subsÍdios para promoÇÃo de saÚde dos ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o...

120
SERGINO MIRANDOLA DIAS SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS TRABALHADORES DA INDÚSTRIA CALÇADISTA (FRANCA-SP): epidemiologia das LER/DORT Relatório de Pesquisa apresentado no Programa de Pós-Graduação da Universidade de Franca, para a realização da Defesa Pública, como exigência parcial para a obtenção do título de Mestre em Promoção de Saúde. Orientador: Prof. Dr. Iucif Abrão Nascif Júnior. FRANCA 2007

Upload: others

Post on 12-Oct-2020

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

SERGINO MIRANDOLA DIAS

SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS TRABALHADORES DA INDÚSTRIA CALÇADISTA (FRANCA-SP): epidemiologia das

LER/DORT

Relatório de Pesquisa apresentado no Programa de Pós-Graduação da Universidade de Franca, para a realização da Defesa Pública, como exigência parcial para a obtenção do título de Mestre em Promoção de Saúde. Orientador: Prof. Dr. Iucif Abrão Nascif Júnior.

FRANCA 2007

Page 2: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

Livros Grátis

http://www.livrosgratis.com.br

Milhares de livros grátis para download.

Page 3: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

SERGINO MIRANDOLA DIAS

SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS TRABALHADORES DA INDÚSTRIA CALÇADISTA (FRANCA-SP):

epidemiologia das LER/DORT

COMISSÃO JULGADORA DO PROGRAMA DE MESTRADO EM PROMOÇÃO DE SAÚDE

Presidente: Prof. Dr. Iucif Abrão Nascif Júnior Universidade de Franca

Titular 1: Profa. Dra. Vera Lúcia Navarro Universidade de São Paulo

Titular 2: Prof. Dr. José Eduardo Zaia Universidade de Franca

Franca, 25/04/2008

Page 4: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

DEDICO este estudo aos meus pais, Sergino Dias Filho e Aristéa Zenaide Mirandola Dias, que me deram a formação moral e acadêmica, e sempre apostaram no meu desenvolvimento pessoal e intelectual; à minha esposa Cristina Liporaci Giani Dias e minhas filhas Lígia e Eleonora, que além do incentivo sempre estiveram ao meu lado durante o percurso dessa jornada, compreendendo minhas ausências e meus compromissos com o saber.

Page 5: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

AGRADECIMENTOS

Agradeço ao meu orientador Prof. Dr. Iucif Abrão Nascif Júnior, que emprestou seus valorosos conhecimentos e capacidade intelectual com a paciência de um educador e sempre que me faltou ânimo pude contar com seu incentivo;

ao amigo e irmão Flávio César Vieira Valentim, que durante as longas horas de estudo sempre esteve ao meu lado trocando opiniões, pontos de vista e conhecimentos;

ao amigo pessoal e anjo da guarda Adjaime Teixeira Macedo, que sem ele, sua paciência e sua capacidade técnica, certamente não teria concluído essa jornada;

aos colegas Dr. Osvaldo Nascimento Filho e Dr. Miguel Sallum que me abriram caminho na obtenção dos dados para essa pesquisa.

Page 6: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

Fanatismo é para a superstição, o que o delírio é para a febre, o que é a raiva para a cólera. Aquele que tem êxtase, visões, que considera os sonhos como realidades e as imaginações como profecias, é um entusiasta; aquele que alimenta a sua loucura com a morte é um fanático […] Há fanáticos de sangue frio: são os juizes que condenam à morte aqueles cujo único crime é não pensar como eles […].

Voltaire

Page 7: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

RESUMO

DIAS, Sergino Mirandola. Subsídios para promoção de saúde dos trabalhadores da indústria calçadista (Franca-sp): epidemiologia das LER/DORT. 2007. 117 f. Dissertação (Mestrado em Promoção de Saúde) – Universidade de Franca, Franca.

O presente estudo teve por finalidade investigar a epidemiologia das LER/DORT em trabalhadores do setor calçadista de Franca-SP, objetivando traçar um perfil na ocorrência deste grupo de agravos, os quais têm tido grande atenção dos pesquisadores no Brasil e exterior, decorrente de sua grande incidência, desde a metade do século XX, em meio às patologias do trabalho e das doenças ocupacionais. Para concretizar a pesquisa, partiram-se dados, inicialmente dos serviços de saúde pública e privados, os quais emitiram o Relatório de Atendimento do Acidentado no Trabalho (RAAT), sendo encaminhados para notificação no Centro de Referência de Saúde do Trabalhador (CRST) da Secretaria Municipal de Saúde desta cidade, que procedeu ao armazenamento dos dados em um programa de informática específico denominado Sistema RAAT versão: 1.0.38, desenvolvido pela Divisão de Informática da Prefeitura Municipal de Franca. Como material de estudo dados secundários foram obtidos através de um corte transversal realizado no ano de 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração principalmente o sexo, a ocupação, o tipo de atividade, tempo de afastamento (em dias); agente causador e diagnóstico através do código internacional de doenças (CID-10). A amostra foi constituída de 2055 casos notificados em trabalhadores de ambos os sexos, comunicados no referido ano. O grupo de informações epidemiológicas obtidas possibilitou reflexões acerca dessas patologias envolvendo a gravidade da sub-notificação, a gravidade pessoal ao trabalhador, a gravidade econômica às indústrias do setor pelo grau de absenteísmo e gravidade social à previdência do nosso país e, segundo este trabalho, as indústrias calçadistas da cidade de Franca-SP devem ser as principais interessadas em reduzir a incidência tanto de doenças do trabalho de qualquer natureza, como de doenças ocupacionais em geral e LER/DORT em particular.

Palavras-chave: doenças osteomusculares relacionadas ao trabalho; LER/DORT; doença ocupacional; doença do trabalho.

Page 8: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

ABSTRACT

DIAS, Sergino Mirandola. Subsídios para promoção de saúde dos trabalhadores da indústria calçadista (Franca-sp): epidemiologia das LER/DORT. 2007. 117 f. Dissertação (Mestrado em Promoção de Saúde) – Universidade de Franca, Franca.

The present study’s goal was to investigate the epidemic occurrence of RSI/WRMD in shoes manufacturing workers in Franca – SP, aiming to portrait a profile of the occurrences in the studied group, which has been receiving great attention from brazilian and foreign researchers, due to it’s large incidence, since the second half of the XX century, among pathologies related to work and occupational diseases. In order to complete the research, the used data came originally from public and private healthcare, which produced a report over the treatment given to people injured while working (in Portuguese, RAAT) that was later sent to a Center of Reference on the Worker’s Health (also in Portuguese, CRST) from the Municipal General Health’s office of this town, that proceeded to the storage of the collected data in a computer program called the RAAT System version: 1.0.38, specially developed by the Computer Science Division of Franca’s City Hall. To base this study, secondary data was obtained by a transverse cut in the year of 2006 and this work aimed to identify the prevalence of RSI/WRMD, considering specially the gender, age, occupation, working hours, the type of activity, the working place and its regime, the time the worker was put away (in days); the causing agent, the diagnoses based on the international code of diseases (CID - 10, in Portuguese). The sample was made of 2057 notified cases in workers of both genders, informed in the mentioned year. The group of epidemic information obtained made some reflections possible, concerning those pathologies and the problems due to under-notification, the personal issues found by the worker, the economic problems related to the factories and the levels of workers absences and the costs to State Social Providence in our country, and, second this work, the shoes industries of the city of Franca-SP, they should be the main interested parties in reducing the incidence so much of diseases of the work of any nature, as of occupational diseases in general and RSI/WRMD in matter.

Key words: work related musculoskeletal disorders; RSI/WRMD; occupational disease; work disease.

Page 9: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Distribuição das ocupações dos trabalhadores anotadas nos RAAT referentes aos casos notificados ao CRST (Franca – SP, 2006)............................................................................................. 98

Tabela 2 – Distribuição do sexo dos trabalhadores anotado nos RAAT

referentes aos casos notificados ao CRST (Franca – SP, 2006). 100 Tabela 3 – Distribuição dos motivos de emissão dos RAAT referentes aos

casos notificados ao CRST (Franca – SP, 2006)......................... 101 Tabela 4 – Distribuição dos agentes causadores anotados nos RAAT

referentes aos casos notificados ao CRST (Franca – SP, 2006). 101 Tabela 5 – Distribuição do tempo de afastamento (em dias) anotado nos

RAAT referentes aos casos notificados ao CRST (Franca – SP, 2006)............................................................................................. 101

Tabela 6 – Distribuição dos diagnósticos baseados nos grupos de CID-10

anotados nos RAAT referentes aos casos notificados ao CRST (Franca – SP, 2006)..................................................................... 102

Tabela 7 – Distribuição dos diagnósticos baseados nos grupos de CID-10

relacionados a LER/DORT anotados nos RAAT referentes aos casos notificados ao CRST (Franca – SP, 2006)......................... 106

Tabela 8 – Distribuição das ocupações anotadas nos RAAT referentes aos

casos de trabalhadores da indústria calçadista notificados ao CRST (Franca – SP, 2006)........................................................... 107

Tabela 9 – Distribuição do sexo anotada nos RAAT referentes aos casos

de trabalhadores da indústria calçadista notificados ao CRST (Franca – SP, 2006)..................................................................... 108

Tabela 10 – Distribuição dos motivos de emissão dos RAAT referentes aos

casos de trabalhadores da indústria calçadista notificados ao CRST (Franca – SP, 2006)........................................................... 108

Tabela 11 – Distribuição dos agentes causadores anotados nos RAAT

referentes aos casos de trabalhadores da indústria calçadista notificados ao CRST (Franca – SP, 2006)................................... 108

Page 10: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

Tabela 12 – Distribuição tempo de afastamento (em dias) nos RAAT referentes aos casos notificados ao CRST (Franca – SP, 2006). 108

Tabela 13 – Distribuição dos diagnósticos baseados nos grupos de CID-10

anotados nos RAAT referentes aos casos notificados ao CRST (Franca – SP, 2006)..................................................................... 109

Tabela 14 – Distribuição dos casos de diagnósticos baseados nos grupos

de CID-10 relacionados a LER/DORT dos RAAT referentes aos casos notificados ao CRST (Franca – SP, 2006)......................... 112

Tabela 15 – Distribuição das ocupações dos trabalhadores anotadas nos

RAAT referentes aos casos notificados ao CRST (Franca – SP,2006)............................................................................................. 113

Tabela 16 – Distribuição dos sexos dos trabalhadores nos RAAT referentes

aos casos notificados ao CRST (Franca – SP, 2006).................. 113 Tabela 17 – Distribuição dos agentes causadores nos RAAT referentes aos

casos notificados ao CRST (Franca – SP, 2006)......................... 113 Tabela 18 – Distribuição tempo de afastamento (em dias) nos RAAT

referentes aos casos notificados ao CRST (Franca – SP, 2006). 114 Tabela 19 – Distribuição dos diagnósticos baseados nos grupos de CID-10

anotados nos RAAT referentes aos casos notificados ao CRST (Franca – SP, 2006)..................................................................... 114

Tabela 20 – Distribuição dos casos de diagnósticos baseados nos grupos

de CID-10 relacionados a LER/DORT dos RAAT referentes aos casos notificados ao CRST (Franca – SP, 2006)......................... 114

Page 11: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Distribuição das ocupações no total de notificações........................ 64 Figura 2 – Distribuição das ocupações entre os trabalhadores da indústria

calçadista.......................................................................................... 65 Figura 3 – Distribuição das ocupações referente aos casos de doença

ocupacional entre trabalhadores da indústria calçadista.................. 66 Figura 4 – Distribuição dos sexos nos três níveis de estratificação.................. 67 Figura 5 – Distribuição dos motivos de emissão referente ao total de casos

notificados e apenas entre os trabalhadores da Indústria Calçadista......................................................................................... 68

Figura 6 – Distribuição dos agentes causadores nos três níveis de

estratificação..................................................................................... 69 Figura 7 – Distribuição do tempo de afastamento (em dias) nos três níveis de

estratificação..................................................................................... 70 Figura 8 – Distribuição dos diagnósticos nos três níveis de estratificação........ 72

Page 12: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

LISTA DE ABREVIATURAS

AINES — Antiinflamatórios não-esteroidais CAGED/TEM — Cadastro geral de emprego e desemprego/Ministério do trabalho e

emprego CAT — Comunicação de acidente do trabalho CEREST — Centro de referência de saúde do trabalhador CID - 10 — Código internacional de doenças – 10ª revisão CLT — Consolidação das leis trabalhistas CNAE — Classificação nacional de atividades econômicas CRST — Centro de referência em saúde do trabalhador DORT — Distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho ERSA-6 — Escritório regional de saúde-6 INSS — Instituto nacional de seguridade social LER — Lesões por esforços repetitivos LER/DORT — Lesões por esforços repetitivos/Distúrbios osteomusculares

relacionados ao trabalho NIOSH — National institute of occupacional sanity and health NUSAT — Núcleo de saúde do trabalhador PIB — Produto interno bruto RAAT — Relatório de atendimento ao acidentado do trabalho SEBRAE — Serviço brasileiro de apoio às micro e pequenas empresas SNC — Sistema nervoso central

Page 13: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..........................................................................................................13

1 REVISÃO DA LITERATURA .......................................................................21

1.1 DEFINIÇÕES E CONCEITOS DA LER/DORT .............................................21

1.2 EPIDEMIOLOGIA .........................................................................................24

1.3 CLASSIFICAÇÃO.........................................................................................34

1.4 PATOGÊNESE.............................................................................................35

1.5 DIAGNÓSTICO.............................................................................................40

1.5.1 Exames complementares .............................................................................44

1.5.2 As principais formas clínicas ........................................................................45

1.6 O FORMATO RECENTE DA PRODUÇÃO CALÇADISTA FRANCANA ......48

1.7 PREVENÇÃO ...............................................................................................55

1.7.1 Ergonomia ....................................................................................................56

2 OBJETIVOS .................................................................................................61

2.1 GERAL .........................................................................................................61

2.2 ESPECÍFICOS..............................................................................................61

3 MATERIAL E MÉTODOS.............................................................................62

4 RESULTADOS .............................................................................................64

5 DISCUSSÃO ................................................................................................74 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................82 REFERÊNCIAS.........................................................................................................86

APÊNDICES .............................................................................................................97

ANEXOS .................................................................................................................115

Page 14: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

13

INTRODUÇÃO

Falar de saúde do trabalhador nos dias atuais significa observar que,

ao contrário de definições ultrapassadas, existe hoje um conceito dinâmico em que

saúde e doença não são apenas termos que traduzem dois estados antagônicos

separados por limite bem definido, ou aceitar a possibilidade de uni-causalidade das

doenças, pois mesmo na presença de um agente identificado, a existência de

infecção pode ou não ser definida como doença. Significa incorporar neste termo,

uma série de fatores que contribuem para a prevalência de um estado de equilíbrio

orgânico, através da manutenção da qualidade de vida. Entre tantos fatores que

contribuem para a qualidade de vida, pode-se citar: o saneamento básico, a

educação, a moradia, a alimentação, a cultura, o lazer, o meio ambiente, a

estabilidade familiar e financeira, o trabalho, entre outros.

Assim, o contínuo de equilíbrio entre saúde-doença, é a resultante

entre os fatores acima citados, como definido por Perkins saúde é um estado de

relativo equilíbrio da forma e da função do organismo, resultante de seu sucesso em

ajustar-se às forças que tendem a perturbá-lo. É uma resposta ativa operando no

sentido de reajustamento (GONÇALVES, 1988).

Portanto, podemos falar que o homem interage com o ambiente que o

cerca e seus fatores que dinamicamente influenciam em seu estado de saúde.

Importa, pois, conhecer tais fatores para que a saúde possa dominar

sobre a doença. Alguns deles contribuem para a promoção da saúde, enquanto que

outros colaboram para a proteção da saúde; quando eventualmente a doença se

estabelece. Existem, contudo, na sociedade moderna algumas estruturas que

sobrelevam pela especificidade de que se reveste sua ação ou relevância a que

chegaram; tal é o caso da empresa, que representa o palco em que se concretiza a

realização de grande parte dos integrantes da sociedade moderna. Tais

circunstâncias definem a importância do compromisso da empresa com o

desenvolvimento de mecanismos ou propostas destinadas a contribuir para o

equilíbrio global da pessoa do trabalhador. A empresa moderna precisa preocupar-

Page 15: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

14

se com o tema e, dessa forma, o problema envolve aspectos conceituais,

estruturais, gerenciais, operacionais, financeiros e sociais (GONÇALVES, 1988).

As lesões por esforços repetitivos (LER), também conhecidas como

distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (DORT), começaram a

aumentar a partir da entrada nos processos produtivos de reestruturação, da

terceirização e, são ainda alvos de muitos questionamentos. São afecções

ocupacionais que expressam um dos sofrimentos advindos da relação do

trabalhador com o trabalho e que já podem ser consideradas uma epidemia de

interesse na saúde pública.

A precarização do trabalho caracteriza-se pela desregulamentação e

perda de direitos trabalhistas e sociais, a legalização dos trabalhos temporários e da

informalização do trabalho. Como conseqüência, pode ser observado o aumento do

número de trabalhadores autônomos e subempregados e a fragilização das

organizações sindicais e das ações de resistência coletivas e individuais dos sujeitos

sociais, desencadeando práticas de intensificação do trabalho e aumento da jornada

de trabalho, com acúmulo de funções, maior exposição a fatores de risco para a

saúde, descumprimento de regulamentos de proteção à saúde e segurança,

rebaixamento dos níveis salariais e aumento da instabilidade no emprego, associado

à exclusão social e à deterioração das condições de saúde (BRASIL, 2001a).

No entanto, as mudanças no processo de trabalho, sobretudo em

formações capitalistas periféricas, caracterizaram-se pela justaposição de formas

tradicionais e inovadoras, que se poderia chamar de modernização conservadora

com fortes resquícios da segunda revolução industrial e tecnológica. Daí a

manutenção ou revitalização dos princípios tayloristas-fordistas, pela desqualificação

e controle autoritário da força de trabalho (SALIM, 2003).

Na visão de Carmo (2004) e de Oliveira e Barreto (1997), por

taylorismo, entendem uma organização do trabalho, que tem como objetivo dividir,

simplificar, desqualificar o trabalho, expropriando do trabalhador o saber operário e

transformando-o no operário-massa, invariavelmente representado pelo trabalhador

não qualificado e menos organizado. Tal intenção de atomizar os operários cada vez

mais, tornava-se perceptível através da remuneração diferenciada para cada um,

bem como a adoção de prêmios de produção, visando incentivar a competição entre

eles e a destruir o coletivo operário através da concorrência. Foi construído assim

um modelo operário tipo homem-máquina que, mal treinado, tem tentado se ajustar

Page 16: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

15

ao mercado de trabalho e tem sido obrigado a atender as necessidades capitalistas

ao longo dos tempos, com falsos prêmios de produtividade e com qualidade de vida

colocada de lado pelo sistema.

Numa mesma ordem de raciocínio, os autores ainda consideram que,

Ford levou às últimas conseqüências a desqualificação e divisão do trabalho

propostas por Taylor. Assim, enquanto o fordismo privilegia a produção em série, a

organização taylorista é baseada nos postos de trabalho e no rendimento individual

e, com caráter opressivo, de expropriação do operário, tornando o trabalho

repetitivo, monótono, com ritmos extenuantes, exigidos pela cadência do processo

produtivo, como também pela imposição absoluta da hierarquia interior das fábricas.

Ainda na direção do aprofundamento da divisão do trabalho surge uma

presumível terceirização da terceirização, chamada quarteirização, que implica o

concurso de novas empresas para gerenciar atividades que foram terceirizadas, ou

seja, um maior enxugamento dos setores próprios da empresa (PIRES, 1998).

Porém, lembrando os seus possíveis impactos na saúde do

trabalhador, destacamos as seguintes:

a) segmentação e diferenciação dos trabalhadores quanto às

condições de trabalho;

b) pulverização da base e enfraquecimento do poder sindical,

flexibilização dos direitos trabalhistas;

c) redução dos empregos diretos e indiretos;

d) intensificação do ritmo de trabalho e aumento da pressão no

ambiente de trabalho.

Esses, somados aos desempregados, indicariam não apenas o grau de

precariedade do mercado de trabalho como, sem dúvida, as bases em que se

assenta o próprio processo de precarização das condições de trabalho atribuídos,

por exemplo, à reprodução de baixos níveis salariais, à não-cobertura da seguridade

social e à falta de assistência médica. Processo, hoje, que não pode ser

exclusivamente imputado ao setor informal, pois, também tem avançado sobre o

contingente de trabalhadores registrados (SALIM, 2003).

Elementos presentes na cadeia produtiva de calçados em Franca

possibilitam uma útil reflexão sobre o padrão industrial de desenvolvimento

econômico manifestado naquela localidade.

Page 17: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

16

A cadeia produtiva da indústria de calçados francana pode inicialmente

ser visualizada dentro de características onde a forte pressão competitiva existente

entre as empresas confere ao poder de mercado certo papel de destaque. Um

grande número de produtores, principalmente de pequeno porte, distribuídos ao

longo da cadeia produtiva industrial local, concorre na busca por diferentes modelos

de calçados e menores custos de produção (ALVES; TRUZZI, 2007).

Nosso interesse recai sobre a cadeia produtiva do calçado em Franca

que, segundo Suzigan, Garcia e Furtado (2003), concentra cerca de 10% da

produção de calçados do país.

Segundo dados estatísticos informados através de consulta realizada

no site do CAGED/MTE, em pesquisa onde foram consideradas as empresas

estabelecidas no município de Franca/SP e integrantes do CNAE, inclusive

prestadores de serviço do mesmo, constatou-se que o número total de funcionários

do setor formal da indústria calçadista em julho de 2007 era de 27.409 trabalhadores

(SINDIFRANCA, 2007).

Ao analisar o cluster produtor de calçados de Franca, tomando por

base os dados do Sindicato Patronal da Indústria de Calçados de Franca

(SINDIFRANCA), no ano de 2006, encontra-se alta densidade no número de firmas

de calçados, concluindo que o maior número de empresas concentra-se nas faixas

de menor tamanho. De 0 a 19 funcionários, que são 552 estabelecimentos (Micro);

de 20 a 99 funcionários, 130 estabelecimentos (Pequenas); de 100 a 499

funcionários, são 65 (Médias) e acima de 500 funcionários, são 13 grandes

indústrias, totalizando 760, conforme pesquisa realizada pelo: Censo da Indústria

Calçadista de Franca: UniFacef/IPES - Setembro/2005 (SINDIFRANCA, 2007).

Amato Neto (2000) registrou junto ao SEBRAE de Franca em 1998 que

dentre “cerca de 390 empresas fabricantes de calçados”, 365 (quase 94%) são

micro e pequenas empresas, 15 (3,8%) são de porte médio e apenas 10 (2,5%) são

consideradas grandes e comentam que a modernização tecnológica do setor ocorre

de forma restrita dentro do processo produtivo, beneficiando algumas etapas de

produção como na modelagem e no corte. Já nas etapas de costura e montagem, o

caráter da produção se mantém bastante artesanal e intensivo em mão-de-obra

indicando que esses trabalhadores, de certa forma, são sacrificados do ponto de

vista laboral. Para o autor, as barreiras técnicas à entrada na indústria de calçados

continuam relativamente baixas. Numa pesquisa realizada em 1998 junto ao

Page 18: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

17

SEBRAE regional de Franca, constatou-se que a grande maioria das empresas

(pequenas e médias) utilizava equipamentos antigos.

Suzigan et al. (2001, p. 286) calcularam que “o tamanho médio dos

estabelecimentos produtores de calçados de couro de Franca é de 13,1

empregados”, sendo correlacionado ao fator tecnologia.

Britto e Albuquerque (2001), também classificam o nível de sofisticação

tecnológica como baixa.

Podemos então sintetizar nossa percepção sobre a estrutura produtiva

do cluster calçadista francano, reconhecendo a alta densidade de empresas

concorrentes no próprio município, com grande participação de pequenas e médias

no número de estabelecimentos. Devemos reconhecer também que as barreiras

tecnológicas à entrada na indústria são baixas e a existência de mão-de-obra

qualificada para a produção é abundante. O alto grau de especialização local

destaca-se diretamente na produção de calçados masculinos de couro, seguido

pelas botas de couro e tênis de couro, lona e nylon (ALVES; TRUZZI, 2007).

A adoção de novas tecnologias e métodos gerenciais facilitaria a

intensificação do trabalho que, aliada à instabilidade no emprego, modificaria o perfil

de adoecimento e sofrimento dos trabalhadores, expressando-se, entre outros, pelo

aumento da prevalência de doenças relacionadas ao trabalho, como LER/DORT; o

surgimento de novas formas do adoecimento mal caracterizadas. Configuraria,

portanto, situações que exigem mais pesquisa e conhecimento para que se possam

traçar propostas coerentes e efetivas de intervenção (BRASIL, 2001b).

Nesse fim de século, observamos mais claramente as relações de

interdependência entre os mercados formal e informal, entre as empresas limpas e

as empresas sujas. Segundo Salerno (1999), as primeiras seriam caracterizadas

pelos altos investimentos em automação, mudanças nas formas de organização do

processo de trabalho, grupos denominados semi-autônomos, redução de níveis

hierárquicos, ampliação do espaço de autonomia para a tomada de decisões. Já as

empresas sujas seriam caracterizadas por exigirem o cumprimento de longas

jornadas, de horários irregulares de trabalho, por apresentarem condições penosas

e perigosas. O mesmo é evidenciado por Navarro (1999), que aponta, ainda, a

utilização do trabalho domiciliar, realizado principalmente por mulheres e crianças,

para completar o processo produtivo, tomando o caso da produção de calçados em

Franca, São Paulo.

Page 19: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

18

Por motivos históricos, a sigla LER é mundialmente entendida. As

publicações as têm utilizado com freqüência e nos congressos tem sido aceita como

característica de um grupo de alterações osteomusculares atribuídas ao trabalho. No

Brasil, desde que se iniciaram os estudos sobre o assunto usou-se a terminologia

LER. É, portanto, termo com embasamento histórico e que não é pior nem melhor

que outros, já tendo a vantagem de ser amplamente divulgado (OLIVEIRA et al.,

1998).

As LER/DORT abrangem quadros clínicos do sistema músculo-

esquelético adquiridos pelo trabalhador submetido a determinadas condições de

trabalho e não há uma causa única para sua ocorrência. São fatores predisponentes

a repetitividade de movimentos, a manutenção de posturas inadequadas por tempo

prolongado, o esforço físico, a invariabilidade de tarefas, a pressão mecânica sobre

determinados segmentos do corpo (em especial membros superiores), o trabalho

muscular estático, fatores organizacionais do trabalho e fatores psicossociais

(KUORINKA; FORCIER, 1995a).

Diferentemente das doenças profissionais, a LER/DORT não respeita

as fronteiras entre as categorias profissionais, o que leva a se questionar às

entidades de representação dos trabalhadores sobre a sua política em saúde do

trabalhador, inquirindo-as especialmente no que se refere à manutenção ou

superação de estratégias corporativas, mais ainda quando a prática da terceirização

que oferecem maior risco aos trabalhadores terceirizados de desenvolver tais lesões

(BLANCO, 1994).

