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Sugestões para elaborar estudos de caso 1 Orientações preliminares Os casos podem ser reais ou fictícios. Os reais exigem muito cuidado na atribuição de declarações, que devem ser devidamente documentadas. Casos fictícios dão mais liberdade ao autor, mas isso não significa que possam abordar situações irreais. Ao contrário, o caso posto como fictício deve, de fato, expressar situações já vividas por servidores públicos no desempenho de suas funções. Durante a escolha do tema, deve ser bem delineado o problema, os atores envolvidos e onde se passa. Esse é o eixo inicial para a construção da narrativa. O caso é essencialmente um instrumento pedagógico que deve servir para o aprendizado de como agir em situações reais e de quais podem ser as consequências das ações. Um caso não é um documento histórico nem um texto puramente descritivo. Ele deve ser capaz de suscitar questões para debate e ter elementos que permita tomada de posição e definição de cursos de ação. Desenvolvimento Uma vez definidos o tema e o foco para o caso, que deve estar colado ao objetivo de aprendizagem do curso em que será utilizado, deve-se partir para o trabalho bibliográfico e para a realização de entrevistas, quando necessárias. A pesquisa bibliográfica auxilia a entender melhor o tema a ser tratado e as abordagens teóricas sobre ele, inclusive na definição de atores relevantes para a fase de entrevistas. Estas servem para elucidar diferentes pontos de vista sobre o caso, reflexões e detalhes da história do caso, bem como garantir a veracidade e a fidedignidade das informações. A escolha do entrevistado deve levar em consideração o tipo de informação que se deseja obter. Muitas vezes, dirigentes sabem muito menos do dia a dia das equipes do que um técnico mais envolvido no processo. Possíveis perguntas para as entrevistas Perguntas de caráter descritivo, do tipo “o que”, “quem”, “como” e “onde”. Principalmente o como será o foco das entrevistas, que fornecerão informações para o relato e para o alinhamento entre questões teóricas e o caso em questão. Que contratempos surgiram/podem surgir? Quais são as áreas envolvidas? Quem são as pessoas envolvidas? Há conflitos? Como acontece/aconteceu o desenrolar do processo? Quais são/foram os pontos críticos? Quais as facilidades? Quais as dificuldades? Exemplo: Perguntas de caráter explicativo, do tipo “por quê”, fornecerão subsídios para os objetivos da aprendizagem. Por que a ação foi iniciada? Por que foi escolhido esse desenho? 1 http://casoteca.enap.gov.br/index.php? option=com_content&view=article&id=27&Itemid=5

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Page 1: Sugestões para elaborar estudos de caso.docx

Sugestões para elaborar estudos de caso1

Orientações preliminares

Os casos podem ser reais ou fictícios. Os reais exigem muito cuidado na atribuição de declarações, que devem ser devidamente documentadas. Casos fictícios dão mais liberdade ao autor, mas isso não significa que possam abordar situações irreais. Ao contrário, o caso posto como fictício deve, de fato, expressar situações já vividas por servidores públicos no desempenho de suas funções. Durante a escolha do tema, deve ser bem delineado o problema, os atores envolvidos e onde se passa. Esse é o eixo inicial para a construção da narrativa.

O caso é essencialmente um instrumento pedagógico que deve servir para o aprendizado de como agir em situações reais e de quais podem ser as consequências das ações. Um caso não é um documento histórico nem um texto puramente descritivo. Ele deve ser capaz de suscitar questões para debate e ter elementos que permita tomada de posição e definição de cursos de ação.

Desenvolvimento

Uma vez definidos o tema e o foco para o caso, que deve estar colado ao objetivo de aprendizagem do curso em que será utilizado, deve-se partir para o trabalho bibliográfico e para a realização de entrevistas, quando necessárias. A pesquisa bibliográfica auxilia a entender melhor o tema a ser tratado e as abordagens teóricas sobre ele, inclusive na definição de atores relevantes para a fase de entrevistas. Estas servem para elucidar diferentes pontos de vista sobre o caso, reflexões e detalhes da história do caso, bem como garantir a veracidade e a fidedignidade das informações.

