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  • 7/24/2019 Tcc Completo Ins Costal Com Numerao

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIAFACULDADE DE COMUNICAO

    CURSO DE BACHARELADO EM COMUNICAOCOM HABILITAO EM JORNALISMO

    INS CAROLINE MAGALHES COSTAL

    JORNALISMO CIENTFICO: ANLISE DO CADERNOCINCIA&VIDADO JORNAL A TARDE

    Salvador

    2009

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    INS CAROLINE MAGALHES COSTAL

    JORNALISMO CIENTFICO: ANLISE DO CADERNOCINCIA&VIDADO JORNAL A TARDE

    Monografia apresentada ao Curso de graduao em Comunicao Socialcom habilitao em Jornalismo, Faculdade de Comunicao, UniversidadeFederal da Bahia, como requisito para a obteno do grau de Bacharel emJornalismo.

    Orientadora: Profa. Maria Lucineide Andrade Fontes

    Salvador2009

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    A

    Rita Magalhes, me querida, sempre meu exemplo.

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    AGRADECIMENTOS

    A minha me, Rita Magalhes, pelo apoio e cuidado redobrados nessa etapa final.

    A minha irm Vernica, pela pacincia e tolerncia na invaso do quarto nas madrugadas detrabalho.

    A Jane, amiga querida, pelo apoio, estmulo e milhares de revises.

    Aos amigos, em especial a panela Jorge, Ju e Jubs, pela torcida de sempre e companheirismo

    durante a produo do trabalho.

    A Malu Fontes, pelo acompanhamento e pelas correes durante a orientao, principalmenteas cosmticas.

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    RESUMO

    O exerccio do jornalismo cientfico tem sua prtica marcada por crticas coberturasuperficial da rea e a falta de especializao do jornalista. Atravs da anlise do cadernoCincia&Vidado jornal A Tarde foi verificado como esse cenrio se configura num produtoregional. O exame incluiu as edies de outubro de 2007 e fevereiro e maro de 2009 e acomparao do contedo publicado neste ltimo ms com as edies de outubro de 2007, msinaugural do caderno. Foram identificadas as estratgias utilizadas na apresentao docontedo do caderno, as temticas abordadas nos textos e foi traado um panorama da prticalocal de jornalismo cientfico.

    Palavras chave:Jornalismo cientfico. Divulgao cientfica. Jornal A Tarde.

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    SUMRIO

    1. INTRODUO 7

    1.1 DO JORNALISMO CIENTFICO 8

    2 JORNALISMO E CINCIA 12

    2.1 FORMAO PROFISSIONAL DO JORNALISTA 14

    2.2 CIENTISTAS E A IMPRENSA 19

    2.3 OS DESAFIOS DO JORNAL IMPRESSO NA SOCIEDADE MULTI-MIDITICA 21

    3. O CADERNO CINCIA&VIDA 23

    3.1 MAIS CINCIA NO GRUPO A TARDE 25

    3.2 SOBRE O CONTEDO DO CADERNO 26

    3.3 CADERNO CINCIA&VIDA: NMEROS E PARTICULARIDADES DOPERODO ANALISADO

    28

    3.4 ESTRATGIAS PARA MELHORAR A COMPREENSO DO LEITOR 31

    4. ESTUDO DE CASO 33

    4.1 CARACTERSTICAS APONTADAS NO CADERNO INAUGURAL 33

    4.1.2 DESTAQUE S IMAGENS 37

    4.2 COMPARAO ENTRE O PRIMEIRO MS E EDIES RECENTES DOCADERNO

    39

    4.2.1 SOBRE O CONTEDO 40

    5. CONSIDERAES FINAIS 42

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS 48

    ANEXO A 52

    ANEXO B 53

    ANEXO C 54ANEXO D 55

    ANEXO E 56

    ANEXO F 57

    ANEXO G 58

    ANEXO H 59

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    1. INTRODUO

    Numa poca na qual a cincia e a tecnologia so temas presentes na opinio pblica,

    cresce a procura por informaes nessa rea. O jornalismo cientfico se apresenta como local

    de discusso pblica dos questionamentos e polmicas oriundos dos avanos da cincia.

    Ainda assim, no panorama de crescente oferta de informao e investimento em cincia

    faltam veculos que atendam a demanda pblica de notcias da rea. Neste trabalho, ser

    examinado como este cenrio se configura como produto regional no jornal A Tarde. Sero

    examinadas as edies dos meses de outubro de 2007, ms de inaugurao do caderno, e

    fevereiro e maro de 2009.

    O caderno Cincia&Vida veiculado aos domingos no jornal A Tarde atualmente o

    nico caderno especializado em cincia dos jornais impressos dirios1 de Salvador. Ser

    examinado como a cobertura local na rea realizada e como o contedo cientfico

    apresentado ao leitor. Tal estudo justifica-se na medida em que o campo de jornalismo

    cientfico est novamente em crescimento aps a reduo de pginas ou o cancelamento devrios cadernos sobre a rea nos grandes jornais impressos do pas. O caderno, por ser o nico

    nessa rea, como j dito, ilustrativo para a construo de um panorama da divulgao

    cientfica no jornalismo local.

    A anlise de um caderno especfico de cincia permite uma avaliao mais profunda dos

    valores/notcia utilizados nas pautas sobre o assunto. Sendo um caderno dirigido ao pblico

    baiano, possvel analisar tambm a participao de produes cientficas e notcias locais no

    contedo publicado. Como nico caderno da rea nos trs jornais impressos dirios de

    Salvador, o Cincia&Vida ilustrativo do atual modo de fazer jornalismo cientfico na regio,

    numa poca de crescimento da produo cientfica nacional2. o objetivo desse trabalho

    verificar como e em qual cenrio de prtica de jornalismo cientfico local essa cobertura

    realizada.

    1A Tarde, Correio* e Tribuna da Bahia.2 O Brasil ocupa em o 13 lugar no ranking de artigos cientficos publicados em 2008, segundo estatsticarealizada pela empresa Thomson Reuters, que contabiliza anualmente os nmeros de trabalhos cientficospublicados em 200 pases.

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    Na anlise foram examinadas cinco caractersticas da publicao, trs delas utilizadas

    por Mnica Macedo e Wilson Bueno em artigo de anlise da divulgao da sade na imprensa

    brasileira3: o foco geogrfico da notcia, os temas abordados nos textos e as fontes utilizadas.

    As outras duas, o carter de atualidade dos fatos e a origem das matrias, foram acrescentadas

    com o objetivo de verificar se os textos do Cincia&Vidaforam produzidos pela equipe local

    do caderno ou por agncias de notcias e avaliar se esse contedo factual. Uma entrevista

    com o editor do caderno, Cludio Bandeira, tambm foi utilizada como suporte para a anlise.

    A entrevista incluiu questes sobre a criao do caderno, os temas abordados, os recursos

    utilizados para facilitar a compreenso do leitor e as expectativas durante o lanamento da

    publicao e atualmente, aps 20 meses de inaugurao do mesmo.

    1.1 DO JORNALISMO CIENTFICO

    Ainda que o jornalismo cientfico remonte ao surgimento da cincia moderna, as

    publicaes especializadas, ainda hoje de renome na rea, foram criadas no sculo XIX. A

    Scientific American (1845) e a Science (1880) nos Estados Unidos e a Nature (1869) na

    Inglaterra. No Brasil, a presena da cincia nos meios de comunicao de massa cresceu nosculo XX. Fatos como a II Guerra Mundial e a criao de rgos de gesto da cincia no

    pas, como o Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq), atual Conselho Nacional de

    Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico, tornaram o tema pauta freqente na imprensa.

    Foi a partir da dcada de 80, a reboque de uma tendncia internacional, que o

    jornalismo cientfico brasileiro se expandiu, a exemplo da criao de vrias revistas

    especializadas em cincia e tecnologia, como a Cincia Hoje, da Sociedade Brasileira para o

    Progresso da Cincia (SBPC); a Galileu, da Editora Globo; e a Superinteressante, da editora

    Abril. A Cincia Hoje direcionada comunidade acadmica e tem seu contedo escrito

    basicamente por pesquisadores, os jornalistas so somente colaboradores ou revisores, o

    contrrio do que ocorre nas duas outras revistas. O contedo mais tcnico da publicao da

    SBPC compartilhvel com cientistas, enquanto as outras publicaes citadas anteriormente,

    dirigidas sociedade em geral, reproduzem textos que, mesmo baseados no discurso

    3O artigo Divulgao de sade na imprensa brasileira: expectativas e aes concretas produzido por WilsonBueno, Mnica Macedo, Nicolau Maranini, Snia Camargo, Djalma Paz e Wilson Correa Fonseca analisa sete

    jornais de abrangncia nacional e regional.

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    cientfico, utilizam o discurso do cotidiano (Zamboni, 2001). Nesses casos, os conflitos entre

    jornalistas e cientistas no campo da linguagem so intensos, uma vez que os primeiros

    utilizam uma linguagem generalista, superficial e muitas vezes repleta de equvocos

    (Kuscinsky, 2002).

    A oferta de informao cientfica cresceu medida que os cientistas viram os meios de

    comunicao como ferramentas de valorizao e aproximao da cincia com a sociedade. Os

    avanos da cincia, e sua conseqente especializao, aumentam a necessidade de

    informaes cientficas para o pblico. Na divulgao cientfica, o jornalista atua como

    intermediador da relao entre o cientista e o pblico utilizando como base a linguagem

    hermtica e de difcil compreenso da cincia.

    Se a partir do incio do sculo XXI h um crescimento da demanda por informaes das

    reas de cincia e tecnologia, h tambm, por outro lado, uma cobertura superficial dos temas

    nos pases emergentes como o Brasil. Com exceo das revistas especializadas, a abordagem

    em veculos de temas variados se restringe publicao de notcias com nfase no

    imediatismo de resultados, noo oposta quela valorizada e efetivamente presente napesquisa cientfica.

    A cobertura no crtica e no contextualizada do campo cientfico refora o conceito

    deste como fonte miraculosa de soluo para vrios problemas da sociedade, incluindo aqui as

    curas instantneas, atravs da exaltao de cada novo mtodo ou avano cientfico como o

    definitivo fim de algumas enfermidades. A cincia concebida ainda como grande benemrita

    e, portanto, desvinculada de questes como lucro, mercado e lobby. Na rea de sade, a

    conseqncia dessa viso mais grave, uma vez que pode levar o pblico e o prprio

    jornalista a se tornarem refns de indstrias farmacuticas e a ignorar a influncia da esfera

    social nos problemas de sade, vide o pouco espao dados s pesquisas de longa durao na

    rea. A sade se destaca como tema mais freqente da cobertura cientfica, geralmente pela

    ligao mais fcil com o interesse pblico.

