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Capítulo XVIII - Sucessão nas Propriedades Rurais Familiares Integrantes de uma Cooperativa Agropecuária 371 Sucessão nas Propriedades Rurais Familiares Integrantes de uma Cooperativa Agropecuária FACCIN, Olívio Pedro 53 SCHMIDT, Carmem Elizabete Finkler 54 RESUMO Os problemas enfrentados nas propriedades rurais, atualmente, são muitos, especialmente no que se refere à sucessão familiar, pois o agricultor não está mais influenciando seus filhos para dar continuidade à atividade rural. Com isso, acentua- se o chamado êxodo rural, além de aumentar os problemas que afetam as cidades devido aos constantes processos de migrações, como a marginalização, a prostituição e o aumento de favelas, entre outros. Este estudo surgiu a partir da observação de que alguns agricultores conseguem manter mais facilmente seus filhos na propriedade, enquanto outras não. Isso pode ser justificado pela pesquisa sobre o modo como, em determinadas propriedades rurais, os filhos sucedem os pais na condução das atividades agropecuárias. A problemática do trabalho encontra-se na forma como ocorre essa sucessão nas propriedades rurais familiares integrantes de uma cooperativa agropecuária. Sob essa perspectiva, o objetivo geral do presente estudo é descrever como ocorre a sucessão nesse tipo de propriedade rural familiar. Ainda, o autor definiu os seguintes objetivos específicos: investigar quais são os fatores que estimulam a permanência dos filhos nas propriedades rurais dos cooperados, bem como identificar o nível de satisfação dos filhos dos cooperados com a atividade agropecuária. Em relação à abordagem metodológica, a pesquisa é caracterizada, quanto aos objetivos, como descritiva e, em relação aos procedimentos técnicos, como bibliográfica, utilizando uma pesquisa qualitativa. A pesquisa qualitativa será aplicada através de um questionário estruturado com perguntas abertas e fechadas. A população e a amostra serão constituídas pelos filhos dos cooperados da Cooperativa Agrícola Soledade LTDA. (COAGRISOL), da cidade de Mormaço, estudantes da 8ª série do ensino fundamental ao 3º ano do ensino médio. Palavras-chave: Educação cooperativista. Sucessão. Propriedades rurais. ABSTRACT Many are the problems faced in the rural properties with respect to family succession; the farmers are not able anymore to influence their children to continue with the rural activity, which causes the so called rural exodus. This migration is causing many problems in the cities, such as marginalization, prostitution, increase of slums etc. Therefore, this study is justified for the fact that some farmers get to maintain their 53 Aluno do curso de Pós-Graduação em Gestão de Cooperativas na Faculdade de Tecnologia do Cooperativismo (ESCOOP Escola Superior de Cooperativismo). 54 Professora Orientadora, Especialista em Educação e Ciências Sociais pala UNISINOS Universidade do Vale do Rio dos Sinos.

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Capítulo XVIII - Sucessão nas Propriedades Rurais Familiares Integrantes de uma Cooperativa Agropecuária

371

Sucessão nas Propriedades Rurais Familiares Integrantes de uma Cooperativa

Agropecuária

FACCIN, Olívio Pedro53

SCHMIDT, Carmem Elizabete Finkler54

RESUMO

Os problemas enfrentados nas propriedades rurais, atualmente, são muitos, especialmente no que se refere à sucessão familiar, pois o agricultor não está mais influenciando seus filhos para dar continuidade à atividade rural. Com isso, acentua-se o chamado êxodo rural, além de aumentar os problemas que afetam as cidades devido aos constantes processos de migrações, como a marginalização, a prostituição e o aumento de favelas, entre outros. Este estudo surgiu a partir da observação de que alguns agricultores conseguem manter mais facilmente seus filhos na propriedade, enquanto outras não. Isso pode ser justificado pela pesquisa sobre o modo como, em determinadas propriedades rurais, os filhos sucedem os pais na condução das atividades agropecuárias. A problemática do trabalho encontra-se na forma como ocorre essa sucessão nas propriedades rurais familiares integrantes de uma cooperativa agropecuária. Sob essa perspectiva, o objetivo geral do presente estudo é descrever como ocorre a sucessão nesse tipo de propriedade rural familiar. Ainda, o autor definiu os seguintes objetivos específicos: investigar quais são os fatores que estimulam a permanência dos filhos nas propriedades rurais dos cooperados, bem como identificar o nível de satisfação dos filhos dos cooperados com a atividade agropecuária. Em relação à abordagem metodológica, a pesquisa é caracterizada, quanto aos objetivos, como descritiva e, em relação aos procedimentos técnicos, como bibliográfica, utilizando uma pesquisa qualitativa. A pesquisa qualitativa será aplicada através de um questionário estruturado com perguntas abertas e fechadas. A população e a amostra serão constituídas pelos filhos dos cooperados da Cooperativa Agrícola Soledade LTDA. (COAGRISOL), da cidade de Mormaço, estudantes da 8ª série do ensino fundamental ao 3º ano do ensino médio. Palavras-chave: Educação cooperativista. Sucessão. Propriedades rurais.

ABSTRACT

Many are the problems faced in the rural properties with respect to family succession; the farmers are not able anymore to influence their children to continue with the rural activity, which causes the so called rural exodus. This migration is causing many problems in the cities, such as marginalization, prostitution, increase of slums etc. Therefore, this study is justified for the fact that some farmers get to maintain their

53 Aluno do curso de Pós-Graduação em Gestão de Cooperativas na Faculdade de Tecnologia do

Cooperativismo (ESCOOP – Escola Superior de Cooperativismo). 54 Professora Orientadora, Especialista em Educação e Ciências Sociais pala UNISINOS –

Universidade do Vale do Rio dos Sinos.

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children in the rural property, while others do not. The problem of the present research is in the following: how does the succession happen in familiar rural properties that are part of an agricultural cooperative? Under that perspective, the general objective of the present study is to describe how the succession happens in this kind of rural property. Still, the author defined the following specific objectives: investigate which are the factors that stimulate the farmer’s children to stay in the rural properties and research the level of the children’s satisfaction with the agricultural activity. In relation to the methodological approach, the research is characterized, as for the objectives, as descriptive and, in relation to the technical procedures, as bibliographical, using a qualitative research. The qualitative research will be applied through a structured questionnaire with open and closed questions. The population and sample will be constituted by the children of those farmer that are part of the Agricultural Cooperative Soledade Ltda. (COAGRISOL), in the city of Mormaço, students from the last year of the elementary school to the last year of high school.

Key Words: Cooperatives Education. succession. Rural properties.

1 INTRODUÇÃO

Atualmente, muitos são os problemas enfrentados nas propriedades rurais no

que tange a sucessão familiar e a educação cooperativista; o agricultor não está

mais conseguindo influenciar seus filhos para a continuidade da atividade rural, com

isso ocorre o chamado êxodo rural. Isso gera diversos outros problemas para as

cidades, como a marginalização, a prostituição, o aumento de favelas etc.

Os jovens que migram para as cidades são atraídos pelas ofertas de trabalho,

estudo e tudo o que as cidades oferecem, assim, partem em busca de uma melhor

condição de vida e deixam de se preparar para dar continuidade às atividades da

propriedade rural. Quando percebem a realidade, acabam retornando para a

propriedade dos pais, muitas vezes já com uma família constituída e em uma

situação pior do que aquela que tinham quando saíram. Esses fatos são ainda mais

relevantes nos pequenos municípios que têm sua base econômica centrada na

agropecuária, pois os jovens são atraídos para os municípios maiores em busca de

melhores oportunidades de trabalho, ocasionando a diminuição da população e a

perda de mão-de-obra qualificada.

