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  • Universidade Federal do Pampa

    CURSO DE SERVIO SOCIAL

    CSSIA PILAR SALGADO

    A ARTE E O SERVIO SOCIAL: EXPRESSES DA QUESTO SOCIAL NO

    SERIADO CHAVES E NO LOTEAMENTO MARIA CRISTINA

    So Borja, RS

    2014

  • CSSIA PILAR SALGADO

    A ARTE E O SERVIO SOCIAL: EXPRESSES DA QUESTO SOCIAL NO

    SERIADO CHAVES E NO LOTEAMENTO MARIA CRISTINA

    Trabalho de Concluso de Curso, apresentado

    ao curso de Servio Social da Universidade

    Federal do Pampa como requisito parcial para

    obteno do Ttulo de Bacharel em Servio

    Social.

    Orientador: Prof. Dr.Cesar Beras

    So Borja

    2014

  • CSSIA PILAR SALGADO

    A ARTE E O SERVIO SOCIAL: EXPRESSES DA QUESTO SOCIAL NO

    SERIADO CHAVES E NO LOTEAMENTO MARIA CRISTINA

    Trabalho de Concluso de Curso, apresentado

    ao curso de Servio Social da Universidade

    Federal do Pampa como requisito parcial para

    obteno do Ttulo de Bacharel em Servio

    Social.

    Trabalho de Concluso de Curso defendido e aprovado em: ______/______/______

    Banca examinadora:

    ______________________________________________________

    Prof. Dr. Cesar Beras

    Orientador

    UNIPAMPA

    _____________________________________________________

    Prof. Jane Cruz Prates

    PPGSS/PUC-RS

    ______________________________________________________

    Prof.Me. Jos Wesley Ferreira

    UNIPAMPA

    ______________________________________________________

    Prof. Dr. Tiago Martinelli

    UFRGS

  • Borboleta parece flor

    Que o vento tirou pra danar

    Flor parece a gente

    Pois somos semente do que ainda vir

    Sonho de uma flauta - O Teatro Mgico

  • RESUMO

    O presente trabalho versa sobre Arte e Servio Social, onde fomos abordar o seriado de

    televiso A Turma do Chaves, que comeou a se passar no inicio da dcada de 1970, e o

    loteamento Residencial Maria Cristina Surreaux Vargas Pereira, que se materializou em

    outubro de 2013 na cidade de So Borja/RS e, assim, buscamos verificar se a dinmica do

    capitalismo continua se atualizando e por consequncia se manifestando nas expresses da

    questo social. Para o estudo, utilizar-se- o mtodo comparativo e para as tcnicas de

    pesquisa documental e a observao participante. Sendo assim, traremos a experincia

    ocorrida durante o Estgio Supervisionado em Servio Social II, realizado no Residencial

    Maria Cristina. Para embasar este trabalho foram realizadas reflexes tericas sobre Arte,

    Emancipao e Servio Social; Capitalismo e Urbanizao; Arte e os seriados de TV; As

    polticas pblicas de habitao, a territorializao da questo social e o trabalho do assistente

    social na habitao. Depois, mostraremos o captulo dos dados e por ltimo as consideraes

    finais. Nesse sentido, contextualizando tanto o seriado quanto o loteamento e apresentando as

    possveis atualizaes do sistema capitalista.

    Palavras-chave: Loteamento Residencial Maria Cristina; Seriado A Turma do Chaves;

    expresses da questo social; capitalismo.

  • RESUMEN

    El presente trabajo trata sobre el arte y el Trabajo Social, donde buscaremos hacer una

    comparacin entre ambos. Para esto, discutiremos la serie de televisin "El Chavo del ocho",

    que comenz a transmitirse a principios de los aos 70, y La Asignacin Residencial Maria

    Cristina Surreaux Vargas Pereira, que se concreto en octubre del 2013 en la ciudad So

    Borja/RS. As, buscamos verificar si la dinmica del capitalismo contina actualizndose, y

    en consecuencia manifestando se en la expresin de los problemas sociales. Para el estudio,

    utilizamos el mtodo comparativo y para las tcnicas de investigacin, el documental y la

    observacin participativa. As mismo, traemos la experiencia adquirida durante la Pasanta

    Supervisada en Trabajo Social II, realizada en la Residencia Maria Cristina. Para apoyar este

    trabajo fueron realizadas reflexiones sobre Arte, Emancipacin y Trabajo Social; Capitalismo

    y Urbanizacin; Arte y series de TV; polticas pblicas de vivienda, territorializacin de los

    problemas sociales, y el trabajo del trabajador social en la vivienda. Luego pasaremos al

    captulo de los datos, y finalmente, las conclusiones. En ese sentido, contextualizando tanto la

    serie de TV como la asignacin, y presentando las posibles actualizaciones que ofrece el

    sistema capitalista.

    Palabras-clave: Asignacin Residencial Maria Cristina; Serie "El Chavo delocho" ;expresin

    de los problemas sociales; capitalismo.

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1: A Turma do Chaves e Loteamento Maria Cristina ................................................... 75

    Tabela 2: Condies de habitabilidade ..................................................................................... 85

    Tabela 3: Problemas sociais ..................................................................................................... 87

    Tabela 4: Condomnio .............................................................................................................. 88

    Tabela 5: Problemas de sociabilidade ...................................................................................... 90

    Tabela 6: Quadro comparativo situaes x episdios I ............................................................ 93

    Tabela 7: Quadro comparativo situaes x episdios II ........................................................... 93

    Tabela 8: Quadro comparativo situaes x episdios III ......................................................... 94

    Tabela 9: Quadro comparativo situaes x episdios IV ......................................................... 95

  • SUMRIO

    INTRODUO .......................................................................................................................... 9

    2 ARTE, EMANCIPAO E SERVIO SOCIAL ................................................................ 15

    2.1 Arte e Emancipao Humana ............................................................................................. 15

    2.2 A arte, a emancipao e o Servio Social ........................................................................... 23

    3 CAPITALISMO, URBANIZAO E AS EXPRESSES DA QUESTO SOCIAL ........ 29

    3.1 Capitalismo e Urbanizao ................................................................................................. 29

    3.1.1. Caractersticas centrais do capitalismo: focando o Manifesto do Partido Comunista .... 29

    3.1.2. A urbanizao no capitalismo......................................................................................... 32

    3.2 O que a Questo Social e suas expresses ....................................................................... 37

    3.2.1 As expresses da Questo Social e sua dinmica ............................................................ 38

    3.2.2. A Questo Social como objeto do Servio Social ......................................................... 40

    3.3 Como se atualizam as expresses da Questo Social no capitalismo................................. 43

    4 A ARTE E OS SERIADOS DE TV ...................................................................................... 47

    4.1 Emergncia da televiso como forma de produo cultural ............................................... 47

    4.2 Seriados de TV - A Turma do Chaves: os principais personagens e suas caractersticas .. 50

    5 AS POLTICAS PBLICAS DE HABITAO, A TERRITORIALIZAO DA

    QUESTO SOCIAL E O TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL ................................... 56

    5.1 As polticas pblicas de habitao: O Surgimento do Programa Minha Casa Minha Vida56

    5.2 A Territorializao da Questo Social ................................................................................ 61

    5.3 O Trabalho do Assistente Social na habitao ................................................................... 64

    6 COMPARANDO O SERIADO DE TV A TURMA DO CHAVES E O LOTEAMENTO

    MARIA CRISTINA: AS EXPRESSES DA QUESTO SOCIAL EM DADOS ............. 70

    6.1 Problema e hipteses .......................................................................................................... 71

    6.1.1 Problema de pesquisa ...................................................................................................... 71

    6.1.2 Hipteses de pesquisa ...................................................................................................... 71

    6.2 Mtodo e Metodologia........................................................................................................ 73

    6.2.1 Tcnicas de pesquisa ....................................................................................................... 73

    6.2.2 Tcnicas de Anlise ......................................................................................................... 74

    6.3 Objeto: Seriado de TV A Turma do Chaves e o Residencial Maria Cristina Surreaux

    Vargas Pereira........................................................................................................................... 75

    6.4 Comparando o seriado e o loteamento: a atualizao das expresses da questo social.... 84

    6.4.1. Condies de habitabilidade e o episdio Falta gua, sobram problemas .................. 84

  • 6.4.2 Existem problemas sociais e o episdio O ladro da vila ............................................ 86

    6.4.3 Condomnio caro e o episdio O Despejo do Grande Campeo.................................. 88

    6.4.4 Existem situaes de problemas de sociabilidade e o episdio As calas do Seu

    Madruga .................................................................................................................................. 89

    CONSIDERAES FINAIS ................................................................................................... 92

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ..................................................................................... 98

    ANEXOS ................................................................................................................................ 103

    Anexo 1: Cartaz A pracinha nossa .................................................................................... 103

    Anexo 2: Cartaz Encontros da Boa Vizinhana .................................................................. 104

    Anexo 3:Mini Flyer- Encontros da Boa Vizinhana ..............................................................105

    Anexo 4: Retorno da caixinha ................................................................................................ 106

  • 9

    INTRODUO

    O presente trabalho aborda a comparao entre Arte e Servio Social. Com isso, temos

    enquanto objeto de pesquisa o seriado de TV A Turma do Chaves e o loteamento

    Residencial Maria Cristina Surreaux Vargas Pereira, parte do Programa Minha Casa Minha

    Vida configurando dessa forma os elementos para uma tentativa de comparao da expresso

    artstica com a realidade.

    Nesse sentido formulamos o seguinte problema: Por que a Questo Social se manifesta

    no seriado de TV A Turma do Chaves e no loteamento Maria Cristina?. A partir do

    problema exposto tentamos respond-lo com duas hipteses, sendo elas:

    A) Sim, consideramos as expresses da questo social atuais. Porque as expresses artsticas

    do seriado demonstram uma dinmica inexorvel do sistema capitalista, que enquanto sistema

    produtivo promove incessantemente a desigualdade visvel nas expresses da questo social.

    Assim buscamos compreender se o capitalismo continua com uma dinmica inexorvel, ou

    seja, se ele tem um movimento ininterrupto ou permanece esttico. Assim, tentando responder

    as hipteses acima, tanto as expresses da questo social que, partindo do capitalismo, geram

    tambm, e inclusive, desigualdades sociais, onde a consequncia disso tudo se d atravs da

    propriedade privada, onde a classe dominante possui os meios de produo.

