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www.dizerodireito.com.br Página1 INFORMATIVO esquematizado Informativo 505 – STJ Márcio André Lopes Cavalcante Obs: não foram incluídos neste informativo esquematizado os julgados de menor relevância para concursos públicos ou aqueles decididos com base em peculiaridades do caso concreto. Caso seja de seu interesse conferi-los, os acórdãos excluídos foram os seguintes: AgRg no REsp 1.231.070-ES; MS 13.948-DF; AgRg no AREsp 112.288-RS; AgRg no AgRg no REsp 721.866-SE; REsp 1.021.166-PE; AgRg no REsp 1.163.909-RJ; REsp 1.015.336-SP; AgRg no REsp 1.203.021-PR; REsp 1.244.361-PR; HC 200.900-RJ; Ag 1.227.604-RS; DIREITO ADMINISTRATIVO Improbidade administrativa Configura ato de improbidade administrativa a conduta de uma médica que emite, ela mesma, atestado de plena capacidade física e mental para benefício próprio, com o objetivo de apresentar esse laudo no serviço público. Há, nesse caso, violação aos princípios da Administração Pública (art. 11 da Lei de Improbidade). Comentários Determinada médica emitiu, ela mesma, atestado de plena capacidade física e mental para benefício próprio, com o objetivo de apresentar esse laudo no serviço público. A referida médica foi, então, condenada pela prática de improbidade administrativa. Por meio de REsp, a questão chegou até o STJ. No recurso, a médica alegava que não agiu com dolo de praticar ato de improbidade administrativa (dolo específico). O que o STJ decidiu? O STJ manteve a condenação. No caso do art. 11 da Lei de Improbidade Administrativa, o elemento subjetivo necessário é o dolo eventual ou genérico de realizar conduta que atente contra os princípios da Administração Pública. Assim, não se exige a presença de intenção específica para caracterizar o ato como ímprobo. Dessa forma, não há como afastar o elemento subjetivo daquele que emite laudo médico para si mesmo. Processo Primeira Turma. AgRg no AREsp 73.968-SP, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 2/10/2012. Responsabilidade civil do Estado (prazo prescricional) O prazo prescricional aplicável às ações de indenização contra a Fazenda Pública é de 5 (CINCO) anos, conforme previsto no Decreto 20.910/32, e não de três anos (regra do Código Civil), por se tratar de norma especial, que prevalece sobre a geral. Comentários Caso alguém tenha sofrido um dano causado pelo Estado, qual é o prazo que essa pessoa dispõe para ajuizar ação de reparação? Em outras palavras, qual é o prazo prescricional para a propositura de ação de indenização contra o Estado? Havia duas correntes sobre o tema: 1ª) 3 anos. Fundamento: art. 206, § 3º, V do Código Civil. 2ª) 5 anos. Fundamento: art. 1º do Decreto n. 20.910/1932. Página1

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Informativo 505 – STJ

Márcio André Lopes Cavalcante Obs: não foram incluídos neste informativo esquematizado os julgados de menor relevância para concursos públicos ou aqueles decididos com base em peculiaridades do caso concreto. Caso seja de seu interesse conferi-los, os acórdãos excluídos foram os seguintes: AgRg no REsp 1.231.070-ES; MS 13.948-DF; AgRg no AREsp 112.288-RS; AgRg no AgRg no REsp 721.866-SE; REsp 1.021.166-PE; AgRg no REsp 1.163.909-RJ; REsp 1.015.336-SP; AgRg no REsp 1.203.021-PR; REsp 1.244.361-PR; HC 200.900-RJ; Ag 1.227.604-RS;

DIREITO ADMINISTRATIVO

Improbidade administrativa

Configura ato de improbidade administrativa a conduta de uma médica que emite, ela mesma, atestado de plena capacidade física e mental para benefício próprio, com o objetivo de

apresentar esse laudo no serviço público. Há, nesse caso, violação aos princípios da Administração Pública (art. 11 da Lei de Improbidade). Comentários Determinada médica emitiu, ela mesma, atestado de plena capacidade física e mental para

benefício próprio, com o objetivo de apresentar esse laudo no serviço público. A referida médica foi, então, condenada pela prática de improbidade administrativa. Por meio de REsp, a questão chegou até o STJ. No recurso, a médica alegava que não agiu com dolo de praticar ato de improbidade administrativa (dolo específico). O que o STJ decidiu? O STJ manteve a condenação. No caso do art. 11 da Lei de Improbidade Administrativa, o elemento subjetivo necessário é o dolo eventual ou genérico de realizar conduta que atente contra os princípios da Administração Pública. Assim, não se exige a presença de intenção específica para caracterizar o ato como ímprobo. Dessa forma, não há como afastar o elemento subjetivo daquele que emite laudo médico para si mesmo.

Processo Primeira Turma. AgRg no AREsp 73.968-SP, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 2/10/2012.

Responsabilidade civil do Estado (prazo prescricional)

O prazo prescricional aplicável às ações de indenização contra a Fazenda Pública é de 5 (CINCO) anos, conforme previsto no Decreto 20.910/32, e não de três anos (regra do Código

Civil), por se tratar de norma especial, que prevalece sobre a geral. Comentários Caso alguém tenha sofrido um dano causado pelo Estado, qual é o prazo que essa pessoa

dispõe para ajuizar ação de reparação? Em outras palavras, qual é o prazo prescricional para a propositura de ação de indenização contra o Estado? Havia duas correntes sobre o tema: 1ª) 3 anos. Fundamento: art. 206, § 3º, V do Código Civil.

2ª) 5 anos. Fundamento: art. 1º do Decreto n. 20.910/1932.

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O que prevaleceu? O prazo prescricional é de 5 (cinco) anos (não há mais polêmica no STJ). Por quê?

Segundo o STJ, o art. 1º do Decreto n. 20.910/1932 é norma especial porque regula especificamente os prazos prescricionais relativos às ações ajuizadas contra a Fazenda Pública. Por sua vez, o art. 206, § 3º, V, do Código Civil seria norma geral, tendo em vista que regula a prescrição para os demais casos em que não houver regra específica. Logo, apesar do Código Civil ser posterior (2002), segundo o STJ, ele não teve o condão de

revogar o Decreto n. 20.910/1932, tendo em vista que norma geral não revoga norma especial.

Processo Primeira Turma. AgRg no AREsp 14.062-RS, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, julgado em 20/9/2012.

Processo administrativo disciplinar (composição da comissão processante)

O servidor que realizou as investigações em sindicância prévia e exarou juízo preliminar acerca da possível responsabilidade disciplinar do acusado, está impedido de ser a autoridade

que irá aprovar o relatório final da comissão do PAD. Comentários O processo administrativo disciplinar dos servidores públicos federais encontra-se previsto

nos arts. 143 a 182 da Lei n. 8.112/90. O processo administrativo disciplinar (em sentido amplo) divide-se em: 1) Sindicância; 2) Processo administrativo disciplinar propriamente dito (PAD); Caso a autoridade administrativa tome conhecimento de alguma possível irregularidade no serviço público, ela é obrigada a promover a sua apuração imediata. E como é feita essa apuração? Por meio de uma sindicância ou de um PAD. Nos dois casos, deverá ser assegurada ao acusado ampla defesa.

Art. 143. A autoridade que tiver ciência de irregularidade no serviço público é obrigada a promover a sua apuração imediata, mediante sindicância ou processo administrativo disciplinar, assegurada ao acusado ampla defesa.

Desse modo, a sindicância e o PAD são os dois instrumentos que a Lei n. 8.112/90 prevê para a apuração de infrações administrativas praticadas pelos servidores públicos federais. 1) SINDICÂNCIA A sindicância é instaurada, inicialmente, para servir como uma espécie de investigação prévia do fato. Nesse caso, ela é chamada de sindicância investigatória ou preparatória. A sindicância pode ser conduzida por um único servidor ou por uma comissão de servidores. Da sindicância poderá resultar: I – o arquivamento do processo: quando não houver prova da prática de qualquer infração administrativa punível; II – a aplicação de penalidade de advertência ou suspensão de até 30 (trinta) dias: nesse caso, a sindicância é chamada de sindicância contraditória, acusatória ou apuratória. III – a instauração de processo disciplinar: quando for constatada a existência de indícios de que houve a prática de uma infração administrativa grave.

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Art. 146. Sempre que o ilícito praticado pelo servidor ensejar a imposição de penalidade de suspensão por mais de 30 (trinta) dias, de demissão, cassação de aposentadoria ou disponibilidade, ou destituição de cargo em comissão, será obrigatória a instauração de processo disciplinar.

O prazo para conclusão da sindicância não excederá 30 dias, podendo ser prorrogado por igual período, a critério da autoridade superior. Na sindicância é obrigatório assegurar contraditório e ampla defesa?

Na sindicância investigatória: NÃO (a ampla defesa será feita no PAD).

Na sindicância acusatória: SIM. 2) PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR PROPRIAMENTE DITO (PAD)

Art. 151. O processo disciplinar se desenvolve nas seguintes fases: I - instauração, com a publicação do ato que constituir a comissão; II - inquérito administrativo, que compreende instrução, defesa e relatório; III - julgamento.

I – Instauração O PAD é instaurado por meio de uma portaria, na qual constará o nome de 3 servidores estáveis no serviço público, que irão formar a comissão que conduzirá os trabalhos do processo disciplinar. II – Inquérito administrativo Nesta fase, ocorrerá a:

Instrução: trata-se da colheita das provas (oitiva de testemunhas, análise de documentos, requisição de perícias etc.);

Defesa: o servidor processado possui ampla defesa, podendo, por exemplo, contraditar as testemunhas, ter acesso e impugnar documentos, apresentar quesitos a serem respondidos pelos peritos etc. O acusado pode ser acompanhado por advogado? R: SIM É obrigatória a presença de advogado? NÃO (SV 5-STF: A falta de defesa técnica por advogado no processo administrativo disciplinar não ofende a Constituição).

Relatório: é o documento no qual a comissão expõe as suas conclusões sobre as provas produzidas e a defesa apresentada pelo acusado. O relatório deve ser motivado e conclusivo, ou seja, precisa apontar se a comissão recomenda a absolvição do servidor ou a sua condenação, sugerindo a punição aplicável. Esse relatório será encaminhado à autoridade competente para o julgamento, segundo a estrutura hierárquica do órgão.

III – Julgamento A autoridade competente para o julgamento irá absolver ou condenar o servidor. A autoridade poderá acolher ou não as conclusões expostas no relatório da comissão.

Se decidir acolher: não precisará motivar essa decisão, podendo encampar a fundamentação exposta no relatório.

Se decidir não acolher: nesse caso, é indispensável a motivação, demonstrando que o relatório contraria as provas dos autos.

Art. 167. No prazo de 20 (vinte) dias, contados do recebimento do processo, a autoridade julgadora proferirá a sua decisão.

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Art. 168. O julgamento acatará o relatório da comissão, salvo quando contrário às provas dos autos. Parágrafo único. Quando o relatório da comissão contrariar as provas dos autos, a autoridade julgadora poderá, motivadamente, agravar a penalidade proposta, abrandá-la ou isentar o servidor de responsabilidade.

Feita essa breve revisão, indaga-se: O servidor que realizou a sindicância pode também determinar a instauração de processo disciplinar, designando a comissão processante, e, ao final dos trabalhos, aprovar o relatório final? NÃO.

O STJ entendeu que o servidor que participou das investigações na sindicância e concluiu que o sindicado havia cometido a infração disciplinar, tanto que determinou a instauração do PAD, não pode, posteriormente, ser a autoridade designada para aprovar o relatório final produzido pela comissão no processo administrativo, uma vez que ele já formou seu convencimento no sentido da culpabilidade do acusado.

O STJ já havia decidido, em situação parecida, que o servidor que atuou na sindicância, encontra-se impedido de fazer parte da comissão do PAD: (...) 2 - Dispõe o art. 150 da Lei nº 8.112/1990 que o acusado tem o direito de ser processado por uma comissão disciplinar imparcial e isenta. 3 - Não se verifica tal imparcialidade se o servidor integrante da comissão disciplinar atuou também na sindicância, ali emitindo parecer pela instauração do respectivo processo disciplinar, pois já formou juízo de valor antes mesmo da produção probatória. (...) (MS 14135/DF, Rel. Min. Haroldo Rodrigues (Desembargador convocado do TJ/CE), Terceira Seção, julgado em 25/08/2010, DJe 15/09/2010)

Processo Terceira Seção. MS 15.107-DF, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 26/9/2012.

Processo administrativo disciplinar (provas)

É possível utilizar, em processo administrativo disciplinar, na qualidade de “prova emprestada”, a interceptação telefônica produzida em ação penal, desde que a interceptação tenha sido feita com autorização do juízo criminal e com observância das demais exigências

contidas na Lei n. 9.296/1996 (Lei de Interceptação Telefônica). Comentários Imagine a seguinte situação hipotética:

A Polícia Federal, por meio de interceptação judicial deferida pelo juízo criminal, conseguiu captar conversa na qual determinado servidor público exige quantia para praticar certo ato relacionado com suas atribuições. Com base nessa prova e em outras constantes do inquérito, o MPF oferece denúncia contra esse servidor. A Administração Pública, por sua vez, instaura processo administrativo disciplinar.

Indaga-se: a comissão processante poderá requerer, ao juízo criminal, essas gravações telefônicas para que sejam utilizadas no processo administrativo? SIM. É possível utilizar, em processo administrativo disciplinar, na qualidade de “prova emprestada”, a interceptação telefônica produzida em ação penal, desde que a interceptação tenha sido feita com autorização do juízo criminal e com observância das

demais exigências contidas na Lei n. 9.296/1996 (Lei de Interceptação Telefônica).

Esse é também o entendimento do STF: Pet 3683 QO, Relator(a): Min. CEZAR PELUSO, Tribunal Pleno, julgado em 13/08/2008.

Processo Terceira Seção. MS 14.140-DF, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 26/9/2012.

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Processo administrativo disciplinar (demissão)

É possível a demissão de servidor por improbidade administrativa em processo administrativo disciplinar.

Infração disciplinar grave que constitui ato de improbidade é causa de demissão do servidor, em processo administrativo, independente de processo judicial prévio.

Comentários Imagine a seguinte situação hipotética: Suponha que determinado servidor praticou ato de improbidade administrativa. Foi ajuizada ação de improbidade contra esse servidor e, ao mesmo tempo, aberto processo administrativo disciplinar. Antes que a ação de improbidade fosse julgada, o processo administrativo chegou ao fim e o servidor, como sanção administrativa, foi demitido. Diante disso, o servidor impetrou mandado de segurança contra esse ato alegando que, em caso de ato de improbidade administrativa, a pena de demissão somente poderia ser aplicada pelo Poder Judiciário, em ação de improbidade, não podendo haver a demissão por meio de processo administrativo. Essa tese do servidor foi acolhida pelo STJ? NÃO. Para o STJ, é possível a demissão de servidor por improbidade administrativa em processo administrativo disciplinar. A pena de demissão não é exclusividade do Judiciário, sendo dever da Administração apurar e, eventualmente, punir os servidores que vierem a cometer ilícitos de natureza disciplinar. Em outra oportunidade, o STJ já havia decidido no mesmo sentido: “Infração disciplinar grave que constitui ato de improbidade é causa de demissão independente de processo judicial prévio. Independência das instâncias administrativa e instância judicial civil e penal. O que distingue o ato de improbidade administrativa da infração disciplinar por improbidade, e assim a necessidade ou não de prévia ação judicial, é a natureza da infração, pois a lei funcional tutela a conduta do servidor estabelecendo regime jurídico próprio enquanto a lei de improbidade dispõe sobre sanções aplicáveis a todos os agentes públicos, servidores ou não, no interesse da preservação e integridade do patrimônio público.” (MS 15054/DF, Rel. p/ Acórdão Min. Gilson Dipp, Terceira Seção, julgado em 25/05/2011)

Processo Terceira Seção. MS 14.140-DF, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 26/9/2012.

Licitação

A Lei n. 8.666/93 prevê que, em caso de inexecução do contrato, o contratado poderá receber como sanção a declaração de inidoneidade para licitar ou contratar com a Administração

Pública. Para isso, no entanto, deverão ser a ele assegurados o contraditório e a ampla defesa. Há previsão na lei de que o contratado apresente uma defesa final, no prazo de 10 dias

contados da abertura de vista. O STJ decidiu que, se não for concedido esse prazo, haverá nulidade por cerceamento de

defesa. A ausência de abertura desse prazo acarreta nulidade no processo administrativo a partir desse momento processual e não desde o seu início.

Comentários A Lei de Licitações e Contratos (Lei n. 8.666/93) prevê que, se o contratado não cumprir, total ou parcialmente, as suas obrigações contratuais com a Administração Pública, esta poderá aplicar as seguintes sanções (art. 87):

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I - advertência; II - multa; III - suspensão temporária de participação em licitação e impedimento de contratar com a Administração, por prazo não superior a 2 (dois) anos; IV - declaração de inidoneidade para licitar ou contratar com a Administração Pública enquanto perdurarem os motivos determinantes da punição ou até que seja promovida a reabilitação perante a própria autoridade que aplicou a penalidade, que será concedida sempre que o contratado ressarcir a Administração pelos prejuízos resultantes e após decorrido o prazo de 2 anos. A multa poderá ser aplicada sozinha ou em conjunto com alguma outra sanção (ex: multa + suspensão temporária). Essas sanções somente podem ser aplicadas após um processo administrativo no qual seja assegurado contraditório e ampla defesa ao contratado. No caso da sanção estabelecida no inciso IV, como ela é muito grave, a competência exclusiva para aplicá-la será do:

Ministro de Estado (no caso da União);

Secretário Estadual (no caso dos Estados);

Secretário Municipal (no caso dos Municípios). Como já dito, deve ser assegurada ampla defesa e contraditório ao contratado. A defesa se exerce em dois momentos principais previstos na Lei: a) defesa prévia, no prazo de 5 (cinco) dias úteis; b) defesa final, no prazo de 10 (dez) dias contados da abertura de vista. E se não for concedido esse prazo para defesa final? O STJ decidiu que haverá nulidade por cerceamento de defesa. Isso anulará o processo administrativo desde o seu início? NÃO. A ausência de abertura de prazo para oferecimento de defesa final acarreta nulidade no processo administrativo a partir desse momento processual. Não haverá, contudo, nulidade de todo o processo desde o início.

Processo Primeira Seção. MS 17.431-DF, Rel. Min. Castro Meira, julgado em 26/9/2012.

DIREITO CIVIL

Contrato de locação

A locação de prédio urbano para a exploração de serviço de estacionamento submete-se às disposições da Lei 8.245/1991.

Comentários Mário alugou um terreno de José para servir como estacionamento pago de carros.

Esse contrato é regido pelo Código Civil ou pela Lei n. 8.245/91?

R: pela Lei n. 8.245/91.

Regra: toda a locação de imóvel urbano é regida pela Lei n. 8.245/91.

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Exceções:

A Lei n. 8.245/91 prevê algumas situações nas quais a locação de imóvel urbano será regulada pelo Código Civil ou por leis especiais:

Art. 1º (...) Parágrafo único. Continuam regulados pelo Código Civil e pelas leis especiais: a) as locações: 1. de imóveis de propriedade da União, dos Estados e dos Municípios, de suas autarquias e fundações públicas; 2. de vagas autônomas de garagem ou de espaços para estacionamento de veículos; 3. de espaços destinados à publicidade; 4. em apart-hotéis, hotéis-residência ou equiparados, assim considerados aqueles que prestam serviços regulares a seus usuários e como tais sejam autorizados a funcionar; b) o arrendamento mercantil, em qualquer de suas modalidades.

O contrato de Mário e José está enquadrado na exceção descrita no art. 1º, parágrafo único,

letra a, 2 da Lei n. 8.245/91? NÃO. Quando esse dispositivo fala em espaço para estacionamento de veículos ele está se referindo à situação em que a pessoa contrata uma vaga para estacionar seu veículo. Nesse

caso, esse contrato não será regido pela Lei n. 8.245/91, mas sim pelo Código Civil. A situação será completamente diferente no caso de uma pessoa alugar um imóvel urbano para que nesse local ele explore o aluguel de vagas para carros. Resumindo:

O contrato de Mário e José será regido pela Lei n. 8.245/91. Se, por outro lado, Mário aluga uma vaga dentro do imóvel para que Pedro estacione diariamente seu carro, este contrato de Mário com Pedro será regido pelo Código Civil porque se amolda no art. 1º, parágrafo único, letra a, 2, acima transcrito.

