suporte nutricional na fibrose cistica

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  • 7/21/2019 Suporte Nutricional Na Fibrose Cistica

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    132 Revista do Hospital Universitrio Pedro Ernesto, UERJ

    RESUMOA manuteno de um estado nutricional

    adequado undamental para a integridade

    do sistema respiratrio na fibrose cstica (FC).

    Os problemas nutricionais e as consequncias

    da FC so multiatoriais e relacionados com

    a progresso da doena. O tratamento da FC

    mudou notavelmente nos ltimos 15 anos em

    relao ao manejo nutricional, terapia armaco-

    lgica e cuidado domiciliar, com o aumento da

    expectativa de vida e melhorias observadas no

    estado nutricional em adultos. Sendo assim,

    importante desenvolver orientaes adequadas

    para o cuidado dessa populao.

    PALAVRASCHAVE:Fibrose cstica; Nu-

    trio; Adulto.

    INTRODUONos ltimos 70 anos, a fibrose cstica (FC)

    emergiu da obscuridade para o reconhecimento

    como a mais importante doena hereditria,potencialmente letal. Quando os primeiros

    fibrocsticos oram reconhecidos, a quase to-

    talidade alecia ainda no primeiro ano de vida.

    Atualmente, com o diagnstico precoce, o

    manejo multiprofissional em centros especiali-

    zados e o acesso teraputica adequada, cerca

    da metade dos pacientes sobrevive terceira

    dcada de vida1.

    Os avanos nos cuidados gerais direciona-dos aos pacientes portadores de FC nas ltimas

    dcadas e diagnsticos mais precoces alavan-

    caram o crescimento na populao de adultos

    FIBROSECSTICAESUPORTE

    NUTRICIONALNOADULTO

    C F. O

    M J F. S

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    Ano 10, Outubro / Dezembro de 2011 133

    com esta enermidade, modificando o perfil

    demogrfico da doena e criando a necessidade

    do desenvolvimento de programas voltados para

    o atendimento especfico desses pacientes e suas

    demandas, assim como a adaptao da equipe

    de sade nesta nova realidade2.

    A manuteno de um estado nutricionaladequado undamental para a integridade do

    sistema respiratrio na FC. Uma das principais

    causas de depleo nutricional o aumento do

    gasto energtico devido inflamao e inec-

    o pulmonar, caracterizando a estreita relao

    entre o estado nutricional e a uno pulmonar3.

    O suporte nutricional parte integrante

    dos cuidados com o paciente pneumopata. A

    desnutrio pode aetar a uno pulmonar, amusculatura respiratria, os mecanismos de

    deesa imune e o controle da respirao4.

    A combinao de uma ingesto oral ina-

    dequada e o aumento da demanda metablica

    pode ocasionar um balano nitrogenado ne-

    gativo com a diminuio da ora do msculo

    respiratrio por causa do catabolismo proteico,

    diminuio do fluxo ventilatrio e alterao da

    uno imunolgica. Muitas vezes, ento, a tera-pia nutricional pode melhorar este desequilbrio

    entre a necessidade e o aporte nutricional5.

    A interveno nutricional deve ser precoce,

    evitando deteriorao na uno pulmonar e

    aetando positivamente a sobrevida. odo o

    paciente com FC deve ser avaliado regularmente

    a fim de monitorizar o estado nutricional e asse-

    gurar uma adequada ingesto calrica6.

    ESTRESSEOXIDATIVOO estresse oxidativo pode desempenhar

    um papel importante na fisiopatologia da FC.