    B) Sim. As polticas pblicas no conseguem romper com a dinmica do capitalismo e por

    consequncia devido o deslocamento de moradias anteriores para o Residencial Maria

    Cristina, ocorre o processo de desterritorializao de re-territorializao, pois, os condminos

    vieram tanto da zona rural quanto da zona urbana, logo, tendo costumes, hbitos, enfim,

    diferentes culturas, assim, causando estranhamento e discrepncia nas relaes sociais, sem

    polticas previamente definidas para dar conta disso.

    Outro elemento que foi levado em contas atravs das hipteses que se as polticas

    pblicas em seu processo de configurao do territrio provocam mudanas, no somente no

    concreto no visvel, como por exemplo, no material e no imaterial, ou seja, nos condomnios,

    nos hbitos, nos costumes, em que se desfazendo do espao onde esto, produzindo um outro

    espao social, uma outra forma de territorializao.

    A partir da formulao dessas duas hipteses, nosso objetivo central foi mostrar se as

    expresses da questo social do seriado A Turma do Chaves, que comeou a passar na

    televiso h 40 anos atrs, so atuais, como por exemplo, no Residencial Maria Cristina que

    foi materializado em outubro de 2013, na cidade de So Borja-RS,atravs do programa do

    Governo Federal Minha Casa, Minha Vida.

  • 10

    Especificamente objetivamos quatro questes: descobrir como o Servio Social pode

    se expressar atravs da arte; desvelar as expresses da questo social no loteamento Maria

    Cristina; analisar a Poltica Pblica Minha Casa Minha Vida; e relatar a experincia do

    Estgio Supervisionado em Servio Social II trazendo o projeto de interveno Encontros da

    Boa Vizinhana.

    Descobrir como o Servio Social pode, por meio da arte, problematizar a realidade na

    qual as pessoas vivem com o objetivo de mostrar a funo social da arte e instrumental, no

    momento que uma de suas expresses, no caso o seriado, pode servir de elemento

    comparativo para buscarmos compreender tal realidade.

    O segundo foi desvelar as expresses da questo social no loteamento Maria Cristina

    com o intuito de identificar e compreender os conflitos sociais existentes, ou seja,

    verificarmos como se davam as relaes sociais, dentro de um lugar onde o espao social

    produzido se torna novo e vivido coletivamente. Dessa forma, compreendermos os conflitos

    existentes e compar-los com o Seriado de TV A Turma do Chaves e fazermos a relao de

    ambos.

    O terceiro foi analisar a Poltica Pblica no programa Minha Casa Minha Vida com

    o objetivo de mostrar os impactos que causam o processo de des-territorializao e re-

    territorializao nos condomnios, pois, os moradores vieram de espaos diferentes, tanto da

    zona urbana, quanto da zona rural e assim, mudando os hbitos e os costumes de alguma

    forma.

    E, por ltimo, relatar a experincia do estgio em Servio Social II trazendo o Projeto

    de Interveno Encontros da Boa Vizinhana. O projeto buscou trabalhar as relaes sociais

    e teve dois encontros um poltico, ou seja, partindo para dimenso scio-poltico e outro,

    cultural, indo para a dimenso pedaggica do Servio Social, trabalhando de uma forma

    interdisciplinar/multidisciplinar.

    A partir do exposto acima, iremos abordar os seguintes elementos que justificam a

    nossa pesquisa.

    Primeiro, o Trabalho de Concluso de Curso de extrema importncia enquanto

    formao acadmica, pois, nesse processo mostra-se a bagagem de aprendizado que ocorreu

    durante a graduao, a partir dos componentes curriculares, ou seja, do ensino no Curso de

    Servio Social e no somente dos componentes obrigatrios de graduao como os

  • 11

    complementares1, mas, para alm do ensino, destaca-se a pesquisa, a extenso, os eventos

    dentro e fora da universidade (seminrios, congressos, encontros, simpsios), como tambm,

    a experincia enquanto representante discente de extenso da universidade, o envolvimento

    no movimento estudantil participando nas lutas para a melhoria da universidade tanto na

    questo do acesso, como da permanncia. Temos assim a oportunidade de expor isso atravs

    deste trabalho, mostrando assim, o objeto de trabalho do Servio Social que a questo social

    e suas expresses e usando a arte enquanto problematizao da realidade.

    Em segundo, em nosso processo de formao tem-se o componente curricular

    obrigatrio de Estgio Supervisionado no currculo do curso, portanto, comea-se a edificao

    da identidade profissional, nos trazendo a oportunidade de colocarmos em prtica tudo o que

    se foi discutido at ento. Foi o momento em que se pode, a partir da leitura da realidade do

    campo de estgio, fazer a interveno, ou seja, com os olhos de observador, aguados, de

    criticidade, momento esse de propor algo, algo que procure responder as demandas dos

    usurios, ressaltando que no de uma forma imediata, pois, se h de deixar claro que o

    Servio Social trabalha na perspectiva dos processos, ou seja, no dando respostas de

    imediato sociedade, e sim, contextualizando com o social, econmico, cultural, dessa forma

    olhando a totalidade.

    Em terceiro, temos a universidade enquanto o espao em que estamos construindo

    conhecimento e esse trabalho vem juntamente com esse processo de vivncia, ou seja,

    articulado com a leitura do real, logo, servir para aprofundarmos o que realmente so

    expresses da questo social, tendo em vista que, podemos visualizar na arte, como foi no

    caso do Loteamento Maria Cristina e do seriado de TV A Turma do Chaves. Portanto, tanto

    as desigualdades sociais, quanto a habitao, que logicamente envolve os territrios que por

    consequncia traz consigo a cultura, podem gerar uma grande discusso, assim, mostrando a

    mescla de Servio Social e Arte, mostrarmos a nossa criticidade via expresses artsticas,

    usada tanto para a interveno quanto para processos pedaggicos e pesquisas.

    Em quarto, esse trabalho contribui para a academia, logo, essa mescla com a arte, tem

    sua escassez nas bagagens tericas do Curso de Servio Social, entretanto, sendo inovador

    para o Curso, a partir de pesquisas sobre a temtica pode-se dizer que no se tem muitos

    estudos sobre, o que pode contribuir tanto para a academia, quanto para a sociedade, pois, no

    que diz respeito ao curso, pode-se surgir outras ideias para se trabalhar com a arte, podendo,

    1 Dessa forma podendo complementar a graduao em Servio Social, tambm foi possvel durante esse tempo,

    se envolver em componentes curriculares de outros cursos, como por exemplo, Poltica da Cultura e Sociologia

    do Rock que so dos cursos de Comunicao Social.

  • 12

    assim, utilizar-se mais dela nos projetos de interveno, nos projetos de extenso, nas

    pesquisas, na sala de aula e deixa-se claro aqui, a necessidade que se tem de fazer essa

    articulao nesses espaos, o que se pode trazer tanto dos clssicos at os atuais, no que diz

    respeito arte, uma bela forma de se trabalhar de uma maneira prazerosa e construtiva, onde

    se pode expor as ideias, fazer reflexes, tanto da imagem, ou seja, do olhar, quanto do ouvir,

    ouvir e refletir, fazendo-se assim, luzir as ideias.

    Em quinto, a contribuio para a sociedade que se traz, ou seja, para a interveno do

    Servio Social no necessariamente pode ser visualizado somente nas expresses da questo

    social compreendidas claramente no cotidiano, como tambm na arte, onde se pode encontrar

    nas ruas, nos grafites, nas pinturas, como tambm, na msica, nos filmes, nos documentrios,

    nas esculturas, no teatro de rua, na novela, nos desenhos animados, nos videogames. A partir

    do loteamento Maria Cristina, assim fazendo uma analogia com o Seriado de TV A Turma

    do Chaves, visto Servio Social e Arte, tem-se relevncia para a sociedade e no entanto,

    podemos construir conhecimento dos condomnios que fazem parte do Programa Minha

    Casa, Minha Vida e as possibilidades de sociabilidades que elas trazem. Assim, mostrando a

    questo social e suas diferentes expresses que podem dar-se tambm atravs do processo de

    excluso social quando h des-reterritorializao, aonde a questo territorial vem tambm

    com hbitos, costumes, cultura nos loteamentos e formas de sociabilidade. Logo, trabalhar em

    cima de territrio, se torna apresentar o espao dividido por vrios moradores, assim,

    compreendendo o sistema capitalista, a forma como ele se atualiza, o que contribui para as

    possveis formas de preveno, de estratgia e de criao para a academia, a sociedade, para o

    Servio Social.

    Para dar conta destes desafios organizamos a seguinte discusso terica como forma

    de embasar nossa reflexo usando nos captulos autores como: Marx, Engels, Vzquez,

    Iamamoto, Prates, Machado, Hobsbawm, Adorno, Bonduki, Haesbaert e Guerra.

    O trabalho est dividido em quatro discusses tericas: Arte e Servio Social;

    Capitalismo e a atualizao das expresses da questo social; A Arte e os Seriados de TV e

    As polticas pblicas de habitao e a territorializao da questo social e o trabalho do

    assistente social.

    Na primeira discusso iremos abordar sobre a importncia de trazer a arte para o

    Servio Social, pois, descobrimos que no temos muitos trabalhos relacionados ao assunto.

    Portanto, a partir dos levantamentos de Jesus, Santos e Nascimento (2010) foram

    contabilizadas 28 produes, a maioria na regio sudeste e norte. Este captulo ter duas

    sees. Na primeira seo iremos discutir Arte e Emancipao Humana, dessa forma

  • 13

    buscando o papel da arte na sociedade, trazendo a reproduo do ser social desde seu processo

    de alienao at a forma que ela pode contribuir como um dos elementos constitutivos para a

    emancipao do homem e, assim, ele se tornar um ser genrico. Na segunda seo vamos

    abordar A Arte, a emancipao e o Servio Social verificando a relao entre Arte e Servio

    Social e suas possibilidades de ser uma ferramenta de interveno onde nos possibilite pensar

    a emancipao enquanto centro da interveno do assistente social.

    Na segunda abordagem iremos discutir o Capitalismo, a urbanizao e a Questo

    Social e suas expresses. Num primeiro momento o Capitalismo e Urbanizao onde traremos

    as caractersticas centrais do capitalismo e deixando como foco os contornos do Manifesto

    Comunista construdo no sculo XVIII e respondendo vrias de nossas inquietaes da

    atualidade. Outro ponto ser o objeto de trabalho do Servio Social, ou seja, a Questo Social

    e suas diferentes expresses onde traremos o conceito e a partir de ento discutiremos, at

    chegar na nossa ltima seo que tem como objetivo verificar como as expresses da questo

    social se atualizam, mostrando a sua dinmica especifica de atualizao.

