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Sumário • • •11 Jij Artigos e Comentários 9 Diplomacia e democratizaláo Antonio de Aguiar Patriota 17 Seria a política externa brasileira um problema para o Itamaraty? GonÇalo Mello Mourao 25 Dinámicas do processo decisório em política externa a partir de uma perspectiva cognitiva: o papel das imagens no caso da Política Externa Independente (1961-1964) Fábio Albergarla de Queiroz Na última década, a política externa brasileira tem sido capaz de se renovar e se antecipar ás m udanÇas que es- tavam em curso na ordem inteit nacional. Essas transfor- maÇóes foram revelando, ao mesmo tempo, urna maior dispersáo do poder global, bem como a inclusáo de mais países em desenvolvimento no processo de torna- da de decisáo. A diplomacia brasileira conquistou mais espaÇo e a inserÇáo participativa do Brasil no cenário internacional tem sido seguida por urna incorporaÇáo crescente da sociedade brasileira nos debates da políti- ca externa do país. Um processo de refinamento da rela- Çáo entre democracia e diplomacia está em curso no Brasil hoje em dia. O autor comenta, de um ponto de vista pessoal, o artigo de Sean Burges, de título inverso, publicado no volume 21, n" 3 desta revista (ediÇáo de jan./ fev./mar. 2013 — "Seria o Itamaraty um problema para a política externa brasileira?"). "Respondendo á pergunta inicial, creio poder dizer que essa política externa náo é um problema para o Itamaraty, nem é um problema para o Brasil. E é para essa política ex- terna que vai se abrindo, aos poucos, o cenário internacio- nal", diz o articulista. Para ele, o Itamaraty esteve na van- guarda em muitas formulaÇóes, entre elas, a abertura de Embaixadas residentes em todos os países das Américas e o processo de criaÇáo da CELAC e da Unasul; a realizaÇáo das reunióes de cúpula com os países caribenhos; as cú- pulas América Latina/África e América Latina /Países Árabes; o estabelecimento das 200 milhas de mar territorial; a crináo do Tratado de CooperaÇáo Amazónica; e a tentati- va de facilitaÇáo do diálogo com o Irá. Este artigo tem como objetivo avaliar o papel de elementos cognitivos, mais especificamente o papel das imagens na criaÇáo e implementaÇáo da "Política Externa Indepen- dente" — PEI (1961-1964), um plano de aÇáo que moldou a estratégia brasileira de inserÇáo internacional em um contexto paradigmático, marcado por mudanÇas estru- turais notáveis. Como resultado, o estudo concluiu que 1 VOL 22 N . 2 OUT/NOV/DEZ 2013

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Sumário

• • •11Jij

Artigos e Comentários

a

9 Diplomacia e democratizaláoAntonio de Aguiar Patriota

17 Seria a política externa brasileiraum problema para o Itamaraty?GonÇalo Mello Mourao

25 Dinámicas do processo decisórioem política externa a partir deuma perspectiva cognitiva: o papeldas imagens no caso da PolíticaExterna Independente (1961-1964)Fábio Albergarla de Queiroz

Na última década, a política externa brasileira tem sidocapaz de se renovar e se antecipar ás m udanÇas que es-tavam em curso na ordem inteitnacional. Essas transfor-maÇóes foram revelando, ao mesmo tempo, urna maiordispersáo do poder global, bem como a inclusáo demais países em desenvolvimento no processo de torna-da de decisáo. A diplomacia brasileira conquistou maisespaÇo e a inserÇáo participativa do Brasil no cenáriointernacional tem sido seguida por urna incorporaÇáocrescente da sociedade brasileira nos debates da políti-ca externa do país. Um processo de refinamento da rela-Çáo entre democracia e diplomacia está em curso noBrasil hoje em dia.

O autor comenta, de um ponto de vista pessoal, o artigo deSean Burges, de título inverso, publicado no volume 21,n" 3 desta revista (ediÇáo de jan./ fev./mar. 2013 — "Seria oItamaraty um problema para a política externa brasileira?")."Respondendo á pergunta inicial, creio poder dizer queessa política externa náo é um problema para o Itamaraty,nem é um problema para o Brasil. E é para essa política ex-terna que vai se abrindo, aos poucos, o cenário internacio-nal", diz o articulista. Para ele, o Itamaraty esteve na van-guarda em muitas formulaÇóes, entre elas, a abertura deEmbaixadas residentes em todos os países das Américas e oprocesso de criaÇáo da CELAC e da Unasul; a realizaÇáodas reunióes de cúpula com os países caribenhos; as cú-pulas América Latina/África e América Latina /PaísesÁrabes; o estabelecimento das 200 milhas de mar territorial;a crináo do Tratado de CooperaÇáo Amazónica; e a tentati-va de facilitaÇáo do diálogo com o Irá.