Este estudo justifica-se pelo fato de que alguns agricultores conseguem

manter seus filhos nas propriedades rurais, enquanto outros pais não conseguem

fazer com que os filhos os sucedam na condução das atividades agropecuárias. A

busca pela compreensão dessa diferença é o que impulsionou a pesquisa. A

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problemática da presente pesquisa encontra-se no seguinte: como ocorre a

sucessão nas propriedades familiares integrantes de uma cooperativa agropecuária?

Sob essa perspectiva, o objetivo geral deste estudo é descrever como ocorre a

sucessão nesse tipo de propriedade. Os objetivos específicos consistem em

investigar quais são os fatores que estimulam a permanência dos filhos nas

propriedades rurais dos cooperados, bem como identificar o nível de satisfação dos

filhos dos cooperados com a atividade agropecuária.

Em relação à abordagem metodológica, a pesquisa é caracterizada, quanto

aos objetivos, como descritiva e, em relação aos procedimentos, como bibliográfica,

utilizando uma pesquisa qualitativa. A pesquisa qualitativa foi aplicada através de um

questionário estruturado com perguntas abertas e fechadas. A população e a

amostra foram constituídas pelos filhos dos cooperados da Cooperativa Agrícola

Soledade Ltda. (COAGRISOL), na cidade de Mormaço.

2 SUCESSÃO NAS PROPRIEDADES RURAIS FAMILIARES

A agricultura familiar contrapõe-se à agricultura patronal, caracterizada pelas

grandes propriedades e pelo emprego da mão-de-obra assalariada ou volante. Esse

fato é confirmado com o maior desenvolvimento verificado nos municípios onde a

agricultura familiar é bem desenvolvida, pois o potencial de manter postos de

trabalho já existentes ou gerar novos postos de trabalho é muito maior na agricultura

familiar do que na patronal. (EHLERS, 1999, p. 38). Segundo Tedesco (2006, p. 65),

os agricultores familiares produzem mais do que o dobro de riqueza por unidade de

área do que o agricultor patronal.

De acordo com Silva Neto (2006, p. 69), a manutenção da população no

campo, a ampliação da renda dos agricultores e uma melhor distribuição dessa

renda podem ser elementos importantes de uma política de estímulo a atividades

não agrícolas no meio rural. Sugere que a promoção de uma maior equidade social

e de sistemas de produção que permitam uma maior agregação de valor, em que a

agricultura familiar desempenharia um papel essencial, poderia ser uma estratégia

eficaz de desenvolvimento rural para o Rio Grande do Sul.

As empresas familiares, dentre as quais estão incluídas a maioria das

propriedades rurais familiares, têm grande importância para a economia nacional,

sendo sua continuidade fundamental para o desenvolvimento do país. As razões

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para que a sucessão na empresa familiar ganhe importância no momento atual

parecem claras quando as relacionamos com as possibilidades da sua contribuição

ao processo de transformação do país. No campo político, deverá haver uma

participação mais intensa do empresário através das associações de classe e outros

mecanismos de pressão inerentes aos sistemas democráticos. Na perspectiva

social, a empresa familiar representa uma das maiores geradoras de emprego, com

a correspondente descentralização dos polos regionais de desenvolvimento. O

aspecto econômico também recebe dela uma fundamental contribuição, uma vez

que se produz um aumento do mercado consumidor e uma melhora da distribuição

de renda. (BERNHOEFT, 1993, p. 24).

Atualmente, as discussões sobre a fidelização dos cooperados têm ganhado

força. Além disso, a sobrevivência das cooperativas depende da sucessão dos

associados pelos seus filhos, o que nem sempre ocorre de maneira tranquila.

Segundo Lodi (1987, p. 67), uma centena de estudos sustenta a tese de que

as sementes da destruição das empresas familiares restam dentro do próprio

fundador e da família, ou que a sobrevivência da empresa está na capacidade da

família de administrar suas relações com a empresa e evitar as forças centrífugas

nas fases da sucessão. Os problemas na sucessão também podem estar ligados à

falta de preparo dos sucessores para lidar com a nova situação social, confundindo

a sucessão da empresa familiar, entre as quais se incluem as propriedades rurais,

com herança.

Segundo Leite (2002, p. 22), no Brasil, o velho ditado “pai rico, filho nobre e

neto pobre ou neto sem empresa” é o que ainda hoje prevalece sobre o bom senso

dos empreendedores. Os empresários sabem construir um império, mas não sabem

planejar sua sucessão. De acordo com Silvestro et al. (2001, p. 69), essa dificuldade

de planejar a sucessão também ocorre nas propriedades rurais do oeste catarinense

onde, embora as famílias, hoje, já tenham um razoável nível de diálogo sobre o

destino dos filhos e mesmo sobre a organização da propriedade, os temas de

natureza sucessória acabam sendo raramente abordados.

No município de Mormaço, nas conversas do dia-a-dia com os agricultores

verifica-se que a maioria dos pais sócios da Cooperativa COAGRISOL, não

incentivam os filhos a permanecer nas propriedades, pelo contrário, estimulam os

filhos a estudarem não com o intuito de melhor desempenharem as atividades

familiares, mas sim visando à melhoria das condições de vida do jovem através da

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busca de um emprego na cidade. Além disso, os produtores têm uma visão negativa

das atividades agropecuárias, sendo comum os filhos, desde pequenos, ouvirem os

pais reclamando de suas atividades e culpando o clima, o governo ou o mercado

pelo mau desempenho de seus negócios. Crescendo nesse ambiente, dificilmente

os filhos terão motivação para suceder os pais nas propriedades.

Segundo Gassen (2013), na Europa assim como nos Estados Unidos da

América, na Austrália e nos países de maior importância econômica, a idade média

do agricultor aumenta quase um ano a cada ano, isto é, a atividade está sendo

executada por pessoas mais idosas, e os jovens não fazem a sucessão. O autor

ressalta ainda que, na Europa, os custos elevados da mão-de-obra na agricultura,

alternativas de ocupação com maior rentabilidade em atividades urbanas e a baixa

estima da profissão de agricultor levam à falta de interesse dos jovens em

permanecer na atividade rural. Há nos EUA uma grande dificuldade para envolver e

motivar jovens na agricultura e raramente o agricultor faz o sucessor familiar.

Conforme Lodi (1987, p. 87), a sucessão em uma empresa familiar começa

muitos anos antes, quando os filhos ainda são pequenos, ou seja, a sucessão deve

ser conduzida com muita habilidade pelo patriarca enquanto ainda detém o poder e

está em plena saúde mental e física. Essa transferência gradual da gestão da

propriedade também foi constatada por Silvestro et al. (2001, p. 74), nas

propriedades rurais do oeste de Santa Catarina onde verificou que a transferência

do controle da propriedade não ocorre exatamente a partir da retirada dos pais por

ocasião da aposentadoria. A passagem das responsabilidades sobre a gestão da

propriedade se dá em um processo de transição em que os pais gradativamente vão

passando aos filhos as tarefas de gestão da propriedade, como a abertura de conta

bancária própria, bloco de produtor, responsabilidade de gerir os negócios até a

passagem completa do gerenciamento da propriedade.

