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Janeiro de 2014 Susana Sofia Correia Dantas da Silva Aquisição da linguagem em função do contexto. Uma análise contrastiva: creche e família Uminho | 2013 Universidade do Minho Instituto de Educação Susana Sofia Correia Dantas da Silva Aquisição da linguagem em função do contexto. Uma análise contrastiva: creche e família

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Janeiro de 2014

Susana Sofia Correia Dantas da Silva

Aquisição da linguagem em função do contexto.

Uma análise contrastiva: creche e família

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Universidade do Minho

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Outubro de 2013

Dissertação de MestradoMestrado em Estudos da Criança

Especialização em Intervenção Psicossocial com

crianças, jovens e família

Trabalho efetuado sob a orientação daProfessora Doutora Fernanda Leopoldina

Parente Viana

Susana Sofia Correia Dantas da Silva

Aquisição da linguagem em função do contexto.

Uma análise contrastiva: creche e família

Universidade do Minho

Instituto de Educação

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Declaração

Nome: Susana Sofia Correia Dantas da Silva

Endereço eletrónico: [email protected]

Título da Dissertação de Mestrado: Aquisição da linguagem em função do contexto. Uma análise

contrastiva: creche e família.

Orientadora: Professora Doutora Fernanda Leopoldina Viana

Ano de conclusão: 2014

Designação do Mestrado: Estudos da Criança – Intervenção Psicossocial com Crianças, Jovens e

Famílias.

É autorizada a reprodução parcial desta tese mediante declaração escrita do interessado a

que tal se compromete.

Universidade do Minho, 30 de janeiro de 2014.

Assinatura: ________________________________________________

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AGRADECIMENTOS

O meu primeiro agradecimento é dirigido à Professora Doutora Maria Fernanda Leopoldina

Viana que se mostrou disponível para me ajudar e orientar nesta investigação.

À Escolinha da Té, à Creche e Aparece e ao Jardim-de-infância O Benjamim e aos

encarregados de educação que gentilmente se disponibilizaram para colaborar neste projeto.

Às amigas, Tânia, Cátia e Raquel, pela amizade e apoio nestes dois anos, mesmo à

distância.

Aos meus grandes amigos que sempre mostraram interesse pelo meu trabalho e me deram

motivação para levá-lo até ao fim.

Aos meus pais e irmão, pelo apoio e paciência nos momentos mais complicados ao longo

destes meses.

Ao João, pela disponibilidade, paciência, compreensão, carinho e apoio nas etapas mais

difíceis.

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Dissertação de Mestrado em Estudos da Criança

Área em Intervenção Psicossocial com Crianças, Jovens e Famílias

Aquisição da linguagem em função do contexto. Uma análise contrastiva: creche e família.

Susana Sofia Correia Dantas da Silva

iii

RESUMO

O domínio da linguagem apresenta-se como um dos elementos essenciais para a

sobrevivência na atualidade e compromete a plena integração na vida social. Neste âmbito, vários

estudos foram realizados no sentido de melhor compreender o aspeto que assumem ser crucial

para garantir o sucesso desta competência – o processo de aquisição e desenvolvimento da

linguagem. A necessidade de encarar os contextos envolventes como fatores preditores do

desenvolvimento linguístico das crianças conduz-nos a uma ponderação sobre essa influência.

Decorrente deste enfoque, o presente estudo apresenta-se como uma proposta de reflexão

sobre o desenvolvimento da linguagem em função do contexto de atendimento, do nível

socioeconómico e das habilitações literárias dos encarregados de educação. Especificamente,

pretende-se verificar se existem diferenças significativas nos níveis comunicativos das crianças de

idades compreendidas entre os 16 e 30 meses, tendo em consideração as variáveis referidas. Foi

efetuado um estudo com 52 crianças desta faixa etária, sendo que metade da amostra usufruía de

uma educação formal (creche) e a outra metade de uma educação informal (família). A investigação

é de caráter quantitativo, tendo a informação sido recolhida através da versão para estudo do

Inventário de Competências Comunicativas de MacArthur-Bates – ICD - II, traduzido e adaptado por

Rosa Lima, para avaliar os níveis de comunicação, bem como através de um questionário para

recolha de informações relativas ao níveis socioeconómico e cultural das famílias.

Pela interpretação e análise dos dados recolhidos, concluímos que o grupo de crianças que

frequenta instituições educativas obtém uma maior classificação ao nível das habilidades

comunicativas, mas as diferenças encontradas não são significativas do ponto de vista estatístico.

Também não foram obtidos resultados que apontem para a existências de diferenças

estatisticamente significativas para relacionar os níveis socioeconómicos e as habilitações literárias

dos encarregados de educação com o nível linguístico das crianças.

Palavras-chave: Linguagem, ambiente, contexto institucional, contexto familiar, avaliação da

linguagem.

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Dissertação de Mestrado em Estudos da Criança

Área em Intervenção Psicossocial com Crianças, Jovens e Famílias

Language acquisition and educational context. A contrastive analysis: daycare and family.

Susana Sofia Correia Dantas da Silva

iv

ABSTRACT

The language domain is one of the most essential elements for surviving in nowadays

society compromise the complete integration in the social life. In this field, various investigators

conducted studies that have been crucial to guarantee the success of this competency. The need to

address the influence of the surrounding contexts of children's linguistic development leads us to a

consideration of that influence.

Due to this approach, this study presents a proposal for a reflection on the development of

language in different contexts of care, socioeconomic and education level of parents. Specifically, we

intend to investigate whether there are significant differences in communicative levels of children

aged between 16 and 30 months, taking into account the mentioned variables. A study was

conducted with 52 children in this age group, half of the sample it enjoyed a formal education

(daycare) and half an informal education (family). The research is a quantitative character, and the

information was gathered through the study version of the Inventory of Communicative Skills

MacArthur-Bates - ICD-II, translated and adapted by Rosa Lima, to assess the levels of

communication, as well as through a questionnaire to collect information on the socioeconomic and

cultural levels of the families.

Through the interpretation and analysis of collected data, we concluded that the group of

children attending educational institutions obtain a higher rating in terms of communication skills,

but the difference is not significant from a statistical standpoint. We couldn’t either obtain results

that lead us to the existence of statistically significant differences related to socioeconomic levels

and educational attainment of parents with the language level of the children.

Keywords: Language, environment, educative context, familiar context, language evaluation.

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ÍNDICE

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................... 1

CAPÍTULO I. AQUISIÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM ................................................ 5

Introdução ................................................................................................................................. 5

1. Comunicação, Linguagem e Fala ........................................................................................... 5

2. A Linguagem - conceptualização ............................................................................................ 7

2.1. Abordagem Behaviorista (comportamentalista) ................................................................ 9

2.2. Abordagem Inatista ....................................................................................................... 10

2.3. Abordagem Cognitivista................................................................................................. 12

3. Desenvolvimento da linguagem ............................................................................................ 13

4. Fatores que influenciam o desenvolvimento da linguagem .................................................... 19

5. Avaliação da linguagem oral ................................................................................................. 24

CAPITULO II – ESTUDO EMPÍRICO .......................................................................................... 34

Introdução ............................................................................................................................... 34

1. Método ................................................................................................................................ 35

1.1 Tipo de estudo ............................................................................................................... 35

1.2. Amostra ........................................................................................................................ 35

1.3. Instrumentos ................................................................................................................ 37

1.4. Procedimentos .............................................................................................................. 40

2. Resultados........................................................................................................................... 41

2.1. Análise estatística ......................................................................................................... 41

2.2. Discussão de resultados ............................................................................................... 46

2.3. Limitações .................................................................................................................... 49

CONCLUSÃO .......................................................................................................................... 50

BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................................ 52

ANEXOS ................................................................................................................................. 58

Anexo I - Questionário de caracterização socioeconómica dos pais ............................................... 58

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ÍNDICE DE QUADROS

Quadro I - Etapas do desenvolvimento da linguagem na criança: linguagem recetiva ..................... 17

Quadro II - Etapas do desenvolvimento da linguagem na criança: linguagem expressiva ................ 18

Quadro III – Testes de Avaliação da Linguagem ............................................................................ 27

Quadro IV – Testes de Avaliação da Linguagem em Portugal ........................................................ 32

Quadro V – Distribuição dos sujeitos segundo o sexo e o contexto educativo ................................. 36

Quadro VI – Distribuição dos sujeitos em três faixas etárias segundo o contexto educativo ............ 36

Quadro VII – Distribuição dos sujeitos de acordo com o meio socioeconómico .............................. 36

Quadro VIII – Tabela de pontuação do inventário MacArthur ......................................................... 39

Quadro IX – Consistência Interna da versão para estudo piloto português do ICD_II (16-30 meses)

................................................................................................................................................... 40

Quadro X – Comparação dos resultados em função dos grupos creche/ambiente familiar ............ 41

Quadro XI – Comparação dos resultados de acordo com as faixas etárias .................................... 42

Quadro XII – Classificações obtidas na primeira parte do ICD-II por idades (em meses) ................ 42

Quadro XIII – Classificações obtidas na segunda parte do ICD-II por idades (em meses) ............... 43

Quadro XIV – Comparação dos resultados de acordo com o sexo ................................................. 44

Quadro XV – Comparação dos resultados em função do nível socioeconómico ............................. 45

Quadro XVI – Comparação dos resultados em função das habilitações literárias do pai ................. 45

Quadro XVII - Comparação dos resultados em função das habilitações literárias da mãe ............... 46

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INTRODUÇÃO

Ao longo dos tempos, a área da linguagem tem merecido a atenção e trabalho de vários

autores com o intuito de explorar e enriquecer conhecimentos sobre o processo complexo e

pluridimensional da aquisição e desenvolvimento da linguagem. Nesse âmbito vários investigadores

procuraram explicar este processo linguístico através de diferentes posicionamentos teóricos que

oscilam entre as componentes genéticas e as componentes adquiridas pela criança (Watson, 1913;

Skinner, 1957; Chomsky, 1965; Piaget, 1990).

Uma vez que a linguagem se constitui como um dos instrumentos mais eficazes ao serviço

da comunicação entre os seres humanos, interessa-nos conhecer o desenvolvimento linguístico na

infância, analisando o processo de desenvolvimento padronizado da aquisição da linguagem,

integrando o desenvolvimento da linguagem recetiva e o desenvolvimento da linguagem expressiva

(Sim-Sim, 1998; Rigolet, 2000; Andrade, 2008). A aquisição e desenvolvimento das competências

linguísticas, enquanto dimensão específica do ser humano, são tão naturais e espontâneas que

dificilmente pensamos na complexidade que as envolvem.

Apesar das aptidões genéticas para a aquisição da linguagem, a influência do meio

envolvente é um fator determinante para o desenvolvimento linguístico da criança. O ambiente no

qual a criança se desenvolve é crucial pela oportunidade de experiências e enriquecimento

linguístico que proporcionam. (Gaspar, 2004; Sim-Sim, 1998). Identificamos os fatores genéticos,

neurológicos, psicológicos, socioculturais, escolares e familiares como intervenientes fundamentais

no desenvolvimento da linguagem. Andrade (2008) salienta que “estes factores não ocorrem de

forma estanque ou segmentada, mas interagem uns com os outros não sendo sempre fácil isolá-los

quando pretendemos o seu estudo específico.” (p.30).

A investigação tem evidenciado a existência de uma forte correlação entre o

desenvolvimento da linguagem com o meio socioeconómico das famílias (Bernstein, 1998;

Cachapuz & Halpern, 2006; Rowe, 2008; Silva, Costa, & Ponte, 2009; Southwood, 2013), e com

as habilitações literárias dos encarregados de educação (Maria-Mengel & Linhares, 2007; Goulart &

Chiari, 2007). Relativamente às habilitações literárias existem estudos (Cardoso, Pedromônico,

Silva, & Puccini, 2003; Richman, Miller, & LeVine, 1992; Schonhaut, Maggiolo, Herrera, Acevedo, &

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García, 2008) que encaram as habilitações literárias maternas como as que exercem maior

influência na linguagem.

Atualmente vivemos numa época de crise, em que surgem constantemente nos meios de

comunicação notícias que vão abalando as famílias portuguesas: aumento de impostos, aumento

de desemprego, diminuição de salário, diminuição de apoios sociais. Se em anos anteriores, se

colocava em questão o pouco tempo que os pais dispunham para estar com os filhos, neste

momento, com a situação do país, muitos pais e mães passaram a ter maior disponibilidade.

Devido a esta situação são várias as famílias que ficam sem condições de colocar ou manter os

seus filhos numa instituição educativa, optando por uma educação informal. Contudo, mesmo antes

desta crise se instalar, várias famílias optavam por manter os filhos em casa, com uma ama ou

familiar, pelo facto de verem a creche como um contexto de guarda e não de educação.

Ao longo dos últimos anos, as instituições foram alcançando um lugar de destaque em

relação à educação pré-escolar, devido à diversidade e riqueza das suas contribuições no

desenvolvimento das crianças. Como refere Gaspar (2004)

“a qualidade destes contextos formais de educação está diretamente relacionada com um melhor

desenvolvimento intelectual/ cognitivo e social/comportamental das crianças, transformando o

investimento numa educação pré-escolar de qualidade como uma das formas mais eficazes de

quebrar ciclos de exclusão social, desvantagem e pobreza” (p. 259).

Pelo facto do desenvolvimento da linguagem ser essencial para o dia-a-dia da criança, na

sua integração, socialização e desempenho escolar, e sabendo que em famílias de níveis sociais

mais carenciados este desenvolvimento é mais frágil, privar as crianças de contextos estimuladores

(como devem ser os contextos de creche) aumentará o risco social.

A aquisição da linguagem em função do contexto constitui-se então como o tema principal

da presente dissertação elaborada no âmbito do mestrado em Estudos da Criança, especialização

em Intervenção Psicossocial com Crianças, Jovens e Famílias. Com a sua realização pretende-se

fazer uma análise contrastiva dos contextos formais e informais de educação, assim como dos

níveis socioeconómicos e culturais do seio familiar, no processo de aquisição da linguagem. Nesse

sentido, o estudo que nos propomos desenvolver permitirá fazer uma análise das diferenças ao

nível da aquisição da linguagem em função do contexto educativo e em função do nível social e

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cultural, verificando se existem diferenças significativas em termos de habilidades comunicativas

nas crianças com idades entre os 16 e os 30 meses.

