steve jobs - o retrato de um gênio

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  • 8/3/2019 Steve Jobs - O Retrato de um Gnio

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    O TRATODEUMGENIOA biografia autorizada de Steve Jobstraz o relato definitivo das idossincrasias,da genialidade e das fragilidadesdo fundador da Apple

    SRGIO TEIXEIRA JR., DENOVA YORK, EANDR FAUST

    UMDOS PARADOXOS DAVIDA DE STEYE JOBS que, apesar de sua co-nhecida mania por se-gredo e privacidade,muitos dos detalhes de sua personali-dade eram conhecidos do pblico. Nosincontveis obiturios e tributos quese seguiram sua morte, em 5 de ou-tubro, nenhum de seus traos deixoude ser examinado: a obsesso, o deta-lhismo, as grosserias, a genialidade, ocharme. Mas o retrato sem-pre pareceu um pouco fora defoco, pois as histrias semprevinham de segunda ou tercei-ra mo. Aqueles que foramhumilhados em pblico,aqueles que viram de perto onascimento de produtos re-volucionrios, aqueles comquem Jobs dividiu suas an-gstias e suas alegrias quasenunca falaram com detalhese abertamente sobre suas ex-

    perincias. At agora. Steve Jobs, abio-grafia autorizada escrita pelo jornalis-ta \Valter Isaacson (Companhia dasLetras, 632 pgs.), o relato definitivoda vida e do legado daquele que j vemsendo considerado um dos maioreshomens de negcios do ltimo sculo.As motivaes de Jobs de "mudar omundo" e sua busca pela perfeio jforam repisadas, mas no livro elas ga-nham novavida quando se expressamnos detalhes do dia adia. Jobs se revol-tava com a caligrafia do convite de ca-samento tanto quanto exigia decidironde ficariam osbanheiros de sua em-presa. O livro tambm revela o que jse aventava: nove meses se passaramentre diagnstico de seu cncer e aprimeira operao. As histrias somuitas. Do ideia damaluquice doper-sonagem nas primeiras pginas, e tor-nam-se melanclicas quando aquelafora da natureza se esvai por causa dadoena. Aseguir uma pequena amostrado que foi Steve Jobs.

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    Jobs afirm ou que as drogas ps icod licas tiv eramum pape l cen tra l em sua persona lidade cria tiv ae que o to rna ram 'm ais ilum inado '

    ADOOJobs soube desde cedo que era adota-do. Quando tinha 6 ou 7 anos, lembrade ter contado o fato a uma vizinha."Ento isso significa que seus pais ver-dadeiros no queriam voc?", ameninaperguntou. Ele ficou arrasado. Em ca-sa, seus pais o tranquilizaram: "Nsescolhemos especificamente voc". Aideia de ter sido abandonado e escolhi-do teve um efeito forte sobre a perso-nalidade de Jobs. "Steve me falou mui-to sobre o abandono e a dor que issocausou. Isso o fez independente. Eleseguiu a batida de um baterista dife-rente, e isso veio por estar em um mun-do diferente daquele em que nasceu",diz O amigo Greg Calhoun.O INicIO DA APPLENa parceria entre Jobs e Wozniak, osegundo sempre esteve frente dos fei-tos em eletrnica e programao. Nosprimeiros dias da amizade, quando os

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    negcios comearam a engrenar, o paide Wozniak, Jerry, chegou a sugerir queJobs no merecia fazer parte do neg-cio, pois no produzia nada. "Voc nomerece merda nenhuma", disse a Jobs.O prprio Wozniak saiu em sua defesa.Ele admite que, sem Jobs, jamais teriacriado uma empresa em torno de suasinvenes. "Nunca me passou pela ca-bea vender computadores", afirma ele.Dessa parceria nasceria a Apple.

    DROGASJobs disse que as drogas psicodlicastiveram um papel central em sua per-sonalidade criativa e que o tornaram"mais iluminado". Ele fumou maconhapela primeira vez aos 15anos. Mas o querealmente mudou sua vida foi o cido."Tomar LSD foi uma experincia pro-funda, uma das coisas mais importantesda minha vida. O cido lhe mostra queh um outro lado da moeda, e voc noconsegue se lembrar dele quando o efei-

    to passa, mas voc sabe dele. O LSDreforou minha noo do que era im-portante - criar grandes coisas em vezde ganhar dinheiro, pr as coisas devolta no fluxo da histria e da conscin-cia humana, tanto quanto eu pudesse."OS BENS MATERIAISEntre os muitos paradoxos aparente-mente irreconciliveis da personalida-de de Jobs estava a sua crena budistana libertao dos bens materiais. "Nos-sos desejos de consumo so doentios.Para atingir a iluminao preciso de-senvolver uma vida sem apegos nemmaterialismo", disse Jobs a uma namo-rada. Ela respondeu dizendo que eleestava fazendo o contrrio, criandocomputadores que as pessoas deseja-liam. "No fim, o orgulho que Jobs sen-tia dos objetos que fabricava foi maisforte do que sua sensvel noo de queas pessoas deviam evitar o apego a es-ses bens", escreve Isaacson.