Processo Terceira Turma. AgRg no REsp 1.230.012-SP, Rel. Min. Massami Uyeda, julgado em 2/10/2012.

Responsabilidade civil (falha dos Correios no caso de transportadora de cargas)

Um roubo praticado mediante uso de arma de fogo é considerado pela jurisprudência como sendo um fortuito externo (força maior), sendo causa de exclusão da responsabilidade.

Não é razoável exigir que os prestadores de serviço de transporte de cargas alcancem absoluta segurança contra roubos, uma vez que segurança pública é dever do Estado.

Igualmente, não há imposição legal obrigando as empresas transportadoras a contratarem escoltas ou rastreamento de caminhão e, sem parecer técnico especializado, dadas as

circunstâncias dos assaltos, nem sequer é possível presumir se, no caso, a escolta armada, por exemplo, seria eficaz para afastar o risco ou se, pelo contrário, agravaria-o pelo caráter

ostensivo do aparato. Comentários Imagine a seguinte situação

Determinada empresa fez um contrato com a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos - ECT para que ela entregasse fitas de vídeo (na época não havia DVD) nas locadoras de vídeo, por meio do sistema de entrega Sedex. Certo dia, o caminhão dos Correios foi assaltado, tendo sido subtraídas mais de 4 mil fitas de vídeo. A empresa ajuizou ação de indenização por danos materiais contra os Correios cobrando o valor das fitas.

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Onde essa ação teve que tramitar? Na Justiça Federal. Por quê? Porque os Correios são uma empresa pública federal, de sorte que as ações propostas contra ela são julgadas por juízes federais (art. 109, I, da CF/88). Qual é o regime jurídico aplicável aos serviços desempenhados pelos Correios?

Serviços postais Conjunto de atividades que torna possível o envio de correspondência, ou objeto postal, de um remetente para endereço final e determinado. Os serviços postais são considerados serviço público típico. Apenas os Correios (e ninguém mais) poderão desempenhar tais atividades (isso é chamado de privilégio).

Tais serviços estão previstos no art. 9º da Lei n. 6.538/78:

Art. 9º São exploradas pela União, em regime de monopólio (STF: privilégio), as seguintes atividades postais: I - recebimento, transporte e entrega, no território nacional, e a expedição, para o exterior, de carta e cartão-postal; II - recebimento, transporte e entrega, no território nacional, e a expedição, para o exterior, de correspondência agrupada: III - fabricação, emissão de selos e de outras fórmulas de franqueamento postal.

Serviços de entrega de outros tipos de encomendas/impressos que não correspondências Exs: distribuição de boletos (boletos bancários, contas de água, telefone, luz), jornais, livros, periódicos ou outros tipos de encomendas ou impressos. Os Correios e também outras empresas privadas poderão exercer em sistema de livre concorrência. Desse modo, não se trata de exclusividade dos Correios, que deverão concorrer, em igualdade de condições, com as empresas privadas (exs: Tam Cargo, DHL etc). Qual é o tipo de responsabilidade dos Correios?

Serviços postais: responsabilidade objetiva (regime jurídico dos serviços públicos);

Outros serviços: responsabilidade subjetiva (regime próprio de direito privado). Em nosso exemplo, os Correios estavam prestando um serviço postal? NÃO. Era um serviço de entrega de outros tipos de encomenda (fita de vídeo), que não era correspondência. Logo, não era serviço postal. Logo, os Correios, neste caso, se sujeitam à responsabilidade civil própria das transportadoras de carga. Se a carga de uma transportadora é subtraída em virtude de um roubo com uso de arma de fogo, a transportadora (e no caso, os Correios) responde por esse dano? NÃO. Um roubo mediante uso de arma de fogo é considerado pela jurisprudência como sendo um fortuito externo, sendo causa de exclusão da responsabilidade. Para o STJ, não é razoável exigir que os prestadores de serviço de transporte de cargas alcancem absoluta segurança contra roubos, uma vez que segurança pública é dever do Estado. Igualmente, não há imposição legal obrigando as empresas transportadoras a contratarem escoltas ou rastreamento de caminhão e, sem parecer técnico especializado, dadas as

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circunstâncias dos assaltos, nem sequer é possível presumir se, no caso, a escolta armada, por exemplo, seria eficaz para afastar o risco ou se, pelo contrário, agravaria-o pelo caráter ostensivo do aparato. Veja a opinião da doutrina de Sérgio Cavalieri Filho utilizada pelo STJ no julgado: “Inicia-se a responsabilidade do transportador com o recebimento da mercadoria e termina com a sua entrega. Durante toda a viagem, responde pelo que acontecer com a mercadoria, inclusive pelo fortuito interno. Só afastarão a sua responsabilidade o fortuito externo (já que, aqui, não tem sentido o fato exclusivo da vítima) e o fato exclusivo de terceiro, normalmente doloso. Têm-se tornado frequentes os assaltos a caminhões, apoderando-se os meliantes não só das mercadorias, mas, também, do veículo. Há verdadeiras quadrilhas organizadas explorando essa nova modalidade de assaltos, muitas vezes até com a participação de policiais. Coerente com a posição assumida quando tratamos dos assaltos a ônibus, entendemos, também aqui, que o fato doloso de terceiro se equipara ao fortuito externo, elidindo a responsabilidade do transportador, porquanto exclui o próprio nexo de causalidade. O transporte, repetimos, não é causa do evento; apenas a sua ocasião. Não cabe ao transportador transformar o caminhão em um tanque de guerra, nem colocar um batalhão de seguranças para cada veículo de sua empresa a circular por todo o país. A segurança pública é dever do Estado.” (CAVALIEIRI FILHO, Sergio. Programa de Responsabilidade Civil. 6ª ed. São Paulo: Malheiros, 2004, pp. 322-354) Assim, para o STJ, se não for demonstrado que a transportadora não adotou as cautelas que razoavelmente dela se poderia esperar, o roubo de carga constitui motivo de força maior (fortuito externo) a isentar a sua responsabilidade. Qual a diferença entre fortuito interno e fortuito externo:

FORTUITO INTERNO FORTUITO EXTERNO

Está relacionado com a organização da empresa. É um fato ligado aos riscos da atividade desenvolvida pela empresa.

Não está relacionado com a organização da empresa. É um fato que não guarda nenhuma relação de causalidade com a atividade desenvolvida pela empresa. É uma situação absolutamente estranha ao produto ou ao serviço fornecido.

Ex1: o estouro de um pneu do ônibus da empresa de transporte coletivo.

Ex2: hacker invade o sistema do banco e consegue transferir dinheiro da conta de um cliente.

Ex1: assalto à mão armada da carga contida no caminhão de uma transportadora.

Ex2: um terremoto faz com que o telhado do banco caia, causando danos aos clientes que lá estavam.

Para o STJ, o fortuito interno NÃO exclui a obrigação de indenizar.

Para o STJ, o fortuito externo é uma causa excludente de responsabilidade.

Processo Quarta Turma. REsp 976.564-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 20/9/2012.

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Responsabilidade civil (falha dos Correios no caso de serviço postal)

É cabível a indenização por danos morais ao advogado que, em razão de falha dos Correios, teve a sua petição entregue no tribunal após o prazo previsto, fazendo com que seu recurso

fosse considerado intempestivo. Comentários Imagine a seguinte situação (adaptada do caso concreto):

Determinado advogado, que reside em uma cidade do interior, precisava interpor um recurso no protocolo do Tribunal de Justiça. Para tanto, foi até uma agência dos Correios e enviou o recurso por meio de Sedex, que estabelecia 2 dias como sendo o prazo máximo de entrega. Ocorre que o Sedex com o recurso só chegou no Tribunal após 10 dias, fazendo com que o advogado perdesse o prazo. O referido advogado pode ser indenizado por danos morais em virtude desse fato? SIM. Segundo decidiu o STJ, é cabível a indenização por danos morais ao advogado que, em razão de falha dos Correios, teve a sua petição entregue no tribunal após o prazo previsto, fazendo com que seu recurso fosse considerado intempestivo. Esse serviço prestado pelos Correios é considerado serviço postal? Sim, porque não se trata de encomenda, mas sim de correspondência. Sendo serviço postal, qual é a responsabilidade dos Correios? Os serviços postais são considerados como serviço público típico. Logo, os Correios possuem responsabilidade civil objetiva, nos termos do art. 37, § 6º, da CF/88. Nesse caso específico, o advogado pode invocar também o CDC para exigir indenização? SIM. O fato de a ECT inserir-se na categoria de prestadora de serviço público não a afasta das regras próprias do CDC quando é estabelecida relação de consumo com seus usuários, como no caso deste advogado, que é considerado vulnerável nessa relação jurídica. É direito básico do consumidor a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral, nos termos dos arts. 6º, X, e 22, caput, do CDC. Desse modo, as empresas públicas prestadoras de serviços públicos, como é o caso dos Correios, podem responder por fato do serviço (art. 14 do CDC). O advogado precisará provar que sofreu abalos para que receba a indenização por danos morais? NÃO. Diante da gravidade da situação, é possível, por meio de uma presunção natural que decorre da experiência comum, concluir que houve um abalo significativo à dignidade da pessoa. Portanto, o dano moral, neste caso, é in re ipsa (prejuízo presumido), extraído não exatamente da prova de sua ocorrência, mas da análise da gravidade do ato ilícito em abstrato.

Processo Quarta Turma. REsp 1.210.732-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 2/10/2012.

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Responsabilidade civil (dano moral em caso de morte de parente)

Não são permitidas indenizações por danos morais ilimitadas que, a pretexto de repararem integralmente vítimas, mostrem-se desproporcionais.

Em caso de dano moral decorrente de morte de parentes próximos, a indenização deve ser arbitrada de forma global para a família da vítima, não devendo, de regra, ultrapassar o

equivalente a 500 salários mínimos, podendo, porém, esse valor ser aumentado segundo as particularidades do caso concreto, dentre elas o grande número de familiares.

Comentários Tarifação da indenização Algumas leis mais antigas previam a tarifação da indenização, ou seja, estipulavam valores máximos que deveriam ser pagos a título de indenização para cada espécie de dano. Exemplo hipotético: para acidentes aéreos o máximo de indenização que poderia ser pago seria de 100 mil reais. Uma lei pode estabelecer valores máximos de indenização por danos materiais e morais? É permitida a tarifação legal dos danos morais e materiais? NÃO. O STF e STJ afirmam que as leis que estabelecem valores máximos de indenização são incompatíveis com a CF/88. Isso porque a Carta Magna estabeleceu o princípio da plena indenizabilidade (art. 5º, V e X), de modo que a pessoa deve ser recomposta segundo o prejuízo que experimentou no caso concreto e não de acordo com previsões abstratas da lei.

Nesse sentido, o STJ, mesmo antes do STF reconhecer que a Lei de Imprensa (Lei n. 5.250/67) não foi recepcionada pela CF/88, já havia editado a súmula 281, que possui a seguinte redação:

Súmula 281-STJ: A indenização por dano moral não está sujeita à tarifação prevista na Lei de Imprensa.

Desse modo, a tarifação da indenização pela lei não é admitida porque viola o princípio da indenizabilidade plena. Princípio da indenizabilidade plena não é absoluto Vale ressaltar, no entanto, que o princípio da indenizabilidade plena não é absoluto. Assim, é válido que o juiz, no caso concreto, estabeleça limites a esse princípio e critérios objetivos para que a indenização não seja um valor absurdo. Art. 944, parágrafo único do CC: O parágrafo único do art. 944 do CC é uma previsão que mitiga o princípio da indenizabilidade plena. Veja o que diz o dispositivo:

Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir, equitativamente, a indenização.

Esse dispositivo é compatível com a CF/88? SIM, ao contrário das regras das leis que previam tarifamento da indenização, essa regra é válida porque apenas estabelece que seja feita uma ponderação entre a gravidade da culpa e o dano, sem tolher o juiz. Inferno de severidade O Min. Paulo de Tarso Sanseverino, ao comentar o art. 944, parágrafo único, do CC, afirma que ele visa a evitar o inferno de severidade: “A aplicação irrestrita do princípio da reparação plena do dano pode representar, em algumas situações, para o causador do evento danoso, conforme a aguda crítica de

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Geneviève Viney, um autêntico inferno de severidade (enfer de severité). Se, na perspectiva da vítima, as vantagens da consagração irrestrita do princípio são evidentes, na do agente causador do dano, a sua adoção plena e absoluta pode constituir um exagero, conduzindo à sua ruína econômica em função de um ato descuidado praticado em um momento infeliz de sua vida.” (SANSEVERINO, Paulo de Tarso Vieira. Princípio da reparação integral. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 84) Valor máximo (em regra) de indenização por dano moral em caso de morte: 500 salários mínimos Como já explicado, apesar de a indenização não poder ser tarifada pela lei, o STJ entende que é legítimo que a jurisprudência estabeleça limites para a indenização por danos morais. Assim, existem inúmeros julgados do STJ afirmando que, em caso de morte, o valor máximo, em regra, que deve ser pago como indenização por danos morais para a família do falecido é de 500 salários mínimos. Há uma violação ao princípio da indenizabilidade plena com a fixação desse valor máximo? NÃO. Segundo o STJ, esse parâmetro objetivo harmoniza o princípio da indenizabilidade plena com a exigência de se arbitrar com equidade o valor da indenização. O princípio da indenizabilidade plena não pode significar que o causador do dano esteja obrigado a indenizar as vítimas de forma ilimitada e irrestrita. Desse modo, mostra-se justa e equânime a adoção, pela jurisprudência, de padrões limitativos do valor das condenações por danos morais. O direito à indenização plena dos danos morais não é absoluto, podendo ser ponderado com outros de igual grandeza, como a proporcionalidade e a razoabilidade. Esse valor de 500 salários mínimos é para cada um dos parentes do falecido ou é um limite global para a família do morto? Trata-se do valor destinado ao conjunto de familiares próximos do falecido. Corresponde, portanto, a um valor global e não individual. Exemplo: “X” faleceu em decorrência de acidente causado por “Y”. Foram, então, ajuizadas duas ações de indenização por danos morais contra “Y”: 1ª) Proposta por “A” e “B”, respectivamente filha e companheira do falecido; 2ª) Proposta por “C”, filho do falecido referente ao primeiro casamento. “Y” será condenado a indenizar 500 salários mínimos para cada um dos autores da ação ou esse limite é global e será dividido entre todos os beneficiários? Esse limite é global. Assim, “Y” será condenado a pagar 500 salários mínimos, divididos entre “A”, “B” e “C”. Após ter pago os 500 salários mínimos, imagine que surgiu “D”, um outro filho de “X” que ingresse com ação de indenização após os outros já terem recebido. “Y” terá que pagar de novo para ele? NÃO. Se “Y” já tiver pago 500 salários mínimos (ou um valor próximo a isso), terá cumprido seu dever de indenizar e somente restará a “D” pleitear contra os demais parentes parte do valor por eles recebido. Por outro lado, se “Y” tiver indenizado um valor inferior a 500 salários mínimos, ainda será permitido que pague o restante da indenização a esse familiar. Esse critério é absoluto? NÃO. É possível que haja adaptações de acordo com o caso concreto. Em caso de famílias muito numerosas, por exemplo, esse valor global de 500 salários

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mínimos poderá ser aumentado até o dobro (1000 salários mínimos) para que o valor recebido individualmente por cada parente próximo não seja irrisório. De outro lado, sendo apenas um membro na família do falecido, e consideradas as condições econômicas das partes, esse valor de 500 salários mínimos pode ser reduzido. Esse tema é pacífico no STJ? NÃO. Como foi um julgado muito discutido, a tendência é que a 4ª Turma mantenha esse entendimento, mas será ainda necessário avaliar como a 3ª Turma (que também julga Direito Civil) irá julgar.

Processo Quarta Turma. REsp 1.127.913-RS, Rel. originário Min. Marco Buzzi, Rel. para acórdão Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 20/9/2012.

DIREITO DO CONSUMIDOR

Responsabilidade por tarifa de água de antigo proprietário do imóvel

A responsabilidade por débito relativo ao consumo de água e serviço de esgoto é de quem efetivamente obteve a prestação do serviço.

Trata-se de obrigação de natureza pessoal, não se caracterizando como obrigação propter rem. Assim, não se pode responsabilizar o atual usuário por débitos antigos contraídos pelo

morador anterior do imóvel. Comentários Imagine a seguinte situação hipotética:

Carlos compra a casa de João. Ocorre que João vendeu a casa, mas deixou um débito de três meses da conta de água. A concessionária ingressou com uma ação de cobrança contra Carlos, alegando que, como comprou a casa, passou a ser o devedor, considerando tratar-se de obrigação propter rem. Para piorar o cenário, a concessionária suspende o fornecimento da água. Agiu de forma correta a concessionária? NÃO. O débito de água é de natureza pessoal, não se vinculando ao imóvel. Não se trata, portanto, de obrigação propter rem. Desse modo, você não pode ser responsabilizado pelo pagamento de serviço de fornecimento de água utilizado por outra pessoa (em nosso exemplo, João). A concessionária pode “cortar” a água (suspender o fornecimento do serviço) nesse caso? NÃO. Explico esse tema por partes: Regra: é possível que a concessionária de serviço público interrompa a prestação do serviço, em caso de inadimplemento do usuário, desde que haja aviso prévio. Isso está

expressamente previsto no art. 6º, § 3º, da Lei n. 8.987/95. Algumas situações especiais em que a concessionária NÃO pode suspender o fornecimento de água ou energia mesmo havendo atraso no pagamento: 1) Quando os débitos em atraso foram contraídos pelo morador anterior (STJ AgRg no AG

1399175/RJ); 2) Quando os débitos forem antigos (consolidados no tempo). Isso porque, segundo o STJ,

o corte de serviços essenciais, como água e energia elétrica, pressupõe o inadimplemento de conta regular, relativa ao mês do consumo, sendo inviável, pois, a suspensão do abastecimento em razão de débitos antigos (STJ AgRg no Ag 1351353/RJ);

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3) Quando o débito for decorrente de fraude no medidor de consumo de água ou energia elétrica (vulgo “gato”), apurada unilateralmente pela concessionária. Nesse caso, deve a concessionária utilizar-se dos meios ordinários de cobrança (STJ AgRg no AREsp 101.624/RS), considerando que será necessário o consumidor defender-se dessa suposta fraude..

Desse modo, em nosso exemplo, a concessionária não poderia cortar a água da casa de Carlos. Na contestação, Carlos poderia invocar o Código de Defesa do Consumidor? Aplica-se o CDC ao serviço de fornecimento de água, esgoto e energia elétrica? SIM. Posição tranquila do STJ. O que o juiz deveria fazer com a ação proposta pela concessionária contra Carlos? Deveria extinguir o processo sem resolução do mérito, considerando que ele é parte ilegítima (art. 267, VI, do CPC).

Obrigação propter rem

O que é uma obrigação propter rem? Consiste em uma obrigação que se vincula a uma coisa, acompanhando-a (daí ser também conhecida como obrigação ambulatória). Se a obrigação é propter rem, a pessoa assume uma prestação (obrigação de dar, fazer ou não fazer) em razão da aquisição de um direito real. Ex: “A” compra uma casa e, por esse simples fato, passa a ser devedor do IPTU relativo a esse imóvel, ainda que o débito seja anterior à compra. Outro exemplo de obrigações propter rem são os direitos de vizinhança. As obrigações propter rem são também chamadas de simbióticas, mistas ou híbridas porque possuem características tanto de direito real como de direito pessoal.

Processo Primeira Turma. AgRg no REsp 1.313.235-RS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 20/9/2012.

Vício do produto

A aquisição de veículo para utilização como táxi, por si só, não afasta a possibilidade de aplicação das normas protetivas do CDC.

