sumarios dcs 2012
DESCRIPTION
direito das sociedades comercias sumarios desenvolvidos ( primeiro ano de contabilidade)TRANSCRIPT
-
UNIVERSIDADE DE AVEIRO INSTITUTO SUPERIOR DE CONTABILIDADE E ADMINISTRAO
2012/2013
MARIA JOO MACHADO ANA CAROLINA SEQUEIRA
SUMRIOS DESENVOLVIDOS
DE
DIREITO COMERCIAL E DAS SOCIEDADES
PARTE I DIREITO COMERCIAL
CAP. I DIREITO COMERCIAL
Livro, pg. 13 a 35
1. Direito Comercial
Noo
o conjunto de normas e princpios jurdicos que, no domnio do direito privado,
regem os factos e as relaes jurdicas comerciais (relaes entre comerciantes
e atos de comrcio)
Objecto
o O direito comercial disciplina a atividade comercial segundo duas perspetivas:
Numa conceo objetiva, dirige-se aos atos de comrcio, como atos
estruturantes da vida comercial, abstraindo da qualidade de
comerciante de quem os pratica
Numa conceo subjetiva, regula as relaes jurdicas entre
comerciantes no exerccio da sua profisso comercial, e outros aspectos
relacionados com a sua atividade profissional (como por exemplo a
escriturao, a organizao e governo das sociedades, o estatuto dos
comerciantes, registos, etc.)
o O art. 1 do CCom parece apontar numa direo objetivista, ao preceituar que o
direito comercial rege os atos de comrcio independentemente da qualidade de
quem os pratica, porm, a noo formal de atos de comrcio constante do art.
2 do CCom revela a adoo de uma posio mista, simultaneamente objetivista
(atos de comrcio objetivos) e subjetivista (atos de comrcio subjetivos)
-
ISCA-UA 2012/2013 Sumrios desenvolvidos de DIREITO COMERCIAL E DAS SOCIEDADES
2
mbito
o O conceito de comrcio utilizado pelo direito comercial muito mais amplo do
que a noo econmica de comrcio:
abrange no s o comrcio concretizado nas atividades de
intermediao nas trocas na cadeia econmica do produtor para o
consumidor
mas tambm outras atividades econmicas:
a indstria (setor secundrio)
o exceto
as pequenas indstrias domsticas cuja
laborao seja assegurada exclusivamente pelo
prprio (art. 230, n. 1 CCom)
as indstrias de artesanato (art. 230, 1, Ccom)
as prestaes de servios (setor tercirio)
o exceto as realizadas por profissionais liberais no
exerccio da sua atividade, tendo em conta que estes
prestam servios individualizados e irrepetveis que
dependem diretamente dos seus conhecimentos
tcnicos e cientficos e se baseiam numa relao de
especial confiana com o cliente, sendo regulados por
ordens profissionais prprias
o e tambm as prestaes de servios e venda de bens
realizadas por artistas e artesos (art. 230, 1 e 3,
Ccom)
alm das j referidas, excluem-se igualmente as atividades
econmicas do setor primrio, a saber: agricultura, pecuria, e
indstrias extrativas (art. 230, 1 e 2 Ccom)
Integrao sistemtica
o O direito comercial um ramo do direito privado (os sujeitos destinatrios esto
num plano de igualdade, e o Estado no assume as suas prerrogativas de
autoridade face aos particulares)
o Trata-se de um ramo de direito especial, que se autonomizou do direito civil em
funo das necessidades e exigncias especficas da atividade comercial, e que
depois se alargou a outras atividades econmicas
o Em razo da sua especialidade, o direito comercial tem como direito subsidirio
ou comum o direito civil
Evoluo histrica
o O nascimento do direito comercial remonta Idade Mdia, tendo surgido em
Itlia, no sculo XII
-
ISCA-UA 2012/2013 Sumrios desenvolvidos de DIREITO COMERCIAL E DAS SOCIEDADES
3
o No sc. XVI, os descobrimentos vieram impulsionar o direito comercial
o Depois de centralizado o poder legislativo no monarca, o direito comercial
passou a constar de legislao de mbito nacional, e, com a poca liberal, foi
condensado em cdigos que pretendiam esgotar todos os seus preceitos:
Em Portugal, tivemos o primeiro Cdigo Comercial em 1833 (Cdigo de
Ferreira Borges) e o segundo em 1888 (Cdigo de Veiga Beiro), o qual
se mantm at hoje (apesar de muitas alteraes e da existncia de
numerosa legislao extravagante)
o As ltimas tendncias comercialistas vo no sentido de considerar a empresa
como centro da regulao jurdica
2. Fontes
Fontes internas:
o A lei
A Constituio - arts. 61, 81, 82, 86, 99, 100 e 296 CRP (embora
as normas com carter comercial tenham um relevo programtico,
referindo-se essencialmente ao sistema econmico de mercado e livre
concorrncia e propriedade dos meios de produo)
Leis e Decretos-leis - Cdigo Comercial, Cdigo das Sociedades
Comerciais, Cdigo dos Valores Mobilirios, Cdigo da Insolvncia e
Recuperao de Empresas, Cdigo da Propriedade Industrial, etc....
o O costume e os usos
Historicamente, o costume, como prtica reiterada e constante mantida
no tempo por lhe ser atribudo carter obrigatrio, foi uma importante
fonte de direito comercial, mas no nosso sistema legislativo atual
perdeu importncia
Os usos do comrcio so tambm atos praticados no exerccio do
comrcio com regularidade e constncia, mas no tm natureza jurdica,
pelo que s adquirem fora normativa por via de remisso legal, isto ,
s valem se a lei remeter para eles
Fontes externas:
o Convenes internacionais - em particular, as Convenes de Genebra de 1930-
LULL- e 1931 -LUC
o Diretivas e Regulamentos da Unio Europeia
3. Interpretao e integrao de lacunas
Interpretao
o a lei comercial interpretada segundo as regras gerais previstas no art. 9 do
CC, por remisso implcita do art. 3 do Ccom (na parte em que apela letra e
esprito da lei)
-
ISCA-UA 2012/2013 Sumrios desenvolvidos de DIREITO COMERCIAL E DAS SOCIEDADES
4
Integrao de lacunas
o antes de mais, necessrio verificar se existe realmente uma lacuna em sentido
prprio, isto , se o caso comercial que necessita de regulao no encontra
uma resposta adequada no sistema jurdico globalmente compreendido; assim,
s existe lacuna se no houver uma norma civil que se lhe aplique, ou se as
normas do direito civil aplicveis no forem adequadas para resolver o caso,
tendo em conta que o direito civil subsidirio do direito comercial
o os casos omissos que constituam verdadeiras lacunas so integrados segundo o
art. 3 Ccom, por recurso analogia legis, aplicando-se-lhes a norma de direito
comercial que regule casos anlogos, ou, se esta no existir, a norma civil que
regule casos anlogos; se no houver quaisquer casos anlogos, ser criada uma
norma ad hoc segundo os cnones do art. 10, n. 3, do C
CAP. II O ATO DE COMRCIO
Livro, pg. 405 a 424, e 425 a 436
1. O ato de comrcio
Noo
o no h uma definio material unitria de ato de comrcio, pela
heterogeneidade que estes revestem
referimo-nos a ato em sentido amplo, abrangendo:
factos jurdicos naturais (por exemplo, o decurso do tempo na
prescrio)
simples atos jurdicos (por exemplo a inveno, a reclamao
por defeitos)
negcios jurdicos (em particular, os contratos)
o nos termos do art. 2 do CCom, so atos de comrcio todos aqueles que se
acharem especialmente regulados neste cdigo e, alm deles, todos os
contratos e obrigaes dos comerciantes que no forem de natureza
exclusivamente civil, se o contrrio do prprio acto no resultar o art. 2
abarca, assim, dois tipos de atos de comrcio:
Atos objetivamente comerciais
o carter comercial destes atos decorre de circunstncias
objetivas que se prendem com os especficos interesses do
comrcio
atos regulados pelo Cdigo Comercial, mas tambm atualmente
noutras leis de natureza comercial
-
ISCA-UA 2012/2013 Sumrios desenvolvidos de DIREITO COMERCIAL E DAS SOCIEDADES
5
o compra e venda comercial, mandato comercial, fiana
comercial, penhor mercantil, etc.
o atos tpicos das atividades comerciais previstas no art.
