sucessão nas propriedades rurais familiares integrantes … faccin.pdf · sob essa perspectiva, o...
TRANSCRIPT
Capítulo XVIII - Sucessão nas Propriedades Rurais Familiares Integrantes de uma Cooperativa Agropecuária
371
Sucessão nas Propriedades Rurais Familiares Integrantes de uma Cooperativa
Agropecuária
FACCIN, Olívio Pedro53
SCHMIDT, Carmem Elizabete Finkler54
RESUMO
Os problemas enfrentados nas propriedades rurais, atualmente, são muitos, especialmente no que se refere à sucessão familiar, pois o agricultor não está mais influenciando seus filhos para dar continuidade à atividade rural. Com isso, acentua-se o chamado êxodo rural, além de aumentar os problemas que afetam as cidades devido aos constantes processos de migrações, como a marginalização, a prostituição e o aumento de favelas, entre outros. Este estudo surgiu a partir da observação de que alguns agricultores conseguem manter mais facilmente seus filhos na propriedade, enquanto outras não. Isso pode ser justificado pela pesquisa sobre o modo como, em determinadas propriedades rurais, os filhos sucedem os pais na condução das atividades agropecuárias. A problemática do trabalho encontra-se na forma como ocorre essa sucessão nas propriedades rurais familiares integrantes de uma cooperativa agropecuária. Sob essa perspectiva, o objetivo geral do presente estudo é descrever como ocorre a sucessão nesse tipo de propriedade rural familiar. Ainda, o autor definiu os seguintes objetivos específicos: investigar quais são os fatores que estimulam a permanência dos filhos nas propriedades rurais dos cooperados, bem como identificar o nível de satisfação dos filhos dos cooperados com a atividade agropecuária. Em relação à abordagem metodológica, a pesquisa é caracterizada, quanto aos objetivos, como descritiva e, em relação aos procedimentos técnicos, como bibliográfica, utilizando uma pesquisa qualitativa. A pesquisa qualitativa será aplicada através de um questionário estruturado com perguntas abertas e fechadas. A população e a amostra serão constituídas pelos filhos dos cooperados da Cooperativa Agrícola Soledade LTDA. (COAGRISOL), da cidade de Mormaço, estudantes da 8ª série do ensino fundamental ao 3º ano do ensino médio. Palavras-chave: Educação cooperativista. Sucessão. Propriedades rurais.
ABSTRACT
Many are the problems faced in the rural properties with respect to family succession; the farmers are not able anymore to influence their children to continue with the rural activity, which causes the so called rural exodus. This migration is causing many problems in the cities, such as marginalization, prostitution, increase of slums etc. Therefore, this study is justified for the fact that some farmers get to maintain their
53 Aluno do curso de Pós-Graduação em Gestão de Cooperativas na Faculdade de Tecnologia do
Cooperativismo (ESCOOP – Escola Superior de Cooperativismo). 54 Professora Orientadora, Especialista em Educação e Ciências Sociais pala UNISINOS –
Universidade do Vale do Rio dos Sinos.
Capítulo XVIII - Sucessão nas Propriedades Rurais Familiares Integrantes de uma Cooperativa Agropecuária
372
children in the rural property, while others do not. The problem of the present research is in the following: how does the succession happen in familiar rural properties that are part of an agricultural cooperative? Under that perspective, the general objective of the present study is to describe how the succession happens in this kind of rural property. Still, the author defined the following specific objectives: investigate which are the factors that stimulate the farmer’s children to stay in the rural properties and research the level of the children’s satisfaction with the agricultural activity. In relation to the methodological approach, the research is characterized, as for the objectives, as descriptive and, in relation to the technical procedures, as bibliographical, using a qualitative research. The qualitative research will be applied through a structured questionnaire with open and closed questions. The population and sample will be constituted by the children of those farmer that are part of the Agricultural Cooperative Soledade Ltda. (COAGRISOL), in the city of Mormaço, students from the last year of the elementary school to the last year of high school.
Key Words: Cooperatives Education. succession. Rural properties.
1 INTRODUÇÃO
Atualmente, muitos são os problemas enfrentados nas propriedades rurais no
que tange a sucessão familiar e a educação cooperativista; o agricultor não está
mais conseguindo influenciar seus filhos para a continuidade da atividade rural, com
isso ocorre o chamado êxodo rural. Isso gera diversos outros problemas para as
cidades, como a marginalização, a prostituição, o aumento de favelas etc.
Os jovens que migram para as cidades são atraídos pelas ofertas de trabalho,
estudo e tudo o que as cidades oferecem, assim, partem em busca de uma melhor
condição de vida e deixam de se preparar para dar continuidade às atividades da
propriedade rural. Quando percebem a realidade, acabam retornando para a
propriedade dos pais, muitas vezes já com uma família constituída e em uma
situação pior do que aquela que tinham quando saíram. Esses fatos são ainda mais
relevantes nos pequenos municípios que têm sua base econômica centrada na
agropecuária, pois os jovens são atraídos para os municípios maiores em busca de
melhores oportunidades de trabalho, ocasionando a diminuição da população e a
perda de mão-de-obra qualificada.
Este estudo justifica-se pelo fato de que alguns agricultores conseguem
manter seus filhos nas propriedades rurais, enquanto outros pais não conseguem
fazer com que os filhos os sucedam na condução das atividades agropecuárias. A
busca pela compreensão dessa diferença é o que impulsionou a pesquisa. A
Capítulo XVIII - Sucessão nas Propriedades Rurais Familiares Integrantes de uma Cooperativa Agropecuária
373
problemática da presente pesquisa encontra-se no seguinte: como ocorre a
sucessão nas propriedades familiares integrantes de uma cooperativa agropecuária?
Sob essa perspectiva, o objetivo geral deste estudo é descrever como ocorre a
sucessão nesse tipo de propriedade. Os objetivos específicos consistem em
investigar quais são os fatores que estimulam a permanência dos filhos nas
propriedades rurais dos cooperados, bem como identificar o nível de satisfação dos
filhos dos cooperados com a atividade agropecuária.
Em relação à abordagem metodológica, a pesquisa é caracterizada, quanto
aos objetivos, como descritiva e, em relação aos procedimentos, como bibliográfica,
utilizando uma pesquisa qualitativa. A pesquisa qualitativa foi aplicada através de um
questionário estruturado com perguntas abertas e fechadas. A população e a
amostra foram constituídas pelos filhos dos cooperados da Cooperativa Agrícola
Soledade Ltda. (COAGRISOL), na cidade de Mormaço.
2 SUCESSÃO NAS PROPRIEDADES RURAIS FAMILIARES
A agricultura familiar contrapõe-se à agricultura patronal, caracterizada pelas
grandes propriedades e pelo emprego da mão-de-obra assalariada ou volante. Esse
fato é confirmado com o maior desenvolvimento verificado nos municípios onde a
agricultura familiar é bem desenvolvida, pois o potencial de manter postos de
trabalho já existentes ou gerar novos postos de trabalho é muito maior na agricultura
familiar do que na patronal. (EHLERS, 1999, p. 38). Segundo Tedesco (2006, p. 65),
os agricultores familiares produzem mais do que o dobro de riqueza por unidade de
área do que o agricultor patronal.
