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A controversa ulização da base legal do legímo interesse no setor imobiliário The controversial use of the legal basis of legimate interest in the real estate sector Thiago Bilik Domingos 1 Orientado por Ana Catarina de Alencar Resumo O presente argo busca analisar e compreender a ulização da base legal do legímo interesse nas operações de tratamento de dados pessoais realizadas pelo setor imobiliário, especialmente, naquelas que envolvam o comparlhamento de dados pessoais entre vários agentes de tratamento que parcipam da cadeia de negócios do ramo. Pretende-se ressaltar os riscos e violações que a ampla ulização dessa base legal pode ocasionar. Para tanto, será analisada a legislação, a doutrina e alguns casos concretos observados em território brasileiro e na União Europeia. Ao final, busca-se trazer uma discussão sobre a ulização adequada dessa base legal, visando a prevenção de danos quanto aos dados dos tulares. Palavra-chave: Proteção de dados, legímo interesse, setor imobiliário. Abstract This arcle seeks to analyze and understand the use of the legal basis of legimate interest in personal data processing operaons carried out by the real estate sector, especially in those involving the sharing of personal data between various processing agents that parcipate in the business chain of the sector. It is intended to highlight the risks and violaons that the wide use of this legal basis can cause. To this end, the legislaon, doctrine and some specific 1 Graduando em Direito pela Unisociesc. E-mail: [email protected]

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Page 1: T h e co nt r ov e r s i a l u s e o f t h e l e g a l b a

A controversa u�lização da base legal do legí�mo interesse no setor

imobiliário

The controversial use of the legal basis of legi�mate interest in the real estate

sector

Thiago Bilik Domingos 1

Orientado por Ana Catarina de Alencar

Resumo

O presente ar�go busca analisar e compreender a u�lização da base legal do legí�mo

interesse nas operações de tratamento de dados pessoais realizadas pelo setor imobiliário,

especialmente, naquelas que envolvam o compar�lhamento de dados pessoais entre vários

agentes de tratamento que par�cipam da cadeia de negócios do ramo. Pretende-se ressaltar

os riscos e violações que a ampla u�lização dessa base legal pode ocasionar. Para tanto, será

analisada a legislação, a doutrina e alguns casos concretos observados em território

brasileiro e na União Europeia. Ao final, busca-se trazer uma discussão sobre a u�lização

adequada dessa base legal, visando a prevenção de danos quanto aos dados dos �tulares.

Palavra-chave: Proteção de dados, legí�mo interesse, setor imobiliário.

Abstract

This ar�cle seeks to analyze and understand the use of the legal basis of legi�mate interest in

personal data processing opera�ons carried out by the real estate sector, especially in those

involving the sharing of personal data between various processing agents that par�cipate in

the business chain of the sector. It is intended to highlight the risks and viola�ons that the

wide use of this legal basis can cause. To this end, the legisla�on, doctrine and some specific

1 Graduando em Direito pela Unisociesc. E-mail: [email protected]

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cases observed in Brazilian territory and in the European Union will be analyzed. At the end,

it seeks to bring a discussion on the proper use of this legal basis, aiming to prevent damage

to the data of the holders.

Keyword: Data protec�on, legi�mate interest, real estate sector.

1. Introdução

Com a vinda da Lei Geral de Proteção de Dados (Lei n° 13.709/18), iniciou-se a

discussão sobre a sua aplicabilidade em território brasileiro, tendo em vista que a referida lei

possui inúmeras controvérsias quanto à interpretação de seu texto legal.

Com base no modelo europeu do General Data Protec�on Regula�on (GDPR), a Lei n°

13.709 criada em 2018, tem como finalidade a proteção no uso e compar�lhamento de

dados pessoais de todos os �tulares de dados que dispõem de seus dados aos 2

Controladores e Operadores, nascendo uma necessária observância para o manuseio

consciente e efe�vo de tais dados, a fim de proteger direitos e garan�as cons�tucionais,

preservando seus �tulares.

Para tanto, os agentes de tratamento de dados pessoais deverão u�lizar de algumas

“hipóteses autorizadoras” para realizar as operações de tratamento de dados, como o

compar�lhamento, sendo que essas hipóteses constam em um rol taxa�vo na lei estão

mencionadas como “bases legais”. Assim, os agentes de tratamento deverão u�lizar os dados

enquadrando-se em alguma base legal, caso contrário, estarão em dissonância com a lei,

tratando os dados do �tular de forma ilegal ou irregular, podendo até mesmo sofrer sanções

administra�vas e judiciais.

Uma das bases legais da lei, e objeto deste ar�go, é a base legal do legí�mo interesse,

que possibilita, por exemplo, o compar�lhamento de dados sem que haja o consen�mento

do �tular. Segundo estudiosos, como a DPO Fernanda Nones, o compar�lhamento dos dados

pessoais com base no legí�mo interesse deve ser realizado unicamente quando: “a) o

consen�mento do usuário for muito di�cil de ser ob�do; b) o consen�mento do usuário

pode ser considerado desnecessário; c) houver um impacto mínimo no indivíduo ou uma

jus�fica�va convincente para a sua u�lização;” (NONES, 2020). Adicionalmente, podemos

2 Art. 1°, da LGPD

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mencionar que a base legal também pode ser adotada quando há jus�fica�va plausível e

proporcional à sua u�lização.

Portanto, destacado que a lei abrange toda a população nacional, tem-se levantado o

ques�onamento sobre a u�lização do legí�mo interesse nas operações de compar�lhamento

do setor imobiliário, tendo em vista que é de notoriedade que tal setor u�liza diversos dados

dos �tulares para a confecção do contrato, fechamento do negócio, análise de crédito

bancário e demais serviços prestados. Muitas vezes, esses dados são compar�lhados entre

Construtoras, Incorporadoras, Imobiliárias, Corretores, Agências de Financiamento Bancário,

entre outras empresas par�cipantes da cadeia de negócios do setor, conforme no�ciado em

âmbito nacional através do emblemá�co processo judicial envolvendo a construtora Cyrela

promovido no ano de 2019 e sentenciado em 2020.

Em meio a tantos compar�lhamentos de dados, resta controverso o uso da base legal

do legí�mo interesse em boa parte das a�vidades de tratamento deste setor, vez que, a base

legal é de extrema flexibilidade e subje�vidade, fazendo com que muitas vezes os dados dos

�tulares sejam compar�lhados e u�lizados sem que haja transparência mínima,

conhecimento ou mesmo consen�mento e do �tular sobre essa operação.

