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    Mergulhe nessa aventuraAS LENDAS DA MONTANHAA EXPEDIÇÃO DE 6 DIASO QUE LEVAR NA BAGAGEM

    T

    MONTE

    RORAIMA

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    http://www.pisa.tur.br/destino.php?id_destino=95

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    4/59ÍndiceÍndice

    ESPECIAL MONTE RORAIMA

    #1

    Expediente 59

    Preparo Físico54Como é o esforço e o quefazer para evitar dores.

    Fauna e Flora 19Os jardins pré-históricos,

    as rochas e os animais quehabitam o topo

    Bagagem 48Saiba o que levar na bagagempara a expedição de seis dias.

    Monte Roraima6Sobre o tepui, suas origens e

    lendas.

    Mosaic 46As texturas dos caminhos eas refeições.

    Editorial 5

    Dicas 56Tudo o que precisa saber paracomeçar essa aventura.

    A Travessia 25Dois relatos, duas viagens e o

    mesmo sentimento de con-quista

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    5/59EditorialEditorial

    EditorialPor Roberta Martins

    A conquista tão desejada se tornou realidade em duasviagens realizadas no mesmo período, mas em anosdiferentes e climas opostos. Leandro quase não viu osol e eu quase não vi a chuva. Ambos superamos limitese voltamos encantados; entretanto, as sensações sãocompletamente distintas. A montanha te põe à provaem situações onde as regras e as dificuldades são defi-nidas na hora e mudam para cada pessoa. Por isso, abraa alma, ajuste a mente e esqueça o conforto. Prepare ocorpo para caminhar noventa quilômetros em seis dias,subindo e descendo quase dois mil metros de altura.

    Boa inspiração!

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    6/59O Monte RoraimaO Monte Roraima

     O  M o n t e  R o ra i ma

    O TepuiA origemAs lendas

    O Monte Roraima

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    7/59O Monte RoraimaO Monte Roraima

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    8/59O Monte RoraimaO Monte Roraima

    A origemEmbora muitos não conheçam, o Tepui Roraima é uma formação rochosa erguida amais de 2 bilhões de anos, quando a América do Sul e a África ainda eramligadas e formavam o continente chamado Gondwana. É uma das maisantigas regiões da Terra, mais que o Himalaia, os Alpes e os Andes e atéhoje está entre as menos exploradas do planeta.O Monte Roraima foi descoberto por exploradores europeus em 1595,

    mas o topo só foi conquistado em 18 de dezembro de 1884, depois dediversas tentativas frustradas. Entretanto, esses são registros históricos,não quer dizer que os povos ameríndios não tenham feito essa façanhamuito antes. Oficialmente, foi o inglês Everard Im Thurn quem descobriua rota pelo Passo das Lágrimas e alcançou o cume.A especulação sobre a existência de possíveis espécies muito antigase até dinossauros nos topos dos tepuis, chamou a atenção do escritorArthur Conan Doyle, criador de Sherlock Holmes. Inspirado nos relatosdos primeiros exploradores escreveu a famosa novela “O Mundo Perdido”dando um clima de aventura e mistério à região.Em 1934 foi demarcado o Pontro Triplo delimitando a fronteira entre

    Brasil, Guiana e Venezuela no topo da montanha. Dos 34 km2

     de área doMonte Roraima, 80% pertence ao território venezuelano, 15% à Guianae apenas 5% ao Brasil.O desenvolvimento do turismo só começou na década de 80 com adescoberta do caminho de acesso mais fácil pela Venezuela, hoje é oúnico permitido para turistas e todas as expedições partem de Santa Elena de Uiarén.

    Aventureiros observam o horizonte na Janela para Kukenán

    Rio Kukenán no meio do caminho

    O Monte Roraima

    http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/3/31/Tepuy_Roraima_topographic_map-fr.svg/608px-Tepuy_Roraima_topographic_map-fr.svg.png

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    As lendas da montanha

    Com os cenários presenciados na Expedição Monte Roraima, não é difícil imaginar ainspiração para tantas lendas indígenas. A montanha é sagrada para os Pemon (ouTaurepangs), da Venezuela, e Macuxis, do Brasil. E por toda essa aura, muitos aven-tureiros buscam o reencontro consigo mesmo e com a origem da vida naterra. Porém, mais do que isso, encontram um universo paralelo, uma ter-ra perdida repleta de belezas escondidas por detrás das nuvens.

    Chegar ao topo do Monte Roraima é uma conquista por precisar passarpor algumas provas onde as regras e dificuldades são definidas na hora emudam para cada pessoa conforme o desejo de Makunaima, o Deus paraos índios locais. A partir de agora, vamos contar trechos de algumas len-das que ouvimos e mesclar com fotos e sensações vividas nas duas via-gens. Contudo, as interpretações podem variar e para entender de verdade o que todaessa história representa só estando lá e se deixando tocar pela montanha.

    “... olhei para cima e Kukenán estava

    incrível, as nuvens iluminadas pelalua cheia davam a impressão de seruma onda do mar quebrando bemem cima dele.” Roberta Martins

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    10/59O Monte RoraimaO Monte Roraima

    Kukenán significa Vale dos Mortos e, para oslocais, o tepui vizinho ao Monte Roraima, échamado Matawi (mata gente). Era amontanha onde aconteciam os sacrifícios, osíndios se ofereciam quando algo não estavabem e se jogavam do ponto mais alto paraacalmar Makunaima ou pagar promessas.Nenhum índio se atreve a acompanharas expedições para lá e os guias dizem que amontanha é bem agressiva para chegar ao topo

    No meio do caminho, bem em frente ao ponto

    de sacrifício do Kukenán, havia uma caveira feitade pedras com um rosto esculpido no crânio efolhas indicando enforcamento. Percebi que acena surpreendeu os índios que vinham atrásde mim, eles deram risadas, mas quando meaproximei e perguntei, fecharam a cara eapenas disseram que era algo novo, feito poralgum carregador.Roberta Martins

    O Monte Roraima

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    11/59O Monte RoraimaO Monte Roraima

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    14/59O Monte RoraimaO Monte Roraima

    No Vale dos Cristais, o mineral brota do chão ebrilha também nas paredes de pedra

