superávit primário

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  • Cadernos para DiscussoCadernos para Discusso

    $

    FBOFrum Brasil

    do Oramento

    FBOFrum Brasil

    do Oramento

    upervit Primrioupervit Primrio

  • FEDERAO INTERESTADUAL DESINDICATOS DE ENGENHEIROS

    ICAPGOPSS/FSS-UERJ

    Apoio:

  • 3 edio (revista e ampliada)

    maio, 2005

    Cadernos para DiscussoCadernos para Discusso

    $

    FBOFrum Brasil

    do Oramento

  • Autoria: Rodrigo vila/UNAFISCO, Renata Lins/PACSReviso: Gilda Cabral/CFEMEA e Roberto Bocaccio Piscitelli/CORECON-DFEdio: Daniela de Lima PintoEditorao: Ars Ventura Imagem & Comunicao

    O Frum Brasil do Oramento agradece a colaborao e participao de todas as pessoas e instituies que contriburam com sugestes de aperfeioamento deste Caderno.

    vila, RodrigoSupervit Primrio / Rodrigo vila, Renata Lins; reviso Gilda Cabral, Roberto Bocaccio Piscitelli. 3. ed. Braslia: Frum Brasil do Oramento, 2005 (Cadernos para Discusso)

    I. : Frum Brasil do Oramento- FBO II. Ttulo

    2004 by FBO - Frum Brasil do Oramento.O contedo desta publicao pode ser reproduzido e difundido desde que citada a fonte.

    1 Edio: 10 mil exemplares (agosto de 2004)2 Edio: 30 mil exemplares (outubro de 2004)3 Edio (revista e ampliada): 30 mil exemplares (maio de 2005)

    Frum Brasil do Oramento FBOSecretaria Executiva - CFEMEA - Centro Feminista de Estudos e AssessoriaSCS Quadra 2, Bloco C, Ed. Gois, Sala 60270317-900 - Braslia, Distrito Federal - BrasilTelefax: (61) 224-1791E-mail: [email protected] o nosso site:http://www.forumfbo.org.brApoio: Fundao Ford, ActionAid Brasil, AGERE, AMB, BAH, Campanha Educao, Critas Brasileira, CCLF, CFEMEA, CFESS, COFECON, CONAM, CORECON-DF, FISENGE, FPORJ, Fundao Abrinq, GESST/UnB, GOPSS/FSS-UERJ, IBASE, ICAP, INESC, Instituto Cultiva e UNAFISCO

  • Entidades que integram o FBO (em maio de 2005):

    ABRINQ Fundao Abrinq pelos Direitos da Criana e do Adolescente ActionAid BrasilAGENDE Aes em Gnero Cidadania e DesenvolvimentoAGERE Cooperao em Advocacy AMB Articulao de Mulheres Brasileiras AMENCAR Associao de Apoio Criana e ao AdolescenteCampanha Nacional pelo Direito Educao Critas BrasileiraCCLF Centro de Cultura Luiz FreireCENDHEC Centro Dom Helder Cmara de Estudos e Ao Social CENTRAC Centro de Ao Cultural/ParabaCFEMEA Centro Feminista de Estudos e Assessoria (Coordenao Executiva)CFESS Conselho Federal de Servio SocialCIDADE Centro de Assessoria e Estudos UrbanosCMP Central dos Movimentos PopularesCOFECON Conselho Federal de EconomiaColetivo Leila Diniz Aes de Cidadania e Estudos FeministasComunidade Bah do BrasilCONAM Confederao Nacional das Associaes de Moradores CORECON-DF Conselho Regional de Economia do Distrito Federal (Coordenao Executiva)CORECON-RN Conselho Regional de Economia do Rio Grande do NorteCORECON-SP Conselho Regional de Economia de So PauloFASE Federao dos rgos para Assistncia Social e EducaoFISENGE Federao de Sindicatos de Engenheiros/CUT (Coordenao Executiva)Frum de Acompanhamento do Oramento Pblico de So PauloFrum Municipal de Defesa dos Direitos da Criana e do Adolescente/Petrpolis-RJ FPOP Uberlndia Frum Permanente do Oramento Participativo /Uberlndia MGFPORJ Frum Popular do Oramento do Rio de JaneiroGESST/UnB Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Seguridade Social e Trabalho da Universi-dade de Braslia GOPSS Grupo de Estudos e Pesquisas do Oramento Pblico e da Seguridade Social da Universidade Estadual do Rio de Janeiro IBAM Instituto Brasileiro de Administrao MunicipalIBASE Instituto Brasileiro de Anlises Sociais e Econmicas (Coordenao Executiva)ICAP Instituto de Capacitao de Assessoria e ProjetosINESC Instituto de Estudos Socioeconmicos (Coordenao Executiva)Instituto CultivaMisso CrianaMMNPA Movimento de Mulheres do Nordeste ParaenseMNMMR Movimento Nacional de Meninos e Meninas de RuaMST Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (Coordenao Executiva)NP3/UnB Ncleo de Pesquisa em Polticas Pblicas da Universidade de BrasliaPACS Polticas Alternativas para o Cone SulUNAFISCO Sindical Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal (Coordena-o Executiva)

  • QUEM SOMOS

    O Frum Brasil do Oramento - FBO - uma articulao de entidades da socie-dade civil, apartidria, que acompanha os processos de elaborao, execuo e avaliao do oramento pblico da Unio, e trabalha pela defesa, ampliao e garantia da aplicao dos recursos pblicos nas polticas sociais, considerando os significados das escolhas polticas que determinam seu resultado e o impacto sobre as polticas pblicas.

    Para o FBO, o Oramento da Unio importante no apenas como pea tcnica necessria para o controle social dos gastos pblicos, mas principalmente como um instrumento de devoluo para a sociedade de parte da riqueza produzida pelo trabalho, na forma de financiamento s polticas promotoras da justia social.