A escolha do entrevistado deve levar em consideração o tipo de informação que se deseja obter. Muitas vezes, dirigentes sabem muito menos do dia a dia das equipes do que um técnico mais envolvido no processo.

Possíveis perguntas para as entrevistas

Perguntas de caráter descritivo, do tipo “o que”, “quem”, “como” e “onde”. Principalmente o como será o foco das entrevistas, que fornecerão informações para o relato e para o alinhamento entre questões teóricas e o caso em questão. Que contratempos surgiram/podem surgir? Quais são as áreas envolvidas? Quem são as pessoas envolvidas? Há conflitos? Como acontece/aconteceu o desenrolar do processo? Quais são/foram os pontos críticos? Quais as facilidades? Quais as dificuldades?

Exemplo: Perguntas de caráter explicativo, do tipo “por quê”, fornecerão subsídios para os objetivos da aprendizagem. Por que a ação foi iniciada? Por que foi escolhido esse desenho?

Nessa parte, a elaboração de perguntas depende de conhecimento prévio da situação em questão e de dúvidas e informações que não tenham sido esclarecidas por meio da descrição.

Encerre indagando sobre quais outras pessoas poderiam ser consultadas e se há algum material/documento que possa ser acessado.

OBS.: Essa é uma orientação geral sobre a organização de perguntas a serem feitas durante as entrevistas. O tipo de pergunta dependerá do tema abordado e do conhecimento prévio de informações.

Escrevendo o caso

A redação do caso deve ser elaborada de forma bastante neutra, apresentando fatos e circunstâncias envolvidas. O caso é muito mais um relato contextualizado, pois toda a análise deverá ser realizada pelos alunos. Abaixo uma estrutura possível a ser seguida ao elaborar a narrativa principal do caso: QUE ESTRUTURA UM CASO PODE SEGUIR?

1 http://casoteca.enap.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=27&Itemid=5

Page 2: Sugestões para elaborar estudos de caso.docx

1. INTRODUÇÃO

Define o problema a ser examinado e explica os parâmetros ou as limitações da situação; deve despertar interesse e curiosidade.

2. VISÃO GERAL/ANÁLISE

Onde/quando/por quê; fornece detalhes sobre atores envolvidos e organizações; identifica questões profissionais, técnicas ou teóricas etc.; o caso deve ser rico em nuances contextuais: cenários, personalidades, culturas, urgência das questões etc.

3. RELATO DA SITUAÇÃO

Descreve as ações, pode incluir declarações dos atores e suas relações; deve deixar claro o período temporal ou a cronologia do caso; é importante saber onde os eventos importantes ocorrem, com a identificação clara de locais e das instituições.

4. PROBLEMAS DO CASO

Geralmente um ou dois problemas que requerem análise para resolver uma questão específica; devem ser apresentados de forma clara; podem assumir três formas: a) apresentam uma situação e perguntam aos alunos o que fariam a seguir; b) definem uma tarefa, como, por exemplo, pedir aos alunos para elaborar relatório recomendando uma ação; c) ilustram um cenário e pedem aos alunos que analisem as falhas e recomendem como a situação deveria ser abordada.

*Estrutura válida tanto para casos longos como para casos curtos, guardadas as proporções e a complexidade de cada possibilidade

ANÁLISE QUALITATIVA DE CASOS – CHECKLIST

Quando escrevemos um estudo de caso, nos deparamos com algumas dúvidas sobre a qualidade do trabalho. Será que conseguimos alcançar o nosso objetivo? Será que o leitor/aluno se envolverá com a narrativa? Para ajudar nessa análise, desenvolvemos um checklist que pode auxiliar nessa construção. Não se trata de um rol exaustivo de aspectos que precisam ser observados, nem se quer aqui dizer que, para que um caso seja bom, ele tenha que responder de forma favorável todos os pontos. São apenas dicas para se chegar a um caso mais bem escrito e adequado para aplicação em sala de aula.

