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TCC: Contabilidade Internacional ? Uma Visão das Mudanças Humanas > Contabilidade TCC: Contabilidade Internacional Uma Visão das Mudanças Universidade do Contestado - UnC 2009 RESUMO A globalização trouxe consigo, a necessidade de haver um conjunto de normas contábeis internacionais que viabilizem a comparação de informações entre companhias de um mesmo grupo ou de grupos distintos. As Normas Internacionais de Contabilidade, atualmente conhecidas como IFRS (International Financial Reporting Standard), são um conjunto de pronunciamentos de contabilidade internacionais publicados pelo IASB (International Accounting Standards Board). Essas normas foram adotadas pelos países da União Europeia, a partir de 31 de dezembro de 2005, com o objetivo de harmonizar as demonstrações financeiras consolidadas publicadas pelas empresas abertas europeias. A iniciativa foi internacionalmente acolhida pela comunidade financeira. Atualmente, numerosos países tem projetos oficiais de convergência das normas contábeis locais para as normas IFRS, inclusive o Brasil. Todavia, tal propaganda feita pela imprensa através de entrevistas, como os artigos que não esclarecem com a devida sinceridade a questão, estão gerando muitas dúvidas no meio empresarial, estudantil e profissional. Este singelo estudo mostra o motivo de tantas dúvidas quanto a esse tema, estabelecendo parâmetros de comparação com a atual forma das demonstrações contábeis e quais serão estas

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TCC: Contabilidade

Internacional ? Uma Visão

das Mudanças Humanas > Contabilidade TCC: Contabilidade Internacional – Uma Visão das Mudanças

Universidade do Contestado - UnC 2009 RESUMO A globalização trouxe consigo, a necessidade de haver um conjunto de normas contábeis internacionais que viabilizem a comparação de informações entre companhias de um mesmo grupo ou de grupos distintos. As Normas Internacionais de Contabilidade, atualmente conhecidas como IFRS (International Financial Reporting Standard), são um conjunto de pronunciamentos de contabilidade internacionais publicados pelo IASB (International Accounting Standards Board). Essas normas foram adotadas pelos países da União Europeia, a partir de 31 de dezembro de 2005, com o objetivo de harmonizar as demonstrações financeiras consolidadas publicadas pelas empresas abertas europeias. A iniciativa foi internacionalmente acolhida pela comunidade financeira. Atualmente, numerosos países tem projetos oficiais de convergência das normas contábeis locais para as normas IFRS, inclusive o Brasil. Todavia, tal propaganda feita pela imprensa através de entrevistas, como os artigos que não esclarecem com a devida sinceridade a questão, estão gerando muitas dúvidas no meio empresarial, estudantil e profissional. Este singelo estudo mostra o motivo de tantas dúvidas quanto a esse tema, estabelecendo parâmetros de comparação com a atual forma das demonstrações contábeis e quais serão estas

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mudanças, não apenas a nível nacional, mas em todo o cenário internacional. Palavras-chave: globalização, convergência das normas contábeis, parâmetros de comparação. ABSTRACT The globalization brought with itself, the necessity to exist a group of International Accounting Standards that make possible the comparison of information among companies of a same group or of different groups. The International Accounting Standards, nowadays they are known like IFRS (International Financial Reporting Standard), they’re a group of international accounting pronouncements published by IASB (International Accounting Standards Board). Those standards have been adopted by the countries from European Union, since December 31st 2005, with the aim to harmonize the consolidated financial demonstrations that have been published by European open companies. The enterprise got a good international reception by financial community. Nowadays, many countries have official projects of convergence from the premises accounting standards to the IFRS, including Brazil. Though, the publicity annoucement had made by the press through appointments, as the articles which do not come clean the doubts, they’re building many doubts about the business corporation environment, the student environment and the occupational environment, too. This simple work shows the causes of many doubts about those standards, it’s establishing control information of the balances and the changes about those norms around the world. Key words: globalization, convergence of the accounting standards, control information of balances. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 1.1 APRESENTAÇÃO DO TEMA 1.2 PROBLEMA 1.3 JUSTIFICATIVA 1.4 OBJETIVOS 1.4.1 Objetivo Geral

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1.4.2 Objetivos Específicos 2 DESENVOLVIMENTO 2.1 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1.1 Breve Histórico da Contabilidade no Brasil 2.1.2 Estrutura Conceitual e Objetivos da Contabilidade Nacional 2.1.3 Demonstrações Contábeis Nacionais 2.1.4 Demonstração do Resultado do Exercício 2.1.5 Demonstração de Lucros ou Prejuízos Acumulados 2.1.6 Balanço Patrimonial 2.1.7 Demonstração do Fluxo de Caixa 2.1.8 Demonstrativo do Valor Adicionado 2.1.9 Contabilidade Internacional 2.1.10 Diferenças Internacionais na Elaboração e Apresentação das Demonstrações Contábeis 2.1.11 Classificação dos Sistemas Contábeis 2.1.12 Causas das Diferenças Internacionais 2.1.13 Características, Natureza e Tipo de Sistema Legal Vigente 2.1.14 Forma de Captação de Recursos Utilizados Pelas Empresas 2.1.15 Vantagens e Desvantagens na Harmonização Contábil Internacional 2.1.16 Estrutura do Balanço Patrimonial segundo a Lei 6.404/76 X Lei 11.638/07 3 CONCLUSÃO REFERÊNCIAS 1 INTRODUÇÃO A contabilidade é considerada a “linguagem dos negócios” (NIYAMA, 2008, p.15), isto quer dizer que é nela que os principais agentes econômicos buscam informações para realizar investimentos. Diante do aquecimento da economia em termos globais, o mundo passou a viver uma grande necessidade de informações. A contabilidade internacional tem por objetivo levar aos profissionais desta área os conhecimentos necessários para a uniformização das normas contábeis de diversos países às normas contábeis internacionais. A falta de uma agência