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    Segundo Lilian Zamboni (2001), medida que aumenta a esfera de alcance de pblico,

    a divulgao cientfica esbarra tambm no aumento da dificuldade de compreenso. Muitas

    vezes, a linguagem utilizada para a divulgao de informaes na comunidade cientfica no

    compartilhvel, portanto no compreendida quando usada na divulgao entre o pblico . A

    atividade jornalstica h muito j utiliza discursos de especialidade como material de trabalho,

    a exemplo das reas de economia e tecnologia. Nesses casos, o uso de informaes desses

    campos j to rotineiro que se tornou natural pensar em jornalistas especializados em cada

    um deles, e na presena desses temas diariamente nos meios de comunicao. No caso do

    jornalismo cientfico, alm do hermetismo do discurso da rea, a dificuldade na conquista de

    espao especfico para o assunto e a falta de uma cobertura ampla dificulta essa percepo.

    A divulgao cientfica necessria e inclusive obrigao de pesquisadores e centros de

    pesquisas no pas e tambm dos meios de comunicao. O jornalismo cientfico funciona

    como a ferramenta de divulgao que mais aproxima a produo cientfica da populao. O

    crescente investimento em cincia, principalmente pblico, ilustrativo do lugar de destaque

    que a mesma ocupa nas decises que vo afetar diretamente a vida da populao. Justamente

    por esse investimento ser em sua maioria pblico4, seus benefcios devem retornar para quem

    paga esse custo, a sociedade.

    Esse carter pblico faz da atividade de divulgar a cincia uma questo de democracia.

    Nesse ponto, a comunicao em sade deve ser vista como uma categoria singular da

    divulgao cientfica tendo em vista que a partilha de conhecimento sobre esse campo tem

    como resultado a melhora da qualidade de vida, alm dos ideais que cercam o tema, como

    preservao da vida e bem estar, estarem ao alcance de todos. Isto torna o desenvolvimentocientfico e as discusses em torno de suas conseqncias um tema de implicaes sociais,

    polticas e financeiras, o que incita o debate pblico e faz com que o mesmo componha a

    agenda dos meios de comunicao. A demanda de dados na rea de cincia funciona como

    estimulante maior para a presena de contedo sobre o assunto nos jornais, principalmente

    nos impressos, uma vez que o formato permite maior aprofundamento, alm da produo de

    contedo especfico com os cadernos.

    4Segundo dados do Ministrio de Cincia e Tecnologia, 52% do investimento em cincia e tecnologia no passo pblicos.

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    Contudo, se por um lado, o impresso capaz de abarcar as explicaes e mincias to

    necessrias para que o texto cientfico seja compreensvel para o pblico em geral, o formato

    disputa espao com vrios outros meios. Com as novas tecnologias, cresce os locais para

    publicizar a informao, principalmente na internet como os portais e blogs, ferramentas

    muito utilizadas por institutos de pesquisa para divulgar suas produes. Para disputar o

    leitor, o jornal impresso precisa oferecer a informao de forma atraente. Para isso, o

    jornalista precisa apresentar o contedo hermtico e duro do discurso cientfico em algo mais

    compreensvel para o leitor.

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    2. JORNALISMO E CINCIA

    O desenvolvimento cientfico, impulsionador de polmicas e debates na opiniopblica, tema cada vez mais presente nos jornais e demais meios de comunicao. Na

    publicao de notcias nos jornais impressos, on-line e televisivos h uma supremacia do

    agendamento de pesquisas cientficas de ponta, principalmente aquelas ligadas s reas de

    sade e de novas tecnologias. O jornalismo cientfico, uma atividade relacionada divulgao

    das reas cientfica e tecnolgica pelos meios de comunicao de massa, uma prtica em

    expanso, ainda que no Brasil a mesma seja marcada por crticas.

    O termo difuso cientfica engloba a disseminao e a divulgao cientficas, atividades

    com pblicos diferentes. A disseminao cientfica a atividade de difuso da cincia

    realizada intrapares, ou seja, a difuso de informaes de cincia e tecnologia entre

    especialista de uma mesma rea ou de reas semelhantes (ZAMBONI, 2001). Lilian Zamboni

    diferencia seu conceito da definio de Wilson Bueno ao incluir como disseminao apenas a

    difuso para especialistas de uma mesma rea. O conceito do pesquisador comporta, alm da

    divulgao intrapares, a difuso entre especialistas de reas de estudo diferentes denominadade disseminao extrapares. Para Zamboni este tipo de difuso est inclusa na divulgao

    cientfica:

    (...) vou empregar a expresso divulgao cientfica para todas as aesque digam respeito difuso de conhecimentos cientficos ou tcnicos,exceto aquelas que se do nos crculos estritos de rgidas especialidades,chamada por Bueno de disseminao intrapares (ZAMBONI, 2001, p. 48).

    Divulgao cientfica qualquer atividade de difuso da cincia para o grande pblico.

    O jornalismo cientfico ento uma modalidade de divulgao cientfica, a divulgao

    realizada pelos meios de comunicao de massa de acordo com o modus operandi

    jornalstico. Entre as temticas exploradas no jornalismo cientfico, a rea de sade tema

    predominante nas pautas jornalsticas. O destaque dado ao campo no jornalismo, uma

    realidade brasileira, acompanhado de problemas na cobertura. Como afirma Bueno,

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    Podemos definir a prtica brasileira de comunicao para a sade a partir deuma srie de parmetros, como a descontextualizao, a centralizao dofoco na doena, a viso preconceituosa das terapias e medicinas alternativas,a ideologia da tecnificao, a legitimao do discurso da competncia e aespetacularizao da cobertura na rea mdica, entre outros (BUENO).

    Inmeras novidades publicadas de forma desconexa e muitas vezes contraditrias.

    Tcnicas novas e revolucionrias e receitas de vida saudvel nunca definidas so os exemplos

    mais recorrentes. Essa uma realidade encontrada no s na cobertura da rea de sade, mas

    no jornalismo cientfico de forma geral. O foco na doena e a culpabilidade sempre atribuda

    aos microorganismos e gentica resultam no silncio em relao ao contexto de pssimas

    condies de saneamento e ausncia de polticas pblicas na rea de sade, entre outrassituaes que influem no estado de sade. A publicao de informaes que privilegiem a

    preveno, a educao para a sade e o debate sobre condies econmicas e scio-culturais

    para uma melhor qualidade de vida rara e exceo no jornalismo cientfico (BUENO).

    A idia de cincia como verdade fonte de uma viso tecnicista e da cobertura

    espetacularizada da rea de sade, com foco em curas miraculosas e na soluo dos problemas

    devido a procedimentos tecnolgicos e medicamentos inovadores. Os mdicos e especialistasaparecem como nica fonte credvel e legitima para falar da rea, o que exclui os saberes

    populares e a medicina alternativa. Neste panorama, relaes de autoridade verticais entre

    especialistas e meios de comunicao e mdicos e pacientes so apresentadas como realidade

    nica no quadro de uma rea que em sua totalidade inclui contextos complexos de polticas

    pblicas e biotica. Esta ltima o melhor exemplo de como a rea de sade deve ser

    debatida em toda a sociedade, no s por uma categoria.

    O jornalista como mediador da relao entre os cientistas e a sociedade precisa

    aproximar os temas cientficos da realidade do leitor. Ao escrever sobre cincia e tecnologia,

    o jornalista precisa apontar a relao que cada novo fato ou descoberta cientfica tem com a

    vida particular do leitor. O jornalista precisa utilizar o discurso cientfico como base para a

    construo do texto jornalstico, tornando-o mais compreensvel, sem deturpar o contedo.

    Para isso, o uso de analogias, exemplos, imagens e infogrficos comum.

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    Numa sociedade incrivelmente afetada pelos impactos da cincia e datecnologia e pelas decises polticas fundamentadas no conhecimento deespecialistas, a compreenso pblica dos fatos cientficos e tecnolgicosassume uma dimenso crucial, quer na esfera das decises comunitrias (...)quer na esfera das escolhas individuais, em que cada um desafiado aassumir sim ou no sobre, por exemplo: tomar anticoncepcionais, fazerreposio hormonal, fumar, evitar colesterol, praticar exerccios fsicos,tomar vitaminas (ZAMBONI, 2001, P. 143).

    O jornalismo cientfico desponta como uma prtica relacionada no s a funo do

    jornalismo de ser um canal entre o pblico e o mundo, mas tambm ao dever democrtico de

    prestar contas de uma atividade financiada prioritariamente por dinheiro pblico.

    2.1 FORMAO PROFISSIONAL DO JORNALISTA

    Com uma demanda crescente por informaes e um mercado que volta a se abrir para a

    atividade, a prtica de jornalismo cientfico fomenta a gerao de profissionais especializados

    na rea, uma necessidade no atendida nas universidades. Entre as instituies de ensino

    brasileiras, a Escola de Comunicaes e Artes da Universidade de So Paulo (ECA/USP) o

    centro que possui tradio na disponibilizao de disciplinas que contemplam o jornalismo

    cientfico. Alm da USP, nas universidades federais de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul

    os currculos dos cursos de jornalismo possuem disciplinas optativas e eletivas nas reas

    cientfica, ambiental e de sade h pelo menos dez anos.

    Na ps-graduao, a USP e a Universidade Metodista de So Paulo (Umesp) so

    responsveis pela formao dos primeiros mestres e doutores no campo de comunicaocientfica. Alm destas, a Fundao Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Laboratrio de Estudos

    Avanados em Jornalismo da Universidade Estadual de Campinas (Labjor/Unicamp)

    dispem, respectivamente, de cursos de especializao, mestrado e ps-graduao lato sensu

    no campo de divulgao cientfica. No Labjor/Unicamp, alm dos cursos, so produzidas

    vrias publicaes, como as revistas ComCinciae Cincia e Culturae produtos televisivos

    anteriormente veiculados no Canal Futura da Rede Globo, contedos criados em parceria

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    com bolsistas do programa MdiaCincia5da Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de

    So Paulo (Fapesp).

    Em Salvador, a Faculdade 2 de Julho ter no segundo semestre de 2009 a primeira

    turma do curso de ps-graduao em Jornalismo Cientfico. Alm desta, o Instituto de Sade

    Coletiva6da Universidade Federal da Bahia (ISC/UFBA) j ofereceu curso de especializao

    em Comunicao e Sade, com vagas tambm para jornalistas. A oferta do curso no fixa na

    unidade, depende da firmao de parcerias com outras instituies. Na Faculdade de

    Comunicao da UFBA, o Programa Multidisciplinar de Ps-Graduao em Cultura e

    Sociedade dispe de grupo de pesquisa em Cultura e Cincia.