    O pulmo, o principal rgo responsvel pela

    morbidade e mortalidade por essa doena,

    particularmente vulnervel a altos nveis de

    estresse oxidativo. Est exposto a 8000 L de ar

    rico em oxignio por dia, bem como partculas

    txicas, nitrognio, dixido de carbono, oznio eoutros oxidantes. Alm disso, h grandes ontes

    internas de oxidantes, incluindo processos me-

    tablicos mitocondriais, o metabolismo peroxis-

    somal dos cidos graxos, reaes do citocromo

    P450, ativao de agcitos e o sistema de xido

    ntrico sintase. Embora oxidantes oeream

    muitos benecios nas vias areas, cruciais para a

    deesa do hospedeiro, uma superabundncia de

    oxidantes podem causar danos biomoleculares

    por produzirem espcies reativas de oxignio(ROS) em excesso. O resultado uma cascata de

    inflamao excessiva, liberao de mediadores

    e leses teciduais7.

    Alteraes do gene na FC podem alterar a

    respirao aerbia celular.

    Devido s requentes ineces crnicas

    na FC, h aumento da circulao de citocinas

    inflamatrias, catecolaminas e cortisol, assim

    como aumento de gasto energtico de repousotem sido correlacionado com nveis elevados

    de catecolaminas circulantes e ator de necrose

    tumoral ala. O tratamento antimicrobiano das

    ineces pulmonares pode reduzir o gasto ener-

    gtico de repouso e promover ganho de peso,

    mas a cronicidade e recorrncia da ineco

    tornam dicil atingir melhorias sustentadas8.

    AVALIAOCLNICA, ESTADONUTRICIONALECOMPOSIOCORPORAL

    O acompanhamento dos pacientes fibro-

    csticos pode ser eito pelo controle de ingesto

    de 3 dias ou inqurito recordatrio de 24h, pela

    avaliao antropomtrica (ndice de massa cor-

    poral, circunerncia do brao, circunerncia

    muscular do brao, prega cutnea tricipital epercentual de perda de peso), pela anlise da

    composio corporal (bioimpedncia eltrica)

    e pela ora muscular peririca (ora do aperto

    de mo)5,6.

    O IMC ndice de massa corporal [peso

    (kg) /altura2(m2)] mostra uma razovel cor-

    relao com a massa de gordura corporal em

    adultos, e est sendo, em primeiro lugar, usado

    para quantificar obesidade. Algumas clnicasde adultos com FC utilizam o IMC como uma

    medida do estado nutricional de seus pacientes,

    cujo crescimento cessou. Recentemente, as cate-

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    gorias de IMC para adultos tm sido redefinidas

    como baixo peso ( 30)9.

    Outros mtodos mais soisticados para

    avaliar a composio corporal que so usados,

    principalmente, para fins de investigao, oere-

    cem avaliao mais precisa do estado nutricionalpor apresentarem a quantidade de massa gorda

    (MG) e massa livre de gordura (MLG). Estes

    mtodos incluem o potssio corporal total

    (BK), a condutividade eltrica total do corpo

    (OBEC), anlise da bioimpedncia eltrica

    (BIA), anlise da gua corporal total por diluio

    de istopos e absortometria de dupla emisso de

    raios-X (DEXA). Este ltimo capaz de avaliar

    simultaneamente a MG e MLG, alm de poderdeterminar a densidade mineral ssea (DMO)

    do corpo2,9.

    A avaliao no tratamento da fibrose cstica

    no adulto e o momento ideal de interveno

    nutricional esto representados nas abelas 1 e 2

    TERAPIADEREPOSIOENZIMTICA

    Na FC, h obstruo dos ductos pancreti-

    cos por espesso muco. Este bloqueia a ao das

    enzimas sob os alimentos no intestino delgado,

    podendo causar m digesto e absoro dos

    mesmos, bem como dificuldade de ganho de

    peso. A reposio de enzimas pancreticas ou

    enzimas podem ser utilizadas como articio

    para ajudar os pacientes com FC a digerirem e

    absorverem melhor o alimento. Mais de 90%

    das pessoas que possuem FC azem tratamento

    de reposio enzimtica10.

