sucesso de pessoas portadoras de deficiencia atraves...

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE EDUCAÇÃO FÍSICA CURSO DE PÓS- GRADUAÇÃO ÁREA ATIVIDADE FÍSICA E ADAPTAÇÃO SUCESSO DE PESSOAS PORTADORAS DE " , , DEFICIENCIA ATRAVES DA PRATICA ESPORTIVA: UM ESTUDO DE CASO Sidney de Carvalho Rosadas UNICAMP- UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS CAMPINAS - 2000

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE EDUCAÇÃO FÍSICA

CURSO DE PÓS- GRADUAÇÃO

ÁREA ATIVIDADE FÍSICA E ADAPTAÇÃO

SUCESSO DE PESSOAS PORTADORAS DE " , ,

DEFICIENCIA ATRAVES DA PRATICA ESPORTIVA:

UM ESTUDO DE CASO

Sidney de Carvalho Rosadas

UNICAMP- UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

CAMPINAS - 2000

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Sidney de Carvalho Rosadas

SUCESSO DE PESSOAS PORTADORAS DE

DEFICIÊNCIA ATRAVÉS DA PRÁTICA ESPORTIVA:

UM ESTUDO DE CASO

Tese apresentada como exigência final para obtenção do

Título de DOUTOR EM EDUCAÇÃO FÍSIC~ com área

de concentração em Atividade Física e Adaptação, à

Comissão Julgadora da F .acuidade de Educação Física da

Universidade Estadual de Campinas -UNICAMP -,sob a

orientação do Prof. Dr. Edison Duarte.

CAMPINAS - 2000

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FICHA CATALOGRÁFRICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA- FEF- UNICAMP

Rosadas, Sidney de Carvalho R71s Sucesso de pessoas portadoras de deficiência

através da prática esportiva: um estudo de caso/ Sidney de Carvalho Rosadas. Campinas, SP: [s.n.], 2000

Orientador: Edison Duarte. Tese (doutorado)- Univ~rsidade Estadual de

Campinas, Faculdade de Educação Física.

1. Deficientes físicos. 2. Educação física para deficientes. 3. Sucesso. 4. Esportes para deficientes. 1. Duarte, Edison. 11. Universidade Estadual de

Campinas. Faculdade de Educação Física. Ill. Título.

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DEDICATÓRIA

Dedico carinhosamente esta tese a todos meus alunos,

orientandos, colegas de trabalho com os portadores de

deficiência, e a todos aqueles que me acompanham durante

todos esses anos de lutas e contestações, ansiedades,

frustrações e sucesso;

Dedico também a esses gênios maravilhosos que me

possibilitaram todo esse ardor pela vida: as pessoas

portadoras de deficiências;

Dedico a minha famt1ia, que nunca deixou de apoiar minhas

iniciativas e estar ao meu lado: Fátima, Daniel e Rafael;

E dedico também a esse orientador que esteve presente em

todos os meus momentos difíceis, me ajudando a eliminar as

inúmeras barreiras desta caminhada, sabendo estimular e

moderar, sabendo compreender-me como ser humano:

Edison Duarte, me orgulho de ter sido orientado por você ...

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Este exemplar corresponde à redação final da Tese

defendida por SIDNEY DE CARVALHO

ROSADAS e aprovada pela Banca Examinadora em

13 de março de 2000.

DataR '6 ;D LI I ~oo~

Assinatura c~~$ Orientador

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SUMÁRIO

RESUMO

ABSTRACT

CAPÍTULO 1 ................................................................................................ 9

1.1 - ESPORTE X DEFICÊNCIA: REFLEXÕES SOBRE O SUCESS0 ............................................................................................. 9

CAPÍTULO 11 .............................................................................................. 16

2.1- REVISÃO DE LITERATURA ........................................................... l6

2.1.1- Defmição de Termos ......................................................................... l6

2.1.2- Algumas Considerações Históricas sobre as Pessoas Portadoras de

Deficiência ........................................................................................ 24

2.1.3- O Esporte para Portadores de Deficiência no Brasil. .................... .35

CAPÍTULO 111 ............................................................................................ 54

3.1 -PROCEDIMENTO METODOLÓGIC0 ........................................... 54

3.1.1 - Entrevistados ..................................................................................... 59

3.1.2- Questões de Suporte da Entrevista ................................................... 65

3.1.3- O que Dizem os Portadores de Deficiência ...................................... 66

3.1.4- A Participação nos Esportes: encontrando motivos ........................ 69

3.1.5- Encontrando e Rompendo Barreiras ................................................ 81

3.1.6- "0 Corpo Sem Esporte Atrofia ... " ................................................... 91

3.1.7- O Sucesso no Esporte e a Percepção dos Portadores de

Deficiência ........................................................................................ 97

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CAPÍTULO IV ........................................................................................... 1 02

4.1- DISCUSSÃO DOS DADOS ............................................................... l02

4.2- CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES FINAIS ........................... .ll4

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................... l20

BIBLIOGRAFIA DE APOIO ................................................................... l28

LISTA DE QUADROS

QUADRO I - Jogos Paraolímpicos ............................................................ .48

QUADRO 11 - Categoria Motivação .......................................................... 68

QUADRO Ill - Categoria Barreiras .......................................................... 80

QUADRO IV - Categoria Esporte: Percepção .......................................... 90

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RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo aprofundar no conhecimento da

realidade do que motivou a prática do esporte por portadores de deficiência;

das barreiras por eles encontradas; e das percepções sobre o esporte e o

sucesso encontrado nele. Realizamos um Estudo de Caso, com um grupo de

nove atletas portadores de deficiências, que obtiveram sucesso e

reconhecimento nacional e internacional na prática de suas modalidades

esportivas. Recorremos à revisão de literatura no campo do esporte para os

portadores de deficiências, obtendo dados sobre sua história, o

desenvolvimento e a organização do esporte, descrevendo, para tanto, os

movimentos que vieram a ocorrer a partir das duas últimas décadas, e que

contribuíram para o surgimento das associações de desporto de pessoas

portadoras de deficiências em nosso país. Utilizamos a coleta de dados sob a

forma de entrevistas semi - estruturadas, com a utilização de questões de

suporte que nos permitiram estimular tanto os relatos lineares, quanto a falta de

estrutura que muitas vezes ocorre na emoção dos discursos. Quanto à técnica

de seleção dos atletas entrevistados, optamos pela escolha por tipicidade, e

consideramos o grupo selecionado representativo da população. Optamos,

quanto a análise dos dados, pela análise qualitativa, tendo em vista a

possibilidade de perceber, em nossos entrevistados, suas opiniões quanto aos

estímulos e barreiras que encontraram, e como percebem a atividade esportiva

e o sucesso desta em suas vidas. Os dados fornecidos possibilitaram maior

conhecimento em relação aos beneficios do esporte para a pessoa portadora de

deficiência, e pudemos estruturar onze recomendações finais, dentre elas:

"desenvolver diretrizes que objetivem o encaminhamento e a conscientização

das pessoas portadoras de deficiência para a importância da prática do esporte,

no seu processo de reabilitação e inserção social" e "desenvolver

procedimentos mais efetivos direcionados à integração entre organizações

voltadas para o desenvolvimento do esporte adaptado, organizações esportivas

públicas e privadas, e a população leiga, em geral''.

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ABSTRACT

The aim o f this piece o f work is to go deep in the knowledge o f de real reasons

which motivated the practice of sporting activities by persons with disabilities;

the barriers these individuais met with; their perception about the sport they

played and their success in practicing it. We performed a Case Study with a

group of nine athletes with disabilities, who were well - succeeded and

acknowledged both at national and intemational levei, in the practice of their

sporting categories. We made use of literature in the field of sport for the

disabled, collecting data about its history, its development and its organization,

describing the changes occurred in the last two decades which contributed for

the emergence in our country of sport associations for persons with disabilities.

These data were collected during semi - structured interviews in which

supporting questions were asked to allow us to stimulate, not only linear

reports, but also the lack ill _structure that frequently .occurs, due to emotion,

during the delivering o f a speeclL We used the technique by tipicity to _select the

athletes to be interviewed and we considered· the .group selected representative

of their population. Conceming data analy_sis we decided on the qualitative one

aiming at the possibility of perceiving our interviewees opinion as to the stimule

and the barriers they found, the way they see the role played by sporting

activities in their lives, and how success fui these activities have been. The data

collected, not only provided us with a better knowledge of the benefits ·o f sport

for the handicapped, but also allowed us to structure eleven final

recommendations, among them: "to develop guidelines with the objective of

referring individuais with disabilities as well as o f raising their awareness to the

importance of playing sports during their process of rehabilitation and of their

social insertion" and "to develop more effective procedures directed to the

integration among the organizations tumed to the improvement of adapted

sports, public and private sport organizations and the lay population in general

as well".

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CAPÍTULO I

A -1.1 - ESPORTE X DEFICIENCIA: REFLEXOES SOBRE O

SUCESSO ...

Procurar justificativa para a importância de um estudo desta

natureza, em uma sociedade que ainda traz em seu âmago incontáveis mostras

de preconceito com pessoas que portam deficiências, não nos parece uma tarefa

fácil, pois nos propomos a estudar o sucesso que algumas dessas pessoas

alcançam através do esporte. Esta prática fisica, em sua história, sempre foi

associada à harmonia dos movimentos do corpo e esta, por sua vez,

proporcionada por um corpo sadio, íntegro e perfeito.

Em nosso cotidiano nos habituamos a ouvir dos outros o dualismo

corpo lesado, sempre associado à suposta falta de produtividade dessas

pessoas, rotuladas como deficientes. Ou seja, o fracasso é facilmente detectado

por muitos, mas o sucesso é pouco percebido e ainda assim, nesse caso, o

objeto do sucesso se constitui fato extremamente meritoso, e não um

acontecimento comum que poderia ter ocorrido com qualquer pessoa que se

dedicasse um pouco mais em realizar suas tarefas, seja ele portador de uma

deficiência, ou não.

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Como sustenta ARAÚJO (1997), "deficiência e desporto, o inverso

buscando a eficiência em uma sociedade indiferente com os diferentes".

A marginalização dessas pessoas tem sido freqüente e BOTOMÉ

(1984), à propósito, afirma que:

"essa marginalização tem sua manifestação mais explícita na

dificuldade (ou impossibilidade) de participar do processo produtivo

da sociedade, pois lhes é vetado o acesso ao mercado de trabalho e à

educação (inclusive profissionalizante)". (p. 26)

RIBAS (1985), enfatiza que:

"escrever sobre pessoas deficientes é muito mais dificil e complexo

do que poderia parecer, pois um dos problemas mais sérios reside no

fato de que qualquer noção ou definição de deficiência implica

numa imagem que fazemos das pessoas deficientes". (p.7)

E essa imagem para grande parte da sociedade é sempre associada a

determinados termos por exemplo· "inválidos" "paralíticos" "aleiiados" ' . ' ' ~ '

"menos- válidos'', "anormais'' entre tantos outros termos que desquali:ficam e

subestimam as reais condições dessas pessoas. É a expressão do preconceito!

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Em nossa jornada de mais de duas décadas acompanhando essas

"rotuladas'' pessoas, na educação fisica e nos esportes, não poderíamos nos

omitir, e inclusive somos sensíveis em testemunhar como eles se tomam

importantes e prestativos em nossa sociedade, quando tem oportunidades de

participar em igualdade de condições, e serem reconhecidos ao demonstrar suas

capacidades.

Nesse sentido, é preciso retomar um pouco ao tempo para descrever

que o esporte para os portadores de deficiências evoluiu em decorrência da

última grande guerra mundial, onde os países mais desenvolvidos e mais

diretamente envolvidos no grande conflito perceberam a necessidade de se

implantar serviços de reabilitação para o tratamento do grande contingente de

lesados, no pós guerra.

Portanto, só modemamente, sobretudo com o "boom" científico que

dominou o mundo após o grande conflito, houve a necessidade das modernas

sociedades em aumentar o rendimento com a diminuição do investimento em

sustentar elementos não produtivos; houve uma preocupação na descoberta de

métodos que visassem a reintegração social do deficiente, e o esporte

constitui-se numa dessas descobertas que se aliou a um arsenal de

procedimentos utilizados objetivando a reintegração dessas pessoas.

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Mas, o esporte para os deficientes foi pouco divulgado no Brasil e só

recentemente aceito e estimulado pelos meios acadêmicos e científicos da

educação fisica brasileira. A educação fisica, passa por grande transformação,

discute sua atuação e objetiva hoje também contemplar mais as categorias

menos privilegiadas de nossa sociedade. Nesta partilha entram as pessoas

deficientes, e encontramos espaço e somos movidos para a realização deste

estudo.

Desta forma, tem sido nosso atual interesse e motivação perceber um

pouco mais sobre a vida e os resultados que essas pessoas deficientes têm

obtido na prática do esporte adaptado. Esse interesse justifica-se porque, muito

embora tenhamos iniciado nossas relações profissionais e comuns com esses

nossos signatários através da prática do esporte, em diferentes modalidades, e

nos mais variados tipos de deficiência (em uma relação forte e vivenciada em

mais de duas décadas), já bem uns sete anos que nos dedicamos

especificamente à terapia corporal, mais voltada para os quadros de lesões

neurológicas e, em especial, da síndrome de Down e da paralisia cerebral. A

mudança processada em nossa conduta de atuação, tanto no método, como na

população, não foi capaz de nos distanciar de nossas preocupações de lá do

início de nossa caminhada, no que diz respeito ao esporte, como uma das

opções que dispõem um profissional em educação motora adaptada.

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Quanto à motivação, esta surge da oportunidade de revermos o

esporte para portadores de deficiência, não com interesses políticos ou em

busca de contestações, embora às vezes estas se desenvolvam, no calor dos

discursos, mas principalmente para entendermos o que se processa na mente e

no corpo dessas pessoas, que embora sejam portadoras de limitações e

impedimentos, o que para muitos "ditos como pessoas normais" já seria motivo

suficiente para os afa;;tar de qualquer tipo de atividade que solicite movimento

:fisico e emocional intenso; esses nossos signatários busquem com prazer e raça

pouco comuns o sucesso pessoal no esporte. E se poderá perceber, com relativa

facilidade, como se configura no corpo e no discurso dessas pessoas, o ideal

por esta prática.

Usamos o depoimento dessas pessoas, por acreditar que somente

elas poderiam retratar o que representa ainda o esporte em suas vidas.

Objetivamos com este estudo relatar o sucesso alcançado na prática esportiva

por algumas dessas pessoas focalizando: a)- o que motivou a busca do esporte

em corpos tão desacreditados; b) - as dificuldades que sofrem para superar as

inúmeras barreiras que lhe são infringidas no dia a dia, e c) - o suposto

reconhecimento e a percepção que tem do esporte adaptado em suas vidas.

Desta forma, o recente crescimento e reconhecimento no meio da

educação :fisica, da possibilidade das pessoas que portam deficiência

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participarem do esporte como tantos~ nos motivou e instigou à vê-los e a ouvi­

los. É uma experiência que precisa ser transmitida para os que não tiveram

ainda a oportunidade de observar como limites tão rígidos impostos à essas

pessoas podem ser superados com a participação no esporte.

Procuramos limitar nossas atenções às seguintes Questões de

Estudo:

• O que pode levar uma pessoa com deficiência a procurar o esporte?

• Quais as principais barreiras ou dificuldades encontradas?

• Como o sucesso alcançado pode ser percebido por essas pessoas?

Desta forma~ procuramos rever o que a literatura nos traz a respeito

da história das deficiências e do esporte para portadores de deficiência,

correlacionando esses fatos às questões dos deficientes em relação aos limites

de seus corpos e aos estigmas de identidade que lhe são atribuídos.

Quanto à questão metodológica, discorrida no terceiro capítulo deste

estudo, trata-se esta de uma pesquisa qualitativa, e escolhemos a técnica de

Estudo de Caso, tendo em vista a possibilidade de se descobrir novos

elementos e, no contexto em que ela se situa: retratar a realidade de forma mais

profunda, além de procurar representar diferentes pontos de vistas conflitantes

e presentes nesta situação social que confrontamos: esporte x deficiência.

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Este estudo busca revelar o discurso de seus sujeitos, que se

processa através da técnica de entrevista para obter as suas histórias de vida.

Empregamos questões de suporte que são classificadas e analisadas nas

categorias de observação que gerenciam o estudo, que são os motivos, as

barreiras, e os seus pontos de vista sobre o esporte adaptado e o sucesso

decorrente deste.

Por fim, com a construção dos resultados podemos refletir de forma

crítica sobre a visão dos sujeitos que colaboraram com o estudo, relativos a

importância do esporte adaptado e do sucesso, e formular algumas diretrizes

em comunhão com o que eles pensam sobre o esporte adaptado, em seu

processo de reabilitação.

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CAPÍTULO 11

2.1- REVISÃO DE LITERATURA

Para efeito didático dividiremos esse capítulo em sub - itens:

2.1.1 -Definição de Termos;

2.1.2 - Considerações sobre a História das Pessoas Portadoras de Deficiências;

2 .1.3 - O Esporte para Portadores de Deficiência no Brasil.

2.1.1 -Definição de Termos:

(1) Motivação

Segundo MAGILL (1984):

"motivo vem de latim motivum que significa 'uma causa que põe

em movimento'. Motivo é tlefinido como 'alguma força interior,

impulso, intenção etc., que leva uma pessoa a fazer algo ou a agir

de uma certa forma' {. •. } assim, qualquer discussão sobre

motivação, está ocupada com a tleterminação das causas (motivos)

de um comportamento" (p.238)

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MURRAY (1973), sugere a motivação como detenninante do

comportamento do homem, e que "a motivação está envolvida em todas as

espécies de comportamento: aprendizagem, desempenho, percepção, atenção,

recordação, esquecimento, pensamento, criatividade e sentimento" (p. 39)

estas:

CAMPOS (1987), identifica quatro funções da motivação. São

1 a - função energética - com o espírito concentrado e a atenfão

polarizada no valor a ser .alcançado, .o individuo intensifica sua

atividade, reduplica suas energias e esforços para conquistá-lo;

2a - função direcional - em flUIÇiíD .do v.alm apreendido, .o individuo

imprime uma direção definida a todos os seus atos e trabalho, até

atingir a meta desejada;

3a - função seletiva - a apreensão do valor leva o indivíduo a

concentrar a atenção no campo especiflCO de interesse criado pelo

valor, afastando distrações e devaneios, eliminando reações

dispersivas, ou difusas, e excluindo procedimentos pouco rendosos

ou inúteis.

4a - função de equilíbrio - na infância e na juventude, a boa

motivação, além das funç-ões energéticos, direcional e seletiva, .qMe

exerce sobre a vida e os estudos, contribui, também, poderosamente,

para o equilfbrio e .a integr-ação da personalidade em

formação ... (p .114 )

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(2) Estigma

GOFFMAN (1988), afirma que o termo estigma foi criado pelos

gregos, no sentido de: "evidenciar alguma coisa de extraordinário ou mau

sobre o status moral de quem os apresentava [. . .] e os sinais eram feitos com

cortes ou fogo no corpo e avisavam que o portador era um escravo, um

criminoso ou traidor".

