sustentabilidade e a questão urbana ambiental: o setor ... de... · envolvidos na questão...

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP Maria de Lourdes Couto Nogueira Sustentabilidade e a Questão Urbana Ambiental: o setor confeccionista de Divinópolis DOUTORADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS SÃO PAULO 2016

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Page 1: Sustentabilidade e a Questão Urbana Ambiental: o setor ... de... · envolvidos na questão ambiental de ... Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e ... Divisão

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Maria de Lourdes Couto Nogueira

Sustentabilidade e a Questão Urbana Ambiental: o setor

confeccionista de Divinópolis

DOUTORADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

SÃO PAULO

2016

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Maria de Lourdes Couto Nogueira

Sustentabilidade e a Questão Urbana Ambiental: o setor

confeccionista de Divinópolis

DOUTORADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

Tese apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Doutora em Ciências Sociais, sob a orientação da Profª Doutora Maura Pardini Bicudo Véras.

SÃO PAULO

2016

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BANCA EXAMINADORA

________________________________________

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DEDICATÓRIA

A Deus por estar sempre presente em todos os momentos e direcionar-me no

caminho a seguir.

As minhas filhas Marina e Júlia por entenderem minhas ausências, pelo apoio

constante e por serem um incentivo a continuar essa caminhada, mesmo nos

momentos de fragilidade.

A meu avô Zózimo, sempre presente em tudo o que me cerca.

A minha querida família, em especial a minha mãe, pelo apoio constante.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos que colaboraram para essa conquista, em especial:

à orientadora, prof.ª Dra. Maura Pardini Bicudo Véras, que com costumeira serenidade soube mesclar sabedoria e conhecimento em todos os momentos desta árdua tarefa. Agradeço-a, especialmente, pela competência nas necessárias intervenções e na efetiva orientação sem as quais essa pesquisa não teria se concretizado;

a todos os membros da banca examinadora, em especial a prof.ª Marisa Borin e prof.ª Bader pelas produtivas contribuições na qualificação;

ao Maurício Amaral pelo constante incentivo e pelas contribuições, discussões e sugestões que muito contribuíram para essa pesquisa;

à Júlia e à Marina – minhas filhas – cada uma com sua forma peculiar de colaborar, contribuíram sabiamente para que essa pesquisa se efetivasse,

aos professores do Doutorado o meu reconhecimento e gratidão;

à Direção do CEFET-MG por ter proporcionado esta oportunidade e aos meus colegas do CEFET-MG Divinópolis pelo apoio e contribuição;

às coordenações do Doutorado da PUC-SP e do CEFET-MG, especialmente à prof.ª Vera Chaia e prof. Milney pelo empenho na realização do curso;

ao Prof. Antônio Guimarães Campos e as bolsistas Ligiana Pricila Guimarães e Sarah Ferreira Rodrigues que muito contribuíram, através dos projetos de iniciação científica, com formulário, dados e informações para essa pesquisa;

ao Maurício Faria pela competência na revisão e pelo carinho de sempre;

à Juliana Teixeira e Júlia Couto pela tradução do resumo;

aos colegas do DINTER, especialmente ao Luciano, que ao dividir seus conhecimentos e angústias tornaram minha trajetória mais leve;

a todos que se dispuseram a participar desta pesquisa e muito contribuíram para que ela se efetivasse;

deixo o meu sempre: muito obrigada!

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Sustentabilidade e a Questão Urbana Ambiental: o setor confeccionista de Divinópolis

Maria de Lourdes Couto Nogueira

RESUMO

A tese aborda a questão urbana ambiental relativa à destinação inadequada dos

resíduos sólidos têxteis provenientes do setor confeccionista do vestuário em

Divinópolis, cidade polo da confecção em Minas Gerais. Um dos objetivos é conhecer

o cenário ambiental da cidade relativo às indústrias da confecção, identificando seus

atores sociais e suas responsabilidades em relação à geração e à destinação final dos

resíduos sólidos provenientes desse segmento econômico com o propósito final de

contribuir para a proteção e a preservação do meio ambiente. Foram coletados para

análise dados relativos às empresas de confecção, bem como o posicionamento dos

agentes entrevistados a partir do papel social por eles desempenhado no cenário

ambiental do município, tendo como objeto de estudo os resíduos sólidos têxteis

provenientes das indústrias. O principal resultado obtido com a análise refere-se à

necessidade de educação ambiental e de ações conjuntas com todos os agentes

envolvidos na questão ambiental de Divinópolis. Estruturada em quatro capítulos, a

tese inicia-se contextualizando a cidade e o estado no cenário econômico, social e

ambiental nacional, bem como apresenta o surgimento do setor confeccionista, a

indústria da confecção e suas particularidades. Discorre-se sobre a questão urbana

ambiental, os resíduos sólidos e a legislação pertinente ao tema e, ainda trata a cidade

como espaço da produção, do consumo e do descarte dos resíduos sólidos. Trata-se

da gestão e do gerenciamento dos resíduos sólidos têxteis na cidade, das alternativas

de destinação final dos resíduos sólidos e dos projetos ambientais existentes no

município. Por fim, contextualiza-se o setor confeccionista do vestuário no cenário

ambiental de Divinópolis, apresentando algumas de suas indústrias de confecção e

suas especificidades, bem como as percepções dos posicionamentos dos

participantes da pesquisa em suas peculiaridades, semelhanças, divergências,

comparações, dentre outros aspectos.

Palavras-chave: Questão urbana ambiental; Resíduos sólidos têxteis; Setor

confeccionista de Divinópolis; Sustentabilidade.

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Sustainability and the urban environmental question: the clothing manufacturer sector of Divinópolis

Maria de Lourdes Couto Nogueira

ABSTRACT

This thesis approaches the urban environmental question related to inadequate

destination of textile solid residues originating from Divinópolis’ clothing manufacturers,

pole city of confection. One of the goals is to get to know the city’s environmental

scenario related to garment making industries, identifying their social acting people and

their responsibilities concerning respect to the generation and disposal of the solid

residues from this economic sector, being the ultimate purpose to contribute to the

protection and preservation of the environment. Some items were collected for analysis

data concerning the clothing companies from Divinópolis, as well as the positioning of

the interviewed agents from the social role played by them in the environmental

scenario of Divinópolis, having as study object the textile solid residues originating from

the garment making industries. The main outcome obtained from the data analysis

refers to the needs of environmental education and joint actions with every agent

involved on the urban environmental issue of Divinópolis. Structured in four chapters,

the thesis starts contextualizing the city and the Minas Gerais state on economic, social

and environmental national scenario, as well as it introduces the appearance of the

garment making sector, clothing manufacturer industries and their peculiarity. It

discusses the urban environmental question, the solid waste, the pertinent legislation

and the city as production space, consumption and disposal of solid waste. It also

treats the administration and management of textile solid residues on the pole clothing

manufacturer of Divinópolis, the alternatives for the final disposal of solid wastes and

the environmental projets existing on Divinópolis. At last, it contextualizes the garment

making sector on the environmental scenario of Divinópolis, presenting Divinópolis’

clothing manufacturer industries and their specificities, as well as the perceptions of the

research’s participants’ positions in its peculiarities, similarities, differences,

comparisons, among other aspects.

Keywords: Urban environmental issue; Textile waste; Divinópolis’ clothing

manufacturer sector; Sustainability.

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EPÍGRAFE

Ao nosso filho, morena Oswaldo Montenegro

Se hoje tua mão não tem manga ou goiaba Se a nossa pelada se foi com o dia

Te peço desculpas, me abraça meu filho Perdoa essa melancolia.

Se hoje você não estranha a crueza

Dos lagos sem peixe da rua vazia Te olho sem jeito, me abraça meu filho

Não sei se tentei tanto quanto eu podia.

Se hoje teus olhos vislumbram com medo Você já não vê mas eu juro que havia

Te afago o cabelo, me abraça meu filho Perdoa essa minha agonia.

Se deixo você no absurdo planeta

Sem pique-bandeira ou pelada vadia Fujo do teu olho, me abraça meu filho

Não sei se tentei Mas, você merecia.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABIT – Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas

ABRELPE – Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e

Resíduos Especiais

ACID – Associação Comercial, Industrial, Agropecuária e Serviços de

Divinópolis

ASCADI – Associação dos Catadores de Divinópolis

BACEN – Banco Central do Brasil

CAD – Computer Aided Design (em português, Desenho Assistido por

computador)

CEFET-MG – Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais

CIPA – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes

CMMAD – Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento

CNPJ – Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica

CNUMAD – Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento

CODEMA – Conselho Municipal de Conservação e Defesa do Meio Ambiente

CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente

COP – Conference of the Parties (em português, Conferência das Partes)

COPAM – Conselho de Política Ambiental

CORESAB BOA VISTA – Consórcio Regional de Saneamento Básico Boa

Vista

CSL – Coleta Seletiva de Lixo

CTDR – Centro de Tratamento e Disposição de Resíduos Têxteis

DRS – Diagnóstico e Plano de Negócios da Gerência de Desenvolvimento

Regional Sustentável

ECO-92 – Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente e o

Desenvolvimento

EMOP – Empresa Municipal de Obras Públicas e Serviços

EPI – Equipamentos de Proteção Individual

ETE – Estação de Tratamento de Esgoto

FCA – Ferrovia Centro-Atlântica

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FEAM – Fundação Estadual de Meio Ambiente

FIB – Felicidade Interna Bruta

FIEMG – Federação das Indústrias de Minas Gerais

FITEDI – Cia Fiação e Tecelagem Divinópolis

GTO – Geraldo Teles de Oliveira

IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

Renováveis

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ICMBio – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade

ICMS – Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias e

sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de

Comunicação

IDH – Índice de Desenvolvimento Humano

IEMI – Instituto de Estudos e Marketing Industrial

IPCC – Intergovernmental Panel on Climate Change (em português, Painel

Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas)

IPI – Imposto sobre Produtos Industrializados

IPTU – Imposto Predial e Territorial Urbano

ISO – International Organization for Standardization (em português,

Organização Internacional para Padronização)

LD – Leve Defeito

LEV – Locais de Entrega Voluntária

MASP – Método de Análise e Solução de Problemas

MMA – Ministério do Meio Ambiente

MTE – Ministério do Trabalho e Emprego

NBR – Norma da Associação Brasileira de Normas Técnicas

NEPA – National Environmental Policy Act (em português, Lei da Política

Ambiental Americana)

OEMA’s – Órgãos Estaduais de Meio Ambiente

ONG – Organização Não Governamental

ONU – Organização das Nações Unidas

PEV – Pontos de Entrega Voluntária

PIB – Produto Interno Bruto

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PMGIRS – Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos de

Divinópolis

PNMA – Programa Nacional do Meio Ambiente

PNRS – Política Nacional de Resíduos Sólidos

PPA – Plano Plurianual

PRADE – Projeto de Recuperação de Área Degradada

PROFIB – Pro Felicidade Interna Bruta do Cidadão

PUC Minas – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

PUC-SP – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

RPRA – Reserva Particular de Recomposição Ambiental

RS – Resíduos Sólidos

RSI – Resíduos Sólidos Industriais

RSU – Resíduos Sólidos Urbanos

SAAE – Serviço Autônomo de Água e Esgoto

SEBRAE – Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

SEDRU – Secretaria de Estado de Desenvolvimento Regional, Política Urbana

e Gestão Metropolitana

SEMA – Secretaria Especial de Meio Ambiente

SEMAD – Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento

Sustentável

SEMOUDES – Secretaria Municipal de Obras e Serviços Urbanos

SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial

SESI – Serviço Social da Indústria

SESMT – Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina

do Trabalho

SINDIVESTUÁRIO – Sindicato da Moda

SINVESD – Sindicato da Indústria do Vestuário de Divinópolis

SISNAMA – Sistema Nacional do Meio Ambiente

SNUC – Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza

SNVS – Sistema Nacional de Vigilância Sanitária

SOAC – Sindicato dos Oficiais, Alfaiates, Costureiras, Trabalhadores da

Indústria de Confecção de Roupas, Estamparias, Cama, Mesa e Banho de

Divinópolis

SUASA – Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária

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SUPRAM – Superintendência Regional de Meio Ambiente e Desenvolvimento

Sustentável

TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

TFAMG – Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental do Estado de Minas

Gerais

TNT – Tecido Não Tecido

UnB – Universidade de Brasília

UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e

Cultura

UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1.1 – Mapa com localização de Divinópolis............................................29

Figura 1.2 – Divisão Político-administrativa Regional de Minas Gerais............31

Figura 1.3 – Mapa do Sistema Viário Regional.................................................32

Figura 1.4 – Polos Confeccionistas por região do Brasil...................................36

Figura 1.5 – Mapa da Região Oeste de Minas..................................................37

Figura 1.6 – Mapa das Regiões de Planejamento de Divinópolis.....................38

Figura 1.7 – Estrutura da cadeia produtiva e de distribuição têxtil e

confecção...........................................................................................................43

Figura 1.8 – Mapa de localização das empresas de confecção de

Divinópolis..........................................................................................................46

Figura 1.9 – Mapa de distribuição das confecções por região de planejamento

de Divinópolis.....................................................................................................47

Figura 1.10 – Concentração regional da indústria têxtil e confeccionista no

Brasil..................................................................................................................54

Figura 1.11 – Números da indústria do vestuário no Brasil e em Minas

Gerais................................................................................................................61

Figura 1.12 – Perfil das empresas de Divinópolis..............................................62

Figura 1.13 - Etapas do processo produtivo da confecção de uma t-shirt.........65

Figura 2.1 – Diagrama do sistema produtivo tradicional....................................88

Figura 2.2 – Representação gráfica da escala de prioridades na gestão e

gerenciamento dos resíduos sólidos.................................................................94

Figura 2.3 - Fluxograma dos processos de geração e destinação dos resíduos

sólidos................................................................................................................94

Figura 2.4 – Fotografia dos retalhos disponibilizados nas calçadas próximas às

confecções de Divinópolis...............................................................................129

Figura 2.5 - Evolução da gestão de RS incorporando princípios

ambientais........................................................................................................135

Figura 2.6 – Fluxograma apresentando o destino adequado das diferentes

classes de resíduos sólidos.............................................................................137

Figura 2.7 – Ilustração esquemática de um lixão............................................141

Figura 2.8 – Ilustração esquemática de um aterro controlado.........................142

Figura 2.9 – Ilustração esquemática de um aterro sanitário............................143

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Figura 2.10 – Distribuição da Quantidade Total de RSU Coletado (%) por

Regiões do Brasil.............................................................................................152

Figura 2.11 – Índice de Abrangência da Coleta de RSU (%)..........................153

Figura 2.12 – Iniciativas de Coleta Seletiva nos Municípios em 2014 – Regiões

e Brasil.............................................................................................................155

Figura 3.1 - Ciclo da coleta urbana em Divinópolis.........................................162

Figura 3.2 – Centro Municipal de Triagem.......................................................165

Figura 3.3 – Estrutura do Centro Municipal de Triagem e ASCADI.................169

Figura 3.4 – Localização do Aterro Controlado de Divinópolis........................171

Figura 3.5 - Papelão e retalhos encontrados nas ruas de Divinópolis.............180

Figura 3.6 – Retalhos encontrados junto ao lixo domiciliar nas ruas de

Divinópolis.................................................................................................181

Figura 3.7 – Oficinas realizadas pela ONG Lixo e Cidadania com

retalhos......................................................................................................192

Figura 4.1 – Principais características das empresas e das atividades

industriais.........................................................................................................196

Figura 4.2 – Informações sobre as matérias primas, insumos e maquinários

utilizados nas empresas..................................................................................201

Figura 4.3 – Informações sobre os resíduos têxteis gerados nas empresas..206

Figura 4.4 – Informações sobre a gestão ambiental nas empresas...............209

Figura 4.5 – Sobre a gestão ambiental..........................................................210

LISTA DE QUADROS

Quadro 1.1 – Distribuição das Confecções por Regiões de Planejamento de

Divinópolis..........................................................................................................47

Quadro 1.2 – Regiões de planejamento de Divinópolis.....................................48

Quadro 2.1 – Mudanças ocorridas após a promulgação da Lei 12.305/10.....103

Quadro 2.2 – Síntese dos critérios de classificação de Resíduos Sólidos......125

Quadro 2.3 – Resíduos gerados a partir dos processos industriais................127

Quadro 2.4 - Classificação das Fibras Têxteis................................................130

Quadro 2.5 – Quantidade de RSU coletado por regiões e Brasil....................138

Quadro 2.6 – Quantidade de Municípios por Tipo de Destinação Adotada –

2013/2014........................................................................................................138

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Quadro 3.1 – Produção do Centro de Triagem no ano de 2011......................167

Quadro 3.2 – Principais atividades econômicas por setor produtivo...............178

Quadro 4.1 - Classificação do porte das empresas.........................................195

Quadro 5.1 - Possível classificação dos RS segundo a atividade que os

produziu...........................................................................................................302

Quadro 5.2 – Classificação dos Resíduos Sólidos conforme o grau de

biodegradabilidade...........................................................................................303

Quadro 5.3 – Classificação dos Resíduos Sólidos de acordo com a forma de

operacionalização dos serviços de coleta.......................................................303

Quadro 5.4 – Informações sobre os entrevistados..........................................312

Quadro 5.5 - Principais iniciativas relacionadas à questão ambiental em nível

internacional.....................................................................................................313

Quadro 5.6 - Principais iniciativas relacionadas à questão ambiental em nível

nacional............................................................................................................314

Quadro 5.7 - Principais leis e decretos relacionados à questão ambiental.....315

LISTA DE TABELAS

Tabela 1.1 - Porcentagem de empresas do vestuário no Brasil por região.......58

Tabela 1.2 - Distribuição das empresas de confecção no Brasil por porte........59

Tabela 1.3 - Dimensões de mercado, produção e consumo per capita de têxteis

no Brasil.............................................................................................................60

Tabela 2.1 – Quantidade de RSU gerado........................................................123

Tabela 2.2 – Coleta e Geração de RSU no Estado de Minas Gerais..............124

Tabela 2.3 – Coleta de RSU nos Estados e no Distrito Federal......................154

Tabela 2.4 – Quantidade de Municípios com Iniciativas de Coleta Seletiva na

Região Sudeste...............................................................................................156

Tabela 2.5 – Municípios com Iniciativas de Coleta Seletiva por região...........156

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1.1 – Distribuição regional da indústria têxtil e confeccionista no Brasil

(em %)...............................................................................................................57

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Gráfico 2.1 – Crescimento Demográfico Mundial no período 1950 a 2050

(bilhões de habitantes).......................................................................................78

Gráfico 2.2 – Evolução em percentual da População Mundial no período 1950 a

2050...................................................................................................................78

Gráfico 2.3 – Consumo de vestuário por classe no Brasil.................................81

Gráfico 2.4 – Destinação final de RSU (t/dia) no Brasil...................................102

Gráfico 2.5 – Geração de RSU........................................................................122

Gráfico 2.6 – Quantidade de RSU Gerada na Região Sudeste.......................123

Gráfico 2.7 – Quantidade de RSU Coletado na Região Sudeste....................124

Gráfico 2.8 – Destinação final dos RSU Coletados no Brasil..........................134

Gráfico 2.9 - Porcentagem de municípios em cada região brasileira por tipo

adequado ou inadequado de disposição final de resíduos sólidos urbanos....134

Gráfico 2.10 – Destinação final de RSU na Região Sudeste (t/dia)................139

Gráfico 2.11 – Destinação Final de RSU no Estado de Minas Gerais (t/dia)..139

Gráfico 2.12 – Tipo de disposição final de resíduos sólidos urbanos no Brasil e

em cada uma de suas Regiões (adaptado de ABRELPE, 2012)....................140

Gráfico 2.13 - Variação percentual da coleta de resíduos sólidos urbanos (RSU)

em cada região brasileira em todo o Brasil, entre os anos de 2.000 e 2.012..151

Gráfico 2.14 – Coleta de RSU no Brasil..........................................................152

Gráfico 2.15 – Empregos Diretos Gerados pelo Setor de Limpeza Urbana no

Brasil e Regiões (quantidade)..........................................................................157

Gráfico 3.1 – Composição Gravimétrica dos RSU...........................................180

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...................................................................................................20

1 A CIDADE DE DIVINÓPOLIS E O SURGIMENTO DO SETOR CONFECCIONISTA...........................................................................................31

1.1 Situando o Estado de Minas Gerais.........................................................31

1.2 A cidade de Divinópolis............................................................................33

1.3 O surgimento do setor confeccionista....................................................42

1.4 A indústria da confecção..........................................................................51

1.4.1 Etapas do Processo Produtivo da Confecção.....................................65

1.4.2 A terceirização das atividades...............................................................70

1.4.3 A participação da mão de obra feminina..............................................73

2 A QUESTÃO URBANA AMBIENTAL X RESÍDUOS SÓLIDOS...................78

2.1 Considerações iniciais..............................................................................78

2.2 A questão urbana ambiental e a legislação pertinente ao tema dos resíduos sólidos..............................................................................................89

2.2.1 A Política Nacional dos Resíduos Sólidos (Lei n. 12.305/10) e sua importância no contexto legal........................................................................94

2.2.1.1 O que muda com a lei 12.305/10.........................................................105

2.3 A Sustentabilidade e a Cidade................................................................106

2.3.1 Conceito de sustentabilidade..............................................................106

2.3.2 Cidade: espaço da produção, do consumo e do descarte (in)adequado dos resíduos...........................................................................112

2.3.3 Ambiente e a sociedade do consumo: A fetichização da moda e a fast fashion (moda rápida)............................................................................119

2.4 Resíduos Sólidos.....................................................................................121

2.4.1 Definição de Resíduos Sólidos...........................................................121

2.4.2 Classificação dos Resíduos Sólidos..................................................126

2.4.2.1 Resíduos Sólidos Industriais...............................................................127

2.4.2.1.1 Resíduos Sólidos Têxteis.................................................................129

2.3.3 Tipos de tratamento dos resíduos sólidos.........................................133

2.3.4 Tipos de destinação final dos resíduos sólidos................................135

2.3.4.1 Principais tipos de disposição final dos resíduos sólidos....................139

2.3.5 Tipos de coleta de Resíduos Sólidos Urbanos..................................147

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3 A GESTÃO E O GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS TÊXTEIS EM DIVINÓPOLIS...........................................................................................160

3.1 Considerações Iniciais............................................................................160

3.2 A gestão e o gerenciamento dos resíduos sólidos em Divinópolis.....161

3.2.1 A Coleta Seletiva Autônoma................................................................165

3.2.2 A coleta seletiva realizada pela ASCADI, via Centro Municipal de Triagem...........................................................................................................167

3.2.3 A coleta seletiva municipal realizada por pessoal contratado pela EMOP..............................................................................................................171

3.2.4 A coleta municipal de resíduos sólidos e sua disposição final.......173

3.3 A gestão e o gerenciamento ambientais no setor confeccionista do vestuário de Divinópolis...............................................................................178

3.3.1 O cenário ambiental do setor confeccionista do vestuário de Divinópolis......................................................................................................178

3.3.2 Projetos ambientais desenvolvidos em Divinópolis.........................191

4 CONTEXTUALIZANDO O SETOR CONFECCIONISTA DO VESTUÁRIO NO CENÁRIO AMBIENTAL DE DIVINÓPOLIS....................................................196

4.1 As indústrias de confecção de Divinópolis e suas particularidades..197

4.2 Aspectos peculiares, semelhanças, divergências e comparações das percepções dos entrevistados.....................................................................213

CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................249

REFERÊNCIAS...............................................................................................262

APÊNDICE A – Formulário aplicado às indústrias de confecção......................................................................................................270

APÊNDICE B - Roteiro de entrevistas.........................................................276

APÊNDICE C - Questionário sobre a questão urbana ambiental em Divinópolis encaminhado ao gestor público municipal........................................................................................................286

APÊNDICE D - Questionário sobre a questão urbana ambiental em Divinópolis encaminhado à consultora ambiental........................................................................................................288

APÊNDICE E - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) .....289

APÊNDICE F - Conceitos preliminares........................................................290

APÊNDICE G - Classificação dos resíduos sólidos...................................302

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APÊNDICE H - Tabela síntese dos questionários aplicados às empresas........................................................................................................306

APÊNDICE I – Informações sobre os entrevistados...................................313

APÊNDICE J – Histórico das principais iniciativas relacionadas à questão ambiental........................................................................................................315

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20

INTRODUÇÃO

Comenta-se muito no momento atual sobre os diversos fatores que

prejudicam o meio ambiente, como, por exemplo, o lixo produzido em excesso

e os resíduos descartados de maneira inadequada.

Pode-se afirmar que esses fatores se tornaram mais evidentes com o

advento da Revolução Industrial, ocorrida em meados do Século XVIII, que

possibilitaram um notável incremento na produção e resultaram no

descontrolado crescimento e desenvolvimento das cidades e de suas

populações, em razão de uma maior oferta de bens e serviços, acompanhada

também de crescente consumo, poluição e degradação ambientais.

No cenário exposto, torna-se urgente buscar de todas as formas a

sustentabilidade que, em síntese, significa conciliar o desenvolvimento

econômico e social com a preservação do meio ambiente e de seus recursos

naturais para que estes sirvam não somente às gerações presentes, mas

também às gerações futuras.

Assim, a sustentabilidade pode ser vista como uma questão de

responsabilidade com o meio ambiente e com a sociedade. Ao se

contextualizar no ambiente onde se insere o homem contemporâneo, a

sustentabilidade envolve questões como a inclusão social, a informação, a

capacitação, a educação, a economia criativa e a preservação da fauna, da

flora e dos recursos naturais.

Hoje, o tratamento da questão ambiental em meio urbano é um desafio

ao desenvolvimento e mobiliza instituições que atuam neste âmbito –

instituições financeiras, associações de bairro, ONGs, etc. – que contribuem

com práticas sociais e modos de gestão no meio urbano.

A cidade de Divinópolis possui, atualmente, cerca de 210 mil habitantes

e é considerada o principal polo confeccionista do estado de Minas Gerais. O

exagerado volume de lixo produzido, aproximadamente 120 toneladas/dia,

compõe-se, em considerável parte, de resíduos têxteis gerados na cidade e

que são destinados à “coleta de lixo domiciliar”. Neste contexto, a gestão dos

resíduos sólidos é um dos maiores desafios enfrentados pelo governo

municipal.

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Desta forma, é comum, ao caminhar pelas ruas de Divinópolis,

encontrarem-se sacos cheios de retalhos de tecidos, bem como resíduos das

confecções, sempre dispostos nas calçadas.

O tema Sustentabilidade faz parte da trajetória da pesquisadora desde

2008, através de projetos de Iniciação Científica, os quais foram orientados e

desenvolvidos no CEFET-MG, câmpus Divinópolis, especificamente no Curso

de Produção de Moda, seu campo de atuação como professora.

O primeiro projeto intitulado "Diagnóstico ambiental das confecções de

Divinópolis", foi desenvolvido em 2008/2009. O projeto foi transformado em

artigo científico, apresentado e premiado em 2009, no XXIII Congresso

Nacional de Técnicos Têxteis, em São Paulo.

O segundo projeto, denominado “Tecendo a História do

Desenvolvimento do Setor Confeccionista em Divinópolis-MG”, foi desenvolvido

no período de 2009/2010.

No período de 2011/2012 foram desenvolvidos os Projetos

“Sustentabilidade e moda: uma proposta de destinação adequada aos resíduos

têxteis” e “Oficinas sustentáveis: o uso dos resíduos têxteis através da

criatividade”. Estes projetos foram responsáveis pela criação e execução da

"Oficina de Customização de Camisetas", no II Fórum Mundial de Educação

Profissional e Tecnológica: Democratização, Emancipação e Sustentabilidade,

realizado em Florianópolis (SC), em 2012.

Desenvolvido em 2012 e concluído em 2013, o projeto "Sustentabilidade

e a Questão Urbana Ambiental no Setor de Confecções na cidade de

Divinópolis", foi o responsável pelo interesse em pesquisar a questão dos

resíduos sólidos têxteis.

Priorizando desenvolver pesquisas no campo da moda – principal área

de atuação – em 2010, foi defendida a dissertação "Formação profissional e

emprego: o caso das egressas do curso técnico em vestuário do CEFET-MG,

campus Divinópolis".

A pesquisa abordou a relação entre a formação profissional oferecida

pelo referido curso – área de atuação da pesquisadora como professora desde

1997 – e a visão do aluno egresso.

Permitiu, ainda, além de maior aproximação com as empresas, conhecer

a realidade do setor confeccionista têxtil e a questão dos resíduos sólidos

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provenientes dele, considerada um dos problemas que despertou a atenção da

pesquisadora ao perceber que as empresas tratavam os resíduos como lixo,

descartando-os nas portas das suas próprias instalações.

Em 2012, a partir do interesse da pesquisadora em ingressar no curso

de Doutorado, foi apresentada à banca de seleção da Pontifícia Universidade

Católica de São Paulo – PUC-SP –, a proposta de pré-projeto de pesquisa

denominado "Sustentabilidade e moda: uma possibilidade de destinação

adequada para os resíduos têxteis em Divinópolis, MG". A proposta tinha o

intuito de aliar sustentabilidade à moda.

A ideia surgiu a partir da observação das atividades do setor

confeccionista, durante o exercício de quatorze anos em atividades

acadêmicas na área da moda, e do interesse pessoal em contribuir para o

desenvolvimento sustentável da área e, especialmente, da cidade.

Objetivando a continuidade dos estudos nesse campo, diante do cenário

exposto e, constatada a necessidade de desenvolver ações que buscassem

soluções para a não geração, minimização ou para a destinação final

ambientalmente adequada desses resíduos, foi modificada a proposta inicial do

projeto de pesquisa, resultando na atual: "Sustentabilidade e a questão urbana

ambiental: o setor confeccionista de Divinópolis".

Em virtude de uma nova forma de se pensar o resíduo sólido pautado na

legislação vigente, justifica-se a necessidade de uma pesquisa aprofundada

sobre a temática dos resíduos sólidos têxteis no polo confeccionista de

Divinópolis e as possibilidades de ações que conduzam os resíduos a uma

destinação ambientalmente adequada, contribuindo, assim, para o

desenvolvimento sustentável.

Em relação aos resíduos sólidos têxteis provenientes das indústrias de

confecção do vestuário de Divinópolis, os gestores públicos urbanos

necessitam ater-se a alguns aspectos considerados primordiais quanto aos

seus processos de gestão e gerenciamento.

O primeiro aspecto a ser considerado é que Divinópolis deve ser tratada

de forma especial, pois possui a peculiaridade de ser um polo regional

confeccionista do vestuário, caracterizado por abrigar um parque industrial

desse segmento, com elevado número de produtores formais e informais, bem

como de trabalhadores.

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Outro aspecto diz respeito à necessidade primeira de um trabalho de

educação e conscientização, conduzido, principalmente, pelo poder público

municipal que se traduza em ações individuais, coletivas, compartilhadas e

integradas entre empresários, poder público e coletividade, no sentido de se

realizar a destinação ambientalmente adequada dos resíduos sólidos.

A hipótese desta pesquisa é a de que, a não geração de resíduos

sólidos têxteis provenientes das indústrias de confecção de Divinópolis e, caso

isso não seja possível, a minimização desses e sua posterior destinação

ambientalmente adequada, pode se constituir em uma das prováveis soluções

para essa tipologia residual, que, disposta inadequadamente junto aos resíduos

domésticos no aterro controlado municipal, contribuem para a poluição e

degradação do meio ambiente.

Acrescente-se a essa provável solução, um intenso processo de

educação e conscientização ambiental das empresas, poder público e

coletividade para o combate a poluição ambiental gerada pelos resíduos

sólidos têxteis.

Alternativas para reaproveitamento desses resíduos não faltam como,

por exemplo, a redução no momento da criação do mapa de corte, a

reutilização, a reciclagem ou até mesmo a sua volta ao processo produtivo

formando um novo fio, dentre outros.

O ordenamento jurídico brasileiro tem atentado para a questão ambiental

dos resíduos sólidos. A lei n. 12.305/2010 (BRASIL, 2010) instituiu a Política

Nacional de Resíduos Sólidos visando uma gestão integrada, ou seja,

implantar um conjunto de ações na busca por soluções para os resíduos

sólidos, de forma a considerar as dimensões políticas, sociais, ambientais,

culturais, econômicas de desenvolvimento sustentável, a fim de fixar

responsabilidades compartilhadas de cunho social.

Conforme orienta a Lei n. 18.031, de 12 de janeiro de 2009 (MINAS

GERAIS, 2009), que dispõe sobre a Política Estadual de Resíduos Sólidos,

algumas ações foram empreendidas em Divinópolis, como por exemplo, a

transformação do antigo “lixão” da cidade em aterro controlado.

A presente pesquisa tem como objetivo geral conhecer o cenário

ambiental de Divinópolis relativo às indústrias da confecção do vestuário,

identificando seus atores sociais e suas responsabilidades em relação à

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geração e destinação final dos resíduos sólidos provenientes desse segmento

econômico, com o propósito final de contribuir para a proteção e preservação

do meio ambiente.

Os objetivos específicos são estes:

- Mapear a localização dos resíduos têxteis na cidade de Divinópolis;

- Expor o atual cenário ambiental de Divinópolis, considerando o

contexto dos resíduos sólidos têxteis provenientes das indústrias de

confecção do município;

- Identificar os atores sociais e seus papéis no cenário urbano ambiental

e seus posicionamentos diante do cenário ambiental exposto;

- Analisar a consciência urbana ambiental dos atores sociais envolvidos,

em relação aos resíduos sólidos têxteis provenientes do setor

confeccionista;

- Entender a organização da cidade e o impacto sobre a questão da

sustentabilidade dos resíduos sólidos e da poluição ambiental;

- Procurar conhecer se existem políticas públicas que favoreçam o

desenvolvimento sustentável do setor confeccionista;

- Analisar o Plano Diretor de Desenvolvimento do Município de

Divinópolis verificando até que ponto constam questões com a

preocupação na preservação do meio ambiente em relação ao setor

confeccionista.

A pesquisa foi de natureza qualitativa, apesar do recurso a dados

secundários e estatísticas oficiais para mostrar o panorama do setor

confeccionista. Foram realizadas entrevistas com os informantes-chave e

aplicados cinco formulários às empresas de confecção de vestuário que, após

a devida análise, possibilitaram a coleta de informações significativas sobre o

objeto em questão.

Trata-se ainda de pesquisa bibliográfica, descritiva e documental.

Bibliográfica porque tem como base livros, jornais, redes eletrônicas, teses,

dentre outros. Descritiva por buscar conhecer o modo de organização do

espaço urbano, podendo, assim, sugerir propostas adequadas de

direcionamento dos resíduos do setor confeccionista do município. Pode ser

considerada ainda uma pesquisa documental, pois a partir do material existente

nos arquivos públicos e instituições de ensino e àquelas ligadas ao setor

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confeccionista, favorecendo a possibilidade de sugestão de propostas que

colaborem para a solução de problemas socioambientais.

O espaço temporal da pesquisa compreende o período entre 2012 a

2015, sendo que incialmente foi desenvolvida a partir das disciplinas e

orientações realizadas no Curso de Doutorado que deram base para a

elaboração dos roteiros de entrevistas, formulários e questionários aplicados

aos agentes envolvidos. Cabe aqui ressaltar que, as entrevistas ocorreram no

período de maio 2013 a dezembro 2015, as aplicações dos formulários de

agosto a outubro 2014 e as respostas aos questionários de setembro a

novembro 2015.

Os instrumentos utilizados para os procedimentos de coleta de dados e

aplicados pela pesquisadora foram: formulários destinados às empresas de

confecção e à tecelagem – Apêndice A; roteiros de entrevistas – Apêndice B –

e questionários direcionados ao gestor público municipal – Apêndice C – e a

consultora ambiental – Apêndice D –, neste caso, para atualização das

informações feitas no momento da entrevista.

Um dos requisitos do ponto de vista ético ao utilizar a entrevista como

método de análise desta pesquisa foi a necessidade de identificação dos

entrevistados, pois torna-se primordial entender a participação destes a partir

do papel social por eles desempenhado.

Para tanto foi criado um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

(TCLE) – Apêndice E –, com identificação do participante e que o informa sobre

a pesquisa, que sua participação não é obrigatória, que pode desistir de

participar e retirar seu consentimento a qualquer hora. O TCLE alerta, ainda,

que as informações repassadas serão utilizadas exclusivamente para fins

acadêmicos.

O TCLE se justifica pelo fato de preservar legal e moralmente o

entrevistador e o entrevistado visto que ambos têm uma parcela de

responsabilidade para com a pesquisa. Por isso, os nomes verdadeiros foram

mantidos.

Para melhor compreensão sobre o posicionamento dos participantes da

pesquisa, torna-se essencial a identificação do papel social que cada um

exerce – Apêndice I –, no cenário ambiental de Divinópolis considerando o

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objeto de estudo, os resíduos sólidos têxteis provenientes das indústrias de

confecção do vestuário.

Perfil dos agentes entrevistados

4.2.1 – Gestor Público Municipal

O gestor público municipal entrevistado foi Willian de Araújo, 43 anos,

Secretário Municipal de Planejamento Urbano e Meio Ambiente de Divinópolis.

Ele teve duas participações nesta pesquisa: a primeira em 2013, ocorrida

através de entrevista em seu local de trabalho quando o Plano Municipal de

Gestão Integrada de Resíduos Sólidos (PMGIRS) ainda estava em fase de

criação e, depois em 2015, segundo informações do próprio secretário, o

referido plano já havia sido publicado, quando enviou-se questionário à

secretaria para que as informações fossem atualizadas.

4.2.2 – Representantes dos Sindicatos

Foram entrevistados os representantes dos dois sindicatos das

categorias profissionais existentes no cenário industrial têxtil de Divinópolis, o

Sindicato das Indústrias do Vestuário de Divinópolis (SINVESD) – entidade

patronal – e o Sindicato dos Oficiais, Alfaiates, Costureiras, Trabalhadores da

Indústria de Confecção de Roupas, Estamparias, Cama, Mesa e Banho de

Divinópolis (SOAC) – sindicato dos trabalhadores. O SINVESD foi

representado por seu presidente, Antônio de Araújo Rodrigues Filho, 46 anos,

e a entrevista ocorreu no próprio sindicato. O SOAC foi representado pela

assessora do sindicato, Ana Lúcia dos Santos, 60 anos, e a entrevista também

ocorreu no próprio sindicato.

4.2.3 – Coletores de Resíduos

Para definir quais seriam os coletores de resíduos entrevistados, tornou-

se importante a participação de um dos coletores municipais que recolhe

diariamente os resíduos, mais conhecido como “lixeiro” e, ainda, um coletor de

materiais recicláveis que, ao percorrer as ruas, também encontra resíduos

descartados inadequadamente. Assim, o funcionário entrevistado da coleta

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municipal de resíduos foi o Sr. Lázaro Raimundo Alves, 51 anos e o coletor de

materiais recicláveis foi o Sr. Anderson Avelino de Jesus, 41 anos.

Ao realizar a entrevista com o coletor municipal de resíduos, foi

informado que a coleta seletiva da cidade não era mais realizada pela empresa

terceirizada Viasolo, responsável pela coleta municipal de resíduos.

Tal função, conforme informado, foi repassada à Empresa Municipal de

Obras Públicas (EMOP), desde abril de 2015 e esta direcionou a coleta à

Associação de Catadores de Papel, Papelão e Materiais Reaproveitáveis de

Divinópolis – ASCADI.

Diante deste cenário, tornou-se necessário acrescentar mais um agente

a ser entrevistado, Jeferson Silva de Oliveira, 41 anos, presidente e catador da

ASCADI.

4.2.4 – Ambientalistas

Na etapa de definição dos ambientalistas que iriam participar da

pesquisa, levou-se em consideração o fato de que o(a) escolhido(a) deveria ter

experiência em gestão ambiental no setor público ou privado. A busca resultou

satisfatória nos seguintes especialistas, com suas devidas qualificações e

experiências:

Pedro Coelho Amaral, 45 anos, na pesquisa ele é identificado como

especialista na área ambiental, foi secretário municipal de meio ambiente e

políticas públicas de Divinópolis no período de 2007 a 2013; foi conselheiro do

Conselho de Política Ambiental do Estado de Minas Gerais (COPAM); é

atualmente advogado especialista em Direito Ambiental e professor de

graduação e pós-graduação nos cursos de Direito, Administração e Engenharia.

Hélcia Maria da Silva Veriato Teixeira, 50 anos, na pesquisa identificada

como consultora ambiental, é psicóloga; professora e supervisora de estágio na

graduação de Psicologia Ambiental e também consultora na área em questão.

É a coordenadora geral dos projetos da ONG Lixo & Cidadania, especialmente

do projeto Retalho e Arte. Sua participação na pesquisa foi por intermédio de

um questionário.

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4.2.5 – Gerente de Resíduos

Em função da importância nacional da coleta seletiva realizada em

Itaúna, cidade vizinha de Divinópolis, localizada a aproximadamente 30 km,

mostrou-se relevante entrevistar o gerente de resíduos da prefeitura municipal

de Itaúna, Sérgio Fernandes da Cunha, 55 anos, com o intuído de encontrar

possibilidades de destinação adequadas dos resíduos sólidos.

Perfil das empresas entrevistadas

O perfil das empresas do setor confeccionista de Divinópolis foi

levantado a partir das respostas aos formulários – Apêndice A – das quatro

empresas de confecção e de uma fiação/tecelagem/confecção que

participaram da pesquisa.

Visando preservar as identidades das empresas, quando necessário,

elas serão tratadas com uma numeração – Empresa 1, Empresa 2, etc. – que

seguiu a ordem da data de aplicação dos formulários.

Destacam-se aqui somente algumas informações relevantes das

empresas, pois as demais estarão descritas detalhadamente no capítulo 4.

Assim, em síntese, todas as empresas consultadas possuem mais de 10

anos de mercado. Elas são consideradas micros, pequenas e grandes

confecções e têm como principal atividade a moda feminina/lingerie e moda

masculina.

Conceitos Preliminares

A presente pesquisa busca aprofundar o conhecimento científico sobre o

tema proposto que, em sentido amplo, permeia, principalmente, as ciências

sociais, econômicas e ambientais e em virtude de seu caráter multidisciplinar,

requer foco e atenção redobrada na área ambiental tratada em determinado

momento.

Torna-se imprescindível, portanto, para um melhor entendimento do

assunto, conhecer as principais expressões e termos relacionados ao meio

ambiente, entender o seu significado e a sua contextualização, visto a variada

gama de situações em que um mesmo termo ou expressão pode aparecer.

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Assim, os conceitos relacionados ao meio ambiente podem apresentar

variações a depender da época, do local e da identidade de quem os elabora,

cuja carga de influências sociais, políticas, econômicas, culturais, religiosas,

dentre outras, irá agregar-se ao processo construtivo destes conceitos e

resultará em sua variedade e complexidade.

Neste sentido, destaca-se, a seguir, a síntese dos termos e expressões

elaborados por alguns autores relativos ao tema. Demais conceitos e detalhes

estão dispostos no Apêndice F.

- Meio ambiente: é o sistema de relações interdependentes e “existentes entre

a natureza e as sociedades” (VEYRET, 2012, p. 212);

- Degradação ambiental: “qualquer alteração adversa dos processos, funções

ou componentes ambientais, ou como uma alteração adversa da qualidade

ambiental” (GRANZIERA, 2011, p. 76);

- Impacto ambiental: “qualquer modificação do meio ambiente, adversa ou

benéfica, que resulte no todo ou em parte, das atividades, produtos ou serviços

de uma organização” (ABNT, 2005);

- Sustentabilidade: segundo a ONU, é “o atendimento das necessidades das

gerações atuais, sem comprometer a possibilidade de satisfação das

necessidades das gerações futuras”;

- Consumo consciente: é o processo que busca reduzir, de forma racional e

essencial, o consumo e formar no consumidor um conjunto de valores

necessários para mudanças comportamentais de consumo, voltadas para a

redução da utilização de recursos naturais e a sustentabilidade no planeta;

- Lixo: “restos das atividades humanas, considerados pelos geradores como

inúteis, indesejáveis ou descartáveis, podendo se apresentar no estado sólido

e líquido, desde que não seja passível de tratamento” (ABNT, 2004);

- Resíduo: são materiais separados passíveis de tratamentos como a

reciclagem e o reaproveitamento, antes de serem descartados;

- Descarte: ato ou efeito de jogar fora algo que não tenha mais serventia ou

que não se deseja mais;

- Reciclagem: processo de transformação dos resíduos sólidos advindos da

produção ou do consumo, que os reintroduzem ao ciclo de produção de

origem.

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Esta tese está estruturada em quatro capítulos, além da introdução e

das considerações finais.

O primeiro capítulo contextualiza a cidade de Divinópolis e o estado de

Minas Gerais no cenário econômico, social e ambiental nacional. Apresenta o

surgimento do setor confeccionista, a indústria da confecção e suas

particularidades.

O capítulo 2 discorre sobre a questão urbana ambiental, os resíduos

sólidos e a legislação pertinente ao tema e, ainda trata a cidade como espaço

da produção, do consumo e do descarte dos resíduos sólidos.

O capítulo 3 trata da gestão e gerenciamento dos resíduos sólidos

têxteis no polo confeccionista de Divinópolis, das alternativas de destinação

final dos resíduos sólidos e dos projetos ambientais existentes na cidade.

O capítulo 4 contextualiza o setor confeccionista do vestuário no

cenário ambiental de Divinópolis, apresentando suas indústrias de confecção e

suas especificidades, bem como, as percepções dos posicionamentos dos

participantes da pesquisa em suas peculiaridades, semelhanças, divergências,

comparações, dentre outros aspectos.

Nas considerações finais são abordados alguns aspectos relevantes

que surgiram com a pesquisa e os limites e possibilidades para pesquisas

futuras relacionadas ao tema.

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1 A CIDADE DE DIVINÓPOLIS E O SURGIMENTO DO SETOR

CONFECCIONISTA

1.1 Situando o Estado de Minas Gerais

O Estado de Minas Gerais, localizado na Região Sudeste do país,

possui uma área de 586.522,12 km², com densidade demográfica de 33,41

hab/km² e é composto por 853 municípios. Conforme os indicadores do

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), sua população em 2010 é

de 19.597.330 habitantes e a população estimada para 2013 é de 20.593.356

habitantes. Suas principais atividades econômicas são agricultura, pecuária,

indústria, serviços, geração de energia e mineração.

Figura 1.1 – Mapa com localização de Divinópolis

Fonte: SINVESD, 2009.

A história de Minas Gerais teve seu início no século XVI quando os

bandeirantes, na busca por ouro e pedras preciosas, exploraram a região que

hoje compreende o estado mineiro.

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No início do século XVIII, a região foi considerada um importante centro

econômico da colônia, o que favoreceu um rápido povoamento. Por volta de

1750, a produção de ouro começou a cair. Diante disso, Portugal exigiu uma

arrecadação de impostos cada vez maior, culminando no mais conhecido

movimento político e histórico de Minas Gerais: a Inconfidência Mineira.

No início do século XIX, foi introduzida a cafeicultura em Minas Gerais,

que passou a ser considerada a principal atividade da província e o agente

indutor do povoamento e desenvolvimento da infraestrutura de transportes. O

crescimento trazido pelo café ensejou um primeiro surto de industrialização,

que mais tarde, foi reforçado pela política protecionista implementada pelo

Governo Federal após a Proclamação da República. As indústrias que se

originaram eram de pequeno e médio portes e se concentravam nos ramos de

produtos alimentícios, têxteis, siderúrgicos e, em menor escala, desenvolveram

também, as culturas do algodão, cana de açúcar e cereais.

A partir da década de 1930, o predomínio da cafeicultura cedeu espaço

à natural tendência do Estado para a produção siderúrgica e para o crescente

aproveitamento dos recursos minerais. Já na década de 1950, a indústria

mineira ampliou consideravelmente a sua participação na economia brasileira

através do processo de substituição das importações.

A década de 1970 foi considerada um marco para a economia mineira

que passou por mudanças estruturais em função do grande volume de

investimento. O Estado reverteu a sua perda de posição relativa ao contexto

nacional, iniciando-se assim um processo de adensamento e diversificação do

setor industrial existente, de consolidação de novos setores industriais e de

ampliação da economia mineira em âmbito nacional e internacional.

Minas Gerais é um estado em que predomina um relevante parque

industrial têxtil, ocupando atualmente em relação ao setor confeccionista

brasileiro o 5º lugar, ficando atrás de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e

Goiás.

Em função da imensidão da diversidade geográfica e das riquezas do

Estado, os processos históricos se diferenciam e o povoamento favoreceu a

formação de regiões culturalmente distintas. Vários pontos turísticos históricos

ainda conservam sua identidade cultural autêntica, com especificidades nos

seus usos e costumes, nas suas manifestações culturais típicas e nas

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atividades artísticas que destacam seus talentos como preciosidades mineiras

nas mais diversas áreas.

1.2 A cidade de Divinópolis

A cidade de Divinópolis foi fundada em 1767, está situada na região

Centro Oeste do Estado de Minas Gerais, a aproximadamente 110 quilômetros

da capital Belo Horizonte.

Por se tratar de uma cidade de vocação originariamente religiosa,

Divinópolis ou como é carinhosamente denominada “Cidade do Divino”, ergueu

em 1767 sua primeira igreja tendo como padroeiros o Divino Espírito Santo e

São Francisco de Paula, daí a explicação para o nome da cidade, uma

merecida homenagem ao Divino Espírito Santo, seu principal padroeiro.

Figura 1.2 – Divisão Político-administrativa Regional de Minas Gerais

Fonte: Anuário Estatístico de Divinópolis, 2012. (Adaptado)

A cidade de Divinópolis é considerada ponto de interseção de uma

excelente malha rodoviária que a aproxima dos principais centros urbanos de

desenvolvimento do país.

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Figura 1.3 – Mapa do Sistema Viário Regional

Fonte: Anuário Estatístico de Divinópolis, 2012.

A cidade é considerada essencialmente industrial e se tornou referência

nas áreas de indústrias siderúrgicas, metalúrgicas e de confecções, abrindo

oportunidades de emprego a diversos segmentos da sociedade.

Divinópolis foi considerada, em seus primórdios, uma cidade passagem-

pousada-paragem. Mesmo não tendo semelhanças físicas entre o antigo arraial

e a cidade de hoje, sua história de desenvolvimento e crescimento sempre

esteve atrelada aos transportes, à terra, aos caminhos da água, ao ferro e ao

asfalto.

O desenvolvimento do sistema ferroviário favoreceu as perspectivas de

crescimento socioeconômico da cidade através das oportunidades de

instalação de indústrias siderúrgicas, de metalurgia e aciaria, colaborando

assim para um nível de emprego e qualidade de vida razoável, elevando o

índice de desenvolvimento social.

No final da década de 1970, a indústria siderúrgica vivenciou uma grave

crise econômica, fase em que era considerada a principal fonte de renda da

cidade e região, acarretando a demissão e o fechamento de várias empresas

do setor.

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Nesse aspecto da decadência do setor siderúrgico local, Marques (2012,

p. 131) esclarece que

A crise de grandes mercados consumidores de gusa na última década somou-se aos fatores anteriormente citados e reduziu a importância relativa dessa atividade no município, obrigando a economia local a buscar novas estratégias, destacando-se neste processo o surgimento do segmento ligado à confecção e a expansão dos serviços, incluindo os destacados setores educacional e de saúde.

As dificuldades favoreceram o surgimento da indústria de confecção do

vestuário, dirigidas em sua maioria, por esposas dos siderúrgicos

desempregados.

Esse segmento econômico foi ganhando força a partir do momento que

muitas pessoas se agruparam com o mesmo propósito de substituir as antigas

rendas provenientes dos empregos do setor siderúrgico pela renda agora

proporcionada pelo desenvolvimento das atividades relacionadas ao setor

confeccionista têxtil.

Para Marques (2012, p.132) “O desenvolvimento desse segmento de

confecção possibilitou o enfrentamento da crise e o crescimento de emprego

industrial em Divinópolis nos anos de 1980 e 1990”.

A confirmar esse cenário socioeconômico, Marques (2012, p. 80)

destaca que

O espaço urbano da cidade de Divinópolis traz a marca de seus diferentes momentos socioeconômicos: um primeiro momento, no qual a ferrovia e os bairros destinados aos trabalhadores desta formaram o espaço urbano inicial; um segundo momento, com a consolidação das atividades siderúrgicas que se instalaram em vasto espaço municipal, incluindo a área urbana, com enormes impactos; e os momentos mais recentes, com a predominância da instalação de atividades terciárias, ligadas ao comércio e serviços.

Consequentemente ao crescimento do setor confeccionista, houve

[...] o incremento da construção civil e dos transportes rodoviários e uma moderada redução dos problemas sociais. Hoje, cerca de 14 mil pessoas estão diretamente empregadas nesse setor, mantendo aceitável o nível de desemprego.

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Divinópolis é a cidade-polo do Alto São Francisco conhecida pelas qualidades de suas confecções, mas destacada também pela prestação de serviços profissionais liberais, pelos serviços da administração pública (dos três níveis), pelo comércio diversificado e pela qualidade de suas escolas de ensino regular e de graduação superior em mais de 15 áreas.1

Considerada a principal vocação econômica da cidade, a indústria da

confecção contribuiu efetivamente para que Divinópolis seja atualmente o

maior polo confeccionista do Estado e um importante polo brasileiro no referido

setor.

Sem planejamento estratégico, Divinópolis cresceu desordenadamente.

Sua expansão urbana acelerada nos últimos anos e os loteamentos aprovados

indevidamente no passado acabam por dificultar ainda mais as obras de

infraestrutura básica.

O crescimento desorganizado pode ser compreendido, de certa forma,

pelas teorias que explicam o sistema capitalista e suas mazelas e cujas

práticas, provavelmente, nos reconduzem às antigas, porém, nunca antes tão

utilizadas, formas de exploração do homem pelo próprio homem.

Práticas comuns observadas nas cidades, nesse período, eram a

concentração de esforços e o empenho de recursos conjuntos de empresários,

políticos e sociedade para atrair e receber indústrias, quaisquer que fossem,

objetivando gerar empregos e renda para a população.

Desejavam o crescimento a qualquer custo, embora conhecessem,

mesmo que minimamente, os riscos e os prováveis prejuízos desse

crescimento desmedido, pois o pensamento vigente era atrair e receber

indústrias, movimentar a economia local e aceitar a poluição ambiental como

um mal menor. Nesse sentido, segundo o especialista na área ambiental Pedro

Amaral, a prática de atrair indústrias ainda é comum na atualidade

Na verdade, existe é uma política completamente contrária, ou seja, vamos trazer indústrias para a cidade a todo custo. Não podemos deixar nenhuma indústria fechar. Vamos dar incentivo com abatimento de tributos. Essa briga fiscal que acontece entre cidades e entre estados. Se está difícil trazendo indústria para instalar, ainda mais pensar na questão ambiental. Ou seja, hoje a maioria das cidades brasileiras ainda não tem

1 Disponível em: <http://www.camaradiv.mg.gov.br/index.php/sobre-divinopolis/economia>. Acesso em: 17 jun. 2013.

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condição de fazer uma discussão para poder criar uma restrição, ou seja, nós queremos uma indústria limpa. Não. Hoje nós ainda corremos atrás. Precisamos de indústria para poder gerar emprego. Nós ainda temos aquele pensamento do capitalismo de 20, 30 anos atrás (Pedro, especialista na área ambiental).

Dessa maneira, a cidade anteriormente organizada e estruturada para

um determinado número de habitantes, com o advento das indústrias de

tecelagem e confecções passa, agora, a agregar uma grande massa de

assalariados, muitas vezes vindos de outras cidades e regiões. Para manter

esse novo segmento econômico geraram-se, consequentemente, vários

problemas sociais como falta ou insuficiência de habitação, saúde, segurança,

dentre outras necessidades humanas básicas.

Nesse contexto, as moradias melhor localizadas têm o seu valor

majorado. Os novos moradores se veem segregados e obrigados, por se

constituírem no chamado exército de reserva – trabalhadores com baixa

qualificação –, a residirem em locais distantes, na periferia da cidade,

originando vilas e favelas, cujas moradias têm valor mais acessível e onde o

estado tem sua participação anulada ou reduzida.

O processo de segregação sócio-espacial-urbano, caracterizado por

moradias de baixo custo, em locais distantes, sem o aparelhamento dos

serviços públicos básicos, constitui-se na forma como o capitalismo encontra

para legitimar o status do domínio dos donos dos meios de produção sobre a

massa de assalariados e continuar a maximizar seus lucros. Essa situação é

corroborada por Villaça (1986, p. 8),

No Brasil, como nos países do Terceiro Mundo em geral, tem havido, por razões históricas que não cabe analisar aqui, uma grande “sobra” de trabalhadores, especialmente dentre os de baixa qualificação. Essa “sobra” é o que se costuma chamar de “exército de reserva”, cujo desenvolvimento o capitalismo procura estimular através de vários estratagemas, um dos quais a migração. Esse “exército de reserva” serve a um duplo objetivo burguês: em primeiro lugar, como vimos, permite um rebaixamento (absoluto ou relativo) do padrão de vida do trabalhador, a redução (absoluta ou relativa) de seu salário. De outro lado, corrói sua capacidade de luta, de mobilização e organização, enfraquecendo a classe trabalhadora e reduzindo seu poder de barganha face à burguesia.

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Especificamente, em relação ao cenário urbano de Divinópolis, estão

presentes as características de crescimento demográfico, social e econômico

verificadas nas cidades em desenvolvimento, conforme aponta Marques (2012,

p. 81-83),

O traçado da cidade ainda hoje mantém a morfologia da fase inicial e as expansões que se deram obedeceram à mesma concepção do princípio da cidade. O que se identifica hoje na área central é um grande número de substituições e alterações de edificações, no sentido de sua adaptação a uma nova e crescente demanda em relação a essa área. Embora essa demanda reflita uma grande vitalidade econômica do município, muitas atividades tradicionais foram suprimidas do centro, como os cinemas e até mesmo espaços públicos, como é o caso da primeira praça, a Benjamin Constant.

A cidade é considerada polo da região centro-oeste de Minas Gerais e

está entre os 10 principais municípios do estado. É considerada também a 5ª

cidade com melhor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do estado.2

Figura 1.4 – Polos Confeccionistas por região do Brasil

Fonte: SEBRAE, 2011.

2 Informações obtidas no Anuário Estatístico de Divinópolis – 2009.

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Divinópolis possui uma população aproximada de 213.0163 habitantes e

densidade demográfica de 300,82 hab/km², tendo como área de abrangência

40 municípios mineiros.

No aspecto da disponibilidade de bens e serviços à população na área

central de Divinópolis, destaca-se em relação às outras. Assim,

A área Central é frequentada pela população local, em busca de comércio e serviços mais diversificados, além das “sacoleiras” que afluem à cidade em busca de produtos fabris produzidos no município e que abastecem, de maneira informal, outras regiões do estado. Esse afluxo ocorre também em vários shoppings especializados, tendo em vista atender a essa demanda. Embora a área central tenha também uma função regional, esta convive bem com o dia a dia da população (MARQUES, 2012, p. 91).

Figura 1.5 – Mapa da Região Oeste de Minas

Fonte: Anuário Estatístico de Divinópolis, 2012.

A cidade possui uma área territorial de 716 km², equivalente a 0,12% da

área do Estado de Minas Gerais e tem sua área urbana com 192 km² de

extensão territorial.

3 BRASIL. IBGE. Censo 2010. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/cidadesat/link.php?codigo=312230&idtema=>. Acesso em: 17 jun. 2013.

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Figura 1.6 – Mapa das Regiões de Planejamento de Divinópolis

Fonte: Anuário Estatístico de Divinópolis, 2012.

Conforme os indicadores do IBGE4, sua população em 2010 é de

213.016 habitantes e a população estimada para 2015 é de 230.848

habitantes.

Os meios de comunicação de Divinópolis são bem desenvolvidos. Em

2009, havia 3 canais de televisão, 10 jornais, uma revista e 6 rádios.

O sistema educacional de Divinópolis conta com 40 escolas da rede

municipal, 36 da rede estadual e 32 de ensino particular, totalizando

aproximadamente 45 mil estudantes. Para atender à demanda de curso

superior a cidade conta com 5 faculdades/universidades que ofertam mais de

50 cursos superiores nas mais diversas áreas.

Em atendimento às necessidades do mercado de emprego, as escolas

particulares e federal oferecem cursos técnicos e cursos de curta duração

objetivando a formação de mão de obra especializada considerada a grande

carência de Divinópolis e região.

A cidade possui também uma riqueza cultural muito expressiva nas

diversas áreas como música, teatro, dança, festas populares e folclóricas,

exposições, rodeios entre outros. Possui vários espaços culturais como o

4 BRASIL. IBGE. Disponível em:

<http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=312230&search=||infogr%E1ficos:-informa%E7%F5es-completas.>. Acesso em: 4 fev. 2016.

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Museu Histórico de Divinópolis, a Biblioteca Pública Ataliba Lago, a Escola

Municipal de Música e o Teatro Usina Gravatá.

Grandes artistas fazem parte do cenário divinopolitano, dentre eles, o

escultor Geraldo Teles de Oliveira (GTO), a escritora Adélia Prado, o músico e

instrumentista Túlio Mourão e os meninos cantores do coral Os Rouxinóis de

Divinópolis.

A cidade é sede de várias agências de fomento como o Serviço

Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas empresas (SEBRAE), Serviço

Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e o Serviço Social da Indústria

(SESI), que apoiam as empresas locais através de programas de capacitação.

As organizações empresariais também estão representadas pela Federação

das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG), pela Associação

Comercial, Industrial, Agropecuária e Serviços de Divinópolis (ACID) e pela

entidade patronal SINVESD.

A entidade representativa da classe trabalhadora do setor confeccionista

é o SOAC, que visa contribuir com ações que garantam os direitos e melhorias

de condições para os trabalhadores da indústria da confecção.

Um dos principais motivos que influenciaram a escolha da cidade de

Divinópolis como local e foco de desenvolvimento da presente pesquisa é o

fato de ser a cidade natal da autora, onde ela desenvolve suas atividades,

como docente do Curso de Produção de Moda do CEFET-MG, além de outras

relacionadas ao setor confeccionista.

A autora, em sua caminhada profissional e acadêmica, percebeu a

importância da questão do controle dos resíduos sólidos têxteis na produção

industrial e sua estreita relação com as questões ambientais, assim, se

conscientizou de que produzir e consumir de forma sustentável significa,

sobretudo, preservar e proteger o meio ambiente e seus recursos, direcionando

todos os esforços para esse fim.

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1.3 O surgimento do setor confeccionista

De modo geral, o ofício da costura sempre foi passado através das

gerações quando as avós ensinavam às filhas, que ensinavam às netas e

assim se perpetuava a arte de costurar.

Em Divinópolis a história não foi diferente. As primeiras costureiras, além

de fazer as roupas para toda a família, passaram a fazer também para os

vizinhos tendo como moeda de troca pelas roupas confeccionadas,

mantimentos.

As primeiras escolas de corte e costura da cidade surgiram na década

de 1950, quando as costureiras passaram a cobrar em dinheiro pelo seu

trabalho. As melhores costureiras eram contratadas pelas famílias para

costurar nas casas, por um período determinado.

Em relação ao surgimento do setor confeccionista na cidade existem

controvérsias. Alguns pesquisadores afirmam que a história da indústria da

confecção em Divinópolis teve seu início a partir da segunda metade da

década de 1960, de forma artesanal. Na época, utilizavam-se tecidos populares

como o brim, a lona e a chita.

O setor crescia e se firmava a cada década, como afirma Nogueira

(2010, p. 15),

A década de 1970 marcou o setor do vestuário de Divinópolis através da chamada 'Era do Jeans', quando as principais confecções, como a Savage, MacLook, Badson, Toniel, Dobus e Jullier utilizavam praticamente somente o jeans em suas produções.

As décadas seguintes foram consideradas um marco para as

confecções em função do aumento significativo da produção, oriundo do

processo de modernização das oficinas de costura e do aprimoramento das

atividades.

Esta fase foi marcada por grandes feiras que contavam com a participação de compradores de todo o país que vinham em ônibus fretados especialmente para este fim. Em 1990, a cidade recebia uma média de 20 ônibus/dia, a maioria deles com mulheres interessadas em compras para revendas. Estas

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“consumidoras” foram denominadas “sacoleiras”. O setor imobiliário percebe este crescimento e passa a investir em shoppings atacadistas e lojas, construídos em pontos estratégicos, próximos às áreas da rodoviária e de acesso fácil à capital do Estado (NOGUEIRA, 2010, p. 15).

Por outro lado, outros pesquisadores afirmam em seus estudos que não

existe comprovação de que os empresários foram originados do setor

metalúrgico, como afirma Pedrosa (2005, p. 96),

[...] a atividade anteriormente exercida pelos empresários entrevistados do setor que aparece com maior incidência é a de comerciário, ou seja, pessoas que atuavam como vendedores, provavelmente no comércio de confecções, resolveram abrir seu próprio negócio. A segunda atividade com maior incidência é a de empresário de outro ramo e em terceiro lugar destacam-se os vendedores-viajantes. As costureiras faccionistas aparecem em quarto lugar, as sacoleiras5 em quinto e os desempregados e as domésticas aparecem nos últimos lugares. Ou seja, com exceção dos empresários de outros ramos, 64,5% das atividades exercidas anteriormente pelos empresários do segmento de confecção relacionam-se com o próprio setor.

Mesmo não podendo garantir que a origem das confecções na cidade

ocorreu ou não em virtude da crise do setor metalúrgico, o que se pode afirmar

é que a indústria da confecção colaborou

[...] para a chegada em Divinópolis de ramificações complementares ao setor como empresas atacadistas de tecidos, acessórios e aviamentos, lavanderias industriais, fábricas de etiquetas, fornecedores de máquinas e equipamentos, bem como demais prestadores de serviços (FERREIRA, 2006, p. 62). Em 2007, o Banco do Brasil elaborou, em conjunto com organizações sindicais, patronais e de trabalhadores, o Diagnóstico e Plano de Negócios da Gerência de Desenvolvimento Regional Sustentável (DRS), do Setor da Confecção. Os dados do diagnóstico mostram a existência de cerca de 2.250 empresas formais e/ou informais atuando na cadeia produtiva da confecção em Divinópolis e que o setor gera cerca de 30 mil empregos diretos e indiretos, o que representa 32% do Produto Interno Bruto (PIB) do município. Isto significa, em média, que cerca de 10% da população ativa

5 Sacoleiras são comerciantes que vão até as residências vendendo produtos, principalmente roupas.

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empregada está no setor de confecção (NOGUEIRA, 2010, p. 16).

A pesquisa realizada pelo Instituto de Estudos e Marketing Industrial

(IEMI)6, divulgada pelo relatório anual da FIEMG afirma que Divinópolis é

atualmente o principal polo confeccionista do estado, ficando à frente da capital

Belo Horizonte e da cidade de Juiz de Fora.

Segundo a referida pesquisa, a cidade possui 786 empresas no setor

confeccionista que são responsáveis por 21,4% da produção do estado.

Especificamente em relação ao setor de vestuário, está participação cresce

para 24,9% e em relação aos postos de trabalho, Divinópolis é responsável por

17,7%, com 26.501 funcionários.

O surgimento de novas indústrias na área do vestuário proporcionou

uma melhoria nas condições sociais da cidade e região. Uma das principais

características do setor é a verticalização das empresas que reúne em seu

sistema de produção as etapas de fiação, tecelagem, acabamentos dos tecidos

e inclusive confecção de peças, como é o caso da Fiação e Tecelagem de

Divinópolis (FITEDI).

A produção industrial têxtil abrange várias etapas que se relacionam,

destacando-se as etapas de fiação, tecelagem, beneficiamentos têxteis e

confecção. A etapa de fiação é onde ocorre a transformação da fibra têxtil em

fio. Na tecelagem, o fio oriundo do processo de fiação é tramado e

transformado em tecido – tecido plano, tecido de malha ou tecido-não-tecido

(TNT). Na etapa de beneficiamento têxtil ocorrem os diversos processos

relacionados aos acabamentos dos materiais têxteis, podendo ser

transformados fios ou tecidos, através da aplicação de estampas, lavagens,

bordados, entre outros. Na etapa da confecção ocorre a transformação do

tecido em peça confeccionada.

A FIG. 1.7, a seguir, apresenta a estrutura de uma cadeia produtiva e de

distribuição têxtil e de confecção e a relação entre os principais atores do setor.

6 Disponível em: <http://g1.globo.com/minas-gerais/triangulo-mineiro/noticia/2013/02/relatorio-aponta-divinopolis-como-maior-polo-de-confeccao-do-estado.html>. Acesso em: 5 fev. 2016.

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Figura 1.7 – Estrutura da cadeia produtiva e de distribuição têxtil e confecção

Fonte: ABIT/IEMI, 2013, p. 18 (adaptado).

O polo confeccionista de Divinópolis possui em sua cadeia produtiva

têxtil estamparias, lavanderias, bordados, facções, confecções e também

ramificações complementares ao setor como as empresas atacadistas de

tecidos, acessórios e aviamentos, fábricas de etiquetas, fornecedores de

máquinas e equipamentos, além dos prestadores de serviços.

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Os destaques maiores do setor na cidade são as confecções tradicionais

e as facções. Nas confecções tradicionais ocorre todo o processo produtivo da

peça, ou seja, a compra da matéria-prima, a criação do modelo, a modelagem,

o corte e a montagem da peça, além de sua comercialização. As confecções

possuem marcas próprias e as peças produzidas são comercializadas por lojas

e representantes. Geralmente, os funcionários possuem registro em carteira de

trabalho.

Por facção, o guia Como montar um serviço de confecção7 do SEBRAE

define como

Nome dado às confecções que prestam serviços para outras empresas do ramo que possuem marca própria e foco na comercialização, dentro da cadeia produtiva do setor têxtil. Em geral uma facção não vende seus produtos diretamente no varejo, realizando somente trabalhos de corte, montagem e acabamento de peças do vestuário para outras confecções (SEBRAE, 2015, p. 4).