1. Há um desafio colocado? Os problemas e dilemas da situação foram contextualizados? Um bom caso deve desafiar os leitores a criar uma solução com uma ou mais decisões tomadas; os problemas não devem ter resposta certa ou óbvia. Um bom caso deve provocar a pensar sob várias perspectivas.

2. Que teorias ou conceitos pretendem ser ensinados por meio do caso?3. Os elementos políticos que influenciaram na situação foram explicitados?4. O caso se prestaria a uma abordagem de ensino e aprendizagem interessante (ex.: encenações,

simulações)? Quais?5. Para quais cursos ou outras abordagens o caso poderia ser utilizado?6. O caso deve ser tão breve quanto possível. Um bom caso deve fornecer informações suficientes para

que os alunos possam analisar, de maneira eficaz e eficiente, os fatos relevantes. O caso tem informações suficientes para uma boa análise?

7. O caso não deve produzir qualquer diagnóstico ou prognóstico. Não há resposta certa, solução única.8. Um bom caso deve promover habilidades tanto de análise como de síntese. O caso deve ser

orientado para decisões e movido para a ação. Os alunos são motivados quando têm que converter análise em ação.9. Quais foram as fontes utilizadas? Elas foram múltiplas? Houve entrevistas? Informantes-chave?10. O caso identifica o ator ou atores que influenciaram nas ações, devem resolver o problema e/ou

devem tomar as decisões? O leitor poderá se ver no papel do tomador de decisões ou em outros papéis?11. Existe tensão dinâmica suficiente no caso para produzir pontos de vista controversos e competitivos?12. O caso é atraente (contém um insight surpreendente; prazos fatais, conflitos, oportunidades e

ameaças atraem o leitor rapidamente para o caso)?13. Um caso, especialmente aquele documente situações reais, não deve ser visto simplesmente como

autopromoção da parte do autor ou da organização patrocinadora.14. O caso possui uma nota pedagógica? Ela está bem estruturada?

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Acidente no LRF - Análise de um caso de Acidente Verídico1. Acidente no LRF2. Local: Bobinadeira n.º 2 LRF3. Descrição do Acidente: Eu funcionário da empresa X, estava realizando manutenção no mandril da Bobinadeira n.º 2 do LRF (Laminador Reversível à Frio) e ...4. Descrição do Acidente... ao mesmo tempo um outro funcionário realizava testes com outro equipamento, quando...5. Descrição do Acidente... este funcionário acionou a mesa de enfiamento da bobinadeira n.º 2 sem a mesa estar devidamente travada e bloqueada. Em consequência ...6. Descrição do Acidente ... a mesa avançou em minha direção e ...7. Descrição do Acidente... prensou-me contra o mandril da bobinadeira.8. Consequência do acidente: Houve esmagamento do joelho da perna esquerda; Várias fraturas expostas e gravíssimas na mesma perna; Queimaduras de 1º e 2.º grau nas mãos, nos braços e tórax.9. Detalhes: O acidente só não teve consequências maiores porque ao perceber que a mesa vinha em minha direção, saltei sobre o mandril ainda quente devido haver sido processado bobina a alguns instantes (motivo das queimaduras). Se não tivesse feito isto, a mesa teria me esmagado o tórax; Outro funcionário agiu rapidamente colocando um tubo de metal entre a mesa e o mandril, impedindo assim que a minha perna fosse guilhotinada pela mesa de enfiamento;Causas do acidente Falta de uma análise de risco mais eficiente para a execução da tarefa de uma maneira tecnicamente segura; Falta de comunicação entre as partes executantes dos diversos, complexos e diferentes serviços executados na

mesma área de trabalho; Falta de Bloqueio Elétrico de todos os equipamentos móveis que poderiam por em risco a segurança de todos

no local se acionados indevidamente; Falta de Bloqueio Mecânico de todos equipamentos móveis que poderiam por em risco a segurança de todos no

local se acionados indevidamente; Falta de atenção e cuidado em todo o processo de execução das tarefas para este setor em específico; Não seguir padrões e normas adotados e exigidos pela empresa para a execução desta tarefa; Excesso de confiança na tarefa executada sob alto grau de condições inseguras;