Ainda GOFFMAN explica que na Era Cristã: "dois niveis de

metáfora foram acrescentados ao termo: o primeiro referia-se a sinais

corporais de Graça Divina [. . .] e o segundo referia-se a sinais corporais de

distúrbio físico". E considera que atualmente o termo estigma assume uma

conotação aplicada mais a própria desgraça do que a sua evidência corporal.

(p.ll)

CARMO (1995), reafirma estigma como sendo as: "marcas

utilizadas pelos homens para distinguir, diferenciar alguém, para evidenciar

alguma virtude ou defoito, como bondade, maldade, peifeição, beleza, feiura"

e acrescenta que "há estigmas físicos e morais que impedem os individuas de

viverem plenamente sua cidadania." (p. 8-9)

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que em:

19

(3) Preconceito

CARMO (1995), chama a atenção para a palavra preconceito, e diz

"sua composição pré- conceito, significa julgamento antes de

conhecer[. .. ) o preconceito passa a existir quando o conceito que

temos de alguém ou de alguma coisa é formado em nossa cabeça,

antes de conheeermos bem a pessoa, o fato ou a situação" (p. 9)

Sendo assim, CARMO reflete ainda no sentido de que "os rótulos e

os estigmas são, pois, instrumentos para a manifestação dos preconceitos

existentes nas relações sociais. "(p. 9)

(4) Discriminação

É discriminação o efeito de se discriminar: separar, diferençar,

distinguir pessoas ou fatos comuns, e nesse sentido as "marcas" da deficiência

sobrepõem-se em relação as características pessoats, estabelecendo

relacionamentos carregados de estigmas, desinformações, piedade e omissão.

O Programa Mundial de Ação relativo às pessoas deficientes da

Assembléia Geral das Nações Unidas (ONU), em sua Resolução 37/52, de

1982, em seu parágrafo 40-d, estabelece que a "falta de conhecimentos sobre

a deficiência, suas causas, prevenção e tratamento é o que arrasta para a

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estigmatização, a discriminação e idéias falsas e preconceituosas sobre a

deficiência." (p.21)

(5) Esporte Adaptado

"Consiste em adaptações e modificações nas regras, materiais e

locais para as atividades, possibilitando a participação das pessoas

portadoras de deficiências nas diversas modalidades esportivas" (DUARTE

& WERNER, 1995, p.lO)

Recomendam ainda esses autores que se toma necessário levar em

consideração fatores tais como o tipo e grau de deficiência; faixa etária a que se

destina; desenvolvimento cognitivo e motor da pessoa portadora de deficiência;

motivação para a atividade; e condições sócio- econômicas e culturais.

ADAMS et al. (1985), acrescentam que:

"a introdução de jogos, esportes e atividades adaptados às

necessidades dos indivíduos com deficiências fisicas remonta ao fim

da Segunda Guerra Mundial[. .. ] e que desde o início, era óbvio que

haveria necessidade de adaptações dentro do programa". {p.217)

"Há 25 anos um médico teve um sonho. Nesse sonho ele via

milhares de paralíticos reunidos numa Olimpíada de Paralíticos,

acontecimento dificilmente imaginado em um mundo que

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considerava essas infelizes vitimas de tu:identes .e doenças como

aleijados incuráveis e por conseguinte marginalizados. Hoje aquele

sonho já é realidade, e -~~~p~el.es mesmos fHZr.olíticos inspir.ar.am

outros incapacitados - amputados, cegos, vítimas de paralisia

cerebral - a se tornarem .esportistas IUl .acepção .toú1l do termo. O

médico cujas idéias deram ori_gem a esse movimento mundial de

esporte para incapacitados é Sir Ludwig Guttmann. Dllnlnte .a li

Guerra Mundial ele introduziu o esporte primeiramente no Centro

de Lesões da Espinha do H.ospital Stoke Mmuleville, IUl Inglaterr-a,

como parte do programa de tratamento de homens e mulheres

paralisados do peito ou da ~intur.a fHlF.a baixo, em conseqüência de

lesões da medula espinhal Com isso ele visava dois objetivos:

exercitar o corpo e coniba;ter .o tédio .da vida .em kospital". {O

Correio da UNESCO. Ed. brasileira: RJ/F.G.V.-1973, p.S)

( 6) Limitação

No Programa Mundial de Ação relativo às pessoas deficientes da

Assembléia Geral das Nações Unidas, em sua Resolução 37/52, de 1982, em

seu parágrafo 6, referente a definições, a OMS - Organização Mundial de

Saúde compreende a limitação (ou incapacidade) como sendo "qualquer

restrição ou falta (resultante de uma deficiência) de aptidão para exercer uma

atividade de modo ou no contexto das situações consideradas normais para

um ser humano "(p.9)

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(7) Impedimento

Quanto à definição de impedimento (ou "Handicap"") o "Programa

Mundial de Ação relativo às pessoas deficientes"", em seus parágrafos 6 e 7,

define como sendo:

"uma desvantagem sofrida por um dado indivíduo resultante de

uma deficiência ou de uma incapacidade, .que limita .ou impede .o

desempenho de uma atividade considerada normal para esse

indivíduo, tendo em conta .a idtule, .o sexo -e .os foJor-es sócio­

culturais [. .. ]portanto, conseqüência da relação existente entre uma

pessoa deficiente e seu meio [. .. J mtlllifestanilo-se .qu.ando ela

encontra ba"eiras culturais, físicas ou sociais que impedem o seu

acesso aos vários sisteiiUlS da -sociedade -acessíveis aos outros

cidadãos. " (p. 9)

(8) Equiparação de Oportunidades

No mesmo Programa, a OMS desenvolve, no parágrafo 12, definição

de "equiparação de oportunidades'' do seguinte modo:

"é um processo através do qual o sistema geral da sociedade, tal

como o ambiente físico e cultur.al, .a hobitação e .os tr4nsportes, .os

serviços sociais e da saúde, as oportunidades de educação e de

trabalho, a vida cultu.r.al e s.ocial, inc1uüulo .as instalações

desportivas e recreativas, se tornam acessíveis a todos" (p.lO)

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(9) Deficiência

Ainda em relação à OMS - Organização Mundial da Saúde, esta faz

a seguinte descrição quanto o que seja "deficiência'' (1982): "qualquer perda

ou anomalia da estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica de

uma pessoa" (p.9)

Quanto a definição de criança deficiente, aprovada pelo Council Of

Exceptional Children (CEC), abordada no I Congresso Mundial sobre o futuro

da Educação Especial (1978), é o seguinte:

"é a criança que se desvia da média ou da criança normal em: (1)

características mentais; (2) aptidões sensoriais; (3) características

neuromusculares e corporais; (4) comportamento emocional e

social; {5) aptidões Je comunicaçiúJ; e (6) múltiplas defu:iências; até

o ponto de justificar e requerer a modificação das práticas

educacionais ou a criaçiúJ de serviços de educaçiúJ especial no

sentido de desenvolver ao máximo as suas capacidades,,. (p.l O)

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2.1.2 - Algumas Considerações Históricas sobre as Pessoas

Portadoras de Deficiência

Os problemas que envolvem as pessoas deficientes parecem

acompanhar o homem desde os primórdios de sua vida mas, ainda assim, o

número de publicações e de estudos sobre a história dessas pessoas ainda não é

suficiente para justificar a importância dos problemas e questões que envolvem

essas pessoas e seus familiares.

Preocupa-nos também a falta de dados concretos à este respeito, pois

muitas vezes essas informações estão amparadas em suposições, ilustrações e

comportamentos peculiares da época, alguns que demonstram o deficiente ora

como depositário de poderes absolutos, ora como um ser marcado pela

divindade a purgar pecados de seus ancestrais, ou mesmo por suas faltas em

encarnações anteriores.

RIZZO, ao prefaciar nosso primeiro livro, Educação Física Especial

(1991), nos apresenta esta rica mensagem, em relação a problemática dessas

pessoas: "( ... ) ao longo da história do homem sobre a terra, a deficiência

física ou mental sempre existiram e a rejeição ao defzciente vem

sendo uma constante. Primitivamente matava-se física ou

socialmente, pela segregação. Povos houveram, que fizeram tkJs

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deficientes abandonados Ji parte do templo ou isolados em uma

instituição assistencial mantidos por esmolas, objetos de uma falsa

caridade porque, através do dinheiro doado é que os mantinham

isolados em um asilo. Comprava-se o conforto visual, o silêncio

acusatório da consciência e pensava-se comprar o passaporte para o

céu" (ROSADAS, 1991, p.ll)

Na Antigüidade esse homem enfrentava, segundo SILVA (1987):

"... não apenas o abrigo e o aquecimento durante os meses de

inverno ou durante as intempéries, mas também as dificuldades,

quase que diárias durante as épocas mais quentes do ano, para obter

alimento fresco. Ele não dispunha de meios para manter em bom

estado de conservação para o consumo da carne dos animais

caçados nos dias de muito calor {. .. f' (p.31)

Faltavam-lhes recursos instrumentais, e a doença e os acidentes

fisicos tomavam-se avassaladores frente a total falta de recursos face a uma

medicina ainda em descoberta, faltava a este homem facilidades para se

deslocar, e a vida nômade que lhes era infringida em busca da caça, de

melhores condições de vida e de habitação, ou mesmo a fuga, tomava-os fáceis

presas quando advinha a doença, a fraqueza, e a idade.

E assim, ainda SILVA (1987), deixa clara a situação quando afirma,

em seus estudos, que:

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''A rude e muito dificil vida do homem em seus primeiros milênios

de existência sobre a Terra não admitia fraquezas [. .. ] O que

sucedia a este homem?[. .. ] Seria ele utilizado em funções menos

exigentes de perfeito domínio da força e do fisico? [. •. ]Aceitaria ele

funções menos briosas, ao lado de mulheres e crianças? [. .. ] Nada

disso sabemos, só conjecturas com talvez boas oportunidades de

estarem certas?" (p.36-38)

SILVA (1987), observa também que, em relação a estes

procedimentos ocorridos com povos de diferentes culturas primitivas, muitas

vezes a morte acontecia devido às próprias dificuldades dessas sofridas pessoas

na obtenção de alimentos; de se defenderem em momentos do perigo; e

também da total falta de esclarecimentos quanto à doença que possuíam; e de

associação com o mistério (ou o desconhecido?), ou pela possível ligação a

espíritos perversos; do que por procedimentos carregados de discriminação

intencional que segundo ele, parecem produtos advindos de civilizações mais

sofisticadas.

Segundo o mesmo autor, a cultura Egípcia já apresentava uma

organização social bastante hierárquica, onde o faraó era o elemento que se

destacava, e os sacerdotes protegiam esta divindade. Logo abaixo, em

importância, vinham os guerreiros, que mantinham a integridade desta

sociedade. Tinham também os escribas, os camponeses e os escravos, este

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último com poucos direitos e expectativas de vida. Os sacerdotes

especializavam-se em uma medicina mística e primitiva, e utilizavam de um

treinamento apropriado obtido nos chamados "Livros Sagrados,'. Em

referências dos escribas sobre atendimentos de males graves, deficiências

fisicas e mentais, malformações congênitas e acidentes fisicos atribuídos aos

conflitos existentes motivados principalmente pela soberania de seus povos e a

luta pela posse das terras. Em exames feitos em múmias e em esqueletos do

Egito Antigo foram encontradas marcas de limitações bastante

comprometedoras fisicamente como artrites, espondilites, amputações,

hidrocefalias, entre outras graves doenças.

Há de se destacar também o bom trato dispensado por esta

civilização aos anões. Os que nasciam em classes mais pobres eram adquiridos

pelos faraós por ricas somas. Serviam estes para alegrar os grandes festejos,

pois eram considerados divertidos e grandes dançarinos. Eram também bons

caçadores, e leais servidores de seus mestres.

SILVA (1987), descreve que na mitologia grega encontramos

Homero, um dos mais importantes poetas gregos e autor de épicos poemas,

como o conhecido Odisséia: este foi cego.

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O mesmo autor relata que a problemática da deficiência nesta

civilização não se diferenciou muito das encontradas em outras civilizações

antigas: povos acostumados aos conflitos, às questões religiosas, às

penalizações e a medicina ainda muito atrasada, mas uma nova causa surge

através desta civilização: a dos acidentes de trabalho, provenientes do

surgimento da vida industrial e da construção civil grega em processo de

desenvolvimento, nesta época.

MISES (1977), quanto ao procedimento dessas civilizações da

Antigüidade, afirma que "o Egito os divinizava, enquanto as cidades gregas

faziam-nos desaparecer". (p.13)

O autor faz uma citação de Platão: "Quanto aos filhos de sujeitos

sem valor e aos que forem mal constituídos de nascença, as autoridades os

esconderão como convém, num lugar secreto que não deve ser divulgado. "

(p.13)

O mesmo autor desenvolve os preceitos de Sênega, bem mats

expeditivos: "Nós matamos os cães danados, os touros ferozes e indomáveis,

degolamos as ovelhas doentes com medo que infectem o rebanho,

asfixiamos os recém - nascidos mal constituídos; mesmo as

crianças, se forem débeis ou anormais, nós a afogamos; não se trata

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de ódio, mas da razão que nos convida a separar das partes sãs

aquelas que podem co"ompê-las. (p.13)

Quanto aos romanos, cita MISES (1977):

"Toma forma a ambivalência: por um lado, o princípio da tutela e

da curatela aparece explicitamente na Lei das XII Tábuas, mas esta

ordena igualmente fazer com que desapareçam o mais cedo possível

as crianças mal constituídas ou monstruosas. A autoridade civil ou

religiosa se enca"egava da tarefa, se os pais demorassem a executá­

la". (p.l4)

De todo modo, PESSOTTI (1984), afirma:

"ser sabido que em Esparta crianças portadoras de deficiências

fisicas ou mentais eram consideradas sub - humanas, o que

legitimava sua eliminação ou abandono, prática perfeitamente

coerente com os ideais atléticos e clássicos [ ... j (p .3)

PESSOTTI diz ainda que:

"até a difusão do cristianismo na Europa, a sorte dos deficientes

mentais e de outras pessoas excepcionais é praticamente a mesma,

nas regiões européias, o que não é surpreendente uma vez que até a

mulher normal só adquire status de pessoa, no plano civil, e de

alma, no plano teológico, após a difusão européia da ética cristã".

(p.3)

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Com a cristianização dos países mediterrâneos começa a Igreja a

cuidar mais intensamente desses elementos, surgindo mesmo as primeiras

instituições ou até ordens monásticas dedicadas ao seu tratamento. Entretanto,

se não mais eram eliminados, não houve uma preocupação maior em encontrar­

se uma real solução para estes seus problemas.

Acrescenta PESSOTTI (1984), que, quanto a doutrina cristã:

"os deficientes começam a escapar do abandono ou da 'exposição',

uma vez que, donos de uma alma, tornam-se pessoas e filhos de

Deus, como os demais seres humanos. É assim que passam a ser, ao

longo da Idade Média, 'les enfants du bom Dieu ', numa expressão

que tanto implica a tolerância e a aceitação caritativa quanto

encobre a omissão e o desencanto de quem delega à divindade a

responsabilidade de prover e manter suas criaturas deficitárias.

Como para a mulher e o escravo, o cristianismo modifica o status do

deficiente que passa de coisa para pessoa [. .. ) Dotado de alma e

beneficiado pela redenção de Cristo, o deficiente mental passa a ser

acolhido caritativamente em conventos ou igrejas, onde ganha a

sobrevivência possivelmente em troca de pequenos serviços à

instituição ou à pessoa 'benemérita' que o abriga. "(p. 5)

"Muitos chegam a admitir que o deficiente é possuído pelo demônio,

o que torna aconselhável o exorcismo com flagelações, para

expulsá-lo. A ambivalência caridade - castigo é marca definitiva da

atitude medieval diante da deficiência mental [. .. ]A rejeição se

transforma na ambigüidade proteção - segregação ou, em nível

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fatos:

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teológico, no dilema caridade - castigo. [. .. ] atenua-se o 'castigo'

transformando-o em confinamento, isto é, segregação (com

desconforto, algemas e promiscuidade), de tal modo que segregar é

exercer a caridade pois o asilo garante um teto e alimentação. Mas,

enquanto o teto protege o cristão, as paredes escondem e isolam o

incômodo ou inútil" (PESSOTTI, 1984, p.7)

"A Idade Média mistura os retardados aos loucos e tende a reuni-los

aos criminosos e aos possuídos pelo demônio, enquanto a rejeição é

marcada pela culpabilidade e acompanhada de justificações. Sua

anormalidade não pode deixar de ser obra de Deus ou marcar a

presença do demônio. É preciso afastá-los, cortá-los da comunidade

e mesmo o seu assassinato não é excluído. Quase sempre, porém,

instaura-se uma situação de compromisso, na qual se exprimem ao

mesmo tempo a rejeição e as atitudes racionais de piedade, de

proteção, e às vezes mesmo de supervalorização." (MISES, 1977,

p.l4)

Em relação à Idade Média, CARMO (1991), nos apresenta estes

"os indivíduos que apresentavam qualquer deformação fisica

tinham poucas chances de sobrevivência, tendo em vista a

concepção dominante de que essas pessoas possuíam poderes

especiais, oriundos dos demônios, bruxas e/ou duendes malignos".

(p.24)

"O Renascimento introduz modificações mais sutis que se afirmam

com perspectivas humanitárias prolongadas até o século XVI/L À

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partir dos Enciclopedistas, a dimensão humana é reconhecida aos

deficientes e cria-se um terreno propício às tentativas de educação e

à abordagem científica que tomam impulso no século XIX"

(MISES, 1977, p.16).

Quanto a esta transformação, SILVA (1987), menciona sobre a

"nova onda intelectual e cultural" que se inicia na Itália e toma a reta pela

França, Alemanha, Espanha, Inglaterra, Holanda entre outros, e acrescenta, em

seus estudos: "durante essa importante onda de mudanças e de progressos,

depois universalmente aceita e batizada como "Renascença", nomes

destacados e muito representativos foram os de Donatello, Ariosto,

Machiavel, Leonardo da Vince, Michelangelo, Raffaelo, Calvino,

Montaigne, Erasmo, Cervantes, Camões e muitos outros escultores,

escritores, pintores, arquitetos, filósofos, humanistas e homens

voltados para religião. Nesse movimento novo e muito renovador, o

reconhecimento do valor do homem era a nota dominante - era o

humanismo que surgia e se fortificava. Por meio dele, pelo menos

no campo das idéias, o homem se sentiria mais livre, menos

oprimido, mais valorizado, não mais um mero escravo dos poderes

da Terra, nem mesmo preso à crença de que tinha que fazer o bem

para merecer o céu ou simplesmente para escapar às torturas do

inferno." (p.226)

Através desta nova forma de perceber o homem, começaram-se a

concentrar estudos e "descobertas" sobre outras possibilidades de deficiências,

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e surge daí~ por exemplo~ no final do século XV~ um sistema para ensinar os

surdos a ler e a escrever, o código Cardan, tendo alguma semelhança com o

hoje código de leitura e escrita de Braille~ que veio a ser descoberto apenas no

século XIX.