    A preparao enzimtica mais eetiva

    compreende microeseras com revestimento

    entrico contidas em uma cpsula (geralmente

    de gelatina). O revestimento entrico protege

    as enzimas da inativao pelo cido gstrico,

    desintegrando-se para liberar as enzimas so-

    mente quando o pH no duodeno se eleva acima

    de 5.5. Estudos mostraram uma grande melhoria

    na absoro de gordura e nitrognio e sintomas

    de m absoro, quando os pacientes trocam

    das preparaes tradicionais para essas novas

    preparaes de microeseras cido-resistentes11.

    A reposio de enzimas pancreticas con-

    tm enzimas que digerem gorduras, protenas e

    carboidratos complexos. Por parecer haver uma

    conexo entre melhora da uno pulmonar e

    aumento de peso corporal, muito importante

    ingerir as enzimas em todas as reeies, inclu-

    sive nos lanches. Alguns alimentos e bebidas

    no necessitam de enzimas, pois contm car-

    boidratos simples, que so digeridos acilmente.

    Alguns exemplos de alimentos e bebidas que no

    necessitam do uso de enzimas so: rutas (ex-

    ceto abacate) e legumes (exceto batata), acar,

    compotas, mel e xarope; sucos de rutas, reri-

    gerantes, sorvete ou gelados de rutas12, drinks

    de sucos, bebidas esportivas, rmulas inantis

    FIBROSECSTICAESUPORTENUTRICIONALNOADULTO

    TABELA1: AVALIAONOTRATAMENTODAFIBROSECSTICANOADULTOADAPTADO2.

    3/3 meses Anualmente

    Peso x

    Altura x

    Circunfernciamdia do brao

    x

    Prega tricipital x

    rea muscular dobrao

    x

    rea gorda dobrao

    x

    Recordatrio x

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    FIBROSECSTICAESUPORTENUTRICIONALNOADULTO

    de reidratao (como Pedialyte), ch, ca (sem

    creme), doces duros (como pirulitos), petiscos

    de rutas, balas de goma, chicletes, picols,fro-

    zen, entre outros10.No Brasil, as recomendaes para o trata-

    mento de reposio enzimtica esto explcitas

    na Portaria n. 263, de 18 de julho de 2001, que

    preconiza o incio do tratamento com 1.000U/

    kg/reeies de lipase para menores de 4 anos

    e 500U/kg/reeio para maiores de 4 anos e,

    usualmente, metade da dose deve ser utilizada

    aps a ingesto de lanches. A dose total deve

    ser suficiente para 3 reeies e 2 a 3 lanches.Se sinais e sintomas de m absoro persistem,

    incrementos nas doses podem ser realizados.

    No se sabe a segurana de doses entre 2.500 a

    6.000 U/kg/reeio; acima dessa dose, o risco

    de colonopatia fibrosante tem sido descrito. No

    caso do desenvolvimento de colonopatia, a dose

    deve ser reduzida para 500 a 2.500U/kg/reeio.

    Alm disso, o uso de anticidos recomendado

    para pacientes portadores de fibrose cstica emuso destas enzimas, por aumentar a biodisponi-

    bilidade das enzimas e por diminuir a inativao

    pelo pH baixo13.

    TERAPIANUTRICIONALOs problemas nutricionais e as consequ-

    ncias da FC so multiatoriais e relacionados

    com a progresso da doena. Fatores inter-

    dependentes, como deteriorao da unopulmonar, anorexia, vmitos, insuicincia

    pancretica e complicaes biliares e intestinais

    so responsveis pelo aumento das necessidades

    energticas, ingesto diminuda e aumento das

    perdas atribudas inadequao nutricional,

    com consequente perda da massa magra e de-

    presso da uno imunolgica14.O estado nutricional desempenha um im-

    portante papel no curso clnico da FC. Prejuzos

    no estado nutricional acarretam alteraes na

    uno pulmonar e intererem na sobrevida do

    paciente. A interveno nutricional deve ser pre-

    coce, evitando deteriorao na uno pulmonar

    e aetando positivamente a sobrevida. odo o

    paciente com FC deve ser avaliado regularmen-

    te a fim de monitorizar o estado nutricional eassegurar uma adequada ingesto calrica6,8.