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reguladora do mercado de capitais também foi uma falha percebida que contribuiu para a crise. Até a regulamentação da lei 11.638 de 28 de dezembro de 2007, que alterou e revogou dispositivos da Lei de Sociedades por Ações – número 6.404, de 15 de dezembro de 1976 – não existia um conjunto inteligente e sensato de normas contábeis que orientasse à preparação de tais demonstrações financeiras, e em consequência as análises de balanço podiam levar a graves erros na tomada de decisões econômicas, sem levar em consideração a possível fraude. Os problemas que surgiam para as empresas que investiam fora do país foram minimizados pela contabilidade internacional, pois essas empresas encontravam várias dificuldades em manusear balanços com dezenas de normas contábeis distintas, tentando compatibilizá-las para compará-las. Neste trabalho será realizado um estudo bibliográfico a respeito de um tema atual e bastante discutido entre os profissionais e acadêmicos da área contábil: A Contabilidade Internacional. 1.1 APRESENTAÇÃO DO TEMA Devido à crise econômica que vem abalando o mercado financeiro global, os futuros profissionais e os profissionais atuantes no ramo da contabilidade, vem encontrando grandes dificuldades no que se refere à convergência das normas contábeis brasileiras às normas contábeis internacionais. É de suma importância a necessidade da elaboração de demonstrações contábeis com as diferenças e semelhanças existentes nos critérios contábeis de variadas economias mundiais, possibilitando ao leitor uma comparabilidade mais apurada entre os números das demonstrações contábeis de diversos países. A contabilidade internacional é uma ferramenta para o processo de transparência, que proporciona facilidade no fluxo comercial, financeiro e de investimentos entre as economias internacionais, atingindo não apenas as questões informativas, mas também as inerentes à justiça social como reflexo do desenvolvimento, à criação de empregos e à

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geração de rendas nos países de economia emergente ou em fase de desenvolvimento. O processo de convergência contábil a que as empresas brasileiras estão sendo submetidas para adotar as normas internacionais até 2010 já começa a trazer à tona novos desafios. Essa foi uma das conclusões de um evento realizado pela Gazeta Mercantil sobre o tema. A implantação das novas métricas contábeis, praticadas hoje em mais de 100 países não será tão simples como se parece. As empresas terão uma longa caminhada para se adequar as novas normas, ainda mais em uma época tão difícil, que segundo a opinião de alguns especialistas tem sido considerada a maior crise econômica de todos os tempos. Isso não quer dizer que as dificuldades invalidarão essa nova prática, pelo contrário, a adoção do International Financial Reporting Standars – IFRS – Norma Internacional de Relatórios Financeiros - trarão vantagens a médio prazo, segundo especialistas um dos maiores benefícios será a redução no custo das captações de recursos. A simples migração para o conjunto de novas regras já representa um grande avanço, pois reforça o compromisso com maior transparência. Isso faz com que haja uma aproximação cada vez maior entre os instrumentos de contabilidade e a gestão da companhia. Afinal, a contabilidade legal passa a refletir, com mais facilidade, os números das companhias. 1.2 PROBLEMA A informação é o ponto fundamental da Ciência Contábil e sua gestão eficaz pode agregar valor às organizações. A falta de atualização dos profissionais atuantes no ramo da contabilidade e o sistema adotado pela maioria das universidades vem deixando a desejar no que se refere à contabilidade internacional. Diante da nova configuração do mercado mundial, há uma grande necessidade de conhecer, analisar e comparar a contabilidade nacional com a internacional. A padronização existirá independentemente do tempo que isso possa levar, mas, nos dias atuais, como os acadêmicos e profissionais da

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área contábil estão lidando com essa nova realidade do cenário contábil nacional? 1.3 JUSTIFICATIVA Esta pesquisa será realizada por ser um tema atual e pelo fato de expor as mudanças para os profissionais e acadêmicos da área contábil e suas adaptações diante das novas responsabilidades com as normas internacionais de contabilidade. É oportuno, pois a contabilidade é uma ciência que evolui de acordo com a necessidade de seus usuários e por ser uma forma transparente perante um interminável número de interesses sejam eles de investidores, do governo, bem como as demais pessoas que desejam obter informações sobre determinada empresa. É viável para uma melhor compreensão dos conceitos, fundamentos e procedimentos das normas internacionais de contabilidade. 1.4 OBJETIVOS 1.4.1 Objetivo Geral Conhecer a contabilidade internacional estabelecendo parâmetros de comparação com a contabilidade existente no Brasil. 1.4.2 Objetivos Específicos Conhecer a contabilidade internacional diante de aspectos legais, culturais e mercadológicos; Analisar as vantagens e desvantagens da harmonização contábil internacional; Elaborar um mecanismo comparativo entre a contabilidade nacional e a internacional. 2 DESENVOLVIMENTO 2.1 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1.1 Breve Histórico da Contabilidade no Brasil