230 do Ccom: indstria, fornecimento de gneros,
agenciamento de negcios ou leiles, explorao de
espectculos pblicos, edio e venda de obras
literrias, construo civil, transportes)
Atos subjetivamente comerciais
A comercialidade destes atos deriva da qualidade de
comerciante dos sujeitos que os praticam e ainda da sua relao
direta ou indireta com a atividade por estes explorada (atos
praticados pelos comerciantes no exerccio do seu comrcio ou
relacionados esse exerccio)
Pressupostos:
o atos praticados por um comerciante
a pessoa que pratica o ato tem que ser
comerciante, luz dos critrios do art. 13 do
CCom
o que no tenham natureza exclusivamente civil
no so conexionveis com o comrcio por
serem atos de natureza exclusivamente pessoal
ou extrapatrimoniais
o de cujas circunstncias no resulte a sua no ligao
com o exerccio do seu comrcio
isto , no h motivos objetivos (que se
prendem com o ato em si e com as
circunstncias negociais) que nos levem a
considerar que o ato no tem qualquer relao
com o exerccio da atividade concretamente
explorada pelo comerciante que o praticou
o em caso de dvida, deve presumir-se essa ligao (presuno de comercialidade
dos atos praticados por comerciante)
Classificaes
o Atos de comrcio absolutos e acessrios:
Absolutos
atos gerados e tipificados pela vida comercial, pelo que so
comerciais por natureza:
o atos tpicos das atividades previstas no art. 230 Ccom,
atos de intermediao nas trocas, atividades industriais,
-
ISCA-UA 2012/2013 Sumrios desenvolvidos de DIREITO COMERCIAL E DAS SOCIEDADES
6
atividades financeiras, bancrias e de seguros, contratos
aleatrios como jogo e aposta, prestaes de servios
o atos que devem a sua comercialidade ao objeto
(negcios relativos ao estabelecimento comercial, como
trespasse e cesso de explorao)
o atos que devem a comercialidade forma (letras,
livranas e cheques)
Acessrios
atos que devem a sua comercialidade ao facto de estarem
ligados a um ato de comrcio absoluto ou a uma atividade
comercial
o fiana, mandato, penhor, emprstimo, e depsito
comerciais
o Atos substancialmente comerciais e atos formalmente comerciais:
Substancialmente comerciais
atos com contedo comercial
Formalmente comerciais
Atos que assumem uma forma estritamente comercial,
abstraindo do seu contedo
o ttulos de crdito: letras, livranas e cheques
o Atos bilateralmente comerciais e atos unilateralmente comerciais:
bilateralmente comerciais
a comercialidade (objetiva ou subjetiva) verifica-se em relao a
ambas as partes
unilateralmente comerciais
o ato s comercial em relao a uma das partes; quanto
outra, no se verificam os pressupostos de comercialidade
objetiva ou subjetiva
estes atos so integralmente regidos pela lei comercial, mesmo
no que toca parte em relao qual o ato no comercial
(art. 99 CCom), salvo excees, como o caso do art. 100 do
CCom (solidariedade passiva nas obrigaes comerciais) que
no se aplica parte em relao qual o ato no comercial
2. Regras especiais dos atos e obrigaes comerciais
Os atos de comrcio tm uma regulamentao legal especfica na lei comercial que
difere da do Direito Civil em matria de forma, solidariedade passiva das obrigaes,
prescrio de dvidas, juros moratrios e remuneratrios, e responsabilidade por dvidas
dos cnjuges
-
ISCA-UA 2012/2013 Sumrios desenvolvidos de DIREITO COMERCIAL E DAS SOCIEDADES
7
Forma
o Para facilitar a celebrao de negcios jurdicos comerciais e assim promover o
estabelecimento de relaes mercantis, no direito comercial vigora, com maior
amplitude e intensidade do que no direito civil, o princpio da liberdade da
forma previsto no art. 219 CC:
segundo o art. 396 Ccom, o contrato de mtuo mercantil pode ser
celebrado por qualquer forma, independentemente do valor mutuado
(enquanto no direito civil, o art. 1143CC exige formalidades especiais
para mtuos de valores elevados);
o penhor mercantil pode constituir-se sem a entrega efetiva da coisa
empenhada, nos termos dos art. 398 e 400 Ccom, em oposio aos
art. 669 e 681 do CC;
os livros dos corretores gozam de fora probatria especial, nos termos
do art. 98Ccom
os documentos comerciais podem ser redigidos em qualquer lngua, de
acordo com o art. 96 Ccom (salvas as excepes impostas por lei tendo
em vista a proteo do consumidor)
Solidariedade passiva
o Com o intuito de reforar a juridicidade dos vnculos obrigacionais por via da
cobrana coerciva dos crditos comerciais, o legislador estabeleceu no direito
comercial a regra da solidariedade passiva nas obrigaes plurais, contrria
regra da conjuno fixada para o direito civil, no art. 513 do CC:
Assim, nos termos do art. 100 do CCom, as dvidas comerciais so
solidrias, com duas excees:
se houver estipulao das partes em contrrio
se os devedores no forem comerciantes e o ato praticado no
for quanto a eles comercial (atos unilateralmente comerciais)
a solidariedade passiva tem as seguintes consequncias legais:
o credor pode exigir de cada um dos devedores o pagamento da
totalidade da dvida, sem que qualquer deles possa invocar o
benefcio da diviso de responsabilidades (art. 512, n. 1, 518,
519, n. 1, CC)
o devedor que pagar a dvida fica com o direito de haver dos
restantes condevedores as partes da dvida que lhe
correspondem, em sede de direito de regresso (art. 524 CC)
Tambm na fiana mercantil, a responsabilidade do fiador da obrigao
comercial solidria por fora do art. 101 CCom, pelo que este no
pode invocar o benefcio da excusso prvia previsto no art. 638 CC
-
ISCA-UA 2012/2013 Sumrios desenvolvidos de DIREITO COMERCIAL E DAS SOCIEDADES
8
Prescrio
o A prescrio o instituto jurdico que atribui ao mero decurso do tempo
consequncias jurdicas ao nvel das relaes jurdicas
As dvidas obrigacionais devem ser cobradas num prazo razovel a partir
do momento em que se vencem e passam a ser exigveis, sob pena do
tempo fazer desvanecer a sua eficcia jurdica
Assim, completado determinado prazo fixado na lei, a dvida no se
extingue, mas deixa de ser civil e passa a ser natural, o que determina
que o seu cumprimento deixe de ser judicialmente exigvel
Nos termos do art. 304, n. 1 e 2, do CC, completado o prazo de
prescrio, o devedor pode recusar-se a pagar a dvida, invocando a
prescrio (pois esta carece de ser invocada para poder produzir os seus
efeitos, segundo o art. 303 do CC) mas, caso a pague voluntariamente,
no pode exigir o reembolso do que prestou (repetio do indevido)
Para a generalidade das obrigaes, o prazo de prescrio de 20 anos
(art. 309 CC), complementado por prazos especiais mais curtos
o A lei fixa um prazo mais curto de prescrio para os crditos resultantes de atos
de comrcio na alnea b) do art. 317 do CC:
Prescrevem no prazo de 2 anos a contar da data do vencimento do
crdito (art. 317, al. b) do CC):
os crditos de comerciantes que resultem do fornecimento de
bens e servios a no comerciantes ou a comerciantes que no
os destinem sua atividade comercial (relaes comerciais
entre profissionais e consumidores)
pelo que este prazo mais curto no se aplica ao devedor
comerciante que adquire os bens e servios no exerccio do seu
comrcio (nesse caso, aplica-se o prazo geral)
Trata-se, contudo, de uma prescrio presuntiva, isto , de uma forma
de prescrio que se fundamenta numa presuno de que a dvida foi
cumprida (art. 312 do CC), mas esta presuno pode ser ilidida por
confisso do devedor ou documento escrito em que este declara que
ainda no pagou (art. 313 CC)
Juros
o Juros so uma prestao pecuniria fixada como remunerao pela
disponibilidade de certa quantia pecuniria (juros remuneratrios) ou como
indemnizao pelo atraso no cumprimento de uma prestao pecuniria (juros
moratrios):
No contrato de mtuo oneroso, h lugar a vencimento de juros
remuneratrios (art. 1145, n. 1, do CC)
-
ISCA-UA 2012/2013 Sumrios desenvolvidos de DIREITO COMERCIAL E DAS SOCIEDADES
9
Nas obrigaes pecunirias, o atraso na realizao da prestao
imputvel ao devedor gera uma obrigao de indemnizar os danos
causados que se concretiza nos juros de mora (art. 806 e 804, n. 1 e
2, do CC)
o Em ambos os casos a sua fixao pode ser feita por lei (juros legais) ou pelas
partes (juros convencionais)
o Nas obrigaes civis (no comerciais), se as partes no tiverem predeterminado
os juros de mora (juros convencionais), estes so calculados segundo a taxa
legal dos juros civis, fixada em 4% ao ano pela Portaria 291/03 de 8/04 para a
qual remete o art. 559, n. 1, do CC (art. 806, n. 2, CC)
o Nas obrigaes comerciais, se as partes no tiverem fixado os juros de mora
(juros convencionais), estes calculam-se com base na taxa de juros anual
prevista na lei comercial
Art. 102, 3 e 4, do CCom- a taxa de juros comercial fixada nos
termos da Portaria 597/2005 de 19/07, por Aviso da Direco Geral do
Tesouro semestralmente publicado no Dirio da Repblica (tendo como
referncia a taxa de juro do BCE)
A taxa vigente para o primeiro semestre de 2013 de 7,75%
(Aviso 594/2013 de 11 de Janeiro)
A taxa que vigorou nos dois semestres de 2012 foi 8%
Note-se ainda que os juros convencionais s podem ser fixados por
escrito (art. 102, 1, Ccom) e no podem ultrapassar certos limites
fixados na lei (art. 559-A e 1146 CC, por remisso do art. 102, 2,
CCom)
Responsabilidade dos bens do casal por dvidas do cnjuge comerciante
o No direito civil, o casamento produz efeitos patrimoniais na esfera jurdica dos
cnjuges
Basicamente, h 3 regimes de bens que podem vigorar depois do
casamento:
comunho geral
o os bens dos cnjuges constituem 1 s patrimnio que
pertence a ambos, em igual proporo (s h bens
comuns)
separao de bens
o cada um dos cnjuges mantm o seu patrimnio
prprio (s h bens prprios de cada um)
comunho de adquiridos (que o regime supletivo)
o cada um dos cnjuges mantm um patrimnio prprio
(constitudo pelos bens que j tinha quando casou e
pelos que venha a receber por herana ou doao
-
ISCA-UA 2012/2013 Sumrios desenvolvidos de DIREITO COMERCIAL E DAS SOCIEDADES
10
depois do casamento), a par de um patrimnio comum
(todos os restantes bens que adquira depois do
casamento)
A lei distingue ainda as dvidas da responsabilidade de ambos os
cnjuges das dvidas que s recaem sobre um dos cnjuges, para
determinar que bens respondem por essas dvidas
o Segundo o art. 1691, n. 1, al. d) do CC, so da responsabilidade de ambos os
cnjuges as dvidas contradas por qualquer dos cnjuges no exerccio do seu
comrcio, salvo se se provar que no foram contradas em proveito comum do
casal ou se vigorar entre os cnjuges o regime da separao de bens
Pressupostos:
Regime de comunho de adquiridos ou comunho geral de bens
Dvida contrada pelo cnjuge comerciante no exerccio da sua
actividade (dvida subjetivamente comercial)
o Em virtude do disposto no art. 15 do Ccom, as dvidas
comerciais do cnjuge comerciante presumem-se
contradas no exerccio do seu comrcio
o Esta presuno aproveita ao credor, por inverter o nus
da prova, fazendo com que tenha que ser o devedor a
provar que a dvida nada tem a ver com a sua actividade
Dvida contrada em proveito comum do casal, segundo a sua
finalidade (e no o resultado efetivo)
o Pressupe-se que as dvidas geradas pelo exerccio do
comrcio revertem sempre em proveito comum do
casal, mas possvel provar o contrrio (por exemplo,
se os cnjuges vivem separados de facto)
Por estas dvidas respondem, nos termos do art. 1695, n. 1, do CC, os
bens comuns do casal, e, subsidiariamente os bens prprios de cada um
deles
-
ISCA-UA 2012/2013 Sumrios desenvolvidos de DIREITO COMERCIAL E DAS SOCIEDADES
11
CAP. III - O COMERCIANTE
Livro, pg. 75 a 84, 85 a 98, 99 a 113
1. O comerciante
Noo
o O comerciante o principal sujeito das relaes jurdicas comerciais, mas no o
nico, pois qualquer pessoa singular ou coletiva com personalidade jurdica e
capacidade civil de gozo e exerccio pode praticar atos objetivos de comrcio
o Em regra, pode-se identificar o comerciante com o empresrio comercial, como
titular de uma empresa ou estabelecimento comercial (entendida
objetivamente como conjunto de meios e fatores de produo congregados
para o exerccio de uma atividade comercial), mas essa coincidncia no
perfeita, pois possvel equacionar situaes em que o comerciante no
explora propriamente uma empresa, como o caso dos pequenos vendedores
ambulantes e de alguns agentes e intermedirios comerciais
o Em suma, o comerciante qualquer pessoa singular ou coletiva com capacidade
para praticar atos de comrcio que explora uma atividade comercial, em regra,
atravs de uma empresa
Espcies
o O art. 13 Ccom distingue dois tipos fundamentais de comerciantes:
Os comerciantes em nome individual- art. 13, n. 1 Ccom
Requisitos:
o pessoas singulares pessoas fsicas detentoras de
personalidade jurdica (art. 66 CC)
o com capacidade comercial nos termos do art. 7 do
Ccom, a capacidade para praticar atos de comrcio
corresponde capacidade civil de gozo e exerccio (art.