Este artigo tem como objetivo avaliar o papel de elementoscognitivos, mais especificamente o papel das imagens nacriaÇáo e implementaÇáo da "Política Externa Indepen-dente" — PEI (1961-1964), um plano de aÇáo que moldoua estratégia brasileira de inserÇáo internacional em umcontexto paradigmático, marcado por mudanÇas estru-turais notáveis. Como resultado, o estudo concluiu que

1 VOL 22 N . 2 OUT/NOV/DEZ 2013

SUMÁRIO

t

39 "Eu vi o mundo"O princípio do multilateralismonas gestóes de política externade Cardoso e de LulaDawisson Belém Lopes

49 Vamos renegociar o Mercosul?José Botafogo GonÇaives

53 Falta ambiláo para BaliPedro de Camargo Neto

59 Repensando as relalóesEstados Unidos/América Latina:trinta anos de transformalóesAbraham Lowenthal

os processos de tomada de decisáo da PEI foram profun-damente vinculados a um conjunto de cremas, valores eimagens que os tomadores de decisáo e formuladores depolíticas levaram com eles, orientando e muitas vezesdeterminando a formaÇáo dos interesses nacionais.

O artigo tem como principal argumento que as diversasmaneiras pelas quais o princípio do multilateralismo foiapreendido e traduzido, durante os mandatos presiden-ciais de Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lulada Silva, pelas elites brasileiras formuladoras de políti-cas, é urna poderosa metáfora para explicar como o Brasilestá acostumado a conceber a sua presenta no mundo eos seus papéis políticos vis-á-vis com outros países emdesenvolvimento e países desenvolvidos. Além disso, aquestáo do multilateralismo lanÇa luz sobre os diferentessignificados práticos que os formuladores brasileiros depolíticas, sob Fernando Henrique Cardoso e Lula da Silva,atribuem ao táo citado lema "democratizaÇáo das relaÇóesinternacionais".

O Mercosul que está al náo é o Mercosul que foi negociadopelo Tratado de AssunÇáo. O articulista diz que o poyobrasileiro tem o direito de opinar se prefere o Mercosul deAssunÇáo ou o Mercosul bolivariano. "0 governo atual,táo a favor de consultas populares, deveria apoiar a inicia-tiva de urna renegociaÇáo do Tratado de AssunÇáo. Omundo mudou muito de 1991 aos dial de boje, assimcomo os quatro sócios do Mercosul. Acredito que o Brasile seus vizinhos sul-americanos teriam muito a ganharcom o lanÇamento de uma rodada de negociaÇóes comer-ciais no subcontinente". Muito se discute se o Brasil deveter um papel protagónico na sua circunstáncia político--geográfica sul-americana ou se deve seguir sozinho noseu caminho do desenvolvimento económico e social, op-tando por um isolacionismo ao sul do Equador. "Náo tenhodúvidas de que a primeira opÇáo é a melhor", conclui.

Nas últimas duas décadas, o Brasil tornou-se um líderagrícola. A posi0o de líder na exportaÇáo de inúmerasmercadorias foi seguida por lideraina nas negocinóesna OMC. A criaÇáo do G20, que teve influéncia na reu-niáo ministerial de Cancun, e os dois contenciosos vito-riosos do Brasil — o do aÇúcar e o do algodáo — sáo o ladobem-sucedido dessa lideranÇa.A reuniáo ministerial de Bali, em dezembro próximo, se-ria urna oportunidade para fortalecer a organizaÇáo mul-tilateral. A rodada de negociaÇóes, chamada Rodada doDesenvolvimento, em que a agricultura está no centro,novamente exigiria lideranÇa do Brasil. Porém, isso náoestá acontecendo. Infelizmente, inexiste ambiÇáo do Brasilpara a reuniáo de Bali.

O artigo compara o relacionamento entre os EUA e aAmérica Latina de 30 anos atrás com o atual. Enquantoos Estados Unidos sáo boje urna sociedade envelhecida,com menor poderio e influéncia mundial, os países daAmérica Latina, que enfrentaran a Década Perdida dos

69 A regiáo avanlou;os académicos americanos,Mariano E. Bertucci

Comentário75 A Fifa náo é fofa

Juca Kfouri

79 Impactos socioeconómicos dCopa do Mundo Fifa 2014 elegado para o futebol brasilFernando BlumenscheinDiego Navarro

91 Para onde vai a Chinasob a quinta geraláoClodoaldo Hugueney Filho

2 POLÍTICA EXTERNA

SUMÁRIO

69 A regiáo avanlou;os académicos americanos, náoMariano E. Bertucci

Comentário75 A Fifa náo é fofa

Juca Kfouri

79 Impactos socioeconómicos daCopa do Mundo Fifa 2014 e seulegado para o futebol brasileiroFernando BlumenscheinDiego Navarro

