tapajós 3d - santander · 2019-01-07 · 2 2018. ibge. contas nacionais 3 2015.fapespa. barômetro...

27
Atores econômicos atuantes na bacia e potencial aplicação do Blueprint Tapajós 3D

Upload: others

Post on 23-Jun-2020

4 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Tapajós 3D - Santander · 2019-01-07 · 2 2018. IBGE. Contas Nacionais 3 2015.FAPESPA. Barômetro da Sustentabilidade - Santarém ... (PCH) - Rodovias Existem na bacia do Tapajós

Atores econômicos atuantes na bacia e potencial aplicação do Blueprint

Tapajós 3D

Page 2: Tapajós 3D - Santander · 2019-01-07 · 2 2018. IBGE. Contas Nacionais 3 2015.FAPESPA. Barômetro da Sustentabilidade - Santarém ... (PCH) - Rodovias Existem na bacia do Tapajós

Apresentação

Com uma expansão crescente do agronegócio e uma diversidade de investimentos planejados em logística de transporte de cargas, energia e mineração, a bacia do Tapajós é uma nova fronteira de desenvolvimento que reproduz a dinâmica encontrada na Amazônia. Se por um lado a dimensão econômica tem oportunidades de crescer exponencialmente, as dimensões social e ambiental são negativamente impactadas resultando em perda de habitats, áreas protegidas ameaçadas de redução, comunidades indígenas sujeitas a vulnerabilidades acrescidas, conflitos agrários e sociais com perpetuação do ciclo de pobreza. Encontrar o equilíbrio certo entre essas forças é fundamental para o desenvolvimento de uma solução sustentável para o futuro da Amazônia.

A The Nature Conservancy (TNC) acredita que esta transformação sistêmica é possível por meio da ação colaborativa e vem trabalhando na construção do Blueprint Ambiental para a bacia do Tapajós, em conjunto com outros instrumentos estratégicos, como a hierarquia da mitigação, early actions planning, hydropower by design, planos de gestão territorial e ambiental de Terras Indígenas (PGTA) e o incentivo a adoção de Boas Práticas Corporativas com Povos Indígenas.

Este projeto, apoiado pelo Santander, realizou o o mapeamento dos principais atores econômicos atuantes no Tapajós e, a partir de uma amostragem, verificou a possibilidade de utilizar ferramentas de análise de prioridades da conservação, como o Blueprint, associadas a dados sociais e econômicos numa tentativa de utilização como suporte a processos de planejamento e governança territorial e, também, como orientador dos procedimentos de licenciamento ambiental.

Os resultados encontrados fortalecem a percepção da necessidade de se promover uma infraestrutura sustentável, que seja parte de uma abordagem territorial que engloba as três dimensões do desenvolvimento - ambiental, social e econômica - incorporando assim prioridades de conservação, demandas sociais e oportunidades econômicas.

© Fernando Lessa

Page 3: Tapajós 3D - Santander · 2019-01-07 · 2 2018. IBGE. Contas Nacionais 3 2015.FAPESPA. Barômetro da Sustentabilidade - Santarém ... (PCH) - Rodovias Existem na bacia do Tapajós

I - Visão geralA bacia do Tapajós

Com 492.000 km2, a bacia do rio Tapajós abran-ge os estados de Mato Grosso, Pará, Amazonas e uma pequena porção de Rondônia. É uma região ainda mui-to preservada que funciona como barreira ao desmata-mento impulsionado pela produção de commodities, que avança do Cerrado, sob risco de retirada ilegal de madeira da floresta e grilagem de terras. Quase 40% da bacia está protegida por Unidades de Conservação (UC) e Terras Indígenas (TI), pouco consolidadas ter-ritorialmente e vulneráveis à degradação e a fragmen-tação ambiental, sofrendo os reflexos de uma gestão com baixa efetividade.

Os principais afluentes do rio Tapajós são os rios Jamanxim, Crepori, Teles Pires e Juruena. Ao sul, as ca-beceiras dos rios Juruena e Teles Pires estão em área do bioma Cerrado, já bastante alterado, assim como a ex-tensa área de transição entre o Cerrado e a Amazônia. O rio Tapajós é o único dos grandes afluentes da margem direita do rio Amazonas ainda não represado para pro-dução de hidroeletricidade em larga escala (figura 1).

No total, 74 municípios compõem a bacia, sen-do dois no Amazonas, 60 no Mato Grosso, 11 no Pará e um em Rondônia. Atualmente, para a Infraestrutura, os dois principais são Santarém e Itaituba, ambos no Pará. No total, a população na bacia ultrapassa 1,4 mi-lhão de habitantes, sendo 30% em área rural e os 70% restantes divididos nos núcleos urbanos1. O PIB na ba-cia chega a R$ 32,5 bilhões, sendo mais de 30% prove-

nientes do setor agropecuário. A criação de gado na ba-cia representa cerca de 5% do rebanho nacional e está se ampliando, em quantidade, extensão de sua área e participação relativa no setor. A produção de soja tam-bém vem se expandindo rapidamente, sendo que a área dedicada ao plantio do grão aumentou 61% nos últimos 10 anos. A colheita de soja no Tapajós já constitui mais de 15% da produção de soja do país2. (figura 2)

Santarém é o maior município da região. Está lo-calizado na foz do rio Tapajós, onde se encontra com o rio Amazonas. Tem cerca de 300 mil habitantes, é o sétimo maior PIB do estado do Pará e apresenta Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,691, o que posiciona o município numa faixa mediana de desen-volvimento3. Trata-se de importante produtor de grãos, com destaque para a soja, chegando à média de 27 mil toneladas por ano.

Itaituba é um município com mais de 100 mil habitantes que, entre as décadas de 1980 e 1990, teve sua economia centrada na extração de ouro, visto ser considerado uma das maiores províncias auríferas do mundo; até os dias atuais, cerca de 60% da atividade econômica do município gira ao redor da extração de ouro4. Porém, a atividade sempre foi dominada por ga-rimpos clandestinos que seguem utilizando mercúrio e cianeto para depurar o minério, mantendo o ciclo de contaminação na região.

Com um IDH abaixo de 0,640 na maior parte

© Fernando Lessa

© Ludus Videos

1 2010.IBGE. Disponível em https://www.ibge.gov.br2 2018. IBGE. Contas Nacionais3 2015.FAPESPA. Barômetro da Sustentabilidade - Santarém4 2016. FAPESPA. Diagnóstico Socioambiental da Região de Integração do Tapajós e do Baixo Amazonas.

5

Page 4: Tapajós 3D - Santander · 2019-01-07 · 2 2018. IBGE. Contas Nacionais 3 2015.FAPESPA. Barômetro da Sustentabilidade - Santarém ... (PCH) - Rodovias Existem na bacia do Tapajós

Figura 1 – Fitofisionomia da bacia do Tapajós

dos municípios da bacia, observa-se um cenário de de-sequilíbrio na gestão do território5. A ausência do po-der público é bastante sentida pela população, havendo diversos problemas nas áreas da segurança, da saúde, da educação, do saneamento e da moradia.

Apesar dos sucessivos ciclos econômicos, inicia-dos no século XVII, incluindo a extração da madeira e os ciclos da borracha e do ouro, o processo de ocupa-ção da bacia do Tapajós não se traduziu em desenvolvi-mento. O período que mais provocou o aumento da mi-gração para a bacia foi durante a criação das rodovias federais, na década de 1960 e 1970. Políticas agrárias instituídas após a construção das rodovias, baseadas na derrubada da floresta, resultaram na criação de as-sentamentos ao longo das estradas, especialmente da BR-163 e da BR-230. Na região, são mais de 140 mil pequenos agricultores, a maioria de baixa renda.

Por conta deste modelo desordenado de ocupa-ção do território, os direitos de propriedade são fonte de contínuo conflito na bacia, facilitando atividades

ilegais de extração de madeira, garimpo e grilagem de terras. Mais de 30% das propriedades não possuem a regularização fundiária e/ou ambiental.

Apesar do cenário de desordenamento territo-rial, a bacia do Tapajós ocupa um posicionamento es-tratégico para facilitar o escoamento da produção de grãos pela área norte do país, ao mesmo tempo em que abriga enorme potencial hídrico, fazendo da bacia a nova fronteira hidrelétrica e de desenvolvimento eco-nômico na Amazônia.

Grandes projetos de infraestrutura, como estra-das, ferrovia, hidrovia, portos e 42 potenciais usinas hidrelétricas, vêm impactando o território e podem, se bem planejados, contribuir favoravelmente com o de-senvolvimento local. Porém, a implantação de grandes obras de infraestrutura traz também altos custos so-cioambientais. Estabelecer uma governança territorial que integre e compatibilize as dimensões ambiental, social e econômica do desenvolvimento é o desafio que está dado para o Tapajós.

© Erik Lopes

5 2015. FAPESPA. Barômetro da Sustentabilidade - Itaituba

6 7

Page 5: Tapajós 3D - Santander · 2019-01-07 · 2 2018. IBGE. Contas Nacionais 3 2015.FAPESPA. Barômetro da Sustentabilidade - Santarém ... (PCH) - Rodovias Existem na bacia do Tapajós

Grandes obras de infraestruturana bacia do Tapajós

© Fernando Lessa

Figura 2 – Municípios na bacia do Tapajós

8

Page 6: Tapajós 3D - Santander · 2019-01-07 · 2 2018. IBGE. Contas Nacionais 3 2015.FAPESPA. Barômetro da Sustentabilidade - Santarém ... (PCH) - Rodovias Existem na bacia do Tapajós

investimentos realizados pelo Banco Nacional de De-senvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Todavia, alegando a necessidade de garantir a segurança energética no país, o Tribunal de Contas da União (TCU) está solicitando que até o final deste ano (2018), o poder Executivo apresente posição definitiva sobre as cinco maiores obras que estão propostas na re-gião, de modos a garantir a viabilidade de sua execução futura. Juntos, esses projetos têm potencial de geração de 17.508 MW. Segundo o Acórdão, é desejo do TCU criar um sistema de Avaliação Ambiental Estratégica, que avalie o impacto nas comunidades (tradicionais ou não), a ocupação do solo, e que ao mesmo tempo consi-

dere outras externalidades positivas e negativas.O período de eleições que o país atravessou ge-

rou muitas controvérsias sobre o futuro de grandes obras de infraestrutura na Amazônia. Porém, o Projeto META (Projeto de Assistência Técnica dos Setores de Energia e Mineral), em desenvolvimento pelo Minis-tério das Minas e Energia (MME) com apoio do Banco Mundial, já sinaliza possíveis mudanças no planeja-mento energético do país, trazendo novamente à tona a possibilidade da implantação de grandes usinas hi-drelétricas incluindo grandes reservatórios na Amazô-nia, com a possibilidade de retorno da UHE São Luiz do Tapajós.

