sumarios dcs 2012

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UNIVERSIDADE DE AVEIRO INSTITUTO SUPERIOR DE CONTABILIDADE E ADMINISTRAÇÃO 2012/2013 MARIA JOÃO MACHADO ANA CAROLINA SEQUEIRA SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS DE DIREITO COMERCIAL E DAS SOCIEDADES PARTE I DIREITO COMERCIAL CAP. I DIREITO COMERCIAL Livro, pág. 13 a 35 1. Direito Comercial Noção o conjunto de normas e princípios jurídicos que, no domínio do direito privado, regem os factos e as relações jurídicas comerciais (relações entre comerciantes e atos de comércio) Objecto o O direito comercial disciplina a atividade comercial segundo duas perspetivas: Numa conceção objetiva, dirige-se aos atos de comércio, como atos estruturantes da vida comercial, abstraindo da qualidade de comerciante de quem os pratica Numa conceção subjetiva, regula as relações jurídicas entre comerciantes no exercício da sua profissão comercial, e outros aspectos relacionados com a sua atividade profissional (como por exemplo a escrituração, a organização e governo das sociedades, o estatuto dos comerciantes, registos, etc.) o O art. 1º do CCom parece apontar numa direção objetivista, ao preceituar que o direito comercial rege os atos de comércio independentemente da qualidade de quem os pratica, porém, a noção formal de atos de comércio constante do art. 2º do CCom revela a adoção de uma posição mista, simultaneamente objetivista (atos de comércio objetivos) e subjetivista (atos de comércio subjetivos)

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direito das sociedades comercias sumarios desenvolvidos ( primeiro ano de contabilidade)

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  • UNIVERSIDADE DE AVEIRO INSTITUTO SUPERIOR DE CONTABILIDADE E ADMINISTRAO

    2012/2013

    MARIA JOO MACHADO ANA CAROLINA SEQUEIRA

    SUMRIOS DESENVOLVIDOS

    DE

    DIREITO COMERCIAL E DAS SOCIEDADES

    PARTE I DIREITO COMERCIAL

    CAP. I DIREITO COMERCIAL

    Livro, pg. 13 a 35

    1. Direito Comercial

    Noo

    o conjunto de normas e princpios jurdicos que, no domnio do direito privado,

    regem os factos e as relaes jurdicas comerciais (relaes entre comerciantes

    e atos de comrcio)

    Objecto

    o O direito comercial disciplina a atividade comercial segundo duas perspetivas:

    Numa conceo objetiva, dirige-se aos atos de comrcio, como atos

    estruturantes da vida comercial, abstraindo da qualidade de

    comerciante de quem os pratica

    Numa conceo subjetiva, regula as relaes jurdicas entre

    comerciantes no exerccio da sua profisso comercial, e outros aspectos

    relacionados com a sua atividade profissional (como por exemplo a

    escriturao, a organizao e governo das sociedades, o estatuto dos

    comerciantes, registos, etc.)

    o O art. 1 do CCom parece apontar numa direo objetivista, ao preceituar que o

    direito comercial rege os atos de comrcio independentemente da qualidade de

    quem os pratica, porm, a noo formal de atos de comrcio constante do art.

    2 do CCom revela a adoo de uma posio mista, simultaneamente objetivista

    (atos de comrcio objetivos) e subjetivista (atos de comrcio subjetivos)

  • ISCA-UA 2012/2013 Sumrios desenvolvidos de DIREITO COMERCIAL E DAS SOCIEDADES

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    mbito

    o O conceito de comrcio utilizado pelo direito comercial muito mais amplo do

    que a noo econmica de comrcio:

    abrange no s o comrcio concretizado nas atividades de

    intermediao nas trocas na cadeia econmica do produtor para o

    consumidor

    mas tambm outras atividades econmicas:

    a indstria (setor secundrio)

    o exceto

    as pequenas indstrias domsticas cuja

    laborao seja assegurada exclusivamente pelo

    prprio (art. 230, n. 1 CCom)

    as indstrias de artesanato (art. 230, 1, Ccom)

    as prestaes de servios (setor tercirio)

    o exceto as realizadas por profissionais liberais no

    exerccio da sua atividade, tendo em conta que estes

    prestam servios individualizados e irrepetveis que

    dependem diretamente dos seus conhecimentos

    tcnicos e cientficos e se baseiam numa relao de

    especial confiana com o cliente, sendo regulados por

    ordens profissionais prprias

    o e tambm as prestaes de servios e venda de bens

    realizadas por artistas e artesos (art. 230, 1 e 3,

    Ccom)

    alm das j referidas, excluem-se igualmente as atividades

    econmicas do setor primrio, a saber: agricultura, pecuria, e

    indstrias extrativas (art. 230, 1 e 2 Ccom)

    Integrao sistemtica

    o O direito comercial um ramo do direito privado (os sujeitos destinatrios esto

    num plano de igualdade, e o Estado no assume as suas prerrogativas de

    autoridade face aos particulares)

    o Trata-se de um ramo de direito especial, que se autonomizou do direito civil em

    funo das necessidades e exigncias especficas da atividade comercial, e que

    depois se alargou a outras atividades econmicas

    o Em razo da sua especialidade, o direito comercial tem como direito subsidirio

    ou comum o direito civil

    Evoluo histrica

    o O nascimento do direito comercial remonta Idade Mdia, tendo surgido em

    Itlia, no sculo XII

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    o No sc. XVI, os descobrimentos vieram impulsionar o direito comercial

    o Depois de centralizado o poder legislativo no monarca, o direito comercial

    passou a constar de legislao de mbito nacional, e, com a poca liberal, foi

    condensado em cdigos que pretendiam esgotar todos os seus preceitos:

    Em Portugal, tivemos o primeiro Cdigo Comercial em 1833 (Cdigo de

    Ferreira Borges) e o segundo em 1888 (Cdigo de Veiga Beiro), o qual

    se mantm at hoje (apesar de muitas alteraes e da existncia de

    numerosa legislao extravagante)

    o As ltimas tendncias comercialistas vo no sentido de considerar a empresa

    como centro da regulao jurdica

    2. Fontes

    Fontes internas:

    o A lei

    A Constituio - arts. 61, 81, 82, 86, 99, 100 e 296 CRP (embora

    as normas com carter comercial tenham um relevo programtico,

    referindo-se essencialmente ao sistema econmico de mercado e livre

    concorrncia e propriedade dos meios de produo)

    Leis e Decretos-leis - Cdigo Comercial, Cdigo das Sociedades

    Comerciais, Cdigo dos Valores Mobilirios, Cdigo da Insolvncia e

    Recuperao de Empresas, Cdigo da Propriedade Industrial, etc....

    o O costume e os usos

    Historicamente, o costume, como prtica reiterada e constante mantida

    no tempo por lhe ser atribudo carter obrigatrio, foi uma importante

    fonte de direito comercial, mas no nosso sistema legislativo atual

    perdeu importncia

    Os usos do comrcio so tambm atos praticados no exerccio do

    comrcio com regularidade e constncia, mas no tm natureza jurdica,

    pelo que s adquirem fora normativa por via de remisso legal, isto ,

    s valem se a lei remeter para eles

    Fontes externas:

    o Convenes internacionais - em particular, as Convenes de Genebra de 1930-

    LULL- e 1931 -LUC

    o Diretivas e Regulamentos da Unio Europeia

    3. Interpretao e integrao de lacunas

    Interpretao

    o a lei comercial interpretada segundo as regras gerais previstas no art. 9 do

    CC, por remisso implcita do art. 3 do Ccom (na parte em que apela letra e

    esprito da lei)

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    Integrao de lacunas

    o antes de mais, necessrio verificar se existe realmente uma lacuna em sentido

    prprio, isto , se o caso comercial que necessita de regulao no encontra

    uma resposta adequada no sistema jurdico globalmente compreendido; assim,

    s existe lacuna se no houver uma norma civil que se lhe aplique, ou se as

    normas do direito civil aplicveis no forem adequadas para resolver o caso,

    tendo em conta que o direito civil subsidirio do direito comercial

    o os casos omissos que constituam verdadeiras lacunas so integrados segundo o

    art. 3 Ccom, por recurso analogia legis, aplicando-se-lhes a norma de direito

    comercial que regule casos anlogos, ou, se esta no existir, a norma civil que

    regule casos anlogos; se no houver quaisquer casos anlogos, ser criada uma

    norma ad hoc segundo os cnones do art. 10, n. 3, do C

    CAP. II O ATO DE COMRCIO

    Livro, pg. 405 a 424, e 425 a 436

    1. O ato de comrcio

    Noo

    o no h uma definio material unitria de ato de comrcio, pela

    heterogeneidade que estes revestem

    referimo-nos a ato em sentido amplo, abrangendo:

    factos jurdicos naturais (por exemplo, o decurso do tempo na

    prescrio)

    simples atos jurdicos (por exemplo a inveno, a reclamao

    por defeitos)

    negcios jurdicos (em particular, os contratos)

    o nos termos do art. 2 do CCom, so atos de comrcio todos aqueles que se

    acharem especialmente regulados neste cdigo e, alm deles, todos os

    contratos e obrigaes dos comerciantes que no forem de natureza

    exclusivamente civil, se o contrrio do prprio acto no resultar o art. 2

    abarca, assim, dois tipos de atos de comrcio:

    Atos objetivamente comerciais

    o carter comercial destes atos decorre de circunstncias

    objetivas que se prendem com os especficos interesses do

    comrcio

    atos regulados pelo Cdigo Comercial, mas tambm atualmente

    noutras leis de natureza comercial

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    o compra e venda comercial, mandato comercial, fiana

    comercial, penhor mercantil, etc.

    o atos tpicos das atividades comerciais previstas no art.