67 e 130 CC)
no entanto, os incapazes podem ser
comerciantes se tiverem adquirido um
estabelecimento comercial por herana ou
doao, mas s podem exercer os atos
correspondentes atravs dos seus
representantes legais judicialmente autorizados
(art. 1889, n. 1, al. c) e 1938, n. 1, al. f) CC)
o que faz do comrcio profisso explorao de uma
atividade comercial atravs da prtica regular e
reiterada de atos de comrcio objetivos e absolutos,
-
ISCA-UA 2012/2013 Sumrios desenvolvidos de DIREITO COMERCIAL E DAS SOCIEDADES
12
como forma de obteno de recursos econmicos, em
nome prprio (e no em nome alheio) e de modo
autnomo (sem subordinao profissional)
no so comerciantes os gerentes, auxiliares e
caixeiros (funcionrios ou colaboradores), que
trabalham por conta do comerciante
no so comerciantes os gerentes e
administradores das sociedades comerciais,
pois agem em nome da sociedade
As sociedades comerciais- art. 13, n. 2, Ccom
Requisitos:
o sociedade sociedade uma pessoa coletiva
constituda por contrato celebrado por duas ou mais
pessoas que se obrigam a contribuir com bens ou
servios para o exerccio em comum de uma atividade
econmica que no seja de mera fruio a fim de
repartirem entre si os lucros dela resultantes (art. 980
e 157 CC)
o comercial so sociedades comerciais as que tenham
simultaneamente objeto e forma comerciais (art. 1, n.
2, CSC)
objeto a atividade econmica explorada tem
de se enquadrar na noo jurdica de comrcio
forma- a sociedade tem de adotar um dos
modelos de organizao previsto no CSC:
sociedade em nome coletivo, sociedade por
quotas, sociedade annima e sociedade em
comandita simples ou por aes
Nota: as sociedades civis, que se dedicam
prtica de atividades econmicas no
comerciais, podem adotar um destes modelos
do CSC (forma comercial), ficando sujeitas s
regras do CSC (art. 1, n. 4, CSC), mas no so
sociedades comerciais em razo do seu objeto
civil
Outras pessoas coletivas com objeto comercial
Embora o art. 13 CCom no se refira expressamente a elas, h
outras pessoas coletivas, alm das sociedades comerciais, que
so comerciantes, por terem capacidade comercial e
explorarem atividades comerciais:
-
ISCA-UA 2012/2013 Sumrios desenvolvidos de DIREITO COMERCIAL E DAS SOCIEDADES
13
o Entidades Pblicas Empresariais, Empresas
Intermunicipais e Empresas Municipais (DL 558/99, de
17/12 e Lei 53-F/2006, de 29/12)
o Agrupamentos Complementares de Empresas (DL
430/73 de 25/08) e Agrupamentos Europeus de
Interesse Econmico (Dl 148/90 de 9/05)
o Cooperativas (Cdigo Cooperativo)
Quem no pode ser comerciante
o As associaes ou corporaes que no tenham por objeto interesses materiais
(fim no lucrativo) art. 14, n. 1, CCom
o O Estado, o distrito, o municpio, a parquia, as misericrdias e instituies de
solidariedade social art. 17 Ccom
o Pessoas singulares ou coletivas que exeram atividades econmicas no
comerciais (agricultores e criadores de gado e animais; artesos; artistas;
profissionais liberais, salvo se organizados em empresas)
Incompatibilidades e impedimentos
o Pessoas singulares que exercem funes incompatveis com o exerccio do
comrcio, por fora de lei
Incompatibilidades de direito pblico: magistrados, militares, titulares
de cargos polticos e altos cargos pblicos
Incompatibilidades de direito privado: proibio de concorrncia dos
scios das sociedades em nome coletivo e em comandita (art. 180 e
477 CSC), dos gerentes, administradores, directores e membros do
conselho geral das sociedades comerciais (art. 254 e 398 CSC); e ainda
dos intermedirios financeiros e corretores de bolsa (347 do CVM)
o Pessoas singulares que esto inibidas de exercer o comrcio, por deciso judicial
decretada em processo de insolvncia (art. 3 CIRE)
o Condicionamentos e licenciamentos administrativos de certas actividades
comerciais (como por exemplo, farmcias)
2. Aquisio da qualidade de comerciante
As pessoas singulares passam a ser comerciantes quando iniciam a prtica de atos
reveladores do propsito e possibilidade de se dedicar ao exerccio habitual de uma
atividade comercial
As sociedades comerciais adquirem a qualidade de comerciante no momento em que
adquirem personalidade jurdica, com o registo definitivo na Conservatria do Registo
Comercial, nos termos do art. 5 CSC
-
ISCA-UA 2012/2013 Sumrios desenvolvidos de DIREITO COMERCIAL E DAS SOCIEDADES
14
3. As obrigaes especiais dos comerciantes.
Os comerciantes, pelo facto de o serem, tm que cumprir as obrigaes previstas no art.
18 do Ccom: adotar firma, ter escriturao mercantil, inscrever-se no registo comercial,
e dar balano e prestao de contas
Adoo de firma
o A firma o sinal identificativo do comerciante (o nome comercial do
comerciante)
o Os comerciantes esto obrigados a adotar firma (art. 18, n. 1, CCom), segundo
o regime do Registo Nacional de Pessoas Colectivas (RNPC- Decreto-lei 129/98
de 13/05)
o Composio da firma
A firma pode ser constituda por nomes (firmas-nome), siglas e
denominaes de fantasia (firmas-denominao), ou ambos (firmas
mistas)
o Princpios a respeitar na adoo de uma firma
Princpio da unidade
Um comerciante s pode ter uma firma (art. 38, n. 1, RNPC e
9, n. 1, c) e 171, n. 1 CSC)
Exceo: comerciante em nome individual que explora um EIRL
(tem duas firmas: a sua e a do eirl)
Princpio da novidade e exclusividade
as firmas devem ser distintas e inconfundveis entre si, no
mesmo mbito territorial definido- art. 3 e 33 RNPC
a susceptibilidade de confuso ou no aferida segundo uma
considerao global e objetiva das circunstncias (tipo de
pessoa, domiclio ou sede, afinidade das atividades e mbito
territorial de atuao)- art. 33, n. 2, RNPC
o comerciante tem o direito ao uso exclusivo da sua firma aps
o seu registo definitivo, no mbito territorial previsto na lei- art.
35 RNPC:
o todo o territrio nacional para as sociedades comerciais
(art. 37, n.2, RNPC)
o na rea do concelho onde est situado o
estabelecimento comercial (art. 38, n. 4, RNPC)
a novidade deve reportar-se a outras firmas, mas tambm a
outros sinais distintivos do comrcio como nomes de
estabelecimentos, insgnias e marcas registadas, no mesmo
mbito de exclusividade art. 33, n. 4 e 5, RNPC
-
ISCA-UA 2012/2013 Sumrios desenvolvidos de DIREITO COMERCIAL E DAS SOCIEDADES
15
Princpio da verdade
A firma deve espelhar a situao real do comerciante, no que
toca identificao, natureza jurdica, atividade e mbito de
atuao- art. 3 e 32 RNPC
Regras de composio das firmas
o Comerciante em nome individual- art. 38 RNPC
Nome civil completo ou abreviado, desde que
com mais de 2 vocbulos, a que pode ser
aditada expresso alusiva atividade ou
alcunha
o Sociedades comerciais- art. 37 RNPC, art. 10 CSC e
177, 200, 275, 467 CSC
Nome de todos ou alguns dos scios, siglas e
designaes de fantasia, ou ambos, com
referncia atividade comercial, acrescidos de
e companhia, limitada, sociedade
annima e em comandita ou em comandita
por aes
o EIRL- art. 40 RNPC
Nome do comerciante, eventualmente com
aluso atividade, e EIRL ou estabelecimento
individual de responsabilidade limitada
o A firma pode ser alterada em cumprimento de uma disposio legal ou por
vontade do comerciante (art. 56 RNPC), e pode ser transmitida, em certas
circunstncias (art. 44 RNPC), extinguindo-se com a cessao de atividade,
morte do comerciante ou dissoluo da sociedade comercial, e perda do direito
ao uso da firma (art. 60 e 61 RNPC)
o O uso indevido de firma registada faz incorrer o seu autor na obrigao de
indemnizar os danos causados, e ainda numa contraordenao por concorrncia
desleal (art. 317, al. c) do CPI)
Escriturao mercantil
o Noo: registo sistemtico dos factos relativos atividade mercantil do
comerciante, para conhecimento da sua situao jurdica, patrimonial e fiscal
o Os comerciantes esto obrigados a efetuar escriturao- art. 18, n. 1, e 29
CCom
o Importncia: conhecimento da sua situao; meio de prova (art. 44 CCom);
verificao da regularidade da conduta em caso de insolvncia; instrumento
para determinao de matria tributvel e fiscalizao do cumprimento das
obrigaes fiscais
o Objecto: contabilidade (registo das operaes comerciais), livro de actas,
faturas, contratos, correspondncia, arquivos e outra documentao
-
ISCA-UA 2012/2013 Sumrios desenvolvidos de DIREITO COMERCIAL E DAS SOCIEDADES
16
O livro de atas s obrigatrio para as sociedades comerciais, nele se
inscrevendo as atas das reunies dos rgos da sociedade, como as
assembleias de scios e as reunies dos administradores, etc. (art. 31 ,
37 e 39 Ccom e 63 CSC)
o Organizao da escriturao: vale o princpio da liberdade previsto no art. 30
CCom quanto ao modo de organizao e escolha do suporte fsico
o Conservao: durante 10 anos em suporte de papel ou eletrnico (art. 40
Ccom), ou 5 aps a dissoluo da sociedade comercial (art. 157, n. 4, CSC)
o Confidencialidade: a escriturao , em princpio, confidencial (art. 41 CCom e
art. 51 CPC), mas h numerosas excepes: pode ser alvo de exibio judicial e
exame (art. 42 e 43 CCom); pode ser consultada ao abrigo do direito
informao dos scios (art. 214, 215 e 288 CSC); pode haver lugar a inqurito
judicial (art. 181/6, 216 e 292 CSC); e ainda pode ser inspeccionada em caso
de fiscalizao tributria (a. 31 LGT e 120 a 122 RGIT).