© Fernando Lessa

O inventário de aproveitamentos hidrelétricos na bacia do Tapajós identificado pela Empresa de Pes-quisa Energética (EPE) prevê a possibilidade de 44 barragens distribuídas entre os rios Tapajós, Jurue-na, Teles Pires, Jamanxim e seus afluentes (figura 3). O cenário de implantação deste conjunto de empre-endimentos sofre variações conforme avançam seus estudos de viabilidade técnica, econômica e socioam-biental, assim como a própria situação econômica e político-institucional que o país atravessa nos últimos anos. Além disso, pouco a pouco, a matriz energética no país vem se diversificando, sendo crescente a presença da energia solar e eólica no mix de geração de energias renováveis, contribuindo, ainda que timidamente, para se rever a construção das usinas hidrelétricas na bacia. Entre as usinas hidrelétricas na bacia do Tapajós veri-fica-se que:• No rio Teles Pires entram em fase de operação

as UHEs de Colíder, Teles Pires e São Manoel, havendo ainda estudos para implantação das UHE de Sinop e Alto Apiacás.

• No rio Juruena estão inventariados os aprovei-tamentos hidrelétricos de Salto Augusto Baixo e São Simão Alto, porém ambos foram retirados do Plano de Desenvolvimento Energético (PDE 2026)6.

• No rio Tapajós, a UHE de São Luiz do Tapajós teve seu processo de licenciamento ambiental arquivado pela agência licenciadora (IBAMA)7

por atingir Terras indígenas. Da mesma forma, a EPE desistiu, ao menos por enquanto, da UHE de Chacoarão por atingir diretamente a TI Mun-duruku. Ainda no Tapajós há a previsão da UHE Jatobá e, no rio Jamanxim, um de seus principais afluentes, das UHEs Cachoeira do Caí, Jaman-xim, Cachoeira dos Patos e Jardim do Ouro, for-mando o chamado Complexo Tapajós. Há ainda listados no inventário Foz do Formiga Baixo e Tucumã.No mês de janeiro de 2018, o governo brasileiro

anunciou o fim de sua política de construção de me-gabarragens na Amazônia brasileira. Não foi emitida nenhuma normativa selando este compromisso e não é possível afirmar que há apenas um motivo para esta tomada de decisão. Por um lado, as fontes renováveis de energia como eólica e solar são cada vez mais viáveis, as-sim como também as usinas térmicas (UT) a gás. Estas opções são apresentadas pelo governo como uma alter-nativa para se evitar a complexidade do licenciamento ambiental e social na Amazônia brasileira. Soma-se a esta questão as investigações sobre corrupção associada às grandes empreiteiras, o cenário de recessão estabe-lecido no país e a consequente diminuição dos grandes

6 Disponível em: http://www.mme.gov.br/documents/10584/0/PDE2026.pdf7 Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA

© Fernando Lessa

- Hidrelétricas (UHE)

10 11

Page 7: Tapajós 3D - Santander · 2019-01-07 · 2 2018. IBGE. Contas Nacionais 3 2015.FAPESPA. Barômetro da Sustentabilidade - Santarém ... (PCH) - Rodovias Existem na bacia do Tapajós

Figura 3 – Distribuição das principais hidrelétricas na bacia do Tapajós

- Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH)

- Rodovias

Existem na bacia do Tapajós vários projetos de PCHs que também podem ter impacto cumulativo e sinérgico na bacia. Atualmente, conforme o Sistema de Informações Georreferenciadas do Setor Elétrico (SI-GEL), existem 13 PCHs em operação nos rios Juruena, Formiga, Cravari, Sacre e Sangue, todas nas cabeceiras da bacia do rio Juruena. Além disso, há pelo menos 40 PCHs planejadas ou inventariadas na bacia.

Neste momento o governo do estado do Pará está conduzindo processo de llicenciamento ambiental de seis PCHs na bacia do rio Cupari, afluente da mar-gem direita do rio Tapajós, no município de Rurópolis. O processo está enfrentando grande controvérsia, uma vez que os povos indígenas e as comunidades tradicio-nais locais alegam não terem sido ouvidas na fase de planejamento do empreendimento.

Todavia, alegando a necessidade de garantir a segurança energética no país, o Tribunal de Contas da União (TCU) está solicitando que até o final deste ano (2018), o poder Executivo apresente posição definitiva

sobre as cinco maiores obras que estão propostas na re-gião, de modos a garantir a viabilidade de sua execução futura. Juntos, esses projetos têm potencial de geração de 17.508 MW. Segundo o Acórdão, é desejo do TCU criar um sistema de Avaliação Ambiental Estratégica, que avalie o impacto nas comunidades (tradicionais ou não), a ocupação do solo, e que ao mesmo tempo consi-dere outras externalidades positivas e negativas.

O período de eleições que o país atravessa vem gerando muitas controvérsias sobre o futuro de gran-des obras de infraestrutura na Amazônia. Porém, in-dependente do resultado, o Projeto META (Projeto de Assistência Técnica dos Setores de Energia e Mine-ral)8, em desenvolvimento pelo Ministério das Minas e Energia (MME), com apoio do Banco Mundial, já si-naliza possíveis mudanças no planejamento energético do país, trazendo novamente à tona a possibilidade da implantação de grandes usinas hidrelétricas, incluindo grandes reservatórios, na Amazônia, com a possibilida-de de retorno da UHE São Luiz do Tapajós.

A BR-163 é a principal rodovia que corta a bacia. Completou 40 anos e até o momento não está conclu-ída. Localizada entre Cuiabá (MT) e Santarém (PA), na foz do Tapajós, possui 1739 km e, atualmente, é o principal corredor logístico para escoamento da soja produzida no Mato Grosso.

No Mato Grosso, de Cuiabá até Sinop, a estra-da está asfaltada; no Pará, no trecho entre Itaituba e Santarém também, porém em péssimo estado de con-servação. O trecho que passa pelos municípios de Ja-careacanga, Novo Progresso e Rurópolis até Itaituba não possui asfalto, sendo palco de constante conflito entre as comunidades desses municípios e os caminho-neiros que escoam a soja do Mato Grosso. Este cená-rio dificulta, ainda, o acesso da fiscalização, facilitando atividades ilegais de extração de madeira, garimpos e grilagem de terras. O governo federal vem tentando so-lucionar a questão, abrindo processo de concessão pú-blico-privado para asfaltar e duplicar a rodovia, mas o procedimento é lento e burocrático.

A BR-163 foi foco de um dos principais planos de desenvolvimento regional implementado pelo governo brasileiro - o Plano de Desenvolvimento Regional Sus-tentável para a Área de Influência da Rodovia BR-163, mais conhecido como Plano BR-163 Sustentável. Lan-çado em 2006, o BR-163 sustentável foi proposto a fim de valorizar a floresta em pé, cadeias produtivas sus-tentáveis e participação das comunidades locais, tendo entre seus componentes o manejo de florestas públicas, o apoio às iniciativas de produção sustentável e o forta-lecimento da sociedade civil e dos movimentos sociais.

O Plano representou um marco no que se refe-re à estratégia de construção de uma agenda conjunta e participativa para implementar salvaguardas socio-ambientais aos impactos diretos e indiretos, tanto do ponto de vista geográfico como ambiental e temporal, inerentes a grandes obras na região Amazônica. Entre-tanto, não gerou a governança local e o fortalecimento institucional necessários para assegurar sua sustenta-bilidade e continuidade após a fase de implementação.

8 Disponível em: http://www.mme.gov.br/web/guest/projetos/meta/apresentacao

12 13

Page 8: Tapajós 3D - Santander · 2019-01-07 · 2 2018. IBGE. Contas Nacionais 3 2015.FAPESPA. Barômetro da Sustentabilidade - Santarém ... (PCH) - Rodovias Existem na bacia do Tapajós

- Hidrovia e terminais portuários

Em Santarém, há um porto na foz do rio Tapajós capaz de receber navios de grande calado que trans-portam até 60 mil toneladas de soja. Embora 95% da carga movimentada no porto venham do Mato Grosso, o número de fazendas de soja tem crescido tanto em Santarém como nos municípios vizinhos de Belterra e Mojuí dos Campos.

Em Miritituba, município de Itaituba, há um complexo portuário - parte em operação, parte sendo instalado - que recebe a soja vinda do Mato Grosso em caminhões que trafegam pela BR-163, transferem ali os grãos para barcaças que de lá seguem até os portos de Santarém e também de Vila do Conde, em Barcare-na, próximo a Belém.

Paralelamente, vêm sendo realizados vários es-tudos, sendo que alguns já estão em fase de licencia-mento na Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabi-lidade do Estado do Pará (SEMAS), para abertura de outros terminais portuários ainda no Tapajós, caso do distrito de Santarenzinho e do município de Santarém, próximo a Alter do Chão, região turística do estado.

Entre Miritituba e Santarém funciona a Hi-drovia Tapajós, que, além do trânsito das barcaças transportando grãos, é o principal eixo de navegação do transporte que atende à população da região. Vale destacar que hidrovias apenas estão sujeitas a licencia-mento ambiental quando há a necessidade de realizar obras de engenharia e dragagem, o que não é o caso do

trecho entre Itaituba e Santarém.Como previsto pelas normas ambientais vigen-

tes, estes empreendimentos vêm sendo licenciados pela SEMAS isoladamente, ainda que estejam localizados no mesmo território, muito próximos entre si. Isto vem fazendo com que impactos ambientais e sociais cumu-lativos e sinérgicos não estejam sendo considerados na tomada de decisão para a emissão da licença de opera-ção, e que as possíveis externalidades positivas que a implantação desses empreendimentos na região possa gerar não estejam sendo plenamente absorvidas pelos municípios e comunidades locais.

Ainda no que se refere ao estabelecimento de hidrovias na bacia, mesmo sendo pouco provável a via-bilidade econômica e socioambiental, o governo fede-ral vem realizando estudos técnicos para aproveitar a construção das hidrelétricas e avaliar a possibilidade de implantar duas eclusas, viabilizando a ligação do rio Te-les Pires ao Tapajós, facilitando o escoamento direto do norte de Mato Grosso via embarcações pelo Tapajós até o Amazonas e, de lá, diretamente ao oceano Atlântico.

- Ferrovia (Ferrogrão)

Com investimento estimado de R$ 12,6 bilhões, a Ferrogrão está em fase de consultas públicas para ir a leilão. O empreendimento liga o município de Sinop (MT) ao de Miritituba (PA), e apresenta um traçado muito semelhante ao da BR-163, com vistas a reduzir os possíveis impactos ambientais de sua instalação. A ferrovia vem sendo foco de embates entre o governo, povos indígenas e comunidades tradicionais, que ale-gam não terem sido consultados sobre o empreendi-mento na sua fase de planejamento. Também é fonte de divergências entre o governo e produtores locais, associações de moradores dos municípios afetados, as-sociações de caminhoneiros e garimpeiros que temem que, com a ferrovia, o asfaltamento da BR-163 não seja concluído e que antigos problemas fundiários na região

também não sejam resolvidos.Entretanto, como as discussões sobre o leilão de

concessão da Ferrogrão deixaram de avançar - entre outros motivos, por conta da falta de consenso sobre o momento em que a consulta aos povos indígenas e comunidades tradicionais deveria ser realizada - vol-taram a avançar as discussões sobre o término do as-faltamento da BR-163, no trecho entre Sinop (MT) e Miritituba (PA). Porém, da mesma forma que a ferro-via, a consulta prévia deverá ser realizada e, passados mais de 10 anos do primeiro licenciamento ambien-tal da estrada, pela legislação vigente (Portaria MMA 289/2013), um processo de licenciamento ambiental simplificado deveria ser também realizado (figura 4).