De acordo com Silva Neto (2006, p. 69), a manutenção da população no
campo, a ampliação da renda dos agricultores e uma melhor distribuição dessa
renda podem ser elementos importantes de uma política de estímulo a atividades
não agrícolas no meio rural. Sugere que a promoção de uma maior equidade social
e de sistemas de produção que permitam uma maior agregação de valor, em que a
agricultura familiar desempenharia um papel essencial, poderia ser uma estratégia
eficaz de desenvolvimento rural para o Rio Grande do Sul.
As empresas familiares, dentre as quais estão incluídas a maioria das
propriedades rurais familiares, têm grande importância para a economia nacional,
sendo sua continuidade fundamental para o desenvolvimento do país. As razões
Capítulo XVIII - Sucessão nas Propriedades Rurais Familiares Integrantes de uma Cooperativa Agropecuária
374
para que a sucessão na empresa familiar ganhe importância no momento atual
parecem claras quando as relacionamos com as possibilidades da sua contribuição
ao processo de transformação do país. No campo político, deverá haver uma
participação mais intensa do empresário através das associações de classe e outros
mecanismos de pressão inerentes aos sistemas democráticos. Na perspectiva
social, a empresa familiar representa uma das maiores geradoras de emprego, com
a correspondente descentralização dos polos regionais de desenvolvimento. O
aspecto econômico também recebe dela uma fundamental contribuição, uma vez
que se produz um aumento do mercado consumidor e uma melhora da distribuição
de renda. (BERNHOEFT, 1993, p. 24).
Atualmente, as discussões sobre a fidelização dos cooperados têm ganhado
força. Além disso, a sobrevivência das cooperativas depende da sucessão dos
associados pelos seus filhos, o que nem sempre ocorre de maneira tranquila.
Segundo Lodi (1987, p. 67), uma centena de estudos sustenta a tese de que
as sementes da destruição das empresas familiares restam dentro do próprio
fundador e da família, ou que a sobrevivência da empresa está na capacidade da
família de administrar suas relações com a empresa e evitar as forças centrífugas
nas fases da sucessão. Os problemas na sucessão também podem estar ligados à
falta de preparo dos sucessores para lidar com a nova situação social, confundindo
a sucessão da empresa familiar, entre as quais se incluem as propriedades rurais,
com herança.
Segundo Leite (2002, p. 22), no Brasil, o velho ditado “pai rico, filho nobre e
neto pobre ou neto sem empresa” é o que ainda hoje prevalece sobre o bom senso
dos empreendedores. Os empresários sabem construir um império, mas não sabem
planejar sua sucessão. De acordo com Silvestro et al. (2001, p. 69), essa dificuldade
de planejar a sucessão também ocorre nas propriedades rurais do oeste catarinense
onde, embora as famílias, hoje, já tenham um razoável nível de diálogo sobre o
destino dos filhos e mesmo sobre a organização da propriedade, os temas de
natureza sucessória acabam sendo raramente abordados.
No município de Mormaço, nas conversas do dia-a-dia com os agricultores
verifica-se que a maioria dos pais sócios da Cooperativa COAGRISOL, não
incentivam os filhos a permanecer nas propriedades, pelo contrário, estimulam os
filhos a estudarem não com o intuito de melhor desempenharem as atividades
familiares, mas sim visando à melhoria das condições de vida do jovem através da
Capítulo XVIII - Sucessão nas Propriedades Rurais Familiares Integrantes de uma Cooperativa Agropecuária
375
busca de um emprego na cidade. Além disso, os produtores têm uma visão negativa
das atividades agropecuárias, sendo comum os filhos, desde pequenos, ouvirem os
pais reclamando de suas atividades e culpando o clima, o governo ou o mercado
pelo mau desempenho de seus negócios. Crescendo nesse ambiente, dificilmente
os filhos terão motivação para suceder os pais nas propriedades.
Segundo Gassen (2013), na Europa assim como nos Estados Unidos da
América, na Austrália e nos países de maior importância econômica, a idade média
do agricultor aumenta quase um ano a cada ano, isto é, a atividade está sendo
executada por pessoas mais idosas, e os jovens não fazem a sucessão. O autor
ressalta ainda que, na Europa, os custos elevados da mão-de-obra na agricultura,
alternativas de ocupação com maior rentabilidade em atividades urbanas e a baixa
estima da profissão de agricultor levam à falta de interesse dos jovens em
permanecer na atividade rural. Há nos EUA uma grande dificuldade para envolver e
motivar jovens na agricultura e raramente o agricultor faz o sucessor familiar.
Conforme Lodi (1987, p. 87), a sucessão em uma empresa familiar começa
muitos anos antes, quando os filhos ainda são pequenos, ou seja, a sucessão deve
ser conduzida com muita habilidade pelo patriarca enquanto ainda detém o poder e
está em plena saúde mental e física. Essa transferência gradual da gestão da
propriedade também foi constatada por Silvestro et al. (2001, p. 74), nas
propriedades rurais do oeste de Santa Catarina onde verificou que a transferência
do controle da propriedade não ocorre exatamente a partir da retirada dos pais por
ocasião da aposentadoria. A passagem das responsabilidades sobre a gestão da
propriedade se dá em um processo de transição em que os pais gradativamente vão
passando aos filhos as tarefas de gestão da propriedade, como a abertura de conta
bancária própria, bloco de produtor, responsabilidade de gerir os negócios até a
passagem completa do gerenciamento da propriedade.
3 MATERIAL E MÉTODOS
Segundo Ferrari (1974, p. 24), método é a forma de proceder ao longo de um
caminho. Na ciência, os métodos constituem os instrumentos básicos que, de início,
ordenam o pensamento em sistemas e traçam, de modo ordenado, a forma de
proceder do cientista ao longo de um percurso para alcançar um objetivo. De acordo
com Barros e Lehfeld (2003, p. 34), a pesquisa descritiva consiste na descrição do
Capítulo XVIII - Sucessão nas Propriedades Rurais Familiares Integrantes de uma Cooperativa Agropecuária
376
objeto por meio da observação e do levantamento de dados ou ainda pela pesquisa
bibliográfica e documental.
Neste trabalho utilizou-se o método científico e a pesquisa descritiva, visto
que o autor elaborou um questionário com perguntas abertas e fechadas. Os
questionários foram aplicados nos dias 30 e 31 de maio de 2013, nas escolas
estaduais e municipais do município de Mormaço, com alunos das séries finais,
oitava série do ensino fundamental e ensino médio, a saber, as seguintes escolas:
Escola Estadual de Ensino Médio Joaquim Gonçalves Ledo, na sede do município;
Escola de Ensino Fundamental José Rodrigues Cardoso, interior, localidade de
Água Branca; e Escola de Ensino Fundamental Antonio de Godoy Bueno, situada na
localidade de Posse Godoy. Essas escolas concentram a totalidade dos alunos da
oitava série e do ensino médio do município de Mormaço.
Para calcular a amostra, foi utilizada a fórmula de amostragem sistemática
descrita por Barbetta (1994, p. 45), considerando-se um erro amostral de 10%. Além
disso, o autor deste estudo optou por uma amostra aleatória e por conveniência. A
referida amostra foi composta por 91 alunos da oitava série e do ensino médio, filhos
de agricultores sócios da cooperativa COAGRISOL. Os entrevistados foram
informados da finalidade a que se destinavam os dados e da importância de
responderem às perguntas com a maior sinceridade possível para permitir que os
resultados obtidos fossem os mais próximos possíveis da realidade. O autor
acompanhou os respondentes, no sentido de permitir que estes esclarecessem
eventuais dúvidas durante a coleta das respostas.