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Até início da década de 70, com o começo do desenvolvimento de mercados de capitais e com a reforma bancária, a contabilidade no Brasil foi marcada pela forte influência da legislação tributária, que nem sempre era adequada à teoria contábil. Em 1976 foi criada a CVM – Comissão dos Valores Mobiliários para monitorar o mercado de capitais e, paralelamente, foi divulgada a Lei 6.404/76 que trouxe inovações à época. O desenvolvimento da Contabilidade no Brasil está fortemente ligado ao desenvolvimento econômico que se destacou em 1979, mas que não foi reconhecido por causa das altas taxas da inflação que cresciam muito e com isso ocorria uma super desvalorização da nossa moeda. “Em termos de comportamento da nossa economia, os anos 80 foram os piores: elevada inflação e diversas tentativas de combate a ela, mediante planos econômicos heterodoxos, que contribuíram para a perda da credibilidade e que resultaram na primeira moratória (1985) e, como consequência, na repercuurssão internacional negativa desta medida.” (NYIAMA, 2008, p.7) Em 1987, a CVM editou a Instrução 64, que determinava a elaboração de demonstrações contábeis complementares em moeda de poder aquisitivo constante para companhias abertas. Por fim em 1993 o Conselho Federal de Contabilidade editou a Resolução 750, estabelecendo os Princípios Fundamentais da Contabilidade. Na década de 90 ocorreu uma série de mudanças no quadro macroeconômico como a estabilização da moeda e abertura para investimentos estrangeiros em bolsas, fazendo com que o mercado brasileiro ficasse mais atraente e acessível aos investidores internacionais. Em 1994 com a implantação do Plano Real, os bancos tiveram que reaprender a lidar com a concessão de crédito numa economia estabilizada e, como consequencia, muitos deles não resistiram e tiveram que ser absorvidos por outros bancos ou simplesmente quebraram. Nyiama (2008). 2.1.2 Estrutura Conceitual e Objetivos da Contabilidade Nacional O conceito contábil é antigo. Com o passar do tempo a

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humanidade sentiu necessidade de controle de riqueza gerada e acumulada, e a contabilidade passou de um conhecimento rudimentar e empírico para uma ciência onde a metodologia de escrituração e análise dos valores patrimoniais fica cada dia mais sofisticada. A ciência contábil pode ser vista como um sistema de informações aberto, pois recebe os dados, processa-os, construindo novas informações e emitindo relatórios. No entanto, ainda há no Brasil pessoas e organizações que possuem uma visão distorcida do objetivo da contabilidade. Isto ocorre principalmente pelo fato de o governo cobrar impostos, tendo a contabilidade como elemento de controle e fiscalização. (Hoss, 2008) “Tem-se que o objetivo fundamental da contabilidade é a geração de informações úteis e relevantes para a tomada de decisão [...] A contabilidade tem ainda como finalidade o planejamento e controle. Partindo do registro e acumulação de dados e informações, serve de base para a construção de orçamentos e cenários, no processo decisório das entidades.” (HOSS, 2008, p.19) Para entender como se comportam as riquezas de uma empresa, ter noção e controle sobre os recebimentos e as despesas e a partir disso saber quanto pode-se gastar. A contabilidade também tem o objetivo de atender às necessidades de informação patrimonial, à apuração de resultados e principalmente de auxiliar nas decisões empresariais. 2.1.3 Demonstrações Contábeis Nacionais Por meio das demonstrações contábeis são evidenciadas informações aos acionistas, administradores, governo e sociedade em geral sobre a situação patrimonial e financeira das empresas. Essas demonstrações para fins externos são elaboradas de acordo com a legislação pertinente, inclusive com observância aos Princípios Fundamentais de Contabilidade e Normas Brasileiras de Contabilidade específicas, afirma Hoss (2008). 2.1.4 Demonstração do Resultado do Exercício

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De acordo com as Normas Brasileiras de Contabilidade – NBC T 3 Item 3.3.1 – tem-se o seguinte conceito para a Demonstração do Resultado do Exercício (DRE). “A demonstração do resultado é a demonstração contábil destinada a evidenciar a composição do resultado formado num determinado período de operações da entidade.” A DRE, observado o princípio de competência, evidenciará a formação de vários níveis de resultados mediante confronto entre as receitas e os correspondentes custos e despesas. O objetivo fundamental dessa demonstração é apurar os resultados das operações das organizações. (Hoss, 2008), conforme exemplo hipotético demonstrado abaixo: 2.1.5 Demonstração de Lucros ou Prejuízos Acumulados Nesta demonstração o objetivo é evidenciar o resultado da empresa, o lucro ou prejuízo. Conforme item 3.4 da NBC T 3, tem-se: “A demonstração de lucros ou prejuízos acumulados é a demonstração contábil destinada a evidenciar, num determinado período, as mutações nos resultados acumulados da entidade.” A demonstração de lucros ou prejuízos acumulados precisa ser elaborada juntamente com o Balanço Patrimonial, e seu saldo final será conciliado com o valor apresentado em lucros acumulados no patrimônio líquido, conforme exemplo hipotético abaixo: 2.1.6 Balanço Patrimonial O balanço patrimonial é a demonstração contábil destinada a evidenciar, quantitativa e qualitativamente, numa determinada data, o patrimônio e o patrimônio líquido da entidade. Para as sociedades por ações, é obrigatória a publicação das demonstrações contábeis, de acordo com a Lei 6.404 de 15 de dezembro de 1976. O Balanço Patrimonial e a DRE são demonstrações de caráter obrigatório, sendo elaborados uma vez em cada período de