A constatação de defeito em veículo zero-quilômetro revela hipótese de vício do produto e impõe a responsabilização solidária da concessionária (fornecedor) e do fabricante, conforme

preceitua o art. 18, caput, do CDC. Comentários Imagine a seguinte situação hipotética:

João compra, na concessionária, um veículo 0km para utilizar em seu trabalho de taxista. Ocorre que o veículo, desde que saiu da loja, apresenta inúmeros problemas que fazem com que o carro não ande. João pretende ingressar com uma ação para proteger seus direitos e, por isso, procura a Defensoria Pública. Você, como Defensor Público, irá prestar assistência jurídica a ele, mas, para tanto, precisa saber responder as seguintes perguntas: João poderá se valer do Código de Defesa do Consumidor, mesmo tendo adquirido o veículo para uso como táxi? SIM. A jurisprudência do STJ vem decidindo que a aquisição de veículo para utilização como táxi, por si só, não afasta a possibilidade de aplicação das normas protetivas do CDC. Isso porque o STJ adota a teoria finalista de forma abrandada (teoria finalista mitigada). Assim, o profissional pode ser considerado consumidor, desde que demonstrada sua vulnerabilidade diante do caso concreto.

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João, ao falar do problema de seu carro, sempre utiliza a expressão “defeito”. Para fins de direito do consumidor, trata-se realmente de “defeito”? NÃO. Juridicamente falando, segundo a concepção majoritária, o problema apresentado no carro de João classifica-se como “vício” e não “defeito”.

Vício Defeito

Vício é a inadequação do produto ou serviço para os fins a que se destina. Ex: Paulo compra um Playstation e ele não liga.

Defeito diz respeito à insegurança do produto ou serviço. Ex: Paulo compra um Playstation, ele liga o aparelho, começa a jogar e, de repente, o videogame esquenta muito e explode, ferindo-o.

Qual é o tipo de vício de que trata o caso? Onde está a previsão legal? Trata-se de um vício do produto (vício de qualidade), previsto no art. 18 do CDC:

Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis respondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade, com as indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a substituição das partes viciadas.

Quais as providências iniciais que João pode adotar?

1ª providência: exigir que o fornecedor sane o vício no prazo de 30 dias. Ex: conserte ou troque as peças do carro. Obs: o contrato pode estipular um prazo diferente para o cumprimento dessa providência, sendo ele de, no mínimo 7 e, no máximo, 180 dias. 2ª providência: não sendo o vício sanado no prazo máximo de 30 dias, pode o consumidor exigir uma das três opções abaixo:

a) A substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso. Ex: quero outro carro 0km. Tendo o consumidor optado por essa alternativa e não sendo possível a substituição do bem, poderá haver substituição por outro de espécie, marca ou modelo diversos, mediante complementação ou restituição de eventual diferença de preço, sem prejuízo de pedir uma das outras alternativas abaixo.

b) A restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de

eventuais perdas e danos. Ex: quero meu dinheiro de volta. c) O abatimento proporcional do preço.

Ex: eu aceito que o carro fique fazendo esse barulho, mas quero um desconto. O consumidor não precisará esperar os 30 dias e poderá “pular” a 1ª providência e fazer uso imediato de uma das três alternativas acima explicadas sempre que:

se tratar de produto essencial; ou

em razão da extensão do vício, a substituição das partes viciadas puder comprometer a qualidade ou as características do produto, ou diminuir-lhe o valor.

João já deu o prazo de 30 dias e o carro não foi consertado. Você explicou para ele as três opções disponíveis e ele escolheu a restituição da quantia paga (alternativa b), ressaltando

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ainda que ele teve prejuízos extras pelo fato de não ter podido ganhar dinheiro como taxista durante esse período. Qual ação deverá ser proposta? Ação de indenização cobrando o valor pago mais danos emergentes e lucros cessantes. Contra quem poderá ser ajuizada? No caso de vício do produto, a responsabilidade é solidária entre todos os fornecedores, inclusive o comerciante. Segundo o STJ, todos aqueles que participam da introdução do produto ou serviço no mercado devem responder solidariamente pelos vícios que apresentarem (REsp 1.077.911/SP, Relatora Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em 4/10/2011). Logo, a ação poderá ser proposta contra a concessionária (vendedora, fornecedora direta) e também contra o fabricante do veículo 0km. Obs: no caso de fato do produto (defeito de segurança – art. 12), o comerciante não responde solidariamente, mas sim de forma subsidiária (art. 13).

FATO do produto VÍCIO do produto

Comerciante tem responsabilidade subsidiária. Comerciante tem responsabilidade solidária.

É possível a condenação também do fornecedor em danos morais nesses casos? É possível, apesar de não ser comum. Para que haja a condenação em danos morais é necessário que o caso apresente peculiaridades que demonstrem que o consumidor teve sofrimento intenso decorrente dessa situação e não apenas um mero aborrecimento.

Processo Quarta Turma. REsp 611.872-RJ, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 2/10/2012.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Tutela antecipada

O autor ingressa com uma ação e pede a tutela antecipada. O juiz defere. Na sentença, o juiz julga improcedente a demanda e revoga a tutela antecipada.

Ocorre que a tutela antecipada causou danos morais e materiais ao réu. O autor da ação tem a responsabilidade objetiva de indenizar o réu quanto a esses prejuízos,

independentemente de pronunciamento judicial e pedido específico da parte interessada. Comentários Ação inibitória com o objetivo de interditar um restaurante

Determinado shopping ingressou com uma ação inibitória com pedido de antecipação de tutela contra o proprietário de um restaurante localizado em seu interior, noticiando que o réu explorava de forma irregular o estabelecimento, por estar funcionando em local impróprio para tanto, contrariando laudo técnico de engenharia. Afirmava que o excesso de sobrecarga na área colocava em risco a vida de lojistas e consumidores.

Concedida a tutela antecipada O juiz concedeu a tutela antecipada para determinar a interdição do restaurante, sob pena de aplicação de multa diária de R$ 5.000,00, até o limite de R$ 200.000,00.

Sentença de improcedência Durante a instrução, o réu provou que as alegações do autor eram infundadas. Diante disso, o juiz julgou improcedente a ação e revogou a tutela antecipada anteriormente deferida. Na sentença, o juiz, de ofício, condenou ainda o autor a pagar ao réu os danos materiais e morais decorrentes da interdição, valor a ser apurado em liquidação. Vale ressaltar que o restaurante ficou interditado cerca de 1 ano por conta da liminar.

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Poderia o juiz condenar o autor a pagar esses danos morais e materiais? SIM. O § 3º do art. 273 do CPC determina:

§ 3º A efetivação da tutela antecipada observará, no que couber e conforme sua natureza, as normas previstas nos arts. 588, 461, §§ 4º e 5º, e 461-A.

O art. 588, a que se refere o § 3º, foi revogado pela Lei n. 11.232/05. Desse modo, o STJ entende que essa remissão deve ser entendida como sendo atualmente feita ao art. 475-O, que veio para substituir o art. 588:

Art. 475-O. A execução provisória da sentença far-se-á, no que couber, do mesmo modo que a definitiva, observadas as seguintes normas: I – corre por iniciativa, conta e responsabilidade do exequente, que se obriga, se a sentença for reformada, a reparar os danos que o executado haja sofrido; II - nos casos de execução provisória em que penda agravo perante o Supremo Tribunal Federal ou o Superior Tribunal de Justiça (art. 544), salvo quando da dispensa possa manifestamente resultar risco de grave dano, de difícil ou incerta reparação. III – o levantamento de depósito em dinheiro e a prática de atos que importem alienação de propriedade ou dos quais possa resultar grave dano ao executado dependem de caução suficiente e idônea, arbitrada de plano pelo juiz e prestada nos próprios autos.

Segundo o STJ, existe um gênero chamado de “tutelas de urgência”, composto por duas espécies: tutela antecipada e tutela cautelar. Assim, em virtude de fazerem parte do mesmo microssistema, é possível aplicar, no que couber, as regras da tutela cautelar à tutela antecipada. Dentre as regras da tutela cautelar que podem ser aplicadas, por analogia, à tutela antecipada, destaca-se o art. 811, I, do CPC:

Art. 811. Sem prejuízo do disposto no art. 16, o requerente do procedimento cautelar responde ao requerido pelo prejuízo que lhe causar a execução da medida: I - se a sentença no processo principal lhe for desfavorável;

Para que haja essa indenização é necessária a prova de culpa ou de má-fé do autor da ação (beneficiado pela tutela antecipada)? NÃO. Para que haja a reparação dos danos causados por uma tutela antecipada que depois foi revogada não é necessária a discussão de culpa da parte ou se esta agiu de má-fé. Para que haja a indenização basta a existência do dano. Trata-se de responsabilidade processual objetiva. Se ficar provado que o autor da demanda agiu de forma maliciosa ou temerária, ele deverá, além de indenizar o réu, responder por outras sanções processuais previstas nos arts. 16, 17 e 18 do CPC. Essa indenização pode ser fixada pelo juiz de ofício, ou seja, mesmo sem requerimento da parte prejudicada? SIM. Para o STJ, a obrigação de indenizar o dano causado pela execução de tutela antecipada posteriormente revogada é consequência natural da improcedência do pedido. Trata-se de um efeito secundário automático da sentença, produzido por força de lei. Assim, não depende de pedido da parte e nem mesmo de pronunciamento judicial.

Processo Quarta Turma. REsp 1.191.262-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 25/9/2012.

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Astreintes (destinatário da multa)

O CPC permite que o juiz fixe multa cominatória para compelir o réu ao cumprimento de obrigação de fazer. Essa multa é conhecida como astreinte.

Duas conclusões foram manifestadas neste julgado sobre o tema:

1) O juiz pode arbitrar as astreintes de ofício. 2) É cabível a cumulação de astreintes com juros de mora. Comentários Vamos tomar um exemplo hipotético (não é o que foi julgado pelo STJ):

Determinado supermercado contratou certa empresa de informática para que esta fizesse a instalação do software que gerencia as compras realizadas pelos clientes. O contrato previa que a empresa possuía o prazo de 30 dias para fazer a instalação do sistema e estipulava juros de mora de 1% ao mês em caso de atraso. Ocorre que, passados 3 meses do vencimento do contrato, a empresa de informática não cumpriu sua obrigação contratual. Diante dessa situação, o supermercado ajuíza ação de execução do contrato, postulando que a empresa seja compelida a fazer a instalação do software. Qual é o procedimento nesse caso:

1) Petição inicial da execução Deve ser instruída com o título executivo (no caso, o contrato).

2) Despacho da petição inicial O juiz determina a citação do devedor e decide sobre a astreinte. Citação O juiz despacha a petição inicial determinando a citação do devedor para satisfazer a obrigação no prazo que o magistrado lhe assinar, considerando que o prazo previsto no contrato já se esgotou.

Multa cominatória (astreinte) No momento, o juiz pode fixar uma multa por dia de atraso no cumprimento da obrigação (art. 645 do CPC). Essa multa coercitiva tornou-se conhecida no Brasil pelo nome de astreinte, em virtude de ser semelhante (mas não idêntica) a um instituto processual previsto no direito francês e que lá assim é chamado. Apesar do CPC falar em “multa por dia de atraso”, a doutrina afirma que essa multa não precisa ser, necessariamente, diária, podendo ser em meses, anos ou em horas. Em nosso exemplo, vamos imaginar que o juiz fixou o prazo de 30 dias para que a empresa instalasse o software, sob pena de multa diária de um mil reais por dia de descumprimento.

Primeira pergunta importante: Como vimos, trata-se de uma execução de título extrajudicial. É possível fixar astreinte em processo de execução? SIM. As astreintes podem ser fixadas tanto na ação de conhecimento como na ação de execução. Segunda pergunta importante: O juiz pode fixar a astreinte ainda que o supermercado não tenha pedido essa multa na petição inicial? Em outras palavras, é possível fixar astreinte de ofício?

ATENÇÃO

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SIM. O juiz pode arbitrar a multa ex officio como forma de obtenção da tutela específica da obrigação, objetivo principal da execução, conforme expressamente permite o parágrafo único do art. 621 do CPC:

Parágrafo único. O juiz, ao despachar a inicial, poderá fixar multa por dia de atraso no cumprimento da obrigação, ficando o respectivo valor sujeito a alteração, caso se revele insuficiente ou excessivo.

3) Posturas do devedor O devedor, após ser citado, poderá adotar uma das seguintes posturas: a) Cumprir a obrigação no prazo assinalado pelo juiz (com isso, fica livre das astreintes); b) Cumprir a obrigação após o prazo assinalado pelo juiz (com isso, terá que pagar as

astreintes); c) Embargar a execução em 15 dias; d) Permanecer inerte. 4) Devedor cumpriu a obrigação em 2 meses Imaginemos que a empresa instalou os softwares em 2 meses. Lembremos que o juiz havia lhe dado o prazo de 1 mês. Desse modo, a empresa terá que pagar 30 dias de multa diária, ou seja, 30 mil reais. Terceira pergunta importante: Quando a empresa for pagar as astreintes, o supermercado poderá também exigir o valor relativo aos juros de mora (1% ao dia)? Em outros termos, é cabível a cumulação de astreintes com juros de mora? SIM, considerando que são parcelas com natureza jurídica distinta. Vejamos:

Astreintes Juros de mora

Têm natureza processual. Têm natureza material.

São utilizadas como meio de coerção para que o devedor cumpra a obrigação específica.

Destinam-se à reparação de parte dos prejuízos ensejados pela mora.

Quarta e última pergunta: Para quem é revertido o valor das astreintes? Vai para o credor ou para o Estado? Para a própria parte (credora). Segundo o STJ, o destinatário das astreintes é o autor da demanda (REsp 949.509-RS).

Processo Terceira Turma. REsp 1.198.880-MT, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 20/9/2012.

Sentença arbitral

Após ser homologada, a sentença arbitral estrangeira adquire plena eficácia no território nacional e torna-se obrigatória, sendo impossível de ser revista ou modificada pelo Judiciário. Assim, se a sentença arbitral estrangeira for homologada pelo STJ, não pode tramitar no Brasil ação judicial que tenha as mesmas partes e o mesmo objeto da sentença arbitral estrangeira.

Comentários A sentença arbitral é aquela proferida pelo(s) árbitro(s) após concluído o procedimento de arbitragem. A sentença arbitral precisa ser homologada pelo Poder Judiciário para produzir seus efeitos?

NÃO. Veja o que diz a Lei n. 9.307/96:

Art. 31. A sentença arbitral produz, entre as partes e seus sucessores, os mesmos efeitos da sentença proferida pelos órgãos do Poder Judiciário e, sendo condenatória, constitui título executivo.

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A sentença arbitral é título executivo judicial ou extrajudicial? Título executivo JUDICIAL (nunca esqueça isso!). É JUDICIAL!

CPC/ Art. 475-N. São títulos executivos judiciais: IV – a sentença arbitral;

A sentença arbitral estrangeira precisa ser homologada pelo Poder Judiciário para produzir seus efeitos no Brasil? SIM. Para ser reconhecida ou executada no Brasil, a sentença arbitral estrangeira está sujeita, unicamente, à homologação do Superior Tribunal de Justiça – STJ. Nunca esqueça isso: STJ (não é mais do STF). Qual é o critério para se considerar que uma sentença arbitral é nacional ou estrangeira? Considera-se sentença arbitral estrangeira a que tenha sido proferida fora do território

nacional (art. 34, parágrafo único, da Lei n. 9.307/96). O critério é o do jus soli. O que foi decidido pelo STJ: Se a sentença arbitral estrangeira for homologada pelo STJ, não pode tramitar no Brasil ação judicial que tenha as mesmas partes e o mesmo objeto da sentença arbitral estrangeira. Após ser homologada, a sentença arbitral estrangeira torna-se obrigatória, sendo impossível de ser revista ou modificada pelo Poder Judiciário.

Processo Terceira Turma. REsp 1.203430-PR, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 20/9/2012.

Custas (obs: este julgado somente interessa a quem presta concursos federais)

Os conselhos de fiscalização profissional estão sujeitos ao pagamento de custas. Comentários A Lei n. 9.289/97 dispõe sobre as custas devidas à União nos processos que tramitem na

Justiça Federal de 1ª e 2ª instâncias. Em seu art. 4º, essa Lei prevê uma lista de entes que são isentos do pagamento das custas nos processos da Justiça Federal.

Art. 4° São isentos de pagamento de custas: I - a União, os Estados, os Municípios, os Territórios Federais, o Distrito Federal e as respectivas autarquias e fundações; II - os que provarem insuficiência de recursos e os beneficiários da assistência judiciária gratuita; III - o Ministério Público; IV - os autores nas ações populares, nas ações civis públicas e nas ações coletivas de que trata o Código de Defesa do Consumidor, ressalvada a hipótese de litigância de má-fé.

Os conselhos de fiscalização profissional (exs: CRM, CREA, CRO) também são isentos? NÃO. Os conselhos de fiscalização profissional estão sujeitos ao pagamento de custas. Os conselhos profissionais possuem natureza jurídica de autarquia. No entanto, não são isentos do pagamento de custas por expressa previsão no parágrafo único do art. 4º dessa Lei:

Parágrafo único. A isenção prevista neste artigo não alcança as entidades fiscalizadoras do exercício profissional, nem exime as pessoas jurídicas referidas no inciso I da obrigação de reembolsar as despesas judiciais feitas pela parte vencedora.

Processo Primeira Turma. AgRg no AREsp 200.014-RJ, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 20/9/2012.

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Liquidação e non liquet

Se o juiz, na liquidação da sentença, percebe que não há provas suficientes para definir o quantum debeatur, ele poderá pronunciar um non liquet, conforme permitia o art. 39 do CPC de 1939.

Mesmo não havendo previsão semelhante no CPC atual, permite-se que seja aplicada essa regra. Desse modo, o juiz extinguirá o processo de liquidação sem julgamento do mérito, sendo a

parte autorizada a propor nova liquidação caso reúna novas provas. Comentários Liquidação da sentença

Um dos requisitos da sentença é que ela seja líquida. Para o CPC, sentença líquida é aquela que define o quantum debeatur, ou seja, é aquela que fixa o valor da obrigação devida. Pode acontecer, no entanto, de a sentença prolatada ser ilíquida, isto é, não fixar o valor certo que o réu foi condenado a pagar. Neste caso, deverá ser realizada a liquidação da sentença, conforme prevê o CPC:

Art. 475-A. Quando a sentença não determinar o valor devido, procede-se à sua liquidação.