    Olhar o horizonte infinito por cima das nuvensnos faz refletir bastante. Leandro Gabrieli

    A beleza do Vale do Arabobo impressiona

    O Vale Sucre deixa nossa imaginação solta porsuas formações rochosas lembrando animais,pessoas e objetos

    O Monte Roraima

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    15/59O Monte RoraimaO Monte RoraimaO Monte Roraima

    O instigante El Fosso, cachoeira alcançada porgalerias subterrâneas

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    16/59O Monte RoraimaO Monte RoraimaO Monte Roraima

    O Tepui Roraima é a Mãe das Águas para osíndios Pemon, eles acreditam que a água é osangue do planeta e Roraima o seu coração.Ali surgem as nascentes dos rios que desembocamnas bacias dos rios Orinoco, Amazonas e Esequibo

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    17/59O Monte RoraimaO Monte Roraima

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    18/59O Monte RoraimaO Monte Roraima

    “A última lembrança que tenho doMonte Roraima é ele sumindo entreas nuvens, como se fechassem ascortinas de um espetáculo. Nessemomento me senti feliz por terconquistado o topo de um doslugares mais antigos do planeta.”Leandro Gabrieli

    “Foi um presente ver o céucompletamente limpo na despedidada expedição, os tepuis quase sempreaparecem rodeados por nuvens.”Roberta Martins

    O mapa da África desenhado no paredão

    O Monte Roraima

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    19/59Fauna e FloraFauna e Flora

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    20/59Fauna e FloraFauna e Flora

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    21/59Fauna e FloraFauna e Flora

    Jardins na beira da Janela e Kukenán ao fundo

     Vale do Arabobo

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    22/59Fauna e FloraFauna e Flora

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    23/59Fauna e FloraFauna e Flora

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    24/59Fauna e FloraFauna e Flora

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    26/59A TravessiaA Travessia

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    27/59A TravessiaA Travessia

    A experiência masculinaPor Leandro Gabrieli em dezembro de 2011

    Conheci o Monte Roraima através de um casal de amigos que cultiva-va o sonho de chegar ao seu topo e me convidaram para participar daaventura. No primeiro momento recebi aquela proposta com um pou-co de preconceito, pois não me pareceu algo legal de fazer. Mas assimque pesquisei no Google e vi uma foto do imponente Monte Roraima,mudei de opinião.Saber que o topo era um dos lugares mais antigos do mundo e que pos-suía uma paisagem pré-histórica aumentou mais a vontade de conhecê-lo.Porém não foi nesse convite que subi o Monte, isso acabou acontecendoalguns anos depois quando decidi passar o réveillon de 2011 no topo.Contratei uma agência que normalmente leva grupo de 8 pessoas, como

    no ano novo a procura é maior, acabaram juntando dois grupos e fi-camos em 16 pessoas. O primeiro passo foi ir até a Aldeia de Paraitepuyde jeep e ali já foi possível observar e fotografar o Monte Roraima. To-dos estavam eufóricos e ansiosos para começar a subida.Grande parte do grupo optou por carregadores para suas mochilas car-gueiras, porém, resolvi levar a minha mais a mochila de ataque com todaparafernália de fotografia. Naquele momento eu sabia apenas que seriamtrês dias de subida, duas noites no topo e a descida em dois dias.A trilha começou por volta das duas da tarde e foram 12 km de caminhadaaté chegarmos ao acampamento nas margens do Rio Tek às seis da tarde.Logo nos primeiros quilômetros achei que não iria aguentar os 15 kg

    da cargueira, além dos 4 kg da mochila de ataque.Nesse primeiro dia o sol estava forte, no caminho improvisei umatoalha de rosto molhada no pescoço para aliviar um pouco o calor.É uma caminhada bem leve, foi bom para acostumar com do pesoda mochila.Chegando ao acampamento, os guias nos instruíram a tomar banhono Rio Tek enquanto tinha sol. Segundo eles, seria o mais quente até ofim da trilha e a água estava muito fria, fiquei receoso com o que meesperava pela frente.No momento da distribuição das duplas nas barracas houve algunsminutos de tensão. Como existia um grupo extra, a agência comprou

    algumas barracas novas, porém elas eram pequenas e não cabiam duaspessoas. Por sorte algumas pessoas haviam solicitado barraca indi-

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    vidual e conseguimos encaixar duplas nas barracas mais velhas, osoutros ficaram nas menores individualmente. Acabei ficando comuma só para mim, o que foi ótimo, afinal é importante uma noitebem dormida em trilhas. Dividir barraca com quem ronca pode es-tragar a viagem.No segundo dia consegui ver o Monte Roraima sem nuvens, porém empoucos instantes ele foi tomado por elas. Após beber um super cafépreparado pela equipe de suporte da expedição, composta por índiosda aldeia, partimos para o acampamento base do tepui. Logo de carativemos que atravessar o rio Tek, o que foi ótimo para refrescar o corpo,pois o dia seria bem quente.A caminhada começou leve, contudo foi se tornando mais pesada à me-dida que começamos a subir. Algumas paradas foram essenciais pararecuperar a disposição. Nesse dia nos orientaram a levar mais água,pois haveria apenas um ponto para reabastecer.Quanto mais me aproximava dos paredões, mais sentia a sensaçãode imponência das grandes formações rochosas dos tepuis Roraima eKukenán. Foram 6 horas até chegar ao próximo acampamento, bem nabase do paredão.

    A vista deste lugar era incrível e, como chegamos relativamente cedo,foi possível aproveitar o tempo. A primeira tarefa foi novamente tomarbanho e realmente era muito frio, confesso que dessa vez apenas memolhei um pouco e lavei a cabeça.Um integrante do grupo levou um baralho de cartas e fizemos um de-safio de pôquer apostando pedras e palitinhos de madeira. Outra partedo grupo fez aula de yoga com uma paisagem exuberante acompanha-da de um pôr-do-sol.Um pouco antes da janta começou a chover, então, logo depois de for-rar o estomago, o pessoal resolveu se recolher já pensando no próximodia que seria o mais pesado.