    Na avaliao nutricional, deve-se contem-

    plar: a dose e horrios de ingesto enzimtica,

    requncia e consistncia das evacuaes, sinto-

    mas/episdios de DIOS (sndrome de obstruo

    intestinal distal) e constipao, utilizao de

    suplementos nutricionais e de vitaminas e mi-

    nerais, situao glicmica, presena ou ausncia

    de doena heptica, alm da identificao detranstornos alimentares2.

    NECESSIDADESENERGTICAS

    As necessidades energticas variam ampla-

    mente de indivduo para indivduo e mesmo em

    um mesmo indivduo ao longo do curso da vida.

    Indivduos portadores de FC possuem um risco

    maior de desnutrio. A m digesto e a m ab-

    soro, assim como as complicaes progressi-vas da doena, dificultam que se consiga atingir

    o aumento das necessidades energticas15.

    Um elevado gasto energtico em repouso

    TABELA2: GUIADEAVALIAOEINTERVENONUTRICIONALDEACORDOCOMOCONSENSOEUROPEUDEFIBROSECSTICA9.

    > 18 anos

    Estado nutricional adequado

    Aconselhamento preventivoIMC 18,5 25 kg/m2ou sem perda de

    peso recente.

    Dieta recomendada

    Considerar suplementos

    IMC < 18,5kg/m2ou 5% de perda depeso em menos de 2 meses.

    Suporte nutricional invasivo

    Suplementos testados e IMC < 18,5kg/m2ou > 5% de perda de peso

    em menos de 2 meses.

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    (GER) observado nos pacientes fibrocsticos,

    sendo estimado ser entre 10 e 30% maior que o

    normal. O aumento do GER est diretamente

    relacionado gravidade da ineco pulmonar

    por aumento do trabalho respiratrio2.

    O paciente com FC pode necessitar de 120 a

    150% das necessidades dirias estimadas2,6,8,16,17.Uma estimativa aproximada das necessidades

    energticas pode ser eita atravs da seguinte

    equao: gasto energtico total = taxa metab-

    lica basal 1,1 (ator m absoro) 1,5 a 1,7

    (ator atividade) + 200 a 400 Kcal/dia6.

    LIPDIOS

    A recomendao inclui uma dieta rica em

    gordura, com 35 a 40% das calorias a partir destaonte15,17. A tendncia a restringir o consumo de

    gordura nesses pacientes deve ser desencoraja-

    da, pois a gordura na dieta a mais alta onte

    densidade de calorias, melhora a palatabilidade

    de alimentos, e necessria para manter normal

    statusde cidos graxos essenciais17. A gordura

    da dieta ajuda a ornecer a energia necessria,

    os AGEs (cido linoleico e cido linolnico) e

    vitaminas lipossolveis15.

    PROTENAS

    Os nveis dietticos de protena esto

    aumentados na FC devido m absoro; to-

    davia, quando as necessidades energticas so

    atingidas adequadamente, os indivduos com

    FC geralmente podem atingir suas necessidades

    proteicas seguindo uma dieta normal. Sugere-se

    que, pelo menos, 15 a 20% do total de caloriassejam consumidos na orma de protenas15.

    CARBOIDRATOS

    medida que a doena progride, podem

    ser necessrias mudanas na ingesto de carboi-

    dratos. A intolerncia lactose pode tornar-se

    evidente e o envolvimento endcrino do pn-

    creas pode requerer o ajuste nas quantidades de

    carboidratos15.A meta do tratamento nutricional alcanar

    e manter o peso ideal para a altura, aumentar

    e equilibrar a ingesto energtica, reduzir a m

    absoro e m digesto e controlar a ingesto

    de vitaminas e minerais. Para tanto, o cuidado

    nutricional adequado deve incluir: terapia de

    reposio enzimtica, dietas hiperenergticas

    e hiperlipdicas, e suplementao de micronu-

    trientes14.

