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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E FILOSOFIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PLANEJAMENTO TERRITORIAL MESTRADO PROFISSIONAL SUSTENTABILIDADE E ECONOMIA SOLIDÁRIA: UMA ANÁLISE DOS EMPREENDIMENTOS NO MUNICÍPIO DE VALENTE - BAHIA Uirã Santa Bárbara Oliveira FEIRA DE SANTANA, BAHIA 2017

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Page 1: SUSTENTABILIDADE E ECONOMIA SOLIDÁRIA: UMA ANÁLISE … · SUSTENTABILIDADE E ECONOMIA SOLIDÁRIA: UMA ANÁLISE DOS EMPREENDIMENTOS NO MUNICÍPIO DE VALENTE - BAHIA Relatório Final

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E FILOSOFIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PLANEJAMENTO TERRITORIAL MESTRADO PROFISSIONAL

SUSTENTABILIDADE E ECONOMIA SOLIDÁRIA: UMA ANÁLISE

DOS EMPREENDIMENTOS NO MUNICÍPIO DE VALENTE - BAHIA

Uirã Santa Bárbara Oliveira

FEIRA DE SANTANA, BAHIA

2017

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UIRÃ SANTA BÁRBARA OLIVEIRA

SUSTENTABILIDADE E ECONOMIA SOLIDÁRIA: UMA ANÁLISE

DOS EMPREENDIMENTOS NO MUNICÍPIO DE VALENTE - BAHIA

Relatório Final de Pesquisa apresentado pelo

mestrando Uirã Santa Bárbara Oliveira no

Programa de Pós Graduação em Planejamento

Territorial da Universidade Estadual de Feira de

Santana como parte dos requisitos para obtenção

do grau de Mestre.

Orientadora: Prof. Drª Acácia Batista Dias

Co-orientador: Prof. Dr. Ildes Ferreira de Oliveira

Feira de Santana, Bahia

2017

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Dedico este trabalho a toda a minha família, em especial ao meu filho Cauã.

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AGRADECIMENTOS

O que seria de mim se eu não estivesse rodeado de tantas pessoas boas? Só tenho

realmente a agradecer. Primeiramente, à minha família – ao meu pai Ismael, à

minha mãe Márcia, às minhas irmãs Tiara e Indira – pela base, pelo exemplo, pelo

amor, por serem meu porto seguro. Agradeço à minha mulher Fabiana pela

convivência e paciência e ao meu filho Cauã por ter se tornado a minha motivação a

continuar a luta nos momentos de dificuldade. Aos meus colegas de curso, agradeço

pela amizade e companheirismo. Aos professores do curso e dos seminários, o meu

muito obrigado pela aprendizagem. Neste processo, não tenho palavras para

agradecer ao meu coorientador Ildes pelo encorajamento inicial e posterior

acompanhamento, sempre dedicado e objetivo. Agradeço profundamente aos

professores Gildásio e José Raimundo pela disponibilidade, pelas sugestões e por

terem contribuído diretamente com esta pesquisa. Um agradecimento especial à

Fundação APAEB, à SENAES e a cada um dos representantes dos

empreendimentos, que fizeram com que este trabalho se tornasse realidade: Juciano

Santos Oliveira, Edicarlos Araújo, Eliete Oliveira dos Santos, Josemira Gonzaga,

Elione Alves de Souza, Irani Lima de Oliveira, Eline Oliveira, Cleonice da Costa

Araújo, Marizete Lopes dos Santos Pereira, Ana Mary Silva dos Reis Cruz, Elienai

Costa da Silva Cunha, Maria Elza de Oliveira Santiago, Suzana de Almeida Silva e

Jéssica de Lima Souza. Por fim, um agradecimento imensurável à minha

especialíssima orientadora Acácia. Com muita dedicação, ética, respeito e carinho,

ela conduziu este trabalho de forma eficiente e responsável, fazendo com que os

objetivos fossem alcançados conforme esperado. Agradeço pela confiança, pela

persistência, pelas horas dedicadas de trabalho, pelas sugestões, pelas

reclamações... Muitíssimo obrigado por tudo, de coração!

“A vida não consiste em ter boas cartas na mão, e sim em jogar

bem com as que se tem”. (Josh Billings)

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RESUMO

Com os impactos gerados pelo sistema capitalista, ações voltadas à sustentabilidade são necessárias para garantir um ambiente com condições sociais e ambientais adequadas para a população. Neste sentido, a economia solidária se apresenta como alternativa viável de desenvolvimento econômico e sustentável frente ao capitalismo desigual do mercado globalizado. Entretanto, as barreiras enfrentadas pelos empreendimentos de economia solidária são desafiadoras. Este estudo se propõe a analisar a sustentabilidade dos empreendimentos de economia solidária no município de Valente, Bahia. A pesquisa identifica e caracteriza os empreendimentos em atividade no município com base nos registros da Fundação de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável e Solidário da Região Sisaleira e no Cadastro Nacional de Empreendimentos Econômicos Solidários. O município de Valente possui um histórico de desenvolvimento de experiências de agricultura familiar e economia solidária de longas datas, com presença significativa de movimentos sociais. Atualmente registra treze empreendimentos em atividade, distribuídos nas zonas rural e urbana. Destes, três foram selecionados por apresentar maior quantidade de associados/cooperados e colaboradores para a realização de análise da sustentabilidade a partir das dimensões social, ambiental e econômica. Na busca pelo equilíbrio entre essas dimensões reside um dos maiores desafios da sustentabilidade. Este estudo é de base qualitativa, cuja produção de dados teve como referência as entrevistas realizadas com os empreendimentos. Um esboço de um sistema de indicadores de sustentabilidade para economia solidária foi desenvolvido para auxiliar nesta análise e testado na prática com um dos empreendimentos selecionados. Os produtos finais foram um catálogo ilustrado com as características dos empreendimentos, destacando histórico, produtos, atividades, objetivos e contatos e um relatório final em forma de dissertação com a análise da sustentabilidade dos selecionados. Os resultados demonstraram que, apesar dos empreendimentos possuírem capacidade produtiva instalada para o seu funcionamento, a busca pela sustentabilidade enfrenta maiores dificuldades geralmente na dimensão econômica, principalmente na comercialização.

Palavras-chave:

Sustentabilidade; Economia Solidária; Empreendimentos; Valente.

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ABSTRACT

Due to the impact of capitalism, actions focused on sustainability are necessary to guarantee an environment with social and ecological conditions for people. In this context, solidary economy presents itself as an acceptable alternative for economical and sustainable development against the unequal capitalism of the globalized market. However, the barriers faced by solidarity economy companies are challenging. This sturdy proposes to analyze the sustainability of solidarity economy companies in the city of Valente, Bahia. The research identifies and characterizes the companies in activity in the city based on the records of the Foundation of Support for Sustainable Development and Solidarity of the Sisal Region and in the National Register of Economic Solidarity Projects. Valente has a history of development of experiences about family farming and solidary economy of long dates, with significant presence of social movements. Currently there are thirteen enterprises in activity, distributed in the rural and urban areas. From these, three were selected because they presented a greater number of associates / cooperators and collaborators to be analyzed about their sustainability from the social, environmental and economic dimensions. In the pursuit for the balance of these dimensions there is one of the greatest challenges of sustainability. This study has a qualitative basis, whose production of data was based on the interviews conducted with the enterprises. An outline of a system of sustainability indicators for solidarity economy was developed to assist in this analysis and tested in practice with one of the enterprises. The final products were: an illustrated catalog with the characteristics of the projects, history, products, activities, objectives and contacts and; a final report as a dissertation with the sustainability analysis of the three selected ones. The results showed that, although the enterprises have installed productive capacity for their operation, the search for sustainability faces greater difficulties usually in the economic dimension, mainly in the commercialization. Keywords

Sustainability; Solidarity Economy; Enterprises; Valente.

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

APEX Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos

BNB Banco do Nordeste do Brasil

BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

CADSOL Cadastro Nacional de Empreendimentos Econômicos Solidários

CAIS Centro de Intercâmbio e Aprendizagem de Saberes

CAR Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional

CEAPE Centro de Apoio aos Pequenos Empreendimentos

CEB Comunidades Eclesiais de Base

CESOL Centro Público de Economia Solidária

CLT Consolidação das Leis do Trabalho

CONAB Companhia Nacional de Abastecimento

CMMAD Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento

CNPJ Cadastro Nacional Pessoa Jurídica

DAP Declaração de Aptidão ao Pronaf

DISOP Instituto de Cooperação Belgo-Brasileira para o

Desenvolvimento Social

EBDA Empresa Baiana Desenvolvimento Agrícola

EES Empreendimento de Economia Solidária

EFA Escola Família Agrícola

EPI Equipamentos de Proteção Individual

ERP Enterprise Resource Planning

ES Economia Solidária

GPS Global Positioning System

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ICM Imposto Sobre Circulação de Mercadorias

IDH Índice de Desenvolvimento Humano

IDH-D Índice de Desenvolvimento Humano para a Desigualdade

IDH-M Índice de Desenvolvimento Humano Municipal

IDHM Índice de Desenvolvimento Humano Médio

IDS Índice de Desenvolvimento Social

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INE Índice do Nível de Educação

INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais

INS Índice do Nível de Saúde do Estado

IPE Índice de Performance Econômica

IPS Índice de Performance Social

IRMCH Índice de Renda Média dos Chefes de Família

ISB Índice dos Serviços Básicos

MDA Ministério do Desenvolvimento Agrário

MDS Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome

MEC Ministério da Educação

MOC Movimento de Organização Comunitária

ONG Organização Não Governamental

ONU Organização das Nações Unidas

PETROBRAS Petróleo Brasileiro S.A.

PIB Produto Interno Bruto

PNAE Programa Nacional de Alimentação Escolar

PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

PRONAGER Programa Nacional de Geração de Emprego e Renda

PSF Programa Saúde da Família

RPB Rede de Produtoras da Bahia

SEAGRI Secretaria de Agricultura, Pecuária, Irrigação Pesca e

Aquicultura do Estado da Bahia

SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

SEDES Secretaria Estadual de Desenvolvimento Social e Combate à

Pobreza da Bahia

SENAES Secretaria Nacional de Economia Solidária

SESC Serviço Social do Comércio

SESI Serviço Social da Indústria

SIF Selo de Inspeção Federal

SUS Sistema Único de Saúde

UAC União das Associações Comunitárias do município de Valente

UEFS Universidade Estadual de Feira de Santana

UFBA Universidade Federal da Bahia

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UFRB Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

UNISOL Central de Cooperativas e Empreendimentos Solidários do Brasil

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LISTA DE FIGURAS

Figura 01: Mapa de Valente no Território do Sisal p. 45

Figura 02: Localização dos Empreendimentos de Economia Solidária do Município

de Valente – Bahia p. 58

Figura 03: Associados ou Cooperados dos Empreendimentos por sexo p. 59

Figura 04: Colaboradores dos Empreendimentos por sexo p. 60

Figura 05: Localização do empreendimento ACPC Sisal p. 61

Figura 06: Localização do empreendimento APAEB Laticínio p. 64

Figura 07: Localização do empreendimento COPAL p. 66

Figura 08: Localização do empreendimento COOPEV p. 68

Figura 09: Localização do empreendimento COOPERAFIS p. 70

Figura 10: Localização do empreendimento Delícias do Campo p. 73

Figura 11: Localização do empreendimento Doce Mistura p. 75

Figura 12: Localização do empreendimento Mistura da Terra p. 77

Figura 13: Localização do empreendimento Mulheres de Luta p. 79

Figura 14: Localização do empreendimento Mulheres Guerreiras de Tanquinho p. 81

Figura 15: Localização do empreendimento União p. 83

Figura 16: Localização do empreendimento Videira p. 84

Figura 17: Localização do empreendimento Projeto Integrado de Jovens do

Cabochard p. 86

Figura 18: Pirâmide da Sustentabilidade p. 126

Figura 19: Quadro da Sustentabilidade p. 127

Figura 20: Sustentabilidade Social x Ambiental p. 138

Figura 21: Sustentabilidade Econômica x Ambiental p. 138

Figura 22: Sustentabilidade Econômica x Social p. 139

Figura 23: Pirâmide da Sustentabilidade da Cooperafis p. 140

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LISTA DE QUADROS

Quadro 01: Elementos do Tripé da Sustentabilidade Empresarial p. 34

Quadro 02: Caracterização da ACPC Sisal p. 63

Quadro 03: Caracterização da APAEB Laticínio p. 65

Quadro 04: Caracterização da COPAL p. 67

Quadro 05: Caracterização da Coopev p. 69

Quadro 06: Caracterização da Cooperafis p. 72

Quadro 07: Caracterização do Grupo Delícias do Campo p. 74

Quadro 08: Caracterização do Grupo Doce Mistura p. 76

Quadro 09: Caracterização do Grupo Mistura da Terra p. 78

Quadro 10: Caracterização do Grupo Mulheres de Luta p. 80

Quadro 11: Caracterização do Grupo Mulheres Guerreiras de Tanquinho p. 82

Quadro 12: Caracterização do Grupo União p. 83

Quadro 13: Caracterização do Grupo Videira p. 85

Quadro 14: Caracterização do Projeto Integrado de Jovens do Cabochard p. 87

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...................................................................................................... 14

CAPÍTULO 1. SUSTENTABILIDADE E ECONOMIA SOLIDÁRIA: UMA DISCUSSÃO TEÓRICA ....................................................................................... 27

1. Desenvolvimento Sustentável .................................................................... 27 2. Sustentabilidade: discussão conceitual ....................................................... 30 3. Dimensões da Sustentabilidade .................................................................. 33 4. Economia Solidária: discussão conceitual .................................................. 36 5. Economia Solidária e Sustentabilidade ....................................................... 39

CAPÍTULO 2. ECONOMIA SOLIDÁRIA NO MUNICÍPIO DE VALENTE ........... 42

1. Caracterização do Município de Valente – Bahia ............................. .......... 42 2. Empreendimentos no Município de Valente – Bahia ........................ .......... 46 3. Caracterização dos Empreendimentos........................................................ 57

CAPÍTULO 3. SUSTENTABILIDADE DOS EMPREENDIMENTOS .................... 88

1. ACPC Sisal ................................................................................................. 88 2. APAEB Laticínio .......................................................................................... 95 3. Cooperafis .................................................................................................102

CAPÍTULO 4. SISTEMA DE INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE PARA EMPREENDIMENTOS DE ECONOMIA SOLIDÁRIA – UM ESBOÇO ............. 111

1. Indicadores de Sustentabilidade e Economia Solidária .............................111 2. Sistemas e Metas................................................................................... .....112 3. Questões, Objetivos, Indicadores e Critérios de Performance...................115 4. Medição e Representação Gráfica............................................................. .125 5. Experimentação Prática..............................................................................128

CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... .... 141

REFERÊNCIAS .................................................................................................. 145

APÊNDICE I – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ..... 155

APÊNDICE II – ROTEIRO DA ENTREVISTA ................................................... . 157

APÊNDICE III – CATÁLOGO ............................................................................. 162

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INTRODUÇÃO

No mundo contemporâneo globalizado, o dinamismo do capitalismo tem

exigido cada vez mais flexibilidade dos empreendimentos1 para se adaptarem e

garantirem a sua sobrevivência.

O momento é de mudanças, sejam sociais, políticas, ambientais etc.,

causadas por diferentes fatores, tanto resultantes do próprio movimento da

humanidade, muitas vezes oriundos das pesquisas e das novas tecnologias, quanto

provenientes do uso impróprio dos recursos naturais. Destacam-se as mudanças

ambientais, geradas pelas relações inadequadas do sujeito com a natureza, os quais

não devem ser considerados como elementos distintos, mas partes de uma unidade

orgânica de interdependência.

Diferentemente das mudanças que aconteceram no mundo anteriormente ao

século XX – principalmente no final, quando levavam séculos para se concretizar,

estas mudanças citadas tem ocorrido muito rapidamente, em algumas décadas, e os

impactos gerados não têm sido solucionados na mesma velocidade (EISLER, 2008).

Da mesma forma, os resultados consequentes destas mudanças e do

crescimento do sistema capitalista têm contribuído para o esgotamento das

condições sociais a níveis tão baixos que as ações governamentais neste sentido

não tem sido capazes de amenizar os problemas causados principalmente pela

desigualdade.

Como é próprio da lógica do capital, para se alcançar maiores taxas de lucratividade, as empresas procuram aumentar a produtividade através de investimentos em novas formas de gestão e tecnologias, gerando um aumento da quantidade de trabalho morto em relação ao trabalho vivo (aumento da composição orgânica do capital), acarretando num tempo maior de retorno do investimento (maior tempo de rotação do capital). Com a inserção de novas tecnologias e ganhos de produtividade, gera-se a possibilidade de um processo de barateamento dos custos da produção através da demissão de mão de obra, uma vez que poderá se produzir mais, com menos funcionários (WELLEN, 2012, p. 37).

A redução da desigualdade social continua sendo um dos maiores desafios

da sociedade. Dos mais de sete bilhões de habitantes do nosso planeta, cerca de

um bilhão de pessoas ainda vivem abaixo da linha de pobreza e metade de toda a

renda global está concentrada nas mãos de apenas 8% da população mais rica

1 Aqui considerados no geral como associações, cooperativas, projetos, iniciativas e instituições.

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(ONU, 2014). A busca por um meio de inserção dos menos favorecidos em um

patamar de mínimas condições de qualidade de vida é o desafio de muitos dos

países, dentre eles o Brasil. Incorporá-los à população economicamente ativa e

trazê-los para o mercado de trabalho e, consequentemente, para o mercado

consumidor, é outro passo importante a ser considerado.

No Brasil, apesar dos relatórios demonstrarem um avanço nas últimas

décadas, os índices de desigualdade estão entre os maiores do mundo. Segundo o

relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) de 2014,

o Brasil tem um Índice de Desenvolvimento Humano ajustado à Desigualdade2 (IDH-

D) de 0,542, abaixo da média dos países do mesmo nível de Índice de

Desenvolvimento Humano3 (IDH) e dados similares (PNUD, 2015). Segundo o

PNUD (2017), o IDH do Brasil foi medido em 0,755. Isso significa que o país precisa

avançar bastante com programas e ações de inclusão e igualdade social para

alcançar o nível dos países que hoje são referência.

Na Bahia, a situação é ainda pior. O Índice de Desenvolvimento Humano

Médio (IDHM) é de 0,660, muito próximo do estado federativo com pior IDHM do

Brasil, calculado a 0,631, que é Alagoas. Apesar da dimensão da Longevidade estar

acima da média geral, calculado em 0,783, a dimensão Educação tem resultado

bastante negativo, calculado em 0,555. Já a dimensão Renda fica próximo da média,

calculado a 0,663 (PNUD, 2013).

No município de Valente, o Índice se agrava, pois está abaixo da média do

estado, calculado a 0,623, a dimensão da Educação apresenta resultado baixo, com

valor de 0,568, a dimensão Longevidade é calculada a 0,729, enquanto a Renda

totaliza 0,623 (PNUD, 2013). Isso demonstra uma situação de carência da

população do município, principalmente na área de educação.

A situação dos municípios baianos, principalmente aqueles que ficam em

regiões desprovidas de riquezas naturais, como a maioria das cidades da região

semiárida da Bahia, onde Valente se situa, demonstra a necessidade cada vez

maior de ações sustentáveis.

Cabe aos cidadãos trabalharem a conscientização sustentável em nível

global, como cita Gassenferth (2015):

2 Índice que recalcula o IDH levando em consideração a desigualdade.

3 Criado por Mahbub ul Haq e Amartya Sen, o índice é utilizado como referência mundialmente pela

ONU com o objetivo de contrapor o índice Produto Interno Bruto (PIB), levando em considerando indicadores das dimensões renda, saúde e educação.

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Como são as pessoas que lideram as corporações e formulam as políticas públicas ao assumirem cargos no governo, só haverá sinceridade de intenções quanto à luta pela sustentabilidade quando aquelas estiverem realmente convictas de que não há outro caminho a seguir para assegurar o melhor futuro para o nosso planeta, bem como para todos os seres vivos que nele habitam (GASSENFERTH, 2015, p.55).

O desafio desta sociedade é fazer com que as pessoas que nela estão

inseridas comecem a fazer a sua parte e entendam que o equilíbrio ambiental

depende de ações racionais que não prejudiquem o meio em que vivemos. Este

equilíbrio dependerá da formação de uma população consciente de que agora se faz

necessário pensar não mais apenas no momento presente, mas, especialmente, nas

ações que refletirão seus impactos para as populações no futuro.

Como cita Eisler (2008), se referindo à necessidade de construção de uma

economia solidária, é preciso ir além:

Estaremos nos iludindo se acharmos que poderemos resolver os nossos problemas ambientais tentando apenas introduzir tecnologias menos poluentes ou mudando os padrões de consumo. Mesmo que alcançássemos êxito nesses esforços, o que é duvidoso sem que nos aprofundemos, novas crises surgirão se não realizarmos mudanças mais fundamentais. (EISLER, 2008, p.33).

Neste cenário, a prática de atividades econômicas mais justas, com princípios

igualitários e coletivos, estes diferentes da busca inconsequente pelo lucro do

capitalismo, ganha força então como alternativa para o desenvolvimento. A

economia solidária nasceu na Europa logo após o capitalismo industrial,

impulsionada pelo impacto socioeconômico gerado por este como o

empobrecimento dos artesãos (SINGER, 2003). E como afirma SANTANA JUNIOR,

(2006, p. 4), “Na atualidade a economia solidária emerge como resposta à tarefa de

pensar e lutar por alternativas econômicas e sociais que o limiar do século XXI

exige”.

Fortalecida nos momentos de crise do capital, no Brasil veio a ganhar força

somente no final do século passado, como destacado por Singer (2003, p.122):

“Com a crise social das décadas perdidas de 1980 e 1990 (...) a economia solidária

reviveu no Brasil. Ela assumiu a forma de cooperativa ou associação produtiva”.

Antes disso, se limitava a alguns casos isolados. Wellen (2012) acresce que as

atividades ligadas à economia solidária tem se desenvolvido em momentos de crise

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do capital, todavia ressalta que apesar de se apresentar como alternativa, nem

sempre se mostra contrárias ao sistema capitalista:

É fato que grande parte dessas experiências sociais surgiu ou se desenvolveu a partir da crise do capital e, em consequência, da crise das instituições capitalistas. Todavia, não se pode, a partir dessa evidência, inferir que as respostas que resultaram deste contexto brotaram a partir de lacunas deixadas por estas entidades, ou pior, que possuem uma lógica ou função social contrária a estas (WELLEN, 2012, p.54)

Faz-se necessário ressaltar que não se pode considerar a economia solidária

como uma atividade meramente corretiva às crises capitalistas. As discussões sobre

o consumo racional, legal e sustentável registram novos contornos e desperta

interesses em diferentes espaços enquanto possíveis norteadoras do futuro, e, base

para gestão organizacional eficiente. Esta necessidade é afirmada por Eisler (2008,

p.16):

Com a crescente velocidade da globalização econômica – quando corporações que controlam os fluxos financeiros e tecnológicos internacionais ainda agem de acordo com regras não-solidárias – a necessidade de uma economia solidaria é mais urgente do que nunca (EISLER, 2008, p.16).

A economia solidária tem se desenvolvido como uma possível alternativa ao

capitalismo e cada vez mais diretamente se trabalha com políticas públicas voltadas

ao fortalecimento dos empreendimentos. Avançar e superar os desafios,

principalmente a fim de tornar os mesmos sustentáveis, é um dos focos da

Secretaria Nacional de Economia Solidária, através da aprovação do Plano Nacional

de Economia Solidária:

Apoiar e fortalecer 20 mil empreendimentos econômicos, oferecendo condições de produção, comercialização e consumo, que respeitem parâmetros sustentáveis e solidários e promover a formação de 200 mil pessoas nos próximos cinco anos. Esses são alguns dos objetivos do 1° Plano Nacional de Economia Solidária, aprovado na quinta-feira (18) pela Resolução Nº 06 de 26 de março de 2015 do Conselho Nacional de Economia Solidária (BRASIL, 2015).

Apesar de o plano representar, mesmo que teoricamente, um grande avanço,

na prática os resultados dependerão diretamente de comprometimento do poder

público para alcançar tais metas e objetivos.

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A função social dos empreendimentos de economia solidária, seguindo os

princípios básicos da propriedade coletiva ou associada do capital e o direito à

liberdade individual, tem trazido resultados positivos (SINGER, 2002). Entretanto, o

resultado econômico-financeiro positivo a fim de manter o empreendimento em

atividade tem sido um desafio. Uma evidência disso é que no Brasil, 17,2% dos

empreendimentos de economia solidária afirmam que os resultados econômicos são

insuficientes para pagar as despesas e 38,9% dos mesmos informam a suficiência

apenas para pagar as despesas, sem nenhuma sobra. Ou seja, a maioria dos

empreendimentos consegue, no máximo, empatar despesas e receitas

(SCHWENGBER, 2012). Por isso, pode-se afirmar que é questionável a viabilidade e

a consequente sustentabilidade destes empreendimentos.

A sobrevivência dos empreendimentos de economia solidária em longo prazo

tem sido difícil, uma vez que os mesmos estão inseridos no mercado capitalista e

assim, um dos desafios é harmonizar os princípios solidários às práticas e regras do

mercado capitalista. Paralelo a isso, os produtos comercializados por estes

empreendimentos normalmente concorrem diretamente com produtos de empresas

capitalistas – geralmente em escala, com baixo custo de produção, melhor

posicionamento no mercado e, mesmo tendo geralmente a necessidade de uma

margem de lucro maior, conseguem lançar os produtos no mercado com um preço

mais atrativo ao consumidor. Isto porque estas empresas, principalmente as de

médio e grande porte, são, na maioria das vezes, proprietários dos meios de

produção e da tecnologia, além de possuir fácil acesso ao crédito e ao capital, entre

outros recursos e vantagens.

Schwengber (2012, p.36) define que “a economia solidária se propõe a ser

uma política estratégica de desenvolvimento, em oposição ao modelo capitalista”.

Essa autora acrescenta que, apesar do preconceito na discussão da dimensão

econômica da economia solidária, esta é fundamental para o sucesso ou fracasso

do empreendimento.

Como pensar a economia solidária como um novo sistema econômico de

relações mais justas e solidárias se os empreendimentos não forem capazes de

competir com as empresas puramente capitalistas, uma vez que estão inseridos no

mesmo mercado? É possível propiciar a estes empreendimentos condições iguais

de competitividade para tal? Este é um grande desafio para aqueles que acreditam

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na proposta da economia solidária. A fim de avaliar a capacidade de competir e se

manter neste mercado, a análise de indicadores para garantir a sustentabilidade

destes se faz fundamental.

A discussão de indicadores, tendo como referência a sustentabilidade dos Empreendimentos Econômicos Solidários, é crucial para que a Economia Solidária se consolide e se desenvolva como atividade e proposta econômica, e não apenas como um movimento político ou como um vislumbre utópico de uma sociedade futura (MAZZEU, 2012, p.137).

A economia solidária desponta, portanto, como uma proposta de economia

através da qual se produz e se comercializa determinados produtos em um escopo

de relações de produção coletivas, prevalecendo características como a união, a

solidariedade e a cooperação no lugar da exploração e da apropriação de mais valia.

A mesma está inserida em um mercado capitalista e a sobrevivência e competição

neste mercado tem sido desafiadoras. Dessa forma, uma análise acerca das

principais dificuldades dos empreendimentos de economia solidária se faz

necessário a fim de compreender os desafios para se tornarem sustentáveis.

O autor deste trabalho atualmente é um dos 230 colaboradores da

Associação de Desenvolvimento Sustentável e Solidário da Região Sisaleira –

APAEB. Filho de um ex-fundador e diretor da APAEB, acompanhou o processo de

formação, crescimento, crises e outras fases desde a infância, informalmente. Atua

diretamente no empreendimento desde 2008, e a partir de 2011 exerce cargo de

liderança, contribuindo com o processo de gestão comercial e financeira e buscando

a sustentabilidade do empreendimento, o qual, historicamente, tem um papel

socioambiental e econômico importante na busca do desenvolvimento sustentável

no município de Valente no Território do Sisal.

Também fez parte do grupo Ashoka Jovem de filhos de empreendedores

sociais por volta do ano de 2005, mas não se manteve no projeto. Antes disso, o

autor também atuou com microcrédito solidário durante mais de um ano no Centro

de Apoio aos Pequenos Empreendimentos da Bahia (CEAPE), trabalhando

diretamente com empreendimentos de economia solidária, mas não somente.

Desde a graduação em Administração na Universidade Estadual de Feira de

Santana (UEFS), buscou desenvolver trabalhos sobre a APAEB e sobre

Sustentabilidade, por acreditar que este é um dos temas que pode fazer a diferença

em prol de um mundo melhor. Além da Monografia, foram vários trabalhos e alguns

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20

artigos voltados ao tema. Por isso, a busca pela imparcialidade foi constante para

garantir os resultados da pesquisa.

O processo de escolha do município de Valente levou em consideração

aspectos logísticos, uma vez que o autor reside atualmente no município, o histórico

de movimentos sociais e economia solidária do município e a possibilidade de apoio

a estes empreendimentos pós pesquisa, algo que o autor considera fundamental.

O objetivo geral deste trabalho foi analisar o nível de sustentabilidade dos

empreendimentos de economia solidária no município de Valente e, como objetivos

específicos, optou-se por:

Caracterizar os empreendimentos de economia solidária em atividade no

município de Valente;

Analisar a sustentabilidade dos empreendimentos de economia solidária no

âmbito das dimensões social, ambiental e financeira;

Produzir um catálogo contendo a caracterização e produtos comercializados

pelos empreendimentos solidários no município de Valente.

Para alcançar estes objetivos, a produção de conhecimento científico se fez

fundamental e, para tal, foi necessário trabalhar uma pesquisa organizada e

sistemática, com objetivos claros e procedimentos metodológicos bem definidos

(APPOLINÁRIO, 2011).

Gil (1999, p. 42) considera a pesquisa como um “processo formal e

sistemático de desenvolvimento do método científico. O objetivo fundamental da

pesquisa é descobrir respostas para problemas mediante o emprego de

procedimentos científicos”. Sendo assim, procedimentos metodológicos bem

estruturados são fundamentais para alcançar os objetivos esperados pela pesquisa.

O trabalho realizado foi calcado em pesquisa bibliográfica, envolvendo

diferentes referências e utilizou dados preponderantemente qualitativos. A análise

destes dados envolveu também a coleta de informações diretamente relacionadas

com as organizações: publicações, periódicos, demonstrativos e entrevista com

representantes dos empreendimentos selecionados.

Do ponto de vista da natureza da pesquisa, considera-se que foi realizada

uma pesquisa aplicada, uma vez que objetiva, mesmo que não de imediato, gerar

conhecimentos para solução de problemas reais específicos da prática cotidiana dos

empreendimentos no âmbito local (SILVA; MENEZES, 2001).

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21

Do ponto de vista da abordagem da pesquisa, esse estudo se caracteriza

como qualitativo, uma vez que o fenômeno estudado é complexo, dinâmico e

subjetivo. De acordo com Gunther (2006), a pesquisa qualitativa permite uma

interação dinâmica entre o pesquisador e o objeto de estudo, com postura ativa.

Do ponto de vista dos objetivos da pesquisa, esta se caracteriza como

exploratória, uma vez que trabalhou prioritariamente com levantamento bibliográfico

e entrevistas com representantes dos empreendimentos selecionados (GIL, 1991). O

intuito foi proporcionar maior familiaridade com o problema.

Para identificação dos empreendimentos de economia solidária em atuação

no município de Valente, se utilizou as bases de dados e cadastros de entidades e

órgãos voltados ao trabalho com empreendimentos de economia solidária. No

âmbito nacional, foi considerada a base do Cadastro Nacional de Empreendimentos

Solidários (CADSOL), vinculada à Secretaria Nacional de Economia Solidária

(SENAES). Já no âmbito estadual e municipal, foi considerada a base cadastral da

Fundação de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável e Solidário da Região Sisaleira

(Fundação APAEB). Vale ressaltar que não foram encontrados registros publicados

com um cadastro dos empreendimentos do estado por parte da Secretaria Estadual

do Trabalho, Emprego e Renda da Bahia.

Segundo a Fundação APAEB (2016), nove são os empreendimentos

solidários hoje acompanhados por esta instituição. São eles APAEB Sisal, APAEB

Laticínio, Grupo Doce Mistura, Grupo Mistura da Terra, Grupo Videira, Grupo

Sabores da Terra, Comunidade de Cabochard, Grupo Delícias do Campo e

Cooperafis apesar de haver outros conhecidos (porém não acompanhados) nas

comunidades de Queimada do Curral, Valilândia e Poço.