    Fomos instruídos a fazer o número 1 no meio do mato, mas para o núme-ro 2 era preciso fazer em um saco plástico e colocar cal para desidratar.Depois um dos carregadores levaria de volta à aldeia para incinerar. Namanhã seguinte levantei cedo novamente e, pela primeira vez resolvienfrentar a “barraca banheiro” que o grupo chamou carinhosamentede “Castelo de Grayskull”, referência ao local onde o He-Man gritava“Eu tenho a força!”. Realmente não foi uma tarefa fácil, mesmo sendo umprocedimento simples em que você colocava um saco de lixo em um bancofurado, era um tabu que precisava ser quebrado.Ficou muito mais fácil depois que o grupo começou a falar aberta-mente sobre isso, entrando em detalhes do procedimento, relatando

    dificuldades e trocando dicas. Isso gerou muitas risadas e acabou atéintegrando mais o pessoal.O terceiro dia foi realmente o mais pesado, com subidas muito íngremes,muitas pedras e barro. A parte boa foi passar quase todo o tempo na som-bra, pois tem muita mata na base do paredão. Em alguns trechos pareciaestar enfrentando pancadas de chuva, mas na verdade eram cascatas deágua que despencavam do topo da montanha.A cada momento eu olhava para cima tentando calcular quanto faltava,mas era muito difícil ter noção devido à grandiosidade do monte.Chegar ao topo deu uma falsa impressão de objetivo cumprido, mas aliera apenas a metade do caminho, pois ainda tinha a descida. Antes de

    chegar ao acampamento, chamado de Hotel, paramos para tomar banhoem jacuzzis naturais.

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    Para esse banho foi preciso muita coragem, eu já tinha desistido eoptado por enforcar. Como ficamos um tempo relaxando no local, no mo-mento em que o sol abriu, estufei o peito, tirei a camisa e mergulhei sempensar muito. Estava gelado pra caramba, mas foi revigorante, saí novo dobanho.Caminhamos mais alguns quilômetros até chegar ao nosso acam-pamento que estava lotado, pois nesse período o roteiro é muitoprocurado. As barracas foram sendo empilhadas onde havia espaço,inclusive na pequena caverna que existia. Mesmo assim, tudo ficoumuito organizado e aquele local lembrava realmente um hotel, tinhauma cozinha central, espaço para refeições e um banheiro bem isolado.Chegar ao topo do Monte Roraima me trouxe uma sensação de con-quista. Um lugar inóspito e diferente de qualquer outro que já estive,“um portal para o mundo perdido” como li em alguns relatos.Não tive muita sorte na minha estadia lá em cima, o tempo ficou fecha-do praticamente todo o período, foram poucos momentos de sol. Asnoites foram bem frias e tudo que deixei fora da barraca amanheceumolhado. Não adianta tentar lavar nada porque que não seca, por issoé preciso levar roupas para todos os dias.

    No primeiro dia no topo fomos conhecer o Ponto Triplo, marco onde Venezuela, Brasil e Guiana fazem divisa. Passamos pelo Vale dos Cris-tais, um caminho repleto de cristais brancos que parece neve, e vimoso Fosso, um buraco gigantesco com um poço de água que não pudetomar banho por causa do mau tempo.Finalizamos o dia no Paredão La Ventana, uma janela que nos permiteavistar o mundo lá embaixo, porém não vi nada por que o tempo nãoajudou, mas quem já viu relata que é incrível.Todas os dias levantei por volta das cinco e meia da manhã para regis-trar o nascer do sol. Isso me rendeu ótimas fotos e motivou mais pes-soas a levantarem. O pôr-do-sol também é garantia de fotos belíssi-

    mas. Em nosso hotel existia um “terraço”, após uma pequena escaladaficávamos em um ponto mais alto, um lugar perfeito para admirar omundo aos meus pés.As noites eram ótimas para conversar com o grupo, ficávamos na cozinhado acampamento amontoados para manter o corpo aquecido, maschegava uma hora que precisávamos dormir para não perturbar osoutros.No último dia no topo o tempo estava muito feio, então os guias optaramem nos levar para conhecer uma caverna. Fomos equipados com lan-ternas, pois dentro era muito escuro e não tinha nenhuma entrada deluz. Fomos até um ponto que existia um pequeno rio, onde o guia nos

    propôs tomar um banho. Definitivamente esse foi o banho mais geladoda viagem, não consegui ficar mais que alguns segundos dentro da água.Antes de voltarmos, apagamos as lanternas e ficamos em silêncio porum minuto. Foi uma sensação muito interessante: a ausência total deluz e o silêncio me fizeram viajar e pensar coisas muito loucas. Em cer-to momento achei que tinham me esquecido, depois comecei questio-nar se eu realmente existia. O interessante foi conversar com as outraspessoas depois, todo mundo teve uma viagem, algumas semelhante àminha outras bem diferentes.Finalmente chegou o momento de voltar. Como só tem um caminhopara chegar ao topo, a descida é feita pelo mesmo que subimos.

    A diferença é que fazemos isso em dois dias e não em três como na subida,pois passamos reto pelo acampamento na base do Monte.

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    A descida exigiu muito dos dedos dos pés, pois concentramos todopeso neles. No ultimo trecho, a bota de um colega do grupo soltoua sola, ele tentou descer de pés descalços mas não aguentou muitosmetros, então emprestei meus tênis e coloquei minhas sapatilhas decaminhada que sempre carrego em trilhas. Foi excelente, eu senti maisas pedras no chão, mas aliviei muito a tensão nos dedos.Antes de chegar ao último acampamento, passamos novamente peloRio Tek. Foi o momento de tomar o banho do dia. Agora a água pareciaquente, não gelada como o primeiro dia, efeito das águas mais frias dotopo do monte. Fiquei quase uma hora curtindo o banho, me encosteinas pedras e fui sendo massageado pela correnteza do rio.A última noite foi muito agradável, não estava chovendo e tinha cervejapara vender, apesar de quente. Depois de seis dias de esforço ninguémreclamou disso e até eu, que não sou de cerveja, saboreei uma. Ficamosaté tarde batendo papo e curtindo o céu.De manhã, logo após o café, partimos para a caminhada final, bemtranquila, mesmo cansado a sensação era de missão cumprida. Na al-deia o pessoal da agência nos recebeu com cervejas e refrigerantes bemgelados em um clima de celebração pela conquista. Todos exaustos, mas