A linguagem é uma área de estudo ainda longe de estar esgotada no âmbito da

investigação, principalmente quando se pretende explorar os seus processos em crianças com

idades tão pequenas. Com a presente investigação pretendemos contribuir para o aprofundamento

do conhecimento sobre o papel dos contextos envolventes no desenvolvimento da linguagem na

infância, uma vez que em Portugal este tipo de estudos tem sido inviabilizado pela inexistência de

instrumentos de avaliação validados. No sentido de colmatar esta lacuna, atualmente está em curso

um estudo de validação de um Inventário de Competências Comunicativas – Palavras e Frases (16-

30 meses), pelo que, embora este instrumento ainda não se encontre validado, poderá já fornecer

contributos relevantes para a avaliação da linguagem nesta faixa etária. O nosso estudo pretende

ser também um contributo para a validação do inventário. Através deste instrumento será possível

recolher informações sobre as capacidades linguísticas, permitindo fazer uma avaliação rigorosa e

profunda dos níveis de linguagem de crianças tendo em conta o domínio do léxico, da morfologia e

da sintaxe.

A escolha deste tema para investigação prende-se fundamentalmente por duas razões. Em

primeiro lugar por motivos de ordem pessoal e profissional, pelo interesse que sempre me

despertaram as questões da linguagem, tanto durante a Licenciatura como no Mestrado, assim

como pelo complemento da minha formação de base em Educação de Infância na área da

avaliação precoce da linguagem e da comunicação, suportando uma intervenção mais

intencionalizada e dirigida em contextos sociais de risco. Em segundo lugar por se tratar de uma

área ainda pouco explorada no que diz respeito a determinadas variáveis do contexto familiar e

institucional que poderão ter um papel determinante no complexo processo do desenvolvimento da

linguagem em idades precoces.

Em termos estruturais, este trabalho encontra-se dividido em duas partes. No Capitulo I

apresenta-se uma breve revisão da literatura abordando os aspetos gerais sobre a linguagem – a

sua aquisição e desenvolvimento. Começaremos por definir os conceitos comunicação, língua e

fala, e faremos uma contextualização sobre a linguagem apresentando as abordagens teóricas mais

influentes. De seguida expomos as etapas do desenvolvimento linguístico bem com os fatores mais

influentes nesse processo. Terminaremos o capítulo com uma abordagem à importância da

avaliação precoce da linguagem, apresentando alguns instrumentos existentes a nível internacional

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e nacional. No Capítulo II apresentamos a parte metodológica do presente trabalho, no qual são

delineados os objetivos de estudo assim como as questões de investigação. Começaremos com a

apresentação do método, descrevendo o tipo de estudo, a amostra, os instrumentos e os

procedimentos utilizados. Posteriormente teremos a exposição dos resultados através da análise

estatística, assim como a discussão dos resultados e as limitações do estudo. A dissertação

terminará com uma conclusão acerca do estudo realizado.

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CAPÍTULO I. AQUISIÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM

Introdução

Este primeiro capítulo centra-se fundamentalmente na análise da aquisição e

desenvolvimento da linguagem. Começamos por definir e clarificar os termos comunicação, língua e

fala, antes de contextualizar as diferentes abordagens teóricas relacionadas com esta temática.

Seguidamente abordamos o desenvolvimento da linguagem e alguns dos fatores mais influentes

neste processo – família, contexto sociocultural e económico e contexto institucional – de forma a

compreender as diferenças observadas no desenvolvimento da linguagem nas crianças. Será

abordada a importância da avaliação da linguagem e, neste âmbito os instrumentos que podem ser

utilizados para um diagnóstico precoce de atrasos.

1. Comunicação, Linguagem e Fala

Embora usualmente os termos comunicação, língua e fala sejam constantemente utilizados

de forma indiferenciada, estes referem-se a conceitos distintos, pelo que se torna fundamental

distingui-los.

A comunicação desempenha um papel importante no dia-a-dia do ser humano, uma vez

que este, enquanto ser social, é por natureza um comunicador. Como nos diz Sim-Sim (1998), “A

comunicação faz parte da nossa condição de seres sociais; por mais que tentemos não podemos

deixar de comunicar: acção ou imobilidade, palavras, gestos ou silêncio todos contêm uma

mensagem que é percebida pelos pares a que pertencemos.” (p. 22).

Comunicação pode ser então definida como um processo complexo e ativo de troca de

informações, que requer um emissor que codifica/formula e transmite a mensagem e um recetor

que a descodifica/compreende (Sim-Sim, 1998; Caldas, 2000). Este processo pressupõe a

existência de três etapas fundamentais: a codificação, a transmissão e a descodificação. Para que

esta comunicação tenha êxito é indispensável que os intervenientes dominem um código comum –

sistema de sinais utilizado para transmitir a mensagem - e utilizem o canal de comunicação

apropriado, meio através do qual a mensagem é transmitida. Qualquer que seja o sistema de

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comunicação é necessário um suporte para transmitir uma mensagem, que pode ser de dois

modos: a fala e a escrita. Como refere Barbeiro (1999) “Na fala esse suporte é constituído pelo

som, na escrita pelos símbolos gráficos.” (p. 114).

O modo pelo qual podemos estabelecer a comunicação uns com os outros é variado,

podendo integrar várias linguagens: oral, escrita, visual, musical... Entre as diversas formas de

comunicação usadas no ato comunicativo, este trabalho limitar-se-á à linguagem oral.

Na comunicação poderão existir elementos que reforçam ou distorcem o código linguístico

utilizado: a) aspetos paralinguísticos tais como a entoação, a acentuação, o ritmo/velocidade; e b)

aspetos não linguísticos como os gestos, o contacto visual, as expressões faciais e os movimentos

do corpo.

Como referem Franco, Reis e Gil (2003) a linguagem entende-se como “um sistema

convencional de símbolos arbitrários e de regras de combinação dos mesmos, representando ideias

que se pretendem transmitir através do seu uso e de um código socialmente partilhado, a língua.”

(p. 16). Assim sendo, a linguagem é a principal forma de comunicação dos seres humanos. Todas

as línguas possuem um conjunto infindável de símbolos combinados de forma organizada,

tornaram possível a troca de mensagem entre os seres humanos (Acosta, Espino, Moreno,

Quintana & Ramos, 2003).

De acordo com a ASHA (1982), a língua é definida como:

“a complex and dynamic system of conventional symbols that is used in various modes for

thought and communication. Contemporary views of human language hold that: language

evolves within specific historical, social and cultural contexts; language, as rule-governed

behavior, is described by at least five parameters – phonologic, morphologic, syntactic,

semantic, and pragmatic; language learning and use are determined by the interaction of

biological, cognitive, psychosocial and environmental factors; effective use of language for

communication requires a broad understanding of human interaction including such

associated factors as nonverbal cues, motivation and sociocultural roles.”.

Como referido, a língua é uma combinação complexa de várias componentes do sistema

linguístico e integra regras complexas de organização de sons, palavras e frases, sendo regida por

normas descritas por 5 parâmetros – fonológico, morfológico, sintático, semântico e pragmático.

Estes parâmetros encontram-se integrados nas três principais componentes da linguagem que são:

a forma, o conteúdo e o uso (Andrade, 2008).

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Relativamente à forma, ela inclui: a) a fonologia – capacidade para distinguir os sons da

fala assim como a capacidade para os produzir; b) a morfologia que engloba os aspetos da

formação das palavras, o estudo da estrutura interna das palavras e a sua decomposição em

unidades menores com significado; c) a sintaxe – regras de ordenação de palavras em frases.

Quanto ao conteúdo, corresponde à semântica – estudo do significado da linguagem. No que diz

respeito ao uso, este reporta-se à pragmática – aprendizagem das regras do uso da linguagem que

permite a correta utilização da língua em diferentes contextos (Gleason, 1999; Andrade, 2008).

No que diz respeito à fala, esta pode ser definida como “a produção da linguagem na

variante fónica, realizada através do processo de articulação de sons” (Sim-Sim, 1998, p. 24). Ou

seja, a fala é a vertente oral da linguagem.

2. A Linguagem - conceptualização

A aquisição da linguagem é uma capacidade da espécie humana. Contudo, não basta ser

humano para que ocorram comportamentos linguísticos, é necessário que se cresça num ambiente

linguístico de comunicação.

A aquisição da linguagem é um fenómeno universal, uma vez que qualquer criança,

independentemente da raça, cultura ou grupo social, é capaz de adquirir a língua da comunidade

onde está inserida. Segundo Lima (2000) “a criança aprenderá a linguagem graças a uma

competência, ou estruturas profundas de carácter inato, passíveis de serem operacionalizadas ou

actualizadas, frente a um contexto sócio-cultural onde a mesma se insere.” (p. 53). Desta forma,

esta capacidade torna-se um traço distintivo do ser humano, dado que a linguagem é adquirida de

uma forma natural e espontânea e num espaço de tempo relativamente curto. Como refere Sim-

Sim (1998) “Em pouco tempo e sem esforço tornamo-nos conhecedores deste sistema sofisticado

e complexo que é a linguagem. A simples exposição à língua da comunidade a que se pertence faz

de cada criança um falante competente dessa língua.” (p. 19).

O sistema linguístico que a criança adquire de forma tão natural é, no geral, o da(s)

língua(s) a que está exposto – a(s) língua(s) materna(s). No processo da aquisição da linguagem “a

criança vai reconhecendo, progressivamente, os sons com que, na sua língua materna, se

constroem as palavras que servem para comunicar com os outros. A pouco e pouco,

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inconscientemente, ela vai apreendendo as relações que se estabelecem entre os sons e

delimitando o funcionamento de cada um.” (Franco et al., 2003, p. 30). É assim, que de uma

forma intuitiva e implícita, a criança vai dominando o sistema fonológico da sua língua materna.

Como referem Garrison, Kingston e Bernard (1979)

“Com ela, o homem adquire a cultura que prevalece na sociedade na qual nasceu; sem ela,

permanece alheio a sua herança e dela ignorante. A linguagem é elemento essencial para participar

da vida social, veículo para a auto-realização, expressão e comunicação, e instrumento para a

ordenação dos processos mentais” (p. 184).

O domínio da língua materna permite que os indivíduos se integrem e participem na

sociedade, uma vez que o desenvolvimento das capacidades comunicativas “significará para a

criança uma maior compreensão do que acontece à sua volta, uma maior possibilidade de

expressar as suas necessidades e de ter acesso a actividades mais completas.” (Nunes, 2001, p.

82).

Através da comunicação linguística “a criança desenvolve as suas capacidades e

competências, em virtude das trocas que mantém e assume com o meio ambiente. Quanto maior

for a sua capacidade para comunicar, maior controlo ela poderá ter sobre o seu meio ambiente”

(Nunes, 2001, p. 81). A apropriação da linguagem promove o desenvolvimento das capacidades da

criança de receber, transformar e transmitir informação. Neste sentido, a linguagem desempenha

um papel indispensável na evolução da criança como ser social, uma vez que “é o instrumento

fundamental por meio do qual são transmitidos à criança os modelos de vida, a cultura, os modos

de pensar e de agir, as normas e os valores de uma sociedade.” (Bitti & Zani, 1997, p. 93).

Para Garrison e colaboradores (1979) a linguagem vai mais além da compreensão do meio

envolvente; é o principal suporte e veículo de pensamento e raciocínio. Como salientam Castro e

Gomes (2000), “mesmo quando pensamos em silêncio, de modo geral as ideias percorrem-nos a

mente sob a forma de palavras.” (p. 19). Lima (2003) refere que “esta linguagem interna tem uma

dupla função, que é a de servir de instrumento para as actividades mentais e de base para a

actualização e exteriorização das mesmas através da fala e da escrita.” (p. 17).

Como salienta Sim-Sim (1995) “Ao falarmos de aquisição da linguagem estamos a referir-

nos ao processo de apropriação subconsciente de um sistema linguístico, via exposição sem que

para tal seja necessário um mecanismo formal de ensino.” (p. 200). Este processo de apropriação

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da linguagem é tão espontâneo e rápido, apesar da sua complexidade que, ao longo dos tempos,

exerceu um enorme fascínio sobre vários estudiosos que analisaram e tentaram explicar este

processo, gerando diferentes teorias. Das diversas abordagens que envolvem a aquisição da

linguagem – behaviorista, inatista e cognitivista – destacaremos os principais teóricos que as

defendem e os seus pontos de vista.

2.1. Abordagem Behaviorista (comportamentalista)

O behaviorismo é uma teoria e um método de investigação que procura analisar

objetivamente o comportamento humano e dos animais. Para os behavioristas a aprendizagem é

um comportamento observável e é o resultado de associações entre estímulos e respostas. Aliás,

“para Skinner, praticamente todo o comportamento humano, não apenas a aprendizagem, podia

ser explicado pelas relações estímulo-resposta, as quais podiam ser estudadas eficazmente por

meio da observação do comportamento animal.” (Stenberg, 2000, p. 29).

De acordo com Gonçalves (1990), a teoria comportamentalista tem três pressupostos

fundamentais:

“Operacionalização e objectivismo: a necessidade de traduzir o comportamento humano em

unidades discretas e observáveis. Regulação da aprendizagem: todo o comportamento, seja ele

funcional ou disfuncional, pode ser explicado com base nos princípios e leis da aprendizagem, que,

uma vez identificados, podem ser generalizados para vários indivíduos, contextos e situações.

Determinismo externo: o comportamento está pouco dependente das características inatas ou

internas do organismo. Pelo contrário, grande parte daquilo que somos e fazemos é determinada

pelas circunstâncias da nossa interacção com o meio.” (p.4).

Nesta abordagem comportamentalista, Watson (1913) e Skinner (1957) foram os teóricos

com maior influência no estudo das aprendizagens. Watson defende que o comportamento humano

é a matéria de maior interesse da psicologia, rejeitando qualquer ligação com termos científicos

definidos de forma subjetiva. Nesse sentido, e no que diz respeito ao processo de aquisição da

linguagem, não considerava a mente como um componente fundamental para justificar o processo

de aquisição. Na sua conceção, o behaviorismo limita-se a formular leis sobre os fenómenos

observáveis – os comportamentos, que são explicados através da conexão entre estímulos e

respostas. Skinner designa o processo da aquisição da linguagem como comportamento verbal.