Sendo assim, o obje�vo deste ar�go é analisar e compreender a subje�vidade

interpreta�va da lei quanto ao compar�lhamento dos dados pessoais dos �tulares nas

a�vidades do setor imobiliário, conforme a aplicação da base legal do legí�mo interesse,

trazendo reflexões sobre esta controvérsia e indicando possíveis meios adequados à

u�lização dessa base legal.

2. Controladores de dados pessoais no setor imobiliário brasileiro

Após a sua promulgação, a LGPD trouxe consigo alguns termos e definições para as

partes direcionadas pela lei, como os �tulares de dados, os agentes de tratamento, o

controlador de dados e o operador de dados.

Na figura dos agentes de tratamento, a ANPD (Autoridade Nacional de Proteção de

Dados), em pequeno guia de orientações, define que: “são agentes de tratamento o

controlador e o operador de dados pessoais, os quais podem ser pessoas naturais ou

jurídicas, de direito público ou privado. Ressalta-se que os agentes de tratamento devem ser

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definidos a par�r de seu caráter ins�tucional.” (AUTORIDADE NACIONAL DE PROTEÇÃO DE

DADOS, 2021).

Portanto, aqueles que detenham a posse dos dados dos �tulares, são chamados de

agentes de tratamento, dividindo-se em operador e controlador de dados.

Enquanto o controlador de dados define e decide acerca do tratamento devido sobre

os dados dos �tulares, o operador apenas realiza as funções estabelecidas pelo controlador,

se atentando aos interesses e finalidades definidas por este.

Aplicando no setor imobiliário, temos como exemplo de controladores as

Imobiliárias, as Construtoras e Incorporadoras, as Agências Bancárias e até mesmo os

Corretores Autônomos.

Infelizmente, por terem uma ampla afinidade entre os integrantes que compõem o

setor imobiliário, é recorrente que parceiros de negócios compar�lhem os dados de seus

consumidores, visto a busca pela obtenção de bene�cios para a sua empresa, seja por

comissões de venda ou indicações de compra, fato é, que devido a esse compar�lhamento

indevido, o �tular de dados começa a receber diversos disparos de mensagens, seja via

e-mail, WhatsApp ou SMS e recebimento de diversas mensagens não consen�das, e,

consequentemente, sendo lesado pelo compar�lhamento indevido de seus dados.

O controlador do setor imobiliário muitas vezes parte do princípio de que o dano a

sofrer em uma possível ação judicial, tendo em vista o compar�lhamento dos dados e

aborrecimento do consumidor, possui um valor ínfimo, visto o lucro que irá arrecadar com

tais “disparos” em massa, fazendo com que a prá�ca do compar�lhamento seja cada vez

mais usual, sendo, portanto, uma espécie de “gasto programado”.

No que tange a principiologia consumerista, percebemos que, com o

compar�lhamento indevido dos dados dos �tulares, há a quebra de alguns princípios

primordiais para a relação de consumo, como por exemplo, o princípio da confiança, no qual

o fornecedor deve agir com lealdade para com o consumidor. Cita-se também o princípio da

transparência, pelo qual o fornecedor tem o dever de informar sobre todos os riscos do

negócio, preservando a boa-fé obje�va e consagrando a relação de consumo existente.

Desta forma, a legislação consumerista já em seu ar�go 6º, sinaliza quanto aos

direitos do consumidor, sendo defeso a eles a informação adequada, proteção contra

publicidade enganosa, prevenção e reparação de danos morais e materiais, bem como, no

que tange ao compar�lhamento dos dados pessoais, pode-se encontrar amparo no Capítulo

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V, Seção VI, in�tulada “Dos Bancos de Dados e Cadastros de Consumidores”, nos ar�gos 43 e

44, que o �tular de dados/consumidor, terá acesso às suas informações, podendo ser

“cadastros, fichas, registros e dados pessoais e de consumo arquivados sobre ele, bem como

sobre as suas respec�vas fontes” (CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR, 1990).

Quanto aos dados pessoais, em recente decisão histórica, o STF (Superior Tribunal

Federal) reconheceu o direito fundamental autônomo a proteção de dados pessoais e o

direito à autodeterminação informa�va, fazendo com que não se tenha mais discussão sobre

“dados neutros” ou “dados insignificantes”, tendo em vista que qualquer dado, sendo esse

capaz de iden�ficar ou deixar iden�ficável uma pessoa merece proteção cons�tucional.

Destaca-se que, até a vinda da LGPD, o Brasil demorou cerca de anos até a

promulgação de uma legislação específica que tratasse sobre os dados pessoais dos �tulares,

tal promulgação par�u do escopo do regulamento europeu, a GDPR, conforme confirma

Teixeira:

O GDPR é um regulamento do direito europeu que unificou as leis de privacidade de dados em toda Europa e tem como principal obje�vo a proteção de todos os cidadãos europeus da violação de dados e de sua privacidade, estabelecendo regras e sanções, que serviram de base para muitos ar�gos da lei brasileira. (TEIXEIRA, 2020, p. 28).

Portanto, a LGPD tem como fundamento a proteção devida do uso e

compar�lhamento de dados pessoais de todos os �tulares que concedem seus dados aos

Controladores e Operadores, nascendo observâncias necessárias para o manuseio de tais

dados, a fim de proteger direito e garan�as cons�tucionais, não lesando o �tular dos dados,

conforme dispõe a Lei em seu Art. 1°:

Art. 1° Esta Lei dispõe sobre o tratamento de dados pessoais, inclusive nos meios digitais, por pessoa natural ou por pessoa jurídica de direito público ou privado, com o obje�vo de proteger os direitos fundamentais de liberdade e de privacidade e o livre desenvolvimento da personalidade da pessoa natural. (BRASIL, 2018).

E, em consonância com a lei, Patricia Peck (2020, p. 70) relata: "A LGPD surge com o

intuito de proteger direitos fundamentais como privacidade, in�midade, honra, direito de

imagem e dignidade”.

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Conforme observado, a lei versa sobre os direitos e garan�as das pessoas �sicas,

chamadas “�tulares de dados” que compar�lham seus dados, seja para acessar um site ou,

contratar outro produto ou serviço.

Para isso, a lei es�pula métodos adequados para o tratamento de dados dos �tulares,

sendo tais métodos in�tulados como “base legal”, conforme dispõe Mario Viola e Chiara

Spadaccini de Teffé:

Diante do cuidado com o tema, foi estabelecido como regra geral (Art. 1.º) que qualquer pessoa que trate dados, seja ela natural ou jurídica, de direito público ou privado, inclusive na a�vidade realizada nos meios digitais, deverá ter uma base legal para fundamentar os tratamentos de dados pessoais que realizar. (VIOLA; TEFFÉ, 2020, p. 131).