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12 meses ou em casos especiais: liquidações, transformações, incorporações, fusões e cisões. As demonstrações contábeis obrigatórias serão complementadas por notas explicativas para esclarecimento da situação patrimonial e do resultado do execício. Conforme Hoss (2008), as principais notas explicativas referem-se a: a) Principais critérios de avaliação dos elementos patrimoniais; b) Investimentos em outras sociedades; c) Aumento de valores de elementos do ativo referente a reavaliações; d) Ônus reais constituídos sobre elementos do ativo, garantias prestadas a terceiros e outras responsabilidades eventuais contingentes; e) Taxas de juros, data de vencimento e as garantias das obrigações a longo prazo; f) Número, espécie e classes das ações do capital social; g) Opções de compra de ações outorgadas e exercidas no exercício; h) Ajustes de exercícios anteriores; i) Eventos subsequentes à data de encerramento do exercício que tenham ou possam vir a ter feito relevante sobre a situação financeira ou os resultados futuros da companhia. Segue abaixo um exemplo hipotético de constituição de balanço em formas de colunas, estando o ativo do lado esquerdo e o passivo e patrimônio líquidodo lado direito: 2.1.7 Demonstração do Fluxo de Caixa A Demonstração do Fluxo de Caixa (DFC) é uma demonstração contábil semelhante à DOAR, embora tenham objetivos distintos. A DFC tem como principal objetivo evidenciar as variações das disponibilidades da empresa ocorridas no exercício. Assim a DFC demonstra as origens e aplicações de recursos do período que possam afetar o caixa (disponibilidades) da empresa, incluindo as variações ocorridas no ativo e passivo

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circulante (exceto nas próprias disponibilidades), o que não ocorre na DOAR. Existem dois modelos de DFC: indireto e direto. A DFC modelo indireto pode ser elaborada da mesma maneira em que era elaborada a Demonstração de Origens e Aplicações de Recursos – DOAR (demonstração substituída pela Demonstração do Fluxo de Caixa, conforme o artigo 176, IV da Lei 11.638/07) – sendo apenas acrescentado nas origens das operações as variações patrimoniais ocorridas no ativo circulante, exceto as disponibilidades. Ainda são analisadas as variações ocorridas nos grupos e contas patrimoniais seguindo as mesmas diretrizes da DOAR ou seja: Aumento do Ativo = Aplicação de Recursos Diminuição do Ativo = Origem de Recursos Aumento do Passivo = Origem de Recursos Diminuição do Passivo = Aplicação de Recursos As principais diferenças nas estruturas da DFC e da DOAR são os ajustes realizados nas operações, onde são incluídas as variações do ativo e passivo circulante, isolando-se somente as disponibilidades. Segundo Hoss (2008), o modelo é denominado indireto por presumir que o lucro ajustado é resultante das entradas e saídas das operações, não demonstrando quanto efetivamente entrou e saiu do ativo circulante e passivo circulante durante o período. “No Brasil as taxas de juros são historicamente as mais altas do mundo, o que consequentemente pode gerar um custo financeiro excessivo para as atividades empresariais. Desta forma, o correto entendimento das informações financeiras é de fundamental importância na gestão dos recursos financeiros.” (HOSS, 2008, p. 344) A má gestão financeira pode acarretar diversos problemas às entidades, tais como aumento das despesas financeiras, falta de liquidez, dependência de recursos de terceiros ou até mesmo a falência do negócio. O usuário deve apoiar-se em informações que sejam de fácil entendimento, informando-se de forma clara e objetiva sobre os fluxos financeiros, preferencialmente identificando faltas ou sobras financeiras antecipadamente, para que possa