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Este teórico defende que as crianças adquirem a mestria da linguagem através da interação com o

meio, dependendo unicamente de variáveis ambientais, e como tal necessita de prática e exercício.

De acordo com Gonçalves (1990) Skinner, através das suas pesquisas, verificou que “o meio não

estimula unicamente o comportamento; o meio selecciona o comportamento através das suas

consequências.” (p. 53). Como refere o mesmo autor, para os behavioristas “o comportamento é

fundamentalmente regulado pelas suas consequências e são estas que, mais que os antecedentes,

ocupam um lugar privilegiado na aprendizagem animal e humana.” (p. 53).

No que diz respeito à linguagem, esta abordagem defende que o seu desenvolvimento

resulta do processo de associação estímulo-resposta-reforço, em que o meio exerce um papel

fundamental na estabilização do comportamento linguístico da criança. Esta cadeia pressupõe que

a criança assimile/interiorize as associações estímulo-resposta e, assim, desenvolva as suas

competências linguísticas.

O ambiente fornece os estímulos, a criança fornece as respostas, e durante a sua produção

linguística estas são recompensadas pelos adultos, e tais recompensas fomentam o aumento do

repertório linguístico do jovem falante (Sim-Sim, 1998). É desta forma que os behavioristas

explicam toda a aprendizagem humana - existem estímulos do meio mas também existem

respostas por parte das crianças. Se as respostas são reforçadas, o comportamento instala-se.

Segundo Sim-Sim (1998)

“o conhecimento linguístico do sujeito não é objecto de interesse dos behavioristas; a preocupação e

pesquisa dirige-se apenas à realização verbal conseguida. O crescimento linguístico é visto como

uma progressão que vai da produção aleatória de sons à comunicação verbal estruturada, a qual é

atingida através dos processos gerais de aprendizagem, isto é, o condicionamento clássico, o

condicionamento operante e a modelação por imitação.” (p. 299).

2.2. Abordagem Inatista

Em contraste com as abordagens comportamentalistas, em que o desenvolvimento da

linguagem é explicado pelo resultado da aprendizagem de respostas através da imitação e do

reforço, a teoria inatista defende que o desenvolvimento se define fundamentalmente pelas

programações genéticas dos indivíduos. Como refere Sim-Sim (1998) “a criança desenvolve-se não

porque aprende um conjunto de respostas, mas porque herdou uma organização mental que lhe

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permite detectar no meio a que é exposta as regularizações que conduzem às regras do

conhecimento, qualquer que ele seja.” (p. 301). Esta abordagem inatista, proposta por Chomsky

(1965), surgiu da necessidade de compreender certas questões que o behaviorismo não conseguia

explicar. O facto de as crianças adquirirem a linguagem em um curto espaço de tempo, de

percorrerem uma sequência idêntica independentemente da cultura, raça ou grupo social, e de

produzirem palavras/enunciados nunca ouvidos suscitaram a procura de novas respostas. Para os

inatistas, este processo ocorre dessa forma porque a criança nasce preparada para tratar da

informação linguística que a rodeia e cria estruturas que são características da nossa espécie.

No que diz respeito à linguagem, a abordagem inatista prossupõe que as crianças nascem

com um mecanismo cerebral inato para a sua aquisição. Aimard (1998) refere que as ideias de

Chomsky defendiam que “todo espírito humano dispõe de uma estrutura inata que lhe permite

construir uma gramática a partir de dados fornecidos pelo ambiente.” (p. 34). Este mecanismo

biológico da espécie, denominado dispositivo para aquisição da linguagem (DAL), permite que as

crianças extraiam do meio envolvente as regras/princípios gerais da língua específica da sua

comunidade. Sim-Sim (1998) menciona que

“expostas às produções linguísticas que o meio lhe oferece, (o input linguístico), e confrontadas com

uma infinidade de exemplos, as crianças parecem formular hipóteses sobre as categorias e relações

subjacentes à linguagem e testá-las através do uso, aplicando as regras extraídas (a gramática da

língua) a novos contextos.” (p. 302).

Na visão inatista, quando a criança adquire o conhecimento linguístico torna-se capaz de

conjugar tais aquisições, de forma a compreender e elaborar enunciados nunca ouvidos. Algumas

das primeiras frases das crianças integram palavras que não existem, ou combinações únicas que

nunca foram pronunciadas pelos adultos (por exemplo, fazi, di, tesourei). Sequeira e Sim-Sim

(1989) referem que “O que de facto parece passar-se é que, perante o input linguístico que o meio

fornece, a criança analisa-o, extrai regularidades, descobre as regras do código e com elas produz

generalizações.” (p. 5). A criança comete alguns erros da linguagem porque faz uma generalização

abusiva das regras gramaticais. Esta generalização dos princípios da linguagem por parte da

criança prova que a aquisição não se explica somente pela observação e imitação, tal como

defendem os behavioristas, porque tais produções não são utilizadas na linguagem adulta.

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2.3. Abordagem Cognitivista

Na abordagem cognitivista não se descartam completamente os princípios que regem as

teorias anteriores. Os cognitivistas não rejeitam a influência do meio no desenvolvimento, nem a

existência de um mecanismo de aquisição da linguagem, contudo consideram que existem

predisposições gerais inatas que são potenciadas pelo meio. No entanto, consideram que para que

haja desenvolvimento linguístico é necessário a existência de organização a nível cognitivo, ou seja,

a aquisição da linguagem está dependente da existência de competências cognitivas,

nomeadamente a função simbólica. O crescimento das capacidades cognitivas possibilita o

desenvolvimento das habilidades linguísticas, sendo que “o aparecimento das palavras emerge com

o funcionamento simbólico e o uso da linguagem com o pensamento conceptual.” (Sim-Sim, 1998,

p. 304). De acordo com Sim-Sim (1998), os teóricos cognitivistas defendem que “A essência é o

desenvolvimento cognitivo, e o desenvolvimento linguístico da criança depende, portanto, da

respectiva evolução cognitiva.” (p. 303). Para Piaget (1987) a linguagem depende da função

semiótica, ou seja, da capacidade da criança distinguir o significado do significante

Como diz a mesma autora, para Piaget a linguagem é um instrumento do pensamento pelo que

“Entre a linguagem e o pensamento existe assim um círculo genético, de tal modo que um dos dois

termos se apoia necessariamente no outro, numa formação solidária numa perpétua acção recíproca.

Mas ambos dependem, no fim de contas, da própria inteligência que, essa sim, é anterior à linguagem e

independente dela.” (p. 309).

Sim-Sim (1998) refere também que para Piaget “a cognição (inteligência, na terminologia

piagetiana) aparece como uma forma específica (mental) da adaptação biológica indispensável às

trocas entre um organismo complexo (o sujeito) e o meio.” (p. 304).

A adaptação é definida como a capacidade de ajustamento de novas

informações/conhecimentos aos existentes, e integra dois processos complementares: assimilação

– processo de incorporação dos novos estímulos nas estruturas cognitivas existentes; e a

acomodação - processo de modificação dessas estruturas cognitivas, de forma a permitir a

interiorização das informações provenientes desses estímulos. Esta adaptação entre os elementos

cognitivos e o mundo exterior, denominado equilíbrio, possibilita o crescimento cognitivo (Papalia,

Olds & Feldman, 2001). Tendo em conta o processo referido e o desenvolvimento da linguagem,

Sim-Sim (1998) explica que “perante a informação linguística fornecida pelo meio, o cérebro a

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assimila às estruturas já existentes, enquanto que simultaneamente acomoda essas estruturas para

permitir a inclusão de informação linguística nova.” (p. 305).

De acordo com a síntese de Sim-Sim (1998)

“Para uns – os behavioristas – a linguagem é um comportamento verbal, aprendido por imitação e

reforço, cabendo, portanto, ao meio um papel decisivo; outros – os inatistas – defendem que a

capacidade para a linguagem é geneticamente herdada e que a criança, munida dessa capacidade,

reconstrói a língua da comunidade em que cresce; para outros – os cognitivistas – a linguagem é

um instrumento do pensamento e, por isso, o desenvolvimento linguístico está dependente do

desenvolvimento cognitivo.” (p. 333).

3. Desenvolvimento da linguagem

Ao analisar o desenvolvimento da linguagem é importante compreender que este é “apenas

um dos aspectos de uma interacção mais complexa onde se entrecruzam as dimensões do

desenvolvimento físico, sensorial e perceptivo, do desenvolvimento cognitivo, inteligência,

aprendizagem, memória, ou do desenvolvimento psicossocial.” (Andrade, 2008, p. 17).

Como nos dizem Franco e colaboradores (2003) “o processo da linguagem e o progressivo

domínio oral, objectivado pela fala da criança passa, necessariamente, pelo conhecimento,

inicialmente intuitivo, dos sons da sua língua materna e do modo como estes se organizam.” (p.

28). O pleno domínio da língua materna implica uma variedade de processos, em que

fundamentalmente os linguísticos – já de si complexos e multifacetados – se conjugam com outros,

motores, cognitivos, sociais e culturais (Castro & Gomes, 2000).

A aquisição da linguagem é um processo universal, ou seja, todas as crianças com o

desenvolvimento normal adquirem a linguagem aproximadamente com a mesma idade, na mesma

sequência, quaisquer que sejam as suas condições ambientais. Como referem Sequeira e Sim-Sim

(1989)

“as diferenças estruturais e funcionais do cérebro humano e a especificidade do seu sistema

sensório-motor permitem ao homem, qualquer que seja a sua origem étnica, o domínio dum sistema

complexo de comunicação, cujo processo de aquisição se desenvolve do mesmo modo, obedecendo

à mesma cronometria e essencialmente pela mesma ordem sequencial, independentemente da

língua de imersão do sujeito.” (pp. 3-4).

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Os processos que são característicos do desenvolvimento da linguagem são praticamente

os mesmos em todas as crianças, contudo a evolução da linguagem vai depender da sua

inteligência, maturidade, bem-estar emocional, motivação e ambiente que a rodeia, ou seja, este

desenvolvimento resulta de uma interação entre capacidades inatas e condicionantes ambientais.

Garrison e colaboradores (1979) referem que “a linguagem inicia-se quando alguém

compreende o esforço do outro para comunicar e responde.” (p. 185). Desta forma, o bebé adquire

linguagem que lhe possibilita transmitir uma mensagem, sem que para tal tenha desenvolvido a

fala. As crianças revelam-se assim participantes ativos nas interações comunicativas, de modo a

receber a atenção e respostas dos adultos, e estes agem de forma a desenvolver significativamente

a participação da criança nestas interações. O facto de as crianças perceberem que os sons

emitidos foram compreendidos, permite fortalecer os seus esforços comunicativos. Com o

crescimento e desenvolvimento das suas capacidades, a criança torna-se capaz de comunicar

através de balbucios, gritos, vocalizações, olhares e gestos. Luria e Yodovich (1985) explicam que

posteriormente “a palavra passa a dar forma à atividade mental, aperfeiçoando o reflexo da

realidade, criando novas formas de atenção, de memória e de imaginação, de pensamento e de

ação.” (p. 11). Podemos assim afirmar que a linguagem intervém desde os primeiros meses de

vida no processo de desenvolvimento da criança.

Como foi referido anteriormente, o desenvolvimento da linguagem ocorre segundo etapas

com determinadas características e, se tudo correr normalmente, os primeiros 4 anos são

suficientes para dotar a criança de uma capacidade razoável de expressão oral. Durante estes anos,

a criança adquire as bases para a aquisição da linguagem adulta, através da interação entre adultos

e criança através de comportamentos verbais e não-verbais. Sim-Sim, Silva e Nunes (2008)

afirmam que

“Nos primeiros anos de vida, o adulto desempenha o papel mais importante nesta interacção,

cabendo-lhe a função de responder às necessidades comunicativas da criança e promover

ambientes ricos em comunicação. Desta forma, estão criadas as condições para que o bebé possa

desenvolver as suas capacidades comunicativas e adquirir competências linguísticas que lhe

permitam dominar com eficiência a língua materna.” (p. 29).

Boutton (1977) defendeu que a aquisição da linguagem ocorre ao longo de três etapas

essenciais: pré-linguagem (0-12/18 meses de idade), primeira linguagem (12/18 aos 30/36

meses) e linguagem (a partir dos 36 meses).

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Há uma primeira fase em que o bebé vocaliza, mas não é ainda membro do grupo dos que

comunicam verbalmente – corresponde à etapa pré-linguística. Esta fase pré-linguística é vista

como pré-comunicativa, uma vez “que se pode reconhecer na criança, antes da capacidade

linguística, uma competência comunicativa, fundada na sua possibilidade de comunicar por canais

e modalidades não-verbais.” (Bitti & Zani, 1997, p.207).

Inicialmente a criança produz um conjunto variado de sons (choro, suspiros) que

comunicam estados fisiológicos. O bebé começa por comunicar com a sua mãe, transmitindo os

seus desejos através da sua linguagem, a qual implicará uma resposta imediata da mãe. Através

desta comunicação muito própria do bebé, ele conseguirá fazer-se entender, apesar de utilizar

somente as suas expressões faciais, o seu sorriso ou o seu choro para demostrar o seu desagrado

ou necessidade de satisfação imediata de um desejo (Rigolet, 2000). Posteriormente, a produção

dos sons adquire novas acústicas de acordo com a natureza das situações. Reconhece-se a

importância desta etapa para que a criança possa afinar os mecanismos de perceção e de

produção de fala. Por volta dos 10 meses o bebé compreende o valor comunicativo do seu

comportamento e aprende a controlá-lo.

É por volta dos 12 meses de idade que a criança entra na linguagem – fase linguística, na

medida em que começa a produzir as palavras isoladamente, o que marca a transição para o

período linguístico. Este período começa por uma fase holográfica na qual as crianças já

percebendo que os sons se relacionam com significados, produzem palavras que valem por uma

frase. A voz passa a ser um meio de dizer as coisas, de transmitir os seus desejos e vontades. A

produção das primeiras palavras mostra que a criança começou a construir uma ferramenta

fundamental neste processo – o léxico mental. Rapidamente as crianças passam dos enunciados

de uma palavra, para as primeiras combinações, e posteriormente para as frases simples e depois

frases mais complexas (Castro & Gomes, 2000). Esta passagem de uma etapa para a outra deve-se

ao desenvolvimento léxico-semântico. Como referem as mesmas autoras “A voz, meio de expressão

através do choro, gemidos ou riso, ou até de jogos vocais, vai passar a produzir sons que remetem

para algo que os transcende, o significado da palavra.” (p. 52).