    Na terceira discusso sero trazidos A Arte e os Seriados de TV. Na primeira seo

    veremos: A Emergncia da televiso como forma de produo cultural, essa parte tem por

    objetivo compreender a relao e a manifestaes artsticas mostradas a partir da televiso,

    sendo ento, a arte levada para os telespectadores, assim como a televiso voltada para a

    indstria cultural. A segunda e ltima seo Seriados de TV - A Turma do Chaves: os

    principais personagens e suas caractersticas explica o que so seriados de televiso e o seu

    surgimento, como tambm, traz A Turma do Chaves e uma prvia da histria dessa

    expresso artstica, como os principais personagens e as suas caractersticas, possveis de se

    identificar com a sociedade.

    Na quarta e ltima reflexo terica discutiremos As polticas pblicas de habitao, a

    territorializao da questo social e o trabalho do assistente social. Na primeira seo

    traremos As polticas pblicas de habitao: O surgimento do Programa Minha Casa Minha

    Vida, assim, fazendo uma contextualizao desde os cortios, passando pela Era Vargas e

    chegando no programa do qual o loteamento Maria Cristina faz parte. Na seo intermediria

    abordaremos A Territorializao da Questo Social, trazendo territrio nos seus processos de

    des-territorializao e re-territorializao, como processos de excluso social e por ltimo e de

    extrema importncia O trabalho do assistente social na habitao, mostrando as possveis

    formas de atuao profissional.

    Aps as reflexes tericas resgataremos nossa metodologia de pesquisa que se

    expressa em: metodologia de coleta de dados e de anlise. Enquanto tcnicas de pesquisa

  • 14

    utilizadas duas tcnicas de pesquisa: observao no participante (artificial) a partir da

    experincia em Estgio Supervisionado em Servio Social II e pesquisa documental a partir

    Caixinha de Crticas e Sugestes Dirios de Campo; Anlise Institucional; Projeto de

    Interveno; Relatrio Final de Estgio II e os seriados de TV da Turma do Chaves que foram

    escolhidos aleatoriamente e analisados para cada fase do quadro comparativo que foi a nossa

    tcnica de anlise, enquanto mtodo comparativo, elaborada para o Trabalho de Concluso de

    Curso. Desta forma estruturamos nosso trabalho em sete partes sequenciais: alm da presente

    introduo, os quatro captulos tericos, mais o capitulo de metodologia e apresentao dos

    resultados da pesquisa e por ultimo nossas consideraes finais.

    Buscamos assim refletir, discutir e apresentar elementos que nos permitam avanar ,

    mesmo que minimamente no processo de discusso terico-metodolgica sobre a relao

    entre a Arte e o Servio Social.

  • 15

    2 ARTE, EMANCIPAO E SERVIO SOCIAL

    Neste captulo iremos abordar duas sees: a primeira sobre Arte e Emancipao

    Humana e a segunda sobre a Arte, a emancipao e o Servio Social.

    A primeira parte deste captulo abordar sobre, a emancipao humana e os seus

    elementos constitutivos de acordo com Marx articulando-o com as reflexes de Scherer,

    Prates e Vasquez.

    Na segunda e ltima parte, vamos discutir a arte e o Servio Social, onde sero

    discutidos os espaos de atuao profissional, como tambm, a arte enquanto um dos

    elementos constitutivos para chegarmos emancipao humana atravs da profisso.

    Dialogaremos com Prates, Scherer, Iamamoto, Jesus, Santos e Nascimento, Conceio e o

    Cdigo de tica do Servio Social.

    2.1 Arte e Emancipao Humana

    Para uma concepo marxista a emancipao dos trabalhadores ser construda pelos

    prprios trabalhadores onde se buscar por uma sociedade transformada, assim, podendo

    tambm sofrer emancipao o dono da propriedade privada que tambm sofre com a

    alienao no modo de produo capitalista. Nesse sentido devemos superar a questo dos

    chefes com seus subordinados tanto intelectualmente quanto economicamente, como tambm

    a educao que no permite a capacidade de criticidade de pensar, de propor, de intervir dos

    alunos, a privatizao do conhecimento cientfico, o governo para poucas pessoas e a falsa

    verdade da democracia que privilegia a classe burguesa nas decises.

    A emancipao humana pressupe o carter coletivo, onde buscar reconduzir o homem a

    voltar para o mundo humano, livre das presses das necessidades econmicas, formado por

    relaes sociais verdadeiras, andando junto com igualdade e justia social, uma nova forma de

    sociabilidade, com participao realmente de todos e no o contrrio, onde a sociedade se

    encontra formada por grupos de pessoas individualistas os quais o sistema as pressionam e

    que por consequncia disso, as relaes sociais se tornam corrodas. A emancipao visa que

    os seres humanos tenham vida enquanto seres coletivos, que reconheam as prprias foras

    sociais e as tornem inseparveis como fora poltica. De acordo com Marx:

    Somente quando o homem individual real recupera em si o cidado abstrato e se

    converte, como homem individual , em ser genrico, em seu trabalho individual e

  • 16

    em suas relaes individuais, somente quando o homem tenha reconhecido e

    organizado suas forces propres2 como foras sociais e quando, portanto j no separa de si a fora social sob a forma de fora poltica, somente ento se processa a

    emancipao humana. (MARX, 2005, p. 42)

    De acordo com Marx (2005) a emancipao humana acontecer somente quando o

    homem tiver reconhecido e organizado as prprias foras em foras sociais, ou seja, o homem

    conhecer as condies de existncias materiais dos indivduos que determinam as suas

    relaes sociais (MARX, 2005, p. 48). Conforme Marx (2005) a emancipao poltica no

    representa a emancipao humana, pois essa acaba por ratificar o individualismo e a

    propriedade privada, mascarada em uma igualdade formal perante o Estado.

    Conforme Marx (2005), a emancipao do homem de um lado mostra o ser egosta

    independente do qual a sociedade o transformou. Na obra citada acima, Bauer ressaltava que

    os judeus no se emancipariam politicamente, enquanto fizessem parte do judasmo, o que

    para Marx seria possvel haver a emancipao mesmo que estejam vinculados religio,

    porm, sabendo separar um do outro, sendo ento, o homem que influencia na religio e no o

    contrrio. Conforme Marx (2005):

    A emancipao poltica do judeu, do cristo e do homem religioso em geral a

    emancipao do Estado do judasmo, do cristianismo e, em geral, da religio. De

    modo peculiar sua essncia como o Estado, o Estado se emancipa da religio ao

    emancipar-se da religio de Estado, isto , quando o Estado como tal no professa

    nenhuma religio, quando o Estado se reconhece muito bem como tal. A

    emancipao poltica da religio no a emancipao da religio de modo radical e

    isento de contradies da emancipao humana. (MARX, 2005, p. 19).

    De acordo com Marx, como j pontuamos acima, a emancipao poltica ainda no a

    emancipao humana, para o filsofo, no Estado que realmente houver democracia, no

    precisar de religio para tomar decises polticas. Segundo Marx (2005) o homem deve fazer

    a religio e jamais deixar que ela o faa, afirmando que a misria religiosa , de um lado, a

    expresso da misria real [...] a religio o soluo da criatura oprimida, o corao de um

    mundo sem corao, o esprito de uma situao carente de esprito. o pio do povo

    (MARX, 2005, p. 88). A religio causa entorpecimento moral no momento em que ela

    domina o ser humano e a pobreza da religio seria a prpria manifestao da pobreza da vida

    real. Para Marx (2005, p. 31) [...] e emancipao do Estado em relao religio no a

    emancipao do homem real [...]. Para Marx (2005, p.22), a diferena entre o homem

    religioso e o cidado a diferena entre o comerciante e o cidado, entre o trabalhador e o

    cidado, entre o latifundirio e o cidado, entre o indivduo vivendo e o cidado [...].

    2 Prprias foras

  • 17

    Nesse sentido como j referido acima, o homem deve saber distinguir a vida religiosa

    da vida de cidado e, assim, em todos os aspectos da vida, porm, jamais deixando de ser

    cidado. Os homens em sua totalidade deveriam de ser humanos-genricos, cidados

    abstratos, como afirma Marx, sendo sujeitos coletivos e individuais para conhecer e se

    conhecer, seres genricos que se emancipam enquanto trabalhadores e se realizam para

    transformar a sociedade. Dessa forma, buscando por liberdade, cidadania, por cooperativismo,

    onde todos tm os direitos garantidos, alm do mais, que a propriedade burguesa dever ser

    abolida. Porm, o que temos numa sociedade de classes, o homem enquanto um ser estranho

    que no se reconhece e no pensa de forma crtica. Acabamos, portanto, por estar em um

    estado de alienao.

    Assim de acordo com Scherer (2013) os processos de alienao so fundamentais

    numa sociedade capitalista para que se viabilize cada vez mais a explorao do trabalhador,

    pois:

    [...] Esse processo de estranhamento da vida genrica do homem faz com que ele se

    torne um espectador da sua prpria vida, no tendo possibilidades de pensar de

    maneira crtica o seu cotidiano e os processos nos quais se insere. Assim, os

    processos de alienao so fundamentais no sistema capitalista para que seja

    possvel uma melhor explorao do trabalhador, impedindo-lhe de entender os

    processos de explorao e manipulao em que est inserido. (SCHERER, 2013, p.

    55).

    Esse processo de estranhamento chamado alienao do qual foi discutido acima, faz

    com que o homem no se reconhea enquanto ser coletivo, como empecilho a existncia da

    propriedade privada que gera competio e por consequncia a desigualdade entre as pessoas

    no se reconhecendo no cotidiano, ou seja, no dia a dia.

    Aps caracterizar rapidamente alguns aspectos da emancipao humana podemos

    passar para a segunda discusso desta seo, a questo da arte, para verificarmos a sua

    possibilidade de servir como ponto de partida, enquanto instrumentalidade profissional, para a

    afirmao de uma perspectiva emancipatria para a sociedade.

    Para Vzquez (2011) o produto artstico uma nova realidade que testemunha, antes

    de tudo, a presena do homem como ser criador, sendo o trabalho artstico um trabalho que

    faz a diferena e produz um valor de uso, onde busca satisfazer as necessidades humanas,

    sejam para se expressar, para se comunicar, para se afirmar na sociedade, atravs de um

    objeto concreto-sensvel.