    UTILIZAODESUPLEMENTOS

    Suplementos orais comerciais podem

    ser utilizados em casos selecionados5. Caso o

    paciente no consiga ingerir todo o volume

    energtico recomendado, importante azer uso

    de suplementos energticos juntamente com a

    terapia de reposio enzimtica14.

    Geralmente no mais de 20% da necessida-

    de mdia estimada EAR devem ser orneci-dos por suplementos alimentares com exceo

    em casos de ineco aguda ou se o paciente est

    sendo considerado para a alimentao enteral.

    O consumo excessivo pode prejudicar o apetite

    e diminuir a ingesto de nutrientes de alimentos

    normais. Suplementos devem ser dados para

    alm do horrio das reeies ou ao deitar12.

    TERAPIA

    NUTRICIONAL

    ENTERAL

    Quando a alimentao via oral no atingir

    o peso desejado, a suplementao via enteral

    poder ser indicada. A administrao pode

    ser via nasogstrica ou via gastrostomia, de-

    pendendo da preerncia de cada paciente e da

    experincia de cada Centro. Com relao ao

    tipo de rmulas, normalmente as polimricas

    so bem toleradas, e geralmente densidades

    calricas de 1,5 a 2,0 Kcal/ml so necessriaspara prover os requerimentos energticos. Ini-

    cialmente 30 a 50% das necessidades energticas

    devem ser ornecidos pela NE, devendo esta

    oerta nutricional ser monitorada pela taxa de

    ganho de peso, armazenamento de gordura e

    crescimento2.

    A colocao de sonda nasogstrica a cada

    noite para alimentaes suplementares durante

    o sono uma opo para alguns pacientes, masisso inconveniente e mal tolerada por alguns

    doentes, particularmente aqueles com hiper-

    tenso arterial pulmonar. A insero de uma

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    gastrostomia ou jejunostomia tubo um mtodo

    aceitvel para o aumento ingesto calrica em

    pacientes selecionados. A colocao , geral-

    mente, bem tolerada, entretanto, a relao risco/

    benecio deve ser cuidadosamente considerada

    em doentes com doena pulmonar grave, devido

    ao potencial para comprometimento respirat-

    rio aps o procedimento17.

    TERAPIANUTRICIONALPARENTERAL

    A nutrio parenteral pode ser til como

    suporte nutricional por um perodo curto

    de tempo, e benica em situaes como:

    ps-operatrio de grandes cirurgias do trato

    gastrointestinal ou em pacientes comprometi-

    dos que aguardam por transplante heptico oupulmonar2.

    VITAMINAS

    A insuficincia do pncreas diminui a ab-

    soro de nutrientes solveis em gordura, como

    o beta-caroteno e vitaminas A, D, E e K, sendo

    importante serem suplementadas8.

    VITAMINA

    AA deficincia de vitamina A causa cegueira

    noturna e pode progredir para severa xerofal-

    mia e anormalidades na epitelizao da mucosa

    brnquica.

    Baixos nveis esto associados com a menor

    uno pulmonar e alterao da estrutura. A sua

    ingesto deve ser suficiente para atingir as con-

    centraes sricas normais sem causar eeitos

    colaterais, podendo ser alcanadas com dosesdirias entre 4.000 e 10.000 UI de preparao

    lipossolvel. Considerao especial deve ser

    dada durante a gravidez na FC, pois tem sido

    associada incidncia de deeitos congnitos em

    crianas cujas mes ingeriram doses elevadas de

    vitamina A (>10.000 UI/dia)2.

    VITAMINAD

    A deficincia de vitamina D rara na FC.No entanto, a deficincia subclnica pode contri-

    buir para a doena ssea, a qual relativamente

    comum. Os baixos nveis podem ser devidos

    inadequao diettica, m absoro de gordura e

    vitamina D, baixos nveis de protenas ligadoras

    de vitamina D e exposio solar inadequada.