    230 do Ccom: indstria, fornecimento de gneros,

    agenciamento de negcios ou leiles, explorao de

    espectculos pblicos, edio e venda de obras

    literrias, construo civil, transportes)

    Atos subjetivamente comerciais

    A comercialidade destes atos deriva da qualidade de

    comerciante dos sujeitos que os praticam e ainda da sua relao

    direta ou indireta com a atividade por estes explorada (atos

    praticados pelos comerciantes no exerccio do seu comrcio ou

    relacionados esse exerccio)

    Pressupostos:

    o atos praticados por um comerciante

    a pessoa que pratica o ato tem que ser

    comerciante, luz dos critrios do art. 13 do

    CCom

    o que no tenham natureza exclusivamente civil

    no so conexionveis com o comrcio por

    serem atos de natureza exclusivamente pessoal

    ou extrapatrimoniais

    o de cujas circunstncias no resulte a sua no ligao

    com o exerccio do seu comrcio

    isto , no h motivos objetivos (que se

    prendem com o ato em si e com as

    circunstncias negociais) que nos levem a

    considerar que o ato no tem qualquer relao

    com o exerccio da atividade concretamente

    explorada pelo comerciante que o praticou

    o em caso de dvida, deve presumir-se essa ligao (presuno de comercialidade

    dos atos praticados por comerciante)

    Classificaes

    o Atos de comrcio absolutos e acessrios:

    Absolutos

    atos gerados e tipificados pela vida comercial, pelo que so

    comerciais por natureza:

    o atos tpicos das atividades previstas no art. 230 Ccom,

    atos de intermediao nas trocas, atividades industriais,

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    atividades financeiras, bancrias e de seguros, contratos

    aleatrios como jogo e aposta, prestaes de servios

    o atos que devem a sua comercialidade ao objeto

    (negcios relativos ao estabelecimento comercial, como

    trespasse e cesso de explorao)

    o atos que devem a comercialidade forma (letras,

    livranas e cheques)

    Acessrios

    atos que devem a sua comercialidade ao facto de estarem

    ligados a um ato de comrcio absoluto ou a uma atividade

    comercial

    o fiana, mandato, penhor, emprstimo, e depsito

    comerciais

    o Atos substancialmente comerciais e atos formalmente comerciais:

    Substancialmente comerciais

    atos com contedo comercial

    Formalmente comerciais

    Atos que assumem uma forma estritamente comercial,

    abstraindo do seu contedo

    o ttulos de crdito: letras, livranas e cheques

    o Atos bilateralmente comerciais e atos unilateralmente comerciais:

    bilateralmente comerciais

    a comercialidade (objetiva ou subjetiva) verifica-se em relao a

    ambas as partes

    unilateralmente comerciais

    o ato s comercial em relao a uma das partes; quanto

    outra, no se verificam os pressupostos de comercialidade

    objetiva ou subjetiva

    estes atos so integralmente regidos pela lei comercial, mesmo

    no que toca parte em relao qual o ato no comercial

    (art. 99 CCom), salvo excees, como o caso do art. 100 do

    CCom (solidariedade passiva nas obrigaes comerciais) que

    no se aplica parte em relao qual o ato no comercial

    2. Regras especiais dos atos e obrigaes comerciais

    Os atos de comrcio tm uma regulamentao legal especfica na lei comercial que

    difere da do Direito Civil em matria de forma, solidariedade passiva das obrigaes,

    prescrio de dvidas, juros moratrios e remuneratrios, e responsabilidade por dvidas

    dos cnjuges

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    Forma

    o Para facilitar a celebrao de negcios jurdicos comerciais e assim promover o

    estabelecimento de relaes mercantis, no direito comercial vigora, com maior

    amplitude e intensidade do que no direito civil, o princpio da liberdade da

    forma previsto no art. 219 CC:

    segundo o art. 396 Ccom, o contrato de mtuo mercantil pode ser

    celebrado por qualquer forma, independentemente do valor mutuado

    (enquanto no direito civil, o art. 1143CC exige formalidades especiais

    para mtuos de valores elevados);

    o penhor mercantil pode constituir-se sem a entrega efetiva da coisa

    empenhada, nos termos dos art. 398 e 400 Ccom, em oposio aos

    art. 669 e 681 do CC;

    os livros dos corretores gozam de fora probatria especial, nos termos

    do art. 98Ccom

    os documentos comerciais podem ser redigidos em qualquer lngua, de

    acordo com o art. 96 Ccom (salvas as excepes impostas por lei tendo

    em vista a proteo do consumidor)

    Solidariedade passiva

    o Com o intuito de reforar a juridicidade dos vnculos obrigacionais por via da

    cobrana coerciva dos crditos comerciais, o legislador estabeleceu no direito

    comercial a regra da solidariedade passiva nas obrigaes plurais, contrria

    regra da conjuno fixada para o direito civil, no art. 513 do CC:

    Assim, nos termos do art. 100 do CCom, as dvidas comerciais so

    solidrias, com duas excees:

    se houver estipulao das partes em contrrio

    se os devedores no forem comerciantes e o ato praticado no

    for quanto a eles comercial (atos unilateralmente comerciais)

    a solidariedade passiva tem as seguintes consequncias legais:

    o credor pode exigir de cada um dos devedores o pagamento da

    totalidade da dvida, sem que qualquer deles possa invocar o

    benefcio da diviso de responsabilidades (art. 512, n. 1, 518,

    519, n. 1, CC)

    o devedor que pagar a dvida fica com o direito de haver dos

    restantes condevedores as partes da dvida que lhe

    correspondem, em sede de direito de regresso (art. 524 CC)

    Tambm na fiana mercantil, a responsabilidade do fiador da obrigao

    comercial solidria por fora do art. 101 CCom, pelo que este no

    pode invocar o benefcio da excusso prvia previsto no art. 638 CC

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    Prescrio

    o A prescrio o instituto jurdico que atribui ao mero decurso do tempo

    consequncias jurdicas ao nvel das relaes jurdicas

    As dvidas obrigacionais devem ser cobradas num prazo razovel a partir

    do momento em que se vencem e passam a ser exigveis, sob pena do

    tempo fazer desvanecer a sua eficcia jurdica

    Assim, completado determinado prazo fixado na lei, a dvida no se

    extingue, mas deixa de ser civil e passa a ser natural, o que determina

    que o seu cumprimento deixe de ser judicialmente exigvel

    Nos termos do art. 304, n. 1 e 2, do CC, completado o prazo de

    prescrio, o devedor pode recusar-se a pagar a dvida, invocando a

    prescrio (pois esta carece de ser invocada para poder produzir os seus

    efeitos, segundo o art. 303 do CC) mas, caso a pague voluntariamente,

    no pode exigir o reembolso do que prestou (repetio do indevido)

    Para a generalidade das obrigaes, o prazo de prescrio de 20 anos

    (art. 309 CC), complementado por prazos especiais mais curtos

    o A lei fixa um prazo mais curto de prescrio para os crditos resultantes de atos

    de comrcio na alnea b) do art. 317 do CC:

    Prescrevem no prazo de 2 anos a contar da data do vencimento do

    crdito (art. 317, al. b) do CC):

    os crditos de comerciantes que resultem do fornecimento de

    bens e servios a no comerciantes ou a comerciantes que no

    os destinem sua atividade comercial (relaes comerciais

    entre profissionais e consumidores)

    pelo que este prazo mais curto no se aplica ao devedor

    comerciante que adquire os bens e servios no exerccio do seu

    comrcio (nesse caso, aplica-se o prazo geral)

    Trata-se, contudo, de uma prescrio presuntiva, isto , de uma forma

    de prescrio que se fundamenta numa presuno de que a dvida foi

    cumprida (art. 312 do CC), mas esta presuno pode ser ilidida por

    confisso do devedor ou documento escrito em que este declara que

    ainda no pagou (art. 313 CC)

    Juros

    o Juros so uma prestao pecuniria fixada como remunerao pela

    disponibilidade de certa quantia pecuniria (juros remuneratrios) ou como

    indemnizao pelo atraso no cumprimento de uma prestao pecuniria (juros

    moratrios):

    No contrato de mtuo oneroso, h lugar a vencimento de juros

    remuneratrios (art. 1145, n. 1, do CC)

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    Nas obrigaes pecunirias, o atraso na realizao da prestao

    imputvel ao devedor gera uma obrigao de indemnizar os danos

    causados que se concretiza nos juros de mora (art. 806 e 804, n. 1 e

    2, do CC)

    o Em ambos os casos a sua fixao pode ser feita por lei (juros legais) ou pelas

    partes (juros convencionais)

    o Nas obrigaes civis (no comerciais), se as partes no tiverem predeterminado

    os juros de mora (juros convencionais), estes so calculados segundo a taxa

    legal dos juros civis, fixada em 4% ao ano pela Portaria 291/03 de 8/04 para a

    qual remete o art. 559, n. 1, do CC (art. 806, n. 2, CC)

    o Nas obrigaes comerciais, se as partes no tiverem fixado os juros de mora

    (juros convencionais), estes calculam-se com base na taxa de juros anual

    prevista na lei comercial

    Art. 102, 3 e 4, do CCom- a taxa de juros comercial fixada nos

    termos da Portaria 597/2005 de 19/07, por Aviso da Direco Geral do

    Tesouro semestralmente publicado no Dirio da Repblica (tendo como

    referncia a taxa de juro do BCE)

    A taxa vigente para o primeiro semestre de 2013 de 7,75%

    (Aviso 594/2013 de 11 de Janeiro)

    A taxa que vigorou nos dois semestres de 2012 foi 8%

    Note-se ainda que os juros convencionais s podem ser fixados por

    escrito (art. 102, 1, Ccom) e no podem ultrapassar certos limites

    fixados na lei (art. 559-A e 1146 CC, por remisso do art. 102, 2,

    CCom)

    Responsabilidade dos bens do casal por dvidas do cnjuge comerciante

    o No direito civil, o casamento produz efeitos patrimoniais na esfera jurdica dos

    cnjuges

    Basicamente, h 3 regimes de bens que podem vigorar depois do

    casamento:

    comunho geral

    o os bens dos cnjuges constituem 1 s patrimnio que

    pertence a ambos, em igual proporo (s h bens

    comuns)

    separao de bens

    o cada um dos cnjuges mantm o seu patrimnio

    prprio (s h bens prprios de cada um)

    comunho de adquiridos (que o regime supletivo)

    o cada um dos cnjuges mantm um patrimnio prprio

    (constitudo pelos bens que j tinha quando casou e

    pelos que venha a receber por herana ou doao

  • ISCA-UA 2012/2013 Sumrios desenvolvidos de DIREITO COMERCIAL E DAS SOCIEDADES

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    depois do casamento), a par de um patrimnio comum

    (todos os restantes bens que adquira depois do

    casamento)

    A lei distingue ainda as dvidas da responsabilidade de ambos os

    cnjuges das dvidas que s recaem sobre um dos cnjuges, para

    determinar que bens respondem por essas dvidas

    o Segundo o art. 1691, n. 1, al. d) do CC, so da responsabilidade de ambos os

    cnjuges as dvidas contradas por qualquer dos cnjuges no exerccio do seu

    comrcio, salvo se se provar que no foram contradas em proveito comum do

    casal ou se vigorar entre os cnjuges o regime da separao de bens

    Pressupostos:

    Regime de comunho de adquiridos ou comunho geral de bens

    Dvida contrada pelo cnjuge comerciante no exerccio da sua

    actividade (dvida subjetivamente comercial)

    o Em virtude do disposto no art. 15 do Ccom, as dvidas

    comerciais do cnjuge comerciante presumem-se

    contradas no exerccio do seu comrcio

    o Esta presuno aproveita ao credor, por inverter o nus

    da prova, fazendo com que tenha que ser o devedor a

    provar que a dvida nada tem a ver com a sua actividade

    Dvida contrada em proveito comum do casal, segundo a sua

    finalidade (e no o resultado efetivo)

    o Pressupe-se que as dvidas geradas pelo exerccio do

    comrcio revertem sempre em proveito comum do

    casal, mas possvel provar o contrrio (por exemplo,

    se os cnjuges vivem separados de facto)