o Fora probatria: a escriturao vale como meio de prova nos litgios entre
comerciantes, presumindo-se como verdadeiros os factos inscritos na
escriturao devidamente organizada (art. 44 Ccom)
Registo comercial
o O registo pblico de certos actos dos comerciantes junto das Conservatrias do
Registo Comercial tem como finalidade dar publicidade situao jurdica dos
comerciantes, tendo em vista a segurana do comrcio jurdico (art. 1 do CRC)
Essa publicidade conseguida pelo facto de qualquer pessoa poder
aceder ao contedo do registo e pedir as certides respetivas (art. 73
CRC)
o O registo comercial obrigatrio- art. 10, n. 3, CCom
o S esto sujeitos a registo os atos previstos nos art. 2 e 3 CRC
o Tipos de registo: o registo feito por transcrio, ou por depsito, sendo que s
na primeira situao a Conservatria se pronuncia sobre o contedo dos
documentos apresentados (art. 55 e 53A CRC)
o Efeitos:
O registo dos factos comerciais condio de eficcia contra terceiros
(art. 14, n. 1 e 13, n. 1 e 2 CRC)
No caso de sociedades comerciais, o registo definitivo da sua
constituio causa de atribuio de personalidade jurdica e da
qualidade de comerciante (art. 5 CSC)
Nas restantes situaes, o registo s atribui uma presuno de
existncia de determinada situao jurdica (art. 11 CRC)
o Certido permanente- art. 75, n. 3, CRC
-
ISCA-UA 2012/2013 Sumrios desenvolvidos de DIREITO COMERCIAL E DAS SOCIEDADES
17
Balano e prestao de contas
o Balano
Noo: sntese da situao patrimonial do comerciante em determinado
momento, por comparao entre o ativo e o passivo, segundo as
normas de escriturao contabilstica
obrigatrio realizar um balano anual, nos primeiros trs meses do
ano, relativo ao exerccio do ano anterior (art. 18, n. 4, e 62 CCom e
65, n. 1, CSC)
Alm deste, a lei exige balanos excecionais em certas situaes, como
fuso, ciso e dissoluo de sociedades comerciais
o Prestao de contas
O art. 63 do Ccom, relativo ao dever de prestar contas est revogado
Porm, este dever mantm-se:
Nas sociedades comerciais, o rgo de administrao e gesto
est obrigado a apresentar anualmente aos scios o relatrio de
gesto, as contas de exerccio e outras, nos termos dos art. 65
a 70 CSC, que depois so sujeitas a registo comercial
Em geral, todos os comerciantes esto obrigados a entregar os
documentos de prestao de contas sob a forma de Informao
Empresarial Simplificada (IES)
o o DL 8/2007 de 17/01 e as Portarias 208/2007,
499/2007, 562/2007, vieram criar a IES, uma forma de
prestao anual de contas efectuada e submetida por
meios eletrnicos que visa o cumprimento simultneo
de vrias obrigaes dos comerciantes:
obrigao de depositar os documentos de
prestao de contas no registo comercial
obrigao fiscal de declarar os rendimentos em
sede de IRS ou IRC
obrigao de comunicar os resultados da
atividade comercial para efeitos estatsticos ao
INE e Banco de Portugal
o esto obrigados a entregar a IES todos os residentes
que exercem uma atividade comercial (comerciantes
em nome individual e sociedades comerciais), os no
residentes com estabelecimento estvel em Portugal e
ainda os titulares de EIRL (alm de outras entidade no
comerciantes)
o a IES ano anualmente preenchida e submetida por via
exclusivamente electrnica, no site do portal das
finanas (www.portaldasfinanas.pt), pelo comerciante
ou pelo TOC, nos primeiros 6 meses do ano seguinte,
-
ISCA-UA 2012/2013 Sumrios desenvolvidos de DIREITO COMERCIAL E DAS SOCIEDADES
18
sendo devida uma taxa de 85,00 (a pagar por
multibanco)
o a informao de que o comerciante prestou contas do
exerccio publicada no site das publicaes do
Ministrio da Justia, e fica a constar de uma base de
dados de acesso pblico
CAP. III - ESTABELECIMENTO COMERCIAL
Livro, pg. 50 a 74
1. Noo e elementos
Noo
o Estabelecimento comercial um conjunto organizado de fatores de produo
(materiais e humanos) e outros recursos funcionalmente congregados para o
exerccio de uma atividade comercial de forma estvel e autnoma
Estabelecimento e empresa
o Neste sentido, estabelecimento significa empresa em sentido objetivo, mas a
palavra empresa pode ser usada com vrios significados (por exemplo, como
sujeito ou agente jurdico, e como atividade)
o Pressupostos da existncia da empresa:
Subjetivo a empresa, neste sentido, tem que ter necessariamente um
titular, que pode ser uma pessoa singular (comerciante em nome
individual) ou coletiva (sociedade comercial ou outras): possvel um
comerciante laborar sem empresa, mas nunca uma empresa sem um
comerciante
Patrimonial a empresa tem necessariamente um patrimnio,
constitudo por bens e direitos afetos explorao da atividade
comercial
Pessoal a empresa funciona com a afectao direta e indireta de
recursos humanos, sendo sustentada por uma teia de vnculos jurdicos
diversos com outras pessoas singulares
Funcional a empresa no uma mera sobreposio de elementos,
mas uma instituio de carcter econmico que pressupe uma
organizao determinada segundo a funo de cada um dos elementos
para a prossecuo da atividade comercial explorada e a finalidade
lucrativa a atingir
o
-
ISCA-UA 2012/2013 Sumrios desenvolvidos de DIREITO COMERCIAL E DAS SOCIEDADES
19
o Classificao das empresas
Segundo o objeto
Empresas comerciais- exploram uma atividade comercial
(designadamente comrcio, indstria e servios)
Empresas no comerciais exercem atividades no
enquadrveis na noo jurdica de comrcio (agricultura,
pecuria, artesanato, etc.)
Segundo o setor de atividade: empresas do setor pblico, privado e
cooperativo
Segundo a dimenso:
Empresas de grande dimenso
Pequenas e mdias empresas (PMEs)- empresas que
empreguem at 250 trabalhadores, com um volume de
negcios inferior a 40 milhes de ou com balano total
inferior a 27 milhes de , desde que o seu capital no pertena
em mais de 25% a uma grande empresa (Regulamento
Comunitrio n 96/280/CE, de 30/4)
Elementos do estabelecimento comercial
o O estabelecimento comercial constitudo por elementos de dois tipos
elementos corpreos
bens imveis - imobilizaes corpreas
bens mveis - como equipamentos, mquinas, mercadorias,
dinheiro, etc.
elementos incorpreos
ativo
o direitos - de que sobressaem o direito ao arrendamento
de espao para exerccio da atividade comercial,
crditos, direitos de propriedade industrial (como
marcas, patentes, etc.)
o posies contratuais em contratos de agncia e
distribuio comercial, e ainda posies contratuais em
contratos de trabalho e de prestao de servios
passivo
o dvidas, emprstimos e contraprestaes
o No so elementos do estabelecimento
A clientela a clientela uma consequncia do funcionamento da
empresa comercial, no um elemento desta (embora tenha proteo
legal em certas circunstncias- concorrncia desleal, no concorrncia
-
ISCA-UA 2012/2013 Sumrios desenvolvidos de DIREITO COMERCIAL E DAS SOCIEDADES
20
no trespasse e indemnizao de clientela por fim de contrato de
agncia)
O aviamento (good-will) o aviamento a capacidade lucrativa da
empresa, a aptido para gerar lucros, resultante de vrios fatores, como
a organizao funcional, o know-how, as relaes com fornecedores e
clientes, a reputao comercial e financeira, etc. - uma qualidade da
empresa, e no um elemento dela
2. Natureza jurdica
o o estabelecimento comercial simultaneamente
uma unidade econmica, isto , uma coisa imaterial em que o todo vale
mais do que a soma das partes (o valor econmico do estabelecimento
resulta diretamente do aviamento, e no apenas do seu contedo)
uma unidade jurdica, ou seja, um conjunto de bens de diversa natureza
que, por estarem afetos explorao de uma atividade econmica com
finalidade lucrativa, so tratados pelo direito como se fossem um s
(universalidade de direito)
o no uma pessoa jurdica, pois carece de personalidade jurdica (a empresa
entendida como objeto e no o sujeito)
o no um patrimnio autnomo, pois no tem autonomia patrimonial em
relao ao restante patrimnio do comerciante
excepto o EIRL (estabelecimento individual de responsabilidade
limitada), criado pelo DL 248/86, de 25.08
O EIRL um estabelecimento comercial titulado por uma pessoa
singular que exera ou pretenda exercer uma atividade
comercial com responsabilidade limitada, constitudo por
afectao de parte do seu patrimnio a essa atividade
Constitudo o EIRL (por documento escrito submetido a registo
comercial), este passa a beneficiar de autonomia patrimonial: o
patrimnio afectado atividade comercial s responde pelas
dvidas dela resultantes, e por essas dvidas s ele responde,
mantendo a salvo o restante patrimnio pessoal do
comerciante em nome individual (art. 10 e 11 Dl 248/86)
a firma do EIRL constituda pelo nome completo ou abreviado
do comerciante, acrescido de EIRL ou estabelecimento
individual de responsabilidade limitada (art. 2, n. 3, DL
248/86 e art. 40 RNPC)
-
ISCA-UA 2012/2013 Sumrios desenvolvidos de DIREITO COMERCIAL E DAS SOCIEDADES
21
3. Negcios sobre o estabelecimento
O estabelecimento pode ser objeto de direitos reais (propriedade, usufruto, posse) e de
crdito (locao), constitudos voluntria ou coercivamente (penhora e venda judicial de
estabelecimento comercial - art. 862-A do CPC e181 do CIRE)
Trespasse
o Noo: trespasse o negcio jurdico pelo qual se opera uma transmisso definitiva
inter vivos da propriedade de um estabelecimento comercial, como unidade
O trespasse transmite a propriedade do estabelecimento comercial, que
engloba todos os poderes de uso, fruio e disposio
Essa transmisso pode ter por base vrios negcios jurdicos voluntrios,
onerosos e gratuitos (contratos de compra e venda, troca, doao, dao
em pagamento, entrada em sociedade), ou coercivos (venda judicial e em
processo de insolvncia), mas no se realiza atravs de sucesso hereditria
(legal ou testamentria)
O trespasse tem como objeto o estabelecimento comercial a funcionar,
como um todo unitrio, tendo em conta que a sua funo econmico-social
a de transmitir um estabelecimento em laborao com vista continuao
da sua explorao
Embora admita excluses pontuais de alguns elementos, tem que
incidir sobre a totalidade dos elementos essenciais do
estabelecimento (essencialidade essa que s em concreto possvel
determinar)
o Se as partes nada disserem no contrato de trespasse,
transmitem-se todos os elementos do estabelecimento
comercial, exceto:
A firma do comerciante (art. 44 RNPC)
As posies contratuais (art. 424 CC) - contudo, as
posies contratuais em contrato de arrendamento
e em contrato de trabalho transmitem-se
automaticamente para o adquirente, salvo
conveno em contrrio (art. 1112 do CC e art.
