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Vozeiro de Primeira Linha www.primeiralinha.org Ano VIII • Nº 30 • Segunda jeira • Outubro, Novembro e Dezembro de 2003 2 Ramom Soares Picalho Ernesto Vazquez Souza 3 25 anos de opressom constitucional André Seoane Antelo 3 A contrarreforma educativa Henrique do Bosque 4 Acçom comunista em tempo de maré baixa Francisco Martins Rodrigues 4 Mulher e capitalismo: a violência por sistema Noélia Fernandes Marquês 5 Quadragéssimo aniversário da UPG: um olhar marxista às suas limitaçons congénitas Carlos Morais 6 Ecologia aqui e agora Antom Garcia Matos 6-7 Formas de organizaçom unitária das forças populares de parámetros nacionais (I) Maurício Castro 8-9 Contra a Constituiçom europeia ou contra a Europa capitalista? Iñaki Gil de San Vicente 9 Tornarmos proveitoso o contexto adverso Eduardo Sanches Maragoto 10 Os cans de guarda. Algumhas reflexons a respeito das classes médias e da sua ideologia Domingos A. Garcia 10-11 Portugal: Novas do meu país Ana Barradas 11 Chechénia: quatro anos de guerra e silêncio Carlos Taibo 11 Resistência iraquiana: signo esperançador da impotência imperialista no actual caos sistémico mundial capitalista Justo de la Cueva 12 Esquerda e questom nacional na Galiza republicana Dionísio Pereira Sumário O debate do “Estado da Autonomia” deste ano coincidiu com o vigéssimo quinto aniversário da aprovaçom da Constituiçom espanhola com que o capi- tal pretendeu impor o actual regime, -prolongaçom e apêndice do fascismo-, e com o primeiro do início da crise nacional provocada polo afundamento do Prestige. As três forças políticas com presença no parlamentinho do Hórreo, apa- rentando absoluta “normalidade democrática”, representárom um guiom de sobras conhecido. Reclamaçom ou satisfaçom por mais ou menos competên- cias; críticas superficiais à gestom do autoritarismo fraguiano; comedidas de- núncias das incumpridas falsas promesas do Plan Galicia, do estado actual da costa e da crise dos sectores produtivos ligados directa e indirectamente com o mar; discursos vácuos, educados, carregados de cortesia parlamentar, mas completamente arredados da realidade social, laboral, cultural, dos proble- mas reais da maioria deste país. O diagnóstico e a implacável denúncia das causas estruturais da grave si- tuaçom em que se acham as classes trabalhadoras galegas estivo ausente mais um ano. A dependência nacional que padece a Galiza por parte do pro- jecto imperialista espanhol, a necessidade de exercer o direito democrático de autodeterminaçom, a democracia vigiada e em paulatino retrocesso, nom existírom para @s deputad@s. O PP recuperado da crise de legitimidade provocada polo movimento de massas, articulado à volta do Prestige e contra a intervençom imperialista no Iraque, graças à direcçom pactista imposta polo autonomismo; o PSOE afor- talado polo oportunismo da sua hipócrita participaçom nesse movimento so- cial; e o BNG mais preocupado pola reconfiguraçom da correlaçom interna de forças das suas elites e por demonstrar ser um aluno avantajado na defesa crítica, mas defesa a fim de contas, do regime vigente que por defender os interesses populares; encenárom umha farsa que os meios de comunicaçom da burguesia apresentárom como a mostra mais elaborada de umha socie- dade democrática e pluralista alicerçada nesse totem denominado pax social. Tam só a esquerda independentista estivo presente no espaço natural da luita da classe operária e dos sectores populares, na rua, reclamando auto- determinaçom e democracia para a Galiza, e portanto padecendo a violência sistémica dum regime corrupto e mafioso. Tam só o MLNG voltou a expor a única alternativa viável e realista para superar o caos do presente: dotar-nos de um Estado próprio ao serviço d@s trabalhadoras/es. Eis a radiografia sin- tética da actual situaçom da luita de libertaçom nacional e social de género na Galiza. Porque nunca nos cansaremos de dizer que nom é viável transformar o sis- tema desde dentro; que nom é possível mudanças substanciais da ordem so- cial vigente mediante reformas graduais. Após vinte e cinco anos de farsa de- mocrática espanhola somente a luita organizada do povo trabalhador evitará mais recuos nas condiçons de vida, um maior deterioramento dos serviços públicos, o incremento do desemprego, da eventualidade laboral, da sobre- exploraçom das mulheres e da mocidade, da destruiçom planificada do idio- ma e a cultura galega, do avanço do fascismo. Autoorganizaçom, autogestom, autodeterminaçom e autodefesa som os ei- xos sobre os quais devemos seguir construindo o projecto revolucionário ga- lego. Mas enquanto as corruptas elites do BNG se beneficiam das migalhas que lhes concede Espanha e o capital pola sua disciplinada obediência, o projec- to espanhol continua a sua deriva fascista incrementando a sobre-explora- çom das naçons que oprime, da classe trabalhadora, e das mulheres, como fórmula para poder sair da crise económica e de legitimidade em que se acha. Enquanto os “debates” do autonomismo giram entre as duas faces da mes- ma moeda, sem divergências políticas e ideológicas, o grande capital, tal co- mo solicitou há umhas semanas a Aznar José Maria Cuevas, -o patrom dos empresários espanhóis-, opta pola via fascista, para continuar recortando di- reitos laborais e sociais, para continuar empobrecendo às massas, para con- tinuar incrementando os gastos em armamento e a reforçar as intervençons militares imperialistas tuteladas polo amo ianque. A resistência guerrilheira no Iraque e no Afeganistám, a revolta popular na Bolívia, o incremento das luitas dos povos pola liberdade e a justiça social em todo o planeta, constatam que o imperialismo, que o capitalismo nom é in- vencível. Nas ruas de Bagdad, nas montanhas da Colômbia, na Palestina mas- sacrada, nas fábricas, nos bairros, nos campos e nos centros de ensino de meio mundo, cresce a resistência popular e fracassa a via reformista. Hoje, igual que em qualquer outra época da história humana, só há umha alterna- tiva para atingir paz, igualdade, liberdade: luitar até vencer. Para comemorarmos o número trinta do Abrente, este exemplar tem mais páginas e mais colaboraçons das habituais. A publicaçom decana da impren- sa da esquerda independentista congratula-se de continuar interrompida- mente mais de oito anos informando das luitas do povo trabalhdor galego, mas sobretodo de contribuir para construir a imprescindível e insubstituível corrente comunista no seio do MLNG. Editorial

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Page 1: Sumário - Primeira Linha · 2003-11-12 · sas políticas, o que intensificou o seu antiestalinismo. Assiste à derradeira sessom das Cortes no Castelo de Figueres e fai, em companha

Vozeiro de Primeira Linha www.primeiralinha.org Ano VIII • Nº 30 • Segunda jeira • Outubro, Novembro e Dezembro de 2003

2 Ramom Soares PicalhoErnesto Vazquez Souza

3 25 anos de opressom constitucionalAndré Seoane Antelo

3 A contrarreforma educativaHenrique do Bosque

4 Acçom comunista em tempo de marébaixa

Francisco Martins Rodrigues

4 Mulher e capitalismo: a violência porsistema

Noélia Fernandes Marquês

5 Quadragéssimo aniversário da UPG: umolhar marxista às suas limitaçons

congénitas Carlos Morais

6 Ecologia aqui e agoraAntom Garcia Matos

6-7 Formas de organizaçom unitária dasforças populares de parámetros nacionais (I)

Maurício Castro

8-9 Contra a Constituiçom europeia oucontra a Europa capitalista?

Iñaki Gil de San Vicente

9 Tornarmos proveitoso o contexto adversoEduardo Sanches Maragoto

10 Os cans de guarda. Algumhas reflexonsa respeito das classes médias e da sua

ideologiaDomingos A. Garcia

10-11 Portugal: Novas do meu paísAna Barradas

11 Chechénia: quatro anos de guerra esilêncio

Carlos Taibo

11 Resistência iraquiana: signoesperançador da impotência imperialista no

actual caos sistémicomundial capitalistaJusto de la Cueva

12 Esquerda equestom nacional

na GalizarepublicanaDionísio Pereira

Sumário

O debate do “Estado da Autonomia” deste ano coincidiu com o vigéssimoquinto aniversário da aprovaçom da Constituiçom espanhola com que o capi-tal pretendeu impor o actual regime, -prolongaçom e apêndice do fascismo-,e com o primeiro do início da crise nacional provocada polo afundamento doPrestige.

As três forças políticas com presença no parlamentinho do Hórreo, apa-rentando absoluta “normalidade democrática”, representárom um guiom desobras conhecido. Reclamaçom ou satisfaçom por mais ou menos competên-cias; críticas superficiais à gestom do autoritarismo fraguiano; comedidas de-núncias das incumpridas falsas promesas do Plan Galicia, do estado actual dacosta e da crise dos sectores produtivos ligados directa e indirectamente como mar; discursos vácuos, educados, carregados de cortesia parlamentar, mascompletamente arredados da realidade social, laboral, cultural, dos proble-mas reais da maioria deste país.

O diagnóstico e a implacável denúncia das causas estruturais da grave si-tuaçom em que se acham as classes trabalhadoras galegas estivo ausentemais um ano. A dependência nacional que padece a Galiza por parte do pro-jecto imperialista espanhol, a necessidade de exercer o direito democráticode autodeterminaçom, a democracia vigiada e em paulatino retrocesso, nomexistírom para @s deputad@s.

O PP recuperado da crise de legitimidade provocada polo movimento demassas, articulado à volta do Prestige e contra a intervençom imperialista noIraque, graças à direcçom pactista imposta polo autonomismo; o PSOE afor-talado polo oportunismo da sua hipócrita participaçom nesse movimento so-cial; e o BNG mais preocupado pola reconfiguraçom da correlaçom interna deforças das suas elites e por demonstrar ser um aluno avantajado na defesacrítica, mas defesa a fim de contas, do regime vigente que por defender osinteresses populares; encenárom umha farsa que os meios de comunicaçomda burguesia apresentárom como a mostra mais elaborada de umha socie-dade democrática e pluralista alicerçada nesse totem denominado pax social.

Tam só a esquerda independentista estivo presente no espaço natural daluita da classe operária e dos sectores populares, na rua, reclamando auto-determinaçom e democracia para a Galiza, e portanto padecendo a violênciasistémica dum regime corrupto e mafioso. Tam só o MLNG voltou a expor aúnica alternativa viável e realista para superar o caos do presente: dotar-nosde um Estado próprio ao serviço d@s trabalhadoras/es. Eis a radiografia sin-tética da actual situaçom da luita de libertaçom nacional e social de génerona Galiza.

Porque nunca nos cansaremos de dizer que nom é viável transformar o sis-

tema desde dentro; que nom é possível mudanças substanciais da ordem so-cial vigente mediante reformas graduais. Após vinte e cinco anos de farsa de-mocrática espanhola somente a luita organizada do povo trabalhador evitarámais recuos nas condiçons de vida, um maior deterioramento dos serviçospúblicos, o incremento do desemprego, da eventualidade laboral, da sobre-exploraçom das mulheres e da mocidade, da destruiçom planificada do idio-ma e a cultura galega, do avanço do fascismo.

Autoorganizaçom, autogestom, autodeterminaçom e autodefesa som os ei-xos sobre os quais devemos seguir construindo o projecto revolucionário ga-lego.

Mas enquanto as corruptas elites do BNG se beneficiam das migalhas quelhes concede Espanha e o capital pola sua disciplinada obediência, o projec-to espanhol continua a sua deriva fascista incrementando a sobre-explora-çom das naçons que oprime, da classe trabalhadora, e das mulheres, comofórmula para poder sair da crise económica e de legitimidade em que se acha.Enquanto os “debates” do autonomismo giram entre as duas faces da mes-ma moeda, sem divergências políticas e ideológicas, o grande capital, tal co-mo solicitou há umhas semanas a Aznar José Maria Cuevas, -o patrom dosempresários espanhóis-, opta pola via fascista, para continuar recortando di-reitos laborais e sociais, para continuar empobrecendo às massas, para con-tinuar incrementando os gastos em armamento e a reforçar as intervençonsmilitares imperialistas tuteladas polo amo ianque.

A resistência guerrilheira no Iraque e no Afeganistám, a revolta popular naBolívia, o incremento das luitas dos povos pola liberdade e a justiça social emtodo o planeta, constatam que o imperialismo, que o capitalismo nom é in-vencível. Nas ruas de Bagdad, nas montanhas da Colômbia, na Palestina mas-sacrada, nas fábricas, nos bairros, nos campos e nos centros de ensino demeio mundo, cresce a resistência popular e fracassa a via reformista. Hoje,igual que em qualquer outra época da história humana, só há umha alterna-tiva para atingir paz, igualdade, liberdade: luitar até vencer.

Para comemorarmos o número trinta do Abrente, este exemplar tem maispáginas e mais colaboraçons das habituais. A publicaçom decana da impren-sa da esquerda independentista congratula-se de continuar interrompida-mente mais de oito anos informando das luitas do povo trabalhdor galego,mas sobretodo de contribuir para construir a imprescindível e insubstituívelcorrente comunista no seio do MLNG.

Editorial

Page 2: Sumário - Primeira Linha · 2003-11-12 · sas políticas, o que intensificou o seu antiestalinismo. Assiste à derradeira sessom das Cortes no Castelo de Figueres e fai, em companha

Nº 30. Outubro, Novembro e Dezembro de 2003OPINIOM2

Com a sua saca marinheira, seu fato gasto, os petosbaleiros e alcoolizado, Ramom Soares Picalho, homosse-xual, generoso coraçom para o débil, tem passado à his-tória apenas como protagonista de milhares de anedotas.Porém, é umha das figuras mais importantes da política eda oratória galega do século XX. Nas Cortes, sobre um ce-nário, num cruzeiro, acima de umha mesa de um bar... de-vem-se a Picalho os melhores discursos do galeguismo eos melhores actos políticos em campo aberto desde aapariçom da Solidariedade Galega.

Ramom, neno labrego e marinheiro, quase sem estu-dos, emigrara para a América em 1912 com apenas 18anos para fugir do serviço militar e ganhar cartos. Trêsanos de vida desajeitada e muito trabalho enfermam-noem 1915. Aproveita a convalescença devorando na Biblio-teca Nacional de Buenos Aires, e nos cursos de extensomuniversitária gratuitos. Abraça o ideal socialista, ingressaà universidade popular “Luz”, aprende história e idiomas.

Estreia-se jornalista em Maio de 1916 em Adelante, vo-zeiro das Juventudes Socialistas. Preso em numerosasocasions, com o seu nome em todas as “listas negras”por “agitador profissional” peregrina por mil ofícios. Co-labora na fundaçom do Partido Comunista, de que se reti-rará pouco depois para reingressar no socialismo. Entre1918 a 1920 é candidato socialista ao Concelho, ao Con-gresso e ao Senado, sem êxito.

Em 1921, embarca-se e desenvolve em cada porto laborsindical. Nos anos em que muitos estám a defender a apo-liticidade do galeguismo é toda umha figura no massivosindicalismo de esquerda argentino. Outravolta em terra,desde 1922, participa nas tertúlias galeguistas e aventu-ra-se no teatro com o drama Marola.

Libertado dos sindicatos portuários da FederaciónObrera Regional Argentina fai-se jornalista. Entra, em1924, na redacçom do jornal La Argentina. Dali passa a LaRepública. Nesse ano estoura umha greve de quatro me-ses que acaba em duríssima repressom. As purgas, fusi-lamentos e condenas que sucedem obrigam-no a ocultar-se. Publica umha brochura intitulada Cartas a un obreirode que nom temos notícia.

Reaparece como activo organizador das SociedadesGalegas Agrárias e Culturais, de programa republicanofederal e socialista a que agrega os postulados do nacio-nalismo galego. Actua nas conferências da “Semana gal-lega”. Denuncia a situaçom do Estado espanhol, rese-nhando todos os acontecimentos daqueles anos. Colabo-ra na fundaçom do jornal El Despertar Gallego, germe deGalicia. Funda com Rial Seixo, Branco Amor, Elísio Pulpei-ro, Regueira, Zapata Garcia a revista Céltiga. Em 1925,com Branco Amor, destaca nas Conferências sobre Cultu-ra Galega.

Em 1926, caminho a Genebra para participar na Confê-rencia Internacional do Trabalho, pára na Galiza. Na suaestadia na Corunha e Sada entra em contacto com a Ir-mandade da Corunha e dá-se a conhecer como orador.Conferencia em galego sobre a “Galiza na América” noCirco de Artesaos, apresentado por Antom Vilar Ponte.

De volta na América, é redactor de La República, com a

coluna “Notas del día”, refere das revoltas anticoloniaisna Índia até a exploraçom ianque na Nicaragua, ou a que-da de Primo de Rivera. Aos poucos dias de se fundar naCorunha ORGA funda-se a sua filial em Buenos Aires. Se-cretário de redacçom de Correo de Galicia, mantém umhasecçom de conteúdo galeguista.

Ao proclamar-se a II República, é o representante in-discutível junto com Antom Alonso Rios da Federaçom deSociedades Galegas. Desembarca, em 4 de Junho, na As-sembleia Nacional Galega do Estatuto que se celebravano Teatro Principal da Corunha. Alô, após a sua interven-çom, produz-se a a emotiva renúncia de Lugris Freire àcandidatura como deputado a Cortes na sua pessoa. Eli-gido deputado pola ORGA, intervém no Parlamento dasCortes constituintes, ao tempo estuda por livre bacharel.

Com o PRG convertido cada vez mais na minoria casa-rista, separa-se com umha memorável carta a CasaresQuiroga, em Agosto de 33. A perda dos escanos galeguis-tas em 1933 fará-o mudar-se a Compostela. Nestes anos,viverá graças ao favor do hoteleiro Ramom Morandeira,velho republicano. Como estudante sem recursos, ingres-sa na Universidade de Compostela. Realiza os examescorrespondentes ao ano 34 com umha permissom espe-cial e liberdade condicional como preso revolucionário po-los acontecimentos de Outubro.

Com o seu peso crescente na organizaçom da esquerdaem Compostela facilitará a composiçom de um órgao dedifusom para o espalhamento do ideário galeguista de es-querda, Ser, semanário que dirigirá. Será Nós, nom poracaso, a imprensa de seu amigo Angel Casal onde se im-prima.

Sem a pegada deste homem, dificilmente entendería-mos o paso ao PG, do qual seria entre 1934-1936 o seusócio no bufete laboralista da Corunha, Luís Seoane Lo-pes, militante até 1934 dos grupos de Esquerda federal eEsquerda Republicana. Sem a passagem de Picalho polassalas de aula de Compostela, a raiz da perda do seu es-cano nas eleiçons de 1933, apenas poderíamos com-preender a organizaçom e o combativismo que vai ter ogrupo compostelano do PG, o seu contacto mais que flui-do com os movimentos sindicais e a presença de gruposde choque antifascistas. Sem a sua intervençom na As-sembleia de Santiago de 1935, após a do outro grandeorador –este académico e conservador- Ramom OuteiroPedraio, dificilmente teriam triunfado os resultados daspropostas da esquerda do PG (renovaçom da directiva,pactos com a Frente Popular, atençom aos grupos de es-querda obreira).

do Comissariado de Guerra e fijo parte de várias comis-sons parlamentares. Na frente de Aragom defendeu 110processos de filiad@s da CNT e POUM, pres@s por cau-sas políticas, o que intensificou o seu antiestalinismo.

Assiste à derradeira sessom das Cortes no Castelo deFigueres e fai, em companha de Marcial Fernández, o ca-minho de Perpinyá até Cherburgo passando, após mil pe-ripécias, aos Estados Unidos, onde chega em Março de1939. Com Marcial Fernández percorreu a Uniom, anga-riando dinheiro para fretar o vapor Hipanema.

Em Julho de 1939 passa à República Dominicana. Num-ha situaçom penosa aceita o posto de preceptor dos filhosde Trujillo. Depois, director do diário La Nación, é expulsodo país polo ditador. Em Setembro de 1940 desembarcano Chile, trabalha sucessivamente em La Opinión e La Ho-ra de Santiago e El Sur de Concepción, onde mantém a co-luna “La feria del mundo”, logo escreve em El Mercuriocom análises de política internacional.

Seria difícil entendermos sem Picalho a transcendênciasimbólica, hierárquica e legal com que se mantivo o gale-guismo político na América exiliada e as tentativas demanter organizaçons que asegurassem a legitimidade po-lítica e representativa d@s galeguistas american@sfrente ao Culturalismo da posguerra. Neste senso, desta-cam as suas actuaçons na Constituiçom do Conselho deGaliza e a manutençom após a morte de Castelao. E tam-bém a organizaçom do 1º Congresso da Emigraçom gale-ga, importantíssimas actas testemunhais que se encarre-garia com seu amigo Alonso Rios de editar em 1959.