Sobre o século XIX~ KRYNSKI (1969), expõem alguns outros fatos:

"O século XIX faz despontar fatos mais estruturados. Após os

esforços descritivos das escolas francesa, alemã e inglesa, vários

aspectos vêm de ser esclarecidos. É o estudo da frenologia: Little,

Cajal, Broca, Bourneville, Gall, Kraepelin com sua 'oligofrenia',

Sante de Sanctis com 'hipofrenia' e 'frenastenia' da escola italiana,

Godard e Ireland, na Grã - Bretanha com sua classificação das

'amencias': eclamptica, sifilítica, microcefálica, epiléptica,

inflamatória, cretínica, hidrocefálica, paralítica, esclerótica e por

privação. [. .. ] a obra de Tretgold, em que se descrevem as

deficiências microcefálica, hidrocefálica, associada com retardo no

desenvolvimento nos sulcos e circunvoluções cerebrais, a agenesia

cerebral, a deficiência com esclerose atrófica e hipertrófica e a

mixedematosa.

Em 1866, Langdon Down descreve, pela primeira vez, perante a

Real Academia de Londres, a 'Idiotia Mongolóide'.

Binet - Simon (1905) determinam uma escala métrica de

inteligência capaz de 'classificar os deficientes em 'débeis, imbecis e

idiotas'". (p.6)

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Hoje discute-se intensamente em todo mundo, estimulados por esses

conhecimentos empíricos, o que fazer por essas pessoas com rostos diferentes,

braços tortos, espásticos ou flácidos, que se movimentam desordenadamente,

não fixam a atenção, que muitas vezes dão voltas em torno de si mesmo, que

não enxergam, que tem muitas seqüelas combinadas e que emolduram às vezes

um quadro bastante complexo e comprometedor. O que fazer por eles?

"Só modernamente, sobretudo com o 'boom ' científico que

dominou o mundo, a partir das duas grandes guerras mundiais, a

necessidade das modernas sociedades em aumentar o rendimento

com a diminuição do investimento em sustentar elementos não

produtivos, houve uma maior preocupação nas descobertas de

métodos que visassem uma reintegração social do deficiente e, na

medida do possível, torná-lo um fator de produção para a

sociedade" (ROSADAS, 1991, p. 3)

Surgiu então a atividade fisica (e inserido nela o esporte com suas

adaptações), que vêm demonstrando sua eficiência como um dos métodos a

serem utilizados no arsenal terapêutico desta recuperação.

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2.1.3 - O Esporte para Portadores de Deficiência no Brasil

Durante o presente século, houve maior atenção em encontrar-se

soluções para os problemas não só dos deficientes, mas também dos grupos

sociais mais prejudicados de nosso planeta.

Motivos não foram poucos para estimular tais transformações: duas

grandes guerras assolaram o mundo, além de inúmeros outros conflitos sociais

de menor porte, e ainda mais o crescimento exacerbado da população em todo

o mundo.

O meio científico transferiu suas atenções para os instrumentos de

ações mais emergentes, visando a reintegração dessas inúmeras vítimas dos

conflitos sociais, desenvolvendo áreas de conhecimento, métodos e programas

para tal fim, além de priorizar também um conjunto de fenômenos de

comportamento e prevenção, em suas diferentes nuanças.

A maior parte das nações que se envolveram na ll grande guerra

mundial, contribuíram com parte dessas providências que eram emergenciais, e

embora devastadas e abatidas pelas perdas conseguiram se soerguer e são elas

hoje grandes potências mundiais que desenvolvem métodos e técnicas,

instrumentos específicos como às órteses e próteses, para tornar mais fácil a

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vida dessas pessoas: Rússia, Itália, Espanha, França e Portugal construíram

grande acervo em relação à psicomotricidade e outros métodos voltados

principalmente para a reabilitação das lesões mental e neuro- comportamental,

tomando esses corpos lesionados mais predispostos aos movimentos. Nos EUA

o maior enfoque foi estudos em relação à aprendizagem motora, ao

desenvolvimento motor e aos métodos de avaliação motora; principalmente em

relação aos portadores de distúrbios de aprendizagem e dos retardos motores;

na Alemanha, Inglaterra e EUA há relevante enfoque em pesquisas envolvendo

os problemas dos portadores de deficiência mental e de lesões fisicas,

principalmente das amputações e traumatismos ráqui - medulares, provenientes

da guerra, e que levam a quadros severos de paraplegia e tetraplegias; no

Japão, através seu avanço nas técnicas de fabricação sofisticada de material de

apoio, tem dedicado grande parte de seus projetos à fabricação de órteses

próteses e cadeiras de rodas mais específicas para o esporte competitivo,

visando facilitar o desempenho dos deficientes fisicos em provas que exigem

maior resistência e força, que resultam na potência muscular específica vista em

algumas dessas pessoas na disputa de provas mais sofisticadas.

A Comissão Nacional do Ano Internacional das Pessoas Deficientes

denunciou em 1981, segundo CARMO (1991), que:

"Os dados alarmantes constantes dos dados acima conduzem a uma

reflexão sobre a situação dos países em desenvolvimento, onde

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vivem milhões de pessoas que apresentam deficiências congênitas

ou adquiridas, muitas das quais poderiam ser evitadas ou reduzidas

mediante adoção de medidas simplificadas de prevenção e

reabilitação, que estariam dentro das possibilidades das próprias

comunidades, desde que estas estivessem devidamente informadas e

capacitadas a fazê-lo .•. no Brasil, há a necessidade, ainda, de uma

tomada de consciência da realidade sócio - econômica que envolve o

problema e de uma reformulação de conceitos e de metodologias,

superando-se a idéia de que a reabilitação só é possível com equipes

numerosas, equipamentos sofisticados e instalações flsicas

dispendiosas ... " (p.29)

CARMO (1991), destaca também a:

"Declaração Universal dos Direitos do Homem" que assegura,

dentre outros, o direito de não ser discriminado, o direito à

instrução, o direito de trabalhar e o direito à segurança social [. .. ]

esta declaração de Direitos dos deficientes significou um grande

marco na história de lutas destas pessoas, na medida em que

obrigou os países membros da ONU, mesmo que de forma precária,

traçarem políticas de apoio a elas." (p. 30 - 31)

A partir da criação da Comissão Nacional do Ano Internacional das

Pessoas Deficientes, CNAJPD, "o Estado brasileiro iniciou a caminhada rumo

ao direcionamento político das questões relativas aos deficientes" (CARMO,

1991, p.33)

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Mas, ao considerar esta caminhada, toma-se importante ressaltar a

existência CENESP - Centro Nacional de Educação Especial, que tinha por

objetivo, naquela época, "subsidiar a formação da política nacional relativa à

educação de excepcionais", e pode ser considerado como um dos primeiros

passos para a organização dos planos políticos de âmbito nacional que vieram a

partir daí.

Entre 1985-1987, o CENESP, como nos apresenta CARMO (1991 ),

foi transformado em Secretaria de Educação Especial - SESP, e foi criada a

Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Deficiente- CORDE, esta

diretamente então ligada à Secretaria de Planejamento da Presidência da

República, SEPLAN, tendo este novo órgão, em seu programa de ação, quatro

grandes metas: programa de conscientização, prevenção e atendimento às

pessoas portadoras de deficiências, bem como a inserção destas no mercado de

trabalho.

Entretanto, os problemas das pessoas portadoras de deficiências, no

que se refere ao lazer e ao esporte, não têm sido objeto de estudos e

preocupações (citado por CARMO, 1991, p.143) nem da SESP e nem da

CORDE, no tocante à elaboração de linhas diretrizes voltadas para estes

fenômenos culturais, e isto talvez estivesse ocorrendo porque existia em nível

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ministerial~ MEC~ uma secretaria exclusivamente criada para este fim~ a

Secretaria de Educação Física e Desportos, a SEED.

Nos dias atuais a CORDE, que no momento de sua criação estava

vinculada diretamente ao Gabinete Civil da Presidência da República sofre

algumas alterações políticas: a primeira mudança ocorre em 11 de junho de

1987, através do decreto n.0 94.431, para a Secretaria de Planejamento e

Coordenação da Presidência da Republica - SEPLAN. Em 1 O de março de

1988, através novo decreto, o de n.0 95.816 é novamente transferida, agora

para o Gabinete da Secretaria de Administração Pública da Presidência da

República- SEDAP/PR. Em 2 de setembro de 1988, um novo decreto (n.0

96.634) a transfere para o Ministério da Habitação e do Bem - Estar

Social!MBES. Sofre mais duas mudanças: para o Ministério do Interior -

MINTER e por fim encontra-se dentro da Secretaria dos Direitos da Cidadania

- SDC, do Ministério da Justiça, permanecendo suas ações na direção das

questões que envolvem a integração da pessoa portadora de deficiência.

Segundo ARAÚJO (1997), a CORDE:

"respondeu por inúmeros acontecimentos ligados a pessoa

portadora de deficiência e ao desporto. A participação da equipe

Brasileira nas Paraolimpíadas de Seul em 1988, foi de inteira

responsabilidade da CORDE, que mantinha o desporto dentro de

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sua proposta original como fator relevante de integração da pessoa

portadora de deficiência. No entanto a CORDE apoiou vários

projetos da área. " (p. 41)

Pensando agora mais diretamente na institucionalização do Desporto

Adaptado Brasileiro, dedicamos nossas atenções aos dados que nos apresenta

ARAÚJO (1997), que destaca algumas ações eminentes para o alcance e

entendimento do processo atual. Para ARAÚJO trata-se processo de

institucionalizacão do desporto adaptado brasileiro

"dos acontecimentos que permitiram a discussão no campo da

Educação Especial em geral e especificamente na área da educação

física e do desporto para as pessoas portadoras de deficiência no

período estudado, e que veio a contribuir para que os órgãos de

governo estabelecessem o atendimento nesse campo". ( p.20)

O autor destaca algumas ações que para ele "estiveram presentes

nos momentos de identificação dos problemas, e que trouxeram contribuições

para a efetivação da realidade presente': os Congressos Brasileiros do Esporte

Para Todos, relacionados ao movimento de Esporte Para Todos - EPT; o

Projeto Integrado SEEDICENESP (1984 - 1985 - estudos das condições em

que as pessoas portadoras de deficiência eram atendidas, no campo da

educação física e do esporte); o Plano Nacional de Ação Conjunta para

Integração da Pessoa Deficiente (1985- 1990- no governo de José Sarney) e

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a criação da Coordenadoria Para a Integração da Pessoa Deficiente -

CORDE; e o Plano Plurianual 1991 - 1996 (plano geral de esporte do

governo de Fernando Collor, para este período).

ARAÚJO (1977), destaca o surgimento de um movimento no início

dos anos 70 à nível nacional, na área de educação fisica:

"com a finalidade de propiciar à população atividades fisicas em

locais abertos nas cidades, tais como parques, praias, bosques, ruas,

praças e áreas livres em geral[. .. ) e os Congressos de Esporte Para

Todos tornaram-se fórum de discussão e apresentação de diversos

trabalhos desenvolvidos em educação fisica com pessoas portadoras

de necessidades especiais, naquele momento." (p.23- 25)

A partir de 1984, através do Projeto Integrado SEED/CENESP,

precipitou-se um movimento a nível nacional objetivando detectar as

necessidades para uma política nacional em torno das prioridades das pessoas

portadoras de deficiência em nosso país, naquela época.

Em março de 1986, após a realização de fóruns e encontros nacionais

com a mesma direcionalidade, foi constituída uma comissão designada como de

especialistas na educação fisica que se destinasse aos deficientes, da qual

fizemos parte, que se reuniu no decorrer do "Encontro de Professores de

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Educação Física de Tramandaf', no Rio Grande do Sul, onde teve início, ao

nosso ver, um processo de transformação que até os dias de hoje encontra

respaldo.

A partir dessas ações providenciais muitas transformações puderam

ser observadas na educação fisica brasileira até o momento atual: (1) um

número considerável de Instituições de Ensino Superior - IES já colocaram

disciplinas voltadas para a educação fisica e a adaptação, e ainda hoje se pode

perceber novas Instituições curiosas com os resultados que a disciplina pode

apresentar. Outras ainda procuram profissionais com experiência para ministrar

tal conteúdo. Inicialmente o investimento neste setor partiu de iniciativas

isoladas de algumas IES principalmente das Regiões Sul, Sudeste e Centro

Oeste, e entre essas Instituições podemos lembrar a Universidade Federal de

Uberlândia- MG, Universidade Estadual de Campinas- UNICAMP- SP, e as

Faculdades Integradas Castelo Branco - RJ, entre outras; (2) cursos

emergenciaiS, com o objetivo de resolver problemas imediatos com

profissionais que já se encontravam em atuação ou iniciavam-se na área, e

cursos específicos de pós - graduação já começavam nos grandes centros

educacionais de nosso país (até hoje muitos ainda são desenvolvidos e outros já

se tomam tradicionais em suas IES como, por exemplo, os desenvolvidos no

Departamento de Educação Física da Universidade Federal de Uberlândia, e da

UNICAMP - esta última já possui dois cursos de titulação, um de mestrado e

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outro de doutorado, em educação fisica); (3) outras Instituições já se interessam

em preparar seus profissionais, como é o caso do SESI, através de convênio

com o INDESP, que realizaram cursos específicos de atualização em quase

todos os estados de nosso país; ( 4) o número de publicações, monografias e

teses que tem como objeto de estudo a pessoa portadora de deficiência, que em

épocas passadas era quase inexistente, hoje já pode ser reconhecido como em

franco desenvolvimento, se considerado os aproximadamente dez anos de

existência de disciplinas específicas e estímulos no setor, um tempo ainda

relativamente pequeno para expansão de uma área de conhecimentos muito

complexa que é para muitos, ainda desafiadora; (5) já se realizam Congressos e

outros tipos de Encontros específicos, onde o estudante e os profissionais que

desenvolvem pesquisas no setor, trocam suas experiências, como é o caso dos

Congressos realizados pela SOBAMA - Sociedade Brasileira de Atividade

Motora Adaptada, que foi fundada em 1994, que visa o progresso dos estudos

da atividade motora adaptada em todas as suas áreas, e o Simpósio Paulista de

Educação Física Adaptada, que desde 1986 tem se realizado sistematicamente

de dois em dois anos, no Estado de São Paulo, através da Escola de Educação

Física e o Centro de Prática Esportiva da Universidade de São Paulo; (6)

eventos esportivos específicos, assimilando os diferentes níveis de seus

participantes, já são desenvolvidos e patrocinados em diferentes pontos de

nosso país, sejam específicos para portadores de deficiências mental, fisica ou

sensorial, ou mesmo interativos; (7) os portadores de deficiência já podem ser

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notados transitando livremente nas quadras, ginásios e dependências de

educação fisica, (8) os meios de comunicação em geral já colocam em

circulação, embora com pouca freqüência, notícias referentes à participação de

portadores de deficiências em eventos esportivos nacionais e internacionais, (9)

o ambiente esportivo, em algumas Instituições e clubes, já está sendo adaptado,

há proporção do possível, quebrando barreiras antes tão propaladas, e ( 1 O) não

se pode esquecer a atuação que órgãos de fomento como o CNPq - Centro

Nacional de Pesquisa Tecnológica, o INEP- Instituto Nacional de Estudos e

Pesquisas, e a CAPES - Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de

Nível Superior investiram na área, através principalmente de bolsas de estudo.

Com a criação, em 1990, da Secretaria de Desportos da Presidência

da República, somos contemplados com um departamento específico, que mais

tarde, já no governo de Itamar Franco, foi transformado em um Departamento

do Ministério da Educação e Cultura, e o Departamento de Esporte para

Pessoas Portadoras de Deficiência em uma Coordenação.

Hoje, através do Decreto Lei de n.0 1437 de 04 de abril de 1995,

aprova-se a Estrutura Regimental do Instituto Nacional de Desenvolvimento do

Desporto - INDESP, tomando assim uma Autarquia Federal, vinculada ao

Ministério da Educação e do Desporto, que apresenta os seguintes objetivos

(para o período de 1996/1999):

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- levar a todas as camadas da população a prática de atividades esportivas;

- incrementar as ações desportivas mais eficazes para a promoção e

integração social da crianç~ do adolescente e da pessoa portadora de

deficiência;

- incrementar o associativismo desportivo e a parceria com a comunidade;

- viabilizar novas fontes internas e externas de financiamento do desporto;

- desenvolver e incentivar programas de capacitação dos recursos

humanos atuantes no meio esportivo; e

- implantar uma política de esporte que privilegie o desporto como meio

de educação, na escola ou fora dela.