    extremamente felizes pelo desafio completo.Na expedição que contratei, todas as noites se dorme em barraca e aalimentação é preparada por indígenas da equipe. Não se passa fome,além da comida ser muito gostosa, ela é farta, somos tratados commuito carinho e dedicação, até chocolate quente nos serviram. Mes-mo assim, sugiro levar alimentos práticos e energéticos para comerdurante as caminhadas como chocolates e frutas secas. Os chocolatesforam muito disputados lá no topo, chegaram a ser moeda de troca pormeias secas.O trajeto é pesado e acabei não aproveitando o lugar como gostaria.Não tirei tantas fotos como faço normalmente, pois a mochila foi um

    fardo. Gosto de caminhar olhando e fotografando detalhes e, se subirnovamente, vou contratar um carregador.A última lembrança que tenho do Monte Roraima é ele sumindo en-tre as nuvens, como se fechassem as cortinas de um espetáculo. Nessemomento me senti feliz por ter conquistado o topo de um dos lugaresmais antigos do planeta.

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    A experiência femininaPor Roberta Martins em dezembro de 2012

    Dia 1 – Platô à vistaEra noite quando partimos de Boa Vista, por 225 km em uma van, rumo àfronteira com a Venezuela, em Santa Elena de Uiarén. Ali foram algumashoras de fila na aduana, momento aproveitado para nos conhecermos.Éramos 7 aventureiros, incluindo o guia, um casal da região e 4 viajantesindependentes, já deu para sentir que a companhia seria ótima.Ainda restavam 88 km até Paraitepuy, entrada do Parque Nacional Ca-naima, e começamos a nos distanciar do conforto. O transporte mudoupara um jipe por estradas de terra com bastante erosão e trechos ondesó um veículo podia passar.

    Não tinha como dormir e comecei a prestar atenção na paisagem, vi córre-gos entre colinas e logo começou a Gran Savana exibindo uma vegetaçãorasteira e tons de verde amarelado. De repente, surge o enorme platô eos guias Francisco e Leo (nos acompanhou algumas horas) aguçam nos-sa vontade de alcançar o topo contando histórias. Nos mostram o pon-to mais alto da montanha - o Maverick, visto da estrada a rocha tem oformato do carro e fica a 2810 m de altura.Finalmente a trilha começa no início da tarde, dos 15 kg entreguei 10kg para o carregador, passei protetor, peguei o bastão e segui 14 km pelasavanas venezuelanas. Em Paraitepuy, dois índios Pemons, da comuni-dade local, integram o nosso grupo levando comida, equipamentos de

    camping e as mochilas de quem, como eu, optou pagar pelo serviço.Pelo caminho visualizamos alguns tepuis, mas apenas Kukenán se mostra-va por inteiro, Roraima e os outros, pertencentes à Guiana, tinham otopo tapado por nuvens. Apesar do Kukenán se mostrar mais imponentenaquele ângulo, o Monte Roraima é o maior deles e foi se mostrandoaos poucos. Até o final do dia ficou totalmente escondido atrás dasnuvens. Entretanto, minutos antes do pôr-do-sol, nos brindou exibindotons de fogo e rosado.Quando escureceu completamente, percebi que vim tão tranquilamenteapreciando a paisagem que ainda não tinha chegado no acampamentoTek conforme o previsto, o jeito foi apressar o passo pensando no rio.

    Quanto mais tarde eu chegasse mais gelado seria o banho do dia.No escuro não deu para ver o acampamento direito, mas era simples,

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    nem tinha onde trocar de roupa. Improvisamos com a capa de chuva elevamos muita coragem para entrar no rio enxergando apenas vultosentre os focos das lanternas, era escorregadio e tinha correnteza, ain-da bem que eu não era a única. Tinha uma galera atrasada e fazendofiasco por causa do frio. Mas valeu a pena, ativou a circulação, relaxouos músculos e deu uma renovada. Voltando para o acampamento abarraca já estava montada e o jantar servido.Pouco antes de dormir a noite clareou, era a lua cheia surgindo atrásdo Monte Roraima e exibindo sua silhueta. Uau! Pensei: se os próxi-mos dias continuarem me impressionando, essa viagem vai superartodas as expectativas. E para completar, no momento em que fui merecolher, olhei para cima e Kukenán estava incrível, as nuvens ilumi-nadas pela lua davam a impressão de ser uma onda do mar quebrandobem em cima dele.

    Dia 2 – Começa a conexão com a montanha

    Contrariando as previsões de que amanheceria aberto e ia nublan-do durante o dia. Roraima amanheceu fechado e foi se mostrando ao

    passar das horas. A movimentação começou cedo, todos desmontandoacampamento, tomando café e partindo aos poucos. As barracas ficamao redor de casas de barro, ocupadas por índios Taurepangs, e cadagrupo tem uma estrutura para fazer de cozinha.O banheiro é no mato, mas existe uma barraca camuflada para fazero número 2 sem deixar resíduos na natureza. Cada um ganha sacosde lixo e deve usar como privada, dentro dessa barraca tem cal paracolocar no saco antes de fechar e eliminar odores. Todo esse dejeto élevado para a entrada do parque pelos carregadores.Neste dia deu para sentir o aumento no aclive, partimos de 1100 mde altitude com o objetivo de alcançar o acampamento base a 1880

    m de altura por um percurso de 9 km. Logo na saída cruzamos o rioTek e em seguida o cruzamento dos rios Kukenán e Kamaiwa, ondeaproveitamos o sol para tomar o banho do dia. Menos gelado que anoite anterior e muito mais astral com as cores do dia. O chão da trilhapassou de craquelado bege para cascalho avermelhado, as colinas au-mentaram e a montanha foi se aproximando.A parada para o lanche foi com frutas deliciosas da região, como abacaxidocinho, sempre acompanhada de um bom papo em ótima sintonia.Neste momento, decidi sair na frente do grupo sozinha para ir curtindoa paisagem sem pressa. Fiquei tão concentrada tirando fotos e con-versando com a montanha que não vi todos passarem por mim. Ainda

    desacelerei achando que poderia ter acontecido algo para não teremme alcançado, quando percebi, o guia estava sentado me esperando háhoras. Muita coisa passou na minha cabeça nessa trajeto solitário, oslocais dizem que isso acontece por eu ter sido tocada pela montanha.Até que chegamos cedo, deu para preparar o meu chimarrão, deitar nagrama e encarar o paredão de perto. Os mais animados ainda tomarambanho numa nascente congelante, molhei os pés e joguei uma “aguinha”no corpo, mas já estava definido que banho de verdade só quando eu vol-tasse no rio anterior.O acampamento base é menor, todas as barracas ficam próximas ou isola-das quase cobertas de mato. A estrutura é uma lona para a cozinha, a bar-

    raca camuflada e um córrego passando no meio. Agora o visual é de tiraro fôlego, já estamos no Monte Roraima, as colinas vão se mesclando no