    As entidades que compem o Frum lutam para mudar as prioridades oramen-trias do Pas, direcionando mais recursos para o desenvolvimento de polticas sociais que promovam a incluso e a igualdade, para fortalecer o controle social, para aumentar a transparncia na divulgao de dados do oramento pblico, facilitando, dessa forma, o monitoramento dos gastos e a participao social no acompanhamento e presso pela execuo oramentria. no cumprimento des-ta misso que o FBO elaborou este Caderno de Discusso.

    So objetivos do Frum Brasil do Oramento:

    1. atuar na formulao e controle do oramento federal, articulando e apoiando iniciativas da sociedade civil brasileira em benefcio de polticas sociais e do desenvolvimento sustentvel;

    2. buscar a transparncia, clareza e publicidade das informaes oramentrias, de forma a permitir o conhecimento mais amplo possvel, pela populao, da maneira como o Estado arrecada e gasta os recursos pblicos;

    3. defender e facilitar a ampla participao da populao na definio e controle do oramento pblico, por meio de diversos conselhos setoriais, audincias pblicas e outros processos participativos;

    4. buscar a reformulao e democratizao do processo oramentrio e de suas instncias decisrias, facilitando a compreenso do oramento federal pela po-pulao, disseminando informaes e mobilizando a sociedade para a discusso do tema.

  • SUMRIO

    APRESENTAO.................................................................................................. 7

    1. O QUE O SUPERVIT PRIMRIO?.................................................................. 9

    2. COMO O GOVERNO FAZ SUPERVIT?............................................................... 12

    3. QUAIS SO AS CONSEQNCIAS DO SUPERVIT PRIMRIO?........................... 143.1. Reduo dos Gastos Sociais.............................................................................. 14

    3.1.1. O que seria possvel fazer com o dinheiro do Supervit Primrio?......... 163.1.2. O que se faz com o dinheiro do Supervit Primrio?............................... 16

    3.2. Aumento da Carga Tributria............................................................................ 173.2.1. Injustias Tributrias.......... ...................................................................... 19

    3.3. Desmonte da Administrao Pblica................................................................ 21 3.4. Baixo Crescimento Econmico e Desemprego................................................ 21

    4. DVIDA PBLICA............................................................................................. 234.1. O Oramento e as prioridades do governo...................................................... 234.2. Que Dvida essa que nos leva a gerar contnuos Supervits Primrios?...... 244.3. Juros: Por que to altos?................................................................................... 26

    5. QUAIS SO AS ALTERNATIVAS?........................................................................ 285.1.Tributar os ricos e priorizar os gastos sociais ................................................... 285.2. Os pases desenvolvidos tm Supervit Primrio?........................................... 28

    5.2.1. Estados Unidos ....................................................................................... 295.2.2. Unio Europia ...................................................................................... 295.2.3. Malsia, ndia, China e Chile................................................................... 29

    6. A MOBILIZAO DA SOCIEDADE CIVIL............................................................. 31

  • 7APRESENTAO

    O Frum Brasil do Oramento - FBO - publica os Cadernos de Discusso, como forma de atuar e propor medidas que, no processo oramentrio da Unio, democratizem e materializem polticas pblicas sociais eficazes, sobretudo ao longo da elaborao e apreciao das Leis do Plano Plurianual PPA, de Diretrizes Oramentrias LDO e do Oramento Anual LOA, a partir da tica da Responsabilidade Social e do estmulo para o debate sobre um novo desenho para a ao pblica no Brasil.

    Este Caderno traz a discusso sobre o Supervit Primrio, um mecanismo contbil que se tornou prioritrio na poltica econmica oficial, ao destinar parcela con-sidervel dos recursos oramentrios para o pagamento dos juros da dvida, na tentativa de fazer o pas parecer mais confivel do ponto de vista dos credores, principalmente internacionais. Em contrapartida, esse mecanismo tem aumenta-do a dvida social, fazendo o Brasil poupar o que no pode, e arrecadando cada vez mais de forma extremamente injusta, onerando excessivamente os trabalha-dores e consumidores, ao mesmo tempo em que concede isenes e todo tipo de favores ao grande capital.

    Aqui, sero discutidos a origem desta poltica, seu contexto histrico e motiva-es, pois assim se torna mais fcil compreender questes como: para onde est indo o dinheiro dos nossos impostos? Como o governo gasta o que arrecada? Por que faltam recursos para projetos que possam reduzir desi-gualdades em reas sociais? O FBO quer contribuir para ampliar esta discusso, divulgando informaes, aumentando e qualificando a participao popular na definio e no acompanhamento da poltica econmica do Pas.

    Para o ano de 2005, a previso que cerca de R$ 82 bilhes sejam repassados, pela Unio, Estados e Municpios, para o Supervit Primrio. No entanto, os juros decorrentes do endividamento sero muito maiores que R$ 82 bilhes, obrigando o governo a tomar novos emprstimos. Enquanto isso, a dvida social s aumenta, juntamente com a recesso, o desemprego e a m qualidade dos servios pblicos essenciais. E forma-se o crculo vicioso que sustenta a desigual-dade: o pas que mantm o supervit na esperana de atrair capitais e crescer, fica impossibilitado de investir em reas essenciais para que haja crescimento econmico, com to grande ajuste fiscal. Menos crescimento, mais dependn-cia, mais endividamento e, com este, mais recomendaes neoliberais de ajuste fiscal.

  • 9$$

    1O QUE SUPERVIT PRIMRIO?Em primeiro lugar, preciso entender o que Dficit e o que Supervit . O Dficit ocorre quando as despesas so maiores que as recei-tas. O Supervit ocorre quando as receitas so maiores que as despesas, num perodo determinado. No caso do governo, o resultado (dficit ou supervit) igual aos gastos do governo menos as receitas do governo (como tributos diretos, indiretos e outras receitas).