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planejar adequadamente as formas mais eficientes de gerir o caixa da entidade. Já a DFC modelo direto é considerada mais completa e informativa do que a DFC indireta. Esta convicção de diversos autores dá-se pelo fato de que a DFC modelo direto informa quanto efetivamente entrou e saiu do caixa derivado das operações das entidades. A principal diferença entre a DFC direta e indireta também é constatada somente no grupo de origens das operações, onde as informações de entradas e saídas de recursos podem ser extraídas do Demonstrativo do Resultado do Exercício, devidamente ajustadas pelos saldos dos balanços patrimoniais. As três principais fontes de recursos das empresas são separadas em grupos onde se discriminam as entradas e saídas de recursos, indicando se o resultado foi positivo, nulo ou negativo das movimentações financeiras de cada grupo. Os cálculos que dão suporte às origens das operações são extraídos diretamente do demonstrativo do resultado do exercício, devidamente ajustadas pelos saldos correspondentes dos balanços patrimoniais, inicial e final. Hoss (2008). 2.1.8 Demonstrativo do Valor Adicionado Nas últimas décadas, ampliaram-se os usuários e a natureza das informações contábeis exigidas para as empresas. Além das informações consideradas tradicionais pela contabilidade, os usuários passaram a buscar informações de caráter social e ambiental. Vários foram os fatores que contribuíram para esta evolução, dentre eles a difusão dos conceitos de desenvolvimento sustentável, embasada em seus três pilares básicos: eficácia econômica, prudência ambiental e igualdade social. O Demonstrativo do Valor Adicionado (DVA) foi uma das primeiras demonstrações contábeis que surgiram no Brasil para evidenciar a geração e distribuição de riqueza aos colaboradores, governos, financiadores e acionistas, além do lucro ou prejuízo retido nas empresas. O objetivo principal do DVA é identificar a riqueza gerada pela entidade e sua respectiva distribuição para governo,

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funcionários, bancos e sócios. Tanto o DVA quanto o balanço social são cada vez mais utilizados pelas empresas brasileiras para divulgarem tais informações, além dos impactos sociais e ambientais. Essa demonstração passou a ser obrigatória para as companhias de capital aberto e a Comissão de Valores Imobiliários – CMV estimula e apóia sua divulgação pelas demais empresas. Outra função importante da DVA é o reconhecimento do valor agregado da empresa que vai contribuir para a formação do Produto Interno Bruto (PIB) – Hoss (2008). Segue o exemplo hipotético abaixo: 2.1.9 Contabilidade Internacional Nyiama (2008) afirma que a Contabilidade Internacional trata-se da denominação dada ao estudo das normas contábeis vigentes no Brasil, na União Européia, nos Estados Unidos e em outros países aplicáveis à Contabilidade Geral, tendo em vista a realização de operações internacionais e a captação de recursos financeiros, principalmente nos mercados de capitais norte-americanos e europeu. O IASB – Conselho das Normas Internacionais de Contabilidade, que substituiu o IASC – Fundação Comitê das Normas Internacionais de Contabilidade, vem tentando unificar essas normas para que as Demonstrações Contábeis e a escrituração contábil de modo que obedeçam a padrões uniformizados mundialmente. Sendo assim a chamada Contabilidade Internacional, tem por objetivo levar aos profissionais da contabilidade os conhecimentos necessários sobre as Normas de Contabilidade vigentes no mundo, de forma que possam adaptar as demonstrações contábeis às exigências de determinados países em que a empresa sob sua responsabilidade tenha interesses comerciais e financeiros. 2.1.10 Diferenças Internacionais na Elaboração e Apresentação

das Demonstrações Contábeis A contabilidade por ser uma ciência social aplicada, é fortemente influenciada pelo ambiente em que atua. De uma

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forma geral, os valores culturais, tradição histórica, estrutura política, econômica e social acabam refletindo nas práticas contábeis de uma nação, e, consequentemente, a evolução das mesmas pode estar vinculada ao nível de desenvolvimento econômico de cada país. A linguagem contábil não é homogênea em termos internacionais, pois cada país tem suas práticas contábeis próprias, significando dizer que o lucro de uma empresa brasileira não seria o mesmo se adotadas práticas contábeis de outros países, dificultando sua compreensão devido à falta de uniformidade. “A linguagem não é uniforme porque cada país tem critérios próprios e diferentes para reconhecer e mensurar cada transação. A busca por critérios consentâneos é o processo de harmonização contábil internacional, visando proporcionar uma compreensão dessa linguagem e a sua comparabilidade.” (NYIAMA, 2008, p. 15) 2.1.11 Classificação dos Sistemas Contábeis Classificar os sistemas contábeis para diversos pesquisadores não é uma tarefa fácil. O número de tentativas que tem sido feitas para classificar sistemas contábeis nacionais é o mesmo esforço que os biólogos tentam fazer para classificar fauna e flora - Nobes e Parker (1995). A afirmação de Nobes e Parker mostra a dificuldade e possivelmente o grau de arbitrariedade que envolvem tentativas para classificação de países ou grupos de países, segundo seus sistemas contábeis. De forma geral, a maioria dos autores destaca dois grandes grupos distintos: o modelo Anglo-Saxão e o modelo Continental. O modelo Anglo-Saxão é composto por países como Grã-Bretanha (incluindo Inglaterra, Países de Gales, Irlanda e Escócia), Austrália, Nova Zelândia, Estados Unidos da América, Canadá, Malásia, Índia, África do Sul e Cingapura, cujas características predominantes são: a) Existência de uma profissão contábil forte e atuante; b) Sólido mercado de capitais, como fonte de captação de

