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Taxas de juro e racionamento do crédito em Lisboa (1715-1800) 1 Leonor Freire Costa * Maria Manuela Rocha * Paulo Brito ** 1- Introdução Em economias com capacidade para produzir excedentes, em relação ao consumo, operam-se transferências inter-temporais de recursos, e portanto, de valor. A taxa de juro é a taxa de variação do preço implícito nas transacções inter-temporais e nos contratos a elas associados. É uma das variáveis fundamentais da economia porque sintetiza várias dimensões, nem todas operando no mesmo sentido. As estruturas tecnológicas, institucionais e demográficas determinam as taxas de juro. A primeira diz respeito não só a capacidade reprodutiva dos recursos poupados uma vez investidos (produtividade marginal do capital), mas também aos custos de transacção associados à existência e disseminação da informação. A segunda diz respeito aos tipos de contratos que se podem fazer, à protecção dos direitos de propriedade, à protecção das partes quando há incumprimento, através de contratos bilaterais ou multilaterais, e à coordenação das diferenças de informação que tipicamente estão presentes em contratos inter-temporais. Se estas estruturas serão determinantes da evolução da taxa de juro no tempo muito longo (multi-secular), em prazos mais curtos (digamos, dentro de um século) o comportamento das taxas de juro é influenciado conjuntamente por flutuações macroeconómicas, variações do risco agregado e pela política económica. No caso do século XVIII, estando relativamente ultrapassadas razões de ordem moral ou religiosa na regulação do juro, princípios de economia política orientaram a promulgação de leis que estipularam um tecto máximo para a taxa de juro. Julgava-se esta regulação como uma forma de promoção da actividade económica em geral, ou um incentivo necessário ao investimento de juros de certos sectores considerados prioritários na óptica dos poderes. 1 Texto de um trabalho em progresso. Por favor não citar sem conhecimento dos autores. Primeira divulgação de resultados de um projecto financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia “Money Supply and credit market in pre-modern economies” (EXPL/ EPH-HIS/ 1742/ 2012). * GHES, Instituto Superior de Economia e Gestão, Universidade de Lisboa. ** UECE, Instituto Superior de Economia e Gestão, Universidade de Lisboa. 1

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Taxas de juro e racionamento do crédito em Lisboa (1715-1800)1

Leonor Freire Costa* Maria Manuela Rocha*

Paulo Brito**

1- Introdução

Em economias com capacidade para produzir excedentes, em relação ao consumo,

operam-se transferências inter-temporais de recursos, e portanto, de valor. A taxa de

juro é a taxa de variação do preço implícito nas transacções inter-temporais e nos

contratos a elas associados. É uma das variáveis fundamentais da economia porque

sintetiza várias dimensões, nem todas operando no mesmo sentido.

As estruturas tecnológicas, institucionais e demográficas determinam as taxas de juro. A

primeira diz respeito não só a capacidade reprodutiva dos recursos poupados uma vez

investidos (produtividade marginal do capital), mas também aos custos de transacção

associados à existência e disseminação da informação. A segunda diz respeito aos tipos

de contratos que se podem fazer, à protecção dos direitos de propriedade, à protecção

das partes quando há incumprimento, através de contratos bilaterais ou multilaterais, e à

coordenação das diferenças de informação que tipicamente estão presentes em contratos

inter-temporais. Se estas estruturas serão determinantes da evolução da taxa de juro no

tempo muito longo (multi-secular), em prazos mais curtos (digamos, dentro de um

século) o comportamento das taxas de juro é influenciado conjuntamente por flutuações

macroeconómicas, variações do risco agregado e pela política económica.

No caso do século XVIII, estando relativamente ultrapassadas razões de ordem moral

ou religiosa na regulação do juro, princípios de economia política orientaram a

promulgação de leis que estipularam um tecto máximo para a taxa de juro. Julgava-se

esta regulação como uma forma de promoção da actividade económica em geral, ou um

incentivo necessário ao investimento de juros de certos sectores considerados

prioritários na óptica dos poderes.

1 Texto de um trabalho em progresso. Por favor não citar sem conhecimento dos autores. Primeira divulgação de resultados de um projecto financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia “Money Supply and credit market in pre-modern economies” (EXPL/ EPH-HIS/ 1742/ 2012). * GHES, Instituto Superior de Economia e Gestão, Universidade de Lisboa. ** UECE, Instituto Superior de Economia e Gestão, Universidade de Lisboa.

1

Os limites legais decorrentes de uma proto política monetária não é tema central num

significativo filão de trabalhos na historiografia que se tem interessado pelas relações

entre crédito e actividade económica. Embora não se descure a sua existência, não se lhe

tem dado a devida importância na análise do mercado de crédito. O trabalho inaugural

de North e Weingast (North e Weingast, 1989) secundarizou a política económica como

determinante da variação do juro, porquanto pretendeu destacar as transformações

institucionais que permitiram ao Estado financiar-se a taxas cada vez mais baixas. Os

constrangimentos ao executivo e alterações na fiscalidade, com incremento de receitas,

tornam-se o argumento explicativo da redução do risco agregado. A gradual

mobilização de poupanças individuais terá sido o resultado da segurança incutida pelo

Estado nos mercados financeiros, negligenciando estes autores a possibilidade de

crowding out.

Estudos subsequentes criticaram várias destas asserções, mas nem por isso ofereceram

uma visão consensual sobre tendências do juro e suas repercussões na oferta de crédito.

Por um lado, o impacto positivo das alterações institucionais na esfera dos

investimentos privados, que pressupunha uma articulação entre mercado da dívida

pública e mercado de crédito privado, foi questionado (Buchinsky e Polak, 1993; Clark,

1996). Por outro, uma série da dívida pública alargada a todo o século XVIII mostrou

que a remuneração do capital se manteve relativamente elevada e que as taxas flutuaram

em resposta a choques externos, instabilidade política e a guerra (Sussman e Yafeh,

2002). Por fim, uma observação estritamente centrada no sector privado, através da

actividade de um banco londrino entre 1680 e 1705, não encontrou comprovação para a

redução do risco agregado, já que as taxas de juro não cederam e revelaram mesmo uma

subida depois da guerra de Sucessão de Espanha (Quinn, 2001). Uma tendência que só

seria interrompida com a administração da taxa a 5% por legislação de 1714.

Estudos sobre crédito privado em Paris questionaram por outras vias as asserções de

North e Weingast, embora mantivessem em destaque o papel das instituições e

dispositivos de minimização de risco (Hoffman, et. al., 2000). O notariado destaca-se

como instituição fundamental, em particular na solução para problemas de assimetria de

informação. Ao centralizar informação sobre activos hipotecados e capacidade de

cumprimento dos devedores, esta instituição contribuiu para superar a falta de bancos na

mobilização de poupanças. Apesar de o regime francês em nada se assemelhar ao caso

inglês, o sistema financeiro beneficiou de mecanismos de redução do risco, cuja eficácia

2

está atestada no crescente volume de crédito transaccionado depois de 1726, uma vez

superadas as perturbações causadas pelas reformas de John Law.