De acordo com Antunes (1999), o crescimento das LER/DORT entre as

doenças do trabalho vem sendo objeto de estudos tópicos diversos. Todavia,

mesmo pela justificativa da multidisciplinaridade, a maioria das análises existentes

concentra-se basicamente em aspectos parciais ou específicos da etiologia da

doença, reduzindo tanto abordagens mais amplas, inclusive em nível conceitual,

quanto o seu entendimento das rápidas mutações por que vem passando o mundo

do trabalho. Abstraindo de uma análise sobre as suas manifestações clínicas,

pontua-se que, embora não sejam doenças recentes, a LER/DORT vêm, assumindo

um caráter epidêmico sendo algumas de suas patologias crônicas e recidivantes, ou

seja, de terapia difícil, porque se renovam precocemente quando da simples

retomada dos movimentos repetitivos, gerando uma incapacidade para a vida que

não se resume apenas ao ambiente de trabalho. Por outro lado, a expansão dos

Page 20: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

19

casos de LER/DORT vem acarretando, pelos números ascendentes de benefícios

pleiteados ou concedidos, forte impacto no sistema de previdência pública e, por

conseguinte, na distribuição do ônus para o conjunto da sociedade.

Segundo a Norma Técnica sobre LER/DORT (BRASIL, 1997b), do

Ministério da Previdência Social, a terminologia LER/DORT deve ser utilizada para

as afecções que podem acometer tendões, sinóvias, músculos, nervos, fáscias,

ligamentos, de maneira isolada ou associadamente, com ou sem degeneração de

tecidos, atingindo principalmente, porém não somente, os membros superiores,

região escapular e pescoço, de origem ocupacional.

A complexidade da questão reside no fato da LER/DORT não ser uma

doença aguda, mas que se desenvolve durante o exercício profissional e o seu

quadro sintomatológico progride, às vezes, irregularmente, existindo uma

progressão do quadro, quando as condições de trabalho não são alteradas. Desta

forma, os sintomas freqüentemente são multiplicados em novos sintomas e sinais,

devido à extensão dos agravos a outros grupos musculares.

Embora avanços tenham sido conquistados, permanece o desafio para

que a LER/DORT seja reconhecida como doença relacionada ao trabalho e que o

trabalhador acometido receba o tratamento adequado ou mesmo para que medidas

efetivas de prevenção sejam tomadas. Mediante tais dificuldades, inquietou-nos a

questão: como será que os trabalhadores estão vivendo a sua condição de

portadores dessa doença?

Em minha experiência profissional, como Médico Ortopedista, Médico

do Trabalho e Médico Perito Previdenciário na cidade de Franca, região industrial do

calçado, observei que a LER/DORT tornou-se, nos dias atuais, um agravo de

interesse da saúde pública por se tratar de uma verdadeira epidemia nos

consultórios, no Centro de Referência de Saúde do trabalhador local e na Agência

da Previdência Social desta cidade.

As conseqüências lesivas deste grupo de agravos interferem

drasticamente na vida do trabalhador e é um dos principais fatores responsáveis

pelo absenteísmo gerando grandes transtornos tanto para a empresa e a

previdência, quanto para o trabalhador acometido.

Portanto, faz-se necessário este estudo para que possamos traçar um

perfil de prevalência desta doença, analisar suas conseqüências sobre a saúde do

trabalhador, bem como os danos psicológicos e sociais, levando-se em conta

Page 21: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

20

também os prejuízos financeiros que a empresa e a previdência sofrem, fomentando

uma discussão sobre esse tema, que é de grande interesse na promoção da saúde

do trabalhador.

Page 22: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

21

1 REVISÃO DA LITERATURA

1.1 DEFINIÇÕES E CONCEITOS DA LER/DORT

Segundo Oliveira et al. (1998), tentar conceituar com rigor um evento

biológico é por si só semear uma polêmica. No caso específico das LER, a situação

se torna mais difícil, porque o próprio termo foge da taxonomia habitual médica, que

nas suas definições e conceituações, quase sempre se reporta ao segmento ou

aparelho atingido. Hoje várias denominações têm sido sugeridas, algumas com até

mais propriedade do que o termo LER. Dentre outros, se tem procurado utilizar o

termo DORT, contudo há necessidade de se firmar entre nós uma terminologia que

seja imediatamente reconhecida.

A LER/DORT caracteriza-se como doença do trabalho ou mesopatia,

diferente da doença profissional ou tecnopatia, em que o agente provoca o agravo,

independente de quais sejam as atividades do hospedeiro, desde que as condições

de trabalho e o contato sejam causadores de uma agressão. Por exemplo,

intoxicações por metais pesados (chumbo ou manganês), se apresentam com a

mesma história natural em diferentes locais e não necessitam de nexo causal. Já a

silicose, somente ocorrerá se houver contato com o agente específico (que se

encontra em uma mina ou local de polimento de pedras), portanto, o fator trabalho

está implícito (OLIVEIRA et al., 1998).

Do ponto de vista da questão central trazida no corpo da conceituação

do problema, isto é, a possível associação com o processo de trabalho, as

nomenclaturas utilizadas têm sido tomadas como equivalentes, sendo mais

empregada a expressão LER, traduzindo a terminologia Repetitive Strain Injuries,

utilizada pela primeira vez na Austrália (ASSUNÇÃO; ROCHA, 1993).

O quadro se manifesta, quase sempre, através de síndromes já bem

conhecidas da ortopedia, reumatologia e clínica médica. Ela indica somente que tais

síndromes são decorrentes do uso excessivo das estruturas osteomusculares por

condições especiais e inadequadas em que o trabalho foi executado. Por exemplo, a

Page 23: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

22

Síndrome do túnel do carpo pode aparecer por traumatismo direto ou fraturas no

punho e é objeto do cuidado da ortopedia; poderá ainda aparecer no decurso

evolutivo de um processo de artrite reumatóide e terá a atenção da reumatologia;

poderá ainda ser uma das manifestações da gota, doença metabólica, cabendo,

então, o desvelo do clínico. Contudo, a mesma lesão poderá aparecer em

decorrência de uso abusivo (repetitividade, força, velocidade, etc.) da musculatura e

demais elementos macios do sistema osteomuscular, em função de um trabalho mal

conduzido ou exercido em más condições de gerenciamento, por defeituosa

organização de trabalho e, ainda, em condições ergonômicas precárias (OLIVEIRA

et al., 1998).

Sendo assim, fica a cargo do médico do trabalho estabelecer através

de uma investigação eficiente, uma boa anamnese, estudos epidemiológicos,

conhecimento da função exercida pelo trabalhador, estabelecer do nexo causal entre

o surgimento e sua origem.

O olhar mais dirigido para esses quadros ocorreu inicialmente a partir

do acometimento de trabalhadores de determinados ramos de atividade, observado

com maior destaque em alguns países do mundo. Primeiramente, descreveram-se a

occupational cervicobrachial disorder em operadores de caixa registradora,

perfuradores de cartão e datilógrafos japoneses; na Austrália, descreveu-se a

occupational overuse injury em digitadores e trabalhadores de linha de montagem;

posteriormente foram referidos casos de cumulative trauma disorders em

trabalhadores expostos a traumas cumulativos, incluindo operadores de terminais de

vídeo, nos Estados Unidos da América (EUA) (MCDERMOTT, 1986; KIESLER;

FINHOLT, 1988; ASSUNÇÃO; ROCHA, 1993; ASSUNÇÃO, 1995).

A partir desses marcos referenciais, o fenômeno tem sido relatado em

vários países, incluindo a América Latina, onde o Brasil vem se destacando por

crescentes estatísticas de prevalências nas agências de seguro social e serviços de

saúde (NUSAT, 1995; PINHEIRO; MARTINS JÚNIOR; MARINHO, 1995; SANTOS

FILHO, 1995; VORCARO, 1995).

A Norma Técnica do INSS sobre LER/DORT (Ordem de Serviço/INSS

número: 606/1998) conceitua a LER/DORT como uma síndrome clínica

caracterizada por dor crônica, acompanhada ou não de alterações objetivas, que se

manifesta principalmente no pescoço, cintura escapular e membros superiores em

decorrência do trabalho, podendo afetar tendões, músculos e nervos periféricos. O

Page 24: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

23

diagnóstico anatômico preciso desses eventos é difícil, particularmente em casos

subagudos e crônicos, e o nexo com o trabalho tem sido objeto de questionamento,

apesar das evidências epidemiológicas e ergonômicas. As transformações em curso

no mundo do trabalho, decorrentes da introdução de novos modelos organizacionais

e de gestão, têm repercussões ainda pouco conhecidas sobre a saúde dos

trabalhadores, dentre as quais se destacam LER/DORT. Esses grupos de

transtornos apresentam como características comuns, aparecimento e evolução de

caráter insidioso, origem multifatorial complexa, na qual se entrelaçam inúmeros

fatores causais, entre eles exigências mecânicas repetidas por períodos de tempo

prolongados, utilização de ferramentas vibratórias, posições forçadas, fatores da

organização do trabalho, como, por exemplo, exigências de produtividade,

competitividade, programas de incentivo à produção e de qualidade. Essas utilizam

estratégias de intensificação do trabalho e de controle excessivo dos trabalhadores,

sem levar em conta as características individuais do trabalhador, os traços de

personalidade e sua história de vida (BRASIL, 2001a).

Esses dois últimos pontos (personalidade e história de vida do

trabalhador) nos levam a observar sobre mais um lado do prisma, que são possíveis

alterações neuro-químicas e, conseqüentemente, distúrbios relacionados ao

psíquico, devem merecer estudos cuidadosos por parte daqueles que pesquisam o

mundo do trabalho. É que a observação da relação entre estresses repetidos e o

desenvolvimento de distúrbios psíquicos levou cientistas americanos da área de

neurobiologia a fazerem pesquisas de laboratórios com animais, ficando evidenciado

que o estresse crônico leva a mudança na morfologia dos neurônios, existindo uma

hipótese de que haveria alterações no padrão das sinapses neuronais (OLIVEIRA et

al., 1998).

A organização do trabalho é causa de uma fragilização somática na

medida em que ela pode bloquear os esforços do trabalhador para adequar o modo

operatório às necessidades de sua estrutura mental (DEJOURS, 1987).

Rigotto (1992), parte do propósito de entender a saúde-doença como

expressão concreta, no corpo dos homens, do processo histórico-social. Critica o

caráter biologicista, anistórico e mecanicista dos paradigmas anteriores, em que o

social aparece como atributo do homem e não como essência da própria existência

humana. Nesse sentido, Ribeiro (1995) alerta a classe médica de como suas

Page 25: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

24

práticas são essencialmente individualizadas, eles não percebem a historicidade que

as mudanças de perfis de morbidade e mortalidade estão a nos ensinar.

Assim como, Baes (1982 apud ALVES, 1998) chama a atenção dos

médicos para os reflexos sanitários do estado de desocupação que começou a ser

considerado somente depois de 1980. É revelada pesquisa com desempregados

mostrando sintomas de irritabilidade, depressão, além de modificações de natureza

biológica como aumento de pressão arterial, do colesterol e aumento ou diminuição

exagerada do índice ponderal. Essas afirmações podem ser consideradas, não

apenas para os desocupados por desemprego real, mas também para os

desocupados afastados de seus postos de trabalho pelo acometimento dos agravos

advindos da LER/DORT. Essa situação complicada se intensifica, em função da falta

de compreensão vivida pelos portadores de LER/DORT, por parte dos serviços

periciais e pela sociedade em que se encontram inseridos. Os debates são

controversos principalmente por implicar em mudanças de paradigmas e geração de

gastos com investimentos na prevenção dessa polêmica patologia.

1.2 EPIDEMIOLOGIA

Embora haja citações de casos desde a Antigüidade, como por

exemplo, Hipócrates em sua obra Epidemia (DEMBE, 1996), foi a partir da segunda

metade deste século que esses quadros passaram a adquirir relevância social, tanto

pela dimensão numérica, como pelo papel social dos acometidos ou mesmo pela

disseminação entre os variados ramos de atividades. Inúmeros países enfrentaram e

alguns ainda enfrentam epidemias de difícil controle (MAEDA; HORIGUCHI;

HOSOKAWA, 1982; NAKASEKO et al., 1982; SETTIMI et al., 1989; BAMMER;

MARTIN, 1992; MILLENDER, 1992; BERNARD et al., 1992; ASSUNÇÃO, 1995;

KUORINKA; FORCIER, 1995b; SETTIMI; SILVESTRE, 1995; BAWA, 1997;

QUILTER, 1998).

O surgimento dos primeiros casos documentados da LER/DORT

remonta ao ano de 1700, que relacionou o desenvolvimento de processos de

adoecimento do trabalhador às funções desempenhadas (RIO et al., 1998).

Page 26: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

25

A partir dos séculos XVIII e XIX, houve a consolidação da sociedade

industrial e foram introduzidas mudanças substanciais no ambiente, ferramentas,

máquinas e equipamentos, jornada, tipo e forma de organização do trabalho. Essas

mudanças produziram impactos sobre a vida e a saúde das pessoas e em especial

dos trabalhadores (BISSO, 1990).

Vemos emergir no século XVIII o que será ratificado nos séculos

seguintes: a associação entre saúde/trabalho e corpo/doença. O discurso científico

tornará a pobreza útil, partindo dessas associações como critérios de diferenciação

populacional: bons e maus pobres, ociosos voluntários, desempregados

involuntários, os que podem fazer determinados trabalhos e os que não podem. A

saúde constituirá uma proposta de poder político, agenciando não só a manutenção

da força de trabalho, mas também a produção de bens e de homens para a

evolução do processo produtivo. É o esboço do projeto de uma tecnologia da

população que será garantida pela prática médica. A doença, entendida no sentido

de inatividade, tem, no corpo, o espaço analisável que leva à volatilização da

doença, à representação de um meio corrigido, organizado e incessantemente

vigiado (FOUCAULT, 1994).

Em 1800, outros estudiosos destacaram como fator comum os

movimentos repetitivos e freqüentes de um grupo isolado de músculos, enquanto o

resto do corpo permanece horas a fio parado na mesma posição como sendo as

causas do que conhecemos como LER/DORT (MUROFUSE; MARZIALE, 2001).

Na verdade, sabe-se da existência de algumas formas clínicas de

LER/DORT desde os tempos da Europa renascentista, quando Bernardino

Ramazzini, em seu clássico De mobis artificum diatriba (As doenças dos

trabalhadores), escrito em 1700, descreveu em relação aos escribas: A necessária

posição da mão para fazer correr a pena sobre o papel leva ao agravo, que com o

correr do tempo estende-se a todo o braço e reduz o vigor da mão. Certas posturas

violentas e não naturais do corpo, em razão da qual a estrutura natural do corpo

humano é de tal forma comprometida, que doenças sérias se desenvolvem em

conseqüência delas. Em 1830, o Dr. Robert Baker funda o primeiro serviço médico

de empresa, para cuidar da saúde do trabalhador e, ao mesmo tempo, exercer o

controle direto da força de trabalho, mantendo, restaurando ou descartando o corpo.

E, em 1891, Fritz DeQuervain descreveu como entorse das lavadeiras a tendinite

comum dos tendões do músculo adutor longo e músculo extensor curto do polegar,

Page 27: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

26

que é, ainda hoje, uma das formas mais freqüentes de LER/DORT. Bridge, em 1920,

correlacionou à atividade de tecer fios de algodão ao que chamou de cãibra

ocupacional (OLIVEIRA et al., 1998).

Segundo Armstrong et al. (1984), numerosos estudos durante os

últimos 100 anos mostram que as tendinites são as maiores causas de sofrimento

do trabalhador cuja atividade é manual, bem como de indenização trabalhista.

Dados epidemiológicos mostram que o risco de tendinites de mãos e punhos em

pessoas que executam tarefas altamente repetitivas e forçadas é 29 vezes maior do

que em pessoas que executam tarefas lentas e pouco repetitivas e forçadas.

O Japão, país que nos últimos anos, mais precoce e velozmente

avançou em termos de automação e racionalização da organização do trabalho, foi o

primeiro a se dar conta da gravidade da questão, no final da década de 50. Os que

historiam a evolução da doença no Japão afirmam que sua expansão se deveu à

elevação da sobrecarga do trabalho intensivo, cobrada pelas máquinas de manuseio

manual, períodos alongados de trabalho contínuo, aumento individual da quantidade

de tarefas manuais, requerendo movimentação exagerada dos dedos e dos outros

segmentos dos membros superiores, empobrecimento do conteúdo do trabalho com

a automação, controle rígido das chefias e redução dos tempos de repouso e de

lazer. Segundo eles, entre 1.691.000 trabalhadores japoneses expostos, 10%, em

média, tinham os sintomas da doença. A maior prevalência (20,9%) era entre

trabalhadores de linha de montagem, mas a terceira categoria atingida, com 9,4% de

prevalência, era a dos trabalhadores de escritórios (OLIVEIRA et al., 1998).

Naquele país, em 1958, foram descritos os primeiros casos de

LER/DORT relacionados à informática. A síndrome foi chamada de Distúrbio cérvico-

braquial ocupacional, e se manifestava em perfuradores de cartão. Em 1971, a

Associação Japonesa de Saúde Industrial, constituiu um comitê para estudar o

crescimento da incidência desse tipo de patologia, também observado em

operadores de caixa registradora e datilógrafos (MAEDA, 1977).

A nomenclatura lesão por esforços repetitivos (LER) começou a ser

utilizada no final da década de 50, para designar um conjunto de patologias,

síndromes, sinais e sintomas músculos-esqueléticos que acometem particularmente

os membros superiores, relacionando-se o seu surgimento ao processo de trabalho

(BROWNE; NOLAN; FAITHFULL, 1984; MCDERMOTT, 1986; SOMMERICH;

MCGLOTHLIN; MARRAS, 1993; ASSUNÇÃO; ROCHA, 1993; ASSUNÇÃO, 1995).

Page 28: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

27

Até os anos 70 a Austrália experimentou baixo índice de desemprego e

um crescimento econômico estável. É evidente que as desordens de pescoço e

membros superiores relacionadas com o trabalho existiam, mas elas não eram vistas

com um problema maior, provavelmente porque era mais fácil para os trabalhadores

que estavam desenvolvendo sintomas trocar de empregos do que postular uma

indenização trabalhista. Entretanto, nos anos 70 os índices de desemprego

cresceram e os postos de trabalho foram reestruturados a fim de, dizia-se, se manter

a competitividade internacional. Para muitos trabalhadores, as mudanças

significaram aumento no ritmo e carga de trabalho e menor flexibilidade para troca

de emprego (BAMMER, 1993).

O setor de telecomunicações na Austrália foi estudado por Hocking

(1987) entre 1981 e 1985, e encontrou taxas de prevalências de lesões dos

membros superiores que variavam de 3,3% a 34% entre telegrafistas, datilógrafos,

telefonistas e outros trabalhadores administrativos, sendo que 76% dos casos

identificados resultaram em afastamentos do trabalho. Outros estudos no mesmo

setor, com a utilização de exame clínico para confirmação diagnóstica, apontaram

prevalência de 19,5% de doenças músculoesqueléticas dos membros superiores

entre telefonistas (SANTOS FILHO; BARRETO, 1998).

Nos Estados Unidos, Luttwack (1995 apud ALVES, 1998), cunhou a

expressão Turbocapitalismo para classificar o atual grau de livre comércio e de

competição em voga. Condena a exacerbação dessa competição entre as empresas

americanas, que estariam moendo as pessoas, e, além disso, levando a uma brutal

concentração de renda que aproxima os EUA de países do Terceiro Mundo. Talvez,

por isso, o National Institute of Occupacional Sanity and Health (NIOSH) tenha feito

uma previsão de que, até o ano 2000, 50% dos trabalhadores americanos estariam

com LER/DORT.

A influência da idade sobre os Quadros de LER/DORT foi descrita por

Higgs et al. (1993), lembrando a importância desse fator na gênese de algumas

patologias osteo-musculares degenerativas. Os autores lembram que em relação à

síndrome do túnel do carpo, alguns estudos mostraram pico de incidência entre 35 e

45 anos, bem como aumento de alterações eletromiográficas com o aumento da

idade. No estudo de Higgs et al. (1993), em trabalhadores americanos, não houve

diferença significativa entre os grupos etários, nem em relação ao gênero.

Page 29: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

28

Carvalho (2002) diz que as exigências modernas de qualidade e

produtividade, bem como as características adversas do ambiente de trabalho, em

que situações de estresse físico e psicológico estão sempre presentes, são

coadjuvantes no surgimento dessas afecções.

De acordo com Carayon e Smith (2000) e Couto (2002), as funções

que tem os movimentos repetitivos e estereotipados e o esforço físico como a sua

característica principal são as mais atingidas pelos LER/DORT, não apenas pelo

acúmulo de efeitos, mas principalmente pela sinergia e potencialização mútua dos

mesmos.

Situações de trabalho em que predomina o ruído excessivo, baixos

índices de iluminação ou ventilação, posturas desfavoráveis, tarefa executada em

regime repetitivo com um alto ritmo não controlado pelo trabalhador, são o meio de

cultura da LER/DORT. Aliado a isso estão situações de estresse psicológico como o

baixo nível de satisfação no trabalho, geradas por dificuldade de ascensão

profissional, conflitos no ambiente de trabalho, conflitos sociais externos entre outros

(MENDES, 2001).

Essas características dificultam o atendimento do trabalhador atingido

pelo médico assistente, pois apenas a anamnese ocupacional, mesmo que

extremamente bem feita, não é capaz de determinar as causas das patologias

envolvidas, necessitando, portanto, de um estudo epidemiológico aprofundado, bem

como do conhecimento das situações laborais no local onde elas acontecem

(ASSUNÇÃO, 1992).

No Brasil, no início da década de 1980, foi identificado em bancários

digitadores de uma agência estatal os sintomas osteomusculares com as

características de doença do trabalho (ROCHA apud RIBEIRO, 1997). Logo, estes

diagnósticos passaram a ser mais freqüentes, culminando com o reconhecimento da

LER/DORT como doença do trabalho. Tais problemas foram os mais notificados,

juntamente à surdez, na década de 1990 (NUSAT apud RIBEIRO, 1997).

Em nosso meio, apesar da Rede Pública de Serviços de Saúde sempre

ter atendido trabalhadores, um modelo alternativo de atenção à saúde do

trabalhador começou a ser instituído, em meados da década de 80, sob a

denominação de Programa de Saúde do Trabalhador, como parte do movimento de

bem estar do Trabalhador. As iniciativas buscavam construir uma atenção

Page 30: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

29

diferenciada para os trabalhadores e um sistema de vigilância em saúde, com a

participação dos trabalhadores (BRASIL, 2001b).

Conforme Carneiro e Couto (1997), o incremento de casos de lesões

músculoesqueléticas de membros superiores nos últimos anos está pondo em alerta

todos os profissionais da área da saúde do trabalhador. Os dados da literatura

médica de todos os países do mundo são coincidentes, está havendo um aumento

real dos casos de patologias de membros superiores relacionados à sobrecarga no

trabalho. No Brasil a situação é a mesma, segundo a Previdência Social, essas

patologias são responsáveis pela maioria das doenças ocupacionais, tendo uma

participação de mais de 70% dos casos reconhecidos.

A mudança de denominação da doença para Distúrbios

Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT), proposta em 1997 pelo

Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), na revisão da Norma Técnica de

Avaliação para a Incapacidade de 1993, introduziu novos elementos na análise da

perícia médica do INSS acerca do processo de adoecimento. Na LER, o que se

privilegiava era o esforço repetitivo, isto é, a força e a repetição requerida pela

musculatura dos membros superiores, em determinadas condições de trabalho,

apontadas como núcleo de referência para o esforço e o conseqüente adoecimento.

Nas DORT podemos observar dois referenciais distintos: uma atenção aos dados

biomecânicos e psicossociais de reconhecida importância no entendimento desta

doença; e a análise do distúrbio, o que abre a possibilidade de compreensão da

doença atribuída a um caráter constitucional, subjetivo, pessoal e multidisciplinar.

Nota-se que, a despeito da nova norma, uma sigla de transição LER/DORT tem

aparecido com freqüência, tanto nos processos internos ao INSS quanto em

simpósios, jornadas, seminários etc. sobre o tema, mostrando a resistência e a

prevalência da denominação LER (VERTHEIN, 2000).

No Brasil, o número de casos de LER/DORT vem aumentando de

sobremaneira, especialmente em escritórios e em bancos. Segundo o relatório do

NUSAT (Núcleo de Saúde do Trabalhador), órgão técnico auxiliar da Previdência

Social, em 1995, dos 1643 casos de avaliação de doença ocupacional feitos por

aquela instituição em Belo Horizonte, nada menos de 1160 (70,60%) eram casos de

LER/DORT. Ainda, segundo os dados do NUSAT/MG, há uma grande

predominância de lesões por esforços repetitivos entre trabalhadores de atividades

de escritório e de bancos. No total, as atividades desenvolvidas em escritório e

Page 31: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

30

bancos contribuem com aproximadamente 60% dos casos de LER/DORT, e as

indústrias, 30% (CARNEIRO; COUTO, 1997).

Oliveira (1998) explana, com relação à faixa etária, analisando dados

do NUSAT/INSS de 1994 a 1996, verificou que a concentração dos portadores de

LER/DORT concentrou-se na faixa dos vinte a 39 anos em mais de 70% dos casos.

Nos dias atuais, o ônus do aumento da produtividade tem caído

acentuadamente nos ombros dos trabalhadores, e quem se dispõe a escutá-los

poderá constatar como têm sido corriqueiras as exigências que ultrapassam os

limites de resistência psíquica e biológica do homem comum. Escudadas em jargões

como enxugamento, cortes de gordura, qualidade total e reengenharia, muitas

empresas estão realmente moendo seus trabalhadores através da imposição de

ritmos e jornadas de trabalho desumano (OLIVEIRA et al., 1998).

Wünsch Filho (1997) chama a atenção para a cronicidade e

irreversibilidade de grande parte dos casos e ressalta que o NIOSH (National

Institute for Occupational Safety and Health) classifica as LER/DORT entre os dez

mais significativos problemas de saúde ocupacional nos Estados Unidos, estimando

que correspondam a cerca de metade das doenças ocupacionais notificadas. Em

algumas empresas, estimou-se que a prevalência de LER/DORT atinge cerca de

25% da população trabalhadora. Estudo de prevalência realizado naquele país, com

44.233 entrevistas a partir de amostra de base domiciliar, encontrou a auto-

referência à síndrome do túnel do carpo por parte de 2,65 milhões (1,55% entre 170

milhões de adultos). Entre os 127 milhões que trabalharam nos últimos 12 meses

anteriores à pesquisa, 0,53% (0,68 milhões) referiram que a síndrome foi

caracterizada por profissional de saúde (TANAKA et al., 1995). Os ramos de

atividades com maiores prevalências foram: produtos de alimentação, serviços de

reparos de automóveis, transportes e construção civil. As ocupações que

registraram maior número de indivíduos com queixas de LER/DORT foram:

trabalhadores dos correios, profissionais de saúde e de montagem de equipamentos

em geral (TANAKA et al., 1995). Outro estudo nos EUA estimou em cerca de

400.000 a 500.000 as cirurgias de túnel do carpo realizadas anualmente, traduzindo-

se em um custo econômico da ordem de 2 bilhões de dólares por ano (PALMER;

HANRAHAN, 1995; WÜNSCH FILHO, 1997).