Em 1954, estabelece-se em Buenos Aires. O 28 de Ju-nho desse ano recebe umha merecida homenagem da Co-lectividade galega reunida no Teatro Argentino para co-memorar a data do plebiscito. Enfermo do coraçom desde1950, alcoolizado, malvive como jornalista e conferencis-ta. Por mediaçom de Seoane é acolhido no Centro Lucen-se, designado vogal de cultura, e director de Lugo, vozei-ro do Centro. Com mais de 66 anos “de mui navegada vi-da” escreve e maravilha com a sua conversa na tertúliada biblioteca da instituiçom. Esta tertúlia converteria-se,na Cátedra de Cultura Galega, tribuna em que unificar nomesmo auditório os públicos favoritos de Picalho: univer-sitári@s e obreir@s.

Ingressado no Sanatório do Centro falece na capitalargentina em 14 de Outubro de 1964. Foi sepultado comtodas as honras no Panteom do Centro Galego, frente aonicho de Castelao, no cemitério da Chacarita.

Ernesto Vazquez Souza é investigador do nacionalismo galego

Com o PG inserido na Frente Popular a sua actividade éimpressionante. Novamente deputado, actúa no Comitéda Corunha que se fai com o controlo do Governo civil. Asua participaçom em apoio de Júlio Soares Ferrim, gover-nador interino, foi fundamental para evitar desordens e li-bertar, sem derramamento de sangue, @s pres@s recla-mad@s pola populaçom.

Na campanha pró-estatutária percorre toda a Galiza.Presente a 16 de Julho na recepçom polo presidente dascortes do Estatuto, fica em Madrid à espera dos requeri-mentos do governo. Fiel à República, actuou como propa-gandista em València e Catalunya. Foi assessor jurídico

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3ACTUALIDADENº 30. Outubro, Novembro e Dezembro de 2003

Neste ano 2003 cumprem-se 25 anos desdea elaboraçom e aprovaçom da vigorante cons-tituiçom espanhola, ocasiom que está a seraproveitada polo imperialismo para deixar cla-ro aos diferentes sectores da dissidência polí-tica do Estado, por mornas que sejam as suasposiçons, que nom há possibilidade algumhade reforma ou superaçom do quadro jurídico-político emanado do processo de reforma doregime franquista, ao tempo que se reforça odiscurso ideológico, totalmente manipulado efalso, com que se pretende incutir na mentedas massas a ideia de que a constituiçom de1978 é a construçom legal mais perfeita jamaislograda e que fora dela só existe o caos.

Tam só bastaria olhar para os mais radicaisdefensores do ordenamento constitucional(políticos do sistema, empresários, jornalistasmercenários, etc...) para começar a suspeitarque por trás de discursos demagógicos, emque palavras como liberdade e democraciasom constantemente prostituídas, o que real-mente se oculta som os interesses económicosda oligarquia espanhola que precisa dumhasdeterminadas condiçons políticas para mantera sua actual situaçom preponderante. Assim,nom resulta surpreendente que a reformaconstitucional poda ser apresentada em qual-quer momento desde acima, como já tem acon-tecido com as modificaçons a que obrigou opleno inserimento do Estado na UE, mas queseja inassumível falar de qualquer reforma que

se apresente de posicionamentos proclivesaos interesses dos povos, as classes trabalha-doras ou as mulheres. Nom foi por acaso que acomeços do mês de Outubro deste mesmo anoo presidente do patronato CEOE manifestoupublicamente o seu respaldo a qualquer inicia-tiva recolhida na Constituiçom que o governolevar avante para garantir a manutençom daarticulaçom territorial do Estado baseada nascomunidades autónomas. O que traduzido paraumha linguagem mais clara vem significar queos principais donos do capital veriam com bonsolhos que o governo espanhol suspendesse asinstituiçons autonómicas da Comunidade Aau-tónoma Basca e mesmo recorresse a umha in-tervençom militar directa, no caso de que o go-verno basco levasse avante até as suas últi-mas conseqüências as iniciativas recolhidas nochamado Plano Ibarretxe. Com estas declara-çons, Cuevas explicitava a sintonia absolutaentre as posiçons do grande capital espanhol eo modelo de Estado actual, como nom podiaser doutro jeito.

A fim de contas, é totalmente normal queseja a oligarquia quem defenda dum jeitomais radical a vigência dumha lei que foi feitaà sua medida. Por muito que agora os dife-rentes propagandistas defensores do statusquo venham com o conto da vitória da liber-dade que supujo a aprovaçom da Constitui-çom do 1978, nom podemos esquecer a reali-dade, e na realidade o que se aprovou naque-

la altura nom foi mais que a plasmaçom nopapel do pacto entre os hierarcas franquistase os sectores mais moderados e oportunistasda oposiçom. Pacto com que se garantia a ne-cessária estabilidade política demandada po-lo grande capital espanhol e polo imperialis-mo a nível mundial, que na altura estava a vi-ver os primeiros anos da crise económicaaberta em 1973. Nom há que cair na armadi-lha da suposta singularidade do caso espa-nhol, muito pola contra o processo que na al-tura acontece no Estado está directamenterelacionado com um reordenamento da estra-tégia do imperialismo que de diferentes jeitostem de fazer frente a potenciais crises revo-lucionárias em diferentes partes do planeta.Nom é possível entender o que se estava apassar sem pô-lo em directa relaçom com oque estava a suceder em Portugal ou no Chi-le, por falarmos de dous casos supostamenteopostos ao acontecido no Estado espanhol.Nestes três casos, ainda que de diferente jei-to, o que se buscava era frear qualquer velei-dade revolucionária tal e como se conseguiu,ainda que as formas fossem distintas.

Falam estes propagandistas de hoje em diado elevado consenso atingido na altura e doexemplo de civismo e comportamento demo-crático que supujo o proceso da chamadaTransiçom espanhola, e em especial a aprova-çom da Constituiçom. Esquecem interesseira-mente umha série de questons, que mesmo

aplicando critérios analíticos próprios da políti-ca burguesa, obrigam a dizer que a aprovaçomda Constituiçom foi feita numhas condiçons emque nom se garantírom nem os mais elemen-tares mínimos democráticos. Em primeiro lu-gar, as Cortes que redigem e aprovam o docu-mento, eleitas em 1977, e que nom foram con-vocadas com o valor de constituintes, nomeram mais do que umha versom maquilhadadas cortes da ditadura. A legitimidade históri-ca do período republicano foi totalmente es-quecida e ocultada e deu-se por boa a reformado regime franquista simplesmente somandoaos velhos hierarcas fascistas um nutrido gru-po de novos burocratas com o carimbo de de-mocratas. Em segundo, as eleiçons de 1977fam-se no momento em que umha boa partedas forças de oposiçom nacionalista e/ou deesquerdas continuam a ser ilegais, de factotam só aqueles partidos que aceitam o proces-so de reforma participam livremente. E, emterceiro, o referendo convocado em 1978 tinhaumha funcionalidade consultiva e, além domais, em determinadas áreas territorias do Es-tado a Constituiçom foi rechaçada ou nom atin-giu a maioria absoluta do recenseamento, oque evidentemente deslegitima o argumentodo processo democrático irreprochável. Tam-bém haveria que falar dum quarto condicio-nante, a constante ameaça dum golpe de esta-do militar que foi especialmente palpável atéentrada a década de ’80 e que logicamente li-

mitou o suposto clima de liberdade.Para além disto, se nom bastassem já as

condiçons em que se elabora a Constituiçomde 1978 para qualificá-la de nom democrática,um percurso polo seu conteúdo obriga-nos adefini-la como anti-democrática. Nela sacrali-za-se a economia capitalista e a unidade terri-torial do Estado, impom-se legalmente aameaça do exército para evitar qualquer ten-tativa autodeterminista das naçons ocupadas,entrega-se a chefatura do Estado ao sucessornomeado por Franco, pom-se o exército sob assuas ordens e dá-se-lhe imunidade legal abso-luta; e, aliás, a suposta soberania popular éburlada ao reduzi-la a umha mera participa-çom nas convocatórias electorais e nos refe-rendos, reduzindo a capacidade decisória des-tes últimos, ao dar-lhes um valor meramenteconsultivo.

Avaliando todas estes aspectos, resulta ridí-culo acreditar no discurso que nestes mesesos media vam repetir dum jeito ainda mais ob-sessivo que até o momento. Mas nom se tratasimplesmente de nom acreditar senom decombater. A Constituiçom espanhola é a leique define o quadro jurídico-político que nosoprime como galeg@s, trabalhadores/as emulheres, e diante dela só cabe umha posturaautenticamente democrata: o rechaço.

André Seoane Antelo é membro do Comité Central

de Primeira Linha

Andr

é Se

oane

A.

Os pais da constituiçom espanhola acompanhados por Javier Arenas

25 anos de opressom constitucional

A ofensiva reaccionária do PP no ámbito educativo vemclaramente marcada pola definiçom dum sistema ao servi-ço da oligarquia espanhola e da igreja católica, todo en-quadrado nas propostas da tríada financeira internacional,o BM, a OMC e o FMI. Som três as leis orgánicas que con-solidam esta tendência, abrangendo a totalidade das eta-pas educativas desde o ensino preescolar até o universi-tário: a Lei Orgánica de Qualidade da Educaçom, a Lei Or-gánica de Formaçom Profissional e a Lei Orgánica de Uni-versidades.

Selecçom e classismo impregnam todo o modelo e cla-ramente nas etapas prévias á Universidade. Remata-secom a possibilidade dum modelo compreensivo e integra-dor, corrector em certa medida das desigualdades sociais,para favorecer umha meritocracia ao gosto do modeloburguês. Repetiçom de anos lectivos, estabelecimento dereválidas, diversificaçom e classificaçom de Centros, cria-

çom de aulas específicas, discriminaçom quanto aos rit-mos de aprendizagem......, quer dizer, unha longa corridade obstáculos perfeitamente desenhados para excluir osector mais desfavorecido e facilitar o triunfo dos possui-dores dos meios que possibilitam a adaptaçom ao proces-so.

A privatizaçom é outra das chaves da contrarreforma.Desde o financiamento total do ensino privado nom uni-versitário até a promoçom das universidades privadas, oEstado trespassa parte dos recursos dos sectores popula-res para custear os gastos da burguesia, incrementandoassim indirectamente as suas rendas e abandonando, po-lo contrário, um serviço educativo que fica marginalizadoe incapaz de competir com a oferta privada. A educaçomfoca-se como unha mercadoria e o sistema pretende gerir-se consoante um modelo empresarial.

Em boa lógica, um modelo destas características nom

pode consolidar-se se nom houver unha invouçom demo-crática no funcionamento dos seus órgaos de gestom e ad-ministraçom. Escolas, liceus e universidades vem diminuira participaçom do professorado, do pessoal de administra-çom e serviços e mais do alunado no controlo e gestom dosmesmos. Potencializam-se os órganos unipessoais sobreos colegiados; a Administraçom educativa articula meca-nismos de controlo avaliativo sem garantias de imparciali-dade a fim de submeter os diferentes sectores a órgaos di-rectivos cada vez mais afastados da comunidade educativa,trocando-os em instrumentos vinculados ao poder.

A pretensom espanholizadora, unificadora e centralistaé umha constante no texto das Leis Orgánicas. A Galiza,Euskadi e Catalunya vem-se impossibilitadas de desenharum modelo educativo próprio, ficando como singelas exe-cutoras da legislaçom básica do Estado. O governo estataldetermina as modalidades e quantia das bolsas e ajudas

ao estudo, assim como as condiçoms de acesso. Homogei-nizam-se os currículos educativos e o calendário escolar.Crescem os conteúdos dedicados ao doutrinamento na es-panholidade e a alta inspecçom educativa fiscaliza os li-vros de texto para evitar tentaçons nacionalistas preser-vando o predomínio da língua e cultura espanholas.

O ensino laico esmorece ao privilegiar dentro do currí-culo o estudo da religiom, sendo a mesma avaliável e obri-gatória em qualquer das suas modalidades: confessionalou nom confessional.

A conseqüência é um modelo classista, selectivo, priva-tizador, antidemocrático, unificador e espanholizante quese arreda dos interesses da maior parte da populaçom eafortala o sistema de exploraçom e dominaçom actuais.

Henrique do Bosque é professor e membro da Executiva Co-

marcal de Vigo da Federaçom de Ensino da CIG

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ue A contrarreforma educativa

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Nº 30. Outubro, Novembro e Dezembro de 2003OPINIOM4

A “feminizaçom da pobreza” é um termo recorrente, mes-mo para organismos e governos, mas que se tem convertidonum desses lugares comuns empregados para enfeitar umdiscurso com pinceladas de feminismo. Ainda que a realida-de a que fai referência acompanha a humanidade desde háséculos, o certo é que se começa a falar em feminizaçom dapobreza a partir, basicamente, de estudos sobre o chamadoTerceiro Mundo, que demonstram que: 1. Quando as mulhe-res começamos a ser incluídas nas estatísticas, e ao se in-dividualizarem as mesmas, descobrimos que a maior partedas pessoas pobres fazemos parte do género feminino 2. Emfamílias nem pobres nem excluídas, a renda nom é distribuí-da equitativamente e de forma igualitária entre os seusmembros, sendo as mulheres as que resultam empobreci-das. Em termos puramente económicos, cobra força a ideiade que o casamento empobrece as mulheres, enquanto en-riquece os homens; e 3. Incrementam-se os lares em que asmulheres se convertem nas únicas sustentadoras dos mes-mos (maes solteiras, viúvas, separadas, com crianças oupessoas discapacitadas a seu cargo, etc...), condiçom estaque as converte em especialmente vulneráveis socialmen-te1, ao se verem obrigadas a aceitar trabalhos em condiçonsprecárias, insalubres, etc., entrando a fazer parte, na maio-ria das ocasions, da economia submersa2.

Estes estudos, que num princípio só se empregavam pa-ra analisar a situaçom dos países caracterizados como po-bres, subdesenvolvidos, etc., fôrom também cada vez maisempregados para analisar a situaçom no Primeiro Mundo,descobrindo-se assim que as mulheres somos as principaisvítimas dum sistema económico baseado na exploraçom hu-mana e na acumulaçom de riqueza em maos dum reduzidogrupo de pessoas.

É impossível nom pensar que existe umha relaçom entre ofacto de as mulheres sermos as vítimas principais dum siste-ma económico e social injusto, que nos empobrece e margi-naliza, o capitalismo; e que ao mesmo tempo sejamos tam-bém as vítimas dumha violência machista, que só se dá con-tra um dos géneros, alicerçada polo patriarcado. As agres-sons sexuais mais brutais, que som as que terminam com amorte dumha mulher a maos dum homem, nom som mais doque a ponta do icebergue, a mostra mais evidente e palpáveldumha violência estrutural que conhece diversas gradaçonse sem a qual o sistema capitalista nom existiria. A violêncianecessária para a sobrevivência da simbiose capitalismo-pa-triarcado torna-se em ocasions incontrolável e formalmenteinaceitável, como nos casos de assassinatos de mulheres.Mas é essa mesma violência que está por trás doutras agres-sons que as mulheres, polo simples facto de sermos mulhe-res, sofremos desde o nosso nascimento. Ainda que poda pa-recer anedótico e trivial, é essa violência que está por trás damarca que se nos fai logo que nascemos furando-nos as ore-lhas, ou é a que justifica termos de vestir saias, ou brincar-mos a ser mamás com bonecas cada vez mais sofisticadas. É

Como podem @s comunistas conseguir que o movi-mento diário das massas polas suas reivindicaçons imedia-tas acumule forças revolucionárias, mesmo neste períodode triunfo em toda a linha da burguesia? Esta é umha ques-tom central para @s comunistas portuguesas/es, escalda-dos por sucessivas infiltraçons do reformismo, sempre emnome das melhores intençons marxistas.

Acumulaçom de forças revolucionárias é cousa prati-camente desconhecida em Portugal. O que temos som mui-tos exemplos de como se desacumulam forças: à frente detodos, claro, o PCP, fiel ao seu trabalho minucioso junto doproletariado, nas empresas enos sindicatos, agitando a ban-deira da “defesa das conquis-tas”, mas conduzindo as mas-sas de derrota em derrota, de-vido ao seu respeito supersti-cioso polo parlamento e pola or-dem burguesa; depois, a “novaesquerda” agrupada no Bloco,exibindo as suas causas alter-nativas (“ampliar a cidadania”,“aprofundar a democracia”),que, na prática, apenas dam vozao descontentamento da jovempequena burguesia, em buscade um lugar ao sol; tivemostambém a aposta das FP-25 nasacçons de guerrilha urbana co-mo meio de “excitar” o movi-mento popular em declínio, oque as levou ao previsível nau-frágio e ao descrédito da via re-volucionária; e há ainda muitossimpatizantes da revoluçom,enojados com o panorama rei-nante de colaboraçom de clas-ses, para os quais todas as rei-vindicaçons imediatas, parcela-res, som indignas de qualqueresforço, polo que se entregam àinacçom declamatória ultra-es-querdista.

Nesse caso, o que se deve fazer?@s comunistas, claro, nom tenhem que inventar luitas

especiais. Temos que estar presentes nas luitas reais, porpequenas e limitadas que sejam nos seus objectivos: contrao desemprego, o trabalho precário, o agravamento cons-tante das condiçons de saúde, habitaçom, ensino, a so-breexploraçom e opressom da mulher; nos movimentoscontra a impunidade dos capitalistas e a onda mafiosa ecorrupta que é hoje a política burguesa; nos protestos con-tra as expediçons militares imperialistas e a montagem doEstado policial...

Sabemos que a revoluçom só se constrói a partir domovimento real e nom a partir de modelos por nós inventa-dos. Fora das situaçons excepcionais de crise revolucioná-ria, as massas lançam-se na luita para obter pequenas me-lhorias dentro dos limites da lei e da ordem; só participan-do nessas luitas podem os comunistas ajudar os colectivosde trabalhadores a percorrer a sua própria experiência, to-mar consciência do antagonismo dos seus interesses face

em propriedade. Esta segunda terá mais meios e possibili-dades de fazer frente a essa situaçom e poderá com toda aprobabilidade afrontá-la arroupada socialmente, o que faci-litará a sua recuperaçom. A primeira, subirá mais um de-grau numha escala de violência em que já está muito eleva-da. Estes dous casos exemplificam que toda a violência degénero tem as mesmas raízes, achando sempre justifica-çom e desculpa no patriarcado, mas que nom é igual que seproduza numhas condiçons sociais ou outras. Actuar contraa violência de género como se fosse um todo homogéneo,que nom conhece nem estabelece diferenças, obviando, oupretendendo premeditamente ocultar a realidade social eeconómica em que se produz, nom só nom contribui parasolucioná-la, mas contribui para reforçar as causas que aproduzem: o capitalismo e o patriarcado.

No mundo morrem cada ano oitocentas mil mulheres deforma violenta, metade de todas as pessoas que morrem deforma violenta no planeta3. A América Latina e as Caraíbassom a zona com mais altos índices de violência, e onde 70%das mulheres sofre violência machista. Estes dados de-monstram que nom é por acaso que metade das mortes vio-lentas ocorridas no mundo tenham as mulheres como víti-mas, e que se localizem em áreas empobrecidas e explora-das. No Estado espanhol, conhece-se também umha ten-dência alcista da violência machista em geral e do assassi-nato de mulheres em particular, salientando a Galiza comoumha das “três zonas” do Estado onde é mais destacadoeste crescimento4. As transformaçons sociais propiciadaspolo neoliberalismo continuam a incrementar as tensonsfamiliares, a conflituosidade e, em definitivo, as agressonse violências sexuais e corporais, afectivas e emotivas, quenom só físicas. A família, e especialmente a mulher, no seupapel de mae ou filha, converte-se amiúde no armazém querecolhe a conflituosidade e o mal-estar da sociedade.

1 Segundo a Rede Europeia de Mulheres, ao ano de separar-se, 60% dos homens tenhem-se enriquecido significativamen-te, enquanto 50% das mulheres se tenhem empobrecido.

2 O Relatório Foessa, elaborado por Cáritas, “As condiçons devida da populaçom pobre na Espanha”, recolhe entre os fac-tores que explicam o pioramento relativo das mulheres, ascondiçons desfavoráveis do mercado de trabalho, ressaltandoo aumento de lares monoparentais encabeçados por mulhe-res, e destacando “a consolidaçom dum severo núcleo de po-breza ligado aos processos de ruptura matrimonial (...). Assuas receitas situam-se mais de quinze pontos por baixo doconjunto dos lares e a sua taxa de pobreza é a mais alta”.

3 Dados tirados do Relatório Mundial sobre a Violência e a Saú-de, da Organizaçom Mundial da Saúde (OMS), dado a co-nhecer em 12 de Julho de 2003.

4 Relatório da Fundación Mujeres, baseado nas informaçons di-fundidas pola imprensa. www.rebelion.org Tendencia alcistade los asesinatos de mujeres en España (6/10/03).

Noélia Fernandes Marquês é militante de NÓS-UP na comarca

galega do Bérzio

greve e ocupaçom, comissons de trabalhadores, de mora-dores, cooperativas agrícolas, etc.), para a “batalha parla-mentar”.