Desse modo, a liquidação da sentença é a etapa do processo que ocorre após a fase de conhecimento e que se destina a descobrir o valor da obrigação (quantum debeatur) quando não foi possível fixar essa quantia diretamente na sentença. Objetivo da liquidação: descobrir o quantum debeatur e, assim, poder permitir o cumprimento da sentença (execução). É possível que na liquidação não se consiga obter provas do quanto é devido ao credor? SIM. É possível que seja iniciada a fase de liquidação da sentença, sejam buscadas provas para se conseguir definir o quantum debeatur e, mesmo assim, o juiz entenda que não foram produzidos elementos suficientes para fixar o valor devido. Exemplo (julgado pelo STJ, com algumas adaptações): Certo programa de TV divulgou, indevidamente, imagens de uma menor em situação vexatória, fato ocorrido em 1991. A menor, devidamente, assistida por seus pais, ajuizou ação de indenização por danos morais e materiais contra a emissora, demanda que foi julgada procedente. Na sentença, o juiz fixou um valor certo para os danos morais (100 salários-mínimos). Quanto aos danos materiais, o juiz condenou a emissora a pagar o valor correspondente ao minuto cobrado pela emissora por anúncios publicitários multiplicado pela quantidade de minutos que a menor ficou exposta. Perceba que o valor dos danos morais é líquido, mas a quantia referente aos danos materiais é ilíquida já que não será possível executar imediatamente essa quantia. Para saber qual é essa soma, será necessário, primeiro, definir qual era o valor do minuto de publicidade na época dos fatos e quanto tempo a menor foi exposta (incluindo não apenas o programa em si, mas também as chamadas divulgadas antes que o programa fosse ao ar). Foi iniciada a liquidação da sentença e, durante essa fase, tentou-se obter a cópia da grade de programação para saber quantas chamadas foram divulgadas do programa e em quantos minutos a garota aparecia. Tentou-se também chegar a um valor exato do quanto era cobrado por minuto pela emissora em cada um dos horários. Ocorre que, quando foi proferida a sentença, a emissora não tinha mais essas informações, nem mesmo as gravações da época. Isso se mostrou justificável pelo fato de que a ação somente foi julgada 20 anos após o programa ter ido ao ar, e como não se determinou, em nenhum momento, que a TV guardasse essas gravações, o STJ considerou que não houve

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irregularidade no procedimento adotado pela empresa de reaproveitar o material gravando outros programas por cima. O certo é que não havia meios de conseguir provar a quantidade de minutos e o valor do minuto. Em outros termos, não havia meios de provar o quantum debeatur. O que o juiz deve fazer caso isso ocorra? A 3ª Turma do STJ decidiu que, neste caso, o juiz deve declarar o non liquet. Em suma, o juiz declara que não irá decidir o mérito da liquidação. Non liquet significa isso: o juiz deixa de decidir a controvérsia posta à sua apreciação. Como o juiz deixa de decidir em virtude da ausência de elementos de prova necessários para resolver a controvérsia, significa dizer que ele profere uma decisão terminativa (e não de mérito). A decisão terminativa não produz coisa julgada material (o processo é extinto sem resolução do mérito). Na prática, isso significa que a liquidação pode ser reproposta desde que o autor consiga reunir novas provas que consigam demonstrar o quantum debeatur. Essa decisão do juiz reconhecendo o non liquet encontra previsão no CPC atual? NÃO. Situações como essa não contam com previsão expressa no CPC de 1973 (atual). No CPC/39 (anterior), existia essa possibilidade em seu art. 915, que permitia a declaração de non liquet, com extinção da liquidação sem resolução de mérito e eventual repetição do procedimento, no futuro, caso se tornasse possível apresentar a prova necessária para a condenação. Segundo o STJ, apesar dessa regra não ter sido repetida no CPC atual, ela poderá ser aplicada ainda hoje. Assim, sendo impossível apurar, na liquidação, o quantum debeatur em virtude da ausência de provas, o processo deve ser extinto sem resolução do mérito, facultando-se ao autor reiniciar a liquidação no futuro, caso reúna, com novos elementos, provas suficientes para definir esse valor. Em sede doutrinária, há certa divergência sobre esse assunto, mas o julgado do STJ está de acordo com a posição de Cândido Rangel Dinamarco (Instituições de Direito Processual Civil). Uma última pergunta: No caso concreto, o juiz, diante da ausência das gravações e do valor do horário publicitário da emissora, poderia ele fazer uma estimativa de tais informações? NÃO. Segundo decidiu o STJ, não é possível ao juízo promover a liquidação da sentença valendo-se, de maneira arbitrária, de meras estimativas, na hipótese em que a sentença fixa a obrigatoriedade de indenização do dano, mas as partes sem culpa estão impossibilitadas de demonstrar a sua extensão.

Processo Terceira Turma. REsp 1.280.949-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 25/9/2012.

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Recurso ordinário constitucional

Não é cabível a interposição de recurso ordinário contra decisão monocrática do relator no Tribunal que denegou o MS.

O recurso ordinário constitucional, na hipótese do art. 105, II, b, da CF, dirige-se contra os mandados de segurança decididos em única instância pelos TRFs ou pelos TJs, quando

denegatória a decisão. Decisão de "tribunal" não é a monocrática exarada por um dos desembargadores, mas sim

acórdão de um de seus órgãos fracionários. Logo, se o mandado de segurança foi denegado por um Desembargador em decisão monocrática, faz-se necessária, antes da interposição do recurso ordinário, a prévia propositura de agravo regimental, sob pena de ofensa ao princípio da colegialidade.

Comentários RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL (ROC)

O ROC é um recurso que somente é julgado pelo STJ ou pelo STF e nas seguintes hipóteses:

ROC a ser julgado pelo STJ ROC a ser julgado pelo STF

I - Caberá ROC para o STJ se qualquer TRF ou TJ denegar (ou seja, julgar contra o autor de):

Habeas corpus

Mandado de segurança

I - Caberá ROC para o STF se qualquer Tribunal Superior denegar (ou seja, julgar contra o autor de):

Habeas corpus

Mandado de segurança

Mandado de injunção

Habeas data

II - Caberá ROC para o STJ se qualquer juiz federal julgar uma causa que envolva:

Estado estrangeiro X Município brasileiro

Estado estrangeiro X pessoa residente ou domiciliada no país

Organismo internacional X Município brasileiro

Organismo internacional X pessoa residente ou domiciliada no país

Exemplos de organismo internacional: ONU, Unesco, Cruz Vermelha. Obs: as causas entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e Município ou pessoa domiciliada ou residente no País são julgadas pelo juiz federal (art. 109, II, CF). Neste caso, o recurso contra a decisão do juiz federal nessas causas é o ROC, interposto diretamente no STJ (a questão não passará pelo TRF).

II - Caberá ROC para o STF em caso de qualquer juiz federal julgar crime político. Os crimes políticos são julgados por juiz federal (art. 109, IV, CF). Neste caso, o recurso contra a decisão do juiz federal é o ROC, interposto diretamente no STF (a questão não passará pelo TRF).

Acima, você tem as hipóteses de cabimento do recurso ordinário constitucional tanto em matéria penal como cível. Vejamos agora o que foi decidido pelo STJ neste informativo.

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“X” impetrou mandado de segurança no Tribunal de Justiça. O Desembargador Relator, monocraticamente, extinguiu o MS sem resolução do mérito. Diante dessa decisão, “X” interpôs ROC no STJ. “X” interpôs o recurso correto? NÃO. Por quê? Segundo entende a doutrina e o STJ, para que seja cabível ROC contra decisão do TJ ou TRF que denega mandado de segurança é necessário que esta decisão tenha sido proferida por um órgão colegiado do Tribunal. É indispensável, portanto, que a decisão tenha sido um acórdão. Logo, não cabe ROC nessa hipótese porque a decisão foi prolatada monocraticamente, ou seja, por um único Desembargador. O que deveria ter feito “X”? Ele deveria ter interposto um agravo regimental contra a decisão do Desembargador, agravo este que seria julgado por um órgão do Tribunal (Câmara, Turma etc.). Se o órgão do Tribunal mantivesse a decisão do Desembargador seria publicado um acórdão e, contra este, caberia o ROC para o STJ.

Processo Terceira Turma. AgRg na MC 19.774-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 2/10/2012.

Recurso Especial

Embora questões constitucionais possam ser invocadas pelas partes, é indiscutível que, em nosso sistema, não cabe ao recorrente invocar tais questões em recurso especial como fundamento para reforma do julgado, sendo o recurso próprio para essa finalidade o

extraordinário para o STF. Comentários Recurso especial é...

- um recurso - previsto no art. 105, III, da CF/88 - julgado pelo STJ - interposto contra decisões proferidas em causas decididas em única ou última instância - pelos Tribunais Regionais Federais (TRF’s) ou pelos Tribunais dos Estados/DF (TJ’s) - quando a decisão proferida:

a) contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência; ou b) julgar válido ato de governo local contestado em face de lei federal; ou c) der à lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro tribunal.

A sigla do recurso especial é REsp. É possível que a parte interponha REsp e que o único fundamento do recurso seja a alegação de que determinada lei é inconstitucional? NÃO. Nesse caso, o recurso cabível seria o RE. Embora questões constitucionais possam ser invocadas pelas partes, é indubitável que, em nosso sistema, não cabe ao recorrente invocar tais questões em recurso especial como fundamento para reforma do julgado, sendo o recurso próprio para essa finalidade o extraordinário para o STF. Tem-se, portanto, hipótese de insuperável óbice ao conhecimento do recurso especial, que também contamina, por derivação natural, o conhecimento deste incidente de inconstitucionalidade. No caso, o incidente referia-se aos incisos III e IV do art.

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1.790 do CC, que trata da ordem de sucessão hereditária do companheiro ou da companheira relativamente aos bens adquiridos na vigência da união estável.

Processo Corte Especial. AI no REsp 1.135.354-PB, Rel. originário Min. Luis Felipe Salomão, Rel. para acórdão Min. Teori Albino Zavascki, julgado em 3/10/2012.

Recurso especial (recurso contra decisão que nega seguimento ao REsp na origem)

São manifestamente incabíveis os embargos de declaração opostos contra decisão de admissibilidade do REsp ou RE proferida pelo tribunal de origem.

O recurso cabível, neste caso, é o agravo nos próprios autos (art. 544 do CPC). Comentários A parte que deseja interpor um Recurso Especial (REsp) ou Recurso Extraordinário (RE),

deve protocolizar estes recursos no juízo a quo (recorrido) e não diretamente no juízo ad quem (STJ ou STF).

Ex: TRF 1 profere acórdão, por unanimidade, em apelação, afirmando que “A”, servidor público federal, não possui determinado direito previsto na Lei 8.112/90. Nessa hipótese, “A” poderá interpor recurso especial contra esta decisão, a ser julgado pelo STJ, contra esta decisão, com base no art. 105, III, a, da CF/88. O REsp deverá ser protocolizado no próprio TRF 1. A recorrida (no caso, a União) será intimada para apresentar suas contrarrazões. Após, o Presidente do Tribunal (ou Vice-Presidente, a depender do regimento interno), em decisão monocrática, irá fazer um juízo de admissibilidade do recurso. Se o juízo de admissibilidade for positivo, significa que o Presidente do Tribunal entendeu que os pressupostos do REsp estavam preenchidos e, então, remeterá o recurso para o STJ. Se o juízo de admissibilidade for negativo, significa que o Presidente do Tribunal entendeu que algum pressuposto do REsp não estava presente e, então, ele não admitirá o recurso. O que a parte pode fazer caso o Presidente (ou Vice) do Tribunal não admita o RE ou o REsp? Qual é o recurso cabível contra esta decisão do Presidente (ou Vice)?

Antes da Lei n. 12.322/2010 Depois da Lei n. 12.322/2010

A parte deveria interpor um agravo de instrumento. A parte deveria juntar todos os documentos exigidos pelo art. 525, CPC.

A parte agora deve interpor um agravo nos próprios autos, sem a necessidade de instrumento (ou seja, não é mais necessário juntar os documentos do art. 525). Este agravo tem sido chamado de “agravo contra decisão denegatória de REsp ou RE”.

Vejamos os dispositivos legais que tratam sobre esta nova espécie de agravo: Art. 544. Não admitido o recurso extraordinário ou o recurso especial, caberá agravo nos próprios autos, no prazo de 10 (dez) dias. § 1º O agravante deverá interpor um agravo para cada recurso não admitido. § 2º A petição de agravo será dirigida à presidência do tribunal de origem, não dependendo do pagamento de custas e despesas postais. O agravado será intimado, de imediato, para no prazo de 10 (dez) dias oferecer resposta, podendo instruí-la com cópias das peças que entender conveniente. Em seguida, subirá o agravo ao tribunal superior, onde será processado na forma regimental.

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§ 3º O agravado será intimado, de imediato, para no prazo de 10 (dez) dias oferecer resposta. Em seguida, os autos serão remetidos à superior instância, observando-se o disposto no art. 543 deste Código e, no que couber,

na Lei n. 11.672, de 8 de maio de 2008. § 4º No Supremo Tribunal Federal e no Superior Tribunal de Justiça, o julgamento do agravo obedecerá ao disposto no respectivo regimento interno, podendo o relator: I - não conhecer do agravo manifestamente inadmissível ou que não tenha atacado especificamente os fundamentos da decisão agravada; II - conhecer do agravo para: a) negar-lhe provimento, se correta a decisão que não admitiu o recurso; b) negar seguimento ao recurso manifestamente inadmissível, prejudicado ou em confronto com súmula ou jurisprudência dominante no tribunal; c) dar provimento ao recurso, se o acórdão recorrido estiver em confronto com súmula ou jurisprudência dominante no tribunal.

Desse modo, atualmente, caso o Presidente (ou Vice) do Tribunal de origem (juízo a quo) negue seguimento ao RE ou REsp, o recurso cabível contra essa decisão é o AGRAVO NOS PRÓPRIOS AUTOS (art. 544 do CPC). Importante isso! Contra essa decisão, a parte poderia opor embargos de declaração ao invés do agravo? NÃO. São manifestamente incabíveis os embargos de declaração (EDcl) opostos contra decisão de admissibilidade do REsp ou RE proferida pelo tribunal de origem. A decisão de admissibilidade do REsp ou RE é proferida por delegação do Tribunal ad quem (STJ ou STF), sendo impugnável mediante agravo que será julgado pelo STJ ou STF. Quando o Tribunal a quo (por meio de seu Presidente ou Vice) profere a decisão de admissibilidade, exaure-se a delegação que ele tinha apenas para esse ato. Assim, não há qualquer sentido em se opor embargos de declaração, pois o STJ e o STF não estão vinculados ao que decidiu o Tribunal a quo sobre a admissibilidade do recurso. Em outras palavras, admitido ou inadmitido o REsp ou RE pelo Tribunal de origem, quem vai decidir no final das contas é o STJ ou STF se o recurso deve ou não ser conhecido. Se, porventura, fossem admitidos os embargos de declaração, haveria postergação injustificável do trâmite processual, ao invés da pronta interposição do recurso cabível, que é o agravo.

Processo Quarta Turma. AgRg no Ag 1.341.818-RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 20/9/2012.

Ação civil pública

O autor da ACP, ao propor a ação, não precisa adiantar o pagamento das custas judiciais. Comentários O art. 18 da Lei de Ação Civil Pública (Lei n. 7.347/85) possui a seguinte redação:

Art. 18. Nas ações de que trata esta lei, não haverá adiantamento de custas, emolumentos, honorários periciais e quaisquer outras despesas, nem condenação da associação autora, salvo comprovada má-fé, em honorários de advogado, custas e despesas processuais.

Imagine agora a seguinte situação: Determinada associação ingressou com ação civil pública. O juiz que despachou a inicial determinou que a associação recolhesse a “taxa judiciária”

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(custas judiciais), sob pena de extinção do processo sem resolução do mérito, com base no art. 267, IV, do CPC. Agiu de forma correta o juiz? NÃO. O art. 18 da LACP afirma que nas ACP’s não haverá adiantamento de quaisquer despesas. As despesas, de que de trata o art. 18, abrangem as custas judiciais (taxa judiciária)? SIM. As custas representam uma espécie do gênero despesas. Nesse sentido, dispõe o CPC:

Art. 20 (...) § 2º As despesas abrangem não só as custas dos atos do processo, como também a indenização de viagem, diária de testemunha e remuneração do assistente técnico.

Se, ao final, o réu da ACP for vencido, ele terá que pagar as custas judiciais (taxa judiciária)? SIM. Essa isenção é apenas para o autor da ACP. Se, ao final, a ACP for julgada improcedente, o autor da ação terá que pagar as custas judiciais (taxa judiciária)?

Regra: NÃO. Em regra, o autor da ACP, mesmo que vencido, não será condenado a pagar honorários advocatícios, custas e despesas processuais

Exceção: se ficar comprovado que o autor da ACP ingressou com a ação de má-fé (exs: sabendo que o réu era inocente ou que o pedido era manifestamente improcedente), nesse caso ele terá que pagar honorários advocatícios, custas e despesas processuais. Vale transcrever ainda o art. 17 da LACP que é bastante cobrado nas provas:

Art. 17. Em caso de litigância de má-fé, a associação autora e os diretores responsáveis pela propositura da ação serão solidariamente condenados em honorários advocatícios e ao décuplo das custas, sem prejuízo da responsabilidade por perdas e danos.

Processo Quarta Turma. REsp 978.706-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 20/9/2012.

DIREITO PENAL

Concurso formal

O concurso formal perfeito caracteriza-se quando o agente pratica duas ou mais infrações penais mediante uma única ação ou omissão.

O concurso formal imperfeito, por sua vez, revela-se quando a conduta única (ação ou omissão) é dolosa e os delitos concorrentes resultam de desígnios autônomos.

Essa distinção entre os dois tipos de concurso formal varia de acordo com o elemento subjetivo que animou o agente ao iniciar a sua conduta.

A expressão "desígnios autônomos" refere-se a qualquer forma de dolo, seja ele direto ou eventual. A morte da mãe e da criança que estava em seu ventre, oriundas de uma só conduta (facadas na

nuca da mãe, resultaram de desígnios autônomos. Em consequência disso, as penas devem ser aplicadas cumulativamente, conforme a regra do

concurso material. Comentários CONCURSO DE CRIMES

Ocorre o concurso de crimes quando o agente pratica dois ou mais crimes. Esses crimes podem ser praticados com apenas uma ou com mais de uma conduta.

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Ex1: “X” atira contra “Y” com a finalidade de matá-lo. A bala atravessa o corpo de “Y”, atingindo também “Z”. Haverá concurso de crimes, considerando que houve a prática de dois delitos (homicídio doloso contra “Y” e homicídio culposo contra “Z”). Esses dois crimes foram praticados com apenas uma conduta. Ex2: “X” decide roubar “Y” em um beco escuro. Após subtrair, com grave ameaça, a bolsa, “X” resolve estuprar “Y”. Haverá concurso de crimes, considerando que houve a prática de dois crimes (roubo e estupro). Esses dois crimes foram praticados com duas condutas. Existem três espécies de concursos de crimes: a) Concurso material (art. 69 do CP); b) Concurso formal (art. 70 do CP); c) Crime continuado (art. 71 do CP). Desse modo, o concurso formal é uma espécie de concurso de crimes. CONCURSO FORMAL (ou CONCURSO IDEAL) Conceito: Ocorre o concurso formal quando o agente, mediante uma única conduta, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não. Requisitos:

Uma única conduta (uma única ação ou omissão);

Pluralidade de crimes (dois ou mais crimes praticados). Obs: você deve relembrar que conduta é diferente de ato. Se “João” desfere várias facadas em “Maria” com o intuito de matá-la, ele pratica vários atos, mas uma só conduta. Espécies:

I – Concurso formal homogêneo e heterogêneo

HOMOGÊNEO HETEROGÊNEO

O agente, com uma única conduta, pratica dois ou mais crimes idênticos.

O agente, com uma única conduta, pratica dois ou mais crimes diferentes.

Ex: o sujeito, dirigindo seu veículo de forma imprudente, avança na contramão e atinge outro carro matando as duas pessoas que lá estavam (dois homicídios culposos – art. 302 do CTB).

Ex: o sujeito, dirigindo seu veículo de forma imprudente, avança na contramão e atinge outro carro matando uma pessoa que lá estava e ferindo a outra (um homicídio culposo e uma lesão corporal culposa – art. 302 e 303 do CTB).

II – Concurso formal perfeito e imperfeito

PERFEITO (normal, próprio) IMPERFEITO (anormal, impróprio)

O agente produziu dois ou mais resultados criminosos, mas não tinha o desígnio de praticá-los de forma autônoma.

Quando o agente, com uma única conduta, pratica dois ou mais crimes dolosos, tendo o desígnio de praticar cada um deles (desígnios autônomos).

Ex1: João atira para matar Maria, acertando-a. Ocorre que, por culpa, atinge também Pedro, causando-lhe lesões

Ex1: Jack quer matar Bill e Paul, seus inimigos. Para tanto, Jack instala uma bomba no carro utilizado pelos dois,

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corporais. João não tinha o desígnio de ferir Pedro.

Ex2: motorista causa acidente e mata 3 pessoas. Não havia o desígnio autônomo de praticar os diversos homicídios.

causando a morte de ambos. Jack matou dois coelhos com uma cajadada só.

Ex2: Rambo vê seu inimigo andando de mãos dadas com a namorada. Rambo pega seu fuzil e resolve atirar em seu inimigo. Alguém alerta Rambo: “não atire agora, você poderá acertar também a namorada”, mas Rambo responde: “eu só quero matá-lo, mas se pegar nela também tanto faz. Não estou nem aí”. Rambo, então, desfere um único tiro que perfura o corpo do inimigo e acerta também a namorada. Ambos morrem.

Pode ocorrer em duas situações:

DOLO + CULPA: quando o agente tinha dolo de praticar um crime e os demais delitos foram praticados por culpa (exemplo 1);

CULPA + CULPA: quando o agente não tinha a intenção de praticar nenhum dos delitos, tendo todos eles ocorrido por culpa (exemplo 2).