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recursos; c) Pouca interferência governamental na definição de práticas contábeis; d) As demonstrações financeiras buscam atender, em primeiro lugar, os investidores. O modelo Continental, por sua vez, é composto por países como França, Alemanha, Itália, Japão, Bélgica, Espanha, países comunistas (Europa Oriental), países da América do Sul, entre outros, e as características predominantes são as seguintes: a) Profissão contábil fraca e pouco atuante; b) Forte interferência governamental no estabelecimento de padrões contábeis, notadamente a de natureza fiscal; c) As demonstrações financeiras buscam atender primeiramente os credores e o Governo em vez de investidores; d) Importância de bancos e outras instituições financeiras (inclusive governamentais) em vez de recursos provenientes do mercado de capitais como fonte de captação pelas empresas. Entretanto, a classificação de um país como integrante de um dos dois modelos é discutível, como por exemplo o Japão, que, segundo alguns autores, segue filosoficamente o modelo anglo-saxão. Mas, a profissão contábil não é reconhecidamente forte e a preocupação das empresas está muito mais voltada para o credor ou o próprio Governo do que para o acionista. 2.1.12 Causas das Diferenças Internacionais Na literatura mundial, não há uma data específica que defina o início dos estudos sobre a Contabilidade Internacional, mas pode-se traçar uma linha divisória por volta de 1950-1960, após o término da Segunda Guerra Mundial e o restabelecimento do comércio internacional mundial – Nyiama (2008). Considerando que cada país tem seu conjunto de leis, regras, filosofias, procedimentos e objetivos, é razoável supor que os sistemas contábeis de cada país venham a ser impactados por tais medidas, dependendo do seu grau de influência sobre os outros.

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Walton (2003) apresenta interessante comparação para explicar as causas das diferenças internacionais, ao afirmar: “A compreensão das regras internacionais é muito difícil porque as regras tem diferentes significados: na Alemanha, tudo é proibido a menos que esteja explicitamente permitido na lei, enquanto que na Inglaterra tudo é permitido a menos que esteja explicitamente proibido na lei. No Irã, por outro lado, tudo é proibido, mesmo que esteja permitido na lei, enquanto na Itália tudo é permitido, especialmente se é proibido.” Os principais estudiosos sobre o assunto apresentam como causas das diferenças internacionais os seguintes aspectos, a saber: B. Elliot e J. Elliot (2002) destacam como razões para diferenças no financial reporting – relatórios financeiros - os seguintes aspectos: a) Características do sistema legal nacional; b) A maneira como as empresas obtêm seus recursos financeiros; c) O relacionamento entre o Fisco e a Contabilidade; d) A influência e o status da profissão contábil; e) Nível de desenvolvimento da teoria da contabilidade; f) Acidentes de história como a Segunda Guerra Mundial; g) Linguagem, a forma de comunicação, onde algumas línguas são comparativamente mais conhecidas que outras. Saudagaran (2004) preconiza que: “A contabilidade é produto de uma complexa interação de fatores sociais, econômicos e institucionais de um país”. Dez fatores são provavelmente importantes para modelar o desenvolvimento da contabilidade a) O tipo de mercado de capitais; b) O tipo de regimes ou critérios de estrutura e apresentação de demonstrações contábeis; c) O tipo de empresas; d) O tipo de sistema legal; e) O nível de exigência; f) O nível de inflação; g) Vinculação econômica e política com outros países; h) Status ou amadurecimento da profissão contábil;

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i) Existência de um arcabouço teórico e conceitual; j) Qualidade da educação contábil. Radebaugh e Gray (1993), por outro lado, destacam 14 diferentes razões que provocam diferenças internacionais: a) Estrutura das empresas; b) Fatores internacionais; c) Cultura; d) Regulamentação da estrutura contábil; e) Sistema legal; f) Inflação; g) Crescimento e desenvolvimento econômico; h) Ambiente social; i) Nível de atividade empresarial; j) Mercado financeiro e de capitais; k) Tributação; l) Profissão contábil; m) Educação e pesquisa na área contábil; n) Sistema político. Belkaoui (2000), citando Mueller, identificou 4 elementos responsáveis pela diferenciação, como segue: a) Nível de desenvolvimento econômico; b) Nível de complexidade da atividade empresarial; c) Sistema político vigente no país; d) Sistema legal vigente no país. Um dos autores que mais tem abordado o tema é Nobes. Em 1998, ele relacionou 17 razões que, em seu entender, provocam diferenças internacionais no financial reporting. São elas: a) Natureza da propriedade empresarial e formas de financiamento. b) Herança de ter sido colônia de outro país; c) Invasão; d) Tributação; e) Inflação; f) Amadurecimento e tamanho da profissão contábil; g) Nível da educação na área contábil; h) Estágio de desenvolvimento econômico; i) Estrutura e sistema legal; j) Cultura;