    No caso do Supervit Primrio, quando se calcula receitas menos des-pesas, no so includos nessas ltimas os recursos destinados ao paga-mento dos juros da Dvida Pblica Interna e Externa. Por isso chama-se Supervit Primrio (para diferenciar do dficit ou supervit totais, que incluem os pagamentos de juros da dvida).

    O governo utiliza freqentemente os nmeros do Supervit Primrio para anunciar que est realizando uma poltica de austeridade fiscal, para dizer que o governo nunca pode gastar mais do que arrecada.

    Porm, como o Supervit Primrio no inclui as despesas com a dvida, que so muito maiores que esse supervit, esses nmeros no refletem a real situao das contas pblicas.

    Em 1998, o Brasil teve de recorrer ao FMI para conseguir mais um em-prstimo, para conseguirmos pagar nossa dvida externa. Como contra-partida, o FMI exigiu, entre outras coisas, a realizao de um Supervit Primrio de 2,6% do PIB para 1999 (meta esta ampliada posteriormente para 3,1%), com o objetivo de reduzir a dvida pblica.

    O governo diz que austero e fala de sade fiscal porque est realizando supervit primrio: apesar disso, quando as despesas com o pagamento dos juros da dvida so includas, o resultado um imenso dficit nas contas pblicas.

  • 10

    O governo fez mais: 3,19%. Da em diante, o governo no fez outra coisa a no ser cumprir com folga as metas de supervit impostas pelo FMI, at chegar ao recorde de 4,61% do PIB em 2004.

    Como se v na tabela a seguir, de 1999 a 2004, o Supervit Primrio sem-pre ficou muito abaixo do montante de juros que deveramos pagar. Mas o resultado que sempre tivemos grandes dficits, quando se conside-ra, como despesa, os gastos com juros.

    O Supervit Primrio era inicialmente usado para diferenciar o que era gasto de verdade (que resulta em benefcios para a populao e cres-cimento para o Pas) do que era mero pagamento por conta de dvida anterior. Posteriormente (a partir da orientao do FMI) que se adotou a meta de Supervit Primrio governo passa a ter como objetivo arre-cadar mais do que gasta, no considerando o pagamento de juros da dvida. Isso transforma o Supervit Primrio, de mera ferramenta contbil, em ponto essencial de poltica econmica. Esta passa a visar fundamen-talmente ao pagamento da dvida.

    O argumento dos economistas do governo (desde o governo FHC, inclusive, agora no governo Lula) que o supervit uma poupana ne-cessria para o pagamento dos juros da dvida pblica. Deve-se lembrar, entretanto, que o Brasil, ao priorizar o pagamento da dvida, tem deixa-do sistematicamente de gastar em programas e aes governamentais essenciais para o bem-estar de sua populao. Alm disso, em 2004, o governo Lula se comprometeu com uma meta de supervit de 4,5% do PIB, mais alta do que a requerida pelo FMI (3,75%) e realizou um supe-rvit de 4,61%! Para 2005, a meta de 4,25%, mas, at abril deste ano, esse percentual j atingiu mais de 7%!

    Fonte: Banco Central e Cartas de Inteno ao FMI

    CONTAS PBLICAS (UNIO, ESTADOS E MUNICPIOS) 1999-2004, EM % DO PIB

    Ano 1999 2000 2001 2002 2003 20041999 2001 2003

    Meta de supervit 2,6 2,8 3,0 3,5 4,25 4,52,6 3,0 4,25

    Supervit Primrio Realizado (a) 3,19 3,46 3,64 3,89 4,25 4,613,19 3,64 4,25

    Juros (b) 8,97 7,08 7,21 8,47 9,33 7,298,97 7,21 9,33

    Dficit Pblico (a-b) -5,78 -3,61 -3,57 -4,58 -5,08 -2,68-5,78 -3,57 -5,08

  • 11

    $$

    Assim, a meta de Supervit Primrio reverte, por parte do governo, em conteno de despesas, ajuste fiscal, arrocho, aperto fiscal. Ou seja: au-mentar os tributos (impostos) pagos pela populao e reduzir os gastos naquilo em que responsabilidade do governo gastar: pagamento de funcionrios pblicos e de aposentados, escolas, hospitais, postos de sade, estradas, segurana (que inclui policiamento, mas tambm aten-dimento de bombeiros, transporte de emergncias, controle do trnsito).

    Ter uma meta de Supervit Primrio significa necessariamente que o governo vai tirar da economia privada (na forma de tributos, que so a receita principal do governo) mais do que vai injetar nela (na forma dos gastos do governo).

    Mais do que Austeridade Fiscal, Supervit Primrio significa Sacrifcio Social!

  • 12

    2COMO O GOVERNO FAZ SUPERVIT?Existem trs formas de o governo obter um resultado positivo (supervit) quando calcula a diferena entre suas receitas e gastos:

    A mais conhecida e a mais garantida, do ponto de vista do governo, cortar os gastos, pois eles esto sob seu controle. Quando o governo corta gastos, estes podem ser da categoria despesas correntes (salrios, custeio do atendimento dos servios, transferncias) ou despesas de capital, investimento (infra-estrutura energia eltrica, transporte ferrovirio, rodo-vias, portos). Estes cortes afetam a vida de toda a populao brasileira: quando se faz supervit a partir de corte nos gastos pblicos, isso significa menos hospitais e escolas, menos m-dicos e professores, menos transporte pblico.

    A segunda maneira aumentar a receita, cobrando mais impostos, taxas e contribuies da populao. Aqui a dificul-dade j maior, porque os tributos so pagos essencialmente sobre a renda gerada, sobre a produo ou sobre transaes realizadas, e o governo no tem controle direto sobre estas situaes. Alm disso, a carga tributria brasileira j extre-mamente elevada. S para se ter uma idia, a carga tributria passou de 19,8% do PIB, em 1988, para 36%, em 2004.