    Se o homem homem na medida em que capaz de elevar-se sobre o que tem de

    mera natureza para se tornar (como diz Marx nos Manuscritos de 1844) um ser

  • 18

    natural humano, a arte a atividade na qual precisamente o homem eleva a um nvel

    superior esta sua capacidade especfica de humanizar tudo o que toca. Ou, em outros

    termos, se o homem, como ser verdadeiramente humano, sobretudo um ser

    criador, a arte uma esfera onde essa potncia de criao se explicita renovada e

    ilimitadamente , e o fazer artstico tem sempre algo de aventura. criao, ou seja,

    no somente reflexo do real, mas instaurao de uma nova realidade. Graas arte,

    essa realidade formada atravs do trabalho, de um mundo de objetos humanos ou

    humanizados,se amplia e se enriquece sem cessar. E, por sua vez, graas arte,

    enriquece-se e aprofunda-se nossa relao com a realidade. (VZQUEZ, 2011,

    100).

    O homem quando se reconhece atravs do prprio trabalho, se sente realizado, se

    reconhece ao transformar a natureza e se transforma ao reconhecer as suas prprias foras. O

    homem sendo um ser humano e tambm, criador, tem a arte como um dos elementos que

    podem contribuir para que se fortalea essa criao, uma atividade feita a partir do reflexo da

    realidade, que gera outra realidade e a arte faz o aprofundamento da nossa relao com o real.

    A arte pode ser um dos meios de atividade do qual o homem pode se humanizar, pois, ela se

    d em torno de um trabalho humanizador, atravs de objetos humanos, onde se enriquece

    incessantemente fazendo com que tenhamos claridade da nossa realidade. Marx (2008)

    compreende que uma atividade objetivada no se desenvolve apenas por um indivduo, pois,

    ela precisa estar baseada em alguma atividade humana produzida historicamente, por meio de

    objetivaes de outras geraes que tambm criaram histria.

    Segundo Vzquez (2011, p. 46) o poder de criao de homem explicita-se na criao

    de objetos humanizados e de sua prpria natureza. O homem j criador desde que produz

    objetos que satisfaam as necessidades humanas e, nesse sentido, a arte faz com que o

    homem se torne humanizado, fazendo do prprio trabalho algo novo, que tenha sentido para

    ele, para Vzquez:

    Na relao esttica do homem com a realidade, explicita-se toda a potncia de sua

    subjetividade, de suas foras humanas essenciais, entendidas como prprias de um

    indivduo que , por essncia, um ser social. [...] Na relao esttica, o homem

    satisfaz a necessidade de expresso e afirmao que no pode satisfazer, ou o que s

    satisfaz de modo limitado, em outras relaes com o mundo. Na criao artstica, ou

    relao esttica criadora do homem com a realidade, o subjetivo se torna objetivo

    (objeto), e o objeto se torna sujeito, mas um sujeito cuja expresso j objetivada no

    s supera o macro da subjetividade, sobrevivendo a seu criador, como pode ser

    compartilhada, quando j fixada no objeto por outros sujeitos. (VZQUEZ, 2011, p.

    49).

    Na relao esttica do ser humano com o real, se expressa toda a subjetividade, das

    prprias foras enquanto ser social, o sujeito atravs da arte - faz fluir as necessidades que tem

    de se expressar, de se afirmar na sociedade, na relao do homem com a criao (de objetos

    que satisfaam o homem, porm, ele deve se sentir livre para tal, assim, criando objetos que

    alimentem a necessidade humana espiritual), o subjetivo materializa uma criao que se

  • 19

    tornou objetiva, pois dessa forma o abstrato j est transformado em concreto e atingindo os

    demais. De acordo com Prates:

    [...] A arte, portanto, expressa valores e concepes histricas, modos de vida,

    sentidos e significados atribudos aos fenmenos pelos sujeitos que os vivenciam e

    interpretam. Contudo, se expressa objetivaes, expressa tambm processos de

    alienao que compem estas subjetividades. Ora, Marx j dizia nos Manuscritos

    Econmicos e Filosficos que o olho que no aprende a ver no enxerga, que para o

    ouvido no-musical a mais bela msica no tem sentido. E ressaltando a importncia

    dos sentidos, destacava que o homem se afirma no mundo objetivo no apenas no

    pensar, mas tambm com todos os sentidos. No entanto, destaca que o

    desenvolvimento dos sentidos um trabalho de toda a histria universal at nossos

    dias e que o sentido que prisioneiro da grosseira necessidade prtica tem apenas um sentido limitado. (PRATES, 2007, p. 04).

    Temos a arte como forma de expresso de valores, de formas de viver e de

    significados expressos nos fenmenos que a sociedade vivencia e interpreta. Ao mesmo

    tempo em que se tem a objetivao (onde o homem exterioriza suas prprias foras), tambm

    pode se ter alienao manifestada neste processo de expresso das subjetividades. Prates

    (2007) ao usar Marx refere que temos os nossos sentidos, que quando no nos sensibilizamos

    para ver, ou ouvir algo, se torna sem sentido, e afirma que o nosso sentido se limita pelas

    necessidades dirias que vivemos no sistema capitalista, podemos dar como exemplo a

    correria do dia a dia, do stress dirio, do horrio para chegar ao trabalho.

    A arte pode ser um ponto de partida para refletirmos sobre as concepes, o mundo do

    qual fizemos parte, sobre ns mesmos, os nossos costumes, assim, manifestando o nosso

    pensamento e compreenso sobre as relaes sociais, o contexto histrico, poltico,

    econmico, social, cultural, ampliando o olhar de homem e de sociedade, para Scherer (2013,

    p. 75) uma vez que a arte uma forma de conhecimento do mundo, para Vzquez (2011), a

    arte alm de enriquecer o mundo humano ao mesmo tempo ela colabora para que se amplie a

    expresso atravs da comunicao, a ideologia e a emoo do ser humano, onde enquanto

    resultado o homem pode dilatar a prpria realidade, para Vzquez (2011, p. 110) num mundo

    em que tudo que se quantifica e abstrai a arte- que a esfera mais alta da expresso do

    concreto humano. Conforme Prates:

    A arte importante instrumento de reproduo do ser social. Exprimimos atravs do trao, da cor, do som, dos gestos sentimentos, valores, hbitos, costumes, indignaes, paixes, modos de ver o mundo, a vida, a ns mesmos e

    materializamos na pintura, na dana, na culinria, na escultura, na dramatizao, na

    arquitetura, na msica, nossas objetivaes, em parte histrica e socialmente

    construdas, em parte histrica e socialmente determinadas, possibilitando que sejam

    apreendidas pela razo e sensibilidade do outro; mas, por outro lado, reduzimos

    tambm o sentido esttico, o gozo humano do belo, do bom, do confortvel, quando

    nossa sensibilidade alienada. Por exemplo, como bem aponta Marx, destacando a

    misria e a pobreza da sociedade que tem por base a propriedade privada, o

  • 20

    comerciante de minerais no v sua beleza e peculiaridades seno somente o seu

    valor comercial, o seu valor de troca. (PRATES, 2007, p. 04).

    Conforme Prates (2007), o ser social pode se reconhecer atravs da arte, assim,

    passando pelo processo emancipatrio seja em msica, filme, arquitetura, escultura, seriados

    de TV, histrias em quadrinho, literatura, videogames (arte grfica, como tambm, jogos-

    xadrez, war3), esporte (ex: jogo de futebol), novela, teatro, dana, desenhos (desde animados a

    inanimados), pintura (desde obras de arte, a grafites, tatuagens), por meio de traos, cores,

    sons que trazem os sentimentos, os valores, as formas de ver o mundo, ns e o mundo, o

    mundo e ns, dessa forma, reconhecer-se naquilo que est se fazendo. Porm, a de se ressaltar

    que, vivemos num sistema no qual nem todos podem experimentar o belo e o bom. Conforme

    Carbonari (2013) a arte se torna essencial, pois, no momento em que lemos algum livro,

    ouvimos alguma msica e olhamos algum filme, temos por objetivos nos entreter, nos

    realizarmos com um todo e dessa forma fazendo nossas reflexes, nos relacionamos com a

    sociedade, para alm de ns mesmos. Segundo Boal (2009) o dono do olhar faz parte de uma

    sociedade de classes e, portanto, no existe olhar puro. Nesse sentido, carregamos toda uma

    cultura que faz com que tenhamos viso sobre o mundo e atravs da arte, despertamos nossas

    formas sensoriais nos mostrando o Belo que no se d somente atravs de felicidade, como

    tambm, de medo, ele est na forma como olhamos algo, pois, cada um visualiza de uma

    forma diferente, dando um significado, um sentido, uma verdade real ou imaginria,

    consciente ou no, dentro das condies temporais e concretas, quer nos chame ou nos afaste.

    De acordo com Scherer:

    Neste contexto, em que a arte transformada em valor de troca, se constri junto

    sociedade a ideia de que a arte apenas uma forma de lazer, um passatempo de rico. Nega-se todas as possibilidades deste elemento de sociabilidade humana, que faz com que os indivduos possam se reconhecer na sociedade e repensar nos

    processos nos quais esto inseridos. A maioria das pessoas no tem acesso a

    produes artsticas, assim como no tem a possibilidade de produzir arte, de se

    construir em agentes partcipes do processo de produo artstica, uma vez que ,

    alm de no serem dadas as oportunidades para os indivduos participarem deste

    processo, o seu tempo se torna cada vez mais escasso, devido longa jornada de

    trabalho a qual grande parte das pessoas devem se submeter para conseguir ,

    quando possvel, atender s suas necessidades humanas. (SCHERER, 2013, p. 81).

    Como visto acima, ainda hoje, existe o pensamento de que a arte serve somente como

    coisa, como algo para passar o tempo. Dessa forma, existe a negao de se socializar a arte, de

    que os indivduos se reconheam numa sociedade de classes onde, grande parte da populao

    no tem acesso e nem como realizar produes artsticas, devido s oportunidades, ao tempo.

    3 Jogo de Estratgia

  • 21

    O dia a dia corri o ser humano, deixando-o, alm de alienado, limitado, que, no entanto, se

    tem e deve-se ter enquanto princpio recorrer para atender as necessidades bsicas humanas,

    ou seja, vender a fora de trabalho para alimentar de primeiro momento as subsistncias.

    Conforme Vzquez (2011) a arte e a sociedade se contradizem, a primeira se torna oposio

    da segunda, e a sociedade nega o homem. De acordo com o autor:

    Arte e sociedade no podem se ignorar, j que a prpria arte um fenmeno social.