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    UVROS I biografiaVEGETARIANISMOJobs abraou o vegetarianismo logoque entrou na faculdade. Ao longo desua vida, houve diversos episdios dedietas extremas, com purgaes, je-juns e dias base de cenoura ou ma-s. Sua recusa em comer melhor setornou um problema depois que foidiagnosticado com cncer. Seu orga-nismo precisava de uma nutrio ba-lanceada. As refeies em sua casapassaram a incluir peixe e frango, eseu filho abandonou o vegetarianis-mo. Mas Jobs no seguiu as recomen-daes mdicas. A nica exceo erao sushi de enguia, uma iguaria no Ja-po. "Ele amava tanto esse prato quepermitia que a enguia cozida se pas-sasse por comida vegetariana", relataIsaacson, autor do livro.UM PRODUTO SAo contrrio de outros fabricantes demeados dos anos 80, Jobs acreditavapiamente que um computador deveriater hardware e software integrados,tudo parte de uma coisa s. Isso sig-nificou, entre outras coisas, que o sis-tema operacional da Apple jamaisseria fornecido a outros computado-res, como fez a Microsoft com oWin-dows. Sua obsesso em manter a Ap-pie e seus computadores como entesisolados fez com que chegasse a en-comendar ferramentas especiais, paraque ningum fosse capaz de abrir acaixa do Macintosh.UMA CASAMUITO ENGRAADA''Desculpem, no tenho muita mobilia",dizia Jobs a quem ovisitava em sua ca-sa. "Simplesmente no teve como."Es-saera uma de suas idiossincrasias cons-tantes: por causa de seus critrios rigo-rosos de qualidade, alm de uma ten-dncia espartana, ele relutava em com-prar qualquer mvel que no o encan-

    tasse. Tinha uma luminria Tiffany,uma mesa de jantar antiga e um video-laser num Trinitron da Sony.Mas, emvez de sofs e cadeiras, almofadas debolinhas de isopor no cho.

    o casamento, Laurene Powell chamoua responsvel pela caligrafia dos con-vites para mostrar algumas opes."Jobs olhou-as por algum tempo, le-vantou-se e saiu da sala. Elas ficaramesperando, mas ele no voltou. Powellfoi procur -I o e o encontrou no quar-to. 'Livre-se dessa mulher', disse ele.'No consigo olhar para o materialdela. uma merda.' "O CONVITEDE CASAMENTOJobs tinha uma paixo especial portipografia. Quando estava planejando

    Jobs acred itava que um com putador deveria te r hardwaree so ftware in tegrados. Isso s ign ificou que o sis tem aoperac io na l da App le jama is seria fo rnec id o a terce iros186 I www.exame.com

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    AS ENTREVISTASDE EMPREGOJobs sempre quis ter em sua equipeapenas funcionrios da mais alta com-petncia. Por isso, ele nunca se afas-tou do processo de contratao. Amisso era trazer para a Apple gentecriativa, muito inteligente e um tantorebelde. Os candidatos que no se en-caixassem no perfil corriam o risco deser caoados em pblico. Certa vez,Jobs entrevistou um candidato a umaposio para gerente de sofrware. Suaaparncia de convencional demaispara a Apple ficou evidente logo decara. Entre as perguntas, estiveram:"Com que idade voc perdeu a vir-

    gindade?" e "Quantas vezes voc to-mou LSD?" A nica decepo acon-teceu com John Sculley, que Jobs ti-rou da Pepsi - Sculley armaria umgolpe que tiraria Jobs da empresa queele prprio fundara.o PRIMEIRO BilHOLogo depois do lanamento de ToyStory, o primeiro filme da Pixar, a em-presa abriu o capital na bolsa. Ao finaldo primeiro dia de negociaes, asaes de Jobs valiam 1,2bilho de d-lares, cinco vezes o que ele havia con-seguido com o IPO da Apple. Mas, ementrevista ao The New York Times,Jobs diria que o dinheiro no impor-

    tava. "No h iates no meu futuro.Nunca fiz isso por dinheiro."A TELA MUlTITOQUEO livro de Isaacson deixa em abertoquem foi o criador de uma das princi-pais inovaes da Apple, a tela multi-toque do iPhone e do iPad. Segundouma das verses relatadas, o prprioJobs teria feito a encomenda equipede engenheiros. O designer JonathanIve, porm, conta uma histria dife-rente. Ele teria desenvolvido a tecno-logia em segredo com sua equipe e,quando tinha um prottipo funcional,o apresentou a Jobs, que teria ficadoencantado com a ideia.

    A DOENAO livro confirma uma histria que haviasido publicada pela revista Forzune anosantes: Jobs passou nove meses ignoran-do os conselhos de mdicos, familiarese amigos para se submeter a uma ope-

    g rao. Isaacson no se prope a especu-~ lar sobre uma eventual cura, caso Jobs tivesse sido operado antes. Mas o retra-~ to que ele pinta o de um cabea-dura8 que acredita ser possvel debelar adoen-

    a "com outras coisas", entre elas umadieta vegetariana, acupuntura e trata-mentos encontrados na internet. "Noqueria que abrissem meu corpo", diriaJobs mais tarde - segundo seu bigrafo,com sinais de arrependimento.O lEGADONo final do livro, h umlongo trechoem que Jobs, em suas prprias pala-vras, tenta resumir seu legado: "Minhapaixo foi construir uma empresa du-radoura, onde as pessoas se sentissemincentivadas a fabricar grandes pro-dutos. Tudo o mais era secundrio.Claro, foi timo ganhar dinheiro, por-que era isso que nos permitia fazergrandes produtos. Mas os produtos,no o lucro, eram a motivao" .

    'M inha pa ixo fo i constru ir um a empresa duradoura , onde 'as pessoas se sentissem in cen tiv adas a fabrica r grandesprodutos. Tudo o mais era secundrio ', d isse Jobs188 Iwww.exame.com