    Por estas dvidas respondem, nos termos do art. 1695, n. 1, do CC, os

    bens comuns do casal, e, subsidiariamente os bens prprios de cada um

    deles

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    CAP. III - O COMERCIANTE

    Livro, pg. 75 a 84, 85 a 98, 99 a 113

    1. O comerciante

    Noo

    o O comerciante o principal sujeito das relaes jurdicas comerciais, mas no o

    nico, pois qualquer pessoa singular ou coletiva com personalidade jurdica e

    capacidade civil de gozo e exerccio pode praticar atos objetivos de comrcio

    o Em regra, pode-se identificar o comerciante com o empresrio comercial, como

    titular de uma empresa ou estabelecimento comercial (entendida

    objetivamente como conjunto de meios e fatores de produo congregados

    para o exerccio de uma atividade comercial), mas essa coincidncia no

    perfeita, pois possvel equacionar situaes em que o comerciante no

    explora propriamente uma empresa, como o caso dos pequenos vendedores

    ambulantes e de alguns agentes e intermedirios comerciais

    o Em suma, o comerciante qualquer pessoa singular ou coletiva com capacidade

    para praticar atos de comrcio que explora uma atividade comercial, em regra,

    atravs de uma empresa

    Espcies

    o O art. 13 Ccom distingue dois tipos fundamentais de comerciantes:

    Os comerciantes em nome individual- art. 13, n. 1 Ccom

    Requisitos:

    o pessoas singulares pessoas fsicas detentoras de

    personalidade jurdica (art. 66 CC)

    o com capacidade comercial nos termos do art. 7 do

    Ccom, a capacidade para praticar atos de comrcio

    corresponde capacidade civil de gozo e exerccio (art.

    67 e 130 CC)

    no entanto, os incapazes podem ser

    comerciantes se tiverem adquirido um

    estabelecimento comercial por herana ou

    doao, mas s podem exercer os atos

    correspondentes atravs dos seus

    representantes legais judicialmente autorizados

    (art. 1889, n. 1, al. c) e 1938, n. 1, al. f) CC)

    o que faz do comrcio profisso explorao de uma

    atividade comercial atravs da prtica regular e

    reiterada de atos de comrcio objetivos e absolutos,

  • ISCA-UA 2012/2013 Sumrios desenvolvidos de DIREITO COMERCIAL E DAS SOCIEDADES

    12

    como forma de obteno de recursos econmicos, em

    nome prprio (e no em nome alheio) e de modo

    autnomo (sem subordinao profissional)

    no so comerciantes os gerentes, auxiliares e

    caixeiros (funcionrios ou colaboradores), que

    trabalham por conta do comerciante

    no so comerciantes os gerentes e

    administradores das sociedades comerciais,

    pois agem em nome da sociedade

    As sociedades comerciais- art. 13, n. 2, Ccom

    Requisitos:

    o sociedade sociedade uma pessoa coletiva

    constituda por contrato celebrado por duas ou mais

    pessoas que se obrigam a contribuir com bens ou

    servios para o exerccio em comum de uma atividade

    econmica que no seja de mera fruio a fim de

    repartirem entre si os lucros dela resultantes (art. 980

    e 157 CC)

    o comercial so sociedades comerciais as que tenham

    simultaneamente objeto e forma comerciais (art. 1, n.

    2, CSC)

    objeto a atividade econmica explorada tem

    de se enquadrar na noo jurdica de comrcio

    forma- a sociedade tem de adotar um dos

    modelos de organizao previsto no CSC:

    sociedade em nome coletivo, sociedade por

    quotas, sociedade annima e sociedade em

    comandita simples ou por aes

    Nota: as sociedades civis, que se dedicam

    prtica de atividades econmicas no

    comerciais, podem adotar um destes modelos

    do CSC (forma comercial), ficando sujeitas s

    regras do CSC (art. 1, n. 4, CSC), mas no so

    sociedades comerciais em razo do seu objeto

    civil

    Outras pessoas coletivas com objeto comercial

    Embora o art. 13 CCom no se refira expressamente a elas, h

    outras pessoas coletivas, alm das sociedades comerciais, que

    so comerciantes, por terem capacidade comercial e

    explorarem atividades comerciais:

  • ISCA-UA 2012/2013 Sumrios desenvolvidos de DIREITO COMERCIAL E DAS SOCIEDADES

    13

    o Entidades Pblicas Empresariais, Empresas

    Intermunicipais e Empresas Municipais (DL 558/99, de

    17/12 e Lei 53-F/2006, de 29/12)

    o Agrupamentos Complementares de Empresas (DL

    430/73 de 25/08) e Agrupamentos Europeus de

    Interesse Econmico (Dl 148/90 de 9/05)

    o Cooperativas (Cdigo Cooperativo)

    Quem no pode ser comerciante

    o As associaes ou corporaes que no tenham por objeto interesses materiais

    (fim no lucrativo) art. 14, n. 1, CCom

    o O Estado, o distrito, o municpio, a parquia, as misericrdias e instituies de

    solidariedade social art. 17 Ccom

    o Pessoas singulares ou coletivas que exeram atividades econmicas no

    comerciais (agricultores e criadores de gado e animais; artesos; artistas;

    profissionais liberais, salvo se organizados em empresas)

    Incompatibilidades e impedimentos

    o Pessoas singulares que exercem funes incompatveis com o exerccio do

    comrcio, por fora de lei

    Incompatibilidades de direito pblico: magistrados, militares, titulares

    de cargos polticos e altos cargos pblicos

    Incompatibilidades de direito privado: proibio de concorrncia dos

    scios das sociedades em nome coletivo e em comandita (art. 180 e

    477 CSC), dos gerentes, administradores, directores e membros do

    conselho geral das sociedades comerciais (art. 254 e 398 CSC); e ainda

    dos intermedirios financeiros e corretores de bolsa (347 do CVM)

    o Pessoas singulares que esto inibidas de exercer o comrcio, por deciso judicial

    decretada em processo de insolvncia (art. 3 CIRE)

    o Condicionamentos e licenciamentos administrativos de certas actividades

    comerciais (como por exemplo, farmcias)

    2. Aquisio da qualidade de comerciante

    As pessoas singulares passam a ser comerciantes quando iniciam a prtica de atos

    reveladores do propsito e possibilidade de se dedicar ao exerccio habitual de uma

    atividade comercial

    As sociedades comerciais adquirem a qualidade de comerciante no momento em que

    adquirem personalidade jurdica, com o registo definitivo na Conservatria do Registo

    Comercial, nos termos do art. 5 CSC

  • ISCA-UA 2012/2013 Sumrios desenvolvidos de DIREITO COMERCIAL E DAS SOCIEDADES

    14

    3. As obrigaes especiais dos comerciantes.

    Os comerciantes, pelo facto de o serem, tm que cumprir as obrigaes previstas no art.

    18 do Ccom: adotar firma, ter escriturao mercantil, inscrever-se no registo comercial,

    e dar balano e prestao de contas

    Adoo de firma

    o A firma o sinal identificativo do comerciante (o nome comercial do

    comerciante)

    o Os comerciantes esto obrigados a adotar firma (art. 18, n. 1, CCom), segundo

    o regime do Registo Nacional de Pessoas Colectivas (RNPC- Decreto-lei 129/98

    de 13/05)

    o Composio da firma

    A firma pode ser constituda por nomes (firmas-nome), siglas e

    denominaes de fantasia (firmas-denominao), ou ambos (firmas

    mistas)

    o Princpios a respeitar na adoo de uma firma

    Princpio da unidade

    Um comerciante s pode ter uma firma (art. 38, n. 1, RNPC e

    9, n. 1, c) e 171, n. 1 CSC)

    Exceo: comerciante em nome individual que explora um EIRL

    (tem duas firmas: a sua e a do eirl)

    Princpio da novidade e exclusividade

    as firmas devem ser distintas e inconfundveis entre si, no

    mesmo mbito territorial definido- art. 3 e 33 RNPC

    a susceptibilidade de confuso ou no aferida segundo uma

    considerao global e objetiva das circunstncias (tipo de

    pessoa, domiclio ou sede, afinidade das atividades e mbito

    territorial de atuao)- art. 33, n. 2, RNPC

    o comerciante tem o direito ao uso exclusivo da sua firma aps

    o seu registo definitivo, no mbito territorial previsto na lei- art.

    35 RNPC:

    o todo o territrio nacional para as sociedades comerciais

    (art. 37, n.2, RNPC)

    o na rea do concelho onde est situado o

    estabelecimento comercial (art. 38, n. 4, RNPC)

    a novidade deve reportar-se a outras firmas, mas tambm a

    outros sinais distintivos do comrcio como nomes de

    estabelecimentos, insgnias e marcas registadas, no mesmo

    mbito de exclusividade art. 33, n. 4 e 5, RNPC

  • ISCA-UA 2012/2013 Sumrios desenvolvidos de DIREITO COMERCIAL E DAS SOCIEDADES

    15

    Princpio da verdade

    A firma deve espelhar a situao real do comerciante, no que

    toca identificao, natureza jurdica, atividade e mbito de

    atuao- art. 3 e 32 RNPC

    Regras de composio das firmas

    o Comerciante em nome individual- art. 38 RNPC

    Nome civil completo ou abreviado, desde que

    com mais de 2 vocbulos, a que pode ser

    aditada expresso alusiva atividade ou

    alcunha

    o Sociedades comerciais- art. 37 RNPC, art. 10 CSC e

    177, 200, 275, 467 CSC

    Nome de todos ou alguns dos scios, siglas e

    designaes de fantasia, ou ambos, com

    referncia atividade comercial, acrescidos de

    e companhia, limitada, sociedade

    annima e em comandita ou em comandita

    por aes

    o EIRL- art. 40 RNPC

    Nome do comerciante, eventualmente com

    aluso atividade, e EIRL ou estabelecimento

    individual de responsabilidade limitada

    o A firma pode ser alterada em cumprimento de uma disposio legal ou por

    vontade do comerciante (art. 56 RNPC), e pode ser transmitida, em certas

    circunstncias (art. 44 RNPC), extinguindo-se com a cessao de atividade,

    morte do comerciante ou dissoluo da sociedade comercial, e perda do direito

    ao uso da firma (art. 60 e 61 RNPC)

    o O uso indevido de firma registada faz incorrer o seu autor na obrigao de

    indemnizar os danos causados, e ainda numa contraordenao por concorrncia

    desleal (art. 317, al. c) do CPI)

