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O ano de 2016 foi marcado pela recessão econômica aprofundada pela crise política no Brasil. É o que indicam os dados sobre o desemprenho do Produto Interno Bruto (PIB) , que recuou 0,8% no terceiro trimestre em relação ao trimestre imediatamente anterior, e deverá fechar o ano com uma queda acentuada de 4%. A retração do desempenho econômico atingiu o mercado de trabalho, refletindo no aumento do desemprego, que fechou o ano em 12,% segundo IBGE. Segundo previsão da Organização internacional do Trabalho (OIT) 3,4 milhões de pessoas no mundo estarão desempregadasem 2017, sendo que dessas 35% serão brasileiras. As economias do mundo vivem os impactos da grande recessão econômica, apresentando aumento do desemprego, e queda na renda. Essa dinâmica levou à ascenção de uma tendência protecionaista nos países desenvolvidos em que se destacam os Estados Unidos e Reino Unido. Nesse contexto, uma das medidas que chamou a atenção adotada pelo novo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump foi a saída do país da Parceria Trans Pacífica. Esta estratatégia do governo estadunidense, além impactar no comércio internacional dado o grande peso de sua economia, entra em conflito com os interesses do governo Michel Temer. Até então o governo brasileiro vinha sinalizando um enfraquecimento das relações com o Mercosul e Brics, ao mesmo tempo que acenava para uma parceria mais próxima com os Estados Unidos. 2016: recessão, desemprego e crise internacional Um ano de queda na produção industrial brasileira A produção industrial brasileira fechou o ano com uma queda acumulada de 6,6%. É a terceira queda anual consecutiva deste indicador, acumulando uma retração de 17% nos últimos três anos. Em relação às grandes categorias econômicas, a retração relativa ao ano anterior foi generalizada, chegando a -14,7% nos bens duráveis e 11,1% nos bens de capital. Os bens duráveis foram pressionados principalmente pela redução na fabricação de automóveis (-12,8%) e de eletrodomésticos (- 16,3%). No caso dos bens de capital, a queda foi puxada pela retração nos equipamentos de transporte (-12,6%) e para fins industriais (- 11,4%). Os bens intermediários apresentaram retração de 6,3% e bens de consumo semiduráveis e não duráveis de 3,7%. A boa notícia ficou por conta dos resultados de dezembro no comparativo com o mês anterior´, em que a indústria total cresceu 2,3%. Dentre as grandes Subseção Dieese FTM/RS-CUT Fev/2017 Número 1 Boletim Conjuntura Indústria Metalúrgica RS categorias econômicas somente os bens de capital apresentou retração (-3,2%), os demais cresceram 6,5% (bens de consumo duráveis), 4,1% (semiduráveis e não duráveis) e 1,4% (bens intermediários), conforme a Tabela 1. Outras informações positivas

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Page 1: Subseção Dieese FTM/RS-CUT Boletim Conjuntura Indústria … · Subseção Dieese FTM/RS-CUT Número 1 Fev/2017 Boletim Conjuntura Indústria Metalúrgica –RS categorias econômicas

O ano de 2016 foi marcado pela recessão

econômica aprofundada pela crise política

no Brasil. É o que indicam os dados sobre o

desemprenho do Produto Interno Bruto

(PIB) , que recuou 0,8% no terceiro

trimestre em relação ao trimestre

imediatamente anterior, e deverá fechar o

ano com uma queda acentuada de 4%.

A retração do desempenho econômico

atingiu o mercado de trabalho, refletindo no

aumento do desemprego, que fechou o ano

em 12,% segundo IBGE. Segundo previsão

da Organização internacional do Trabalho

(OIT) 3,4 milhões de pessoas no mundo

estarão desempregadasem 2017, sendo que

dessas 35% serão brasileiras.

As economias do mundo vivem os impactos

da grande recessão econômica, apresentando

aumento do desemprego, e queda na renda.

Essa dinâmica levou à ascenção de uma

tendência protecionaista nos países

desenvolvidos em que se destacam os

Estados Unidos e Reino Unido.