Claro que a participaçom nas eleiçons pode ser neces-sária, mas numha condiçom: termos a certeza de que va-mos utilizar as instituiçons burguesas e nom deixar-nos uti-lizar por elas.

Em resumo, o trabalho comunista entre as massas re-quer muito esforço e brilha pouco. Temos que nos compe-netrar de que, num período de marasmo da luita de classescomo o que atravessamos, a autenticidade d@s comunistas

mede-se pola sua capacidadepara evitar a tentaçom de serreconhecidos polos media, ga-nhar estatuto de “partido res-ponsável”, etc. Nom nos deveimpressionar a acusaçom de“sectarismo” que os reformis-tas nos lançam, nem a impa-ciência dos militantes que nomse resignam a um trabalho apa-gado e querem resultados pal-páveis em pouco tempo. A defe-sa do interesse profundo dasmassas significa hoje um certograu de isolamento, acarreta in-compreensons, perseguiçonsdos poderes “democráticos”,etc., mas só persistindo nesserumo poderemos desempenharo nosso papel numha futura cri-se revolucionária.

O partido comunista, corpoestranho na sociedade burgue-sa que pretende derrocar, sofreumha tremenda pressom daparte desta para ser digerido edestruído: pressom policial emilitar quando necessário, mastambém política e ideológica, naactividade legal de todos osdias. Pressom que provém nom

apenas do aparelho de poder burguês mas também das ca-madas pequeno-burguesas contíguas ao proletariado e dasflutuaçons no seio do próprio proletariado, hoje em grandemedida desarticulado e desmoralizado polas derrotas quetem sofrido.

O que está em jogo, no difícil período actual, é manterfidelidade aos interesses gerais e a longo prazo da classe,nom se deixando ir atrás de êxitos conjunturais, pagos coma absorçom polo sistema. Cabe-nos criar na classe baluar-tes avançados em volta dos quais se poda fixar a resistên-cia dos mais revoltados. Quanto ao encontro do partido co-munista com as massas de milhons, esse só será possívelna hora da crise revolucionária, quando as massas, chega-das ao extremo, recusam a ordem burguesa e vam ao en-contro das propostas dos comunistas. Essa hora poderá es-tar distante, mas só ela deve servir de norte à nossa acçomhoje.

Francisco Martins Rodrigues é director da revista comunista por-

tuguesa Política Operária

luita anti-imperialista, a solidariedade com os imigrantes eo combate ao chauvinismo, a luita para libertar a mulhertrabalhadora da sua dupla subjugaçom, os contactos inter-nacionais, a propaganda anticapitalista, etc.

Terceira: na utilizaçom dos sindicatos, comissons deempresa, associaçons diversas, esqueceu-se muitas vezesa contradiçom entre o interesse das bases e a prática doaparelho burocrático, que tende a conciliar com o poder e aver as acçons radicais das massas como um perigo. Foi as-sim que muit@s comunistas que foram para essas organi-zaçons com a intençom de “servir o povo” se fizérom refor-mistas empedernidos.

Quarta: a cedência à miragem de conseguir polo par-lamento a visibilidade e peso político que nom se consegueno duro trabalho de mobilizaçom directa das massas. Foiassim que, à medida que a ofensiva da direita destruía asconquistas populares de 74-75, @s revolucionári@s daépoca transferírom o eixo da sua actividade, do apoio aossectores mais avançados e aos seus órgaos (comités de

aos da burguesia, criar hábitos de organizaçom, ganharconfiança nas suas próprias forças.

O que falhou entom no trabalho passado d@s comu-nistas? Porque se dissolvêrom as suas intençons revolucio-nárias iniciais na prática da luita diária, até acabarem porse transformar em reformistas? Vejo, polo menos, quatrocausas para isso.

Primeira, a concentraçom preferencial dos esforços,nom nas camadas proletárias onde é maior a carga de an-tagonismo com a sociedade estabelecida, mas nos sectoressemiproletários e pequeno-burgueses, mais instruídos, commaiores hábitos de organizaçom, onde é mais fácil conse-guir resultados, mas onde, em contrapartida, todo vai nosentido do reformismo.

Segunda: a tradiçom muito enraizada no nosso país deque o trabalho proletário se resume às reivindicaçons eco-nómicas e que entrega à pequena burguesia progressista adirecçom da luita política. É tempo de compreendermos quea mobilizaçom comunista do proletariado envolve também a

condiçom social. Mas nom é menos certo que as situaçonsde pobreza, exclusom social, marginalidade, agravam, po-tencializam e consolidam as agressons sexuais contra asmulheres. A violência machista nom é igual, nem tem asmesmas conseqüências nem seqüelas, para umha mulhercigana, desempregada e empobrecida, que vive num bairrode lata nos arrabaldes de qualquer cidade, que para umhamulher integrada socialmente, economicamente autónoma,com um alto nível cultural e com umha moradia e um carro

essa violência que fai com que nós aprendamos a fazer as ta-refas da casa, ou que tenhamos de aceitar trabalhos precá-rios que completem a economia familiar, ou que sejamos asprincipais prejudicadas polos recortes nos serviços sociais,etc. O capitalismo nom seria possível de nom existir essa vio-lência que marginaliza, empobrece e explora a mulher, e é opatriarcado que a justifica.

É certo que a violência machista afecta a todas as mu-lheres em maior ou menor medida, independentemente da

Mulher e capitalismo: a violência por sistema

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Acçom comunista em tempo de maré baixa

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Manifestaçom anticapitalista

Mercado de Ponte Areas

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5OPINIOMNº 30. Outubro, Novembro e Dezembro de 2003

No quadragéssimo aniversário da fundaçom da Uniom doPovo Galego (UPG), -pioneira junto com o PSG da recupera-çom da autoorganizaçom política galega após a guerra civilespanhola-, cumpre realizar umha série de reflexons e ba-lanços sobre a sua repercusom no processo de libertaçomnacional e social de género da Galiza.

A acidentada génese da UPG desenvolve-se num proces-so dual que abarca de Novembro de 1963 a Julho de 1964.Ao igual que noutros momentos da nossa história nacional,a emigraçom, neste caso madrilena (Grupo Brais Pinto), e oexílio latino-americano (fundamentalmente Luís Soto no Mé-xico), fôrom decisivos na configuraçom da estrutura políticade que emanárom todas as organizaçons e grupos naciona-listas galegos até há pouco menos de umha década. AMI ePrimeira Linha som, na serôdia segunda metade da décadapassada, as primeiras excepçons dumha constante que de-terminou durante mais de trinta anos a doutrina, os progra-mas, o desenvolvimento e a focagem táctica e estratégicado que em sentido genérico denominamos nacionalismo ga-lego. Todas as organizaçons anteriores som ramos que nas-cêrom ou procediam directa e/ou indirectamente do troncocomum.

Embora formalmente a constituiçom do PSG fosse ante-rior, pois tivo lugar em 23 de Agosto de 1963 no gabinetedum advogado corunhês sob a tutelagem do omnipresenteRamom Pinheiro, a sua natureza de partido de notáveis, asua conhecida discontinuidade orgánica, testemunhalismo,e posterior fusom e desapariçom, reduzem quantitativa,mas sobretodo qualitativamente, influência na recupera-çom, evoluir e consolidaçom do soberanismo galego.

A abafante presença pequeno-burguesa na origem declasse, a heterodoxa e plural procedência ideológica, mastambém geracional, do reduzido punhado de pessoas quefundam a UPG no Dia da Pátria de 1964 será determinantena maioria dos acontecimentos destes quarenta anos.

O eclecticismo e indefiniçom dos Dez pontos fundacionaisno terreno nacional, renunciando implicitamente à indepen-dência como óbvio objectivo estratégico para a plena e pos-sível construçom da naçom galega, é umha característica doADN político, umha marca de nascimento, de que nunca foicapaz, ou nom quijo despreender-se. Os Dez pontos seme-lham mais a um programa de mínimos dum partido comu-nista clássico de obediência soviética, -embora acompanha-do da forte carga contaminante do culturalismo galeguistae pinheirista contra o que formalmente reage após a frus-trada experiência do Conselho da Mocidade-, que o coeren-te programa dumha organizaçom de libertaçom nacional deinspiraçom revolucionária.

Está fora de toda discussom, é inquestionável, o papel jo-gado durante duas décadas pola UPG em ligar e demonstrarque os problemas estruturais que padecem as classes tra-balhadoras som conseqüência da carência de soberania na-cional. O posterior desenvolvimento da teorizaçom da de-pendência colonial como forma concreta que adopta na Ga-liza a opressom nacional, seguindo as teses de Robert La-

morna estratégia de plena transferência das competênciasque ainda nom realizou o Estado espanhol.

Esta profunda metamorfose, conseqüência da já comen-tada deficiência congénita das suas bases ideológicas, estádialecticamente ligada à composiçom de classe da maioriada sua direcçom e d@s quadros políticos. A pequena bur-guesia funcionarial, mesocrática, hegemónica em pratica-mente todas as estruturas directivas, que nas últimas dé-cadas de Autonomia atingiu um relevante estatus social,que desfruta de altos ingresssos em relaçom com a médiadumhas classes trabalhadoras precarizadas e empobreci-das, que ocupa destacados espaços de poder e gestom, quese incorporou à periferia das elites espanholas, nom estáobjectivamente interessada em mudar substancialmenteumha realidade da qual só se tem beneficiado. Tam só as-pira, respeitando escrupulosa e obedientemente as regrasde jogo impostas, perpetuar e alargar a sua actual influên-cia institucional por meio do BNG.

Que a estas alturas os actuais princípios ideológico-polí-ticos, no que di respeito a sua natureza partidária, mante-nham formulaçons do tipo “A UPG (...) é un partido comu-nista patriótico, porque asume a loita de liberación nacio-nal, na perspectiva da instauración dun Estado galego de-mocrático popular, para rematar coa colonización que pa-dece o país”, só podem causar hilaridade em qualquer pes-soa que siga minimamente com certa atençom a vida socio-política galega. Tam só som os restos hipócritas de um pas-sado que a rigidez e a ortodoxia upegalha necessita manterpara justificar-se perante cada vez menos sectores sociais,e evitar a perda do controlo do aparelho autonomista.

Porque tampouco devemos desconsiderar que outro dosingredientes utilizados pola UPG para levar o nacionalismoao beco do autonomismo é a mistificaçom do passado e oseu traumático encaixe com o vergonhento possibilismo dopresente, tam similar à práctica do PCE, que combatêromdurante décadas.

@s comunistas galeg@s, e o conjunto da esquerda inde-pendentista, sabemos perfeitamente que da escola políticada UPG/BNG nom fica a mais mínima energia transforma-dora. Que das fileiras orgánicas do autonomismo só rece-bemos criminalizaçom e colaboracionismo policial, prepo-tência, desprezo, práticas reformistas e claudicantes.

Quarenta anos depois da histórica reuniom num bar daPonte da Rocha, nas redondezas de Compostela, pode re-sultar paradoxal que o principal motor da nacionalizaçom dapolítica galega de parámetros de esquerda, que acertada-mente e de forma criativa aplicou as leis do materialismohistórico e dialéctico à concreta situaçom da estrutura declasses galega, vinculando a luita de classes à situaçom deopressom nacional, seja a dia de hoje a máxima responsá-vel polas concessons com o capitalismo espanhol e de con-duzir o nacionalismo maioritário à derrota estratégica comEspanha, o capital e o patriarcado.

Carlos Morais é Secretário Geral de Primeira Linha

empregado. De aí em adiante, com contínuas hemorragiase fracturas internas provocadas polas resistências de mi-noritários sectores partidários a sua constante adaptaçomao quadro jurídico-político vigorante, a UPG nom só foi re-nunciando a qualquer veleidade terminológica, eliminou docentro de gravidade da sua acçom política o exercício da au-todeterminaçom e a luita de classes abraçando postuladosinterclassistas. As resoluçons do último congresso (o déci-mo, celebrado em Outubro de 2000) manifestam a necessi-dade de “estar vixilantes a respeito da promoción de posi-cións que con aparéncia de suposta radicalidade –porexemplo, o ideoloxismo ou verbalismo independentista- sócontribuirian a frear o proceso de avanzo do nacionalismogalego”, apostando com a sua ambigüidade característicapor “unha transformación do actual marco xurídico-políticodo Estado español nun novo marco estatal comun baseadono recoñecimento da soberanía nacional das nacións que ointegran, nunha relación en pé de igualdade de tipo confe-deral”. Ou seja, combate às teses independentistas e defe-sa de um novo marco estatal comun. A confusa utilizaçomdo conceito de soberania nacional sem independência ésusbtituída polo vigorante e inofensivo estado plurinacional,logo de ver como a “Declaraçom de Barcelona” de 1998 erasuperada polo PNB e mesmo nalguns aspectos pola “Admi-nistraçom Única” de Fraga.

É a velha teoria reformista de arrumar reivindicaçons, decongelar propostas, métodos de luita, com base em supos-tas inoportunidades tácticas, de deixar para mais adianteaquelas decisons menos assumíveis socialmente. A força po-lítica outrora transformadora renuncia a incrementar as as-piraçons socialmente compartilhadas mediante umha conse-qüente acçom teórico-prática, inclinando-se por adaptar odiscurso à consciência média dos sectores intermédios dasmassas com o objecto de atingir mais e melhores resultadoseleitorais, e portanto, os espaços institucionais que concedeo capitalismo, neste caso o imperialismo espanhol.

Nom se pode entender a renúncia soberanista do BNG, asua capitulaçom nacional e social, a sua submissom aos in-teresses da oligarquia espanhola, sem a tutelagem da UPG,sem o seu consentimento e apoio. Esta rendiçom vem de sereloqüentemente reconhecida e agradecida a finais de Se-tembro por Fernando Savater, -um dos mais qualificadosporta-vozes dos aparelhos ideológicos do fascismo espa-nhol- quando num congresso realizado no balneário deMondariz a que também assistírom as elites do autonomis-mo encabeçadas polo patético Anjo Quintana, manifestaque entendia o nacionalismo galego porque é diferente dobasco e do catalám. Ou seja, é um nacionalismo bom porquerenuncia a construir a naçom optando por negociar, no me-lhor dos casos, umha mais cómoda integraçom no projectoimperialista hispano.

Resulta paradoxal que a força política que recuperou eincorporou o eixo nacional na acçom sócio-política galegaseja a dia de hoje a que nega qualquer necessidade de re-formar e superar o Estatuto de Autonomia, apostando pola

font introduzidas por Beiras, fai parte desses contributos in-substituíveis que forjárom o peso determinante que esta or-ganizaçom tivo na arquitectura e desenvolvimento da luitade classes e emancipaçom galega.

A recuperaçom da naçom galega como sujeito político, asua identificaçom com as classes populares e a necessida-de do exercício da autodeterminaçom mais alá de um merodireito democrático abstracto, som as três principais ache-gas históricas da UPG, sem as quais a Galiza nom teria so-brevivido a dia de hoje.

Mas as constantes tentativas de introduzir a lógica rei-vindicaçom de dotar a Galiza dum Estado próprio, que cicli-camente diversas correntes impulsionárom (sector lideradopor Moncho Reboiras entre 1973-75, Documento dos 16 fó-lios contra os coronéis e posterior criaçom da efémeraUPG-lp em 1977, Manifesto Político 22 de Março e posteriorcriaçom do PCLN em 1986), sempre se saldárom com um ro-tundo fracasso, cristalizando na expulsom ou auto-exclusomdesses núcleos militantes.

As dificuldades para superar a herdança do minimalismopolítico do Partido Galeguista, para ultrapassar o limitadoideário nacional de Castelao mitificado no Sempre em Gali-za, a forte pegada da tradiçom da III Internacional, -alicer-ces e cerne do pensamento nacional elaborado no seu seio-, gorárom umha UPG independentista e portanto impossibi-litárom que as teses independentistas tenham sido hege-mónicas no nacionalismo galego. Porém, a UPG logrou criarumha sólida escola teórico-prática baseada numha acom-plexada e acovardada doutrina nacional a meio caminho en-tre um autonomismo radical que defende sem paliativos odireito de autodeterminaçom, e umha irracional patologiaanti-independentista que tem articulado fortes adesons e fi-delidades.

Nom deve resultar incompreensível que o germe inicialda principal força política galega, até que a sua estratégiamaoista de “revoluçom nacional-popular” impulsiona a cria-çom de estruturas políticas de massas a partir de meadosda década de setenta (AN-PG em 1975 e posteriormente oBNG em 1982), formule no último ponto das bases funda-cionais que “A liberación nacional galega non desbota ovencellamento federativo de Galicia ós demáis povos da Pe-nínsoa”, que posteriormente no Terra e Tempo 5 de 1966defenda “unha Galicia libre dentro dunha unión federativis-ta peninsular”. Que no período da denominada transiçomespanhola elabore as raquíticas Bases Constitucionais de li-mitada inspiraçom federal, ou que no I Congresso (Agosto1977) afirme que “Non debe esquecerse que a independen-cia formal pode acochar solucions neocoloniáis, por eso, oque interesa é o grado de independencia real, de soberaníaefectiva que, conleva, naturalmente, uns presupostos irre-nunciábeis de soberanía institucional. É imposíbel prevérhoxe a fórmula estatal que o pobo galego (...) poderá escol-ler en exercicio do principio de autodetermiñación nacio-nal”. Este Congresso foi o de máxima radicalizaçom tantonos objectivos tácticos e estratégicos como no vocabulário

Quadragéssimo aniversário da UPG: um olhar marxista às suas limitaçons congénitas

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Dia da Pátria de 1977

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Nº 30. Outubro, Novembro e Dezembro de 2003OPINIOM6

Na história dos movimentos populares, revo-lucionários e de libertaçom nacional, tenhem-seefectivado diversas formas de organizaçom polí-tica com vistas a favorecer a máxima unidade àvolta de um programa conjunto de transforma-çom social e pola emancipaçom nacional. Tam-bém a Galiza, como naçom emergente presenteno palco europeu e mundial, tem ensaiado du-rante o último século diferentes fórmulas orga-nizativas com vocaçom unitária para efectivar asaspiraçons de liberdade nacional e social no seiodo nosso povo.

A fragmentaçom e as divisons, os enfrenta-mentos e cisons entre sectores populares é umdos calcanhares de Aquiles que condicionárom econdicionam as dinámicas sociais em que asclasses desfavorecidas e os povos oprimidos lui-tam por construir e dar viabilidade às suas alter-nativas frente à ordem imperante, a do capital eo imperialismo. Neste senso, convém nom es-quecermos que, para além das condiçons objec-tivas que o possibilitem, o triunfo de um movi-mento revolucionário e de libertaçom nacionaldepende da capacidade de umha formaçom so-cial concreta para conceber um movimento revo-lucionário unitário e de massas agrupado à voltade um programa libertador e dotado de umha di-recçom ou vanguarda reconhecida e à altura dascircunstáncias.

Nas próximas linhas, daremos um breve re-passo às principais formas de agrupamento eunidade das forças populares, apoiando-nos emexemplos concretos ensaiados em diversos paí-ses do mundo e tentando diferenciar as princi-pais características de cada modelo. Numha se-gunda parte, que será publicada no próximo nú-mero do Abrente, revisaremos as experiênciasorganizativas do nacionalismo galego sobretodoa partir dos anos 30 do século XX, concluindocom umha reflexom sobre as fórmulas experi-mentadas, incluída a actualmente ensaiada polanossa esquerda independentista.

Partindo do modelo clássico de partido devanguarda que dirige as massas para a revolu-çom, a história do movimento revolucionário co-nhece diversos tipos de agrupamento das forçasque devem protagonizar o processo. Em funçomda soluçom dada em cada momento e em cadacontexto, da sua amplitude e composiçom, dasua vocaçom tacticista ou estratégica, podemosfalar de estruturas diversas como as coligaçons,as frentes e os movimentos de unidade popular.Em todo o caso, referiremo-nos fundamental-mente a formas organizativas que visam articu-lar o sujeito social da revoluçom, ao tempo queno seu interior se configura um ou vários secto-res como motor e vanguarda dirigente.

Principais modelos

A Frente de Libertaçom NacionalFoi principalmente em contextos de submeti-

mento colonial que surgírom propostas estraté-gicas de emancipaçom de tipo frentista que, in-cluindo as classes populares e sectores da bur-guesia nacional anti-monopolista, mantinhamum partido comunista como vanguarda de umharevoluçom por etapas em cuja primeira fase erapossível essa uniom interclassista contra a po-tência estrangeira. Latino-América, Ásia e Áfricafôrom ao longo do século XX palco de processosrevolucionários a partir dessa fórmula organiza-tiva que denominamos Frente de Libertaçom Na-cional. Trata-se, portanto, de agrupaçons inter-classistas em que diversos grupos políticos man-tenhem umha unidade de acçom mais ou menosestratégica visando a culminaçom do processode descolonizaçom. O protagonismo no mesmocostuma corresponder a umha vanguarda comu-nista, se bem que o objectivo antiimperialista se-ja prévio ou superior ao conteúdo social do seuprograma. Talvez o exemplo chinês seja o maisclaro paradigma do modelo de FLN, pola clarezados seus traços (sector popular nucleado poloPartido Comunista e sector burguês nacional re-presentado polo Guomindang, enfrentados am-bos à força ocupante japonesa) e a dimensom deum processo que culminou com êxito e finalmen-te libertou a maior naçom do planeta com a pro-clamaçom da República Popular em 1949. Nestecaso, e noutros como o vietnamita ou o cambo-jano, os partidos comunistas acabárom tomandoo poder e constituindo repúblicas populares departido único; o PCCh derrotando o Guomindang,e os outros dous dissolvendo a Frente Nacionalde Libertaçom do Vietnam do Sul e a Frente Uni-da Nacional do Kampucheia, respectivamente.