    A terceira maneira, da qual pouco se fala, consiste em elevar a produo, a renda e, conseqentemente, as receitas geradas para o governo (impostos). Esta no mencionada, porque seria necessrio, para isso, num primeiro momento, que o go-verno aumentasse seus gastos (reduzisse o Supervit Primrio), dando um impulso ao crescimento. Num segundo momento que se poderia elevar as receitas do governo, com efeito posi-

    1

    2

    3

  • 13

    $$Em 2005, esse supervit significar algo em torno de R$ 82 bilhes (incluindo o supervit dos Estados e municpios). Se a meta fosse menor, o Brasil teria mais dinheiro para a sade e a educao, para reduzir o arrocho nos salrios dos funcionrios pblicos, para aumentar o salrio mnimo, para melhorar a vida das pessoas

    tivo sobre o supervit. Esta terceira forma, claro, o contrrio do que recomendam o FMI e o Banco Mundial.

    Pela poltica fiscal restritiva, em que o indicador principal a meta de Supervit Primrio, o caminho escolhido no o crescimento econmi-co, mas sim o da recesso.

  • 14

    3 QUAIS SO AS CONSEQNCIAS DO SUPERVIT PRIMRIO?

    3.1 - Reduo dos gastos sociais

    Com a poltica do Supervit Primrio, os gastos com Previdncia Social, Sade, Educao, Reforma Agrria e outros gastos sociais so reduzidos.

    Desde 1999, quando comeou a poltica de supervit, os gastos sociais foram reduzidos, se medidos em porcentagem da arrecadao federal, como pode ser visto no grfico a seguir.

    Fonte: SRF e Secretaria do Tesouro Nacional. Elaborao: Assessoria Econmica do Unafisco Sindical

  • 15

    No ano de 2004, foram gastos, pela esfera federal, R$ 70,03 bilhes para todas as reas sociais listadas na tabela a seguir. Em 2005, esses gastos sero de R$ 84,06 bilhes, valor este quase equivalente ao Supervit Primrio previsto para 2005, de R$ 82 bilhes, para as esferas federal, estadual e municipal.

    O corte de R$ 15,9 bilhes do oramento, em 25/02/2005

    Para preservar e antecipar a meta de Supervit Primrio de 2005, o Go-verno Federal anunciou, em 25 /02/2005, um corte de gastos de R$ 15,9 bilhes, valor este equivalente a quase todo o oramento anual da edu-cao ou da assistncia social. Algumas reas sociais perderam quase todos os seus recursos, o que levou a uma total descaracterizao do oramento anteriormente votado pelo Poder Legislativo. reas como Esporte e Turismo perderam cerca de 80% de seus recursos, enquanto a Cultura perdeu 42%, e Transportes, 30%, piorando as j pssimas condi-es das estradas brasileiras.

    reas Gastos Oramento da Unioselecionadas (R$ bilhes - 2004) (R$ bilhes - 2005)

    Sade 32,97 36,68

    Educao 14,53 17,31

    Assistncia Social 13,86 15,95

    Organizao Agrria 2,62 4,02

    Segurana Pblica 2,77 3,42

    Urbanismo 1,19 2,73

    Gesto Ambiental 1,19 2,44

    Habitao 0,49 0,72

    Cultura 0,32 0,58

    Saneamento 0,08 0,20

    Total dos gastos sociais selecionados 70,03 84,06

    Superavit Primrio (*) 81 82

    Fonte: Secretaria do Tesouro Nacional e Lei Oramentria Anual 2005(*) Referente s esferas federal, estadual e municipal. 2005: previso

    Governo Federal Oramento 2005 reas selecionadas

  • 16

    3.1.1. O que seria possvel fazer com o dinheiro do Su-pervit Primrio?

    Em 2005, est previsto um Supervit Primrio, das esferas federal, estadual e municipal, de R$ 82 bilhes. Este dinheiro seria suficien-te para:

    Recuperar 10 vezes todas as estradas federais que se encon-tram em mau estado

    construir 16,4 milhes de casas populares (de alvenaria, com 40 a 50 m2, de acordo com mtodo elaborado pela COPPE/UFRJ, ao custo unitrio de R$ 5 mil), o que eliminaria todo o dficit habitacional brasileiro;

    assentar dois milhes de famlias sem-terra, ou seja, metade de todos os sem-terra do Brasil;

    gerar quatro milhes de empregos na agricultura (cujo custo mdio por emprego gerado de R$ 20 mil);

    3.1.2. O que se faz com o dinheiro do Supervit Primrio?

    Nem todo o Supervit Primrio destinado ao pagamento da dvida. Parte dele fica parado no caixa do governo, formando uma reserva de recursos, simplesmente para provar aos credores que o governo poder pagar sua dvida. Outra funo dessa reserva diminuir a quantidade de dinheiro circulando na economia, na tentativa de se controlar a inflao. De 1999 a 2004, apenas cerca de 40% do supervit foram destinados ao pagamento da dvida (juros e amortizaes). Enquanto isso, mais de R$ 120 bilhes (mais de 60% do Supervit destes 6 anos) continuam parados no caixa do governo.

    $$

  • 17

    ExerccioJuros e

    encargos Amortizaes

    Supervit Primrio Federal

    (*)

    Recursos do supervit

    parados no caixa do governo

    % Supervit NO utilizado com

    a dvidaSoma

    3.2. Aumento da carga tributria

    Para cumprir a meta de Supervit Primrio, o governo aumenta os impos-tos pagos pela sociedade, pois assim ele pode pagar os juros da dvida ou a maior parte deles. De 1995 a 2004, a carga tributria aumentou de 29% para 36% do PIB, como pode ser visto no grfico a seguir:

    Fonte: Secretaria da Receita Federal, Banco Central, Confaz. Elaborao: Assessoria Econmica do Unafisco SindicalObs: A carga tributria municipal de 2004 foi estimada, mantendo-se a carga de 2003.