O referido guia afirma ser a facção um sistema muito utilizado na

indústria de confecção e esclarece sobre seu funcionamento.

Uma indústria maior, que normalmente tem como principal atividade a criação e comercialização, cria a sua coleção, efetua os cortes das peças e encaminha para outras indústrias menores que são contratadas para montar as roupas. Essas indústrias não comercializarão os produtos, apenas são responsáveis pelo serviço de montagem das roupas, devolvendo em seguida, para a indústria maior, que confere as peças, padroniza a qualidade e comercializa os produtos. A ideia de facção surgiu a partir da tendência de terceirização de serviços que vem ocorrendo em todas as áreas, geralmente, a escolha da opção pelo sistema de facção, é resultado de identificação como uma saída para o empresário que montou uma confecção, mas não conseguiu sucesso com sua marca própria. Assim, já que ele possui máquinas e empregados, ele oferece seus serviços a uma confecção que já possui um mercado para venda de seus produtos, que se tiver interesse irá contratá-lo para produzir suas roupas (SEBRAE, 2015, p.4).

Nogueira (2010, p. 18) trata a realidade das facções em Divinópolis ao

afirmar que as facções

7 Disponível em: <http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/ideias/Como-montar-um-

servi%C3%A7o-de-fac%C3%A7%C3%A3o>. Acesso em: 5 fev. 2016.

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[...] geralmente são compostas por mulheres de idades variadas e membros da família, pessoas próximas e vizinhas que executam o trabalho manual em seus domicílios ou em locais próximos alugados. Por ser uma atividade não legalizada normalmente, seus proprietários não costumam registrar seus funcionários8.

O próprio histórico da criação do setor pode ser um dos motivos da

dificuldade de se obter um registro preciso do número de confecções e

facções, pois muitas ainda funcionam na informalidade. No caso das facções, a

falta de registro em carteira dos funcionários, pode ser a principal causa da

informalidade deste tipo de atividade.

No setor confeccionista de Divinópolis, as facções geralmente

distribuídas em toda a cidade, são montadas em domicílios ou em locais

alugados próximos. As informações obtidas no SOAC mostram que o número

de facções cadastradas, em novembro de 2013, era de 638 facções. Destaca-

se que o número de facções refere-se somente às facções cadastradas no

SOAC.

O processo de coleta de dados do setor confeccionista de Divinópolis foi

uma das maiores dificuldades encontradas no decorrer da pesquisa,

especialmente a obtenção de dados atualizados. Uma das fontes encontradas

foi a 1ª apresentação pública9 do "Projeto Foco Competitivo: reforço da

competitividade do setor de Moda de Divinópolis", elaborada pelo SEBRAE-

MG, no dia 08/04/2011, de onde foi retirado o mapa a seguir, que trata da

localização das confecções de Divinópolis. Cabe destacar que mesmo não

sendo encontrada a relação ou a quantidade de empresas descritas, o mapa a

seguir mostra a grande quantidade de indústrias de confecção distribuída na

cidade.

8 Segundo as informações obtidas no Sindicato dos Oficiais Alfaiates, Costureiras, Trabalhadores na Indústria de Confecção de Roupas, Estamparias, Cama, Mesa e Banho de Divinópolis (SOAC) estão cadastradas 638 facções. 9 Serviço Brasileiro de Apoio a Micro e Pequena Empresa. Foco competitivo de moda de Divinópolis. Disponível em: http://www.sinvesd.com/projeto-foco-competitivo-sebrae-sinvesd-sindicato-da-industria-do-vestuario-de-divinopolis-mg-lojas-fabricas-confeccoes-moda-roupas-vestidos-blusas-biquinis-jeans-fashion-moda-mineira-modinha-moda-feminina. Acesso em: 22 nov. 2015.

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Figura 1.8 – Mapa de localização das empresas de confecção de Divinópolis10

Fonte: SEBRAE, 2011.

Outra fonte utilizada foram os dados da Contribuição Confederativa11 de

200912, informados pelo SOAC. O Quadro 1.1 foi elaborado a partir do

mapeamento feito com base nestes dados e mostra que, mesmo estando

distribuídas em toda a cidade, as confecções têm sua maior concentração, em

determinadas regiões.

10 Primeira apresentação pública do projeto Foco Competitivo, slide 23. Disponível em:

<http://www.sinvesd.com/projeto-foco-competitivo-sebrae-sinvesd-sindicato-da-industria-do-vestuario-de-divinopolis-mg-lojas-fabricas-confeccoes-moda-roupas-vestidos-blusas-biquinis-jeans-fashion-moda-mineira-modinha-moda-feminina>. Acesso em: 12 jan. 2016.

11 A Contribuição Confederativa é estabelecida através de convenção coletiva de trabalho, na qual todo empregado, sindicalizado ou não, contribui para o sindicato profissional, com um percentual de 1% de seu salário.

12 Segundo consulta ao SOAC, via e-mail, os dados de 2009 são os mais atualizados.

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Quadro 1.1 – Distribuição das Confecções por Regiões de Planejamento de Divinópolis

REGIÃO EMPRESAS Nº TRABALHADORES

Central 241 1126

Sudoeste 166 1514

Noroeste 137 1207

Noroeste Distante 6 62

Sudoeste Distante 3 45

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do SOAC, 2009.

Percebe-se que a maior parte das confecções está concentrada na

região central e adjacências, que possui melhor infraestrutura com ruas

pavimentadas ou calçadas, esgoto e várias linhas de ônibus, facilitando o

acesso dos trabalhadores e consumidores e interagindo a indústria com o meio

urbano.

Figura 1.9 – Mapa de distribuição das confecções por região de planejamento de Divinópolis

Fonte: Anuário Estatístico de Divinópolis, 2012 (adaptado).

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O Quadro 1.2 a seguir apresenta as regiões de planejamento e, consequentemente, os bairros onde se localizam a maior parte

das confecções de Divinópolis.

Quadro 1.2 – Regiões de planejamento de Divinópolis

REGIÃO PLANEJA-MENTO

LOCALI-ZAÇÃO

ÁREA (KM2)

BAIRROS

1

CENTRAL

5,79

Afonso Pena, Centro, Esplanada, Dom Pedro II, Francisco M. Filho, Garcia Leão, Ipiranga, Liberdade, P.J. Capitão Silva, Santa Clara, Vila Belo Horizonte, Vila Central do Divino, Vila Concórdia, Vila Cruzeiro, Vila Minas Gerais, Vila Santo Antônio

2 SUDESTE 51,48

Antônio Fonseca, Chácaras Campo Grande, Cidade Jardim, Davanuze, Dona Rosa, Interlagos, Mangabeiras, Novo Paraíso, Jardim Dona Quita, Jardim Juza Fonseca, Mar e Terra, Maria Helena, Maria Peçanha, Nações, Nova Holanda, N. S. das Graças, N. S. de Lourdes, Novo Paraíso, Padre Eustáquio, Paraíso, Ponte Funda, Porto Velho, Res. Costa Azul, Res. Quinta das Palmeiras, Sagrada Família, Santa Lúcia, Santa Rosa, Santa Tereza, Santos Dumont, São Bento, São Mateus, Vale do Sol

3

NORDES-TE

11,28 B. Universitário, Danilo Passos II, Danilo Passos I, Del Rey, Do Carmo, Dr. José Thomaz, Espírito Santo, Halim Souki, Itaí, Jardim das Mansões, Manoel Valinhas, Niterói, Primavera, São Geraldo, São João de Deus, Lajinha, São Lucas, São Luiz, Vila Rica, Vila Romana

4

NOROES-TE

26,97 Afonso Pena, Alto São Vicente (Pito Aceso), Alvorada, Anchieta, Bairro Santa Martas, Bom Pastor, Conjunto Habitacional Osvaldo Machado Gontijo, Industrial, Jardim Candelária, Jardim Nova América, Liberdade, N. S. da Conceição, Nova Fortaleza, Oliveiras, Padre Libério, Parque Jardim Capitão Silva, Santa Clara, São Sebastião, Serra Verde, Vila das Oliveiras, Walkir Resende Costa, Xavante

5

SUDOES-TE

12,06 Alterosa, Bela Vista, Catalão, Chanadour, Exposição, Jardim Belvedere I, Jardim. Belvedere II, Morada Nova, Nova Vista, Pacaembu, Planalto, Realengo, Residencial Castelo, Santa Luzia, São Francisco, São José, São Judas Tadeu (Novo São José), São Miguel, Tietê

6

NORDES-TE

DISTANTE 29,42

Centro Industrial Jovelino Rabelo, Chácaras Beira Rio, Cidade Industrial Cel. Jovelino Rabelo, Conjunto Habitacional Lagoa dos Mandarins, Eldorado, Fazenda da Usina, Estâncias Gafanhoto, Grajaú, Icaraí, Ipanema, Jardim dos Candidés, Jardim Floramar, Nova Suíça, Residencial Morumbi, Residencial São Miguel, São Caetano, São Simão, Savassi

7

OESTE

11,38 Balneário Rancho Alegre, Belo Vale, Dr. Dulphe Pinto de Aguiar, Fábio Notini, Ipiranga, Jardim Betânia, L.P.Pereira, Núcleo Comercial L. P. Pereira, Orion, Sion, Tietê

8

SUDOES-TE

DISTANTE 48,54

Cacôco de Baixo, Cacôco de Cima, Cacôco do Meio, Chácara Santa Rita, Chácaras Bom Retiro, Chácaras Siarom, Floresta, Geraldo Pereira, Itacolomi, Jardim Das Acácias, Jardim Copacabana, Jardim Real, Jardim Zona Sul, JK, Jardinópolis, João Paulo II, Marajó I, Marajó II, Morumbi, Padre Herculano, Quintino, Residencial Campina Verde, Residência Casa Nova, Residencial Castelo, Santo André, São Cristóvão, São Domingos, São Paulo, Vila Castelo, Vivendas da Exposição, Yanes.

9 NOROES-TE

DISTANTE

17,85

B. Erminópolis, Distrito Industrial Santo de Antônio dos Campos, Florermida, Jardim Primavera, Santa Cruz, Vila de Santo Antônio dos Campos (Ermida), Vista Alegre

Fonte: SEPLAN/PMD, 2009 (Adaptado).

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Consequentemente, é nessa região que se encontra disposta, junto ao

lixo urbano, a maior quantidade de resíduo têxtil. O que se pode perceber é

que o maior responsável pelo exagerado volume de retalhos obtidos como

resíduos das confecções é o setor de corte, que geralmente não é terceirizado

e é feito pelas próprias confecções.

A terceirização de algumas atividades dentro das confecções tem como

objetivo reduzir custos, eliminando os riscos de produção e transferindo o

pagamento de mão de obra e demais encargos sociais e trabalhistas para as

facções.

O setor confeccionista é praticamente formado por pequenas e médias

empresas, que mesmo atingindo o mercado de exportação, não possuem um

processo de modernização que envolva avanços tecnológicos e possa

contribuir para assegurar novos mercados.

O desenvolvimento da indústria do vestuário pode ser considerado um

avanço para a cidade, pois outras indústrias se instalaram, fomentando o

comércio a acompanhar e se reestruturar em atendimento ao fornecimento de

produtos e mercadorias.

1.4 A indústria da confecção

A evolução histórica da indústria da confecção nasceu com a Revolução

Industrial na Inglaterra e com a exploração trabalhista das mulheres neste

setor, que recebiam baixos salários, trabalhavam em condições de grande

insalubridade e excesso de carga horária.

As fibras naturais como algodão, lã, seda, pelos e crinas de animais

tiveram uma participação importante no processo de desenvolvimento da

Indústria têxtil. A partir do século XVIII, a fibra do algodão, que dominava o

mercado, por ser usada como forro e em artigos domésticos, passou a ser

utilizada também na confecção de roupas para alta sociedade. A lã deixou de

ser usada somente pelas classes mais baixas e passou a ser utilizada também

pela alta sociedade. Nos séculos XVII e XVIII, a tecelagem da seda teve como

grande produtora a Inglaterra.

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52

Com o surgimento das fibras químicas desenvolvidas em laboratórios,

houve um crescimento na demanda e sua produção passou a ser feita em

maior escala, talvez por não necessitar de grandes espaços, de trabalho

intensivo e, às vezes, até de exploração de mão de obra, mas também por não

necessitar de um tipo de clima especial, como é o caso de algumas fibras

naturais.

Nas sociedades industriais do século XIX, a manufatura das peças do

vestuário era desenvolvida de duas formas: costureiras por encomenda e

alfaiates. As costureiras por encomenda faziam peças sob medida e, muitas

vezes, à mão; já os alfaiates, considerados os primeiros artesãos

independentes, eram em sua maioria organizações de patrões que

trabalhavam com suas famílias, com poucos trabalhadores experientes e

contratados por dia, além de alguns aprendizes.

O período de 1898 a 1910 foi marcado pela produção em larga escala, o

que não ocasionou a falência das lojas dos alfaiates e muito menos o

desaparecimento das costureiras por encomenda, mas, contraditoriamente, um

aumento de trabalho delas em domicílios.

O ano de 1909 pode ser considerado um marco para a indústria têxtil

quando aproximadamente vinte mil trabalhadores deixaram seus postos de

trabalho para irem às ruas lutar por seus direitos.

A indústria da confecção estava em crescente atividade e as roupas

produzidas em massa eram uma das responsáveis pelo aumento de sua

produção.

As décadas de 1920 e 1930 foram marcadas por importantes mudanças

nas indústrias da confecção, em especial por conseguir traduzir as medidas

masculinas para um padrão feito em fábrica, com estilos diferentes e boa

qualidade.

Nas décadas de 1940 e 1950, o desenvolvimento de métodos de

produção mais modernos e que envolviam estilo, qualidade, rapidez e preço

favoreceu ainda mais o consumo das peças produzidas pelas confecções.

Assim, a indústria da confecção passa a tentar atender as demandas de grupos

específicos, como por exemplo, os jovens estudantes.

Na década de 1960, com o advento do prêt à porter – roupa pronta para

vestir –, a moda parisiense passou a exercer forte influência nos modelos, em

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todo o mundo, fazendo com que Paris se tornasse referência em pesquisa para

o desenvolvimento de novos produtos.

A moda parisiense influenciava, através de suas revistas de alta costura,

os modelos de roupas em todo o mundo. As “modistas” eram profissionais que

desenvolviam, de forma artesanal, as peças de roupas sob medida e de acordo

com as necessidades e preferências da cliente. A função por elas

desempenhada exigia destreza manual, domínio técnico e intelectual de todo o

processo de produção da peça e, praticamente, não se utilizava nenhum

recurso de automação. Esta década marcou o início da industrialização da

moda, quando as marcas francesas começaram a vender grande quantidade

de modelos repetidos e com numeração diferenciada, favorecendo a compra a

partir de tamanho e formas de corpos diferentes.

A evolução deste mercado passou a demandar novos tipos de

profissionais, mais especializados, assim as modistas se subdividiram em

costureiras e modistas. Enquanto algumas costureiras trabalhavam em

conjunto nos processos de montagem das peças, mas cada uma realizava uma

parte das etapas de costura, outras trabalhavam em suas residências fazendo

reformas e ajustes, adequando a peça de roupa comprada pronta às medidas

da cliente.

As modelistas se especializaram no desenvolvimento dos moldes

conforme os modelos e tamanhos, assim as medidas do corpo humano foram

agrupadas, criando uma tabela de medidas por manequim.

Para Nogueira (2010, p. 21),

A modista, que cortava o tecido de acordo com o molde por ela criado, foi substituída pelo “cortador” que, com o intuito de economizar tecido e tempo, verificava a melhor forma de encaixar as partes do molde na largura do tecido e empilhar o maior número de tecido para que o corte de várias peças fosse feito através de uma só operação, dentro da própria fábrica. Após esse processo, as “costureiras de produção” faziam a junção das partes dos tecidos em etapas e repassavam as peças para as “arrematadeiras” que realizavam as tarefas manuais e de limpeza dos fios. Em seguida, as peças eram encaminhadas aos “passadores” que alisavam as peças de roupas, preparando-as para serem encaminhadas ao varejo. No momento em que as costureiras passaram a realizar somente algumas etapas de produção da peça de roupa na indústria do vestuário, ocorreu um evidente empobrecimento do trabalho individual executado.

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Nesse sentido, a divisão e especialização do trabalho resultaram

também em consequências negativas para os trabalhadores, como a perda da

capacidade plena do exercitar o antigo ofício. Assim, esclarece Marx (2014)

que

A cooperação fundada na divisão do trabalho adquire sua forma clássica na manufatura. Predomina como forma característica do processo de produção capitalista durante o período manufatureiro propriamente dito, que, grosso modo, vai de meados do século XVI ao último terço do século XVIII. A manufatura se origina de dois modos. Nasce quando são concentrados numa oficina, sob o comando do mesmo capitalista, trabalhadores de ofícios diversos e independentes, por cujas mãos têm de passar um produto até seu acabamento final. Uma carruagem, por exemplo, era o produto global dos trabalhos de numerosos artífices independentes, tais como o carpinteiro de seges, o estofador, o costureiro, o serralheiro, o correeiro, o torneiro, o passamaneiro, o vidraceiro, o pintor, o envernizador, o dourador, etc. A manufatura de carruagens reúne todos esses diferentes artífices numa oficina onde trabalham simultaneamente em colaboração. Não se pode dourar uma carruagem antes de ela ser feita. Se, porém, muitas carruagens são feitas ao mesmo tempo, umas podem ser douradas enquanto outras estão em outra fase do processo de produção. Até aí, estamos no domínio da cooperação simples, que encontra, pronto e acabado, seu material constituído por homens e coisas. Mas logo sucede uma modificação substancial. O costureiro, o serralheiro, o correeiro, etc. que se ocupam apenas com a feitura de carruagens, perdem pouco a pouco, com o costume, a capacidade de exercer seu antigo ofício em toda a extensão. Além disso, sua atividade especializada assume a forma mais apropriada a essa esfera restrita. No início, a manufatura de carruagens era uma combinação de ofícios independentes. Progressivamente, ela se transformou num sistema que divide a produção de carruagens em suas diversas operações especializadas; cada operação se cristaliza em função exclusiva de um trabalhador e a sua totalidade é executada pela união desses trabalhadores parciais. Desse modo, combinando diferentes ofícios sob o comando do mesmo capital, surgiram as manufaturas de panos e muitas outras13.

13 Um exemplo mais moderno é a fiação e tecelagem de seda de Lyon e Nîmes, "inteiramente patriarcal. Emprega muitas mulheres e crianças, mas sem esgotá-las ou arruinar-lhes a saúde; põe-nas em seus belos vales, no Drôme, no Var, no Isère e no Vaucluse, para criarem lá o bicho-da-seda e enovelarem seus casulos; nunca chega a ser uma verdadeira fábrica, e, embora extensamente aplicado (...) o princípio da divisão do trabalho assume aí uma particularidade especial. Há dobradoras, torcedores de seda, tintureiros, encoladores, além de tecelões; mas não estão reunidos na mesma oficina, nem dependem de um mesmo patrão; todos são independentes”. (BLANQUIS, A. Cours d’écon. Industrielle, recuielli par A. Blaise,

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A manufatura, portanto, se origina e se forma, a partir do artesanato, de duas maneiras. De um lado, surge da combinação de ofícios independentes diversos que perdem sua independência e se tornam tão especializados que passam a constituir apenas operações parciais do processo de produção de uma única mercadoria. De outro, tem sua origem na cooperação de artífices de determinado ofício, decompondo o ofício em suas diferentes operações particulares, isolando-as e individualizando-as para tornar cada uma delas função exclusiva de um trabalhador especial. A manufatura, portanto, ora introduz a divisão do trabalho num processo de produção ou a aperfeiçoa, ora combina ofícios anteriormente distintos. Qualquer que seja, entretanto, seu ponto de partida, seu resultado final é o mesmo: um mecanismo de produção cujos órgãos são seres humanos (MARX, 2014, p. 391-393)14.

No Brasil, a partir da década de 1970, a indústria da confecção se

expandiu e seu crescimento pode ser justificado tanto pelo mercado

consumidor que foi favorecido em função da urbanização da população

brasileira, quanto pela entrada das mulheres no mercado de emprego.

Possivelmente, com a crise da produção em massa deste período, foram

criadas inúmeras pequenas empresas, provavelmente pelo baixo custo de

montagem e a utilização de pouca tecnologia.

O Relatório Setorial da Indústria Têxtil Brasileira – Brasil Têxtil 2013 –,

elaborado pelo IEMI, ao tratar da concentração regional da indústria têxtil e

confeccionista no Brasil, afirma que mesmo estando disseminada em todo o

território nacional, há uma maior concentração na região Sudeste, somando

48,6% das empresas, como mostra o mapa a seguir.

Paris, 1838, p. 79.) Depois dessa descrição de Blanquis, esses trabalhadores independentes foram em parte reunidos em fábricas.

14 Adendo à 4ª ed.: E, desde que Marx escreveu o que está acima, o tear a vapor invadiu as

fábricas, expulsando rapidamente o tear manual. Sobre o assunto, a indústria de seda de Krefeld tem um testemunho a dar – F.E.

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Figura 1.10 – Concentração regional da indústria têxtil e confeccionista no Brasil

Fonte: IEMI, 2013, p. 30 (adaptado).

De acordo com o relatório,

A indústria têxtil e confeccionista está disseminada por todo o território nacional, porém na região Sudeste estão concentrados cerca de 49% do pessoal ocupado nos diferentes elos da cadeia produtiva. Na região Sul, estão os outros 29%; na região Nordeste, 17%; na região Centro-Oeste, 4%; e na região Norte, cerca de 1% (IEMI, 2013, p. 29).

O relatório afirma que mesmo com a queda no consumo mundial de

fibras em 2008, houve uma recuperação em 2010 à medida que a economia

mundial se recuperou, aumentou também a demanda por fibras.

A produção mundial de artigos têxteis, medida pelo consumo industrial de fibras e filamentos, cresceu a uma taxa média anual de 3,6% nos últimos 20 anos, enquanto a população mundial aumentou a uma taxa média anual de 1,3%, o que

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representa um importante crescimento do consumo mundial per capita de produtos têxteis nesse período. Com base nos dados do consumo mundial de fibras em 1990 e 2011 (último dado disponível), bem como na população mundial nesses mesmos anos, é possível concluir que o consumo mundial per capita passou de 7,6 kg/habitante, em 1990, para 11,8 kg/habitante em 2011, ou seja, houve um aumento de 55% no consumo per capita (IEMI, 2013, p. 19).

Segundo o mesmo relatório,

A partir dos anos 1980, a aceleração do processo de integração dos mercados mundiais (globalização) acabou por provocar a migração de uma parcela significativa da produção de artigos têxteis e confeccionados dos Estados Unidos, da União Europeia e do Japão para países emergentes da Ásia e, mais recentemente, para o Leste Europeu, o norte da África e o Caribe, modificando por completo o mapa da produção mundial. Passados mais de 20 anos do início do processo migratório, ele teve como resultado uma forte concentração da produção nos países da Ásia, atualmente responsáveis por cerca de 70% dos volumes totais, com destaque para China, Índia, Paquistão, Indonésia, Taiwan, Coreia do Sul, Tailândia, Bangladesh, entre outros. O Brasil ocupa a quarta posição entre os maiores produtores mundiais de artigos de vestuário e a quinta posição entre os maiores produtores de manufaturas têxteis (IEMI, 2013, p. 20).

No que se refere ao mercado internacional o relatório mostra que a

participação do Brasil é muito pequena,

Embora o Brasil seja um dos maiores produtores e um dos maiores consumidores mundiais, em termos de comércio internacional a sua participação ainda é muito pequena, estando colocado na 21ª posição entre os maiores exportadores de vestuário, o que nos leva a concluir que, nesse segmento industrial, o país se enquadra claramente no perfil de “produtor-consumidor”, isto é, produz para si mesmo, com parcelas relativas muito pequenas destinadas à exportação (IEMI, 2013, p. 22).

A abertura do mercado nacional aos concorrentes internacionais, na década de 1990, exigiu do setor um enorme esforço de investimentos para modernizar seu parque de máquinas, objetivando a redução de custos e a melhoria da produtividade e da qualidade de seus produtos como forma de enfrentar a concorrência dos grandes produtores e fornecedores mundiais, especialmente alguns países asiáticos. No período compreendido entre 1990 e 2011 foram investidos US$16 bilhões somente na aquisição de máquinas e

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equipamentos têxteis de última geração. Isso permitiu que o setor se equiparasse aos grandes produtores internacionais em termos de tecnologia produtiva. Porém, para competir internacionalmente, ainda existem alguns problemas a serem enfrentados (IEMI, 2013, p. 29).

Frente a real situação vivenciada com a valorização da moeda nacional

em relação ao dólar,

As maiores dificuldades, agora, recaem sobre o grau de organização das empresas nacionais, além da necessidade de ganhos de escala, equivalência tributária e custos financeiros aos níveis praticados nos grandes produtores e exportadores mundiais. Essas melhorias se tornam cada vez mais urgentes, considerando-se as pressões provenientes do novo surto de importações, estimuladas pela recente valorização da moeda brasileira frente ao dólar, ocorrida nos últimos anos (IEMI, 2013, p. 29).

Segundo informações do mesmo relatório, no período de 2008 a 2012,

houve um crescimento de 5,2% no número de empresas do segmento têxtil e

de 15,7% no segmento da confecção. No mesmo período e em relação ao

pessoal ocupado, houve uma queda de 5,1% nos segmentos têxteis e em

contrapartida, um aumento de 1,3% no segmento da confecção.

Ao analisar o número médio de empregados por empresa, no mesmo

período, o relatório afirma que houve um declínio, “tanto no setor têxtil quanto

nos confeccionados, o que significa maior nível de automação e modernização

do setor” (IEMI, 2013, p. 30).

No que se refere à distribuição da produção por região, conforme mostra

o GRÁF. 1.1, no período compreendido entre 2008 e 2012, houve na região

Sudeste uma considerável queda na produção, representada por 2,9%.

Embora tenha ocorrido esta ligeira queda no período em questão, a região

continua sendo a principal produtora de artigos têxteis e confeccionados do

país, distanciando-se da segunda região colocada em 18%.

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Gráfico 1.1 – Distribuição regional da indústria têxtil e confeccionista no Brasil (em %)15

Fonte: IEMI, 2015.

Em relação à distribuição das empresas de confecção por região, o

Sudeste possui o maior número de empresas, destacando que houve uma

pequena queda, no período compreendido entre 2008 e 2012, de

aproximadamente 2,29%.

A TAB. 1.1, a seguir, foi criada a partir das informações do mesmo

relatório que apresenta o número de empresas de confecção no Brasil,

separadas por região e por categoria – vestuário, meias/acessórios, linha lar,

artigos técnicos. A porcentagem apresentada em cada região/ano foi obtida a

partir da relação entre o total das empresas de confecção da região e o número

de empresas de vestuário.

15 Disponível em: <http://mais.sortimentos.com/brasil-textil-2015-iemi-abit-relatorio-setorial-da-industria-textil-brasileira/>. Acesso em: 14 jan. 2016.

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Tabela 1.1 - Porcentagem de empresas do vestuário no Brasil por região

REGIÕES 2008 2009 2010 2011 2012

Norte 84% 86% 87% 87% 87%

Nordeste 85% 86% 87% 88% 88%

Sudeste 88% 87% 88% 88% 87%

Sul 88% 88% 89% 89% 90%

Centro Oeste 90% 91% 91% 92% 92%

TOTAL DE EMPRESAS 87% 88% 88% 89% 89%

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do Relatório IEMI, 2013.

Pode-se perceber que em todas as regiões e em todos os anos

avaliados, as indústrias de vestuário são as que mais se destacam entre as

demais categorias, que juntas equivalem a aproximadamente 15% do total de

indústrias do segmento. Assim, torna-se necessário ressaltar a alta

porcentagem de empresas da categoria vestuário que podem ser consideradas

produtoras de resíduos têxteis, foco desta pesquisa.

O relatório mostra que em 2012, o Brasil possuía aproximadamente 30

mil produtores em atividade no país, sendo que 97% deles eram de micro e

pequeno porte, ou seja, tinha menos de 20 funcionários e produziram

aproximadamente 56% da totalidade das peças. As médias empresas, que

possuíam entre 20 a 99 funcionários, representavam apenas o restante dos 3%

das empresas e produziam cerca de 19% das peças. As grandes empresas,

com mais de 99 funcionários, mesmo tendo um percentual praticamente nulo, e

sendo desconsideradas pela tabela, produziram 25% da totalidade das peças.

A produção nacional em 2012 atingiu cerca de 9,36 bilhões de peças/ano,

conforme mostra a tabela a seguir.

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Tabela 1.2 - Distribuição das empresas de confecção no Brasil por porte

Fonte: IEMI, 2013, p. 89.

A tabela a seguir mostra as dimensões do mercado, da produção e do

consumo per capita dos artigos têxteis no Brasil, no período de 2000 a 2012.

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Tabela 1.3 - Dimensões de mercado, produção e consumo per capita de têxteis no Brasil

Fonte: IEMI, 2013, p. 46.

Nota-se ainda que, no período compreendido entre 2000 e 2005, o

consumo foi menor que a produção e entre 2006 e 2012 o consumo foi maior

que a produção. Isto possivelmente indica que parte do consumo interno foi

suprida pela entrada de produtos importados (IEMI, 2013).

Outros dados do IEMI16 também merecem destaque, como os referentes

aos números da indústria do vestuário no Brasil e em Minas Gerais, conforme

figura 1.11.

16 Apresentação do Estudo do Mercado e Planejamento Estratégico para Fomento Comercial do Polo do Vestuário de Divinópolis elaborado pelo IEMI, em 2009. Disponível em: <http://pt.scribd.com/doc/191205335/Diagnostico-IEMI> Acesso em: 11 maio 2014.

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Figura 1.11 – Números da indústria do vestuário no Brasil e em Minas Gerais17

Fonte: IEMI, 2009.

No ano de 2008, segundo dados do IEMI, o Brasil possuía 22,7 mil

produtores em atividade no país, sendo que 70% deles eram de pequeno porte,

ou seja, tinham menos de 20 funcionários. As grandes empresas com mais de

100 funcionários representavam 30% dos volumes, sendo que a produção

nacional em 2008 atingiu cerca de 6,45 bilhões de peças/ano. As vendas da

indústria somaram US$ 36,9 bilhões e os investimentos subiram cerda de 30%

naquele mesmo ano.

Em relação ao mercado de Divinópolis, conforme apresentado na figura

abaixo, a pesquisa do IEMI mostra que a maior parte das empresas é de porte

médio e responde por 69% do volume de empregos gerados.

17 Slide nº 12 da apresentação do Estudo do Mercado e Planejamento Estratégico para Fomento Comercial do Polo do Vestuário de Divinópolis elaborado pelo IEMI, em 2009. Disponível em: <http://pt.scribd.com/doc/191205335/Diagnostico-IEMI> Acesso em: 11 maio 2014.

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Figura 1.12 – Perfil das empresas de Divinópolis18

Fonte: IEMI, 2009.

A pesquisa do IEMI mostra ainda que foram pesquisadas 52 empresas e

que 90% delas são efetivamente produtoras e 10% delas terceirizam a

produção. Estas empresas produzem e comercializam em média 4,7milhões de

peças/ano, proporcionando uma receita anual de aproximadamente R$ 123

milhões, empregando ao todo 2.582 pessoas direta ou indiretamente.

A pesquisa mostra também que 90% das empresas pesquisadas são

produtoras de vestuário e destas, 94% fazem o corte, 60% a costura e 74% o

acabamento na própria empresa. A terceirização da produção é feita por 6%

das empresas através das facções.

O setor têxtil e de confecção brasileiro compreendem,

aproximadamente, 30 mil empresas, gerando 1,65 milhão de empregos em sua

cadeia produtiva.

18 Slide nº 33 da apresentação do Estudo do Mercado e Planejamento Estratégico para Fomento

Comercial do Polo do Vestuário de Divinópolis elaborado pelo IEMI, em 2009. Disponível em: <http://pt.scribd.com/doc/191205335/Diagnostico-IEMI> Acesso em: 11 maio 2014.

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As informações afirmam que

mesmo fazendo parte do dia a dia de todas as pessoas, os números, estatísticas e importância do Setor do Vestuário no cenário brasileiro, nem sempre são conhecidos em toda sua extensão. São mais de 1 milhão e trezentos mil trabalhadores ocupados na produção anual de 6 bilhões de peças, trabalhadores que se considerando os desdobramentos subsidiários na comercialização dos produtos chegam a 4 milhões de pessoas, espalhadas pela rede de comércio e varejo do Brasil todo: em qualquer cidade brasileira, desde a menor de todas às grandes metrópoles, sempre haverá alguém vendendo uma peça de vestuário, pois sempre haverá alguém precisando comprar uma (SINDIVESTUÁRIO, 2008)19.

Segundo informações da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e da

Confecção (ABIT, 2010)20,

o Brasil está na lista dos 10 principais mercados mundiais da indústria têxtil, bem como entre os maiores parques fabris do planeta; é o segundo principal fornecedor de índigo e o terceiro de malha, está entre os cinco principais países produtores de confecção e é hoje um dos grandes mercados de fios, filamentos e tecidos.

O sucesso do Brasil tem como um dos seus motivos a diversidade, pois

devido à extensão territorial e à variedade cultural, as regiões brasileiras atuam

de forma diferenciada buscando inovar seus meios de produção e tratamento

dos tecidos.

1.4.1 Etapas do Processo Produtivo da Confecção

A cadeia produtiva da indústria têxtil é composta basicamente pelos

setores industriais de fiação, tecelagem, malharia, beneficiamento e confecção

em geral.

A produção industrial têxtil abrange várias etapas que estão inter-

relacionadas. A primeira delas se refere à preparação das fibras têxteis de

origem natural – vegetais, animais e minerais –, e as químicas – produzidas em

19 Disponível em: <http://sindivestuario.org.br/setor-do-vestuario>. Acesso em: 9 fev. 2016.

20 Disponível em: <www.abit.org.br/site/texbrasil>. Acesso em: 13 abr. 2013.

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laboratórios e denominadas artificiais ou sintéticas. A segunda etapa trata do

processo de fiação, ou seja, da transformação da fibra têxtil em fios. A terceira

etapa se refere à tecelagem onde são produzidos os tecidos planos, de malha

e/ou os tecidos não tecidos (TNT). Incluem-se também nesta etapa as diversas

operações de acabamento que conferem aos produtos conforto, durabilidade,

além de outras características para o fim a que se destina. A última etapa é a

confecção de peças de roupas ou artigos têxteis.

A indústria da confecção compreende desde produtos fabricados em

grande escala e distribuição até produtos de moda, variados e diferenciados

com produção reduzida e ciclo de vida curto. Todos os produtos são voltados

para a satisfação do cliente que necessita acompanhar os movimentos cíclicos

da moda.

A produção de uma peça do vestuário pode ser feita de forma artesanal

por uma costureira particular que conhece todas as etapas do processo de

fabricação ou através da produção industrial que é feita por várias costureiras e

com separação das diferentes etapas de produção estabelecendo

especializações profissionais para a modelagem, o corte, a costura e o

arremate, entre outros.

Para maior entendimento de como ocorre o processo de confecção de

uma peça de roupa, a Figura 1.13 apresenta a confecção de uma t-shirt.

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Figura 1.13 - Etapas do processo produtivo da confecção de uma t-shirt

Fonte: Elaboração própria. Organização: Júlia Couto Nogueira

Para Nogueira (2010, p. 31-31),

Antes de se iniciar a confecção de qualquer peça do vestuário, é definido o tema para determinada coleção, o que orienta o processo de criação com croquis ou fotos dos modelos. A seguir é feita a modelagem das peças. [...] A próxima etapa é o corte da peça-piloto ou protótipo, que servirá de parâmetro para toda a produção. Feita a peça-piloto (pilotagem), segue-se para a prova a fim de verificar a necessidade ou não de ajustes e correções no protótipo. Se aprovada é elaborada uma ficha técnica do produto contendo todas as informações e detalhes da peça a ser confeccionada. Essas tarefas, consideradas relevantes para a qualidade do produto, ficam a cargo de pessoas especializadas e muitas vezes qualificadas para a função. Após aprovada a peça-piloto, realiza-se a ampliação e a redução dos moldes para que se possa ser feito o risco marcador que serve como um gabarito para o corte.

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Posteriormente é feito o encaixe que é a disposição dos moldes de forma a aproveitar ao máximo o tecido, para que assim possa ser feito o mapa/risco.

A etapa do encaixe é responsável pela sobra dos resíduos têxteis. O

cortador é quem pode minimizar a quantidade de resíduos fazendo com que o

aproveitamento do tecido seja otimizado ao máximo.

A próxima sequência é o enfesto, ou seja, a colocação de camadas de tecido sobrepostas para facilitar e aumentar e/ou otimizar o número de peças a serem cortadas. Com o enfesto pronto, inicia-se o processo de corte das peças e depois a separação das partes em blocos para que possa ser distribuída para a produção. O trabalho de riscar o molde, enfestar o tecido e cortar as partes das peças exige conhecimento especializado, pois qualquer deslize em uma destas tarefas pode comprometer toda a produção. A próxima etapa do processo produtivo é a separação dos aviamentos necessários para a produção das várias peças já cortadas com as marcações correspondentes para os diferentes tamanhos da modelagem das peças. Neste momento, são separadas também as partes das peças que precisam de acabamentos especiais como, por exemplo, estamparia, bordados etc. A seguir, as várias partes das peças são preparadas para a costura, conforme alguns detalhes como, por exemplo, a colagem das entretelas, a preparação dos bolsos, as marcações de piques. A seguir, é feita a montagem das peças, ou seja, a costura unindo as partes cortadas. Nas pequenas confecções, o trabalho de montagem das peças é feito individualmente por cada costureira que faz todo o processo. Nas confecções de grande porte, a montagem é dividida entre as várias costureiras com o acompanhamento permanente de um chefe de produção que tem o domínio do conhecimento para desenvolver a sua função (NOGUEIRA, 2010, p. 32).

Após as peças serem cortadas, elas são encaminhadas às facções para

serem montadas. Esta etapa, quase totalmente terceirizada, representa a maior

parte da atividade de uma confecção.

Ainda nos dias atuais, o processo produtivo básico da maioria das micro

e pequenas confecções é feito de forma rudimentar com as atividades da

costura completamente dependentes da mão de obra para manusear os

tecidos e movimentar as máquinas de costura. Em sendo assim, o operador

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das máquinas é capaz de desenvolver suas tarefas sem necessitar de qualquer

especialização intelectual sofisticada.

No Brasil, a indústria da confecção não tem como característica a

inovação tecnológica, principalmente em função do baixo custo de mão de obra

neste segmento que tem como opção de competitividade a redução de custos

através da terceirização. O que muitas vezes passa despercebido é que o

processo tem como consequência seu elevado custo social em função da

forma precária como realizado, comprometendo a qualidade do trabalho, pois

as costureiras não têm como investir em tecnologia e qualificação.

A inovação do processo produtivo na indústria têxtil fez com que o

parque industrial têxtil se modernizasse e a produção passasse por um

processo de informatização de máquinas e equipamentos importados como,

por exemplo, os filatórios, teares, máquinas de costura e máquinas para

acabamentos, entre outros.

Para Nogueira (2010, p. 28),

Atualmente no mercado, encontram-se máquinas com tecnologias cada vez mais avançadas, geralmente computadorizadas, que realizam operações específicas, agilizando o processo e favorecendo, consequentemente, a melhor qualidade do produto. [...] As tesouras foram substituídas por máquinas de corte, antes eram com navalhas, atualmente são a laser. O computador está presente em quase todo processo produtivo, seja no CAD21, permitindo o desenvolvimento de moldes, com otimização da matéria prima e do tempo, seja no enfesto e no corte de forma cada vez mais eficiente ou na produção através de máquinas computadorizadas que agilizam a produção.

Nogueira (2010, p. 28) afirma ainda que a criação dos moldes além de

poder ser manual passou a ser executada também pelo sistema CAD que

informatizou as etapas de modelagem, a ampliação e a redução dos moldes. O

avanço da tecnologia favoreceu a criação de softwares capazes de capturar e

digitar os moldes manuais através de fotos obtidas com o auxílio de uma

câmara digital e de um quadro específico para este fim. O software faz a

21 O sistema Computer Aided Design (CAD) - Projeto Assistido por Computador utiliza técnicas gráficas computadorizadas, através do uso de programas – softwares – de apoio que auxiliam na resolução dos problemas.

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digitação automaticamente e, se necessário, é possível fazer modificações no

molde e imprimi-lo em tamanho natural.

Para Nogueira (2010, p. 28),

Esses sistemas integrados de informação geralmente são pouco empregados em sua totalidade nas pequenas e médias empresas, em decorrência do alto custo e da complexidade da tecnologia que exigiria habilidades e conhecimentos de seus operadores, o que normalmente não se encontra em empresas deste porte. Na indústria da confecção de Divinópolis, o processo informatizado é utilizado apenas pelas maiores empresas que produzem mais de mil peças/dia e utilizam de pouca variedade de modelos. As pequenas empresas que produzem, em pequena escala, uma enorme variedade de modelos ainda utiliza as formas artesanais na elaboração de seus moldes, o que implica na não uniformidade de tamanho entre as fábricas.

1.4.2 A terceirização das atividades

O estudo realizado pelo Ministério do Trabalho e Emprego, apresentado

por Gonçalves (2001, p. 31), define que “terceirização é a contratação de

serviços por meio de empresa, intermediária entre o tomador de serviços e a

mão de obra, mediante contrato de prestação de serviços, e não diretamente

com o contratante destes”.

Barros (2013, p. 357) afirma que

O fenômeno da terceirização consiste em transferir para outrem atividades consideradas secundárias, ou seja, de suporte, atendo-se a empresa à sua atividade principal. Assim, a empresa se concentra na sua atividade-fim, transferindo as atividades-meio.

Terceirizar as atividades de uma empresa pode favorecer alguns

aspectos como maior rapidez e eficiência no processo por ser mão de obra

especializada por fornecedores detentores de tecnologias próprias e modernas

com maquinários específicos para cada fase da produção; cumprir prazos,

condições e assegurar a produção dos compromissos assumidos; otimização

dos serviços; redução do quadro geral de empregados; diminuição da

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ociosidade do maquinário; maior poder de negociação; aumento e flexibilização

da produtividade, dentre outros.

Em contrapartida, a terceirização muitas vezes pode ser considerada

uma crueldade com os trabalhadores que têm uma maior carga de trabalho,

pois os ganhos são proporcionais à quantidade produzida. Pode também

resultar em aspectos negativos como o descontrole e desconhecimento da mão

de obra; a contratação involuntária de pessoas inadequadas; além das perdas

financeiras ocorridas através de ações trabalhistas movidas por empregados

terceirizados, pois o vínculo empregatício é gerado sempre que os serviços

repassados envolvam a atividade-fim da empresa contratante. Ou seja, em

uma confecção todos os setores envolvidos na produção de roupas são

considerados atividades-fim, sendo assim, passível de ações trabalhistas.

A indústria da confecção no Brasil não prima, atualmente, pela inovação

tecnológica, possivelmente em função do baixo custo de mão de obra nesse

segmento, que tem como opção de competitividade a redução de custos

através da terceirização.

A terceirização das atividades nas confecções de Divinópolis ocorre

principalmente nos setores de corte e costura das peças. No caso específico

do corte, tem ocorrido uma particularidade que as empresas ao terceirizarem o

corte transferem também os resíduos têxteis. Com a vigência da lei 12.305/10,

cada empresa é responsável pelo resíduo gerado. Elas ao terceirizarem o corte

acabam por se livrar desta responsabilidade que passa a ser do cortador. A

grande questão é quando a lei entrar em vigor, quem pagará a multa pelos

resíduos têxteis gerados? A empresa ou o cortador?

A reportagem do site G1 Centro-Oeste de Minas22 trata a questão da

terceirização como tendência no setor confeccionista de Divinópolis.

Segundo um levantamento feito pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), regional Centro-Oeste, Divinópolis possui 786 empresas ligadas ao setor confeccionista, com 26.501 funcionários. Nos últimos anos o ramo tem passado por adaptações para atrair profissionais como as costureiras, que têm buscado cada vez mais a terceirização. Por

22 Disponível em: <http://g1.globo.com/mg/centro-oeste/noticia/2014/09/terceirizacao-se-torna-tendencia-no-setor-confeccionista-em-divinopolis.htm>. Acesso em: 15 nov. 2015.

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conta dessa tendência, alguns empresários têm enfrentado dificuldades para manter o quadro de funcionários. [...] O reflexo foi observado pelo Sindicato das Costureiras de Divinópolis (Soac). Por ano o sindicato faz cerca de 1.500 rescisões de contrato, um número que, segundo o Soac, é alto se comparado com a demanda do setor. [...] O presidente do Sindicato das Indústrias do Vestuário de Divinópolis (Sinvesd), Antônio de Araújo Rodrigues Filho, concordou que a terceirização do serviço é uma tendência do setor. "As empresas têm partido para a terceirização desse serviço. Temos percebido algo em torno de 30% da produção de forma interna e 70% terceirizada", informou.

O processo de terceirização tem como consequência ainda o seu

elevado custo social em função da forma precária como é realizado,

comprometendo a qualidade do trabalho, pois as costureiras não têm como

investir em tecnologia e qualificação.

No processo produtivo uma das etapas existentes é a costura das

peças. Essa etapa quando realizada por empresas/pessoas terceirizadas é

comumente denominada de facção.

As facções são uma realidade no setor confeccionista, pois algumas

confecções não fazem todo o processo produtivo, necessitando assim

terceirizar parte de sua produção, como por exemplo, o corte e a montagem

das peças a serem produzidas.

A atividade relativa à facção consiste no recebimento das peças

cortadas e separadas em blocos juntamente com os demais acessórios –

etiquetas e aviamentos, em geral – que posteriormente serão transformadas

em peças confeccionadas.

Ainda em relação à atividade de facção, há que se ressaltar que nem

sempre o processo de qualidade existe nesta atividade, resultando em peças

defeituosas – Leve Defeito (LD) – que muitas vezes retornam às facções para

correções. Em função disso, há atrasos na entrega, perdas financeiras e de

materiais que se traduzirão posteriormente em resíduos sólidos descartados

inadequadamente junto ao lixo domiciliar, principalmente.

Acrescente-se a isso, o fato de que as costureiras das facções, de forma

geral, não dispõem de jornada de trabalho definida, ou seja, fazem sua própria

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jornada em função da encomenda recebida, do prazo de entrega, dos afazeres

domésticos e da vida pessoal.

Em função disso, elas têm que conciliar a facção com as demais

atividades, resultando, muitas vezes, em problemas de saúde e acidentes

pessoais, tendo em vista a não existência de mecanismos de prevenção e de

proteção.

Sobre a informalidade principalmente do trabalho nas facções, Barreto

(2010, p. 52) mostra que

O contrato de trabalho é acordado entre a faccionista e o empresário ou seu intermediário configurando, muitas vezes, um contrato “de boca”, sem nenhuma formalidade de registro. O controle para pagamento das peças é feito por meio de anotações em papéis ou em uma caderneta da faccionista. O empresário mantém o controle por intermédio de notinhas que a faccionista assina quando recebe o material para confeccionar ou quando devolve as peças prontas.

Majoritariamente, as facções são operacionalizadas por mulheres de

faixa etária diferenciada, seus familiares ou vizinhos. Trata-se muitas vezes de

atividade realizada na informalidade, visto a dificuldade de regularização em

virtude dos custos elevados para isso. Assim, trata-se de atividade na qual se

percebe a inexistência de registro regular e legal da empresa e de seus

empregados.

Para Nogueira (2010, p. 35),

O trabalho terceirizado feito pelas facções fora das empresas é considerado um trabalho a domicílio que incorpora novos personagens no universo do processo de produção, estendendo suas tarefas ao restante da família ou pessoas próximas. Nas facções, quando existe a presença masculina, os lugares que os homens ocupam não se diferem das confecções, pois, com raríssimas exceções, ocupam a função de costureiros.

1.4.3 A participação da mão de obra feminina

Desde os primórdios da humanidade, as mulheres sempre tiveram uma

relação direta e contínua com o trabalho e buscavam nele, dentre outras

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coisas, a realização de seus desejos pessoais, profissionais e sua inclusão

social fundada na equidade e na justiça.

Na contramão desse movimento, a sociedade dominada até então pela

força e falta de sensibilidade masculinas buscou segregar a mulher de seu

status de ser humano dotado não só de deveres e obrigações, como também

de direitos e, principalmente, da dignidade inerente à qualidade de ser humano,

independentemente se homem ou mulher.

Na Grécia e Roma antigas, ilustrativamente, elas não tinham o direito de

votar, não eram, portanto, consideradas cidadãs. A partir da Revolução

Industrial e até nos dias atuais recebem salários mais baixos que o dos

homens para executarem tarefas idênticas, além de terem, em muitos casos,

desumanas jornadas de trabalho.

Os movimentos feministas e as lutas sociais em prol da igualdade de

direitos entre homens e mulheres foram gradativamente surtindo efeito e

posicionando as mulheres no patamar justo, com direitos e deveres iguais aos

dos homens.

Enfatizando a discriminação do trabalho feminino, percebe-se que,

apesar do princípio constitucional da igualdade entre homens e mulheres

definido na Constituição Federal de 1988, ainda hoje, as mulheres recebem

salários inferiores ao dos homens para efetuarem as mesmas tarefas.

Além disso, enfatizando a exploração de classe, as mulheres possuem

dupla jornada de trabalho, sofrem com a discriminação, que impõe uma divisão

injusta do trabalho e de papéis sociais refletindo nas esferas, sejam elas,

social, econômica, política ou ideológicas.

Nesse contexto, ao analisar o trabalho das bordadeiras de Ibitinga,

Sawaia (1979, p. 134) afirma que

Nem mesmo o fato de ganhar mais foi suficiente para alterar a divisão do trabalho no lar e fora dele. As mulheres não encaram o trabalho como uma função a ser desempenhada sempre, aperfeiçoada ao longo dos anos, ou uma fonte de sustento da família, mas sim como algo que pode e deve ser interrompido, se as condições familiares ou domésticas requisitarem. A dupla jornada de trabalho exemplifica bem este fato. Não obstante o exercício de atividade remunerada – melhor remunerada que a do marido, as mulheres continuam

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respondendo pelo desempenho das tarefas domésticas. Todas as atividades que na divisão familiar do trabalho são consideradas próprias da mulher têm seu desempenho realizado pelas bordadeiras, individualmente, ou com a ajuda dos filhos, muito raro com a ajuda dos maridos. Fazem o impossível para desempenhar ao mesmo tempo o papel de dona de casa, mãe e trabalhadora.

No setor confeccionista de Divinópolis, as mulheres também

desempenham este duplo papel, especialmente no trabalho nas facções, como

bem demonstra Barreto (2010, p. 54),

No trabalho a domicílio nas facções as mulheres prevalecem, seja porque necessitam de mobilidade e de flexibilidade de opções de mercado de emprego, seja porque muitas mulheres apelam para o trabalho a domicílio por não encontram na cidade serviços de apoio adequados para o cuidado com seus filhos em idade pré-escolar. Assim, as facções, enquanto modalidade de trabalho a domicílio, possibilita conciliar o trabalho doméstico e o assalariamento. Comparados a outros empregos industriais, as mulheres têm acesso restrito aos direitos trabalhistas e com raríssimas oportunidades de treinamento e ascensão funcional. Por isso, o seu trabalho assalariado aparece ocupação clandestina.

A discriminação ocorre, portanto, quando a mulher ao realizar tarefas

idênticas às do homem, recebendo salários inferiores, ainda executa aquelas

relacionadas aos papéis de esposa, mãe, dona de casa, dentre outras. Esses

acréscimos de atividades em relação ao homem não são devidamente

reconhecidos e valorizados pela sociedade em geral.

Como ocorre na maioria dos trabalhos e atividades executados pelas

mulheres nos mais diversos segmentos econômicos, políticos, sociais e até

religiosos em que se percebe a discriminação em relação ao sexo, fenômeno

semelhante ocorre nas indústrias têxteis e de confecções.

A mão de obra feminina na indústria têxtil e de confecções além de se

mostrar significativa pelo elevado número de postos de trabalho ocupados,

implicou em mudanças na família e na sociedade, como afirma Marques (2012,

p. 132), “A entrada massiva das mulheres no mercado de trabalho implicou em

mudanças no perfil do trabalhador, repercutiu na organização da família e

gerou uma demanda maior de equipamentos como creches, dentre outros”.

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A representante do sindicato dos trabalhadores SOAC relata a

importância e valorização da mão de obra feminina no contexto de Divinópolis.

Está tendo mais salões de beleza em Divinópolis por quê? É outra coisa que nós sempre falamos. Você tem mais lojas que vendem produtos femininos por quê? Porque a mulher trabalha. Recentemente eu estava fazendo uma reunião numa empresa e perguntei: “O que você faz com o seu salário?” Hoje as mulheres já falam: “já cuido de mim com o meu salário”. O que é esse cuidar? Fazer um curso, vai ao cabeleireiro. Esse tipo de coisa que faz bem para ela (Ana Lúcia, representante do SOAC).

No setor confeccionista de Divinópolis, é considerado desconhecido o

número de trabalhadoras informais, bem como os locais onde realizam suas

atividades. A legislação brasileira se torna ineficaz, pois as mulheres

permanecem em casa junto dos filhos, sem registro em carteira, recebendo por

peça produzida. A remuneração delas é baixa e instável, pois trabalham mais e

ainda colocam os filhos para ajudar em suas tarefas.

Percebe-se a segregação das mulheres em relação aos homens no

mercado de trabalho, pois são destinadas a elas tarefas menos significativas,

que não requerem conhecimentos técnicos e que não sejam gerenciais.

Segundo Teixeira (2009, p. 238),

No período da industrialização, as mulheres se inseriram no mercado de trabalho, sendo delas grande parte das funções e lugares não qualificados. A divisão do trabalho estabeleceu-se assim com a justificativa de que as mulheres não detinham o conhecimento técnico para supervisionar os serviços. São essas posições fragmentadas do saber fazer e do ter o conhecimento técnico para determinado ofício, e, consequentemente, a valorização e remuneração dos respectivos trabalhos, que fazem com que as mulheres se organizem na tentativa de estabelecer relações igualitárias entre homens e mulheres no mundo do trabalho. A presença das mulheres no mercado de trabalho representou uma mudança significativa na história. O trabalho, fora de casa, constituiu um importante mediador para que as mulheres exercessem atividades além dos muros de suas residências, ocupando posições sociais e determinadas atividades profissionais até então permitidas e validadas única e exclusivamente para homens.

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Entretanto, historicamente, as mulheres continuaram a buscar espaço no

mercado de trabalho. A análise apresentada por Abramo (2000) no período de

1970 a 1990 mostra que na América Latina ocorreu um aumento da

participação feminina no mercado de trabalho e nas horas diárias e semanais

trabalhadas. Constata-se também que nesse período, no mercado de trabalho

o nível de instrução das mulheres era superior ao dos homens e a segregação

ocupacional e a diferença salarial ainda estavam presentes, só que em escala

reduzida. Em contrapartida, a taxa de desemprego das mulheres ainda era

superior à dos homens e notava-se um acréscimo da presença feminina em

postos de trabalho precários e socialmente pouco valorizados.

Em relação ao cenário das indústrias de confecções em Divinópolis,

historicamente, as mulheres tiveram um papel primordial, quer seja pela sua

expressiva participação nesse segmento econômico, quer seja pela busca de

seu bem-estar e realização pessoal e profissional, além de um novo status

social que a valorizasse e permitisse atingir a plena dignidade e o merecido

lugar no espaço urbano.

Isso ocorreu na década de 1970, quando das demissões dos maridos

trabalhadores, ocorridas em função da crise econômica da indústria

siderúrgica. Assim, elas iniciaram as atividades de costura em suas casas

movidas pela necessidade de sustento da família, pela manutenção do

casamento e até mesmo, objetivando um rendimento próprio para sua

participação como consumidora.

Contextualizada a cidade de Divinópolis no estado de Minas Gerais e o

surgimento do setor confeccionista, um dos seus principais segmentos

econômicos, serão apresentados no capítulo 2 a questão urbana ambiental, os

resíduos sólidos, a legislação pertinente ao tema e a cidade como espaço da

produção, do consumo e do descarte dos resíduos sólidos.

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2 A QUESTÃO URBANA AMBIENTAL X RESÍDUOS SÓLIDOS

2.1 Considerações iniciais

Desde os primórdios de sua existência, o homem utilizava os recursos

naturais existentes para satisfazer suas necessidades, dentre as quais, aquelas

relacionadas ao vestuário. Nas regiões predominantemente frias, os animais

eram abatidos, suas carnes servidas como alimento e as peles utilizadas como

vestimentas para proteção do frio e demais intempéries.

Esses homens habitavam determinada região até que houvesse a

escassez de comida. Quando isso ocorria, mudavam para outra região em

busca da satisfação de suas necessidades, deixando para traz o lixo que era

naturalmente decompostos pela ação do tempo.

Com o tempo, o homem começou a perceber outras necessidades que

se satisfeitas, proporcionariam maior comodidade, praticidade e conforto para

sua vida, como por exemplo, roupas mais apropriadas, instrumentos para o

plantio, além de desenvolver hábitos como cultivo de alimentos, criação de

animais, construção de moradias próximas aos locais onde desenvolvia suas

atividades cotidianas, dentre outros.

Concomitantemente ao desenvolvimento da sociedade, verificou-se

também um aumento da população e, consequentemente, o aumento do lixo,

ocasionando a poluição do meio ambiente.

Para Mano et al. (2010, p.42), “pode-se atribuir a duas causas principais

a poluição ambiental: o contínuo aumento da população e o vertiginoso

desenvolvimento industrial.”

Penteado (2008, p. 128) ao analisar a questão populacional afirma que

“a população, embora crescendo menos, adicionou mais pessoas anualmente

no planeta”. Para o autor,

A ênfase deveria ser sempre no ritmo absoluto e não no relativo, como focam os demógrafos e economistas. O motivo é bem simples: cada pessoa ocupa tantos hectares da Terra, somados da seguinte forma: 1) espaço ocupado pela sua mera existência física; 2) espaço ocupado para sua moradia e locomoção;

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3) espaço ocupado para a produção de alimentos, com novidades cada vez mais extravagantes; 4) espaço ocupado para a produção de energia; 5) espaço ocupado para a produção de bens e serviços para seu consumo, com novidades cada vez mais extravagantes; 6) espaço ocupado para despejar resíduos do consumo, com novidades cada vez menos biodegradáveis; 7) espaço ocupado para descartar bens ainda úteis, e 8) espaço destruído pela poluição e energia térmica que gerou. Não faz o menor sentido a ênfase das análises populacionais na sua variação percentual ou relativa. Esse tipo de enfoque só se explica pelo mito absurdo e amplamente aceito da vastidão ilimitada do planeta e de seus recursos (PENTEADO, 2008, p. 128).

O autor afirma ainda que

Esse conceito - espaço ocupado pelo ser humano -, duramente ignorado por todos, deveria ser olhado com cautela, porque ele também não é constante ao longo do tempo. Para o ser humano não há limites para sua extravagância. Ao longo das últimas décadas, um sem-número de atividades foi sendo adicionado, aumentando a área média que cada um de nós usufrui do planeta (PENTEADO, 2008, p. 129).

Os Gráficos a seguir apresentam o crescimento populacional mundial no

período compreendido entre 1950 com estimativa até 2050.

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Gráfico 2.1 – Crescimento Demográfico Mundial no período 1950 a 2050 (bilhões de habitantes)23

Fonte: Elaboração própria com base nos dados da ONU.

Gráfico 2.2 – Evolução em percentual da População Mundial no período 1950 a 205023

Fonte: Elaboração própria com base nos dados da ONU.

23 Organização das Nações Unidas. Population Division of the Department of Economic and Social Affairs of the United Nations Secretariat, World Population Prospects: The 2012 Revision. Disponível em: <http://esa.un.org/unpd/wpp/index.htm>. Acesso em: 28 jul. 2015.

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Analisando os gráficos acima, observa-se que no período compreendido

entre 1965-1970 e 2010-2015, apesar de haver uma redução no percentual do

crescimento mundial da população, inversamente a este fenômeno, houve

aumento significativo da população.

Percebe-se também que para o mesmo período em análise, o percentual

reduziu de 11 para 6%, enquanto houve um crescimento de aproximadamente

4 bilhões para 6 bilhões de pessoas.

Esse cenário pode ser explicado por vários fatores, dentre os quais,

provavelmente, o desenvolvimento científico e tecnológico que introduziu novos

métodos contraceptivos, medicamentos, tratamentos e técnicas cirúrgicas, que

contribuíram para a melhoria das condições de saúde e o aumento da

expectativa de vida das pessoas.

Compreende-se, assim, a partir desta análise e em função desses

prováveis fatores que houve uma redução da taxa de natalidade, explicada

pela redução do percentual do crescimento populacional mundial aliado ao

aumento da expectativa de vida das pessoas, que se traduziu no aumento do

número de pessoas no mundo.

A questão ambiental tornou-se destaque em todas as esferas de

discussão, pois se refere à responsabilidade com o meio ambiente e com o

futuro da própria sociedade.

Trata-se, pois, da necessidade de cada ente social assumir sua parcela

de responsabilidade com o meio ambiente e, consequentemente, contribuir

para o desenvolvimento da sociedade aliado à manutenção saudável da vida

nas suas mais diversas formas.

Torna-se imprescindível a conscientização desta sociedade em relação

à compatibilização da produção em atendimento à demanda populacional com

a preservação do meio ambiente.

Em relação à produção e à degradação ambiental, Kuwahara (2014, p.

72) afirma que “o produto real total de uma economia é a produção média de

cada sociedade multiplicada pelo número de participantes desta”. Para a autora

(Idem), “à medida que a sociedade humana evolui, aumentando o número de

habitantes e ampliando suas necessidades materiais, eleva-se a degradação”.

A questão ambiental cada vez mais exige da sociedade e do poder

público uma postura menos predatória do meio ambiente.

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Nogueira e Diniz (2013, p. 1) afirmam que

Atualmente muito se comenta sobre os diversos fatores que prejudicam o meio ambiente, como, por exemplo, os resíduos descartados de maneira inadequada e o excesso de lixo. A sustentabilidade é uma questão de responsabilidade com o meio ambiente e com a sociedade. Ao se contextualizar no ambiente onde se insere o homem contemporâneo, a sustentabilidade envolve questões como a inclusão social, a informação, a capacitação, a educação, a economia criativa e a preservação da fauna, da flora e dos recursos naturais. O tratamento da questão ambiental em meio urbano é, hoje, um desafio ao desenvolvimento, e mobiliza instituições que atuam neste âmbito (instituições financeiras, associações de bairro, ONGs, etc.) que contribuem com práticas sociais e modos de gestão no meio urbano.

A indagação feita por Nogueira e Diniz (2013, p.3) remete à reflexão

sobre o momento atual:

O necessário questionamento que se faz é: como conciliar a demanda, a produção, o consumo e o descarte com a manutenção do sistema de forma equilibrada, visto que quanto maior a população, maior é o consumo e, consequentemente, maior o descarte dos resíduos, favorecendo o enorme volume de lixo e uma poluição indesejável.

A confirmar a questão do consumo, o Gráfico 2.3 mostra o consumo do

vestuário no Brasil, de acordo com a classe social. Percebe-se que as classes

B e C são as maiores consumidoras com um percentual de 70% do total

consumido no país.

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Gráfico 2.3 – Consumo de vestuário por classe no Brasil

Fonte: SEBRAE, 2011.

Na mesma linha de raciocínio, Mano et al. (2005, p. 169) afirmam que

a Humanidade precisa atingir o equilíbrio entre o que é produzido e consumido e o que é descartado. Há uma tendência irreversível à reciclagem dos materiais pós-consumidos. Assim, o Homem terá conseguido integrar eficiência a sua atividade dentro dos ciclos da Natureza.

Segundo Waldman24 (2011), embora a população brasileira seja

equivalente a 3,06% do total mundial e o seu PIB corresponda a 3,5% do

mundial, os resíduos descartados pelos brasileiros equivalem a 5,5% do total

mundial. O pesquisador afirma que entre 1991 e 2000 o crescimento da

população brasileira foi de 15,6% e o país ampliou seu descarte em 49%. Em

2009, a população teve um crescimento da ordem de 1%, enquanto a geração

de rejeitos aumentou 6%.

Em resposta ao questionamento sobre os motivos pelos quais as

autoridades públicas não se preocupam em resolver o problema do lixo, na

24 SOB O SIGNO do lixo. Disponível em: <http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/outubro2011/ju512_pag3.php>. Acesso em: 2 set. 2015.

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mesma reportagem, Waldman (2011) afirma que o descompromisso ocorre,

pois culturalmente os resíduos são sempre problemas do outro. Para o autor,

A única política adotada no país, se é que podemos classificá-la assim, é a da estética. Ou seja, o interesse primordial das autoridades é tirar os rejeitos da visão das pessoas e levá-los para um lixão ou, quando muito, para um aterro sanitário. A forma como esse lixo é tratado ou monitorado é outra questão. O importante, na concepção dessa corrente, é que a sujeira não fique à mostra (WALDMAN, 2011, p. 3).

A cidade de Itaúna (MG), que se distancia de Divinópolis por

aproximadamente 40 quilômetros, possui um projeto piloto – referência no

Brasil – que trata da coleta seletiva e que tem dado ótimos resultados. O

gerente de resíduos do município afirma que o lixo é uma questão eterna,

Mesmo nós tendo aqui um trabalho de turno de coleta, de recolhimento mesmo dos resíduos que não são os resíduos sólidos urbanos, que são objetos de coleta diária, restos de entulhos em áreas de preservação. É um problema que eu acho que todo município vive e aqui não é diferente. Nós estamos enfrentando sempre esse descarte irregular do resíduo (Sérgio, gerente de resíduos).

Em relação ao que pode ser feito para que o lixo não triunfe sobre a

humanidade, Waldman (2011) afirma que há três questões a serem pensadas:

a necessidade por parte da população de um consumo mais consciente de

bens e produtos; uma mudança de postura da indústria que trabalha com o

conceito de obsolescência precoce; e a colaboração do Estado na formulação

de políticas públicas sérias e consequentes.

No que se refere à solução para o problema dos rejeitos, Waldman

(2011) assegura ser uma questão não somente brasileira, mas mundial e

alerta. Segundo ele,

Os problemas globais precisam ser pensados coletivamente. É necessário unir conhecimentos e competências, além obviamente de envolver nas discussões os diversos segmentos da sociedade civil organizada. Sem essas inciativas, dificilmente haverá saída (WALDMAN, 2011, p. 3).

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Almeida (2007, p. 2) mostra a necessidade premente de mudança do

modelo de desenvolvimento atual em detrimento ao comprometimento da

sobrevivência da nossa sociedade; objetivando

transmitir o senso de urgência requerida para enfrentar a tragédia socioambiental que ameaça a continuidade dos empreendimentos humanos, públicos e privados; de nossa organização social; e, no limite, até da própria espécie humana.

Para o autor esta realidade já não pode mais ser considerada “uma

ameaça sobre as futuras gerações”, pois, atualmente, estamos sofrendo os

resultados de um padrão de desenvolvimento anacronicamente predador, no

que se refere ao social e ao ambiental, além das ações de “lideranças mal

informadas no geral e mal intencionadas no particular” (ALMEIDA, 2007, p. 2).

Para que ocorra o desenvolvimento socioeconômico é necessário que

haja uma interação equilibrada dentro do sistema meio ambiente de forma a

garantir vida com saúde e qualidade para todos os indivíduos de determinada

sociedade, bem como, o respeito, a proteção e a preservação das demais

espécies animais e vegetais e dos recursos naturais que a compõem.

Com o advento da Revolução Industrial, que teve como uma das

consequências a mudança do paradigma produtivo, houve uma crescente

degradação e poluição ambientais mundiais, provavelmente ocasionadas pelo

crescimento populacional aliado ao desenvolvimento tecnológico e produtivo

voltados para o atendimento das mais diversas e complexas necessidades

humanas.

Para Nogueira e Diniz (2013, p. 3),

A Revolução Industrial acarretou grandes transformações sociais e econômicas. O trabalho manual foi substituído por máquinas, favorecendo a produção de bens em larga escala. Dentre os produtos manufaturados da época, destacavam-se os tecidos de algodão, linho, lã e seda; materiais de construção cobre, ferro, além de couro, carvão e papel, os quais, de origem natural, favoreciam a decomposição natural dos refugos e diminuíam o impacto ambiental: tinha-se uma demanda e produção reduzida que era totalmente consumida e sofria uma degradação natural.

Eles ressaltam ainda que

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O que se pode perceber, a primeira vista, é uma relação de incompatibilidade entre o desenvolvimento econômico e a preservação ambiental. Enquanto o desenvolvimento econômico está essencialmente em busca da geração e acumulação de riquezas, a preservação ambiental prima-se pela manutenção, proteção e equilíbrio da fauna, flora, dos recursos naturais e da preservação da vida no e do planeta. A junção simultânea destas ações na busca por um desenvolvimento sustentável precisa ser a meta principal (NOGUEIRA; DINIZ, 2013, p. 3).

Para que ocorra na realidade, o desenvolvimento sustentável torna-se

necessária a confluência simultânea de fatores interdependentes como o

desenvolvimento econômico, o desenvolvimento social e cultural e a

preservação ambiental.

Esses fatores são fundamentais para a qualidade de vida da geração

atual e, principalmente, das gerações futuras. Mesmo tendo consciência de que

vivemos em um mundo capitalista e artificial, não podemos permitir que a ideia

de desenvolvimento sustentável seja utópica.