Dados do United States Bureau of Labour Statistics mostram

consistente aumento no número de casos de LER/DORT entre 1981 e 1994 nos

Page 32: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

31

EUA. Em 1981 houve registro de 22.600 casos que representaram 18% das

doenças ocupacionais daquele país, ao passo que em 1994 foram 332.000,

representando 65% de todas as doenças, portanto, um aumento de 14 vezes.

No Brasil, o sistema nacional de informação do Sistema Único de

Saúde não inclui os acidentes de trabalho em geral e nem LER/DORT, em particular,

o que não permite se ter dados epidemiológicos que cubram a totalidade dos

trabalhadores, independentemente de seu vínculo empregatício. Os dados

disponíveis são aqueles da Previdência Social, que se referem apenas aos

trabalhadores do mercado formal e com contrato trabalhista regido pela CLT, o que

totaliza menos de 50% da população economicamente ativa. Cabe ressaltar que

esses dados são coletados com finalidades pecuniárias.

Inexistem no Brasil dados racionais acerca das lesões músculo-

esqueléticas associadas ao trabalho, que possam ser facilmente acessíveis aos

profissionais que se interessam pelo combate a LER/DORT. No entanto, graças a

iniciativas isoladas dos três níveis de governo e de profissionais engajados na luta

por melhores condições de trabalho, é possível, em alguns Estados, obter

informações regionalizadas sobre o assunto. Na região metropolitana de São Paulo

existem dois programas de atenção à saúde do trabalhador. Um deles é o, Centro

de Referência de Saúde do Trabalhador (CEREST), mantido pelo Governo do

Estado de São Paulo, com atividades regionalizadas de acordo com a divisão

geopolítica da área metropolitana. O outro é o Centro de Referência do Trabalhador,

mantido pela Prefeitura do Município de São Paulo e também dividido por regiões.

Do primeiro programa, é possível encontrar dados epidemiológicos relativos ao

atendimento de 620 pacientes dentro do Programa de Saúde do Trabalhador da

zona norte de São Paulo (ERSA-6).

Os dados a seguir foram obtidos por Settimi e Silvestre (1995),

constando que na distribuição da LER/DORT por faixa etária as maiores incidências

se encontravam na faixa de 26 a 35 anos com 45,0%, seguidos das faixas de 36 a

45 com 23,5% e 18 a 25 com 18,4%, concluindo que a maioria situa-se na fase

produtiva. Na distribuição segundo o local das queixas o punho, o antebraço e a

mão com 20,0%, 15,1% e 12,3% respectivamente. E quanto à distribuição por

função, montador com 30,2% e operador de máquinas 1,5% nos dois extremos

estatísticos.

Page 33: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

32

Em outro estudo realizado nos CEREST da Prefeitura de São Paulo, foi

verificado que 93,1% dos 318 pacientes atendidos tinham entre 20 e 49 anos de

idade (TESHIMA; FONSECA, 1994). As funções mais envolvidas na produção de

LER/DORT foram: auxiliar de produção industrial e digitador com 24,5% e 17,6%

respectivamente, constatando que no extremo inferior dos cálculos se encontrava o

operador de máquinas industriais. Quanto às regiões mais afetadas, mão e punho

com 98,8% e ombro e cotovelo 31,0%, perfazendo total de 129,8% devido algumas

lesões ocorrerem em locais diferentes ao mesmo tempo, por esse motivo o

percentual aparece maior do que 100%.

As afecções músculo-esqueléticas relacionadas ao trabalho atingem na

sua imensa maioria das vezes as mulheres, apesar de não serem exclusivas

dessas. Isto é creditado à menor qualificação deste grupo de trabalhadores, às

necessidades das mesmas de executarem tarefas domésticas em uma segunda

jornada de trabalho, a uma pressão maior dos chefes e supervisores, aos baixos

salários com uma conseqüente maior insatisfação no trabalho, além de possuírem

constituição muscular mais frágil, ou seja, menos resistentes à sobrecarga de

trabalho (OLIVEIRA, 1998).

Ohlsson et al. (apud SANTOS FILHO; BARRETO, 1998) compararam

prevalências em mulheres expostas e não-expostas a atividades repetitivas na

indústria de equipamentos elétricos da Suécia, coletando dados a partir de

entrevistas, exame físico, análise de postos de trabalho e exames laboratoriais.

Doenças do ombro, pescoço, epicondilites e lesões de mão foram associadas aos

seguintes fatores: atividade repetitiva, idade mais avançada (54 anos ou mais),

pagamento por produção, tendência a tensão muscular e estresse. Outros fatores

importantes foram: satisfação no trabalho, esforço de concentração e concomitância

de sintomas psicossomáticos, bem como movimentos e posturas assumidos na

tarefa. Os autores ainda ressaltam o achado de sintomas mais significativos

relacionados a tempo de serviço inferior a dez anos.

Em um estudo realizado por Carvalho (2002), constituída por 111

funcionários voluntários de um universo de 627 trabalhadores da linha de produção

de uma indústria de calçados de Franca, sendo 84 mulheres e 27 homens, com

média total de idade de 34,3 anos, foi observada, na distribuição por faixa etária,

vinte a 29 anos com 33 trabalhadores, trinta a 39 anos com 34 trabalhadores,

quarenta a 49 anos com 32 trabalhadores.

Page 34: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

33

O estudo quanto ao gênero revelou grande predominância do sexo

feminino com 84 trabalhadoras, correspondendo a 76% da amostra avaliada.

A estratificação dos trabalhadores por função mostrou que as maiores

prevalências se encontraram em: preparadeira (20); serviços gerais (19); costureira

(16) e passador de cola (15).

Neste mesmo estudo foi revelado dor durante ou após a realização dos

trabalhos, e que a grande maioria destes trabalhadores apresentaram quadro de

LER/DORT. Na amostra analisada 42% dos indivíduos apresentavam algum quadro

de dor, sendo que 83,33% destes são portadores de LER/DORT, correspondendo a

35% da amostra.

Ao classificar as prevalências de dor por patologia verificou-se que a de

maior prevalência é a Síndrome do Túnel de Carpo (STC), seguida pela Síndrome

Tensional do Pescoço e a Síndrome do Pronador Redondo. Quanto ao estadiamento

a grande maioria foi classificada pela metodologia do NUSAT (Núcleo de Saúde do

Trabalhador – MG) em grau I ou II, não se verificando patologia em grau de estádio

IV.

Na análise das prevalências de LER/DORT por sexo observou-se que

a grande maioria dos trabalhadores afetados é do sexo feminino, com um total de

94,9% dos trabalhadores com LER/DORT. Neste grupo a prevalência de LER/DORT

é de 44,0%, enquanto que a prevalência no sexo masculino é de 7,4%.

Durante o estudo dos dados coletados verificou-se que algumas

funções apresentam uma maior prevalência dos LER/DORT. Destacam-se as

funções de chanfradeira, com 70% dos trabalhadores nessa função apresentando

LER/DORT, operador de máquina, com 57,14% e preparadeira com 50%. Na função

de montador, 33,3% apresentam sintomatologia de LER/DORT, representando a

totalidade de homens afetados.

Durante a análise dos dados coletados identificou-se que os setores de

Acabamento e Aviamentos apresentam valores médios superiores ao índice geral da

empresa com respectivamente 43,7% de prevalência e 100% de prevalência, o setor

menos comprometido com a prevalência de LER/DORT foi o setor de Montagem.

Page 35: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

34

1.3 CLASSIFICAÇÃO

As fases das LER/DORT podem estar superpostas e não

necessariamente é seguida uma pela outra. A maioria dos autores utiliza o sintoma

dor como critério de estadiamento (BROWNE; NOLAN; FAITHFULL, 1984).

A revisão da literatura mostra várias tentativas, didaticamente válidas,

para estadiamento das lesões, pois a LER/DORT é uma doença evolutiva e que se

diferencia em fases clínicas, que reconhecemos, podem ser estadiadas com

objetivos diferentes, mas úteis no planejamento terapêutico, na avaliação da

incapacidade laborativa e no prognóstico. Assim, baseado nessas afirmações, a

classificação apresentada nesse trabalho constitui-se de quatro graus ou fases

(NUSAT, 1995). No grau ou fase 0, o trabalhador queixa-se de uma sensação de

desconforto e peso nos membros superiores, de forma localizada ou não, no final de

sua jornada e durante picos de produção, que cessa com o repouso ou diminuição

do ritmo de trabalho; raramente procuram o serviço médico e quando o fazem não

há sinais ao exame clínico. Nesta fase, a única indicação estará na necessidade de

intervenção no ambiente de trabalho.

O grau ou fase 1 constitui-se de sensação de peso e desconforto a

cerca de um mês e não desaparece, mas apenas melhora com o repouso, surgindo

em outras fases do trabalho, de maneira aleatória, leve e fugaz e não somente em

picos de produção ou término da jornada; o exame físico pode estar normal mas

pode manifestar-se dor à palpação da massa muscular envolvida. O trabalhador

deverá ser afastado da função e, após o tratamento, modificar as condições do

ambiente de trabalho, pois caso contrário, a doença poderá evoluir para fases mais

críticas.

Já no grau ou fase 2 a dor é mais intensa e persistente apesar de bem

tolerada e ainda permitir o desempenho da atividade laborativa, porém observa-se

queda na produtividade, com a dor mais localizada que nas fases anteriores e pode

acompanhar-se de parestesia, calor e irradiação. Sua recuperação é mais difícil

mesmo que se instituam tratamentos com repouso, analgésicos e antiinflamatórios e

agrava-se até mesmo com o afastamento do trabalhador, comprometendo outras

atividades pessoais. O exame físico ainda pode ser pobre, mas observam-se

freqüentemente nodulações acompanhando bainhas tendinosas, hipertonia de

Page 36: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

35

massas musculares e sinais sugestivos de compressão de nervos periféricos. O

prognóstico é variável.

Em casos classificados como grau ou fase 3, a dor torna-se muito

persistente e forte, com irradiação bem definida e o repouso pouco influencia na

sintomatologia. Ocorrem paroxismos dolorosos noturnos e perda de força muscular

associada, comprometendo intensamente a produtividade e também as tarefas

domésticas. O exame físico torna-se rico com edema, hipertonia e todo quadro

relacionado às lesões por compressão nervosa alterando até a sensibilidade tátil e

os reflexos. Nesta fase, condições psíquicas relacionadas à incerteza do futuro

profissional pode se refletir no relacionamento familiar, levando a quadro de

depressão e angústia, o prognóstico é reservado e a reabilitação profissional, uma

raridade.

Finalmente, o grau ou fase 4 caracteriza-se pelo aparecimento de

distrofia simpática reflexa, composta de: dor, hiperestesia, distúrbios vaso-motores,

edema com componentes linfáticos, distrofias musculares e as atrofias

principalmente dos dedos pelo desuso. A capacidade de trabalho é nula e os atos da

vida diária ficam extremamente prejudicados, sendo comum o aparecimento de

distúrbios psicológicos. O prognóstico é sombrio e a resposta aos tratamentos

praticamente nula.

1.4 PATOGÊNESE

As hipóteses que consideram a gênese dos distúrbios músculo-

esqueléticos como biológica, ou seja, de origem orgânica, dividem-se em duas: Uma

delas defende a existência de alterações orgânicas, que vão além da fadiga

músculo-esquelética, decorrentes das atividades laborativas, ainda que não

detectáveis ao exame clínico. A outra considera esses quadros clínicos apenas

como decorrentes da fadiga muscular. O uso excessivo ou inadequado de

segmentos corporais são as pedras fundamentais dessas teses. Alguns autores

fazem analogia com o estresse crônico dos metais que determina o dano dos

mesmos com o passar do tempo (RIO et al., 1998).

Page 37: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

36

Segundo o referido autor, esforços abaixo e acima dos limites ideais

podem favorecer o aparecimento de distúrbios, enquanto que, dentro desses limites,

podem melhorar o condicionamento muscular, produzindo o chamado efeito de

treinamento.

Para Sjogaard e Jensen (1997), deve ser concedida atenção à

otimização da atividade física individual no trabalho, mais do que à sua simples

minimização.

A hipótese biológica denominada, fadiga muscular produz quadros

dolorosos, sem lesão de estruturas músculo-esqueléticas, ou mesmo sem a

existência de alterações fisiológicas mais significativas. Esses quadros são devidos

à sobrecarga sobre segmentos corporais, são completamente reversíveis sem

intervenções terapêuticas mais significativas, desde que as pessoas acometidas

possam dispor de adequadas condições físicas no trabalho e na vida pessoal. As

hipóteses das alterações orgânicas se alicerçam sobre dois tipos de dor: nociceptiva

e neurogênica. Sendo que a primeira implica à existência de estímulos nocivos

(mecânicos, térmicos e químicos) agindo sobre receptores nervosos para a dor,

denominados nociceptores. Já a dor neurogênica refere-se a alterações na

modulação da dor, produzindo a percepção da dor, mesmo diante da ausência de

estimulação nociceptiva (RIO et al., 1998).

Dor é uma qualidade sensorial complexa, freqüentemente não

relacionada ao grau de lesão tecidual. A dor evoca emoções, fantasias, muitas

vezes incapacitantes, que traduzem o sofrimento. Assim, na hipótese psicossocial a

dor é causada inteiramente por processos do sistema nervoso central, com

participação decisiva de áreas relacionadas à informação e às emoções. O estresse

psicossocial e fatores psíquicos internos são decisivos nesse tipo de dor. A

modificação dos paradigmas comportamentais parece influenciar a resposta das

células do corno posterior da medula espinhal (TEIXEIRA, 1994).

É importante ressaltar que a percepção da dor não distingue esses

diferentes processos, que diferem, essencialmente, pelo local de origem da dor. A

dor nociceptiva tem origem nos tecidos periféricos, a dor neurogênica, nos tratos

nervosos e a dor psíquica, no sistema nervoso central. As hipóteses psicossociais

procuram avaliar as possíveis fontes de manifestações clínicas dolorosas do

pescoço e dos membros superiores, decorrentes do estresse psicossocial. Elas

vasculham o amplo universo além das causas biomecânicas. Há um embate de

Page 38: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

37

idéias opostas, que defendem ou que atacam a existência de relação entre trabalho

e esses quadros (RIO et al., 1998).

Segundo Louis (1992 apud RIO, 1998a), a polarização desse debate

atingiu seu ápice na Austrália, nos anos 80. Em algumas regiões do Brasil, o embate

de convicções tem sido intenso e refere-se a dois pontos principais: se uma

atividade pode causar doença, e, em qual extensão problemas emocionais ou físicos

podem amplificar e prolongar sintomas físicos.

Quanto mais são considerados fatores físicos como causadores de

estresse físico e de sobrecarga biomecânica sobre determinados segmentos

corporais, menos intensos se tornam os debates. Quanto mais as considerações

envolvem aspectos psicossociais, maiores são as discordâncias, principalmente

porque as questões se tornam mais abstratas e de difícil comprovação (RIO et al.,

1998).

Os relatos em saúde do trabalhador ao longo da sua história vão

afirmar várias emoções: medos, ansiedades e inseguranças que somatizam os

processos de adoecimento. Pode-se observar essa mistura do somático e das

emoções, quando se fala dos portadores de LER/DORT: trabalhadores que têm

medo de adoecer e de sentir dor; trabalhadores que são pressionados pela angústia

da possibilidade da perda do emprego; trabalhadores que inventam mecanismos de

defesa para não sentir dor; trabalhadores de personalidade fronteiriça que no limite

do conflito são descompensados emocionalmente. As várias expressões de dor e

sofrimento são possibilitadas por uma determinada cultura que, interpretando e

dimensionando padrões de conduta esperados e rejeitados, permite o acesso e a

disponibilidade de relações no meio social, ou seja, na família, no trabalho, nas

instituições. Além disso, as regras de normalização e regulamentação de uma

determinada sociedade acabam por definir de maneira bem estabelecida os

comportamentos ditos desviantes, anormais ou doentios, sempre engendrando

modos de subjetividade para a sua expressão. Essa seria a possibilidade do

entendimento de uma doença poder ser enquadrada em um determinado perfil de

subjetividade e estaria associada a sintomas físicos ou não. Este tipo de

subjetividade enquadrada supõe um dispositivo de poder e, assim, podemos pensar

em desejos capturados pela codificação social, mas, também, na possibilidade das

subjetividades que escapam aos papéis por uma geografia de conexões e

disjunções inconscientes. Vamos considerar que as interpretações dadas ao

Page 39: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

38

processo de adoecimento das LER/DORT codificam o trabalhador que adoece em

um código preestabelecido como alguém simulador, de temperamento limítrofe, de

histérico vindo a ameaçar a idéia de um trabalho asséptico sem desvios, paradas,

incertezas (VERTHEIN, 2001).

Tem sido defendida a hipótese genérica de distúrbio psicossomático,

no qual a dor é uma manifestação central. Dentre os diagnósticos destacam-se os

transtornos somatoformes dolorosos persistentes. Ramadan e Motta (1995 apud

RIO, 1998b) lembram que esses transtornos se caracterizam pela apresentação

repetida de sintomas físicos, cuja avaliação clínica não revela doença física. Nos

transtornos somatoformes a produção dos sintomas não é intencional; a pessoa não

vivencia a sensação da produção dos sintomas, o que os distingue dos transtornos

factícios ou de simulação.

No campo das LER/DORT, o termo neurose de conversão ou

transtorno conversivo tem sido utilizado com maior freqüência, remetendo aos

conceitos psicanalíticos de conversão e histeria de conversão. Conversão consiste

em uma transposição de um conflito psíquico e numa tentativa de resolução deste

em sintomas somáticos, motores ou sensitivos (LAPLANCHE; PONTALIS, 1983).

A iatrogenia social origina-se de informações coletivas impróprias,

advindas desde a mídia, até as colocações oficiosas de profissionais especializados,

que desencadearia comportamentos maximizados da dor. A dor, as alterações

psico-afetivas concomitantes e as iatrogenias induzidas pelos procedimentos

diagnósticos e terapêuticos promovem sofrimento emocional significativo e restrições

físicas, psicológicas e sociais (TEIXEIRA, 1994).

A neurose coletiva ou ocupacional, estreitamente relacionada à

Iatrogenia Social e às antigas noções de histeria, implicaria numa espécie de

contaminação psicossocial, que levaria a quadro de dor psicogênica. Segundo

Lucire (1998), esta pode ser diferenciada de tenossinovites, primariamente, pela sua

excessiva sintomatologia em ambas as modalidades: motora e sensitiva e,

secundariamente pela história natural de falência na recuperação através de

tratamentos usuais para inflamação ou lesão.

A permissividade dos sistemas de compensação de doença tem sido

defendida por alguns autores, com base em processos históricos que apontam para

uma correlação entre o aumento estatístico do surgimento desses quadros clínicos e

a atuação desse tipo de sistema. Segundo Ranney (1997b), em alguns países as

Page 40: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

39

leis estimulam o relato de casos, enquanto que em outros as leis desencorajam esse

tipo de relato. Não dispomos de dados concretos sobre a atuação do Setor de

Perícias Médicas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) nas regiões do Brasil

onde é maior a incidência de LER/DORT. Como parece haver uma significativa

disparidade de incidências entre algumas regiões do país, seria de utilidade para o

INSS pesquisar comparativamente as formas de atuação dos seus serviços de

perícia médica nessas regiões. A simulação implica em não-existência de dor. O

objetivo do simulador é a obtenção de ganhos secundários, tais como afastamento

remunerado do trabalho, aposentadoria, ganhos financeiros através de causas cíveis

(RIO et al., 1998).

A LER/DORT, também, está inserida no embate entre a saúde e os

interesses estreitos do capital que procura usar o corpo e descartá-lo, negando

sistematicamente as implicações das condições de trabalho na saúde do trabalhador

e, conseqüentemente, em seu processo de adoecimento, quando este se apresenta.

Nesse sentido, procuram atender ao aumento de casos de trabalhadores com

LER/DORT sem correrem o risco de arcar com o ônus, como seguradora, dos

prejuízos físicos e mentais de uma economia que explora a mão-de-obra, de um

mercado de trabalho recessivo, de uma gerência ávida por corpos docilizados e

lucros rápidos. Tal relação mostra a radical separação entre trabalho e corpo-que-

adoece. Esta separação acaba encontrando uma ancoragem na idéia de

predisposição, posto que, nesse distanciamento do INSS quanto ao

desenvolvimento das relações de trabalho, sejam elas prejudiciais ou não. Assim,

podemos imaginar que a possibilidade de adoecer no trabalho é negada no próprio

cotidiano das relações. A rejeição dos colegas de trabalho e das chefias é explícita

quando o trabalhador que adoece é visto como alguém que faz corpo mole para não

trabalhar. Da mesma forma, quando o trabalhador é tratado pelo médico como

alguém que está somatizando conflitos psíquicos ou simulando a condição de

doente para obter ganhos secundários. A partir dessas premissas, as explicações

são as mais variadas: os trabalhadores ficam doentes porque há recessão na oferta

de emprego, ou adoecem porque buscam estabilidade financeira ou segurança

pessoal, via seguro acidentário ou, ainda, simplesmente, adoecem porque não

querem trabalhar. Essa prática expõe as delimitações sociais entre o normal e o

patológico, que são parâmetros binários, entre outros, de saúde/doença,

produtividade/improdutividade, capacidade/incapacidade, construídos pelos códigos

Page 41: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

40

de referência da produção capitalista. Tais procedimentos ditos diagnósticos de

avaliação de incapacidade, que observamos na análise da perícia médica, quando

os trabalhadores adoecem, revigoram na contramão dos avanços teóricos da saúde

pública e, especificamente, da saúde do trabalhador, conceitos no sentido de

impingir aos trabalhadores o dever, a culpa e a responsabilidade frente ao processo

de adoecimento. Nota-se que o diagnóstico atribuído pelos peritos do INSS, mesmo

sendo as LER/DORT reconhecidas no Brasil como doença do trabalho, confirma a

existência da lesão, mas não admite que tal lesão seja associada ao trabalho, e,

com grande freqüência, nega o nexo com o trabalho. A discussão, no entanto, não

se restringe a este aspecto, discute-se também, a produção de um tipo de

subjetividade predisposta ao adoecimento que serve ao propósito específico de

reduzir os custos da Previdência Social, a partir da descaracterização da doença

que, atualmente, mobiliza recursos vultosos do INSS (VERTHEIN, 2000).

Em tese, o estresse vem sendo bastante estudado nas últimas

décadas. Tem sido utilizado como conceito de suporte em praticamente todas as

áreas da medicina, além de outros campos científicos. Então, considerando-se o

estresse como um conjunto de processos psicofísicos, e não como um diagnóstico,

as LER/DORT sempre decorreriam dele: ou do estresse físico decorrente de

sobrecargas físicas, ou do estresse psicossocial, decorrente de pressões

psicossociais (RIO et al., 1998).

1.5 DIAGNÓSTICO

O diagnóstico de LER/DORT envolve aspectos complicadores porque

se direciona as condutas que devem ser tomadas, não só na área clínica, mas

também nas áreas previdenciária, trabalhista, de responsabilidade civil e, às vezes,

até criminal. O primeiro aspecto complicador decorre das características do quadro

clínico e dos múltiplos fatores que o desencadeiam. No entanto, no caso das

LER/DORT, o quadro clinico é heterogêneo, com múltiplas faces. A relação causa

efeito não é direta. Vários fatores laborativos e extra-laborativos concorrem para sua

ocorrência, sendo obrigatório investigar-se cuidadosamente. Outro aspecto

complicador decorre da intervenção de quem faz o diagnóstico e suas

Page 42: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

41

conseqüências. Para o médico do setor assistencial, o diagnóstico deve gerar ações

preventivas e definir o tratamento para recuperação clínica, o que pressupõe

identificar os fatores desencadeantes e agravantes e determinar a interrupção das

atividades que mantenham e agravem o quadro. Para o médico perito da

Previdência Social, o diagnóstico de LER/DORT implica em conceder benefícios

previdenciários específicos a acidentes do trabalho. Para o médico de empresa, que

teoricamente teria melhores condições de fazer um diagnóstico precoce, a

identificação dos casos de LER/DORT deveria gerar ações preventivas. São eles os

responsáveis pelo encaminhamento adequado, do ponto de vista técnico, o que

freqüentemente no Brasil não ocorre. O diagnóstico é feito longe das condições

ideais, de forma que deveria ser obtido e levado em consideração os registros da

história pregressa e as exposições adversas em que o trabalhador tenha por ventura

se submetido (BRASIL, 2001b).

O médico pode ser requerido para determinar se a condição é causada

pelo trabalho; este requerimento é medicamente impossível. Não se trata de colocar

em plano secundário a necessidade do preciso conhecimento anatômico, as bases

de propedêutica semiológica, os resultados dos exames complementares e os

elementos básicos de biomecânica. Ao contrário, o importante é ter-se em mente

que tais conhecimentos devem ser aplicados no contexto do homem no seu

ambiente de trabalho, influenciado por fatores emotivos e psíquicos, temperatura,

vibração, postura, etc. A teoria da multicausalidade da LER/DORT serve para

consolidar a medicina científica contemporânea, sendo de indiscutível eficácia social

e individual para estabelecer as bases no seu reconhecimento como doença do

trabalho, mas é insuficiente para explicar a patologia como um todo. É nesse

momento que o examinador deve estar atento, procurando exaustivamente entender

o universo do trabalho do examinado (SZABO, 1995).

Melo (1998) afirma que a extensa investigação por meio de justas e

exaustivas anamneses ocupacionais é pedra angular na elaboração do diagnóstico

das LER/DORT. As variedades de trabalho são, no entanto, inúmeras. A oficina de

um artesão é edificada em torno de um homem e por ele livremente organizada.

Neste ambiente existe harmonia gratificante e intuitiva. Existe felicidade. Diferente é

o trabalho em fábricas, concebidas pelo capitalismo e construídas em função das

exigências do lucro e da produção que, quase sempre desconsidera o organismo

humano.

Page 43: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

42

Para Szabo (1995), um aspecto bastante polêmico é o diagnóstico das

LER/DORT quando o exame físico é normal e o único sintoma é a dor. Existem aqui

algumas premissas básicas: não se pode falar em LER/DORT quando não existem

os riscos ocupacionais, entendidos em seu sentido amplo; as fases iniciais das

LER/DORT na maioria das vezes caracterizam-se única e exclusivamente pela

presença da dor, inexistindo sinais físicos, achados laboratoriais e em exame de

imagem. O diagnóstico das LER/DORT é, portanto, essencialmente clínico e baseia-

se na história clínico-ocupacional completa, no exame físico detalhado, na análise

das condições de trabalho responsáveis pelo aparecimento da lesão, em dados

epidemiológicos e muito raramente em exames complementares.

Alguns aspectos merecem especial consideração. Tentar obter dados

sobre a qualidade e manutenção de equipamentos e ferramentas, necessidade do

emprego de força decorrente de equipamentos impróprios, do desvio de posturas

imposto por estes, necessidade de repetição de tarefas por falhas dos

equipamentos, presença de vibração e exposição localizadas a baixas temperaturas.

Além de sua qualidade, manutenção e freqüência de reposição interessam saber

das adaptações realizadas nos postos de trabalho quando da introdução de novos

processos e, principalmente, os desvios posturais impostos pelo mesmo (MELO,

1998).

