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Confira a versão virtual da terceira edição do jornal SurfBahia Mag

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Muitas vezes vejo surfistas reclamando que estão sem patrocínio. A maioria deles, obviamente, descarrega toda a sua ira em cima das marcas de surfwear. Às vezes até generalizam, dizendo que as empresas não investem e que apenas se aproveitam do surf para vender e aumentar seus lucros, sem “ajudar” os atletas.

Bom, confesso que não concordo muito com a utilização do verbo “ajudar” nesse caso. Todo empresário trabalha duro para ver sua empresa crescer cada vez mais e, consequentemente, gerar a maior lucratividade possível. A contratação de atletas deve ser vista como um investimento, uma estratégia de marketing para a empresa – sempre visando sua evolução, é claro.

Ninguém tem obrigação de ajudar, pois uma empresa não é uma instituição de caridade. Até existem alguns empresários de bom coração que apoiam surfistas de classes menos favorecidas, mas isso não deve ser visto como obrigação, e sim como uma atitude nobre, louvável.

Vejo uma enorme quantidade de atletas sem patrocínio. Alguns são talentosos, mas infelizmente deixam a desejar quando estão fora da água. Não têm uma boa relação com as pessoas, não sabem se comunicar (tanto de forma verbal quanto es-crita), não treinam com seriedade e disciplina, abusam das festas e não trabalham sua imagem de forma profissional.

Ser atleta não é só pegar a prancha e fazer um bom papel na água. É preciso um forte trabalho técnico, físico e psicológico. Também é fundamental ter um ótimo relacionamento com as pessoas, com a imprensa e com os profissionais que traba-lham no ramo do surfwear.

Muitos tiveram oportunidades em algumas empresas e até conseguiram resul-tados expressivos em competições, mas perderam todo o investimento devido à falta de iniciativa fora da água. As marcas querem atletas com alto grau de com-prometimento e que busquem gerar um grande retorno de mídia para a empresa. Produzir reportagens e exibi-las aos patrocinadores é algo básico nos dias atuais. Participar das ações da empresa, inclusive dando palpites nas coleções de roupas, também é essencial.

Toda empresa que pretende crescer precisa, sim, investir em atletas e ações de marketing nos campos onde atua e deseja atuar. Mas, antes de fazer críticas e disparar contra tudo e contra todos, procure refletir sobre suas atitudes e batalhar atrás dos seus objetivos, em vez de ficar sentado reclamando da vida e esperando que algum patrocínio caia em seu colo. Vamos à luta!

Ader OliveiraEditor do SurfBahia Mag

SurfBahia

EditorAder Oliveira

[email protected](71) 7811-3966 / ID* 7*48169

Editor de arteBruno Benn

www.brunobenn.com (71) 9206-4963

DiagramaçãoBruno Benn

www.brunobenn.com(71) 9206-4963

Diretor comercialJoão Carlos

[email protected](71) 7811-5363 / ID* 91*6706

Colaboradores fotográficosLuciano Saraceni, Aleko Stergiou, Bruno Veiga, Clemente Coutinho,

André Fernandes, Erick Tedy, Diego Freire, John, Rodrigo West Ricardo Borghi, Ricardo

Junji e Manoel Campos. Capa: Ricardo Borghi

CorrespondênciasRua José Ernesto dos Santos, 47, Ed.

Empresarial Center, sala 203, Centro, Lauro de Freitas (BA). Cep: 42.700-000

Tiragem10.000 exemplares

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Robertinho é Trino Kite

Sonhos do SamuraiPor Fábio Tihara

Rolé no Planeta

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POR DENTRO

No último dia 26 de março, mais de 700 convidados compareceram à festa de lançamento do filme 3D5, na boate The Pub, em Boa Viagem, Recife (PE).

Produzido e editado pelo sergipano Leonardo Menezes, o filme 3D5 evidencia os melhores surfistas nordestinos da atualidade surfando nas melhores ondas do Brasil. Os protagonistas são atletas do quinteto fantástico da praia de Mara-caípe: Alan Donato, Luel Felipe, Halley Batista, Junior Lagosta e Cezar Molusco.