Ainda quanto à introdução do esporte adaptado no Brasil

encontramos material de pesquisa bastante relevante que nos foi fornecido

através estudos de PETTENGILL (1993), obtidos por meio de informações em

jornais e revistas contendo ''fatos históricos referentes ao período inicial do

desenvolvimento desportivo direcionado às pessoas portadoras de deficiência

em nosso país. " (p.43)

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Segundo PETTENGlLL (1993):

"Em artigo publicado na Revista Integração, em fevereiro de 1983,

Robson S. Almeida afirma que desde 1957 algumas pessoas vinham

praticando a modalidade de basquetebol, no entanto, o primeiro

clube organizado foi criado em r de abril de 1958 tendo recebido o

nome de Qube do Otimismo, e precisamente em agosto de 1958,foi

fundado o Oube dos Paraplégicos, em São Paulo[. .. ] Em 1964, foi

criado no Rio de Janeiro, a exemplo de São Paulo, o Oube dos

Paraplégicos. Até esta data, o esporte em cadeiras de rodas vinha

sendo divulgado por meio do Qube do Otimismo. Data de 1963,

conforme registra a Revista Super Ação/88, a primeira participação

do Brasil nos Jogos Nacionais dos Estados Unidos, nas modalidades

de arco e flecha, tênis de mesa, corrida de 100 metros e boliche, com

dois atletas, Robson e Arnaldo. [. .. j No início da década de 70,

surgiram mais dois clubes no Rio de Janeiro, o Qube dos Amigos

da ABBR (CLAM) e a Sociedade dos Amigos dos Deficientes Físicos

(SADEF). A primeira Olimpíada Nacional, também chamada de I

Jogos do Otimismo, ocorreu em 1974, e em 1975 foi fundada a

ANDE- Associação Nacional de Desportos para Excepcionais [. .. J

em 1978 a ANDE organizou o VI Jogos Pan -Americanos no Brasil

e, apesar de todos os problemas enfrentados com a falta de

experiência e estrutura adequada para a realização de um evento de

nível internacional, o saldo positivo ocorreu em função do interesse

despertado nos profissionais de educação flsica para a área do

esporte em cadeira de rodas [. .. j em março de 1982 o Conselho

Nacional de Desportos reconheceu e regulamentou, por meio da

Deliberação 03182, o esporte em cadeira de rodas. Essa deliberação

era fundamentada no artigo 186 do Decreto 80.228177, que

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estabelecia as normas para a estruturação e funcionamento das

entidades dirigentes do desporto e das atividades desportivas

praticadas por paraplégicos e tratava da fundação da ABRADECAR

-Associação Brasileira de Desportos em Cadeira de Rodas." (p. 45 -

46)

Mais uma vez colaborando com nossa pesquisa sobre o esporte

adaptado no Brasil PETTENGll.L~ agora evidencia a questão do desporto de

alto nível: "a exemplo do desporto para pessoas não deficientes, o evento

máximo é a chamada Paraolimpíadas. Esse evento teve início em

1960, quando os Estados Unidos participaram pela primeira vez de

uma competição internacional. De 1948, quando foram realizados

os primeiros Jogos de Stoke Mandeville/lnglaterra até 1960, estes

Jogos eram realizados em Stoke Mandeville [. .. ] Em 1960, os Jogos

foram realizados junto às Olimpíadas, em Roma, recebendo o nome

de PARALYMPICS (Olimpíadas Para Paraplégicos). À partir daí,

os Jogos foram realizados simultaneamente às Olimpíadas, de

quatro em quatro anos. Atualmente as Paraolimpíadas são

realizadas trinta dias após as Olimpíadas, no mesmo local, e

participam atletas portadores de deficiências visual, paralisados

cerebrais, amputados, deficientes físicos (seqüela de pólio e Les

Autres) [. •• ]A Paraolimpíada de Seul, realizada em 1988, deu ao

Brasil quatro medalhas de ouro, nove de prata e quatorze de bronze,

totalizando 27 medalhas e alguns atletas brasileiros estabeleceram

novos recordes mundiais, em suas categorias e recordes olímpicos

no lançamento de disco". (p. 52)

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Ainda recentemente (1996), a delegação brasileira que participou das

Paraolimpíadas de Atlanta, mostrou uma de suas melhores apresentações e

conquistas (21 medalhas, sendo duas de ouro, seis de prata e treze de bronze).

A seguir, no Quadro I, apresentamos uma seqüência cronológica das

Paraolimpíadas, com respectivos números de atletas e delegações, no intuito de

mostrar ao leitor a crescente participação das pessoas portadoras de deficiência

no esporte.

QUADRO I

BENONI (1997), nos apresenta o seguinte quadro, em relação aos

Jogos paraolímpicos:

Jogos paraolímpicos País Participantes Delegações

1960 I Roma Itália 400 23

1964 II Tóquio Japão 390 22

1968 III TelAviv Israel 1.100 29

1972 IV Heidelberg Alemanha 1.400 44

1976 v Toronto Canadá 2.700 42

1980 VI Arnhrm Holanda 2.560 42

1984 VII Nova Iorque EUA 1.700 41

VII Stoke ~andeviUe Inglaterra 2.300 45

1988 VIII Seul Coréia 4.200 62

1992 IX Barcelona Espanha 4.158 83

1996 X Atlanta EUA 4.915 104

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Observação: Os Jogos Paraolímpicos de Roma, Seul, Barcelona e Atlanta

foram realizados no mesmo local das Olimpíadas. Os demais

foram realizados em locais diferentes

Apresentamos, a seguir, dados compilados do livro de ARAÚJO, P.

(1998), Desporto Adaptado no Brasil: origem, institucionalização e atualidade

(p. 71-82), referentes a associações que respondem sobre o desporto adaptado

no Brasil.

FENAPAES- Federação Nacional das Apaes (Associação de pais e amigos

dos excepcionais)

Integra as Associações de Pais e Amigos de Excepcionais em todo

território nacional e instituições especiais filiadas. Foi fundada em 10 de

novembro de 1962, em assembléia realizada no Estado de São Paulo, sendo

que a primeira APAE foi fundada no atual Estado do Rio de Janeiro, em 1954.

Em relação ao esporte, tem como filiada nacional as Associações Regionais de

Desporto para Deficientes Mentais - Ardems.

ANDE - Associação Nacional de Desporto Para Deficientes

Fundada em 18 de agosto de 197 5, esta organização foi a primeira a

se organizar no país, em relação ao desporto para portadores de deficiência.

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Tem como filiadas, em âmbito nacional, instituições que desenvolvem desporto

para portadores de paralisia cerebral e Les Autres.

É filiada ao Comitê Paraolímpico Brasileiro- CPB.

ABDC - Associação Brasileira de Desportos Para Cegos

Foi fundada em 19 de janeiro de 1984, na Cidade do Rio de Janeiro,

e tem como filiadas associações que visam o desenvolvimento do desporto para

pessoas portadoras de deficiência visual. Em nível Internacional é filiada à

International Blind Sports Association- IDSA

É filiada ao Comitê Paraolímpico Brasileiro- CPB.

ABRADECAR - Associação Brasileira de Desportos em Cadeira de Rodas

Foi fundada em 09 dezembro de 1984, e tem como afiliadas

associações que desenvolvem o desporto para portadores de deficiência fisica,

em cadeira de rodas. É filiada internacionalmente à International Stoke

Mandeville Wheelchair Sports Federation- ISMWSF.

É filiada ao Comitê Paraolímpico Brasileiro- CPB.

CBDS - Confederação Brasileira de Desportos Para Surdos

Foi fundada em 17 de novembro de 1987, na cidade do Rio de

Janeiro, tendo com objetivo o desporto para portadores de deficiência auditiva.

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Filiada internacionalmente ao Comitê Intemattional des Sports dei Surds. É

filiada ao Comitê Paraolímpico Brasileiro - CPB.

ABDA - Associação Brasileira de Desportos Para Amputados

Foi fundada em 24 de agosto de 1990, na cidade de Niterói, Estado

do Rio de Janeiro, e tem como afiliadas associações de desporto para pessoas

amputadas. É filiada ao Comitê Paraolímpico Brasileiro- CPB.

ASSOCIAÇÃO OLIMPÍADAS ESPECIAIS- BRAS~(Special Olympics)

Foi fundada em 08 de dezembro de 1990, em Brasília, sendo sua

sede atual localizada na cidade de V alinhos - São Paulo, e objetiva

proporcionar treinamento e competições para pessoas portadoras de deficiência

mental, de acordo com as normas do Programa Olimpíadas Especiais.

ABDEM- Associação Brasileira de Desporto de Deficientes Mentais

Foi fundada em 17 de maio de 1989, tendo seu reconhecimento após

a criação de seu estatuto, em agosto de 1995. Responsável pelo desporto da

pessoa portadora de deficiência mental. É filiada ao Comitê Paraolímpico

Brasileiro - CPB.

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CPB - Comitê Paraolímpico Brasileiro

Este Comitê foi fundado em 30 de agosto de 1994, sendo um órgão

de administração do Esporte Adaptado que vem em cumprimento das

solicitações do Comitê Paraolímpico Internacional, desempenhando função de

elo de ligação entre governos, associações e instituições privadas entre outros

que se dispuserem a estimular o esporte e as Organizações Internacionais.

O esporte também pode ter um fim terapêutico, como descreve

SOUZA (1999), em palestra realizada no Simpósio Nacional de Esportes para

Portadores de Necessidades Especiais. Apresentamos, a seguir, alguns desses

beneficios terapêuticos, segundo ponto de vista de SOUZA:

- a compensação funcional de portadores, por exemplo, de asma brônquica

que, pela prática esportiva, não só elevaram sua capacidade funcional,

como também reduziram ou eliminaram as manifestações dessa doença,

dando melhor qualidade de vida a essas pessoas;

- em relação aos portadores de diabetes, o esporte potencializa a insulina

produzida pelo próprio organismo ou injetada no diabético, ao mesmo

tempo em que reduz consideravelmente o percentual de açúcar;

- a espasticidade de paralisados cerebrais pode ser reduzida pela prática

esportiva, assim como podem ser melhoradas também a coordenação

motora e o equilíbrio;

- no que se refere à compensação ou regeneração de distúrbios de ordem

psíquica, sabe-se que a atividade fisica regular e bem orientada

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estimula, entre outras, a produção de endorfinas e catecolaminas,

responsáveis, respectivamente, por sensações de bem estar e pelo

combate à depressão;

- ao praticar o esporte o indivíduo tem a percepção de sua autoeficácia, ou

seja, ele percebe que é capaz de fazer algo por sua saúde e por seu bem

estar emocional, quando bem orientado, além de canalizar a

agressividade, elevar sua tolerância à frustração e aumentar sua

motivação;

- sua motivação, sua autoimagem e autovalorização podem diferir muito à

medida que ele se considere saudável ou doente, e o esporte possibilita­

lhe perceber-se como saudável;

- pela prática esportiva pode-se mudar os motivos que mobilizam ou

imobilizam as pessoas em suas diferentes situações de vida, além do

que é possível alterar-se o motivo que povoa a cabeça, o pensamento da

pessoa: no lugar do motivo "estou doente", é possível substituí-lo pelo

pensamento "sou capaz, apesar de portar uma doença".

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CAPÍTULO III

3.1 - PROCEDIMENTO METODOLÓGICO

Optamos, quanto à análise dos dados deste Estudo, pela análise

qualitativa, tendo em vista nosso interesse em identificar os fatores que podem

levar uma pessoa com deficiência a procurar o esporte; quais suas principais

barreiras ou dificuldades; e como percebem o esporte em sua vida e o sucesso

alcançado com esta prática.

Trata-se então, quanto ao seu nível, de uma pesquisa exploratória

que, segundo GIL (1994, p.44), "tem como principal finalidade desenvolver,

esclarecer e mesmo modificar conceitos e idéias", com vistas a obter a visão

do problema e que, também conforme nos descreve GIL (1994, p.79) "a

análise de uma unidade de determinado universo possibilita a compreensão

da generalidade do mesmo ou, pelo menos, o estabelecimento de bases para

uma investigação posterior, mais sistemática e precisa".

Segundo SOUZA (1992): "não existe uma neutralidade científica na

pesqmsa qualitativa e sim um comportamento, um envolvimento do

pesquisador, deixando transparecer nas entrelinhas suas crenças, sua história e

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suas definições políticas... ele capta as perspectivas significativas dos

participantes da pesqmsa e as confronta com seus próprios pressupostos

teóricos ... sem que haja qualquer manipulação intencional do pesquisador, a

maior preocupação é captar os diferentes pontos de vista dos informantes, ou

seja, tomar conhecimento de como estes indivíduos encaram as questões que

estão sendo analisadas''.

O objetivo então é "aprofundar no conhecimento da realidade do

que motivou a prática do esporte pelos portadores de deficiências,- das

barreiras por eles encontradas; e das suas percepções sobre o esporte e o

sucesso encontrado nele".

Sendc:J assim, quanto ao seu delineamento, optamos pelo Estudo de

Caso, por tratar-se, segundo GIL (1994, p.78) de "um estudo profundo e

exaustivo de um ou poucos objetos, de maneira a permitir conhecimento

detalhado do rn esmo". Para tanto utilizamos a coleta de dados sob a forma de

entrevistas ser:ni - estruturadas, com a utilização de questões de suporte

dirigidas para um grupo de nove atletas portadores de deficiências:> que

obtiveram absoluto sucesso e reconhecimento estadual, nacional ou

internacional na prática de suas modalidades esportivas. Desta forma,

obtivemos a b:istória de vida e o conteúdo do discurso dessas pessoas::> para

atingir os objetivos propostos neste estudo.

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Optamos pela utilização da entrevista pelas vantagens que

percebemos esta técnica apresenta, em relação à população e ao que

pretendemos obter, ou seja:

a) não exige que o entrevistado saiba escrever ou mesmo ler;

b) possibilita ao entrevistado esclarecimento, quando necessário, quanto à

existência de quaisquer dúvidas nas formulações de suporte;

c) possibilita uma "troca" informal e flexível, de onde o discurso pode

"crescer" e se aprofundar nas respostas, quanto mais motivado estiver o

entrevistado;

d) facilita a percepção de mudanças na expressão ou mesmo no tom de

voz do entrevistado, mediante determinadas situações, possibilitando

assim mudanças estratégicas no comportamento do entrevistador e na

percepção de fatos novos;

e) embora no tratamento da entrevista esteja previsto questões de suporte

com administração igual para todos os sujeitos da pesquisa, por ela ser

semi -estruturada, nos foi possível permitir e mesmo estimular tanto os

relatos lineares quanto as desestruturações que muitas vezes ocorrem,

na emoção dos discursos, e que também nos possibilitam a coleta de

dados importantes em qualquer momento de seu transcurso, para

comporem o processo final deste estudo.

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Quanto à técnica de seleção dos elementos que compuseram o grupo

de Estudo de Caso optamos pela classificação não - probabilística, utilizando a

estratégia de escolha por tipicidade.

Consideramos o grupo selecionado representativo da população, pois

todos os sujeitos estudados obtiveram, em comum, êxito em provas

representativas de suas diferentes modalidades esportivas, passaram pelo

mesmo ardor de transpor a barreira da incapacidade e encontrar o campo do

reconhecimento público, e por conseqüência do sucesso através a prática do

esporte.

Gostaríamos de esclarecer que um dos entrevistados por nós

selecionados para a composição deste grupo de Estudo, o Entrevistado 1 não

participa do movimento esporte adaptado, e sim do esporte convencional, onde

pratica o Jiu-jitsu, mas obteve espaço neste estudo por ser um importante

representante desta prática esportiva, e por sua habilidade em desenvolver

meios de adaptação e motivos para que outras pessoas COJn() ele também

possam praticar o Jiu-jitsu, como modalidade esportiva.

Utilizando um micro - gravador CASIO - RECORDING - Voice

Active System, e uma boa dose de informalidade, proporcionada através de

uma intensa convivência profissional e relação com o meio, realizamos nossas

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entrevistas~ e os sujeitos do estudo foram então compostos por nove atletas~

sendo oito do sexo masculino e uma do sexo feminino~ com faixa etária entre

24 e 50 anos. Quanto ao tipo de deficiência, sete são portadores de deficiência

fisica e dois portadores de deficiência visual. Dentre os atletas entrevistados

(nove)~ apenas três tem formação superior. Todos estão comprometidos com a

prática do esporte, exercendo~ quatro deles, também funções administrativas.

Três entrevistados exercem também funções profissionais independentes do

esporte.

As entrevistas foram agendadas com certa antecedência e em dia,

horário e local de conveniência de nossos entrevistados, com o propósito de

deixá-los afastados de qualquer tipo de pressão ou meio ambiente inadequado.

Desta forma nos colocamos inteiramente à disposição desses atletas e

realizamos nossas entrevistas nos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais~

Espírito Santo e na cidade de Brasília. Elas tiveram o tempo de duração, em

média~ entre cinqüenta e cento e vinte minutos.

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3.1.1- Entrevistados

Resumimos abaixo as informações de identificação de nossos

entrevistados:

Entrevistado 1

Idade: 26 a

Sexo:M

Tipo de Lesão: (deficiência :fisica) congênita, com atrofia do membro inferior

esquerdo, redução em seu comprimento, e alterações patológicas

na formação do pé esquerdo.

Esporte específico: Jiu-jitsu

Cuniculo: vice- campeão geral estadual (ES), da modalidade, em 1996;

- técnico da equipe feminina campeã estadual (ES), na modalidade,

em 1996;

- técnico da eqmpe infanto - juvenil campeã estadual (ES), na

modalidade, em 1996;

- disputou vários campeonatos nacionais, na modalidade que pratica

durante 15 anos;

- conseguiu inserção plena e reconhecimento em sua comunidade e

em seu estado.

- árbitro de federação;

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Entrevistado 2

Idade: 44 anos

Sexo:M

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Tipo de Lesão: (deficiência fisica) paraplegia por lesão traumática de medula

Esporte Específico: praticou quase todas as provas possíveis a um cadeirante

forte e com bastante mobilidade de tronco~ mas revelou-se

internacionalmente e tomou-se reconhecido por suas

participações em provas internacionais de maratona~ em sua

cadeira de rodas

Currículo:- pentacampeão brasileiro de halterofilismo;

-detentor, até 1985, de diversos recordes sul-americanos em provas

de atletismo como, por exemplo, meia - maratona e maratona em

cadeira de rodas

Entrevistado 3

Idade: 40 anos

Sexo:M

Tipo de Lesão: (deficiência visual)

Esporte Específico: futebol de salão

Currículo:- vice- campeão e campeão paulista de futebol de salão, chegando a

ser campeão brasileiro de futebol de salão para cegos, em 1994;

- também conquistou medalha de bronze em provas de judô, para

cegos. Participou também em provas de atletismo, em corridas de

atletismo especificas para deficientes visuais;

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- atualmente é presidente de uma instituição específica de cegos no

Espírito Santo~ onde dedica-se à educação geral e ao treinamento

em provas esportivas para cegos.

Entrevistado 4

Idade: 35 anos

Sexo:M

Tipo de Lesão: é portador de paralisia cerebral.

Esporte Específico: atualmente o atletismo;

Currículo:- iniciou na natação, como processo de reabilitação;

-integrou a seleção Brasileira de futebol que ficou em sexto lugar na

Paraolimpíada de Barcelona~ em 1992;

- medalha de ouro em disco~ peso e dardo no Pan - Americano de

Mar Del Plata~ em 1995;

- recorde mundial de lançamento de disco no Pan - Americano de

Mar Del Plata, em 1995;

- desde 1992 é campeão brasileiro nas três modalidades;

- medalha de bronze no arremesso de disco na Paraolimpíada de

Atlanta;

- atualmente, além de atleta é coordenador de esportes de uma

instituição específica para portadores de deficiência fisica, no Rio

de Janeiro.

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Entrevistado 5

Idade: 50 anos

Sexo:M

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Tipo de Lesão: deficiência fisica, em conseqüência de uma lesão completa em

T7.

Esporte Específico: tênis sobre rodas

Currículo:- começou nos esportes adaptados em 1977 e era atleta polivalente:

praticou natação, tênis de mesa, halterofilismo, bocha, basquete, e

seu esporte predileto, o tênis sobre rodas;

- tricampeão brasileiro de Tênis sobre rodas;

- durante um ano morou em Los Angeles e disputou todo o circuito

de tênis da Califórnia, conseguindo, ao final da temporada (1987),

competir na Divisão Aberta Open A (profissionais);

- participou nos jogos mundiais da categoria em 1992, 1994 e 1996;

- participou da Paraolimpíada de Atlanta, como tenista número um;

- participou das primeiras iniciativas de introdução do esporte

adaptado em nosso, país;

- atualmente, além de atleta exerce a função de médico patologista e

professor- adjunto de uma universidade, no Rio de Janeiro.