Outros exemplos som os da Frente de Liberta-çom Nacional (FLN) argelina que conduziu entreos anos 1954 e 1962 a triunfante guerra de li-bertaçom nacional contra França (a FLN surgiraem 1954 da fusom do MTDL –Movimento para oTriunfo das Liberdades Democráticas–, a UDMA–Uniom Democrática do Manifesto Argelino– e aAssociaçom dos Ulemas); a Frente Sandinista deLibertaçom Nacional (FSLN), criada em 1962 eque em 1979 conseguiu derrocar a ditadura so-mozista na Nicarágua e pôr-se à frente do novo“Governo de Reconstruçom Nacional”; a Frentede Libertaçom de Moçambique (FRELIMO), cria-da em 1962 a partir da uniom da UDENAMO–Uniom Democrática Nacional de Moçambique–,a UNAMI –Uniom Africana de Moçambique Inde-pendente– e a MANU –Mozambique African Na-tional Union; ou o Movimento Popular de Liber-

Imos explicar em poucas palavras os três eixosmais relevantes, estreitamente relacionados en-tre si, a ter em conta para umha análise teóricaglobal da questom ecológica no nosso País nomomento presente: a apropriaçom do discursoambientalista polo poder, a incompatibilidade dopensamento e prática ecologistas com o imperia-lismo espanhol e as profundas conseqüênciasideológicas, políticas e organizativas do pensa-mento ecológico.

Há uns anos, assistimos a um encontro inter-nacional itinerante “Juventude e meio ambiente”.Na jornada inaugural em Compostela (Sam Caeta-no), Fraga Iribarne, a Guardia Civil, os técnicos-burocratas ambientalistas e os entusiastasamantes da natureza jungimo-nos numha estam-pa entranhável e conciliadora. Por acima de todasas diferenças e contradiçons, por acima de ideo-logias e matizes políticos, por acima das relaçonsde poder, um laço invisível de sincera preocupa-çom por salvar a humanidade da catástrofe eco-lógica nos confraternizava a todos e a todas, de-predadores, repressores, mestres e juventude in-conformista. Este postal serve-nos para ilustrardalgum jeito o primeiro grande eixo importante aque queremos aludir, qual é a armadilha da apro-priaçom polo poder espanhol em todas as suasmanifestaçons e níveis do discurso ambientalista.O Estado espanhol acelera mais do que nunca atoma ao seu serviço da direcçom do processo deformaçom da consciência ecológica.

A questom do meio ambiente, que nas suas ori-gens foi umha questom radicalmente crítica dasociedade capitalista avançada e um fenómenosocial que representava grandes repercusons po-tenciais, na actualidade é digerida e plantejadapolo próprio poder político (e portanto mediático),fazendo parte do seu discurso, convertida em me-ta política e em nova capacidade de um novo con-sumo. O problema do ambiente é reconvertido,assim, numha nova fonte de desenvolvimento dopróprio sistema. “Parte da soluçom aos proble-mas ambientais passa por umha maior participa-çom das empresas que exploram os recursos na-turais. Os últimos dous anos, as companhias pri-vadas melhorárom muito a sua percepçom doproblema (...) As companhias de seguros estámpreocupadas, por exemplo, polo aquecimento doplaneta e as entidades bancárias internacionaisnom querem financiar projectos que esgotem osrecursos naturais” (Instituto de Recursos Mun-diais, EEUU, autor do relatório da ONU intituladoWorl Ressources 2000-2001).

A partir deste poder som lançadas contínuascampanhas de “informaçom” e “educaçom” diri-gidas à conformaçom de umha nova sensibilidadecidadá, que som directamente proporcionais àmultiplicaçom da sua capacidade de destruiçomdos laços económico-espirituais das pessoas coma Terra, do espólio de recursos, da transmissomde ideologias e tecnologias que convertem a gen-te em escrava do sistema extractivo que define oimperialismo, intervençom selvagem sobre os es-paços do Povo e perda irreversível da biodiversi-dade, incluída a cultural-antropológica: Conferên-cia das Naçons Unidas sobre o Meio Humano (Es-tocolmo, 1972); Programas das Naçons Unidas pa-ra o Meio Ambiente-PNUMA (1973); Programa In-ternacional de Educaçom Ambiental-PIEA (1974);Seminário Internacional de Educaçom Ambiental(Belgrado, 1975); Conferência Intergovernamen-tal sobre Educaçom Ambiental (Tbilissi, 1977); Es-tratégias Mundiais para a conservaçom da natu-reza (1980,1990); Congresso Internacional sobreEducaçom e Formaçom sobre Meio Ambiente(Moscovo, 1987); Conferência das Naçons Unidassobre Meio Ambiente e Desenvolvimento e apro-vaçom da Agenda 21 (Rio de Janeiro, 1992); ForoGlobal de ONGs e Tratado sobre Educaçom Am-biental para sociedades sustentáveis e para a res-ponsabilidade Global (Rio de Janeiro, 1992); Con-gresso Mundial sobre a Educaçom e a Comunica-çom em matéria de Meio Ambiente e Desenvolvi-mento (Toronto, 1992); Conferência Internacionalsobre Meio Ambiente e Sociedade: educaçom esensibilizaçom para a Sustentabilidade (Tessalóni-ca, 1997); Estratégia Galega de Educaçom Meio-Ambiental (Resoluçom do 3 de Outubro de 2000 daConselharia de Meio Ambiente)... etc.

Dos laboratórios do sistema político-económicosaem todos os dias dúzias de novos vocábulospintados de verde, para que nom nos esqueçamosem nengum momento que o poder pensa e traba-lha duro em chave ecológica: ecotecnologia,ecoeficiência, ecodesenho, ecoplanta, ecoemba-lagem, ecogestom, ecoauditoria, ecoexplora-çom... Sem dúvida o conceito de sustentabilidadeadensa magistralmente este esforço do sistemacapitalista por apropriar-se das noçons básicasdo pensamento crítico da nova concepçom econó-mica ecológica. Os defensores da ordem, do pro-dutivismo e crescimento, do espólio de territóriosinteiros, som agora ardentes defensores do de-senvolvimento sustentável1, convertido num con-ceito tecnocrático e reformista. Se consultarmosatentamente programas políticos, normativas,declaraçons de intençons..., podemos observarcomo inevitável e sistematicamente aparece a

palavra sustentável, convertida no termo maismanuseado das últimas duas décadas, em talis-mám estritamente necessário para que o poderapareça correctamente representado.

O segundo eixo citado refere-se à incompatibi-lidade radical entre o pensamento e prática eco-logistas e o imperialismo espanhol. Nom é possí-vel nengumha aposta ecológica integral, nengumautêntico desenvolvimento sustentável, a partirda dependência, da privaçom da capacidade dedecidir e intervir com independência e participa-çom social sobre a nossa Terra. Nom é possíveldentro do actual regime espanhol de assovalha-mento e ocupaçom do nosso povo, dentro do ac-

tual sistema político-social e económico de pro-duçom, de relaçons e de consumo abençoado egarantido polo quadro jurídico-político constitu-cional espanhol. O Estado espanhol, como todasas velhas forças destrutivas da história da huma-nidade, camufla-se agora numha ideologia cloro-fílica que nos apresenta um capitalismo verdeque propom umha continuidade do vigorante sis-tema económico de exploraçom da Galiza, de pro-duçom e de consumo, vendido como força inte-gradora, regulado e reajustado com critérios decrescimento sustentável.

O terceiro eixo aludido refere-se às profundasconseqüências ideológicas, políticas e organizati-vas do pensamento ecológico. Achega um siste-ma totalizante, introduzindo conceitos fundamen-tais: geossistema, globalidade, dinamismo, inte-racçom de sistemas, subsistemas e elementos,espaço (escala territorial), tempo (escala tempo-ral)..., e formula propostas coerentes sobre a or-ganizaçom da economia –propondo novos modose relaçons de produçom–, a sociedade e a políti-ca, à vez que umha nova ética e novas utopias.

Sem dúvida, o mais interessante é a concep-çom dialéctica da natureza e do conhecimento,rechaçando os métodos mecanicistas tradicio-nais. O qual entronca ou vem enriquecer o mate-rialismo dialéctico cujo objectivo elementar pode-mos dizer, em poucas palavras, que consiste emabranger todos os aspectos de um processo, nasua complexidade, as suas contradiçons e o seumovimento. O pensamento ecológico, como a dia-léctica, proporciona-nos umha maneira nova deconceber as cousas. Permite-nos vê-las e estudá-

sociedade galega no seu conjunto (e além dosaspectos político-económicos) está por acimade noçons importadas, dogmas sagrados e fe-tiches, tanto no ámbito da intervençom sócio-política como a respeito dos instrumentos deorganizaçom.

– Todos os fenómenos naturais e sociais levamsempre implícitas contradiçons internas. Acontradiçom principal é sempre a que existedo começo até o fim do processo e cuja exis-tência e desenvolvimento determinam a natu-reza e a marcha do mesmo. Portanto, na luitade libertaçom nacional e social galega é aque-la em que está em jogo a existência do Povo, asua continuidade como sujeito colectivo histó-rico.

– Os aspectos termodinámicos, de sinergias eassinergias..., som muito relevantes nas diná-micas de organizaçom e luita. Devem primarsempre aquelas metodologias ou estruturasorganizativas que nom sejam estranhas e quediminuam o stress interno, as perdas de ener-gia, de equilíbrio e de eficiência do conjunto doMovimento.

1 Em Outubro de 1983 a Assembleia Geral da ONUcria a Comissom Mundial polo Meio Ambiente e oDesenvolvimento. Do trabalho desta Comissomsaiu em 1987 o “Informe Brundtland”, que é a baseda reapropriaçom oficial do conceito e as estraté-gias do desenvolvimento sustentável.

Antom Garcia Matos é militante de NÓS-UP em Com-

postela

las a partir de todos os seus aspectos e nom deum jeito unilateral, olhá-las no seu movimento enom de forma estática, imóbel. Podemos contra-por a este pensamento ecológico-dialéctivo umpensamento de tipo lêntico, antidialéctico, idea-lista.

Os quatro traços mais sobressalientes do pen-samento eco-dialéctico num contexto de luita delibertaçom nacional e social como o nosso som:– A formaçom é muito mais que intelectualismo

erudito e colecçom de dados compartimenta-dos ao serviço de minorias científicas qualifi-cadas.

– O conhecimento teórico-prático e racional da

taçom de Angola (MPLA), promovido polo PartidoComunista Angolano em coordenaçom com diver-sos grupos nacionalistas. Nos exemplos citados, aestratégia frentista para a libertaçom nacional che-gou a dar a vitória às forças populares face ao do-mínio imperialista em cada área, caracterizando-seas diversas FLN’s pola orientaçom socialista queimprimírom aos processos de libertaçom nacional.Sem entrarmos a avaliar os períodos que se seguí-rom à tomada do poder nos respectivos países porparte das frentes mencionadas, sim é interessantevincarmos a tendência verificada, que levou à trans-formaçom da frente que aglutinava partidos repre-sentativos de diversos sectores e classes sociaisem partido convencional que também arrumou oseu conteúdo revolucionário no plano social, pas-sando a representar no melhor dos casos as res-pectivas burguesias nacionais antiimperialistas.Também esta deriva organizativa se tem verificadoem frentes de libertaçom que nom atingírom otriunfo, como aconteceu recentemente com a salva-dorenha Frente Farabundo Martí de Libertaçom Na-cional (FMLN).

Mais próxima de nós fica a tentativa frustrada daETA para constituir umha Frente Nacional de Liber-taçom Basca (FNLB) nos primeiros anos da décadade setenta, que incluísse também a burguesia na-cional atráves do Partido Nacionalista Basco (PNB),e com a própria ETA como vanguarda, na perspecti-va da “revoluçom popular-nacional”. Os modelos dereferência reconhecidos eram o chinês e o cubano,entre outros.

A Frente PatrióticaPróximo do modelo de Frente de Libertaçom Na-

cional, encontra-se o de Frente Patriótica, umha va-riante em que o conteúdo nacionalitário ou patrióti-co é maior a respeito do social, que por vezes até éabandonado ao nom contar com umha vanguardarevolucionária com suficiente desenvolvimento noseu seio. A fórmula de Frente Patriótica costumaexprimir-se em contextos de máxima contradiçomcolonial ou de perigo para a soberania nacional, quefundem de maneira generalizada os interesses po-pulares com a reivindicaçom patriótica. A FrentePatriótica búlgara (hegemonizada polo Partido Co-munista) que se enfrentou à monarquia pró-nazi echegou ao poder em 1945 é um exemplo deste tipo.Na actualidade, a Coordenadora de Forças Patrióti-cas e Islámicas Palestinianas pode ser enquadradano esquema de Frente Patriótica, aglutinando orga-nizaçons político-militares que vam do marxismo daFrente Popular para a Libertaçom da Palestina(FPLP) ao islamismo de Hamas ou a Yihad Islámica.Também a resistência iraquiana organizada após ainvasom do país polas tropas imperialistas anglo-norte-americanas na chamada II Guerra do Golfosemelha responder a essa fórmula de Frente Pa-triótica, situando a emancipaçom nacional no centroda sua estratégia de acumulaçom de forças frenteao imperialismo.

Nom há dúvida de que qualquer dos modelos ci-tados, a Frente de Libertaçom Nacional e a FrentePatriótica, tenhem desenvolvido ao longo do sécu-lo XX e ainda no actual um papel progressivo fren-te ao imperialismo, possibilitando importantes vi-tórias para os povos e países mais agredidos polafase imperialista do capitalismo. Quanto à derivasocial que nom raro fijo concluir os processos delibertaçom nacional em sistemas homologáveisaos do capitalismo colonial, tal desfecho pom emevidência os limites do interclassismo como apos-ta estratégica para a revoluçom em contextos dedependência, na medida em que ele comprometaa preservaçom dos interesses e programa dasclasses populares à frente do processo de liberta-çom nacional. Nesse senso, a Frente Única An-tiimperialista foi a alternativa de FLN defendidapor sectores trotsquistas, e nela os sectores ope-rários manteriam plena autonomia e rol dirigente.Também convém nom desconsiderarmos a ausên-cia de umha visom estratégica da necessária di-mensom internacional da revoluçom, dialectica-mente imbricada com o processo revolucionárioem cada país, para explicar o rumo reformista to-mado por FLN’s como as citadas. Além do mais,nom esqueçamos que em muitos casos foi maisbem o interesse estratégico da URSS que impul-sionou ou refreou processos revolucionários de li-bertaçom em determinadas regions do globo.

A Frente PopularUm outro modelo aglutinador das forças popula-

res para favorecer o seu processo de emancipaçomé o representado polas chamadas Frentes Popula-res. Promovidas a partir dos anos trinta por iniciati-va da Komintern estalinista, trata-se de amplasalianças eleitorais antifascistas em que, de novo, ocorrespondente partido comunista tenta manter asua hegemonia. O Estado espanhol e o francês vi-vêrom as primeiras experiências triunfantes destetipo no ano 1936 (Janeiro e Maio respectivamente).

Ecologia aqui e agoraAn

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7ANÁLISENº 30. Outubro, Novembro e Dezembro de 2003

No caso francês, governos frentepopulistas de pre-sidência social-democrata (Leon Blum e Chau-temps) dirigírom o país até 1938. No caso espanhol,a experiência da Frente Popular é interrompida nomesmo ano da sua vitória eleitoral polo golpe de es-tado fascista que conduz à Guerra Civil. Tambémoutros países como o Chile de 1938 (Partido Comu-nista, Partido Radical e outros) ou o Afeganistám de1973 (Partido Democrático Popular do Afeganistám

–PDPA– mais burguesia nacional anti-monárquica)verificárom o acesso ao poder de frentes popularesao longo do século XX, enquanto outras tentativascomo a italiana em 1948 resultárom mal sucedidas.Mais recentemente, alianças eleitorais interclassis-tas tenhem acedido ao governo de diversos países,podendo-se destacar as vitórias do chamado PóloPatriótico venezuelano que levou Hugo Chávez àpresidência dessa naçom latino-americana, ou a vi-

tória no Brasil de Luiz Inácio Lula da Silva, comocandidato de umha aliança entre organizaçons deesquerda e representativas da burguesia nacionalcoligadas com o hegemónico Partido dos Trabalha-dores (PT).

De natureza interclassista, as Frentes Populares,que nascêrom para dar cobertura à estratégia es-talinista a nível internacional e ante o ascenso dofascismo, tenhem servido para aglutinar sectores e

classes diversas, abrindo expectativas de mudançareal em sociedades como a espanhola de meadosdos anos 30, a afegá dos anos 70, a venezuelananos anos 90 ou a brasileira actual. Porém, é a he-gemonia das classes populares no seu interior quepode acabar por impor umha transformaçom socialverdadeiramente revolucionária, costumando ence-nar-se durante a etapa de governo umha luita entreas tendências pró-burguesas, reformistas e revolu-cionárias tanto no seu seio quanto a nível social. Ogrande risco da derrota das posiçons mais avança-das é o descrédito das esquerdas perante as mas-sas e o conseqüente ascenso de forças ultra-reac-cionárias a seguir do “desencanto” frentepopulista.

Como alternativa frentista nom interclassista,sectores trotsquistas tenhem também ensaiado omodelo de Frente Única, aglutinadora apenas de or-ganizaçons operárias. É o caso das chamadas Alian-ças Operárias (“Alianzas Obreras”) promovidascom certo sucesso pola Izquierda Comunista espa-nhola de Andreu Nin em 1934 e posteriormente de-fendidas sem êxito polo POUM como alternativa àFrente Popular em 1935-36. O próprio POUM aca-baria por aderir à Frente Popular.

A Unidade PopularO terceiro modelo de agrupamento das forças

populares que esboçaremos é o conhecido por Uni-dade Popular. Face às estruturas frentistas anterio-res, as unidades populares tenhem-se caracteriza-do pola sua maior vocaçom estratégica e orgánica,para além da simples conjuntura eleitoral, aindaque podam ter a sua origem em coligaçons dessegénero (caso da Unidade Popular chilena e da Her-ri Batasuna basca, por exemplo). No plano político-ideológico, o seu compromisso social manifesta-seà hora de aglutinar apenas sectores populares an-ticapitalistas, nom adscritos às classes dominantes,ainda que isto poda ser discutível em casos como ochileno, em que as camadas médias participáromnalgumha medida na criaçom e desenvolvimento daUnidade Popular que ganhou as eleiçons em 1970,o que a aproximou do modelo de Frente Popular.

Organicamente, portanto, nom se trata nem deum partido político nem de umha frente de partidos.Costuma tender para umha militáncia individual,mesmo reconhecendo a existência de correntes oupartidos, frente às quotas de representaçom parti-dária que caracterizam as frentes, o que ressalta oseu objectivo de unidade permanente e nom con-juntural. Também com esse fim é que se elaboramtabelas reivindicativas tácticas ao lado de umha sé-rie de princípios estratégicos que fundamentam aunidade e que podem sintetizar-se na construçomdo poder popular a partir do trabalho político de ba-se. A Unidade Popular tende a constituir-se em or-ganizaçom política com vocaçom de massas, fazen-do uso da mobilizaçom das forças populares e dotrabalho nos movimentos sociais, e nom só do tra-balho institucional. O seu perfil anticapitalista émais nítido do que nas frentes, indo portanto paraalém do antiimperialismo destas, perfil que em con-textos de submetimento nacional fai da defesa dosdireitos nacionais e lingüísticos, bem como da cons-truçom da naçom princípios fundamentais da unida-de (seguramente a experiência basca de Herri Ba-tasuna seja a que mais claramente reflicta a expe-riência de Unidade Popular no contexto de depen-dência nacional).

Outro exemplo actual de proposta de unidade po-pular pode ser a defendida por sectores da esquer-da revolucionária venezuelana, como a ALB (AliançaPopular Bolivariana) ou o próprio PCV (Partido Co-munista da Venezuela), que proponhem fórmulaspara o agrupamento de forças populares que ultra-passem a estratégia frentista que levou o movi-mento bolivariano ao poder, ante a tendência ao bu-rocratismo e ao reformismo, bem como ao afasta-mento dos movimentos populares por parte dospartidos que sustentam o governo presidido porChávez, como o MVR, MAS ou PPT. Para os sectoresdefensores desta estratégia, a implicaçom directado movimento popular (nomeadamente círculos bo-livarianos e outras organizaçons de base) na ges-tom de governo através de um modelo de unidadepopular seria a melhor garantia para a derrota dacontrarrevoluçom burguesa e para o avanço do pro-cesso bolivariano numha linha revolucionária.