A secundarização dos impactos de taxas de juro administradas na evolução do mercado

de dinheiro constitui uma fragilidade do estudo sobre Paris na visão dos mais recentes

trabalhos sobre crédito privado em Inglaterra (Temin e Voth, 2013). Estes autores

destacaram a importância de uma avaliação conjunta das taxas administradas e do

volume do crédito, pois comprova-se que estando o limite legal abaixo do ponto de

equilíbrio teórico (de encontro livre entre oferta e procura) há alterações no mercado por

ajustamento das quantidades oferecidas. Por seu lado, os casos de taxas indicadas em

Paris, abaixo dos 5% administrados, forneceriam informação pertinente para questionar

a operabilidade do limite legal para a existência de racionamento de crédito. Na obra

destes autores, atentos aos efeitos da regulação da taxa na curva da oferta de dinheiro, é

acrescentada mais uma crítica ao argumento de North e Wiengast. A imposição de uma

taxa máxima restringiu o crédito privado, enquanto a segurança depositada na dívida

pública não exclui o crowding out como causa adicional da escassa participação dos

bancos privados ingleses no financiamento da revolução industrial.

A relevância das taxas de juro, mesmo que administradas, está confirmada pelas suas

consequências na variação dos montantes mutuados. Os estudos sobre crédito em

Portugal não têm caracterizado a evolução do mercado, nas suas vertentes de juro e

quantidades, pelo que é notória a falta de uma perspectiva dinâmica e secular deste

problema.

Verificando-se a ausência de casas bancarias na intermediação financeira a literatura

focou-se no papel de certas instituições (misericórdias e conventos) e na identificação

sociológica dos devedores e credores (Sá, 2002; Amorim, 2006; Rocha, 1996). A

imagem obtida revela grande dispersão da oferta e acentuada difusão social e

institucional do empréstimo (Rocha, 1996). Apesar da existência de alguns casos de

especialistas na actividade creditícia (sobretudo negociantes e desembargadores), a

análise baseada nos inventários post-mortem assinala a frequência com que o

empréstimo era concedido de forma esporádica por uma multiplicidade de indivíduos,

sinalizando uma pulverização do mercado. Embora não se obtenha informação de

volume total de crédito nos períodos estudados, algumas referências pontuais dão

notícia de 6,25% ser a taxa mais frequente até à intervenção pombalina.

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Por alvará de 17 de Janeiro de 1757 este mercado foi regulado pela fixação

administrativa da taxa de juro a 5%. De forma distinta do que ocorreu em Inglaterra, a

intervenção pública não vem na sequência da guerra de Sucessão de Espanha, mas é

possível associa-la a outro tipo de choque externo, com uma dimensão mais destrutiva

de capital que as guerras noutros contextos europeus: o terramoto de 1755. Pela sua

inserção nesta conjuntura específica podemos supor que a motivação da legislação

portuguesa, visando acautelar o aumento do custo do dinheiro, era uma resposta directa

a uma fase marcada pelo aumento da procura decorrente da necessária reconstituição do

capital destruído pelo terramoto. A lei não explicita este propósito, evocando-se apenas

a pretensão de incentivo “ao comércio”, no que se equipara à legislação inglesa.

Ensaios sobre o século XVIII não ignoram esta lei, embora as suas consequências

económicas sejam secundárias nas preocupações dos autores que a citam. Elencada no

conjunto das iniciativas que procuravam superar os rescaldos nefastos do terramoto

(Cardoso, 2007), o leitor é levado a crer na sua eficácia. Quando citada nos estudos

específicos do mercado de crédito, é tomada como uma ordenação que, como qualquer

outra, pode ser contornada e suscita um quadro mais apertado de controlo dos poderes

públicos (Madureira, 1994, Rocha, 1996). Está por esclarecer se a lei pombalina visava

resolver um problema casuístico decorrente do terramoto ou se pretendeu disciplinar um

mercado onde as taxas flutuariam livremente havia várias décadas muito acima dos 5%.

Desconhece-se, portanto, se as taxas nominais portuguesas antes da sua regulação

estavam muito ou pouco afastadas das praticadas nas praças europeias onde a fixação

foi realizada nas primeiras décadas do século. Por último ignora-se a consequência desta

administração: se imprimiu ou não um ritmo distinto à variação do volume de crédito.

Este texto procura avaliar quais as consequências da intervenção pública no mercado de

crédito privado, por uma análise do volume e da evolução da taxa de juro a partir de

dados recolhidos na instituição notarial de Lisboa. Beneficia da riqueza informativa

desta documentação e da possibilidade de construção de séries temporais longas e

homogéneas sobre quantidades e juros. Coloca como hipótese que a administração da

taxa de juro interferiu negativamente nas quantidades emprestadas, podendo ter-se

repercutido nos ritmos de recuperação da catástrofe. Utilizando outros detalhes dos

contratos, superiores aliás aos que estiveram na base dos estudos do crédito em Paris e

Londres (que omitem as aplicações que suscitaram o pedido de empréstimo), o presente

trabalho questiona ainda que sectores e que tipo de despesas mais recorreram a

4

empréstimos. Uma avaliação das aplicações antes e depois da intervenção política no

mercado permite completar o estudo das implicações de uma legislação que interferiu

numa das variáveis macroeconómicas de mais complexas dimensões.

2- Dados: notários em Lisboa

As informações sobre crédito notarial em Lisboa exploradas no presente trabalho

suportam-se na recolha exaustiva de contratos de obrigação de um ofício entre os

dezoito existentes na cidade, uma vez confirmados os seus requisitos para servir de

amostra representativa. Os critérios de selecção consideraram: a) existência de uma

série contínua de livros de notas para todo o século XVIII; b) possibilidade de

identificação da sucessão de tabeliães e dos momentos em que se alterou a serventia do

ofício; c) exibição de um ritmo de actividade sem grandes variações conjunturais, e com

uma ponderação regular no conjunto de todos os ofícios da cidade. Estes requisitos

presumem que o cartório notarial escolhido tem uma actividade próxima da média e,

sobretudo, que não revela as oscilações acentuadas que tantas vezes acompanham a

mudança de notário ou os acidentes específicos que afectam o estado de preservação

arquivística.

A selecção do cartório exigiu, portanto, um conhecimento prévio da instituição notarial,

no seu conjunto. Nela se espelha a importância da contratualização formal ao longo do

século XVIII, envolvendo todo o tipo de transacções. Permite identificar o lugar das

obrigações por empréstimos de dinheiro e quais os ofícios que poderiam respeitar os

critérios enunciados. Os fundos do chamado Distribuidor, organismo responsável por

arrolar as escrituras celebradas nos 18 ofícios, prestam-se a esse inquérito com relativa

segurança até 1776. Registam os ritmos de actividade de todos os cartórios (mesmo os

que hoje não se encontram em depósito arquivístico) e incluem os múltiplos tipos de

escrituras (Figura1).