E, não havendo o enquadramento em nenhuma base legal, na qual, possuindo seu rol

taxa�vo nos Art. 7° e Art. 11° da lei, tem-se o uso dos dados ilegí�mo e ilícito, conforme

dispõe Viola e Teffé (2020, p. 131). “[...] não sendo uma hipótese de exclusão, deverá ocorrer

o encaixe do tratamento realizado em pelo menos uma das hipóteses legais para que ele seja

considerado legí�mo e lícito, sendo possível inclusive cumular as mesmas, assim como no

GDPR.”

Porém, a lei destaca que, não havendo o uso devido, legí�mo e lícito dos dados

pessoais, o controlador e/ou o operador poderão responsabilizar-se por todos os danos a

que causou a outrem, conforme es�pula o Art. 42 da LGPD (BRASIL, 2018): “O controlador ou

o operador que, em razão do exercício de a�vidade de tratamento de dados pessoais, causar

a outrem dano patrimonial, moral, individual ou cole�vo, em violação à legislação de

proteção de dados pessoais, é obrigado a repará-lo.”

Destaca-se que, além da reparação pelos danos causados a outrem, a lei prevê

punições para aqueles que atuarem em desacordo com o previsto em lei, sendo cada

punição aplicada administra�vamente e variando conforme o grau do dano, conforme

preceitua Patricia Peck (2020, p. 46): “A Lei prevê que as sanções serão aplicadas após

procedimento administra�vo que possibilite a oportunidade da ampla defesa, de forma

grada�va, isolada ou cumula�va, de acordo com as peculiaridades do caso concreto.”

Portanto, observamos que a LGPD não veio para ser uma lei “complementar” ao CDC,

mas sim, tratar de especificidades que anteriormente não eram discu�das e tampouco

observadas.

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Par�ndo dessa premissa, observa-se a existência de certo conflito entre as normas da

LGPD e a sua interpretação no Setor Imobiliário, onde a LGPD por meio da sua base legal do

legí�mo interesse (e tema do presente ar�go), autoriza o compar�lhamento dos dados

desde que certas salvaguardas sejam aplicadas para não extrapolar as legí�mas expecta�vas

do �tular.

Tal conflito fica evidente no famoso caso da construtora e incorporadora Cyrela, onde

em sentença proferida em setembro de 2020, a juíza Tonia Yuka Koroku, da 13ª Vara Cível de

São Paulo, condenou a empresa pelo compar�lhamento dos dados de seu consumidor com

parceiros comerciais, embasando sua decisão não só no Código de Defesa do Consumidor

(CDC), mas, também na LGPD. Destaca-se que tal julgado foi o primeiro a ser proferido em

território brasileiro u�lizando-se a LGPD, iniciando a discussão quanto a sua aplicabilidade a

par�r desta decisão.

Para tanto, a juíza explica a u�lização da LGPD : 3

É incontroverso que o autor celebrou com a ré instrumento contratual por meio do qual forneceu seus dados pessoais, dentre os quais nome, endereço, profissão, estado civil. Acerca do tratamento de tais dados, as cláusulas 2.21.8 apontou a autorização do ora autor em ter seus dados incluídos em cadastro posi�vo. Não há dúvida que a relação entre as partes é de natureza consumerista como restou assentado na decisão de fls. 627/630 de sorte que um dos direitos fundamentais do consumidor é de acesso à informação adequada acerca dos serviços que lhes são postos à disposição . Especificamente sobre o assunto referente ao tratamento de dados, a Lei nº 13.709/2018 (Lei Geral de Proteção de Dados LGPD) prescreve que são fundamentos da disciplina da proteção de dados , dentre outros, o respeito à privacidade, a autodeterminação informa�va, a inviolabilidade da in�midade, da honra e da imagem, a defesa do consumidor, os direitos humanos, o livre desenvolvimento da personalidade e a dignidade (art. 2º). Vê-se, portanto, que os referidos diplomas (CDC e LGPD) encontram-se em consonância com os princípios fundamentais da República expressos na Cons�tuição Federal de 1988, especialmente o respeito à dignidade humana (art. 1º, III, CF/88), a construção de uma sociedade livre, justa e solidária (art. 3º, I, CF/88) e a promoção do bem de todos sem preconceitos (art. 3º, IV, CF/88). (grifos nossos)

3 BRASIL. Foro Central da 13ª Vara Cível da Comarca de São Paulo/SP. Sentença nº 1080233-94.2019.8.26.0100. Requerente: Fabricio Vilela Coelho. Requerido: Cyrela Brazil Realty S/A Empreendimentos e Participações. Relator: Juiza Tonia Yuka Koroku. Sentença. São Paulo, p. 1253-1260. Disponível em: https://www.conjur.com.br/dl/compartilhar-dados-consumidor-terceiros.pdf. Acesso em: 20 jun. 2021.

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Bem como, a violação da proteção dos dados do �tular por parte da empresa : 4

Patente que os dados independentemente de sensíveis ou pessoais (art. 5º, I e II, LGPD) foram tratados em violação aos fundamentos de sua proteção (art. 2º, LGPD) e à finalidade específica, explícita e informada ao seu �tular (art. 6º, I, LGPD). O contrato firmado entre as partes prescreveu apenas a possibilidade de inclusão de dados do requerente para fins de inserção em banco de dados (“Cadastro Posi�vo”), sem que tenha sido efe�vamente informado acerca da u�lização dos dados para outros fins que não os rela�vos à relação jurídica firmada entre as partes . Entretanto, consoante prova documental acima indicada, houve a u�lização para finalidade diversa e sem que o autor �vesse informação adequada (art. 6º, II, LGPD). (grifos nossos)

Porém, mesmo o Autor relatando nos autos que seus dados foram compar�lhados indevidamente, vez que recebia diversos telefonemas e mensagens de bancos e lojas de decoração, interligando-as a operação de compra e venda realizada, o recurso de Apelação Cível proposto pela empresa, acarretou a reversão da decisão de primeiro grau pelo TJSP. Foi considerado pela segunda instância que não foram demonstradas provas suficientes de que a Cyrela teria compar�lhado os dados em questão. Além disso, o grande argumento u�lizado para afastar a responsabilidade da empresa pela operação irregular de compar�lhamento foi o que de a LGPD não estava em plena vigência quando as partes assinaram o contrato. Adicionalmente, entendeu-se que as várias mensagens recebidas pelo consumidor não “ultrapassaram a esfera do mero aborrecimento”, in verbis : 5