    Nos cursos de graduao em Jornalismo, entre as quatro faculdades pesquisadas, a

    Faculdade de Comunicao da UFBA, a Faculdade 2 de Julho, a Faculdade Social da Bahia e

    o Centro Universitrio Jorge Amado, as mais antigas a oferecer o curso em Salvador,

    nenhuma tem em sua matriz curricular disciplinas direcionadas ao jornalismo cientfico. Alm

    destas, na Faculdade Integrada da Bahia (FIB), o jornal laboratrio produzido por estudantes

    do 5 semestre de jornalismo, o Infocincia, prioriza pautas da rea cientfica desde suacriao, em 2000.

    Os centros de ensino de educao superior no acompanham a demanda de formao de

    profissionais habilitados diante do contexto de multiplicao de informaes cientficas

    disponveis. Quando o espao para a prtica do jornalismo cientfico disponibilizado, essa

    cobertura, realizada por profissionais sem experincia com os temas cientficos, superficial e

    permeada por uma srie de equvocos.

    Entre os motivos para as falhas do jornalismo sobre cincia e tecnologia, a falta de

    informao prvia dos jornalistas sobre os temas e a tenso entre esses profissionais e as

    fontes despontam como os principais. O desconhecimento dos estudantes de jornalismo sobre

    sade pblica, as implicaes de decises e investimentos governamentais em cincia e at

    informaes sobre o funcionamento do prprio corpo humano geralmente permanece nos anos5Programa de incentivo ao jornalismo cientfico atravs do pagamento de bolsas de pesquisa lanado em 1999.6A unidade referncia como centro de pesquisa e de formao avanada na rea de sade.

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    de graduao e acompanham os futuros profissionais responsveis pela produo de jornais,

    revistas e demais publicaes que suprem a demanda diria de informaes por parte do

    pblico. O resultado um conjunto de poucas matrias e reportagens sobre notcias cientficas

    baseadas apenas na novidade do fato e que ignoram todo o contexto social e financeiro que

    cerca a realidade dos centros de pesquisa de cincia.

    Crticas falta de contextualizao do texto jornalstico so comuns e antigas, mas

    como dito anteriormente, a lacuna ainda mais grave na cobertura de cincia e tecnologia,

    especialmente na rea de sade, devido relao direta que os fatos na rea tm com a

    qualidade de vida do leitor. Relaes como o lanamento de novos tratamentos e remdios

    versus o custo benefcio para o sistema pblico de sade, os servios e produtos bancados

    pelo governo e os critrios para que um remdio ou tcnica de tratamento faa parte da lista

    de procedimentos subsidiados pelo estado, as novas descobertas sobre clulas-tronco e DNA e

    todo o contexto e o tempo que envolve o processo que torna essas novidades a esperana de

    cura para vrias doenas, entre outros casos.

    Os riscos de uma viso superficial na cobertura do campo da sade e sobretudo dapesquisa em sade so apontados por Bueno, quando afirma que,

    Sem esta pluralidade, a tendncia que a comunicao e o jornalismofocados na sade continuem priorizando a doena, contemplando-a demaneira reducionista como resultado do mau funcionamento de rgos e daao de microorganismos patognicos (BUENO, 2007).

    A reproduo, muitas vezes integral, do discurso das fontes cientficas como nica

    garantia de credibilidade no texto jornalstico cientfico outra conseqncia da no

    explorao das contradies que envolvem a cincia, assim como ocorre em outros campos. A

    produo no jornalismo cientfico de forma exclusivamente didtica aponta para a viso do

    pblico como submisso e necessitado de tutela. Os cientistas aparecem tradicionalmente como

    nica fonte com autoridade de fala, a quem no so feitos questionamentos. Para Fabola de

    Oliveira7, autora do livroJornalismo Cientfico, a prtica um mau hbito.

    7 Doutora em jornalismo cientfico pela Escola de Comunicaes e Artes da Universidade de So Paulo edocente e coordenadora do curso de jornalismo da Universidade do Vale do Paraba (Univap).

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    Um vcio recorrente no jornalismo cientfico o oficialismo excessivo defontes de informaes, principalmente das entidades governamentais depesquisa, que predomina no cenrio cientfico brasileiro. Dirigentes deentidades de pesquisa, no nos esqueamos, tm cargos pblicos deconfiana, e portanto sua opinio condicionada ao posto que ocupam(OLIVEIRA, 2002, p. 49).

    Pode-se dizer que h um desacerto entre o tempo do jornalista e o do cientista. Enquanto

    o primeiro lida com prazos apertados, o segundo sabe bem o significado do termo longa

    durao. O pouco contato de jornalistas com o ambiente cientfico dificulta que esse

    profissional entenda que, para a cincia, a depender do caso, 10 anos pouco tempo. As

    primeiras descobertas, mesmo que ainda falte um longo perodo para que possam ser postas

    em prtica de forma eficaz, so muito importantes e merecem ateno, ao mesmo tempo em

    que devem ser divulgadas de forma cuidadosa e at contida porque no podem ser

    confundidas com curas milagrosas.

    No caso dos remdios, por exemplo, o surgimento de uma nova medicao voltada para

    o tratamento de uma doena ainda sem cura provoca, muitas vezes, a divulgao do

    medicamento como a soluo mgica para a enfermidade, ainda que haja um longo processo apercorrer para que o mesmo se torne de fato comercializvel. Pesquisas de longa durao,

    procedimentos que ainda no podem ser realizados em seres humanos e medicamentos ainda

    sem o custo de produo eficiente para que possam ser confeccionados em larga escala so

    situaes comuns na cincia, ignoradas ou distorcidas na cobertura jornalstica.

    Para o jornalista, desconhecedor desse meio, notcia o fato fora do comum, o

    extraordinrio, a novidade que precisa ser divulgada para o pblico, o acontecimento

    importante para a conexo do pblico com o que est ocorrendo no campo cientfico. A

    noticiabilidade de um acontecimento a aptido que o mesmo tem para ser uma notcia

    (WOLF, 2003). Os critrios de noticiabilidade compem a srie de regras ou guias do fazer

    jornalismo. Relativos ao contedo, produto, pblico ou concorrncia, os valores/notcia tm

    um carter dinmico. Como afirma Mauro Wolf:

    [os valores/notcia] mudam no tempo e, embora revelem uma fortehomogeneidade no interior da cultura profissional para l de divisesideolgicas, de gerao, de meio de expresso, etc -, no permanecem

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    sempre os mesmos. Isso manifesta-se claramente na especializao temticaque, num determinado perodo histrico, os meios de comunicaoconferem a si prprios (WOLF, 2003, p.175).

    Isso permite que novos temas, antes inexistentes para os meios de comunicao, se

    tornem noticiveis, como a rea da cultura e dos espetculos que na maioria dos jornais possui

    em espao especfico de publicao, mas antes no constitua notcia como ocorre atualmente.

    Pode-se dizer que o desenvolvimento cientfico noticivel desde os primrdios dos jornais

    impressos, mas com sua popularizao para alm dos centros de pesquisa e incluso em

    outros campos tradicionalmente presentes no jornalismo, como a poltica e a economia, a

    cincia um tema cuja cobertura necessita cada vez mais de um espao fixo nos meios de

    comunicao.

    No jornalismo cientfico, os princpios para a prtica da atividade jornalstica, como a

    busca pela objetividade, a explorao do contraditrio, entre outros, valem da mesma forma

    que em qualquer outra modalidade de jornalismo. O que a boa formao do jornalista na rea,

    iniciada com disciplinas na graduao e ampliada com especializaes e ps-graduaes em

    um posterior aprofundamento sobre o tema, permite a aplicao adequada desses critrios cobertura da cincia. No se est falando aqui de uma tarefa dirigida e possvel de ser

    realizada apenas pelos profissionais que desejam direcionar seu trabalho exclusivamente para

    o jornalismo cientfico, mas de jornalistas de forma geral, que trabalham com fatos marcantes

    e importantes diariamente, dentre os quais a cincia e a tecnologia se destacam como tema

    freqente e essencial no modelo de sociedade contempornea.

    Esse modelo inclui a busca por tecnologias que prolonguem a vida, que tornem

    habitveis locais despovoados, que expliquem a origem humana e que forneam dados que

    evitem desastres e revertam erros provocados pela ao humana na natureza. Em uma

    sociedade apegada a valores tradicionais, com crenas restritivas ao avano cientfico e, ao

    mesmo tempo, em busca de tcnicas antienvelhecimento, de cura para doenas ainda

    incurveis e de finais definitivos para as mazelas humanas, a divulgao da cincia uma

    demanda incessante.

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    2.2 CIENTISTAS E A IMPRENSA

    Se os cursos de jornalismo no atendem a demanda de formao cientfica cobrada doprofissional, as grades curriculares cientficas, por sua vez, tambm no contemplam a

    divulgao da cincia para a imprensa. A relao entre os jornalistas e as fontes cientficas

    marcada por desentendimentos e incompreenses de natureza semntica, inerentes s

    gramticas e lxicos de cada campo. Enquanto a formao deficiente do jornalista dificulta o

    entendimento do discurso cientfico, o desconhecimento das rotinas produtivas e da natureza

    do texto jornalstico por parte do pesquisador impede que a imprensa muitas vezes transmita a

    informao de forma compreensvel.

    Os cientistas no esto preparados para se relacionarem com os jornalistas, profissionais

    importantes na divulgao cientfica para o pblico em geral. Usar o discurso hermtico da

    cincia da sua forma original em uma entrevista cedida a um jornalista praticamente garantir

    que o contedo ser publicado com equvocos. Por no saberem como se comunicar com a

    imprensa e vice-versa, perdem a oportunidade de difundir o conhecimento cientfico pelo

    canal mais acessvel sociedade, os meios de comunicao.

    Como afirma Fabola Oliveira,

    Enquanto o cientista produz trabalhos dirigidos para um grupo de leitores,especfico, restrito e especializado, o jornalista almeja atingir o grandepblico. A redao do texto cientfico segue normas rgidas de padronizao

    e normatizao universais, alm de ser mais rida, desprovida de atrativos Aescrita jornalstica deve ser coloquial, amena, atraente, objetiva e simples(OLIVEIRA, 2002, p. 43).

    No jornalismo, a simplificao da linguagem cientfica na construo do texto

    necessria e no implica desqualificao do texto jornalstico cientfico. nessa

    intermediao que as analogias, comparaes e exemplos so instrumentos importantes para a

    compreensibilidade do texto. Para o cientista, habituado a escrever para seus pares, o uso

    desses recursos pode parecer depreciador do contedo cientfico. Os pesquisadores, principais

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    fontes no jornalismo de cincia, no costumam escrever para o pblico no especializado em

    sua rea e, portanto, no compreendem prticas rotineiras no jornalismo.