Figura 1- Ritmo de actividade dos 18 ofícios notariais de Lisboa

5

Fonte: ANTT – Arquivo Distrital de Lisboa, Cartório do Distribuidor

O número de transacções com sinal público experimentou um crescimento acentuado

entre 1700 e 1725 (6000 para 9000), altura em que se encetou uma tendência

descendente, pelo que a redução da participação de notários nos mercados de diferentes

activos não aparenta uma relação directa com o terramoto. Certamente a catástrofe

traumatizou a vida quotidiana da cidade, e verifica-se que provocou uma quebra abrupta

de 7000 para pouco mais de 4000 contratos no próprio ano de 1755, mas não nos anos

subsequentes. O que quer que tenha sucedido na cidade de Lisboa após o 1º de

Novembro de 1755, a instituição notarial não o espelha, ao menos pelos ritmos de

elaboração de escrituras, mantendo-se a linha descendente iniciada na década de 1720.

Os múltiplos factores desta lenta e continuada retracção da actividade dos notários

extravasam a questão específica do mercado de crédito. Qualquer pesquisa dependente

de registos emanados de contratos públicos levanta o problema de alterações nos

incentivos dos agentes para recorrerem a instrumentos com validade judicial, enquanto

dispositivos de minimização de risco. Mas também não será de excluir uma leitura da

actividade notarial pelo seu conteúdo facial, o que supõe que ela oferece uma

informação robusta sobre o dinamismo dos mercados que mais frequentemente

recorreram a contratualização com sinal público: compra-venda, arrendamento,

aforamento, quitação, fretamento, obrigação de empréstimo, além da sempre presente e

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esmagadoramente representada escritura de procuração2. Deste modo, a ponderação das

escrituras de obrigação no conjunto dos contratos pode ser reveladora das flutuações do

mercado de dinheiro (Figura 2).

Figura 2- Percentagem de obrigações no conjunto das escrituras notariais

Fonte: ANTT – Arquivo Distrital de Lisboa, Cartório do Distribuidor

Nota-se, com efeito, que houve um acréscimo percentual de obrigações até 1723,

chegando a perfazer 25% de todas escrituras. Fixam-se depois em torno dos 15% até

1755; decrescem para os 10% e aí estabilizam, pelo que o retraimento do mercado de

obrigações terá tido o mesmo ritmo dos demais que procuraram a mediação notarial.

Estas observações baseadas no universo global dos ofícios escondem, todavia,

diferenças importantes entre cartórios. A apreensão da diversidade facultou o

reconhecimento do(s) ofício(s) que poderiam fornecer os dados para uma amostra

representativa das regras correntes nas transacções de dinheiro (Figura 3).

2 A literatura sobre o sistema notarial e sua relação com o sistema socio-económico é muito ampla e mereceu diferentes trabalhos desde a década de 1970. Chamamos a atenção para o especial contributo de Jean-Paul Poisson e para as actas dos diferentes encontros que versaram esta fonte documental, a qual, estranhamente, não tem tido muitos seguidores na historiografia portuguesa. Laffont, Jean L. (ed), 1991; Poisson, Jean-Paul (1973), Poisson, Jean-Paul (2002); Vogler, Bernard (ed) (1979).

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Figura 3- Estatística das obrigações nos 18 ofícios de Lisboa e no ofício seleccionado

Fonte: ANTT – Arquivo Distrital de Lisboa, Cartório do Distribuidor

A heterogeneidade de ritmos de actividade dos vários notários no mercado de crédito

expressa-se nos elevados valores do desvio padrão que caracterizam a primeira metade

do século, coexistindo cartórios muito activos com outros quase estagnados. A

informação mais significativa é, precisamente, a redução dessa disparidade depois de

1755, adequando a maior homogeneidade dos cartórios. É, agora, possível afinar as

conclusões que a figura 2 adiantou. A descida do número de obrigações depois de 1725

espelha sobretudo a decadência de alguns dos ofícios até então mais dinâmicos, por

vicissitudes desconhecidas e que aqui não são relevantes. Já a redução do número de

contratos de obrigação depois de 1755 afectou todos os cartórios, tornando os valores

do desvio padrão bastante baixos e reduzindo a dispersão entre mínimos e máximos do

número de contratos celebrados. Deste modo se individualiza o cartório de Henrique

Barbuda, um dos que esteve na linha da média e de que conhecemos as sucessões,

reveladoras da patrimonialização do ofício, que passou de pai para filho e em pouco

recorreu a serventuários. Escapou à destruição de 1755, e pôde manter um ritmo de

actividade ligeiramente superior ao que exibiu até essa data. Dez anos após a catástrofe

aproximou-se novamente da média.

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Do cartório de Henrique Barbuda foram coligidos todos os contratos de obrigação de

empréstimos de dinheiro e de crédito a risco marítimo entre 1715 e 1800, perfazendo

uma amostra de 3263 contratos3. As datas limites da pesquisa prendem-se com a

cronologia de outras séries macroeconómicas disponíveis e que serão operacionalizadas

em futuros trabalhos sobre este tema. Trata-se, concretamente, da série de oferta de

moeda metálica, cuja variação é conhecida com maior segurança a partir de 17184.

Mercê da entrada em circulação do papel-moeda em 1797, considerou-se que a análise

deveria circunscrever-se aos anos de circulação exclusiva de moeda metálica,

concebendo-se três anos à margem, para início (1715) e fim (1800) da recolha de

informação.

Em cada contrato constam clausulas relevantes para a construção de várias séries, entre

as quais as respeitantes a montantes mutuados, maturidades da dívida, aplicações a que

se destina a quantia mutuada, taxas de juros, periodicidade do pagamento dos juros,

colaterais, além de, naturalmente, nome e ocupação socio-profissional ou estatuto de

credores e devedores. No presente trabalho pretendemos incidir nas cláusulas que

facultam um quadro global da evolução do crédito no século XVIII, para dele inferir os

efeitos da lei sobre taxas de juro. As séries pertinentes para esse fim respeitam ao

volume total anual de crédito, número de contratos celebrados, seu valor médio

(nominal e real), taxas de juro e aplicações do crédito contraído. Começamos por

considerar as quantidades.

3- O volume de crédito

No estudo do volume (quantidades emprestadas) e do número de obrigações, aparece

uma fractura em torno de 1757- 1760 (Figura 4 e Figura 5).

3 ANTT, Arquivo Distrital de Lisboa, 2º Cartório Notarial de Lisboa (antigo 1º). 4 Costa, Rocha, Sousa (2013).

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Figura 4- Valor total (anual) dos contratos (1715-1800)

Fonte: ANTT, Arquivo Distrital de Lisboa, Livros de Notas do 2º Cartório Notarial de Lisboa (antigo 1º).

Figura 5- Número de obrigações (1715-1800)

Fonte: a mesma da Figura 4.

O volume total de crédito aumenta na primeira metade do século, não só porque se

celebram mais contratos, mas também porque aumenta o seu valor médio (Figura 6).

