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MUDAR A CIDADE: UMA INTRODUÇÃO CRÍTICA AOPLANEJAMENTO E À GESTÃO URBANOS.
Marcelo Lopes de Souza
Introdução:da crítica do planejamento urbano a
um planejamento urbano crítico
Na década de 70, do século XX, duas publicações marcaram o inicio de
uma poderosa influencia do pensamento marxista no campo dos estudosurbanos: em 1972, A questão urbana, de Manuel CASTELLS (1983ª); A justiçasocial e a cidade, de David HARVEY (1980).
As obras citadas, fora precedidas por algumas importantes obras dofilósofo Henri Lefebvre: O direito à cidade (LEFEBVRE, 1991; 1.ed. francesa1968), O pensamento marxista e a cidade (LEFEBVRE, 1983; 1.ed. francesa 1970)
O planejamento teria por missão criar as condições para uma
sobrevivência do sistema a longo prazo – mesmo que, para isso, fossenecessário, algumas vezes, ir contra os interesses imediatos de algunscapitalistas ou mesmo de frações inteiras da classe capitalista.
Às criticas conservadoras contra o planejamento, elas começaram
a avolumar-se na esteira tanto de uma certa frustração com os resultadosda intervenção estatal em geral – nem sempre capaz de cumprir apromessa implícita, de espírito keynesiano, de evitar as crises, por assimdizer, salvar o capitalismo de si próprio.
Segundo CULLINGWORTH (1997:6) , quatro são os elementos fundamentais de qualquer atividade de planejamento:
•Pensamento orientado para o futuro.•Escolha entre alternativas.•Consideração de limites, restrições e potencialidades; considerações de prejuízos e benefícios.•Possibilidade de diferentes cursos de ação, os quais dependem de condições e circunstâncias variáveis.
Planejar e gerir intervenções no espaço urbano são atividadeseminentemente políticas, uma vez que o sentido e as finalidades da vidacoletiva estão em jogo, por outro lado isso não deve desembocar naconclusão de que planejar e gerir prescindem de téchne, de conhecimentosapropriados (técnicos stricto sensu, científicos etc.), notadamente no quese refere à escolha dos meios mais adequados para a satisfação dedeterminadas necessidades.
A propósito das cidades; na verdade, da segregaçãoresidencial à dinâmica do mercado imobiliário, passando pelosmovimentos sociais urbanos, poucos objetos têm sido tãoprivilegiados pelas ciências sociais (especialmente Sociologia eGeografia) quanto as cidades.
O desenvolvimento urbano, ou a mudança social positivada e na cidade – com as reflexões a respeito do desenvolvimentosocial ( ou sócio-espacial) em geral, beneficiando-se de idéias einquietações que têm surgido a propósito da medição sobretransformações(“modernização”, redução de desigualdades etc.)
1. Os conceitos de planejamento urbano e gestão urbana
1.1 Planejamento e gestão: conceitos rivais ou complementares ?
1.2 Urbanismo, urban design e planejamento urbano
2. Planejamento e gestão urbanos como ferramentas de promoção do
desenvolvimento sócio-espacial.
2.1 Desenvolvimento sócio espacial
• As discussões sobre “desenvolvimento” são decerta forma muito viciadas, vícios do tipo:
• Economicismo
• Etnocentrismo
• Teleologismo (etapismo, historicismo)
• Concervadorismo
• Sendo como tratar de desenvolvimentocomum desenvolvimento econômico.
• O desenvolvimento é entendido como umamudança social positiva. O conteúdo dessamudança, todavia, é tido como não devendoser definido a priori, à revelia dos desejos eexpectativas dos grupos sociais concretos.
• Um “desenvolvimento” que traga efeitoscolaterais sérios não é legítimo e, portanto nãomerece ser chamado como tal.
• Já o autentico processo de desenvolvimentosócio-espacial quando se constata umamelhoria da qualidade de visa e um aumentoda justiça social.