    Os jornalistas, por sua vez, com formao cada vez mais generalista, no conseguem

    entender o discurso do cientista e acabam por, em sua tentativa de tornar o texto mais simples

    e compreensvel para o leitor, distorcer o contedo cientfico. Na rea de sade o conflito

    recorrente, como aponta Bernardo Kuscinsky:

    Para os trabalhadores da rea de sade, os mdicos, enfermeiros e outros, alinguagem precisa e rigorosa constitutiva do modo de pensar; no

    apenas uma maneira de falar, ela reflete uma maneira de pensar a sade(KUSCINSKY, 2002, p. 97).

    O especialista, a autoridade mxima no assunto, entre outros termos que designam as

    fontes especializadas em falar de determinado tema, muitas vezes provocam deslumbramento

    e intimidao no jornalista. Quando o assunto cincia, a situao resulta no medo de fazer

    perguntas e de admitir o desconhecimento da rea por parte do jornalista. O profissional ento

    copia tudo que dito pela fonte sem sequer entender o que est escrevendo, o que torna a

    compreenso do pblico ao ler o texto quase impossvel.

    Os conseqentes equvocos oriundos dessa relao cheia de desencontros entre o

    jornalista e a fonte cientfica provocam desconfiana entre as duas partes. Consequncia disso

    so os pedidos freqentes de cientistas para lerem o texto, resultado da entrevista cedida por

    ele, antes que o contedo seja publicado, prtica rejeitada no meio jornalstico e atitude vista

    com maus olhos. Para o estabelecimento de uma boa relao entre esses dois profissionais

    necessrio que o pesquisador esteja atento dimenso social de seu trabalho e do da imprensa

    tambm.

    O desafio para a difuso da cincia atravs do jornalismo a compreenso de jornalistas

    e cientistas do papel de cada um na divulgao da cincia para o pblico. O prximo passo ,

    para o jornalista, descobrir formas de atrair o leitor para a cobertura cientfica em um produto

    impresso que concorre com outras publicaes similares, com ndices altos de analfabetismofuncional e com o poder multi-miditico da internet.

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    2.3 OS DESAFIOS DO JORNAL IMPRESSO NA SOCIEDADE MULTI-MIDITICA

    O mais antigo jornal baiano ainda atuante, o jornal A Tarde, tambm o jornal dirio demaior circulao no estado. O impresso, com tiragem mdia de 40 mil exemplares de segunda

    sexta-feira e 90 mil aos domingos, faz parte de um grupo de comunicao que inclui agncia

    de notcias, portal, rdio, grfica, alm do recente servio de assinatura por torpedo. Este

    ltimo possibilita que o assinante receba o contedo de sua preferncia, so 15 editorias para

    escolha, atravs de mensagens no celular de acordo com o canal assinado. A multiplicao de

    servios oferecidos pelo grupo A Tarde acompanha uma corrente j iniciada em vrios grupos

    de comunicao do pas.

    Com o aumento do nmero de novas tecnologias na rea de telecomunicaes, muitos

    representantes do setor privado de comunicao brasileiro tm investido na convergncia da

    atuao de suas empresas, principalmente no campo da internet e da televiso. Nesse

    panorama, o jornal impresso precisa competir com ferramentas cada vez mais multi-

    miditicas. Imagens, animaes e recursos grficos so alguns dos instrumentos utilizados

    com freqncia na rea da cincia na apresentao de matrias e reportagens.

    Alm da concorrncia com outros formatos, cada vez mais populares, o jornal baiano

    precisa competir com uma realidade da populao do estado. Dados da Sntese de Indicadores

    Sociais 2006 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE) revelam que 35,6% da

    populao baiana com quinze anos ou mais analfabeta funcional. Esse dado indica que

    nmero de pessoas com menos de quatro anos de estudo na Bahia, segundo definio da

    Organizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a Cultura (Unesco), quase o

    ndice de toda a regio Nordeste. Um contexto, que unido capacidade tecnolgica dos

    demais meios de comunicao, torna a sustentao do impresso mais difcil.

    A circulao dos jornais impressos brasileiros, contrariando profecias e a realidade de

    vrios pases desenvolvidos, registrou crescimento.8 Junto com os jornais de outros pases

    emergentes, a exemplo da ndia e da China, os jornais do Brasil cresceram em circulao. As8A circulao aumentou 8,1% no primeiro semestre de 2008, segundo o IVC Instituto Verificador deCirculao.

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    expectativas contrrias a isso tm origem no pessimismo geral que previu o desaparecimento

    dos jornais impressos com a popularizao da internet. No pas, o acesso internet tambm

    tem crescido. Segundo pesquisa do Ibope de janeiro de 2009, h mais de 24 milhes de

    internautas no Brasil. Estes dados confirmam que a difuso em larga escala da internet no

    implica o fim dos jornais impressos, ao menos no Brasil, e que h provavelmente uma

    interao entre os dois veculos no pas.

    Para disputar o espao obtido entre os leitores com a internet, muitos jornais impressos

    apostaram em mudanas grficas, com mais destaque para imagens, uso de cores e diminuio

    do tamanho dos textos. O jornalismo de convergncia entre o impresso e a internet um dos

    provveis motivos para a boa circulao de jornais no pas. O maior concorrente do jornal A

    Tarde, o jornal Correio*9(antigo Correio da Bahia), foi reformulado, grfica e editorialmente,

    em 2008. As mudanas incluram alterao no formato, de standard para berliner10; no

    projeto grfico, com mais destaques para as imagens e no uso das cores; e mudanas nas

    editorias, com reduo do espao disponibilizado para a cobertura poltica e maior destaque

    para as reas de entretenimento, esportes e cultura.

    O jornal A Tarde sofreu sua ltima mudana grfica em 2003 sob o comando de

    Ricardo Noblat11. De l pra c, o grupo expandiu suas atividades e intensificou a produo de

    material para o site, A Tarde On Line, reformulado em setembro de 2008. O impresso no

    sofreu grandes alteraes. Nele h ao menos um caderno especial a cada dia da semana. O

    Cincia&Vida, caderno especializado em cincia e tecnologia, comeou a ser publicado aos

    domingos, com a primeira edio em 07 de outubro de 2007. O caderno, o nico investimento

    local em jornalismo cientfico do tipo nos jornais dirios de Salvador, ilustrativo da

    cobertura de cincia e tecnologia no estado.

    9Jornal pertencente ao grupo Rede Bahia da famlia do falecido senador baiano Antnio Carlos Magalhes. Na

    reformulao da publicao em 2008, o nome Correio da Bahiafoi reduzido para Correio*.10Formato de jornal com 470x315mm, pouco maior que o tablide, mas menor que o standard.11Jornalista brasileiro que j trabalhou nas redaes dos jornais Correio Braziliense, Jornal do Brasil e O Globo,entre outros. Chefiou a redao do jornal A Tarde em 2003 durante 11 meses e desde 2004 blogueiro.

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    3. O CADERNO CINCIA&VIDA

    O caderno de cincia do jornal A Tarde foi lanado em outubro de 2007 e at junho de2009 possui 91 edies, todas publicadas aos domingos. A publicao editada pelo jornalista

    Cludio Bandeira a nica experincia de cobertura cientfica em editoria especfica nos

    jornais dirios de Salvador. Contudo, essa no a primeira vez que a cincia recebe espao

    reservado no A Tarde. Em agosto de 2005, o jornal iniciou a publicao da seo

    Observatrio, s quintas-feiras, destinada divulgao cientfica. O espao tinha por objetivo

    expandir os assuntos abordados numa outra seo tambm publicada na poca, s teras-

    feiras, dedicada ao meio ambiente.

    A seo semanal durou um ano e sete meses e pode-se dizer que foi precursora do

    Cincia&Vida. Durante seu perodo de vigncia, oObservatrio foi o local de publicao das

    pautas cientficas do jornal. Na seo, alm de reportagens, entrevistas e artigos, havia uma

    seo de notas curtas, Conta Gotas, e um espao para a resposta de dvidas dos leitores,

    Pergunte ao Observatrio. Aps a reforma do jornal A Tarde em 2006, este espao foi

    extinguido e a seo, inicialmente publicada com duas pginas, foi reduzida para uma pgina.

    A seo Observatrio parou de ser produzida sem maiores explicaes em maro de 2007.

    Sete meses depois o caderno Cincia&Vidafoi lanado.

    Uma demanda de pblico. Esse foi o motivo da criao do caderno, segundo seu

    editor, Cludio Bandeira. A deciso do jornal de cancelar a seo Observatrioe investir no

    caderno Cincia&Vidapartiu do interesse dos leitores, identificado atravs de pesquisas, emassuntos como qualidade de vida e meio ambiente. O interesse do brasileiro por cincia e

    tecnologia j havia sido comprovado por uma pesquisa12 do Ministrio de Cincia e

    Tecnologia (MCT) divulgada em abril de 2007. Segundo os dados publicados, 89% dos

    entrevistados afirmaram que a sociedade deve ser ouvida nas questes relativas cincia e

    81% julgam serem capazes de entender assuntos relacionados rea cientfica se esses forem

    bem explicados.

    12 A pesquisa, baseada em estudos anteriores j realizados em outros pases, foi realizada com mais de 2000brasileiros maiores de 16 anos.

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    Bandeira afirma que a expectativa do jornal em relao ao caderno que o mesmo seja

    um espao que atenda a procura do pblico por informaes da rea cientfica. esse tambm

    o ponto principal nas reunies de pauta para a produo do mesmo. De acordo com o editor,

    as sugestes de assuntos feitas pelos leitores para o caderno Cincia&Vida so geralmente

    seguidas pela equipe de produo. a resposta do pblico que orienta o contedo que ser

    publicado no caderno. Bandeira ressalta ainda que o retorno dos leitores crescente, o que,

    para ele, a garantia do sucesso da publicao. O envio de opinies, observaes e sugestes

    do pblico motivo de entusiasmo para a equipe chefiada por ele.

    A equipe fixa do caderno pequena: alm do editor, que tambm escreve, Cludio

    Bandeira, h mais uma reprter fixa, Fabiana Mascarenhas. Ambos j trabalhavam na seo

    Observatrio e participaram de todo o processo de transformao da mesma em caderno.

    Alm deles, h tambm a jornalista Marilena Neco, reprter responsvel pelas pautas

    relacionadas rea de sade no Caderno 1 do jornal, que geralmente tambm produz textos

    para o caderno Cincia&Vida.

    Como principal motivo de criao do caderno e da produo de pautas, o retorno dos

    leitores era a maior expectativa do jornal e de seu editor com o lanamento do caderno. Esta,

    segundo o prprio, est sendo atendida. a participao de outro pblico que ainda difcil.

    A relao com os plos de pesquisa locais definida por Bandeira como complicada. Tem

    melhorado com o tempo e o editor demonstra otimismo quando questionado sobre o assunto,

    mas revela que, de forma geral, as universidades pblicas e privadas no oferecem os meios

    para a divulgao das pesquisas realizadas nelas.

    Alm do retorno do leitor, a manuteno de sees fixas e a participao do ambiente

    intra-acadmico tambm so expectativas apontadas pelo editor, estas ainda no alcanadas.