Oliveira et al. (1998) reportam que, aspecto importante é a

característica antropométrica do trabalhador. Vai muito além de questionar

simplesmente a profissão do trabalhador, ou seja, qual a atividade que ele se

preparou para exercer através de cursos profissionalizantes, técnicos, ou de nível

superior. Vai além ainda de meramente anotar a sua função ou cargo ocupado, não

sendo infreqüente o início da doença em função que não corresponde à profissão

declarada. Interessa realmente identificar a atividade realizada no trabalho atual e

pregresso. Trata-se, portanto, de delimitar o papel do trabalho nos processos

patológicos do sistema musculoesquelético. Ou seja, quando ele constitui-se num

risco, como isso acontece, qual é a intensidade desse risco.

E neste caso a pergunta é: esses substratos derivam de dados

científicos consistentes ou de representações sociais?

Hadler (1997) comenta a questão da escolha, por parte do empregado,

do caminho ligado à causalidade de um distúrbio músculo-esquelético e segundo

ele, a pessoa procura lidar pessoalmente com o problema, sem recorrer a nenhum

Page 44: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

43

tipo de assistência médica; ou escolhe ser paciente e procura atenção médica, sem

entrar no universo das questões relacionadas ao trabalho; ou procura assistência no

contexto de sistemas de compensação de doenças relacionadas ao trabalho,

colocando as diversas questões do trabalho como foco central dos problemas.

Circunstâncias ligadas ao contexto social interferem nessa escolha. Escolher é um

processo que é facilmente perturbado por noções pré-concebidas e por exigências

da vida. E uma vez que tenha sido feita a escolha pelo sistema de compensação de

doenças, variáveis como a magnitude do prêmio, a insuficiência do salário e o litígio,

constituem-se em fatores importantes para a evolução do processo.

Uma decisão do trabalhador de relatar um problema pode ser

influenciada por suas circunstâncias pessoais, sociais e econômicas (ARMSTRONG,

1993).

No que se refere ao diagnóstico ocupacional, quanto menos objetivos

são os quadros clínicos, maiores são as controvérsias, a ponto de quadros clínicos

não-específicos extrapolarem com freqüência o âmbito da ciência e serem debatidos

e decididos judicialmente. Neste estudo é apresentado um conceito que considera

como LER/DORT apenas as doenças músculo-esqueléticas claramente

relacionadas ao trabalho. Ou seja, correlacionadas da maneira mais precisa possível

com o trabalho. Para tanto é necessário um diagnóstico médico de uma doença

específica claramente correlacionada com uma sobrecarga biomecânica específica

no trabalho. Assim, pode-se distinguir com mais objetividade as doenças

relacionadas ao trabalho, dos distúrbios e doenças não relacionadas ao trabalho

(RIO et al., 1998).

Nesse sentido, Ranney (1997a) destaca que, se vamos avaliar lesões

relacionadas ao trabalho, devemos primeiramente diagnosticá-las através da síntese

da história e exame físico e, então, determinar se foi induzida pelo trabalho ou por

outras fontes. Devemos examinar ambos, o trabalhador e o trabalho. Embora o

estresse causador dos sintomas possa incluir tanto fatores psicológicos, quanto

físicos, as alterações patológicas devem ser claramente físicas.

Segundo Rio (1998) já o diagnóstico médico deverá definir se há um

quadro clínico específico que, quando bem diagnosticado, apresenta-se de maneira

mais objetiva, facilitando a abordagem terapêutica e a possível correlação com

fatores de riscos eventualmente existentes no trabalho ou fora dele; ou inespecífico,

que são de difícil diagnóstico e não apresentam sinais clínicos evidentes; bem como

Page 45: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

44

quais as regiões acometidas; qual o tempo de evolução; quais os tratamentos

efetuados; dentre outras questões. Do ponto de vista médico, o diagnóstico

diferencial é fundamental. Outras patologias sistêmicas podem produzir quadros

músculo-esqueléticos como quadros reumáticos, hipotireoidismo, distrofias músculo-

esqueléticas, o uso de medicamentos, e outras diversas condições agindo no

mesmo sentido. Quadros psiquiátricos devem também ser descaracterizados. Se

mal diagnosticados e mal compreendidos quanto à sua origem, são conduzidos de

forma inadequada, às vezes, desastrosas, gerando sofrimentos e custos

consideráveis.

Já na visão de Anderson (1994), o diagnóstico ergonômico refere-se à

detecção de fatores ergonômicos inadequados durante a execução das atividades

pelo empregado e que, claramente, se constituam em fatores biomecânicos de risco.

Ainda não existem definições precisas para a fixação de critérios de risco para as

LER/DORT.

O diagnóstico ocupacional específico, derivado do nexo entre o

diagnóstico médico e o ergonômico, delimita os fatores ocupacionais objetivos. O

diagnóstico sistêmico inclui esses fatores e outros que podem contribuir para uma

compreensão mais estruturada e, a partir daí, encontrar caminhos para soluções

mais consistentes. De posse de todas as informações que constituem o prontuário

médico, referentes à anamnese, exame físico e exames complementares, a

correlação desses dados leva ao diagnóstico (RIO et al., 1998).

1.5.1 Exames complementares

Na prática, não existe exame complementar que comprove a existência

da LER. Todos pecam por falta de sensibilidade e especificidade. Tais exames têm,

portanto, indicação restrita, não se justificando seu uso rotineiro e indiscriminado,

ficando reservados para os casos individualizados. Nos estágios iniciais, os meios

de diagnósticos complementares, ainda que utilizados judiciosamente e com alta

qualidade, são pouco conclusivos. Quando positivos, já demonstram lesões graves.

Por vezes são utilizados no diagnóstico diferencial e em outras ocasiões, na

determinação topográfica das lesões (OLIVEIRA et al., 1998).

Page 46: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

45

Embora na maioria das patologias causadas por esforços repetitivos o

diagnóstico possa ser feito apenas com uma boa anamnese e um exame clínico

detalhado, Rio (1998) alega que em certos casos, os exames complementares

podem e devem ser solicitados. As radiografias, principalmente da coluna cervical,

poderão detectar alterações vertebrais que justifiquem os sintomas nos casos de

degeneração discal, hérnias de disco, costelas cervicais e outros. Os exames de

sangue, não só o hemograma e as dosagens rotineiras de glicose e lipidograma,

como também as provas de função reumáticas, nos fornecem informações úteis

quanto ao estado de saúde geral. Muitas vezes a pesquisa de alterações

endócrinas, principalmente tireoideanas como, dosagem de T3, T4 e TSH basal,

podem encontrar a causa objetiva das dores musculares.

A ultra-sonografia é uma técnica de confiabilidade ainda discutível em

face da sua baixa sensibilidade e especificidade, mais adequadas provavelmente ao

estudo das lesões do manguito rotador e na identificação de calcificações. Já a

tomografia e a ressonância nuclear magnética são exames sofisticados e caros, que

na maioria dos casos de LER/DORT não acrescentam nenhum dado novo que não

pudesse ser detectado anteriormente pelo exame físico detalhado ou por outros

métodos menos onerosos (OLIVEIRA et al., 1998).

Ao solicitar um exame complementar, tenha em mente que ele é

complementar ao seu raciocínio clínico; deve ser indicado e interpretado

adequadamente. Do contrário, ele pode atrapalhar sua investigação e conduta. Em

todos esses casos, é fundamental lembrar que a clínica continua sendo soberana.

Não se substitui a análise clínica cuidadosa do profissional assistente por nenhum

desses exames (BRASIL, 2001b).

1.5.2 As principais formas clínicas

Conforme Oliveira et al. (1998), as principais formas clínicas são

divididas em três grandes grupos:

1. as tendinites e tenossinovites são processos inflamatórios que

acometem as bainhas tendíneas e os tendões, são as formas mais

incidentes na população de risco, notadamente nas situações em

Page 47: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

46

que grande repetitividade se associa à exigência de força. Fazem

parte deste grupo as doenças como a enfermidade de Quervain,

que se trata da inflamação e espessamento da bainha comum dos

tendões do abdutor longo e extensor curto do polegar; dedo em

gatilho, causada pela inflamação dos tendões flexores dos dedos,

tornando seu deslizamento nas polias prejudicado; tenossinovite

dos flexores dos dedos e dos flexores do carpo, processo

inflamatório que acomete os tendões da face ventral do antebraço e

punho; tenossinovite dos extensores dos dedos, semelhante à

forma anterior localizada na face dorsal do antebraço e punho;

tendinite bicipital, onde a inflamação ocorre na bainha sinovial do

tendão da porção longa do bíceps no sulco bicipital; e a tendinite do

supra-espinhoso, que nada mais é do que uma das manifestações

da síndrome do impacto do ombro ocasionada pela compressão das

fibras do supra-espinhoso pelo acrômio, ao realizar-se a abdução do

braço em ângulo superior a 45°;

2. as síndromes de compressão de nervos periféricos, denominando

neuropatias compressivas periféricas. São elas: a síndrome do

desfiladeiro torácico, que se caracteriza pela compressão do feixe

vásculo-nervoso no triângulo estreito formado pelos músculos

escaleno anterior e médio, a primeira costela e a clavícula; a

síndrome do supinador, que é uma hipertrofia do mesmo,

geralmente ocasionado pela prono-supinação do antebraço

repetitiva comprimindo o nervo interósseo que passa no seu interior;

a síndrome do pronador redondo, que pela sua hipertrofia comprime

o nervo mediano no antebraço, próximo do cotovelo; a síndrome do

interósseo anterior, que é uma compressão do nervo interósseo

anterior, ramo motor do mediano; a síndrome do túnel do carpo, é a

mais comum, decorre da compressão do nervo mediano no nível do

punho, pelo ligamento volar do carpo ao se espessar e enrijecer nas

fasciites decorrentes da LER/DORT, na realidade, ocorre uma

desproporção conteúdo/continente neste local estreito. A síndrome

do canal de Guyon, que é a compressão do nervo ulnar em seu

percurso através do canal de Guyon em torno do osso pisiforme; a

Page 48: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

47

síndrome cervicobraquial, geralmente ocorre por dois mecanismos

associados que são: o fator hereditário constitucional com o fator

laboral, onde as alterações do forâmen intervertebral comprimem e

irritam as raízes nervosas; a síndrome miofascial e a fibromialgia,

nada mais é do que formas diferentes de expressões clínicas que se

caracterizam pela existência de um ponto doloroso que, quando

estimulado, dói à distância, são os denominados trigger points, de

mecanismo fisiopatológico ainda incerto, a dor referida, ao se

estimular tais pontos, é difusa e imprecisa e se associa a distúrbios

do sono, fadiga e rigidez matinal, agravando-se em períodos de

tensão, ansiedade e depressão, sendo mais comum no sexo

feminino (9:1), tende à cronificação e coexiste freqüentemente com

alterações comportamentais;

3. e ainda temos o grupo de agravos relacionados à tecidos

musculares, fáscias, bursas e sinóvias, que são: as epicondilites

lateral e medial do cotovelo que nada mais é do que processos

inflamatórios da inserção dos responsáveis pela supinação do

antebraço e extensão do punho na borda lateral e dos músculos

flexores do carpo na borda medial do cotovelo; as bursites que são

processos inflamatórios de bursas sinoviais, muito freqüente nos

ombros, mas podem também ser encontradas em outras regiões; as

fasciites que decorrem do processo fibrosante palmar que impede a

extensão normal dos dedos acometidos; e os cistos sinoviais que

são tumorações esféricas, císticas, habitualmente macias e

indolores, que se formam por degeneração mixóide do tecido

sinovial periarticular ou peritendíneo. Os pacientes com LER/DORT

que tiveram diagnóstico tardio mantiveram-se na função após o

início do quadro clínico e foram mal conduzidos terapeuticamente

pode evoluir para distrofia simpática reflexa, grave síndrome em que

a dor, a hiperestesia, os distúrbios vasomotores e as alterações

distróficas são características.

Page 49: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

48

1.6 O FORMATO RECENTE DA PRODUÇÃO CALÇADISTA FRANCANA

A década de 70 foi importante para as indústrias de calçados

francanas, pois estabeleceram um amplo sistema de reestruturação produtiva,

através da introdução de novas tecnologias e métodos organizacionais com o

objetivo de acelerar a produtividade e aumentar os lucros.

Com isso, e somando-se a força de trabalho, as indústrias de calçados

de Franca obtiveram resultados satisfatórios, com importantes mudanças nos

modelos do processo produtivo e conseguiram novas conquistas nos mercados

interno e externo.

A partir de 1986, antes que a globalização se configurasse nos moldes

atuais, o setor calçadista brasileiro iniciava a exportação de sapatos. A preocupação

na época era vender os produtos ignorando certos detalhes como: qualidade e

agressão ao meio ambiente (GARRIDO, 2006).

A exposição das empresas nacionais à competição internacional,

imposta pela abertura da economia no início da década de 1990, impeliu o

empresariado do país a buscar formas e processos de se produzir bens e serviços

com melhor qualidade, a preços competitivos. Investimentos em tecnologia e

modificações na organização das empresas foram adotados, de maneira simultânea

ou isoladamente, em uma busca frenética da modernização, vista sob o prisma do

empresariado como um elemento vital e necessário para a retomada do crescimento

econômico, estagnado por toda a década de 1980 (NAVARRO, 2006).

Salerno (1985) destaca que o Brasil passou a ser considerado, já no

início da década de 1980, um dos países do mundo onde os círculos de controle de

qualidade estariam obtendo maior aceitação.

Em meio à aceleração do processo de reestruturação produtiva, a partir

dos anos de 1990, assistimos a um crescente movimento de descentralização da

produção, que passa a ser denominado pelo neologismo terceirização. O padrão

adotado no Brasil tem sido referenciado como fraudulento, espúrio, ou predatório,

por buscar a redução de custos através da exploração de relações precárias de

trabalho que se objetivam em diferentes formas: na subcontratação de mão-de-obra;

nos contratos temporários de trabalho; na contratação de mão-de-obra por

empreiteiras; no trabalho domiciliar; no trabalho por tempo parcial e no trabalho sem

Page 50: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

49

registro em carteira, mecanismos esses que buscam neutralizar a regulação estatal

e a sindical e que colocam em risco uma série de direitos sociais e trabalhistas,

duramente conquistados (DIEESE, 1994 apud NAVARRO, 2006).

Resulta daí uma série de experiências que vão sendo adotadas para

reduzir os custos de produção que vão interferir na organização da produção e do

trabalho, o que tem levado à sua intensificação, ao aviltamento salarial, à eliminação

de postos de trabalho e à crescente informalização do emprego nesse setor

(ANDRADE BALTAR; PRONI, 1996).

Já nos anos 80, houve alguma alteração na dinâmica do mercado de

trabalho. Apareceu pela primeira vez com intensidade o desemprego urbano e teve

início a deterioração das condições de trabalho, com ampliação da informalidade. No

entanto, como nesse período foram preservadas as estruturas industrial e produtiva,

o desemprego e a precarização ainda foram relativamente baixos e, sobretudo,

vinculados às intensas oscilações do ciclo econômico na década e ao processo

inflacionário. Em outras palavras, o desemprego e a precarização cresciam com a

retração das atividades produtivas (como em 1981 – 83, por exemplo) e voltavam a

baixar quando a economia voltava a crescer (como em 1984 – 86) ou se estabilizava

como durante a estagnação ocorrida entre 1987 – 89. Ao final da década o

desemprego era baixo e a deterioração das condições de trabalho pouco acentuada

(MATTOSO, 1999).

Apesar de boa parte do empresariado do setor calçadista estar

sintonizada com o discurso modernizante, apregoando a imprescindibilidade da

renovação das velhas práticas de produção. Observa-se que a adoção desse

discurso, na maioria dos casos, encontra-se em profundo contraste com a prática

adotada pelas empresas, principalmente no que se refere às condições e às

relações de trabalho (COSTA apud NAVARRO, 2006).

As mudanças na organização do trabalho no interior das unidades

fabris, entretanto, não vêm se dando de maneira homogênea entre as empresas,

como parece ser o caso da terceirização (NAVARRO, 2006).

De forma geral, as máquinas desenvolvidas para a produção de

calçados de couro incorporam poucos aspectos qualitativos do trabalho

anteriormente exigido do operário. Assim, grande parte dos operários da indústria de

calçados de couro necessita, além de apresentar as habilidades artesanais

Page 51: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

50

descritas, conhecer o conjunto de operações dos processos de produção envolvidos

(RUAS, 1987).

Na década de 1990 a situação alterou-se profundamente. Nesses

últimos anos, o desempenho produtivo não foi apenas medíocre e resultante de

efeitos de oscilações do ciclo econômico sobre o mercado de trabalho. A geração de

emprego sofreu as conseqüências profundamente desestruturantes de um processo

de retração das atividades produtivas acompanhado do desmonte das estruturas

preexistentes, sem que se tenha colocado no lugar outras capazes de substituí-las,

jogou-se fora o bebê com a água do banho. O desemprego disparou (MATTOSO,

1999).

A indústria de calçados de Franca enquadra-se perfeitamente nesta

descrição, pois até o final dos anos 80 vinha empregando uma quantidade

expressiva de trabalhadores. No início dos anos de 1990, a competição acirrada

travada no mercado interno combinada com a diminuição da taxa de exportações

forçaria as indústrias a um ajuste estrutural mais amplo visando, entre outros

objetivos, aumentar a produtividade, reduzir os custos – especialmente os da mão-

de-obra – para que pudessem enfrentar a concorrência (interna e externa),

compensando, deste modo, a defasagem tecnológica do setor (BRAGA FILHO,

2000).

As peculiaridades do couro são apontadas como um dos principais

impedimentos para adoção das modernas tecnologias já disponíveis para o corte,

como o realizado a jato d’água ou a laser. Essa tecnologia, já incorporada à

produção calçadista no exterior desde a década de 1980 e mais recentemente no

Brasil, é empregada na produção de calçados sintéticos ou elaborados com outros

materiais, que apresentam características uniformes. O elevado preço restringe o

seu uso a apenas àquelas empresas que possuem alto volume de produção,

categoria em que não se enquadra a grande maioria das indústrias francanas

produtoras de calçado (REIS apud NAVARRO, 2006).

O intenso processo de desestruturação do mercado de trabalho

ocorrido nos anos 90 e, sobretudo, durante o primeiro governo FHC (1995-98) teve

como pedra de toque uma acentuada redução da capacidade de geração de

empregos formais. Em outras palavras, depois de várias décadas de extraordinário

dinamismo e de assalariamento, a economia nacional mostrou-se, pela primeira vez,

incapaz de gerar postos de trabalho, não apenas relativamente à elevação da

Page 52: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

51

produtividade e aos novos ingressantes no mercado de trabalho, mas em termos

absolutos. Os anos 90 indicam um desempenho negativo, sendo que de 1995 a

1998 a redução da geração de postos de trabalho formais ocorreu todos os anos,

mesmo quando houve algum crescimento do PIB (MATTOSO, 1999).

No entanto, conforme pontuou Navarro (2006), a principal mudança

que ocorre com a operação do corte do couro, ligada ao processo de reestruturação

industrial e que com certeza é a que tem trazido os maiores impactos sobre o

trabalho, é o repasse, que vem sendo feito pelas indústrias de calçados, de parte ou

mesmo de toda a operação de corte para terceiros. Esse processo ganha corpo a

partir de 1993, quando começam a proliferar em Franca as bancas de corte. As

bancas de corte que surgem, a partir dos anos de 1990, variam no tamanho, no

número de trabalhadores empregados e no tipo de instalação. Cresce, porém, o

trabalho realizado em domicílio, executado por um único operário que trabalha

sozinho em sua residência operando um balancim obtido, na maioria das vezes,

através de empréstimo ou como forma de pagamento por ocasião de sua demissão

da empresa.

A autora ainda comenta que a transferência das atividades do interior

das fábricas para o domicilio dos sapateiros, além de penalizar o trabalhador pela

inexistência de contratos que garantam constância de fornecimento de trabalho, pela

existência de intermediários que leva ao aviltamento dos salários, também o

penaliza ao fazê-lo arcar com os custos de instalação do maquinário em sua

residência, além de colocar em risco a estrutura dessas residências, em sua maioria

casas populares, também coloca em risco a saúde do trabalhador e de sua família.

Braga Filho (2000) esclarece que diante do que foi anteriormente

exposto, em Franca, percebemos a ocorrência de uma série de acontecimentos

entre os anos 80 e 90 que podem ser assim resumidos:

a) a produção da indústria de calçados estabilizou-se ao longo dos

anos de 1980;

b) mesmo estabilizada a produção, não ocorreram mudanças tão

acentuadas em relação ao número de funcionários formalmente

empregados na indústria calçadista;

c) a produtividade do trabalho, medida pela relação entre pares

produzidos por funcionário empregado, era baixa durante os anos

80;

Page 53: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

52

d) enquanto a produção se manteve estável e a produtividade baixa, a

população da cidade de Franca cresceu de forma surpreendente;

e) nos anos de 1990, a produção da indústria calçadista começa a

sofrer forte impacto resultante do processo de abertura econômica

praticado no Brasil;

f) a sobrevalorização cambial, ocorrida a partir de 1994, provocou

queda no volume de pares produzidos destinados à exportação e,

por isso, os produtores locais voltaram-se para o mercado interno;

g) houve também a partir de 1994 um aumento significativamente

maior das importações de calçados do que nos anos anteriores;

h) submetida a uma competição acirrada – de dentro e de fora – , a

indústria de Franca reagiu por meio da redução do número de

funcionários empregados formalmente, visando a aumentar a

produtividade e reduzir os custos da mão-de-obra.

Os limites da modernização dos anos 80 são particularmente visíveis

quando observamos a situação de estagnação da produtividade industrial, mesmo

nos setores mais dinâmicos como o automotivo. Pode-se afirmar que, contrariando

as tendências mais gerais observadas nos países capitalistas avançados ou em

alguns países latino-americanos, a experiência brasileira buscou ampliar o grau,

mesmo que formal, de regulação pública sobre as relações de trabalho no sentido

de aumentar os direitos existentes, sem alterar a estrutura do sistema nacional e

suas características principais, como a flexibilidade no processo de contratação e

demissão de mão-de-obra. Essa particular forma de evolução das relações de

trabalho foi rompida nos anos 90 (DEDECCA, 1998).

É freqüente, nos bairros operários de Franca, que as colocadeiras de

tressê e de enfeites, e as pespontadeiras, a exemplo das costuradeiras manuais,

reúnam-se para trabalhar em grupos, nas calçadas e varandas das casas. Esse

trabalho tem caráter familiar. A realização do trabalho de elaborar tressê ou enfeites

conta com a participação dos filhos e do marido. Esse trabalho ocupa o dia todo,

sendo que, às vezes prolonga-se durante a noite e nos finais de semana. A

execução repetitiva desses movimentos do dorso e braços provoca dores

principalmente nos ombros, braços e punhos (NAVARRO, 2006).

Continuando, a autora diz que a organização do trabalho em moldes

teyloristas/fordistas levou a uma rígida divisão do trabalho no setor calçadista.

Page 54: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

53

Submetidos a essa forma de organização, os trabalhadores ao longo de mais de três

décadas, se especializaram em determinadas operações.

A reestruturação produtiva trouxe novas estratégias de planejamento

da produção, essas alterações foram acompanhadas de uma precarização geral da

estrutura ocupacional. Outro aspecto caracteriza essa nova forma de estruturação

da produção, as flutuações do nível de atividade passaram a não se traduzir numa

redução ou ampliação do emprego na grande empresa. Esta pode ajustar-se às

flutuações do seu nível de demanda repatriando ou expatriando parte da produção,

transferindo para terceiros os benefícios e os prejuízos circunstanciais, ou ainda,

alterando a intensidade e a extensão do uso de sua força de trabalho, graças à

maior flexibilidade de sua estrutura ocupacional e à modulação da jornada de

trabalho. Deste modo, as grandes empresas passaram a ter capacidade de manter

uma maior estabilidade do nível de atividade e do emprego, ao mesmo tempo em

que jogam os custos da ociosidade produtiva e do desemprego para as pequenas e

médias empresas (DEDECCA, 1998).

Desde o início da década de 80, o mercado de trabalho brasileiro

aponta para uma trajetória muito distinta daquela observada entre os anos 30 e 70.

Até então, a estruturação do mercado de trabalho era evidente e se dava por meio

da ampliação dos empregos assalariados, sobretudo dos registrados, e da redução

de ocupações por conta própria, sem remuneração e do desemprego. Os anos 80,

contudo, pronunciaram uma ruptura na tendência de funcionamento do mercado de

trabalho, tornando-o cada vez menos estruturado. Na década de 90, os sinais de

desestruturação do mercado de trabalho assumiram maior destaque, consolidando a

tendência de redução do assalariamento com registro e de expansão do

desemprego e de ocupações não-organizacionais (PROCHMANN, 1999).

Carleial (1997) comenta que a subcontratação pressupõe uma relação

não de mercado, uma vez que exige, pelo menos teoricamente, uma relação

contratual que se pode estabelecer formalmente ou informalmente, pela mera

entrega da planilha de pedidos ou simplesmente por solicitação verbal. Sua prática

pela subcontratação visa:

1. externalizar investimentos em ativos fixos, riscos, custos trabalhistas

ou quaisquer outros;

2. reduzir o tamanho de sua planta;

3. revitalizar-se pelo estabelecimento de novas relações;

Page 55: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

54

4. constituir em novas bases a produção, uma vez que serão

partilhados problemas, busca de saídas, riscos, inseguranças

quanto ao mercado, ao mesmo tempo que também poderão ser

partilhadas conquistas como, por exemplo, a busca por

competitividade e inserção internacional etc.; enfim, se tudo isso se

verificar, subcontratar significará ficar mais ágil, mais flexível.

A subcontratação é em última instância mera divisão de trabalho entre

empresas, e, logo sua prática é antiga no capitalismo. Entretanto, a ampliação de

seu uso na reestruturação industrial em curso comporta a hipótese de que a

subcontratação decorrente do fracionamento de plantas seja uma inovação

organizacional (CARLEIAL, 1997).

O padrão tecnológico das máquinas de pesponto utilizadas pela

maioria das indústrias de calçados de Franca não tem sofrido alterações

significativas. A maior parte do trabalho é realizada nas antigas máquinas de coluna

que não dispensam a qualificação do trabalhador. Há máquinas que estão há mais

de cinco décadas em operação nas indústrias francanas e ainda funcionam

satisfatoriamente, como é o caso das máquinas de coluna. Com a subcontratação

do trabalho, cresceu também a informalidade do trabalho dos sapateiros, num

quadro de agravamento das condições de trabalho e de maior exploração da força

de trabalho empregada na produção de calçados. São poucas e falhas as

estatísticas oficiais a respeito do número total de bancas e trabalhadores

domiciliares existentes em Franca, envolvidas na produção de calçados desse

município (NAVARRO, 2006).

As mudanças que vêm sendo geradas agravaram problemas

existentes, sobretudo de competitividade, pois muitos setores não se atualizaram, e

tornou mais evidente, aos olhos dos brasileiros, que o desemprego era a grande

questão a ser enfrentada nos anos 90. Diante desse fato, o Setor Informal

novamente é pensado como uma alternativa de emprego de forma a diminuir os

efeitos do desemprego, produto do processo de reestruturação produtiva e as

condições políticas e econômicas brasileiras nesta década. Neste momento, é

oportuno retomar a questão, e se tentar determinar até que ponto o Setor Informal

pode ser pensado como uma boa alternativa de emprego, para absorver a mão-de-

obra deslocada do setor formal da economia (FUENTES, 1997 apud BRAGA FILHO,

2000).