• Para não confundir ou simplesmentesistematizar uma palavra o autor usa aexpressão desenvolvimento sócio – espacial, emvez de desenvolvimento social.
• Fator desigualdade quanto a quê?
• Indivíduos devem ter o seu acesso a equipamentosculturais urbanos garantindo, não só por lei, mastambém materialmente, independente da sua etniae de sua condição de portadores ou não dedeficiência física.
• Igualdade econômica somente, mas em termosamplos, o que inclui igualdade do ponto de vistada liberdade.
• É possível considerar justiça social e qualidadede vida como subordinados à autonomiaindividual e coletiva enquanto princípio eparâmetro.
• Sendo assim duas faces para a autonomia aindividual e a coletiva.
• Justiça social e qualidade de vida situam se emplanos diferentes no que diz respeito à sua relaçãocom o princípio de autonomia: se a justiça socialpode ser vista como deriva da própriaautonomia, ou como uma instância dela, o mesmojá não acontece com a qualidade de vida.
• Pergunta importante a se fazer:
• Como e em que extensão a intervençãocontribuiu, tem contribuído ou contribuiria paramaiores autonomia individual e coletiva?
• Justiça social e qualidade de vida acham-sevinculadas a diferentes esferas (a justiça socialestá relacionada a esfera pública, ao passo que aqualidade de vida remete inicialmente, à esferaprivada.
• Exemplo de parâmetros subordinados aqualidade de vida são aqueles relativos asatisfação individual.
• Exemplo de como pessoas poderiam serprotagonistas da mudança social.
• Circunstâncias políticas mais favoráveis, emque os participantes manifestam livremente assuas preferências e deliberam de acordo comelas, sendo assim podendo complementar oumesmo substituir.
• Sim é possível no entanto, com muitasreservas, pois se trata de um ganho nãodefensável quando se alargam horizontesanalíticos (longo prazo e grande escala).
• Entre justiça social e qualidade de vida deveser enxergada uma relação decomplementaridade essencial, qualquer umdos dois, se tomando isoladamente e sem ooutro, é suficiente para servir de base paraavaliações e estratégias de desenvolvimentosócio – espacial cada um calibra ecomplementa o outro.
2.2 Desenvolvimento Urbano
• Planejamento e gestão urbanos sãoestratégias de desenvolvimentourbano, alimentadas por pesquisa socialbásica, tanto teórica quanto empírica
• Para se conceber um genuínodesenvolvimento sócio – espacial na dacidade, faz se mister livrar-se do fardo do sensocomum quanto ao significado da expressão“desenvolvimento urbano”.
• É um tanto insensato qualificardesenvolvimento urbano, pois é um processodo qual sua positividade do ponto de vista porexemplo ecológico são muito duvidosas
• A preocupação com o planejamento urbanoe a gestão de urbanos, ambos os objetivosaumento da justiça social e melhoria daqualidade de vida, podem ser compreendidoscomo objetivos intrinsecamente relevantes, poisclaramente dizem respeito a fins e não somentea meios.
• Embora o nível de segregação residencialtenha sido diretamente inspirado pelo ambienteurbano.
• Embora o nível de segregação residencialtenha sido diretamente inspirado peloambiente urbano.
• Lidar com parâmetros é uma tarefacoletiva, de cientistas e intelectuais, emborareserva-se como direito de emitir pontos devista eventualmente discordantes em relação amaioria.
Necessidades Aspectos particulares Possíveis conseqüências da não- satisfação
1.Regeneração Isolação, luz do dia-dia,aeração,proteção contra barulhos,locais p/ pratica de esportes
Esgotamento físico e psíquico,vulnerabilidade face doenças,insônia, estresse
2.Privacidade
3. Segurança
Proteção da esfera privada contra roubos e assaltos
Raiva, medo, atritos, agressão,
4. Funcionalidade
5. Ordem
Necessidade de espaço, sendo de orientação.