No México, o Movimento de Unidade e Luita Po-pular (MULP) é um outro ensaio actual enquadrávelnos parámetros da unidade popular, aglutinandoorganismos sociais e políticos diversos num auto-denominado Movimento Político de Massas que as-pira a constituir-se em “embriom do Poder Popu-lar”, a partir de um programa de sete pontos “quearticule a luita política, a económica e a culturalnumha só torrente”.

A coligaçom eleitoralAlém das estruturas referidas, de carácter mais

ou menos estratégico, existem outras formas deunidade táctica, como a coligaçom ou aliança elei-

toral. Podemos citar, pola sua proximidade noespaço e no tempo, a CDU portuguesa (PCP eOs Verdes). Já comentamos como a aliança oucoligaçom eleitoral podia nascer ou evoluir se-guindo padrons de maior estabilidade que aconduzam a um modelo de Unidade Popular, co-mo no caso basco. Mas também pode derivarnum esquema próximo do frentista, como o por-tuguês Bloco de Esquerda, inicialmente forma-do pola Uniom Democrática Popular (UDP) e oPartido Socialista Revolucionário (PSR), ex-maoístas e trotsquistas respectivamente, maisa agrupaçom Política XXI (ex-comunistas),aberto à participaçom individual e à incorpora-çom de novos colectivos como de facto aconte-ceu com a trotsquista Frente de Esquerda Re-volucionária (FER). Nem a sua natureza e di-mensom iniciais permitem falar de ensaio fren-tepopulista, nem a prática e objectivos marca-dos neste caso remetem para a construçom deumha unidade popular.

Algumhas conclusonsA exposiçom anterior fai-nos concluir que os

tipos puros nom costumam verificar-se. Umhavez que se ultrapassa o tacticismo da coligaçomeleitoral, tendo maior ou menor peso a feiçomfrentista ou de unidade popular no agrupamentode forças, existem características comuns oupontos de contacto entre as diversas fórmulas,que de resto podem evoluir segundo as necessi-dades de cada momento histórico e as caracte-rísticas da formaçom social em que agem. As-sim, as frentes, partindo da aliança de organiza-çons políticas, que estám representadas comotais nos organismos de direcçom, podem prevere reconhecer a filiaçom individual. Por seu turno,o modelo de unidade popular, que se caracterizapolo protagonismo da filiaçom individual, podetambém reconhecer, nomeadamente nos seusprimeiros estágios, representatividade aos par-tidos e colectivos que a integram. É o caso dabasca Herri Batasuna na sua etapa de confor-maçom; umha vez já assumida a vocaçom estra-tégica e superada a coligaçom eleitoral (Mesa deAlsasua), partidos fundadores como Herriko Al-derdi Sozialista Iraultzilea-Partido Socialista re-volucionário do Povo (HASI) continuárom a con-tar com representaçom na direcçom da unidadepopular. Também a actual Batasuna, resultantede um processo que sob o mesmo nome condu-ziu em 2001 à refundaçom da unidade popularbasca, prevê e reconhece organicamente a exis-tência de correntes no seu seio.

Por sua vez, o independentismo catalám en-saiou na década de 80, impulsionada polo PSAN(Partit Socialista d’Alliberament Nacional) e oIPC (Independentistes dels Països Cataláns),um modelo a caminho entre a Frente Patrióticaproposta polo primeiro e a frente de forças deesquerda defendida polos segundos. A organi-zaçom de massas resultante, o MDT (Movimentde Defensa de la Terra), acabaria rompendo apartir das contradiçons sobre a orientaçom es-tratégica e a definiçom organizativa do movi-mento, dando lugar a Catalunya Lliure comoproposta de Frente Patriótica e à efémera AUP(Assembleia d’Unitat Popular) como tentativade unidade popular promovida polos restos dopróprio MDT.

O exemplo anterior dá-nos pé a sublinhar ago-ra a variável dimensom do processo unitário re-presentado polas diversas fórmulas revisadasnestas linhas. Com efeito, a abrangência das co-ligaçons, frentes e unidades populares tem sidosempre relativa, costumando ficar de fora secto-res populares, por motivos diversos, entre eles: – por representarem interesses enfrentados,

amiúde apoiados em estratégias tambémopostas por parte das potências estrangeirasque as sustentam (caso da Uniom Nacionalpara a Independência Total de Angola –UNI-TA– apoiada polos EUA face à vencedorafrente de libertaçom nacional angolana –o jácitado MPLA, apoiado pola URSS).

– por diferenças na concepçom e natureza doprocesso unitário, como se vê na negativa dealguns sectores populares a se incorporarema projectos interclassistas que ponham emquestom o carácter de classe do projecto (ca-so dos trotsquistas Partido Socialista dosTrabalhadores Unificado –PSTU– e Partidoda Causa Operária –PCO– no Brasil ante ahoje governante frente popular nucleada poloPartido dos Trabalhadores –PT);

– pola natureza reformista de determinadas es-querdas frente a propostas rupturistas e an-ti-sistémicas de unidade popular (caso deEuskal Iraultzarako Alderdia-Partido para aRevoluçom Basca –EIA– e Euskadiko Esker-ra-Esquerda Basca –EE– no processo de cria-çom de Herri Batasuna no País Basco, a finaisda década de 70 do século passado, ou deAralar e Batzarre no mais recente processode refundaçom de Batasuna). Umha vez repassadas os principais esquemas

organizativos para a unidade, resta-nos repas-sar as experiências verificadas no nacionalismogalego, partindo da etapa anterior a 1936 e che-gando à situaçom actual. Será no próximo núme-ro do Abrente que acometamos essa tarefa.

Maurício Castro é membro do Comité Central de Pri-

meira Linha

de organizaçom unitária das forças res de parámetros nacionais (I)

Mobilizaçom bolivariana em Caracas

Cartaz de Ho-Chi-Minh e Che Guevara

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Nº 30. Outubro, Novembro e Dezembro de 2003ANÁLISE8

De muitos colectivos de esquerda e tambémdo reformismo duro, está a criticar-se com ra-zom o conteúdo essencialmente antidemocráti-co do projecto de Constituiçom política que es-tá a impor o capitalismo europeu. É correcto enecessário fazê-lo porque, como havemos dever, tal projecto é reaccionário. Mas tal denún-cia é apenas umha parte da tarefa, a partemais chamativa e fácil de divulgar e compreen-der, mas nom a decisiva. Insisto em que cum-pre estender as denúncias e especialmente asmobilizaçons contra a Constituiçom europeiaimpulsionando o seu rejeitamento activo, oNOM no referendo que se celebrará no seumomento.

No entanto, a verdadeira armadilha da Cons-tituiçom, o seu perigo, assenta noutro sítio, nodesconhecimento absoluto do processo histó-rico que nos tem trazido a esta miséria. Quemnom conhecer a história, está condenada a re-peti-la. E quem desconhecer que na actualida-de o grosso das burguesias europeias está aimpulsionar um salto na concentraçom e cen-tralizaçom de capitais num contexto mundialdeterminado, quem ignorar isto tam básico,nom poderá descobrir todos os perigos que seocultam no projecto constitucional. Quem se li-mitar à mera denúncia democraticista, de res-to necessária, das injustiças legalizadas nessaConstituiçom, nom há de poder nunca mergu-lhar no fundo do problema e, daí abaixo, mobi-lizar todas as forças revolucionárias, progres-sistas e democráticas.

Critica-se com absoluta razom que o projec-to constitucional é antidemocrático porque es-tá elaborado sem um prévio processo demo-crático constituinte; porque foi elaborado nomais obscuro dos segredos burocráticos pordeterminados poderes que nunca se submen-tem a qualquer eleiçom democrática, se é quetal servisse de algo; que o continuarám a ma-tizar nos aspectos secundários as burocraciasdos estados, também livres da fraca dúvidaeleitoral cada quatro ou cinco anos; que ape-nas algumhas cousinhas sem qualquer valornem transcendência serám deixadas ao impo-tente e ineficaz, e muito corrupto e vendido aosprivilégios da poltrona, Parlamento europeu;que os estados actuais mantenhem as suasfronteiras e a opressom das naçons no seu in-terior; que as eurorregions –esse engano paraincautos bem-intencionados— fôrom deitadasno baú das administraçons meramente técni-cas e descentralizadoras sem poder decisório;que a burguesia europeia impujo artigos intei-ros que ceifam de raiz as mirradas conquistassociais, laborais, sindicais, sexuais, culturais,etc., obtidas somente graças às luitas sexo-económicas, nacionais e de classes; que aConstituiçom é nitidamente euroimperialistapara o exterior; com o seu próprio exército, eque apra o interior europeu reforça o poder dedeterminados estados sobre outros, com umimperialismo intraeuropeu; que se baseianumha euro-repressom dotada dos mais sofis-ticados meios tecnocientíficos e de (tele)con-trolo social flexível; que os projectos em I+Destám em funçom do lucro capitalista e nom daqualidade de vida humana e da luita contra acatástrofe ecológica; que é racista e eurocên-trica e que, para cúmulo, querem que seja cris-tá.

Isto todo tam brevemente exposto, é certo.Como é certo, que, à vez, a poderosa indústriapolítico-propagandística –a dita “imprensa li-vre” burguesa– há tempo que pujo a funcionarao máximo a maquinaria de manipulaçom docomponente irracional da estrutura psíquicadas massas europeias para, um, desprestigiarquem rechaçamos a uniom capitalista da Euro-pa; dous, convencer os chamados eurocépti-cos; três, reforçar os já convencidos para re-sistirem quando for descoberta a essência an-tidemocrática da Constituiçom e, quatro, justi-ficar que haja “cidadaos europeus” de primei-ra, de secunda e de terceira. Sem entrarmosagora na crítica marxista do mito do “cidadao”e portanto da “sociedade civil”, serám de pri-meira aqueles e aquelas que tiverem a nacio-nalidade estatal dos estados hegemónicos, no-meadamente, por enquanto, o eixo Berlim-Pa-ris e muito seguramente algo mais tarde deitalianos e británicos; os de segunda ham deser aqueles e aquelas das potências de menospopulaçom, ainda que de alto poder económicoe tecnocientífico; e de terceira ham de ser osrestantes. Fora destes, umha enorme massade seres humanos emigrantes, deslocados,marginalizados, estatisticamente “invisíveis”,e também aqueles que sendo europeus por ori-gem geográfica, no entanto, carecemos dos di-reitos essenciais ao estarmos oprimidos nacio-nalmente polos estados oficiais. Para ocultarou tentar legitimar as injustas diferenças entreestes sectores, a “imprensa livre” desenvolveuha campanha alienadora impressionante comajuda dos estados.

Orabém, insistindo na necessidade de criti-carmos estas injustiças manifestas, tambémhá que aprofundar nos interesses classistasque a propiciárom, mas à vez cumpre desco-brir o comportamento anterior de muitas for-ças que agora denunciam a Constituiçom masque nom tenhem feito nada para impedir che-gar a esta situaçom. Muitos críticos actuais te-

nhem permanecido em silêncio durante anosou, pior, tenhem facilitado as sucessivas vitó-rias capitalistas que estám na base imediatadesta situaçom. Com certeza, nunca é tardepara começar a luita e, para o futuro, é neces-sário abrirmos um debate entre as esquerdase sectores progressistas europeus para aunarobjectivos comuns na mesma direcçom. Conse-gui-lo nom depende apenas da boa vontade,nem de um oportuno acto de constriçom dequem tenha feito pouco ou nada até agora;também depende da capacidade colectiva deautocrítica e aprofundamento teórico no longoprocesso histórico de concentraçom e centrali-zaçom do capital europeu como um dos espa-ços imperialistas de acumulaçom decisivosneste modo de produçom.

Contra o que se afirma, a situaçom actualnom tem a sua origem nas vontades isoladasde várias “personalidades europeias” após aguerra de 1939/45 e ante os problemas que secolocavam, como geralmente se interpreta,mas na lúcida consciência da derrota directada burguesia alemá e da fraqueza estrutural esemi-ocupaçom polo exército norte-americanode estados como o francês, o italiano, o holan-dês e outros, todo sob a presença da URSS apoucas centenas de quilómetros. Naquelascondiçons, relançar a acumulaçom capitalistaem cada Estado exigia umha incipiente e ines-cusável aproximaçom que facilitasse o tránsitode produtos essenciais como carvom e aço, eisso acelerava inevitavelmente a concentra-çom e centralizaçom de capitais num contextonovo. Nom fôrom sujeitos individuais mas inte-resses burgueses colectivos, e os sujeitos faci-litárom esses interesses. Portanto, a situaçomactual fica determinada por decénios de evolu-çom do mais cru e nu do capitalismo, em vez depor poucos anos de superficiais acordos políti-cos.

Durante estes decénios, as chamadas “es-querdas” tenhem sido umha das forças impul-sionadoras do que actualmente é a UE. Com aescusa de impedir ou ao menos refrear e con-ter os “aspectos negativos” e desenvolver omais possível os “positivos”, estas “esquer-das” tenhem impulsionado este processo semlevar em conta que o fundamental beneficiárioera o capitalismo. É mentira que esse impulsotenha sido a causa principal do chamado “Es-tado do bem-estar” –em todo o caso, Estadode menor mal-estar– porque a sua origem temsido, primeiro, o medo burguês ao movimentooperário; segundo, a presença da URSS e, ter-ceiro, as ofertas negociadoras sempre à baixado reformismo e destas “esquerdas”. Lá ondeo movimento operário era fraco, a URSS esta-va longe e a burguesia nom precisava do re-formismo, quase nom fijo falta o “Estado domenor mal-estar”. As “esquerdas”, ao impul-sionar o MCE e a UE, tenhem facilitado o eu-roimperialismo externo e interno, e junto dele,a centralizaçom e concentraçom do capital eu-ropeu. A partir da metade da década de 70,aliás, tenhem ajudado propositadamente quan-do nom o tenhem dirigido, o triunfo maior oumenor dos ataques anti-sociais havidos, quasesem se enfrentarem abertamente ao recortede liberdades democráticas ou inclusiveapoiando-o oficialmente com a escusa da “se-gurança cidadá”. A longa listagem de claudica-çons e colaboraçons mantidas durante decé-nios tenhem afundado as “esquerdas”, te-nhem desapontado e desorientado as massasoprimidas e tenhem encorajado as burguesias.A mistura de passividade, indiferença e derro-tismo de boa parte da populaçom europeia an-te a Constituiçom tem a sua origem directa nocomportamento destas “esquerdas”, algum-has das quais agora protestam.

Actualmente, nom existem esquerdas sóli-das capazes de lançar umha luita massiva con-tra a Constituiçom porque as “esquerdas”, oreformismo duro –alguém julga nesta alturaque o PCF ou o PCE som revolucionários?– so-bretodo, tenhem rendido o inestimável serviçoà burguesia de ter refreado o desenvolvimentode verdadeiras esquerdas. Nom existem, ousom muito fracas, na prática, e na teoria mos-tram umha grande fraqueza no que di respeitoà história do capitalismo europeu. Nom devesurpreender-nos nem umha cousa nem outra,conhecendo como conhecemos as pressons detodo o tipo que essas “esquerdas” tenhem fei-to para impedirem a existência das esquerdasrevolucionárias. E menos deve surpreender-nos o relacionado com a história europeia,continuando com o exemplo do PCF e PCE, por-que, de umha parte, conhecê-la –no sensomarxista– exigiria-lhes ultrapassar o mecanis-

mo economicista do dogmatismo russo; de ou-tra, reinterpretar o papel fulcral primeiro doimpério Habsburgo e a seguir do reino de Fran-ça, com o qual se enfrentariam a umha outrahistória dos seus próprios estados e, por últi-mo, afinal veriam-se obrigados a se enfrenta-rem com a sua própria história partidista, como seu papel como sustentadores de estadosopressores desde, no mínimo, a década de 30do século XX até agora mesmo. Tempo demais.

Como efeito do anterior, a começos dosanos 80 apenas grupos muito reduzidos se ocompararmos com a força das mobilizaçons de40 anos antes e de 15 anos antes, estavam emcondiçons de prever a celérica velocidade deconcentraçom e centralizaçom europeia, quese fijo mais intensa com a implosom da URSS:se agora relermos as críticas ao Tratado deMaastrich vemos que, na sua imensa maioria,primavam os aspectos democraticistas e su-perficiais, faltando umha visom de fundo dassucessivas reordenaçons da hierarquia e he-gemonia capitalista na Europa desde os sécu-los XVI-XVII como um dos factores que expri-mem e impulsionam a interacçom de forçascontraditórias na evoluçom capitalista. A imen-sa maioria da oposiçom à UE nom percebeuque esta é a quarta reordenaçom capitalistaeuropeia –ainda nom concluída–, sendo as an-teriores as que se materializam formal e ofi-cialmente à volta do Tratado de Wetfalia de1648, do Congresso de Viena de 1815 e dosacordos de 1944/45 entre os EUA e a URSS.

A ausência de umha visom teórica sistemá-tica impede compreender tanto o conteúdo e osignificado global das mudanças que vivemos eque marcam o tránsito de umha fase e reorde-naçom a outra, o que explica que os efeitos se-jam muito mais complexos e de longo alcancedo que as simples e curtas condenas parciaisao uso; como, pola complexidade e transcen-dência da mudança de fase, a necessidade deumha política de esquerdas que ultrapassequalitativamente as clássicas denúncias e mo-bilizaçons isoladas para avançar numha lógicarecomposiçom das esquerdas por e para res-ponder a prévia reordenaçom do poder capita-lista. Saber que o que está a acontecer expri-me umha transformaçom profunda e extensa

das formas actuais em que se expressam asconstantes essenciais, genético-estruturais,do capitalismo europeu, em vez de umha ligei-ra reforma das instáncias político-parlamenta-res, ser consciente disto é fundamental paraavançarmos numha política radical em lugar decontinuar com umha denúncia democraticista.

As reordenaçons capitalistas exprimem pro-cessos totais, quer dizer, que tarde ou cedoacabam por atingir todos os componentes darealdiade social, das formas de exploraçom daforça de trabalho aos mecanismo sociocultu-rais de dominaçom e opressom das massas,sexo-género e nacional, passando polas neces-sárias adaptaçons em e dos estados para res-ponder –e também impulsionar– estas mudan-ças. As guerras jogárom um papel fulcral nastrês reordenaçons anteriores, e a luita de clas-ses determinou as suas causas particulares.Mediante a guerra e a contrarrevoluçom fas-cista e/ou militar, o capitalismo europeu temido reestruturando os seus mecanismos glo-bais de acumulaçom, que é o que estava emcausa. Na actual reordenaçom, porém, a guer-ra aberta entre grandes estados tem dadopassagem a umha série de guerras locais e,sobretodo, a um endurecimento feroz do ata-que do Capital contra o Trabalho e a um au-mento das pressons e chantagens económico-políticas das burguesias mais fortes contra asmenos fortes.

Umha vez que as fracçons financeiro-indus-triais europeias –sem precisar aqui que secto-res burgueses transestatais e que estados di-rigem a actual reordenaçom– nom podem porenquanto recorrer descaradamente a outraguerra aberta, como no passado, tenhem en-durecido os dous métodos acima citados: oataque ao Trabalho e as pressons e chanta-gens interburguesas, enquanto melhoram assuas forças policíaco-militares para repressominterna e preparam forças ofensivas para ex-pandirem o euroimperialismo. Naturalmente,todo o visto gera um monte de contradiçonsque se vam resolvendo relativamente em be-nefício dos mais poderosos, que nom duvidamem fazer certas concessons oportunistas se-gundo as alianças conjunturais. Mais ainda,umha vez que um dos problemas mais impor-tantes na actual reordenaçom é a postura dos

EUA, em concreto a sua estratégia de impedira expansom da UE para a Rússia, a China e oJapom, à vez que controla a vital passagem doCáucaso e da Ásia Central –a antiga Rota daSeda–, além de outros objectivos, visto isto,aumentarám as diferenças e contradiçons in-ternas na Europa que se resolverám com ascessons das burguesias e estados menos for-tes.