Page 56: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

55

Independentemente de como o trabalho esteja organizado, se em

sistema de linha ou de células, as mudanças que estão sendo implementadas,

visando à redução de custos, alteram as formas de gestão da força de trabalho,

levando a uma maior intensificação do mesmo, à redução de postos de trabalho e à

possíveis alterações na forma de remuneração desse trabalho. Tudo indica que a

reestruturação por que vem passando as indústrias de calçados de Franca nos

últimos anos tem se pautado mais pelo enxugamento do quadro de pessoal e pela

terceirização de parte crescente da produção, ou seja, pela exploração do trabalho

informal, precarizado, subcontratado, do que pela renovação de seu aparato

tecnológico, pela adoção de novas tecnologias e novas formas de organização do

trabalho (NAVARRO, 2006).

1.7 PREVENÇÃO

Em questões multifacetadas como as LER/DORT, a abordagem

sistêmica é crucial. Sem ela a possibilidade de colher fracassos, inclusive a partir

dos altos investimentos, é grande como, aliás, tem sido o caso de muitas

intervenções ergonômicas efetivadas no Brasil, desde que as LER/DORT passaram

a se tornar significativas em algumas regiões. A abordagem sistêmica permite

vislumbrar as LER/DORT no seu conjunto, analisar criteriosamente os fatores

organizacionais e extra-organizacionais nele envolvidos e, então traçar as melhores

estratégias de conduta. Caso a abordagem instantânea não tenha sólida base

sistêmica, pode trazer resultados positivos em curto prazo, que se transformam em

desastres futuros. No mínimo, pode não explicar por que se faz isso e não aquilo;

consomem-se recursos com esta ação e não com aquela. Não basta que as

soluções sejam sólidas em si mesmas: é preciso saber se elas se encaixam no

contexto e nas expectativas de curto, médio e longo prazo das organizações. Tal

abordagem é, também, de grande importância na construção do conhecimento

científico, principalmente quando a ciência se volta para problemas complexos e

com facetas tão variadas, como no caso das LER/DORT. Em países como o Brasil,

abordagens dessa natureza podem parecer utópicas, visto que muitas organizações

lutam com questões operacionais e financeiras muito primitivas. Esse tipo de

Page 57: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

56

raciocínio não deve ser levado a sério por organizações que já compreenderam que

a competição acontece em mercados globalizados (RIO et al., 1998).

Segundo o autor supracitado, a abordagem sistêmica traz certos riscos

que devem ser evitados. Um dos mais importantes e freqüentes, ainda mais num

contexto histórico em que a informação pode ser rapidamente vulgarizada, é a

utilização desse tipo de abordagem para, abstratamente, explicar qualquer coisa.

Por falta de dados, conclui-se que os problemas são de natureza sistêmica e, assim,

obstrui-se o caminho para análises mais detalhadas e precisas.

A prevenção das LER/DORT é um aspecto bastante importante e, em

virtude da sua causalidade, já extensamente demonstrada por Kurppa (1979),

Armstrong (1987), Chatterjee (1987) e Thouvenin et al. (1990), dentre outros, não se

tem dúvida de que é a organização do trabalho que deve ser modificada,

especialmente quanto ao grau de controle do trabalhador sobre a tarefa, ou seja,

deve-se modificar a relação trabalhador-trabalho e não se diminuir a exposição a

fatores de risco.

Porém, levando-se em conta que as condições de negociação são

socialmente dadas, deve-se identificá-las e criá-las. Observamos que há,

cotidianamente, processos de micro negociações no chão de fábrica, os quais visam

contemplar os interesses de diversas ordens, inclusive, os dos trabalhadores (SATO,

1997).

Ao lado disso, a educação em saúde é outra prática que precisa ser

estimulada junto às populações de risco, sendo também uma das propostas que os

próprios portadores de LER/DORT, nos grupos de qualidade de vida,

espontaneamente apresentam. Nessas atividades, parece-nos importante focalizar,

dentre outros aspectos, a importância de se reconhecer e respeitar o limite subjetivo.

1.7.1 Ergonomia

Existem várias abordagens possíveis para a ergonomia. Rio et al.

(1998) reporta que algumas estão mais vinculadas ao que se poderia chamar de

ciência pura, ou a campos mais ligados à epistemologia, ramo da filosofia a qual

estuda os limites da faculdade humana de conhecimento e os critérios que

Page 58: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

57

condicionam a validade do conhecimento humano. Outras são extremamente

especializadas, como aquelas voltadas para o design de componentes de trabalho,

tais como cadeiras e móveis, ou para a adequação de sistemas mais complexos

como os softwares.

Nesse sentido, o autor relata que o trabalho deve ser alvo das mais

sérias, competentes e responsáveis abordagens. Tanto por questões éticas de

respeito pelos seres humanos, quanto por questões pragmáticas relacionadas à

obtenção de resultados produtivos e financeiros. O trabalho e as questões a ele

relacionadas devem ser colocados em lugar prioritário na hierarquia das reflexões e

práticas individuais, organizacionais e sociais, porque ele vem sofrendo fortes e

sucessivos impactos em decorrência da evolução histórica. Provavelmente, sofrerá

mais e maiores impactos nos próximos anos, o que poderá alterar profundamente a

própria natureza do que hoje conhecemos como trabalho. As conseqüências desse

processo são de difícil previsão.

Entende-se que um sistema eficiente seja aquele em que o trabalhador

possa preservar a saúde, que se sinta bem e, como decorrência, permanência

naquele posto por longo tempo e, aí sim, sua experiência e aprendizado revertam na

eficiência do sistema produtivo. A noção de conforto (sempre subjetiva) integraliza

as várias influências em que o corpo se encontra submetido no trabalho (ruídos +

calor + odores + postura, etc.). Conforto integraliza as esferas psíquicas e somáticas

(DINIZ, 1994).

Assim surgiu uma nova ciência denominada ergonomia que do grego

ergon significa trabalho e nomos significa lei.

Wisner (1987) conceitua Ergonomia como o conjunto dos

conhecimentos relativos ao homem e necessários à concepção de instrumentos,

máquinas, e dispositivos que possam ser utilizados com o máximo conforto,

segurança e eficiência.

Carmo (2004) faz referência para definições de ergonomia e cita

autores como Lida (1997), dizendo que a ergonomia é o resultado da adaptação do

trabalho ao homem. Abrangendo não apenas as máquinas e os equipamentos, mas

também toda a situação em que ocorre o relacionamento entre o homem e seu

trabalho. Nesse sentido, o princípio geral da ergonomia prescreve que as máquinas

e o ambiente de trabalho devem ser adaptados ao homem e que devido às grandes

diferenças individuais existentes entre as pessoas, elas podem ser adequadamente

Page 59: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

58

selecionadas, possibilitando modificações pelo treinamento. Portanto, o referido

autor, enfatiza que o objetivo prático da ergonomia visa a minimização dos riscos na

busca de segurança, satisfação e bem-estar dos trabalhadores, associando-os aos

interesses administrativos, o que resulta no aumento da eficiência operária.

Já Puerta e Vallejo (1996), consideram a ergonomia como uma ciência

interdisciplinar, inspirada nas fontes da engenharia, medicina, biologia, ecologia,

psicologia, sociologia, economia e matemática; e que as ciências do homem que

propiciam as suas bases são: a anatomia por meio da antropometria e a

biomecânica; a fisiologia através do estudo do gasto energético e das condições do

ambiente sobre os sentidos (luz, som, gases, ventilação, vibração); a psicologia que

se ocupa da conduta humana no trabalho e a engenharia que estuda o processo

produtivo (relativo à forma de produzir as máquinas a serem empregadas pelo

homem).

Assim, Grandjean (1998), assinala que a ergonomia define-se como o

estudo do comportamento do homem no trabalho e das relações entre o homem no

trabalho e seu ambiente. Como se pode perceber, esse é um conceito bastante

amplo e pode ser aplicado a praticamente toda e qualquer ciência cujo objeto de

estudo seja o ser humano em situações de trabalho.

Santos (1988 apud CARMO, 2004), cita que um dos pilares

fundamentais da ergonomia é o sistema homem-máquina, e comenta que do ponto

de vista ergonômico, uma situação de trabalho é um sistema complexo e dinâmico,

cujas entradas (as exigências de trabalho) determinam a atividade do trabalhador

(os comportamentos de trabalho) e cujas saídas resultam dessa atividade.

Na concepção de Jouvencel (1994 apud CARMO, 2004), a ergonomia

trabalha com noções de sistema homem-máquina-ambiente em equilíbrio e em

desequilíbrio. Para ele, em ergonomia a entropia deve ser considerada na medida

em que a estabilidade do sistema se veja ameaçada, aumentando na medida em

que o grau de desordem introduzido nele seja maior. A ergonomia deve se

preocupar em facilitar um estado de adequação que seja compatível com a mínima

produção de entropia.

Então, Carmo (2004), reporta ao autor supracitado e comenta que o

mesmo considera a capacidade de trabalho de cada indivíduo diferente entre si, e

variam de acordo com os seguintes fatores: físicos (características naturais, saúde,

condições fisiológicas), psicológicos (fadiga mental, aptidão vocacional, interesse

Page 60: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

59

familiar e social) e ambientais (organização do trabalho, jornada laboral, período de

trabalho e período de descanso).

Dois fatores de grande importância, descritos por Rio et al. (1998a),

que contribuíram para dificultar a interpretação, o conhecimento e a adequada

utilização da ergonomia em nosso país é, a abrangência dos conceitos que têm sido

disseminados no Brasil. Assim, foi fazendo interseções com várias áreas da saúde

ocupacional e de outras áreas do conhecimento. Tal evolução tem conduzido a

dificuldades de explicar para as pessoas não especializadas nesse campo científico,

com precisão adequada, o mais elementar, o que é ergonomia. E o outro fator

refere-se ao atrelamento do desenvolvimento da ergonomia no Brasil ao ainda

inexplicado evento histórico das LER/DORT nesse país. Vários investimentos foram

feitos em ergonomia, alguns vultosos, tendo como base sua indicação para a

prevenção e o controle das chamadas LER/DORT. Entretanto, devido à provável

predominância de fatores psicossociais, políticos e econômicos, sobre fatores

ergonômicos específicos, os resultados, freqüentemente, ficaram muito aquém dos

esperados, o que atuou no sentido de desacreditá-la.

Nesse sentido, Lida (1997 apud CARMO, 2004) complementa

acrescentando o conceito da ergonomia de conscientização que é um tipo de

intervenção que, por meio de treinamento e reciclagem periódicos, enfoca meios

seguros de trabalho, reconhecimento de fatores de risco e possíveis soluções a

serem tomadas pelos próprios trabalhadores ou pelos responsáveis.

Então, é através da intervenção ergonômica no ambiente laboral que

os trabalhadores experimentarão os reais benefícios da ergonomia, quer na melhoria

da postura no trabalho, quer na facilidade diante de um trabalho de precisão, através

de uma iluminação mais racional e na utilização de mobiliários mais adequados.

Essas vantagens são denominadas como positividade da prática ergonômica e

somente dessa forma, a organização do trabalho desempenhará um papel

preponderante na determinação das características da atividade física e mental do

trabalhador, como também nas características das condições laborais da atividade

do trabalho e do meio ambiente (DEJOURS, 1992).

Além disso, Deliberato (2002) cita a necessidade do conhecimento dos

aspectos legais que regem o trabalho no Brasil, uma vez que toda e qualquer

proposta de atuação nessa área precisa estar embasada nos aspectos legais que

Page 61: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

60

representam argumentações para justificar a necessidade de implantação de

qualquer tipo de programa de prevenção.

Então, Carmo (2004) considera que de outra forma, fora do contexto

ergonômico, torna-se extremamente difícil manter-se a qualidade de vida, ou garantir

a reabilitação do trabalhador; pois este, no cotidiano do trabalho, além de voltar a

cumprir as tarefas geradoras das LER/DORT, enfrentará o preconceito por parte da

empresa e dos próprios colegas, pois sentirá um ambiente pouco favorável,

debilitado, assim, à tentativa de reversão do quadro clínico dos lesionados.

Enfim, há um longo caminho a ser percorrido pela ergonomia no Brasil

até que ela possa contribuir com todo potencial para reduzir a dor e o sofrimento de

colaboradores e os custos financeiros para as organizações. Mais ainda, contribuir

para a promoção da saúde, a motivação e satisfação dos empregados e para o

aumento da eficácia, produtividade e competitividade das organizações (SAWYER,

1996 apud CARMO, 2004).

Page 62: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

61

2 OBJETIVOS

2.1 GERAL

Traçar o perfil epidemiológico dos casos de LER/DORT em

trabalhadores da indústria calçadista de Franca – SP notificados no CRST (Centro

de Referência em Saúde do Trabalhador) através do RAAT (Relatório de

Atendimento ao Acidentado do Trabalho).

2.2 ESPECÍFICOS

Descrever os casos notificados de LER/DORT identificando: sexo;

ocupação; motivo do acidente; ocorrência e tempo de afastamento (em dias); agente

causador, segmento do corpo atingido e diagnóstico baseado nos grupos de CID-10

incluídos entre as patologias relacionadas a LER/DORT;

Determinar a prevalência de LER/DORT nos trabalhadores da indústria

calçadista de Franca - SP;

Avaliar a vulnerabilidade dos trabalhadores da indústria calçadista de

Franca - SP;

Obter dados que dêem subsídios para implementação de ações de

redirecionamento dos serviços de saúde, assim como para o abrandamento das

conseqüências desse agravo para a classe de trabalhadores da indústria calçadista;

Contribuir para promoção da saúde dos trabalhadores da indústria

calçadista em nosso país.

Page 63: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

62

3 MATERIAL E MÉTODOS

O estudo foi realizado no CRST (Centro de Referência em Saúde do

Trabalhador) órgão da Secretaria Municipal de Saúde da Prefeitura Municipal de

Franca para notificação dos casos de acidentes no trabalho de qualquer natureza

(Anexo 1).

Foi desenvolvido um estudo retrospectivo de corte transversal, através

da avaliação dos RAAT encaminhados ao CRST de Franca (SP) no ano de 2006. Os

dados compilados das CATs e dos RAATs, digitados em programa de informática

denominado Sistema RAAT - Relatório de Atendimento ao Acidentado no Trabalho,

versão: 1.0.38, com data da última alteração em 18/09/2006, desenvolvido pela

Divisão de Informática da Prefeitura Municipal de Franca, utilizado para o

processamento e arquivamento dos dados contidos neste órgão de notificação.

Foram avaliados os dados referentes à relação entre doenças

ocupacionais, acidente do trabalho e LER/DORT; sexo; ocupação; tempo de

afastamento (em dias); motivo de emissão do RAAT; agente causador e diagnóstico

baseado nos grupos de CID-10. Para tanto, foram consideradas as patologias

relacionadas a LER/DORT contidas no Protocolo de investigação, diagnóstico,

tratamento e prevenção de LER/DORT do Ministério da Saúde (MINISTÉRIO DA

SAÚDE, 2000). Segundo o protocolo as patologias são: Outras artroses (M.19. -);

Síndrome cervicobraquial (M.53.1); Dorsalgia (M.54. -); Cervicalgia (M.54.2); Ciática

(M.54.3); Lumbago com ciática (M.54.4); Sinovite e Tenossinovite (M.65. -); Dedo em

gatilho (M.65.3); Outras Sinovites e tenossinovites (M.65.8); Sinovite e Tenossinovite

não especificadas (M.65.9); Outras Bursites do Joelho (M.70.5); Outros transtornos

dos tecidos moles relacionados com o uso excessivo e pressão (M.70.8); Lesão do

ombro (M.75. -); Tendinite calcificante do ombro (M.75.3); Bursite do ombro (M.75.5);

Lesão não especificada do ombro (M.75.9); Outras entesopatias (M.77. -); Mialgia

(M.79. -); Mononeuropatias dos membros superiores (G.56. -); Síndrome do túnel do

carpo (G.56.0); Reumatismo não especificado (M.79.0).

Page 64: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

63

Essas informações foram tabuladas no programa Microsoft Office Excel

2007 e os dados foram analisados para se traçar o perfil epidemiológico, calcular as

prevalências analisados os cruzamentos dos dados.

Por se tratar de dados secundários, o órgão cedente das informações

assinou um Termo de Consentimento Esclarecido Pós-Informação (N° 008/07)

(Anexo 2) sobre os objetivos e procedimentos adotados, conforme Resolução n.

196/96 do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 1996).

Page 65: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

64

4 RESULTADOS

Os resultados a seguir foram obtidos após a análise dos dados

digitados no Sistema RAAT. Eles são referentes aos 2055 casos de RAAT

notificados ao CRST de Franca - SP no ano de 2006.

A partir desses dados, foram definidos os itens a serem estudados,

sendo que, para cada um foi estratificou-se em três níveis, sendo: o primeiro, a

distribuição geral dos casos notificados; o segundo, a distribuição dos casos

notificados referentes aos trabalhadores da indústria calçadista e finalmente, a

terceira estratificação, sobre a distribuição dos casos notificados de doença

ocupacional encontradas entre os trabalhadores da indústria calçadista.

A Tabela 1 (Apêndice A) apresenta a distribuição das ocupações dos

trabalhadores anotadas nos RAAT referentes aos casos notificados ao CRST de

Franca – SP no ano de 2006.

Total de Ocupações

44,59%

52,93%

2,48%As nove maisnotificadas As demaisocupações Não informado

Figura 1 – Distribuição das ocupações no total de notificações

Os resultados demonstraram uma grande amplitude de ocupações

entre os trabalhadores, 134 ao todo, que deram entrada no sistema de notificação

Page 66: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

65

do CRST (Tabela 1). As principais ocupações anotadas nos RAAT em 2006 foram:

Outros trabalhadores de calçados (13,33%); Auxiliar de serviços (8,27%); Auxiliar de

produção (5,99%); Sapateiro, em geral (calçados sob medida) (4,67%);

Trabalhadores de serviços gerais (serviços de conservação, manutenção e limpeza)

(3,55%); Pedreiro, em geral (3,07%); Ajudante geral (3,02%); Lixeiro (2,77%) e

Motorista, em geral (2,29%). As demais ocupações representaram, individualmente,

menos de 2% do total de trabalhadores atendidos, porém representaram 52,93%

das profissões declaradas nos RAAT. Em 2,48% dos RAAT não foi informado o tipo

de ocupação exercida pelo trabalhador (Figura 1).

Os resultados a seguir foram obtidos a partir da separação dos RAAT

daqueles trabalhadores pertencentes a cadeia produtiva do calçado, aqui

denominados trabalhadores da indústria calçadista. Foram 856 casos de RAAT

notificados ao CRST de Franca - SP no ano de 2006.

A Tabela 8 (Apêndice B) apresenta a distribuição das ocupações

anotadas nos RAAT referentes aos casos de trabalhadores da indústria calçadista

notificados ao CRST de Franca – SP no ano de 2006.

Ocupações referentes aos casos de trabalhadores da indústria calçadista

57,93%

42,07%As quatro maisnotificadas

As demaisocupações

Figura 2 – Distribuição das ocupações entre os trabalhadores da indústria calçadista

Dentre as ocupações dos trabalhadores da indústria calçadista

anotadas nos RAAT (Tabela 8), apenas 4 foram responsáveis por 57,93% dos casos

notificados ao CRST de Franca em 2006: outros trabalhadores de calçados

Page 67: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

66

(28,50%), sapateiro, em geral (calçados sob medida) (11,21%), auxiliar de produção

(10,63%) e auxiliar de serviços (7,59%). As demais ocupações representaram

menos de 5% cada uma (Figura 2).

A Tabela 15 (Apêndice C) apresenta a distribuição das ocupações dos

trabalhadores anotadas nos RAAT referentes aos casos notificados de doença

ocupacional entre trabalhadores da indústria calçadista ao CRST de Franca – SP no

ano de 2006.

Figura 3 – Distribuição das ocupações referente aos casos de doença ocupacional entre trabalhadores da indústria calçadista

Ocupações referente aos casos de doenças ocupacionais entre trabalhadores da indústria

calçadista

28,21%

43,59%

15,38%

12,82%Outros trabalhadores decalçadosDemais Ocupações

Sapateiro em geral (calçadossob medida)Auxiliar de produção

Os resultados da Tabela 15 mostraram que: outros trabalhadores de

calçados (28,21%); Sapateiro, em geral (15,38%) e Auxiliar de Produção (12,82%)

responderam por 56,41% das ocupações anotadas nos RAAT (Figura 3).

A Tabela 2 (Apêndice A) apresenta a distribuição dos sexos dos

trabalhadores anotados nos RAAT referentes aos casos notificados ao CRST de

Franca – SP no ano de 2006.

Os resultados da Tabela 2 mostraram uma grande predominância de

trabalhadores do sexo masculino (79,71%) entre os casos notificados ao CRST em

relação aos trabalhadores do sexo feminino (20,29%) (Figura 4).

A Tabela 9 (Apêndice B) apresenta a distribuição dos sexos dos

trabalhadores anotados nos RAAT referentes aos casos de trabalhadores da

indústria calçadista notificados ao CRST de Franca – SP no ano de 2006.

Page 68: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

67

Os resultados da Tabela 9 mostraram que também houve uma grande

predominância do sexo masculino (76,99%) em relação ao feminino (23,01%) entre

os casos de trabalhadores da indústria calçadista notificados ao CRST (Figura 4).

0%

20%

40%

60%

80%

100%

1 2 3

masculino

Feminino

DISTRIBUIÇÃO POR SEXO

1 = Total Notificado; 2 = Indústria Calçadista; 3 = Doença ocupacional Figura 4 – Distribuição dos sexos nos três níveis de estratificação

A Tabela 16 (Apêndice C) apresenta a distribuição dos sexos dos

trabalhadores anotadas nos RAAT referentes aos casos notificados de doença

ocupacional entre trabalhadores da indústria calçadista ao CRST de Franca – SP no

ano de 2006.

Os trabalhadores do sexo masculino (56,41%) foram os mais

freqüentes entre os casos notificados de doença ocupacional em relação aos

trabalhadores do sexo feminino (43,59%) (Figura 4).

A Tabela 3 (Apêndice A) apresenta a distribuição dos motivos de

emissão anotados nos RAAT referentes aos casos notificados ao CRST de Franca –

SP no ano de 2006.

A análise dos resultados da Tabela 3 permite verificar que entre os

motivos de emissão do RAAT o acidente de trabalho (68,13%) vem em primeiro

lugar, seguido por acidente no trajeto (16,20%) e acidentes típicos (12,12%). As

doenças ocupacionais representaram apenas 3,26% dos motivos de emissão do

RAAT. Em 0,29% dos RAAT não havia informações sobre o motivo (Figura 5).

Page 69: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

68

A Tabela 10 (Apêndice B) apresenta a distribuição dos motivos de

emissão anotados nos RAAT referentes aos casos de trabalhadores da indústria

calçadista notificados ao CRST de Franca – SP no ano de 2006.

Figura 5 – Distribuição dos motivos de emissão referente ao total de casos notificados e apenas entre os trabalhadores da Indústria Calçadista

DISTRIBUIÇÃO POR MOTIVO

1 = Total Notificado; 2 = Indústria Calçadista

Acidente do TrabalhoTrajeto Típico Doença OcupacionalNão Informado

21

100%

0%

80%90%

70%60%50%40%30%20%10%

Os resultados da Tabela 10 mostraram que o principal motivo de

emissão do RAAT nos casos de trabalhadores da indústria calçadista foi o acidente

de trabalho (64,72%). Os acidentes durante o trajeto (20,33%) e os acidentes típicos

(10,16%) corresponderam juntos, a 30,49% das notificações em 2006. As doenças

ocupacionais, nesta classe de trabalhadores, representaram 4,56% dos motivos de

emissão do RAAT. Em 0,23% dos RAAT não havia informações sobre o motivo

(Figura 5).

A Tabela 4 (Apêndice A) apresenta a distribuição dos agentes

causadores anotados nos RAAT referentes aos casos notificados ao CRST de

Franca – SP no ano de 2006.

Na observação da Tabela 4 é possível perceber uma grande

predominância dos agentes mecânicos (85,79%) como causadores de eventos que

motivaram a emissão de RAAT e a notificação ao CRST. Os fatores ergonômicos

respondem por 6,57% dos casos, agentes físicos por 3,99% e agentes químicos por

Page 70: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

69

3,11%. Os agentes biológicos (0,39%) e os fatores psicossociais (0,10%)

representaram menos de 1% das notificações. Em apenas um RAAT (0,05%) não

havia informação sobre a causa da notificação (Figura 6).

A Tabela 11 apresenta a distribuição dos agentes causadores anotados

nos RAAT referentes aos casos de trabalhadores da indústria calçadista notificados

ao CRST de Franca – SP no ano de 2006.

0%10%20%30%40%50%60%70%80%90%

100%

1 2 3

Não InformadoPsicossociais

Biológico

Químico

Físico

ErgonômicoMecânico

1 = Total Notificado; 2 = Indústria Calçadista; 3 = Doença ocupacional

DISTRIBUIÇÃO POR AGENTE CAUSADOR

Figura 6 – Distribuição dos agentes causadores nos três níveis de estratificação

Na análise da Tabela 11 foi possível perceber quer os agentes

mecânicos (84,93%) foram os principais agentes causadores anotados nos RAAT

dos casos de trabalhadores da indústria calçadista notificados ao CRST. Os fatores

ergonômicos (8,06%), agentes físicos (3,86%), agentes químicos (3,04%) e fatores

psicossociais (0,12%) responderam juntos, por 15,03% dos casos notificados (Figura

6).

A Tabela 17 (Apêndice C) apresenta a distribuição dos agentes

causadores anotados nos RAAT referentes aos casos notificados de doença

ocupacional entre trabalhadores da indústria calçadista ao CRST de Franca – SP no

ano de 2006.

Os resultados da Tabela 17 mostraram que os fatores ergonômicos

(84,62%) e os agentes mecânicos (10,26%) corresponderam a 94,88% das causas

Page 71: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

70

de notificação de doença ocupacional entre trabalhadores da indústria calçadista de

Franca em 2006 (Figura 6).

A Tabela 5 (Apêndice A) apresenta a distribuição do tempo de

afastamento (em dias) anotado nos RAAT referentes aos casos notificados ao CRST

de Franca – SP no ano de 2006.

Do total de casos notificados ao CRST de Franca em 2006, apenas

13,97% não geraram afastamento (0 dias) dos trabalhadores envolvidos (Tabela 5).

O tempo médio de afastamento foi de 30,7 dias. A maioria dos afastamentos foi de

15 dias ou menos (84,18%), porém em 68,81% dos casos os trabalhadores

permaneceram afastados de suas atividades laborais por 7 dias ou menos. Apenas

1,27% dos afastamentos foram superiores a 15 dias. Em 0,58% dos RAAT não havia

informações a respeito do tempo de afastamento dos trabalhadores (Figura 7)

A Tabela 12 (Apêndice B) apresenta a distribuição dos agentes

causadores anotados nos RAAT referentes aos casos de trabalhadores da indústria

calçadista notificados ao CRST de Franca – SP no ano de 2006.