Já de acordo com o CADSOL (2016), existem atualmente 11 (onze)

empreendimentos. São eles a ACPC Sisal (APAEB Sisal), APAEB Valente (APAEB

Laticínio), Associação Comunitária Recreativa e Rural de Tanquinho, Associação de

Desenvolvimento Sustentável e Solidário da Região Sisaleira, Conselho de

Moradores Santaritense, Cooperativa de Pequenos Empreendedores de Valilândia e

Região, Grupo Sabores da Terra, Grupo União, Mulheres de Luta, Mulheres

Guerreiras de Tanquinho e Projeto Integrado de Jovens de Cabochard.

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22

As listagens das duas entidades possuem em comum os empreendimentos

APAEB Sisal, APAEB Laticínio, Grupo Sabores da Terra e o Projeto Integrado de

Jovens de Cabochard.

Do total de empreendimentos, 13 (treze) foram identificados para compor o

catálogo e três foram desconsiderados, conforme descrição abaixo:

Associação Comunitária de Produção e Comercialização do Sisal – ACPC

Sisal (APAEB Sisal);

Associação Comunitária Caprinocultura Solidária – APAEB Valente

(APAEB Laticínio);

Associação Comunitária Recreativa e Rural de Tanquinho – esta entidade

não comporá o catálogo por não possuir produção e comercialização. Vale

ressaltar que parte das pessoas envolvidas com a Associação faz parte do

Grupo Mulheres Guerreiras de Tanquinho;

Associação de Desenvolvimento Sustentável e Solidário da Região

Sisaleira – esta entidade não comporá o catálogo devido à ausência de

produção e comercialização. Desde o início do século XXI, a entidade

subdividiu-se e deu origem a outras entidades, tais como a Fundação

APAEB, a ACPC Sisal e APAEB Laticínio;

Comitê de Pesquisa Agropecuária Local – Copal (Grupo Sabores da

Terra);

Conselho de Moradores Santaritense – esta entidade não comporá o

catálogo pois não possui produção e comercialização. Vale ressaltar que

parte das pessoas envolvidas com a Associação faz parte do Grupo

Mistura da Terra;

Cooperativa de Pequenos Empreendedores de Valilândia e Região –

Coopev;

Cooperativa Regional de Artesãs Fibras do Sertão – Cooperafis;

Grupo Delícias do Campo;

Grupo Doce Mistura;

Grupo Mistura da Terra;

Grupo União;

Grupo Videira

Mulheres de Luta;

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23

Mulheres Guerreiras de Tanquinho;

Projeto Integrado de Jovens de Cabochard;

A metodologia consistiu na realização de um levantamento de todos os

empreendimentos em atividade no município de Valente (BA) e sua respectiva

caracterização, bem como as ações e práticas desenvolvidas em cada

empreendimento. O resultado alcançado é um mapeamento com as seguintes

informações: razão social, nome fantasia, Cadastro Nacional Pessoa Jurídica

(CNPJ), data de fundação, telefone para contato, endereço, atividade principal,

missão, visão, objetivos, número de associados ou cooperados, número de

colaboradores e produtos/serviços oferecidos.

Para realizar a localização, cada empreendimento foi visitado a fim de ser

georreferenciado. Assim, utilizou-se um GPS (Global Positioning System) de

precisão para identificar a Latitude e Longitude e, posteriormente, através de

Sistemas de Informações Geográficas (software QGIS), foram confeccionados

mapas com a localização de cada empreendimento e um mapa geral com todos os

empreendimentos do município. A base de dados utilizada para aquisição da

imagem com metadados foi do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)

e Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), pois as mesmas apresentaram

imagem em melhor resolução (maior quantidade de pixels) e maior clareza (menor

quantidade de nuvens). Durante cada visita, as entrevistas foram realizadas para

caracterização do empreendimento e fotos foram tiradas dos produtos, das pessoas

e do espaço físico para a confecção do catálogo. Com isso, cumpriu-se o primeiro

objetivo específico.

A partir da identificação destes empreendimentos, alguns deles foram

selecionados para compor o estudo. Este foi o primeiro passo para alcançar o

segundo objetivo específico, em que a proposta era analisar a gestão da

sustentabilidade social, ambiental e financeira nos empreendimentos. Os seguintes

critérios foram adotados para seleção de três empreendimentos e prosseguimento

do projeto, divididos em classificatórios e eliminatórios. Critérios eliminatórios:

Possuir os processos de produção e comercialização;

Possuir registro CNPJ;

Possuir comercialização formal - emissão de nota fiscal;

Possuir mais de um cliente;

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Possuir mais de 10 Associados/Cooperados;

Apresentar regularidade de vendas (através de notas fiscais emitidas);

Apresentar disponibilidade de produtos.

Segundo os critérios eliminatórios, quatro entidades foram classificadas:

APAEB Laticínio, ACPC Sisal, Cooperafis e Coopev.

Os seguintes critérios classificatórios foram adotados para seleção dos

empreendimentos, por ordem de prioridade. A proposta foi estudar aqueles que

possuíam maior número de beneficiados diretos e maior impacto na economia local

(levando em consideração faturamento).

1. Quantidade de associados ou cooperados;

2. Quantidade de colaboradores – maior quantidade de pessoas formalmente

envolvidas diretamente no trabalho do empreendimento (não

associados/cooperados).

Segundo os critérios classificatórios, as entidades escolhidas foram APAEB

Laticínio, ACPC Sisal e Cooperafis por apresentar maior quantidade de pessoas

envolvidas: APAEB Laticínio – 35 sócios ativos e 7 colaboradores (funcionários em

regime CLT); ACPC Sisal – 125 sócios ativos e 230 colaboradores (funcionários em

regime CLT); Cooperafis – 120 sócias ativas e nenhum colaborador; Coopev – 26

sócias ativas e nenhum colaborador. Dessa forma, dos quatro empreendimentos, a

Coopev não foi classificada para a análise.

Como se considera previamente que todos os empreendimentos listados e

cadastrados nestes órgãos/entidades sejam de economia solidária, um passo

importante após esta seleção foi confirmar se estas instituições selecionadas podem

realmente ser consideradas como empreendimentos de economia solidária. É

importante ressaltar que poderia haver substituição dos empreendimentos caso não

apresentam tais práticas. Para isso, levou-se em consideração o histórico do

empreendimento e o modelo de gestão empregado atualmente e avaliou-se

seguindo as características dos Empreendimentos de Economia Solidária, definidas

pela SENAES (2006, p.13):

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a) coletivas – organizações suprafamiliares, singulares e complexas, tais como: associações, cooperativas, empresas autogestionárias, grupos de produção, clubes de trocas, redes e centrais etc.; b) cujos participantes ou sócios(as) são trabalhadores(as) dos meios urbano e rural que exercem coletivamente a gestão das atividades, assim como a alocação dos resultados; c) permanentes, incluindo os empreendimentos que estão em funcionamento e aqueles que estão em processo de implantação, com o grupo de participantes constituído e as atividades econômicas definidas; d) com diversos graus de formalização, prevalecendo a existência real sobre o registro legal e; e) que realizam atividades econômicas de produção de bens, de prestação de serviços, de fundos de crédito (cooperativas de crédito e os fundos rotativos populares), de comercialização (compra, venda e troca de insumos, produtos e serviços) e de consumo solidário.

Apesar de apresentar características diferentes, todos os três

empreendimentos selecionados para este estudo foram classificados como de

economia solidária. A avaliação acerca de cada empreendimento foi explicitada no

segundo capítulo. Silva (2012) defende que qualquer análise voltada à

sustentabilidade dos empreendimentos de economia solidária deve levar em

consideração a tipologia variada existente. Enquanto alguns empreendimentos se

caracterizam por facilitar a troca de serviços e produtos, outros se caracterizam por

organizar a comercialização dos produtos e serviços dos associados, outros

somente para favorecer o acesso ao crédito e organizar as finanças solidárias, como

bancos solidários, etc. Enfim, devido a essa variedade, foi feita uma análise geral

das informações e levada em consideração a conjuntura histórica para definir a

aceitação ou não para a pesquisa.

Os empreendimentos selecionados para este estudo permitiram a análise da

sustentabilidade de cada empreendimento e cruzamento de informações para

identificar situações comuns do cotidiano entre eles e o que representam suas

singularidades. Esta análise foi feita através da pesquisa bibliográfica e documental

envolvendo análise de dados secundários, utilizando publicações, relatórios e

documentos dos empreendimentos selecionados e também entrevista com

representantes dos mesmos. A análise baseou-se em informações sobre as ações

realizadas nos âmbitos ambiental e social e nos demonstrativos financeiros. Assim

cumpriu-se o segundo objetivo específico.

A pesquisa bibliográfica e documental acerca destes empreendimentos

objetivou identificar informações sobre as práticas voltadas ao objeto de estudo.

Neste momento, utilizou-se como base relatórios e documentos internos, mas

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26

também artigos, teses, dissertações, livros e publicações em geral sobre os

mesmos.

Para contribuir com a mensuração da análise da sustentabilidade dos

empreendimentos de economia solidária, um esboço inicial de um Sistema de

Indicadores de Sustentabilidade foi construído (Capítulo 4). Para isto, utilizou-se a

pesquisa bibliográfica e documental acerca do tema “Indicadores de

Sustentabilidade”, utilizando-se a produção identificada em diferentes fontes. Neste

ponto, a escolha dos critérios/indicadores levou em consideração também a

experiência prática do autor.

A entrevista foi realizada posteriormente através de questões subjetivas e

abertas com pelo menos um representante por instituição com foco no tema

abordado, seguindo o “Roteiro” apresentado (Apêndice II). A intenção da entrevista

foi conhecer o cotidiano do empreendimento, suas ações e práticas de economia

solidária, seus avanços e dificuldades acerca das três dimensões estudadas e

também esclarecer possíveis dúvidas sobre o empreendimento. As informações

coletadas foram analisadas utilizando os indicadores estabelecidos para demonstrar

o grau de sustentabilidade de cada empreendimento.

Os produtos finais deste projeto são: um catálogo dos empreendimentos de

economia solidária do município de Valente e; um relatório de pesquisa em formato

de dissertação, uma vez que apresenta, de acordo com a norma 14724:2011 da

ABNT (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2011) o resultado de

um trabalho experimental de tema delimitado com o objetivo de reunir, analisar e

interpretar informações, evidenciando conhecimento de literatura existente sobre o

assunto (LUBISCO et al, 2013).

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CAPÍTULO 1 – SUSTENTABILIDADE E ECONOMIA SOLIDÁRIA: UMA

DISCUSSÃO TEÓRICA

Este capítulo é dedicado à compreensão das temáticas sustentabilidade e

economia solidária. Aborda-se, inicialmente, o contexto do surgimento do debate

sobre os temas “desenvolvimento sustentável” e “sustentabilidade”, desenvolve-se a

conceituação destes e se descreve as dimensões da sustentabilidade social,

ambiental e financeira. Trabalha-se o referencial teórico do da economia solidária,

abordando o contexto histórico das primeiras discussões aos dias atuais,

dissertando sobre sua conceituação e relacionando a temática à sustentabilidade.

1. Desenvolvimento Sustentável

Historicamente, o conceito de desenvolvimento passou a ser diferenciado do

de crescimento econômico (mero crescimento do Produto Interno Bruto – PIB) mais

claramente somente após a Segunda Guerra mundial, quando se observou que tal

crescimento por si só não significava uma melhoria da qualidade de vida da

população. A demanda por melhorias sociais no período citado demonstrado por

diferentes documentos da época tais como a Declaração Inter-aliada de 1941, a

Carta do Atlântico e a Carta das Nações Unidas reforçou a necessidade de

diferenciação dos conceitos (OLIVEIRA, 2002a).

Ao utilizar os conceitos de crescimento e desenvolvimento econômico, muitos

autores levavam em consideração somente o aumento no nível de renda, todavia um

fator importante que facilita a diferenciação destes é a forma pela qual este

incremento está sendo distribuído. Enquanto houver crescimento econômico com

concentração de renda e desigualdade, este geralmente não pode ser considerado

como desenvolvimento.

O crescimento econômico só trará desenvolvimento quando for acompanhado

de melhoria no nível de bem estar social. Oliveira (2002a, p. 38) define que “O

desenvolvimento, em qualquer concepção, deve resultar do crescimento econômico

acompanhado de melhoria na qualidade de vida”. O autor detalha o seu conceito:

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O desenvolvimento deve ser encarado como um processo complexo de mudanças e transformações de ordem econômica, política e, principalmente, humana e social. Desenvolvimento nada mais é que o crescimento – incrementos positivos no produto e na renda – transformado para satisfazer as mais diversificadas necessidades do ser humano, tais como: saúde, educação, habitação, transporte, alimentação, lazer, dentre outras (OLIVEIRA, 2002a, p. 40).

Assim, pode-se afirmar que o conceito de desenvolvimento como sinônimo de

crescimento econômico evoluiu e passou a ser tratado como desenvolvimento com

satisfação das necessidades básicas. Entretanto, o conceito continuou modificando-

se para chegar à definição atual de desenvolvimento como elemento de melhoria

das condições sociais e ambientais, ou, mais precisamente, desenvolvimento

sustentável (SANTOS, 2012).

A expansão do capitalismo no século XX trouxe consigo, além dos problemas

sociais, grandes prejuízos ambientais. Assim, a preocupação com o impacto de tais

prejuízos, com destaque para a poluição nos grandes centros, sobre a qualidade de

vida das pessoas passou a ter mais atenção, principalmente no final do século,

quando ocorreram grandes conferências ambientais e discussões a nível global

sobre a situação, envolvendo países de diversos continentes.

Vale ressaltar que preocupação semelhante pode ser notada nas obras de

Thomas Malthus já no século XVIII, quando ele problematizava o rápido crescimento

da população frente ao lento crescimento da produção de alimentos – para ele,

enquanto o primeiro crescia numa função exponencial, o segundo crescia numa

função linear, o que causaria futuramente uma grande falta de alimentos que

ameaçaria a sobrevivência da humanidade. Mesmo assim, somente na segunda

metade do século passado a problemática ambiental começou a ser discutida a

fundo, tornando-se pauta dos principais congressos internacionais (OLIVEIRA,

2014).

Essa preocupação avançou e após anos de discussões o conceito de

Desenvolvimento Sustentável foi publicado em 19874, quando a Comissão Mundial

de Meio Ambiente e Desenvolvimento5 (CMMAD) reuniu um grupo de cientistas e

4 Apesar de ser comumente aceita esta data como referência para a publicação do conceito, é

importante ressaltar que autores defendem que estudos anteriores à publicação do Relatório Brundtland já discutiam este tema. 5 A CMMAD foi criada em 1983 a fim de promover discussões entre líderes do governo e membros da

sociedade civil acerca das questões críticas relativas ao meio ambiente e formular propostas e soluções.

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Organizações Não Governamentais (ONGs) para realização de um estudo chamado

de Nosso Futuro Comum, também conhecido como Relatório Brundtland. Este

estudo define que “O Desenvolvimento Sustentável procura atender às

necessidades e aspirações do presente sem comprometer a possibilidade de

atendê-las no futuro” (NOSSO FUTURO COMUM, 1991, p. 44). Oliveira (2014)

segue a mesma linha de conceito:

De um modo geral o conceito de desenvolvimento sustentável está associado à satisfação das necessidades materiais e imateriais da população (alimentação, habitação, emprego, trabalho, renda, saúde, lazer, cultura, liberdade, justiça etc.) de forma sustentável, isto é, em condições de garantir a satisfação das necessidades das gerações futuras (OLIVEIRA, 2014, p. 18).

Significa possibilitar que as pessoas atinjam um nível satisfatório de

desenvolvimento social e econômico, garantindo a sua qualidade de vida, através do

uso racional dos recursos do planeta, preservando as espécies e os habitat naturais

e mantendo o equilíbrio natural de convivência entre os homens e o ambiente.

Resumidamente, trata-se do conceito de desenvolvimento citado

anteriormente agregando a necessidade de solução dos conflitos homem-natureza,

como Santos (2012) ressalta:

O modelo de desenvolvimento sustentável parte de uma visão de que a relação homem-natureza pode acontecer de forma equilibrada. Cuidar do meio ambiente não é apenas garantir a sobrevivência da fauna, da flora, do solo, do ar, mas é garantir a convivência de todos os fatores que compõem o meio, quer sejam bióticos, abióticos, humanos ou não-humanos (SANTOS, 2012, p. 56).

Apesar de até os dias atuais o conceito ainda ser considerado como pouco

aceito pela sociedade em geral, no sentido de que as práticas da população não

condizem com os princípios sustentáveis, ele tem sido cada vez mais difundido,

principalmente no meio empresarial. “O desenvolvimento sustentável é o paradigma

do movimento ambientalista, e todos concordamos que o seu atingimento deve ser e

é perseguido pelas diversas sociedades humanas” (MONTBELIER FILHO, 1993, p.

13-14).

Considerando que o conceito discutido envolve ao menos a necessidade de

equilibrar as dimensões econômica, social e ambiental, pode-se então considerar

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que o desenvolvimento sustentável tem suas bases e fins semelhantes à

sustentabilidade, por isso, faz-se necessário discutir melhor este tema nos próximos

tópicos. O conceito de sustentabilidade a ser discutido neste estudo tem origem no

conceito de desenvolvimento sustentável, assim, afirma-se que o desenvolvimento

sustentável é o crescimento econômico integrado a melhorias sociais e ambientais

(que compõem o conceito básico de desenvolvimento), de forma a garantir a

preservação dos recursos naturais para as gerações atuais e futuras (BELLEN,

2006).

2. Sustentabilidade: discussão conceitual

Inicialmente, faz-se necessário distinguir os conceitos de sustentabilidade e

desenvolvimento sustentável. Diante de uma similaridade entre os termos, Silva

(2006) considera que enquanto o primeiro diz respeito à finalidade, o segundo diz

respeito ao fim propriamente dito. Em outras palavras, a prática da sustentabilidade

gera o desenvolvimento sustentável. As empresas que trilham por rumos da

sustentabilidade de forma adequada são consideradas sustentáveis e a

sustentabilidade quando praticada nas organizações pode ser também conceituadas

como sustentabilidade empresarial ou corporativa.

O termo sustentabilidade é derivado de sustentável, que significa defensável,

suportável, capaz de ser mantido e preservado. Enquanto que a palavra

sustentabilidade representa um processo contínuo, de longo prazo, que se considera

capaz de impedir a ruína de determinado sistema ou de um conjunto de bens e

meios (FURTADO, 2005).

O processo de sustentabilidade parte do preceito do equilíbrio, estabilidade e

coesão entre o ser humano, as organizações sociais e o ambiente. O artigo 225 da

Constituição Federal de 1988 estabelece:

Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações (BRASIL, 1988).

Um conceito básico da sustentabilidade é o defendido por Rattner (1999, p.

3), no qual: “sustentabilidade é o conceito que privilegia o uso de bens

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naturais/culturais sem descuidar de sua conservação, para que as gerações futuras

também possam beneficiar-se deles”.

Como sempre ocorre nas ciências sociais em geral, o conceito vem evoluindo

de forma gradativa ao longo dos anos, englobando outras áreas de conhecimento.

Partiu-se, inicialmente, do equilíbrio ambiental para se tornar mais completo e

complexo, considerando também fatores sociais, econômicos, culturais, políticos,

etc. Rattner (1999) retifica isso ao afirmar que:

O mais importante avanço na evolução do conceito de sustentabilidade é representado pelo consenso crescente que esta requer, e implica democracia política, equidade social, eficiência econômica, diversidade cultural, proteção e conservação do meio ambiente. Esta síntese, ainda que não aceita por todos, tenderá a exercer uma influência poderosa na teoria e na prática social, nos anos vindouros (RATTNER, 1999, p. 233).

Falconer (1999) define este conceito priorizando o âmbito empresarial,

carregando como fator primordial a sobrevivência das organizações, considerando a

capacidade de adequar os recursos financeiros e humanos aos objetivos primordiais

da organização. Assim, este autor pontua que:

Sustentabilidade é um termo que se presta a muitos significados, mas é entendido aqui como a capacidade de captar recursos – financeiros, materiais e humanos – de maneira suficiente e continuada, e utilizá-los com competência, de maneira a perpetuar a organização e permiti-la alcançar os seus objetivos (FALCONER, 1999, p. 133).

O conceito ainda gera muita discussão entre os estudiosos. Enquanto

Falconer (1999) defende que para ser sustentável, é necessário ser capaz de gerar

os recursos demandados pela organização; Rattner (1999) considera que é preciso

ir além, gerando, sobretudo, resultados sociais. No âmbito econômico, a

sustentabilidade está presente na busca do equilíbrio entre a oferta e a demanda

dos recursos do planeta. Verifica-se, portanto, a importância da estabilidade

econômica nessa área, a fim de garantir a sobrevivência de forma sustentável das

organizações (públicas e privadas) e do mercado como um todo.

A sustentabilidade do sistema econômico não é possível sem a estabilização dos níveis de consumo per capita de acordo com a capacidade de carga do planeta. Caberia à sociedade como um todo, seja através do Estado ou de outra forma de organização coletiva, decidir sobre o uso desses recursos de modo a evitar perdas irreversíveis (MAY et al. 2003, p. 213).

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Um conceito que pode ser considerado mais amplo do que os citados por May

et al (2003), Rattner (1999) e Falconer (1999) é aquele defendido por Philippi (2001):

Sustentabilidade é a capacidade de se auto-sustentar, de se auto-manter. Uma atividade sustentável qualquer é aquela que pode ser mantida por um longo período indeterminado de tempo, ou seja, para sempre, de forma a não se esgotar nunca, apesar dos imprevistos que podem vir a ocorrer durante este período. Pode-se ampliar o conceito de sustentabilidade, em se tratando de uma sociedade sustentável, que não coloca em risco os recursos naturais como o ar, a água, o solo e a vida vegetal e animal dos quais a vida (da sociedade) depende (PHILIPPI, 2001, p. 56).

Afonso (2006) trabalha um conceito similar:

Podemos estabelecer que o termo implica na manutenção quantitativa e qualitativa do estoque de recursos ambientais, utilizando tais recursos sem danificar suas fontes ou limitar a capacidade de suprimento futuro, para que tanto as necessidades atuais quanto aquelas do futuro possam ser igualmente satisfeitas (AFONSO, 2006, p. 11).

Por outro lado, Boff (2012) condena a limitação do conceito comumente aceito

por considerar o mesmo antropocêntrico, já que não considera os demais seres

vivos que compõem o planeta. O teólogo e filósofo traz um conceito mais amplo:

Sustentabilidade é toda ação destinada a manter as condições energéticas, informacionais e físico-químicas que sustentam todos os seres, especialmente a Terra viva, a comunidade de vida e a vida humana, visando a sua continuidade e ainda a atender as necessidades da geração presente e das futuras de tal forma que o capital natural seja mantido e enriquecido em sua capacidade de regeneração, reprodução, e coevolução (BOFF, 2012, p.1).

Boff (2012) considera que o intuito é sustentar todas as condições

necessárias para o surgimento dos seres (todos eles) e que a sustentabilidade pode

ser medida pela capacidade de conservar e dar condições de que se regenere e se

enriqueça o capital natural.

Algo importante a se pontuar em relação à temática da sustentabilidade é a

diferenciação entre as ações voltadas realmente à sustentabilidade e as ações

voltadas à geração de receitas e obtenção de lucro através do “marketing sobre

ações de sustentabilidade”. Apesar de complexas, faz-se necessário analisar a

finalidade da ação.

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3. Dimensões da Sustentabilidade

De acordo com Leal (2008), para uma organização ser considerada

sustentável precisa atuar sob diferentes áreas, chamadas de dimensões da

sustentabilidade. A análise das dimensões permite uma melhor formação do

conceito. A sustentabilidade da organização será alcançada quando a mesma atuar

satisfatoriamente sob cada dimensão, apontando para as instâncias mais amplas da

sociedade e do planeta. Se a organização falha em determinada dimensão, isto

certamente terá impacto sobre o todo.

O diferencial do conceito da sustentabilidade é a sobrevivência da empresa,

da sociedade e do planeta em longo prazo. Se o empreendimento sobrevive hoje

com ações eficientes nas diferentes dimensões mas não tem práticas adequadas

que garantam que estas sejam contínuas e não de curto prazo, ele pode não ser

considerado sustentável.

A maioria dos autores estudados concentra o foco em três dimensões, o

chamado “tripé da sustentabilidade”, cuja proposta está baseada na atuação nos

âmbitos ambiental, econômico e social, com consumo de recursos necessários à

sobrevivência das pessoas na geração atual, sem prejudicar as necessidades das

gerações futuras.

Ser uma organização sustentável significa ser economicamente viável,

ambientalmente correta e socialmente responsável. Sendo assim, as ações de

sustentabilidade precisam atuar como suporte das estruturas de decisão das

organizações, e não apenas como ações pontuais (MARCONDES, 2007).

Gassenferth (2015) leva em consideração duas dimensões, por ele chamadas

de requisitos, para atingir a sustentabilidade. O autor considera alguns indicadores

adaptados e aplicáveis a este processo:

Na dimensão econômica: taxa de investimento, grau de endividamento; consumo de energia; utilização de fontes renováveis no consumo de energia; reciclagem, geração, armazenamento e processamento de rejeitos; investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D). Na dimensão ambiental: gastos com proteção ao meio ambiente; controle das emissões de origem antrópica dos gases associados ao efeito estufa; consumo industrial de substâncias destruidoras a camada de ozônio; concentração de poluentes no ar em áreas urbanas; controle do uso de fertilizantes e agrotóxicos; prevenção de queimadas, desflorestamentos, desertificação e arenização; poluição das águas; proteção às espécies ameaçadas de extinção; destinação final do lixo gerado; tratamento de esgotos industriais (Gassenfert, 2015, p. 52).

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Dentre os autores estudados, a maioria concorda que o desenvolvimento

sustentável equilibra as dimensões econômica, social e ambiental. Coral (2002)

mostra os esforços que devem ser concentrados nesta figura representada pelo

“tripé” (Quadro 1).

Quadro 1. Elementos do Tripé da Sustentabilidade Empresarial

Fonte: Coral, 2002, p. 129.

Segundo Coral (2002), estes são os principais elementos que compõem cada

dimensão. É importante ressaltar que a proposta é limitada frente à amplitude dos

mesmos. Araujo (2006) concorda com a proposta do tripé explicitado no quadro e

lista os diferentes esforços das organizações para cada dimensão:

a. Dimensão Ambiental: controle e tratamento das emissões de gases

nocivos, de efluentes líquidos e de resíduos sólidos; uso racional dos recursos

hídricos e elétricos; aquisição e uso racional dos materiais utilizados na produção;

investimentos na biodiversidade; reciclagem e programa de reaproveitamento de

materiais; preservação do meio ambiente; conformidade com as normas ambientais.

b. Dimensão Econômica: aumento ou estabilidade do faturamento; tributos

pagos ao governo em dia; folha de pagamento justa e sem atrasos; busca racional

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de maior lucratividade; receita organizacional superior às despesas; investimentos

contínuos; aumento das exportações (relacionamento com o mercado externo).

c. Dimensão Social: desenvolvimento da comunidade/sociedade; segurança

do trabalho e saúde ocupacional; responsabilidade social; treinamento; cumprimento

das práticas trabalhistas; seguridade dos direitos humanos; diversidade cultural.

Como ressalta Lopes (2009), as dimensões se complementam e não podem

ser trabalhadas separadamente:

É importante salientar que dentro dos princípios de sustentabilidade, não se pode separar as questões sociais das questões ambientais. Por isso, quando uma organização é ecologicamente sustentável, ela também estará atuando de forma socialmente responsável, a fim de atender os interesses de todos os stakeholders que afetam ou são afetados por suas atividades (LOPES, 2009, p. 45).

Para a efetivação dos processos de sustentabilidade, existem três instâncias

interessadas: o governo, a sociedade e as empresas (enquanto setor privado). Mas

considera-se que o setor privado possui melhores condições de atuar nesse âmbito

pois possuem uma habilidade nata para negociar e aproximar as diferenças,

permitindo uma convergência para um ponto em comum.

Segundo Martins (2008), um empreendimento comprometido com a

sustentabilidade pode contribuir para a comunidade em três aspectos:

1. Economia forte, com produção e geração de renda, emprego e impostos para manter serviços públicos; 2. Proteção do meio ambiente, em benefício das atuais e futuras gerações; 3. Desenvolvimento integral da sociedade, com justiça social, inclusão, respeito à diversidade e valorização da cultura local (MARTINS, 2008, p. 21).

Considerando a amplitude do conceito e a presença do cunho social do

mesmo, defende-se, portanto, que este tem grande importância para as

organizações de Economia Solidária, todavia é preciso trabalhar ao ponto de ser

compreendido e difundido por toda a sociedade.

A sustentabilidade praticada nas organizações varia de acordo com o ramo e

a finalidade de cada uma. Afirmar se uma organização pode ser considerada

sustentável ou não é, portanto, uma tarefa difícil. Nos empreendimentos de

economia solidária, a análise dessa sustentabilidade levará em consideração

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diferentes indicadores e critérios, que precisam ser estudados e analisados a fim de

que se obtenha um resultado mais adequado possível.

4. Economia Solidária: discussão conceitual

A discussão sobre princípios econômicos menos prejudiciais à harmonia

social fortalece o desenvolvimento da economia solidária, através de

empreendimentos que prezam pela união e cooperação frente à busca incansável

ao lucro dos empreendimentos capitalistas.

Para que tivéssemos uma sociedade em que predominasse a igualdade entre todos os seus membros seria preciso que a economia fosse solidária em vez de competitiva. Isso significa que os participantes na atividade econômica deveriam cooperar entre si em vez de competir (SINGER, 2002, p. 9).

Apesar desta discussão não ser recente, ainda não se estabeleceu um

consenso quanto ao conceito e características da economia solidária. Enquanto

Singer (2002) defende este conceito como um sistema econômico alternativo ao

capitalismo, Wellen (2009) discorda, tratando como “projeto social” e não como uma

forma diferente de economia.

Diante da realidade atual, em que o desenvolvimento do mercado capitalista não apenas invalida as relações econômicas incapazes de produzir lucratividade, como as tornam subordinadas ao imperativo do capital, a defesa de uma “economia solidária” expressa, no mínimo, uma posição bastante questionável (WELLEN, 2009, p. 14).

Partindo do pressuposto de que o sistema capitalista tem sido ineficiente do

ponto de vista da manutenção das condições socioambientais adequadas para a

garantia da qualidade de vida da população e visto a urgência deste tema, defende-

se aqui como princípio que a proposta da economia solidária se constitui como uma

alternativa viável. Ressalta-se que é preciso ter precaução ao acreditar que este

modelo pode ser a solução definitiva para todos os problemas, mas muitas das

iniciativas existentes provam que o modelo tem contribuído efetivamente para

solucionar parte deles.

Inicialmente chamada de Economia Social, as primeiras práticas de economia

solidária surgiram diante da turbulência social estimulada pela revolução industrial,

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com a formação de associações e cooperativas de trabalhadores em grupos

autônomos e participativos.

A Economia Social se opôs às tendências de redução da economia ao princípio do mercado e à racionalidade da acumulação privada; com tais premissas, desempenhou um papel considerável na construção dos regimes do bem-estar social (GAIGER, 2012, p. 316).

Na América Latina, apesar de não haver uma uniformidade nesse sentido,

considera-se geralmente como empreendimento de economia solidária aquele que

visa à geração de trabalho e renda com foco na qualidade de vida e através de uma

gestão participativa. No Brasil, segundo levantamento do Sistema Nacional de

Informações de Economia Solidária (SIES), concluído em 2007, este mercado é

composto por 51,8% de associações, 36,5% de grupos informais e 9,7% de

cooperativas (GAIGER, 2012).

Neste país, a economia solidária teve um crescimento durante os anos 1990,

quando se ganhava força as teorias sobre a escassez do Estado e a impossibilidade

do setor privado de arcar com custos sociais. Foi quando surgiram novos projetos

sociais que prometiam alternativas sociais menos radicais e mais solidárias.

Todavia, estas iniciativas buscavam promover mudanças laterais e não alterar a

estrutura do modo de produção capitalista, como supostamente propõe a economia

solidária (WELLEN, 2009).

Eisler (2008) concorda com Singer ao considerar a economia solidária um

sistema alternativo ao capitalismo. Ela defende esta teoria trazendo evidências de

que a solidariedade compensa, inclusive, em valores monetários. Para Eisler (2008,

p.61) “as atividades comerciais precisam ser tanto social quanto financeiramente

lucrativa”.

Através de alguns exemplos ao redor do mundo, Eisler (2008) demonstra que

o custo da prática social ou ambientalmente inadequada é muito maior do que se

imagina. A prática de uma atividade econômica solidária traria resultados financeiros

mais atrativos.

Na China, país no qual a poluição do ar está entre as piores do mundo, o World Bank estima que essa poluição custe à economia chinesa 25 bilhões em despesas com assistência médica e horas de trabalho perdidas por ano. Outra pesquisa calculou que as doenças e a morte de residentes urbanos causadas pela poluição do ar custam à China 5% do seu produto interno bruto (EISLER, 2008, p. 77).