Falta de uma análise de risco; Falta de comunicação; Falta de Bloqueio Elétrico; Ato Inseguro (Negligência e Imprudência) Falta de Bloqueio Mecânico; Falta de atenção e cuidado; Não seguir padrões e normas; Excesso de confiança. Local de Trabalho com muitos equipamentos móveis; Muitas pessoas executando tarefas variadas no mesmo local de trabalho; Condição Insegura Equipamento trabalhando sem bloqueio elétrico e mecânico;

Recomendações de Segurança- Use Epi’s obrigatórios, + os indicados para a tarefa a ser executada. - Ter atenção e cuidado em todo o processo de execução. - Evite cometer ato inseguro (Imperícia, Negligência e/ou Imprudência); - Procure sempre eliminar ou controlar a situação de Condição Insegura; - Faça análise de risco (Procure adquirir este habito). - Não improvise. - Desligue e bloqueie os equipamentos que interferem na ação. - Faça 5s após a conclusão do serviço. - Mantenha uma comunicação eficiente (Confirme sempre qualquer ordem ou diretriz para não haver engano quando executar a tarefa). - Siga sempre os padrões e procedimentos adotados na empresa referente à tarefa. - Não confie em ninguém, muito menos no equipamento bloqueado, sem antes testar o desligamento do mesmo e o bloqueio mecânico e elétrico. - Qualquer dúvida, não faça nada... procure informação e orientação.

Desenvolvido por: Luiz Carlos de Almeida E-mail:[email protected]://pt.slideshare.net/luizcarlosdealmeida/acidente-no-lrf-anlise-de-um-caso-de-acidente-verdico

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Avaliação das análises de estudos de casoEm sala de aula, os sistemas de avaliação variam e seguem a prática da instituição e a pr eferência do pr

ofessor. A a valiação de tr abalhoscom casos torna-se mais complexa por não ser baseada apenas ematividades escritas. Os professores têm de levar em conta as discussõesem sala de aula, bem como os resultados de trabalhos em grupo. Os critérios de avaliação devem ser estabelecidos comantecedência. Algumas sugestões de questões a serem levadas emconta ao aplicar um sistema de avaliação previamente estabelecidosão descritas a seguir:1. O aluno compreende adequadamente os fatos do caso?2. O caso foi lido com cuidado suficiente para identificar os aspectosrelevantes das circunstâncias internas e externas da organização?3. Foram identificados pontos fortes e fracos coerentes com a missãoda organização, os fatos apresentados e as dinâmicas em jogo?4. O aluno abordou adequadamente as restrições e oportunidadescom as quais se deparam os tomadores de decisão?5. A análise é suficientemente profunda? Chega a uma profundidadesuficiente para identificar e lidar com as questões fundamentaissubjacentes?6. O aluno usou teorias e conceitos desta (e de outras) disciplinas emsua análise?7. O aluno está tentando dar conta da tarefa com base apenas em suaintuição e bom senso ou usou teorias, pesquisas e conceitos da literaturaespecializada para aprofundar sua análise?8. O aluno usou as informações do caso de forma criativa? A análisese sustenta?9. O aluno integrou informações diferentes ao caso para chegar anovos insights sobre a situação ou simplesmente seguiu uma fórmula erepetiu o que já estava mencionado no caso?10. As recomendações são exequíveis tendo em vista as premissasapresentadas na análise?11. O aluno organizou bem seu relatório e este é internamentecoerente?12. O aluno apresentou sua análise e suas recomendações de formacompreensível e eficaz? O relatório ou a apresentação está bem redigidoe comunica os fatos com clareza? Está livre de jargões desnecessários eideias confusas?