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Depois desta fase, apesar de haver uma manutenção do valor médio por contrato, são

perceptíveis a redução do número de escrituras de crédito e volume total.

Figura 6- Valor médio dos contratos de obrigação (1715-1800)

Fonte: a mesma da Figura 4

Em termos de valor médio dos contratos, os mínimos situam-se nos 159.996 e 175.487

réis, no início do período, (1719 e 1716) enquanto o máximo se situa em 1.545.176 réis

(1787). A mediana, 599.442 réis, reporta a uma soma longe de insignificante num

século em que os salários do trabalho não qualificado estabilizaram em torno dos 200

réis e os qualificados (carpinteiros e pedreiros) saltaram de 200 para 300 réis na década

de 17205. Aquela maquia representa um crédito que careceria de cerca de 8 anos de

trabalho qualificado para amortização. A relação entre rendimento e esforço de

amortização exigido ao devedor melhor se expressa no facto de em apenas um caso a

maturidade indicada ter sido os 9 anos. O prazo mais frequente foi um ano, ainda que a

possibilidade de prorrogação por entendimento das partes descubra a vulgaridade de

transacções que, prevendo o curto prazo, se transformaram em relações menos

exigentes, não obstante a manutenção da taxa de juro acordada inicialmente.

5 Dados sobre salários resultados de projecto “Prices, Wages and Rents in Portugal, 1300-1900”, financiado pela FCT, coordenação de Jaime Reis, em http://pwr.dev.simplicidade.com.pt/000000/1/index.htm

11

As taxas de inflação do século XVIII reforçam essa percepção do crescente

estrangulamento do mercado de crédito (Figura 7). A taxa de inflação teve uma

tendência secular positiva ainda que haja uma clara diferença entre a primeira e a

segunda metade do século, como no resto da Europa. Até ao início da década de 1750 a

variação média é cerca de 0,5%, começa a aumentar despois dessa data e ultrapassa os

2,5% na década de 1780 em diante. Significa, assim, que em termos reais o mercado de

dinheiro em Lisboa, mediado por notários, sofreu uma continuada e pronunciada

contracção depois de 1755-1757.

Figura 7 - Valor real do crédito (1715-1800) a preços de 1716.

Fonte: Preços em http://pwr.dev.simplicidade.com.pt/000000/1/index.htm6

Esta conclusão é tanto mais representativa quanto a substituição do capital destruído

pela catástrofe natural, pela sua imensa dimensão, levaria a esperar um boom de

contratos e do volume de crédito pelas décadas subsequentes, e não apenas nos dois

anos seguintes. Os dados questionam uma visão optimista sobre a rapidez com que

foram superadas as consequências da destruição. Recentes ensaios sobre impactos

6 “Prices, Wages and Rents in Portugal, 1300-1900”, projecto financiado pela FCT, coordenação de Jaime Reis. Composição do cabaz: 208kg de cereais; 26 kg carne; 7,8 lt azeite; 4,3 dúzias de ovos; 68 lt vinho; 70,8 kg carvão (cerca de 42% em cereais).

12

económicos do sismo fornecem ordens de grandeza que vale a pena confrontar com o

volume máximo de crédito com registo em notários de Lisboa.

Os montantes totais anuais exibem uma dispersão superior à que se apreende nos

valores médios, com um mínimo de 5.629.193 réis registado em 1793 os dois máximos

de 68.928.170 réis e 77.308.315 registados em 1757 e 1758, significativamente anos

posteriores ao terramoto. Considerando a representatividade no cartório seleccionado no

conjunto dos 18 ofícios, e extrapolando o volume do crédito por ele intermediado para o

total da cidade, especula-se de forma fundamentada que em 1757 os empréstimos

poderão ter chegado a 891,8 contos e a 1.044, 8 contos em 1758, totais que logo terão

descido para 624 contos em 1759 e 477,8 em 1760.

Os dois anos imediatos ao cataclismo repercutiram-se num circunstancial boom de

crédito. Embora as somas em causa sejam extraordinárias, e apesar da imprecisão com

que se pode quantificar o capital destruído na cidade, é verosímil que correspondam a

1/10 dos danos estimados, só para o capital residencial (11520 contos, para as cerca de

12000 casas em ruína), além dos 4 mil contos em edifícios públicos (Cardoso, 2007, p.

166). Suspeita-se por relatos coevos que um décimo das habitações foi totalmente

arrasada, e das 90% restantes, ficaram inabitáveis 2/3, pelo que restaram de pé e em

condições, ainda que a carecer de reparações, apenas 30% (Serrão, 2007, nota 8, p.161).

Não entrando com qualquer estimativa de capital perdido em mercadorias, em armazéns

e alfândegas, assim como navios e cargas, e à parte os danos sofridos pela Igreja (mercê

dos muitos mosteiros, igrejas paroquiais e conventos arrasados) só mantendo-se tão

excepcionalmente elevado o volume do crédito transaccionado poderia a reposição levar

10 anos. Pelas figuras 4 a 6 sabe-se que os montantes mutuados estavam em 1760

reduzidos a metade de 1758. Cremos que o comportamento do mercado sugere uma

visão pouco optimista do ritmo da recuperação do abalo e compagina-se com descrições

de Lisboa com vários vestígios de escombros já entrado o século XIX (Lousada, 2007).

Os mais recentes estudos sobre os impactos económicos do terramoto abordam de

forma inovadora o acontecimento que necessariamente afectaria a evolução da

economia no médio prazo, e exploram os contributos de estudos actuais sobre

catástrofes, os quais elucidam os percalços e dificuldades de uma recuperação. Pugnam

por uma quantificação dos estragos com metodologias mais rigorosas e avançam com

conjecturas credíveis sobre a escala da destruição, sendo possível que 20% do capital

13

fixo da economia nacional tenha sido arruinado7. Convém referir, ainda, que fica

devidamente sublinhado o lado “moderno” dos caminhos da retoma da economia, uma

vez que a acção do poder político em muitos sectores deixou às forças livres do

mercado o ajustamento dos factores. Assim, após medidas estritas de urgência na

sequência do cataclismo, um dos princípios norteadores de Pombal baseou-se em

“entregar ao mercado o mais depressa possível satisfação das necessidades quotidianas

da população”. Todavia, nestas excelentes sínteses, mantêm-se intocada uma velha

imagem de eficácia da acção política, capaz de enterrar os mortos e tratar dos vivos e de

levar a acabo significativas reformas institucionais em muitos domínios. Desta imagem

de eficácia emerge a noção de uma relativa rapidez da superação dos efeitos “do abismo

insondável”, nas palavras de coevas, em que o terremoto mergulhara a reino (Cardoso,

2007, p.168).