    A consolidao do caderno como espao de divulgao cientfica seria um dos fatores para a

    maior abertura do meio, principalmente acadmico, aos jornalistas. A difuso da importncia

    da cultura cientfica e do papel dos meios de comunicao nesse processo, como principal

    difusor da cincia para o pblico , outro elemento de facilitao da relao cientistas versus

    jornalistas.

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    Como aponta Lilian Zamboni,

    ...a percepo de que a popularizao da cincia poderia carrear certo tipode ganho e beneficio para a manuteno e o incremento da prpria atividadede pesquisa despertou a comunidade cientfica para exercer, ela mesma, aprtica da divulgao, a despeito de vigorar um certo descrdito no meioacadmico em relao a publicao, por cientistas, de material devulgarizao cientfica, vista por muitos de seus membros como umenviesamento da atividade cientfica (ZAMBONI, 2001, p. 144).

    Bandeira afirma que a falta de disponibilizao de dados sobre as pesquisas produzidas

    pela comunidade cientfica resulta na necessidade dos jornalistas buscarem notcias e fontes

    sem qualquer quadro de informaes como base. Aps 20 meses de lanamento do caderno,

    ele aponta que o contato com as universidades melhorou, principalmente graas

    popularizao das assessorias de comunicao, tanto nas instituies quanto em estudos e

    grupos acadmicos especficos.

    3.1 MAIS CINCIA NO GRUPO A TARDE

    Na busca da interao entre equipe de produo e pblico leitor, o espaoInteratividade

    uma ferramenta importante. Na seo so publicadas enquetes sempre relacionadas aos

    assuntos abordados nos textos do caderno. O espao comeou a ser publicado aps as

    mudanas no portal A Tarde On Line, em setembro de 2008 e no tem periodicidade ou

    espao reservado na diagramao do caderno. Segundo Bandeira, a participao do pblico

    imensa. O editor afirma que o aproveitamento da ferramenta possibilita que a equipe do

    caderno conhea a opinio do pblico e no seja a nica proponente de contedo para a

    publicao.

    A convergncia do contedo do jornal com a internet intensifica o fluxo de informaes

    oriundas do pblico e permite uma interao da equipe do caderno com o leitor que no seria

    possvel no impresso. Alm das enquetes, o blog Cincia e Vida outra ferramenta produzida

    por Fabiana Mascarenhas e Cludio Bandeira. O blog, tambm lanado aps a reforma do

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    portal e com contedo muitas vezes baseado nos assuntos publicados no caderno, amplia o

    espao da equipe para a publicao dos textos relacionados rea cientfica.

    Alm do blog, na emissora de rdioA Tarde FM tambm h espao para os assuntos do

    caderno Cincia&Vida.Assim como ocorre com outras editorias ou cadernos do jornal, cujos

    reprteres ou estagirios fazem comentrios sobre suas reas de trabalho na rdio, Fabiana

    Mascarenhas aborda os temas da rea cientfica. O contedo dos comentrios da reprter

    sempre postado no blog Cincia e Vida. Estes comentrios e novidades na rea da cincia

    so os principais contedos disponibilizados no blog pela equipe do caderno.

    3.2 SOBRE O CONTEDO DO CADERNO

    Para examinar a publicao foram analisadas as edies do caderno Cincia&Vida dos

    meses de fevereiro e maro de 2009. Os nove exemplares do caderno, publicados nos dias 1,

    8, 15 e 22 de fevereiro e 1, 8, 15, 22 e 29 de maro de 2009, so representativos das demais

    edies uma vez que foram produzidos pela equipe original do caderno e representam a

    publicao tanto em um perodo marcado por festas populares e intensificao de aes e

    pautas voltadas para o cuidado com a sade, caso de ms de fevereiro, perodo no qual ocorre

    o carnaval, quanto em uma poca regular, sem grandes acontecimentos, caso do ms de

    maro.

    Em fevereiro e maro de 2009, todos os nove exemplares selecionados possuem quatro

    pginas, formato padro do caderno desde dezembro de 2008. Apenas na ltima edio,publicada no dia 29 de maro, o caderno foi publicado com oito pginas. A mudana, segundo

    Cludio Bandeira, ocorreu por uma necessidade de adequar o espao editorial e o publicitrio

    na publicao. Nesse dia, vrios textos do caderno estavam relacionados aos acontecimentos

    em torno do Ano Internacional da Astronomia decretado pela Unesco.

    De um total de 51 matrias encontradas nas edies analisadas, 28 foram produzidas por

    profissionais do jornal A Tarde, 18 so oriundas de agncias de notcias e cinco tiveram o

    contedo escrito por agncias e modificado pela equipe do caderno. Dentre os textos

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    assinados por agncias de notcias, 12 foram produzidos por agncias nacionais. No exame

    das edies citadas anteriormente foi verificado que a equipe do caderno, formada por

    Cludio Bandeira e Fabiana Mascarenhas, divide a autoria dos textos da publicao com a

    reprter Marilena Neco e Cssia Candra e com os estagirios Joo Ea e Juracy dos Anjos.

    Segundo Bandeira, estes ltimos no so preferencialmente selecionados para a produo de

    pautas do caderno Cincia&Vida, ainda que tenham sido encontrados vrios textos deles na

    publicao.

    Criar e manter sees fixas no caderno tambm uma das ambies de Bandeira e

    Mascarenhas, mas at o momento isso no foi possvel. Um espao que poderia ser

    caracterizado como tal, a coluna Pergunte ao Pediatra, na qual o mdico especializado em

    pediatria Augusto Sampaio escrevia textos, foi cancelada a partir da edio do dia 22 de

    fevereiro. Os textos eram escritos em tom de conselhos bem-humorados para os pais, com uso

    da 1 pessoa. No contedo, as crenas e mitos populares em relao ao cuidado da sade de

    crianas eram refutados com ironia pelo mdico. Segundo Cludio Bandeira, a coluna foi

    interrompida por problemas pessoais do mdico. O contedo no foi mais publicado a partir

    do dia 1 de maro sem qualquer explicao ao pblico leitor.

    Como substituio coluna Pergunte ao Pediatra, artigos de especialistas comearam a

    ser publicados no caderno. O primeiro deles juntamente com a coluna, na ltima edio em

    que esta foi publicada. Para a obteno dos textos dos artigos, geralmente a equipe do caderno

    convida especialistas e sugere o tema. Nos dois meses analisados seis artigos foram

    publicados, um em cada edio do caderno Cincia&Vida, com exceo do dia 08 de maro

    de 2009. Foi verificado que cada artigo foi escrito por um profissional, e que apenas um deles baiano. Os demais especialistas que publicaram artigos no caderno no perodo analisado so,

    em sua maioria, do estado de So Paulo. No contedo dos artigos, as temticas exploradas so

    diversificadas, somente no foi encontrado texto na rea de cincias exatas. Nenhum deles

    discute assuntos com o foco local, todos abordam grandes temas de forma generalista.

    Apenas uma entrevista foi publicada em todas as edies analisadas. Esta foi utilizada

    complemento a uma matria publicada na mesma pgina, ambas na rea de sade. A

    entrevista foi mais um contedo que se uniu a srie de materiais focados na temtica infeco

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    urinria publicados no dia 01 de fevereiro. O mdico, por atuar no Rio de Janeiro, respondeu

    as perguntas por e-mail.

    A seo Interatividade foi publicada em cinco exemplares13, com perguntas ou

    respostas relacionadas aos temas abordados no caderno. A enquete fica disponvel na pgina

    principal do site A Tarde On-line, com o ttulo do caderno ou editoria ao qual se refere. Foi

    verificado que no houve compromisso em publicar o resultado de todas as enquetes

    propostas no caderno, nas edies examinadas apenas duas delas tiveram suas respostas

    publicadas em edies posteriores.

    3.3 CADERNO CINCIA&VIDA: NMEROS E PARTICULARIDADES DO

    PERODO ANALISADO

    No mapeamento da publicao nos meses de fevereiro e maro de 2009, cinco grupos

    de caractersticas foram examinados: a origem das matrias, ou seja, se os textos foram

    produzidos pela equipe local ou por agncias; as temticas e as reas da cincia abordadas nos

    textos; as declaraes de fontes utilizadas; o foco da abordagem nas matrias, se os fatos

    apresentados pertenciam ao mbito local, nacional ou internacional; e o carter de atualidade

    de cada texto. Identificar essas caractersticas permite que seja construdo um quadro analtico

    do contedo produzido para o caderno Cincia&Vida e com ele ter um diagnstico da

    cobertura cientfica realizada na publicao.

    A anlise levou em conta todo o contedo do caderno, inclusive entrevistas, artigos etextos dos espaos Pergunte ao Pediatra e Interatividade, com exceo de notas curtas,

    eventualmente presentes na publicao. A diviso do contedo publicado no caderno por

    diferentes reas cientificas revelou que a grande maioria est relacionada as cincias da sade

    (ver tabela 3.1). A maior disparidade verificada nas matrias locais, a distribuio nas reas

    cientficas mais equilibrada nos demais itens.

    13Dias 15 e 22 de fevereiro e dias 1, 15 e 22 de maro de 2009.

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    Tabela 3.3 Diviso de contedo por reas cientficas

    Cincias Agncia Agncia +Editoria

    Artigo Entrevista Pergunteao Pediatra

    Locais Total

    Biolgicas 6 2 1 0 0 5 14Exatas 0 1 0 0 0 0 1Humanas 4 1 1 0 0 2 8Sociais 0 0 1 0 0 1 2da Terra 3 3 1 0 0 2 9da Sade 5 2 2 1 3 16 29Outros 0 0 0 0 0 1 1

    Nessas grandes reas cientficas, alguns temas especficos ganharam destaque. Caso da

    teoria evolucionista e do meio ambiente nas cincias biolgicas. O primeiro destes temas

    justificado pela comemorao do bicentenrio de Darwin14, que motivou uma edio quase

    que totalmente dedicada ao assunto (edio do dia 15 de fevereiro de 2009). O segundo

    abordado em vrios pequenos textos sobre fatos pontuais. Nas cincias humanas, a

    arqueologia e a psicologia foram os assuntos mais explorados, enquanto nas cincias da terra,

    a astronomia foi o grande tpico discutido. Da mesma forma que o bicentenrio de Darwin, a

    comemorao do Ano Internacional da Astronomia resultou numa edio com vrias matrias

    sobre o assunto, no dia 29 de maro.

    O mesmo no acontece com as cincias sociais e as cincias exatas. O campo das

    cincias sociais foi abordado em apenas dois textos, um artigo e uma matria produzida pela

    equipe local. As cincias exatas, por sua vez, tambm no foram muito exploradas no

    caderno, h somente um texto produzido pela editoria juntamente com o contedo de agncias

    de notcias. Alm do pouco espao disponibilizado para a discusso dessas reas da cincia, ouso do contedo de agncias exemplar do panorama de no produo de pautas locais

    relacionadas s duas reas.