Nesse contexto, uma das medidas que

chamou a atenção adotada pelo novo

presidente dos Estados Unidos, Donald

Trump foi a saída do país da Parceria Trans

Pacífica. Esta estratatégia do governo

estadunidense, além impactar no comércio

internacional dado o grande peso de sua

economia, entra em conflito com os

interesses do governo Michel Temer. Até

então o governo brasileiro vinha

sinalizando um enfraquecimento das

relações com o Mercosul e Brics, ao mesmo

tempo que acenava para uma parceria mais

próxima com os Estados Unidos.

2016: recessão, desemprego e crise internacional

Um ano de queda na produção industrial brasileira

A produção industrial

brasileira fechou o ano

c o m u m a q u e d a

acumulada de –6,6%. É a

terceira queda anual

c o n s e c u t i v a d e s t e

indicador, acumulando

uma retração de –17%

nos últimos três anos.

Em relação às grandes

categorias econômicas, a

retração relativa ao ano

anterior foi generalizada,

chegando a -14,7% nos

bens duráveis e –11,1%

nos bens de capital. Os

bens duráveis foram

p r e s s i o n a d o s

principalmente pela

redução na fabricação de

automóveis (-12,8%) e

de eletrodomésticos (-

16,3%). No caso dos

bens de capital, a queda

foi puxada pela retração

nos equipamentos de

transporte (-12,6%) e

para fins industriais (-

11,4%) . Os bens

i n t e r m e d i á r i o s

apresentaram retração de

–6,3% e bens de

consumo semiduráveis e

não duráveis de –3,7%.

A boa notícia ficou por

conta dos resultados de

d e z e m b r o n o

comparativo com o mês

anterior´, em que a

indústria total cresceu

2,3%. Dentre as grandes

Subseção Dieese FTM/RS-CUT

Fev/2017 Número 1

Boletim Conjuntura

Indústria Metalúrgica –RS

categorias econômicas

somente os bens de

cap i ta l ap resen tou

retração (-3,2%), os

demais cresceram 6,5%

(bens de consumo

d u r á v e i s ) , 4 , 1 %

(semiduráveis e não

duráveis) e 1,4% (bens

i n t e r m e d i á r i o s ) ,

conforme a Tabela 1.

Outras informações

positivas

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relativas ao desempenho

industrial no final de 2016 e

início de 2017 são a

diminuição do nível de

estoques, medidos pela CNI

que em dezembro ficou em

46,5 pontos. Em novembro

este indicador se encontrava

em 48,3 pontos. O

indicador abaixo de 50

aponta para a diminuição

dos estoques.

Outro aspecto positivo foi o

aumento da confiança dos

empresár ios, também

medido pela CNI, que

atingiu 50,1 pontos em

janeiro de 2017, o que o

inclui na linha de confiança

dos empresários (50 pontos).

Produção industrial do Rio Grande do Sul registra queda de

3,8% em 2016

A produção industrial do Rio Grande do

Sul apresentou queda de 3,8% no

acumulado de janeiro a dezembro de

2016, equivalente ao recuo apresentado

pela indústria de transformação no

estado. Apesar de profunda, essa

diminuição foi inferior à apresentada em

2015, ano em que a indústria geral e de

transformação apresentaram recuo de –

11,5% e superior ao resultado brasileiro,

que apresentou queda acumulada de

6,6% no período.

Dentre os setores analisados , quatro

apresentaram crescimento no ano, em

que se destaca “Fabricação de cululose,

papel e produtos de papel, que

apresentou aumento de 33,8% em 2016

partindo de um ano anterior favorável,

com crescimetno de 37,9%. Este

resultado foi puxado principalmente

pela empresa Celulose RioGrandense,

que aumentou seus investimentos e

exportações no período. Outro destaque

positivo foi apresentado pela metalurgia,

que cresceu 3.5% no período,

resuperando-se da queda de –19,7% em

2015 e artefatos de couro e calçados,

Página 2

Boletim Conjuntura

Tabela 1 - Indicadores de produção industrial, Grandes

Categorias Econômicas, Brasil—dez 2016

Fonte: PIM-IBGE Elaboração Subseção FTM/RS-CUT

Seção de atividade industrial jan/dez

2015 (%)

jan/dez 2016

(%)