Cavalcanti (1998, p.430) apresenta os seis aspectos prioritários que o

desenvolvimento sustentável possui e que devem ser vistos como metas:

(i) A satisfação das necessidades básicas da população (educação, alimentação, saúde, lazer); (ii) A solidariedade para com as gerações futuras (preservar o ambiente de modo que elas tenham chance de viver); (iii) A participação da população envolvida (todos devem se conscientizar da necessidade de conservar o ambiente e fazer cada um à parte que lhe cabe para tal); (iv) A preservação dos recursos naturais (água, oxigênio, vegetais, animais); (v) A elaboração de um sistema social garantindo emprego, segurança social e respeito a outras culturas (erradicação da miséria, do preconceito e do massacre de populações oprimidas, como por exemplo, os índios); (vi) A efetivação dos programas educativos.

Em contrapartida, Sachs (apud VIEIRA, 1997, p. 473-475) define como

cinco os pilares do desenvolvimento sustentável: sustentabilidade social,

econômica, ecológica, geográfica e cultural.

a) Sustentabilidade social, isto é, o estabelecimento de um processo de desenvolvimento que conduza a um padrão estável de crescimento, com uma distribuição mais equitativa de renda e dos ativos, assegurando uma

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melhoria substancial dos direitos das grandes massas da população e uma redução das atuais diferenças entre os níveis de vida daqueles que têm e daqueles que não têm.

b) Sustentabilidade econômica, tornada possível graças ao fluxo constante de inversões públicas e privadas, além da alocação e do manejo eficientes dos recursos naturais.

c) Sustentabilidade ecológica, implicando a expansão da capacidade de transporte da “nave espacial terrestre”, mediante a intensificação dos usos do potencial de recursos existentes nos diversos ecossistemas, intensificação esta tornada compatível com um nível mínimo de deterioração deste potencial. O consumo de combustíveis fósseis e outros, de esgotamento rápido além de prejudiciais ao meio ambiente, deveria ser reduzido. Da mesma forma, impõe-se a redução do volume de substâncias poluentes, mediante a adoção de políticas de conservação de energia e de recursos, reciclagem, substituição por recursos renováveis e/ou abundantes e inofensivos, o desenvolvimento de tecnologias capazes de gerar um nível mínimo de dejetos e de alcançar um máximo de eficiência em termos dos recursos utilizados, o estímulo à “agricultura biológica” e aos sistemas de agro-silvicultura.

d) Sustentabilidade geográfica: os problemas ambientais são ocasionados, muitas vezes, por uma distribuição espacial desequilibrada dos assentamentos humanos e das atividades econômicas. Dois exemplos expressivos desta tendência são a excessiva concentração da população em áreas metropolitanas, e a destruição de ecossistemas frágeis, mas de importância crucial, devido a processos não controlados de colonização. Daí a necessidade de se buscar uma configuração rural-urbana mais equilibrada e de se estabelecer uma rede de reservas da biosfera para proteger a diversidade biológica, e, ao mesmo tempo, ajudar a população local a viver melhor.

e) Sustentabilidade cultural, que, talvez, constitua a dimensão mais difícil de ser concretizada, na medida em que implica que o processo de modernização deveria ter raízes endógenas, buscando a mudança em sintonia com a continuidade cultural vigente em contextos específicos. Decorre deste princípio a hipótese de uma multiplicidade de vias de acesso à modernidade, como sustenta Alain Touraine (1988), além da necessidade de se traduzir um conceito normativo de desenvolvimento sustentável numa pluralidade de soluções locais, adaptadas a cada ecossistema, a cada cultura e, inclusive soluções sistêmicas de âmbito local, utilizando-se o ecossistema como um paradigma dos sistemas de produção elaborados pelo homem e aplicando a racionalidade camponesa no nível mais elevado da espiral do conhecimento.

Boff (2012) analisa a discussão da Ecologia além do aspecto ambiental,

da preservação da natureza e da escassez de recursos. O autor considera

ainda as dimensões política e social; mental e integral.

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Para o autor, a ecologia social e a política

analisam as formas como cada sociedade se relaciona com a natureza; como utiliza os recursos naturais; como é seu modo de produção e seus padrões de consumo; sob que formas os cidadãos participam ou não dos benefícios naturais e culturais; como trata seus resíduos, e o que faz para garantir a regeneração dos recursos escassos para assegurar o futuro para si e para as próximas gerações (BOFF, 2012, p. 15).

A ecologia mental, para Boff (2012, p. 23),

se ocupa com a mente e com o que ocorre dentro dela. Também considera os valores e as visões de mundo que as sociedades projetaram. Muito de nossa agressividade com o sistema Terra, o mau uso dos recursos naturais e o descuido com os resíduos tem sua origem nos conceitos e preconceitos incrustados na mente humana e que são de difícil desmontagem.

Para o autor, talvez a ecologia mental seja “a mais difícil de ser realizada

porque as estruturas mentais e o nosso modo convencional de ver as coisas

perduram por gerações, dificultando enormemente as mudanças necessárias”

(BOFF, 2012, p. 23).

Boff afirma que a ecologia integral procura ir além das demais ecologias

citadas e “procura entender a Terra e as energias cósmicas que nos alimentam

e sustentam dentro do imenso processo de evolução que ainda está em curso”

(2012, p. 31).

Para o autor,

A partir dessa visão verdadeiramente integral, compreendemos melhor o ambiente e a forma de tratá-lo com respeito, objeto da economia ambiental. Aprendemos as dimensões sociopolítica, responsável pela sustentabilidade na Terra e dos ecossistemas dos quais depende nossa sobrevivência pessoal e coletiva. Damo-nos conta da urgência da ecologia mental que nos ajuda a superar o inveterado antropocentrismo em favor de um “cosmocentrismo25” e “biocentrismo26”. Por fim, pela ecologia

25 Cosmocentrismo é a concepção que ao considerar o todo cósmico como a origem de tudo e de todos, além de um sistema vivo, altamente organizado e criativo e que permite o desenvolvimento da vida em toda sua variedade, complexidade e plenitude, o conduz ao elevado patamar de foco referencial para ordenação do sentido das coisas.

26 Biocentrismo é “a visão da vida em si mesma. Através da ética da compaixão o ser humano está ligado por laços vitais com todos os seres vivos” (BOFF, 1992, p. 30).

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integral captamos a importância de integrar a Terra e o seu humano com o Todo, de descobrir as conexões que ligam e religam todos os seres, a matéria e a vida, o espírito e o mundo, Deus e o Universo (BOFF, 2012, p. 35-36).

2.2 A questão urbana ambiental e a legislação pertinente ao tema dos

resíduos sólidos

As cidades vistas como centros de excelência de desenvolvimento

humano, científico e tecnológico, até bem pouco tempo, não se preocupavam

com questões relativas à proteção e preservação do meio ambiente.

Nesse desenfreado processo de desenvolvimento humano e social, as

empresas, bem como outras instituições, necessitavam principalmente de

produção para atendimento à crescente demanda e de lucros para se tornarem

competitivas e se manterem no mercado.

A filosofia de produção até então vigente apontava no sentido de que os

recursos naturais, considerados também insumos produtivos como o capital e a

mão de obra, não careciam de uma valoração especial, pois não eram vistos

como recursos finitos e indissoluvelmente associados à vida humana e de

outras espécies.

Assim, da produção voltada exclusivamente para o consumo, o

desenvolvimento e o lucro, aliada ao crescimento populacional, iniciou-se um

crescente processo de conscientização e preocupação com os resíduos, visto

que não mais podiam ser dispostos inadequadamente, pois causavam danos à

saúde das pessoas, poluição e degradação do meio ambiente.

Neste contexto, Kuawahara (2014, p. 55) afirma que

O aumento da população associado a intensa urbanização e à crescente utilização de materiais não recicláveis no processo produtivo tem transformado a questão do lixo urbano em um dos grandes desafios ambientais contemporâneos.

O diagrama a seguir apresenta, em apertada síntese, um sistema

produtivo tradicional que visa atender ao mercado consumidor, aumentando a

sua produção e maximizando seus lucros para sobreviver no mercado

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globalizado sem se preocupar, na maioria das vezes, com as questões

ambientais.

Figura 2.1 – Diagrama do sistema produtivo tradicional

PAÍS

RIQUEZA

PIB

RESÍDUOS

DESCONSIDERAÇÃO DOS FATORES AMBIENTAIS

PRODUÇÃO

DESTINAÇÃO FINAL

INADEQUADA DE

RESÍDUOS

POLUIÇÃO/DEGRADAÇÃO DO MEIO AMBIENTE

PREJUÍZOS/EXTINÇÃO DA SAÚDE E DA VIDA

Fonte: Elaboração própria.

Nesse sistema produtivo tradicional, os países buscam demonstrar o seu

grau de desenvolvimento econômico pela riqueza que produzem. A riqueza é

traduzida, por sua vez, pelo Produto Interno Bruto (PIB), ou seja, o somatório

de tudo que o país produz em bens e serviços em determinado período de

tempo.

Assim, com o PIB fundado na produção tradicional, os empresários

enxergam os insumos produtivos provenientes do meio ambiente – água, ar,

minerais, vegetais, dentre outros –, algumas vezes como infinitos e outras,

embora finitos, totalmente substituíveis pela majoração nos valores para

compra ou aquisição desses insumos naturais.

Ilustrativamente, determinado produtor visualiza a água utilizada em seu

processo produtivo como qualquer outro insumo produtivo, como por exemplo,

o capital e os recursos humanos, que, quando disponíveis em menor

quantidade, tornam-se mais caros, bastando, para tal, majorar os preços finais

de seus produtos para compensar tal indisponibilidade.

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O que ocorre, entretanto, é que o produtor não visualiza os reais valores

e a importância dos recursos naturais utilizados em seu processo produtivo,

visto que alguns são finitos, outros de difícil ou impossível reprodução/

reparação e que estão intrinsecamente ligados à saúde e à vida humanas e

das outras espécies animais e vegetais.

A desvalorização ou desconsideração da especificidade dos recursos

naturais utilizados como insumos produtivos, no processo tradicional, resulta

numa elevada quantidade de resíduos, aos quais, em grande parte, não têm

destinação final ambiental adequada, gerando poluição e degradação do meio

ambiente e respectivos danos à saúde e à vida do ambiente como um todo.

Assim foi criada a Lei n. 12.305/10, primeira lei brasileira a tratar a

questão dos resíduos sólidos de forma ampla, tornando-se um marco

regulatório dos resíduos sólidos. Antes dela, estados e municípios tinham

autonomia para editar normas sobre os resíduos sólidos, que podiam se

diferenciar e serem mais ou menos restritivas ou exigentes.

Daí decorre, naturalmente, a necessidade de uma legislação federal que estabeleça padrões, fixando conceitos que orientem a gestão de resíduos em todo o território nacional e fixando exigências que se constituiriam em minimum a que estados e municípios estão vinculados, evitando que haja excessivo rebaixamento da qualidade ambiental (RIBEIRO, 2014, p. 106).

A proposta da referida lei é “disciplinar os resíduos sólidos de uma forma

ampla, abrangendo desde medidas para diminuir sua geração até as atinentes

à sua gestão, incluindo a disposição final de rejeitos” (RIBEIRO, 2014, p.106),

exceto para os resíduos radioativos, que possuem regime jurídico específico.

Em relação à destinação inadequada dos resíduos sólidos urbanos em

Divinópolis, supõe-se que uma das prováveis causas seja a falta de

informações quer seja individual, coletivo, da sociedade e dos empresários.

Nesta perspectiva, o especialista na área ambiental entrevistado destaca

que

Hoje, no Estado de Minas Gerais quem fiscaliza a empresa referente a essas destinações de resíduos é a própria empresa. A empresa tem que mandar relatórios alguns trimestrais, outros semestrais para os órgãos ambientais

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informando para onde está indo esse resíduo. Não existe uma fiscalização em si, ou seja, quem toma conta é a própria empresa e ela quem informa ao órgão ambiental para onde está destinando. Quando acontece alguma fiscalização que pode ser até vinculada a outro fator ambiental é solicitado: “Deixa eu ver o seu relatório para onde você está encaminhando”. São analisados simplesmente os papéis, as notas de encaminhamento (Pedro, especialista na área ambiental).

Para o gerente de resíduos da cidade de Itaúna (MG), “além da falta de

informação, tem uma acomodação dos empresários”. Em relação à legislação,

ele ressalta que

Existe legislação que determina a destinação dos resíduos, mas como a fiscalização é pequena nessa área ainda; no Brasil a legislação é muito boa, mas a aplicação da legislação é falha. Além de pouca informação, fica mais barato para a pessoa descartar de qualquer maneira o resíduo. Mas isso está modificando. Hoje as ONGs ambientais, as próprias administrações já estão tomando atitudes para modificar essa situação até porque não pode ficar jogando resíduo em qualquer lugar (Sérgio, gerente de resíduos).

Segundo Penteado (2008, p. 34), “em países pobres, 95% dos esgotos

são lançados em rios sem o menor tratamento”. O autor afirma ainda que

Estamos atualmente produzindo mais de 50 milhões de automóveis adicionais na Terra todos os anos, e cada um requer o asfaltamento de uma porção do solo. Conforme a frota de carros vai-se expandindo, isso exige uma expansão cada vez maior das vias públicas asfaltadas. [...] Injetamos diariamente dezenas de compostos químicos no solo, nos rios, nos mares; despejamos milhões de toneladas de lixo sólidos nos oceanos; liberamos bilhões de toneladas de dióxido de carbono no ar todos os anos, causando o efeito estufa. Os detritos das nossas atividades não desaparecem, são cumulativos e voltam para nos infernizar, ameaçando comunidades próximas ou distantes e alterando o equilíbrio do globo terrestre (PENTEADO, 2008, p. 34-35).

Em relação aos países do terceiro mundo, Leff (2009, p. 33) relata que

A exploração dos recursos dos países do Terceiro Mundo foi gerando danos irreversíveis em seus ecossistemas naturais. Desta maneira, destruiu uma parte importante de seu potencial

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produtivo e impediu as alternativas sociais de organização de um processo produtivo mais equilibrado, igualitário e sustentável. A diminuição da diversidade biótica dos ecossistemas a partir da uniformização dos cultivos, mais tarde de suas variedades genéticas, foi degradando progressivamente a produtividade dos solos tropicais.

Esse pensamento conduz à ideia de uma genérica correlação entre

subdesenvolvimento e destruição do meio ambiente, ou seja, quanto mais

subdesenvolvido o país maior seria a devastação ambiental em virtude de seu

desenvolvimento.

A contradizer essa vertente ideológica, Penteado (2008, p. 28) ensina

que

A condescendência dos especialistas ambientais ou outra sorte de analistas do tema com os países ricos é irritante. A grande maioria sequer menciona que os Estados Unidos foram provavelmente o maior destruidor de florestas do mundo e por conta disso os maiores dizimadores de espécies animais e vegetais. Ninguém critica também o fato de um modelo americano de crescimento estar se impondo de forma selvagem por todos os cantos da Terra. Em geral, só mencionam problemas ambientais e devastação das florestas do Brasil e outros lugares pobres e em desenvolvimento do planeta. Quase ninguém menciona desastres ambientais impressionantes e centenas de mortes causadas por poluição tóxica provocadas por empresas americanas e europeias. Fica sempre a impressão de que esses autores querem estancar a destruição ambiental dos outros países apenas para garantir o seu próprio hedonismo, porque, embora nem todos saibam, mas alguns já devem ter descoberto isso, quando China e Brasil começarem a tomar o seu quinhão da natureza, como fizeram Estados Unidos e Europa, o planeta vai entrar em sério colapso. A visão deles não é crítica sobre o que eles fizeram. A visão deles é crítica apenas sobre o que nós estamos fazendo, muito embora, tudo o que fazemos seja copiar o Primeiro Mundo.

Neste contexto mundial, países que compõem a América Latina não

estariam poluindo e degradando o meio ambiente mais ou menos que Estados

Unidos e países da Europa, ambos ditos de Primeiro Mundo e desenvolvidos.

Tão somente estariam os países da América Latina a copiar modelos

econômicos, sociais, culturais e políticos desequilibrados e em desarmonia

com as características e necessidades próprias que cada país possui

isoladamente. Assim agindo, aumentam mais o débito que possuem com o

meio ambiente e os respectivos recursos naturais dele provenientes.

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É necessário destacar que a questão ambiental necessita ser analisada

também sob o ponto de vista ético, considerando os valores imutáveis e

incondicionais nela inseridos.

Nesse sentido, Marx (1974), há mais de um século, já previa o

desenvolvimento econômico, científico e tecnológico do homem em

contrapartida a uma apropriação desarrazoada e antiética do planeta pelos

“donos do capital”, fato este, considerado por ele, como a apropriação do

homem pelo próprio homem.

Em síntese, Marx (1974) considera o planeta ou globo terrestre como um

bem que pertence a todos, todos dele podendo usufruir e gozar, não sendo,

entretanto, possível considerar-se alguém proprietário do planeta, “Casa

Comum”27 e celeiro provisional da vida em todas as suas formas e dimensões.

Assim,

Quando a sociedade atingir formação econômica superior, a propriedade privada de certos indivíduos sobre parcelas do globo terrestre parecerá tão monstruosa como a propriedade privada de um ser humano sobre outro. Mesmo uma sociedade inteira não é proprietária da terra, nenhuma nação, nem todas as sociedades de uma época reunidas. São apenas possuidoras, usufrutuárias dela, e como bonipatres familias (bons pais de família) têm de legá-la, melhorada às gerações vindouras (MARX, 1974, p. 891).

2.2.1 A Política Nacional dos Resíduos Sólidos (Lei n. 12.305/10) e sua

importância no contexto legal

A discussão sobre a questão dos resíduos inicialmente ocorreu com os

Projetos de Lei n. 354/1989 (BRASIL, 1989) e n. 203/1991 (BRASIL, 1991), em

que ambos dispunham sobre o acondicionamento, a coleta, o tratamento, o

transporte e a destinação final dos resíduos de serviços de saúde, sendo que

este último teve um substitutivo da Câmara dos Deputados alterando sua

ementa para “Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei n.

9.605, de 12 de fevereiro de 1998 (BRASIL, 1998) ; e dá outras providências”.

27 Termo utilizado por Leonardo Boff no livro As quatro ecologias: ambiental, política e social, mental e integral e que se refere ao planeta Terra.

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A Política Nacional dos Resíduos Sólidos instituída pela Lei n.

12.305/2010 traz os princípios, objetivos e instrumentos para se trabalhar a

Gestão dos Resíduos Sólidos, ou seja, a Gestão Integrada e o Gerenciamento

dos Resíduos Sólidos. Traz ainda o conceito e a aplicação da responsabilidade

compartilhada em que todos os atores envolvidos – gestores, poder público e

consumidores –, são responsáveis pelo ciclo de vida dos produtos.

Ao poder público cabe apresentar os planos para o manejo correto dos

materiais; às empresas compete o recolhimento dos produtos após o seu uso;

e à sociedade cabe participar dos programas de coleta seletiva, mudar seus

hábitos e reduzir o consumo.

A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) (BRASIL, 2010) não

pode ser considerada uma questão apenas de resíduos, pois agrega as

Políticas Sociais – geração de emprego –, a Política Econômica – reposiciona

as taxas e impostos –, a Política Industrial – incentiva a produção limpa –, a

Saúde – melhoria da saúde ao reduzir doenças por contaminação –, o

Comércio Exterior – reduz a dependência em relação a matérias-primas

importadas –, bem como, o Meio Ambiente – reduz as emissões de gases, dos

recursos naturais e os impactos ambientais.

Com a Lei n. 12.305/10, o gerenciamento dos resíduos sólidos deixa de

ser voluntário e passa a ser obrigatório. O dispositivo legal define uma

hierarquia de destinação dos resíduos, como mostra a figura a seguir, tendo

início com a não geração e redução, priorizando a reutilização, reciclagem e

tratamento dos resíduos sólidos para que em última instância ocorra a

disposição final em aterro sanitário.

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Figura 2.2 – Representação gráfica da escala de prioridades na gestão e gerenciamento dos resíduos sólidos

Fonte: Elaboração própria.

A figura 2.3 apresenta o fluxograma dos processos de geração e

destinação dos resíduos sólidos conforme determina a Lei n. 12.305/10.

Figura 2.3 - Fluxograma dos processos de geração e destinação dos resíduos

sólidos

Fonte: Elaboração própria.

Visando sua efetividade, a PNRS (BRASIL, 2010) dispõe de

instrumentos tais como: os planos de resíduos sólidos, a coleta seletiva –

separação nos locais onde os resíduos são gerados e a coleta através de

Nãogeração

Redução

Reutilização

Reciclagem

Tratamento dos resíduos sólidos

Disposição final

Produção

Não geração

de resíduos sólidos

Geração de

resíduos sólidos

Destinação

Tratamento

Reutilização

Reciclagem

Compostagem

Recuperação

Aproveitamento Energético

Outros

Não tratamento

Disposição

Ambientalmente adequada

Aterro Sanitário

Ambientalmente não adequada

Aterro Controlado

Lixão

Situação mais desejada ou ideal

Situação menos desejada

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veículos apropriados –, os sistemas de logística reversa – ações,

procedimentos e meios para coletar e devolver os resíduos sólidos ao setor

empresarial – e a criação de cooperativas e associações de catadores –

formalização do trabalho dos catadores de resíduos.

A Lei especialmente em seu art. 3º trata de alguns temas importantes

que merecem destaque, dentre eles: a Logística Reversa, a Responsabilidade

Compartilhada pelo Ciclo de Vida dos Produtos, o Gerenciamento dos

Resíduos Sólidos e a Gestão Integrada dos Resíduos Sólidos.

A Logística Reversa é definida no art. 3º, inciso XII da Lei n. 12.305/10

(BRASIL, 2010) como

instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada.

A Logística Reversa é obrigatória a todos os fabricantes, importadores,

distribuidores e comerciantes de agrotóxicos, seus resíduos e embalagens;

pilhas e baterias; pneus; óleos lubrificantes, seus resíduos e embalagens;

produtos eletrônicos e seus componentes; lâmpadas fluorescentes, de vapor,

de sódio, de mercúrio e de luz mista.

Para Santaella et al. (2014, p. 110),

Compreender esse fluxo em seu sentido inverso, ou as possibilidades de existência de tal reversão, consiste no campo denominado de logística reversa, em linhas gerais. Constitui-se, assim, nas formas de retorno de uma parte dos produtos que fluem em sentido inverso, do consumidor ao fabricante. Trata-se de um mecanismo de importante eficácia para a gestão dos danos ao meio ambiente, especialmente no que tange à gestão dos resíduos e à poluição ambiental.

O gestor público municipal de Divinópolis (MG) entende a questão da

Logística Reversa da seguinte forma: “o que você produz hoje, você é obrigado

a recolher”, sejam “as questões dos pneus, das limagens, baterias”. Sua fala

mostra a dificuldade que os empresários colocam, pois acham que “é muito

difícil ter que resolver isso”, e afirma que

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O município continua gastando, investindo dinheiro, todo mundo colocando ecoponto. É difícil? É difícil, mas se nós não conseguirmos começar a reverter a situação não tem como. Eu falei, já conversei com o prefeito em relação a isso. Uma situação que nós vamos promover é todo licenciamento que houver de supermercado, de lojas que sejam comércio que vendam computadores, vai ter que se ter como condicionante a logística reversa. Na verdade, se eu trabalho com computadores eu vou ter que ter um espaço para recolher material eletrônico. Aí a pergunta: Ah! Mais, o que eu vou fazer com isso? Olha, você vai entrar em contato com seu fornecedor e ele tem a obrigação de dar uma destinação. Ele vai ter que recolher. Você vai ter que resolver isso com ele. A grande verdade é essa. A mesma coisa com supermercado. Vai ter que ter os pontos de recolhimento de pilhas, de lâmpadas. Eles não compram? O supermercado não entra em contato com eles pra comprar? O supermercado vai entrar em contato com eles para o recolhimento. É isso que nós temos que fazer. No início entra muito essa questão meio que forçada, depois acho que vira meio que um hábito... recolhimento de remédio.... Eu acho que o meu projeto é muito em cima disso. É a educação ambiental, mas, também temos que colocar isso de forma de condicionantes em algumas situações para que se cumpram, porque senão a gente não consegue efetivar (Willian, gestor público municipal).

Com o objetivo de conhecer novas propostas de projetos sustentáveis

para possível adequação à cidade de Divinópolis, o gestor afirma já ter um

deles em andamento que é a colocação de pontos de recolhimento de produtos

que não possuem seu descarte através do recolhimento municipal.

Eu até pedi a minha equipe de licenciamento ambiental que busque realmente exemplos em outras cidades, o que está acontecendo de novidade, projetos novos em relação às questões ambientais para nós estarmos inserindo no município. A ideia é exatamente essa: é promover essas ações, que a gente comece as situações que estão só nas costas do município, do poder público que precisa tomar a decisão, que isso passe a ser uma situação rotineira do meio empreendedor, do meio econômico. Entre eles tem aquela situação que eu já te falei e nós estamos colocando em prática agora através de um decreto que vai ser colocado com condicionantes a logística reversa em vários pontos. Todos os licenciamentos vão ter seus pontos de recolhimento. A pessoa trocou uma lâmpada e não sabe o que vai fazer. Só porque quebra joga no lixo? Na verdade, o que acontece? A pessoa já vai saber que todos os supermercados têm um ponto de recolhimento de pilha, de lâmpada, e assim vai. A intenção é justamente essa. Cada setor vai ter o seu local de recolhimento. Bacana. Eu acho que a empresa tem que se comunicar. Para comprar ela

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vai ter que recolher de novo. Um dos projetos é esse (Willian, gestor público municipal).

A PNRS em seu art. 3º, inciso XVII, define Responsabilidade

Compartilhada pelo Ciclo de Vida dos Produtos como

conjunto de atribuições individualizadas e encadeadas dos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, dos consumidores e dos titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos, para minimizar o volume de resíduos sólidos e rejeitos gerados, bem como para reduzir os impactos causados à saúde humana e à qualidade ambiental decorrentes do ciclo de vida dos produtos, nos termos desta Lei (BRASIL, 2010).

O termo Responsabilidade Compartilhada já mostra que o responsável

não é um ou outro agente, mas todos os envolvidos no processo. As opiniões

de alguns dos agentes entrevistados ao serem questionados sobre quais são

os responsáveis e qual o papel de cada um deles para minimizar a situação

são as mais diversas.

De acordo com o especialista entrevistado na área ambiental,

A questão de resíduos sólidos em uma cidade como Divinópolis, que é uma cidade de médio porte, é um problema da sociedade, um problema de todos nós. A questão do desenvolvimento dessa logística, desses instrumentos necessários para fazer uma gestão eficiente que recai sobre o Poder Público (Pedro, especialista na área ambiental).

Para o presidente do sindicato patronal a questão é:

Fundamentalmente cultural. Os responsáveis são cada ser humano, cada casa, cada família que são os responsáveis por isso. É um problema que não dá para debitar na conta da Prefeitura, não dá para debitar na conta de indústrias, não dá para debitar na conta da empresa coletora de lixo. Não. É no nascedouro o problema. O problema nasce no nascedouro. Se eu puder contribuir com aquilo. Eu, você, nós cinco aqui geramos uns cinco quilos por dia, vamos trabalhar para gerar quatro. Trabalhar para gerar três. O lixo é de cada um, é de cada pessoa (Antônio, presidente do SINVESD).

O gestor público municipal de Divinópolis afirma que,

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O poder público está entrando com as ferramentas, os instrumentos que é em relação a aplicação do plano, a criação do plano, a questão do edital e abrindo as portas para uma concessão de uma empresa que venha do ponto de vista ambiental somar ao município, que se faça um trabalho. Vai ser criado um órgão, um conselho fiscalizador, assim como nós temos o CODEMA que fiscaliza. Nós vamos ter um conselho, inclusive para o plano que fiscaliza esse trabalho em relação ao resíduo em Divinópolis. Nós não temos isso hoje. Na verdade, nós vamos ter ferramentas até para fiscalizar e cobrar de situações que possam estar vindo de forma errada (Willian, gestor público municipal).

O gestor destaca ainda que uma das principais preocupações é com o

crescimento da cidade de forma sustentável,

A nossa grande preocupação é fazer com que ela possa crescer, de forma sustentável e aí, um dos principais gargalos a serem resolvidos é esse: a realização do aterro sanitário aliado a reciclagem e os instrumentos são esses. Parte muito dessa segunda etapa porque metade do processo é nosso, metade depois é a população também se engajar nesse processo, que nós possamos fazer com que eles acreditem no projeto e nós possamos ser modelo 100%. Modelo tanto de execução lá no trabalho final quanto da população engajada no trabalho (Willian, gestor público municipal).

Para a representante do SOAC – sindicato dos trabalhadores – é

necessária “uma reeducação” para todos nós aprendermos a preservar,

Nós precisamos responsabilizar as pessoas que cada um de nós somos responsáveis pelo meio ambiente. Ele faz parte da nossa vida, por exemplo: “mas na rua onde eu moro não tem lixo do resíduo industrial do setor do vestuário”. Mas, onde você trabalha e vive, você produz isso. Nós temos que universalizar o nosso ambiente de convívio social. Saber que qualquer lugar que a gente esteja, a gente precisa estar sempre preservando (Ana Lúcia, representante do SOAC).

Em relação ao Gerenciamento de Resíduos Sólidos, a PNRS (BRASIL,

2010) define no mesmo artigo, inciso X, como:

conjunto de ações exercidas, direta ou indiretamente, nas etapas de coleta, transporte, transbordo, tratamento e destinação final ambientalmente adequada dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos, de acordo com plano municipal de gestão integrada de

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resíduos sólidos ou com plano de gerenciamento de resíduos sólidos, exigidos na forma desta Lei.

E a Gestão Integrada de Resíduos Sólidos é definida pelo mesmo

instrumento legal, em seu inciso XI, como o “conjunto de ações voltadas para a

busca de soluções para os resíduos sólidos, de forma a considerar as

dimensões política, econômica, ambiental, cultural e social, com controle social

e sob a premissa do desenvolvimento sustentável”.

A PNRS foi promulgada em 2010, tendo o prazo de 4 anos para a

implantação nos municípios e estados. O prazo final para que municípios e

empresas tomassem as devidas providências em relação à disposição final

ambientalmente adequada dos rejeitos, ou seja, a implantação de aterros

sanitários, era 3 de agosto de 2014.

Em Divinópolis, a atualização do Plano Diretor se fez necessária pois

além de ser um plano do ano 2000, foi criado antes do estatuto da cidade.

Alguns projetos, do ponto de vista ambiental e urbanístico, estão sendo

implementados, como afirma o gestor público municipal:

Existe projeto de tratamento também do rio Itapecerica, revitalização do rio Itapecerica. É um projeto maior, um investimento federal, já foi liberada a verba para a criação do projeto, o estudo do projeto e aí a gente vai lançar o edital também para a recuperação do rio e posterior a isso nós estamos finalizando agora o Plano Diretor que nós tínhamos um Plano Diretor em 2000. Na verdade, nós fizemos um Plano Diretor da cidade antes até do estatuto da cidade, um ano antes do estatuto da cidade é de 2001. Nós estamos finalizando agora a redação. [...] Então foram feitas as audiências, foi feita a Conferência das Cidades, então nós estamos finalizando o texto agora e dentro desta formatação toda, o texto foi encaminhado para a Câmara para virar projeto de lei. A prefeitura tem várias ações porque o Plano Diretor norteia o município com relação as ações que tem que ser tomadas do ponto de vista urbanístico, ambiental, saúde e segurança pública e lá existem várias ações que o povo, a população participou, apontou como prioridade. Então, na verdade assim que aprovada a lei nós vamos estar fazendo o plano viário do município, o plano de mobilidade urbana, a revisão de todas as leis que regem as questões urbanísticas e a lei de espaço do solo, a lei de parcelamento, o código de obras, o código de posturas. Então são várias legislações, são várias leis complementares que assim que aprovada a lei nós temos 24 meses para as leis que já existem como as leis municipais ambientais serem revistas e

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as que não existem como o plano viário e de mobilidade serem criadas. As demais, nós temos que praticamente refazê-las todas. Então na verdade nós estamos avançando dentro disso, do ponto de vista ambiental e urbanístico, com várias demandas umas já em ação e outras que nós vamos iniciar assim que o Plano Diretor também for concretizado a parte de lei (Willian, gestor público municipal).

Em relação à criação do Plano Municipal de Gestão Integrada de

Resíduos Sólidos, o gestor público municipal destaca:

Nós estávamos formando o Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos e, aí, nós estávamos escutando os vários setores do município. Nós temos o setor da fundição, que é muito forte. Da construção civil, que é muito forte. Da confecção. Então, Divinópolis tem essa característica desse tipo de serviços, de comércio e indústria [...] Nós temos também a questão do esgoto em Divinópolis, o tratamento do esgoto que é uma situação já "calamitante", mas que a prefeitura também já iniciou o processo a partir do momento em que ela passou a concessão, a água já é da Copasa, passou também a concessão do tratamento do esgoto para a Copasa e a Copasa já iniciou o processo. Nós provavelmente vamos estar agora em setembro entregando a primeira estação de tratamento de esgoto, que fica no rio Pará, já está para ser inaugurada e ela vai atender a 20% do esgoto que é produzido na cidade e posterior vai ser iniciado a ETE, maior que é uma ETE lá no encontro do rio Itapecerica com o rio Pará que vai atender de forma geral a cidade. Então são avanços que estão sendo feitos com relação a essas questões ambientais. Quando nós montamos o plano, nós buscamos o que tinha de mais moderno e de melhor para que nós pudéssemos ter uma legislação bastante atualizada, porque assim, nós estamos hoje, até saiu no site do IBGE, a estimativa de Divinópolis de 226 mil habitantes. É uma tendência natural da cidade de porte médio igual é Divinópolis dela crescer. Porque nas grandes cidades os fluxos migratórios estão mudando. A questão do interior, interiorizando. Na verdade, é uma tendência de Divinópolis, ela não vai parar de crescer. É uma cidade que vai mudar um pouco a característica dela, está mudando de indústria mais para serviços. A tendência dela é aumentar. Estamos muito próximos a capital também. A logística dela é muito grande (Willian, gestor público municipal).

Especificamente em relação ao setor confeccionista, o gestor salienta a

dificuldade de participação dos atores envolvidos mesmo quando é de

interesse destes. A dificuldade foi encontrada também em algumas empresas

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quando foram aplicados os formulários desta pesquisa. Mesmo com horários

agendados, algumas empresas negaram-se a participar, demonstrando certo

receio, provavelmente em serem multadas ou denunciadas.

Da confecção nós mandamos vários pedidos, várias informações. A Associação não foi participativa. Nós sentimos muita falta até por ser importante o polo confeccionista. Precisava de muitas informações deles. E aí, a gente percebeu até quando nós procuramos a FIEMG, os técnicos da FIEMG, os técnicos ambientais da FIEMG. De uma forma geral, até comentamos o seguinte: que muitos empresários ainda têm uma dificuldade de passar certas informações quando se tratam de questões ambientais porque eles acham que daquilo ali vai virar uma coisa, uma multa para eles, uma informação que eles estão passando como forma de melhorar alguma coisa e ele está sendo monitorado. Então, nós tivemos muita dificuldade das informações, porque nós passamos alguns questionários para as Associações para que eles buscassem junto aos seus membros informações porque a gente precisava de bastante conteúdo para fazer o melhor possível do Plano. Tivemos muita dificuldade com o pessoal da confecção. Aí, a FIEMG, até que no final já estava praticamente para fechar o Plano, nós recorremos a FIEMG para que ela fizesse esse meio de campo conosco em relação a esse trabalho, esse projeto. Por quê? Como nós estávamos falando exatamente do processo, do tratamento adequado do lixo, da destinação, disposição final, reciclagem, como que nós iríamos tratar isso se hoje, por exemplo, a informação, inclusive, foi que a FIEMG conseguiu nos passar, a produção hoje gira em torno de 8 milhões de resíduos de toneladas/mês da confecção ligada à parte de tecidos. Dá um crédito de 4,5 milhões, de 4,5 toneladas de jeans por mês. É muita coisa. Na verdade, é o seguinte, e aí? Nós percebemos também outra coisa: o setor de confecção não tem um projeto maior em relação a reciclagem. Não tem. Eles não têm um projeto em relação a isso. Eles não são organizados em relação a isso. Até porque existe uma dificuldade dependendo do tipo de material em relação a reciclagem, porque existe o processo de tinta. É um material pesado. Lavanderia. Não é (Willian, gestor público municipal).

O Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2014, elaborado pela

Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais

(ABRELPE) (2014) mostra a situação da destinação final de Resíduos Sólidos

Urbanos (RSU) no Brasil, por toneladas/dia, conforme Gráfico 2.4.

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Gráfico 2.4 – Destinação final de RSU (t/dia) no Brasil

Fonte: ABRELPE, 2014, p. 43 (adaptado).

A PNRS traz alguns desafios para os atores envolvidos, como por

exemplo, ao poder público municipal cabe implantar/aumentar a coleta seletiva

de lixo reciclável nas residências; tratar os resíduos de forma criteriosa;

erradicar os lixões transformando-os em aterros sanitários; fazer a

compostagem orgânica dos resíduos; elaborar um Plano Municipal de

Resíduos Sólidos, pois assim, teriam prioridade de fontes financeiras seja do

governo ou de empresas privadas.

Para as empresas, os desafios se referem à implementação de Sistemas

de Logística Reversa com mecanismos econômicos financeiros adequados

para evitar gastos extras e prejuízos; criação de embalagens e produtos mais

recicláveis e que possam acompanhar o ciclo de vida do produto, ou seja, a

empresa deve acompanhar o ciclo de vida do produto desde sua fabricação até

a sua destinação final. Para isso, as empresas precisam de novas tecnologias

que tragam maior absorção dos materiais separados do lixo, ocasionando

menor pressão nos aterros sanitários, criando maior geração de emprego e

renda.

No que se refere aos desafios para os catadores, a PNRS favorece a

valorização do trabalho, pois os catadores passam a ser agentes formais na

gestão dos resíduos urbanos; passam a ter maior geração de renda e inclusão

social; maior possibilidade de organização em cooperativas; o catador deixa de

ser um trabalhador informal e sem direitos trabalhistas e passa a se organizar

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em cooperativas com direitos trabalhistas garantidos e uma maior geração de

renda; aparelhamento das cooperativas, principalmente das menores.

Para os consumidores os maiores desafios são estar bem informados

participando de palestras, cursos, seminários, ou seja, de tudo que traga

conhecimento; fazer cumprir a Lei 12.305/10 cobrando-a do poder público;

separar os resíduos corretamente nas casas, trabalho, ocasionando uma maior

quantidade e qualidade de lixo que pode ser reciclado; devolução às fábricas

dos produtos eletroeletrônicos fora de uso; colocação de lixeiras diferenciadas.

2.2.1.1 O que muda com a lei 12.305/10

Cabe aqui ressaltar o que a PNRS trouxe para os agentes envolvidos,

ou seja, como era antes e como ficou após a promulgação da lei.

Quadro 2.1 – Mudanças ocorridas após a promulgação da Lei 12.305/10

ANTES DEPOIS

PARA OS MUNICÍPIOS

- Falta de prioridade para o lixo urbano.

- Existência de lixões na maioria dos municípios.

- Resíduos orgânicos sem aproveitamento.

- Coleta seletiva cara e ineficiente.

- Plano de metas sobre resíduos.

- Erradicação dos lixões até 2014.

- Municípios devem fazer a compostagem.

- Controle de custos e qualidade do serviço.

PARA OS CATADORES

- Exploração e risco à saúde.

- Trabalhavam na informalidade.

- Problemas de quantidade e qualidade dos materiais.

- Falta de qualificação e visão de mercado.

- Redução dos riscos à saúde.

- Aumento da renda nas cooperativas e dos catadores.

- Cooperativas contratadas até sem licitação pelos municípios para reciclagem.

- Maior quantidade de matéria-prima reciclada.

- Existência de treinamento e capacitação dos trabalhadores que saem da informalidade e passam a ter conhecimento e sabedoria para exercer seu trabalho com eficiência e maiores rendimentos.

PARA AS EMPRESAS

- Inexistência da lei em relação aos resíduos, principalmente em relação à

- Houve um marco legal que estimulará

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logística reversa: a empresa criava o produto, vendia e não se importava mais em isso.

- Falta de incentivos financeiros.

- Baixo retorno de produtos eletroeletrônicos após o consumo.

- Desperdício econômico sem a reciclagem.

ações empresariais.

- Foram criados novos instrumentos financeiros que impulsionarão a reciclagem.

- Mais produtos poderão retornar às indústrias, diminuindo a pressão nos aterros.

- Aumento da reciclagem e geração de renda, favorecendo inclusive os catadores organizados em cooperativas.

PARA OS CONSUMIDORES

- O lixo reciclado não era separado nas residências.

- Falta informação.

- Falhas no atendimento da coleta municipal.

- Pouca reinvindicação junto às autoridades.

- Separação mais criteriosa nas residências, ocasionando uma maior qualidade e quantidade de lixo reciclado para ser enviado às cooperativas de catadores ou ao seu destino final, como aos aterros sanitários.

- Campanhas educativas para moradores com palestras, cursos, seminários, cartilhas, dentre outros.

- Melhora da coleta seletiva.

- Cobrança da lei junto às autoridades.

Fonte: Elaboração própria.

2.3 A Sustentabilidade e a Cidade

2.3.1 Conceito de sustentabilidade

O conceito de sustentabilidade aqui apresentado só terá sentido se for

tratado enquanto conjunto de procedimentos, ações, políticas, planos, ideias,

dentre outros, voltados para a manutenção, perpetuação e interação da vida

em plenitude e de forma saudável, quando se considera o elemento humano

como o principal responsável por isso.

De outra vertente, para Acselrad (1999), o conceito de sustentabilidade

ou desenvolvimento sustentável, como alguns autores costumam chamar, é

antes de ser um objetivo definido, uma noção construtiva e possui diversos

conteúdos, cada qual se adaptando a uma realidade espacial temporal e

sempre voltados para interesses diferentes, possuindo os titulares pelo seu

conceito, em regra, legitimidade e autoridade para determinarem, a partir desse

conceito, as práticas que serão consideradas sustentáveis ou não.

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O conceito de sustentabilidade é uma construção social cuja definição

ainda não se encontra consolidada. Nesse sentido, afirma Acselrad (1999, p.

80), “O que prevalece são, porém, expressões interrogativas recorrentes, nas

quais a sustentabilidade é vista como ‘um princípio em evolução’, ‘um conceito

infinito’, que poucos sabem o que é e ‘que requer muita pesquisa adicional’."

Ao ser direcionado para a questão das cidades, percebe-se que existem

vários discursos relativos à concepção de sustentabilidade urbana, elaborados

pelos agentes hegemônicos urbanos, que muitas vezes são o Estado e o

capital, que buscam na concepção do termo a forma suficientemente

necessária para conduzir as coisas da cidade, aliada à preservação ambiental,

em sentido pleno, bem como, para atingir seus próprios objetivos.

Merece destaque o fato de que a sustentabilidade ambiental necessita

ser vista como um subsistema que interage com outros subsistemas, como por

exemplo, o social, o econômico, o político, o urbano. Assim, a todos eles

devem ser dados a merecida atenção e o devido valor.

De nada adiantaria, se em determinada cidade fosse dado excessivo

valor à questão ambiental e não fosse dado valor à geração de empregos e

renda, ou seja, protegeríamos a natureza e os recursos naturais dela

provenientes, mas o ser humano ficaria sem condições para sobreviver

dignamente.

De acordo com Acselrad (1999), o conceito de sustentabilidade está

indissoluvelmente ligado à lógica das práticas. Assim,

Mas, ao contrário dos conceitos analíticos voltados para a

explicação do real, a noção de sustentabilidade está submetida

à lógica das práticas: articula-se a efeitos sociais desejados, a

funções práticas que o discurso pretende tornar realidade

objetiva. Tal consideração nos remete a processos de

legitimação/deslegitimação de práticas e atores sociais. Por

um lado, se a sustentabilidade é vista como algo bom,

desejável, consensual, a definição que prevalecer vai construir

autoridade para que se discriminem, em seu nome, as boas

práticas das ruins (ACSELRAD, 1999, p. 80).

Nesta perspectiva, cuidado especial deve ser tomado em relação ao

conceito que será adotado, visto que, no caso das cidades, o titular do

conceito, quer seja o Estado, ONGs, empresários, cientistas, dentre outras

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categorias, se encontrarão legitimados para dizer, quais as práticas atuais que

conduzirão a cidade a uma desejável situação futura de sustentabilidade.

Ocorre, porém, que apesar de possuírem suposta legitimidade, o

conceito que for adotado pode esconder uma construção e cenários

dissimulados, composto de situações que a princípio são verdadeiras, mas que

foram construídas para fins completamente opostos aos objetivos de

manutenção e preservação dos interesses sociais – bem-estar, qualidade de

vida, políticas e serviços públicos apropriados, meio ambiente saudável, dentre

outros.

Ainda, segundo lembra Acselrad (1999, p. 82), existem “em particular,

três representações basicamente distintas da cidade, às quais corresponderão

também diferentes sentidos do que se pretende legitimamente capaz de dar

durabilidade à integridade do urbano”, a saber: a representação tecno-material

das cidades, a cidade como espaço da “qualidade de vida” e a cidade como

espaço de legitimação das políticas urbanas.

Em relação à representação tecno-material das cidades, pode ser

considerada como aquela que

associa a transição para a sustentabilidade urbana à reprodução adaptativa das estruturas urbanas com foco no ajustamento das bases técnicas das cidades, com base em modelos de “racionalidade ecoenergética” ou de “metabolismo urbano. Em ambos os casos, a cidade será vista em sua continuidade material de estoques e fluxos (ACSELRAD, 1999, p. 84).

Outra representação para Acselrad (1999, p. 84), é aquela em que a

cidade é vista como espaço da “qualidade de vida”,

Pensada por razões de “qualidade de vida” – componentes não mercantis da existência cotidiana e cidadã da população urbana, notadamente no que se refere às implicações sanitárias das práticas urbanas. Modelos de ascetismo e pureza são evocados para questionar as bases técnicas do urbano – o urbano crescentemente impregnaria os habitantes das cidades com substâncias nocivas e tóxicas por sua artificialidade. As implicações sanitárias podem, alternativamente, ser associadas a representações coletivas de cidadania, em que as emissões líquidas e gasosas resultantes das tecnologias urbanas são entendidas como imposição de consumo forçado de produtos invendáveis das atividades da

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produção mercantil ou do modo de consumo das mercadorias, notadamente de veículos automotores.

Outro modelo é aquele representado pelo espaço de legitimação das

políticas urbanas. Nesse sentido,

Sendo a materialidade das cidades politicamente construída, as modalidades de sua reprodução são vistas também como dependentes das condições que legitimam seus pressupostos políticos. A ideia da sustentabilidade é, assim, aplicada às condições de reprodução da legitimidade das políticas urbanas (ACSELRAD, 1999, p. 85).

Continua Acselrad (1999, p. 86) em relação a esse espaço, dizendo que

“A crise de legitimidade das políticas urbanas poderá ser atribuída também à

incapacidade de se fazer frente aos riscos tecnológicos e naturais”.

Conclui o autor sobre a sustentabilidade e as cidades afirmando que

A perspectiva não determinística, portanto, pressupõe que se diferencie socialmente a temporalidade dos elementos da base material do desenvolvimento. Ou seja, que se reconheça que há várias maneiras de as coisas durarem, sejam elas ecossistemas, recursos naturais ou cidades (ACSELRAD, 1999, p. 87).

Em relação à questão da sustentabilidade e do meio ambiente, os

entrevistados se manifestaram sempre como uma grande preocupação. O

presidente do sindicato patronal afirma que

Com as dificuldades econômicas e de mercado acho que pensar em sustentabilidade acaba sendo além de uma obrigação, um diferencial que cada empresa consegue ter nesse mercado. A sustentabilidade passa por um processo social, eu vejo assim. Não só uma questão ambiental, mas especialmente atrelado a esse ambiental e social. É uma importância para nós, consideramos isso fundamental, mas não trabalhada ainda. Em construção (Antônio, presidente do SINVESD).

O gestor público municipal afirma ser a sustentabilidade a base de tudo

e trata a questão em relação à cidade assim:

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Quando eu converso com as pessoas sobre a questão da reciclagem eu falo da importância no sentido que, Divinópolis hoje, o trabalho de reciclagem ainda está em um processo de desenvolvimento e ainda está muito longe do nosso objetivo. Porque num levantamento que nós fizemos recente junto à empresa que faz o trabalho de recolhimento de resíduos em Divinópolis, que dá destinação aos resíduos, nós estamos levando hoje para o nosso aterro controlado 150 toneladas de resíduos (Willian, gestor público municipal).

Para a representante do SOAC,

Essa questão do meio ambiente ganha um lugar de destaque na sociedade moderna. Talvez seja um problema que todo o mundo tem, que a própria sociedade tem. A questão do lixo, dos resíduos. Uma questão que está em qualquer agenda hoje. Com o fracasso da agenda 21, se é que assim pode ser tratado, porque ela realmente nós ainda não vimos um resultado positivo, concreto que realizasse ações realmente que pudesse dar ao meio ambiente ou aqueles profissionais que trabalham com o meio ambiente uma folga nas suas agendas que alguma coisa foi realizada (Ana Lúcia, representante do SOAC).

A entrevistada destaca ainda a importância de se discernir o racional do

emocional,

Nós temos que entender o meio ambiente de forma racional e não emocional. Acho que o grande problema do ambientalista é esse. Ele não é muito querido pela sociedade. Não é uma pessoa bem vista, porque ele toma decisões radicais e pessoais que no conjunto das decisões pouco influenciam. O racional as vezes se confunde. Porque o emocional, como nós vimos quantas ações eles fazem, mas é mais no emocional. Inclusive não tem muita racionalidade. Sim. Porque além de ser uma ação social é uma ação política. Se ela é levada pela emoção (Ana Lúcia, representante do SOAC).

Em relação à busca por saídas que representem soluções para as

questões que afligem o meio ambiente, a representante do SOAC salienta que

Nós temos que achar as saídas. Nós precisamos achar saídas inteligentes e permanentes. Acho que dentro do processo do Meio Ambiente que eu vejo é que as saídas, as soluções encontradas não são inteligentes e não são permanentes. Chega no meio do caminho, é quando você desgosta do processo, quando você perde a esperança naquele projeto, porque é demorado, é uma coisa lenta a questão do Meio

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Ambiente. Olha só que atraso que nós estamos em relação a outros países. Nós estamos muito atrasados nessa questão. Nisso os empresários terão que se adequar. A Lei é uma força motriz que você tem para que as responsabilidades sejam divididas. É muito importante também (Ana Lúcia, representante do SOAC).

E da necessidade de se buscar um reequilíbrio

Eu vejo muitos amigos meus que falam: “Estou investindo no meu filho, está fazendo medicina”, porque ele sabe que esse filho é um instrumento para ganhar dinheiro futuramente. Esse homem para ganhar o dinheiro não vai ser um homem integral. Não vai ser um homem harmonioso com o meio ambiente, com a família, com as pessoas não. Infelizmente não. Nós mesmos se a gente não ficar se policiando a gente se transforma nessa máquina de fazer as coisas. Eu acho que a gente precisa buscar o reequilíbrio. O que falta é o reequilíbrio. Quem perde muito e o que mais sofre é o meio ambiente nisso. Porque ele não é só o meio ambiente de plantinha, das aguinhas, dos “alho” não. Existe o “meio ambiente mundial”, o meio ambiente político, todos são agredidos no dia a dia (Ana Lúcia, representante do SOAC).

Ao ser questionado sobre o que é uma produção sustentável, o

especialista na área ambiental diz que

Uma produção sustentável, na minha opinião, o seu conceito vai modificando com o tempo. Cada vez que é atrelada mais tecnologia nos processos produtivos e medidas mitigadoras de impactos ambientais a produção sustentável ideal vai criando mais qualidade e aquela que já foi ultrapassada, não é mais aceita. Vamos pegar um tipo de atividade, uma atividade que era realizada há 10 anos atrás e hoje é realizada de forma completamente diferente, com questões ambientais, mais envolvida, impactos ambientais negativos já resolvidos. Ela já está hoje em uma situação de desenvolvimento sustentável? Não. Perante os conhecimentos de hoje não está, mas se for comparar com o passado evoluiu demais (Pedro, especialista na área ambiental).

Ele cita ainda a situação antiga de uma siderúrgica na cidade que

anteriormente era uma grande poluidora e que após serem colocados filtros e

outras medidas de proteção ambiental foi evoluindo, mesmo não tendo ainda a

forma ideal “quem passava no Porto Velho28 e via que as ruas eram todas

28 Bairro da cidade de Divinópolis onde se localiza a maior siderúrgica – Gerdau, antiga Siderúrgica Pains.

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marrons. Hoje está em situação ideal que você gostaria como se fosse o

desenvolvimento sustentável? Não. Mas está bem melhor do que há 30, 40

anos atrás? Sim” (Pedro, especialista na área ambiental).

E faz um alerta sobre o futuro e o que podemos fazer para amenizar o

que as próximas gerações irão encontrar,

Então essa fórmula, na minha cabeça, do desenvolvimento sustentável ela nunca vai ser alcançada. E sim, nós vamos batalhar cada vez mais para que nós possamos utilizar desses recursos naturais de uma forma um pouco mais consciente, para que no futuro isso não vá faltar para essa geração que está vindo. Ou seja, vai ser necessário que criemos cada vez mais reutilizações de materiais que já foram tirados do meio ambiente para que nós não causemos danos maiores a esses recursos naturais, como nós sabemos que eles são finitos. Não adianta, porque nada cai do céu. Eu acho que a grande saída da humanidade é essa reutilização e que se reveja esse modo de exploração que o capitalismo sempre colocou. Ele não pode ser mais dessa forma. Os nossos conceitos que nós temos hoje de status, esse status enraizado no ter, em que uma criança chega para o pai e fala: “Pai, eu preciso daquela mochila nova porque todos os meus colegas têm”. Ela já perde aquela relação de status do seu diferencial para ser uma relação lá embaixo naquela pirâmide de Maslow que é o que? É a socialização. “Ô pai, eu não quero ser diferente. Eu quero ser igual. Para eu ser igual eu tenho que ter”. Isso que é o grande problema que nós vemos hoje do capitalismo e o grande problema do meio ambiente. Ou seja, esse ciclo fechado faz com que nós agridamos a natureza desnecessariamente. Ou seja, nós estamos tirando algo da natureza que não é necessário e quem paga esse preço é a população presente e a população futura. Nós sabemos que nem todos hoje têm acesso aos recursos naturais como nós gostaríamos de ter. É sim uma pequena parte da população mundial (Pedro, especialista na área ambiental).

2.3.2 Cidade: espaço da produção, do consumo e do descarte

(in)adequado dos resíduos

Atualmente vivemos em um mundo cada vez mais globalizado, onde as

redes e fluxos fazem as conexões entre os lugares e as pessoas, o que acaba

por alterar a ideia de próximo/distante.

As novas tecnologias de comunicação, ilustrativamente, funcionam como

um objeto de aproximação e/ou de afastamento das pessoas. Aproximam no

momento em que mais pessoas se conectam simultaneamente em lugares

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distintos e distantes. Afastam, pois este contato é virtual, não existe o tocar, o

ver, o ouvir, o sentir as pessoas que se sentem cada dia mais isoladas nesse

mundo virtual.

Véras (2000, p. 13) afirma que

Pelo computador, pela televisão, por teleconferência, o que era privado se propaga e surge a interface da tela: nova visibilidade sem face a face, nova distância diferenciada daquela de confrontação entre ruas e avenidas, de posição e lugar, tudo flutuando na difusão instantânea das telecomunicações. Essa “topologia eletrônica” impregna o espaço construído, trazendo nova interpretação e interpenetração entre o “público e o privado”, o micro/macro, o próximo/distante, a moradia/circulação.

Assim, as cidades estão carregadas de pessoas cada vez mais

individualistas e que se preocupam apenas com seu bem-estar, comodidade e

segurança. O pensar no todo deixou de ser uma atitude do ser humano, para

muitos. Com isso, muitas relações passam a ser superficiais e os contatos

presenciais cada vez mais distantes.

Talvez seja este o momento de se fazer uma pausa e refletir sobre a

necessidade de mudança no sentido de se unir pensamentos, ações e

vontades, visto que a cidade é o locus onde se desenvolvem as mais variadas

e complexas relações na busca da realização dos anseios pessoais e da

coletividade.

Para uma melhor compreensão do ambiente da cidade em relação ao

desenvolvimento socioeconômico e o bem-estar das pessoas que ali residem,

faz-se necessário entender a cidade como um sistema vivo onde as ações e as

vontades individuais, coletivas e do poder público são interdependentes e se

interagem com elementos culturais, sociais e econômicos.

As cidades sempre se constituíram no locus adequado para o

desenvolvimento das constantes, inúmeras e complexas relações individuais e

coletivas das quais resultam a vida urbana.

Para Véras (2000, p. 9),

A cidade é algo enigmático, ainda indecifrável em todos os seus projetos. Apesar de constituir-se como habitat no mundo da modernidade, reveste-se de muitos

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significados, condensa diferentes facetas ligadas ao mundo econômico, à vida social, à cultura, atingindo os modos de vida, as subjetividades, a comunicação, a questão do território e da alteridade.

Neste contexto, os indivíduos que ali residem, trabalham, estudam e

desenvolvem suas atividades esperam que as cidades propiciem condições de

progresso humano dentro de um ambiente sustentável.

Castells e Borja (1996, p. 157) afirmam que a cidade deve ser

entendida não somente como território que concentra um

importante grupo humano e uma grande diversidade de

atividades, mas também como um espaço simbiótico

(poder político-sociedade civil) e simbólico (que integra

culturalmente, dá identidade coletiva a seus habitantes e

tem um valor de marca e de dinâmica com relação ao

exterior), converte-se num âmbito de respostas possíveis

aos propósitos econômicos, políticos e culturais de nossa

época. Citemos três. A necessidade de dar respostas

integradas e não setoriais aos problemas de emprego,

educação, cultura, moradia, transportes etc.; o

estabelecimento de compromissos públicos e privados a

partir das demandas do crescimento econômico e do

meio ambiente; a configuração de novos espaços e

mecanismos que estimulem a participação política,

facilitem a relação entre administrações e administrados

e promovam a organização dos grupos sociais.

Para esses autores,

As grandes cidades devem responder a cinco tipos de objetivos: nova base econômica, infraestrutura urbana, qualidade de vida, integração social e governabilidade. Somente gerando uma capacidade de resposta a estes propósitos poderão, por um lado, ser competitivas para o exterior e inserir-se nos espaços econômicos globais, por outro, dar garantias a sua população de um mínimo de bem-estar para que a convivência democrática possa se consolidar (CASTELLS; BORJA, 1996, p. 155).

E complementam

Em todas as cidades o projeto de transformação urbana é a somatória de três fatores:

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a) a sensação de crise aguda pela conscientização da globalização da economia; b) a negociação entre os atores urbanos, públicos e privados, e a geração de liderança local (política e cívica); c) a vontade conjunta e o consenso público para que a cidade dê um salto adiante, tanto do ponto de vista físico como econômico, social e cultural (CASTELLS; BORJA, 1996, p. 156).

Completando o raciocínio dos autores, acrescentaríamos o ponto de

vista ambiental, tão em voga em todas as esferas de discussões.

Ao ser questionado sobre a afirmativa de que a crescente preocupação

com o meio ambiente devido a avanços industriais e tecnológicos que causam

grande impacto ao planeta, preocupar-se com este meio ambiente tornou-se

até uma questão de marketing para as empresas, o gestor público municipal

comenta:

Eu sou presidente também do CODEMA em Divinópolis e nas reuniões você percebe que quando se requer um licenciamento, uma empresa vai requerer um licenciamento, começa a partir da empresa porque você coloca as condicionantes para que aquela empresa funcione a partir do licenciamentos que ela tem que cumprir, você percebe que existe uma preocupação hoje das empresas em estarem avançando com essas condicionantes. Elas estão propondo situações que elas querem ser parceiras, pra ela hoje é importante ela ter o selo verde, por exemplo, de que ela é um empresa que tem o viés também voltado para as questões ambientais. A empresa que entra hoje simplesmente com a produção sem se preocupar com este equilíbrio ambiental, econômico e social ela praticamente está fora do mercado. Porque existe, é uma cadeia que está se formando que a empresa maior para adquirir um produto dessa empresa menor ela quer saber se essa empresa do ponto de vista ambiental ela é correta (Willian, gestor público municipal).

Atualmente as cidades enfrentam alguns desafios, entre eles o

desemprego, as desigualdades sociais e econômicas, os padrões

insustentáveis de consumo de energia, a expansão urbana, as comunidades

sem infraestrutura de água, esgoto, moradia, a proliferação de insetos e

roedores e, consequentemente, de doenças, os sistemas de mobilidade

precários e a questão do lixo urbano.

Segundo Véras (2010, p. 35), as cidades se constituem como

mercadorias,

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Cada vez mais os problemas de segurança, violência, congestionamentos de trânsito surgem em nossas cidades. Sendo a cidade da mercadoria, pois ela mesma constitui-se uma mercadoria. Nossas cidades são cada vez mais voltadas à circulação de mercadorias (entre elas a força de trabalho): assim, o privilégio ao transporte, ao automóvel (individual), ao ônibus (solução rodoviária de massa), à velocidade, aos viadutos, elevados, aos semáforos rápidos em detrimento de pedestres, de boas calçadas, de praças e jardins. Nossas cidades são viadutópolis. Não são cidades voltadas à fruição, à memória, e sim à velocidade, a lugares de contingência.

A cidade é o lugar onde se desenvolvem as atividades individuais ou

coletivas que visam à concretização das perspectivas e objetivos traçados. É

nela, contemporaneamente, que as pessoas depositam seus sonhos e força de

trabalho no intuito da construção de uma vida melhor, com saúde, estudo,

emprego, renda, enfim, satisfação pessoal.

Para melhor desenvolvimento, as cidades necessitam também de apoio

político e econômico, como afirmam Castells e Borja (1996, p. 157),

A insegurança pública, o tempo consumido na mobilização cotidiana e a degradação os espaços públicos e, em geral, do meio ambiente urbano têm, também, custos econômicos. Uma cidade competitiva deve ter capacidade de integração sociocultural da grande maioria da sua população. Atualmente, as grandes ações de caráter social-urbano aparecem como necessárias e urgentes e, portanto, suscetíveis de encontrar o apoio político e econômico ausente há poucos anos.

Entretanto, apesar das perspectivas de melhoria de vida dos indivíduos

e grupos sociais possibilitada pela estrutura econômica das cidades, é nelas

também que aspectos negativos sociais se evidenciam, entre eles, o

desemprego, a violência, as doenças, a degradação ambientais, já comentados

anteriormente. Nesse contexto temos em Borin (2004, p. 68),

A cidade é hoje a grande protagonista e o palco das transformações econômicas, tecnológicas e das relações sociais, nacionais e internacionais, e ao mesmo tempo é o locus onde a degradação das condições de vida se acentua, com muita visibilidade, especialmente entre os segmentos sociais mais pobres.

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A cidade pode ser comparada a um quebra cabeça gigantesco, feito de

peças diferenciadas, onde cada um ocupa e conhece o seu lugar e se sente

deslocado nos demais lugares. Assim, as cidades reservam regiões específicas

para trabalhadores e patrões, pobres e ricos, separando de forma cruel as

classes sociais pela posição que ocupam na economia da cidade.

Ilustrativamente, é o caso das comunidades onde, via de regra, vivem e

residem trabalhadores com baixa escolaridade e remuneração, e o Estado é

menos atuante. Faltam infraestrutura viária, de água e esgoto, postos de

saúde, transportes, e sobram violência, criminalidade, poluição ambiental e

doenças originadas inclusive por depósitos inadequados de lixo nas calçadas e

vias urbanas.

As cidades sofrem com a questão da migração pois, segundo Véras

(2010, p. 38),

Intensos fluxos migratórios têm alimentado essa urbanização: são de diversas origens e fogem de circunstâncias igualmente diferentes, sempre verbalizadas pelos migrantes como a “busca por melhorar de vida”. Esta frase esconde dramas e trajetórias pessoais das mais variadas modalidades, cores e condições, tendo como pano de fundo dificuldades econômicas, luta pela terra, por moradia, emprego, segurança, liberdade, educação, saúde, cidadania, enfim (Bourdieu, 1998). Somam-se a esse quadro deslocamentos explicitamente involuntários de refugiados, perseguidos e obrigados a deixar suas pátrias por conflitos armados, violência política, étnica, ausência de lei e mesmo desastres naturais.

Nesse contexto, a segregação espacial é o movimento de separação

das classes sociais e funções no espaço urbano que faz a distinção em

classes, raças, faixa etária e até mesmo em relação ao local de trabalho e de

moradia. A segregação também se faz a partir da desigualdade de tratamento

por parte do poder público.

O recolhimento do lixo é um ótimo exemplo, visto que, existem bairros

nobres das cidades onde o lixo é recolhido todos os dias, já em outros, três

vezes na semana e em alguns, somente uma vez por semana. Parece, nesse

aspecto, que a atuação estatal se faz em função da capacidade econômica,

social e cultural das pessoas que moram em determinada região, bairro ou

distrito.

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A cidade parece estar demarcada por cercas, ou seja, fronteiras

imaginárias que definem o lugar de cada morador ou onde cada atividade será

executada.

A moradia tem o significado simbólico de lar, aconchego, espaço privado de liberdade, referência espacial e afetiva, local de identidade portadora de um conteúdo moral que envolve a ideia de ordem legítima e privada de vida (BORIN, 2004, p. 68).

Apesar das nefastas segregações humanas de origens diversas, é nas

cidades que se percebe o local ideal para o desenvolvimento das

potencialidades humanas, visto que, são dotadas de infraestrutura viária, de

produção, comércio, saúde, educação e gestão pública.

A cidade precisa ser vista como parte integrante da natureza, da mesma

forma que esta, deve ser respeitada e conservada. Não deve ser tratada pela

superficialidade de suas paisagens ou pela racionalidade do sistema

capitalista, que lhe atribui valores materiais de compra e venda.

Paralela à discussão sobre as cidades, temos a questão ambiental que,

de forma geral, está dentro do contexto das cidades. Cada dia mais, essa

questão exige da sociedade e do poder público, uma postura menos predatória

ao meio ambiente.

Nogueira e Diniz (2013, p. 1) afirmam que

Atualmente muito se comenta sobre os diversos fatores que prejudicam o meio ambiente, como, por exemplo, os resíduos descartados de maneira inadequada e o excesso de lixo. A sustentabilidade é uma questão de responsabilidade com o meio ambiente e com a sociedade. Ao se contextualizar no ambiente onde se insere o homem contemporâneo, a sustentabilidade envolve questões como a inclusão social, a informação, a capacitação, a educação, a economia criativa e a preservação da fauna, da flora e dos recursos naturais. O tratamento da questão ambiental em meio urbano é, hoje, um desafio ao desenvolvimento, e mobiliza instituições que atuam neste âmbito (instituições financeiras, associações de bairro, ONGs, etc.) que contribuem com práticas sociais e modos de gestão no meio urbano.

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2.3.3 Ambiente e a sociedade do consumo: A fetichização da moda e a

fast fashion (moda rápida)

O debate moda e sustentabilidade está muito em voga atualmente. Há

quem afirme que estes dois conceitos são incompatíveis, antagônicos ou

excludentes. Mas há quem afirme serem complementares.

A questão é que enquanto a sustentabilidade exige parcimônia,

reaproveitamento, mercadorias mais duráveis; a Moda se diz efêmera,

exacerba o consumo desenfreado e favorece a troca rápida das peças.

O quadro econômico atual retrata a situação de um consumo

desmedido, impulsionado pelos constantes e cada vez mais criativos apelos da

mídia, aliado à uma produção também elevada para o atendimento dessas

demandas.

Nesse cenário, há um efetivo antagonismo de forças. De um lado, os

segmentos sociais, políticos, econômicos, dentre outros, que se interessam e

atuam efetivamente para a proteção e preservação ambiental. De outro,

aqueles que visam em primeiro plano o lucro e que degradam e poluem o meio

ambiente.

Assim, consumir menos choca-se com o principal objetivo das

confecções que é o de produzir mais e, consequentemente, maximizar os

lucros e sobreviver no competitivo mercado global.

Ilustrativamente, um consumidor, mesmo que ambientalmente

conscientizado, poderá se sentir tentado pelos mais variados mecanismos de

atração da mídia a consumir mais, o que poderá resultar no aumento da

produção e, consequente, representar certo dano ambiental.

Em relação ao setor confeccionista do vestuário, em regra, esses

acréscimos na demanda parecem representar significativo aumento do volume

de resíduos sólidos têxteis e consequentemente prejuízos pelos desperdícios

de matéria-prima, bem como, ao meio ambiente e seus recursos naturais.

Para a representante do SOAC,

A indústria não pode parar para não produzir lixo. Senão nós vamos entrar numa sinuca de bico. Nós precisamos produzir, porque só produzindo, dando desenvolvimento econômico é que você vai ter desenvolvimento social. Nós estamos numa

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situação, é aquilo que o Jean-Paul Sartre fala muito: “Estamos numa situação limite”. Acho que falta criatividade. Eu acho que falta criatividade porque o lixo que nós produzimos, onde que nós vamos colocar esse lixo? Por que jogamos tudo fora? O que pode ser reciclado? O que não pode ser reciclado? Outra coisa também. Se você pegar, por exemplo, o pessoal que trabalha hoje com lixo, eles também são elitizados. Eles querem só o lixo bom. Eles querem o que tem de melhor no lixo, porque eu lembro quando eu participei de alguns movimentos junto com a Hélcia Veriato, a gente mesmo passava isso para eles “você tem que tirar o que tem de melhor no lixo”. Também no setor do vestuário, eles retiram do lixo o que tem de melhor no lixo, que é o retalho maior, a ponta da peça. Mas tem também retalhinhos pequenininhos que podem virar estopas, que podem virar enchimento de colchão, de travesseiro e muitos outros. Agora o empresário também não vê nenhuma possibilidade de ganhar dinheiro com o lixo. Então também não preocupa de estar pesquisando, se tem alguma empresa que transforma esse lixo em alguma coisa, que pode vender, doar ou prestar. Ele não faz isso. Esse é o problema que a gente tem também (Ana Lúcia, representante do SOAC).