Nesse aspecto, de proêmio, destaco que , embora a MM. Magistrada a quo tenha também aplicado a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD - Lei n° 13.709/2018) ao caso em tela, não havia fundamento para tanto, eis que, quando da contratação do empreendimento da Cyrella pelo autor (10 de novembro de 2018 - págs. 55/106) e do suposto vazamento de dados, ela ainda não estava em vigor . Note-se que o contrato foi firmado em 10/11/2018 e que o menor prazo de entrada em vigor da referida Lei (dia 28/12/2018) referia-se somente à criação da Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) e à composição do Conselho Nacional de Proteção de Dados Pessoais e da Privacidade. No mais, a vigência plena da Lei Especial ocorreu apenas em 14/08/2020 (Art. 65). As alegadas ligações, mensagens e e-mails recebidos pelo autor, ainda que de forma reiterada e apesar de causar incômodo, não caracterizam, por si

5 BRASIL. 3ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo. Apelação Cível nº 1080233-94.2019.8.26.0100. Apelante/Apelado: Cyrela Brazil Realty S.a. Empreendimentos e Participações. Apelado/Apelante: Fabricio Vilela Coelho. Acórdão. São Paulo.

4 BRASIL. Foro Central da 13ª Vara Cível da Comarca de São Paulo/SP. Sentença nº 1080233-94.2019.8.26.0100. Requerente: Fabricio Vilela Coelho. Requerido: Cyrela Brazil Realty S/A Empreendimentos e Participações. Relator: Juiza Tonia Yuka Koroku. Sentença. São Paulo, p. 1253-1260. Disponível em: https://www.conjur.com.br/dl/compartilhar-dados-consumidor-terceiros.pdf. Acesso em: 20 jun. 2021.

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só, violação de in�midade . Na realidade, nas circunstâncias apresentadas, elas não ultrapassaram a esfera do mero aborrecimento . (grifos nosso)

Tal decisão desfavorável ao �tular de dados fez com que se abrisse precedentes potencialmente danosos à aplicabilidade da LGPD em território brasileiro, tendo em vista que independente se a assinatura do contrato foi realizada antes da vigência da lei, a ilegalidade da ação do controlador ocorre no momento em que é descoberta tal ilicitude, e, portanto, é possível defender que o TJSP deveria realizar uma interpretação abrangente da legislação combinando as disposições da LGPD, com os preceitos da Cons�tuição Federal, bem como do próprio Código de Defesa do Consumidor.

Observa-se que embora a tutela consumerista tenha como obje�vo proteger o consumidor, em diversas oportunidades é possível verificar posicionamentos do Judiciário brasileiro que não refletem esse obje�vo, tutelando os interesses comerciais das empresas e não dos consumidores. Ressalte-se que não houve qualquer manifestação de interesse do consumidor no compar�lhamento indiscriminado de seus dados que pudesse levar ao recebimento de inúmeras promoções e envios massivos pela construtora e de seus parceiros, restando caracterizado seu abalo moral.

Lembremo-nos que a Cons�tuição Federal possui garan�as não apenas para a proteção de dados pessoais e da privacidade, mas, também, garante que “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei” (BRASIL, 1988), e, assim, o �tular de dados não é obrigado a receber tais informa�vos excessivos e desinteressantes, de modo que, neste caso, o controlador de dados responsável pela operação de tratamento estará ferindo uma série de direitos que não apenas aqueles expressos na LGPD.

De todo modo, o intuito do presente ar�go não é realizar uma análise profunda da decisão proferida no caso da empresa Cyrela, embora tais aspectos sejam importantes para entender a tutela conferida aos direitos de consumidores que têm seus dados compar�lhados indevidamente no mercado. Ressalte-se que a lei é nova e o entendimento jurisprudencial ainda está em formação no país. Por isso, busca-se destacar a importância dados pessoais e, como essas operações de compar�lhamento acarretam uma série de riscos ao controlador, podendo resultar em multas administra�vas ou em condenações judiciais.

Posto isso, o caso Cyrela abre um interessante precedente para a LGPD e traz inúmeros ques�onamentos sobre a correta interpretação da lei. Trata-se de um importante julgado no âmbito imobiliário, assim como em outros, trazendo atenção para a u�lização da base legal do legí�mo interesse pelas empresas. Deve-se ter de considerar que o legí�mo interesse é a mais flexível entre todas as bases legais, entretanto, não se trata de um salvo-conduto para tutelar apenas os negócios do controlador de dados, sem proteger os interesses do �tular.

3. O que é o legí�mo interesse na LGPD

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Conforme observado, para que se possa u�lizar os dados dos �tulares, a lei obriga o

controlador a enquadrar o seu manuseio em pelo menos uma das bases legais presentes na

lei (BRASIL, 2018) “Art. 7º O tratamento de dados pessoais somente poderá ser realizado

nas seguintes hipóteses: (grifo nosso) .”

Quanto à definição do termo “base legal”, temos a explicação de Mariana Barros:

As bases legais da LGPD são os requisitos necessários para o tratamento de dados. Em outras palavras, as bases legais cons�tuem as hipóteses de tratamento de dados pessoais. Elas são as orientações gerais que autorizam a a�vidade de tratamento de dados por qualquer controlador. (BARROS, 2020).

Para tanto, podemos encontrar tais bases na própria lei, presente no ar�go 7° e ar�go

11°, sendo o ar�go 11 referente ao tratamento de dados pessoais sensíveis. Em resumo,

temos as seguintes hipóteses:

Tabela 1 - Bases Legais

Nome da base legal Previsão na lei

Consen�mento Art. 7, I e Art. 11, I

Cumprimento de Obrigação legal ou regulatória Art. 7, II e Art. 11, II, a

Uso compar�lhado de dados pela Administração Pública Art. 7, III e Art. 11, II, b

Realização de estudos e pesquisas Art. 7, IV e Art. 11, II, c

Execução ou preparação de contrato Art. 7, V

Exercício de direitos em processo judicial, administra�vo ou arbitral Art. 7, VI e Art. 11, II, d

Proteção da vida e da incolumidade �sica Art. 7, VII e Art. 11, II, e

Tutela de saúde do �tular Art. 7, VIII e Art. 11, II, f

Legí�mo Interesse Art. 7, IX

Proteção do crédito Art. 7, X Fonte: Produzida pelo autor com base na Lei Geral de Proteção de Dados (BRASIL, 2018)

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Podemos observar que cada base legal é autoexplica�va em seu inciso, não havendo

dificuldade para os agentes quanto ao seu entendimento, de todo modo, embora tenha uma

lista respec�vamente extensa de u�lização, é notório que possamos observar com mais

frequência umas a mais que as outras, como no caso da base legal do consen�mento, sendo

uma das mais conhecidas da LGPD, na qual presente no Art. 7 em seu Inc. I, relata que o

consen�mento deverá ocorrer “mediante o fornecimento de consen�mento pelo �tular”

(BRASIL, 2018). Portanto, o �tular demonstra, de boa vontade, seu consen�mento em dispor

de seus dados, seja por escrito ou outro meio que demonstre a vontade de modo cristalino.