Entrevistado 6

Idade: 35 anos

Sexo: M

Tipo de Lesão: deficiência fisica (poliomielite)

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Esporte Específico: atletismo

Currículo: líder esportivo em seu Estado (MG);

- atleta de basquete~ campeão brasileiro em cadeira de rodas;

- assíduo praticante das modalidades de atletismo~ ginástica rítmica

desportiva e balé moderno;

- participa também em apresentações populares de dança em cadeira

de rodas em eventos tradicionais e específicos~ em todo país.

Entrevistado 7

Idade: 35 anos

Sexo:M

Tipo de Lesão: deficiência fisica (tetraparesia)

Esporte Específico: Atletismo

Currículo: 3 vezes medalha de ouro na Paraolimpíada de Seul -peso, disco e

dardo;

- medalha de ouro (peso) na Paraolimpíada de Barcelona;

- atleta e atualmente presidente de uma associação nacional de

portadores de deficiência fisica;

-vice-presidente do Comitê Pan-americano, com sede nos EUA e na

Argentina;

- membro do Conselho Municipal de Saúde (RJ);

- condecorado com a Comenda Brasileira de Mérito Esportivo;

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Entrevistado 8

Idade: 31 anos

Sexo:M

Tipo de Lesão: paralisia cerebral

Esporte Específico: atletismo

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Currículo: -medalha de bronze em salto em distância, na Paraolimpíada de

Atlanta;

- medalha de bronze nos 100 metros, em Atlanta;

- medalha de prata na prova de 200 metros, em Atlanta;

- 3 medalhas em sua primeira Paraolimpíada;

- desde 1994 ganhou todas as meda1has de ouro dos campeonatos

nacionais, nas modalidades de atletismo;

- iniciou carreira esportiva compondo equipes de futebol de campo,

de paralisados cerebrais;

-estudante universitário de educação fisica, no Rio de Janeiro.

Entrevistado 9

Idade: 24 anos

Sexo: F

Tipo de Lesão: deficiência visual

Esporte Específico: atletismo

Currículo: recordista mundial nos 100 metros;

- meda1has de prata nos 100 metros e nos 400 metros, na

Paraolimpíada de Seul;

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- medalha de ouro nos 100 metros na Paraolimpíada de Barcelona;

- 4 medalhas de ouro nos Jogos Latino - Americanos realizados no

Brasil- 100,200,400 metros e revezamento 4 x 100 metros;

- medalha de ouro nos 100, 200, e 400 metros nos Jogos Pan -

Americanos de Buenos Aires;

-medalha de prata nos 100, 200 e 400 metros rasos nas

Paraolimpíadas de Atlanta.

3.1.2 - Questões de Suporte da Entrevista

. Como a prática do esporte adaptado surgiu em sua vida?

. Suas primeiras reações à nova atividade?

. Quais as dificuldades iniciais?

. Como percebe hoje as barreiras que encontrou?

. Algo o marcou ou ainda se constitui dúvidas em seu desenvolvimento no esporte adaptado?

. O que representa hoje o esporte, para você?

. Que outras atividades você faz, fora o esporte adaptado?

. Como você observa o seu corpo hoje, com a prática do esporte adaptado?

. O que você acha sobre o esporte na vida da pessoa portadora de

deficiência? . Você acha que todo portador de deficiência deve praticar alguma atividade

esportiva em sua vida? . Consegue perceber diferenças a partir da entrada do esporte em sua vida?

. O que o sucesso representa para você?

. Você se sente discriminado?

. O esporte discrimina?

. Percebeu mudanças em sua vida familiar?

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3.1.3 - O que Dizem os Portadores de Deficiência

Nesta etapa deste estudo nosso objetivo é descrever~ de forma

temática~ o que pensam os portadores de deficiência em relação ao esporte

adaptado~ e como se desenvolveram até atingir o estado de liderança e sucesso

ao qual se encontram.

Os atletas que foram entrevistados, que possibilitaram a composição

desta significante fase deste estudo e que, consequentemente, também

contemplaram as questões que propositam este estudo - os estímulos, as

barreiras~ e a percepção do esporte e do sucesso neste - reconstruíram sua vida

à partir da intimidade com o esporte adaptado. Eles são detentores de títulos

estaduais~ nacionais ou internacionais, em suas modalidades esportivas. O

reconhecimento de seus feitos, na maioria deles~ rompe a barreira de nossas

fronteiras territoriais.

Fazem do esporte sua vida, o seu dia a dia~ e discutem essa panacéia

que é o esporte, com todas suas implicações e conflitos, em todos os seus

momentos de lazer~ ou livres. Assim, o esporte é para essas pessoas - como

será possível constatar mais adiante, na observação do que dizem os portadores

de deficiência -lazer~ emoção, competição, trabalho e construção de vida.

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Em nenhum momento de nossas entrevistas pudemos perceber que

eles apenas se sentiam no cumprimento de um dever cotidiano como, por

exemplo, de nos auxiliar no desenvolvimento do conhecimento da problemática

da deficiência x desporto mas que, além de tudo, sentiam prazer em falar de

suas experiências, pontos positivos e frustradores: suas vidas. Foram muitas

páginas constituídas assim. Uma surpreendente gama de informações. Cada um

dos encontros para a realização das entrevistas durou aproximadamente três

horas, entre a acolhida, os abraços, os "momentos'', o "lanchinho", as

explicações prévias, os votos de sucesso etc., muito gratificante.

Alguns falaram um pouco menos, outros ultrapassaram nossas

expectativas, devendo esse fato a um parâmetro que fugiu ào nosso controle: a

facilidade e sensibilidade que alguns possuíam em expor e perceber seus

"momentos", e a dificuldade que outros demostravam em ativar a memória,

além de uma timidez perceptível para revelar seus feitos. Mas, analisando todo

o contexto das entrevistas, acreditamos que a contribuição foi valiosa para o

desenvolvimento de um tema tão importante por representar a própria

superação dos limites, e portanto da deficiência, e o alcance do sucesso.

Tentam esses homens que portam deficiências, nos mostrar que a força de

vontade supera a ausência de parte de seus próprios corpos, no exercício de

modalidades esportivas que apresentam um perfil às vezes extremamente

pragmático. Sendo assim, os discursos retratam o pensamento das principais

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lideranças na participação do esporte em nosso país, e é o que apresentamos a

seguir, sob a forma de quadros que expõem os dados categorizados, obtidos

nas entrevistas.

QUADRO 11 -CATEGORIA MOTIVAÇÃO

Os Entrevistados nos forneceram esses motivos, relacionados neste

quadro, quanto à prática do esporte adaptado:

. para descarregar energias, sem ser um isolado El

sentia prazer de ver as pessoas se emocionarem com o que fazia E6 E4

percebia que tinha todo um potencial que podia ser mostrado, que não existe E3 E4 E6

limites, pois cada um faz a sua maneira

tinha a emoção de "estar fazendo" e "estar gostando" E3

praticava esporte antes, e pensava na possibilidade de voltar a praticar. Era E2 E5 E3

uma questão de adaptação

sempre gostou muito de ter um corpo legal, e o esporte possibilitava isso. Foi E4

um estímulo

1percebia que seu corpo, mesmo assim, era o seu "ganha-pão" El

encontrou o esporte na luta corporativista por ações que projetassem o E7

deficiente na sociedade

estava se sentindo inútil, e o esporte lhe deu auto - confiança E6

motivou muito perceber que outras pessoas como ele, praticavam esporte E3 E4

a melhoria dos resultados motivou o contínuo desenvolvimento no esporte El E2

o esporte integrou, e conhecer novas pessoas o estimulava E5 E3

foi descoberto por pessoas já envolvidas no esporte adaptado, e encaminhado E6 E7

! para uma instituição E8 E9

a família apoiava a prática do esporte, foi um estímulo El E2

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3.1.4 - A Participação nos Esportes: encontrando motivos ...

Nas entrevistas com os portadores de deficiências buscamos

inicialmente saber quais foram os motivos que estimularam essas pessoas tão

desacreditadas por uma sociedade desinformada a superar barreiras tão severas

quanto essas que existem na prática do esporte, pois essa atividade não

somente envolve o corpo de uma forma plena, integrando seu comportamento

afetivo, psicomotor e cognitivo, como também exige o desempenho de

determinadas habilidades que requerem superação de limites fisicos e

particulares, extremamente relacionados a diferentes questões emocionais, de

perdas, de princípios e mesmo de desestímulo ao principal fato que move o

homem: o viver.

São detectados estímulos movidos ora por valores pessorus e

internos; ora por motivos externos que são percebidos, e ambos transformam-se

em fenômenos propulsores de energia para o desenvolvimento e o potencial

produtivo.

A necessidade de descarregar energias, de não ser um isolado, de

combater o tédio da vida sem propósitos, de ser capaz, idéias que, por

exemplo, originaram o movimento de esporte para incapacitados desenvolvido

por LUDWIG GUTTMANN (ver O Correio da UNESCO - 1973) em Stoke

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Mandeville que, "durante a li Guerra Mundial introduziu no Centro de Lesões

da Espinha do Hospital de Stoke Mandeville, na Inglaterra, o esporte como

parte do programa de tratamento de homens e mulheres paralisados [ ... ]

visando exercitar o corpo e combater o tédio da vida no hospital", são vistos

pelos entrevistados algumas vezes, neste estudo.

" ... Eu sempre fui um cara ativo, bagunceiro, trepava em árvore,

apesar de tudo, era muito agitado e não conseguia achar nenhum

esporte para descarregar essa energia, na qual eu não fosse um

isolado. Eu queria praticar uma coisa que fosse de igual para igual.

[. .. ]Para mim era uma dificuldade: eu estava sempre a margem.

[. .. ]aí eu consegui no Jiu-jitsu achar o esporte na qual não tinha

diferença alguma, era igual para igual, tem posições que até a

minha deficiência ajuda" (entrevistado 1)

"E essa questão de "após ter ficado cego" foi uma questão de

prazer, de satisfação, por você saber que perdeu um dos sentidos

mais importante da vida, mas que você não está inválido, aí te dá

ânimo, te dá coragem para você superar outras dificuldades no seu

campo de vida" (entrevistado 3)

Desta forma, a capacidade de perceber que tinha todo um potencial a

ser mostrado, que não existem limites a partir do processo de adaptação, da

emoção de "estar fazendo" e "estar gostando", propiciam diferentes motivos,

identificados aqui por muitos deles. Eis algumas demonstrações, nesse sentido:

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" ... eu sempre fui uma pessoa que quando alguém me falava para

não fazer alguma coisa eu queria demonstrar que era possível,

dentro de minhas possibilidades e limitações, e mesmo que

demorasse um ou dois meses, eu demonstrava que era capaz"

(entrevistado 4)

" ... a reação mais gostosa que eu tive foi quando eu entrei no palco

para dançar com minha cadeira de rodas. Eu entrei e vi aquele povo

lá embaixo e senti um 'friosinho' que dá na espinha da gente [. .. }

minha primeira apresentação em público grande [. .. ] eu entrei no

palco todo maquiado, todo preparado para aquilo [. .. }eu vi que

tinha todo um potencial que podia ser mostrado. Aí é que entra essa

coisa gostosa, porque daí para frente eu nunca mais parei de dançar

[. .. }é que não existe limites para ninguém, e que as barreiras que

existem estão na cabeça de cada um. [. .. } Você faz as coisas à sua

maneira e eu faço da minha. Você dança com suas pernas, e eu

danço com minha cadeira de rodas e meus braços. O resultado é o

mesmo. " (entrevistado 6 )

Também ficou claro na fala deles a possibilidade de retomar a prática

da atividade fisic~ como já faziam alguns, antes do episódio causador de suas

limitações. A vontade de voltar a praticar o esporte estimulou o

desenvolvimento de inúmeras formas de adaptação referentes aos implementas

e às regras dos jogos, às instalações etc.:

"... se você consegue uma mobilidade dentro de uma quadra para

jogar futebol de salão, ou mesmo se você consegue um golpe em

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uma luta de judô com uma pessoa vidente, aí você sabe que você

também é capaz de abrir qualquer porta. de superar qualquer

ba"eira [. .. } E eu fui observando que estava voltando a fazer tudo

aquilo que eu fazia antes e que apesar da perda da visão !2:!:.. estava

conseguindo retomar minha vida normal .. " (entrevistado 3)

"Eu pensava muito na possibilidade de voltar à prática do esporte.

pensava porque lia muito, pois a primeira coisa que fiz quando

fiquei acidentado foi ler o GUTTMANN inteiro. Queria saber como

~ o meu intestino, como era a urina, como era a minha

sensibilidade, como eu tinha que fazer para evitar certas coisas. Ali

vi que o 'cara' começou seus estudos na gu~a, no pós- gu~a, que

começaram, as primeiras experiências, dos Jogos de Stoke

Mandeville, com o arco e flechas e depois com o basquete. O cara é

um gênio! Ele era realmente um gênio!" (entrevistado 5)

Ele sabia que tinha que mudar muitas cmsas em sua vida,

principalmente tomar mais funcional o seu corpo, para a prática do esporte

como desejava:

"Sempre pratiquei esporte antes de ter sido acidentado e depois

continuei. Após o acidente fOi só uma questão de adaptação a !!!!!!!:.!

práticas e a novas situações para o meu como. [. .. ] Eu precisava de

muita musculação para poder suportar o trabalho na cadeira e a

conduzi-la mais rápido. [. .. ]Assim eu sabia que tinha que mudar

muitas coisas, mas que ia fazer para superar todas as dificuldades

... " (entrevistado 2)

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"O que aconteceu foi um desafio: antes eu era um atleta mesmo e

tive informação dos fisiatras de que eu não poderia ser um atleta

nunca mais, e eu acabei me transformando depois num atleta

Paraolímoico-" (entrevistado 7)

O bom desempenho específico no esporte, os resultados que se

apresentavam, contrastavam com as dificuldades relacionadas com o dia a dia

dessas pessoas. E assim, o sucesso era um estímulo, bem como o fenômeno "de

ser visto como um campeão", dentro de uma "grande arena", "aos olhos de

milhares de pessoas", era motivo suficiente para alavancar a prática do esporte

e propositar uma insaciável busca de resultados, era o que nos passavam

algumas dessas pessoas:

"O que me estimulou também foi o prazer de ver as pessoas se

emocionarem com o que eu faço" (entrevistado 6)

"[. .. }em 1980 eu participei de minha primeira rústica, junto com

andantes. Com as participações eu comecei a chegar entre os

primeiros trinta, sendo o primeiro cadeirante. De repente comecei a

melhorar ainda mais meus resultados e a chegar entre os dez

primeiros, e de repente vem o 'chumbadinho' chegando entre os

primeiros" (entrevistado 2)

':4 maior prova de amor que Deus poderia ter feito comigo foi ter

me mantido vivo e eu sabia que, de alguma forma, eu teria que

melhorar meu condicionamento físico para não ficar dependendo

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das pessoas. Eu acho que existem pessoas que são paraplégicas

porque não andam e existem pessoas que são aleijadas e inúteis. E

isto eu tinha a certeza que não ia acontecer comigo. Então eu

comecei a fazer a minha parte, a me preparar para ir para a cadeira

sozinho, a tomar meu banho sozinho e a pensar sempre antes das

coisas acontecerem". (entrevistado 2)

"Aí eu consegui no Jiu-jitsu achar o esporte na qual não tinha

diferença alguma, era igual para igual, tem posições que até a

minha deficiência ajuda. Aí eu fui me adaptando para conciliar e

ficar tudo igual para igual Eu fui conseguindo ganhar lutas com

rapazes fortes. atletas perfeitos, e cada vez mais me interessando, até

ser professor e montar minha própria academia" (entrevistado 1)

"Você vê aquela arena de reis, príncipes, pessoas pagando até 200

dólares para assistir você. Você era o ponto alto. Você era a

expressão máxima dentro daguela arena. Foi muito grande isso,

você estar representando o seu país e ser o primeiro entre eles!

Então eu tinha a responsabilidade de estar representando milhões

de brasileiros. Então eu não estava só. Isso me marcou muito. No

momento que eu pegava no meu implemento e ia jogar não era a

minha força que estava em jogo. Eu representava a (orca de todos

nós" (entrevistado 7)

As associações classistas, representantes das diferentes áreas da

deficiência, através seus "olheiros'', técnicos e militantes do esporte adaptado,

mesmo em alguns casos de forma um tanto quanto empírica, também exercem

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sua função, ao atrair novos adeptos para seus quadros internos, para compor

suas equipes representativas das diferentes modalidades desportivas. Para

aqueles que tem a oportunidade de serem "descobertos" é uma forma direta e

imediata de motivação, e assim podemos observar no relato de alguns dos

entrevistados:

"[. .. ] e encontrei um pessoal da associação de paraplégicos que me

fez um convite, para eu fazer parte dessa associação. No começo eu

não praticava nada, e o que eu queria mesmo naquela época era

sombra e água fresca. Só queria tranqüilidade em minha casa e a

superproteção de minha fanu1ia.[. .. J Na associação eu vim saber que

existia o basquete em cadeira de rodas e eu, portador de pólio, podia

participar. {. .. ] e me jogaram assim, duma vez, no atletismo. Eu

nunca havia pegado num dardo, num disco ou num peso, e me

colocaram frente à frente com aquela situação. Eu fiquei nervoso, e

a adrenalina que vai subindo pelo corpo me deu um prazer tão

grande, uma coisa tão gostosa, que eu nuca mais quis parar. {. .. ]

mas eu fui para essa competição sem saber nada. Eu fui mais ou

menos preparado para o basquete, não para o atletismo."

(entrevistado 6 )

"Eu fui encaminhado para a associação para que pudesse fazer

uma manutenção, uma reabilitação para que pudesse voltar a Jazer

o esporte. [. .. ]aí eu comecei a ver o pessoal jogar basquete{. .. ]

então. mesmo escondido, contra - indicado pelos médicos. eu ia lá

jogar basquete. Caía. O pessoal me botava novamente na cadeira.

Eu fui paciente interno e fiquei lá dois anos, mas não me adaptei

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com o basquete porque eu tinha dificuldades com as mãos, e no

basquete precisa ter muita agilidade de tronco e de mãos, e eu não

tinha isso. Aí surgiu o atletismo ... "(entrevistado 7)

"Foi jogando bola, um amigo meu que convidou para vir jogar bola

aqui na associação. A associação tinha um time de paralisados

cerebrais e eu fui convidado para fazer um teste. Dois meses

jogando futebol, e técnico de atletismo por acaso foi ver esse jogo, e

eu era ponta esquerda, ele viu eu co"endo e perguntou se eu não

queria fazer um teste em atletismo. Eu fui fazer [. .. ] aí nós

começamos a fazer um trabalho visando o atletismo, aí eu parei de

jogar bola e hoje só faço atletismo" (entrevistado 8 )

"Eu vejo somente a claridade, mas como se fosse uma neve, Eu

corria na classe B2, mas agora fui classificada na Bl. No começo

eu achava muito difícil participar mas agora eu estou conseguindo

com mais facilidade levar a frente e competir. [. .. ] O atletismo

surgiu em Belo Horizonte, eu estudava em um instituto igual ao

aqui do Rio, e foi fundada lá uma associação, e o presidente de lá

foi à escola e pediu a nossa professora de educação física para eu

fazer um teste. Nesse teste eu sempre chegava em primeiro lugar. Aí

comecei a treinar mais sério. Competi até 1995 por lá, e aí eu vim

para o Rio" (entrevistado 9)

Alguns deficientes encontraram seu ponto de apoio e motivação no

fato de perceberem que outras pessoas como eles praticavam esporte.