4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS
Depois de concluída a pesquisa, os resultados foram analisados e assim
expressos: mostrar-se-á, através de gráficos, as respostas das entrevistas com os
filhos de agricultores sócios da Cooperativa Agrícola Soledade Ltda. COAGRISOL,
Posto do Município de Mormaço - RS. Destaca-se o fato de que 57% dos
entrevistados correspondem ao sexo feminino e 43% ao sexo masculino.
Quanto à extensão da área das propriedades, 76% das propriedades dos
respondentes têm até 18 hectares, pode-se afirmar que são propriedades que têm
até um módulo rural (área mínima considerada pelo Ministério do Desenvolvimento
Agrário para que uma família consiga meios de sobrevivência na região hora em
Capítulo XVIII - Sucessão nas Propriedades Rurais Familiares Integrantes de uma Cooperativa Agropecuária
377
estudo). Das demais, 93% têm área inferior a 72 hectares, podendo ser
enquadradas, por esse critério, dentro do Programa Nacional de Fortalecimento da
Agricultura Familiar (PRONAF), como propriedades de agricultores familiares; e
apenas 7% dos jovens estudados possuem área familiar superior a quatro módulos
rurais, não sendo considerados agricultores familiares.
No gráfico abaixo, verifica-se que 89% dos respondentes afirmam que a
família possui terra própria e 11% afirmam que a família planta exclusivamente em
terra arrendada. Verifica-se ainda que 16% das famílias, apesar de possuir terra
própria, arrendam terra de terceiros para exercer suas atividades, o que demonstra
que a terra própria não é suficiente para as atividades agrícolas dessas famílias.
Quanto à ocupação, 40% dos respondentes afirmam que no mínimo um dos pais
exerce atividades fora da propriedade, enquanto 60% exercem as atividades
exclusivamente na propriedade.
Gráfico 24 - Quanto a posse da terra e ocupação, sua família possui:
Fonte: Elaborado pelo autor.
No gráfico "Quais as atividades desenvolvidas na sua propriedade?", pode-se
observar que 43% dos entrevistados responderam que trabalham com a produção
de grãos, 21% com culturas de subsistência para consumo da família e venda de
alguns excedentes, 19% com produção de grãos e leite, 12% com grãos, leite e
fruticultura e 5% dos respondentes afirmam possuir outras atividades.
Verifica-se, no município, uma grande dependência dos grãos como matriz
produtiva, sendo que 43% das propriedades dependem somente da produção de
grãos e no mínimo 74% das propriedades dos respondentes possuem os grãos
como uma atividade econômica importante. Segundo Froelich (2006, p. 182), a
produção agrícola ancorada exclusivamente em uma commodity, como é o caso dos
grãos, pode até ser eficiente e gerar riquezas, entretanto, não diversifica a economia
Capítulo XVIII - Sucessão nas Propriedades Rurais Familiares Integrantes de uma Cooperativa Agropecuária
378
local de modo a absorver a força de trabalho. Essa dinâmica baseada na
monocultura, além de criar paisagens monótonas, como já se verifica em algumas
localidades do município de Mormaço, também impede a expansão de serviços que
reduziriam a emigração de jovens.
Constata-se que 31% dos respondentes citam a produção de leite como uma
atividade econômica importante em suas propriedades. Por agregar mais valor e
possibilitar maior emprego de mão-de-obra por unidade de área do que a produção de
grãos, essa é uma atividade que pode contribuir para manter o jovem no meio rural.
Verifica-se que 21% dos respondentes citam a produção de subsistência
como principal atividade da propriedade. Embora não tenha sido objeto deste
estudo, essas propriedades devem servir para produzir alimentos para o consumo
da família e a maior parte da renda deve ser obtida através da prestação de serviços
assalariados ou da aposentadoria de algum membro da família.
Gráfico 25 - Quais as atividades desenvolvidas na sua propriedade?
Fonte: Elaborado pelo autor.
Quanto à satisfação com a distribuição de responsabilidade entre os jovens e
seus pais, 56% dos respondentes afirmam estar satisfeitos, 21% responderam que
estão extremamente satisfeitos, 18% responderam que não estão nem satisfeitos e
nem insatisfeitos, 3% responderam que estão insatisfeitos e apenas 2% dos
pesquisados disseram estar extremamente insatisfeitos com a distribuição de
responsabilidade entre eles e seus pais. Portanto, no município de Mormaço, a
distribuição de responsabilidade entre pais e filhos não é considerada um problema pela
maioria dos jovens agricultores, sócios ou futuros associados da cooperativa
COAGRISOL, pois se verifica que 77% dos pesquisados estão satisfeitos e apenas 5%
não estão satisfeitos com a distribuição de responsabilidade na propriedade rural.
Capítulo XVIII - Sucessão nas Propriedades Rurais Familiares Integrantes de uma Cooperativa Agropecuária
379
No gráfico "Você está satisfeito com sua autonomia na tomada de decisões
na propriedade?", observa-se que 52% responderam estar satisfeitos, 17%
responderam estar extremamente satisfeitos, 24% responderam não estar nem
satisfeitos nem insatisfeitos, 6% responderam estar insatisfeitos e 1% afirma estar
extremamente insatisfeito.
Embora os dados permitam afirmar que, no município de Mormaço, 69% dos
jovens filhos de agricultores sócios da COAGRISOL estejam satisfeitos com sua
autonomia na tomada de decisões na propriedade, este é um tema que merece
maior atenção, pois se verifica que 28% a 31% dos respondentes não consideram
seu grau de autonomia adequado, e o pesquisador tem a percepção de que, no dia-
a-dia, a falta de autonomia é um dos fatores que tem levado os jovens a sair da
propriedade dos pais.
Gráfico 26 - Você esta satisfeito com a sua autonomia na tomada de decisões na propriedade?
Fonte: Elaborado pelo autor.
No gráfico abaixo, verifica-se que 66% dos pesquisados responderam estar
satisfeitos com a clareza das funções a serem desempenhadas na propriedade, 16%
responderam estar extremamente satisfeitos, 14% responderam estar nem
satisfeitos nem insatisfeitos, 1% respondeu estar insatisfeito e 3% responderam
estar extremamente insatisfeitos. A análise dos dados permite verificar que, para
82% dos jovens pesquisados, estão bem claras quais as funções que devem ser
desempenhadas por eles e pelos seus pais dentro da propriedade, enquanto que,
para 18% dos respondentes, essas funções não estão suficientemente claras e
precisam ser mais bem definidas.
Capítulo XVIII - Sucessão nas Propriedades Rurais Familiares Integrantes de uma Cooperativa Agropecuária
380
Gráfico 27 - Você estas satisfeito com a clareza das funções a serem desempenhadas por você e seus país na gestão da propriedade?
Fonte: Elaborado pelo autor.
Quanto ao rendimento econômico obtido na propriedade, 55% dos respondentes
disseram estar satisfeitos, 18% disseram estar extremamente satisfeitos, 12% disseram
estar nem satisfeitos nem insatisfeitos, 11% disseram estar insatisfeitos e somente 4%
disseram estar extremamente insatisfeitos com os rendimentos econômicos obtidos nas
propriedades. Pode-se constatar que 73% dos pesquisados estão satisfeitos com a
renda obtida na sua propriedade, enquanto 15% estão insatisfeitos. Por outro lado, o
fato de 12% dos respondentes não estarem nem satisfeitos e nem insatisfeitos com a
renda obtida na propriedade é preocupante, pois o fato de a situação estar "mais ou
menos" leva os indivíduos ao comodismo. Isso significa que os jovens pode até
permanecer na propriedade, mas sem realizar grandes investimentos nas atividades
agrícolas, porque na sua visão a situação não está tão ruim a ponto de valer a pena
arriscar-se fora da propriedade e nem tão boa para investir esperando o retorno a médio
ou longo prazo. Na prática, isso ocorre com um número considerável de propriedades
no município de Mormaço, onde os produtores ficam “marcando passo”.
