suplemento regina antunes teixeira dos santos

SUPLEMENTO DIDÁTICO

regina Antunes teixeira dos santos

Da sensibilização de timbres àmanipulação de estruturas melódicas10

1 SÍNTESE E CONTEXTUALIZAÇÃO DE LIVROS e CDs 1

2 APLICAÇÕES EM ATIVIDADES MUSICAIS 2

2.1 Proposta musical 1 - A orquestra tintim por tintim 2

2.2 Proposta musical 2 - Projeto Zero 2

2.3 Modo de aferição dos resultados 13

2.4 Organização dos alunos para as aulas 13

2.5 Infra-estrutura e materiais necessários 13

2.6 Referências complementares 13

AtividAdes pArA levAr pArA cAsA 15

são paulo i OUtUBrO i 2008

regina Antunes teixeira dos santosNatural de Curitiba, graduou-se no curso de Bacharelado em Música, habilitação Piano, na classe da Profa. Dra. Dirce Knijnik em 1986 na UFRGS. Em 1991 obteve o título de Maître em Educação Musical da Université Toulouse Le Mirail (Toulouse, França) com a dissertação: “A Obra para piano de Villa-Lobos”, sob orientação do Prof. Dr. Robert Fajon e do Prof. Dr. Jésus Aguila. No período de 1990-1993 estudou por três anos no Conservatório Nacional da Região de Tou-louse, freqüentando disciplinas de Harmonia, Análise Musical e História da Música onde obteve menção très honorable em Harmonia e Análise Musical. No período letivo 1999/2000 fez especialização em piano junto a Universidade Ueno Gakkuen (Tóquio, Japão) na classe da Profa. Minako Fujita. Em 2001 realizou estágio no Departamento de Música da McGill University (Montreal, Canadá) sob orientação da Profa. Dra. Eugênia Costa-Giomi. Em 2003, concluiu dissertação de Mestrado em Educação Musical da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Porto Alegre, RS) sob orientação das Profas.Dras. Liane Hentschke e Cristina Capparelli Gerling, com a dissertação intitulada “Proposta de desenvol-vimento de Leitura Musical de Davidson & Scripp: uma análise teórico-interpretativa”. Em 2007, concluiu doutorado sob orientação da Profa. Dra. Liane Hentschke junto ao Programa de Pós-Graduação em Música da UFRGS com a tese “Mobilização de conhecimentos musicais na preparação do repertório pianístico: três estudos de caso:” Em pesquisa, sua área de interesse concentra-se na interconexão entre modos de sistematização de prática instrumental e de formas de conhecimento musical.

E-mail: [email protected]

A orquestra tintim por tintimHentschke, liane; Kruger,susana ester; del Ben, luciana; silva e cunha, elisa. são paulo: Moderna, 2005Instrumentos da orquestra são apresentados por famílias (cordas, madeiras, metais e percussão), e dentro de cada família os diversos naipes, através de exemplos que combinam a apresentação tímbrica de cada instrumento, associado a trechos de repertório variado no CD. A disposição em faixas facilita a manipulação do material. A linguagem é acessível, sem deixar de ser precisa, dando um panorama de recursos tímbricos, bem como de sua operacionalização no contexto de uma orquestra, exemplificando um trecho de partitura de orquestra e da parte do violino, o papel do maestro e regras de comportamento na apreciação da performance em público (programa, aplausos). Destinado para crianças e jovens.

1 sÍNtese e cONteXtUAliZAÇÃO de livrOs e cds

Crianças famosas: Beethovenrachlin, Anne; Hellard, susan. são paulo: collis, 1995Livro que, no contexto dos demais compositores da série (Bach, Mozart, Haydn etc), publicados pelas mesmas autoras, permite uma primeira aproxi-mação a Beethoven. Como nos outros livros da coleção, o interesse reside em descrever a biografia de grandes artistas que mostraram suas aptidões naturais desde a infância. O professor pode enfatizar que no caso de Bee-thoven, em oposição ao de Mozart, foi necessário muito esforço e dedicação. Destinado para crianças.