3 MATERIAL E MÉTODOS

Segundo Ferrari (1974, p. 24), método é a forma de proceder ao longo de um

caminho. Na ciência, os métodos constituem os instrumentos básicos que, de início,

ordenam o pensamento em sistemas e traçam, de modo ordenado, a forma de

proceder do cientista ao longo de um percurso para alcançar um objetivo. De acordo

com Barros e Lehfeld (2003, p. 34), a pesquisa descritiva consiste na descrição do

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objeto por meio da observação e do levantamento de dados ou ainda pela pesquisa

bibliográfica e documental.

Neste trabalho utilizou-se o método científico e a pesquisa descritiva, visto

que o autor elaborou um questionário com perguntas abertas e fechadas. Os

questionários foram aplicados nos dias 30 e 31 de maio de 2013, nas escolas

estaduais e municipais do município de Mormaço, com alunos das séries finais,

oitava série do ensino fundamental e ensino médio, a saber, as seguintes escolas:

Escola Estadual de Ensino Médio Joaquim Gonçalves Ledo, na sede do município;

Escola de Ensino Fundamental José Rodrigues Cardoso, interior, localidade de

Água Branca; e Escola de Ensino Fundamental Antonio de Godoy Bueno, situada na

localidade de Posse Godoy. Essas escolas concentram a totalidade dos alunos da

oitava série e do ensino médio do município de Mormaço.

Para calcular a amostra, foi utilizada a fórmula de amostragem sistemática

descrita por Barbetta (1994, p. 45), considerando-se um erro amostral de 10%. Além

disso, o autor deste estudo optou por uma amostra aleatória e por conveniência. A

referida amostra foi composta por 91 alunos da oitava série e do ensino médio, filhos

de agricultores sócios da cooperativa COAGRISOL. Os entrevistados foram

informados da finalidade a que se destinavam os dados e da importância de

responderem às perguntas com a maior sinceridade possível para permitir que os

resultados obtidos fossem os mais próximos possíveis da realidade. O autor

acompanhou os respondentes, no sentido de permitir que estes esclarecessem

eventuais dúvidas durante a coleta das respostas.

4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

Depois de concluída a pesquisa, os resultados foram analisados e assim

expressos: mostrar-se-á, através de gráficos, as respostas das entrevistas com os

filhos de agricultores sócios da Cooperativa Agrícola Soledade Ltda. COAGRISOL,

Posto do Município de Mormaço - RS. Destaca-se o fato de que 57% dos

entrevistados correspondem ao sexo feminino e 43% ao sexo masculino.

Quanto à extensão da área das propriedades, 76% das propriedades dos

respondentes têm até 18 hectares, pode-se afirmar que são propriedades que têm

até um módulo rural (área mínima considerada pelo Ministério do Desenvolvimento

Agrário para que uma família consiga meios de sobrevivência na região hora em

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estudo). Das demais, 93% têm área inferior a 72 hectares, podendo ser

enquadradas, por esse critério, dentro do Programa Nacional de Fortalecimento da

Agricultura Familiar (PRONAF), como propriedades de agricultores familiares; e

apenas 7% dos jovens estudados possuem área familiar superior a quatro módulos

rurais, não sendo considerados agricultores familiares.

No gráfico abaixo, verifica-se que 89% dos respondentes afirmam que a

família possui terra própria e 11% afirmam que a família planta exclusivamente em

terra arrendada. Verifica-se ainda que 16% das famílias, apesar de possuir terra

própria, arrendam terra de terceiros para exercer suas atividades, o que demonstra

que a terra própria não é suficiente para as atividades agrícolas dessas famílias.

Quanto à ocupação, 40% dos respondentes afirmam que no mínimo um dos pais

exerce atividades fora da propriedade, enquanto 60% exercem as atividades

exclusivamente na propriedade.

Gráfico 24 - Quanto a posse da terra e ocupação, sua família possui:

Fonte: Elaborado pelo autor.

No gráfico "Quais as atividades desenvolvidas na sua propriedade?", pode-se

observar que 43% dos entrevistados responderam que trabalham com a produção

de grãos, 21% com culturas de subsistência para consumo da família e venda de

alguns excedentes, 19% com produção de grãos e leite, 12% com grãos, leite e

fruticultura e 5% dos respondentes afirmam possuir outras atividades.

Verifica-se, no município, uma grande dependência dos grãos como matriz

produtiva, sendo que 43% das propriedades dependem somente da produção de

grãos e no mínimo 74% das propriedades dos respondentes possuem os grãos

como uma atividade econômica importante. Segundo Froelich (2006, p. 182), a

produção agrícola ancorada exclusivamente em uma commodity, como é o caso dos

grãos, pode até ser eficiente e gerar riquezas, entretanto, não diversifica a economia

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local de modo a absorver a força de trabalho. Essa dinâmica baseada na

monocultura, além de criar paisagens monótonas, como já se verifica em algumas

localidades do município de Mormaço, também impede a expansão de serviços que

reduziriam a emigração de jovens.

Constata-se que 31% dos respondentes citam a produção de leite como uma

atividade econômica importante em suas propriedades. Por agregar mais valor e

possibilitar maior emprego de mão-de-obra por unidade de área do que a produção de

grãos, essa é uma atividade que pode contribuir para manter o jovem no meio rural.

Verifica-se que 21% dos respondentes citam a produção de subsistência

como principal atividade da propriedade. Embora não tenha sido objeto deste

estudo, essas propriedades devem servir para produzir alimentos para o consumo

da família e a maior parte da renda deve ser obtida através da prestação de serviços

assalariados ou da aposentadoria de algum membro da família.

Gráfico 25 - Quais as atividades desenvolvidas na sua propriedade?

Fonte: Elaborado pelo autor.

Quanto à satisfação com a distribuição de responsabilidade entre os jovens e

seus pais, 56% dos respondentes afirmam estar satisfeitos, 21% responderam que

estão extremamente satisfeitos, 18% responderam que não estão nem satisfeitos e

nem insatisfeitos, 3% responderam que estão insatisfeitos e apenas 2% dos

pesquisados disseram estar extremamente insatisfeitos com a distribuição de

responsabilidade entre eles e seus pais. Portanto, no município de Mormaço, a

distribuição de responsabilidade entre pais e filhos não é considerada um problema pela

maioria dos jovens agricultores, sócios ou futuros associados da cooperativa

COAGRISOL, pois se verifica que 77% dos pesquisados estão satisfeitos e apenas 5%

não estão satisfeitos com a distribuição de responsabilidade na propriedade rural.

Capítulo XVIII - Sucessão nas Propriedades Rurais Familiares Integrantes de uma Cooperativa Agropecuária

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No gráfico "Você está satisfeito com sua autonomia na tomada de decisões

na propriedade?", observa-se que 52% responderam estar satisfeitos, 17%

responderam estar extremamente satisfeitos, 24% responderam não estar nem

satisfeitos nem insatisfeitos, 6% responderam estar insatisfeitos e 1% afirma estar

extremamente insatisfeito.

Embora os dados permitam afirmar que, no município de Mormaço, 69% dos

jovens filhos de agricultores sócios da COAGRISOL estejam satisfeitos com sua

autonomia na tomada de decisões na propriedade, este é um tema que merece

maior atenção, pois se verifica que 28% a 31% dos respondentes não consideram

seu grau de autonomia adequado, e o pesquisador tem a percepção de que, no dia-

a-dia, a falta de autonomia é um dos fatores que tem levado os jovens a sair da

propriedade dos pais.

Gráfico 26 - Você esta satisfeito com a sua autonomia na tomada de decisões na propriedade?