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k) História; l) Geografia; m) Linguagem; n) Influência da teoria contábil; o) Sistema político, clima social; p) Religião; q) Acidente de percurso. Deve-se registrar, entretanto, que o próprio Nobes acaba sugerindo dois aspectos que acabam influenciando os demais e se destacam em sua importância, quais sejam: a) Formas ou sistemas de financiamento por intermédio do qual as empresas buscam recursos – se possuem um mercado de capitais sólido e preços são estabelecidos num mercado competitivo ou se é um sistema de crédito, bancário ou governamental, este último é com forte presença governamental na condução da economia; b) Consequências ou heranças decorrentes de ter sido colonizado por outro país, como por exemplo a Inglaterra em relação à Austrália, Nova Zelândia, Cingapura, que retratam com fidelidade a força da influência de um país sobre o outro em questões culturais e comerciais. Comparando-se as razões das diferenças internacionais no financial reporting, identificadas pelos principais autores que abordaram o tema, há algumas semelhanças entre si. 2.1.13 Características, Natureza e Tipo de Sistema Legal Vigente É unanimidade entre os autores pesquisados, Elliot e Elliot (2002), Saudagaran (2004), Radebaugh e Gray (1993), Nobes (1998) e Belkaoui (2000), que as características e o tipo de sistema legal de um país tem destacada influência nas diferenças internacionais, principalmente no que diz respeito à sua classificação em duas correntes (commo-law, conhecida como não legalística e code-law, legalística). Essa estrutura legal é capaz de influenciar o comportamento e o direcionamento que um país pode assumir, inclusive quanto à profissão contábil e ao financial reporting, como segue: a) Sistema legal de um país baseado em common-law é predominante em países como Grã-Bretanha, Estados Unidos da América, Canadá, Austrália, Nova Zelândia, onde não se faz necessário detalhar as regras a serem aplicadas para

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todos os casos ou para todas as situações, e também focando o que deve ser evitado. Segundo Saudagaran (2004), o ambiente legal de um país em que vigora o common-law tende a ser propício para inovações em termos de financial reporting. Por outro lado Elliot e Elliot lembram que em países onde vigora a common-law, a criatividade para interpretar o “espírito da lei”, que pode ser evasivo, pode também resultar em artifícios para manipular ou aproveitar brechas legais; b) Sistema legal de um país baseado em code-law - também conhecido como Lei Romana, onde tudo está previsto na lei – predominante em países como Alemanha, França e Japão tem resultado em uma estrutura legal, onde é requerido um elevado grau de detalhamento das regras a serem cumpridas. Nesse sentido, há muito menos flexibilidade na preparação e apresentação das demonstrações contábeis. A ênfase maior é na proteção dos credores da companhia, diferentemente dos países onde predomina o common-law, que têm a preocupação maior voltada para os acionistas. (NYIAMA, 2008). 2.1.14 Forma de Captação de Recursos Utilizados pelas Empresas Dentre os autores pesquisados, Walton (2003), Elliot e Elliot (2002), Saudagaran (2004), Radebaugh e Gray (1993) e Nobes (1998), outro fator de destaque é a existência de um mercado de capitais sólido e atuante, onde as empresas podem buscar recursos ou, de outro lado, sua dependência junto ao mercado bancário ou fonte governamental, seus principais provedores de recursos. Walton (2003), ao mencionar países onde as aplicações no mercado de capitais não representam a forma predominante de obtenção de recursos pelas empresas, estava se referindo à Alemanha e Japão, onde os bancos, frequentemente, não são somente seus credores, mas também acionistas. Tais países, segundo Walton (2003) “Caracterizam-se por uma forte tradição de segredo profissional, o que tem levado a um nível relativamente fraco de exigências de evidenciação contábil. Além disso, o objetivo dominante não é a busca da transparência da real situação econômico-financeira da empresa, mas muito mais a apuração de lucro de forma conservadora, com tendência de

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subavaliar e supervalorizar passivos.” Elliot e Elliot (2002) também enfatizam que os bancos, na medida em que emprestam recursos, tem poder suficiente para obter todas as informações que eles quiserem, tornando menos relevantes os relatórios contábeis publicados. Saudagaran (2004), por sua vez, lembra que o nível de sofisticação do mercado de capitais impacta o financial reporting, porque contabilidade e finanças devem estar sempre de mãos dadas para estabelecer novas regras contábeis para novos instrumentos financeiros, os procedimentos para elaboração e apresentação de demonstrações contábeis devem ser constantemente atualizados para refletir a sua substância econômica. Por outro lado, em países onde o mercado de capitais e os instrumentos financeiros são relativamente simples, há menos necessidade de uma contabilidade voltada para acompanhar inovações financeiras. Segundo Nyiama (2008), o Brasil se enquadra nas duas categorias: aparentemente o Brasil não tem um mercado de capitais sólido e atuante que seja tão importante a ponto de se caracterizar como grande provedor de recursos para as empresas. Devido a exigência da CMV e, provavelmente, devido ao período inflacionário e ao período de recessão, muitas empresas tem deixado a categoria de companhias abertas. Ele ainda destaca que a Lei 6.404/76, com forte influência da escola norte-americana, incorporou critérios e procedimentos contábeis, objetivando a apuração do lucro para o acionista, não ao credor ou à autoridade governamental. Entretanto, o financial reporting do Brasil também não é exatamente vinculado atender bancos ou governo. Mesmo com interferências do Fisco ainda latentes, a criação do Livro de Apuração do Lucro Real (LALUR) foi uma conquista dos contadores. Os casos de leasing, por exemplo, seguem totalmente a legislação tributária no que diz respeito à contabilização e divulgação, mesmo com opinião contrária do Conselho Federal de Contabilidade.