Beethoven – Abertura A consagração da casa e Sinfonia nº 6. (pastoral/Osesp)Obras de períodos distin-tos da produção musical de Beethoven. A Sinfonia nº 6 (Op. 68), apesar de própria indicação do compositor de “mais expressão de senti-mentos que pinturas de cenas sonoras” insere-se em um contexto de música programática. Excelente material para exemplificar a concepção de música descritiva. Em contraposição, a obra A consagração da casa (Op. 124), composta para a cerimônia de rea-bertura do Teatro de Viena (1821), pode servir para ilustrar o caráter absoluto da música. O encarte do CD é detalhado em informações suplementares para o professor, contendo aspectos estrutu-rais e históricas das obras. Destinado para todas as idades.

Teoria Musical para criançasXavier de Oliveira, Olga. callis, 1960Curso de teoria musical destinado ao público infantil, com noções básicas sobre a arte dos sons, elaborado na década de 60. Apresenta desde os parâmetros do som até elementos da notação musical. Inclui tarefas e passa-tempos musicais, que incluem a participação do professor acompanhando ao piano pequenas canções de fácil assimilação cantadas pela criança. A obra pode servir de apoio ao professor como fonte de exemplos musicais simples para leitura melódica e rítmica. Para alunos curiosos pela notação musical pode servir como livro de consulta. Destinado para crianças e jovens.

Da sensibilização de timbres à manipulação de estruturas melódicas 0 Regina Antunes Teixeira dos Santos 1

Maracatu de Chico Rei – Festa das igrejas – Sinfonia tropicalFrancisco Mignone (Biscoito Fino)Essas três obras orquestrais de Mignone permitem ilustrar a diversidade de música brasileira contida nas três obras. A rique-za tímbrica de Maracatu de Chico Rei e Festa das Igrejas pode ser explorada após trabalho sistemático com A orquestra tintim por tintim. A Sinfonia tropical, além de servir como exemplo do timbre do clarinete, pode ser comparada com as Sinfonias 5, 6 e 7 de Beethoven, tanto em termos de timbres utilizados, como no número de movimentos, já que a Sinfonia de Mignone é constituída de apenas um movimento. O encarte fornece dados biográficos do compositor, descrição de elementos musicais e descritivos. Destinado para todas as idades.

Chick Coreacoleção folha clássicos do jazz (Folha de s.paulo)Excelente exemplo de sonoridade de conjunto instrumental de jazz, que pode ser explorado na comparação do conjunto tímbrico da orquestra sinfônica, disponíveis nos CDs das Sinfonias 5, 6 e 7 de Beethoven ou das obras de Mignone. As faixas 1 e 2 podem servir para exemplificar o trompete e o trombone; e as demais, o contrabaixo. O encarte é rico em informações biográficas, e podem servir para comparação com a infância de Beethoven (Rachlin/Hellard), onde o pai teve papel decisivo em sua formação musical inicial. Há ainda informações sobre bibliografias, discografias, filmografias e um glossário sobre jazz. A afirmação de Chick Corea de que “Música é comunicação”, pode servir de tema para discussão em classe. Destinado para todas as idades.

VOLUME 10 [12]2

2 AplicAÇÕes eM AtividAdes MUsicAis

Objetivos gerais Objetivos específicosDesenvolver a percepção tímbrica em vários conjuntos instrumentais;

Desenvolver a percepção do contorno e da métrica de estruturas melódicas em canções de roda em conexão com o tema do 5º movimento da Sinfonia nº 6 – Pastoral, de Beethoven.

Reconhecer instrumentos musicais: famílias/naipes, nomenclatura específica e timbres;

Experienciar a organização/agrupamentos tímbricos em diversos contextos;

Experienciar a noção de direcionamento de linhas (contorno);

Experienciar a noção de métrica em estruturas melódicas;

Manipular estruturas melódicas.