Fonte: Elaborado pelo autor.

No gráfico abaixo, verifica-se que 66% dos pesquisados responderam estar

satisfeitos com a clareza das funções a serem desempenhadas na propriedade, 16%

responderam estar extremamente satisfeitos, 14% responderam estar nem

satisfeitos nem insatisfeitos, 1% respondeu estar insatisfeito e 3% responderam

estar extremamente insatisfeitos. A análise dos dados permite verificar que, para

82% dos jovens pesquisados, estão bem claras quais as funções que devem ser

desempenhadas por eles e pelos seus pais dentro da propriedade, enquanto que,

para 18% dos respondentes, essas funções não estão suficientemente claras e

precisam ser mais bem definidas.

Capítulo XVIII - Sucessão nas Propriedades Rurais Familiares Integrantes de uma Cooperativa Agropecuária

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Gráfico 27 - Você estas satisfeito com a clareza das funções a serem desempenhadas por você e seus país na gestão da propriedade?

Fonte: Elaborado pelo autor.

Quanto ao rendimento econômico obtido na propriedade, 55% dos respondentes

disseram estar satisfeitos, 18% disseram estar extremamente satisfeitos, 12% disseram

estar nem satisfeitos nem insatisfeitos, 11% disseram estar insatisfeitos e somente 4%

disseram estar extremamente insatisfeitos com os rendimentos econômicos obtidos nas

propriedades. Pode-se constatar que 73% dos pesquisados estão satisfeitos com a

renda obtida na sua propriedade, enquanto 15% estão insatisfeitos. Por outro lado, o

fato de 12% dos respondentes não estarem nem satisfeitos e nem insatisfeitos com a

renda obtida na propriedade é preocupante, pois o fato de a situação estar "mais ou

menos" leva os indivíduos ao comodismo. Isso significa que os jovens pode até

permanecer na propriedade, mas sem realizar grandes investimentos nas atividades

agrícolas, porque na sua visão a situação não está tão ruim a ponto de valer a pena

arriscar-se fora da propriedade e nem tão boa para investir esperando o retorno a médio

ou longo prazo. Na prática, isso ocorre com um número considerável de propriedades

no município de Mormaço, onde os produtores ficam “marcando passo”.

Quanto aos incentivos que seus pais lhes dão para permanecer na

propriedade, 50% dos respondentes disseram estar satisfeitos, 16% disseram estar

extremamente satisfeitos, 21% disseram estar nem satisfeitos e nem insatisfeitos,

8% disseram estar insatisfeitos e somente 5% disseram estar extremamente

insatisfeitos. Analisando as respostas, é possível verificar que, no município de

Mormaço, 66% dos jovens filhos de agricultores sócios da COAGRISOL estão

satisfeitos com os incentivos que os pais lhes dão para permanecer na propriedade,

enquanto apenas 13% estão insatisfeitos com os incentivos recebidos de seus pais.

Esses resultados refutam a ideia existente no município de que a maioria dos pais

Capítulo XVIII - Sucessão nas Propriedades Rurais Familiares Integrantes de uma Cooperativa Agropecuária

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em vez de incentivar os filhos a permanecerem na propriedade os estaria

incentivando a arranjar um emprego na cidade.

Gráfico 28 - Você estas satisfeito com os incentivos que seus pais lhe dão para permanecer na propriedade?

Fonte: Elaborado pelo autor.

No gráfico "Em relação ao relacionamento com seus pais, você consegue

expor suas opiniões e ser ouvido?", 46% dos pesquisados responderam estar

satisfeitos, 23% disseram estar extremamente satisfeitos, 19% disseram não estar

nem satisfeitos nem insatisfeitos, 10% disseram estar insatisfeitos e 2% afirmaram

estar extremamente insatisfeitos. Verifica-se que, no município de Mormaço, 69%,

ou seja, a maioria dos jovens filhos de agricultores sócios da COAGRISOL está

satisfeita com o nível de relacionamento que conseguem manter com seus pais,

enquanto 12% estão insatisfeitos por não conseguirem expor suas opiniões e serem

ouvidos pelos pais. Essa capacidade de diálogo também foi constatada em

propriedades do oeste catarinense por Silvestro (2001), que constatou estar

havendo maior incorporação dos jovens nos espaços de decisão da família e nas

discussões sobre as questões ligadas ao gerenciamento da propriedade.

Gráfico 29 - Em relação ao relacionamento com seus pais você consegue expor seus opiniões e ser ouvido?

Fonte: Elaborado pelo autor

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No gráfico abaixo, verifica-se o grau de satisfação dos filhos de agricultores

pesquisados ao serem chamados de agricultores por outros jovens, uma vez que

existe uma ideia pré-concebida no município de Mormaço de que os jovens não se

assumem como agricultores. Dessa forma, 43% dos jovens respondentes afirmaram

sentirem-se satisfeitos ao serem chamados de agricultores, 13% disseram sentirem-

se extremamente satisfeitos, 26% disseram sentir nem satisfeitos nem insatisfeitos,

9% disseram sentir-se insatisfeitos e 9% dos jovens pesquisados afirmaram sentir-se

extremamente insatisfeitos ao serem chamados de agricultores por outros jovens.

Assim, é possível afirmar que, no município de Mormaço, 56% dos jovens filhos de

agricultores sócios da COAGRISOL não possuem problemas em assumirem-se

como agricultores, enquanto 44% não se assumem como agricultores.

Gráfico 30 - Sente-se bem ao ser chamado de agricultor por outros jovens?

Fonte: Elaborado pelo autor.

Quanto à satisfação com o trabalho que desempenham na execução das

atividades agropecuárias, 66% dos respondentes afirmam estar satisfeitos com a

execução das atividades agropecuárias da propriedade, 10% afirmam estar

extremamente satisfeitos, 20% afirmam estar nem satisfeitos nem insatisfeitos, 2%

afirmam estar insatisfeitos e 2% afirmam estar extremamente insatisfeitos. Portanto,

no município de Mormaço, 76% dos jovens filhos de agricultores associados da

COAGRISOL, estão satisfeitos com as tarefas que executam nas atividades

agropecuárias da propriedade e apenas 4% estão insatisfeitos com a execução

dessas tarefas. Esse dado é importante porque dificilmente alguém permanecerá em

uma atividade se não gostar de trabalhar nela. Assim, pode-se supor que, ao

contrário do que foi verificado em Santa Catarina onde Silvestro (2001) citou a

penosidade do trabalho associado às atividades agropecuárias como uma das

causas da pouca atração das moças pelo trabalho na agricultura, no município de

Capítulo XVIII - Sucessão nas Propriedades Rurais Familiares Integrantes de uma Cooperativa Agropecuária

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Mormaço, a execução das atividades agropecuárias não é um empecilho para a

permanência do jovem na propriedade rural.

No gráfico "O que mais limita a diversificação da sua propriedade?", 55% dos

respondentes afirmou que os fatores limitantes estavam ligados ao capital, destes

32% afirmaram que fator mais limitante era a pouca quantidade de terra e 23%

responderam que o fator mais limitante era a falta de dinheiro; 20% responderam

que os fatores limitantes não estavam ligados nem ao capital e nem aos recursos

humanos, dando a entender que essas propriedades já estavam diversificadas ou

que os pesquisados não viam necessidade de aumentar o número de atividades

agropecuárias em suas propriedades. Finalmente, 25% dos respondentes afirmaram

que os fatores limitantes à diversificação da propriedade estavam ligados ao fator

humano, destes 13% afirmaram que o fator limitante é a pouca mão-de-obra e 12%

disseram que o fator limitante é o pouco conhecimento.