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Um passo importante a ser dado é uma valorização da prática de ações

voltadas à solidariedade como um todo, Eisler (2008, p. 88) defende que “se a

solidariedade não for socialmente valorizada, ela não será valorizada nas políticas e

práticas econômicas” e acrescenta que “a falta da solidariedade é economicamente

dispendiosa” (EISLER, 2008, p.101).

Para desenvolver melhor o trabalho de empreendimentos como este é

necessário estar sempre renovando as ideias e buscando novos estudos na área,

com foco na geração de emprego, renda, desenvolvimento social e, sobretudo, na

melhoria da qualidade de vida da população em prol do bem comum. “A economia

solidária foi concebida para ser uma alternativa superior por proporcionar às pessoas

que a adotam, enquanto produtoras, poupadoras, consumidoras etc., uma vida

melhor” (SINGER, 2002, p. 114).

Segundo o SENAES (2015), “a Economia Solidária é um jeito diferente de

produzir, vender, comprar e trocar”. O órgão considera que o trabalho envolve quatro

princípios fundamentais: 1. Cooperação – união priorizada frente à competição; 2.

Autogestão – decisões democráticas e coletivas ao invés de verticais; 3. Ação

Econômica – envolve produção, comercialização, prestação de serviços, enfim,

atividade econômica; 4. Solidariedade – a preocupação com o bem-estar de todos

deve ser prioridade.

De acordo com o SETRE (2016), a economia solidária envolve alguns dos

seguintes conceitos: Autogestão – relações de igualdade dentro da organização,

horizontalizadas e não verticalizadas; Cooperativismo – ajuda mútua e gestão

democrática; Comércio Justo – envolve relações comerciais socialmente

responsáveis e ambientalmente corretas; Finanças Solidárias; Consumo consciente

ou sustentável; Controle social e; Corredor de biodiversidade.

É necessário compreender esta discussão como algo que vai além de uma

alternativa socialmente correta para o capitalismo. Godoy (2014, p. 263) considera

que “mais do que uma proposta de um arranjo produtivo, a economia solidária se

propõe a um outro modelo de sociedade”.

Oliveira (2002c) traz uma análise acerca da diferença entre os conceitos de

diferentes autores e pontua que o conceito clássico defendido por Singer já não mais

dá conta de todas as tipologias atualmente destacando o tema do trabalho

assalariado, o qual Singer considera que não é aceitável dentro de um

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empreendimento de economia solidária. O autor apresenta no seu estudo os

fundamentos básicos para este tipo de empreendimento:

A conciliação entre os resultados econômicos e os valores sociais, éticos, culturais e humanitários; primam por resultados sociais a exemplo da qualificação profissional dos seus quadros, ações voltadas para a preservação do meio ambiente, a formação dos seus membros (sócios, dirigentes etc.), pela educação, pela cultura etc.; os meios de produção são coletivos, isto é, pertencem a uma entidade cujos donos são seus próprios associados; a gestão é democrática onde são os sócios que estabelecem as diretrizes de ação e os dirigentes estão sujeitos a certas obrigações como prestação de contas da utilização dos recursos, transparência administrativo-financeira etc.; busca permanente a construção de uma sociedade igualitária cujo valor principal é o da justiça social; está voltada para o desenvolvimento local ou regional, cujo beneficiário é a própria coletividade; não se registra a figura da mais valia que sustenta e alimenta todo processo de acumulação capitalista (OLIVEIRA, 2002c, p. 10-11).

Por ser considerado como uma caracterização mais flexível e menos radical

dos empreendimentos de economia solidária, levaremos em consideração estes

fundamentos para a pesquisa.

5. Economia Solidária e Sustentabilidade

Para discutir sustentabilidade em empreendimentos de economia solidária, é

preciso compreender que quando se fala em sustentabilidade empresarial, as

empresas geralmente levam em consideração indicadores prioritariamente

financeiros. Este padrão não é seguido à risca no caso dos empreendimentos de

economia solidária.

A análise desta sustentabilidade deve partir do preceito de que a finalidade

dos empreendimentos de economia solidária vai além da viabilidade econômica,

priorizando, na maioria das vezes, resultados sociais e ambientais. Reis (2005)

pontua que:

A ideia de sustentabilidade em empreendimentos da economia solidária requer a compreensão de que esta economia é distinta do modelo capitalista, e por isto lógicas distintas estão convivendo entre si e interferindo na perenidade das organizações (REIS, 2005, p. 96).

Acredita-se que os indicadores podem variar na avaliação da sustentabilidade

de um empreendimento, seja ele de economia solidária ou não, de acordo com o

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tipo de atividade. Fato é que naqueles que fazem parte do mercado discutido,

haverá uma tendência a priorizar indicadores sociais. “Se o objetivo é a melhoria da

qualidade de vida, cabe indagar o que está crescendo e pra quem. Todo indicador

subordina-se a um objetivo social.” (KRAYCHETE, 2012, p.15).

Kraychete (2012) acrescenta que uma análise importante deve ser feita a

respeito da relação social de produção, uma vez que na economia solidária esta

relação é marcada pela não mercadoria da força de trabalho. Um empreendimento

pode, portanto, ser eficiente na obtenção de resultados economicamente positivos,

todavia ineficaz na busca de relações de trabalho socialmente justas.

Refletindo sobre o conceito emprestado da ecologia, que relaciona a sustentabilidade com a capacidade da Terra em sustentar a vida, pode-se relacionar a noção de sustentabilidade, no âmbito dos empreendimento da economia solidária, com a capacidade que têm destes empreendimentos de se manter, de viver, de conservar-se (REIS, 2005, p. 95).

Por outro lado, a análise não pode se limitar a este ponto. Faz-se necessário

uma soma de esforços multidimensional para que o empreendimento alcance a

sustentabilidade, conforme destacado por Kraychete (2012):

Mas a sua sustentabilidade, entendida como a capacidade de ampliarem continuamente o alcance de suas práticas, depende de condições culturais, econômicas, tecnológicas, sociais, etc., impossíveis de serem alcançadas apenas através do empenho dos trabalhadores associados e de suas articulações com redes e fóruns. Ou seja, a busca da sustentabilidade dos empreendimentos de economia popular solidária requer ações convergentes e complementares de múltiplas instituições e iniciativas nos campos econômico, tributário, social, jurídico e tecnológico. (KRAYCHETE, 2012, p. 23).

França Filho (2012) leva em consideração que, apesar de nem todos os

autores concordarem, o fator econômico continua sendo primordial, mesmo nestes

empreendimentos, principalmente por ser considerado um dos maiores desafios. “As

dificuldades de sobrevivência dos empreendimentos econômicos solidários são

monumentais. Aqueles que estão no dia a dia, no processo de incubação, conhecem

profundamente isso” FRANÇA FILHO (2012, p. 28). Este autor concorda também

com a pluralidade deste conceito, e a importância de haver um equilíbrio entre as

diversas dimensões. Lima (2014) acredita que as dificuldades enfrentadas variam,

mas durante o processo de incubação destaca algumas: ausência de crédito

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adequado; descontinuidade das políticas de incubação e; gargalos de

comercialização.

A sustentabilidade em economia solidária, se ela não se define como viabilidade econômico-financeira, ela deve se definir como uma sustentabilidade plural. [...] uma sustentabilidade que envolve dimensões sociais, políticas, culturais, ambientais para além de uma dimensão econômica que não é, jamais, apenas mercantil. (FRANÇA FILHO, 2012, p. 33)

Um dos principais desafios da sustentabilidade destes empreendimentos é

justamente em conseguir equilibrar práticas sociais, autogestionárias, solidárias,

democráticas, entre outras com um fluxo financeiro saudável. Kraychete (2012, p.23)

acrescenta que o papel do estado é importante para a sustentabilidade dos

empreendimentos: “Nesses termos, os indicadores devem captar a existência e

implementação efetiva de políticas, programas e ações governamentais

indispensáveis à sustentabilidade dos empreendimentos”.

A sustentabilidade em empreendimentos de economia solidária depende,

portanto de um esforço coletivo multidimensional com o intuito de equilibrar as

atividades sociais, ambientais e econômicas.

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CAPÍTULO 2 – ECONOMIA SOLIDÁRIA NO MUNICÍPIO DE VALENTE – BAHIA

Este capítulo é dedicado à compreensão das experiências de economia

solidária no município de Valente – Bahia. Aborda-se a caracterização do município,

o histórico referente à economia solidária e os empreendimentos ativos no

município, identificando, caracterizando e analisando a sustentabilidade dos

mesmos.

1. Caracterização do município de Valente – Bahia

O Território do Sisal6 é formado por 20 (vinte) municípios7, está localizado na

região Nordeste da Bahia e possui a agaveicultura como principal atividade

econômica – cultivo da planta agave sisalana. A planta, popularmente conhecida

como “sisal”, chegou à Bahia por volta de 1910 com utilidades domésticas, tornando-

se uma mercadoria e ganhando valor de mercado a partir de 1930. Estima-se que o

sisal seja cultivado por cerca de setecentos mil agricultores na região semiárida da

Bahia, região a qual é possuidora do IDH mais baixo do estado (0,589) e dos mais

baixos índices pluviométricos (SANTOS; BRANDÃO, 2016).

O território está localizado no semiárido baiano e, portanto, com condições

edafoclimáticas próprias. Chove em média 400 a 650 mm anualmente, de forma

irregular, o que dificulta ainda mais as atividades agropecuárias, com índices

pluviométricos inferiores a 400m em períodos de estiagem (EMBRAPA, 2017). O

bioma predominante é a caatinga, com plantas arbustivas e arbóreas em sua maioria

resistentes a períodos de estiagem durante parte do ano. O solo é raso e pobre de

nutrientes, o que limita as possibilidades de plantio na agricultura (OLIVEIRA, 2015).

Esta conjuntura climática traz dificuldade para os habitantes do território. “O

cenário é desafiador, com longos períodos de estiagem e clima seco, onde a

caatinga e o “tabuleiro” predominam e o homem do campo é obrigado a percorrer

grandes distâncias em busca de água” (CONSISAL, 2016, p. 9). Silva (2008)

complementa:

6 Instituído pela Secretaria de Desenvolvimento Territorial (SDT) do então Ministério do

Desenvolvimento Agrário (MDA), em 2004. 7 Os municípios que compõem o território do sisal são: Araci, Barrocas, Biritinga, Candeal,

Cansanção, Conceição do Coité, Ichu, Itiúba, Lamarão, Monte Santo, Nordestina, Queimadas, Quijingue, Retirolândia, Santaluz, São Domingos, Serrinha, Teofilândia, Tucano e Valente.

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As condições sociais da população do Território do Sisal são extremamente difíceis, excluída por longo tempo dos investimentos públicos, uma vez que esse privilégio sempre recaiu em regiões com altos índices de produtividade agrícola ou áreas de crescimento industrial, apresenta altos índices de analfabetismo e desemprego (SILVA, 2008, p. 78).

A carência na área de educação é notável, o número de pessoas

tecnicamente analfabetas (não sabe ler nem escrever) e de analfabetos funcionais

(leem e escrevem com dificuldade) é muito alto. No território, em média 58,7% da

população com 15 (quinze) anos ou mais possuem menos de quatro anos de

estudo, ou seja, são considerados analfabetos ou analfabetos funcionais. Dos vinte

municípios, somente Valente, Ichu e Serrinha possuem menos de 50% da população

nesta situação. Já a população com 12 (doze) anos de estudo ou mais representam,

em média, 0,72% da população. Das poucas exceções, destaca-se nesse quesito o

município de Valente com 2,03% e 77,2% da população com 10 (dez) anos ou mais

alfabetizada (IBGE 2000).

Na área de saúde, a situação fica também aquém do necessário. Os

municípios do território possuem em média somente dois leitos para internamento

para cada mil habitantes e o uso destes se limita para casos simples pela

inexistência de pessoal qualificado e equipamentos. Os casos de média e alta

complexidade são transferidos para Feira de Santana e Salvador. As condições de

saneamento também são precárias e na maioria dos municípios não existe

tratamento adequado para os dejetos gerados. Por outro lado, o Programa Saúde da

Família (PSF), apesar de ainda possuir uma abrangência limitada, exerce função

importante no atendimento básico de saúde (IBGE 2000).

O setor agropecuário é o mais importante economicamente para o território.

Além do sisal, principal cultura, também se considera relevante o cultivo de

mandioca, milho e feijão. Na pecuária, destaca-se a criação de ovinos e caprinos.

Todavia, a concentração fundiária é evidente. Apesar de quase 80% dos

estabelecimentos agrícolas possuírem menos de vinte hectares, estes ocupam

menos de 18% da área utilizada, enquanto que estabelecimentos com mais de

duzentos hectares correspondem a apenas 0,8% mas ocupam 41% da área (IBGE,

2006). Em algumas cidades, a atividade mineradora é a mais importante, com

destaque para a extração de ouro (CODES, 2010). Mascarenhas (2010), ao analisar

a atividade econômica do território, complementa afirmando que:

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A economia da região é predominantemente agrícola. Além da produção do sisal, outras atividades econômicas são a criação de caprinos, a agricultura familiar de subsistência e o artesanato. A produção do sisal tem como principais produtos aqueles de cordoaria, ou seja, fios, cordas, cordões, etc., que podem ser usados ainda como matéria-prima na indústria de tapetes e carpetes, no artesanato, para enfardamentos, entre outros (MASCARENHAS, 2010, p. 88).

Esta é a situação também do município de Valente, o qual foi base para este

estudo. Conhecida como a capital do sisal devido à grande produção da fibra entre

1946 e 1976, o “título” permanece até hoje e o município possui longo histórico de

movimentos sociais (IBAM, 2007). A cidade fica localizada a 237 km da capital

Salvador, fazendo divisa com outras três cidades – São Domingos, Retirolândia e

Santa Luz.

Com uma população estimada em 27.906 habitantes (IBGE, 2015), o

município foi instituído em 1958; possui 384,30 km² de área e fica a uma altitude de

358m. Apesar de possuir 55% da sua população na área urbana em 2010, o

município ainda é considerado predominantemente rural, principalmente pela

atividade agrícola. Além do sisal, se destaca a produção de mandioca, feijão e milho

– apesar de não apresentar grande escala (BAHIA, 2014a).

A economia do município de Valente tem sua força no comércio local e em

duas empresas com grande quantidade de empregados: APAEB Sisal (Associação

de produtores de sisal) e a indústria calçadista Lia Line. No quesito geração de

emprego, estas só empregam menos pessoas que a Prefeitura Municipal. Além

destes, destaca-se no setor agropecuário a agricultura familiar (VALENTE, 2016).

Em 2010, o PIB per capita anual de sua população era de R$ 5.050,95 anuais. O

Índice de Desenvolvimento Econômico em 2006 era o quadragésimo sétimo melhor

do estado (BAHIA, 2014a). Em 2010, o município teve apenas o ducentésimo

trigésimo quarto melhor Índice de Performance Econômica (IPE) no estado (BAHIA,

2014b).

Levando em consideração os índices sociais, em 2006 o município tinha o

vigésimo quarto melhor Índice do Nível de Saúde do Estado (INS), o sexagésimo

melhor Índice dos Serviços Básicos (ISB), octogésimo nono melhor Índice de

Desenvolvimento Social (IDS), centésimo octogésimo segundo melhor Índice de

Renda Média dos Chefes de Família (IRMCH) e centésimo octogésimo sexto Índice

do Nível de Educação (INE). Em 2013, o município possuía cinco mil novecentos e

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oitenta e duas (5982) famílias cadastradas no programa Bolsa Família8 (BAHIA,

2014a). Já em 2010, o município ficou em septuagésimo nono no estado em relação

ao Índice de Performance Social (IPS) (BAHIA, 2014b).

A Figura 01 mostra a localização do Território do Sisal e dos vinte municípios

que o compõem, destacando a área do município de Valente.

Figura 01: Valente no Território do Sisal

Fonte: BAHIA, 2014a, p. 366.

8 Programa do Governo Federal de transferência direta de renda que beneficia famílias em situação

de pobreza em todo o Brasil.

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Apesar dos índices de desenvolvimento econômico apresentarem resultados

ruins, Valente registra níveis aceitáveis do ponto de vista social, considerando a

realidade da região e do estado, com exceção dos índices de educação. Acredita-se

que parte destes resultados sociais é, historicamente, consequência do trabalho

constante de movimentos sociais e forte presença de empreendimentos de

economia solidária e agricultura familiar no município. Tais empreendimentos são

responsáveis por garantir a renda de centenas de famílias no município.

2. Empreendimentos de Economia Solidária no município de Valente

O município de Valente é conhecido pelo histórico de movimentos sociais e

desenvolvimento econômico solidário, principalmente devido ao sucesso de alguns

empreendimentos.

No Brasil, os primeiros registros de empreendimentos com aspectos de

economia solidária datam da segunda metade do século XIX, todavia somente a

partir da segunda metade do século XX foram formadas cooperativas e associações

com este intuito diretamente. Boa parte dos empreendimentos formados representa

a continuidade de experiências empreendidas pelo movimento social com intuito de

geração de trabalho, emprego e renda e implementação de arranjos

autogestionários (SANTANA JÚNIOR, 2007).

Na década de 1950, o processo de renovação da igreja católica no país

mudou a orientação política dos dirigentes católicos, trazendo um novo ânimo ao

trabalho de organização das classes populares e orientando o sentido de mudança

na ordem social. Como consequência, é notável a consolidação da ideia de justiça

social e influência no movimento social (NASCIMENTO, 2003).

Com o surgimento das Comunidades Eclesiais de Base (CEB), um movimento

de aumento da consciência social chegou à zona rural e houve um incentivo maior à

organização dos agricultores, ao trabalho comunitário e aos mutirões. No início da

década de 1970, começaram a surgir na Bahia as primeiras associações

comunitárias, principalmente em alguns municípios predominantemente rurais, como

Valente (NASCIMENTO, 2003).

Alguns anos depois, por volta de 1973, se inicia uma discussão sobre o

Sindicato dos Trabalhadores Rurais, na época controlado pelos grandes

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proprietários de terra, ou seja, eram esses que determinavam quem assumiria a

presidência e os outros cargos da instituição (GALVÃO, 2004).

No final da década de 70, o Movimento de Organização Comunitária9 (MOC),

com sede em Feira de Santana, começa a atuar na região, incentivando Projetos

Econômicos Comunitários e, como muitas pessoas já participavam dos trabalhos

ligados a igreja, começaram também a refletir sobre as questões econômicas, sobre

a produção do sisal, do milho, do feijão, da farinha, sobre a seca na região, etc. Os

agricultores de Valente, insatisfeitos com a política de tributação do governo, se

juntaram ao MOC em diversos protestos contra a cobrança do Imposto Sobre

Circulação de Mercadorias (ICM). O sucesso das manifestações, além de outros

fatores, levou a criação, em 2 de Julho de 1980, da, assim inicialmente chamada,

Associação dos Pequenos Agricultores do Estado da Bahia (APAEB) - por isso a

sigla (FREIXO; TEIXEIRA, 2006).

Nascimento (2003, p. 49) pontua que “a ideia era que a APAEB fosse uma

opção alternativa ao cooperativismo oficial e defendesse os interesses econômicos,

sociais e políticos dos pequenos agricultores de todo o estado da Bahia”. A

associação teve sede em cinco municípios: Serrinha, Feira de Santana, Ichu, Araci e

Valente. Com a APAEB no município de Valente, o apoio do MOC, dos movimentos

ligados às CEB, sindicatos rurais e outras associações comunitárias, a conjuntura

social começou a mudar.

As primeiras experiências começaram na organização da comercialização das

colheitas de milho, feijão e farinha já no início da década de 1980 com o

armazenamento da produção em silos de zinco, esperando o momento mais propicio

para comercializar. A primeira atividade econômica no município, iniciado pela

APAEB, através do MOC e com o apoio da entidade alemã MISEREOR, o Posto de

Vendas ajuda a coordenar este processo, além de disponibilizar para vendas os

produtos de primeira necessidade. A associação também foi credenciada junto ao

Ministério da Fazenda para comercialização dos produtos. A APAEB cresceu e

gerou diversos empreendimentos filiais e, com o apoio da associação, muitos outros

empreendimentos iniciaram suas atividades em diferentes áreas (NASCIMENTO,

2003).

9 Organização Não Governamental (ONG), sem fins lucrativos, fundada em 1967.

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Desde o início dos trabalhos comunitários, o sisal já era muito discutido,

devido sua importância econômica, mas o mercado não permitia a concretização de

qualquer iniciativa, devido ao domínio dos intermediários nos municípios e a

dependência dos donos de motor desses compradores. Alguns anos depois, com

pequena capacidade de beneficiamento e dificuldade de comercialização, devido à

falta de recursos, os pequenos agricultores da cadeia produtiva do sisal foram

contemplados com a implantação da Batedeira Comunitária da APAEB. O objetivo

principal era melhorar a renda dos produtores através da eliminação dos

atravessadores (agentes de compra e venda de fibra), garantindo um maior poder de

barganha aos agricultores e permitindo a comercialização da fibra diretamente para

esta unidade de processamento (IBAM, 2007).

No período de 1984-1989, os planos da associação para criar condições infraestruturais melhores foram temporariamente frustrados por causa das dificuldades encontradas para a obtenção da licença para exportar, já que não tinha volume de produção suficiente para atender ao mercado comprador e nem o capital de giro necessário para ampliar a capacidade (NASCIMENTO, 2003, p. 77).

Somente cerca de meia década depois, a Batedeira conseguiu iniciar a

comercialização para o mercado externo e, assim, conseguiu escoar um volume

maior de fibra, garantindo a compra de mais fibra e pagando um preço mais justo ao

produtor (IBAM, 2007).

Nesse momento, a experiência com o sisal passa ao primeiro plano como projeto econômico de grande porte da APAEB-Valente, investindo em conhecimento tecnológico, em capacitação e em alternativas de ocupação geradoras de renda (NASCIMENTO, 2003, p. 73).

A necessidade por parte dos associados e colaboradores, trabalhadores

rurais e da sociedade como um todo por serviços bancários aliou-se à necessidade

da APAEB de levantar o capital de giro suficiente para a viabilidade do

empreendimento, e com isso foi criada a “poupança APAEB” no ano de 1990. Com o

crescimento do projeto, em 1993, a Cooperativa de Crédito Rural do Semiárido da

Bahia (COOPERE) iniciou suas atividades e, de forma autônoma e independente da

APAEB, deu continuidade a este trabalho.

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Em 1993, a APAEB articula a criação da Cooperativa Valentense de Crédito Rural – Coopere, derivada da experiência anterior da Poupança APAEB, do crédito concedido através de fundos rotativos, e da identificação da necessidade de financiamento por parte dos pequenos agricultores, que praticamente não conseguiam acesso aos recursos públicos e privados disponíveis para financiamento, fundamentais para o crescimento de suas atividades produtivas (IBAM, 2007, p. 13).

Em 1998, passou a fazer parte da rede Sistema de Cooperativas de Crédito

do Brasil e com isso chamada de SICOOB-COOPERE. E se tornou, muitos anos

depois, a maior cooperativa de crédito do estado da Bahia (RIBEIRO; SANTOS,

2017; SILVA; BERENGUER, 2017).

No início da década de 1990, a APAEB começou a pensar no projeto de

implantação de uma fábrica de tapetes e carpetes, com o intuito de gerar mais renda

para o produtor e também gerar emprego e renda para a população de Valente e

região. Com o apoio e financiamento do Instituto de Cooperação Belgo-Brasileira

para o Desenvolvimento Social (DISOP), Banco do Nordeste do Brasil (BNB) e

Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), além de outros

parceiros, a fábrica começou a ser construída em 1994 e foi inaugurada em 1996.

“Trata-se do maior empreendimento da APAEB, e que passou a garantir a

sustentabilidade do projeto desde sua implantação” (IBAM, 2007, p. 13).

É importante ressaltar que a situação econômica do Brasil nos anos de início

da fábrica era repleto de indicadores desfavoráveis, tais como altas taxas de juros,

câmbio altamente valorizado e, mesmo diante destes desafios, a APAEB conseguiu

atingir um nível de gestão mais estruturado do processo fabril. Os empregos gerados

diretamente pela APAEB avançaram de 84, em 1993, para 790 em 1999

(NASCIMENTO, 2003).

Com a implantação da fábrica, a APAEB passou a ter receita suficiente para

dar prosseguimento ao trabalho socioambiental desenvolvido desde 1980 e viabilizar

muitos outros projetos. A partir de então, a APAEB conseguiu desenvolver melhor

ações voltadas à convivência com o semiárido com assistência técnica e

capacitação aos produtores; apoio à organização da unidade de produção familiar;

captação e armazenamento de água; introdução à atividade da apicultura; ações de

educação ambiental e; viabilização de projetos voltados ao uso de energia solar

(IBAM, 2007).

No ano de 1995, a APAEB iniciou o projeto da Escola Família Agrícola (EFA)

a fim de ensinar aos filhos dos agricultores, além das matérias básicas do Ensino

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Fundamental da antiga 5ª a 8ª série, práticas de convivência com o semiárido,

principalmente na área produtiva: apicultura, avicultura e postura, suinocultura,

caprinocultura de corte e de leite e horticultura. Seguindo a metodologia de

alternância, os alunos ficam geralmente um período de duas semanas na escola e,

nas próximas duas semanas, em casa, onde eles tentam pôr em prática e passar

para os pais um pouco do que aprendeu (IBAM, 2007).

No final da década de 1990, a APAEB buscou potencializar a caprinocultura

da região através de dois projetos. Um deles, o Curtume de peles caprinas,

conseguiu pagar um preço mais justo para os produtores na pele, todavia acabou

não sendo viável devido à dificuldade de comercialização no mercado. Um segundo,

o Laticínio Dacabra (Laticínio da APAEB), iniciou as suas atividades no ano de 1999

e vem contribuindo para melhorar a renda dos pequenos produtores (IBAM, 2007;

NASCIMENTO, 2003).

Muitos outros projetos foram desenvolvidos, tais como o Clube Social, a Casa

da Cultura (Casa Brasil), a Rádio Valente FM, o Provedor de Internet Sertão.Net, a

TV Valente, entre outros.

No ano de 2002, incentivadas pelo Programa Artesanato Solidário e com o

apoio da APAEB, do MOC e de outros parceiros, um grupo de 54 mulheres formou a

Cooperativa Regional de Artesãs Fibras do Sertão (COOPERAFIS) após cursos de

capacitação e acesso a mercado em anos anteriores (VELLOSO et al, 2017).

No ano de 2005, devido à forte dificuldade financeira10

enfrentada pela

APAEB, iniciou-se o processo de divisão da gestão dos seus projetos, mantendo os

projetos produtivos sob administração da associação e as atividades sociais sob

administração de uma fundação. Em 2007, esta fundação passou por algumas

mudanças para se consolidar como a Fundação de Desenvolvimento Sustentável e

Solidário da Região Sisaleira – Fundação APAEB (FUNDAÇÃO APAEB, 2017).

Além dos empreendimentos citados, muitos outros surgiram no período.

Atualmente, foram identificados 13 (treze) empreendimentos no município de

Valente seguindo os registros do CADSOL e da Fundação APAEB, conforme

explicitado na Introdução. O trabalho de caracterização foi feito com todos os

empreendimentos, enquanto a análise da sustentabilidade foi realizada somente 10

O controle cambial do governo Lula desvalorizou o dólar americano em cerca de 40% em relação

ao padrão do governo FHC, causando grandes prejuízos financeiros à APAEB que tinha seus contratos de exportação de tapetes e carpetes de sisal atrelado à moeda norteamericana.

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com os três empreendimentos selecionados – estes destacados em negrito abaixo.

Segue lista dos empreendimentos:

Associação Comunitária de Produção e Comercialização do Sisal –

ACPC Sisal (também conhecido como APAEB Sisal);

Associação Comunitária Caprinocultura Solidária – APAEB Valente

(também conhecido como APAEB Laticínio);

Comitê de Pesquisa Agropecuária Local – Copal (também conhecido

como Grupo Sabores da Terra);

Cooperativa de Pequenos Empreendedores de Valilândia e Região –

Coopev;

Cooperativa Regional de Artesãs Fibras do Sertão – Cooperafis;

Grupo Delícias do Campo;

Grupo Doce Mistura;

Grupo Mistura da Terra;

Grupo Mulheres de Luta;

Grupo Mulheres Guerreiras de Tanquinho;

Grupo União;

Grupo Videira

Projeto Integrado de Jovens de Cabochard;

Após seleção dos empreendimentos destacados acima, o primeiro passo foi

analisar se os mesmos poderiam realmente ser considerados como

empreendimentos de economia solidária. Antes de avaliar individualmente, vale

destacar que o fato de os mesmos serem assim considerados pela SENAES e pela

Fundação APAEB.

ACPC Sisal

Observa-se sobre esse empreendimento um questionamento acerca do

equilíbrio entre as funções sociais e econômicas na associação. A missão de

promover o desenvolvimento social e econômico sustentável e solidário, visando à

melhoria da qualidade de vida da população da região sisaleira pode esbarrar na

viabilidade financeira do empreendimento. Isto porque historicamente o

empreendimento contribuiu permanentemente para a melhoria social e ambiental do

território, todavia após uma grave crise financeira causada principalmente pela

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desvalorização cambial a partir do ano de 2002, algumas mudanças aconteceram e

a principal delas é que associação passou a ter como maior desafio garantir a sua

viabilidade financeira.

Desde o início da APAEB, apesar da grande expectativa gerada, muito se

questionava sobre o seu real papel frente à comunidade. Enquanto alguns

agricultores acreditavam que o empreendimento deveria “subsidiar” a venda de

produtos a preços mais baratos (ainda quando só existia o posto de vendas, no

início dos anos 1980) a associação buscava a viabilidade financeira para garantir

sua estabilidade em longo prazo. “Um exemplo disso foram os frequentes embates

entre o caráter mais social e empresarial que suas atividades iam tomando”

(NASCIMENTO, 2003, p. 51).

Historicamente, a APAEB sempre priorizou a finalidade social do

empreendimento, visto que foi essa a motivação original para a sua criação. O

empreendimento adquire a fibra do sisal produzida pelos associados a um preço

justo11 e industrializa esta matéria prima, garantindo o escoamento da produção dos

pequenos agricultores, agregando valor ao produto e gerando emprego e renda.

Com isso, o empreendimento movimentava a economia e ainda custeava e

desenvolvia projetos sociais diversos com os resultados econômicos, tais como:

Escola Família Agrícola (EFA) – criada em 1996, ensina aos filhos dos produtores

rurais as matérias básicas do Ministério da Educação (MEC) em conjunto com

técnicas de sobrevivência com o semiárido; Clube Sócio Recreativo – inaugurado

em 2001, o clube é um espaço de cultura e lazer à disposição dos colaboradores,

sócios e de toda a população do município; Casa da Cultura – espaço para

capacitações com aulas de música, teatro, informática e eventos culturais em geral

e; Centro de Intercâmbio e Aprendizagem de Saberes (CAIS) – espaço para

treinamentos e capacitações voltadas à convivência com o semiárido. Além disso,

ajudava no custeio dos demais projetos considerados como produtivos: Laticínio –

unidade de processamento de leite de cabra que beneficia os produtores desta

cadeia produtiva; Batedeira – unidade de beneficiamento da fibra de sisal, a qual

antes funcionava de forma separada da indústria de tapetes e carpetes; Curtume –

associação que beneficiava a pele caprina, todavia o projeto foi interrompido por

11

Historicamente, a APAEB sempre pagou um preço maior pela fibra aos produtores e funcionou informalmente como reguladora do preço no mercado. Hoje, o empreendimento paga o preço de mercado e os associados recebem um bônus ao final do ano.

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problemas mercadológicos; Casa do Mel – projeto de beneficiamento do mel, o qual

incentivava à produção apícola da região, todavia o projeto foi interrompido por

problemas mercadológicos e; e Posto de Vendas – primeira atividade econômica da

APAEB, trata-se de um espaço para comercialização dos produtos dos pequenos

produtores, além de outros produtos. Freixo e Teixeira (2006) citam alguns dos

projetos desenvolvidos pelo empreendimento:

Particularmente no campo sócio-educativo destacam-se a Escola de Informática e Cidadania e o Sertão.Net, voltados para a inclusão digital; o projeto Descobrir; e o Educação e Cidadania, com seminários, cursos, reuniões nas comunidades, peças de teatro, apoio a associações comunitárias e ao Fórum Cidadania, reunindo entidades de Valente para cobrar e fiscalizar a atuação do poder público municipal. Além disso, a TV Valente, encarregada da elaboração de vídeos informativos que circulam entre as comunidades, a Rádio Comunitária, o boletim impresso “Folha do Sisal” e o site na Internet garantem que a divulgação dos trabalhos desenvolvidos ultrapasse os limites locais. A Casa Brasil, centro de cultura (...) reforça a importância em valorizar a cultura regional (FREIXO; TEIXEIRA, 2006, p. 6).