    Em primeiro lugar, porque o artista- por mais originria que seja sua experincia

    vital- um ser social; em segundo, porque sua obra- por mais profunda que seja a

    marca nela deixada pela sua plasmao, sua objetivao nela- sempre uma ponte,

    um trao de unio, entre o criador e outros membros da sociedade; terceiro, dado

    que a obra afeta aos demais, contribui para elevar ou desvalorizar neles certas

    finalidades, ideias ou valores; ou seja, uma fora social que, com sua carga

    emocional ou ideolgica, sacode ou comove aos demais. Ningum continua a ser

    exatamente como era depois de ter sido abalado por uma verdadeira obra de arte.

    (VZQUEZ, 2011, p. 107).

    A relao entre arte e sociedade no podem ser evitadas, sendo que a arte um dos

    principais elementos constitutivos de uma sociedade. Por mais originria que seja qualquer

    tipo de arte, por mais intensa e de tamanha concretude, ela uma analogia da sociedade que

    contribui ou no, para diferentes tradies, ideias, valores, que possui cargas, sejam

    emocionais, ideolgicas, enfim, que afetam de alguma forma os demais, nenhum ser humano

    depois de ser atingido por algum tipo de arte, se tornar o mesmo, seja para melhor ou para

    pior. Vzquez (2011) diz:

    A sensibilidade esttica surge nesse processo de afirmao do ser humano. O sentido

    esttico aparece quando a sensibilidade humana se enriqueceu a tal ponto que o

    objeto , primria e essencialmente, realidade humana, realidade das foras essenciais humanas. As qualidades dos objetos so percebidas como qualidades estticas quando so captadas sem uma significao utilitria direta, ou seja, como

    expresso da essncia do prprio homem. A criao artstica e, em geral, a relao

    esttica com as coisas fruto de toda a histria da humanidade e, por sua vez, uma

    das formas mais elevadas de afirmao do homem no mundo objetivo. Foi

    justamente a atividade prtica dos homens que criou as condies necessrias para

    elevar o grau de humanizao das coisas e dos sentidos at o nvel exigido pela

    relao esttica. Criando novos objetos, descobrindo novas propriedades e

    qualidades deles, bem como novas relaes entre as coisas, o homem ampliou

    consideravelmente, graas sua atividade prtica, material, o horizonte dos sentidos

    e enriqueceu e elevou a conscincia sensvel at o ponto de converter-se em

    expresso das foras essenciais do ser humano. (VZQUEZ, 2011, p. 75).

    A sensibilidade, enquanto sentido esttico pode vir a ser um elemento central no

    processo de busca da emancipao humana. O sentido esttico surge quando o objeto consiste

    em ser a realidade humana. Para Vzquez (2011) a qualidade de um objeto artstico ocorre

    quando no tem funo utilitria direta e, sim enquanto expresso do ser humano, sendo

    proveito da histria da humanidade, que conforme o autor seria uma das foras de o homem

  • 22

    se humanizar, ou seja, na sua criao, sendo que a atividade prtica4 dos homens que

    contribuiu para a humanizao na medida em que iam transformando a natureza e se

    transformando, inventando novos objetos, novas relaes entre as coisas, o homem foi se

    expandindo devido sua atividade concreta, material, dessa forma enriquecendo os sentidos e

    transformando as suas foras essenciais. Conforme Boal (2009) em meio sensibilidade,

    podemos dizer que temos dois tipos de pensamento- sensvel e simblico- ambos se tornam

    desiguais quando postos por alguma ideologia de dominao, no que diz respeito ao

    pensamento sensvel:

    O pensamento sensvel, que produz arte e cultura, essencial para a libertao dos

    oprimidos, amplia e profunda sua capacidade de conhecer. S com cidados que, por

    todos os meios simblicos (palavras) e sensveis (som e imagem), se tornam

    conscientes da realidade em que vivem e das formas possveis de transform-la, s

    assim surgir, um dia, uma real democracia. (BOAL, 2009, p. 19).

    O pensamento sensvel nos faz mergulhar, nos faz transcender a nossa forma de

    conhecer. Atravs dos smbolos que envolvem -palavras -e da sensibilidade que envolve- som

    e imagem- podemos nos tornar lcidos da realidade do qual estamos e assim, metamorfose-

    la. De acordo com Boal (2009), o pensamento sensvel faz com que se comande o

    conhecimento Sensvel e ambos dependem um do outro. O conhecimento sensvel se d

    quando se recebe informaes e se projeta no pensamento sensvel, o pensamento organiza o

    conhecimento e passa a ser ao, fala, para o autor [...] palavras ao vento no deixam registro

    [...] sons ecoam, Conhecimento Memria e Pensamento ao (BOAL, 2009, p. 29).

    Segundo Boal (2009) temos que reconquistar a Palavra, a Imagem e o Som e alm do mais,

    temos mais o pensamento simblico que formando por palavras, gestos, como por exemplo,

    a poesia que vem do pensamento sensvel. Para o autor, atravs da possesso da Palavra, da

    Imagem e do Som que se pode tambm oprimir e ento, o pensamento sensvel vem como

    uma forma de evitar que a represso ocorra, mas que tambm no sejamos opressores, Boal

    ressalta que a arte no enfeite, que a palavra no se absoluta, que som no rudo, que as

    imagens podem falar, convencer e dominar, que por meio dos trs poderes Palavra, Som e

    Imagem- podemos chegar nossa condio digna humana.

    Para Scherer a arte,

    [...] entretanto no resolver todas as mazelas de uma sociedade como um blsamo

    mgico para enfrentamento das expresses da Questo Social, uma vez que tais

    expresses so fruto de um sistema que se baseia na explorao e na desigualdade.

    4 Para Vzquez (2011) A atividade prtica sensvel se d atravs do biolgico relacionado com o

    desenvolvimento histrico-social da criao, da objetivao.

  • 23

    Colocar a arte como um elemento de salvao, sacralizar a arte, constitui-se por uma ao que desconsidera a totalidade da realidade, analisando o real por um

    prisma ingnuo, carregado de um romantismo utpico.

    Da mesma forma, reducionista analisar a arte apenas como algo instrumental ,

    abstraindo-a da vida humana, percebendo-a meramente como um meio para

    solucionar problemas individuais , de forma fragmentada , desassociada de uma

    leitura mais ampla da questo poltica que a arte pode articular. Representa uma

    abordagem que limita e reduz o papel da arte no enfrentamento dos processos de

    alienao, na perspectiva da construo coletiva de projetos societrios mais justos e

    igualitrios. (SCHERER, 2013, p. 86).

    Conforme Scherer (2013, p. 86), a arte [...] um elemento da vida humana que tem

    grandes possibilidades, no que diz respeito aos processos de desalienao, bem como as

    possibilidades emancipatrias [...], arte pode nos possibilitar avanos emancipatrios que so

    fundamentais para o reconhecimento do homem e assim, trazer uma grande contribuio para

    a emancipao humana, ou seja, em busca de uma nova sociedade, entretanto o autor alerta

    que, esse elemento constitutivo, ou seja, a arte, no ir solucionar as expresses da questo

    social da nossa sociedade- que so fruto do sistema capitalista- como um toque de mgica, um

    p de pirlimpimpim 5. Ao mesmo tempo no se pode querer compreender a arte como

    fragmentada, servindo apenas para algo isolado, sozinho, individual e descontextualizando-a

    do contexto social, econmico, poltico, cultural, isto se torna algo errneo e limitado, pois,ela

    serve como um dos principais elementos constitutivos, como j dissemos acima, para projetar

    uma sociedade transformada.

    2.2 A arte, a emancipao e o Servio Social

    Verificamos em Prates (2007) dois processos simultneos, primeiro o que relaciona

    arte como representao do mundo e que mostra a configurao das relaes sociais,

    histricas e processuais objetivas, onde podemos inferir que, ela constitui a realidade que nos

    rodeia [...] a arte expressa em cada poca histrica, a representao que os sujeitos fazem do

    real, seus valores, sentimentos, suas concepes, suas percepes [...] (PRATES, 2007,

    p.07). E, o segundo processo conforme a autora que a arte atribui significado aos fenmenos

    e pode se expressar por objetivaes de cunho emancipatrio ou de forma alienada. De acordo

    5 Termo usado pela fada Sininho do filme A Terra do Nunca para designar o nome de um p mgico onde faz os

    personagens adquirem poderes para voar, para viajarem para onde quiserem, por qualquer canto do mundo,

    porm, funciona somente se tiverem pensamentos felizes. Esse p de certa forma contribui para a amenizao

    dos conflitos existentes e melhora a sensibilidade das pessoas.

  • 24

    Jesus, Santos e Nascimento (2012) a arte colabora para que o homem tenha liberdade social e

    de acordo com Prates (2007) o Servio Social pode ser um grande contribuinte para isto, pois:

    [...] o Servio Social, para desvendar as refraes da questo social, de seu objeto,

    precisa decifr-las a partir do acesso s mltiplas fontes onde ela se expressa na sala de aula, no espao da instituio, no movimento social e comunitrio, na vida

    da comunidade, na casa dos usurios, nos textos dos jornais, nos documentos

    institucionais, nas poesias, nas peas de teatro, nos filmes, nas letras de msica, na

    literatura, na fala, no silncio e demais expresses dos sujeitos. A expresso dos

    sujeitos atravs da arte importante material para a anlise do Servio Social, pois

    este desvendamento (e ressalte-se: histrico e processual) condio para

    planejarmos estratgias de interveno. A leitura dessas expresses, no entanto, no

    pode ser descontextualizada, pois localizada histrica, social, geogrfica e

    ideologicamente. (PRATES, 2007, p. 07).

    A arte como referida no incio da seo, faz parte de perodos histricos, onde

    representa a realidade do ser humano e dessa forma o Servio Social que tem como objeto de

    trabalho questo social e suas mltiplas expresses - pode a partir da arte buscar desvelar a

    realidade, nos mais diversos espaos de atuao, sejam eles nas universidades, nos

    movimentos sociais, nas residncias dos usurios, nos hospitais, nas Organizaes No

    Governamentais (ONGs), nos Centros de Referncia de Assistncia Social (CRAS), no

    judicirio, nos condomnios habitacionais, enfim, nos diversos espaos de atuao

    profissional, sejam por meio de jornais, de documentrios, de poesias, de peas teatrais, de

    literatura, nas mais variadas formas, com o objetivo de haver o feedback entre as usurias e as

    profissionais ou mais pessoas que esto envolvidas nesses espaos, sendo essa reciprocidade

    de contato de extrema importncia para desvelar o real, e, no entanto vamos reafirmar

    importncia da arte, desde que esteja contextualizada em seu meio social, poltico,

    econmico,cultural. Faz-se necessrio afirmar que:

    [...] a reflexo apresentada aqui quanto atuao do profissional de Servio Social

    ligada arte no tem como finalidade a formao de artistas e nem que o

    profissional o seja necessariamente (apesar de, como em qualquer prtica, haver a

    necessidade mnima de algum conhecimento especfico). (CONCEIO, 2010, 12).