© Fernando Lessa

© Erik Lopes

14 15

Page 9: Tapajós 3D - Santander · 2019-01-07 · 2 2018. IBGE. Contas Nacionais 3 2015.FAPESPA. Barômetro da Sustentabilidade - Santarém ... (PCH) - Rodovias Existem na bacia do Tapajós

- Mineração

O ouro é o principal minério explorado na bacia do Tapajós, mas se encontra disperso, o que favorece o garimpo manual. O município de Itaituba concentra 85% dos títulos minerários para a exploração de ouro no Pará. São 466 concessões regularizadas para a atividade. Outros 9,3 mil requerimentos de lavra estão à espera de análise, porém sem viabilidade, pois na sua maioria se sobrepõem a unidades de conservação (existe uma so-breposição da reserva garimpeira com áreas protegidas no estado). Ao longo do rio Tapajós, calculam-se mais de dois mil garimpos, quase todos irregulares, grande parte operando a partir de barcaças que garimpam diretamen-te o leito do rio. Conflitos com os órgãos de fiscalização são constantes e intensos.

Com a chegada dos diferentes empreendimentos na bacia, as mineradoras têm se interessado em investir mais no território, principalmente pelas melhorias nas linhas de transmissão de energia e acesso viário. Com a operação da UHE Belo Monte está sendo possível ter uma linha de transmissão (LT) que distribui energia para a região, viabilizando o funcionamento do maqui-nário nas minas. Com isto, a Brazauro, subsidiária da Canadense Eldorado Gold, começa a operar a mina de Tocantinzinho, em Itaituba, e a sul-africana Anglo Gold

Ashanti apresentou requerimento de pesquisa para le-vantamento de potencial jazida de cobre em área que se sobrepõe à Floresta Nacional (FLONA) do Jamanxim.

Também está em operação na bacia a Serabi Gold, com a mina Coringa, próxima ao município de Novo Progresso, e detentora dos direitos de exploração do Complexo Regional do Tapajós, entre os municípios de Jacareacanga, Trairão e Itaituba. O complexo reúne as áreas do Jardim do Ouro, Pizon e Sucuba. A Pizon é uma área de pouco interesse para a empresa porque está distante da mina e o ouro é de baixo valor econômico, devendo o direito de exploração ser repassado para em-presas menores. Sucuba faz parte do Jardim do Ouro e é área invadida por garimpos ilegais, enquanto Jardim do Ouro está em fase de estudos. Um programa de perfura-ção de 12.000 metros de profundidade identificou três novas reservas: Palito Sul, Currutela e Piauí, que estão localizadas diretamente ao longo do depósito minerário existente de Palito. A nova perspectiva de reservas mi-nerais comprovadas e prováveis para a mina Palito (que também inclui uma quarta mina chamada de São Chico) é de 182.000 onças de ouro com um teor médio de 8,05 gramas de ouro por tonelada, com previsão de produção de ouro até 2022 (figura 5).

9 Fundação Nacional do Índio – FUNAI10 Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico nacional

Pontos críticos observados desde o planeja-mento até o licenciamento ambiental no processo de implantação de grandes obras de infraestrutura na bacia do Tapajós

Em geral, uma grande obra de infraestrutura, a partir do plano setorial estabelecido, atravessa qua-tro fases: planejamento, desenvolvimento do projeto, instalação e operação. Diferenças de procedimentos e etapas de trabalho ocorrem por tipologia de empreen-dimento, mas, de modo geral, seguem o mesmo rito.

A fase de planejamento compreende os inven-tários de bacia, no caso de hidrelétricas, e os estudos de viabilidade técnica, econômica e ambiental. Após a finalização e homologação dos estudos é elaborado o termo de referência com as normas e critérios para a realização do leilão, e audiências públicas são realiza-das para aperfeiçoamento do documento. No caso do setor de energia o processo de licenciamento ambien-tal tem início, visto que, para a realização do leilão que permitirá a concessão do empreendimento, a licença prévia deve estar emitida; no demais casos, a documen-tação resultante é enviada ao Tribunal de Contas da União, que busca prover uma segurança razoável sobre a adequação, a consistência e a exatidão dos estudos de viabilidade técnica, econômica e ambiental. Ao final, o TCU emite seu acórdão aprovando, ou não, a implan-tação da obra. O edital para publicação do leilão de

concessão é então publicado (guardada a ressalva feita acima para o setor de energia), agregando as contri-buições recebidas durante as audiências públicas pre-liminares e considerações do TCU. Realizado o leilão, a concessão pública é outorgada com a assinatura do contrato entre as partes.

A fase de desenvolvimento do projeto é quando o processo de licenciamento ambiental realmente co-meça a tramitar. Também é nesta fase que outros ór-gãos, para além dos de meio ambiente, como FUNAI9, IPHAN10, por exemplo, são consultados. Ou seja, na maioria dos casos a outorga da concessão pública é concedida sem a emissão da licença prévia, o que impli-ca para o investidor em não se conhecer em profundi-dade os custos socioambientais envolvidos no processo de implementação da obra.

As fases de instalação e operação equivalem ao período de emissão das licenças de instalação e ope-ração e somente deveriam ser emitidas se as condi-cionantes estabelecidas na licença anterior estives-sem concluídas. Mas, na prática, como muitas vezes a conclusão depende de fatores externos ao processo de construção do empreendimento, as licenças vão sendo emitidas com prazos de cumprimento que vão se reno-vando, o que muitas vezes vai postergando a quitação da condicionante para além da conclusão da obra.

As críticas que vêm sendo realizadas aos proces-

© Erik Lopes

© Erik Lopes

16 17

Page 10: Tapajós 3D - Santander · 2019-01-07 · 2 2018. IBGE. Contas Nacionais 3 2015.FAPESPA. Barômetro da Sustentabilidade - Santarém ... (PCH) - Rodovias Existem na bacia do Tapajós

sos de concessão de grandes obras de infraestrutura no Tapajós vão além de seu leilão e são direcionadas também ao próprio rito processual que vem sendo cumprido. A questão socioambiental, que impacta pro-fundamente o processo de tomada de decisão, é trata-da tardiamente, quando a decisão sobre a execução do empreendimento já está tomada.

Da mesma forma, observa-se uma expressiva desconexão entre a tomada de decisão sobre a implan-tação da obra e o planejamento do território. Em outras palavras, apesar das muitas discussões exitentes sobre o desenvolvimento sustentável, o que se pode concluir é que os custos socioambientais das obras de infraes-trutura ainda não são corretamente previstos e inter-nalizados no seu processo de implementação. Tal fato gera um dimensionamento incorreto do custo total do empreendimento, além de grande insegurança jurídica.

Como alternativa, o que vem sendo discutido é a possibilidade de que as questões socioambientais este-jam presentes durante todo o ciclo de vida do processo,

sendo tratadas em todas as suas dimensões desde a fase de planejamento do empreendimento em seus inventá-rios e estudos de viabilidade técnica, econômica e am-biental (EVTEA), sugerindo, inclusive, que os mesmos passem a ser tratados como “estudos de viabilidade técnica, econômica e socioambiental”.

Uma pequena modificação também no ciclo de obtenção das licenças ambientais, a exemplo do que já acontece no licenciamento nas tipologias de empreen-dimento de petróleo e gás e hidrelétricas, está na ob-tenção da licença prévia antes da realização do leilão de concessão. Isto permitiria aprofundar os estudos so-cioambientais e realizar consultas aos povos indígenas e comunidades tradicionais antecipadamente, trazen-do maior transparência e confiabilidade ao processo.

Neste mesmo sentido, ainda que não haja uma previsão legal, é crescente a demanda por se realizar previamente uma avaliação ambiental estratégica de modo a auxiliar, antecipadamente, onde seria possível identificar e avaliar os impactos e efeitos do(s) empre-

endimento(s), buscando uma avaliação mais integra-da, observando-se a confluência e sinergia de múltiplos interesses e necessidades, numa trajetória de planeja-mento e ordenamento territorial coerente com a cons-trução de uma visão compartilhada do território.

Entretanto, a discussão sobre o planejamento an-tecipado (early action) está associada à questão sobre como serão pagos os custos resultantes deste proces-so antecipatório (early fund). Há um bom acúmulo de discussões para o enfrentamento destas questões. Es-tudo realizado pela FGVces11 e o IFC – Grandes Obras na Amazônia: Aprendizados e Diretrizes12 – apresenta um conjunto de diretrizes com a previsão de ações an-tecipatórias em que efetivamente se busca estabelecer uma preparação do território para discutir a proposta de projeto e oferecer subsídios para sua implantação e a geração de desenvolvimento local.

Por outro lado, a análise de prioridades de con-servação (blueprints), como o desenvolvido pela TNC, é peça da ciência com valor nesta fase também, dado que pode ajudar no processo de decisão sobre prio-ridades de conservação e atividades sustentáveis. O conceito de early action inclui a perspectiva de que a preparação do território, com seus custos e oportuni-dades socioambientais, é parte do custo do projeto e, portanto, reembolsável tanto quanto são os estudos ambientais tradicionais, estudos de engenharia e es-truturação legal e financeira. Ao final, estas iniciativas precisam resultar em ações para buscar mecanismos fi-nanceiros para o aprimoramento e a normatização dos procedimentos de elaboração dos projetos por meio do mecanismo já existente, mas pouco transparente e regulamentado, do reembolso de custos de preparação.

© F

erna

ndo

Less

a

© F

erna

ndo

Less

a

11 Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (FGVces)/ International Finance Corporation (IFC) do Grupo Banco Mundial12 Disponível em: http://diretrizes-grandesobras.gvces.com.br/

18 19

Page 11: Tapajós 3D - Santander · 2019-01-07 · 2 2018. IBGE. Contas Nacionais 3 2015.FAPESPA. Barômetro da Sustentabilidade - Santarém ... (PCH) - Rodovias Existem na bacia do Tapajós

Figura 5 – Reserva garimpeira e mineraçãoFigura 4 – Infraestrutura de transporte na bacia do Tapajós

20 21

Page 12: Tapajós 3D - Santander · 2019-01-07 · 2 2018. IBGE. Contas Nacionais 3 2015.FAPESPA. Barômetro da Sustentabilidade - Santarém ... (PCH) - Rodovias Existem na bacia do Tapajós

Figura 6 – Distribuição das empresas consultadas na pesquisa por setor

Considerando que para a construção de um pro-cesso de early action é necessário conciliar as dimen-sões ambiental, social e econômica do desenvolvimen-to, estabelecendo uma visão compartilhada entre os diferentes atores, a TNC realizou o mapeamento dos principais atores econômicos atuantes no Tapajós e, a partir de uma amostragem, analisou a possibilidade de utilizar ferramentas de análise de prioridades de con-servação, como o Blueprint, associadas a dados sociais e econômicos como suporte aos processos de planeja-mento e governança territorial e, também, como orien-tador dos procedimentos de licenciamento ambiental.