Mas o que se pode perceber é que a sustentabilidade invadiu a moda,

pois várias empresas hoje primam em utilizar matérias-primas ecologicamente

corretas como as fibras naturais ou ecologicamente produzidas; buscam uma

produção de baixo impacto ao meio ambiente; valorizam a criação de projetos

sociais que buscam a utilização de materiais descartados na reformulação de

novos produtos, dentre outros.

A indústria da moda tem buscado atender à demanda por um estilo mais

sustentável, com fibras naturais ou ecologicamente produzidas.

A expansão da moda sustentável tem encontrado algumas dificuldades

pelos responsáveis pelas empresas, dentre elas, a falta de matéria-prima

sustentável em grande escala, o que acaba por onerar os custos dos produtos;

falta de mão de obra qualificada para esse tipo de produção; ausência de

incentivos do governo para a produção deste tipo de material; isto sem contar

as dificuldades encontradas em relação ao tempo de entrega da matéria-prima.

Em relação aos consumidores, estes parecem estar mais conscientes e

atentos ao que está ocorrendo no mundo como um todo. Eles se preocupam

com as mudanças climáticas, a perda da biodiversidade, os fracos direitos

trabalhistas do setor têxtil, especialmente como ocorre na Ásia. No entanto,

ainda há pessoas que não sabe exatamente do que se trata, nem como

adquirir produtos fabricados dentro deste conceito.

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A moda reflete a sustentabilidade das mais diversas maneiras, seja

através da substituição de materiais por outros mais sustentáveis, seja através

do reaproveitamento dos retalhos, da reciclagem dos materiais, da

customização ou até mesmo no reaproveitamento de tecidos ou peças.

Muito procurados, hoje em dia, são os brechós com suas roupas de

segunda mão ou mesmo recicladas. As próprias grifes vendem peças usadas

de seus estoques para eles.

Para Salcedo (2014, p. 26),

a moda rápida, mais conhecida como fast fashion, é uma prática de grandes empresas internacionais de moda e redes de distribuição que conseguiram seduzir sua clientela graças à atualização constante do design de suas peças e aos baixos preços de seus produtos.

As coleções que antes se dividiam em quatro lançamentos – alto verão,

primavera/verão, outono/inverno, alto inverno – hoje são lançadas diariamente,

aumentando o consumo e, consequentemente, o descarte, o que custa caro

para o bolso do consumidor e para o planeta.

Uma das maiores preocupações ao se tratar de moda e preservação do

meio ambiente está no uso de materiais sintéticos, que são mais baratos e

práticos, mas, no entanto, demoram a se decompor.

A moda é cíclica e é isto o que precisamos fazer com a sustentabilidade,

quanto mais formos em busca dela, mais ela vai estar na moda e transformará

em um ciclo, ou seja, uma gerando a outra.

2.4 Resíduos Sólidos

2.4.1 Definição de Resíduos Sólidos

A definição de resíduos sólidos vem se emoldurando em razão do tempo,

do local, da cultura, da subjetividade, dentre outros fatores. Apesar disso,

algumas definições melhor se adéquam ao tempo e às condições ambientais

atuais.

Assim, segundo a norma ABNT n. 10004/2004 revisada:

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Resíduos nos estados sólido e semissólido, que resultam de atividades da comunidade de origem: industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição. Ficam incluídos nesta definição lodos provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnicas e economicamente inviáveis em face à melhor tecnologia disponível.

A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) (BRASIL, 2010),

instituída pela Lei n. 12.305/2010, define os resíduos sólidos, em seu artigo 3º,

inciso XVI, como

resíduos sólidos: material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnica ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível [...]

Cabe, nesse ponto, destacar alguns elementos importantes presentes

nessas definições. Inicialmente, faz-se necessário diferenciar lixo, dejeto e

resíduo.

Para Barros (2012, p. 35),

Os termos lixo, dejeto ou resíduo costumam ser usados indistintamente para denominar materiais ou produtos cujos proprietários ou possuidores os descartam ou eliminam porque já não lhes interessam, ou porque creem que já não lhes possam ser úteis, ainda que sejam susceptíveis de aproveitamento ou de valorização. O termo resíduo denota a possibilidade de valorização, enquanto que os termos lixo ou dejeto costumam ser considerados como destinados à disposição final, se não houver tecnologias para seu aproveitamento integral de maneira economicamente viável e tecnologicamente factível (grifos do autor).

Nesse contexto, o que é considerado lixo ou rejeito para determinada

pessoa ou grupo de pessoas não o é para outros, podendo ser considerado

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resíduo passível de ser reaproveitado, reutilizado, etc. É, ilustrativamente, uma

máxima atual: “fazer do lixo o luxo”.

Assim, apesar das definições existentes, na prática, a distinção daquilo

que é lixo, dejeto ou resíduo dependerá de quem está fazendo a avaliação, de

sua formação cultural, valores e interesses pessoais, dentre outros fatores

relacionados.

Para Cunha (2002, p. 347), a conscientização em relação aos resíduos

sólidos despontou a partir do incremento quantitativo e da periculosidade e

nocividade desses resíduos.

Os resíduos sólidos só mereceram especial cuidado em termos de necessidade de análise dogmática, devido ao seu aumento quantitativo e da nocividade dos seus componentes. A concentração populacional, os métodos de concepção dos produtos e a massificação do consumo, acompanhada pelo aumento generalizado do nível de vida, são as principais causas do que hoje é um problema chamado resíduos sólidos urbanos (...) O tema dos resíduos sólidos, tal como todos os outros relacionados com a preservação do meio ambiente e da saúde humana, é uma área de indiscutível atualidade, cuja divulgação e o estudo, além do interesse dogmático, servem para elevar o nível social da sensibilidade ecológica. Essa sensibilidade é particularmente intensa, quanto aos resíduos sólidos urbanos, porque se trata de um problema com que todos os cidadãos vivem diariamente, e que por isso é sentido com maior intensidade.

Outros elementos presentes na definição da PNRS são a destinação

final e a disposição final, termos que se parecem muito na grafia, porém, têm

significados muitos diferentes.

Segundo a PNRS (BRASIL, 2010) , no seu artigo 3º, incisos VII e VIII,

são conceituadas a destinação final e a disposição final nos seguintes termos:

VII - destinação final ambientalmente adequada: destinação de resíduos que inclui a reutilização, a reciclagem, a compostagem, a recuperação e o aproveitamento energético ou outras destinações admitidas pelos órgãos competentes do Sisnama, do SNVS e do Suasa, entre elas a disposição final, observando normas operacionais específicas de modo a evitar danos ou riscos à saúde pública e à segurança e a minimizar os impactos ambientais adversos; VIII - disposição final ambientalmente adequada: distribuição ordenada de rejeitos em aterros, observando normas operacionais específicas de modo a evitar danos ou riscos à

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saúde pública e à segurança e a minimizar os impactos ambientais adversos.

Percebe-se, portanto, que o termo destinação final prende-se ao termo

resíduo, ou seja, aquele bem, material ou substância que ainda poderá ser

reutilizado, reciclado, recuperado, dentre outros, enquanto que na disposição

final, há uma atração deste termo ao termo lixo ou rejeito, ou seja, aquele bem,

material ou substância que não poderá mais ser aproveitado, reciclado,

reutilizado, etc.

Ainda, em relação aos termos destinação e disposição finais, percebe-se

que tanto na destinação quanto na disposição finais, o legislador se preocupou

com a preservação ambiental e a saúde pública na execução dos respectivos

processos, visto que, o objetivo maior, tanto na destinação quanto na

disposição final dos resíduos sólidos, é a preservação da saúde e da vida da

espécie humana, de vegetais e de animais e dos recursos naturais existentes.

Ainda, em relação a esses termos, vale ressaltar que a destinação final

pode ser entendida como gênero e a disposição final como espécie, visto que

esta se encontra no rol das atividades descritas naquela.

O Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2014 publicado pela

ABRELPE apresenta a comparação dos dados referentes aos anos de

2013/2014 em relação à geração de resíduos sólidos urbanos por tonelada/ano

e per capita (kg/hab/ano). Percebe-se que houve um aumento de

aproximadamente 2% no índice de geração per capita de resíduos sólidos

urbanos e de 2,9% na quantidade total gerada.

Gráfico 2.5 – Geração de RSU

Fonte: ABRELPE, 2014, p. 28.

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O referido Panorama apresenta também a quantidade de Resíduo Sólido

Urbano gerado nos anos de 2013 e 2014, por região do Brasil.

Tabela 2.1 – Quantidade de RSU gerado

Fonte: ABRELPE, 2014, p. 41.

Quando se refere especificamente à região Sudeste, nos anos de 2013 e

2014, percebe-se um aumento de 3,3% na geração total de RSU e de 2,5% na

geração per capita.

Gráfico 2.6 – Quantidade de RSU Gerada na Região Sudeste

Fonte: ABRELPE, 2014, p. 73.

Ao comparar os dados da tabela abaixo 2.2 percebe-se que a população

do estado de Minas Gerais teve um aumento de 0,68%. Em 2014, o estado

gerou 18.962 toneladas/dia de RSU, sendo que destas, 90,84% foram

coletadas. Os dados indicam ainda que em relação ao ano de 2013, houve um

crescimento de 2,59% na geração de RSU e de 3,14% no total coletado.

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Tabela 2.2 – Coleta e Geração de RSU no Estado de Minas Gerais

Fonte: ABRELPE, 2014, p. 75.

Gráfico 2.7 – Quantidade de RSU Coletado na Região Sudeste

Fonte: ABRELPE, 2014, p.72.

2.4.2 Classificação dos Resíduos Sólidos

Os resíduos sólidos têm várias possibilidades de classificação, no

entanto, a classificação aqui apresentada tem como referência os conceitos da

Lei n. 12.305/10 (BRASIL, 2010) e dos autores Santaella et al. (2014) e Barros

(2012). As especificidades relacionadas a esta classificação estão contidas no

Apêndice G.

Enquanto a lei classifica os resíduos sólidos pela origem e

periculosidade, Santaella et al. (2014) classificam pela composição química,

degradabilidade, riscos de contaminação no meio ambiente, periculosidade e

resíduos especiais. A classificação de Barros (2012) é feita quanto à atividade

que os produziu, biodegradabilidade, forma de operacionalização dos serviços

de coleta, possibilidade de produção de composto, tratabilidade, economia,

padrão econômico da fonte de produção, possibilidade de reação, incineração

e recuperação energética, além do ponto de vista sanitário.

Cabe aqui destacar a síntese da classificação dos RS feita por Barros

(2012), segundo critérios diferenciados mostrada no Quadro 2.2 a seguir:

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127

Quadro 2.2 – Síntese dos critérios de classificação de Resíduos Sólidos

Fonte: BARROS, 2012, p. 49.

2.4.2.1 Resíduos Sólidos Industriais

Para Barros (2012, p. 360),

Os RS industriais (RSI) são aqueles resultantes dos processos industriais, internos às unidades fabris. Os países ricos, por definição, são os maiores produtores destes resíduos e, face à consciência dos consumidores e à observância das leis, têm mostrado uma gestão eficiente. Por sua própria natureza alguns RS industriais inspiram maiores cuidados, devendo a responsabilidade por sua gestão, e em particular por sua destinação adequada, ser assumida por quem produz.

O autor afirma ainda que “com a industrialização da economia e a

intensificação do comércio internacional, o acesso de partes expressivas da

população a uma enorme gama de bens de consumo, duráveis ou não,

modifica o perfil de produção de RS” (Barros, 2012, p. 360).

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128

A classificação dos Resíduos Sólidos Industriais é feita de acordo com

suas propriedades físicas, químicas ou infectocontagiosas, além da

identificação de substâncias contaminantes em sua massa. A análise do

processo industrial é indispensável para a identificação de substâncias

presentes, suas características e seu comportamento.

Com o intuito de padronizar a classificação dos resíduos sólidos, em

nível nacional, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) possui

várias normas de controle que se referem aos riscos potenciais ao meio

ambiente e à saúde pública, seu manuseio e sua destinação adequada.

A norma ABNT NBR 10.004 considera os RS industriais aqueles que em

estado sólido e semissólido que resultam da atividade industrial, incluindo-se todos provenientes das instalações de tratamento das águas residuárias, aqueles gerados em equipamentos de controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tomem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos e corpos d’água, ou exijam, para isto, soluções economicamente inviáveis, em face da melhor tecnologia disponível.

A referida norma classifica os resíduos em função de suas

características, padrões de concentração de poluentes e grau de

periculosidade como:

- Classe I – Perigosos: são aqueles que apresentam riscos à saúde

pública e ao meio ambiente, e exigem tratamento e disposição especiais

em função de suas características de Corrosividade, Reatividade,

Inflamabilidade, Toxicidade, e Patogenicidade.

- Classe II – Não perigosos: que se subdividem em:

II A – Não inertes: são aqueles que não apresentam

periculosidade, não são inertes e podem apresentar propriedades

como combustibilidade, biodegradabilidade ou solubilidade em

água. Praticamente são os resíduos com características do lixo

doméstico e são oriundos dos serviços de limpeza de áreas que

não estejam contaminados por resíduos de processo industrial.

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II B – Inertes: são aqueles que, ao passarem pelos testes de

solubilização, não se solubiliza em concentrações superiores aos

padrões de potabilidade da água, ou seja, a água permanecerá

potável quando em contato com o resíduo. Esses tipos de

resíduos não se degradam ou degradam lentamente e não

decompõem quando dispostos no solo. Como exemplo são as

rochas, tijolos, vidros e certos plásticos e borrachas que não são

decompostos prontamente (ABNT, 2004).

Todo processo industrial pode gerar além dos resíduos sólidos, líquidos

e gasosos que são também causadores de impactos ambientais, poluição e,

muitas vezes, colocam em risco a saúde humana. A estes resíduos cabem

também os preceitos hierárquicos da não geração, redução, reutilização,

reciclagem, tratamento e disposição final ambientalmente adequada dos

rejeitos.

Importante destacar que a responsabilidade pela gestão dos Resíduos

Sólidos Industriais é do produtor, podendo até ser terceirizada, mas este

produtor precisa se manter responsável.

2.4.2.1.1 Resíduos Sólidos Têxteis

Os resíduos sólidos têxteis – retalhos, aparas, tubetes, fios, botões,

aviamentos em geral, dentre outros componentes têxteis – possuem também a

capacidade de poluir/degradar o meio ambiente quando de sua utilização,

descarte ou disposição final ambientalmente inadequados.

O Quadro 2.329 apresenta os tipos de resíduos gerados, suas classes e

a destinação final utilizada a partir dos processos industriais de uma empresa

de fiação e tecelagem.

29 Informações retiradas do material complementar entregue pelo Supervisor de Qualidade e Meio Ambiente de uma das empresas que participou respondendo ao formulário.

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Quadro 2.3 – Resíduos gerados a partir dos processos industriais

Denominação do Resíduo Classe Destinação Final

Lâmpadas Contaminadas I Descontaminação

Óleo Lubrificante Usado I Rerrefino

Óleo Vegetal I Reciclagem

Sucatas de Metais Ferrosos e Não Ferrosos

IIA Reciclagem

Tambores e Bombonas IIA Reutilização

Resíduo de Serviço de Saúde IA Tratamento Térmico - Incineração

Têxteis Não Contaminados IIA Reciclagem

Têxteis Contaminados I Tratamento Térmico – Aterramento das Cinzas em Aterro Industrial Classe I

EPIs e Borrachas Diversas Contaminadas

I Tratamento Térmico – Aterramento das Cinzas em Aterro Industrial Classe I

Pilhas e Baterias I Tratamento Térmico – Aterramento das Cinzas em Aterro Industrial Classe I

Plástico / Papel IIA Reciclagem

Lodo Ativado ETE IIA Aterro Industrial Classe II

Corantes e Pigmentos Têxteis I Reciclagem

Resíduo de Caixa de Gordura IIA Tratamento Físico-Biológico

Fonte: Cia. Fiação e Tecelagem Divinópolis (FITEDI, 2014). Adaptado (grifo nosso)

Especificamente nesta pesquisa que trata dos resíduos sólidos

provenientes das indústrias de confecção/têxteis de Divinópolis cabe destacar

na tabela acima, os tipos de resíduos sólidos Têxteis Não Contaminados (IIA) e

Têxteis Contaminados (I).

Cabe também destacar que para esta pesquisa os retalhos – resíduo

mais gerado pelo setor confeccionista de Divinópolis – classificam-se, em

regra, como Resíduos Sólidos Têxteis Não Contaminados.

Ocorre que apesar de classificados como Resíduos Sólidos Têxteis Não

Contaminados quando utilizados em tarefas e atividades que envolvem

substâncias nocivas, tóxicas, inflamáveis, dentre outras, tornam-se, a partir daí,

Resíduos Sólidos Têxteis Contaminados.

Ilustrativamente é o caso de um retalho de tecido – estopa – que foi

utilizado em uma oficina mecânica e que, impregnado de graxa ou de

combustível, torna-se nocivo ao meio ambiente e à saúde humana.

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De acordo com o relatório elaborado pelo Instituto de Estudos e

Marketing Industrial (IEMI, 2009), divulgado pela Federação das Indústrias do

Estado de Minas Gerais, Divinópolis, é o primeiro polo confeccionista do

estado. Ainda, segundo o relatório, na cidade são 786 empresas e 26.501

pessoas empregadas, o que corresponde a 17,7% do total do estado.

Divinópolis é responsável por 21,4% da produção de confeccionados de Minas

Gerais. Se considerarmos apenas vestuário, a participação sobe para 24,9%.

Na cidade, objeto deste estudo, é comum encontrarmos dispostos nas

calçadas das ruas resíduos têxteis em grande quantidade, a maioria é

composta de retalhos e aparas de tecidos provenientes das indústrias de

confecções locais. Destaca-se que o tipo de resíduo têxtil, foco desta pesquisa,

são os retalhos advindos das indústrias de Divinópolis e descartados

inadequadamente junto aos resíduos domiciliares.

A fotografia a seguir ilustra bem a situação atual dos retalhos

disponibilizados nas calçadas próximas às confecções e reflete a necessidade

de mudança de paradigmas produtivos, culturais, políticos e comportamentais

da sociedade local, para que se possa aliar produção, consumo,

desenvolvimento e preservação ambiental, traduzindo-se num ciclo produtivo

sustentável.

Figura 2.4 – Fotografia dos retalhos disponibilizados nas calçadas próximas às confecções de Divinópolis

Fonte: Nogueira, 2015.

Em relação à identificação destes resíduos – retalhos – torna-se

necessário fazer uma análise do tipo de fibra que compõe o tecido. As fibras

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têxteis se dividem em dois grupos, o de fibras naturais e o de fibras químicas e,

normalmente, referem-se à origem e a natureza das fibras, como pode ser visto

no quadro a seguir.

Quadro 2.4 - Classificação das Fibras Têxteis30

FIBRAS

NATURAIS

(Encontradas da natureza)

Animais Secreção Glandular Sedas (bicho da seda)

Pelos Lã, caxemira, angorá, camelo

Vegetais

Semente Algodão

Caule Cânhamo, juta, linho

Folha Sisal

Fruto Coco.

Minerais Amianto, vidro, metal.

FIBRAS

QUÍMICAS

(Produzidas em laboratórios)

Artificiais/celulósicas: têm origem na celulose da madeira ou das sementes que cobrem o algodão.

Celulose Regenerada Viscose

Derivados da celulose Cupramónio

Sintéticas: têm como origem os produtos derivados do petróleo ou carvão.

Poliamida

Poliéster

Acrílica

Fonte: Elaboração própria.

Os retalhos constituem-se pela sua quantidade e volume como os

componentes de maior destaque no âmbito dos resíduos sólidos têxteis.

Atualmente as empresas têm adotado a prática de separação desses retalhos

no momento do corte, pelo tamanho, cor e tipo de fibra utilizada – natural ou

química –, o que facilita e contribui para formas posteriores de destinação final

ambientalmente adequadas.

No que se refere à fiscalização sobre a produção dos resíduos

industriais em Divinópolis, o gestor público municipal afirma que ela existe tanto

por parte do estado quanto por parte do município. E complementa:

Alguns licenciamentos de indústrias são feitos pelo estado e outros são feitos pelo município. Os que são feitos pelo município, os fiscais fazem as análises deles através do que é condicionado, o que é liberado. Por exemplo, de supermercado, verifica se os resíduos estão sendo jogados

30 Apostila da disciplina de Tecnologia de Materiais Têxteis, 2012.

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fora, os materiais que estão sendo utilizados, a queima quando a padaria é de lenha em relação à poluição atmosférica. Nós acompanhamos o que é liberado nas condicionantes. Em cada indústria tem a sua característica. Cada indústria tem o seu poluente maior. No caso das lavanderias é a Secretaria de Meio Ambiente, mas o licenciamento é feito pelo estado, mas, a Secretaria como faz parte do município, tem várias situações inclusive, várias denúncias de que estão jogando no rio. Para essas condições, temos sempre o monitoramento e o acompanhamento também. Nesse caso da lavanderia até por ser material pesado, material químico nós fazemos esse acompanhamento em parceria com o Estado (Willian, gestor público municipal).

2.3.3 Tipos de tratamento dos resíduos sólidos

Os processos de tratamento dos resíduos sólidos podem se dividir em:

compostagem, vermicompostagem, incineração e pirólise. Em cada um desses

processos, há vantagens e desvantagens e a escolha por um deles deve variar

de acordo com o “tipo de resíduo a ser tratado, disponibilidade de área para o

tratamento e custo do tratamento” (SANTAELLA et al., 2014, p. 29).

A – Compostagem, Barros (2012, p. 30) a define como o

processo controlado de estabilização de resíduos orgânicos promovido por uma colônia mista de microrganismos normalmente aeróbicos, e que envolve a ação humana para acelerar a decomposição destes resíduos, através da manipulação dos vários materiais e do próprio processo, obtendo assim um produto bastante útil.

B – Vermicompostagem, para Santaella et al. (2014, p. 30), é o

tratamento da matéria orgânica presentes nos resíduos sólidos resultante do metabolismo de minhoca detritívoras. Elas se utilizam desta matéria orgânica como fonte de alimento e energia, e a transformam em um produto conhecido como vermicomposto, que tem características semelhantes às dos húmus, e pode ser utilizado como adubo por ser rico em nutrientes essenciais aos vegetais (grifos da autora).

C – Incineração, para Santaella et al. (2014, p. 31), é a

queima dos resíduos sólidos, em temperaturas muito elevadas, até a sua transformação em cinzas, com o objetivo de reduzir a massa e o volume destes resíduos. (...) Este tipo de tratamento é adequado para resíduos inorgânicos e resíduos de serviços de saúde.

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D – Pirólise é a “decomposição térmica que ocorre na ausência de oxigênio,

em temperaturas controladas e inferiores às empregadas para incineração, que

transforma substâncias complexas em outras mais simples com valor

comercial”. A matéria orgânica é transformada em outros subprodutos que

funcionam como combustíveis (Santaella et al., 2014, p. 32).

As opiniões e justificativas sobre o tipo adequado para o tratamento dos

resíduos sólidos são controvertidas. De todos esses tipos, talvez o mais

polêmico e questionado seja a incineração, como bem afirma Barros (2012, p.

291),

A incineração é polêmica em qualquer lugar do mundo. Nos países avançados, notadamente aqueles de área proporcionalmente reduzida diante de sua população (como Japão, Suíça, Holanda), é uma alternativa utilizada há muitas décadas, sempre aprimorada e ainda assim objeto de grandes discussões. Mesmo em países com grandes territórios, como os EUA, a incineração é empregada em regiões com altas concentrações de população e, como é próprio ao método, para RS cujas características naturais os recomendem. Seus opositores alertam os seríssimos riscos ambientais do processo, além de combaterem o lobby associado ao setor. Advogam também que não seja única e sistematicamente empregada a lógica end of pipe (fim do tubo) para lidar com os RS, estes sendo eles mesmos, consequências de processos socioeconômicos que merecem debate.

O autor aponta situações em que a incineração pode ser eficaz,

Com o processo acelerado de urbanização, a oferta de áreas proporcionalmente grandes onde possam ser executados aterros sanitários (e demais instalações relacionadas às etapas da gestão de RS, especialmente as de tratamento e disposição) diminui. Destarte, a incineração mostra-se atraente porque, nos quesitos de transporte e de disponibilidade de áreas, apresenta necessidades relativamente pequenas, diminuindo os custos totais da gestão dos resíduos. Não prescinde, no entanto, de um aterro – neste caso, de tipo industrial – onde sejam dispostos de maneira ambientalmente adequada seus rejeitos (BARROS, 2012, p. 291).

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2.3.4 Tipos de destinação final dos resíduos sólidos

A sociedade, em grande parte, gera resíduos sólidos urbanos que

podem ser considerados um problema ambiental quando não são devidamente

coletados, transportados, reciclados e destinados de forma adequada.

Segundo Guerra (2012, p. 66), a destinação final ambientalmente

adequada é “uma fase do ciclo de vida do resíduo por meio da qual se

identifica a possibilidade de seu tratamento ou recuperação, verificando se este

pode ser reciclado, reutilizado, compostado, recuperado ou aproveitado".

Guerra (2012, p. 67) afirma ainda que o texto da Lei n. 12.305/10 em seu

Art. 3º, inciso VII “aponta a existência de várias outras técnicas de destinação

final ambientalmente adequadas” como, por exemplo, a reutilização definida

como “processo de recuperação do resíduo sem que haja alteração ou

modificação em sua composição” e a reciclagem como “processo de

aproveitamento dos resíduos com o emprego de técnicas que alteram a sua

composição”.

A destinação final destes resíduos vai depender do tipo de resíduo, ou

seja, não é possível fazer a junção de todos os resíduos coletados e enviar

para um único local. Ela se divide em:

A – Destinação final inadequada: ocorre quando os resíduos são

lançados em lixões, queimados a céu aberto ou dispostos em aterros

controlados.

B – Destinação final adequada: é quando se faz primeiramente a

reutilização, reciclagem, compostagem, recuperação ou o

aproveitamento energético, para só assim fazer a disposição dos rejeitos

em aterros sanitários.

O Gráfico 2.8 apresenta uma comparação da destinação final dos

resíduos sólidos no Brasil, entre os anos 2013/2014, em que se percebe um

pequeno acréscimo no percentual em relação aos anos considerados.

A referida figura mostra que a destinação a locais inadequados é de

aproximadamente de 30 milhões de toneladas/ano. Esses locais constituem-se

de lixões e aterros controlados que não são soluções ambientalmente

adequadas para a disposição final dos resíduos sólidos, pois não possuem a

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infraestrutura necessária para a proteção e a preservação do meio ambiente e

da saúde pública.

Gráfico 2.8 – Destinação final dos RSU Coletados no Brasil

Fonte: ABRELPE, 2014, p.31.

O Gráfico 2.9 mostra o tipo de destinação final dada aos resíduos

sólidos urbanos nos municípios em cada região do Brasil.

Gráfico 2.9 - Porcentagem de municípios em cada região brasileira por tipo adequado ou inadequado de disposição final de resíduos sólidos urbanos

Fonte: SANTAELLA et al., 2014, p. 17

Percebe-se que

- a região Sul é a única região que tem a maioria dos municípios

destinando os resíduos sólidos urbanos de forma adequada;

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- nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste a maior parte dos

municípios destinam inadequadamente seus resíduos;

- na região Sudeste há uma maior proximidade entre o percentual de

municípios que fazem a destinação final dos resíduos de forma

adequada e inadequada.

Para Barros (2012) existem quatro formas de gestão dos resíduos

sólidos, incorporando os princípios ambientais, como mostra a Figura 2.5

através das setas apresentadas.

Figura 2.5 - Evolução da gestão de RS incorporando princípios ambientais

Fonte: BARROS, 2012, p. 166

O autor considera que

A primeira seta [...] representa a pior situação possível, quanto à gestão (sic) dos RS, uma vez que os RS coletados vão todos para um lixão, sem controles de operação, de funcionamento e de fechamento. Esta alternativa é inadmissível; lamentavelmente, ainda é muito encontrada no Brasil e em outros países subdesenvolvidos. A segunda seta mostra um notável avanço em relação à situação anterior, ainda que restrito à extremidade final do processo de gestão, com a disposição agora em aterro sanitário. Nem sempre considerada a melhor alternativa para o destino final do lixo, um aterro sanitário é apenas parte da solução global, equacionada em função de uma visão de conjunto do processo de geração de RS e de sua gestão. Deve-se acrescentar, como estratégia de gestão, a prevenção da geração de resíduos, alternativa fundamental embora dificílima de ser implementada, visto a mudança de comportamentos que exige. A terceira seta avança em direção a uma situação ainda mais desejável de gestão, com parcelas significativas de RS sendo

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recicladas (neste caso, em X%) e compostadas (neste caso, em Y%), diminuindo assim a quantidade que vai para disposição final em aterro sanitário. O aprimoramento permanente da gestão aumenta de forma gradativa as quantidades recicladas: embora este potencial seja grande, há limites concretos físicos e de viabilidade econômica para sua execução que dificilmente serão ultrapassados. Pode-se pensar num valor assintótico, que é função de vários fatores, dentre os quais as formas de participação dos usuários e as estratégias de execução dos serviços de coleta. A quarta seta incorpora este conceito fundamental na gestão dos RS: a minimização ou redução de sua produção, já na fonte ou em outras etapas do processo de consumo. Tal situação pressupõe um nível mais avançado de organização da sociedade como um todo – e obviamente dos seus serviços de limpeza pública –, com maior participação dos usuários ao longo de toda a gestão. Esta participação ampliada conduz à situação seguinte. A quarta seta mostra ademais a situação ideal: antes de serem encaminhados à disposição final, os RS passam por alguma forma de tratamento, compatível com sua natureza. Continuam valendo as práticas de reciclagem e/ou compostagem, e a quantidade de resíduos que vai para a disposição final é reduzida, tanto porque menos lixo foi gerado nos processos de consumo, quanto porque uma parcela, tratada, pode ter menores massa e volume. (BARROS, 2012, p. 166)

A Figura 2.6 é um fluxograma da destinação adequada dos resíduos

sólidos de acordo com a origem e o tipo de resíduo, reforçando a ideia de que

não é possível destinar os resíduos de forma aleatória, sem que haja uma

separação para dar direcionamento de forma adequada.

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Figura 2.6 – Fluxograma apresentando o destino adequado das diferentes classes de resíduos sólidos

Fonte: SANTAELLA et al., 2014, p. 28.

Assim, a destinação final dos resíduos sólidos se divide em: reutilização,

reciclagem, compostagem, recuperação e aproveitamento energético e

disposição final. Para melhor entendimento, serão destacados os principais

tipos de disposição final dos resíduos sólidos.

2.3.4.1 Principais tipos de disposição final dos resíduos sólidos

Para melhor entendimento sobre o significado de disposição final dos

resíduos sólidos tem-se, no artigo 3º, inciso VIII da lei nº 12.305/10 (BRASIL,

2010), uma definição apropriada para disposição final ambientalmente

adequada como, “distribuição ordenada de rejeitos em aterros, observando

normas operacionais específicas de modo a evitar danos ou riscos à saúde

pública e à segurança e a minimizar os impactos ambientais adversos”.

Em relação à quantidade de resíduos sólidos urbanos coletados em

2013 e 2014 nas regiões e no Brasil, como um todo, nota-se no Quadro 2.5 que

a região Sudeste foi a que mais coletou RSU, com um percentual de 52,5%. O

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elevado percentual vincula-se, inevitavelmente, ao fato de ser a região Sudeste

a que possui o maior número de habitantes e a que tem a maior produção

industrial do país.

Quadro 2.5 – Quantidade de RSU coletado por regiões e Brasil

REGIÕES RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS (toneladas/dia)

2013 2014

NORTE 12.178 12.458

NORDESTE 41.820 43.330

CENTRO-OESTE 15.480 15.826

SUDESTE 99.119 102.572

SUL 20.622 21.047

BRASIL 189.219 195.233

Fonte: ABRELPE, 2014, p. 39. (Adaptado pela autora)

O Quadro 2.6 mostra a quantidade de municípios por região e no Brasil,

que possui estes tipos de disposição final nos anos de 2013 e 2014. Destaca-

se que em 10 municípios, os lixões foram encerrados no período de 2013 para

2014, conforme determinado no art. 54 da Lei n. 12.305/1031 (BRASIL, 2010).

Em relação ao número de municípios que utilizam aterros controlados foi

mantido o mesmo e o aterro sanitário teve um acréscimo de 10 municípios

divididos em todas as regiões.

Quadro 2.6 – Quantidade de Municípios por Tipo de Destinação Adotada –

2013/2014

DESTINAÇÃO

FINAL

NORTE NORDESTE CENTRO-

OESTE SUDESTE SUL BRASIL

2013 2014 2013 2014 2013 2014 2013 2014 2013 2014 2013 2014

Aterro

Sanitário 92 93 453 455 161 164 817 820 703 704 2226 2236

Aterro

Controlado 111 112 504 505 148 147 645 644 367 367 1775 1775

Lixão 247 245 837 834 158 156 206 204 121 120 1569 1559

BRASIL 450 1794 467 1668 1191 5570

Fonte: ABRELPE, 2014, p. 43-44. (Adaptado pela autora)

31 A disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos, observado o disposto no § 1º do art. 9º, deverá ser implantada até 4 (quatro) anos após a data de publicação desta Lei.

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Em relação à região Sudeste, podemos afirmar que é a segunda maior

região em números de municípios no Brasil e conforme mostra o Gráfico 2.10,

em 2013 o percentual de RSU destinados ao lixão foi de 10,3%; ao aterro

controlado 17,4% e ao aterro sanitário 72,3%.

Em 2014, seguindo a mesma ordem, o percentual de RSU destinados ao

lixão foi de 10,1%; ao aterro controlado 17,3% e ao aterro sanitário 72,6%.

Gráfico 2.10 – Destinação final de RSU na Região Sudeste (t/dia)

Fonte: ABRELPE, 2014, p. 73.

No que se refere à disposição final dos RSU em Minas Gerais, a maioria

dos resíduos coletados tem destinação adequada, ou seja, são encaminhados

aos aterros sanitários. No entanto, cabe ressaltar que diariamente ainda foram

destinadas inadequadamente 6.098 toneladas aos lixões e aterros controlados,

sem proteção ao meio ambiente e à saúde pública, como mostra o Gráfico

2.11.

Gráfico 2.11 – Destinação Final de RSU no Estado de Minas Gerais (t/dia)

Fonte: ABRELPE, 2014, p.76.

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Percebe-se no Gráfico 2.12 abaixo, que em 2012, o lixão era o tipo de

disposição final de resíduos sólidos mais utilizado nas regiões Norte, Nordeste

e Centro-Oeste brasileiras. Nas regiões Sul, Sudeste e no Brasil, o aterro

sanitário é o mais utilizado. O aterro controlado é o intermediário em todas as

regiões e no Brasil, como um todo.

Gráfico 2.12 – Tipo de disposição final de resíduos sólidos urbanos no Brasil e em cada uma de suas Regiões (adaptado de ABRELPE, 2012)

Fonte: SANTAELLA, 2014, p.16.

Os principais tipos de disposição final dos resíduos sólidos são o lixão, o

aterro controlado e o aterro sanitário. Cabe destacar que tanto o lixão quanto o

aterro controlado não são considerados disposições finais ambientalmente

adequadas.

A – Lixão

Para Santaella et al. (2014, p. 25), o lixão é uma

Forma inadequada de disposição final dos resíduos sólidos que se caracteriza pela simples descarga destes sobre o solo, sem medidas de proteção ao meio ambiente ou à saúde pública. No lixão os resíduos são depositados sem preparação alguma do local, sem planejamento para escoar o chorume32 que penetra no solo, carreando poluentes para o lençol freático33. Geralmente, insetos, aves e roedores co-habitam esses locais

32 Segundo Santaella et al. (2014, p. 25), chorume é um “Produto líquido da decomposição da matéria orgânica”.

33 De acordo com Santaella et al. (2014, p. 25), lençol freático significa “corrente de água subterrânea que escoa sobre uma superfície impermeável."

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com seres humanos de todas as idades, que catam materiais recicláveis para vender ou para se alimentar (grifos da autora).

Figura 2.7 – Ilustração esquemática de um lixão

Fonte: SANTAELLA et al., 2014, p. 25.

B – Aterro Controlado

Santaella et al. (2014, p. 26) o define como

Técnica inadequada de disposição final de resíduos sólidos, que oferece riscos à saúde pública e a meio ambiente, em que os resíduos são dispostos no solo, sem impermeabilização prévia, em depressões e escavações e são recobertos com camadas de solo. Além da falta de impermeabilização, no aterro controlado não há extravasores para gases34 gerados, nem captação do chorume produzido. Trata-se de uma forma de disposição melhor que a do lixão, porém ainda inadequada e não recomendada tecnicamente (grifos da autora).

34 Segundo a autora são “Dispositivos confeccionados especialmente para captar os gases gerados na massa de resíduos sólidos e lançá-los para a atmosfera ou conduzi-los para queima ou reaproveitamento” (SANTAELLA et al., 2014, p. 26).

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Figura 2.8 – Ilustração esquemática de um aterro controlado

Fonte: SANTAELLA et al., 2014, p. 26.

C – Aterro Sanitário

Para Santaella et al. (2014, p. 26), aterro sanitário é a

técnica mais difundida no mundo de disposição final de resíduos sólidos, devido à simplicidade operacional e ao relativo baixo custo. É fundamentada em critérios de engenharia e normas operacionais específicas, para confinar os resíduos de forma segura e minimizar os impactos ambientais negativos. O solo é preparado antes da deposição dos resíduos sólidos com uma camada de argila ou coberto com mantas poliméricas (sintéticas) para impermeabilização. Deste modo, o chorume é drenado e conduzido a uma estação de tratamento de efluentes. Os gazes produzidos (especialmente metano e sulfídrico) são coletados em extravasores e, posteriormente, queimados ou utilizados como combustível no próprio aterro. No aterro sanitário, os compartimentos para disposição dos resíduos sólidos são dimensionados de tal forma que devem ser preenchidos em períodos específicos. Os resíduos sólidos depositados são compactados com um trator e recobertos diariamente com cerca de 20 cm de solo, para não produzir maus odores e não atrair insetos, roedores e aves (grifo da autora).

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Figura 2.9 – Ilustração esquemática de um aterro sanitário

Fonte: SANTAELLA et al., 2014, p. 27.

Kuwahara (2014, p. 56) afirma que

Talvez um dos problemas mais urgentes esteja relacionado ao fato de que tanto a geração quanto a disposição inadequada dos resíduos geram efeitos adversos sobre o meio ambiente, a saúde coletiva e a saúde do indivíduo, com impactos diferenciados, quando não são exacerbados, sobre a população de baixa renda, particularmente naqueles que sobrevivem da coleta do lixo disposto inadequadamente nos “lixões”. A faceta trágica desse problema permeia o noticiário da grande mídia, povoada de imagens aterradoras de homens e mulheres disputando restos com urubus e cães nesses lixões

ainda existentes pelo país.

Em Divinópolis, por muito tempo, os resíduos sólidos eram dispostos no

lixão do município. Lá eram encontrados todos os tipos de resíduos e pessoas

que por ali transitavam retirando restos de comida e produtos que ainda

podiam ser utilizados, além de montarem residência na sua proximidade, o que

colocava em risco a saúde e a segurança deles.

O vídeo Catadores de Sonhos35 foi produzido no então lixão da cidade e

os depoimentos a seguir mostram a realidade dura dos catadores.

35 Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=qkDvz2k6oPo>. Acesso em: 13 jan. 2016.

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Em relação à vida difícil de catador no lixão uma das entrevistadas

afirma: “Ah, a gente não pensa nada, porque está trabalhando. Mais bonito do

que se estivesse roubando, não é? Deus quer nós assim, unidos uns com os

outros. Nós somos todos irmãos, meu filho. Branco com preto, rico com pobre”

(Dona Marília).

Quando questionados sobre se o que ganham como catadores e se é

possível se sustentar, afirmam que “Ah, mixaria por semana. Para inteirar com

a 'miserinha' da pensãozinha do banco. Se a gente não trabalhar passa fome.

Aquilo lá não dá” (Dona Marília).

Afirmam também que a função de catador é muito inconstante, existe

muito entra e sai muito grande no lixão. “É que aqui todo dia tem gente novo,

novato aqui. Todo dia. Vai chegando gente. Todo dia chega gente aqui novato.

[...] Sai muita gente, porque muita gente às vezes está trabalhando aqui arruma

um bico lá na cidade” (Elias Fernandes).

Ao ser questionado sobre o que encontram no lixão, o que chamou mais

a atenção, um deles responde:

O feto, um menininho. Chegou o caminhão da coleta hospitalar. Eu estava olhando e de repente eu vi ele caindo, mas para não dar problemas para eles, eles foram cobrindo ele de negócio. Eu fui, esperei eles irem embora, fui puxando o saco devagarinho e fui e encontrei ele. Estava com a barriguinha cortada assim (André).

Essa triste realidade, percebida na maioria dos lixões ainda existentes

no Brasil, contrasta com a realidade de cidades que buscam soluções para a

destinação final ambientalmente adequada de seus resíduos sólidos, como é o

caso de Itaúna (MG).

Itaúna, próxima a Divinópolis, é hoje referência em relação à coleta

seletiva e possui atualmente o centro de triagem e o aterro sanitário, como

relata o gerente de resíduos do município:

Nós temos o Centro de Triagem de materiais reciclados e também o aterro sanitário que é referência. Nós recebemos diariamente visitas ao aterro sanitário até para que conheçam o andamento do trabalho que é feito com resíduos na cidade (Sérgio, gerente de resíduos).

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No entanto, entre 1993 e 1996, a cidade também possuía um lixão,

houve um problema: Itaúna vendia o lixo orgânico como adubo. Na época a FEAM entrou, e o município, se eu não me engano, chegou até ser multado por essa comercialização. Esse período de adaptação de parar de vender o lixo como adubo até que se organizasse o aterro, na época aterro controlado, funcionou o lixão (Sérgio, gerente de resíduos).

2.3.5 Tipos de coleta de Resíduos Sólidos Urbanos

Entende-se por coleta a atividade de ajuntar os resíduos sólidos para

que possam ser transportados para seu devido tratamento ou disposição final.

É uma das principais tarefas dos administradores da limpeza pública. Segundo

Barros (2012, p. 98-99),

Por coleta entenda-se a atividade de reunir os RS convenientemente acondicionados (embalados) objetivando seu transporte. A etapa de transporte diz respeito à condução dos RS, depois de coletados, à unidade de tratamento ou de disposição final. Ambas se diferenciam entre si, embora na maioria das cidades, mesmo de grande porte, os mesmos veículos desempenhem as duas tarefas (coleta e transporte) em sequência, por questões de limitações econômicas e das políticas dos serviços. A coleta dos RS, compatível com as estratégias operacionais dos serviços de limpeza e refletindo preocupações de sustentabilidade, deve ser efetuada em função dos tipos e da quantidade de resíduos a serem transportados. O trabalho de coleta de lixo tem início no local onde é gerado. O sistema de coleta de RS, pela sua complexidade e importância e custo, é das principais tarefas do administrador dos serviços públicos de limpeza, embora na maioria das vezes a preocupação esteja somente em afastá-los da fonte geradora e das zonas habitadas, não se importando com uma destinação final adequada sob o prisma sanitário. Ao município compete fundamentalmente a gestão dos RS domésticos, dos comerciais (assemelhados aos domésticos e em quantidades predeterminadas) e dos públicos, uma vez que os demais tipos de resíduos são de responsabilidade dos próprios geradores. De fato, um dos princípios da boa gestão de RS – adotado pela lei brasileira – é que todos os geradores são responsáveis (grifos do autor).

Para o autor a coleta dos resíduos sólidos é feita segundo os seguintes

sistemas:

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- Sistema Regular de Coleta: é “executada nas residências a intervalos

determinados, correspondendo a remoção dos RS de tipo domiciliar,

comercial e industrial de pequeno porte" (BARROS, 2012, p.100). Pode

ocorrer do tipo porta a porta quando os resíduos acondicionados são

recolhidos em frente a cada edificação, ou do tipo ponto a ponto, quando

os resíduos acondicionados são acumulados em pontos

predeterminados pouco distantes das edificações.

- Coleta Especial: ocorre através de uma escala ou a pedido do

interessado e é proveniente de varrição pública, de unidades de saúde

ou ainda restos de limpezas ou dejetos de feiras e festas especiais,

dentre outros.

- Coleta realizada pelo próprio produtor: ocorre quando há grandes

volumes de lixo. Geralmente são resíduos de indústrias, obras de

engenharia, dentre outros. “Os produtores devem se responsabilizar pelo

seu eventual tratamento, remoção, transporte e disposição em locais

indicados pela prefeitura ou pela entidade local encarregada do serviço"

(BARROS, 2012, p.100).

- Coleta Seletiva: é o recolhimento dos materiais previamente

segregados na fonte e devem ser coletados separados do lixo que se

decompõe mais rápido. É conveniente que em um primeiro momento a

segregação dos resíduos seja feita entre seco e úmido. As formas mais

utilizadas são a coleta porta a porta, a coleta ponto a ponto e os pontos

de entrega voluntária (PEV) ou locais de entrega voluntária (LEV).

Como já foi dito anteriormente, a coleta seletiva da cidade de Itaúna é

um exemplo que virou referência nacional. Sobre como ocorre, o gerente de

resíduos sólidos do município afirma que a coleta recolhe o RSU que vem das

residências, indústria e comércio.

A coleta foi implantada em 2002. Nós começamos o trabalho de implantação em 2001, mas a implantação efetiva foi em 1º de julho de 2002. A coleta é nos moldes seco e molhado, seis dias por semana, em dias alternados. Um dia é coleta do seco e outro dia é coleta do molhado. A diferença da nossa coleta seletiva é que nós não implantamos uma coleta seletiva, nós

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transformamos a coleta formal em seletiva. Ela atende a toda a área urbana e rural do município (Sérgio, gerente de resíduos).

A população teve e tem um papel primordial para o sucesso da coleta

seletiva e, consequentemente, para a diminuição dos rejeitos nos aterros.

Assim, torna-se necessário um processo de conscientização da população,

como ocorreu em Itaúna.

Nós fizemos um trabalho de conscientização por cerca de cinco, seis meses usando todas as maneiras de se comunicar com as pessoas possíveis, mas a principal delas foi a utilização do público estudantil que nós trabalhamos junto as escolas, com trabalhos escolares para os meninos consultarem os pais se eles sabiam selecionar o lixo, se eles tinham o costume de selecionar. Nós fizemos esse trabalho durante um período e a manutenção desse trabalho vem sendo feita ao longo dos anos (Sérgio, gerente de resíduos).

Em Divinópolis, o processo de coleta seletiva não está tão bem

estruturado como em Itaúna. Segundo o coletor autônomo de materiais

recicláveis, ele faz a coleta na área central às segundas, quartas e sextas-

feiras e tem uma parceria com a ONG Lixo & Cidadania, e nos bairros quem

faz é a ASCADI.

Como é a ASCADI que faz nos bairros pela Viasolo, terceirizada pela Prefeitura não tenho conhecimento do montante que pega, entendeu? Mas a coleta seletiva é feita na cidade inteira. Só que a minha, o que eu faço é mais na parte central dos prédios (Anderson, coletor autônomo).

Nos prédios da região central da cidade, tem sido feito um trabalho de

conscientização dos moradores para a separação dos materiais recicláveis e

“os síndicos fazem uma reunião com os condôminos dos prédios para chamar

a Lixo e Cidadania. A Lixo e Cidadania faz a logística, organiza a parte de

organização e nós vamos lá e recolhemos o material. Tem uma parceria

comigo” (Anderson, coletor autônomo).

Barros (2012) destaca a importância em se realizar a separação dos

resíduos sólidos na fonte geradora, em razão das justificativas relacionadas à

valorização dos prováveis materiais que são recicláveis daqueles que não o

são, da redução quantitativa dos fluxos de resíduos a eliminar, bem como, da

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melhoria qualitativa dos fluxos de resíduos sólidos – separar resíduos tóxicos

dos materiais recicláveis, por exemplo.

Nessa perspectiva, a “atividade de reunir os RS”, apresentada no

conceito desse autor, precisa ser traduzida não como uma reunião aleatória de

RS, mas, sobretudo, como uma reunião racional, planejada e organizada de

RS, com base na experiência e técnica, visando à destinação final

ambientalmente adequada e ganho para todos.

Já no contexto jurídico, em Minas Gerais, a Lei n. 18.031/09 (MINAS

GERAIS, 2009), que estabelece a Política Estadual de Resíduos Sólidos, em

seu art. 4º, inciso XIII, define a limpeza pública como

o conjunto de ações, de responsabilidade dos Municípios, relativas aos serviços públicos de coleta e remoção de resíduos sólidos de geração difusa e de seu transporte, tratamento e destinação final, e aos serviços públicos de limpeza em logradouros públicos e corpos d’água e de varrição de ruas.

Pode-se dizer, portanto, que a coleta pode ser vista, ora como um dos

elementos dos serviços públicos de limpeza, visando à limpeza da cidade e a

saúde de seus cidadãos, quando se trata de resíduos gerados pela

coletividade, ou difusos – os quais não se sabe quem os gerou –, ora como

uma etapa de um processo, quando se trata de, por exemplo, uma indústria

que busca coletar os resíduos de sua produção para uma posterior destinação

final ambientalmente adequada.

Importa ressaltar que não compete ao serviço público de limpeza urbana

a coleta, nem tampouco a destinação/disposição final de resíduos sólidos,

quando estes forem provenientes de atividades industriais ou de serviços de

saúde – hospitais, clínicas, centros de saúde, dentre outros.

A coleta seletiva é um problema público e privado e, para que ocorra,

precisa fazer parte de uma identidade. É também uma questão cultural, seja

nas casas, no comércio/indústria ou nas ruas.

O resíduo sólido precisa ser visto como uma possibilidade de geração de

emprego e renda, ao passo que ocorre contrariamente no processo de

incineração desses resíduos extingue-se a interessante alternativa produtiva de

aproveitamento de resíduos.

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Ocorre, justificado pelo processo/teoria da invisibilidade social, que os

profissionais catadores de materiais recicláveis não são vistos e até mesmo

menosprezados e desconsiderados pelas demais categorias profissionais e

pela própria sociedade. São vistos como pedintes, marginais, mendigos e,

muitas vezes, são considerados indesejáveis e empecilhos ao desenvolvimento

regular da economia por determinados segmentos e grupos sociais.

Apesar da discriminação e segregação social que sofrem esses

profissionais, Wadman (2011, p. 3) salienta a importância da participação deles

em favor da sociedade que muitas vezes os maltratam, principalmente as elites

e por vezes são esquecidos pelo poder público.

O autor reforça a participação desses catadores na recuperação dos

resíduos secos gerados no país, cerca de 13%, sendo que destes, 98% são

coletados pelos catadores e apenas 2% pelos programas de Coleta Seletiva de

Lixo (CSL).

Esses dados refletem, mais uma vez, a importância dos profissionais

catadores de materiais recicláveis em relação à redução da utilização de

recursos naturais nos processos produtivos e sua relevante cooperação para

se atingir a sustentabilidade.

O catador de material reciclável é uma profissão reconhecida pelo

Ministério do Trabalho conforme as informações contidas no site do Ministério

do Meio Ambiente (BRASIL, 2010).

São trabalhadores que atuam há muitos anos, desde os tempos dos garrafeiros, com a coleta, classificação e destinação dos resíduos, permitindo o seu retorno à cadeia produtiva. O trabalho desenvolvido por eles reduz os gastos públicos com o sistema de limpeza pública, aumenta a vida útil dos aterros sanitários, diminui a demanda por recursos naturais, e fomenta a cadeia produtiva das indústrias recicladoras com geração de trabalho.36

O gerente de resíduos, na cidade de Itaúna (MG) destaca a participação

dos catadores em todo o estado,

Hoje os catadores em Minas Gerais principalmente, estão bastante organizados. Tem uma rede de catadores, inclusive a

36 Disponível em: <http://www.mma.gov.br/cidades-sustentaveis/residuos-solidos/catadores-de-materiais-reciclaveis> Acesso em: 7 set. 2015.

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Madalena hoje é a diretora da rede Cata Unidos em Minas, que congrega as várias cooperativas no estado. Eles auxiliam nessa negociação, mas a Cooperativa de Itaúna já é bastante autossuficiente nesse quesito. Então, eles negociam com indústrias, com empresas que nós chamamos de atravessadores, esses mais fortes que adquirem um grande volume de material. Até por isso que conseguem uma renda boa. Eles têm já uma estrutura muito bem encaminhada para negociar esse material (Sérgio, gerente de resíduos).

O coletor autônomo entrevistado destaca as dificuldades que teve antes

de se realizar com a profissão de catador de materiais recicláveis.

Eu trabalhava com serralheria. Só que era uma coisa assim. Você pegava um serviço, pegava para pegar o serviço vinha uma pessoa fazer orçamento. A pessoa vinha para fazer orçamento a preço de banana. Porque eu não peguei uma época tão boa igual “Minha Casa e Minha Vida”, igual tem no serviço não. Na época era muito restrito. Chegava para fazer compras não dava certo. Chegava para pagar alguma coisa, um aluguel não dava. Preferi um emprego que eu ganhasse menos um pouco, mas que fosse pingado. Mais seguro, entendeu? Precisava trabalhar também (Anderson, coletor autônomo).

Quando questionado se atualmente se sente realizado com a profissão,

afirma que com seu trabalho de catador, “hoje tenho a minha casa, tenho meu

carro, meu caminhão”, e tudo conquistado “pelo reciclado. Para mim é uma

vitória danada" (Anderson, coletor autônomo).

O trabalho do catador, ao separar os resíduos, promove os primeiros

passos para uma destinação adequada. A partir desta separação, várias

oportunidades são dadas a estes resíduos como

a reutilização; a reciclagem; o melhor valor agregado ao material a ser reciclado; a melhores condições de trabalho dos catadores ou classificadores dos materiais recicláveis; a compostagem; menor demanda da natureza; o aumento do tempo de vida dos aterros sanitários e menor impacto ambiental quando da disposição final dos rejeitos.37

Waldman (2008, p. 2) já afirmava que

37 Disponível em: <http://www.mma.gov.br/cidades-sustentaveis/residuos-solidos/catadores-de-materiais-reciclaveis.> Acesso em: 7 set. 2015.

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No país, a reciclagem é indissociável da catação, desempenhada basicamente por pessoas excluídas do setor dito formal da economia. Exercendo trabalho informal, os datadores atuam com comprovada excelência na coleta de materiais e não por outra razão, tem sido crescentemente incorporados nas políticas de gestão dos resíduos sólidos. Nesta acepção, o binômio reciclagem-catação – assim como sua articulação com a preservação ambiental – deve levar em consideração as peculiaridades da realidade economia e social do país.

O Gráfico 2.13 mostra que é grande a quantidade de resíduos sólidos

urbanos que deixou de ser coletada e que provavelmente tiveram destino

impróprio. O aumento da produção anual de resíduos sólidos pode demonstrar

que no Brasil ainda não foram adotadas medidas relevantes nos processos

produtivos, destinados a não geração e, na ocorrência de sua impossibilidade,

a minimização de resíduos.

Gráfico 2.13 - Variação percentual da coleta de resíduos sólidos urbanos (RSU) em cada região brasileira em todo o Brasil, entre os anos de 2.000 e 2.012

Fonte: SANTAELLA, 2014, p. 15. Nota: Adaptado de ABRELPE, 2012.

No que se refere à coleta de RSU no Brasil, o Gráfico 2.14 mostra um

aumento de 3,20% em relação ao ano anterior (2013).

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Gráfico 2.14 – Coleta de RSU no Brasil

Fonte: ABRELPE, 2014, p. 29.

A Figura 2.10 mostra que a região Sudeste é responsável por mais de

50% dos RSUs coletados, ou seja, corresponde a mais que a totalidade de

todas as demais regiões juntas.

Figura 2.10 – Distribuição da Quantidade Total de RSU Coletado (%) por Regiões do Brasil

Fonte: ABRELPE, 2014, p. 29.

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Em relação ao Índice de abrangência da coleta de RSU (%), a Figura

2.11 demonstra que no Brasil a média percentual foi de 90,68. Isso significa

dizer que no Brasil a coleta de resíduos sólidos abrange a quase totalidade do

país excetuando-se os 9,32%, distribuídos pelas diversas regiões do país e que

não realizam a coleta. Nota-se ainda que as regiões Centro-Oeste, Sudeste e

Sul apresentam média de abrangência de coleta superior à média nacional.

Figura 2.11 – Índice de Abrangência da Coleta de RSU (%)

Fonte: ABRELPE, 2014, p. 40.

A Tabela 2.3 apresenta os dados da Coleta de Resíduos Sólidos

Urbanos em todos os estados e no Distrito Federal.

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Tabela 2.3 – Coleta de RSU nos Estados e no Distrito Federal

Fonte: ABRELPE, 2014, p. 46.

A Figura 2.12 a seguir mostra que em 2014, em relação à coleta

seletiva, aproximadamente 65% dos municípios tiveram algum tipo de iniciativa.

Mesmo sendo expressiva a quantidade de municípios com iniciativas, “convém

salientar que muitas vezes estas atividades resumem-se à disponibilização de

pontos de entrega voluntária ou convênios com cooperativas de catadores, que

não abrangem a totalidade do território ou da população do município”

(ABRELPE, 2014, p. 30).

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No tocante aos municípios que possuem iniciativas de coleta seletiva,

verifica-se na Figura 2.12 que tendo o Brasil a média de 64,8% dos municípios,

as regiões Sudeste e Sul estão acima da média nacional com um percentual de

85% e 84,7% respectivamente.

Figura 2.12 – Iniciativas de Coleta Seletiva nos Municípios em 2014 – Regiões e Brasil

Fonte: ABRELPE, 2014, p. 30.

Em se tratando da região Sudeste, em 2014 houve um acréscimo de

aproximadamente 3% na quantidade de municípios que passaram a ter

iniciativas de coleta seletiva em relação ao ano anterior.

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Tabela 2.4 – Quantidade de Municípios com Iniciativas de Coleta Seletiva na Região Sudeste

Fonte: ABRELPE, 2014, p. 73.

Embora as iniciativas sejam poucas são, porém, abrangentes já que

refletem mesmo que indiretamente determinado processo de conscientização

da sociedade para a necessidade de se efetuar a coleta seletiva voltada,

principalmente, pela ideia de que conduz à redução de recursos ambientais e

preservação do meio.

A Tabela 2.5 especifica o número de municípios com inciativas de coleta

seletiva por região e no Brasil.

Tabela 2.5 – Municípios com Iniciativas de Coleta Seletiva por região

Fonte: ABRELPE, 2014, p. 43.

O Gráfico 2.15 mostra, em 2014, um crescimento no setor de limpeza

urbana do Brasil da ordem de 6,2% em relação a 2013, e na região Sudeste

este crescimento foi de 3,82%.

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Gráfico 2.15 – Empregos Diretos Gerados pelo Setor de Limpeza Urbana no Brasil e Regiões (quantidade)

Fonte: ABRELPE, 2014, p. 32.

O capítulo 3 a seguir, trata a gestão e o gerenciamento dos resíduos

sólidos têxteis no polo confeccionista de Divinópolis, das alternativas de

destinação final e dos projetos ambientais existentes na cidade.

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3 A GESTÃO E O GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS TÊXTEIS

EM DIVINÓPOLIS

3.1 Considerações Iniciais

Cabe inicialmente destacar que os termos gestão e gerenciamento de

resíduos sólidos, apesar de semelhantes e comumente serem interpretados

como sinônimos, possuem diferenças significativas apontadas pela Lei n.

12.305/10 (BRASIL, 2010), que instituiu a Política Nacional de Resíduos

Sólidos (PNRS).

O art. 3º, inciso X e XI, da referida lei, aponta as definições dos dois

termos, a saber:

Gerenciamento de resíduos sólidos: conjunto de ações exercidas, direta ou indiretamente, nas etapas de coleta, transporte, transbordo, tratamento e destinação final ambientalmente adequada dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos, de acordo com plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos ou com plano de gerenciamento de resíduos sólidos, exigidos na forma desta Lei; Gestão integrada de resíduos sólidos: conjunto de ações voltadas para a busca de soluções para os resíduos sólidos, de forma a considerar as dimensões política, econômica, ambiental, cultural e social, com controle social e sob a premissa do desenvolvimento sustentável (BRASIL, 2010).

Assim, o gerenciamento caracteriza-se pelas ações propriamente ditas,

exercidas direta ou indiretamente, nas várias etapas da destinação ou

disposição finais ambientalmente adequadas, ou anteriores a essas, como a

coleta, o transporte e o transbordo desses resíduos/rejeitos.

A gestão, por sua vez, constitui-se, portanto, de um conjunto de ações

voltadas para a busca de soluções, ou seja, um conjunto de ações que visam

resultar em planejamentos, planos, dentre outros, consubstanciados em

possíveis ações futuras para as soluções ambientalmente adequadas dos

resíduos sólidos.

Quando se trata da gestão integrada, significa afirmar que a gestão

busca atender ao maior número de demandas possíveis, consideradas as

dimensões política, econômica, ambiental, cultural, social, dentre outras que

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possam surgir, sempre ordenadas pelo princípio norteador do desenvolvimento

sustentável.

3.2 A gestão e o gerenciamento dos resíduos sólidos em Divinópolis

No aspecto da gestão dos resíduos sólidos em Divinópolis, torna-se

imprescindível esclarecer sobre as ações desenvolvidas no sentido de buscar

soluções para os resíduos sólidos municipais.

Nesse contexto, o principal conjunto de ações para a questão dos

resíduos sólidos municipais está focado no Consórcio Regional de Saneamento

Básico Boa Vista (CORESAB BOA VISTA), que contemplará, inicialmente, os

municípios de Divinópolis, Oliveira, Itapecerica, Cláudio e Carmo da Mata, e

cuja autorização para participação do município de Divinópolis já foi aprovada

pela Câmara Municipal de Divinópolis, consoante o art. 1º, da Lei n.

7.838/2014, nos seguintes termos:

Fica autorizada a participação do município de Divinópolis no Consórcio Regional de Saneamento Básico Boa Vista - CORESAB BOA VISTA, a ser firmado com os municípios de Cláudio, Itapecerica, Oliveira e Carmo da Mata com a finalidade de prestar serviços nas áreas de gestão de resíduos sólidos, saneamento básico, recursos hídricos, planejamento urbano, etc., visando a melhoria das condições de saúde pública, meio ambiente e qualidade de vida da população, pelo Contrato de Consórcio Público, por seus estatutos e pelos demais atos ou normas que venha a adotar (DIVINÓPOLIS, 2014).

Assim, o gestor público municipal afirma que o Plano Municipal de

Resíduos Sólidos, “está finalizado e faz parte, como capítulo do Plano

Municipal de Saneamento” (Willian, gestor público municipal).

Merece destaque a realização de várias audiências públicas com a

presença de representantes de vários segmentos da sociedade bem como da

população que participou questionando, sugerindo e apresentando propostas

para o plano.

Por outro lado, o gerenciamento dos resíduos sólidos em Divinópolis,

basicamente, constitui-se das etapas de coleta, transporte, destinação final

ambientalmente adequada e disposição final em aterro controlado.

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A etapa de coleta compreende a coleta seletiva autônoma, realizada

pelos coletores autônomos; a coleta seletiva realizada pelos coletores

associados à ASCADI, utilizando-se do caminhão próprio da associação; a

coleta realizada por dois caminhões terceirizados pela Empresa Municipal de

Obras Públicas e Serviços (EMOP), com o apoio da prefeitura municipal; e a

coleta municipal, realizada pelos coletores da empresa concessionária Viasolo.

Na etapa de transporte, os responsáveis pela coleta seletiva autônoma

transportam os resíduos coletados por seus próprios meios, geralmente,

utilizando-se de carrinhos, até os pontos de vendas desses materiais, que os

comercializam com outras empresas compradoras. Por outro lado, os

responsáveis pela coleta seletiva associados à ASCADI utilizam-se do próprio

caminhão da associação para realizar o trabalho. Já a coleta realizada pela

EMOP, vinculada à Prefeitura Municipal de Divinópolis, é realizada por dois

caminhões terceirizados que fazem a coleta seletiva e, posteriormente, também

encaminham os resíduos para a ASCADI. Ocorre também a coleta municipal,

em que os resíduos coletados são transportados pelos caminhões

compactadores da empresa concessionária Viasolo.

Na etapa da destinação final, os resíduos recolhidos pelos coletores da

coleta seletiva autônoma têm como destino final a comercialização, tendo em

vista que esses, em sua maioria são negociados com empresas diversas desse

segmento econômico. Já os resíduos coletados pelos coletores da ASCADI,

têm como destino intermediário o Centro Municipal de Triagem que faz a

seleção – triagem –, os agrupam por materiais semelhantes, efetuam a

prensagem e, como destino final, a comercialização com outras empresas

compradoras. Os resíduos coletados pelos coletores da EMOP também vão

para a ASCADI, passam pelo mesmo processo no Centro Municipal de

Triagem e são comercializados, posteriormente.

Nesse mesmo contexto da destinação final, no aspecto da reciclagem, a

ONG “Lixo e Cidadania” transforma os resíduos sólidos têxteis, recebidos em

doação, em novos produtos que posteriormente são comercializados.

A disposição final compreende a distribuição ordenada dos rejeitos no

aterro controlado municipal. Os resíduos que não têm mais serventia ou, a

princípio, nenhum valor econômico, denominados de rejeitos ou lixo, são

recolhidos pelos coletores municipais, transportados, dispostos no aterro

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municipal e aterrados. Resta esclarecer que, atualmente, pelo fato de o

município não dispor de um aterro sanitário, a disposição final ambientalmente

adequada não ocorre.

Em relação à coleta seletiva e à reciclagem de resíduos, o gestor público

municipal considera que esses processos passam não só pela logística do

poder público, como também pela educação ambiental. Assim,

O processo de coleta seletiva e reciclagem passa não só pela logística implantada pelo poder público, mas, principalmente pela educação ambiental. E é nesse projeto que estamos trabalhando. Investindo na informação, mostrando a importância da coleta seletiva. Atualmente conseguimos atingir cerca de 70% da cidade. (Willian, gestor público municipal).

Cabe aqui reafirmar que a coleta seletiva em Divinópolis é feita de duas

formas distintas: municipal e autônoma.

A coleta seletiva municipal caracteriza-se pela atuação do município no

cumprimento de sua competência legal e é feita pelos coletores associados à

ASCADI, com o apoio de dois caminhões cedidos pela prefeitura, que realizam

a coleta seletiva dos resíduos e, posteriormente, os encaminham para o Centro

Municipal de Triagem da ASCADI.

Em relação às ações do poder púbico municipal voltadas para a coleta

seletiva, faz-se necessário lembrar que foi lançada campanha educativa em

2011 com o slogan “Coleta Seletiva – uma ideia inteligente” que objetivava

"trabalhar a educação ambiental com a população, informando como os

resíduos deveriam ser separados”. A proposta era atingir 80% dos bairros do

município, o que colocaria “Divinópolis entre as cidades brasileiras com o maior

percentual de cobertura” (DIVINÓPOLIS, 2013, p. 69).

A outra forma, a Coleta Seletiva Autônoma, é feita pelos catadores que

atuam independentemente do poder público municipal, coletando os resíduos

e, posteriormente, comercializando-os nas empresas.

A Figura 3.1 apresenta em síntese, o processo da coleta urbana em

Divinópolis.

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Figura 3.1 - Ciclo da coleta urbana em Divinópolis

Fonte: Elaboração própria

Organização: Júlia Couto Nogueira

O processo da coleta urbana em Divinópolis se inicia quando os

resíduos secos e úmidos são dispostos pelas residências, comércio e indústria

nas vias urbanas. Geralmente passam os coletores autônomos e fazem uma

primeira triagem separando os resíduos por eles aproveitados do restante que

irá para o aterro controlado. Posteriormente, o caminhão da Viasolo passa

recolhendo o restante do que foi deixado. Quando o caminhão está totalmente

cheio, ele é direcionado ao aterro controlado.

Resumidamente, os resíduos úmidos são todos direcionados ao aterro

controlado, enquanto os resíduos secos são triados e direcionados para o

Centro Municipal de Triagem ou para venda pelos coletores autônomos.

Destaca-se novamente que os resíduos sólidos têxteis não são

coletados como resíduos secos, passíveis de comercialização, nem pelos

coletores da ASCADI, nem pelos coletores autônomos, entretanto, são

coletados pelos coletores municipais e direcionados ao aterro controlado

juntamente com os resíduos úmidos.

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Conforme consta no Plano Municipal de Gerenciamento Integrado de

Resíduos Sólidos (PMGIRS), a coleta urbana em Divinópolis é realizada pela

empresa terceirizada Viasolo “durante todos os dias e em 90% do município,

por meio de caminhão compactador”.

Sobre a coleta seletiva feita nos bairros, o coletor da ASCADI informa da

possível parceria com a Ferrovia Centro-Atlântica (FCA) para conscientizar os

moradores do bairro onde a empresa está situada sobre a importância da

coleta seletiva.