Com o objetivo de colocar em foco os surfistas do litoral nordestino, devido à grande desvalorização dos filmes re-gionais, o responsável pelo projeto fez um desabafo. “Hoje em dia sofremos com a carência de filmes produzidos no Nordeste. Existe uma grande valorização de filmes gringos, mas não podemos esquecer nossas raízes e dos surfistas nordestinos. O 3D5 vem para mostrar o talento deles, mas, em especial, os surfistas do quinteto com raízes na praia de Maracaípe”, comenta Leo Menezes.

O público que lotou o The Pub ainda foi presenteado com vários brindes e kits oferecidos pelas marcas que apoia-ram o filme. E a grande sortuda da noite foi uma garota que ganhou uma prancha zero km no sorteio, oferecida pela Mais Surf.

O filme 3D5 em breve estará disponível para download gratuito no site www.ondulacao.com.br. 3D5 teve o apoio das marcas Gold Island, Wavegrip, EFX, Sumã e produção e realização do site Ondulação.

Desde o último dia 9 de março, os surfistas que viajam pela Gol Linhas Aéreas não precisam mais pagar a famosa taxa especial para embarque de suas pranchas.

De acordo com uma nota publicada no site da empresa, cada cliente adulto tem direito a até duas malas com peso total de 23 quilos, conforme a Alínea B do Artigo 37 da Portaria 676, de 13 de novembro de 2000, da ANAC - Agência Nacional de Aviação Civil.

Os itens que antes eram considerados bagagem especial passam a ser inclusos na franquia normal de bagagem des-pachada. Esta norma é válida tanto para voos nacionais como voos internacionais.

Além das pranchas, outros itens como kite surf, bicicleta, snowboard, wakeboard, patinete, ski, arco e flecha e vara de pescar também foram inclusos na lista de bagagem normal.

Vale lembrar que, caso a bagagem do cliente ultrapasse os 23 quilos, será cobrada uma taxa pelo excesso de peso.A companhia Azul Linhas Aéreas também tem sido muito procuradas pelos surfistas, já que não cobra a taxa especial

para embarque de prancha.

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O atual campeão pan-americano Rudá Carvalho é o novo reforço da marca Smolder. Depois de não chegar a um acordo com seu antigo patrocinador para renovar contrato, Rudá optou por sair da empresa e buscar um novo patrocínio.

A revelação do circuito brasileiro em 2009 teve seu talento reconhecido pela Smolder, que fez outro grande investi-mento na Bahia ao contratar um dos principais expoentes da nova geração brasileira. “Estou muito feliz por reforçar a Smolder, uma marca 100% brasileira e com grande tradição no mercado. Agora terei chance de mostrar meu potencial também nas etapas brasileiras do WQS, e isso é essencial para a minha carreira neste momento”, comemora Rudá, 22 anos.

O jovem ilheense vem brilhando nas competições. Além de conquistar o título pan-americano e ser eleito a revela-ção do SuperSurf 2009, Rudá vem colecionando muitos troféus. Já venceu três etapas e participou de muitas finais do circuito nordestino profissional. Também subiu ao pódio em eventos como o SuperSurf, Seletiva Petrobras e Brasil Tour.

Em maio, o atleta disputa a perna brasileira do WQS, cujas etapas serão disputadas em Ubatuba (SP), Saquarema (RJ) e Florianópolis (SC). “Quero muito agradecer a todos da Smolder por acreditarem em mim, em especial ao Júnior, Gilberto, Juliana e Rafael Forti. O Rafael (diretor de marketing) é um profissional muito antenado com o mercado e já conhecia meu trabalho, isso foi fundamental para que eu entrasse na empresa”, diz Rudá.