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    35/59A TravessiaA Travessia

    horizonte lá embaixo e Kukenán na nossa frente. Entre os dois tepuis umpedaço de nuvem vai avançando e sendo atingindo por raios douradosde sol. Preparamos as câmeras e vibramos esperando aquele final detarde. Mas as nuvens foram mais rápidas e a tempestade veio junto.E como dormir com a barraca parecendo estar no meio de um fura-cão? Ela se mexia sem parar e chovia bastante. Lembrei de momentosparecidos no Uruguai e torci para barraca ser boa como a minha velhacompanheira, como parecia estar bem pressa no chão, deixei o cansaçome vencer.Não sei por quanto tempo relaxei até que uma forte rajada levou a partede cima da barraca e acordou eu e Cristina. A primeira coisa que pas-sou na minha cabeça foi minhas roupas molhadas o resto da viagem.Levantei correndo para encontrar a capa e os pinos perdidos, aindabem que a chuva estava parando. Problema resolvido, começamos a rirmuito, pois estava o maior silêncio, as outras barracas pareciam intactase o nervosismo foi embora.Então olhamos para o céu e veio uma sensação maravilhosa, todas asnuvens tinham ido embora, era estrela a perder de vista e foi a primeiravez que vi o paredão limpo. Ali ficamos encantadas vendo a lua cheia

    surgir por trás dele deixando aquela sombra imensa e os detalhes dotopo bem marcados.

    Dia 3 – Encarando o paredão

    Sol nascendo e já estávamos levantando acampamento, organizei tudoo mais rápido possível para sobrar tempo para as fotos. Finalmenteamanheceu sem nuvens e a lua cheia ainda estava lá querendo se es-conder atrás do Kukenán.Francisco preparou um café reforçado para nossa subida de quase 1000m em apenas 6 km, sendo uns 600 m de escalaminhada (caminhar de

    quatro em terreno muito inclinado e irregular).Cruzamos uma nascente e entramos na floresta fechada, o únicocaminho para o topo, ali é como atravessar um portal e entrar nomundo perdido. Vegetação densa e repleta de exemplares únicos,flores coloridas, musgos que parecem algas marinhas, samambaiaspré-históricas e bromélias gigantes. Mas não dava para ficar só curtin-do o visual, o percurso é pesado e, logo no início, uma parede de areiae raízes já assusta e exige força nos braços.O grupo se separa e me vejo, de novo, sozinha e adorando estar ali sentin-do uma energia boa. Desisti de querer chegar rápido, aproveitei muitoesse trecho prestando atenção em cada folha, tronco, inseto ou passa-

    rinho. Vi uma lagartixa completamente preta, como o sapo típico de lá,mas não fui rápida o bastante para tirar a foto. Em alguns trechos tinhacompanhia e ia conhecendo outros aventureiros, eles vem de todas aspartes do mundo com o mesmo objetivo e simpatia.A mata foi se abrindo e o paredão surgiu imponente muito próximo.Plantas forram as laterais e o caminho agora, era ir contornando a ro-cha até chegar numa grande cachoeira. Dava para ver o acampamentose distanciando e quase tudo o que caminhamos nos últimos dias. En-contrei água brotando das pedras oferecendo bebida potável e refres-cante, continuei encantada com a vegetação e segui leve com sorrisono rosto até que o tempo fechou e dei de cara a tal cachoeira – o Passo

    das Lágrimas.Era obrigatório passar embaixo dela por uma subida muito íngreme (75

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    O único caminho para o topo

    Cachoeiras surgem com a água da chuva

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    graus de inclinação), molhada e cheia de pedras soltas e limo. Fiqueiobservando as pessoinhas quase se misturando com as pedras, se nãofosse pelas vibrantes capas de chuva. Coloquei a capa e o guia pediupara eu dar um bom espaço da pessoa na frente por causa das pedrassoltas, tomei coragem e fui.No meio do caminho veio um temporal e o vento jogava a queda d’águapra lá e pra cá, cada vez que passava por mim dava um tapa, me deixandocompletamente encharcada. Houve um momento em que travei, perdi oapoio dos pés, as pedras rolaram e fiquei pendurada pelos braços. Olhei pracima e todos já tinham conseguido passar, olhei pra baixo e ninguémmais entrou na trilha por causa da chuva, olhei para o lado e a águacorria pelo penhasco... eu estava sozinha no meio e aquela travessiaparecia uma eternidade. Lá de cima Luiz tentava me indicar o melhorcaminho, achei que não ia conseguir e veio uma força interna (vulgomedo) impulsionando e acelerei, mesmo escorregando consegui pas-sar pela prova e celebrei com os amigos. Eu ainda tremia e pensei navolta, esse é o único caminho! Implorei para guia não me deixar descersozinha. Então um dos índios falou da sua técnica de passar correndo noexato momento que o vento traz a cachoeira na sua direção, assim dá

    tempo de não ser atingido na pior parte. Queria ter ouvido isso antes! Alieu senti o impacto da montanha.Faltava pouco e o verde ia ficando escasso, as pedras, mais escuras,dominavam e a trilha já não existia mais. Francisco ia nos guiando eminha energia ia acabando. A chuva voltou a apertar quando chega-mos no topo, mas o grupo ainda não estava completo, esperei embaixode uma pedra tremendo de frio por causa da roupa molhada. Ali percebipedras com caras de índios e camelos formando um portal.Grupo completo, caminhamos no meio da névoa sem saber para ondeir, a chuva encharcava o chão e complicava o percurso. SeguíamosFrancisco numa a fila indiana à passos largos até chegarmos no hotel,

    2 km depois.Os hotéis são cavernas de quem chega primeiro, conseguimos pegar um4 estrelas, conforme categoria criada pelos guias, chamado Guacha-ro. Acampamento montado, esperamos a noite chegar relembrando osmelhores e piores momentos.