Quanto ao consen�mento, Mario Viola e Chiara Teffé destacam que “o

consen�mento representa instrumento de manifestação individual no campo dos direitos da

personalidade e tem o papel de legi�mar que terceiros u�lizem, em alguma medida, os

dados de seu �tular.” (VIOLA; TEFFÉ, 2020, p. 134).

Portanto, para a u�lização da base legal do consen�mento, o controlador deverá

obter o consen�mento do �tular por escrito ou por meio equipara�vo que não cause riscos

de invalidação do consen�mento expressado.

Coligando o tema com as bases legais, insta mencionar uma das possíveis bases legais

presente no setor imobiliário, não sendo o consen�mento e o legí�mo interesse, é a base

legal do cumprimento de obrigação legal ou regulatória, na qual dispõe sobre o tratamento

de dados sob as obrigações, presente no Art. 7 Inc. II da LGPD, que, em seus termos, traz a

possibilidade de tratamento de dados “para o cumprimento de obrigação legal ou regulatória

pelo controlador.” (BRASIL, 2018).

Nesta base legal, é jus�ficável que o controlador u�lize os dados para cumprir uma

obrigação legal ou regulatória, exemplo disso, temos a inadimplência do �tular e o

acionamento do controlador deste na jus�ça, vemos que o controlador dispõe dos dados

para cumprir a obrigação.

A LGPD dispõe em seu Inc. IX do Art. 7° (BRASIL, 2018) que a base legal do legí�mo

interesse poderá ser u�lizada “quando necessário para atender aos interesses legí�mos do

controlador ou de terceiros, exceto no caso de prevalecerem direitos e liberdades

fundamentais do �tular que exijam a proteção dos dados pessoais”.

Para tanto, tem-se discu�do muito sobre o legí�mo interesse do controlador, sendo,

nacionalmente, chamada de uma das bases legais mais flexíveis da lei. Conforme explica

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Mario Viola e Chiara Teffé, "o legí�mo interesse é hipótese legal que visa a possibilitar

tratamentos de dados importantes, vinculados ao escopo de a�vidades pra�cadas pelo

controlador, e que encontrem jus�fica�va legí�ma.” (2020, p. 140).

De todo modo, para que o controlador não venha a sofrer qualquer penalidade com a

u�lização da base legal, é necessário que ele faça um “teste de proporcionalidade”, tendo

alguns ques�onamentos quanto se a finalidade é legí�ma, se há necessidade, o

balanceamento dos dados (a expecta�va do �tular) e as salvaguardas (se o �tular possui

meio de exercer seus direitos), conforme Mario Viola e Chiara Teffé descrevem:

Destaca-se que o legi�mate interest assessment apresenta quatro fases que devem ser cumpridas de modo a se verificar o preenchimento do requisito do legí�mo interesse. São elas: (i) a avaliação dos interesses legí�mos; (ii) o impacto sobre o �tular do dado; (iii) o equilíbrio entre os interesses legí�mos do controlador e o impacto sobre o �tular; e (iv) salvaguardas desenvolvidas para proteger o �tular dos dados e evitar qualquer impacto indesejado. (VIOLA; TEFFÉ, 2020, p. 142).

Mario Viola e Chiara Teffé concluem:

[...] podem ser concluídos alguns pontos em relação ao legí�mo interesse: a) pode ser a base mais apropriada em diversas hipóteses, devendo, porém, ser aplicada de forma proporcional e limitada, quando trouxer bene�cio claro e determinado para o controlador e/ou terceiro; b) poderá ser aplicado quando não causar um impacto elevado aos direitos e garan�as do indivíduo; c) o indivíduo – �tular dos dados – deverá esperar razoavelmente que seus dados sejam usados dessa maneira; e d) poderá ser aplicado quando não for possível ou não se desejar dar ao �tular dos dados total controle ou, ainda, quando o controlador não quiser incomodá-lo com solicitações de consen�mento para tratamentos que muito provavelmente seriam aceitos pelo �tular. (VIOLA; TEFFÉ, 2020, p. 145).

É notório que a base legal possui a sua flexibilidade, e que, portanto, o controlador

deve u�lizar um efe�vo teste de proporcionalidade, visando não só obtenção própria, mas,

também, o mínimo de prejuízo ao �tular.

Neste ponto, ao traçar necessidade da confecção do teste de proporcionalidade,

tem-se levantado a dúvida sobre o ônus probatório do controlador, ou seja, o controlador

arquivar o LIA visando sua proteção em uma possível ação judicial para comprovar que de

fato houve um interesse legí�mo e que esse interesse se baseou em toda a legalidade que a

lei carrega consigo em seu Art. 10.

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Comparando a LGPD e a GDPR, podemos observar notáveis disparidades a respeito

deste tema. O pesquisador e membro do Conselho Consul�vo da ANPD, Bruno Bioni, relata

que:

No âmbito da GDPR , ainda há discussão sobre se os agentes de tratamento de dados deveriam se valer e documentar o teste de ponderação do legí�mo interesse sempre que as suas a�vidades de tratamento de dados es�vessem apoiadas em tal base legal. Isso porque a própria estrutura do LIA não está esquema�zada no “texto duro” da lei, mas, tão somente, nas diretrizes para a sua interpretação . E, além disso, o regulamento europeu apenas reforçou o dever de informação junto aos �tulares dos dados (arts. 1333 e 1434 da GDPR), mas não o dever de documentação acerca das a�vidades de tratamento de dados lastreadas no legí�mo interesse. (...) No âmbito da LGPD, a moldura norma�va é substancialmente dis�nta: a ) primeiro , porque as fases do LIA estão talhadas no próprio texto duro da lei, estando distribuídas ao longo dos incisos e parágrafos do art. 10. Ou seja, não se trata de uma diretriz interpreta�va, mas, efe�vamente, do próprio conteúdo norma�vo em torno da licitude de tal base legal; b ) segundo , porque não apenas o dever de informação é reforçado como corolário do princípio da transparência, mas, também e principalmente, o dever de registro das a�vidades de tratamento de dados. Com isso, a racionalidade da LGPD aponta para uma documentação especial, que nos parece ser justamente o LIA. (BIONI, 2020, p.184). (grifos nossos)

Portanto, conclui-se que, enquanto a GDPR, embora tenha sido modelo, não tratou

com clareza a respeito da obrigação e necessidade do arquivo do LIA, a LGPD trouxe a

obrigação já expressa em seus ar�gos. 6

De todo modo, mesmo com a delimitação exata da lei quanto a u�lização e a ilicitude

do compar�lhamento dos dados pessoais, infelizmente, os juízes brasileiros em grande

maioria não aplicam adequadamente as salvaguardas da lei, e, mesmo com a vigência plena

e letra de lei extremamente clara e expressa, negam o direito daqueles mais fragilizados e

lesados, os �tulares de dados.