O atleta deixa ainda uma mensagem a todas as pessoas que de alguma forma participaram da sua carreira. “Quero agradecer a Ader (editor do SurfBahia e Waves) por me indicar para a Smolder e por me ajudar desde pequeno. Não posso esquecer também de falar de pessoas como os irmãos Argolo (Adalvo, Ademar, Brício e Jânio), Gabriel Macedo, minha família e meus amigos, que foram fundamentais para que eu me tornasse um atleta. Sem eles eu não chegaria até aqui. E deixo também um grande abraço aos profissionais que me patrocinaram em outras circunstâncias, como Rogério Barçante, Cecília e Jaime Carneiro”, finaliza o campeão pan-americano, que também conta com patrocínio das pranchas Reis, Keahana e acessórios Flyer.

A marca Smolder conta também os surfistas profissionais Dunga Neto, Márcio Farney, Itim Silva e Michel Roque, os surfistas amadores Artur Silva e Nayara Silva, os kite surfistas Célio Beleza, Bruno Bordovsky, Ygon Maia Kaganow, Gus-tavo Foerster e Yghor Bordovsky.

SurfBahia

No primeiro final de semana do mês de março, a Bahia conheceu o novo campeão estadual da modalida-de kite wave. Com uma performance inovadora nas on-das da praia de Buraquinho, em Busca Vida, litoral norte da Bahia, Roberto Vieira sagrou-se campeão estadual da temporada 2009.

Com uma vitória convincente na última etapa do circui-to, Robertinho pôde comemorar o seu terceiro título con-secutivo. O circuito baiano de kitesurf 2009 foi mais uma realização da Mobius Sports e contou com o patrocínio da marca de óculos escuros Chillibeans, grande incentivadora do esporte no estado.

Ranking final do Circuito Baiano de Kitesurf 20091 Roberto Vieira - 2780 pontos2 Marlos Viana - 2660 3 Gustavo Kombi - 25404 César Paladine - 2005

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POR DENTRO

Por Fábio PinheiroCom muita técnica e radicalidade, o atleta Leo Chagas comandou a festa no Makai Bodyboarding Show, evento rea-

lizado nos dias 27 e 28 de março, na praia do Barravento, em Salvador.Além de vencer a principal categoria do evento (Open), o atleta da Amaralina descolou a maior nota do campeonato

(10 pontos) e de quebra ainda venceu a Expression Session.Outros destaques da etapa foram o ilheense Daniel Santana (Amador) e os soteropolitanos Rômulo Ornelas (Master), Fabrí-

cio Santana (Júnior), Pollyanna Milazzo (Feminino) e Francisco Sarno (Drop Knne), campeões em suas respectivas categorias.O Makai Bodyboard Show 2010 contou com o patrocínio da Makai, Zecops Sonorização, EFX, E-Light, Pranchas BSD,

The One e Na Space.

Amador1 Daniel Santana2 Cezar Henrique3 Tiago Souza4 Bruno Souza

Master1 Romulo Ornelas2 Francisco Sarno3 Crispin Oliveira4 Milton Bittencourt

Júnior1 Fabricio Santana2 Rodolfo Neto3 Carlos Willians4 Andre Lucas

Feminino1 Pollyanna Milazzo2 Karla Santana3 Carolina Ramos

Drop Knee1 Francisco Sarno2 Antonio Silva3 Romulo Ornelas4 Jeferson Vilas Boas

Resultados

Open1 Leo Chagas2 Junior Camarão3 Tiago Souza3 Daniel Santana

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SurfBahia

No último swell da temporada de 2009, os locais Tito Cézar, Abel Baião e Fábio Velasco, o “Cascão”, surfaram altas ondas na famosa praia do Barravento, situada no Sul da capital baiana.

Com a previsão da chegada de mais um swell consistente de Sul / Sudeste no final do mês de setembro, os baianos já sabiam que teriam dias de sonho pela frente.

No domingo (27/9/), a ondulação entrou com força em alguns picos da região como Farol de Itapuã, Aleluia e em diversas bancadas do litoral norte. Já na praia do Barravento, ondas de meio metro faziam a cabeça dos iniciantes de plantão.

Na segunda-feira (28/9), a ondulação encostou com mais intensidade na perigosa bancada do Barravento, traiçoeira pela sua poderosa arrebentação, e os locais aproveitaram um belo dia de tubos e mais tubos em meio ao trânsito inten-so da Avenida Oceânica.