Ocorre, portanto, quando o sujeito age com dolo em relação a todos os crimes produzidos. Aqui é DOLO + DOLO. Pode ser:

Dolo direto + dolo direto (exemplo 1);

Dolo direto + dolo eventual (exemplo 2).

Fixação da pena: Regra geral: exasperação da pena:

Aplica-se a maior das penas, aumentada de 1/6 até 1/2.

Para aumentar mais ou menos, o juiz leva em consideração a quantidade de crimes.

Exceção: concurso material benéfico O montante da pena para o concurso formal não pode ser maior do que a que seria aplicada se fosse feito o concurso material de crimes (ou seja, se fossem somados todos os crimes). É o caso do exemplo 1, que demos acima, sobre João. A pena mínima para o homicídio simples de Maria é 6 anos. A pena mínima para a lesão corporal culposa de Pedro é 2 meses. Se fôssemos aplicar a pena do homicídio aumentada de 1/6, totalizaria 7 anos. Se fôssemos somar as penas do homicídio com a lesão corporal, daria 6 anos e 2 meses. Logo, nesse caso, é mais benéfico para o réu aplicar a regra do concurso material (que é a soma das penas). É o que a lei determina que se faça (art. 70, parágrafo único, do CP) porque o concurso formal foi idealizado para ajudar o réu.

Fixação da pena No caso de concurso formal imperfeito, as penas dos diversos crimes são sempre SOMADAS. Isso porque o sujeito agiu com desígnios autônomos.

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Concurso formal e pena de multa:

Art. 72. No concurso de crimes, as penas de multa são aplicadas distinta e integralmente.

Imagine agora o seguinte caso julgado pelo STJ (com adaptações): “João”, com a intenção de ceifar a vida de “Maria” (que estava grávida de 8 meses e ele sabia disso), desfere várias facadas em sua nuca. “Maria” e o feto morrem. Se fosse uma prova do CESPE, como você tipificaria a conduta de “João”? R: “João” praticou homicídio (art. 121) e aborto provocado por terceiro (art. 125) em concurso formal (art. 70). A pergunta difícil vem agora: trata-se de concurso formal perfeito ou imperfeito? R: concurso formal IMPERFEITO (impróprio ou anormal). Houve dolo direto em relação ao homicídio e dolo eventual no que se refere ao aborto. Assim, o agente possuía desígnios autônomos com relação aos dois crimes praticados. Tinha o dolo de praticar os dois delitos. Como será calculada a pena de “João”? A pena pelo homicídio será somada à pena do aborto (segunda parte do art. 70). Roubo de bens pertencentes a várias vítimas no mesmo contexto: O sujeito entra no ônibus e, com arma em punho, exige que oito passageiros entreguem seus pertences (dois desses passageiros eram marido e mulher). Tipifique a conduta. R: O agente irá responder por oito roubos majorados (art. 157, § 2º, I, do CP) em concurso formal (art. 70). Atenção: não se trata, portanto, de crime único!

Ocorre concurso formal quando o agente, mediante uma só ação, pratica crimes de roubo contra vítimas diferentes, ainda que da mesma família, eis que caracterizada a violação a patrimônios distintos. Precedentes. (...) (HC 207.543/SP, Rel. Min. Gilson Dipp, Quinta Turma, julgado em 17/04/2012)

Nesse caso, o concurso formal é próprio ou impróprio? R: Segundo a jurisprudência majoritária, consiste em concurso formal PRÓPRIO. Veja recente precedente:

(...) Praticado o crime de roubo mediante uma só ação contra vítimas distintas, no mesmo contexto fático, resta configurado o concurso formal próprio, e não a hipótese de crime único, visto que violados patrimônios distintos. (...) (HC 197.684/RJ, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Sexta Turma, julgado em 18/06/2012)

Qual será o percentual de aumento que o juiz irá impor ao condenado: R: 1/2 (considerando que foram oito roubos). Segundo o STJ, o critério para o aumento é o número de crimes praticados: 2 crimes – aumenta 1/6 3 crimes – aumenta 1/5 4 crimes – aumenta 1/4 5 crimes – aumenta 1/3 6 ou mais – aumenta 1/2 Concurso formal e prescrição: Para que seja feito o cálculo da prescrição, o juiz irá considerar o total da pena com o aumento do concurso formal ou levará em conta a pena de cada crime, isoladamente? R: Para fins de calcular a prescrição, o juiz considera a pena aplicada para cada um dos

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delitos, isoladamente. Assim, não se calcula a prescrição com o aumento imposto pelo concurso formal. O objetivo é que seja mais benéfico ao réu.

CP/Art. 119. No caso de concurso de crimes, a extinção da punibilidade incidirá sobre a pena de cada um, isoladamente.

Concurso formal e suspensão condicional do processo:

A suspensão condicional do processo é prevista no art. 89 da Lei n. 9.099/95 e somente pode ser aplicada para os réus que estejam sendo acusados de crimes cuja pena mínima seja igual ou inferior a 1 (um) ano. A pena do furto simples é de 1 a 4 anos. Logo, é possível a suspensão condicional. E se a pessoa tiver praticado três furtos simples, em concurso formal, ela poderá ser beneficiada com a suspensão condicional do processo? R: NÃO. Segundo entendeu a jurisprudência, para fins de suspensão, deve-se considerar a pena do crime já com o acréscimo decorrente do concurso formal. Veja:

Súmula 243-STJ: O benefício da suspensão do processo não é aplicável em relação às infrações penais cometidas em concurso material, concurso formal ou continuidade delitiva, quando a pena mínima cominada, seja pelo somatório, seja pela incidência da majorante, ultrapassar o limite de um (01) ano.

Crime continuado e Juizado Especial: O Juizado Especial Criminal possui competência para julgar as contravenções penais e os

crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2 anos (art. 61 da Lei n. 9.099/95). Imagine que o agente praticou, em concurso formal, três crimes, cuja pena máxima para cada um deles é de 2 anos. Indaga-se: o julgamento será de competência do Juizado? R: NÃO. É pacífica a jurisprudência do STJ de que, no caso de concurso de crimes, a pena considerada para fins de fixação da competência do Juizado Especial Criminal será o resultado da soma, no caso de concurso material, ou a exasperação, na hipótese de concurso formal ou crime continuado, das penas máximas cominadas aos delitos. Assim, se desse somatório resultar uma pena superior a 02 anos, fica afastada a competência do Juizado (HC 143.500/PE, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Quinta Turma, julgado em 31/05/2011).

Processo Sexta Turma. HC 191.490-RJ, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 27/9/2012.

Fixação do regime prisional

Fixada a pena-base no mínimo legal, é vedado o estabelecimento de regime prisional mais gravoso do que o cabível em razão da sanção imposta, com base apenas na gravidade abstrata do delito.

Comentários Regimes penitenciários Existem três regimes penitenciários:

FECHADO SEMIABERTO ABERTO

Pena cumprida em estabelecimento de segurança máxima ou média.

Pena cumprida em colônia agrícola, industrial ou estabelecimento similar.

Pena cumprida em casa de albergado ou estabelecimento adequado.

Fixação do regime inicial O juiz, ao prolatar a sentença condenatória, deverá fixar o regime no qual o condenado iniciará o cumprimento da pena privativa de liberdade. A isso se dá o nome de fixação do regime inicial. Os critérios para essa fixação estão previstos no art. 33 do Código Penal.

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O que o juiz deve observar na fixação do regime inicial? O juiz, quando vai fixar o regime inicial do cumprimento da pena privativa de liberdade, deve observar quatro fatores: 1) O tipo de pena aplicada: se reclusão ou detenção. 2) O quantum da pena definitiva. 3) Se o condenado é reincidente ou não. 4) As circunstâncias judiciais (art. 59 do CP).

Vamos esquematizar a aplicação desses quatro fatores:

RECLUSÃO O regime inicial

pode ser:

FECHADO: se a pena é superior a 8 anos.

SEMIABERTO: se a pena foi maior que 4 e menor que 8 anos.

Se o condenado for reincidente, o regime inicial, para esse quantum de pena, é o fechado.

ABERTO: se a pena foi de até 4 anos.

Se o condenado for reincidente, o regime inicial, para esse quantum de pena, será o semiaberto ou o fechado.

O que irá definir isso vão ser as circunstâncias judiciais:

Se desfavoráveis, vai para o fechado.

Se favoráveis, vai para o semiaberto. Súmula 269-STJ: É admissível a adoção do regime prisional semiaberto aos reincidentes condenados a pena igual ou inferior a quatro anos se favoráveis as circunstâncias judiciais.

DETENÇÃO O regime inicial

pode ser:

FECHADO: nunca

Obs: alguns autores mencionam como exceção o art. 10 da Lei de Crimes Organizados, mas esse dispositivo é inconstitucional.

SEMIABERTO: se a pena foi maior que 4 anos.

ABERTO: se a pena foi de até 4 anos.

Se o condenado for reincidente, o regime inicial é o semiaberto.

Vimos acima que o regime inicial da detenção nunca será o fechado. No entanto, o condenado que está cumprindo pena por conta de um crime punido com detenção poderá ir para o regime fechado caso cometa falta grave e seja sancionado com a regressão? SIM, é possível. Nesse caso, no entanto, não estaremos mais falando em regime inicial. Atenção: o que vimos nesses dois quadros são as regras gerais. Vamos agora fazer uma pergunta que reflete uma exceção a esse quadro:

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É possível que seja imposto ao condenado primário um regime inicial mais rigoroso do que o previsto para a quantidade de pena aplicada? Ex: se uma pessoa for condenada a 6 anos de reclusão, pode o juiz fixar o regime inicial fechado? SIM, é possível, desde que o juiz apresente motivação idônea na sentença. É o que diz a Súmula 719 do STF:

Súmula 719-STF: A imposição do regime de cumprimento mais severo do que a pena aplicada permitir exige motivação idônea.

O juiz pode fundamentar a imposição do regime mais severo no fato do crime praticado ser, abstratamente, um delito grave? Ex: o juiz afirma que, em sua opinião, no caso de tráfico de drogas o regime deve ser o fechado em razão da gravidade desse delito.

NÃO. Súmula 718-STF: A opinião do julgador sobre a gravidade em abstrato do crime NÃO constitui motivação idônea para a imposição de regime mais severo do que o permitido segundo a pena aplicada.

O que é considerado, então, motivação idônea para impor ao condenado regime mais gravoso? As circunstâncias judiciais do art. 59 do CP. Se as circunstâncias judiciais do art. 59 forem desfavoráveis, é possível que o juiz se fundamente nesses dados para impor ao condenado regime inicial mais gravoso que o previsto para a quantidade de pena aplicada. Ex: Paulo, réu primário, foi condenado a uma pena de 6 anos de reclusão. Em regra, o regime inicial seria o semiaberto. Ocorre que as circunstâncias judiciais foram extremamente desfavoráveis a ele. Nesse caso, o juiz, fundamentando sua decisão nesses dados, poderia impor a Paulo o regime inicial fechado. Se a pena privativa de liberdade foi fixada no mínimo legal, é possível a fixação de regime inicial mais severo do que o previsto pela quantidade de pena? Ex: Paulo, réu primário, foi condenado a uma pena de 6 anos de reclusão. As circunstâncias judiciais foram favoráveis. Pode o juiz fixar o regime inicial fechado? NÃO. Somente se consideradas as circunstâncias judiciais de forma desfavoráveis, com fundamentos idôneos, é que se pode fixar regime prisional mais gravoso. Nesse sentido:

Súmula 440-STJ: Fixada a pena-base no mínimo legal, é vedado o estabelecimento de regime prisional mais gravoso do que o cabível em razão da sanção imposta, com base apenas na gravidade abstrata do delito.

O art. 2º, § 1º da Lei n. 8.072/90 prevê que a pena por crime hediondo ou equiparado deve ser cumprida inicialmente em regime fechado. Esse dispositivo é constitucional? NÃO. O Plenário do STF julgou essa previsão inconstitucional (HC 111840/ES, rel. Min. Dias Toffoli, 27.6.2012). O regime inicial nas condenações por crimes hediondos ou equiparados (ex: tráfico de drogas) não tem que ser obrigatoriamente o fechado, podendo ser também o regime semiaberto ou aberto, desde que presentes os requisitos do art. 33, § 2º, alíneas b e c, do Código Penal. Assim, será possível, por exemplo, que o juiz condene o réu por tráfico de drogas a uma pena de 6 anos de reclusão e fixe o regime inicial semiaberto.

Processo Quinta Turma. HC 218.617-SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 2/10/2012.

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Efeitos da condenação

É possível que o juiz condene o réu à perda da aposentadoria com base no art. 92, I, do CP?

1ª) SIM, desde que o réu seja condenado por crime cometido na atividade. Posição da 5ª Turma. 2ª) NÃO, em razão da ausência de previsão legal. Entendimento da 6ª Turma.

Comentários EFEITOS DA CONDENAÇÃO

PR

INC

IPA

IS

SANÇÃO PENAL

Pena

Privativa de liberdade

Restritiva de direitos

Multa

Medida de segurança Internação

Tratamento ambulatorial

SEC

UN

RIO

S

PENAIS

Alguns exemplos: reincidência (art. 63), causa de revogação do sursis (art. 77, I e § 1º), causa de revogação do livramento condicional (art. 86), causa de conversão da pena restritiva de direitos em privativa de liberdade (art. 44, § 5º), impossibilita a transação penal e concessão de suspensão

condicional do processo (arts. 76 e 89 da Lei n. 9.099/95) etc.

EXTRAPENAIS

Genéricos (art. 91 do CP):

Art. 91. São efeitos da condenação: I - tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime; II - a perda em favor da União, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé: a) dos instrumentos do crime, desde que consistam em coisas cujo fabrico, alienação, uso, porte ou detenção constitua fato ilícito; b) do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com a prática do fato criminoso. Obs: são efeitos de aplicação automática, isto é, independentemente de declaração na sentença.

Específicos (art. 92 do CP):

Art. 92. São também efeitos da condenação: I - a perda de cargo, função pública ou mandato eletivo: a) quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um ano, nos crimes praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a Administração Pública; b) quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a 4 (quatro) anos nos demais casos. II - a incapacidade para o exercício do pátrio poder, tutela ou curatela, nos crimes dolosos, sujeitos à pena de reclusão, cometidos contra filho, tutelado ou curatelado; III - a inabilitação para dirigir veículo, quando utilizado como meio para a prática de crime doloso. Obs: os efeitos de que trata este artigo não são automáticos, devendo ser motivadamente declarados na sentença.

Previstos em outros diplomas que não o Código Penal:

Suspensão dos direitos políticos (art. 15, III, CF);

Perda do mandato de Deputado Federal ou Senador (art. 55, VI, CF);

Perda do cargo, emprego, função ou mandato eletivo (art. 83 da Lei de Licitações);

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Inabilitação para o exercício de atividade empresarial, impedimento para o exercício de cargo ou função em conselho de administração, diretoria ou gerência de sociedades empresárias, impossibilidade de gerir empresa por mandato ou por gestão de negócio (art. 181, da Lei de Falências);

Perda do cargo, função ou emprego público e a interdição para seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada (art. 1º, § 5º, da Lei de Tortura).

Perda do cargo ou função pública, para o servidor público, e a suspensão do funcionamento do estabelecimento particular por prazo não superior a três meses (art. 16 da Lei de Tortura).

Feita essa breve revisão, imagine agora a seguinte situação adaptada: Ailton, servidor público, foi denunciado pela prática de crime contra a Administração Pública (art. 318 do CP). Durante o processo ele se aposenta. O juiz profere sentença condenando o réu a uma pena de 5 anos de reclusão e multa. É possível que o juiz o condene também à perda da aposentadoria com base no art. 92, I, do CP?

SIM NÃO

SIM, desde que o réu seja condenado por crime cometido na atividade.

Não se admite a perda ou cassação da aposentadoria como efeito da condenação penal em razão da ausência de previsão legal.

Posição da 5ª Turma do STJ. Posição da 6ª Turma do STJ.

I. Hipótese em que o réu encontrava-se, na data do crime, em pleno exercício do cargo de policial militar, vindo a se aposentar dias depois. II. Legítima a cassação de aposentadoria do réu que teve declarada a perda do cargo, como efeito extrapenal da condenação, por crime cometido na atividade. III. Recurso provido, para restabelecer a sentença de primeiro grau. (REsp 914.405/RS, Rel. p/ Acórdão Min. Gilson Dipp, Quinta Turma, julgado em 23/11/2010, DJe 14/02/2011)

(...) Segundo a ótica majoritária da colenda Sexta Turma, construída a partir do voto divergente do eminente Ministro Sebastião Reis Júnior, é inviável ter-se como efeito da condenação penal a perda da aposentadoria, em razão de inexistente previsão legal. (REsp 1250950/DF, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, Sexta Turma, julgado em 19/06/2012, DJe 27/06/2012)

Processo Sexta Turma. RMS 31.980-ES, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 2/10/2012.

Venda de CDs e DVDs falsificados (art. 184, § 2º do CP)

O ato de vender ou expor à venda CDs e DVDs falsificados é conduta formal e materialmente típica, estando prevista no art. 184, § 2º, do Código Penal.

Assim, não se pode alegar que tal conduta deixou de ser crime por conta do princípio da adequação social.

Comentários A pessoa que vende CD ou DVD pirata pratica qual fato típico? R: Esta conduta amolda-se ao § 2º do art. 184 do CP: Violação de direito autoral Art. 184. Violar direitos de autor e os que lhe são conexos: Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa.

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§ 1º Se a violação consistir em reprodução total ou parcial, com intuito de lucro direto ou indireto, por qualquer meio ou processo, de obra intelectual, interpretação, execução ou fonograma, sem autorização expressa do autor, do artista intérprete ou executante, do produtor, conforme o caso, ou de quem os represente: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.

§ 2º Na mesma pena do § 1º incorre quem, com o intuito de lucro direto ou indireto, distribui, vende, expõe à venda, aluga, introduz no País, adquire, oculta, tem em depósito, original ou cópia de obra intelectual ou fonograma reproduzido com violação do direito de autor, do direito de artista intérprete ou executante ou do direito do produtor de fonograma, ou, ainda, aluga original ou cópia de obra intelectual ou fonograma, sem a expressa autorização dos titulares dos direitos ou de quem os represente. § 3o Se a violação consistir no oferecimento ao público, mediante cabo, fibra ótica, satélite, ondas ou qualquer outro sistema que permita ao usuário realizar a seleção da obra ou produção para recebê-la em um tempo e lugar previamente determinados por quem formula a demanda, com intuito de lucro, direto ou indireto, sem autorização expressa, conforme o caso, do autor, do artista intérprete ou executante, do produtor de fonograma, ou de quem os represente: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. § 4o O disposto nos §§ 1º, 2º e 3º não se aplica quando se tratar de exceção ou limitação ao direito de autor ou os que lhe são conexos, em conformidade com o previsto na Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, nem a cópia de obra intelectual ou fonograma, em um só exemplar, para uso privado do copista, sem intuito de lucro direto ou indireto.

Como essa prática é cada vez mais comum, havendo, inclusive, “feiras” fiscalizadas pelo Poder Público onde esse comércio ocorre livremente, é possível afirmar que não haveria crime com base no princípio da adequação social? NÃO, não é possível afirmar isso. Tanto o STF como o STJ entendem que é típica, formal e materialmente, a conduta de expor à venda CDs e DVDs falsificados. Em suma, é crime. O fato de, muitas vezes, haver tolerância das autoridades públicas em relação a tal prática não significa que a conduta não seja mais tida como típica, ou que haja exclusão de culpabilidade, razão pela qual, pelo menos até que advenha modificação legislativa, incide o tipo penal, mesmo porque o próprio Estado tutela o direito autoral. Não se pode considerar socialmente tolerável uma conduta que causa sérios prejuízos à indústria fonográfica brasileira e aos comerciantes legalmente instituídos, bem como ao Fisco pelo não pagamento de impostos. Nesse mesmo sentido é o entendimento do STF: HC 98898, julgado em 20/04/2010. Qual é a ação penal nos casos desses crimes?

Art. 184, caput: ação penal privada.

Art. 184, §§ 1º e 2º (ex: venda de DVD pirata): ação pública incondicionada.