Por volta dos 18 meses a criança começa a combinar duas palavras num mesmo

enunciado e a saber organizá-las em diferentes sequências de acordo com a sua função na frase –

fase do discurso telegráfico. Nesta fase a criança está a desenvolver a capacidade morfossintática,

ao combinar palavras em frases de acordo com regras e normas assimiladas. Pelos 30/36 meses a

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criança passa por um acontecimento importante: o surto lexical, em que ocorre um crescimento

explosivo de vocabulário num espaço de tempo relativamente curto. Desta forma a criança começa

a produzir frases com mais de duas palavras, e a sua estrutura torna-se mais complexa. Também é

nesta altura que se dá o aparecimento de diferentes tipos de frases (negativa, exclamativa e

interrogativa), assim como de substantivos e verbos nas elaborações frásicas. Posteriormente a

criança começa a complementar as suas produções com artigos, adjetivos, preposições e as

formas verbais vão sendo cada vez mais elaboradas, criando assim estruturas frásicas cada vez

mais complexas. Os 36/40 meses marcam a emergência de frases compostas, em que a produção

oral inclui sujeito e predicado, e também a utilização de conjugações (“e”, “mas”, “porque”),

permitindo que a criança torne os seus enunciados mais elaborados (Sim-Sim, 1998; Castro &

Gomes, 2000)

Pelos 4/5 anos a criança adquiriu já grande parte das operações básicas da linguagem

oral, contudo vai aprimorando as construções frásicas, refinando as estruturas e adicionando novos

morfemos gramaticais aos seus enunciados. A partir dos 5 anos ocorrem outras aquisições,

nomeadamente a novel de complexidade da estrutura das frases, do aumento e diferenciação do

vocabulário e também do conhecimento metalinguístico (Sim-Sim, 1998).

O desenvolvimento individual da linguagem envolve vários parâmetros linguísticos:

aprendizagem do sistema de sons, da sintaxe e do vocabulário. Considera-se então que o

desenvolvimento da linguagem se processa de modo holístico, ou seja, os seus diferentes

componentes são apreendidos simultaneamente (Sim-Sim et al., 2008). A par da interiorização

destes parâmetros, a criança vai adquirindo também conhecimentos sobre as regras de uso da

língua em que comunica – desenvolvimento pragmático - sabendo adaptá-la a diferentes

situações/contextos, e “inicia-se quando a criança, ainda bebé, se envolve em trocas comunicativas

sonoras, através de um processo de tomada de turno, ou de tomar a vez.” (Sim-Sim et al., 2008, p.

23). Em qualquer destes domínios é importante ter presentes duas vertentes: a receção e

compreensão das mensagens e a produção de enunciados, não esquecendo que “a compreensão

precede sempre a produção.” (Sim-Sim et al., 2008, p. 24) e que a linguagem recetiva é sempre

mais ampla do que a linguagem expressiva. A capacidade de compreensão que a criança tem das

palavras é muito superior à capacidade de usá-las, ou seja, compreende o sentido das palavras

antes de as poder reproduzir. (Garrison et al., 1979).

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De acordo com a ASHA (2007) são vários os momentos do desenvolvimento da linguagem,

que se processam em diferentes etapas. Orientando-se por esta proposta, Andrade (2008) aponta

os aspetos mais significantes de cada etapa e que são apresentadas nos quadros I e II.

Quadro I - Etapas do desenvolvimento da linguagem na criança: linguagem recetiva

Linguagem recetiva

nascimento- 1 ano 0-3 meses Reage aos outros; localiza a fonte sonora; acalma-se ou sorri quando ouve

uma voz familiar; reconhece a voz dos pais.

4-6 meses Reage ao nome; reconhece os familiares; identifica brinquedos e objetos

comuns; identifica o “não”; reage a diferentes entoações; gosta de ouvir

diferentes sons (brinquedos).

7-12 meses Identifica familiares, comidas e animais; compreende ordens simples (ex:

dá; diz adeus); compreende verbos de ações (ex: brincar, comer, dormir,

tomar banho); identifica imagens e algumas partes do corpo.

1-2 anos Conhece a função de objetos mais comuns; compreende perguntas simples (- tens fome?);

compreende ordens mais complexas (- chama o papá para comer!); gosta de ouvir

histórias, canções e rimas (ex: “tão balalão, cabeça de cão”).

2-3 anos Compreende ordens mais complexas (ex: - pega na bola e põe-a na caixa!); identifica

conceitos opostos (ex: frio/quente; dentro/fora; grande/pequeno); identifica imagens de

ações.

3-4 anos Compreende perguntas como: “onde?”, “quem?”, “o quê?”; responde a perguntas sobre

histórias simples.

4-5 anos Compreende ordens mais complexas (ex: - pega no lápis vermelho e põe dentro da caixa!);

gosta de ouvir histórias e responde a perguntas; compreende o discurso coloquial da

família e do meio envolvente; adquiriu a noção de antónimo (ex: o contrário de grande

é…).

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Quadro II - Etapas do desenvolvimento da linguagem na criança: linguagem expressiva

Linguagem expressiva

nascimento- 1 ano 0-3 meses Produz sons guturais e vocálicos manifestando satisfação, palreio

(“acc…acc…”); sorri ao ver o adulto; manifesta choro diferenciado para

expressar necessidades; faz a tomada de turno, vocalizando em resposta

ao estímulo do adulto.

4-6 meses Emite sons consonânticos bilabiais e vocálicos sozinho ou interação

(papapa, mamama, bobobo) – lalação; imita os sons que ouve; expressa

alegria, tristeza ou impaciência nas suas produções.

7-12 meses Vocaliza para chamar a atenção; repete sons, sílabas e palavras; começa a

surgir a ecolália; surgem as primeiras palavras (mamã, papá, papa, não,

bo/”bola”).

1-2 anos Aumenta o seu vocabulário ativo (50 a 200 palavras); utiliza a holófrase, mas podem

surgir combinações de 2 palavras (“mais papa”); faz perguntas simples (“papá rua?”);

utiliza mais sons consonânticos; usa palavras mais corretas; imita os sons dos animais;

acentua-se a ecolália.

2-3 anos Nomeia tudo o que pretende (explosão do vocabulário ativo); usa frases com duas ou três

palavras de conteúdo – frases telegráficas; exibe uma expressão verbal oral compreensível

para os familiares; faz perguntas simples; podem surgir hesitações nas palavras ou

repetições de sílabas.

3-4 anos Expressão verbal oral compreensível fora do círculo familiar – conta acontecimentos, usa

frases mais complexas e corretas; sabe dizer o nome, a idade e a morada; usa plurais, os

pronomes (eu, tu, ele) e os verbos no passado; pode apresentar dificuldades na

articulação de alguns fonemas.

4-5 anos Utiliza frases com 6 a 8 palavras, com detalhes e gramaticalmente corretas; conta

histórias e acontecimentos, mantendo o tópico; pergunta o significado do vocabulário

desconhecido; define palavras e conhece alguns antónimos; articula corretamente os

fonemas em geral (podendo surgir dificuldades nos fonemas [z], [v], [j] e [r] em grupo

consonântico).

Fonte: Extraído de Andrade, 2008, p. 22.

De acordo com os quadros I e II é possível observar que durante a aquisição da linguagem

ocorre com um aumento gradual na habilidade verbal da criança, sendo que vai acrescentando

novos itens ao seu repertório linguístico e reduzindo a quantidade de erros na produção (discurso),

aproximando-se cada vez mais do modelo linguístico ao qual vem sendo exposta.

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No que diz respeito ao processo de aquisição e desenvolvimento da linguagem é importante

ter em consideração que existem momentos certos para que tal aconteça. Lenneberg (1967)

propôs a existência de um período crítico para a aquisição da linguagem, que se inicia por volta dos

2 anos e termina por volta da puberdade.

A aquisição da linguagem é crucial nos primeiros anos de vida, uma vez que é nesta altura

que a criança é capaz de retirar maior vantagem das experiências linguísticas que o meio lhe

proporciona (Pizzio, 2011). Esta capacidade da criança para a aquisição da linguagem não é

constante, podendo não a adquirir tao facilmente ou completamente depois de ultrapassar esse

período crítico. Caso a criança não adquira a linguagem nesse período, o seu desenvolvimento

linguístico será prejudicado. Estudos de caso como os de Genie e Victor (menino selvagem)

demonstram a dificuldade de adquirir a linguagem depois dos primeiros anos de vida (Papalia et al.,

2001).

4. Fatores que influenciam o desenvolvimento da linguagem

A aquisição da linguagem é um processo que ocorre natural e espontaneamente, contudo,

para que esta capacidade se desenvolva a criança necessita de oportunidades de interação e meios

estimulantes para aprender a falar. Como refere Sim-Sim (2001) “A capacidade natural para

adquirir a linguagem não significa que o desenvolvimento da mesma não seja influenciado pelas

experiências de comunicação a que o aprendiz de falante é exposto. Meios mais estimulantes

proporcionam experiências de interacção mais ricas.” (p. 19).

O desenvolvimento da linguagem não depende somente das condições biológicas inatas de

cada individuo. A influência do meio no desenvolvimento da linguagem é um fator determinante

para o enriquecimento linguístico das crianças, porque sem tal influência, as aptidões genéticas

para a linguagem não seriam desenvolvidas. O ambiente no qual a criança se desenvolve é

fundamental pela quantidade de experiências e contactos que proporcionam. De acordo com

Gaspar (2004) “A criança é um ser social que se desenvolve na interacção com os outros, nos seus

diferentes contextos de desenvolvimento, e a qualidade desses contextos é determinante para o seu

desenvolvimento.” (p. 259). Como Sim-Sim e colaboradores (2008) complementam

“Quando as crianças convivem em ambientes verbalmente estimulantes, aprendem novos conceitos,

alargam o vocabulário, adquirem um maior domínio da expressão oral e aprendem a ter prazer em

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brincar com as palavras, inventar sons e descobrir as relações entre essas mesmas palavras.” (p.

35).

Sequeira e Sim-Sim (1989) afirmam também que “É já ponto assente no fenómeno

humano da aquisição da linguagem que a quantidade e qualidade do “input” linguístico que a

criança recebe desempenham um papel decisivo no modo como ela se exprime verbalmente.” (p.

11). Assim, a qualidade linguística vai depender da linguagem ouvida pela criança; da interação

entre a criança e o adulto e das características do meio ambiente em que está inserida. Castro e

Gomes (2000) referem que

“Todas as crianças começam por balbuciar antes de falar, produzem palavras isoladas antes de as

combinar, usam a fala telegráfica antes de fazeres frases gramaticais; mas umas crianças começam

mais cedo do que outras, ou mais tarde, ou progridem mais lentamente, ou mais rapidamente, ou

avançam melhor num domínio e pior num outro…” (p. 60).

Entre as fontes de variação temos as mais ligadas ao sujeito como o sexo, inteligência ou o

estilo de aprendizagem e as mais ligadas ao meio envolvente como a relação adulto-criança ou o

meio sociocultural. (Viana, 1996).

Relativamente às diferenças no uso e domínio da linguagem podem ser avançadas algumas

causas:

“a valorização dada pela família às trocas verbais, a presença ou ausência de meios culturais mais

favorecidos, a maior ou menor proximidade entre a linguagem utilizada na escola e a utilizada no

meio familiar, a introdução precoce ou não da criança em determinadas condutas linguísticas.”

(Viana, 1993, p. 6).

A família é considerada o primeiro e o mais importante contexto para o crescimento físico e

psicológico das crianças. Para proporcionar tal crescimento,

“as famílias têm em consideração objetivos básicos fundamentais para a educação dos filhos:

sobrevivência – assegurar que a criança permaneça viva e de desenvolva de forma saudável e

completa; bem-estar económico – apoiar a criança na aquisição de competências e conhecimentos

para posterior autossuficiência económica; e auto-atualização – incentivar o desenvolvimento das

capacidades que são fundamentais para a satisfação de valores culturais (moral; prestigio;

realização pessoal).” (Schaffer, 1996, p. 252).

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Como também refere também Nunes (2001) “a família deve ser o mais activa possível no

processo educativo, uma vez que a criança aprende mais eficazmente quando a aprendizagem é

integrada nas actividades de rotina.” (p. 27).

O contexto familiar é visto como o principal fator socializador, uma vez que prepara e

adapta a criança às características e aos padrões que são aceitáveis na sociedade onde está

integrada. Como refere Schaffer (1996), as famílias “são grupos restritos e íntimos que facilitam às

crianças a aquisição de regras de comportamento consistentes; estão associadas a vários outros

dispositivos exteriores (outras famílias, o trabalho, o lazer, etc.) aos quais as crianças são

gradualmente apresentadas.” (p. 242). Assim, é neste contexto que se iniciam diversos processos

dos quais se destacam a interação com o mundo, o desenvolvimento dos processos de

comunicação e a aquisição linguística.

Andrade (2008) salienta que não devemos deixar de considerar o importante papel da

família no desenvolvimento da linguagem “sendo lícito depreender que há contextos familiares mais

propícios do que outros ao desenvolvimento linguístico, designadamente aqueles que criam mais

situações facilitadoras dessa aprendizagem.” (p. 38). De acordo com a mesma autora, as crianças

podem alcançar códigos linguísticos mais ou menos elaborados, mais ou menos restritos devido a

diversos fatores (clima familiar, relações conjugais, idade, saúde, entre outros), do qual se

destacam fundamentalmente o nível sociocultural e académico dos adultos com quem está

envolvida. Portugal (1998) diz também que “as famílias diferem em várias dimensões, algumas das

quais particularmente significativas para o desenvolvimento da criança: atitudes parentais de

aceitação/rejeição, modo como o controlo e disciplina são exercidos, qualidade e quantidade de

estimulação cognitiva.” (p. 123).