285 do Cdigo do Trabalho)
Os crditos (art. 577 CC)
As dvidas (art. 595 CC) - no entanto, os alienantes
e os adquirentes respondem solidariamente pelas
dvidas de salrios aos trabalhadores e
contribuies devidas Segurana Social (arts.
285/2 do C. Trabalho e 209/2 do Cd.
Contributivo)
O trespassrio (aquele que adquire o estabelecimento) tem de
manter o mesmo ramo de atividade comercial explorado pelo
-
ISCA-UA 2012/2013 Sumrios desenvolvidos de DIREITO COMERCIAL E DAS SOCIEDADES
22
estabelecimento, sob pena de se considerar que no houve
efetivamente trespasse
O trespasse um ato de comrcio objetivo, absoluto e substancialmente
comercial
o Regime jurdico: art. 1112 CC
Forma:
o contrato de trespasse tem que ser celebrado por escrito art.
1112, n. 3, CC
o trespasse tem que ser comunicado ao senhorio, no prazo de 15
dias a partir da sua celebrao, sob pena de, no o fazendo, o
senhorio poder resolver o contrato de arrendamento (art. 1112,
n. 3, 1038, al. g) e 1083, n. 2, al. e) CC)
Requisitos de substncia:
Para haver trespasse necessrio, segundo o art. 1112, n. 2, do
CC, que a transmisso:
o Seja acompanhada da transferncia em conjunto das
instalaes, utenslios, mercadorias ou outros elementos
o No vise o exerccio de outro ramo de comrcio ou indstria
ou a afetao do prdio a outro destino
Efeitos sobre contrato de arrendamento de prdio onde exerce a atividade
comercial:
O senhorio tem direito de preferncia na venda e dao em
cumprimento do estabelecimento comercial, por fora do art.
1112, n. 4, CC
o Assim, o trespassante est obrigado, antes de celebrar o
negcio oneroso de trespasse, a comunicar ao senhorio a
sua inteno de vender o estabelecimento, bem como as
circunstncias essenciais do negcio (qual o preo de
venda, quem o interessado, etc.), para que este possa
exercer esse direito (art. 416 CC)
Com o trespasse, a posio contratual de arrendatrio passa
automaticamente do trespassante para o trespassrio, sem
necessidade de autorizao do senhorio, nos termos do art. 1112,
n. 1, CC
o Esta soluo visa facilitar a circulao da propriedade dos
estabelecimentos comerciais que funcionam em prdios
arrendados e proteger o seu valor intrnseco, directamente
ligado ao aviamento
o Esta dispensa de autorizao do senhorio excecional,
valendo a regra oposta
-
ISCA-UA 2012/2013 Sumrios desenvolvidos de DIREITO COMERCIAL E DAS SOCIEDADES
23
o Assim, o gozo do imvel pelo sujeito que o adquire s
legtimo se estivermos perante um verdadeiro trespasse do
estabelecimento, isto , se houver transmisso de todos os
seus elementos essenciais e no houver mudana de ramo
ou destino- art. 1112, n. 2, CC- se tal no se verificar, no
h trespasse, e, portanto, no h dispensa de autorizao
do senhorio, podendo este resolver o contrato de
arrendamento com base no art. 1083, n. 2, al. e) CC
Obrigao implcita de no concorrncia
Como consequncia direta do trespasse, surge para o trespassante
uma obrigao de no concorrer com o estabelecimento
trespassado, que o impede de explorar, direta ou indiretamente,
uma atividade igual ou sucednea do estabelecimento
trespassado, no mesmo mbito de atuao territorial, e durante um
perodo de tempo razovel que permita ao trespassrio estabilizar a
atividade comercial e clientela
Esta obrigao imposta pelo direito, sem necessidade de qualquer
estipulao contratual das partes, embora no tenha apoio
expresso em nenhuma norma legal - a jurisprudncia portuguesa
entende que constitui uma forma de concorrncia desleal prevista
na al. c) do art. 317 do CPI
Locao do estabelecimento ou cesso de explorao
o noo: contrato pelo qual se opera uma cesso temporria e onerosa do gozo de
um estabelecimento comercial a funcionar
no fundo, um contrato de locao tendo por objeto um estabelecimento
comercial como unidade econmica(art. 1022 CC)
tal como nos trespasse, todos os elementos essenciais do
estabelecimento tm de ser transferidos para a posse do locatrio
o os contratos de trabalho dos empregados do
estabelecimento mantm-se, por fora do art. 285 do
Cdigo Trabalho
no pode haver mudana de ramo de atividade, ou de destino
no se transmite a propriedade do estabelecimento, mas s as faculdades
de uso direto e fruio (perceo de rendimentos), embora se admita que o
gozo implica, a maior parte das vezes, o consumo e alienao de alguns
bens do estabelecimento (mercadorias, por exemplo)
a cesso do gozo tem sempre uma durao temporal determinada pelas
partes
a cesso do gozo tem sempre uma contrapartida pecuniria, a renda, paga
mensal ou anualmente
-
ISCA-UA 2012/2013 Sumrios desenvolvidos de DIREITO COMERCIAL E DAS SOCIEDADES
24
o regime jurdico: art. 1109 CC
Forma:
O contrato de locao tem que ser celebrado por escrito (1109 CC)
A locao tem que ser comunicada ao senhorio, no prazo de 1 ms a
contar da data da sua celebrao - art. 1109, n. 2, CC- sob pena de
resoluo do contrato de arrendamento (art. 1083, n. 2, al. e) CC)
Requisitos de fundo:
Para haver locao de estabelecimento necessrio, segundo os
art. 1109, n. 1, e 1112, n. 2, do CC, que a transmisso seja
acompanhada da transferncia em conjunto das instalaes,
utenslios, mercadorias ou outros elementos, e no vise o exerccio
de outro ramo de comrcio ou indstria ou a afetao do prdio a
outro destino
Efeitos sobre contrato de arrendamento de prdio onde exerce a atividade
comercial:
A locao no introduz qualquer alterao no contrato de
arrendamento, pois no h transmisso da propriedade do
estabelecimento (no h cesso da posio contratual)
Contudo, o senhorio teria que autorizar as cedncias do gozo do
imvel, mas a lei dispensa essa autorizao, por aplicao do
disposto no art. 1109, n. 1, e 1112, n. 2, do CC, se se tratar de
uma locao do estabelecimento (pressupondo a transmisso do
gozo de todos os seus elementos essenciais e manuteno do
mesmo ramo de actividade ou destino), caso contrrio, o senhorio
pode resolver o contrato de arrendamento alegando falta de
autorizao (art. 1083, n. 2, al. e) CC)
Obrigao implcita de no concorrncia
Tambm na locao se verifica a obrigao jurdica de no exercer,
direta ou indiretamente, uma atividade igual ou sucednea do
estabelecimento locado, no mesmo mbito de actuao territorial,
mas apenas durante um perodo de durao do contrato
-
ISCA-UA 2012/2013 Sumrios desenvolvidos de DIREITO COMERCIAL E DAS SOCIEDADES
25
CAP. IV TTULOS DE CRDITO
Noo o Ttulo de crdito um documento necessrio para exercer o direito literal e
autnomo nele mencionado
Documento
Documento escrito, em suporte de papel
O documento tem uma funo constitutiva do direito: pressuposto da existncia do direito, e imprescindvel para o seu exerccio e transferncia
Direito
Em regra, so direitos de crdito direitos relativos de carter obrigacional, que conferem ao seu titular o poder de exigir uma prestao mas tambm podem ser direitos reais (como o caso das guias de transporte de mercadorias) ou posies jurdicas correspondentes qualidade de membro de uma coletividade (aes das sociedades annimas)
O direito est incorporado no documento: o ttulo atribui ao seu possuidor a legitimao formal do direito, isto , a titularidade do ttulo que determina a titularidade do direito nele mencionado
Dizer que o direito incorporado literal significa que o direito existe nos termos mencionados no ttulo, quanto ao contedo, limites e modalidades
O direito incorporado autnomo, pois no pode ser restringido ou eliminado em virtude de relaes jurdicas anteriores entre o devedor e os anteriores possuidores do ttulo
A aquisio do direito titulado originria, no sentido de ser independente da existncia e extenso do direito na titularidade dos antecessores
Funo o Promover a circulao dos direitos, em especial, dos direitos de crdito o Proteger terceiros de boa f
Classificaes o Quanto ao contedo
Ttulos de participao (aes de sociedades annimas)
Ttulos representativos de mercadorias (guias de transporte)
Ttulos que incorporam o direito a uma prestao pecuniria (letras, livranas e cheques)
o Quanto ao modo de circulao
Nominativos ttulos endereados a uma pessoa determinada, que tem legitimidade exclusiva para o transmitir
ordem ttulos endereados a uma pessoa certa que podem ser transmitidos por endosso
Ao portador ttulos que no mencionam uma pessoa em concreto, transmitindo-se com a entrega material (transferncia da posse)
-
ISCA-UA 2012/2013 Sumrios desenvolvidos de DIREITO COMERCIAL E DAS SOCIEDADES
26
Espcies e regime
o Letra
Noo: ttulo de crdito que incorpora uma ordem de pagamento de determinada quantia em dinheiro dada por pessoa determinada (sacador) a outra (sacado) em favor de uma terceira (tomador) ou sua ordem ( ordem do prprio sacador)
Caratersticas:
Ttulo formal, que incorpora um direito autnomo, literal e abstrato:
o a titularidade do documento que determina a titularidade do direito incorporado
o O contedo, extenso e modalidades do crdito incorporado so os que resultam diretamente do ttulo
o A obrigao cambiria independente do negcio jurdico que lhe deu causa, pelo que no afetada por eventuais vcios desse negcio (invalidade, ineficcia, etc.)