Para este exercício, a TNC consultou 50 em-presas representantes do setor privado (vide Anexo I) atuantes ou com interesses de atuação na bacia do Tapajós, envolvendo os setores do agronegócio, da lo-gística de transporte de carga (rodovias, ferrovias, hi-drovias e terminais portuários), da geração de energia e da mineração, conforme distribuição apresentada na Figura 1. A amostra não esgota o número de empresas identificadas na bacia, representando apenas um retra-to atual da dinâmica que se relaciona diretamente com grandes obras de infraestrutura no território. Deste to-tal, 14% das empresas são de capital chinês, sem contar as instituições financeiras chinesas como o NDB (New Development Bank), co-financiador do Banco de De-senvolvimento da América Latina (CAF) para obras de saneamento básico em vários municípios do Pará, in-cluindo a Região de Integração do Tapajós, e o China Development Bank, que, conjuntamente com o Kuwait Investment Authority (KIA) e a graneleira COFCO, tem interesse na construção e operação da Ferrogrão.

A pergunta de base que guiou as consultas rea-lizadas às empresas identificadas foi “como o modelo

operacional de planejamento, implantação e operação de grandes obras de infraestrutura pode ser aperfeiço-ado na perspectiva de colaborar na construção de uma governança territorial para o Tapajós que incorpore prioridades de conservação, demandas sociais e gere oportunidades econômicas”, gerando uma transforma-ção sistêmica que efetivamente promova o desenvolvi-mento local. Consideram-se como premissas a neces-sidade de promoção do ordenamento e planejamento territorial, o fortalecimento das capacidades institu-cionais e o empoderamento das comunidades locais.

As consultas foram realizadas no período de ju-nho a agosto de 2018 e o roteiro utilizado pode ser en-contrado no Anexo II. Os resultados obtidos neste diá-logo com as empresas são apresentados a seguir.

II – Mapeamento dos principais atores econômicos atuantes no Tapajós

Frigoríficos

3

13

54

5 55

3

7

Ferrovia

Grãos

Estradas

Mineração

Hidrovias

PCH

Portos/TUP

UHE

© Erik Lopes

© Fernando Lessa

23

Page 13: Tapajós 3D - Santander · 2019-01-07 · 2 2018. IBGE. Contas Nacionais 3 2015.FAPESPA. Barômetro da Sustentabilidade - Santarém ... (PCH) - Rodovias Existem na bacia do Tapajós

Pergunta 1: Instrumentos e processos para o planejamento territorial poderiam antecipar e/ou incorporar as oportunidades e custos dos possíveis impactos socioambientais e econômicos gerados pelas grandes obras de infraestrutura e mineração?

Entre os comentários dos 62% que consideram os instrumentos de ordenamento e planejamento territorial adequados mas com necessidades de melhorias foi apon-tado que quanto menos conhecido é o território maior é o risco do empreendimento, o que justificaria a realização de diagnósticos socioambientais ainda na fase de planeja-mento setorial, muito antes de qualquer Estudo de Viabi-lidade Técnica, Econômica e Ambiental (EVTEA).

Os planos setoriais não dialogam com os planos territoriais. Foi citado o caso dos portos em Santarém. O Plano Diretor, ainda que seja um instrumento apontado como dinâmico, necessitando de revisões periódicas, para o caso dos municípios de Santarém, Mojuí dos Campos e Belterra não contemplou a chegada dos portos na região, resultando inclusive em ação civil, movida pelo Ministé-rio Público, para revisão e apoio à tomada de decisão so-bre a instalação de um novo porto na região.

Junto com o Plano Diretor Municipal, o Zonea-mento Econômico Ecológico (ZEE) também foi desta-cado como outro instrumento de planejamento territo-rial que poderia auxiliar no processo de planejamento das obras de infraestrutura na bacia. A questão fundiária foi trazida como um problema recorrente, uma vez que a falta de sua regularização dificulta as indenizações dos afetados, sendo fonte de contínuo conflito. Neste sentido, a dimensão social foi apontada como um fator sempre

mal avaliado em todas as fases do processo, desde o pla-nejamento até o licenciamento ambiental, e muitas vezes depois ainda durante a operação. A questão indígena é importante nesta dimensão, mas a falta de planejamento do território envolve outras questões complexas com as comunidades locais que resultam em custos e conflitos.

A Avaliação Ambiental Integrada (AAI), caso do setor de energia, poderia ser melhor aproveitada ao longo do processo e deveria ter seu capítulo sobre a dimensão social ampliado. Para o caso do Tapajós, onde o impacto dos diferentes tipos de empreendimentos acaba por gerar efeitos que são sinérgicos e cumulativos, foi comentado que os instrumentos de planejamento disponíveis não apresentam esta possibilidade, podendo ser a adoção da Avaliação Ambiental Estratégica (AAE) uma opção de ferramenta para enfrentamento deste problema.

A apresentação do Blueprint e questionamento sobre a possibilidade de seu uso como uma possível fer-ramenta de apoio à tomada de decisão resultou em res-postas de que poderia vir a ser uma ferramenta comple-mentar no processo, muito útil principalmente no setor de energia. Foi apontado também que são necessárias ferramentas que contribuam para aumentar e agregar o conhecimento sobre a bacia a fim de estruturar melhor a tomada de decisão.

Pergunta 2: Conhece experiências de descentralização político-administrativa que fortaleçam a governança territorial?

Quando pedido para exemplificar, foram citadas como experiências positivas:• Programa Territórios Sustentáveis/Mineração

Rio do Norte: Programa de fomento ao desen-volvimento local sustentável com duração pre-vista para 15 anos de execução envolvendo os municípios de Oriximiná, Faro e Terra Santa no Pará.

• Cultivando Água Boa/Itaipu Binacional: Pro-grama de fomento ao desenvolvimento local in-tegrado reunindo municípios lindeiros na bacia do Paraná.

• FGVCes/ IFC – Grandes Obras na Amazônia: inciativa que reúne um conjunto de diretrizes, dentro das três dimensões do desenvolvimento, para o estabelecimento de grandes projetos de infraestrutura na Amazônia numa perspectiva de reduzir a falta de conexão entre as expecta-tivas criadas no âmbito setorial e nas metas ma-croeconômicas nacionais com as obras de infra-

estrutura em contraposição às reais demandas sociais geradas local e regionalmente com a che-gada desses empreendimentos.

• Vale: Programa de integração entre políticas pú-blicas e fomento ao desenvolvimento local nos municípios afetados pelas atividades da empresa no Pará.

• Fundação Bunge: Programa Comunidade In-tegrada, iniciativa de promoção do desenvolvi-mento territorial sustentável que contempla a realização de diagnósticos e estudos em socio-economia, e um plano de gestão integrada que orienta o investimento social privado, articulan-do com as comunidades as necessidades de cada território.

• Louis Dreyfuss Company: experiência na En-seada do Malato (Ilha do Marajó, no Pará), que realizou diagnóstico participativo, socioeconô-mico e cultural prévio à compra de áreas para a instalação de sua estrutura portuária.

Adequado, mas ne-cessita melhoria

62%

13%

25% Insatisfatório

Não sabe

SIM NÃO55% 45%

24 25

Page 14: Tapajós 3D - Santander · 2019-01-07 · 2 2018. IBGE. Contas Nacionais 3 2015.FAPESPA. Barômetro da Sustentabilidade - Santarém ... (PCH) - Rodovias Existem na bacia do Tapajós

Pergunta 4: Como os estudos de viabilidade técnica podem ser aperfeiçoados para reduzir conflitos socioambientais durante a etapa de planejamento de seu negócio?13

Estudos socioambientais antecipados podem auxiliar o processo de tomada de decisão. No caso do EVTEA poderia ser incluído o “S”, ou seja, um capítu-lo sobre a dimensão social. Porém, para serem efetivos, precisam dialogar com instrumentos de planejamento territorial, como plano diretor ou Zoneamento Ecoló-

gico e Econômico (ZEE), atualizados (vide pergunta 1). O próprio Blueprint, com as diferentes dimensões asso-ciadas, pode trazer novos elementos que identifiquem a viabilidade, ou não, do empreendimento, tornando-se realmente um facilitador da tomada de decisão;

A realização da consulta livre, prévia e informa-

Pergunta 5: Como os processos de concessão pública podem ser melhorados para se evitar conflitos socioambientais?

Estabelecer um processo de diálogo contínuo é chave. O modelo hoje vigente não facilita isto, pois está baseado em consultas estanques por meio de audiên-cias públicas, que ocorrem isoladamente em cada etapa do processo. Porém, este não é um consenso entre os consultados. O primeiro ponto é a necessidade de que esteja normatizado. Iniciativas têm ocorrido de forma isolada e vêm demonstrando bons resultados, mas não são garantias de que um pouco mais à frente no proces-so os empreendedores não sejam questionados judi-cialmente.

Trazer o processo de licenciamento – emissão da licença prévia – para antes da realização do leilão de concessão é apontado como um elemento que pode

facilitar o processo, pois internaliza já nesta fase as discussões sobre os custos socioambientais. Mas isto também não é um consenso. Há a necessidade de in-formar muito bem todos os envolvidos para que todos entendam a etapa em que se está na tomada de decisão. A questão do reembolso desses custos iniciais também é um ponto que, segundo os consultados, precisa ser sistematizado com regras mais claras. Quais os custos que realmente serão cobertos, a abrangência do que se vai realizar, quem é o responsável por fazer e como os resultados serão disponibilizados a todos.

Pergunta 3: Considerando os planos setoriais de seu negócio, você tem perspectivas de expansão na bacia do Tapajós?

Entre os empreendimentos previstos foram citados:• Geração de energia: PCHs e UHE no rio Cupari

em processo de licenciamento na SEMAS/PA; grandes hidrelétricas como São Luiz do Tapajós com possibilidades de voltar à mesa de discus-são. De modo geral, há uma preocupação com a imagem institucional frente a possibilidades dos muitos impactos socioambientais e muitas re-clamações em relação à insegurança jurídica.

• Ferrovia: são citadas tanto a Ferrogrão como a Fer-rovia Paraense (no caso, fora da bacia do Tapajós).

• Estradas: asfaltamento da BR-163.• Portos: dependendo da aprovação na Câmara de

Vereadores do Plano Diretor de Santarém.• Terminais de transbordo rodo-fluvial em Itaituba.• Avaliação de pequenas iniciativas de geração

por energia solar na sub-bacia do Juruena.• Em todas as diferentes tipologias de infraestru-

tura são ressaltadas as dificuldades em se lidar com os conflitos socioambientais, a necessidade de melhoraria da segurança jurídica e de regras claras para os procedimentos que forem neces-sários. De um modo geral, o problema não está no elevado custo que pode ser gerado, mas na in-segurança jurídica que existe em todo o processo levando a um programa de “tentativa e erro”.