Art. 184, § 3º: ação penal pública condicionada. Uma última pergunta: se há violação de direito autoral relativo a programas de computador, o crime também é o do art. 184 do CP?

NÃO. Neste caso, o crime será o do art. 12 da Lei n. 9.609/98:

Art. 12. Violar direitos de autor de programa de computador: Pena - Detenção de seis meses a dois anos ou multa. § 1º Se a violação consistir na reprodução, por qualquer meio, de programa de computador, no todo ou em parte, para fins de comércio, sem autorização expressa do autor ou de quem o represente: Pena - Reclusão de um a quatro anos e multa. § 2º Na mesma pena do parágrafo anterior incorre quem vende, expõe à venda, introduz no

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País, adquire, oculta ou tem em depósito, para fins de comércio, original ou cópia de programa de computador, produzido com violação de direito autoral.

Princípio da adequação social

A adequação social é um princípio dirigido tanto ao legislador quanto ao intérprete da norma. Quanto ao legislador, este princípio serve como norte para que as leis a serem editadas não punam como crime condutas que estão de acordo com os valores atuais da sociedade. Quanto ao intérprete, este princípio tem a função de restringir a interpretação do tipo penal para excluir condutas consideradas socialmente adequadas. Com isso, impede-se que a interpretação literal de determinados tipos penais conduza a punições de situações que a sociedade não mais recrimina. Vale ressaltar, no entanto, que o princípio da adequação social não pode ser utilizado pelo intérprete para “revogar” (ignorar) a existência de tipos penais incriminadores. Ex: a contravenção do jogo do bicho talvez seja tolerada pela maioria da população, mas nem por isso deixa de ser infração penal. Isso porque a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue (art. 2º da LINDB).

Processo Terceira Seção. REsp 1.193.196-MG, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 26/9/2012.

Estupro e atentado violento ao pudor (crimes hediondos)

Os crimes de estupro e atentado violento ao pudor cometidos antes da edição da Lei n. 12.015/2009 são considerados hediondos, ainda que praticados na forma simples.

Comentários Os crimes de estupro e atentado violento ao pudor cometidos antes da edição da Lei n. 12.015/2009 são considerados hediondos, ainda que praticados na forma simples. Esse é o entendimento também do STF (HC 101.694-RS, DJe 2/6/2010).

Pacificou A posição acima explicada estava consolidada no STF há muito tempo. No STJ, contudo, havia divergência, considerando que os votos da 6ª Turma eram em sentido contrário. Agora a questão está pacífica porque a decisão foi tomada pela Terceira Seção (órgão do STJ que abrange a 5ª e 6ª Turmas).

E após a Lei 12.015/09?

Antes da Lei n. 12.015/09 havia os crimes de estupro no art. 213 e de atentado violento ao pudor no art. 214 do CP. Se esses crimes fossem praticados contra menor de 14 anos tais condutas poderiam se enquadrar nos crimes previstos no art. 213 c/c art. 224, “a” (estupro com violência presumida por ser menor de 14 anos) ou art. 214 c/c art. 224, “a” (atentado violento ao pudor com violência presumida por ser menor de 14 anos), todos do Código Penal com

redação anterior à Lei n. 12.015/2009. Com o advento dessa Lei, as condutas antes descritas nos arts. 213 e 214 foram unificadas apenas no art. 213 e foi criado um novo delito, no art. 217-A, chamado de “estupro de vulnerável”:

Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos: Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.

Quanto ao fato de ser ou não hediondo, não houve alteração com a Lei n. 12.015/2009, ou seja, tanto o ato de manter conjunção carnal como praticar ato libidinoso, seja contra adulto ou contra menor de 14 anos, seja com violência ou sem violência, tudo isso é considerado crime hediondo.

Para facilitar: seja antes ou depois da Lei n. 12.015/2009, toda e qualquer forma de estupro (ou atentado violento ao pudor) é considerada crime hediondo, sendo irrelevante que a prática de qualquer deles tenha causado, ou não, lesões corporais de natureza grave ou morte.

Processo Terceira Seção. REsp 1.110.520-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 26/9/2012

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Crime contra a ordem tributária

Se há uma incompatibilidade entre os rendimentos informados pelo contribuinte na declaração de ajuste anual e os valores movimentados no ano calendário em sua conta

bancária isso caracteriza a presunção relativa de omissão de receita, configurando o crime previsto no art. 1º, I, da Lei n. 8.137/90.

Por se tratar de uma presunção relativa, o réu pode fazer prova em sentido contrário. O dolo desse tipo penal manifesta-se na conduta dirigida à omissão de receita e à redução do

IRPF, concretizada na apresentação de declaração de imposto de renda sem informar a realização da respectiva movimentação financeira.

Comentários Imagine a seguinte situação hipotética: Henrique declarou, para fins do imposto de renda de 2010, que teve renda anual tributável de 60 mil reais. Ocorre que a Receita Federal constatou que, ao longo de 2010, passaram cerca de 500 mil reais pelas contas bancárias de Henrique. Essa conduta de Henrique, em princípio, configura algum crime? SIM. O STJ entende que, se for verificada uma incompatibilidade entre os rendimentos informados na declaração de ajuste anual e os valores movimentados no ano-calendário, haverá uma presunção de que o contribuinte omitiu informação sobre receitas auferidas com o fim de suprimir ou reduzir o imposto de renda, o que caracteriza a prática do crime

previsto no art. 1º, I, da Lei n. 8.137/90:

Art. 1° Constitui crime contra a ordem tributária suprimir ou reduzir tributo, ou contribuição social e qualquer acessório, mediante as seguintes condutas: I - omitir informação, ou prestar declaração falsa às autoridades fazendárias;

Em outras palavras, presume-se que aqueles valores movimentados na conta bancária do contribuinte foram rendimentos que ele não declarou no imposto de renda com o objetivo de não pagar ou pagar menos tributo. Essa presunção é relativa ou absoluta? Trata-se de presunção relativa. O contribuinte pode fazer prova em sentido contrário, ou seja, pode comprovar que aquelas quantias movimentadas em sua conta não foram rendimentos, mas sim valores que passaram por sua conta por outras razões. O que acontece se o réu não conseguir provar que a movimentação não foi decorrente de rendimentos auferidos? Então, nesse caso, ele será condenado. Segundo o STJ, ao réu cumpre provar a origem dos recursos, sob pena de serem considerados tributáveis. Trata-se de ônus da defesa. Para que seja caracterizado esse crime, é necessária a constituição definitiva do crédito tributário?

SIM. Os crimes previstos nos incisos do art. 1º da Lei n. 8.137/90 são materiais. Logo, para que se consumam, exige-se a efetiva supressão ou redução do tributo ou contribuição. Em suma, esse crime somente se consuma quando ocorre a constituição definitiva do crédito tributário por parte do órgão fazendário. Nesse sentido:

Súmula vinculante n. 24: Não se tipifica crime material contra a ordem tributária, previsto no artigo 1º, inciso I, da Lei nº 8.137/90, antes do lançamento definitivo do tributo.

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Na prática, o que isso significa? A Receita Federal, quando perceber essa incompatibilidade entre os rendimentos informados na declaração do IR e os valores movimentados na conta bancária, irá instaurar um processo administrativo tributário (procedimento fiscal) para apurar o fato. O contribuinte será notificado e terá direito à ampla defesa e contraditório. Ao final, se a Receita considerar que houve efetivamente omissão de receitas, ela irá constituir o crédito tributário que, posteriormente, será inscrito em dívida ativa e cobrado do contribuinte mediante execução fiscal caso não seja pago administrativamente. Desse modo, enquanto ainda não for finalizado o procedimento administrativo-tributário e constituído o crédito tributário, ainda não se consumou o delito em tela.

Processo Sexta Turma. REsp 1.326.034-PE, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 2/10/2012.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

Folha de antecedentes criminais

É indevida a manutenção, na folha de antecedentes criminais, de dados referentes a processos nos quais foi reconhecida a extinção da pretensão punitiva estatal.

Comentários Imagine as seguintes situações: Hugo foi indiciado em um inquérito policial posteriormente arquivado. José respondeu a uma ação penal, mas ao final foi absolvido. Luiz foi condenado, mas já cumpriu a pena e passou pela reabilitação (art. 93 do CP). Pedro respondeu a um processo penal, mas sua punibilidade foi extinta pela prescrição. Caso Hugo, José, Luiz ou Pedro solicitem uma certidão de antecedentes, irá aparecer o registro do inquérito ou dos processos que responderam? Esses dados deverão permanecer no instituto de identificação da Polícia? NÃO. Os registros da pessoa investigada ou processada devem ser eliminados do instituto de identificação caso tenha havido:

arquivamento do inquérito policial;

absolvição do réu;

reabilitação do réu; ou

extinção da punibilidade pela prescrição. Assim, a pessoa investigada ou processada, se for tirar uma folha de antecedentes criminais, não deverá constar nenhuma anotação sobre qualquer desses fatos. As informações sobre esses casos somente ficarão registrados no âmbito do Poder Judiciário e estarão disponíveis apenas para consultas de juízes criminais e desde que haja uma justificativa para tanto.

Lei n. 12.681/2012

Tratando de assunto semelhante, esse ano foi editada a Lei n. 12.681/2012 que, dentre outras providências, alterou o art. 20 do CPP:

Redação ANTES da Lei 12.681/2012 Redação DEPOIS da Lei 12.681/2012

Parágrafo único. Nos atestados de antecedentes que lhe forem solicitados, a autoridade policial não poderá mencionar quaisquer anotações referentes a instauração de inquérito contra os

Parágrafo único. Nos atestados de antecedentes que lhe forem solicitados, a autoridade policial não poderá mencionar quaisquer anotações referentes a instauração de inquérito contra os

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requerentes, salvo no caso de existir condenação anterior.

requerentes.

Desse modo, foi suprimida essa ressalva final que havia no parágrafo único. Agora, portanto, os atestados de antecedentes fornecidos pelas Polícias não poderão, em nenhuma hipótese, fazer menção à existência de inquéritos instaurados contra o requerente do atestado. O legislador levou às últimas consequências o princípio da presunção de inocência, não permitindo nem mesmo que se informe a existência de inquéritos policiais. Logo, a certidão de antecedentes da Polícia perdeu completamente a importância porque será sempre negativa, considerando que ela somente informava a existência de inquéritos policiais, o que agora é terminantemente vedado.

Processo Sexta Turma. RMS 29.273-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 20/9/2012.

Busca pessoal

Não é necessário mandado judicial para que seja realizada a busca por objetos em interior de veículo de propriedade do investigado quando houver fundadas suspeitas de que a pessoa

esteja na posse de material que possa constituir corpo de delito. Será, no entanto, indispensável o mandado quando o veículo for utilizado para moradia do

investigado, como é o caso de cabines de caminhão, barcos, trailers. Comentários Imagine que a polícia possui informações de uma testemunha relatando que o suspeito

possui, em seu veículo, documentos que provam a existência do crime investigado. A polícia pode realizar busca no carro mesmo sem mandado judicial? SIM. Não é necessário mandado judicial para que a polícia realize busca por objetos em interior de veículo de propriedade do investigado se houver fundadas suspeitas de que a pessoa esteja na posse de material que possa constituir corpo de delito. Isso se justifica porque o veículo da pessoa não pode ser considerado domicílio. Exceção: será indispensável mandado judicial se o veículo é utilizado pelo investigado para moradia, como é o caso de cabines de caminhão, barcos, trailers etc. Existem duas espécies de busca (art. 240 do CPP): a) a busca domiciliar, que é realizada na casa do investigado ou acusado; b) a busca pessoal, que é efetivada no corpo da pessoa ou em objetos que a ela pertençam. A busca em veículo pode ser enquadrada em qual das duas espécies? A busca em automóvel é equiparada à busca pessoal e, por isso, prescinde de autorização judicial, nos termos do art. 244 do CPP:

Art. 244. A busca pessoal independerá de mandado, no caso de prisão ou quando houver fundada suspeita de que a pessoa esteja na posse de arma proibida ou de objetos ou papéis que constituam corpo de delito, ou quando a medida for determinada no curso de busca domiciliar.

Processo Sexta Turma. HC 216.437-DF, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 20/9/2012.

ATENÇÃO Delegado de Polícia

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Gravação sem o conhecimento do preso

É ilícita a gravação de conversa informal entre os policiais e o conduzido ocorrida quando da lavratura do auto de prisão em flagrante, se não houver prévia comunicação do direito de

permanecer em silêncio. Comentários “A” e “B” estão conversando. “A” pode gravar essa conversa mesmo que “B” não saiba?

É permitida a gravação da conversa feita por um dos interlocutores? SIM. Trata-se de entendimento do STF: (...) É lícita a prova consistente em gravação ambiental realizada por um dos interlocutores sem conhecimento do outro. (RE 583937 QO-RG, Relator Min. Cezar Peluso, julgado em 19/11/2009) Agora imagine a seguinte situação: Determinada pessoa foi presa em flagrante e levada até a Delegacia. No momento da lavratura do flagrante, os policiais gravaram uma conversa informal entre eles e o preso, sem que este soubesse. Essa prova é válida? NÃO, trata-se de prova ilícita, devendo ser desentranhada dos autos. Foi o que decidiu a 6ª Turma do STJ. Segundo o art. 5º, LXIII, da CF, o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado. Ocorre que os policiais, ao conversarem informalmente com o preso, não o alertaram de que ele estava sendo gravado e de que possuía o direito de ficar em silêncio se quisesse. Desse modo, a situação julgada pela 6ª Turma do STJ é diferente e muito mais grave que o caso apreciado pelo STF. No caso paradigma (do STF), estava em jogo o sigilo das comunicações, de modo que se entendeu não violado, em razão da ciência de um dos interlocutores a respeito da gravação do diálogo. No caso em questão (julgado pela 6ª Turma do STJ), está em jogo o direito do indiciado de permanecer em silêncio, na fase policial, direito que não pode ser relativizado.

Atenção Em uma prova de concurso pode ser cobrado tanto o entendimento do STF (que é consolidado na jurisprudência) ou, então, o caso específico deste julgado. Saiba diferenciar se o enunciado está tratando do tema de forma genérica ou se faz um relato parecido com esta situação decidida.

Processo Sexta Turma. HC 244.977-SC, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 25/9/2012.

Intimação do acórdão condenatório

A intimação do acórdão, ainda que condenatório, é feita mediante publicação no Diário Oficial. Assim, não há nulidade na falta de intimação pessoal do réu acerca do acórdão proferido, ainda

que a condenação apenas tenha ocorrido em segundo grau de jurisdição. A regra prevista no art. 392 do CPP vale apenas para a sentença e não para o acórdão.

Comentários Como funciona a intimação da SENTENÇA no Processo Penal comum:

O que diz o CPP (art. 392) O que diz a doutrina O que dizem o STJ e STF

Se for réu PRESO: Exige-se a intimação pessoal do réu.

Seja o réu preso ou solto, seja a sentença absolutória ou condenatória, é indispensável a intimação pessoal do réu em homenagem à ampla defesa.

STJ: Aplica plenamente o art. 392: Segundo o que prevê o art. 392, incisos I e II, do CPP, a obrigatoriedade de intimação

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Se for réu SOLTO: A intimação da sentença poderá ser feita pessoalmente ao réu OU ao defensor por ele constituído.

Nesse sentido, Pacelli e Fischer: “qualquer que seja a decisão judicial, deve o Estado intimar o acusado pessoalmente, preso ou solto, do resultado do processo penal por ele instaurado. (...) Recusamos aplicação, portanto, da parte final do dispositivo (II)” (Comentários ao Código de Processo Penal e Sua Jurisprudência. São Paulo: Atlas, 2012, p. 776).

pessoal do acusado somente ocorre se este se encontrar preso, podendo ser dirigida unicamente ao patrocinador da defesa na hipótese de réu solto. (HC 161.430/SP, j. 01/03/2012) STF: Entende que, em caso de sentença condenatória, deverá sempre haver dupla intimação: Jurisprudência reiterada deste Tribunal no sentido de que a intimação da sentença condenatória deve ser feita tanto ao condenado quanto ao seu defensor. (HC 108563, j. em 06/09/2011)

Quando for necessária a intimação da defesa sobre a sentença, esta é feita da seguinte forma: Defensor constituído: intimado por publicação na imprensa oficial (art. 370, § 1º, CPP). Defensor público: intimado pessoalmente, com carga dos autos (se necessário) (LC 80/94). Defensor dativo (Defensor nomeado): intimado pessoalmente, mediante mandado (art. 370,

§ 4º, CPP).

Como funciona a intimação do ACÓRDÃO no Processo Penal comum:

As intimações das decisões dos Tribunais (acórdãos) são realizadas por meio de publicação na imprensa oficial, não se exigindo intimação pessoal do réu, mesmo que ele esteja preso. Não se aplica o art. 392 do CPP às intimações de acórdãos. Esta é a posição do STJ e do STF:

A intimação pessoal do acusado, nos termos do art. 392, incisos I e II, do CPP, é necessária apenas em relação à sentença condenatória proferida em primeira instância, de tal sorte que a intimação do acórdão prolatado em segunda instância se aperfeiçoa com a publicação da decisão na imprensa oficial. (STJ. HC 223.096/SC, 14/02/2012) Intimação do réu e de seu defensor do acórdão da apelação mediante publicação do dispositivo do acórdão no Diário Oficial. Ato válido. Desnecessidade de intimação pessoal do réu e do defensor constituído. Exigência só pertinente à intimação da sentença de primeiro grau. (STF. HC 101643, Relator Min. Dias Toffoli, Primeira Turma, julgado em 28/09/2010)

Processo Sexta Turma. HC 111.393-RS, Rel. Min. Alderita Ramos de Oliveira (Desembargadora convocada do TJ-PE), julgado em 2/10/2012.

Recursos (princípio da voluntariedade)

A ausência de interposição de recurso pelo defensor, por si só, não é suficiente para comprovar eventual prejuízo sofrido pelo réu com consequente nulidade processual.

Assim, a ausência da interposição de recurso cabível pelo advogado do réu, ainda que este seja assistido por defensor público ou dativo, não constitui falta de defesa, uma vez que, no art. 574,

caput, do CPP, é adotado o princípio da voluntariedade dos recursos. Comentários Imagine a seguinte situação hipotética:

Sérgio respondeu a uma ação penal e foi absolvido em primeira instância. O MP interpôs apelação contra essa decisão. O Tribunal de Justiça reformou a sentença absolutória condenando o réu. A intimação dessa condenação foi feita mediante publicação do dispositivo do acórdão no Diário Oficial.

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O defensor do acusado não interpôs nenhum recurso contra esse acórdão condenatório. Indaga-se: há nulidade pelo simples fato de não ter sido interposto recurso? NÃO. A jurisprudência do STJ entende que, em face do princípio da voluntariedade dos recursos, previsto no art. 574, caput, do CPP, o defensor, seja ele constituído ou dativo, devidamente intimado, não está obrigado a recorrer: (...) Conforme o posicionamento firmado pelo Supremo Tribunal Federal e por esta Corte Superior de Justiça, a ausência da interposição de recurso cabível pelo advogado do réu, ainda que este seja assistido por defensor público ou dativo, não constitui falta de defesa, uma vez que, no art. 574, caput, do Código de Processo Penal, é adotado o princípio da voluntariedade dos recursos. 2. Na ausência de efetivo prejuízo causado ao réu pela não interposição de recurso cabível, não há como reconhecer nulidade em matéria penal. (...) (HC 120.092/RJ, Relatora Ministra Laurita Vaz, Quinta Turma, DJe de 23.8.2010) Veja a redação do art. 574:

Art. 574. Os recursos serão voluntários, excetuando-se os seguintes casos, em que deverão ser interpostos, de ofício, pelo juiz: I - da sentença que conceder habeas corpus; II - da que absolver desde logo o réu com fundamento na existência de circunstância que exclua o crime ou isente o réu de pena, nos termos do art. 411.