Desperdício de tempo e dinheiro, insatisfação com moradia e a vida
6. Comunicação
7.Apropriação
8. Participação
Conversas, ajuda dos vizinhos, participação e engajamento
Preconceitos e conflitos,social,vandalismo, segregação.
9. Estética
10. Criatividade
Aspectos dos prédios, e fachadas,arruamento, presença de parques
Fraca topo filia, insatisfação com a moradia, mudança de local
• Quanto ao problema de mensuração. Épossível e desejável construir escalas para mediros parâmetros? Sim, e tanto possível quantodesejável, ou mesmo necessário, construirescalas de avaliação.
• Não se trata, de todo modo, de umaconstrução apriorística de indicadores deuniversais (como renda per capita, IDH e entreoutros tantos); a construção de indicadoresdeverá, bem ao contrário, se dar tão próximaquanto possível da realidade dos contextosvalorativos dos grupos sociais específicosenvolvidos.
3. Planejamento e gestão urbanos: nem“neutros”, nem necessariamente conservadores!
A Sociedade não é uma massa homogênea eindiferenciada, e sociedades capitalistas, maisespecificamente, se apresentam divididas emclasses (que se diferenciam em função do lugarque ocupam na esfera de produção), cujasrelações são, em parte, contraditórias e deantagonismo estrutural.
• Como Poderiam o planejamento e a gestão ser“neutros”, em se tratando de uma sociedademarcada por desigualdades estruturais?
• Diga-se, claramente e sem subterfúgios: nãohá conhecimento, e muito particularmente nocaso do conhecimento elaborado sobre asociedade, que não seja expressão de práticassociais.
• Não se quer dizer com isso, que todo oconhecimento sobre a sociedade seja produtode experiências pessoais de quem oproduz, mas sim que não há saber sobre osocial que não seja sócio-histórico-geograficamente situado.
• Se o próprio conhecimento teórico, se aspróprias análise e interpretação não podem secolocar “a salvo” de valores e valorações,como esperar isso de saberes diretamentecomprometidos com a ação, como osprincípios e técnicas de planejamento egestão?
• Esses saberes, cujo contexto motivacional é,evidentemente, uma tentativa de intervireficazmente sobre o real, seja para conservá-lo, reformá-lo ou subvertê-lo radicalmente, deacordo com determinados valores e conformea certos interesses, devem, para seremcoerentes, realimentar de modo eficaz aspráticas sociais que os chamam à vida.
• O fato de jamais serem “neutros” comrespeito a valores não apenas não querdizer, porém, que planejamento e gestãourbanos não são passíveis de serem tratadoscientificamente, como também não quer dizerque eles possuam, enquanto tais, sempre omesmo conteúdo valorativo – notadamenteconservador, como ainda insistem alguns.
• Autores críticos têm apontado a funcionalidade daeducação para o sistema capitalista, enquantoveículo de introjeção, na criança e no jovem, deconhecimentos, valores e idéias necessários àreprodução do status quo (para o filósofo marxistaestruturalista Louis ALTHUSSER [1987], as escolascomporiam o universo dos “aparelhos ideológicos deEstado”, por contribuírem decisivamente para atransmissão de ideologias – o que nos remetetambém a Marx, para o qual, em qualquersociedade, em última instância, a ideologiadominante seria a ideologia da classe dominante.
• Muito menos sensato sugerir, em sãconsciência, que a educação em si éconservadora, muito embora a educação(como, de resto, tudo o mais) em umasociedade capitalista tenda a ser modelada eajustada em conformidade com o imaginário eos imperativos capitalistas.
• Pois bem: com o planejamento (e mais aindacom a gestão), que é uma atividadeimprescindível, acontece o mesmo: adiscussão sobre se o planejamento éintrinsecamente conservador ou não é, a bemda verdade, desprovida de sentido: oplanejamento (como a educação, os tribunaisetc.) é aquilo que se faz dele.