    Dia 4 – Desbravando o topo

    Despertei naturalmente cedo e tratei de me organizar para o trajetomais longo da expedição, 22 km caminhando pelos três países. Pelomenos voltaríamos para o mesmo hotel e não foi preciso levantar

    acampamento.Mesmo com o sol brilhando forte, a temperatura estava baixa e o ven-to ardia. Ainda mais apreciando a paisagem da Janela, o penhascomais próximo da nossa caverna. Dava para enxergar toda trilha desdeParaitepuy e o acampamento base bem pequeno lá embaixo.A barraca camuflada ficou no último acampamento, aqui cada grupomonta o seu banheiro em lugares estratégicos. O nosso tinha uma visãoespetacular - Janela de um lado e Kukenán do outro, com direito a luacheia pela manhã. Também era uma vitrine para os visitantes da Jane-la, apesar de nem repararem esse detalhe com aquela baita vista, paraquem sentava no banquinho, era complicado ficar à vontade se sentin-

    do observado. Bom que estava muito frio e as pessoas não aguentavamficar ali por muito tempo.

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    O percurso é um labirinto de pedras fácil de se perder, principalmentequando as nuvens passavam rapidamente tirando a visibilidade. Nessesmomentos eu apertava o passo com receio de ficar longe do guia, só elesabia o caminho. O terreno, que parecia plano, é bastante acidentadoe escorregadio. As pedras pretas são tomadas por um tipo de limo e aindicação é sempre caminhar pelas partes mais claras, estas formavamas trilhas e não escorregavam. Entre as pedras, eram trajetos pisandoem areia, lodo, poças e jardins. Dava pena passar por cima daquelasflores, mas era isso ou tombo certo.Continuamos por caminhos sinuosos, margeando outros vales e es-calando pedras. Teve um trecho que lembrou o filme 127 horas, todocuidado era pouco passando embaixo de pedras imensas onde se eufosse mais gorda não passaria com a mochila nas costas. A tensão nãopermitiu que nenhum de nós tirasse fotos, queríamos passar esse parteo mais rápido possível.O Vale Sucre despertou a nossa imaginação com as suas formaçõesrochosas e vegetação, em seguida fiquei impressionada com a belezado Vale do Arabobo. A pequena parte pertencente ao Brasil rendeu asfotos mais bonitas, incluindo o Vale dos Cristais, ali o mineral brilha no

    chão e nas paredes de pedra.Chegamos no Ponto Triplo, divisa dos três países demarcada por umobelisco no meio do nada, ponto máximo da nossa expedição e ondepisamos na Guiana. Dali seguimos em direção ao acampamento poroutros caminhos.Nossa energia ia se acabando quando um índio nos alcançou trazendo acozinha (fogareiro, pratos, talheres...) e nos servindo um belo macarrãocom frango. Alimentada olhei ao redor e suspirei, que lugar! Um riachocorria para um buraco, apenas chegando perto era possível ver o quehavia dentro. Um grande fosso com queda d’água formando uma pisci-na iluminada e rodeada por diferentes formações rochosas. Para chegar

    ali embaixo, o único caminho é entrar em outro buraco mais adiante eseguir por galerias subterrâneas, molhando os pés na água congelante.Fiquei apenas apreciando a paisagem e a coragem dos viajantes quetomaram o banho do dia no El Fosso.Ainda era dia quando voltamos para o hotel e ficamos curtindo ovisual da Janela ao entardecer. Kukenán estava diferente, exibia umacachoeira, de 640 m, caindo do topo que não estava ali pela manhã. Dis-seram que é comum quedas d’água se formarem conforme as chuvas.Chegaram novos aventureiros que lotaram o acampamento e foi in-teressante ouvir eles conversando sobre a subida. Ficou claro que cadaum tem uma impressão, diferentes sensações e uma relação única com

    a montanha.Lá em cima tem insetos esquisitos, uns brilham no escuro outros sãocompletamente negros ou tem pernas estranhas. Não tem cobras, mastem sapos, centopeias e aranhas, entre os mais reconhecíveis. Quandoquase todos já tinham ido dormir, procurei um canto para as neces-sidades no meio da mata, tentando não me afastar muito. Desligueia lanterna para não ser vista e senti algo subindo na minha perna. Im-possível não gritar e querer sair correndo com a calça arriada, mas foiexagero meu, quando foquei a lanterna era só um grilo grande e est-ranho que tirei com as mãos. Acontece que nesse meio tempo o guiase assustou e veio na minha direção com a lanterna na cabeça, daí eu

    continuei gritando para ele não vir e não me ver naquela cena. Gar-galhadas pelo acampamento e eu morrendo de vergonha preocupada

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    por ter gritado. Os índios haviam alertado que a montanha não gostade gritos, mas o guia disse que eu estava liberada nessa situação. Fuidormir em silêncio.

    Dia 5 – O caminho de volta

    Temos uma longa jornada pela frente, mais curta que o dia anterior,entretanto, mais difícil por ser descida. Além do trajeto ser o mesmo

    que levamos dois dias para subir, cerca de 15 km. O objetivo é chegarao acampamento Tek, 1600 m para baixo.Primeira parada: as Jacuzzis. Formações rochosas criaram pequenaspiscinas com água transparente e cristais de quartzo branco. Lugaronde os mais corajosos se banham e o cenário é incrível para fotogra-fias, poderia ficar horas por aqui se tivéssemos mais tempo.Próximo à descida notamos que havia visibilidade para o tepui vizin-ho, paramos na Janela para o Kukenán e nos despedimos do topo. Jáhavíamos passado por esse trecho abaixo de chuva e neblina, agora tudoestava mais bonito com as flores coloridas e o sol brilhando.Antes de adentrar nas nuvens que circulavam o tepui, um pouco abaixo