    Escriturao mercantil

    o Noo: registo sistemtico dos factos relativos atividade mercantil do

    comerciante, para conhecimento da sua situao jurdica, patrimonial e fiscal

    o Os comerciantes esto obrigados a efetuar escriturao- art. 18, n. 1, e 29

    CCom

    o Importncia: conhecimento da sua situao; meio de prova (art. 44 CCom);

    verificao da regularidade da conduta em caso de insolvncia; instrumento

    para determinao de matria tributvel e fiscalizao do cumprimento das

    obrigaes fiscais

    o Objecto: contabilidade (registo das operaes comerciais), livro de actas,

    faturas, contratos, correspondncia, arquivos e outra documentao

  • ISCA-UA 2012/2013 Sumrios desenvolvidos de DIREITO COMERCIAL E DAS SOCIEDADES

    16

    O livro de atas s obrigatrio para as sociedades comerciais, nele se

    inscrevendo as atas das reunies dos rgos da sociedade, como as

    assembleias de scios e as reunies dos administradores, etc. (art. 31 ,

    37 e 39 Ccom e 63 CSC)

    o Organizao da escriturao: vale o princpio da liberdade previsto no art. 30

    CCom quanto ao modo de organizao e escolha do suporte fsico

    o Conservao: durante 10 anos em suporte de papel ou eletrnico (art. 40

    Ccom), ou 5 aps a dissoluo da sociedade comercial (art. 157, n. 4, CSC)

    o Confidencialidade: a escriturao , em princpio, confidencial (art. 41 CCom e

    art. 51 CPC), mas h numerosas excepes: pode ser alvo de exibio judicial e

    exame (art. 42 e 43 CCom); pode ser consultada ao abrigo do direito

    informao dos scios (art. 214, 215 e 288 CSC); pode haver lugar a inqurito

    judicial (art. 181/6, 216 e 292 CSC); e ainda pode ser inspeccionada em caso

    de fiscalizao tributria (a. 31 LGT e 120 a 122 RGIT).

    o Fora probatria: a escriturao vale como meio de prova nos litgios entre

    comerciantes, presumindo-se como verdadeiros os factos inscritos na

    escriturao devidamente organizada (art. 44 Ccom)

    Registo comercial

    o O registo pblico de certos actos dos comerciantes junto das Conservatrias do

    Registo Comercial tem como finalidade dar publicidade situao jurdica dos

    comerciantes, tendo em vista a segurana do comrcio jurdico (art. 1 do CRC)

    Essa publicidade conseguida pelo facto de qualquer pessoa poder

    aceder ao contedo do registo e pedir as certides respetivas (art. 73

    CRC)

    o O registo comercial obrigatrio- art. 10, n. 3, CCom

    o S esto sujeitos a registo os atos previstos nos art. 2 e 3 CRC

    o Tipos de registo: o registo feito por transcrio, ou por depsito, sendo que s

    na primeira situao a Conservatria se pronuncia sobre o contedo dos

    documentos apresentados (art. 55 e 53A CRC)

    o Efeitos:

    O registo dos factos comerciais condio de eficcia contra terceiros

    (art. 14, n. 1 e 13, n. 1 e 2 CRC)

    No caso de sociedades comerciais, o registo definitivo da sua

    constituio causa de atribuio de personalidade jurdica e da

    qualidade de comerciante (art. 5 CSC)

    Nas restantes situaes, o registo s atribui uma presuno de

    existncia de determinada situao jurdica (art. 11 CRC)

    o Certido permanente- art. 75, n. 3, CRC

  • ISCA-UA 2012/2013 Sumrios desenvolvidos de DIREITO COMERCIAL E DAS SOCIEDADES

    17

    Balano e prestao de contas

    o Balano

    Noo: sntese da situao patrimonial do comerciante em determinado

    momento, por comparao entre o ativo e o passivo, segundo as

    normas de escriturao contabilstica

    obrigatrio realizar um balano anual, nos primeiros trs meses do

    ano, relativo ao exerccio do ano anterior (art. 18, n. 4, e 62 CCom e

    65, n. 1, CSC)

    Alm deste, a lei exige balanos excecionais em certas situaes, como

    fuso, ciso e dissoluo de sociedades comerciais

    o Prestao de contas

    O art. 63 do Ccom, relativo ao dever de prestar contas est revogado

    Porm, este dever mantm-se:

    Nas sociedades comerciais, o rgo de administrao e gesto

    est obrigado a apresentar anualmente aos scios o relatrio de

    gesto, as contas de exerccio e outras, nos termos dos art. 65

    a 70 CSC, que depois so sujeitas a registo comercial

    Em geral, todos os comerciantes esto obrigados a entregar os

    documentos de prestao de contas sob a forma de Informao

    Empresarial Simplificada (IES)

    o o DL 8/2007 de 17/01 e as Portarias 208/2007,

    499/2007, 562/2007, vieram criar a IES, uma forma de

    prestao anual de contas efectuada e submetida por

    meios eletrnicos que visa o cumprimento simultneo

    de vrias obrigaes dos comerciantes:

    obrigao de depositar os documentos de

    prestao de contas no registo comercial

    obrigao fiscal de declarar os rendimentos em

    sede de IRS ou IRC

    obrigao de comunicar os resultados da

    atividade comercial para efeitos estatsticos ao

    INE e Banco de Portugal

    o esto obrigados a entregar a IES todos os residentes

    que exercem uma atividade comercial (comerciantes

    em nome individual e sociedades comerciais), os no

    residentes com estabelecimento estvel em Portugal e

    ainda os titulares de EIRL (alm de outras entidade no

    comerciantes)

    o a IES ano anualmente preenchida e submetida por via

    exclusivamente electrnica, no site do portal das

    finanas (www.portaldasfinanas.pt), pelo comerciante

    ou pelo TOC, nos primeiros 6 meses do ano seguinte,

  • ISCA-UA 2012/2013 Sumrios desenvolvidos de DIREITO COMERCIAL E DAS SOCIEDADES

    18

    sendo devida uma taxa de 85,00 (a pagar por

    multibanco)

    o a informao de que o comerciante prestou contas do

    exerccio publicada no site das publicaes do

    Ministrio da Justia, e fica a constar de uma base de

    dados de acesso pblico

    CAP. III - ESTABELECIMENTO COMERCIAL

    Livro, pg. 50 a 74

    1. Noo e elementos

    Noo

    o Estabelecimento comercial um conjunto organizado de fatores de produo

    (materiais e humanos) e outros recursos funcionalmente congregados para o

    exerccio de uma atividade comercial de forma estvel e autnoma

    Estabelecimento e empresa

    o Neste sentido, estabelecimento significa empresa em sentido objetivo, mas a

    palavra empresa pode ser usada com vrios significados (por exemplo, como

    sujeito ou agente jurdico, e como atividade)

    o Pressupostos da existncia da empresa:

    Subjetivo a empresa, neste sentido, tem que ter necessariamente um

    titular, que pode ser uma pessoa singular (comerciante em nome

    individual) ou coletiva (sociedade comercial ou outras): possvel um

    comerciante laborar sem empresa, mas nunca uma empresa sem um

    comerciante

    Patrimonial a empresa tem necessariamente um patrimnio,

    constitudo por bens e direitos afetos explorao da atividade

    comercial

    Pessoal a empresa funciona com a afectao direta e indireta de

    recursos humanos, sendo sustentada por uma teia de vnculos jurdicos

    diversos com outras pessoas singulares

    Funcional a empresa no uma mera sobreposio de elementos,

    mas uma instituio de carcter econmico que pressupe uma

    organizao determinada segundo a funo de cada um dos elementos

    para a prossecuo da atividade comercial explorada e a finalidade

    lucrativa a atingir

    o

  • ISCA-UA 2012/2013 Sumrios desenvolvidos de DIREITO COMERCIAL E DAS SOCIEDADES

    19

    o Classificao das empresas

    Segundo o objeto

    Empresas comerciais- exploram uma atividade comercial

    (designadamente comrcio, indstria e servios)

    Empresas no comerciais exercem atividades no

    enquadrveis na noo jurdica de comrcio (agricultura,

    pecuria, artesanato, etc.)

    Segundo o setor de atividade: empresas do setor pblico, privado e

    cooperativo

    Segundo a dimenso:

    Empresas de grande dimenso

    Pequenas e mdias empresas (PMEs)- empresas que

    empreguem at 250 trabalhadores, com um volume de

    negcios inferior a 40 milhes de ou com balano total

    inferior a 27 milhes de , desde que o seu capital no pertena

    em mais de 25% a uma grande empresa (Regulamento

    Comunitrio n 96/280/CE, de 30/4)

    Elementos do estabelecimento comercial

    o O estabelecimento comercial constitudo por elementos de dois tipos

    elementos corpreos

    bens imveis - imobilizaes corpreas

    bens mveis - como equipamentos, mquinas, mercadorias,

    dinheiro, etc.

    elementos incorpreos

    ativo

    o direitos - de que sobressaem o direito ao arrendamento

    de espao para exerccio da atividade comercial,

    crditos, direitos de propriedade industrial (como

    marcas, patentes, etc.)

    o posies contratuais em contratos de agncia e

    distribuio comercial, e ainda posies contratuais em

    contratos de trabalho e de prestao de servios

    passivo

    o dvidas, emprstimos e contraprestaes

    o No so elementos do estabelecimento

    A clientela a clientela uma consequncia do funcionamento da

    empresa comercial, no um elemento desta (embora tenha proteo

    legal em certas circunstncias- concorrncia desleal, no concorrncia

  • ISCA-UA 2012/2013 Sumrios desenvolvidos de DIREITO COMERCIAL E DAS SOCIEDADES

    20

    no trespasse e indemnizao de clientela por fim de contrato de

    agncia)

    O aviamento (good-will) o aviamento a capacidade lucrativa da

    empresa, a aptido para gerar lucros, resultante de vrios fatores, como

    a organizao funcional, o know-how, as relaes com fornecedores e

    clientes, a reputao comercial e financeira, etc. - uma qualidade da

    empresa, e no um elemento dela

    2. Natureza jurdica

    o o estabelecimento comercial simultaneamente

    uma unidade econmica, isto , uma coisa imaterial em que o todo vale

    mais do que a soma das partes (o valor econmico do estabelecimento

    resulta diretamente do aviamento, e no apenas do seu contedo)

    uma unidade jurdica, ou seja, um conjunto de bens de diversa natureza

    que, por estarem afetos explorao de uma atividade econmica com

    finalidade lucrativa, so tratados pelo direito como se fossem um s

    (universalidade de direito)

    o no uma pessoa jurdica, pois carece de personalidade jurdica (a empresa

    entendida como objeto e no o sujeito)

    o no um patrimnio autnomo, pois no tem autonomia patrimonial em

    relao ao restante patrimnio do comerciante

    excepto o EIRL (estabelecimento individual de responsabilidade

    limitada), criado pelo DL 248/86, de 25.08

    O EIRL um estabelecimento comercial titulado por uma pessoa

    singular que exera ou pretenda exercer uma atividade

    comercial com responsabilidade limitada, constitudo por

    afectao de parte do seu patrimnio a essa atividade

    Constitudo o EIRL (por documento escrito submetido a registo

    comercial), este passa a beneficiar de autonomia patrimonial: o

    patrimnio afectado atividade comercial s responde pelas

    dvidas dela resultantes, e por essas dvidas s ele responde,

    mantendo a salvo o restante patrimnio pessoal do

    comerciante em nome individual (art. 10 e 11 Dl 248/86)

    a firma do EIRL constituda pelo nome completo ou abreviado

    do comerciante, acrescido de EIRL ou estabelecimento

    individual de responsabilidade limitada (art. 2, n. 3, DL

    248/86 e art. 40 RNPC)