    A arte contribuir para a formao do futuro assistente social, como tambm, poder

    fazer parte nos diversos campos de atuao, podendo ser usada tanto atravs de msicas, de

    seriados de TV, de pintura, de teatro, de videogame, de obras literrias, sendo trabalhadas de

    uma forma prazerosa onde se tenha a possibilidade de fazer reflexes, trazer demandas,

    crticas, sugestes, onde se possam trazer ideias, para que sejam trocadas, para Guareschi

    (2005, p. 108) nessa reciprocidade, na provocao de um para o outro, d-se o verdadeiro

  • 25

    dilogo que leva ao crescimento mtuo, o autor ainda afirma que os conhecimentos so

    diferentes e podem ser trocados. Conforme Prates,

    [...] para alm da anlise e interpretao, fundamentais realizao de uma

    interveno consequente, estas fontes podem ser transformadas em estratgias e

    utilizadas como instrumentos para o desenvolvimento de processos sociais que

    instiguem processos reflexivos e mediaes com realidades similares. (PRATES,

    2007, p.07).

    Prates (2007) nos traz em um dos exemplos, a dramatizao, onde as cenas do dia a

    dia podem fazer com que grupos reflitam os preconceitos e as dificuldades expressar no

    cotidiano do trabalho, como tambm a utilizao de filmes, de letras musicais, de fotografias,

    que, so elementos que podem nos levar a pensar sobre a realidade, como exemplo da msica

    onde se torna possvel analisar em diversas letras as reivindicaes, a pobreza, outro exemplo

    que pode ser citado aqui tambm, seria a arte grfica, o videogame, onde pode ser trabalhado,

    seja no que diz respeito violncia, a disputa pelo territrio, a prostituio, tudo isso pode ser

    utilizado enquanto estratgia, porm, que estejam contextualizados no social, no econmico,

    no poltico, no cultural. Conforme Jesus, Santos e Nascimento,

    [...] o conhecimento e a compreenso da arte patenteiam novas formas de

    interveno do assistente social sobre determinadas expresses da questo social e

    assim contribui para qualificar a atuao profissional, estimular a reflexo coletiva

    acerca do trabalho profissional que utiliza a arte como mediao e instrumento de

    transformao social [...] no tocante a uma interveno social emancipadora dos

    sujeitos que lutam pela conquista de direitos e cidadania dentro de uma sociedade

    capitalista excludente em sua essncia. Deste modo, trabalhando com a arte, o

    profissional trabalha a incluso social, a disciplina, o respeito, a conscincia e

    estabelece prticas sociais transformadoras, visando ampliao da conscincia

    crtica e a prtica da cidadania. (JESUS, SANTOS e NASCIMENTO,2010, p. 02).

    O profissional assistente social tem a formao fundamentada nos princpios tericos,

    ticos e polticos que so ferramentas para o conhecimento crtico do real, na totalidade e nas

    particularidades, assim, contribuindo para desvelar as expresses da questo social e estimular

    tais reflexes com o coletivo, de uma forma que busque emancipar a sociedade e buscar o ser

    abstracto6, ou seja, que se reconhecesse enquanto ser coletivo numa sociedade. Segundo

    Prates (2007) usar a arte fazendo a relao com os contedos tericos de modo apropriado

    vlido para o Servio Social, pois, a partir da arte podemos desvelar a realidade, o concreto.

    So nessas formas que podemos levar os nossos olhos ao longe e contribuir tambm para a

    mediao, assim, buscando a transformao social, ou seja, atravs das expresses artsticas,

    que nada mais so que uma forma mais leve de nos suspendermos do cotidiano e colocarmos

    6 Nos termos de Marx pode ser visto no segundo captulo.

  • 26

    o nosso ponto de vista, tendo a reciprocidade de trocarmos isso e mais ainda, uma forma de

    transpirarmos mentalmente o que sentimos e lev-los para a sociedade. Assim, fazendo essa

    comparao entre Servio Social e Arte, tendo a sensibilidade como ponto forte para a

    emancipao humana podendo trabalhar os princpios ticos do Servio Social, como a

    liberdade, a democracia, a participao dos sujeitos.

    [...] precisamos nos valer de todas as estratgias que possam aguar nossa

    sensibilidade para desvendar a realidade concreta, ou alongar o olhar; todas as

    estratgias que possam contribuir para o desenvolvimento de processos sociais,

    ampliando nossas cadeias de mediao, o que pressupe o necessrio

    reconhecimento de que, sem a articulao entre razo e sensibilidade, no

    avanamos em processos que se queiram transformadores. E, por fim, que dentre

    estes processos, a anlise das expresses dos sujeitos materializadas na arte como matria-prima e pela arte como estratgia pedaggica e de exposio so, sem dvida, uma potencial alternativa para o trabalho do assistente social. (PRATES,

    2010, p. 12).

    Segundo Prates (2007) se faz fundamental usarmos as diferentes estratgias para a

    atuao profissional seja em qual espao for, podendo aumentar a possibilidade de mediao,

    de articular a razo e a emoo, seja como instrumentalidade, mediao, estratgia

    pedaggica, o assistente social assim, vai para (pessoal do levantamento) articulando a

    universalidade nas condies scio-histrica da profisso, a particularidade na relao

    Estado/Sociedade Civil e a singularidade na relao com o usurio e novas demandas da

    contemporaneidade na profisso (JESUS, SANTOS e NASCIMENTO, 2010, p. 10).

    Conforme Conceio:

    O uso da arte enquanto instrumento de trabalho do assistente social pode contribuir

    para que se atinjam os objetivos profissionais de maneira prtica e prazerosa.

    Contudo, a dinmica do cotidiano profissional, com grande nmero de demandas,

    por vezes contribui para que os profissionais priorizem prticas referentes s

    necessidades bsicas e emergenciais, enquanto as aes voltadas para a educao e

    desenvolvimento do usurio acabam sendo tratadas como segundo plano. (CONCEIO, 2010, p. 15-16).

    A arte tambm podendo ser utilizada enquanto instrumento de trabalho do profissional

    de Servio Social contribui para que a atuao se de por meio de uma prtica sensvel, leve. O

    empecilho em meio essa prtica se d devido a carga de demandas fazendo com que os

    profissionais deem prioridade para certas demandas. Dessa forma, acontece tambm que nas

    instituies a educao, o acompanhamento com o usurio fica interditado, pois, se tem que

    respondem a outras atividades. De acordo com Jesus, Santos e Nascimento (2010) se

    importante discutir a arte, traz-la tambm enquanto instrumentalidade e debater sobre a

    cidadania, o direito do usurio, pois, um direito tambm atend-lo com qualidade e

    acompanh-lo. No primeiro dos princpios fundamentais do Cdigo de tica do Assistente

  • 27

    Social temos: I. Reconhecimento da liberdade como valor tico central e das demandas

    polticas a ela inerentes- autonomia, emancipao e plena expanso dos indivduos sociais

    (COLETNEA DE LEIS, 2009, p. 26).

    Como j foi abordada a emancipao na seo anterior aonde vimos que ela se prope

    para que o ser humano se reconhea enquanto um ser genrico, cidado abstracto do qual

    perceba que o homem um ser coletivo, obviamente que tem as suas particularidades, mas

    que constri uma riqueza produzida socialmente e em meio isso tudo, se perde, se estranha,

    no se reconhece, ou seja, se aliena.

    O Servio Social enquanto uma profisso que trabalha na perspectiva de uma

    sociedade justa, igualitria, de equidade, tem como o primeiro princpio fundamental no atual

    Cdigo de tica, fazer com que o homem se reconhea enquanto um ser que pode sim ter

    liberdade como seu valor principal, pois, o homem sendo livre, pode realmente ter as escolhas

    que contribuam para que ele se torne realmente humano, como tambm, enquanto indivduo

    poltico, onde tome decises, opine se reconhea e se reconhea enquanto autnomo para as

    prprias decises e poltico no sentido de trabalhar a cidadania, o direito de todos os cidados

    que concentram a renda na propriedade burguesa e perdem os seus direitos ou obtm o

    mnimo que tenta garantir uma vida digna, onde haja uma sociedade que realmente se

    transforme, que seja a sociedade emancipada do qual o Servio Social luta nos diversos

    espaos de atuao e onde podemos e ter a arte como contribuio para o reconhecimento do

    homem. Conforme Iamamoto (2012):

    [...] o assistente social no trabalha s com coisas materiais. Tem tambm efeitos na

    sociedade como um profissional que incide no campo do conhecimento, dos valores,

    dos comportamentos, da cultura, que, por sua vez, tm efeitos reais interferindo na

    vida dos sujeitos. (IAMAMOTO, 2012, p. 68).

    Podemos perceber que o assistente social no atua somente no material, naquilo que

    concreto, faz-se um profissional que atua diretamente no conhecimento, na cultura e que

    causam efeitos na vida dos usurios, a partir da troca de conhecimentos, por exemplo, nem o

    usurio, nem o assistente social, sero os mesmos, pois, algo de recproco ficou se aprendeu.

    De acordo com Iamamoto (2012, p. 62) a noo estrita de instrumento como mero conjunto e

    tcnicas se amplia para abranger o conhecimento como um meio de trabalho, conforme a

    autora:

    [...] o conhecimento no s um verniz que se sobrepe superficialmente prtica

    profissional, podendo ser dispensado; mas. um meio pelo qual possvel decifrar a

    realidade e clarear a conduo do trabalho a ser realizado, Nessa perspectiva, o

    conjunto de conhecimentos e habilidades adquiridos pelo Assistente Social ao longo

  • 28

    do seu processo formativo so parte do acervo de seus meios de trabalho.

    (IAMAMOTO, 2012, p. 62).