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"0 esporte entrou na minha vida como uma terapia, pois tinha no

meu Estado um grupo que já praticava esporte e eu vim a saber

disso, era um grupo de minha atual instituição. Instituição que hoje

sou presidente. [. .. )A possibilidade de praticar esporte mesmo tendo

ficado cego me motivou muito, e o (ato de ter encontrado esse grupo

[. .. )ingressar nele, sabendo de suas dificuldades e contribuir com

esse pessoal, atingir títulos nacionais, ser líder deles, muito

contribuiu para minha felicidade atual" (entrevistado 3)

"[ ... ) e vi que poderia participar de esportes competindo com

pessoas com a mesma plegia e a mesma deficiência, foi um

incentivo" (entrevistado 4)

O esporte surgiu na vida de algumas dessas pessoas não só como

uma forma de demonstrar "que podiam", mas também como um desafiador

instrumento de união e de integração. A força que essas pessoas adquiriam com

a prática do esporte propositou a criação e a perpetuação das instituições

desportivas específicas, estimulou a prática dos discursos corporativistas, que

envolviam quase sempre questões referentes à problemática deles, no seu

relacionamento diário, às suas necessidades. Assim, encontramos entre esses

nossos entrevistados motivos corporativistas que estimulavam a prática do

esporte. "Na política (oi outro lado importante para mim, porque nesse

momento eu passei a ter um outro tipo de consciência. Primeiro

pela briga na instituição, pois eles não aceitavam que um paciente

interno tivesse uma vida externa, a gente achava que não, e eles

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achavam que ele tinha que ser paciente e pacientemente esperar a

reabilitação. Os pacientes externos nos colocavam que a reabilitação

era incompleta, que não podia terminar só a reabilitação e ir para

casa, porque a reabilitação durava dois anos e aí, quando o

fisioterapeuta dizia: - olha. não tenho mais nada o que fazer... Você

ia para casa e ia regredir. Então achava que o esporte deveria ser a

complementação. E nesse intervalo, a partir de 1981, eu fui

participar de movimentos políticos de organização de deficientes, no

Ano Internacional das Pessoas Portadoras de Deficiência, ~

descobrimos que o esporte seria o veículo que poderia traduzir para

nós resultados mais positivos do que somente a reabilitação.

(entrevistado 7)

"Eu chegava e dizia: o portador de deficiência precisa ser

reabilitado para se integrar e se socializar, mas eram só palavras,

mas quando viam nossos resultados das olimpíadas, e trazíamos

uma quantidade de medalhas, nós dizíamos: "a reabilitação de que

estamos falando é essa aí ! " (entrevistado 7)

"O esporte substanciava meu discurso. Ele me dava instrumentos

para minha (ala. Eu ganhava medalha em Barcelona e o Presidente

da República me ligava do Brasil dizendo: - Olha, você aí representa

160 milhões de brasileiros. Então eu não estava só, e as minhas

deficiências tinham que sumir naquele momento, porque eu tinha

que ser (ormando pela minha eficiência. só que a minha eficiência

só era completa se eu tivesse o meu meio adaptado, porque não era

eu que estava deficiente e sim o meu meio. O meu meio não me

dava condições para eu me desenvolver". (entrevistado 7)

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Por fim~ pais que assumem o seu papel formativo e encaminhador,

mesmo membros de uma sociedade problemática~ desinformada e

descaracterizada como a sociedade contemporânea, e em especial, a sociedade

brasileira, são também referenciados pelos portadores de deficiência como

fontes de estímulo para que eles pudessem alcançar a prática da atividade fisica

e do esporte.

"Faz muito tempo não é: eu estou no Jiu-jitsu há 15 anos. Comecei

muito pequeno, muito criança, e foi uma felicidade. Eu era um

'molequinho' quando minha mãe me colocou, e o professor

preocupado disse: '- vai machucar a criança!' E a minha mãe

falou:

' - Não! machucar a gente conserta, não protege não, deixa ele solto

aí com a molecada ... '. E logo no primeiro teste eu fiquei em

primeiro lugar, coisa de criança, aqueles testes de graduação de

faixa. Eu fiquei em primeiro lugar, e essa foi a minha primeira

satisfação. Dali eu estava igual a todo mundo ! " (entrevistado I)

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QUADRO 111- CATEGORIA BARREIRAS

Quanto as barreiras encontradas na prática do esporte adaptado, eles

nos passaram esses dados:

A falta de reconhecimento público E3 E4 E7

As "marcas" da discriminação ainda se constituíam obstáculos fisicos El E6 E2 E4 ..

e SOCiaiS

A ausência de procedimentos de conscientização estimulavam outras El E3 E4

condutas preconceituosas E5 E6 E8

Precisava superar barreiras interiores e se aceitar como pessoa E3

portadora de deficiência

Ainda não encontrava segurança no que fazia El

F alta de patrocinadores e de apmo concreto pelos meios de E7 E8

divulgação, indispensável para a participação no esporte adaptado

Ausência de mão de obra qualificada para o esporte adaptado El E3 E4

E6 E7 E9

Ausência de mão de obra qualificada para participação em aulas de E3 E4

Educação Física

E desenvolvimento de lazer E8

Falta de material específico para o bom desempenho no esporte E5 E6 E7 E9

adaptado

Falta de dependências específicas para a prática do esporte adaptado E6 E7

F alta de transporte adaptado para o deficiente se locomover, sair de E7

sua casa e treinar

Tinha "vergonha" de seu corpo E6

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3.1.5 - Encontrando e Rompendo Barreiras

"... dava para torcer por uma corrida em cadeiras de rodas, como

dava para torcer por um jogo de futebol!" (Entrevistado 7)

As barreiras fisicas e sociais são inevitáveis na vida das pessoas que

portam deficiências, mas essas pessoas, quando encontram motivos

consistentes para superar esses obstáculos, quer seja através de atividades

rotineiras que lhes proporcionem emoção e satisfação, ou mesmo por atividades

que solicitem empenho e resultados bem - sucedidos, são capazes de se

transformar, e se tomar sucesso em suas especialidades.

Assim, após a anterior exposição dos estímulos identificados por

eles, descrevemos agora as barreiras que essas pessoas encontraram no

decorrer de sua caminhada. Eles nos relatam que as "marcas" que constituem

os seus estigmas fisicos e comportamentais ainda são os maiores desafios que

encontram na marcha para a igualdade, e que os programas públicos de

conscientização ainda não foram suficientes para diminuir o preconceito

existente, que termina sempre por colocá-los na maioria das vezes "à margem".

O bom desempenho, traduzido em medalhas, parabenizações e

certamente em sucesso ainda são, para muitos, apenas pequenos momentos. A

falta de reconhecimento público ainda é o grande desafio.

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Percebe-se isso no discurso deles:

"[. .. }e até compreender que um indivíduo que acaba de vender bala

no ponto do ônibus entra depois num avião para representar 170

milhões de brasileiros. Como é que a cabeça desse cidadão fica? O

cara lá pagando 300 dólares para assisti-lo e ele que está na rua

vendendo um saco de bala que custa um real! [. .. } E acontece em

vários clubes. O atleta é vendedor de balas, não que eu tenha

alguma coisa contra um vendedor de bala, mas nos costumamos

usar os nossos vendedores de bala como a venda da imagem , não

do produto. Então esse cidadão vai lá, ele entra no avião, ganha

medalha, pega o avião de volta, chega no Brasil, vai cada um para

sua associação pegar sua caixinha de bala e volta para o trânsito

novamente, com uma medalha de ouro pendurada no pescoço, e

muitos deles vêem a matéria do dia anterior, e ele na rua ali, vendo

no jornal sua matéria, saco de bala no colo ... ! " (entrevistado 7)

"[. .. }se comparar esporte para pessoas deficientes e esporte para

não deficientes, existe uma diferença muito grande, de

discriminação mesmo, de você valorizar uma medalha olímpica só

porque a 'Rede X' divulgou na televisão, e esta mesma Rede não

botou o esporte Paraolímpico [. .. } Diferente lá de fora. [. .. } a

discriminação é esta, coloco isso também porque eu tenho exemplos

de atletas paraolímpicos dos Estados Unidos que ganham os

mesmos patrocínios dos atletas olímpicos. Então, porque as coisas

aqui no Brasil são tão diferentes?" (entrevistado 4)

"Fizemos uma viagem para os jogos esportivos. Você ia para o

treino e tinha que levar o seu material porque os órgãos não davam

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nenhum apoio e você vê que os órgãos públicos, empresas privadas,

apoiam 'cabeças-de-bagre', pessoas que enxergam e que vão para

competições e ficam em último lugar e que às vezes nem se

classificam" (entrevistado 3)

Ou mesmo quanto as "marcas" da discriminação, que se constituíam

obstáculos freqüentes:

''[. .. ]eu hoje luto contra isso. Tratar o atleta indiferente dele ser

preto ou branco, se não tem uma perna, se não tem um braço, se é

homem ou se é mulher. 'tá lá dentro', é atleta ! Então eu tive sim,

tive muita coisa que marca: você tem condição de ganhar e eu perdi,

e me chamam para receber troféu de 'parabéns pelo esforço ! ',

'você é um exemplo!' 'Po"a, eu não sou exemplo de nada ! ' Perdi,

não ganhei nada, portanto não quero nada disso!" (entrevistado 1)

"Eu acho que todos acham que o deficiente é 'coitadinho', deve

ficar segregado, não precisa trabalhar, nem precisa estudar, não

precisa fazer nada, e isso tem que acabar. O paternalismo tem que

acabar. Temos que ser irmãos seguindo juntos, e não eles na frente

puxando a gente ! " (entrevistado 6)

"No colégio, por exemplo, se eu não fosse uma pessoa totalmente

instruída pela fanu1ia, e quando um professor me discriminasse, e

eu me recolhesse, acho que não teria essa cabeça que tenho hoje.

Um bloqueio de um professor de colégio, quando você está tentando

ser igual, então quando tem ainda seu mestre que te coloca essa

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impossibilidade, aí seu futuro pode estar totalmente destruído"

(entrevistado 4)

A existência de uma ação mats concreta de procedimentos de

conscientização diminuiria muitos desses problemas, segundo o ponto de vista

de nossos entrevistados:

"Eu acho que a preocupação maior de algumas instituições de

reabilitação é fazer com que você aceite a sua condição de deficiente

.físico, quando na verdade as preocupações deveriam ser justamente

o contrário, mostrar para você no que você é limitado e o que você

pode fazer para acabar com essa limitação. Eu acho que eles não

mostram a você o caminho para você se tornar uma pessoa

independente. [. .. ] Eu acho que as associações deveriam fazer

assim: pegar esses deficientes físicos e dizer 'olhe, você está aqui por

enquanto, porque você é dependente, então você vai ficar aqui

durante algum tempo, e vamos te dar a sua vaga para outros'".

(entrevistado 2)

"[. .. ]outra reação, até estranha, é quando você fala para alguém da

sociedade que você pratica esporte. A reação é sempre esta: 'mas

você faz isso! Mesmo sendo cego?' Isso me dá uma reação de

espanto, mas também me dá reação de prazer e de satisfação."

(entrevistado 3)

"Sempre percebi que a maior dificuldade do processo de

reabilitação no Brasil era uma só, a falta completa de informações

sobre tudo. Então sempre lutei por isso, e uma coisa é falar para o

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outro, outra coisa é escrever (e é muito dificil escrever!), tem que

dizer como é o nosso perfil, isso que você está fazendo aí."

(entrevistado 5)

"[. .. ) e imagine entrar num estádio num desfile de uma olimpíada e

você estar representando o BrasiL Você não tem idéia do que aquilo

representou para nós, chegar lá. Eu acho que é um momento que

transcende, porque ele marca uma coisa, uma vitória de tudo,[. .. )

de um país que não entende paraplegia, onde um enfermeiro, nem

um estudante de medicina e nem o médico sabe muitas vezes o que

fazer para resolver determinados problemas, pois não existe

disciplina de reabilitação no currículo médico. É um absurdo

completo!" (entrevistado 5)

O fato de não se aceitar como uma pessoa "assim'', de "ter vergonha

de seu corpo", e mesmo de se sentir inseguro em suas relações com o meio­

ambiente são reações decorrentes da própria rejeição social, representada sob

forma de preconceitos e discriminações.

E os maiores veículos de conscientização para a problemática dessas

pessoas são os meios de comunicação falada, escrita e televisionada, e agora o

acesso mais recente da telematização, através das redes de comunicação

informatizada: mais uma das barreiras para a concretização de seus objetivos

assinalada por eles, que é a falta de patrocínio e apoio_ concreto pelos meios de

divulgação.

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"Hoje o atleta deficiente tem dificuldades de arranjar patrocínio e

pouco tempo para treinar, porque eu tenho que trabalhar e para eu

me dedicar totalmente ao atletismo, eu teria que ter um patrocínio, e

está muito diftcil para nós, e aí eu tenho que trabalhar e estudar

também." (entrevistado 8)

''A primeira ba"eira era conscientizar as pessoas de que o deficiente

podia fazer um esporte de qualidade, e não um esporte lazer, que era

o que todo mundo achava: saía do centro de reabilitação, era

deficiente, vamos fazer um 'passeiozinho' pela Quinta da Boa Vista.

Nós tínhamos uma proposta maior, que era fazer o esporte

'performance', aí era mais complicado porque ninguém compra um

produto que não conhece, e o governo acaba tirando sua

responsabilidade, colocando para a iniciativa privada, e a iniciativa

privada só compra o que dá 'IBOPE', e a gente não dava 'IBOPE'.

Então só tinha que mostrar que o nosso material era de qualidade,

que tinha uma possibilidade de dar retorno. Então essa foi a nossa

primeira dificuldade: conscientizar a população que 'dava para

torcer por uma corrida com cadeira de rodas, como dava para torcer

por um jogo de futebol "' (entrevistado 7)

Nosso entrevistado anterior persiste na questão do patrocínio, e

agora apresenta este dado interligado à própria imagem da pessoa portadora de

deficiência:

" a imagem do portador de deficiência tem que ser mudada. A

imagem dele ainda está mais ligada ao hospital, à doença, e

ninguém vende saúde se é doente. No esporte, geralmente, você pega

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um atleta e tenta vender sua imagem dentro daquela modalidade:

quem joga futebol você tem chuteiras, tem meião, tem camisa;

quem co"e tem tênis; e cadeira de rodas ?" (entrevistado 7)

Mesmo a inclusão de disciplina específica na maioria dos cursos de

educação fisica e esportes; mesmo a realização de inúmeros cursos de

aperfeiçoamento e de cursos regulares de pós-graduação de especialização,

mestrado e doutorado; Simpósios e Congressos específicos; que tem sido

efetivados a partir dessas duas últimas décadas, em nosso país, a área de

formação em educação fisica parece ter ainda deveres a cumprir com a área da

Atividade Motora Adaptada, e com os portadores de deficiência, se

observarmos a fala deles:

"Tive problemas no segundo grau, foi uma questão com

professores. Eu acho que o professor de educação fisica não está

preparado para lidar com toda deficiência. Então, quando eu entrei

para o ginásio os professores preferiam e aconselhavam a gente a

assinar um atestado e não participar de tudo. Eu acho que a gente

tem que participar. A faml1ia vem sempre dizendo que a gente pode

tudo, e a gente esba"a nesse preconceito, a cabeça fica meio

balançada!" (entrevistado 8)

Ainda assiiD, reforçando o estado atual da situação, embora os

esforços das secretarias representativas em todos os níveis, das instituições de

ensino superior em capacitar melhor seus professores, e a disseminação de

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monografias, dissertações e teses abordando temas importantes para a

divulgação das questões teóricas e práticas da atividade adaptada, as questões

que abrangem diretamente a prática esportiva adaptada em nosso país: (a) mão

de obra qualificada; (b) material específico de qualidade; e (c) problemas

referentes à dependências apropriadas para os diferentes tipos e níveis de

competição esportiva adaptada, continuam a existir. É possível se perceber esse

problema no discurso deles:

"Às vezes faltava um mês e eles pegavam aquele monte de cegos e

botavam para treinar e a competir. Então eu acho que isso não

adianta nada, pois treinar um mês antes da competição, vai ficar só

aqui no Brasil e nada mais" (entrevistado 9)

"A questão aqui é séria nesse sentido, pois a carência é muito

grande de profissionais, e agora nós estamos precisando

urgentemente melhorar essa situação. As nossas superações aqui

são superações individuais. do atleta mesmo. do seu esfOrco em si.

[. .. ) das universidades ainda saem pessoas que se formam em

educação fisica e nem sabem que o cego joga bola. É duro, não é ! "

(entrevistado 3)

"Meu primeiro professor na escola me marcou porque ele me

discriminou [. .. ) tentar me excluir por não conhecer uma educação

física especial, sem saber como lidar com o deficiente fisico, às vezes

por medo ou por má formação, pois tem faculdades na vida

formando profissionais que só pensam em esporte como

'performance' e se esquecem de nós." (entrevistado 4)

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"A primeira grande ba"eira {oi a (alta completa de material, não

existiam cadeiras específicas para o esporte adaptado, e a gente

adaptava a cadeira da vida diária para fazer o esporte ... , e toda vez

que nós tínhamos que ir a um campeonato fora, Inglaterra, por

exemplo, a gente trazia material para tentar adaptar os nossos, até

que um dia nós começamos a fazer nossas próprias cadeiras[. .. ]

hoje melhorou um pouco, principalmente nas grandes cidades, mas

quem não tem um poder aquisitivo um pouquinho maior para poder

comprar seu material básico, ele não sai de casa, então a ba"eira

arquitetônica desde a locomoção até os acessos eu acho que é uma

coisa que melhorou até bastante, mas ainda precisa melhorar mais e

ser compreendida por todos" (entrevistado 5)

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QUADRO IV- CATEGORIA ESPORTE : PERCEPÇÃO

Os portadores de deficiências perceberam assim as influências do

esporte adaptado:

Proporciona condicionamento fisico - muscular para o desempenho E4 E2 El diário E5

Proporciona conforto fisico e emocional E4 E2 El

A vida de um atleta portador de deficiência é uma vida mais longa E7 El

O corpo sem esporte atrofia E6 E2

O esporte é tão importante quanto o ar que respiramos E2

O esporte acaba com a ociosidade E8 E3

Auxilia no desenvolvimento da orientação e mobilidade, na sua E9 E3 postura e locomoção

Também são beneficiados com a prática do esporte adaptado os E7 princípios da higiene e da nutrição

O esporte proporciona prazer e satisfação pela vida E3

É fator de integração e reintegração E8 E4

O esporte deixa a pessoa independente El E5 E9

O esporte serve para extravasar todos os problemas E6

O esporte proporciona condições que favorecem o relacionamento E2 conjugal

O esporte para o portador de deficiência também discrimina E6 E3 E5

O esporte para o deficiente devia ser mais valorizado pela sociedade E6 E7 E9

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3.1.6- '!'!0 Corpo Sem Esporte Atrofia ... "

(Entrevistado 6)

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Quando nossos entrevistados foram questionados sobre a percepção

que tinham do esporte e as influências que ele exercia em suas vidas,

encontramos em suas respostas muitas abordagens vinculadas à questão da

necessidade do desempenho do corpo frente os requerimentos do esporte e do

bem estar social como, por exemplo, (a) ter que estar condicionado :fisica e

muscularmente para obter resultados; (b) encontrar conforto :fisico e emocional

no esporte; (c) praticar esporte para não atrofiar as partes já lesionadas; ( d)

praticar esporte para não estar ocioso; e mesmo (e) que o esporte proporciona

saúde :fisica e melhora a postura do corpo.