Semelhante misto de interesses diversosnom é de maneira nengumha caótica e ilógica.As discrepáncias reflectem o choque entre asobsoletas e velhas formas de exploraçom eacumulaçom locais, estatais e inclusom emmuitas áreas produtivas, com as formas maisrendíveis, novas, que facilitam a obtençom delucro num capitalismo em que o factor-tempo(mais exploraçom, tecnologia e liberdade bur-guesa) adquire cada segundo maior relevo. Asurgências acrescentadas polo eixo Berlim-Pa-ris ao debate constitucional europeu surgemdo aqui visto e de facto de que cada segundoperdido implica a perda da sua parte alíquotana taxa de lucro. Mas a impossibilidade do re-curso à guerra explica com atencedência porque é que há de ser longa esta reordenaçom;por que é que há de ser longa a pugna no mili-tar com os EUA; por que é que esta potênciacriminosa há de fazer o impossível por contro-lar de dentro a evoluçom da UE para impedir osurgimento de umha competênca económica;por que é que os diversos blocos burguesesoscilarám nas suas alianças e mobilizarám to-dos os seus instrumentos de coerçom, aliena-çom e mesmo alguns de consenso com as suasmassas exploradas, para ganhar o mais possí-vel e/ou perder o menos possível. E explica,basicamente, por que é que todas as burgue-sias estám de acordo no essencial, em impedirque os povos europeus conheçam com um mí-nimo de pormenor o conteúdo constitucional, asua letra pequena.

Que tenhem de fazer as esquerdas? De par-tida, é óbvio que massificar a denúncia daConstituiçom, chegando a todos os cantos enom deixando títere com cabeça porque umsignificativo rechaço democrático e progres-sista da Constituiçom há de ser um acicateconscientizador e mobilizador. Mas esta é ape-nas a parte mais exterior, embora importante

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te Contra a Constituiçom europeiaou contra a Europa capitalista?

Schröder, Chirac, Blair e Aznar com Nicole Fontaine, presidenta do Parlamento Europeu

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9OPINIOMNº 30. Outubro, Novembro e Dezembro de 2003

prioridades no programa de normalizaçom lin-güística. Nesta situaçom, pensar que se podeentrar neste mundo pola via do convencimentoou que a nossa pressom terá qualquer incidên-cia nele, é, na minha opiniom, ingénuo.

3. Falta ver onde estamos a respeito dos edas utentes do galego, nomeadamente daque-les e aquelas mais activas na defesa da língua,que durante anos fôrom vendo como o nacio-nalismo parainstitucional ia relaxando a velhaluita do idioma e se mostrava cada vez maisincapaz de gerar ilusom polo galego. Ao mes-mo tempo, fôrom vendo como as nossas argu-mentaçons se faziam cada vez mais pertinen-tes no novo mundo das comunicaçons. Em1999, muitos e muitas intelectuais saíram àpalestra para reivindicar a necessidade deafirmar a unidade da língua galego-portugue-sa. A resposta em 2003 foi umha reforma queproporcionou mais apoio social às propostasisolacionistas, que reforçou a autoridade daRAG, e que alinhou com a Junta, em matérianormativa, a principal força política do nacio-nalismo galego.

É sem dúvida neste sector onde o reintegra-cionismo terá que centrar os esforços. Som

dos os frentes, e portanto, a presença do rein-tegracionismo torna-se incómoda. Fazermosavançar o reintegracionismo neste mundo, po-lo menos em ámbitos organizados, semelhaimpossível. De facto, nem a pressom do reinte-gracionismo tem algo a ver com a reformaanunciada, nem poderá originar novas refor-mas no futuro próximo. Que esta se levasse acabo só tem a ver com a necessidade do BNGde capitular de umha normativa “fora da legis-laçom” e incómoda, que lhe obrigava a manterumha posiçom pública ao respeito e, aindapior, afastava as suas elites dos circuitos cul-turais à volta do poder. Vincular-se à legalida-de é hoje em dia extremamente importante pa-ra o BNG e afins, às vezes mais do que desvin-cular-se daqueles organismos que a questio-nam. Mas o abandono da tensom ortográficaimplicará com certeza outros abandonos. UmNovo Plano de Normalizaçom Lingüística, porexemplo, poderá principiar, entre as conselha-rias e os organismos nacionalistas, relaçonsde simples matizaçom, que substituirám as an-tigas de confrontaçom. Por outro lado, a comu-nicaçom com o resto da lusofonia, poderá ficarainda mais relegada do que estava dentro das

muitas as pessoas com mais ou menos sensi-bilidade reintegracionista, ou mesmo só preo-cupadas, sem mais contemplaçons, polo futuroda língua, defraudadas pola deriva dos orga-nismos que por enquanto eram os seus refe-rentes. Som pessoas que talvez nom tenhamclara a questom da unidade da língua ou quenom identificam ainda claramente a relaçomentre normativizaçom e normalizaçom. Massom pessoas com a melhor das vontades, pes-soas às quais facilmente chegaríamos se dis-ponibilizássemos plataformas abertas onde ac-tuar, se contássemos com organizaçons prepa-radas para receberem pessoas que, para alémda questom ortográfica, apenas querem ache-gar o seu grao de areia à causa da língua. Ex-ceptuando casos exemplares como o de Artá-bria, o reintegracionismo ainda nom estavapreparado para isto no momento da reforma,apesar das positivas dinámicas abertas nos úl-timos anos, lideradas pola AGAL ou o MDL...mas terá que chegar a está-lo, pola língua epolo País.

Eduardo Sanches Maragoto é activista cultural e

militante de NÓS-UP

e necessária, das tarefas a realizar. Um outroé o de avançar coordenadamente no debate deconcreçom teórico-prática de novas relaçonsentre as esquerdas; novas relaçons que res-pondam às novidades de signo oposto introdu-zidas polo capitalismo e que estám na base daactual reordenaçom. Neste senso, e para con-cluir, vejo necessário avançar na mobilizaçomprática e teórica em, no mínimo, seis blocos deproblemas:

Um, o de concretizar que é, como se mate-rializa e que formas temos as esquerdas deavançar na luita entre o Trabalho e o Capital naEuropa actual. Nom falo de umha simples reac-tualizaçom do conceito “luita de classes” que émais actual do que nunca, mas de umha refle-xom teórica baseada nas práticas do Trabalhona sua capacidade de reorganizaçom e centra-lidade após os ataques de desestruturaçomque vem sofrendo desde os anos 70.

Dous, especial importáncia tem neste temaa específica exploraçom sexo-económica de al-go mais de metade da populaçom europeia,quer dizer, a actual realidade e força do siste-ma patriarco-burguês no capitalismo desenvol-vido.

Três, a tendência para o aumento das cons-ciências de identidade colectiva, nacional e cul-tural na recente evoluçom europeia, consta-tando o avivamento de umha realidade que ocosmopolitismo tinha desprezado há uns anosassegurando a sua desapariçom próxima, masque tem demonstrado umha força surpreen-dente. Especial atençom há que emprestar àsluitas pola recuperaçom das identidades colec-tivas lingüístico-culturais como avanços pro-gressistas que minam as bases da mercantili-zaçom capitalista.

Quatro, o problema crescente da força detrabalho emigrante, exterior à actual UE dos 15e dentro de pouco dos 25, problema que atingeos três precedentes e vários dos posteriores;problema que é recorrente na história dasreordenaçons capitalistas porquanto a disposi-çom de abundante mao de obra barata e dóciltem sido um dos objectivos internos a todas asguerras e contrarrevoluçons.

Cinco, o processo para um supra-Estado for-te, militarizado, tecnificado na repressom clás-sica mas muito avançado no (tele)controlo so-cial flexível das populaçons. Em estudo dos no-vos mecanismos de coerçom política que se so-mam à surda coerçom do capital, de aparênciademocrática, de alienaçom de massas e de ágiluso do consenso oportunista e táctico para ob-ter “paz social” e divisons entre as massas.

Seis, as formas de intervençom das massas,movimentos, colectivos e grupos sociais na ac-çom social em geral. Quer dizer, as contradi-çons e choques entre a democracia burguesaactual e as práticas embrionárias e parcelares,sempre limitadas, de democracia socialistados movimentos populares. Esta contradiçomque ocorre em muitos aspectos de base é noentanto sistematicamente silenciada e negadapola imprensa dominante, mas ensina-nos múl-tiplas possibilidades de enriquecimento práti-co. Naturalmente, também há que estudar asrelaçons destas práticas horizontais com ospartidos e sindicatos de esquerda: o problemado dirigismo, da espontaneidade e do delega-cionismo.

Sete, as formas de interrelaçom dos méto-dos de intervençom, acçom, pressom, manifes-taçom, luita, autodefesa, etc., quer dizer, osmétodos múltiplos de que se dotam em deter-minados momentos as massas, os grupos e su-jeitos para primeiro resistir aos ataques do po-der e, a seguir, passar à ofensiva. Eis o pro-blema permanente que nos remete para mui-tos dos pontos acima apresentados, e que naactualidade adquire outra vez grande impor-táncia.

Oito, os problemas já abertamente urgentese vitais causados polo irracionalismo capitalis-ta, como as formas de luita contra a crise eco-lógica, o consumismo e todo o relacionado coma mercantilizaçom definitiva da Natureza e davida humana, com especial insistência no de-senvolvimento de outra forma de vida e depensamento, o que conduz ao problema do po-der tecnocientífico burguês, inseparável do ca-pital constante, e portanto ao problema daproduçom social de um conhecimento nommercantilizado.

Com certeza, estes blocos e outros mais quenom se citárom –todo o universo da ética e dodesenvolvimento estético, pluridimensional epolicromo da espécie humana, por exemplo–tenhem diversas urgências e valorizaçons deimportáncia dependendo dos colectivos, clas-ses, sexos e naçons que os padecerem, e a for-ma de enunciaçom aqui apresentada nom querexprimir umha ordem hierárquica imposta dog-maticamente. Devemos ser as esquerdas quedebatamos e, sobretodo, avancemos na práti-ca das nossas acçons, priorizando o debateconcreto de e sobre realidades concretas emvez das abstrusas disquisiçons abstractas,porque o decisivo nom é palrar contra a Cons-tituiçom europeia, mas luitar contra a Europacapitalista.

Iñaki Gil de san Vicente é militante comunista e in-

dependentista basco

A aprovaçom pola RAG da reforma da nor-mativa “oficial” já mereceu várias análises depessoas e colectivos reintegracionistas. Emgeral, a opiniom dominante entre nós é que,por um lado, o “acordo” representaria um pe-queno avanço quanto à forma da língua (na va-riedade galega “oficializada”), um pouco maispróxima agora das outras variantes do galego-português no mundo, mas, por outro lado, teriafeito retroceder as posiçons mais ou menospró-reintegracionistas da maioria do movimen-to normalizador, o qual nom pode ser visto comjúbilo, tendo em conta o actual estado da lín-gua e a fraqueza do próprio movimento norma-lizador no País.

Verdadeiramente, nem houvo mudanças sig-nificativas na norma “oficial”, polo menos parapodermos falar de avanço, nem se produziu umrecuo significativo nos postulados do naciona-lismo maioritário, pois nos últimos anos já setinha verificado na prática um abandono da or-tografia de mínimos. Nom obstante, é provávelque nos próximos anos se venham a redistri-buir com mais nitidez os espaços que ocupamos diferentes discursos da língua na Galiza eos seus correlativos políticos, quer dizer, aindaque a sociedade, em geral, nom chegue a termui presentes as mudanças operadas na re-cente reforma, os agentes do conflito normati-vo podem passar a estar em lugares bem dife-rentes aos que agora ocupavam no ranking depossibilidades comunicativas com essa mesmasociedade. Assim, é evidente que tanto o inde-pendentismo como o reintegracionismo pode-rám passar a ser, em exclusiva, detentores doúnico projecto cultural e lingüístico viável parao País, o único, aliás, diferente do emanadodas instituiçons, mas também o é que o terámque defender sós e mais afastados que nuncade qualquer outra proposta, tornando-se o diá-logo mais esporádico, e a incorporaçom de no-va base social, complicada.

Esta situaçom deveria pôr-nos a reflectir.Havia anos que estávamos a sofrer um imobi-lismo do qual nada beneficiávamos. Sabere-mos agora reagir perante umha situaçom ad-versa, superando-a em nosso favor? Amiúde,temos sobredimensionado a nossa capacidadepara influir noutras organizaçons normalizado-ras e nacionalistas, talvez porque pensávamos,ingenuamente, que as reticências das mesmaspara assumir o reintegracionismo assentavamsó na falta de informaçom ao respeito. Ao mes-mo tempo, desconsiderávamos a nossa unida-de e mesmo as possibilidades de enraizar onosso projecto na sociedade. Considerávamosque possuíamos um razoado nom apto para to-dos os públicos, só compreensível no seio donacionalismo mais conseqüente. Na minha opi-niom, é já tempo de passar a instalar-se num-ha posiçom mais hegemónica dentro do movi-mento galeguizador, mais firmes que nunca nanossa postura ortográfica e na certeza da nos-sa razom, mas também mais capazes de traba-lhar com qualquer pessoa favorável ao idioma,rejeitando maximalismos e mostrando maiordisponibilidade a assimilar os diferentes rit-mos desta sociedade quanto a umha questomque, por afectar a identidade da mesma, deve-rá tratar-se com delicadeza em espaços onde,por enquanto, nunca temos estado.

Qual é exactamente a nossa situaçom?1. A respeito do poder autonómico, estamos

onde sempre estivemos, mas talvez mais isola-dos. Na verdade, nunca chegámos a represen-tar um problema grave para a Junta, para alémde isolados casos de dissidência no ensino. Is-to nom quer dizer que a nossa expansom nompudesse vir a significar no futuro um sério“problema de estado”, pois feriria mortalmen-te as “harmónicas” relaçons entre o galego eo espanhol que a normativa oficial assentou. Oreintegracionismo, por sua vez, costumouadoptar a respeito das conselharias que o ba-niam, umha atitude de vítima, que, se pudo daros seus frutos no passado, quando gozávamosda compaixom solidária do conjunto do nacio-nalismo, agora deixa de fazer sentido. A Juntanom só está a fazer bem o seu trabalho de as-segurar a mais ou menos litúrgica sobrevivên-cia do galego entre a abafante presença docastelhano, como também o de anular a oposi-çom que de vez em quando dava ao reintegra-cionismo algum fôlego. A reforma ortográfica,a admissom da RAG, do ILG ou do Centro Ra-mom Pinheiro entre os nom detestados polonacionalismo e um futuro Plano de Normaliza-çom Lingüística, deixam ver que, por um lado,o mundo do BNG deixará definitivamente de fa-zer oposiçom por nossa causa, e por outro, quea Junta vai passar a desfrutar de certa como-didade e beneplácito em matéria lingüística, si-tuaçom que, evidentemente, nom vam aprovei-tar para fazer-nos qualquer cessom. Com estepanorama, basear a nossa estratégia unica-mente na crítica ao estabelecido e no lamento,topará só com umha realidade impassível ànossa contestaçom.

2. A respeito do nacionalismo maioritário (eafins como A Mesa ou a AS-PG), verdadeirosector promotor do acordo, o reintegracionis-mo é, hoje em dia, mais desinteressantes doque para a própria Junta, pois todos os objec-tivos estratégicos definidos polo nacionalismoinstitucional para a língua passam por umhaprévia relaxaçom do conflito da língua em to-

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o Tornarmos proveitosoo contexto adverso

Cartaz de Diaz Demetrio, 1936

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Nº 30. Outubro, Novembro e Dezembro de 2003OPINIOM10

Portal Galego da Línguahttp://www.agal-gz.org

A Associaçom Galega da Língua (AGAL)é, a partir da sua constituiçom em 1981, aentidade promotora do padrom lingüísticoreintegracionista que hoje representa aúnica oposiçom real à filosofia isolacionis-ta que guia ao desastre a política lingüísti-ca galega desde a implantaçom do Estatu-to de Autonomia.

Além da sua importáncia como foro deinvestigaçom e produçom científica no ám-bito dos estudos lingüísticos, a AGAL contana actualidade com o principal portal gale-go dedicado à nossa língua na Internet.Com efeito, o Portal Galego da Língua, in-cluído entre os cinqüenta sítios galegosmais visitados na rede, conta com grandequantidade de informaçom relativa à reali-dade actual do nosso idioma. Além dos con-teúdos sobre a vida interna da Associaçom,o Portal inclui um serviço de notícias comactualizaçons constantes, em que o galego-português é protagonista. Aberto aos co-municados e informaçons enviados por to-do o tipo de entidades do país, esta secçomdo Portal da AGAL é já referência incontes-tável para quem quiger acompanhar a si-tuaçom da nossa comunidade lingüística.

Outras secçons ajudam-os a melhorar onosso uso lingüístico, permitem-nos con-sultar trabalhos científicos e artigos diver-sos, ou participar em foros de debate so-bre a língua. Estamos portanto ante um es-paço importante para a socializaçom doreintegracionismo, em que podem ser tam-bém consultados os posicionamentos e ac-tividades da esquerda independentista emmatéria lingüística, graças ao espíritoaberto e plural que guia a entidade promo-tora do Portal.

Marta Bach, Elvira Altés, Joana Galle-go, Marta Plujà, Montserrat Puig“El sexo de la noticia. Reflexiones sobre elgénero en la información y recomendacionesde estilo”. Icaria, Barcelona 2000, 138 páginas.

Este trabalho, feito pola Associació de Do-nes Periodistes de Catalunya, embora vaiadirigido, tal e como se afirma no prólogo,às/aos jornalistas com o objetivo de ser um-ha ferramenta pratica de trabalho no que serefere ao tratamento da questom de género,realiza também umha interessante análisedo papel que os meios de comunicaçom ou-

torgam às mulheres, tanto em termos de presença como de focagem.Parte de duas premissas fundamentais: os meios de comunicaçom

proponhem pautas de comportamento e modelos de referência para asociedade, contribuindo para perpetuar a ordem social estabelecida, e,em segundo lugar, considera que a profissom jornalística pratica umolhar androcêntrico sobre a sociedade.

A utilizaçom da linguagem é o elemento principal do trabalho, tendoem conta que este é o mecanismo utilizado para representar a realida-de. O cavalo de batalha do livro é demonstrar que o uso do genérico mas-culino, além de criar confusom, está mais que obsoleto. As autoras sompartidárias de forçar a linguagem até enquadrá-la na nova realidade quevivemos, considerando que, do contrário, a linguagem estará a agir co-mo freio na evoluçom da sociedade face umha utilizaçom menos discri-minatória, como de facto vem sendo.

O trabalho oferece um sem-fim de dados e exemplos sobre as dife-renças de tratamento dumha notícia segundo a pessoa protagonista se-ja um homem ou umha mulher, embora podam ter a mesma talha na va-lorizaçom de noticiável. Alusons referentes ao status familiar, ao físico, àpersonalidade, à sexualidade, etc., só aparecem no caso feminino. Ofe-rece também percentagens de apariçom das mulheres, segundo secçonse escala hierárquica dentro desses próprios capítulos jornalísticos. Na úl-tima parte, introduzem muitas propostas concretas para realizar desde aprofissom de jornalistas: genéricos, formulaçons gramaticais igualitá-rias, etc.

Estamos pois, perante um livro prático, com propostas concretas paralevar avante desde já, embora achemos em falta um enquadramentomais amplo sobre a dominaçom, exploraçom e submissom das mulheres.Modificar só a linguagem, sem luitar à vez por profundas transformaçonssociais, económicas, culturais, etc., nom é suficiente, embora sim seja umpasso importante, necessário e fundamental. (Noa Rios Bergantinhos)

Immanuel WallersteinO capitalismo histórico. Incerteza ecriatividade e O declínio do impérioamericano Abrente Editora, Compostela 2003. 52páginas

Com um novidoso formato e dese-nho, vem de sair do prelo o caderno 9da Colecçom Documentos e Textos Po-líticos da Abrente Editora. Esta novaentrega consta de três textos do pro-fessor Immanuel Wallerstein, directordo Centro Fernand Braudel para o Es-

tudo das Economias, Sistemas Históricos e Civilizaçons da universi-dade novaiorquina de Binghamton.

A primeira brochura, e mais extensa, é um trabalho de 1983 ba-seado nas diversas palestras impartidas no Hawai, -que já algunsmarxistas consideram umha obra clássica do marxismo mais con-temporáneo-, em que se tenta actualizar de forma descritiva o vigo-rante modo de produçom capitalista, definindo-o como um “sistemahistórico”.

O segundo texto, “Incerteza e criatividade”, é umha breve confe-rência dada em Praga em 1997 em que se prognostica o final do mo-do de produçom capitalista num período num superior ao meio sécu-lo como conseqüência da crise estrutural em que se acha.

Finalmente, o terceiro trabalho aprofunda na tese da irreversibili-dade da crise capitalista visando, tal como recolhe o seu título, o de-clínio dos Estados Unidos como potência hegemónica do actual sis-tema mundo desde a Segunda Guerra mundial, como império com vo-caçom global. Escrita antes da invasom e ocupaçom do Iraque polosEstados Unidos, realiza um percurso pola trajectória dos últimos cin-qüenta anos de predomínio ianque e os seus principais pontos de in-flexom.