À noite, os atletas Abel Baião e Tito Cézar foram até a casa do fotógrafo André Fernandes e esquematizaram tudo para registrar aquela terça-feira (29/9) que prometia ser o ápice do swell.

Na tão esperada terça-feira (29/9), Netuno não decepcionou, e no primeiro raio de sol o trio composto por Tito Cézar, Fábio Cascão e o fotógrafo André Fernandes já conseguia enxergar direitas tubulares de até 8 pés quebrando no canto direito da praia, e mais ao meio, séries pesadas baforando para os dois lados.

Sem ninguém por perto, Tito e Cascão puderam aproveitar a melhor hora do mar para colher boas imagens daquele swell que certamente ficou marcado como o melhor da temporada passada.

“Foi um dia alucinante! Eu e meus amigos surfamos ondas sinistras e pesadas sem nenhum crowd por quase o dia inteiro. Fizemos altos drops, corremos bons tubos e, como não podia faltar, tomamos muita onda pesada na cabeça, no estilo ‘Barradoor’. Foi um dia para ficar guardado na memória”, relembra Tito Cézar.

Tito Cézar pronto para o canudo no Barravento.Foto: André Fernandes

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SurfBahia

Apesar de chegar à praia naquela terça apenas às 9 horas da manhã, o local Abel Baião também conseguiu achar al-guns tubos e afiar o surf nas belas ondas do seu pico preferido. “Assim que cheguei à balaustrada, vi que o Barrá estava daqueles dias - ondas perfeitas, muitos tubos, água limpa e uma leve brisa terral soprando para completar o que posso chamar de um dia de surf de verdade”, comenta Abel.

Depois desse grande swell que atingiu todos os picos da capital baiana, a praia do Barravento não voltou a receber ondulações consistentes e os locais continuam na expectativa de a temporada de inverno 2010 ser melhor que este swell estampado nas páginas do SurfBahia Mag.

Abel Baião se prepara para andar no trilho.Foto: André Fernandes

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Foto: Fabriciano Jr

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Dennis Tihara não brinca em serviço quando os tubos aparecem. Nesta foto, ele acelera por dentro do túnel em Teahupoo.

Crédito: Aleko Stergiou

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Por Fábio Tihara Maio de 2009. Ligo para Dennis, que estava no Hawaii: “Poxa, o inverno tá chegando aqui na Nova Zelândia e eu não to afim de ficar no frio não, to querendo ir pra Indonésia!”. Ele responde na lata: “Se você for, eu vou”. Comprei a passagem, agilizei os vistos, o meu sonho já tinha data marcada. Duas semanas antes do embarque, Dennis me liga: “Mano, torci o joelho surfando... Fui ao médico e ele engessou minha perna, vou remarcar minha passagem, você vai primeiro, eu chego uma semana depois”. Acho que estava tão eufórico com a viagem que nem me passou pela cabeça que poderia ter sido uma coisa séria. Quando Dennis chega ao aeroporto de Denpasar, em Bali, na cadeira de rodas e com uma muleta a tiracolo, tomei um susto. “Você achou que eu tava brincando, né?”, me falou rindo. Ele tinha ficado 20 dias com a perna imobilizada. Em Bali foram duas semanas de fisioterapia intensiva e nada de surf. Fui a G-Land, passei uma semana e quando voltei, procurei Dennis na pousada e nada de encontrá- lo. De repente chega ele de moto, prancha no rack e todo molhado: “Leke, tá tudo certo, fui ali fazer um surf de leve”. “Onde?”, pergunto eu. Gritando, ele responde: “PADANG!!!”. E emenda: “Ninguém entendeu nada, o capenga de mu-leta só vinha na série por dentro”, e explodimos na gargalhada. Essa foi apenas uma das estórias na vida do surfista profissional Dennis Tihara. Quando recebi a missão de perfilar meu próprio irmão, fiquei preocupado, pois tinha receio de misturar o profissional com o emocional. Talvez por ser eu um dos principais incentivadores e admiradores do seu surf, achava que não era a pessoa certa para essa missão. Mas meu chefe e grande amigo Ader Oliveira me tranquilizou: “Quero o lado B da estória e só você conhece esse lado”. En-tendo por lado B como o dia a dia, a intimidade e a liberdade de falar com a autoridade de quem conhece. Se for isso, então estava aceito o desafio. Prestes a completar 25 anos de idade, Dennis inicia uma nova fase na carreira. Depois de anos competindo, re-descobriu o prazer de surfar. Percebeu como seu surf se encaixava em ondas mais, digamos, desafiadoras. O espírito competitivo sempre vai estar presente, mas é difícil manter o foco competindo muitas vezes em condições medíocres. A falta de um patrocinador também influenciou na decisão de dar um tempo nas competições. O ano de 2009 foi mui-to importante para essa virada. E foi justamente no ano em que ele não correu nenhum campeonato que ele teve o maior destaque na mídia. Fato tão contraditório quanto esse é ser surfista e ter nascido onde não tem praia. A verdade é que o “samurai baiano” nasceu em Brasília, no dia 23 de abril de 1985. “Um bom dia para se ter nascido”, diria Jorge Ben em alusão ao dia do santo guerreiro que matou o dragão. O começo foi na praia do Norte, em Ilhéus, aos 11 anos. Dessa fase inicial lembro que nem carregar a prancha debaixo do braço ele conseguia e chamava a atenção de todos quando vinha carregando a prancha em cima da cabeça.