Quando se trabalha as características que tornam um empreendimento de

economia solidária ou não, dificilmente se chegará a um consenso, uma vez que não

há um conceito homogeneamente estabelecido sobre o tema. Enquanto Singer

(2002) não considera como tal cooperativas ou associações que possuem

colaboradores assalariados, por exemplo, outros autores se mostram mais flexíveis,

tais como Kraychete (2012), Eisler (2008) e Oliveira (2002c). Singer (2002) defende

que as relações hierárquicas de trabalho não podem existir num empreendimento de

economia solidária, o que acaba sendo causada pela relação assalariada de

trabalho.

Atualmente, as relações trabalhistas nas grandes cooperativas e associações

precisam seguir a legislação vigente e, por isso, o assalariamento em regime da

Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) é, na maioria das vezes, uma obrigação.

Oliveira (2002c, p. 9) pontua que “Os empreendimentos tidos de Economia Solidária

que estão inseridos no mercado, via de regra, empregam trabalho assalariado, em

maior ou menor dimensão, inclusive a grande maioria das cooperativas”. Na APAEB

Sisal, não é diferente. Com cerca de 230 colaboradores ativos (2016) em regime

CLT, se questiona se essa característica não já a elimina do rol da economia

solidária.

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Nascimento (2003) pontua que a APAEB deve ser considerada um exemplo

pela sua experiência e eficácia das ações de aproveitamento da energia solar,

impedimento do êxodo rural, envolvimento na elaboração de políticas públicas,

melhoramento das condições ambientais, conhecimento formal/informal,

beneficiamento autoprodutivo e incentivado e provimento de crédito com assistência

técnica adequada. Ele acredita que uma das principais lições tiradas do trabalho da

APAEB é que se faz necessário superar a falsa dicotomia entre o social e o

econômico e afirma que “é preciso deixar claro que atividade econômica é feita para

gerar lucro; o que muda é a forma de apropriação deste lucro, ou seja, a atenção

deve estar voltada para a acumulação coletiva e não privada dos resultados obtidos”

(NASCIMENTO, 2003, p. 109). Por considerar o termo lucro como relacionado a

atividades capitalistas, este deve ser evitado na economia solidária. Os

empreendimentos não buscam lucro e sim resultados financeiros positivos.

A situação mudou um pouco quando, nos anos de 2003 a 2008, a taxa do

dólar despencou em mais de 50% e a viabilidade econômica do empreendimento

teve que ser reavaliada. Com a comercialização dos produtos de sisal

prioritariamente voltada ao mercado externo (cerca de 80% das vendas na época),

as receitas em pouco tempo passaram a ser menores que as despesas e a

Associação não conseguia recursos suficientes para manter todos os projetos em

atividade, assim teve que passar por mudanças profundas na gestão. Foi um

período de difíceis decisões entre “de onde poupar” para continuar sendo viável

economicamente, afinal, neste momento o empreendimento tomou proporções

tamanhas que a inviabilidade econômica poderia impedir de continuar sendo

socialmente responsável ou ambientalmente correta. Em 2005, por conta desta

crise, foi criada a Fundação APAEB. Com esta mudança, parte do papel social da

APAEB passou a ser assumido pela nova instituição (FUNDAÇÃO APAEB, 2017).

Em um caso de grande complexidade como o da APAEB, que envolve

décadas de trabalho social e ambiental, a análise precisa ser feita de forma mais

ampla, sendo necessário levar em consideração o histórico e a capacidade da

associação em promover as mudanças sociais e ambientais necessárias. Como

afirma Nascimento (2003, p. 82):

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Qualquer análise sobre a viabilidade da APAEB-Valente não deve se reduzir apenas à avaliação de suas atividades isoladamente, mas também à sua habilidade em lidar com situações de incerteza, instabilidade e complexidade advinda de suas competências essenciais formadas ao longo do tempo, elementos esses reveladores de um certo capital social (NASCIMENTO, 2003, p. 82).

Dentre as características de empreendimentos de economia solidária, pode-

se notar historicamente nas atividades da ACPC Sisal a busca da conciliação entre

os resultados econômicos e os valores sociais, éticos, culturais e humanitários;

ações voltadas para a preservação do meio ambiente; a utilização de meios de

produção coletivos, pertencentes aos seus próprios associados; gestão democrática

com prestação de conta dos dirigentes aos associados periodicamente e; foco no

desenvolvimento local ou regional, beneficiando o coletivo (OLIVEIRA, 2002c).

É possível afirmar que o impacto do trabalho social deste empreendimento se

reduziu nos últimos anos. Todavia, levando em consideração o histórico, os objetivos

e a finalidade da associação em longo prazo, chegou-se a conclusão de que a

ACPC Sisal continua a ser um empreendimento de economia solidária.

APAEB Laticínio

Com características similares à da ACPC Sisal, o empreendimento APAEB

Laticínio não chegou a se tornar um de médio ou grande porte (ainda). O

empreendimento envolve menos pessoas, mas também possui colaboradores

assalariados e este é o ponto principal gerador de dúvidas quanto às características

solidárias da associação.

Historicamente, o Laticínio foi iniciado com um papel importante de gerar valor

de mercado para o leite de cabra produzido na região, foi o primeiro

empreendimento na Bahia a processar o leite de forma profissional e registrada e

serviu de exemplo para alguns outros laticínios que vieram a surgir depois. Antes da

associação, o mercado para o leite caprino praticamente não existia na região e a

caprinocultura se limitava ao corte (FATRES, 2016).

Basicamente, o empreendimento compra o leite de cabra do pequeno

produtor rural associado, garantindo a este o escoamento da produção e uma renda

que pode ser considerada regular, pois a associação está em constante

funcionamento. Através do processamento deste leite, gera pouco cerca de uma

dezena de empregos (IBAM, 2007).

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Concluiu-se que a associação pode sim ser considerada como um

empreendimento de economia solidária, pelas características destacadas a seguir,

presentes na APAEB Laticínio: busca da conciliação entre os resultados econômicos

e os valores sociais, éticos, culturais e humanitários; utilização de meios de

produção coletivos, pertencentes aos associados; gestão democrática com

acompanhamento e prestação de conta dos dirigentes aos associados

periodicamente e; foco no desenvolvimento local ou regional, beneficiando o coletivo

(OLIVEIRA, 2002c).

As publicações encontradas sobre a ACPC Sisal e a APAEB Laticínio

remetem estas associações muito mais como exemplos de desenvolvimento

sustentável, empreendimentos da agricultura familiar e responsabilidade social do

que referências da economia solidária. Acredita-se que a discussão acerca do tema

é mais recente e o trabalho da associação iniciou em 1980, por isso não se encontra

muitas referências neste sentido.

Cooperafis

Com um formato um pouco diferente da ACPC Sisal e da APAEB Laticínio, a

Cooperafis pode ser considerada como um exemplo clássico de empreendimento de

economia solidária. Registrada como cooperativa (diferentemente das demais, que

são associações), a estrutura operacional apresenta grande diferença, com a

possibilidade de distribuição dos ganhos.

Apesar de possuir uma diretoria e da importância dos líderes para a gestão do

empreendimento, pode-se afirmar que a gestão é participativa e democrática. O

empreendimento não possui colaboradores assalariados e tem como objetivo

principal a geração de trabalho e renda.

A COOPERAFIS busca o desenvolvimento de ações que visam fortalecer o trabalho cooperativo, surgindo como alternativa de geração de trabalho e renda, através da estruturação de rede de intercooperação da cadeia produtiva do artesanato de fibras naturais (VELLOSO et al, 2017, p.3).

Das características básicas consideradas básicas dos empreendimentos de

economia solidária, pode-se identificar, mesmo que em níveis diferentes,

praticamente todas: a busca pela conciliação entre os resultados econômicos e os

valores sociais, éticos, culturais e humanitários; trabalham por resultados sociais e

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ações voltadas para a preservação do meio ambiente, prezam pela formação dos

seus membros, pela educação, pela cultura etc.; os meios de produção são

coletivos, isto é, pertencem aos próprios cooperados; a gestão é democrática e

prezam pela transparência administrativo-financeira; suas ações demonstram a luta

para a construção de uma sociedade igualitária cujo valor principal é o da justiça

social e; o trabalho está voltado para o desenvolvimento local ou regional, cujo

beneficiário é a própria coletividade (OLIVEIRA, 2002c).

3. Caracterização dos Empreendimentos

Foram identificados e caracterizados 13 (treze) empreendimentos no

município de Valente, conforme explicitado anteriormente. Tal caracterização é fruto

do trabalho de campo, no qual os dados dos empreendimentos foram coletados a

partir de entrevistas com as pessoas responsáveis por cada um na zona rural e

urbana do município de Valente.

Após o georreferenciamento dos empreendimentos, conclui-se que os

empreendimentos estão geograficamente bem distribuídos, com presença maior na

zona rural nas principais comunidades, conforme demonstrado na Figura 02 a

seguir.

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Figura 02: Localização dos Empreendimentos de Economia Solidária do Município

de Valente – Bahia

Somando-se as pessoas de todos os empreendimentos, identificou-se 369

cooperados ou associados ativos, sendo 267 mulheres e 102 homens12. Destes,

cerca de 30 são jovens. Além disso, foram 237 colaboradores assalariados em

atividades nestes empreendimentos, sendo 44 mulheres e 193 homens, com

aproximadamente 35 jovens. No total, são 606 pessoas, ou seja, mais de 2% da

população do município13 são sócios, cooperados ou colaboradores. Os gráficos

abaixo ilustram a situação:

12 O autor tem ciência da relevância da discussão acerca da temática de gênero nos dados

apresentados, contudo, por não ter inserção no debate e por considerar que trata-se de um tema complexo, optou-se em não realizar análises superficiais. Abordar a questão de gênero requer a devida apropriação e em razão do tempo e da delimitação da proposta desta pesquisa, as inferências sobre a presença feminina nos empreendimentos serão foco de outros trabalhos. 13

Vale ressaltar que existem empreendimentos com abrangência regional, que vão além do município de Valente e, com isso, possuem pessoas de outros municípios envolvidas.

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Figura 03: Associados ou Cooperados dos Empreendimentos por sexo

Fonte: Oliveira, Uirã S. B., 2017.

Apesar das mulheres terem uma participação maior no quadro societário dos

empreendimentos, conforme demonstrado na Figura 03, o inverso ocorre quando

avaliado o quadro de colaboradores (assalariados), onde a maioria é composta por

homens (Figura 04). A situação demonstrada no município realidade é similar à

realidade do mercado brasileiro, onde a falta de oportunidade de inserção no

mercado de trabalho e o desemprego são fatores mais presentes entre as mulheres.

Homens

Mulheres

102

267

Total de associados ou cooperados: 369

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60

Figura 04: Colaboradores dos Empreendimentos por sexo

Fonte: Oliveira, Uirã S. B., 2017.

Identificou-se que somente os empreendimentos ACPC Sisal e APAEB

Laticínio possuem colaboradores assalariados e por isso são responsáveis por este

resultado. A seguir segue as informações coletadas de cada empreendimento.

a. Associação Comunitária de Produção e Comercialização do Sisal – ACPC

Sisal

Também conhecida como APAEB Sisal, o empreendimento foi fundado em

2011, assumindo as atividades de produção e comercialização referente à cadeia

produtiva do sisal da APAEB (Associação de Desenvolvimento Sustentável e

Solidário da Região Sisaleira) – esta fundada em 1980. Localizado na zona urbana

do município, conforme mapa representado na Figura 05, a atuação da Associação

abrange diversos municípios do território do sisal, além de municípios pertencentes a

outros territórios.

Homens

Mulheres

44

193

Total de colaboradores: 237

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Figura 05: Localização do empreendimento ACPC Sisal, Valente – Bahia

A primeira atividade econômica da APAEB foi um ponto de vendas (em 1981),

onde os agricultores vendiam os produtos provenientes da Agricultura Familiar,

milho, mandioca, farinha, feijão e outros. Essa experiência é narrada por Juciano

Santos Oliveira, Gerente Industrial da ACPC Sisal, ao destacar que na época de sua

formação, este espaço foi chamado de posto de vendas, no qual os produtores

adquiriam com o resultado de suas vendas os produtos que necessitavam para sua

subsistência. Com o passar do tempo, o Posto de Vendas cresceu e se tornou o

maior supermercado da cidade (e continua sendo um dos maiores até os dias

atuais), atendendo tanto os produtores quanto à população em geral.

Na entrevista com o gerente, o mesmo destacou as mudanças ocorridas ao

longo do tempo. Assim, como o sisal era a atividade dominante na região, os

produtores, já organizados enquanto associados, sentiam a necessidade de criar

meios de melhorar a comercialização do produto. Foi neste intuito que a APAEB

criou a Batedeira Comunitária em 1984 e passou a comprar a fibra diretamente do

produtor. Com alguns anos de produção e comercialização, a Associação conseguiu

avançar bastante na comercialização e começou a exportar para outros países a

fibra, no final da década de 1980. Alguns anos após o início das exportações, ao

descobrir que a fibra era utilizada para a produção de tapetes e carpetes, a

Associação então iniciou um projeto para implantação de uma fábrica no município.

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Em 1996, a fábrica foi implantada e com isso a associação conseguiu gerar

centenas de empregos e, ao agregar maior valor à fibra, pôde pagar um valor mais

justo ao produtor.

Juciano Oliveira salienta que um dos maiores desafios enfrentados pela

Associação foi a crise cambial iniciada nos anos de 2004 e 2005 quando o dólar

desvalorizou rapidamente em relação ao real e trouxe altos prejuízos, uma vez que a

comercialização dos produtos da APAEB no período era 95% voltada ao mercado

externo. Com isso, a Associação teve que passar por um processo de redução das

vendas no mercado exterior e aumento das vendas no mercado brasileiro, processo

que levou muitos anos e gerou grande passivo para o empreendimento.

Alguns parceiros foram fundamentais durante este processo, com destaque

ao nível internacional para a Fundação Kellog e a DISOP, e o BNB e BNDES a nível

nacional, informa o gerente da ACPC Sisal.

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Quadro 2. Caracterização da ACPC Sisal

RAZÃO SOCIAL ASSOCIAÇÃO COMUNITÁRIA DE PRODUÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DO SISAL

NOME FANTASIA ACPC SISAL

CONTATO Juciano Santos Oliveira, Gerente Industrial

ENDEREÇO TRAVESSA RODOVIA LUIZ EDUARDO, MAGALHAES KM 02, 71. BAIRRO PETROLINA. VALENTE - BAHIA.

PRINCIPAIS ATIVIDADES

Comercialização ou Organização da Comercialização: 1. Fabricação de artefatos de tapeçaria; 2. Atividades de associações de defesa de direitos sociais; 3. Preparação e fiação de fibras têxteis naturais, exceto algodão.

PRODUTOS E SERVIÇOS

Fios, cordas, tapetes e tecidos de sisal.

ANO DE INÍCIO 1980

CNPJ 13.817.774/0001-51

TELEFONE (75) 3263-2433; (75) 3263-2341; (75) 3263-2342

EMAIL [email protected]; [email protected]

SITE www.apaebsisal.com.br

MISSÃO Promover o desenvolvimento social e econômico sustentável da região sisaleira.

VISÃO Ser referencia nacional como organização líder na fabricação de tapetes e carpetes de sisal.

OBJETIVOS Manter o homem no campo, através da lavoura do sisal, este é objetivo principal da Apaeb. Comprar a matéria prima que é o sisal dos produtores mantendo-o no campo com qualidade de vida.

QUANTIDADE DE SÓCIOS14

125 sócios ativos 49 mulheres 76 homens Estima-se que 10% são jovens

QUANTIDADE DE COLABORADORES15

230 colaboradores 42 mulheres 188 homens Estima-se que 15% são jovens

QUANTIDADE DE PARCEIROS16

Não tem

Fonte: Oliveira, Uirã S. B., 2017.

b. Associação Comunitária Caprinocultura Solidária – APAEB Valente

Este empreendimento é mais comumente conhecido como APAEB Laticínio,

iniciou suas atividades no ano 2000 como filial da Associação de Desenvolvimento

Sustentável e Solidário da Região Sisaleira. Em 2010 assumiu as atividades da

Associação voltadas à Cadeia Produtiva da Caprinocultura. Localizado na zona

urbana do município, conforme mapa representado na Figura 06, a sua atuação

14 Neste estudo, são consideradas sócias as pessoas associadas ou cooperadas ao empreendimento. 15

Neste estudo, são considerados colaboradores aqueles que possuem relação de trabalho

assalariado com o empreendimento. 16 Neste estudo, são considerados como parceiros as pessoas que contribuem diretamente com o

empreendimento mas não são sócios e nem colaboradores.

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abrange os municípios de Valente, São Domingos, Santaluz e Retirolândia, no

Território do Sisal e Gavião, no Território Bacia do Jacuípe.

Figura 06: Localização do empreendimento APAEB Laticínio, Valente – Bahia

A segunda principal atividade econômica da região é a caprinocultura, todavia

antes do laticínio ser implantado havia apenas o consumo da carne. Edicarlos Araújo

de Oliveira, gerente administrativo do empreendimento, conta que o mesmo foi

idealizado pela diretoria da APAEB, principalmente pelo diretor executivo na época

Ismael Ferreira, iniciando como pioneiro na Bahia com o objetivo de gerar mais

renda para o pequeno produtor.

Edicarlos Oliveira narra que o empreendimento então preparou os produtores

para o manejo correto dos caprinos e passou a comprar o leite destes e produzir o

Leite Pasteurizado (vendido congelado), Queijo Coalho, Iogurte e Doce de Leite. O

investimento inicial foi da própria APAEB, mas posteriormente contou com parceiros,

como o BNDES, a Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR) e

sindicatos regionais.

O gerente acrescenta que desde o início a associação enfrentou grandes

dificuldades para colocar os produtos no mercado, uma vez que existia (e ainda

existe) um grande preconceito quanto ao sabor do leite caprino. Por isso, o

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empreendimento sempre apostou na degustação e participou de muitas feiras e

eventos divulgando os produtos para obter mercado.

Quadro 3. Caracterização da APAEB Laticínio

RAZÃO SOCIAL Associação Comunitária Caprinocultura Solidária

NOME FANTASIA Apaeb Laticínio

CONTATO Edicarlos Araújo – Gerente Administrativo

ENDEREÇO Avenida Lúcia Gonçalves, 47. Bairro Juazeiro, Valente - Bahia.

PRINCIPAIS ATIVIDADES

Fabricação de Laticínios.

PRODUTOS E SERVIÇOS

Leite pasteurizado, queijo coalho, iogurte e doce de leite de cabra.

ANO DE INÍCIO 2000

CNPJ 11.803.405/0001-84

TELEFONE (75) 3263-2988

EMAIL [email protected]

SITE Não tem

MISSÃO Promover o desenvolvimento social e econômico sustentável da região sisaleira.

VISÃO Não tem

OBJETIVOS Atuar na região, levando mais uma fonte de renda para as famílias do campo; oferecer produtos de qualidade ao consumidor final.

QUANTIDADE DE SÓCIOS

35 sócios ativos 10 mulheres 25 homens 1 jovem

QUANTIDADE DE COLABORADORES

7 colaboradores 2 mulheres 5 homens 0 jovens

QUANTIDADE DE PARCEIROS

Não tem

Fonte: Oliveira, Uirã S. B., 2017.

c. Comitê de Pesquisa Agropecuária Local – Copal

Este empreendimento tem no nome fantasia Grupo Sabores da Terra a sua

forma de reconhecimento. A empreendedora Eliete Oliveira dos Santos narrou

durante sua entrevista que o grupo iniciou suas atividades no ano de 2007 através

da Fundação APAEB, que trouxe um técnico da Colômbia para discutir a formação

de um grupo de produção para a Comunidade de Papagaio, e que, inclusive, doou o

primeiro recurso para o capital de giro do empreendimento, na época R$ 200,00

(duzentos reais). No início, 30 (trinta) mulheres se interessaram em fazer parte do

grupo. Localizado na zona rural, conforme mapa (Figura 07) a seguir, a atuação do

grupo se restringe à comunidade, no município de Valente.

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Figura 07: Localização do empreendimento COPAL, Valente – Bahia

Eliete Santos descreveu que as mulheres do Grupo faziam o beneficiamento

das frutas para a produção de polpas com o liquidificador pessoal das cooperadas

até que, alguns anos depois, conseguiram juntamente com a Fundação APAEB

aprovar um projeto para o Banco Santander, em parceria com a Aliança

Empreendedora17. Através deste projeto, receberam equipamentos diversos:

geladeira, freezer, fogão, mesa, liquidificador industrial e outros, além de

acompanhamento, treinamento e assistência técnica.

A empreendedora explicou que o Grupo conta atualmente somente com mais

oito mulheres, além dela, em atividade no empreendimento, uma vez que a maioria

não acreditou no processo ou achou oportunidades melhores. Com vendas

regulares através do Programa de Aquisição de Alimentos18 (PAA) e do Programa

Nacional de Alimentação Escolar19 (PNAE) do ano de 2013 a 2016, estes programas

sustentaram o empreendimento nestes anos. Eliete Santos ainda destaca que os

principais parceiros que contribuíram desde a criação até os dias atuais foram a

17

Fundado em 2005, o projeto Aliança Empreendora tem como objetivo oferecer a empreendedores de baixa renda e grupos produtivos comunitários apoio para desenvolverem os seus negócios. 18

Iniciado em 2003, o PAA é um programa do Governo Federal que prevê a compra de produtos da agricultura familiar para formação de estoques estratégicos e distribuição à população em maior vulnerabilidade social. 19

Implantado em 1955, o PNAE visa ofertar alimentação escolar e ações de educação alimentar e nutricional. A partir da Lei nº 11.947 de 16/6/2009, 30% do valor repassado ao programa deve ser investido na compra direta de produtos da agricultura familiar.

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Fundação APAEB, o Banco Santander, a Aliança Empreendedora, o Centro Público

de Economia Solidária (CESOL), a Secretaria Estadual de Desenvolvimento Social e

Combate à Pobreza da Bahia (SEDES) a CAR e a União das Associações

Comunitárias do município de Valente (UAC).

Quadro 4. Caracterização do COPAL

RAZÃO SOCIAL Não tem

NOME FANTASIA COPAL - Comitê de Pesquisa Agropecuária Local e marca Sabores da Terra

CONTATO Eliete Oliveira dos Santos – empreendedora

ENDEREÇO Fazenda Papagaio, Valente - Bahia.

PRINCIPAIS ATIVIDADES

Produção de alimentos.

PRODUTOS E SERVIÇOS

Nego bom, polpa de fruta, o licuri caramelizado, biscoito de licuri, sequilhos, sequilhos de goiabada, geleias, bolinho para merenda escolar e licor.

ANO DE INÍCIO 2007

CNPJ Não tem

TELEFONE (75) 98160-9598

EMAIL [email protected]

SITE Não tem

MISSÃO Não tem

VISÃO

Nossa visão é contribuir com a melhoria de vida das empreendedoras e agricultoras familiares, através da produção, divulgação e comercialização dos produtos alimentícios e artesanais. Cumprindo com a higiene de vigilância sanitária, atendendo as necessidades do cliente com valorização da pós-venda.

OBJETIVOS

Nosso maior objetivo é a geração de emprego e renda mesmo na comunidade a fim de melhorar a qualidade de vida das mulheres da comunidade. E hoje nós temos um objetivo grande também que é a inclusão dos jovens.

QUANTIDADE DE SÓCIOS

9 sócias 9 mulheres 0 homem 4 jovens

QUANTIDADE DE COLABORADORES

Não tem

QUANTIDADE DE PARCEIROS

Não tem

Fonte: Oliveira, Uirã S. B., 2017.

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d. Cooperativa de Pequenos Empreendedores de Valilândia e Região –

Coopev

O empreendimento começou as atividades no ano de 2001, através do

laboratório do Programa Nacional de Geração de Emprego e Renda (PRONAGER),

o qual promoveu cursos e capacitações em diversas áreas incentivando as pessoas

a empreenderem na comunidade. Todavia, somente em 2002, o grupo foi formado,

inicialmente com 21 mulheres. Josemira Gonzaga, atual presidente, narra que algum

tempo depois da criação, o grupo conseguiu aprovar um projeto de cerca de R$

40.000,00 (quarenta mil reais) através do governo do estado e com isso recebeu

maquinário, fogão, cadeiras e outros materiais necessários para a produção de beiju,

sequilhos e bolo. Localizado na zona rural, conforme mapa (Figura 08), a atuação da

cooperativa abrange o distrito de Valilândia e comunidades circunvizinhas, no

município de Valente.

Figura 08: Localização do empreendimento COOPEV, Valente – Bahia

A atual presidente relata que o empreendimento cresceu e chegou a ter cerca

de 50 pessoas ativas, mas entre altos e baixos e mudanças na direção da entidade,

esse número foi alterado e atualmente conta com 26. Durante os anos de 2009 e

2010, o grupo conseguiu aprovar o cadastro para fornecer ao Programa de

Aquisição de Alimentos (PAA), o que ajudou bastante no crescimento do

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empreendimento e nos anos de 2015 e 2016 tiveram vendas estáveis para a

merenda escolar municipal.

Josemira Gonzaga explica que muitos parceiros ajudaram no

desenvolvimento do empreendimento desde o início até os dias atuais, com

destaque para o Governo Estadual, o Governo Federal através do Ministério do

Desenvolvimento Agrário (MDA) e o Ministério de Desenvolvimento Social e

Combate à Fome (MDS), o Movimento de Organização Comunitária (MOC), a

APAEB, Arco Sertão, Consulado da Mulher, Companhia Nacional de Abastecimento

(CONAB) e UAC.

Quadro 5. Caracterização da COOPEV

RAZÃO SOCIAL Cooperativa de Pequenos Empreendedores de Valilândia e Região Sisaleira

NOME FANTASIA COOPEV

CONTATO Josemira Gonzaga – Presidente

ENDEREÇO Rua Borges de Almeida, SN. Povoado de Valilândia, Valente - Bahia.

PRINCIPAIS ATIVIDADES

Produção de alimentos.

PRODUTOS E SERVIÇOS

Polpa, beiju, sequilhos e bolo.

ANO DE INÍCIO 2001

CNPJ 05.050.467/0001-60

TELEFONE (75) 98122-9562

EMAIL [email protected]

SITE Não tem

MISSÃO Não tem

VISÃO Não tem

OBJETIVOS Gerar Renda e Trabalho.

QUANTIDADE DE SÓCIOS

26 sócias ativos 26 mulheres 0 homens 0 jovens

QUANTIDADE DE COLABORADORES

Não tem

QUANTIDADE DE PARCEIROS

Não tem

Fonte: Oliveira, Uirã S. B., 2017.

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70

e. Cooperativa Regional de Artesãs Fibras do Sertão – Cooperafis

A Cooperativa iniciou as atividades em 1999 em parceria com a APAEB,

através do programa Comunidade Solidária20, que permitiu a um grupo de mulheres

que fizesse um curso de capacitação e resgate do artesanato, com custeio de uma

bolsa no valor de R$ 60,00 (sessenta reais). A atual presidente Elione Alves de

Souza, uma das fundadoras, conta que neste período foram criados quatro núcleos

de produção nas comunidades rurais de Tanquinho, Cabochard, Poço e Recreio e

um na sede. Localizado na zona urbana, conforme mapa (Figura 09), a atuação da

cooperativa abrange pessoas das zonas urbana e rural dos municípios de Valente,

Araci e São Domingos.

Figura 09: Localização do empreendimento COOPERAFIS, Valente – Bahia

Carvalho Neto e Fantini (2005) acrescentam que após a capacitação recebida

em parceria com a APAEB, as mulheres adquiriram o hábito da confecção do

artesanato, o que deu base para a formação da cooperativa anos depois:

20

Programa criado em 1995 para apoiar empreendimentos de economia solidária e substituído em 2002 pelo Programa Fome Zero.

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Estas tiveram sua primeira experiência de trabalho conjunto com as frentes de serviço, organizações voluntárias em que trabalhavam (...). Realizou-se então, com o objetivo de capacitar essa mão de obra feminina, o movimento Fibras do Sertão, promovido pela APAEB em conjunto com outras organizações comunitárias, no qual essas mulheres, que antes se ocupavam com trabalhos menos valorizados, puderam aprender técnicas de tricô em sisal, cestaria e outras formas de artesanato (CARVALHO NETO E FANTINI, 2005, p.16).

Elione Souza narra que para iniciar as atividades o grupo contou com a ajuda

de alguns parceiros. Além da APAEB e do Programa Comunidade Solidária, as

mulheres receberam apoio do MDS, do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e

Pequenas Empresas (SEBRAE), do DISOP Brasil, da Agência Brasileira de

Promoção de Exportações e Investimentos (APEX), da Central de Cooperativas e

Empreendimentos Solidários do Brasil (UNISOL) e do Petróleo Brasileiro S.A.

(PETROBRAS).

Segundo a presidente da Cooperafis, o processo de formação e formalização

da cooperativa foi lento e gradual, assim o grupo passou cerca de três anos

produzindo e comercializando informalmente (sem registro de pessoa jurídica). Com

a ajuda da APAEB conseguiram alguns clientes fora do estado, mas tinham

dificuldade para transportar os produtos sem a nota fiscal. No ano de 2002, a criação

da Cooperativa foi consumada ao fazer o registro CNPJ da mesma, realizando

grande sonho do grupo, conta a presidente.

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Quadro 6. Caracterização da COOPERAFIS

RAZÃO SOCIAL Cooperativa Regional de Artesãs Fibras do Sertão

NOME FANTASIA Cooperafis

CONTATO Elione Alves de Souza – Presidente

ENDEREÇO Travessa Antônio Lopes, número 134, bairro Cidade Nova. Valente - Bahia.

PRINCIPAIS ATIVIDADES

Produção e comercialização de artesanatos.

PRODUTOS E SERVIÇOS

Três linhas de produção artesanal, que é moda, utilitários e brindes, todos esses produtos eles são produzidos com a fibra do sisal e do caroá.

ANO DE INÍCIO 1999

CNPJ 05.316.082/0001-00

TELEFONE (75) 3263-2606

EMAIL [email protected]

SITE www.fb.com/cooperafis

MISSÃO Promover a Melhoria da Qualidade de Vida das mulheres artesãs do território do sisal, de forma/maneira sustentável e solidária.

VISÃO Ser referência nacional em produção de artesanatos de fibra de sisal e caroá.

OBJETIVOS

Sustentabilidade. O nosso objetivo é garantir que as artesãs, que as pessoas que estão envolvidas na produção, na gestão, tenham uma renda estável, uma renda pra eles que garanta que as pessoas sintam vontade de fazer parte.

QUANTIDADE DE SÓCIOS

120 cooperadas 120 mulheres

0 homens 0 jovens

QUANTIDADE DE COLABORADORES

Não tem

QUANTIDADE DE PARCEIROS

Não tem

Fonte: Oliveira, Uirã S. B., 2017.

f. Grupo Delícias do Campo

O grupo começou suas atividades em 2014 com sete mulheres. Ainda em

suas casas, as mulheres faziam a produção nos fornos particulares e depois

juntavam para vender. O primeiro forno industrial foi adquirido através de um rateio

entre as componentes do grupo e, a partir daí, puderam aumentar a produção. Com

a ajuda da UAC, conseguiram comercializar grande parte de sua produção para a

merenda escolar do município e para o PAA. É o que narrou a empreendedora Irani

Lima de Oliveira durante a entrevista. Localizado na zona rural conforme mapa

(Figura 10), a atuação do grupo se restringe à comunidade de Alagadiço dos

Veados, no município de Valente.

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Figura 10: Localização do empreendimento Delícias do Campo

A empreendedora Eline Oliveira reforça que as três mulheres continuam

trabalhando no grupo e, com a mudança de gestor municipal, estão na expectativa

de que possam continuar fornecendo produtos para a merenda escolar. Enquanto

isso, escoam a produção na própria comunidade de Alagadiço dos Veados e através

do Ponto Nosso21. Ela relata que os principais parceiros que contribuíram com o

empreendimento foram a Fundação APAEB, a UAC e a Prefeitura Municipal de

Valente.

21

Ponto de comercialização criado pela Fundação APAEB para contribuir com a comercialização dos produtos provenientes de pessoas e empreendimentos da agricultura familiar e economia solidária.