O princípio da voluntariedade dos recursos é aplicável mesmo que o réu esteja sendo assistido juridicamente por Defensor Público ou defensor dativo? SIM. O Defensor Público ou o defensor dativo também não estão obrigados a sempre recorrer. (...) 1. É entendimento desta Corte de Justiça que não há previsão legal de que a intimação do teor do acórdão prolatado em sede de apelação criminal deva ser feita na pessoa do acusado, bastando para a sua ciência a publicação, na forma da lei, da mencionada decisão (Precedentes STJ). 2. No caso em apreço, observa-se que a defesa do paciente foi exercida em juízo por defensor público, sendo certo que este foi intimado pessoalmente do teor do acórdão proferido no inconformismo, circunstância que afasta a alegada ilegalidade. DEFESA EXERCIDA POR DEFENSOR PÚBLICO. INEXISTÊNCIA DE INTERPOSIÇÃO DE RECURSO ESPECIAL E/OU EXTRAORDINÁRIO. PRINCÍPIO DA VOLUNTARIEDADE OBEDECIDO. DUE PROCESS OF LAW GARANTIDO. 1. No sistema brasileiro vige o princípio da voluntariedade, inserto no art. 574, caput, do CPP, cuja previsão não obriga a defesa a interpor recurso contra decisão desfavorável ao réu. 2. Comprovado que o Defensor Público foi intimado pessoalmente acerca do teor do acórdão proferido no julgamento da apelação criminal, não há que se falar em ofensa ao devido processo legal pelo fato de não ter interposto recurso para as instâncias superiores. (...) (HC 235.905/RJ, Rel. Min. Jorge Mussi, Quinta Turma, DJe 28/06/2012)

Processo Sexta Turma. HC 111.393-RS, Rel. Min. Alderita Ramos de Oliveira (Desembargadora convocada do TJ-PE), julgado em 2/10/2012.

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Procedimento penal nos casos de competência originária dos Tribunais (Lei n. 8.038/90)

No procedimento previsto na Lei n. 8.038/90 não é necessário que seja aplicada, por analogia, a fase de absolvição sumária estabelecida no art. 397 do CPP. Isso porque o rito previsto nessa lei especial já traz a previsão do denunciado apresentar uma resposta preliminar e a possibilidade

do Tribunal julgar improcedente a acusação antes mesmo da ação penal se iniciar. Dessa forma, o art. 4º da Lei n. 8.038/1990 tem a mesma finalidade e substitui a absolvição

sumária do art. 397 do CPP. Não é cabível, em se tratando de ação penal originária (Lei n. 8.038/1990), que seja

assegurado ao acusado citado para a apresentação da defesa prévia prevista no art. 8º dab Lei n. 8.038/1990 o direito de se manifestar nos moldes preconizados no art. 396-A do CPP, com

posterior deliberação acerca de absolvição sumária prevista no art. 397 do CPP. Comentários Se a ação penal for de competência do STF, STJ, TRF ou TJ, ela deverá obedecer a um rito

processual próprio previsto na Lei n. 8.038/90. Ex: se um Governador for acusado da prática de um crime, esta ação penal tramitará

originariamente no STJ e o procedimento será o da Lei n. 8.038/90 (o CPP será aplicado apenas subsidiariamente).

Compare o procedimento da Lei n. 8.038/90 com o do CPP:

Lei 8.038/90 CPP (procedimento comum)

1. Oferecimento de denúncia (ou queixa). 1. Oferecimento de denúncia.

2. Notificação do acusado para oferecer resposta preliminar no prazo de 15 dias (antes de receber a denúncia) (art. 4º).

Essas fases não existem no rito CPP. 3. Se, com a resposta, o acusado

apresentar novos documentos, a parte contrária (MP ou querelante) será intimada para se manifestar sobre esses documentos, no prazo de 5 dias.

4. O Tribunal irá se reunir e poderá (art. 6º): a) receber a denúncia (ou queixa); b) rejeitar a denúncia (ou queixa); c) julgar improcedente a acusação se a decisão não depender de outras provas (neste caso, o acusado é, de fato, absolvido). Importante: a decisão quanto ao recebimento ou não da denúncia ocorre após o denunciado apresentar resposta.

2. O juiz irá decidir se: a) recebe a denúncia; b) rejeita a denúncia. Obs: nesta fase, o juiz não pode ainda julgar improcedente a denúncia, ou seja, não pode absolver o réu. Importante: a decisão quanto ao recebimento ou não da denúncia ocorre antes do denunciado apresentar resposta.

5. Se a denúncia (ou queixa) for recebida, o Relator designa dia e hora para audiência.

3. Se a denúncia é recebida, o juiz determina a citação do réu para responder à acusação em 10 dias.

Não há previsão na Lei para apresentação dessa resposta escrita nem de absolvição sumária.

4. Após a resposta escrita apresentada pelo réu, o juiz tem duas opções: a) Absolver sumariamente o réu (art. 397 do CPP). b) Rejeitar a absolvição sumária e designar audiência.

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No caso discutido pelo STJ, o réu respondia a uma ação penal no STJ. Após a denúncia ter sido recebida, o réu pediu para apresentar resposta escrita para que o Tribunal apreciasse essa defesa e decidisse sobre a possibilidade de absolvição sumária, tal como previsto no art. 397 do CPP. O réu alegava que a possibilidade de absolvição foi inserida

no CPP pela Lei n. 11.790/2008 e que também produzia efeitos no rito da Lei n. 8.038/90. Essa tese foi acatada pelo STJ?

Em outras palavras, a absolvição sumária prevista no CPP (por força da Lei n. 11.790/2008) deve ser aplicada para os processos de competência originária dos Tribunais? NÃO. O STJ decidiu que as regras do CPP sobre a resposta escrita e absolvição sumária já se

encontram implícitas no procedimento previsto na Lei n. 8.038/1990, considerando que, após o oferecimento da denúncia e a notificação do acusado para resposta preliminar (art. 4º), o Tribunal delibera não apenas sobre o recebimento ou a rejeição da denúncia, tendo a possibilidade também de julgar improcedente a acusação, se a decisão não depender de outras provas (art. 6º).

Assim, a defesa não tem nenhum prejuízo quando se adota o procedimento da Lei n. 8.038/90, já que o referido art. 6º impõe ao Tribunal que enfrente todas as teses defensivas que possam culminar na improcedência da acusação. Noutras palavras, o acusado, em sua resposta preliminar (art. 4º), poderá alegar tudo o que interesse à sua defesa, juntar documentos e apresentar justificações. O Tribunal, por sua vez, irá proferir uma decisão como se fosse a que analisa a absolvição sumária do CPP. Percebe-se, assim, que o art. 4º da Lei n. 8.038/1990 tem a mesma finalidade e substitui a absolvição sumária do art. 397 do CPP. Dessa forma, não se justifica que se aplique a absolvição sumária do CPP no procedimento

da Lei n. 8.038/90.

Processo Corte Especial. AgRg na APN 697-RJ, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, julgado em 3/10/2012.

DIREITO TRIBUTÁRIO

PIS/PASEP (obs: este julgado somente interessa a quem presta concursos federais)

Incide contribuição ao PIS sobre as receitas decorrentes da prestação de serviços advocatícios de sociedade de advogados.

Comentários PIS é uma espécie de contribuição de seguridade social, instituída pela União, e destinada a custear os serviços de saúde, previdência e assistência social (art. 194 da CF/88). Atualmente o PIS é chamado de PIS/PASEP. PIS/PASEP O sentido histórico dessas duas siglas é a seguinte:

PIS: Programa de Integração Social.

PASEP: Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público. O PIS e o PASEP foram criados separadamente, mas desde 1976, foram unificados e passaram a ser denominados de PIS/PASEP. A arrecadação do PIS/PASEP é destinada a pagar o seguro-desemprego e o abono salarial.

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Um dos sujeitos passivos do PIS/PASEP são as pessoas jurídicas de direito privado (e as equiparadas), sendo esta contribuição cobrada com base no faturamento mensal. Eduardo Sabbag fornece um quadro com as principais informações sobre o PIS/PASEP:

Sujeitos passivos Fato gerador Base de cálculo

Pessoas jurídicas de direito privado e as que lhes são equiparadas.

Obter faturamento mensal (receita bruta)

Faturamento mensal (arts. 1º e § 2º da Lei 10.637/2002

Entidades sem fins lucrativos (empregadoras)

Pagamento de salários Folha de pagamentos

Pessoas jurídicas de direito público interno

Arrecadação de receitas ou transferências correntes e de receitas de capital

Valor das receitas ou transferências correntes e de receitas de capital recebidas

As sociedades de advogados pagam PIS/PASEP? SIM. A 2ª Turma do STJ decidiu que incide contribuição ao PIS sobre as receitas decorrentes da prestação de serviços advocatícios de sociedade de advogados. Isso porque a sociedade civil de advogados, uma vez atendidas as formalidades legais, adquire personalidade jurídica (art. 15, § 1°, do Estatuto da OAB). Se o serviço advocatício é prestado pela sociedade de advogados, estando o nome presente na procuração outorgada pelo cliente, ela tem legitimidade para levantar o valor dos honorários e deverá pagar a contribuição ao PIS com base em tais receitas.

Obra consultada

SABBAG, Eduardo. Manual de Direito Tributário. 4ª ed., São Paulo: Saraiva, 2012.

PIS em provas de concurso

Não é tão comum ser cobrado PIS em provas de concurso, a não ser se o examinador estiver com ânimo de reprovar. Normalmente, quando se exige algo sobre o assunto, pergunta-se o teor da Súmula 659 do STF, que é importante saber: Súmula 659-STF: É legítima a cobrança da COFINS, do PIS e do FINSOCIAL sobre as operações relativas a energia elétrica, serviços de telecomunicações, derivados de petróleo, combustíveis e minerais do País.

Processo Segunda Turma. REsp 1.283.410-PE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 20/9/2012.

DIREITO PREVIDENCIÁRIO

Aposentadoria rural por idade (início de prova material)

É possível a concessão de aposentadoria por idade a rurícola (art. 143 da Lei 8.213/1991) em caso de comprovação da condição de lavrador do marido da requerente por meio de certidão de

casamento, certidão de óbito e extrato de pensão rural, além de depoimento de testemunhas. Comentários A jurisprudência do STJ é firme no sentido de que, para concessão de aposentadoria por

idade rural, não se exige que a prova material do trabalho agrícola se refira a todo o período de carência, desde que haja prova testemunhal apta a ampliar a eficácia probatória dos documentos, isto é, se as testemunhas confirmarem a prática de atividade rural no mesmo lapso. É possível a concessão de aposentadoria por idade a rurícola, em caso de comprovação da condição de lavrador do marido da requerente por meio de certidão de casamento, certidão de óbito e extrato de pensão rural, além de depoimento de testemunhas.

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A condição de trabalhadora rural da mulher decorre da extensão da qualidade de agricultor do marido. Em resumo, a certidão de casamento da requerente da aposentadoria, onde consta a qualificação de lavrador do marido, é apta a comprovar a sua condição de rurícola, afastando a aplicação do enunciado da Súmula n.º 149 do STJ: A prova exclusivamente testemunhal não basta à comprovação da atividade rurícola, para efeito da obtenção de benefício previdenciário.

Processo Terceira Seção. AR 4.094-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgada em 26/9/2012.

Aposentadoria rural por idade (comprovação de regime de economia familiar)

Não é possível a concessão da aposentadoria por idade a rurícola (art. 143 da Lei 8.213/1991), quando não comprovado o desempenho de atividade em regime de economia familiar.

Comentários Segundo entende o STJ, o regime de economia familiar que dá direito ao segurado especial de se aposentar, independentemente do recolhimento de contribuições, é a atividade desempenhada em família, com o trabalho indispensável de seus membros para a sua subsistência. Se ficar demonstrado que a pessoa exercia atividade lucrativa e organizada, fica descaracterizado o regime de subsistência dos segurados especiais.

Processo Terceira Seção. AR 4.094-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgada em 26/9/2012.

Benefício assistencial (LOAS)

Ainda que o requerente não se enquadre no critério previsto no art. 20, § 3º, da Lei 8.742/1993 (renda mensal per capita inferior a 1/4 do salário mínimo) ele poderá receber o benefício

assistencial se conseguir comprovar, por outros meios, sua situação de miserabilidade. Comentários A CF/88 estabelece, em seu art. 203, V:

Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos: (...) V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei.

A fim de dar cumprimento a esse comando constitucional foi editada a Lei n. 8.742/93 que, em seus arts. 20 a 21-A, disciplinou como seria pago esse benefício previsto na CF. Vamos fazer uma breve revisão sobre o assunto: Nome do benefício: A Lei o denomina de “Benefício de Prestação Continuada”. Alguns sinônimos empregados por outros autores: “Amparo Assistencial”, “Benefício Assistencial” ou “LOAS” (que é o próprio nome da lei). Em que consiste o benefício: Pagamento de um salário-mínimo por mês: a) à pessoa com deficiência; ou b) ao idoso com 65 anos ou mais.

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Desde que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção nem de tê-la provida por sua família. Renda que a lei considera como sendo insuficiente para subsistência (art. 20, § 3º): Como vimos acima, para receber o benefício, a pessoa com deficiência ou a pessoa com mais de 65 anos deverá provar que ela e que a sua família não têm recursos para se manter. Essa prova poderá ser feita por diversos meios, como documentos, testemunhas, visitas técnicas feitas por assistentes sociais etc. A Lei, no entanto, traz uma presunção no art. 20, § 3º: se a família tiver renda mensal per capita inferior a 1/4 (um quarto) do salário-mínimo, considera-se, sem questionamento, que é incapaz de prover a manutenção da pessoa com deficiência ou idosa. Assim, se o deficiente ou idoso provar que a renda mensal per capita de sua família é inferior a 1/4 do salário-mínimo, terá direito ao benefício. Qual é o conceito de família para os fins dessa Lei: Para efeito desse cálculo, a família é composta pelo requerente (deficiente ou idoso) e também pelas seguintes pessoas (desde que vivam sob o mesmo teto):

cônjuge ou companheiro do requerente;

pais e, na ausência de um deles, madrasta ou padrasto do requerente;

irmãos solteiros do requerente;

filhos e enteados solteiros do requerente;

menores tutelados. Exemplo 1: Bruno é deficiente mental. Em sua casa, moram seus pais e seus 2 irmãos, todos solteiros. Apenas o pai de Bruno trabalha e recebe 1 salário-mínimo por mês. Bruno terá direito ao amparo assistencial? SIM. Ao todo, essa família é composta por 5 membros. A renda total da família é de 1 salário mínimo. Logo, a renda per capita (por cabeça) da família é 1/5 do salário-mínimo (1 salário-mínimo dividido para 5 pessoas). Exemplo 2: José possui 65 anos. Em sua casa, moram sua companheira (Maria) e seus filhos solteiros (Pedro e Tiago). A única fonte de renda da casa vem de Pedro que recebe 1 salário-mínimo por mês. José terá direito ao amparo assistencial? Depende. Ao todo, essa família é composta por 4 membros. A renda total da família é de 1 salário mínimo. Logo, a renda per capita (por cabeça) da família é 1/4 do salário-mínimo (1 salário-mínimo dividido para 4 pessoas). A Lei presume a condição de miserabilidade quando a renda per capita for inferior a 1/4 do salário-mínimo. Então, não se pode presumir a miserabilidade do requerente. José poderá receber o benefício se conseguir provar, por outros meios, sua condição de miserabilidade?

SIM. Ainda que o requerente não se enquadre no critério previsto no art. 20, § 3º, da Lei n. 8.742/1993 (renda mensal per capita inferior a 1/4 do salário mínimo) ele poderá receber o benefício assistencial se conseguir comprovar, por outros meios, sua situação de miserabilidade.

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A Lei dispõe que a concessão desse benefício será devido a quem não possua meios de prover sua manutenção OU cuja família possua renda mensal per capita inferior a 1/4 do salário mínimo. Desse modo, a limitação do valor da renda per capita familiar não deve ser considerada a única forma de comprovar que a pessoa não possui outros meios para prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, visto que esse critério é apenas um elemento objetivo para aferir a necessidade. Ademais, no âmbito judicial vige o princípio do livre convencimento motivado do juiz, não o sistema de tarifação legal de provas. Assim, essa delimitação do valor da renda familiar per capita não deve ser tida como único meio de prova da condição de miserabilidade do beneficiado, não podendo vincular o magistrado a um elemento probatório sob pena de cercear o seu direito de julgar. Obs: alguns autores e julgados de Tribunais Regionais Federais afirmam que o parâmetro presumido para a concessão do benefício assistencial seria, atualmente, de 1/2 do salário-mínimo per capita e não mais 1/4. Esse entendimento é baseado nas Leis n° 9.533/97 e nº 10.689/2003, que teriam criado critério mais vantajoso para análise objetiva da miserabilidade. O STJ ainda não apreciou esse tema, razão pela qual, em provas objetivas,

fiquem com o critério previsto expressamente na Lei n. 8.742/1993, qual seja, 1/4 do salário-mínimo. Três últimas observações: Para receber esse benefício é necessário que a pessoa contribua ou tenha contribuído para a seguridade social? NÃO. Trata-se de um benefício de assistência social, que será prestado a quem dele necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social. A assistência social é caracterizada por ser um sistema não-contributivo, ou seja, é prestada independentemente de contribuição. Vale ressaltar que o amparo assistencial não pode ser acumulado pelo beneficiário com qualquer outro no âmbito da seguridade social ou de outro regime, salvo os da assistência médica e da pensão especial de natureza indenizatória. Quem paga esse benefício? Os recursos são da União. O INSS é o órgão responsável pela concessão, execução e manutenção do benefício. Assim, a competência para julgar ações que discutam esse benefício é da Justiça Federal.

Processo Primeira Turma. AgRg no AREsp 202.517-RO, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, julgado em 2/10/2012.

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DIREITO INTERNACIONAL

Expulsão

A jurisprudência do STJ flexibilizou a interpretação do art. 75, inciso II, da Lei 6.815/80, para manter no País o estrangeiro que possui filho brasileiro, mesmo que nascido posteriormente à condenação penal e ao decreto expulsório, no afã de tutelar a família, a criança e o adolescente.

Todavia, o acolhimento desse preceito não é absoluto e impõe a efetiva comprovação da dependência econômica e da convivência socioafetiva com a prole brasileira, a fim de que o

melhor interesse do menor seja atendido. Comentários O que é o instituto da expulsão no direito internacional público?

Expulsão é... - o ato por meio do qual o Estado - manda embora de seu território - o estrangeiro que tem comportamento nocivo ou inconveniente aos interesses nacionais.

Veja o que diz o Estatuto do Estrangeiro (Lei n. 6.815/80):

Art. 65. É passível de expulsão o estrangeiro que, de qualquer forma, atentar contra a segurança nacional, a ordem política ou social, a tranquilidade ou moralidade pública e a economia popular, ou cujo procedimento o torne nocivo à conveniência e aos interesses nacionais. Parágrafo único. É passível, também, de expulsão o estrangeiro que: a) praticar fraude a fim de obter a sua entrada ou permanência no Brasil; b) havendo entrado no território nacional com infração à lei, dele não se retirar no prazo que lhe for determinado para fazê-lo, não sendo aconselhável a deportação; c) entregar-se à vadiagem ou à mendicância; ou d) desrespeitar proibição especialmente prevista em lei para estrangeiro.

De quem é a competência para a expulsão? O Estatuto do Estrangeiro afirma que caberá exclusivamente ao Presidente da República resolver sobre a conveniência e a oportunidade da expulsão ou de sua revogação (art. 66). A expulsão ou a sua revogação deverá ser feita por meio de decreto. Apesar da lei mencionar “exclusivamente”, é possível que o Presidente delegue esse ato de expulsão? SIM. É possível que o decreto de expulsão de estrangeiro seja subscrito pelo Ministro da Justiça, por delegação do Presidente da República. O Poder Judiciário poderá avaliar a decisão de expulsão? SIM, é possível. No entanto, como o ato de expulsão é considerado discricionário, somente cabe ao Poder Judiciário analisar se ele foi praticado em conformidade ou não com a legislação em vigor (controle de legalidade), não podendo examinar a sua conveniência e oportunidade, ou seja, não poderá realizar o controle sobre o mérito da decisão. É possível algum tipo de “recurso” administrativo contra a decisão de expulsão? Em regra, é possível que o interessado formule “pedido de reconsideração” no prazo de 10 dias, a contar da publicação do decreto de expulsão. Excepcionalmente, não caberá pedido de reconsideração se a expulsão foi por causa de:

infração contra a segurança nacional, a ordem política ou social e a economia popular;

tráfico de drogas; ou

de desrespeito à proibição especialmente prevista em lei para estrangeiro.