Indústria geral -11,5 -3,8

Indústrias de transformação -11,5 -3,8

Fabricação de produtos alimentícios -0,4 1,3

Fabricação de bebidas -3,2 -11,8

Fabricação de produtos do fumo -14,1 -35,1

Preparação de couros e fabricação de artefatos de couro, artigos para viagem e calçados

-5,7 2,3

Fabricação de celulose, papel e produtos de papel

37,9 33,8

Fabricação de coque, de produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis

-4,4 -10,3

Fabricação de outros produtos químicos 2,6 -0,2

Fabricação de produtos de borracha e de material plástico

-10,6 -6,8

Fabricação de produtos de minerais não-metálicos

-11,7 -10

Metalurgia -19,7 3,5

Fabricação de produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos

-7 -5

Fabricação de máquinas e equipamentos -26,5 -1,7

Fabricação de veículos automotores, reboques e carrocerias

-33,3 -10

Fabricação de móveis -10,5 -11,1

Fonte: PIM-IBGE Elaboração: FTM/RS-CUT

Bens de Capital -3,2 -11,1

Bens Intermediários 1,4 -6,3

Bens de Consumo 1,8 -5,9

   Duráveis 6,5 -14,7

   Semiduráveis e

não Duráveis4,1 -3,7

Indústria Geral 2,3 -6,6

Variação (% )

Dezembro 2016/

Novembro 2016

Acumulado nos

Últimos 12 Meses

Grandes Categorias

Econômicas

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em que se observou um crescimento de 2,3% ,

recuperando-se da queda de –5,7% do ano anterior.

Entre as empresas do setor metalúrgico do estado, a

Gerdau anunciou investimentos de R$1 milhão em

parcerias com institutos de pesquisas tecnológicas, com o

intuito de desenvolver produtos dedicados ao setor

automotivo, a partir da fabricação de aços de maior

resistência. Em relação ao setor calçadista o cenário

positivo deve-se principalmente ao aumento das

exportações, já que é um setor com baixa inensidade

tecnológica, com cadeia de produção mais flexível,

podendo ser voltada mais facilmente para a exportação.

Grande parte dos setores,

porém apresentaram retrações

marcantes, resultado da

diminuição da demanda interna decorrente da crise

financeira e aumento do desemprego. Os destaques

negativos foram apresentados principalmente pelo setor

de fumo –35,1,%, atingido por uma quebra de safra,

bebidas (-11,8%) , mobiliário (-11,1%), fabricação de

produtos derivados do petróleo (-10,3%), fabricação de

minerais não metálicos (-10%) e fabricação de

automotores, reboques e carrocerias (-10%).

Os resultados negativos na produção

industrial afetaram na movimentação de

trabalhadores do Estado. No acumulado

do ano de 2016, houve uma retração de

19.959 vagas de trabalho no setor

metalúrgico do Rio Grande do Sul, saldo

resultante da admissão de 50.192

trabalhadores(as) e demissão de 70.151.

Dentre os segmentos metalúrgicos,

destaca-se como resultados negativos o

naval, em que houve uma queda de

4.782 vagas de trabalho, decorrente das

demissões da empresa Engevix

Construções Oceânicas (Ecovix), que

entrou com pedido de recuperação

judicial em dezembro. O segmento de

“Bens de Capital Mecânico” foi o

segundo com maior retração no número

de vagas de trabalho no período,

apresentando uma queda de 4.726

trabalhadores, dentre os quais 82%

foram demitidos no subsegmento de

“Máquinas e Equipamentos”, com a

diminuição de 3.881 vagas de trabalho

(Tabela 2) . Os setores automotivo e

siderúrgico também apresentaram

diminuição importante no número de

vagas no período, -4.307, e –3.824.