A história do crédito notarial coloca cores distintas neste retrato pela retracção das

quantidades transaccionadas e recorda a sua possível relação com as medidas tomadas

pela acção pombalina. Em primeiro lugar, não foi um sector entregue às forças livres do

mercado, sendo administrada a taxa de juro. Em segundo lugar, e já que uma catástrofe

é também conjuntura favorável a transferências entre os que salvaram as suas fortunas e

capitais e os que tudo perderam, a administração de uma variável que interfere no preço

destas transferências é passível de muitos efeitos contraditórios entre si. Pode favorecer

a realização de contratos ilegais, com taxas especulativas, ou dar menos incentivos aos

credores que procurem remuneração superior para os seus capitais. Um mercado ilegal

pode emergir para contornar taxas de juro administradas abaixo do ponto de equilíbrio

do mercado, e este poderá estar acima por vários factores. Ou porque a informação

assimétrica entre credor e devedor eleva o risco na transacção, ou porque há uma

escassez dramática de colaterais. Qualquer destas respostas dos agentes repercute-se na

retracção das quantidades. Seja qual for a razão que favoreça a contratualização

informal a taxas superiores às administradas, o risco da ilegalidade não é o melhor dos

incentivos ao crescimento do mercado de crédito, mas sim à sua segmentação.

7 As mais recentes e enriquecedoras reavaliações do nível de destruição encontram-se nos contributos de José Luís Cardoso e de José Vicente Serrão na colectânea de ensaios O Terramoto de 1755. Impactos Históricos, editados por Araújo et al. (2007), sendo de destacar a precedência deste enfoque nos documentos de trabalho de Álvaro Santos Pereira, com versão definitiva em Pereira (2009).

14

Uma análise da evolução das taxas de juro, antes e depois de 1757, pretende testar a

verosimilhança da hipótese de uma contracção da oferta em virtude da interferência de

medidas reguladoras.

3- As taxas de juro no mercado de Lisboa

A fixação da taxa de juro a 5% é uma das principais medidas de política económica

pombalina, nunca ignorada na historiografia, mas nunca devidamente incorporada na

análise da recuperação (ou não recuperação) do terramoto, pelos seus efeitos de curto e

médio prazo na economia. No preâmbulo do diploma ecoa o postulado dos benefícios

da fixação do juro, esse preço implícito nas transacções intertemporais e nos contratos a

elas associados. Impedir-se-iam os exorbitantes juros praticados e criar-se-iam as

condições ideais ao crescimento do comércio. O legislador actuou no mercado de

crédito como actuou com as rendas urbanas imediatamente após a catástrofe,

pretendendo salvaguardar o estado de emergência do comportamento dos

especuladores8. Contudo, a medida não foi apenas de emergência. Não sendo revogada,

passou a regular o mercado de crédito de 1757 em diante.

Uma das questões de onde partimos prende-se, justamente, com uma averiguação mais

detalhada dos efeitos desta lei. Para tal, é necessário saber se contrariou as forças

“naturais” do mercado livre, interrompendo uma tendência altista das taxas de juro que

afastava a taxa nominal em Portugal da que era corrente nas praças europeias; ou se essa

tendência seria meramente casuística, por acção do terramoto.

A evolução dos montantes transaccionados, acima apresentada, indica que o mercado de

dinheiro sofreu uma alteração. A redução das quantidades, coincidindo com a fixação da

taxa de juro por imposição legal, levanta a hipótese de em Portugal a intervenção do

Estado ter tido efeitos idênticos aos verificados em Inglaterra aquando da descida de 6%

para 5% por determinação de uma lei de 1714. A imposição de um preço máximo, se

respeitada pelos agentes, terá feito com que o mercado funcionasse em desequilíbrio e

terá introduzido um racionamento (Temine e Voth, 2013).

Convém, então, esclarecer o que se entende por racionamento. Há duas noções básicas.

A primeira é resultante da operação do mercado de crédito em situações de risco muito

elevado (ver, por exemplo Stiglitz e Weiss, 1981 ou Brito e Melo, 1995), que ocorre

8 Cardoso (2007), p. 172.

15

quando o rácio de endividamento em relação aos potenciais colaterais é muito elevado.

Devido à existência de informação assimétrica, a curva da oferta pode-se tornar

virtualmente vertical, o que significa a introdução, por parte de oferta, de um limite

máximo para o endividamento. Não é provável que a redução das quantidades em

Portugal se devesse a este tipo de racionamento “de mercado”, embora a destruição de

colaterais possa contribuir para esta forma de racionamento.

Todavia, sabendo-se da lei de 1757 é mais provável ter havido um racionamento de tipo

administrativo. Este segundo significado de racionamento existe em mercados que

operam em regimes de desequilíbrio, verificando-se usualmente em economias onde há

imposição de limites administrativos à variação da taxa de juro. Se a taxa de juro

administrada for fixada a um nível diferente da taxa de juro de equilíbrio, então há

racionamento de crédito. O lado mais curto do mercado determina as quantidades de

crédito que são contratadas: se a taxa de juro for mais baixa do que a taxa de juro de

equilíbrio, o lado mais curto do mercado é o da oferta; se for mais lata, o lado mais

curto é a procura. Caso a taxa de juro administrada seja fixada como um tecto máximo,

tal como na experiência de Pombal, há duas situações possíveis: 1- o tecto da taxa de

juro é inferior à taxa de juro de equilíbrio, tornando o limite operativo e havendo

racionamento de crédito; 2- a taxa de juro em equilíbrio é inferior ao limite legal, e este

deixa de ser operativo. Nesse caso, o equilíbrio entre oferta e procura estabelece-se

como num mercado sem intervenções.

Para averiguar a hipótese de racionamento, foi construída uma série de taxas de juro a

partir de contratos homogéneos, o que constitui a principal vantagem do recurso a

fontes notariais. Trata-se de empréstimos com clausulas idênticas, com juro anualizado,

na maioria com maturidades de um ano, e se prorrogáveis com o acordo das partes sem

alteração do juro. A amostra incide, assim, nas obrigações e exclui os contratos de

dinheiro a risco e todos os casos em que maturidades e juro não eram informação

segura. A Figura 8 mostra a evolução das taxas narradas nestes contratos:

Figura 8- Taxas de juro nominais (média ponderada por quantidades)

16

Fonte: a mesma da Figura 4.

Ao longo de Setecentos é possível identificar três fases: uma entre 1715 até 1756, uma

segunda fase entre 1757 e 1780 e uma terceira entre 1781 e 1800. As figuras 9 a 11

procuram representar o mercado de equilíbrio parcial nestas três fases acima indicadas e

discutir em que circunstancias se poderá falar de racionamento na sequência da

promulgação da lei de 1757.

Figura 9- Período de 1715-1756

Nesta e nas seguintes figuras, o eixo vertical representa a taxa de juro e o eixo

horizontal as quantidades emprestadas para uma dada taxa de juro. A curva D

17

representam a procura. Sabemos que no período de 1715 a 1756, em regime livre, as

quantidades de crédito aumentaram e as taxas de juro médias reduziram-se,

tendencialmente. Este comportamento sugere um aumento da oferta de crédito

(deslocação de S0 para S1), possivelmente associada a um aumento geral da liquidez na

economia, com uma deslocação da curva de oferta de crédito ao longo da curva da

procura. Mesmo que se tenha havido deslocação da curva da procura, a expansão da

oferta de crédito de crédito a evolução do equilíbrio do mercado.