    Alguns estudos tm relatado a necessidade da

    suplementao ser de acordo com a variao

    sazonal, variando de 400 a 2.000 UI/dia. Evi-

    dncias recentes sugerem que os nveis sricosdeveriam ser mantidos nos nveis mximos

    da normalidade para a manuteno da sade

    ssea. No caso de doena hepatobiliar severa, a

    25-hidroxilao est impedida, ento a 25-OHD

    recomendada. A vitamina D , usualmente,

    oerecida em combinao com a vitamina A;

    no entanto, um aumento da dose de vitamina A

    pode levar a ingestes potencialmente txicas,

    e a preparao isolada de vitamina D pode sernecessria2.

    VITAMINAE

    O estado de deficincia de vitamina E leva

    anemia hemoltica, degenerao neuromuscular,

    assim como dficit cognitivo e alterao da re-

    tina. A vitamina E (ala-tocoerol) um impor-

    tante antioxidante, protegendo as membranas

    celulares do dano oxidativo atravs da reduo

    do eeito dos radicais livres produzidos pela

    ineco crnica. O aumento da susceptibilida-

    de da peroxidao lipdica tem sido mostrado

    em pacientes com baixos nveis de vitamina E.

    Cinco a dez por cento dos pacientes com FC tm

    nveis sricos baixos de vitamina E, apesar da

    suplementao. A suplementao est recomen-

    dada na dose de 400 UI / d (= 400mg de acetatode tocoerol = 450mg de acetato de tocoerol ou

    268mg RRR ala-tocoerol), e eeitos colaterais

    s ocorrem quando doses excessivamente altas

    so oerecidas. Recomenda-se, para melhor in-

    terpretao de seus nveis no plasma, a relao

    ala-tocoerol/lipdios ou colesterol total como

    um ndice do status da vitamina E, principal-

    mente se seus nveis estiverem baixos, porque os

    nveis de vitamina E aumentam com os lipdios2.

    VITAMINAK

    A m absoro, deficincia de sais bilia-

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    da desnutrio ou sua deteco precoce para

    adequada interveno so os objetivos primrios

    da equipe de cuidados2.A m nutrio na fibrose cstica constitui

    um dos mais graves e diceis desafios no ma-nuseio dos enermos. O quadro policarencial

    que vai se instalando quase uma constante, eas maniestaes mais comuns so baixo ganhode peso, desnutrio apresentando deficinciasnutricionais especficas e grande comprometi-mento da uno pulmonar4.

    O trabalho de educao nutricional necessrio para um melhor prognstico dopaciente, sendo mais eficaz quando realizadosequencialmente e com bom vnculo entreequipe e paciente. A monitorizao do estado

    nutricional, aliada aos avanos no tratamentoclnico e fisioterpico, o diagnstico precoce ea maior eficcia dos medicamentos, induzem

    melhora na sobrevida atual dos pacientes18.

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    13. Brasil. SAS/MS n 263, de 18 de julho de 2001.Fibrose cstica: enzimas pancreticas. Braslia;2001. Disponvel em: www.saude.gov.br.

    14. Rosa FR, et al. Fibrose cstica: uma abordagemclnica e nutricional. Rev Nutr 2008; 21.

    15. Mahan LK, Escott-Stump S. Alimentos,Nutrio e Dietoterapia. 12ed. Rio de Janeiro:Elsevier, 2010.

    16. Richardson I, et al. Nutritional status of an adultcystic brosis population - applied nutritionalinvestigation. Nutrition 2000; 16:255-9.

    17. Yankaskas JR. Cystic Fibrosis Adult Care:Consensus Conference Report. American

    College of Chest Physicians, 2004. Disponvelem: hp://chestjournal.chestpubs.org

    18. Gaspar MCA, Chiba SM, Gomes CET, et al.Resultado de interveno nutricional emcrianas e adolescentes com brose cstica. JPediatria 2002; 78:161-70.