91 Para onde vai a Chinasob a quinta geraláoClodoaldo Hugueney Filho

anos 1980, evoluíram económica e socialmente. Agora,corresponde aos EUA viver a sua Década Perdida. O de-semprego, que teve um forte aumento em 2008-2009,vem cedendo de forma bastante lenta. A renda familiarcaiu, ao mesmo tempo em que a concentraÇáo de rendase intensificou enormemente. Em termos gerais, a histó-ria da América Latina e do Caribe é mais positiva hoje doque há 30 anos. Os próximos anos podem ser auspiciosospara a cooperacáo interamericana, náo devido á filantro-pia dos Estados Unidos, nem ao fato de Washington te-mer cortas tendéncias regionais ou influéncias externassobre a América Latina, mas porque as transformaÇóesocorridas nas Américas, do Norte e do Sul, geram umpotencial de sinergia e de oportunidades mútuas.

Estudos académicos americanos sobre a relaÇáo entreEstados Unidos e América Latina costumam lidar com aquestáo do ponto de vista da política externa dos EUApara a regiáo. Dessa abordagem egocéntrica se originamerres profundos na compreensáo do fato contemporáneode que as naÇóes latino-amerIanas tém grande latitudena forn-iulaÇáo de suas políticas externas. Além disso, amaioria desses estudos falham em observar fatores ur-gentes e relevantes, tais como a cooperaÇáo internacionalno domínio da energia, das drogas, da migraÇáo e domeio ambiente.

O acrónimo Fifa foi presenta constante nos protestos dejunho que mudaram o Brasil. A Copa das Confedernóescontribu i u como gota d'água para transbordar o copo deinsatisfaÇóes da populaÇáo com os serviÇos públicos nopaís. O autor discute se o Brasil terá vantagens com arealizaÇáo da Copa do Mundo no país em 2014 e defendea posiÇáo de que náo terá.

A Copa do Mundo Fifa 2014 é parte dos megaeventosesportivos que o Brasil acolhe desde os Jogos Pan-Ame-ricanos de 2007. Após a Copa do Mudo viráo os logosOlímpicos Rio 2016. A Copa destaca-se, entre vários mo-tivos, pela exceléncia do país, reconhecida internacional-mente na prática do futebol e porque várias cidades váosediar alguns dos 64 jogos por 32 equipes nacionais. Esteartigo trata principalmente dos impactos socioeconó-micos da Copa do Mundo e do tipo de legado que podedeixar para o Brasil. Todo o investimento realizado emconstruÇáo e reforma de estádios e infraestrutura relacio-nada se traduz diretamente em oferta para os clubes defutebol, de um lado, e de desafios de aprendizado em umnovo patamar, de outro.

No XVIII Congresso do Partido Comunista Chinés, no fi-nal de 2012, concluiu-se a transiÇáo entre a quarta gera-Çáo, de Hu Jintao, e a quinta geraÇáo, liderada pelo novosecretário-geral entáo escolhido, Xi Jinping, que acumulatambém, como seu antecessor, a funÇáo de presidente daChina. Os novos dirigentes partem de urna base quantita-tiva sólida e assumem urna China que é hoje respeitadano mundo, mas teráo pela frente o desafio de promover

3 VOL 22 N . 2 OUT/NOV/DEZ 2013

SUMÁRIO

109 A estratégia petrolífera chinesa:o avanlo da China nos paísesperimetraisFelipe Santos

121 0 Novo Japáo rumo a 2020Naoki Tanaka

131 Egito - Crónica de unarevoluláo em cursoSalem H. Nasser

as reformas que a quarta geraÇáo náo pode levar adiante,em virtude da crise mundial, ou porque náo teve a deter-minaÇáo para implementá-las.O objetivo seria transformar a China de um país desiguale em desenvolvimento, com urna renda per capita em tor-no de seis mil dólares, numa economia de renda médiaentre dez e quinze mil dólares, nos próximos dez anos,com urna distribuiÇáo muito mais homogénea e com ser-vimos sociais modernos e urna reduÇáo de seu passivo am-biental. Essa é a transformaÇáo á qual deverá se dedicar aquinta geraÇáo.