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Quadro 7. Caracterização do Grupo Delícias do Campo

RAZÃO SOCIAL Não tem

NOME FANTASIA Delícias do Campo

CONTATO Irani Lima de Oliveira e Eline Oliveira – empreendedoras

ENDEREÇO Comunidade de Alagadiço dos Veados. Valente - Bahia

PRINCIPAIS ATIVIDADES

Produção de alimentos

PRODUTOS E SERVIÇOS

Biscoito, Beiju, Pão, Sequilhos, Bolo e Pão de Queijo

ANO DE INÍCIO 2014

CNPJ Não tem

TELEFONE (75) 98114-4160

EMAIL [email protected]

SITE Não tem

MISSÃO Não tem

VISÃO Não tem

OBJETIVOS Geração de renda para a comunidade e garantia de fornecimento de alimentos na comunidade

QUANTIDADE DE SÓCIOS

3 sócias 3 mulheres 0 homens 0 jovens

QUANTIDADE DE COLABORADORES

Não tem

QUANTIDADE DE PARCEIROS

Não tem

Fonte: Oliveira, Uirã S. B., 2017.

g. Grupo Doce Mistura

Este empreendimento iniciou as atividades em 2011 com o intuito de

aproveitar as frutas da região pois havia muito desperdício. Com o incentivo e

assistência da Fundação APAEB, criaram o grupo e começaram a produção,

começando com um pequeno espaço no fundo do prédio da associação da

comunidade de Sossego e posteriormente reformando e fazendo uma cozinha no

local, como conta Cleonice da Costa Araújo, empreendedora do grupo. Localizado

na zona rural conforme mapa (Figura 11), a atuação do grupo se restringe à

comunidade, no município de Valente.

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Figura 11: Localização do empreendimento Doce Mistura, Valente – Bahia

A aquisição de equipamentos ocorreu via projeto da Empresa Baiana de

Desenvolvimento Agrícola (EBDA) e da Aliança Empreendedora, tais como fogão

industrial, desidratador, freezer, balança, liquidificador e despolpadeira. Segundo a

empreendedora Cleonice, a maior dificuldade do empreendimento tem sido o

transporte, pois na comunidade não existe rota de transporte público e nem privado

e o grupo fica sem opções para envio dos produtos. Além dos parceiros citados, o

empreendimento contou com ajuda da Prefeitura Municipal de Valente e UAC.

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Quadro 8. Caracterização do Grupo Doce Mistura

RAZÃO SOCIAL Não tem

NOME FANTASIA Doce Mistura

CONTATO Cleonice da Costa Araújo – empreendedora

ENDEREÇO Comunidade de Sossego, Valente – Bahia

PRINCIPAIS ATIVIDADES

Produção de alimentos

PRODUTOS E SERVIÇOS

Pão, sequilhos, polpa, doce de goiaba, sonho de forno, pão integral e queijadinha

ANO DE INÍCIO 2011

CNPJ Não tem

TELEFONE (75) 98158-5080

EMAIL Não tem

SITE Não tem

MISSÃO Não tem

VISÃO Não tem

OBJETIVOS Fortalecimento de renda.

QUANTIDADE DE SÓCIOS

4 sócias 4 mulheres 0 homens 1 jovem

QUANTIDADE DE COLABORADORES

Não tem

QUANTIDADE DE PARCEIROS

Não tem

Fonte: Oliveira, Uirã S. B., 2017.

h. Grupo Mistura da Terra

Marizete Lopes dos Santos Pereira, atual presidente do empreendimento,

narra que o mesmo começou suas atividades no ano de 2010 em parceria com o

Laticínio da comunidade de Ouro Verde (município de São Domingos – BA), quando

surgiu a oportunidade de fornecer alimentos para a CONAB. Desde então, o grupo

se mantém ativo e está sempre buscando atrair mais jovens para o trabalho

solidário. Localizado na zona rural conforme mapa (Figura 12), a atuação do grupo

se restringe à comunidade de Santa Rita de Cássia, no município de Valente.

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Figura 12: Localização do empreendimento Mistura da Terra, Valente – Bahia

A presidente relata que com a ajuda da Fundação APAEB, do Consulado da

Mulher, da Cooperativa de Crédito Rural do Semiárido da Bahia (SICOOB-

COOPERE) e dos eventos comunitários para levantar fundos, o grupo conseguiu

fornos, liquidificadores e todos os equipamentos necessários para a produção. Ela

destaca que uma das principais dificuldades do empreendimento foi no processo de

gestão, o que melhorou com o acompanhamento da Fundação APAEB. Além disso,

tiveram o apoio da prefeitura municipal de valente e da UAC para comercialização

dos produtos para a merenda escolar na gestão 2013-2016.

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Quadro 9. Caracterização do Grupo Mistura da Terra

RAZÃO SOCIAL Não tem

NOME FANTASIA Mistura da Terra

CONTATO Marizete Lopes dos Santos Pereira – presidente

ENDEREÇO Povoado de Santa Rita de Cássia, Valente - Bahia.

PRINCIPAIS ATIVIDADES

Produção de alimentos.

PRODUTOS E SERVIÇOS

Beiju, sequilhos, bolachinha de goma, polpas e hortaliças.

ANO DE INÍCIO 2010

CNPJ Não tem

TELEFONE (75) 98103-9390

EMAIL Não tem

SITE Não tem

MISSÃO Não tem

VISÃO Não tem

OBJETIVOS O objetivo é que tenha mais jovens para que não saiam tanto da nossa comunidade como nos dias de hoje.

QUANTIDADE DE SÓCIOS

4 sócios 3 mulheres 1 homem 3 jovens

QUANTIDADE DE COLABORADORES

Não tem

QUANTIDADE DE PARCEIROS

1 homem voluntário

Fonte: Oliveira, Uirã S. B., 2017.

i. Grupo Mulheres de Luta

O grupo iniciou suas atividades no ano de 2008 após incentivos durante

reuniões do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Valente. Com o apoio do MOC e

da Rede de Produtoras da Bahia22 (RPB), participaram de diversas reuniões e

fizeram eventos comunitários para arrecadação de fundos até que conseguiram

adquirir os primeiros equipamentos. Foi através da RPB que o grupo conseguiu

participar de alguns projetos e adquirir novos equipamentos, tais como freezer,

geladeira e fogão, conforme narrado pela empreendedora Ana Mary Silva dos Reis

Cruz durante entrevista. Localizado na zona rural, conforme mapa (Figura 13), a

atuação do grupo se restringe à comunidade de Itareru, no município de Valente.

22

Cooperativa que envolve a articulação de 35 empreendimentos solidários formados exclusivamente por mulheres na Bahia que se dedica à aperfeiçoar e ampliar a comercialização dos seus produtos.

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79

Figura 13: Localização do empreendimento Mulheres de Luta, Valente – Bahia

Ana Mary Cruz relata que, em parceria com a COOPEV, as mulheres

conseguiram comercializar para a merenda escolar e para o PNAE, mas tiveram

muita dificuldade para conseguir as Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP) exigidas

pelos projetos pois a maioria das mulheres não eram proprietárias de terra. Além do

sindicato, do MOC, da RPB e da COOPEV, o empreendimento contou com o apoio

da Prefeitura Municipal de Valente.

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80

Quadro 10. Caracterização do Grupo Mulheres de Luta

RAZÃO SOCIAL Não tem

NOME FANTASIA Mulheres de Luta

CONTATO Ana Mary Silva dos Reis Cruz – empreendedora

ENDEREÇO Povoado de Itareru, Valente - Bahia.

PRINCIPAIS ATIVIDADES

Produção de artesanatos e alimentos.

PRODUTOS E SERVIÇOS

Artesanato de fita, sequilho, bolo, polpa e beiju recheado.

ANO DE INÍCIO 2008

CNPJ Não tem

TELEFONE (75) 98136-8380

EMAIL [email protected]

SITE Não tem

MISSÃO Não tem

VISÃO Não tem

OBJETIVOS Nosso objetivo é gerar renda na nossa comunidade e levantar a autoestima dessas mulheres que ficam aí nessa comunidade pequena. Conseguir um desenvolvimento para essas mulheres.

QUANTIDADE DE SÓCIOS

9 sócias 9 mulheres 0 homem 3 jovens

QUANTIDADE DE COLABORADORES

Não tem

QUANTIDADE DE PARCEIROS

Não tem

Fonte: Oliveira, Uirã S. B., 2017.

j. Grupo Mulheres Guerreiras de Tanquinho

Este grupo teve seu início em 2012 e funciona em parceria com a Associação

Comunitária Recreativa e Rural de Tanquinho. Utilizam um espaço cedido e,

inclusive, o CNPJ desta quando necessário, todavia com uma estrutura

organizacional independente, com presidente diferente. O empreendimento foi

formado após reuniões do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, em parceria com a

UAC. Localizado na zona rural, conforme mapa (Figura 14), a atuação do grupo se

restringe ao povoado de Tanquinho e comunidades circunvizinhas, no município de

Valente.

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81

Figura 14: Localização do empreendimento Mulheres Guerreiras de Tanquinho,

Valente – Bahia

Elienai Costa da Silva Cunha, atual presidente do grupo, salienta que os

primeiros recursos vieram de eventos comunitários, como o “festival de cachorro

quente”, mas a parte financeira sempre foi a maior dificuldade do grupo. Em parceria

com o Consulado da Mulher, através da UAC, estas mulheres conseguiram adquirir

equipamentos para a produção, tais como freezer, geladeira, fogão, forno e

liquidificador. O empreendimento também contou com o apoio da Fundação APAEB,

MOC, CONAB e da prefeitura municipal de Valente, para quem forneceu merenda

escolar através da UAC durante a gestão 2013-2016.

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82

Quadro 11. Caracterização do Grupo Mulheres Guerreiras de Tanquinho

RAZÃO SOCIAL Não tem

NOME FANTASIA Grupo de Produção Mulheres Guerreiras

CONTATO Elienai Costa da Silva Cunha – presidente

ENDEREÇO Povoado de Tanquinho, Valente - Bahia.

PRINCIPAIS ATIVIDADES

Produção de alimentos.

PRODUTOS E SERVIÇOS

Sequilhos, bolos, beiju e polpa de frutas.

ANO DE INÍCIO 2012

CNPJ 03.687.075/0001-80

TELEFONE (75) 98263-8647

EMAIL Não tem

SITE Não tem

MISSÃO Não tem

VISÃO Não tem

OBJETIVOS Crescer cada vez mais.

QUANTIDADE DE SÓCIOS

13 sócias 13 mulheres 0 homem 0 jovens

QUANTIDADE DE COLABORADORES

Não tem

QUANTIDADE DE PARCEIROS

Não tem

Fonte: Oliveira, Uirã S. B., 2017.

k. Grupo União

O empreendimento começou as atividades em outubro de 2015, a partir de

reuniões do sindicato. Maria Elza de Oliveira Santiago, empreendedora do grupo,

destaca que o primeiro recurso para compra de material foi rateado entre as nove

mulheres que o formam, na época equivalente a R$ 5,00 (cinco reais) de cada. Com

o resultado das primeiras vendas, elas adquiriram alguns prêmios para sortear e

com o resultado desta ação compraram o primeiro fogão. Com isso, conseguiram

participar do PAA e fornecer para a merenda escolar, através da UAC. Mas a maior

dificuldade foi conseguir recursos para capital de giro e investimentos. Com o apoio

da prefeitura municipal de Valente, da UAC e do sindicato, as mulheres têm vencido

os desafios e conseguido crescer. Localizado na zona rural, conforme mapa (Figura

15), a atuação do grupo se restringe à comunidade de Queimada do Curral, no

município de Valente.

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83

Figura 15: Localização do empreendimento União, Valente – Bahia

Quadro 12. Caracterização do Grupo União

RAZÃO SOCIAL Não tem

NOME FANTASIA Grupo União de Queimada do Curral

CONTATO Maria Elza de Oliveira Santiago – empreendedora

ENDEREÇO Povoado de Queimada do Curral, Valente - Bahia.

PRINCIPAIS ATIVIDADES

Produção de alimentos e sabão.

PRODUTOS E SERVIÇOS

Sequilhos, temperos de sal, queijadinha, bolo, beiju e sabão.

ANO DE INÍCIO 2015

CNPJ Não tem

TELEFONE (75) 98143-2786

EMAIL [email protected]

SITE Não tem

MISSÃO Não tem

VISÃO Não tem

OBJETIVOS O objetivo é crescer o empreendimento; gerar um lucro para a comunidade; gerar emprego e renda para a comunidade.

QUANTIDADE DE SÓCIOS

9 sócias 9 mulheres 0 homem 0 jovens

QUANTIDADE DE COLABORADORES

Não tem

QUANTIDADE DE PARCEIROS

Não tem

Fonte: Oliveira, Uirã S. B., 2017.

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l. Grupo Videira

O grupo iniciou as atividades em julho de 2014. Os primeiros recursos vieram

através de eventos comunitários, realização de pequenos bingos e ajuda de pessoas

parceiras. A empreendedora Suzana S. de Almeida Silva relata que a principal

dificuldade foi financeira, mas ressalta que com o recurso arrecadado com os

eventos e as pequenas contribuições, aliado ao apoio da Fundação APAEB, do

sindicato (dos trabalhadores rurais) e da Associação Comunitária da Comunidade de

Raposa, as mulheres conseguiram adquirir forno e fogão e iniciar a produção e

comercialização dos alimentos. O empreendimento também contou com o apoio da

prefeitura municipal e de vereadores de Valente. Localizado na zona rural, conforme

mapa (Figura 16), a atuação do grupo se restringe à comunidade de Raposa, no

município de Valente.

Figura 16: Localização do empreendimento Videira, Valente – Bahia

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Quadro 13. Caracterização do Grupo Videira

RAZÃO SOCIAL Não tem

NOME FANTASIA Grupo Videira

CONTATO Suzana S. de Almeida Silva – empreendedora

ENDEREÇO Povoado de Raposa, Valente - Bahia.

PRINCIPAIS ATIVIDADES

Produção de alimentos.

PRODUTOS E SERVIÇOS

Beiju e sequilhos.

ANO DE INÍCIO 2014

CNPJ Não tem

TELEFONE (75) 98209-2376

EMAIL Não tem

SITE Não tem

MISSÃO Não tem

VISÃO Não tem

OBJETIVOS Crescer.

QUANTIDADE DE SÓCIOS

2 sócias 2 mulheres 0 homem 1 jovens

QUANTIDADE DE COLABORADORES

Não tem

QUANTIDADE DE PARCEIROS

Não tem

Fonte: Oliveira, Uirã S. B., 2017.

m. Projeto Integrado de Jovens de Cabochard

O empreendimento iniciou as atividades em 2001 através de um projeto da

APAEB em parceria com uma instituição internacional. A empreendedora Jéssica de

Lima Souza conta que a maior dificuldade do empreendimento é, desde o início, a

falta d’água. Mesmo tendo grandes reservatórios e cisterna de produção, as chuvas

não são suficientes para manter os tanques cheios sempre e a água da Empresa

Baiana de Águas e Saneamento (EMBASA) é muito cara para a necessidade do

grupo. O exército contribuía com as mulheres no período de fornecimento, apesar de

não suprir a necessidade em todas as ocasiões. Localizado na zona rural, conforme

mapa (Figura 17), a atuação do grupo se restringe ao povoado de Cabochard e

comunidades circunvizinhas, no município de Valente.

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86

Figura 17: Localização do empreendimento Projeto Integrado de Jovens do

Cabochard

Jéssica Souza acrescenta que o grupo contou também com o apoio da

Fundação APAEB, da Aliança Empreendedora, da UAC e, a partir de 2013, com o

apoio da prefeitura municipal de Valente. Através da prefeitura, conseguiram ainda

alguns projetos em parceria com a Secretaria de Agricultura, Pecuária, Irrigação

Pesca e Aquicultura do Estado da Bahia (SEAGRI).

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Quadro 14. Caracterização do Projeto Integrado de Jovens de Cabochard

RAZÃO SOCIAL Não tem

NOME FANTASIA Projeto Integrado de Jovens da Comunidade de Cabochard

CONTATO Jéssica de Lima Souza – empreendedora

ENDEREÇO Comunidade de Cabochard, Valente - Bahia.

PRINCIPAIS ATIVIDADES

Produção de alimentos.

PRODUTOS E SERVIÇOS

Hortaliças, tempero pronto, bolo e sequilho.

ANO DE INÍCIO 2001

CNPJ Não tem

TELEFONE (75) 98200-1133

EMAIL Não tem

SITE Não tem

MISSÃO Não tem

VISÃO Não tem

OBJETIVOS Obter melhores rendas na comunidade e evitar que os jovens da comunidade se envolvam com álcool, bebidas alcoólicas, drogas...

QUANTIDADE DE SÓCIOS

10 sócias 10 mulheres 0 homem 5 jovens

QUANTIDADE DE COLABORADORES

Não tem

QUANTIDADE DE PARCEIROS

Não tem

Fonte: Oliveira, Uirã S. B., 2017.

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CAPÍTULO 3. SUSTENTABILIDADE DOS EMPREENDIMENTOS

Este capítulo se dedica à análise da sustentabilidade dos três

empreendimentos selecionados e se baseia nas dimensões ambiental, social e

econômica, considerando os sistemas, subsistemas e questões chaves discutidas

nas entrevistas, uma vez que estes representam os dados mais relevantes para

chegar ao resultado esperado.

1. ACPC SISAL

DIMENSÃO AMBIENTAL

Produtos e Processos

Os produtos finais do empreendimento são naturais e este é o principal

diferencial competitivo dos produtos feitos de fibra de sisal, matéria prima principal

utilizada pelo empreendimento. Esta matéria prima principal representa

aproximadamente 95% dos insumos utilizados e quase 100% da composição do

produto final. Os demais insumos, dentre eles látex natural, pigmentos, óleo vegetal

e outros, representam aproximadamente 5% do total e nem todos são naturais,

como pigmentos, por exemplo, utilizados na fabricação de alguns dos produtos do

empreendimento. Mesmo assim, os produtos sintéticos são utilizados no tratamento

das matérias primas e tem participação considerada irrelevante na composição final

do produto. O sisal não possui embalagem e as utilizadas nos demais insumos são

sempre reaproveitadas, geralmente caixas de papelão, vasilhames e tonéis. As

caixas de papelão aproveitadas nas embalagens dos fios, os vasilhames e tonéis

doados ou comercializados aos sócios para armazenamento de água, milho ou

outros produtos.

O sisal ela por si só não tem embalagem. Ela é embalada com a própria fibra do sisal, apenas 5% desses produtos utilizados nesta composição dos demais produtos contem embalagem, onde são reutilizadas para os próprios sócios da associação, então são recipientes que são utilizados para outras finalidades (Juciano Oliveira, Gerente da ACPC Sisal).

A associação tem conhecimento do processo produtivo dos insumos

utilizados e do impacto ambiental da sua produção. Os produtos finais do

empreendimento são biodegradáveis, estima-se um tempo de absorção pelo meio

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ambiente em no máximo cinco anos – caso dos tapetes – mas nunca foi feito

nenhuma avaliação técnica respaldada neste sentido.

O consumidor final trata de fazer o descarte do produto final após o uso,

todavia o controle do impacto gerado por esse descarte não é feito pela associação,

pois o produto é comercializado em todo o Brasil e também em diversos países do

mundo. O gerente relata que o impacto é mínimo, considerando que o produto é

natural.

Os principais resíduos gerados no processo produtivo são o pó e o pelo do

sisal e os líquidos remanescentes do processo de tingimento. Todos são tratados e

reaproveitados. O pó e pelo são comercializados e o excedente é utilizado para

gerar energia na caldeira. Já os líquidos são tratados na subestação própria e a

água reutilizada para manutenção de um viveiro de mudas e de um tanque para

criação de peixes.

Cultura Ecológica

A preservação ambiental é considerada indispensável dentre os objetivos do

empreendimento. A Associação possui uma política ambiental estabelecida e todas

as licenças ambientais em dia para funcionamento. As pessoas que fazem parte do

grupo têm conhecimento desta política e contribuem para que as ações de

preservação aconteçam na prática, relata o gerente.

O empreendimento cria meios para que essa conscientização aconteça.

Atualmente, contam com o suporte de um engenheiro ambiental, que está

frequentemente capacitando e dando treinamento às pessoas. Além disso, alguns

projetos já foram e são desenvolvidos neste sentido.

Projetos Ambientais

Além de todo o trabalho com um produto natural, colocando à disposição no

mercado uma alternativa sustentável frente às opções de produtos sintéticos,

atualmente a associação mantém em parceria com a Fundação APAEB um viveiro

de mudas para distribuição de mudas de plantas nativas para reflorestamento da

região. Muitos projetos já foram desenvolvidos neste sentido, Juciano Oliveira

destaca o projeto “Sertão Verde”, executado em parceria com a PETROBRAS em

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90

2006. No entanto, no momento não há previsão de desenvolvimento de novos

projetos, somente manutenção do viveiro de mudas.

Internamente, além dos treinamentos e capacitações voltadas à preservação

ambiental, a associação divulga informações ambientais nas etiquetas dos produtos.

O gerente descreve que o empreendimento também possui uma política de redução

de energia, que vai desde a melhoria tecnológica e aquisição de inversores para as

máquinas até treinamentos e conscientização dos colaboradores e associados

quanto à importância desta política.

Todos os resíduos da produção são reaproveitados na associação, conforme

já citado. Para a seleção de fornecedores, critérios ambientais são levados em

consideração, inclusive registrado nos procedimentos padrão da ISO 9001, o qual o

empreendimento é certificado.

DIMENSÃO SOCIAL

Envolvimento das Pessoas

Cerca de 500 famílias é beneficiada pelo trabalho do empreendimento no

município de Valente e região. Estes são os produtores de sisal, que comercializam

a fibra para a associação, os colaboradores diretos que trabalham sob regime CLT

para o empreendimento, a diretoria e demais associados que participam ativamente

do dia a dia e também os prestadores de serviços.

Das pessoas envolvidas, 60% são homens e 40% mulheres. Deste total,

estima-se 10% de jovens até 24 anos. Parte destes jovens hoje inseridos no

empreendimento faz parte do programa “Jovem Aprendiz”, do Governo Federal. As

mulheres estão inseridas no empreendimento em diferentes níveis, desde o quadro

de colaboradores à diretoria.

O trabalho da associação beneficia também indiretamente cerca de 2000

famílias. Esse benefício se dá através da distribuição de mudas, distribuição de água

potável em períodos de estiagem, acompanhamento dos produtores, beneficiários

dos associados e dos produtores fornecedores de fibra e projetos apoiados pela

associação, tais como o Clube Sócio Recreativo, assistência técnica aos produtores,

posto de vendas e outros. A associação também tem diferentes parcerias com

diversos setores da sociedade civil, dentre eles historicamente com as igrejas,

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91

principalmente a católica, associações e empreendimentos menores, cooperativas

de crédito, sindicatos e também entidades ligadas ao governo do estado e federal.

O empreendimento tem um grande potencial em envolver mais pessoas.

Juciano Oliveira destaca que a associação utiliza hoje somente 30% da capacidade

produtiva (referindo-se à produção de carpetes de sisal) e caso tivesse mais apoio

para buscar mercados o empreendimento poderia crescer mais e envolver ainda

mais pessoas. A inserção de novas pessoas se dá geralmente através da indicação

de sócios. No processo de seleção de novos colaboradores, a prioridade é dada aos

filhos e parentes dos associados, levando em consideração o currículo e experiência

para exercício da função. As relações entre os associados podem ser consideradas

mais pessoais do que profissionais, todavia no operacional da fábrica as relações

são prioritariamente profissionais.

Cultura e Qualidade de Vida das Pessoas Beneficiadas

Considerando que o cultivo do sisal faz parte da cultura da região, pode-se

afirmar que os produtos da APAEB Sisal são fruto da cultura local e regional. Oliveira

afirma que isto contribui para a comercialização dos produtos, que levam na etiqueta

as informações dos benefícios sociais e ambientais de consumir os produtos da

associação.

O empreendimento respeita e apoia a diversidade cultural existente no

território, inclusive já realizou eventos neste sentido. A associação possui uma

política de treinamento e capacitação, com uma agenda anual dos cursos,

envolvendo principalmente os colaboradores. Isso garante que tanto os associados

quanto os colaboradores possuam capacidade técnica para executar as suas

atividades.

A ACPC Sisal demonstra preocupação com a segurança e saúde ocupacional

dos envolvidos. Possui médico no quadro de prestadores de serviços, um setor para

cuidar da segurança e saúde dos colaboradores, faz exames periódicos e distribui os

Equipamentos de Proteção Individual (EPI) devidos para cada colaborador,

dependendo de sua função.

A grande maioria das pessoas envolvidas possui residência própria, com

algumas exceções. Além do atendimento médico fornecido pela associação, os

colaboradores possuem acesso à saúde pública do município. No quesito educação,

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92

a grande maioria também depende da rede pública de ensino. A associação se

preocupa com a escolarização dos envolvidos, inclusive já alfabetizou, em parceria

com o Serviço Social da Indústria (SESI), todos os colaboradores analfabetos que

trabalhavam no empreendimento. Contam também com a parceria de escolas

técnicas e investiu e deu suporte financeiro a EFA de Valente durante vários anos,

até a Fundação APAEB assumir o controle das atividades em 2005.

Valente é uma cidade (...) onde varias famílias necessitam do beneficio da Apaeb para melhorar a qualidade de vida (...). A distribuição de mudas como já foi citado aqui, a distribuição de água potável. A questão da compra mesmo do sisal, compra dos produtos para o posto de vendas etc. A gente tem um clube sócio recreativo onde varias pessoas vem, utilizam o espaço de lazer (Juciano Oliveira, Gerente da ACPC Sisal).

Relações Institucionais

Além dos benefícios sociais constantes, o empreendimento não possui

nenhum projeto social em andamento hoje e nenhum previsto, mas já os executou

em anos anteriores. Internamente, a preocupação com a qualidade de vida dos

envolvidos é constante. Além do atendimento médico e preocupação com a

escolarização, a associação disponibiliza plano odontológico para os colaboradores.

Externamente, presta assistência técnica aos produtores em parceria com a

Fundação APAEB no intuito de garantir uma vida melhor para estes, relata Juciano

Oliveira.

A gestão do empreendimento é transparente e participativa. A diretoria e

conselho têm acesso constante aos dados da gestão operacional da indústria e

estes dados, além de balanços e demonstrativos de resultados e melhorias são

passados para os colaboradores e associados através de assembleias periódicas.

DIMENSÃO ECONÔMICA

Viabilidade Econômica

A associação atua em diferentes nichos de mercado por possuir vários tipos

de produtos. O principal mercado é o de construção e decoração, onde o grupo

comercializa tapetes, carpetes, capachos e jogos americanos. Juciano Oliveira

acredita que o consumidor final que geralmente busca os produtos do

empreendimento pertence às classes média e alta, mas não descarta o consumo

crescente por outras classes também.

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93

As receitas tem sido maiores do que as despesas nos últimos anos,

principalmente a partir de 2013. A associação controla diariamente suas finanças

através de um sistema Enterprise Resource Planning (ERP). Existe também um

monitoramento contábil constante e controle de fluxo de caixa, que tem sido positivo.

O DRE dos últimos exercícios também foram positivos.

A associação possui ativos imobilizados, dentre eles terrenos, galpões,

máquinas, caminhões e veículos. O capital de giro, que historicamente sempre

representou um dos maiores desafios, nos últimos anos tem sido suficiente para o

funcionamento do empreendimento, destaca o gerente. Um dos maiores gargalos é

a alta taxa de juros para obtenção de crédito. Para solucionar isto, a associação está

sempre pesquisando e negociando com diferentes instituições.

O empreendimento tem um controle do custo de cada produto produzido e

compreende a composição dos seus preços. Todos os produtos atualmente

comercializados permitem um resultado financeiro positivo na sua venda. A equipe

capacitada tecnicamente contribui para este resultado, pois a associação acredita

que a boa gestão desse capital depende de pessoas preparadas para tal.

Quantidade de Beneficiados e Equidade de Distribuição de Renda

Cerca de 350 famílias são diretamente beneficiadas financeiramente pela

atividade da ACPC Sisal. São estas as famílias dos colaboradores contratados e os

fornecedores de matéria prima e serviços. Indiretamente estima-se em 600 famílias.

A renda média destes fica entre um e dois salários mínimos, com algumas exceções.

Oliveira defende que esta renda é justa e igualitária e tem sido suficiente para que

eles paguem as despesas cotidianas. No caso dos fornecedores de matéria prima,

ele acrescenta que a associação tem contribuído ao longo dos anos para que o

preço do sisal tenha melhorado e que “ela funciona como uma reguladora de

preços”.

Além destas pessoas, o empreendimento mantém relação no âmbito

financeiro com as cooperativas de crédito e o setor bancário, o poder público local e

outras associações.

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Posicionamento de Mercado do Empreendimento e Tendência Comercial

Conforme já citado, os produtos comercializados pelo empreendimento

atingem diferentes mercados. Resumidamente, no mercado de Casa e Construção,

Home Center e Decoração a associação comercializa carpetes, tapetes, capachos e

jogos americanos; no mercado Agropecuário, comercializa fios agrícolas; no

mercado da Construção Civil e Ferragens, comercializa fibras, fios naturais e cordas;

no mercado de Artesanato e Decoração, comercializa fios tingidos, fios naturais e

cordas; no mercado de Polimento, comercializa telas de sisal.

O empreendimento monitora o mercado e tem conhecimento da relação

demanda e oferta dos produtos comercializados. Oliveira destacou que no momento

a oferta estava maior do que a demanda devido à crise no Brasil e em países

importadores como a China. Todavia, o mercado de sisal é muito dinâmico e

instável. No início de 2017, por conta da estiagem, a situação mudou e a oferta

reduziu bastante, invertendo a situação.

A APAEB Sisal tem sua marca registrada e todos os produtos levam esta

marca nas suas respectivas etiquetas. O entrevistado relata que o desenvolvimento

de novas tecnologias é visto pelo empreendimento como sendo “de grande

importância para continuidade e melhoria do processo”. Geralmente o processo de

inovação visa atender a novas demandas do mercado.

Existem atualmente produtos substitutos que concorrem diretamente com os

confeccionados pelo empreendimento, principalmente os sintéticos – fios, tapetes

etc. Outras empresas que também fazem produtos de sisal também concorrem

diretamente com a APAEB Sisal, com destaque a empresas situadas nos municípios

de Conceição do Coité e Retirolândia.

A estratégia comercial da associação foca na divisão do canal de atendimento

e comercialização em duas formas: vendas através de representantes comerciais;

vendas diretas com atendentes da fábrica nos estados e países onde o

empreendimento ainda não possui representante. Dessa forma, consegue abranger

todo o Brasil e diferentes países do mundo.

Acredita-se que os preços atendem às necessidades dos clientes. Todavia é

justamente a concorrência de preço que ele define como a principal dificuldade

encontrada na comercialização, uma vez alguns concorrentes vende produtos

similares com preços mais baratos.

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Existe uma política de relação de valores em cima de nossos produtos. Inicialmente apaeb tava trabalhando com a fibra do sisal e depois foi desenvolvendo novos produtos como fios, cordas tapetes e carpetes. Hoje a gente tenta desenvolver outros produtos que venham agregar mais valores como bolsa e vários produtos derivados do sisal (Juciano Oliveira, Gerente da ACPC Sisal).

A agregação de valor para os produtos oferecidos pela comunidade local

pode ser considerada como uma das finalidades da APAEB Sisal. Historicamente, a

associação começou com a comercialização da fibra bruta, depois a fibra

processada e após a fábrica iniciar as vendas dos carpetes, tapetes, fios, cordas etc.

agregou valor à fibra do sisal. Atualmente o empreendimento continua buscando

desenvolver produtos que agreguem ainda mais valor, como.

2. APAEB LATICÍNIO

DIMENSÃO AMBIENTAL

Produtos e Processos

Os alimentos fabricados pelo empreendimento são todos provenientes de

matéria prima natural – o leite de cabra fornecido pelos associados. Todavia parte

dos insumos utilizados é industrializada e o processo utiliza estabilizantes, por isso

não podemos afirmar que o produto final é natural. A associação monitora o

processo produtivo do leite caprino por parte dos fornecedores, o que garante a

qualidade da matéria prima adquirida e o acompanhamento do impacto ambiental

desta produção, todavia desconhece em relação aos demais insumos.

A embalagem dos insumos é plástica, a base de polietileno, material que não

é biodegradável e, por isso, ao ser descartado no lixo comum, causa danos ao meio

ambiente. A embalagem do produto final também utiliza do mesmo material plástico

e caixas de papelão, o que gera o mesmo impacto negativo. Durante o processo, o

único resíduo gerado é o soro lácteo, que hoje é comercializado aos próprios

produtores associados para utilização como alimento para os animais, mas

futuramente deverá ser reaproveitado como base para um novo produto alimentício,

uma bebida láctea, explica o atual gerente do empreendimento Edicarlos Oliveira.

Cultura Ecológica

O empreendimento tem como um dos seus objetivos a preservação

ambiental. Apesar de não possuir uma política ambiental formalizada, em parceria

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com a Fundação APAEB os produtores associados participam de atividades com o

intuito de preservar o meio ambiente e utilizar-se dele da melhor forma possível. O

Laticínio está em conformidade com as normas ambientais, até porque a fiscalização

é intensa para garantir a licença para comercialização.