o As pessoas acionadas em virtude de uma letra no podem opor ao portador legtimo e de boa f as excees fundadas nas relaes pessoais existentes com o sacador ou os anteriores possuidores da letra art. 17 LULL
Ttulo que incorpora um direito de crdito de natureza pecuniria direito a exigir o pagamento de uma certa quantia em dinheiro
Ttulo ordem circula por endosso: o tomador pode transmitir a letra a um terceiro (endossado), e este pode posteriormente endossa-la a outros terceiros
Requisitos formais do ttulo
O ttulo tem que conter: art. 1 LULL e Portaria 28/2000 de 27/01
o Nome, morada e NIF da pessoa emite a letra (sacador) o Local e data de emisso da letra o A palavra LETRA e a ordem de pagamento de uma
certa quantia em dinheiro na data de vencimento o A quantia a pagar (em numerrio e por extenso em
caso de divergncia, vale a quantia por extenso: art. 6 LULL)
o A data de vencimento da letra o O local de pagamento (NIB da conta bancria onde a
quantia deve ser debitada) o Assinatura do emitente da letra (sacador) o O nome, morada e NIF do devedor que deve pagar essa
quantia (sacado)
-
ISCA-UA 2012/2013 Sumrios desenvolvidos de DIREITO COMERCIAL E DAS SOCIEDADES
27
o O nome da pessoa a quem essa quantia deve ser paga (tomador) ou a indicao que letra emitida ordem do sacador
o Data do aceite e assinatura do aceitante (sacado) o Imposto de selo liquidado
A falta de algum destes requisitos gera a ineficcia da letra (exceto a data e lugar de pagamento e a data de emisso) art. 2 LULL
Letra em branco possvel emitir uma letra sem indicao do tomador, da quantia, da data e lugar de pagamento, desde que haja um acordo de preenchimento estabelecido entre sacador e sacado que legitime o preenchimento posterior da letra art. 10 LULL
Intervenientes principais (pessoas singulares ou coletivas)
O sacador emitente: a pessoa que d a ordem de pagamento; o sacador garante ao tomador e aos posteriores endossados que a ordem de pagamento ser aceite pelo sacado e ser por ele cumprida art. 9, n. 1, LULL
O sacado obrigado: a pessoa a quem dada a ordem para pagar; o sacado s assume a responsabilidade pelo pagamento atravs do aceite, depois de aceitar a letra, passa a designar-se de aceitante
O tomador beneficirio: a pessoa que vai receber o pagamento da quantia em dinheiro; a figura do tomador meramente eventual, uma vez que a ordem de pagamento pode ter como beneficirio o prprio sacador (letra ordem do sacador)
O endossado terceiro possuidor: pessoa que assume a posio de beneficirio, por endosso do tomador ou de um anterior endossado (endossante); cada endossado garante aos anteriores possuidores da letra (endossantes/endossados) que a letra ser aceite e paga pelo sacado
Atos relevantes
-
ISCA-UA 2012/2013 Sumrios desenvolvidos de DIREITO COMERCIAL E DAS SOCIEDADES
28
Saque declarao negocial atravs da qual o sacador emite a ordem de pagamento a cargo do sacado, garantindo que este assumir a responsabilidade por esse pagamento (aceite) e pagar a dvida ao tomador ou a um endossado posterior
o Modalidades de saque: art. 3 LULL Letra ordem do prprio sacador o sacador
tambm o beneficirio da letra (tomador) Letra sacada sobre o prprio sacador o
sacador emite a letra sobre si prprio ( simultaneamente sacador e sacado)
Letra sacada por ordem e conta de terceiro o tomador um terceiro
Aval garantia do cumprimento da obrigao titulada na letra, de carter pessoal, constituda por negcio jurdico, pela qual um terceiro assegura, de forma solidria, com todo o seu patrimnio, a obrigao titulada
o O aval pode garantir, no todo ou em parte, a dvida titulada na letra art. 30 LULL
o O aval expresso atravs da expresso bom para aval, escrita no verso da letra, com aposio da assinatura do avalista art. 31 LULL
o O aval deve indicar quem o avalisado (beneficirio do aval) - o aval pode garantir a obrigao do aceitante (sacado) ou a obrigao do sacador perante o portador da letra
o O avalista torna-se responsvel pela dvida titulada, podendo esta ser-lhe exigida; porm, caso pague a dvida do avalisado fica sub-rogado nos seus direitos art. 32 LULL
Aceite declarao negocial atravs da qual o sacado assume a obrigao de pagar a letra na data do seu vencimento, prometendo executar a ordem de pagamento que lhe foi dirigida (passa a ser aceitante)
o A letra pode ser apresentada ao sacado, para aceite, pelo portador, nos seguintes prazos:
at data de vencimento art. 21 LULL (letras vista)
em data fixa ou prazo estipulado para o aceite art. 22 LULL (letra com dia ou prazo certo)
no prazo de um ano a contar da data de emisso art. 23 LULL (letras a certo termo de vista)
o O aceite realizado por escrito na letra, nos campos para esse efeito, pela aposio da palavra aceite e a assinatura do aceitante (sacado) art. 25 LULL
o O aceite tem como efeito a assuno pelo sacado da obrigao de pagar a quantia titulada na data de vencimento art. 26 e 28 LULL
-
ISCA-UA 2012/2013 Sumrios desenvolvidos de DIREITO COMERCIAL E DAS SOCIEDADES
29
Protesto ato formal atravs do qual o sacado recusa o aceite ou o pagamento da letra
o O sacado no assume a responsabilidade pelo pagamento da letra (protesto por falta de aceite), ou que no paga a letra na data de vencimento (protesto por falta de pagamento) art. 44 LULL
O protesto por falta de aceite ou de pagamento deve ser comunicado a todos os endossantes e ao sacador sucessivamente art. 45 LULL
o Em caso de protesto, o sacador responsvel pelo pagamento da letra ao portador, mas, alm dele, so tambm solidariamente responsveis o aceitante, endossantes e avalistas art. 47 LULL
Endosso ato de transmisso da letra a outra pessoa, que passa a ser beneficirio (endossado)
o As letras so sempre transmissveis por endosso, exceto se o sacador emitir a letra com a indicao no ordem art. 11 LULL
o O endosso pode ser feito a um terceiro, mas tambm ao prprio sacado ou sacador, art. 11 LULL
o O endosso faz-se por escrito no verso da letra (ou em folha anexa), com a assinatura do endossante, podendo mencionar o nome do endossado ou valer como endosso em branco (neste caso, o beneficirio o portador da letra art. 16 LULL) art. 12 e 13 LULL
o O endosso tem como efeito a transmisso para o endossado de todos os direitos emergentes da letra, nos precisos termos que nela constam (no h endosso parcial) art. 12 e 14 LULL
o Com o endosso, o endossante passa a garantir, perante o endossado e os que se lhe vierem a seguir, a aceitao e pagamento da letra pelo sacado art. 15 LULL
Reforma substituio da letra por outra, com os mesmos intervenientes e contedo, com data de vencimento posterior; a reforma pode ser total, se o valor da letra nova igual ao da letra reformada (acrescendo juro), ou parcial, se o montante da letra nova inferior ao da letra reformada (em caso de pagamento parcial)
Desconto adiantamento do valor titulado na letra, antes do seu vencimento, efetuado por uma instituio bancria ao portador da letra (tomador ou endossado)
Vencimento e pagamento
Modalidades: art. 33 LULL o vista a letra paga mediante apresentao a
pagamento, em qualquer dia, dentro do prazo de 1 ano a contar da data de emisso art. 34 LULL
-
ISCA-UA 2012/2013 Sumrios desenvolvidos de DIREITO COMERCIAL E DAS SOCIEDADES
30
o A certo termo de vista a letra deve ser paga depois de decorrido certo prazo sobre a data do aceite (ou do protesto) art. 35 LULL
o A certo termo de data a letra deve ser paga depois de decorrido certo prazo estipulado entre as partes art. 36 LULL
o Em dia fixo a letra deve ser paga na data estipulada
Pagamento o A letra deve ser apresentada a pagamento na data de
vencimento, ou nos 2 dias teis seguintes art. 38 LULL
o O portador no pode ser obrigado a receber o pagamento antes da data de vencimento art. 40 LULL
o O portador no pode recusar um pagamento parcial da quantia titulada art. 39 LULL
Quitao: o sacado que paga a quantia titulada tem o direito de exigir, alm de um documento comprovativo do pagamento (recibo de quitao), o original da letra art. 39 LULL
Falta de pagamento
Em caso de falta de pagamento da letra na data de vencimento, o seu portador pode agir judicialmente contra o sacado, o sacador, os endossantes e os avalistas art. 43 LULL (e mesmo antes da data de vencimento, em caso de insolvncia do sacado, por exemplo)
O portador da letra (mesmo sendo o sacador) tem o direito de exigir do aceitante (sacado) a quantia titulada na letra aceite e no paga na data de vencimento, com juros taxa de 6% desde a data do vencimento at efetivo e integral pagamento, e as despesas bancrias que teve de suportar art. 28 e 48 LULL
A pessoa que pagou a letra tem o direito de exigir dos seus garantes, alm do que pagou, juros taxa de 6% ao ano desde a data que pagou at efetivo e integral pagamento, e as despesas que teve de suportar art. 49 LULL
Se a letra no paga na data de vencimento, o portador passa a ter na sua posse um ttulo executivo, isto , um documento comprovativo da existncia e montante do valor da dvida que lhe permite instaurar diretamente uma ao executiva destinada a penhorar e vender os bens do patrimnio dos obrigados (sem necessidade de prvia ao declarativa)