13 Questão aberta dialogada com as empresas consultadas

da (FPIC, por sua sigla em inglês) é vista como uma ne-cessidade. Na maioria das vezes em que citada foi tra-tada como consulta, e não como consentimento. Todos argumentam falta de segurança jurídica para sua reali-zação e o receio de que, por nunca ser regulamentada, o que vier a ser realizado seja suficiente, podendo sempre faltar algo. Os vários protocolos que vêm sendo propos-tos por cada tribo indígena, sem uma conciliação entre eles, também têm sido vistos com preocupação. Outro ponto colocado refere-se aos prazos de realização da consulta: quando começa e quando termina. Os custos, além de serem apontados como muito altos, mesmo havendo a possibilidade de reembolso do recurso in-vestido pelo empreendedor e a falta de transparência em como se dá o processo, avaliando caso a caso, são apontados como outro dificultador.

Fundos antecipatórios: não há um consenso das possibilidades de sua adoção, pois falta uma figura jurí-dica para sua gestão. No caso da EDLP, por exemplo, o Consórcio Pirara, pela EDLP representado, está optan-do por uma Fundação para fazer a gestão do recurso e da perspectiva de desenvolvimento do território, o que foi também o caso da BUNGE, com sua fundação que atende ao circuito entre os municípios de Itaituba e Bar-carena.

Quando perguntados sobre como estabelecer um somatório entre essas várias iniciativas, já que to-das atuam no mesmo território e, se maximizadas, poderiam gerar um efeito positivo em escala, há um

consenso sobre a ideia, porém não sobre sua forma de operar. É citada a possibilidade de haver uma agência territorial de desenvolvimento, apesar dos muitos re-ceios que o conceito traz por conta da própria história da gestão pública no país e, ao final, o que todos des-tacam é a necessidade e a obrigação do que está pre-visto nos marcos legais. A experiência do Pará2030 Sustentável também foi indicada como um modelo interessante para estabelecimento de um fundo ante-cipatório, mas que pecou por uma governança frágil e pouca representatividade e falta de transparência nos seus processos.

A Avaliação Ambiental Estratégica (AAE) é apontada como um mecanismo que poderia permitir uma visão compartilhada da bacia no sentido de incor-porar impactos cumulativos e sinérgicos. O Blueprint também poderia fazer isso, mas a metodologia deveria ser clara. É importante que o mecanismo, seja qual for, tenha uma metodologia clara, replicável em diferentes situações e que permita uma visão da interação entre diferentes tipos de obras de infraestrutura, assim como um licenciamento em bloco para a mesma tipologia (caso, por exemplo, dos terminais portuários de Miri-tituba).

SIM

SIM, COM RESSALVAS

NÃO

36% 55%

9%

26 27

Page 15: Tapajós 3D - Santander · 2019-01-07 · 2 2018. IBGE. Contas Nacionais 3 2015.FAPESPA. Barômetro da Sustentabilidade - Santarém ... (PCH) - Rodovias Existem na bacia do Tapajós

Pergunta 7: Sua empresa/organização dispõe de recursos para apoio a projetos socioambientais, P&D ou outras linhas de apoio na bacia do Tapajós? Teria interesse em participar de um fundo antecipatório, fundação ou agência? Apoiaria o Blueprint como a ferramenta de planejamento?

Os consultados destacam que as compensações financeiras e ambientais ao longo de todo o processo já pesam muito. Existe muita complexidade e dificulda-de de execução. Dificilmente vão além do previsto nos marcos legais, a não ser para atender alguma demanda específica colocada pela complexidade de implanta-ção do empreendimento no território. Concordam que ações antecipatórias preparando o território auxiliam o processo de implantação do empreendimento, mas não têm claro como isto será realizado no coletivo. Atuam para seu próprio negócio, tanto que a opção de

vários é ter sua própria fundação para lidar com o de-senvolvimento territorial.

Apoiam o incentivo ao trabalho em redes para promover o desenvolvimento e, havendo uma possibi-lidade de um ente que trabalhe de forma coordenada os diferentes programas, políticas e recursos, poderia haver a formação de um “ecossistema de fundos” para benefício e desenvolvimento do território. Porém, a maioria não demonstrou interesse em investir para além do que está previsto em lei.

Sugestões & Recomendações: nesta seção os participantes colocaram de forma espontânea sugestões e recomendações que gostariam de apresentar para aprimoramento de processos de planejamento e governança territorial na bacia do Tapajós. O participante tinha a oportunidade de apresentar seu posicionamento, como também informar sobre estudos, documentos ou outros materiais que pudessem contribuir neste processo. Os principais pontos abordados estão consolidados abaixo:

• O ordenamento territorial, a começar pela re-gularização fundiária, deve ser uma prioridade. A gestão territorial tem que ser proativa, propo-sitiva. Quanto maior a confusão legal, mais fácil fica a falsificação de documentos e a grilagem de terras públicas;

• A Agência de Desenvolvimento do Tapajós (ADP) deve ser uma proposta implementada, com equipe própria, envolvendo atores locais para informar, mediar, coletar e sistematizar da-dos e monitorar resultados;

• O fortalecimento institucional local deve ser prioritário e continuado. Há muita carência nos municípios da bacia;

• É necessário um fortalecimento das instituições federais que atuam na região e uma melhor de-finição de seus papéis no processo de planeja-mento e execução das ações, tais como: DNPM, DNIT, INCRA, IBAMA, ICMBio e CEPLAC14;

• É necessário estabelecer protocolos e procedi-

mentos para escuta ativa e fortalecimento das comunidades locais, povos indígenas e comuni-dades tradicionais;

• É imprescindível que as instituições cumpram o seu papel institucional, que executem uma agen-da de trabalho, com cumprimentos de prazos e metas no território para que possam ter o míni-mo de credibilidade com a sociedade local (ofi-cinas de capacitação, pactos sociais, portais para ampliar o acesso à informação, estímulo a meca-nismos financeiros diferenciados que viabilizem crédito localmente, entre outros);

• Estímulo à criação de comitês de bacia como espaços legítimos de governança do território, além de buscar sinergias com os fóruns e arti-culações sociais presentes e atuantes na região, garantindo a participação equilibrada das comu-nidades e movimentos sociais.

• Fortalecimento dos conselhos municipais de meio ambiente.

14 DNPM – Departamento Nacional de Produção Mineral; Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes; INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária; IBAMA - Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis; ICMBio – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade; CEPLAC – Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira

Pergunta 6: Como os processos de licenciamento ambiental podem ser melhorados para evitar conflitos socioambientais?

• Para os consultados, não se trata de uma ação isolada. É um conjunto de inciativas, programas de governo e políticas públicas que devem inte-ragir de forma orgânica.

• Não se trata de uma simplificação do rito, mas de uma melhor definição e objetividade nos compo-nentes de licenciamento ambiental e social que não devem ser separados.

• Já existem muitos estudos sobre a bacia do Ta-pajós e ainda muitas obras de infraestrutura para

acontecer. Os órgãos licenciadores, federal, esta-duais e municipais poderiam integrar os muitos estudos numa base de dados única, o que redu-ziria retrabalhos. A própria comunidade, como é seguidamente impactada pelos diferentes em-preendimentos, já não está mais disposta a parti-cipar de diagnósticos.

• Uma avaliação ambiental estratégica pode aju-dar a conciliar estas muitas informações. Quan-do perguntados se o Blueprint poderia ocupar este papel, os entrevistados responderam que são necessárias ferramentas complementares como o Blueprint que, se colocadas em uma pla-taforma de consulta, podem auxiliar em muito o planejamento do território e a tomada de deci-são sobre os projetos de infraestrutura.

• As consultas aos indígenas, quilombolas e co-munidades tradicionais e locais devem ser fei-tas como um processo, mas precisam de regras claras consensuadas e com prazos determina-dos. Também foi ressaltado que, quanto antes as questões sociais entrarem no processo, maior a possibilidade de redução de conflitos no licen-ciamento.

• Foi destacado ainda que todas estas questões precisam estar normatizadas.

© Erik Lopes

© L

udus

Víd

eos

28 29

Page 16: Tapajós 3D - Santander · 2019-01-07 · 2 2018. IBGE. Contas Nacionais 3 2015.FAPESPA. Barômetro da Sustentabilidade - Santarém ... (PCH) - Rodovias Existem na bacia do Tapajós

III - Tapajós 3D - Sobreposição entre as dimensões ambiental, social e econômica na

bacia do Tapajós utilizando-se o Blueprint15

A TNC vem trabalhando na bacia do rio Tapajós desde 201116, na perspectiva de desenvolver um modelo operacional para a infraestrutura em que o processo de planejamento de intervenções no território amazônico seja implementado estrategicamente, criando oportu-nidades reais de desenvolvimento econômico, integra-das com a biodiversidade e promovendo justiça social.

Como base neste processo foi elaborado o Blue-print Tapajós (figura 7) para auxiliar na definição de cenários e indicadores sobre o estado de conservação da bacia, considerando informações hidrológicas, bio-lógicas, geomórficas e de uso do solo.

O projeto desenvolvido pela TNC foi realizado a partir de uma perspectiva aquática, onde a prioridade é a manutenção da conectividade dos rios, necessária para a manutenção do processo hidrológico regional, e demostrando prioridades de conservação, mitigação e compensação ao longo da bacia.

Neste projeto apoiado pelo Santander, a partir dos resultados encontrados no mapeamento dos atores econômicos foi realizada a sobreposição entre os resul-tados apresentados pelo Blueprint com dados secun-dários, ambientais, sociais e econômicos, gerando uma camada de riscos socioambientais e econômicos mais relevantes para uma visão compartilhada da bacia.

Tapajós 3D reúne informações sobre as três di-mensões do desenvolvimento, correlacionando dados secundários e apresentando uma fotografia que estabe-lece a relação entre os dados levantados e os resultados apresentados pelo Blueprint. Dessa combinação resul-ta o ponto de partida para um entendimento comparti-lhado sobre possíveis cenários de desenvolvimento do Tapajós.

Este exercício comparativo resultou em um con-junto de 74 mapas que, como um Atlas, permitem di-ferentes consultas e análises. Levando-se em conta os pontos abordados pelas empresas que participaram no processo de mapeamento dos atores econômicos hoje atuantes na bacia, vale destacar:

15 Disponível em https://www.nature.org/media/brasil/atlas-tapajos-3d-web.pdf16 Iniciativa Great Rivers Partneships. Fase 2.

© Erik Lopes

© Fernando Lessa

31

Page 17: Tapajós 3D - Santander · 2019-01-07 · 2 2018. IBGE. Contas Nacionais 3 2015.FAPESPA. Barômetro da Sustentabilidade - Santarém ... (PCH) - Rodovias Existem na bacia do Tapajós

Figura 7 – Blueprint Tapajós

O que é o Blueprint?