• Sublinhe-se, adicionalmente, que oplanejamento e a gestão urbanos nãoprecisam (nem devem) ser praticadosapenas pelo aparelho de Estado.
• ONGs e outras organizações da sociedade civilprecisam se instrumentar e intervir mais emais propositivamente, eventualmenteimplementando suas idéias sem o Estado,amiúde apesar do Estado e, quem sabecontra o Estado, de planos diretoresalternativos até experiências de gestão decooperativas habitacionais.
• O preconceito segundo o qual o Estado, e só oEstado,faz planejamento e pratica a gestão, se devenão somente ao fato óbvio de que o Estadomonopoliza uma grande parte dos recursosnecessários à realização e intervenções e da gestão(do monopólio da “violência legítima”), mas tambémà própria imagem ideológica do Estado, o qualjustifica todas as suas ações em nome do “interessepúblico”.
• O objetivo do planejamento, nos marcos de umaética comunicativa crítica, não é o “equilíbrio” (idéiasempre artificial e ideológica em uma sociedade declasses) e a conciliação de interesses a todocusto,mas a promoção de maior justiça social (e demelhor qualidade de vida nos marcos da justiçasocial), sobre a base da explicitação dos conflitoslatentes e do estímulo ao diálogo racional, buscandoevitar, com isso,o recurso à violência.
4. Planejamento e gestão urbanos: perspectivacientífica... Mas não cientificista
• Falar em “perspectiva científica” a propósitodo planejamento e da gestão urbanos, que éaquela a ser esposada pelos cientistas sociaisque a eles se dedicarem, nada tem aver, aqui, com pedantismo racional ou ardorpositivista.
• É no terreno da pesquisa aplicada,notadamente do planejamento, quea natureza “praxeológica” dasciências sociais se mostra maisevidente.
• Pondera-se, por conseguinte, e sem qualquerarrogância cientificista, que uma perspectivacientífica deve assentar-se sobre duaspremissas: 1) a pesquisa básica comopreparação para elaboração de intervenção e2) a não-subordinação vulgar da pesquisaaplicada a diretrizes políticas estabelecidaspreviamente, em detrimento da autenticidadeda busca pela verdade.
• A pesquisa básica, no que concerne aodesenvolvimento sócio-espacial, compreendetanto a reflexão teórica, conceitual emetodológica sobre a natureza dinâmicasócio-espacial e as formas de se obterconhecimento sobre ela, quanto o trabalhoempírico.
• A pesquisa aplicada, de sua parte, abrange nãoapenas o delineamento prático de propostas deintervenção (estratégias da sociedade civil, políticaspúblicas, instrumentos de planejamento)mas, também, a reflexão teórica sobre estratégias deintervenção (exame do potencial de instrumentos emodelos, de seu significado ético e político etc.).
• A abordagem urbanística típica é, de umponto de vista científico, apriorística ou,quando muito, semi-apriorística.
• No caso dos enfoques francamenteapriorísticos, hoje em dia bastantedesmoralizados, a observação do real e acoleta de dados e informações servemmeramente para contextualizar uma propostade intervenção baseada em um modelonormativo da “boa forma urbana”, pautadoem idéias-força como “ordem”,“funcionalidade”, “eficiência” etc.
• No caso dos enfoques semi-apriorísticos, aobservação do real, a coleta de dados, a obtenção deinformações e a formulação de conjecturas sobre oporvir – em suma, diagnósticos e prognósticos –fundamentam um ajuste dos princípios ebalizamentos normativos, os quais são relativamentepermeáveis ao mundo real; sem embargo, as“pesquisas” em que se baseiam os enfoques semi-apriorísticos não preenchem os requisitos de umainvestigação científica rigorosa.
• Em contraste com os enfoquesapriorísticos e semi-apriorísticos, umtratamento científico deve serreconstrutivista.