Tanto a gente aqui no laticínio como principalmente o produtor lá do campo ainda tem essa ciência de que foi um trabalho de muitos anos da Apaeb defendendo essa causa, essa forma de trabalho, então ele já é consciente, já dá aula para filhos e netos (Edicarlos Oliveira, Gerente da APAEB Laticínio).

As pessoas envolvidas com o empreendimento demonstram esta

preocupação com o meio ambiente em suas ações. A maioria delas faz parte da

APAEB há muitos anos e este sempre foi um tema central, por isso o nível de

conscientização pode ser considerado alto, destaca o entrevistado. Além disso, a

associação possui parcerias com universidades como a Universidade Federal da

Bahia (UFBA) e a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) para

treinamentos e capacitações com funcionários e associados sobre o tema.

Projetos Ambientais

O empreendimento nunca executou nenhum projeto voltado exclusivamente à

preservação ambiental e não há projetos previstos, apesar da preocupação

constante, conforme discutido. Mesmo assim, o gerente afirma que, no dia a dia,

essa questão é tratada com seriedade.

O gerente narra que a associação faz um trabalho para redução de energia

com vistas tanto ao bem estar ambiental quanto para redução de custos. Os

resíduos atualmente são todos reaproveitados. Na seleção dos insumos, o fato de

ser natural ou não é levado em consideração, todavia critérios ambientais não são

observados na escolha dos fornecedores.

DIMENSÃO SOCIAL

Envolvimento das Pessoas

Cerca de 40 pessoas está envolvida diretamente com o Laticínio, são estes

os colaboradores e os produtores de leite caprino. Indiretamente, incluem-se os

familiares dependentes da renda destes colaboradores e produtores e também os

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demais fornecedores, o que envolve mais de 200 pessoas. Destas, cerca de 50

pessoas são mulheres e o restante homens, estima-se a presença de 30 jovens.

Edicarlos Oliveira ressalta que o empreendimento tenta envolver mais as pessoas e,

durante algumas capacitações e treinamentos, os familiares também são convidados

a participar.

Em algumas capacitações a gente pede que eles tragam a esposa, o filho, para ter uma relação e conhecimento do que ele faz para que isso se abrange, e também a questão do conhecimento que ele leva, ele leva de volta para a família e repassa isso (Edicarlos Oliveira, Gerente da APAEB Laticínio).

O empreendimento tem um potencial grande para incluir novos integrantes,

uma vez que a capacidade de produção é pequena e está sendo trabalhada para ser

ampliada. Acredita-se que com a ampliação, novos produtores deverão ser

beneficiados e novos colaboradores contratados. Para um produtor se associar ao

empreendimento e se tornar fornecedor, geralmente ele é indicado por outros

produtores e associados e, demonstrando interesse, uma equipe da associação faz

uma visita técnica ao empreendimento e passa para o produtor um diagnóstico das

necessidades para atendimento das exigências de cuidado e higiene do Laticínio,

descreve o gerente. Somente após atender essas necessidades, ele estará apto a

se tornar um fornecedor.

A relação entre os associados é mais pessoal do que profissional,

principalmente devido à relação de longas datas que vão além das atividades da

associação. Mesmo assim, considera-se a relação com o laticínio como mesclada,

com traços tanto pessoais quanto profissionais.

Cultura e Qualidade de Vida das Pessoas Beneficiadas

A caprinocultura é a segunda principal atividade econômica na região, atrás

apenas da agaveicultura (cultivo da agave sisalana). Sendo assim, os produtos do

Laticínio são frutos de um costume local de criação de caprinos. Antes do laticínio,

somente a carne dos caprinos era aproveitada. Com a criação da associação, os

produtores receberam assistência técnica e aprenderam a manejar corretamente as

cabras no período de leite, a fim de eliminar o famoso “ranço” do bode – gosto forte

que contém no leite. Com isso, a comercialização do leite se tornou mais uma renda

para os pequenos produtores rurais.

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O entrevistado acredita que o fato do produto fazer parte da cultura regional

contribui na sua comercialização. Para atender as necessidades do mercado, a

associação se adaptou e se preparou através da aquisição de equipamentos para

processar o leite de cabra in natura recebido, produzindo o leite pasteurizado, queijo,

iogurte e doce.

No campo social e cultural, o empreendimento também desenvolve

capacitações e treinamentos em parceria com o SEBRAE e também as

universidades citadas anteriormente – UFBA e UFRB. O gerente detalha que todos

os associados possuem conhecimento técnico para realizar as atividades

corriqueiras.

O empreendimento também demonstra se preocupar com a saúde e

segurança dos associados e colaboradores. Todos possuem residência própria e

acesso à educação pública de ensino, a qual Edicarlos Oliveira considera como

sendo de qualidade. O empreendimento já desenvolveu anos atrás, através da

APAEB, parcerias para garantir a escolarização dos associados. Atualmente, possui

parceria com a EFA e escolas técnicas para garantir estágios e visitas aos

estudantes.

Relações Institucionais

O empreendimento não possui atualmente nenhum projeto voltado à

responsabilidade social e não tem previsão de ocorrência. Internamente, a

preocupação com os colaboradores e associados vai desde o fornecimento de

equipamentos de segurança ao acompanhamento médico periódico. Externamente,

a preocupação se concentra em fornecer um produto de qualidade à população, um

produto mais nutritivo e menos gorduroso que os existentes no mercado, descreve o

gerente.

A associação demonstra que preza pela transparência no compartilhamento

de informações. A diretoria fica responsável por monitorar e processar toda a

documentação em parceria com o conselho fiscal. A divulgação é feita através de

reuniões e relatórios, disponibilizando o conteúdo para colaboradores, associados e

parceiros.

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DIMENSÃO ECONÔMICA

Viabilidade Econômica

O mercado alvo do empreendimento é formado por supermercados,

delicatessens e diferentes pontos de revenda de laticínios e gêneros alimentícios. A

venda no varejo local é praticamente irrelevante, se concentrando no atacado. Os

principais consumidores dos produtos são idosos, crianças, pessoas com

intolerância a lactose e também a população em geral que preza por uma

alimentação mais saudável.

Atualmente, a Associação possui um controle diário das finanças através do

monitoramento da movimentação bancária e caixa, respaldado por uma assessoria

contábil. O controle do fluxo de caixa também é feito e é positivo. As receitas foram

maiores do que as despesas nos últimos dois anos (2016 e 2015), mas nos anos

anteriores o empreendimento teve dificuldades. Segundo Edicarlos Oliveira, a

perspectiva para o ano de 2017 é bastante positiva, uma vez que estão em processo

de expansão da capacidade produtiva.

O empreendimento possui em ativos imobilizados um caminhão e um veículo

utilitário para transporte dos produtos. Além disso, possui máquinas, equipamentos e

um prédio grande e adequado para a produção.

No quesito capital de giro, o gerente considera que o valor que possuem para

capital de giro é suficiente para o funcionamento da organização nos últimos anos.

Todavia, devido à necessidade de investimento atual para ampliação do Laticínio no

início de 2017, a fim de obter o Selo de Inspeção Federal (SIF), o empreendimento

tem imobilizado parte deste capital e isto tem tornou-se um gargalo. A diretoria já

tem discutido esta questão, mas ainda sem uma proposta de solução. Além disso,

vale ressaltar que para ampliar a produção o empreendimento certamente

necessitará de um capital de giro maior, o que pode se tornar um gargalo ainda

maior no futuro.

A associação gerencia os seus custos através de uma planilha, com

detalhamento de todas as despesas. O preço é formado de acordo com os custos

apurados, garantindo assim que todos os produtos comercializados resultem em

margem positiva. O empreendimento possui uma tabela de preços com preços

correspondentes a cada produto.

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O Laticínio conta com pessoal capacitado para a gestão financeira do

empreendimento – houve treinamentos e capacitação neste sentido via SEBRAE. O

entrevistado defende que um dos principais pontos para garantir a viabilidade

econômica do negócio é o controle financeiro. Por isso, é fundamental ter pessoal

capacitado para tal.

Acho que é uma das principais questões pra viabilidade econômica do negócio é você ter a questão financeira sobre controle. Você saber o que deve ser feito, como comprar, a melhor forma de comprar para que você possa não estar comprando o que seja indevido, que você não vá utilizar, pra você não estar com dinheiro parado num determinado produto que não vá utilizar de imediato no processamento, em um produto que lhe dê esse retorno, que volte para o seu fluxo de caixa (Edicarlos Oliveira, Gerente da APAEB Laticínio).

Quantidade de Beneficiados e Equidade de Distribuição de Renda

Atualmente são 40 as famílias diretamente beneficiadas financeiramente pelo

empreendimento. Dentre estes, os associados que fornecem leite, os colaboradores

e prestadores de serviços. Outras pessoas envolvidas e outros setores da sociedade

civil não possuem benefícios financeiros diretos.

O empreendimento tem conhecimento da renda média das pessoas

envolvidas no empreendimento. Esta varia entre um e dois salários mínimos, mas

existem casos que ultrapassam dois salários mínimos. Edicarlos Oliveira considera

que o valor é justo, levando em consideração a renda média da região e o histórico

de luta do empreendimento nestes 17 anos. Considera também que esta renda é

suficiente para custear as despesas do cotidiano.

Posicionamento de Mercado do Empreendimento e Tendência Comercial

O Laticínio comercializa o leite pasteurizado congelado, o queijo coalho e o

iogurte em diversos sabores refrigerados, além do doce de leite de cabra. Edicarlos

Oliveira acredita que a demanda não é maior porque nem todo mundo conhece

estes produtos, além de que historicamente as pessoas se acostumaram a consumir

o leite bovino. Ele defende que a introdução do leite de cabra no mercado e o

rompimento “cultural” acontecem aos poucos.

O empreendimento possui uma marca registrada e é utilizada em todos os

produtos, a de Laticínio “Da Cabra”. Ao visualizar os produtos, nota-se que há uma

grande mudança na logomarca nas diferentes embalagens, o que demonstra

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potencial para uma proposta de melhoria a fim de unificar e fortalecer o uso da

marca no mercado.

Edicarlos Oliveira acredita que o desenvolvimento de novas tecnologias é

atualmente uma das principais fontes de redução de custos, mas também de

melhoria dos processos para poder lançar novos e melhores produtos. Todo

empreendimento deve ter essa preocupação, como acontece no Laticínio. Apesar

das limitações financeiras, o grupo tem buscado inovações através de parcerias e

convênios com o governo do estado e outras instituições. Atualmente está se

estruturando para ampliar a capacidade e melhorar os processos para lançar

produtos novos e atender novos mercados – esta é uma preocupação constante do

empreendimento.

Existem hoje no mercado alguns produtos substitutos. Além do leite bovino

normal, que é amplamente consumido, já existem opções de leite bovino sem

lactose, que concorre diretamente com o caprino. Já a concorrência com produto

similar vem atualmente de fora da Bahia, geralmente da Região Sul do Brasil, mas

também do Rio de Janeiro e Europa.

A estratégia comercial do empreendimento atualmente se resume em: venda

no varejo no mercado local; venda no varejo durante a participação em eventos e

feiras; venda no atacado através de representantes e; venda no atacado diretamente

pelo Laticínio. Os preços são considerados compatíveis com os produtos oferecidos,

mas bem mais barato em relação aos demais produtos de leite de cabra oferecidos

no mercado, relata o gerente.

Na parte comercial se encontra um dos maiores gargalos do laticínio. A falta

de vendedores impede que o empreendimento amplie suas vendas. Como se trata

de um produto de pouca demanda, os representantes não conseguem se manter

ativos durante muito tempo, pois o volume de ganho nas vendas é menor do que o

esperado.

Um ponto importante é o fato de o empreendimento agregar valor ao produto

local/regional dos pequenos produtores rurais – gerando renda para estes, além de

treinamentos e capacitações – através da industrialização e comercialização destes

produtos – gerando emprego e renda para os colaboradores. Edicarlos Oliveira

destaca que este trabalho iniciado pela APAEB há muitos anos tem dados

resultados positivos em toda a Bahia, prova disso é que o governo do estado está

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financiando a implantação de novos laticínios nas cidades de Juazeiro e Senhor do

Bonfim, o que contribuirá para a exploração do potencial da caprinocultura de leite

na região.

3. COOPERAFIS

DIMENSÃO AMBIENTAL

Produtos e Processos

A Cooperafis atua prioritariamente com artesanatos feitos de fibras naturais

(fibra de sisal e caroá) e buscar preservar as características naturais do produto

final. A pigmentação das fibras é feita com extratos naturais da caatinga, com raras

exceções de cores que não consegue fazer com estes extratos, como o vermelho -

mas Elione Souza (Presidente da Cooperafis) ressalta que os clientes que pedem

estas cores estão cientes de que a pigmentação não será natural.

O empreendimento estimula junto às cooperadas o manejo correto destes

extratos a fim de garantir a sustentabilidade da planta, as cascas são colhidas na

quantidade e no período de tempo correto. Além disso, o trabalho de replantio é feito

anualmente em parceria com a Fundação APAEB, que dá suporte ao grupo e

fornece as mudas necessárias. A inclusão de insumos sintéticos nos produtos é feito

somente em casos de solicitações dos clientes, buscando se adaptar às demandas

do mercado. Sendo assim, os produtos da cooperativa são, na grande maioria das

vezes, naturais e biodegradáveis.

Por outro lado, no caso das embalagens, o empenho da cooperativa não tem

sido tão grande para utilização de opções ecologicamente corretas. As matérias

primas, como o sisal e o caroá, não possuem embalagens e os materiais que

possuem, mesmo que sintéticas, são sempre reaproveitadas, não gerando lixo. Já

as embalagens utilizadas no produto final são, geralmente, sacolas plásticas e

caixas de papelão, ou seja, não são naturais e nem biodegradáveis, o que cabe

melhoria no âmbito da sustentabilidade ambiental.

O impacto ambiental da produção já foi levantado há alguns anos através de

parcerias e foi considerado mínimo, conforme explicado pela entrevistada. Os

resíduos são formados de duas maneiras, uma composta por líquidos, provenientes

da pigmentação, e a outra por resíduos sólidos, como sobras de fibras. A maior parte

destes é biodegradável e a cooperativa incentiva à reutilização, apesar de boa parte

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das cooperadas não seguirem as orientações. Vale ressaltar que o empreendimento

não tem controle sobre este descarte.

Cultura Ecológica

A preservação ambiental é um dos objetivos estatutários do empreendimento

e faz parte do regimento, apesar de não haver uma política ambiental. Conforme

relata a presidente, existe uma preocupação grande com a dimensão ambiental, mas

na prática não tem sido assim. A cooperativa não tem feito o trabalho de educação

ambiental e não tem conseguido controlar as ações das cooperadas, principalmente

no caso da queima dos resíduos, considerado prejudicial ao meio ambiente. Um

ponto positivo é que é possível notar uma preocupação neste sentido por parte das

líderes do grupo, que têm influenciado as pessoas a se capacitarem.

Nem todas as pessoas envolvidas com o empreendimento tem consciência da

importância da sustentabilidade ambiental, uma vez que o empreendimento não tem

desenvolvido treinamentos e capacitações com este fim. Considera-se que este

ponto não tem sido debatido como prioritário. Atualmente, fala-se muito da

sustentabilidade financeira, mas a sustentabilidade do empreendimento depende do

equilíbrio entre as dimensões.

É objetivo estatutário (a preservação ambiental), regimental, quando há essa retirada da matéria prima do meio ambiente, tem esses cuidado todo, mas hoje, a cooperativa ela não faz o trabalho de educação ambiental. Tá claro? Então, eu diria que é uma preocupação, que as práticas diárias já estão normalizadas, mas que precisa essa identificação para que as pessoas elas, e compreenda ainda mais (...). Pra isso, a gente conseguiu inserir uma das nossas diretoras num curso de agroecologia e que é um curso cheio de ideias, justamente na área ambiental (...). Isso me deixa muito satisfeita, por quê? Porque a gente consegue perceber que a escolaridade hoje na cooperativa é uma prioridade, que há anos atrás não era prioridade, né? A prioridade era produzir, comercializar, representar, mas as diretoras elas não estavam com qualificação profissional, então hoje o mercado ele diz olha, vocês têm que ir, você tem que esta em uma cooperativa que é de economia solidária, mas que precisa se profissionalizar para ela ser boa, ser consistente né? (Elione Souza, Presidente da COOPERAFIS).

Existe uma preocupação quanto à conformidade com as normas ambientais,

como a questão do uso de fogão a lenha como combustível para pigmentação das

fibras, uma vez que é necessário se utilizar a lenha tratada para tal e, como o

empreendimento não tem total controle sobre a produção individual, ainda acontece

das cooperadas utilizarem lenha da caatinga, explica a presidente.

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Projetos Ambientais

O empreendimento já realizou alguns projetos ambientais, sendo o último no

ano de 2014, em parceria com o museu Edison Carneiro do Rio de Janeiro,

oportunidade em que foram distribuídas 800 mudas de plantas nativas para

replantio. O resultado não foi tão positivo, uma vez que no final de 2015, somente 50

destas 800 mudas estavam vivas. Elione Souza acredita que um trabalho de

educação ambiental dos participantes teria contribuído no processo. Apesar de não

haver novos projetos previstos na área ambiental, o empreendimento mostra-se

disposto a incentivar o plantio de árvores nativas também na área urbana.

Internamente, o empreendimento tem atuado na conscientização da

importância da redução no consumo de energia, água e telefone. Apesar de,

aparentemente, o foco da redução ser financeiro, o resultado tem impacto também

na esfera ambiental. Lâmpadas tradicionais foram substituídas por lâmpadas de

LED, a comunicação pelo aplicativo whatsapp, computadores passaram a ser

utilizados somente o necessário, entre outras ações que impactaram em cerca de

70% de redução destas despesas, conforme explicado pela entrevistada.

Para seleção de novos fornecedores, critérios ambientais são levados em

consideração, uma vez que o empreendimento mantém o foco em produtos naturais.

Vale ressaltar que o empreendimento também leva em consideração critérios

sociais, como por exemplo na situação da compra da fibra de sisal, que atualmente é

adquirida da APAEB Sisal pelo trabalho social desenvolvido, apesar de ser oferecida

também por outras indústrias na região, explica a presidente.

DIMENSÃO SOCIAL

Envolvimento das Pessoas

O empreendimento tem um quadro formado por 120 mulheres, entre

cooperadas ativas e inativas, sendo que destas atualmente 80 estão em atividade de

produção e 40 acompanham, mas não mais produzem – todas estão diretamente

envolvidas com a cooperativa. Além destas, no ano de 2016 foram inseridas 12

novas mulheres com um novo produto, que é o crochê. Segundo Elione Souza, são

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cerca de 840 pessoas beneficiadas, uma vez que consideram sete pessoas por

família23.

A Cooperafis tem grande articulação com diferentes entidades da sociedade

civil, destacando a igreja católica, de onde provem a maior parte dos movimentos de

base, os conselhos municipais, o sindicato dos trabalhadores rurais e as

associações comunitárias. Além destas entidades, leva-se em consideração o

Comitê Estadual da Serra e da Caatinga. O envolvimento com estas entidades

ocorre através de eventos e reuniões onde se discute sobre políticas públicas,

controle social etc. A presidente Elione Souza destaca a importância do intercâmbio

de conhecimento entre as entidades e também as universidades. Há algum tempo, o

empreendimento foi convidado para participar de uma pesquisa que o trazia como

referência de empreendimentos que deram certo e isso mostra que, apesar de toda

a dificuldade, principalmente financeira, como destaca a presidente, o

empreendimento tem tido sucesso.

[...] e eu fico tão emocionada porque mesmo com toda dificuldade a gente consegue perceber quanto que a gente evoluiu, né? Tanto pessoalmente, aí cada um individualmente, quanto coletivamente, porque uma vai sustentando a outra (...). Mesmo com toda dificuldades financeiras, né? Que ai uma vai sustentando, e essa história ela tem que, essa é uma história nova, uma história diferente, né? De mulheres do sertão que conseguiu constituir um objeto empreendedor, com aquilo que sabe fazer, com a matéria prima do lugar (Elione Souza, presidente da Cooperafis).

Apesar de o grupo ser formado somente por mulheres, a presidente explica

que não se trata de um grupo feminista. Historicamente, o artesanato de fibras

naturais na região sempre foi feito por mulheres, com raras exceções. Por isso,

quando o grupo foi formado, somente mulheres se interessaram. Das integrantes do

grupo, todas possuem mais de 25 anos, constatando a ausência de jovens no

empreendimento, apesar da presidente ter demonstrado preocupação com este

tema, uma vez que acredita que não há atrativos para que as jovens venham a fazer

parte do grupo. Como na fundação do empreendimento o grupo não acreditava que

fosse durar tanto tempo, não foram planejados critérios para inserção de novos

23

Apesar de este ser o cálculo utilizado pelo empreendimento, é importante pontuar que os benefícios nem sempre se estendem a toda a família. No caso específico da Cooperafis, sugere-se que o cálculo seja refeito, uma vez que a renda gerada pela cooperativa geralmente funciona como complemento e pode não beneficiar a família como um todo.

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integrantes, assim a condição de inserção tornou-se o conhecimento para produção

do artesanato de sisal.

Elione Souza ressalta que um dos principais desafios hoje do grupo é

justamente prospectar novas integrantes. Há alguns anos atrás o grupo enfrentou

um momento de baixa demanda e com isso perdeu boa parte das artesãs.

Atualmente, o problema é justamente o contrário, o grupo tem demanda, mas a

oferta é insuficiente e o seu crescimento é lento. Por conta deste desafio, o grupo

tem estudado a possibilidade e tem a intenção de inserir a comercialização de

alimentos como uma das atividades da Cooperafis, um mercado que tem grande

demanda devido ao crescimento de editais de compra direcionados à produtos da

agricultura familiar.

As relações internas são mais pessoais do que profissionais, o que pode

atrapalhar na gestão e resolução de conflitos. Acaba que muitos dos problemas

ficam sem resolução, pois existe certo receio por parte das mulheres do grupo de

passar orientações no intuito de evitar atritos e intrigas pessoais. A presidente

acredita que as relações profissionais precisam prevalecer para uma melhor gestão

da cooperativa.

Cultura e Qualidade de Vida das Pessoas Beneficiadas

A cultura local está presente praticamente em todos os produtos e todos os

passos da Cooperafis, uma vez que o artesanato é algo histórico e cultural da

região. Elione Souza destaca que “a produção artesanal é um resgate de um fazer,

da minha bisavó, da minha tataravó, então em tudo a gente tenta inserir, inclusive a

Cooperafis, ela é um poço de culturas”. Além disso, esta cooperativa contribuiu nos

anos de 2015 e 2016 para a participação de artistas da terra na turnê do projeto

Sonora Brasil, em parceria com o Serviço Social do Comércio (SESC). O apelo

histórico-cultural ajuda na comercialização dos produtos da cooperativa.

De 1999 até os dias atuais, a cooperativa mudou muito. Pode-se notar a sua

evolução em dois aspectos principais. Primeiro, a mudança da mulher dona de casa

para a mulher empreendedora. Segundo, a mudança do saber fazer para o saber

fazer bem feito, ressalta a presidente.

Apesar de não haver uma política voltada a treinamentos e capacitações,

muitos foram os cursos realizados, principalmente em parceria com o SEBRAE, e

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107

hoje as mulheres envolvidas tanto na gestão quanto na produção são

suficientemente capacitadas. Mesmo assim, há uma demanda por capacitação na

parte comercial. Elione Souza afirma que a participação do grupo não é a mesma do

início, que hoje muitas esperam pela diretoria e ela considera isto como uma

“regressão”.

O empreendimento se preocupa com a saúde e bem estar dos envolvidos,

principalmente na parte de produção, uma vez que muitas vezes as mulheres

sentem dores nas mãos. Foi feito um curso de ergonomia, mas Elione Souza conta

que o as mulheres do grupo só seguiam as orientações enquanto o instrutor estava

presente, na ausência dele poucas o faziam. Todas as mulheres possuem residência

própria atualmente. O acesso à educação é mais fácil nos dias atuais, mas nem

todas as mulheres se interessam. Quanto às questões de saúde, observa-se a

inexistência de plano de saúde, daí a dependência dos serviços básicos pelo

Sistema Único de Saúde (SUS), e exames e outros casos mais específicos na

maioria das vezes são feitas em clínicas particulares.

Relações Institucionais

O empreendimento não tem atualmente nenhum projeto em execução na

área de responsabilidade social, mas já executou no passado em parceria com a

PETROBRAS, quando ganharam inclusive uma placa de empreendimento de

responsabilidade social. Atualmente não têm perspectiva de novos projetos devido à

dificuldade de pessoal para a confecção e submissão dos mesmos.

Existe uma preocupação recíproca com a qualidade de vida das mulheres do

grupo. Frequentemente nas reuniões se discute temas como a saúde da mulher. Há

também uma preocupação com a saúde financeira das mulheres do grupo, se a

renda tem sido suficiente para se sustentar, etc. Externamente, não existem ações

com esse intuito.

A comunicação na cooperativa é transparente e flui tranquilamente, nunca foi

um problema, relata a entrevistada. Segundo ela, mensalmente são divulgados no

mural durante algum tempo a prestação de contas, que é feita com ajuda da

contabilidade. Além disso, o próprio contador apresenta os dados em cada

assembleia e um grupo de whatsapp também facilita a troca de informações de

forma rápida.

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DIMENSÃO ECONÔMICA

Viabilidade Econômica

O empreendimento tem como clientes lojas de decoração e de moda.

Atualmente, o mercado está limitado a três clientes, e isso preocupa a presidente,

pois cria-se uma dependência destes clientes para escoamento da produção.

A cooperativa tem conseguido receita suficiente para cobrir as despesas nos

últimos anos através de um controle diário das finanças do empreendimento através

de planilhas com uso do software Excel. De 2014 a 2016 as vendas praticamente

ficaram estáveis, mas os resultados mesmo assim foram positivos, pois o grupo

conseguiu reduzir as despesas. Além disso, uma boa gestão do fluxo de caixa, o

acompanhamento contábil por uma empresa especializada e pessoal capacitado à

frente do setor contribui para a gestão financeira dos resultados, destaca Elione

Souza.

O grupo hoje possui alguns bens, tais como imóveis (sedes da cooperativa na

zona urbana e rural) e móveis, não possuem veículos. O capital de giro, apesar de

pequeno, tem sido suficiente para operacionalizar a cooperativa. O maior gargalo

financeiro é a inadimplência, uma vez que quando o cliente não cumpre o prazo

estabelecido, a cooperativa tem dificuldades para honrar os compromissos

financeiros. Para sanar este problema, o grupo sempre explicita a situação para os

clientes, tentando evitar possíveis atrasos.

A formação de preços é feita pela diretoria e é, atualmente, superior aos

custos, todavia um dos desafios é atualizar os preços dos maiores clientes, que

compram em grandes volumes e pressionam o preço sempre para baixo, o que

muitas vezes acaba gerando resultados negativos. O empreendimento entende que

necessita prospectar novos compradores.

Carvalho Neto e Fantini (2005) destaca que no setor financeiro reside um dos

principais desafios da cooperativa devido, principalmente, à ausência de pessoal

capacitado para tal:

Os principais desafios enfrentados pela Cooperafis, atualmente, relacionam-se à gestão da cooperativa, principalmente da parte financeira. Isso porque as artesãs, encarregadas de todos os processos administrativos, possuem, em sua maioria, baixo grau de escolaridade, o que dificulta a autogestão (que requer conhecimentos de contabilidade, utilização de recursos básicos de informática, etc.) (CARVALHO NETO; FANTINI, 2005, p. 17).

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A presidente ressalta que o setor financeiro não dá resultados sem um setor

comercial e de marketing atuante, uma vez que os resultados vêm em conjunto. Ela

acredita ainda que o pessimismo não ajuda em grupos como a Cooperafis e que é

necessário acreditar e, sobretudo, agir.

Quantidade de Beneficiados e Equidade de Distribuição de Renda

Todas as pessoas em atividade no empreendimento (80 atualmente) são

diretamente beneficiadas financeiramente, através do valor recebido pela produção

dos artesanatos. Considera-se que os seus familiares são beneficiários indiretos.

Apesar do número de beneficiárias ser considerado relevante, a renda gerada para

cada uma delas fica abaixo de um salário mínimo, insuficiente para pagar as contas

do dia a dia e, com isso, é usado como complementação da renda.

O valor é considerado injusto pela presidente da Cooperafis, pois pelo

trabalho e esforço empreendido, elas mereciam ter uma renda melhor. Dentro da

cooperativa, a distribuição dos valores depende do trabalho realizado no mês, mas

acaba sendo quase sempre bastante similar, não havendo discrepância. O grupo de

produção ativo é formado por mulheres, na sua maioria donas de casa, sendo 78 da

zona rural e somente dois da zona urbana.

Posicionamento de Mercado do Empreendimento e Tendência Comercial

Os produtos do empreendimento são divididos hoje em três linhas: brindes,

utilidades (decoração) e moda. Na linha de brindes produzem chaveiros, marcadores

de páginas etc. Na linha de utilidades produzem cestas, tapetes, jogos americanos,

descansos de panela, entre outros. E na área de moda bolsas e chapéus. Trata-se

de um mix variado que atende a diferentes nichos de mercado. Vale ressaltar que

tudo é feito com fibra de sisal e caroá, com alguns produtos de crochê.

Apesar da limitação comercial a apenas três clientes, que o empreendimento

possui atualmente uma demanda maior que a oferta e que já perdeu alguns clientes

por não ter produto para oferecer. Ela acredita que uma melhor articulação com

outros empreendimentos pode ajudar a melhorar a oferta destes produtos. Um ponto

importante é que o empreendimento possui registro da marca utilizada nos produtos

– “Fibras do Sertão”.

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110

Eu diria que a capacidade produtiva não é suficiente para garantir que aquele preço funcione. E o mercado não comporta você aumentar preço (...). A gente perde o cliente ou vende perdendo? Eu digo “gente, perde o cliente pelo amor de Deus e consegue outro”, mas como a gente vai perder o cliente se a gente já não tem? Ai continua praticando o preço como eu falei, então hoje preço também é uma dificuldade (...). E aí, isso pra gente tem sido um problema, porque o cliente poderia estar pagando melhor (Elione Souza, presidente da Cooperafis).

As técnicas de produção são artesanais e não apresentam melhoria

tecnológica ao longo dos anos. Mesmo assim, as artesãs estão sempre tentando

inovar e desenvolver novos produtos, todavia falta muitas vezes transformar estes

protótipos em produto comercial. Ultimamente, o empreendimento tem acreditado na

possibilidade de iniciar a comercialização de alimentos e, com isso, ampliar a sua

atuação no mercado.

A comercialização dos produtos da Cooperafis é feita tanto no atacado quanto

no varejo. As vendas no atacado são feitas através de atendimento direto pelo

pessoal do empreendimento, elas não possuem representantes comerciais e não

fazem visitas a estes clientes. Elione Souza acredita-se que a maior dificuldade do

setor comercial está justamente em sair mais do escritório e tentar visitar esta

clientela. As vendas no varejo são feitas durante feiras e eventos. A presidente

considera que os preços dos produtos são baixos, todavia acrescenta que a maioria

dos clientes não concorda.

Os principais produtos que concorrem no mercado com os produtos da

Cooperafis são produtos importados, geralmente da China, mas também outros

produtos de fibras naturais e até produtos de outros empreendimentos capacitados,

inclusive, pela própria cooperativa, cujo diferencial está justamente no valor

ambiental e social agregado ao produto.

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111

CAPÍTULO 4 – INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE PARA

EMPREENDIMENTOS DE ECONOMIA SOLIDÁRIA – UM ESBOÇO

Este capítulo é dedicado ao ensaio com vistas à construção de um Sistema

de Indicadores de Sustentabilidade voltado aos Empreendimentos de Economia

Solidária. Aborda-se, inicialmente, a conceituação dos termos importantes,

contextualização do tema e, em seguida, trabalha-se a construção de um

“esboço/projeto” para uma experimentação prática com o empreendimento

Cooperafis.

1. Indicadores de Sustentabilidade e Economia Solidária

Para analisar o grau de sustentabilidade dos empreendimentos de economia

solidária aqui estudado optou-se por estabelecer um Sistema de Indicadores24, ainda

que provisório e inacabado, que possa, além de identificar o grau de

sustentabilidade dos empreendimentos, servir de base para a entrevista com os

informantes chaves e também para a pesquisa documental.

Existem atualmente diversos sistemas de indicadores em utilização pelo

mundo, todavia voltados para a mensuração do grau de sustentabilidade de uma

nação. Alguns podem ser utilizados para empresas, mas não foram identificados

sistemas voltados para empreendimentos de economia solidária e nenhum dos

sistemas encontrados em uso atualmente possui qualquer tipo de relação

especificamente com este tema. Por isso, a proposta de desenvolver um sistema

com foco nas características que tornam tais empreendimentos sustentáveis.