  • ISCA-UA 2012/2013 Sumrios desenvolvidos de DIREITO COMERCIAL E DAS SOCIEDADES

    21

    3. Negcios sobre o estabelecimento

    O estabelecimento pode ser objeto de direitos reais (propriedade, usufruto, posse) e de

    crdito (locao), constitudos voluntria ou coercivamente (penhora e venda judicial de

    estabelecimento comercial - art. 862-A do CPC e181 do CIRE)

    Trespasse

    o Noo: trespasse o negcio jurdico pelo qual se opera uma transmisso definitiva

    inter vivos da propriedade de um estabelecimento comercial, como unidade

    O trespasse transmite a propriedade do estabelecimento comercial, que

    engloba todos os poderes de uso, fruio e disposio

    Essa transmisso pode ter por base vrios negcios jurdicos voluntrios,

    onerosos e gratuitos (contratos de compra e venda, troca, doao, dao

    em pagamento, entrada em sociedade), ou coercivos (venda judicial e em

    processo de insolvncia), mas no se realiza atravs de sucesso hereditria

    (legal ou testamentria)

    O trespasse tem como objeto o estabelecimento comercial a funcionar,

    como um todo unitrio, tendo em conta que a sua funo econmico-social

    a de transmitir um estabelecimento em laborao com vista continuao

    da sua explorao

    Embora admita excluses pontuais de alguns elementos, tem que

    incidir sobre a totalidade dos elementos essenciais do

    estabelecimento (essencialidade essa que s em concreto possvel

    determinar)

    o Se as partes nada disserem no contrato de trespasse,

    transmitem-se todos os elementos do estabelecimento

    comercial, exceto:

    A firma do comerciante (art. 44 RNPC)

    As posies contratuais (art. 424 CC) - contudo, as

    posies contratuais em contrato de arrendamento

    e em contrato de trabalho transmitem-se

    automaticamente para o adquirente, salvo

    conveno em contrrio (art. 1112 do CC e art.

    285 do Cdigo do Trabalho)

    Os crditos (art. 577 CC)

    As dvidas (art. 595 CC) - no entanto, os alienantes

    e os adquirentes respondem solidariamente pelas

    dvidas de salrios aos trabalhadores e

    contribuies devidas Segurana Social (arts.

    285/2 do C. Trabalho e 209/2 do Cd.

    Contributivo)

    O trespassrio (aquele que adquire o estabelecimento) tem de

    manter o mesmo ramo de atividade comercial explorado pelo

  • ISCA-UA 2012/2013 Sumrios desenvolvidos de DIREITO COMERCIAL E DAS SOCIEDADES

    22

    estabelecimento, sob pena de se considerar que no houve

    efetivamente trespasse

    O trespasse um ato de comrcio objetivo, absoluto e substancialmente

    comercial

    o Regime jurdico: art. 1112 CC

    Forma:

    o contrato de trespasse tem que ser celebrado por escrito art.

    1112, n. 3, CC

    o trespasse tem que ser comunicado ao senhorio, no prazo de 15

    dias a partir da sua celebrao, sob pena de, no o fazendo, o

    senhorio poder resolver o contrato de arrendamento (art. 1112,

    n. 3, 1038, al. g) e 1083, n. 2, al. e) CC)

    Requisitos de substncia:

    Para haver trespasse necessrio, segundo o art. 1112, n. 2, do

    CC, que a transmisso:

    o Seja acompanhada da transferncia em conjunto das

    instalaes, utenslios, mercadorias ou outros elementos

    o No vise o exerccio de outro ramo de comrcio ou indstria

    ou a afetao do prdio a outro destino

    Efeitos sobre contrato de arrendamento de prdio onde exerce a atividade

    comercial:

    O senhorio tem direito de preferncia na venda e dao em

    cumprimento do estabelecimento comercial, por fora do art.

    1112, n. 4, CC

    o Assim, o trespassante est obrigado, antes de celebrar o

    negcio oneroso de trespasse, a comunicar ao senhorio a

    sua inteno de vender o estabelecimento, bem como as

    circunstncias essenciais do negcio (qual o preo de

    venda, quem o interessado, etc.), para que este possa

    exercer esse direito (art. 416 CC)

    Com o trespasse, a posio contratual de arrendatrio passa

    automaticamente do trespassante para o trespassrio, sem

    necessidade de autorizao do senhorio, nos termos do art. 1112,

    n. 1, CC

    o Esta soluo visa facilitar a circulao da propriedade dos

    estabelecimentos comerciais que funcionam em prdios

    arrendados e proteger o seu valor intrnseco, directamente

    ligado ao aviamento

    o Esta dispensa de autorizao do senhorio excecional,

    valendo a regra oposta

  • ISCA-UA 2012/2013 Sumrios desenvolvidos de DIREITO COMERCIAL E DAS SOCIEDADES

    23

    o Assim, o gozo do imvel pelo sujeito que o adquire s

    legtimo se estivermos perante um verdadeiro trespasse do

    estabelecimento, isto , se houver transmisso de todos os

    seus elementos essenciais e no houver mudana de ramo

    ou destino- art. 1112, n. 2, CC- se tal no se verificar, no

    h trespasse, e, portanto, no h dispensa de autorizao

    do senhorio, podendo este resolver o contrato de

    arrendamento com base no art. 1083, n. 2, al. e) CC

    Obrigao implcita de no concorrncia

    Como consequncia direta do trespasse, surge para o trespassante

    uma obrigao de no concorrer com o estabelecimento

    trespassado, que o impede de explorar, direta ou indiretamente,

    uma atividade igual ou sucednea do estabelecimento

    trespassado, no mesmo mbito de atuao territorial, e durante um

    perodo de tempo razovel que permita ao trespassrio estabilizar a

    atividade comercial e clientela

    Esta obrigao imposta pelo direito, sem necessidade de qualquer

    estipulao contratual das partes, embora no tenha apoio

    expresso em nenhuma norma legal - a jurisprudncia portuguesa

    entende que constitui uma forma de concorrncia desleal prevista

    na al. c) do art. 317 do CPI

    Locao do estabelecimento ou cesso de explorao

    o noo: contrato pelo qual se opera uma cesso temporria e onerosa do gozo de

    um estabelecimento comercial a funcionar

    no fundo, um contrato de locao tendo por objeto um estabelecimento

    comercial como unidade econmica(art. 1022 CC)

    tal como nos trespasse, todos os elementos essenciais do

    estabelecimento tm de ser transferidos para a posse do locatrio

    o os contratos de trabalho dos empregados do

    estabelecimento mantm-se, por fora do art. 285 do

    Cdigo Trabalho

    no pode haver mudana de ramo de atividade, ou de destino

    no se transmite a propriedade do estabelecimento, mas s as faculdades

    de uso direto e fruio (perceo de rendimentos), embora se admita que o

    gozo implica, a maior parte das vezes, o consumo e alienao de alguns

    bens do estabelecimento (mercadorias, por exemplo)

    a cesso do gozo tem sempre uma durao temporal determinada pelas

    partes

    a cesso do gozo tem sempre uma contrapartida pecuniria, a renda, paga

    mensal ou anualmente

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    24

    o regime jurdico: art. 1109 CC

    Forma:

    O contrato de locao tem que ser celebrado por escrito (1109 CC)

    A locao tem que ser comunicada ao senhorio, no prazo de 1 ms a

    contar da data da sua celebrao - art. 1109, n. 2, CC- sob pena de

    resoluo do contrato de arrendamento (art. 1083, n. 2, al. e) CC)

    Requisitos de fundo:

    Para haver locao de estabelecimento necessrio, segundo os

    art. 1109, n. 1, e 1112, n. 2, do CC, que a transmisso seja

    acompanhada da transferncia em conjunto das instalaes,

    utenslios, mercadorias ou outros elementos, e no vise o exerccio

    de outro ramo de comrcio ou indstria ou a afetao do prdio a

    outro destino

    Efeitos sobre contrato de arrendamento de prdio onde exerce a atividade

    comercial:

    A locao no introduz qualquer alterao no contrato de

    arrendamento, pois no h transmisso da propriedade do

    estabelecimento (no h cesso da posio contratual)

    Contudo, o senhorio teria que autorizar as cedncias do gozo do

    imvel, mas a lei dispensa essa autorizao, por aplicao do

    disposto no art. 1109, n. 1, e 1112, n. 2, do CC, se se tratar de

    uma locao do estabelecimento (pressupondo a transmisso do

    gozo de todos os seus elementos essenciais e manuteno do

    mesmo ramo de actividade ou destino), caso contrrio, o senhorio

    pode resolver o contrato de arrendamento alegando falta de

    autorizao (art. 1083, n. 2, al. e) CC)

    Obrigao implcita de no concorrncia

    Tambm na locao se verifica a obrigao jurdica de no exercer,

    direta ou indiretamente, uma atividade igual ou sucednea do

    estabelecimento locado, no mesmo mbito de actuao territorial,

    mas apenas durante um perodo de durao do contrato

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    25

    CAP. IV TTULOS DE CRDITO

    Noo o Ttulo de crdito um documento necessrio para exercer o direito literal e

    autnomo nele mencionado

    Documento

    Documento escrito, em suporte de papel

    O documento tem uma funo constitutiva do direito: pressuposto da existncia do direito, e imprescindvel para o seu exerccio e transferncia

    Direito

    Em regra, so direitos de crdito direitos relativos de carter obrigacional, que conferem ao seu titular o poder de exigir uma prestao mas tambm podem ser direitos reais (como o caso das guias de transporte de mercadorias) ou posies jurdicas correspondentes qualidade de membro de uma coletividade (aes das sociedades annimas)

    O direito est incorporado no documento: o ttulo atribui ao seu possuidor a legitimao formal do direito, isto , a titularidade do ttulo que determina a titularidade do direito nele mencionado

    Dizer que o direito incorporado literal significa que o direito existe nos termos mencionados no ttulo, quanto ao contedo, limites e modalidades

    O direito incorporado autnomo, pois no pode ser restringido ou eliminado em virtude de relaes jurdicas anteriores entre o devedor e os anteriores possuidores do ttulo

    A aquisio do direito titulado originria, no sentido de ser independente da existncia e extenso do direito na titularidade dos antecessores

    Funo o Promover a circulao dos direitos, em especial, dos direitos de crdito o Proteger terceiros de boa f

    Classificaes o Quanto ao contedo

    Ttulos de participao (aes de sociedades annimas)

    Ttulos representativos de mercadorias (guias de transporte)