    No extremo oposto, o contedo sobre sade absoluta maioria no conjunto de textos

    analisados. A maior facilidade de relacionar a rea de sade ao interesse pblico e de,

    consequentemente, publicar notcias desta j foi apontada anteriormente. As temticas

    14Charles Darwin, bilogo famoso por propor a teoria da seleo natural para explicar a evoluo humana.

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    nutrio, hipertenso e cirurgia plstica foram exploradas em ao menos trs textos cada uma,

    todos produzidos pela equipe local.

    Textos com o foco internacional foram maioria entre queles produzidos por agncias

    de notcias, um resultado j esperado, h apenas dois destes com contedo local. Por sua vez,

    a maior parte das matrias com abordagem nacional foi produzida pela equipe do caderno

    Cincia&Vida. No exame geral de todos os textos publicados no caderno no perodo

    analisado, produzidos por agncias, editoria em conjunto com agncias e pela equipe local, as

    notcias com foco internacional estiveram mais presentes do que quelas com acontecimentos

    de mbito nacional ou regional.

    Para a verificao das declaraes de fontes utilizadas nos textos, foram examinadas

    apenas as matrias assinadas pela equipe local. No contedo, 20 matrias continham apenas

    declaraes de especialistas, e em metade delas apenas uma fonte era utilizada. Trs textos

    no apresentaram declaraes e cinco apresentaram falas tanto de fontes especializadas

    quanto de no especializadas. Em muitos casos, as fontes utilizadas na matria de capa do

    caderno eram as mesmas apresentadas no texto da segunda pgina da publicao. Estes textosem geral apresentavam assuntos que continuavam a discusso da matria de abertura do

    caderno. Ainda que mais da metade do contedo produzido pela equipe do jornal A Tarde

    apresente uma abordagem local, a maior parte das fontes especialistas utilizadas nas

    declaraes publicadas nos textos atua em outros estados e representante de associaes ou

    sociedades das reas debatidas.

    Sobre o uso de fontes na cobertura cientfica, Fabola Oliveira ressalta,

    Um vcio recorrente no jornalismo cientfico o oficialismo excessivo dasfontes de informao, principalmente das entidades governamentais depesquisa, que predominam no cenrio cientfico brasileiro. Dirigentes deentidades de pesquisa, no nos esqueamos, tm cargos pblicos deconfiana, e portanto sua opinio condicionada ao posto que ocupam(OLIVEIRA, 2002, p. 49).

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    A predominncia de uma s fonte nos textos jornalsticos contraria uma das diretrizes

    da prtica da atividade, a explorao do contraditrio. No jornalismo cientfico, muitas vezes,

    o uso de fontes ligadas a rgos governamentais uma ao que no pode ser evitada. Em

    muitos casos, no h outro lado para ouvir. Ainda assim, fontes oriundas de organizaes no-

    governamentais e de associaes cientficas cujo contato atualmente muito mais fcil com a

    internet so possibilidades que precisam ser exploradas pelo jornalista (OLIVEIRA, 2002).

    O carter de atualidade dos textos foi examinado a partir da verificao da notcia

    discutida na matria ou usada como gancho para sua publicao. Nos 18 textos criados por

    agncias, apenas dois no possuam nenhum fato novo que fundamentasse sua publicao.

    Entre os artigos, trs se referiam a acontecimentos recentes e todos os textos assinados pela

    editoria com contedo de agncias tambm estavam relacionados a notcias atuais. Nos textos

    escritos pela equipe do caderno, a maior parte utilizava uma notcia atual como gancho para a

    matria. Em geral, foram acontecimentos de grande repercusso, como o caso da brasileira

    Paola Oliveira15 em um texto sobre lpus e a morte da modelo Mariana Bridi16 em uma

    matria sobre infeco urinria. Entre queles que no apresentavam fatos novos, assuntos

    ligados rea de nutrio e qualidade de vida foram os destaques. Cludio Bandeira apontou

    que estes temas, sobre meios acessveis de se manter saudvel, utilizando uma boa

    alimentao, so geralmente pedidos pelos leitores.

    3.4 ESTRATGIAS PARA MELHORAR A COMPREENSO DO LEITOR

    Recursos grficos e textuais so utilizados de forma recorrente no caderno

    Cincia&Vida para ilustrar as matrias e facilitar a compreenso dos temas cientficos pelo

    leitor. Os recursos mais presentes nas edies analisadas so os caracteres de destaque, como

    aspas, asteriscos e nmeros, itens que ressaltam informaes importantes sobre o tema

    abordado no texto. Tabelas e notas em destaque sobre estatsticas so outros elementos

    trabalhados em boa parte do contedo publicado no caderno.

    15 Advogada brasileira que mora na Sua e afirmou ter sofrido um ataque neonazista no pas. Aps examespericiais da polcia, a brasileira foi acusada de simular o ataque. A famlia afirmou que ela sofre de lpus, doenaque pode causar distrbios psicolgicos.16A morte da modelo foi causada por septicemia originada pela evoluo de uma infeco urinria.

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    Os textos publicados no caderno Cincia&Vida quase sempre so acompanhados de

    imagens, salvo raras excees. Muitas delas so oriundas de agncias ou so fotografias de

    divulgao. Entre as matrias com o foco local, fotografias de entrevistados so as imagens

    mais recorrentes. Segundo Bandeira, quando possvel, so utilizadas fotos diferenciadas

    para ilustrar o tema, como cenas de exerccios, prticas de trabalhadores da rea de sade ou

    montagens vrios elementos, a exemplo de alimentos quando o tema da matria nutrio.

    Geralmente utilizadas para se referir a assuntos mais abstratos, as ilustraes no so

    muito utilizadas no caderno. Apenas uma foi encontrada nas edies examinadas. O tema da

    reportagem, uma pesquisa na rea de psicologia sobre a conexo entre o corpo e a mente na

    qual foram utilizadas cenas erticas, foi representado pelo desenho de uma mulher sentada em

    uma poltrona que pegava fogo e olhava para uma televiso tambm em chamas, numa

    indicao das imagens veiculadas (ANEXO A). O tpico destacado na reportagem se referia

    justamente a aparente desconexo entre corpo e mente femininos na resposta a estmulos

    sexuais. A imagem faz uma aluso engraada ao tema abordado, ainda que a autora do texto

    no utilize o humor em sua construo. A matria ocupa toda a pgina e junto s imagens,

    declaraes de trs especialistas so destacadas por aspas.

    O uso de infogrficos foi outro recurso encontrado nas edies selecionadas para a

    anlise. Um deles, sobre doena renal, utilizou boa parte do espao da primeira pgina do

    caderno e indicava os sintomas e fatores de risco para o problema de sade (ANEXO B). Em

    outro, um mapa com a trajetria da expedio de Darwin, cada local visitado pelo pesquisador

    estava marcado e era acompanhado de breves explicaes fornecidas pela fonte especialista

    utilizada no texto, numeradas de acordo com a ordem do roteiro seguido pelo bilogo ingls(ANEXO C).

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    4. ESTUDO DE CASO

    Lanado em outubro de 2007, o caderno Cincia&Vida sofreu transformaes em seuformato ao longo dos 20 meses de publicao. O terceiro caderno dominical do jornal A

    Tarde, ordem na qual a publicao disposta na organizao das edies do jornal nesse dia

    da semana, foi reduzido de oito para quatro pginas em dezembro de 2008. A alterao

    resultou em modificaes no contedo publicado no caderno, como a reduo do nmero de

    entrevistas e ilustraes material geralmente presente nas primeiras edies da publicao.

    Para verificar quais alteraes ocorreram no caderno Cincia&Vida ao longo do seu

    perodo de publicao, o mesmo possui 91 edies, foi realizada uma comparao entre as

    edies publicadas no ms de inaugurao do caderno, outubro de 2007, e as edies

    publicadas em um ms atual, maro de 2009. O objetivo constatar quais as mudanas

    sofridas pela publicao dominial, principalmente tendo em vista a reduo do nmero de

    pginas. No total, 11 edies, quatro delas publicadas em 2007 (dias 07, 14, 21 e 28 de

    outubro) e cinco publicadas em 2009 (dias 1, 08. 15, 22 e 29 de maro), foram examinadas.

    4.1 CARACTERSTICAS APONTADAS NO CADERNO INAUGURAL

    Entre o cancelamento da seo Observatrioe o lanamento do caderno Cincia&Vida,

    sete meses transcorreram sem qualquer informao sobre as mudanas no contedo disponvel

    no jornal A Tarde para o leitor. No dia 6 de outubro de 2007, vspera da estria do caderno,

    um texto, acompanhado de chamada na 1 pgina do jornal (ANEXO D), chamava a atenopara as novidades do dia seguinte que incluam o novo caderno de domingo e o novo formato

    de um caderno j publicado antes. Assinado por Cludio Bandeira, o editor do caderno

    Cincia&Vida, e Sara Barnuevo, atual editora do caderno de Empregos&Negcios, o texto

    expunha os novos canais de informaes sobre a rea cientfica e sobre o mercado de

    trabalho, esta ltima com caderno reformulado. Ainda na sexta-feira, dia 05 de outubro, um

    texto disponvel no siteA Tarde On-linee assinado por Bandeira tambm falava sobre a nova

    publicao.

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    Cincia ganha espao pioneiro em A Tarde. Esse foi o ttulo do texto de apresentao

    do novo caderno publicado j em sua primeira edio, no dia 07 de outubro de 2007. O texto

    fala sobre a expectativa de tornar a rea de cincia atrativa para o leitor, o foco da produo

    de contedo sobre assuntos que promovam hbitos saudveis que contribuam para a

    conservao ou melhora da sade do indivduo, assim como temas relacionados ao espao e

    as pseudocincias, e destaca o carter educativo da difuso cientfica como forma de superar a

    excluso social. De fato, h um desequilbrio entre os progressos cientfico e tecnolgico e a

    educao cientfica do cidado.

    Marcelo Sabbatini aponta que:

    O chamado "analfabetismo cientfico" constitui um obstculo importantepara a compreenso pblica da cincia e da tecnologia e o seu conceitoantagnico, o de alfabetizao cientfica, foi utilizado como base para omodelo tradicional de comunicao pblica da cincia e da tecnologia. Estemodelo tradicional, tambm chamado de "modelo linear" ou "modelo dedficit" supe que a os distintos formatos da divulgao cientfica devempreencher uma lacuna de conhecimento, informando e ensinando aos no-especialistas, e que este novo entendimento levaria a uma maior valorizao

    da cincia e da tecnologia (SABBATINI, 2004).