Já se foi falado isso na Prefeitura que tem bairros que não está tendo. Não está tendo coleta, mas por enquanto não. Nós estamos tendo uma parceria aí é com a FCA. Nós íamos até fazer agora no mês de novembro uma panfletagem no bairro Esplanada. Entendeu? Só que devido a alguns problemas teve que largar para o ano que vem, mas nós estamos tentando revitalizar o Esplanada que era um bairro que tinha muita coleta. Foi um dos primeiros. Era o Esplanada e Sidil. Hoje no Sidil já não vê tanta coisa. Você não vê muito material, entendeu? Vem, tem reclamação que não passou, mas é muito esparramado. É uma casa aqui, outra ali, uma ali outra aqui. Então, às vezes, nem compensa nós pegarmos o caminhão para ir lá. As vezes o impacto ambiental que vai ser gerado pela fumaça do caminhão, pelo disco queimado é maior do que o material que vai pegar. Não cobre (Jeferson, coletor da ASCADI).

Em relação à coleta domiciliar o PMGIRS (DIVINÓPOLIS, 2013, p. 45),

mostra a dimensão da respectiva logística: “são utilizados na coleta

domiciliar/comercial cinco caminhões compactadores de 7.500 toneladas, três

caminhões compactadores de 12.500 toneladas e dois caminhões carroceria

de 7.500 toneladas”.

3.2.1 A Coleta Seletiva Autônoma

Como anteriormente comentado, há dois tipos de coleta seletiva em

Divinópolis: a municipal e a autônoma.

Segundo o coletor autônomo, a coleta seletiva feita por ele ocorre três

vezes por semana. Segundo o coletor: “Eu pego segunda, quarta e sexta, aqui

em Divinópolis. Agora nas outras cidades eu não sei não”. Essa coleta é feita

pelos catadores autônomos nos condomínios da região central, onde os

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moradores separam os resíduos úmidos dos secos (Anderson, coletor

autônomo).

Foi sugerido pela entrevistadora que um dos supermercados mais

conceituados do município, ao disponibilizar as sacolinhas para seus clientes,

elas fossem de cores diferentes destacando “lixo seco” para uma cor e “lixo

úmido” para outra, pois assim seria iniciado o processo de conscientização dos

cidadãos que poderiam separar seus resíduos. Ao ser questionado sobre quais

ações poderiam facilitar o trabalho da coleta de lixo, Anderson afirma que, além

desta sugestão das sacolinhas,

Isso aí e outra coisa também, a associação, a prefeitura dar uns carrinhos melhores para o povo trabalhar. Carrinhos melhores, porque você vê, há mais de dois anos tem os carrinhos, alguns carrinhos deles são elétricos ou mecânico não sei. O catador só pega e leva embora. Não faz força na subida. Eu já carreguei aquele carrinho com 700 kg de papelão. 700, 500. Já bati o recorde já. (Anderson, coletor autônomo).

Quando questionado se existe uma parceria entre o poder público ou a

ASCADI e os catadores autônomos, também conhecidos como catadores

avulsos, o coletor Jeferson afirma:

Os catadores avulsos não têm parceria nenhuma com eles. É tudo independente e comercializa com galpões, entendeu? Não é com a associação não. Eles comercializam com galpões e às vezes vende a preço bem abaixo do que deveria estar vendendo. O que complicou mais é o seguinte: eles poderiam estar comercializando com a gente, entendeu? Mas o que acontece? A ASCADI ficou muito longe. Hoje eles catam tudo para o lado do centro ali, para eles virem com o carrinho até aqui fica puxado. Como ali no centro já tem 3 ou 4 galpões, entendeu? Eles preferem comercializar ali a um preço mais baixo do que vim para cá. (Jeferson, coletor da ASCADI).

Em relação à existência de outro tipo de catadores além dos da ASCADI

e dos autônomos, Jeferson cita os catadores sazonais aqueles que utilizam

desse tipo de alternativa só em determinados momentos e esclarece que

Sazonais são as pessoas que às vezes não trabalham com isso, por um período de crise, desemprego ou alguma coisa assim até para completar a renda que às vezes está pouca,

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ingressam nessa maneira de ganhar dinheiro. Eles vão catar, às vezes até só até controlar, pagar alguma dívida, alguma coisa assim e depois vai largar. Agora aumentou muito devido a essa crise que o país está atravessando. Aumentou muito a quantidade de catadores (Jeferson, coletor da ASCADI).

3.2.2 A coleta seletiva realizada pela ASCADI, via Centro Municipal de

Triagem

Inaugurado no dia 13 de dezembro de 2010, o Centro Municipal de

Triagem possui uma área de 4.290 metros quadrados, com “entrada para

recebimento do lixo trazido por veículos, gaiolas de estocagem inicial, mesas

de triagem, tambores de separação, e ainda as baias que recebem o material

prensado até atingir o volume para venda” (DIVINÓPOLIS, 2013, p.71).

O Centro Municipal de Triagem é gerenciado pela ASCADI, através de

uma parceria entre a prefeitura e a associação que é formada por 8 catadores

que recebem todo o material coletado pela prefeitura e fazem o processo da

triagem à venda.

A Figura 3.2, a seguir, mostra a entrada do Centro Municipal de Triagem

e também a parceria existente entre a ASCADI e a Prefeitura Municipal de

Divinópolis.

Figura 3.2 – Centro Municipal de Triagem

Fonte: Própria autora, 2015.

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Em relação à participação da prefeitura na parceria com a ASCADI,

Jeferson afirma que “a prefeitura hoje passa por problemas de caixa também.

Ela já ajuda bastante. Ela paga o galpão para gente, ela paga água, luz e cede

o galpão no caso e cede os caminhões. No caso é ela que paga essa coleta”

(Jeferson, coletor da ASCADI).

Na parceria da prefeitura com a ASCADI, no que se refere à coleta

seletiva dos resíduos secos, são destinados dois caminhões terceirizados pela

Empresa Municipal de Obras Públicas e Serviços (EMOP) que fazem as rotas

dos bairros.

O caminhão da ASCADI faz a coleta dos resíduos secos nos

condomínios e edifícios e faz ainda algumas rotas percorridas pelos caminhões

da Viasolo no recolhimento dos resíduos úmidos.

No que se refere ao recolhimento dos resíduos da coleta seletiva, o

coletor da ASCADI esclarece: “Nós até pegamos o material separado, mas na

maioria das vezes o material está misturado com o material úmido que vai para

o aterro. Recolhe, traz para cá e separa” (Jeferson, coletor da ASCADI).

Em relação ao lixo úmido e o recolhimento em pontos pré-estabelecidos,

ele esclarece que

Geralmente separa lá mesmo. Raras vezes vem alguma coisa de úmido no meio. Nós separamos no local mesmo, entendeu? Tem o cuidado para não ficar esparramando lixo nem nada, mas separa lá mesmo. [...] No caso às vezes pega em alguns pontos na rua, mas a maioria das vezes é em ponto estabelecido. Às vezes, nós passamos o rapaz da Viasolo já juntou tudo, entendeu? Ele já juntou tudo para facilitar para eles. Como ele já juntou tudo já facilita para gente também, mas muitas das vezes nós estamos passando na rua ainda tem na lixeira, porque nem todo lugar tem os pontos de juntar. A maioria o pessoal passa e vai pegando na lixeira. Nós fazemos dos dois jeitos. Pega nas lixeiras e pega nos pontos também (Jeferson, coletor da ASCADI).

O Quadro 3.1 apresenta a produção do Centro de Triagem, segundo o

tipo de material, no ano de 2011.

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Quadro 3.1 – Produção do Centro de Triagem no ano de 2011

Material Peso (Kg) Preço Unitário (R$) Total (R$)

Papel Branco 102.312,00 0,36 36.832,32

Papel Misto 146.820,00 0,18 26.427,60

Papelão 257.628,00 0,20 51.525,60

PET Branco 21.695,00 1,30 28.203,50

PET Verde 9.710,00 1,30 12.623,00

PET Óleo 3.630,00 0,45 1.633,50

Bofeira (Plástico misto) 24.692,50 0,45 11.111,63

Polietileno 2.365,00 0,95 2.246,75

Plástico Branco 22.637,50 0,65 14.714,38

PEAD 5.245,50 0,85 4.458,68

Jornal 22.354,50 0,12 2.682,54

Plásticos PP 15.698,50 0,65 10.204,03

Total Líquido 634.788,50 202.663,51

Fonte: DIVINÓPOLIS, 2013, p. 73.

Na relação dos materiais coletados pela ASCADI no ano de 2011, não

constam os resíduos sólidos têxteis, pois como já foi anteriormente

mencionado, eles não são coletados pela instituição e nem pelos catadores

autônomos, o que confirma que os resíduos sólidos têxteis oriundos das

confecções são destinados ao aterro controlado local.

Quando questionado sobre o tipo de material que mais se encontra nos

resíduos recolhidos e despejados na ASCADI, o coletor Jeferson afirma:

Todo material. Até materiais, igual eu te falei que nós não reciclamos, costuma chegar também. Antes chegava muito, hoje chega em menos. Em menos quantidade. Entendeu? Veio muito até móvel velho, armário velho, cama velha. Já apareceu de tudo. Já apareceu até um orelhão de telefone aqui uma vez. Tinha muita coisa disso (Jeferson, coletor da ASCADI).

Sobre o que mais é encontrado, Jeferson continua:

Tem de tudo. Vem até animal morto. Infelizmente. Hoje a população ainda não tem essa consciência não. Há pouco tempo mesmo atrás eu mexo mais no prensamento de caixetas. Eu peguei a caixeta e estou sentindo a catinga.

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Quando eu abri o animal já estava até em decomposição. Eu cheguei, joguei lá no canto que é onde nós separamos o lixo, mas veio direto. Vem direto animal morto, vem lixo de banheiro com fezes humanas, às vezes. Vem de tudo (Jeferson, coletor da ASCADI).

O coletor destaca ainda que o tipo de resíduo coletado mudou em

função de ter mudado também as ordens da chefia da empresa coletora.

Hoje já diminuiu bastante. Porque na época que era a Viasolo a ordem da chefia lá para eles era o seguinte: eles faziam a rota do material reciclável, mas o que estivesse no chão era para jogar no caminhão. Então aparecia de tudo. Aparecia de tudo. Aparecia cama, guarda-roupa, colchão, tudo quanto é tipo de madeira, igual eu falei o orelhão de telefone. Vinha de tudo. Hoje já não faz isso mais. Hoje o pessoal já é orientado mesmo. Principalmente porque não é pela Viasolo mais. É orientado para que na hora que ver isso, não jogar para cima. Deixar o material da coleta, que os outros coletores vão passar e vão pegar (Jeferson, coletor da ASCADI).

Quando questionado se existe um responsável por coletar determinado

tipo de material reciclável, Jeferson afirma que “A nossa coleta é assim: nós só

não coletamos madeira, isopor, tecido e material orgânico, que é o lixo úmido,

esses de rua, lixo de banheiro, assim. O resto é jogado tudo para cima do

caminhão” (Jeferson, coletor da ASCADI).

Em relação a quem faz essa coleta seletiva, o coletor municipal de

resíduos, Lázaro, afirma ser

O caminhão e nós. Nós jogamos no caminhão e passa de novo tudo para o lixão. [...] Sempre acha alguns catadores, mas é que recicla papelão, essas coisas. Geralmente tem um pessoal que atua pelo centro da cidade principalmente. Passa recolhendo o material. Papelão. Papelão e plástico. É mais usual de pegar. O grosso mesmo quem leva somos nós. [...] Retalho não tem. É problema inclusive para gente. Vou falar. (Lázaro, coletor municipal de resíduos).

A figura 3.3 mostra a estrutura do Centro Municipal de Triagem de

Divinópolis, também sede da ASCADI.

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Figura 3.3 – Estrutura do Centro Municipal de Triagem e ASCADI

Fonte: Própria autora, 2015.

Em relação à destinação dos resíduos, o coletor da ASCADI, quando

questionado sobre esse aspecto, respondeu que seria para comercialização,

destacando que

Para as empresas. Nós mandamos para a rede que nós

comercializamos na rede que chama Catonino. Essa rede que

negocia, entendeu? Negocia com as empresas compradoras.

Negocia a preço melhor. Hoje está indo para Belo Horizonte.

Belo Horizonte ou Contagem se não me engano. Depois CRB -

Comércio de Resíduos Bandeirantes. Mas nós

comercializamos mais com o ARDO que eu acho que é em

Santa Luzia (Jeferson, coletor da ASCADI).

3.2.3 A coleta seletiva municipal realizada por pessoal contratado pela

EMOP

Pode-se afirmar em relação à coleta seletiva municipal que a EMOP,

vinculada à prefeitura, realiza-a utilizando-se de dois caminhões com os

respectivos coletores e o motorista.

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Os caminhões percorrem os bairros predeterminados e fazem a coleta

seletiva, encaminhando os resíduos para o Centro de Triagem Municipal

existente na ASCADI.

Posteriormente, os resíduos coletados são colocados em gaiolas e

separados, agrupados e quando se tem um volume adequado, ele é prensado.

Este volume permanece aguardando a sua compra por empresas do segmento

de resíduos sólidos.

Para esclarecer como é feita a coleta seletiva municipal, o coletor da

ASCADI afirma que ela ocorre em alguns bairros da cidade e é feita pelo

caminhão da prefeitura e são direcionados ao Centro de Triagem/ASCADI para

que sejam separados e embalados em fardos, para depois serem vendidos. Ele

esclarece que

Ela é feita pela prefeitura e por nós também, porque a prefeitura tem os dois caminhões que são feitos. Tem acho que 65 bairros que são feitos essa coleta no qual às vezes tem bairro que passa e pega uma sacolinha, duas no bairro inteiro por falta de divulgação e tem o nosso caminhão que é feito na contramão do pessoal da EMOP. O pessoal da EMOP tem a rota certa e o dia certo para passar pro pessoal ficar com o material separado. O nosso caminhão já vai na rota dos caminhões baú. Do material que vai para o aterro, só que o nosso caminhão faz o seguinte, faz o resgate do material que o pessoal não separa, e põe junto com o lixo úmido, que iria para o aterro. E vem muito material para te falar a verdade. Eles rodam 2, 3, 4 bairros e traz às vezes o caminhão cheio do material que iria para o lixo, para o pátio lá, para o aterro, mas não vai porque o meu pessoal vai e resgata esse material (Jeferson, coletor da ASCADI).

Em relação à periodicidade com que é feita a coleta seletiva e a

quantidade de bairros em que ela ocorre, Jeferson destaca que “são 65 bairros.

Alguns bairros nem não pega quase nada. Pega muito pouco. Tem bairro que

passa até duas vezes na semana, mas a maioria é uma vez na semana”.

Quando o questionamento é sobre como é feita e quem faz a coleta

seletiva, Jeferson diz que

Quem tem feito e faz é o pessoal da EMOP com dois caminhões e cada um sai para uma rota estabelecida de tantos bairros por dia. Eles fazem. Acabou os bairros que eles tinham que fazer vem e descarregam aqui no nosso. Recolhe e traz para cá (Jeferson, coletor da ASCADI).

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3.2.4 A coleta municipal de resíduos sólidos e sua disposição final

Cabe ressaltar, inicialmente, que embora a coleta municipal seja de

competência da Prefeitura Municipal de Divinópolis, ela é realizada pela

empresa concessionária “Viasolo” e por seus funcionários, que, utilizando-se

de caminhões compactadores, realizam a coleta e transportam o material para

disposição final no aterro controlado da cidade.

Assim, a maior parte dos resíduos sólidos de Divinópolis é direcionada

ao aterro controlado municipal, que se localiza a 7,6 km do centro da cidade,

em uma área cujo acesso é feito pela estrada que liga os municípios de

Divinópolis e Carmo do Cajuru.

Como mencionado anteriormente e de primordial importância, faz-se

necessário enfatizar que os resíduos sólidos têxteis dispostos nas calçadas das

ruas da cidade são coletados pelos caminhões da Viasolo junto com os

resíduos sólidos urbanos e são, posteriormente, dispostos no aterro controlado

municipal de forma inadequada, poluindo e degradando, assim, o meio

ambiente.

Acrescenta-se ainda que, os resíduos sólidos têxteis merecem um

tratamento final diferente dos resíduos domésticos, considerando-se,

principalmente, suas características de composição, decomposição,

periculosidade, além do que ocupam área útil do aterro.

Figura 3.4 – Localização do Aterro Controlado de Divinópolis

Fonte: Google Maps, 2016

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A quantidade de resíduos sólidos destinada ao aterro controlado,

segundo o Plano Municipal de Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos

(PMGIRS) elaborado pela prefeitura de Divinópolis foi

Ao longo de janeiro de 2011 a dezembro de 2011, cerca de 118,21 t/dia, foram destinadas ao aterro controlado, para as unidades de reciclagem foram encaminhadas, igualmente em média, 1,18t/dia. Sendo que em 2012 a média é de 150 t/dia (DIVINÓPOLIS, 2013, p.44).

O PMGIRS afirma que

O depósito de lixo de Divinópolis (hoje, Aterro Controlado) é muito antigo, durante vários anos o problema foi tratado de forma displicente. As mudanças no enfoque aconteceram a partir de 2009, procurando resolver a questão dentro da legalidade (DIVINÓPOLIS, 2013, p.57-58).

Como esclarece Marques (2012, p. 76),

Historicamente, essa disposição se dava num lixão, com baixíssimas condições ambientais, e esse lixão foi transformado num aterro controlado, recebendo no momento aproximadamente 120 toneladas de lixo produzido diariamente em Divinópolis.

O especialista na área ambiental entrevistado esclarece a situação do

aterro controlado em Divinópolis e afirma que

No caso específico da nossa cidade, nós temos um fator histórico que levou Divinópolis a depositar os resíduos em uma área indevida, uma área indevida motivada não por se criar lá um aterro sanitário, um aterro controlado naquela época e sim motivado por ter na proximidade cursos de água, por ter num raio de proximidade, o aeroporto municipal. Todos esses fatores fazem com que por mais que se invista naquela área, por mais que se crie uma logística de aterro sanitário, ela nunca vai poder receber um rótulo de aterro sanitário motivado por isso. Então, hoje Divinópolis como está lá? A cidade saiu de uma condição de lixão, onde existia milhares de catadores vivendo ali, crianças, pessoas mais idosas, bandidos, tudo misturado; uma área que não era cercada que não tinha condições nenhuma, simplesmente chegava lá e depositava o lixo; para uma condição melhor. Uma área cercada com guarita, com uma tecnologia hoje próxima de tecnologia de

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aterro sanitário, porque hoje existe uma célula toda impermeabilizada onde se coloca o lixo, onde ele periodicamente é revirado, onde tem a drenagem dos gases, onde tem a drenagem de chorume, mas não tem tratamentos desse chorume. Esse chorume ainda atinge o lençol freático que contamina toda aquela região através dessa proximidade com os cursos de água. A saída da nossa cidade é mudar a localidade desse local de depósito final de resíduos, ou seja, ali não pode. Ali tem que ser desativado (Pedro, especialista na área ambiental).

A reforçar tal situação, o gestor público municipal alerta para a grave

situação que Divinópolis está enfrentando com a exagerada quantidade de

resíduos descartados no aterro e salienta que

Por mais que este aterro sanitário seja bem montado, estruturado dentro da lógica ambiental jurídica, ele vai ter um fim, porque não há aterro que suporte 150 toneladas diária e como a cidade, como você disse, está em franco desenvolvimento, a tendência é ir aumentando e aí nós temos que entrar exatamente com um processo ao inverso, principalmente que é o investimento da reciclagem, porque nós temos que tentar reduzir o máximo possível a geração e o máximo possível desta destinação lá para o aterro e o processo entra muito nisso, entra na questão da reciclagem (Willian, gestor público municipal).

Ainda em relação ao aterro sanitário que deverá ser construído pela

empresa vencedora do processo de licitação para implementação do Plano

Municipal de Saneamento de Divinópolis, o gestor público afirma que este

deverá ser um aterro sanitário completo. Ele destaca que

A empresa vai ter que construir contemplando a compostagem, porque esse lixo úmido que também pode ser aproveitado. No plano é obrigação da empresa também ter a área de compostagem. Por exemplo, hoje nós temos a ASCADI, que é responsável por onde está o centro de triagem, o centro de lixo vai ser levado para esse local. Eles vão ter a obrigação de construir um espaço maior, com galpões, com aquelas esteiras. Tudo dentro do plano e do edital vai estar voltado para isso. A construção de uma área, um aterro sanitário completo. O que for preciso do ponto de vista ambiental vai ter nesse local. Compostagem, área de resíduos da saúde, compostagem, processo de reciclagem. O projeto é para um aterro moderno. Modelo (Willian, gestor público municipal).

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Em relação à empresa terceirizada responsável pela coleta do lixo em

Divinópolis, o gestor público municipal alerta quanto às responsabilidades que

lhe cabem:

Inclusive onde é o atual aterro controlado, ela recebe espaço também e ela tem que dar conta de finalizar o aterro controlado e recuperá-lo. Aquela área lá é completamente degradada entre as atribuições que esta empresa que receber a concessão do lixo em Divinópolis do resíduo é a recuperação da área onde é o atual aterro e ela automaticamente vai ter que encontrar um outro local porque aquele local está findado não pode ser naquele local de forma alguma, ela vai ter que procurar, licenciar e se criar um aterro sanitário. Dentro deste aterro sanitário é onde nós iremos promover, está no plano, o incentivo à compostagem, a reciclagem, o serviço de triagem todo vai ser conduzido para este local, então, tudo isso faz parte do plano, então ele é um plano muito moderno, bem seguindo o Plano Nacional de Resíduos Sólidos, a lei aprovada recente de 2010, então ele é muito atual. Com relação a estes resíduos, nós estamos caminhando já para uma modernização e uma atualização do ponto de vista ambiental, do tratamento, da destinação e da disposição final dos resíduos sólidos (Willian, gestor público municipal).

Ele ainda acrescenta a questão do trabalho desenvolvido para a

transformação do lixão em aterro controlado:

O lixão da forma que ele era conhecido não existe mais. Nós fizemos um trabalho em parceria com o Ministério Público no sentido de que, até que se criasse um aterro sanitário de acordo com a legislação, nós teríamos que fazer várias correções no nosso antigo lixão que foram feitas, até pelo antigo secretário Pedro. Quais foram as obrigações que fizeram com que o lixão passasse a ter característica de um aterro controlado? Primeira coisa: o cercamento da área. Nós tivemos que fazer o cercamento completo da área. Então, hoje... o acesso antes era livre. Hoje, foi feito o cercamento. A guarda armada vigiando, que também tem, que foi uma solicitação que foi feita. A retirada total dos catadores que estavam lá. As crianças. É, e de forma terrível. E do ponto de vista ambiental, para que esse resíduo, esse lixo, continuasse indo lá. Antes o que se fazia: pegava o lixo e jogava lá. Então, o que é a característica do lixão? É o lixo sendo despejado no local onde não tem tratamento e a céu aberto. O que nós tivemos que fazer para adequar para que funcione, porque o nosso prazo de funcionamento lá é até junho do ano que vem. Nós temos uma ação, uma medida judicial nos dando esse prazo até que nós consigamos resolver a situação de forma definitiva (Willian, gestor público municipal).

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177

Continua o gestor público municipal a afirmar como está a situação atual

do aterro controlado:

O que tem sido feito hoje? Hoje esse lixo chega, na verdade ele é despejado em células, que na verdade são áreas que nós retiramos do solo. São valas que nós impermeabilizamos com a gel membrana. Na verdade, esse lixo é depositado ali, ou seja, não há o contato mais do resíduo com o solo. É captado o chorume hoje, antes, o chorume infiltrava solo adentro, e o lixo é totalmente recoberto. Hoje, para que se funcione lá um aterro controlado a exigência do Ministério Público e dos órgãos ambientais é que fosse feito dessa forma. O lixo que é depositado lá hoje é depositado nessas valas que nós chamamos de células que são revestidas por gel membrana. Então o resíduo não tem contato com o solo. É captado o chorume. O gás metano que é produzido é queimado. Existem os queimadores que são colocados e que também não existiam. Do ponto de vista ambiental nós fizemos um avanço enorme. Tanto é que se permite hoje que ele funcione exatamente por isso. Foi feita essa readequação, ele passou de lixão para aterro controlado, mas que também não é o ideal. Ali é uma situação paliativa e provisória. Porque inclusive, mesmo que nós quiséssemos regulamentar aquela situação lá, naquele local não se pode, porque hoje de acordo com a legislação ele não seria atendido. Existe uma situação de afastamento de aeroporto. Existem alguns quilômetros que você tem que ter do aeroporto, nós estamos muito próximos, então lá, não poderia nunca ser licenciado. A questão do local próximo a estrada da forma que é. O local por ter nascentes na região, tem que ter um raio muito grande. Na verdade, aquele local é provisório e nós vamos estar finalizando ele em junho do ano que vem, que é o prazo final que nós temos e a empresa que ganhar a licitação do município e a concessão, além dela ter que localizar um outro espaço do ponto de vista ambiental correto e as licenças ambientais, ela vai ter que dar uma destinação para aquele local que é fechá-lo e criar, fazer um PRADE - Programa de Recuperação de Área Degradada. Ela vai ter que recuperar toda aquela área. Porque ali, pelo número de resíduos, toneladas que foram depositadas ali, é uma área que nunca poderá ser utilizada em relação à construção, ocupação por pessoas ali. Você pode criar um parque, uma área ali, depois do processo de recuperação, fazer um bosque, implantar ali, porque no subsolo ali, o processo de decomposição não tem como. É um local que não tem estabilidade em relação ao solo, mas a área vai ser recuperada. Faz parte do plano. No plano consta isso e no edital que vai ser construído que é obrigação de recuperação da área e aí será completamente isolada também (Willian, gestor público municipal).

Sobre a transformação do aterro controlado em aterro sanitário, o gestor

público municipal esclarece que o ecoponto de pneus na cidade também será

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direcionado ao aterro sanitário, destacando o tipo de aterro que foi escolhido e

que tem como foco o fato de Divinópolis se transformar em cidade modelo de

solução para os resíduos sólidos.

O ecoponto da cidade que é o recolhimento de pneus, também vai ter que ir para o aterro sanitário. O aterro sanitário, o padrão que nós escolhemos. Por isso, nós contratamos uma consultoria de alto nível que pegasse o que fosse melhor em relação à aterro sanitário do município para que nós efetivando ele seja modelo para toda a região. Nós tenhamos uma solução definitiva para vários problemas. A questão do resíduo da construção civil que também vai ser contemplado. Eles vão ter que ter esses espaços. Além do incentivo que nós temos que fazer que está no plano. Além de você ter o aterro sanitário com destinação desse lixo inerte da construção civil, o incentivo a que venham indústrias da reciclagem da construção civil. Já temos um processo em andamento de terrenos para que nós consigamos atrair a indústria nesse sentido. Nós estamos pegando todas as áreas possíveis da geração de resíduos para tentar fechar e assim, tentar fazer com que a cidade seja modelo. Isso dentro desse projeto que eu tenho na frente da Secretaria de Planejamento Urbano e Meio Ambiente. Esse eu quero efetivá-lo. Quero deixar como legado a minha participação aqui. Deixar essa parte do resíduo em Divinópolis da destinação, disposição final como modelo. Isso eu acho que é bacana. É foco nosso (Willian, gestor público municipal).

3.3 A gestão e o gerenciamento ambientais no setor confeccionista do

vestuário de Divinópolis

3.3.1 O cenário ambiental do setor confeccionista do vestuário de

Divinópolis

A cidade, considerada espaço propício ao desenvolvimento das mais

variadas e complexas atividades humanas, das quais derivam as interações

sociais, culturais, econômicas e, principalmente, ambientais, necessita buscar

através dos atores sociais envolvidos o equilíbrio entre essas atividades e a

proteção e a preservação ambiental.

No aspecto da necessidade do desenvolvimento sustentável nas cidades

em relação aos resíduos sólidos, Barros (2012, p. 16) assegura que

A gestão sustentável e integrada dos RS municipais é imprescindível para obter e manter uma boa qualidade de vida

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de uma comunidade, principalmente nas áreas urbanas, onde a concentração populacional segue aumentando. A problemática dos RS tem que ser analisada de maneira mais abrangente que a mera solução tecnológica (e fundamentalmente operacional), de modo geral concentrada na etapa da disposição final: é preciso também ver a montante da produção crescente de RS, questionando os mecanismos que levam a ela e as consequências daí advindas. Esta abordagem integrada considera as interfaces com aspectos culturais, socioeconômicos, ambientais, administrativos, políticos e mesmo éticos: não é possível constatar que há ainda dezenas de milhares de pessoas catando informalmente nas ruas e nos lixões do Brasil, sem se imaginar o que os empurra para esses locais. Não se pode mais desconsiderar os altos custos e os graves impactos ambientais, de curto e médio e longo prazos, derivados da aceleração do consumo – do inelutável aumento da produção de RS –, e a inexorável necessidade de lhes dar uma destinação ambientalmente correta.

A representante do sindicato dos trabalhadores, Ana Lúcia, lembra que o

meio ambiente deve estar nas pautas de discussões de todas as esferas. Para

ela, “O meio ambiente não pode mais ser uma questão secundária nas

discussões. Ela não é a prioritária, mas no elenco de prioridades, ela está bem

situada” (Ana Lúcia, representante do SOAC).

Para a consultora ambiental Hélcia, a produção sustentável é “aquela

que valoriza capital social, capital natural, e cultura local”.

No aspecto relacionado aos resíduos sólidos têxteis, o PMGIRS

(DIVINÓPOLIS, 2013, p. 35) lembra que o surgimento do setor confeccionista

ocorreu na década de 1970, quando o setor siderúrgico, até então base da

economia divinopolitana, passou por problemas econômicos, devido à

demissão de muitos funcionários e ao fechamento de várias empresas

siderúrgicas. Assim, como alternativa para a falta de empregos, a indústria da

confecção colaborou para amenizar a situação do desemprego, e a cidade teve

como efeito imediato o crescimento do setor da construção civil e dos

transportes rodoviários, o que amenizou os problemas sociais.

Em Divinópolis, as principais atividades econômicas se dividem nos

setores primário – setor agropecuário –, secundário – setor industrial e

agroindústria – e terciário – comércio e serviços. As atividades relacionadas ao

setor confeccionista se situam no setor secundário, como mostra o Quadro 3.2.

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Quadro 3.2 – Principais atividades econômicas por setor produtivo

Setor primário ou setor agropecuário

Café, feijão, milho. Frutas: banana, mamão, maracujá e goiaba. Pecuária de corte.

Setor secundário ou setor industrial

e agroindústria

Indústria do vestuário, calçados e artefatos de tecidos, indústria metalúrgica, indústria do papel e do papelão, indústria química, indústria têxtil, indústria de bebidas,

indústria de material elétrico, eletrônico e de comunicação; indústrias diversas.

Setor terciário ou comércio e

serviços

Comércio varejista, comércio de máquinas, equipamentos e insumos agrícolas e serviços nas áreas de educação, saúde,

manutenção de veículos.

Fonte: DIVINÓPOLIS, 2013, p. 36 (adaptado).

Divinópolis é considerada polo confeccionista do interior de Minas Gerais

pelo seu elevado número de empresas desse segmento que produz

significativa quantidade de resíduos sólidos têxteis que dispostos

inadequadamente junto aos resíduos domiciliares resultam em poluição e em

degradação ambientais.

A produção excessiva de lixo é um problema que atinge Divinópolis, que

mesmo possuindo um aterro controlado, ainda necessita de melhorias em sua

infraestrutura e da criação de um centro de tratamento de resíduos. As

lavanderias despejam os produtos químicos utilizados no tratamento do jeans,

principalmente, nos rios Itapecerica e Pará.

No que se refere ao lixo produzido nas cidades, Barros (2012, p. 36)

afirma que

O que define o que de fato é lixo é esta possibilidade de escolher o que guardar – e usar – ou jogar fora, uma escolha sempre renovada e que está implícita em cada gesto de cada pessoa. Não é uma noção estática: varia no tempo e no espaço, segundo contextos socioeconômicos e comportamentos específicos. Muitos dos objetos comprados e consumidos se transformam em lixo antes de terem se tornados impróprios para o uso ou de terem esgotado todas as possibilidades de seus préstimos: os artigos de moda são o exemplo clássico disto, segundo uma obsolescência programada. Como corolário do processo de consumo, um detentor de um bem decide dele se desfazer, segundo critérios variados, e aí gera RS: os consumidores somos os geradores de lixo.

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O PMGIRS classifica os resíduos sólidos gerados em Divinópolis em

várias categorias, conforme sua natureza e origem. Assim,

dentre essas categorias podem ser citados os resíduos domiciliares (residenciais e comerciais), os resíduos públicos (resultantes das atividades de varrição, roçada, capina e raspagem de vias e logradouros públicos, limpeza de bocas-de-lobo, etc.), e os resíduos de serviços de saúde, entre outros. Ciente da importância do conhecimento da natureza intrínseca desses resíduos, sabidamente mutável ao longo do tempo, a Prefeitura de Divinópolis, tem desenvolvido diversas pesquisas de caracterização quantitativa e qualitativa dos resíduos sólidos gerados no município. Por conseguinte, essa caracterização não reflete a composição da totalidade dos resíduos dispostos no aterro controlado do município, para onde são encaminhados também resíduos resultantes de todos os demais serviços públicos prestados pela SEMOUDES38 (DIVINÓPOLIS, 2013, p.37-38) (grifos do autor).

No referido plano consta o estudo da composição gravimétrica do lixo

em Divinópolis, elaborado pela prefeitura através da Secretaria Municipal de

Meio Ambiente.

O Gráfico 3.1, apresentada no PMGIRS (DIVINÓPOLIS, 2013, p. 44),

mostra a composição gravimétrica dos resíduos sólidos urbanos em

Divinópolis, ou seja, a composição detalhada do lixo em percentual, aqui com

destaque para “panos, trapos, couro e borracha”, com significativos 3,48%.

38 SEMOUDES – Secretaria Municipal de Obras e Serviços Urbanos.

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182

Gráfico 3.1 – Composição Gravimétrica dos RSU

Fonte: DIVINÓPOLIS, 2013, p. 44 (adaptado)

O elevado volume de lixo produzido em Divinópolis, aproximadamente

120 toneladas/dia, compõe-se, em considerável parte, de resíduos sólidos

têxteis gerados pelas confecções da cidade e que são destinados à “coleta de

lixo domiciliar”, como pode ser visto na figura a seguir.

Figura 3.5 - Papelão e retalhos encontrados nas ruas de Divinópolis

Fonte: Autoria própria, 2015

Os resíduos, muitas vezes sem destino certo, ficam amontoados nas

calçadas até serem transportados para o aterro controlado. Neste contexto, a

8,66%3,85%

14,68%

1,80%

63,29%

0,00%3,48%

0,00% 0,00% 2,79% 1,44%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

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gestão dos resíduos sólidos é um dos maiores desafios enfrentados pelo

governo municipal.

Ressalta-se, ainda, que além da poluição e da degradação do meio

ambiente em virtude da disposição final dos resíduos no aterro controlado do

município, juntamente com os resíduos domésticos, os resíduos também

provocam a poluição visual da cidade.

A figura a seguir mostra que é comum encontrarmos na cidade sacos

cheios de retalhos de tecidos, bem como resíduos das confecções sempre

empilhados nas calçadas e junto ao lixo domiciliar.

Figura 3.6 – Retalhos encontrados junto ao lixo domiciliar nas ruas de Divinópolis

Fonte: Autoria própria, 2015.

O "Diagnóstico ambiental do setor confeccionista de Divinópolis"39,

desenvolvido pelo CEFET-MG entre os anos de 2008/2009, mostra “que 34%

dos insumos têxteis são doados a terceiros, 31% são colocados na rua para

coleta urbana, 16% doados à instituições e programas sociais, outros 16% são

vendidos enquanto que 3% têm destino desconhecido”.

Para Amaral (2014, p. 51),

39 CAMPOS, Antônio Guimarães; NOGUEIRA, Maria de Lourdes Couto; FONSECA, Ligiana Priscila Guimarães. Diagnóstico ambiental do setor confeccionista de Divinópolis. Congresso Nacional de Técnicos Têxteis, XXIII, 2009, São Paulo.

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Pode-se dizer que o número total de indústrias de confecções existentes em Divinópolis é elevado, bem como elevado é o volume de resíduos descartados junto ao lixo doméstico que são destinados ao aterro controlado da cidade com efetivo potencial para poluir e degradar o meio ambiente.

Percebe-se assim que, em relação ao volume gerado, a quantidade de

material reciclado é muito pequena. É necessário estimular a consciência dos

empresários para que sejam desenvolvidas ações de controle do impacto

ambiental, como por exemplo, a otimização do corte das peças minimizando os

resíduos ou mesmo a doação de material reciclável para instituições que fazem

artesanato, visando a minimização das sobras de resíduos e a utilização em

outras atividades econômicas, possibilitando aumentar a geração de empregos

e a renda para a população.

O referido diagnóstico mostra ainda que a maioria das empresas de

pequeno porte não tem acesso às tecnologias de mapeamento e corte

informatizados, dificultando assim a etapa do corte o que gera uma maior

quantidade de retalhos. Provavelmente, muitos empresários desconhecem ou

não aplicam ações que tratem adequadamente ou minimizem o volume dos

resíduos têxteis.

A partir do diagnóstico citado, Diniz e Nogueira (2013, p.12) afirmam que

Em relação à adoção de medidas que causem menor impacto ambiental, as empresas afirmaram que os maiores complicadores são a limitação de recursos físicos, funcionários e/ou instalações adequadas e, a falta de informação/conhecimento das questões ligadas ao impacto ambiental o que acaba por denunciar a necessidade de uma educação ambiental, bem como, programas de gestão ambiental destinados ao setor.

Outro projeto relacionado aos impactos gerados pelas indústrias de

confecções de Divinópolis e que também foi desenvolvido pelo CEFET-MG é o

"Sustentabilidade e a questão urbano-ambiental na cidade de Divinópolis"40. No

projeto foram realizadas várias entrevistas41 com sujeitos comprometidos com a

40 Projeto de Bolsa de Iniciação Científica desenvolvido no período de 2012/2013, orientado pelos professores Maria de Lourdes Couto Nogueira e Antônio Guimarães Campos, tendo como bolsista a aluna Sarah Ferreira Rodrigues.

41 As entrevistas foram feitas pela bolsista do projeto, Sarah Ferreira Rodrigues.

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questão ambiental com o intuito de verificar as diversas opiniões sobre o tema

em questão.

Em entrevista ao referido projeto, o então Secretário Municipal de Meio

Ambiente e Políticas Urbanas de Divinópolis afirmou que

O resíduo das confecções acaba indo para o aterro junto ao resíduo doméstico, fazendo com que o cidadão pague por tonelada de lixo aterrada, com resíduos que são industriais e, portanto, devem ser ônus da própria indústria. Torna-se assim, inviável para o aterro receber lixo industrial junto ao doméstico. Com a criação do CTDR42 novas regras virão e espera-se em uma sinergia com as empresas, a criação de uma logística que permita o depósito de tais resíduos de forma adequada.

Em relação à destinação adequada dos resíduos têxteis, percebe-se que

mesmo sendo reaproveitáveis na maioria das empresas, os resíduos são

descartados no aterro controlado, enquanto poderiam ser transformados em

um novo produto e convertidos em renda.

Ao ser questionado sobre quais seriam os motivos da má destinação dos

resíduos, o secretário afirmou que “O que falta realmente é essa união do

poder público e empresarial para poder discutir uma ação correta e concreta

que efetive a realização deste trabalho que não é só ambiental, mas também

social, de aproveitamento destes resíduos”.

Para ele, a criação de arcabouços jurídicos por parte do poder público e a

união do setor poderiam solucionar a questão, pois seriam não apenas uma

oportunidade de aprender a confeccionar produtos, mas também uma

oportunidade social para a confraternização e a interação da comunidade

participante do projeto.

Outra entrevistada pelo projeto foi a superintendente da Superintendência

Regional de Meio Ambiente do Alto São Francisco (SUPRAM), órgão

responsável em executar uma política de proteção, conservação e melhoria da

qualidade ambiental no que concerne a prevenção, a correção da poluição ou

da degradação ambiental provocada pelas atividades industriais. De acordo

com ela, em se tratando da cadeia de produção da indústria têxtil, quase todos

os processos são passíveis de regularização ambiental, como é o caso das

lavanderias, estamparias, tinturarias e tecelagem. No entanto, as confecções

42 Centro de Tratamento e Disposição de Resíduos Têxteis

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não necessitam de licença ambiental para seu funcionamento, pois seus

resíduos, especialmente os retalhos, possuem baixo teor poluente.

A superintendente afirma ainda que

O cidadão precisa entender que ele também faz parte do meio ambiente. Pois quando se fala que a geração de resíduos afeta a condição ambiental de uma cidade, não se fala apenas da condição de um rio, de um solo, fala-se da condição de vida da população também. Prejudica-se também o conforto, e a qualidade de vida sadia da população também. Ninguém quer um pacote de retalho ou um lodo de uma estamparia do lado de sua casa. Então, o cidadão precisa entender que quando se fala em meio ambiente ele está inserido nesse contexto e que se o próprio cidadão não conseguir fiscalizar e denunciar o que está vendo para o órgão ambiental, é difícil fazermos este controle sozinho. Desta forma, seria ótimo para a melhoria da qualidade ambiental que o próprio cidadão se conscientizasse e cobrasse dos empreendimentos esta atitude correta de descarte de resíduos. O empreendimento iria corrigir suas falhas não devido à cobrança do órgão ambiental, mas sim da própria comunidade.

Cabe aqui ressaltar que não é possível determinar com precisão o

número de confecções existentes em Divinópolis, pois muitas vivem na

informalidade. Para Amaral (2014, p. 50-51),

Importante salientar que em relação ao setor têxtil e confeccionista, não se sabe exatamente o número de confecções existentes em Divinópolis. Sabe-se, entretanto, segundo informações do SINVESD (2013), que o número de empresas sindicalizadas em Divinópolis e região é de 1.272 (um mil, duzentas e setenta e duas). Somado a esse grande número de empresas sindicalizadas ao SINVESD, há também um número considerável de outras empresas que trabalham na informalidade e que descartam os resíduos sólidos têxteis de forma inadequada, vindo a poluir o meio ambiente.

Complementando a questão do descarte inadequado dos resíduos

sólidos têxteis, em entrevista realizada por Amaral (2014), o secretário

municipal de Planejamento Urbano e Meio Ambiente de Divinópolis, Willian

Araújo, afirmou que

Nós ainda temos uma grande dificuldade devido ao grande número de confecções. Confecções até menores, confecções até nas próprias residências das pessoas, facções. É difícil você estar trabalhando isso, conscientizando as pessoas em

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relação a isso. Como já é um dificultador você colocar na cabeça das pessoas um entendimento da importância da reciclagem ainda não existe uma logística de recolhimento desse material. O que nós temos buscado é junto com as entidades que coordenam, que gerenciam essas empresas essa parceria. Isso já está sendo avançado, já tem buscado. É um fato realmente. As pessoas acabam dispersando esses materiais junto com o resíduo doméstico como uma forma de descarte natural. Esse material é lógico que tem, chega até o aterro e polui (AMARAL, 2014, p. 51).

Amaral (2014) ao entrevistar a ex-presidente da ONG Lixo e Cidadania,

Hélcia Veriato, e perguntar “sobre a possibilidade de os resíduos sólidos têxteis

gerados na cidade efetivamente causarem danos ao meio ambiente”, a

resposta foi:

Com certeza. Até porque o mapeamento até onde eu sei da caracterização desse resíduo não é 100% algodão, a maioria dele é sintético. O volume é estimado. Não se sabe. As pesquisas estão começando a acontecer agora para quantificá-lo. Até onde as informações que nós temos, é um passivo que está sendo jogado no aterro e a legislação da forma como a preconiza, ele não é um infrator, ele é protegido pelo município para descartar dessa forma (AMARAL, 2014, p. 52).

Segundo Diniz e Nogueira (2013, p. 6),

Em atendimento à legislação federal, a cidade de Divinópolis tem atuado no sentido de implementar o Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos de Divinópolis (PMGIRS). Uma destas ações foi a Audiência Pública ocorrida em julho/2013, com o intuito de conhecer, debater, informar e receber sugestões da comunidade, através da apresentação e disponibilização da minuta de proposta do Plano Municipal de Gerenciamento Integrado dos Resíduos Sólidos Urbanos.

O PMGIRS (DIVINÓPOLIS, 2013, p. 9-10) diz que

O Gerenciamento Integrado do Sistema de Limpeza Pública Urbana é, em síntese, produto do envolvimento de diferentes órgãos da administração pública e da sociedade civil com o propósito de realizar a limpeza pública urbana, a coleta, o tratamento e a disposição final do lixo, elevando assim, a qualidade de vida da população e promovendo o asseio da cidade. Para tanto, são considerados as características das fontes de produção, o volume os tipos de resíduos, as

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características sociais, culturais e econômicas dos cidadãos e as peculiaridades demográficas, climáticas e urbanísticas locais. (...) Em geral, diferentemente do conceito de gerenciamento integrado, os municípios costumam tratar o lixo produzido na cidade apenas como um material não desejado, a ser recolhido, transportado, podendo, no máximo, receber algum tratamento manual ou mecânico para ser finalmente disposto em aterros. Trata-se de uma visão distorcida em relação ao foco da questão social, encarando o lixo mais como um desafio técnico no qual se deseja receita política que aponte eficiência operacional e equipamentos especializados.

O PMGIRS recomenda programas de limpeza urbana de forma a obter

meios que reduzam ao máximo a produção de lixo, favoreçam o

reaproveitamento e reciclagem de materiais e, ainda, disponibilizem os

resíduos de forma mais sanitária e ambientalmente adequada, abrangendo

toda a população e a universalidade dos serviços. O programa recomenda

também atitudes que protejam e melhorem o meio ambiente, além de

contribuir, significativamente, para a redução dos custos do sistema de coleta

de lixo.

Em resposta ao questionário enviado por e-mail ao gestor público

municipal de Divinópolis, ele esclarece que o PMGIRS “está finalizado e faz

parte, como capítulo, do Plano Municipal de Saneamento” e salienta que o

setor confeccionista foi contemplado “como os demais setores, as lojas com

resíduos comerciais e as fábricas como resíduo industrial” (Willian, gestor

público municipal).

No PMGIRS (DIVINÓPOLIS, 2013, p. 44-45) consta que

a coleta domiciliar de resíduos é realizada porta a porta em 97% dos domicílios urbanos e áreas rurais. A taxa de cobrança deste serviço é realizada junto com o IPTU43, apresentando, assim, cotas por localização. O horário do turno diurno é das 7:00 às 17:00h e do noturno das 19:30 às 24:00h, sendo que nos dias de “pico” a coleta se estende até o horário necessário para sua conclusão” (grifos do autor).

Consta ainda que

Em geral, diferentemente do conceito de gerenciamento integrado, os municípios costumam tratar o lixo produzido na

43 Imposto Predial e Territorial Urbano

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cidade apenas como um material não desejado, a ser recolhido, transportado, podendo, no máximo, receber algum tratamento manual ou mecânico para ser finalmente disposto em aterros. Trata-se de uma visão distorcida em relação ao foco da questão social, encarando o lixo mais como um desafio técnico no qual se deseja receita política que aponte eficiência operacional e equipamentos especializados (DIVINÓPOLIS, 2014, p. 9-10).

Assim, a proposta do Gerenciamento Integrado do Sistema de Limpeza

Pública Urbana que consta no PMGIRS é

O Gerenciamento Integrado do Sistema de Limpeza Pública Urbana preconiza programas de limpeza urbana, enfocando meios para que sejam obtidos a máxima redução da produção de lixo, o máximo reaproveitamento e reciclagem de materiais e, ainda, a disposição dos resíduos de forma mais sanitária e ambientalmente adequada, abrangendo toda a população e a universalidade dos serviços. Essas atitudes contribuem significativamente para a redução dos custos do sistema, além de proteger e melhorar o ambiente (DIVINÓPOLIS, 2014, p.10).

Os resíduos residenciais, comerciais e industriais são dispostos nas ruas

da cidade para serem direcionados ao aterro controlado, sem haver nenhuma

separação. Exceto os resíduos advindos dos serviços de saúde, pois estes

possuem coleta especial e são direcionados a um aterro sanitário específico.

Em determinadas regiões e, principalmente, na área central da cidade,

os resíduos são dispostos nas vias urbanas sem a devida triagem, que por

menor que fosse, poderia pelo menos compreender a separação básica entre

resíduo úmido e resíduo seco.

Os coletores autônomos passam pelas vias urbanas e separam os

resíduos que lhes interessam e deixam o restante, que para eles não tem

utilidade ou valor econômico, para que os coletores urbanos recolham,

carreguem o caminhão e transportem para o aterro controlado.

No que se refere à disposição final dos resíduos sólidos urbanos, o

gestor público municipal informa que, como está previsto na Lei n. 12.305/10

(BRASIL, 2010), a parceria entre municípios está em andamento e que “no

momento, Divinópolis junto a outros municípios forma um consórcio que

atendeu um chamamento do governo através da SEDRU. O mesmo previa um

aterro sanitário regional” (William, gestor público municipal). Ele ressalta ainda

que

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190

A SEDRU contratou uma empresa especializada em engenharia ambiental que realizou estudos de viabilidade locacional. No momento, estamos aguardando a disponibilização do estudo para que seja adquirida a área para implantação do aterro sanitário que atenderá os municípios integrantes do consórcio (Willian, gestor público municipal).

Em relação ao consórcio entre os municípios para criação do aterro

sanitário, ele destaca que

Sabemos desta proposta de consorciamento, que pretende atender vários municípios do estado. A ideia do consórcio é fomentada pelo poder público em todas as esferas, isso porque, torna o processo mais viável do ponto de vista econômico, assim como os recursos estão mais disponibilizados para essa modalidade. O incentivo do estado para o consórcio passa, principalmente, pelo fato de se poder agregar o maior número possível de cidades (Willian, gestor público municipal).

A partir das informações obtidas, fica clara a necessidade de

conscientização por parte de todos os sujeitos envolvidos. Conscientizar a

sociedade para a responsabilidade socioambiental é imprescindível. A busca

pelo desenvolvimento econômico sustentável faz parte de um processo

contínuo de melhoria e a indústria da confecção precisa se posicionar e

encontrar alternativas que visem à redução de seus resíduos.

O setor confeccionista têxtil de Divinópolis tem uma grande participação

no descarte dos resíduos sólidos para o aterro controlado, pois, como

mencionado anteriormente, é para esse local que a maioria dos resíduos

sólidos têxteis tem sua disposição final.

A busca por alternativas que minimizem esse descarte no aterro

controlado tem sido objetivo da prefeitura como destaca o gestor público

municipal:

Após a publicação do PMGIRS, a prefeitura tem buscado implantar todas as ações contidas no plano que visam dar destinação correta aos resíduos. Temos buscado parceria com as entidades e associações que representam o setor confeccionista no sentido conscientizar aos proprietários de fábricas a buscarem processos de reciclagem, quando possível, ou darem destinação final correta (Willian, gestor público municipal).

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191

Cabe aqui destacar que os resíduos sólidos têxteis advindos das

confecções são também dispostos nas vias urbanas e sua quantidade é

tamanha que, mesmo quando os interessados em retalhos recolherem o que

lhes interessa, ainda assim a quantidade que sobra acaba sendo direcionada

ao aterro controlado.

A dificuldade de se calcular a quantidade descartada de resíduos sólidos

têxteis pelo setor confeccionista tem explicação na informalidade de um

número elevado, porém, desconhecido de empresas. Assim, obter informações

fidedignas do setor torna-se complicado, para não dizer quase impossível.

3.3.2 Projetos ambientais desenvolvidos em Divinópolis

Sabe-se que a criação de projetos ambientais que buscam a

preservação do meio ambiente é uma das formas de se direcionar

adequadamente os resíduos sólidos.

Ao ser questionado sobre a existência de projetos de reaproveitamento

de resíduos recolhidos através da coleta seletiva, pelo poder público, o coletor

da ASCADI afirma que

Da prefeitura, eu acho que não tem nenhum projeto por enquanto não. O que eles dão, a prefeitura, como se diz, só dá o material. No caso dela já sabe que tem o caminhão, as rotas e eles passam. Agora se tem algum projeto de incentivo ou alguma coisa, não tem não. Pode ser que no futuro tenha. Nós estamos regularizando a situação e tudo (Jeferson, coletor da ASCADI).

O gestor público municipal exemplifica a questão dos projetos

ambientais citando a visita de um empreendedor de Goiânia à prefeitura de

Divinópolis com uma proposta inovadora de projeto ambiental que vai além do

fator econômico, como ocorria anteriormente. No referido projeto, a proposta é

de se ter um condomínio com uma maior qualidade de vida, mais áreas verdes

e até recuperação de praças. Ele disse que

Essa semana, por exemplo, compareceu aqui um empreendedor de Goiânia que está com a intenção de construir um condomínio aqui em Divinópolis, de residências. E ele trata

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exatamente disso, o projeto deles ambiental é muito bacana. O que eles aplicam em situação de ocupação, de criação de postos, recuperação de praças, isso chega porque antes quando você ia receber o empreendedor ele queria apresentar seu projeto, mas o projeto dele só tinha o olhar econômico para ele e para o empreendimento dele. E quem estivesse ao redor, no entorno dele, problema, era problema da prefeitura, da administração, da população. Eu recebi este empreendedor primeiro porque o projeto dele era bastante interessante, ele se preocupava com as pessoas que moram ao lado, do ponto de vista da ocupação, ocupação dentro do condomínio, é muito pequeno, muitas áreas verdes, muitos bosques, ou seja, qualidade de vida pra quem estivesse lá e no entorno, uma preocupação muito grande que eles queriam recuperar várias áreas verdes, várias praças, onde eles iam instalar no entorno da comunidade. Uma situação deles quererem mostrar a comunidade que eles têm essa preocupação que está além do empreendimento deles. Então, você percebe que eles querem hoje o empreendedor com o olhar mais adiante, um olhar mais futurista, ele faz questão de estar mais antenado com as questões ambientais, as questões do entorno dele, porque pra ele é propaganda, é interessante ele obter as licenças ambientais, ele ter um projeto ambiental, ele ser parceiro de uma outra empresa, ele ser parceiro de uma ONG, ele ter qualquer projeto voltado para as questões ambientais, para ele é uma propaganda. Então é bastante interessante e a gente tem percebido que tem evoluído isso entre o meio empresarial. (Willian, gestor público municipal).

Ainda sobre a existência de projetos ambientais relacionados aos

resíduos sólidos que poderiam ser aplicados no município, o especialista na

área ambiental afirma que

Eu acho que um dos grandes aprendizados que na última década teve no Brasil, que antes não era encarado dessa forma, que eram aquelas associações vinculadas a reciclagem, a captar o lixo, as famosas formiguinhas, que quando colocam latinhas na porta da sua casa, passou meia hora já está pegando ali. Essas grandes associações e pequenas e informais eram vistas no passado não com bons olhos. Hoje são vistas com bons olhos. Importante dizer que o setor público tem que bancar sim essas associações. Elas não conseguem viver por conta própria. Esses empregos verdes, empregos ecológicos têm que ter o incentivo total do poder público, porque não é só uma questão social que está resolvendo e sim uma questão também lá na matriz. Se você pega e incentiva algum tipo de reciclagem, na verdade você não está reutilizando só aquilo. Você está evitando que se tire um recurso natural que está lá intocado, está evitando que se tenha uma supressão de vegetação para poder retirar o minério. Nós estamos fazendo com que esses recursos

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naturais, esse lastro que nós temos de sobrevivência dure mais (Pedro, especialista na área ambiental).

Quando questionado se tem conhecimento de projetos específicos de

reaproveitamento de resíduos têxteis, o gestor urbano afirma saber da

existência de poucos, mas cita o projeto da ONG "Lixo e Cidadania":

Na verdade existem muito poucos. O mais forte que nós temos é o "Lixo e Cidadania" que tem uma parceria. Aqui o que nós percebemos é como eu te disse. Não existe um incentivo por parte dos empreendedores, de uma certa forma das indústrias e não existe uma Organização forte de instituições, de ONGs que trabalham também com isso. Até pelo próprio material ainda está se buscando um melhor aproveitamento dele. A prefeitura participa através da educação, do incentivo, de palestras que nós sempre encaminhamos para o pessoal. A ONG "Lixo e Cidadania", por exemplo, nós fizemos a doação de um terreno para eles, como forma de estímulo, para que eles tenham a própria associação deles. Foram doados 2 terrenos. Tem um ano e meio mais ou menos que nós doamos. A forma que nós temos é do incentivo mesmo. Sendo parceiros em relação, fazendo essa propaganda, fazendo essa ligação entre eles, mas a grande dificuldade é como te disse: não existe um número grande de ONGs, de instituições, que trabalham voltados a isso e também não existe uma organização também em relação às empresas, as indústrias da confecção. Essa é a nossa grande dificuldade, porque se existisse um número maior de industrias com esse resíduo dispostas a trabalhar e a destinação dele fosse maior, a demanda fosse, mas não há. A grande dificuldade é isso. É tentar corrigir isso (Willian, gestor público municipal).

A reciclagem realizada pela ONG “Lixo e Cidadania”

Criada em 1999, a ONG "Lixo e Cidadania" foi registrada como

Associação Lixo e Cidadania de Divinópolis em junho de 2004 e suas

atividades estão voltadas para a prestação de serviços socioculturais e

ambientais.

Pode ser considerada “um elo entre o poder público, a sociedade civil e

a iniciativa privada para estabelecer parcerias na sociedade divinopolitana para

acabar com o lixão e transformar a destinação final dos resíduos”44.

Seu foco de atuação é a “promoção da vida em todas as suas formas,

buscando desenvolver projetos que promovam a inclusão das minorias, com 44 ONG Lixo e Cidadania. Disponível em: <http://www.lixoecidadania.org/index.asp?c=padrao&modulo=conteudo&url=16>. Acesso em: 21 jan. 2016.

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um viés de Educação Socioambiental e uma pedagogia capaz de transformar a

informação em conhecimento”7. Ela desenvolve “oficinas, palestras e cursos em

escolas, empresas, condomínios, congressos, universidades, promovendo a

cultura do consumo consciente e do descarte adequado”7.

Um dos projetos desenvolvidos pela ONG "Lixo e Cidadania" é o de

“Retalho e Arte” que, nas mãos de seus artesãos e a partir dos resíduos sólidos

têxteis descartados pelas confecções, ganha forma, ou seja, “viram arte e

unem pessoas”. O projeto tem dado tão certo que foi montada uma loja virtual

com toda a produção feita pelos artesãos.

Outra ação desenvolvida pela ONG é a oficina criativa da "Lixo e

Cidadania" que “foi criada com o objetivo de ajudar os ex-catadores do lixão de

Divinópolis, principalmente as mulheres, a terem uma nova fonte de renda”7.

O trabalho desenvolvido por essa ONG, apesar de sério e reconhecido,

não consegue absorver a elevada quantidade de resíduos sólidos têxteis do

setor, que resulte numa diferença significativa, no montante descartado pelas

confecções.

Figura 3.7 – Oficinas realizadas pela ONG Lixo e Cidadania com retalhos

Fonte: Site da ONG Lixo e Cidadania45

45 Imagens disponíveis em: <http://www.lixoecidadania.org/index.asp?c=album&modulo=INDEX&URL=1>. Acesso em: 22 fev. 2016.

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O próximo capítulo apresenta o setor confeccionista do vestuário no

cenário ambiental de Divinópolis, as indústrias e suas particularidades, bem

como as peculiaridades, semelhanças, divergências e percepções dos

entrevistados.

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4 CONTEXTUALIZANDO O SETOR CONFECCIONISTA DO VESTUÁRIO NO

CENÁRIO AMBIENTAL DE DIVINÓPOLIS

Com o objetivo de contextualizar o setor confeccionista do vestuário de

Divinópolis, foram utilizados três instrumentos para a coleta de dados:

formulários aplicados às indústrias de confecção – Apêndice A –, roteiros de

entrevistas – Apêndice B – que foram utilizados nas entrevistas e questionários

enviados por e-mail – Apêndices C e D.

Inicialmente, merece destaque, em relação ao setor confeccionista do

vestuário de Divinópolis, a peculiaridade de que a cidade é considerada polo

regional confeccionista do vestuário e que esse setor se destaca como

segmento econômico relevante, visto que emprega aproximadamente trinta mil

pessoas, como afirma a representante do SOAC:

Dentro do nosso setor, nós sabemos que nós temos algumas coisas que são muito interessantes. Nós somos equilíbrio social de Divinópolis, porque nós empregamos nada mais nada menos do que 30 mil pessoas. Cerca o setor do vestuário e também provoca outros setores econômicos (Ana Lúcia, representante do SOAC).

Como já mencionado anteriormente, não é possível diagnosticar com

precisão o número real de empresas do ramo em Divinópolis. Marques (2012,

p. 133-134) retrata bem essa realidade, para ele

Esse segmento apresenta grande índice de informalidade e, como as atividades dos ciclos anteriores, também tem modificado a forma urbana, principalmente por meio da construção dos shoppings, voltados predominantemente ao mercado atacadista, que em parte já não se localizam na área central. Ressalta-se que em função dos altos índices de informalidade é possível que haja no município um contingente de população empregada nesta atividade não computada pelos dados oficiais.

Mesmo diante da informalidade, Marques (2012, p. 134) mostra, ainda, a

importância de todas essas atividades, informais ou não, na contribuição para a

geração de emprego e renda na cidade.

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Por outro lado, a cadeia produtiva dessa indústria tende a se instalar no próprio município, tais como o comércio atacadista de tecidos, fibras vegetais beneficiadas, fios têxteis, de acessórios e artigos do vestuário, lavanderias industriais, entre outros. De um modo geral, as pronto-entregas e pontos de distribuição dos produtos localizam-se em áreas estratégicas da cidade, tais como os bairros Bom Pastor e Centro. Além disso, é importante salientar a significativa importância dessas atividades na geração de emprego e renda.

4.1 As indústrias de confecção de Divinópolis e suas particularidades

Para maior conhecimento da realidade do setor confeccionista de

Divinópolis, foram aplicados formulários a quatro empresas de confecção e a

uma de fiação, tecelagem e confecção, conforme consta o modelo no Apêndice

A. A síntese das respostas dos formulários aplicados às empresas está contida

em uma tabela no Apêndice H.

A identificação numérica das empresas seguiu a ordem das datas de

aplicação dos formulários e foi utilizada em substituição à identificação nominal,

para fins de preservação e sigilo industriais. A partir dos formulários

respondidos pelas empresas, destacam-se algumas informações mais

relevantes, citadas a seguir.

A caracterização usada para definir o porte das empresas teve como

critério o número de funcionários. Este critério é o mesmo adotado pelo IBGE,

Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e pelo SEBRAE para os setores da

Indústria e Construção.

Quadro 4.1 - Classificação do porte das empresas

Nº DE

FUNCIONÁRIOS

CLASSIFICAÇÃO EMPRESAS ANALISADAS

Até 19 Microempresa Empresa 2 (11 funcionários)

Empresa 3 (19 funcionários)

Empresa 4 (12 funcionários)

De 20 a 99 Pequena empresa Empresa 5 (40 funcionários)

De 100 a 499 Média empresa Nenhuma

Mais de 500 Grande empresa Empresa 1 (634 funcionários)

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do IBGE.

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Em relação à localização das empresas consultadas, 80% delas se

localizam nos bairros Bom Pastor e Santa Clara e no Centro. Esses são os

mesmos bairros que na relação de confecções associadas ao SINVESD

localizam a maior parte das confecções da cidade.

Para facilidade de compreensão, o formulário constante no Apêndice A

contendo o formulário aplicado às empresas, foi dividido em seis (6) partes, a

saber: informações gerais; características da empresa e da atividade industrial;

matérias-primas, insumos e maquinários; informações sobre os resíduos

sólidos gerados; informações sobre gestão ambiental e informações

complementares. Assim, destacam-se:

Características das empresas e de suas atividades industriais

A Figura 4.1 mostra uma síntese das principais características das

empresas de confecção consultadas no período de agosto a outubro de 2014.

Gráfico 4.1 – Principais características das empresas e das atividades industriais

Fonte: Elaborado por Júlia Couto Nogueira a partir do banco de dados da pesquisa, 2015.

Principais características das empresas

Atividade principal

•Moda feminina - 2

•Moda íntima feminina - 1

•Moda masculina - 2

•N/R - 1

Característica da produção

• Fabricação própria -2

• Facção terceirizada -3

• Parte própria/parte terceirizada - 2

Segmentos atendidos

• Casual - 2

• Íntima - 1

• Jeans - 1

•Modinha - 1

Produção média peças/mês

•Até 10 mil peças - 3

•Acima de 10 mil peças - 1

• 200 a 300 mil peças -1

Número de funcionários

• 634 - 1

• 40 - 1

• 19 - 1

• 12 - 1

• 11 - 1

Setor de corte

• Todos dentro das empresas

Tempo de mercado

• Todas têm mais de 10 anos

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Em relação ao tempo de mercado, todas as empresas possuem mais de

10 anos, o que demonstra possuírem bom planejamento estratégico e boa

gestão empresarial, visto que sobreviveram nesse período.

No que se refere à principal atividade exercida pelas empresas, pode-se

afirmar que uma delas produz exclusivamente moda masculina; uma moda

feminina; uma moda feminina e masculina; uma moda íntima feminina e uma

das empresas não respondeu à questão. Aqui cabe ressaltar que a moda

feminina geralmente possui mais detalhes, que podem demandar vários tipos

de recortes e até tecidos diferenciados e, possivelmente, gerar uma maior

quantidade de resíduos sólidos têxteis.

No que tange aos segmentos atendidos, foi verificado que uma empresa

trabalha no segmento casual; uma no segmento casual e jeans; uma modinha

e outros; uma moda íntima e uma empresa não respondeu à questão.

Em relação ao número total de funcionários, a Empresa 1 é a que possui

o maior número, exerce atividades voltadas para a fiação, a tecelagem, os

acabamentos e a confecção, possui 634 funcionários, sendo considerada uma

grande empresa. Em segundo lugar, com 36 funcionários está a Empresa 5

que trabalha com moda feminina e masculina no segmento casual e jeans e é

considerada uma empresa de porte pequeno. As demais empresas são

consideradas microempresas, pois trabalham com menos de 20 funcionários.

Cabe aqui ressaltar que a única empresa que tem fabricação própria é a

que possui o maior número de funcionários e não tem nenhuma etapa

terceirizada. Três empresas têm parte de sua produção terceirizada e também

possuem fabricação própria. Uma das empresas tem toda a sua produção

terceirizada para as facções, ou seja, ela não tem a parte de montagem de

peças, não tem funcionários específicos na área da produção e nem mesmo

possui o maquinário necessário.

A produção terceirizada pela maioria das empresas pode ser uma

necessidade de sobrevivência em função de custos mais acessíveis, de falta

de espaço, de falta de capital para investimento no maquinário, de falta de mão

de obra qualificada e de excesso de despesas trabalhistas, dentre outros.

Quanto à característica da produção, 60% das empresas trabalham com

fabricação própria e terceirizada; 20% apenas com fabricação própria e 20%

terceiriza a produção. Estas informações mostram uma característica

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específica do setor que é utilizar das facções para a produção integral das

peças ou como complementação da produção, uma realidade vivenciada nas

confecções de Divinópolis.

Em relação às áreas em que estão dispostos os funcionários em todas

as empresas consultadas, a produção tem o maior número, ou seja, 656

funcionários, a administração 38, outras áreas 10 e criação 8 funcionários.

Observa-se aqui que a produção é que demanda por um maior número de

funcionários, pois neste setor são poucas as atividades que podem ser

informatizadas e não demandam muitos funcionários. O setor administrativo e

de criação têm grande parte de seu processo informatizado, o que não exige

tantos profissionais a trabalhar no setor.

Em relação ao setor de corte, todas as empresas afirmaram que ele se

encontra nas próprias empresas, ou seja, todos os resíduos têxteis gerados

pelo setor se encontram dentro da empresa que, mesmo sabendo da

quantidade de retalhos gerados, parece ainda não ter percebido a necessidade

da não geração ou pelo menos minimização dos resíduos, e nem mesmo o

prejuízo causado. O corte é uma das atividades essenciais e estratégicas da

cadeia produtiva, pois dele depende toda linha de produção e problemas no

corte que podem atrasar a montagem da peça e, consequentemente, a entrega

do produto.

No que se refere à quantidade de peças produzidas mensalmente, uma

empresa produz de 2.001 a 5.000 peças; duas empresas de 5.001 a 10.000 e

duas empresas produzem mais de 10.000 peças/mês, sendo que a maior delas

produz entre 200.000 e 300.000 peças/mês. Ressalta-se aqui que a empresa

com o menor número de funcionários é a que terceiriza para a facção toda a

sua produção e tem ainda a menor quantidade de peças produzidas por mês.

Quando se trata do destino da produção, todas as empresas produzem

para Minas Gerais e 60% delas produzem também para outros estados, como

Espírito Santo, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo, Maranhão e outros.

Em relação ao faturamento mensal, as respostas assinaladas mostram

que duas empresas faturaram de R$ 60.001,00 a R$100.000,00; uma empresa

de R$100.001,00 a R$200.000,00 e uma empresa mais de R$500.000,00.

Percebe-se aqui um faturamento elevado para micro e pequenas empresas.

Uma das empresas não respondeu à questão.

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No que tange aos processos produtivos terceirizados, quatro empresas

pesquisadas adotam a prática para a realização dos serviços de bordado e

estamparia. De igual forma, três empresas a adotam para etiquetas,

embalagens, tags e lavagens; duas empresas a adotam para os processos de

acabamentos, casear e pregar botões; e uma empresa para a modelagem e

corte. Duas empresas utilizam o processo de costura total, ou seja, terceirizam

para as facções toda a parte da sua produção relacionada à costura.

A utilização de facções pelas empresas confeccionistas é uma realidade

atual, visto que muitas delas não possuem uma estrutura de produção –

financeira, máquinas e equipamentos, pessoal – para atender as demandas

adicionais eventuais.