6 Art. 6º As atividades de tratamento de dados pessoais deverão observar a boa-fé e os seguintes princípios: X - responsabilização e prestação de contas: demonstração, pelo agente, da adoção de medidas eficazes e capazes de comprovar a observância e o cumprimento das normas de proteção de dados pessoais e, inclusive, da eficácia dessas medidas. Art. 10. O legítimo interesse do controlador somente poderá fundamentar tratamento de dados pessoais para finalidades legítimas, consideradas a partir de situações concretas, que incluem, mas não se limitam a: Art. 37. O controlador e o operador devem manter registro das operações de tratamento de dados pessoais que realizarem, especialmente quando baseado no legítimo interesse.

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Em resumo, é recorrente encontrarmos no dia a dia pessoas reclamando de contratações indevidas, emprés�mos indevidos, mensagens de textos, ligações e e-mails recorrentes em seus celulares, chegando a até mesmo necessitarem de perícia grafotécnica para verificar se o consumidor que nega veementemente a contratação do serviço, de fato, assinou ou não o contrato, conforme decisão do estado São Paulo:

Apelação - Ação Declaratória – Apelante que nega ter assinado o contrato objeto da demanda que permite o desconto em seu bene�cio previdenciário. – Julgamento Antecipado - Cerceamento de defesa configurado – Necessidade de se verificar a auten�cidade da assinatura constante do contrato em busca da verdade real. Sentença Anulada – Apelo Provido. (TJSP; Apelação Cível 1026881-80.2020.8.26.0071; Relator (a): Ramon Mateo Júnior; Órgão Julgador: 15ª Câmara de Direito Privado; Foro de Bauru - 5ª Vara Cível; Data do Julgamento: 25/08/2021; Data de Registro: 25/08/2021)

Em estudo realizado no mês de junho de 2021 , observou-se a citação da LGPD em 7

162 (cento e sessenta e duas) decisões nacionais, sendo que cerca de 92% delas foram

proferidas pelo estado de São Paulo.

Portanto, a aplicação da LGPD em solo brasileiro é extremamente importante, visto as

a�tudes recorrentes das grandes empresas que u�lizam não só os dados dos �tulares em

suas serven�as, mas também compar�lham entre os seus parceiros comerciais, gerando um

gigantesco abarrotamento jurídico com inúmeras ações no judiciário brasileiro.

Em contraponto, u�lizando-se de modelos europeus, podemos citar a recente multa

e a maior já aplicada pela GDPR (perfazendo o montante de US$ 887.000.000,00 - cerca de

R$ 4,5 bilhões de reais) devido a compar�lhamentos de dados, no caso da Amazon. Nessa

demanda, a autoridade de proteção de dados do país de Luxemburgo, após a reclamação do

grupo francês “La Quadrature du Net” que acusou o compar�lhamento indevido dos dados

pessoais dos adquirentes da assistente de voz “Alexa”, fazendo com que o histórico de

navegação dos �tulares de dados fosse compar�lhado indevidamente a terceiros.

Portanto, é percep�vel a nível mundial que não havendo regulamentação e efe�va

punição sobre tais a�vidades ilícitas de compar�lhamento de dados, haverá permissividade

para o compar�lhamento indevido de dados pelas empresas.

7 OPICE BLUM (São Paulo). INCIDENTE DE SEGURANÇA É TEMA DE 7 EM CADA 10 DECISÕES JUDICIAIS RELACIONADAS À LGPD, INDICA ESTUDO DO OPICE BLUM . 2021. Disponível em: http://opiceblum.com.br/incidente-de-seguranca-e-tema-de-7-em-cada-10-decisoes-judiciais-relaciona das-a-lgpd-indica-estudo-do-opice-blum/. Acesso em: 20 out. 2021

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Bem como, é percep�vel que tais violações geralmente são descobertas por “acaso”

pelos �tulares, mostrando a necessidade da u�lização devida da base legal do legí�mo

interesse, visto que a base em seu texto legal, menciona que o controlador deverá respeitar

as expecta�vas do �tular, e, necessitando o controlador a realizar o efe�vo teste de

proporcionalidade (LIA).

4. A u�lização do legí�mo interesse no compar�lhamento de dados pessoais entre

Controladores de dados no setor imobiliário

Como visto, são várias as a�tudes de compar�lhamentos indevidos e aborrecimento

constantes de �tulares em relação às a�vidades de tratamento no setor imobiliário. Nesse

sen�do, com a vinda da lei, operadores da área do direito e controladores de dados

começaram a se posicionar de modo errôneo quanto a u�lização da base legal do legí�mo

interesse, colocando como uma espécie de cláusula/termo contratual, e em sua redação

trazia o consen�mento do �tular necessitando de assinatura específica, assim, se dizia que

primeiramente estavam u�lizando da base legal do consen�mento e subsidiariamente da

base legal do legí�mo interesse (ou vice versa) para se defenderem de possíveis incômodos

com os �tulares.

Tal posicionamento, seja por um aplicador do direito, DPO ou controlador, está

totalmente equivocado, pois, as bases legais não se somam, bem como, parte de um

entendimento primário e pré-histórico ao achar que a LGPD parte de uma “simples” cláusula

contratual, fato é, mesmo com o consen�mento do �tular e da u�lização do interesse

legí�mo do controlador, o DPO ou controlador poderão infringir sanções administra�vas,

tendo em vista que a lei não dispõe somente sobre o cuidado externo dos dados, mas

também do armazenamento interno e principalmente do manuseio deste.