    Nesta primeira edio, grandes matrias que se complementam sobre o mesmo tema,

    uma entrevista de pgina inteira com o Pr-reitor de ps-graduao e pesquisa da UFBA, e

    imagens e tabelas que ocupam quase metade das pginas so os pontos de maior destaque no

    caderno Cincia&Vida. Foi percebido que mesmo essa sendo uma das ambies declaradas

    pelo editor, Cludio Bandeira, a publicao no possui muitas sees. Uma delas o

    Observatrio, a seo j publicada anteriormente em A Tarde e cancelada em maro de 2007,que retorna ao contedo do jornal como um dos elementos do novo caderno. Com cinco notas

    curtas e uma imagem central sempre referente a primeira nota, geralmente relacionada rea

    de entretenimento, a seo foi cancelada alguns meses depois.

    Uma segunda seo intitulada Tese da Semana apresenta um estudo premiado do

    Instituto de Sade Coletiva da UFBA. O espao que deveria ser fixo um dos elementos

    destacados no texto de divulgao do novo caderno publicado no siteA Tarde On-line. Ainda

    assim, aps aparecer nas trs primeiras edies do caderno, no fez parte do contedo da

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    publicao no dia 28 de outubro, o ltimo domingo do ms inaugural analisado, nem das

    edies mais recentes tambm examinadas.

    Essas caractersticas se repetem nas demais edies deste primeiro ms. Na anlise dos

    textos, entre os 29 publicados no ms inaugural do caderno, ressaltando novamente que foram

    excludas da anlise as notas curtas, 24 so produzidos por profissionais do jornal A Tarde.

    Apenas dois so assinados por agncias, ambas internacionais, e um texto foi publicado com

    contedo de uma agncia de notcia modificado pela editoria. Dois outros textos encontrados

    nas edies do ms de outubro de 2007 so artigos assinados por docentes, nenhum deles com

    atuao na Bahia. Os textos no so identificados como artigos, so apenas assinados pelos

    pesquisadores, estes identificados em notas de rodap. O ttulo Artigos uma informao

    utilizada quando estes textos so publicados nas edies mais recentes do caderno.

    Alm de Cludio Bandeira, Fabiana Mascarenhas e dos dois pesquisadores autores dos

    artigos, dois outros profissionais do A Tarde assinam um texto cada nas edies analisadas,

    Zezo Castro e Fbio Bittencourt. O segundo assina um texto curto sobre uma pesquisa local,

    mas o primeiro o autor de uma reportagem que ocupa duas pginas centrais da edio do dia14 de outubro. O texto discute fenmenos ufolgicos na Chapada Diamantina17. Em relao

    ao foco de abordagem, entre os 27 textos produzidos por agncias e pela equipe do caderno

    Cincia&Vida, nove possuem uma abordagem local, enquanto 12 focam assuntos de

    abrangncia nacional e cinco abordam temas com foco internacional.

    Dentre as grandes reas cientficas, a rea de sade novamente foi a mais discutida. O

    tema foi abordado em 12 textos. Na anlise, foi observado que nas edies dos dias 07, 21 e

    28 de outubro de 2007, cada temtica discutida na rea de sade foi desdobrada em trs textos

    publicados nas mesmas edies. As trs temticas relacionadas a alimentos e qualidade de

    vida; sade da mulher e problemas no fgado foram matria de capa e assunto de mais dois

    textos, todos na mesma edio. Nestes casos, o destaque dado aos temas fez com que os

    exemplares do caderno se assemelhassem a um especial sobre o assunto abordado. Por sua

    vez, as outras trs temticas da rea de sade, assistncia gestante, problemas de circulao

    e cirurgia facial, foram abordadas em apenas um texto, estes quase sempre de pgina inteira.

    17Regio de serras e cachoeiras localizada na regio da Bahia.

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    Todas as demais grandes reas da cincia, biolgicas, exatas, humanas, sociais e da

    terra, foram exploradas em ao menos dois textos publicados no perodo examinado cada uma,

    com discusso de temticas variadas. Nesse 1 primeiro ms, foi verificado tambm o

    predomnio de contedo produzido pela equipe do caderno Cincia&Vida, e no por agncias

    de notcias. Em relao s declaraes utilizadas, o uso exclusivo de falas de fontes oficiais e

    especialistas foi predominante nos textos. Em sua maioria, as declaraes de mais de um

    entrevistado dessa categoria faziam parte do contedo de cada matria.

    Trs textos utilizaram depoimentos de no especialistas. Em um deles, publicado naedio do dia 14 de outubro, a matria Alternativa investir nas cotas, diz pesquisador

    assinada por Fabiana Mascarenhas apresenta um espao intitulado Fala povo. Com uma

    pergunta sobre o tema discutido no texto e dados como o nmero de pessoas ouvidas sobre o

    assunto, o espao parece inicialmente se tratar de uma nova seo. H destaque para dois

    depoimentos tidos como principais e as fotografias dos respectivos entrevistados. Mesmo se

    assemelhando a uma seo fixa, o espao de consulta da opinio popular no aparece

    novamente nas demais edies analisadas.

    A maior parte dos textos do ms inaugural do Cincia&Vida no estavam relacionados

    a acontecimentos atuais. Apenas dez entre os 29 textos produzidos por agncias de notcias e

    pela equipe local, alm dos artigos, se referiam a notcias recentes. Nenhum fato de

    repercusso da poca foi usado como gancho para a explorao de um tema. A pequena

    quantidade de textos com um carter de atualidade em relao ao total pode ser justificada

    pelo desdobramento de temticas frias em duas ou mais matrias ocorrido em trs edies

    do ms de outubro. Estas continham contedo semelhante a um especial sobre o tema

    abordado, conforme j apontado anteriormente.

    Em duas edies de outubro de 20007 dentre as quatro analisadas foram publicadas

    entrevistas, uma em cada edio e ambas ocupando uma pgina inteira. A primeira, com

    Herbert Conceio, ento pr-reitor de pesquisa e ps-graduao da UFBA, discute a

    produo de pesquisa na universidade. A segunda, com o pneumologista Guilhardo Ribeiro,

    aborda o crescimento do tabagismo entre os adolescentes de baixa renda. Ambas apresentam a

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    mesma diagramao de impacto, foto grande do entrevistado disposta prximo ao centro da

    pgina, declaraes fortes dos mesmos como ttulo e pequena biografia dos pesquisadores

    destacada com asterisco. As entrevistas foram publicadas nas duas primeiras edies do

    Cincia&Vida, dias 07 e 14 de outubro.

    4.1.2 DESTAQUE S IMAGENS

    Os recursos grficos j apontados na anlise do caderno nos meses de maro e fevereiro

    de 2009 tambm esto presentes no primeiro ms de publicao. Asteriscos e aspas, os

    caracteres de destaque, so utilizados em quase todas as matrias. Mas o uso das imagens o

    que mais chama a ateno na diagramao no ms inaugural do caderno Cincia&Vida.

    Tabelas, fotografias e ilustraes ganham destaque em todas as pginas da publicao.

    Exceto raras excees, as matrias do caderno ocupam o espao de pelo menos metade

    de uma pgina. Ainda assim, mesmo fotografias mais simples como a de entrevistados se

    sobressaem em meio aos textos. Outros recursos de ilustrao, como tabelas com imagens e

    textos, so geralmente dispostos no centro das pginas e utilizados como complemento do

    contedo das matrias. No material relacionado rea de sade, o contedo dos textos e de

    tabelas e notas construdo em forma de dicas ou conselhos, que visam preveno de

    doenas ou a exposio de aes para a manuteno da qualidade de vida.

    Pode se afirmar que tabelas e quadros informativos e fotografias de fontes utilizadas nas

    matrias so o padro do que mostrado nas imagens utilizadas para ilustrar os textos docaderno. Um caso de exceo particularmente sensacionalista foi a imagem da menina

    Eduarda Botari (ANEXO E), que com dois anos realizou cirurgia para a remoo de lbio

    leporino. A matria Cirurgia facial avana com uso de biomaterial, assinada por Cludio

    Bandeira, foi publicada na terceira edio do caderno Cincia&Vida. Ocupando boa parte do

    espao destinado ao tema, duas fotos da criana so dispostas para mostrar o antes e o depois

    da cirurgia. Na primeira delas, a criana est com o rosto deformado.

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    Ainda que as fotografias exemplifiquem bem o bom resultado da cirurgia, a imagem da

    garotinha ainda beb antes do procedimento cirrgico bastante chocante. A fotografia de

    divulgao, segundo informao na legenda, tem tamanho mdio e foco no rosto da criana. A

    imagem explora o tema de forma sensacionalista, ainda que o texto no possua contedo

    nesse sentido. Na procura por elementos visuais de destaque, esse caso, o nico do tipo

    encontrado nas anlises, incluindo a de edies recentes, exemplar da extrapolao no uso

    de materiais que ilustrem o contedo textual e chamem a ateno do pblico.

    Outra forma de usar imagens para atrair a ateno do leitor utilizar personagens

    conhecidos. Na ltima matria da primeira edio do caderno Cincia&Vida, um texto sobre

    varizes ilustrado por uma foto da atriz americana Marilyn Monroe (ANEXO F), que marcou

    poca ao exibir as pernas em produes cinematogrficas. A imagem da atriz sorrindo numa

    pose j clssica no cinema ocupa quase todo o comprimento da pgina. Fazer uso de imagens

    de personalidades da indstria do entretenimento uma estratgia de conquista do leitor

    tambm adotada em outros espaos. Na seo Observatrio, as notas curtas so

    acompanhadas de uma imagem de destaque. Em duas edies, personagens conhecidos como

    o Homem Aranha e o Gordo e o Magro18(Anexo G), ilustram a rea central da seo. Estas

    imagens so utilizadas em textos curtos, construdos com linguagem leve, mas com dados e

    fontes de notcias srias sobre a rea cientfica.

    Alm das fotografias, ilustraes e desenhos so outros recursos utilizados nas quatro

    edies analisadas. Mantendo a mesma apresentao dos demais elementos visuais, posio

    de destaque na diagramao da pgina e tamanho entre mdio e grande, essas imagens

    ilustraram temas na rea de sade, com retrataes do corpo humano, de clulas, da estruturado DNA, entre outras. Em apenas uma das edies, para ilustrar uma matria sobre a viso

    masculina do estado da mulher durante a TPM, o desenho utilizou elementos humorsticos.

    Na ilustrao, um rosto feminino expressando raiva e estresse continha, dentro da boca aberta,

    a imagem de um homem correndo apavorado (ANEXO H).

    18Respectivamente imagens dos personagens em filmes recentes e no seriado exibido nos anos 70 e 80.