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2.1.15 Vantagens e Desvantagens na Harmonização Contábil

Internacional

Alguns países, por diversas razões, não possuem um padrão próprio de sistemas contábeis, nem uma estrutura legal, muito menos organismos profissionais de classe suficientemente fortes que possam influir na elaboração de normas contábeis. Para países com tais características, torna-se mais fácil a implementação de normas contábeis internacionais que facilitem o processo de harmonização, porque os ajustes necessários serão significativamente menores e, portanto, nesses casos é uma vantagem, enfatiza Nyiama (2008). Saudagaran (2004) enfatiza que outra vantagem para as empresas, principalmente de países emergentes que estão à busca de recursos de investidores estrangeiros, é a possibilidade de apresentar suas demonstrações contábeis em linguagem inteligível (normas internacionais). Com razoável margem de segurança, tenderão a levar vantagem comparativamente às empresas que venham a apresentar relatórios contábeis em moeda de seu país de origem. Nyiama (2008) ainda considera algumas dificuldades de natureza prática e operacional que são extremamente importantes no processo de harmonização contábil internacional. Primeiramente, a busca de uma harmonização contábil em termos mundiais passa obrigatoriamente por uma discussão mais aprofundada. Uma questão atrelada ao currículo mínimo é o processo de credenciamento de contadores e auditores para atuação em outros países, facilitando assim um intercâmbio técnico-profissional. Porém, a legislação trabalhista de caráter protecionista e nacionalista também tem dificultado essa integração. Uma outra questão é de natureza mais complexa. Em muitos países emergentes e também em países desenvolvidos a contabilidade é fortemente atrelada à tributação, então, a única alternativa viável seria a mudança do sistema legal, o que não é muito razoável esperar que aconteça. Nobes e Parker (2002), também reforçam um obstáculo relacionado com a ausência de entidades ou organismos profissionais de contadores suficientemente fortes ou capazes

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de influenciar positivamente o processo de harmonização contábil internacional em diversos países. Isto significa que organismos como o IASB – International Accounting Standards Board – Colegiado de Padrões Contábeis Internacionais, que normalmente atuam por intermédio de organismos profissionais nacionais, podem não ter eficácia ou ter dificuldades na sua implementação. Além disso, tais autores destacam ainda a questão do nacionalismo exacerbado como um fator político ou uma barreira a ser ultrapassada, como, por exemplo, a aceitação de padrões contábeis adotados por outros países pode parecer uma perda de soberania ou autoridade. 2.1.16 Estrutura do Balanço Patrimonial segundo a Lei 6.404/76 x Lei 11.638/07 Pode-se verificar no quadro acima, que com a vigência da Lei 11.638/07, já ocorreram mudanças na estrutura do Balanço Patrimonial, como: • A criação do subgrupo “INTANGÍVEL” no Ativo Permanente, desdobrado do subgrupo Imobilizado; • Extinção da possibilidade de reavaliação dos bens do Ativo Imobilizado e, consequentemente a eliminação das Reservas de Reavaliação; • O uso do subgrupo Diferido fica restrito ao registro das despesas pré-operacionais e aos gastos de reestruturação; • Eliminação da conta “Lucros ou Prejuízos Acumulados” mantendo somente a conta “Prejuízos Acumulados”; • Criação no Patrimônio Líquido, do subgrupo “Ajustes de Avaliação Patrimonial”; • Como “Reservas de Capital” passam a ser considerados apenas os ganhos relacionados com o Capital Social da empresa; • Reserva de Lucros a Realizar – Inclusão, no cálculo da parcela realizada do lucro líquido do exercício, do resultado não realizado da contabilização de ativo e passivo pelo valor de mercado. Fonte: http://www.anefac.com.br

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3 CONCLUSÃO A convergência das normas contábeis brasileiras às normas contábeis internacionais acontece com a transição de uma contabilidade meramente fiscal, para uma contabilidade voltada ao mercado, onde gestores usarão para suas tomadas de decisões, fortalecendo assim a classe contábil. Desta forma, a contabilidade deixa de ser baseada pelo registro do valor original e domínio de normas tributárias e fiscais, para ser uma contabilidade voltada à essência econômica, demonstrando de fato o patrimônio da entidade. O tema em questão foi buscado junto à bibliografia epecializada, identificando os pontos determinantes para o conhecimento teórico. O meio mais viável para a realização desta pesquisa foi a busca por artigos científicos publicados na internet, devido à carência de obras especializadas no assunto, por ser um tema recente. Observando todas as comparações, o Balanço Patrimonial já apresentava algumas características das normas internacionais, em sua estética, mas acredito que algumas contas ainda terão ajustes. As regras de classificação contábil são de fato muito diferentes, em todos os países estudados, e sem dúvida deverão ser feitos cursos, treinamentos e desenvolvimento de processos em diversas entidades para que todos os profissionais compreendam exatamente o que são as normas internacionais de contabilidade, sua funcionalidade e seu desenvolvimento. As dúvidas ainda são comuns entre profissionais e acadêmicos da área contábil, porém, todos os interessados nesta área, terão que buscar este conhecimento de alguma forma, pois as normas já estão em vigor e tudo isto dependerá de profissionais gabaritados para atender, corrigir, completar e treinar a equipe para uma contabilidade que será justa e decisorial. Conclui-se então, que todos os objetivos esperados foram alcançados e que certamente as mudanças nas demonstrações contábeis serão viáveis, em razão da adequação do Brasil ao cenário contábil internacional.

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