    Juros eencargos Soma

    Recursos do supervit

    parados no caixa dogoverno

    Fonte: SIAFI(*) Sem considerar o supervit primrio das empresas estatais

    1999 4.748,8 2.496,4 7.245,2 25.053,7 17.808,5 71,1

    2000 0,5 8.865,9 8.866,4 21.821,0 12.954,6 59,4

    2001 1.378,8 15.454,8 16.833,6 21.979,8 5.146,1 23,4

    2002 3.373,5 11.590,2 14.963,7 31.919,0 16.955,3 53,1

    2003 331,0 11.018,4 11.349,4 38.744,0 27.394,6 70,7

    2004 2.972,0 9.011,4 11.983,4 52.385,2 40.401,8 77,1

    Soma 12.804,7 58.437,0 71.241,7 191.902,7 120.661,0 62,9

    Utilizao do supervit do governofederal com a dvida

    UTILIZAO DOS RECURSOS DO SUPERVIT PRIMRIO FEDERAL (Em R$ milhes)

  • 18

    Neste perodo, o aumento da arrecadao se deu, principalmente, atravs da criao ou aumento de tributos incidentes sobre o consumo, ou seja, aqueles embutidos no preo dos produtos, que oneram mais os pobres do que os ricos.

    A populao de menor renda, por gastar todo ou a maior parte do seu salrio em consumo, paga, proporcionalmente, mais tributos do que os ricos, que podem poupar parte de sua renda, escapando, assim, dessa tributao.

    J os tributos incidentes sobre a renda e o patrimnio continuam respon-dendo pela menor parte do bolo arrecadado, ao contrrio do que ocorre nos pases desenvolvidos. Isto difcil de entender para o Brasil, pas que apresenta uma das maiores concentraes de renda do mundo.

    A maior parte do aumento da arrecadao nestes ltimos 10 anos foi destinada gerao do Supervit Primrio, para o pagamento dos juros da dvida pblica. Por outro lado, esse aumento nos impostos no signifi-cou mais recursos para os programas e polticas sociais ou o pagamento de outras despesas do governo, como mostra o grfico a seguir:

    O FBO organizou, junto com outras entidades, em setembro de 2004, o Feiro dos Impostos, que mos-trou populao o elevado peso dos impostos nos produtos que compramos todos os dias.

  • 19

    Outra injustia tributria que penaliza os mais pobres o baixo limite de iseno do Imposto de Renda-Pessoa Fsica, hoje inferior ao salrio de subsistncia de uma famlia-padro, com dois filhos.

    3.2.1. Injustias tributrias

    Enquanto os trabalhadores pagam cada vez mais, para garantir o supe-rvit primrio, os mais ricos so cada vez mais beneficiados com privil-gios tributrios, como se poder verificar a seguir.

    Privilgio dos juros sobre o capital prprioTrata-se de um privilgio que s existe no Brasil - para as rendas do capital, permitindo s grandes empresas capitali-zadas considerar como despesa e, assim, reduzir seu lucro tributvel os juros que teriam pago caso seu capital tivesse sido tomado emprestado. Os scios e os acionistas da em-presa, que recebem esse rendimento, geralmente em valores expressivos, pagam apenas 15% de imposto de renda na fon-te, enquanto os assalariados pagam at 27,5%. Esta vantagem

    Fonte: Secretaria da Receita Federal e Banco Central. Elaborao: Assessoria Econmica do Unafisco Sindical

    1

  • 20

    beneficia as empresas mais capitalizadas, principalmente os bancos. Hoje, o governo deixa de arrecadar cerca de R$ 3,2 bilhes por ano, devido a este privilgio .

    Iseno da distribuio de lucros e dividendos e da re-messa de lucros para o exteriorDesde 1996, os proprietrios de empresas no pagam im-posto de renda quando recebem seus lucros e dividendos, sejam donos nacionais ou estrangeiros. Isso significa que as remessas de lucros para o exterior so isentas. Anualmente, o governo deixa de arrecadar cerca de R$ 6,4 bilhes, devido a esta concesso.

    Reduo de tributos para grandes lucros. Na era FHC, foi reduzida de 25% para 15% a alquota do imposto de renda de empresas, e de 15% para 10% o adicional de Imposto de Renda sobre lucros acima de R$ 240.000 anuais.

    A alquota da Contribuio Social sobre o Lucro Lquido - CSLL paga pelos bancos decresceu a partir de 1997 de 30% para 18% e a partir de fevereiro de 1999 para 8%.

    Mas essas injustias podem e devem ser mudadas. Apenas exem-plificando o que se poderia ter como princpios para uma reforma tributria justa:

    Acabar com a tributao incidente sobre produtos essen-ciais sobrevivncia.

    Aumentar os tributos sobre latifndios, heranas, fortunas e grandes rendas.

    Restabelecer a tributao sobre os lucros distribudos pelas empresas a seus proprietrios.

    Tributar as remessas de lucros para o exterior.

    Acabar com a deduo de juros sobre capital prprio.

    2

    3

  • 21

    Quem se beneficia das isenes tributrias e do supervit primrio ? OS BANCOS, em primeiro lugar.

    3.3. Desmonte da administrao pblica

    De 1995 a 2004, o governo federal reduziu drasticamente os gastos com pessoal: estes caram de 56% para 30,1% da sua Receita Corrente Lquida que so as receitas federais menos as transferncias para Estados e mu-nicpios, e outras destinaes previamente definidas.

    Com a reduo drstica dos gastos com pessoal o Estado deixa de ga-rantir a prestao adequada dos servios sociais bsicos, como sade, educao, reforma agrria, segurana.

    3.4. Baixo crescimento econmico e desemprego

    O aumento da carga tributria e a reduo dos gastos pblicos (resultan-tes da necessidade de gerar supervit primrio) resultantes da necessida-de de gerar Supervit Primrio, causam o baixo crescimento econmico e o aumento do desemprego.

    A crescente carga tributria sobre o consumo faz com que os produtos fiquem mais caros, impedindo, assim, que muitas famlias possam com-pr-los. Se as famlias no compram, as fbricas no se sentem estimula-das a produzir. Se no produzem, no empregam.