É uma metodologia científica de planejamento integrado apoiada numa base de dados espaciais que permite identificar áreas prioritárias para ações de conservação e gestão. O Blueprint serve como ponto de par-tida para o diálogo entre diferentes atores e setores, e para a implementa-ção de políticas que assegurem a sustentabilidade ambiental - fundamen-tal para a manutenção da biodiversidade e de serviços ecossistêmicos - e para o crescimento econômico de uma bacia hidrográfica.

O Blueprint é apresentado na forma de um mapa (ou planta baixa), no qual é possível visualizar as informações como se fossem “camadas” dentro de um grande modelo do território, permitindo análises combina-das que ajudam na tomada de decisão.

© Fernando Lessa

32 33

Page 18: Tapajós 3D - Santander · 2019-01-07 · 2 2018. IBGE. Contas Nacionais 3 2015.FAPESPA. Barômetro da Sustentabilidade - Santarém ... (PCH) - Rodovias Existem na bacia do Tapajós

Para o desenvolvimento hidrelétrico (figura 9)• Devido ao impacto nas florestas aluviais e em

habitats específicos (corredeiras, em particular), qualquer desenvolvimento do potencial hidrelé-trico que afete os rios Tapajós e Jamanxim colo-ca em risco o futuro da biodiversidade na bacia do Tapajós;

• Dado o papel desempenhado pelos territórios indígenas no Alto Juruena, um eventual desen-volvimento massivo do potencial de geração das pequenas centrais hidrelétricas nessa área representa um risco para o portfólio natural do Tapajós;

• No mesmo sentido, é urgente promover a discus-são e a implementação de planos de gestão ter-ritorial e ambiental (PGTA) em todas as terras indígenas no Alto Juruena;

• Possíveis barramentos no rio Jamanxim impac-tam diretamente a manutenção de sua conectivi-dade hídrica e as rotas de espécies migratórias no Médio Tapajós;

• No mesmo sentido, o barramento do rio Arinos gera significativa fragmentação para a parte alta da bacia.

Dimensão Social e Ambiental

• Cerca de 60% das unidades de planejamento17 indicadas pelo Blueprint como prioritárias para a manutenção de serviços ecossistêmicos e pro-cessos ecológicos ocorrem em áreas que estão legalmente protegidas, mas que necessitam ser consolidadas;

• As questões estratégicas que se colocam para o Pará (Baixo e Médio Tapajós) e para o Mato Grosso são bem diferentes.

• Na porção paraense, destacam-se: (i) o papel de conservação dos territórios indígenas, em particular, o bloco dos Mun-duruku, Apiacá e Kayabi; e também do mo-saico de Unidades de Conservação (UC) localizado na porção central da bacia; (ii) a degradação dos ambientes aquáticos pelo garimpo na Área de Proteção Am-biental (APA) Tapajós; (iii) as intrusões em Unidades de Conser-vação a partir da BR-163, demonstrando serem prioritários os esforços de consoli-dação dessas unidades; (iv) o avanço desordenado da pecuária ao redor de Itaituba;(v) os vazios de proteção nas cabeceiras do Jamanxim; (vi) a relevância da conservação da área militar na Serra do Cachimbo;(vii) o significativo grau de conflitos agrá-rios reforçando a necessidade de fortale-cer o processo de regularização fundiária.

• Na porção mato-grossense, ficam mais evidentes: (i) a relevância do papel das terras indí-genas, representando as mais importan-tes áreas de alta integridade ecológica na transição cerrado-floresta, além de serem responsáveis pelas únicas áreas com de-signação legal para proteger o Aquífero dos Parecis, fonte para garantia do volume de água na bacia;(ii) a predominância de áreas a serem res-tauradas na sub-bacia do rio Teles Pires; (iii) os vazios de proteção nas cabeceiras dos rios Teles Pires e Verde, e (iv) a degradação na área de influência do rio Peixoto Azevedo.

Dimensão Econômica

17 A ideia do Blueprint é achar uma solução com a menor área possível que garanta a manutenção dos processos hidrológicos e serviços ecossistêmicos da bacia. Para tanto, a área selecionada pelo processo de modelagem deve atender a critérios de importância biológica terrestre, integridade ambiental dentro de sua classe, classes de ocorrência única, conectividade e/ou cabeceiras complementares.© Fernando Lessa

34 35

Page 19: Tapajós 3D - Santander · 2019-01-07 · 2 2018. IBGE. Contas Nacionais 3 2015.FAPESPA. Barômetro da Sustentabilidade - Santarém ... (PCH) - Rodovias Existem na bacia do Tapajós

Figura 8 – Blueprint Tapajós e Áreas Prioritárias para Conservação

Para o desenvolvimento da logística regional (figu-ra 11)• Os terminais de transbordo que estão sendo ins-

talados ao longo do rio Tapajós, em Itaituba, jun-tamente com a BR-163 e a possibilidade de im-plantação da Ferrogrão, devem ser analisados na perspectiva da hierarquia da mitigação (evitar, mitigar, compensar), sob o ponto de vista cumu-lativo e sinérgico dos impactos;

• É cada vez mais necessário um pacote de ações socioambientais e econômicas que tenha como referência o incremento no tráfego de caminhões e barcaças ao longo da BR-163 e rio Tapajós, para mitigar o impacto cumulativo desses terminais. O mesmo raciocínio é válido para compensar os im-pactos cumulativos e compartilhar com as popula-ções locais e ribeirinhas os benefícios sociais e eco-nômicos da alternativa que se mostrar mais viável.

Figura 9 - Distribuição das hidrelétricas em relação as unidades do Blueprint Tapajós

36 37

Page 20: Tapajós 3D - Santander · 2019-01-07 · 2 2018. IBGE. Contas Nacionais 3 2015.FAPESPA. Barômetro da Sustentabilidade - Santarém ... (PCH) - Rodovias Existem na bacia do Tapajós

Figura 10 - Distribuição das hidrelétricas em relação as Áreas Prioritárias para Conservação

Figura 11 - Infraestrutura de transportes em relação as unidades do Blueprint Tapajós

38 39

Page 21: Tapajós 3D - Santander · 2019-01-07 · 2 2018. IBGE. Contas Nacionais 3 2015.FAPESPA. Barômetro da Sustentabilidade - Santarém ... (PCH) - Rodovias Existem na bacia do Tapajós

Comentários finais

Considerando que vários dos atores ouvidos apontaram a questão fundiária como um grave proble-ma na bacia que afeta a implantação dos empreendi-mentos, vale uma reflexão sobre o porquê de esta ques-tão não ser priorizada e solucionada.

Historicamente, o padrão e o modelo de desen-volvimento aplicado à bacia do Tapajós sempre foi o da exploração de seus recursos naturais sem a correta repartição de seus benefícios. Desde o ciclo de extração da borracha, passando pelo ciclo de extração do ouro, nos séculos passados, o território esteve exposto à ex-ploração desordenada. Este cenário se agravou ainda mais na década de 1970, quando o governo militar in-centivou a vinda de colonizadores para a região. Foram distribuídas terras públicas com a exigência de que se desmatasse 80% de cada área para produção agrícola. Mas o governo distribuiu as terras e não deu os títulos de propriedade. Os produtores apenas recebiam um protocolo que atestava que o processo de posse da ter-ra havia sido aberto junto ao INCRA. Porém, em sua grande maioria, estes processos nunca foram conclu-ídos e consequentemente a regularização fundiária dessas terras nunca foi realizada. Posteriormente, para evitar que o desmatamento avançasse pela Amazônia adentro, nesta mesma área foram criadas várias uni-dades de conservação, mais uma vez sem proceder à regularização fundiária necessária, fazendo com que o conflito pela posse da terra seja uma realidade constan-te até hoje.

Em outras palavras, o panorama fundiário na bacia do rio Tapajós é complexo e não apresenta um mínimo de ordenamento territorial na região da BR-163. O caso das unidades de conservação fragilizadas e sobre constantes ameaças não depende apenas da agência de áreas protegidas (ICMBio), mas envolve também a área de governo responsável pela regulariza-ção fundiária, federal e estadual (INCRA e ITERPA respectivamente) e a agência responsável pela gestão de Terras Indígenas (FUNAI). Estes órgãos estão bas-tante fragilizados, fragmentados e enfrentando proble-mas financeiros de longo prazo, o que cada vez mais os enfraquece institucionalmente e dificulta a solução do problema.

Considerando então as muitas variáveis trazidas pela temática da regularização fundiária, o procedi-mento de ordenamento territorial pressupõe mapear e regularizar a ocupação, a dominialidade e o uso da ter-ra e destinar funções às áreas públicas ainda sem uso definido, o que aponta para um processo contínuo de monitoramento, controle e incentivos para um melhor uso da terra.

O ordenamento do território deve considerar, inclusive para a viabilidade de grandes obras, a cons-tituição, a manutenção e a gestão de espaços destina-dos à conservação da sociobiodiversidade, prevenindo a redução e/ou fragmentação de áreas protegidas no contexto de grandes empreendimentos. O Blueprint, integrado aos dados sociais e econômicos, pode facili-

© Fernando Lessa

© Fernando Lessa

Comentários finais

41

Page 22: Tapajós 3D - Santander · 2019-01-07 · 2 2018. IBGE. Contas Nacionais 3 2015.FAPESPA. Barômetro da Sustentabilidade - Santarém ... (PCH) - Rodovias Existem na bacia do Tapajós

tar essas análises e contribuir para um melhor ordena-mento do território.

O Zoneamento Ecológico Econômico (ZEE) e os planos diretores foram apontados no processo de consulta como as principais ferramentas, ou pelo me-nos as mais conhecidas, no processo de planejamento territorial, principalmente para ações antecipatórias. Neste sentido, o planejamento da instalação das gran-des obras deveria buscar respeitar e adequar-se aos pactos e aos instrumentos de ordenamento territorial previamente estabelecidos, refletindo também estrutu-ras de tomada de decisão semelhantes, com participa-ção social, transparência e monitoramento.

Visão compartilhada é uma questão de gover-nança. Estabelecer governança com plena participação social é imprescindível aos processos de planejamento e de desenvolvimento territorial, devendo assegurar fortalecimento de capacidades de todos os indivíduos e instituições que participem desses espaços de tal for-ma a minimizar assimetrias de conhecimento e poder na elaboração de planos e agendas de desenvolvimento e no seu monitoramento.

Em relação a fundos antecipatórios que permi-tam o early action, instrumentos financeiros devem es-tar previstos para responder às demandas do território, observando e atuando nos processos de planejamento e desenvolvimento territorial, considerando suas vo-cações e priorizando investimentos de longo prazo que garantam sustentabilidade local. O desenho destes instrumentos deve estar acompanhado de acordos que

Anexo I: Mapeamento dos principais atores econômicos no Tapajós

SETOR Nome Papel Influência Interesse

Frig

orífi

cos/

Pec

uária

* FRIGOBOM Frigorífico, localizado no Mato Grosso, atuante na região Cen-tro-Oeste realiza abate de bovinos para a fabricação de produ-tos de carne, preparação de subprodutos do abate, comércio atacadista de carnes bovinas e seus derivados.