0%10%20%30%40%50%60%70%80%90%

100%

1 2 3

Acima de 15De 1 a 150 dias

1 = Total Notificado; 2 = Indústria Calçadista; 3 = Doença ocupacional

DISTRIBUIÇÃO POR TEMPO DE AFASTAMENTO

Figura 7 – Distribuição do tempo de afastamento (em dias) nos três níveis de estratificação

O tempo médio de afastamento entre os casos de trabalhadores da

indústria calçadista notificados ao CRST foi de 5,28 dias (Tabela 12). Em 69,39%

dos casos o tempo de afastamento foi igual ou menor que 7 dias. Em 10,75% dos

casos não houve necessidade de afastamento (0 dias). Os afastamentos superiores

Page 72: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

71

a 7 dias corresponderam a menos de 20% dos casos e em apenas 0,93% dos RAAT

não havia informação referente ao tempo de afastamento do trabalhador (Figura 7).

A Tabela 18 (Apêndice C) apresenta a distribuição do tempo de

afastamento (em dias) anotados nos RAAT, referentes aos casos notificados de

doença ocupacional entre trabalhadores da indústria calçadista ao CRST de Franca

– SP no ano de 2006.

O tempo médio de afastamento nos casos notificados de doença

ocupacional em 2006 (Tabela 18) foi de 13,69 dias. Os resultados mostraram que

em 25,64% o trabalhador não foi afastado das suas funções. Porém, foi possível

perceber que 69,24% dos afastamentos foram iguais ou inferiores a 15 dias (Figura

7).

A Tabela 6 (Apêndice A) apresenta a distribuição dos diagnósticos

baseados nos grupos de CID-10 anotados nos RAAT referentes aos casos

notificados CRST de Franca – SP no ano de 2006.

Os resultados dos diagnósticos da Tabela 6 baseados nos grupos de

CID-10, anotados nos RAAT, mostraram que 50,17% das ocorrências notificadas em

2006 estão relacionadas aos 10 diagnósticos a seguir: S.61.0 Ferimento de dedo(s)

sem lesão da unha, 10,02%; S.60.0 Contusão de dedo(s) sem lesão da unha,

9,39%; S.61 Ferimento do punho e da mão, 9,25%; M.54.5 Dor lombar baixa, 6,08%;

S.51.9 Ferimento do antebraço, parte não especificado, 3,80%; S.91 Ferimentos do

tornozelo e do pé, 2,92%; S.61.9 Ferimento do punho e da mão, parte não

especificada, 2,53%; S.80.0 Contusão do joelho, 2,14%; S.40 Traumatismo

superficial do ombro e do braço, 2,04%; M.65.9 Sinovite e tenossinovite não

especificadas, 2,00%. Os demais diagnósticos anotados nos RAAT, corresponderam

a 209 patologias e representaram menos de 2,00% cada um (Figura 8).

A Tabela 7 (Apêndice A) apresenta a distribuição dos diagnósticos

baseados nos grupos de CID-10 relacionados a LER/DORT anotados nos RAAT

referentes aos casos notificados CRST de Franca – SP no ano de 2006.

Os casos de diagnósticos, baseados nos grupos de CID-10, anotados

nos RAAT na Tabela 7 mostraram que, dentre as notificações ocorridas em 2006,

haviam 78 casos relacionados a LER/DORT. Foram 10 tipos de patologias

diagnosticadas, sendo que os quatro primeiros diagnósticos representaram 91,03%

das notificações. São eles: M.65.9 Sinovite e Tenossinovite não especificadas,

52,56%; M.75.9 Lesão não especificada do ombro, 24,36%; M.54. Dorsalgia, 5,13%

Page 73: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

72

e M.54.2 Cervicalgia, 5,13%. Os demais diagnósticos representaram menos de

4,00% cada um (Figura 8).

A Tabela 13 (Apêndice B) apresenta a distribuição dos diagnósticos

baseados nos grupos de CID-10 anotados nos RAAT referentes aos casos de

trabalhadores da indústria calçadista notificados ao CRST de Franca – SP no ano de

2006.

Os resultados dos diagnósticos da Tabela 13 baseados nos grupos de

CID-10 mostraram que das 137 patologias anotadas nos RAAT dos trabalhadores da

indústria calçadista, 9 delas representaram 52,23% dos diagnósticos das

ocorrências notificadas em 2006. São elas: S60.0 Contusão de dedo(s) sem lesão

da unha (12,97%); S61.0 Ferimento de dedo(s) sem lesão da unha (12,27%); S61

Ferimento do punho e da mão (10,63%); M54.5 Dor lombar baixa (4,44%); S51.9

Ferimento do antebraço, parte não especificado (3,62%); M65.9 Sinovite e

tenossinovite não especificadas (3,04%); S61.9 Ferimento do punho e da mão, parte

não especificada (3,04%); S91 Ferimentos do tornozelo e do pé (2,92%); S40

Traumatismo superficial do ombro e do braço (2,24%) (Figura 8).

0%10%20%30%40%50%60%70%80%90%

100%

1 2 3

LER/DORT

Outras

1 = Total Notificado; 2 = Indústria Calçadista; 3 = Doença ocupacional

DISTRIBUIÇÃO POR DIAGNÓSTICO / LER/DORT

Figura 8 – Distribuição dos diagnósticos nos três níveis de estratificação

A Tabela 14 (Apêndice B) apresenta a distribuição dos diagnósticos

baseados nos grupos de CID-10 relacionados a LER/DORT anotados nos RAAT

referentes aos casos de trabalhadores da indústria calçadista notificados ao CRST

de Franca – SP no ano de 2006.

Page 74: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

73

Os resultados da Tabela 14 mostraram a ocorrência de 7 patologias

relacionadas a LER/DORT anotadas nos RAAT dos trabalhadores da indústria

calçadista, 2 delas, M65.9 Sinovite e tenossinovite não especificadas (56,52%) e

M75.9 Lesão não especificada do ombro (28,26%), representaram 84,78% dos

diagnósticos no ano de 2006 (Figura 8).

A Tabela 19 (Apêndice C) apresenta a distribuição dos diagnósticos

baseados nos grupos de CID-10 anotados nos RAAT referentes aos casos

notificados de doença ocupacional entre trabalhadores da indústria calçadista ao

CRST de Franca – SP no ano de 2006.

Os casos de diagnósticos, baseados nos grupos de CID-10, anotados

nos RAAT da Tabela 19 mostraram que 51,28% dos casos notificados de doença

ocupacional foram de Sinovite e Tenossinovite não especificadas (M.65.9) (Figura

8).

A Tabela 20 (Apêndice C) apresenta a distribuição dos diagnósticos

baseados nos grupos de CID-10 relacionados a LER/DORT anotados nos RAAT

referentes aos casos notificados de doença ocupacional entre trabalhadores da

indústria calçadista ao CRST de Franca – SP no ano de 2006.

Os resultados da Tabela 20 mostraram que 76,92% dos casos

notificados de doença ocupacional, relacionados a LER/DORT, entre trabalhadores

da indústria calçadista foram de Sinovite e Tenossinovite não especificadas (M.65.9)

(Figura 8).

Page 75: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

74

5 DISCUSSÃO

O estudo teve como alicerce central, buscar uma visão epidemiológica

sobre a prevalência da LER/DORT e que, relacionado com trabalhos de outros

autores desse controverso tema, pudesse nos oferecer os caminhos para o

entendimento da polêmica que gira em torno do assunto, quando tratamos dessa

síndrome entre os trabalhadores da Indústria Calçadista.

Wünsch Filho (1997) ressalta que o NIOSH (National Institute for

Occupational Safety and Health) classifica as LER/DORT entre os dez mais

significativos problemas de saúde ocupacional nos Estados Unidos, estimando que

correspondam a cerca de metade das doenças ocupacionais notificadas. Em

algumas empresas, estimou-se que a prevalência de LER/DORT atinge

aproximadamente 25% da população trabalhadora.

Segundo Oliveira et al. (1998), entre 1.691.000 trabalhadores

japoneses expostos, 10%, em média, tinham os sintomas da doença. A maior

prevalência (20,9%) era entre trabalhadores de linha de montagem, mas a terceira

categoria atingida, com 9,4% de prevalência, era a dos trabalhadores de escritórios.

Sendo assim, para que se pudesse ter um parâmetro inicial de

comparação, utilizou-se todas as notificações recebidas no CRST de Franca – SP

no ano de 2006, excetuando apenas dois casos que por questão de total falta de

critérios na notificação, tiveram que ser excluídos do grupo de 2057 casos

notificados. Na análise dos resultados foi possível observar que quando considera-

se as ocupações no total de casos notificados (Tabela 1), as maiores freqüências

foram: Outros trabalhadores de calçados (13,33%); Auxiliar de serviços (8,27%);

Auxiliar de produção (5,99%); sapateiro em geral (calçados sobre medida) (4,67%),

que são todas ocupações integradas na cadeia produtiva do calçado, e se

comparados aos resultados das ocupações anotadas apenas nos casos notificados

de trabalhadores da indústria calçadista (Tabela 8): Outros trabalhadores de

calçados (28,55%); Sapateiro, em geral (calçados sob medida) (11,21%); Auxiliar de

produção (10,63%); Auxiliar de serviços (7,59%); Acabador de calçados (4,67%);

ocorre uma semelhança de forma que, em ambos os casos, tais ocupações se

Page 76: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

75

mantém entre as mais freqüentes de notificação daquela cidade. Percebe-se

também que o mesmo aconteceu na Tabela 15 onde foram anotadas as ocupações

mais freqüentes apenas nos casos de doenças ocupacionais entre os trabalhadores

da indústria calçadista.

Segundo Carvalho (2002), na estratificação dos trabalhadores com

LER/DORT por função, as maiores freqüências encontradas foram: preparadeira

(18,01%); serviços gerais (17,11%); costureira (14,41%) e passador de cola

(13,51%).

Nos dados obtidos por Settimi e Silvestre (1995), constatou-se que na

distribuição por função, montador com 30,2% e operador de máquinas com 1,5%

formaram os dois extremos estatísticos.

Tanaka et al. (1995) reporta que os ramos de atividades com maiores

prevalências foram: produtos de alimentação, serviços de reparos de automóveis,

transportes e construção civil. As ocupações que registraram maior número de

indivíduos com queixas de LER/DORT foram: trabalhadores dos correios,

profissionais de saúde e de montagem de equipamentos em geral.

Em outro estudo realizado nos CEREST da Prefeitura de São Paulo,

destacaram-se como as funções mais envolvidas na produção de LER/DORT:

auxiliar de produção industrial e digitador com 24,5% e 17,6% respectivamente,

constatando que no extremo inferior dos cálculos se encontrava o operador de

máquinas industriais.

De acordo com o United States Bureau of Labour Statistics, entre 1981

e 1994, houve nos EUA um consistente aumento no número de casos de doenças

ocupacionais incluindo os casos de LER/DORT. Em 1981 houve registro de 22.600

casos que representaram 18% das doenças ocupacionais daquele país, ao passo

que em 1994 foram 332.000, representando 65% de todas as doenças ocupacionais,

portanto, um aumento de 14 vezes.

Segundo Oliveira (1998), as afecções músculo-esqueléticas

relacionadas ao trabalho atingem na sua imensa maioria das vezes as mulheres,

apesar de não serem exclusivas dessas. Isto é creditado à menor qualificação deste

grupo de trabalhadores, às necessidades das mesmas de executarem tarefas

domésticas em uma segunda jornada de trabalho, a uma pressão maior dos chefes

e supervisores, aos baixos salários com uma conseqüente maior insatisfação no

Page 77: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

76

trabalho, além de possuírem constituição muscular mais frágil, ou seja, menos

resistentes à sobrecarga de trabalho.

Carvalho (2002) cita que na linha de produção de uma indústria de

calçados de Franca, quanto ao gênero, revelou grande predominância do sexo

feminino com 76% da amostra avaliada.

De acordo com dados coletados do NUSAT-MG (1995), na análise das

prevalências de LER/DORT por sexo, observou-se que a grande maioria dos casos

notificados é de trabalhadores do sexo feminino (94,9%). Dos trabalhadores com

LER/DORT, a prevalência é de 44,0% no sexo feminino e de 7,4% no sexo

masculino.

Em contrapartida, apesar de Carvalho (2002) apontar uma

predominância de mulheres na linha de produção, observou-se que o sexo

masculino foi mais predominante (79,71%) em relação ao feminino (20,29%) no total

de casos notificados (Tabela 2). Resultado semelhante foi encontrado nos casos

notificados apenas de trabalhadores da indústria calçadista (Tabela 9), do sexo

masculino (76,99%) contra (23,01%) do sexo feminino. Porém, nos casos notificados

de doenças ocupacionais entre os trabalhadores da indústria calçadista (Tabela 16),

houve uma aproximação entre os sexos masculino (56,41%) e feminino (43,59%),

fato que, apesar de ser diferente dos achados de Carvalho (2002), mostrou que há

uma maior tendência de trabalhadores do sexo feminino sofrerem com a LER/DORT

conforme citou Oliveira (1998).

Neste estudo, quando da relação dos agentes causadores entre o total

de casos notificados (Tabela 4), dos agentes referentes aos casos apenas de

trabalhadores da indústria calçadista (Tabela 11), tal relação se manteve

aparentemente semelhante, sendo encontrados os dois agentes de maior freqüência

como sendo agente mecânico (85,79% e 84,93% respectivamente) e fatores

ergonômicos (6,57% e 8,06% respectivamente). Porém, verificou-se, que nos casos

notificados de doença ocupacional entre trabalhadores da indústria calçadista

(Tabela 17) houve um aumento relativo na freqüência dos fatores ergonômicos

(84,62%) e nos fatores psicossociais (de 0,10% e 0,12% respectivamente para

2,56%). Portanto, foi possível perceber que fatores ergonômicos e psicossociais

tiveram maior participação como agentes causais nos casos notificados de doença

ocupacional, fato esse, corroborado por autores como Verthein (2000) e Rio et al.

(1998). Os autores citados destacam a importância desses dois agentes na gênese

Page 78: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

77

das LER/DORT e comentam que eles fazem parte do perfil multicausal desta

síndrome.

Entre os notificados no CRST (Franca-SP, 2006), considerados aqui

como total de casos notificados, a distribuição por motivo de emissão de RAAT

(Tabela 3) ocorreu na seguinte ordem: Acidente do Trabalho (68,13%); Trajeto

(16,20%); Típico (12,12%); Doenças Ocupacionais (3,26%), e manteve-se na

mesma ordem na Tabela 10, onde a distribuição dos motivos de emissão de RAAT

foi referente aos casos de trabalhadores da indústria calçadista.

No Brasil, o número de casos de LER/DORT vem aumentando de

sobremaneira, especialmente em escritórios e em bancos. Segundo o relatório do

NUSAT (1995), dos 1643 casos de avaliação de doença ocupacional feitos por

aquela instituição em Belo Horizonte, nada menos de 1160 (70,60%) eram casos de

LER/DORT. Ainda segundo os dados do NUSAT/MG, há uma grande predominância

de lesões por esforços repetitivos entre trabalhadores de atividades de escritório, e

de bancos. No total, as atividades desenvolvidas em escritório e bancos contribuem

com aproximadamente 60% dos casos de LER/DORT, e as indústrias, 30%

(CARNEIRO; COUTO, 1997).

Sendo assim, se forem considerados os dados encontrados neste

trabalho, em comparação aos dados do NUSAT/MG, pode-se observar que, se

houve uma alta incidência de LER/DORT entre os trabalhadores portadores de

doença ocupacional referidas por Couto (1997), e a incidência das doenças

ocupacionais entre os trabalhadores calçadistas foi notoriamente confirmada baixa

(4,56%), podemos supor também que a incidência de LER/DORT no presente

estudo não foi tão significativa como o encontrado por outros autores.

Talvez essas diferenças ocorram decorrentes de fatores sociais,

organizacionais, psicossociais e políticos, gerando receios por parte dos

trabalhadores no que diz respeito ao não reconhecimento da doença pela

sociedade, pela empresa, pelo médico assistente e do trabalho e até pela família, o

medo de assumir a doença esperando reações negativas, a pressão contra o

absenteísmo, a demissão e outros. Hadler (1997) comenta sobre a questão da

escolha, por parte do empregado, do caminho ligado à causalidade de um distúrbio

músculo-esquelético e segundo ele, a pessoa procura lidar pessoalmente com o

problema, sem recorrer a nenhum tipo de assistência médica; ou escolhe ser

paciente e procura atenção médica, sem entrar no universo das questões

Page 79: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

78

relacionadas ao trabalho; ou ainda procura assistência no contexto de sistemas de

compensação de doenças relacionadas ao trabalho, colocando as diversas questões

do trabalho como foco central dos problemas. Escolher é um processo que é

facilmente perturbado por noções pré-concebidas e por exigências da vida.

Quando analisados os dados relativos em ambas tabelas: Tabela 3

(3,26%) e Tabela 10 (4,56%), observamos que houve um pequeno aumento relativo

de doenças ocupacionais entre os trabalhadores da indústria calçadista, mas que

demonstra que houve um aumento de sua incidência entre essa classe trabalhadora

em relação à população trabalhadora em geral.

De acordo com Antunes (1999), a expansão dos casos de LER/DORT

vem acarretando, pelos números ascendentes de benefícios pleiteados ou

concedidos, forte impacto no sistema de previdência pública e, por conseguinte, na

distribuição do ônus para o conjunto da sociedade.

As conseqüências lesivas deste grupo de agravos interferem

drasticamente na vida do trabalhador e é um dos principais fatores responsáveis

pelo absenteísmo gerando grandes transtornos tanto para a empresa e a

previdência, quanto para o trabalhador acometido.

Analisando-se a distribuição do tempo de afastamento em dias do total

de casos notificados (Tabela 5), trabalhadores da indústria calçadista (Tabela 12) e

casos notificados de doença ocupacional entre os trabalhadores da indústria

calçadista (Tabela 18), pode-se notar que 25,64% das notificações de doença

ocupacional, não geraram afastamento (0 dia); obteve-se também o resultado de

71,96% com sete dias ou menos de afastamento entre os trabalhadores da indústria

calçadista geral e neste mesmo grupo encontramos a maior incidência de

afastamentos entre um e 15 dias (87,03%), portanto, considerando-se que

afastamentos até 15 dias são de responsabilidade do empregador, apenas uma

pequena parcela recai sobre Previdência Social.

Supõe-se que, segundo este trabalho, as indústrias calçadistas da

cidade de Franca-SP, devem ser as maiores interessadas em reduzir a incidência

tanto de doenças do trabalho de qualquer natureza como de doenças ocupacionais.

Em relação a trabalhadores que utilizam e sobrecarregam os membros

superiores expostos aos riscos de contraírem LER/DORT, como os do setor

calçadista, em pesquisa da literatura encontramos trabalhos que abordaram outros

ramos, mas que possuem semelhanças no que diz respeito aos fatores de riscos,

Page 80: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

79

conforme citado por Hocking (1987) entre 1981 e 1985, que encontrou taxas de

prevalência de lesões dos membros superiores que variavam de 3,3% a 34% entre

telegrafistas, datilógrafos, telefonistas e outros trabalhadores administrativos, sendo

que 76% dos casos identificados resultaram em afastamentos do trabalho. Outros

estudos apontados por Santos Filho e Barreto (1998), com a utilização de exame

clínico para confirmação diagnóstica, constataram prevalência de 19,5% de doenças

músculoesqueléticas dos membros superiores entre telefonistas.

No Brasil, os dados disponíveis são aqueles da Previdência Social, que

se referem apenas aos trabalhadores do mercado formal regido pela CLT e com

contrato trabalhista, o que totaliza menos de 50% da população trabalhadora e o

sistema nacional de informação do Sistema Único de Saúde não inclui os acidentes

de trabalho em geral e nem LER/DORT, em particular, o que não permite se ter

dados epidemiológicos que cubram a totalidade dos trabalhadores,

independentemente de seu vínculo empregatício.

De acordo com Szabo (1995), o diagnóstico das LER/DORT é,

essencialmente clínico e baseia-se na história clínico-ocupacional completa, no

exame físico detalhado, na análise das condições de trabalho responsáveis pelo

aparecimento da lesão, em dados epidemiológicos e muito raramente em exames

complementares. A teoria da multicausalidade da LER/DORT serve para consolidar

a medicina científica contemporânea, sendo de indiscutível eficácia social e

individual para estabelecer as bases no seu reconhecimento como doença do

trabalho, mas é insuficiente para explicar a patologia como um todo. É nesse

momento que o examinador deve estar atento, procurando exaustivamente entender

o universo do trabalho do examinado.

Para a análise da freqüência das patologias que mais acometem a

população trabalhadora, especialmente as relacionadas à LER/DORT baseou-se

nos grupos da CID-10, conforme determina o Protocolo de Investigação,

Diagnóstico, Tratamento e Prevenção de LER/DORT do Ministério da Saúde. Foram

montadas tabelas comparativas entre a distribuição dos diagnósticos baseados nos

grupos de CID-10 anotados nos RAAT referente aos casos notificados ao CRST e

distribuição nos diagnósticos baseados nos grupos de CID-10 relacionados a

LER/DORT (Tabelas 6 e 7 respectivamente); distribuição dos diagnósticos baseados

nos grupos de CID-10 referentes aos casos de trabalhadores da indústria calçadista

e distribuição de casos nos grupos de CID-10 relacionados a LER/DORT entre

Page 81: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

80

trabalhadores dessa categoria (Tabelas 13 e 14 respectivamente); e finalmente

tabelas de distribuição de diagnósticos notificados entre trabalhadores portadores de

doenças ocupacionais entre os trabalhadores calçadistas e os baseados nos grupos

de CID-10 relacionados à LER/DORT (Tabelas 19 e 20 respectivamente).

Com isso pode-se notar que, tanto na população trabalhadora em geral

como entre os trabalhadores da indústria calçadista (Tabelas 6 e 13), as mais

freqüentes notificações foram decorrentes de acidente de trabalho de qualquer

natureza, permanecendo em segundo plano os grupos relacionados a doenças

ocupacionais e LER/DORT, porém as somatórias de todas as notificações de

doenças ocupacionais representam 52,9% para a Tabela 13, o que demonstra a

maioria absoluta de casos relacionados a doenças ocupacionais entre os

trabalhadores da indústria calçadista.

No Brasil, no início da década de 1980 foi identificado em bancários

digitadores de uma agência estatal os sintomas osteomusculares com as

características de doença do trabalho (ROCHA apud RIBEIRO, 1997). Logo estes

diagnósticos passaram a ser mais freqüentes, culminando com o reconhecimento da

LER/DORT como doença do trabalho. Tais problemas foram os mais notificados,

juntamente à surdez, na década de 1990 (NUSAT apud RIBEIRO, 1997).

Segundo a Previdência Social, essas patologias são responsáveis pela

maioria das doenças ocupacionais, tendo uma participação de mais de 70% dos

casos reconhecidos.

Ao observarmos a Tabela 19 referente aos casos notificados de

doença ocupacional, pode-se verificar que os casos notificados são dominados na

maioria absoluta pelos diagnósticos relacionados à LER/DORT.

Outro fator relevante a ser mencionado é que quando da estratificação

da pesquisa, observou-se nas Tabelas 7, 14 e 20 onde retrata a freqüência da

LER/DORT nos três níveis: total de casos notificados, trabalhadores da indústria

calçadista e doença ocupacional entre os trabalhadores da indústria calçadista,

respectivamente, encontrou-se um aumento relativo chegando ao seu pico maior na

Tabela 20. Então, demonstrou-se possivelmente que a linha de produção calçadista

traz maiores exposições a riscos que levam a ocorrência da LER/DORT.

Ainda nessa mesma análise é válido citar que as maiores freqüências

de diagnósticos relacionados a LER/DORT encontradas entre os trabalhadores

calçadistas que notificaram doença ocupacional (Tabela 20), são: M659 (Sinovite e

Page 82: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

81

Tenosinovite não especificada) (76,92%); M77 (Outras entesopatias) (7,69%); M658

(Outras sinovites e tenossinovites) (3,85%); M759 (Lesão não especificada do

ombro) (3,85%); G560 (Síndrome do túnel do carpo) (3,85%); M790 (Reumatismo

não especificado) (3,85%) lembrando que M79 é o grupo que contém as

fibromialgias e as neurodistrofias simpático-reflexas de origem psicossocial no caso

das LER/DORT. Percebe-se que as tendinites não especificadas foram as mais

freqüentes, a Síndrome do Túnel do Carpo não teve tanta expressividade (quinta

posição na Tabela 20) e o diagnóstico M790, relacionados aos transtornos

psicossociais, foram os menos freqüentes em todos os níveis de estratificação

(Tabelas 7, 14 e 20), apesar de inúmeros trabalhos recentes abordarem tal tema.

Numerosos estudos durante os últimos cem anos mostram que as

tendinites são as maiores causas de sofrimento do trabalhador cuja atividade é

manual, bem como de indenização trabalhista. Dados epidemiológicos mostram que

o risco de tendinites de mãos e punhos em pessoas as quais executam tarefas

altamente repetitivas e forçadas é 29 vezes maior do que em pessoas as quais

executam tarefas lentas e pouco repetitivas e forçadas. No Japão, 1.691.000

trabalhadores japoneses expostos, 10%, em média, tinham os sintomas da doença.

A maior prevalência (20,9%) era entre trabalhadores de linha de montagem, mas a

terceira categoria atingida, com 9,4% de prevalência, era a dos trabalhadores de

escritórios (ARMSTRONG et al., 1984; OLIVEIRA et al., 1998).

Com relação à Síndrome do túnel do carpo, Tanaka et al. (1995), em

um estudo de prevalência realizado nos Estados Unidos, com 44.233 entrevistas a

partir de amostra de base domiciliar, encontrou a auto-referência à síndrome do

túnel do carpo por parte de 2,65 milhões (1,55% entre 170 milhões de adultos).

Entre os 127 milhões que trabalharam nos últimos 12 meses anteriores à pesquisa,

0,53% (0,68 milhões) referiram que a síndrome foi caracterizada por profissional de

saúde (TANAKA et al., 1995).

Outro estudo nos EUA estimou em cerca de 400.000 a 500.000 as

cirurgias de túnel do carpo realizadas anualmente (PALMER; HANRAHAN, 1995;

WÜNSCH FILHO, 1997).

Teshima e Fonseca (1994) sugeriram uma relação indireta com a

Síndrome do túnel do carpo, pois, consideraram as regiões mais afetadas mão e

punho com 98,8% e ombro e cotovelo com 31,0%, perfazendo total de 129,8%. Isso

foi devido a algumas lesões ocorrerem em mais de um local ao mesmo tempo.

Page 83: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

82

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo é o resultado de alguns anos de prática nas áreas de

ortopedia, medicina do trabalho e perícia médico-previdenciária.

Na condição de entusiasta sobre o assunto e residindo na cidade de

Franca-SP, foi possível estabelecer contato íntimo com a saúde ocupacional das

indústrias de calçados, acompanhando o desenvolvimento da relação entre

trabalhador e trabalho, empresários e empregados, empresa e previdência.

A pesquisa foi realizada com atenção principal no perfil epidemiológico

da LER/DORT entre os trabalhadores da indústria de calçados de Franca-SP.

Procurou-se determinar as freqüências relativas à: ocupação, sexo, tempo de

afastamento, agentes causadores e diagnóstico baseado nos grupos da CID-10.

Para com isso, extrair dados sobre a vulnerabilidade do trabalhador calçadista e

obter subsídios para que pudéssemos sugerir ações tanto para os serviços de saúde

como para os centros de notificação, contribuindo assim para a promoção de saúde

desses trabalhadores.