O apetite chinés por petróleo e a reaÇáo dos países peri-féricos quanto ás investidas chinesas tém alterado relati-vamente a dinámica da geopolítica regional. O dragáoasiático tem veementemente investido em produÇáo eexploraÇáo de óleo e gás natural, tendo como estratégiaprincipal a entrada em mercados em que a presenÇa eu-ropeia e americana ainda permanecen incipientes. AChina, menos preocupada com questóes humanitárias easpectos políticos democrátijos corno precondiÇáo pararealizar negócios, tem ativamente investido em paísescomo Sudáo, Irá, Venezuela, dentre outros. O gigante asiá-tico é criticado por países desenvolvidos por suas estataisempregarem no exterior náo de obra chinesa e terem bai-xos padróes de seguranÇa ambiental. O fato de os chinesesevitarem a concorréncia direta com as grandes petrolí-feras tem resultado em vantagens á entrada de estataischinesas em países que em geral sáo ignorados pelasprincipais economias globais.

Desde que passou a ser governado por Shinzo Abe, emdezembro de 2012, o Japáo entrou numa sequéncia deambiciosas reformas económicas e culturais com o objeti-vo de retomar o crescimento interrompido há quase duasdécadas. Entre os objetivos do governo estáo atingir até2020 um orÇamento equilibrado e acabar com a culturacorporativista que vige no Japáo. O artigo faz um resumodesses objetivos.

A onda de revoltas que tomariam de assalto o mundo ára-be, da Tunísia ao Egito, á Líbia, ao Iémen, ao Bahrein, áSíria e além, tem causas comuns aos vários processos re-voltosos e semelhanÇas entre eles. Porém, cada revoltaseguiu um curso próprio e vai chegando a resultados di-versos. Dentre as causas comuns, há aquelas que se repe-tiam no seio de cada sociedade, de cada país, e há aquelasque acometiam - e o seguem fazendo - o conjunto dospoyos árabes como um coletivo, e náo mais como Estadosou sociedades singulares. Os males internos, encontrá-veis em praticamente todos os países árabes, constituemurna lista razoavelmente conhecida: centralizaÇáo do po-der e autoritarismo policialesco, corrup0o, pobreza e de-sigualdade social, desemprego, déficit democrático. Sufi-ciente material para revoltas. O risco maior: o de quegrupos radicais mais violentos, já em aÇáo no Traque, naSíria e em tantos outros lugares, transformem o Egito emmais um campo de batalha e, talvez, de guerra civil.

Passagens

141 Garry Davis (1921-2013),cidadáo do mundoCarlos Eduardo Lins da Silva

O mundo na ficláo

143 Hannah Arendt (filme)Direcao de Margarethe von TrcAlemanha, Luxemburgo, Franci

Celso Lafer

Livros

149 Norberto Bobbio: trajetóriaCelso LaferGelson Fonseca Jr.

153 Madrasas náo sáo todas igL

Khoda Hafez vs Allah Hafe¿and Other Critica/ EssaysMahfuzur Rahman

From Naogaon to New YorkAn Unedited MemoirMahfuzur RahmanHelga Hoffmann

160 Nem Heróis, Nem Vilóes: cucaboclos, cambás, macaquitoutras revelalóes da sangreGuerra do ParaguaiMoacir AssuncáoRicardo Sennes

165 The End of Power: FromBoardrooms to BattlefieldsChurches to States, Why BeiCharge Isn't What It Used tcMoisés NaimLuis Fernando Ayerbe

Documentos

169 A Organizaláo das Nagóesdez anos após a morte de 5Vieira de MelloRonaldo Mota Sardenberg

4 POLÍTICA EXTERNA

SUMARIO

Passagens

141 Garry Davis (1921-2013),cidadáo do mundoCarlos Eduardo Lins da Silva

O mundo na ficláo

143 Hannah Arendt (filme)Direcáo de Margarethe von Trotta,Alemanha, Luxemburgo, Franca, 2012Celso Lafer

Livros

149 Norberto Bobbio: trajetória e obraCelso LaferGelson Fonseca Jr.

153 Madrasas náo sáo todas iguais

Khoda Hafez vs Allah Hafezand Other Critical EssaysMahfuzur Rahman

From Naogaon to New York:An Unedited MemoirMahfuzur RahmanHelga Hoffmann

160 Nem Heróis, Nem Vilóes: curepas,caboclos, cambás, macaquitos eoutras revelalóes da sangrentaGuerra do ParaguaiMoacir AssuncáoRicardo Sennes

165 The End of Power: FromBoardrooms to Battlefields andChurches to States, Why Being inCharge lsn't What It Used to BeMoisés NaímLuis Fernando Ayerbe

Documentos

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169 A Organizaláo das N 'aló- es Unidasdez anos após a morte de SérgioVieira de MelloRonaldo Mota Sardenberg

5 VOL 22 N'2 OUT/NOV/DEZ 2013