Também houveram outros pontos de vista, estes não vinculados com

a questão do corpo/ desempenho, e sim com o (a) lado aglutinador que o esporte

proporciona, a integração/reintegração; ou (b) com o prazer e a satisfação que

ele oferece; ou mesmo com (c) sua independência, e o que ele propicia ( d) a

partir dos confrontos dos erros e dos acertos: extravasar os problemas

rotineiros da vida.

Outros não percebem apenas os fatores positivos do esporte para o

portador de deficiência, mas destacam e retomam as criticas sobre a

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discriminação, que também existe no esporte, e a falta de reconhecimento e

valorização pela sociedade, em geral.

V amos descrever alguns desses testemunhos como, por exemplo,

quanto às questões que envolvem o corpo e o seu desempenho:

"Me possibilitou uma melhor qualidade de vida. Nós temos

informações de que o deficiente físico de cadeira de rodas durava

pouco por falta de produção, e a gente vivia numa vida

extremamente sedentária, e o esporte fazia com que eu queimasse

essas energias que meu corpo produzia, e eu tive facilidade de ter

um prolongamento da vida. Também pude trabalhar melhor o meu

como. passei a conhecê-lo melhor. Me preparava melhor para não

ter escaras, infecção urinária, ter uma melhor alimentação.

Hoje eu circulo melhor em qualquer ambiente, e o esporte me deu

conhecimentos de como me deslocar melhor com meu corpo: hoje

eu sei que a cadeira de rodas que eu uso, que conheci no esporte, é

melhor do que as que eu tinha conhecido antes, que tornavam a

minha locomoção difícil e desmotivante. Então eu saio na rua com

mais confiança. Imagina, se você vai na rua com medo de que sua

perna quebre, você não sai mais! Afinal a cadeira de rodas é a

minha perna ! " (entrevistado 7)

" eu sabia que de alguma forma eu teria que melhorar meu

condicionamento físico para não ficar dependendo das pessoas. [. .. ]

Então eu comecei a fazer a minha parte, e a me preparar para ir

para a cadeira sozinho, a tomar meu banho sozinho [. .. ] Eu

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precisava de muita musculação para poder suportar o trabalho na

cadeira e a conduzi-la mais rápido. Aí eu sabia que podia competir e

ter resultados. Assim eu sabia que tinha que mudar muitas coisas,

mas que ia fazer, para superar todas as dificuldades e ter uma vida

melhor. " (entrevistado 2)

"0 esporte deixou de ser somente uma manutenção para o trabalho,

mas também para ser uma manutenção para a vida" (entrevistado7)

"Se hoje eu trabalho até 24 horas por dia, se for preciso, é sobretudo

por minhas condições fisicas que adquiri através do preparo fisico e

emocional que veio com o esporte.[. .. ] Eu acho que o esporte é tão

importante quanto o ar que respiramos" ( entrevistado2)

"0 esporte é uma complementação da vida. O esporte para nós,

portadores de deficiência, melhorou muito a qualidade de vida, pelo

movimento que possibilitou ao nosso corpo. O esporte complementa

a reabilitação. [. .. ] Quando eu não fazia esporte era muito flácido e

agora, fazendo esporte, houve uma melhoria na qualidade da minha

musculatura também. Eu não tinha equilíbrio, andava ama"ado,

hoie eu melhorei o meu tronco. Eu tinha menos agilidade para

andar na rua, hoje não encontro dificuldades". (entrevistado 7)

"Eu acho que principalmente para um deficiente, exercícios,

atividades de reabilitação e principalmente o esporte é fundamental

pelo que proporciona ao corpo. pela integração, pelo conforto[. .. ]

'tudo gira melhor' [. .. ]" (entrevistado I)

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Os beneficios sócio - afetivo - emocionais que o esporte produz ao

homem também são discutidos e defendidos com muito ardor pelos portadores

de deficiência.

"A gente vivencia isso! Muitas pessoas chegam aqui na associação

muito fechadas. Chegam se achando as piores do mundo. E quando

começam a fazer esporte ou começam a ver as pessoas fazerem

esporte elas começam a conversar e a se soltar. Então o esporte

também funciona como reintegração social" (entrevistado 8)

"Eu acho que se eu não tivesse a condição física que tenho hoje a

minha mulher não teria se apaixonado por mim e nem teria

confiança em mim." (entrevistado 2)

"Eu acho que as pessoas que não sabem o que é portar uma

deficiência, que são limitadas nesse assunto, que tem a cabeça

fechada, não percebem que o deficiente é capaz de praticar esporte,

trabalhar, dirigir, constituir faml1ia. " (entrevistado 4)

"Tem muito deficiente que vive em casa, a fam~1ia fazendo tudo!

Mesmo nos institutos acontece isso. O esporte deixa a pessoa

independente, melhora a percepção, a locomoção e outras coisas

mais." (entrevistado 9)

"O esporte representa tudo, representa integração.[. .. ] O tênis é um

esporte que ajuda a minha manutenção física. E eu posso jogar com

qualquer um, eu viajo, coloco a raquete de tênis no ca"o, e onde eu

estiver eu jogo, com minha mulher, ou com qualquer outro que

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aparecer. Eu tenho um grupo de tênis no meu condomínio, onde~

sou o único que jogo de cadeira. É um (ator de integração completa

e é um grande 'hoobv' de minha vida" (entrevistado 5)

Alguns dos nossos entrevistados mostram-se preocupados com o

elitismo, e acreditam na necessidade da disseminação do esporte adaptado em

nosso país, possibilitando o acesso desta oportunidade para todos.

"O esporte de elite eu acho que discrimina. Eu acho que!!:.!!! país

como o nosso tem que investir mais na iniciação desportiva. Eu

acho que a prioridade tem que ser dada à iniciação" (entrevistado 5)

"[. .. ]Agora o esporte deveria dar uma abertura maior para captar

todas as pessoas para que freqüentem o esporte, não apenas os que

tem alguma facilidade ou conseguem alguma abertura"

(entrevistado 1)

"Nas Paraolimpíadas de Atlanta tem uma camiseta que eu comprei

que diz: 'Qual a sua desculpa ?'. Eu acho que todas as pessoas

devem praticar algum tipo de esporte." (entrevistado 5)

Um de nossos entrevistados põe em reflexão a questão da inclusão,

em nível esportivo competitivo.

"Eu acho que em alguns tipos de esportes como, por exemplo, o

boliche, o arco e flechas, o tiro, a canoagem, o deficiente poderia

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participar em iguais condições com qualquer pessoa, em vez de

participar somente em provas de deficientes. Isso também é

discriminação. Ele pode praticar e até com vantagens sobre uma

pessoa que não é portadora de deficiências. Eu acho. "

( entrevistado6)

E para alguns, não fica claro o uso indevido da imagem do deficiente

relacionada ao esporte.

"Só não gosto quando o esporte para o deficiente é visto como

alguma coisa de espetáculo, como alguma coisa de incrível Porque

o esporte ajuda você a vencer ba"eiras, a se integrar, mas você tem

que tomar muito cuidado para você não ser vítima disso, porque

muita gente vai ver o portador de deficiência praticar o esporte, vai

vê-lo tocar algum instrumento musical, dançar e dizer 'que

gracinha !', 'ele dança!', 'ele joga bola!'.

Você não pode deixar isso estar acontecendo que aí sim, está

discriminando. Você tem que mostrar que ele está praticando

esporte por satisfação, por prazer, porque gosta do esporte. "

(entrevistado 3)

Em outra contribuição, este entrevistado retoma a questão da

conscientização e do preparo, desta vez reportando ao atleta portador de

deficiência, que se vê ora se relacionando com o que o sucesso traz de

beneficio, ora com o que a realidade do dia a dia da vida lhe exige.

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"Você entra numa arena, fica maravilhado, comida de primeira

qualidade, tem pessoas que inclusive vão passando necessidades,

mesmo de boca, e chega lá você tem, em uma competição, a comida

do país que você quer, como se o cara botasse uma máquina de

sorvete na tua cabeceira.

E quando ele volta de lá ?

Ele ganha uma medalha que custa aí perto dos 5 mil dólares. Para

muitos é pouco, mas para outros é o sonho. O cara volta

desesperado e a primeira coisa que pensa em fazer é vender aquilo

ali e melhorar a vida dele. Você faz o indivíduo muito crande e de

repente você passa uma rasteira nele e não o prepara. "

(entrevistado 7)

3.1. 7 - O sucesso no Esporte e a Percepção dos Portadores de

Deficiência

Por fim, descrevemos agora o que cada um dos nossos entrevistados

pensam sobre o seu sucesso adquirido na prática do esporte, e a influência em

suas vidas:

Entrevistado 6 "Cada vez que você sobe ao palanque para receber uma medalha é

uma honra para todos nós. Pode chegar lá e dizer: - eu lutei e

consegui!"

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Entrevistado 2 "Eu acho que depois do acidente, as pessoas ficaram me respeitando

não só pelos meus resultados mas também como gente. Me vêem

não só como a pessoa que já era um bom atleta mas a pessoa que

agora é deficiente, continua atleta, e é uma pessoa que está lutando

cada vez mais pela vida!"

Entrevistado 6 "Eu agora sou reconhecido nos lugares que convivo, e agora as

pessoas olham para o meu trabalho, me param na rua e perguntam

sobre mim. Não sou apenas o "tortinho" discriminado. O sucesso

representa quase tudo. O reconhecimento. "

Entrevistado 1 "Eu acho que o sucesso é o doutorado de toda uma vida, todos esses

quinze anos de mudanças [. .. ] Tudo que estudei, que planejei em

minha vida, deu muito certo devido ao meu sucesso, que ainda vai

ser maior, se Deus quiser. "

Entrevistado 6 "Hoje a minha famz1ia me aceita mais como igual Meu pai não me

protege mais como antigamente. Minha mãe aprendeu a gostar

mais de esporte através de mim e até me acompanha em algumas

disputas. Houve mudança total em minha vida e na de minha

(amz1ia quando o esporte entrou em minha vida. "

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Entrevistado 1 "Até hoje minha mãe me apoiou, me carregou para os hospitais,

INPS, muitas cirurgias, e hoje ela me vê, professor de Jiu-jitsu, com

uma academia cheia de troféus, e viajando pelo Brasil, recebendo

passagens de avião para ser árbitro lá não sei onde! Então ela se

orgulha e vejo o orgulho de minha mãe. É a melhor coisa que

existe. Orgulho e satisfação!"

Entrevistado 4 "Sobre o sucesso, eu agradeço a esse esforço que eu tenho, de poder

estar em todos os lugares, colocando as minhas experiências para

falar do esporte para o deficiente. Vocês podem reparar que eu

muitas vezes não falo de mim, já estive em vários programas,

seminários em faculdades, para falar da prática desportiva para

portadores de deficiências, que é fundamental, que é bom, que é

importante para as pessoas que não tem essa visão.{. .. ] Hoje eu falo

para minha mãe que eu não vou fazer mais esporte, não dá, tenho

que trabalhar, e ela diz:- 'é a última coisa de sua vida, não faça

isso!' Então eu sei que ela apoia e eu não posso decepcioná-la. "

Entrevistado 5 "Eu acho que todo mundo procura fazer a coisa da melhor maneira

possível, tem orgulho daquilo que faz, e quando faz qualquer

atividade está procurando fazer o melhor, e a tradução disso é

sempre o sucesso. Profissionalmente, quando você está fazendo uma

tese você quer fazer a melhor, e isso não significa sair na primeira

página de um jornal Sucesso significa se sentir bem consigo

mesmo. estabelecer alguma coisa como meta e chegar lá. é ótimo.

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Eu sou um sucesso! E assim eu não preciso ser dos outros, eu tenho

que ser para mim!"

Entrevistado 3 "Quando o portador de deficiência consegue uma glória nos

esportes, quando ele consegue vencer ele está se superando, ele está

mostrando para o mundo que também é capaz, já que o esporte é

uma das principais molas do mundo"

Entrevistado 3 "Eu acho que quando ele vem superando suas ba"eiras no esporte e

na vida, isto tudo deve ser uma satisfação pessoal Ele acaba se

tornando seu próprio fã, porque ele está vendo do que é f.!!1!.!!!,.

através seus esforços, daquilo que muita gente pensa que ele não é

~''

Entrevistado 7 "O sucesso é a chance de você poder defender com mais facilidade o

seu ideal, porque ninguém ouve quem é desconhecido. As pessoas só

ouvem quem é conhecido, porque acham que dali podem tirar

alguma coisa. E eu aproveitei o sucesso para me relacionar com

todos os presidentes, televisão, jornal, e assim posso (alar sobre os

meus direitos como portador de deficiência, e isso graças ao sucesso

que obtive no esporte, que me proporciona esse espaço. "

Entrevistado 8 "Eu acho o sucesso importante para mostrar as pessoas que agente,

apesar de qualquer tipo de dificuldade, seja ele deficiente, ou até a

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nível de nosso país, eu acho super importante agente mostrar que

tem essa capacidade, apesar de ser portador de deficiência e

brasileiro. Eu encaro tudo isso, nas Paraolimpíadas, como resultado

de um trabalho bem feito."

Entrevistado 9 "O sucesso para mim representa muito: ser conhecida pela

sociedade; chegar a um lugar e ver que as pessoas me conhecem !

me recebem muito bem. Ajuda minha sobrevivência. Meus

resultados em Atlanta, por exemplo, me abriram muitas portas."

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CAPÍTULO IV

4.1 - DISCUSSÃO DOS DADOS

Com o propósito de atender os objetivos deste estudo e relatar suas

descobertas, procuramos compor sua estrutura final em duas etapas, que são (a)

a discussão dos resultados e, (b) a conclusão e nossas recomendações finais.

Os dados que nos foram fornecidos pelos atletas que compuseram

nosso grupo de estudos, referentes aos motivos (Quadro II) que os conduziram

para a prática esportiva, contribuíram qualitativamente para nossa compreensão

à respeito desse fenômeno ainda tão complexo e irreverente que é o esporte

adaptado, e suas influências na vida da pessoa portadora de deficiências.

Inicialmente, ao observarmos a incidência dos dados referente ao

Quadro II, podemos perceber a necessidade urgente da existência de programas

de conscientização que tenham o objetivo de atingir, de imediato, os próprios

portadores de deficiências (ou mesmo seus familiares) pois, ao nosso ver, estes

demonstram em suas respostas aflição, ansiedade e dependências que sinalizam

mais para situações onde parece prevalecer um estado de desinformação quanto

ao que fazer ou mesmo como fazer .

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Assim podemos perceber, por exemplo, no discurso de alguns deles:

"[. .. ) e encontrei um pessoal da associação de paraplégicos que me

fez um convite[. .. ) eu não praticava nada[. .. } na associação eu vim

a descobrir que existia o basquete [. .. } e me jogaram assim, duma

vez, no atletismo [. .. }eu nunca havia pegado num dardo, num disco

ou num peso [. .. } eu fiquei nervoso, e a adrenalina que vai subindo

pelo corpo me deu um prazer tão grande, uma coisa tão gostosa, que

eu nunca mais quis parar. " (entrevistado 6 )

"F oi jogando bola, um amigo meu me convidou para vir jogar aqui

na associação [. .. } tinha um time de paralisados cerebrais."

(entrevistado 8 )

"[. .. }aí eu consegui no Jiu-;iitsu achar o esporte na qual não tinha

diferença alguma, era igual para igual" (entrevistado I)

"Eu pensava muito na possibilidade de voltar à prática do esporte,

pensava porque lia muito [. .. )a primeira coisa que fiz quando fiquei

acidentado foi ler o GUITMANN inteiro" (entrevistado 5)

"[. .. J então, mesmo escondido, contra - indicado pelos médicos, eu

ia lá jogar basquete. Caía. O pessoal me botava novamente na

cadeira.[. .. ) no basquete precisa ter muita agilidade[. .. ) Aí surgiu o

atletismo ... " (entrevistado 7)

"[. .. ) Comecei muito pequeno, muito criança [. .. ) Eu era um

molequinho quando minha mãe me colocou, e o professor

preocupado disse: ~- V ai machucar a criança!' E a minha mãe

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falou: •- Não! Machucar a gente conserta, não protege não, deixa

ele aí com a molecada. .. '" (Entrevistado 1)

Poderíamos nos estender em mais alguns exemplos, mas achamos

que estes são suficientes para permitir a percepção inicial da necessidade de

programas de conscientização, encaminhamento, e adequação, visando a

inclusão dessas pessoas no esporte. Na etapa final deste capítulo

desenvolvemos algumas recomendações, nesse sentido.

E, embora não seja o propósito desta pesquisa julgar os méritos dos

motivos que levaram essas pessoas à prática esportiva, e sim apontá-los e

descrevê-los, nos sentimos comprometidos, face nosso vínculo com a área de

educação motora e esportes adaptados, em criticar alguns pontos descobertos

que julgamos necessários.

A amostragem deste Estudo nos permite abordagens críticas que

VIsem a organização de pareceres para o desenvolvimento desta área de

conhecimentos.

Dentre os motivos encontrados e apresentados no Quadro II,

observa-se também que os entrevistados 2, 3 e 5 "já praticavam esporte

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antes, pensavam na possibilidade de voltar, e era uma questão de

adaptação"

A necessidade de uma política de desenvolvimento voltada para a

massificação, onde encontramos alternativas na diminuição de ambientes

restritivos, na inclusão do esporte adaptado nas escolas, e no preparo mais

adequado do profissional de educação fisica que pretende desenvolver suas

atividades com portadores de deficiência, diminui a possibilidade do esporte

surgir para essas pessoas apenas como uma alternativa de vida, ou mesmo

como um fato que ocorreu por acaso e deu certo ou ainda assim, como uma

"saída~', onde tudo o mais parecia não despertar motivação.