2.1 proposta musical 1 - A orquestra tintim por tintim

Momento 1: Apresentação dos instrumentos musicais Trabalhe em aula conforme apresentação das famílias de instrumento (cordas/madeiras/metais/percussão). Sugestão: uma família por aula. Os exemplos musicais são muito característicos e representativos. Chame a atenção da “cor” (timbre) de cada instrumento.Ao final da apresentação dos instrumentos, faça um jogo entre os alunos. Divida a classe em dois grupos. Cada grupo escolhe um conjunto de faixas do CD A orquestra tintim por tintim, cujo instrumento deve ser identificado pelo grupo adversário.Esteja atenta à possibilidade de apreciação de conjuntos instrumentais (or-questra sinfônica, bandas municipais, conjunto de câmaras) em performances públicas em sua cidade. Incentive ou promova a ida da classe a uma dessas performances públicas.

Duração: oito aulas

A proposta musical 1 centra-se na exploração do material A orquestra tintim por tintim, que dispõe de uma apresentação clara, precisa e de fácil manipulação, e comporta:

Trabalho sistemático dos instrumentos de orquestra. Contextualização em extratos de obras dos CDs do acervo.


1. Instrumentos presentes no acompanhamento.2. Saxofone não se encontra dentre os instrumentos apresentados na obra A orquestra tintim por tintim. No entanto, o livro Instrumentos da orquestra, de Roy Bennett, descreve o saxofone dentre os instrumentos da família das madeiras (p. 41).

Momento 2: Reconhecimento dos instrumentos musicais em contextos de obras musicaisUma vez sistematizados os instrumentos musicais em termos de nomenclatura e timbre, exercite a apre-ciação utilizando obras do acervo do Projeto Guri. A tabela abaixo apresenta uma sugestão de trechos de movimentos/peças que enfatizam o uso de determinado(s) instrumento(s), com a respectiva minutagem. Os instrumentos entre [ ] são ouvidos em conjunto.

CD/Obra

Beethoven/Sinfonia nº 6, 1º movimento






Mignone/Sinfonia Tropical

Mignone/Maracatu do Chico Rei

Mignone/Maracatu do Chico Rei

Chick Corea/Coleção Folha




Instrumentos em destaque

Cordas

Oboé

Clarinete, Fagote

Cordas

Cordas Orquestra

Clarinete e Fagote com Orquestra em acompanhamento

Clarinete baixo [Piano, violinos, flauta, flautim]1

Orquestra (metais, cordas e percussão) e PianoCoroGlockenspiel

PercussãoCordas e coroGlockenspiel

BateriaTrompete[Trombone, piano, contrabaixo, bateria]1

Flauta[Saxofone, trombone, piano, baixo, bateria]1

Saxofone2

[Trombone, piano, baixo, bateria]1

Piano[Bateria, contrabaixo]1

Faixa

2

2

2

2

3

3

5

10

11

1

2

2

9

Tempo (min:seg.)

0:01-0:31

0:32-0:36

0:37-0:40

0:41-0:48

0:01-0:200:20-0:36 0:37-1:07

0:01-1:000:01-0:12

0:130:23 0:56-1:38

0:010:01-0:30 0:34-0:40

0:01-0:05 0:06-0:19

0:01-0:13

0:14-0:55

0:01-0:55

VOLUME 10 [12]4

Exemplo 1. Tema do 5º movimento da Sinfonia nº 6 de Beethoven.

Momento 1: Apresentação do compositor e do movimento a ser trabalhadoInicie a aula com a apresentação do 5º movimento da Sinfonia nº 6 de Beethoven. Pergunte quem já ouviu falar ou conhece esse compositor. Lembre-se que eles possam ter escutado o tema da 5ª Sinfonia, a peça para piano Pour Elise, o tema do primeiro movi-mento da Sonata ao luar, do Ode à alegria do último movimento da 9ª sinfonia. Se os alunos trabalharam Os Saltimbancos, de Chico Buarque, associe que aquele trecho “Todos juntos somos fortes...” utiliza o tema da Fantasia coral de Beethoven.Você pode contar sucintamente a biografia de Beethoven para despertar a curiosidade dos alunos por fatos de sua vida. O livro Bee-thoven, de Rachlin e Hellard, pode ser oferecido aos alunos. Caso já conheçam a biografia de Mozart, exponha que Beethoven (Bonn, 1770-1827), cronologicamente, viveu posteriormente a Mozart (Salzburg, 1756-1791).Explicite que o foco dessa aula será o 5º movimento da Sinfonia nº 6 – Pastoral de Beethoven. Relembre, caso tenha trabalhado, no livro A orquestra tintim por tintim, exemplos de programas de obra com um ou vários movimentos, que “movimento” é uma parte de uma obra (como se fosse um capítulo de livro).