Na análise dos dados, extraídas de todas as notificações recebidas

pelo CRST de Franca-SP em 2006, houve uma amplitude de 134 ocupações, sendo

que as maiores freqüências foram as relacionadas àquelas que fazem parte da linha

de produção calçadista, independentemente da estratificação utilizada para a

análise, o que demonstra que nesta cidade há uma prevalência importante de casos

relacionados a LER/DORT. Possivelmente, isso se deve ao tipo de calçado

produzido nas indústrias francanas, com sua forma de produção manual e quase

artesanal, a estrutura organizacional das empresas, e as mais variadas formas de

relação trabalhista.

De acordo com as informações coletadas referentes ao sexo dos

trabalhadores, em um primeiro momento acreditou-se que, contrariando a literatura,

o sexo masculino fosse encontrado com uma freqüência bem maior que o sexo

feminino. No entanto, percebeu-se que nos casos de doenças ocupacionais

relacionadas a LER/DORT em trabalhadores da indústria calçadista, a prevalência

Page 84: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

83

nos dois gêneros é muito próxima. Talvez isso possa ser creditado às peculiaridades

físicas e sociais das mulheres, que por terem conformação física menos privilegiada

e por cumprirem, muitas das vezes, uma segunda jornada de trabalho em casa, as

tornem mais vulneráveis à ocorrência de injúrias que as levem a LER/DORT.

Quanto aos agentes causadores pode-se constatar que, conforme o

encontrado pela maioria dos autores, os agentes mecânicos e ergonômicos são os

que mais contribuem com a prevalência da LER/DORT. Esse fato se repetiu nos

trabalhadores da indústria calçadista de Franca e também contribuiu para isso, em

menor escala, os fatores psicossociais.

A literatura mostra que fatores políticos, organizacionais, sociais e

psicossociais influenciam na decisão dos trabalhadores em revelar seu sofrimento

em relação à doença, pela falta de credibilidade da própria sociedade nos seus mais

variados setores, inclusive no âmbito familiar, em decorrência da difícil comprovação

do diagnóstico e sua causalidade. Talvez isso explique a dificuldade que se

encontrou para definir o motivo pelo qual ocorreu a notificação dos casos nesta

pesquisa, mas, pode-se afirmar que, a ocorrência de acidente do trabalho é

evidentemente maior do que a notificação de doenças ocupacionais, entretanto,

também pode-se perceber que entre os trabalhadores da indústria de calçados,

portadores de doenças ocupacionais, a maior freqüência é de casos relacionados a

LER/DORT.

Em relação ao tempo de afastamento, em uma considerável parcela

dos casos notificados o trabalhador foi afastado de suas funções por 15 dias ou

menos. Em menor escala não ocorreram afastamentos e apenas uma pequena

parcela teve afastamento prolongado acima dos 15 dias.

Essa grande incidência de afastamentos entre um e 15 dias, pode se

dever ao fato de que a LER/DORT, em suas primeiras fases (0 a 2), quando

submetida a tratamento clínico-medicamentoso e afastamento por até 15 dias,

ocorre uma melhora satisfatória durante um período igual ou maior a sessenta dias,

prazo esse que a legislação trabalhista confere direito à novo afastamento de

responsabilidade da empresa. E esse fenômeno se repete com um mesmo

trabalhador inúmeras vezes até que sua doença progrida para fases mais graves e

crônicas, quando somente neste momento o trabalhador é afastado por períodos

maiores.

Page 85: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

84

Considerando-se que o abono por falta justificada até 15º dia é de

responsabilidade do empregador, os resultados apontam para uma maior

necessidade das indústrias calçadistas de Franca em desenvolver estratégias para

reduzir a incidência tanto de doenças do trabalho de qualquer natureza como de

doenças ocupacionais, em especial a LER/DORT.

Nos diagnósticos que geraram notificações pode-se notar que houve

uma maioria absoluta de casos relatados de doenças ocupacionais e LER/DORT, se

somados os percentuais de todos os diagnósticos relacionados a estes casos.

Pode-se também deixar anotado que na análise das estratificações da

pesquisa sobre esse item (diagnóstico) ocorreu um aumento relativo, o que também

evidencia que na indústria calçadista há uma maior ocorrência de LER/DORT do que

nos trabalhadores em geral.

A maior prevalência dentre os diagnósticos relacionados a LER/DORT

realizados entre os trabalhadores da indústria do calçado é do grupo das sinovites e

tenosinovites e a menor prevalência é do grupo das doenças relacionadas aos

transtornos psicossociais, o que confirma os relatos da literatura pesquisada.

Portanto, tendo em vista a maior vulnerabilidade apontada neste grupo

populacional, medidas voltadas a promoção da saúde desses trabalhadores

poderiam reduzir sobremaneira o sofrimento e os prejuízos causados pela

LER/DORT.

Para que haja uma efetiva contribuição desse estudo para a promoção

da saúde dos trabalhadores da indústria calçadista de Franca-SP, passamos a

pontuar algumas observações importantes.

Em primeiro lugar, devemos alertar os trabalhadores da área da saúde

de que a LER/DORT é uma doença multifatorial e que, portanto tem um tratamento

multidisciplinar, sendo assim, as autoridades devem atentar-se em treinar e montar

equipes envolvendo todos os profissionais necessários para o bom prognóstico,

evitando a cronificação dessa doença.

Ao médico que faz o diagnóstico, principalmente o médico do trabalho,

deve dedicar-se ao aprimoramento continuado para que esteja sempre preparado

para identificar a doença em tempo hábil, ou seja, nas primeiras fases do seu

desenvolvimento.

Ficou evidente neste trabalho que existe uma carência importante de

dados oficiais sobre os mais variados aspectos da epidemiologia das LER/DORT em

Page 86: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

85

nosso país e, como não seria diferente, em Franca. Assim, tendo em vista as

dificuldades encontradas na manipulação da base de dados para que fosse

realizado esse estudo, alertamos o CRST-Franca que há necessidade de melhorias

técnicas do programa de armazenamento de dados denominado Sistema RAAT –

versão: 1.0.38. Apesar do programa representar um avanço importante na forma de

se armazenar o grande volume de informações geradas pelos Relatórios de

Atendimento ao Acidentado do Trabalho, percebeu-se que a interface para se extrair

informações do sistema ainda é pouco amigável. Isso gera dificuldades e

imprecisões na obtenção das informações, o que compromete a proposta de um

sistema de informações informatizado. Também é necessário um treinamento

eficiente para os trabalhadores da área da saúde, responsáveis pelo preenchimento

dos Relatórios de Atendimento ao Acidentado do Trabalho, possam entender melhor

a importância e finalidade da notificação dos casos. Isso iria contribuir para melhoria

na qualidade das informações geradas e, conseqüentemente, maior confiabilidade e

precisão nas tomadas de decisão.

Finalmente trazemos nosso alerta aos empresários da indústria

calçadista, quanto às vantagens do investimento em ações de promoção da saúde

dos trabalhadores, haja vista que fica evidenciado nesse estudo que eles são os

maiores atingidos financeiramente pelo absenteísmo.

Page 87: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

86

REFERÊNCIAS

ALVES, P. H. R. O psicossocial e a LER. In.: OLIVEIRA, C. R. et al. (orgs.). Manual prático de LER: lesões por esforços repetitivos. 2. ed. Belo Horizonte: Health, 1998. cap. 2, p. 35-51. ALVES, E. A.; TRUZZI, O. M. S. Natureza dos negócios e responsabilidade social empresarial: a cadeia produtiva calçadista de Franca (SP). Disponível em: <http://www.facef.br/neic/download.asp?cod=6488id=48ct=12>. Acesso em: 12 out. 2007. AMATO NETO, J. Redes de cooperação produtiva e clusters regionais: oportunidades para as pequenas e médias empresas. São Paulo: Atlas, 2000. ANDERSON, V. P. Cumulative trauma disorders: a manual for muskuloskeletal diseases of the upper limbs. London: Taylor & Francis, 1994. ANDRADE BALTAR, P. E.; PRONI, M. W. Sobre o regime de trabalho no Brasil: rotatividade da mão-de-obra, emprego formal e estrutura salarial. In.: OLIVEIRA, C. A. B.; MATTOSO, J. (orgs.). Crise e trabalho no Brasil: modernidade ou volta ao passado. São Paulo: Scritta, 1996. ANTUNES, R. Os sentidos do trabalho: ensaio sobre a afirmação e negação do trabalho. São Paulo: Boitempo, 1999. ARMSTRONG, T. J.; CASTELLI, W.; EVANS, F.; DIAZ-PEREZ, R. Some histological changes in carpal tunnel contents and their biomechanical implications. J. Occup. Med., v. 26, n. 3, p. 197-201, 1984. ______. Ergonomics considerations in hand and wrist tendinitis. Journal of Hand Surgery, v. 12, p. 830-837, 1987. ______. A conceptual model for worked-related neck and upper-limb musculoskeletal disorders. Scandinavian Journal of Work, Environment & Health, v. 19, n. 2, p. 73-84, 1993.

Page 88: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

87

ASSUNÇÃO, A. A. S. Rotina de atendimento de trabalhadores com suspeita ou confirmação de lesões por esforços repetitivos. In.: Manual de rotinas: ambulatório de doenças profissionais. Belo Horizonte: Universitária da UFMG, 1992. p. 103-120. ASSUNÇÃO, A. A.; ROCHA, L. E. Agora até namorar fica difícil: uma história de lesões por esforços repetitivos. In.: BUSCHINELLI, J. T.; ROCHA, L. E.; RIGOTTO, R. M. (Orgs.). Vida, doença e trabalho no Brasil. São Paulo: Vozes, 1993. p. 461-471. ASSUNÇÃO, A. A. Sistema músculo-esquelético: lesões por esforços repetitivos (LER). In.: MENDES, R. (org.). Patologia do trabalho. Rio de Janeiro: Atheneu, 1995. p. 175- 181. BAMMER, G. Work related neck and upper limber disorders – Social, organizational, biomechanical and medical aspects. In: CONGRESSO LATINO-AMERICANO DE ERGONOMIA, 2., SEMINÁRIO BRASILEIRO DE ERGONOMIA, 6., 1993, Florianópolis. Anais... Florianópolis: ABERGO/Fundacentro, 1993. BAMMER, G.; MARTIN, B. Repetition strain injury in Australia: medical knowledge, social movement, and de facto partisanship. Social Problems, v. 39, n. 3, p. 219-237, Aug. 1992. BAWA, J. Computador e saúde. Tradução de Eduardo Farias. São Paulo: Summus, 1997. BLANCO, M. C. O processo de terceirização nos bancos. In.: MARTINS, H. S.; RAMALHO, J. R., (orgs.). Terceirização – diversidade e negociação no mundo do trabalho. São Paulo: Hucitec/Núcleo de Estudos sobre Trabalho e Sociedade; Centro Ecumênico de Documentação e Informação, 1994. p. 76-84. BERNARD, B.; SAUTER, S. L.; FINE, L. J.; PETERSEN, M. R.; HALES, T. R. Psychosocial and work organization risk factors for cumulative trauma disorders in the hands and wrists of newspaper employees. Scan J Work Environ Health, v. 18, Suppl 2, p.119-120, 1992. BISSO, E. M. O que é segurança do trabalho. São Paulo: Brasiliense, 1990. BRAGA FILHO, H. Globalização em Franca: reorganização industrial e a economia informal. 2000. 235 f. Dissertação (Mestrado em Gestão Empresarial) – FACEF, Franca.

Page 89: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

88

BRASIL. Conselho Nacional da Saúde. Resolução 196/96. Pesquisa com seres humanos. Brasília: Ministério da Saúde, 1996. ______. Doenças relacionadas ao trabalho: manual de procedimentos para os serviços de saúde. Normas e Manuais Técnicos, n. 114. Brasília/DF: Ministério da Saúde, 2001a. (Série A). ______. Diagnóstico, tratamento, reabilitação, prevenção e fisiopatologia das LER/DORT. Normas e Manuais Técnicos, n. 105. Brasília: Ministério da Saúde, 2001b. (Série A) BRITTO, J.; ALBUQUERQUE, E. da M. E. Estrutura e dinamismo de clusters industriais na economia brasileira: uma análise exploratória a partir de dados da RAIS. In: TIRONI, L. F. (Coord.) Industrialização descentralizada: sistemas industriais locais. Brasília: IPEA, 2001. BROWNE, C. D.; NOLAN, B. M.; FAITHFULL, D. K. Occupational repetition strain injuries. Guidelines for diagnosis and management. Medical Journal of Australia, v. 140, p. 329-332, 1984. CAÍRES, V. D. R.; CRUZ FILHO, A. Contribuição dos medicamentos. In: OLIVEIRA, C. R. et al. Manual prático de LER: lesões por esforços repetitivos. 2. ed. Belo Horizonte: Health, 1998. p. 253-268. CARAYON, P.; SMITH, M. J. Work organization and ergonomics. Applied Ergonomics, n. 31, p. 649-662, 2000. CARLEIAL, L. M. F. Reestruturação industrial, relação entre firmas e mercado de trabalho. In.: CARLEIAL, L.; VALLE, R. (orgs.). Reestruturação produtiva e mercado de trabalho no Brasil. São Paulo: Hucitec-Abet, 1997. CARMO, D. R. Fatores ergonômicos causadores de DORT/LER em costureiras de uma indústria de confecção. 2004. 161 f. Dissertação (Mestrado em Saúde) – Universidade de Franca, Franca. CARNEIRO, S. R. M.; COUTO, H. A. O custo das LER. Revista Proteção, Novo Hamburgo, n. 70, 1997. CARVALHO, L. C. R. F. A influência do estilo de liderança na gênese dos DORT em uma fábrica de calcados. 2002. 101 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia –

Page 90: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

89

modalidade profissionalizante – ênfase ergonomia) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. CHATTERJEE, D. S. Repetition strain injury – A recent review. Journal of Social and Occupational Medicine, v. 37, n. 100-105, 1987. COUTO, Hudson. Realidade instigante: quais as práticas se mostram mais críticas na origem das lesões por esforços repetitivos. Revista Proteção, Novo Hamburgo, set. 2002. DEDECCA, C. S. Reestruturação produtiva e tendências do emprego. In: OLIVEIRA, M. A. (org). Economia e trabalho: textos básicos. Campinas: IE-Unicamp, 1998. DEJOURS, C. A loucura do trabalho: estudo de psicopatologia do trabalho. 2. ed. São Paulo: Oboré, 1987. ______. A loucura no trabalho: estudo de trabalho. 5. ed. ampl. São Paulo: Cortez, 1992. DEMBE, A. E. Occupational and disease. How social factors affect the conception of work-related disorders. New Haven and London: Yale University Press, 1996. DELIBERATO, P. C. P. Fisioterapia preventiva – fundamentos e aplicações. São Paulo: Manole, 2002. DINIZ, C. A. Norma regulamentadora 17. Manual de utilização. Brasília: Ministério do Trabalho, 1994. FOUCAULT, M. O nascimento da clínica. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1994. GARRIDO, A. As exportações brasileiras. Rio de Janeiro: Rocco, 2006. GONÇALVES, E. L. A empresa e a saúde do trabalhador. São Paulo: Pioneira; Editora da Universidade de São Paulo, 1988. GRANDJEAN, E. Manual de ergonomia, adaptando o trabalho ao homem. 4. ed. Porto Alegre, Bookman, 1998.

Page 91: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

90

HADLER, N. M. Repetitive upper-extremity motions in the workplace are not hazardous. The Journal of Hand Surgery, v. 1, n. 1, p. 22A, jan. 1997. HOCKING, B. Epidemiological aspects of repetition strain injury in Telecon Australia. Medical Journal of Australia, v. 147, p. 218-222, 1987. KIESLER, S.; FINHOLT, T. The mystery of RSI. American Psychologist, v. 43, p. 1004-1015, 1988. KUORINKA, I.; FORCIER, L. Les lésions attribuibles au travail répétitif. Ouvrage de référence sur les lésions musculo-squeletiques liées au travail. Quebec: MultiMondes, 1995a. ______. Work-related musculoskeletal disorders (WMSDs): a reference book for prevention. Great Britain: Taylor & Francis; 1995b. KURPPA, K. Peritendinitis and tenosynovitis – a review. Scandinavian. Journal of Work and Environmental Health, v. 5, p. 19-24, 1979. LAPLANCHE, J.; PONTALIS, J. B. Vocabulário de psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 1983. LUCIRE, Y. Neurosis in the workplace. The Medical Journal of Australia, v. 145, n. 6, p. 323-327, 1986. MAEDA, K. Occupational cervico-brachial disorder and its causative factors. Human Ergal, v. 6, p. 193-202, 1977. MAEDA, K.; HORIGUCHI, S.; HOSOKAWA, M. History of the studies on occupational cervicobrachial disorder in Japan and remaining problems. J. Human Ergol., v. 11, n. 1, p.17-29, Sept. 1982. MATTOSO, Jorge. O Brasil desempregado. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 1999. MELO, I. C. Diagnóstico. In: OLIVEIRA, C. R. et al. Manual prático de LER: lesões por esforços repetitivos. 2. ed. Belo Horizonte: Health, 1998. p. 207-225.

Page 92: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

91

MENDES, R. Patologia do trabalho. 4. ed. Rio de Janeiro: Atheneu, 2001. MILLENDER, L. H.; LOUIS, S. D.; SIMMONS, B. P. Ocupational disorders of the upper extremity. New York: Churchill Livingstone, 1992. MILLENDER, L. H. Occupational disorders of the upper extremity: orthopaedic, psychosocial, and legal implications. In: MILLENDER. L. H.; LOUIS, D. S.; SIMMONS, B. P. (Eds.). Occupational disorders of the upper extremity. New York: Churchill Livingstone; 1992. p. 1-14. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Políticas de Saúde. Departamento de Gestão de Políticas Estratégicas. Coordenação de Saúde do Trabalhador. Protocolo de investigação, diagnóstico, tratamento e prevenção de LER/DORT. Brasília: Ministérios da Saúde, 2000. MCDERMOTT, F. T. Repetition strain injury: a review of current understanding. Medical Journal of Australia, v. 144, p. 196-200, 1986. MUROFUSE, N. T.; MARZIALE, M. H. P. Mudanças no trabalho e na vida de bancários portadores de lesão por esforços repetitivos: LER, Rev. Latino-Am. Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 9, n. 4, p. 19-25, 2001. NAKASEKO, M.; TOKUNAGA, R.; HOSOKAWA, M. History of occupational cervicobrachial disorder in Japan., v. 11, p. 7-16, 1982. NAVARRO, V. L. A produção de calçados de couro em Franca: a reestruturação produtiva e seus impactos sobre o trabalho. 1998. 301 f. Tese (Doutorado em Sociologia) – Universidade Estadual Paulista, Araraquara-SP. ______. Trabalho e trabalhadores do calçado: a indústria calçadista de Franca (SP): das origens artesanais à reestruturação produtiva. São Paulo: Expressão Popular, 2006. NUSAT. Núcleo de Referência em Doenças Ocupacionais da Previdência Social. Relatório Anual. Belo Horizonte: INSS, 1995. OLIVEIRA, E. M.; BARRETO, M. Engendrando gênero na compreensão das lesões por esforços repetitivos. Saúde Soc., n. 6, p. 77-99, 1997.

Page 93: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

92

OLIVEIRA, C. R. et al. Manual prático de LER: lesões por esforços repetitivos. 2. ed. Belo Horizonte: Health, 1998. PALMER, D. H.; HANRAHAN, L. P. Social and economic costs of carpal tunnel surgery. Instr Course Lect., v. 44, p. 167-172, 1995. PINHEIRO, T. M. M.; MARTINS JÚNIOR, J. S.; MARINHO, C. C. O. ADP em dados: perfil da demanda atendida em 1994. Boletim do ADP, v. 2, p. 6-10, 1995. PIRES, D. Reestruturação produtiva e trabalho em saúde no Brasil. São Paulo: Annablume, 1998. PROCHMANN, M. O trabalho sob fogo cruzado: exclusão, desemprego e precarização no final do século. São Paulo: Contexto, 1999. PUERTA, J. L. V.; VALLEJO, R. C. Prevensión de riesgos laborales: seguridad, higiene y ergonomía. Madrid: Piramides, 1996. QUILTER, D. The repetitive strain injury recovery book. New York: Walker and Company; 1998. RANNEY, D. Chronic musculoskeletal injuries in the workplace. Philadelphia; Pensylvania: Saunders, 1997a. ______. Pain at work and what to do about it. London: London Occupational Safety and Health Informations Service, 1997b. REZENDE M. R.; RIBAK S. Contribuição da cirurgia. In: OLIVEIRA, C. R. et al. Manual prático de LER: lesões por esforços repetitivos. 2. ed. Belo Horizonte: Health, 1998. p. 285-300. RIBEIRO, H. P. Estado atual das LER no Banespa. Cadernos de Saúde/Afubesp, v. 1, p. 45, 1995. RIBEIRO, H. P. Lesões por esforços repetitivos: uma doença emblemática. Cadernos de Saúde Pública. São Paulo: Universidade de São Paulo, v. 13, n. 2, p. 85-93, 1997.

Page 94: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

93

RIGOTTO, R. Não somos máquinas: um estudo das ações sindicais em defesa da saúde do trabalhador da Grande BH. 1992. 212 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – UFMG, Belo Horizonte. RIO, R. P. et al. LER ciência e lei: novos horizontes da saúde e do trabalho. Belo Horizonte: Health; 1998. RIO, R. P. O contexto das DORT. In.: RIO, R. P. et al. (orgs.). LER ciência e lei: novos horizontes da saúde e do trabalho. Belo Horizonte: Health; 1998a. cap. 1, p. 24-42. ______. As causas da DORT. In: RIO, R. P. et al. (orgs.). LER ciência e lei: novos horizontes da saúde e do trabalho. Belo Horizonte: Health; 1998b. cap. 3, p. 71-86. RUAS, R. Processo de trabalho, modernização e controle do capital: o caso da indústria de calçados do Rio Grande do Sul. Águas de São Pedro: Mimeo, 1987. SALERNO, M. S. Produção, trabalho e participação: CCQ e kanbam numa nova imigração japonesa. In: FLEURY, Maria Teresa Leme; FISCHER, Rosa Maria (coord.) Processo e relações de trabalho no Brasil: movimento sindical, comissão de fábrica, gestão e participação, o modelo japonês de organização da produção no Brasil (CCQ e kanbam). São Paulo: Atlas, 1985. ______. O Trabalho na indústria contemporânea: entre autonomia e precarização, inserção e exclusão. São Paulo, Pró-reitoria de Pesquisa, Universidade de São Paulo, 1999. (Apostila xerocada). SALIM, C. A. Doenças do trabalho: exclusão, segregação e relações de gênero. São Paulo Perspec., São Paulo, v. 17, n. 1, jan./mar. 2003. SANTOS FILHO, S. B. Levantamento da demanda atendida no Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (Cersat). Belo Horizonte: Secretaria Municipal de Saúde, 1995. SANTOS FILHO, S. B.; BARRETO, S. M. Algumas considerações metodológicas sobre os estudos epidemiológicos das lesões por esforços repetitivos. Cadernos de Saúde Pública, São Paulo: Universidade de São Paulo, v. 14, n. 3, p. 555-563, 1998.

Page 95: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

94

SATO, L. Astúcia e ambigüidade: as condições simbólicas para o replanejamento negociado do trabalho no chão de fábrica. 1997. Tese (Doutorado em Psicologia) – Universidade de São Paulo, São Paulo. SETTIMI, M. M., MARTARELLO, N. A.; COSTA, R. O.; SILVA, J. A. P. Estudo de caso de trinta trabalhadores submetidos a esforços repetitivos. In: COSTA, D. F.; CARMO, J. C.; SETTIMI, M. M.; SANTOS, U. P. Programa de saúde dos trabalhadores. A experiência da zona norte: uma alternativa em Saúde Pública. São Paulo: Hucitec; 1989. p. 215-241. SETTIMI, M. M.; SILVESTRE, M. P. Lesões por esforços repetitivos (LER): um problema da sociedade brasileira. In: CODO, W.; ALMEIDA, M. C. C. G. (Orgs.). L.E.R. Lesões por esforços repetitivos. Petrópolis: Vozes; 1995. p. 321-355. SINDIFRANCA – Sindicato da Indústria de Calçados de Franca. Disponível em: <http://www.sindifranca.org.br/arquivos/1192458912_Resenha.sindifranca-JUL.07.xls>. Acesso em: 12 out. 2007. SJOGAARD, G.; JENSEN, B. R. Muscle pathology with overuse. In: Ranney, D. (Ed.), Chronic musculoskeletal injuries in the workplace. Saunders, London, 1997. Chapter 3. SOMMERICH, C. M.; MCGLOTHLIN, J. D.; MARRAS, W. S. Occupational risk factors associated with soft tissue disorders of the shoulder: a review of recent investigations in the literature. Ergonomics, v. 36, p. 697-717, 1993. SUZIGAN, W.; et al. Sistemas produtivos locais no estado de São Paulo: o caso da indústria de calçados de Franca. In.: TIRONI, L. F. (Coord.) Industrialização Descentralizada: sistemas industriais locais. Brasília: IPEA, 2001. SUZIGAN, W.; GARCIA, R.; FURTADO, J. Governança de sistemas produtivos locais de micro, pequenas e médias empresas. In.: LASTRES, H. M. M.; CASSIOLATO, J. E.; MACIEL, M. L. (orgs.) Pequena Empresa: cooperação e desenvolvimento local. Rio de Janeiro: Relume Dumará: UFRJ, Instituto de Economia, 2003. SZABO, R. M. Clinical Issues. In: GORDON, S. I.; BLAIR, S. J.; FINE, L. J. Repetitive motion disorders of the upper extremity. Rosemont: American Academy of Orthopaedic Surgeons Symposium, 1995.

Page 96: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

95

TANAKA, S.; WILD, D. K.; SELIGMAN, P. J.; HALPERIN, W E.; BEHERENS, V. J. PUTZ-ANDERSON, V. Prevalence and work-relatedness of self-reported carpal tunnel syndrome among U.S. workers: analysis of the Occupacional Health Supplement Data of 1988 National Health Interview Survey. Am J Ind Med., v. 27. p. 451-470, 1995. TEIXEIRA, M. J. Dor, conceitos gerais. São Paulo: Limay, 1994. TESHIMA, G.; FONSECA, S. M. P. Incidência de LER segundo o tipo de atividade. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE REABILITAÇÃO DA MÃO. 3., 1994. Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro, 1994. THOUVENIN, A. et al. Nocivité du geste répétitif forcé. Archives de Maladies Professionelles, v. 51, p. 251-256, 1990. TROMBLY, C. Terapia ocupacional para a disfunção Física. 2. ed. São Paulo: Santos, 1989. TUMOLO, P. S. Reestruturação produtiva no Brasil: um balanço crítico introdutório da produção bibliográfica. Educação & Sociedade, ano 22, n. 77, p. 71-99, dez. 2001. VERTHEIN, M. A. R. A construção do "sujeito-doente" em LER. Hist. cienc. saude-Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 7, n. 2, jul./out. 2000. ______. As armadilhas: bases discursivas da neuropsiquiatrização das LER. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 6, n. 2, 2001. VORCARO, C. M. R. Estudo de morbidade do ambulatório de saúde do trabalhador em Contagem. 1995. Dissertação (Pós-Graduação em Saúde Pública) – Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte. YENG, L. T.; TEIXEIRA, M. J.; HSING, W. T. Contribuição da acupuntura. In.: OLIVEIRA, C. R. et al. (org.). Manual prático de LER. Belo Horizonte: Health, 1998. p. 301-316. WISNER, A. Por dentro do trabalho; ergonomia, método e técnica. São Paulo: FTD/Oboré, 1987.