• A despeito da fundamentação teórica (teoriascientíficas a respeito do que existe no mundo real e arespeito das possibilidades e dos caminhos demudança social) e dos balizamentos metateóricos(em que se incluem não apenas posicionamentosepistemológicos mas, também, doutrinas político-filosóficas e éticas) que preexistem à econtextualizam a análise empírica, estabelece-seaqui, uma dialética entre teoria e empiria: a propostade intervenção é resultado da interação entreambos, sendo fundamentação teórica (e, eventualmente, mesmo a metateórica) não apenasligeiramente ajustada, mas reconstruída no decursode uma análise sistemática e crítica do mundo real.
• Françoise Choay, que em seu importante OUrbanos,p (CHOAYS 1979) já contestara o estatuto decientificidade do Urbanismo, retomou essa crítica emlivro posterior ( A regra e o modelo), denunciandoque, enquanto abrigo de visões normativas, odiscurso urbanístico, a despeito de tentar emular odiscurso científico, não se constituiria em ciência:
• A despeito de suas pretensões, o discurso doUrbanismo continua normativo e só em carátermediato compete a uma prática científica qualquer:seu recurso lícito e justificado às ciências da naturezae do “homem” se subordina as escolhas éticas epolíticas, a finalidades que não pertencem somente àordem do saber. (CHOAY, 1985:2)
• É importante deixar claro, contudo, que nãofaz sentido criticar o Urbanismo pelo fato, emsi mesmo, de não ser ele uma ciência.
• Trata-se, meramente, de estabelecer as diferençasentre uma abordagem científica e uma não-científica(técnico-artístico-normativa), conquanto se possa ese deva, seguindo o exemplo de Choay, denunciar astentativas em que uma abordagem do segundo tipoinsiste em se fazer passar por uma do primeiro.
• A crítica que se pode e deve fazer Àsabordagens urbanísticas é, por conseguinte, ade que, com muita freqüência, tentaram etentam se passar por aquilo que não são.
• No entanto – grife-se isso com vigor -, nem todo conhecimento noplanejamento urbano é ou poderia serexclusivamente científico como sendosuperior a todos os outros, porexemplo, o saber artístico.
• Isso para não dizer a coisa mais essencial detodas, que é a de que o planejamento e agestão das cidades são e devem serreconhecidos como questões acima de tudopolíticas, em sentido amplo e nobre, e nãocomo questões sobretudo “técnicas” ou“científicas”.
• Contudo, se o planejamento for reduzido a ummero instrumento político para impressionarcontendores em um debate e for privado desua potencial consistência como derivação deuma análise crítica da realidade, ele serásimples pesquisa aplicada grosseiramentemanipulada (um exemplo eloqüente éfornecido em GRANT, 1994:60), assim comotambém o pode ser a própria pesquisa básica.
• O ofício do pesquisador aplicado que se dedica aofornecimento de subsídios para o planejamento e àgestão e ao desenho de estratégias dedesenvolvimento não é, sob o ângulo das exigênciaséticas, diferente do trabalho daquele outro que sededica à pesquisa fundamental: também ele deveráobservar, analisar, julgar e escolher sem poderdespir-se inteiramente do filtro dos próprios valores.
• A oposição entre ciência social e ideologia refere-se aduas situações extremas, sendo que, na prática, aciência se esforça por distinguir-se em processo domero discurso ideológico e do senso comum, emmeio a uma luta para manter o sendo (auto)crítico, avigilância perante preconceitos e o rigor analítico.
• Assuma-se, destarte, que o critério basilar dedistinção entre um discurso científico sério e umdiscurso ideológico vulgar, não é o de “neutralidadeaxiológica”, mas sim um critério ético e, portanto, emsi mesmo extracientífico: a honestidade intelectual.Não “imparcialidade” ou “isenção”, massimplesmente, isso: honestidade.
• É bem verdade que, para o autor deste livro,como já deve ter ficado inteiramente claropara o leitor, a “cientificidade” não é, por si só,garantia de legitimidade ética de umaproposta de intervenção.