Duração: de seis a oito aulas

A proposta musical 2 para o desenvolvimento de percepção de estruturas musicais é fundamentada nas pesquisas de Davidson e Scripp (1988, 1992) junto ao Projeto Zero ao longo dos anos 80.Pré-requisito: alunos que já foram sensibilizados com a apresentação de instrumentos musicais de orquestra confor-me descrição da proposta musical 1.

A proposta musical 2 de atividades envolverá: Apresentação do compositor-alvo: Beethoven (fatos

biográficos/obra) e apreciação do 5º movimento da Sinfonia nº 6 (Op. 68).

Aprendizagem e manipulação da melodia do 5º movimento da Sinfonia nº 6 (Op. 68), de Beethoven, em analogia à cantiga Roda Cotia.

Sensibilização à expressão de estruturas melódicas.

Momento 2: Audição/apreciação do 5º movimento da Sinfonia nº 6 de BeethovenEsta audição será orientada. Ao final da audição, você deverá pedir aos alunos tentarem identificar uma melodia/tema que seja cantável. Ao final da primeira escuta, se o grupo estiver com dificuldades de lembrar-se do tema, coloque então apenas o primeiro minuto do movimento, onde o tema é apresentado três vezes. Nesse espaço de tempo, a melodia-alvo já deve ter sido praticamente lembrada de memória.

Momento 3: Conexão da cantiga Roda Cotia com o tema do 5º movimento da Sinfonia nº 6 de BeethovenNesse momento da aula (ou mesmo antes), talvez alguns alunos possam já ter identificado alguma semelhança entre a melodia de Beethoven e a cantiga Roda Cotia. De toda forma, expresse (ou enfatize) essa semelhança e comece a fazer o grupo a manipular/praticar a canção de roda de acordo com a versão do tema da Sinfonia nº 6 de Beethoven, conforme exemplo adiante:

A canção pode ser cantada: Baseada em alguma versão conhecida pelo professor ou pelos alunos. Algumas possibilidades:

Roda Cotia/De noite e de dia/Comendo melancia/Na casa da titia Roda Cotia/De noite e de dia/O galo cantou/ Na casa da dona Maria

Com letra proposta pelos alunos. Usando sílabas (“lá – lá –...”, por exemplo). O uso de sílabas pode acarretar um menor controle de afinação do grupo. Não exclua a possibilidade de vir a cantar a melodia empregando o nome das notas. Isso auxiliará a associar a altura do som ao

nome da nota.

2.2 proposta musical 2 - projeto Zero


Momento 4: Exploração tímbrica dos recursos do grupoDe acordo com a disponibilidade de instrumentos do grupo de alunos, executar a melodia em solo ou em conjunto instrumental. Procure explorar a variedade de timbres dos instrumentos em aula. Incentive os alunos a expressa-rem suas opiniões das combinações de instrumento que sintam como harmoniosas ou não. Incentive a justifica-rem (verbalizarem) a razão de suas opiniões. Tente extrair, em conjunto, critérios a partir de suas manifestações, daquilo que foi considerado harmonioso, e o que não resultou em uma boa organização.

Momento 5: Manipulação de estruturas melódicas (horizontais)Nesse momento da aula, o grupo já poderá explorar modos de manipulação de estruturas me-lódicas. Sobre a melodia de Beethoven (Ex. 1), introduza o princípio composicional da variação. Primeiramente exemplifique a variação com notas repetidas:

Peça então para os alunos fazerem uma redução do contorno melódico, conforme sugerido no Exemplo 3:

Demonstre que a melodia pode ser variada também pela idéia do contorno reduzido. Ilustre algumas possibilidades, conforme sugestões abaixo. Por exemplo, com contorno variado com notas repetidas:

Com ornamentos. Chame a atenção que a melodia possa conter “enfeites” que a tornem mais bonita, mais carregada, como adereços em pessoas.