    Por outro lado, a falta de gastos pblicos inibe a atividade econmica.

    $$ De 1994 a 2003, os 10 maiores bancos aumentaram seus lucros em 1039% (Fonte: ABM Consulting) O lucro lquido dos 27 bancos que j publicaram seus balanos de 2004 aumentou 22,4%, em relao a 2003 (Fonte: Consultoria Austin Rating) O grupo Ita registrou lucro lquido de R$3,776 bilhes em 2004, o maior resultado da histria do sistema bancrio brasileiro (Fonte: Consultoria Economtica)

  • 22

    Ou seja: se no so realiza-das obras pblicas alta-mente empregadoras, tais como escolas, hospitais, projetos de saneamento bsico ou de habitao po-pular, alm de no serem gerados postos de trabalho, no se eliminam os tais gargalos, os obstculos ao crescimento, e os prprios investidores se sentem inibidos, desestimulados.

    O grfico acima mostra que, desde o incio da poltica de supervit (1999), a economia apresenta nveis medocres de crescimento do PIB per capita, que significa o PIB dividido pela populao do pas.

    Assim, a taxa de desemprego explode, porque as pessoas que entram no mercado de trabalho todo ano no encontram ocupao, j que a economia fica estagnada.

    A tabela abaixo mostra que o desemprego aumentou sobremaneira de 1997 para 2004 e uma das causas a poltica de Supervit Primrio.

    O desemprego faz com que os trabalhadores tenham de aceitar salrios menores para no serem demitidos. Em termos de compromisso com os interesses com o cidado, num Pas em que os trabalhadores pobres so a maioria, a valorizao do salrio mnimo essencial, do mesmo modo que a preservao da renda e da dignidade dos aposentados e pensionistas.

    Regio Metropolitana 1997 2004 Salvador 22 26So Paulo 16 19Porto Alegre 13 16Belo Horizonte 13 19Distrito Federal 18 21Fonte: DIEESE

    TAXA DE DESEMPREGO (%)

    Salvador 22 26

    Porto Alegre 13 16

    Distrito Federal 18 21

    Font

    e: IB

    GE

  • 23

    4 DVIDA PBLICA4.1 O oramento e as prioridades do governo

    Se imaginarmos que o Oramento Pblico uma Caixa D`gua, tera-mos: de um lado ela sendo abastecida pelos contribuintes - trabalhado-res, consumidores, empresrios e todas as pessoas que pagam tributos; de outro, possui vrias torneiras, que so o destino dos recursos.

    Como vimos - no item 3.2, os trabalhadores e consumidores princi-palmente os mais pobres so os que mais contribuem para encher a caixa d`gua. Por outro lado, os mais ricos, grandes empresrios e banqueiros contribuem muito pouco para o financiamento do Estado Brasileiro.

    J do lado das despesas, vemos que a prioridade absoluta o pagamen-to da dvida, para onde se escoa a maior parte dos recursos pblicos. A dvida representa a torneira de baixo, ou seja, que receber gua de qualquer forma, mesmo que a caixa d`gua esteja quase vazia.

    TRABALHADORESASSALARIADOS E CONSUMIDORES

    BANQUEIROS E GRANDES

    EMPRESRIOS

    INVESTIMENTOS

    DESPESASOBRIGATRIAS

    GASTOS COM A DVIDA PBLICA

    Infra-estrutura: energia eltrica, transporte

    ferrovirio, rodovias, portos, construo de

    hospitais e escolas

    Educao, Sade, Previdncia,

    pagamento de pessoal etc

    ORAMENTOGERAL

    DA UNIO

  • 24

    Em seguida, vm os chamados gastos obrigatrios, ou seja, aquelas despesas que, por lei, devem ser destinadas a determinadas reas, como sade, educao e pagamento de pessoal. Porm, apesar disso, a fatia do oramento que destinada a esses gastos tm cado ano a ano, pois o governo tem alterado essas leis, ou mesmo porque o governo no tem cumprido a legislao.

    Em ltimo lugar, na ordem de prioridades, vm os investimentos, como, por exemplo, a construo de novas estradas, escolas, hospitais etc. Caso a caixa d`gua baixe um pouco, os investimentos so logo cor-tados, como ocorreu em 25/02/2005, com o contingenciamento de. R$ 15,9 bilhes cortados do oramento de 2005, dos quais R$ 9 bilhes se referiam a investimentos.

    4.2. Que dvida essa que nos leva a gerar contnuos Supe-rvits Primrios?

    A dvida pblica tem origem externa (a dvida em dlares ou outras moe-das, devida a credores estrangeiros) e origem interna (a dvida devida em reais a credores supostamente nacionais, embora parte dela esteja em dlares, para dar garantia aos credores de que no perderiam em caso de desvalorizao do real).

    Durante a ditadura, na dcada de 1970, os governos militares brasileiros tomaram vultosos emprstimos junto aos bancos estrangeiros, a juros flutuantes. Ou seja: estes bancos poderiam aumentar, o quanto quises-sem, as taxas de juros que pagvamos a eles. Assim, no final da dcada de 70, os credores quintuplicaram essas taxas, o que seria ilegal, pelo Direito Internacional.

    Nos anos 90, o Pas foi submetido a mais um ciclo de endividamento externo e interno, para financiar a enxurrada de importaes do Plano Real, quando o cmbio permaneceu fixo durante vrios anos. As altas taxas de juros internas, estabelecidas para atrair o capital externo deter-minaram tambm o aumento da dvida interna.

  • 25

    $$Apesar dos altos supervits primrios realizados desde ento, a dvida s cresceu. Isto porque os juros devidos so muito maiores que os supervits gerados.

    Font

    e: B

    anco

    Cen

    tral

    Assim, nossa dvida pblica foi crescendo. De 1995 a 2004, a Dvida L-quida do Setor Pblico (que soma as dvidas externa e interna) subiu de 29,35% para 51,87% do PIB.