É notório que a u�lização da base legal do legí�mo nas a�vidades de tratamento que

envolvem o compar�lhamento de dados pessoais entre vários agentes da cadeia econômica

do setor imobiliário parece extremamente fácil de solucionar se pensarmos em usar sempre

o consen�mento neste caso. De todo modo, vale destacar que nenhuma base legal está

acima das demais, não havendo hierarquia entre si, e, portanto, devendo sua u�lização

obedecer a cada caso concreto. Além disso, o consen�mento nem sempre é a base legal

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adequada já que pode não ser dado de forma totalmente esclarecida, quando há assimetria

de poder entre as partes e, também pode ser revogado a qualquer momento.

Quando falamos no rol do Art. 7 da lei, inevitavelmente nos vem à cabeça o

“consen�mento do �tular”, onde muitas vezes inconscientemente achamos que tal base é a

maior ou superior hierarquicamente sobre as demais, tendo em vista que se o �tular

consen�u, é porque está tudo certo com o procedimento tomado, porém, segundo Mario

Viola e Chiara de Teffé:

O consen�mento do �tular dos dados recebeu tutela destacada na LGPD, ainda que não seja, vale lembrar, a única hipótese legal para o tratamento de dados pessoais nem hierarquicamente superior às demais con�das no rol do Art. 7.º ou 11 da lei. Aliás, em determinados casos, a obtenção do consen�mento poderá ser até mesmo inadequada, tendo em vista a existência de outra base legal mais precisa para o tratamento em questão. (VIOLA; TEFFÉ, 2020, p. 131).

Portanto, evidenciado que as bases legais são isonômicas entre si, é necessário o

controlador se atentar para que produza de forma documental o mo�vo de sua u�lização no

gerenciamento e compar�lhamento dos dados, nasce assim a figura do LIA e RIPD.

Primeiramente, esclarece-se acerca do RIPD (Relatório de Impacto de Proteção de

Dados), onde podemos encontrar presente no Art. 5, inciso XVII da LGPD, dispondo que o

controlador deverá realizar um relatório de impacto, conforme a lei:

XVII - relatório de impacto à proteção de dados pessoais: documentação do controlador que contém a descrição dos processos de tratamento de dados pessoais que podem gerar riscos às liberdades civis e aos direitos fundamentais, bem como medidas, salvaguardas e mecanismos de mi�gação de risco; (BRASIL, 2018).

Portanto, o RIPD seria um documento/relatório que traria consigo o resumo da

aplicação e uso dos dados pessoais do �tular em determinada empresa, salienta-se que a

ANPD poderá solicitar este documento para que possa averiguar possível infração realizada

pelo controlador, conforme dispõe o ar�go 38 da lei:

Art. 38. A autoridade nacional poderá determinar ao controlador que elabore relatório de impacto à proteção de dados pessoais, inclusive de dados sensíveis, referente a suas operações de tratamento de dados, nos termos de regulamento, observados os segredos comercial e industrial. Parágrafo único. Observado o disposto no caput deste ar�go, o relatório deverá conter, no mínimo, a descrição dos �pos de dados coletados, a

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metodologia u�lizada para a coleta e para a garan�a da segurança das informações e a análise do controlador com relação a medidas, salvaguardas e mecanismos de mi�gação de risco adotados. (BRASIL, 2018).

O controlador ao elaborar o RIPD poderá decidir a par�r do relatório qual base legal

deverá u�lizar para que consiga tratar os dados pessoais de forma lícita e segura, visando

sempre as medidas mi�gatórias e demonstrando os contextos que podem acontecer tais

violações.

Noutro ponto, temos o LIA “Legi�mate Interest Assessment”, que seria o teste de

proporcionalidade da base legal do legí�mo interesse, onde o legislador ao colocar o seu

disposi�vo em seu Art. 7, inciso IX da lei, fez com que fosse necessário a u�lização conjunta

do Art. 10, devendo o controlador se atentar a ambos os ar�gos.

Nesse sen�do, Bioni explica os ar�gos e a u�lização correta da base legal:

Enquanto o primeiro prevê o legí�mo interesse como uma base legal para o tratamento de dados, o segundo disposi�vo detalha a sua operacionalização. Foi uma solução também emprestada da experiência europeia que, após sofrer com uma aplicação pouco uniforme, decidiu elencar fatores de avaliação em torno do que deveria ser considerado como um interesse legí�mo – legi�mate interests assessment/LIA. (BIONI, 2019, p.176)

Portanto, para que o profissional da área imobiliária/controlador, u�lize de forma

correta a base legal, deverá realizar uma “avaliação de impacto”, ou melhor, um “teste de

proporcionalidade”, que deverá atender os parágrafos e incisos presentes no Art. 10:

Art. 10. O legí�mo interesse do controlador somente poderá fundamentar tratamento de dados pessoais para finalidades legí�mas, consideradas a par�r de situações concretas, que incluem, mas não se limitam a: I - apoio e promoção de a�vidades do controlador; e II - proteção, em relação ao �tular, do exercício regular de seus direitos ou prestação de serviços que o beneficiem, respeitadas as legí�mas expecta�vas dele e os direitos e liberdades fundamentais, nos termos desta Lei. § 1º Quando o tratamento for baseado no legí�mo interesse do controlador, somente os dados pessoais estritamente necessários para a finalidade pretendida poderão ser tratados. § 2º O controlador deverá adotar medidas para garan�r a transparência do tratamento de dados baseado em seu legí�mo interesse. § 3º A autoridade nacional poderá solicitar ao controlador relatório de impacto à proteção de dados pessoais, quando o tratamento �ver como fundamento seu interesse legí�mo, observados os segredos comercial e industrial. (BRASIL, 2018).

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Conforme esclarece Bioni (2019, p. 177) “O primeiro passo é verificar se a.1) o

interesse do controlador é contornado por uma finalidade legí�ma, isto é, se não contraria,

por exemplo, outros comandos legais (leis esparsas e legislação infralegal).” e “(...) verificar

se tal interesse está claramente a.2) ar�culado, para que não seja um cheque em branco”,

portanto, primeiramente, deverá observar quanto à finalidade do interesse do controlador,

se esta possui legi�midade sobre a ação de tratamento ou não.

Após a coleta dos dados e iden�ficado o interesse do �tular e do controlador, é

necessário que o controlador reflita se os dados podem a�ngir o mesmo resultado caso

u�lize uma quan�dade de dados e qual seria o impacto no �tular, conforme relata Bioni

(2019, p. 177) “Uma vez bem ar�culado e iden�ficado o interesse do controlador ou do

terceiro, é necessário verificar se: b.1) os dados coletados são realmente aqueles necessários

(minimização) para se a�ngir a finalidade pretendida.”.

Portanto, nesta fase o controlador deverá observar quanto aos dados que u�lizará, se

há a necessidade de u�lização de todos os dados, visando, sempre, a minimização do

compar�lhamento dos dados, focando somente nos dados necessários.