Quanto aos incentivos que seus pais lhes dão para permanecer na
propriedade, 50% dos respondentes disseram estar satisfeitos, 16% disseram estar
extremamente satisfeitos, 21% disseram estar nem satisfeitos e nem insatisfeitos,
8% disseram estar insatisfeitos e somente 5% disseram estar extremamente
insatisfeitos. Analisando as respostas, é possível verificar que, no município de
Mormaço, 66% dos jovens filhos de agricultores sócios da COAGRISOL estão
satisfeitos com os incentivos que os pais lhes dão para permanecer na propriedade,
enquanto apenas 13% estão insatisfeitos com os incentivos recebidos de seus pais.
Esses resultados refutam a ideia existente no município de que a maioria dos pais
Capítulo XVIII - Sucessão nas Propriedades Rurais Familiares Integrantes de uma Cooperativa Agropecuária
381
em vez de incentivar os filhos a permanecerem na propriedade os estaria
incentivando a arranjar um emprego na cidade.
Gráfico 28 - Você estas satisfeito com os incentivos que seus pais lhe dão para permanecer na propriedade?
Fonte: Elaborado pelo autor.
No gráfico "Em relação ao relacionamento com seus pais, você consegue
expor suas opiniões e ser ouvido?", 46% dos pesquisados responderam estar
satisfeitos, 23% disseram estar extremamente satisfeitos, 19% disseram não estar
nem satisfeitos nem insatisfeitos, 10% disseram estar insatisfeitos e 2% afirmaram
estar extremamente insatisfeitos. Verifica-se que, no município de Mormaço, 69%,
ou seja, a maioria dos jovens filhos de agricultores sócios da COAGRISOL está
satisfeita com o nível de relacionamento que conseguem manter com seus pais,
enquanto 12% estão insatisfeitos por não conseguirem expor suas opiniões e serem
ouvidos pelos pais. Essa capacidade de diálogo também foi constatada em
propriedades do oeste catarinense por Silvestro (2001), que constatou estar
havendo maior incorporação dos jovens nos espaços de decisão da família e nas
discussões sobre as questões ligadas ao gerenciamento da propriedade.
Gráfico 29 - Em relação ao relacionamento com seus pais você consegue expor seus opiniões e ser ouvido?
Fonte: Elaborado pelo autor
Capítulo XVIII - Sucessão nas Propriedades Rurais Familiares Integrantes de uma Cooperativa Agropecuária
382
No gráfico abaixo, verifica-se o grau de satisfação dos filhos de agricultores
pesquisados ao serem chamados de agricultores por outros jovens, uma vez que
existe uma ideia pré-concebida no município de Mormaço de que os jovens não se
assumem como agricultores. Dessa forma, 43% dos jovens respondentes afirmaram
sentirem-se satisfeitos ao serem chamados de agricultores, 13% disseram sentirem-
se extremamente satisfeitos, 26% disseram sentir nem satisfeitos nem insatisfeitos,
9% disseram sentir-se insatisfeitos e 9% dos jovens pesquisados afirmaram sentir-se
extremamente insatisfeitos ao serem chamados de agricultores por outros jovens.
Assim, é possível afirmar que, no município de Mormaço, 56% dos jovens filhos de
agricultores sócios da COAGRISOL não possuem problemas em assumirem-se
como agricultores, enquanto 44% não se assumem como agricultores.
Gráfico 30 - Sente-se bem ao ser chamado de agricultor por outros jovens?
Fonte: Elaborado pelo autor.
Quanto à satisfação com o trabalho que desempenham na execução das
atividades agropecuárias, 66% dos respondentes afirmam estar satisfeitos com a
execução das atividades agropecuárias da propriedade, 10% afirmam estar
extremamente satisfeitos, 20% afirmam estar nem satisfeitos nem insatisfeitos, 2%
afirmam estar insatisfeitos e 2% afirmam estar extremamente insatisfeitos. Portanto,
no município de Mormaço, 76% dos jovens filhos de agricultores associados da
COAGRISOL, estão satisfeitos com as tarefas que executam nas atividades
agropecuárias da propriedade e apenas 4% estão insatisfeitos com a execução
dessas tarefas. Esse dado é importante porque dificilmente alguém permanecerá em
uma atividade se não gostar de trabalhar nela. Assim, pode-se supor que, ao
contrário do que foi verificado em Santa Catarina onde Silvestro (2001) citou a
penosidade do trabalho associado às atividades agropecuárias como uma das
causas da pouca atração das moças pelo trabalho na agricultura, no município de
Capítulo XVIII - Sucessão nas Propriedades Rurais Familiares Integrantes de uma Cooperativa Agropecuária
383
Mormaço, a execução das atividades agropecuárias não é um empecilho para a
permanência do jovem na propriedade rural.
No gráfico "O que mais limita a diversificação da sua propriedade?", 55% dos
respondentes afirmou que os fatores limitantes estavam ligados ao capital, destes
32% afirmaram que fator mais limitante era a pouca quantidade de terra e 23%
responderam que o fator mais limitante era a falta de dinheiro; 20% responderam
que os fatores limitantes não estavam ligados nem ao capital e nem aos recursos
humanos, dando a entender que essas propriedades já estavam diversificadas ou
que os pesquisados não viam necessidade de aumentar o número de atividades
agropecuárias em suas propriedades. Finalmente, 25% dos respondentes afirmaram
que os fatores limitantes à diversificação da propriedade estavam ligados ao fator
humano, destes 13% afirmaram que o fator limitante é a pouca mão-de-obra e 12%
disseram que o fator limitante é o pouco conhecimento.
Com base nas respostas dos filhos de agricultores sócios da cooperativa
COAGRISOL, podemos constatar que, no município de Mormaço, qualquer política
por parte da cooperativa ou pelo poder público visando à diversificação das
propriedades, além de levar em conta as limitações de terra e mão-de-obra, deverá
priorizar as limitações mais fáceis de serem alteradas: pouco dinheiro e pouco
conhecimento. Portanto, deverá ser disponibilizado crédito com prazo de pagamento
adequado ao tipo de investimento e cursos ou visitas técnicas às propriedades.
Gráfico 31 - O que mais limita a diversificação da sua propriedade?
Fonte: Elaborado pelo autor.
No gráfico "O que mais limita o aumento de produção em sua propriedade?",
59% dos respondentes afirmou que os fatores limitantes estavam ligados ao capital,
destes 39% afirmaram que pouca terra era o fator mais limitante e 20%
responderam que o fator mais limitante era o pouco dinheiro; 13% responderam que
Capítulo XVIII - Sucessão nas Propriedades Rurais Familiares Integrantes de uma Cooperativa Agropecuária
384
os fatores limitantes ao aumento de produção de suas propriedades não estavam
ligados nem ao capital e nem aos recursos humanos; e 28% afirmaram que os
fatores limitantes ao aumento de produção em suas propriedades estavam ligados
ao fator humano, destes 16% responderam que o fator limitante é a pouca mão-de-
obra e 12% que o fator limitante é pouco conhecimento.