Demonstre que o “enfeite” não pode mascarar a melodia. A melodia tem de continuar identificável. Ilustre, por exemplo, como o mau uso de ornamentos podem descaracterizar a melodia:

Exemplo 2. Variação (notas repetidas) do tema do 5º movimento da Sinfonia nº 6 de Beethoven.

Exemplo 3. Redução do contorno melódico do tema do 5º movimento da Sinfonia nº 6 de Beethoven.

Exemplo 4. Variação do contorno do tema do 5º movimento da Sinfonia nº 6 de Beethoven, com notas repetidas.

Exemplo 5. Tema do 5º movimento da Sinfonia nº 6 de Beethoven, com ornamentação.

Exemplo 6. Tema do 5º movimento da Sinfonia nº 6 de Beethoven, com ornamentação descaracterizante da melodia.

VOLUME 10 [12]6

Exemplo 7. Uso de nota pedal para acompanhamento da melodia do 5º movimento da Sinfonia nº 6 de Beethoven.

Momento 6: Manipulação de estruturas verticais (formas de acompanhamento)Introduza a noção de acompanhamento para a melodia. Algumas possibilidades: por exemplo, nota pedal, sustentando a melodia pelo uso da dominante (e/ou da tônica):

No caso acima, pode-se introduzir a noção de ostinato. Explique o sentido de “obstinado”, de “teimoso”. Comente que se trata da repetição exata de uma idéia musical (ou mesmo uma nota), que tem um padrão rítmico, melódico ou melódico-rítmico. Comece com idéias simples: um ostinato rítmico sobre a unidade de tempo. Uma alternativa, para instrumentos de cordas, encontra-se ilustrada no Exemplo 8, onde o ostinato é variado com notas dos acordes, fazendo um contracanto melódico. No exemplo 8, o trecho foi extraído da própria partitura de Beethoven, comp. 17-24 (5º movimento), referentes às partes do Violino I e Violino II.

Exemplo 8. Uso de ostinato para acompanhamento da melodia do 5º movimento da 6ª Sinfonia de Beethoven.

Incentive a percepção da harmonia. Os alunos podem fazer um acompanhamento para essa melodia utilizando primeiramente somente tônica (I) e dominante (V).

Exemplo 9. Harmonização para acompanhamento da melodia do 5º movimento da Sinfonia nº 6 de Beethoven.


Outra possibilidade pode incluir graus pares (ii/ IV/ vi) que são funções de preparação, como no caso do exemplo adiante, que contém subdominante (IV) e subdominante relativa (ii).

Exemplo 10. Harmonização para acompanhamento da melodia do 5º movimento da Sinfonia nº 6 de Beethoven.

Momento 7: A criação da notação pessoal para expressar a melodiaIntroduza a noção de contorno. Cante uma melodia e demonstre que existe um formato na melodia que pode alternar movimentos ascendentes, descendentes, ondulados. Cante (ou toque) a melodia de Beethoven, mostrando com a mão os movimentos ascendentes e descentes da melodia:

No exemplo acima, demonstre que o contorno depende do fraseado. Ilustre essa frase com as duas articulações. Demonstre que, dependendo da forma que se expressa a melodia, existe uma diferença expressiva no resultado sonoro. Exemplifique que o mesmo ocorre com textos, dependendo de onde se colocam as “vírgulas”. Outras possibilidades: Ver o livro Teoria musical para crianças, de Olga de Oliveira (p. 55), com a ilustração da melodia Garibaldi foi à missa. Na obra, Como ler uma partitura, de Roy Bennett (pp. 10-1), o autor comenta e explica a importância do contorno na leitura de uma partitura. Chame a atenção da noção de movimento ascendente e movimento descendente. Cante trechos de melodias conhecidas (canções de roda) e peça para identificarem se o sentido do contorno “subiu” ou “desceu”. Por exemplo:

Exemplo 11. Sugestões de gestos físicos para acompanhar a emissão/escuta do contorno da melodia do 5º movimento da Sinfonia nº 6 de Beethoven.