Logo nos primeiros meses o adulto constrói uma comunicação tratando a criança como se

esta comunicasse com intencionalidade. O discurso que este dirige à criança é diferente do que

utiliza quando fala com os seus pares, uma vez que é composto por frases curtas e simples, com

repetições frequentes e com modificações ao nível da entoação. De acordo com Viana (1996) “Para

alguns autores (Snow, 1977; Wanner & Gleitman, 1982; Slobin, 1981) as modificações são fruto da

necessidade de estabelecer e facilitar a comunicação; para outros (Bruner, 1975; Rondal, 1980)

trata-se de um mecanismo (frequentemente inconsciente) de ensinar linguagem.” (p. 15).

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Esta relação comunicativa estimulante entre adulto-criança permite que, em pouco tempo,

a criança adquira uma das regras fundamentais da comunicação – capacidade de interação

coordenada, compreendendo que para comunicar há que manter alternadamente um papel passivo

e um papel ativo (Rigolet, 2000).

Os brinquedos, o material didático oferecido pelos pais, as atividades/brincadeiras que

fazem com os filhos ou os lugares onde os levam têm influência neste crescimento linguístico assim

como nos conhecimentos das crianças sobre o mundo que as envolve, permitindo expandir e

desenvolver a sua autonomia, independência e responsabilidade. Desta forma, facultam bases para

uma perfeita integração na sociedade em criança, ao mesmo tempo que desenvolve competências

para uma boa inserção quando adulto. Desta forma, podemos afirmar que a família é também

responsável pelas consequências que advêm do desenvolvimento da linguagem em termos de

sucesso académico, profissional e vivencial.

O nível sociocultural e económico das famílias enquadra dimensões que podem ter

influência indireta no desenvolvimento da criança. De acordo com Papalia, Olds & Feldman (2006),

o nível de habilitações literárias dos pais está intimamente relacionado com a profissão exercida e,

consequentemente, com a condição socioeconómica dos mesmos. Essas condições refletem-se no

contexto demográfico e habitacional, saúde e educação, nas redes sociais, na rotina de toda a

família. De modo semelhante ao contexto familiar, que pode proporcionar situações mais ou menos

enriquecedoras e potenciadoras da aquisição da linguagem, os contextos socioculturais em que as

famílias estão inseridas têm também grande influência. As famílias que apresentem um nível

sociocultural e económico médio e alto conseguem usufruir de condições mais favoráveis para um

desenvolvimento equilibrado das crianças, contudo, quando se aborda a questão de famílias

desfavorecidas tal pode não acontecer. Como expõe Rebelo (1990) “as dificuldades materiais e

culturais, presentes desde o nascimento da criança, irão agir durante a primeira infância e os seus

efeitos irão reflectir-se na inteligência, logo na fala.” (p. 64).

As crianças de meios socioculturais mais favorecidos recebem geralmente mais estímulos

linguísticos, terão mais contacto com livros e serão expostas, com mais frequência, a situações de

uso da linguagem num registo mais cuidado. Contactando mais assiduamente com as palavras, e

com palavras mais variadas, a criança fica a conhecê-las melhor. E, em consequência deste

conhecimento, será possível pronunciá-las e enquadrá-las melhor em diferentes

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situações/contextos. Em contrapartida, em estratos mais desfavorecidos o meio não propicia tantas

e tao variadas experiências linguísticas, não possibilitando o mesmo conhecimento das palavras.

De acordo com Portugal (1998) “mães de estratos sociais mais baixos, que experienciam

mais dificuldades e tensões, também tendem a deixar os filhos em instituições ou em situações

qualitativamente mais desfavorecidas.” (pp. 144-145), comparativamente com famílias de estratos

sociais médias e altos que têm a possibilidade de colocar os filhos em instituições com mais

condições. Tais instituições têm também um importante papel no desenvolvimento da criança.

A vivência num ambiente educativo formal proporciona às crianças uma pedagogia que

surge como complemento à atividade educativa de apoio à família. Assim, “a família e a instituição

de educação pré-escolar são dois contextos sociais que contribuem para a educação da mesma

criança; importa, por isso, que haja uma relação entre estes dois sistemas.” (Ministério da

Educação, 1997, p. 43). Desta forma é fundamental que exista uma cooperação entre os dois

contextos (familiar e escolar). De facto, “A educação pré-escolar assume-se como complementar da

acção educativa da família e incentiva os pais a participarem no Projecto Educativo do

Estabelecimento.” (Ministério da Educação, 1997, p. 19). A participação da família no contexto

escolar da criança é fulcral para o seu desenvolvimento completo e harmonioso. Como refere

Nunes (2001) “quando esta está envolvida é mais fácil manter a consistência das estratégias e dar

alguma continuidade ao trabalho desenvolvido.” (p. 27).

A ideia de Friedrich Froebel, para a criação de “kindergardens” surgiu porque este

“acreditava na continuidade da vida da criança e em que a capacidade de uma criança podia

desenvolver-se melhor por meio de suas próprias atividades baseadas na direção inteligente de

seus interesses” (Garrison et al., 1979, p. 426). Cabe então à educação pré-escolar este papel

crucial, na medida em proporciona diversas experiências às crianças, contribuindo para a aquisição

de novos conceitos, competências e atitudes que serão cruciais para um desenvolvimento da

linguagem e, consequentemente, permitirão expressarem-se de forma cada vez mais clara, rica e

complexa. Tal como afirmam Sim-Sim e colaboradores (2008),

“O jardim-de-infância pode ser determinante no desenvolvimento das capacidades comunicativas da

criança, quer através da interacção dual com o educador, enquanto conversa com a criança, quer na

execução deliberada e sistemática de actividades específicas destinadas a promover aspectos

centrais da comunicação verbal.” (p. 35).

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É então importante que a instituição educativa oriente atividades que permitam explorar e

potenciar a comunicação linguística da criança, fomentando de forma integrada o desenvolvimento

tanto da capacidade de compreensão como de expressão.

É neste sentido que a educação formal é tão importante, uma vez que as instituições

desenvolvem programas de educação pré-escolar com o objetivo de proporcionar um

desenvolvimento adequado e integral da criança. Possuem também pessoal especialmente formado

o que permite responder adequadamente às necessidades das crianças. A interação diária que as

instituições educativas possibilitam à criança uma fonte inesgotável de estímulos que são

fundamentais para o seu desenvolvimento. O papel do educador é crucial para criar

oportunidades/momentos adequados às diferentes idades e à fase de desenvolvimento em que a

criança se encontra de forma a estimular as capacidades comunicativas.

O educador/professor além de ser um modelo de referência para a criança,

nomeadamente no processo de aquisição da linguagem, também desempenha um papel crucial na

deteção precoce de qualquer problema. A identificação precoce de dificuldades na linguagem e a

sua sinalização é crucial para que as crianças possam ser avaliadas por especialistas e

encaminhadas para apoios adequados, se necessário. Para que tal possa acontecer é importante

que os Educadores de Infância tenham formação e competências para que possam fazer a

identificação precoce das crianças com dificuldades. De acordo com Viana (2005),

“sabemos que dificuldades ao nível da expressão oral poderão inibir ou relegar para planos

secundários esta forma de expressão, em favor de outras em que a criança se sinta mais

competente. Este facto torna difícil aos Educadores de Infância a tarefa de fazer uma avaliação da

linguagem baseada nas observações quotidianas. Assim, dificuldades ao nível da linguagem

expressiva são confundidas com ‘timidez’, ‘mimo’, ‘dificuldades de adaptação ao grupo’, esperando

que o tempo valide (ou não) estas hipóteses.” (p. 75).

5. Avaliação da linguagem oral

A linguagem tem um efeito fundamental ao longo da vida e, como tal, é importante que

qualquer ameaça ao seu desenvolvimento normal seja detetado o mais cedo possível. Só a deteção

precoce permite a prevenção. Neste sentido, há razão para preocupação quando o desenvolvimento

de determinada criança dificilmente se encaixa no processo descrito anteriormente. É no período

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compreendido entre os 0 e os 3anos que as crianças estruturam e adquirem a linguagem base.

Assim sendo, é neste período que devem ser identificados os principais indicadores de risco e

facultada a estimulação necessária que compense fatores sociais adversos. Apesar de as crianças

poderem apresentar diferentes ritmos no desenvolvimento da linguagem, é fundamental que se

definam os limites que configuram o padrão da normalidade. Castro e Gomes (2000) referem que é

possível identificar comportamentos que funcionam como sinais de alarme:

“(a) quando aos 18 meses a criança não diz nenhuma palavra; (b) quando com dois anos completos

a criança não diz nenhuma palavra; (c) quando aos três anos não formula frases de três palavras;

(d) quando aos quatro anos produz frases que não se submetem às regras gramaticais; (e) quando

aos cinco anos persistem omissões, ou alterações relativamente frequentes na articulação, em

particular das consoantes sibilantes e líquidas.” (p. 60).

Para que se possam evitar consequências, é fundamental identificar os alunos que se

encontram em situação de risco e fazer uma análise/avaliação de forma a proporcionar uma

resposta adequada o mais precocemente possível, seja no sentido preventivo como remediativo.

A linguagem é considerada como um dos comportamentos humanos mais difíceis de

avaliar. Nesse sentido a deteção de problemas da linguagem, com vista a uma adequada

intervenção, requer meios de avaliação adequados. Só a identificação rigorosa permite desenhar

programas de intervenção adequados. Para tal é fundamental conhecer e perceber os processos

que são esperados em cada etapa relativos à compreensão e produção da linguagem, de forma a

identificar se a criança se encontra a desenvolver de acordo com o que seria normalmente

esperado. Estas informações são importantes na escolha de instrumentos de avaliação, uma vez

que problemas diferentes necessitam de métodos de avaliação diferentes. De acordo com Miller

(1986) a avaliação da linguagem deve seguir os seguintes passos: a) deteção do problema, b)

avaliação da criança, e c) recomendações para uma intervenção adequada.

Segundo Viana (1993) “existem, essencialmente duas metodologias diferentes para a

avaliação da linguagem: primeira consiste em analisar o discurso espontâneo das crianças; a

segunda, tem a ver com o emprego de situações estruturadas, isto é, de provas especialmente

concebidas para o efeito.” (p. 38). O discurso espontâneo, como o nome indica, consiste no registo

de produções linguísticas produzidas pelas crianças em diferentes contextos, registo este que é

posteriormente analisado. A avaliação através de provas recorre à aplicação de testes padronizados

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cujos itens foram especialmente concebidos para analisar, de forma focada, diferentes aspetos da

produção linguística das crianças.

Na avaliação da linguagem é importante que estejam presentes as cinco componentes da

linguagem: fonologia, morfologia, sintaxe, semântica e pragmática. Para tal é essencial que existam

instrumentos validados e que permitam fazer essa avaliação. No quadro III apresentamos uma

síntese de alguns instrumentos.

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Quadro III – Testes de Avaliação da Linguagem

Nome do Teste Autores e data Idade alvo Área(s) ou competência(s) avaliada(s):

Wepman Auditory Discrimination Test J. Wepman e W. Reynolds (1986) 4-8 anos Capacidade discriminativa de fonemas.

Peabody Picture Vocabulary Test L. Dunn e L. Dunn (1959-1965) 2-6 anos Conhecimento semântico.

Illinois Test of Psycholinguistic Abilities S. Kirk, J. McCarthy e W. Kirk (1961-1968) 4-8 anos Capacidades psicolinguísticas, avaliando os canais de comunicação, os

processos psicolinguísticos e os níveis de organização.

Northwestern Syntax Screening Test L. Lee (1969-1971) 3-7 anos Capacidade de processar e reproduzir estruturas e transformações

sintáticas.

Test of Language Development P. Newcomer e D. Hammill (1977-1982) 4-8 anos Capacidade de compreensão das palavras, definição das palavras,

compreensão de estruturas sintáticas, construção de frases, uso de

regras morfológicas - discriminação auditiva e articulação.

Preschool Assessment Instrument M. Blank, S. Rose e L. Berlin (1978) 3-5 anos Capacidades linguísticas da criança.

Clinical Evaluation of Language Functions –

Screening Tests

E. Semel e E. Wiig (1980-1983) 4-9 anos Potenciais dificuldades no processamento e produção da linguagem.

Merrill Language Screening Tests M. Mumm, W. Secord e K. Dykstra (1980) Capacidades linguísticas, identificando crianças que necessitem de uma

análise mais profunda.

Test de Vocabulaire Actif et Passif J. Deltour e D. Hupkens (1980) 3-5 anos Nível de competência verbal.

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Clark-Madison Test of Oral Language J. Clark e C. Madison (1981-1984) 3-6 anos Capacidade expressiva da criança.

Test of Early Language Development W. Hresko, D. Reid e D. Hammill (1981) 3-7 anos Performances linguísticas identificando as crianças com níveis inferiores

às dos seus pares.

Bracken Basic Concept Scale B. Bracken (1984-1986) 3-6 anos Aquisição de conceitos básicos.

Test of Examining Expressive Morphology K. Shirpley, T. Stone e M. Sue (1987) 3-8 anos Desenvolvimento morfológico.

Receptive-Expressive Emergent Language Test K. Bzoch, R. League e V. Brown (1991) 0-3 anos Linguagem recetiva e expressiva.

Early Language Milestone Scale – Second

Edition (ELM-scale 2)

J. Coplan (1993) 0-3 anos Linguagem auditiva expressiva, auditiva recetiva e visual.

Joliet 3- Minute Speech and Language Screen

(revised)

M. Kinzler e C. Johnson (1993) 3-6 anos Vocabulário recetivo, sintaxe expressiva, voz e competência fonológica.

Inventário do Desenvolvimento de Habilidades

Comunicativas MacArthur

L. Fenson, P. Dale, J. Reznick, D. Thal, E.

Bates, J. Hartung, S. Pethick e J. Reilly (1993)

8-30 meses Competências lexicais, morfológicas e sintáticas.

The Pragmatics Profile of Everyday

Communication Skills in Pre-school Children

H. Dewart e S. Summer (1995) 0-4 anos Capacidades pragmáticas de comunicação do quotidiano.

Kindergarten Language Screening Test

(second edition)

S. Gauthier e C. Madison (1998) 3-6 anos Capacidade da criança demonstrar conhecimento pré-escolar comum,

como entender perguntas, seguir ordens, comparar e contrastar objetos

e usar a fala espontânea.

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Pre-LAS 2000 S. Duncan e E. DeAvilla (1998) 4-6 anos Competências morfológicas, sintáticas e semânticas.