    Como mostra a tabela da pgina 10, hoje sabe-se que o valor que est sendo economizado pelo Supervit Primrio, a cada ano, no sufi-ciente (e no pode ser totalmente utilizado) para pagar o total dos juros da dvida. Em 2004, por exemplo, o Governo Federal tinha de pagar R$ 79 bilhes em juros da dvida (segundo o Banco Central). Como o su-pervit primrio federal foi de R$ 52 bilhes, o esforo fiscal s permitiu pagar 65% do custo da dvida pblica.

    Os outros 35% teriam que ser rolados, ou seja, o governo obrigado a tomar novos emprstimos para conseguir pagar estes juros.

    Em Carta de Inteno enviada ao FMI, em junho de 2004, o governo Lula informa que continuar com a mesma poltica at o final de seu gover-no. Ou seja: o governo continua acreditando que o supervit primrio capaz de reduzir a dvida.

  • 26

    $$ Mas, preciso ressaltar que o prprio governo o maior respon-svel pela elevao dos preos. Nos ltimos 10 anos, as tarifas, os preos, controlados pelo governo, subiram cerca do dobro dos demais preos.

    A Lei de Diretrizes Oramentrias enviada ao Congresso, em abril de 2005, mantm a meta de supervit primrio em 4,25% do PIB para o pe-rodo de 2005 a 2008, e refora o compromisso do governo em reduzir a dvida pblica, conforme quadro abaixo:

    4.3. Juros: Por que to altos?

    Hoje, o Brasil possui a maior taxa de juros do mundo, o que aumenta a dvida pblica e encarece os emprstimos, desecorajando as pessoas a investirem em novos negcios, o que causa desemprego. O governo alega que os juros altos so necessrios para se controlar a inflao. Mas como os juros controlam a inflao? Com juros altos, as empresas reduzem seus investimentos e preferem aplicar em ttulos do governo (que so seguros e remuneram bem). Resultado: as pessoas no tm emprego, portanto no tm renda, e assim no compram nada, obrigan-do os comerciantes a reduzirem seus preos para poderem vender algo, se conseguirem sobreviver.

    Assim, o mesmo governo responsvel pela inflao alega que tem de aumentar os juros para segurar os preos! E assim vem a recesso, o desemprego, os baixos salrios...

    Composio do Supervit Primrio:

    Oramento fiscal e da seguridade social (Unio)............................. 2,45%Empresas Estatais Federais (Unio)................................................... 0,70%Estados e Municpios ........................................................................ 1,10%Setor Pblico Consolidado ................................................................ 4,25%Projeto - Piloto: R$ 3,0 bilhes em 2007 e 2008 (recursos deduzidos do Supervit Primrio)

    Fonte: Ministrio do Planejamento, Oramento e Gesto

    Manuteno da atual meta de supervit primrio para 2006, 2007 e 2008 (4,25% do PIB)

    Fonte: Ministrio do Planejamento, Oramento e Gesto

  • 27

    Alm disso, a dvida (mesmo a interna) depende hoje tambm do preo do dlar. Se h uma crise, por menor que seja, o dlar aumenta, aumen-tando o valor da dvida. Isso porque uma parte da dvida, mesmo sendo contratada dentro do Brasil, foi indexada ao dlar. verdade que o governo reduziu a parcela da dvida indexada ao dlar. Mesmo assim, o supervit e todo o sacrifcio do povo - no suficiente nem para pagar os juros da dvida. por isso que muitos economistas falam do crculo vicioso em que o Pas se meteu: no se desenvolve porque no pode gastar; no gasta porque no se desenvolve.

    A cada 0,25% de aumento na taxa de juros Selic, a dvida interna federal aumenta R$ 1,3 bilho a mais por ano (dados do economista Reinaldo Gonalves). Pode-se tambm dizer que a cada 1% de aumento na taxa de juros Selic, h um aumento de R$ 5,2 bilhes na dvida inter-na federal. Esses R$ 5,2 bilhes seriam suficientes para se recuperar mais da metade das estradas federais que se encontram em mau estado.

    $$A dvida brasileira no pra de crescer porque uma parte dela depende do tamanho dos juros. Como os juros so altos, a dvida aumenta automaticamente.

  • 28

    5 QUAIS SO AS ALTERNATIVAS?5.1. Tributar os ricos e priorizar os gastos sociais

    Para se reduzir desigualdades e desconcentrar renda, os trabalhadores, assalariados e contribuintes deveriam ser os que menos pagam tributos, ou seja, os que contribuem menos para encher a Caixa Dgua. Por outro lado, os mais ricos seriam os que mais deveriam contribuir para o financiamento do Estado. No lado das despesas, o fundamental a priorizao aos gastos sociais, e no o pagamento da dvida.

    5.2 Os pases desenvolvidos tm supervit primrio?

    Ao contrrio do que muitos dizem, a poltica implementada pelo governo brasileiro no a nica possvel. Pases desenvolvidos, como os Estados Unidos e alguns da Unio Europia, praticam contnuos dficits ora-mentrios, baixas taxas de juros, e no aumentam os tributos (os EUA, pelo contrrio, os reduzem), e protegem seus pases contra a entrada de produtos importados. Tudo isso para induzir o crescimento econmi-co interno. Estes pases nos receitam, atravs do FMI, um remdio que jamais tomariam!

    Medidas Adotadas pelo Brasil

    Reduo das Tarifas Alfandegrias

    Aumento de Impostos (para fazer supervit)

    Altas Taxas de Juros (mais de 10% ao ano, descontada a inflao)

    Supervit Primrio

    Medidas Adotadas pelos EUA e Unio Europia

    Proteo contra as Importaes

    Reduo de Impostos (nos EUA)

    Baixas Taxas de Juros (1 a 3% ao ano)

    Dficit Primrio

    Reduo de Impostos (nos EUA)Aumento de Impostos (para fazer supervit)

    Dficit PrimrioSupervit Primrio

  • 29

    5.2.1. ESTADOS UNIDOS

    Nos EUA, quando acontece uma crise (como, por exemplo, a do 11 de setembro de 2001), o que se faz imediatamente pensar em uma forma de aumentar os gastos pblicos, de modo a minimizar o risco de reces-so. Em 2004, o dficit pblico dos EUA chegou a 3,6% do PIB.