    Ttulos que incorporam o direito a uma prestao pecuniria (letras, livranas e cheques)

    o Quanto ao modo de circulao

    Nominativos ttulos endereados a uma pessoa determinada, que tem legitimidade exclusiva para o transmitir

    ordem ttulos endereados a uma pessoa certa que podem ser transmitidos por endosso

    Ao portador ttulos que no mencionam uma pessoa em concreto, transmitindo-se com a entrega material (transferncia da posse)

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    Espcies e regime

    o Letra

    Noo: ttulo de crdito que incorpora uma ordem de pagamento de determinada quantia em dinheiro dada por pessoa determinada (sacador) a outra (sacado) em favor de uma terceira (tomador) ou sua ordem ( ordem do prprio sacador)

    Caratersticas:

    Ttulo formal, que incorpora um direito autnomo, literal e abstrato:

    o a titularidade do documento que determina a titularidade do direito incorporado

    o O contedo, extenso e modalidades do crdito incorporado so os que resultam diretamente do ttulo

    o A obrigao cambiria independente do negcio jurdico que lhe deu causa, pelo que no afetada por eventuais vcios desse negcio (invalidade, ineficcia, etc.)

    o As pessoas acionadas em virtude de uma letra no podem opor ao portador legtimo e de boa f as excees fundadas nas relaes pessoais existentes com o sacador ou os anteriores possuidores da letra art. 17 LULL

    Ttulo que incorpora um direito de crdito de natureza pecuniria direito a exigir o pagamento de uma certa quantia em dinheiro

    Ttulo ordem circula por endosso: o tomador pode transmitir a letra a um terceiro (endossado), e este pode posteriormente endossa-la a outros terceiros

    Requisitos formais do ttulo

    O ttulo tem que conter: art. 1 LULL e Portaria 28/2000 de 27/01

    o Nome, morada e NIF da pessoa emite a letra (sacador) o Local e data de emisso da letra o A palavra LETRA e a ordem de pagamento de uma

    certa quantia em dinheiro na data de vencimento o A quantia a pagar (em numerrio e por extenso em

    caso de divergncia, vale a quantia por extenso: art. 6 LULL)

    o A data de vencimento da letra o O local de pagamento (NIB da conta bancria onde a

    quantia deve ser debitada) o Assinatura do emitente da letra (sacador) o O nome, morada e NIF do devedor que deve pagar essa

    quantia (sacado)

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    27

    o O nome da pessoa a quem essa quantia deve ser paga (tomador) ou a indicao que letra emitida ordem do sacador

    o Data do aceite e assinatura do aceitante (sacado) o Imposto de selo liquidado

    A falta de algum destes requisitos gera a ineficcia da letra (exceto a data e lugar de pagamento e a data de emisso) art. 2 LULL

    Letra em branco possvel emitir uma letra sem indicao do tomador, da quantia, da data e lugar de pagamento, desde que haja um acordo de preenchimento estabelecido entre sacador e sacado que legitime o preenchimento posterior da letra art. 10 LULL

    Intervenientes principais (pessoas singulares ou coletivas)

    O sacador emitente: a pessoa que d a ordem de pagamento; o sacador garante ao tomador e aos posteriores endossados que a ordem de pagamento ser aceite pelo sacado e ser por ele cumprida art. 9, n. 1, LULL

    O sacado obrigado: a pessoa a quem dada a ordem para pagar; o sacado s assume a responsabilidade pelo pagamento atravs do aceite, depois de aceitar a letra, passa a designar-se de aceitante

    O tomador beneficirio: a pessoa que vai receber o pagamento da quantia em dinheiro; a figura do tomador meramente eventual, uma vez que a ordem de pagamento pode ter como beneficirio o prprio sacador (letra ordem do sacador)

    O endossado terceiro possuidor: pessoa que assume a posio de beneficirio, por endosso do tomador ou de um anterior endossado (endossante); cada endossado garante aos anteriores possuidores da letra (endossantes/endossados) que a letra ser aceite e paga pelo sacado

    Atos relevantes

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    Saque declarao negocial atravs da qual o sacador emite a ordem de pagamento a cargo do sacado, garantindo que este assumir a responsabilidade por esse pagamento (aceite) e pagar a dvida ao tomador ou a um endossado posterior

    o Modalidades de saque: art. 3 LULL Letra ordem do prprio sacador o sacador

    tambm o beneficirio da letra (tomador) Letra sacada sobre o prprio sacador o

    sacador emite a letra sobre si prprio ( simultaneamente sacador e sacado)

    Letra sacada por ordem e conta de terceiro o tomador um terceiro

    Aval garantia do cumprimento da obrigao titulada na letra, de carter pessoal, constituda por negcio jurdico, pela qual um terceiro assegura, de forma solidria, com todo o seu patrimnio, a obrigao titulada

    o O aval pode garantir, no todo ou em parte, a dvida titulada na letra art. 30 LULL

    o O aval expresso atravs da expresso bom para aval, escrita no verso da letra, com aposio da assinatura do avalista art. 31 LULL

    o O aval deve indicar quem o avalisado (beneficirio do aval) - o aval pode garantir a obrigao do aceitante (sacado) ou a obrigao do sacador perante o portador da letra

    o O avalista torna-se responsvel pela dvida titulada, podendo esta ser-lhe exigida; porm, caso pague a dvida do avalisado fica sub-rogado nos seus direitos art. 32 LULL

    Aceite declarao negocial atravs da qual o sacado assume a obrigao de pagar a letra na data do seu vencimento, prometendo executar a ordem de pagamento que lhe foi dirigida (passa a ser aceitante)

    o A letra pode ser apresentada ao sacado, para aceite, pelo portador, nos seguintes prazos:

    at data de vencimento art. 21 LULL (letras vista)

    em data fixa ou prazo estipulado para o aceite art. 22 LULL (letra com dia ou prazo certo)

    no prazo de um ano a contar da data de emisso art. 23 LULL (letras a certo termo de vista)

    o O aceite realizado por escrito na letra, nos campos para esse efeito, pela aposio da palavra aceite e a assinatura do aceitante (sacado) art. 25 LULL

    o O aceite tem como efeito a assuno pelo sacado da obrigao de pagar a quantia titulada na data de vencimento art. 26 e 28 LULL

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    29

    Protesto ato formal atravs do qual o sacado recusa o aceite ou o pagamento da letra

    o O sacado no assume a responsabilidade pelo pagamento da letra (protesto por falta de aceite), ou que no paga a letra na data de vencimento (protesto por falta de pagamento) art. 44 LULL

    O protesto por falta de aceite ou de pagamento deve ser comunicado a todos os endossantes e ao sacador sucessivamente art. 45 LULL

    o Em caso de protesto, o sacador responsvel pelo pagamento da letra ao portador, mas, alm dele, so tambm solidariamente responsveis o aceitante, endossantes e avalistas art. 47 LULL

    Endosso ato de transmisso da letra a outra pessoa, que passa a ser beneficirio (endossado)

    o As letras so sempre transmissveis por endosso, exceto se o sacador emitir a letra com a indicao no ordem art. 11 LULL

    o O endosso pode ser feito a um terceiro, mas tambm ao prprio sacado ou sacador, art. 11 LULL

    o O endosso faz-se por escrito no verso da letra (ou em folha anexa), com a assinatura do endossante, podendo mencionar o nome do endossado ou valer como endosso em branco (neste caso, o beneficirio o portador da letra art. 16 LULL) art. 12 e 13 LULL

    o O endosso tem como efeito a transmisso para o endossado de todos os direitos emergentes da letra, nos precisos termos que nela constam (no h endosso parcial) art. 12 e 14 LULL

    o Com o endosso, o endossante passa a garantir, perante o endossado e os que se lhe vierem a seguir, a aceitao e pagamento da letra pelo sacado art. 15 LULL

    Reforma substituio da letra por outra, com os mesmos intervenientes e contedo, com data de vencimento posterior; a reforma pode ser total, se o valor da letra nova igual ao da letra reformada (acrescendo juro), ou parcial, se o montante da letra nova inferior ao da letra reformada (em caso de pagamento parcial)

    Desconto adiantamento do valor titulado na letra, antes do seu vencimento, efetuado por uma instituio bancria ao portador da letra (tomador ou endossado)

    Vencimento e pagamento

    Modalidades: art. 33 LULL o vista a letra paga mediante apresentao a

    pagamento, em qualquer dia, dentro do prazo de 1 ano a contar da data de emisso art. 34 LULL

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    o A certo termo de vista a letra deve ser paga depois de decorrido certo prazo sobre a data do aceite (ou do protesto) art. 35 LULL

    o A certo termo de data a letra deve ser paga depois de decorrido certo prazo estipulado entre as partes art. 36 LULL

    o Em dia fixo a letra deve ser paga na data estipulada

    Pagamento o A letra deve ser apresentada a pagamento na data de

    vencimento, ou nos 2 dias teis seguintes art. 38 LULL

    o O portador no pode ser obrigado a receber o pagamento antes da data de vencimento art. 40 LULL

    o O portador no pode recusar um pagamento parcial da quantia titulada art. 39 LULL

    Quitao: o sacado que paga a quantia titulada tem o direito de exigir, alm de um documento comprovativo do pagamento (recibo de quitao), o original da letra art. 39 LULL

    Falta de pagamento

    Em caso de falta de pagamento da letra na data de vencimento, o seu portador pode agir judicialmente contra o sacado, o sacador, os endossantes e os avalistas art. 43 LULL (e mesmo antes da data de vencimento, em caso de insolvncia do sacado, por exemplo)

    O portador da letra (mesmo sendo o sacador) tem o direito de exigir do aceitante (sacado) a quantia titulada na letra aceite e no paga na data de vencimento, com juros taxa de 6% desde a data do vencimento at efetivo e integral pagamento, e as despesas bancrias que teve de suportar art. 28 e 48 LULL

    A pessoa que pagou a letra tem o direito de exigir dos seus garantes, alm do que pagou, juros taxa de 6% ao ano desde a data que pagou at efetivo e integral pagamento, e as despesas que teve de suportar art. 49 LULL

    Se a letra no paga na data de vencimento, o portador passa a ter na sua posse um ttulo executivo, isto , um documento comprovativo da existncia e montante do valor da dvida que lhe permite instaurar diretamente uma ao executiva destinada a penhorar e vender os bens do patrimnio dos obrigados (sem necessidade de prvia ao declarativa)

    Porm, o portador tem o nus de instaurar as aes judiciais destinadas a executar o patrimnio dos obrigados nos seguintes prazos, sob pena de prescrio: art. 70 LULL

    o As aes contra o aceitante (sacado) prescrevem no prazo de 3 anos a contar da data de vencimento

    o As aes do portador contra o sacador e os endossantes prescrevem no prazo de um ano a contar do protesto ou da data de vencimento da letra

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    31

    o As aes dos endossantes uns contra os outros e contra o sacador prescrevem no prazo de 6 meses a contar da data de pagamento ou em que foi acionado

    o Livrana

    Noo: ttulo de crdito que enuncia uma promessa de pagamento de uma quantia certa, na data de vencimento estipulada, feita pelo subscritor a favor de pessoa determinada ou ordem desta (tomador)