Comprehensive Assessment of Spoken

Language

E. Carrow-Woolfolk (1999) 3-6 anos

7-21 anos

Habilidades de processamento da linguagem (compreensão, expressão

e recuperação) em quatro categorias da estrutura da linguagem:

semântica, sintática, morfológica e pragmática.

Boehm 3 – Preschool A. Boehm (2001) 3-5 anos Capacidade de compreensão de conceitos relacionais básicos.

Communication and Symbolic Behavior Scales

Development Profile

A. Wetherby e B. Prizant 0-6 anos Desenvolvimento da linguagem e da comunicação.

Test for the Reception of Grammar D. Bishop (2003) 4 anos - adulto Compreensão da linguagem.

Test of Phonology Awareness Skills P. Newcomer e E. Barenbaum (2003) 5-8 anos Consciência fonológica.

Preschool Language Assessment Instrument

(second edition)

M. Blank, S. Rose e L. Berlin (2003) 3-5 anos Habilidades discursivas recetivas e expressivas e avalia a capacidade de

discurso em crianças que têm pouca ou nenhuma linguagem

expressiva.

Clinical Evaluation of Language Fundamentals

– Preschool (second edition)

E. Semel, E. Wiig e W. Secord (2004) 3-6 anos Linguagem recetiva.

Structured Photographic Expressive Language

Test – Preschool 2

J. Dawson, C. Stout, J. Eyer, P. Tattersall, J.

Fonkalsrud e K. Crowley (2004)

3-5 anos Estruturas morfológicas e sintáticas da linguagem.

Assessment of Literacy and Language L. Lombardino, R. Lieberman e J. Brown 4-9 anos Linguagem expressiva e as habilidades da linguagem escrita, incluindo a

compreensão auditiva, compreensão da linguagem, semântica, sintaxe e

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(2005) consciência fonológica.

Language Use Inventory D. O’neill (2009) 0-4 anos Desenvolvimento da linguagem pragmática.

Auditory Skills Assessment D. Geffner e R. Goldman (2010) 3-6 anos Desenvolvimento da linguagem, identifica precocemente as crianças que

se apresentem em risco de défices de habilidades auditivas e/ou

dificuldades de alfabetização precoce.

Preschool Language Scale (fifth edition) I. Zimmerman, V. Steiner e R. Pond (2011) 0-7 anos Desenvolvimento da linguagem, através de habilidades pré-verbais em

interação com a linguagem emergente.

(Extraído de: Viana, 2002; Andrade,2008; http://www.asha.org/assessments.aspx)

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No que diz respeito à existência de instrumentos de avaliação destinados para a população

portuguesa, a situação é diferente. A razão para essa escassez deve-se, em parte, às dificuldades

metodológicas para a avaliação da linguagem em idades tao pequenas. Devido à insuficiência de

instrumentos que avaliem a componente de compreensão e de expressão da linguagem, ao longo

dos anos foram utilizados diferentes recursos de forma a colmatar esta carência. De uma forma

informal, os técnicos/avaliadores realizavam as suas avaliações tendo em consideração os seus

conhecimentos e experiências pessoais; ou através da utilização de instrumentos que eram

traduzidos do inglês para o português.

Tendo em consideração a necessidade sentida a este respeito, foram surgindo nos últimos

anos instrumentos de avaliação da linguagem das crianças. Estes instrumentos direcionados em

particular para a idade pré-escolar, procuram avaliar a expressão oral e a articulação. No quadro IV

apresentamos os instrumentos existentes em Portugal.

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Quadro IV – Testes de Avaliação da Linguagem em Portugal

Nome do Teste Autores e data Idade alvo Área(s) ou competência(s) avaliada(s)

Teste de Avaliação da Linguagem Oral I. Sim-Sim (1997) 3-9 anos Expressão oral através de itens lexicais, conhecimento de regras

sintáticas e metalinguístico.

Teste de Articulação Verbal I. Guimarães e M. Grilo (1997) Sons produzidos pela criança, identificando possíveis perturbações

articulatórias.

Teste de Avaliação da Produção Articulatória

de Consoantes do Português Europeu

I. Falé e I. Faria (2001) A partir dos 3

anos

Produção articulatória de consoantes.

Bateria de Provas Fonológicas A. Silva (2002) 5-6 anos Capacidade para analisar as palavras nos seus componentes sonoros.

Teste de Identificação de Competências

Linguísticas

F. Viana (2004) 4-6 anos Competências linguísticas ao nível do conhecimento lexical, regras

morfológicas, memória auditiva e reflexão sobre a língua.

Prova de Avaliação da Articulação de Sons em

Contexto de Frase para o Português Europeu

S. Vicente, S. L. Castro, A. Santos, A. Barbosa,

A. Borges e I. Gomes. (2006)

2-7 anos Articulação espontânea de sons de fala em contexto de frase.

Teste de Avaliação da Linguagem na Criança E. Sua-Kay e M. Tavares (2006) 2 anos e

6meses-6 anos

Linguagem na área da semântica, morfossintaxe e da pragmática.

Prova de Avaliação da Linguagem e da Afasia

em Português

S. L. Castro, S. Caló e I. Gomes (2007) A partir dos 5

anos

Competências ao nível do processamento fonológico, leitura, escrita,

semântica de palavras e imagens e compreensão de frases.

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Prova de Avaliação de Capacidades

Articulatórias

M. Baptista (2009) 3-6 anos Capacidades articulatórias da fala.

(Extraído de: Andrade, 2008; Baptista, 2009; http://www.cresceremrede.net/i_online/avalInstrument.aspx.)

Como se depreende da análise do quadro IV, continuam a faltar instrumentos de avaliação direcionados para a faixa etária dos 0 aos 36 meses, o que

impede uma avaliação precoce fidedigna.

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CAPITULO II – ESTUDO EMPÍRICO

Introdução

Como foi referido no capítulo anterior, regista-se, no panorama nacional, uma enorme

lacuna no que concerne a instrumentos de avaliação da linguagem e da comunicação para crianças

muito pequenas. Esta lacuna está a ser colmatada com a adaptação, para Portugal, dos Inventários

de Competências Comunicativas de MacArthur-Bates – ICD–I e II, com o Projeto PTDC/MHC-

PED/4725/2012, intitulado Avaliar para Prevenir: Estudos de Tracking e Validação dos Inventários

de Desenvolvimento Comunicativo de MacArthur-Bates para o Português Europeu, para a qual este

estudo pretende contribuir.

Objetivos:

O estudo que agora se apresenta integra-se neste projeto mais amplo de validação dos

ICD–I e II de MacArthur Bates para Portugal, mais especificamente no estudo piloto. Embora a

versão do ICD utilizada neste estudo não esteja ainda validada, considerámos que o trabalho

rigoroso de tradução e adaptação efetuado nos permitiria obter dados que servissem o segundo

objetivo deste estudo, ou seja, a comparação das competências comunicativas de crianças de

idades compreendidas entre os 16 e 30 meses em função de um conjunto de variáveis que a

investigação mostra serem relevantes: a frequência de contexto educativo formal (creche), o nível

socioeconómico dos pais (encarregados de educação) e as suas habilitações académias

(nomeadamente as mães).

Nesse sentido procuramos dar resposta às seguintes questões de investigação:

1) Há diferenças significativas ao nível das habilidades comunicativas de crianças de

idades compreendidas entre os 16 e os 30 meses de idade em função da frequência,

ou não, do contexto educativo creche?

2) Há diferenças significativas ao nível das habilidades comunicativas de crianças

compreendidas entre os 16 e os 30 meses de idade em função do nível

socioeconómico familiar?

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3) Há diferenças significativas ao nível das habilidades comunicativas de crianças

compreendidas entre os 16 e os 30 meses de idade em função das habilitações

literárias dos encarregados de educação?

1. Método

1.1 Tipo de estudo

Um estudo com os objetivos atrás delineados e que integrasse, como seria desejável, as

três variáveis – contexto educativo, nível socioeconómico e habilitações académicas dos pais –

consideradas como preditoras e a análise da eventual variância explicada por cada uma delas,

exigiria uma extensão da amostra que não foi possível recolher. As rápidas mudanças sociais a que

temos vindo a assistir tem ditado a retirada de muitas crianças das creches que frequentavam (por

dificuldades económicas e/ou desemprego das mães). Por outro lado, muitas crianças que não

frequentavam creche passaram a fazê-lo ou a frequentar contextos de guarda informais (amas, avós

ou outros familiares) quando aos pais (principalmente à mãe) era oferecida uma proposta de

trabalho, mesmo temporária. Assim sendo, foi impossível reunir, em tempo útil, uma amostra que

nos permitisse um estudo que não se reduzisse a um estudo correlacional.

Relativamente à metodologia trata-se de uma investigação de caracter quantitativo uma vez

que o tratamento dos dados recolhidos é realizado através da análise estatística.

1.2. Amostra

A amostra recolhida seguiu princípios não probabilísticos, tratando-se de uma amostra de

conveniência, selecionada de acordo com as variáveis consideradas no estudo.

O período crucial para o desenvolvimento da linguagem decorre numa extensão mais

alargada, contudo para este estudo optamos por crianças com idades entre os 16 e os 30 meses.

Neste sentido, a nossa amostra englobou 52 crianças, 26 das quais frequentam instituições

educativas (creche) e as outras 26 permanecem em contexto familiar.

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Quadro V – Distribuição dos sujeitos segundo o sexo e o contexto educativo

Sexo Contexto Institucional Contexto Familiar Total

Raparigas 14 12 26

Rapazes 12 14 26

Total 26 26 52

A idade dos participantes varia entre os 16 e os 30 meses, tendo uma média de 22,35 e

um desvio-padrão de 4,85. De forma a complementar a análise estatística dos dados, as várias

idades foram subdividas em três faixas etárias, como podemos verificar através da análise do

Quadro VI.

Quadro VI – Distribuição dos sujeitos em três faixas etárias segundo o contexto educativo

Faixa etária Contexto Institucional Contexto Familiar Total

16 – 20 meses 10 15 25

21 – 25 meses 7 5 12

26 – 30 meses 9 6 15

Nestes dois grupos foi pretendido uma variação dos níveis socioeconómicos, e nesse

sentido a distribuição dos instrumentos realizou-se em diferentes zonas do distrito do Porto. No

quadro VII podemos verificar essa variação.

Quadro VII – Distribuição dos sujeitos de acordo com o meio socioeconómico

Meio Socioeconómico Amostra

Baixo 9

Médio 21

Alto 22

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37

A distribuição dos pais nos níveis socioeconómicos teve por base as qualificações

académicas, a profissão (tendo em consideração os grupos estabelecidos pelos IEFP) e a situação

profissional (trabalhador por conta própria, trabalhador por conta de outrem ou desempregado).

1.3. Instrumentos

Inventário de Desenvolvimento de Habilidades Comunicativas MacArthur-Bates 1

O instrumento central do estudo para a análise quantitativa nos níveis de competências

comunicativas é o Inventário do Desenvolvimento de Habilidades Comunicativas MacArthur Bates

(16-30 meses), da autoria de L. Fenson, P. S. Dale, J. S. Reznick, D. Thal, E. Bates, J. P. Hartung,

S. Pethick, e J. S. Reilly, editado em 1991.

Os Inventários de MacArthur pretendem fazer uma avaliação rigorosa e profunda dos níveis

de linguagem de crianças com idades compreendidas entre os 8 e 30 meses, uma vez que existe

uma grande variedade de formas de comunicação e as crianças nestas idades experimentam

transformações decisivas ao nível da aquisição da linguagem. Ocupam desta forma um lugar de

destaque no âmbito da psicolinguística evolutiva pelo facto de enfrentarem o desafio de avaliar o

desenvolvimento precoce da linguagem e comunicação. Este instrumento é especialmente útil em

duas áreas: na área clínica, na medida em que permite o diagnóstico e consequente tratamento

das dificuldades da linguagem; e na área de investigação uma vez que possibilita estudar os

processos de aquisição da linguagem e das habilidades de comunicação (Jackson-Maldonado, Thal,

Marchman, Fenson, Newton e Conboy, 2005).

Na sua versão original, as escalas MacArthur apresentam duas vertentes destinadas a

faixas etárias diferentes. Para crianças entre os 8 e os 15 meses está disponível o inventário ICD-I

“As palavras e os gestos” e para crianças entre os 16 e 30 meses existe o inventário ICD-II

“Palavras e frases”. Para esta investigação foi utilizada a versão para estudo do ICD-lI. O inventário

é uma check list a ser preenchida pelos pais/encarregados de educação e é composto por um

conjunto de itens organizados por diferentes domínios, estando dividido em duas partes. A primeira

1 Versão traduzida e adaptada pela equipa do projeto PTDC/MHC-PED/4725/2012, intitulado Avaliar para Prevenir:

Estudos de Tracking e Validação dos Inventários de Desenvolvimento Comunicativo de MacArthur-Bates para o

Português Europeu.

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parte refere-se às primeiras palavras e pretende avaliar o vocabulário produzido pela criança e a

segunda refere-se à morfologia e à sintaxe.

A primeira parte encontra-se subdividida em dois grupos: o grupo A) Lista de vocabulário,

organizado em 22 categorias, que incluem conjuntos de palavras básicas que devem ser

selecionado de acordo com o que já foi produzido pela criança (interjeições, sons de animais e

objetos; nomes de animais; nomes de veículos, de brinquedos, de alimentos; entre outros); e o

grupo B) Como a criança usa e entende a linguagem avalia a capacidade da criança utilizar a

linguagem para se referir a acontecimentos passados ou que ocorrerão no futuro e a objetos ou

pessoas que não estão presentes com 5 itens. A primeira parte é constituída por 666 itens e a

segunda por 5 itens. A segunda parte encontra-se subdividida em cinco grupos: A) Formas de

palavras (parte 1), com 24 itens; B) Formas de Verbos, com 29 itens; C) Formas de palavras (parte

2), com 18 itens; D) Frases, com 1 item; e por fim, E) Complexidade de construções e frases, com

37 itens.

Para calcular a pontuação do Inventário do Desenvolvimento de Habilidades Comunicativas

MacArthur (16-30 meses) criamos o seguinte quadro, tendo como base a tabela de pontuação da

versão espanhola do inventário (Jackson-Maldonado et al., 2005).