Page 97: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

96

WÜNSCH FILHO, V. Perfil epidemiológico das lesões por esforços repetitivos/ afecções músculo-esqueléticas no Brasil. São Paulo: Protocolo de Pesquisa, 1997.

Page 98: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

97

APÊNDICES

Page 99: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

98

APÊNDICE A – Caracterização geral dos casos notificados

Tabela 1 – Distribuição das ocupações dos trabalhadores anotadas nos RAAT referentes aos casos notificados ao CRST (Franca – SP, 2006) Ocupação N %Outros trabalhadores de calçados 274 13,33Auxiliar de serviços 170 8,27Auxiliar de Produção 123 5,99Sapateiro, em geral (calçados sob medida) 96 4,67Trabalhadores de serviços gerais (serviços de conservação, manutenção e limpeza) 73 3,55Pedreiro, em geral 63 3,07Ajudante geral 62 3,02Lixeiro 57 2,77Não informado 51 2,48Motorista, em geral 47 2,29Acabador de calçados 40 1,95Servente de obras 40 1,95Cortador de artefatos de couro (exceto roupas e calçados) 39 1,90Vendedor de comércio varejista 39 1,90Açougueiro 38 1,85Faxineiro 35 1,70Lavrador 35 1,70Operador de máquinas-ferramentas, em geral (produção em série) 33 1,61Cozinheiro, em geral 28 1,36Prenseiro 25 1,22Coladeiro(a) 24 1,17Pespontador 24 1,17Mecânico de manutenção de automóveis, motocicletas e veículos similares 22 1,07Mecânico de manutenção de máquinas, em geral 22 1,07Metalúrgico 21 1,02Balconista 20 0,97Auxiliar de escritório, em geral 18 0,88Chanfradeira 17 0,83Empregado doméstico 17 0,83Serralheiro 17 0,83Montador de calçados (parte superior) 16 0,78Carpinteiro (obras) 15 0,73Lixador de couros e peles 15 0,73Pedreiro (edificações) 15 0,73Pintor de obras 15 0,73Marceneiro, em geral 14 0,68Trabalhador agropecuário polivalente, em geral 14 0,68Curtidor 12 0,58Entregador 12 0,58Operador de injetora 11 0,54Borracheiro 10 0,49Cobrador 10 0,49Frentista 10 0,49Padeiro 10 0,49Tratorista agrícola 10 0,49Frezador 9 0,44

Continua

Page 100: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

99

Continuação

Tabela 1 – Distribuição das ocupações dos trabalhadores anotadas nos RAAT referentes aos casos notificados ao CRST (Franca – SP, 2006) Ocupação N %Outros sapateiros 9 0,44Operador de prensa de enfardamento 8 0,39Outros trabalhadores da movimentação de cargas e descargas, estivagens e embalagens de mercadorias 8 0,39

Soldador, em geral 8 0,39Torneiro 8 0,39Calheiro 7 0,34Chefe de produção 7 0,34Dona de casa 7 0,34Eletricista de instalações, em geral 7 0,34Funileiro 7 0,34Garçom, em geral 7 0,34Jardineiro 7 0,34Agricultor 6 0,29Atendente de lanchonete 6 0,29Auxiliar de enfermagem, em geral 6 0,29Carimbadeira 6 0,29Encarregado de manutenção mecânica de sistemas operacionais 6 0,29Outros trabalhadores de serventia (domicílios e hotéis) 6 0,29Ajudante de motorista 5 0,24Autônomo 5 0,24Cilindreiro 5 0,24Empacotador 5 0,24Supervisor de produção 5 0,24Ajustador 4 0,19Apontador de produção 4 0,19Conferente 4 0,19Coringa 4 0,19Montador de máquina 4 0,19Motociclista (transporte de mercadorias) 4 0,19Motorista de caminhão 4 0,19Outros trabalhadores braçais não-classificados sob outras epígrafes 4 0,19Repositor 4 0,19Rurícola 4 0,19Vigia 4 0,19Ajudante de pedreiro 3 0,15Auxiliar de injetora 3 0,15Auxiliar de limpeza 3 0,15Cortador(a) de cana 3 0,15Costurador de artefatos de couro, à máquina (exceto roupas e calçados) 3 0,15Escrituraria 3 0,15Moldador 3 0,15Monitor(a) 3 0,15Montador de Moveis 3 0,15Técnico eletrônico 3 0,15Agente de saúde 2 0,10Auxiliar de corte 2 0,10Auxiliar Mecânico 2 0,10Auxiliar Pré-Frezado 2 0,10Balanceiro 2 0,10Caixa 2 0,10Conferideira 2 0,10Copeiro 2 0,10

Continua

Page 101: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

100

Continuação

Tabela 1 – Distribuição das ocupações dos trabalhadores anotadas nos RAAT referentes aos casos notificados ao CRST (Franca – SP, 2006) Ocupação N %Costurador de artefatos de couro, à mão (exceto roupas e calçados) 2 0,10Costureiro de roupas de couro e pele, à mão (confecção em série) 2 0,10Enfermeira 2 0,10Lubrificador industrial 2 0,10Operador de máquina de cortar e dobrar papelão 2 0,10Outros curtidores de couros e peles 2 0,10Trabalhador de abate bovino 2 0,10Trabalhador da cultura de café 2 0,10Vidraceiro, em geral 2 0,10Auxiliar de laboratório 1 0,05Brunidor de cilindros 1 0,05Comprador 1 0,05Costureiro, em geral (confecção em série) 1 0,05Destilador de produtos químicos (exceto petróleo) 1 0,05Embalador, à mão 1 0,05Guarda noturno 1 0,05Guardador de veículos 1 0,05Mecânico de manutenção de máquinas agrícolas 1 0,05Metalizador (banho quente) 1 0,05Operador de vácuo 1 0,05Outros mestres, contramestres, supervisores de empresas manufatureiras 1 0,05Outros secretários 1 0,05Outros trabalhadores agrícolas especializados 1 0,05Outros trabalhadores da construção civil 1 0,05Pantografista 1 0,05Policial militar 1 0,05Polidor de pedras 1 0,05Rebaixador 1 0,05Recepcionista de consultório médico ou dentário 1 0,05Refilador 1 0,05Refinador 1 0,05Representante comercial 1 0,05Secretário 1 0,05Segurança 1 0,05Técnico em borracha 1 0,05Trabalhador da cultura de cana-de-açúcar 1 0,05Trabalhador volante da agricultura 1 0,05TOTAL 2055 100,00

Tabela 2 – Distribuição dos sexos dos trabalhadores anotados nos RAAT referentes aos casos notificados ao CRST (Franca – SP, 2006) Sexo N %Masculino 1638 79,71Feminino 417 20,29TOTAL 2055 100,00

Page 102: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

101

Tabela 3 – Distribuição dos motivos de emissão anotados nos RAAT referentes aos casos notificados ao CRST (Franca – SP, 2006) Motivo N %Acidente do Trabalho 1400 68,13Trajeto 333 16,20Típico 249 12,12Doença Ocupacional 67 3,26Não informado 6 0,29TOTAL 2055 100,00

Tabela 4 – Distribuição dos agentes causadores anotados nos RAAT referentes aos casos notificados ao CRST (Franca – SP, 2006) Agente N %Agente Mecânico 1763 85,79Fatores Ergonômicos 135 6,57Agente Físico 82 3,99Agente Químico 64 3,11Agente Biológico 8 0,39Fatores Psicossociais 2 0,10Não informado 1 0,05TOTAL 2055 100,00

Tabela 5 – Distribuição do tempo de afastamento (em dias) anotado nos RAAT referentes aos casos notificados ao CRST (Franca – SP, 2006) Dias de Afastamento N %7 348 16,933 305 14,840 287 13,975 276 13,431 220 10,712 185 9,0010 176 8,5615 70 3,414 67 3,268 52 2,536 13 0,6314 12 0,58Não informado 12 0,5830 11 0,5460 4 0,1911 3 0,1520 3 0,1512 2 0,1021 2 0,1045 2 0,10360 2 0,1013 1 0,0528 1 0,05120 1 0,05TOTAL 2055 100,00MÉDIA = 5,24 dias

Page 103: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

102

Tabela 6 – Distribuição dos diagnósticos baseados nos grupos de CID-10 anotados nos RAAT referentes aos casos notificados ao CRST (Franca – SP, 2006) CID-10 N %S610 206 10,02S600 193 9,39S61 190 9,25M545 125 6,08S519 78 3,80S91 60 2,92S619 52 2,53S800 44 2,14S40 42 2,04M659 41 2,00S71 40 1,95S055 39 1,90S019 37 1,80S934 36 1,75S90 35 1,70S602 32 1,56T009 30 1,46T15 26 1,27T07 24 1,17S809 23 1,12T019 23 1,12S810 22 1,07M791 20 0,97T14 20 0,97T149 20 0,97Não informado 20 0,97M759 19 0,92S510 16 0,78S83 16 0,78S059 14 0,68S80 14 0,68T140 14 0,68S01 13 0,63S010 13 0,63H109 12 0,58T30 11 0,54S611 10 0,49S81 10 0,49T230 10 0,49S018 9 0,44S701 9 0,44S20 8 0,39S229 8 0,39M549 7 0,34S626 7 0,34S015 6 0,29S223 6 0,29S51 6 0,29S608 6 0,29S711 6 0,29S817 6 0,29S903 6 0,29S93 6 0,29T159 6 0,29T269 6 0,29

Continua

Page 104: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

103

Continuação

Tabela 6 – Distribuição dos diagnósticos baseados nos grupos de CID-10 anotados nos RAAT referentes aos casos notificados ao CRST (Franca – SP, 2006) CID-10 N %S002 5 0,24S837 5 0,24S913 5 0,24T23 5 0,24L250 4 0,19M54 4 0,19M542 4 0,19R69 4 0,19S005 4 0,19S050 4 0,19S202 4 0,19S30 4 0,19S411 4 0,19S50 4 0,19S607 4 0,19S64 4 0,19S70 4 0,19S700 4 0,19S819 4 0,19S901 4 0,19S907 4 0,19T003 4 0,19T222 4 0,19M544 3 0,15S74 3 0,15S89 3 0,15S900 3 0,15S909 3 0,15S967 3 0,15T141 3 0,15T220 3 0,15T231 3 0,15T241 3 0,15T264 3 0,15T784 3 0,15W54 3 0,15W540 3 0,15L24 2 0,10M203 2 0,10M210 2 0,10M255 2 0,10M548 2 0,10M658 2 0,10M77 2 0,10S00 2 0,10S011 2 0,10S012 2 0,10S05 2 0,10S051 2 0,10S208 2 0,10S33 2 0,10S407 2 0,10S41 2 0,10

Continua

Page 105: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

104

Continuação

Tabela 6 – Distribuição dos diagnósticos baseados nos grupos de CID-10 anotados nos RAAT referentes aos casos notificados ao CRST (Franca – SP, 2006) CID-10 N %S430 2 0,10S500 2 0,10S534 2 0,10S62 2 0,10S625 2 0,10S628 2 0,10S63 2 0,10S635 2 0,10S801 2 0,10S830 2 0,10S908 2 0,10S930 2 0,10S936 2 0,10T143 2 0,10T150 2 0,10T300 2 0,10T78 2 0,10B308 1 0,05B49 1 0,05C699 1 0,05G510 1 0,05G558 1 0,05G560 1 0,05H055 1 0,05H10 1 0,05H11 1 0,05H20 1 0,05K63 1 0,05L02 1 0,05L239 1 0,05L25 1 0,05L509 1 0,05M13 1 0,05M191 1 0,05M202 1 0,05M436 1 0,05M541 1 0,05M546 1 0,05M67 1 0,05M755 1 0,05M76 1 0,05M790 1 0,05R42 1 0,05R521 1 0,05S004 1 0,05S017 1 0,05S02 1 0,05S058 1 0,05S06 1 0,05S061 0 0,00S0610 0 0,00S099 1 0,05S10 1 0,05

Continua

Page 106: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

105

Continuação

Tabela 6 – Distribuição dos diagnósticos baseados nos grupos de CID-10 anotados nos RAAT referentes aos casos notificados ao CRST (Franca – SP, 2006) CID-10 N %S122 1 0,05S200 1 0,05S21 1 0,05S219 1 0,05S301 1 0,05S335 1 0,05S400 1 0,05S409 1 0,05S410 1 0,05S418 1 0,05S434 1 0,05S498 1 0,05S517 1 0,05S52 1 0,05S520 1 0,05S525 1 0,05S60 1 0,05S601 1 0,05S622 1 0,05S623 1 0,05S631 1 0,05S636 1 0,05S66 1 0,05S670 1 0,05S68 1 0,05S69 1 0,05S717 1 0,05S807 1 0,05S818 1 0,05S82 1 0,05S836 1 0,05S86 1 0,05S861 1 0,05S910 1 0,05S911 1 0,05S917 1 0,05S923 1 0,05S924 1 0,05S927 1 0,05S929 1 0,05T0009 1 0,05T002 1 0,05T01 1 0,05T012 1 0,05T013 1 0,05T04 1 0,05T12 1 0,05T16 1 0,05T22 1 0,05T232 1 0,05T250 1 0,05T609 1 0,05T62 1 0,05

Continua

Page 107: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

106

Continuação

Tabela 6 – Distribuição dos diagnósticos baseados nos grupos de CID-10 anotados nos RAAT referentes aos casos notificados ao CRST (Franca – SP, 2006) CID-10 N %T920 1 0,05T98 1 0,05V234 1 0,05X22 1 0,05X479 1 0,05Z027 1 0,05TOTAL 2055 100,00

Tabela 7 – Distribuição dos diagnósticos baseados nos grupos de CID-10 relacionados a LER/DORT anotados nos RAAT referentes aos casos notificados ao CRST (Franca – SP, 2006) LER/DORT N %M659 41 52,56M759 19 24,36M54 4 5,13M542 4 5,13M544 3 3,85M658 2 2,56M77 2 2,56M755 1 1,28G560 1 1,28M790 1 1,28TOTAL 78 100,00

Page 108: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

107

APÊNDICE B – Caracterização dos casos notificados de trabalhadores da indústria calçadista

Tabela 8 – Distribuição das ocupações anotadas nos RAAT referentes aos casos de trabalhadores da indústria calçadista notificados ao CRST (Franca – SP, 2006) Ocupação N %Outros trabalhadores de calçados 244 28,50Sapateiro, em geral (calçados sob medida) 96 11,21Auxiliar de Produção 91 10,63Auxiliar de serviços 65 7,59Acabador de calçados 40 4,67Cortador de artefatos de couro (exceto roupas e calçados) 38 4,44Ajudante geral 26 3,04Operador de máquinas-ferramentas, em geral (produção em série) 25 2,92Prenseiro 25 2,92Coladeiro(a) 24 2,80Pespontador 24 2,80Chanfradeira 17 1,99Montador de calçados (parte superior) 16 1,87Lixador de couros e peles 15 1,75Curtidor 12 1,40Operador de injetora 10 1,17Frezador 9 1,05Outros sapateiros 9 1,05Não informado 8 0,93Operador de prensa de enfardamento 8 0,93Chefe de produção 7 0,82Carimbadeira 6 0,70Cilindreiro 5 0,58Ajustador 4 0,47Coringa 4 0,47Conferente 3 0,35Costurador de artefatos de couro, à máquina (exceto roupas e calçados) 3 0,35Auxiliar de corte 2 0,23Auxiliar Mecânico 2 0,23Auxiliar Pré-Frezado 2 0,23Balanceiro 2 0,23Conferideira 2 0,23Costurador de artefatos de couro, à mão (exceto roupas e calçados) 2 0,23Costureiro de roupas de couro e pele, à mão (confecção em série) 2 0,23Operador de máquina de cortar e dobrar papelão 2 0,23Outros curtidores de couros e peles e trabalhadores assemelhados 2 0,23Brunidor de cilindros 1 0,12Costureiro, em geral (confecção em série) 1 0,12Operador de vácuo 1 0,12Rebaixador 1 0,12TOTAL 856 100,00

Page 109: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

108

Tabela 9 – Distribuição dos sexos dos trabalhadores anotados nos RAAT referentes aos casos de trabalhadores da indústria calçadista notificados ao CRST (Franca – SP, 2006) Sexo N %Masculino 659 76,99Feminino 197 23,01TOTAL 856 100,00

Tabela 10 – Distribuição dos motivos de emissão anotados nos RAAT referentes aos casos de trabalhadores da indústria calçadista notificados ao CRST (Franca – SP, 2006) Motivo N %Acidente do Trabalho 554 64,72Trajeto 174 20,33Típico 87 10,16Doença Ocupacional 39 4,56Não informado 2 0,23TOTAL 856 100,00

Tabela 11 – Distribuição dos agentes causadores anotados nos RAAT referentes aos casos de trabalhadores da indústria calçadista notificados ao CRST (Franca – SP, 2006) Agente N %Agente Mecânico 727 84,93Fatores Ergonômicos 69 8,06Agente Físico 33 3,86Agente Químico 26 3,04Fatores Psicossociais 1 0,12TOTAL 856 100,00

Tabela 12 – Distribuição do tempo de afastamento (em dias) anotados nos RAAT referentes aos casos de trabalhadores da indústria calçadista notificados ao CRST (Franca – SP, 2006) Dias de Afastamento N %7 142 16,595 132 15,423 131 15,301 96 11,212 93 10,860 92 10,7510 70 8,1815 27 3,158 23 2,694 17 1,9914 8 0,93Não informado 8 0,936 5 0,5830 4 0,4720 2 0,2321 2 0,2360 2 0,23

Continua

Page 110: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

109

Continuação

Tabela 12 – Distribuição do tempo de afastamento (em dias) anotados nos RAAT referentes aos casos de trabalhadores da indústria calçadista notificados ao CRST (Franca – SP, 2006) Dias de Afastamento N %11 1 0,12360 1 0,12TOTAL 856 100,00MÉDIA = 5,28 dias

Tabela 13 – Distribuição dos diagnósticos baseados nos grupos de CID-10 anotados nos RAAT referentes aos casos de trabalhadores da indústria calçadista notificados ao CRST (Franca – SP, 2006) CID-10 N %S600 111 12,97S610 105 12,27S61 91 10,63M545 38 4,44S519 31 3,62M659 26 3,04S619 26 3,04S40 19 2,22S019 17 1,99S602 16 1,87S71 15 1,75S91 15 1,75T019 14 1,64M759 13 1,52S90 13 1,52S800 12 1,40T009 12 1,40S055 11 1,29Não informado 11 1,29T07 9 1,05T149 9 1,05H109 7 0,82S510 7 0,82S810 7 0,82S83 7 0,82M791 7 0,82T15 7 0,82T230 7 0,82S611 6 0,70S059 6 0,70S018 5 0,58S809 5 0,58S903 4 0,47S608 4 0,47T14 4 0,47T269 4 0,47S229 3 0,35S626 3 0,35S70 3 0,35M549 3 0,35S51 3 0,35

Continua

Page 111: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

110

Continuação

Tabela 13 – Distribuição dos diagnósticos baseados nos grupos de CID-10 anotados nos RAAT referentes aos casos de trabalhadores da indústria calçadista notificados ao CRST (Franca – SP, 2006) CID-10 N %S01 3 0,35S607 3 0,35T003 3 0,35T140 3 0,35T220 3 0,35T23 3 0,35S407 2 0,23S41 2 0,23S635 2 0,23S701 2 0,23S050 2 0,23S50 2 0,23S837 2 0,23L250 2 0,23M210 2 0,23M658 2 0,23M77 2 0,23S010 2 0,23S901 2 0,23S907 2 0,23S20 2 0,23S223 2 0,23T143 2 0,23T159 2 0,23T222 2 0,23T231 2 0,23T30 2 0,23M541 1 0,12S409 1 0,12S015 1 0,12S410 1 0,12S62 1 0,12S622 1 0,12S625 1 0,12S628 1 0,12S63 1 0,12S05 1 0,12S64 1 0,12M76 1 0,12S411 1 0,12S700 1 0,12S711 1 0,12S717 1 0,12S80 1 0,12S430 1 0,12S801 1 0,12S005 1 0,12S817 1 0,12S861 1 0,12S051 1 0,12S517 1 0,12S52 1 0,12

Continua

Page 112: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

111

Continuação

Tabela 13 – Distribuição dos diagnósticos baseados nos grupos de CID-10 anotados nos RAAT referentes aos casos de trabalhadores da indústria calçadista notificados ao CRST (Franca – SP, 2006) CID-10 N %S910 1 0,12S913 1 0,12S924 1 0,12S93 1 0,12S930 1 0,12B338 1 0,12G510 1 0,12G558 1 0,12G560 1 0,12K63 1 0,12L24 1 0,12L25 1 0,12L509 1 0,12M13 1 0,12M203 1 0,12M255 1 0,12M436 1 0,12M542 1 0,12M67 1 0,12M790 1 0,12S00 1 0,12S002 1 0,12S011 1 0,12S02 1 0,12S099 1 0,12S10 1 0,12S200 1 0,12S202 1 0,12S520 1 0,12S936 1 0,12S967 1 0,12T0009 1 0,12T012 1 0,12T22 1 0,12T232 1 0,12T241 1 0,12T250 1 0,12T264 1 0,12T300 1 0,12T62 1 0,12T78 1 0,12T920 1 0,12W540 1 0,12TOTAL 855 100,00

Page 113: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

112

Tabela 14 – Distribuição dos diagnósticos baseados nos grupos de CID-10 relacionados a LER/DORT anotados nos RAAT referentes aos casos de trabalhadores da indústria calçadista notificados ao CRST (Franca – SP, 2006) LER/DORT N %M659 26 56,52M759 13 28,26M658 2 4,35M77 2 4,35M542 1 2,17G560 1 2,17M790 1 2,17TOTAL 46 100,00

Page 114: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

113

APÊNDICE C – Caracterização dos casos notificados de doença ocupacional entre trabalhadores da indústria calçadista

Tabela 15 – Distribuição das ocupações dos trabalhadores anotadas nos RAAT referentes aos casos notificados de doença ocupacional entre trabalhadores da indústria calçadista ao CRST (Franca – SP, 2006) Ocupação N %Outros trabalhadores de calçados 11 28,21Sapateiro, em geral (calçados sob medida) 6 15,38Auxiliar de Produção 5 12,82Acabador de calçados 3 7,69Ajudante geral 3 7,69Coladeiro(a) 3 7,69Auxiliar de serviços 2 5,13Cortador de artefatos de couro (exceto roupas e calçados) 1 2,56Operador de prensa de enfardamento 1 2,56Costurador de artefatos de couro, à máquina (exceto roupas e calçados) 1 2,56Auxiliar de corte 1 2,56Outros curtidores de couros e peles e trabalhadores assemelhados 1 2,56Brunidor de cilindros 1 2,56TOTAL 39 100,00

Tabela 16 – Distribuição dos sexos dos trabalhadores anotados nos RAAT referentes aos casos notificados de doença ocupacional entre trabalhadores da indústria calçadista ao CRST (Franca – SP, 2006) Sexo N %Masculino 22 56,41Feminino 17 43,59TOTAL 39 100,00

Tabela 17 – Distribuição dos agentes causadores anotados nos RAAT referentes aos casos notificados de doença ocupacional entre trabalhadores da indústria calçadista ao CRST (Franca – SP, 2006) Agente N %Fatores Ergonômicos 33 84,62Agente Mecânico 4 10,26Agente Químico 1 2,56Fatores Psicossociais 1 2,56TOTAL 39 100,00

Page 115: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

114

Tabela 18 – Distribuição do tempo de afastamento (em dias) anotados nos RAAT referentes aos casos notificados de doença ocupacional entre trabalhadores da indústria calçadista ao CRST (Franca – SP, 2006) Dias de Afastamento N %0 10 25,645 8 20,517 5 12,823 3 7,692 3 7,691 2 5,1315 2 5,134 2 5,138 1 2,566 1 2,5630 1 2,56360 1 2,56TOTAL 39 100,00MÉDIA = 13,69 dias

Tabela 19 – Distribuição dos diagnósticos baseados nos grupos de CID-10 anotados nos RAAT referentes aos casos notificados de doença ocupacional entre trabalhadores da indústria calçadista ao CRST (Franca – SP, 2006) CID-10 N %M659 20 51,28M545 3 7,69M791 3 7,69M77 2 5,13S519 2 5,13G560 1 2,56L25 1 2,56M549 1 2,56M658 1 2,56M759 1 2,56M790 1 2,56S600 1 2,56S61 1 2,56T78 1 2,56TOTAL 39 100,00

Tabela 20 – Distribuição dos casos de diagnósticos baseados nos grupos de CID-10 relacionados a LER/DORT anotados nos RAAT referentes aos casos notificados de doença ocupacional entre trabalhadores da indústria calçadista ao CRST (Franca – SP, 2006) LER/DORT N %M659 20 76,92M77 2 7,69M658 1 3,85M759 1 3,85G560 1 3,85M790 1 3,85TOTAL 26 100,00

Page 116: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

115

ANEXOS

Page 117: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

116

ANEXO A – CRST

Page 118: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

117

ANEXO B – CEP

Page 119: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

Livros Grátis( http://www.livrosgratis.com.br )

Milhares de Livros para Download: Baixar livros de AdministraçãoBaixar livros de AgronomiaBaixar livros de ArquiteturaBaixar livros de ArtesBaixar livros de AstronomiaBaixar livros de Biologia GeralBaixar livros de Ciência da ComputaçãoBaixar livros de Ciência da InformaçãoBaixar livros de Ciência PolíticaBaixar livros de Ciências da SaúdeBaixar livros de ComunicaçãoBaixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNEBaixar livros de Defesa civilBaixar livros de DireitoBaixar livros de Direitos humanosBaixar livros de EconomiaBaixar livros de Economia DomésticaBaixar livros de EducaçãoBaixar livros de Educação - TrânsitoBaixar livros de Educação FísicaBaixar livros de Engenharia AeroespacialBaixar livros de FarmáciaBaixar livros de FilosofiaBaixar livros de FísicaBaixar livros de GeociênciasBaixar livros de GeografiaBaixar livros de HistóriaBaixar livros de Línguas

Page 120: SUBSÍDIOS PARA PROMOÇÃO DE SAÚDE DOS ...livros01.livrosgratis.com.br/cp098943.pdfde 2006 e o trabalho buscou a identificação das prevalências das LER/DORT, levando-se em consideração

Baixar livros de LiteraturaBaixar livros de Literatura de CordelBaixar livros de Literatura InfantilBaixar livros de MatemáticaBaixar livros de MedicinaBaixar livros de Medicina VeterináriaBaixar livros de Meio AmbienteBaixar livros de MeteorologiaBaixar Monografias e TCCBaixar livros MultidisciplinarBaixar livros de MúsicaBaixar livros de PsicologiaBaixar livros de QuímicaBaixar livros de Saúde ColetivaBaixar livros de Serviço SocialBaixar livros de SociologiaBaixar livros de TeologiaBaixar livros de TrabalhoBaixar livros de Turismo