    ABSTRACTMaintaining an adequate nutritional status

    is essential or the integrity o the respiratory

    system in CF. Nutritional problems and conse-quences o CF is multiactorial and related to the

    progression o the disease. Te treatment o CF

    has remarkably changed over the past 15 years in

    relation to nutritional management, therapy and

    home care with increased lie expectancy andimprovements in nutritional status observed in

    adults. So it is important to develop appropriate

    guidelines or the care o this population.

    KEY WORDS: Cystic fibrosis; Nutrition;Adult.

    FIBROSECSTICAESUPORTENUTRICIONALNOADULTO

  • 7/21/2019 Suporte Nutricional Na Fibrose Cistica

    9/11

    Ano 10, Outubro / Dezembro de 2011 9

    EDITORIAL

    A J L

    Professor Adjunto da Disciplina de Pneumologia eTisiologia da FCM/UERJ;

    Coordenador do Ambulatrio de Fibrose Cstica da

    Policlnica Piquet Carneiro da UERJ.

    M C F

    Professora Assistente da disciplina de Pneumologia e

    Fisologia da FCM/UERJ;

    Mdica do Ambulatrio de Fibrose Cstica daPoliclnica Piquet Carneiro da UERJ.

    M C S C

    Mestrando em Cincias Mdicas pela Universidade

    Federal Fluminense (UFF);

    Mdico do Ambulatrio de Fibrose Cstica da

    Policlnica Piquet Carneiro da UERJ.

    ARTIGO1: ASPECTOSEPIDEMIOLGICOSDAFIBROSECSTICA.

    M C F

    (Vide Editorial)

    A J L

    (Vide Editorial)

    ARTIGO2: PERFILMICROBIOLGICONAFIBROSECSTICA.

    E A M

    Professora Associada da Disciplina de

    Microbiologia da FCM/UERJ;

    Chefe do Laboratrio de Bacteriologia do

    HUPE/UERJ.

    ARTIGO3: Avanos da Genticana Fibrose Cstica.

    G M K C

    Doutora em Biologia Celular e Molecular pelo

    Instituto Oswaldo Cruz/Fiocruz;

    Ps-Doutorada em Nanocincia e Nanotecnologiapelo Centro de Nanocincia e Nanotecnologia/

    Universidade de Braslia.

    ARTIGO4: Fisiopatologia eManifestaes Clnicas da FibroseCstica.

    M C F

    (Vide Editorial)

    B L M

    Residente de Pneumologia e Tisiologia do

    HUPE/UERJ.

    C H C

    Professora Adjunta da Disciplina de Pneumologia eTisiologia da FCM/UERJ;

    Coordenadora da Disciplina de Pneumologia e

    Tisiologia da FCM/UERJ.

    TITULAO DOS AUTORES

  • 7/21/2019 Suporte Nutricional Na Fibrose Cistica

    10/11

    10 Revista do Hospital Universitrio Pedro Ernesto, UERJ

    ARTIGO5: AVANOSNODIAGNSTICODAFIBROSECSTICA VISOCRTICA.

    T W F

    Mdica assistente do Departamento dePneumologia Peditrica do Instituto Fernandes

    Figueira Fundao Oswaldo Cruz (IFF-

    FIOCRUZ);

    Mestre em Cincias Mdicas pela FCM/UERJ.

    R W F C

    Residente de Pediatria do Instituto Fernandes

    Figueira Fundao Oswaldo Cruz

    (IFF-FIOCRUZ).

    ARTIGO6: A Radiologia do Traxna Fibrose Cstica.

    D C

    Professor Adjunto da Disciplina de Pneumologia eTisiologia da FCM/UERJ.

    R E. B. S

    Mdica do Servio de Pneumologia e Tisiologia do

    HUPE/UERJ.

    M R. F

    Mdico Residente do Servio de Radiologia e

    Diagnstico por Imagem do HUPE/UERJ.

    L A

    Mdico Residente do Servio de Radiologia e

    Diagnstico por Imagem do HUPE/UERJ.