• Por mais embasadas numa análise rigorosa darealidade que sejam as propostas de intervenção (oque inclui levar em conta as aspirações e opiniõesdos atores sociais por meio de enquetes, ou a partirda observação de suas livres manifestações eminstâncias participativas de gestão urbana), qualquerproposta, para ser inteiramente legítima, necessitaser submetida a escrutínio e deliberação por partedaqueles que sofrerão os efeitos de suaimplementação.
5.Planejamento e gestão urbanos e interdisciplinaridade
• Necessidade da interdisciplinaridade(cooperação e coordenação dosconhecimentos) na formação dos‘planejadores’.
• O que se vê é uma pluridisciplinaridade(justaposição de conhecimentos) ou/emultidisciplinaridade (conhecimentos diversosveiculados).
• Por que é necessária a interdisciplinaridade ?
• O planejamento e a gestão urbana, comociência social aplicada, deve serinterdisciplinar por excelência.
• Nenhuma das disciplinas sustentadas peladivisão do trabalho acadêmico consegue darconta dos processos e fatores que explicam atransformação das relações sociais e aprodução do espaço social.
• Formação do planejadores:
• Na Alemanha e Reino Unido há cursosespecíficos para formação de planejadoresurbanos e regionais.
• Formação tradicional
• Planejador restrito ao planejamento físico-territorial
• Planejador ‘superprofissional’
• “Complementação da formação dosprofissionais (arquitetos e cientistas sociais)envolvidos, ao mesmo tempo em que se lhesincute uma visão crítica a propósito da divisãodo trabalho acadêmico em vigor e se lhesdesperta a consciência para a relevância dodiálogo interdisciplinar” (pág. 102)
6. As escalas do planejamento e da gestão das cidades
• Os referenciais de escala mais comuns são :local, regional, nacional einternacional, porém, esses termosapresentam diversas falhas.
• Dificuldade de se construir um discursoteórico consistente e preciso.
• “Uma abordagem alternativa, não formalista,deve ser antes relacional que interessada emfixar, de modo absoluto, classes de magnitudemétrica [...] deve pôr em primeiro plano aforma e a natureza das relações sociais” (pág.105).
• Classificação proposta pelo autor:
1. Escala (ou nível) local: Trata-se da escala porexcelência do planejamento e gestão decidades. Representa a vivência pessoalintensa do espaço e a formação deidentidades sócio-espaciais.
1.A. Escala (ou nível) microlocal.
1.B. Escala (ou nível) mesolocal.
1.C. Escala (ou nível) macrolocal.
2. Escala (ou nível) regional: Aqui entendida nosentido de espaço vivido, de lugar. Essaescala muitas vezes se confunde com umterritório político-administrativo(estados, províncias).
• Grande diversidade de situações.
• É preferível, por isso, reservar osqualificativos‘microrregional’, ‘(meso)regional’ e‘macrorregional’.
3. Escala (ou nível) nacional:
• Escala de país
• “regiões-nações”
4. Escala (ou nível) internacional
4.A. Escala (ou nível) de grupo de países: Dois oumais países que formam um blocopolítico, econômico ou ambos.
4.B. Escala (ou nível) global: Abrange o mundointeiro.
• “Além da articulação de escalas, e em conexãocom ela, a realidade dos fenômenoscomplexos que hoje sãoobservados, constituindo-se como fenômenosmultiescalares, exige uma análise integrada dediferentes lógicas e tipos espaciais. Há, por umlado os espaços euclidianos, contínuos [...] Poroutro lado, há as redes com a sua lógica dedescontinuidade.” (pág. 111/112).
• “...Ir além do espaço ‘físico’, sem nuncaesquecê-lo ou subestimá-lo; é preciso pensarmultiescalarmente; é preciso integrar a lógicada continuidade e a lógica da descontinuidadeno espaço”. (modificado pág. 112).
Fim