Quando se trata do controle de qualidade, todas as empresas afirmam

que este ocorre do início ao fim do processo, o que demonstra a consciência

das empresas sobre a necessidade desse controle para a qualidade do

produto. Empresas que hoje não possuem essa visão estratégica estão

fadadas a serem menos competitivas e perderem espaço no mercado.

Nesse momento, o questionamento que se faz é: se nas empresas

pesquisadas o controle de qualidade ocorre de forma efetiva e, se no setor de

corte há um maior acompanhamento, porque ocorre o desperdício de tecidos o

que gera resíduos sólidos têxteis e as providências para a não geração ou

minimização dos resíduos não são tomadas?

Em relação à utilização de alguma ferramenta da qualidade total no

acompanhamento da produção, uma empresa utiliza apenas uma ferramenta;

uma empresa utiliza duas ferramentas; uma empresa utiliza três ou mais

ferramentas e duas empresas não utilizam ferramentas. Cabe ressaltar que as

ferramentas de qualidade total são técnicas que têm a finalidade de definir,

analisar, mensurar e propor soluções para os problemas que ocorrem e

interferem no bom funcionamento do processo produtivo.

Ressalta-se ainda a necessidade de conscientizar as empresas sobre

medidas e ações para que haja um controle de qualidade eficiente e

permanente em todas as fases do processo produtivo. Torna-se necessário a

elaboração de metas de investimentos, seja para a qualificação de mão de

obra, aquisição de equipamentos substituindo aqueles já obsoletos,

contratação de consultores para diagnosticar e buscar soluções para os

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gargalos da produção e, especialmente, para as etapas de modelagem e corte,

visando um aproveitamento máximo dos tecidos e, consequentemente, uma

menor produção de resíduos sólidos têxteis.

Quanto à participação direta do designer de moda na produção, 80%

das empresas responderam afirmativamente e uma empresa assegura não

possuir este profissional. Das quatro empresas que possuem a participação do

designer de moda, em três delas os profissionais trabalham dentro da própria

empresa e em uma a participação ocorre eventualmente – freelancer.

Quanto às etapas de participação do designer, duas empresas

responderam que ele atua em todo o processo produtivo; duas afirmaram que

ele atua apenas no processo de criação e uma empresa não respondeu à

questão.

Todas as empresas consultadas afirmam ser importante a participação

do designer de moda no processo produtivo de uma confecção e justificam a

sua importância por diversos fatores, entre eles, “por acompanhar todo o

processo de produção e ficar por dentro da qualidade da peça”; “para

atualização no mercado”; e “por valorizar sua participação nos resultados

obtidos pela empresa”.

Além disso, o bom designer de moda, ambientalmente consciente,

buscará ao elaborar os desenhos de suas peças preocupar-se com matéria-

prima que seja mais ecológica e com cortes que reduzam ao máximo os

resíduos têxteis gerados.

No que se refere às maiores demandas por cursos e treinamentos, a

capacitação de mão de obra é a primeira necessidade das empresas

pesquisadas, seguida pelo controle da qualidade e por cursos de modelistas,

pilotistas e cortadeiras. Uma das empresas, a que terceiriza toda a sua

produção, não respondeu à questão.

Matérias-primas, insumos e maquinários

A Figura 4.2 traz as principais informações sobre as matérias-primas, os

insumos e os maquinários utilizados pelas empresas participantes dessa

pesquisa.

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Figura 4.2 – Informações sobre as matérias primas, insumos e maquinários utilizados nas empresas

Fonte: Elaborado por Júlia Couto Nogueira a partir do banco de dados da pesquisa, 2015.

O principal tipo de tecido utilizado é a malha, seguido pelo tecido plano,

pela viscolycra e pelo jeans. Dentre outras vantagens, utilizar a malha como

principal tecido significa que o maquinário necessário para a sua utilização é

menor em quantidade e preço; os tecidos de malha geralmente têm preços

mais acessíveis e são vendidos em quilos, o que proporciona maior

rendimento, além de uma produção mais rápida e sem a necessidade de mão

de obra especializada.

No que se refere ao principal tipo de fibra utilizada por todas as

empresas pesquisadas, a sintética, a natural e a mista estão no mesmo nível.

O tipo de fibra utilizado em um tecido é fator relevante no que diz respeito à

destinação final dos resíduos constituídos pelas fibras, tendo em vista as

diferenças significativas verificadas no tempo de decomposição das fibras

naturais e sintéticas. O que ocorre, geralmente, é que as fibras sintéticas

demandam um tempo de decomposição consideravelmente maior que as fibras

naturais.

Em relação às fibras utilizadas na produção de peças do vestuário,

Amaral (2014, p. 40) ressalta “que grande parte dos tecidos utilizados pelas

indústrias de confecção compõe-se de materiais sintéticos, de decomposição

demorada na natureza, como ocorre com a viscose, o nylon e o elastano,

Matérias-primas,

insumos e maquinários

Principal tipo de fibra

•Mista - 3

•Natural - 3

• Sintética - 3

Quantidade média

tecido/mês (kg)

•Até 500 kg - 1

•De 1001 kg a 3000 kg - 1

•De 5001 kg e 8000 kg - 1

•N/R - 2

Quantidade média

tecido/mês (m)

•De 501 m a 1000 m - 1

•De 1001 m a 3000 m - 1

•N/R - 3

Tem fornecedores

ambientalmente corretos

•Às vezes - 2

• Sim - 3

Fase em que ocorre a perda

de matéria-prima

•Acabamento - 2

•Corte - 5

•Costura - 2

• Fiação - 1

•Modelagem -1

Principais motivos das

perdas na produção

•Defeitos na mão de obra - 2

•Defeitos na matéria-prima - 3

•Métodos utilizados -3

• Processos - 1

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ilustrativamente”. O que pode ser percebido é que o tempo de decomposição

varia de acordo com o tipo de fibra utilizada.

O "Guia Pedagógico do Lixo", elaborado pela Secretaria do Meio

Ambiente de São Paulo, afirma que o tempo de decomposição das fibras

têxteis poderá variar conforme as condições a que elas estão submetidas no

meio ambiente:

Cabe lembrar que a decomposição dos diferentes materiais depende sempre das condições a que ficam expostos, o que justifica as divergências observadas nas diferentes publicações. Esses valores são importantes porque permitem uma comparação entre os tempos de decomposição requeridos pelos materiais e servem de alerta às pessoas para a complexidade e magnitude dos problemas relacionados com a disposição de resíduos no solo, seja na forma de lixões ou aterros sanitários (SÃO PAULO, 2011, p. 42).

Em relação ao local de compra dos tecidos, todas as empresas

consultadas compram fora da cidade e quatro delas compram também na

própria cidade. Este fato, que movimenta a economia do município, traz novas

oportunidades de atividades que geram mais empregos e renda, além da

possibilidade de adquirir produtos com custos mais baixos.

No que se refere ao conhecimento sobre a origem dos tecidos utilizados,

três empresas afirmaram conhecer e estes se originam do Brasil – Caxias do

Sul e São Paulo – e uma empresa afirma utilizar tecidos importados. Uma

empresa não respondeu à questão e outra afirma não atender, pois fabrica o

próprio tecido.

Em relação aos tecidos importados é importante destacar que as

empresas, em busca da maximização de seus lucros e da sobrevivência no

atual mercado globalizado, optam por adquirir tecidos, principalmente de

países asiáticos, que, geralmente, oferecem matérias-primas a preços bem

mais baixos.

A escolha, à primeira vista vantajosa, pode esbarar em questões

relativas à falta de certificação da segurança da matéria-prima constituinte

desses tecidos, bem como, nas condições de trabalho dos países de origem,

que muitas vezes empregam mão de obra infantil, escrava ou análoga à

condição de escrava, causando danos ao meio ambiente e prejudicando a

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saúde, a segurança e violando os direitos e a dignidade tanto dos empregados

dessas empresas, quanto dos consumidores.

Quanto à quantidade média de tecido consumido por mês em

quilogramas, uma empresa afirmou comprar até 500 Kg, uma empresa de

1.000 a 3.000 Kg, uma empresa de 5.001 a 8.000 Kg, uma empresa não

respondeu e outra afirmou não atender a essa questão por utilizar tecidos de

fabricação própria.

Quando se trata da quantidade média de tecido consumido por mês em

metros, apenas duas empresas responderam à questão, sendo que uma

consome de 501 a 1.000 m e a outra de 1.001 a 3.000 m. As demais empresas

não responderam.

Cabe aqui esclarecer que os tecidos são vendidos em quilos ou metros,

dependendo do tipo de tecido, por exemplo, se for um tecido plano, geralmente

é vendido em metros, já a malha é vendida em quilos. A diferença entre tecido

plano e malha se dá pela forma de entrelaçamento dos fios. Enquanto o tecido

plano é feito em teares e seus fios se tramam perpendicularmente, na malha os

fios se cruzam através de colunas e carreiras.

Em relação à seleção de fornecedores que trabalham com matérias-

primas ambientalmente corretas, três empresas afirmam ter esta preocupação

e duas empresas, às vezes, se preocupam com a questão. A consciência

ambiental por parte das empresas tem aumentado e o consumidor tem uma

parcela neste aumento ao procurar por peças que poluam menos e protejam o

meio ambiente.

No que tange ao controle de estoque, todas elas afirmam ter controle,

seja ele informatizado – 80% das empresas – ou manual – 20%. Uma das

empresas afirma utilizar além do controle informatizado, outro tipo de controle:

a conferência. O corte informatizado favorece o aproveitamento do tecido e

minimiza a produção dos resíduos, ao utilizar ao máximo os tecidos,

apresentando-se como uma das alternativas viáveis para a redução dos

resíduos descartados no meio ambiente.

No que se refere ao armazenamento da matéria-prima, todas as

empresas afirmam ter almoxarifado específico. No entanto, a tecelagem afirma

possuir ainda um depósito de fibras e um almoxarifado de insumos.

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206

Quando se questiona sobre a existência da perda de matéria-prima

antes ou durante a produção, todas elas reconhecem ocorrer tal situação e que

a perda ocorre no momento do corte. Aqui cabe reforçar o que foi exposto

anteriormente sobre a importância do uso da tecnologia através de softwares, o

que facilita e otimiza o processo e, consequentemente, reduz a geração dos

resíduos têxteis. As empresas afirmam ainda ocorrer perdas nas fases da

costura, modelagem, acabamento e até na fiação, no caso específico da

tecelagem consultada. Justifica-se aqui a necessidade de um controle de

qualidade durante todo o processo produtivo.

Em relação aos principais motivos das perdas no processo produtivo, os

métodos utilizados foram citados por três empresas, sendo o único motivo

levantado por duas delas, fator esse que pode ocasionar perdas

desnecessárias e reduzir substancialmente o faturamento delas. Ressalta-se

aqui a necessidade de solucionar as questões levantadas em busca de

métodos que favoreçam uma maior produção, objetivo primordial das

empresas, mas de forma sustentável, de preferência sem a geração de

resíduos têxteis ou pelo menos com utilização de processos para

aproveitamento dos resíduos.

Outros motivos levantados pelas empresas se referem aos defeitos na

matéria-prima, citados por três delas, sendo que em duas este motivo vem

conjuntamente com a deficiência de mão de obra.

Neste aspecto, as empresas precisam se preocupar em escolher

fornecedores que tenham matéria-prima de melhor qualidade, pois este fator

determinará também a qualidade do seu produto, portanto de suas vendas. Ao

optar por fornecedores melhores, elas estarão colaborando para a melhoria do

nível desses fornecedores, e assim aqueles que não têm a preocupação em ter

um bom produto ficarão fadados ao fracasso ou buscarão formas para se

manterem no mercado.

Causa admiração o fato de as empresas, inseridas em mercados cada

vez mais competitivos, não priorizarem uma mão de obra qualificada. Parece

não se preocuparem com a expansão de suas atividades, necessitando apenas

sobreviverem, sem pelo menos ter seus objetivos bem definidos.

Quando é tratada a questão das medidas para evitar as perdas durante

a produção, são considerados os programas de redução do desperdício, o

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207

programa de treinamento dos funcionários, a manutenção preventiva dos

equipamentos e a substituição dos equipamentos, dentre outros. Percebe-se

que estas questões são levantadas pelos respondentes, mas mesmo tendo

consciência das perdas ocorridas, não são tomadas medidas para aplicação

dessas ações.

Vale ressaltar que as perdas de matéria-prima não ocorrem somente

antes ou durante a produção e em função exclusiva dela. Assim, em razão da

ocorrência de fatores estranhos à produção, como, por exemplo, inundações,

incêndios, roubos, exposição a intempéries e calor excessivo, a matéria-prima

pode se perder e se transformar em resíduos sólidos têxteis.

Dessa forma, cabe aos empresários do setor atuar de forma preventiva e

buscar ações que evitem as perdas de matéria-prima, quer seja por fatores

relacionados à produção ou não. Agindo assim, evitarão perdas, poderão ter

um produto mais competitivo e contribuirão para a proteção e a preservação do

meio ambiente.

Informações sobre os resíduos sólidos gerados nas indústrias de confecção

A Figura 4.3 mostra algumas informações sobre resíduos sólidos têxteis

retiradas dos formulários aplicados às empresas de confecção de Divinópolis,

Ressalta-se aqui que embora algumas empresas até tenham a

preocupação em utilizar mecanismos para a minimização dos resíduos sólidos

têxteis gerados, o ideal delas seria priorizar a não geração de resíduos.

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Figura 4.3 – Informações sobre os resíduos têxteis gerados nas empresas

Fonte: Elaborado por Júlia Couto Nogueira a partir do banco de dados da pesquisa, 2015.

Em relação aos tipos de resíduos sólidos gerados direta e indiretamente,

os retalhos estão presentes nas respostas de todas as empresas pesquisadas,

sendo verificada a ocorrência exclusiva desse tipo de resíduo têxtil em duas

empresas.

Ressalta-se aqui a importância desta pesquisa ao apresentar a realidade

do setor confeccionista de Divinópolis em relação à produção de retalhos e à

necessidade de buscar alternativas para a destinação adequada dos resíduos

sólidos têxteis.

Em relação à ocorrência de seleção/separação dos resíduos sólidos em

geral dentro das empresas, duas delas realizam essa ação, duas empresas

não realizam e uma empresa não respondeu à questão. As que responderam

afirmativamente informaram utilizar a separação por tipo de resíduos.

Ao tratar especificamente da seleção dos resíduos sólidos têxteis, três

empresas afirmam ocorrer tal seleção, que se dá por tipo de tecido, tamanho,

quantidade, dentre outros. Uma empresa afirmou não fazer nenhum tipo de

seleção e uma empresa não respondeu à questão.

A seleção/separação facilita muito o trabalho de quem utiliza os retalhos

na produção de novos produtos, pois favorece o reaproveitamento seja através

do tipo de fibra utilizada, tamanho ou ainda pela cor dos tecidos.

Resíduos sólidos têxteis

gerados

Destino dos resíduos sólidos têxteis

•N/R - 1

•Doados - 3

•Colocados na rua - 3

•Vendidos - 2

Tipos de resíduos gerados direta ou

indiretamente

•Aparas - 1

•Outros - 1

• Papel - 3

• Plástico - 3

•Retalhos - 5

• Sobras de aviamentos - 2

Existência de seleção/separação dos resíduos sólidos dentro

da empresa

•Não - 2

•N/R - 1

• Sim - 2

Forma como é feita a separação dos resíduos

sólidos têxteis na empresa

•Classe - 1

•Nenhum - 1

•Quantidade - 1

• Tamanho - 1

• Tipo de tecido - 2

•N/R - 1

Quantidade média dos resíduos sólidos têxteis gerados/semana (kg)

•De 10 kg a 50 kg - 1

•De 51 kg a 100 kg - 1

• 10000 kg - 1

•Desconhece - 2

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209

Em relação à destinação dos resíduos têxteis gerados nas empresas, à

doação a terceiros e à colocação na rua para coleta urbana junto ao lixo

doméstico e/ou por catadores de retalhos foram citadas por três empresas e

também a doação a instituições e programas sociais. Uma delas não

respondeu à questão.

A partir da vigência da Lei n. 12.305/10 (BRASIL, 2010), as empresas

que gerarem resíduos sólidos serão responsáveis e pagarão para que ocorra a

sua destinação final.

Nesse contexto, o art. 51, do referido dispositivo legal, determina que

Sem prejuízo da obrigação de, independentemente da existência de culpa, reparar os danos causados, a ação ou omissão das pessoas físicas ou jurídicas que importe inobservância aos preceitos desta Lei ou de seu regulamento sujeita os infratores às sanções previstas em lei, em especial às fixadas na Lei n. 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, que “dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências”, e em seu regulamento (BRASIL, 2010).

Assim, cabe às indústrias de confecção do vestuário de Divinópolis ficar

atentas aos resíduos gerados e buscar alternativas para a destinação correta

deles, evitando que sejam direcionados ao aterro sanitário, poluindo o meio

ambiente e diminuindo seus lucros em razão dos desperdícios e do pagamento

pelo resíduo gerado.

Em relação à quantidade média semanal de resíduos têxteis que são

vendidos, a empresa que possui os processos de fiação, tecelagem,

acabamentos e confecção afirma vender aproximadamente 10.000 Kg por

semana. Ressalta-se que no caso específico dessa empresa, os resíduos

gerados não são apenas retalhos, mas também, advindos dos demais

processos de fiação, tecelagem e acabamentos, além dos da confecção. A

outra empresa afirmou vender aproximadamente 20 Kg por semana, a preço

médio de R$10,90. Uma das empresas não tem este controle e duas empresas

não responderam à questão.

Ao serem questionadas sobre para onde se destinam os resíduos têxteis

gerados, três empresas afirmam não saber e duas empresas afirmam que os

resíduos são destinados a processos de reutilização, de regeneração e ao

artesanato. Percebe-se aqui certa displicência por parte das empresas que não

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210

se preocupam com o destino dos seus resíduos, deixando a ideia de que a

responsabilidade pelo próprio resíduo gerado é sempre do outro.

A confirmar esse fato, a representante do SOAC exemplifica ao afirmar

que se “O problema é meu, mas se eu posso passá-lo eu vou fazer isso

rapidinho para que eu fique bem” (Ana Lúcia, representante do SOAC).

Em relação à quantidade média de resíduos têxteis gerados

semanalmente, duas empresas afirmam desconhecer, uma empresa afirma

gerar entre 10 a 50 Kg, uma empresa de 51 a 100 Kg e outra acima de 1.000

Kg. Esse desconhecimento pode ser um indício de que não se tem por parte

das empresas possibilidades de reaproveitamento das sobras de produção até

mesmo em benefício da própria empresa.

Todas as empresas afirmam não participar de programas de reciclagem

ou reaproveitamento de resíduos têxteis e apenas duas empresas afirmam

conhecer algum trabalho realizado com reciclagem/reaproveitamento,

artesanato e industrialização. O desconhecimento desses trabalhos, por parte

das empresas, mostra a necessidade das entidades que os fazem melhorar a

divulgação de seus produtos e, possivelmente, até conseguir parcerias com as

empresas através da doação de resíduos, ou mesmo da confecção de produtos

personalizados para elas.

Assim, todos estariam colaborando para a redução dos resíduos

direcionados ao aterro controlado da cidade, trazendo benefícios sociais para a

cidade, bem como a geração de emprego e renda.

Informações sobre a gestão ambiental

As Figuras 4.4 e 4.5 trazem informações sobre a gestão ambiental nas

empresas de confecção de Divinópolis.

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Figura 4.4 – Informações sobre a gestão ambiental nas empresas

Fonte: Elaborado por Júlia Couto Nogueira a partir do banco de dados da pesquisa, 2015.

Em relação às dificuldades em se adotar medidas que causem menor

impacto ambiental, três empresas afirmam ser a única dificuldade a falta de

informação/conhecimento das questões ligadas ao impacto ambiental. Uma

empresa afirmou não ter dificuldade e outra não respondeu à questão.

Ao serem questionadas se possuem conhecimento das questões

ambientais pertinentes a sua atividade, duas empresas responderam que sim;

uma empresa diz atender parcialmente e duas afirmaram não ter conhecimento

sobre a questão.

Quando questionadas se a empresa atende às legislações ambientais

específicas nas esferas municipal, estadual e federal, quatro empresas

responderam que sim e uma empresa que atende parcialmente.

Ao serem questionadas sobre a existência de um Plano de Gestão

Ambiental adotado pela empresa, uma delas respondeu que sim, uma

parcialmente e três empresas informaram não ter tal plano.

Sobre a gestão

ambiental

Dificuldades em se adotar medidas com

menor impacto ambiental

• Falta de informação /conhecimento - 3

•Não há dificuldade - 1

•N/R - 1

Conhecimento das questões ambientais

pertinentes à sua atividade

•Não - 2

• Parcialmente - 1

• Sim - 2

Atendimento às legislações ambientais

específicas

• Parcialmente - 1

• Sim - 4

Existência de Plano de Gestão Ambiental

adotado pela empresa

•Não - 3

• Parcialmente - 1

• Sim - 1

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Figura 4.5 – Sobre a gestão ambiental

Fonte: Elaborado por Júlia Couto Nogueira a partir do banco de dados da pesquisa, 2015.

Quando questionadas se a empresa tem conhecimento e aplica métodos

produtivos inerentes às tecnologias limpas46, duas empresas afirmaram ter

parcialmente e três disseram não possuir.

Em relação à adoção de processos de minimização de resíduos sólidos

ou líquidos duas empresas afirmam adotar, duas não adotam e uma adota

parcialmente.

Ao serem questionadas se os resíduos são acondicionados

adequadamente e se sua disposição final é adequada, quatro empresas

afirmaram ser e uma afirmou que parcialmente.

Quando o questionamento é sobre ter um programa de coleta seletiva de

resíduos sólidos, apenas uma empresa respondeu que sim e as demais não

possuem tal programa. O programa de coleta seletiva facilita o trabalho dos

catadores ou entidades que utilizam o resíduo, diminui o montante

encaminhado ao aterro controlado, além de gerar emprego e renda para a

população.

Em relação aos resíduos gerados duas empresas afirmam ter esse

controle e três empresas não possuem. A falta de controle dos resíduos

gerados além do comprometimento ambiental demonstra por parte dos

46 Tecnologias limpas: conjunto de soluções que viabilizem novas formas de se pensar e usar os recursos naturais, objetivando desperdício zero.

Sobre a gestão

ambiental

Minimização de resíduos sólidos os

líquidos

•Não - 2

• Parcialmente - 1

• Sim - 2

Acondicionamento e disposição final de

resíduos adequados

• Parcialmente - 1

• Sim - 4

Programa de coleta seletiva de resíudos

sólidos

•Não - 4

• Sim - 1

Controle de resíduos gerados

•Não - 3

• Sim - 2

Substituição de produtos e materiais

que possam prejudicar o meio

ambiente

•Não - 1

• Parcialmente - 1

• Sim - 3

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empresários falta de conhecimento sobre as suas empresas, pois não ter

controle do que é descartado, possivelmente não o tem dos outros setores,

colocando a empresa sempre em estado de fragilidade, até em relação aos

funcionários.

Sobre a substituição de produtos e materiais que possam prejudicar o

meio ambiente três empresas afirmam ter essa ação, uma afirma que não e

uma afirma parcialmente. A afirmação desta ação por parte de quatro

empresas, mesmo que em uma delas seja parcial, pode ser um sinal de que as

empresas de confecção de Divinópolis têm atentado para a necessidade e tem

buscado alternativas para a preservação do meio ambiente.

Quando questionadas sobre as ações que estão sendo implementadas

pela empresa no que se refere à geração e descarte dos resíduos têxteis a

partir da obrigatoriedade da criação de um Plano de Gestão dos Resíduos

Sólidos, pela Lei Federal n. 12.305/10 (BRASIL, 2010), duas empresas

afirmaram não ter conhecimento sobre o assunto, sendo que uma delas

afirmou tomar conhecimento a partir desta pesquisa. As demais levantaram as

seguintes ações: faz-se a gestão interna dos resíduos industriais até sua

disposição final; todos resíduos são doados ou vendidos, não havendo sobras;

separação de resíduos.

4.2 Aspectos peculiares, semelhanças, divergências e comparações das

percepções dos entrevistados

Inicialmente, faz-se necessário relembrar que o objeto de estudo desta

pesquisa, denominado resíduos sólidos têxteis, constitui-se de retalhos de

tecidos originados dos processos produtivos das confecções do vestuário de

Divinópolis.

No que se refere aos tipos específicos de resíduos sólidos têxteis

encontrados pelos coletores, destacam-se, principalmente, além dos retalhos

de tecidos, os tubos de plástico e papelão que servem como suportes para os

rolos de tecidos e os papeis usados para fazer moldes e estampar tecidos.

Nessa perspectiva, destaca-se a manifestação do coletor municipal de

resíduos:

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[...] no modo desses retalhos tinham que ser recolhidos para alguma coisa, dá para fazer muita coisa por aí. Dá para fazer um tapete, fazer algumas colchas de retalho, bonito é só usar. Ele está sempre sendo desperdiçado. Nós jogamos lá e vai ser desperdiçado, e ainda serve para muitas coisas (Lázaro, coletor municipal de resíduos).

Em relação ao que é encontrado junto ao lixo domiciliar, as opiniões dos

coletores divergem. Para Lázaro, funcionário da empresa de limpeza urbana, é

comum encontrar resíduos têxteis junto ao lixo domiciliar: “o papelão encontro

muito no meio, o pessoal faz os moldes costumam acobertar, entendeu? Como

que joga fora? Descartando. É para descartar. (...) Joga no caminhão e lasca

tudo para dentro” (Lázaro, coletor municipal de resíduos).

De outro lado, o coletor autônomo, Anderson, afirma não ser comum

encontrar resíduos têxteis junto ao lixo domiciliar: “Os resíduos, os materiais de

reciclagem têxtil ficam mais armazenados nas indústrias que cortam pano, que

fazem roupas. Existe um lugar específico. Eles não ficam misturados não”

(Anderson, coletor autônomo).

Já para o coletor e presidente da ASCADI, Jeferson,

No daqui, no resíduo que vem para cá vem muito pouco, porque o pessoal que faz a coleta seletiva que é da EMOP e o nosso caminhão já sabe que aqui nós não fazemos a reciclagem desse material. Então quando vem, ele vem dentro de uma sacola que passou despercebido ou vem junto com outro material que na hora não teve como retirar. Traz junto e aqui na hora separa o material reciclado com o tecido (Jeferson, coletor da ASCADI).

Em relação ao aspecto peculiar de localização dos resíduos sólidos

têxteis no município, os coletores informaram ser esses locais, os bairros São

Judas, Bom Pastor e Planalto.

Relativamente à destinação final dos resíduos sólidos têxteis, o coletor

Anderson, questionado se os resíduos vão para um centro de triagem antes de

serem direcionados ao “lixão” de Divinópolis, afirmou que “Eles enterram tudo.

Chega lá, eles enterram tudo” (Anderson, coletor autônomo).

Referente aos resíduos recebidos na ASCADI é comum encontrar

sacolas com roupas, como aponta o presidente e coletor desta associação: “às

vezes não vem o retalho não, mas vem muita roupa também. Eu acho também

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uma outra coisa que eu acho muito estranha, porque tanta gente precisando de

roupa e o pessoal joga muita sacola de roupa, e roupa boa, no lixo. Entendeu?

Para ser jogado fora” (Jeferson, coletor da ASCADI).

Destaca-se, nesse ponto, a indignação do coletor da ASCADI com a

falta de conscientização da sociedade em relação a esse tipo de resíduo que

poderia ser reutilizado, reciclado ou reaproveitado antes de ser considerado

lixo.

Relativamente à falta de triagem dos resíduos que, em geral, resulta em

sua disposição final ambientalmente inadequada, a representante do SOAC se

manifesta apontando o lado negativo dos resíduos gerados e questiona: “Onde

que coloca esse resíduo? O lixo que é produzido? Onde que joga?”; e afirma

que estes resíduos vão “pra vala comum” (Ana Lúcia, representante do SOAC).

Confirmando esse posicionamento, o coletor municipal de resíduos,

Lázaro, destaca que em relação aos resíduos têxteis não existe uma triagem:

“Vai tudo para o aterro. [...] Chega, descarrega o caminhão, a máquina vem,

entope ele. Não tem seleção não” (Lázaro, coletor municipal de resíduos).

Em outra vertente, segundo o coletor Jeferson, os resíduos sólidos

direcionados para a ASCADI passam por um processo de triagem.

O que nós coletamos é separado, ele é triado, armazenado e quando nós vemos que tem um montante bom nós vamos, prensa e amarra. Faz os fardos. E é comercializado em rede. Nós estamos comercializando com uma empresa que chama CRB, mas a maioria das vezes nós comercializamos com uma empresa que chama UARCO. Nós colocamos na mão da rede e a rede que negocia onde está o preço melhor (Jeferson, coletor da ASCADI).

Jeferson destaca ainda como ocorre o processo de triagem na ASCADI

desde a chegada do material recolhido até a sua prensagem.

Esse material é recolhido na rua. Jogado no caminhão. O caminhão chega, despeja. Nós chamamos de gaiola. É onde as meninas separam manualmente, entendeu? Não tem esteira nem nada. Vai puxando dessa gaiola e vai separando. Plástico com plástico. Plástico colorido, plástico branco, plástico com papel branco, papel colorido, o papelão, o material, a sucata ferrosa, o material fino que no caso é cobre, alumínio, essas coisas. Vão separando por material nos deck e depois vai

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juntando num canto. Até dar a quantidade certa para nós prensarmos (Jeferson, coletor da ASCADI).

No tocante à destinação final dos resíduos, o gestor público municipal,

Willian, destaca o elevado volume de resíduos que vai para o aterro sem que

se faça a devida triagem, em contrapartida ao reduzido volume dos resíduos

que vão para as associações de catadores. Assim,

E dentro dos processos da reciclagem é o que a gente tem discutido. Nós fizemos um levantamento recente para inclusive fazer o Plano Municipal de Gerenciamento de Resíduos Sólidos. Nós verificamos que o material que nós estamos levando hoje para disposição final no aterro controlado é muito grande e muito pouco aproveitável. Muito pouco hoje em Divinópolis vai para as associações de catadores (Willian, gestor público municipal).

Nesse mesmo sentido, os resíduos sólidos que são descartados pelas

confecções e encontrados junto ao lixo domiciliar vão diretamente para o aterro

controlado, sem a devida triagem, como afirma o coletor Jeferson, da ASCADI.

O que vem para aqui é muito pouco. É muito pouco. Entendeu? É o que vem misturado, ou o que vem numa quantidade pequena junto, misturado com material que nós separamos na hora. Vai tudo para o aterro. Geralmente nós não pegamos. Tem muita coisa de tecido que nós não pegamos. Não jogamos para o caminhão nosso e nem o pessoal da EMOP não joga também não. Já é orientado para isso (Jeferson, coletor da ASCADI).

Continua, ainda, o coletor a apontar os tipos de resíduos sólidos que não

são coletados pelos catadores da ASCADI, dentre eles, o tecido. Ele afirma

que

A nossa coleta é assim: nós só não coletamos madeira, isopor, tecido e material orgânico que é o lixo úmido, esses de rua, lixo de banheiro, assim. O resto é jogado tudo para cima do caminhão (Jeferson, coletor da ASCADI).

Dentro do mesmo cenário, em Itaúna, o gerente de resíduos daquela

cidade afirma que “o resíduo de confecção não é um resíduo comum, chamado

de resíduo perigoso. Nós fiscalizamos. Inclusive o descarte é feito em aterros

especiais, apropriados para esse tipo de material” (Sérgio, gerente de

resíduos).

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No que se refere ao aterro da cidade, ele afirma ser destinado para

resíduo doméstico e o município contrata “serviços de recolhimento e

destinação”. Em relação ao destino desses resíduos, “uma boa parte, a maioria

dos clientes aqui está indo para Betim, para as licenças” (Sérgio, gerente de

resíduos).

Comparativamente, em relação à disposição final dos resíduos sólidos

de Itaúna e de Divinópolis, percebe-se que Itaúna dispõe no aterro sanitário

municipal só os resíduos domésticos e encaminha para aterros especiais

outros tipos de resíduos.

Noutra perspectiva e de pior forma, Divinópolis encaminha para o aterro

controlado resíduos domésticos e industriais provenientes, por exemplo, das

indústrias de confecção do vestuário, sem a devida triagem.

Neste aspecto, a decisão do poder público municipal de Itaúna é

relevante do ponto de vista ambiental, pois visa destinar ao aterro controlado

somente os resíduos domésticos. Assim, o aterro sanitário municipal da cidade

deixa de receber os resíduos sólidos têxteis que representam um volume

elevado, ocupam espaço útil do aterro e degradam o meio ambiente.

Seguindo o contexto da destinação final dos resíduos sólidos têxteis, o

coletor municipal de resíduos, Lázaro, aponta que

Tem que ter um destino para ele próprio né? Fazer negócio, porque joga muito têxtil fora bom. Uma mulher mesmo, alguns tempos atrás, lá em cima onde eu estava, no setor lá, ela rasgou o saco de têxtil e tirou um bocado ajeitado, muito bom para muitas coisas. E levou para levar a fazer um tapete (Lázaro, coletor municipal de resíduos).

Continua Lázaro destacando que os resíduos deveriam ser “melhor

aproveitados”, pois o aterro é o seu destino final. E faz uma relação entre o seu

tempo de profissão e a quantidade de resíduos que ele próprio conduziu ao

aterro: “E tem quantos anos que nós estamos nesse trem? Não tem apenas 17,

18 anos. Imagina o que já joguei naquele aterro disso?” (Lázaro, coletor

municipal de resíduos).

Nos dois últimos posicionamentos do coletor Lázaro, percebe-se, pois, a

consciência do profissional com as questões ambientais, principalmente em

relação à necessidade do reaproveitamento e da reciclagem dos resíduos

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sólidos têxteis provenientes das indústrias de confecção do vestuário de

Divinópolis.

Seguindo no contexto da destinação final de resíduos sólidos têxteis, o

especialista na área ambiental, Pedro, destaca a importância de uma logística

coletiva otimizada por parte do poder público, empreendedores e associações

para solucionar os problemas relativos aos custos de uma destinação final

ambientalmente inadequada:

Nessa questão específica das confecções da nossa cidade, não existe algo nem por parte do poder público, nem por parte dos próprios empreendedores, das associações de confecções, de fábricas para que se tenha uma logística otimizada de destinação porque, às vezes, o que é rejeito para um, pode ser matéria-prima para outro. Então o que merece um maior estudo, uma maior atenção nesse aspecto principalmente desse rejeito de indústria têxtil, sim merecia com um plano maior de aplicação. Lembrando sempre que para poder criar essa logística há gastos não só por parte do poder público, mas por parte dos empreendedores também. Como nós chamamos no Direito Ambiental é uma internalização das externalidades negativas, ou seja, cabe sim, o empreendedor tem essa obrigação de pegar e dar uma destinação mais adequada para esse rejeito, internalizar esse custo para que a sociedade não pague com o descarte desnecessário, um descarte feito de forma inadequada ou pela falta do reaproveitamento (Pedro, especialista na área ambiental).

Neste mesmo sentido, o gestor público municipal, Willian, ressalta a

importância de se aliar a consciência ambiental a uma logística apropriada para

a destinação final ambientalmente adequada:

Agora, não adianta só ter só a consciência ambiental, todo mundo a fim de fazer, se nós, poder público, não podemos montar também uma logística para isso. Porque eu posso botar na cabeça de todo mundo, mas se eu não tiver os pontos de recolhimento, se não tiver os caminhões específicos para esse recolhimento, as pessoas vão perdendo aquele otimismo de se querer fazer isso. Eu falei muito com eles. Nós vamos ter que bater muito a tecla da reciclagem associada à logística. Não adianta educar, se as pessoas ao que for procurar um lugar para colocar o lixo, não encontram. Onde eu coloco este tal lixo reciclado que ninguém recolhe? A educação ambiental e a logística. Aí entra muito o poder público no sentido de organizar isso. Depois que você institui a coisa e a coisa começa a funcionar, naturalmente vai funcionar, mas no início é muito importante que o poder público esteja no sentido de estar criando as condições para que as pessoas possam se reeducar

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e fazer com que a coisa funcione (Willian, gestor público municipal).

Em relação à existência de iniciativas de destinação ambientalmente

adequadas para os resíduos sólidos por parte do poder público municipal, o

gestor ainda afirma, em resposta escrita ao questionário aplicado, que

possuímos um Centro Municipal de Triagem, onde todo o material recolhido pela coleta seletiva é destinado para este local. A prefeitura recolhe o resíduo de saúde e dá a destinação correta a um aterro sanitário licenciado. Os demais resíduos são levados para o aterro controlado do município. Mas, o maior projeto ambiental passa pela construção do aterro sanitário através do consórcio, onde poderemos aplicar nosso PMGIRS em sua plenitude (Willian, gestor público municipal).

Neste ponto, é importante reafirmar a peculiaridade de que, apesar de

Divinópolis possuir o Centro Municipal de Triagem que faz a coleta seletiva, os

resíduos sólidos têxteis são recolhidos juntamente com o lixo doméstico pelos

coletores municipais em caminhões da empresa contratada “Viasolo” e vão

parar no aterro controlado.

Ainda no contexto da destinação final de resíduos, questionado se a falta

de informação dos empresários é que acarreta a má destinação dos resíduos,

o presidente do SINVESD, Antônio, destaca a questão do desperdício de

materiais e seus custos, afirmando que

Eu acredito que sim. O empresário está focado em resultado. Isso ocupa tanto espaço na mente, no esforço, na energia dele durante o dia, durante a semana, durante o mês, durante o ano que ele acaba esquecendo que o resultado está ligado na sustentabilidade. Está ligado ao meio ambiente. Eu vou te dar um exemplo claro. Para você produzir uma blusa você tem que comprar o tecido, tem que cortar esse tecido, onde são gerados os resíduos. A primeira coisa que deveria se preocupar é em minimizar a geração desses resíduos. Ele pagou por um metro de tecido e ao cortar essa blusa ela vai gerar duas de 80 cm e 20 ele vai jogar fora, porque não dá para fazer outra blusa. Ele está jogando fora 20% do que ele comprou. Isso é custo (Antônio, presidente do SINVESD).

Sobre esse mesmo questionamento, o gestor público municipal afirma

que

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220

Eu acho que é a falta de informação e a falta de organização entre eles. Eles são muito unidos para... são muito corporativistas no sentido do ganho, da evolução da produção, do aumento da qualidade do produto deles, mas eles não se preocuparam, ainda, não se antenaram, ainda, com relação à geração dos resíduos que vem do empreendimento deles. Existe a falta de informação... por falta de informação. Na verdade, não houve ainda um interesse entre eles de tentar buscar a solução. Por isso, no dia da reunião eu falei assim: que parte muito da Associação que os representa. A Associação é que tem que começar a chamá-los e mobilizá-los em relação a isso. Eu dei um exemplo hoje na “Aliança e Cidadania” que eu fui muito questionado com relação à acessibilidade de Divinópolis em relação aos passeios na região central, como degrau, coisa e tal, nós estávamos conversamos muito sobre isso. Eu falei o seguinte: olha, eu acho que tem que cobrar de mim que sou o órgão fiscalizador, mas, muito mais do que cobrar de mim é chamar várias entidades e associações que podem estar participando muito com relação a isso (Willian, gestor público municipal).

Complementando, em relação ao mesmo questionamento da

desinformação dos empresários como causa da destinação final

ambientalmente inadequada dos resíduos, a consultora ambiental afirma que

“Acredito que haja desinformação ainda dos empresários, mas faltam políticas

públicas municipais mais efetivas” (Hélcia, consultora ambiental). Percebe-se

que a falta de informação por parte dos empresários foi considerado o fator

comum que resulta na má destinação dos resíduos.

Consideram-se, contudo, as seguintes diferenças nos posicionamentos:

enquanto o presidente do SINVESD afirma que o foco dos empresários está

nos resultados e que eles estão ligados à sustentabilidade e ao meio ambiente;

o gestor público municipal considera que, além do ganho proporcionado pelo

aumento da produção e qualidade dos produtos, falta organização entre os

empresários, pois faz-se necessário, principalmente, partir das associações e

sindicatos respectivos iniciativas que os representam para que haja a

destinação final ambientalmente adequada dos resíduos.

É possível, portanto, agora, compreender a natureza ou a origem desses

posicionamentos. O presidente do SINVESD, pressionado a atender as

demandas econômicas e financeiras dos empresários que representa,

necessita se posicionar favoravelmente a eles, portanto foca seu

posicionamento nos resultados e, até mesmo, é favorável à sustentabilidade e

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ao meio ambiente desde que esses beneficiem os resultados. Percebe-se,

pois, que seu posicionamento se direciona, fortemente, ao viés econômico e

financeiro de seus representados.

De outro lado, o gestor público municipal, ao exercer seu papel político

de administrador das questões ambientas municipais, deixa claro em seu

posicionamento sua natureza política ao reconhecer que o município deve

fazer sua parte, porém deixa transparecer que esse papel compete muito mais

às associações e aos sindicatos das empresas que as representam que ao

município propriamente dito, isto é, defende uma solução compartilhada

também com os empresários e suas associações e sindicatos.

Em relação ao desenvolvimento sustentável, este pode ser

compreendido como a situação harmônica de progresso humano que se

alcança quando ocorre o equilíbrio entre o desenvolvimento econômico e social

com a proteção e preservação do meio ambiente, em especial dos recursos

ambientais, para que eles possam suprir satisfatória e racionalmente tanto as

presentes gerações quanto as futuras.

Nesse contexto, ao ser questionado sobre a importância do

desenvolvimento sustentável para Divinópolis, uma cidade que está em plena

expansão, o especialista na área ambiental, Pedro, aponta como barreiras para

esse desenvolvimento a falta de investimentos e de preocupação com esses

investimentos, esclarecendo que

O que eu vejo não só para a nossa cidade, mas na maioria das cidades brasileiras é que a questão do desenvolvimento sustentável, a questão que é colocada hoje em dia nas grandes cidades mundiais que já tem um avanço nessa questão do desenvolvimento sustentável principalmente PROFIB, como a Costa Rica é premiada - Pro Felicidade Interna Bruta do Cidadão; não há investimento, não há preocupação para isso. A nossa preocupação ainda está a ligada à criação de infraestrutura básica que nós não temos ainda, às questões de saneamento e como as cidades discutem ecomobilidade discute esse FIB47 que eu acabei de citar. Discute que o local que a pessoa leva do trabalho para casa tem que ser um local bom de caminhar, de se viver, de se conviver. Não, nós no Brasil não discutimos isso. Acontece qualquer tipo de crise, vamos incentivar a baixar o IPI de carro, vamos incentivar o consumo. Nós estamos muito ainda atrás. Não vejo em quase

47 Felicidade Interna Bruta

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todas as cidades brasileiras, com exceções, alguma política visando um desenvolvimento sustentável. Não vejo. Vejo sim instrumentos fiscalizatórios, instrumentos que vieram com a lei de crimes ambientais tentando criar uma consciência como foi criada a consciência para a utilização do cinto de segurança, ou seja, compor a estabilidade. Pouco a pouco, nós vamos avançando, mas uma política de gestão visando o desenvolvimento sustentável, visando uma melhor qualidade de vida para o cidadão, dessa forma, dentro da sustentabilidade, eu não consigo enxergar (Pedro, especialista na área ambiental).

Assim, percebe-se nesse posicionamento, que na maioria das cidades

brasileiras os governos voltam-se para questões relacionadas à infraestrutura

básica e de saneamento, bem como, questões econômicas relativas à

produção e ao consumo, e se esquecem das questões relativas ao

desenvolvimento sustentável, dentre elas a qualidade de vida, a ecomobilidade

e, em algumas cidades mais avançadas, a felicidade do cidadão, ou seja, seu

bem-estar geral.

A representante do SOAC alerta para a dificuldade de buscar o equilíbrio

entre o crescimento econômico através da produção, mas sem a geração do

resíduo. Ela afirma que

Nós vamos mexer com o setor econômico que tem peso enorme dentro da economia do município. Nós não podemos parar de produzir, mas ao mesmo tempo nós temos que parar de produzir lixo. Então nós temos um fato muito contraditório. Nós temos que crescer economicamente e eu também não vejo dentro do crescimento econômico, de novas perspectivas de crescimento econômico, de harmonia e de sustentabilidade essa responsabilidade que você tem com o lixo que você produz (Ana Lúcia, representante do SOAC).

Ainda, em relação ao desenvolvimento sustentável, o presidente do

SINVESD, ao ser questionado sobre o que a instituição tem feito para atuar de

forma participativa no processo de desenvolvimento sustentável de Divinópolis,

afirma que

Nós já tentamos uma ação prática participando efetivamente do dia D, dia do voluntariado recolhendo peças, recolhendo cartilhas com isso. Outra coisa, nós já participamos desse processo do Plano Diretor onde um dos aspectos dele é a sustentabilidade. Contribuindo com dados, contribuindo com

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expectativas e contribuindo com sugestões para dar destino a esse resíduo sólido da confecção. Nós estamos tentando dentro do Plano Diretor dar essa contribuição de sustentabilidade para o setor (Antônio, presidente do SINVESD).

Outro aspecto relevante nas discussões sobre a temática ambiental é o

interesse que surge e manifesta-se nos diversos segmentos econômicos e

sociais e nas mais variadas formas possíveis.

O interesse pode ser considerado, genericamente, como o sentimento

inerente à condição humana que se manifesta quando ocorre a atração de

determinada pessoa ou grupo de pessoas por alguém ou alguma coisa que

seja por elas considerada útil, importante, valorosa, dentre outros aspectos, e

que as impulsione, podendo resultar numa futura ação ou omissão e contribuir

para a realização de suas vontades ou desejos.

Neste contexto, há interesses individuais, coletivos, semelhantes,

divergentes, pertencentes a esta ou aquela categoria, dentre outros tipos.

Em relação aos interesses conflitantes, pode-se dizer que são os que

conduzem a objetivos e a resultados diferentes. Assim, aquilo que determinada

pessoa deseja ou tem interesse pode ser o que a outra parte quer evitar a

qualquer custo.

Ilustrativamente, um ambientalista atuante, que valoriza o meio ambiente

e que sabe de sua importância para a manutenção e preservação da vida

saudável no planeta, terá o interesse para agir no sentido de preservá-lo e

protegê-lo para as gerações presente e futuras.

Em contrapartida, um grupo de empresários inescrupulosos do setor

têxtil que têm interesse na compra de tecidos sintéticos de baixo custo

confeccionados utilizando-se mão de obra em condições deploráveis e

materiais com compostos tóxicos, por exemplo, valorizará mais o provável

ganho que terão com a venda das peças de roupas que com a preservação do

meio ambiente.

Especificamente, na questão dos resíduos sólidos, o conflito de

interesses também se faz presente entre diferentes pessoas e grupos,

interagindo nas relações sociais e muitas vezes modificando as decisões que

eram de se esperar serem tomadas.

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Nesta perspectiva, a representante do SOAC afirma que todos têm

interesses e alguns, ao que tudo indica, utilizam esse interesse em seu próprio

benefício, aproveitando-se e prejudicando a parte mais fraca da relação. Assim

Nós vivemos numa sociedade que infelizmente, todos têm seu jogo de interesses, é impossível viver numa sociedade se você não tem interesse. Eu lembro quando nós começamos a trabalhar com a questão do Lixo e Cidadania, a primeira coisa que a gente feriu foi o interesse dos intermediários que usavam os catadores no lixão e tiravam o melhor do melhor, que eles tiravam. E nós mexemos no jogo de interesses (Ana Lúcia, representante do SOAC).

Entretanto, sob outra perspectiva, o presidente do SINVESD,

questionado se acredita em uma ação conjunta entre poder público, sindicatos,

empresas e sociedade como solução para amenizar a situação ambiental em

Divinópolis, fez críticas às entidades envolvidas no processo, bem como, à

democracia, via participação coletiva, destacando que

na hora que se encontra isso para planejar alguma coisa eu tenho minhas dificuldades, porque tem vaidade envolvida, tem entidades que estão pouco a frente já, outras estão um pouco atrás. Mudança de gestão. Eu não quero fazer o que você estava fazendo, porque eu estou desgastado. É nesse sentido, eu acredito muito em associativismo e cooperativismo. Acredito muito, mas aquela história da democracia tem limite. E tem que falar vai ser assim, porque é assim que eu penso que vai funcionar melhor. Na hora que você democratiza demais, você junta muitos atores, é difícil você montar uma peça ali. Se não tiver um diretor. Alguém tem que tomar a frente, alguém tem que ter pulso. Junta um monte de atores maravilhosos, os melhores do Brasil se não tiver alguém direcionando, não tiver um roteiro e um diretor não vai. O roteiro seria a legislação e o diretor algum agente desses para puxar essa fila (Antônio, presidente do SINVESD).

É importante destacar que as diferenças de posicionamento dos

entrevistados podem ser explicadas, em primeiro plano, porque se tratam de

representantes de sindicatos com interesses contrastantes. Enquanto o

primeiro representa os trabalhadores, o segundo, os empresários do setor.

Nesse aspecto, enquanto, ilustrativamente, os empresários buscam

maximizar o lucro proveniente de seus empreendimentos, reduzindo despesas,

inclusive com pessoal, os trabalhadores, por sua vez, reivindicam melhores

salários e condições de trabalho.

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Num segundo plano, percebe-se, no posicionamento da representante

do SOAC, haver consciência da realidade ao destacar a exploração econômica

dos catadores pelos intermediários e, mesmo implícita, uma possível solução

por meio de um processo onde haja equilíbrio de interesses.

De outra forma, nota-se, no posicionamento do presidente do SINVESD,

crítica à democracia participativa, apontando como fator de descrédito nesse

instrumento a falta de um possível líder para conduzir o processo.

Relativamente à definição do papeis sociais, a entrevistada,

representante do SOAC, quando questionada sobre quais outras ações além

daquelas tomadas pelo poder público, poderiam ser acrescidas para minimizar

os danos causados ao meio ambiente, afirmou que

Eu acho que o poder público, tem alguns papéis que ele exerce que não é só dele. Porque o poder público representa uma vontade popular. E quando você representa uma vontade popular você está propício a cometer muitos erros. Eu acho que essa pergunta anterior, acho que você tem que unir tudo aquilo que é órgão que representa as pessoas e, principalmente, os trabalhadores. Nós falamos muito isso aqui para o pessoal: você produz riqueza, mas você também produz problemas. O próprio trabalhador também está impaciente com essa questão ambiental. Ele não quer saber. “Eu quero chegar, trabalhar, ganhar o meu e ir embora”. Ele não está integrado nesse ambiente. O que nós temos que fazer é fazer com que as pessoas entendam e tomem consciência de integrar no seu meio ambiente, como um todo. Sua casa, onde você trabalha, onde mora. Quer ver que coisa mais feia eu assisto isso muito, o pessoal está num ônibus chupando uma bala e joga o papel na rua. Às vezes, na caminhada o cara compra uma garrafinha de água e toma lá e... E fala: Ah! Mas todo mundo está fazendo. Essa tomada de decisão passa pelo plano individual, para depois nós cairmos no coletivo. Acho que esse é o caminho. Acho que o poder público sozinho não vai resolver muito (Ana Lúcia, representante do SOAC).

Extrai-se desse posicionamento da representante do SOAC que a

integração do trabalhador deve acontecer de forma sistêmica, ou seja, o

trabalhador deve cumprir a sua jornada, mas não somente isso. Deve trabalhar

para que haja interação e um resultado harmonioso de forças entre ele –

empregado – o empregador, a sociedade e o meio ambiente do qual todos

fazem parte. Nisto se constitui a integração do trabalhador ao seu meio

ambiente.

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Neste cenário ambiental, o poder público, quer seja por seus órgãos de

execução, legislação ou julgamento, de forma isolada ou conjunta, deve

assumir seus diversos papéis sociais e fazer bem a sua parte. De igual forma,

devem agir os empresários, consumidores e demais segmentos da sociedade,

para que juntos possam garantir a coexistência equilibrada e saudável dos

diversos sistemas existentes no planeta.

Outros aspectos que merecem destaque em relação à questão

ambiental dizem respeito à manutenção de condições adequadas de trabalho

dos profissionais que lidam com materiais recicláveis, considerando os riscos a

que ficam expostos durante suas jornadas.

O coletor de resíduos da ASCADI, Jeferson, expôs, por exemplo, as

dificuldades e o risco no processo de coleta das garrafas de vidro, afirmando

que

Hoje está com um problema maior ainda, porque não está tendo comprador de garrafa. Não. Garrafa de vidro. O que tinha estava começando a pagar um valor muito pequeno entendeu? Pelo trabalho que dá e o perigo que tem, entendeu? Estava pagando 3 centavos. A última vez veio aqui pagou 3 centavos o quilo do vidro. É complicado. Para você manusear ele você tem que ter todo o cuidado, porque nem toda garrafa está inteira lá dentro. Algumas já estão quebradas e rasgam o saco que é transportado, esse saco de ráfia. Você pode cortar até um corte na veia, artéria no caso femoral e até morrer, porque é perigoso, entendeu? Manuseia para colocar no caminhão. Então nós não estamos nem comercializando mais, porque o tempo que nós gastamos para carregar e o perigo que é por 3 centavos, às vezes, não compensa (Jeferson, coletor da ASCADI).

Relativamente ao ambiente industrial, a representante do SOAC,

questionada se acredita que a poluição pode prejudicar a vida de um

trabalhador do setor confeccionista do vestuário, afirma que

Hoje nós não trabalhamos com muito jeans mais. Nós trabalhamos com tecidos mais leves, tecidos planos, malhas, outras coisas. Quando as pessoas trabalhavam com jeans havia muita reclamação, porque se você for buscar o grau das NRs, por exemplo, que são as Normas Regulamentadoras, o nosso setor é peso 2. É um peso que não tem insalubridade, não tem periculosidade, é um ambiente saudável de trabalho. No jeans o pessoal reclamava muito. O jeans tem uma tinta,

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que é famosa, que dá aquela cor “blue wave”. Acaba que quando você cortava ou passava numa máquina saía um “linhozinho” que ia para as vias respiratórias e acabava provocando algum tipo de irritação, algum tipo de alergia, mas no período que eu estou no SOAC, eu não tenho visto, e eu faço previdência social aqui para eles, nenhum trabalhador que chegou aqui com problemas pulmonares, problemas de alergia que fossem causados pelo ambiente de trabalho. Podem chegar por outras coisas. Questões de luz, questões de umidade, questão, por exemplo, de piso não apropriado, de calçado não apropriado, altura da máquina, altura da cadeira. As cadeiras, algumas, não são ergométricas ainda, mas do tecido, do trabalho mesmo, de estar lidando com o tecido, não (Ana Lúcia, representante do SOAC).

Extraem-se, inicialmente, dos dois posicionamentos relativos aos

prováveis riscos à saúde dos trabalhadores desses segmentos profissionais

distintos que quanto maior a especialização, a divisão e a organização do

trabalho menor será o risco à saúde e à vida dos profissionais dessas

categorias.

Assim, um coletor de resíduos que trabalha em ambiente externo e de

forma autônoma precisa contar com a ajuda das pessoas que dispõem os

resíduos para coleta, no sentido de que façam, previamente, a separação dos

resíduos e seu acondicionamento seguro, como é o caso necessário dos

objetos feitos de vidro.

Em contrapartida, tem-se o ambiente interno da fábrica, onde

regularmente se encontram presentes a organização, a divisão do trabalho e a

especialização, bem como as regras de prevenção de acidentes que

geralmente não ocorrem e quando ocorrem têm uma menor frequência, tendo

em vista o controle interno existente sobre as diversas fases de produção.

É necessário, no caso específico dos coletores autônomos que tanto o

poder público quanto a coletividade se esforcem num processo de

conscientização para que os resíduos dispostos nas calçadas sejam

previamente selecionados, agrupados e acondicionados de maneira correta

para evitar acidentes e preservar a saúde e a vida dos trabalhadores.

Outro relevante aspecto presente nas discussões das questões

ambientais são as leis. Elas operam como um dos diversos instrumentos de

controle social a disciplinar as ações humanas, a definir limites, estabelecer

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regras, esclarecer situações, enfim, proteger direitos e interesses públicos ou

privados, individuais, coletivos ou difusos, dentre outros.

Nesta direção, o direito ambiental, constituído nos diversos dispositivos

legais existentes, visa proteger e preservar o direito de todos ao meio ambiente

equilibrado como garantia de manutenção da vida saudável para as gerações

futuras e presente.

Em relação à legislação ambiental, a representante do SOAC acredita

que esta não é tão rigorosa quanto parece e que foi criada para intervir em

determinada realidade, pois as pessoas estão acostumadas a fazer as coisas

da maneira que acreditam ser corretas. Assim, afirma que

Você muda uma legislação porque ela parece, às vezes, rigorosa, mas no fundo ela não é rigorosa, porque a lei é criada num ambiente que você tem o costume de fazer as coisas. Quando você faz uma lei que vai proibir alguma coisa, ela tem que fazer uma intervenção na realidade que ela quer intervir (Ana Lúcia, representante do SOAC).

No que se refere à Lei n. 12.305/10 (BRASIL, 2010), que institui a

Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), o gestor público municipal,

Willian, destaca o desconhecimento das pessoas sobre as questões

ambientais, especificamente, sobre esta lei ambiental e afirma que as pessoas

ainda estão em processo de aprendizado. Assim

O grande ganho e que já começou a destacar foi quando no dia da audiência que nós passamos essa verdade para eles: gente, deixa eu falar uma coisa para vocês. Não é o município de Divinópolis que está inventando a roda não. Essa é uma diretriz que está vindo lá do Governo Federal. Existe uma Lei Federal, um Plano Nacional de Resíduos Sólidos que todas as cidades vão ter que acatar. É uma situação que está sendo feita forçada através de lei, mas do ponto de vista da consciência ambiental nós vamos ter que fazer mesmo. Se a gente quiser uma cidade sustentável nós vamos ter que trabalhar muito em cima disso. Existe resistência. Conversando com o pessoal lá você percebe por que tudo é muito novo. Quando você fala de resíduos, reciclagem, tratamento, é transitório. As pessoas ainda estão aprendendo (Willian, gestor público municipal).

Destaca-se nesse momento que os posicionamentos da representante

do SOAC, assim como do gestor público municipal, são coincidentes à medida

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que destacam que a lei é uma maneira forçosa de fazer com que as pessoas

mudem determinada realidade à qual estão acostumadas.

Coincidentes ainda no aspecto da mudança da realidade proporcionada

pela lei quando o gestor público municipal acrescenta que existe resistência

das pessoas às mudanças proporcionadas pela lei, deixa-se claro que as

resistências devem ser vencidas e todos devem trabalhar para que o novo

cenário da cidade sustentável aconteça.

Ainda, em relação ao Plano Municipal de Resíduos Sólidos, afirma o

gestor público municipal que “no momento, Divinópolis junto a outros

municípios forma um consórcio que atendeu um chamamento do governo

através da SEDRU48. Ele previa um aterro sanitário regional” (Willian, gestor

público municipal).

Merecem destaque dois aspectos da implantação do Plano Municipal de

Gestão Integrada de Resíduos Sólidos em Divinópolis. O primeiro se refere ao

fato de que o plano se trata, na verdade, de um plano regional e não municipal,

possibilitando, assim, a integração das ações dos municípios circunvizinhos

participantes e uma maior eficiência relativa à operacionalização e aos custos.

O segundo diz respeito ao motivo da escolha que está relacionada à

prioridade de liberação de recursos da União, como consta no art. 18, § 1o, da

Lei n. 12.305/10 (BRASIL, 2010),

§ 1o Serão priorizados no acesso aos recursos da União referidos no caput os Municípios que: I - optarem por soluções consorciadas intermunicipais para a gestão dos resíduos sólidos, incluída a elaboração e implementação de plano intermunicipal, ou que se inserirem de forma voluntária nos planos microrregionais de resíduos sólidos referidos no § 1o do art. 16.

Relativamente à questão da determinação de quem é o poluidor, o

gestor público municipal afirma que cada segmento da sociedade, seja pessoa

física ou jurídica, deve ser consciente juridicamente, cumprir a legislação e

assumir a sua parcela de responsabilidade pelos resíduos gerados. Assim,

esclarece que

48 Secretaria de Estado de Desenvolvimento Regional e Política Urbana de Minas Gerais.

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O que nós discutimos, inclusive foi uma reunião na FIEMG, uma audiência que nós fizemos lá. Eu lembro direitinho que o pessoal da confecção levantou o dedo e falou assim. Com relação ao nosso resíduo da confecção, o que vocês pretendem fazer? A discussão depois na audiência pública eu falei. A pergunta não é essa. O que vocês vão fazer com o resíduo de vocês? Porque na verdade a consciência que todos têm que ter, pessoa física e pessoa jurídica. Na minha casa eu faço a minha reciclagem. Eu faço. Essa é a consciência, né. Juridicamente, todo mundo tem que ter. As questões jurídicas, aí eu coloco as associações, por exemplo, o SINVESD, por exemplo, na questão do vestuário. Ela que tem que chamar os seus associados e falar assim: vamos fazer um projeto de reciclagem, vamos trabalhar, vamos procurar uma situação (Willian, gestor público municipal).

Neste posicionamento, percebe-se, ainda, que o gestor público

municipal deixou transparecer a tendência do pessoal da confecção –

empresários, associações e sindicatos –, de transferir a responsabilidade pela

geração dos resíduos do setor para o município ou, minimamente, um claro e

contundente desconhecimento sobre a responsabilidade pelos resíduos por

eles gerados ao questionarem sobre o que o município faria com o resíduo

gerado por eles.

Sobre o aspecto da implantação do Plano Municipal de Resíduos

Sólidos e suas consequências diretas para as empresas geradoras, o gestor

público municipal esclareceu que

Porque a gente está preparando eles para uma situação que com a implantação do plano de gestão de resíduos sólidos e posterior com o edital e a empresa que vencer começar a efetivar, as coisas vão mudar. O lixo, o resíduo passa a ser cobrado dessas empresas assim. Ou eu produzo menos, ou eu me encaixo nessa questão da reciclagem ou isso vai começar a pesar no meu bolso. Então na verdade, esse é o trabalho que nós estamos nesse momento fazendo um trabalho de conscientização que lá na frente, por bem ou por mal, vai ter que ser resolvido esse problema (Willian, gestor público municipal).

Continua o gestor público municipal esclarecendo em relação à

implantação do Plano Municipal de Resíduos Sólidos que

O plano na verdade já está fechado. Nós já fizemos algumas audiências. Já está pronto. Nós abrimos cinco dias de prazo após a audiência para que as entidades que estarão presentes,

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que foi até um pedido que eles fizeram também, colocassem sugestões. Nós recebemos todos aqui. Inclusive a Hélcia da Lixo e Cidadania. Várias pessoas que estavam presentes vieram, a própria FIEMG. Nós pegamos essas informações e contribuições e montamos novamente, acrescentamos mais alguns dados, eles pediram que fossem colocados mais alguns dados no plano também. E essa semana a consultoria juntamente com a prefeitura que está montando o processo, finalizou o texto. Nós vamos estar fazendo uma finalização agora. Eu acredito que agora no mês de setembro nós já devemos estamos fazendo o decreto e publicando oficialmente o plano. Porque na verdade ele é a base para a gente já poder estar lançando o edital. Nós queremos tentar lançar o edital esse ano ainda. Até o final do ano, para que no início do ano nós já tenhamos a empresa vencedora e nós já começamos esse processo em relação a isso. Mas com relação ao plano nós acreditamos fazer isso até setembro agora e já ser publicado já o decreto já de maneira oficial (Willian, gestor público municipal).

Aponte-se que o gestor público municipal, em sua primeira participação

nesta pesquisa, em 2013, quando questionado se o que estava disponibilizado

era a minuta do plano, afirmou que

Exatamente. É a minuta do plano. (...) Nós apresentamos à população. A população acrescentou, pediu que fosse colocado mais alguns dados. Nós colocamos e nos trouxeram mais algumas contribuições. Juntamente com eles nós acrescentamos isso no projeto. Formatou-se agora o texto final, que está em fase final de análise, de correção e redação dele já agora para fazer o decreto e publicá-lo (Willian, gestor público municipal).

Reafirma-se, nesse ponto, que o Plano Municipal de Resíduos Sólidos

de Divinópolis está pronto atualmente e que ele faz parte do Plano Regional de

Saneamento Básico.

Neste mesmo contexto da implantação do Plano Municipal de Resíduos,

o gerente de resíduos do município de Itaúna esclareceu que

Nós produzimos o plano de saneamento básico que inclui o de resíduos. Ele foi aprovado em 2013. O órgão executor é aqui o SAAE. Até a área de resíduos veio para o Serviço Autônomo de Água e Esgoto atendendo a esse plano de saneamento e uniu todas as vertentes de saneamento em um único local, numa única estrutura administrativa (Sérgio, gerente de resíduos).

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Percebe-se, desses três posicionamentos relativos à implantação dos

planos mencionados, que o Plano Municipal de Resíduos Sólidos de Itaúna

parece ter sido um marco regional, pois, como afirma o gerente de resíduos

daquele município, “uma legislação estadual do governo passado levou em

consideração o modelo de coleta seletiva de Itaúna para ser aprovado como

legislação estadual para coleta” (Sérgio, gerente de resíduos).

Merece destaque também que os processos de elaboração e

implantação do plano são etapas complexas, visto suas particularidades e

adaptações, que necessitam da realização de diversas audiências com a

participação popular e dos diversos segmentos econômicos envolvidos e as

dificuldades para se chegar a um consenso que represente o equilíbrio de

interesses de todos os participantes.

Nesta perspectiva, o posicionamento da consultora ambiental apesar de

lembrar a fragilidade e a precariedade do Plano Municipal de Resíduos Sólidos

de Divinópolis deve servir como estímulo e alerta para que sua implantação se

torne efetiva e alcance os resultados propostos o mais breve possível. Assim,

ela afirma que “o Plano Municipal de Resíduos Sólidos já foi criado, aprovado

em audiência pública, e constitui-se um documento com particularidades que

merece destaque pela vanguarda, mas a aplicação é precarizada e frágil”

(Hélcia, consultora ambiental).

Em relação à fiscalização e à aplicação de multas pelos órgãos

municipais relativas às atividades empresariais geradoras de resíduos sólidos

foram representativos os posicionamentos do gerente de resíduos do município

de Itaúna e do gestor público municipal.

Neste contexto, o gerente de resíduos do município de Itaúna, ao ser

questionado sobre quais seriam os órgãos e os responsáveis pela fiscalização

ambiental relativa aos resíduos sólidos gerados no município, esclareceu que

Essa fiscalização além da Polícia Ambiental, que quando ela normalmente tem que ser acionada, apesar de que eles também fazem algumas blitz; mas tem o departamento de Meio Ambiente; a Gerência de Meio Ambiente com alguns fiscais que também fazem esse tipo de fiscalização; e a própria comunidade, ela vai sendo educada para denunciar qualquer agressão ao ambiente que é feito na cidade. Quando acontece, normalmente, nós somos noticiados, informados dessas

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questões até mesmo pela população que ajuda um pouco na fiscalização (Sérgio, gerente de resíduos).

Sobre a aplicação de multas como parte do processo de fiscalização das

atividades e sua eficácia para a solução das questões ambientais atinentes, o

gerente de resíduos destaca que, antes de multar, é necessário conscientizar

as pessoas.

Nós temos um Código de Postura do Município. Tem previsão da aplicação de multa para o descarte irregular de resíduos. Esse código é de, se não me engano de 87. E tem uma proposta de lei geral de resíduos que todo município deve produzir a sua. Nós devemos encaminhar agora no segundo semestre para câmara para aprovação. Nós estamos ampliando a oportunidade de fiscalização e incluindo uma proposta de multar a pessoa que joga lixo no chão, mas antes disso, nós temos feito campanha de conscientização. Implantamos recentemente 380 lixeiras. 300 lixeiras. 80 delas duplas na área central da cidade. Pretendemos ampliar isso. E antes de multar a proposta nossa é conscientizar. (...) Para que não ocorra a transgressão (Sérgio, gerente de resíduos).

Continua o gerente de resíduos, quando questionado se a multa é só

uma previsão ou se já ocorre, afirmando que

Já. Quando necessário já aplica pelos fiscais. Tem inclusive, a partir dessa semana, dois fiscais. Tenho até reunião com eles hoje. Fiscais de postura para agirem mais, com mais rigidez na questão do resíduo (Sérgio, gerente de resíduos).

Nesta mesma direção do posicionamento do gerente de resíduos do

município de Itaúna (MG), sob o aspecto da necessidade primeira de

conscientização para, num posterior momento, fiscalizar e aplicar a multa, o

gestor público municipal destaca que

Eu acho que na verdade não é só chamar a prefeitura e falar assim. Tem que começar a multar, tem que começar a fiscalizar. Não. Faz um trabalho paralelo de conscientização em relação a isso. É a mesma coisa em relação ao Sindicato do Vestuário. Eu acho que parte, uma pessoa sozinha, uma confecção sozinha que ela dê a destinação, que ela faça a doação para a ONG Cidadania, que ela encaixe para outra ONG em qualquer outro lugar. Ótimo, ela já vai estar fazendo isso, mas como nós temos muitas confecções, a coisa tem que ser macro. Por isso, eu acho que o Sindicato, a Associação que rege, que toma conta dessas empresas é que deveria

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tomar a frente disso. É isso que nós estamos tentando trabalhar toda vez que nós estamos discutindo com o pessoal da FIEMG, que eles estimulem isso, que eles façam isso (Willian, gestor público municipal).

No que se refere às responsabilidades pela geração dos resíduos

sólidos em Divinópolis, aspectos relevantes foram verificados nos

posicionamentos da consultora ambiental, do gestor público municipal e da

representante do SOAC.