Baixa Baixo

FRIALTO Frigorífico, localizado no Mato Grosso, atende ao mercado re-gional e à exportação com abate de 4000 bovinos/dia.

Baixa Baixo

FRIGOWEBER Frigorífico, localizado no Mato Grosso, abate de suínos e in-dustrialização de 40 diferentes tipos de produtos.

Baixa Baixo

Grã

os (S

oja

e M

ilho)

CARGILL Compra, processa e distribui grãos e outras commodities para fabricantes de produtos alimentícios para consumo humano e animal. A empresa também fornece produtos e serviços para produtores agrícolas e pecuaristas em toda a bacia, principal-mente na região de Santarém.

Muito alta Muito alto

AMAGGI Com sede no Mato Grosso, a companhia atua na produção de soja, milho, algodão e semente de soja, transporte fluvial, benefi-ciamento de soja e geração de energia, com PCHs operando nas cabeceiras do Juruena, parte alta da bacia do Tapajós.

Muito alta Muito alto

LDC – Louis Dreyfuss Company

A empresa atua na originação e produção, processamento e refino, armazenamento e transporte, pesquisa e comércio, customização e distribuição de produtos agrícolas, com ope-rações nos mercados de açúcar, algodão, arroz, café, grãos, oleaginosas e sucos cítricos.

Muito alta Muito alto

BUNGE Empresa global e integrada de agronegócio, alimentos e bio-energia, que opera em toda a cadeia produtiva do campo à mesa do consumidor.

Muito alta Muito alto

COFCO BR - China Na-tional Cereals, Oils and Foodstuffs Corporation

Empresa chinesa, esmagadora e exportadora de soja, a partir do Mato Grosso (Rondonópolis), com mais de 7 milhões de toneladas exportadas em 2017.

Alta Muito alto

Min

eraç

ão

VALE Empresa multinacional brasileira operando nas áreas de mi-neração, logística, energia siderúrgica e petróleo. Atua há 30 anos no Pará operando o Complexo de Carajás, maior produtor de minério de ferro no mundo, nos municípios de Paraupebas, Canaã dos Carajás, Marabá, Ourilândia do Norte e Curionopó-lis. Não atua na bacia do Tapajós.

Alta Médio

ELDORADO GOLD Empresa canadense, mineradora de ouro atuando na bacia do Tapajós, responsável pela Mina do Tocantinzinho – represen-tada localmente pela BRAZAURO.

Alta Alto

SERABI GOLD Empresa britânica, mineradora de ouro atuando na bacia do Tapajós, responsável pelo Complexo Regional do Tapajós.

Alta Alto

ANGLO AMERICAN Empresa mineradora global, vem realizando estudos em áreas contínuas à FLONA Jamanxim para prospecção de cobre

Média Alto

FECOGAT - Federação das Cooperativas de Garimpei-ros do Tapajós

Congrega as cooperativas de garimpeiros atuantes no rio Tapajós, buscando a legalização da atividade. Formada pe-las seguintes cooperativas: AMOT; APGAM; COOPEMVAT, COOAMPARO, COMIDEC, COEMIABRA, CCOMIGAPA, COOGAMIBRA e COOPERTRANS

Média Muito alto

deem garantias formais de conexão dos investimentos ao planejamento e ao desenvolvimento do território, focando em objetivos de longo prazo que garantam a sustentabilidade da economia local.

Em resumo, para tornar o processo de implanta-ção de grandes obras de infraestrutura no Tapajós efi-ciente, observou-se como pontos chave:• Tratar as questões socioambientais desde a fase

do planejamento do empreendimento, criando mecanismos para que isto ocorra com participa-ção efetiva e transparência;

• Fortalecer a gestão territorial;• Aprimorar os instrumentos que contribuam

para o fortalecimento institucional;• Desenvolver metodologias que conectem o diag-

nóstico socioeconômico com um melhor plane-jamento locacional do empreendimento e com as medidas compensatórias ou mitigadoras que forem necessárias.

42 43

Page 23: Tapajós 3D - Santander · 2019-01-07 · 2 2018. IBGE. Contas Nacionais 3 2015.FAPESPA. Barômetro da Sustentabilidade - Santarém ... (PCH) - Rodovias Existem na bacia do Tapajós

PCH

s

BROOKFIELD Energia Re-novável Minas Gerais S.A

Considerada uma das maiores geradoras privadas do país, com um portfólio de 51 ativos entre usinas hidrelétricas, parques eólicos e usinas de cogeração a biomassa

Alta** Médio

AMAGGI Energia Por meio de quatro grandes áreas de negócio – Agro, Commodities, Logística e Operações e Energia – atua na pro-dução agrícola de soja, milho, algodão e fertilizantes, na co-mercialização de grãos e insumos agrícolas, na logística em larga escala para escoamento nacional e internacional de grãos, e na geração e comercialização de energia elétrica.

Muito alta Muito alto

JURUENA Participações Holding investidora em ativos de geração de energia elétrica, detentora de cinco subsidiárias integrais: Campos de Júlio Energia S.A, Parecis Energia S.A, Rondon Energia S.A, Tele-gráfica Energia S.A e Sapezal Energia S.A., proprietárias, res-pectivamente, das seguintes pequenas centrais hidrelétricas: Cidezal, Parecis, Rondon, Telegráfica e Sapezal. Todas as PCHs estão localizadas no Rio Juruena

Alta** Muito alto

BRENNAND Possui 607 MW de capacidade instalada, sendo 360 MW oriundos de 17 centrais hidrelétricas, 2 UHEs e 15 PCHs, e 247 MW de 8 parques eólicos. Os projetos em construção do Grupo Brennand Energia englobam 2 PCHs que irão adicionar 20 MW de capacidade instalada. Forte atuação no estado do Mato Grosso, porém não na bacia do Tapajós.

Baixo Médio

CIENGE Engenharia Empresa de engenharia e geração de energia para projetos de usinas e pequenas centrais hidrelétricas (UHEs e PCHs). Está em processo de licenciamento ambiental para instalação das PCHs no rio Cupari, afluente da margem direita do rio Tapajós.

Médio Muito alto

UH

E

EESM - Empresa de Ener-gia São Manoel

Formada pela EDP-Brasil (33,334%), FURNAS (33,333%) e China Three Gorges Corporation (CTG, 33,333%) responsável pela operação da UHE São Manoel, na sub-bacia do Teles Pires

Alta Alto

CTG - China Three Gorges Corporation

Empresa estatal chinesa, sendo atualmente a maior geradora privada de energia no país (no Brasil, segue as regras do setor privado), com capacidade instalada de 8,27 mil MW. É parte do consórcio responsável pela UHE São Manoel.

Alta Alto

EDP - Energia de Portugal Holding do setor de energia com ativos de geração, comercia-lização e distribuição em 11 estados. A capacidade instalada atual é de 2,9 GW e 24,7 TWh de energia distribuída. É parte do consórcio responsável pela UHE São Manoel.

Média Alto

STATE GRID (Companhia Nacional da Rede Elétrica da China) & COPEL

Responsável pela implantação da UHE Colíder, em fase final para início de operação comercial. Responsável pelo projeto de instalação das linhas de transmissão referentes às cinco UHE que estão sendo instaladas no rio Teles Pires. O projeto totaliza 1.605 km de linhas de transmissão. Os lotes também contemplam quatro novas subestações. Para viabilizar os em-preendimentos, foram criadas as empresas Matrinchã Trans-missora de Energia S/A e Guaraciaba Transmissora de Energia S/A, ambas tendo Copel com 49% de participação e State Grid com 51%. Empreendimento já em fase de licenciamento.- A COPEL, Companhia Paranaense de Energia, atua nas áre-as de geração, transmissão e distribuição de energia, além de telecomunicações. Signatária do Pacto Global da ONU. Adota também as diretrizes GRI - Global Reporting Initiative.

Muito alta Muito alto

EDF Estatal francesa. Após a venda da Light reduziu sua atuação no país. Demonstra interesse nas UHE do Tapajós.

Baixo Alto

ENGIE Anteriormente GDF Suez e no Brasil Tractebel Energia. Vem di-versificando e ampliando sua atuação no mercado de energia renovável com capacidade instalada aproximada de 7,9 MW, composta por 31 plantas operadas por ela, das quais onze são hidrelétricas, três termelétricas, três à biomassa, nove eólicas, duas pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) e duas solares. Não está no Tapajós atualmente.

Média Médio

ENERGISA Uma das maiores empresas de distribuição de energia. Res-ponsável pela CEMAT, vai investir R$ 1,447 bilhão no sistema elétrico de Mato Grosso nos próximos quatro anos. O valor in-clui a construção de pelo menos nove subestações novas, bem como a ampliação ou melhoria de outras 34. Serão construí-dos quase 900 quilômetros de linhas de alta tensão – além de investimentos pesados na extensão, melhoria e manutenção das redes de distribuição. Os investimentos também incluem a automação de subestações e linhas, que passam a ser co-mandadas de forma remota.

Alta Alto

NEOENERGIA Presente em todos os segmentos do setor elétrico: distri-buição, transmissão, geração (convencional e renovável) e comercialização de energia, com atividades em 16 estados brasileiros. Líder (50,56%) do Consórcio responsável pela construção da UHE Teles Pires, que conta também com a par-ticipação de FURNAS (24,72%) e Eletrosul (24,72%).

Muito alta Muito alto

EQUATORIAL ENERGIA Controladora da CELPA no Pará. Alta Alto

SETOR Nome Papel Influência Interesse

SETOR Nome Papel Influência Interesse

44 45

Page 24: Tapajós 3D - Santander · 2019-01-07 · 2 2018. IBGE. Contas Nacionais 3 2015.FAPESPA. Barômetro da Sustentabilidade - Santarém ... (PCH) - Rodovias Existem na bacia do Tapajós

UH

E (c

ontin

uaçã

o)

ELETROBRAS/ ELETRO-NORTE – Centrais Elétricas Brasileiras SA

Empresa do governo federal de economia mista, responsável pela geração, transmissão e distribuição de energia. É a res-ponsável pelo plano de construção de hidrelétricas no rio Ta-pajós.

Muito alta Muito alto

FURNAS FURNAS é uma empresa de economia mista, subsidiária da Eletrobras e vinculada ao Ministério de Minas e Energia. Ope-ra e mantém um sistema pelo qual passam 40% da energia gerada no país. Normalmente se apresenta consorciada com outras empresas. É parte do Consórcio responsável pela UHE São Manoel e pela UHE Teles Pires.

Média Alto

ELETROSUL É uma empresa pública controlada pela Eletrobras e vinculada ao Ministério de Minas e Energia. Opera na geração, transmis-são e comercialização de energia. É parte do consórcio respon-sável pela UHE Teles Pires.