Com base nas respostas dos filhos de agricultores sócios da cooperativa
COAGRISOL, podemos constatar que, no município de Mormaço, o fator limitante
mais citado foi a pouca terra, porém esse fator dificilmente pode ser alterado. Logo,
as políticas por parte da cooperativa COAGRISOL ou do poder público, visando a
aumentar a produção das propriedades, deverão levar em conta as limitações que,
embora menos citadas, pouco dinheiro e pouco conhecimento, são mais fáceis de
serem alteradas. Para tanto, deve haver disponibilização de crédito e treinamentos
ou visitas técnicas aos interessados.
Gráfico 32 - O que mais limita o aumento de produção em sua propriedade?
Fonte: Elaborado pelo autor.
No gráfico "O que mais limita a renda na sua propriedade?", 44% dos
entrevistados responderam que os fatores limitantes estavam ligados ao capital,
destes 28% afirmaram ser a pouca terra o fator mais limitante e 16% responderam
que o fator mais limitante era a falta de dinheiro; 19% responderam que os fatores
limitantes não estavam ligados nem ao capital e nem aos recursos humanos, dando
a entender que essas propriedades, na opinião dos pesquisados, possuem uma
renda adequada às suas necessidades. Finalmente, 37% afirmaram que os fatores
limitantes à renda da propriedade estavam ligados ao fator humano, destes 20%
responderam que o fator limitante era a pouca mão-de-obra e 17% disseram que o
fator limitante era o pouco conhecimento.
Capítulo XVIII - Sucessão nas Propriedades Rurais Familiares Integrantes de uma Cooperativa Agropecuária
385
Podemos constatar que, na opinião dos pesquisados, os fatores mais limitantes
ao aumento de renda nas propriedades são a pouca terra, a pouca mão- de-obra e o
pouco conhecimento, sendo que dois desses fatores dificilmente podem ser alterados.
Já o fato de o conhecimento ser citado por 17% dos respondentes como um fator
limitante à renda das propriedades mostra a necessidade de que os pais e a assistência
técnica dediquem mais atenção à formação técnica dos jovens no município.
Gráfico 33 - O que mais limita a renda na sua propriedade?
Fonte: Elaborado pelo autor.
No gráfico "O que mais limita a substituição de máquinas e equipamentos
(atualização tecnológica) em sua propriedade?", 65% dos entrevistados informaram
que os fatores limitantes estão ligados ao capital, destes 55% responderam que o
pouco dinheiro é o fator mais limitante e 10% responderam que a pouca terra é o
fator mais limitante; 22% informaram que nem capital nem fator humano estavam
limitando a aquisição de máquinas e equipamentos nas propriedades; e apenas 13%
informaram que as limitações estão ligadas a fatores humanos, sendo que destes
7% responderam que o fator limitante é pouca mão-de-obra e 6% responderam que
o pouco conhecimento é o fator limitante para a aquisição de máquinas e
equipamentos. Portanto, para a maioria dos pesquisados, 55%, a disponibilidade
financeira é o fator mais limitante à atualização tecnológica e para 22% dos
informantes não há limitações nem de capital nem de recursos humanos para
aquisição de equipamentos em suas propriedades.
Capítulo XVIII - Sucessão nas Propriedades Rurais Familiares Integrantes de uma Cooperativa Agropecuária
386
Gráfico 34 - O que mais limita a substituição de máquinas e equipamentos (atualização tecnológica) em sua propriedade?
Fonte: Elaborado pelo autor.
No gráfico "O que limita a permanência do jovem na propriedade?", 31%
responderam que nem capital, nem fator humano limitam a permanência dos jovens
na propriedade, 29% responderam que o pouco conhecimento é o fator limitante,
18% responderam que o pouco dinheiro é o fator limitante. Os determinantes pouca
terra e mão-de-obra empataram como fatores limitantes à permanência dos jovens
na propriedade, sendo cada um desses fatores citados por 11% dos respondentes.
Dentre os pesquisados, 69% apontam existir limitações para sua permanência na
propriedade e, segundo eles, o pouco conhecimento e o pouco dinheiro são os
principais fatores que limitam a permanência do jovem no meio rural. Esses fatores
devem, portanto, ser atacados conjuntamente, por meio da elaboração de políticas
públicas que visem a favorecer a permanência do jovem na propriedade rural.
Gráfico 35 - O que mais limita sua permanência na propriedade?
Fonte: Elaborado pelo autor.
Capítulo XVIII - Sucessão nas Propriedades Rurais Familiares Integrantes de uma Cooperativa Agropecuária
387
No gráfico "O que limita o número de horas que cada membro da família
trabalha diariamente?", 34% dos pesquisados responderam que nem capital nem
fator humano limitam o número de horas trabalhadas diariamente pelos membros da
família, esses respondentes consideram que não é necessário aumentar o número
de horas trabalhadas diariamente em suas propriedades. Todavia, 66% dos
respondentes apontaram existir, em suas propriedades, alguma limitação ao número
de horas trabalhadas pelos membros da família. Destes, 34% responderam que o
excesso de mão-de-obra é o fator limitante. Assim, 14% apontaram a pouca terra
como fator limitante, 12% apontaram o conhecimento como fator limitante e apenas
6% dos respondentes apontaram o pouco dinheiro como fator limitante ao número
de horas trabalhadas por cada membro da família.
Para resolver o problema do excesso de mão-de-obra apontado por 34% dos
respondentes, é necessário incentivar atividades agropecuárias que exijam o
emprego intensivo de mão-de-obra. Já a questão da pouca terra, citada como um
fator limitante por 14% dos jovens, pode ser minimizada utilizando-se culturas que
exijam menores áreas de terra. A falta de conhecimento deve receber maior atenção
dos gestores públicos, pois através dele os jovens podem obter as informações
necessárias para melhor utilizar sua força de trabalho e permanecer na propriedade.
Gráfico 36 - O que limita o número de horas que cada membro da família trabalha diariamente?
Fonte: Elaborado pelo autor.
No gráfico "O que limita o acesso ao crédito agrícola?", 25% responderam
que nem capital, nem fator humano está limitando o acesso ao crédito, enquanto
75% dos respondentes afirmaram existir alguma limitação em suas propriedades
para acessar o crédito. Destes, 31% responderam que o fator limitante para acessar
Capítulo XVIII - Sucessão nas Propriedades Rurais Familiares Integrantes de uma Cooperativa Agropecuária
388
o crédito é o pouco conhecimento, 24% responderam que o fator limitante é o pouco
dinheiro, 17% afirmaram que o fator limitante é a pouca terra e 3% responderam que
o fator limitante para obter financiamento é a pouca mão-de-obra. O fator mais
citado como limitante ao crédito pelos jovens no município de Mormaço é o pouco
conhecimento. Para resolver esse problema, é necessária uma maior integração
entre os agentes financeiros e a assistência técnica para divulgar as linhas de
crédito existentes no momento em que estejam disponíveis. Cabe ressalvar que
normalmente os agentes financeiros não têm interesse em divulgar a disponibilidade
de recursos para os pequenos agricultores, direcionando-os para os produtores mais
capitalizados.
Os outros dois fatores citados como limitantes foram o pouco dinheiro e a
pouca terra. O pouco dinheiro está diretamente ligado à capacidade de pagamento e
a terra está ligada às garantias que o produtor pode oferecer ao agente financeiro,
quem não tem capacidade de pagamento e garantias não tem acesso ao crédito.