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39

Quadro VIII – Tabela de pontuação do inventário MacArthur

Resposta Pontuação respetiva

Parte 1: Primeiras palavras

A. Lista de vocabulário Item não marcado Não Contar as respostas Sim [Pontuação

máxima: 666] Item marcado Sim

B. Como a criança usa e

entende a linguagem

“Ainda não” Não Contar as respostas Sim [Pontuação

máxima: 5] “Às vezes” ou “Muitas vezes” Sim

Parte 2: Morfologia e Sintaxe

A. Formas de palavras “Ainda não” Não Contar as respostas Sim

[Pontuação máxima: 24] “Às vezes” ou “Muitas vezes” Sim

B. Formas de verbos Item não marcado Não Contar as respostas Sim

[Pontuação máxima: 29] Item marcado Sim

C. Formas de palavras Item não marcado Não Contar as respostas Sim

[Pontuação máxima: 18] Item marcado Sim

D. Frases “Ainda não” Não Contar as respostas Sim

[Pontuação máxima: 1] “Às vezes” ou “Muitas vezes” Sim

E. Complexidade de

construções e frases

Item não marcado Não Contar as respostas Sim, sendo que o

segundo item marcado vale 2 pontos

[Pontuação máxima: 74]

Primeiro item marcado Sim

Segundo item marcado Sim

Pontuação máxima Parte 1 – 671

Pontuação máxima Parte 2 – 146

Pontuação máxima total - 817

Uma vez que este instrumento ainda não se encontra validado foi necessário proceder à

análise da consistência interna das duas partes do mesmo. Para tal procedemos à análise da

consistência interna através do Spearman-Brown Coefficient e Guttman Split-Half Coefficiente para

os grupos que incluem itens dicotómicos; e do Cronbach’s Alpha para os grupos que incluem itens

em escala Likert. Como podemos observar através do quadro IC, todos os grupos constituintes do

Inventário MacArthur apresentam uma consistência interna considerada excelente.

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Quadro IX – Consistência Interna da versão para estudo piloto português do ICD_II (16-30 meses)

Inventário MacArthur Cronbach’s Alpha Spearman-Brown

Coefficient

Guttman Split-Half

Coefficient

Primeira Parte Grupo A _ _ _ 0,996 0,995

Grupo B 0,874 _ _ _ _ _ _

Segunda Parte Grupo A 0,967 _ _ _ _ _ _

Grupo B _ _ _ 0,925 0,915

Grupo C 0,890 0,890

Grupo D _ _ _ _ _ _ _ _ _

Grupo E _ _ _ 0,975 0,975

Questionário/Inquérito de caracterização socioeconómica dos pais/encarregados de

educação.

A fim de recolher informações relativas ao estatuto socioeconómico e educativo dos

informantes (pais/encarregados de educação), foi elaborado um pequeno questionário (Anexo I).

Neste questionário foram inseridos alguns itens cujo objetivo foi o de permitir conhecer o tipo de

interações com a criança e a sua duração, no sentido de analisar potenciais diferenciadores ao nível

dos resultados, o que não se concretizou.

1.4. Procedimentos

Os pais/encarregados de educação foram informados relativamente aos objetivos do

estudo, nomeadamente quanto aos princípios éticos de confidencialidade, tendo sido solicitada a

sua colaboração voluntária. Os dois instrumentos foram entregues pessoalmente e o seu

preenchimento realizado autonomamente.

Para a recolha de dados relativos a crianças que frequentavam contextos formais de

educação – creches – foram contactadas três instituições com essa valência. No que diz respeito à

amostra relativa às crianças que se encontravam em contexto familiar, a recolha de dados foi mais

morosa, na medida em que foi necessária a sua localização através de uma rede informal de

contactos na mesma zona.

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A análise dos dados foi efetuada com recurso ao programa SPSS (Statistical Package for

the Social Science), versão 20, de 2013.

2. Resultados

2.1. Análise estatística

No quadro X são apresentados os resultados obtidos no ICD-II.

Quadro X – Comparação dos resultados em função dos grupos creche/ambiente familiar

Inventário Contexto Institucional Contexto Familiar

Média D.P. Min. Máx. Média D.P. Min. Máx.

Parte 1 Grupo A 182,92 159,08 3 483 172,27 164,79 6 550

Grupo B 3,65 1,52 0 5 3,23 1,77 0 5

Total Parte 1 186,58 160,14 4 488 175,50 166,14 6 555

Parte 2 Grupo A 5,39 7,23 0 24 5,50 6,85 0 21

Grupo B 2,85 4,87 0 22 2,62 4,79 0 15

Grupo C 0,69 1,32 0 5 1,23 2,83 0 9

Grupo D 0,58 0,50 0 1 0,54 0,51 0 1

Grupo E 22,08 25,37 0 73 19,69 24,59 0 62

Total Parte 2 31,58 36,50 0 112 29,58 36,71 0 113

Total ICD-II 218,15 193,92 4 600 205,08 200,46 6 659

Nota: Parte 1- Grupo A: lista de vocabulário; Grupo B: como a criança usa e entende a linguagem. Parte2- Grupo A) forma de palavras (parte 1); Grupo B) formas de verbos; Grupo C) forma de palavras (parte 2); Grupo D) Frases; E) complexidade de construções e frases.

Da análise do quadro X ressalta a enorme variabilidade registada no que concerne às

habilidades comunicativas das crianças da faixa etária analisada. Tal dever-se-á, com grande

probabilidade, ao facto de o ICD-II avaliar um período de 14 meses no qual os progressos são

rápidos e constantes. Assim sendo, precedeu-se a esta análise dividindo este período em três.

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Quadro XI – Comparação dos resultados de acordo com as faixas etárias

Faixa Etária Contexto Institucional Contexto Familiar

N Média D.P. Min. Máx. N Média D.P. Min. Máx.

16 – 20 meses 10 75,10 89,78 4 297 15 76,87 85,89 6 340

21 – 25 meses 7 151,29 69,00 48 242 5 223,20 47,44 158 286

26 – 30 meses 9 429,11 159,10 67 600 6 510,50 129,94 365 659

Como seria de esperar, a pontuação média aumenta de forma muito acentuada no terceiro

período mas continua a verificar-se uma enorme variabilidade, com crianças a obterem apenas 4

pontos. Conforme também é possível verificar nos quadros X e XI apresentados anteriormente, os

valores do desvio-padrão são bastante elevados, verificando a heterogeneidade/variabilidade do

conjunto de dados da amostra. Nos quadros seguintes analisamos a variação de classificações que

ocorrem nas mesmas idades, procedendo a uma análise mais pormenorizada.

Quadro XII – Classificações obtidas na primeira parte do ICD-II por idades (em meses)

Idade (meses) n Média DP Min. Máx.

16 3 35,67 28,43 4 59

17 4 23,00 4,24 18 27

18 9 77,22 86,82 6 281

19 4 112,75 100,07 15 239

20 5 67,20 42,64 11 116

21 4 118,50 70,22 43 211

22 1 243,00 243 243

23 3 175,67 37,82 132 198

24 2 150,50 43,13 120 181

25 2 170,50 31,82 148 193

26 2 414,00 104,65 340 488

28 2 368,00 74,95 315 421

29 3 299,67 206,68 67 462

30 8 423,00 89,84 329 555

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A primeira parte do grupo A diz respeito ao vocabulário expressivo, área em que se regista

uma enorme variabilidade (Garrison et al., 1979; Sim-Sim et al.,2008). Os resultados obtidos

necessitam ser confirmados junto de uma amostra muito mais expressiva. Embora nenhuma das

crianças avaliadas tivesse alguma indicação de perturbação do desenvolvimento, há alguns

resultados que geram preocupação quando comparados com outros provenientes de crianças da

mesma idade.

Quadro XIII – Classificações obtidas na segunda parte do ICD-II por idades (em meses)

Idade (meses) n Média DP Min. Máx.

16 3 7,33 10,21 0 19

17 4 0,25 0,50 0 1

18 9 9,11 18,93 0 59

19 4 15,00 28,68 0 58

20 5 11,60 17,26 1 42

21 4 6,75 5,56 3 15

22 1 43,00 43 43

23 3 25,33 18,18 5 40

24 2 42,00 28,28 22 62

25 2 29,50 27,58 10 49

26 2 92,50 27,58 73 112

28 2 79,00 41,01 50 108

29 3 41,67 50,62 0 98

30 8 76,25 29,35 37 113

Como se pode observar nos quadros precedentes, não se regista um padrão evolutivo em

termos de distribuição. Se até aos 21 meses se verifica a existência de crianças que praticamente

não pontuam, a partir dos 21 meses há também uma enorme variabilidade sem um padrão

evolutivo marcado.

No quadro seguinte procedemos à análise da classificação do inventário de acordo com o

sexo das crianças.

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Quadro XIV – Comparação dos resultados de acordo com o sexo

Inventário ICD-II Feminino Masculino

N Média D.P. Min. Máx. N Média D.P. Min. Máx.

Parte I 26 176,96 159,41 4 488 26 185,11 166,92 11 555

Parte II 32,58 38,09 0 112 28,58 34,97 0 113

Total ICD-II 209,54 195,55 4 600 213,69 199,08 14 659

Como se pode verificar no quadro apresentado, o grupo de crianças do sexo masculino

apresenta valores mais elevados na primeira parte do inventário, que diz respeito ao vocabulário, e

o grupo de crianças do sexo feminino manifesta valores mais elevados na segunda parte, que diz

respeito à morfologia e sintaxe. Nos resultados finais do ICD-II, é o grupo do sexo masculino que

apresenta resultados mais elevados, contudo sem diferenças estatisticamente significativas.

Através dos dados apresentados é possível verificar que em média é o grupo de crianças

que frequenta instituição educativa que apresenta resultados mais elevados. Contudo, a fim

responder à primeira questão de investigação - Há diferenças significativas ao nível das habilidades

comunicativas de crianças de idades compreendidas entre os 16 e os 30 meses de idade em

função da frequência, ou não, do contexto educativo creche? - é necessário verificar se estas

diferenças são significativas do ponto de vista estatístico. Para tal recorreu-se ao teste T para

amostras independentes e conclui-se que não há diferenças significativas entre as crianças que

frequentam creche e as que são educadas em ambiente familiar ao nível do seu desenvolvimento

comunicativo, t (50) =.24, p =.812.

A fim de responder à segunda questão de investigação colocada - Há diferenças

significativas ao nível das habilidades comunicativas de crianças compreendidas entre os 16 e os

30 meses de idade em função do nível socioeconómico familiar? – procedeu-se à análise dos

resultados obtidos no ICD-II analisando a sua distribuição em função dos três níveis

socioeconómicos considerados.

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Quadro XV – Comparação dos resultados em função do nível socioeconómico

Nível

socioeconómico

Classificação Total do Inventário

N Média D.P. Min. Máx.

Baixo 9 236,67 172,16 14 526

Médio 21 182,90 202,34 4 659

Alto 22 228,77 202,55 6 600

Como se constata através dos dados apresentados, em média é o grupo de crianças

pertencentes ao nível socioeconómico baixo, que apresenta resultados mais elevados, seguido do

nível alto e médio. Contudo, é necessário verificar se estas diferenças são estatisticamente

significativas. Para tal, recorreu-se ao Teste Anova unifatorial e concluiu-se que não há diferenças ao

nível das habilidades comunicativas em função do nível socioeconómico, uma vez que p-value=

0,69.

Para responder à terceira questão de investigação - Há diferenças significativas ao nível das

habilidades comunicativas de crianças compreendidas entre os 16 e os 30 meses de idade em

função das habilitações literárias dos encarregados de educação? – analisaram-se os resultados

obtidos no ICD-II analisando a sua distribuição em função das habilitações literárias da mãe e do

pai, separadamente.

Quadro XVI – Comparação dos resultados em função das habilitações literárias do pai

Habilitações

literárias da mãe

Classificação Total do Inventário

N Média D.P. Min. Máx.

2º ciclo 1 226,00 226 226

3º ciclo 7 243,57 215,39 15 659

Ens. Secundário 9 198,78 187,78 4 526

Ens. Superior 35 208,11 201,26 6 653

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Quadro XVII - Comparação dos resultados em função das habilitações literárias da mãe

Habilitações

literárias do pai

Classificação Total do Inventário

N Média D.P. Min. Máx.

2º ciclo 4 145,25 94,67 15 226

3º ciclo 5 232,00 158,32 26 401

Ens. Secundário 18 226,77 223,06 6 659

Ens. Superior 25 207,24 198,92 4 600

Como se verifica através dos dados apresentados, em média é o grupo de crianças

pertencentes à mãe e ao pai com habilitações correspondentes ao 3º ciclo, que apresenta

resultados mais elevados. Para confirmar se estas diferenças são estatisticamente significativas

recorreu-se ao Teste Anova unifatorial e concluiu-se que não há diferenças ao nível das habilidades

comunicativas em função das habilitações do pai, uma vez que p-value=0,89, nem em função das

habilitações da mãe, dado que p-value=0,97.

2.2. Discussão de resultados

Após a exposição dos resultados procedemos à discussão dos mesmos à luz da revisão

bibliográfica e de outros estudos que analisaram as mesmas variáveis. Os objetivos deste estudo

deram lugar a três hipóteses que pretendemos responder com base nos resultados obtidos.

Hipótese 1: Há diferenças significativas ao nível das habilidades comunicativas de crianças

de idades compreendidas entre os 16 e os 30 meses de idade em função da frequência, ou não, do

contexto educativo creche.

Para analisar esta hipótese é importante considerar os dados apresentados no quadro X.

Através dos valores expostos foi possível verificar que as diferenças entre os dois grupos

independentes de crianças não são estatisticamente significativas ao nível das habilidades

comunicativas por usufruírem de contextos de atendimento diferentes. Estes resultados sugerem

que, nesta amostra, o contexto de educação não está correlacionado com as capacidades

linguísticas.

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Um estudo realizado pelo National Institute of Child Health and Human Development

(2000) não obteve os mesmos resultados com a amostra de crianças de idades compreendidas

entre os 0 e os 36 meses, uma vez que encontraram diferenças significativas entre o

desenvolvimento cognitivo e da linguagem em crianças que são educadas em casa em relação às

crianças que permanecem em creche. Segundo este estudo, isto acontece porque a família tem um

maior impacto no desenvolvimento da criança, na medida em que os laços criança-adulto são mais

fortes. Também foi verificada esta relação no estudo realizado por Anders, Sammons, Taggart,

Sylva, Melhuish, e Siraj-Blatchford (2010), com crianças até aos dez anos, onde foi verificada a

relação do contexto educativo pré-escolar no desenvolvimento das crianças. O estudo verificou que

as crianças que frequentaram a creche ou jardim-de-infância possuíam menos riscos de sofrer

problemas no desenvolvimento, e consequentemente na linguagem, comparativamente com as

crianças que não passaram pela educação pré-escolar.