A partir do estudo dos três sistemas considerados mais relevantes, segundo a

pesquisa de Bellen (2006), o Ecological Footprint Method, o Dashboard of

Sustainability e o Barometer of Sustainability, decidiu-se por seguir os procedimentos

desse último por apresentar maior flexibilidade para adaptação aos

empreendimentos, enquanto os demais têm o foco na análise do grau de

sustentabilidade de determinadas nações.

24

Por ser uma iniciativa pioneira, já que é desconhecido atualmente um sistema de indicadores de sustentabilidade voltado a empreendimentos de economia solidária, deve ser considerada provisória, a ser aperfeiçoada a partir de outros estudos que certamente virão.

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112

O Barômetro da Sustentabilidade (Barometer of Sustainability) é um modelo

recente e traz uma característica importante para o processo de adaptação que é a

capacidade de combinar diferentes indicadores. Neste ponto, é possível analisar

diferentes questões e dimensões e por isso acredita-se que este modelo permitirá à

pesquisa chegar ao resultado mais satisfatório possível (BELLEN, 2006).

Apesar de o barômetro utilizar basicamente somente duas dimensões nas

suas análises, focando no bem estar social e ambiental, e deixar de fora dimensões

importantes como a econômica, o sistema ganha vantagens pela adaptabilidade

através de uma escala de desempenho de cinco pontos que vão de insustentável a

sustentável, com estágios intermediários. Comparando este sistema a outros, a

exemplo do o Dow Jones Sustainability Index, pode se considerar como uma

vantagem importante à rápida capacidade de avaliação (CHEN et al, 2013).

Como afirma Veiga (2010, p. 11) “A avaliação, a mensuração e o

monitoramento da sustentabilidade exigirão necessariamente um trinca de

indicadores, pois é estatisticamente impensável fundir em um mesmo índice apenas

duas de suas três dimensões”, uma vez que cada dimensão apresenta

características específicas que exigem, necessariamente, indicadores específicos

para se conseguir uma análise mais eficaz.

De acordo com este sistema, faz-se necessário seguir um ciclo de seis

estágios para se construir um modelo de avaliação que melhor se adéque ao estudo

em questão e responda aos desafios propostos: definir os sistemas, subsistemas e

as respectivas metas; identificar questões e objetivos-chave; escolha dos

indicadores mensuráveis e critérios de performance; medição e organização dos

indicadores; combinação dos indicadores; alocação, organização e revisão dos

resultados (BELLEN, 2006).

2. Sistemas e Metas

No que tange à discussão de sistemas e metas, faz-se necessário definir os

sistemas e subsistemas que serão úteis à avaliação do grau de Sustentabilidade em

empreendimentos de Economia Solidária e as respectivas metas que permitem

classificá-los em sustentáveis, ou não, e nos respectivos estágios intermediários.

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113

A análise feita foi preponderantemente descritiva e, sobretudo, subjetiva, uma

vez que as metas e critérios definidos em cada sistema e subsistema são

suscetíveis de interpretação por parte do pesquisador. Poucos dos subsistemas a

serem estudados a seguir possuem metas quantificáveis25, portanto, a análise

destes será qualitativa. As metas foram definidas quando definidos os indicadores

de cada subsistema. Bellen (2002) chama a atenção para o cuidado na escolha dos

indicadores, pois o excesso destes pode distanciar o foco do conceito de

desenvolvimento sustentável. Kraychete (2012) reforça esta ideia, ao afirmar que:

Os indicadores não são neutros, mas servem a determinados objetivos. Não apenas captam um aspecto de uma determinada realidade, mas conferem um sentido, uma direção e um significado às ações e aos desejos, balizam e sancionam metas e avaliações (KRAYCHETE, 2012, p. 15).

Neste estudo, os sistemas foram formados por subsistemas que apresentarão

o conjunto de indicadores, critérios e metas a serem pesquisados para análise do

grau de sustentabilidade dos empreendimentos. Trabalhou-se com as três

dimensões da sustentabilidade, a serem chamadas de sistemas: ambiental; social e;

econômica. Dentro de cada sistema, foram definidos alguns subsistemas, os quais

foram compostos por questões chaves e indicadores que deram base à análise.

a. Sistema Ambiental

Do ponto de vista ambiental, ou ecológico, definiram-se quatro subsistemas.

O primeiro diz respeito à análise do produto gerado, qual o tipo de produção

(agroecológico, extrativista, etc.), se o mesmo gera impacto para o meio ambiente

antes e após a produção e do processo, levando em consideração os resíduos

gerados, a meta neste ponto é gerar impacto zero, conservando os recursos naturais

e tratando 100% dos resíduos. O segundo condiz com a consciência ecológica das

pessoas envolvidas no processo produtivo, o objetivo é que 100% dos envolvidos

demonstrem consciência e preocupação com o ambiente. O terceiro almeja perceber

as ações do empreendimento voltadas à preservação ambiental interna e

externamente. A meta é que estas ações sejam suficientemente relevantes para o

município ou região onde o empreendimento se situa. Como um indicador

quantitativo ainda não foi criado, esta mensuração foi subjetiva. 25

Não foi trabalhada a quantificação dos indicadores neste esboço, o que não significa que não possa ser desenvolvida em estudos posteriores.

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b. Sistema Social

Do ponto de vista social, ou humano, definiram-se quatro subsistemas. O

primeiro diz respeito à quantidade de pessoas envolvidas com o empreendimento

que possuem melhorias quanto à qualidade de vida. Neste sentido, o objetivo é que

o número de pessoas envolvidas seja o máximo relevante para o município ou

região. O segundo tenta analisar a qualidade de vida dos envolvidos, neste ponto o

objetivo é observar o acesso destes à saúde e educação, conhecimento e cultura e

ter as melhores condições possíveis para tal. O terceiro almeja perceber as ações do

empreendimento voltadas à responsabilidade social interna e externamente. A meta

é que estas ações sejam suficientemente relevantes para o município ou região

onde o empreendimento se situa. Como um indicador quantitativo ainda não foi

criado, esta mensuração foi subjetiva.

c. Sistema Econômico

Do ponto de vista econômico, três subsistemas são importantes. O primeiro

diz respeito à fluidez do empreendimento, ou seja, a viabilidade econômica, a meta

aqui é que o empreendimento apresente controle e organização financeira e

resultados positivos nos últimos exercícios, além de perspectivas positivas para os

próximos períodos. O segundo trata da quantidade de pessoas envolvidas e

equidade de distribuição de renda por parte do empreendimento entre os envolvidos,

neste ponto o objetivo é o total de pessoas envolvidas seja o máximo relevante para

o município ou região (como um indicador quantitativo ainda não foi criado, esta

mensuração foi subjetiva), se a renda gerada é superior ao soldo mínimo, se é

suficiente para garantir a melhoria da qualidade de vida dos envolvidos e também se

há disparidade na renda destes. O terceiro almeja perceber o posicionamento de

mercado e a tendência comercial, aqui a meta é que o empreendimento apresente

um setor comercial organizado e preparado, produtos de qualidade e com demanda

no mercado em curto e longo prazo, que possua parcerias sólidas sempre com

resultados positivos para ambos os lados (ganha-ganha) e que tenha uma marca

consolidada.

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3. Questões, Objetivos, Indicadores e Critérios de Performance

Neste estágio identificaram-se os assuntos-chave e características dos

sistemas e subsistemas definidos anteriormente a fim de ter uma leitura mais

próxima da situação do objeto estudado. Além disso, definiram-se os objetivos com o

intuito de descrever mais detalhadamente as metas estabelecidas. Para isso,

definiram-se as questões-chave dividas por sistema e subsistema (BELLEN, 2006).

Alguns indicadores utilizaram o conceito de relevância, o qual é analisado

levando em consideração os resultados atingidos comparativamente em relação ao

público alvo (município ou região de atuação) e o potencial de alcance destes

resultados. Esta análise é subjetiva e pode ter resultados diferentes a depender da

interpretação do analisador.

Nos sub-tópicos a seguir foram discutidos os critérios de performance das

questões chave estabelecidas, detalhando os aspectos mensuráveis e os padrões

alcançáveis e desejáveis para cada questão estabelecida. Para cada critério, foi

adaptada a escala do barômetro da sustentabilidade de cinco pontos, utilizando

como os padrões ruim, pobre, médio, bom, ótimo. (BELLEN, 2006).

A escala utilizada se propõe a analisar o grau de sustentabilidade, a proposta

é relacionar o nível ruim com o não sustentável e o de ótimo com sustentável, sendo

que os demais níveis (pobre, médio e bom) se encaixam como parciais nesta

análise.

a. Sistema Ambiental

i. Produto gerado e processo, se o mesmo gera impacto para o meio

ambiente antes e após a produção:

Quais os produtos do empreendimento?

o A definição é resultado da análise da gama de produtos do

empreendimento, destacando o tipo de produto e de embalagem e sua

relação com o meio ambiente. O objetivo neste ponto é identificar 100%

(cem por cento) dos produtos naturais e embalagens ecologicamente

aceitáveis. Quanto mais sintéticos ou artificiais, mais próximos do ruim.

Quanto mais naturais, mais próximos do ótimo.

Quais as matérias primas utilizadas na produção?

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116

o São levantadas e analisadas as matérias primas utilizadas pelo

empreendimento, tipo de produto e de embalagem e sua relação com o meio

ambiente. O objetivo neste ponto é identificar 100% de matérias primas

naturais e embalagens ecologicamente aceitáveis. Quanto mais sintéticos ou

artificiais, mais próximos do ruim. Quanto mais naturais, mais próximos do

ótimo.

É conhecido o impacto gerado na produção destas matérias primas?

o É analisado o grau de conhecimento do empreendimento em relação

ao processo produtivo da matéria prima nos fornecedores. O intuito é de que

o empreendimento conheça e monitore o impacto ambiental gerado pelos

fornecedores. Quanto menor o impacto, mais próximo do ótimo.

O produto final é natural? É biodegradável?

o É analisada a composição do produto final. Quanto maior a

composição de matérias naturais e biodegradáveis e, consequentemente,

menor tempo de absorção pelo ambiente, mais próximos do ótimo, uma vez

que o impacto ambiental gerado será menor.

É conhecido o impacto ambiental do descarte do produto final após

uso?

o É analisado o grau de conhecimento do empreendimento em relação

ao descarte do produto final após o uso. Quanto menor o impacto, mais

próximo do ótimo.

Quais os resíduos gerados no processo? Como se dá o controle e

como são tratados estes resíduos?

o É analisado o grau de conhecimento e controle dos resíduos gerados

no processo de produção. É levado em consideração também o trabalho

desenvolvido pelo empreendimento no intuito de reaproveitar estes resíduos.

Quanto maior o controle, tratamento e reaproveitamento, mais próximo do

ótimo.

ii. Consciência ecológica das pessoas envolvidas no processo:

A preservação ambiental é um dos focos do empreendimento? O

empreendimento possui uma política ambiental?

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117

o É analisado o grau de conhecimento e dedicação do empreendimento

com vistas à preservação ambiental. Quanto maior a dedicação e melhor os

resultados, mais próximo do ótimo.

O empreendimento está em conformidade com as normas ambientais

(federais, estaduais e municipais)?

o É analisado se o empreendimento necessita de licença ambiental e se

o possui e se o mesmo tem conhecimento e atende às normas legais neste

âmbito. Quanto maior a conformidade com as normas, mais próximo do

ótimo.

As pessoas envolvidas no processo têm conhecimento da política

ambiental do empreendimento, caso haja? Há um sentimento proativo em

relação à preservação ambiental dentro do empreendimento?

o É analisado se as pessoas que estão envolvidas diretamente com o

empreendimento conhecem e se dedicam à preservação ambiental e de que

forma este tema é tratado, em escala de prioridades. Quanto maior a

dedicação e proatividade destes, mais próximo do ótimo.

O empreendimento cria meios para garantir esta consciência

ambiental?

o É analisado se, e de que forma, o empreendimento capacita, educa e

conscientiza as pessoas envolvidas para a preservação ambiental. Quanto

mais o empreendimento cria meios que garantam essa conscientização,

mais próximo do ótimo.

iii. Ações do empreendimento voltadas à preservação ambiental interna e

externamente:

O empreendimento possui algum projeto em andamento, já executado

ou previsto na área de preservação ambiental?

o São analisados os projetos do empreendimento voltados à preservação

ambiental e os resultados do mesmo. Quanto mais projetos desenvolvidos e

mais relevantes os resultados destes, mais próximo do ótimo.

Quais as ações internas, voltadas aos produtos e processos e às

pessoas envolvidas? Existe uma política de redução do uso de energia?

Existem ações voltadas ao aproveitamento dos resíduos da produção?

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o São analisadas as ações do empreendimento voltadas à preservação

ambiental, internamente frente às pessoas, produtos e processos, com foco

na redução do consumo de energia e aproveitamento dos resíduos. Quanto

mais ações desenvolvidas e mais relevantes os resultados destas, mais

próximo do ótimo.

Critérios ambientais são levados em consideração na seleção de

fornecedores?

o É analisado o grau de relevância do fator ambiental na seleção de

fornecedores e os resultados destes critérios. Quanto maior a relevância e

melhores os resultados, mais próximo do ótimo.

b. Sistema Social

i. Quantidade de pessoas envolvidas com o empreendimento que

possuem melhorias quanto à qualidade de vida

Quantas pessoas estão envolvidas diretamente com o

empreendimento?

o É analisada a quantidade de pessoas que estão envolvidas

diretamente com o empreendimento e de que forma se dá esta relação.

Quando mais pessoas e mais benéfica a relação para ambos, mais próximo

do ótimo.

Quantas pessoas estão envolvidas indiretamente?

o É analisada a quantidade de pessoas que estão envolvidas

indiretamente com o empreendimento e de que forma se estabelece esta

relação. Quando mais pessoas e mais estável a relação, mais próximo do

ótimo.

De que forma estas pessoas são beneficiadas?

o É analisada a forma como o empreendimento trabalha estes benefícios

às pessoas envolvidas e o potencial de melhoria. Quando mais benéfica à

relação para ambos, mais próximo do ótimo.

Quais os setores da sociedade civil que possuem envolvimento?

o É analisada a relação dos diferentes setores da sociedade civil com o

empreendimento e os benefícios que o empreendimento traz para cada

setor. Quanto mais setores envolvidos, mais próximo do ótimo.

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Qual o total de mulheres?

o É identificado o número de mulheres e o grau de envolvimento destas

com o empreendimento. Quanto mais mulheres envolvidas, mais próximo do

ótimo.

o Qual o total de jovens (até 24 anos)?

o É analisado qual o envolvimento dos jovens com o empreendimento.

Quanto mais jovens envolvidos, mais próximo do ótimo.

Onde se inserem estes jovens e mulheres dentro do empreendimento?

o É analisada a participação de jovens e mulheres e a relevância no

cotidiano do empreendimento. Quanto maior a participação, mais próximo do

ótimo.

Como o empreendimento gere as relações hierárquicas de poder

internamente?

o É analisada a gestão do empreendimento quanto à hierarquia

organizacional e as relações de poder no empreendimento e o nível de

autogestão na tomada de decisões. Quanto mais horizontais tais relações de

poder, mais próximo do ótimo.

Qual o potencial do empreendimento em envolver mais pessoas?

o É analisado o potencial que o empreendimento possui em atrair e

beneficiar mais pessoas em curto e longo prazo. Quanto maior este

potencial, mais próximo do ótimo.

Como é trabalhada a inserção de pessoas no empreendimento?

o É analisado o processo de associação de novas pessoas e quais as

ações do empreendimento em prol de agregar mais pessoas. Quanto mais

ações neste sentido, mais próximo do ótimo.

ii. Qualidade de vida das pessoas beneficiadas

Como o empreendimento introduz a cultura local/regional no seu

produto?

o É analisado a influência da cultura nos produtos do empreendimento e

como o empreendimento trabalha este ponto. Quanto maior ações neste

sentido, mais próximo do ótimo.

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O fato de o empreendimento valorizar a cultura local/regional contribui

para a comercialização dos produtos? Houve uma mudança para adaptação

ao mercado?

o É analisado de que forma o empreendimento percebe a influência do

apelo cultural na comercialização dos produtos do empreendimento. Quanto

maior esta influência, mais próximo do ótimo.

O empreendimento respeita a diversidade cultural?

o É analisado de que forma o empreendimento trabalha a diversidade

cultural interna e externamente. Quanto mais o empreendimento trabalha a

diversidade cultural, mais próximo do ótimo.

Há alguma política de treinamentos/capacitação no empreendimento?

Como ocorre esse processo com as pessoas envolvidas?

o É analisado de que forma o empreendimento trabalha o treinamento e

capacitação das pessoas envolvidas. Quanto mais ações neste sentido,

mais próximo do ótimo.

Durante o trabalho com o empreendimento, há uma preocupação com

a segurança e saúde ocupacional dos envolvidos?

o São analisados os riscos das pessoas envolvidas durante a produção e

de que forma o empreendimento trabalha a saúde ocupacional destas.

Quanto maior o cuidado do empreendimento com estas pessoas, mais

próximo do ótimo.

As pessoas envolvidas possuem residência própria? Possuem acesso

à saúde e à educação de qualidade?

o É analisada a qualidade de vida das pessoas envolvidas com o

empreendimento e as ações do empreendimento voltadas para a melhoria

da qualidade de vida destes. Quanto maior a qualidade de vida destas

pessoas, mais próximo do ótimo.

Como o empreendimento pensa a escolarização dos seus membros?

o São analisados o nível de escolaridade das pessoas envolvidas com o

empreendimento e as ações do empreendimento voltados à escolarização

destes. Quanto maior o nível de escolaridade e melhor o trabalho do

empreendimento com este fim, mais próximo do ótimo.

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Há alguma relação do empreendimento com alguma escola família

agrícola (EFA)? Há alguma relação do empreendimento com alguma escola

técnica (Exemplo: CEEP)?

o São analisadas as relações do empreendimento com instituições

voltadas à educação no campo e na cidade. Quanto melhor a relação com

tais instituições parceiras, mais próximo do ótimo.

iii. Ações do empreendimento voltadas à responsabilidade social interna e

externamente

O empreendimento possui algum projeto em andamento, já executado

ou previsto na área de responsabilidade social26?

o São analisados os projetos do empreendimento e o alcance dos

mesmos. Quanto mais projetos e maior o alcance, mais próximo do ótimo.

Quais as ações internas que demonstram preocupação com a

qualidade de vida dos envolvidos?

o São analisadas as ações do empreendimento voltadas diretamente à

melhoria da qualidade de vida dos envolvidos internamente. Quanto mais

ações e melhor o resultado, mais próximo do ótimo.

Quais as ações externas que demonstram preocupação com a

qualidade de vida da população?

o São analisadas as ações do empreendimento voltadas diretamente à

melhoria da qualidade de vida dos envolvidos externamente. Quanto mais

ações e melhor o resultado, mais próximo do ótimo.

c. Sistema Econômico

i. Viabilidade econômica do empreendimento

As receitas são maiores que as despesas?

o São analisados os resultados financeiros do empreendimento. Quanto

maior as receitas em relação às despesas, mais próximo do ótimo.

O Demonstrativo de Resultados do Exercício (DRE) dos últimos anos,

caso haja, tem sido positivo?

26

Conjunto de ações com o intuito de promover o bem estar coletivo, prezando pela melhoria da qualidade de vida da população.

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o É analisado o DRE a fim de perceber se os resultados financeiros do

empreendimento têm sido positivos. Quanto mais positivo o resultado

financeiro, mais próximo do ótimo.

O fluxo de caixa tem sido positivo?

o É analisado o fluxo financeiro do empreendimento. Quanto mais

positivo este fluxo, mais próximo do ótimo.

O empreendimento possui ativos imobilizados?

o São analisados os ativos do empreendimento. Quanto maior o valor

destes ativos, mais próximo do ótimo.

O empreendimento possui capital de giro?

o É analisado o nível de capital de giro do empreendimento e se é

suficiente para manter o fluxo operacional do empreendimento. Quanto

maior o nível de capital de giro, mais próximo do ótimo.

Existem gargalos financeiros?

o São analisados os gargalos financeiros, caso existam, e como o

empreendimento gere estes gargalos. Quanto menor o impacto destes

gargalos e maior o controle do empreendimento, mais próximo do ótimo.

Você compreende a composição do seu preço?

o É analisado o nível de conhecimento do empreendimento na

composição do preço de venda dos seus produtos. Quanto maior o controle

na formação de preços, mais próximo do ótimo.

O preço de venda utilizado para cada produto é superior aos custos de

produção?

o É analisada a composição de preços dos produtos do empreendimento

e se cobrem o custo de produção. Quanto mais precisos os preços em

relação ao custo, mais próximo do ótimo.

Existe um controle financeiro diário das finanças do empreendimento?

o É analisado como o controle financeiro do empreendimento no dia a

dia. Quanto maior o controle, mais próximo do ótimo.

O empreendimento possui pessoal capacitado para a gestão do

mesmo?

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o É analisada a formação e experiência prática das pessoas

responsáveis no empreendimento pela gestão financeira. Quanto mais

capacitadas, mais próximo do ótimo.

ii. Quantidade de beneficiados e justiça de distribuição de renda

Qual a renda média dos envolvidos? O valor recebido é justo e

igualitário? A renda é suficiente para pagar as despesas do dia a dia?

o É analisada a renda das pessoas envolvidas e se o valor é justo e

igualitário. Quanto maior o valor médio e mais justo o valor recebido, mais

próximo do ótimo.

O valor de compra de produtos e serviços é considerado justo, levando

em consideração os valores praticados no mercado?

o São analisados os preços pagos pelo empreendimento na compra de

matérias primas e outros comparativamente aos preços pagos pelo

mercado. Quanto mais próximos do preço de mercado, mais próximo do

ótimo.

Quantas pessoas têm algum benefício financeiro direto ou indireto com

o empreendimento?

o É analisada a quantidade de pessoas que estão envolvidas direta e

indiretamente com o empreendimento e de que forma se dá esta relação no

âmbito financeiro. Quando mais pessoas e mais benéfica a relação para

ambos, mais próximo do ótimo.

De que forma estas pessoas são beneficiadas?

o É analisada a forma como o empreendimento trabalha estes benefícios

às pessoas envolvidas e o potencial de melhoria. Quando mais benéfica a

relação para ambos, mais próximo do ótimo.

Quais os setores da sociedade civil que possuem envolvimento no

âmbito financeiro?

o É analisada a relação no âmbito financeiro dos diferentes setores da

sociedade civil com o empreendimento e os benefícios que este traz para

cada setor. Quanto mais setores envolvidos, mais próximo do ótimo.

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iii. Posicionamento de mercado do empreendimento e a tendência

comercial

Quais os produtos do empreendimento?

o São analisados os produtos do empreendimento e como se dá o

processo de produção do mesmo. Quanto maior o padrão de qualidade dos

produtos, mais próximo do ótimo.

Como está a relação demanda-oferta no mercado dos produtos

oferecidos pelo empreendimento?

o É analisado o posicionamento de mercado dos produtos do

empreendimento e se há determinado equilíbrio entre a oferta e demanda.

Quanto maior o equilíbrio ou maior a demanda, mais próximo do ótimo.

Como é feita a utilização da marca do produto? As marcas são

registradas?

o São analisadas as marcas utilizadas pelo empreendimento e de que

forma estas se colocam ao mercado. Quanto mais bem trabalhadas as

marcas, mais próximo do ótimo.

Como o desenvolvimento de novas tecnologias é visto pelo

empreendimento? Como se dá o processo de inovação?

o São analisadas as ações do empreendimento para inovação e

desenvolvimento de novas tecnologias. Quanto mais ações efetivas neste

sentido, mais próximo do ótimo.

Há uma preocupação com o desenvolvimento de novos produtos?

o São analisadas as ações do empreendimento para desenvolvimento de

novos produtos e o posicionamento do mercado para estes. Quanto mais

ações efetivas neste sentido, mais próximo do ótimo.

Existem muitos produtos substitutos?

o São analisados os produtos substitutos, caso houver, e como o

empreendimento trabalha esta questão no mercado. Quanto mais preparado

o empreendimento neste sentido, mais próximo do ótimo.

Existem concorrentes?

o São analisados os concorrentes, caso houver, e como o

empreendimento trabalha esta questão no mercado. Quanto mais preparado

o empreendimento neste sentido, mais próximo do ótimo.

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Como o empreendimento trabalha a sua estratégia comercial?

o É analisada a estratégia comercial do empreendimento e se a mesma

se adéqua ao mercado. Quanto mais preparado o empreendimento neste

sentido, mais próximo do ótimo.

Os preços atendem à necessidade dos clientes?

o É analisado o posicionamento de mercado dos produtos do

empreendimento em relação ao preço. Quanto mais próximos das

expectativas do mercado, mais próximo do ótimo.

Há um trabalho para geração de valor sobre os resíduos gerados?

o É analisado o trabalho do empreendimento sobre os resíduos gerados

no processo. Quanto maior o valor gerado pelo aproveitamento de resíduos,

mais próximo do ótimo.

Como o empreendimento trabalha a geração de valor para os produtos

oferecidos pela comunidade local?

o É analisado o trabalho do empreendimento no intuito de agregar valor

aos produtos oferecidos pela comunidade local ou regional em toda a sua

cadeia. Quanto mais efetivo os resultados deste trabalho, mais próximo do

ótimo.

4. Medição e Representação Gráfica

O sistema deve ser flexível o suficiente para adaptar às alterações e às

exigências dos empreendimentos em cada momento. Para cada análise, os

resultados são atribuídos aos escores relativos ao critério da escala de performance

dos cinco níveis (ruim, pobre, médio, bom, ótimo). A combinação dos resultados dos

indicadores segue a hierarquia e a ponderação de cada eixo.

Bellen (2002, p. 153) complementa afirmando que “os valores dos indicadores

são estabelecidos pela relação linear que ocorre a partir do momento em que se

estabelece o valor mínimo e máximo para cada setor ou escala como um todo”. Se

os indicadores são considerados igualmente importantes, o resultado pode ser

obtido por uma média aritmética, mas se há diferentes níveis de importância, é

preciso valorar cada indicador e o resultado será obtido através de média

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126

ponderada. Faz-se necessário ressaltar a possibilidade de existência de indicadores

críticos, que devem ser observados prioritariamente.

i. Representação Gráfica dos Resultados

O sistema se divide em dimensões nas quais, dentro de cada dimensão, são

definidos os elementos e sub-elementos que permitem a avaliação de cada

dimensão. A leitura visual dos resultados permite a análise de uma perspectiva geral

dos resultados através do índice de performance (BELLEN, 2006).

O sistema barômetro da sustentabilidade trabalha com duas dimensões,

contudo neste estudo utilizam-se três dimensões, assim foi preciso propor um

sistema tridimensional para substituir o gráfico comumente utilizado. A sugestão é

uma demonstração em pirâmide tridimensional (Figura 18) em que a superfície

formada por três pontos, sendo um em cada dimensão (sistema), demonstra o

resultado da análise feita pelo sistema.

Figura 18: Pirâmide da Sustentabilidade

Quanto mais alto o ponto na pirâmide, maior o grau de sustentabilidade.

Fonte: Elaborado por Oliveira, Uirã S. B., 2017

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Mesmo assim, tratando-se de um sistema que preza pela flexibilidade, a

possibilidade de combinação de resultados em duas dimensões também poderá ser

feito através da Figura 19. O cruzamento de duas dimensões em um quadro também

demonstra resultados importantes, inclusive para análises onde o pesquisador

trabalhar somente com parte dos indicadores.

Figura 19: Quadro da Sustentabilidade

Quanto mais próximo da extremidade superior direita, maior o grau de sustentabilidade.

Fonte: Adaptado de Bellen, H. M. V. Indicadores de Sustentabilidade: uma análise comparativa. Rio

de Janeiro: Editora FGV: 2006. 2ª Ed. 256p.

Para verificar a viabilidade do sistema desenvolvido na prática, os

empreendimentos selecionados para estudo participaram de uma entrevista. A fim

de facilitar a quantificação dos resultados, para cada nível (ruim, pobre, médio, bom,

ótimo) foi designado um número de um (1) a cinco (5), de ruim a ótimo,

respectivamente. O valor para cada questão chave foi alcançado por média

aritmética das notas (um a cinco) dadas pelo pesquisador após a entrevista com o

empreendimento.

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128

5. Experimentação prática

A fim de testar a utilidade prática do Sistema, utilizamos as respostas da

entrevista para gerar um resultado o mais objetivo possível, apesar da análise ser

subjetiva e estar sujeita a interpretação do entrevistador. Para esta experimentação

prática, foram utilizados os resultados da entrevista da Cooperafis, a fim de garantir

a imparcialidade da análise, uma vez que este é o empreendimento selecionado

com menor relação com o entrevistador.

A análise foi realizada por questão chave, abaixo um resumo dos resultados

por subsistema e representação gráfica dos resultados alcançados através de média

aritmética.

a. Sistema Ambiental

i. Produto gerado e processo, se o mesmo gera impacto para o meio

ambiente antes e após a produção:

Os produtos são naturais, as matérias primas utilizadas são fibras

naturais, inclusive a tinta usada no tingimento é natural – somente para

cores mais fortes, como o vermelho, faz-se necessário utilizar tintas

sintéticas. Neste sentido, a análise é de que o grau de sustentabilidade

neste ponto é ótimo (5).

As embalagens utilizadas são sintéticas, não biodegradáveis. Neste

sentido, a análise é de que o grau de sustentabilidade é ruim (1).

Utiliza-se a fibra do sisal e do caroá, ambas 100% naturais. Neste

ponto, o grau de sustentabilidade é considerado ótimo (5).

Algumas matérias primas possuem embalagens, outras não. As

embalagens não são naturais, mas são sempre reaproveitadas. Neste ponto,

o grau de sustentabilidade é considerado bom (4).

O empreendimento conhece o processo produtivo destas matérias

primas e o impacto ambiental gerado é mínimo, pois os produtos são

biodegradáveis. O grau de sustentabilidade neste ponto é ótimo (5).

O empreendimento acredita que o produto final é biodegradável,

todavia nunca foi feito um diagnóstico neste sentido. Pelas matérias primas

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utilizada, os produtos tendem a ser biodegradáveis. Neste ponto, o grau de

sustentabilidade é bom (4).

O empreendimento desconhece o tempo de absorção do produto pelo

meio ambiente, mas devido às matérias primas serem naturais e os produtos

biodegradáveis, a tendência é de que seja curto. Neste ponto, o grau de

sustentabilidade é bom (4).

O impacto do descarte do produto final após o seu uso tende a ser

mínimo devido à composição dos produtos, todavia o empreendimento não

tem controle e conhecimento sobre o tema. O grau de sustentabilidade neste

ponto é médio (3).

O empreendimento controla internamente os resíduos gerados no

processo, mas não tem controle sobre os resíduos gerados no campo pelas

cooperadas. Pelos materiais envolvidos, o resíduo tende a ser mínimo, mas

não há controle. O grau de sustentabilidade neste ponto é médio (3).

Para este subsistema, a média do empreendimento foi 3,78, o que indica um

grau de sustentabilidade entre médio e bom.

ii. Consciência ecológica das pessoas envolvidas no processo:

A preservação ambiental está registrada como um dos objetivos

estatutário e regimental. Não há uma política voltada exclusivamente à área

ambiental. Na prática, tem potencial para melhorar, por isso o grau de

sustentabilidade é bom (4).

O empreendimento está parcialmente em conformidade com as normas

ambientais. Algumas ações das cooperadas podem estar em desacordo.

Desta forma, o grau de sustentabilidade é médio (3).

As pessoas envolvidas com o empreendimento não tem conhecimento

da política ambiental. As ações acabam acontecendo isoladamente e não há

proatividade neste sentido. O grau de sustentabilidade é pobre (2).

O empreendimento não tem criado meios para conscientizar os

envolvidos do ponto de vista ambiental. O grau de sustentabilidade é ruim

(1).

Para este subsistema, a média do empreendimento foi 2,50, o que indica um

grau de sustentabilidade entre pobre e médio.

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iii. Ações do empreendimento voltadas à preservação ambiental interna e

externamente:

Alguns projetos na área ambiental já foram executados, mas não tem

nenhum em andamento ou previsto no momento. O grau de sustentabilidade

neste ponto é médio (3).

Existem ações internas voltadas à melhoria dos processos. Todavia

política de redução do consumo de energia e aproveitamento de resíduos

tem foco mais financeiro do que ambiental. O grau de sustentabilidade neste

ponto é médio (3).

Quando da seleção de fornecedores, critérios ambientais são levados

em consideração, pois as matérias primas são naturais, todavia não há um

registro desses critérios. O grau de sustentabilidade neste ponto é bom (4).