Encontramos também dois episódios na coleta de dados que se

destacam por relacionarem a motivação com a participação da família nos

primeiros anos de vida. Como afirma FONSECA (1987):

"Nos primeiros anos os pais devem ser envolvidos na intervenção

com seus filhos deficientes [. .. ] serviços e seus agentes podem

permitir, nos casos que for possível, que sejam os pais os primeiros a

criar estimulações" (p 95)

E acrescentamos, fazendo uso de nossa experiência em programas

que utilizam os pais como instrumentos de motivação que, assim como os

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entrevistados 1 e 2 destacam o estímulo da farm1ia à pratica do esporte,

lembramos também momentos de nossa vivência com deficientes, onde a

participação da família foi fundamental como, por exemplo, em jogos

esportivos integrados e acampamentos comunitários, onde a integração com a

família e a comunidade em atividades esportivas de base, proporcionavam os

primeiros contatos com a educação fisica a recreação e o esporte,

possibilitando a essas pessoas mais equihbrio e autoconfiança nas incursões

futuras nos espaços comunitários, na escola e nos clubes.

Os dados que compõem o conjunto do Quadro Ill (Categoria

Barreiras) podem ser, ao nosso ver, subdivididos em duas classes de

interpretação. Uma referente as barreiras sociais: falta de reconhecimento

público; as "marcas da discriminação"; as condutas preconceituosas; as

necessidades interiores de superação, segurança e auto-estima. E a outra

referente as barreiras fisicas e materiais, como estas: falta de patrocinadores e

apoio dos meios de divulgação; ausência de mão de obra qualificada; falta de

material específico para o desempenho no esporte adaptado, falta de

dependências qualificadas e de transporte adaptado.

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Quanto às barreiras sociais RIBAS (1985), afirma que:

"em qualquer sociedade existem valores culturais que se

consubstanciam no modo como a sociedade está organizada, São

valores que se refletem imediatamente no pensamento e nas

imagens dos homens, e norteiam as suas ações. São valores que

terminam por se refletir nas palavras com que os homens se

exprimem. Assim sendo, em todas as sociedades a palavra

'deficiente' adquire um valor cultural segundo padrões e normas

estabelecidos no bojo de suas relações sociais" (p.12)

RIBAS enfatiza também a diversidade natural existente entre os

homens: somos fisicamente diferentes quanto à características de cor, tamanho,

habilidades, comportamento, inteligência, cultura e, portanto, quanto às pessoas

deficientes também são um porco mais diferentes, talvez mais notáveis, ou com

seqüelas mais aparentes. Dessa maneira ele afirma que:

"nós homens não somos também socialmente todos iguais.

Acontece, todavia, que não podemos meramente transpor a

realidade natural para a realidade social Não é porque os homens

são naturalmente diferentes entre si que devem ser socialmente

diferentes. O fato de os homens se relacionarem quantitativa e

qualitativamente diferente no plano social é uma construção sócio­

cultural É uma diferença que não nasce da Natureza: nós homens

a construímos. Vivemos, assim, em sociedades em que os homens

são socialmente desiguais. São sociedades problemáticas, com

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profundos divisões entre classes sociais. Muito mais crítica do que a

divisão entre deficientes e não-deficientes, a divisão estrutural entre

classes permeia todas as demais divisões. Se a sociedade está

dividida pela base entre ricos e pobres, empresários e trabalhadores

assalariados, e, por extensão, ideologicamente, entre superiores e

inferiores, melhores e piores, estas divisões vão acabar por permear

todas as outras" (p .13-14)

FERREIRA (1984), contextualiza ainda essa questão social ao

afirmar que:

"A amplitude dessa transformação social vai além, inclusive, da

própria população de portadores de deficiências. Os deficientes

estarão lutando para isso através de sua participação nos

movimentos sociais com esse fim, o que já será uma forma de

inserção social

Para essas pessoas 'deficientes' a transformação social tem ainda

maior necessidade de oco"er. Não é possível integrar alguém em

uma sociedade cuja estrutura é desintegradora e propensa à

marginalização. A diversidade de grupos marginalizados hoje, na

sociedade brasileira, evidencia não ser a estigmatização um

privilégio da população de 'deficientes'. Negros, homossexuais,

indígenas e nordestinos habitantes da Região Sul são exemplos de

marginalização não declarada, porém muito concreta e geradora de

grande sofrimento social

Numa primeira instância é possível afirmar que os 'deficientes'

precisam lutar para impedir a sua marginalização social A longo

prazo, porém, é preciso compreender que a própria marginalização

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precisa ser cambatida, independentemente de qual seja o grupo que

a esteja sofrendo': (p. 28-29)

Os portadores de deficiências, quanto ao seu papel social, tem

discutido e hoje transpõem barreiras até então inatingíveis, como podem ser

observados em diferentes áreas de atuação, quer seja no esporte, nas artes, na

comunicação, no ensino e, dentro de suas possibilidades individuais, também

no desempenho de mão de obra específica. E no sucesso desses desempenhos,

hoje qualificados e destacados, surgem os elementos mais eficientes para

combater o preconceito, a falta de reconhecimento, e a discriminação social.

"A história esta aí para nos mostrar um genial surdo que criou

músicas inesquecíveis: Beethoven. Ou um superdeficiente inovando

no campo da educação: Helen Keller. Ou então uma genial mestre

em Psicologia da Educação que, cega e surda, escreveu maravilhoso

livro Como percebo, imagino e compreendo o mundo: Olga

Skorokodova. E, finalmente, um professor doutor da Universidade

de Cambridge com esclerose amiotrófica lateral que revolucionou a

jisica moderna com uma nova Teoria da Relatividade: Stephen

Hawking." (ROSADAS, 1991, p.ll)

Quanto às barreiras fisicas e materiais os "deficientes" apontam falta

de patrocinadores e apoio dos meios de divulgação; a ausência de mão de obra

qualificada; a falta de material específico para o desempenho no esporte

adaptado, e a falta de dependências qualificadas e de transporte adaptado.

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Pudemos perceber o mesmo discurso desde nossas pnmerras

incursões em encontros de acessoramento e discussão da problemática dos

portadores de deficiência como, por exemplo, nos Encontros de Tramandaí, ...

(1986), Campinas, S.P. (1993), entre tantos outros que aconteceram. Desses

encontros muitas providências puderam ser acrescentadas e hoje despontam

como "passos" já em processo de desenvolvimento visando a melhoria do

ambiente que os portadores de deficiências precisam para um bom desempenho

em suas ambições esportivas, especificamente. Destas podemos destacar a

inclusão de disciplina específica nos cursos de graduação em diferentes áreas

do conhecimento como, por exemplo, na educação fisica, fisioterapia,

arquitetura (visando o rompimento das barreiras arquitetônicas), psicologia,

assistência social, pedagogia, entre outras, e a elaboração de cursos de pós

graduação, principalmente os de especialização, mestrado e doutorado.

De recente Simpósio Nacional sobre esportes para Pessoas

Portadoras de Necessidades Especiais, promovido pelo Ministério do Esporte e

do Turismo (1999), da qual participamos como representante da Secretaria de

Educação Especial, recebemos documento elaborado a partir das nossas

discussões promovidas durante o evento, passível de novas contribuições, e que

descreve o programa "Esporte, Direito de Todos - Esporte e Lazer Para

Pessoas Portadoras de Deficiência", que julgamos providencial para a solução

das questões novamente levantadas pelos "deficientes'', ou pelo menos para

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lll

uma nova carga de esperança em transformações, que não dependem apenas de

um projeto mais recente, mas da participação de toda sociedade brasileira.

Parte deste Documento descrevemos, a seguir:

"Tendo por meta construir um novo paradigma de desenvolvimento,

com ênfase na melhoria de vida do cidadão, e a partir dos

indicativos colhidos junto a comunidade atuante na área este

Ministério do Esporte e Turismo, por meio do Instituto Nacional de

Desenvolvimento do Desporto, estabelece as diretrizes de sua política

para o desenvolvimento do Esporte e Lazer para as Pessoas

Portadoras de Deficiência".

Em conformidade com as orientações estratégicas para o próximo

quadriênio, imprescindível se faz a busca e a efetivação de parcerias

com o setor privado, Instituições de Ensino Superior, de Ensino

Especializado na área e a integração com os Estados, Municípios e

o Distrito Federal visando suprir as restrições de financiamento do

setor público.

O Esporte Para Pessoas Portadoras de Deficiência apoiará projetos

de iniciação esportiva, lazer e rendimento.

O atendimento deste segmento, no que se refere ao esporte

educacional, está assegurado no projeto de desporto educacional

desenvolvido pelo INDESP, cujo objetivo é fomentar o esporte como

meio de educação visando o desenvolvimento integral dos

praticantes para a formação da cidadania.

Nesse sentido, a municipalização é um canal para sua viabilidade

numa proposta includente, de forma a assegurar a implantação, o

desenvolvimento e a manutenção de ações de Esporte Educacional

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nos sistemas formais de ensino, em parceria com o Ministério da

Educação e, em formas assistemáticas de educação como ações

complementares à escola.

Nas formas assistemáticas de educação, outro canal que possibilita

o desenvolvimento esportivo deste segmento, é a sua prática por

meio do projeto Esporte Solidário, destinado a apoiar ações

educativas no campo de esporte, integradas a outras formas de

atendimento pessoal e social, sob forma prioritária à crianças e

adolescentes das populações de baixa renda.

No esporte de rendimento caberá ao INDESP investir esforços junto

as empresas públicas, no sentido de viabilizar o apoio aos eventos

esportivos contribuindo com o cumprimento do calendário de

competições internacionais e nacionais das Entidades Nacionais de

Administração do Esporte.

Também no esporte de rendimento, caberá ao Comitê Paraolímpico

Brasileiro e as Entidades Nacionais Dirigentes do Desporto,

elaborar um plano de desenvolvimento das modalidades praticadas,

a ser executado nos próximos quatro anos. A execução deste plano

será acompanhada pelo INDESP, que apoiará suas ações no que

couber.

Ainda nesta vertente, em cumprimento ao item 11, do Art. 7', da Lei

n. o 9.615198, o INDESP apoia o calendário de competições do

Comitê Paraolímpico Brasileiro e das Entidades Nacionais de

Administração do Desporto.

No que se refere ao cotidiano da atividade esportiva, em

cumprimento ao dispositivo constitucional e a Lei n. o 9. 615198, o

INDESP propõem um projeto de fomento esportivo a ser implantado

em todo território nacional, visando o acesso e a permanência da

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pessoa portadora de deficiência nessa prática, incluindo a iniciação

esportiva, a reabilitação pela prática esportiva e o lazer.

Quanto à qualificação profissional deverá ser elaborado um plano

nacional de capacitação de recursos humanos, em vários níveis de

formação, visando preparar o profissional leigo e os formados em

educação .fisica e/ou outras áreas do conhecimento, que estejam

atuando na escola ou fora dela, para trabalhar com esse segmento

social em todas as vertentes do esporte e no lazer. "

Independente dos beneficios advindos dos movimentos específicos, a

sociedade brasileira, no seu dia a dia, ao nosso ver, demostra maior aceitação

da pessoa portadora de deficiência, quer seja na prática esportiva como em

outras áreas de atuação, o que estimula para uma participação sempre aguerrida

dessas pessoas em todos os setores em que se possam fazer representados.

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4.2 - CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES FINAIS

Deixamos para a etapa final deste Estudo a percepção que pudemos

obter dos portadores de deficiência quanto aos beneficios da prática esportiva e

do sucesso advindo de seus resultados.

De imediato, gostaríamos de destacar a importância deste rol de

princípios que pudemos coletar nas entrevistas com eles, principalmente pelo

fato de que esses dados foram obtidos e desenvolvidos pelos próprios

portadores de deficiências, os principais destinatários deste estudo, e não por

qualquer representação proveniente de especialistas no setor.

Esses são os beneficios que experientes atletas portadores de

deficiência nos apresentam, em relação à pratica esportiva:

• proporciona maior condicionamento fisico para o desempenho diário do

corpo;

• proporciona conforto fisico e emocional;

• a vida se toma mais longa para um portador de deficiência que pratica o

esporte;

• o corpo da pessoa deficiente se atrofia, sem a prática do esporte;

• o esporte se toma tão importante quanto o ar que respiramos;

• a prática do esporte acaba com a ociosidade;

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• é coadjuvante no desenvolvimento da orientação e mobilidade;

• auxilia no desenvolvimento da postura e da locomoção;

• beneficia os princípios da higiene e da nutrição;

• proporciona prazer e satisfação pela vida;

• é fator de integração e reintegração;

• o esporte deixa a pessoa mais independente;

• é um bom motivo para extravasar os problemas cotidianos do portador

de deficiências;

• proporciona condições que favorecem o relacionamento conjugal;

Podemos também listar, sem sermos repetitivos, o que representa

para os nossos entrevistados, o sucesso proveniente da prática esportiva:

• "Cada vez que você sobe ao palanque para receber uma meda1ha é uma

honra para todos nós. Pode chegar lá e dizer: eu lutei e consegui!"; (E6)

• "... as pessoas ficaram me respeitando não só pelos meus resultados

mas também como gente"; (E2)

• "Eu agora sou reconhecido nos lugares que convivo; Hoje a minha

família me aceita mais como igual ... ''; (E6)

• "Sobre o sucesso, eu agradeço a esse esforço ... de poder estar em todos

os lugares, colocando as minhas experiências para falar do esporte para

o deficiente ... "; (E4)

• " ... quando ele consegue vencer ele está superando, ele está mostrando

para o mundo que também é capaz .. .''; (E3)

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• "... ele está vendo do que é capaz através seus esforços, daquilo que

muita gente pensa que ele não é capaz."; (E3)

• "O sucesso é a chance de você poder defender com mais facilidade o

seu ideal, porque ninguém ouve quem é desconhecido ... " (E7)

Na visão dos nossos entrevistados, todos detentores de muitas

vitórias no esporte, o sucesso representa a realização e o reconhecimento

público, que possibilita canalizar beneficios à própria causa, chama a atenção

para suas possibilidades, ofusca as limitações, que é o que de imediato o leigo

percebe e conceitua em portadores de deficiências.

Talvez merecesse atenção um estudo futuro em portadores de

deficiências que praticam o esporte e não obtiveram a vitória, como resultado

final? Será que o resultado final representou um bom trabalho de base,

direcionado para a vitória? Como seria para essas pessoas a visão do fracasso

na prática do esporte?

Desta forma, acreditamos, em relação ao sucesso, que o que o

desporto pode trazer de fato, como beneficio para os portadores de deficiência,

não seja a vitória representada pelo resultado final, ou pelo acúmulo de

medalhas, mas sim a percepção de que o esporte possibilita um corpo mais

independente; um corpo organicamente mais eficaz; que a prática do esporte

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afasta as escaras, infeções urinárias e mesmo outros sintomas ocasionados pela

ociosidade; e que o esporte possibilita melhor qualidade de vida, em todos os

seus aspectos inerentes.

Tendo em vista o que pudemos observar nesse estudo,

desenvolvemos essas recomendações fmais:

(1) desenvolver diretrizes que objetivem o encaminhamento e a

conscientização das pessoas portadoras de deficiência para a

importância da prática do esporte, no seu processo de reabilitação e

inserção social;

(2) adequar o processo de inclusão dessas pessoas no esporte, evitando-se

expectativas desastrosas, ao se perceber que a participação no esporte

requer um processo de adaptação, e procedimentos cuidadosos tanto

durante as competições quanto ao término destas;

(3) possibilitar mruores informações sobre a existência e acesso à

programas e serviços destinados à integração dos portadores de

deficiências;

( 4) proporcionar a essas pessoas oportunidades esportivas também em

ambientes menos restritivos;

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( 5) dar continuidade a programas de esclarecimento e conscientização

para a problemática dos portadores de deficiência, principalmente em

relação à condições de igualdade e acesso comum ao meio ambiente;

( 6) desenvolver procedimentos mais efetivos direcionados à integração

entre organizações voltadas para o desenvolvimento do esporte

adaptado, organizações esportivas públicas e privadas, e a população

leiga, em geral;

(7) facilitar o acesso aos recursos financeiros, materiais e operacionais,

visando beneficios destinados à prática do esporte;

(8) promover iniciativas que tenham por objetivo a qualificação

profissional indispensável para garantir o preparo, a continuidade e o

desenvolvimento de programas de massa, direcionados aos portadores

de deficiências e ao esporte, em nosso país;

(9) garantir participação mais efetiva da mídia em relação à divulgação e

cobertura de eventos esportivos, reconhecimento das conquistas

dessas pessoas, e estímulo ao investimento empresarial voltado ao

atleta portador de deficiência;

(10) estimular o efetivo processo de inclusão da pessoa portadora de

deficiência na rede de ensino.

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Através do exercício que este estudo nos proporcionou pudemos

então compreender, a partir dos dados fornecidos pelos próprios atletas

portadores de deficiências, a importância que o esporte assume na vida dessas

pessoas; e que o sucesso é decorrente do ganho emocional, da superação de

limites, da aceitação, da oportunidade de participação, e dos beneficios

funcionais que o esporte possibilita.

"Se você perceber bem, vai ver que a vida está

repleta de oportunidades para quem busca a

superação das barreiras" Rosadas/1999

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atualidade. Brasília: Ministério da Educação e do Desporto!INDESP,

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Brasília, 1985.

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____ .Decreto-Lei n.0 93.481, de 29 de outubro de 1986. Foi instituída

a criação da Corde pelo Presidente da República José A. Sarney. Diário

Oficial, Brasília, 1986.

____ . Decreto-Lei n.0 93.613, de 21 de novembro de 1986. Dispõe

sobre a transformação do Cenesp em SESP. Diário Oficial, Brasília,

1986.

____ .Decreto-Lei n. 0 94.431, de 11 de junho de 1987. Dispõe sobre a

transferência da Corde. Diário Oficial, Brasília, 1987.

____ . Decreto-Lei n.0 94.806, de 31 de agosto de 1987. Cria o

Conselho Consultivo da Corde. Diário Oficial, Brasília, 1987.

____ .Decreto-Lei n. 0 95.816, de 10 de março de 1988. Dispõe sobre a

transferência da Corde. Diário Oficial, Brasília, 1988.

____ . Decreto-Lei n. 0 96.634, de 2 de setembro de 1988. Dispõe sobre

a transferência da Corde. Diário Oficial, Brasília, 1988.

____ . Decreto-Lei n.0 1.437, de 4 de abril de 1995, que Estrutura o

Regimento do Instituto Nacional de Desenvolvimento do Desporto.

Diário Oficial, Brasília, 1995.

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