Para minimizar esse problema, principalmente entre os produtores mais
descapitalizados, o poder público deve viabilizar um fundo de aval para facilitar o
acesso ao crédito junto aos agentes financeiros. Deve-se citar ainda que muitos
produtores no município de Mormaço não possuem a documentação das áreas,
assim uma campanha de regularização fundiária resolveria em grande parte o
problema da terra como fator restritivo de acesso ao crédito.
Gráfico 37 - O que limita o acesso ao crédito agrícola?
Fonte: Elaborado pelo autor.
No gráfico "O que limita o emprego de novas tecnologias em sua
propriedade?", 70% dos respondentes afirmaram existir limitações ligadas ao capital,
sendo que destes, 53% responderam que o fator que limita o emprego de novas
Capítulo XVIII - Sucessão nas Propriedades Rurais Familiares Integrantes de uma Cooperativa Agropecuária
389
tecnologias é pouco dinheiro e 17% responderam que o fator limitante é a pouca
terra. Somente 1% dos pesquisados responderam que nem capital nem fator
humano limitam o acesso à tecnologia em suas propriedades. Isso significa que,
segundo os respondentes, 99% das propriedades possuem alguma limitação ao
acesso a novas tecnologias. Destes, 28% afirmaram existir limitações ligadas a
fatores humanos, sendo que 24% responderam que o fator limitante é o pouco
conhecimento e os outros 4% indicam a pouca mão-de-obra como fator de limitação
ao emprego de novas tecnologias.
Verifica-se que, no município de Mormaço, o principal fator que limita o
emprego de novas tecnologias é a descapitalização dos produtores apontada por
53% dos respondentes. Para resolver esse problema, seria necessária uma política
de crédito voltada para investimentos produtivos nas propriedades, adaptados às
condições locais e com prazos compatíveis com os investimentos.
O pouco conhecimento é o segundo fator mais limitante ao emprego de novas
tecnologias nas propriedades, é necessário que os jovens participem mais de
cursos, palestras e viagens técnicas, com assistência técnica direcionando sua ação
para esse tipo de público. Inclusive, as próprias escolas poderiam oferecer cursos
em centros de treinamento ou excursões técnicas para os filhos de agricultores.
Essas atividades poderiam ser inseridas nos currículos a partir da sexta série do
ensino fundamental.
A pouca quantidade de terra é o terceiro fator mais limitante ao emprego de
novas tecnologias, apontada por 17% dos respondentes. No entanto, a pouca
disponibilidade de terras no município, bem como seu alto custo, é um fator que em
curto prazo não oferece possibilidades de mudanças. Políticas públicas podem
trabalhar a questão da regularização fundiária de algumas áreas e tentar formar
grupos de jovens para aquisição conjunta de propriedades que não tenham
sucessores.
Capítulo XVIII - Sucessão nas Propriedades Rurais Familiares Integrantes de uma Cooperativa Agropecuária
390
Gráfico 38 - O que limita o emprego de novas tecnologias em sua propriedade?
Fonte: Elaborado pelo autor.
Quanto ao modo como o jovem vê à agricultura como meio de sustento seu e
de sua família, 24% dos jovens responderam ser excelente, 40% responderam ser
bom, 10% responderam ser regular e 26% responderam ser insuficiente. Com base
nas respostas, pode-se afirmar que 64% consideram a agricultura um bom meio de
sustento para si e sua família, enquanto 36% consideram a atividade insatisfatória
para prover o seu sustento e de sua família. Assim, pode-se afirmar que é
necessário buscar novas alternativas econômicas para viabilizar essas
propriedades, tornando-as atrativas para a permanência dos jovens no meio rural.
Quanto ao número de dias por semana que os jovens trabalham na
propriedade, 35% dos jovens responderam nenhum, 16% responderam um, 13%
responderam dois, 7% responderam três, 9% responderam quatro e 20%
responderam que trabalham, no mínimo, cinco dias por semana na propriedade dos
pais. Com base nas respostas, podemos afirmar que 45% dos jovens pesquisados
trabalham esporadicamente na propriedade dos pais, enquanto 35% não exercem
qualquer atividade ligada à produção agropecuária. Esse dado é preocupante, uma
vez que o gosto pelas atividades agrícolas se adquire nas atividades diárias,
portanto, se o jovem não tem contato com a agricultura durante sua infância e
adolescência, dificilmente virá a gostar da atividade na vida adulta.
No gráfico "Como você paga suas despesas pessoais?", 58% dos jovens
responderam que pedem dinheiro para os pais, 25% que trabalha fora da
propriedade, 8% disseram que recebem uma percentagem da propriedade, 6%
recebem um valor fixo mensal dos pais e 3% responderam que possuem uma
atividade só sua na propriedade.
Capítulo XVIII - Sucessão nas Propriedades Rurais Familiares Integrantes de uma Cooperativa Agropecuária
391
Verifica-se que somente 17% dos jovens possuem renda dentro da
propriedade, os outros 83% necessitam pedir dinheiro para os pais ou obter recursos
fora da propriedade. Essa falta de perspectiva de obtenção de renda própria na
propriedade é um dos principais fatores que tem levado os jovens a buscar sua
independência financeira longe das atividades agropecuárias. Portanto, para que os
filhos permaneçam na propriedade, é necessário que os pais estimulem os filhos a
terem o quanto antes uma renda própria oriunda da propriedade. Dessa forma,
evitaremos o que vem ocorrendo no município de Mormaço, onde os filhos de
agricultores concluem o ensino médio e vão trabalhar na cidade. Após alguns anos,
muitos desses jovens retornam com uma família em condições financeiras piores do
que estavam ao deixarem a propriedade.
No gráfico "Você participa das atividades agropecuárias da propriedade?",
48% dos respondentes disseram que não trabalham em atividades agropecuárias da
propriedade, 38% trabalham apenas em algumas atividades agropecuárias da
propriedade, 13% trabalham em todas as atividades agropecuárias da propriedade e
apenas 1% respondeu que, além de trabalhar na propriedade, financiou e/ou plantou
uma área para si próprio.
Verifica-se que quase a metade dos filhos de agricultores não trabalha nas
atividades agropecuárias. Esse dado é relevante porque a agricultura é uma
atividade na qual grande parte do conhecimento é transmitida de pai para filho,
desde a mais tenra idade, e quem não tem contato com a atividade dificilmente
trabalhará na idade adulta com agricultura. Constata-se também que é insignificante
a participação dos jovens pesquisados no gerenciamento da propriedade; apenas
1% financia ou planta uma área cuja renda será gerida por eles, ou seja, na quase
totalidade das propriedades dos respondentes, a decisão sobre gerenciamento das
atividades é responsabilidade dos pais, e a renda obtida vai para o caixa único da
família. Essa falta de autonomia gerencial e financeira é um dos fatores que tem
estimulado os jovens a buscar um emprego fora da propriedade.
Capítulo XVIII - Sucessão nas Propriedades Rurais Familiares Integrantes de uma Cooperativa Agropecuária
392
Gráfico 39 - Como você paga suas despesas pessoais (festas, saraus, bailes, etc…)?
Fonte: Elaborado pelo autor.
Gráfico 40 - Você participa de atividades agropecuárias da propriedade?
Fonte: Elaborado pelo autor.