Porm, o portador tem o nus de instaurar as aes judiciais destinadas a executar o patrimnio dos obrigados nos seguintes prazos, sob pena de prescrio: art. 70 LULL
o As aes contra o aceitante (sacado) prescrevem no prazo de 3 anos a contar da data de vencimento
o As aes do portador contra o sacador e os endossantes prescrevem no prazo de um ano a contar do protesto ou da data de vencimento da letra
-
ISCA-UA 2012/2013 Sumrios desenvolvidos de DIREITO COMERCIAL E DAS SOCIEDADES
31
o As aes dos endossantes uns contra os outros e contra o sacador prescrevem no prazo de 6 meses a contar da data de pagamento ou em que foi acionado
o Livrana
Noo: ttulo de crdito que enuncia uma promessa de pagamento de uma quantia certa, na data de vencimento estipulada, feita pelo subscritor a favor de pessoa determinada ou ordem desta (tomador)
Requisitos formais
O ttulo tem que conter: art. 75 LULL o Nome e morada da pessoa emite a livrana (subscritor) o Local e data de emisso da livrana o A palavra LIVRANA e a promessa de pagamento de
uma certa quantia em dinheiro na data de vencimento o A quantia a pagar (em numerrio e por extenso) o A data de vencimento da livrana o O local de pagamento (NIB da conta bancria onde a
quantia deve ser debitada) o Assinatura do emitente da livrana (subscritor) o O nome da pessoa a quem ou ordem de quem essa
quantia deve ser paga (tomador) o Imposto de selo liquidado
Intervenientes principais:
O subscritor emitente: a pessoa que promete pagar; o subscritor garante ao tomador e aos posteriores endossados que cumprir a promessa de ordem de pagamento art. 78 LULL
O tomador beneficirio: a pessoa que vai receber o pagamento da quantia em dinheiro
O endossado terceiro possuidor: pessoa que assume a posio de beneficirio, por endosso do tomador ou de um anterior endossado (endossante); cada endossado garante aos anteriores possuidores o seu pagamento
-
ISCA-UA 2012/2013 Sumrios desenvolvidos de DIREITO COMERCIAL E DAS SOCIEDADES
32
Regime a livrana regulada subsidiariamente pelo regime das letras no que toca a: art 77 LULL
Endosso
Vencimento
Pagamento
Falta de pagamento e prescrio
Aval
o Cheque
Noo: ttulo de crdito que enuncia uma ordem de pagamento que se dirige a uma instituio bancria que detm proviso do emitente, a favor do emitente ou de terceiros
O cheque um ttulo que incorpora um direito autnomo e literal o que significa que no podem ser opostas ao portador as excees derivadas das relaes pessoais existentes com o sacador art. 22 LUC
Conveno de cheque contrato entre o depositante e o banco que permite que certa conta bancria de depsitos, ordem ou a prazo, seja movimentada atravs de cheque (esta conveno pode ser posteriormente revogada pelo banco, se o cliente emitir cheques sem proviso e no proceder sua regularizao no prazo dado para o efeito, ou se o seu nome constar da listagem de utilizadores de risco detida pelo Banco de Portugal) art. 3 LUC
Requisitos formais:
O cheque deve conter, segundo o art. 1 LUC: o Identificao de quem deve pagar (banco sacado) o Local de pagamento nmero de conta bancria, e
balco o A palavra cheque e o mandato de pagar uma quantia
determinada (pague por este cheque) o Quantia a pagar (em numerrio e por extenso em caso
de divergncia, vale a quantia por extenso- art. 9 LUC) o Local e data de emisso o O nome ordem de quem o pagamento deve ser pago
(tomador) o Assinatura do emitente (sacador)
A falta de algum destes requisitos torna o cheque ineficaz como ttulo de crdito, com exceo de lugar de pagamento e local de emisso art. 2 LUC
O cheque passado em branco, designadamente quanto quantia, data e local de emisso, vlido e eficaz, desde que as partes tenham celebrado entre si um acordo de preenchimento que legitime o beneficirio a introduzir essas informaes art. 13 LUC
Intervenientes principais:
-
ISCA-UA 2012/2013 Sumrios desenvolvidos de DIREITO COMERCIAL E DAS SOCIEDADES
33
Sacado o banco que detm, em depsito, o dinheiro do sacador
Sacador emitente do cheque; pessoa que d a ordem ao banco (sacado) para pagar certa quantia nele depositada
o O sacador o responsvel pelo cumprimento da dvida, garantindo o seu pagamento art. 12 LUC
Tomador- beneficirio do cheque (pode ser um terceiro ou o prprio sacador)
o Formas de emisso relativamente ao beneficirio: art. 5 e 14 LUC
ordem de determinada pessoa (tomador) o cheque pode ser transmitido por endosso
A determinada pessoa no ordem o cheque no pode ser endossado
Ao portador sem indicao do tomador ou com indicao ao portador
Atos relevantes:
Saque o cheque pode ser emitido ordem do prprio sacador ou de terceiro art. 6 LUC
Endosso o cheque ordem pode ser transmitido por endosso art. 14 LUC
o O endosso deve ser efetuado por escrito, mediante a assinatura do endossante no verso do cheque art. 16 LUC
o O endosso pode ser feito a uma pessoa certa, designada no verso do cheque, ou ao portador, que passa a ser o seu portador legtimo art. 15, 16 e 17 LUC, art. 19 LUC
o O endosso transfere para o endossado todos os direitos resultantes do cheque art. 17 LUC
o O endossante garante ao endossado, e sucessivos portadores, o pagamento do cheque art. 18 LUC
Aval o pagamento do cheque tambm pode ser garantido por outra pessoa, o avalistas, que passa a responder solidariamente pelo cumprimento da dvida com todo o seu patrimnio art. 25 e 27 LUC, e art. 44 LUC
o O aval dado por escrito, no verso do cheque, pela expresso bom para aval seguida da aposio da assinatura do avalista que garante o pagamento do cheque art. 26 LUC
Pagamento
O cheque um meio de pagamento vista, o que significa que deve ser pago depois de apresentado a pagamento no banco sacado art. 28 LUC
O cheque deve ser apresentado a pagamento no prazo de 8 dias a contar da data de emisso art. 29 LUC
-
ISCA-UA 2012/2013 Sumrios desenvolvidos de DIREITO COMERCIAL E DAS SOCIEDADES
34
Cheque pr-datado o sacador e o tomador podem convencionar entre si uma data de pagamento do cheque no futuro, porm, o banco no se pode recusar a pagar o cheque apresentado a pagamento antes da data pr-definida art. 29 LUC
Cheque cruzado o cheque cruzado s pode ser pago ao balco do banco sacado se o portador for seu cliente, caso contrrio, tem de ser obrigatoriamente depositado noutra instituio bancria art. 37 e 38 LUC
Falta de pagamento
O banco sacado s obrigado a pagar o cheque se o sacador tiver proviso suficiente na conta bancria associada; porm, a lei determina que o banco sacado seja obrigado a pagar os cheques emitidos de valor igual ou inferior a 150,00, desde que apresentados no prazo de 8 dias a contar da data de emisso, mesmo que o sacador no tenha proviso para o efeito
Em caso de falta de pagamento do cheque, o seu portador pode agir judicialmente contra o sacador, os endossantes e os avalistas art. 40 LUC
A pessoa que pagou o cheque tem o direito de exigir dos outros responsveis, alm do que pagou, juros taxa de 6% ao ano desde a data que pagou at efetivo e integral pagamento, e as despesas que teve de suportar art. 46 LUC
O cheque, como os restantes ttulos de crdito, um ttulo executivo, servindo de base documental para instaurar uma execuo contra o sacador e outros responsveis solidrios destinada a realizar coativamente a dvida titulada e no paga
Porm, o portador tem o nus de instaurar as aes judiciais destinadas a executar o patrimnio dos obrigados no prazo de seis meses a contar da data da apresentao a pagamento, sob pena de prescrio: art. 52 LUC
-
ISCA-UA 2012/2013 Sumrios desenvolvidos de DIREITO COMERCIAL E DAS SOCIEDADES
35
CAP. V - INSOLVNCIA E RECUPERAO DE EMPRESAS
Livro, pg. 391 a 404
Consideraes gerais sobre insolvncia
o A insolvncia definida como a situao de impossibilidade do cumprimento de
obrigaes vencidas pelo devedor, que fundamenta a aplicao de medidas no
mbito de um processo judicial de insolvncia destinadas a satisfazer os direitos
dos credores
o O processo de insolvncia tem por finalidade a satisfao dos direitos dos
credores do insolvente, a qual se consegue pela execuo de um plano de
insolvncia destinado recuperao econmica da empresa insolvente, ou,
quando tal no seja possvel, por via da liquidao do patrimnio do devedor e
repartio do produto obtido pelos credores (execuo universal) art. 1 CIRE
o A insolvncia verifica-se em relao a pessoas singulares e coletivas, quer sejam,
ou no, comerciantes
o A insolvncia veio substituir a falncia, instituto jurdico semelhante que vigorou
at 2004, aplicvel apenas a comerciantes, pelo que, sistematicamente, se
continua a pertencer ao domnio do Direito Comercial, apesar do seu mbito
subjetivo
o A situao e o processo de insolvncia esto regulados no CIRE (Dl 53/2004 de
18 de Maro de 2004) com as alteraes e aditamentos introduzidos pela Lei
16/2012 de 20 de Abril
Quem pode ser declarado insolvente art. 2 CIRE
Pessoas singulares comerciantes em nome individual e no comerciantes
Pessoas coletivas sociedades comerciais, sociedades civis sob a forma
comercial, cooperativas, associaes e fundaes
Patrimnios autnomos EIRL, herana jacente e outros patrimnios
autnomos
Organizaes de pessoas e bens sem personalidade jurdica sociedades civis,
sociedades comerciais no registadas, etc.