    Eles aprenderam a importncia dos gastos do governo para a economia do Pas com a crise de 29, quando sucessivos supervits pblicos gera-ram um descompasso entre a bolha financeira e a real evoluo da produo e do emprego, causando a quebra da bolsa de Nova Iorque, um caos para o pas.

    A brutal recesso que se seguiu s foi revertida a partir do chamado New Deal (novo pacto), do presidente Roosevelt, que tinha como base o aumento significativo do gasto pblico, a partir do qual os EUA conse-guiram retomar o crescimento.

    5.2.2. UNIO EUROPIA

    H trs anos, Frana e Alemanha realizam um dficit maior que a meta acordada de dficit primrio, de 3%, por considerarem que esta exces-sivamente restritiva e ameaaria as suas economias. Este fato levou a uma reavaliao desta meta pelo centro de comando da Unio Europia (UE), de forma a afrouxar o limite (ou seja, a aumentar o dficit pblico permitido). A UE entende que pouco gasto do governo reduz as possibi-lidades de retomada do crescimento.

    5.2.3. MALSIA, NDIA, CHINA E CHILE

    Na Malsia, a taxa de juros hoje de 2,9%. O pas implantou mecanis-mos de controle do fluxo de capitais. Assim, no necessrio que os juros se elevem para o capital financeiro permanecer no pas. Como resultado, a Malsia no tem um crescimento explosivo de seu endivida-mento (o que a livra de realizar altos Supervits Primrios), tem um cres-cimento do PIB de 5,7%, e desemprego de 3%. Mecanismo semelhante

  • 30

    foi implantado no Chile, onde o capital financeiro penalizado com um pesado tributo se sair do pas a curto prazo.

    Na ndia, h dficit pblico de 10% do PIB desde 1999, o crescimento de 6% ao ano, os juros so prximos de zero, e a inflao de apenas 4%. Como isto possvel? Entre outras coisas, devido ao controle sobre os fluxos de capital.

    Na China, tambm h controles sobre o fluxo de capitais. Isto d mar-gem ao governo para elaborar uma poltica econmica soberana, que obriga, por exemplo, as empresas estrangeiras a repassarem tecnologia ao pas. Assim, a China reduz as suas importaes, e no precisa endivi-dar-se externamente de uma forma explosiva, como se deu no Brasil.

  • 31

    6 A MOBILIZAO DA SOCIEDADE CIVILNos ltimos anos, vrios movimentos, campanhas e articulaes de entidades da sociedade civil surgiram, exigindo mudanas no modelo de desenvolvimento econmico adotado pelo Estado brasileiro. Em setem-bro de 2000, as entidades integrantes da Campanha Jubileu Sul realiza-ram o Plebiscito da Dvida Externa. Aproximadamente 6 milhes votaram contra a manuteno do acordo com o FMI, contra a continuidade do pagamento da Dvida Externa sem a realizao da auditoria prevista na Constituio Federal de 1988 e contra a destinao de grande parte dos recursos oramentrios para o pagamento da dvida interna.

    Como o governo federal at hoje no realizou a auditoria da dvida, desrespeitando a Constituio e o desejo destes cerca de 6 milhes de pessoas, est sendo realizada a Auditoria Cidad da Dvida, movimento inserido na Campanha Jubileu Sul, cujo objetivo dissecar o processo de endividamento do Pas, revelar a verdadeira natureza da Dvida e, a partir da, promover aes no sentido de reduzir o montante das Dvidas Interna e Externa. O grupo de trabalho da Auditoria Cidad tem acessado documentos e realizado estudos, visando resgatar o processo histrico e, simultaneamente, tem acompanhado a evoluo do endividamento e seus mecanismos na atualidade. Todos os trabalhos realizados so amplamente divulgados por meio de publicaes didticas, tais como boletins, cartilhas, vdeo e livro, alm do stio na internet www.divida-au-ditoriacidada.org.br.

    A experincia brasileira da Auditoria Cidad da Dvida tem sido divulga-da no exterior e adotada por entidades da sociedade civil em diversos pases da Amrica Latina, na frica do Sul e na sia. Como outras iniciativas da sociedade civil, destacamos, no primeiro semestre de 2003, a mobilizao realizada pela Abong Associao Bra-sileira de Organizaes No-Governamentais e pela Inter-redes Direitos e Poltica, para a realizao, em todas as capitais, de 27 Fruns de Parti-cipao Social, onde foram discutidas as diretrizes estratgicas do Plano

  • 32

    Plurianual (PPA 2004-2007), mobilizao essa que teve efetiva participa-o das entidades que integram o FBO Frum Brasil do Oramento.

    Em novembro de 2003, no Frum Social Brasileiro, realizado em Belo Horizonte, o FBO Frum Brasil do Oramento realizou a oficina Por uma Lei de Responsabilidade Social, iniciando o debate e a elaborao estratgica para ampliar e fortalecer o controle social sobre o Estado brasileiro a partir da participao da sociedade civil.

    Durante todo o ano de 2004 e, em janeiro de 2005, no V Frum Social Mundial, o FBO realizou e promoveu debates sobre a poltica econmica adotada pelo governo brasileiro, mostrando que existem alternativas para o atual modelo neoliberal e que o Estado brasileiro deve se preocu-par em pagar a sua imensa dvida social.

    Mais informaes e como participar da Campanha pela Construo Democrtica de uma Lei de Responsabilidade Social, podem ser encon-tradas nos sites do FBO e das entidades que o compe.

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