    Requisitos formais

    O ttulo tem que conter: art. 75 LULL o Nome e morada da pessoa emite a livrana (subscritor) o Local e data de emisso da livrana o A palavra LIVRANA e a promessa de pagamento de

    uma certa quantia em dinheiro na data de vencimento o A quantia a pagar (em numerrio e por extenso) o A data de vencimento da livrana o O local de pagamento (NIB da conta bancria onde a

    quantia deve ser debitada) o Assinatura do emitente da livrana (subscritor) o O nome da pessoa a quem ou ordem de quem essa

    quantia deve ser paga (tomador) o Imposto de selo liquidado

    Intervenientes principais:

    O subscritor emitente: a pessoa que promete pagar; o subscritor garante ao tomador e aos posteriores endossados que cumprir a promessa de ordem de pagamento art. 78 LULL

    O tomador beneficirio: a pessoa que vai receber o pagamento da quantia em dinheiro

    O endossado terceiro possuidor: pessoa que assume a posio de beneficirio, por endosso do tomador ou de um anterior endossado (endossante); cada endossado garante aos anteriores possuidores o seu pagamento

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    Regime a livrana regulada subsidiariamente pelo regime das letras no que toca a: art 77 LULL

    Endosso

    Vencimento

    Pagamento

    Falta de pagamento e prescrio

    Aval

    o Cheque

    Noo: ttulo de crdito que enuncia uma ordem de pagamento que se dirige a uma instituio bancria que detm proviso do emitente, a favor do emitente ou de terceiros

    O cheque um ttulo que incorpora um direito autnomo e literal o que significa que no podem ser opostas ao portador as excees derivadas das relaes pessoais existentes com o sacador art. 22 LUC

    Conveno de cheque contrato entre o depositante e o banco que permite que certa conta bancria de depsitos, ordem ou a prazo, seja movimentada atravs de cheque (esta conveno pode ser posteriormente revogada pelo banco, se o cliente emitir cheques sem proviso e no proceder sua regularizao no prazo dado para o efeito, ou se o seu nome constar da listagem de utilizadores de risco detida pelo Banco de Portugal) art. 3 LUC

    Requisitos formais:

    O cheque deve conter, segundo o art. 1 LUC: o Identificao de quem deve pagar (banco sacado) o Local de pagamento nmero de conta bancria, e

    balco o A palavra cheque e o mandato de pagar uma quantia

    determinada (pague por este cheque) o Quantia a pagar (em numerrio e por extenso em caso

    de divergncia, vale a quantia por extenso- art. 9 LUC) o Local e data de emisso o O nome ordem de quem o pagamento deve ser pago

    (tomador) o Assinatura do emitente (sacador)

    A falta de algum destes requisitos torna o cheque ineficaz como ttulo de crdito, com exceo de lugar de pagamento e local de emisso art. 2 LUC

    O cheque passado em branco, designadamente quanto quantia, data e local de emisso, vlido e eficaz, desde que as partes tenham celebrado entre si um acordo de preenchimento que legitime o beneficirio a introduzir essas informaes art. 13 LUC

    Intervenientes principais:

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    33

    Sacado o banco que detm, em depsito, o dinheiro do sacador

    Sacador emitente do cheque; pessoa que d a ordem ao banco (sacado) para pagar certa quantia nele depositada

    o O sacador o responsvel pelo cumprimento da dvida, garantindo o seu pagamento art. 12 LUC

    Tomador- beneficirio do cheque (pode ser um terceiro ou o prprio sacador)

    o Formas de emisso relativamente ao beneficirio: art. 5 e 14 LUC

    ordem de determinada pessoa (tomador) o cheque pode ser transmitido por endosso

    A determinada pessoa no ordem o cheque no pode ser endossado

    Ao portador sem indicao do tomador ou com indicao ao portador

    Atos relevantes:

    Saque o cheque pode ser emitido ordem do prprio sacador ou de terceiro art. 6 LUC

    Endosso o cheque ordem pode ser transmitido por endosso art. 14 LUC

    o O endosso deve ser efetuado por escrito, mediante a assinatura do endossante no verso do cheque art. 16 LUC

    o O endosso pode ser feito a uma pessoa certa, designada no verso do cheque, ou ao portador, que passa a ser o seu portador legtimo art. 15, 16 e 17 LUC, art. 19 LUC

    o O endosso transfere para o endossado todos os direitos resultantes do cheque art. 17 LUC

    o O endossante garante ao endossado, e sucessivos portadores, o pagamento do cheque art. 18 LUC

    Aval o pagamento do cheque tambm pode ser garantido por outra pessoa, o avalistas, que passa a responder solidariamente pelo cumprimento da dvida com todo o seu patrimnio art. 25 e 27 LUC, e art. 44 LUC

    o O aval dado por escrito, no verso do cheque, pela expresso bom para aval seguida da aposio da assinatura do avalista que garante o pagamento do cheque art. 26 LUC

    Pagamento

    O cheque um meio de pagamento vista, o que significa que deve ser pago depois de apresentado a pagamento no banco sacado art. 28 LUC

    O cheque deve ser apresentado a pagamento no prazo de 8 dias a contar da data de emisso art. 29 LUC

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    34

    Cheque pr-datado o sacador e o tomador podem convencionar entre si uma data de pagamento do cheque no futuro, porm, o banco no se pode recusar a pagar o cheque apresentado a pagamento antes da data pr-definida art. 29 LUC

    Cheque cruzado o cheque cruzado s pode ser pago ao balco do banco sacado se o portador for seu cliente, caso contrrio, tem de ser obrigatoriamente depositado noutra instituio bancria art. 37 e 38 LUC

    Falta de pagamento

    O banco sacado s obrigado a pagar o cheque se o sacador tiver proviso suficiente na conta bancria associada; porm, a lei determina que o banco sacado seja obrigado a pagar os cheques emitidos de valor igual ou inferior a 150,00, desde que apresentados no prazo de 8 dias a contar da data de emisso, mesmo que o sacador no tenha proviso para o efeito

    Em caso de falta de pagamento do cheque, o seu portador pode agir judicialmente contra o sacador, os endossantes e os avalistas art. 40 LUC

    A pessoa que pagou o cheque tem o direito de exigir dos outros responsveis, alm do que pagou, juros taxa de 6% ao ano desde a data que pagou at efetivo e integral pagamento, e as despesas que teve de suportar art. 46 LUC

    O cheque, como os restantes ttulos de crdito, um ttulo executivo, servindo de base documental para instaurar uma execuo contra o sacador e outros responsveis solidrios destinada a realizar coativamente a dvida titulada e no paga

    Porm, o portador tem o nus de instaurar as aes judiciais destinadas a executar o patrimnio dos obrigados no prazo de seis meses a contar da data da apresentao a pagamento, sob pena de prescrio: art. 52 LUC

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    35

    CAP. V - INSOLVNCIA E RECUPERAO DE EMPRESAS

    Livro, pg. 391 a 404

    Consideraes gerais sobre insolvncia

    o A insolvncia definida como a situao de impossibilidade do cumprimento de

    obrigaes vencidas pelo devedor, que fundamenta a aplicao de medidas no

    mbito de um processo judicial de insolvncia destinadas a satisfazer os direitos

    dos credores

    o O processo de insolvncia tem por finalidade a satisfao dos direitos dos

    credores do insolvente, a qual se consegue pela execuo de um plano de

    insolvncia destinado recuperao econmica da empresa insolvente, ou,

    quando tal no seja possvel, por via da liquidao do patrimnio do devedor e

    repartio do produto obtido pelos credores (execuo universal) art. 1 CIRE

    o A insolvncia verifica-se em relao a pessoas singulares e coletivas, quer sejam,

    ou no, comerciantes

    o A insolvncia veio substituir a falncia, instituto jurdico semelhante que vigorou

    at 2004, aplicvel apenas a comerciantes, pelo que, sistematicamente, se

    continua a pertencer ao domnio do Direito Comercial, apesar do seu mbito

    subjetivo

    o A situao e o processo de insolvncia esto regulados no CIRE (Dl 53/2004 de

    18 de Maro de 2004) com as alteraes e aditamentos introduzidos pela Lei

    16/2012 de 20 de Abril

    Quem pode ser declarado insolvente art. 2 CIRE

    Pessoas singulares comerciantes em nome individual e no comerciantes

    Pessoas coletivas sociedades comerciais, sociedades civis sob a forma

    comercial, cooperativas, associaes e fundaes

    Patrimnios autnomos EIRL, herana jacente e outros patrimnios

    autnomos

    Organizaes de pessoas e bens sem personalidade jurdica sociedades civis,

    sociedades comerciais no registadas, etc.

    A situao de insolvncia art. 3 e 20 CIRE

    A insolvncia verifica-se em 2 situaes:

    quando o devedor (pessoa singular ou coletiva) que no tem possibilidade

    de cumprir as suas obrigaes vencidas art. 3, n. 1, do CIRE, ou seja, o

    devedor no capaz de satisfazer obrigaes que, pelo seu significado ou

    circunstncias, evidenciem a impotncia de satisfao da generalidade das

    dvidas

  • ISCA-UA 2012/2013 Sumrios desenvolvidos de DIREITO COMERCIAL E DAS SOCIEDADES

    36

    nas pessoas coletivas e nos patrimnios autnomos (como o caso do EIRL)

    por cujas dvidas nenhuma pessoa responda pessoal e ilimitadamente,

    quando o passivo manifestamente superior ao ativo, avaliados segundo o

    SNC e nos termos do art. 3, n. 3 CIRE art. 3, n. 2 CIRE

    A situao de insolvncia indiciada pelas circunstncias previstas no art. 20,

    n. 1, do CIRE, designadamente:

    Suspenso generalizada das obrigaes vencidas

    Falta de cumprimento de uma ou mais obrigaes que, pelo seu montante

    ou circunstncias, revele a impossibilidade de satisfao pontual das

    obrigaes do devedor

    Incumprimento generalizado, nos ltimos seis meses, de dvidas tributrias

    (fiscais), de dvidas Segurana Social, de dvidas laborais (dos

    trabalhadores), de dvidas decorrentes da locao ou aquisio das

    instalaes da sede ou residncia (arrendamento, locao financeira,

    compra e venda e mtuo com hipoteca)

    Insuficincia de bens penhorveis para pagamento de dvida exequenda,

    verificada em processo de execuo movido contra o devedor

    Fuga do titular da empresa ou abandono das instalaes

    Dissipao e liquidao apressada ou ruinosa de bens e constituio fictcia

    de crditos

    Incumprimento das obrigaes previstas em plano de insolvncia ou plano

    de pagamentos

    Manifesta superioridade do passivo sobre o ativo, segundo o ltimo

    balano aprovado, ou atraso superior a 9 meses na aprovao e depsito

    das contas apenas em caso de pessoas coletivas e patrimnios autnomos

    O processo judicial de insolvncia e de recuperao de empresas

    Processo judicial com carter urgente que corre os seus termos nos tribunais do

    comrcio (jurisdio comercial)