A situao de insolvncia art. 3 e 20 CIRE
A insolvncia verifica-se em 2 situaes:
quando o devedor (pessoa singular ou coletiva) que no tem possibilidade
de cumprir as suas obrigaes vencidas art. 3, n. 1, do CIRE, ou seja, o
devedor no capaz de satisfazer obrigaes que, pelo seu significado ou
circunstncias, evidenciem a impotncia de satisfao da generalidade das
dvidas
-
ISCA-UA 2012/2013 Sumrios desenvolvidos de DIREITO COMERCIAL E DAS SOCIEDADES
36
nas pessoas coletivas e nos patrimnios autnomos (como o caso do EIRL)
por cujas dvidas nenhuma pessoa responda pessoal e ilimitadamente,
quando o passivo manifestamente superior ao ativo, avaliados segundo o
SNC e nos termos do art. 3, n. 3 CIRE art. 3, n. 2 CIRE
A situao de insolvncia indiciada pelas circunstncias previstas no art. 20,
n. 1, do CIRE, designadamente:
Suspenso generalizada das obrigaes vencidas
Falta de cumprimento de uma ou mais obrigaes que, pelo seu montante
ou circunstncias, revele a impossibilidade de satisfao pontual das
obrigaes do devedor
Incumprimento generalizado, nos ltimos seis meses, de dvidas tributrias
(fiscais), de dvidas Segurana Social, de dvidas laborais (dos
trabalhadores), de dvidas decorrentes da locao ou aquisio das
instalaes da sede ou residncia (arrendamento, locao financeira,
compra e venda e mtuo com hipoteca)
Insuficincia de bens penhorveis para pagamento de dvida exequenda,
verificada em processo de execuo movido contra o devedor
Fuga do titular da empresa ou abandono das instalaes
Dissipao e liquidao apressada ou ruinosa de bens e constituio fictcia
de crditos
Incumprimento das obrigaes previstas em plano de insolvncia ou plano
de pagamentos
Manifesta superioridade do passivo sobre o ativo, segundo o ltimo
balano aprovado, ou atraso superior a 9 meses na aprovao e depsito
das contas apenas em caso de pessoas coletivas e patrimnios autnomos
O processo judicial de insolvncia e de recuperao de empresas
Processo judicial com carter urgente que corre os seus termos nos tribunais do
comrcio (jurisdio comercial)
Iniciativa processual art. 18 e 20 CIRE
O devedor insolvente - o devedor tem o dever de se apresentar
insolvncia no prazo de 30 dias a contar da data em que conhece, ou
devia conhecer, a sua situao de insolvncia (salvo pessoas singulares
que no sejam titulares de uma empresa) no caso de pessoas coletivas,
a insolvncia tem de ser pedida pelos seus administradores
Terceiro responsvel, nos termos da lei, pelas dvidas do devedor
Qualquer credor do insolvente
Ministrio Pblico
A sentena de declarao de insolvncia e os seus efeitos art. 36 e 81 e ss CIRE
Requerida a insolvncia, o tribunal cita o devedor para se opor ao pedido
de insolvncia (caso no tenha sido ele a pedi-la); se o devedor se opuser,
-
ISCA-UA 2012/2013 Sumrios desenvolvidos de DIREITO COMERCIAL E DAS SOCIEDADES
37
o tribunal aprecia as provas apresentadas pelas partes e s depois decide
se se verifica, ou no, a situao de insolvncia invocada
O tribunal profere uma deciso definitiva em que declara a insolvncia do
devedor sentena de declarao de insolvncia art. 36 CIRE
Publicidade da insolvncia: a sentena obrigatoriamente notificada aos
interessados, publicada na internet, no portal dos tribunais
(www.citius.tribunaisnet.mj.pt), e registada nas Conservatrias do Registo
Civil, Comercial e Predial competentes
A sentena nomeia sempre um administrador de insolvncia - profissional
liberal que exerce funes por conta do tribunal - art. 52 e 55 CIRE
A sentena determina a apreenso imediata da contabilidade do
insolvente e dos seus bens art. 36 CIRE
Efeitos da sentena de declarao de insolvncia:
O insolvente perde os poderes de administrao e disposio
sobre os seus bens art. 81 CIRE
Todas as aes judiciais que estiverem pendentes contra o
insolvente so apensadas ao processo de insolvncia- art. 85
CIRE
Exerccio dos direitos dos credores do insolvente exclusivamente
no processo de insolvncia art 90 CIRE
Vencimento de todas as obrigaes do insolvente no
subordinadas a condio suspensiva art. 91 CIRE
Suspenso dos negcios jurdicos em curso de que o insolvente
seja parte art. 102 CIRE
Interveno dos credores do insolvente
So credores da insolvncia os titulares de direitos de crdito constitudos
antes da declarao de insolvncia art. 47 CIRE
Os credores do insolvente so chamados a intervir no processo, para
tomar decises sobre o futuro do insolvente: os credores constituem a
assembleia de credores, que delibera sobre o encerramento ou
manuteno da actividade dos estabelecimentos do insolvente art.72 e
156 do CIRE
Os credores da insolvncia que pretendam ver os seus crditos satisfeitos
devem reclam-los no processo de insolvncia, no prazo fixado na
sentena de insolvncia a reclamao de crditos feita atravs de
requerimento escrito dirigido ao administrador de insolvncia, em que o
credor alega ser titular de um crdito sobre o insolvente, e refere a sua
origem, data de vencimento, montante de capital e juros, natureza, e a
existncia de garantias reais e pessoais que o garantam o seu
cumprimento; este requerimento remetido por carta postal registada ou
correio eletrnico ao administrador de insolvncia art. 128 CIRE
-
ISCA-UA 2012/2013 Sumrios desenvolvidos de DIREITO COMERCIAL E DAS SOCIEDADES
38
S sero pagos no processo de insolvncia os credores que tenham
reclamado o seu crdito sobre o devedor insolvente, segundo a ordem
estabelecida na sentena de verificao e graduao de crditos art.
172 CIRE
Aprovao de plano de insolvncia
Na assembleia de credores, os credores do insolvente so chamados a apreciar
o relatrio elaborado pelo administrador de insolvncia e tomar posio sobre a
viabilidade da continuao da atividade da empresa do insolvente caso
entendam que possvel recuperar a empresa, devem aprovar um plano de
insolvncia, que ser executado pelo administrador de insolvncia art. 192 e
seguintes do CIRE
A liquidao do patrimnio do insolvente
Chama-se massa insolvente ao conjunto de bens suscetveis de penhora
integrantes do patrimnio do insolvente na data da declarao de
insolvncia abrange todo o patrimnio do devedor (garantia geral das
obrigaes)- art. 46, n. 1, CIRE
Caso a empresa seja irrecupervel, procede-se liquidao dos bens da
massa insolvente, os quais so vendidos pelo administrador de insolvncia
pelo melhor preo art. 158, n. 1, CIRE
Pagamento aos credores art. 172 e ss CIRE
Os crditos sobre a insolvncia so verificados e graduados pelo tribunal
(art. 140 CIRE) segundo a sua natureza (art. 47, n. 2, CIRE): os crditos
garantidos e privilegiados (beneficiam de garantias reais sobre bens da
massa insolvente) so pagos em primeiro lugar, segundo a sua prioridade,
pelo valor dos bens com garantia real, depois so pagos os crditos
comuns (proporcionalmente, caso o produto obtido no chegue para
pagar a todos) e, em ltimo lugar, caso sobre alguma coisa, so pagos os
crditos subordinados (os previstos no art. 48 CIRE, com especial relevo
os crditos dos scios por suprimentos sociedade)
O encerramento do processo art. 230, 233 e 234 CIRE
Distribudo o produto da venda dos bens do insolvente, ou homologado
pelo tribunal o plano de insolvncia, o processo judicial termina com um
despacho de encerramento do juiz art. 230 CIRE
Aps o encerramento do processo, cessam os efeitos da declarao de
insolvncia- art. 233 CIRE
Os crditos sobre o insolvente que no forem pagos no processo de
insolvncia mantm-se, aps o despacho de encerramento (salvo em caso
de exonerao do passivo restante de pessoas singulares art. 235 CIRE)
Efeitos do encerramento sobre pessoas singulares: o insolvente recupera
os poderes de livre administrao e disposio dos bens que vierem a
integrar o seu patrimnio, salvo em caso de insolvncia dolosa- art. 233
CIRE
-
ISCA-UA 2012/2013 Sumrios desenvolvidos de DIREITO COMERCIAL E DAS SOCIEDADES
39
Efeitos do encerramento sobre sociedades comerciais: se o processo de
insolvncia encerrar com a homologao do plano de insolvncia, a
sociedade prossegue a sua atividade comercial nos termos previstos; se o
processo terminar com a liquidao do patrimnio da sociedade, a
sociedade extingue-se e o seu registo comercial cancelado - art. 234
CIRE
o Processo especial de revitalizao
A lei 16/2012 de 20 de Abril veio aditar ao CIRE os artigos 17-A a 17 -I,
criando o processo especial de revitalizao
Este processo especial de revitalizao visa a recuperao de um
devedor que se encontre em situao econmica difcil ou em situao
iminente de insolvncia, atravs do estabelecimento de negociaes
com os credores de modo a concluir um acordo geral que conduza sua
revitalizao
Trata-se de um procedimento judicial, que corre no tribunal do comrcio
competente, que se inicia por um requerimento subscrito pelo devedor
e, pelo menos, por um dos seus credores, em que estes manifestam a
sua vontade em encetar negociaes para aprovar um plano de
recuperao
Na sequncia do requerimento, o tribunal nomeia um administrador
judicial provisrio
Os credores so chamados ao processo por meio de carta registada, e
tm 20 dias para reclamar os seus crditos atravs de requerimento
dirigido ao administrador judicial
Se, aps a negociao entre o devedor e os credores, mediada pelo
administrador judicial, os credores aprovarem, por unanimidade ou
maioria, um plano de recuperao do devedor, este homologado pelo
juiz e passa a vincular todos os credores, mesmo os que no tenham
participado no processo; se no houver acordo, o processo encerrado,
e, se o devedor j estiver em situao de insolvncia, esta
imediatamente declarada pelo tribunal
A pendncia deste processo especial obsta instaurao de quaisquer
aes de cobrana judicial contra o devedor e suspende as que ento
estiverem pendentes, e impede o devedor de praticar atos patrimoniais
de relevo sem autorizao do administrador judicial
-
ISCA-UA 2012/2013 Sumrios desenvolvidos de DIREITO COMERCIAL E DAS SOCIEDADES
40
PARTE II - DIREITO DAS SOCIEDADES
CAP. I AS SOCIEDADES COMERCIAIS
Livro, pg. 115 a 148
A palavra sociedade pode ter vrios significados: pode identificar um tipo de pessoas
coletivas, referir-se ao negcio jurdico constitutivo ou ainda relao contratual que dele
deriva
Muitas vezes, fala-se indistintamente em empresa e sociedade, porm, no so exatamente
sinnimos: a sociedade o sujeito e a empresa o objeto, assim:
o A sociedade existe como comerciante desde a data do registo definitivo, sem
necessidade da prtica de qualquer ato (pode existir sociedade sem empresa)
o A sociedade pode celebrar negcios sobre a empresa (trespasse, cesso de
explorao...)
o A sociedade pode ter patrimnio que no integra a empresa, por no estar afeto
explorao da atividade comercial
Vamos utilizar a palavra sociedade para identificar um tipo de pessoas coletivas
comerciantes
o Vantagens da constituio de sociedades comerciais:
congregao de meios financeiros e capacidade de gesto
instrumento de autonomizao de atividades e patrimnios
vantagens da limitao de responsabilidade por dvidas decorrentes da
atividade comercial
Conceito
o Sociedade comercial uma pessoa coletiva constituda por um contrato mediante o
qual duas ou mais pessoas se obrigam a contribuir com bens ou servios para o
exerccio em comum de uma atividade comercial, a fim de repartirem entre si os
lucros da resultantes, e que adota uma forma prevista na lei comercial (CSC)- art.
980 CC e 1, n. 2, CC
o As sociedades comerciais so comerciantes, nos termos do art. 13, n. 2, Ccom
o Elementos
Pessoal
Entidade constituda por uma pluralidade de pessoas (scios)
Os scios podem ser pessoas singulares ou coletivas
Exceo- sociedades unipessoais:
o Sociedades unipessoais por quotas- art. 270 e ss. CSC
So sociedades por quotas com um nico scio, que
pode ser uma pessoa singular (mas 1 pessoa
singular s pode ser scia nica de 1 sociedade
unipessoal) ou coletiva
ASUJSRealce
ASUJSRealce
ASUJSRealce
ASUJSRealce
ASUJSRealce
ASUJSRealce
ASUJSRealce
ASUJSRea