Quanto ao número de filhos que moram na propriedade, 30% dos jovens
responderam que apenas um filho mora na propriedade, 37% responderam dois,
14% responderam três, 10% responderam quatro e 9% dos jovens responderam
cinco ou mais. Constata-se que em 67% das propriedades dos pesquisados vivem
até dois filhos e em 81% delas vivem até três filhos. Sendo assim, pode-se afirmar
que o perfil demográfico das propriedades rurais do município de Mormaço não
difere muito das residências urbanas. Esses dados devem ser levados em
consideração ao se traçar políticas agrícolas intensivas em uso de mão-de-obra.
Deve ser dada maior atenção à sucessão familiar, visto que quanto menor o número
de filhos, menor a probabilidade de que ao menos um deles permaneça na
propriedade rural.
A pergunta "Você pretende continuar trabalhando com agricultura?" foi feita a
todos os jovens e 51% responderam não pretender trabalhar na agricultura; 20%
Capítulo XVIII - Sucessão nas Propriedades Rurais Familiares Integrantes de uma Cooperativa Agropecuária
393
responderam que a agricultura será a sua principal fonte de renda, que trabalharão
fora da propriedade apenas para aumentar o rendimento; 14% responderam sim,
trabalharão somente nessa atividade por gostar dela; 10% responderam sim, tendo
a agricultura apenas como complemento de uma renda obtida fora da propriedade; e
5% responderam sim, após demonstrar que não possuem outra opção.
Observa-se que mais da metade dos jovens pesquisados não pretende
trabalhar na agricultura. Os questionários foram analisados cruzando-se as
respostas dos que não pretendem continuar trabalhando na agricultura com o
número de filhos que permanecerão na propriedade. Concluiu-se que, dos filhos que
não pretendem permanecer na propriedade, doze são filhos únicos e um indicou que
os irmãos também não pretendem ficar na propriedade. Portanto, verifica-se que, no
mínimo, 14% das propriedades dos pesquisados não deverão ter sucessores. Dos
demais respondentes que afirmaram que não pretendem trabalhar com agricultura,
37% possuem mais de um irmão, e a saída de muitos desses jovens da atividade
pode ser uma estratégia de sobrevivência da propriedade familiar que não
sobreviveria economicamente caso fosse muito subdividida, assim, permanecem na
atividade aqueles que possuem maior afinidade com a agricultura. Verifica-se ainda
que dos jovens filhos de agricultores pesquisados 35% permanecerão na agricultura,
mas não trabalharão exclusivamente com essa atividade, enquanto apenas 14%
afirmam que trabalharão exclusivamente na agricultura. Portanto, no município de
Mormaço, a maioria dos jovens que sucederão os pais, além de trabalhar nas
propriedades, exercerá outras atividades não necessariamente agrícolas,
concordando com Schineider (1999, p. 186), que afirma que:
O espaço rural deixará de ter como função exclusiva a produção agrícola, passando a ser um espaço polissêmico em que coexistem atividades econômicas de natureza diversa como a própria agricultura, o comércio, o turismo rural, o ambientalismo, o lazer, entre outras.
Em pergunta aberta, os jovens foram questionados sobre se os pais
incentivam mais os filhos ou as filhas a permanecerem na propriedade, ou se o
incentivo é igual independente do sexo. Para essa pergunta, 28% responderam que
o incentivo é igual para filhos e filhas; 42% responderam que os pais incentivam
mais os filhos a permanecer na propriedade; e 30% deram outras respostas. Deve-
se ressaltar que ninguém informou que os pais incentivassem mais as filhas do que
Capítulo XVIII - Sucessão nas Propriedades Rurais Familiares Integrantes de uma Cooperativa Agropecuária
394
os filhos a permanecer na propriedade, o suficiente para definir uma preferência de
gênero no incentivo à permanência dos jovens no meio rural.
5 CONCLUSÃO
Em relação à posse da terra e ocupação familiar, 89% dos respondentes
afirmam que a família possui terra própria e 60% dos pais trabalham exclusivamente
na agricultura, enquanto que 40% dos respondentes possuem ao menos um dos
pais que trabalha fora da propriedade.
Verifica-se uma grande dependência dos grãos, sendo que 74% dos
respondentes possuem os grãos como atividade econômica importante. O leite está
presente em 31% das propriedades e 21% dos respondentes afirmam que a
propriedade cultiva produtos de subsistência, devendo complementar sua renda com
trabalho assalariado ou aposentadoria rural de algum membro da família.
Quanto ao grau de satisfação dos jovens filhos de agricultores familiares
sócios da cooperativa COAGRISOL, verifica-se que a maioria está satisfeito quanto
à distribuição de responsabilidade entre eles e seus pais; a sua autonomia na
tomada de decisões na propriedade; à clareza das funções a serem
desempenhadas por eles e seus pais na gestão da propriedade; ao rendimento
econômico obtido pelas propriedades; aos incentivos que seus pais lhes dão para
permanecer na propriedade; ao relacionamento com os pais; à possibilidade de
expor suas ideias e serem ouvidos; e ao trabalho que desempenham na execução
das atividades agropecuárias. No entanto, 44% dos jovens pesquisados não se
sentem satisfeitos ao serem chamados de agricultores por outros jovens.
Quanto aos fatores limitantes ao desenvolvimento das atividades, os fatores
ligados ao capital, pouca terra e pouco dinheiro, na opinião dos respondentes, são
os fatores que mais limitam a diversificação, o aumento de produção e a substituição
de máquinas e equipamentos nas propriedades. A terra é o fator mais limitante à
renda nas propriedades; e o excesso de mão-de-obra, na opinião dos pesquisados,
é o fator que mais limita o número de horas que cada membro da família trabalha
diariamente. O pouco conhecimento é citado como o fator mais limitante à
permanência do jovem na propriedade, ao acesso ao crédito e ao emprego de novas
tecnologias nas propriedades, devendo-se dar atenção à capacitação dos jovens.
Entretanto, 64% dos jovens pesquisados consideram a agricultura um bom meio de
Capítulo XVIII - Sucessão nas Propriedades Rurais Familiares Integrantes de uma Cooperativa Agropecuária
395
sustento familiar. Entre os pesquisados, 45% dos jovens trabalham esporadicamente
nas propriedades dos pais e 35% não trabalham nenhum dia por semana. Somente
17% dos jovens pesquisados possuem renda dentro da propriedade, os outros 83%
tem de pedir dinheiro para pais ou obter recursos fora da propriedade. Quase
metade dos jovens pesquisados, 48%, não trabalha nas atividades agropecuárias da
propriedade.
Em 81% das propriedades dos respondentes vivem até três filhos, devendo
esse dado ser levado em consideração ao se traçar políticas públicas intensivas em
mão-de-obra. Além disso, 51% dos jovens pesquisados não pretendem trabalhar na
agricultura e em, no mínimo, 14% das propriedades não deverá haver sucessores.
Dos jovens pesquisados no município de Mormaço que permanecerão na
agricultura, 71% deles não pretendem trabalhar exclusivamente com essa atividade,
ou seja, no espaço rural, terão cada vez mais importância as atividades não
agrícolas. Por fim, na opinião dos jovens pesquisados, os pais incentivam mais os
filhos do sexo masculino a permanecerem nas propriedades.