Com base nas respostas dos filhos de agricultores sócios da cooperativa

COAGRISOL, podemos constatar que, no município de Mormaço, qualquer política

por parte da cooperativa ou pelo poder público visando à diversificação das

propriedades, além de levar em conta as limitações de terra e mão-de-obra, deverá

priorizar as limitações mais fáceis de serem alteradas: pouco dinheiro e pouco

conhecimento. Portanto, deverá ser disponibilizado crédito com prazo de pagamento

adequado ao tipo de investimento e cursos ou visitas técnicas às propriedades.

Gráfico 31 - O que mais limita a diversificação da sua propriedade?

Fonte: Elaborado pelo autor.

No gráfico "O que mais limita o aumento de produção em sua propriedade?",

59% dos respondentes afirmou que os fatores limitantes estavam ligados ao capital,

destes 39% afirmaram que pouca terra era o fator mais limitante e 20%

responderam que o fator mais limitante era o pouco dinheiro; 13% responderam que

Capítulo XVIII - Sucessão nas Propriedades Rurais Familiares Integrantes de uma Cooperativa Agropecuária

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os fatores limitantes ao aumento de produção de suas propriedades não estavam

ligados nem ao capital e nem aos recursos humanos; e 28% afirmaram que os

fatores limitantes ao aumento de produção em suas propriedades estavam ligados

ao fator humano, destes 16% responderam que o fator limitante é a pouca mão-de-

obra e 12% que o fator limitante é pouco conhecimento.

Com base nas respostas dos filhos de agricultores sócios da cooperativa

COAGRISOL, podemos constatar que, no município de Mormaço, o fator limitante

mais citado foi a pouca terra, porém esse fator dificilmente pode ser alterado. Logo,

as políticas por parte da cooperativa COAGRISOL ou do poder público, visando a

aumentar a produção das propriedades, deverão levar em conta as limitações que,

embora menos citadas, pouco dinheiro e pouco conhecimento, são mais fáceis de

serem alteradas. Para tanto, deve haver disponibilização de crédito e treinamentos

ou visitas técnicas aos interessados.

Gráfico 32 - O que mais limita o aumento de produção em sua propriedade?

Fonte: Elaborado pelo autor.

No gráfico "O que mais limita a renda na sua propriedade?", 44% dos

entrevistados responderam que os fatores limitantes estavam ligados ao capital,

destes 28% afirmaram ser a pouca terra o fator mais limitante e 16% responderam

que o fator mais limitante era a falta de dinheiro; 19% responderam que os fatores

limitantes não estavam ligados nem ao capital e nem aos recursos humanos, dando

a entender que essas propriedades, na opinião dos pesquisados, possuem uma

renda adequada às suas necessidades. Finalmente, 37% afirmaram que os fatores

limitantes à renda da propriedade estavam ligados ao fator humano, destes 20%

responderam que o fator limitante era a pouca mão-de-obra e 17% disseram que o

fator limitante era o pouco conhecimento.

Capítulo XVIII - Sucessão nas Propriedades Rurais Familiares Integrantes de uma Cooperativa Agropecuária

385

Podemos constatar que, na opinião dos pesquisados, os fatores mais limitantes

ao aumento de renda nas propriedades são a pouca terra, a pouca mão- de-obra e o

pouco conhecimento, sendo que dois desses fatores dificilmente podem ser alterados.

Já o fato de o conhecimento ser citado por 17% dos respondentes como um fator

limitante à renda das propriedades mostra a necessidade de que os pais e a assistência

técnica dediquem mais atenção à formação técnica dos jovens no município.

Gráfico 33 - O que mais limita a renda na sua propriedade?

Fonte: Elaborado pelo autor.

No gráfico "O que mais limita a substituição de máquinas e equipamentos

(atualização tecnológica) em sua propriedade?", 65% dos entrevistados informaram

que os fatores limitantes estão ligados ao capital, destes 55% responderam que o

pouco dinheiro é o fator mais limitante e 10% responderam que a pouca terra é o

fator mais limitante; 22% informaram que nem capital nem fator humano estavam

limitando a aquisição de máquinas e equipamentos nas propriedades; e apenas 13%

informaram que as limitações estão ligadas a fatores humanos, sendo que destes

7% responderam que o fator limitante é pouca mão-de-obra e 6% responderam que

o pouco conhecimento é o fator limitante para a aquisição de máquinas e

equipamentos. Portanto, para a maioria dos pesquisados, 55%, a disponibilidade

financeira é o fator mais limitante à atualização tecnológica e para 22% dos

informantes não há limitações nem de capital nem de recursos humanos para

aquisição de equipamentos em suas propriedades.

Capítulo XVIII - Sucessão nas Propriedades Rurais Familiares Integrantes de uma Cooperativa Agropecuária

386

Gráfico 34 - O que mais limita a substituição de máquinas e equipamentos (atualização tecnológica) em sua propriedade?

Fonte: Elaborado pelo autor.

No gráfico "O que limita a permanência do jovem na propriedade?", 31%

responderam que nem capital, nem fator humano limitam a permanência dos jovens

na propriedade, 29% responderam que o pouco conhecimento é o fator limitante,

18% responderam que o pouco dinheiro é o fator limitante. Os determinantes pouca

terra e mão-de-obra empataram como fatores limitantes à permanência dos jovens

na propriedade, sendo cada um desses fatores citados por 11% dos respondentes.

Dentre os pesquisados, 69% apontam existir limitações para sua permanência na

propriedade e, segundo eles, o pouco conhecimento e o pouco dinheiro são os

principais fatores que limitam a permanência do jovem no meio rural. Esses fatores

devem, portanto, ser atacados conjuntamente, por meio da elaboração de políticas

públicas que visem a favorecer a permanência do jovem na propriedade rural.

Gráfico 35 - O que mais limita sua permanência na propriedade?

Fonte: Elaborado pelo autor.

Capítulo XVIII - Sucessão nas Propriedades Rurais Familiares Integrantes de uma Cooperativa Agropecuária

387

No gráfico "O que limita o número de horas que cada membro da família

trabalha diariamente?", 34% dos pesquisados responderam que nem capital nem

fator humano limitam o número de horas trabalhadas diariamente pelos membros da

família, esses respondentes consideram que não é necessário aumentar o número

de horas trabalhadas diariamente em suas propriedades. Todavia, 66% dos

respondentes apontaram existir, em suas propriedades, alguma limitação ao número

de horas trabalhadas pelos membros da família. Destes, 34% responderam que o

excesso de mão-de-obra é o fator limitante. Assim, 14% apontaram a pouca terra

como fator limitante, 12% apontaram o conhecimento como fator limitante e apenas

6% dos respondentes apontaram o pouco dinheiro como fator limitante ao número

de horas trabalhadas por cada membro da família.

Para resolver o problema do excesso de mão-de-obra apontado por 34% dos

respondentes, é necessário incentivar atividades agropecuárias que exijam o

emprego intensivo de mão-de-obra. Já a questão da pouca terra, citada como um

fator limitante por 14% dos jovens, pode ser minimizada utilizando-se culturas que

exijam menores áreas de terra. A falta de conhecimento deve receber maior atenção

dos gestores públicos, pois através dele os jovens podem obter as informações

necessárias para melhor utilizar sua força de trabalho e permanecer na propriedade.

Gráfico 36 - O que limita o número de horas que cada membro da família trabalha diariamente?