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    4.2 COMPARAO ENTRE O PRIMEIRO MS E EDIES RECENTES DO

    CADERNO

    Tempo, nimo e muitas expectativas. frente do projeto de criao do novo caderno,

    um investimento do jornal em uma publicao mais ampla para a cobertura da rea cientfica,

    a mesma equipe responsvel pelo contedo da seo Observatrio.A oferta inicial de muito

    mais espao, oito pginas, resultou na extenso da fronteira dos assuntos de cincias

    discutidos e no uso recorrente de recursos grficos com o intuito de atrair o leitor.

    A expectativa em torno da primeira edio e o tempo de preparao desta, foram sete

    meses entre o encerramento da seo Observatrioe a estria do caderno, podem ser vistos

    como elementos incentivadores nicos para a equipe de produo do caderno Cincia&Vida e

    para o prprio jornal. A anlise comparativa entre as edies publicadas no primeiro ms e

    outras mais recentes permite avaliar o quanto desse entusiasmo e do investimento, da empresa

    e dos responsveis pelo caderno, permanece. A comparao entre os cadernos publicados em

    outubro de 2007 e maro de 2009 deve levar em conta a reduo de tamanho da publicao,

    de oito para quatro pginas. A deciso, segundo Cludio Bandeira, foi totalmente comercial.A crise financeira levou o jornal A Tarde a diminuir a quantidade de pginas. De acordo com

    o editor, todos os cadernos sofreram reduo.

    O motivo da reduo de pginas apontado por Bandeira inocenta o desempenho do

    caderno entre o pblico. O retorno dos leitores, segundo o editor, foi satisfatrio e crescente.

    Com a alterao no formato causada pela crise do papel, o caderno tem sido publicado com

    metade da quantidade de pginas inicialmente planejada, mas houve uma exceo no perodo

    examinado. A ltima edio do de maro de 2009 foi, de forma inesperada, publicada com

    oito pginas. Esse foi um acontecimento excepcional, motivado por demanda de espao

    publicitrio no jornal. Nas edies seguintes o caderno Cincia&Vidavoltou a ser publicado

    com quatro pginas.

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    4.2.1 SOBRE O CONTEDO

    Ainda que fosse preciso produzir mais contedo para preencher o caderno em seuprimeiro ms em relao s edies mais recentes, apenas trs textos assinados por agncias

    foram utilizados, um deles modificado pela editoria do caderno. Nas edies de maro de

    2009, de 31 textos examinados, 12 tm origem nas agncias de notcias e quatro foram

    assinados pela editoria em conjunto com contedo de agncias. Em contrapartida, somente

    quatro textos publicados em maro de 2009 no possuem o carter de atualidade. Esse nmero

    cresce para 19 no primeiro ms do caderno.

    Em ambos os meses comparados, a maioria dos textos foi construda com uma

    abordagem local. Contudo, houve um acrscimo no nmero de textos com foco em notcias

    nacionais e internacionais em 2009. O principal motivo foi o aumento de material produzido

    por agncias publicado no caderno. Tambm nas edies mais recentes, na produo de

    matrias locais, diferente do contedo publicado no ms inaugural do caderno, notcias de

    grande repercusso foram utilizadas como gancho para a explorao de temas. 19

    O corte no tamanho do caderno Cincia&Vidaimplicou na reduo de outros contedos

    encontrados nos exemplares de outubro de 2007. As entrevistas, antes to destacadas pela

    diagramao, no voltaram a aparecer no caderno. Sobre as sees fixas, apenas os artigos de

    especialistas so contedo comum nos dois meses analisados, ainda que uma das cinco

    edies recentes no apresente o material. Os recursos grficos, muito aproveitados no

    primeiro ms, continuaram a fazer parte do contedo da diagramao do caderno. Caracteres

    de destaque e quadros de notas foram encontrados em todas as edies atuais. As imagens

    tambm so elementos muito utilizados nas pginas. Mesmo com o aumento do contedo de

    agncias, fotografias feitas pela equipe do jornal como suporte das matrias continuam muito

    usadas.

    As mudanas observadas na anlise comparativa possibilitaram identificar duas

    principais alteraes no contedo publicado no caderno Cincia&Vida, todas relacionadas e

    19Casos j apontados no captulo anterior.

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    talvez at conseqncias umas das outras. A primeira delas a reduo do material produzido

    por profissionais do jornal A Tarde, principalmente dos membros responsveis pelo contedo

    final da publicao, ou seja, menos Cludio Bandeira e menos Fabiana Mascarenhas. A

    diminuio do nmero de pginas foi acompanhada da reduo de textos produzidos pelos

    jornalistas. Do editor, antes mais presente nas assinaturas de autoria do contedo, foram

    encontrados dois textos. Mascarenhas, cujas matrias eram responsveis pela maioria absoluta

    do contedo do caderno em maro de 2007, nas edies atuais publica menos que as agncias

    de notcias.

    Alm da relao j apontada com as agncias, a situao descrita acima tambm est

    vinculada aos novos suportes20 ligados ao caderno. O blog Cincia e Vida atualizado

    frequentemente com contedos da rea no presentes no caderno. Alm dele, a rdio do grupo

    tambm dispe de informaes, principalmente sobre sade, apresentadas por Fabiana

    Mascarenhas, que indicada como colaboradora na relao da equipe da emissora de rdioA

    Tarde FM. J a interao com o contedo oferecido no site, primordialmente as enquetes,

    um elemento s encontrado no contedo recente, uma situao que se repete em todo caderno

    ou editoria do jornal desde a reforma do siteA Tarde On-line.

    20O grupo A Tarde, de forma semelhante a outras empresas de comunicao do pas, investiu na convergnciada rea de atuao da empresa.

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    5. CONSIDERAES FINAIS

    Uma iniciativa pioneira, e s por isso j representa um avano, mas que ainda precisa deajustes. O Cincia&Vida, nico caderno de cincia em todo o estado da Bahia, regio com

    seis universidades pblicas21, resultado de um investimento local nico em divulgao

    cientfica nos meios de comunicao de massa. Como primeira tentativa, comeou como um

    produto com abordagem ampla na rea cientfica e com uma srie de recursos grficos para

    atrair o leitor. Contudo, aps 20 meses, a produo da equipe local acompanhou o nmero de

    pginas do caderno, foi reduzida.

    As oito pginas iniciais, com contedo extenso e um forte suporte de imagens, sofreram

    reduo por motivos unicamente econmicos. Segundo Cludio Bandeira, o editor do

    caderno, as modificaes sofridas pela publicao atingiram todos os cadernos do jornal. O

    editor afirma ainda que se o nmero de pginas do caderno dependesse apenas da equipe que

    o produz, a publicao s expandiria porque contedo no falta. O entusiasmo da declarao,

    presente em toda a entrevista com o jornalista, no condiz com o que foi verificado na anlise

    do caderno.

    Na comparao entre o ms de lanamento do caderno Cincia&Vida, outubro de 2007,

    e um ms recente, maro de 2009, a presena de contedo produzido pela equipe do jornal A

    Tarde foi muito menor no ms mais atual. Os dados analisados mostram que nos quatro

    primeiros cadernos, cada um com oito pginas, os textos locais so o contedo quase

    exclusivo das edies. Entretanto, o nmero de textos de agncias de notcias publicados

    cresce de dois no ms inaugural da publicao para 12 em maro de 2009.

    O resultado aponta vrios paradoxos na produo do caderno Cincia&Vida. O mais

    patente o desacerto entre contedo e espao disponvel. Num caderno com oito pginas

    sobre uma rea no muito explorada pelo jornalismo local, era de se esperar a utilizao do

    contedo de agncias de notcias, inclusive para suprir uma demanda de informaes

    21Universidade Federal da Bahia, Universidade Federal do Recncavo Baiano, Universidade Estadual da Bahia,Universidade Estadual de Feira de Santana, Universidade Estadual de Santa Cruz e Universidade Estadual do Sulda Bahia.

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    relacionadas a temas cujo contedo quase sempre oriundo de notcias internacionais, como

    astronomia e arqueologia. Ao contrrio, nas primeiras edies do caderno os textos de

    agncias quase no so utilizados.

    O tempo de preparao para a produo da primeira edio da publicao deve, claro,

    ser considerado, uma vez que permite um perodo de produo mais extenso do que o habitual

    nas redaes. Ainda assim, o crescimento de dois s para 12 no nmero de textos de agncias

    num caderno menor e, portanto, mais facilmente preenchido com contedo produzido pela

    equipe local, o inverso do seguimento tido como natural para a publicao. O que nos leva a

    considerar outra contradio, o contedo publicado e o aparente entusiasmo e a grande oferta

    de material para ser publicado no caderno apontados pelo editor. Na entrevista, o mesmo foi

    otimista em relao aos problemas enfrentados para dar continuidade ao caderno,

    principalmente a um entrave j comum na rea: a relao com os cientistas.

    Mesmo afirmando que h dificuldades na relao com os plos de pesquisa, Bandeira

    garante que a situao aps mais de um ano de existncia da publicao melhor. De fato,

    aps esse tempo de publicao do caderno, natural que a equipe local tenha estabelecidocontatos e relaes mais estreitas com a comunidade cientfica. Isso, contudo no implicou em

    aumento da quantidade de contedo local no impresso, sequer em continuidade do que j era

    publicado antes. No debate sobre o relacionamento entre jornalistas e pesquisadores, um

    problema sempre abordado nas discusses sobre a cobertura cientfica, o aumento de

    assessorias, o boom do jornalismo em cincia e a popularizao da internet so fatores

    apontados como causas para a melhora da situao. Na Universidade Federal da Bahia,

    contudo, o tempo teve efeito contrrio.

    Cludio Bandeira, com toda a sua inicial viso positiva sobre o desenvolvimento do

    caderno e o relacionamento com os pesquisadores, que revela um passado mais aberto da

    universidade. O editor aponta que em seu incio de carreira havia uma agncia de notcias de

    cincia na universidade formada por um convnio entre a UFBA e a Fundao de Apoio

    Pesquisa e Extenso (FAPEX). A agncia reunia um grupo de alunos, que sob a

    coordenao de um docente, era responsvel por procurar notcias e informaes sobre a

    produo acadmica na instituio. O resultado era um boletim impresso que, segundo o

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    editor, servia de base para grandes pautas nos jornais. Um catlogo anual de pesquisas em

    andamento o outro recurso lembrado por Bandeira como uma iniciativa importante da

    UFBA na divulgao cientfica.

    Levantamentos como esses so a base para a criao de pautas cientficas nos jornais.

    Sem isso, a atividade de divulgar a cincia se torna ainda mais complexa. A no continuidade

    dessas ferramentas de divulgao significa uma lacuna que a universidade precisa corrigir,

    principalmente a UFBA, a mais importante em investimento pblico. A falta de incentivo s

    frentes de difuso da informao cientfica como estas implica a manuteno de um cenrio

    de novidades latentes nas instituies de pesquisa, o que dificulta a descoberta de novos

    assuntos que se tornam pautas nos jornais. Os centros de pesquisa precisam dar visib