Hipótese 2: Há diferenças significativas ao nível das habilidades comunicativas das crianças

de idades compreendidas entre os 16 e os 30 meses em função do nível socioeconómico familiar.

Relativamente a esta hipótese é importante recorrer aos resultados explicitados no quadro

XV. Esta análise permitiu-nos verificar que o nível socioeconómico familiar não se associa

significativamente às competências comunicativas. Os resultados obtidos não se enquadram com a

visão de Bernstein (1998) que concluiu através dos seus estudos que as crianças de um meio

socioeconómico mais desfavorável estão perante um código linguístico mais restrito.

Contrariamente aos resultados obtidos estão também os estudos realizados por Maria-

Mengel e Linhares (2007), Silva et al., (2009), Southwood (2013) que concluíram que quanto maior

o nível socioeconómico familiar, melhores são os resultados ao nível das competências linguísticas

das crianças por apresentarem um código linguístico mais alargado, comparativamente com

crianças de um nível socioeconómico baixo. Isto acontece porque em níveis socioeconómicos altos

há uma maior quantidade e qualidade nos estímulos fornecidos. Os estudos de Maria-Mengel e

Linhares (2007), Silva et al., (2009) e Southwood (2013) envolveram amostras de crianças entre os

0 e os 48 meses, os 3 e os 6 anos e os 4 e os 9 anos, respetivamente.

O estudo de Rowe (2008), com crianças de 2 e 3 anos de idade, também confirma a

existência da correlação entre as variáveis o nível socioeconómico e desenvolvimento da linguagem,

considerando que maior é o conhecimento por parte dos pais do desenvolvimento das crianças,

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maior é o número de situações que estes proporcionam que potenciam o crescimento linguístico. O

estudo de Cachapuz e Halpern (2006), com a amostra das crianças com idades entre os 2 e os 6

anos, mostrou que as situações stressantes vividas por crianças de níveis socioeconómicos baixos

afetam a estrutura familiar e o estimulo à linguagem, comprometendo dessa forma a sua aquisição

e desenvolvimento.

Hipótese 3: Há diferenças significativas ao nível das habilidades comunicativas de crianças

compreendidas entre os 16 e os 30 meses de idade em função das habilitações literárias dos

encarregados de educação.

Quanto a esta hipótese é necessário atender aos quadros XVI e XVII que nos fornecem os

valores necessários para a sua análise. Os dados demonstram que não há associação significativa

do nível de habilitações literárias dos encarregados de educação com o nível de habilidades

comunicativas das crianças, contradizendo diferentes autores que afirmam que os graus mais

elevados de habilitações literárias dos pais se relacionam positivamente com o desenvolvimento

linguístico da criança. (Tomblin, 1996; Andrade, 2008.). Estes resultados contradizem também os

dos estudos realizados por Maria-Mengel e Linhares, 2007; Goulart e Chiari, 2007 que consideram

a escolaridade dos pais como um fator importante no desenvolvimento linguístico, defendendo que

quanto maior é a escolaridade dos pais menores são os riscos de um desenvolvimento linguístico

pobre.

Ao analisarmos separadamente a relação existente entre as habilitações da mãe e as

habilitações dos pais, no que diz respeito aos níveis de habilidades comunicativos das crianças, os

resultados do nosso estudo corroboram com os de Escarce et al. (1012), pois, à semelhança deste,

não revelam a existência de diferenças com significância estatística no que diz respeito à

escolaridade materna de crianças de 2 a 24 meses.

Os resultados obtidos no presente estudo não vão no sentido da maior parte da literatura

consultada. Por exemplo, os estudos de Richman e colaboradores (1992) e Schonhaut e

colaboradores (2008) mostram que as habitações literárias das mães são as que mais exercem

influência na linguagem. No entanto, o estudo de Richman e colaboradores (1992) envolvia

crianças com idades compreendidas entre o 1 e os 9 anos de idade e o de Schonhaut e

colaboradores (2008) crianças de idades compreendidas entre os 3 e os 5 anos. Já o estudo de

Cardoso e colaboradores (2003), com crianças dos 0 aos 24 meses, evidencia a existência de

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relações significativas entre estas duas variáveis, explicadas pelo facto de as mães de níveis de

escolaridade mais elevados apresentarem maior conhecimento sobre o desenvolvimento linguístico

e, consequentemente, estimulavam mais as crianças.

De acordo com Andrade (2008), a escolaridade materna relaciona-se positivamente com o

desenvolvimento linguístico uma vez que permite “melhor organização do ambiente físico e

temporal, a maior oportunidade de variação na estimulação diária, com disponibilidade de materiais

e jogos apropriados para a criança e maior envolvimento emocional e verbal da mãe com a

criança.” (p. 609).

2.3. Limitações

O estudo apresentou algumas limitações que poderão ter potenciado os resultados

verificados. Primeiramente, e no que diz respeito à amostra, é importante referir que, atendendo à

grande variabilidade interindividual no que concerne ao desenvolvimento das habilidades

comunicativas, será necessária uma amostra bastante mais ampla.

O instrumento principal deste estudo, ICD-II, é um inventário longo, que necessita de tempo

e dedicação por parte dos pais/encarregados de educação no momento do preenchimento. Apesar

de ser um instrumento simples e claro, o facto de ser longo pode ter levado ao preenchimento com

pouco rigor. As expectativas dos pais perante o resultado do inventário também pode ser uma

limitação para a veracidade do seu preenchimento.

A pontuação adotada neste estudo foi a proposta para a versão espanhola do ICD-II., que

atribui a mesma pontuação a respostas que podem ser consideradas diferenciadas, – por exemplo,

“a criança diz poucas vezes” e “a criança diz muitas vezes” – pode levar a resultados finais

idênticos, quando na realidade, a nível comunicativo, a criança que diz muitas vezes pode-se

encontrar num nível mais evoluído do que a criança que diz poucas vezes.

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CONCLUSÃO

A linguagem constitui-se como uma das principais ferramentas para o desenvolvimento dos

indivíduos e para a plena integração e participação ativa na sociedade. O domínio linguístico é

essencial, não só do ponto de vista social, mas também porque permite o acesso a um conjunto de

conhecimentos e de experiências pessoais, académicas e culturais. Dado que é um instrumento de

socialização, construção do conhecimento e organização do pensamento, torna-se evidente a

importância do desenvolvimento adequado das competências linguísticas e o impacto na vida do

ser humano que sofra alterações nesta área.

O processo de aquisição e desenvolvimento da linguagem, por ser uma área complexa e

pluridimensional, tem merecido ao longo dos tempos o interesse e dedicação de diversos autores

no intuito de enriquecer os conhecimentos relativos a este tema. Para Watson, Skinner e os

restantes behavioristas, a linguagem é um comportamento verbal, aprendido por imitação, sendo

que o meio tem um papel decisivo para que esta se desenvolva. Para Chomsky e os inatistas, as

competências linguísticas são herdadas geneticamente e, a criança, munida dessa capacidade,

adquire a língua da comunidade onde se desenvolve. Para Piaget e os cognitivistas, não são

rejeitadas as influências do meio nem a existência de um mecanismo inato para a aquisição da

linguagem, mas consideram que é um instrumento do pensamento e, como tal, o fator potenciador

do seu desenvolvimento é a organização cognitiva, nomeadamente a função simbólica.

Atualmente é consensual que a aquisição da linguagem é um processo complexo que

resulta da interação das componentes genéticas com os estímulos do meio linguístico envolvente.

O período dos 0 aos 3 anos é crucial para o desenvolvimento linguístico, porque aqui se

desenrolam todas as etapas de aquisição da linguagem que vão permitir à criança adquirir as

competências necessárias para dominar a estrutura da língua materna a partir dos três anos e

meio. (Lima, 2000). No que diz respeito ao processo de aquisição e desenvolvimento da linguagem,

a literatura demonstra que esta surge em todas as crianças normais numa ordem constante e de

acordo com uma sequência cronológica semelhante, embora o ritmo de evolução se revele de

grande variabilidade. No nosso estudo foi possível observar que, se considerarmos os três períodos

em que dividimos a faixa etária em avaliação, se verificou, como seria de esperar, um padrão

evolutivo.

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O desenvolvimento linguístico pode ter variações que podem estar relacionadas com o

sujeito (sexo, inteligência) e com o ambiente onde ocorrem as trocas linguísticas (relação adulto-

criança, meio socioeconómico e cultural, contextos de atendimento). Na pesquisa bibliográfica

sobre a influência dos fatores referidos, foi possível verificar a escassez de investigações que

tenham como público-alvo crianças de idades compreendidas entre os 16 e os 30 meses.

No presente estudo pretendemos comparar as competências comunicativas de crianças

com idades compreendidas entre os 16 e os 30 meses em função de um conjunto de variáveis

relacionadas com o contexto familiar (o nível socioeconómico dos pais/encarregados de educação e

as suas habilitações académias) e a frequência de contexto educativo formal (creche), no qual se

concluiu que não existiam diferenças estatisticamente significativas no desempenho das crianças

em função das variáveis consideradas. Como já foi referido, este estudo insere-se numa

investigação mais ampla e que contempla uma amostra nacional e de mais de um milhar de

crianças. A avaliação das competências comunicativas de crianças de idades compreendidas entre

os 0 e os 36 meses é uma área de estudo ainda longe de estar esgotada no âmbito da investigação

e este estudo constitui apenas um modesto contributo nesta área.

Com base nas conclusões retiradas da nossa investigação, destacamos alguns aspetos a

considerar nos próximos estudos. O primeiro prende-se com a necessidade de controlar, por

exemplo, o tempo de frequência em creche que, nestas faixas etárias, é muito variável. O segundo

diz respeito ao levantamento das características das famílias, integrando as interações adulto-

criança assim como a sua frequência e duração, para poder analisar a quantidade e qualidade de

situações de estímulos linguísticos.

Como foi referido anteriormente, no nosso país ainda não existem instrumentos de

avaliação da linguagem para a faixa etária que selecionamos. O ICD-II é um instrumento que ainda

se encontra em fase de validação, pelo que os resultados obtidos têm, obrigatoriamente, de ser

lidos com alguma prudência.

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ANEXOS

Anexo I - Questionário de caracterização socioeconómica dos pais

Exmºs. pais / encarregados de educação

Encontro-me a elaborar um estudo sobre a aquisição da linguagem em função do contexto em

crianças de idades compreendidas entre os 16 e 30 meses. Este estudo irá integrar-se na dissertação de

Mestrado que estou a realizar na Universidade do Minho, sob a orientação da Doutora Fernanda Leopoldina

Viana do Instituto de Educação. Para a sua prossecução serão usados dois questionários: um que visa

recolher o que a criança produz em termos de linguagem – Inventário do desenvolvimento de habilidades

comunicativas de MacArthur; um outro – abaixo reproduzido – onde serão recolhidos alguns dados relativos

aos pais/encarregados de educação e às interações pais/crianças.

Os dados serão tratados de forma confidencial. Na base de dados será atribuído um número a cada

criança e os questionários serão destruídos após o seu lançamento.

Antecipadamente grata pela disponibilidade e atenção.

Dados relativos à criança

Nome (iniciais): _______________________________________________________________

Data de nascimento: _______________ Sexo: ___________________

Posição na fratria: ________________________

Dados relativos aos encarregados de educação

Nome mãe (facultativo): _______________________________________________________

Data de nascimento: _______________ Nacionalidade: __________________

Habilitações literárias: _____________________________

Profissão: ________________________ Trabalhador por conta própria

Trabalhador por conta de outrem

Desempregado

Nome pai (facultativo): ________________________________________________________

Data de nascimento: _______________ Nacionalidade: __________________

Habilitações literárias: _____________________________

Profissão: ________________________ Trabalhador por conta própria

Trabalhador por conta de outrem

Desempregado

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Dados relativos ao meio familiar

Número de elementos do agregado familiar? ______

Com quem vive a criança?

Número de irmãos: _______ Idades: ____________

Tipo de alojamento:

Dados relativos à criança no seio familiar:

Tem quarto próprio? Sim Não Se não, com quem partilha? _________________

A que horas a criança se deita? ____________ A que horas acorda? ______________

O seu filho exige sempre a presença de um adulto? Sim Não

O seu filho é uma criança que exige muita atenção? Sim Não

O seu filho entretém-se bem sozinho? Sim Não

Costuma brincar com o seu filho(a)? Sim Não

Se sim, com que frequência?

1x por mês 1 x por semana 2/3 x por semana todos os dias

Que tipo de brincadeira e qual a sua duração?

_______________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________

Quando brinca sozinho(a), qual a brincadeira preferida do seu filho(a)?

_________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________

Pais

Pais + irmãos

Outros. Quem?

Apartamento

Moradia

Bairro Camarário

Outro

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Fala muito com o seu filho? Sim Não

Porquê?

_______________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________

O seu filho consegue fazer-se entender com facilidade? Sim Não

Costuma ler histórias ao seu filho(a)? Sim Não

Se sim, com que frequência?

1x por mês 1 x por semana 2/3 x por semana todos os dias

Se na história aparecer uma palavra desconhecida ou difícil costuma substituí-la?

Sim Não

Ao falar com o seu filho preocupa-se em usar apenas palavras que ele entenda?

Sim Não

Por vezes usa palavras que ele não entende? Sim Não

Tem o hábito de repetir o nome dos brinquedos, das pessoas, das coisas, etc? Sim Não

Porquê?

_______________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________

Dados relativos ao dia-a-dia da criança

Onde fica a criança durante o dia? __________________________________

Com que idade a criança foi para a creche ou ama? ______________________________

Quanto tempo a criança permanece habitualmente na creche ou ama? ________________

Quem costuma levar e buscar a criança? _____________________________________

Considera que em termos do desenvolvimento de linguagem o seu filho está:

Atrasado Dentro da normalidade Avançado Muito avançado

Há algo que o/os preocupe em relação ao seu filho?

_______________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________