    do topo, passamos pelos guardiões e agradecemos Makunaima pela ex-celente jornada.Avistei o Passo das Lágrimas com grande alívio, o vento estava calmo,não tinha chovido e caiam apenas pingos sem força. Mesmo assimgrudei no guia e fui com cuidado. Passou rápido e sem contratempos.Quem estava carregando a mochila achou essa parte da volta a maisdifícil, eu também achei, mas na subida com chuva. A sensação de difi-culdade muda de pessoa para pessoa, contudo, todos acharam o Passodas Lágrimas o mais tenso.Entramos na mata fechada e relaxei com aquela energia boa, a mesmaque tinha sentido no início, agora com gostinho de conquista. Peguei a

    câmera pequena e fui registrando as flores mais bonitas que encontreino caminho. Os trechos que antes precisava força para subir, agora medeixava escorregar ficando muito suja.Parada para almoço no acampamento base e pernas para que te quero!A partir desse momento o cenário muda e escorregar é uma questãode tempo. Com o corpo cansado, os cascalhos eram o maior desafio dasavana. Cai algumas vezes, ria, levantava e continuava.Devagar passava por alguns lesionados, com pé machucado ou joelhotorcido, mas felizes por terem sido conquistados pela montanha. No fi-nal da tarde cruzamos os rios e, no último, tirei a poeira com um banhorenovador. Já estava no terceiro dia só com lencinhos umedecidos e nem

    dei bola para água gelada.Era noite de réveillon e brindamos nossa conquista com suco em pó,cerveja light e goiabada. A virada passei dormindo, antes das 21 horas

     já estava olhando para a barraca caindo de sono.

    Dia 6 – Conquistados pela aventura

    Despertei antes do sol nascer e aproveitei para registar as primeirashoras no acampamento Tek. Kukenán foi se iluminando aos poucos edominando a cena, não havia nenhuma nuvem no céu.Enquanto Francisco preparava o nosso último café da manhã eu brinca-

    va com um filhote que morava por ali e observava os outros viajantes.Dor ali, dor aqui, passei o máximo de peso para o carregador, abasteci

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    minha garrafa d’água e peguei a estrada. Sem as montanhas como ob- jetivo, foi fácil prestar atenção nos detalhes do caminho, mais flores einsetos que passaram desapercebidos no primeiro dia.Contudo, a vontade de andar de costas para contemplar as montanhas

    era grande. A sensação de ter superado os limites e trazer a bagagemcheia de vivências faz essa paisagem ser mais que especial.Em muitas fotos os tepuis aparecem rodeados por nuvens, acontecepela espessa selva ao redor. O calor tropical faz com que a umidade dafloresta suba, condense e forme nuvens pesadas. Como resultado, es-tão quase sempre cobertos, principalmente o Roraima. Foi um presentever o céu completamente limpo na volta.Ao lado direito dava para ver os cinco tepuis da Guiana, no primeirodia só se via um deles. Nesse momento veio muita vontade de explorartodos eles até chegar ao Salto Angel, a cachoeira mais alta do mundo.Chegamos todos inteiros e com sorrisos no rosto. Ainda celebramos o

    feito almoçando um prato típico em uma comunidade próxima. Ali te-ria artesanato local, mas estava fechado por ser feriado. Assim como aslojas em Santa Elena de Uiarén, famosas por oferecerem bons preçosnos importados.Nossa jornada terminou às 18h em Boa Vista, Roraima.

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    Café da manhã no acampamento Tek (acima) e algumas refeições (abaixo)

    Mosaico

    as comidas

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    Os caminhos

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    Preparo fisico

    As doresde umatrilha longa

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    As dores de uma trilha longaPor Roberta Martins

    Essa travessia foi uma das trilhas mais difíceis que já percorri. Mesmo usando roupase equipamentos adequados, tendo experiência nesse tipo de trekking é imprescindívelfazer um preparo físico específico para ela. Confesso ter falhado nesse quesito, fal-tou meses de treino como fiz para outras aventuras. Acontece que a viagem foi umaoportunidade, decidi aceitar o desafio três dias antes de partir e, mesmo

    com as dificuldades, garanto que valeu a pena.Como rotina, procuro caminhar bastante na cidade e fazer trilhas longasuma vez por mês. Dias antes tinha passado por atividades intensas nosAparados da Serra, também feito aulas de dança a alongamento. Entre-tanto, no terceiro dia do Monte Roraima comecei a sentir falta de terfortalecido a musculatura dos braços e treinado resistência física, prin-cipalmente nas pernas. Foi difícil levantar no quarto dia com dores noquadril e coxas. Mais ainda nos dias seguintes sentindo os glúteos e pan-turrilhas, pelo menos passa logo que o corpo esquenta. Carreguei apenas5 kg, os outros 10 kg paguei um carregador para levar, justamente porter certeza que não teria estrutura para isso. Se eu tivesse preparado os

    músculos das costas e abdômen antes, teria carregado tudo. Por outrolado, foi bom aproveitar a caminhada observando os detalhes ao redor,levando todo esse peso seria uma travessia de superação pessoal aoinvés de contemplação.Cheguei a Boa Vista às 2h da madrugada e às 5h parti com a expedição.Comecei dormindo pouco e já pegando 214 km até Pacaraima (fronteiracom a Venezuela) mais 2 horas de estrada de terra até Paraitepuy. Parti-mos dos 1000 m de altitude com muito calor, o sol do início da tarde sódeu uma trégua depois de uma pesada subida sucedida de uma ventania.Neste instante enxergamos a face da montanha completa e visualizamosa meta do dia. Esta só foi alcançada de noite.Os dois primeiros dias foram sem dores, porém cansativos devido à altatemperatura e a sensação de caminhar horas sem sair do lugar. Assim é asavana: terreno plano, vegetação rasteira e a montanha se aproximandolentamente. O segundo dia teve mais aclive, mas é no terceiro que sen-timos o impacto de encarar o paredão. Foram cerca de 600 m de escala-minhada (caminhar de quatro em terreno muito inclinado e irregular) mais300 m de subida íngreme em apenas 4 horas. E no final desse trajeto veioa chuva encharcando o chão e complicando o caminho, justo no trechomais difícil de todos – o Passo das Lágrimas.O quarto e parte do quinto dia acontecem no terreno acidentado do topo.Haja pernas no sobe e desce das pedras e haja braços para aguentar opeso do corpo ultrapassando as rochas maiores ou sendo arremessadapelo guia. Foram mais de 24 km explorando a parte superior do platô. Eas pernas precisam estar fortes para a descida do quinto dia! A distânciapercorrida para subir em dois dias é a mesma para descer em um dia. Apartir desse momento escorregar é uma questão de tempo. Perdi a con-ta das vezes que despenquei nos cascalhos por estar cansada, ainda bemque amolecia o corpo e não machucava.O último dia é igual ao primeiro, diferente pela vontade de caminhar de costas ven-do a montanha ficando para trás. A maior dica para aliviar os músculos e renovar asenergias durante o trajeto é banhar-se nos rios o máximo que aguentar o frio. Eu não

    tive coragem de entrar nas águas do topo, mas todos que fizeram recomendam.