    Iniciativa processual art. 18 e 20 CIRE

    O devedor insolvente - o devedor tem o dever de se apresentar

    insolvncia no prazo de 30 dias a contar da data em que conhece, ou

    devia conhecer, a sua situao de insolvncia (salvo pessoas singulares

    que no sejam titulares de uma empresa) no caso de pessoas coletivas,

    a insolvncia tem de ser pedida pelos seus administradores

    Terceiro responsvel, nos termos da lei, pelas dvidas do devedor

    Qualquer credor do insolvente

    Ministrio Pblico

    A sentena de declarao de insolvncia e os seus efeitos art. 36 e 81 e ss CIRE

    Requerida a insolvncia, o tribunal cita o devedor para se opor ao pedido

    de insolvncia (caso no tenha sido ele a pedi-la); se o devedor se opuser,

  • ISCA-UA 2012/2013 Sumrios desenvolvidos de DIREITO COMERCIAL E DAS SOCIEDADES

    37

    o tribunal aprecia as provas apresentadas pelas partes e s depois decide

    se se verifica, ou no, a situao de insolvncia invocada

    O tribunal profere uma deciso definitiva em que declara a insolvncia do

    devedor sentena de declarao de insolvncia art. 36 CIRE

    Publicidade da insolvncia: a sentena obrigatoriamente notificada aos

    interessados, publicada na internet, no portal dos tribunais

    (www.citius.tribunaisnet.mj.pt), e registada nas Conservatrias do Registo

    Civil, Comercial e Predial competentes

    A sentena nomeia sempre um administrador de insolvncia - profissional

    liberal que exerce funes por conta do tribunal - art. 52 e 55 CIRE

    A sentena determina a apreenso imediata da contabilidade do

    insolvente e dos seus bens art. 36 CIRE

    Efeitos da sentena de declarao de insolvncia:

    O insolvente perde os poderes de administrao e disposio

    sobre os seus bens art. 81 CIRE

    Todas as aes judiciais que estiverem pendentes contra o

    insolvente so apensadas ao processo de insolvncia- art. 85

    CIRE

    Exerccio dos direitos dos credores do insolvente exclusivamente

    no processo de insolvncia art 90 CIRE

    Vencimento de todas as obrigaes do insolvente no

    subordinadas a condio suspensiva art. 91 CIRE

    Suspenso dos negcios jurdicos em curso de que o insolvente

    seja parte art. 102 CIRE

    Interveno dos credores do insolvente

    So credores da insolvncia os titulares de direitos de crdito constitudos

    antes da declarao de insolvncia art. 47 CIRE

    Os credores do insolvente so chamados a intervir no processo, para

    tomar decises sobre o futuro do insolvente: os credores constituem a

    assembleia de credores, que delibera sobre o encerramento ou

    manuteno da actividade dos estabelecimentos do insolvente art.72 e

    156 do CIRE

    Os credores da insolvncia que pretendam ver os seus crditos satisfeitos

    devem reclam-los no processo de insolvncia, no prazo fixado na

    sentena de insolvncia a reclamao de crditos feita atravs de

    requerimento escrito dirigido ao administrador de insolvncia, em que o

    credor alega ser titular de um crdito sobre o insolvente, e refere a sua

    origem, data de vencimento, montante de capital e juros, natureza, e a

    existncia de garantias reais e pessoais que o garantam o seu

    cumprimento; este requerimento remetido por carta postal registada ou

    correio eletrnico ao administrador de insolvncia art. 128 CIRE

  • ISCA-UA 2012/2013 Sumrios desenvolvidos de DIREITO COMERCIAL E DAS SOCIEDADES

    38

    S sero pagos no processo de insolvncia os credores que tenham

    reclamado o seu crdito sobre o devedor insolvente, segundo a ordem

    estabelecida na sentena de verificao e graduao de crditos art.

    172 CIRE

    Aprovao de plano de insolvncia

    Na assembleia de credores, os credores do insolvente so chamados a apreciar

    o relatrio elaborado pelo administrador de insolvncia e tomar posio sobre a

    viabilidade da continuao da atividade da empresa do insolvente caso

    entendam que possvel recuperar a empresa, devem aprovar um plano de

    insolvncia, que ser executado pelo administrador de insolvncia art. 192 e

    seguintes do CIRE

    A liquidao do patrimnio do insolvente

    Chama-se massa insolvente ao conjunto de bens suscetveis de penhora

    integrantes do patrimnio do insolvente na data da declarao de

    insolvncia abrange todo o patrimnio do devedor (garantia geral das

    obrigaes)- art. 46, n. 1, CIRE

    Caso a empresa seja irrecupervel, procede-se liquidao dos bens da

    massa insolvente, os quais so vendidos pelo administrador de insolvncia

    pelo melhor preo art. 158, n. 1, CIRE

    Pagamento aos credores art. 172 e ss CIRE

    Os crditos sobre a insolvncia so verificados e graduados pelo tribunal

    (art. 140 CIRE) segundo a sua natureza (art. 47, n. 2, CIRE): os crditos

    garantidos e privilegiados (beneficiam de garantias reais sobre bens da

    massa insolvente) so pagos em primeiro lugar, segundo a sua prioridade,

    pelo valor dos bens com garantia real, depois so pagos os crditos

    comuns (proporcionalmente, caso o produto obtido no chegue para

    pagar a todos) e, em ltimo lugar, caso sobre alguma coisa, so pagos os

    crditos subordinados (os previstos no art. 48 CIRE, com especial relevo

    os crditos dos scios por suprimentos sociedade)

    O encerramento do processo art. 230, 233 e 234 CIRE

    Distribudo o produto da venda dos bens do insolvente, ou homologado

    pelo tribunal o plano de insolvncia, o processo judicial termina com um

    despacho de encerramento do juiz art. 230 CIRE

    Aps o encerramento do processo, cessam os efeitos da declarao de

    insolvncia- art. 233 CIRE

    Os crditos sobre o insolvente que no forem pagos no processo de

    insolvncia mantm-se, aps o despacho de encerramento (salvo em caso

    de exonerao do passivo restante de pessoas singulares art. 235 CIRE)

    Efeitos do encerramento sobre pessoas singulares: o insolvente recupera

    os poderes de livre administrao e disposio dos bens que vierem a

    integrar o seu patrimnio, salvo em caso de insolvncia dolosa- art. 233

    CIRE

  • ISCA-UA 2012/2013 Sumrios desenvolvidos de DIREITO COMERCIAL E DAS SOCIEDADES

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    Efeitos do encerramento sobre sociedades comerciais: se o processo de

    insolvncia encerrar com a homologao do plano de insolvncia, a

    sociedade prossegue a sua atividade comercial nos termos previstos; se o

    processo terminar com a liquidao do patrimnio da sociedade, a

    sociedade extingue-se e o seu registo comercial cancelado - art. 234

    CIRE

    o Processo especial de revitalizao

    A lei 16/2012 de 20 de Abril veio aditar ao CIRE os artigos 17-A a 17 -I,

    criando o processo especial de revitalizao

    Este processo especial de revitalizao visa a recuperao de um

    devedor que se encontre em situao econmica difcil ou em situao

    iminente de insolvncia, atravs do estabelecimento de negociaes

    com os credores de modo a concluir um acordo geral que conduza sua

    revitalizao

    Trata-se de um procedimento judicial, que corre no tribunal do comrcio

    competente, que se inicia por um requerimento subscrito pelo devedor

    e, pelo menos, por um dos seus credores, em que estes manifestam a

    sua vontade em encetar negociaes para aprovar um plano de

    recuperao

    Na sequncia do requerimento, o tribunal nomeia um administrador

    judicial provisrio

    Os credores so chamados ao processo por meio de carta registada, e

    tm 20 dias para reclamar os seus crditos atravs de requerimento

    dirigido ao administrador judicial

    Se, aps a negociao entre o devedor e os credores, mediada pelo

    administrador judicial, os credores aprovarem, por unanimidade ou

    maioria, um plano de recuperao do devedor, este homologado pelo

    juiz e passa a vincular todos os credores, mesmo os que no tenham

    participado no processo; se no houver acordo, o processo encerrado,

    e, se o devedor j estiver em situao de insolvncia, esta

    imediatamente declarada pelo tribunal

    A pendncia deste processo especial obsta instaurao de quaisquer

    aes de cobrana judicial contra o devedor e suspende as que ento

    estiverem pendentes, e impede o devedor de praticar atos patrimoniais

    de relevo sem autorizao do administrador judicial

  • ISCA-UA 2012/2013 Sumrios desenvolvidos de DIREITO COMERCIAL E DAS SOCIEDADES

    40

    PARTE II - DIREITO DAS SOCIEDADES

    CAP. I AS SOCIEDADES COMERCIAIS

    Livro, pg. 115 a 148

    A palavra sociedade pode ter vrios significados: pode identificar um tipo de pessoas

    coletivas, referir-se ao negcio jurdico constitutivo ou ainda relao contratual que dele

    deriva

    Muitas vezes, fala-se indistintamente em empresa e sociedade, porm, no so exatamente

    sinnimos: a sociedade o sujeito e a empresa o objeto, assim:

    o A sociedade existe como comerciante desde a data do registo definitivo, sem

    necessidade da prtica de qualquer ato (pode existir sociedade sem empresa)

    o A sociedade pode celebrar negcios sobre a empresa (trespasse, cesso de

    explorao...)

    o A sociedade pode ter patrimnio que no integra a empresa, por no estar afeto

    explorao da atividade comercial

    Vamos utilizar a palavra sociedade para identificar um tipo de pessoas coletivas

    comerciantes

    o Vantagens da constituio de sociedades comerciais:

    congregao de meios financeiros e capacidade de gesto

    instrumento de autonomizao de atividades e patrimnios

    vantagens da limitao de responsabilidade por dvidas decorrentes da

    atividade comercial

    Conceito

    o Sociedade comercial uma pessoa coletiva constituda por um contrato mediante o

    qual duas ou mais pessoas se obrigam a contribuir com bens ou servios para o

    exerccio em comum de uma atividade comercial, a fim de repartirem entre si os

    lucros da resultantes, e que adota uma forma prevista na lei comercial (CSC)- art.

    980 CC e 1, n. 2, CC

    o As sociedades comerciais so comerciantes, nos termos do art. 13, n. 2, Ccom

    o Elementos

    Pessoal

    Entidade constituda por uma pluralidade de pessoas (scios)

    Os scios podem ser pessoas singulares ou coletivas

    Exceo- sociedades unipessoais:

    o Sociedades unipessoais por quotas- art. 270 e ss. CSC

    So sociedades por quotas com um nico scio, que

    pode ser uma pessoa singular (mas 1 pessoa

    singular s pode ser scia nica de 1 sociedade

    unipessoal) ou coletiva

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