Fonte: Elaborado pelo autor.

No gráfico "O que limita o acesso ao crédito agrícola?", 25% responderam

que nem capital, nem fator humano está limitando o acesso ao crédito, enquanto

75% dos respondentes afirmaram existir alguma limitação em suas propriedades

para acessar o crédito. Destes, 31% responderam que o fator limitante para acessar

Capítulo XVIII - Sucessão nas Propriedades Rurais Familiares Integrantes de uma Cooperativa Agropecuária

388

o crédito é o pouco conhecimento, 24% responderam que o fator limitante é o pouco

dinheiro, 17% afirmaram que o fator limitante é a pouca terra e 3% responderam que

o fator limitante para obter financiamento é a pouca mão-de-obra. O fator mais

citado como limitante ao crédito pelos jovens no município de Mormaço é o pouco

conhecimento. Para resolver esse problema, é necessária uma maior integração

entre os agentes financeiros e a assistência técnica para divulgar as linhas de

crédito existentes no momento em que estejam disponíveis. Cabe ressalvar que

normalmente os agentes financeiros não têm interesse em divulgar a disponibilidade

de recursos para os pequenos agricultores, direcionando-os para os produtores mais

capitalizados.

Os outros dois fatores citados como limitantes foram o pouco dinheiro e a

pouca terra. O pouco dinheiro está diretamente ligado à capacidade de pagamento e

a terra está ligada às garantias que o produtor pode oferecer ao agente financeiro,

quem não tem capacidade de pagamento e garantias não tem acesso ao crédito.

Para minimizar esse problema, principalmente entre os produtores mais

descapitalizados, o poder público deve viabilizar um fundo de aval para facilitar o

acesso ao crédito junto aos agentes financeiros. Deve-se citar ainda que muitos

produtores no município de Mormaço não possuem a documentação das áreas,

assim uma campanha de regularização fundiária resolveria em grande parte o

problema da terra como fator restritivo de acesso ao crédito.

Gráfico 37 - O que limita o acesso ao crédito agrícola?

Fonte: Elaborado pelo autor.

No gráfico "O que limita o emprego de novas tecnologias em sua

propriedade?", 70% dos respondentes afirmaram existir limitações ligadas ao capital,

sendo que destes, 53% responderam que o fator que limita o emprego de novas

Capítulo XVIII - Sucessão nas Propriedades Rurais Familiares Integrantes de uma Cooperativa Agropecuária

389

tecnologias é pouco dinheiro e 17% responderam que o fator limitante é a pouca

terra. Somente 1% dos pesquisados responderam que nem capital nem fator

humano limitam o acesso à tecnologia em suas propriedades. Isso significa que,

segundo os respondentes, 99% das propriedades possuem alguma limitação ao

acesso a novas tecnologias. Destes, 28% afirmaram existir limitações ligadas a

fatores humanos, sendo que 24% responderam que o fator limitante é o pouco

conhecimento e os outros 4% indicam a pouca mão-de-obra como fator de limitação

ao emprego de novas tecnologias.

Verifica-se que, no município de Mormaço, o principal fator que limita o

emprego de novas tecnologias é a descapitalização dos produtores apontada por

53% dos respondentes. Para resolver esse problema, seria necessária uma política

de crédito voltada para investimentos produtivos nas propriedades, adaptados às

condições locais e com prazos compatíveis com os investimentos.

O pouco conhecimento é o segundo fator mais limitante ao emprego de novas

tecnologias nas propriedades, é necessário que os jovens participem mais de

cursos, palestras e viagens técnicas, com assistência técnica direcionando sua ação

para esse tipo de público. Inclusive, as próprias escolas poderiam oferecer cursos

em centros de treinamento ou excursões técnicas para os filhos de agricultores.

Essas atividades poderiam ser inseridas nos currículos a partir da sexta série do

ensino fundamental.

A pouca quantidade de terra é o terceiro fator mais limitante ao emprego de

novas tecnologias, apontada por 17% dos respondentes. No entanto, a pouca

disponibilidade de terras no município, bem como seu alto custo, é um fator que em

curto prazo não oferece possibilidades de mudanças. Políticas públicas podem

trabalhar a questão da regularização fundiária de algumas áreas e tentar formar

grupos de jovens para aquisição conjunta de propriedades que não tenham

sucessores.

Capítulo XVIII - Sucessão nas Propriedades Rurais Familiares Integrantes de uma Cooperativa Agropecuária

390

Gráfico 38 - O que limita o emprego de novas tecnologias em sua propriedade?

Fonte: Elaborado pelo autor.

Quanto ao modo como o jovem vê à agricultura como meio de sustento seu e

de sua família, 24% dos jovens responderam ser excelente, 40% responderam ser

bom, 10% responderam ser regular e 26% responderam ser insuficiente. Com base

nas respostas, pode-se afirmar que 64% consideram a agricultura um bom meio de

sustento para si e sua família, enquanto 36% consideram a atividade insatisfatória

para prover o seu sustento e de sua família. Assim, pode-se afirmar que é

necessário buscar novas alternativas econômicas para viabilizar essas

propriedades, tornando-as atrativas para a permanência dos jovens no meio rural.

Quanto ao número de dias por semana que os jovens trabalham na

propriedade, 35% dos jovens responderam nenhum, 16% responderam um, 13%

responderam dois, 7% responderam três, 9% responderam quatro e 20%

responderam que trabalham, no mínimo, cinco dias por semana na propriedade dos

pais. Com base nas respostas, podemos afirmar que 45% dos jovens pesquisados

trabalham esporadicamente na propriedade dos pais, enquanto 35% não exercem

qualquer atividade ligada à produção agropecuária. Esse dado é preocupante, uma

vez que o gosto pelas atividades agrícolas se adquire nas atividades diárias,

portanto, se o jovem não tem contato com a agricultura durante sua infância e

adolescência, dificilmente virá a gostar da atividade na vida adulta.

No gráfico "Como você paga suas despesas pessoais?", 58% dos jovens

responderam que pedem dinheiro para os pais, 25% que trabalha fora da

propriedade, 8% disseram que recebem uma percentagem da propriedade, 6%

recebem um valor fixo mensal dos pais e 3% responderam que possuem uma

atividade só sua na propriedade.

Capítulo XVIII - Sucessão nas Propriedades Rurais Familiares Integrantes de uma Cooperativa Agropecuária

391

Verifica-se que somente 17% dos jovens possuem renda dentro da

propriedade, os outros 83% necessitam pedir dinheiro para os pais ou obter recursos

fora da propriedade. Essa falta de perspectiva de obtenção de renda própria na

propriedade é um dos principais fatores que tem levado os jovens a buscar sua

independência financeira longe das atividades agropecuárias. Portanto, para que os

filhos permaneçam na propriedade, é necessário que os pais estimulem os filhos a

terem o quanto antes uma renda própria oriunda da propriedade. Dessa forma,

evitaremos o que vem ocorrendo no município de Mormaço, onde os filhos de

agricultores concluem o ensino médio e vão trabalhar na cidade. Após alguns anos,

muitos desses jovens retornam com uma família em condições financeiras piores do

que estavam ao deixarem a propriedade.

No gráfico "Você participa das atividades agropecuárias da propriedade?",

48% dos respondentes disseram que não trabalham em atividades agropecuárias da

propriedade, 38% trabalham apenas em algumas atividades agropecuárias da

propriedade, 13% trabalham em todas as atividades agropecuárias da propriedade e

apenas 1% respondeu que, além de trabalhar na propriedade, financiou e/ou plantou

uma área para si próprio.