Emprego metalúrgico do Estado diminui vagas em todos

os segmentos em 2016

Página 3

Número 1

Segmentos/Subsegmentos Admitidos Desigados Saldo

Aeroespacial e Defesa 783 847 64-

Aeroespacial 161 170 9-

Defesa 622 677 55-

Automotivo 5.719 10.026 4.307-

Autopeças 3.638 4.475 837-

Encarroçadoras 1.975 3.985 2.010-

Montadoras 106 1.566 1.460-

Bens de Capital Mecânico 17.072 21.798 4.726-

Máquinas e equipamentos 12.151 16.032 3.881-

Máquinas e Equipamentos

Agrícolas 4.921 5.766 845-

Eletroeletrônico 6.385 8.651 2.266-

Linha Branca 552 975 423-

Linha Marrom 155 147 8

Linha Verde 18 35 17-

Outros produtos 5.660 7.494 1.834-

Naval 1.992 6.774 4.782-

Naval 1.992 6.774 4.782-

Outros materiais transportes 282 272 10

Outros materiais transportes 282 272 10

Siderurgia e metalurgia básica 17.959 21.783 3.824-

Metalurgia básica 13.632 16.436 2.804-

Produção de ferro-gusa e ferro-

ligas 2 2

Siderurgia (Usinas) 4.325 5.347 1.022-

Total Geral 50.192 70.151 19.959-

TABELA 1

ADMITIDOS E DESLIGADOS POR SEGMENTO METALÚRGICO

RIO GRANDE DO SUL, JAN/DEZ 2016

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Endereço: Rua Voluntários da Pátria, 595,

10º andar - sala 1007 - Bairro Centro - Porto

Alegre / RS

Fone: (51)3228-4877

Email:[email protected]

Subseção Dieese FTM/RS-

CUT

automotivo. Segundo a G e r d a u , u m a d a s tendências desse mercado

de veículos é o aumento da durabilidade de seus c o m p o n e n t e s c o m o

consequência da ampliação da garantia. Aços com maior resistência à fadiga,

por exemplo, são essenciais p a r a a u m e n t o d a

d u r a b i l i d a d e . O desenvolvimento de aços mais resistentes e com

menor necessidade de tratamento térmico também é buscado pela companhia

para a produção de virabrequins de veículos leves e pesados. Em suas

Ger d a u in ves t i r á R $ 1 m i l h ã o e m parcerias

A f a b r i c a n t e d e aços Gerdau anunciou pa

rcerias com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), a Companhia

Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM) e o

Inst ituto Senai de I n o v a ç ã o p a r a o desenvolvimento de novas

soluções com um aporte de cerca de R$ 1 m i l h ã o .

A e m p r e s a q u e r desenvolver produtos dedicados ao setor

i n s t a l a ç õ e s e m Charqueadas (RS) a Gerdau conta com um

centro de pesquisa próprio para realizar estudos e viabilizar os projetos.

O local conta com profissionais especializados no desenvolvimento de

soluções inovadoras, além de fomentar parcerias com

universidades e outros centros de pesquisa no Brasil e no exterior.

F o n t e : A u t o m o t i v e Buseness, 27/01/2017

CLIPING: INVESTIMENTOS MAIORES EMPRESAS METAL

É o terceiro ano de queda do

emprego metalúrgico no Rio Grande

do Sul, chegando a uma estimativa

de 189.317 trabalhadores no final de

2016, um saldo 10% inferior a 2015,

e 25% menor do que o resultado

apresentado em 2013. Com isso o

nível de emprego metalúrgico no

estado retrocede à 2007, em que

haviam 189.431 vagas no setor

(Gráfico 1).

A sucessão de quedas na produção

e no emprego metalúrgico do

Estado acabam enfraquecendo a

estrutura industrial como um todo,

dado a sua importância na

economia gaúcha. Essa realidade

leva à quebra de relaçãoes e

encadeamentos produtivos, que,

caso persistirem, decorrerão em

gargalos futuros comprometendo a

possibilidade de reversão do

quadro.

Gráfico 1 - Evolução Trabalhadores metalúrgicos no Rio Grande do Sul—2007/2016*

Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego. Elaboração: Subseção FTM-RS/CUT

189.431 202.454

196.986 223.382

239.363 240.347 251.106 238.434 209.276

189.317

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016*