A segunda fase, que vai de 1757 a 1780, sensivelmente, foi iniciada pela fixação do

tecto de 5% pela lei pombalina. Verificamos que neste período as taxas de juro médias

se mantiveram estacionárias ao nível de 5%, mas a quantidade de crédito se reduziu. A

Figura 10 descreve o comportamento do mercado em equilíbrio parcial nesta fase, sendo

o juro fixo.

Figura 10- Período de 1757-1780

Considera-se que o tecto estabelecido introduziu efectivamente um racionamento no

mercado do crédito e que a linha estacionária nas taxas de juro indicia ter sido operativo

na maior parte do período. Significa que a taxa de juro foi fixada abaixo do que seria

uma taxa de juro de equilíbrio no mercado sem intervenção, por isso as quantidades de

crédito transaccionadas terão sido determinadas pela oferta, que se tornou o lado "curto"

18

do mercado. Neste período houve contração da oferta de crédito (deslocando-se S0 para

S1) coincidente, ainda, com o aumento da inflação e com alteração da taxa de incidência

do imposto da décima, com nova legislação9, o que, conjuntamente, resultaria numa

redução da remuneração real para os credores. NO entanto, após 1780, o limite de 5%

parece ter correspondido a uma taxa de juro próxima da taxa de equilíbrio. Esta

evolução só terá sido possível devido a uma contracção muito significativa da procura

de crédito (deslocação de D0 para D1)

Uma alteração entre a taxa de equilíbrio e taxa administrada deverá ter ocorrido depois

de 1780. A Figura 11 descreve a fase final do século XVIII que tem a particularidade de

assistir a uma descida das taxas de juro, deixando de ser operativo o tecto administrado,

mas perpetuando a contracção das quantidades.

Figura 11- Período de 1781-1800

Ao longo deste período final do século XVIII, mesmo havendo uma pequena redução da

oferta (deslocação de S0 para S1), ter-se-á verificado a continuação da contracção da

procura de crédito, mais do que suficiente para compensar o efeito de racionamento

introduzido pelo limite da taxa de juro de 5%, (deslocando-se a curva da procura de D0

para D1) É possível conjecturar que essa contracção da procura, resultante

eventualmente da recessão da actividade geral da economia, terá feito com que a taxa de

9 Alvará de 26 de Setembro de 1762.

19

juro em equilíbrio se tornasse inferior ao limite legal. Ou, seja, a taxa de juro de

equilíbrio estaria próximo e por vezes inferior a 5%.

Em síntese, considera-se verosímil a hipótese de racionamento do crédito até 1780. E se

o limite deixa de ser operativo por contracção da procura, esta periodização do século

XVIII compagina-se com conclusões de anteriores trabalhos incidentes na oferta de

moeda. Também aqui se identificaram sinais de economia em recessão nas duas últimas

décadas do século (Costa, Rocha, Sousa 2013). Além disso, verificou-se que a

promulgação da lei no ano de 1757 não se inseriu numa tendência marcadamente altista,

que eventualmente se seguisse ao terramoto. A legislação que alega os elevados juros

praticados devolve uma avaliação do mercado que os contratos não confirmam.

Encontrou-se uma tendência descendente desde 1715, que parte de taxas de 6,25% e que

atinge os 4,9% em 1749. Apesar da evolução descendente, em 1756, no ano anterior à

promulgação do alvará, as taxas médias praticadas em Portugal estavam a 5,6%, isto é,

0,6 pontos percentuais acima do limite que será fixado e do que era corrente no crédito

privado londrino, igualmente sujeito a este tecto administrado.

Até 1757, a evolução das taxas de juro indicam um ponto de equilíbrio parcial em

regime de mercado livre. Tendo estes créditos como colaterais em muitos casos terras e

quintas, estes valores dão informação relevante para uma análise comparada com outros

rendimentos, nomeadamente com a renda da terra (Allen, 1988). Não é este o tópico

central deste trabalho, mas não deixa de importar reconhecer que a fixação do juro a 5%

aproximaria a rentabilidade do dinheiro emprestado à renda esperada em investimentos

nos campos da cidade, sugerindo que aplicações de liquidez em empréstimos a juro

anteriormente à promulgação do alvará seriam melhor remuneradas. Recorde-se que o

valor da terra no mercado fundiário (Serrão, 2000 e Fonseca, 1996, p. 179) era

calculado por 20 anos de renda, o que a igualava a 5%. Além disso, desejando o mesmo

legislador cooptar fundos para as grandes companhias coloniais, com promessa de

dividendos não inferiores a 11% (Carreira, 1988), é possível que a alegação do

preâmbulo da lei cale outras intenções, pois asseguraria com o tecto de 5% que a

liquidez disponível se canalizaria para investimentos considerados prioritários pelas

decisões da grande política ultramarina.

Sendo ou não ocultada a totalidade de intenções da regulamentação, tornar a oferta o

lado mais curto do mercado não deveria fazer parte dos objectivos. Resta cotejar as

20

conclusões sobre o volume de crédito com uma análise das aplicações, uma vez que

menos quantidades disponibilizadas pelos credores não impediriam que a liquidez se

dirigisse à promoção do comércio como reza o preâmbulo da lei.

4- Aplicações do crédito notarial

Outras alterações de estrutura podem ser procuradas numa breve síntese sobre as

aplicações dos créditos. Poderemos colocar a hipótese de que, mesmo havendo menos

oferta de crédito, as quantidades oferecidas ter-se-ão dirigido a aplicações em capital

reprodutivo, de tipo empresarial.

Uma primeira observação ordena os contratos por categorias institucionais/ sectoriais,

distinguindo o crédito pessoal do crédito de tipo empresarial. Na primeira categoria

foram incluídos os casos de empréstimos para compras de ofícios, aquisição de bens de

raiz e obras, remissão de dívidas, além de todo o tipo de despesas que entram em

consumo familiar, seja, “acudir a necessidades”, sustento, funerais e casamentos. Na

segunda categoria vão integradas todas as aplicações indubitavelmente atribuíveis a uma

actividade económica, promovidas por instituições, nomeadamente monásticas, ou

individualmente, como por exemplo, comércio com partes do império, construção ou

manutenção de equipamentos (agrícolas), aquisição de lojas, ampliação de negócio,

manutenção de navios, ou benfeitorias em lavouras (tabela 1).

Tabela 1- Utilização do crédito por sectores institucionais

Períodos Pessoal

Tipo Empresarial Indefinido

1715-1756 62,5% 34,0% 3,5% 1757-1780 87,1% 8,7% 4,2% 1780-1800 79,2% 15,8% 5,0%

Fonte: a mesma da Figura 4

A análise dos contratos a partir destas duas genéricas categorias descobre que a

participação do tipo empresarial tem uma ponderação mais significativa na primeira

metade do século XVIII que depois de 1756. Surge uma partição de 1/3 para crédito

empresarial e 2/3 para crédito pessoal entre 1715-1756, que se modifica para ¾ do

crédito pessoal na segunda metade de Setecentos.