Baixa Médio

EPE – Empresa de Pesquisa Energética

Empresa pública federal que realiza estudos e pesquisas desti-nados a subsidiar o planejamento do setor energético, cobrin-do energia elétrica, petróleo e gás natural e seus derivados e biocombustíveis.

Muito alta Muito alto

TUPs

CARGILL Possui terminal de transbordo rodo-fluvial em Itaituba (PA) e terminal portuário em Santarém (PA). Considera a possibi-lidade de expansão de sua atividade portuária na região. Faz parceria com a ADM.

Muito alta Muito alto

BUNGE Seu complexo portuário envolve a Estação de Transbordo, em Miritituba (Tapajós), e o Terminal Portuário Fronteira Norte (Terfron), localizado em Barcarena, ambos no Pará. Atua em parceria com a Amaggi.

Muito alta Muito alto

ADM - Archer Daniels Midland

Joint-venture com a GLENCORE, opera terminal de transbordo flutuante em Miritituba, seguindo em barcaças até o Porto de Barcarena. Faz parceria com a CARGILL.

Alta Muito alto

AMAGGI Logística Seu complexo portuário envolve a Estação de Transbordo, em Miritituba (Tapajós), e o Terminal Portuário Fronteira Norte (Terfron), localizado em Barcarena, ambos no Pará. Atua em parceria com a BUNGE.

Muito alta Muito alto

LDC - Lous Dreyfuss Company

Utiliza a estrutura portuária da CIANPORT em Miritituba enquanto seu terminal de transbordo em Santarenzinho não é concluído. Em Santarém, utiliza o espaço público do porto enquanto aguarda o licenciamento ambiental de seu próprio porto na Enseada do Malato, Ilha do Marajó/PA.

Muito alta Muito alto

CIANPORT Joint-venture entre a FIAGRIL e a AGROSOJA, comercializado-ras regionais de grãos no Mato Grosso. No TUP de Miritituba opera em parceria com a LDC.

Média Alto

AMPORT - Associação dos Terminais Portuários e Estações de Transbordo de Cargas da Bacia Amazôni-ca

Associação que reúne 14 empresas do setor privado que in-vestem em logística de transporte.

Média Alto

Hid

rovi

a

Empresas UNITAPA-JOS Joint-venture (BUNGE&AMAGGI)

Responsável pela implantação/operação da hidrovia que liga Miritituba a Santarém – Rio Amazonas.

Alta Muito alto

HIDROVIAS do BRASIL Responsável pela implantação/operação da hidrovia que liga Miritituba a Santarém.

Alta Muito alto

HERMASA Empresa do Grupo AMAGGI. Opera na Hidrovia Tapajós-Amazonas e também no rio Madeira.

Médio Muito Alto

Ferr

ovia

EDLP (Estação da Luz Participações LTDA), Consórcio Pirara (BUNGE, CARGILL, ADM, AMAGGI, LDC, CIANPORT)

Responsável pelos estudos prévios e manifestação de interes-se para implantação da Ferrogrão.

Alta Muito alto

CCR Atua nos segmentos de concessão de rodovias, mobilidade urbana, aeroportos e serviços. Não está presente no Tapajós.

Baixo Baixo

CCCC - China Commu-nication Construction Company; CREC - China Railway Group Limited

Chinesa no ramo da construção civil, interessada na constru-ção de portos, rodovias e ferrovias. Comprou 80% Concremat.

Alta Muito alto

COFCO Empresa chinesa para a comercialização e exportação de grãos, no Estado do Mato Grosso, interessada na Ferrogrão. Está se associando ao Kuwait Investment Authority – KIA, para possíveis investimentos na ferrovia.

Alta Muito alto

CRCC - China Railway Construction Corporation

Tem interesse na operação da Ferrogrão e atua conjuntamente a COFCO.

Alta Muito alto

Rodo

via

DNIT – Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes

Responsável pela construção, manutenção e operação da in-fraestrutura dos segmentos do Sistema Federal de Viação sob administração direta da União nos modais rodoviário, ferrovi-ário e aquaviário.

Alta Alto

CONCREMAT/ CCCC Empresa atualmente responsável pelo cumprimento das com-pensações florestais no processo de asfaltamento da BR-163 – 80% da empresa pertence à chinesa do setor de construção CCCC.

Baixa Alto

EPL - Empresa de Planeja-mento e Logística

A Empresa de Planejamento e Logística S.A. (EPL) é uma em-presa estatal que tem por finalidade estruturar e qualificar, por meio de estudos e pesquisas, o processo de planejamento in-tegrado de logística no país, interligando rodovias, ferrovias, portos, aeroportos e hidrovias.

Média Alto

*Frigoríficos/Pecuária – Não foi considerada a produção, apenas abate para atendimento ao comércio varejista/atacadista. Na porção paraense da bacia não foram identificados grandes frigoríficos, apenas um de atuação local no município de Novo Progresso.** Na Sub-bacia do Rio Juruena

Para a avaliação do mapeamento de stakeholders realizado foi utilizada a Matriz de Poder & Influência, que associa os interessados baseados (i) no nível de autoridade e participação que possuem, e (ii) nas suas participações ativa e capacidade de fazer mudanças no planejamento ou execução do projeto

SETOR Nome Papel Influência Interesse

SETOR Nome Papel Influência Interesse

46 47

Page 25: Tapajós 3D - Santander · 2019-01-07 · 2 2018. IBGE. Contas Nacionais 3 2015.FAPESPA. Barômetro da Sustentabilidade - Santarém ... (PCH) - Rodovias Existem na bacia do Tapajós

Tapajós em 3D

Contribuições para o aperfeiçoamento do modelo operacional de implantação de grandes projetos de infraestrutura

1. Dados Básicos do RESPONSÁVEL pelo preenchimentoNome

E-mail

(DDD) Telefone

Nome da instituição (*)

UF (*)

Setor de atuação (*)

2. Sobre a elaboração e o uso de instrumentos e processos de planejamento e governança territorial

2.1. Planos de desenvolvimento territorial são dinâmicos e respondem a cenários variáveis de investimen-tos e demandas, devendo ser entendidos como expressões espaciais das diversas dimensões do desenvolvimento sustentável.

Na sua opinião, instrumentos e processos para o planejamento territorial poderiam antecipar e\ou incor-porar as oportunidades e custos dos possíveis impactos socioambientais e econômicos gerados pelas grandes obras de infraestrutura?

Marque um x:

( ) Sim? ( ) Não?

ANEXO II – Guia para consulta as empresasPor favor, explique o(s) motivo(s) da sua avaliação.

Gostaria de citar algum instrumento, processo ou ferramenta de planejamento territorial que é chave para seu negócio e como ela poderia ser aprimorada?

2.2 – A governança territorial é entendida como o conjunto de iniciativas ou ações que expressam a capaci-dade de uma sociedade, organizada territorialmente, gerir os assuntos públicos a partir do envolvimento conjunto e cooperativo de seus atores sociais, econômicos e institucionais.

Você conhece experiências de descentralização político-administrativa que fortaleçam a governança territorial?

( ) Sim? ( ) Não?

Quais? Considera alguma mais efetiva que outra?

2.3. Os Planos Setoriais têm como objetivo garantir que as especificidades próprias de cada setor sejam observadas e atendidas pelas políticas públicas. Um melhor conhecimento dos planos setoriais contribui para um melhor ordenamento territorial quando da implementação de grandes empreendimentos de infraestrutura numa mesma bacia hidrográfica.

Considerando os planos setoriais de seu negócio, você tem perspectivas de expansão na Bacia do Tapajós?

( ) Sim? ( ) Não?

Na sua opinião, como os estudos de viabilidade técnica podem ser aperfeiçoados para reduzir conflitos socioam-bientais durante a etapa de planejamento de seu negócio?

48 49

Page 26: Tapajós 3D - Santander · 2019-01-07 · 2 2018. IBGE. Contas Nacionais 3 2015.FAPESPA. Barômetro da Sustentabilidade - Santarém ... (PCH) - Rodovias Existem na bacia do Tapajós

Na sua opinião, como os processos de concessão pública podem ser melhorados para evitar conflitos socioam-bientais?

Na sua opinião, como os processos de licenciamento ambiental podem ser melhorados para evitar conflitos socio-ambientais?

Sua empresa/organização dispõe de recursos para apoio a projetos socioambientais, P&D ou outras linhas de apoio na Bacia do Tapajós? Quais? Como funciona? Quais são os prazos?

Copyright © 2018 – The Nature Conservancy |Todos os direitos desta publicação são reservados à The Nature Conservancy

TNC BrasilDireção: Ian ThompsonGerencia de Infraestrutura: Karen Oliveira

©Tapajós 3D: Atores econômicos atuantes na bacia e potencial aplicação do Blueprint - relatório de projeto

Coordenação GeralGerente Infraestrutura: Karen OliveiraGerente de Portfolio: Adriana Kfouri

Coordenação científicaGerente Adjunta de Ciências: Edenise Garcia

Concepção do BlueprintDiretor de Conservação – Great Rivers: Jonathan HigginsCientista Sênior de Água Doce – América Latina: Paulo Petry

Equipe de desenvolvimentoConsultora: Lucélia Souza de BarrosEspecialistas em geoprocessamento e conservação: Jaílson Soares Filho e Raphael ValeEstagiários: Artur Trindade Favacho e Jamilly Araújo

Edição de Arte: Matiz DesignRevisão: Adriana Kfouri e Edenise GarciaFoto da capa: © Fernando Lessa

Apoio: Santander

Quem somos

A The Nature Conservancy (TNC) é uma organização global de conservação ambiental com a missão de proteger as terras e água das quais a vida depende. Guiados pela ciência, trabalhamos em 72 países e utilizamos uma abordagem colaborativa que envolve comunidades locais, governos, setor privado e outros parceiros. Atuante no Brasil há 30 anos, a TNC desenvolve suas estratégias de conservação nos principais biomas brasileiros, com o objetivo de compatibilizar o desenvolvimento socioeconômico com a conservação dos ecossistemas naturais.Com sua Estratégia de Infraestrutura, a TNC busca contribuir para que grandes obras de infraestrutura sejam planejadas e avaliadas sob a lógica sequencial da hierarquia da mitigação, evitando, minimizando e compensando os impactos identificados, contribuindo com a tomada de decisão sobre os melhores locais para o desenvolvimento dos projetos, os meios mais adequados ao contexto local e as formas de fomentar investimentos e ações compensatórias para a sociedade e o meio ambiente. O resultado esperado é que os projetos de infraestrutura tenham impacto líquido positivo no capital natural e na sociedade, isto é, que os impactos negativos causados pelos empreendimentos possam ser superados pelos benefícios sociais e ambientais gerados.

50

Page 27: Tapajós 3D - Santander · 2019-01-07 · 2 2018. IBGE. Contas Nacionais 3 2015.FAPESPA. Barômetro da Sustentabilidade - Santarém ... (PCH) - Rodovias Existem na bacia do Tapajós

TNC.org.brNature.org/brazil The Nature ConservancyBrasilAvenida Paulista, 24399º andar, cj 91 - São Paulo/SP01311-936

APOIO