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    D i c  as  

    Prepare-seA conquista do Monte Roraima não é tão difícil assim,então não tenha medo! Preparar a mente e o corpo, le-var os equipamentos indicados e tomar alguns cuidadostornará o passeio mais agradável.Não há restrições para subir o Monte, mas deve se terconsciência que é uma trilha exigente onde convivercom o cansaço não é uma escolha. É importante realizaro trekking com segurança, sendo imprescindível a con-tratação de guias locais com conhecimentos técnicos eque tenham contato prévio com os indígenas.

    Parte da trilha e acampamento base vistos do topo

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     Veja as dicas que consideramos preciosas para planejar a sua viagem: 

    GuiasPara fazer essa aventura você é obrigado a contratar um guia, poisnão é permitido subir sem eles. Tanto no Brasil quanto na Venezuela

    existem operadoras que oferecem a expedição completa ou somenteos guias. Na internet encontram-se dicas afirmando que realizar comempresas da Venezuela é muito mais barato, porém, pode ser arrisca-do. Alguns relatam péssimo serviço como falta de comida na expe-dição ou que os guias abandonam o grupo no topo. Como o lugar éinóspito, é difícil encontrar alimento na natureza.

    Quem levaLeandro contratou a Pisa Trekking e recomenda. Cuidaram e todos osdetalhes da viagem e o único esforço foi por conta da caminhada. Osguias foram bastante atenciosos, nunca faltou comida e ainda teve al-

    guns mimos como chocolate, goiabada e batatada.

    Como chegarDe São Paulo e Rio de Janeiro, tanto a Tam quanto a Gol tem voosdiários para Boa Vista, com escala em Manaus ou Brasília.

    HotelÉ recomendável se hospedar na noite anterior e posterior ao trek-king para garantir uma boa noite de sono, principalmente, antes decomeçar a trilha. Os voos chegam e partem somente na madrugada

    e esperar horas no aeroporto é desconfortável. Leandro chegou dotrekking e voltou direto para Porto Alegre, foi uma noite infernal to-talmente desconfortável dentro do avião com muitas dores nos pés.

     Veja hoteis em Boa Vista.

    Bagagem Você carrega sua mochila, saco de dormir e isolante térmico, mas existea opção de contratar um nativo para levá-los por um custo extra.Leandro não pagou e se arrependeu, a maioria das pessoas aca-ba mudando de ideia na descida. Se os índios não estiverem tãocarregados, eles negociam para trazer de volta a bagagem.

    SegurançaTodos os guias carregavam kit completo de primeiros socorros e rádiocomunicador, que possibilitava o contato com a aldeia de Paraitepuy,local de início do trekking. Assim, se ocorresse algum tipo de aciden-te mais grave, o resgate seria feito de helicóptero até o pronto so-corro emergencial de Santa Elena ou hospital de Boa Vista. Por issoé importante fazer um seguro viagem (clique para cotar).

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    VistoO visto para Venezuela é feito na hora, na aduana em Santa Elena deUiarén e pode ser com RG ou passaporte, mas não recomendamos opassaporte pelo risco da aduana estar fechada na hora de voltar e ficarsem o carimbo da saída. Na alta temporada perde-se um bom tempona fila e não fazem questão de oferecer um mínimo de conforto.

    DinheiroÉ bom trocar um pouco de dinheiro antes ao chegar ao parque, poisna volta tem artesanato local para levar uma lembrança. Consulte oguia antes de chegar a Santa Elena de Uiarén.

    Melhor épocaDe outubro a abril seria a melhor época para evitar as chuvas. Poroutro lado, de maio a setembro as cachoeiras ficam mais bonitas eaumenta a aura de mistério por causa da névoa. Contudo, é difícilescapar da chuva fina no topo por ele estar quase sempre coberto

    por nuvens.

    Fuso horárioBoa Vista e Santa Elena tem a diferença de fuso de 1 hora a menosem relação ao horário de Brasília. E 2 horas no horário de verão.

    Durante a travessiaPara começar a trilha tem que entrar no Parque Nacional Canaimaaté às 13 horas. Aproveite para comprar o mapa do local com osguardas.

    A subida exige beber muita água, facilmente encontrada por todaa trilha. Porém, não pegue em qualquer lugar, somente onde o guiaindicar, pois alguns rios são destinados à banho. Falando nisso, pormais que a agua esteja fria, não deixe de tomar banho diariamente,ele fará você se sentir bem e relaxará seu corpo.

    A descida exige muito dos dedos dos pés, pois todo o seu peso é con-centrado neles. É muito importante estar com as unhas bem corta-das, mas não muito rentes, pois pode levantar a unha.

    Não é permitido trazer nada lá de cima, nem uma pequena pedra. Nachegada os militares podem revistar você e a sua mochila. Robertanão passou por isso, mas Leandro passou e tiraram tudo de dentro.

    Essa aventura também pode ser feita em oito dias explorando o topocom mais tempo.

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    Autora e EditoraRoberta Martins

    [email protected]

    Colaboraram nesta ediçãoTexto Leandro Gabrieli e Roberta Martins [email protected]ão e Tradução Lúcia [email protected] Gráfico e Editoração Roberta Martins Foto Leandro Gabrieli, Roberta Martins e Luiz Gustavo Vala Zoldan Comercial Renata Pena [email protected]

    ReferênciasWikipedia.org 

    Monte Roraima mapa-guía por Emilio Pérez y AdrianWarren 6ta edición

    Para anunciar

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