Coincidindo com muitas das análises e previsons de Wallerstein so-bre a actual má saúde do capitalismo, nom compartilhamos as recei-tas políticas, claramente reformistas, que sobre a situaçom concretapropom, ou melhor dito, a clamorosa ausência de propostas concre-tas para, de parámetros revolucionários, agir nesta época de transi-çons entre o previsível final do capitalismo e o nascimento de umhanova sociedade. O seu patológico anti-leninismo conduz as suas “pro-postas” ao beco da inaniçom da nova esquerda “radical” que renun-cia à tomada do poder apostando por vaporosas fórmulas que a prá-tica do zapatismo demonstrou serem erróneas. (Carlos Morais)

Manuel Anxo FernándezBazA formación do nacionalis-mo galego contemporáneo(1963-1984)Laiovento, Compostela2003. 189 páginas

O carácter academistaque envolve o conjunto des-te texto fruto dum trabalhode doutoramento da facul-dade de Ciência Política daUniversidade de Santiago

de Compostela está compensando por um surpreenden-te rigor no tratamento da esquerda independentista. Es-tamos habituad@s a que na prática totalidade das in-vestigaçons e estudos em que tanto a historiografia es-panhola como a autonomista tem abordado o nacionalis-mo galego, umha das expressons do movimento sobera-nista, a independentista, ou bem é sistemáticamenteocultada, ou bem reduzida a umha mera nota a rodapé.Este livro é umha das poucas excepçons e se por algodestaca é por tratar com manifesta objectividade e nor-malidade o desenvolvimento, posicionamentos e evoluirdo independentismo no período cronológico do estudo.

De resto, o livro deste jovem investigador inclui amaioria das limitaçons dum trabalho elaborado em e pa-ra a universidade actual. Apesar de nom ser umha ha-giografia do BNG, carece do suficiente enquadramentosócio-político geral que ajude a compreender os aconte-cimentos relatados. Se bem é umha obra de laboratório,além do já exprimido tratamento pluralista do naciona-lismo, possui umha outra característica, que por óbvia enatural, a dia de hoje nom deixa de ser umha virtude:nom semelha ser o trabalho justificativo e mecanicista aque nos tenhem habituad@s os historiadores autono-mistas. Manejando umha relativa quantidade de fontes ebibliografia, embora algumha nom se cite por desleixo ousectarismo, como o livro de Noa Rios Bergantinhos A es-querda indepedendentista galega (1977-1995), a obra deManuel Anxo Fernández Baz é a dia de hoje um texto quecumpre conhecer para compreender a capitulaçom donacionalismo maioritário. (Carlos Morais)

A lista negra dos despedimentos prossegue eo desemprego ultrapassa os 6%, ao mesmo tem-po que o governo anuncia que estamos a sair darecessom. Nom é engano: na economia neolibe-ral, a saúde do capital mede-se polo aumento dodesemprego. Os sectores industriais tradicionais– têxteis, confecçons, calçado – estám à cabeçanesta razia que deixa milhares de famílias na con-tingência de sobreviverem marginalizadas ou, emalternativa, emigrarem.

O pacote laboral que o governo se prepara pa-ra aplicar vai aumentar os lucros das empresas ebaixar os salários, dando plena liberdade ao pa-tronato para explorar sem regras (em nome daprodutividade, reforça-se a flexibilidade, anula-sea contrataçom colectiva, facilita-se os despedi-mentos, etc.). Agora sim, entramos de facto naEuropa moderna e liberal.

O recurso à exploraçom clandestina d@s imi-grantes, que tanto jeito fai aos que querem enri-quecer depressa, fica beneficiado pola nova lei daimigraçom, que remete essas trabalhadoras, es-ses trabalhadores para umha instabilidade per-manente e fai deles umha reserva da força detrabalho escravo, sempre pronta, barata e desti-tuída de direitos.

O novo sistema de segurança social encolhe osbenefícios, reduz os custos e alivia os encargossociais (cortes no subsídio de desemprego e nasbaixas por doença, aumento da idade da reforma,etc.); a saúde, a habitaçom, os cuidados às crian-ças e aos idosos e as reformas tornam-se maisprecários. Num país sempre atrasado, @s portu-guesas/es nunca chegárom a provar as delíciasdo período áureo do Estado-providência, que Sa-lazar lhes negou, e levam pola frente com os bo-fetons de um sistema em declínio que já nom in-teressa nem aos patrons, nem ao Estado.

No país europeu com mais analfabet@s, como maior índice de iliteracia e com os piores hábi-tos de leitura, o Ministério da Educaçom procedeà contençom das despesas e cerca de 30.000 pro-fessores nom conseguírom colocaçom no iníciodeste ano lectivo.

As privatizaçons e a reforma da administraçompública prosseguem a sua marcha. Em nome daeficiência, fecham-se os serviços públicos e en-trega-se o que se pode ao grande capital, inclusi-ve hospitais.

Esta ofensiva generalizada do governo escuda-se no argumento de que é preciso cumprir as me-tas de convergência da Uniom Europeia e confor-mar-se ao seu modelo de desenvolvimento. Aspessoas, que conhecem o poder vindo de umhaautoridade mais altamente colocada, resignam-se. Medidas antipopulares que há dez ou vinteanos teriam provocado protestos e greves en-contram agora menos resistência. Os democra-tas e socialistas que se batêrom pola “Europaconnosco” sabiam o apoio que isso lhes traria pa-ra a luita contra os trabalhadores.

Entretanto, o capitalismo sem peias trai umhaonda de corrupçom nunca vista: os helicópterosque deviam combater os incêndios nom apare-cem onde há fogo e servem para circuitos turísti-cos. Há seis meses, descobriu-se que um minis-tro (entretanto demitido) tinha contas de cente-

“Os filósofos estám satisfeitos. Estes homes, produto dademocracia burguesa, construem com reconhecimentoquantos mitos ela está a demandar: elaboram umha filoso-fia democrática. Tal regime parece-lhes o melhor dos mun-dos possíveis (...) Estamos perante o final da história: asmeditaçons cardinais estám cumpridas; Descartes, Rous-seau e Kant vivirom xa; os grandes inventos estám consu-mados, os continentes explorados, as revoluçons concluídas(...), sentem com bastante claridade que tenhem a boa sor-te de pensar, de ensinar e de viver no que chamariam debom grado a sociedade social por excelência”.

De Paul Nizam em Os cans de guarda (1932)

“As indefiníveis classes médias: tornam a encontrar-se sobesta etiqueta o empregado e o quadro superior, o técnico eo advogado, o mestre e o professor de Universidade, e mes-mo... certos dirigentes de empresa. Um duplo movimentoatravessa todas estas categorias; por um lado, umha partedeles contestam um sistema do que som vítimas; polo ou-tro, eles consideram-se parte que recebe dinheiro dessemesmo sistema. Daí o carácter ambivalente das suas rela-çons com a burguesia e assimesmo com as classes popula-res”.

De Alaim Accardo em Le Monde Diplomatique (Dezembrode 2002)

O primeiro texto, editado recentemente com umprólogo de Serge Halimi, autor de Os novos cans deguarda (onde denuncia um jornalismo de reverência,dominado por grupos financeiros e por um pensa-mento de mercado), pode server mais de sete déca-das depois para delatar estas democracias formaisem que estamos imersos e os seus justificadores ouideólogos. Lembrar o prologuista e o seu livro tempor objecto constatar que os mass media som hojeos grandes produtores da ideologia dominante etambém reproduzir umha nota de redacçom da Re-vista Análise Empresarial, n° 33 (Abril de 2003) que di: “Este ar-tigo- o titulo do mesmo é «Notícia dos cans de prensa no go-verno de Fraga» e o autor o jomalista Gustavo Luca de Tena- foiredigido para limiar do livro de Serge Halimi “Les nouveauxchiens de garde”. Umha vez conseguidos os direitos por umhaeditora galega, e com o original traduzido, o director da men-cionada editora boicotou a sua publicaçom. A ver se o leitor adi-vinha o porquê”. Sobram comentários.

O fragmento de Alain Accardo, um dos discípulos mais próxi-mos ao recentemente finado Pierre Bourdieu, conduz a umhavaga e apressada ideia das clases médias. Vaga, entre outrasrazons, porque, como bem analisou há uns quantos anos Étien-ne Balibar, é umha identidade, a de classe, muito real, mais mui-to ambígua. Acontece além disso que as classes baixas dumpaís podem ser médias noutro (a modo de exemplo: o nível eco-nómico e a precariedade laboral na Galiza situa nas classes mé-dias profissons que na Catalunya pertenceriam às baixas). É desalientar também a relaçom dialéctica a respeito das classes al-tas e baixas.

com as classes dominantes na conservaçom da or-dem simbólica, diluem a consciência de exploraçomsob a falácia dos benefícios globais. Mesmo nomchegam a compreender em muitos casos (e a sua in-consciência muda-os em mais eficazes) os verdadei-ros porquês das desigualdades e da sua reprodu-çom. A concorrência é assimilada a um imperativonatural. Podemos perguntar a nós próprios por quea luita em contra do neoliberalismo (eufemismo quetenta dissimular o capitalismo selvagem) nom está àaltura da indignaçom que aparentemente amostram.Dam a entender que as cousas nom mudam porqueos mais, nunca eles, som os nom dispostos (mesmoos mais da sua classe)... Som contra o consumismo,mas os seus hábitos som esbanjadores; som contrade entropia planetária, embora sejam eles ínclitosprotagonistas; claman, já se indicou, em contra dashierarquias, mais no seu posto de trabalho e no seusalário nom renunciam a nengumha delas; o bodeexpiatório é a direita, mas nom lhes passa polo mio-lo que eles podam ser parte da mesma; a sua políti-ca de direitas mascara-se com fraseologia de es-querdas e nom desejam entender que umha mudan-ça de govemo nom é umha mudança de sociedade...Concorrem na adesom dum povo ao seu próprio des-possuimento (da economia, da paisagem, do tempo,do idioma...). Nom param mentes em pensar que lui-tar «no» sistema pouco tem a ver com a luita «con-tra» o sistema... Som partidários de todo o tipo defestas, que sempre dim que som para o povo. Pen-sam que o povo inculto precisa de mitos e crençasde que eles estám de volta... É o velho estratagemado poder: o «panem et circenses» (pam e jogos)...Talvez a social-democracia em versom centralista enoutras versons seja a expressom mais nítida desta«mediocracia» (é em relaçom com o capitalismo oque a monarquia constitucional a respeito das mo-

narquias absolutas, umha maquilhagem do sistema). De certo que o sistema capitalista nom é o inventor de insti-

tuiçons como a família, a educaçom, a arte, o trabalho, a ciên-cia, etc., mas perpetua, nom corrige, mais bem agrava, as suasnegatividades. O capitalismo das classes altas em conivênciacom as classes médias todo o mercadoriza, muda o bezerro deouro em ídolo... E nesse trabalho de produçom simbólica jogaum papel destacado a escola, mais por cima de todo os massmedia... Umha escola que cultiva a ilusom de igualdade, uns me-dia que alimentam a ilusom de pluralismo; e o anterior no seiodumha política que provoca a ilusom de democracia...

Nessa hipocrisia do discurso mediocrático figuram os sindi-catos quando dim estar a defender aos assalariados e os de-sempregados defendendo as decisons empresariais e os médiaque apresentam os actos de invasom, de colonizaçom, como umpular pola democracia e as liberdades, pois fundamentalistassernpre som os outros.

Domingos Antom Garcia é professor de Filosofia

Essas clases médias som um segmento de impotência de bur-guesia, que usam as baixas e ao lumpen no seu interesse. Emmodo nengum pensam em diluir-se nas classes baixas e dimcom farta freqüência que “ainda há classes”, que por fortunanom somos todos iguais. Os seus ideais, verbalizados, que nomrealizados (dificilmente estám em disposiçom de perder os seusprivilégios por muito que discurseiem sobre democracia e hori-zontalidade) encaixam à perfeiçom no mundo existente, nomvam mais alô de tímidos reformismos, sobreestimam a mobili-dade social, vivem sob a ilusom de revoluçom... No fundo espe-ram que nada aconteça que abale a sua situaçom acomodada.Protestan, mais consolidam o sistema, contribuem para que se-melhe que há dissidência e pleno exercício das liberdades. Mu-dam o particular em universal. A generalizaçom -Declaraçom deDereitos Humanos, etc-, é um recurso para canalizar as diver-gências, para anular as diferênças, para liquidar o específico...As verdades absolutas, os princípios incontrovertíveis, somideologias compartilhadas com as classes altas de cara a per-petuarem a hegemonia destas últimas. Colaboram assimesmo

Os cans de guarda. Algumhas reflexons a respeito das classes médias e da sua ideologia

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Page 11: Sumário - Primeira Linha · 2003-11-12 · sas políticas, o que intensificou o seu antiestalinismo. Assiste à derradeira sessom das Cortes no Castelo de Figueres e fai, em companha

11INTERNACIONALNº 30. Outubro, Novembro e Dezembro de 2003

Boníssima notícia para todos os explorados doplaneta: o povo iraquiano resiste contra a ocupa-çom militar do imperialismo ianque. Cada dia ata-ca e cada semana fai baixas aos invasores. O sa-que do petróleo nom pode pagar as despesas dainvasom porque as sabotagens impedem o seuroubo. Bush corre sério risco de nom ser reeleitono próximo ano.

A evoluçom militar da situaçom no Iraque é umsigno muito esperançador para o imediato futuroda Humanidade. Porque evidencia a impotênciaimperialista no actual caos sistémico mundial ca-pitalista. Os últimos 500 anos dessa desgraça uni-versal que é o capitalismo tenhem criado os cincomil milhons de pessoas que actualmente estámem situaçom de sofrimento extremo ou grave nes-te planeta, demonstrando empiricamente a valida-de da lei geral da acumulaçom capitalista enuncia-da por Marx no Livro primeiro do Capital. Eu pró-prio tenho argumentado esse cálculo no meu re-cente livro Que fazer? Luitar por Euskal Herriacontra a Uniom Europeia e o capitalismo mundial.

Esse funesto recorde histórico conseguido po-lo capitalismo (nunca antes na história da huma-nidade houvo tanta miséria, tanto sofrimento hu-mano como o que o capitalismo tem fabricado)coincide com a crise terminal do Modo de Produ-çom Capitalista. Agudizadas as suas contradiçonsgenético-estruturais, levadas a máximos já insu-portáveis e insustentáveis a sua contradiçom pri-meira (o Capital contra o Trabalho) e a sua con-tradiçom segunda (o Capital contra a Natureza), ocapitalismo é já incapaz de repetir os seus êxitosanteriores: os de atingir novos reequilíbrios queprolonguem a sua vida mediante a “purga” deumha das suas crises periódicas genético-estru-turalmente programadas no seu ADN. E tem-sesumido (e tem sumido o planeta) no típico caos si-témico mundial característico das vésperas damudança de um Modo de Produçom.

Tam sido nessa conjuntura histórica (desco-nhecida nos últimos 500 anos) que pola primeiravez em muitas décadas a extrema direita ianquetem deixado de ser o grupo de pressom que in-flui no (e se beneficia do) poder executivo dosEstados Unidos. Para passar a ocupá-lo directa-mente. Isso nom tinha acontecido nunca nossessenta anos do período 1941-2001. esses “fal-

cons”, esses ultradireitistas ianques dos quais oimbecil e criminosos Bush é apenas o pelele e omascarom de proa, tenhem reconhecido a ex-cepcionalidade da crise mundial capitalista. Epropositadamente tenhem deixado de tentarmanter o Modo de Produçom Capitalista paraensaiarem um novo sistema alternativo: um fas-cismo planetário imperialista baseado na manu-tençom e o uso da supremacia militar incontes-tável dos exércitos dos Estados Unidos. Comotem escrito Immanuel Wallerstein: “Acreditamque os Estados Unidos tem o exército mais po-deroso do mundo, que podem vencer qualquercampanha militar que empreendam, e que oprestígio e o poder estado-unidense no sistema-mundo somente podem ser restaurados por um-ha demonstraçom de força” (http://www.bas-que-red.net / gap / iwg / 105g.htm) por isso le-vavam anos a reclamar umha guerra contra oIraque. Por exemplo reclamárom-na publica-mente durante os últimos anos da presidênciade Clinton mediante um manifesto assinado porvinte “falcons” entre os que estavam o actual vi-cepresidente Cheney e o actual secretário daDefesa Rumsfeld. Por isso apenas seis dias apósa queda das Torres Gémeas Bush assinou umdocumento, clasificado como “alto segredo”, po-lo qual o presidente se dirigia ao Pentágono ins-tando-o a começar a planejar “opçons militares”para umha invasom do Iraque. Por isso em 17 deSetembro de 2002 a Presidência de Bush emitiua sua “Estratégia de Segurança Nacional dos Es-tados Unidos da América”. Documento que era adeclaraçom clara e global da política estado-uni-dense posterior à guerra fria e ao 11-S. Quealém de umha hipócrita retórica incluía o avisode que os Estados Unidos exigiam o monopóliodo uso (e do abuso) da guerra preventiva paraesmagar as que eles definam como ameaças es-

trangeiras.A guerra preventiva nom só foi estigmatizada

como crime de guerra em 1946 nos tribunais deNuremberga (“Principiar umha guerra de agres-som nom só é um crime; é o crime internacionalsupremo, que difere unicamente do resto dos cri-mes de guerra em que nele se contém a acumu-laçom de toda a maldade dos ditos outros cri-mes”). É que desde a Paz de Westfalia de 1648todo o funcionamento político internacional dosistema interestatal do mundo capitalista tem es-tado pivotado precisamente sobre a negaçom dodireito à guerra preventiva. Por isso a sua procla-maçom polos “falcons” ianques actualmente go-vernantes é o sintoma inequívoco da sua tentati-va de substituiçom de um mundo baseado no Mo-

do de Produçom Capitalista (que reconhecen jáferido e em crise) por um império fascista plane-tário ianque baseado na indiscutível hegemoniamilitar.

Baseado noutra proclamaçom do documentosobre a “Estratégia de Segurança Nacional dosEstados Unidos da América”: a intençom dos Es-tados Unidos de se manterem na medida do pos-sível militarmente tam por diante de qualquerpossível rival que aspire à hegemonia mundial co-mo para que a este lhe resulte absurdo pensarsequer em apresentar o desafio. Por isso nesteano de 2003 a despesa em Defesa dos EstadosUnidos vam igualar a soma do gastado polos no-ve estados que o seguem no gasto militar: a Rús-sia, França, o Japom, Inglaterra, a Alemanha, a

China, a Arábia Saudita, Itália e o Brasil.Mas a resistência iraquiana está a crescer e a

ganhar. Está a demonstrar que o poder militarianque pode ganhar guerras mas nom pode man-ter ocupaçons. O fascismo militar planetário ian-que é inviável. A guerrilha urbana converte as ci-dades em selvas do Viet Nam. E hoje a maioria dapopulaçom do Terceiro Mundo concentra-se jáem gigantescas macroconurbaçons. O poder mi-litar atómico ianque poderia destruir a popula-çom de países inteiros. Mas nom pode mantê-lossubmetidos. E está por ver se os seus pilotosnom se rebeleariam como acaba de fazer a elitedos pilotos israelianos. Como dixo Bertolt Brecht:

General, o teu tanque é mais forte do que um carro.Arrasa um bosque e esmaga cem homens.Mas tem um defeito: necessita um condutor.General, o teu bombardeiro é poderoso.Voa mais rápido do que a tormenta e carrega mais do

que um elefante.Mas tem um defeito: necessita um piloto.General, o homem é muito útil,Pode voar e pode matar.Mas tem um defeito: pode pensar.

Honra, pois, à heróica resistência contra o in-vasor do Povo Trabalhador Iraquiano. Que os cri-minosos de guerra Aznar, Blair e Bush chamam, éclaro, “terrorismo”.

Numha parede em Faluja umha legenda emárabe. “Aquele que der a mais mínima ajuda aosamericanos é um traidor e um colaborador”. Ser-ve na Galiza, Països Cataláns, Canárias, Astúries,Ceuta, Melilha e Euskal Herria substituindo ame-ricanos por espanhóis.

Justo de la Cueva é militante comunista e membro da

Rede Basca Vermelha

com o PSD na reforma do sistema político, que re-duzirá ainda mais a margem de expressom elei-toral dos cidadaos; o PCP, sonhando com o diaem que um PS no poder o chame a colaborar nogoverno, para lhe dar um tom mais “popular”; oBloco de Esquerda, encantado com o seu pro-gresso nas sondagens, acumulando força votantepara amanhá entrar na área governativa... Con-clusom: a oposiçom parlamentar de modo nen-gum reflecte o sentimento das massas explora-das. Falta umha força de esquerda real, que de-veriam ser os comunistas.

Porém, a nossa corrente tem padecido deconstantes crises de confiança e de umha grandedificuldade em estabilizar e fazer frutificar a sim-patia que consegue gerar.

Perante este panorama, as tarefas actuais doscomunistas resumem-se a um programa muitosimples de enunciar e bem difícil de levar a cabo: 1º centrar o trabalho na classe operária e nos

sectores mais explorados e oprimidos; é comeles que podemos fixar as fronteiras de de-marcaçom do reformismo e da colaboraçomde classes e dar vida a um movimento de re-beldia popular, que conteste abertamente aordem capitalista.