Para este subsistema, a média do empreendimento foi 3,33, o que indica um

grau de sustentabilidade entre médio e bom. A média do sistema foi

calculada em 3,20, com grau de sustentabilidade entre médio e bom. Apesar

da atuação positiva nesta dimensão, o empreendimento tem um potencial

grande não explorado e apresenta condições para melhorar esta avaliação.

b. Sistema Social

i. Quantidade de pessoas envolvidas com o empreendimento que

possuem melhorias quanto à qualidade de vida:

Atualmente são 120 mulheres envolvidas diretamente com a produção

no empreendimento, sendo que 80 estão ativas e 40 inativas. O grau de

sustentabilidade neste ponto é bom (4), pois se identifica um potencial em

envolver mais pessoas.

Consideram-se como os beneficiados indiretos os familiares, que

totalizam cerca de 840 pessoas envolvidas indiretamente. A quantidade é

considerável e relevante para a região, por isso o grau de sustentabilidade

neste ponto é bom (4).

Os setores da sociedade civil que possuem envolvimento são as

igrejas, os conselhos municipais, os sindicatos e associações comunitárias.

O envolvimento se dá através de parcerias, eventos, capacitações etc. O

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grau de sustentabilidade neste ponto é bom (4), pois este envolvimento tem

trazido resultados positivos.

Todas do grupo são mulheres, todavia nenhuma é jovem até 24 anos.

O grau de sustentabilidade neste ponto é ruim (2), pois, apesar de envolver

uma grande quantidade de mulheres, a ausência de jovens é considerada

prejudicial em longo prazo.

A presença da mulher se dá em todas as atividades, uma vez que é

uma cooperativa de mulheres, todavia identifica-se a ausência de jovens. O

grau de sustentabilidade neste ponto é médio (3).

O empreendimento desconhece o seu potencial e encontra grandes

dificuldades para atrair mais pessoas. O grau de sustentabilidade neste

ponto é péssimo (1).

O empreendimento desconhece o processo de inserção de novas

pessoas, enfrentam grandes dificuldades, apesar de haver uma

preocupação com isto. O grau de sustentabilidade neste ponto é péssimo

(1).

As relações entre os cooperados são mais pessoais, o que torna

algumas decisões profissionais mais difíceis e pode influenciar na gestão do

empreendimento. O grau de sustentabilidade neste ponto é ruim (2).

Para este subsistema, a média do empreendimento foi 2,63, o que indica um

grau de sustentabilidade entre pobre e médio.

ii. Qualidade de vida das pessoas beneficiadas:

A cultura local/regional está bastante presente, uma vez que todos os

produtos produzidos possuem como matérias primas principais os produtos

da localidade/região e as práticas de produção carregam em si costumes

locais. O grau de sustentabilidade neste ponto é ótimo (5).

O produto atende a uma gama de mercado que valoriza essa

diferenciação em relação aos concorrentes, por isso a contribuição para a

comercialização é bastante positiva. O produto passou por diversas

mudanças para chegar ao comercializado atualmente. O grau de

sustentabilidade neste ponto é ótimo (5).

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O empreendimento não demonstra valorizar a diversidade, mas

respeita as diversas demonstrações dentro e fora do empreendimento. Além

disso, foi parceira do projeto Sonora Brasil durante alguns anos que exibiu

shows de cantadoras do sisal e aboiadores pelo Brasil. O grau de

sustentabilidade neste ponto é bom (4).

Não existe uma política de treinamento/capacitação estabelecida, mas

o empreendimento busca capacitar e treinar as pessoas, apesar do nível de

participação ter reduzido bastante nos últimos anos. O grau de

sustentabilidade neste ponto é médio (3).

Sobre o conhecimento técnico no empreendimento, as cooperadas que

trabalham na produção todas estão capacitadas para tal. Na parte financeira

os responsáveis aprenderam na prática, mas hoje são consideradas

capacitadas para tal. Na parte comercial, o empreendimento carece de

pessoas capacitadas e precisa melhorar. No geral, o empreendimento tem

um potencial grande de melhoria. O grau de sustentabilidade neste ponto é

médio (3).

Durante o trabalho com o empreendimento, não é demonstrada uma

preocupação com a segurança e saúde ocupacional dos envolvidos. O

monitoramento do trabalho não acontece no cotidiano das cooperadas. O

empreendimento já prestou treinamento na área de ergonomia, mas nem

todas seguem. Atualmente não existe acompanhamento neste sentido. O

grau de sustentabilidade neste ponto é pobre (2).

Todas as mulheres envolvidas possuem residência própria. O acesso à

educação pública de nível técnico e superior é mais fácil nos dias atuais,

mas nem todas se interessam em participar. Já a saúde fica a cargo do

SUS, de difícil acesso e qualidade questionável. O grau de sustentabilidade

neste ponto é bom (4).

O empreendimento acredita que precisa de pessoas escolarizadas e

capacitadas para poder crescer, por isso trata como fundamental este ponto.

Mesmo assim, não há incentivos para tal. O grau de sustentabilidade neste

ponto é ruim (2).

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O empreendimento possui parceria com escolas técnicas atualmente,

mas em incentivos para escolarização. Não há parcerias com EFAs. O grau

de sustentabilidade neste ponto é ruim (2).

Para este subsistema, a média do empreendimento foi 3,33, o que indica um

grau de sustentabilidade entre médio e bom.

iii. Ações do empreendimento voltadas à responsabilidade social interna e

externamente:

Não existem projetos sociais em execução ou previstos, mas projetos

neste sentido já foram realizados no passado, inclusive um em parceria com

a PETROBRAS. O grau de sustentabilidade neste ponto é médio (3).

A preocupação com a qualidade de vida dos envolvidos existe, todavia

pode-se afirmar que é mais no âmbito pessoal do que profissional. Destaque

para uma preocupação com a saúde das mulheres. O grau de

sustentabilidade neste ponto é médio (3).

Não existem ações externas que demonstram preocupação com a

qualidade de vida da população. O grau de sustentabilidade neste ponto é

péssimo (1).

O processo de informação na cooperativa é transparente. Mensalmente

os resultados são divulgados e disponibilizados em mural, com informações

tais como receitas e despesas detalhadas e esclarecidas. Todas as

cooperadas têm acesso a estas informações. O grau de sustentabilidade

neste ponto é ótimo (5).

Para este subsistema, a média do empreendimento foi 3, o que indica um

grau de sustentabilidade médio. A média do sistema foi calculada em 2,99,

com grau de sustentabilidade entre pobre e médio. Apesar do trabalho

discreto nesta dimensão, o empreendimento tem potencial para melhorar e

por isso o resultado abaixo da média.

c. Sistema Econômico

i. Viabilidade econômica do empreendimento:

Os clientes do empreendimento são lojas de decoração e moda, que

compram os artesanatos e revendem ao consumidor final. Atualmente, o

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empreendimento só possui três clientes ativos e por isso o grau de

sustentabilidade neste ponto é ruim (2).

As receitas são maiores que as despesas, mas o risco de ter despesas

superiores pode ser considerado alto. O grau de sustentabilidade neste

ponto é bom (4).

Existe um controle diário das finanças do empreendimento através de

planilhas do Excel, onde registram todos os lançamentos. O grau de

sustentabilidade neste ponto é bom (4).

Existe um controle contábil terceirizado, o qual faz o acompanhamento

e gera balanço patrimonial, DRE e os demonstrativos necessários. O grau

de sustentabilidade neste ponto é bom (4).

O Demonstrativo de Resultados do Exercício (DRE) dos últimos anos

tem sido positivo. O grau de sustentabilidade neste ponto é ótimo (5).

Existe um controle de fluxo de caixa, onde as vendas interestaduais

são creditadas diretamente no banco e as vendas locais são feitas em

espécie e o caixa é fechado mensalmente e o saldo enviado ao banco. O

fluxo de caixa tem sido positivo. O grau de sustentabilidade neste ponto é

bom (4).

Como ativos imobilizados o empreendimento possui as sedes, nas

zonas urbana e rural. O grau de sustentabilidade neste ponto é médio (3).

O empreendimento possui capital de giro, mas pode-se dizer que é

insuficiente para a necessidade do grupo. O grau de sustentabilidade neste

ponto é médio (3).

O maior gargalo financeiro do empreendimento está no recebimento

dos títulos, pois devido ao baixo capital de giro se um cliente atrasa o

pagamento das contas fica comprometido. Devido à necessidade, o

empreendimento continua vendendo para os clientes que costumam atrasar

e como solução tentam manter um contato maior para sensibilizar o cliente

da importância do pagamento em dia. O grau de sustentabilidade neste

ponto é médio (3).

Os gestores do empreendimento compreendem a composição dos

preços trabalhados, todavia este preço sofre maior influência do mercado do

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que dos custos de produção, o que pode gerar um resultado baixo. O grau

de sustentabilidade neste ponto é médio (3).

O valor de mão de obra pago às artesãs varia de acordo com o preço

de venda, o que não necessariamente garante que estas recebam um preço

considerado justo pelo trabalho. O preço cobre os demais custos, mas o

grupo possui uma dificuldade quanto a incluir um valor justo pela mão de

obra no preço. O grau de sustentabilidade neste ponto é ruim (2).

O empreendimento capacitou a pessoa responsável para a gestão

financeira. Ter pessoal capacitado no empreendimento sempre foi um

desafio e por isso as mulheres do grupo buscam sempre estar aprimorando.

Apesar de a gestão financeira estar devidamente apta, outros setores

carecem de treinamento. O grau de sustentabilidade neste ponto é bom (4).

Para este subsistema, a média do empreendimento foi 3,42, o que indica um

grau de sustentabilidade entre médio e bom.

ii. Quantidade de beneficiados e justiça de distribuição de renda:

O empreendimento tem conhecimento da renda dos envolvidos, fica

abaixo de um salário mínimo. Apesar de podermos considerar os valores

como igualitários dentro do empreendimento, o grupo não o considera como

um valor justo, pois é insuficiente para o pagamento das despesas do dia a

dia e serve somente como complemento de renda. O grau de

sustentabilidade neste ponto é médio (3).

O empreendimento considera como injusto os valores pagos pelos

produtos e serviços contratatos pelo empreendimento, apesar de não ter

condições de pagar mais devido à limitação do preço de venda. O grau de

sustentabilidade neste ponto é ruim (2).

São cerca de 80 mulheres em atividade produtiva atualmente que

recebem pelas peças produzidas para comercialização. Mesmo servindo

como complemento de renda, esse é um numero relevante para o

desenvolvimento local. O grau de sustentabilidade neste ponto é bom (4).

Não existem outros setores da sociedade civil envolvidos no âmbito

financeiro com o empreendimento, somente as mulheres, tanto da zona

urbana quanto rural. O grau de sustentabilidade neste ponto é médio (3).

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Para este subsistema, a média do empreendimento foi 3, o que indica um

grau de sustentabilidade médio.

iii. Posicionamento de mercado do empreendimento e a tendência

comercial:

Os empreendimentos possuem produtos diferentes em três linhas, o

que garante uma diversificação na comercialização. O grau de

sustentabilidade neste ponto é bom (4).

Apesar da dificuldade com os preços, o mercado apresenta demanda

maior do que a oferta para os produtos oferecidos, o que estabelece um

potencial de crescimento positivo para o empreendimento, todavia

inexplorado. O grau de sustentabilidade neste ponto é médio (3).

A marca do empreendimento é registrada e divulgada nas etiquetas. O

grau de sustentabilidade neste ponto é ótimo (5).

O empreendimento não tem uma opinião formada sobre o

desenvolvimento de novas tecnologias, todavia tem buscado inovar com a

inserção de novas linhas de produtos. O grau de sustentabilidade neste

ponto é médio (3).

Há uma preocupação com o desenvolvimento de novos produtos,

todavia a dificuldade reside na colocação dos protótipos aprovados no

mercado – a maioria dos novos produtos não chega a ser colocados no

mercado. Geralmente os produtos novos que vão para o mercado são

aqueles solicitados pelos clientes. O grau de sustentabilidade neste ponto é

médio (3).

Existem muitos produtos substitutos no mercado. O principal desafio é

concorrer com os produtos importados, que são mais baratos. O grau de

sustentabilidade neste ponto é médio (3).

Concorrentes com produtos semelhantes existem poucos, inclusive

alguns foram capacitados pela própria Cooperafis. A maioria dos

concorrentes produzem produtos similares. Com um custo menor, os

produtos industrializados atrapalham a comercialização do grupo. O grau de

sustentabilidade neste ponto é médio (3).

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Todas as vendas são feitas diretamente pelo empreendimento, sem

representantes. A comercialização é feita a distância, sem visita aos clientes,

o que aumenta o risco de não recebimento. O empreendimento possui duas

tabelas, sendo uma voltada para vendas no atacado e uma para vendas no

varejo. O grau de sustentabilidade neste ponto é médio (3).

O empreendimento considera que os preços são baixos, todavia os

clientes os consideram como altos. Mesmo assim, os preços têm atendido à

necessidade dos clientes. O grau de sustentabilidade neste ponto é bom (4).

A maior dificuldade do ponto de vista comercial é conseguir visitar os

clientes para manter uma relação mais confiável e oportuna. O grau de

sustentabilidade neste ponto é médio (3).

Os resíduos gerados não são suficientes para comercialização. O grau

de sustentabilidade neste ponto é bom (4).

O trabalho do empreendimento tem foco na geração de valor para

estes produtos. Apesar disso, não consegue pagar um valor considerado

justo para produção destes. O grau de sustentabilidade neste ponto é bom

(4).

Para este subsistema, a média do empreendimento foi 3,5 o que indica um

grau de sustentabilidade entre médio e bom. A média do sistema foi

calculada em 3,31, com grau de sustentabilidade entre pobre e médio.

Apesar das dificuldades enfrentadas nesta dimensão, o empreendimento

apresenta resultado acima do ponto médio, mas tem potencial para

melhorar.

Ao analisar as informações gerais, nota-se que o grau ficou acima do ponto

médio para a análise da sustentabilidade social e econômica, mas abaixo do

ponto médio para a dimensão ambiental. Ao realizar o cruzamento de

informações, temos um grau de sustentabilidade sempre entre médio e bom:

Sustentabilidade social e ambiental, representada pela Figura 20 cruzando

os resultados 3,20 e 2,99, respectivamente; Sustentabilidade econômica e

ambiental, representada pela Figura 21 cruzando os resultados 3,31 e 2,99,

respectivamente e; Sustentabilidade econômica e social, representada pela

Figura 22, cruzando os resultados 3,31 e 3,20, respectivamente.

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Figura 20 – Sustentabilidade Social x Ambiental

Fonte: Oliveira, Uirã S. B., 2017

Figura 21 – Sustentabilidade Econômica x Ambiental

Fonte: Oliveira, Uirã S. B., 2017

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Figura 22 – Sustentabilidade Econômica x Social

Fonte: Oliveira, Uirã S. B., 2017

Ao realizar o cruzamento entre os três pontos, é possível visualizar o

resultado na Figura 23. São expostas em uma única figura as dimensões

trabalhadas.

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Figura 23 – Pirâmide da Sustentabilidade da Cooperafis

Fonte: Oliveira, Uirã S. B., 2017

A superfície formada na pirâmide pelos três pontos representa visualmente o

grau de sustentabilidade da Cooperafis.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

As atividades dos empreendimentos de economia solidária contribuíram para

o avanço do desenvolvimento sustentável do Território do Sisal, em especial o

município de Valente, conforme este estudo. Os empreendimentos beneficiam direta

e indiretamente pelo menos 10% da população e este resultado é considerado

relevante, tendo em vista a conjuntura social e econômica desfavorável na qual

estão inseridos.

O trabalho da APAEB possui uma importância histórica para o

desenvolvimento sustentável local e regional, todavia ao mapear todos os

empreendimentos do município, identificou-se um panorama que vai além do

trabalho desta associação. As atividades de todos os empreendimentos, mesmo que

alguns em menor escala, contribuem para um avanço social, ambiental e econômico

no município.

Um aspecto a ser destacado é a forte presença do público feminino nestes

empreendimentos. Diferentemente da ACPC Sisal e APAEB Laticínio, todos os

demais grupos são compostos majoritariamente por mulheres, reforçando a

importância da economia solidária para a inclusão social de gênero no município.

Entretanto, a presença de jovens nestes empreendimentos pode ser considerada

irrelevante, com participação significativa somente na ACPC Sisal.

Uma evolução importante em relação ao acesso destes empreendimentos a

projetos de entidades públicas e privadas é notável. Com a ajuda de entidades como

o MOC e a Fundação APAEB (entre outras) todos os empreendimentos conseguiram

se capacitar técnica e estruturalmente com a participação em cursos e treinamentos

e aquisição de máquinas e equipamentos. Isto foi possível através da participação

em projetos dos governos estadual e federal e de entidades internacionais. Pode-se

afirmar que todos os empreendimentos do município de Valente tem capacidade de

produção instalada suficiente para suas atividades, com exceção das atividades que

exigem trabalho totalmente artesanal.

Mesmo com essa capacidade instalada, boa parte dos empreendimentos não

consegue manter as atividades por dificuldades na comercialização. Com exceção

da ACPC Sisal e Cooperafis, os empreendimentos demonstram uma dependência

perigosa das compras públicas através de programas como o PAA e o PNAE e

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142

poucas vendas para o mercado privado. Apesar da importância destes programas

para a comercialização dos produtos alimentícios originários da agricultura familiar, a

concentração das vendas nestes programas é algo arriscado, pois pode trazer

resultados negativos em períodos de suspensão das compras ou mudança de

gestores municipais, uma vez que não há garantia da continuidade do fornecimento

em longo prazo.

Algo relevante foi a percepção de que os empreendimentos que possuem

uma maior relação com movimentos sociais, sindicatos, governo e outras entidades,

demonstrando maior articulação política, conseguiram ter melhores resultados. Esta

relação permitiu a esses grupos o acesso a projetos e parcerias que fizeram com

que os mesmos se estruturassem melhor através de capacitações, treinamentos,

doações de máquinas e equipamentos, acesso a crédito e melhoria da

comercialização, o que representou resultado relevante para a sustentabilidade dos

empreendimentos em geral. Portanto, a avaliação sobre a importância da dimensão

política para a sustentabilidade do empreendimento surge como um debate

importante para posteriores estudos.

Além disso, merece destaque as dificuldades enfrentadas para a

“sobrevivência” dos empreendimentos. No caso específico do município de Valente,

se observou que todos surgiram com uma finalidade prioritariamente social, com fins

econômicos, com o intuito principal de gerar renda para as pessoas do grupo, mas

ao disponibilizar produtos no mercado esbarraram em dificuldades similares, da

perspectiva comercial e financeira.

Acredita-se que alguns aspectos justificam a dificuldade de comercialização

no mercado privado em boa parte dos empreendimentos, a saber: ausência de

estrutura comercial e vendedores capacitados; dificuldade logística para entrega dos

produtos; ausência de registro fiscal e; capital de giro insuficiente para as atividades.

Neste ponto, precisam se aprimorar para garantir a sustentabilidade.

Apesar do notável esforço de algumas entidades para dar suporte e apoiar a

comercialização dos produtos dos empreendimentos, a maioria destes continua com

dificuldades. Acredita-se que é visível a possibilidade de fechamento de alguns dos

empreendimentos em caso de descontinuidade das compras públicas por parte do

governo municipal. Além disso, não há garantia da continuidade da política de

incentivo a nível estadual e federal. Este é um ponto crítico quando analisada a

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sustentabilidade dos empreendimentos. A prospecção de novos mercados e a

independência das compras públicas se faz urgente. Sugere-se que o apoio de uma

entidade focada no suporte à comercialização, nova ou já existente, deve contribuir

com a solução deste problema.

Apesar do impacto positivo do ponto de vista financeiro, um questionamento

imprescindível surge quando se analisa os resultados para a renda dos envolvidos.

O estudo demonstrou que grande parte da renda proveniente dos empreendimentos

funciona meramente como complemento. A dependência de programas sociais,

como o programa Bolsa Família, expõe uma fragilidade dessa população. O

resultado observado é que os cooperados/associados que melhor desempenham os

seus papéis são absorvidos pelo mercado privado de trabalho ou desistem nos

períodos de pouco resultado. Por isso, um incremento na renda deve ser tratado

como prioridade e é considerado imprescindível para a sustentabilidade dos

empreendimentos.

Um fator a ser considerado é que, com a conjuntura econômica e social do

município desfavorável, com alto desemprego e poucas oportunidades de trabalho, a

economia solidária no município de Valente gera renda ou seu complemento

diretamente para cerca de 600 pessoas, aproximadamente 2% da população. A

importância destes empreendimentos se reforça quando se identifica que mais da

metade destas pessoas residem na zona rural, onde a situação é ainda pior.

Portanto, o desafio da sustentabilidade nos empreendimentos de economia solidária

deve ser tratado como prioridade para garantir a melhoria da situação social,

ambiental e econômica em longo prazo. O equilíbrio entre estas dimensões é

fundamental.

Apesar de tratar o “Capítulo 4” como um esboço, houve um avanço inicial

significativo no sentido de compor, em estudos posteriores, um sistema capaz de

avaliar a sustentabilidade dos empreendimentos de economia solidária e apontar

oportunidades de melhoria com tal finalidade. Todavia, a ausência da ponderação

para o processo de quantificação dos resultados demonstrou que a confiabilidade do

resultado pode ficar aquém do esperado. A decisão acerca das dimensões a serem

levadas em consideração também deve ser reavaliada uma vez que, como citado

anteriormente, na análise da sustentabilidade dos empreendimentos de economia

solidária a dimensão política tem papel relevante.

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A economia solidária é formada por pessoas, cidadãos e cidadãs que em

conjunto lutam para modificar uma realidade imposta pelo capitalismo. São homens

e mulheres batalhadores que enfrentam com humildade e coragem a tecnologia de

ponta das grandes empresas. No município de Valente não é diferente. São

centenas de faces de uma dura realidade, mas que têm vencido com dedicação e

persistência cada barreira. São guerreiros e guerreiras que não desanimam com

desafios e que entendem o propósito maior de melhorar a qualidade de vida da

população. É necessário manter acesa a chama da economia solidária. A luta

precisa continuar.

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APÊNDICE I – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PLANEJAMENTO TERRITORIAL –

PLANTERR

MESTRADO PROFISSIONAL

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

As informações contidas neste Termo foram fornecidas com o objetivo de autorizar,

por escrito a minha participação, com pleno conhecimento dos procedimentos aos

quais serei submetido, com livre arbítrio, sem coação e sem remuneração de

qualquer espécie.

O objetivo é dispor meu tempo para contribuir com a pesquisa intitulada

“SUSTENTABILIDADE DOS EMPREENDIMENTOS DE ECONOMIA SOLIDÁRIA

NO MUNICÍPIO DE VALENTE – BAHIA”, sob a responsabilidade do mestrando Uirã

Santa Bárbara Oliveira do Curso de Pós-Graduação em Planejamento Territorial,

modalidade Mestrado Profissional, da Universidade Estadual de Feira de Santana,

sob orientação da Profª. Drª. Acácia Batista Dias e coorientação do professor Dr.

Ildes Ferreira de Oliveira. A pesquisa objetiva analisar a sustentabilidade dos

empreendimentos de economia solidária no município de Valente.

Convidamos você a participar desta pesquisa através de uma entrevista

gravada, a qual contém perguntas sobre o trabalho do empreendimento de

economia solidária o qual você representa, sua história, ações e práticas do dia a

dia, e, para alguns empreendimentos, informações mais especificamente ligadas à

indicadores de sustentabilidade. Destacamos que você pode escolher participar ou

não dessa pesquisa e pode também desistir de responder a entrevista em qualquer

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momento, sem nenhum tipo de prejuízo. Vale ressaltar também que estarei sempre

à sua disposição para responder qualquer eventual dúvida antes ou durante a

realização da pesquisa. Os depoimentos dados, após serem utilizados, ficarão sob a

responsabilidade dos pesquisadores, armazenados em sistema computacional

próprio e de uso restrito. Os resultados obtidos através desse estudo serão

apresentados e divulgados no trabalho final para a conclusão do Curso de Mestrado

acima citado, além de possíveis eventos como congressos, seminários, artigos,

revistas e produções científicas em geral.

Caso aceite participar, pedimos sua autorização através da assinatura deste

documento, o qual possui duas vias. Uma destas ficará com você e a outra conosco.

Em caso de dúvidas ou maiores informações sobre a pesquisa, você poderá entrar

em contato através do Departamento de Ciências Humanas e Filosofia (UEFS), que

fica na Avenida Transnordestina, s/n, Novo Horizonte, Módulo 7 – Campus

Universitário, Feira de Santana–BA. Telefone: (75) 3161-8142.

Agradecemos pela sua colaboração.

Feira de Santana, ______ de _______________ de ________.

____________________________ ____________________________ Profª Drª Acácia Batista Dias Uirã Santa Bárbara Oliveira DCHF/UEFS/Mód. VII Pesquisador Responsável

DCHF – UEFS Contato: [email protected]

____________________________ Representante do Empreendimento

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APÊNDICE II – ROTEIRO DA ENTREVISTA I. CARACTERIZAÇÃO DO EMPREENDIMENTO

a) Razão Social:

b) Nome Fantasia:

c) Endereço:

d) Atividade principal:

e) Produtos / serviços:

f) Ano de início:

g) CNPJ:

h) Telefone:

i) Email:

j) Site:

k) Missão:

l) Visão:

m) Objetivos:

n) Quantidade de sócios: Quantos homens? Quantas mulheres? Quantos jovens

(até 24 anos)?

o) Quantidade de colaboradores assalariados: Quantos homens? Quantas

mulheres? Quantos jovens (até 24 anos)?

p) Outros parceiros envolvidos (voluntários, etc.): Quantos homens? Quantas

mulheres? Quantos jovens (até 24 anos)?

II. HISTÓRICO DO EMPREENDIMENTO

a) Como foi o processo de criação do empreendimento? (razões, contexto, origens

do recurso, dos materiais, instalações, equipamentos, etc.);

b) Quais as principais dificuldades e obstáculos enfrentados?

a. Quais as soluções buscadas?

b. Quais parceiros externos e internos contribuíram no processo?

III. DIMENSÃO AMBIENTAL

III-I PRODUTOS E PROCESSOS

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a) Os produtos do empreendimento são naturais?

b) Qual o material da embalagem utilizada nos produtos? É biodegradável?

c) Quais as matérias primas utilizadas na produção? São naturais?

d) Qual o material da embalagem destes? É biodegradável? Qual finalidade é dada

a estes?

e) O empreendimento conhece o processo produtivo destas matérias primas? Tem

conhecimento do impacto ambiental da sua produção?

f) O produto final do empreendimento é biodegradável?

g) É conhecido o tempo de absorção do produto pelo meio ambiente?

h) O empreendimento tem controle sobre o descarte do produto final após o seu

uso? Qual o impacto gerado com esse descarte?

i) Quais os resíduos gerados no processo? Como se dá o controle e como são

tratados estes resíduos?

III-II CULTURA ECOLÓGICA

a) A preservação ambiental é um dos objetivos do empreendimento? O mesmo

possui uma política ambiental?

b) O empreendimento está em conformidade com as normas ambientais?

c) As pessoas envolvidas com o empreendimento tem conhecimento desta política?

Há um sentimento proativo em relação à preservação ambiental?

d) O empreendimento cria meios para garantir esta consciência ambiental?

(treinamentos, capacitações etc.)

III-II PROJETOS AMBIENTAIS

a) O empreendimento possui algum projeto em andamento, já executado ou

previsto na área de preservação ambiental?

b) Quais as ações internas, voltadas aos produtos e processos e às pessoas

envolvidas? Existe uma política de redução do uso de energia? Existem ações

voltadas ao aproveitamento dos resíduos da produção?

c) Critérios ambientais são levados em consideração na seleção de fornecedores?

IV. DIMENSÃO SOCIAL

IV-I ENVOLVIMENTO DAS PESSOAS

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a) No total, quantas pessoas estão envolvidas diretamente com o empreendimento?

De que forma se dá esse envolvimento?

b) No total, quantas pessoas estão envolvidas indiretamente com o

empreendimento? De que forma se dá esse envolvimento?

c) Quais os setores da sociedade civil que possuem envolvimento com o

empreendimento? De que forma se dá esse envolvimento?

d) Das pessoas envolvidas, quantas são mulheres, homens e jovens (até 24 anos)?

e) Onde se inserem estes jovens e mulheres dentro do empreendimento?

f) Qual o potencial do empreendimento em envolver mais pessoas?

g) Como é trabalhada a inserção de pessoas no empreendimento? Quais os

critérios para o ingresso de novos membros na cooperativa?

h) As relações entre os cooperados são mais pessoais ou profissionais?

IV-II CULTURA E QUALIDADE DE VIDA DAS PESSOAS BENEFICIADAS

a) Como o empreendimento introduz a cultura local/regional no seu produto?

b) Esta introdução contribui para a comercialização dos produtos? Houve uma

mudança para adaptação ao mercado?

c) O empreendimento respeita a diversidade cultural? De que forma?

d) Há alguma política de treinamentos/capacitação no empreendimento? Como

ocorre esse processo com as pessoas envolvidas?

e) Os cooperados/associados possuem o conhecimento técnico necessário para

realizar as atividades que executam?

f) Durante o trabalho com o empreendimento, há uma preocupação com a

segurança e saúde ocupacional dos envolvidos?

g) As pessoas envolvidas possuem residência própria? Possuem acesso à saúde e

à educação de qualidade?

h) Como o empreendimento pensa a escolarização dos seus membros?

i) Há alguma parceria do empreendimento com alguma escola família agrícola

(EFA)? Com alguma escola técnica (Exemplo: CEEP)?

IV-III RELAÇÕES INSTITUCIONAIS

a) O empreendimento possui algum projeto em andamento na área de

responsabilidade social? Algum já executado? Algum previsto?

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b) Existem ações internas que demonstram preocupação com a qualidade de vida

dos envolvidos? Caso existam, quais são? Caso não existam, há alguma

perspectiva neste sentido?

c) Existem ações externas que demonstram preocupação com a qualidade de vida

da população? Caso existam, quais são? Caso não existam, há alguma

perspectiva neste sentido?

d) Como funciona o processo de informação na cooperativa (acesso, transparência,

inclusive em relação aos recursos)?

V. DIMENSÃO ECONÔMICA

V-I VIABILIDADE ECONÔMICA DO EMPREENDIMENTO

a) Quais os tipos de consumidores dos produtos do empreendimento?

b) As receitas são maiores que as despesas?

c) Existe um controle diário das finanças do empreendimento? De que forma se dá

este controle? [caso não haja, entender o porquê]

d) Há controle contábil?

e) O Demonstrativo de Resultados do Exercício (DRE) dos últimos anos, caso haja,

tem sido positivo?

f) Há controle de fluxo de caixa? Tem sido positivo?

g) O empreendimento possui ativos imobilizados (ex: terrenos)?

h) O empreendimento possui capital de giro? É suficiente para o seu

funcionamento?

i) Existem gargalos financeiros? Quais são? Como o empreendimento trata estes

gargalos?

j) O empreendimento compreende a composição do preço dos seus produtos?

k) O preço de venda utilizado para cada produto é superior aos custos de

produção?

l) O empreendimento possui pessoal capacitado para a gestão financeira do

mesmo? Houve alguma capacitação neste sentido? Como o empreendimento

pensa isto?

VI-II Quantidade de beneficiados e equidade de distribuição de renda

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a) O empreendimento tem conhecimento da renda média dos envolvidos? Fica em

torno de quanto? [abaixo de um salário mínimo, de um a dois? Etc.] Este valor é

considerado justo e igualitário? A renda é suficiente para pagar as despesas do

dia a dia?

b) Levando em consideração os valores praticados no mercado, o valor de compra

de produtos e serviços é considerado justo?

c) Quantas pessoas têm algum benefício financeiro direto ou indireto com o

empreendimento? De que forma estas pessoas são beneficiadas?

d) Quais os setores da sociedade civil que possuem envolvimento no âmbito

financeiro?

VI-III Posicionamento de mercado do empreendimento e a tendência comercial

a) Quais são os produtos comercializados pelo empreendimento?

b) O empreendimento tem conhecimento da relação demanda-oferta no mercado

dos produtos oferecidos?

c) Como é feita a utilização da marca no produto? As marcas são registradas? [há

algum interesse no registro?]

d) Como o desenvolvimento de novas tecnologias é visto pelo empreendimento?

Como ocorre o processo de inovação?

e) Há uma preocupação com o desenvolvimento de novos produtos?

f) Existem produtos substitutos? Quais são?

g) Existem concorrentes? Quais são?

h) Como o empreendimento trabalha a sua estratégia comercial?

i) Os preços atendem à necessidade dos clientes?

j) Quais as principais dificuldades encontradas para comercialização?

k) Há um trabalho para comercialização dos resíduos gerados?

l) Como o empreendimento trabalha a geração de valor para os produtos

oferecidos pela comunidade local?

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