Dennis encara uma bomba em Pipeline. Foto: Ricardo Junji

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Davi do Skate, figura lendária do surf ilheense, lembra bem dessa fase. “Dennis surfava com uma prancha 6’1, muito grande para ele”. Davi, na época, competia nos circuitos ilheense e baiano profissional e iniciava na arte de shapear pranchas. “Quando vi aquele moleque surfando, sabia que ele iria ser um campeão”. Davi do Skate teve um papel muito importante nesse inicio, pois foi ele quem fez as primeiras pranchas e o levou para correr os primeiros campeonatos. O que se viu depois foi uma rápida evolução e o que era uma promessa começava a se concretizar através de vitórias e conquistas. Não demorou muito e assinou com duas conceituadas marcas surfwear que puderam viabilizar o sonho de viver do surf. Fez história ao ser o primeiro baiano a ganhar uma etapa do brasileiro amador, fato esse que aconteceu em condições extremas na praia de Maresias, São Paulo. Integrou a equipe brasileira campeã no Mundial da ISA na África do Sul e no Pan- Americano realizado no Equador. E por três ano consecutivos esteve na lista da revista Hardcore dos melhores surfistas do Brasil Sub-20. Depois de tanto sucesso veio a profissionalização e a adaptação não foi a esperada, os resultados não apareceram e depois de um ano como profissional recebeu a noticia de que seus patrocinadores não iriam renovar seu contrato. Uma grande decepção, pois depois de tantos anos e do reconhecimento na mídia proporcionado à noticia foi um duro golpe, difícil de assimilar até pelo momento importante que estava vivendo com essa transição para o surf profissional. Mas, se Dennis continua na luta até hoje, ele deve muito ao apoio incondicional da matriarca da família, nossa mãe Toshico Tihara. “Sempre acreditei no potencial do meu filho, foi uma escolha que ele fez para a vida dele e eu como mãe só poderia ajudar”, diz Toshico. Depois de ser campeão baiano profissional em 2005, o baiano fez as malas e foi tentar a sorte no Japão. Poucas pes-soas sabem o quão difícil foi esse período. Além de sofrer com a distância e a saudade, o clima frio e uma cultura total-mente diferente, teve que trabalhar duro para conseguir dinheiro para correr os campeonatos e se manter por lá. Dessa experiência veio o amadurecimento como pessoa. Depois de correr o circuito japonês desde as triagens, acabou ficando entre os Top 16, ganhando assim o convite para participar de uma etapa especial em Keramas, na ilha de Bali, Indonésia.