Neste contexto, considerando que Divinópolis tem uma produção

descontrolada de lixo, cerca de 120 mil quilos por dia, o que causa um

problema social na cidade, a consultora ambiental Hélcia aponta os

responsáveis e qual a função de cada um deles na minimização dessa situação

ao afirmar que

São vários atores, para realizarem uma gestão compartilhada. Poder público com a gestão, a iniciativa privada fazendo cumprir a legislação, a população se comprometendo com um acondicionamento correto dos seus resíduos, fazendo a separação dos recicláveis, colocando no dia e na hora certa para o recolhimento pelo poder público. O poder público, responsável pela logística de recolhimento e destinação adequada dos resíduos, e conforme a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), incluindo o catador como parceiro da limpeza urbana, destinando os recicláveis para as associações e cooperativas (Hélcia, consultora ambiental).

Importante destacar neste posicionamento da consultora ambiental a

questão da responsabilidade compartilhada, quando ela se refere aos diversos

atores e à gestão compartilhada, visto que, a cada um, em seu respectivo

segmento e a todos, de forma integrada, compete atuar de forma

ambientalmente correta e cooperar para a solução dos problemas ambientais

que a todos afetam, de forma indistinta.

Nesta mesma direção, o gestor público municipal de Divinópolis

esclarece que

Em relação às empresas, nós estamos com alguns projetos. Até minha equipe que trabalha na parte de licenciamento ambiental eu até falei com eles: olha, nós já cobramos bastante coisa que já está na lei, só que precisa ampliar. Eu preciso ampliar. Eu acho que nós temos como, passar mais a responsabilidade também para o comércio, para os

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empreendedores. Na verdade, senão fica só a cargo do poder público. Fica difícil o poder público já tem “n” atividades e não consegue atender a tudo isso. Eu acho que a responsabilidade tem que ser compartilhada de todos (Willian, gestor público municipal).

Continua o gestor público municipal em seu posicionamento afirmando

que “a sociedade, em todas as suas esferas, precisa assumir sua condição de

corresponsáveis pelas questões ambientais” (Willian, gestor público municipal).

Ainda, em relação à responsabilidade compartilhada, complementa o

gestor público municipal que

Vários itens que nós estamos colocando passando a responsabilidade para eles. Não é que nós vamos resolver, que pode deixar o lixo que nós vamos resolver. Nós estamos invertendo. Vai ser um processo difícil na verdade está todo mundo na zona de conforto. (...) Está todo mundo na zona de conforto. Pega o lixinho põe lá na porta, recolhe e tudo bem (Willian, gestor público municipal).

De diferente forma, o posicionamento da representante do SOAC, ao

afirmar que a questão da responsabilidade pelos resíduos sólidos gerados

relaciona-se com as políticas públicas e, se existe uma empresa contratada

para destinação final, a responsabilidade deve caber a ela.

Porque o lixo é uma questão de política pública. A partir do momento que eu tenho uma empresa que faz isso a empresa tem toda a responsabilidade. Então é a Viasolo que tem essa responsabilidade de pegar no lixo e dar uma destinação final para ela. O meu processo dentro desse processo é colocar num saquinho plástico, amarrar a boca e jogar na rua. Porque é isso que é passado para o empresário também. Ele em momento nenhum é responsabilizado por aquilo lá. A não ser quando ele recebe o IPTU e tem uma taxa de limpeza que ele paga (Ana Lúcia, representante do SOAC).

Isso posto, merece destaque o fato de que, embora haja uma empresa

contratada pelo município para a coleta, transporte, transbordo e destinação

final dos resíduos sólidos gerados, a Lei n. 12.305/10 (BRASIL, 2010) é bem

clara ao definir que a responsabilidade é compartilhada.

Além disso, tanto as pessoas físicas quanto as jurídicas de direito

público e privado são responsáveis pelo lixo gerado, destacando-se que os

resíduos industriais devem ter destinação diferente dos resíduos domésticos,

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pois é necessário que eles sejam separados e tenham disposição final

diferente para evitar a poluição e a degradação do meio ambiente.

Ainda, em relação à questão da responsabilidade pelos resíduos

gerados, continua a representante do SOAC a afirmar que a transferência

dessa responsabilidade é uma questão cultural. Assim,

É. Você vai terceirizar a responsabilidade. Nós vivemos, o mundo do trabalho vive assim. Você tem escape. Você muda. Se você tem uma válvula de escape que pode tirar a minha responsabilidade eu vou fazer isso. Não estou dizendo que são todos os empresários. Isso faz parte da nossa cultura (Ana Lúcia, representante do SOAC).

Em relação às ações que poderiam facilitar a atuação dos catadores de

materiais recicláveis no momento da coleta de resíduos, o coletor autônomo,

Anderson, sugere que a separação dos resíduos seja feita nas residências

antes mesmo de serem dispostos nas ruas, pois assim evitaria que as

embalagens fossem abertas e espalhadas por animais contaminando ainda

mais o ambiente.

Eu acho assim que os moradores deviam de conscientizar o seguinte: se eles colocarem o material separado nas embalagens evita o catador de rasgar o saco de lixo. Entendeu? E outras coisas. Não tem o perigo do vidro misturado que eles colocam. Eu acho que as pessoas deviam ter uma consciência melhor. Ter um pouco de consciência, porque se eles não separarem o material e colocar o material em uma lixeira misturada o catador vai passar na rua, vai ver e como que ele vai pegar se está no nó cego? Ele vai rasgar. Aí cai negócio na rua, vem um cachorro que sente o cheiro de comida, acaba de rasgar o resto. Eu acho que deveriam ter essa educação (Anderson, coletor autônomo).

Nesta mesma perspectiva, relacionada à necessidade da separação

prévia dos resíduos, o coletor municipal afirma que o trabalho dos coletores

municipais seria facilitado se as pessoas deixassem “tudo preparadinho (...)

para eles e para nós” (Lázaro, coletor municipal de resíduos).

Isso porque em Divinópolis, quando o caminhão de lixo passa nos

bairros que participam da coleta seletiva, os coletores autônomos já separaram

e recolheram os resíduos sólidos por eles utilizados e deixam os demais

resíduos para o caminhão de lixo, como afirma Lázaro: “Porque ultimamente

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nós não estamos pegando só lixo doméstico, pega lixo num geral. Todo lixo”

(Lázaro, coletor municipal de resíduos).

O coletor municipal de resíduos esclarece, assim, que a coleta municipal

ocorre após a coleta seletiva ter sido feita pelos coletores autônomos. Dessa

forma, os coletores municipais estão instruídos para coletar todos os resíduos

deixados e efetuar, posteriormente, seu encaminhamento ao aterro controlado.

O problema do procedimento de coleta municipal é que os resíduos

sólidos pelos quais os coletores autônomos não tenham interesse, como os

têxteis, vidro e madeira, são todos coletados junto ao lixo domiciliar e,

posteriormente, têm sua disposição final no aterro controlado, poluindo e

degradando o meio ambiente.

Destaca-se aqui a necessidade de uma mudança de hábitos,

inicialmente individuais por parte dos cidadãos na separação do lixo, seja em

suas residências, seja nas empresas ou no comércio em geral.

Sobre a necessidade da mudança de postura, a representante do SOAC

destaca a fala de Simone de Beauvoir sobre cada um ser responsável pelas

suas verdades, ou seja, por aquilo que acredita e, assim, poder efetivar

realmente a sua mudança. Especificamente neste caso, a mudança de hábito

está vinculada ao fato de acreditar que a separação do lixo é uma necessidade,

uma verdade, e que deve começar individualmente para assim formar o todo.

Simone de Beauvoir fala um negócio fantástico: “Cada um tem que tomar conta das suas verdades”. Não é? Seja ela do plano coletivo ou do plano individual, você tem que tomar conta das suas verdades. Agora tem pessoas que tomam conta das nossas verdades. Professores, os prefeitos, os governadores. Essa transferência é muito rápida. Você transfere para que você não tenha mais responsabilidade. Então você tem que tomar conta das suas verdades. Acho que isso que é bacana que você tem que fazer. É voltar a isso. Eu acho que a Simone foi muito feliz nessa questão. Ela falou: Não, se você tomar conta das suas verdades, entender que você é que vai mudar o meio que você vive e você só muda o mundo, mudando a você mesmo, não tem outra saída (Ana Lúcia, representante do SOAC).

A partir das mudanças individuais, pode-se pensar e acreditar em

verdades coletivas e em ações conjuntas para a mudança de postura de toda

uma sociedade.

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O presidente do SINVESD, mesmo estando desgastado com a questão

política da coletividade, ainda acredita que se cada um fizer a sua parte, talvez

gere a coletividade. Ele afirma que

Falando honestamente, eu estou desgastado, porque eu acho que vira muito mais um discurso de público para um discurso político mesmo, um discurso para jogar com a plateia, do que de efetividade. Eu acredito assim que, se eu fizer a minha parte, você a sua, o poder público, os empresários, enfim, as ONGs; cada um fazendo uma parte, isso pode gerar uma coletividade (Antônio, presidente do SINVESD).

Ao ser questionada se uma ação conjunta entre o poder público, o

sindicato, as empresas e a sociedade poderia amenizar a situação ambiental

em Divinópolis, a representante do SOAC afirma não ter outros atores sociais

capazes de amenizar este quadro e destaca:

Só eles podem fazer isso. Não tem outros atores dentro da sociedade capaz de fazer não. Eu acho que eles têm que perceber os papéis enviados a cada entidade, os papéis institucionais de cada entidade, o papel do cidadão na sua individualidade, o papel do cidadão no coletivo. É preciso compreender isso. Quanto mais você compreende isso e mais você coloca em prática, você pode ver que ações e soluções são mais viáveis, são menos traumáticas (Ana Lúcia, representante do SOAC).

Dentre as ações conjuntas, destaca-se a criação de um fórum

permanente de discussões, como um espaço que envolva o maior número de

participantes interessados em colaborar para a busca de soluções viáveis e

adequadas à realidade exposta.

Nessa direção, a representante do SOAC afirma, em outro momento, já

ter sugerido tal ação para o especialista na área ambiental e para a consultora

ambiental, e esclarece que

Uma coisa que eu sempre discuti aqui. Eu discuti isso muito com a Hélcia e até também quando o Pedro estava no Meio Ambiente, eu virei para ele e falei: olha, você tem que criar um fórum permanente, um fórum técnico ou não técnico, ou misto. Enfim, que você pudesse envolver todas as pessoas para estar discutindo isso. Porque nós já fizermos isso no setor do vestuário quando a gente fez o “Brasil Empreendedor” e outra questão que o Dr. Fausto Varella levantou na época também,

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quando nós discutimos não só o setor, foi como financiar essa empresa para o seu crescimento, econômico e financeiro, nós discutimos também a questão do meio ambiente (Ana Lúcia, representante do SOAC).

Confirmando a necessidade dos debates como instrumentos para a

solução dos problemas dos resíduos, a consultora ambiental se manifesta

favorável à criação do referido fórum ao afirmar que “Entendemos que se faz

necessário um fórum de debate sobre esta demanda. Há que se problematizar

estes impactos e o futuro frente a este descarte ‘inconsequente’ realizado no

município” (Hélcia, consultora ambiental, 50 anos).

Segundo o especialista na área ambiental, Pedro, ações conjuntas entre

o poder público, as confecções e as associações podem gerar soluções para a

melhoria da questão ambiental em Divinópolis.

Essas ações, eu acho que tem que ocorrer em conjunto, Poder público, confecções e associações, porque senão acontece o que eu chamo de "dumping público". Se o poder público não tem esse apoio da associação ou a associação não tem o apoio do poder público, o poder público vai pegar um, três, quatro, cinco empresários vai punir eles por terem motivado, às vezes por uma ação que vai contra o meio ambiente, e o resto não. Então você acaba favorecendo aqueles que não precisavam investir em medidas mitigadoras de impactos ambientais. Muitas vezes, associações e empresários ficam aguardando muitas vezes assim, não só um apoio, mas um arcabouço jurídico, uma norma que dê respaldo àquela ação daquele empresário pró-ambiente, mas pela ausência dessa norma, ele se vê assim não entusiasmado, não, vamos dizer até um pouco pressionado para tirar um pouco do seu lucro para investir numa questão pró-ambiente. É necessário sim acasalar tanto o poder público como as associações para que os dois interagindo achem fórmulas que a gente consiga melhorar essa questão ambiental dentro da nossa cidade (Pedro, especialista na área ambiental).

O especialista, Pedro, ainda exemplifica algumas ações ambientais que

já ocorreram em Divinópolis, mas podem ocorrer em qualquer esfera do poder

público, seja municipal, estadual ou federal e que se perderam por não ter o

devido apoio dos gestores públicos por questões de comprometimento político.

Vamos falar um pouco generalizado. Não só por parte de resíduos ou por parte de confecção. Vou dar um exemplo de algumas ações ambientais que aconteceram em Divinópolis e

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que, às vezes, se perdem. Hoje os grandes gestores não se preocupam muito com a questão da qualidade de vida do cidadão. Se essa qualidade de vida do cidadão é uma ação do poder público que vai gerar essa qualidade, mas vai haver uma grande perda de empatia com o cidadão, com o eleitor, com futuro eleitor essas ações não são tomadas. Existem coisas simples que se pode fazer, mas que vai criar uma grande qualidade de vida para o cidadão, mas vai atingir determinados mercados e determinados cidadãos que vão ficar, vamos falar, um pouco tristes com aquele ato e na próxima gestão não vai votar nesses gestores. Isso é deixado de lado o tempo todo. Isso acontece não só no âmbito municipal, como estadual e federal. Então ações simples, sem custo, ou seja, uma simples determinação do poder público gera qualidade ambiental. Vou dar um exemplo na nossa cidade que tem a ver sim, às vezes, com resíduos. Conseguimos retiradas das faixas, Divinópolis conseguiu ano passado, do grande centro, pulverizando isso e criando um impacto visual menor. Cartazes em postes, em muros, isso foi retirado. Os orelhões todos limpos. Uma coisa importante para resíduo. Uma restrição de panfletagem, porque todo panfleto, 90% desse panfleto vai para o bueiro, nós sabemos. Pegou um panfleto que você não vai ler aquilo, vai ser jogado no chão e isso vai embora. Quem distribui muitas vezes nem vai dar na mão, vai jogando, vai caindo na rua, o vento pegou, a chuva caiu e já levou para dentro do bueiro. (...) mas na hora que um gestor público vai tomar as decisões ele pensa: “Pô, se eu tomar isso tem aquele dono da gráfica que vota em mim, que dá um apoio na eleição, ele não vai me apoiar mais na eleição, então não vamos fazer isso”. Então são coisas que, às vezes, a gestão ambiental tem que ser mais pensada do que um futuro político. Falando em todas as cidades, não só a cidade de Divinópolis, mas como em todas as cidades brasileiras (Pedro, especialista na área ambiental).

O posicionamento volta, mais uma vez, à questão dos interesses.

Muitas vezes, as decisões no campo político são tomadas em função da

combinação de interesses de pequenos grupos pertencentes a segmentos

políticos, econômicos e sociais diferentes, com o objetivo de se conseguir obter

um resultado futuro favorável a esses grupos combinados, prejudicando,

entretanto, os interesses de uma grande maioria da população, que arca com

os custos das decisões motivadas por interesses que não representam a

vontade popular, mas a vontade particular desses grupos.

Ao tratar da questão da gestão dos resíduos sólidos, Pedro volta a

destacar a posição de inércia do poder público ao priorizar questões políticas

face às questões ambientais.

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A respeito do resíduo sólido sem que haja uma pressão do poder público para que isso vire prioridade, nós não vamos avançar na celeridade que nós gostaríamos que avançasse. Essa questão de aberturas de dilação de prazos cada vez mais longa faz com que os gestores públicos não priorizem a questão da gestão dos resíduos sólidos. Ou seja, vão sendo priorizadas outras questões motivadas exatamente por aqueles fatores que eu disse, muitas vezes o tratamento de resíduos sólidos não traz voto. Não tem a ver com o que, se hoje no Brasil tem maior importância, ou seja, a maior importância hoje de gestão no Brasil é essa ação minha faz parte desse pacote eleitoreiro de que o cidadão vai ficar feliz com essa minha ação e vai trazer quantos votos? Por enquanto resíduo sólido não está como prioridade. Então, cabe ao poder público fazer com que isso seja prioridade. Na marra. Tem que se resolver (Pedro, especialista na área ambiental).

No que se refere à conscientização ambiental da sociedade, a opinião

do gestor público municipal se assemelha à do presidente do SINVESD,

quando apontam, respectivamente, a conscientização e um trabalho preventivo

de conscientização como possíveis caminhos para solucionar as questões

relativas aos resíduos sólidos.

Neste contexto, para o gestor público municipal as empresas estão em

processo de formação de consciência, ou seja, “está se criando esta

consciência, de um lado consciência por iniciativa própria e de outro, aquela

situação de ser forçada a ser criada, mas a gente percebe que as empresas

estão se preocupando muito com isso” (Willian, gestor público municipal).

Para o presidente do SINVESD, o trabalho de conscientização da

sociedade pelo poder público precisa ocorrer de forma preventiva, assim como

ocorre em outros casos, como, por exemplo, com a dengue.

Eu acho que é o trabalho preventivo. Uma ação de conscientização. Da sociedade como um todo. O poder público conscientizar. Não se faz isso com a dengue? Quer dizer, o poder público não fica só tratando de quem já está doente. Ele faz a parte preventiva, cuidado, tal, põe fiscal, vasinhos e não sei mais o que para não deixar chegar lá. Eu acho que é o mesmo caminho que tem que ser feito. Familiarizar isso. Fazer o preventivo (Antônio, presidente do SINVESD).

A secretaria municipal do meio ambiente de Divinópolis tem feito esse

trabalho de conscientização com a população, especialmente nas escolas,

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buscando alertar para a necessidade de se fazer a reciclagem dos resíduos

sólidos, como relata o gestor público municipal Willian:

Porque a gente trabalha muito com população: faça reciclagem, faça reciclagem. Aí, você percebe que as pessoas estão começando nesse trabalho. Eu perguntei lá na escolinha, ontem, para os meninos quem é que fazia na casa deles. Metade levantou a mão falando que os pais fazem. Outra metade ainda não. Eu tive que trabalhar na cabeça, vamos fazer, é isso, isso, a importância, mas você percebe que as pessoas não têm isso (Willian, gestor público municipal).

O gestor público municipal mostra a necessidade de conscientização por

parte da população, pois é sabido que em breve todos terão que pagar pela

destinação do lixo.

Destaca, ainda, que até então, a prefeitura se responsabilizava pelo

recolhimento e pelo pagamento, inclusive, dos resíduos da área da saúde. No

entanto, a empresa que assumir a tarefa irá cobrar pelo trabalho e assim

sendo, a alternativa mais viável é gerar menos resíduos. Assim,

E, aí, entra muito a questão das indústrias, dos grupos. Na área da saúde também, um dia eles levantaram a mão: como é que fica a nossa situação? A prefeitura hoje ela recolhe, ela tem o recolhimento específico da área da saúde. Recolhe. Como aqui nós não temos autoclave, vai para Betim. A prefeitura paga tudo isso. O que nós deixamos bem claro para eles: a empresa que receber a concessão vai continuar fazendo o recolhimento, mas ela vai cobrar. Ela vai cobrar. É isso que nós falamos com eles. A autoclave vai ter aqui no município. É isso que as pessoas têm que conscientizar. É gerar menos porque, na verdade todos nós vamos ter que pagar por essa destinação do lixo (Willian, gestor público municipal).

Em relação à conscientização da população para a necessidade de

implantação da coleta seletiva na cidade, o coletor Jeferson da ASCADI afirma

ser esta a principal tarefa, mas também a sua maior dificuldade e que depende

de divulgação.

Para esta divulgação já foi providenciado até um panfleto com todas as

informações, mas esse trabalho se defronta com o problema da falta de verba.

Jeferson relata então que

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Eu acho que até tinha um panfleto, mas a divulgação foi muito pequena. Tinha o panfleto antigo, hoje eu até criei um outro devido a mudança de empresa que coleta eu criei um outro. Nesse outro tem até o horário que o caminhão entra no bairro. Só que devido ao fluxo de caixa que eu não tenho, entendeu? Para eu fazer essa divulgação eu não consigo fazer esse trabalho nos bairros, entendeu? (Jeferson, coletor da ASCADI).

Continua o coletor a discorrer sobre a importância da divulgação no

processo de conscientização, destacando que a divulgação da coleta seletiva

por meio de todas as mídias poderia facilitar o trabalho dos coletores. Em

seguida, ele faz um relato pessoal sobre a sua conscientização e o que pode

ser transformado nas pessoas.

O que eu preciso mesmo é essa questão da divulgação. Usar os meios, as mídias disponíveis que estão nas nossas mãos, mas o problema é ter dinheiro para fazer isso. Se a prefeitura cedesse para nós o espaço na TV, no rádio, na internet já ajudaria bastante. Entendeu? Seria um meio de conscientização do pessoal de separar o material. Hoje é muito difícil. Eu, no caso o meu bairro tem. Eu só fui saber quando é que tinha a coleta, quando eu comecei a trabalhar aqui. Eu nem sabia que tinha coleta lá. Sabia que tinha a coleta do úmido, mas a seletiva não sabia. Entendeu? Então quer dizer eu só vim, só fui começar a separar material na minha casa depois que eu vim trabalhar aqui, que eu vi a quantidade de material que é gerado no lixo, entendeu? Que eu me preocupei um pouco também. Se o pessoal visse a quantidade de lixo que é gerada igual aqui mesmo que é um lugar que era para vir só material reciclável. Entendeu? Porque aqui era para vir só material reciclável, não era para vim lixo. Eles iam assustar. Iam pensar o seguinte: se lá que era para vir só reciclável está indo esse monte de lixo e o que é gerado pela cidade? Ia gerar muito lixo na cidade, muito mesmo (Jeferson, coletor da ASCADI).

Jeferson discorre ainda sobre a necessidade de diversas mídias no

trabalho de divulgação e o seu trabalho de conscientização nas escolas. Ele

afirma que

o principal é o trabalho de conscientização com o pessoal que hoje não tem. Entendeu? É um trabalho para fazer, usar as mídias cabíveis no caso jornal, rádio, internet, televisão, entendeu? Até mesmo de mão em mão. Como a panfletagem entendeu? Às vezes podia estar fazendo isso. Ia ajudar muito. Nas escolas, quando me chamam eu vou. Converso nas

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escolas, dou palestras, entendeu? Mas não é sempre, não é em todo lugar (Jeferson, coletor da ASCADI).

Dentro da mesma temática da conscientização, o presidente do

SINVESD afirma ser um trabalho de base necessário e que deveria ser natural,

sem imposição.

É um trabalho de conscientização grande, cultural. Talvez para os nossos filhos, netos. Porque se não começar... Mas tem sim, isto tem que ser feito agora. Tem que iniciar. Não pode ficar só no âmbito do que é bonitinho, do que eu me preocupo... É, porque eu vou agregar, por que eu vou... Eu coloquei isso porque é um diferencial, mas tinha que ser uma coisa natural. Tinha que ser, mas porque eu não poluo eu sou diferenciado? Hoje é assim. É fato inegável agora. Eu acho que é um trabalho pesado. Pesado mesmo na conscientização na fase, na categoria de base (Antônio, presidente do SINVESD).

A ser questionado se a preocupação ambiental está presente apenas

nas grandes confecções ou se as pequenas também devem considerá-las em

seus processos produtivos, o gestor público municipal, Willian, afirma que essa

preocupação vai desde a pessoa física às indústrias, e que as proporções são

as mesmas para uma grande ou pequena indústria.

O gestor público municipal afirma ainda que o trabalho de

conscientização é “um trabalho de formiguinha” e em longo prazo, mas que

precisa ser iniciado para que a sociedade entenda a sua necessidade.

Acho que a preocupação ambiental vai desde a pessoa física do nosso lixo, na verdade o residencial e também vai para o lado da indústria. A indústria pequena polui em proporções menores, mas polui da mesma forma que uma indústria grande. Não adianta você ter uma indústria grande que faz todo o processo de reciclagem, se tem 10 pequenininhas que não cuidam, que não têm esse processo de reciclagem. Somando as 10 vai dar aquela grande. Acaba não dando. A importância da reciclagem é pontual mesmo. Nós não temos como trabalhar uma coisa macro. É pontual na concepção de todo mundo. É trabalhando. A consciência ambiental da pequena tem a mesma proporção da grande. No final o resultado é o mesmo. Eu lembro direitinho quando eu comecei a fazer a reciclagem na minha casa. Tem o lixinho menor e tem o lixo grande. Eu coloco o saco grande lá misturava tudo. Eu assusto, às vezes, quando eu vejo o lixo que é da reciclagem e o lixinho que é do lixo. Assim, é muito material. É muito material que pode ser reciclado e que vai para o lixo. Eu peguei o

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exemplo da minha casa. É coisa demais. Um lixinho pequenininho que eu coloco na porta e que vai prá... [...] O lixo seco lá em casa é um espetáculo. Ele ficando lá eu tenho o maior prazer de ficar colocando o lixo lá. Ótimo. Outra coisa que ninguém fica com aquele lixinho pequenininho lá, coloca na porta coisa mínima. É o que eu falei e falo com o pessoal. É difícil, é trabalho formiguinha, é um trabalho que vai ter que fazer a longo prazo, mas assim é mostrar para a população mesmo, porque é quando começa a fazer que se percebe a diferença (Willian, gestor público municipal).

Merece destaque que o parque industrial têxtil de Divinópolis é formado

por empresas formais e informais, denominadas facções. O número de

empresas formais é conhecido, entretanto, as informais não se conhecem e

não se sabe nem mesmo onde estão localizadas.

Como existem facções que fazem todo o trabalho produtivo, inclusive a

etapa de corte e, assim, geram resíduos sólidos têxteis, projeta-se que, devido

a um possível e elevado número dessas pequenas empresas, cujo somatório

representaria um número considerável de grandes empresas. Esse fato

resultaria na geração dos resíduos que, apesar de desconhecidos, seriam em

quantidade significativa.

Esse gestor destaca, ainda, que no trabalho desenvolvido nas escolas

pela equipe da secretaria sobre a questão da educação ambiental, percebe-se

maior interesse, conhecimento e preocupação por parte dos alunos. Pelo seu

posicionamento, denota-se que a população parece buscar cada vez mais uma

melhor qualidade de vida.

Eu tenho uma equipe da Secretaria de Meio Ambiente que trabalha com a parte da educação ambiental, que vai em escolas trabalhando e nós temos percebido um nível assim de..., e eu tive isso ontem, até como prova, de conhecimento, de interesse dos meninos que estão vindo aí muito bacana. Eu gostei. Eu senti dos meninos uma preocupação: corte de árvores, de como é que fica, de não poder fazer, que a cidade tem muita árvore cortada... Eles estão observando essas situações (Willian, gestor público municipal).

E continua o gestor Willian sobre o trabalho de educação ambiental

desenvolvido pelo município nas escolas, relatando as cobranças feitas pelos

estudantes.

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Cobraram-me muito a situação de Divinópolis ter poucas áreas como parques, áreas de lazer como o Parque da Ilha, por exemplo. Eles não têm muitos locais. As pessoas estão sentindo muito essa falta. A minha intenção na verdade é uma prioridade que eu dei para os funcionários, para os técnicos, exatamente buscar o que for de modelo bacana e estiver acontecendo ao redor da cidade, de uma forma geral positiva é implantar. Nós vamos implantar exatamente para conscientizar tanto do ponto ambiental, que as pessoas tenham essa consciência e, forma punitiva, porque na verdade, ali, em certos pontos jurídicos, tem que ser mais rígidos (Willian, gestor público municipal).

Willian ainda relata o elevado nível de conhecimento e os

questionamentos feitos pelos estudantes.

Eu fiz uma palestra para uma escola para meninos de 10 anos. Eu fiquei surpreso com o nível de conhecimento e informações que eles estão tendo, e até brinquei com eles porque eu falei que as perguntas que eles me fizeram sobre as questões do lixo, as questões ambientais de uma forma geral, os adultos não me fazem, muitos adultos não me fazem. Fiquei até feliz por estar vindo uma geração muito mais consciente e é aí que a gente tem que tentar trabalhar muito nas escolas em relação a isso. É mostrar para eles que nós temos como fazer a cidade crescer, mas de uma forma sustentável. Essa é a nossa responsabilidade, é fazer com que ela cresça do ponto de vista social, econômico e ambiental de uma forma mais correta possível (Willian, gestor público municipal).

Em relação ao trabalho de educação ambiental, o gestor público

municipal acredita que precisa ser feito em duas etapas: a parte da

conscientização através da educação e a parte da cobrança. Ele afirma que

“Eu ainda acredito que nós temos que trabalhar em duas etapas. A parte da

educação/conscientização e a parte da cobrança, porque tem certos momentos

que só quando você mexe no bolso que as pessoas...” (Willian, gestor público

municipal).

No mesmo sentido do posicionamento do gestor público municipal, a

representante do SOAC acredita também que a escola tem um papel

importante na vida das pessoas, pois muitas vezes serve de exemplo. Assim,

ela afirma que

O mundo vive de exemplo mesmo. Na escola que eu estudei, eu leio muito, por quê? Porque eu tenho admiração pela minha

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247

professora, porque ela sabia muito. Eu queria ser igualzinha a minha professora. Ela me incentivou a ler, eu nunca quebrei “arvrinha”, embora eu não seja muito ligada aos movimentos ambientais não, porque o pessoal acha que eu sou muito porra louca ainda, muito meio irracional, mas a escola sempre me ensinou, meu pai, minha mãe, meus avós também sempre me ensinaram a importância dessa preservação. Não com essas palavras que a gente vê hoje, mas de forma muito mais significativa porque era uma forma de vivência: Olha, se você arrancar aquela “arvrinha” você não vive. Aí com medo de morrer, eu não matava nenhuma árvore. Sabe? A ação sem sentimento retrógrado. Acho que falta isso: respeito com a natureza (Ana Lúcia, representante do SOAC).

Continua a representante do SOAC a afirmar que o investimento em

educação e em conscientização deve ser direcionado para todos,

independentemente da idade.

É que a gente fala assim: a gente tem que investir nas crianças que estão vindo. Aí os velhos começam a poluir. Não é não? É isso que falam: nós vamos investir nessas crianças, porque nós vamos ter um futuro que não vai haver poluição. Não vai ter por quê? Você cuida da criança, e os jovens e os velhos estão poluindo. É um discurso falho, se me perdoar, ridículo. Acho que todo mundo desde quem tem 100 anos aos que estão nascendo hoje, precisam ser educados para isso. Sendo educado integralmente. Não à parte (Ana Lúcia, representante do SOAC).

Para o presidente do SINVESD, a questão ambiental deveria ser dada

na escola como uma disciplina, pois assim seria realmente praticada.

Inclusive, eu ia falar agora, inclusive como matéria, como disciplina escolar. Como disciplina. Assim, tem uma religião? Tem. Não tem uma matéria que explica o lado da religião? Não tem a de como trabalhar com dinheiro? A parte financeira? Eu li uma coisa a respeito de que já é disciplina. Tem aquele dinheiro, do médico, do seu salário. Educação. (...) Passa pelo financeiro, passa por isso. Não seria isso: centrado no ambiental, no social. Na escola. Eu acho aí a gente teria uma geração, começa a ter o retorno. Se não começar, fica só no discurso, fica só o microfone (Antônio, presidente do SINVESD).

Ainda, em relação à educação e à conscientização ambientais, pode-se

afirmar que são processos semelhantes, consolidados em instrumentos

necessários para a transmissão de conhecimentos, práticas e culturas relativas

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248

ao meio ambiente que visam contribuir para a prevenção e proteção desse

meio.

Neste sentido, parece estar presente na sociedade um pensamento

comum de que a educação e a conscientização ambientais devem ser

voltadas, priorizadas, intensificadas mais para a população jovem do que para

o restante dela.

Essa particularidade se mostrou presente nos posicionamentos do

gestor público municipal e do presidente do SINVESD, quando focam seus

discursos nos aspectos relacionados mais à educação ambiental para crianças

do que para jovens, adultos e idosos.

Em contrapartida, em relação aos posicionamentos do coletor autônomo

e da representante do SOAC destacam, respectivamente, que a divulgação

através das mídias existentes – jornal, rádio, televisão, internet, dentre outros –

deve ser para todos, independentemente da idade e que qualquer pessoa pode

ser educada e conscientizada, até aquela que, por exemplo, tenha cem anos.

Percebeu-se nos posicionamentos sobre educação e conscientização

ambientais que em todos eles, direta ou indiretamente, os entrevistados

demonstraram conhecer bem o atual cenário ambiental de Divinópolis,

principalmente no que se refere aos resíduos sólidos gerados na cidade e que

eles podem efetivamente contribuir para a busca de soluções para essa

questão.

Feitas essas considerações, acredita-se que tanto a educação quanto a

conscientização são processos que devem se completar, se integrar e se

desvencilhar de qualquer fator discriminatório ou impeditivo que resulte em

prejuízo para um discurso ambiental participativo e democrático.

Desta forma, é importante destacar que além da educação e da

conscientização ambientais serem processos que visam permitir a participação

ampla, consciente, voluntária e livre dos cidadãos nas questões concernentes

ao meio ambiente e, por consequente, à própria vida, precisam começar desde

já, para que as presentes e futuras gerações se mantenham dignamente.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A questão ambiental, presente em todas as esferas de discussões

atuais, tornou-se uma realidade em função da sua importância na manutenção

da vida com segurança e qualidade para as gerações presentes e futuras.

As cidades, consideradas o locus ideal para o crescimento e o

desenvolvimento humano, apresentam também fatores que alteram e

prejudicam o meio ambiente, dentre eles, o excesso de lixo produzido e

descartado inadequadamente.

Especificamente em Divinópolis, cidade polo da confecção em Minas

Gerais, o grande desafio enfrentado pela sociedade se refere ao

gerenciamento dos resíduos sólidos têxteis provenientes das indústrias locais

de confecção de vestuário.

A cidade produz aproximadamente 120 toneladas/dia de resíduos,

dentre eles há uma parte considerável de resíduos sólidos têxteis que são

descartados indevidamente nas calçadas, posteriormente recolhidos e

destinados ao aterro controlado municipal.

A disposição dos resíduos sólidos têxteis no aterro ocupa seu espaço útil

e torna-o mais perigoso, pois há resíduos sólidos têxteis que têm um tempo de

decomposição muito grande. Além disso, eles podem estar contaminados, por

exemplo, com graxa, óleo, combustíveis, dentre outros materiais altamente

perigosos, poluentes e inflamáveis.

Há que se ressaltar que o aterro controlado de Divinópolis não se

constitui na forma ambientalmente adequada de disposição final de resíduos

sólidos, pois foi construído no mesmo local onde havia o antigo lixão. Ademais,

encontra-se próximo de fontes de água e próximo também do aeroporto

municipal, comprometendo, assim, além do equilíbrio ambiental, a saúde e a

segurança das pessoas.

Considerada uma das maiores geradoras de resíduos sólidos, a indústria

têxtil precisa rever sua cadeia produtiva.

Pouco a pouco as empresas começam a entender que o nível de resíduos nada mais é do que o resultado de um sistema de produção ineficiente e de padrões de consumo insustentáveis. Essa conscientização as está levando a pensar no

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desenvolvimento de sistemas de gestão de resíduos e a buscar soluções ao fim da cadeia (end of the tube), bem como a considerar os conceitos de prevenção e reutilização (SALCEDO, 2014, p. 105).

Como mencionado anteriormente, os resíduos sólidos têxteis são, em

sua maioria, compostos de fibras sintéticas e possuem a característica de

tempo de decomposição elevado. Assim, se considerados o volume desses

resíduos e sua composição sintética, a área atual do aterro municipal nunca

poderá ser utilizada para outra finalidade, porque o solo e o subsolo podem se

tornar improdutíveis e inservíveis por um período muito longo de tempo.

Considerando o cenário ambiental descrito, esta pesquisa pretende ser

uma contribuição para uma possível solução dos problemas ambientais

relacionados à destinação inadequada dos resíduos sólidos têxteis na cidade

de Divinópolis.

É importante destacar que os problemas ambientais se constituem de

todos aqueles relacionados ao ambiente-objeto desta pesquisa, que é a cidade

de Divinópolis, portanto eles podem se desdobrar em problemas sociais,

econômicos, políticos, dentre outros, todos inseridos no âmbito ambiental.

Entretanto, apresentamos como tema central somente os problemas

relacionados ao meio ambiente e aos recursos naturais em função da

destinação inadequada dos resíduos sólidos têxteis na cidade.

Merece destaque, também, que a pesquisa contou com a participação

de quatro empresas de confecção e uma de fiação/tecelagem/confecção que

responderam o formulário constante no Apêndice A, dois entrevistados

ocupantes de cargos de gestor público municipal, representantes de sindicatos,

coletores de resíduos, ambientalistas e gerente de resíduos.

Em virtude da necessidade de uma nova forma de se pensar o resíduo

sólido, e devido a legislação vigente, justificou-se a necessidade de uma

pesquisa aprofundada sobre a temática dos resíduos sólidos têxteis no polo

confeccionista de Divinópolis e as possibilidades de ações que conduzam

esses resíduos a uma destinação ambientalmente adequada, contribuindo,

assim, para o desenvolvimento sustentável.

Nessa perspectiva, cabe a cada um fazer sua parte. Cabe ao poder

público a criação de leis e a fiscalização das atividades desenvolvidas pelas

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indústrias, às empresas de confecção a busca por alternativas que minimizem

a geração de resíduos, à sociedade a consciência e educação ambiental para a

necessidade de ter cautela ao se produzir, separar e destinar os resíduos de

forma eficiente.

Devem ser especificadas as opções do empresariado em questão. O

empreendedor escolhe em regra, no mínimo, três modos de atuação distintos e

descritos a seguir.

No primeiro deles, o empreendedor não tem consciência ambiental e

não se preocupa com a questão da geração de resíduos sólidos provenientes

de seu empreendimento e arca com os desperdícios, a poluição e a

degradação ambientais, e outros prejuízos e despesas a eles relacionados,

além de perdas nos resultados, traduzidos em diminuição de lucros e em último

momento, até mesmo na falência do empreendimento.

No segundo modo, o empreendedor conhece o problema, tem

consciência dele, mas não exerce qualquer ação voltada para a não geração,

minimização ou solução do problema resultando nas consequências descritas

no modo anterior.

No terceiro modo de atuação, o empreendedor tem consciência do

problema, busca atuar com todo empenho e recursos disponíveis para, em

primeiro plano buscar a não geração, e caso ela não seja possível, a

minimização e, posteriormente, a destinação final adequada dos resíduos.

O terceiro modo de atuação mostra-se ideal para o empreendedor visto

que ele, dispondo previamente da necessária consciência ambiental, buscará

não gerar os resíduos e, caso eles sejam gerados, terá visão diferenciada do

resíduo sólido têxtil como uma fonte adicional de renda e geração de emprego,

possivelmente melhorando a condição financeira e social da empresa junto ao

mercado.

Para Nogueira e Diniz (2015, p. 20),

Algumas ações podem e devem ser avaliadas e se possível implantadas objetivando, em primeiro plano, a não geração dos resíduos têxteis, e, caso não seja possível à concretização desse objetivo, adotar um gerenciamento ambientalmente adequado como solução para os resíduos que por ventura possam ser gerados.

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Neste mesmo sentido, a Lei n. 12.305/2010 (BRASIL, 2010) que trata da

Política Nacional dos Resíduos Sólidos (PNRS) determina prioridade em

relação à gestão e ao gerenciamento dos resíduos sólidos em seu art. 9º: “Na

gestão e gerenciamento de resíduos sólidos, deve ser observada a seguinte

ordem de prioridade: não geração, redução, reutilização, reciclagem,

tratamento dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada

dos rejeitos”.

É importante destacar que a educação e a conscientização ambientais

constituem-se de processos que conduzem, inevitavelmente, a forma de

contribuir para a não geração, minimização a destinação ambientalmente

adequada dos resíduos sólidos têxteis.

Nesta perspectiva, o presidente do sindicato patronal afirma ser essa a

grande colaboração que o sindicato pode dar ao setor confeccionista:

Acho que essa é a grande preocupação e o grande investimento que o sindicato pode fazer: é essa conscientização de não gerar, e não o que fazer com ele. Assim como na residência, nós não gerarmos. Nós temos que preocupar em não gerar. Na residência a gente já tem que se preocupar com o que fazer com ele, é não gerar. É melhor. É você trabalhar preventivamente. Isto é custo. Para nós comprovarmos isso, é possível com tecnologias, com máquinas de corte mais eficientes, com mapeamento desse tecido, que otimiza essa modelagem e esse corte. Eu acho que esse é o caminho que nós deveríamos trabalhar. É não gerar e não o que fazer com o resíduo (Antônio, presidente do SINVESD).

Ainda sobre a conscientização, o coletor autônomo, deixa como único

comentário após a conclusão da entrevista:

O único comentário que eu queria fazer é sobre as pessoas colocarem o lixo separado. [...] Para não ficar aquela coisa: você fica pegando o saco de lixo e o cara diz: olha, não suja aí não. Mas nós não temos que separar? Cada um tem que ajudar um pouquinho, senão complica para mim (Anderson, coletor autônomo).

As tecnologias limpas são importantes e devem estar presente nos

processos produtivos das indústrias de confecção do vestuário, pois conduzem

também ao objetivo de não geração e minimização desses resíduos.

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Em relação ao gerenciamento dos resíduos sólidos têxteis, é necessário

fazer um diagnóstico da situação dos resíduos – quais são, como são

constituídos e qual é seu volume –, e dos geradores, a identificação deles,

ramo de atividade, dentre outros.

O diagnóstico constitui-se no primeiro passo para se conhecer a atual

situação dos resíduos sólidos têxteis e de seus prováveis danos ao meio

ambiente e aos recursos naturais, para, posteriormente, serem aplicadas ações

no sentido de se conseguir atingir a situação ideal que é aquela que ocorre

quando há sustentabilidade ambiental.

No contexto legal, isso pode ser reafirmado nos termos do art. 19, inciso

I, da Lei n. 12.305/10 (BRASIL, 2010) que dispõe, dentre outros conteúdos, da

necessidade de um “diagnóstico da situação dos resíduos sólidos gerados no

respectivo território, contendo a origem, o volume, a caracterização dos

resíduos e as formas de destinação e a disposição final adotadas”.

Esse tipo de diagnóstico poderia colaborar para se conhecer a realidade

do setor e direcionar ações para que haja a destinação e a disposição final

ambientalmente adequadas para os resíduos sólidos têxteis. No entanto,

apesar de necessário, esse tipo de diagnóstico para a indústria de confecção

teria algumas dificuldades.

Uma das dificuldades encontradas para se criar esse diagnóstico refere-

se à informalidade do setor confeccionista, pois não se sabe a totalidade das

empresas de confecção de Divinópolis, o que elas produzem, se elas geram

resíduos sólidos têxteis e qual é o volume gerado.

A informalidade constitui-se de indústrias de confecção têxtil de pequeno

porte que não possuem o devido registro, operam como empresas domésticas,

têm suas instalações inseridas nas próprias residências dos empresários e

geram resíduos sólidos.

As empresas têm dificuldades em diagnosticar o tipo de fibra que

compõe determinado tecido e, muitas vezes, só o fazem a partir da informação

sobre a sua composição que é obrigatória constar na nota fiscal do fornecedor.

Em virtude disso, torna-se difícil conhecer a caracterização de um retalho de

tecido que geralmente está disposto em um saco plástico conjuntamente com

outros retalhos e resíduos têxteis.

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A referida caracterização do retalho têxtil faz-se por tamanho, cor,

composição da fibra, entrelaçamento dos fios dos tecidos, dentre outros. A falta

desse diagnóstico pelas empresas contribui para dificultar uma possível

separação dos resíduos para posterior destinação ou disposição final

ambientalmente adequadas.

Neste sentido e também conforme a Lei n. 12.305/10 (BRASIL, 2010),

tanto a destinação quanto à disposição final ambientalmente adequadas são

consideradas etapas do gerenciamento de resíduos sólidos que se constituem

de ações para o fim de preservação e proteção do meio ambiente e de seus

recursos naturais.

Em relação à coleta seletiva, etapa prévia da destinação final

ambientalmente adequada, um importante fator a ser considerado e percebido

nas entrevistas com os coletores que realizam a coleta foi o fato de que eles

não fazem a coleta dos resíduos sólidos têxteis. Isso porque, geralmente, os

resíduos são vistos pela sociedade como um bem sem valor econômico e sem

importância, portanto as empresas que comercializam os outros resíduos

sólidos como, por exemplo, alumínio, plástico, papelão e papel não

comercializam resíduos sólidos têxteis.

Deste aspecto, depreende-se a inexistência, principalmente por parte do

poder público, de ações que visem mudar o preconceito em relação aos

resíduos sólidos têxteis e fazer com que eles possam ser revistos como bens

de valor, passiveis de serem comercializados.

Mudando-se o quadro, os resíduos, agora com valor agregado, poderiam

ser comercializados e assim contribuiriam para a redução do volume de

resíduos sólidos que vão para disposição final, consequentemente, melhorando

a proteção e a preservação do meio ambiente.

Uma das principais dificuldades para os coletores que realizam a coleta

seletiva é que os resíduos sólidos têxteis são dispostos nas calçadas

juntamente com os resíduos domésticos sem nenhuma separação, dificultando

o trabalho dos coletores.

Finalizando a pesquisa, merecem ser destacadas como possíveis

contribuições para a solução dos problemas ambientais decorrentes da

destinação inadequada dos resíduos sólidos têxteis, provenientes das

indústrias de confecção de Divinópolis, as críticas, pontos positivos e

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negativos, e sugestões de possíveis soluções percebidas no decorrer da

pesquisa.

Em relação às criticas, constatou-se nos posicionamentos dos

entrevistados certa displicência em relação às responsabilidades individuais de

cada ator no cenário ambiental em questão. Isso pode ser percebido em boa

parte das entrevistas quando o entrevistado, em certo ponto, transfere a

responsabilidade para outro ator social ambiental.

Os interesses conflitantes existentes nos segmentos sociais e

econômicos participantes da pesquisa concorrem para dificultar a implantação

de ações coletivas e compartilhadas que poderiam se transformar em possíveis

soluções para os problemas ambientais mencionados.

Outra crítica refere-se à visão ultrapassada dos empresários do setor

confeccionista têxtil de Divinópolis que não percebem os resíduos como perdas

de matéria-prima e, consequentemente, de capital, sua influência nos

resultados que, em regra, se transformam em prejuízos e diminuição do lucro

final, bem como, a imagem negativa que constroem perante a sociedade.

Em relação aos pontos positivos que se destacaram no cenário

ambiental da pesquisa, a coleta seletiva nas suas modalidades autônoma,

municipal contratada e associativa mostrou-se ser uma inciativa interessante,

pois ao mesmo tempo que gera emprego e renda, ela tem como consequência

direta a destinação final ambientalmente adequada dos resíduos e a proteção e

a preservação ambientais.

Outro aspecto positivo foi verificado nos posicionamentos dos

entrevistados em relação aos processos de educação e de conscientização

ambientais, nos quais as ações voltadas para esses processos já existem e

são desenvolvidas pelos coletores de resíduos, poder público e sindicatos. As

ações, mesmo que de forma não integradas e organizadas, contribuem para os

fins desta pesquisa.

No aspecto legal, pode-se dizer que a Lei n. 12.305/10 (BRASIL, 2010)

que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), apesar de ter sua

vigência recente, obrigou a transformação dos antigos lixões em aterros

controlados ou sanitários, concedeu dignidade às pessoas que naquele local

laboravam e extraiam seu sustento e de suas famílias ao permitir novas

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possibilidades de emprego com mais dignidade, saúde e segurança. Além

disso, contribuiu para melhorar as condições daquele ambiente.

Relativamente aos pontos negativos parece haver certa acomodação da

sociedade no que se refere à separação dos resíduos domésticos para a coleta

seletiva. Esse fato acaba prejudicando a correta destinação final dos resíduos

que poderiam ser reutilizados ou reciclados, contudo os pontos negativos

resultam em poluição e em degradação do meio ambiente.

A informalidade existente no setor constitui-se também em um aspecto

negativo, pois das empresas que não possuem registro, delas não se sabe o

que é produzido, a composição, o volume, as condições de trabalho e a

destinação final dos possíveis resíduos gerados nesses empreendimentos.

Há que se destacar que a informalidade impede ou no mínimo dificulta a

realização efetiva do diagnóstico das empresas previsto no Plano Municipal de

Gestão Integrada de Resíduos Sólidos e conduz, portanto, ao descumprimento

involuntário pelo município de exigência contida na Política Nacional de

Resíduos Sólidos (PNRS).

Outro aspecto que não poderia deixar de ser mencionado se refere à

finalização por parte do município do PMGIRS. Ao ser questionado sobre a

fase em que se encontrava o Plano Municipal de Gestão Integrada de

Resíduos Sólidos de Divinópolis, o gestor público municipal afirma que este

“está finalizado e faz parte, como capítulo, do Plano Municipal de Saneamento”

(Willian, gestor público municipal).

Em contrapartida, o próprio Plano Municipal de Saneamento Básico

afirma não existir “um instrumento legal regulador e tampouco foi concebido um

Plano de Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos Urbanos (PGIRSU)"

(DIVINÓPOLIS, 2010, p. 18).

E continua, de forma incoerente, a destacar a carência do PMGIRS e do

tratamento e da disposição final dos resíduos coletados em Divinópolis.

Há carência de um Plano de Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos. Sua finalidade é estabelecer um conjunto de atividades que permita o correto processo de coleta, acondicionamento, transporte e destinação final dos resíduos gerados, como também, a de minimizar os passivos ambientais existentes e atender às necessidades da população, contribuindo para a melhoria da saúde pública.

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O sistema de limpeza urbana de Divinópolis apresenta sua maior carência em relação ao tratamento e disposição final dos resíduos coletados. O município atualmente, após grande intervenção na área de dispersão final de resíduos sólidos, concretizou medidas mitigadoras de impacto ambiental, transformando o intitulado “lixão” em aterro controlado, faltando apenas vistoria da SUPRAM/AST para certificar as medidas tomadas (DIVINÓPOLIS, 2010, p. 21).

Quanto à destinação final dos resíduos sólidos, o PMGIRS destaca a

impropriedade da forma de disposição final adotada pelo município, “O destino

dos resíduos sólidos urbanos de Divinópolis é um aterro controlado (tipo de

tratamento não licenciado e não adequado) de propriedade do Município"

(DIVINÓPOLIS, 2010, p. 21).

Ainda em relação ao PMGIRS, pode-se acrescentar que em sua

elaboração foram consideradas somente as indústrias que se localizam no

Centro Industrial "Coronel Jovelino Rabelo" (DIVINÓPOLIS, 2010, p. 53-54).

Além disso, foram aplicados às indústrias 104 questionários dos quais somente

38 foram respondidos. Diante disto, percebe-se o

desconhecimento/desinteresse das empresas em responder aos questionários

e contribuir para o diagnóstico da geração dos resíduos no município.

Torna-se imprescindível destacar que a peculiaridade local, relativa ao

fato de Divinópolis ser considerada um polo confeccionista do vestuário, não foi

respeitada na elaboração do plano, contrariando o art. 6º, inciso IX – o respeito

às diversidades locais e regionais. Em síntese, há um elevado número de

indústrias de confecção do vestuário que não foram contempladas na

elaboração do PMGIRS, portanto não se tem um diagnóstico da situação dos

resíduos sólidos têxteis gerados em Divinópolis, o que contraria a

determinação legal do art. 19, inciso I da lei 12.305/10 (PNRS).

Diante do cenário socioambiental exposto, merecem ser apresentadas

possíveis soluções que resolvam os problemas ambientais referentes à

destinação inadequada dos resíduos sólidos têxteis em Divinópolis.

Como sugestões que possam resultar em possíveis soluções para os

problemas relacionados à geração e à destinação ambientalmente inadequada

de resíduos sólidos têxteis pelas indústrias de confecção de Divinópolis, pode-

se considerar, em primeiro lugar, a necessidade de planejamento, elaboração e

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execução de um processo coletivo e integrado de educação e conscientização

ambientais, com a participação de todos os atores envolvidos neste cenário.

O macroprocesso seria organizado pelo poder público e contaria com a

participação efetiva do segmento empresarial, dos trabalhadores e da

sociedade civil e seria constituído basicamente por ações direcionadas de

divulgação nas mídias existentes, cursos, palestras, oficinas, seminários e a

determinação legal de constar como disciplina obrigatória em todos os níveis

de educação.

Outra sugestão seria a criação de cooperativas de coletores de resíduos.

Essa associação permitiria a união dos esforços individuais de todos os

coletores no sentido de melhorar suas condições de trabalho e de renda, e

propiciar mais dignidade aos cooperados, como já ocorre no exemplo citado da

cooperativa de catadores da cidade de Itaúna.

A criação pelo setor de confecções com o apoio dos sindicatos, do poder

público e dos demais segmentos sociais de fóruns permanentes de discussões,

seria outra sugestão. Nestes fóruns, abertos à participação da sociedade civil,

empresários, trabalhadores e poder público se colocariam em pauta para

discussões e deliberações dos assuntos mais relevantes relacionados ao setor

de confecções do vestuário, dentre eles, por exemplo, a geração e a

destinação final dos resíduos provenientes do setor.

Em síntese, o que se pode perceber a partir das considerações dos

agentes entrevistados, em relação à solução dos problemas ambientais

decorrentes da destinação inadequada dos resíduos sólidos têxteis, é que

enquanto para os gestores as questões relacionadas aos resíduos sólidos

têxteis estão previstas na legislação e tudo se resolve a partir dela, para os

coletores não está nada resolvido e quem decide é o mercado.

Neste aspecto, foram considerados como gestores públicos urbanos, o

gestor público municipal de Divinópolis e o gerente de resíduos de Itaúna, que

detêm, dentre outras funções, aquelas relacionadas à gestão e ao

gerenciamento dos resíduos sólidos de seus respectivos municípios.

Há que se ressaltar que as soluções apontadas pelos gestores públicos

urbanos devem, via de regra, ser focadas na legislação pertinente, pois elas

vinculam-se ao próprio exercício das funções do cargo, que é público, e ao qual

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estão intimamente ligadas as questões legais delimitadoras de sua atuação, ou

seja, o que aquele determinado gestor público pode fazer ou não.

Por exemplo, o secretário municipal de Desenvolvimento Urbano e Meio

Ambiente de Divinópolis, no exercício de suas funções, fica limitado e

condicionado a só fazer o que a lei determina. Neste contexto, por mais que

queira desenvolver ações, projetos e outras iniciativas visando à minimização

na geração de resíduos, bem como sua destinação final ambientalmente

adequada, ele não poderá atuar se as ações e os projetos não estiverem

dentro dos estritos limites legais, pois, no exercício das funções de seu cargo,

deve obedecer ao conjunto de diretrizes constitucionais e legais vigentes.

Assim, qualquer nova ideia, projeto, ação, para ser executada, necessita

ter previsão legal sob pena de ser considerada ilegal e conduzir os gestores

públicos urbanos e seus executores à ilegalidade e, posteriormente, às

possíveis consequências administrativas e jurídicas, como multas e

responsabilização civil e criminal.

Percebe-se, portanto, que a própria legislação é até certo ponto um fator

que obstaculiza ações que poderiam vir a somar no intuito de garantir a

proteção e preservação do meio ambiente e de seus recursos naturais, bem

como a vida com saúde e segurança. Seriam, então, bem-vindas todas as

modificações no complexo legal vigente que resultassem na agilização de

proposições para a melhoria do meio ambiente, visto que, quando se fala em

proteção e preservação ambiental, o que está em jogo é a própria vida, que

não deve ficar subordinada ao excessivo rigor de procedimentos legais ditos

necessários.

Em relação aos coletores, eles, em sua maioria, acreditam que se

encontram no próprio mercado as soluções para os problemas relacionados à

destinação final ambientalmente inadequada dos resíduos sólidos têxteis em

Divinópolis.

Em primeiro lugar, é necessário enfatizar que os coletores de resíduos

sólidos em Divinópolis, em geral, não coletam os resíduos sólidos têxteis, pois

eles não são comercializados pelas empresas que realizam a compra e a

venda de resíduos sólidos. Coletam os materiais facilmente comercializáveis,

como alumínio, papel, papelão, sucata de ferro, dentre outros.

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Assim, a ideia que os coletores têm para a solução dos problemas

apontados tem estreitos laços com as atividades comerciais, visto que são elas

o objeto final de seus esforços diários.

Nesta perspectiva, enxergam nos detentores do capital, que remunera

os esforços diários de seus trabalhos, aqueles que possivelmente poderão

apontar respostas aos problemas ambientais relacionados aos resíduos

sólidos, em geral. Acreditam que, se os empresários resolvem seus problemas

de remuneração, poderão também resolver os problemas ambientais

correlatos.

Noutra perspectiva, os empresários e sindicatos demonstram querer

terceirizar a responsabilidade, isentando-se da culpa pela geração de resíduos

sólidos têxteis. Isso acontece, pois, tanto os empresários de forma direta,

atuando individual ou coletivamente, e de forma indireta, pelos sindicatos que

os representam têm como objetivos maiores a maximização de seus lucros e a

sobrevivência no turbulento e competitivo mercado global.

Construíram e consolidaram ao longo da história as ideias de

desenvolvimento e progresso a qualquer custo e da existência ilimitada de

recursos naturais fornecedores dos necessários insumos para seus processos

produtivos.

Neste possível cenário ideológico, cultural e comportamental adquirido

ao longo do tempo, muitos empresários e sindicatos não têm a noção da

importância da proteção e preservação dos recursos naturais e do meio

ambiente para a manutenção e sobrevivência de seus próprios negócios. Em

sendo assim, pensam que os problemas ambientais relacionados à destinação

final ambientalmente adequada dos resíduos gerados em seus

empreendimentos não são de sua responsabilidade.

Acreditam que, por exercerem o papel social de instituições geradoras

de emprego e de renda, não lhes competem os problemas ambientais

relacionados aos resíduos por eles próprios gerados, transmitindo, assim, para

o poder público e para outros segmentos sociais essa responsabilidade.

Em contrapartida, os ambientalistas analisam os problemas relacionados

à destinação ambientalmente inadequada dos resíduos sólidos têxteis em

Divinópolis com mais cautela e atenção. Eles salientam o papel da educação

ambiental e destacam a importância de ações conjuntas com a participação de

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261

todos os segmentos envolvidos na busca por possíveis soluções para esses

problemas.

Neste sentido, torna-se necessário também motivar a elaboração de

políticas públicas para liderar as ações ambientais que favoreçam o setor

confeccionista, considerando as peculiaridades locais.

Como sugestão final, a implementação pelo poder público de ações

integradas voltadas para a mudança de paradigmas no sentido de reconhecer

o resíduo sólido como bem econômico, passível de comercialização e lucro, de

forma a permitir a conciliação do desenvolvimento econômico com a proteção e

a preservação ambientais.

A consultora ambiental Hélcia sugere

Que este estudo embase o terceiro setor, as ONGs para fazer emergir a discussão sobre a necessidade de se pensar, políticas públicas para a gestão do resíduo da confecção em Divinópolis. O mesmo é um volume considerável, é um passivo ambiental, e quem está ficando com a fatura contábil somos todos nós cidadãos, e que na maioria não somos geradores do mesmo, mas pagamos para o recolhimento. E a fatura ambiental a natureza vai mandar no futuro (Hélcia, consultora ambiental).

Neste sentido, emerge a questão da responsabilidade compartilhada

pelo ciclo de vida dos resíduos sólidos, também lembrada pela Lei n. 12.305/10

(PNRS) (BRASIL, 2010) em seu art. 3º, inciso XVII.

A particularidade conduz ao fato de que não somente os

empreendedores que produzem os resíduos sólidos têxteis são responsáveis

pela sua destinação e sua disposição final ambientalmente adequada, mas,

também, todos aqueles segmentos que participam da vida de determinado

produto: fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes, consumidores,

titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo dos resíduos

sólidos, dentre outros.

Acredita-se, portanto, que essa pesquisa possa servir como instrumento

para futuras reflexões e ações que contribuam no sentido de permitir que cada

ator envolvido nesse cenário socioeconômico-ambiental desenvolva seu papel

de forma efetiva e plena e possibilite a consecução do objetivo maior que é a

proteção e a preservação do meio ambiente e de seus recursos naturais, bem

como a vida de todas as espécies nele inseridas.

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APÊNDICE A – Formulário aplicado às indústrias de confecção Data_____/______/2014 Formulário Nº_____

PESQUISA SOBRE GERAÇÃO E DESCARTE DOS RESÍDUOS TÊXTEIS DAS INDÚSTRIAS DE CONFECÇÃO EM DIVINÓPOLIS

Objetivo: Analisar como ocorre a geração e o descarte dos resíduos têxteis em algumas indústrias de confecção de Divinópolis/MG. PARTE 1 - INFORMAÇÕES GERAIS Razão social da empresa: _______________________________________________________

Nome Fantasia_______________________________________________________________

CNPJ:______________________________________ Nº de Colaboradores______________

Av/Rua/nº: _________________________________________________________________

Bairro/Distrito: _______________________________________CEP: ___________________

Cidade: _______________Tel.: Fixo: ( )______________ Celular: ( )_________________

E-mail: _____________________________________________________________________

Responsável pela empresa

Nome: ____________________________________________________________________

Escolaridade Ensino Fundamental Incompleto Ensino Fundamental

Completo

Ensino Médio Incompleto Ensino Médio Incompleto

Superior Incompleto Superior Completo

Especialização Mestrado

Doutorado

Idade De 18 a 24 anos De 25 a 30 anos

De 31 a 36 anos De 37 a 42 anos

De 43 a 50 anos Acima de 50 anos

Pessoa responsável em responder o questionário

Nome______________________________________________________________________

Cargo/função________________________________________________________________

Telefone e e-mail para contato__________________________________________________

Autorização de divulgação das informações para fins da pesquisa

Como responsável pela empresa acima denominada, declaro que as informações disponibilizadas podem ser utilizadas para fins da pesquisa e: ( ) Podem ser publicadas sem restrição. ( ) Possuem restrição parcial por um período de ___ anos, ficando restritas as seguintes informações:________________________________________________________________ ( ) Possuem restrição total para publicação por um período de __ anos, pelos seguintes motivos: _____________________________________________________________________

______________________________

Representante da empresa

_____________________________________________

Local e Data

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271

PARTE 2- CARACTERÍSTICAS DA EMPRESA E DA ATIVIDADE INDUSTRIAL 2.1 Quanto tempo a empresa está no mercado? Menos de 1 ano 1 a 3 anos 4 a 7 anos 8 a 10 anos mais de 10 anos 2.2 Atividade principal da indústria: Moda Feminina Moda Masculina Moda Infantil Moda Fitness Moda Praia Moda Festa Outras/Qual?_________________ 2.3 Segmentos dos mercados atendidos Casual Esportivo Infantil Festa Jeans Camisaria Praia Íntima Outros/Quais?__________ 2.4 Número total de funcionários nas seguintes áreas: ___ Criação ___ Produção ___ Administração ___Outras áreas. Quais? _________

2.5 Característica de produção: Fabricação Própria Facção terceirizada/Quantas?___________ Parte própria/ parte terceirizada Outra/Qual?_________________________ 2.6 Setor de corte: Dentro da empresa Fora da empresa Outro/Qual?________ 2.7 Qual a quantidade média de peças produzidas por mês? de 100 a 200 de 201 a 500 de 501 a 1000 de 1001 a 2000 de 2.001 a 5.000 de 5001a 10.000 Acima de 10.000 Outra/Qual?_____ 2.8 Destino da produção: Regiões de Minas Gerais: Sul Norte Leste Oeste Outra/Qual?____ Outros estados/ Qual (is)?____________________ Outros países/Quais?________ 2.9 Faturamento médio mensal da empresa: Até R$ 10.000,00 de R$ 10.001,00 a R$ 30.000,00 de R$ 30.001,00 a R$ 60.000,00 de R$ 60.001,00 a R$100.000,00 de R$ 100.001,00 a R$ 200.000,00 de R$ 200.001,00 a R$ 500.000,00 Acima de R$ 500.000,00 2.10 Processos Produtivos Terceirizados: Etiquetas Bordados Embalagens Acabamento Casear Pregar botão Modelagem Corte CAD Tags Lavanderia Estamparia Costura Parcial Costura Total Planejamento de coleção Outros/Quais?________________________ 2.11 Realiza controle de qualidade no processo produtivo: Do início ao fim No início da produção No fim da produção Não realiza 2.12 Quais os métodos de controle de qualidade utilizados: Análise de processos e solução de problemas Dinâmica de brainstorming Programa 5S Método de Análise e Solução de Problemas – MASP Outros/Quais?________________________ 2.13 Utiliza alguma ferramenta da qualidade total no acompanhamento da produção: 1 ferramenta 2 ferramentas 3 ou mais Não utiliza Desconhece

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2.14 Possui participação direta do profissional de Design de moda na produção: Sim Não 2.15 Se positivo como isso acontece: Dentro da empresa Contratado (Free Lancer) 2.16 O Designer participa em quais etapas: Em todo o processo produtivo Apenas no processo de criação 2.17 Julga importante a participação do designer de moda no processo de criação e produção: Sim Não 2.18 Por que?_____________________________________________________________ 2.19 Quais as maiores demandas de cursos/treinamento da empresa: Capacitação de mão de obra Modelistas/Pilotistas Cortadeiras Controle de qualidade Financiamentos Registro de marcas Outras/Quais?___________________________________________________________ PARTE 3 - MATÉRIAS-PRIMAS, INSUMOS E MAQUINÁRIOS 3.1 Principal tipo de tecido utilizado: Plano Malha Viscolycra Jeans Outros/Quais?___________ 3.2 Principal tipo de fibra utilizada: Sintética Natural Mista Desconhece Outras/Quais?________ 3.3 Onde compra o tecido: Em Divinópolis Fora de Divinópolis/Onde?_________________________ 3.4 Sabe de onde vem o tecido (região ou país) que trabalha: Sim Não 3.5 Caso positivo de onde? __________________________________________________ 3.6 Quantidade média de tecido consumido por mês em Kg: (Se a empresa compra em kg) Até 500 kg De 501 Kg a 1.000 k De 1.001 kg a 3.000 kg De 3.001 kg a 5.000 kg De 5.001 kg a 8.000 kg Acima de 8.000 kg 3.7 Quantidade média de tecido consumido por mês em metros: (Se a empresa compra em metros) Até 500 m De 501 m a 1.000 m De 1.001 m a 3.000 m De 3.001 m a 5.000 m De 5.001 m a 8.000 m Acima de 8.001 m 3.8 Aviamentos utilizados: Linha Botão Zíper Entretela Metal Agulha Pedraria Rendas Adesivos Outros. Quais?___________________ 3.9 Aquisição dos aviamentos citados no item 3.8: Em Divinópolis Fora de Divinópolis/Onde?________________________

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3.10 A empresa seleciona fornecedores que trabalham com matérias-primas ambientalmente corretas: Sim Não As vezes 3.11 Possui controle de estoque: Sim Não 3.12 Se positivo como é feito o controle de estoques: Manualmente (Fichas em papel) Informatizado Outro/Qual?____________ 3.13 Como é feita a armazenagem das matérias-primas:

Almoxarifado específico Outra/Qual?________________________________ 3.14 Há perda de matéria-prima antes ou durante a produção?

Sim Não 3.15 Se positivo em que fase: Modelagem Corte Costura Acabamento Outras/Quais?________ 3.16 Quais os principais motivos das perdas na produção: Métodos utilizados Defeitos na matéria-prima Deficiência na mão-de-obra Outro/Qual(s)______________________________________________________ 3.17 São adotadas medidas para evitar perdas: Programas de redução do desperdício Programa de treinamento dos funcionários

Manutenção preventiva dos equipamentos Substituição de equipamentos Outras/Quais?__________________________________________________________

PARTE 4 - INFORMAÇÕES SOBRE OS RESÍDUOS SÓLIDOS GERADOS

4.1 Tipo de resíduos gerados na produção direta e indiretamente: Papel Plástico Retalhos Aparas Sobras de aviamentos Outros. Quais?_____________________________________

4.2 Os resíduos sólidos em geral (retalhos de tecidos, sobras de aviamentos, embalagens, etc) recebem algum tipo de seleção/separação dentro da empresa: Sim Não 4.3 Caso positivo, como é realizado: Por tipo de resíduo (plástico, papel, tecido...) Aproveitáveis Não aproveitáveis Outro/Qual___________________________________________________________ 4.4 Os resíduos têxteis recebem algum tipo de seleção dentro da empresa: Por tamanho Por cor Tipo de tecido Por forma Quantidade Outros. Quais?________________________________ Nenhum 4.5 Destino dos resíduos têxteis: Doados a terceiros Doados a instituições e programas sociais Colocados na rua para coleta urbana e ou catadores de retalhos Vendidos Outro. Qual?___________________________________________________________

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4.6 Se VENDIDOS qual a quantidade média em kg por semana: Até 100 kg de 101 kg a 500 kg de 501 kg a 1000 kg Acima de 1000 kg Outras quantidades?_________________ __ Não tem controle 4.7 Preço médio em kg de resíduos têxteis vendidos: R$_____________ Não sabe

4.8 Tem idéia para onde vão os resíduos têxteis gerados pela empresa: Sim Não 4.9 Se positivo no item anterior: Onde?__________________________________________________________________ 4.10 Quantidade média de resíduos têxteis gerados por semana em kg: de 10 kg a 50kg de 51 kg a 100kg de 101 kg a 200 kg de 200 kg a 500 kg de 501 kg a 1000 kg Acima de 1000 kg Outros_______________________ Desconhece 4.11 Participa diretamente de algum programa de Reciclagem e ou Reaproveitamento dos resíduos têxteis (Retalhos): Não Sim/ Qual ou quais?_____________________________________ 4.12 Conhece algum trabalho realizado com resíduos têxteis: Não Sim / Qual ou quais?___________________________________ 4.13 Outras declarações a respeito dos resíduos _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ PARTE V – INFORMAÇÕES SOBRE GESTÃO AMBIENTAL 5.1 - Quais são as dificuldades em se adotar medidas que causem menor impacto ambiental?