21

As aplicações são passíveis de uma arrumação em grandes categorias de despesa10

(consumo, investimento e financeiro)11. Constata-se que consumo, investimento e

aplicações financeiras repartiram o mercado quase sem alterações nos três períodos:

26%; 23%, e novamente 23% para o consumo; 38,8%; 37,8% e 41,4% para o

investimento e 35,2%; 39,1% e 35,6% para financeiro (Tabela 2).

Tabela 2- Aplicação por categorias de despesa (valor em milhões de réis)

Períodos Consumo Investimento Financeiro Total Valor % Valor % Valor % Valor %

1715-1756 226,9 26,0 338,7 38,8 306,8 35,2 872,5 100,0 1757-1780 143,3 23,1 234,8 37,8 242,9 39,1 620,9 100,0 1781-1800 909,5 23,0 164,2 41,4 140,8 35,6 396,0 100,0

Fonte: a mesma da Figura 4

Mas se o objectivo da legislação pombalina era incentivar o investimento de tipo

empresarial, há que duvidar da sua eficácia. Na segunda metade da centúria esta

categoria revela uma retracção, tornando o investimento pessoal (obras ou construção de

casas de morada) a principal justificação dos valores nas fases 1757 em diante (fig. 13).

10 Nesta segunda análise os casos indefinidos foram ignorados. 11 Categoria “financeiro” inclui, para crédito pessoal, resolução de dívidas anteriores, partilhas ou heranças e financiamento de dotes; na categoria crédito empresarial reporta ajuste de contas decorrentes de actividade económica e seguros; Na categoria consumo, para sector empresarial, especifica compras de mercadorias para negócio colonial; para crédito pessoal - acudir a necessidades, sustento, funerais e casamentos; na categoria investimento, no crédito pessoal, estão incluídos aplicações em compras de ofícios, aquisição de bens de raiz e obras em casas de morada. No crédito empresarial - construção de equipamentos (agrícolas), aquisição de lojas e ampliação de negócio, manutenção de navios, ou benfeitorias em lavouras

22

Fig. 13- Aplicações do crédito (1715-1800)

Esta constatação clarifica a leitura do primeiro quadro (Tabela 1), percebendo-se agora

que o maior envolvimento do sector institucional empresarial entre 1715-1756 se

associa a investimento, o qual registou nas décadas de 1720 e de 1740 os seus valores

máximos (fig 13). Depois de 1757, se houve menos crédito disponível, o que se

ofereceu destinou-se a solucionar privações pessoais, que não seriam, necessariamente,

de consumo, mas não foram seguramente afectadas a promover o comércio.

Quanto ao comportamento do crédito pessoal, em primeiro lugar, e antes de apontar as

mudanças, sublinhe-se uma das constantes menos esperadas destes dados: em nenhum

dos períodos o consumo liderou a procura de crédito (28,7%; 21,9%; 24,3%), pelo que

se destaca a ponderação do investimento ou dos fins financeiros (tabela 3). Entre 1715-

1757, a maior percentagem encontra-se na categoria financeira (50,6%). Tratando-se de

casos que alegam a contracção de crédito para ressarcir dívidas antigas, a possibilidade

de refinanciamento a menores custos acusa um dos possíveis efeitos da descida

tendencial das taxas de juro neste período. Mas se esta aplicação se mantém importante,

sempre acima do consumo, indicia que a taxa administrada não dissuadiu os credores de

0,00

10,00

20,00

30,00

40,00

50,00

60,00

1715

1719

1723

1727

1731

1735

1739

1743

1747

1751

1755

1759

1763

1767

1771

1775

1779

1783

1787

1791

1795

1799

milh

ões d

e

reis

investimento pessoal investimento de tipo empresarial

23

financiar devedores relapsos. Futuros estudos sobre os colaterais destes contratos talvez

venham a elucidar outros mecanismos de minimização do risco do credor.

Tabela 3- Aplicações da despesa em função dos sectores (valores em milhões de réis)

Consumo Investimento Financeiro Total 1715-1756 Valor % Valor % Valor % Valor % Particular 160,4 28,7 116,0 20,7 282,7 50,6 559,2 100,0 Empresarial 664,7 21,2 222,7 71,1 24,1 7,7 313,3 100,0 Total 226,9 338,7 306,8 872,5 1757-1780 Particular 127,8 21,9 214,4 36,8 240,4 41,3 582,7 100,0 Empresarial 15,4 40,3 20,3 53,2 2,5 6,5 38,3 100,0 Total 143,3 234,8 242,9 620,9 1781-1800 Particular 83,9 24,3 132,7 38,5 128,1 37,2 344,7 100,0 Empresarial 7,0 13,7 31,5 61,5 12,7 24,8 51,3 100,0 Total 90,9 164,2 140,8 396,0

Fonte: a mesma da Figura 4

Por fim, o tipo de activos que justificou um empréstimo completa o estudo do naipe das

mudanças introduzidas pela legislação pombalina que aqui nos propomos tratar.

Atendendo aos sectores de actividade em que se podem inscrever os investimentos, a

esmagadora maioria de casos do sector empresarial reportou-se ao sector comercial,

sempre com mais de 80%. A fase de 1757-1780 registou a maior contracção de créditos

para a agricultura (passou de 7% para 4%, recuperando para 6% depois de 1780). Face à

esmagadora presença do comércio, a discreta referência a transportes e desempenho de

fretes mal lembra tratar-se de um mercado de crédito na maior cidade portuária do

reino. Este sector teve uma representação idêntica à da agricultura (7%) até 1756. Daí

em diante, a sua ponderação reduziu-se a menos de 1% entre 1757 e 1780, recuperando

para 3% depois. Todavia, a descrição dos activos em questão desvenda, indirectamente,

a construção civil como sector dinamizado pelo crédito depois de 1757 (tabelas 3.a e

3.b).

24

Tabela 3.a- Activos que justificaram endividamento particular

Fonte: a mesma da Figura 4

Tabela 3.b- Activos que justificaram endividamento de tipo empresarial

Edifícios Navios e

Fretes Manutenção Compra equipamento

Desempenho de dívidas Total

1715-1756 19,5% 3,5% 66,7% 0,2% 10,1% 369110508 1757-1780 77,6% 0,8% 8,5% 1,4% 11,7% 354072717 1781-1800 59,5% 4,1% 4,8% 0,0% 31,5% 222877291

Fonte: a mesma da Figura 4

Obras em casas de morada ou construção de casas de raiz sobressaem como uma das

razões fundamentais do volume de crédito afectado a investimento particular depois do

terramoto. Estas aplicações saltaram de 23,9% para 42%, no crédito particular, e foi

ainda mais notável o salto no crédito de tipo empresarial, passando de 19,5 para 77,6 %,

evidenciando alterações na estrutura do investimento, com capital fixo a justificar o

crédito empresarial. Até 1757 a mais frequente situação ocorreu com manutenções,

(“reparos em fazendas” ou benfeitorias), muito provavelmente reportando-se a situações

passíveis de inscrição no sector agrícola, enquanto depois se tornam mais frequentes

empréstimos para edifícios. Seria de esperar que a catástrofe viesse a exigir a afectação

de factores a obras de reparação ou construção de raiz e, portanto, quer entre

particulares, quer entre outras categorias institucionais (empresariais/ monásticas) as

aplicações em “edifícios” haveriam de experimentar um surto que alteraria a estrutura

dos investimentos, tal como esta se apresentou até 1757. Todavia, empréstimos

contraídos para edifícios no sector empresarial também documentam outros objectivos,

com frequência incrementada depois de 1757, ao falarem da compra de lojas ou

ampliação de negócio.