Na terceira fase, o controlador deverá verificar se o �tular será beneficiado com a

u�lização dos dados deste, conforme Bioni nesta fase deverá ques�onar alguns requisitos:

Deve-se perquirir: c.1) se o novo uso atribuído ao dado está dentro das legí�mas expecta�vas do �tular dos dados. Isso é parametrizado pela noção de compa�bilidade entre o uso adicional e aquele que originou a coleta dos dados pessoais. Eles devem ser próximos um do outro, demandando-se uma análise contextual para verificar se esse uso secundário seria esperado pelo �tular dos dados. Aliás, não foi por outra razão a escolha do termo “legí�mo”, o qual qualifica não só a base legal em questão, mas também o princípio da finalidade; e c.2) de que forma os �tulares dos dados serão impactados, especialmente repercussões nega�vas em termos de discriminação e sobre a sua autonomia (liberdades e direitos fundamentais). (BIONI, 2019, p. 178)

Por úl�mo, verifica-se a transparência quanto a u�lização dos dados e a minimização

dos riscos com o �tular destes, para Bioni:

(...) reforça-se d.1) o dever de transparência. Obje�va-se, com isso, franquear ao cidadão d.2) poder de tomada de decisão para se opor a tal a�vidade de tratamento de dados (opt-out), podendo optar por estar fora do que considera ser incompa�vel com as suas legí�mas expecta�vas. Isso porque a legí�ma expecta�va é também dele �tular e é nesse momento que pode levantar a sua voz para controlar seus dados a posteriori, d.3) o controlador deve adotar ações que mi�guem os riscos do �tular dos dados

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(v.g., anonimização dos dados), sendo este o sen�do da previsão da eventual necessidade de elaboração de relatório de impacto à privacidade na LGPD. (BIONI, 2019, p. 178).

Portanto, evidenciado tais u�lizações, seja na seara das bases legais, ou, seja na seara

dos testes e relatórios, o controlador do setor imobiliário ao aplicar tais ensinamentos e

disposi�vos, deverá primeiramente se atentar ao RIPD. Caso a empresa chegue à conclusão

de que a base legal terá de ser o legí�mo interesse, deverá promover o teste de

proporcionalidade (LIA), a fim de assegurar salvaguardas não só ao �tular de dados, mas

também a sua empresa e a sua área de atuação, visto as penalidades administra�vas e

judiciais, possuindo sempre uma polí�ca preven�va de atuação.

5. Considerações Finais

Como visto, a LGPD e a GDPR têm como finalidade principal regular o uso e

compar�lhamento de dados pessoais. Tal regulamento reconhece a relação desproporcional

de poder entre os dos �tulares de dados frente à grandiosidade e responsabilidade dos

agentes de tratamento, como visto nos casos da Amazon e Cyrela.

É notório que com a vinda da LGPD em território brasileiro e com a decisão em

primeira instância do caso Cyrela, abriu-se um ponto de atenção e cuidados necessários com

o compar�lhamento de dados no setor imobiliário, portanto, a par�r de agora com a entrada

plena da lei, as empresas que compõe o setor deverão se enquadrar e se aprofundar cada

vez mais na LGPD, contratando profissionais capazes e especialistas na área, estruturando

cada vez mais o seu negócio e deixando em consonância do que a lei es�pula, adotando

prá�cas e providências capazes de antever o dano, e, assim, fazendo com que haja a

u�lização correta da base legal do legí�mo interesse, bem como, as demais observâncias

consumeristas, devendo respeitar os direitos dos �tulares/consumidores, beneficiando não

só a empresa, mas também o �tular de dados.

De todo modo, o fato da empresa se considerar “adequada” do ponto de vista da

LGPD, não quer dizer que futuramente não poderá vir a ser penalizada por operações

irregulares de compar�lhamento de dados. Por isso, as empresas devem adotar parâmetros,

princípios e medidas de contenção que ensejem maior segurança não só para o �tular como

também para o controlador, visto que o manuseio e o cuidado com os dados serão cada vez

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mais controláveis e previsíveis, saindo da obscuridade anterior à vinda da LGPD. Por

conseguinte, é notável que a lei não impede a ocorrência de eventuais danos ao consumidor,

mas, possui como fito principal regular o tratamento e uso devido dos dados daqueles que

são os mais vulneráveis nesta relação.

Para isso, inicialmente, a empresa deverá realizar um mapeamento para definir e

estabelecer quais dados irá tratar, de quem vai tratar, como vai tratar e quais medidas de

segurança serão adotadas. Após realizado esse mapeamento inicial, a empresa poderá

realizar um RIPD (como esclarecido anteriormente), para que consiga verificar os riscos e

estabelecer todas as jus�fica�vas para a u�lização da base legal do legí�mo interesse.

Adicionalmente, é possível e recomendável que a empresa elabore o LIA (“Legi�mate

Interest Assessment”), para testar efe�vamente se a base legal do legí�mo interesse se

aplica de modo adequado e seguro à operação de compar�lhamento em questão.

Verificado que a base legal a se u�lizar é a do legí�mo interesse, e, após

confeccionado o LIA, o controlador poderá compar�lhar os dados do �tular, resguardando o

seu ônus probatório, guardando para si o teste para que em uma possível intervenção e

solicitação da ANPD, ele possa comprovar que está u�lizando e preenchendo todos os

requisitos já dispostos em lei.

Insta mencionar que ainda quanto a aplicabilidade da base legal, a empresa do ramo

imobiliário deverá conter uma base de dados eficiente e segura, visando sempre a proteção

dos dados do �tular, ou o consen�mento do �tular em algum termo, caso a empresa escolha

aplicar a base legal do consen�mento no caso específico, visto que, na ausência do legí�mo

interesse, poderá se usar do consen�mento deste ou de outras bases legais que venham a se

aplicar adequadamente.

De todo modo, tal u�lização não quer dizer que uma base se sobressai sobre a outra,

mas, sim, visa-se a transparência no negócio jurídico celebrado.

Conclui-se, portanto, que a u�lização da base legal do legi�mo interesse poderá

ocorrer desde que seja adequada ao contexto e passe pelo LIA ou RIPD, a fim de trazer

transparência sobre a sua adequação à operação de tratamento, sem extrapolar as

expecta�vas dos �tulares. Assim, o controlador de dados deverá se atentar a todas as suas

especificidades, compar�lhando dados com respeito aos �tulares e profissionalismo,

visando, sempre, os parâmetros dispostos na lei.

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6. Referências

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