REFERÊNCIAS
BARBETTA, P. A. Estatísticas aplicadas às ciências sociais. 1. ed. Florianópolis: UFSC, 1994. BARROS, A. J. P.; LEHFELD, N. A. S. Projeto de pesquisa: propostas metodológicas. 14. ed. Petrópolis: Vozes, 2003. BERNHOEFT, R. Empresa familiar: sucessão profissionalizada ou sobrevivência comprometida. 2. ed. São Paulo: Nobel, 1993. EHLERS, E. Agricultura sustentável: origens e perspectivas de um novo paradigma. 2. ed. rev. e atual. Guaíba: Agropecuária, 1999. FERRARI, A. T. Metodologia da ciência. 2. ed. Rio de Janeiro: Kennedy, 1974. FROELICH, J. M. As novas ruralidades precisam ou merecem (novas) políticas públicas? In: FROELICH, J. M.; DIESEL, V. (Org.). Desenvolvimento rural: tendências e debates contemporâneos. Ijuí: Unijuí, 2006. p. 175-189. GASSEN, D. O Brasil entre os principais produtores de grãos. Revista Plantio Direto, Passo Fundo, ed. 109, jan./fev. 2009. Disponível em: <http://www.plantio direto.com.br/?body=cont_int&id=904>. Acesso em: 9 jun. 2013.
Capítulo XVIII - Sucessão nas Propriedades Rurais Familiares Integrantes de uma Cooperativa Agropecuária
396
LEITE, R. C. As técnicas modernas de gestão de empresas familiares. In: GRZYBOVSKY, D.; TEDESCO, J. C. Empresa familiar: tendências e racionalidades em conflito. 3. ed. Passo Fundo: UPF, 2002. p. 17-62. LODI, J. B. Sucessão e conflito na empresa familiar. São Paulo: Pioneira, 1987. SILVA NETO, B. Sistemas agrários e agricultura familiar no Rio Grande do Sul. In: FROEHLICH, J. M.; DIESEL, V. (Org.). Desenvolvimento rural: tendências e debates contemporâneos. Ijuí: Unijuí, 2006. p. 65-98. SILVESTRO, L. M. et al. Os impasses sociais da sucessão hereditária na agricultura familiar. Florianópolis: Epagri; Brasília: Nead/Ministério do Desenvolvimento Agrário, 2001. TEDESCO, J. C. Agrodiversidade, agroecologia e agricultura familiar: velhas e novas faces de um processo de desenvolvimento na região de Passo Fundo pós anos 90. Passo Fundo: UPF : Porto Alegre: EST edições, 2006.
Capítulo XIX - A Inserção das Mulheres no Cooperativismo: estudo de caso COOMAFITT
397
A Inserção das Mulheres no Cooperativismo: estudo de caso COOMAFITT
LEAL, Adriana Ribeiro55 COTRIM, Décio56
RESUMO
Este estudo pretende refletir a respeito da inserção das mulheres nas atividades das cooperativas de agricultores familiares, através de um estudo de caso de como estão ocorrendo essas relações na Cooperativa Mista de Agricultores Familiares de Itati, Terra de Areia e Três Forquilhas (COOMAFITT). Dados previamente coletados demonstram que a participação das mulheres na COOMAFITT vem ocorrendo de maneira muito desigual com relação à participação dos homens. Diversos são os fatores que os estudiosos apontam para explicar as diferenças que são percebidas, com relação aos comportamentos de homens e mulheres, e que balizam as relações entre os gêneros. O cooperativismo, como estratégia de desenvolvimento rural, pode ser um aliado na inserção das mulheres nos espaços de decisão e poder, por ser uma doutrina que tem como valores a ajuda mútua, a responsabilidade, a democracia, a igualdade, a equidade e a solidariedade. Neste estudo, pretende-se refletir sobre questões como: Quais são os possíveis motivos que estariam levando as mulheres a não se sentirem atraídas a participar das atividades da COOMAFITT? Porque a cooperativa em questão tem um baixo número de sócias no quadro de associados? As mulheres estão se reconhecendo como membros desta organização? O que a cooperativa necessita fazer para atrair a participação das mulheres? Palavras-chave: Cooperativismo. Gênero. Inserção. Agricultura familiar.
ABSTRACT
This study intends to mull on the inclusion of women in the activities of cooperatives of family farmers, through a case study of how these relationships are occurring in the Cooperativa Mista de Agricultores Familiares de Itati, Terra de Areia e Três Forquilhas (COOMAFITT). Previously collected data show that women's participation in COOMAFITT has occurred very unevenly compared to the participation of men. Several factors are pointed by scholars to explain the differences that are noted on the behavior of women and men, and that outline the relationships between genders. The cooperative, as a rural development strategy, can be an ally to the inclusion of women in decision-making and power, as a doctrine with values of mutual help, responsibility, democracy, equality, equity and solidarity. This study aims at reflecting on questions such as: What are the possible reasons that would be leading women not to feel attracted to participate in the activities of COOMAFITT? Why the 55 Licenciada em Educação Física pela UFSM e Especialista em Saúde Pública pelo IBEPEX,
Extensionista Rural da Emater/RS – Ascar, Acadêmica do curso de especialização em Gestão de Cooperativas, Escola Superior de Cooperativismo. E-mail: [email protected].
56 Doutor em Desenvolvimento Rural UFRGS-PGDR. Extensionista Rural da Emater/RS – Ascar. E-mail: [email protected].
Capítulo XIX - A Inserção das Mulheres no Cooperativismo: estudo de caso COOMAFITT
398
cooperative in question has a low number of women as members? Do women feel recognized as members of this organization? What does the cooperative need to do to attract the participation of women? Keywords: Cooperative. Genre. Insertion. Family farming.
1 INTRODUÇÃO
O cooperativismo é uma doutrina que surgiu como forma de organização
social para a solução de problemas econômicos. O movimento cooperativista surge
em 1844 em Manchester, Inglaterra, com os pioneiros de Rochdale, onde 28
operários (27 homens e uma mulher), na sua maioria tecelões, fundaram a primeira
cooperativa moderna (Sociedade dos Probos de Rochdale) que forneceu a base do
cooperativismo, pelo modelo que adotaram.
Nota-se, a partir da formação deste modelo de Rochdale, que desde seus
primórdios o cooperativismo vislumbrava um horizonte que ultrapassava o
econômico, pois relatos reforçam que algumas das principais preocupações dos
participantes giravam em torno do bem estar dos homens, da redenção social e das
condições que eram impostas aos trabalhadores.
Nesse modelo foram definidos os sete princípios básicos do cooperativismo,
que são: adesão voluntária e livre, gestão democrática, participação econômica dos
membros, autonomia e independência, educação, formação e informação,
intercooperação e Interesse pela comunidade. Somados aos princípios básicos, são
valores do cooperativismo: a ajuda mútua, responsabilidade, democracia, igualdade,
equidade e solidariedade.
Esses princípios e valores demonstram que, desde seus primórdios, o
cooperativismo surgiu como uma doutrina que buscava alcançar elevados padrões
de desenvolvimento e justiça social, em uma época que se vivia uma crise
socioeconômica de grandes proporções, no auge da Revolução Industrial.
Paralelo ao surgimento do cooperativismo, iniciou-se mundialmente um
movimento, por ocasião da Revolução Industrial, que gerou mudanças nas opções
tradicionais de trabalho e por consequência disso outros atores foram inseridos no
mercado de trabalho, inclusive as mulheres. A participação feminina no mercado de
trabalho ocorreu de forma gradual e progressiva, até chegarmos aos dias de hoje,
onde a mulher tem uma importante participação em vários ramos da economia.