    O conhecimento, portanto uma forma do qual podemos desvelar a realidade, nos

    guiar na prtica profissional, todo o conhecimento, toda a carga terica que o assistente social

    conseguir carregar servir como um meio para o trabalho. No que diz respeito academia, por

    exemplo, de acordo com Scherer (2013) no h muitas produes tericas sobre arte e ainda,

    temos a lgica mercadolgica da educao, que dispensa a arte enquanto dimenso da vida

    humana, da inquietude que ela traz, da transformao social que ela poder causar, assim,

    comeando na universidade as possibilidades para debater sobre o assunto, para perceber que

    no se tem tantos debates sobre a arte, por exemplo. Conforme Carbonari,

    [...] toma-se como unidade de anlise o Programa de Ps-Graduao em Servio

    Social (PPGSS) e verifica-se, atravs de um levantamento das produes

    (dissertaes e teses) disponibilizadas pela secretaria do programa, do perodo de

    1981 a 2013, que, num total de 346 dissertaes, apenas 04 a arte, teatro e cinema

    como temtica central para mediao do trabalho profissional do assistente social;

    em relao s teses de doutorado, num total de 107 concludas no perodo de 2001 a

    2013, apenas 01 apresenta a arte como mediao. (CARBONARI, 2013, p. 33).

    A partir do exposto acima, podemos verificar que no existem tantas produes sobre

    a arte e que ainda tem que ser bastante explorado no Servio Social, pois, ainda um tema

    inovador. Conforme Carbonari (2013), temos que nos aprofundar sobre essa discusso, sobre

    a importncia dela na formao acadmica, na dimenso pedaggica, que pode ser e deve ser

    utilizado o nosso pensamento crtico histrico visto atravs de uma totalidade, por meio da

    pesquisa a autora tambm pode verificar que existem mais trabalhos que tem como foco a

    mediao no Servio Social frisando que o papel do assistente social est apontando para a

    participao e as discusses polticas, houveram trabalhos que tambm mostraram que se deve

    buscar o aprofundamento da categoria mediao, com o intuito de perceber novas demandas e

    novas possibilidades de atuao do assistente social.

    Portanto, vimos que a arte se torna um dos elementos constitutivos para que possamos

    nos sensibilizar, fazer a dialtica, olhando ela enquanto um produto histrico e recriando ela

    com novas ideias, a partir de reflexes. Podemos atravs das manifestaes artsticas,

    olharmos como que se caracterizam a realidade social, seja do ano passado, da dcada

    passada, do sculo passado.

    No prximo captulo, vamos discutir a dinmica do capitalismo e em particular a

    dinmica de urbanizao dentro deste sistema, o que so Questo Social e as suas expresses

    e sua dinmica de atualizao, buscando assim adensar e complexificar nossa pesquisa.

  • 29

    3 CAPITALISMO, URBANIZAO E AS EXPRESSES DA QUESTO SOCIAL

    Neste segundo captulo iremos realizar trs discusses tericas fundamentais para

    nossa pesquisa. Na seo um a relao entre capitalismo e urbanizao onde focaremos quais

    os elementos dinamizadores que atualizam o capitalismo, com foco especial no processo de

    urbanizao, centro de nosso objeto de pesquisa emprica.

    Na seo dois a partir do j exposto, iremos identificar a Questo Social e suas

    diferentes expresses, qual a sua dinmica e sua centralidade para a anlise e trabalho do

    profissional em Servio Social.

    Na terceira e ltima seo iremos focar nos processo de atualizao das expresses da

    questo social, como a lgica estrutural de desigualdade e concentrao de renda do

    capitalismo se manifesta no processo scio histrico, ou seja, como as expresses da questo

    social se complexificam e se movimentam.

    3.1 Capitalismo e Urbanizao

    Nesta primeira seo abordar-se- dois elementos essenciais para a nossa pesquisa: a

    dinmica do sistema capitalista e os processos de urbanizao dentro dessa economia.

    Buscaremos identificar os principais elementos do processo de atualizao nesse sistema

    econmico, ou seja, sua gnese, suas principais caractersticas, o processo de luta de classes

    (opressora e oprimida) e sua alternativa comunista. A partir da poderemos fazer a analogia

    com a arte7, verificando a dinmica do capitalismo na construo social, na urbanizao,

    analisando assim, as principais caractersticas, como tambm a construo do espao social,

    da cidade a dessa forma verificando tambm as suas principais caractersticas.

    3.1.1. Caractersticas centrais do capitalismo: focando o Manifesto do Partido

    Comunista

    Conforme Marx e Engels (2007), desde o inicio dos tempos existem classes antagnicas,

    ou seja, opressoras e oprimidas. Os autores demonstram como isto se d, apontando as

    diferenas scio histricas com o surgimento da burguesia, a partir, de dois elementos.

    7 Foi visto no primeiro captulo.

  • 30

    O primeiro que a condio de existir a classe dominante que se d atravs da

    acumulao de riqueza nas mos de poucos, que ao invs de ser dividido, se torna propriedade

    privada.

    O segundo Marx coloca que comea-se os mercados nas colnias fazendo a diviso do

    trabalho, a mquina a vapor e a manufatura comearam a se expandir, o comrcio comeou a

    se desenvolver de uma forma muito rpida, assim como os meios de comunicao.

    Para Marx e Engels (2007) a burguesia moderna fruto de um processo das revolues

    dos modos de produo e tambm da troca, pois no feudalismo tnhamos a mesma explorao,

    porm, de outra forma:

    Onde quer que tenha conquistado o poder, a burguesia destruiu todas as relaes

    feudais, patriarcais, idlicas. Dilacerou sem piedade todos os complexos e variados

    laos que uniam o homem feudal e a seus superiores naturais para no deixar

    subsistir, entre homem e homem, outro vnculo seno o frio interesse, as duras

    exigncias do pagamento em dinheiro. Afogou os sagrados frmitos do xtase religioso, do entusiasmo cavaleiresco, do sentimento pequeno-burgus nas guas

    geladas do clculo egosta. Fez da dignidade pessoal um simples valor de troca e, no

    lugar das inmeras liberdades to duramente conquistadas, implantou a nica e

    implacvel liberdade do comrcio. Numa palavra, em lugar da explorao que as

    iluses polticas e religiosas mascaravam, implantou uma explorao aberta,

    despudorada, direta e brutal. (MARX e ENGELS, 2007, p. 50).

    Verificamos o centro do processo da transio do feudalismo para o capitalismo do

    qual a burguesia destri as relaes sociais. Verificamos a partir dos autores termos cinco

    elementos constitutivos desta destruio: laos afetivos e dinheiro, sentimentos dos religiosos,

    cavalheiros e pequeno-burgus, trocados por clculos egostas, substituio da liberdade pela

    liberdade de comercio, transformao da dignidade em valor da troca e restruturao da

    explorao de velada para aberta. Assim:

    Em primeiro destruiu os laos afetivos entre os homens, transformado as relaes

    sociais em relaes monetrias, ou seja, onde o dono da terra no mais vive de troca e sim,

    onde ele pode colocar preo na propriedade privada, assim, tendo o dinheiro como exigncia

    principal.

    Em segundo o sistema capitalista destruiu tambm o sentimento do religioso, do

    cavalheiro feudal e do pequeno-burgus do qual tinha o lote de terra para trabalhar para a

    subsistncia e que com o sistema capitalista, no sendo mais enquanto troca e sim, enquanto,

    pagamento a vista pelas prximas terras desejadas, acabando com a igreja e com o povo

    medieval, troca-se aos poucos uma prestao de contas para os senhores feudais e comea-se

    a dar satisfaes para a burguesia, o que impera nas novas relaes sociais o calculo egosta.

  • 31

    Em terceiro, reduziu todas as liberdades conquistadas e que eram referencias para a

    dignidade do ser humano em liberdades comerciais, ou seja, a partir da competncia

    individual na dinmica do comrcio, o que inicia de forma efetiva um processo de

    fetichizao dos seres humanos que vo acabar se reduzindo a mercadorias

    Em quarto a dignidade humana e sentimentos como honra, orgulho, lealdade e etc. se

    transformam objetivamente em valor de troca, pouse a moral e a tica metamorfoseiam-se em

    mercadorias.

    Em quinto e ltimo lugar, a explorao que era feita pelos senhores feudais e tambm

    pela igreja de uma forma mascarada, comea-se ento, a explorao aberta, tambm

    destruidora e rdua do sistema capitalista, a explorao do trabalho do homem, do trabalho

    assalariado, das horas de trabalho extras que geraram mais-valia para o dono da propriedade

    privada.

    Verificamos ento, que a diviso de classes a base do sistema capitalista, ou seja, a

    burguesia e o proletariado, esto em constante luta de classes, onde a primeira visa o lucro

    com base na explorao da segunda, que, com o esforo do trabalho, cria riquezas coletivas,

    que a classe dominante detm como sua propriedade privada.

    A partir da podemos verificar que a classe dominante capitalista continua se

    atualizando, pois, de acordo com Marx e Engels (2007), a burguesia vive em atrito com ela

    mesma e est em constante concorrncia, assim, movendo as relaes de produo e

    montando o conjunto das relaes sociais, sempre procurando manter-se forte no mercado

    com o objetivo de constantemente manter a concentrao de renda e ampliar o lucro. A

    burguesia comea a ocupar cada vez mais os espaos, estando presente nas diversas partes,

    estabelecendo suas relaes, suas produes, espalhando-se nos mais diversos lugares.

    Percebe-se, assim, um elemento constitutivo central do capitalismo: sua dinmica de

    globalizao. Ou seja, seguida do processo de constante inovao tecnolgica que vai

    aumentando a capacidade de produo e ininterruptamente se alastrando para todas as partes

    do globo terrestre como forma de permanente ampliao do mercado e logo do consumo, que,

    por consequncia vai a prol da lucratividade.

    Para finalizar esta parte sobre as principais caractersticas do capitalismo, vamos agora

    entrar na discusso da alternativa possvel: o comunismo. Para os autores, a classe dominante

    produz a prpria cova, isso quer dizer que, tanto o fracasso da burguesia quanto a sua

    continuidade ou no, so inevitveis, mas para acontecer a derrubada da classe opressora deve

    haver a organizao da classe dominada, pois, a classe proletria deve liquidar com a

    burguesia e uma das formas de se chegar a isso se d atravs do comunismo.

  • 32

    Conforme Marx e Engels (2007) o comunismo a unio dos operrios em prol do

    extermnio da propriedade privada.