Marcha soldado:

Exemplo 12. Sugestões de gestos físicos indicando o sentido da linha melódica para acompanhar a emissão/escuta de exemplos de canções de roda.

Cai-cai balão:

I IV........................V6/5............................I..........................ii V..........I

Individualmente, peça para os alunos escreverem no papel o contorno percebido da melodia Roda Cotia.Com o grupo de alunos, vá construindo e refinando a noção desse contorno melódico. Observe que a maneira que cada um possa grafar pode apresentar divergências, no sentido de expressar a direção de movimento descendente e/ou ascendente da melodia. Discuta, nesses casos, o raciocínio que levou o aluno a expressar-se de tal maneira. Pode ser uma questão de não estar perceben-do esse direcionamento por não estar familiarizado/sensibilizado com esse tipo de percepção, que já começa a ficar mais elaborada (repartição da escala, ou seja, do espaço tonal). Cante o primeiro verso de Roda Cotia com a melodia de Beethoven. Demonstre a direção da melodia e faça os alunos acompanharem a melodia entoada com as mãos, para sentirem a sensação cinestésica do movimento ascendente e descendente.

O Exemplo 13 ilustra o contorno da melodia e, de certa maneira, enfatizando, as notas mais longas, dando uma noção de pulso.

VOLUME 10 [12]8

Exemplo 13. Orientação gráfica da linha melódica para acompanhar a emissão/escuta da cantiga Roda Cotia.

A relação entre melodia entoada e notação pode ser manipulada através de outras melodias, aproveitando a mesma letra, para associar o movimento ascendente (em direção ao agudo) e descendente (em direção ao grave). O Exemplo 14 sugere algumas possibilidades:

Exemplo 14. Sugestões de gestos físicos indicando sentidos alternativos de emissão da linha melódica de Roda Cotia.

Da sensibilização de timbres à manipulação de estruturas melódicas 0 Regina Antunes Teixeira dos SantosVOLUME 10 [12] 9

As representações ilustradas nos Exemplos 13 e 14 são possibilidades de detalhamento do contorno resultante do direcionamento das linhas melódicas. O importante aqui é enfatizar a relação existente entre o movimento ascendente/descendente e sua relação com a altura dos sons, que posteriormente virão a ser notados em uma pauta. Trata-se de uma maneira de sensibilizar com a noção de contorno.A noção de contorno, que você acabou de trabalhar em aula, deve ter envolvido princípios de movimentos rítmicos, mas ainda de forma tácita, não explícita. Agora, você vai trabalhar mais detalhadamente com essa notação. Primeiramente, explore a noção de andamento. Peça para os alunos cantarem a melodia caminhando, andando mais rápido ou ainda lentamente. Comente que o andamento é um fator fundamental no caráter da música. Ilustre que um “falar mais rápido” pode conferir uma idéia de ansiedade, nervosismo, por exemplo, assim como um “falar mais lento, moderado”, pode dar idéia de calma, paz. Para desenvolver a organização de estruturas rítmicas, provavelmente subentendidas nas notações expressas pelos alu-nos, frise a noção de pulso. Peça para os alunos sentirem o pulso dessa melodia (unidade de tempo ou de compasso). O movimento de regência pode também ajudá-los.

Exemplo 16. Sugestões potenciais de agrupamentos rítmicos na emissão/percepção da linha melódica da cantiga Roda Cotia.

Sugestão: uma vez estabelecida essa sensibilização à percepção de estruturas melódicas, você pode discutir sobre a ne-cessidade de existência de uma linguagem comum, que todos entendam. E nas ativi-dades subseqüentes, abordar os princípios convencionais da notação musical.

No exemplo 15, encontram-se representadas maneiras possíveis de se representar estruturas rítmicas de um fragmento melódico.

Nos exemplos acima, a representação com traços verticais expressa a notação do pulso (em uni-dade de compasso), enquanto a com “X”, foca-se em um agrupamento com base nas sílabas da letra da música, e não no ritmo, ou seja, essa notação é dotada de maior imprecisão. Finalmente, o último exemplo, expressa uma possibilidade de notação rítmica, com traços (valores longos) e pontos (valores curtos). O mais importante é fomentar a percepção não dos valores isolados, mas dos agrupamentos rítmicos:

Exemplo 15. Sugestões potenciais de representação da linha melódica de Roda Cotia em termos de representação rítmica.