Edifícios Direitos Terra

Desempenho dívidas por herança e partilhas

Desempenho de dívidas Dotes Consumo Total

1715-1756 23,9% 1,3% 2,6% 4,6% 61,2% 3,1% 3,3% 369110508 1757-1780 42,0% 0,0% 2,1% 2,6% 49,6% 0,2% 3,4% 354072717 1781-1800 43,1% 0,3% 1,7% 1,6% 51,9% 0,0% 1,3% 222877291

25

Como nota final, e pese embora, em termos comparados, o refinanciamento de dívida

seja uma marca do crédito pessoal, convém reconhecer que essa aplicação tem especial

visibilidade entre os créditos de tipo empresarial depois de 1780, possível indicação de

dificuldades na realização de lucros e, como tal, um sintoma de problemas mais gerais

na economia, dos quais o crédito é aqui apenas um barómetro.

Não obstante a profusão de aplicações em obras, surgindo o sector da construção como

um dos mais dinamizados por relações de crédito posteriormente ao terramoto, algumas

conclusões vão além da confirmação dessa suspeita quase óbvia. Uma delas prende-se

com endividamento por razões financeiras. O refinanciamento da dívida constitui,

seguramente, uma das conclusões a reter para a compreensão da dinâmica do mercado

creditício. Mas foi a condição do devedor individual, e não as vicissitudes empresariais,

o que destacou esta categoria financeira. Nesse sentido, a legislação pombalina não

alterou um quadro sempre presente desde 1715 (fig 14), em que as causas do

endividamento pessoal se repartiam, fundamentalmente, entre construção e

refinanciamento.

Fig. 14- Tipo de activos e endividamento

020

4060

1715

1718

1721

1724

1727

1730

1733

1736

1739

1742

1745

1748

1751

1754

1757

1760

1763

1766

1769

1772

1775

1778

1781

1784

1787

1790

1793

1796

1799

Milh

ões d

e re

is

desepenho divida particular edificios particular

26

Qualquer outra conclusão sobre aplicações precisa de futuros apuramentos centrados na

análise sociológica dos agentes envolvidos, de forma a apreender quem se manteve

nesta situação de devedor e em que medida encontrou credores em extractos socio-

ocupacionais ou estatutários dispostos a incorrer os riscos de incumprimento.

Conclusões

A legislação pombalina de 1757, determinando a taxa de juro em 5%, é dificilmente

dissociada dos impactos de um choque externo da maior gravidade para a economia: o

terramoto de 1755. Este texto procurou esclarecer em que contexto do mercado de

crédito surgiu esta determinação do ministro, e de que modo se revelariam os efeitos

desta medida que podemos denominar de proto política monetária.

Demonstrou-se que a lei pombalina se inscreveu numa tendência de mercado em que as

taxas de juro desceram de 6,25%, no princípio do século para um valor médio de 5,6%

no ano de 1756. No momento em que a lei pombalina é promulgada, o legislador

possivelmente antevia a subida do juro por efeitos do terramoto. Face à descida

tendencial anterior, a lei surge como uma medida preventiva, embora se justificasse

como um incremento ao comércio e travão ao muito elevado juro corrente na praça,

alegação não verificada nos contratos analisados. Ainda assim, a fixação dos 5%

estabeleceu um tecto num mercado cujas taxas médias estavam um pouco acima, e

igualou-o ao que era correntemente seguido nas praças europeias. Desta forma a fixação

de 5% em Portugal em 1757 surge com 43 anos de atraso do que se passara em

Inglaterra ou em França, fixando a taxa 0,6 pontos percentuais abaixo do ponto de

equilíbrio, sem racionamento, para o qual já se dirigira o mercado na década de 1740.

Verificou-se que o volume de crédito mediado por notários de Lisboa cresceu entre

1715 e 1757 enquanto desciam as taxas de juro, indicando ser esta a época de maior

expansão da oferta em todo o século XVIII. A partir desse ano, o volume

transaccionado contraiu-se em termos nominais e, em termos reais, a contracção ainda

foi mais pronunciada.

27

Constatada a retracção das quantidades, pudemos conjecturar que houve racionamento:

o credor protegeu-se de taxas administradas abaixo do ponto de equilíbrio oferecendo

menos crédito. Todavia, o racionamento não explica toda a tendência de contracção que

se desenha entre 1757 e 1800. A hipótese só é confirmada até 1780, década a partir da

qual a taxa de juro nominal passou a estar abaixo do tecto administrado, deixando este

de ser operativo. Aquele efeito de racionamento da legislação pombalina diluiu-se na

conjuntura do final do século, sendo a procura de crédito em retracção o factor que

possivelmente explica a redução de quantidades transaccionadas em simultâneo com

descida das taxas de juro. Este período abre uma questão fundamental, e que se pretende

resolver na prossecução deste projecto que se prende com a explicação desta conjuntura:

a não operabilidade do limite do crédito dever-se a uma recessão da actividade ao nível

macroeconómico ou terá ocorrido uma alteração de comportamentos ao nível

microeconómico associados ao risco financeiro?

Finalmente, há uma outra variável a merecer observação mais detalhada, devendo ser

incluída como explicação para a contracção do crédito, também do lado da oferta: a

fiscalidade. Que incentivo emprestar a juros, a taxas reais decrescentes, e ainda

mediante o ónus de um imposto anual sobre a transacção (décima de juros)? Na

compreensão dos efeitos de política monetária pombalina, a fiscalidade precisa de ser

incluída. Sem esta variável, os estudos comparados de divergência económica, assentes

ou focalizados apenas no comportamento dos mercados financeiros, estão enviesados.

No seculo XVIII, o emprestador confrontou-se com uma taxa de juro administrada e

com um imposto sobre esse rendimento. O racionamento surge como uma resposta

racional. E com ele a contracção do crédito a juro.

O estudo das aplicações do crédito completou a análise baseada nas quantidades e juros.

À parte a especificidade dos montantes mutuados para fins financeiros, a pedir futuras

pesquisas, uma ideia está desde já confirmada: o intuito de incrementar o investimento

de tipo empresarial com a administração da taxa quedou-se por parcos efeitos. A

descida administrada da taxa de juro em pouco favoreceu o “comércio”, sector que

merecia o maior desvelo no preâmbulo da lei.

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