    A ideia de abolir as relaes de propriedade no uma caracterstica do comunismo,

    exemplo disso na Revoluo Francesa em que foi abolida a propriedade feudal em prol da

    burguesia. Conforme Marx e Engels (2007) o que caracteriza o comunismo, abolio da

    propriedade burguesa. O comunismo no tira das pessoas a apropriao dos produtos sociais,

    porm, quer suprimir o trabalho escravo. De acordo com os autores, na sociedade burguesa, o

    trabalho vivo seria um meio para acumular e na sociedade comunista, o trabalho viria para

    favorecer os operrios. Para Marx e Engels (2007):

    Os comunistas se recusam a dissimular suas opinies e seus projetos. Proclamam

    abertamente que seus objetivos no podem ser alcanados seno pela derrubada

    violenta de toda a ordem social passada. Que as classes dominantes tremam diante

    de uma revoluo comunista! Os proletrios nada tm a perder a no ser suas

    cadeias. Tm um mundo a ganhar. (MARX e ENGELS, 2007, p.91).

    Desse modo, para realmente haver o comunismo, deve se ter a organizao da classe,

    mas para isso, de acordo com Marx e Engels (2007) os comunistas devem lutar pelos seus

    interesses, pelos interesses da classe operria, se movimentando atravs de partidos, e dessa

    forma, despertar conscincia de uma forma clara dessa luta de classes, onde isso deve se

    expor diretamente para os operrios, a fim de destruir a classe dominante e logo, unir as

    foras para abolir a propriedade privada.

    A existncia da classe dominante e da propriedade privada so caractersticas do

    capitalismo, como tambm, a destruio dos laos afetivos entre os homens, a total influncia

    nas relaes sociais, a falsa liberdade, a competitividade, a dignidade humana e a explorao

    entre os homens, onde se materializa a desigualdade social.

    Dessa forma sinttica procuramos identificar as principais caractersticas do

    capitalismo, o processo da luta de classes e a alternativa da revoluo comunista. Agora,

    vamos refletir sobre o processo de produo do espao urbano e o constante processo de

    urbanizao que ocorre dentro do sistema econmico capitalista que vem seguido dessa lgica

    de capital.

    3.1.2. A urbanizao no capitalismo

    Para Castells (2011), podemos analisar a urbanizao nas formas sociais a partir de

    quatro processos,

  • 33

    1. A histria poltica da formao social na qual a cidade (ou sistema urbano) est

    inserida, e, em particular, o grau de autonomia da camada burocrtica poltica em

    relao aos interesses exteriores.

    2. O tipo de sociedade agrria na qual o processo de urbanizao se desenvolve . Mais concretamente, as formas espaciais sero diferentes, conforme sua

    decomposio seja mais ou menos adiantada, conforme sua estrutura agrria seja

    feudal ou tribal, conforme a maior ou menor concordncia de interesses entre

    grupos dominantes rurais e urbanos.

    3. O tipo de relao de dependncia mantido e, em particular, a articulaoconcreta dos trs tipos de dominao- colonial, comercial e industrial.

    4. O impacto autnomo da industrializao prpria sociedade dependente. Por exemplo, no caso de uma indstria sobre o tipo de residncia e, em especial, sobre

    o meio sociocultural formado pela conjuno de indstrias e de moradias. o

    caso dos aglomerados industriais e de moradias. o caso dos aglomerados

    industriais latino-americanos dominados pela presena de manufaturas ou de

    minas. Mas podemos igualmente descobrir, s vezes, no processo de urbanizao

    derivado do crescimento industrial , a influncia de uma burguesia e de um

    proletariado nacional , que vo marcar o espao com a dinmica de suas relaes

    contraditrias. (CASTELLS, 2011, p. 88).

    Castells (2011) nos mostra que ao analisarmos a urbanizao podemos verificar que

    ela est envolvida diretamente com a histria poltica da formao da sociedade e relacionada

    aos interesses econmicos de acordo a economia de cada classe econmica da sociedade. O

    tipo de sociedade, seja rural ou urbana, tem formatos espaciais diferentes, conforme o

    processo de retrocesso ou avano relacionando logicamente com a economia, varia as

    estruturas, que dependem da concordncia entre os grupos rurais e urbanos, da classe

    dominante.

    O contato entre eles, os tipos de relao de dependncia ou autonomia dependem das

    dominaes: colonial, comercial e industrial. Por exemplo, o crescimento da indstria

    influenciar diretamente na moradia do operrio e claro, nas relaes sociais determinadas

    pelo trabalho, o impacto que causar na sociedade, a indstria atingir no somente o espao

    em que o operrio residir, como tambm o meio sociocultural devido as suas conjunes,

    exemplo disso, os aglomerados industriais, e em meio isso tudo, no movimento das relaes

    paradoxais, tanto a classe dominante quanto a classe proletria iro buscar espao, porm,

    como vivemos num sistema de luta de classes, sabe-se que a classe de ordem vigente que com

    capital concentrado, organizar o espao.

    Castells nos traz a urbanizao na Amrica Latina, que:

    caracteriza-se ento pelos traos seguintes: populao urbana sem medida

    comum com o nvel produtivo do sistema: ausncia de relao direta entre

    emprego industrial e crescimento urbano; grande desequilbrio na rede urbana em

    benefcio de um aglomerado preponderante; acelerao crescente do processo de

    urbanizao; falta de empregos e de servios para as novas massas urbanas e,

    consequentemente, reforo da segregao ecolgica das classes sociais e

    polarizao do sistema de estratificao no que diz respeito ao consumo.

    (CASTELLS,2011, p. 99).

  • 34

    A partir daqui iremos focar a nossa discusso na aglomerao e na segregao que,

    conforme Castells, a populao no tem o mesmo nvel da produo fazendo com que haja

    um vazio no que diz respeito relao entre emprego e crescimento urbano; desequilbrio

    esse que contribuir para a aglomerao da populao; o crescimento incessante de todo

    processo de urbanizao; a ausncia de emprego, a forte segregao desigualdades sociais-

    onde nem todas as classes podem consumir. Castells afirma que [...] a histria do

    desenvolvimento econmico e social da Amrica Latina e consequentemente de sua relao

    com o espao, a histria dos diferentes tipos e formas de dependncia que se organizam

    sucessivamente em sociedades [...] (CASTELLS, 2011, p.100), tais relaes que vo gerar os

    elementos constitutivos da dinmica de urbanizao capitalista, para Lojkine:

    As relaes de produo capitalista, ao mesmo tempo que provocam, com a

    indstria moderna, uma tendncia crescente aglomerao urbana, imprimem uma

    trplice limite a qualquer organizao racional, socializada , do planejamento

    urbano.

    - Um limite ligado ao financiamento dos diferentes elementos que conferem vida

    urbana capitalista o carter que lhe prprio.

    - Um limite ligado diviso social do trabalho no conjunto do territrio e, por

    conseguinte, concorrncia anrquica entre os diferentes agentes que ocupam ou

    transformam o espao urbano.

    - Enfim, um limite proveniente da prpria propriedade privada do solo. (LOJKINE,

    1997, 175).

    Segundo Lojkine (1997) os modos de produo do sistema capitalista implicam na

    indstria moderna que tendem ao crescimento da aglomerao populacional, a urbanizao

    est diretamente ligada com capitalismo, onde se limita, pois, temos a diviso social do

    trabalho e nisso, a concorrncia, limite demarcado da propriedade privada. Para o autor, a

    aglomerao na cidade [...] no de modo algum um fenmeno autnomo sujeito a leis de

    desenvolvimento totalmente distintas das leis de acumulao capitalista [...] (Lojkine, 1997,

    p. 159) no obter o aumento da produtividade do trabalho juntamente com a socializao das

    riquezas geradas pelos meios de produo um dos elementos constitutivos da urbanizao.

    Lojkine (1997) afirma que o aumento do subdesenvolvimento das regies onde possuem os

    meios de consumo coletivos, os meios de circulao materiais, faz num outro lado, haver o

    congestionamento e a ampliao da aglomerao (megalpoles, por exemplo). A partir dessas

    aglomeraes pode-se perceber as diferenas nos espaos, onde alguns so mais equipados e

    outros no, alguns sero vinculados diretamente para os negcios, seriam as zonas de

    residncia da classe dominante e as zonas da classe trabalhadora mais descentralizada e com

    tendncia cada vez de ficar mais distante do centro. De acordo com Castells,

  • 35

    [...] a uniformizao de uma massa crescente da populao, no que diz respeito ao

    lugar ocupado nas relaes de produo (assalariadas) faz-se acompanhar de uma

    diversificao de nveis de uma hierarquizao no prprio interior desta categoria

    social- que, no espao, resulta numa verdadeira segregao em termos de status,

    separa e marca os diferentes setores residenciais, se estendendo por um vasto territrio, que se tornou o local de desdobramento simblico. (CASTELLS,2011, p.

    56).

    Castells (2011) ressalta que as relaes de produo, ou seja, o trabalho assalariado se

    encontra em certa massa uniforme do crescimento da populao e assim, gerando os

    diferentes lugares ocupados na sociedade, que no espao, causa a real segregao, onde afasta

    e marca os diversos espaos residenciais, ocupando o largo territrio que fica sendo,

    simblico. Segundo Castells [...] a integrao ideolgica da classe operria na ideologia da

    dominante caminho junto com a separao vivida entre atividade de trabalho [...]

    (CASTELLS, 2011, p. 57), alm do trabalho, tambm a residncia e a atividade de lazer, cria-

    se a importncia da classe mdia e a dominao do individualismo, onde interferem

    diretamente nas relaes sociais e de segmentos de interesses sob estratgias particulares,

    assim, provocando o espalhamento das residncias [...] seja no isolamento do barraco ou na

    solido dos grandes conjuntos [...] (CASTELLS, 2011, p. 57), para Lojkine (1997) podemos

    perceber a diferena dos trs principais tipos de segregao urbana:

    1) Uma oposio entre o centro, onde o preo do solo o mais alto, e a periferia. O papel-chave dos efeitos de aglomerao explica, a nosso ver, a importncia dessa

    renda de acordo com a localizao. 2) Uma separao crescente entre as zonas e moradias reservadas s camadas sociais mais privilegiadas e as zonas de moradia popular.

    3) Um esfacelamento generalizado das funes urbanas, disseminadas em zonas geograficamente distintas e cada vez mais especializadas: zonas de escritrios, zona

    industrial, zonas de moradia, etc. o que a poltica urbana sistematizou e

    racionalizou sob o nome de zoneamento. (LOJKINE, 1997, 189).

    Lojkine (1997) afirma num primeiro momento que o pedao de terra se torna mais

    caro na parte central do que na periferia, nos bairros mais afastados do centro urbano e assim,

    podemos visualizar a renda da famlia de acordo com a localizao onde mora e, num

    segundo momento o crescimento da separao das zonas mais reservadas, ou seja,