Verifica-se que quase a metade dos filhos de agricultores não trabalha nas

atividades agropecuárias. Esse dado é relevante porque a agricultura é uma

atividade na qual grande parte do conhecimento é transmitida de pai para filho,

desde a mais tenra idade, e quem não tem contato com a atividade dificilmente

trabalhará na idade adulta com agricultura. Constata-se também que é insignificante

a participação dos jovens pesquisados no gerenciamento da propriedade; apenas

1% financia ou planta uma área cuja renda será gerida por eles, ou seja, na quase

totalidade das propriedades dos respondentes, a decisão sobre gerenciamento das

atividades é responsabilidade dos pais, e a renda obtida vai para o caixa único da

família. Essa falta de autonomia gerencial e financeira é um dos fatores que tem

estimulado os jovens a buscar um emprego fora da propriedade.

Capítulo XVIII - Sucessão nas Propriedades Rurais Familiares Integrantes de uma Cooperativa Agropecuária

392

Gráfico 39 - Como você paga suas despesas pessoais (festas, saraus, bailes, etc…)?

Fonte: Elaborado pelo autor.

Gráfico 40 - Você participa de atividades agropecuárias da propriedade?

Fonte: Elaborado pelo autor.

Quanto ao número de filhos que moram na propriedade, 30% dos jovens

responderam que apenas um filho mora na propriedade, 37% responderam dois,

14% responderam três, 10% responderam quatro e 9% dos jovens responderam

cinco ou mais. Constata-se que em 67% das propriedades dos pesquisados vivem

até dois filhos e em 81% delas vivem até três filhos. Sendo assim, pode-se afirmar

que o perfil demográfico das propriedades rurais do município de Mormaço não

difere muito das residências urbanas. Esses dados devem ser levados em

consideração ao se traçar políticas agrícolas intensivas em uso de mão-de-obra.

Deve ser dada maior atenção à sucessão familiar, visto que quanto menor o número

de filhos, menor a probabilidade de que ao menos um deles permaneça na

propriedade rural.

A pergunta "Você pretende continuar trabalhando com agricultura?" foi feita a

todos os jovens e 51% responderam não pretender trabalhar na agricultura; 20%

Capítulo XVIII - Sucessão nas Propriedades Rurais Familiares Integrantes de uma Cooperativa Agropecuária

393

responderam que a agricultura será a sua principal fonte de renda, que trabalharão

fora da propriedade apenas para aumentar o rendimento; 14% responderam sim,

trabalharão somente nessa atividade por gostar dela; 10% responderam sim, tendo

a agricultura apenas como complemento de uma renda obtida fora da propriedade; e

5% responderam sim, após demonstrar que não possuem outra opção.

Observa-se que mais da metade dos jovens pesquisados não pretende

trabalhar na agricultura. Os questionários foram analisados cruzando-se as

respostas dos que não pretendem continuar trabalhando na agricultura com o

número de filhos que permanecerão na propriedade. Concluiu-se que, dos filhos que

não pretendem permanecer na propriedade, doze são filhos únicos e um indicou que

os irmãos também não pretendem ficar na propriedade. Portanto, verifica-se que, no

mínimo, 14% das propriedades dos pesquisados não deverão ter sucessores. Dos

demais respondentes que afirmaram que não pretendem trabalhar com agricultura,

37% possuem mais de um irmão, e a saída de muitos desses jovens da atividade

pode ser uma estratégia de sobrevivência da propriedade familiar que não

sobreviveria economicamente caso fosse muito subdividida, assim, permanecem na

atividade aqueles que possuem maior afinidade com a agricultura. Verifica-se ainda

que dos jovens filhos de agricultores pesquisados 35% permanecerão na agricultura,

mas não trabalharão exclusivamente com essa atividade, enquanto apenas 14%

afirmam que trabalharão exclusivamente na agricultura. Portanto, no município de

Mormaço, a maioria dos jovens que sucederão os pais, além de trabalhar nas

propriedades, exercerá outras atividades não necessariamente agrícolas,

concordando com Schineider (1999, p. 186), que afirma que:

O espaço rural deixará de ter como função exclusiva a produção agrícola, passando a ser um espaço polissêmico em que coexistem atividades econômicas de natureza diversa como a própria agricultura, o comércio, o turismo rural, o ambientalismo, o lazer, entre outras.

Em pergunta aberta, os jovens foram questionados sobre se os pais

incentivam mais os filhos ou as filhas a permanecerem na propriedade, ou se o

incentivo é igual independente do sexo. Para essa pergunta, 28% responderam que

o incentivo é igual para filhos e filhas; 42% responderam que os pais incentivam

mais os filhos a permanecer na propriedade; e 30% deram outras respostas. Deve-

se ressaltar que ninguém informou que os pais incentivassem mais as filhas do que

Capítulo XVIII - Sucessão nas Propriedades Rurais Familiares Integrantes de uma Cooperativa Agropecuária

394

os filhos a permanecer na propriedade, o suficiente para definir uma preferência de

gênero no incentivo à permanência dos jovens no meio rural.

5 CONCLUSÃO

Em relação à posse da terra e ocupação familiar, 89% dos respondentes

afirmam que a família possui terra própria e 60% dos pais trabalham exclusivamente

na agricultura, enquanto que 40% dos respondentes possuem ao menos um dos

pais que trabalha fora da propriedade.

Verifica-se uma grande dependência dos grãos, sendo que 74% dos

respondentes possuem os grãos como atividade econômica importante. O leite está

presente em 31% das propriedades e 21% dos respondentes afirmam que a

propriedade cultiva produtos de subsistência, devendo complementar sua renda com

trabalho assalariado ou aposentadoria rural de algum membro da família.

Quanto ao grau de satisfação dos jovens filhos de agricultores familiares

sócios da cooperativa COAGRISOL, verifica-se que a maioria está satisfeito quanto

à distribuição de responsabilidade entre eles e seus pais; a sua autonomia na

tomada de decisões na propriedade; à clareza das funções a serem

desempenhadas por eles e seus pais na gestão da propriedade; ao rendimento

econômico obtido pelas propriedades; aos incentivos que seus pais lhes dão para

permanecer na propriedade; ao relacionamento com os pais; à possibilidade de

expor suas ideias e serem ouvidos; e ao trabalho que desempenham na execução

das atividades agropecuárias. No entanto, 44% dos jovens pesquisados não se

sentem satisfeitos ao serem chamados de agricultores por outros jovens.

Quanto aos fatores limitantes ao desenvolvimento das atividades, os fatores

ligados ao capital, pouca terra e pouco dinheiro, na opinião dos respondentes, são

os fatores que mais limitam a diversificação, o aumento de produção e a substituição

de máquinas e equipamentos nas propriedades. A terra é o fator mais limitante à

renda nas propriedades; e o excesso de mão-de-obra, na opinião dos pesquisados,

é o fator que mais limita o número de horas que cada membro da família trabalha

diariamente. O pouco conhecimento é citado como o fator mais limitante à

permanência do jovem na propriedade, ao acesso ao crédito e ao emprego de novas

tecnologias nas propriedades, devendo-se dar atenção à capacitação dos jovens.