2º continuar a acumular forças para o renasci-mento de umha corrente marxista revolucio-nária, para o que será necessário reforçar aprática de debates organizados que consoli-dem e unifiquem os nossos princípios e nosdemarquem das restantes correntes. No plano da intervençom prática, há que tentar

levantar mais trabalho, em volta de três ideiasprincipais: luita contra a exploraçom capitalista eo imperialismo, criaçom de umha vanguarda ope-rária para umha plataforma comunista, reforçodo combate ideológico ao reformismo que pene-tra nos sectores populares via PCP, BE, burocra-cia sindical, etc. Há que constituir-se numha novabase um corpo de questons ainda por enunciar –a política de frente e as classes aliadas, a acçomsindical de classe, a hegemonia do proletariado,a solidariedade com os povos e naçons oprimi-dos, a questom da mulher, etc. – que serám a es-pinha dorsal da nossa diferenciaçom com todasas variantes ditas comunistas.

Porém, a travessia do deserto nom terminacom a formaçom de umha nova organizaçom. Opoder económico avassalador do imperialismotem a sua correspondência ideológica. Nunca co-mo hoje os sectores operários, pequeno-burgue-ses e proletarizados se sentírom tam atraídos po-la miragem da abundáncia e consumismo capita-listas. Só a modificaçom das condiçons objectivaspoderá criar condiçons para umha maior expan-som de umha ideia da actualidade do socialismoque mobilize as massas.

Devemos pois ter presente que estamos con-tra a maré, teremos dificuldades em afirmar-nose que, dado o ambiente desfavorável, há que con-tinuar em minoria. Nada disto nos pode fazer de-sanimar, pola simples razom de que esta é a úni-ca via que nos resta e que nos convém.

Ana Barradas é militante comunista e feminista portu-

guesa

nas de milhares de euros em bancos na Suíça. Oministro da Defesa, um demagogo de extrema-di-reita, está envolvido num intricado escándalo fi-nanceiro do qual tem dificuldade em distanciar-se. O ministro dos Negócios Estrangeiros pede aoministro da Educaçom que assine de cruz a ad-missom ilegal da filha à universidade. Enquantoele, coberto de elogios polo primeiro-ministro,continua incólume, o ministro da Educaçom pedea demissom.

A investigaçom em volta dos escándalos liga-dos à pedofilia desvenda um facto terrível: hámais de 20 anos e apesar de vários processos deinvestigaçom policial, os meninhos da Casa Pia –instituiçom que supostamente os poria ao abrigodas desgraças da vida, substituindo-se às famí-lias que nunca tivérom – tenhem estado à mercêde umha rede que os entrega para a prostitui-çom, servindo-os como objecto de prazeres se-cretos a homens “respeitáveis” entre os quais seincluem deputados, diplomatas, professores uni-versitários, apresentadores de televisom, etc. e opróprio provedor da dita Casa Pia. Estes pede-rastas e proxenetas de alta roda som umha gen-te que se comporta à margem da lei e no entantonunca é presa nem julgada, porque a rodeia um-ha teia de cumplicidades de personagens influen-tes que, em última instáncia, a salvará por recur-so a amnistias, prescriçons e artifícios legais.

No alto da lista das malfeitorias, há que colo-car o vergonhoso apoio de Durão, armado emmoço de fretes de Bush e Blair, à guerra contra oIraque, a cedência do uso da base aérea das La-jes e o destacamento de um contingente de GNR

para aquele país. Infelizmente, a vaga de escán-dalos acabou por atirar para terceiro plano o en-volvimento do país na agressom americana. O de-bate transfere-se agora para a questom de umreferendo sobre a Constituiçom Europeia que ogoverno procura usar como meio de regatearcom o eixo franco-alemám. Assunto que nom dálugar a debate nengum é a invasom aceleradados capitais espanhóis, que já dominam sectoresinteiros da economia, pois a burguesia portugue-sa mostra-se encantada por ser colonizada polo“irmao mais velho”.

Como se pode ver, do lado do capital e do po-der, todo vai bem. Do lado dos trabalhadores, to-do mal. Nesta democracia de via reduzida, o cida-dao, menorizado, só tem direitos enquanto con-sumidor: a alienaçom impera e floresce, cretini-zando-o pola incultura televisiva, anestesiando-opola parcialidade dos meios de comunicaçom,transformando-o em ser dependente e nom pen-sante.

Todo isto fai com que gente como nós se sintaestranha num mundo estranho que desliza a pou-co e pouco para a barbárie pós-moderna. Só ape-tece dizer, como o grande escritor Eça de Queiróshá cem anos: “Isto nom é um país, é umha chol-dra!”

Que fazer?Grande parte da responsabilidade por este es-

tado de cousas cabe à oposiçom: o PS, ansiosopor umha oportunidade de voltar ao poder, dá si-nais de que será um cumpridor fiel do programacomum da burguesia e colabora já abertamente

A princípios de Outubro de 2003, cumprírom-se quatroanos do início da segunda guerra russo-chechena postso-viética. Umha guerra que nom tem rematado, e isso por mui-to que os responsáveis militares em Moscovo anunciem ocontrário. Nom só se trata de que a resistência às acçons doexército russo segue a ser feroz nas montanhas meridionaisda república secessionista: a guerrilha -bem é certo que através de atentados polo comum suicidas- parece ter me-lhorado a sua capacidade de levar adiante golpes nas cida-des situadas nas chairas setentrionais do país.

O da Chechénia é mais um dos muitos conflitos de que osnossos meios de incomunicaçom se desentendem. A suapresença nestes fica reduzida a umha circunstáncia bem co-nhecida: a Chechénia só ocupa lugar em jornais e telejornaisquando se revela o espectáculo das acçons militares da re-sistência (nom as do exército russo, invisível aos olhos dosnossos meios, e isso mesmo ainda que organizaçons como Amnistia Internacional estejam a lem-brar as constantes violaçons dos direitos humanos mais básicos protagonizadas por militares quegozam de manifesta impunidade). E ao respeito é preciso agregar que a reapariçom episódica docontencioso checheno da mao da tomada do teatro Dubrovka de Moscovo, há um ano, em nadabeneficiou o nosso conhecimento do conflito de fundo. Nos tempos que correm nom é um uso ha-bitual entre nós se preguntar por que un grupo de jovens decide pôr em perigo a sua vida atra-vés dumha acçom como a do teatro moscovita.

É inegável, de resto, que o presidente russo, Putin, está a ganhar a batalha mediática para alémdas fronteiras do seu país. Para isso tem-se servido dumha nada subtil combinaçom de interes-sadas simplificaçons -o conflito da Chechénia nom é senom o produto do terrorismo mais crimi-noso, com Al Qaida movendo os seus peons no Cáucaso setentrional- e medidas fantasmagóricasentre as que sobranceiam o referendo decorrido na primavera e as eleiçons deste outono. A cus-to pode surpreender que semelhante combinaçom de simplificaçons e manipulaçons encontre có-moda aceitaçom nas chancelarias ocidentais: ainda que muitos o esqueçam, estas levam anos aolhar para a outro lado quando se trata de enfrentar umha desfeita, a da Chechénia, de magnitu-de reflectida nas imagens de Grózni, umha cidade desaparecida como Dresde sessenta anosatrás.

Obrigados estamos a lembrar de novo que comportamentos similares impregnam à maioria dosnossos meios de comunicaçom. Ainda que admitamos que o que impera nestes é, sem mais, a de-sídia que conduz a recear de tudo o que nom produzir primeiras planas, nom faltam condutas maislamentáveis. Umha delas proporciona-a a alarmante aceitaçom -habitual nestes tempos- de queo conflito da Chechénia se resume razoavelmente da mao da candorosa afirmaçom de que en-frenta umha inapresentável guerrilha terrorista e a umha maquinaria estatal merecedora de to-dos os respeitos. Outro achega-o umha cheia de preconceitos xenofobos que convidam a tomarpartido contra barbudos e sujos orientais, e em proveito dum civilizado exército federal. A derra-deira das aberraçons nom é outra que o desígnio, já glosado, de escapar a umha operaçom quenoutras condiçons pareceria inevitável: a de examinar por que se tem chegado até cá e, em pa-ralelo, a de desacralizar os direitos dos Estados e sublinhar a ignomínia de muitos dos seus com-portamentos.

Nom faltam as misérias, enfim, en segmentos da esquerda que, significativamente, estám tam-bém a virar as costas ao que acontece na Chechénia. Nuns casos som gentes que, surpreenden-temente, seguem a mostrar um ilimitado feitiço quando se trata de falar dumha Rússia entendidacomo o derradeiro baluarte que fica no caminho da hegemonia norte-americana. Noutros o quese percebe é, antes bem, a ideia de que desde 1991 tenhem sido os Estados Unidos quem movê-rom, subterraneamente, os fios da resistência chechena. Se tal ideia tivo no passado algum fun-damento, nesta altura, e ao amparo da lua de mel que vivem Bush filho e Putin, o seu predica-mento parece escasso. E é que, ainda que ninguém com dous dedos de testa pode ignorar queWashington tem procurado fazer-se com o controlo de áreas geoestrategica e geoeconomica-mente muito interessantes como é o caso do Cáucaso, isso em modo nengum alcança a ocultarque a principal maquinaria de terror que opera hoje na Chechénia é o exército russo.

Carlos Taibo é especialista em política internacional

Criança vitima do imperialismo

Resistência iraquiana: signo esperançador da impotência imperialista no actual caos sistémico mundial capitalista

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Chechénia: quatro anos de guerra e silêncioCa

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Vladimir Putin

Durão Barroso

Portugal: Novas do meu país

Page 12: Sumário - Primeira Linha · 2003-11-12 · sas políticas, o que intensificou o seu antiestalinismo. Assiste à derradeira sessom das Cortes no Castelo de Figueres e fai, em companha

Correspondência: Apartado dos Correios 760. Compostela. Galiza. Correios electrónicos: [email protected] / [email protected] Tiragem: 3.000 exemplares. Distribuiçom gratuíta.

Permite-se a reproduçom total ou parcial dos artigos sempre que se citar a fonte. Abrente nom partilha necessariamente a opiniom dos artigos assinados.Impresso em papel reciclado. Depósito Legal: C-901-1997

Edita: Primeira Linha. Redacçom: Rua do Home Santo 29, 4º A. 15703 Compostela. Galiza. Telefone: 616 868 589. www.primeiralinha.orgConselho de Redacçom: Comité Central de Primeira LinhaFotografia: Antom Garcia, Andrés Panaro, Arquivo Abrente. Correcçom lingüística: Galizaemgalego. Maqueta: Carmen Aurora Seijas. Imprime: Litonor S.A.L. Encerramento da ediçom: 31 de Outubro de 2003

Antes que mais, cumpre umha apreciaçom: fora dumha re-duzida corrente que se reclamava do marxismo no seio do Par-tido Galeguista, corrente sem peso algum no partido apesar decerta tendência inconclusa na Frente Popular, e fora da fugidiaexperiência da “Unión Socialista Gallega”, nom houvo umhaesquerda nacionalista propriamente dita na Galiza do tempo daIIª República. As esquerdas obreiras que tomam posiçons so-bre a questom nacional, som de obediência espanhola e adop-tam um ideário nom nacionalista. Isso nom quer dizer que nosdiversos colectivos nom houvesse quem reconhecesse a Gali-za como nacionalidade histórica e tivesse em conta as conota-çons sociopolíticas que tal implicava. Casos como o de JaimeQuintanilha no PSOE ou Luís Soto no PCE som conhecidos, masnom representavam mais do que pequenos grupos de opiniomnos seus respectivos partidos e, aliás, elegêrom umha propos-ta organizativa nom nacional. Sem mais, comecemos.

Desleixo socialistaSe exceptuarmos Quintanilha e alguns dos seus compa-

nheiros da Irmandade da Fala ferrolana, que tentárom infru-tuosamente “galeguizar” o PSOE em torno de 1920, a inco-municaçom do universo socialista com o galeguista foi persis-tente ao longo do tempo. Para os militantes socialistas, o “re-gionalismo” nom deixava de ser umha instrumentalizaçom po-lítica da pequena burguesia; algo artificioso, deturpador dosinteresses de classe e negador do internacionalismo proletá-rio. Em contrapartida, para os galeguistas o socialismo eraumha ideologia perigosa, quer pola sua falta de ligaçom coma cultura e o idioma galegos, quer polas alternativas colecti-vizadoras que defendia. Nas Cortes Constituintes, o desen-contro renovou-se quando os deputados do PSOE defendêroma República “integral”, frente aos esforços dos galeguistasem prol dum Estado federal. Pouco depois, os eleitos socialis-tas referendárom a sua hostilidade a todo o que tivesse a vercom autogoverno, rejeitando participar na redacçom dum pro-jecto estatutário. O Congresso do PSOE galego celebrado nooutono de 1931 deixou, mais umha vez, as cousas claras: aGaliza nom constituía umha comunidade diferenciada, o sen-timento autonomista nom existia na populaçom e o Estatutoera fruto do caciquismo direitista. Por conseqüência, Quinta-nilha e os seus partidarios ficárom reduzidos à mínima ex-pressom e uns poucos militantes da Agrupación Socialistacompostelana, encabeçados polo advogado Joám Jesus Gon-çález, abandonárom o partido para articular a USG.

No Biénio Negro, o PSOE dá um giro táctico a respeito doproblema autonómico, agora moeda de troca para junguir osnacionalistas ao carro da Frente Popular. De passagem, reco-nheciam os socialistas o relevo eleitoral e social do naciona-lismo galego. Daquela, o PSOE, ou mais bem umha fracçom dopartido, vai participar na campanha pró-Estatuto na primave-ra de 1936, fazendo gala dum tépido sentimento galeguista.No remate do período e olhando ao longe, ficara às claras quea questom nacional fora algo secundário no devir dos socia-listas galegos, que nom avançárom um chisco na considera-çom nacional do seu projecto classista, nem mudárom o mo-delo organizativo de face a umha maior soberania no interiordo PSOE.

O galeguismo socialista alentado pola USG nom tivo vidaprópria, mais que nada pola nula repercussom atingida dentrodo PSOE e polo vagaroso dos seus referentes marxistas, que aassimilavam mais do devido ao PG. Contodo, os seus compo-nentes atrevêrom-se a pensar por si próprios e, apesar da suadesfeita logo a seguir das eleiçons de 1933, deixárom um con-tributo de calado: a certeza “de que qualquer classe social, oualiança de classes, numha naçom, deve definir o seu projectopolítico a partir de e para essa naçom e, portanto, deve ex-pressar-se como umha força política nacional”1.

O apoliticismo libertárioA percepçom da Galiza como “sítio distinto”, é bem episódi-

ca no roteiro do movimento libertário no nosso país, se consi-derarmos a questom dum plano ideológico. A CNT identificou a“naçom espanhola” como quadro primario de solidariedadeclassista e como cenário territorial único e indivisível da revo-luçom futura. Neste esquema, o protagonista era o proletaria-do espanhol entendido como um todo, no qual o elemento ga-lego actuava por própria conveniência tendo em conta o am-biente social desfavorável onde se desenvolvia. A maiores, sefocarmos o tema a partir da mínima consideraçom à cultura eo idioma próprios, a CNT galaica reproduzia o menosprezo queboa parte da populaçom tinha a respeito deles, identificando-os com umha Galiza atrasada e conformista. Nom é de estra-nhar, pois, que qualquer veleidade nacionalista fosse retruca-da com um rígido internacionalismo e entendida como umhaquebra na unidade proletária. Se acrescentarmos ao anterior anegativa a toda participaçom política e as consideraçons dou-trinais sobre do federalismo proudhoniano, nom surpreenderánem a rejeiçom visceral das respectivas “Regionales” da CNTe da FAI a respeito do Estatuto, nem a desautorizaçom do, deresto evidente, conservadorismo social de boa parte do nacio-nalismo galego. Tam só umha pequena minoria dos quadroscenetistas, caso de José Villaverde, aceitárom que certos tra-ços identitários conformariam um facto diferencial inegável,que acharia o seu acomodo num federalismo integral. Aliás,dentro do possibilismo desta porçom de militantes adscritos àcorrente mais moderada do sindicato, o Estatuto poderia rece-ber algumha compreensom como passo intermédio descentra-lizador de cara a um federalismo comunalista e antiestatal.Desta fonte beberám, precisamente, os cenetistas galegos queconformarám em 1934 o Partido Sindicalista e que, na FrentePopular, participarám na campanha estatutária; isso sim, comumha profissom de fé nom nacionalista e sem empregar o ga-lego na tribuna.

Porém, se considerarmos a percepçom da Galiza nos meiosconfederais dumha perspectiva achegada ao acontecer vitald@s trabalhador@s, sim albiscamos umha progressiva sensi-bilidade da CRG a respeito do específico espaço social confor-

der o Estatuto no contexto da Frente Popular e a exercer jun-to do PG como os seus mais afervorados defensores, durantea campanha estatutária de 19363.

O pequeno núcleo de trotsquistas galegos integrado na “Iz-quierda Comunista de España”, fijo gala até 1935 dum notóriodesconhecimento do bulir nacionalista no país. Velaí o texto deAndreu Nin, publicado na revista “Leviatán” a fins de 1933:“Existen en España dos movimientos de emancipación nacionalde vitalidad indudable: el de Cataluña y el de Euskadi. El de Ga-licia, por el momento, no es más que um balbuceo regionalista,falto del calor de las grandes masas y refugiados, por ello, enlos cenáculos literarios y en las Academias”. Inexistência decultura própria, engarçamento mecanicista entre ausência deburguesia e falta de consciência nacional, inviabilidade daconstruçom nacional derivada do atraso económico..., eram lu-gares comuns nos textos internos da ICE. Logo, após a fusomcom um grupo tam activo na questom nacional como o BlocObrer i Camperol (sem qualquer presença na Galiza) para darlugar ao POUM a fins de 1935, os antigos trotsquistas galegosatemperárom a sua postura, apoiando o Estatuto com as mes-mas reservas com que aderírom à Frente Popular rachando asua linha estratégica de independência de classe.

CodaCaberia concluir com a evidência de que, com todas as re-

servas que se queira, a resoluçom da questom nacional, aconstataçom do facto diferencial, ou a adequaçom à especifi-cidade do seu espaço social, eleja-se o aspecto que melhorparecer, nunca posicionaram de tal maneira as forças operá-rias (partidos ou sindicatos) na Galiza a respeito dos proble-mas institucionais, estratégicos e organizativos que entranha-vam, como na etapa republicana. Pode-se dicer que, pola vezprimeira na sua história, @s trabalhadoras/es organizad@semprestavam atençom às propostas que re-situavam a Galizano seio do Estado espanhol, e reformulavam as ligaçons doproletariado galego com o do resto do território hispano. A ex-pansom social do nacionalismo na Catalunya, Euskadi e Gali-za, e a carência dumha corrente de esquerda nacionalista den-tro ou fora do Partido Galeguista, condicionárom em sentidosopostos o processo.

1 Bieito Alonso, “O socialismo e a cuestión nacional”, in Terra eTempo nº 9/10, Setembro de 1998 a Abril de 1999, Unión do Po-vo Galego, Santiago de Compostela.

2 Dionisio Pereira, “Galiza: unha ollada libertaria”, Ibidem.3 Víctor Santidrián, “O Partido Comunista de España en Galicia

(1920-1968)”.Tese de doutoramento, Universidade de Santiago,2000.

Dionísio Pereira é historiador do movimento operário galego

mado na Galiza; sensibilidade traduzida em adaptaçons orga-nizativas mais ou menos originais e consciência das singulari-dades da luita de classes no mar e na terra d@s galeg@s2.

Comunistas ortodoxos e heterodoxosDesde 1921, o reconhecimento do direito à autodetermina-

çom, mesmo até a secessom, das nacionalidades históricasconformadas pola Catalunya, Euskadi e a Galiza, foi concebidopolo PCE como arma de desgaste do Estado burguês e naperspectiva da revolta operária e camponesa que daria lugarà Espanha soviética. Segundo as directrizes da IIIª Interna-cional, a libertaçom nacional mais que a umha avença com asvacilantes burguesias nacionais, seria devedora da interven-çom decidida de todos os revolucionários espanhóis. Seguin-do umha estratégia maximalista comum nas três naçons, osEstatutos fôrom daquela anatemizados como negadores daautodeterminaçom e como produtos da traiçom dos partidosburgueses nacionalistas. Agora bem, as críticas de Manuilskydirigidas em 1932 para o reduzido compromisso real com a as-sunçom do facto nacional (visível nestes pagos na ausência dogalego na imprensa e na propaganda), nom dérom lugar naGaliza aos germes do PCG, tal e como aconteceu na Catalun-ya e no País Basco com o PCC e o PC de Euskadi: aqui, segun-do Santiago Álvarez, o PCG articularia-se quando houvessecondiçons ajeitadas, e isso seica tam só aconteceu em 1968.Logo, com a derrota de Outubro de 1934 e a viragem da In-ternacional favorável à colaboraçom de classes dentro dasFrentes Populares, os comunistas galegos passárom a defen-

Luís Soto

Insígnia de Castelao conservado no museu de Ponte Vedra

Dion

ísio

Per

eira Esquerda e questom nacional

na Galiza republicana