    R L

    Mdico Residente do Servio de Radiologia e

    Diagnstico por Imagem do HUPE/UERJ.

    O M

    Mdico Residente do Servio de Radiologia e

    Diagnstico por Imagem do HUPE/UERJ.

    C J

    Mdica Residente do Servio de Radiologia e

    Diagnstico por Imagem do HUPE/UERJ.

    ARTIGO7: TESTESDEFUNOPULMONAREMADULTOSFIBROCSTICOS.

    A J L

    (Vide Editorial)

    A C F

    Mdica do Servio de Pneumologia e Tisiologia do

    HUPE/UERJ.

    T T M

    Residente de Pneumologia e Tisiologia doHUPE/UERJ.

    R L A

    Residente de Pneumologia e Tisiologia do

    HUPE/UERJ.

    R R

    Professor Adjunto da Disciplina de Pneumologia e

    Tisiologia da FCM/UERJ.

    ARTIGO8: O TRATAMENTONAFIBROSECSTICAESUASCOMPLICAES

    M C S C

    (Vide Editorial)

    M C F

    (Vide Editorial)

    ARTIGO9: TRANSPLANTENAFIBROSECSTICA.

    M C S C

    (Vide Editorial)

    M C F

    (Vide Editorial)

  • 7/21/2019 Suporte Nutricional Na Fibrose Cistica

    11/11

    Ano 10, Outubro / Dezembro de 2011 11

    A J L

    (Vide Editorial)

    ARTIGO10: O PAPELDAFISIOTERAPIANAFIBROSECSTICA

    S T P

    Fisioterapeuta do Ambulatrio de Fibrose Cstica

    da Policlnica Piquet Carneiro da UERJ.

    ARTIGO11: CUIDADOSNAUTILIZAOENALIMPEZADENEBULIZADORESECOMPRESSORESPARAAREDUO

    DEINFECESRECORRENTESEMPACIENTESCOMFIBROSECSTICA.

    S A. C

    Doutora em Fisioterapia.

    A I. M. B

    Fisioterapeuta especialista em Pneumofuncional;

    Coordenadora da Diviso de Fisioterapia da UERJ;

    Doutoranda pelo Programa de Ps-Graduao em

    Cincias Mdicas da UERJ.

    S T P

    (Vide Artigo 10)

    ARTIGO12: FIBROSECSTICAESUPORTENUTRICIONALNOADULTOC F O

    Nutricionista da ACAM/RJ.

    M J F S

    Nutricionista do Ambulatrio de Fibrose Cstica da

    Policlnica Piquet Carneiro da UERJ.

    ARTIGO13: GESTAONA

    PACIENTECOMFIBROSECSTICAM C S C

    (Vide Editorial)

    M C F

    (Vide Editorial)

    ARTIGO14: ASREPRESENTAESSOCIAISDAFIBROSECSTICAEM

    PACIENTESADULTOSL F M S

    Assistente Social do Ambulatrio de Fibrose Cstica

    da Policlnica Piquet Carneiro da UERJ.

    ARTIGO15: O TRABALHODAASSOCIAOCARIOCADEASSISTNCIAAMUCOVISCIDOSENOESTADODORIODEJANEIRO.

    R C G

    Assistente Social e especialista em ResponsabilidadeSocial.

    Coordenadora da ACAM/RJ.

    T A

    Fisioterapeuta da ACAM/RJ;Mestranda do Curso de Ps-graduao em Cinciasdo Cuidado da Sade EEAAC/UFF.

    S C

    Assistente Social da ACAM/RJ e especialista emgesto de pessoas;

    Coordenadora da ACAM/RJ.

    A C V

    Psicloga da ACAM/RJ.

    C F O

    Nutricionista da ACAM/RJ.

    J C

    Acadmica de Servio Social e estagiria daACAM/RJ.

    E L

    Acadmica de Fisioterapia e estagiria daACAM/RJ.