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O art. 75 da Lei n. 6.815/80 prevê TRÊS hipóteses nas quais não poderá ocorrer a expulsão:

Não se procederá à expulsão:

1) Se implicar extradição inadmitida pela lei brasileira. (explico: se o estrangeiro se enquadra em uma das hipóteses nas quais não cabe extradição, também não será possível a expulsão, pois haveria uma burla na regra); 2) Quando o estrangeiro tiver cônjuge brasileiro do qual não esteja divorciado ou separado, de fato ou de direito, e desde que o casamento tenha sido celebrado há mais de 5 (cinco) anos. Obs: verificado o divórcio ou a separação, de fato ou de direito, a expulsão poderá efetivar-se a qualquer tempo. 3) Quando o estrangeiro tiver filho brasileiro que, comprovadamente, esteja sob sua guarda e dele dependa economicamente. Obs1: em regra, o filho deve ter nascido, sido adotado ou reconhecido antes do fato que motivar a expulsão. Obs2: verificado o abandono do filho, a expulsão poderá efetivar-se a qualquer tempo. Esse dispositivo deu origem à Súmula 1 do STF que, no entanto, é incompleta porque não trata sobre o nascimento do filho após o fato que originou a expulsão:

Súmula 1-STF: É vedada a expulsão de estrangeiro casado com brasileira, ou que tenha filho brasileiro, dependente da economia paterna.

É possível a expulsão de estrangeiro que possui filho brasileiro nascido posteriormente à condenação penal e ao decreto expulsório? Pela redação do § 1º do art. 75, a expulsão seria possível. Assim, em regra, o nascimento de filho brasileiro após a prática da infração penal não constitui óbice à expulsão. Há julgados do STF nesse sentido:

(...) 2. O nascimento de filho brasileiro após a prática da infração penal não constitui óbice à expulsão. (...) (HC 85203, Relator: Min. Eros Grau, Tribunal Pleno, julgado em 06/08/2009)

O STJ, no entanto, flexibilizou a interpretação desse dispositivo afirmando que, se o estrangeiro possui filho brasileiro, mesmo que nascido posteriormente à condenação penal e ao decreto expulsório, ele NÃO deverá ser expulso desde que prove que o filho brasileiro depende economicamente dele e que há uma convivência socioafetiva entre eles. Esse entendimento do STJ foi reafirmado no julgado explicado neste Informativo:

1. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça flexibilizou a interpretação do art. 65 (rectius: 75), inciso II, da Lei 6.815/80, para manter no país o estrangeiro que possui filho brasileiro, mesmo que nascido posteriormente à condenação penal e ao decreto expulsório, no afã de tutelar a família, a criança e o adolescente. 2. Todavia, o acolhimento desse preceito não é absoluto e impõe ao impetrante que efetivamente comprove, no momento da impetração, a dependência econômica e a convivência sócio-afetiva com a prole brasileira, a fim de que o melhor interesse do menor seja atendido. (...) (HC 250.026/MS, Rel. Min. Benedito Gonçalves, Primeira Seção, julgado em 26/09/2012)

O estrangeiro expulso poderá retornar ao país? O estrangeiro somente poderá retornar ao Brasil se o decreto que o expulsou for revogado por outro decreto.

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E se o estrangeiro expulso retornar sem que tenha sido revogado seu ato de expulsão? Nesse caso, ele cometerá o crime previsto no art. 338 do CP:

Art. 338 - Reingressar no território nacional o estrangeiro que dele foi expulso: Pena - reclusão, de um a quatro anos, sem prejuízo de nova expulsão após o cumprimento da pena.

Deportação, expulsão, extradição e entrega

Nas provas, costuma-se cobrar as diferenças entre os seguintes institutos:

DEPORTAÇÃO EXPULSÃO EXTRADIÇÃO ENTREGA (surrender ou remise)

O Estado manda embora um estrangeiro que entrou ou permaneceu no Brasil de forma irregular.

O Estado manda embora um estrangeiro que tem comportamento nocivo ou inconveniente aos interesses nacionais.

O Estado entrega a outro país um indivíduo que cometeu um crime que é punido segundo as leis daquele país (e também do Brasil) a fim de que lá ele seja processado ou cumpra a pena por esse ilícito.

O Estado entrega um estrangeiro ou mesmo brasileiro para que seja julgado pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), sediado em Haia (Holanda). Previsto no Estatuto de Roma. Entrega é diferente de extradição. Extradição ocorre entre dois países soberanos. A entrega é a remessa para um órgão supranacional (o TPI).

Exs: passaporte vencido, visto vencido etc.

Ex: o estrangeiro praticou um crime aqui no Brasil.

Ex: um cidadão dos EUA lá comete um crime e foge para o Brasil.

Ex: indivíduo praticou genocídio, crime de guerra, de agressão ou crime contra a humanidade.

É ato de ofício do Brasil. É ato de ofício do Brasil. Depende de pedido formulado pelo outro país.

Depende de pedido do TPI.

É ato de competência do Departamento de Polícia Federal.

É ato de competência do Presidente da República, podendo ser delegado ao Ministro da Justiça.

O pedido de extradição feito por Estado estrangeiro é examinado pelo STF. Autorizado o pleito extradicional pelo STF, cabe ao Presidente da República decidir, de forma discricionária, sobre a entrega, ou não, do extraditando ao governo requerente.

Os demais temas sobre a entrega para o TPI ainda estão em discussão, sendo o mais importante deles o seguinte: É possível a entrega de um brasileiro nato para ser julgado pelo TPI? 1ª) SIM. A entrega de um nacional brasileiro não fere a CF/88 (art. 5º, LI) porque a entrega se dá ao TPI e não a um Estado estrangeiro. Desse modo, a entrega é diferente de extradição. O que a CF veda é a extradição de brasileiros natos (Valério Mazzuoli). 2ª) NÃO. Apesar da “diferença técnica”, formal, portanto, entre os institutos, parece evidente que, materialmente, ambos implicam o mesmo tipo e grau de constrangimento à liberdade individual (Paulo Queiroz). Prevalece a 1ª corrente.

O deportado é mandado para o país de sua nacionalidade ou procedência, ou para outro que aceite recebê-lo.

O expulso é mandado para o país de sua nacionalidade ou procedência, ou para outro que aceite recebê-lo.

A pessoa extraditada é mandada para o país que requereu a extradição.

O deportado poderá reingressar no Brasil se obtiver todos os documentos necessários e ressarcir o Tesouro pelas despesas com a sua deportação, além de pagar a multa devida.

O estrangeiro somente poderá retornar ao Brasil se o decreto que o expulsou for revogado por outro decreto.

Segundo o entendimento do Ministério da Justiça, nada impede o retorno ao Brasil de estrangeiro já extraditado, após o cumprimento da pendência com a Justiça do país requerente, desde que não haja também sido expulso do território nacional.

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Obs1: a falsificação de passaporte ou visto configura uma irregularidade no ingresso ou permanência do estrangeiro. No entanto, para a lei brasileira, trata-se de ato tão grave que enseja a expulsão (e não mera deportação). (PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito Internacional Público e Privado. 2ª ed., Salvador: Juspodivm, 2010, p. 261). Obs2: o estrangeiro que tem cônjuge ou filho brasileiro pode ser extraditado? SIM. Súmula 421-STF: Não impede a extradição a circunstância de ser o extraditado casado com brasileira ou ter filho brasileiro.

Processo Primeira Seção. HC 250.026-MS, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 26/9/2012.

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO

Julgue os itens a seguir: 1) (AGU – 2012) É expressamente proibida pela CF a extradição ou entrega de brasileiro nato a

autoridades estrangeiras. ( ) 2) (AGU – 2012) O direito brasileiro veda a deportação de estrangeiro acusado da prática de crime

político. ( ) 3) (DPU – 2010) Considere que um estrangeiro tenha sido expulso do país por pertencer a célula terrorista

e ter participado do sequestro de autoridades brasileiras. Considere, ainda, que, após a abertura de inquérito no Ministério da Justiça, no qual foi assegurada ampla defesa ao alienígena, o presidente da República tenha decidido, por meio de decreto, pela sua expulsão do país. Nessa situação, o estrangeiro só poderá voltar ao país mediante decreto presidencial que revogue o anterior. ( )

4) (OAB VIII Exame – 2012) Jean Pierre, cidadão estrangeiro, foi preso em flagrante em razão de suposta prática de crime de falsificação de passaporte com o objetivo de viabilizar sua permanência no Brasil. Diante dessa situação hipotética, assinale a afirmativa correta. A) A fraude para obter a entrada e permanência no território brasileiro constitui motivo suficiente para a expulsão do estrangeiro, cabendo, exclusivamente, ao Presidente da República, de forma discricionária, resolver sobre a conveniência e oportunidade da sua retirada compulsória do País. B) O ilícito deverá ser apurado no âmbito do Ministério da Relações Exteriores, tornando desnecessária a instauração de processo administrativo ou inquérito para fins de apuração dos fatos que ensejam a expulsão. C) O mérito do ato de expulsão é analisado mediante juízo de conveniência e oportunidade (discricionariedade), sendo descabido o ajuizamento de ação judicial para impugnar suposta lesão ou ameaça de lesão a direito, devendo, nesse caso, o juiz rejeitar a petição inicial por impossibilidade jurídica do pedido. D) A fraude para obter entrada e permanência no território brasileiro não é motivo para fundamentar ato de expulsão de estrangeiro.

5) (Juiz Federal TRF1/2011) Somente é passível de expulsão do território brasileiro o estrangeiro que sofra

condenação por crimes que atentem contra a segurança nacional ou a ordem política ou social. ( ) 6) (Juiz Federal TRF1/2011) A deportação, como forma de exclusão do estrangeiro do território brasileiro,

somente se efetiva mediante ato que, exarado pelo ministro de Estado da Justiça, impeça o retorno do deportado ao país. ( )

7) (DPE/RO – 2012) Considere que as gravações decorrentes de interceptação telefônica produzida, na forma da lei, em ação penal tenham sido consideradas, em processo administrativo disciplinar, para a aplicação da penalidade de demissão a servidor público, após a devida autorização do juízo criminal. Nessa situação hipotética, não há irregularidade no aproveitamento das gravações, já que é admitida a denominada prova emprestada no processo administrativo disciplinar, desde que devidamente autorizada pelo juízo criminal. ( )

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8) (Juiz do Trabalho TRT1 – CESPE – 2010) Embora a CF admita a decretação, pela autoridade judicial, da interceptação telefônica para fins de investigação criminal ou instrução processual penal, é possível a utilização das gravações no processo civil ou administrativo, como prova emprestada. ( )

9) (MPT – 2012) Segundo a Lei nº 8.112/90, a autoridade que tiver ciência de irregularidade no serviço público é obrigada a promover a sua apuração imediata, mediante sindicância ou processo administrativo disciplinar, assegurada ao acusado ampla defesa, a quem, porém, a Constituição da República não assegura a defesa técnica. ( )

10) (MPT – 2012) Segundo a Lei nº 8.112/90, sempre que o ilícito praticado pelo servidor ensejar a imposição de penalidade de suspensão por mais de 30 (trinta) dias, de demissão, cassação de aposentadoria ou disponibilidade, ou destituição de cargo em comissão, será obrigatória a instauração de processo disciplinar. ( )

11) (Juiz TJPI – 2012) Como regra, a sindicância constitui condição prévia para a instauração do processo administrativo disciplinar. ( )

12) (Juiz TJPI – 2012) A autoridade competente para decidir fica vinculada ao relatório e à capitulação proposta pelo órgão responsável pela instrução, estando, assim, impedida de aplicar penalidade mais severa do que a sugerida pela comissão processante. ( )

13) (Juiz Federal TRF1 – 2011) Na sindicância, ainda que instaurada com caráter meramente investigatório ou preparatório de um processo administrativo disciplinar, é indispensável a observância dos princípios do contraditório e da ampla defesa. ( )

14) (Juiz TJES – 2012) O princípio da adequação social, dirigido ao julgador, e não ao legislador, objetiva restringir a abrangência do tipo penal, limitando sua interpretação e dele excluindo as condutas consideradas socialmente adequadas e aceitas pela sociedade. ( )

15) (Juiz Federal TRF5 – 2011) O comércio de cópias grosseiras de CDs e DVDs em centros urbanos, para o sustento próprio do agente e de sua família, impõe a aplicação dos princípios da insignificância e da adequação social e conduz à atipicidade da conduta, em tese violadora de tipo penal protetivo da propriedade imaterial. ( )

16) (DPE/MA – 2011) A jurisprudência do STJ considera, para fins penais, socialmente adequada a venda de CDs e DVDs piratas, devendo a punição contra o agente limitar-se à esfera cível. ( )

17) (Juiz Federal TRF2 – 2009) Para obtenção de benefício previdenciário, a prova exclusivamente testemunhal é suficiente à comprovação da atividade rurícola. ( )

18) (Juiz TJES – 2012) Segundo a jurisprudência do STJ, o CDC se aplica a serviço de fornecimento de água e esgoto, contrato bancário e contrato de previdência privada. ( )

19) (Promotor MP/ES – 2010) Consoante a jurisprudência do STJ, o requisito da renda familiar per capita inferior a um quarto do salário mínimo, previsto na Lei n.º 8.742/1993 para concessão do benefício de prestação continuada, de caráter assistencial, consubstancia um critério legal absoluto, impediente de que o julgador faça uso de outros elementos probatórios para comprovar a condição de miserabilidade da família. ( )

20) (MPT – 2012) Sobre o direito fundamental à assistência social do Estado, leia e analise as assertivas a seguir: I – O Supremo Tribunal Federal decidiu que compete à União, e não aos Estados, a manutenção de benefício de prestação continuada a pessoas com deficiência. II – Além da comprovação da situação de miserabilidade, a pessoa idosa deve comprovar que contribuiu para o custeio da seguridade social por período não inferior a cinco anos, para obter benefício assistencial. III – O valor do benefício mensal pago às pessoas idosas ou com deficiência corresponde a ¼ (um quarto) do valor do salário mínimo. IV – A assistência social visa à promoção da integração das pessoas com deficiência, idosos e adolescentes carentes acima de 14 anos, no mercado de trabalho, podendo, o Poder Público, para tanto, valer-se da participação da população, por meio de organizações representativas, na formulação de políticas e no controle das ações de assistência social em todos os níveis da administração pública. Marque a alternativa CORRETA:

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A) apenas as assertivas II e III estão corretas; B) apenas as assertivas I, II e IV estão corretas; C) apenas as assertivas III e IV estão corretas; D) apenas as assertivas I e IV estão corretas; E) não respondida.

21) (Juiz TJ/DF – 2012) A sentença arbitral proferida no território nacional constitui título executivo judicial,

independentemente de homologação por qualquer órgão do Poder Judiciário. ( ) 22) (Juiz Federal TRF2 – 2011) A sentença arbitral não está sujeita à homologação do Poder Judiciário para

surtir efeitos entre as partes. ( ) 23) (Promotor MP/PI – 2012) A execução de sentença arbitral pressupõe homologação judicial para a

formação de título apto à instauração de processo executivo. ( ) 24) (Promotor MP/RO – 2010) A sentença arbitral, por ser um título executivo extrajudicial, ocorre fora do

Poder Judiciário. ( ) 25) (Juiz TJ/PR – 2012) O Código de Processo Civil de 1973 considera título executivo extrajudicial a

sentença arbitral, pois se trata de decisão tomada fora do Poder Judiciário. ( ) 26) (Juiz Federal TRF1 – 2011) Para ser executada no Brasil, a sentença arbitral estrangeira está sujeita a

prévia homologação do STF. ( ) 27) (Promotor MP/SE – 2010) Na ação civil pública, no que concerne às associações civis, diversamente do

regime da ação popular constitucional, não há dispensa de custas e adiantamento das despesas processuais. ( )

28) (Promotor MP/SE – 2010) A responsabilidade por litigância de má-fé incide apenas sobre a associação autora e alcança, solidariamente, os diretores responsáveis pela propositura da ação civil pública. ( )

29) (DPE/RO – 2012 – adaptada) Sendo imposta a Felipe condenação por crime de furto e sendo aplicada pena privativa de liberdade de três anos e seis meses de reclusão, o regime inicial de cumprimento da pena será obrigatoriamente o fechado, no caso de ele ser reincidente. ( )

30) A pena por crime hediondo ou equiparado deve ser cumprida inicialmente em regime fechado. ( ) 31) (DPE/SP – 2012) O agente que investe com seu veículo automotor dolosamente em direção a um

desafeto atingindo-o, mas acaba por lesionar culposamente também um terceiro, incorre em hipótese de concurso formal imperfeito ou impróprio. ( )

32) (DPE/SP – 2012) Se a aplicação do critério do concurso formal redundar em pena superior àquela que seria aplicável na hipótese de reconhecimento do concurso material, as penas relativas aos crimes devem ser somadas. ( )

33) (DPU – 2010) Segundo precedentes do STJ, o percentual de aumento decorrente do concurso formal de crimes deve ser aferido em razão do número de delitos praticados, e não, à luz das circunstâncias judiciais analisadas na primeira fase da dosimetria da pena. ( )

34) (Promotor RN – 2009) Abel pretendia tirar a vida do seu desafeto Bruno, que se encontrava caminhando em um parque ao lado da namorada. Mesmo ciente de que também poderia acertar a garota, Abel continuou sua empreitada criminosa, efetuou um único disparo e acertou letalmente Bruno, ferindo levemente sua namorada. A partir dessa situação hipotética pode-se dizer que Abel deve responder pelos delitos de homicídio e lesão corporal leve em concurso formal imperfeito. ( )

35) (Juiz TJCE – 2012) Se, no delito de roubo, houver, com uma só ação, lesão ao patrimônio de várias vítimas, estará configurado concurso formal, raciocínio que não se aplica ao crime de cárcere privado nas hipóteses em que, por meio de uma só conduta, haja a restrição da liberdade de mais de uma pessoa, caso que configura um único delito. ( )

36) (Juiz Federal TRF5 – 2011) Caracteriza-se o concurso formal quando praticados crimes de roubo mediante uma só ação, exceto se as vítimas forem distintas. ( )

37) (Juiz TJES – 2012) Suponha que, em troca de tiros com policiais, certo traficante atinja o soldado A, e o mesmo projétil também atinja o transeunte B, provocando duas mortes. Nesse caso, ainda que não tenha pretendido matar B, nem aceito sua morte, o atirador responderá por dois homicídios dolosos em concurso formal imperfeito. ( )

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38) (Promotor RN – 2009) Na hipótese de concurso formal perfeito de infrações penais de menor potencial ofensivo, afasta-se a competência do juizado especial criminal, ainda que a pena máxima cominada ao crime mais grave acrescida de eventual exasperação máxima decorrente do concurso resulte em pena privativa de liberdade não-superior a dois anos. ( )

39) (Juiz TJPB – 2011) Compete à justiça comum o julgamento de acusado de crime de menor potencial ofensivo em concurso formal com delito de outra natureza, visto que, no concurso de crimes, a pena considerada para a fixação da competência é a resultante da soma das penas previstas, havendo concurso material, ou da exasperação, no caso de concurso formal ou de crime continuado. ( )

40) (DPE/AL – 2009) Nas hipóteses de atuação de defensor público, não prevalece o princípio da voluntariedade dos recursos, o que leva à conclusão de que a falta de interposição de apelo em ataque à decisão contrária aos interesses do réu, por si só, acarreta nulidade. ( )

Questão discursiva: (DPE/MA – 2011) Proferida a sentença penal condenatória e devidamente intimada a defensoria, caso o defensor público deixe de interpor recurso de apelação, por se conformar com o decreto condenatório, haverá ofensa ao princípio do devido processo legal?

Gabarito

1. E 2. C 3. C 4. “A” 5. E 6. E 7. C 8. C 9. C 10. C

11. E 12. E 13. E 14. E 15. E 16. E 17. E 18. C 19. E 20. “D”

21. C 22. C 23. E 24. E 25. E 26. E 27. E 28. E 29. E 30. E

31. E 32. C 33. C 34. C 35. E 36. E 37. E 38. E 39. C 40. E