O “Japa” totalmente entocado na Indonésia. Foto: Arquivo Pessoal

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Seria a realização de um sonho de criança. No campeonato, chegou à final e acabou em segundo lugar, mas a maior recompensa acabou sendo os famosos tubos de Padang Padang. Lembro que ele me ligou de Bali e disse: “Já sei o que eu quero para minha vida: tubo”. Em 2007, Dennis voltou ao Brasil e ainda tentou sem sucesso se classificar para a elite nacional. A cabeça já não era mais a mesma e o foco agora era outro. Em 2008, disputou algumas etapas do WQS no Brasil, fez alguns resulta-dos, juntando assim um dinheiro, e no final do ano não teve duvidas na hora de escolher o destino. Se o foco era tubo, então só poderia ser Hawaii. E ele queria mais: ele queria o melhor, ele queria Pipeline. E foi com tudo para realizar seu sonho e foi com tanta sede que bateu forte na bancada, ficando duas semanas todo dolorido em cima da cama. Depois disso é só ver as fotos e imagens. Destaque brasileiro da temporada, foto na Fluir e Hardcore, diversas matérias no site Waves e até em sites es-trangeiros como Surfline, um dos mais influentes do mundo do surf. Depois do inverno havaiano, partiu com tudo para seu próximo destino: Teahupoo. Desembarcou sozinho no Tahiti, apenas com os conselhos de seu amigo Danilo Couto, e mais uma vez fez bonito, botando para dentro sem medo. E para finalizar o ano com chave de ouro, Indonésia. E lá pude ver com meus próprios olhos o que Dennis pode fazer quando as condições estão extremas. Vendo-o surfando, não consigo entender como ainda não conseguiu um patrocínio. É incompreensível a miopia das marcas diante do enorme potencial existente em sua pessoa. O técnico Gabriel Macedo, que já trabalhou com grandes nomes do surf nacional como Messias Félix (campeão brasileiro profissinal em 2009), Franklin Serpa, Rudá Carvalho, entre outros, é categórico ao falar de Dennis. “Ele é um surfista completo. Sabe competir, tem uma linha bonita, do-mina as manobras aéreas, entuba como poucos e gosta de ondas grandes. Além disso tudo, é bem relacionado, ar-ticulado, fala inglês... Sinceramente não sei o que mais ele precisa fazer para merecer um apoio”. E finaliza: “Todo o reconhecimento que ele teve em 2009 foi por méritos próprios, ele realmente foi o destaque, isso é fato”. Este ano, em Noronha, durante a semana do Circuito Nordestino Pro, o “Hawaii brasileiro” recebeu ondulações e o campeonato entrou para a história com as maiores ondas dos últimos tempos. O editor chefe dos sites SurfBahia e Waves, Ader Oliveira, estava na ilha e dá seu testemunho: “Dennis surfou com extrema maestria nas ondas da Cacim-ba do Padre e arrancou muitos elogios de todos que presenciaram suas performances no big swell. Quando o mar subiu de verdade, muitos optaram por não enfrentar as bombas de Noronha, mas ele partiu com tudo para cima das ondas e estava totalmente à vontade na água. Parecia que ele estava surfando em uma condição tranquila, sem muito perigo, pois além de dropar as maiores ondas que vinham lá fora, ele atacava o crítico com velocidade e precisão”. Quando questionado o porquê da falta de um patrocinador, Ader é incisivo: “Creio que algumas marcas já estejam de olho em Dennis e sua hora está chegando, com certeza. Ele vem dando um retorno de mídia impressionante, sem-pre ganhando destaque nos maiores veículos especializados do Brasil e até roubando a cena nos conceituados sites internacionais Surfline e Wetsand com tubos pesados em Pipeline, o que não é nada fácil. Ele vai conseguir um pa-trocínio à altura do surf que ele tem e do retorno de mídia que ele gera, tenho certeza disso”. Enquanto esse dia não chega, Dennis segue na batalha para viver o seu sonho. Também gosto de acreditar que dias melhores virão. Lembro de um final de tarde em Uluwatu, quando comentei com ele: “Quando eu comecei a sur-far, via essas ondas nos filmes e revistas e achava um sonho tão distante, mas olha a gente aqui”. E antes de remar para mais um tubo, ele responde: “Tem que acreditar”.