Promova atividades que desenvolvam modos de representação pessoal de uma melodia (canção). Faça jogos, estabelecendo um conjunto de melo-dias conhecidas da turma, peça para proporem, em grupos, a notação, e demonstrarem para os demais colegas. Fomente a discussão de aspectos mais claros, mais pertinentes, verifique se o movimento (ascendente/descen-dente) global foi respeitado, assim como a pertinência da representação de agrupamentos rítmicos. Trata-se de uma construção da necessidade de um código para expressar idéias musicais presentes em uma dada canção.

VOLUME 10 [12]10

Momento 8: Apreciação da manipulação melódico-rítmica no 5º movimento da Sinfonia nº 6 de BeethovenApós esse trabalho de desenvolvimento de percepção e manipulação de estruturas melódicas realizados em aulas anteriores, volte à apreciação do último movimento da Sinfonia nº 6 de Beethoven. Saliente aspectos relacionados a:

Contorno melódico (direcionamento da linha: ascendente/descendente). Estruturas rítmicas da melodia. Variação da melodia. Timbre dos instrumentos.

A tabela abaixo apresenta uma sugestão de aspectos a serem explorados na apreciação, bem como a instrumentação e respectiva minutagem dos trechos, apresentados de forma cronológica.

Trecho1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

CaracterísticaMelodia acompanhada

Melodia acompanhada com ostinato variado (vide Ex. 8), em contracanto

Melodia acompanhada

Figuração melódica de chamada/alusão ao tema

Melodia acompanhada

Melodia acompanhada com ostinato em contracanto variado

Variação I do tema com acompanhamento

Variação II do tema acom-panhada com contraponto imitativo

Variação III do tema

Figuração de alusão ao tema

InstrumentaçãoTema: violinos I (registro 4). Acompanhamento: clarinete, fagote, viola e violoncelo

Tema: violinos II (registro 3). Violinos I em ostinato em contracanto variado. Acompanhamento: clarinete, fagotes, trompa, viola, violoncelo, contrabaixo

Tema: clarinete em Si b, viola e violoncelo. Acompanhamento: orquestra

Violinos (1:47), seguido pela entrada de flautas (1:49), oboé e violino (1:52), clarinete e violino (1:54) e trompa (1:57)

Tema: violinos I (registro 4). Acompanhamento: clarinete, fagote, violino II, viola e violoncelo (violinos I fazem um acompanhamento em arpejos)

Tema: violino II (registro 3). Violinos I em ostinato em contracanto variado.Acompanhamento: clarinete, fagotes, trompa, viola, violoncelo, contrabaixo

Tema variado I: violinos I (contracanto melódico). Tema variado II: violinos II (resumo estrutural). Acompanhamento: clarinete, fagote, viola e violoncelo

Jogo instrumental: inversão de materiais. Tema variado II: violinos I (que é imitado pela viola) – resumo estrutural. Tema variado I: violinos II (contracanto variado). Acompanhamento: clarinete, fagote, violoncelo e contrabaixo.

Tema variado II: trompas (resumo estrutural). Tema variado I: violas e violoncelos (contracanto variado). Acompanhamento: flautas, oboé, clarinete, fagote, trompas, trombone, violinos I e II, contrabaixo

Trompa e violoncelos

Tempo (min:s)0:17-0:30

0:31-0:43

0:44-0:57

1:47-2:00

2:01-2:17

2:17-2:31

3:44-4:00

4:01-4:15

4:16-4:32

5:50-5:59


BOUCOURECHLIEV, A. Beethoven. Paris: Seuil, 1988.DAVIDSON, L.; SCRIPP, L. Young’s children´s representation: windows on music cognition. In: Generative processes in music. SLOBODA, J. (Ed.). Oxford: Clarendon press, 1998, pp. 195-230.MCPHERSON, G.; GABRIELSSON, A. From sound to sign. In: The science and psycho-logy of music performance. PARNCUTT, R.; MCPHERSON, G. (Ed.). New York: Oxford University Press, 2002.SOLOMON, M. Beethoven. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1987.