Entretanto, 64% dos jovens pesquisados consideram a agricultura um bom meio de

Capítulo XVIII - Sucessão nas Propriedades Rurais Familiares Integrantes de uma Cooperativa Agropecuária

395

sustento familiar. Entre os pesquisados, 45% dos jovens trabalham esporadicamente

nas propriedades dos pais e 35% não trabalham nenhum dia por semana. Somente

17% dos jovens pesquisados possuem renda dentro da propriedade, os outros 83%

tem de pedir dinheiro para pais ou obter recursos fora da propriedade. Quase

metade dos jovens pesquisados, 48%, não trabalha nas atividades agropecuárias da

propriedade.

Em 81% das propriedades dos respondentes vivem até três filhos, devendo

esse dado ser levado em consideração ao se traçar políticas públicas intensivas em

mão-de-obra. Além disso, 51% dos jovens pesquisados não pretendem trabalhar na

agricultura e em, no mínimo, 14% das propriedades não deverá haver sucessores.

Dos jovens pesquisados no município de Mormaço que permanecerão na

agricultura, 71% deles não pretendem trabalhar exclusivamente com essa atividade,

ou seja, no espaço rural, terão cada vez mais importância as atividades não

agrícolas. Por fim, na opinião dos jovens pesquisados, os pais incentivam mais os

filhos do sexo masculino a permanecerem nas propriedades.

REFERÊNCIAS

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Capítulo XVIII - Sucessão nas Propriedades Rurais Familiares Integrantes de uma Cooperativa Agropecuária

396

LEITE, R. C. As técnicas modernas de gestão de empresas familiares. In: GRZYBOVSKY, D.; TEDESCO, J. C. Empresa familiar: tendências e racionalidades em conflito. 3. ed. Passo Fundo: UPF, 2002. p. 17-62. LODI, J. B. Sucessão e conflito na empresa familiar. São Paulo: Pioneira, 1987. SILVA NETO, B. Sistemas agrários e agricultura familiar no Rio Grande do Sul. In: FROEHLICH, J. M.; DIESEL, V. (Org.). Desenvolvimento rural: tendências e debates contemporâneos. Ijuí: Unijuí, 2006. p. 65-98. SILVESTRO, L. M. et al. Os impasses sociais da sucessão hereditária na agricultura familiar. Florianópolis: Epagri; Brasília: Nead/Ministério do Desenvolvimento Agrário, 2001. TEDESCO, J. C. Agrodiversidade, agroecologia e agricultura familiar: velhas e novas faces de um processo de desenvolvimento na região de Passo Fundo pós anos 90. Passo Fundo: UPF : Porto Alegre: EST edições, 2006.

Capítulo XIX - A Inserção das Mulheres no Cooperativismo: estudo de caso COOMAFITT

397

A Inserção das Mulheres no Cooperativismo: estudo de caso COOMAFITT

LEAL, Adriana Ribeiro55 COTRIM, Décio56

RESUMO

Este estudo pretende refletir a respeito da inserção das mulheres nas atividades das cooperativas de agricultores familiares, através de um estudo de caso de como estão ocorrendo essas relações na Cooperativa Mista de Agricultores Familiares de Itati, Terra de Areia e Três Forquilhas (COOMAFITT). Dados previamente coletados demonstram que a participação das mulheres na COOMAFITT vem ocorrendo de maneira muito desigual com relação à participação dos homens. Diversos são os fatores que os estudiosos apontam para explicar as diferenças que são percebidas, com relação aos comportamentos de homens e mulheres, e que balizam as relações entre os gêneros. O cooperativismo, como estratégia de desenvolvimento rural, pode ser um aliado na inserção das mulheres nos espaços de decisão e poder, por ser uma doutrina que tem como valores a ajuda mútua, a responsabilidade, a democracia, a igualdade, a equidade e a solidariedade. Neste estudo, pretende-se refletir sobre questões como: Quais são os possíveis motivos que estariam levando as mulheres a não se sentirem atraídas a participar das atividades da COOMAFITT? Porque a cooperativa em questão tem um baixo número de sócias no quadro de associados? As mulheres estão se reconhecendo como membros desta organização? O que a cooperativa necessita fazer para atrair a participação das mulheres? Palavras-chave: Cooperativismo. Gênero. Inserção. Agricultura familiar.

ABSTRACT

This study intends to mull on the inclusion of women in the activities of cooperatives of family farmers, through a case study of how these relationships are occurring in the Cooperativa Mista de Agricultores Familiares de Itati, Terra de Areia e Três Forquilhas (COOMAFITT). Previously collected data show that women's participation in COOMAFITT has occurred very unevenly compared to the participation of men. Several factors are pointed by scholars to explain the differences that are noted on the behavior of women and men, and that outline the relationships between genders. The cooperative, as a rural development strategy, can be an ally to the inclusion of women in decision-making and power, as a doctrine with values of mutual help, responsibility, democracy, equality, equity and solidarity. This study aims at reflecting on questions such as: What are the possible reasons that would be leading women not to feel attracted to participate in the activities of COOMAFITT? Why the 55 Licenciada em Educação Física pela UFSM e Especialista em Saúde Pública pelo IBEPEX,

Extensionista Rural da Emater/RS – Ascar, Acadêmica do curso de especialização em Gestão de Cooperativas, Escola Superior de Cooperativismo. E-mail: [email protected].

56 Doutor em Desenvolvimento Rural UFRGS-PGDR. Extensionista Rural da Emater/RS – Ascar. E-mail: [email protected].

Capítulo XIX - A Inserção das Mulheres no Cooperativismo: estudo de caso COOMAFITT

398

cooperative in question has a low number of women as members? Do women feel recognized as members of this organization? What does the cooperative need to do to attract the participation of women? Keywords: Cooperative. Genre. Insertion. Family farming.

1 INTRODUÇÃO

O cooperativismo é uma doutrina que surgiu como forma de organização

social para a solução de problemas econômicos. O movimento cooperativista surge

em 1844 em Manchester, Inglaterra, com os pioneiros de Rochdale, onde 28

operários (27 homens e uma mulher), na sua maioria tecelões, fundaram a primeira

cooperativa moderna (Sociedade dos Probos de Rochdale) que forneceu a base do

cooperativismo, pelo modelo que adotaram.

Nota-se, a partir da formação deste modelo de Rochdale, que desde seus

primórdios o cooperativismo vislumbrava um horizonte que ultrapassava o

econômico, pois relatos reforçam que algumas das principais preocupações dos

participantes giravam em torno do bem estar dos homens, da redenção social e das

condições que eram impostas aos trabalhadores.

Nesse modelo foram definidos os sete princípios básicos do cooperativismo,

que são: adesão voluntária e livre, gestão democrática, participação econômica dos

membros, autonomia e independência, educação, formação e informação,

intercooperação e Interesse pela comunidade. Somados aos princípios básicos, são

valores do cooperativismo: a ajuda mútua, responsabilidade, democracia, igualdade,

equidade e solidariedade.

Esses princípios e valores demonstram que, desde seus primórdios, o

cooperativismo surgiu como uma doutrina que buscava alcançar elevados padrões

de desenvolvimento e justiça social, em uma época que se vivia uma crise

socioeconômica de grandes proporções, no auge da Revolução Industrial.

Paralelo ao surgimento do cooperativismo, iniciou-se mundialmente um

movimento, por ocasião da Revolução Industrial, que gerou mudanças nas opções

tradicionais de trabalho e por consequência disso outros atores foram inseridos no

mercado de trabalho, inclusive as mulheres. A participação feminina no mercado de

trabalho ocorreu de forma gradual e progressiva, até chegarmos aos dias de hoje,

onde a mulher tem uma importante participação em vários ramos da economia.