Tihara relaxa em mais um cilindro indonesiano. Foto: Arquivo Pessoal

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Wilson Nora ataca o lip no Recreio, seu novo quintal de casa.

Foto: Manoel Campos

Erick Tedy curte swell perfeito em Fernando de NoronhaFoto: Luciano Saraceni

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Christiano Spirro posa para a foto na praia da Conceição. Foto: Clemente Coutinho

Costinha dá um mergulho suicida em Ubatuba. Foto: Aleko Stergiou / Waves

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Luel Felipe encara uma onda impressionante na Cacimba do Padre. Foto: Clemente Coutinho

Alexandre Ferraz é sinônimo de tubo em Noronha. Foto: Clemente Coutinho

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Flávio Galini ataca a junção de Lobitos, Peru. Foto: Eduardo Rosa.

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Foto: Erick Tedy

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Viajar é Viver.

Por Alexandre Piza Evoluir o surf, expandir a cultura, competir, aventurar-se. Seja qual for a sua, viagem de surf tem sempre algo a

acrescentar! Vou começar este texto logo de cara com uma declaração do recém-chegado da Austrália, o baiano Franklin Serpa.

“Para mim foi muito bom! Estou muito feliz em poder ter ido pra lá competir o mundial Pro Junior e depois dois WQS, mas foi melhor ainda que pude estar lá estudando inglês numa boa escola (QIBA), pegando altas ondas sem compromis-so apenas para evoluir o surf! Foi muito bom porque além de ter surfado ondas excelentes, eu estava sempre surfando ao lado dos melhores do mundo, como Joel Parkinson, Mick, Occy, Morrison, Bobby Martinez, vários caras muito bons!”.

Claro que para você que é um simples free surfer, com orçamento restrito e sem um patrocinador, o relato de Franklin pode parecer meio utópico e longe da realidade. O espírito que queremos passar é o de aventurar-se, seja qual for o tamanho de seu mundo e de seu bolso.

O importante é sair da toca! Eu mesmo tenho amigos que não saem da valinha do quintal de casa, têm grana e “in-teligência” suficiente para maiores aventuras. O cara prefere ser o “local-hero” do meio metro mexido do que enfrentar algumas horas de avião, aeroportos e depois dar de cara com ondas de 6 pés perfeitas com água quente e sem crowd.

Hoje em dia as passagens de avião já estão mais em conta do que as de ônibus, o parcelamento em várias presta-ções sem juros facilita ainda mais. Desculpem, mas só não vai quem realmente não quer! Economizar uma merreca por mês abrindo uma poupança exclusiva para sua trip vai fazer seu sonho tornar-se real.

Para os competidores, já faz bastante tempo que tenho percebido que essa falta de ondas perfeitas, maiores, mais fortes, e o intercâmbio com outros surfistas melhores, têm achatado demais as possibilidades de um esquadrão de óti-mos surfistas se dar bem nos campeonatos fora de nossas fronteiras.

Infelizmente é a realidade, mas a grande maioria dos surfistas que não viajam, não surfa ondas lisas e grandes, dificilmente adquirem uma linha de surf polida, salvo poucas exceções que correm atrás das raras ondulações acima dos 5 pés que entram em nossa costa.

E o idioma? Como um competidor pode viajar o mundo sem falar ao menos inglês e arranhar um espanhol? Viajar viaja, mas paga mico e o risco de gastar mais ou se perder é sempre grande.

Para quem já desbravou inúmeras fronteiras, uma ótima dica agora que o inverno no Hemisfério Sul está chegando é o snowboard, que muito tem a ver com o surf e realmente faz a cabeça. Só tome cuidado com as quedas e contusões.

Não importa exatamente onde seu surf e seu orçamento podem chegar, seja no Peru, Indonésia ou Maresias, o im-portante é que viajar e surfar é viver!

SurfBahia

As ondas de G-Land costumam atrair surfistas do mundo inteiro.

Foto: John

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