Limitação de recursos financeiros para custear medidas preventivas. Falta de informação/conhecimento das questões ligadas ao impacto ambiental. Limitação de recursos físicos (funcionários e/ou instalações adequadas). Outras. Quais?___________________________________________________________

5.2 - Responda S (Sim), N (Não) e P (Parcialmente) S N P

1. A empresa tem conhecimento das questões ambientais pertinentes à sua atividade?

2. A empresa atende as legislações ambientais específicas (municipal, estadual e federal)?

3. Existe um Plano de Gestão Ambiental adotado pela empresa?

4. A empresa tem conhecimento e aplica métodos produtivos inerentes às tecnologias limpas?

5. Adota a minimização de resíduos sólidos ou líquidos?

6. Adota acondicionamento adequado de resíduos, bem como a sua disposição final adequada?

7. A empresa tem programa de coleta seletiva de resíduos sólidos?

8. Controla resíduos gerados?

9. Substitui produtos e materiais que possam prejudicar a saúde dos trabalhadores e do meio ambiente?

10. Possui licença (alvará da vigilância sanitária, liberação dos bombeiros, IBAMA, outros...)

11. Fornece e exige a utilização dos EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) pelos funcionários.

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S N P

12. Possui condição adequada de higiene e limpeza das instalações

13. Possui adequada situação ambiental, envolvendo temperatura, luminosidade e umidade (local de trabalho)

14. Disponibiliza boas condições de sanitários aos clientes

15. Há boa condição das máquinas, equipamentos e ferramentas

16. Há boa aparência do ambiente, pessoas, produto e instalações

17. Possui política de higiene e segurança do trabalho (SESMT1, CIPA2,...)

18. Existe climatização do ambiente (exaustores, ar condicionado, ventiladores)

19. Utiliza registros de acidentes de trabalho

20. Apresenta medidas preventivas para evitar acidentes de trabalho (conscientização por meio de panfletos, palestras, cursos, etc)

5.3 Com a obrigatoriedade da Criação do Plano de Gestão dos Resíduos Sólidos (Lei Federal 12.305/10), os municípios têm até 2014 para sua implantação. Neste sentido, quais as ações estão sendo implementadas pela empresa, no que se refere à geração e descarte dos resíduos têxteis? ____________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ PARTE 6 - INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES 6.I Demais informações e/ou sugestões que julgar necessárias _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Responsável pela coleta de dados:__________________________________________

_________________________________________________________ Assinatura

1 SESMT – Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho 2 CIPA – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes

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APÊNDICE B - Roteiro de entrevistas Roteiro da entrevista realizada com o gestor público municipal: William de

Araújo

1. Qual a importância do desenvolvimento sustentável para uma cidade

que está em expansão?

2. Há em nossa cidade problemas que ainda não possuem uma ação

direcionada a eles e que necessitam de algumas atitudes. Quais são

estes problemas?

3. Com a crescente preocupação com o meio ambiente devido aos

avanços industriais e tecnológicos que causam grande impacto ao

planeta, preocupar-se com o meio ambiente tornou-se questão de

marketing para as empresas. Você concorda com essa afirmativa?

4. O polo têxtil de Divinópolis é considerado o maior do interior do estado.

Levando em consideração a importância do setor no município, qual a

importância da preocupação ambiental por parte do setor?

5. Com base na questão ambiental várias ações estão sendo tomadas em

outras cidades/estados como Rio de Janeiro, São Paulo e Belo

Horizonte. Um exemplo destas ações é a multa para quem jogar lixo nas

calçadas que varia de acordo com o tipo e a quantidade de lixo. Em

Divinópolis, em relação às empresas, existe alguma proposta similar?

6. A quantidade de resíduos reaproveitáveis descartados pela indústria

têxtil é grande. Você acredita que é a falta de informação dos

empresários que acarreta essa má destinação dos resíduos?

7. Com a obrigatoriedade da criação do Plano de Gestão de Resíduos

Sólidos que o governo instaurou, os municípios têm que implantar seus

planos até 2014. Como está a situação em Divinópolis hoje?

8. Nesse Plano, tem algum item específico aos resíduos têxteis?

9. Há uma fiscalização sobre a produção dos resíduos industriais? Qual

órgão é responsável por ela?

10. Quais são os projetos voltados para o reaproveitamento de resíduos

têxteis? Qual a participação da prefeitura nestes projetos? Como a

prefeitura colabora com estes projetos?

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11. Você acredita que a preocupação ambiental abarca apenas as grandes

confecções, ou as pequenas confecções também devem possuí-las em

seus processos produtivos?

12. Comentários e/ou sugestões que julgar necessárias.

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Roteiro da entrevista realizada com o presidente do SINVESD: Antônio

Rodrigues Filho

1. Qual a importância do desenvolvimento sustentável para Divinópolis,

uma cidade que está em plena expansão?

2. O que o SINVESD tem feito para atuar de forma participativa no

processo de desenvolvimento sustentável de Divinópolis?

3. A produção descontrolada de lixo (cerca de 120 mil kg/dia) é um

problema social na cidade. Quais são os responsáveis e qual o papel de

cada um deles para minimizar esta situação?

4. Você conhece projetos relacionados a esta temática que poderiam ser

aplicados em nossa cidade? Quais?

5. O Plano Municipal de Gerenciamento Integrado dos Resíduos Sólidos

(PMGIRS) está em fase de conclusão na prefeitura. O setor

confeccionista opinou ou se manifestou em relação a seus resíduos?

6. A quantidade de resíduos têxteis descartados pelas confecções é muito

grande. Você acredita que é a falta de informação dos empresários que

acarreta esta má destinação dos resíduos? Se sim, qual a sua sugestão

de ações que combatam ou minimizem a produção destes resíduos?

7. Você acredita que uma ação conjunta entre o poder público, sindicatos,

empresas e sociedade possa amenizar a situação ambiental em

Divinópolis? Qual?

8. O poder público tem tentado minimizar os danos causados ao Meio

Ambiente. Você acredita que mais alguma ação poderia ser acrescida?

Se sim, qual?

9. Comentários e/ou sugestões que julgar necessárias.

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Roteiro da entrevista realizada com a representante do SOAC: Ana Lúcia

dos Santos

1. Qual a importância do desenvolvimento sustentável para Divinópolis,

uma cidade que está em plena expansão?

2. Você acredita que a poluição pode prejudicar a vida do trabalhador? De

que forma?

3. A produção descontrolada de lixo (cerca de 120 mil kg/dia) é um

problema social na cidade. Quais são os responsáveis e qual o papel de

cada um deles para minimizar esta situação?

4. Você conhece projetos relacionados a esta temática que poderiam ser

aplicados em nossa cidade? Quais?

5. A quantidade de resíduos têxteis descartados pelas confecções é muito

grande. Você acredita que é a falta de informação dos empresários que

acarreta esta má destinação dos resíduos? Se sim, qual a sua sugestão

de ações que combatam ou minimizem a produção destes resíduos?

6. Agora com a Lei 12.305/10 cada empresa vai ficar responsável pelo seu

lixo. O que você acha que pode acontecer?

7. Você acredita que uma ação conjunta entre o poder público, sindicatos,

empresas e sociedade possa amenizar a situação ambiental em

Divinópolis?

8. O poder público tem tentado minimizar os danos causados ao Meio

Ambiente. Você acredita que mais alguma ação poderia ser acrescida?

9. Comentários e/ou sugestões que julgar necessárias.

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Roteiro da entrevista realizada com o Especialista na área ambiental:

Pedro Coelho Amaral

1. A produção descontrolada de lixo é um problema social na cidade, cerca

de 120 mil kg/dia. Quais são os responsáveis e qual o papel de cada um

deles para minimizar esta situação?

2. Qual a importância do desenvolvimento sustentável para Divinópolis,

uma cidade que está em plena expansão?

3. O que usualmente tem sido feito nas cidades com esse perfil para

conciliar o desenvolvimento socioeconômico com a preservação do meio

ambiente?

4. Você conhece projetos relacionados a esta temática que poderiam ser

aplicados em nossa cidade? Quais?

5. A quantidade de resíduos têxteis descartados pelas confecções é muito

grande. Você acredita que é a falta de informação dos empresários que

acarreta esta má destinação dos resíduos? Em caso positivo, qual a sua

sugestão de ações que combatam ou minimizem a produção destes

resíduos?

6. Você acredita que uma ação conjunta entre o poder público, sindicatos,

empresas e sociedade possa amenizar a atual situação de degradação

e poluição ambiental em Divinópolis? Em relação ao setor

confeccionista, qual seria esta ação?

7. O poder público tem tentado minimizar os danos causados ao Meio

Ambiente. Você acredita que mais alguma ação poderia ser acrescida?

Em caso positivo, qual?

8. Na sua opinião, o que é uma produção sustentável e como ela se faz

possível, no contexto atual de necessidade de produção acelerada para

atendimento da demanda crescente?

9. Comentários e/ou sugestões que julgar necessárias.

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Roteiro da entrevista realizada com o coletor autônomo: Anderson

Avelino de Jesus

1. É comum encontrar resíduos têxteis junto ao lixo domiciliar? O que mais

é encontrado? Em qual lugar você encontra mais resíduos têxteis? Este

lugar é próximo das confecções?

2. Qual a sua opinião sobre qual seria a destinação adequada para os

resíduos têxteis?

3. A coleta seletiva é uma ação que tem colaborado com a questão

ambiental. Ela ocorre em Divinópolis?

4. Em quais regiões e com qual periodicidade acontece a coleta seletiva?

5. Para onde são destinados os resíduos descartados pelas confecções e

encontrados junto ao lixo domiciliar? Como é feita e quem faz esta

coleta?

6. Os catadores de materiais recicláveis atuam também na coleta de

resíduos. Na sua opinião, quais as ações poderiam facilitar a atuação

destes catadores?

7. A seu ver, quais ações poderiam facilitar o trabalho de coleta do lixo?

8. Qual a sua sugestão para a redução dos resíduos têxteis?

9. Comentários e/ou sugestões que julgar necessárias.

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Roteiro de entrevista realizada com o coletor municipal de resíduos:

Lázaro Raimundo Alves

1. É comum encontrar resíduos têxteis junto ao lixo domiciliar? O que mais

é encontrado?

2. Em qual lugar você encontra mais resíduos têxteis? Este lugar é próximo

das confecções?

3. Qual a sua opinião sobre qual seria a destinação adequada para os

resíduos têxteis?

4. Para onde são destinados os resíduos descartados pelas confecções e

encontrados junto ao lixo domiciliar?

5. Como é feita e quem faz esta coleta?

6. Os catadores de materiais recicláveis atuam também na coleta de

resíduos. Na sua opinião, quais as ações poderiam facilitar a atuação

desses catadores?

7. Qual a sua sugestão para a redução dos resíduos têxteis?

8. Comentários e/ou sugestões que julgar necessárias.

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Roteiro da entrevista realizada com o gerente de resíduos da cidade de

Itaúna-MG: Sérgio Fernandes da Cunha

1. Atualmente, quais são os principais problemas ambientais do município

de Itaúna, e quais os projetos da prefeitura existentes relacionados a

eles?

2. Desde quando e como ocorre a coleta seletiva em Itaúna? Em todos os

bairros? Existem dias e horários definidos para a coleta?

3. Como foi o processo de conscientização da população para a coleta

seletiva?

4. A coleta seletiva recolhe somente o lixo seco e o lixo molhado das

residências e das indústrias? E os demais resíduos, como os das

construções, por exemplo?

5. Existe uma Cooperativa de Materiais Recicláveis de Itaúna – COOPERT.

Há quanto tempo? Qual o número de funcionários? Onde está

localizada? O espaço é cedido pela prefeitura?

6. Ainda existem os catadores “avulsos”?

7. Para onde são direcionados os materiais depois do processo de

triagem?

8. A quantidade de resíduos reaproveitáveis descartados pelas indústrias é

grande. Você acredita que é a falta de informação dos empresários que

acarreta essa má destinação dos resíduos?

9. Os governos federal e estadual contribuem de alguma forma com o

projeto de coleta seletiva em Itaúna? A cidade participa de algum projeto

ou incentivo do governo?

10. Com a obrigatoriedade da criação do Plano de Gestão de Resíduos

Sólidos que o governo instaurou, os municípios deveriam implantar seus

planos até 2014. Como está a situação em Itaúna? Quais são os órgãos

responsáveis pela sua execução?

11. Há uma fiscalização sobre a produção dos resíduos industriais? Qual

órgão é responsável por ela?

12. A Prefeitura de Itaúna possui algum projeto voltado para o

reaproveitamento de resíduos? Se sim, qual a sua participação e

colaboração nesses projetos?

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13. Em Itaúna, como está a questão do Lixão, do Aterro Sanitário? O que

vocês têm aqui? Centro de Triagem? Vocês chegaram a ter lixão aqui?

14. Com base na questão ambiental várias ações estão sendo tomadas em

outras cidades/estados como Rio de Janeiro, São Paulo e Belo

Horizonte. Um exemplo destas ações é a multa para quem jogar lixo nas

calçadas que varia de acordo com o tipo e a quantidade de lixo. Em

Itaúna, existe alguma proposta similar?

15. Em Itaúna existem algumas confecções e tecelagens. Como é

descartado o resíduo têxtil por elas gerado?

16. Você conhece algum projeto de reaproveitamento dos resíduos têxteis?

17. Comentários e/ou sugestões que julgar necessárias.

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Roteiro de entrevista realizada com o coletor de resíduos da ASCADI:

Jeferson Silva de Oliveira

1. É comum encontrar resíduos têxteis junto ao lixo domiciliar? O que mais

é encontrado?

2. Em qual lugar você encontra mais resíduos têxteis?

3. Qual a sua sugestão para a redução dos resíduos têxteis?

4. A coleta seletiva é uma ação que tem colaborado com a questão

ambiental. Desde quando ela ocorre em Divinópolis e quem são os

responsáveis? Ela ocorre em todos os bairros? Com qual periodicidade?

5. Como é feita e quem faz essa coleta seletiva?

6. Para onde são destinados os resíduos coletados junto ao lixo domiciliar?

7. Você sabe informar se foi feito um trabalho de conscientização da

população em relação à coleta seletiva?

8. Para onde são destinados os resíduos descartados pelas confecções e

encontrados junto ao lixo domiciliar?

9. Os catadores de materiais recicláveis atuam também na coleta de

resíduos. Existe uma parceria entre a EMOP e os catadores “avulsos”?

10. Existe algum projeto da prefeitura e EMOP para reaproveitamento de

resíduos recolhidos pela coleta seletiva?

11. Na sua opinião, quais as ações poderiam facilitar o trabalho de coleta

seletiva?

12. Que tipo de material chega aqui na ASCADI? Como é feito o processo

de triagem aqui? Após serem triados para onde se destinam esses

materiais coletados?

13. Comentários e/ou sugestões que julgar necessárias.

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APÊNDICE C - Questionário sobre a questão urbana ambiental em Divinópolis encaminhado ao gestor público municipal

1. Em que fase se encontra o Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos (PMGIRS) de Divinópolis?

2. O setor Confeccionista foi contemplado neste plano? De que forma?

3. Divinópolis, sendo polo confeccionista regional tem cumprido a legislação (Lei 11.445/07 que estabelece as diretrizes nacionais do saneamento básico) que determina o manejo adequado desses resíduos e considerado as peculiaridades locais (cidade polo confeccionista) no tratamento da questão sanitária?

4. O senhor saberia me informar em que fase se encontra a Lei 12.305/10 que deveria ter sido implantada até agosto/2014? E por que os responsáveis pela sua implantação, não tomaram as devidas providências?

5. A Lei 12.305/2010 previa a obrigação do município em implantar o aterro sanitário até 03 de agosto de 2014. Como se encontra a implantação desse aterro? Já foi definida a empresa responsável pelo tratamento, recolhimento e disposição final dos rejeitos?

6. O que o senhor pode dizer sobre as ações que o Município, de forma isolada ou conjunta, com outros entes estatais (Estado, União e DF) e instituições públicas e privadas, têm adotado para a busca de soluções para os resíduos sólidos, de forma a considerar as dimensões política, econômica, ambiental, cultural e social, com controle social e sob a premissa do desenvolvimento sustentável?

7. Existe na Prefeitura de Divinópolis um setor específico para trabalhar com a questão dos Resíduos Sólidos?

8. O senhor conhece algum projeto específico para a destinação dos Resíduos Têxteis?

9. O senhor comentou na entrevista anterior que incentiva sua equipe a procurar modelos positivos de gestão ambiental. Em Itaúna eles fazem a coleta seletiva dos materiais recicláveis e tem dado ótimo resultado. O projeto deles tem repercussão nacional. Existe uma previsão de implantação da coleta seletiva que atenda toda a cidade de Divinópolis? Se sim, para quando? Como seria?

10. Existem algumas iniciativas por parte da Prefeitura para a destinação ambientalmente adequada dos resíduos sólidos? Quais?

11. Considerando as peculiaridades de nossa cidade, que é polo confeccionista regional, o que o Município, por intermédio dessa Secretaria do Meio Ambiente, tem feito hoje em relação aos resíduos sólidos têxteis? Quais ações têm sido buscadas para a solução desses resíduos no futuro?

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12. Na entrevista anterior, o senhor comentou que o Plano Diretor estava na Câmara para ser transformado em projeto de lei. Como está esta situação? Já existem os Planos viário e de mobilidade?

13. O senhor gostaria de acrescentar mais algum comentário ou alguma sugestão?

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APÊNDICE D - Questionário sobre a questão urbana ambiental em Divinópolis encaminhado à consultora ambiental

Dados da respondente

Nome: ___________________________________________________

Função:__________________________________________________

E-mail: ______________________________ Tel.: (__) ____________

1. A produção descontrolada de lixo é um problema social na cidade, cerca

de 120 mil quilos por dia. Quais são os responsáveis e qual o papel de cada um deles para minimizar essa situação?

2. Qual a importância do desenvolvimento sustentável para Divinópolis, uma cidade que está em plena expansão?

3. O que usualmente tem sido feito nas cidades com esse perfil para conciliar o desenvolvimento sócio econômico com a preservação do Meio Ambiente?

4. A quantidade de resíduos têxteis descartados pelas confecções é muito grande. Você acredita que a falta de informação dos empresários é que acarreta essa má destinação dos resíduos? Em caso positivo qual a sua sugestão de ações que combatam ou minimizem a produção desses resíduos?

5. Quais os projetos específicos para a destinação dos Resíduos Têxteis que você conhece e que poderiam ser aplicados em nossa cidade?

6. Você acredita que ações conjuntas entre Poder Público, Sindicatos, empresas e sociedade possam amenizar a atual situação de degradação e poluição ambiental em Divinópolis? Em relação ao setor confeccionista, qual ou quais ações poderiam ser adotadas?

7. Em sua opinião, o que é uma produção sustentável? Como ela se faz possível no contexto atual da necessidade de produção acelerada para atendimento de uma demanda crescente?

8. Você saberia me informar em que fase se encontra a Lei 12.305/10 que deveria ter sido implantada até agosto/2014? E por que os responsáveis pela sua implantação, não tomaram as devidas providências?

9. Mais algum comentário, sugestão ou consideração?

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APÊNDICE E - Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido (TCLE)

Você está sendo convidado (a) a participar voluntariamente da pesquisa intitulada: SUSTENTABILIDADE E A QUESTÃO URBANA AMBIENTAL: O SETOR CONFECCIONISTA DE DIVINÓPOLIS/MG sua participação não é obrigatória e a qualquer momento você poderá desistir de participar e retirar seu consentimento.

Esta pesquisa é parte das exigências do Curso de Doutorado em Ciências Sociais, modalidade Dinter CEFETMG, que a pesquisadora Maria de Lourdes Couto Nogueira está realizando junto à Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, sob orientação da Profª. Drª. Maura Pardini Bicudo Véras e tem como objetivo geral analisar no contexto da gestão urbana do município, o compromisso e as responsabilidades de cada ator social, bem como os impactos socioambientais em virtude da falta de consciência e omissão desses atores no que se refere aos resíduos sólidos provenientes das indústrias de confecção da cidade de Divinópolis.

Sua participação consistirá em responder a uma entrevista e/ou questionário, onde serão abordadas questões referentes ao tema objeto desta pesquisa. No caso da entrevista, esta será de gravada com o objetivo de melhor assegurar a coleta das informações e permitir maior qualidade do diálogo.

Os dados serão recolhidos e tratados de forma segura. O áudio e as transcrições serão armazenados de modo a garantir sua confidencialidade.

Todas as informações obtidas serão utilizadas exclusivamente para fins acadêmicos, serão observadas as questões éticas que envolvem a temática estudada e os resultados da mesma serão apresentados aos membros envolvidos, caso tenham interesse.

___________________________________________________________________________

Eu, ___________________________________________________________ declaro estar ciente das informações contidas nesse documento e concordo em participar voluntariamente desta pesquisa. Declaro ainda que recebi uma cópia deste documento e foi garantido o direito de retirar este consentimento a qualquer momento da pesquisa e a esclarecer quaisquer dúvidas que surgirem no seu processo de desenvolvimento.

Divinópolis, _____ de _______________ de _______.

____________________________________________________________

Assinatura do(a) entrevistado(a)

Dados da Doutoranda Nome: Maria de Lourdes Couto Nogueira Doutorado: Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais – PUC/SP E-mail: [email protected] – Telefones: (37) 99122-4230 / (37) 99934-5670 Dados do(a) entrevistado(a) Nome: ___________________________________________________________________ Função:__________________________________________________________________ E-mail: ______________________________________________________ Tel.: (__) ____

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APÊNDICE F - Conceitos preliminares

Meio Ambiente

Para Menegotto (1977, p. 8), em sentido amplo e de forma didática: “É o

conjunto das condições que cercam o ser vivo. O meio inclui, portanto, os seres

vivos e não vivos.”

De forma mais aprofundada, o entendimento de Veyret (2012, p. 212),

Hoje, o termo abarca um sistema de relações, um campo de forças fisio-químicas e bióticas em inter-relação com a dinâmica social, econômica e espacial. Para P. George, o meio ambiente é o “conjunto dos elementos que, na complexidade de suas relações, constituem o quadro, o meio, as condições de vida para o homem”. Em outras palavras, e isso é fundamental, desde a origem do emprego do termo em geografia, meio ambiente não abarca somente a natureza, nem muito menos só a fauna e a flora, o que hoje chamamos de biodiversidade, tampouco as poluições e degradações. Ele designa as relações de interdependência complexas existentes entre a natureza e as sociedades.

Essa autora destaca ainda a complexidade do termo na ótica atual e

deixa transparecer os aspectos sociais, culturais, científicos, dentre outros,

presentes em sua formação. Nesse sentido, continua a autora:

Para os geógrafos, o meio ambiente é um objeto social que integra dados sociais e elementos naturais em um constructo de algum modo híbrido. A dimensão cultural é, portanto, central: como sublinha A. Berque, a natureza é parte integral da cultura do grupo social Assim, a natureza (encarada em termos de meio ambiente ou de paisagem) é “portadora de signos e de símbolos” (G. di Méo, 2003) que as sociedades pacientemente elaboraram, enquanto a cultura do grupo social traduz também relações específicas com a natureza (VEYRET, 2012, p 212).

No entendimento de Sánchez (2008, p. 21):

ambiente é o meio de onde a sociedade extrai os recursos essenciais à sobrevivência e os recursos demandados pelo processo de desenvolvimento socioeconômico. Esses recursos são geralmente denominados naturais. Por outro lado, o ambiente é também o meio de vida, de cuja integridade depende a manutenção de funções ecológicas essenciais à vida.

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Já o conceito legal de meio ambiente, está disposto no art. 3º, inciso I,

da Lei nº 6.938/1981, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente –

PNMA -, como sendo: “o conjunto de condições, leis, influências e interações

de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em

todas as suas formas”.

Ecologia

No entendimento de Boff (2012) o conceito de ecologia compreende o

estudo das mais variadas e complexas relações dos seres vivos e não vivos no

planeta Terra, assim:

A palavra ecologia foi criada em 1866 por Ernst Haeckel, biólogo alemão, discípulo de Darwin. Assim ele definiu a ecologia: o estudo dos relacionamentos de todos os seres vivos e não vivos entre si e com seu entorno. Todos moram juntos na Casa Comum que é a Terra e juntos se entreajudam para se alimentar, se reproduzir e coevoluir. É o chamado meio ambiente que, na verdade, é o ambiente inteiro porque engloba todos os seres vivos (BOFF, 2012, p. 9)

Segundo Odum (1977), a ecologia remete ao estudo das casas. Nesse

sentido:

O termo especial para indicar os campos de interesse da biologia do ambiente é Ecologia, palavra derivada da raiz grega oikos, que significa “casa”. Assim, literalmente, Ecologia é o estudo das “casas”, ou por extensão, “ambientes” (ODUM, 1977, p.22)

Percebe-se, assim, nesses dois conceitos, que a ecologia é a ciência

que estuda “as casas”, ou seja, o ambiente, de forma sistêmica, considerando

todos os seres que nele habitam, sejam animados ou inanimados, e suas

respectivas interações, onde a vida se mantém e perpetua de forma plena.

Ecossistema

Segundo Menegotto (1977, p. 6):

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Os ecologistas empregam o termo ecossistema ou sistema ecológico para indicar uma unidade de área da natureza onde os seres vivos e inertes ali existentes interagem, formando um sistema estável, cujas trocas de matéria e energia que nele ocorrem, obedecem a uma trajetória circular.

Veyret (2012), define o ecossistema como um “complexo dinâmico”, no

qual aponta a constante interação entre plantas, animais, micro-organismos e

demais componentes existentes neste meio. Nesse sentido:

Termo criado, em 1935, pelo biólogo A. Tansley, define uma unidade funcional de base associando um biótopo a uma biocenose. A Convenção para a Biodiversidade define o ecossistema como “um complexo dinâmico formado de comunidades de plantas, de animais e de micro-organismos e de seu meio ambiente não vivo que, por sua interação, formam uma unidade funcional”. Trata-se, portanto, de um objeto que oferece certa homogeneidade. O ecossistema pode ser de tamanho ínfimo (um cepo de árvore) ou de enorme dimensão (uma floresta ou, até mesmo, o oceano mundial) (VEYRET, 2012, p. 119).

Poluição

Para Sánches (2008, p. 24): “O verbo poluir é de origem latina, polluere,

e significa profanar, manchar, sujar. Poluir é profanar a natureza, sujando-a”.

Continua esse mesmo autor:

Basicamente, poluição é entendida como uma condição do entorno dos seres vivos (ar, água, solo) que lhes possa ser danosa. As causas da poluição são as atividades humanas que, no sentido etimológico, “sujam” o ambiente. Dessa forma, tais atividades devem ser controladas para se evitar ou reduzir a poluição. Já em 1948, os Estados Unidos contavam com uma Lei de Controle da Poluição das Águas e a partir de 1955, com uma Lei de Controle da Poluição do Ar, enquanto, em 1956, o Reino Unido decretava uma Lei do Ar Limpo (SÁNCHEZ, 2008, p. 24).

Vale destacar que, em geral, a poluição é causada pelas atividades

humanas sem controle, entretanto, causas naturais, como, ilustrativamente, a

ocorrência de um terremoto, podem romper um reator atômico de uma usina

nuclear e causar poluição, como ocorreu na usina nuclear de Fukushima, no

Japão.

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Nesse caso, a poluição foi causada não por determinada atividade

humana descontrolada, mas, por um desastre natural que desequilibrou o

meio.

Degradação Ambiental

Nos dizeres de Sánches,

degradação ambiental pode ser conceituada como qualquer alteração adversa dos processos, funções ou componentes ambientais, ou como uma alteração adversa da qualidade ambiental. Em outras palavras, degradação ambiental corresponde a impacto ambiental negativo (SÁNCHES, 2008, p. 27).

Para Granziera (2011), na perspectiva jurídica e remetendo à

interpretação da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei nº 6.938/81), a

degradação ambiental tem como uma das causas a poluição. Assim,

Já a degradação da qualidade ambiental consiste na alteração adversa das características do meio ambiente, o que remete para o entendimento de ser a poluição uma espécie do gênero degradação ambiental. A degradação da qualidade ambiental, da qual uma das causas é a poluição, refere-se justamente a um desequilíbrio provocado pela atividade humana e é definida no art. 3º, II, da Lei nº 6.938/81. Trata-se de “alteração adversa das características do meio ambiente” (GRANZIERA, 2011, p.76).

Impacto ambiental

Segundo Sánchez (2008), existem vários conceitos para o termo

impacto ambiental. Nesse contexto:

A locução “impacto ambiental” é encontrada com frequência na imprensa e no dia a dia. No sentido comum, ela é, na maioria das vezes, associada a algum dano à natureza, como a mortandade da fauna silvestre após o vazamento de petróleo no mar ou em um rio, quando as imagens de aves totalmente negras devido à camada de óleo que as recobre, chocam (ou “impactam”) a opinião pública. Nesse caso, trata-se indubitavelmente, de um impacto ambiental. Derivado de uma situação indesejada, que é o vazamento de uma matéria-prima (SÁNCHEZ, 2008, p. 28).

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Continua esse autor:

Uma outra definição de impacto ambiental é dada pela norma NBR ISO 14.001:2004 (versão atualizada da primeira norma ISO 14.001, de 1996. Aqui é reproduzida a tradução oficial brasileira da norma internacional): “qualquer modificação do meio ambiente, adversa ou benéfica, que resulte no todo ou em parte, das atividades, produtos ou serviços de uma organização” (item 3.4 da norma). É interessante conhecer o conceito de impacto ambiental adotado por essa norma porque muitas empresas e outras organizações têm adotado sistemas de gestão ambiental nela baseados (SÁNCHEZ, 2008, p. 29).

Ainda, segundo esse autor, em relação à definição legal:

No Brasil, a definição legal é aquela da Resolução Conama nº 1/86, art. 1º: Qualquer alteração das propriedades físicas, químicas ou biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas, que direta ou indiretamente afetem: I – a saúde, a segurança e o bem-estar da população; II – as atividades sociais e econômicas; III – as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; IV –

a qualidade dos recursos ambientais (SÁNCHEZ, 2008, p. 30).

Os impactos ambientais podem ser positivos ou negativos. Impactos

positivos, segundo esse autor:

A possibilidade de ocorrerem impactos ambientais positivos é uma noção que deve ser bem assimilada. Um exemplo corriqueiro de impacto positivo, encontrado em muitos estudos de impacto ambiental, é descrito como “criação de empregos”. Trata-se, como é evidente, de um impacto social e econômico, campo em que é relativamente fácil compreender que possa haver impactos benéficos. Mas também há impactos positivos sobre componentes físicos e bióticos do meio. Um projeto que envolva a coleta e o tratamento de esgotos resultará em melhoria da qualidade das águas, em recuperação do hábitat aquático e em efeitos benéficos sobre a saúde pública. Uma indústria que substitua uma caldeira a óleo pesado por uma caldeira a gás emitirá menos poluentes, como material particulado e óxidos de enxofre, ao mesmo tempo em que, caso venha a ser abastecida por um duto de gás, serão eliminadas as emissões dos caminhões de transporte de óleo e os incômodos causados pelo tráfego pesado (SÁNCHEZ, 2008, p. 31).

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Vale destacar, como lembra Sánches (2008), os impactos ambientais

são causados por ações humanas, consolidadas em atividades, produtos e

serviços, possuem aspectos ambientais e resultam em impactos ambientais

que podem ser positivos ou negativos.

Sustentabilidade

Encontram-se para o termo “sustentabilidade”, as mais variadas

definições, cujas características e elementos componentes se direcionam para

o segmento econômico a que se aplica. Assim, segundo Edwards:

Para o arquiteto, sustentabilidade é um conceito complexo. Grande parte de um projeto sustentável envolve a redução do aquecimento global por meio da economia energética e o uso de certas técnicas, como a análise do ciclo de vida, com o objetivo de manter o equilíbrio entre o capital inicial investido e os ativos fixos a longo prazo. No entanto, projetar de forma sustentável também envolve a criação de espaços saudáveis, viáveis economicamente e sensíveis às necessidades sociais. Significa respeitar os sistemas naturais e aprender por meio dos processos ecológicos (EDWARDS, 2008, p.3).

Já para Freitas (2012), o conceito de sustentabilidade está

inevitavelmente ligado à questão constitucional. Nesse sentido:

É o princípio constitucional que determina, com eficácia direta e imediata, a responsabilidade do Estado e da sociedade pela concretização solidária do desenvolvimento material e imaterial, socialmente inclusivo, durável e equânime, ambientalmente limpo, inovador, ético e eficiente, no intuito de assegurar, preferencialmente de modo preventivo e precavido, no presente e no futuro, o direito ao bem-estar (FREITAS, 2012, p.54).

Continua, esse autor, de forma clara, a destacar a necessidade de se

diferenciar os termos sustentabilidade e desenvolvimento sustentável e a

apontar a necessidade de se buscar, em primeiro lugar a sustentabilidade,

para, posteriormente, atingir o desenvolvimento sustentável. Assim:

Crucial destacar, uma vez mais, que a sustentabilidade é que deve adjetivar, condicionar e infundir as suas características ao desenvolvimento, nunca o contrário. Não pode ser ardilosamente esvaziada pelo crescimento econômico

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descriterioso e agressivo. Por isso, prefere-se falar em sustentabilidade, em vez de desenvolvimento sustentável. Para acentuar que a Constituição quer que ela prepondere, determine, modele. De fato e de direito, a sustentabilidade é, em sentido forte, princípio fundamental que gera novas obrigações e determina, antes de mais nada, a salvaguarda do direito ao futuro [...] (FREITAS, 2012, p.54).

Importante destacar que o termo sustentabilidade (bem como

desenvolvimento sustentável), só se tornou possível a partir de um processo de

conscientização coletivo no qual o homem descobriu que ele próprio, pelas

mais variadas razões e motivos, vem gerenciando e convivendo mal com os

recursos naturais e as outras espécies animais existentes no planeta.

Como ser dotado de inteligência, possui capacidade de realizar

modificações acentuadas e por vezes drásticas no meio, de forma especial

pela produção e consumo desenfreados de bens e serviços destinados ao

atendimento de suas necessidades, quer sejam reais ou fictícias (criadas pela

mídia), bem como para oferecer resposta ao incremento destas.

Consumo consciente

Percebe-se, no atual cenário globalizado, em que as empresas lutam

entre si para sobreviver no mercado e maximizar seus lucros, que são

utilizados todos os métodos, processos, técnicas e estratégicas possíveis para

atrair os consumidores a, cada vez mais, se apropriarem de seus produtos,

bens e serviços.

Assim, vale tudo (por exemplo, os mais variados, criativos, insistentes e

convencedores apelos da mídia), dentro dos limites legais, para que

determinada empresa atinja seus objetivos principais.

Em contrapartida a esses apelos e tentações ao consumo imediato e

desmedido, o consumo consciente busca reduzir, de forma racional e

essencial, o consumo dessas disponibilidades e formar no consumidor um

conjunto de valores necessários para mudanças comportamentais de consumo,

voltadas para a redução da utilização de recursos naturais e a sustentabilidade

no planeta.

Nessa perspectiva, Trigueiro ensina que

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Cada um de nós, independentemente do poder aquisitivo, pode fazer a sua parte na construção de uma nova sociedade de consumo, em que a compra de um produto ou serviço seja precedida de alguns pequenos cuidados. Dar preferência aos fabricantes ou comerciantes comprometidos com energia limpa, redução e reaproveitamento de resíduos, reciclagem de água, responsabilidade social corporativa e outras iniciativas sustentáveis é um bom começo. Assim como checar se o que pretendemos adquirir é realmente necessário e fundamental. O conceito de necessário varia de pessoa para pessoa, é assunto de foro íntimo. Mas pode-se descobrir, nesse exercício, os sintomas de uma doença chamada oneomania, ou consumo compulsivo, que de acordo com pesquisa do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo, acomete aproximadamente 3% da população brasileira, em sua maioria mulheres. É gente que usufrui apenas do momento da compra, para muito rapidamente deixar o produto de lado e, não raro, mergulhar num sentimento de culpa. Muitos endividados que tomam empréstimos em banco ou em agiotas são oneomaníacos (TRIGUEIRO, 2005, p. 22).

Continua esse autor, ressaltando o alto padrão de consumo dos norte-

americanos e europeus:

Nós vivemos uma situação de enorme gravidade se considerarmos que, no modelo atual de consumo e de produção, já consumimos mais do que a capacidade de renovação dos recursos naturais. Nós estamos consumindo 20% a mais do que a Terra consegue sustentar. E mais do que isso: se toda a população do mundo consumisse como os norte-americanos e europeus, que têm o padrão mais alto de consumo, hoje, nós precisaríamos de quatro planetas Terra (TRIGUEIRO, 2005, p. 26).

Como não poderia deixar de ser, nota-se também, no mercado da moda,

a necessidade de reflexão voltada para a formação de consumidores

conscientes. Nessa perspectiva Berlim (2014, p. 57):

Devido à forte influência da moda em sua ampla rede de difusão de produtos, comportamentos e representações sociais, é relevante compreender os mecanismos dessa estrutura no que concerne à suposta dicotomia consumo-preservação nos âmbitos empresarial e social. Por ser o consumidor e seu comportamento de vital importância para as empresas de moda, a base do crescimento econômico destas vem passando por uma reflexão que foca seus clientes, atuais e futuros, dentro do cenário da sustentabilidade.

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Desenvolvimento Sustentável

A literatura apresenta diferentes entendimentos sobre o termo

desenvolvimento sustentável. Um dos conceitos mais conhecidos pelos

estudiosos do tema é aquele definido pela Comissão Brundtland, em 1987.

Nesse sentido, Edwards (2008) afirma que:

A definição de desenvolvimento sustentável elaborada pela Comissão Brundtland é considerada, cada vez mais, um conceito válido, porém impreciso e aberto a diferentes interpretações, muitas vezes contraditória, apesar de ainda ser a principal referência no âmbito internacional. Criada em 1987 pela Comissão para o Meio Ambiente da ONU, sob a direção do GroHarlemBrundtland, aborda as necessidades de recursos ambientais das gerações presentes e futuras. A definição de Brundtland talvez seja o maior imperativo para o desenvolvimento global no século XXI. Suas repercussões foram muito abrangentes e impactantes. A Comissão Brundtland definiu o desenvolvimento sustentável como aquele que satisfaz as necessidades do presente, sem comprometer a capacidade das futuras gerações de satisfazer suas próprias necessidades. Esta definição gerou uma série de subdefinições que atendem às necessidades particulares de cada setor. Uma dessas subdefinições é utilizada pelo escritório Norman Foster + Partners, que define a arquitetura sustentável como a criação de edificações eficientes do ponto de vista energético, saudáveis, confortáveis, de uso flexível e projetadas para terem um longa vida útil(EDWARDS, 2008, p. 20)

Ainda, conforme este autor, sobre a Comissão Brundtland:

A Comissão Brundtland defendeu que os sistemas econômicos e sociais não poderiam ser alheios às questões ambientais. A idéia do crescimento e bem-estar social deve ser equilibrada com a conservação dos recursos ambientais pelas gerações presentes em benefício das gerações futuras.

Ecodesenvolvimento

O ecodesenvolvimento pode ser considerado como o modelo que mais

se aproxima do desenvolvimento sustentável, assim, Colby (1991) in UnB/PUC

Minas (2004):

Segundo Colby (1991), a mudança para esse paradigma ainda está em curso e aponta para a busca de sinergia com os processos e serviços dos ecossistemas. O ganho de eficiência

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viria do planejamento de processos agrícolas e industriais que minimizem ou de fato utilizam processos ecossistêmicos. Nesse contexto, desenvolvem-se noções como agro-ecologia (por exemplo, manejo integrado de pestes, permacultura, agro-silvicultura, plantios múltiplos), ecologia industrial (por exemplo, uso de sub-produtos como insumos para outros processos industriais) e engenharia ecológica (por exemplo, purificação in situ de águas servidas). Do princípio do poluidor-pagador tenta-se passar uma abordagem de prevenção da poluição. O sistema de impostos passa a ser mais afinado com princípios ecológicos, com aumento de taxas para extração de recursos e poluição e diminuição para atividades que devem ser encorajadas, tais como proteção de ecossistemas, aumento de eficiência, reciclagem, trabalho, etc. Igualdade social e preocupações culturais são temas que se tornam mais relevantes. Os conhecimentos e a experiência de populações indígenas e tradicionais tem sido muito valorizados. A participação da sociedade (usuários e demais interessados) deve ser estimulada desde a etapa do planejamento, de modo a garantir a integração entre objetivos ecológicos e desenvolvimento. Do ponto de vista econômico, assiste-se à ‘ecologização da economia’. Trata-se do paradigma mais próximo do conceito de desenvolvimento sustentável na atualidade (UNB, PUC Minas (org), 2004, p. 278).

Ecodesign

As atuais tendências produtivas globais apontam no sentido de que não

há como se produzir bens e disponibilizar serviços à sociedade, sem pensar e

medir os prováveis impactos ambientais e a quantidade de recursos naturais

utilizada nos respectivos processos produtivos.

Os clientes já não querem, por exemplo, só um apartamento, bem

localizado, com iluminação e ventilação satisfatórias. Desejam, sobretudo, um

apartamento projetado, desenhado e voltado para a proteção ambiental.

Um apartamento que seja projetado para economizar energia elétrica,

para aproveitar as águas das chuvas, com áreas verdes, dentre outros

aspectos, que propiciem a conciliação do bem-estar de seus

moradores/clientes com a preservação ambiental.

Nesse aspecto, os desenhistas, projetistas, arquitetos, dentre outros

profissionais, devem conhecer o mercado, as exigências dos clientes e, dentre

elas, despontando e apontando para novos caminhos, aquela relacionada à

ecologia, ao meio ambiente e à sustentabilidade.

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Gestão Ambiental

Gestão ambiental relaciona-se à administração de todos os recursos

disponíveis, quais sejam, humanos, materiais, tecnológicos, de capital, dentre

outros, voltada não somente para se atingir os fins da empresa ou instituição,

mas, conciliada com a proteção do meio ambiente, visa, um objetivo maior que

é a sustentabilidade, ou seja, a manutenção da vida saudável e equilibrada em

todo o planeta.

Assim, as empresas que adotam a gestão ambiental, se preocupam

dentre outras coisas, com os impactos que suas atividades causam no meio

ambiente. Nesse sentido, Veyret (2012, p. 162):

A gestão ambiental designa os métodos de gestão e de organização da empresa, que consideram, de maneira sistemática, o impacto das atividades no meio ambiente e avaliam esse impacto procurando reduzi-lo. A gestão do meio ambiente, frequentemente, cruza-se com sistemas de gestão preexistentes, como a qualidade, a higiene ou a segurança, a ponto de, eventualmente, constituir com eles um sistema integrado.

Nesse contexto, é importante destacar a iniciativa empresarial com a

adoção da gestão ambiental proativa, voltada para a competitividade industrial,

considerando-se a preservação ambiental como importante fator de

consecução dos objetivos empresariais. Assim, as empresas têm buscado a

autorregulação em relação ao meio ambiente:

A autorregulação também se estende a empresas agindo por sua própria iniciativa e interessadas no desempenho de seus próprios negócios. Nesse sentido, empresas industriais adotam posturas proativas em relação ao meio ambiente mediante a incorporação dos fatores ambientais nas metas, políticas e estratégias da empresa, considerando os riscos e os impactos ambientais não só de seus processos produtivos, mas também de seus produtos. Assim, a proteção ambiental passa a fazer parte de seus objetivos de negócios e o meio ambiente não é mais encarado como um adicional de custo, mas como uma possibilidade de lucros, em um quadro de ameaças e oportunidades para a empresa (SANCHEZ, 2000, p. 78).

ISO 14000

É uma série de normas do Organismo Internacional de Padronização –

ISO (International Organization for Standardzation), do qual o Brasil é membro

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(por intermédio da ABNT), voltadas para o meio ambiente, que visam contribuir

para a gestão ambiental das empresas públicas e privadas, buscando diminuir

os impactos ambientais e contribuir para a preservação do meio ambiente.

A Série ISO 14000 é composta por várias normas:

- ISO 14001: trata do Sistema de Gestão Ambiental (SGA), sendo direcionada

à certificação por terceiras partes.

- ISO 14004: trata do Sistema de Gestão Ambiental, sendo destinada ao uso

interno da Empresa, ou seja, corresponde ao suporte da gestão ambiental.

- ISO 14010: são normas sobre as Auditorias Ambientais. São elas que

asseguram credibilidade a todo processo de certificação ambiental, visando as

auditorias de terceiras partes, nas quais se verificam os compromissos

estabelecidos pela empresa em seu Sistema de Gestão Ambiental.

- ISO 14031: são normas sobre Desempenho Ambiental, que estabelecem as

diretrizes para medição, análise e definição do desempenho ambiental de uma

organização, a fim de assegurar o SGA.

- ISO 14020: são normas sobre Rotulagem Ambiental, estabelecendo

orientações para a expressão das características ambientais dos produtos das

empresas, de forma que os rótulos ressaltem as características ambientais do

produto.

- ISO 14040: são normas sobre a Análise do Ciclo de Vida, estabelecendo as

interações entre as atividades produtivas e o meio ambiente. Analisa o impacto

causado pelos produtos, processos e serviços relacionados desde a extração

dos recursos naturais até a disposição final.

- Guia ISO 64: corresponde a norma sobre Aspectos Ambientais no Produtos,

destinando-se àqueles que elaboram normas técnicas para produtos. Seu

objetivo é orientar o projeto de determinado produto, a fim de que ele seja

menos agressivo ao meio ambiente.

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APÊNDICE G - Classificação dos resíduos sólidos

A PNRS em seu Artigo 13, classifica assim os Resíduos Sólidos:

I - quanto à origem: a) resíduos domiciliares: os originários de atividades domésticas em residências urbanas; b) resíduos de limpeza urbana: os originários da varrição, limpeza de logradouros e vias públicas e outros serviços de limpeza urbana; c) resíduos sólidos urbanos: os englobados nas alíneas “a” e “b”; d) resíduos de estabelecimentos comerciais e prestadores de serviços: os gerados nessas atividades, excetuados os referidos nas alíneas “b”, “e”, “g”, “h” e “j”; e) resíduos dos serviços públicos de saneamento básico: os gerados nessas atividades, excetuados os referidos na alínea “c”; f) resíduos industriais: os gerados nos processos produtivos e instalações industriais; g) resíduos de serviços de saúde: os gerados nos serviços de saúde, conforme definido em regulamento ou em normas estabelecidas pelos órgãos do Sisnama e do SNVS; h) resíduos da construção civil: os gerados nas construções, reformas, reparos e demolições de obras de construção civil, incluídos os resultantes da preparação e escavação de terrenos para obras civis; i) resíduos agrossilvopastoris: os gerados nas atividades agropecuárias e silviculturais, incluídos os relacionados a insumos utilizados nessas atividades; j) resíduos de serviços de transportes: os originários de portos, aeroportos, terminais alfandegários, rodoviários e ferroviários e passagens de fronteira; k) resíduos de mineração: os gerados na atividade de pesquisa, extração ou beneficiamento de minérios; II - quanto à periculosidade: a) resíduos perigosos: aqueles que, em razão de suas características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade, patogenicidade, carcinogenicidade, teratogenicidade e mutagenicidade, apresentam significativo risco à saúde pública ou à qualidade ambiental, de acordo com lei, regulamento ou norma técnica; b) resíduos não perigosos: aqueles não enquadrados na alínea “a”. Parágrafo único. Respeitado o disposto no art. 20, os resíduos referidos na alínea “d” do inciso I do caput, se caracterizados como não perigosos, podem, em razão de sua natureza, composição ou volume, ser equiparados aos resíduos domiciliares pelo poder público municipal.

Para Santaella et al (2014) na prática e dependendo da finalidade,

existem outras classificações para os resíduos sólidos, quanto à:

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303

1 – composição química: a) orgânico b) inorgânico. 2 – degradabilidade: a) facilmente degradável; b) degradável; c) pouco degradável; d) dificilmente degradável; e) não degradável.

2 – riscos de contaminação ao meio ambiente: a) grupo A – risco biológico; b) grupo B – risco químico; c) grupo C – rejeito radioativo; d) grupo D – resíduo comum.

3 – periculosidade: a) classe I – perigoso b) classe II – não perigoso

1) subclasse IIa – não inerte; 2) subclasse IIb – inerte.

Há também resíduos sólidos provenientes de fontes especiais classificados em função de suas características peculiares, que merecem cuidados especiais de manuseio, acondicionamento, estocagem, transporte e disposição final. Dentro desta classe de fontes especiais, incluem-se os resíduos radioativos (SANTAELLA et al, 2014, p.24).

Barros (2012, p. 45) afirma que

O objetivo primordial de conhecer um resíduo é poder lhe dar um encaminhamento adequado, até sua disposição final viável em termos econômicos e compatível em termos ambientais. Devido ao alto grau de heterogeneidade dos RS, diversas classificações são adotadas, variando em relação ao tipo de enfoque que interessa considerar, majoritariamente relativo à possibilidade de tratamento ou a seu destino. A inexistência de uma padronização origina dificuldades de comparação ou de ordenação.

Assim, o autor apresenta uma classificação para os resíduos sólidos

segundo a atividade que os produziu; o grau de biodegradabilidade; a forma de

operacionalização dos serviços de coleta; dentre outros.

A seguir, Barros (2012) apresenta a possível classificação para os

resíduos sólidos quanto a atividade que os produziu; o grau de

biodegradabilidade e a forma de operacionalização dos serviços de coleta.

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304

Quadro 5.1 – Possível classificação dos RS segundo a atividade que os

produziu

Fonte: BARROS, 2012, p.46.

Barros (2012) mostra ainda outras possibilidades de classificação dos

Resíduos Sólidos que podem mudar com o tempo, podendo ser

complementares ou mesmo excludentes, sendo empregadas conforme a

conveniência de cada finalidade.

O Quadro 5.2 apresenta a classificação dos RS em relação ao grau de

biodegradabilidade. Do ponto de vista ambiental, todo material é degradável o

que pode variar é o tempo de degradação e os impactos possíveis de ocorrer.

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305

Quadro 5.2 – Classificação dos Resíduos Sólidos conforme o grau de biodegradabilidade

Fonte: BARROS, 2012, p.47.

Para Barros (2012) os RS podem ainda serem classificados de acordo

com a forma de operacionalização dos serviços de coleta, como mostra o

Quadro 5.3 a seguir.

Quadro 5.3 – Classificação dos Resíduos Sólidos de acordo com a forma

de operacionalização dos serviços de coleta

Fonte: BARROS, 2012, p.47.

Page 306: Sustentabilidade e a Questão Urbana Ambiental: o setor ... de... · envolvidos na questão ambiental de ... Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e ... Divisão

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313

APÊNDICE I – Informações sobre os entrevistados

Ao se referir aos entrevistados, tornou-se necessário definir as funções

que cada um ocupa em seu segmento, pois, seus discursos dizem respeito ao

espaço que cada um deles ocupa na sociedade.

Assim, tem-se as seguintes referências:

- Wiliian de Araújo: é atualmente Secretário Municipal de Planejamento Urbano

e Meio Ambiente de Divinópolis, e no texto constará como: Willian, 43 anos,

gestor público municipal.

- Antônio de Araújo Rodrigues Filho: é representante e presidente do sindicato

patronal SINVESD, e no texto constará como: Antônio, 46 anos, presidente do

SINVESD.

- Ana Lúcia dos Santos: é representante e assessora do sindicato dos

trabalhadores SOAC, e no texto constará como: Ana Lúcia, 60 anos,

representante do SOAC.

- Lázaro Raimundo Alves: é coletor municipal de resíduos da empresa

terceirizada Viasolo, e no texto constará como: Lázaro, 51 anos, coletor

municipal de resíduos.

- Jeferson Silva de Oliveira: é coletor de resíduos e presidente da ASCADI, e

no texto constará como: Jeferson, 41 anos, coletor da ASCADI.

- Anderson Avelino de Jesus: é coletor autônomo de resíduos e no texto

constará como: Anderson, 41 anos, coletor autônomo.

- Pedro Coelho Amaral: é ex-secretário municipal do meio ambiente e políticas

públicas de Divinópolis e especialista na área ambiental e no texto constará

como: Pedro, 45 anos, especialista na área ambiental.

- Hélcia Maria da Silva Veriato Teixeira: coordenadora geral dos projetos da

ONG Lixo & Cidadania e consultora ambiental e no texto constará como:

Hélcia, 50 anos, consultora ambiental.

- Sérgio Fernandes da Cunha: é gerente de resíduos de Itaúna/MG, e no texto

constará como: Sérgio, 55 anos, gerente de resíduos.

Para facilitar a compreensão de quem é o entrevistado, o Quadro 5.4

apresenta maiores detalhes:

Page 314: Sustentabilidade e a Questão Urbana Ambiental: o setor ... de... · envolvidos na questão ambiental de ... Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e ... Divisão

314

Quadro 5.4 – Informações sobre os entrevistados

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IDENTIFICAÇÃO NA PESQUISA

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PARA ESSA PESQUISA

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LOCAL DA ENTREVISTA

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14/11/2013 SOAC

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Jesus

Anderson Coletor autônomo

41 anos

03/10/2014 Residência da autora

Antônio de Araújo

Rodrigues Filho

Antônio Presidente do SINVESD

46 anos

13/02/2014 SINVESD

Hélcia Maria da Silva Veriato Teixeira

Hélcia Consultora ambiental

50 anos

20/11/2015 Por email

Jeferson Silva de Oliveira

Jeferson Coletor da ASCADI

41 anos

07/12/2015 ASCADI

Lázaro Raimundo

Alves

Lázaro Coletor municipal de

resíduos

51 anos

27/11/2015 Viasolo

Pedro Coelho Amaral

Pedro Especialista na área

ambiental

45 anos

09/05/2013 Residência do

entrevistado

Sérgio Fernandes da Cunha

Sérgio Gerente de resíduos

55 anos

05/08/2015 SAAE – Itaúna-MG

Willian de Araújo

Willian Gestor público

municipal

43 anos

30/08/2013 Secretaria

28/09/2015 Por email

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315

APÊNDICE J – Histórico das principais iniciativas relacionadas à questão ambiental

A partir da segunda metade do século XX, observou-se um aumento

significativo da preocupação e da conscientização com as questões

relacionadas à preservação e proteção do meio ambiente, consubstanciadas

em assembleias, conferências e reuniões, nos planos nacional e internacional.

Como lembra Santaella et al. (2014), algumas das principais iniciativas

relacionadas à essas questões ambientais, estão dispostas a seguir:

Quadro 5.5 - Principais iniciativas relacionadas à questão ambiental em

nível internacional

ANO INICIATIVA

Década de 1960

Elaboração do Relatório Meadows3 (Relatório do Clube de Roma).

1969 Criação da Lei da Política Ambiental Americana (National Environmental Policy Act – NEPA), nos E.U.A..

1972 1ª Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre o Meio Ambiente, em Estocolmo, Suécia.

1983 Criação da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD), conhecida como Comissão Brundtland.4

1987 Publicação do Relatório Brundtland (também conhecido como “Nosso Futuro Comum”) pela CMMAD da ONU.

Criação do Protocolo de Montreal5, no Canadá.

1988 Criação pela ONU, do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (Intergovernmental Panel on Climate Change – IPCC), em Toronto, no Canadá.

1992 Realização da Conferência Rio-926 (também conhecida como ECO-92 ou Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento - CNUMAD), no Rio de Janeiro, no Brasil.

1995 Realização da 1ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP-1), em

3 Este relatório criado por um grupo de cientistas propunha a diminuição do crescimento da população e das atividades industriais em defesa da preservação dos recursos naturais evitando assim uma possível calamidade global. 4 Surgiram as primeiras discussões sobre desenvolvimento sustentável. 5 Acordo internacional que objetivava a redução do buraco de camada de ozônio da Terra. 6 A Rio-92 teve como destaques: As Convenções sobre Mudanças Climáticas, as Convenções sobre a Biodiversidade e a Declaração sobre as Florestas. Foram também aprovados a Declaração do Rio e Agenda 21.

Page 316: Sustentabilidade e a Questão Urbana Ambiental: o setor ... de... · envolvidos na questão ambiental de ... Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e ... Divisão

316

Berlim, na Alemanha.

1996 Realização da 2ª Conferência das Partes (COP-2), em Genebra, na Suíça.

1997 Conferência da ONU para as Mudanças Climáticas (COP-3)7, em Quioto, no Japão.

2000 Aprovação da Carta da Terra pela UNESCO.

2001 Realização da COP-6 ½, realizada em Bonn, na Alemanha.

Realização da COP-7, realizada em Marrakesh, Marrocos.

2002 Realização da 3ª Conferência da ONU sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio+10)8, em Joanesburgo, na África do Sul.

2005 Entra em vigor o Protocolo de Quioto.

2007 13ª Conferência da ONU para Mudanças Climáticas (COP-13) em Bali, na Indonésia.

2009 15ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-15) em Copenhague, na Dinamarca.

2010 16ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-16) em Cancun, no México.

Fonte: Elaboração própria com base em Santaella et al., 2014.

Quadro 5.6 - Principais iniciativas relacionadas à questão ambiental em nível nacional

ANO INICIATIVA

1830 Promulgação do Código Penal do Império.

1850 Surgiu a Primeira Lei de Terras do Brasil.

1916 Surgiu o Código Civil Brasileiro.

1934 Surgiu a Constituição de 1934 e foram estabelecidos: o Código das Águas, o Código Florestal e o Código de Mineração.

1940 Criação do Código Penal.

1967 Criação da Lei de Proteção à Fauna Silvestre e o Código de Pesca.

1973 Criação da Secretaria Especial de Meio Ambiente (SEMA).

1974 A partir desse ano foram criados os Órgãos Estaduais de Meio Ambiente (OEMAs).

1981 Foi instituída a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) e a partir dessa lei surgiu o Conselho Nacional do Meio Ambiente

7 Surgiu o Protocolo de Quioto que definia as metas para redução dos gases de efeito estufa, de 2008 a 2012. 8 Foram elaborados a Declaração Política de Joanesburgo e o Plano de Ação.

Page 317: Sustentabilidade e a Questão Urbana Ambiental: o setor ... de... · envolvidos na questão ambiental de ... Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e ... Divisão

317

(CONAMA).

Foi criado o Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA).

1985 A SEMA foi substituída pelo Ministério do Desenvolvimento Urbano e do Meio Ambiente, posteriormente extinto e substituído pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA).

1988 Foi criada a Constituição da República de 1988, garantindo ao meio ambiente proteção constitucional, ao ter um capítulo dedicado ao tema ambiente.

1989 Foi criado o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA)

1990 A partir de 1990, o MMA passou por algumas transformações e em 1999, voltou a ser denominado MMA, cuja denominação continua em vigor até a presente data.

1992 Ocorreu a Rio-92 e foi criada a Agenda 21Brasileira e os documentos: Resultado da Consulta Nacional e as Ações Prioritárias.

1996 a 2002

Fase de construção da Agenda 21 que foi elevado à condição de Programa do Plano Plurianual (PPA 2004-2007)

2000 Instituição do Sistema Nacional de Unidade de Conservação da Natureza (SNUC) que definiu as Unidades de Proteção Integral e Unidades de Uso Sustentável.

2003 Implementação da Agenda 21

2007 Reestruturação do IBAMA e parte dele passou a constituir o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio)

2010 Criação da Política Nacional dos Resíduos Sólidos (Lei 12.305/10)

Fonte: Elaboração própria com base em Santaella et al., 2014.

No que se refere à legislação pertinente ao tema dos resíduos sólidos,

foi feita uma divisão desta literatura em âmbito federal, estadual e municipal.

O Quadro 5.7 mostra as mais importantes leis e decretos referentes à

questão ambiental em ordem cronológica.

Quadro 5.7 - Principais leis e decretos relacionados à questão ambiental

LEGISLAÇÃO/DECRETOS CONTEÚDO

ÂMBITO FEDERAL

- Lei nº 7.772, de 8 de setembro de Dispõe sobre a proteção, conservação e

Page 318: Sustentabilidade e a Questão Urbana Ambiental: o setor ... de... · envolvidos na questão ambiental de ... Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e ... Divisão

318

1980. melhoria do meio ambiente.

- Lei nº 6.938, de 31 de agosto de

1981.

Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências.

- Constituição Federal, de 1988.

Trata a organização política e administrativa da

República Federativa do Brasil.

- Lei nº 7.735, de 22 de fevereiro de

1989.

Dispõe sobre a extinção de órgão e de entidade autárquica, criar o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis e dá outras providências.

- Lei nº 8.078, de 11 de setembro de

1990.

Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências.

- Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998.

Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências.

- Lei nº 9.795/1.999, de 27 de abril de 1999.

Dispõe sobre a Educação Ambiental. Instituir a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências.

- Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de

2002.

Institui o Código Civil.

- Resolução CONAMA nº 306, de 5 de

julho de 2002.

Estabelece os requisitos mínimos e o termo de referência para realização de auditorias ambientais.

- Decreto nº 44.313, de 7 de junho de

2006.

Dispõe sobre a organização da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável - SEMAD, e dá outras providências.

- Decreto nº 5.940, de 25 de outubro

de 2006.

Estabelece normas para a separação e coleta dos resíduos recicláveis originados de órgãos públicos federais (da administração direta ou indireta) e destiná-los para associações e cooperativas de catadores.

- Lei nº 11.445, de 5 de janeiro de

2007.

Estabelece diretrizes nacionais para o Saneamento Básico.

- Lei nº 12.305, de 02 de agosto de

2010.

Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; alterar a Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências.

- Decreto nº 7.404, de 23 de dezembro

de 2010.

Regulamenta a Lei nº 12.305/10, que instituiu a PNRS. Cria o Comitê Interministerial da Política Nacional de Resíduos Sólidos e o Comitê Orientador para a Implantação dos Sistemas de Logística Reversa.

- Lei Complementar nº 140, de 8 de

dezembro de 2.011.

Fixa normas, nos termos dos incisos III, VI e VII do caput e do parágrafo único do art. 23 da Constituição Federal, para a cooperação entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios nas ações administrativas decorrentes do exercício da competência comum relativas à proteção das paisagens naturais notáveis, à proteção do meio ambiente, ao combate à poluição em qualquer de suas formas e à preservação das florestas,

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da fauna e da flora; e alterar a Lei no 6.938, de 31 de agosto de 1981.

ÂMBITO ESTADUAL

- Lei nº 7.772, de 08 de setembro de 1980.

Dispõe sobre a proteção, conservação e melhoria do meio ambiente.

- Lei nº 10.627, de 16 de janeiro de 1992.

Dispõe sobre a realização de auditorias ambientais e dá outras providências

- Lei nº 11.720, de 28 de dezembro de 1994.

Dispõe sobre a Política Estadual de Saneamento Básico e dá outras providências.

- Lei nº 11.903, de 06 de setembro de

1995.

Cria a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, altera a denominação da Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente e dá outras providências.

- Lei nº 12.581, de 17 de julho de 1997.

Dispõe sobre a organização da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável - SEMAD - e dá outras providências.

- Lei nº 12.583, de 17 de julho de

1997.

Dispõe sobre a reorganização da Fundação Estadual do Meio Ambiente - FEAM - e dá outras providências.

- Lei nº 13.393, de 07 de dezembro de 1999.

Torna obrigatória a publicação da relação dos estabelecimentos multados por poluição e degradação ambiental.

- Lei nº 13.766, de 30 de novembro de 2000.

Dispõe sobre a política estadual de apoio e incentivo à coleta seletiva de lixo e altera dispositivo da Lei nº 12.040, de 28 de dezembro de 1995, que dispõe sobre a distribuição da parcela de receita do produto da arrecadação do ICMS pertencente aos municípios, de que trata o inciso II do parágrafo único do art. 158 da Constituição Federal.

- Lei nº 14.128, de 19 de dezembro de 2001.

Dispõe sobre a Política Estadual de Reciclagem de Materiais e sobre os instrumentos econômicos e financeiros aplicáveis à Gestão de Resíduos Sólidos.

- Lei nº 14.129, de 19 de dezembro de

2001.

Estabelece condição para a implantação de unidades de disposição final e de tratamento de resíduos sólidos urbanos.

- Lei nº 14.324, de 20 de junho de

2002.

Cria o Sistema Estadual de Certificação de Qualidade Ambiental para bens e produtos industrializados e agrícolas.

- Lei nº 14.353, de 17 de julho de

2002. Dispõe sobre a sinalização em locais de interesse ecológico ou de ecoturismo no Estado.

- Lei Delegada nº 62, de 29 de janeiro de 2003.

Dispõe sobre a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável e dá outras providências.

- Lei nº 14.940, de 29 de dezembro de 2003.

Institui o Cadastro Técnico Estadual de Atividades Potencialmente Poluidoras ou Utilizadoras de Recursos Ambientais e a Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental do Estado de Minas Gerais TFAMG e dá outras providências.

- Lei nº 15.027, de 19 de janeiro de 2004.

Institui a Reserva Particular de Recomposição

Ambiental - RPRA, altera os arts. 17 e 52 da

Lei nº 14.309, de 19 de junho de 2002, e o

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Anexo IV da Lei nº 13.803, de 27 de dezembro

de 2000.

- Lei nº 15.056, de 31 de março de 2004.

Estabelece diretrizes para a verificação da segurança de barragem e de depósito de resíduos tóxicos industriais e dá outras providências.

- Lei nº 15.082, de 27 de abril de 2004.

Dispõe sobre rios de preservação permanente

e dá outras providências.

- Lei nº 15.441, de 11 de janeiro de 2005

Regulamenta o inciso I do § 1º do art. 214 da Constituição do Estado.

- Lei nº 15.971, de 12 de janeiro de 2006.

Assegura o acesso a informações básicas sobre o meio ambiente, em atendimento ao disposto no inciso II do § 1º do art. 214 da Constituição do Estado, e dá outras providências.

- Lei nº 15.972, de 12 de janeiro de 2006.

Altera a estrutura orgânica dos órgãos e

entidades da área de meio ambiente que

especifica e a Lei nº 7.772, de 8 de setembro

de 1980, que dispõe sobre a proteção,

conservação e melhoria do meio ambiente, e

dá outras providências.

- Lei nº 16.687, de 11 de janeiro de 2007.

Dispõe sobre a elaboração da Agenda 21 Estadual.

- Lei Delegada nº 178, de 29 de janeiro de 2007.

Dispõe sobre a reorganização do Conselho

Estadual de Política Ambiental - COPAM - e dá

outras providências.

- Decreto nº 44.844, de 25 de junho de

2008.

Estabelece normas para licenciamento ambiental e autorização ambiental de funcionamento, tipifica e classifica infrações às normas de proteção ao meio ambiente e aos recursos hídricos e estabelece procedimentos administrativos de fiscalização e aplicação das penalidades.

- Lei nº 18.031, de 12 de janeiro de 2009.

Dispõe sobre a Política Estadual de Resíduos Sólidos.

- Lei nº 18.085, de 15 de abril de 2009.

Dispõe sobre a Política Estadual de Apoio e Incentivo aos Serviços Municipais de Gestão Ambiental.

- Lei nº 18.719, de 13 de janeiro de 2010.

Dispõe sobre a utilização, pelo Estado, de massa asfáltica produzida com borracha de pneumáticos inservíveis e dá outras providências.

- Decreto nº 45.417, de 28 de junho de 2010.

Regulamenta o parágrafo único do art. 3º da Lei nº 15.082, de 27 de abril de 2004, que dispõe sobre rios de preservação permanente.

- Decreto nº 45.629, de 06 de julho de 2011.

Altera o Decreto nº 45.175, de 17 de setembro

de 2009, que estabelece metodologia de

gradação de impactos ambientais e

procedimentos para fixação e aplicação da

compensação ambiental.

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- Lei nº 19.823, de 22 de novembro de 2011.

Dispõe sobre a concessão de incentivo financeiro a catadores de materiais recicláveis – Bolsa Reciclagem.

- Decreto nº 45.824, de 20 de dezembro de 2011.

Dispõe sobre a organização da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável.

- Lei nº 20,009, de 04 de janeiro de 2012.

Dispõe sobre a declaração de Áreas de Vulnerabilidade Ambiental e dá outras providências.

- Decreto nº 45.919, de 01 de março

de 2012.

Altera o Decreto nº 43.710, de 8 de janeiro de 2004, que regulamenta a Lei nº 14.309, de 19 de junho de 2002, que dispõe sobre a Política Florestal e de Proteção à Biodiversidade no Estado.

ÂMBITO MUNICIPAL

- Lei Orgânica do Município de Divinópolis, de 26 de maio de 1998.

Trata da organização política e administrativa

do município.

- Lei Complementar nº 60/2000, de 24

de março de 2000.

Institui o Plano Diretor do Município de

Divinópolis e dar outras providências.

- Lei Ordinária Nº 7385, de 2 de agosto de 2011.9

Determina que as cooperativas de reciclagem,

associações de catadores e ONGS, estão

autorizadas à instalação de containers para

coleta seletiva do lixo a ser utilizado pelos

munícipes quando da dispensa de seus

resíduos sólidos reaproveitáveis.

- Lei nº 7676/2013, de 4 junho de

2013.

Dispõe sobre a organização e estrutura administrativa do poder executivo do município de Divinópolis e fixa princípios, normas e diretrizes de gestão, estruturar órgãos, criar cargos e dar outras providências.

Fonte: Elaboração própria com base em Ribeiro e Morelli, 2009 e no site da Prefeitura

Municipal de Divinópolis.

9 Disponível em: <http://sapl.camaradiv.mg.gov.br/sapl/sapl_documentos/norma_juridica/9984_texto_integral >. Acesso em: 8 set. 2015.