessoal

  • 35

    CONCLUSO

    A busca e o interesse da imagem fotogrfica pelo movimento datam de seu

    surgimento e permanecem at a contemporaneidade. Em cada perodo da

    histria o movimento foi buscado ou tratado de uma maneira, sendo essa forma

    um reflexo da tecnologia disponvel e do contexto geral da sociedade. No

    hibridismo que identificamos nos cinemagraphs entre fotografia e vdeo

    percebemos uma caracterstica da sociedade contempornea de dissoluo

    entre as fronteiras, por exemplo.

    Pesquisar arte nas novas mdias e refletir quanto a suporte, formato de arquivo

    e falar disso em um texto acadmico foi um exerccio interessante. Pude

    perceber a imbricao entre a fotografia, o vdeo e os GIFs animados.

    Mesclagem essa gerada e permitida pela comunicao caracterstica da

    internet. Nesse contexto a arte se beneficia, do meu ponto de vista, por cada

    vez mais ter mais meios a sua disposio para produo de obras poticas.

    Um desafio em particular foi o fato de o formato de um texto, como esse, no

    permitir que eu mostre imagens que partem da fotografia, mas que no so

    mais apenas fotografias. Por isso, decidi disponibilizar esse texto em formato

    acadmico em uma pgina web que permite a visualizao de arquivos no

    formato GIF animado. O endereo de acesso

    http://cinemagraphstcc.blogspot.com.br/ .

  • 36

    REFERNCIAS

    BELLOUR, Raymond. Entre imagens. Campinas: Papirus, 1997

    BURG, Kevin; BECK, Jamie. [Entrevista intitulada] So long animated GIFs,

    hello cinemagraph. Abr. 2011. Disponvel em: . Acesso em: 15 out. 2013.

    DAGOGNET, Franois. Etienne-Jules Marey. Paris: Hazan, 1987, p. 75, 78-79;

    Apud FRIZOT, Michel. "Le temps constitu". In tienne-Jules Marey. Paris:

    Centre National de la Photographie, 1984, s.p.

    ERICKSON, Christine. How Tumblr rekindled the art of animated GIFs.

    Mashable, fev. 2012. Disponvel em: < http://mashable.com/2012/02/29/tumblr-

    animatedgifs>. Acesso em: 17 out. 2013.

    FABRIS, Annateresa. A captao do movimento: do instantneo ao

    fotodinamismo. ARS (So Paulo) vol.2 N4. So Paulo. 2004

    FATORELLI. Antonio. Fotografia contempornea: entre o cinema, o vdeo e

    as novas mdias. Rio de Janeiro: Senac Nacional, 2013.

    FLUSSER, Vilem. Filosofia da caixa preta: ensaios para uma futura

    filosofia da fotografia. Rio de Janeiro. Editora Relume Dumar, 2002.

    NIEWLAND, Meaghan. Framed in time: a cinemagraph series. Ontario:

    McMaster University, 2012. Disponvel em:

    .

    Acesso em: 17 out. 2013.

    PAVLUS, John. Far better than 3-D: animated gifs that savor a passing

    moment. CoDESIGN, 2012. Disponvel em:

    .Acesso em: 28 de out. 2013.

    PEIXOTO, Nelson Brissac.Passagens da Imagem: Pintura, Fotografia,

    Cinema, Arquitetura. In. PARENTE, Andr. Org. Imagem-mquina. A era das

    tecnologias do virtual. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1996 .p. 237-252