2.5 referências complementares

2.3 Modo de aferição dos resultados

Na proposta musical 1, o nível de receptividade e desenvolvimento pode ser monitorado através da acuidade entre os instrumentos presentes e a resposta dos alunos. Na proposta musical 2, o nível de compreensão dos alunos com relação à manipulação das estruturas melódicas encontra-se na coerên-cia entre o contorno verbalizado/notado e os agrupamentos rítmicos da melodia. Esses dois parâmetros (contorno e estruturas rítmicas) podem ser também individualmente avaliados. As causas de incoerên-cias devem ser discutidas a partir das propostas de notação feitas pelos alunos. Não se esquecer de que a linguagem musical insere-se dentro de normas de notação e padrões estilísticos, necessários à comunicação entre as partes: compositor – intérprete – regente e platéia.

2.4 infra-estrutura e materiais necessários

A organização dos alunos para as aulas fica a critério do professor. Como infrra-estrutura e materiais necessários, recomendo equipamento de som para reprodução de CD e instrumentos musicais disponíveis na unidade.

VOLUME 10 [12]12

projeto Guriprojeto Acervo culturalsuplemento: da sensibilização de timbres à manipulação de estruturas melódicas Autora: regina Antunes teixeira dos santos

AtividAdes pArA levAr pArA cAsA

Escolha uma cor diferente para representar cada família de instrumentos da orquestra:

No conjunto de instrumentos abaixo, circule todos os instrumentos pertencentes a uma mesma família, de acordo com a convenção de cores que você estabeleceu acima.

cordas metais

madeiras percussão

BOMBO

VIOLINO

PRATOS

PIANOCASTANHOLAS

TRIÂNGULO

XILOFONE

VIBRAFONE

CRAVO

GLO

CK

ENSPIEL

VIOLA

CA

RR

ILH

ÃO

FAG

OTE

TUB

A

TROM

PA

VIOL

ONCE

LO

TROM

PETE

TROMBONE

OBOÉ

CLARINTE

FLAUTA

HARPA

CONTRABAIXO

TAM-TAM

BOMBO

VIOLINO

PRATOS

PIANOCASTANHOLAS

TRIÂNGULO

XILOFONE

VIBRAFONE

CRAVO

GLO

CK

ENSPIEL

VIOLA

CA

RR

ILH

ÃO

FAG

OTE

TUB

A

TROM

PA

VIOL

ONCE

LO

TROM

PETE

TROMBONE

OBOÉ

CLARINTE

FLAUTA

HARPA

CONTRABAIXO

TAM-TAM

Resposta: Cordas: Violino, Viola, Violoncelo, Contrabaixo, PianoCravo, Harpa - Madeiras: Flauta, Oboé, Fagote, Clarinete - Metais: Trompa, Trompete, Trombone, Tuba - Percussão: Xilofone, Glockenspiel, Castanholas, Bombo, Tam-tam, Pratos, Vibrafone, Carrilhão, Triângulo

Pólo: ____________________________________________________________________Turma: ___________________________________________________________________Nome do Aluno (a): ___________________________________________________________


Encontre com o melhor contorno correspondente a cada melodia, relacionando as colunas:

Escolha uma melodia e proponha um contorno:

Melodia: __________________________________________________________________________

Contorno:

(1)

(2)

(3)

(4)

(5)

( ) Parabéns a você

( ) Coelhinho da Páscoa

( ) Hino nacional

( ) Marcha soldado

( ) Cai, cai balão

Resposta: (4) Parabéns a você, (5) Coelhinho da Páscoa, (1) Hino nacional, (2) Marcha soldado, (3) Cai, cai balãoprojeto Guriprojeto Acervo culturalsuplemento: da sensibilização de timbres à manipulação de estruturas melódicas Autora: regina Antunes teixeira dos santos

AtividAdes pArA levAr pArA cAsA

Pólo: ____________________________________________________________________Turma: ___________________________________________________________________Nome do Aluno (a): ___________________________________________________________

suplemento regina antunes teixeira dos santos

Documents